Recorrências: variações em arquitetura

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TGI-2 bruna biagioni



bruna maria biagioni

IAU-2011/TGI-2



variações em arquitetura

recorrências



Acho pertinente iniciar esse caderno, que é a concretização de um trabalho tão laborioso, com um agradecimento àqueles que tanto me ajudaram nesse extenso processo e que tornaram isso possível. Gostaria de agradecer profundamente aos meus pais, que estimularam e viabilizaram meus estudos, sempre com companherismo, compreensão e cuidado. Aos meus irmãos, pela amizade e assistência. Aos meus amigos, que foram uma excelente companhia e me deram os melhores conselhos. Ao Adilson, que esteve sempre por perto e me ajudou muito em todos os aspectos. Agradeço aos queridos professores pela generosidade em ensinar, pelo acompanhamento durante todo o processo e pelas críticas que me ajudaram a melhorar. Muito obrigada!



Este caderno é uma coletânea que resume um trabalho que durou cerca de um ano e meio, fruto das disciplinas de Pré-TGI, TGI-1 e TGI-2. Ele é também resultado e decorrência de meus cinco anos de graduação em Arquitetura e Urbanismo no atual Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos. A expectativa desse registro é apresentar o projeto arquitetônico desenvolvido de modo a ressaltar seu caráter de processo, dessa maneira, sua organização segue uma ordem muito próxima da cronologia de sua produção. Foi uma tentativa de encadear as resoluções e escolhas de projeto à uma lógica propositiva que culmina no resultado final do objeto.

O trabalho é intitulado de Recorrências: variações em arquitetura, esse conceito é resultado do interesse em pesquisar formas simples, modulares ou pré-fabricadas que criem ‘variabilidade’ através de sua repetição e através da justaposição de tipos distintos. Busca também uma tensão com o uso de termos que poderiam expressar oposição, mas que ganham coerência através do processo que utiliza parâmetros e a organização da linguagem como formas de organizar o processo. Trabalhar com parâmetros foi resultado de uma grande inquietação que surgiu durante a elaboração dos conceitos, e principalmente em decorrência do uso de tipos, através desse ‘método’ os encaminhamentos de projeto se desdobraram em seu resultado formal. O enfoque do projeto apresentado foi buscar uma forma de pensar arquitetura através de parâmetros, buscando organizar manualmente os componentes, lidando com as questões de escala, uso e contingência. A utilização do sistema da linguagem escrita é o mote que irá cadênciar toda a investigação formal e a proposição arquitetônica do projeto. Ela é o método e a própria explicação do método e ela guiará as próximas páginas desse caderno. Boa leitura!



pré-tgi >palavra-chave: variabilidade >método: modulação objeto: 2 elementos básicos planos e barras elaboração de módulos espaciais de base triângular experimentação: justaposição e sobreposição dos elementos


sistema de módulos >articulação >hierarquias estruturas moduladas independentes_ articulações orgânicas_ peles como módulos independentes_ MULTIPLICIDADE DE RECORRÊNCIAS > CRIAR ESPAÇOS > DEIXAR ESPAÇOS


O projeto se estrutura a partir da ideia de construção da linguagem, entendida como um sistema de códigos que serve de meio de comunicação através de signos convencionados. Assim, o partido do projeto teve como proposição a elaboração de componentes construtivos (código) que é organizado través de regras (sintaxe) que direcionam a leitura e tentam indicar um sentido através daqueles conjuntos formais (semântica), para a compreensão daquele que vislumbra o projeto. A ideia de construir um alfabeto projetual surgiu em decorrência da proposta de utilizar módulos para criar variação, seguindo então os encaminhamentos e estudos que foram fruto da disciplina de Pré-TGI. A expectativa era carregar o conceito de alfabeto, como uma matriz simplificada e limitada em um pequeno conjunto de elementos, que possui a capacidade de criar um universo infinito de palavras e por sua vez, de significados. Dessa forma, esse trabalho busca a elaboração de um conjunto de elementos que serve como código básico para a criação de uma diversidade formal no projeto de arquitetura aqui proposto. Surge desse mesmo principio o conceito de ‘recorrências’ que intitula o trabalho. É a ideia de que através da repetição de um limitado número de operações podemos alcançar a diversificação de formas e significados, assim como são as palavras em nossa fala. Dessa maneira, um procedimento de investigação sobre como o arranjo de recorrências poderia motivar a forma e a composição de um projeto se iniciou. As pranchas de desenhos das próximas páginas contam um pouco sobre o processo utilizado para o desenvolvimento dos conceitos e do alfabeto que será utilizado no projeto.






Os desenhos e anotações, frutos do processo tiveram a intenção de pensar o objeto arquitetônico em diversos pontos de vista, variadas escalas, desde conceitos gerais até detalhes construtivos, e não houve a pretensão de seguir rigidamente um padrão, ou mesmo tentar formular um projeto linearmente através de sua forma. Essa liberdade de projetar em fragmentos possibilitou que o conceito fosse elaborado através de um amadurecimento formal e analítico, fruto dos desenhos e anotações, e que foi contíguo ao pensamento no programa que começava a se delinear. Dessa maneira, após uma sequência muito desenhada e investigativa emergiu, de forma muito diagramática, aquilo que recebe o nome de sintaxe. Trata-se de uma elaboração que organiza e coloca em coesão o alfabeto projetual. As camadas propostas são fruto de um diagnóstico de demandas e condensam o partido geral do projeto através de sínteses possíveis entre as partes. Surgem nesse processo as três camadas que serão as principais diretrizes do projeto: séries, cadências e contrapontos.


CONTRAPONTOS CADÊNCIAS

SÉRIES

SERIAÇÃO 3 famílias de elementos recorrentes identificação e leitura das camadas através da modulação dos elementos PADRÃO resultado das demandas de cada ‚camada‛ estabelecida

MULTIPLICIDADE DE RECORRÊNCIAS

sintaxe


AMBIENTES FLEXÍVEIS

CIRCULAÇÃO E ESTARES

AMBIENTES ESPECIALIZADOS


dissonâncias resíduos

visão fragmentária variação

entroncamentos

continuidade mobilidade especificidades percepções discordantes interrupções

ritmos básicos narrativas graduais

deslocamento linhas de tensão imagens familiares justaposição circulação

organização

elementaridade adição elementos de referência sistema

repetição

padrão

estrutura


Após a organização da sintaxe o alfabeto, que é a matriz mais nuclear do projeto, pode ser delineado e subdividido nas três camadas: séries, cadências e contrapontos. Essa divisão cria três famílias de elementos distintas entre si e guiadas por lógicas internas muito próprias, estes são codificados por seus alfabetos. A intenção é que quando estiverem justapostos esses ‘layers’ comuniquem, através de uma leitura formal, sua autonomia e diferenciação em relação aos outros. Construtivamente o que se pretende é que o projeto seja composto por três pacotes de elementos pré-fabricados que atendam suas especificidades com relação ao projeto e que numa possível execução resultem numa obra com menor impacto social e maior agilidade de construção. Um diagrama de alfabetos organiza as questões conceituais de cada camada da sintaxe. Para melhor compreensão todos os detalhes sobre cada família, desde questões conceituais até cada sistema construtivo, serão discutidos em três grandes tópicos descritivos.


alfabetos


A semântica é o termo que designará a implantação do projeto a partir dos elementos do alfabeto, organizados nas normas da sintaxe. Comparativamente à fala, é nesse momento que a articulação dos elementos dão sentido e geram compreensão do código. Na implantação a articulação dos elementos através de suas próprias normas se junta à alguns códigos que surgem das demandas da área escolhida. Isso é o que virá a conformar a obra, e o que completa a maioria dos parâmetros dos quais a edificação será resultado. Para além do código e da regra, a semântica concatena os significados que estão por trás do signo. E para além do que é convencionado é nesse campo que surgem as subversões, elas permitem que um texto formal ganhe significado e atributos poéticos. Nos edifícios surgem as exceções à regra. Nesse contexto do processo são delineados o programa do equipamento e sua área de implantação. São eles que darão insumos para a continuidade do projeto e ditarão a semântica que será aplicada.


sem창ntica


Trata-se de um programa educacional a ser implantado na cidade de Araraquara, no interior de São Paulo. Em termos gerais ele é decorrente do meu interesse pela temática educacional e pelo funcionamento das instituições de ensino na cidade.

Com um levantamento da situação educacional na sua atual conjuntura o programa desenhado tenta sair dos padrões paradigmáticos de escola, há anos estabelecido e repetido, e tenta desenhar algo voltado para a recuperação e o desenvolvimento do ensino na cidade. A proposta visa criar três equipamentos complementares que tocam em pontos vitais e distintos com foco na formação do sujeito. Trata-se de um núcleo de alfabetização, uma escola técnica e uma incubadora de empresas. O núcleo de alfabetização atende dois públicos distintos: crianças e adultos analfabetos. A intenção é que esse equipamento municipal possa por um lado preparar melhor as crianças antes de seu ingresso na escola estadual e por outro, reabilitar os analfabetos funcionais, fruto do controverso sistema de ensino público. A escola técnica servirá de suporte para dar continuidade à formação daqueles jovens e adultos que foram recém alfabetizados e ainda não possuem formação, também receberá demandas de toda a cidade com caráter de inserção e preparo para atividades interessantes, principalmente no setor de serviços. A incubadora de empresas é o terceiro passo que completa o ciclo de formação e oferece uma possibilidade de continuidade na carreira cursada na escola técnica. Após todo o investimento feito na alfabetização e formação dos alunos, a incubadora é um investimento mínimo mas de grande resultado enquanto fomentador de atividades interessantes para a cidade e que destoa da inércia excludente gerada pelo mercado.


sistema educacional conexão dos elementos de extensão para a cidade _ alfabetização _ formação técnica _ pólo de serviços

sistema de áreas livres

municipal

local


Conforme dito, a área do projeto está localizada em Araraquara, trata-se de uma cidade de porte médio que tem passado por um forte processo de transformação com a liberação de uma extensa área na porção central da cidade, em decorrência da mudança do contorno ferroviário da cidade.

Essa mudança também vem indicando um intenso crescimento da cidade que está às vésperas de se tornar um importante entreposto aduaneiro junto á ferrovia, grandes empresas tem se instalado na região para a utilização da nova infra-estrutura. Baseada na indicação do plano diretor da cidade, que previa que um grande terreno localizado no bairro Vila Xavier, sem uso até meados do ano passado, onde antes fora uma área industrial, deveria se tornar um equipamento social. O interesse pela nevrálgico para a trilhos, que foram emergente e também

área se justifica por sua localização num ponto atual situação urbana da cidade. Com a retirada dos uma barreira histórica para a cidade, a área é a mais a mais propícia para uma ligação viária com o centro.

Desse modo, a proposta é ligar a cidade em um ponto importante enquanto percurso e desenho urbano e atrair a população de vários pontos da cidade com um equipamento centralizador que une educação e espaços públicos de qualidade. Aliás, a escolha de um equipamento educacional é chave desse conceito, se trata de uma estrutura ativa, dinâmica e emancipadora, ela valoriza o espaço público com atividades didáticas e comunicativas. Para a apresentação da área e da alteração no viário, que é proposta junto ao projeto, uma sequência de mapas de leitura dá o diagnóstico e explica de forma bem diagramática as constatações feitas sobre o local, que se inicia com a apresentação da rede viária da cidade ressaltando seus principais eixos estruturadores.



A organização urbana da cidade é claramente marcada por seu gride regular, principalmente na área central, e pelas distorções de loteamentos autônomos na periferia. Outra caracteristica importante, e recorrente em cidades do interior paulista, é a entrada da estrutura ferroviária na cidade, como um apêndice que cria uma cisão no tecido urbano.

Em Araraquara essa divisão resultou numa polaridade histórica que envolvia a parte central da cidade e o bairro Vila Xavier, que se localizava do outro lado dos trilhos. As duas regiões se estabeleceram com caracteristicas e centralidades distintas, garantindo uma certa autonomia em função da difícil mobilidade causada pela barreira ferroviária.



Essa discussão de longa data sobre o efeito de barreira da ferrovia sobre a cidade virou documentário (O apito do trem) e romance de Ignacio de Loyola Brandão (A Morena da Estação), e nos últimos anos o antigo os rumores de que os trilhos seriam retirados se tornou um fato real, os trilhos passarão a tangenciar o limite da cidade e a área resultante será convertida em um parque linear conforme o indicado. A área que é chamada de CEU (Corredor Estrutural de Urbanidade) pelo plano diretor tem como premissa receber uma série de equipamentos e usos públicos em sua extensão: centro cívico e administrativo, estruturas de entretenimento, cultura e lazer, museus, terminais intermodais, ciclovia, VLT, Unidades de habitação.



Ainda não existe um projeto formalizado para essa imensa área, desse modo ainda não se sabe como de fato ocorrerá essa integração e a penetração entre os bairros historicamente separados. Minha análise então se volta pragmaticamente para os atuais problemas de trânsito e circulação da cidade que surgem, justamente, pela exiguidade de transposições entre as duas parcelas da cidade. Estão indicados no diagrama as atuais ‘pontes’ que ligam um lado ao outro. A cidade que hoje tem porte médio já sofre com constantes congestionamentos, principalmente na ligação localizada mais ao norte do mapa, que está mais distanciada das demais.



A fim de desafogar esses gargalos formados pelo mal planejamento da cidade, a proposta delineada visa a criação de mais uma ‘ponte’ inserida entre duas outras existente, no trecho considerado hoje mais crítico e que exige o maior trajeto de deslocamento para a população que habita esses extremos. A ligação viária proposta tem ainda como principio ligar alguns equipamentos de uso público de maneira rápida. Entre eles estão o SESI, localizado na Vila Xavier e a Arena da fonte, importante centro esportivo da cidade. Outra preocupação era de também possibilitar o acesso de pedestres entre essas regiões que são próximas, mas que hoje são isoladas e distantes.



Chegamos ao recorte da área de intervenção. Trata-se de uma área residual pós-industrial que faz limite com a borda ferroviária. O terreno era designado pelo plano diretor como uma área de categoria 3 – e deveria ser voltado para obras de infra-estrutura e e de equipamento social. Do ponto de vista do projeto a área seria também eficiente na mediação entre o bairro Vila Xavier e o parque linear (CEU), criando uma espécie de entrada, ou melhor, um acesso organizado para facilitar a passagem dos pedestres que tenha um uso constante e seja atrativo para a população.







A solução para o viário foi a criação duas avenidas de mesmo calibre das existentes que serão conectadas, com um canteiro central generoso que permite a transposição em nível para quem quer acessar rapidamente o outro bairro. Como especificidade desta via está o rebaixamento da via de automóveis e a continuidade do canteiro que se comunica com o parque.


ligação parque trilho > trilha praça > rebatimento limites > qualidades

ligação bairro

ligação alameda

Durante o processo uma sequência de diagramas de leitura determinaram diretrizes de implantação através de constatações sobre local de implantação. Esse foi o método utilizado para justificar a melhor maneira e o motivo de cada elemento estar encaixado em um determinado local.


I. ligação com o parque e belvedere 3 regiões detectadas 3 características espaciais

II. região protegida e de menor fluxo

III. visibilidade e relação com a rua


>sistema de áreas livres _ estabelecer relações entre as áreas livres _ priorizar a transposição para o parque

_ criar espaços _ deixar espaços

>arborização existente

_arborização _visibilidade _abertura ao viário _continuidade com a praça _ligação com a praça _centralidade


Após as leituras do local a implantação das camadas: séries, cadências e contrapontos pode seguir a semântica oferecida pelo programa e pelo local. A intenção é que os equipamentos, para além de suas funções especializadas dentro do programa, estendam seu atendimento para toda a cidade e que o lugar reverbere como uma importante área de encontro e sociabilidade para a população local. O sistema de áreas livres, que pode ser chamado de praça (já que está vinculado à um parque de dimensões muito superiores), integra um importante centro de convívio numa área deficiente deste tipo de espaço. Outra questão importante a ser destacada é a vinculação de um espaço público à um equipamento de mesmo enfoque, essa opção de projeto foi feita pela convicção de que esse é o melhor modo de qualificar um espaço público garantindo sua conservação, manutenção e popularizaçao de uso. O equipamento garante que as áreas livres tenham uma constância de usos e um público fixo que se alterna nos períodos de entrada, saída e espera de suas atividades. Como recorre em alguns diagramas a intenção do projeto é criar espaços e deixar espaços, mas não deixar espaços desqualificados, pelo contrário, o esforço foi focado em criar áreas de permanência interessantes que atraiam por si só um público que se misture àqueles que possuem uma atividade regular em um dos equipamentos. Durante o processo foi feito um diagrama de usos que indica de certa forma como as extensões de usos funcionam dentro do equipamento. Ele formaliza também a sub-divisão do programa das séries e dos contrapontos. Em termos gerais aquilo que possui caráter recorrente de uso mais funcional e de menor escala são as séries, e aquilo que é destacado como extensão, possibilita uso comum e possui maior escala são os contrapontos.



Alguns mapas mentais ajudaram na organização das espacialidades, foi uma tentativa de aproximar, fora do espaço físico, as inter-relações entre os programas propostos. Para a implantação dos edifícios algumas regras foram adicionadas sobre a sintaxe das três camadas: séries, cadências e contrapontos. As séries, que guardam a parte mais funcional e também mais extensa dos programas são estruturas regulares em formato de anel retangular que guarda um pátio interno. Elas foram as primeiras implantadas e seguiram a localização definida pelas leituras. Seu posicionamento segue a lógica do arruamento de forma a amenizar a irregularidade do terreno. Os contrapontos, que congregam os usos comuns dos três programas, foram caracterizados por três conjuntos de edifícios com quatro programas bem delineados, sua implantação segue a mesma lógica de alinhamento com a rua, porém eles se localizam nos pontos problemáticos e, por isso, ganham uma forma irregular a fim de regularizar o conjunto em relação à cidade. As cadências, que são as circulações elevadas e áreas de permanência, dão o ritmo e amarram a implantação de séries e contrapontos criando uma estrutura única.


I. Escola Técnica II. Centro de Alfabetização III. Incubadora de Empresas

Mirante e acesso ao parque vetor que fecha o desenho da cadência principal

Anfiteatro e biblioteca eventos / atividades de extensão

semântica implantação das camadas

III. I. II. > séries

Pré-existência: caixa d’água vestígio industrial do local

> cadências

Galpão de atividades culturais oficinas / aulas / exposições

> contrapontos

Praça de acesso ao complexo rebatimento da praça existente

Centro esportivo atividades de lazer e saúde / salão de festas


elevação da face sul

elevação da face norte



A definição do paisagismo foi um desdobramento das definições do projeto arquitetônico. Os caminhos principais marcam os eixos mais fortes do projeto e prevêem os caminhos que serão mais intensamente utilizados na circulação do conjunto. O acesso ao complexo se dá através de um rebatimento da praça pré-existente. Ela incorpora as árvores que estavam ali presentes e acomoda uma pequena arquibancada, que, por sua vez, acessa uma grande área livre sem vegetação, este local tem a capacidade de receber um enorme número de pessoas em um possível evento de grande porte para a cidade, nessas situações a estrutura das cadências pode servir como palco ou suporte para telões de projeção. Na porção central da praça está localizada uma grande caixa d’água, resíduo de uma antiga indústria que já ocupou aquele local. Dentro do projeto ela é tratada como um ‘obelisco’, buscando usar esse marco vertical como ponto de referência ou lugar de encontro. Trata-se de uma investigação sobre a sociabilidade e o reconhecimento espacial que esse elemento, destituído de valor histórico, pode propiciar dentro do conjunto.

A implantação dos edifícios teve a peocupação de criar três áreas de mesmo calibre entre os edifícios séries e o contraponto que está justaposto. Assim, biblioteca, galpão cultural e centro esportivo possuem áreas livres de menor porte que podem receber o espraiamento de atividades que ocorrem dentro de cada programa. Esses lugares servem também de acesso para o centro da praça. Com relação ao uso da vegetação, esses locais foram pensados como aléias, um caminho ladeado de árvores que indica linhas de força importantes para o projeto.


série/contraponto: aléias de acesso à porção central do conjunto

trilha: área dos trilhos de trem convertida em pista de caminhada

escadaria: acesso entre rua e anfiteatro

àrea arborizada: cria proteção entre a edificação e o nó viário

caixa d’água: embasamento em formato de arquibancada

mirante: vista para a porção central da cidade

praça rebatida: configura o acesso central ao conjunto praça seca: local que recebe grandes eventos área gramada: grande àrea de uso flexível

arquibancada: para pequenos eventos ligados ao centro esportivo


As séries, conforme dito anteriormente, são os edifícios que comportam as atividades especializadas de cada um dos três programas: núcleo de alfabetização, ensino técnico e incubadora de empresas. É neste ponto do projeto que o conceito de recorrências aparece de forma mais latente. Os edifícios são compostos por conjuntos modulares que, através da leitura de suas peculiaridades, receberam layout e fechamentos específicos que são modulares e pré fabricáveis. Os três edifícios possuem dimensões semelhantes, a única variação se dá pela escola técnica que possui três pavimentos em função de sua maior demanda e pela questão do relevo que propiciou essa escolha.

Cada série possui um pátio interno que abriga atividades mais locais. As áreas de convívio cobertas estão vinculadas aos pátios ou surgem com a intervenção das cadências. Quando a cadência toca a série ela subverte sua organização clara e padronizada e gera espaços específicos em cada um dos edifícios.


incubadora de empresas

escola de ensino técnico

núcleo de alfabetização

SÉRIES


circulação interna

O sistema de circulação das séries funciona como o grande organizador dos espaços nesse tipo de edifício. A proposta foi criar um padrão regular de circulação horizontal que se desloca de um pavimento para o outro, possibilitando uma forma mais harmônica e coerente de encaixe dos módulos recorrentes. A circulação vertical está abrigada em caixas regulares que ficam dispostas nos vazios que se formam entre as arestas da circulação horizontal. A disposição garante que os usuários caminhem o mínimo possível para alcançar os acessos ao pavimento superior.


2

1

6

modulação 1

7,5 x 7,5

2

10 x 7,5

3

10 x 7,5

4

7,5 x 10

5

10 x 10

6

10 x 10

7

10 x 7,5

8

7,5 x 7,5

9

7,5 x 10

10

10 x 7,5

3

7

8

5

4

9

10

A modulação escolhida para o projeto das séries é de 2,50 m, uma medida que atende bem a modulação dos fechamentos e cria o espaçamento de 5, 7,5 e 10 m para o lançamento da estrutura.


AC

acesso

AD administração

SA

sanitários

RE

refeitório

CA

cantina


incubadora

P

padrão

R

recuperação

C

computação

T

trabalho

M

manufatura

alfabetização

técnico



A proposta de uma escola técnica surgiu através do diagnóstico de que esse é o tipo de formação com maior demanda por parte dos empregadores hoje em dia. Também está interligado a proposta geral do conjunto arquitetônico que prevê a formação completa e a inserção no mercado. O projeto garante grande flexibilidade e variedade de arranjos espaciais, desse modo as profissões oferecidas pela instituição podem variar de acordo com as demandas da cidade. Assim, diversos eixos de formação voltado para o setor de serviços poderiam ser alternadas a fim de garantir equilíbrio na esfera de formação da cidade.

ensino técnico


M

RE

SA

SA

RE

CA

T P

CA

P P P P SA

AC

AD

AD

AD

SA

AD

AD

acessos horizontais

M suporte

acessos verticais

funcional

uso externo (praça)

circulação


pavimento tĂŠrreo


M

T

T

T

R

R

P

P

P

SA

M

T P

P

P

P

P

C

T C

T SA

AD

AD

AD

SA

AD

AD

acessos horizontais acessos verticais

M suporte funcional circulação


primeiro pavimento


SA

M

M

T T

P

T

P

T T T SA

C

C

C

R

acessos horizontais

R

CA suporte

acessos verticais

funcional

acesso cadência

circulação


segundo pavimento


vista da praça

vista do parque

vista do anfiteatro

vista do galpão cultural

elevações do edifício isolado




Enquanto equipamento municipal, o núcleo de alfabetização, tem o interesse de minimizar as falhas do sistema de ensino público estadual, ele opera na alfabetizãção de crianças e recebe jovens, adultos e idosos que não tiveram oportunidade de estudar, ou que passaram pelo ensino público e se formaram como analfabetos funcionais. O interesse é incluir e formar indivíduos que geralmente seriam excluídos do sistema convencional de educação em profissões emergentes. A alfabetização seria a primeira etapa desse sistema de ensino que visa formar o sujeito pensando em todas as etapas que envolvem a sua formação profissional e cultural, vinculado à sua ascensão social.

núcleo de alfabetização


SA

AD

AD

SA

AD

AD

AD

AC

CA

P CA

P P P

M

T T M

R SA

RE

RE acessos horizontais

SA suporte

acessos verticais

funcional

uso externo (praça)

circulação


pavimento tĂŠrreo


SA

P

P

P

P

R

T

R

T M

T T M

R RE acessos horizontais

RE

SA

suporte

acessos verticais

funcional

acesso cadência

circulação


primeiro pavimento


vista da praça

vista da rua

vista lateral da praça

vista do galpão esportivo

elevações do edifício isolado




A incubadora de empresas é o último passo do processo de formação profissional proposto pelo programa. O espaço oferece diversa oportunidades para que empresas sejam constituídas com chances muito maiores de obterem estabilidade e força para se manterem sozinhas.

A incubadora oferece infraestrutra; serviços básicos como telefonia, recepção e internet; acessoria de diversos tipos como contábil e jurídica; qualificação através de treinamentos e contatos com entidades governamentais e investidores.

incubadora de empresas


M

AD

AD

AD

SA

AD

AD

AC

P

SA CA

P CA

C C M

C SA

R

RE

RE

SA

acessos horizontais

M suporte

acessos verticais

funcional

uso externo (praça)

circulação


pavimento tĂŠrreo


M

SA

T

R

T

T

T

R

C

R

C

M SA

C

C

T

T

T

P

P

acessos horizontais

P

M

suporte

acessos verticais

funcional

acesso cadência

circulação


primeiro pavimento


vista da praça

vista da rua

vista da rotatória

vista da biblioteca

elevações do edifício isolado



Os contrapontos congregam todas as atividades comuns aos três progamas educacionais. Eles se concretizam em quatro edifícios: um anfiteatro, uma biblioteca, um centro esportivo e um galpão cultural. Isso economiza a repetição de um tipo de infra-estrutura cara e específica dentro de cada um dos edifícios educacionais. Além disso, por estar aberto para a praça, um espaço público, cada equipamento dos contrapontos pode atender a cidade toda, bem como a população vizinha, com atividades de diversos portes. Essa simplificação amplia o uso e anula uma possível redundância dentro do programa. Ela estimula a circulação e a passagem de pessoas pela área. Isso reforça o partido de que essa não é uma escola apenas para seus alunos, mas uma escola para toda a cidade. Sobre a forma, enquanto as séries possuem módulos e espacialidades rígidas, os contrapontos são flexíveis em seu formato, procurando adaptar suas especificidades de uso da melhor forma. A regra de cada um deles (contrapontos) é que cada um deles é uma exceção.


biblioteca foyer anfiteatro midiateca pequeno auditório

quadras salão de festas vestiários Atividades físicas alongamento/aquecimento

ofícinas exposições aulas livres ateliês de suporte salas de dança/música

CONTRAPONTOS


biblioteca


infantil

acessos horizontais

acesso cadência acervo de consulta

administração

biblioteca

acervo restrito

acesso internet

administração

periódicos controle controle cadência


anfiteatro


bilheteria/acesso

foyer

acessos horizontais acesso cadĂŞncia

platĂŠia do mezanino


centro esportivo


nível da rua

acessos horizontais acesso cadência

vestiários

uso múltiplo

quadra

quadra/arquibancada

nível da praça


galp達o cultural


térreo

1º pavimento

acessos horizontais acesso cadência

exposições temporárias

ateliers

ateliers

ateliers

ensaios/apresentações


As cadências dão o ritmo toda a edificação. Elas acesso elevado entre equipamentos e promovem o quem circula pelo local.

e unificam permitem o todos os passeio de

O fato de ser um passeio elevado propicia uma outra experiência da praça que permite que os transeuntes andem próximos às copas das árvores, vejam o espaço de outras perspectivas e faz com que sejam vistos. Essa questão da notabilidade do passeio é muito importante para o espaço público.

Na implantação as cadências estão sempre dispostas na altura do piso do último pavimento de cada série. Em função disso as cadências estão implantadas em três cotas diferentes e possuem quatro caixas de escada para a transição de nível. Essas ‘caixas de transição’ foram pensadas como estruturas cobertas que podem atender a praça em possíveis usos imprevistos. Desta maneira, a construção de estruturas autônomas e independentes do projeto são evitadas. As caixas de transição podem abrigar uma banca de jornal, uma cabine de xerox, uma sorveteria, enfim, pode receber aquilo que for necessário.


As cadências criam ‘interferências’ nas séries quando as duas camadas de sintaxe são sobrepostas, isso quebra a rigidez das séries e crias espaços de variação e permanência vinculados às atividades de cada edifício. Quem está passando por uma cadência pode acessar qualquer um dos edifícios de maneira diferenciada em cada um deles.

CADÊNCIAS



Cada uma das ‘caixas de transição’ de nível das cadências possui um projeto específico. Enquanto não forem apropriadas para um uso formal elas podem ser usadas como mirantes, áreas de permanência, abrigo de chuva ou como quiosque para churrasco.





















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