Infantovandalismos

Page 1

fa n zel au







INFANTOVANDALISMOS foi pensada a partir de um núcleo de cinco obras produzidas em momentos distintos, não necessariamente concebidas no ano em que confeccionadas por isso a intenção de juntá-las: Estou aqui porque pequei (2010) Respirante (2013) A uma chave (2017) O tempo infantil (2017) O último que faltava contar para você dormir (2017) Ideias presentes na(s) obra(s) atual(is) estavam apenas latentes em outra(s) do passado. Esse núcleo é um período-espaço de cruzamento dos apontamentos que cada obra fez/faz. Das mais antigas, há de ser um resgate; das novas, um ainda desenvolvimento daquilo que estão por “dizer”. As mais recentes são de 2017, e as anteriores, de 2013 e 2010. Estas foram expostas apenas uma vez (Respirante, na exposição A Bela Morte - Confrontos com a Natureza-Morta no Século XXI, no MARGS, e Estou aqui porque pequei, em exposição individual homônima na Fotogaleria Virgílio Calegari, por ocasião do 2° Prêmio IEAVi), enquanto que as outras três são inéditas. Ancorei-me principalmente na obra Estou aqui…, por ter sido produzida num período relativamente afastado (foi criada em 2010), e por ter dimensão física destoante das outras. Ainda me eram presentes os motivos do meu projeto de graduação do curso de Artes

Visuais (Passatempos Ocasionais, 2008), em que fiz brinquedos de playground mesclados com aparelhos de tortura. Minha intenção era unir opostos. Estou aqui… foi um desdobramento. Entretanto, em vez de unir pela oposição, uni pelas funções. No caso, a função era o desaparecimento: o simbólico, dos pecados, e o ilusório, da assistente do mágico. Respirante também me instigou a juntar as cinco obras em questão, pois produzida há mais tempo e com discurso que transparece na produção inédita que exponho. Por isso, Estou aqui… e Respirante são capazes de reforçar as ambiguidades de meu trabalho, que também se apresentam em O último que faltava contar para você dormir, O tempo infantil e A uma chave: do contexto infantil ao adulto, do pueril ao provocativo, do sutil ao agressivo, do normal ao anormal, do verossímil ao inverossímil - e vice-versa. Afora as dualidades, o que quero deixar em evidência é a harmonia dos movimentos insinuados por cada obra: o inspirar-expirar do ovo, o gato que parece um metrônomo, a chave que gira infinitamente, o mantra de contar carneirinhos, o vai e vem das espadas, da assistente do mágico e dos pecados. Finalmente, a partir do que cada obra me informava, à medida que eu as imaginava em conjunto, decidi elencar três fatores nos quais fundamentar a exposição: espetáculo, religião e mistério. Era só o que me faltava!


Estou aqui porque pequei almofada, ferro, madeira, tecido 209 × 96 × 75 cm 2010



O tempo infantil crucifixo, gato da sorte chinês 37 × 37 × 26 cm 2017



A uma chave chave, mdf, motor 24 × 18 × 17 cm 2017



Respirante madeira, motor, musgo artificial, ovo 36 × 20 × 20 cm 2013



O último que faltava contar para você dormir borracha, mdf, verniz 31 × 28 × 20 cm 2017




INFANTOVANDALISMOS desdobrou-se. O prefixo -des não negou o dobro. Pelo contrário. Duplicou. Novas produções, relacionadas a um projeto que cozinhou por dois anos. Ânsia de materializar a confusão mental, o processo cíclico de decisões, a sugestão de um lado B, a dúvida, o requinte tolo. Para cada uma das cinco obras iniciais, uma consanguínea na sala ao lado:

Fuga (2019) <===> Estou aqui porque pequei Saber (2019) <===> A uma chave Alegria (2020) <===> O tempo infantil Poente (2020) <===> O último que faltava contar para você dormir Criação (2020) <===> Respirante

Estou textualizando a configuração das obras na galeria, e justificando, mesmo que desnecessariamente, sua apresentação: por que cinco em conjunto numa sala, e outras cinco combinadas em outra sala. Das outras duas (Maquete e Infantovandalismo) falarei adiante. O movimento – mecânico, inclusive – segue por meio de trocadilhos. O novo conjunto de cinco obras é formado por palavras. Cada palavra foi escolhida em razão de erros cognitivos. Erros meus. Minha percepção equivocada. Quem sabe “má”, mesmo. De “malvada”. A palavra mal vista e seu par. Ambas em conflito ou afinadas.


Alegria barbante, espelho, lâmpada led rotativa, madeira 60 x 105 x 21 cm 2021



Poente acrílico, letras de EVA, máquina de relógio 13 × 51 × 5 cm 2020



Fuga vídeo em looping 16 × 23 × 4 cm (porta-retrato digital) 2019



Saber água, bomba d'água, plástico 19 × 31 × 13 cm 2019



Criação acrílico, letras de EVA, moldura 21 x 27 × 27 cm 2020




Esse jogo de correspondências foi elaborado em março de 2020. Eis que tudo se suspende. Um ano e meio depois, a retomada: aclive, declive, believe. Até uva (2021). Nova obra, agora autoexplicativa.

Maquete (2018) e Infantovandalismo (2021). Podem ser pontes entre os conjuntos descritos acima, porque concentram características aptas a dar unidade à exposição. Maquete é a idealização de um ato ingênuo de remendo. Em contraponto, Infantovandalismo é um desfecho hipotético de onde se espera o inócuo resultado de um desejo de destruição.


Infantovandalismo instalação com armas de brinquedo dimensões variáveis 2021



Maquete acrílico, barbante, madeira, mdf 38 × 80 × 15 cm 2018



Até uva impressão em azulejo 30 × 30 × 3 cm 2021



LEONARDO FANZELAU (Porto Alegre/RS, 1983). Graduado em Artes Visuais pela UFRGS (2008), com o projeto Passatempos Ocasionais, sob orientação da Profª. Dra. Mônica Zielinsky. Sua última exposição individual, intitulada Pós-Drama (2017), também ocorreu na Gestual (Porto Alegre/RS), galeria com a qual mantém contrato desde 2009. Participa de exposições coletivas desde 2004, dentre as quais se destacam: Provokatsiya (2019), criada pela parceria entre Artikin e Perestroika para o Projeto Blackwall; Idades Contemporâneas (2012), no MAC/RS; Nova Escultura Brasileira (2011), na Caixa Cultural Rio de Janeiro; Labirintos da Iconografia (2011), no Museu de Arte do Rio Grande do Sul – MARGS. Indicado três vezes ao Prêmio Açorianos de Artes Plásticas, pelas seguintes exposições: Conjecturas (2012), individual na Galeria Gestual; Arte Como Questão (2010), no Goethe-Institut Porto Alegre, por ocasião do X Concurso de Artes Plásticas Contemporâneas; Playground (2009), individual na Galeria Iberê Camargo da Usina do Gasômetro (Porto Alegre/RS).

Sua primeira exposição foi no 18º Salão Jovem Artista (2004), no MARGS, salão do qual participou novamente em sua vigésima edição (2008). Selecionado também em outros salões de arte, destacando-se: 39º Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto (Santo André/SP), 2° Salão Fundarte/Sesc de Arte 10x10 (Montenegro/RS), 15° Salão UNAMA de Pequenos Formatos (Belém/PA), 18° Salão de Artes Plásticas Câmara Municipal (Porto Alegre/RS), 13° Salão dos Novos (Joinville/SC), 6° Salão Nacional de Arte (Jataí/GO) e VII Salão Elke Hering (Blumenau/SC). No teatro fez o cenário de três espetáculos da vai!ciadeteatro: Cara a Tapa (Melhor Cenografia no Prêmio Açorianos de Teatro 2012), Parasitas e Agora Eu Era.



a b er t ura 1 6 /1 0 /2 0 2 1 vis ita çã o 1 8 /1 0 a 0 6 /1 1 /2 0 2 1 lu ca s de ol i vei ra 2 1 p o r to a legre / rs / brasi l +55 51 9 8 9 2 4 0 6 2 5 g estual . com. br

pro je to grá fi co de di di j u ca . co m / fo to s de an ders o n as to r

fa n zel au


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.