Marias- sabores com memória afetiva

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Atmosfera da memória afetiva dos sabores através do design de interiores

Fundação Armando Álvares Penteado Autora: Maria Eduarda Tavares São Paulo, Novembro de 2018



Fundação Armando Álvares Penteado Pós - graduação Lato Sensu em Design de interiores: Repertório Projetual Coordenador: Jethero Miranda Turma: CDI15

Atmosfera da memória afetiva dos sabores através do design de interiores

Trabalho acadêmico apresentado como requisito para cumprimento da monografia de conclusão, ministrada no curso de Pós-graduação Latu Sensu em Design de Interiores: Repertório Projetual da Fundação Armando Álvares Penteado.



Maria Eduarda Tavares Portela Barbosa

Atmosfera da memória afetiva dos sabores através do design de interiores

Trabalho acadêmico apresentado como requisito para cumprimento da monografia de conclusão, ministrada no curso de Pós-graduação Latu Sensu em Design de Interiores: Repertório Projetual da Fundação Armando Álvares Penteado.

Banca Avaliadora: Professor: Professor: Professor:



“ As noites de si são escuras. O que contém em seu todo se torna também escuro. Há, entretanto noites claras, as de lua cheia, ou mesmo as de céu limpo e de muitas estrelas, cujas imagens ali contidas, ficam como um lusco-fusco, e seus tons são tão delineados que a mente de quem as vê pode torna-las mais clara, como vistas à distância no caleidoscópio das recordações. Claras e escuras, tornam-se, assim, nossas recordações. As lembranças de dezenas de anos atrás, ficam nessa duplicidade de visão, escuras e claras, claras e muito claras algumas delas, como si tivessem acontecido ontem. Por outro lado si fatos que gravamos em nossa memória, por distante que tenham sido são, desta maneira, claros, presentes, outras lembranças por mais que as procuramos, não são encontradas o serão tênues e esmaecidas, se surgem entre nossos pensamentos.” Luiz Tavares de Barros – Teatro do Vovô, 2001.


Dedicatória

Dedico este trabalho a memória dos meus avós Luiz Gonzaga Tavares de Barros e Maria da Conceição Tavares de Barros e a toda a minha família. Por mais diversa e barulhenta que ela seja, são esses os laços que contém uma grande parte das minhas memórias e construíram quem eu sou.


Agradecimento

Agradeço imensamente a minha mãe Rita, aquela que apoia e acredita em todo o meu potencial e sonhos, e possibilitou esse grande mergulho em mim que foi viver essa pós graduação; Ao meu pai Jorge, que segue caminhando comigo em memória e amor eternos; Aos meus irmãos por termos vivido a consolidação do nosso laço de forma diferente durante esse tempo (mais perto de uma e fisicamente longe dos demais); e por fim às amigas dessa jornada Júlia Braga e Laura Aniceto.


Resumo

Este trabalho acadêmico busca traduzir a iconografia e memória afetiva da família Tavares de Barros através do projeto de design de interiores do restaurante Maria’s. Para que a atmosfera percebida pelos seus clientes carregue a simbologia presente na trajetória familiar e possibilite a identificação entre o consumidor e a marca.

Palavras chave: Design de interiores; Restaurante; Memória afetiva; Atmosfera.


Abstract

This academic work seeks to translate the iconography and affective memory of the Tavares de Barros family through the interior design project of Maria’s restaurant. With the intent of comunicate for its customers the atmosphereand and symbology presente in the Family traditions and provide the identification between the consumer and the brand.

keywords: Interior design; Restaurant; Affective Memory; Atmosphere.


Sumário

Introdução

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Formação do gosto como construção social

18

Semiótica dos espaços interiores: signos e a leitura espacial 20 22

experiência do cliente A família Tavares de Barros e a tradição culinária

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1

Estudos de caso Lalá: Café e cozinha afetiva

28

Restaurante It

30

Leo’s Oyster bar

32 34

Contexto e problematização

38

2

Estudo preliminar

Painel Semântico

Referencial teórico

Configuração espacial de ambientes de consumo e a


Anteprojeto

3

Reforma, setorização e fluxo

46

Paleta de cores e materialidade

50

Layout

54

Mobiliário

56

Caixa

60

Cristaleira

62

Expositor

64

Mesa comunal

66

Mesa oval

68

Mesa redonda

70

Sofá

72

Iluminação e forro

74

Decoração e objetos

76

Perspectivas Gerais

82

Considerações finais

90

Bibliografia

92

Lista de imagens

94

Anexo 01

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Introdução

Localizada na zona norte do Recife, o restaurante Maria’s emprega aproximadamente 26 funcionários e chega a receber 150 pessoas por dia no horário do almoço. Os serviços prestados são, basicamente, de comercialização de doces, salgados, almoço self-service e encomendas. A configuração do espaço da Maria’s se limitou à casa original – que não foi construída para fins comerciais - apesar das ampliações, reformas e adaptações. A partir do estudo das instalações existentes no restaurante, foi percebido que o salão principal onde são recebidos os clientes não contribui para uma experiência de compra positiva, além de não contar a história da tragetória familiarda empresa. A iconologia do restaurante é pautada na família Tavares de Barros. Esta é formada pelos patriarcas Luiz Gonzaga Tavares de Barros e Maria da Conceição Tavares de Barros. Ele era médico e professor da Universidade Federal de Pernambuco, ela dona de casa que primava pela organização. Juntos eles tiveram 7 filhos, as 6 mulheres têm “Maria” como primeiro nome e assim intitulam o nome da empresa. A autora deste projeto é um dos 20 netos da família. Cresceu envolvida na iconologia do grande grupo em mesa farta e vê na Maria’s o retrato de sua história familiar. Maria da Conceição passou para suas filhas Maria de Fátima e Maria da Conceição (Conça) e sua neta Carol o gosto pela culinária e os segredos das receitas familiares. Juntas elas abriram a doçaria Maria’s em 1989 apenas para enco-

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mendas na antiga casa da família. Mais tarde a empresa se mudou para seu endereço atual, na Rua Desembargador Martins Pereira, onde iniciou a venda presencial e posteriormente expandiu para os almoços no peso. A partir de pesquisa iconológica da família e o estudo da formação do gosto como construção social, este projeto é desenvolvido buscando traduzir o afeto encontrado nos sabores do restaurante para o seu espaço físico. Para isso, foi feito um levantamento de referencial teórico buscando conceituar como o espaço de consumo do restaurante Maria’s deve ser pensado, resultando em um painel semântico retrato da imagem a ser construída. Em seguida, o estudo das instalações físicas hoje existentes na empresa, possibilitou entender e respeitar o contexto da edificação. Para por fim tirar partido desses elementos condicionantes encontrados tanto na iconografia, quanto na iconologia desenvolvida, para o desenvolvimento do anteprojeto do restaurante. Como resultado de considerações finais, foi possível vislumbrar novos caminhos de pesquisa e abordagens do tema em meio acadêmico.

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Referencial Teรณrico


Formação do gosto como construção social

Os processos das artes decorativas podem ser entendidos como manifestação da sociedade ao tomar como premissa o conceito de decoração como ornamentação a ser adequada às necessidades e demandas diversas de acordo com o contexto social e histórico/ cultural em que está inserido. Desta forma, eles são como expressão cultural e espírito de época, o que reflete na compreensão das relações entre o espaço circundante e as obras. O sociólogo francês Pierre Bourdieu (2008) aponta as práticas culturais como sendo determinadas pelas trajetórias educativas e socializadoras de cada indivíduo. Por consequência, o gosto cultural é construído em um processo educativo, baseado nas experiências vividas por cada agente, e não por sua sensibilidade inata.

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O pesquisador enxerga o social como um conjunto relacional e sistêmico, determinado pelas relações materiais, simbólicas e de escolarização entre os indivíduos. Os arranjos entre as diferentes esferas relacionais determinam a posição de privilégio ou não-privilégio ocupada, o conjunto desses capitais seria compreendido a partir de um sistema de disposições de cultura (nas suas dimensões material, simbólica e cultural, entre outras), definindo o que Bourdieu chama de habitus. Um projeto de design de interiores destinado ao comércio deve, portanto, conter os elementos definidores do habitus do público a qual ele se destina. Assim, o estudo de referências identificadas como parte da formação iconológica e iconográfica conceitual, associado ao espirito de época, são fatores determinantes para definição do gosto e criação de uma identidade para cada projeto em associação com a sua cultura referente.

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Semiótica dos espaços interiores: Signos e a leitura espacial Em busca da definição do habitus do público alvo do Restaurante Maria’s, como proposto por Bourdieu (2008), buscou-se abordar os espaços interiores como organização de signos. Entendendo a leitura dos ambientes de forma decomposta em signos componentes de um texto visual e arquitetônico, cheio de representação de valores culturais e condicionantes geográficos e históricos. Dessa forma, gerando a reflexão de em que contexto cultural o projeto deve ser desenvolvido e como será a tradução espacial dessa leitura. A partir da compreensão de cultura como contexto determinante do desenho de espaços, e considerando que o projeto do restaurante possui grande bagagem iconológica, o estudo de signos é um caminho para o entendimento das referências e processo histórico embasando o desenvolvimento projetual decorrente de briefing específico para este projeto, e não de repetição pela invenção.

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Assim, é possível utilizar os aspectos culturais como parâmetros projetuais e para gerar beleza, além de aperfeiçoar o argumento de defesa de partido de projeto. O entendimento de signos pela definição de Pignatari

(2003) é de um objeto ou forma que remete a algo dife-

rente de si mesmo, sendo utilizado no lugar deste. Desta forma, se pretende desenvolver este projeto com base em elementos empregados em contextos onde são atribuídos juízos de valor ou onde fazem parte da mensagem a ser passada. Por exemplo pela definição da paleta de cores de Pastoureau (1997), as cores devem ser analisadas como um fenômeno cultural que acaba por expressar um espírito de época. A natureza antropológica do emprego das cores é o que rege a sua utilização, o contexto descrito por autoria, associada a história e a geografia vão moldar a experiência. Assim, pretende-se identificar ícones e elementos pertencentes a iconografia do restaurante Maria’s pautados pela sua tradição envolvida na trajetória dessa empresa familiar.

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Configuração de ambientes de consumo e a experiência do cliente O entendimento da forma de consumo moderna se baseia no reconhecimento de que o consumidor responde a mais do que aos produtos tangíveis que são oferecidos (Kotler, 1974). Os produtos tangíveis (no caso do objeto de estudo: comida) são um pequeno pedaço da experiência do consumidor, e esses respondem a um pacote mais completo de aspectos como serviço, conforto e satisfação. Um dos pontos de maior valor para a experiência dos clientes é o ambiente de consumo, ou a atmosfera desse ambiente. Segundo proposto por Kotler (1974), a atmosfera deve ser entendida como a soma de fatores que ativam a experiência sensorial do consumidor, atribuindo valores poéticos à leitura do espaço arquitetônico. O arquiteto Peter Zumthor (2006) ainda propõe que a atmosfera comunica com a nossa percepção emocional e instintiva, dessa forma, um projeto de ambientação e design de interiores pode direcionar a forma de consu-

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mo do cliente e agregar à experiência da marca em questão. O mundo tecnológico tem influenciado na construção da atmosfera imagética dita como ideal para as pessoas, criando o que Chayka (1974) define como AirSpace. A tecnologia tem quebrado barreiras geográficas e culturais de forma a estabelecer símbolos de conforto e qualidade referentes a mindsets específicos. Características gerais como tijolos aparentes, madeira pinus e mobiliário minimalista têm tornado homogênea a atmosfera em ambientes em diferentes lugares do mundo. Isso torna possível a viagem entre esses ambientes sem dificuldades para o consumidor, que muitas vezes já sabe o que esperar do restaurante baseado em suas características ambientais. Estabelecer o habitus – segundo Bourdieu (2008) – para o restaurante Maria’s passa pelo desafio de estabelecer uma atmosfera com equilíbrio entre ser específica o sufi-

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ciente para ser interessante e genérica o suficiente para ser o mais conveniente possível. Este equilíbrio deve garantir uma identificação rápida e fácil com os seus consumidores de forma autêntica, para demostrar suas raízes e despertar memórias afetivas, mas ao mesmo tempo, geral o suficiente para ser confortável e atrativa como o AirSpace. O sentimento de acolhimento e as lembranças da antiga “casa de vó” podem estar contidos na experiência sensorial do restaurante Maria’s de forma contemporânea, através do repertório projetual adquirido, e não por simulacro. E assim levando diferentes percepções dessa atmosfera a cada cliente de acordo com sua iconografia própria.

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A família Tavares de Barros e a tradição culinária Segundo o sociólogo Pierre Bourdieu (2008) é no seio familiar onde são aprendidos os códigos necessários à sensibilidade estética, entendida como a capacidade de assimilar e se identificar com um objeto artístico. O restaurante Maria’s nasceu da tradição familiar em relação aos sabores. Em seu livro, o patriarca Luiz Tavares de Barros descreve sua infância na cidade de Goiana (interior do estado de Pernambuco) e aponta a cozinha como sendo uma “fábrica”, onde suas memórias se misturam com os cheiros e gostos que ela emanava. A comida na minha casa era assim muito farta. Meu pai mandava, do armazém, metade de bode ou carneiro, quartos de porco, peixes, camarões, ostras, era um horror, sem falar nos caranguejos que eram cozidos e, na maior parte era tratada para fazer ensopado e frigideiras. Como tudo isso era delicioso e como havia tanto dessas coisas na minha cidade. Parece que não posso nem parar de falar nisso. - TAVARES DE BARROS, O teatro do Vovô, página 34.

De Barros descreve as refeições de mesas fartas com muita nostalgia, quase como rituais culturais, que se repetiam em datas comemorativas e fazem parte de sua iconologia.

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Av rotina e tarefas do dia a dia se diluem pela visão periférica dos olhares, dos hábitos e experiências cotidianas, das coisas simples que vão se acumulando no passar do tempo e constroem o extraordinário no ordinário. Esse conjunto é registrado através da memória afetiva, constituindo atos sociais e que permitem conferir uma certa fisicalidade e credibilidade para alguns aspectos da experiência social, muitas vezes intangível e imaterial (CLÍMACO;GOMES). O patriarca transmite os valores implícitos em suas memórias afetivas para a família que forma com Conceição Tavares de Barros, retratada na figura 01. No questionário aplicado com seus filhos e netos (disponível no anexo 01), grande parte das repostas envolvem esses prazeres cotidianos registrados pela memória afetiva e levam diretamente ao convívio familiar como as férias na casa de praia da família ou os sabores e cheiros das refeições compartilhadas por esta. As receitas e tradições foram passadas para filhos e netos. As funcionárias Alzira e Nivalda, que estão com a família há mais de 50 anos, hoje trabalham no restaurante Maria’s e perpetuam de forma literal os sabores da casa da vovó Conceição, como chamada por seus netos.

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Figura 01: Foto da Família Tavares de Barros na década de 50 - acervo pessoal. A união e vínculo do seio familiar registrada em uma foto tradicional.

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Estudo de caso

Lalá : Café e cozinha afetiva Localizado no bairro das Graças, na cidade de Recife, o Lalá Café foi projetado em 2017 pelo escritório Elementar arquitetura. O local funciona anexo à loja de decoração Muma e regularmente recebe eventos como palestras e workshops relacionados a ela. Assim como o restaurante Maria’s, o Lalá Café é uma empresa familiar. Encabeçado por mãe e filha, o café possui várias receitas de família em seu cardápio, além de ser intitulado em homenagem a avó Lalá, sua matriarca, que também está envolvida na produção de alguns dos alimentos. O projeto do café tira partido do oitão da casa existente, se utilizando dos seus materiais como destaque. Por exemplo, o gradil de ferro que limita o terreno (figura 02) é refor-

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Figura 02: Fachada do Lalá Café com o gradio da antiga casa em evidência


Figura 03: Sslão do Lalá Café com destaque para o uso de materias em estética contemporânea e retrô

çado pelo uso de cadeiras do mesmo material em combinação de estéticas contemporânea e retrô (figura 03). Além disso, a atmosfera de ambiente externo é reforçada pelo uso de plantas, pela coberta de estrutura aparente e com instalações elétricas com fiação exposta e em alusão às antigas gambiarras. Dando a sensação de um jardim. O respeito a edificação existente é uma característica do Lalá Café que pode ser associada ao respeito às tradições familiares que envolvem a marca. Desta forma, o projeto para o restaurante Maria’s pode seguir essa referência a fim de reforçar suas raízes de empresa familiar. Traduzindo no espaço construído a ressignificação de sua cultura de forma física.

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Estudo de caso

Restaurante It Localizado no bairro de Boa Viagem, na cidade de Recife, o restaurante It foi projetado em 2008 pelo escritório Santos e Santos arquitetura. A proposta do local é ser um bistrô dentro de uma loja multimarcas de luxo, que atende aos clientes independente do horário de funcionamento da loja. A atmosfera estabelecida é em uma proposta moderna de leitura de espaço de forma aconchegante, onde o elemento focal é a grande mesa, como pode ser observado na figura 04. O desenho do seu tampo orgânico permite que se formem pequenos grupos com a mesma privacidade que se teria em mesas individuais (figura 05). O uso de uma mesa única empregada de forma comunal pode ser entendido como uma releitura contemporânea das

Figura 04: Planta baixa do restaurante It onde o elemento focal é a grande mesa orgânica.

Planta baixa restautante It: Sem escala

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Figura 05: Foto do salão principal do restaurante It evidenciando a privacidade existente em sua mesa comunal resultante de sua forma orgânica.

grandes mesas destinadas a reuniões familiares. O termo “mesa comunal” sumariza o conceito de comunidade também encontrado no meio familiar. A mesa comunal do restaurante It pode ser usada como referência para o projeto do restaurante Maria’s por ser um signo que representa o Habitus em uma atmosfera específica como uma mesa para reuniões familiares. O elemento desperta memórias afetivas do seio familiar em seus consumidores, mas é reinterpretado de forma genérica como a experiência de conforto e privacidade de mesas individuais para um restaurante. Encontrando o equilíbrio desejado entre ser específico o suficiente para ser interessante e genérico o suficiente para poder ser o mais conveniente possível.

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Estudo de caso

Leo’s Oyster Bar Inaugurado em 2016 na cidade de São Francisco (EUA), o Leo’s Oyster Bar é um bar de comidas do mar com projeto assinado pelo designer Jon de la Cruz, inspirado em uma leitura contemporânea dos bares da década de 50. Desta forma, o ar predominantemente masculino atribuído a bares com garrafas e bebidas expostas, é quebrado pela tensão feminina das plantas e elementos naturais em referência ao seu cardápio de alimentos frescos e crus encontrados na costa da cidade. O uso de estampas e quadros que remetem a paisagens da fauna e flora tem sido um recurso comumente encontrado em projetos da atualidade. Desta forma é possível estabelecer uma linha de contato com a natureza em uma configuração menos perene e com fácil manutenção. No Leo’s Oyster Bar, a soma do papel de parede com estampa botânica, com toques de plantas reais e a forte presença da iluminação natural, atribuem ao ambiente uma atmosfera de conforto e acolhimento (figura 06). Em contraponto, o piso em ladrilho geométrico e o mobiliário vintage trazem a leitura espacial da sua referência da década de 1950. Para o projeto do restaurante Maria’s, a referência do Leo’s Oyster Bar enriquece o repertório iconográfico de soluções visuais onde há a combinação de elementos antigos com o espírito de época atual. A mistura de estampas e texturas encontrada, que ao primeiro momento pode parecer inusitada, se dá de forma harmoniosa e inspira a busca por combinações tão singulares quanto a encontrada no bar.

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Figura 06: Foto do salão principal do Leo’s Oyster Bar onde é possível perceber a atmosfera de conforto gerada pela mistura de elementos de diferentes épocas somada à iluminação natural.


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Painel Semântico

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Conforme

observado,

para o projeto do restaurante Maria’s ter relevância junto aos seus clientes, é possível o caminho da busca das emoções e sensações a serem despertadas durante todo o relacionamento com os consumidores. Evocar memórias afetivas da família Tavares de Barros é uma forma de resgatar boas sensações e emoções muitas delas adormecidas em seus clientes alvo. Então usar objetos e signos que remetam a valorização da memória, é a linha projetual de construção da identidade da empresa. O respeito da edificação existente também marca o partido do projeto, uma vez que simboliza o respeito as tradições que envolvem a história da marca (figura 07).

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Estudo preliminar


Contexto e problematização

Figura 08: Localização da Maria’s segundo o Google Maps Figura 09: Foto da fachada da Maria’s evidenciando as características ecléticas da composição com beiral aparente e figuras geométricas de destaque.

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As instalações físicas do restaurante Maria’s são localizadas no bairro do Rosarinho, na zona norte da cidade do Recife. O perfil da vizinhança é majoritariamente residencial, existindo serviços que atendem a esse público (figura 08). A construção de tipologia térrea apresenta características do movimento ecletico, com beiral aparente e um elemento trapezoidal como primeiro plano da fachada. Este elemento possui ornatos geométricos na platibanda que se destacam na composição (figura 09) Internamente a configuração do espaço da Maria’s se limitou à casa original, sendo construída a área de produção no fundo do terreno. O salão atende uma média de 60 pessoas sentadas e tem como elemento forte o piso de ladrilho hidráulico original da casa (ver figura 10). O ladrilho por sua vez, se distingue dos ladrilhos comumente encontrados no mercado. Possui uma forma orgânica de força que remete ao feminino e as curvas encontradas no movimento Art Nouveau (movimento artístico do século IX inspirado em formas e estruturas da natureza). Os demais materiais e mobiliários da composição existente são inexpressivos em relação ao conceito da marca. A configuração do espaço não tem a preocupação de trazer elementos pessoais da família para contar por esses sua história, são mobiliários genéricos sem análise de sua carga simbólica, como pode ser observado nas figuras 11 e 13. Da mesma forma, o logotipo da empresa (figura 12) não conversa com os

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Figura 12: Logotipo da marca Maria´s utilizado atualmente pela empresa. Figura 11: Foto do salão de atendimento do restaurante com destaque para o ladrilho hidráulico existente no centro do salão.

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Figura 13: Foto dos objetos de decoração existentes no salão da Maria’s evidenciando a falta de curadoria em relação ao conceito da marca. Figura 14: Foto da porta de entrada do restaurante com o caixa a sua frente, ponto inicial da deambulação do salão.

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Produção/ administrativo

Legenda: Fluxo principal Fluxo secundário Planta Baixa - Fluxograma escala 1:250

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N

Fluxo serviço


demais elementos do seu espaço físico, não possuindo uma unidade da sua apresentação como imagem. A circulação dos clientes se inicia na porta de entrada com o caixa (figura 14) e segue pelo salão em duas possibilidades- como pode ser visto na planta 01- o fluxo principal se dá passando pela bancada onde são servidas as comidas do self service até um balcão de exposição de doces e salgados, o secundário vai diretamente para as mesas. Também existe uma entrada lateral destinada ao abastecimento e ao serviço, sendo necessário o acesso de carros eventualmente fora do horário de funcionamento da loja. Além do galpão no fundo do terreno a área de produção e administrativo ocupa alguns cômodos da antiga casa, somando 160m². Em contrapartida a área destinada a receber os clientes possui 100m².

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Anteprojeto


Reforma, setorização e fluxo.

Legenda: Construir Planta Baixa - Reforma escala 1:250

46

N

Demolir


A partir da proporção desbalanceada entre as áreas de recebimento ao cliente e produção, aumentar sua capacidade de atendimento passou a ser um dos pontos de melhora física da reforma proposta. Para tanto, foi incorporado ao salão os três cômodos que eram destinados a produção e ficavam dentro da casa original, além do espaço remanescente entre a casa e o limite lateral no terreno, o que torna viável um pergolado que atribui iluminação natural para o lado esquerdo do salão. Ainda na proposta de aumentar a iluminação natural do espaço, as janelas existentes na fachada sul foram ampliadas, possibilitando a visão da lateral do terreno, onde hoje se localiza a entrada de serviço. Essa área externa ao salão é tratada como um jardim vertical e com ambientes de estar que possam ser removidos quando houver a necessidade do acesso de veículos para abastecimento. Para tanto, o alpendre na fachada sul é demolido e o portão para serviço levado ao limite da construção existente. Com o aumento da capacidade do salão, se faz necessária a ampliação dos banheiros com a criação de um banheiro acessível, além da mudança do local da entrada dos clientes, agora proposto pelo lado esquerdo do salão (ver planta de reforma).

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05

04

03

01

02

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Legenda: Fluxo principal Fluxo secundário Fluxo serviço

Planta Baixa - Fluxo e setorização escala 1:150

Planta Baixa - Setorização e Fluxo escala 1:150

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N

01

Setor do caixa

02

Setor de lanches rápidos

03

Setor de refeições compartilhadas

04

Setor do Buffet

05

Setor de refeições reservadas

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Setor da área externa


Essas decisões de projeto viabilizam a concentração do fluxo principal iniciado no caixa em um único sentido em relação ao buffet e mesas, diminuindo as áreas de circulação desnecessárias e otimizando a utilização espacial. As áreas para mesas foram setorizadas por três diferentes aspectos: Lanches rápidos na porção mais próxima ao caixa; Refeições compartilhadas no centro do salão ;Refeições reservadas no salão posterior (ver planta de setorização e fluxos). Desta forma o uso do espaço se torna plural em relação aos diferentes momentos de atendimento aos clientes ao longo do dia e em diferentes dias da semana.

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Paleta de cores e materialidade

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Uma vez definida a estrutura física do restaurante Maria’s de acordo com as necessidades de fluxo e funcionalidade do espaço, buscou-se trazer elementos definidores do habitus do público a qual ele se destina, atribuindo identidade ao espaço em associação com a sua cultura referente. Desta forma, foi identificado o desenho do ladrilho hidráulico existente no piso como um ícone pertencente a iconografia do restaurante Maria’s, associando o respeito ao elemento existente ao respeito as tradições envolvidas na trajetória dessa empresa familiar. O elemento se torna parâmetro projetual para gerar beleza, além sumarizar o partido de projeto ao possuir grande juízo de valor por ter acompanhado de forma literal o desenvolvimento da empresa no sítio existente. Toda a paleta de cores do projeto é então desenvolvida a partir do bordô do ladrilho, se fazendo necessário o uso das cores cinza e rosa como contraponto. No campo material, o uso da madeira é feito para trazer a sensação de conforto e o aço com banho de cobre como pontos de luz. O piso em ladrilho hidráulico passa de ser apenas localizado no salão principal para ser o revestimento de piso de toda a área do restaurante. Seu desenho extrapola ainda o nível do chão e ocupa o campo a nível dos olhos dos clientes ao ser usado como unidade para um painel em MDF recortado a laser (figura 15), além de revestir o volume dos banheiros que funciona como septo entre os setores de refeições comparti-

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Desenvolvimento da materialidade e identidade visual do restaurante Marias a partir do ladrilho existente no piso da loja. Figura 15: Painel em MDF recortado a laser. Figura 16: Rapport utilizado para painel que reveste o volume dos banheiros no salĂŁo principal. Figura 17: Destaque para a forma retirada do ladrilho que origina a nova logotipo da empresa.

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lhadas e refeições reservadas (figura 16). Por fim, pela necessidade de construir uma unidade na apresentação da empresa como imagem, é proposto um novo logotipo a partir do desenho do ladrilho símbolo do conceito do projeto (figura 17). A identidade da empresa passa a ser expressa em mais uma esfera de contato com os clientes, reforçando sua imagem e conceito. Na nova logo, foi decidido retirar o apóstrofo anteriormente utilizado em pró da unidade da composição, ainda assim, no campo simbólico a mudança reafirma a iconologia da empresa quando passa a ser Marias no plural (coletivo de Maria como as 7 mulheres presentes na história da empresa), e não do inglês “da Maria” como sugere o sinal de pontuação. Legenda: 01- Piso em Ladrilho Hidráulico 02- Revestimento em MDF baseado no ladrilho 03- Painel em MDF recortado a laser com desenho do ladrilho 04- Parede revestida em foleado de madeira Pau Ferro 05- Piso em cobograma 06- Parede com jardim vertical 07- Pilar revestido em aço com banho de cobre obs.: as demais paredes devem ser revestidas em tinta acrílica cinza.

04

02 05

02 07

03

02 01

06

07

Planta Baixa - Revestimentos escala 1:250

N

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Layout

Planta Baixa - Layout sem escala

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N


Layout

Segundo as diferentes necessidades encontradas na setorização proposta, o layout definido busca a identificação rápida na leitura espacial por parte dos clientes. O que torna a mensagem do posicionamento da empresa expressa em seu espaço físico de forma mais literal. Na área proposta para lanches rápidos, os sofás possuem mesas menores apenas para apoio e a mesa compartilhada oval é mais alta e com banquetas. Essas características funcionais estimulam os usuários ao uso de menor permanência. O centro do salão é destinado a refeições compartilhadas com uma grande mesa comunal que agrega os clientes em uma atmosfera que desperta as memórias afetivas do seio familiar. Ao mesmo tempo, o layout possibilita a individualidade e formação de pequenos grupos e estrategicamente está locado próximo a mesa do buffet. O último ambiente do salão é para refeições reservadas e de maior permanência. Desta forma as mesas dispostas são maiores e suas poltronas são mais confortáveis, possibilitando grupos formados isoladamente. A área externa se configura com poltronas que proporcionam conforto, ainda assim evidenciam o caráter transitório do espaço devido ao clima recifense não ser favorável a permanência em todos os horários. Cada conjunto propõe a reunião de pequenos grupos para um lanche no fim da tarde, por exemplo. Com mesas baixas de fácil acesso para o apoio de copos e pratos, mas não para o apoio de talheres.

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Mobiliรกrio

Poltrona Eva

Cadeira Iaiรก

Banqueta Iaiรก

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Planta Baixa - Layout escala 1:250

N


O mobiliário do restaurante Marias foi escolhido de forma que contenha forte carga simbólica para corroborar com o posicionamento de marca da empresa. A pesquisa dos elementos de design

buscou

desenhos

contemporâneos, mas com referências a produção nacional e a iconografia da família Tavares de Barros. O trabalho do designer Gustavo

Bittencout

teve

considerável destaque nesse Poltrona Painho

aspecto. A linha Iaiá possui características que remetem ao design clássico brasileiro da década de 50 como o uso da madeira natural e da palha trançada manualmente para o assento. A poltrona Eva, também do artista, foi inspirada no desenho de uma flor e busca homenagear a beleza feminina, se enquadrando

Mesa Painho

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Expositor (ver detalhamento pág 64 )

Sofá (ver detalhamento pág 72)

Mesa oval (ver detalhamento pág 68 )

Balcão do caixa (ver detalhamento pág. 60)

Planta Baixa - Layout escala 1:250

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N


Mesa redonda (ver detalhamento pág 70 )

perfeitamente no partido do restaurante Marias. Foi utilizada ainda a linha Painho da marca Tidelli por Marcelo Rosembaum. Inspirada nas fazendas da Bahia, o mobiliário é uma releitura contemporânea dos móveis trançados em fibra muito usados na região.

Mesa comunal (ver detalhamento pág 66 )

As demais peças utilizadas foram desenhadas pela autora como uma extensão do trabalho do designer Gustavo Bittencourt. Com a intenção de associar as referências do design nacional utilizadas pelo designer carioca com os toques Art Nouveau encontrados no piso de ladrilho hidráulico do

Cristaleira (ver detalhamento pág 62 )

restaurante. O resultado são peças singulares que expressam a identidade do projeto e passam a ajudar a contar a sua história.

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Caixa

O móvel desenhado para atender a função de caixa no restaurante Marias é composto de madeira freijó nas superfícies de trabalho e fechamento frontal em palha trançada. O material utilizado remete ao mobiliário vernacular em palha e se identifica com o conceito do projeto como um todo. A fixação da peça se dá por engaste na parede lateral e no pilar estrutural do salão, possibilitando a leveza do jogo de formas que “abraça” a estrutura.

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Vista lateral- caixaescala 1:25

Vista frontal- caixa escala 1:25

Vista superior- Caixa escala 1:25

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Cristaleira

Utilizando madeira freijó, vidro e estrutura de aço com banho em cobre, a peça possui grande leveza não só por seu invólucro de vidro, mas também pelo seu esqueleto metálico exposto somado as quinas arredondadas de inspiração Art Nouveau. O móvel foi riscado pensando em abrigar diferentes objetos que façam parte da história da família Tavares de Barros como louças e ornatos, além de alguns elementos da cultura popular pernambucana, o que possibilita a identificação imediata com a iconografia local. Vista lateral - Cristaleira escala 1:25

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Vista superior - Cristaleira escala 1:25

Vista fontal - Cristaleira escala 1:25

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Expositor

Composto por madeira freijó, vidro e estrutura de aço com banho em cobre, o expositor da Marias tem a função de abrigar bolos e tortas em uma posição de destaque no salão. Como a empresa nasceu desse comércio, o desenho do móvel sugere um expositor de relíquias, como se as receitas fossem as joias da Família. A ideia é que cada torta venha identificada com seu nome, as receitas próprias da família se iniciam por Maria em homenagem as suas integrantes, evidenciando a força da marca.

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Vista superior - Expositor escala 1:25

Vista frontal - Expositor escala 1:25

Vista lateral - Expositor escala 1:25

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Mesa comunal

A mesa comunal desenhada para o restaurante Marias tem o tampo em madeira freijó e os pés em aço com banho de cobre. O desenho do seu tampo orgânico tem forte referência das curvas encontradas no movimento Art Nouveau, compondo com o ladrilho existente no piso e com toda a identidade visual do projeto. Os sentimentos de comunidade e partilha encontrados no meio familiar aparecem no signo, que também remete ao ramificar de uma árvore genealógica, mas com a privacidade de mesas individuais para um restaurante.

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Vista superior Mesa comunal escala 1:50

Vista frontal Mesa comunal escala 1:50

Vista lateral Mesa comunal escala 1:50

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Mesa oval

Com tampo em mármore Carrara e estrutura e fitamento em aço com banho de cobre, as mesas ovais do restaurante Marias foram pensadas em duas alturas. Localizada na área de lanches rápidos, a mesa oval com 90cm de altura recebe a banqueta Iaiá e é destinada a curta permanência. Já a mesa oval com 75cm de altura é localizada na área de refeições reservadas, recebendo a poltrona Eva e sendo destinada a grupos maiores e para maior permanência.

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Vista superior Mesa oval escala 1:25

Vista frontal Mesa oval escala 1:25

Vista frontal Mesa oval h75 escala 1:25

Vista frontal Mesa oval h90 escala 1:25

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Mesa redonda

Com tampo em mármore Carrara e estrutura e fitamento em aço com banho de cobre, as mesas redondas do restaurante Marias possuem dois diâmetros possíveis. O diâmetro de 80cm é destinado a área de lanches rápidos e o diâmetro de 120cm é destinado a área de refeições reservadas. As peças se destacam na composição do salão principalmente devido ao filamento em aço com banho de cobre, atribuindo pontos de luz sem abrir mão da funcionalidade e limpeza de um tampo de mármore para mesas que recebem comida.

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Vista superior- Mesa ø 1.20cm escala 1:25

Vista frontal- Mesa ø 1.20cm escala 1:25

Vista superior - Mesa ø 0.80cm escala 1:25

Vista frontal - Mesa ø 0.80cm escala 1:25

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Sofá

Com estrutura em aço com banho de cobre, assento em palha natural trançada com madeira freijó e encosto estofado, o sofá riscado para o projeto da Marias é um desdobramento claro da linha Iaiá do designer Gustavo Bittencourt. Desta forma, o móvel desperta a memória afetiva dos antigos móveis de design brasileiro com palha trançada e devido ao seu formato curvo, estabelece diálogo com a organicidade presente no ladrilho hidráulico do piso e mantém a unidade do projeto como um todo.

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Vista superior - Sofรก escala 1:25

Vista frontal - Sofรก escala 1:25

Vista lateral - Sofรก escala 1:25

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Iluminação e forro

Forro Knauf Cleaneo Acústico D127 Spot embutido para dicroica

Detalhe Forro escala 1:10 Luminária tipo trilho

Detalhe Forro escala 1:10 Forro Knauf Cleaneo Acústico D127

Legenda: Fita de LED Luminária pendente Jabuticaba (Itens)

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forro proposto para o restaurante Marias foi em placas acústica de gesso acar-

Luminária tipo trilho

tonado da marca Knauf, para

Arandela Bruta (Itens)

absorer os ruídos.

Espelho retroiluminado

N

e bem-estar dos clientes, o

Spot redondo dicróica

Luminária Gambiarra

Planta Baixa - Iluminação e forro escala 1:250

Em busca do conforto

Plafon embutido

Com o intuito de dar unidade e não destacar o teto, o forro é pintado no mesmo


cinza usado nas paredes, assim como as luminárias embutidas usadas. O projeto de iluminação como um todo foi desenvolvido a partir da ideia de limpeza visual do teto, apenas buscando a atenção para as luminárias pendentes Jabuticaba e as arandelas Bruta, ambas da designer Ana Neute para a marca Itens.

Perspectiva isométrica com planta de efeito luminoso sem escala

A escolha das peças foi baseada na sua carga simbólica. O pendente Jabuticaba faz alusão a fruta ainda no pé,

figura 18

o que faz uma conexão com o significado da mesa comunal utilizada que ramifica como uma árvore genealógica. Já a arandela Bruta remete ao trabalho manual e o primor dos detalhes em uma peça, pois o objeto é produzido artesanalmente com fios de capim dourado selvagem.

Luminárias da Itens por Ana Neute. A arendela Bruta (figura 19) é feita artesanalmente com capim dourado selvagem, já o pendente Jabuticada (figura 18) remete ao fruto se desenvolvendo no galho da jabuticabeira.

figura 19

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Objetos e decoração

Figura 20: Perspectiva produzida pela autora que ilustra a visĂŁo do cliente ao entrar no restaurante Marias e se deparar com sua logomarca aplicada no painel recortado em MDF seguindo a identidade do piso.

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Seguindo a mesma linha de raciocínio usada para o desenvolvimento do projeto de reforma e ambientação, para o projeto de decoração do salão do restaurante Marias se buscou utilizar objetos com características simbólicas que corroborem com o conceito e posicionamento da marca. Ao entrar no restaurante o cliente se depara com a sua nova logomarca recortada a laser em uma chapa de aço com banho de cobre, respeitando a materialidade especificada em seu mobiliário e revestimentos (figura 20). O objeto reforça a identidade criada e se torna um contraponto de luz no painel em mdf, além de manter a composição devido a sua forma ter sido derivada do mesmo.

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Figura 22: Perspectiva produzida pela autora para ilustrar a visão do cliente ao sentar na área de lanches rápidos e contemplar a mesa comunal do espaço de refeições compartilhadas coroada pelos 3 leões do mestre Nuca.

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Na porção de lanches rápidos, é possível contemplar objetos do acervo da família como os citados no questionário aplicado (disponível no anexo 01), além de alguns elementos da cultura popular pernambucana, o que possibilita a identificação imediata com a iconografia do estado (figura 21). Dando sequência ao artesanato local, ao fundo da área de refeições compartilhadas, sob o painel que reveste o volume dos banheiros, estão locados 3 leões do mestre Nuca. O artesão nasceu no interior de Pernambuco e hoje é nacionalmente reconhecido (figura 22). A escolha da peça, além de por associação iconográfica, foi pela forma em cachos da juba do felino. Ela estabelece um Figura 21: Perspectiva produzida pela autora que ilustra a visão do cliente para a área de lanches rápidos. Destaque para a cristaleira que contém relicários da família.

diálogo esteticamente com a organicidade do desenho base do projeto, além do barro utilizado contrapor o jogo de vazios (visuais) no volume do banheiro.

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Figura 23: Perspectiva produzida pela autora mostrando a galeria de quadros do restaurante Marias.

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No espaço destinado a refeições reservadas é possível contemplar uma grande galeria de memórias da Família Tavares de Barros. A parede receberá quadros, fotos e objetos respeitando a curadoria utilizadas nos demais ambientes. Como elemento que se destaca, a coleção de pratos da marca italiana Fornasetti (utilizada na figura 23 como meio ilustrativo) inspira o possível desenvolvimento de uma linha de objetos com o espírito de época contemporâneo, mas repleto de simbologia da memória afetiva da família. O artista italiano ficou conhecido pela sua obsessão pelo rosto da Soprano do século IXX Lina Cavalieri, a marca segue fazendo reinterpretações de imagens da moça em diversos ângulos e montagens. Para a galeria da Marias, a autora propõe uma coleção de pratos estampados com fragmentos de fotos das 7 marias da família. Atribuindo significado pessoal a um utensílio usual para a comida de forma descontraída.

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Perspectivas gerais Figura 24: Perspectiva para ilustrar a visão de quando se adentra o restaurante Marias. Destaque para o uso do elemento gráfico expressão do projeto também na altura de visão do espectador.

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Figura 25: Perspectiva para ilustrar a presençã da atmosfera externa ao restaurante Marias dentro do salão. A grande janela que se abre para o jardim humaniza o espaço e trás luz natural em abundância.

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Figura 26: Perspectiva para ilustrar a visĂŁo da mesa do Buffet do restaurante Marias e o destaque ao expositor de bolos e doces a sua frente.

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Figura 27: Perspectiva para ilustrar a área de refeições reservadas em seu conforto e preservação em relação ao resto do salão. É possível ainda observar a entrada dos banheiros emoldurada pelo painel em MDF. O mix de estampas das poltronas Eva com o painel proporcionam ao ambiente o reforço ao traço feminino e da natureza.

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Considerações finais

Este trabalho buscou conceituar a marca Marias através de sua trajetória iconológica para então desenvolver o projeto de reforma e ambientação de suas instalações físicas. Através desse estudo foi possível entender que o espaço arquitetônico que recebe uma marca deve possuir a atmosfera da imagem que ela deseja transmitir para os seus clientes, pois é uma forma de se estabelecer um reconhecimento e possível conexão entre eles. Ainda é possível identificar vários aspectos que inspiram novos projetos que envolvem a empresa Marias. A otimização de sua área de produção para receber os ambientes remanejados da casa existente, é uma necessidade clara gerada pela reforma aqui proposta.

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Extrapolando o interior da construção, o reestudo da fachada do restaurante é um aspecto que também se faz necessário para atrair os consumidores expressando seu conceito de experiência desde do primeiro olhar ainda da rua. Para complemento do posicionamento da marca, sua nova identidade deve romper as barreiras do espaço físico no restaurante e ser tomada como base para o desenvolvimento de uma linha de embalagens e papelaria, além da linguagem das suas mídias sociais. O que possibilita a vivência da marca de forma global.

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Bibliografia

BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp, Porto Alegre: Zouk, 2008. CLÍMACO, José Cezar; GOMES, Simone. Gravura e memória afetiva: seus rastros, restos, acúmulos, texturas e apagamentos. Disponível em: http://www.brajets.com/index.php/brajets/article/view/272. Acessado em 01 de outubro de 2018. DE BARROS, Luiz Tavares. O teatro do Vovô. Recife. Tiragem Única, 2001. KOTLER, Philip. (1974). Atmospherics as a Marketing Tool. Journal of Retailing, 49, 48-64. Disponível em: http://belzludovic.free.fr/nolwenn/Kotler%20-%20Atmospherics%20 as%20a%20marketing%20tool%20%20(cit%C3%A9%20 171)%20-%201973.pdf Acesso em 27 de Junho de 2018.

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PASTOUREAU, Michel. Dicionário das cores de nosso tempo. Simbólica e sociedade. Lisboa: Editorial Estampa PIGNATARI, Décio. Informação linguagem comunicação. O ateliê Editorial. São Paulo 2003. ELEMENTAR ARQUITETURA, Projeto do Lálá café. Disponível em: http://www.elementararquitetura.com/projeto/lala-cafe . Acessado em 05 de setembro 2018 SANTOS E SANTOS ARQUITETURA. Projeto do restaurante It. Disponível em: http://santosesantosarquitetura.com.br/ project/it/. Acessado em 05 de setembro de 2018. ZUMTHoR, Peter. Atmospheres. Birkhauser. Basel, Suíça 2006.

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Lista de imagens

Figura 01 (pagina 27) - acervo da família Figura 02 (página 28)- http://www.elementararquitetura. com/projeto/lala-cafe Figura 03 (página 29)- http://www.elementararquitetura. com/projeto/lala-cafe Figura 04 (página 30) - http://santosesantosarquitetura.com. br/project/it/. Figura 05 (página 31)- http://santosesantosarquitetura.com. br/project/it/. Figura 06 (página 33)- https://www.architecturaldigest.com/ story/leos-oyster-bar-san-francisco Figura 07 (página 34/35)- painel semântico de autoral com imagens do Google imagens e acervo pessoal Figura 08 (página 38) - Google maps Figura 09 (página 38) - acervo pessoal Figura 10 (página 40)- acervo pessoal Figura 11 (página 40) acervo pessoal Figura 12 (página 40)- Logo fornecida por Carolina Tavares Figura 13 (página 41) - acervo pessoal

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Figura 14 (página 41) - acervo pessoal Figura 15 (página 52) - Produção autoral Figura 16 (página 52) - Produção autoral Figura 17 (página 52) - Produção autoral Figura 18 (página 75) - http://itenscollections.com/ Figura 19 (página 75) - http://itenscollections.com/ Figura 20 (página 76/77) - Produção autoral Figura 21 (página 79) - Produção autoral Figura 22 (página 78) - Produção autoral Figura 23 (página 80/81) - Produção autoral Figura 24 (página 82/83) - Produção autoral Figura 25 (página 84/85) - Produção autoral Figura 26 (página 86/87) - Produção autoral Figura 27 (página 88/89) - Produção autoral

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Anexo 01 QuestionĂĄrio aplicado aos integrantes da famĂ­lia Tavares de Barros pelo Google docs. em setembro de 2018.









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