Lisboa

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maior abertura às relações com o exterior, o que origina uma

Introdução

também maior abertura à inovação social e tecnológica, bem A identidade de Lisboa está diretamente comprometida com

como à transferência de conhecimento” (OCHOA, 2005).

sua vinculação com o mar. Desde o período das grandes navegações até a consolidação da cidade pós-industrial, seu contexto de cidade

Através do enfoque de Lisboa como uma área portuária,

portuária dita suas especificidades e padrões de crescimento. Em

constatamos que este é um aspecto primordial para o início de uma

tempos de globalização econômica não seria diferente, suas

leitura que contempla o sítio e sua sobreposição urbana, desse modo,

características geográficas e suas potencialidades culturais afirmam o

o primeiro e mais pungente ponto levantado indica para a ocorrência

desenvolvimento de uma metrópole, que em frente às águas se

de um desequilíbrio físico e social na cidade, como uma divisão

estabelece solidamente. Em busca de sua afirmação no cenário

bipartida, aonde uma parte parece acolher o desenvolvimento urbano

europeu, Portugal valoriza e constantemente re-planeja Lisboa como

de forma mais “natural” e outra parece ser constantemente

seu expoente nacional, e se torna impossível compreender os projetos

subestimada ao longo da história. Fica nítido que na zona mais

contemporâneos

os

deprimida estão determinadas atividades urbanas: áreas industriais

desenvolvimentos e entraves que caracterizam a conformação urbana.

relacionadas com infra-estruturas portuárias e de transporte,

sem

compreender

a

história,

com

geralmente em estado de inutilização. Estas zonas têm sido “O porto, mais especificamente, a água, justifica a fundação da cidade, bem como o seu desenvolvimento,

atualmente objeto de reconversões urbanas, com vista ao reequilíbrio físico e social da cidade.

impondo a sua lógica no espaço urbano e marcando não apenas o território, como a própria sociedade. De uma forma geral, pode-se afirmar que as cidades portuárias se distinguem

Como refere Mario Fabre, “falar de ‘cidade porto’ é explicar a

de todas as outras pela dinâmica da sua economia e pela

sua origem e designar o fator essencial do crescimento urbano, como

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eventualmente da sua crise” (1992). Se no início a cidade mantinha uma estreita relação de interdependência funcional com o porto isso

“Aquelas que foram outrora zonas de grande

se rompe através da industrialização do território, que desequilibra a

prosperidade industrial, localizando-se nas periferias urbanas e

organização física e simbólica da cidade. O isolamento industrial na

alojando as classes trabalhadoras, constituem atualmente

margem empurra o desenvolvimento urbano para o interior, o que é

espaços de abordagem incontornável nas políticas urbanas e

historicamente demarcado em Lisboa no século XIX.

uma “mais-valia” nas estratégias de revitalização da cidade, pela sua localização (agora) central e pela sua proximidade à

O segundo momento, caracterizado pela desindustrialização

água” (OCHOA, 2005).

corresponde ao afastamento dos portos da cidade, em busca de águas mais profundas e de terrenos mais amplos, para responder às novas

Nesse contexto se inscreve, entre outros, a Expo’98, que será o

necessidades da tecnologia portuária, arrastando consigo as indústrias.

alvo de diversas análises sobre o urbanismo de Lisboa e que serve

Com a crise econômica dos anos 70-80 e com a tendência para a

como conceituação global das atuais ações de renovação de grandes

terceirização, núcleos industriais esvaziam-se de funções, surgindo

centros urbanos. A substituição de uma extensa área de espaços

assim toda uma rede de ‘espaços devolutos’ – terrenos residuais,

obsoletos por um pedaço de cidade novo, dotado de equipamentos

edifícios desativados, infra-estruturas obsoletas.

planejados para a escala da cidade, de espaços públicos de qualidade e beneficiando das condições paisagísticas da frente rio. Mas que

E, por fim, um terceiro momento que se concretiza

também é um lugar que reserva suas contradições, como a extrema

atualmente, que é marcado pela reconversão das áreas industriais e

densidade de construção que de certo modo tende até a desvirtuar

portuárias que corresponde à procura de soluções para a ocupação

aquele espaço através de sua falha ao agir sobre o reequilíbrio urbano,

dos vazios resultantes da desindustrialização, com conseqüente

funcional e social da cidade. A simetrização que se propunha se indicia

aproximação da cidade e dos cidadãos com as margens.

ainda como uma realidade distante.

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foram fundamentais na desestabilização econômica do país e na perda

Contexto Histórico e Político de Portugal

de sua posição privilegiada dentre os demais países europeus. Tais fatores conjuminaram-se na queda da monarquia e na proclamação da Portugal é um país que desde o princípio de sua fundação, pelos romanos como Lusitânia no século I antes de Cristo, possui

república em 1910 e a partir de então os processos políticos do país seriam marcados por diversas turbulências.

peculiaridades em relação às demais nações européias. Sua localização única foi o que orientou seu desenvolvimento e até hoje podemos

No início foi instaurada uma república parlamentarista de leve

perceber claramente diversas distinções sociais, econômicas e

inclinação esquerdista que adotou leis liberais e anticlericais e, após

culturais em relação ao restante da União Européia, instituição esta

um longo período de instabilidade nesta primeira tentativa de

que é responsável por um verdadeiro salto desenvolvimentista do país,

governo, a situação financeira do país chega ao limite e um golpe de

que passa hoje por um intenso processo de modernização no qual há

Estado é deflagrado estabelecendo, em 1926, o chamado Estado Novo.

um interesse especial nas políticas de renovação urbana das principais

Antônio de Oliveira Salazar torna-se primeiro-ministro em 1932 e seu

cidades portuguesas.

regime, inspirado no fascismo italiano e fortemente conservador, cria já desde seu primeiro ano a União Nacional, um partido único

O

país

foi

a

primeira

nação

européia

centralizada

politicamente, fato este ocorrido no século XII em detrimento da expulsão dos mouros da Península Ibérica, e no século XV passa a ser uma grande potência econômica, militar e política do continente devido às Grandes Navegações que, com o objetivo de uma intensa

antiliberal que simbolizava o princípio nacionalista do governo. O Estado Novo se caracterizou basicamente por seu caráter autoritário e tradicionalista, sua forte vinculação com a Igreja Católica e sua estrutura própria de governo que criou instrumentos de repressão e censura.

expansão comercial, formam o Império Colonial Português. As invasões espanhola e francesa, o terremoto de Lisboa de 1755, a perda de suas maiores possessões ultramarinas dentre outras adversidades

A ditadura de Salazar se fundamentou no corporativismo, que determina

estruturas

de

governo

baseados

na

normativa

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corporativista, subdividindo os nichos estatais segundo categorias

cada vez mais estagnado em relação aos outros países europeus. Isso,

profissionais e sindicatos, limitando, entretanto, a capacidade de

juntamente com a intensa repressão – que não se restringia apenas às

autorregulação da sociedade bem como reduzindo muito a

questões políticas, mas que devido à “defesa da moral” acabava por

participação dos setores privados em tais processos. A centralização

limitar manifestações culturais – e principalmente a Guerra do

do governo no Presidente do Conselho de Ministros se demonstra na

Ultramar, deflagrada pela revolta das colônias africanas com o apoio

união dos poderes executivo e legislativo nesta figura que é capaz de

internacional, foram motivos fundamentais para a rápida queda do

sobrepor suas decisões a qualquer determinação da Assembléia

prestígio do Governo. Com a saída de Salazar em 1968 e a entrada de

Nacional. As eleições foram mantidas por sufrágio universal até 1958 e

seu sucessor, o governo perde seu líder e encontra cada vez mais

sempre elegeram presidentes (figura meramente necessária por

resistência dos democratas portugueses (já que os partido de oposição

questões cerimoniais) que apoiavam Salazar e quando esta condição

passam a ser permitidos) até que em 1974 oficiais das Forças Armadas

foi ameaçada a eleição foi tornada indireta. Basicamente o governo

(uma das maiores prejudicadas com a guerra colonial) se rebelam

calcava sua aprovação popular na defesa da “moral e bons costumes”

derrubam o governo de Marcello Caetano. O movimento que ficou

vide sua intensa associação com o catolicismo que legitima seu caráter

conhecido como Revolução dos Cravos se deu através da tomada de

repressor, sem classificar abertamente o governo como totalitário.

pontos estratégicos por Lisboa pelos militares, grupo este composto

Uma policia política de amplos poderes e uma organização paramilitar

inclusive pelas forças que supostamente apoiavam o governo, desta

(a Legião Portuguesa) juntamente a grandes prisões políticas e campos

maneira o regime foi derrubado quase sem resistência e violência,

de concentração (como Tarrafal) eram pilares do regime.

sendo uma revolução relativamente pacífica.

O intenso controle do processo de modernização do país, com vias a proteger os valores defendidos por Salazar fez com que com o passar dos anos e especialmente após a Guerra, o país se tornasse

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grande estagnação do modo de vida de uma substantiva parte da população, que passou a emigrar para as cidades, totalmente despreparadas para um intenso processo de expansão, e os problemas urbanos passaram a ser fundamentais para se discutir a nova realidade política do país. Após alguns anos de um governo de triunvirato, é eleito Mário Soares como novo presidente da República em 1986 e no mesmo ano Portugal é admitido como membro da Comunidade Econômica Européia, atual União Européia. Posteriormente os partidos mais conservadores passar a ter maioria no Congresso e os processos de estatização e a reforma agrária foram lentamente revertidos, desta Figura 1: Soldado recebendo um cravo, símbolo do país

maneira os governos de esquerda têm seus planos de inclinação comunista sufocados pelo parlamento que reafirma as posturas rígidas do governo português, ainda marcado pelos anos de ditadura.

A Revolução, mais do que dar fim a um período de quase 500 anos de colonialismo português, o governo imediatamente posterior a

Em 1996 Jorge Sampaio vence as eleições para presidente da

tomada de poder instaura o pluripartidarismo e país passa a tomar um

república e suas propostas de preocupação social passam a ter forte

rumo esquerdista. É iniciada a reforma agrária, indústrias e bancos são

apelo com a população portuguesa visto que o país encontrava-se

estatizados e passa a existir um forte movimento migratório para a

marcado por amplo desemprego e ausência de programas de cunho

América, milhares de portugueses vêm para o Brasil. A predominância

social. Portugal passa ainda por um período de altos índices de

da produção rural enquanto motor econômico do país gerou uma

pobreza, sobretudo em comparação aos outros países europeus.

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Houve uma intensa privatização dos serviços públicos e devido ao Pacto de Estabilidade e Crescimento, imposto pela União Européia e ocorreram corte abruptos em investimentos nos programas sociais ao mesmo tempo em que se ampliaram as bases de arrecadação do governo para evitar déficits públicos superiores a 3%. Quando o primeiro ministro Durão Barroso abandona o cargo para assumir a presidência da Comissão Européia em 2005 há uma crise financeira no país, elites neoliberais e grandes empresas retiram seu apoio aos partidos governistas e novas eleições são convocadas. Quando os partidos de esquerda finalmente assumem a maioria na Assembléia havendo a valorização dos governos participativos, dentro outros aspectos definidos inicialmente pelo plano da União Européia conhecido como Estratégia de Lisboa. Portugal hoje baseia seu plano de desenvolvimento no Plano Nacional de Reformas que procura valorizar as cidades do país enquanto lugar favorável para grandes transações financeiras, a regulação das despesas públicas, o combate às alterações climáticas e a valorização estratégica do território português.

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A História de Lisboa A fundação da cidade de Lisboa se dá em algum momento do primeiro século antes de Cristo e é realizada pelo povo Celta, a conquista pelos romanos acontece aproximadamentes em 140 a.C.. Quando a queda do Império se dá, Lisboa passa a ser invadida por diversos povos até que se reduz a uma pequena vila no século VII e assim fica suscetível às invasões muçulmanas, povo este que domina a cidade o início do século XII, quando é reconquistada pelos cristãos, sendo eleita como capital um século depois. A cidade se desenvolve muito devido ao seu posicionamento estratégico que permite o

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comércio entre o Mar Mediterrâneo e o Norte da Europa. Cada um dos povos e reis que ocuparam a cidade construíram uma nova muralha, havendo uma sobreposição de traçados urbanos que ainda hoje é

Figura 2: As muralhas de lisboa

visível em algumas partes da cidade. Com as navegações Lisboa torna-se o principal pólo de comércio da Europa e é sem dúvida a cidade mais rica do mundo no período, diversos bairros de luxo são construídos, reformas urbanas são efetuadas (quando surge o famoso e caro mosaico português de pavimentação de calçadas) e a população passa a crescer. O início da dominação econômica da Inglaterra sobre o comércio marítimo e a


União Ibérica faz com a que a cidade entre em declínio e a população

mais altos. Há uma standartização das fachadas e a reforma é

se reduz em 25%, a criminalidade é extremamente alta e a Igreja

concluída em 1806 quando a cidade volta a apresentar crescimento.

Católica passa a dominar boa parte da cidade, quando mais de 70 conventos se localizam nas diversas freguesias. Com a descoberta de ouro no Brasil o dinheiro passa a se concentrar cada vez mais em uma reduzida elite e o governo passa a construir obras faraônicas como o Aqueduto das Águas Livres, mas o declínio da cidade se mostra inevitável. Em 1755 se deu o terremoto que destruiu praticamente toda a cidade e matou 10.000 pessoas e que abriu espaço para as reformas 8

de caráter iluminista promovidas por Marquês de Pombal, que modificam as estruturas políticas, tributárias, produtivas e sociais da cidade além de reconstruí-la baseado nas novas teorias de urbanização. O centro chamado de Zona da Baixa é reconstruído com um novo desenho, o traçado medieval é substituído por ruas largas e retilíneas, a vocação comercial da cidade foi valorizada na elaboração

Figura 3: A cidade após o terremoto e as intervenções do Marquês de Pombal

do novo traçado e é criada uma nova estrutura construtiva para as novas residências que passam a abrigar, em sua maioria,

A perda do Brasil como colônia faz com que a cidade entre

estabelecimentos comerciais em seu térreo, famílias de padrão social

novamente em decadência e em meados do século XIX são elaborados

mais alto nos pavimentos mais baixos e mais pobres nos pavimentos

os primeiros planos urbanísticos para a expansão e remodelação da


cidade, assim medidas sanitaristas são tomadas para deter o grande

de expansão e, concomitantemente, verificou-se uma intensa

surto de cólera do período e grandes obras de saneamento são

proliferação de bairros clandestinos devido ao grande número de

realizadas. Dá se, então, a expansão da cidade em direção ao planalto,

migrações para a cidade, que chegou a ter 594.000 habitantes.

plano hoje conhecido como Avenidas Novas, que se caracteriza a partir da abertura de grandes eixos dotados de infra-estruturas inovadoras para a época, segundo princípios da escola de “Ponts et Chaussées” de Paris. Um exemplo deste plano é a Avenida da Liberdade que se estende pelas áreas rurais, antevendo o crescimento da cidade e ordenando todo o eixo central urbano que organiza a cidade. Neste período o centro cultural e comercial da cidade passa a ser o Chiado e

Com o advento da ditadura, Lisboa se tornou pólo de investimentos do governo, cresceu e foi valorizada às custas do restante do país que estagnava-se cada vez mais. Isso se deu devido aos moldes nacionalistas e monumentais que o governo defendia para sua capital em detrimento de uma economia rural e precária para o restante do país:

novos bairros são construídos à semelhança da baixa pombalina,

“reorganizou-se Lisboa como capital de um vasto império colonial,

Lisboa então afirma-se enquanto centro industrial do país embora sua

construindo o aeroporto, ampliando o porto, implantando grandes

estrutura produtiva estivesse muito aquém das outras capitais

equipamentos públicos, como o novo campus universitário e o

européias neste sentido.

estádio nacional, rasgando novas vias urbanas, plantando o grande parque de Monsanto e expropriando para o domínio municipal

Na Revolução de 1910 foi fundamental a participação dos lisboetas que lutaram armados pela proclamação da Primeira República, um período de cerca de 20 anos extremamente turbulentos devido às diversas disputas políticas. Neste meio tempo é construída grande parte dos edifícios de habitação que se localizam ao longo do norte da cidade próximos às Avenidas Novas que são abertas em eixos

vastíssimas áreas de terreno que ainda hoje constituem as grandes reservas de expansão da cidade” (SALGADO, 1999)

É lançada por Salazar uma vigorosa campanha de obras públicas cujos projetos são encomendados aos arquitetos portugueses mais renomados da época e então se assiste o florescimento de uma arquitetura de vanguarda, inspirada no Movimento Moderno europeu

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que o regime permitiu que se desenvolvesse por um período. Em 1940

o 1ºCongresso Nacional de Arquitetura e assim o movimento moderno

realiza-se a Exposição do Mundo Português e esta se torna uma

novamente toma força, a arquitetura passa a ser rediscutida e na

grande propaganda do regime Salazarista e ao mesmo tempo em que

década de 60 as questões arquitetônicas tomam nova força devido ao

reabilita uma vasta área da cidade e acaba por fazer com que o

enfraquecimento do regime.

exacerbado nacionalismo do partido reconhecesse na arquitetura moderna do International Style, que era realizada pelos novos arquitetos portugueses, como anti-nacional e portanto foi recusada qualquer

manifestação

arquitetônica,

em

obras

públicas

ou

particulares, que não remetesse às tradicionais aldeias portuguesas ou aos palácios do século XVIII, este estilo de arquitetura de fachada ficou conhecido como “português suave”. Na década de 40 se realizaram diversas obras de construção de frente urbanas a fim de regular o crescimento da cidade e evitar a popularização da arquitetura “não-nacional”, assim milhares de lisboetas foram alojados nas periferias, em bairros como Encarnação e Madre de Deus, em casas geminadas ornamentadas inspiradas na arquitetura de Raul Lino. O urbanismo do Estado Novo é fortemente

As grandes obras públicas realizadas por Salazar foram fundamentais na conexão de diferentes regiões de Lisboa, bem como a conexão de Lisboa com o restante das cidade ao seu redor, como foi o caso da ponte sobre o rio Tejo. O período do Estado Novo foi marcado por uma precária industrialização e portanto um parco crescimento urbano, assim as políticas de habitação social foram basicamente necessárias para resolver problemas de salubridade da cidade já existente, havendo menores iniciativas de construção efetiva de novos bairros. Houve um grande esforço de realocar família desabrigadas ou em situação de risco e foram lançados diversos planos para atingir estas pessoas, todos eles pouco eficazes.

calcado nos modelos clássicos com grandes eixos, monumentos e

Com a Revolução dos Cravos há um período de grande

praças tradicionais, assim como o modelo arquitetônico que se baseia

instabilidade política na década de 70 e o país só retomou seu

nos cânones, eruditos, mas a também vernaculares. Em 1948 realiza-se

crescimento após a década de 80 com a entrada na, hoje chamada,

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União Européia. A partis da década de 80 Portugal passa a receber um

inoperante, em processo de desindustrialização e implantação

grande número de imigrantes e a situação urbana se complica

anárquica do setor terciário”.

novamente. Lisboa sofre ainda outro golpe com o grande incêndio do Chiado em 1988 que destrói uma parte histórica fundamental da cidade e cuja reconstrução é feita por Álvaro Siza.

A dinâmica social emergente daquele momento levou Lisboa, no fim da década de oitenta, a ser capaz de delinear uma estratégia de desenvolvimento que levava em conta suas características que lhe dão

Assim podemos perceber que ao longo da história de Lisboa,

especificidade, como o fato de ser uma antiga capital colonial com

diversos planos urbanísticos marcaram importantes momentos de

estreita ligação com o oceano Atlântico. Isso lhe garantiria um norte

alteração da estrutura da cidade, estes, por sua vez, foram ditados,

para poder se localizar no contexto das demais cidades européias.

segundo Manoel Salgado (1999) por períodos mais ou menos longos de lenta consolidação, crescimento orgânico e, por vezes, mesmo estagnação. As intervenções urbanas em Lisboa foram, em grande parte, despertadas por demandas bastante especificas e ditadas pelo contexto de cada momento histórico. A exemplo disso estão as intervenções ligadas a catástrofes naturais, como no caso de 1755; como também, as demandas de modernização das classes em ascensão a partir do crescimento econômico e, em alguns momentos, questões de afirmação do poder político vigente. Segundo Salgado, “na década de oitenta, Lisboa era uma cidade degradada com uma rede de infra-estruturas e comunicações

Junto ao desenvolvimento da base econômica se demonstrou possível e imprescindível a recuperação dos atrasos verificados na construção dos sistemas de transporte e de comunicações, na modernização do sistema de telecomunicações, no saneamento de graves situações poluentes, na localização de novos equipamentos estruturantes e na previsão de áreas para atividades com novas exigências de espaço. Paralelamente uma nova consciência exige a recuperação do patrimônio histórico, arquitetônico e paisagístico da cidade.

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A metropolização de Lisboa

A Área Metropolitana de Lisboa tem um papel hegemônico no sistema urbano nacional. Ocupando cerca de 3% da superfície do

Nas duas últimas décadas do século XX, as cidades européias

território nacional, já no ano de 2007 concentrava 3,1 milhões de

foram afetadas pela emergência de um novo ciclo urbano, associado à

habitantes (26,2% da população do país), desigualmente repartidos

globalização da economia e à afirmação da sociedade da informação e

por 18 municípios que ocupam as margens, direita e esquerda do Tejo,

do conhecimento. O modelo centro-periferia da cidade fordista,

para além se sua importância econômica com uma concentração de

responsável pelo fenômeno dos subúrbios é marcado por uma

35% do PIB nacional.

“explosão” urbana, gerando uma periferia alargada, a partir de uma rede rodoviária densa que confere grande mobilidade ao automóvel.

A cidade como metrópole emerge nos anos 50 e a sua

Esse processo é caracterizado por uma desconcentração da população

consolidação prolonga-se até a década de 80. O crescimento urbano

e pela dispersão de atividades menos qualificadas como da indústria e

associado à industrialização do pós-guerra ocorre segundo um modelo

de um terciário enfraquecido ligado aos serviços locais. Desse modo,

monocêntrico e radial que é funcionalmente dependente de Lisboa. No final dos anos 60, a ocupação suburbana tem duas marcas

“os padrões de uso do solo daí resultantes, globalmente de

distintas: por um viés, aglomerados articulados com os principais eixos

baixas densidades, são agora mais complexos, onde convivem

radiais de ligação ao centro da cidade e por outro, urbanizações e

áreas habitacionais de diferentes tipologias, atividades

terrenos remanescentes dispersos pelo território, frutos de produção

diversificadas, muitas qualificadas, que suscitam a emergência

legal e ilegal.

de centralidades periféricas, gerando movimentos relacionais cada vez mais multidirecionais”. (PEREIRA e SILVA, 2008)

Na década de setenta, acontecimentos diversos, como o início da recessão industrial desencadeada pela crise energética, o incremento da expansão urbana ilegal depois da “liberdade” pós 25 de

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Abril, o regresso de milhares de antigos residentes das ex-colônias,

Os anos 80 marcam a transição para o ciclo urbano que se

introduzem dados novos na dinâmica territorial. Tais alterações não

afirmará na década seguinte, a integração de Portugal na União

interferem nas bases do modelo de crescimento metropolitano, mas

Européia desencadeia a convergência de diversos fatores, como a exe-

intensificam o processo de ocupação territorial, desse modo, as

cução da rede de infra-estruturas rodoviárias prevista no Plano Diretor

grandes urbanizações legais persistem, mas as urbanizações ilegais

da Região de Lisboa (1964), o reforço do investimento estrangeiro

alargam e adensam o perímetro da metrópole, estimuladas pela

induzido pela abertura das fronteiras, o aumento do rendimento das

instabilidade política.

famílias e das facilidades de crédito. A passagem do modelo rodoviário radial para um modelo radioconcêntrico mais estruturado altera as

O poder local democrático, viabilizado através da Constituição da República Portuguesa (CRP) em 1976, se responsabiliza por um território onde os problemas se avolumam. A cidade legal, repleta de núcleos suburbanos e de urbanizações isoladas no campo, apresenta infra-estruturas insuficientes, equipamentos básicos escassos e um espaço urbano pouco qualificado. “A cidade ‘clandestina’, alimentada pelo mercado ilegal de solo, é majoritariamente construída em baixa ou média densidade, com tipologias unifamiliares, e sem as infraestruturas mínimas intrínsecas ao estatuto de ‘urbano’” (PEREIRA e SILVA, 2008). A periferia permanece muito dependente de Lisboa, onde se concentram o emprego terciário, os equipamentos de hierarquia superior, o comércio e os serviços mais especializados e qualificados.

condições de mobilidade, potencia alterações acentuadas no uso do solo; multiplica e dispersa as frentes de urbanização. 13


Figura 4: Diagrama da expansão viária de Lisboa

Segundo Pereira (2008), o crescimento da população na Área

Apesar do baixo crescimento populacional, a sua reor-

Metropolitana de Lisboa, de 1980 para 2001, diminui 7,2%,

ganização interna é relevante: Lisboa perde 15% dos seus residentes,

semelhante ao período anterior, porém as distinções internas se

absorvidos pela periferia. O setor bancário privado sofre uma grande

ampliam claramente: enquanto a população de Lisboa se reduz em

expansão e é em parte responsável pelo desenvolvimento do

30%, o crescimento da periferia norte é de 26,9% e o da periferia sul

imobiliário (GEORGE, 2004).

22,2%.

Os movimentos de desconcentração e realocação de Nos anos 90, a relação entre a população residente e o

atividades para a periferia deixam de ser exclusivos da indústria, sendo

número de habitações ajuda a explicar a explosão da mancha urbana,

registradas expansões das atividades terciárias, como a construção de

o acréscimo das edificações vagas ultrapassou 47% na Área

grandes centros comerciais, centros de escritórios e parques

Metropolitana e os 60% em Lisboa.

tecnológicos. O poder político e o poder econômico permanecem em Lisboa, mas o modelo monocêntrico vai-se diluindo. “A metrópole é marcada pelo alastramento da mancha urbana, pela fragmentação

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(física, funcional e social), e começa a emergir uma estrutura policêntrica mais equilibrada” (PEREIRA e SILVA, 2008).

Apesar de Lisboa continuar a perder população e atividades, uma tentativa de ‘recentralização’, associada à valorização de áreas na cidade, ganha outra dimensão, e mesmo diferentes formas, através da reabilitação de áreas antigas e do reaproveitamento de áreas subutilizadas ou abandonadas por obsolescência física e funcional. O congestionamento do tráfego e o imobilismo do mercado imobiliário hiper-inflacionado são questões pesadas que inibem mudanças estruturais. Para apoiar a gestão municipal é criado, em 1982, o plano diretor municipal (PDM), porém, por ser facultativo, tem de início uma fraca adesão e, em alguns casos dá prosseguimento a planos ainda do regime autoritário. Decisões sem muito crivo passam a desencadear dispersões nas áreas urbanas, através, dentre outras coisas, da aprovação de urbanizações particulares e ilegais. A integração de Portugal na UE obriga à definição de um plano eficaz dos investimentos. Este fato leva à revisão do enquadramento legal do Plano Diretor Municipal e à sua obrigatoriedade. Em função disso todo o território metropolitano é assolado por orientações de ordenamento a partir da escala municipal.

Figura 5: Mapa: divisão espacial dos empregos por setores. 1991.

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Nos modelos territoriais então propostos identifica-se um

central na rede rodoviária de grande capacidade, sem preocupações

conjunto de tendências comuns, como a perspectiva de crescimento

sobre os impactes territoriais induzidos, estimula o afastamento e

em áreas de extensas dimensões; a falta de atenção à cidade

pulverização das frentes de urbanização”. (PEREIRA e SILVA, 2008).

existente; a admissão de construções em espaço rural (áreas agrícolas, florestais, agro-florestais), de vários usos (habitação, indústria,

A

alteração

introduzida

através

da

lei

das

áreas

equipamentos, turismo), referenciados a uma dimensão mínima da

metropolitanas, em 2003, persistiu num modelo baseado na

parcela. E os planos posteriores a 1995 tendem ainda a integrar nos

associação dos municípios (agora voluntária), mas nem o reforço de

perímetros urbanos as áreas urbanas de gênese ilegal.

competências trouxe alterações ao modo funcionamento, persistindo a ausência de posições sobre o território metropolitano

O super dimensionamento das áreas de expansão é resultado da incapacidade política de dominar a ação dos detentores da

Nos anos 80, ocorre a elaboração do plano regional de ordena-

propriedade particular. A escassez de objetivos e ações para intervir na

mento do território da área metropolitana (PROT-AML), que sofre o

cidade consolidada conduz a uma progressiva degradação física e

amplo atraso de mais de uma década para se estabelecer. Só em 2002

conseqüente desqualificação, o que motiva a saída de muitos

a área metropolitana tem aprovado um plano, de natureza estratégica,

residentes (ou a não fixação de outros). Outro grande conflito contido

para seu território. A proposta, em função das múltiplas variações no

nesta questão está conferido no fato de que “cada município pretende

território, marcado por um urbanismo expansivo e desorganizado

concentrar no seu território as tendências da dinâmica metropolitana,

pleno de problemas ambientais graves, com forte pressão sobre

sendo pouco freqüente a adequação de soluções intermunicipais,

ecossistemas frágeis (orla costeira, estuários, rede hidrográfica), adota

mesmo nos territórios de fronteira”. Desse modo a visão regionalista

a sustentabilidade como o conceito base para estabelecer seu plano.

tenta abarcar as questões da metrópole, porém, sem se utilizar de uma visão geral unificadora do plano. Assim, “o investimento público

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Figura 6: Esquema do modelo territorial para a AML (PROT-AML)


As prioridades do novo plano se orientam para o

“contenção”, “requalificação”, “revalorização”, estando ausente o

estabelecimento de uma sustentabilidade ambiental, onde se destaca

termo “expansão”. A grande dificuldade de implantação do plano

a valorização e a revitalização do meio rural como elemento do

regional de ordenamento é sua falta de convergência com os planos

equilíbrio metropolitano; a reordenação metropolitana, através da

diretores municipais, desse modo o município não consegue aplicar

contenção de expansão urbana e de um modelo de estrutura

políticas urbanas importantes para o contexto metropolitano, e

metropolitana; a organização do sistema metropolitano de transportes

continua a esbarrar em questões como a incapacidade de coibir a

e da logística. Essas estratégias visam como objetivos específicos a

expansão territorial fruto do mercado imobiliário.

recentralização da área metropolitana no Estuário do Tejo, salvaguardando os valores naturais e as áreas protegidas; o desenvolvimento da “Grande Lisboa”, cidade das duas margens, ancorada na cidade de Lisboa; “policentrar” a região; valorizar a diversidade territorial, corrigindo desequilíbrios existentes.

Contrariamente daquilo que vinha sendo praticado, a estrutura do modelo territorial se estrutura no pensamento de cidade compacta, na recentralização no núcleo central (agora alargado à margem esquerda do Tejo, com a integração de Almada, Seixal e Barreiro), contenção das áreas urbanas periféricas, restrições à dispersão e valorização e salvaguarda dos corredores ecológicos e das áreas agrícolas, florestais e naturais. São identificadas áreas homogêneas, para as quais são dadas orientações sempre no sentido da

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Planos Urbanos de Lisboa

Criar o Parque Monsanto com 900 hectares associado a um cinturão verde que se estende desde a cidade de Loures

Lisboa foi objeto de diversos planos de urbanização, todos com

(vizinha à Lisboa) até o Tejo;

o objetivo de controlar o desenvolvimento da cidade. O primeiro deles se deu em 1948 com o Plano Geral de Urbanização e Expansão de Lisboa, elaborado por Etienne de Groer, cujo principal objetivo era tornar a cidade uma capital dotada de monumentalidade de acordo com as determinações de Salazar de re-caracterizar Lisboa como exemplo dos valores nacionalistas. Este plano foi entregua ao governo em 1948 e definiu principalmente pelos seguintes objetivos: 

Criar, a partir do eixo determinado pela Avenida Augusto de Aguiar, uma rede viária radiocêntrica que se prolonga até a estrada Lisboa-Porto;

Criar uma zona industrial associada ao porto na zona oriental da cidade;

Distribuir densidades populacionais decrescentes do centro para a periferia;

Construir um aeroporto internacional no norte da cidade;

Construir uma ponte sobre o rio Tejo ligado à rede radiocêntrica;

Percebe-se que este plano teve por seu instrumento principal o zoneamento e ele se inspira claramente nas elaborações da cidade jardim de Howard, além disso é neste plano que se estabelece a padronização construtiva baseado no “português suave” e a urbanização de bairros ao norte da cidade para tentar reduzir o déficit habitacional que existia naquele momento. 19


Em 1967 foi criado o Plano Geral de Urbanização de Lisboa, publicado em 1977, cuja necessidade surgiu a partir de uma nova realidade urbana que se mostrava com o enfraquecimento do regime e uma política mais liberal. Isto permitiu uma nova situação caracterizada pelo aumento do fluxo de automóveis, o início da rede de metrô, a maior conexão entre a cidade e o restante da Zona Metropolitana com a ponte sobre o Tejo, o processo de terciarização do centro, além do crescimento periférico. Assim o arquiteto e urbanista Meyer-Heine elaborou a revisão do Plano de 1959, cujas resoluções foram as seguintes: 

Estabelecer um eixo-distribuidor, compreendendo a ponte a estrada de sua extensão, como elemento fundamental da circulação da cidade, passando inclusive

Figura 7: Plano de 1948

Em seguida foi criado o Gabinete de Estudos de Urbanização

pelo aeroporto; 

(GEU) de 1959 cuja função principal era a revisão e atualização do

grande porte para Norte e outra para sul como continuação da ponte.

Avenida

da

Liberdade

como

eixo

autoestrada para descongestionar a Baixa e criar um

por exemplo, a construção da Ponte sobre o Tejo de Alcântara a

autoestrada que contornaria o parque Monsanto e duas estradas de

a

monumental da cidade, mas conferir-lhe funções de

Plano de 1948, assim alterações importante foram introduzidas, como

Almada (cidades da Zona Metropolitana de Lisboa), a criação de uma

Prolongar

novo pólo de atração longe do centro da cidade; 

Dividir a cidade em “unidades base de planejamento”, designadas como Unidades de Ordenamento do Território.

20


urbana que criou uma necessidade urgente de readequação das políticas públicas de planejamento da cidade à nova realidade do país, agora membro ativo da União Européia. Os métodos urbanísticos desenvolvidos ao longo da década de 70 não mais se adequavam às realidade urbanas e em 1990 a Câmara Municipal de Lisboa aprovou as bases para a elaboração do Plano Estratégico e do Plano Diretor Municipal. Assim foi aprovado em 1992 o Plano que determinava a longo prazo – 10 anos – os princípios orientadores da atuação municipal no desenvolvimento e ordenamento de Lisboa sendo que uma das principais diretrizes seria a partilha da responsabilidade sobre a cidade entre o governo e os setores privados.

21

O Plano Estratégico de Lisboa (PEL) seria um sistema de planejamento

através

dos

diversos

instrumentos

urbanísticos

articulados a Plano Diretor Municipal (PDM), que define o suporte técnico e normativo para a intervenção na cidade. Assim se determinaram

objetivos

gerais

a

partir

das

deficiências

e

potencialidades de Lisboa: Figura 8: Plano de 1977

Com o fim do regime ditatorial e a intensa e rápida industrialização e financeirização das cidades portuguesas, Lisboa passa a apresentar uma transformação social, política, econômica e

Criar atrativos para o turismo, para a vivência e o para trabalho na cidade;


Tornar Lisboa uma cidade competitiva e capaz de se inserir nos sistemas das cidades européias;

Reafirmar a posição de Lisboa como capital metrópole;

Modernizar a administração e torná-la participativa.

22

Figura 9: Plano Estratégico de Lisboa


Estas propostas se colocavam com a finalidade de sanar as

passou a se instalar precariamente em quaisquer espaços vazios da

graves carências da cidade, sobretudo nas áreas de habitação e

cidade. A revitalização destes locais, iniciada com o PEL, hoje se

infraestrutura, através principalmente da reurbanização dos chamados

encontra

“bairros de lata”, as favelas que abrigavam cerca de 150 mil

desenvolvimento e os bairros de lata remanescentes, os que ainda não

portugueses distribuídos pelas principais cidades do país, em especial

foram demolidos e cujas populações foram realocadas, se encontram

Porto e Lisboa. Estes bairros foram remodelados em alguns casos com

principalmente na outras cidades da Região Metropolitana.

em

etapa

avançada

(ao

menos

em

Lisboa)

de

os recursos na União Européia, mas em muitos outros através de operações urbanas, onde o capital privado se associa ao Estado para realizar grandes revitalizações, se beneficiando através da valorização imobiliária dos locais. Este foi o caso da Alta de Lisboa, onde serão realocadas não só as famílias que viviam nas favelas, mas também

23

prevê-se um grande número de residências de classe média. Estes bairros eram ocupados majoritariamente por pessoas vindas do campo e em muitos casos por imigrantes, principalmente do Norte

da

África

aproximadamente

da

região

600.000

do

Magreb,

ex-colonos.

O

de

onde

intenso

vieram

ritmo

de

reconstrução do país pós-Salazar fez com que o mercado de trabalho, sobretudo

para

mão-de-obra

pouco

qualificada,

tornasse-se

efervescente, proporcionando uma elevada oferta de empregos, o que agrava inda mais o déficit habitacional, visto que esta população

Figura 10: Azinhaga dos Besouros, um dos bairros de lata da Região Metropolitana de Lisboa


A questão dos bairros de lata expressa outra preocupação

Para a concretização dos objetivos propostos pelo PEL foi criado

fundamental nos Planos urbanos contemporâneos: a questão

um modelo urbanístico que dividiu a cidade em quatro unidades

ambiental, fundamental no que diz respeito ao reconhecimento da

territoriais, relativamente homogêneas no que diz respeito à suas

cidade enquanto “global”, visto que a supervalorização das questões

características sócio-econômicas, espaciais, suas problemáticas e

ecológicas

urbana

potencialidades. A primeira delas é a Área Central de Lisboa, a segunda

intrinsecamente conectadas à preocupação com a recuperação e

é a Charneira Urbana que são as áreas que circundam o centro, a

preservação de corpos d’água e matas remanescentes.

terceira é a Coroa de Transição que é a periferia que articula Lisboa

tornou

as

iniciativas

de

revitalização

com a área metropolitana e a última delas é o Arco Ribeirinho que compreende a ligação entre a cidade e o rio. Através desta setorização pretende-se que seja possível realizar intervenções pontuais em cada uma das áreas, de maneira a se estabelecer modificações urbanas como um todo, trabalhando-se os diversos níveis e escalas de intervenção. Foram criadas também duas estruturas fundamentais: o Conselho do Plano, constituído por representantes de instituições, agentes e operadores para revisão e aprofundamento do Plano, e a Agência de Desenvolvimento para a Modernização da Base Econômica de Lisboa. A idéia seria que o PEL apresentasse um horizonte de Figura 11: Projeto da revitalização da Alta de Lisboa, antigo bairro de lata

realização para o ano de 2000 e diversas melhorias foram realizadas neste período nas áreas de infra-estrutura, saneamento, rede viária,

24


coleta de resíduos, foram ampliadas as redes de áreas verdes e

de exclusão. O caráter inovador deste plano se expressa justamente na

construídos diversos equipamentos públicos de lazer. Foi fundamental

medida em que valoriza “uma visão eclética e sistêmica da cidade,

também a requalificação da Zona Ribeirinha realizada pela

capaz de compatibilizar lógicas distintas de “fazer” e “viver” a cidade”

Administração do Porto de Lisboa e da Zona Oriental da cidade através

(Ferrão, 1994: p.12). Este PDM em especial estabelece para si os

da realização da Exposição Mundial de 1998.

objetivos de conciliar a gestão eficaz do bem público que é a cidade,

O Plano Diretor Municipal tem um caráter misto de Plano de Estruturas e Plano de Zoneamento, elaborado a partir de definições jurídicas que regulam as intervenções em diversas escalas distintas. Foram elaboradas Cartas de Patrimônio e do Ambiente e o PDM foi constantemente revisto na medida em que persistiram diversas dicotomias como entre o centro e a periferia, a necessidade de revitalização do centro, déficits de equipamentos coletivos e habitacionais em determinadas áreas da cidade, dificuldades de integração entre os diversos meios de transporte, entre outros.

criar condições favoráveis à competitividade econômica, buscar equidade sócio-espacial e estimular a participação democrática. Analisaram-se assim os agentes que intervêm na cidade e os domínios desta intervenção, suas expectativas, estratégias e impacto urbano, e embora esta análise não diferencie por si só este plano de qualquer outro de outra cidade, houve uma preocupação em ajustar tais princípios às especificidades locais. Assim são realizadas duas análises, de escalas distintas que resultaram, na divisão da cidade nas quatro áreas já citadas, ao mesmo tempo em que determinam 29 unidades operativas de gestão e planejamento dispersas. Isso é reflexo das

Basicamente o PDM se pauta, ou pretende se pautar, por uma

políticas marqueteiras de valorização da cidade global em consonância

nova compreensão do papel das grandes cidades, que passam por um

ao pensamento local, numa tentativa de se inserir Lisboa no “mundo

processo de complexização dos processos urbanos devido a diversos

globalizado” ao mesmo tempo em que preserva a cidade enquanto

fatores como, por exemplo, a crise do fordismo, do planejamento

única sócio-culturalmente.

centralizador e generalista, das idéias liberais dos anos 80, da desagregação dos centros históricos e do surgimento de novas formas

25


Ao contrário do zoneamento do Plano de 1948 este PDM pretende a articulação de atividades distintas colocando a sociabilidade como fundamental na construção da urbanidade e para isso utiliza-se de uma Planta de Componentes Ambientais que delimitam a cidade em unidades de significado urbano distintos, não prezando apenas por sua funcionalidade, mas também pelos valores agregados que um espaço pode representar. Outro trunfo deste Plano Diretor seria sua tentativa de prever os conflitos gerados pela sua aplicação incluindo a resolução destes enquanto seu próprio objetivo, além de estimular uma intervenção mais cívica de agentes urbanos de grande força, como grandes corporações, através, por exemplo das operações urbanas de revitalização de favelas (obviamente este tipo de questão não se soluciona de maneira tão simplista, mas o discurso do plano se justificava pela crença no sucesso de tais iniciativas). Além disso, pretende-se também melhor compreender a relação da cidade com sua Região Metropolitana e pensar um planejamento de alcance maior.

26


Reconstrução dos Armazéns do Chiado

Em agosto de 1988, um incêndio iniciado nos armazéns do Chiado, propagou-se por alguns quarteirões da região e destruiu parcialmente dezessete edifícios situados na área de interação das ruas do Carmo, Nova do Almada e Almeida Garrett. Essas edificações eram da Era Pombalina e datavam do final do século XVIII, quando o marquês de Pombal reurbanizou várias regiões de Lisboa que haviam sido devastados pelo terremoto de 1755.

27

Figura 12: Localização do Chiado, Lisboa.

A região do Chiado fica em uma região de transição entre a “Baixa Pombalina” e a “Colina do Bairro Alto”, uma das zonas mais importantes da antiga Lisboa, no que diz respeito ao espaço cívico e ao comercial. Figura 13: Vista da Rua do Carmo em meados do século XX.


Excetuando-se os edifícios Chiado e Grandella, todas as

O edifício Chiado, também conhecido por Palácio Barcelinhos,

construções são do tipo Pombalino. A arquitetura austera, assinalada

apesar de inúmeras transformações sofridas, da variação da utilização

pela ausência de ornamentos, é a marca dos numerosos desenhos

e dos desastres aos quais esteve exposto, mantém basicamente a

originais da fachada. “Os desenhos acompanhavam o decreto,

estrutura material e espacial correspondente a um projeto tardo-

continham algumas outras indicações: o traçado, as fachadas tipo,

barroco nunca completado. A agitada e complexa história do que foi o

para ruas principais e secundárias, curiosamente indicadas por

Convento do Espírito Santo da Pedreira, desde a fundação medieval

configurações; plantas tipo das ruas, criando uma faixa de circulação

até as instalações dos Armazéns do Chiado, passando pela destruição

para carros e dois passeios para pedestres, separado por guardas; e

do terremoto e pela construção parcial do projeto de José Joaquim

finalmente o corte para a rua, definindo a tipologia do quarteirão, a

Ludovici, traduz a especificidade e persistência da sua condição de

sua ocupação em altura, o número de pisos e profundidade, a relação

majestoso monumento, construído pela geografia e pela história.

à própria rua. De notar que o pequeno pátio interno é usado apenas para iluminação e drenagens de água, de modo a tornar a ocupação do quarteirão o mais rentável possível. O modelo normativo acaba obviamente por delimitar diretamente a densidade e outros índices quantitativos, num processo aonde a representação parece os indicadores abstratos.”3

Acerca dos dois edifícios que não faziam

parte do Plano Pombalino, não existem documentações referentes a plantas tipo, em que presume-se que as únicas condições propostas limitavam-se à dimensão do lote e à modelação dos vãos.

O edifício Grandella data de 1906, e foi construído segundo o projeto de Georges Demay, mesmo arquiteto que projetou os Armazéns Printemps de Paris. Esse edifício traz algo curioso e raro em Lisboa, a introdução simultânea de uma nova tipologia e de uma nova técnica de estruturas em ferro ao estilo “art noveau”, fachadas em pedra com decoração figurativa e enormes espaços sem desenho algum, certamente contaminados pela austeridade dos edifícios de estilo Pombalino e condições locais das construções ao redor. Assim como os Armazéns do Chiado, é uma importante plataforma de ligação entre a Baixa e a rua do Carmo.

28


conduziram a um estado de progressivo empobrecimento da região, que de certa forma também se estendeu a toda a Baixa. Entretanto, apesar dessas condições de abandono e das dificuldades de trânsito, o Chiado não perdeu seu fascínio poder evocativo. Antes do incêndio, o edifício exibia uma construção bastante elegante, mas como função comercial exigia um interior bastante compartimentado. O edifício partilhava de um pátio com o edifício Armazém Grandella, onde se deu inicio ao incêndio. Essa região comum permitiu a passagem do fogo através dos vãos comuns aos dois edifícios, permitiu que o fogo se alastrasse e tomasse grandes proporções e destruísse por completo todo o interior do armazém. Entretanto, a catástrofe trouxe um novo e importante passo no Figura 14: Incêndio no Chiado em 1988.

que diz respeito a um novo ciclo da Baixa do Chiado. A reação ao incêndio situou-se entre a nostalgia e a manifestação de um desejo de mudança radical e trouxe a tona a polêmica entre ruptura e reposição.

O Chiado, antes mesmo do incêndio, já caminhava para um estado de decadência e obsolescência. A crise dos Grandes Armazéns, à inauguração do centro comercial Amoreiras, a dificuldade de reconversão e atualização de alguns estabelecimentos comerciais e o quase desaparecimento do uso como habitação, juntamente com a concorrência de grandes centros comerciais de outras áreas da cidade,

Do incêndio que atingiu fortemente a integridade dos edifícios, subsistiu apenas as fachadas e a estrutura. Os trabalhos de organização do local foram iniciados de imediato, sendo que em alguns casos foi impossível não demolir algumas fachadas devido ao alto grau de degradação das mesmas.

29


Poucos dias depois do incêndio, Álvaro Siza Vieira foi convidado a dirigir a intervenção no Chiado. Essa escolha certamente evitou uma possível luta entre modernos e pós-modernos. A intervenção de Siza não deixou de evocar os valores tradicionais que marcaram sempre as características principais do Chiado, reconstruindo, essa forma, o passado como algo privilegiado sem deixar de lado as necessidades de um edifício contemporâneo. Para ele o projeto não tinha o objetivo de levantar a polêmica sobre arquitetura de recuperação ou uma nova arquitetura,

defendendo

que

o

sucesso

surgiria

com

o

restabelecimento das relações entre o interior e o exterior do edifício, com a solução dos problemas que apontam numa edificação que se

30

assenta em um terreno de topografia peculiar e na resolução adequada à degradação que o interior desses quarteirões apresentava. “Dificilmente se pode enquadrar a sua obra nos diferentes ismos que o Movimento moderno da arquitetura tem engendrado. O seu trajeto é de tal modo singular que não se encaixa nas classificações habituais.

Figura 15: Vista da reconstrução do edifício na fachada principal.

Podem-se tratar as suas referências, estudar a sua metodologia, ou imitar o formalismo dos seus desenhos, mas não se conseguirá, apesar disso, refazer o sentido profundo da sua criação.” 4 Na obra de intervenção nos Armazéns do Chiado, a cargo do arquiteto Álvaro Siza, a análise do edifício não se restringe unicamente


ao edifício, mas o estudo da obra divide-se entre exterior, ao nível da

um trabalho de detetive, que procura restabelecer correspondências

fachada e interior que teve que ser adequado para receber todas as

antigas e vitais, traumaticamente cortadas e mal perceptíveis.” 6

infra-estruturas necessárias para receber o programa proposto. “Não se trata do jogo do gato e do rato, nem da procura a qualquer preço da originalidade espetacular. Trata-se, sim, de ajustar todo um aparelho mental solidamente estruturado, mas nem por isso menos flexível, às condicionantes que cada encomenda, lugar, programa ou forma contêm. Não há, portanto, pressupostos ou receitas em estoque, prontos a serem utilizados conforme as situações. Cada caso é sempre um caso único. Apreendido desde o início por um esboço rápido, detonador das principais linhas de força que serão posteriormente 5

sujeitas a um rigoroso controle.” Como o objetivo da intervenção era fazer com que a parte afetada fosse como uma parte do todo, manter o equilíbrio do centro histórico era fundamental. A opção pela ruptura do espaço não fazia o menor sentido e não tinha fundamento para se opor à opção escolhida. A seleção errada da forma poderia ter como conseqüência a destruição do espaço todo, não só do Chiado em si,

A primeira proposta que Álvaro Siza sugeriu consistia em adaptar o espaço do edifício a um hotel, já que, segundo o arquiteto, era a função que melhor se adequava à planta pré-existente. Para ele, as grandes dimensões e o caráter extraordinário que a edificação possuía tornava do Chiado um edifício único e deveria satisfazer a apenas uma única função que se adequasse às necessidades da região. No entanto, houve um certo receio de que o edifício tivesse como único e exclusivo uso um hotel, principalmente pelas dificuldades de acesso, insegurança, e trânsito da área, que não teria capacidade de abarcar tal programa. Visto que o início da reconstrução do Chiado era urgente, após alguns estudos e negociações, a melhor opção foi de mudar um pouco o programa da edificação. O hotel manteve-se, entretanto, ocupou apenas os três últimos pisos em benefício da criação de uma área comercial.

mas talvez até toda a Baixa, poderia originar uma certa fragmentação

Sendo descartada a idéia de programa inicial, era primordial que

na região. Entretanto, Siza teve a sensibilidade de usar a linguagem

fosse estudada uma estratégia programática para garantir a vivacidade

que marca as características principais do Chiado em detrimento da

e trazer de volta a região da Baixa do Chiado um uso intenso. Decidiu-

sua linguagem particular.“O trabalho do arquiteto torna-se, portanto,

se então, que o Chiado manteria as atividades previamente existentes

31


relacionadas a comércio e que as mesmas substituíssem as antigas funções de habitação, que foram outrora abandonadas. Uma preocupação intensa de Siza era resolver os problemas de circulação, porque havia uma transição acentuada em vários pontos do projeto. Para tanto, cria percursos, patamares, escadas e rampas para solucionar a questão, o que acaba por contribuir para o aumento a comunicação das pessoas que estão do lado de fora com o interior do prédio. “Recordo que, passeando pela cidade e observando a sua paisagem e topografia, me parecia necessário um percurso que ligasse a plataforma Chiado à Igreja do Carmo.”

7

Mais tarde entretanto, 32

depois de muita pesquisa a documentos antigos da cidade descobriuse que essa preocupação com o percurso já existia antes do terremoto de 1755. “Numa planta da cidade, com os edifícios em perspectiva, na realidade está representada a Igreja do Carmo, com uma escadaria que chega ao Chiado.” 8 Esse problema do traçado não foi apenas mais um problema de traçado, mas um grande impulso para a realização do projeto todo. O Chiado não poderia ser um prédio isolado do entorno, mas deveria ser um ponto de ligação entre a Baixa e o Bairro Alto, dois bairros essenciais para a cidade de Lisboa.

Figura 16: Região do chiado.


O primeiro passo para iniciar a intervenção nos destroços do

Essa obra abre espaço para a discussão sobre “fachadismo”, ou

incêndio foi a estabilização provisória das fachadas que restaram e a

seja, a fachada se torna um mero objeto decorativo, sempre no

destruição de todo o interior que restava. Mais tarde, as fachadas

propósito de conservar os sinais urbanos mais notáveis, com uma

foram reedificadas segundo o traçado tradicional pombalino, sempre

separação nítida entre interior e fachada. Ela surge como algo

sujeitas a debate sobre a sua verdadeira autenticidade. Por de trás das

reciclado em um edifício praticamente novo, sendo usado como

fachadas foram feitas paredes de betão, criando uma estrutura

adorno e referência no exterior e limitante para o interior. A presença

bastante flexível para depois permitir uma maior liberdade aos

de uma torre na área central do edifício é um aspecto marcante para a

arquitetos (um dos elementos construtivos do século XVIII que o

edificação. Esta incorpora grandes clarabóias que perpassa todo o

projeto recupera, a “gaiola”, que tratava de uma estrutura flexível de

interior, trazendo aos espaços coletivos uma agradável iluminação

madeira em que eram encostadas paredes de pedra, livre de

natural. As fachadas exteriores são de alvenaria de pedra, procurando

fundações e muitas vezes mal construídas. Ela era importante porque

reconstituir os valores da Baixa Pombalina, trazendo uma preocupação

no caso de um terremoto, os usuários permaneceriam na gaiola

em recuperar as formas e proporções originais. Já no interior, as

enquanto as paredes ruíam para fora sem danificar os outros edifícios,

fachadas das lojas e serviços são resolvidas com mais simplicidade,

sendo que a largura das ruas era calculada para que tal façanha fosse

mesclando iluminação e marcas características do edifício original, mas

possível). O projeto lançou mão da idéia de “gaiola” novamente, agora

sempre observando em manter a aparência maciça da construção.

substituída por uma estrutura de betão que permite criar grandes vãos de forma a fazer com que as cargas caminhem para essas paredes, e agora a fachada adquire apenas um uso decorativo, como se fosse uma pele solta do edifício, livre de qualquer função estrutural.

Sobretudo na recuperação de edifícios antigos, o tema e a prática da recuperação de fachadas é bastante recorrente. Não apenas recentemente, mas durante toda a história da arquitetura, incontáveis edifícios funcionaram como uma espécie de contenedores de programas, mantendo apenas sua “casca” e internamente se

33


adaptando às novas exigências de uso e segurança. Essa casca se

A planta dos edifícios não se alterou completamente, mas segue

mantém por que a fachada corresponde à leitura mais direta que se

uma disposição histórica de acordo com as imposições do Marquês de

faz do edifício, quase sempre associada a uma idéia que se quer

Pombal. Ela mantém os pátios adjacentes à torre central e aos acessos

passar, uma identidade do edifício ou uma relação com a pré-

verticais ligados por escadas rolantes duplas que se cruzam entre si.

existência local. É interessante notar que ao longo de toda a história,

Esses acessos permitem a entrada para o centro comercial e também

opções de conservar a fachada de maneira que pouco se alterasse da

asseguram uma passagem mais adequada entre as várias cotas da rua

sua imagem permite que sejam feitas apenas pequenas intervenções

para as pessoas que circulam nessa área da cidade. A torre central

de restauro que mantém as memórias históricas dos edifícios e das

funciona como ambiente de distribuição de fluxos e situa-se em um

áreas em que estão inseridos. As fachadas de uma cidade, sem dúvida,

espaço privilegiado do prédio, local em que se pode usufruir

desempenham um papel muito importante nas cidades, na sua

visualmente toda a Baixa. Na base da torre encontra-se a entrada mais

imagem, e sobretudo no meio urbano no qual está inserida. Elas

importante do edifício, que corresponde à antiga entrada dos

acabam trabalhando como ambiente cenográfico que caracterizam as

armazéns, que fica à rua Garrett, e se destaca do restante da fachada

cidades e muitas vezes, lhes transmitem uma identidade excepcional,

por manter as mesmas características de linguagem que tinha naquele

como no caso do Chiado.

tempo. Essa torre central funciona como um marco da cidade, e por

Ao evocar as imagens originais do local, Siza teve de atuar sobre elementos que associavam o Chiado com uma forte memória coletiva. Para tal, contrariou a substituição e destruição da imagem urbana definida pelo tempo, e procurou adaptar o prédio às necessidades presentes, cuidando sempre para que o interior contemporâneo e exterior histórico não fosse um confronto problemático.

isso mantém suas características plásticas e sua geometria peculiar, distinguindo-se de todo o resto do conjunto do edifício, formando um grande espaço panorâmico. Existem outras entradas secundárias para o edifício além desse acesso da torre, os quais permitem uma permeabilidade total no Chiado, uma das primazias do projeto. Nomeadamente as entradas são as que se destinam ao hotel, ao metropolitano e às lojas de comércio. Essas várias entradas marcam as

34


diferentes combinações de usos, diferentes comércios, hotel, restaurantes e grandes terraços que dão vista para a cidade e o rio. Na parte superior do edifício, localiza-se o Hotel do Chiado, possui um bar e um restaurante que desfrutam de um amplo terraço sobre a Baixa. Esse terraço-jardim funciona como uma faixa de transição entre as áreas privativas do hotel com as áreas públicas do bar e do restaurante. As partes comerciais nos outros pisos são distribuídas de acordo com suas dimensões, as grandes lojas encontram-se nos extremos dos edifícios, enquanto as lojas de menor dimensão rodeiam os pátios e suas passagens. 35 Outro edifício que também participou do plano de reconstrução do Chiado é o Edifício Castro & Mello, com uma escala reduzida em relação aos outros edifícios, entretanto, não menos importante. Ele surge no projeto do arquiteto Álvaro Siza como um resumo de toda a estratégia de recuperação e reconstrução da região assolada pelo incêndio. O edifício trata-se diretamente de um resumo de todo o plano pela maneira que aborda todos os conteúdos programáticos estabelecidos na revitalização da zona, abrigando programas como comércio, escritórios e residências, destacando como a forma como ali impõe a delimitação entre os espaços públicos e privados.


Contexto da década de 80: fatores globais que levaram à EXPO 98

relação social, mas também não se pode negar que se concretizou claramente como motor econômico. De acordo com Nuno Grande (2003), financiamentos privados de empresas, fundações e bancos

O século XX pode ser destacado urbanisticamente como um momento histórico em que a relação entre Cultura, Cidade e Arquitetura foi fator imprescindível nas transformações político-

procurando se beneficiar da projeção midiática e de benefícios fiscais concedidos pelo Estado passam, então, a criar galerias e espaços dedicados à arte e à produção cultural.

sociais. Um fenômeno cada vez mais generalizado, principalmente a partir da década de 80, foi a utilização de espaços urbanos e

A partir da década de 80, no cenário de crise de

arquitetônicos para a realização de manifestações culturais através da

superprodução e desemprego, de desconcentração industrial em

iniciativa do poder público, numa tentativa de aliar o exercício político

muitas cidades européias e também norte-americanas, e de alta

e o espaço físico num contexto de globalização cultural e de ênfase dos

competitividade, a possibilidade de alavancar parcerias milionárias

contextos locais. Podemos inscrever nosso recorte nesse campo de

com o setor privado para a construção de pólos urbanos capazes de

realização de grandes eventos de alcance mundial como Exposições

atrair grandes empresas e negócios globais mostrou-se uma via de

Universais, Festivais, eventos esportivos como as Olimpíadas, Bienais

salvação

de Arte, entre outros, algo que se tornou, contemporaneamente,

governabilidade. Portugal, nesta década, já democratizado passa por

imediatamente associável às estratégias de planejamento urbano das

momentos de maior internacionalização cultural, como aconteceu na

grandes cidades.

XVII exposição Européia de Arte, Ciência e Cultura, em 1983 e a

para

prefeitos

submersos

em

graves

crises

de

Europália de 1991, que foram, ao mesmo tempo, eventos que A cultura como fator fundamental e que engendra discussões no campo crítico entre a produção das cidades e a arquitetura estará por sua vez subjugada às praticas públicas e privadas de intervenção. Nas últimas décadas o fenômeno cultural estabeleceu uma nova

permitiram a redescoberta de espaços simbólicos da cidade e da arquitetura portuguesas. Na década de 90 se desvela a vocação do

36


poder público em conformar a cultura, a cidade e a arquitetura como

notar, os interesses privados foram alavancados por incentivos

formas de expressão claramente globalizadas.

governamentais, através de importantes investimentos públicos.

Segundo Otília Arantes (2000), grandes investimentos culturais

Os objetivos de Portugal quanto a realização da exposição de

tornaram-se uma ótima oportunidade de se construir as infra-

98 mostram-se bastante parecidos com os objetivos da Espanha e a

estruturas necessárias para transformar cidades quase falidas em

realização da Exposição Universal de Sevilha em 1992. Isto na medida

pólos de atração do grande capital global. Assim ocorre também com

em que Portugal também entrava para a Comunidade Européia e

os grandes eventos internacionais, como jogos olímpicos e exposições

queria mostrar aos demais países e ao mundo sua capacidade

universais. Centros de convenções, modernos aeroportos, rede

econômica e cultural. Desejava celebrar igualmente sua posição

hoteleira de primeira linha, atrações turísticas e culturais, segurança,

geográfica e seu legado histórico. E, por que não, também, toda sua

são justamente os atributos que os teóricos exigem das “cidades-

capacidade urbanística e arquitetônica. O projeto de regeneração

globais”, e que de repente tornaram-se objetivos a alcançar,

urbana permitiu criar uma estrutura organizativa e econômico-

justificados por algum grande evento, em uma simbiose de interesses

financeira capaz de acolher todos os valores implicados na realização

políticos e imobiliários.

da exposição.

O planejamento estratégico urbano tornou-se especialmente

Desse modo, podemos caracterizar Portugal como um país que

útil, para tais fins e, de Paris a Nova York, passando por Londres,

não fugiu á regra da realidade das remodelações urbanas que se

Atlanta,

que

estenderam por toda a Europa, embora acusando muitas vezes a sua

experimentaram essa receita de sucesso, que tem em Barcelona, palco

localização periférica. A reestruturação institucional na área cultural

de uma gigantesca operação de reurbanização por conta dos jogos

foi apoiada político e financeiramente através das Secretarias de

olímpicos de 1992, seu maior paradigma. Em todos esses casos, vale

Estado da Cultura e de um Ministério criado exclusivamente para essa

Bilbao

ou

Lisboa,

são

inúmeras

as

cidades

área em 1996 com reforço dos institutos de arqueologia e patrimônio

37


e a criação de novos Institutos para as Artes. Por sua vez, os

privadas, se equilibram nessa dinâmica público-privada e publicizada

municípios candidataram-se a fundos estruturais para construírem

de produção de urbana.

espaços próprios de incentivo á Cultura. Na presente década, com a consolidação da Indústria Cultural, o crescimento e impulso econômico gerado pelo turismo se tornam inseparáveis a globalização da cultura e a globalização econômica. Se difundem as Capitais Européias da Cultura, os Fóruns e Bienais de Arte e Arquitetura, as Candidaturas e classificações UNESCO, as Reestruturações de Museus públicos e privados; nesse contexto, Portugal tornou-se em 2001, palco de um interessante debate entre Políticas Culturais e políticas Urbanas, a partir do Porto, Capital Européia da Cultura. A cidade vencera o título, apresentando-se a si mesma como um “evento cultural” de natureza estruturante, apostando na renovação urbanística do seu centro tradicional. Essa estratégia de globalização cultural, muito baseada em ações locais de reestruturação, especialmente no que concernem os espaços públicos e equipamentos urbanos, ditam a nova forma de intervenção urbana que se coloca contemporaneamente na pauta de Portugal. Ícones artísticos, obras do star-system arquitetônico, roteiros turísticos, exaltação do poder cultural do Estado e das Fundações

38


Contexto da década de 80: fatores locais que levaram à EXPO 98

envelhecimento de sua população e um afastamento das classes médias e jovens para regiões metropolitanas.

A década de oitenta representou um momento decisivo para

Quanto à conjuntura econômica de Lisboa na década de

aquilo que veio a se consolidar na década de noventa, e que culminou

oitenta, era notável a forte obsolescência da estrutura industrial, com

com a EXPO 98. Foi um momento muito especifico para a história de

a decadência e o abandono das áreas industriais no arco ribeirinho e

Lisboa, que passava por transformações muito importantes em

um marcado processo de realocação em dois sentidos principais, o

diversas esferas e categorias de análise.

primeiro era a transição das pequenas indústrias e oficinas do Centro Histórico rumo às periferias da cidade, e o segundo, da periferia para a

Demograficamente se constata que a cidade de Lisboa, após

região metropolitana, caracterizado pela indústria pesada.

um período de estabilidade durante as décadas de sessenta e setenta, passou na década de oitenta por um acentuado decréscimo

Com relação ao setor terciário, verificava-se uma excessiva

demográfico, de aproximados 18%, que atingiu principalmente as

concentração dos empregos desse setor na área central da cidade, isso

famílias jovens e foi espacialmente caracterizado pelo esvaziamento

veio a ocasionar fortes pressões para a mudança de usos e para a

do Centro Histórico e Avenidas Novas. Em 1991 a população de Lisboa

substituição da estrutura edificada. O efeito dessas pressões foi um

era de 670.000 habitantes. Paralelamente a isso, a área metropolitana

processo de desertificação do centro tradicional com um esvaziamento

passou por um processo inverso, ocorreu um acelerado crescimento

em cerca de 15% das ocupações por serviços.

(em cerca de 60%) nas décadas de sessenta e setenta, e um leve acréscimo de 2% na década de oitenta, que levou a população da área metropolitana a um expressivo número de 2,5 milhões de habitantes em 1994. A partir disso Lisboa passou a se caracterizar pelo

Do ponto de vista urbanístico varias questões referentes à configuração da cidade ajudam a compreender a situação geral de ordenação da cidade. Naquele momento obstáculos físicos como o Rio e a topografia, dificultavam as ligações entre as duas principais zonas

39


da cidade. Um eixo perpendicular ao rio demarcava o isolamento e a

duas margens do Tejo, assim como a má distribuição de equipamentos

segregação entre a região leste e a região mais enriquecida, a oeste. A

culturais e de lazer que privilegiava a zona ocidental de Lisboa.

“fronteira” natural era reforçada pela ausência de eixos viários e meios de transporte que facilitassem as ligações entre as áreas e também por

A cidade, sem nenhuma política de defesa do patrimônio

fatores políticos como a concentração de habitação de interesse social

consolidada, sofria um processo de forte destruição da memória

e indústrias naquela localidade, o que ajudava a desenvolver uma

histórica urbana e de suas edificações, que eram demolidas

imagem de uma zona pobre e isolada, pouco atrativa a investimentos.

indiscriminadamente. O descaso político tinha prosseguimento através

Outro fenômeno decorrente daquele período foi a consolidação de

do crescente bloqueio na relação da cidade com o rio, enquanto no

residências de lazer nos municípios da margem sul do Tejo, e em

passado a relação com o porto, os rios e o mar era uma questão infra-

particular nos mais próximos ao mar.

estrutural essencial e prioritária nas relações de Portugal com suas colônias, ao longo dos séculos, essa relação passa a ser de

Na década de oitenta o sistema de transportes e circulação se

esvaziamento de funções e obsolescência pela rápida transformação

encontrava bloqueado em função do atraso em obras há tempos

dos transportes marítimos e demandas geradas pelos novos tipos de

planejadas, e também em função da insuficiência dos transportes de

cargas recebidas nos portos. Como coloca Sofia Margado:

massa, como metrô e ferrovias. A estrutura radial de Lisboa implantada a sudeste pelo rio Tejo obrigava a abertura de vias circulares que começaram a ser construídas apenas na década de noventa. Em continuidade a estes fatos, outros desequilíbrios eram desencadeados, por exemplo, a falta de centralidades que atendessem também às áreas metropolitanas, o que realçava essa divisão entre as

“Se os principais rios foram, anteriormente, o motivo de localização dos primeiros assentamentos urbanos o fato é que, com o crescimento urbano, os seus leitos e áreas aluviais adjacentes imediatamente se tornam limites muito claros das ocupações

urbanas

menos

programadas,

obrigando

e

40


justificando a existência de espaços abertos ou originando

pelo ordenamento trazido pela disciplina do urbanismo,

conflitos relevantes”. (MORGADO, p.5, 2007)

encontrava-se o denominador comum que permitia unir as várias componentes do projeto oitocentista de modernização das cidades: salubridade, circulação e ideais estéticos”. (SILVA

A tradicional cultura do desenho e do embelezamento da

e MATOS, 2000)

cidade se perdeu em função das exigências técnicas da circulação e estacionamento de automóveis, sem cuidar dos aspectos culturais arquitetônicos e ambientais. As áreas verdes possuíam uma relação territorial completamente desequilibrada que era subutilizada dada a falta de acessos e equipamentos, e a pouca articulação entre as áreas qualificadas. Situação muito distinta daquilo que ocorreu no fim do século XIX em Lisboa, onde o processo de modernização da cidade é entendido num quadro de competição internacional entre metrópoles e capitais, naquele momento era possível constatar que:

Esse processo viria a culminar na carência e obsolescência das infra-estruturas com problemas na rede primária de esgotos, redes de distribuição de energia elétrica, gás e de telecomunicações. Assim, no inicio da década de noventa se mostrava urgente a necessidade de intervenções a fim de obter maior equilíbrio interno da cidade e da área metropolitana na distribuição das principais funções; bem como, estancar o decréscimo e o envelhecimento populacional fixando jovens, atraindo novos residentes e revalorizando a função

“As exigências de «embelezamento» da cidade retêm esta

habitacional; e também, potencializar a requalificação das atividades

componente mais etérea da importação de novos padrões de

econômicas, culturais e cientificas através de sua melhor inserção na

qualidade de vida e de civilidade urbana. Mobilizavam um ideal

cidade.

de modernidade que unia a revolução sanitária ao desenho urbano reticular, os novos espaços de lazer público aos novos

Entrava

também

em

discussão

naquele

momento

a

padrões de conforto doméstico a que atrás se fazia referência.

recuperação das margens ribeirinhas, abrindo a cidade ao rio,

Na tradução territorial do embelezamento da cidade, assumida

requalificando os espaços públicos e reequilibrando as áreas verdes

41


em toda a cidade, com vista a uma melhor qualidade urbanística e

estimulo ao desenvolvimento econômico da região. Como coloca

ambiental. E por fim, era inadiável a melhoria das infra-estruturas de

Antônio Mega Ferreira, “até certo ponto o sucesso póstumo de uma

suporte a fim de suprir as carências do sistema de transportes e

exposição, a sua posteridade, está mais ligada às peças arquitetônicas

telecomunicações, “sob a pena de se agravarem as rupturas do

que deixa ao futuro do que ao especialíssimo ambiente que convoca

sistema”. (SALGADO, 1999)

ou à atmosfera cultural por que faz festa no coração dos visitantes” (FERREIRA, 2000), o que ressalta o caráter transcendental de um

A EXPO surge nesse contexto de transformações e demandas

evento como este para uma cidade.

por mudanças qualitativas da cidade, com um projeto e prazo fixo, se mostrava capaz de mobilizar os meios necessários para acelerar a

Em termos urbanísticos, a EXPO deveria contribuir em diversos

modernização da cidade. Desse modo em fevereiro de 1990 o governo

aspectos, como: modernizar e reabilitar uma parte significativa da

decide dar início ao processo de candidatura de Portugal para a

idade; recompor espacialmente a cidade numa perspectiva do reforço

realização da EXPO, com o objetivo de apontar e dar relevância ao

da mobilidade e da requalificação das áreas periféricas; acelerar a

passado de descobrimentos portugueses explorando o mote da

execução dos grandes sistemas viários e de comunicações que já

chegada de Vasco da Gama à Índia, considerando que: “A exposição

estavam na pauta de projetos em vias de execução; relançar a

contribuiria decisivamente para transformar Lisboa numa cidade do

discussão sobre a ligação da cidade ao rio e o ordenamento da frente

século XXI, constituindo o ponto de partida para uma mudança

portuária; proporcionar a construção de um importante conjunto de

global”. (idem)

equipamentos

de

nível

metropolitano,

reequilibrando-a

urbanisticamente e tornando-a mais competitiva em termos nacionais Os três pontos principais, vistos como inegáveis oportunidades trazidas pela EXPO foram a dinamização e a renovação urbana de Lisboa; a promoção de turismo em Portugal e em sua capital; e o

e internacionais.

42


A decisão pelas áreas de intervenção em Lisboa buscou por localidades que desenvolvessem um maior efeito catalizador das ações

assentar nos seguintes princípios, ou melhor, nos chamados projetos âncoras: (SALGADO, 1999)

de projeto, que pudessem irradiar suas melhorias num caráter mais amplo. As três principais propostas foram: a periferia da área

1. Um

centro

de

apoio

às

empresas

voltado

à

metropolitana; a zona ocidental de Lisboa (Pedrouços e Belém); e a

importação/exportação, integrando escritórios, áreas

zona oriental, desde sempre a área mais pobre e isolada da cidade.

comerciais, hotelaria, parques de feiras e de lazer. 2. A criação de uma área de investigação e formação

As soluções periféricas foram logo excluídas, por se verificar a difícil exeqüibilidade naquele local. A opção pela zona ocidental de

profissional e a instalação de novas empresas industriais e de serviços voltadas para as novas tecnologias.

Lisboa parecia a mais óbvia, porém, para além das objeções que

3. A reorganização e modernização da Plataforma Logística

surgiam em função da falta de áreas disponíveis, estava a certeza de

de Lisboa, como a grande interface da região para

que uma intervenção ali causaria, ou melhor, acentuaria fortes

passageiros e mercadorias.

desequilíbrios na cidade. A opção pela zona oriental foi a escolhida por

4. A criação do Espaço Público Ribeirinho Oriental,

ser aquela que maiores benefícios traria à modernização e reequilíbrio

integrando área de lazer, equipamentos coletivos e

da cidade, para além de ser aquela que apresentava mais

estruturas de apoio à náutica desportiva e amadora.

disponibilidade de área para implantação e que implicaria um menor investimento na sua realização.

Foram diversas as implicações práticas de curto prazo geradas pela EXPO, para tornar viável a exposição, foi necessário acelerar a

Essa opção era a defendida pelo município de Lisboa, cujo

construção de todo o sistema viário e de transportes de escala regional

Plano Estratégico estabelecia para a transformação urbanística da zona

e local, de forma a garantir a acessibilidade dos milhões de visitantes

industrial/portuária oriental, alguns parâmetros que deveriam se

esperados na exposição. Foi necessário completar ou antecipar a

43


construção de auto-estradas regionais; da nova ponte sobre o Tejo; da

A engenharia financeira do projeto da EXPO tinha como

ferrovia ligando as duas margens do rio; a extensão da rede do

objetivo cobrir os custos da exposição com os lucros resultantes da

metropolitano de Lisboa; o complemento da rede viária principal da

produção imobiliária dos 350 ha postos à disposição da empresa

cidade, rompendo as barreiras que historicamente dividiam a cidade

pública ‘Parque EXPO’98, S.A.’. Praticamente todas as infra-estruturas

em duas.

e espaços públicos construídos para a exposição foram projetados e construídos levando em conta o seu uso após 1998, o mesmo ocorreu

A liberação do terreno para a implantação do projeto

com 60% de todos os pavilhões e outros edifícios construídos no

demandou o arrasamento da refinaria de Lisboa, à realocação do

recinto da exposição. As restantes estruturas provisórias foram

terminal petrolífero do Tejo, à demolição do matadouro de Lisboa, à

projetadas com previsão de realocação uma vez terminada a

transferência de um grande depósito de material de guerra e o

exposição.

fechamento de um incinerador de lixo, que foi transferido para o norte de Lisboa.

44 O Recinto de Exposição, com cerca de 70 ha, constitui o centro deste novo bairro que se fundou em Lisboa em função da EXPO e já se

Foi necessário um grande trabalho de descontaminação dos

constitui hoje como uma das áreas centrais mais importantes da

solos e de despoluição do rio Trancão, afluente do Tejo, que deságua

região. Um significado muito particular foi dado ao espaço público que

junto à área de intervenção. A reabilitação da área, cujo

foi projetado e construído como o grande sistema integrador e

enquadramento natural é considerado notável, permitiu retirar do

estruturante que já pretendia manter a coerência do conjunto urbano

interior da cidade atividades poluidoras e perigosas, oferecendo à

ao longo dos anos necessários para a consolidação dessa zona da

cidade uma área que veio a enriquecer Lisboa em termos ambientais.

cidade. Assim, podemos compreender como partido daquela intervenção urbana que,


“A dialética entre o efêmero e o definitivo, a analogia entre o

A diversidade de linguagens arquitetônicas é articulada através

local de festa e de mistério no qual circula uma enorme

de um discurso que se procura coerente, alcançado pela adoção de

quantidade de informação e o centro onde se estratifica a

regras de implantação e composição volumétrica que estabelecem um

história da cidade, estão na base da idéia de projetar o Recinto

diálogo claro entre as partes. As poucas preexistências, a torre da

da Exposição como se tratasse de um “Centro Histórico”,

antiga refinaria, a doca e a muralha de pedra na margem do rio,

metáfora que resume com eficácia as principais características

funcionam como reminiscências da história do local. O projeto urbano,

do espaço público”. (SALGADO, 1999)

em sua complexidade, não só estabelece as relações entre o espaço público, semi-público e privado, como adéqua as características dos

Todas as Exposições Mundiais procuram se distinguir das

‘materiais’ que o compõem aos diferentes usos e funções, tornando-se

anteriores, tal como as cidades procuram acentuar o caráter que as

o instrumento essencial para a articulação entre as estruturas visíveis e

individualiza. A EXPO’98 não é exceção, e Lisboa tem uma história

as invisíveis.

ligada aos oceanos e ao cruzamento de culturas, expressas na forma como se implantou no sitio e foi construída, que constituem a sua característica mais marcante e o seu maior patrimônio. Desse modo, o espaço público é entendido como um “um tecido conectivo” contínuo, que liga as arquiteturas entre elas, “com articulações e variações que pontualmente gera tensões e, em geral, assegura continuidades, superando a rigidez da idéia de rua, praça, quarteirão e jardim público”. (SALGADO, 1999)

45


O desenho da Expo98 retoma a idéia de criar uma grande

A EXPO98

praça sobre o rio, em uma área um pouco maior que o Terreiro do

Parque das Nações

Paço e uma quadrícula, na tradição da Baixa lisboeta. As portas da exposição, a doca dos Olivais, o percurso junto ao rio, os pavilhões temáticos, são elementos que, dentro de uma geometria definida, organizam o espaço público e a ocupação construída.

46

Figura 17: Mapa de Lisboa com destaque para a área da EXPO´98.

Figura 18: Parque das Nações.


O recinto da exposição foi concebido principalmente para a

Organizações Internacionais, a Praça Sony, espaço de diversão

circulação de pedestres, e o seu desenho se assentou numa imagem

noturna, e a Torre Vasco da gama, de onde é possível obter uma vista

articulada para toda a exposição, em que os diferentes edifícios

panorâmica de todo o recinto, além da ponte de mesmo nome

fossem integrados num discurso coerente, proposto pelo arquiteto

cruzando o rio Tejo. Figuravam também durante a exposição, espaços

Manuel Salgado.

de lazer e animação cultural, praças de alimentação e espaços

O Parque é composto por dois eixos ortogonais, um na direção norte-sul, coincidente com a Alameda dos Oceanos, nos extremos dos

comerciais, serviços públicos, bem como diversos serviços de apoio ao visitante.

quais se localizam as Portas do Norte e do Mar (atual Porta Sul), e o outro, que passa pela Estação do Oriente, na direção leste-oeste, com extremos as Portas do Sol (atual Centro Vasco da Gama) e do Tejo. 47 Neste contexto a Alameda dos Oceanos configura-se como a rua principal do espaço, paralela aos trilhos do trem da Estação do Oriente e a costa, cruzando a área e organizando as diversas edificações. No centro ficam o Pavilhão de Portugal, o Oceanário, junto da Doca dos Olivais, e outros Pavilhões Temáticos, também a Área de Organizações Nacionais e a Estação Oriente. Ao sul ficam a Área Internacional Sul, que abriga alguns dos países participantes, o Teatro Camões e a marina com os moles e as réplicas de embarcações históricas. E ao norte a Área Internacional Norte, com o restante dos países participantes, a área de serviços administrativos, a Área das

Figura 19: Alameda dos Oceanos.


A água constituiu o elemento chave da Expo98, assumindo

Os pavilhões temáticos, por sua vez, compreendem as

funções lúdicas e estéticas, manifestando-se em jogos de água, fontes

seguintes edificações: o Pavilhão do Futuro, o Pavilhão do

e lagos, integrados em alamedas, largos e jardins.

Conhecimento dos Mares, o Oceanário ou Pavilhão dos Oceanos, o

Dentre as edificações, a intermodal Estação Oriente, principal

Pavilhão da Utopia, e o Pavilhão de Portugal.

meio de chegada a exposição, através do metrô, trem ou ônibus,

Entre as construções efêmeras destacam-se os equipamentos

compreende uma grande estrutura que delineia um dos principais

urbanos, projetos do escritório Risco e de Manuel Salgado além de

acessos ao recinto da Expo98. As peças mais emblemáticas da

João Carrilho da Graça. São exemplos os pequenos pavilhões que

exposição são as que foram construídas de forma a permanecerem. Ao

abrigam restaurantes e outros serviços e que apresentam a necessária

contrário de Sevilha, onde cada país construiu seu próprio pavilhão de

descrição e unidade para não sobrecarregarem e nem poluírem

maneira mais ou menos livre, em Lisboa as representações

visualmente o recinto.

estrangeiras ficaram abrigadas em duas grandes construções, as Áreas Internacionais Norte e Sul. A primeira é uma macro-estrutura de tubos de ferro, de forte cunho descontrutivista, em torno de 100.000 m2, projetada por António Barreiros e França Doria, cujo destaque é a cobertura ondulada das quatro grandes naves interceptadas no perímetro por uma passarela de seção circular. A segunda, por sua vez, foi concebida através de uma modulação de 18x18 metros e 9 de altura, projeto do escritório Risco. A primeira permaneceu abrigando a Feira Internacional de Lisboa (FIL).

48 Os espaços públicos foram realizados para cada área de acordo com os planos pormenorizados. Todavia, os elementos de arte urbana e de sinalização mereceram atenção especial. A arte urbana é o resultado do trabalho de diversos artistas portugueses e estrangeiros, de diferentes correntes, e teve um de seus maiores destaques nos jogos de água. A sinalização ficou a cargo, após concurso, de Pedro Silva Dias e procurou apresentar uma imagem que fornecesse uma clara identidade para a Expo’98 e fosse de fácil compreensão.


Espaços Públicos Desde o início, a Expo98 foi pensada também como uma exposição em que a arquitetura deveria desempenhar papel relevante. Queria-se um diálogo de arquitetura, mais do que uma proposta homogênea que indicassem um caminho: o final do século é pouco propicio às - grandes sínteses ou aos sistemas-totalizantes de Figura 20: Mapa de usos da EXPO´98.

representação e/ou produção do real. Pelo contrário, é na diversidade de expressões arquitetônicas que se encontra o melhor eco das produções estéticas contemporâneas.

A arquitetura da Expo’98 sobressai-se mais pela qualidade do

49

conjunto dos projetos do que pela particularidade de algum em especial. Apesar da justaposição de estéticas dominantes tão distintas como a tecnológica, a metafórica ou a minimalista, a arquitetura assegurou um resultado global. Isto foi conseguido em grande parte pela distinção feita entre os edifícios de caráter permanente e as estruturas desmontáveis, especificas para o tempo de duração do evento.

Figura 21: Parque das Nações.


estruturando aquilo que, em gesto de homenagem a todos os rossios Porém, uma exposição é um recinto, um território, - ao mesmo

de Lisboa, decidiram que fosse o Rossio dos Olivais.

tempo mais e menos que uma cidade. Fazer coexistir essas diversas expressões, da exuberância tecnológica de Peter Chermayeff à majestosa serenidade de Álvaro Siza, colocava um feixe de problemas técnicos de primeira grandeza: como organizar os edifícios no espaço, como fazê-los respeitar um traçado essencial que é a garantia da funcionalidade de um recinto destinado a acolher milhões de visitantes quantos fazê-los respirar e conviver, sem mútuas agressões nem protagonismos desmesurados? Tudo isso se colocava como o desafio maior da conexão do recinto expositivo. Coube a Manuel Salgado a tarefa de pensar esse espaço não como um deserto no qual os arquitetos pudessem implantar obras a seu bel-prazer, mas como uma teia virtual, nos quais, na maior parte das vezes, o seu olhar alento e sobriamente requintado encontrou

Deste esquema muito simples extraiu o arquiteto uma variedade de efeitos que equivalem a declinações de um mesmo padrão, por vezes em equilíbrio apertado entre a funcionalidade e o espaço disponível, como aconteceu, por exemplo, na tardia decisão de construir o Teatro Camões/Sala Júlio Verne, com projeto de sua autoria. Em outros casos, no entanto, a mão do arquiteto soube desenhar volumes que entre eles estabelecessem alguma ligação, como é o caso do Pavilhão de Exposições, que articula por interposição, a imponente massa do Pavilhão do Conhecimento dos Mares, de João Luis Carrilho da Graça, com a pala do Pavilhão de Portugal, concebida por Álvaro Siza.

motivos de inspiração mais do que escolhas inultrapassáveis. Daí nasce

Enfim, Manuel Salgado compreendeu que a tematização do

uma concepção do espaço urbano com um plano muito simples,

recinto, a sua narrativa, constantemente referenciada á água e aos

marcado por um eixo longitudinal, a Alameda dos Oceanos: e outro, de

oceanos, ganharia em ser entendida na transitividade funcional das

rasgada visão, que aponta da Estação do Oriente até ao rio,

propostas de ornamento e decoração do espaço. Pensados como espaços para as pessoas o jardim da Água, os vulcões da Alameda, a

50


frente ribeirinha norte, paralela aos jardins Garcia de Orla,

conceito perdeu-se em conseqüência da primazia dada á circulação

transformaram-se em outras tantas referências urbanas e lúdicas da

dos automóveis, á ditadura da engenharia de tráfego. Agora se volta a

Expo98.

falar de espaço público, fruto da necessidade que se sente em

Em todos os detalhes, como no apuro do projeto de iluminação, Manuel Salgado está presente. Se a Exposição de Lisboa pudesse alguma vez ser atribuída autoria (e não pode, porque foi obra coletiva, tão dos que a freqüentaram, como dos que a conceberam), o nome de Manuel Salgado figuraria na primeira linha. Porque a sua presença nota-se, às vezes nos mínimos pormenores, se exuberância nem protagonismo. Habitualmente, espaço público é entendido como o espaço que sobra entre os edifícios. O espaço público é o local onde as pessoas vivem grande parte do tempo. É o espaço onde circulam, seja de automóvel ou a pé, é o espaço onde se encontram, onde se sentam, onde conversam. É onde se fazem as manifestações e as procissões, as grandes festas e os funerais, são onde se expressam coletivamente as grandes alegrias e as grandes dores. Vendo bem, o espaço público é a essência da cidade e é através dela que ela é representada. Havia uma tradição até há cem ou cinqüenta anos em que o espaço público era desenhado, plantado e embelezado a pensar nas pessoas. Este

reconquistar a cidade para as pessoas tornando-a aberta, permeável, acessível a todos. Considera-se o espaço público não como o negativo do que está edificado, mas exatamente ao contrário: é algo que tem consistência em si própria, tem uma estrutura definida pelas ruas, praças, jardins, becos e passagens. É um todo que se desenha e se define com os edifícios, as árvores que o conformam, tendo também em conta o chão que se pisa, a iluminação pública que o modela, o mobiliário e a arte urbana que o com põem.

51


recinto da exposição, apesar de manter o mistério. O mistério que está nas perspectivas surpreendentes que furam os edifícios e não se confinam á malha ortogonal das ruas, na relação inesperada com o rio, um jacto de água, o nevoeiro ou como um pavimento é desenhado. Uma parte do trabalho foi a definição da forma do espaço tanto em planta a variação de alturas. Para isso foi definido em princípio uma quadrícula de 7,5m x 7,5m para toda a área. Tudo foi planejado, das zonas só para pedestres e das zonas só para carros, das Figura 22: Fonte de água.

áreas de convivência entre ambos. Mas também das texturas, cores e resistência dos pavimentos, dos espaços ajardinados e do plantio de árvores, das fontes e dos jogos de água. As cabines telefônicas, os

Manuel Salgado pretendia tornar o espaço público do Parque das Nações, uma estrutura de muito fácil leitura, perceptível num primeiro relance. Há uma sobreposição entre um projeto imobiliário, uma malha residencial e um projeto para exposição de grandes dimensões. A malha residencial que estava desenhada era ortogonal e relativamente clara. Porém, havia um pouco a idéia de que uma exposição teria de ter uma estrutura bastante orgânica e um pouco desorganizada, criando muitas situações diferenciadas. O primeiro esboço foi exatamente o contrario: tornar legível a estrutura do

quiosques, os postes de sinalização e tudo o que passa por baixo do chão do recinto. No Parque das Nações, está debaixo do chão o dobro das redes técnicas que costuma existir numa cidade, além disto, está ainda o habitual tubo para águas, esgotos, gás, eletricidade, rede de som, rede de fibra óptica, rede de rega, rede de drenagem de árvores. Era fundamental que isso aparecesse á superfície de maneira lógica.

52


Em relação à preservação dos materiais empregados, alguns apresentaram defeitos depois de alguns anos, como o concreto que ficou cheio de buracos. Entretanto, num local que foi feito para permanecer após a exposição, necessita de manutenção que deve ser feita pela prefeitura de Lisboa.

53

Figura 23: Desenho da quadrícula de 7,5 x 7,5m. Figura 24: Vista noturna do Parque das Nações.

Apenas um mês antes da exposição é que foi possível observar como ficariam os espaços públicos. O resultado agradou a todos, pois ficou claro que não era apenas um simples colocar de bancos de praças nos espaços vazios. Era um local cheio de detalhes e mensagens subliminares, que talvez os visitantes mais desatentos nem tenham notado, mas dão a sensação de bem-estar a todos no local.


desqualificação territorial e ambiental excepcionais, convergindo no

Parque do Tejo

sítio um conjunto de atividades profundamente marcantes e tristemente características de uma situação geográfica, de fronteira intermunicipal, caracterizada por unidades industriais desativadas.

54

Figura 25: Desenho de João Nunes para o Parque do Tejo.

O Parque do Tejo, projetado pelo arquiteto João Nunes, cobre

Figura 26: Parque do Tejo

aproximadamente uma área de 90 ha de frente ribeirinha da margem direita do Rio Tejo, desde a Torre Vasco da Gama, situada no limite a sul do parque, até ao Rio Trancão, que limita a norte, cercando a área de

intervenção

da

EXPO’98.

A

pré-existência

definia

uma

A proposta procurou estabelecer uma organização do espaço de grande diversidade cênica, visual e sensitiva, suportada por uma estrutura que traduz unidade formal onde as formas de modelação de


terreno

constituem

o

elemento

estruturante

fundamental,

determinando conseqüências ecológicas, cênicas e vivenciais que estabelecem o fundamento da paisagem que se pretende criar uma paisagem tridimensional, diversificada e ritmada. Estas formas de modelação de terreno definem, pela sua disposição relativa e orientação, não apenas uma marcação formal, mas, sobretudo, um ritmo ecológico que se repete ao longo do território do Parque, essencialmente pela oposição entre taludes suaves expostos a sul e taludes mais abruptos voltados a norte.

55 Figura 27: Frente ribeirinha do Parque do Tejo.

O zoneamento de plantações e revestimento vegetal acentua o contraste entre taludes fazendo coincidir tipologias e elencos florísticos específicos a situações ecológicas correspondentes, antecipando, em termos de imagem, o resultado que o tempo e a natureza se encarregariam de estabelecer. Dado que se pretende um Parque

intensamente

vivido,

os

sistemas

a

introduzir

são

necessariamente artificiais de forma a poderem apresentar uma capacidade de carga ecológica adequada. O sistema de caminhos


constitui uma rede hierarquizada que define, ele próprio, uma estrutura

autônoma,

funcional,

subsidiária

da

estruturação

tridimensional de base com a qual se articula de forma indissociável. Para além do sentido ecológico, funcional e imagético da estrutura proposta, a solução serve paralelamente uma intenção essencial ao conceito desenvolvido para o Parque: a potenciação do sistema cênico, suportada projetualmente em duas ações fundamentais: a criação de corredores visuais, consumados como os negativos do conjunto estruturante, e a criação de formas de modelação e faixas arborizadas, que vão se abrindo no sentido da aproximação pedonal ao Rio. 56 Figura 28: Parque do Tejo.


A construção da Ponte Vasco da Gama sobre o Rio Tejo pela

Ponte Vasco da Gama

Lusoponte, está agora escrita nos anais da história da engenharia civil como um dos maiores e mais bem sucedido projetos do Séc. XX. A Ponte Vasco da Gama construída sobre o rio Tejo fez a ligação de Lisboa a Montijo e Alcochete, constituindo-se uma “Os acionistas da Lusoponte formaram um consórcio em ‘joint

alternativa a ponte 25 de Abril para o trânsito que circula entre o norte e o sul do país na zona da capital portuguesa.

venture”, a Novaponte, ACE, liderado pela Campenon Bernard SGE, que ficou responsável pela concepção e construção da Ponte e dos

Este projeto, que foi concluído num apertado prazo de construção tinha a função de permitir o fácil acesso à Expo'98,

seus ramos de acesso. A construção da Ponte foi dividida em sete frentes:

incluiu igualmente o projeto de expropriações e realojamento, que pela primeira vez em Portugal, ficou a cargo de uma entidade privada.

Os nós de Sacavém e da Variante à EN10, que dá acesso a Lisboa e ao local da Expo' 98. O Viaduto Norte, com 488 m de comprimento que atravessa a linha ferroviária do Norte e várias

Uma das grandes preocupações deste projeto foi sempre a preservação do meio ambiente em que se inseriu, dando origem a um vasto programa ambiental implementado desde o inicio da construção e que incluiu, entre outras coisas, a recuperação das Salinas do Samouco localizadas na Zona de Proteção Especial.

estradas locais. Tem um tabuleiro de largura variável que recebe vias secundárias de acesso e saída à ponte. O Viaduto da Expo, com um comprimento de 672 m cujo tabuleiro foi construído a partir de aduelas pré-fabricadas e colocadas de modo eqüidistante de cada lado dos pilares. A Ponte Principal, que é uma estrutura de concreto com o tabuleiro atirantado por cabos às torres principais. O seu vão central é de 420 m e os vãos laterais têm 203 m. As torres centrais medem 150

57


metros de altura e o tabuleiro está 47 metros acima do nível da água na zona do canal de navegação denominado Cala do Norte. O tabuleiro é uma estrutura mista composta por lajes de concreto assentes em carlingas de aço ligadas em duas vigas de concreto laterais

de

onde

partem

os

tirantes

para

as

torres.

As torres Norte e Sul, em forma de H, apoiam-se em fundações também concebidas para suportarem o impacto de um navio de 30.000 toneladas que se desloca a uma velocidade de 12 nós. Cada fundação destas torres assenta em 44 estacas moldadas com 2,2 m de diâmetro e atingem profundidades superiores a 65 m.O viaduto

Figura 29: Vão Principal.

Central com 6.351m aplicando sobre 81 pilares duplos vigas pré-

58

fabricadas com 78 m de comprimento e 2.200 toneladas de peso. aos 30 metros sobre os dois canais navegáveis, a Cala das Barcas e a Cala de Samora, cujos vãos de 130 m permitem a passagem de navios de médio

porte.

O Viaduto Sul, com 3.825 metros de comprimento, é constituído por um tabuleiro duplo com vãos de 45 metros construído com recurso a dois

pares

de

vigas

de

lançamento.

O Acesso Sul, ligam a Ponte Vasco da Gama ao nó rodoviário Sul por terrenos agrícolas, na sua maioria. As ligações locais mais próximas são com Setúbal e com Alcochete e Montijo.

Figura 30: Ponte Vasco da Gama.


Estação do Oriente

Escolhido para construir a Estação do Oriente após uma competição limitada na qual participaram também Terry Farrel, Nicholas Grimshaw, Rem Koolhaas e Ricardo Bofill, Santiago Calatrava fez uma abordagem da construção diferente da dos seus colegas que se basearam apenas na arquitetura como disciplina para conceber o projeto. Baseando-se em conceitos intelectuais diversos, justifica sua obra através do impacto proporcionado pelo novo ícone urbano que muda a imagem da cidade. Tal qual um câncer, esta obra quer contagiar o entorno, transformando-o.

59 Figura 31: Vista Geral da Estação do Oriente.

Calatrava estudou arte e arquitetura em Valência e freqüentou o Instituto Federal Suíço de Tecnologia (ETH), em Zurique. Sendo ao mesmo tempo arquiteto e engenheiro, também se interessa pelo desenho e pelas formas naturais, que revelam claramente que as suas construções têm muitas vezes origem no desenho de uma ave ou de uma figura humana, embora a obra final quase nunca seja especificamente antropomórfica.


A Estação do Oriente é, inegavelmente, a par do Pavilhão de Portugal de Álvaro Siza, a estrutura arquitetônica mais significativa da

que a abertura que dá para o rio foi pensada como um acesso principal.

EXPO´98. Com seus duzentos mil visitantes por dia é, claramente a peça fulcral do plano para revitalizar a frente ribeirinha no oriente da cidade. O aspecto espetacular dado ao projeto se deve a cobertura

Figura 32: Corte Longitudinal.

com 78 por 238 metros sobre as oito linhas férreas elevadas cuja tipologia recorda a de um conjunto de árvores. Em lugar de acentuar a ruptura entre a cidade e o rio que a estação implicaria, Calatrava procurou abrir passagens e restabelecer ligações. Este propósito é evidenciado pelo fato do arquiteto ter escavado a elevação do terreno onde correm as linhas, de modo a construir a estação por baixo delas. O complexo inclui dois grandes toldos em metal e vidro sobre as entradas, um deles com cento e vinte metros de comprimento e onze metros de largura. Existe uma estação rodoviária e um parque de estacionamento, uma estação de metrô por baixo (não concebida por Calatrava), e uma galeria longitudinal com espaços comerciais que estavam incluídos nas instruções do arquiteto. As bilheterias e outros serviços localizam-se cinco metros abaixo das linhas, e a galeria longitudinal, cinco metros mais abaixo, é marcada por um átrio em

Vista de longe, ou mesmo de seu interior, o aspecto mais visível da Estação do Oriente é a sua forma de árvore. Quando Calatrava fala da concepção da plataforma da estação, refere-se a “árvores numa colina”. A “colina” é, neste caso, o plano superior por onde o comboio passa. Para explicar a metáfora da árvore, ele se refere as suas visitas a Lisboa durante o concurso. “Na cidade, há numerosos parques arborizados. Imediatamente senti que a colocação da via férrea num plano superior pedia uma encosta arborizada. Quis acentuar a transparência da estação. Num meio urbano que irá, sem dúvida, tornar-se mais populoso, a Estação do Oriente irá parecer um oásis. Será um lugar aonde as pessoas irão para descansar”.

60


tivessem qualquer finalidade depois da feira, como havia acontecido em Montreal e em Sevilha. As estações férreas, como tipo de arquitetura pode ser vista como uma porta de entrada já que é, seguramente, o ponto onde começa ou acaba uma viagem. A Estação do Oriente serve naturalmente as funções tradicionais de chegada e partida, embora as vantagens do complexo sejam multiplicadas através da ligação a outras Figura 33: Croqui inicial com a inserção da paisagem urbana.

formas de transporte: comboio, ônibus, carro e metropolitano. Mas a

Para vencer o concurso, Calatrava salienta como fator principal

par destas semelhanças com outras estações, tem diferenças notáveis.

o caráter urbano do projeto. A Estação do Oriente servia como uma

A estação situa-se, na realidade, por baixo da via férrea e não lhe é

das principais portas de entrada para o complexo da EXPO´98.

perpendicular, como é usual. Segundo Calatrava, para compreender a

Entretanto, além da exposição, até a estação ser construída, os

estação é necessário saber que as linhas de caminhos férreos já tinham

comboios não atravessava Lisboa diretamente. Chegavam à estação de

sido colocadas numa espécie de monte com 8 metros de altura, sendo

Santa Apolônia, a cerca de quatro quilômetros de distância, e eram

que uma das intenções principais era diminuir a fratura entre a cidade

obrigados a seguir na direção oposta para prosseguirem viagem. Um

e área em construção. Para isso, Calatrava escavou o monte para

dos quesitos do concurso para a Estação do Oriente era que a sua

construir a estação e criou um passeio que vai de um lado a outro,

construção, permitisse aos comboios parar na capital sem serem

perpendicular a via férrea. Ao contrário das estações tradicionais, com

obrigados a fazerem o retorno. Pretendia-se desde o principio, que

uma fachada monumental de pedra, geralmente com um abrigo de

fosse “intermodal”, combinando caminhos de ferro, metropolitano,

vidro e ferro, a Estação do Oriente é composta por uma série de

autocarros e automóveis, para evitar a criação de áreas que não

aberturas e de passagens, não tendo uma fachada propriamente dita.

61


Figura 34: Croquis de implantação.

Outra peculiaridade da Estação é o fato de não haver uma, mas duas entradas, em lados opostos da linha, cada uma assinalada

Figura 35: Imagem do período da construção.

por vasta cobertura que acentua a idéia de passagem, de uma galeria.

Apesar do tamanho considerável e do fato das plataformas se

É também um gesto para o público, uma maneira de dizer que não é

situarem oito metros acima do solo, a Estação do Oriente não é, de

apenas um lugar para quem conhece, mas para todos.

modo algum, monumental. É um elemento que se distingue na

O comércio, considerado um âncora do sistema urbano – razão que levou à localização de um complexo multiusos, com uma grande superfície associada a outros fins, integrada na estrutura urbana e articulada com a Estação do Oriente – localiza-se nas praças e nas arcadas de ligação às ruas – com o seu valor funcional e de imagem urbana nas frentes da Via Principal e Alameda Central.

paisagem citadina, mas a quase inteiramente transparente estrutura de metal branco das plataformas consegue dar a impressão do oásis imaginado por Calatrava.

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Pavilhão de Portugal

Edificado no âmbito da Expo '98, o Pavilhão de Portugal, projetado pelo arquiteto Álvaro Siza, deveria constituir um espaço simbólico, para desempenhar no decorrer da Expo as funções de recepção e de espaço expositivo, mas que, após o seu encerramento, pudesse ser compatível com outras funções à época ainda não definidas. É o próprio arquiteto quem refere às dificuldades colocadas por um programa que se pautava pela inexistência de referências, pois se assistia, em simultâneo, ao nascimento de toda uma nova área

63

urbana.

Figura 36: Pavilhão de Portugal.

“Um arquiteto, normalmente, trabalha com um programa e uma série de condicionantes. Uma das condicionantes é o sítio. O fato de ser uma paisagem natural ou o interior de uma cidade tem as suas implicações, mas é também aqui que se procura o estímulo para iniciar o trabalho. A primeira idéia


com possibilidade de ser desenvolvida, tendo em vista

Siza moveu o edifício, retirou-o do eixo da doca e colocou-o numa

determinados objetivos e limitada por certas condicionantes, é

posição de assimetria, ancorando-o de um lado da doca, como se fosse

muitas vezes impossível de se materializar. Outras vezes não.

um barco. A partir daí estabeleceu-se uma relação que já não é de

No caso da Expo98, os arquitetos começaram a trabalhar ao

simetria, mas de tensão com o que sabia já existir na doca: o

mesmo tempo nos diversos pavilhões sem saber exatamente

Oceanário. Essa implantação possibilitou uma maior liberdade aos

que construções é que iam ter por vizinhos. Sabia-se que ia ter

arquitetos, criando uma situação de tensão, mas também de

um futuro, mas o futuro era um esquema. Faltavam

dinamismo, aberta a utilização futura do edifício.

informações sobre os elementos exteriores: o sítio, as grandes construções vizinhas, a utilização futura, os conteúdos. Com essas dificuldades especiais – não é a situação normal – era fundamental estabelecer uma estratégia de funcionamento e

64

deixar ao edifício várias possibilidades de aproveitamento. No futuro, este edifício podia ser um museu, mas também podia ser um escritório” (Álvaro Siza) O aspecto fundamental do trabalho inicial foi a implantação do sítio. Inicialmente deveria se fazer um edifício no eixo da doca. Essa posição do eixo faz lembrar o Terreiro do Paço com o Arco do Triunfo da Rua Augusta como elemento dominador e dois braços laterais relacionados com a quadrícula da Parte Baixa. Um grande espaço sobre o rio, mas que nesse caso não se previam braços. Dessa maneira,

Figura 37: Vista do Pavilhão de Portugal através do Parque das Nações.


O edifício é formado por dois corpos - uma praça coberta,

experimentando, procurando idéias, formas, aparecem muitas

denominada por Praça Cerimonial e um edifício de dois pisos e cave

referências sem termos consciência do porquê de determinada

estruturado em função de um pátio interior, apresentando outro pátio

idéia. Na tentativa de encontrar um caminho não dizemos:

a Norte. O primeiro é definido por dois pórticos de concreto, entre os

vamos experimentar A ou B. É um processo mais instantâneo e,

quais se desenvolve uma lâmina de concreto armado, suspensa por

portanto passa por certo inconsciente. Um dos aspectos

cabos de aço. O segundo, um pouco mais elevado, caracteriza-se por

importantes na formação de um arquiteto é desenvolver essa

uma abertura regular dos vãos. Virado para o rio, um pórtico de

capacidade de registrar experiências e de recorrer a elas

colunas, que suportam uma pala, e que se articulam com a varanda

naturalmente. Na minha opinião, um arquiteto não pode saber

que percorre toda a fachada. Do lado oposto, destacam-se as janelas

a fundo nada. O arquiteto é especialista em não ser

do piso superior, caracterizando-se todos os vãos por linhas

especialista em coisa nenhuma. Não é possível criar uma

depuradas. Já a fachada Norte, na diagonal, "acentua a abertura do

plasticidade em que vão entrando todos os aspectos técnicos e

eixo urbano da Estação do Oriente à Doca dos Olivais. Mas

outros se for um especialista. Não sei dizer qual o significado

curiosamente, os muretes, que parecem referir-se a alinhamentos de

da pala, terá muitos, não sinto necessidade de justificar sua

“buxos” dos jardins de solares e de palácios, contrariam parcialmente

existência. A arquitetura não é como um texto pragmático ou

esta afirmação de abertura.

explicativo. ” (Álvaro Siza)

A versão de Siza para definir o desenho do Pavilhão de Portugal não apresenta uma justificativa, mas recorre à memória. “Não sei se a pala surgiu como analogia dos toldos da praia, considerando a proximidade com a água. Não sei. Quando estamos

na

fase

nebulosa

de

pré-criação

vamos

65


Muito se tem escrito sobre esta obra de Siza Vieira, vencedora, aliás, do Prêmio Valmor de Arquitetura em 1998, sendo uma constante a referência aos traços históricos que a mesma encerra, se bem que "combinados com rasgos modernos, como o lençol de concreto". Se, por um lado, se observam referências à tradição clássica nos pórticos e ritmos das janelas, a organização interna em função de uma espécie de claustro recorda a arquitetura religiosa conventual. Por sua vez, Kenneth Frampton, numa das mais completas monografias sobre o arquiteto português, alude à escala monumental do Pavilhão de Portugal, onde, segundo este autor, Siza fez confluir duas imagens imperiais antitéticas. Mas as referências a arquitetos como Le Corbusier, Oscar Niemayer, a Giuseppe Terragni ou mesmo ao programa da Nova Monumentalidade de 1943, são algumas das linhas interpretativas sugeridas por Frampton.

Figura 38: Vista do vão do Pavilhão de Portugal.

66


cargo de Eduardo Souto Moura, funcionando um restaurante, café e bar no restante espaço. Para pensar o espaço expositivo, havia dois caminhos, o fácil seria pegar o patrimônio do tempo dos Descobrimentos e fazer mais uma exposição. O mais difícil seria pegar o tema de uma forma abrangente e universalista. Aproveitar a ocasião para deixar alguma coisa que perdurasse além da efemeridade obrigatória do evento. Descobrir fontes iconográficas menos divulgadas e dá-las a conhecer do grande público, usar as novas tecnologias e trazer á luz peças novas do tempo dos Descobrimentos. 67 O tema desenvolvido na exposição tinha a idéia de não apresentar uma versão passadista da História, saudosa de glórias antigas, mas — pelo contrário — dar ao público a idéia de um país com um passado que sabe preparar o futuro. Figura 39: Croquis do Pavilhão de Portugal.

Para fazer esse espaço, Souto de Moura precisava fazer um lugar onde a luz natural não entrasse. O visitante veria o edifício na Durante a Expo'98, o projeto expositivo, que deveria evocar os

parte externa, mas ao entrar em seu interior ficaria inebriado na

descobrimentos portugueses e a conquista dos Oceanos, esteve a

exposição. Apesar de ter pensado um interior clássico para o espaço


museológico, Siza foi bastante receptivo e um tanto ressabiado com a

Pavilhão do Futuro

“exposição-espetáculo” que iria se concretizar. As linhas simples do pavilhão podem pressupor certa frieza. Mas se for pensado que a apreciação de uma arquitetura crua é apenas acadêmica, a grande variedade de usos para que foi projetado o pavilhão, já trás a luz vida ao edifício.

O projeto para o Pavilhão do Futuro começou a ser pensado com base no pressuposto de o que é importante numa exposição, objeto de visita e de investimento do ponto de vista conceitual e criativo, é o conteúdo e o discurso expositivo. Os edifícios são

O edifício foi, posteriormente, palco de várias exposições e,

“depósitos” desse conteúdo. Com base nisso foi desenhada uma

desde então, muitos têm sido os destinos apontados para este imóvel

secessão de salas, todas fortemente caracterizadas, com funções

que permanece, todavia, sem uma função específica. O que não

predestinadas e com contornos muito marcados, que sugestionassem

impede que se mantenha como um dos mais representativos edifícios

o projetista da exposição temática.

desta área da capital, marcando fortemente a paisagem e constituindo um símbolo para Lisboa e para o país.

68


a exposição sobre o futuro dos oceanos ou o seu conteúdo não foram a principal motivação na concepção geral do projeto e não condicionaram a realização e o desenvolvimento do mesmo em nenhuma das fases, tanto mais que o Parque Expo optou por distinguir, desde o início, edifício e conteúdos, orientando ambos os projetos independente e individualmente. Com o amadurecimento do processo e a sua consolidação, foi crescendo uma idéia de edifício, de forma e conceito, que marginalizou progressivamente a idéia do depósito de uma exposição. O desenho ganhou autonomia e passou a ter uma expressão individual, relativamente independente dos temas e dos discursos que se lhe poderiam justapor ao mesmo tempo em que começou a definir-se numa idéia de concepção diversa e estruturada. A exposição trata o futuro dos oceanos, mas poderia tratar Figura 40: Pavilhão do Futuro.

qualquer outro tema relacionado com os oceanos, tema central da Expo98. Mantendo-se as premissas do programa e as áreas previstas,

Essa foi na origem a fórmula utilizada para defender o projeto, mas, de fato, embora o tema da exposição e as necessidades funcionais e discursivas implícitas tenham sido objeto de reflexão sobre o que concretamente se pretendia que o edifício representasse,

provavelmente o objeto construído seria semelhante na forma e no significado.

69


O tema do mar foi, no entanto, fundamental na sugestão de

massificando exteriormente, embora com sobreposição de planos e

uma expressão para o alçado principal e para a fachada falsa. É a

fachadas, fachadas falsas e vazios interiores. Conseqüentemente, o

maneira que Paula Santos, Rui Ramos e Miguel Guedes, justificam as

esta precondição para a elaboração do projeto - a da sua dimensão -

lâminas onduladas e a tonalidade metálica do edifício.

sobrepôs outra, a da imagem e da aparência do edifício. Os arquitetos,

O fato de o edifício ser efêmero foi outro pressuposto, desde o início fortemente discutido e amplamente avaliado pelos arquitetos. O Pavilhão do Futuro funcionaria somente durante o período de abertura da Expo98, e isso obrigou a algumas opções de principio, principalmente as que se relacionavam com sistemas construtivos e custos.

interessados desde o início com o contraste de texturas e materiais diversos, escolheram sucessivamente um cilindro de madeira, um cubo em vidro, um trapézio e um paralelepípedo de concreto, a medida que o desenho ia se consolidando e que os materiais iam respondendo a cada uma das solicitações; o concreto para grandes cargas e grandes vãos, para áreas fechados e obscuras; a madeira para o volume cilíndrico, área de recepção e passagem dos visitantes a dois níveis,

Outra condicionante foi o número de visitantes previstos, que

criando algum contraste com a frieza do aço e do concreto utilizados

exigiam todos os espaços amplos e de grandes dimensões, quase

no restante das áreas; e o vidro, envolvendo toda a área expositiva,

monumentais. Pela sua dimensão e escala, os edifícios tendem a ser

criando a noção de água, de grande aquário, de invólucro para a

interpretados como monumentos, e isso teve algum peso na idéia, na

grande curiosidade do edifício: a exposição sobre o futuro dos

concepção da imagem e nos princípios orientadores da solução, já que

oceanos.

nesse caso o local é contemporâneo a construção dos edifícios. Um retângulo de 122 x 55 m com uma altura máxima de 22 m foram as restrições para uma correta integração. Com isso, todo o perímetro do quarteirão foi ocupado e elevado até a altura máxima,

70


Sobre tudo isto e numa espécie de saturação do discurso e na procura de criação de ambientes e espaços diferenciados com diferentes tonalidades de luz e sombra dentro da área de intervenção, uma fachada falsa, ondulada, metálica, que se desenvolve em tiras horizontais, delimitando todo, ou quase todo, o edifício. O discurso formal e a aparência exterior são ilustrados por uma série de elementos que são supérfluos, estranhos a arquitetura que desenhamos habitualmente e de alguma forma extraordinários pela sua falta de necessidade e excesso. A sua justificativa é a experiência formal, a criação de paredes e de contornos falsos e, conseqüentemente, de espaços intersticiais entre estes e os espaços com utilizações determinadas.

Figura 41: Elevações e Cortes.

71


explicação para a criação das fachadas onduladas e planas e para a criação de estruturas metálicas complementares que suportam estes elementos senão supor que o desenho não seja estritamente funcional e possa desempenhar um papel igualmente figurativo e fortemente expressionista. A aproximação ás ondas do mar ou aos reflexos da água são expressões meramente sensitivas e profundamente cúmplices da vontade de ensaiar uma imagem diferenciada e expressiva.

72

Figura 42: Plantas 1° e 2° pavimento.

É uma arquitetura que se expõe e que se sobrepõe á tradição meramente literal da relação entre espaço e função. Não há outra

Figura 43: Estrutura para a exposição.


O programa é bastante simples e desenvolve-se em contínuo,

Pavilhão dos Oceanos

o que é vantajoso para a leitura do edifício: rampas de entrada a partir da alameda da Expo, grande cilindro para recepção dos visitantes, acesso ao designado pré-show com uma apresentação em audiovisual

O Pavilhão dos Oceanos — novo Oceanário de Lisboa — foi

do que se vai passar no interior do pavilhão, entrada para o teatro de

concebido pelo arquiteto norte--americano Peter Chermayeff para

500 lugares onde se vê um filme de oito minutos, saída à cota superior

expressar, de forma inovadora, o fato de que os mares e oceanos do

do anfiteatro novamente para o cilindro, travessia em passarelas

nosso planeta formam um único oceano global — conceito

suspensas e entrada no observatório, sala de 40 x 50 m e 18 m de

fundamental para a gestão e conservação do próprio planeta, numa

altura, que foi deixada livre para a intervenção dos projetistas dos

visão unificada dos diversos sistemas e recursos.

conteúdos expositivos, saída para o exterior, possibilidade de visita a loja temática e novamente subida em rampa até a abertura para a

73

alameda principal.

Figura 44: Oceanário de Lisboa.


Enquanto parte integrante dos projetos temáticos da Exposição Mundial de Lisboa de 1998 — Os Oceanos, Um Patrimônio para o Futuro - o Pavilhão dos Oceanos celebra a vida na Terra através de uma visão deslumbrante da vasta e complexa diversidade de seres vivos que habitam este Oceano Global, evocando o papel vital que este exerce na saúde e na evolução planetária.

74

Figura 45: Planta de localização.

O projeto quer no nível da arquitetura, quer no nível da engenharia, da biologia e do próprio conceito expositivo, foi estruturado com base em dois temas principais que, em conjunto, compõem uma história rica em pormenor cientifico e em valores


humanísticos, acentuando os benefícios de uma relação harmoniosa entre o homem e a natureza.

Figura 47: Corte do edifício. Figura 46: Planta do edifício.

75 A edificação levanta-se sobre as águas da Doca dos Olivais e Nesta perspectiva, o Pavilhão dos Oceanos tem uma

tem como planta um tanque central em torno do qual se distribuem

mensagem importante a partilhar com o mundo, mensagem que se

quatro espaços expositivos que abrigam a reconstrução dos

centra na capacidade do homem para conhecer o meio oceânico e na

ecossistemas dos Oceanos Atlântico, Pacífico, Índico e Antártico,

sabedoria para reconhecer a responsabilidade que lhe cabe na sua

configurando-se no maior aquário da Europa. Sua arquitetura, com

defesa e conservação.

clara referencia náutica não será desmontada após a exposição.

O Oceanário de Lisboa foi aberto ao publico no final de 1998, dotado de exposições permanentes e temporárias e de atividades educativas

que

proporcionaram

uma

experiência

cultural

incomparável no domínio dos aquários e da educação ambiental.


Pavilhão do Conhecimento dos Mares

O ponto de partida foi um guia previamente preparado pela Expo 98. A exposição encontra aí o princípio da sua fundamentação como evento comunicativo, narrativo, composto por diversos

Quando em 1995, João Carrilho da Graça foi convidado para o

capítulos. Tratava-se de contar a história da evolução do

primeiro concurso que daria acesso a uma das exposições temáticas da

“Conhecimento” do Homem, como reflexo do seu progressivo

Expo 98, estava longe de suspeitar a tremenda complexidade do

conhecimento dos mares. Havia ainda que levar em consideração a

processo em que foi envolvido. Ao longo de dois anos, o projeto

natureza singular do edifício-suporte, hoje chamado Museu do

evoluiu e foi obrigando a uma atitude de permanente autocrítica e

Conhecimento, cuja concepção seguia em paralelo com a da

revisão, tanto conceitual como dos próprios processos, ou,

exposição. Salvo poucas exceções, era pensado como uma seqüência

simplesmente, investigação metodológica.

de espaços-caixa relativamente neutros, obscurecíveis e que, no limite, poderiam ser encarados como palcos de um espetáculo. Por fim, uma afluência máxima estimada de 2100 pessoas/hora (atingiu 2400), oriundas dos mais diversos países, faixas etárias, extratos sociais, percorreria a seqüência de espaços em 45 minutos, numa média de 67 minutos por sala.

Figura 48: Vista externa do Pavilhão do Conhecimento dos Mares.

76


pretendia veicular um conjunto de noções e de eventos. Através da natureza dos cenários, da luz, do som, dos estímulos criados e dos objetos expostos, sem recurso a texto ou a qualquer explicação, a atmosfera de cada sala deveria “submergir“ o visitante num determinado tema. Mais do que tentar descrever ou dissecar a exposição em si, que poderia resultar em leituras falhas, pobres e redutoras do texto-exposição, neste projeto interessa, sobretudo referir as questões levantadas pelo ato de projetar e tudo aquilo que o envolveu ou o determinou. O texto que o arquiteto deixa, é a própria exposição. As leituras desta deverão emergir naturalmente da experiência (individual) do próprio evento. Só assim se compreendem verdadeiramente, ganham sentido ou significado. Figura 49: Rampa de acesso.

O Pavilhão do Conhecimento dos Mares apresenta uma área A comunicação escrita e a interatividade, usuais em exposições convencionais, estavam forçosamente excluídas. Mantendo a sua estrutura inicial, o guia foi sofrendo sucessivas adaptações, evoluções emergentes do debate, muitas vezes polêmicos, em torno de cada solução expositiva. Poucos projetos levantariam tanto a questão da linguagem como comunicação, como esta exposição temática que

em que os portugueses foram reis, a descoberta dos mares. A edificação consiste em uma forma tectônica em que um volume vertical, assentado diretamente no solo, é interceptado por outro, horizontal, que é acessado através de uma grandiosa rampa que quer dizer movimento e tensão.

77


O edifício é esquelético e nu por fora e por dentro. Apenas na sala de entrada – um paralelepípedo alongado com uma faixa de portas de acesso envidraçadas viradas a sul e uma linha de janelas junto do teto voltadas para o norte – existe luz natural. A nave é o espaço central. A luz É zenital, com Ianternins orientadas a nascente. É nesta sala que, talvez de uma maneira mais evidente se sente que a escala do edifício é difícil de referir. O simples fato de tocar e medir o edifício parecem não nos garantir nada em relação ao jogo consciente Figura 51: Corte longitudinal.

da aparente desconexão das medidas.

78

Figura 52: Corte transversal. Figura 50: Plantas.


As salas existentes, tanto na capital como em outros pontos do

Pavilhão da Utopia

país, ou tinham lotação limitada - até 4 mil lugares -, ou eram dificilmente adaptáveis a eventos não convencionais, como o desporto A idéia de construir o Pavilhão da Utopia ou Pavilhão Atlântico,

de alta competição em recinto coberto. Além disso, não dispunham do

remonta às primeiras discussões sobre o Plano de Urbanização da

aparato tecnológico exigido para coberturas televisivas modernas ou

EXPO’98.

pelos grandes espetáculos musicais ou teatrais.

Ao contrário de outras cidades européias, Lisboa não possuía uma sala polivalente para acolher espetáculos, congressos e acontecimentos desportivos de grande envergadura.

Existia um vazio entre as salas até quatro mil lugares, como o Coliseu ou os pavilhões construídos para outros fins e adaptados, e os grandes recintos abertos. Esta circunstância fazia com que o país ficasse fora dos campeonatos de desporto “indoor” e fosse difícil realizar grandes concertos nas estações frias e chuvosas. Daí ter-se optado por construir um equipamento deste tipo, no quadro do plano de urbanização para a zona da EXPO’98. Esta localização tinha a vantagem de servir não só a população da maior área metropolitana portuguesa, mas também o país no seu conjunto, dado a proximidade da Estação do Oriente (onde se interligam os principais meios de transporte público) e dos principais nós rodoviários.

Figura 53: Vista geral.

79


Para o projeto foi escolhido o arquiteto português Regino Cruz,

Definida a forma, a implantação do edifício fez-se para tirar

associado a um grande gabinete internacional: Skidmore, Owings &

partido da exposição solar da fachada virada a sul, para aumentar os

Merril (SOM). Regino Cruz é autor de diversos projetos no Brasil e em

ganhos solares durante a estação mais fria e prevenir a sua incidência

Portugal, nomeadamente de edifícios institucionais e de escritórios em

direta por meio de sombreados durante o Verão. Desta forma

Lisboa.

racionalizaram-se custos de climatização. No mesmo sentido, foram

A SOM obteve o primeiro prêmio nos concursos para os estádios

colocadas aberturas no topo de edifício que facilitam a ventilação

Olímpicos de Manchester e Berlim, para além de acumular projetos de

natural da atmosfera interior e garantem o seu arrefecimento entre

grandes pavilhões desportivos nos EUA (Portland, Filadélfia, Oakland

eventos A organização interna do espaço foi pensada em função de 3

ou

Minneapolis).

grandes objetivos: 1) minimizar o impacto visual de uma construção de

É também co-projetista da Torre Vasco da Gama, situada no topo

grandes dimensões como é esta; 2) contribuir para um uso racional da

norte do recinto do Parque das Nações. A configuração do Pavilhão

energia;

Atlântico lembra uma nave espacial, mas a sua forma é também a do

Assim, o piso das salas de competição e espetáculos foi enterrado a 6,4

caranguejo-ferradura, espécie surgida há 200 milhões de anos. Misto

m abaixo do nível do solo. Apesar do generoso pé-direito do edifício,

de animal marinho e nave espacial, esta forma merecia uma estrutura

este apresenta uma imagem exterior à escala humana. As entradas e

que a suportasse, física e simbolicamente.

saídas fazem-se facilmente através de uma pequena escadaria exterior

Assim surgiu a idéia do travamento em madeira para sustentar a cobertura, à maneira de uma nau quinhentista. Numa exposição mundial que evoca os oceanos e as Descobertas, a madeira, melhor que o aço ou o concreto, é a matéria-prima ideal.

3)

simplificar

a

entrada

e

saída

do

público.

que circunda o edifício. A inércia térmica foi melhorada, já que a superfície de contacto com o exterior é reduzida. O desenho e construção do exterior contribuem também para os objetivos de otimização ao nível energético/ambiental do edifício. A cobertura é revestida a chapa de zinco. Sob esta existem diversas camadas de isolante (lã mineral), e espaços livres, para que a circulação e

80


refrigeração do ar se façam. Os vidros das fachadas são protegidos

Conforme se realçava nos Termos de referência do concurso

com palas. As suas dimensões foram estudadas para que o sol incida

para a seleção dos projetistas, “O edifício deve ser projetado por

diretamente apenas no Inverno e somente na zona em torno da arena.

forma a ter um bom comportamento energético, uma vez que um dos

O sistema de persianas dos grandes lanternins da cobertura é móvel e

principais custos de gestão é o da energia”. Havia também que ter em

de acionamento elétrico. Uma forma engenhosa de tirar partido da luz

conta a Estratégia Global para a Energia e o Ambiente, no quadro do

natural, ao aumentar o conforto visual e reduzir o gasto de

plano de urbanização para a área da EXPO’98, levada à prática no

eletricidade na iluminação artificial.

âmbito do protocolo celebrado entre o Parque EXPO’98 SA, o Centro para a Conservação de energia e a Comissão Européia, sob coordenação do Professor Doutor Oliveira Fernandes. A concepção do edifício permite otimizar a sua exploração o que veio a assegurar o êxito das candidaturas ao Programa de Financiamento Joule/Thermie e SIURE, a que corresponderam financiamentos a fundo perdido da ordem dos 180 000 euros. A responsabilidade pelo projeto de climatização e pelos aspectos energéticos é de Luís Malheiro da Silva – Projeto e Gestão de Instalações Especiais. Os elevados níveis de conforto e os baixos consumos de energia previstos para o Pavilhão Atlântico estão ligados à forma como o ar é insuflado na zona ocupada pelo público: por

Figura 54: Maquete em corte longitudinal.

detrás das cadeiras, a baixa velocidade e a uma temperatura não muito defasada da ambiente, otimizando a climatização da zona

81


ocupada pelo público. A opção pelo uso a 100% de ar exterior

Assim, durante os 132 dias da exposição, o Pavilhão da Utopia foi um

promove elevados padrões de qualidade ambiental: as partículas

espaço aberto à imaginação, refletindo os medos, mitos e lendas que,

contaminantes em suspensão são arrastadas para o exterior,

ao

conseguindo-se a diluição dos cheiros e odores. No verão, aproveita-

Assistiu-se ao desfile de figuras como Dédalo, o primeiro homem-

se a água do Tejo para o pré-arrefecimento do ar insuflado. No inverno

pássaro, Deuses do Olímpio, heróis míticos como Hércules numa

a energia térmica de ar de extração (mais quente), é aproveitada por

colorida sucessão de quadros: o nascimento do Homem e dos Deuses,

recuperadores

calor.

o Big Bang, o Dilúvio, a Atlântida, os Descobrimentos, a Conquista do

De tudo isto resulta um bom desempenho energético do Pavilhão.

Espaço, etc. Um espetáculo, repetido quatro vezes ao dia, da autoria

Para o cumprimento deste objetivo concorrem também a utilização da

de François Confino e Philipe Genty e produzido pela empresa Razon.

ventilação e iluminação naturais e a iluminação artificial controlada,

Concebido através da conjugação de efeitos teatrais clássicos com as

bem como o tipo de construção e revestimentos exteriores escolhidos.

modernas tecnologias multimídia.

de

longo

da

História,

se

foram

associando

Calcula-se que, por comparação com um edifício semelhante onde estas estratégias não tivessem sido consideradas, poupa-se de energia na ordem dos 36% de inverno e 63% no verão. Durante a realização da Expo’98, o edifício foi designado Pavilhão da Utopia, albergando o espetáculo “Oceanos e Utopias”. Enquanto noutros grandes pavilhões da EXPO’98 (como os de Portugal, Conhecimento dos Mares ou do Futuro) a abordagem do tema “oceanos” foi pensada numa perspectiva histórica, científica e artística, neste caso privilegiou-se o lado mágico, onírico e simbólico.

Figura 55: Personagens do teatro "Oceanos e Utopias".

aos

oceanos.

82


Este espaço, construído entre 1996 e 1998, foi um dos palcos

Consequências da Expo98 para a cidade

da Expo’98 e recebeu no período da exposição, quatro meses, 440 sessões do Espetáculo da Utopia e perto de quatro milhões de espectadores.

A Exposição Internacional de Lisboa de 1998 mostra a possibilidade

de

qualificação,

decorrente

da

intervenção

e

revitalização, de determinadas áreas urbanas, que acompanham a Composto por três áreas integradas, todos os espaços são

realização de um evento dessa estatura. O Parque das Nações é o

facilmente adaptados às necessidades e características de cada

legado da Expo’98. Sustentado por grandes infra-estruturas e pelas

evento. A Sala Atlântico, com uma arena de 5 200 m2 e capacidade

edificações deixadas entre as ruas e avenidas e que dinamizaram o

para 12 500 pessoas sentadas abriga, todo o tipo de eventos. A Sala

processo de ocupação futuro. Entretanto, essa ocupação foi sempre

Tejo, banhada por luz natural, dispõe de 2 200 m2 preparados para a

pensada tendo em vista um público alvo que tivesse condições

concretização de todas as idéias. E o Centro de Negócios, com o seu

financeiras para residir e aproveitar as oportunidades desta nova área,

auditório de 100 lugares e 11 salas integráveis estão aptos a receber

apesar dos organizadores e promotores do evento, disserem visar a

eventos de menor dimensão.

todos os portugueses e cidadãos do mundo. O plano de urbanização foi dividido em setores, estruturandose uma intervenção que se baseou no futuro do recinto e não apenas no acontecimento efêmero em si. Assim, distribui-se as edificações do evento compatibilizando sua futura utilização. Neste contexto, procurou que as edificações fizessem parte de um conjunto harmônico, compondo os equipamentos de um bairro integrado a cidade. Não se assemelhando a um parque urbano cheio de elementos cujo destaque poderia interferir na unidade do conjunto. A distribuição

83


dos usos dominantes foi do total de 2.320.000 m² área construída,

como um todo. A EXPO se mostra como reflexo das políticas urbanas

1.240.000 m² para habitação, 610.000 m² para escritórios, 170.000 m²

desenvolvidas no final da década de 1980 que, com o passar dos anos

para comércio e 300.000 m² para outros usos.

devem ser revistas e atualizadas de acordo com a nova realidade

Portugal demonstrou a Comunidade Européia, bem como aos

potuguesa.

demais países, que possuía capacidade para abrigar uma exposição internacional e ainda realizar uma operação urbana como a realizada. Constituindo um exemplo a ser estudado e seguido. Lisboa ganhou com esta intervenção na criação e no melhoramento de um grande número de infra-estruturas e equipamentos. Além da implantação de uma extensa área verde com o Parque do Tejo. 84 Outro grande ganho para a cidade foi promover o reencontro da cidade com o rio, dos visitantes do evento com a aprendizagem e o lúdico da exposição, dos moradores da cidade com as qualificadas áreas urbanas, mostrando que grandes eventos, ainda que efêmeros, possuem a capacidade de promover profundas mudanças na maneira pela qual a cidade relaciona-se com seus cidadãos e vice-versa. Assim a década de 1990 se encerra com uma grande transformação

urbana

para

Lisboa,

havendo,

entretanto,

a

necessidade de se rediscutir os planos de renovação urbana da cidade


urbana, harmonia, integração, mistura de funções, ocupação seletiva

Visão Estratégica – Lisboa 2012

dos vazios urbanos, democratização, cosmopolitismo e intervenção A revisão e reiteração de ações propostas pelo Plano Estratégico de 1992 é colocada no ano de 2002, na tentativa de reconhecer as dificuldades políticas e culturais da concretização dos objetivos, bem como a reformulação de idéias cujos diagnósticos se alteraram com o passar dos anos. A nova proposta mantém-se fiel ao Modelo de Estrutura Espacial do Território Municipal contido no Plano

diferenciada), mais do que re-planejar, a Visão Estratégica tem objetivos claramente mais propagandísticos do que os Planos já vistos e tenta atrair investimentos a uma cidade que ainda representa ao mundo – principalmente no que diz respeito ao turismo – o ideal de cidade de menor escala, fortemente marcada por tradições e arcaísmos.

Diretor ao mesmo tempo em que revê seus princípios, não se tratando, entretanto de um segundo PEL visto que não envolve todos os agentes e setores econômicos e sociais da cidade. Algumas questões mais contemporâneas são discutidas como o envelhecimento da

população,

a

segurança

pública,

a

sustentabilidade

e

principalmente a “globalização” Possui também a importante tarefa de garantir a permanência no tempo e no espaço de políticas fundamentais de ordenamento e desenvolvimento do território, independentemente de mudanças de mandato. Esta revisão estabelece quatro eixos segundo os quais pensará a cidade nos próximos 10 anos: “Lisboa, Cidade de Bairros”, “Cidade de Empreendedores”, “Cidade Cultura” e “Cidade de Modernidade e Inovação”. Estabelecendo alguns princípios e valores (Reabilitação

85


ÍNDICE DE IMAGENS

Figura 4: Diagrama da expansão viária de Lisboa ···················· 14 Fonte: CHOA, Ana Rita. “Dinâmicas de crescimento em

Figura 1: Soldado recebendo um cravo, símbolo do país ········· 05 Fonte: www.pcp.pt/actpol/temas/25abril/25anos/foto14.jpg

Figura 2: As muralhas de Lisboa ·············································· 07 Fonte:http://3.bp.blogspot.com/_bfgH8fgEfUw/TGUNB5UYRYI/A AAAAAAAAys/x2QUtFWfUtk/s1600/muralha.jpg

metrópoles portuárias – Tensões a oriente da cidade de Lisboa”, On the waterfront 7, 30-41. 2005

Figura 5: Mapa de divisão espacial dos empregos por setores. (1991) ····················································································· 15 Fonte: TENEDÓRIO, José Antônio. “Atlas da área Metropolitana de Lisboa”. Área Metropolitana de Lisboa, Lisboa. 2003

Figura 3: A cidade após o terremoto e as intervenções do Marquês de Pombal ································································ 08 Fonte: http://www.wdl.org/en/item/926/zoom.html

Figura 6: Esquema do modelo territorial para a AML (PROT-AML) ······························································································· 17 Fonte: SALGADO, Manuel. “O rio e a renovação urbana expo 98. O seu papel como catalizador do rejuvenescimento de Lisboa”. Ciudades 5. Lisboa, 1999

86


Figura 7: Plano de 1948 ·························································· 20 Fonte: http://pdm.cm-lisboa.pt/img/GEU1959_Web.png

Figura 11: Projeto da revitalização da Alta de Lisboa, antigo bairro de lata ·········································································· 24 Fonte:http://farm4.static.flickr.com/3551/3526458464_8992369 00e_o.jpg

Figura 8: Plano de 1977 ·························································· 21 Fonte: http://pdm.cm-lisboa.pt/img/Carta_PDM_2.png Figura 12: Localização do Chiado, Lisboa ································ 27 Fonte: Google Earth Figura 9: Plano Estratégico de Lisboa ······································ 22

87

Fonte: http://pdm.cm-lisboa.pt/img/1992_Planta_Web.jpg Figura 13: Vista da Rua do Carmo em meados do século XX ··· 27 Fonte: Domus, nº714, março, 1990, pag. 54 Figura 10: Azinhaga dos Besouros, um dos bairros de lata da Região Metropolitana de Lisboa·············································· 23 Fonte:http://www.antropodocus.com/blog/wpcontent/uploads/ 2008/06/azinhaga-jpg.jpg

Figura 14: Incêndio no Chiado em 1988. ································· 29 Fonte: Casabella, nº628, novembro, 1995, pag. 19 Foto do Arquivo Oficial do Chiado


Figura 15: Vista da reconstrução do edifício na fachada principal ······························································································· 30

Figura 18: Parque das Nações ················································· 46 Fonte: http://www.destinosdeviagem.com/portugal-lisboa/

Fonte: Casabella, nº628, novembro, 1995, pag. 31 Foto de Rui Morais de Sousa

Figura 19: Alameda dos Oceanos ············································ 47 Fonte: Google Street

Figura 16: Região do chiado ··················································· 32 Fonte: Casabella, nº628, novembro, 1995, pag.18 Foto de Filipe Jorge – Argomentum

Figura 20: Mapa de usos da EXPO´98······································ 49 Fonte:http://www.ebropolis.es/files/File/Encuentros/2007/lisbo a.pdf.

Figura 17: Mapa de Lisboa com destaque para a área da EXPO´98 ······························································································· 46 Fonte: http://www.mapas-portugalcom/City_LisbonMap _Portugal_2.htm

Figura 21: Parque das Nações ················································· 49 Fonte: http://www.destinosdeviagem.com/portugal-lisboa/

88


Figura 22: Fonte de água························································· 52

Figura 26: Parque do Tejo ······················································· 54

Fonte: Arquivo Parque Expo

Fonte: http://www.proap.pt/

Figura 23: Desenho da quadrícula de 7,5 x 7,5m ····················· 53

Figura 27: Frente ribeirinha do Parque do Tejo ······················· 55

Fonte: Arquivo Parque Expo

Fonte: http://www.proap.pt/

Figura 24: Vista noturna do Parque das Nações ······················ 53

Figura 28: Parque do Tejo ······················································· 56

Fonte: Arquivo Parque Expo

Fonte: http://www.proap.pt/

Figura 25: Desenho de João Nunes para o Parque do Tejo ······ 54

Figura 29: Vão Principal ·························································· 58

Fonte: http://www.proap.pt/

Fonte:http://actiontur.selfip.com/html/index.php?option=com_ content&view=article&id=26:arrabida-sesimbra-setubal-e-2pontes&catid=17:1-dia&Itemid=49&lang=pt

89


Figura 30: Ponte Vasco da Gama············································· 58

Figura 34: Croquis de implantação ········································· 62

Fonte:http://actiontur.selfip.com/html/index.php?option=com_

Fonte: “Estação do Oriente”

content&view=article&id=26:arrabida-sesimbra-setubal-e-2pontes&catid=17:1-dia&Itemid=49&lang=pt Figura 35: Imagem do período da construção ························· 62 Fonte: “Estação do Oriente” Figura 31: Vista Geral da Estação do Oriente ·························· 59 Fonte: “Estação do Oriente”. Figura 36: Pavilhão de Portugal ·············································· 63 Fonte: http://alvarosizavieira.com/category/projects/1998Figura 32: Corte Longitudinal ·················································· 60

portugal-pavilion

Fonte: “Estação do Oriente”

Figura 37: Vista do Parque das Nações do Pavilhão de Portugal ·· 64

Figura 33: Croqui inicial com a inserção da paisagem urbana ·· 61 Fonte: “Estação do Oriente”

Fonte: http://alvarosizavieira.com/category/projects/1998portugal-pavilion

90


Figura 38: Vista do vão do Pavilhão de Portugal ······················ 66

Figura 42: Plantas 1° e 2° pavimento ······································ 72

Fonte: http://alvarosizavieira.com/category/projects/1998-

Fonte: Pavilhão do Futuro – Catálogo Oficial

portugal-pavilion Figura 43: Estrutura para a exposição ····································· 72 Figura 39: Croquis do Pavilhão de Portugal ····························· 67

Fonte: Pavilhão do Futuro – Catálogo Oficial

Fonte: http://alvarosizavieira.com/category/projects/1998portugal-pavilion Figura 44: Oceanário de Lisboa ··············································· 73 Fonte: http://www.peterchermayeff.com/ Figura 40: Pavilhão do Futuro ················································· 69 Fonte: Pavilhão do Futuro – Catálogo Oficial Figura 45: Planta de localização ·············································· 74

Figura 41: Elevações e Cortes ·················································· 71 Fonte: Pavilhão do Futuro – Catálogo Oficial

Fonte: http://www.peterchermayeff.com/

91


Figura 46: Planta do edifício ···················································· 75

Figura 50: Plantas ··································································· 78

Fonte: http://www.peterchermayeff.com/

Fonte: http://img176.imageshack.us/i/1589226800ai6.jpg/

Figura 47: Corte do edifício ····················································· 75

Figura 51: Corte longitudinal ·················································· 78

Fonte: http://www.peterchermayeff.com/

Fonte: http://img176.imageshack.us/i/1589226800ai6.jpg/

Figura 48: Vista externa do Pavilhão do Conhecimento dos Mares

Figura 52: Corte transversal ···················································· 78

······························································································· 76

Fonte: http://img176.imageshack.us/i/1589226800ai6.jpg/

Fonte: http://img176.imageshack.us/i/1589226800ai8.jpg/ Figura 53: Vista geral ······························································ 79 Figura 49: Rampa de acesso ···················································· 77 Fonte: http://img176.imageshack.us/i/1589226800ai2.jpg/

Fonte: Catálogo Oficial

92


Figura 54: Maquete em corte longitudinal ······························ 81 Fonte: Catálogo Oficial

Figura 55: Personagens do teatro "Oceanos e Utopias” ·········· 82 Fonte: Catálogo Oficial

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