Projeto Navegar

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Trabalho de Graduação Pojeto Navegar Maria Clara de Oliveira Calil Orientador Mestre Prof. Antonio Fabiano Junior Banca Examinadora Maria Eliza de Castro Pita Antonio Carlos Barossi Pontifícia Universidade Católica Centro de Exatas, Ambientais e de Tecnologia Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Campinas, dezembro de 2017



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“Nós somos todos o fluxo de uma única água” – Raúl Zurita 7


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O projeto busca dar porte à arquitetura, parte intrínseca e indissociável da cidade, como instrumento de discussão sobre a importância da água, reverenciando-a e enaltecendo-a não somente por seu valor simbólico mas também por seu poder estruturador urbano. Para reverter décadas de degradação, acredita na força de regeneração da natureza como estopim transformador. Navega pelo tempo na procura por uma construção de espaços artesanais para ofícios de artesãos, feito pelas e para as mãos de todos. Arquitetura como arte-facto, iniciando potenciais mudanças no presente vislumbrando prováveis conquistas em tempos vindouros. Pousa como espaço. Na terra, um mirante; na água, um barco. Livre, a procura de velhos sons e novas descobertas. Antonio Fabiano Junior 9


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Agradeço Primeiramente a Deus. Aos meus pais e minha irmã por todo o amor, carinho e por serem meu ponto de apoio e minha fortaleza. Ao meu orientador Antonio Fabiano, por se tornar meu exemplo, por estar ao meu lado para me ajudar a içar as velas nessa jornada e por me fazer sonhar e acreditar em um mundo melhor. As professoras Vera Luz e Ivone Salgado, que sempre serão minhas inspirações, por toda a troca de conhecimento. As meninas Camila Borges, Isabelle Cocetti, Vivian Helena, Fernanda Martini, Paloma Rodrigues e Karoline Botelho, por compartilharem comigo risadas, choros, fofocas e por estarem ao meu lado desde o nosso primeiro ano. A Marjolijn Vrolijk, por me mostar um jeito mais leve e alegre de se levar a vida. E ao grupão 2017, pela troca de aprendizado deste ano e as novas amizades que serão levadas para o resto da vida. 11


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Glossário Água: s.f. (do lat. Aqua) 1. Substância líquida em condições normais de pressão e temperatura, incolor, inodora, insípida - 2. Chuva – 3. Rio, lago, mar. – 4. Água mineral, água natural potável, com certas quantidades de minerais. – 7. Água potável, água que atende aos requisitos físicos, químicos e bacteriológicos, legalmente estabelecida para poder ser bebida.

Relação que estabelece entre duas ou mais coisas (ou seres) de similitude perfeita. - 3. Caráter permanente e fundamental de al guém, de um grupo, etc., que revela individualidade, singularidade.

Ancorar: v.t. e i. 1. Fundear, lançar âncora. – 2. Aportar, atracar. – 3. Estabelecer-se – 4. Estear-se, fundar-se, basear-se, estribar-se.

Mirante: s.m. 1. Ponto elevado deonde se descortina um largo horizonte - 2. Pavilhão construído em lugar montanhoso, para que deles se possam apreciar vistas panorâmicas; miradouro; belvedere.

Cultura: s.f. (De Cultura) 1. Acervo intelectual e espiritual. – 2. Conhecimentos em um domínio particular - 3. Cultura (geral), conjunto de fenômenos materiais e ideológicos que caracterizam um grupo étnico ou uma nação, uma civilização, em oposição a um outro grupo ou uma outra nação. Descoberta: s.f. Coisa que se descobriu, invenção, invento; achamento, descobrimento. Diversidade: s.f. (do lat. Diversitas, diversitatis, contradição, variedade, diferença) 1. Diferença, dessemelhança, variedade. – 2. Divergência, oposição, contradição. Embarcação: s.f. 1. Designação comum para pequenos barcos. – 2. Bras. Termo genérico para designar qualquer tipo de barco. Escola: s.f. (do gr. Skhole, pelo lat. Schola) 1. Estabelecimento onde se mistura um ensino coletivo e geral – 2. O que proporciona instrução, experiência. Identidade: s.f. (do lat. Identitas, identitatis). 1. Caráter do que é idêntico. – 2.

Manual: adj. (do lat. Manuale, manualis) 1. Relativo a mão – 2. Que se faz com as mãos.

Navegar: v.i. (do lat. Navigare) 1. Viajar sobre a água, ou no ar ou no espaço cósmico. – 2. Fazer um navio, um avião ou uma nave espacial seguir uma determinada rota. - 3. Bras. Pop. Viajar, andar. - 4. V.t. percorrer, atravessar (a água, o ar, o espaço cósmico). Origem: s.f. (do lat. Origo, originis) 1. Primeira manifestação; começo, princípio – 2. Procedência; ponto de partida de uma nação, de uma família; naturalidade – 3. Nascimento, proveniência; ascendência. Porto: s.m. (do lat. Portus) 1. Abrigo natural ou artificial para embarcações de vários tamanhos, provido de instalações necessárias para o embarque e desembarque de cargas e passageiros – 2. Lugar de repouso, abrigo. Tradição: s.f. (do lat. Traditio, traditionis) 1. Ato de transmitir ou entregar. 2- transmissão sobre tudo oral, de lendas, fatos, etc., de geração a geração. – 3. Costume transmitido de geração a geração. Viagem: s.f. (do lat. Viaticum, pelo prov. Viatge) 1. Ato de ir de um lugar a outro razoavelmente distante. 13


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“...a navegação, portanto, é usada com grande vantagens pelos habitantes quase anfíbios da costa, que amam a água e movem-se nela como patos e marinheiros natos.” - A viagem do Liberdade, Joshua Slocum. 15


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ÍNDICE 1.

Resumo

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2.

A Água

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3.

O Barco

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4.

O Território

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5.

A Implantação

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6.

O Projeto

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6.1.1 O Apoio

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6.1.2 A Escola

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6.1.3 O Flutuante

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6.1.4 O Viajante

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7.

A Estrutura

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8.

As Vedações

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9.

Os Mobiliários

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10.

As Infraestruturas

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11.

Considerações Finais

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12.

Referencias

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13.

Bibliografia

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Boa Viagem Navegantes

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1. RESUMO Construir barcos é uma identidade do Brasil. Somos um país navegável por inteiro. Fomos descobertos assim e nos redescobrimos a cada navegada por nossa terra aquosa por princípio e excelência. Está na nossa essência, no nosso berço, é da nossa origem. Mas é fato que a organização dos homens e a produção de bens estão em desequilíbrio perante os recursos naturais e o que se constitui como rejeito expõe escalas de poluição ambiental alarmantes, cujos tributários urbanos e infraestruturais e da produção rural massiva constituem modelos de impasse. 20

“As sociedades modernas foram longe demais ao pretender, graças aos seus poderosos meios técnicos, moldar a natureza em função unicamente de critérios de rentabilidade.” (ALPHANDÉRY, 2000, p. 93). A despeito dos progressos científicos e tecnológicos dos últimos duzentos e cinquenta anos, temos imensos índices de desigualdade, pobreza, miséria, fome, exploração e injustiça social que as cidades explicitam com nitidez na organização de seu território. A arquitetura e o urbanismo tem papel determinante no fenomenal uso de recursos que disponibilizam e na gigantesca produção de resíduos. A solução para a revisão desses erros consiste em encontrar um


equilíbrio entre o ser humano e o meio ambiente, partindo de medidas racionais e conscientes para a transformação do espaço. A proximidade com a represa Guarapiranga incentivou os moradores a construírem barcos de forma intuitiva com material reciclado como o isopor e lata para pescar, circular e se divertir. São ações pontuais que mostram um direcionamento projetual importante. Para mudar essa realidade é preciso sonhar, imaginar e criar. Segundo o artigo O poder transformador da cultura de Herbert de Souza, “transformar na fantasia é o primeiro passo para transformar na realidade.” Essa transformação acontece através da cultura, da nossa construção de origem, da liberdade do ir e vir, do saber ver, sen-

tir e tocar a água. De entende-la como recurso, trabalho e lazer. De retomada ao aprendizado físico da construção dos barcos, do vernacular da costura da vela e da rede de pesca e do corpóreo do esporte. Essas práticas criam autonomia e laços entre as pessoas da comunidade além aumentar o sentimento de pertencimento ao lugar em que se vive. Afinal qual a função de um barco se não navegar?

E qual a função de navegar se não procurar o novo?

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2. A Água Água em sua menor unidade é uma substancia química composta por duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio (H2O), mas em abundância consegue compor o sistema solar, três quartos do planeta Terra e o corpo humano. Quando unido a outro elemento da natureza consegue se expressar tanto de forma calma e tranquila quanto de forma tortuosa. Encontra-se em três estados físicos, o sólido, o líquido e o gasoso. Quando líquida, em pequenas quantidades apresenta-se incolor como uma gota de chuva, em grandes volumes ostenta um azul infinito como nas represas e oceanos. É um elemento tão importante que tem seu próprio ciclo, delimita territórios e foi ao seu lado que diversas civilizações surgiram, pois que melhor lugar para se alojar do que próximo à água, que nos oferece alimento através da pesca, irrigação para a agricultura e transporte? Porém, diversas atividades humanas estão causando o derretimento das geleiras, poluindo suas nascentes e mudando o leito natural dos rios. Não é apenas necessário economizar água, mas é preciso trata-la e assegurar sua disponibilidade para os diversos usos da sociedade moderna. 23


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3. O Barco A relação do homem com as embarcações surgiu antes da criação da roda. Com o passar do tempo, avanços náuticos permitiram Portugal descobrir as terras brasileiras e, quando chegaram, encontraram índios que já possuíam técnicas de navegação e construção de canoas e jangadas com troncos de árvores. Com a invasão holandesa, francesa e espanhola, novas técnicas surgiram e fizeram do Brasil o país com maior quantidade de modos de construir barcos. Está na nossa essência e foi através desta identidade que as monções até Cuiabá partiram em busca de ouro e o açúcar era levado até o porto de Santos. Hoje, muitas das técnicas de construção artesanal se perderam com o incentivo do transporte rodoviário, mas a tradição de utilizar o barco continua através do comercio; no transporte, tanto de moradores de comunidades ribeirinhas, quanto do transporte de cargas; da religião, como as oferendas à Iemanjá; do esporte, com a prática do remo e da vela; e da pesca, legado que passa de pai para filho tanto no trabalho quanto no lazer. 25


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Clube Esportivo Nรกutico Guarapiranga 28


4. O Território

O projeto está fortemente relacionado com uma das atividades já praticadas no território: a construção de barcos feitos “no olho” com materiais reciclados. Está localizado no bairro Jardim Vera Cruz no distrito Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, em uma área de preservação de mananciais. Como descrito no memorial urbano, a região de estudo pertence à Subárea Envoltória da Represa (SER) – uma das cinco divisões das áreas de mananciais – que incentiva ações de Educação Ambiental com toda a população, pois resiste a ideia de que essas áreas não são intocáveis, podendo existir equipamentos com baixo potencial construtivo.

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Projeto Navegar

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Conviver Camila Borges

Atravessado Raissa Gattera

Casa Atemporal Marjolijn Vrolijk

Educar entre jardins Kaena Justo

Porém, cada vez mais essas áreas estão sendo ocupadas devido a necessidade de morar. No projeto urbano ambiental, surgiu a necessidade de preservação imediata, onde nada deve ser ocupado, desmatado e explorado, por meio de uma linha de 100 metros a partir do nível máximo da represa Guarapiranga, que pode aumentar de acordo com a permissão do território, propondo o realocamento de moradias localizadas nesse cinturão verde. Outra medida de proteção foi localizar “equipamentos guardiões” do meio ambiente natural que se relacionam de forma direta com a água e com a vegetação, com o intuito de proteger sua área envoltória e de influência, a partir de um raio de 500 metros. Estes “guardiões” correspondem à portos ou à usos educativos, de preservação ou comunitários relacionados a questão ambiental localizados na borda da represa, onde o olhar de vigia dos frequentadores do local funcionará como protetor da área a ser preservada. A área escolhida para a implantação do projeto, às margens do Clube Esportivo Náutico Guarapiranga, antigo clube dos funcionários públicos do Município de São Paulo, era área de um condomínio de veraneio e veio a ser desapropriado devido às leis ambientais do

Pier do Sol Vivian Helena

Projeto Navegar

projeto urbano. Assim, o projeto atua como um guardião da mata reflorestada com espécies nativas da Mata Atlântica. Os outros dois motivos para a escolha da área foram o fácil acesso através de uma rua interna ligada à Avenida dos Funcionários Públicos, uma avenida de grande relevância para o projeto urbano e a localização próxima de um dos equipamentos de grande importância local: o Clube Esportivo Náutico. O projeto navegar, que busca aprimorar as técnicas da comunidade, pesquisar técnicas históricas e propor novas formas para construir pequenas embarcações, participa de uma rede de conexões com diversos outros projetos, como o Pier do Sol desenvolvido pela aluna Vivian Helena e Atravessado, desenvolvido pela aluna Raissa Gattera. 31


Projeto Navegar

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“Estradas são quase desconhecidas onde a canoa está disponível; consequentemente, homem, mulher e crianças são todos adestrados quase à perfeição na arte da canoagem.” – A viagem do Liberdade, Joshua Slocum. 35


N

O

L

S

5. A Implantação A implantação foi desenvolvida a partir da rosa dos ventos, imagem que representa os quatro sentidos fundamentais (Norte, Sul, Leste e Oeste) e seus intermediários. Um dos possíveis inícios se dá com o contato do homem com o elemento terra, através de uma trilha de terra batida entre a mata reflorestada que leva até o primeiro eixo norteador do projeto: o eixo Oeste-Leste. Chegada e saída, tempo de descobrir e conhecer o novo, pontos onde o sol nasce 36

e se põe, momento de se lançar à água. Como uma linha implantada do espaço e do tempo, ela se ocupa em apresentar as variações de lugares em um mesmo tempo e um mesmo lugar em diversos tempos. Neste eixo está localizado o primeiro pavilhão: O Apoio, que teve sua cobertura implantada no mesmo nível da trilha (nível 0,00) criando o primeiro mirante com vista para o Jardim Vera Cruz e também para a imensidão de água. Percorrendo este eixo, se tem o momento ar, onde o usuário caminha por passarelas para chegar ao segundo


eixo norteador: o eixo Norte-Sul, conhecimento e vivência, busca e descoberta, apresentação e produção. Neste eixo são encontrados três momentos do projeto: a escola (níveis -3,15, -6,30 e -10,45), onde acontecerão as oficinas; o flutuante (nível -10,65), um percurso sobre a água e o viajante (nível -10,65), um museu-balsa que pode ancorar em qualquer orla da represa. Dois eixos que devem ser entendidos como a ciência que lida com as relações entre organismos e o meio ambiente em que eles vivem. Esta noção compreende tanto a questão natural como a social. As questões

naturais inseridas permitem a possibilidade de que haja um envolvimento ativo nos problemas do presente, visando a sobrevivência do homem em seu meio ambiente e as sociais, por inserir o homem na busca do seu futuro por instrumentos intelectuais e materiais para o seu desenvolvimento. O projeto também se estrutura a partir da chegada pela água, uma vez que acredita no uso fluvial como meio de transporte de gente e carga. Assim, as pessoas podem entrar diretamente pela escola via pequenas embarcações, ou sair dela, simbolicamente, junto com o produto que lá produziram. 37



O Viajante O Apoio O Flutuante

A Escola

“Bastava um canto de praia ou mangue, e mãos habilidosas. Nada mais.” Embarcações típicas da costa brasileira, João Lara Mesquita. 39



6. O Projeto “Comecemos pelas escolas, se alguma coisa deve ser feita para ‘reformar’ os homens, a primeira coisa é ‘formá-los’.” Lina Bo Bardi.

6.1. O Apoio O apoio é a base e o suporte para todas as atividades que ocorrerão no projeto. É o primeiro e o último local de contato de quem ali passar. É o lugar de se trocar - para aprender, mergulhar e trabalhar -, e local de tomar a última ducha antes de voltar para a casa. É o lugar de se reunir para uma refeição. É o espaço em que ao mesmo tempo o indivíduo sozinho gravará suas experiências para que todos possam conhecê-la. É o local em que todos juntos aprenderão como cuidar e tratar da água.

Apoio

Esquema dos espaços do Apoio

6.2. A Escola O contato com os barcos é precoce na nossa história. Possuímos o gene da navegação, não é a toa que qualquer material se torna casco de barco, seja madeira, isopor, alumínio, papel ou casca de coco. A escola é o espaço onde a comunidade, que já produz seus próprios barcos, pode aprimorar suas técnicas, conhecer novas formas para construí-los e aprender a costurar o tecido da vela e a rede de pesca. É o local de partida para se jogar na água, lugar para aprender a remar e velejar, tendo como sala a represa Guarapiranga. A escola foi concebida em três níveis (-3,15; -6,30; -10,45). O primeiro (nível -3,15), nivelado com o apoio, é acessado por uma passarela e transformado em mirante tanto para os acontecimentos dos níveis abaixo quanto para a represa no sentido leste, ponto onde o sol nasce. 41





O segundo nível (nível -6,30), após descer a rampa, se encontra as oficinas de costura e uma sala de aula teórica. Nas extremidades Norte e Sul se encontram mirantes, onde o primeiro se apresenta como um trampolim. Nas rampas de acesso, redes afixadas por meio de um sistema de polias para controle de suas alturas, balançam sobre as águas.

Sistema de Polias Sem escala

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Esquema de visuais

Esquema de como guardar os barcos

No terceiro e último (nível -10,45), é onde acontecem as oficinas de construção de barcos. Duas plataformas inclinadas se instalam nas oficinas para a chegada de material e saída dos barcos e balsas prontas. É possível observar esta atividade do pavimento superior, já que os pisos são deslocados e desta forma a escola é um enorme museu, onde não apenas os barcos são expostos, mas também a água, as técnicas de construção e as mãos habilidosas dos artesãos. Com a passagem dos conhecimentos e da troca entre mestre e aprendiz, o objetivo é que as pessoas da comunidade criem laços e autonomia, estimulem suas fantasias e aumentem o sentimento de pertencimento ao lugar em que vivem, para que unidos possam sonhar e descobrir qual é a identidade da embarcação do Jardim Vera Cruz. Assim, essas práticas, representações, conhecimentos e técnicas, farão parte integrante de seu patrimônio cultural. 47


Corte Vestiรกrio Unisex Sem Escala

Corte AA Sem Escala 48


Detalhe oscilante planta Escala 1:20

Detalhe oscilante corte Escala 1:20

Detalhe oscilante

Corte BB Sem Escala 49




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“Navegar é preciso, viver não é preciso”. Fernando Pessoa.

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6.3. O Flutuante *Cáculo no anexo 1

O flutuante é um caminho, uma travessia, um pequeno percurso em cima da água, que leva da escola ao museu viajante. É também de onde saem os barcos dos pescadores e é o local de ancoragem de suas embarcações, após descarregarem seus produtos no porto mercado. A composição do módulo flutuante (3,90m x 1,95m) é simples, assim como os barcos construídos na escola. A estrutura é composta por quatro treliças metálicas travadas com caibros metálicos, sustentadas por cinco tubos plásticos preenchidos de ar. 55


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“Olhando as estrelas, fui interpolado pela importância da água. Diz-se que a água veio do espaço sideral e que a vida nos chegou através dos cometas que formaram os oceanos.” – O Botão de Nácar, filme de Patrício Guzman. 57


Corte CC - Museu Sem escala

Corte DD - Museu Sem escala

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6.4. O Viajante No tempo em que vivemos, recebemos informações de todos os cantos sobre as coisas, somos bombardeados com imagens, vídeos, pesquisas e diversas outras informações, sem termos tempo e espaço para peneira-las. Em todo o projeto, se aprende coisas para se fazer com as mãos, como por exemplo, a colocar a linha em uma agulha e a martelar um prego em uma tábua de madeira. Porém há o viajante: um ser que conhece através das experimentações por sensações. Ele apreende sabendo como os outros fazem. O viajante é um museu balsa, que pode ancorar em diversos pontos em toda a orla da represa e, desta forma, espalhar sua voz por onde passar. Seus objetos são o sol e a lua. Sua área

não coberta pode virar um deck para se banhar de luz ou um planetário para estudar as estrelas. Em uma de suas laterais, nas áreas cobertas, está um espaço de exposição, feita por maquetes de barcos realizadas na escola por crianças, como também sobre tramas de redes ou qualquer outro assunto que precise ser evidenciado. O outro lado é o espaço de ouvir a água e suas histórias. O museu não possui imagens, somente sons. Esses áudios foram gravados por pessoas da comunidade contando suas vivencias e suas relações com a água na sala de gravação localizada no apoio. E assim, com os fones presos nas vigas e a represa de cenário, é possível escutar e sentir a experiência do outro. É o momento em que o homem navega com ele mesmo, por meio da sua imaginação. 59



Esquema de possiveis ancoragens do museu

Esquema de transporte do museu 61


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Esquema da peรงa soldada na viga para brise metรกlico


Muro de arrimo com resto material de construção

Estrutura metálica do apoio

Estrutura metálica da rampa

Estrutura metálica da escola

7. A Estrutura O apoio possui uma malha estrutural de 8m x 8m. É estruturado com um muro de gabião (feito com os restos dos materiais das casas do condomínio que era localizado no terreno que o projeto foi instalado), pilares metálicos perfil H de 0,2m x 0,2m e vigas metálicas de perfil I de 0,2m x 0,4m. As rampas são estruturadas por 12 pilares metálicos de perfil H de 0,2m x 0,2m (em uma malha de 2m x 8m), vigas metálicas de perfil I de 0,2m x 0,4m e laje pré-moldada de fibra de vidro (h=0,15m), assim como na escola. O sistema estrutural da escola é composto por uma grelha estrutural metálica de 8m x 8m, com pilares de perfil H de 0,2m x 0,2m e vigas de perfil I de 0,2m x 0,4m. Optou-se pela laje pré-moldada de fibra de vidro (h=0,15m), por ser mais leve. 63


Detalhe Viga - Viga - Laje Escala 1:20

Detalhe Pilar - Viga - Laje Escala 1:20

Detalhe Fundação Escala 1:20 64


A estrutura da cobertura metálica possui terças que irão receber a telha metálica. A calha é um perfil U de 0,1m de altura que avança da estrutura 0,5m para que seja evidente a queda da água na represa. Todas as peças são unidas por parafusos, exceto a peça irá receber os brises (ripas metálicas) que é soldada no pilar, próximo a cobertura.

Detalhe Cobertura Cumeeira Escala 1:20

Detalhe Cobertura Calha Escala 1:20 65


O museu é uma estrutura mista, composta por módulos flutuantes travados por vigas caixão de 0,2x0,6m e estrutura de pilares, vigas e coberturas que funcionam com mesma lógica estrutural da estrutura da escola.

Área técnica Viga Caixão para pequenos geradores

Planta Estrutural do Museu Sem escala

Corte EE - Museu Sem Escala 66

Estrutura Flutuante

Viga Caixão


Detalhe ancoragem Flutuante-Museu Planta Escala 1:20

* O mesmo tipo de chapa metalica simples utilizada na ancoragem no museu com o flutuante, também é usada nas laterais quando o museu estiver atravancado em cabos para ser transportado para outro lugar por meio de um barco

Detalhe ancoragem Flutuante-Museu Vista Escala 1:20

Os espaços com redes localizados no na escola (nível 6,30) e no museu são estruturados com pitões de argola fixados na viga, para que a rede possa ser trançada. No final, a rede possui um travamento em nó de fateixa, que é usado na marinha para prender um cabo a um mastro, argola e ancora.

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Corte Tecido Escala 1:50

Corte Tecido Escala 1:50

8. As Vedações Existem dois tipos de vedações: a rígida (apoio e na escola) e a maleável (escola). Ambas possuem duas alturas diferentes, para que possam ser instalados tanto no apoio com nos diferentes níveis da escola (os posicionados no nível das salas de costura e no apoio com 2,60 e os situados nas oficinas de construção de barcos com 3,60). O fechamento maleável é feito de tecido com ilhoses nas laterais, para que sejam encaixados nos ganchos localizados nas vigas. A dimensão do tecido permite que a instalação seja feita com no mínimo duas pessoas, ou seja, os usuários da escola podem participar, através de um trabalho em equipe, da composição da fachada de acordo com a necessidade da atividade ou do clima.

Detalhe encaixe do tecido Escala 1:20 69


Possibilidade de uso do painel

Variação do painel fixo Policarbonato/ madeira naval

Variação dos paineis com abertura de madeira

Variação dos paineis com abertura de policarbonato


Painel Escala 1:50

Painel Escala 1:50

O fechamento rígido foi utilizado em lugares que precisassem de fechamentos/aberturas como nas salas de costura, sala de aula teórica e salas de oficinas de construção, devido ao conforto térmico. Os painéis possuem duas variações: as fixas e as móveis. As fixas são feitas com ripas de madeira no centro e fechamento com tábuas de madeira naval ou de policarbonato, permitindo a colocação de material térmico no meio, como plásticos bolha e isopor. Os painéis móveis possuem o mesmo modo construtivo dos painéis fixos, porém possuem aberturas, onde o usuário pode abrir ou fechar pelo sistema de cordas de acordo com a necessidade.


Corte banco guardar Escala 1:50

Vista banco guardar Escala 1:50

Vista banco encontro Escala 1:50

Vista guarda-corpo Escala 1:50 72

Corte banco encontro Escala 1:50

Corte guarda-corpo Escala 1:50


9. Os Mobiliários Para que todo o projeto fosse um local de descobrimento de técnicas, percepções e sensações foram propostos três objetos que permitiriam a contemplação não apenas dos barcos mas também de todas as etapas de sua construção e a represa Guarapiranga. O banco guardar, produzido com perfil metálico e acento de madeira, está localizado no centro da escola, no nível das salas de costura e permite um lugar de descanso e de observação da paisagem, além de servir como local de armazenamentos das vedações em tecido, quando não utilizados. O banco encontro é fixado na viga e produzido com perfil metálico e acento de madeira, estão localizados próximos aos mirantes e lugares de encontros. O guarda-corpo, além de ser um mobiliário para a segurança dos usuários, também é um espaço para as pessoas encostarem e admirarem a imensidão de água presente e de fechamento das rampas - podedo abrir para acessar as redes. É fixado na viga e também é feito com tubos metálicos e ripas de secções circulares de madeira. 73


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Esquema de uso do painel

Esquema de como colocar o tecido

Esquema do guarda-corpo na rampa para acesso das redes 75


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“Ninguém entra num mesmo rio pela segunda vez, pois quando isso acontece já não se é o mesmo, assim como as águas que já serão outras.” Heráclito de Éfeso. 77


água cinza

wetland

possível resuso

wetland devolução para represa

água negra

wetland

possível resuso

água pluvial

*Esquemas retirados do site Aguapé Engenharia e Projetos Ecológicos 78


Esquema de saída de lixo

Esquema do devolvimento da água tratada para a represa

Esquema de aquecimento de água

Esquema de energia

10. As Infraestruturas Utilizando o caráter da represa de meio de transporte de carga, seria por meio de barcos que chegariam os materiais para a construção do projeto, assim como serão a retirada dos lixos recicláveis, que serão levados para as oficinas de reciclagem pontuadas no projeto urbano. O esgoto e as águas cinza são tratados separadamente em wetlands, que se encontra no nível do pavilhão de apoio (-3,15), junto com o sistema de aquecimento de agua com garrafa pet e tratamento de água pluvial. Os efluentes gerados do tratamento do esgoto, das águas cinzas e pluviais terão possíveis reusos e poderão devolvidos à represa, através de uma caneleta que fica ao lado da trilha serpenteante, que leva a represa. Para gerar energia, são instalados, na praça (o ponto mais alto do projeto, nível 0,00), cata-ventos, que transformam energia eólica em energia utilizável no projeto, desta forma o mesmo vento que nos faz navegar, é o mesmo que nos gera energia. 79


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“Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano ele treme de medo. Olha para trás, para toda a jornada, os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas... não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. Você pode apenas ir em frente. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano. E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece Porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano. Por um lado é desaparecimento e por outro lado é renascimento. Assim somos nós, voltar é impossível na existência. Você pode ir em frente e se arriscar. Coragem, torne-se oceano.” Osho 81


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11. Consideração Final Observando o mapa hidrográfico do Brasil, percebe-se que nosso país é constituído por uma teia de rios que desaguam no Oceano Atlântico. Se esses rios se conectam e se encontram, o Jardim Vera Cruz também pode se relacionar inicialmente com diversos lugares do Brasil através da água e das experiências que se levam dela, como por exemplo, a Amazônia e o Pantanal.

A água é sistêmica. É única e é fundamental.

A água que cai, é a mesma que escoa e que evapora. Essa mesma água que hoje banhou aqui, amanhã vai molhar lá e assim estamos todos ligados pela mesma água.

Tudo é água, respiramos água.

Se apenas água e vento movimentam um barco, porque não fazer com que estas forças naturais voltem a ser uma das formas de ligação entre povos? E assim, quem sabe, o Jardim Vera Cruz não se comunique apenas com o centro de São Paulo, mas também com Santos, Havaí, Pequim ou Istambul. Quem sabe a alavanca do timão do barco não mude o eixo da relação perversa entre centro e periferia e cole o fundão do Jardim Ângela no Japão. 83


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Todos os barcos registrados em fotos pertencem aos moradores Jardim Vera Cruz 85


12. Referencias Projetuais Kastrup sea bath White arkitekter AB

Escola de Makoko NLE Architects

Swiss students design a floating pavillion on lake Zurich for maniferta 11

Azuleijos de Athos BulcĂŁo PavilhĂŁo Brasil - Expo 2015 Atria Arquitetos

The floating kayak ckub FORCE4 Arquitetos

Floating dinning room Goodweather Design & Loki Ocean


Zhang Ke

Salada de Frutas Alejandro Alaniz, Christian Barrera, Ivan Baez, Patricio Cuello Zadar e o รณrgรฃo tocado pelas ondas do mar

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13. Bibliografia Livro: MESQUITA, João Lara. Embarcações Típicas da Costa Brasileira. Editora: Terceiro Nome, 2009. ALPHANDÉRY, Pierre; BITOUN, Pierre; DUPONT, Yves O equívoco ecológico: riscos políti¬cos. São Paulo: Brasiliense, 2000, 189p. Artigo: SOUZA, Herbert de. O poder transformador da cultura. Publicado originalmente na Folha de S. Paulo, em 20/09/1993, e republicado no livro “Ética e Cidadania” [Carla Rodrigues e Herbert de Souza. São Paulo: Moderna, 1994, Coleção Polêmica, p. 16-18]. Dicionário: Grande dicionário da língua portuguesa `Larousse Cultural´. Editora Nova Cultura Ltda. Filme: GUZMÁN, Patrício. O Botão de Nácar. 2015. Música: Aquarela – Toquinho Peixinho – Milton Nascimento A canoa virou – Cantigas Populares Sites: http://aguapeengenharia.com.br/servicos-prestados http://www.archdaily.com.br/br/798481/15-detalhes-construtivos-de-estruturas-e-acabamentos-metalicos-na-habitacao https://papodehomem.com.br/a-construcao-de-um-mega-flutuante-caseiro/ https://pt.slideshare.net/chefenei/manual-de-ns https://www.suapesquisa.com/geografia/bacias_hidrograficas.htm http://www.ycsa.com.br/ http://www.ycp.com.br/ https://www.youtube.com/watch?v=-UOAoNXo_lE 88


Anexo 1 - Cálculo da Estabilidade do Flutuante Estrutura Flutuante – Líquido: Água - Estável E=P d.v.g=m.g m=d.v m=1(g/(cm^3 )).5π.0,3².3,85 m=1(g/((10^(-2))³m³)).1,7325π.m3 m=1,7325π.10^6 m=5,44005.10^6 m=5440kg =5,44ton

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