UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINA DE GRADUAÇÃO
MARIA EVANE DUTRA DE MEDEIROS
UMA PROPOSTA ALTERNATIVA DE HABITAÇÃO PARA O SERIDÓ
NATAL, 2015
MARIA EVANE DUTRA DE MEDEIROS
VIVENDA JOÃO DE BARRO UMA PROPOSTA ALTERNATIVA DE HABITAÇÃO PARA O SERIDÓ
Trabalho Final de Graduação apresentado à banca examinadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção do grau em Arquiteta e Urbanista. Orientador: Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco Co-orientadora: Prof. MSc. Clara Ovidio de Medeiros Rodrigues
Natal, 2015
MARIA EVANE DUTRA DE MEDEIROS
VIVENDA JOÃO DE BARRO UMA PROPOSTA ALTERNATIVA DE HABITAÇÃO PARA O SERIDÓ
Trabalho Final de Graduação apresentado à banca examinadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção do grau em Arquiteta e Urbanista.
Aprovação em 10 de dezembro de 2015
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________ Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco Orientador _________________________________________________ Prof. MSc. Clara Ovidio de Medeiros Rodrigues Co-Orientadora _________________________________________________ Prof. José Aureliano Souza Filho Avaliador interno - UFRN _________________________________________________ .Leonardo Jorge Brasil de Freitas Cunha Avaliador externo – Arquiteto e Urbanista
Aos meus pais, Robinson e NĂşbia.
AGRADECIMENTOS Essa página se tornará pequena para agradecer a todos que contribuíram para minha chegada até aqui. Devo tudo o que conquistei e o que conquistarei na vida à minha família, em especial aos meus pais, por me ensinarem o valor da educação, e nunca terem medido esforços para me proporcionar a melhor delas. Agradeço o amor incondicional. À Luisa, por ser desde sempre minha inspiração e exemplo de dedicação intelectual, e à Heitor, pela sua generosidade e compreensão, especialmente nos últimos meses. À Luan, por sempre encorajar minhas ambições e planos, e por ser meu ponto de equilíbrio nos momentos de agonia. Seu carinho faz a diferença. Ás amigas de infância, por retribuírem minha ausência com gestos de incentivo, em especial à Kamyla , Rapha , Micaela e Cinthya. Aos meus chefes da Interproj pelos ensinamentos ao longo desses anos de estágio. À todos os professores do curso que acrescentaram na minha bagagem acadêmica, em especial aos orientadores desse trabalho final, Clara e Marcelo. Não podia deixar de agradecer à turma de 2010.2, mais conhecidos como Boêmios, por serem responsáveis pelos melhores momentos que tive dentro do curso. Sem nossas histórias, esses anos nunca teriam sido os mesmos. E como arquitetura é um curso que se faz em grupo, não posso esquecer dos colegas com quem formei equipe, e dos que me socorreram quando foi preciso. Ninguém chega aqui sozinho. Às minha irmãs valencianas, babs e Oli, que unidas pelo mesmo sonho, compartilharam a vida comigo na Espanha. Só saudades. Aos meus amigos Candy e Aless, por acompanharem de perto a construção desse trabalho, pelos carões, julgamentos, e opiniões sinceras. Ao Imigris em especial, por sem praticamente minha dupla, sem sua ajuda eu não chegaria lá. Ao nosso lado B, Ray, Fefo, Txos, Guiga, Gabi e Babina, por transformarem esse desespero coleltivo em força, foco e fé. À Renata, por elevar a representação gráfica das minhas perspectivas à outro nível. À todos e a cada um, registro aqui minha imensa gratidão.
“
Se avexe não, toda caminhada começa no primeiro passo, a natureza não tem pressa, segue seu compasso, inexoravelmente chega lá [...] (A natureza das coisas – Accioly Neto)
Resumo Os materiais e modos alternativos de construção ganham cada vez mais espaço na arquitetura, dado o momento global em que estamos inseridos, e as preocupações com o esgotamento dos recursos naturais e energéticos. Entretanto, sistemas construtivos não convencionais ainda são pouco difundidos na sociedade Brasileira e principalmente no Nordeste, seja por questões culturais e de mão de obra, como é o caso dos sistemas pré-fabricados, ou seja por falta de normatização e regulamentação, como na situação do uso de terra. Objetivando viabilizar a utilização de novas formas de construir, esse trabalho tem como iniciativa estudar uma área pouco explorada, visando a disseminação do conhecimento; visto que o mercado está interessado em vender e utilizar o que é mais fácil, barato e que lhes dá mais lucro, transferindo para a academia a responsabilidade de aprofundar-se em investigações tecnológicas. O objetivo principal desse volume portanto, consiste em estudar e valorizar a utilização de um material natural - a terra - na arquitetura, adequando-o à tecnologia disponível nos dias atuais, mostrando como a técnica milenar se enquadra no contexto contemporâneo na arquitetura. Será desenvolvido um anteprojeto habitacional para o clima semiárido, utilizando como sistema construtivo a taipa de pilão. Para essa aplicação, foi escolhida a cidade de Caicó no estado potiguar, que será alvo da interiorização do ensino superior da UFRN nos próximos anos, com a criação de 485 novas vagas presenciais distribuídas em 7 novos cursos; o que se reflete na entrada de 2070 novos alunos de graduação e 176 novos docentes até 2018. Nesse contexto, fica clara a demanda de infraestrutura que será gerada pela universidade na cidade, bem como uma movimentação do setor imobiliário, principalmente nas proximidades do campi. O público alvo chamado de público universitário – para o qual serão pensadas as habitações, tem suas particularidades e generalidades que convergem para habitações mínimas e de caráter flexível. Além das necessidades dos usuários, será uma preocupação do projeto a adaptação ao clima em questão (quente e seco), visando o conforto ambiental. Palavras-Chave: Materiais alternativos, arquitetura de terra, arquitetura contemporânea, habitação.
Abstract Alternative construction material and methods are getting more representatives in architecture due to the global moment we are and the concern about the depletion of natural and energy resources. However, unconventional constructive systems are still poorly widespread on Brazilian society, especially on northeast region, due to cultural issues and manpower, like the prefabricated system, or because of lack in regulation as in the clay use. Aiming to enable new ways of construction, this work has the purpose to study this area underexplored willing to disseminate the knowledge, as the market is interested on selling and use what is easier, cheaper and more profitable, transferring to the academy the responsibility to go deeper in technological research. The main objective of this volume consists to study and value the use of a natural material - the clay - in architecture, making it to adapt the current available technology, showing that the millenary technique suits the contemporary context in architecture. A housing draft for the semiarid climate will be developed using earthenware as constructive system. For this application was chosen the city of Caicó, RN, that is part of a project that is bringing higher education from UFRN to the countryside in the next years, offering 485 new study opportunities distributed in 7 new majors, which will represent 2070 new students and 176 new professors until 2018. In this context, it is clear the demand for infrastructure that will be generated by the university in the city, as well as the housing sector, especially near campus. The addressed public, college public, for which the residency will be thought for, it has its particularities and generalities that converge to minimal and flexible housings. In addition to the user’s needs, it will be a project concern the adaptation to the climate of the city (warm and dry), for the environmental comfort. Key words: alternative materials, clay architecture, contemporary architecture, residency.
LISTA DE FIGURAS Fig. 1: Dados para expansão do campus Caicó......................................................................27 Fig. 2: Previsão de vagas para cursos em Caicó.....................................................................27 Fig. 3: Tipos de dormitórios.........................................................................................................31 Fig. 4: Pátio como espaço de lazer............................................................................................35 Fig. 5: Casa Uru-chipaya na Bolívia...........................................................................................37 Fig. 6: Arquitetura vernacular na Capadócia...........................................................................38 Fig. 7: Arquitetura de Santorini na Grécia................................................................................40 Fig. 3: Povoado de Ait Ben Haddou no Marrocos................................................................40 Fig. 9: Cidade de Shibam no Iémen...........................................................................................41 Fig. 10: Superadobe......................................................................................................................47 Fig. 11: Taipa de mão....................................................................................................................48 Fig. 4: Esquema construtivo......................................................................................................50 Fig. 13: Compactação da taipa...................................................................................................52 Fig. 54: Amangiri resort por Rick Joy.........................................................................................54 Fig. 15: Taipa pré-fabricada........................................................................................................55 Fig. 16: Fachada lateral Pátio 2.12..............................................................................................60 Fig. 67: Planta baixa Patio 2.........................................................................................................61 Fig. 18: Vista do pátio interno.....................................................................................................63 Fig. 79: Fachada frontal Pátio 2.12.............................................................................................63 Fig. 20: Fachada frontal da Casa Rauch...................................................................................64 Fig. 218: Implantação da Casa Rauch........................................................................................65 Fig. 22: Acabamentos internos da Casa...................................................................................66 Fig. 23: Estratégia de iluminação difusa...................................................................................66 Fig. 249: Perspectiva geral Projeto 03......................................................................................67 Fig. 10: Perspectiva interna.........................................................................................................68 Fig. 2911: Circulações em foco....................................................................................................68 Fig. 30: Planta baixa pav. Tipo....................................................................................................69 Fig. 312: Tipos de apartamentos................................................................................................69 Fig. 32: Mapa do RN com destaque para Caicó.....................................................................71 Fig. 132: Mapa da zona bioclimática 7......................................................................................72 Fig. 73: Diretrizes para a zona 7.................................................................................................73 Fig. 74: Valores para vedação pesada......................................................................................74 Fig. 75: Influência da vegetação no resfriamento do ar.......................................................74 Fig. 76: Recuos para terrenos de Caicó....................................................................................76 Fig. 77: Relação entre as atividades e zonas de uso..............................................................79 Fig. 78: Pátio interno do conjunto habitacional Rincão.........................................................81 Fig. 79: Dimensões do terreno, disponível em: acervo da autora......................................82 Fig. 80: Topografia original do terreno....................................................................................84 Fig. 81: Carta solar de Caicó sobreposta ao terreno..............................................................84 Fig. 82: Ventos predominantes de Caicó.................................................................................84 Fig. 8314: Estudos de implantação............................................................................................85
Fig. 15: Primeiros estudos tipológicos......................................................................................86 Fig. 87: Opção de tipologia descartada...................................................................................87 Fig. 16: Primeiro teste volumétrico da tipologia final............................................................88 Fig. 8917: Plano de massa da tipologia final............................................................................88 Fig. 90: Zoneamento da unidade habitacional.......................................................................90 Fig. 91: Zoneamento da implantação........................................................................................91 Fig. 92: Pré-dimensionamento do projeto..............................................................................92 Fig. 93: Plantas baixas - Vivenda João de Barro.....................................................................96 Fig. 94: Perspectiva externa 1......................................................................................................97 Fig. 95: Perspectiva externa 2.....................................................................................................99 Fig. 96: Perspectiva externa 3....................................................................................................101 Fig. 97: Perspectiva do pátio central........................................................................................103 Fig. 18: Perspectiva das circulações.........................................................................................105 Fig. 99: Taipal metálico a ser utilizado....................................................................................107 Fig. 100: Dimensões para a laje.................................................................................................109 Fig. 101: dimensionamento da treliça......................................................................................109 Fig. 102: Detalhe da cinta de amarração.................................................................................110 Fig. 193: Pingadeira em alumínio...............................................................................................111 Fig. 204: Detalhes dos tipos de drywall a serem empregados...........................................112 Fig. 215: Telha sanduíche da Eternit.........................................................................................112 Fig. 106: Cartas solares para as 4 fachadas principais..........................................................113 Fig. 227: Estudo de sombreamento através do uso de varandas......................................114 Fig. 238: Rosa dos ventos para 4 situações............................................................................115 Fig. 24: Fluxos esquemáticos de ventilação..........................................................................116 Fig. 25: Venezianas e cobogó como estratégia de sombreamento................................116 Fig. 26: Esquema de ventilação por captadores de vento..................................................116
18
SUMÁRIO INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 21 Contexto e Justificativa ..............................................................................................................21 Objetivo........................................................................................................................................ 24 Método ......................................................................................................................................... 24 Estrutura do Trabalho .............................................................................................................. 25 USO E OCUPAÇÃO: HABITAÇÃO UNIVERSITÁRIA ........................................................ 26 Contexto ...................................................................................................................................... 26 Necessidades .............................................................................................................................. 29 ARQUITETURA VERNACULAR........................................................................................... 37 Uma Breve Disposição ............................................................................................................. 37 ARQUITETURA DE TERRA................................................................................................... 41 História ......................................................................................................................................... 41 Aspectos Gerais e Ambientais ................................................................................................ 44 Técnicas Construtivas ............................................................................................................... 46 TAIPA DE PILÃO ................................................................................................................. 50 Caracterização ........................................................................................................................... 50 A Técnica no Contexto ............................................................................................................. 53 Contemporâneo......................................................................................................................... 53 REFERÊNCIAS PROJETUAIS ............................................................................................... 59 Pátio 2.12 Por Andalucía Team .............................................................................................. 59 Casa Rauch ................................................................................................................................. 64 Por Boltshauser & Rauch......................................................................................................... 64 Projeto 03 .................................................................................................................................... 67 Por Del Pian Arquitetos ............................................................................................................ 67 CONDICIONANTES PROJETUAIS ..................................................................................... 70 O Município de Caicó: Aspectos Físicos, Geográficos e Demográficos ......................... 70 Diretrizes Bioclimáticas Para Construir Em Caicó ............................................................. 72 Condicionantes Legais .............................................................................................................. 75 Público Alvo ................................................................................................................................ 77 Programa De Necessidades .................................................................................................... 77 ESTUDOS PRELIMINARES .................................................................................................. 80 Conceito e Partido ..................................................................................................................... 80 Estudos de Implantação ............................................................................................................81 Pré-Dimensionamento ............................................................................................................. 92 O PRODUTO: VIVENDA JOÃO DE BARRO ..................................................................... 95 Estrutura .................................................................................................................................... 107 Envoltória.................................................................................................................................... 111 SOLUÇÕES PARA A QUALIDADE AMBIENTAL.............................................................. 113 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 119 REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO ........................................................................................ 121
Esses aspectos se traduzem na procura
INTRODUÇÃO
por métodos alternativos, que permitam uma arquitetura mais adaptada ao lugar e menos desperdiçadora de re-
CONTEXTO E JUSTIFICATIVA
A
cursos, e que consiga satisfazer as necessidades de conforte, segurança e rapidez na construção; dado o mo-
partir da década de 1970, o
mento global em que estamos inseri-
aumento da população mun-
dos, e as preocupações com o esgota-
dial, associado a um crescente
mento dos recursos naturais e energé-
consumo de recursos não renováveis e
ticos.
acentuado pelo desenvolvimento tec-
É nesse contexto que a terra regressa
nológico, além do aumento da de-
como um material de construção, e a
manda consumista, originou uma série
Taipa em especial, por ter uma aceita-
de preocupações com questões ambi-
ção mais generalizada, graças as pos-
entais daí decorrentes, que passaram a
sibilidades estéticas e ecológicas asso-
alarmar a comunidade científica e tam-
ciadas aos processos mecanizados que
bém, a sociedade em geral. Em 1987, a World Comission on Environment and
permitem a sua inserção no mercado.
Development, formulou através do
A falta de confiança na terra como ma-
Brundtland Report o conceito de de-
terial construtivo relaciona-se princi-
senvolvimento sustentável: “desenvol-
palmente com aspectos culturais e falta
vimento que satisfaz as necessidades
de conhecimento da matéria. Aliado a
do presente, sem comprometer a ca-
este fator, a falta de investimentos e leis
pacidade das futuras gerações de su-
que propiciem a regulamentação des-
prirem suas próprias necessidades.”.
sas construções contribuem para o
Aplicando-se os conceitos de sustenta-
sentimento de insegurança.
bilidade à construção civil, têm-se, se-
Apesar do preconceito, é nos países
gundo CIB e UNEP-IETC (2002), que
mais desenvolvidos como França, Ale-
construção sustentável é aquela em
manha e Austrália que a terra começa
que os princípios de desenvolvimento
a ganhar protagonismo na arquitetura
sustentável são aplicados à compreen-
atualmente. Nesse contexto, a terra
são do ciclo construtivo, desde a extra-
aparece como um material alternativo
ção e beneficiamento de matéria-
cheio de vantagens. Sua aparência es-
prima, durante as fases de planeja-
tratificada, sua textura e plasticidade
mento, projeto e construção das edificações, até a desconstrução e gerenciamento dos resíduos daí decorrentes. 21
têm atraído arquitetos que com proje-
mente viável. Desta forma a sua di-
tos contemporâneos de alta qualidade
vulgação será natural e inevitável. (MENDES, 2005)
vêm desmistificando o material.
A Escola de Engenharia de São Carlos
Entretanto, nos países subdesenvolvi-
– USP tem trabalhado em questões re-
dos onde a terra está associada a falta
lativas à construção com terra, tendo
de recursos, os povos rejeitam sua pró-
construído dois protótipos no campus
pria cultura para adotar modelos e produtos industrializados ocidentais.
da mesma, entre 1998 e 1999, com uti-
As sociedades de consumo têm bus-
cas como a taipa-de-mão, colchões de
lização de recursos renováveis e técni-
cado soluções para essa rejeição, po-
ar e impermeabilização à base de óleo
rém este não é o único obstáculo que
de mamona. Dez anos depois, a insti-
a terra enfrenta. O fato de não ser co-
tuição avaliou o desempenho das edi-
mercialmente explorado torna o mate-
ficações, quanto à durabilidade e es-
rial e as técnicas pouco apelativos aos
tanqueidade, destacando aspectos que
interesses econômicos de grandes em-
devem ser melhorados e não apenas
presas. Por utilizar matéria prima local,
condenados.
evita a produção, a compra, o trans-
A Universidade Federal do Rio Grande
porte, e até mesmo em alguns casos a
do Norte – UFRN por sua vez, estudou
mão-de-obra, logo sua divulgação não
a construção de terra representada na
é conveniente.
técnica taipa de mão como sistema
Na verdade, não existe nenhuma lei
construtivo solução para abalos sísmi-
que impeça a execução de uma
cos no interior do estado do Rio
construção em terra, mas há muitas
Grande do Norte.
omissões que dificultam seu licenciamento[...] falta de divulgação e de
Ou seja, à medida que também as uni-
um mercado que possa oferecer
versidades do país se comprometem a
mão-de-obra barata[...] É impor-
avaliar e testar novos sistemas, os mes-
tante tornar essa técnica uma rival
mos tendem a adquirir maior confiabi-
das convencionais, que são apoia-
lidade, promovendo, assim, sua utiliza-
das por gigantes a nível da produ-
ção.
ção industrial de material para a construção e que oferecem mão-
Estudar e divulgar a técnica da constru-
de-obra barata e especializada,
ção com terra crua por si só já seria
apresentando como argumento a
uma contribuição para a popularização
ecologia, ética, estética, conceito. É
e desmistificação do material na cons-
importante modernizar esta técnica
trução civil, entretanto, em se tratando
na execução e torná-la economica-
22
de um curso de Arquitetura e Urba-
Grande do Norte, é visível a consolida-
nismo, acredita-se que um exercício
ção da expansão do ensino profissio-
projetual incorporando o que foi estu-
nalizante nos municípios do estado,
dado engrandece bastante o trabalho,
com a implantação das escolas técni-
pois é capaz de conquistar o leitor atra-
cas, a chegada de faculdades particu-
vés de outros sentidos, além de tornar
lares, e a abertura de novos cursos nos
toda a teoria mais palpável.
campi das universidades públicas do interior.
Partindo dessa constatação, veio a motivação para propor um projeto arqui-
A Universidade Federal do Rio Grande
tetônico num contexto que se encaixe
do Norte vem se consolidando, nos úl-
com a utilização de terra crua, sabendo
timos anos, dentro da política de inte-
da grande vantagem econômica que
riorização o que, consequentemente,
esse material pode trazer na concep-
tem acarretado a expansão física dos
ção de moradias de baixo custo. Além
seus campi para atender as demandas
de baratear os custos, a terra crua pro-
decorrentes das atividades acadêmi-
porciona uma melhoria no conforto
cas.
térmico das edificações, e seu histórico
No ano de 2013 foi criado pela UFRN o
confirma que é uma ótima opção para
documento “O Novo Ciclo de Expan-
arquitetura em clima quente e seco.
são da Graduação da Universidade Fe-
Nessa perspectiva, entra em contexto o
deral do Rio Grande do Norte: Propo-
uso e ocupação – de moradia universi-
sições em Análise”, onde projeta-se
tária – e a cidade escolhida – Caicó –
para o campus de Caicó uma criação
para projeto.
de 485 novas vagas presenciais até 2018, distribuídas em 7 novos cursos.
O CERES (Centro de Ensino Superior do Seridó) é o campus da UFRN em Caicó,
Essa disponibilidade de vagas e novos
e esta instituição vem sendo alvo da
cursos, segundo o mesmo documento,
política de interiorização do ensino su-
irá promover uma demanda de novos
perior nos últimos anos.
professores e técnicos, além da chegada de novos alunos.
A interiorização do ensino técnico e superior, além de uma diretriz do Plano
O projeto apresentado nesse trabalho
Nacional de Educação do Governo Fe-
final de graduação propõe-se a contri-
deral, é uma estratégia do Ministério da
buir para a melhoria da infraestrutura e
Educação para melhorar a qualidade e
movimentação do setor imobiliário do
equalizar as assimetrias de ensino nas
município de Caicó, visando atender a
microrregiões. No estado do Rio
este público alvo previsto nos próximos anos, bem como o público já existente 23
na cidade atualmente, já que grande
custos de obra, as decisões projetuais
parte dos estudantes do CERES Caicó é
foram tomadas conscientes das limita-
oriunda dos municípios circunvizinhos,
ções orçamentárias do público alvo.
tendo eles migrado para a cidade em virtude das atividades acadêmicas.
OBJETIVO
A moradia estudantil – uso destinado ao projeto – é um componente social
O objetivo do presente trabalho con-
de fundamental importância na assis-
siste em desenvolver um projeto de
tência universitária, com finalidades so-
uma edificação habitacional contem-
ciais, humanas e de desenvolvimento
porânea voltada para o público univer-
do meio educacional.
sitário do CERES em Caicó; que faça
Segundo a Secretaria Nacional da Casa
uso de terra crua no seu sistema cons-
de Estudante - SENCE, existem três ti-
trutivo, aliando tecnologia atuais à ar-
pos básicos de moradia: alojamento
quitetura vernácula; e que seja adap-
estudantil; casa de estudantes e repú-
tada à realidade sertaneja do ponto de
blica estudantil.
vista cultural, social, econômico e climático.
Denomina-se alojamento estudantil a moradia de propriedade da instituição
Nessa perspectiva, com esse trabalho
de ensino superior, e /ou secundaristas
pretende-se contribuir para a revalori-
públicas que com estas mantenham
zação da terra como material de cons-
vínculo gerencial administrativo. Casa
trução, através da divulgação e investi-
de estudante é a moradia estudantil
gação científica, para que esse método
administrada de forma autônoma, se-
de construção favorável ao meio-am-
gundo estatutos de associação civil
biente possa, aos poucos, recuperar o
com personalidade jurídica própria,
importante papel que desempenhou
sem vínculos com a administração de
no passado.
instituição de ensino superior ou secundarista. Já a república estudantil é o MÉTODO
imóvel locado coletivamente para fins de moradia estudantil. Com essas definições, a proposta de
Para aplicar a terra crua no sistema
projeto apresentada ao final deste tra-
construtivo do projeto, foi necessário
balho se encaixa no tipo casa de estu-
estudar os sistemas construtivos que
dante. Apesar de não ter ligação direta
utilizam barro, com ênfase na taipa de
com a instituição, um orçamento a
pilão, bem como entender as vanta-
cumprir, nem o objetivo de calcular
gens econômicas e bioclimáticas que a 24
utilização desse material traduz; além
ESTRUTURA DO TRABALHO
de compreender as inovações técnicas possíveis para a melhoria da qualidade
O presente trabalho se divide logica-
e durabilidade da construção de terra.
mente em 3 partes, sendo elas a FUN-
Para desenvolver um projeto habitaci-
DAMENTAÇÃO TEÓRICA, composta
onal voltado para o público universitá-
pelos capítulos “Uso e ocupação: habi-
rio, foi necessária uma investigação das
tação universitária”, “Arquitetura verna-
peculiaridades que esse público de-
cular”, “Arquitetura de Terra”, e “Taipa
manda, que estão diretamente ligadas
de pilão”. Em seguida, a segunda parte
ao estilo de vida e as atividades que
trata-se dos REFERENCIAIS PROJETU-
desenvolvem.
AIS, contendo 3 estudos de referências. A terceira parte consiste no PRO-
Pensando também e propor uma edifi-
CESSO, ou seja, o desenvolvimento da
cação adaptada ao clima semiárido,
proposta de projeto. O processo foi di-
fez-se uma pesquisa no campo de ar-
vidido em “CONDICIONANTES PROJE-
quitetura bioclimática, com objetivo de
TUAIS” e “ESTUDOS PRELIMINARES”,
entender as particularidades do clima e
cada um com seus subtópicos; dentre
assim, propor diretrizes para projetar
eles as legislações vigentes que influen-
nessa região, que foram posterior-
ciaram o projeto, diretrizes bioclimáti-
mente aplicadas em projeto.
cas para construir em Caicó, programa
Para atingir os objetivos do trabalho, a
de necessidades, zoneamento, pré-di-
metodologia de construção do mesmo
mensionamento, evolução dos estudos
consistiu em:
tipológicos, dentre outros. A última
1 Recolha, leitura e análise de bibliogra-
parte do trabalho consiste exatamente no PRODUTO, contemplando basica-
fia especializada que permitisse adqui-
mente o memorial descritivo de pro-
rir base teórica para o trabalho e para
jeto.
sucessivas experiências práticas; 2 Estudos de caso referenciais diretos e indiretos, incluindo visitas de campo; 3 Processo projetual seguindo as metodologias de projeto apresentadas por Evan Silva em “Uma introdução ao projeto arquitetônico” e por Edson Mahfuz em “Ensaio sobre a razão compositiva”.
25
21/12/1977. Essa resolução criou o campus de Currais Novos e correspondeu à primeira tentativa de criação de um centro acadêmico no Seridó por meio da junção dos campi de Caicó e de Currais Novos.
USO E OCUPAÇÃO: HABITAÇÃO UNIVERSITÁRIA CONTEXTO
A
Universidade Federal do Rio Grande do Norte , em consequência da política de interiorização do ensino superior, vivido uma fase de expansão física dos seus campi para atender as demandas decorrentes das atividades acadêmicas.
Entretanto, a UFRN em Caicó somente adquiriu sede própria no ano de 1979, quando foi inaugurada a primeira etapa do campus. Nessa época eram ofertados os cursos de Administração, Ciências Contábeis, Geografia, História, Letras, Pedagogia e Matemática.
De acordo com MEC/UFRN (2011, p. 151), “[...] a área construída da UFRN passou de aproximadamente 200 mil m2 em 2002, para 272 mil m2 em maio de 2011, um crescimento de 36%”. Em todos os campi houve ampliações da área construída, com novas construções, reformas ou adequações. Além disso, o documento sinalizava para contratação de aproximadamente 122 mil m² com recursos já assegurados.
Já 2013, no campus de Caicó eram ofertados 7 cursos de graduação na modalidade presencial, com 1.491 alunos matriculados e 8 cursos de graduação a distância, com 295 alunos ativos. Ainda foram oferecidos 3 cursos de especialização a distância, 43 projetos de pesquisa, 7 grupos de pesquisa de iniciação científica, e 28 projetos de extensão. Ainda no ano de 2013 foi criado pela UFRN o documento “O Novo Ciclo de Expansão da Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte: Proposições em Análise”, onde projetase para o campus de Caicó uma criação de 485 novas vagas presenciais até 2018, distribuídas em 7 novos cursos.
Na última década, os três campi do interior passaram por reestruturação e receberam trinta cursos de graduação presenciais, porém esse processo iniciou-se na década de 70 através do sistema multi-campi, a exemplo do que ocorria com as demais instituições públicas de ensino superior do Brasil. Em 1973, o Núcleo Avançado de Caicó constituiu a primeira experiência dessa natureza. O Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES) foi criado em 1977, por meio da Resolução nº 59/77 – CONSUNI, de 26
O curso de Medicina, que foi proposto em 2013 como prioridade 1, teve sua primeira turma iniciada em julho de 2014, e contando com ele, o CERES Caicó atualmente possui oito cursos de graduação presenciais - dentre eles, dois cursos de alta demanda (Direito e Medicina) implantados para fortalecer ainda mais o campi - além de 8 cursos de graduação à distância. A expectativa é que em dois anos o número de vagas do curso de Medicina seja ampliado,
podendo chegar a oitenta vagas anuais (figura 1). Com esses dados, é possível se calcular o número de matrículas projetadas, seja por criação de novos cursos, ou por ampliação de vagas em cursos existentes. Com esse cálculo, a previsão é que o campi Caicó receba aproximadamente 2070 novos alunos até 2018. A matrícula projetada em cursos de graduação presenciais implica uma projeção do total de alunos matriculados na instituição, realizada com base
Fig. 1: Dados para expansão do campus Caicó, disponível em: SESu/MEC (2007)
CAMPUS DE CAICÓ PRIORIDADE 1
PRIORIDADE 2
PRIORIDADE 3
TOTAL
MATRÍCULAS PROJETADAS
1340
602,38
127,8
2070,18
DOCENTES
111
35
30
176
TÉCNICOS
44
25
0
69
Fig. 2: Previsão de vagas para cursos em Caicó, disponível em UFRN 2013
27
Fig. 3: Dados para expansão do campus Caicó, disponível em: SESu/MEC (2007)Fig. 4:Previsão de vagas para cursos em Caicó, disponível em UFRN 2013
nos dados utilizados pelo Ministério da Educação (MEC) e pela ANDIFES no cálculo do aluno equivalente (SESu/MEC, 2007) como mostra a figura 2.
campus, e os outros 27 alunos moram de aluguel.
Fig. 1: Dados para expansão do campus Caicó
Com essa amostra, tem-se em evidência que há uma grande demanda de moradias que atendam ao público universitário na cidade. Deve-se ter em conta que a cada nova turma a demanda aumentará, e a oferta de novos cursos irá intensivar a busca por casas, kitnets e quartos para aluguel.
Para a expansão proposta haverá a necessidade de contratação de docentes e técnico-administrativos de forma escalonada, e para estes também foram estimados os números, tomando por base o fator de área docente para início dos novos cursos, e de servidores necessários, que atuarão na formação da base técnica, administrativa e logística das ações acadêmicas. Com essa projeção, tem-se estimada uma contratação de 176 docentes e 69 técnicos aproximadamente para o CERES de Caicó (Figura 2).
As universidades estão em um processo de transformação cultural, passando a desempenhar um papel importante na emergente sociedade do conhecimento. Esse processo de transição, denominado "segunda revolução acadêmica”, é a adição da função de desenvolvimento econômico e social na missão da Universidade e está ocorrendo em muitos países (ETZKOWITZ, 2008). Promover o desenvolvimento econômico do Rio Grande do Norte, da região Nordeste e do país através da atuação da UFRN em áreas estratégicas é um dos objetivos da instituição. Por isso, a interiorização do ensino superior é uma possibilidade de melhora nas condições de vida da população local, já que movimenta diversos setores da economia com imigração, além de evitar o êxodo de quem busca por uma formação.
Nesse contexto, fica clara a demanda de infraestrutura que será gerada pela universidade na cidade de Caicó, bem como uma movimentação do setor imobiliário do município, principalmente nas proximidades do campi, visto que grande parte dos estudantes e concursados do CERES Caicó é oriunda dos municípios circunvizinhos ou da capital, tendo eles migrado para a cidade em virtude das atividades acadêmicas. A primeira turma de Medicina exemplifica bem a situação. Segundo o aluno Jean França, dos 40 alunos, apenas 11 são de Caicó e vivem com suas famílias. Dos 29 alunos que migraram para a cidade, 2 deles recebem auxílio moradia e vivem na residência universitária do
Pensando nisso, a UFRN se utiliza de estratégias para atrair e manter a classe universitária no interior. O argumento de inclusão regional propicia aos candidatos que tiverem concluído o ensino fundamental e cursado todo o ensino
28
médio em escolas regulares e presenciais das microrregiões onde se localizam as cidades com campus da UFRN no interior do estado (excluída a região metropolitana de Natal) ou em todas as microrregiões vizinhas o acréscimo de 20% na nota (RESOLUÇÃO No 177/2013-CONSEPE, de 12 de novembro de 2013). Além disso, a universidade promove a oferta de vagas reservadas a docentes do interior nos editais de apoio financeiro, bem como a concessão de bolsas de monitoria, pesquisa e extensão a projetos conduzidos por professores sem doutorado, desde que lotados fora do Campus Central.
Procurando contribuir para a infraestrutura de Caicó e solucionar a demanda de moradias de um perfil específico, no caso o público universitário, o projeto proposto a seguir vem contribuir com a fixação dos concluintes na região, bem como o desenvolvimento arquitetônico e urbano da mesma, no sentido de apresentar uma opção de moradia de qualidade e condizente com o tempo em que vivemos, agregando valores de sustentabilidade, tecnologia, flexibilidade, e sem deixar de lado o regionalismo.
NECESSIDADES
Entretanto, manter graduados, mestres e doutores no interior após o curso tem sido uma tarefa difícil, devido aos poucos atrativos de infraestrutura urbana que a região oferece, tanto no quesito de moradias quanto em se falando de cultura e lazer. A diretora do CERES, Ana Aires, comenta em entrevista para a Tribuna do Norte sobre a dificuldade de formar quadro de professores doutores: “[...] Porque o interior passa por uma série de dificuldades de infraestrutura, e como o interior não tem uma estrutura em termos de cidade, com lugares de diversão, cinemas, teatros. O campus central possui uma infinidade de cursos diferentes, então as pessoas fazem concurso para o interior e depois pedem transferência para o campus central.”
Tendo em vista que a aplicação do sistema construtivo será exemplificada através do projeto de uma vila estudantil em Caicó, alguns fatores particulares desse tipo de ocupação merecem atenção para a devida proposição do programa de necessidades e pré-dimensionamento mais adequados. O alemão Martin Heidegger faz a discriminação entre espaço e lugar, de forma que o espaço consiste na dimensão física e palpável da arquitetura, enquanto o lugar é a manifestação da experiência humana, da prática, da vivência, ou seja, é tudo o que o espaço pode ser e oferecer ao usuário1. Com base nesse conceito, pode-se dizer que a arquitetura cumpre seu papel
PÁDUA, Ligia. “A topologia do ser”: Espaço, lugar e linguagem no pensamento de Martin Heidegger. Departamento de Filosofia, PUC-Rio, Rio de Janeiro, 2005. 1
29
quando proporciona que um espaço seja um lugar.
universitários através de diretrizes projetuais. Essas diretrizes atendem à atividades ligadas ao público alvo, e serão subdivididas por ambientes, contemplando aspectos funcionais, sociais e regionais relacionados à cada subdivisão da unidade habitacional.
Seguindo a mesma linha de pensamento, Robert Sommer, por meio de suas pesquisas aproximou os campos da psicologia comportamental e da arquitetura. Ele aponta que seria de boa prática se comportamento real do usuário figurasse como fundamento básico do projeto de arquitetura ao invés de partir-se de formulações intuitivas e observações casuais no momento de estabelecer o partido arquitetônico2.
[O DORMITÓRIO] Em se tratando de
uma habitação estudantil, onde por motivos financeiros e práticos as dimensões são reduzidas, os dormitórios são os espaços onde os estudantes permanecem a maior parte do tempo e ainda seu principal local de estudo3.
Quando falamos de comportamento do usuário não queremos indicar alguma adaptação hipotética de que, em algum local, os seres humanos sejam capazes, mas, ao contrário, de comportamento de ocupantes imediatos ou prováveis. (SOMMER, 1973, p. 13).
Na moradia do jovem estudante, onde por motivos financeiros e práticos as dimensões são reduzidas, os dormitórios devem comportar atividades coletivas a eles associadas4. A previsão de condições espaciais que possibilitem reuniões sociais ou de estudo de pequenos grupos de pessoas podem contribuir neste sentido.
Buscando conceber um projeto baseado nesse conceito, vamos apresentar aqui diretrizes projetuais fundamentadas em bibliografia especializada por autores estrangeiros, que contribuem para a qualidade espacial das moradias universitárias e se refletirão no resultado final do projeto da unidade habitacional (UH).
Um quarto de dormitório universitário deve atender a diferentes tipos de necessidades. Não podemos pensar nele apenas como um local de estudo. É também a área de que o estudante dispõe para dormir e, na maioria dos casos, seu principal local social. (SOMER 1973, p. 177).
Buscaremos aqui apresentar um suporte às solicitações de uso consideradas elementares a todos os estudantes
É importante promover a flexibilidade do espaço, e para isso alguns cuidados podem ser tomados: o mobiliário fixo,
SOMMER, Robert. Espaço Pessoal, as bases comportamentais de projetos e planejamentos. São Paulo, EPU/EDUSP, 1973 3 Op. Cit. SOMMER, R. (1973) 4 PRIDE, Liz. Student Housing and House for Young People. In: ADLER, David (org.). Metric Handbook: Planning and design data. Oxford: Architectural Press, 1999. 2
30
dimensões reduzidas, localização desfavorável de esquadrias ou ainda a orientação solar adversa podem impossibilitar a reorganização e personalização do ambiente quando desejado.
dimensões, equipamentos e mobiliários adequados e suficientes às funções a eles associadas e que, para Pride (1999) podem ser divididos em três tipos:
Por essa variação de atividades no mesmo cômodo, é interessante zonear ou prever a transformação desse espaço de alguma forma - seja com divisórias móveis, ou com o próprio layout - criando zonas de luz para atividades como estudo e lazer, e zonas de penumbra para preservar o repouso.
Tipo 01 - Dormitório: Indica-se uma área mínima de 10 m². Em algumas situações encontra-se ainda a locação de um lavatório. Tipo 02 - Dormitório com banheiro completo: Neste caso, indica-se um incremento mínimo de 2,5 m² na área útil em relação ao tipo 01.
Na pesquisa realizada por Li ET al. (2007) a possibilidade de estudar nos dormitórios figura como requisito prioritário na elaboração de projetos para residências universitárias. O que nos permite dizer que, além das condições adequadas de conforto térmico e acústico, os dormitórios precisam dispor de
Tipo 03 - Dormitório com banheiro e cozinha: Neste caso, indica-se um incremento mínimo de 3,3 m² na área útil em relação ao tipo 02. O autor indica ainda que, independente do tipo escolhido, a dimensão
Fig. 3: Tipos de dormitórios, disponível em SCOARIS, 2012
31 Fig. 12: Pátio como espaço de lazer, disponível em: www.oncursosdeprojeto.orgFig.
dos lados do ambiente não deve ultrapassar o mínimo de 2,40 metros, abaixo da qual se restringem as possibilidades de reorganizações do mobiliário.
bom senso evitar a utilização de paredes de meia altura como estratégia de ventilação, e confinar devidamente o compartimento que abriga a bacia sanitária em função dos odores produzidos.
Pensando na presença de estudantes com cônjuges, principalmente nos cursos de pós-graduação, é indicado que às dimensões do ambiente e do mobiliário sejam superiores, permitindo a inserção do leito matrimonial, o aumento da capacidade de armazenamento do guarda-roupa e áreas suplementares para refeições e convívio.
[A COZINHA] O local para preparo e re-
alização de refeições é um ambiente que propicia o encontro, intencional ou casual, entre aqueles que o compartilham, possibilitando assim o estreitamento de vínculos afetivos entre aqueles que o compartilham5. Contudo, para que isto se efetive, é necessário que o compartimento ofereça de condições de uso adequados às atividades que ali serão desenvolvidas. Além da especificação de materiais de fácil manutenção e higienização, um dos principais requisitos espaciais destes ambientes reside na disponibilização de área suficiente para que todas as pessoas que o utilizam possam preparar e executar suas refeições simultaneamente, sendo também imprescindível que o número de assentos nas mesas de refeições seja equivalente ao número de possíveis usuários6.
[A CASA DE BANHO] É mais provável
que banheiros menores e com uso restrito a poucos estudantes tenham estado de conservação e condições de assepsia maiores do que grandes banheiros coletivos. Outra solução interessante para banheiros compartilhados é a subdivisão espacial do compartimento. Esta estratégia, que permite o uso simultâneo dos diversos equipamentos, se torna notadamente importante na medida em que os horários de uso das instalações sanitárias, referenciados no calendário letivo e em seus respectivos horários curriculares, são aproximadamente semelhantes.
No aspecto dimensional, é ainda importante salientar que independente do número de moradores que utilizarão o compartimento indica-se como comprimento mínimo para a bancada a dimensão de um metro e oitenta centímetros, suficiente para acomodar um fogão, um frigobar e uma pia cuba
Entretanto, deve-se atentar para a ventilação de todos os compartimentos nessas situações onde o lavatório, a ducha e o vaso sanitário ocuparem compartimentos isolados. Por isso, é de
5 6
PRIDE, 1999. Cf. iten 5 deste capítulo.
32
única. E para permitir a livre circulação das pessoas no compartimento, e também o preparo simultâneo das refeições, indica-se uma dimensão mínima de um metro e vinte centímetros entre as bancada quando estas se situarem paralelamente opostas7.
é o símbolo máximo de convívio coletivo em uma habitação. Pensando em dimensões reduzidas e sobreposição de atividades e funções (como já foi dito no item “cozinha”), é interessante que este ambiente esteja integrado à cozinha.
Já no que se refere ao aspecto social, se tornam interessantes situações onde o ambiente é conjugado com o ambiente de estar, possibilitando assim uma extensão das atividades ao outro cômodo, a interação com o que acontece nesse último, e ampliação psicológica do espaço.
No caso de uma habitação tipo loft, o dormitório faz as vezes de estar, e deve portanto ser pensado para contemplar as atividades características desse ambiente. É indicado então que o espaço possua sofá, televisão, mesas e cadeiras. O terraço foi incluído aqui principalmente pelo seu apelo regional. Em se tratando de uma habitação em Caicó, esse espaço é o ambiente mais característico da típica casa do interior, e está presente na arquitetura sertaneja desde os primórdios da colonização da região.
[LAVANDERIA, ESTAR E VARANDA] Em se
tratando de uma moradia universitária, não é obrigatória a definição desses compartimentos no programa de necessidades, entretanto, as atividades relacionadas à eles devem ser acomodadas nas unidades habitacionais de alguma forma.
“As Casas Rurais Oriundas da arquitetura vernácula portuguesa, mas adaptadas às condições locais e trabalhando com os materiais oferecidos pelo meio ambiente[...]Todas possuíam uma varanda ou alpendre.”(BARBOSA et al, s/d)
No caso da não existência de uma área destinada a lavanderia, comumente chamada de área de serviço, é de boa prática a alocação de um tanque de lavar roupa em alguma área molhada da UH, seja próximo à cozinha ou ao banheiro.
Além de acumular as funções de área de convívio externa e também realizar a interface do edifício com as porções territoriais próximas a ele, este espaço se conforma como um espaço de transição entre os ambientes de uso restrito
A sala de estar para esse público, quando existente torna-se um ambiente multiuso: hora propiciando atividades de lazer, hora abrigando estudo, ou até mesmo refeições; esse ambiente
SCOARIS, Rafael de Oliveira. O PROJETO DE ARQUITETURA PARA MORADIAS UNIVERSITÁRIAS: Contributos para verificação da qualidade espacial. Dissertação (Mestrado) - Curso de Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. 7
33
aos moradores e a porção urbana que lhe abriga.
se que é de bom senso tomar alguns conceitos de habitação social e adaptálos à moradia estudantil.
No artigo intitulado “Arquitetura rural e cultura sertaneja no Rio Grande do Norte”, os autores Fernanda Araújo e Jair Miguel ressaltam o quanto a arquitetura sertaneja estava coerente com modo de vida local e das dificuldades climáticas e geográficas da caatinga no século XVII, e destacam a importância do alpendre, tanto social como climática.
O “Manual do projeto de habitação popular: Parâmetros para sua elaboração e avaliação”8 conta com uma enumeração de aspirações dos usuários no tocante à habitações sociais, e dentre os principais requisitos está a minimização de áreas comuns e de ônus condominial. Entretanto, diferente do que acontece no contexto da habitação social, a arquitetura do alojamento estudantil, ao menos em tese, é elaborada a partir de uma ideia de agrupamento social que não apenas justapõe as unidades individuais mas, por meio de estratégias projetuais, condiciona e propicia o encontro, casual ou presumido, dos moradores próximos9. Além disso, os fatores que concorrem e possibilitam situações de encontro e contato entre os moradores das residências universitárias são considerados um dos principais aspectos contribuintes para a satisfação residencial dos universitários10.
“O alpendre é o espaço da sociabilidade ainda nos dias atuais, configurado tanto pelo tamanho, arranjo e frescor.[...] As casas de fazenda com seus alpendres frescos e protegidos do sol e da chuva destacava-se como lugar para reunião, conversas e mesmo dormitório (as redes postas a noite nos alpendres serviam para a dormida das pessoas)” (ARAÚJO, MIGUEL, 2008) [ÁREAS COMUNS] Além dos ambientes
específicos que integram o programa funcional das residências universitárias - o local para repouso, estudo, higiene pessoal e refeições - algumas residências podem oferecer uma lista diversificada de serviços e espaços, geralmente relacionada às tarifas cobradas e ao perfil dos estudantes que ali se alojam.
Com isso, é de bom senso do projetista ponderar as necessidades de socialização que o público demanda e os custos envolvidos, e procurar criar áreas comuns de baixa necessidade de manutenção e de custos. Outra solução adequada é a proposição de zonas semipúblicas, com edifícios destinados à
Levando em consideração que o público universitário em sua maioria possui um baixo poder aquisitivo, acredita-
ANDRADE, Maria Mônica Raposo;SOUZA, Maria Angela de Almeida . Manual do Projeto da Habitação Popular. Parâmetros para elaboração e avaliação. 1981. 9 PRIDE, 1999. 10 Li et all (2007) apud SCOARIS (2012) 8
34
serviços e atividades comuns (bar, café, e similares), porém que sejam mantidos com parceria terceirizada.
de convívio. Não se trata propriamente de um compartimento, mas de possibilidades de utilização de determinados equipamentos, mobiliário ou elementos construtivos estrategicamente projetados como aglutinadores sociais.
Dito isso, elencaremos aqui algumas estruturas de serviços que podem ser disponibilizadas para contribuir para o caráter coletivo apesar de não fazerem parte do programa específico de alojamento estudantil.
A análise das conformações espaciais aqui relatadas tem por objetivo demonstrar o potencial interferente da atividade projetiva nas relações sociais ocorridas nos espaços destinados às moradias universitárias. É importante salientar que a população residente é geralmente constituída por estudantes provenientes de regiões diversas, atraindo também alunos em regime de intercâmbio. Desta forma, o espaço residencial estudantil passa a ser compartilhado por pessoas com credos, hábitos, orientação sexual e expectativas diversas em relação ao espaço doméstico. Essa situação, que condiciona relevada heterogeneidade populacional, se expressa de duas formas, aparentemente opostas, mas complementares e necessárias. Por um lado, exige que o
Pequenas estruturas como churrasqueiras e salão de jogos, podem ser facilmente inseridas nos alojamentos com número reduzido de moradores, ao passo que piscinas, quadras esportivas, e academia de atividade física apenas justificam sua existência em residências cujo número de moradores é compatível com a frequência necessária para sua instalação11. Além disso, os espaços comuns das residências universitárias também são aqueles que constituem o percurso entre o acesso ao edifício e o interior do dormitório, podendo ter seu uso potencializado por estratégias projetuais no sentido de criar pontos “acidentais” Fig. 4: Pátio como espaço de lazer, disponível em: www.oncursosdeprojeto.org
Fig. 21: Casa Uru-chipaya na Bolívia, disponível em: www.bioclimaticarquitetura.blogspot.com.brFig. 22: Pátio como espaço de lazer, disponível em: www.oncursosdeprojeto.org
Fig. 23: Casa Uru-chipaya na Bolívia, disponível em: www.bioclimaticarquitetura.blogspot.com.br 11
SCOARIS (2012)
Fig. 24: Arquitetura vernacular na Capadócia, disponível em: acervo da autoraFig. 25: Casa Uru-chipaya na Bolívia, disponível em: www.bioclimaticarquitetura.blogspot.com.brFig. 26: Pátio como espaço de lazer, disponível em: www.oncur-
35
projeto de arquitetura apresente condições espaciais que respeite os momentos de privacidade absoluta, nas quais as atividades particulares possam ser executadas. Por outro lado, a atividade projetiva tem por objetivo fomentar situações de contato social entre aqueles que coabitam, com o intuito de estabelecer uma prática de vida social baseada na cooperação e na ajuda mútua, ou ainda, onde as identidades desses sujeitos se cruzem e criem novos valores através da formação acadêmica e das subjetividades12.
apresentou como instrumento potencial do processo de projeto. Por desinteresse da classe ou pela impossibilidade de se estabelecer um diálogo entre psicólogos e arquitetos onde se vislumbre de forma clara as contribuições que as pesquisas sociais podem oferecer aos projetistas, encontra-se recorrentes conformações espaciais apontadas negativamente pela bibliografia especializada e derivadas de uma compreensão das práticas sociais baseadas em concepções intuitivas e distantes da realidade concreta13.
Neste contexto, o trabalho do arquiteto aparece como construção materializada de requisitos comportamentais que, pela mão do projetista, são expressos por meio de conformações espaciais adequadas. Assim, a análise dos projetos vinculados a este eixo de análise buscou apresentar possibilidades projetivas que contribuem para a efetivação dos laços de coesão social ou para ampliar as condições de sua existência. É importante considerar que o projeto de arquitetura, independente das conformações espaciais ofertadas, não tem por objetivo garantir a consolidação de vínculos afetivos, mas atuar como indutor de processos sociais em curso. As estratégias de formação de grupo, há tempos já estudada pela área da psicologia comportamental, ainda não se
BARBOSA, N. C. S. Casas de Campus. In: Rascunho Digital. Salvador: Faculdade de Educação da UFBA, 2003. 13 SOMMER (1973) apud SCOARIS (2012). 12
36
ARQUITETURA VERNACULAR
Fig. 5: Casa Uru-chipaya na Bolívia, disponível em: www.bioclimaticarquitetura.blogspot.com.br
Fig. 30: Arquitetura vernacular na Capadócia, disponível em: acervo da autoraFig. 31: Casa Uruchipaya na Bolívia, disponível em: www.bioclimaticarquitetura.blogspot.com.br
UMA BREVE DISPOSIÇÃO
A
arquitetura vernacular é um
Fig. 32: Arquitetura vernacular na Capadócia, disponível em: acervo da autora
dos mais significativos e marcantes aspectos da interven-
ção humana na paisagem, em que, na
Fig. 33: Povoado de Ait Ben Haddou no Marrocos, disponível em: acervo da autoraFig. 34: Arquitetura vernacular na Capadócia, disponível em: acervo da autoraFig. 35: Casa Uru-chipaya na Bolívia, disponível em: www.bioclimaticarquiteadaptação às especificidades climátitura.blogspot.com.br
sua pluralidade de tipos, se manifestam diversos condicionalismos – geográficos, económicos, sociais, históricos e culturais – dos locais e dos grupos po-
cas, à estrutura familiar e respectiva ati-
pulacionais que as constroem e habi-
vidade económica e aos costumes da
tam14. Este tipo de construção caracte-
15 comunidade . acervo da autoraFig. 37: Casa disponível em:
Fig. 36: Arquitetura vernacular na Capadócia,
riza-se por ser um produto imediato da
Uru-chipaya na Bolívia, disponível em: www.bio-
climaticarquitetura.blogspot.com.br Esta arquitetura moldada por múltiplas
relação do Homem com o meio natural
condicionantes pauta-se pela optimi-
envolvente, na necessidade básica de
zação dos recursos que as populações
um abrigo.
possuíam. Nada era preferido, prete-
Arquitetura vernacular é todo o tipo
rido ou ignorado porque as comunida-
de arquitetura em que se empregam
des tinham a noção, por via empírica,
materiais e recursos do próprio am-
que o seu bem-estar dependia do
biente em que a edificação é cons-
equilíbrio com o meio envolvente.
truída, caracterizando uma tipologia arquitetônica com caráter local ou
A temática da arquitetura vernacular
regional. (MARQUE; AZUMA E SOA-
continua a suscitar interesse a nível in-
RES, 2009).
ternacional, surgindo atualmente associado à consciência da necessidade de
Estas implicações traduzem-se numa
promoção de uma construção susten-
diferenciação regional pela utilização
tável.
de materiais e técnicas locais, pela
14
OLIVEIRA, E.; Galhano, F. Arquitectura Tradicional Portuguesa. Publicações Dom Quixote; Lisboa. 1991. 15 CERQUEIRA, J. O Estilo Internacional Versus Arquitectura Vernácula: O Conceito de Genius Loci. Idearte – Revista de Teorias e Ciências da Arte – Ano I, N.º 2 (Abr/Jun – 2005)
37
tendem a ser executadas por materiais mais claros e que permitam a ventilação cruzada com grandes aberturas. A arquitetura vernacular em clima seco e quente também apresenta algumas estratégias para melhoria do conforto interno das residências: jardins internos, espelhos d’água, a minimização da superfície de contato com o exterior, e pequenas aberturas. A maneira de vida dos ocupantes é igualmente importante para a conformação das edificações vernaculares. O
Fig. 6: Arquitetura vernacular na Capadócia, disponível em: acervo da autora
tamanho da família, a forma como os ocupantes dividem os espaços, as coisas de que se alimentam e como se re-
De acordo com estudos de Paul Oli-
Fig. 39: Povoado de Ait Ben Haddou no 16 Marrocos, disponível em: acervo da autora-
lacionam entre si são fatores que influ-
ver , alguns fatores estão diretamente Fig. 40: Arquitetura vernacular na Capadórelacionados comdaaautora tipologia, cia, disponível em: acervo
enciam diretamente na maneira de dis-
a forma
por o layout e o tamanho das mora-
e as técnicas empregadas na arquite-
dias17 .
tura vernacular, sendo os principais Fig. 41: Povoado de Ait Ben Haddou no
Marrocos, disponível em: a acervo da autora aqui destacados, saber: o clima, a cul-
A permanência na edificação também
tura, o tempo de permanência nas re-
influencia em sua conformação, ou
sidências – se seus habitantes são nôFig. 42: Arquitetura de Santorini na Grécia, disponívelou em: não acervo– daeautoraFig. 43: Po- de mades os materiais voado de Ait Ben Haddou no Marrocos, distrução. ponível em: acervo da autoraFig. 44: Arquitetura vernacular na Capadócia, disponível em: acervo da autora
seja, se longa, curta ou esporádica,
cons-
acaba por conduzir a soluções diferenciadas de arquitetura vernacular. Existem no mundo muitas culturas que in-
O clima é um fator de significativa in-
cluem aspectos da vida nômade no seu
fluência sobre os locais onde serão ins-
modo de vida e essas apresentam so-
taladas as demoradias vernáculas. As Fig. 45: Povoado Ait Ben Haddou no construções realizadas em climas frios Fig. 46: Arquitetura vernacular na Capadó-
luções específicas para as necessidades
a perda de calor e as aberturas são pe-
igualmente apropriadas ao clima e aos
Marrocos, disponível em: acervo da autora-
do abrigo, as quais incluem respostas
cia, disponível em: acervo autora para impedir normalmente, sãodaseladas
costumes de seus habitantes18.
quenas ou quase inexistentes. Já as construções feitas em locais quentes
OLIVER, Paul. Atlas of vernacular architecture of the world. Hardcover, 2005. Oliver (2005) 18 Cf. item 17 deste capítulo. 16 17
38
Os materiais disponíveis nas regiões
quitetos atualmente, muitas vezes ig-
onde será erguida determinada mora-
nora os materiais, a energia, o seu con-
dia definem as características essenciais
texto e sua cultura. Segundo Bernard
de arquitetura vernacular local. Em
Rudofsky, a arquitetura vernacular
áreas ricas em árvores, desenvolver-se-
deve servir de alicerce conceitual para
á uma arquitetura vernacular em ma-
o homem industrial19.
deira, enquanto locais sem matas e flo-
Deste modo, na fase em que está ma-
restas permitirão o aparecimento de
duro, o vernáculo fornece “formas ide-
uma arquitetura de lama ou pedra,
ais”, ajustadas ao contexto, clima, ener-
conforme o material que estiver à mão.
gia e condições ecológicas, que podem
Santorini, na costa mediterrânea, pos-
ser reaproveitadas. Daí o interesse con-
sui clima seco e temperado. A carência
temporâneo por seu estudo e aplica-
de madeira e abundância de pedra,
ção na arquitetura sustentável20.
areia e argila determinou uma constru-
A definição do futuro deverá procurar
ção de alvenaria. A pintura caiada
integrar a tradição com a moderni-
ajuda no conforto térmico e na prote-
dade, estabelecendo-se assim um sis-
ção da construção contra as intempé-
tema híbrido, num cruzamento que
ries. A ilha é um caso de perfeita adap-
funda materiais inteligentes com mate-
tação ao terreno: está formada por ca-
riais tradicionais e permita explorar no-
sas situadas em diferentes níveis, o que
vos conceitos estéticos e funcionais 21.
propicia casas com ventilação natural.
Ignorar todo o conhecimento e poten-
O uso das abóbadas se explica por te-
cial tecnológico existente atualmente
rem maior superfície que um telhado
seria um erro, quando se visa atingir
reto, e resfriar mais rápido pela noite
edifícios de elevado desempenho22.
(Figura 8).
No contexto complexo em que a arqui-
Enquanto a arquitetura vernacular se-
tetura se posiciona, pela diversidade de
gue o caminho árduo de tentativas e
elementos que influencia, hoje ressal-
erros, um processo auto adaptativo,
tado pelas questões ambientais, seria
sendo fundamentada na tradição, a ar-
um equívoco afirmar que só existe um
quitetura industrial produzida por ar-
19
20
modelo de arquitetura sustentável.
RUDOFSKY, Bernard. Architecture without architects. New York: Museum of Modern Art, 1964 ROHDE (1983) apud Pereira (2012).
21
Abalos, I. (2009). Beauty from Sustainability?. Harvard Design Magazine 30: (Sustainability) + Pleasure, vol.1; Harvard Unversity Graduate School of Design, Cambridge, p. 14-17 22 Leatherbarrow, D.; Wesley, R. (2009). Frameworks of Performance and Delight. Harvard Design Magazine 30: (Sustainability) + Pleasure, vol.1; Harvard Unversity Graduate School of Design, Cambridge, p. 84-95.
39
Fig. 7: Arquitetura de Santorini na Grécia, disponível em: acervo da autora
Fig. 57: Cidade de Shibam no Iémen, disponível em:www.islamic-arts.orgFig. 58: Arquitetura de Santorini na Grécia, disponível em: acervo da autora
Fig. 59: Cidade de Shibam no Iémen, disponível em:www.islamic-arts.org
Fig.
60:Superadobe,
disponível
em:
www.planeta-vivo.comFig. 61: Cidade de Shibam no Iémen, disponível em:www.islamic-arts.orgFig. 62: Arquitetura de Santorini na Grécia, disponível em: acervo da autora Fig. 8: Povoado de Ait Ben Haddou no Marrocos, disponível em: acervo da autora Fig. 63: Cidade de Shibam no Iémen, disponível em:www.islamic-arts.orgFig. 64: Considerando que a arquitetura verna-
agora Fig. saber olhar para o passado, in48: Arquitetura de Santorini na Grécia, disponí-
Arquitetura de Santorini na Grécia, dispo-
cular na sua definição as vánível congrega em: acervo da autora
vel em: acervo da autoraFig. 49: Povoado Ait terpretar e compreender o que dedemeBen Haddou no Marrocos, disponível em: acervo
rias manifestações arquitetônicas espe-
lhor pode ser transposto para o conda autora
cíficas de cada lugar, pode-se afirmar
texto contemporâneo, validando cien-
que há várias soluções para atingir uma
tificamente essas soluções de modo a
construção mais sustentável. Basta
credibilizar fomentar vel em: e acervo da autora a sua utilização.
Fig. 50: Arquitetura de Santorini na Grécia, disponí-
40
Fig. 51: Cidade de Shibam no Iémen, disponível em:www.islamic-arts.orgFig. 52: Arquitetura de Santorini na Grécia, disponível em: acervo da autoraFig. 53: Povoado de Ait Ben Haddou no Marrocos, disponível em: acervo da autora
ARQUITETURA DE TERRA HISTÓRIA
A
utilização da terra, enquanto
hoje bem conservadas, reflete a possi-
material construtivo data de
bilidade de resgate das devidas tipolo-
épocas remotas, a mais de 10
gias.
000 anos, sendo a África, Egito, e Médio Oriente as regiões onde foram encontrados os registros mais antigos do domínio das técnicas de Arquitetura de terra. A
Foi através desse contato que, influenciados diretamente pelos conhecimentos acumulados nos continentes colonizados, que os colonizadores europeus fizeram uso dessas técnicas não
técnica
surgiu
apenas na constru-
quando o homem
ção de muitas de
sentiu necessidade
suas cidades, como
de prover o seu
também nos terri-
próprio abrigo, ao
tórios de suas con-
invés de sobreviver
quistas a partir do
apenas nos refúgios
século XV23.
propiciados própria
pela
Existem evidências
natureza.
arqueológicas com
Inicialmente, muito
aproximadamente
se utilizou a cons-
10 mil anos de cida-
trução de paredes
des inteiras cons-
com pedras, e aos
truídas de terra, al-
poucos, passou-se a utilizar a madeira associada à terra.
gumas delas sobre-
Fig. 9: Cidade de Shibam no Iémen, disponível em:www.islamic-arts.org
viventes até os dias de hoje: A cidade
A arquitetura de
Fig. 66:Superadobe, disponível em: terra se expandiu e sewww.planeta-vivo.comFig. aperfeiçoou a 67: Ci- dânia em dade de Shibam no Iémen, disponípartir do contato entreveldistintos povos. em terra em:www.islamic-arts.org
de Jericó na Cisjoradobe, a muralha da China compactada, Zigurates na
A diversidade de edificações históricas
Mesopotâmia, também em adobe;
observadas mundialmente e, ainda
dentre outros diversos exemplares do
Fig. 68:Superadobe, disponível em: patrimônio www.planeta-vivo.com
23
ARINI E GALLO (202) apud BAYER (2011). Fig. 69: Taipa de mão, disponível 41 em: www.coopertecti.com.brFig. 70:Superadobe, disponível em: www.planeta-vivo.comFig. 71: Cidade de Shibam no Iémen, disponí-
histórico erguido com terra.
Todas as civilizações do Oriente Médio
foram trazidos ao país como escravos,
utilizaram adobe e taipa para construir
também tinham conhecimento do uso
habitações rurais e urbanas, e também
da terra para construção25.No Brasil as
edifícios importantes como templos e
técnicas mais utilizadas para constru-
fortalezas24. Minke (2001) menciona
ção, envolvendo a terra, foram a taipa
habitações de terra que foram desco-
de pilão, o adobe e a taipa de mão ou
bertas em Tuquestán, datadas do perí-
pau-a-pique.
odo de 8.000 a 6.000 a.C., e também,
Para Giovanna Rosso Del Brenna, a
restos de construções de terra, datadas
terra crua, adotada desde o início da
de 5.000 a.C., que foram encontradas
colonização em todo o território brasi-
na Assíria. O autor afirma ainda que, no
leiro, permaneceu e se desenvolveu
México, América Central e do Sul,
quando e onde seu uso foi possível,
quase todas as culturas pré-colombia-
pelas condições do solo e do clima,
nas utilizavam o adobe em suas cons-
configurando-se
truções.
em
soluções
de
grande singeleza, funcionalidade e perfeita adaptação ao meio26.
Assim, a arquitetura de terra é encontrada em todas as partes do mundo,
Dessa forma, nas localidades do Brasil
através de técnicas diversas, devido à
onde a pedra era rara e de difícil extra-
sua versatilidade. Em cada local, é
ção, prevaleceu a arquitetura de terra
adaptada ao clima e aos condicionan-
crua sob diversas formas de constru-
tes físicos existentes e aos materiais en-
ção27. Inúmeras construções históricas
contrados, adaptando-se ao meio local
centenárias, executadas com terra, po-
e às particularidades de cada região e
dem ser encontradas, ainda hoje, em
satisfazendo às necessidades de bem
perfeito estado de conservação, como
estar do homem.
também, edificações contemporâneas,
A arquitetura de terra foi trazida ao
localizadas em diversos locais do Brasil,
Brasil, por meio dos primeiros coloni-
em que foram utilizados os procedi-
zadores portugueses, estando com-
mentos construtivos adequados, com-
provado que os indígenas não as utili-
provando o potencial e a durabilidade
zavam. Além disso, os africanos, que
deste tipo de construção28.
24
MINKE, Gernot – Manual de construcción con tierra. P. 13. MILANEZ (1958) apud CARVALHO, LOPES (2012). 26 DEL BRENNA (1982) apud CARVALHO E LOPES (2011). 27 SOUZA, Renato César José de. Problemas de Conservação em Construções Típicas de Minas Gerais. Cadernos de Arquitetura e Urbanismo. Belo Horizonte, 1996. 28 LOPES, W. G. R. Taipa de mão no Brasil: levantamento e análise de construções. 1998. 232p. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, SP. 25
42
Ainda são encontradas técnicas cons-
fazendo da terra um material de cons-
trutivas utilizando a terra como maté-
trução como todos os outros. Dentre
ria-prima principal em várias regiões
eles, destacam-se no trabalho de divul-
do Brasil. Nas regiões Nordeste e Norte
gação e aperfeiçoamento das técnicas
as taipas de mão são empregadas nas
França e Alemanha.
habitações para população de baixa
Outros países como Nova Zelândia,
renda. Apresentam características dife-
Peru, Austrália e Estados Unidos tam-
rentes, em função das especificidades
bém possuem algumas normas oficiais
locais, mas há muito preconceito con-
para esse tipo de construção. Espanha,
tra essa técnica, devido à forma rudi-
Marrocos e Zimbabwe também contri-
mentar como é edificada. Essas pare-
buem com algumas especificações re-
des acabam apresentando muitas trin-
lativas à terra.
cas e rachaduras e abrigam insetos, como o barbeiro, que é o responsável
No nosso país, essas normas são ainda
pela proliferação do mal de Chagas.
inexistentes, entretanto, um passo já foi dado ao serem elaboradas normas
No projeto PROTERRA em 2002, em
para solo estabilizado com cimento, ou
Salvador, Calla Garcia afirmou que a
seja, solocimento, pela ABNT (Associa-
precariedade das construções com
ção Brasileira de Normas Técnicas):
terra resulta da falta de conhecimento científico no uso deste material, e ainda que, o errado conceito de modernidade faz com que se considere a terra como símbolo de antigo e pobre, asso-
NBR10836:1994,
NBR10835:1994,
NBR10834:1994,
NBR10833:1989,
NBR10832:1989,
NBR11798:1990,
NBR12023:1992,
NBR12024:1992,
NBR12025:1990 e NBR12254:1990.
ciando suas construções à pobreza e ao precário, enquanto que os materiais
No Brasil, algumas entidades, como a
como cimento e polímeros são associ-
Associação Brasileira dos Construtores
ados à modernidade29.
com Terra – ABCTERRA (sede em São Paulo), a Associação Brasileira de Ciên-
Além disso, a falta de leis e critérios que
cias em Materiais e Tecnologias Não
normatizem o desempenho do mate-
Convencionais - ABCMTENC (sede no
rial criam dificuldades jurídicas, de acei-
Rio de Janeiro) e a rede Terra Brasil
tação dos profissionais, entidades fi-
vêm debatendo a respeito dos impac-
nanciadoras, e da sociedade como um
tos e do esgotamento de matérias-pri-
todo. No entanto, alguns países desen-
mas derivados da atividade de constru-
volvidos já possuem regulamentação,
ção civil e das alternativas possíveis,
CALLA GARCIA, A. La Constrcción com Tierra en la Cultura Andina. SEMINÁRIO IBEROAMERICANO DE CONSTRUÇÃO COM TERRA. Salvador, 2002. 29
43
como a utilização da terra, enquanto
Pirenópolis-GO e a segunda, em Uba-
material construtivo, sempre conside-
tuba-SP, instituições que trabalham
rando a questão de políticas públicas
com tecnologia de construção em
para a habitação sustentável e de inte-
terra, e ainda, abordam os demais prin-
resse social, e a preservação do imenso
cípios vinculados à permacultura. As
patrimônio histórico em terra existente
técnicas de construção em terra geral-
no Brasil.
mente adotadas nesses espaços, que funcionam como Ecovilas são, princi-
Já em relação ao histórico de projetos
palmente, adobe, superadobe, pau-a-
e organizações que discutem a utiliza-
pique, taipa de pilão, taipa leve e cob.
ção da arquitetura de terra no Brasil, em outubro de 2001 foi criado o Projeto de Investigação Proterra, promo-
ASPECTOS GERAIS E AMBIENTAIS
vido e orientado pelo CYTED (Pro-
C
grama Íberoamericano de Ciencia y Tecnologia para el Desarrollo),
omo todas os materiais e técni-
cujo
cas construtivas, a terra crua e
objetivo era estimular e divulgar o uso
seu emprego possuem carac-
da arquitetura e construção com terra
terísticas positivas e negativas. Como
na Íbero-América. Esse projeto foi en-
vantagens, podemos destacar que a
cerrado em 2006, dando lugar a Rede
terra crua regula a umidade ambiental,
Ibero-americana PROTERRA. Essa, por
ou seja, o barro possui a capacidade de
sua vez, embora tivesse algumas seme-
absorver e perder mais rapidamente a
lhanças com o Projeto de Investigação
umidade que os demais materiais de
Proterra, ofereceu inovações, como a
construção. Além disso, a terra arma-
inclusão de países de fora do âmbito
zena calor: como outros materiais den-
ibero-americano, que antes eram tra-
sos como as alvenarias de pedra, o
tados como Instituições Amigas – Esta-
barro armazena o calor durante sua ex-
dos Unidos, França, Itália, etc. e a inclu-
posição aos raios solares e perde-o
são da preservação do patrimônio nos
lentamente quando a temperatura ex-
seus objetivos.
terna estiver baixa.
Da mesma forma, outras instituições,
As construções com terra crua econo-
com os mesmos objetivos, têm-se des-
mizam muita energia e diminuem a
tacado no panorama nacional, como o
contaminação ambiental. As constru-
Ecocentro IPEC (Instituto de Permacul-
ções com terra praticamente não con-
tura e Ecovilas do Cerrado) e o IPEMA
taminam o ambiente, pois para pre-
(Instituto de Permacultura e Ecovilas da
pará-Ias necessita-se de 1 a 2% da
Mata Atlântica), a primeira situada em
44
energia despendida com uma constru-
às construções da terra são as infiltra-
ção similar com concreto armado ou ti-
ções de água, tanto por capilaridade
jolos cozidos;
do solo, quanto por falta de proteção adequada com rebocos mal executa-
O processo é totalmente reciclável: as
dos30. Sendo assim, é importante pro-
construções com solo podem ser de-
teger a edificação de terra crua do con-
molidas e reaproveitadas múltiplas ve-
tato com a umidade do solo, elevando-
zes. Basta fragmentar e voltar ao pro-
a do chão ou utilizando um alicerce, de
cesso de preparo da massa de terra.
pedras ou tijolos, devidamente imper-
Quanto aos aspectos negativos, pode-
meabilizados.
se enfatizar que a terra não é um ma-
Independente do tipo de material em-
terial de construção padronizado: sua
pregado, é sempre necessário que o
composição depende das característi-
conjunto estrutural seja sólido e está-
cas geológicas e climáticas da região.
vel, para evitar desaprumos, desnivela-
Podem variar composição, resistências
mentos e trincas nas paredes31.
mecânicas, cores, texturas e comportamento. Para avaliar essas características
Na prática, alguns princípios elementa-
são necessários ensaios que indicam as
res em construção, como marcação e
providências corretivas para corrigi-as
nivelamento da obra, com o uso de
com aditivos.
equipamentos como esquadro, prumo e nível, são desprezados pelos constru-
As construções com terra crua são per-
tores de edificações de terra crua por
meáveis e estão mais suscetíveis às
considerarem dispensáveis neste tipo
águas, sejam pluviais, do solo ou de
de obra, prejudicando a rigidez da
instalações. Para sanar esse problema é
construção.
necessária a proteção dos elementos construtivos: seja com detalhes arqui-
O sistema só se torna possível de ava-
tetônicos ou com materiais e camadas
liação quanto às suas contribuições
impermeáveis.
quando todas as medidas preventivas cabíveis e os parâmetros construtivos
Além disso, está sujeito à retração: o
adequados são realizados. Somente
solo sofre deformações significativas
assim a terra crua apresentaria seu
durante a secagem, gerando fissuras e
aproveitamento máximo e obteria os
trincas. Como qualquer outra técnica
reais resultados de desempenho ener-
construtiva, a arquitetura de terra re-
gético nas construções.
quer certos cuidados. A maior ameaça
30 31
PINTO (1993) e SOUZA (1996) apud CARVALHO e LOPES (2012) LOPES e INO (1999).
45
A condutibilidade térmica das paredes
isso só acontece em paredes que não
de terra crua corresponde à metade da
receberam nenhum tratamento se-
condutibilidade das paredes feitas de
lante, como revestimentos cerâmicos
tijolo cozido, mantendo o ambiente in-
ou pintura.
terno das construções em terra em
Com isso, pode-se afirmar que a arqui-
temperatura constante32. Isso porque
tetura de terra apresenta vantagens
as paredes de barro compõem um
significativas, favoráveis ao conforto
bom isolante térmico “que aprisiona o
ambiental, em relação aos métodos
ar nas pequenas cavidades do material
construtivos tradicionais. Dessa forma,
sólido, (...) impedindo a convecção, ou
é um material indicado para construir
seja, as trocas que podem ocorrer, o
em regiões semiáridas, onde as neces-
que dificulta a passagem de calor” (MI-
sidades de isolamento térmico permi-
LECH et al., 2011, p. 1).
tem uma grande diminuição da tempe-
Dessa forma, para se obter o mesmo
ratura no interior da edificação, em re-
índice de isolamento térmico em pare-
lação ao meio externo.
des construídas com esses materiais é necessária uma espessura de, por exemplo, 9,5cm para uma parede de ti-
TÉCNICAS CONSTRUTIVAS
jolo de barro cru e 19,8cm para uma
A
parede de tijolo cozido33. A porosidade do material confere às construções algumas vantagens acústi-
terra é um dos recursos mais abundantes no nosso planeta. Apesar de constituir um re-
curso não renovável, na construção em
cas. O poros absorvem o som com
terra crua, os produtos secos ao sol po-
maior facilidade, ao contrário de pisos
dem ser naturalmente devolvidos ao
e paredes lisos, nos quais há reflexão
ambiente, num processo semelhante
do som. Esta mesma porosidade é fun-
ao que lhe deu origem, completando
damental para outro fator positivo: as
um ciclo natural. Não existe um único
trocas gasosas.
tipo de terra, e sim infinitos tipos, com
A renovação do ar nas construções de
propriedades físico-mecânicas diferen-
terra crua é uma propriedade do ma-
tes. Dessa forma, cada tipo de terra é
terial, também conhecida como a capacidade de “respirar”. Logicamente,
BUENO (1995) apud CARVALHO e LOPES (2012). SILVA, C. G. T. Conceitos e Preconceitos relativos às Construções em Terra Crua. Dissertação de Mestrado em Saúde Pública. Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2000. 32 33
46
mais adequado para uma técnica espe-
sendo cada vez mais resgatada e valo-
cífica.
rizada, apesar de que ainda há muito preconceito em relação à sua utiliza-
Dentre as técnicas mais conhecidas e
ção.
utilizadas destacam-se o adobe, superadobe, COB, taipa de mão, taipa de
O superadobe é uma técnica de bio-
pilão, e solocimento.
construção que utiliza sacos com terra comprimida para fazer paredes e co-
O tijolo de adobe é um material de
berturas (Figura 10). A técnica foi criada
construção muito antigo. Consiste em
pelo arquiteto iraniano Nader Khalili.
um tijolo de barro e palha mesclados, que é moldado e seco naturalmente. É
O COB (palavra inglesa cuja tradução
uma técnica muito amiga do meio am-
literal é MAÇAROCA ) é uma técnica de
biente, pois não utiliza nada de ci-
construção com terra que permite usar
mento e não gasta combustível na se-
muita criatividade e liberdade, pois
cagem dos tijolos, por não ser quei-
consiste em ir moldando a casa como
mado. Pelo uso da palha na sua com-
se fosse uma grande escultura de ar-
posição, garante excelente conforto
gila. É muito antiga e amplamente uti-
térmico. As construções de adobe,
lizada
quando bem feitas, podem durar mui-
mundo.
em
diferentes
lugares
do
tas décadas. É uma técnica que está
Fig.10: Superadobe, disponível em: www.planeta-vivo.com
Fig. 75: Taipa de mão, disponível em: www.coopertecti.com.brFig. 76:Superadobe, disponível em: www.planeta-vivo.com
Fig. 77: Taipa de mão, disponível em: www.coopertecti.com.br
47
Fig. 78: Esquema construtivo, disponível em: wwweficienciaenergtica.blogspot.com.brFig. 79: Taipa de mão, disponível em: www.coopertecti.com.brFig. 80:Superadobe, disponível em: www.planeta-vivo.com
Fig.11: Taipa de mão, disponível em: www.coopertecti.com.br
Fig. 84: Esquema construtivo, disponível em: wwweficienciaenergtica.blogspot.com.brFig. 85: Taipa de mão, disponível em: www.coopertecti.com.br
Fig. 86: Esquema construtivo, disponível em: wwweficienciaenergtica.blogspot.com.br
A Taipa de mão,
tam-
bém
cha-
mada
bambus, Fig. 87: Compactação da taipa, disponível em:www.youtube.com/user/BioestruturaFig. 88: Esquema construtivo, disponível em: wwweficienciaenergtica.blogspot.com.brFig. 89: Taipa de mão, disponível em: www.coopertecti.com.br
de
pau-a-pique ou taipa de sebe, é uma técnica
Fig. 90: Esquema construtivo, disponível em: wwweficienciaenergtica.blogspot.com.brFig. 91: Taipa de mão, disponível em: www.coopertecti.com.br
construção com
terra
trazida para o Brasil
em seguida é feito o barreamento, que consiste
pelos
em
preencher os buracos
de
e
trama
da com
argila. A terra usada ser
deve
arenosa
para não trin-
portugueses
car, e o pro-
e amplamente utilizada, principal-
cesso de barreamento deve se repetir
mente em meio rural. Consiste na
três vezes para que não sobrem bura-
construção de um quadro de galhos:
cos de trincas.
os verticais são cravados no chão e os
A taipa de pilão é uma técnica de cons-
horizontais são encaixados ou amarra-
trução com terra, muito antiga e bas-
dos nos verticais. Este quadro é preen-
tante utilizada na construção de igrejas
chido por uma trama de galhos ou de
no período colonial do Brasil. É assim 48
chamada por consistir em terra socada com um pilão dentro de uma forma de madeira que chamamos taipa. As paredes, em geral, têm de 30 a 120 cm de espessura. O solocimento é um tijolo prensado feito de areia, argila e cimento. Os tijolos de solocimento não são queimados como os tijolos comuns, portanto não consomem combustíveis durante a sua fabricação, gerando menos impacto sobre o meio ambiente. Para queimar mil dos tijolos convencionais é necessário 1 m³ de madeira, o que corresponde a seis árvores médias. Além do mais a queima emite CO² para a atmosfera, o que gera aumento do efeito estufa. Com o solocimento também é possível poupar o custo ambiental e econômico relativo ao transporte, já que pode ser fabricado no canteiro de obras e usando principalmente matéria-prima local. Além do mais, não há desperdício de material em obra, já que os tijolos quebrados podem ser moídos e reaproveitados.
49
TAIPA DE PILÃO CARACTERIZAÇÃO
T
écnica tradicional de construção
dades físicas do material e do compo-
com terra mundialmente difun-
nente
dida e conhecida a mais de 5 mil
com o tato e visualmente.
anos, a taipa de pilão apresenta ótima
selecionando-as
Os taipais possuem medidas que va-
resistência mecânica, conforto térmico
riam de 100 a 150 centímetros de altura
e acústico, bom grau de acabamento,
por 200 a 400 centímetros de compri-
em comparação com outras técnicas
mento, compostos por tábuas presas a
que utilizam barro úmido, além de
um sarrafo, formando um tabuado
apresentar baixa retração e alta dura-
com juntas de topo para as tampas ou
bilidade por formar paredes monolíti-
lados, distanciadas, em função da es-
cas.
pessura da parede
Recebe esta denominação por ser
Fig. 12: Esquema construtivo, disponível em: wwweficienciaenergtica.blogspot.com.br
socada (apiloada) com o auxílio de uma mão de pilão. A forma que sustenta o material gem é denominada de taipal. taipa
por outro tabuado denominado frontal
Fig. 93: Compactação da taipa, disponível em:www.youtube.com/user/BioestruturaFig. 94: Esquema construtivo, disponível em: wwweficienciaenergtica.blogspot.com.br
durante sua seca-
A
construtivo,
e
de
presas
com paus roliços denominados
de
agulha ou cangalha na horizontal e costa na vertical,
Fig. 95: Compactação da taipa, disponível em:www.youtube.com/user/Bioestrutura
formando uma espécie de caixa sem fundo. Como no
encon-
Fig. 96: Amangiri resort por Rick Joy, disperíodo colonial as ponível em:www.archinect.comFig. 97: tábuas eram cortaCompactação da taipa, disponível colonial brasileiro em:www.youtube.com/user/Bioestruturadas manualmente, por meio de enxós, Fig. 98: Esquema de construtivo, era executada com terra retirada lo- disponível em: wwweficienciaenergtica.blogs- os taipais tinham um grande valor e pot.com.br cal próximo à construção devido às di-
trada no período
chegaram a ser inventariados como
ficuldades de transporte e ao volume
bens. Os taipais eram dispostos de
grande de material. As argilas eram es-
Fig. 99: Compactação da taipa, disponível modo colhidas pelo próprioem:www.youtube.com/user/Bioestruturataipeiro, que coFig. 100: Esquema construtivo, disponível blocos nhecia de forma empírica as proprieem: wwweficienciaenergtica.blogsticais pot.com.br
50
a formar fiadas horizontais de de taipa e tinham as juntas vernormalmente desencontradas.
Na primeira fiada o taipal era apoiado
jazidas se encontram a profundidades
diretamente no solo.
que só por meio de sondagens são detectadas. Mas as taipas também são
Sobre as fundações e para as fiadas
encontradas em outras regiões, como,
subsequentes eram colocadas trans-
por exemplo, em Goiás e Minas Gerais.
versalmente à espessura madeiras roliças a dois terços da altura, de modo
A partir de 1850 os tijolos maciços co-
que quando da execução da próxima
meçam a aparecer em construções
fiada, as agulhas ou cangalhas de baixo
paulistas, e no município de São Paulo
eram enfiadas no orifício (denominado
foi criada uma campanha pública para
de cabodá) deixado após a retirada
se evitar as construções de taipa devido
dessa madeira que tinha permanecido
às constantes enchentes que a cidade
dentro do bloco de taipa anterior.
sofria e ao risco de desmoronamentos das construções de terra.
Nas taipas remanescentes desse período as marcas da execução eram facil-
Segundo Schmidt (1946), a taipa de pi-
mente detectáveis, tanto das camadas
lão entrou em decadência a partir de
de terra apiloadas, como dos tipos de
1940, porque o tijolo maciço comum
junções dos blocos de taipa e também
apresenta maior rapidez de construção
dos orifícios ocupados para a elevação
e é executado a custos menores. A
do maciço de taipa. Esses orifícios re-
mão-de-obra, formada por taipeiros,
ceberam uma argamassa de terra após
começa a desaparecer, dando lugar
a retirada do taipal e antes do revesti-
aos pedreiros, cuja formação profissio-
mento.
nal é mais rápida.
Em alguns remanescentes, como, por
A taipa de pilão consiste na compacta-
exemplo, a Capela do Morumbi, na ci-
ção de terra húmida num taipal. Este
dade de São Paulo, foram encontradas
método evoluiu até ao que atualmente
taipas com agregados naturais (seixos
se encontra a taipa mecanizada, em
rolados) misturados na terra. Esses sei-
que as cofragens são reutilizadas e têm
xos eram retirados do leito de córregos
uma maior qualidade e dimensão. Para
e rios próximos ao local de construção
a compactação da terra utiliza-se atu-
e possuem granulometrias variadas.
almente compactadores pneumáticos,
Esse tipo de técnica recebeu o nome
que ajudam a reduzir ainda mais o
de taipa formigão.
tempo de construção.
Essa técnica predominou na arquite-
Os solos preferidos são os vermelhos,
tura paulista do período colonial de-
vindo a seguir os roxos e os pardos, por
vido à dificuldade de obtenção de pe-
apresentarem uma trabalhabilidade
dra nos campos de Piratininga, pois as
maior e devem estar isentos de areias 51
ou pedregulhos e de húmus e outros
ficam com espessuras menores. Esta
materiais orgânicos, como gravetos e
espessura é importante para assegurar
restos de vegetação, pois esses podem
uma boa compactação do barro, após
34
afetar a resistência final do material .
o preenchimento move se o taipal e repete-se o processo. Como as espessu-
A terra é removida de uma certa pro-
ras das paredes variam de 30 a 120
fundidade, para evitar as impurezas
centímetros, o taipeiro ou auxiliar tra-
acima citadas e por apresentar normal-
balha dentro do taipal, o que facilita o
mente um grau de umidade satisfató-
adensamento. O apiloamento é inter-
rio, não necessitando da adição de
rompido quando a taipa emite um som
água para compor a dosagem correta.
metálico característico, o que significa a
A massa é preparada por meio de es-
mínima quantidade de vazios ou que o
farelamento do solo; pulverização de
adensamento manual máximo das ar-
água com cuidado para não elevar o
gilas foi atingido.
teor de umidade, seguido da mistura
Os vãos deixados na arquitetura, como
para homogeneização. Nessa etapa,
portas e janelas, são montados a partir
há a possibilidade de acrescentar ou-
de uma estrutura de madeira colocada
tros componentes durante o amassa-
anteriormente durante a execução dos
mento, como a areia, a cal, o cascalho,
maciços das paredes. Em ocasiões em
a fibra vegetal e o estrume de animais.
que as paredes sejam auto estruturais
Após o preparo da argamassa de
a espessura não deve ser inferior a
barro, esta é disposta dentro do taipal,
60cm e em construções estruturadas
em camadas de 10 a 15 centímetros,
está técnica pode ser aplicada como al-
que depois de perfeitamente apiloadas
venaria de vedação.
Fig. 13: Compactação da taipa, disponível em:www.youtube.com/user/Bioestrutura
Fig. 102: Amangiri resort por Rick Joy, disponível em:www.archinect.comFig. 103: Compactação da taipa, disponível em:www.youtube.com/user/Bioestrutura
Fig. 104: Amangiri resort por Rick Joy, disponível em:www.archinect.com
Fig. 105Fig. 106: Amangiri resort por Rick disponível em:www.archinect.comFig. SHIMITD, Carlos Borges, Costruções de Taipa: 107: Compactação da taipa, disponível São Paulo. Secretaria da Agricultura, 1946. em:www.youtube.com/user/Bioestrutura Joy, 34
alguns aspectos do seu emprego e da sua técnica.
52 Fig. 108: Amangiri resort por Rick Joy, disponível em:www.archinect.comFig. 109: Compactação da taipa, disponível
Os pilões de base cunha oferecem
construções em taipa costumavam ser
compactação melhor que os de base
edificadas sobre um patamar, o que
plana, porém o rendimento do serviço
impedia o possível contato com a água.
é menor , o pilão deve pesar em torno de 5 a 9 kg e ter base entre 60 a 200 cm² com um lado redondo e outro
A TÉCNICA NO CONTEXTO
quadrado, o lado redondo garante boa
CONTEMPORÂNEO
compactação e o quadrado é usado
A
nos cantos. O tempo de secagem das paredes de taipa de pilão varia de 3 a 6 meses, de-
taipa é reconhecida pelo seu aspecto estratificado, colorido e de textura granular, resul-
tado do processo de construção de
pendendo da altura e espessura da parede, tipo de solo utilizado e condições
suas paredes. Entretanto, além de suas
climáticas. Os revestimentos só iniciam
características estéticas, o grande estí-
após a secagem das mesmas para que
mulo para o desenvolvimento da téc-
haja aderência, e variam de acordo
nica é a busca por métodos construti-
com a região, podendo ser de taba-
vos menos agressivos ao meio ambi-
tinga, argamassas com cal de samba-
ente. A técnica da taipa por sua vez,
quis, areia e de esterco de animais,
proporciona um ciclo do material, a
para que as fibras vegetais presentes
terra, um conceito sustentável muito
deem uma estrutura ao sistema.
atrativo atualmente.
Um dos maiores problemas detectados
Os trabalhos desenvolvidos nos últimos
com as construções em taipa é a ero-
anos por alguns arquitetos contempo-
são que elas apresentam na presença
râneos
de água tanto do subsolo quanto da
mento das qualidades estéticas e con-
superfície ou da chuva. Quando prote-
ceituais da taipa, conferindo status de
gida contra as intempéries, a taipa pos-
obra de arte à sua utilização.
sui muita durabilidade, que pode ultra-
Martin Rauch e Rick Joy são expoentes
passar três séculos.
proporcionaram
reconheci-
da arquitetura que contribuem para a
Uma das patologias mais presentes
experimentação artística da taipa e di-
nestas construções é o sulco, acompa-
vulgação a nível internacional. Rauch,
nhando o nível do solo externo, deixado pelo escoamento de águas pluviais. Esse fato justifica a utilização de grandes beirais na arquitetura tradicional de taipa. Pelo mesmo motivo, as 53
escultor e ceramista austríaco diplo-
Fig. 14: Amangiri resort por Rick Joy, disponível em:www.archinect.com
mado na Universidade de Artes Aplicadas de Viena, colabora como construtor de diversos tipos de edificações,
Fig. 111Fig. 112: Amangiri resort por Rick Joy, disponível em:www.archinect.com
desde habitacionais até institucionais, principalmente na Áustria e Suíça. Seu contato com o barro foi aprofun-
Fig. 113: Taipa pré-fabricada, disponível em: www.lehmtonerde.at
dado quando, além da sua formação, fez-se voluntário no continente africano, onde se aproximou das técnicas
Fig. 114Fig. 115: Amangiri resort por Rick Joy, disponível em:www.archinect.com
construtivas disponíveis para os recursos da região. A partir de então, começou a estudar e desenvolver a constru-
Fig. 116Fig. 117: Amangiri resort por Rick Joy, disponível em:www.archinect.com
ção com terra crua por todo o mundo.
O arquiteto americano Rick Joy por sua
Martin Rauch começou a projetar e de-
vez, é reconhecido por adaptar a ar-
senvolver edifícios com recurso à terra
quitetura de terra às zonas áridas, vi-
crua desde 1990, , recorrendo essenci-
sando a proteção contra o calor num
almente à taipa, como principal técnica
estilo tipicamente contemporâneo. Sua
construtiva. O resultado de seu traba-
estética de trabalho é mais sóbria,
lho possui caráter bastante artístico,
onde a taipa aparece como muros mo-
sendo muitas vezes sujeitos a trata-
nolíticos e minerais. A densidade dos
mentos manuais posteriores, realçando cores e texturas35.
volumes é representada pelas espessas
O projeto da sua casa tem sido objeto
Dentre seus principais trabalhos, estão
paredes de taipa e poucas aberturas.
de inúmeras visitas de estudo, fazendo
o Amangiri Resort em Utah, Canyon
parte do roteiro de “turismo arquitetô-
House no Arizona, Tucson Mountain
nico” do centro da Europa. A casa, con-
House, entre outras.
cluída em 2008, encontra-se implan-
Dessa forma, podemos afirmar que a
tada numa colina, sendo construída
taipa é a técnica de terra crua hoje mais
com materiais locais. As paredes são
aceita pelos países industrializados,
em taipa, com as juntas entre as várias
graças a sua estética particular, tor-
camadas, que foram preenchidas com
nando-se uma alternativa de construir
peças cerâmicas.
35
SCUDO G.;NARICI B.;TALAMO C. – Costruire com la terra. P.22.
54
que atente às necessidades da arquitetura contemporânea. Entretanto, resgatar a taipa no contexto atual requer um grande trabalho de investigação e desenvolvimento, viso que seu caráter artesanal constitui também uma barreira para a viabilização técnica e comercial na construção civil. Pensando nisso, desde os anos 1950 vem sendo estudadas formas de tornar o material mais durável e capaz de atingir grandes resistências
36
. A intro-
dução de processos mecanizados e produtos estabilizadores são algumas soluções encontradas e constitui hoje uma área de desenvolvimento, chamada taipa mecanizada. A adoção dos meios mecanizados, como já citado, foi um fator colaborador para a projeção da taipa na arquitetura da atualidade, principalmente em países desenvolvidos, onde custo da mão-de-obra e o tempo de construção são fatores que podem inviabilizar um material ou técnica. Em processos mecanizados, todas as etapas se utilizam de tecnologia – extração, seleção, homogeneização, transporte e compactação – diminuindo os custos e o prazo. Dessa forma, a terra pode ser comprada pronta para utilizar, e é possível até mesmo comprar paredes de taipa pré-fabricadas. Fig. 15: Taipa pré-fabricada, disponível em: www.lehmtonerde.at
36
EIRES, Rute – Construção com terra. P. 13.
Fig. 119: Taipa pré-fabricada, disponível em: www.lehmtonerde.at
55 Fig. 120: Taipa pré-fabricada, disponível em: www.lehmtonerde.at
Com a modernização das cofragens ,
sistema terra-água-ar, procurando me-
pode-se optar por formas da tradicio-
lhorar suas propriedades finais ou ade-
nal madeira, como também de alumí-
quá-las a um determinado objetivo37.
nio, aço, plástico ou fibra de vidro.
A estabilização mecânica é feita através
Além disso, elas podem se movimentar
da aplicação de uma força de com-
de diferentes formas no processo cons-
pressão sobre o material, fazendo com
trutivo, tanto horizontalmente como
que ele fique com maior nível de den-
verticalmente, além de poderem ter as
sidade e menor nível de porosidade.
mais diversas dimensões de altura e largura. Essas variações das cofragens
Já a estabilização física, corresponde à
estão diretamente ligadas ao aspecto
correção granulométrica da terra, onde
final da taipa depois de pronta, já que
se altera a textura do material, adicio-
uma superfície mais rugosa como a
nando ou diminuindo quantidades de
madeira proporciona uma parede mais
solos de modificam as propriedades
texturizada, enquanto formas de metal
iniciais.
darão origem à paredes mais lisas; e a
A estabilização química por sua vez, os
direção e sentido de progressão da
materiais adicionados vão estabelecer
forma se refletirá nas juntas geradas.
reações químicas que alteram as pro-
Já os compactadores, que tradicional-
priedades da terra através de ligações.
mente eram os pilões de padeira ou
A prática da estabilização acontece
metal, hoje podem ser substituídos por
principalmente em zonas
compactadores pneumáticos, que tra-
onde as
quantidades exigidas pelas normas são
balham com 500 a 700 batidas por mi-
muito superiores ao que o material
nuto; ou elétricos, que trabalham sozi-
oferece, necessitando da adição de cal
nhos por vibração, podendo chegar de
e cimento para atingir características
1000 a 1200 ciclos por minuto. Esses
semelhantes ao concreto, à exemplo
métodos são extremamente eficazes
dos Estados Unidos e Austrália.
na diminuição do tempo de obra.
Entretanto, a estabilização não é uma
Visando o aumento da durabilidade e
prática descoberta recentemente. No
resistência das paredes, a estabilização
passado, na Alemanha se tratavam os
química, física ou mecânica da terra é
pisos de terra com sangue de touro
um processo cada vez mais recorrente.
para torná-los resistente à abrasão38, já
Estabilizar a terra significa alterar um
na África, o óleo de karité era utilizado como impermeabilizante39, no Nepal, a
HOUBEN, Hugo;GUILLAUD, Hubert – CRATerre. P. 80. MINKE, Gernot – Manual de construcción con tierra. P. 49. 39 MEDITERRA 2009 – 1st Mediterranean Conference on Earthen Architecture. P. 478. 37 38
56
resistência à água era conferida por
vapor, nem facilmente degradável
uma pasta de sebo e cal aplicada à pin-
quando devolvido ao meio ambiente.
40
tura exterior , e na Sardenha, a adição
As FIBRAS NATURAIS são um dos adi-
de palha ajudava no controle à retra-
tivos mais comuns no controle da fissu-
ção dos adobes41.
ração. Elas controlam a retração, distri-
Nos dias atuais, existem uma enorme
buindo as forças por toda a massa, evi-
gama de produtos que podem ser uti-
tando grande fissuras42. São mais utili-
lizados como estabilizantes, tanto na-
zadas quando há uma proporção
turais como artificiais. Dentre os mais
maior de argila e água. Por serem pre-
utilizados no contexto da taipa con-
enchidas de ar em seu interior, a adição
temporânea estão:
de fibras confere uma diminuição da densidade e aumento do isolamento
A CAL, cuja função é interagir com os
térmico às paredes. Entretanto, deve-
minerais da argila, diminuindo a inter-
se ter em conta que densidade é uma
posição de água entre os diversos es-
característica importante para a estabi-
tratos. A dosagem deve ser testada
lidade das construções, e a adição das
para cada solo específico. A grande
fibras dificulta a compactação da terra.
vantagem da cal em relação aos outros minerais industrializados é que ela per-
Os ÓLEOS E CERAS naturais são nor-
mite a respiração natural da terra. Se-
malmente utilizados no acabamento
gundo a CRATerre (Centre internatio-
de superfícies, conferindo maior resis-
nal de la construction en terre) , suas ca-
tência ao material e podendo alterar
racterísticas são muito similares às do
sua aparência. Estes secam em contato
cimento, por também ter origem pozo-
com o ar e são insolúveis à água, sem
lânica. Por este motivo é o composto
no entanto impedir a respiração da
primordial na composição de rebocos
terra43. Quando a superfície apresenta
de proteção.
microfissuração, a aplicação de óleos e ceras é bem vinda, pois preenchem os
O CIMENTO, que quando adicionado à
vazios abertos. Os produtos mais co-
terra, liga-se à partículas de argila e de
nhecidos são o óleo de linhaça, de
areia e também é considerado um li-
karité, a cera de abelha e a caseína pro-
gante hidráulico. Assim como a cal, a
teica derivada do leite, por possuírem
percentagem ideal de cimento deve ser
ação impermeabilizante.
definida após testes com o solo. Diferente da cal, este não é permeável ao
MINKE, Gernot – Manual de construcción con tierra. P. 119. PONTE, Maria – Arquitetura de terra: o desenho para a durabilidade das construções. P. 81. 42 MINKE, Gernot – Manual de construcción con tierra. P. 48. 43 HOUBEN, Hugo;GUILLAUD, Hubert – CRATerre. P. 105. 40 41
57
PRODUTOS SINTÉTICOS como o sili-
do solo a se trabalhar, e usar o projeto
cato de sódio e o silicato de etile atuam
à favor do material.
também como impermeabilizantes ou consolidantes, evitando a erosão das superfícies provocada pela chuva e pelo vento. Dentre estes tipos de produtos, deve-se priorizar os que são permeáveis ao vapor d’água, permitindo a respiração natural do material. Ainda assim, a utilização de produtos impermeáveis deve ser estudada e aplicada com cuidado, para evitar futuros problemas de condensação. A POZOLANA, rocha derivada de erupções vulcânicas, misturada com água e cal é capaz de endurecer a temperatura ambiente, dando origem a produtos insolúveis em água e resistentes à sua ação44. Suas características são comparáveis às do cimento, sendo no entanto mais compatível com a terra, já que possui certa elasticidade e permeabilidade ao vapor. Apesar das oportunidades de tornar a terra um material mais resistente através da estabilização, ela na verdade não é obrigatória. É perfeitamente possível construir sem incorporar qualquer tipo de produto além da terra (PONTE, 2012). A aplicação de outras substâncias, se não for feita racionalmente, pode penalizar o sistema de forma irreversível. O importante então para uma construção durável e resistente é compreender as características iniciais 44
BOLTSHAUSER, Roger; KAMM, Thomas; RAUCH, Martin – HAUS RAUCH. P.68.
58
REFERÊNCIAS PROJETUAIS
PÁTIO 2.12 POR ANDALUCÍA TEAM
N
P
O primeiro, Pátio 2.12, está relacionado com a definição do conceito e do partido arquitetônico, pois o ponto principal do projeto é o pátio interno. O projeto também é referência no uso de resfriamento evaporativo através de espelho d’água, outro fator que foi utilizado no projeto desenvolvido para o TFG.
primeiro lugar em eficiência energética
esse capítulo serão apresentados 3 estudos de caso que tiveram relevância na concepção do projeto.
atio 2.12 é um protótipo pré-fabricado que participou do concurso internacional Solar De-
cathlon 2012, obtendo entre outros, o e o segundo lugar geral da competição. A casa reinterpreta a arquitetura tradicional mediterrânea, baseada no conceito de pátio e na utilização da água como técnicas de condicionamento térmico passivos. É inspirada na casa pátio andaluza, mas feita de novos materiais, geometria e tecnologia.
Já o segundo, a Casa Rauch, trouxe contribuições técnicas e estéticas para a escolha e utilização do sistema construtivo. É um projeto com estética contemporânea, e construído a partir dos avanços tecnológicos que hoje estão ligados à taipa. Os cuidados empregados para a durabilidade do material como a incorporação pingadeiras, foi importante para a elaboração do projeto final.
O projeto e construção foi levado a diante por pesquisadores e alunos das três Universidades de Arquitetura da Andaluzia (Sevilha, Granada e Málaga) e da Escola Politécnica Superior de Jaén, formando uma equipe denominada “Andalucía Team”. Na casa Pátio 2.12, o espaço doméstico que se propõe é inovador. O protótipo não é organizado a partir da divisão do
O terceiro estudo, está relacionado com o uso e ocupação do edifício, o Projeto 03, que contribuiu para as definições das tipologias habitacionais, e principalmente para as conformações dos espaços comuns de convivência e das circulações idealizadas no projeto final.
espaço para criar os ambientes, mas a partir de adição de 4 módulos habitáveis autónomos ligados através de um espaço flexível e variável, o pátio. Dessa forma, o número de módulos pode aumentar sempre que for necessário, sua posição pode ser alterada, e o seu uso pode ser diverso de acordo com as necessidades de cada família.
59
Pátio 2.12 propõe uma reinvenção do
Economia de energia e do consumo de
pátio, um conceito de organização es-
água foi uma prioridade no projeto. O
pacial ao redor dele, um espaço multi-
ciclo da água é um exemplo: o protó-
uso que expande os limites da casa. Os
tipo explora a possibilidade de recicla-
módulos que abrigam as funções do-
gem de água para uso doméstico atra-
mésticas se relacionam uns com os ou-
vés do seu tratamento de esgotos por
tros através de um espaço intermediá-
plantas naturais.
rio que recria o pátio mediterrâneo.
Fig.16: Fachada lateral Pátio 2.12, disponível em: www.sdeurope.org
Fig. 123:Fachada lateral Pátio 2.12, disponível em: www.sdeurope.org
Fig. 124:Fachada lateral Pátio 2.12, disponível em: www.sdeurope.org
Fig. 125:Fachada lateral Pátio 2.12, disponível em: www.sdeurope.org
60
Fig. 17: Planta baixa Patio 2.12, disponível em: www.sdeurope.org
Fig. 127:Planta baixa Patio 2.12, disponível em: www.sdeurope.org
Todos os materiais selecionados são
A camada exterior de placas de cerâ-
adequados para os conceitos sustentá-
mica foi projetada para produzir um
veis de reutilização, reciclagem e redu-
efeito de evaporação por disponível em:umedecê-las www.sdeurope.org
ção do consumo de energia, como a
com um sistema de irrigação. O acaba-
cortiça ou madeira. Além disso, toda a
mento de cerâmica inclui um sistema
estrutura é capaz de ser montada e
de irrigação capilar que permite um ardisponível em: www.sdeurope.org
desmontada com facilidade, e pode
refecimento natural da envoltória gra-
adotar diferentes layouts.
ças à evaporação da água no interior
Fig. 128:Planta baixa Patio 2.12,
Fig. 129:Planta baixa Patio 2.12,
do material de cerâmica. Desta forma,
Com todas esses conceitos bem aplica-
o intervalo de ar nas fachadas pode ter
dos, Pátio 2.12. , além de todas as van-
sua temperatura diminuída em quase
tagens que oferece, vem a ser uma
10 ° C abaixo da temperatura exterior.
casa modular autossuficiente e de baixo custo.
O ar frio é canalizado para o espaço interior através de grelhas motorizados na base das paredes. Em seguida, ele é 61
retirado do ambiente pela parte supe-
de sistemas que favoreçam o condicio-
rior do módulo por meio de uma cha-
namento térmico passivo em todos os
miné. Esse sistema foi inspirado num
momentos do dia e temporadas e, por-
engenhoso artigo da cultura tradicional
tanto, reduzir o consumo de energia.
mediterrânea, o “botijo”, um recipiente
A envoltória do pátio é composta por
de barro próprio para o armazena-
duas camadas. Uma é completamente
mento de água, que quando posto ao
vitrificada, mas móvel, podendo estar
sol propicia o resfriamento do líquido
fechada ou aberta. A outra camada é
interno pelo fenômeno da evapotrans-
uma série de pérgolas móveis que se
piração.
foram desenhadas inspiradas nas fo-
O tamanho e a localização das abertu-
lhas de videira.
ras dos módulos foram projetados para
O sistema de persianas, regulável por
aproveitar ao máximo a iluminação na-
automatização, reinterpretam o papel
tural e para controlar a incidência dos
de uma videira em um pátio, tão fre-
raios solares.
quentes em pátios tradicionais do Me-
O pátio por sua vez, é o "núcleo" da
diterrâneo. Este brise pode sombrear,
casa, um espaço de ligação que podem
resfriar o ar, captar a luz, ou até mesmo
acomodar diferentes usos combinados
fazer com que o pátio se torne uma es-
com vários cenários possíveis. É um es-
tufa no inverno, se a envoltória de vidro
paço flexível, uma sala multiuso adap-
for completamente fechada e a pér-
tável que expande o interior dos mó-
gula completamente aberta, banhando
dulos. Um espaço resgatado da sabe-
o pátio de sol. A área externa tem três
doria tradicional que recupera o con-
lagoas, todas com fontes para reforçar
forto ambiental das habitações medi-
a agradável sensação do pátio, por
terrâneas.
meio do som e do conforto térmico que a água proporciona. Todas estas
O pátio é também um amortecedor cli-
funções foram concebidas para gerar
mático natural e proporciona uma
um espaço polivalente para a casa.
transição entre total interior e total exterior. Esse espaço fornece iluminação difusa através de uma pérgola automatizado que regula a luz de acordo com as horas do dia e estações do ano. O desenho da forma espacial e construtiva do Pátio é orientada para incorporar estratégias bioclimáticas através
62
Fig.18: Vista do pátio interno, disponível em: www.sdeurope.org
Fig. 131:Vista do pátio interno, disponível em: www.sdeurope.org
Fig. 132:Vista do pátio interno, disponível em: www.sdeurope.org
Fig. 133:Vista do pátio interno, disponível em: www.sdeurope.org
Fig. 19: Fachada frontal Pátio 2.12, disponível em: www.sdeurope.org
Fig. 135: Fachada frontal Pátio 2.12, disponível em: www.sdeurope.org
63
Fig. 136: Fachada frontal Pátio 2.12, disponível em: www.sdeurope.org
Fig. 137: Fachada frontal Pátio 2.12, disponível em: www.sdeurope.org
CASA RAUCH
o
POR BOLTSHAUSER & RAUCH s edifícios assinados por Mar-
transformados em paredes de terra rigorosas e austeras. A estrutura monolítica salta para fora da topografia como bloco escultórico.
tin Rauch tornaram-se uma referência no que diz respeito
à técnicas experimentais com terra. A Casa Rauch, concebida em colabora-
As paredes, que foram prensados com ção com o arquiteto suíço Robert Bolmartelos pneumáticos têm uma espestshauser levou esta maneira de conssura de 60 cm. Na superfície exterior, truir uma nova dimensão. para impedir que a água escorra e desgaste as paredes, sua mulher, Martha, Localizada na enmoldou placas de costa sul da cidade cerâmica que serde Vorarlberg, na vem como pingaÁustria, a obra que deira e servem foi concluída 2008 como proteção é resultado do decontra as intempésejo de construir ries. As tiras de ceuma casa exclusirâmica que são invamente com maseridos entre as teriais ecológicos. camadas de argila Desde a sua funalém de estabilizar dação até a sua a estrutura do edicobertura, ela é fício, enfatizam a feita quase que inhorizontalidade e teiramente de solo aumentam os efeiescavado a partir tos de luz e somde o local em que bra. Outras estraFig.20: Fachada frontal da Casa Rauch, ela é construída: tégias estéticas e disponível em www.lehmtonerde.at os pisos e tetos arfuncionais foram queados, o reboco aplicadas, como as no teto e nas paredes, as pias, azulejos,Fig. 139:Fachada frontal da Casa Rauch, peças de vidro incrustrados no teto, e escadas - são todos feitos a partir dedisponível em www.lehmtonerde.at paredes e pisos da escada, solução baum único material, a argila, na suas várata, bonita e que garante ótima ilumirias formas. Fig. 140:Fachada frontal da Casa Rauch, nação. disponível em www.lehmtonerde.at O volume das formações rochosas da região são reinterpretados no edifício, Fig. 141:Fachada frontal da Casa Rauch, disponível em www.lehmtonerde.at
64
Fig. 21: Implantação da Casa Rauch, disponí-vel em www.lehmtonerde.at
O de daMartin Rauch era consFig. objetivo 143: Implantação Casa Rauch, disponí-vel em www.lehmtonerde.at truir uma casa que poderia simplesmente se desfazer no final de sua vida útil, sem contaminar o meio ambiente Fig. 144: Implantação da Casa Rauch, com qualquer substância nociva. Após disponí-vel em www.lehmtonerde.at a desmontagem da casa, apenas as partes constituintes dos serviços de Fig. 145: Implantação da Casa Rauch, construção (fiação, tubulação, etc.), e disponí-vel em www.lehmtonerde.at as vigas de aço teriam de ser removidas do material de barro. O material de terra em si pode ser reciclado após uma possível demolição, uma vez que não foi tratado com quaisquer aditivos.
requisitos das normas europeias podem ser atingidos com materiais ecológicos e trabalho manual. A casa é uma casa modelo, bem como o documento de uma colaboração única entre Rauch e Boltshauser. Ao mesmo tempo, é um exemplo notável de como pode ser conseguido um projeto adequado espacial e tectonicamente, mesmo com as limitações de estrutura e design dessa técnica construtiva, e como uma técnica antiga de construção pode ser utilizada numa forma contemporânea.
Um aspecto importante da sustentabilidade social neste projeto é que ele envia um sinal positivo sobre a arquitetura de barro para os países emergentes e em desenvolvimento. É importante para mostrar os países do mundo em desenvolvimento que a terra também pode ser implantado com sucesso como material de construção, e que os
Com foco renovado sobre consequências energéticas e ecológicas de hoje, construções orgânicas estão se tornando novamente um tema de interesse generalizado. A casa Rauch já recebeu prêmios nacionais e internacionais e representa um marco nessa área de pesquisa. 65
Fig.22: Acabamentos internos da Casa, disponível em www.lehmtonerde.at
Fig. 147:acabmentos internos da Casa, disponível em www.lehmtonerde.at
Fig. 148:acabmentos internos da Casa, disponível em www.lehmtonerde.at
Fig. 149:acabmentos internos da Casa, disponível em www.lehmtonerde.at
Fig.23: Estratégia de iluminação difusa, disponível em www.lehmtonerde.at
Fig. 151:Estratégia de iluminação difusa,
66
disponível em www.lehmtonerde.at
Fig. 152:Estratégia de iluminação difusa,
PROJETO 03
da residência – como momentos coletivos – espacializados nos pátios, praças de uso público.
POR DEL PIAN ARQUITETOS
P
A implantação do edifício se acomoda a topografia do terreno, sendo composta por duas lâminas de edifícios paralelos que conformam uma praça de convivência interna.
rojeto 03 trata-se de uma proposta de moradia estudantil para o Campus da UNIFESP em
São José dos Campos, concebido pelo escritório Del Pian Arquitetos para o
Receptora dos fluxo externos, a praça de convivência agrega, articula e distribui os percursos do edifício. Parcialmente coberta, ela abriga os usos coletivos, rodeada pelas circulações verticais e horizontais, tornando-se um palco de atividades observadas desde os corredores.
concurso público nacional, e por sua vez, projeto premiado em 3º lugar. O projeto foi pensado para ser um qualificador urbano, transformador da paisagem e gerador de urbanidade, visto que a área de projeto possui características quase rurais. Para o fim a que se propõe, era necessário que o projeto destinasse áreas tanto para os momentos individuais – representados na dimensão doméstica
Fig.24: Perspectiva geral Projeto 03, disponível em: www.iabsp.org.br
Fig. 155:Perspectiva geral Projeto 03, disponível em: www.iabsp.org.br
Fig. 156:Perspectiva geral Projeto 03, disponível em: www.iabsp.org.br
Fig. 157:Perspectiva geral Projeto 03, disponível em: www.iabsp.org.br
67
Esse espaço é o responsável por fazer as vezes de espaço público, transpondo para dentro do edifício características que são própria da cidade: organicidade, continuidade espacial, variedade volumétrica e de perspectivas.
Fig.
28:
Perspectiva interna,
disponível em: www.iabsp.org.br
Fig.
159:Perspectiva
interna,
disponível em: www.iabsp.org.br
Fig.
160:Perspectiva
interna,
disponível em: www.iabsp.org.br
Fig.
Já as passarelas e corredores, nunca confinados, se configuram como intermediários entre o uso individual e o coletivo, tornandose conversatórios.
161:Perspectiva
quartos compartilhados e a última para quartos familiares. Contam com banheiro, cozinha e lavanderia, além de uma varanda, que protege os dormitórios da insolação direta e promove o convívio entre os usuários.
interna,
Devido à transitoriedade que caracteriza a moFig. 29: Circulações em foco, radia, os espaços disponível em: www.iabsp.org.br são flexíveis e adaptáveis, apenasemasfoco, prumadas de instalaFig.tendo 163: Circulações disponível www.iabsp.org.br ções em: fixa. Além disso, todas as unidades podem ser adaptadas para portadores de necessidades especiais. disponível em: www.iabsp.org.br
Ainda sobre os espaços coletivos, o último pavimento conta com um solário, um teto jardim de acesso facilitado, atraindo a ocupação pelos estudantes. A cobertura metálica composta por sheds e pérgolas oferecem iluminação filtrada e ventilação natural à edificação.
Fig. 164: Circulações em foco, disponível em: www.iabsp.org.br
Os materiais utilizados são de fácil acesso e grande durabilidade, visando edificação racionalizada e uma Fig.uma 165: Circulações em foco, disponível em: www.iabsp.org.br reprodução em escala industrial. O sistema estrutural é misto, de concreto e metal, priorizando rapidez na montagem e execução, e limpeza do canteiro de obras.
Os núcleos de moradia estão divididos em 3 tipologias, sendo a primeira para quartos individuais, a segunda para 68
Fig.30: Planta baixa pav. tipo, disponível em: www.iabsp.org.br
Fig. 167:Planta baixa pav. tipo, disponível em: www.iabsp.org.br
Fig. 168:Planta baixa pav. tipo, disponível em: www.iabsp.org.br
Fig. 169:Planta baixa pav. tipo, disponível em: www.iabsp.org.br
Fig. 31: Tipos de apartamentos, disponível em: www.iabsp.org.br
Fig. 171: Tipos de apartamentos, disponível em: www.iabsp.org.br
69 Fig. 172: Tipos de apartamentos, disponível em: www.iabsp.org.br
CONDICIONANTES PROJETUAIS
O método do projeto elaborado a seguir teve como embasamento principal para a composição arquitetônica a bagagem teórica desses dois autores, dos quais serão subtraídos e adaptados as diretrizes e conceitos que mais possam enriquecer o processo e qualificar o produto.
O
processo de projeto praticado por arquitetos não é um processo explicito nem linear. Na maioria das vezes está cercado por aspectos subjetivos, baseados na intuição e desprendido de conceitos, não atribuindo a ele uma rotina racional.
O MUNICÍPIO DE CAICÓ: ASPECTOS FÍSICOS, GEOGRÁFICOS E DEMOGRÁFICOS
Em “Ensaio sobre a razão compositiva”, Mahfuz lança a hipótese de que na composição arquitetônica, o sentido de progressão é das partes para o todo, e que esse procedimento se repete em dois planos: o conceitual e o material.
A
qui se apresenta, num primeiro momento, uma caracterização geral do Município de Caicó, abordando os aspectos históricos, geográficos e demográficos gerais da cidade. A segunda parte está relacionada ao clima da cidade – semiárido – e suas respectivas implicações projetuais, e contém um resumo sobre as recomendações para se construir nesse clima, baseando-se em diretrizes já difundidas por estudos realizados acerca do assunto, com o objetivo de obter dados que fundamentem as escolhas construtivas, principalmente do ponto de vista do conforto ambiental.
Para entender como as partes são geradas, o autor classifica em tipos os processos projetuais, distinguindo-os por métodos (inovativo, tipológico, mimético e normativo). Já quanto à organização dessas partes, Mahfuz propõe a separação das relações entre as partes em funcionais e morfológicas. Para Evan Silva, a teoria de concepção arquitetônica apresentada em “Uma introdução ao projeto arquitetônico” (1998), também trata do processo projetual como uma progressão. Para ele, a composição parte de um ponto inicial que é tratado como um problema, e evolui em direção à uma solução, passando pelas etapas programa, partido arquitetônico, estudos preliminares, anteprojeto e projeto definitivo.
O Município de Caicó está localizado na Microrregião do Seridó Ocidental, na Mesorregião Central Potiguar. Possui uma área territorial de 1.228,57 km²; sua sede possui uma altitude média de 151 m e coordenadas 6°27’29” de latitude sul e 37°05’52,8” de longitude oeste, distante 282 km de Natal. A população total do município, de acordo 70
Fig. 32: Mapa do RN com destaque para Caicó, disponível em:www.wikipedia.org
com o Censo Demográfico de 2010, era de 62.709 habitantes (IBGE).
Caicó está enquadrado na Zona BiocliFig. 175: Mapa do RN com destaque para Caicó, em:www.wikipedia.orgpor clima mática disponível Z7, caracterizada quente e seco. A estação chuvosa atrasa-se para o outono, tendo como Fig. 176: Mapa do RN com destaque para Caicó, períododisponível chuvoso os meses entre feveem:www.wikipedia.org reiro a maio, com precipitação média anual de 716,6 mm. As temperaturas Fig. 177: Mapa do RN com destaque para Caicó, médias anuais variam de mínimas igual disponível em:www.wikipedia.org a 18º, médias 27º e máximas 33º, com 2700 horas de insolação, e humidade relativa média anual de 59%.
O município de Caicó insere-se em pleno semiárido nordestino, caracterizado pela escassez e instabilidade das chuvas, altas temperaturas, baixa umidade e uma paisagem marcada pela vegetação de caatinga. Caicó é o sexto município com maior extensão em área do Rio Grande do Norte, 1.228,57 km², equivalente a 2,33% da superfície estadual.
Sua formação vegetal é composta pela vegetação mais seca do estado, a Caatinga Subdesértica do Seridó, com arbustos e árvores baixas, ralas e de xerofitismo mais acentuado.
Limita-se ao Norte por Jucurutu, Florânia e São Fernando, ao Sul por São João do Sabugi e o Estado da Paraíba, ao Leste – São José do Seridó, Cruzeta, Jardim do Seridó e Ouro Branco e ao Oeste – Timbaúba dos Batistas, São Fernando e Serra Negra do Norte. (IDEMA, 2008)
O solo predominante é o Bruno não Cálcico Vértico, de fertilidade natural alta, textura arenosa/argilosa e média/argilosa, moderadamente drenado, relevo suave ondulado. Possui aptidão agrícola regular e restrita para pastagem natural e aptos para culturas
Quanto ao clima, segundo a NBR 15220-3 (ABNT, 2005), o município de
71
especiais de ciclo longo, tais como: algodão arbóreo , sisal, caju e coco. Como ocorrências minerais, encontram-se: barita, calcário, talco, ouro e tungstênio; também há existência de recursos minerais associados como rochas ornamentais, especialmente: migmatitos, brita, rocha dimensionada, mármore e gnaisse45.
o período chuvoso ocorre entre fevereiro e maio, tendo precipitação pluviométrica anual de 716,6mm, com temperatura máxima de 33ºC e mínima de 18ºC, 59% de umidade relativa do ar e 2.700 horas de insolação. Com o objetivo de propor uma edificação adaptada ao clima, e consequentemente conferindo conforto ambiental aos usuários, foram consultadas bibliografias especializadas e a NBR 15220 (Desempenho térmico das edificações), e a partir delas foi feita uma síntese de diretrizes para o construir no clima de Caicó, ou seja, na zona bioclimática Z7.
O relevo se divide em Depressão Sertaneja - terrenos baixos situados entre as partes altas do Planalto da Borborema e da Chapada do Apodi, e Planalto da Borborema - terrenos antigos formados pelas rochas Pré-Cambrianas como o granito, onde encontram-se as serras e os picos mais altos.
DIRETRIZES BIOCLIMÁTICAS PARA CONSTRUIR EM CAICÓ
C
aicó pertence ao clima semiárido, também conhecido como quente e seco, que possui características como: grandes amplitudes de temperatura ao longo do dia; grandes massas de ar quente que conduzem poeira em seu deslocamento, no período seco; presença de duas estações, uma seca e outra chuvosa; radiação direta e intensa e baixa umidade relativa do ar; além da escassez e instabilidade de chuvas46. De acordo com o Diagnóstico do Município de Caicó47,
Fig. 72: Mapa da zona bioclimática 7, disponível em: NBR 15220.
A NBR 15220Fig.estabelece os bioclimática seguintes 179: Mapa da zona 7, disponível em: NBR 15220. das diparâmetros para a formulação retrizes para cada zona: tamanho das aberturas, proteção das aberturas, veFig. 180: Mapa da zona bioclimática 7, disponível em: NBR 15220. de condações externas e estratégias dicionamento passivo. Fig. 181: Mapa da zona bioclimática 7,
disponível em: NBR 15220. IDEMA RN 46 ROMERO M.A.B. Princícios bioclimáticos para o desenho urbano. São Paulo, 2000. 47 Ministério de Minas e Energia, Brasil, 2005. 45
72
Fig.73: Diretrizes para a zona 7, disponível em NBR 15220
Segundo a norma, as aberturas devem ser pequenas e sombreadas, e a ventilação da edificação deve ser seletiva, ou seja, evitar a o vento nos horários quentes do dia, que além de desagradáveis trazem poeira para o interior da edificação, e permitir a ventilação noturna, quando a brisa é confortável e responsável pela renovação do ar.
maior conforto durante determinadas horas do dia.48 Torres de ventilação Fig. 183: Diretrizes para a zona 7, com aberturas disponível no altoemtambém NBR 15220 é uma opção indicada para esse clima. O pé direito dos ambientes devem ser mais Fig. 184: Diretrizes para a zona altos que o normal, para a massa 7, disponível em que NBR 15220 de ar quente que se acumula na parte superior, não coincida com a altura de Fig. 185: Diretrizes para a zona 7, atividade do usuário. disponível em NBR 15220
Para isso, uma solução pode ser a utilização de aberturas do tipo reguláveis, como as venezianas, ou outras esquadrias articuladas, que permite que o usuário controle o recebimento da ventilação. As venezianas, além de controlar a ventilação, funcionam como brise, filtrando a luz solar também.
Quando às vedações externas, a norma sugere que sejam, tanto paredes como cobertura, pesada, isto é, que possuam altos níveis de isolamento térmico. A figura 32 mostra que para paredes, a transmitância térmica deve ser menor ou igual a 2,20 W/m²K, o atraso térmico deve ser maior ou igual a 6,5 horas, e o fator solar deve ser menor ou igual a 3,5% para uma vedação considerada pesada. Já para coberturas pesadas, os valores de transmitância devem atingir no máximo 2,00 W/m²K, o atraso térmico deve ser no mínimo de
Ainda sobre aberturas, deve-se evitar que elas sejam orientadas à oeste, ou controlar estritamente suas dimensões. Os espaços semiabertos, como varandas, terraços e pátios protegidos da radiação solar oferecem alternativa de
EVANS, J.M., SCHILLER, S.Diseño Bioambiental y Arquitectura Solar. Ediciones Previas, EUDEBA / SEU-FADU-UBA, 3ra. Edición, Buenos Aires,1994 48
73
Fig. 74: Valores para vedação pesada, disponível em: NBR 15220.
6,5 horas, e o fator solar, no máximo 6,5%.
Além do agrupamento, a escolha de cores claras tetos e vedação paredes exterFig.para 187: Valores para pesada, disponível em: NBR 15220. nos, assim como fazer uso de grandes beirais, são escolher que promovem a proteção Fig. contra a radiação solar, e 188: Valores para vedação pesada, disponível em: NBR 15220. também minimizam o aquecimento interno da habitação.
Para as paredes, técnicas vernaculares como o adobe, a pedra e a taipa são aconselháveis, além de paredes externas grossas ou duplas. Para contribuir com o isolamento térmico, além da escolha de materiais adequados, o agrupamento das edificações também ajudam bastante a reduzir as perdas de calor. Edificações geminadas e compactas podem ser uma estratégia eficiente para esse quesito.
Fig. 189: Valores para vedação Outro fator significativo parapesada, o condisponível em: NBR 15220. forto da edificação é a orientação das edificações, que devem ter suas principais fachadas voltadas para norte e sul, evitando aberturas voltadas para leste e oeste como forma de reduzir a exposição da edificação ao sol.
Fig. 75: Influência da vegetaçãono resfriamento do ar, elaborado pela autora.
74 Fig. 191: Influência da vegetaçãono resfriamento do ar, elaborado pela autora.
A forma deve ser compacta, com os blocos edificados, quando houver, fazendo sombra entre si, diminuindo as superfícies expostas a radiação solar, aumentando a massa construída e, consequentemente, a inércia térmica, o que diminui a entrada de calor do exterior. Isso é possível com a criação de pátios internos, sobretudo associados à vegetação e água.
CONDICIONANTES LEGAIS
A
pesar de não condizer com a dimensão urbanística do município e de não ter sido colocado em prática, além de ter sido copiado de outra cidade - segundo o vereador José Rangel de Araújo em entrevista – a cidade possui o Plano Diretor do Município de Caicó, Lei 4.204 de 17 de outubro de 2006, o qual foi levado em consideração no presente trabalho.
O uso de vegetação mostra-se como aliado na filtragem dos ventos quentes e da poeira, além disso, protege as fachadas da insolação direta. Já o resfriamento evaporativo, diminui a temperatura e eleva a umidade ambiente simultaneamente.
Além deste, o Código de Obras do Município de Caicó, Lei 4.464/2011 de 12 de julho de 2011, foi consultado e respeitado para a elaboração do projeto. Em relação as prescrições urbanísticas, foram observadas as normas de Taxa de ocupação, Taxa de impermeabilização, recuos e gabarito.
O resfriamento evaporativo poder ser conseguido a partir da utilização de janela com cântaros para umidificação dos ambientes, construções próximas a grandes massas de água, ou uso de espelhos d’água.
Os recuos estabelecidos para todos os terrenos do município estão apresentados na figura 34. O documento não especifica a qual altura se refere “H”, logo, foi tomado como base a altura do piso do pavimento térreo até a cobertura do último pavimento.
Em virtude de um clima tão agressivo, a atividade projetual voltada para o clima semiárido deve considerar, desde sua concepção as diretrizes e recomendações supracitadas para garantir uma habitação em harmonia com o ambiente em que se encontra e garantir o bem estar do usuário.
Dessa forma, na etapa de estudos preliminares, considerou-se para cálculo a altura de 3,06 m por pavimento, resultando numa altura total de 9,18 m. Nesse caso, os recuos laterais e posterior resultam em 1,50 + 9,18/10 = 2,418, arredondado para 2,50 m como margem de segurança caso houvesse alguma alteração no pé esquerdo da edificação.
75
Fig. 76: Recuos para terrenos de Caicó, adaptado pela autora do código de obras do município.
Segundo o mesmo documento, a taxa de ocupação para edifícios com 3 pavimentos é resultante da aplicação dos recuos previstos na mesma lei. Não são computados para efeito de ocupação pergolados, beirais, marquises nem caramanchões.
devem ter aberturas mínimas igual a 20% da suaRecuos áreapara deterrenos piso, deenquanto Fig. 195: Caicó, adap- os tadotemporário pela autora do código de obras do municíde uso necessitam apenas pio. de aberturas mínimas igual a 10% da área de piso do referido ambiente, não podendo Fig. 196:entretanto, Recuos para terrenos ser de essa Caicó,área adap- de tado pela autora do código de obras do municíabertura pio. inferior a 0,24 m².
O gabarito máximo para edificações em Caicó segundo o mesmo documento, é de 33 metros, e a taxa de impermeabilização máxima é de 80% do lote.
Quanto ao pé direito, os ambiente de uso prolongado devem ter no mínimo Fig. 197: Recuos para terrenos de Caicó, adaptado e pela código de obras do municí2,80 m, osautora de do uso transitório 2,40 m pio. de altura. Além do Código de Obras, foram observadas normas de saídas de emergência em edifícios (NBR 9077) e as normas de acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos (NBR 9050).
Para dimensionamento das edificações, foram levados em considerações os itens de áreas e dimensões mínimas dos ambientes, que dispõe que ambientes de longa permanência como sala, e quarto, devem possuir área mínima de 8 m² e acomodar um diâmetro de 2,50 m circunscrito em seu piso. Já as áreas de cozinha e serviço, devem ter no mínimo 4,00 m² de área e possibilitar a inscrição de um diâmetro de 1,50 m em seu plano de piso.
Em relação à acessibilidade, os principais critérios aplicados ao projeto em questão foram: O espaço livre de circulação para pessoas e cadeirantes igual a 1,20 m de largura, tomando como referência o de pessoas com muletas (1,20 m de largura), e o módulo de referência (M.R) para pessoa utilizando cadeira de rodas (0,80 m x 1,20 m);
No caso das instalações sanitárias, a área mínima é de 2,88 m², exceto em caso de banheiros compartimentados ou lavabos, cujas dimensões mínimas são 1,20m x 1,20 m.
Os pisos de superfície regular, firme, estável e antiderrapante sob qualquer condição que não provoque trepidação em dispositivos com rodas;
Para dimensionar as aberturas, baseou-se no item que dispõe da iluminação e aeração dos ambientes, o qual dita que ambientes de uso prolongado 76
Todas as entradas da edificação acessíveis, bem como as rotas de interligação às principais funções do edifício;
Sabe-se que os estudantes dessa universidade são em sua maioria da própria região do Seridó, de municípios circunvizinhos. O fator regional, a faixa etária e as atividades que desenvolvem foram levados em consideração para o projeto.
As escadas com espelhe igual a 0,18cm e corrimãos se prolongando 30cm a partir do início ou do fim da escada; As portas de áreas comuns e da unidade habitacional adaptada à pessoas com mobilidade reduzida (P.M.R.) com vão livre mínimo de 0,80m. As peças sanitárias de comum uso também foram dimensionadas para serem acessíveis;
PROGRAMA DE NECESSIDADES
O
programa de necessidades de uma moradia para o público universitário é similar ao de uma habitação comum, com a ressalva de que a área disponível – devido a questões de custos e do caráter temporário – é reduzida, fazendo com que os cômodos acumulem funções diversas.
O número de vagas para estacionamento de veículos que conduzam ou sejam conduzidos por pessoas com deficiência representando 2% do número de vagas, bem como o número de vagas para idosos sendo 5% do total de vagas, segundo estabelece as Leis 10.098/00 e Lei 10.741/03, respectivamente;
Além das dimensões, outro fator que diferencia esse tipo de moradia de uma comum, é a atividade de estudo em destaque, juntamente com as atividades básicas vitais do ser humano.
A vaga para P.M.R. vagas foi projetada com espaço adicional de circulação de no mínimo 1,20m.
Nesse tipo de moradia, ainda, as zonas de serviço são compactas, dada a pouca demanda de utilização das mesmas.
PÚBLICO ALVO
O
Retomando a variedade do público alvo, foram pensadas dois tipos de unidades habitacionais, sendo elas a U.H. 01, pensada para uma pessoa, e a U.H. tipo 02, pensada para aqueles que por questões econômicas ou afetivas, queiram dividir a habitação, ou ainda, visando atender um possível jovem casal
público alvo, como foi esclarecido na introdução e no capítulo “Uso e ocupação: habitação universitário”, consiste em um grupo de jovens adultos, entre 18 e 30 anos, abrangendo principalmente graduandos, mestrandos, doutorando e docentes do campus CERES de Caicó.
77
com um filho (à exemplo de um docente e sua família). A U.H. 01 consiste no caso típico de moradia estudantil, pois possui apenas 3 cômodos, e neles se distribuem suas funções. Já a U.H. 02, se assemelha a uma casa familiar, com 2 dormitórios e com sala de estar. No diagrama apresentado na figura 35, podemos observar elencadas as principais atividades desenvolvidas, ligadas às suas respectivas zonas de uso. Essas zonas de uso então, consistem no programa de necessidades das unidades habitacionais. Para a unidade individual, o programa de necessidades se resume ao dormitório, casa de banho e uma zona para serviços e refeição, no caso, a cozinha. Para a unidade coletiva, o programa é um pouco mais generoso, ao incluir além de dois dormitórios e banheiro, uma cozinha e sala de estar e jantar integradas. Além disso, nesse tipo de unidade, a lavanderia possui uma área específica, separada do preparo de alimentos e da área de convívio. Ambos os tipos disfrutam também de varandas, incluída no programa de necessidades como fator enriquecedor do ponto de vista da cultura de moradia local, além do favorecimento do conforto ambiental.
78
Fig. 77: Relação entre as atividades e zonas de uso, elaborado pela autora.
79 Fig. 199: Relação entre as atividades e zonas de uso, elaborado pela autora.
ESTUDOS PRELIMINARES
seus vizinhos e familiares disfrutando a
CONCEITO E PARTIDO
Esse costume, tão genuinamente seri-
O
brisa noturna. doense, transpõe a forte relação que o povo tem com a rua. A calçada nesse
projeto de arquitetura im-
contexto, torna-se espaço de lazer e de
plica dois planos coexisten-
convivência social da população, de
tes: o plano da proposta pro-
instrumento de segurança pública – se-
priamente dita, ou seja, da essência,
guindo a lógica de e Jane Jacobs49 – e
que envolve a categoria da criativi-
por que não também, uma forma de se
dade; e o plano da comunicação, re-
atualizar dos acontecimentos cotidia-
presentado no plano material da
nos da cidade, da rua, dos vizinhos.
forma.
Essa cultura está expressa no poema da
Esses dois planos analogicamente cor-
estudante de direito caicoense Cínthia
respondem ao conceito e ao partido
Vieria:
arquitetônico.
Em toda esquina tem um espeti-
Dessa forma, o conceito é a intenção
nho/Um bar, uma cadeira na cal-
abstrata que o projetista pretende pas-
çada, uma prosa com o vizinho/A
sar com sua obra, enquanto que o par-
gente gosta de gente, Caicó nasceu
tido arquitetônico consiste nas deci-
para acolher/Não importa se é feve-
sões projetuais que serão aplicadas
reiro ou julho (11-14)
para alcançar o objetivo do conceito.
Nessa perspectiva, o partido arquitetô-
Tendo isso explicado, o conceito de
nico adotado, dada a situação das con-
projeto foi intitulado “estórias de cal-
dicionantes de terreno e tipo de edifi-
çada”, que pretende transportar para o
cação, além do clima, foi o uso do pátio
projeto aspectos culturais e sociais que
interno.
giram em torno de uma atividade
Acredita-se que este elemento pode
muito comum da região Seridó.
fazer as vezes da calçada: 1) conferindo
O povo caicoense, assim como de di-
o conforto ambiental que intrinseca-
versos municípios do interior do es-
mente atraem as pessoas para suas cal-
tado, conservam até os dias de hoje o
çadas em certa hora do dia; 2)
hábito de, ao final do dia, colocar sua cadeira na calçada para prosear com JACOBS (2000) propõe que os olhos da rua são as pessoas que, consciente ou inconscientemente, utilizam o espaço público e/ou costumam contemplá-los de suas casas, exercendo uma vigilância natural sobre o que ali acontece. 49
80
dispondo de um espaço de convivência
ESTUDOS DE IMPLANTAÇÃO
entre vizinhos; 3) trazendo para dentro
A
do edifício/terreno características próprias do espaço urbano.
pós definidos conceito e partido arquitetônico para o projeto, estes vão nortear a im-
plantação do edifício no lote, em busca de estabelecer as relações de convívio, lazer e circulação. O terreno de projeto está localizado a aproximadamente 300 metro do campus do CERES, na Rua Poeta Francisco Fernandes no bairro do Penedo, configurando um trajeto de 4 minutos a pé. A proximidade ao campus universitá-
Fig. 78: Pátio interno do conjunto habitacional Rincão por Hector Vigliecca, disponível em: O Terceiro Território - Habitação Coletiva e Cidade (Vigliecca & Associados)
rio foi fator primordial na escolha do terreno, visto que a universidade ainda não disponibiliza o sistema de transporte circular na cidade, e o principal
Fig. 203: Pátio interno do conjunto habitacional Rincão por Hector Vigliecca, disponível em: O Terceiro Território - Habitação Coletiva e Cidade (Vigliecca & Associados)
meio de locomoção continua sendo a pé ou moto. Além da localização, as condições físicas do terreno e suas di-
Fig. 204: Pátio interno do conjunto habitacional Rincão por Hector Vigliecca, disponível em: O Terceiro Território - Habitação Coletiva e Cidade (Vigliecca & Associados)
mensões se tornaram favoráveis à escolha. O terreno possui 2736,00 m², sendo re-
Fig. 205: Pátio interno do conjunto habitacional Rincão por Hector Vigliecca, disponível em: O Terceiro Território - Habitação Coletiva e Cidade (Vigliecca & Associados)
sultado de uma proposta de remembramento de 7 lotes, tendo sua testada 84 m de largura, e sua profundidade predominante igual a 33 m, diminuindo em um trecho para 30 m. O terreno possui um desnível de apenas 1 metro no seu perfil natural, no sentido longitudinal do terreno ( figura 37). De acordo com Paulo Marcos
81
Fig.79: Dimensões do terreno, disponível em: acervo da autora
Paiva de Oliveira50, quanto mais plano
edificações residenciais de até dois pa-
é terreno, Fig.o 207: Dimensões melhor do terreno, para disponível em : acervo da autora
vimentos.
a dissipação
do calor nos climas quentes e secos.
Quanto a orientação do terreno, ele
Por isso, o terreno foi considerado Fig. 208: Dimensões terreno, plano para a do implantação disponível em : acervo da autora
está posicionado inclinado 45º para
do projeto.
noroeste em relação ao norte. Dessa
A vegetação existente no terreno atu-
forma, fachadas maiores são as que re-
almente é rasteira e arbustiva, o solo Fig. 209: Dimensões do terreno,
cebem mais horas de insolação.
disponível em : acervo da autorarochas. não possui grandes
A fachada nordeste no verão recebe
O entorno caracterizado pelo bairro do
sol de 6:00h as 11:30h enquanto a fa-
Penedo, é caracterizado por possuir
chada sudoeste recebe no restante do
grande concentração de concessioná-
dia, das 11:30 até o sol se pôr. Já no in-
ria de veículos e de clínicas particulares,
verno, a fachada nordeste recebe sol
além de diversas instituições como o 1º
por mais tempo, das 6:00h até 13:30h,
Batalhão de Engenharia de Constru-
enquanto a fachada sudoeste recebe o
ção, a Central do Cidadão, A CAERN, o
sol da tarde, das 13:30 até o fim do dia.
Centro Educacional José Augusto, o
Quanto à ventilação, os vento predo-
Clube dos Oficiais do Exército, Procu-
minantes para o município de Caicó
radoria Geral da República, Instituto de
para o ano todo é proveniente em sua
Previdência do Estado, e o CERES,
maior parte da direção leste, variando
como já foi dito anteriormente. Já o en-
em alguns períodos do ano e horários
torno imediato do lote é composto por
do dia. Na figura 39 está representada
OLIVEIRA, P. M. P. . Metodologia do Desenho Urbano considerando os Atributos Bioclimatizantes da Forma Urbana e permitinado o controle do Conforto Ambiental, do Consumo energético e dos Impactos Ambientais. In: Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, São Paulo, 1993.. 50
82
a ventilação predominante para o
Esses motivos impulsionaram a tenta-
turno da noite – período em que a ven-
tiva de uma implantação dos edifícios
tilação é desejada – para todos os me-
de forma transversal ao terreno. Para
ses do ano.
não comprometer o adensamento, seriam necessárias mais que duas lâmi-
Tendo em vista as características físico-
nas, e dessa forma as fachadas maiores
ambientais do sítio, os primeiros estu-
dos prédios estariam protegidas da ra-
dos de implantação foram feitos, bus-
diação solar.
cando aliar o partido arquitetônico às condicionantes.
Com o pré-dimensionamento, chegou-se a 4 blocos paralelos, e conse-
Num primeiro estudo, os edifícios im-
quentemente, 3 pátios internos.
plantados em duas fitas paralelas e dispostas longitudinalmente no terreno,
As fachadas que invariavelmente fica-
voltadas para um pátio central.
ram dispostas na direção dos raios solares, terão seu sombreamento e isola-
Dessa forma, o pátio estaria sombre-
mento térmico garantidos por estraté-
ado pelos prédios em boa parte do dia,
gias de conforto apresentadas ao final
e uma lâmina faria sombra na outra em
do trabalho;
alguns períodos, hora pela tarde, hora pela manha. Entretanto, nessa implan-
Apesar de ser uma habitação coletiva
tação, as unidade habitacionais deve-
de caráter privado, é interessante que
riam ter uma profundidade bastante
o pátio seja convidativo, e na implan-
reduzida para se acomodar à profun-
tação transversal, os pátios podem ser
didade do terreno e seus recuos obri-
vistos desde a rua.
gatórios. Ainda, as fachadas maiores das lâminas que estariam voltadas pra nordeste e sudoeste, estariam recebendo sol grande parte do dia. A lâmina localizada na face nordeste do lote estaria fazendo uma barreira de ventilação na outra lâmina, cujas unidades estariam com a ventilação noturna comprometida. Além disso, apesar de o partido arquitetônico ser o pátio interno, o fato de o edifício dar as costas à rua não estava sendo favorável para o conceito.
83
Fig. 80: Topografia original do terreno, adaptado do Google Earth
Fig. 215: Topografia original do terreno, adaptado do Google Earth
Fig. 216: Topografia original do terreno, adaptado do Google Earth
Fig. 217: Topografia original do terreno, adaptado do Google Earth
Fig. 81: Carta solar de Caicó sobreposta ao terreno, adaptado de www.sunearthtools.com
Fig. 219:Carta solar de Caicó sobreposta ao terreno, adaptado de www.sunearthtools.com
Fig. 220:Carta solar de Caicó sobreposta ao terreno, adaptado de www.sunearthtools.com
Fig. 221:Carta solar de Caicó sobreposta ao terreno, adaptado de www.sunearthtools.com
Fig. 82: Ventos predominantes de Caicó, disponível em Weather Autodesk
84 Fig. 211: Ventos predominantes de Caicó, disponível em Weather Autodesk
Fig. 83: Estudos de implantação, disponível em: acervo da autora.
85 Fig. 223: Estudos de implantação, disponível em: acervo da autora.
EVOLUÇÃO DA TIPOLOGIA
A
tipologia edilícia começou a ser desenvolvida em conjunto com a implantação. Já se tinha
em mente o programa de necessidades, e com isso, a premissa de que haveriam duas tipologias habitacionais, sendo uma individual e outra coletiva (dois quartos). O primeiro ponto a ser definido, foi a forma de agrupamento das unidades, que por uma diretriz bioclimática, definiu a geminação como melhor opção. Inicialmente,
tentou-se
desenvolver
formatos que incorporassem o pátio ao interior das edificações, podendo atender a duas unidades. As formas testadas forma aquelas que pudessem manter um padrão de fachada quando agrupadas, porém que pudessem ser fracionadas dando origem aos tipos menores (retangulares, em “C”, em “L”, e espinha de peixe). Em um dado momento, optou-se pelo encaixe de uma unidade em forma de L e outra em forma de quadrado, onde elas corresponderiam as unidades maiores e menores respectivamente, com um pequeno pátio entre elas. Entretanto, após evoluir esta ideia a nível de zoneamento e pré-dimensionamento, percebeu-se que essa tipologia só comportava até o 1º pavimento, pela
Fig. 86: Primeiros estudo tipológicos,
configuração de acessos e circulações.
disponível em: acervo da autora.
86 Fig. 227: Primeiros estudo tipológicos, disponível em: acervo da autora.
A partir de então, essa tipologia foi descartada. Em seguida, desenvolveu-se uma opção partindo da circulação vertical, que estariam voltadas para o grande pátio central, dando acesso a blocos de 3 pavimentos, sendo uma escada no centro de dois blocos. Essa tipologia atendia ao número de pavimentos desejados e a forma atendia a flexibilidade de tornar duas unidades pequenas em uma maior, quando necessário. Entretanto a volumetria não era satisfatória, e a quantidade de escadas estava muito alto em relação ao número de unidades habitacionais. A partir de então, foi definido que iriase tirar partido das circulações, para promover espaços de convívio acidentais. Para isso, essas escadas foram locadas no espaço que deve ser o foco de convívio do projeto, o pátio. Livrando os blocos das caixas de escada, eles ganham espaço extra para acomodar habitações, e estas habitações podem ter dimensões confortáveis. Além disso, trazendo as circulações verticais para o pátio, elas ganham destaque, tanto na estética do edifício, como na sua utilização, que como foi indicado na bibliografia referencial sobre moradias universitárias, os espaços
Fig. 87: Opção de tipologia descartada, diponível em: acervo da autora.
87 Fig. 231: Opção de tipologia descartada, diponível em: acervo da autora.
Fig. 88: Primeiro teste volumétrico da tipologia final, disponível em: acervo da autora.
Fig. 239: Primeiro teste volumétrico da tipologia final, disponível em: acervo da autora.
Fig. 240: Primeiro teste volumétrico da tipologia final, disponível em: acervo da autora.
Fig. 241: Primeiro teste volumétrico da tipologia final, disponível em: acervo da autora. Fig. 89: Plano de massa da tipologia final, disponível em: acervo da aurora.
Fig. 235: Plano de massa da tipologia final, disponível em: acervo da aurora.
Fig. 236: Plano de massa da tipologia final, disponível em: acervo da aurora.
Fig. 237: Plano de massa da tipologia final, disponível em: acervo da aurora.
comuns desse tipo de habitação tam-
externas comum a 2 blocos. Uma co-
bém são aqueles que constituem o
bertura única faz a ligação entre eles,
percurso entre o acesso ao edifício e o
além de sombrear os pátios, privilegi-
interior do dormitório.
ando o seu uso.
Potencializar o uso dessas circulações através de estratégias projetuais cria a possibilidade de utilização desse equipamentos como aglutinador social. A tipologia final então, caracteriza-se por serem 4 blocos paralelos, com habitações geminadas, e com circulações 88
ZONEAMENTO
O
zoneamento da habitação foi
pensada de forma a dar maior privacidade e conforto aos moradores. Dessa forma, os ambientes foram agrupados em dois critérios: áreas soci-
ais, áreas íntimas, e áreas de serviços. Mais uma vez é importante ressaltar que as áreas de alguns ambientes possuem usos sobrepostos, e por isso podem participar de zonas que normalmente não se encaixam. Um morador que leva um colega pra estudar em seu dormitório, está nesse momento utilizando o ambiente que comumente é da área íntima, como uma zona social. Da mesma forma, se outro morador convida alguns amigos para cozinhar, estão utilizando a cozinha, geralmente zona de serviço, como uma área social. Por isso, o espaço está frequentemente se adaptando a diferentes usos, e o zoneamento aqui proposto é feito com base na situação mais generalizada do cotidiano. Dessa forma, o dormitório e as instalações
sanitárias
foram
classificadas
como áreas íntimas, a sala de estar e jantar caracterizam-se como áreas sociais, e a cozinha e lavanderia constituem as zonas de serviço, como mostra o esquema gráfico da figura 45.
89
Fig. 90: Zoneamento da unidadehabitacional, disponĂvel em: acervo da autora
90 Fig. 243: Zoneamento da unidadehabitacional, disponĂvel em: acervo da autora
Fig. 91: Zoneamento da implantação, disponível em: acervo da autora
A nível do conjunto habitacional, o zoneamento classifica as áreas como pri-
Fig. 247: Zoneamento da implantação, disponível em: acervo da autora
vativas, comuns, de circulação, e de serviços. As áreas privativas são compostas pelas unidades habitacionais, as
Fig. 248: Zoneamento da implantação, disponível em: acervo da autora
comuns, consistem em todos os pátios, passeios, e estacionamentos, além das áreas de lazer criadas no pavimento
Fig. 249: Zoneamento da implantação, disponível em: acervo da autora
térreo, ligando os 3 pátios. Como áreas de serviço, o projeto conta com casa de lixo, casa de gás, banheiro para funcionários e o estacionamento de carros e motos. As áreas de circulação são compostas por circulação horizontal e vertical, representadas pelas escadas , passarelas e corredores.
91
PRÉ-DIMENSIONAMENTO
O
Com esses critérios, e em virtude dos vãos para o sistema estrutural, che-
pré-dimensionamento
gou-se a dimensão base de 3,00 m
dos
para largura total da unidade menor, e
ambientes e das unidades ha-
consequentemente 6,00 m para o total
bitacionais como um todo le-
da unidade maior, considerando as pa-
vou em consideração alguns critérios. O primeiro deles, foi o código de obras
redes como zonas mortas.
do município de Caicó, que indica as
A partir dessas medidas e das áreas de-
dimensões e áreas mínimas dos com-
sejadas (figura 47), foram se configu-
partimento.
rando as outras dimensõs dos ambien-
Em conjunto com ele, foi pensado um
tes e do edifício com um todo.
espaçamento entre as paredes estruturais de taipa de pilão, de forma que o
PRÉ-DIMENSIONAMENTO
vão entre elas pudesse, hora abrigar um apartamento tipo maior, e hora
AMBIENTE
acomodar 2 unidades habitacionais do
ÁREA PREVISTA (m²) U.H. 01
tipo menor com divisão em painéis de
DORMITÓRIO COZINHA BANHEIRO VARANDA TOTAL
drywall. Essa lógica tem o objetivo de conceber um projeto racional, enquadrando-se
9,00 9,00 2,88 3,00 23,88
no contexto de mecanização dos mé-
U.H. 02
todos para a construção da taipa. Com
DORMITÓRIO 9,00 BANHEIRO 2,88 COZINHA 9,00 SALA DE ESTAR 9,00 LAVANDERIA 3,00 VARANDA 3,00 TOTAL 35,88 ÁREAS COMUNS LAZER 100,00 CASA DE LIXO 10,00 CASA DE GÁS 10,00 BWC SERVIÇO 2,88 TOTAL 122,88 ESTACIONAMENTO VAGAS P/ CARRO 10% DA LOTAÇÃO VAGAS P/ MOTO 20% DA LOTAÇÃO
uma estrutura de taipa de se repete, fica favorável a utilização e reutilização de formas industrializadas com dimensões padronizadas. O terceiro fator para o dimensionamento foi a implantação dos edifícios no terreno, isso porque o terreno possui uma profundidade relativamente pequena (33 metros) e as unidades foram distribuídas em fileira, geminadas nessa direção, portanto, o ideal é que elas tivesse largura reduzida, para que coubessem um maior número de unidades por fileira.
Fig. 92: Pré-dimensionamento do projeto, disponível em: acervo da autora.
92 Fig. 251: Pré-dimensionamento do projeto, disponível em: acervo da autora.
Sabendo das limitações orçamentárias no público alvo, o pré-dimensionamento do estacionamento foi feito caracterizando a edificação como de interesse social, já que nesse tipo de projeto não é obrigatória a previsão de 1 vaga vagas para estacionamento para cada habitação. Além do fator econômico, levou-se em consideração o contexto regional, onde o principal meio de locomoção privado do público alvo é a moto. Dessa forma, ponderou-se que dentre os moradores, 10% possuiriam carro, e 20% possuiriam moto, e 70% não possuiria veículo particular. Após definido o número de unidades tipo 01 e tipo 02, extraiu-se a lotação da edificação, que gira em torno de 92 pessoas (a lotação máxima configurase quando o apartamento tipo 02 abriga um casal com 1 filho, e nesse caso a criança não possui veículo, e por isso, para o cálculo de vagas, contabilizou-se apenas 2 pessoas por unidade). Com esse número, o previsto seriam aproximadamente 10 vagas de carro e 19 vagas de moto.
93
O PRODUTO: VIVENDA JOÃO DE BARRO
V
ivenda João de Barro consiste no projeto de uma habitação coletiva para público universi-
tário, localizada em Caicó, no Seridó do Rio Grande do Norte. O nome do projeto faz alusão ao sistema construtivo adotado, a taipa de pilão. O edifício se configura como 4 blocos de 3 pavimentos, intercalados por pátios jardins e unidos por escadas, passarelas e coberturas. O conjunto oferece duas tipologias habitacionais, sendo 44 apartamento de aproximadamente 30m² e 24 apartamento de aproximadamente 60m². Nesse capítulo, será apresentada uma síntese técnica do projeto, onde são compiladas todas as justificativas para as escolhas arquitetônicas, desde a estrutura do edifício até as soluções de esquadrias, fazendo uma abordagem das principais soluções adotadas para o conforto ambiental, e por fim, o resultado volumétrico representado maquete digital do projeto.
95
Fig. 93: Plantas baixas - Vivenda João de Barro, disponível em: acervo da autora.
96 Fig. 255: Plantas baixas - Vivenda João de Barro, disponível em: acervo da autora.
Fig. 262: Perspectiva volumétrica do projeto, disponível em: acervo da autora.
Fig. 263: Perspectiva volumétrica do projeto, disponível em: acervo da autora. Fig. 94: Perspectiva externa 1, disponível em: acervo da autora. Fig. 264: Perspectiva volumétrica do projeto, disponível em: acervo da autora. Fig. 259: Perspectiva externa 1, disponível em: acervo da autora.
97
98
Fig. 95: Perspectiva externa 2,
disponĂvel em: acervo da autora.
99 Fig. 267: Perspectiva externa 2,
disponĂvel em: acervo da autora.
100
Fig. 96: Perspectiva externa 3, disponĂvel em: acervo da autora.
101 Fig. 271: Perspectiva externa 3, disponĂvel em: acervo da autora.
102
Fig. 97: Perspectiva do pátio central, disponível em: acervo da autora.
103 Fig. 275: Perspectiva do pátio central, disponível em: acervo da autora.
8,6
104
Fig. 98: Perspectiva das circulações, disponível em: acervo da autora.
105 Fig. 279: Perspectiva das circulações, disponível em: acervo da autora.
106
ESTRUTURA
O
sistema construtivo adotado
foi a taipa de pilão, técnica que utiliza terra crua compri-
mida em taipais, dando origem à paredes monolíticas. As paredes, que também são estruturais, foram desenhadas com 30cm de espessura, e sua mistura gira em torno 30% de argila e 70% de areia, mas para indicar o traço exato, seria necessário um estudo aprofundado do solo local, e testes laboratoriais. Pensando na racionalização do processo construtivo, tomou-se como base os métodos adotados pela empresa Taipal, empresa especializada que atual no mercado brasileiro desenvolvendo tecnologia e aperfeiçoando o uso dos recursos naturais na construção com terra. A empresa trabalha com um sistema de formas metálicas auto nivelantes que permitem a execução de paredes retas,
Fig.99: Taipal metálico a ser utilizado, disponível em:www.taipal.com.br
em “L” e em “T”, em qualquer comprimento especificado em projeto. O uso
compactação é feita com um compac-
desse tipo de taipal garante ótimo aca-
Fig. 283: Taipal metálico a ser utilitador pneumático próprio zado, disponível em:www.taipal.com.br
bamento, ideal para o projeto, que de-
criado pela Chicago Pneumatics (Ram-
seja uma estrutura aparente. Para pre-
med Earth Tamper). Com o uso desses
paro e homogeneização do solo, utili-
Fig. 284: Taipal metálico a ser utilizado, equipamentos disponível em:www.taipal.com.br por funcionários
zam um misturados planetário. As cor-
capaci-
tados, atinge-se uma produção de
reções e os estabilizantes necessários
aproximadamente 15 m² por dia para
contam com as análises feitas no Labo-
Fig. 285: Taipal metálico a ser utilizado, disponível em:www.taipal.com.br
ratório de solos da ESALQ/USP 51. A 51
para Taipa
Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz – Universidade de São Paulo.
107
paredes de 30 cm de espessura. Du-
transmitir as cargas das lajes uniforme-
rante a obra executam-se corpos de
mente para a parede, evitando o cisa-
prova que são testados no Laboratório
lhamento da estrutura de terra em
de ensaios não destrutivos da FEA-
ponto críticos. O projeto indica que
GRI/UNICAMP. Os parâmetros míni-
essa estrutura deve ter 10 cm de altura,
mos que trabalham são 3 Mpa de re-
e 20cm de largura, e deve ser feita de
sistência a compressão e 8.000 Mpa
concreto armado, como mostra a fi-
52
para o módulo de elasticidade .
gura 60.
Como em qualquer construção com
A opção de laje para o projeto foi a laje
terra crua, a taipa de pilão precisa de
treliçada com lajotas de EPS, aplicadas
uma fundação impermeabilizada, que
de forma unidirecional, perpendicular
fique acima do solo. A opção adotada
às paredes estruturais, na direção do
no projeto, foram as sapatas corridas,
menor vão. Essa opção foi escolhida
que permitem uma distribuição de car-
por ser uma estrutura mais leve, acar-
gas uniformes no solo e dificultam a ca-
retando o alívio dos esforços e um me-
pilaridade . As sapatas corridas podem
lhor aproveitamento do aço e do con-
ser feitas com uma mistura de concreto
creto. Outro fator contribuinte para a
e pedras, também conhecida como
escolha, foi a eficiência no conforto tér-
concreto ciclópico. Indica-se para o
mico que lajotas de EPS conferem à
projeto que a sapata tenha 60 cm de
edificação, já que possuem um baixo
largura e 1 m de profundidade, sendo
coeficiente de condutividade térmica.
que o contrapiso do interior da edifica-
Além de tudo, a produtividade com o
ção seja nivelado com a sapata, de
uso de laje de EPS pode ser até 10 ve-
forma que ela não seja vista, enquanto
zes maior do que de uma laje com la-
o contrapiso externo seja feito 15cm
jotas cerâmicas, pela diminuição do
mais baixo, evitando o contato direto
tempo de carga e descarga, de monta-
da parede de terra com o piso, como
gem, e de obra como um todo. As es-
mostra a figura 59.
pecificações técnicas foram adotadas seguindo o manual do fabricante Iso-
O sistema de taipa é autoportante, e
plast, que indica uma altura de laje total
não necessita de vigas ou pilares, pois
igual a 13 centímetros. O pé-esquerdo
próprias paredes funcionam como pa-
adotado foi de 3,06 m. (figura 57).
redes estruturais, distribuindo as cargas uniformemente. Entretanto, é indicada a previsão uma cinta de amarração na parte superior das paredes taipa para
Informação disponível em: www.sustentarqui.com.br/produtos/sistema-construtivo-de-taipa-depilao/ 52
108
A escadas possuem estrutura indepen-
Também da mesma madeira, a estru-
dente, sendo ela de madeira Jurema
tura que sustenta a cobertura consiste
(Mimosa tenuiflora), uma madeira pe-
em uma composição de treliças planas
sada (densidade 1,12g/cm³), de alta re-
distribuídas nas duas direções. As treli-
sistência mecânica, grande durabili-
ças estão dispostas a cada 4,20m de
dade natural, e com cor castanho-
distância de eixo a eixo, sendo sua es-
avermelhado-escuro e cerne amare-
pessura 70 mm e sua altura 1,20 metros
lado . Essa espécie é originária da ve-
(figura 58).
getação da caatinga , e por isso, encontrada facilmente na região53. Fig. 100: Dimensões para a laje, disponível em: www.isoplast.ind.br
Fig. 287: Dimensões para a laje, disponível em: www.isoplast.ind.br
Fig. 288: Dimensões para a laje, disponível em: www.isoplast.ind.br
Fig. 289: Dimensões para a laje, disponível em: www.isoplast.ind.br
Fig.101: dimensionamento da treliça, disponível em: acervo da autora.
MAIA,G.N. Caatinga : árvores e arbustos e suas utilidades. São Paulo : D&Z Computação Gráfica e Editora, 2004. Fig. 291: dimensionamento da treliça, 53
disponível em: acervo da autora.
Fig. 292: dimensionamento da treliça, disponível em: acervo da autora.
109
Fig. 294: Detalhe da fundação, disponível em: acervo da autora.
Fig. 295: Detalhe da fundação, disponível em: acervo da autora.
Fig. 296: Detalhe da fundação, disponível em: acervo da autora.
Fig. 297: Detalhe da fundação, disponível em: acervo da autora.
Fig. 102: Detalhe da cinta de amarração, disponível em: acervo da autora.
110
Fig. 299: Detalhe da cinta de amarração, disponível em: acervo da autora.
ENVOLTÓRIA
A
Fig. 103: Pingadeira em alumínio, disponível em: www.jointec.pt
envoltória da edificação está dividida em 3 partes: vedações
Fig. 303: Pingadeira em alumínio, disponível em: www.jointec.pt
externas, vedações internas e
cobertura. Fig. 304: Pingadeira em alumínio, disponível em: www.jointec.pt
As vedações externas são feitas de taipa de pilão, e já foram abordadas como sistema estrutural no tópico an-
Fig. 305: Pingadeira em alumínio, disponível em: www.jointec.pt
terior. Em relação à elas, vale a pena acrescentar alguns cuidados especiais que o projeto indica para a conservação das paredes de taipa. Em primeiro lugar, é a exigência de uma pintura selante na face externa das paredes, até a altura de 60 cm do piso, contornando tanto todo o pavimento térreo, como também as faces externas de áreas de corredores e varandas. Essa pintura é uma
de drywall, painéis de gesso pré-fabri-
estratégia de impermeabilização e pro-
cados. A escolha desse sistema foi pen-
teção contra a umidade, e deve ser re-
sando na racionalização, rapidez, flexi-
feita periodicamente como forma de
bilidade e ganho espacial. Além disso,
manutenção e prevenção.
pela possibilidade de incorporar as ins-
Outro cuidado – também com o obje-
talações elétricas e hidráulicas facilmente, permitindo o acesso e manu-
tivo de proteger o barro da ação da
tenção. A parede de terra rejeita tubu-
água – é a previsão de pingadeiras
lações de instalações, tanto pela uni-
para bordos de peitoris e varandas. O
dade quanto pela diminuição da resis-
perfil e alumínio da marca Jointec já vem pronto para ser encaixado entre a
tência mecânica.
estrutura e o revestimento, e as peças
Dessa forma, foi adotado o sistema de
chegam até 2,70 metros de largura (Fi-
paredes de gesso da Knauf, com 3 va-
gura 61).
riações: nas divisões internas de uma mesma habitação, serão adotadas pa-
As vedações ou divisórias internas dos
redes com espessura total de 100 mm,
apartamentos serão feitas com sistema
sendo 70 mm referente aos montantes 111
metálicos, e 2 x 15 mm referente às chapas de gesso acartonado comum (ST). Para paredes que dividem duas unidades, serão utilizados montantes de 480mm e 4 chapas de 15mm, conferindo uma espessura total de 108 mm. Nas áreas molhadas e paredes que comportem instalações hidráulicas, serão utilizadas as mesmas dimensões especificadas para as chapas ST, entretanto, fazendo uso da chapa resistente a umidade (RU), conhecida como chapa verde. O terceiro quesito de envoltória, a cobertura, foi escolhida pelo fato de ser um componente leve, que pode ser usado em grandes vãos, e pelas suas propriedades de isolamento térmico. O material escolhido foi a telha sanduíche da Eternit, que possui espessura de 67 mm, sendo 30mm de espuma de poliuretano expandido; e permite inclinação mínima de 5%. (figura 55).
Fig. 105: Telha sanduíche da Eternit, disponível em: www.eternit.com.br Fig. 104: Detalhes dos tipos de drywall a serem empregados, disponível em: www.knauf.com.br
Fig. 307: Telha sanduíche da Eternit, disponível em: www.eternit.com.br
Fig. 311: Detalhes dos tipos de drywall a serem empregados, disponível em: www.knauf.com.br
Fig. 308: Telha sanduíche da Eternit, disponível em: www.eternit.com.br
Fig. 309: Telha sanduíche da Eternit, disponível em: www.eternit.com.br
Fig. 312: Detalhes dos tipos de drywall a serem empregados, disponível em: www.knauf.com.br
112
Fig. 313: Detalhes dos tipos de drywall a serem empregados, disponível em: www.knauf.com.br
SOLUÇÕES PARA A QUALIDADE AMBIENTAL
mico. Isso permite que o calor acumu-
A
peratura já bem mais amena, pela alta
lado durante o dia só esquente as paredes na parte da noite, quando a tem-
qualidade ambiental do edifí-
amplitude térmica característica do
cio
preocupação
clima. Outro fator foi o planejamento e
desde o princípio da concep-
definição da orientação do edifício.
ção arquitetônica. A escolha do mate-
Como já foi abordado no tópico sobre
rial da envoltória é uma das principais
estudo de implantação, os edifícios fo-
soluções adotadas, pois confere ao
ram orientados paralelo ao terreno,
edifício um alto índice de isolamento e
com uma inclinação de 45º para nor-
conservação da temperatura interna
deste em relação ao norte.
foi
uma
graças a propriedade de atraso tér-
Fig. 106: Cartas solares para as 4 fachadas principais, elaborado pela autora com o software SunTool.
113 Fig. 315: Cartas solares para as 4 fachadas principais, elaborado pela autora com o software SunTool.
Através da análise das cartas solares
Fig. 107: Estudo de sombreamento através do uso de varandas (fachada noroeste), disponível em: acervo da autora.
feitas para cada fachada, nota-se que a fachadas A e B (nordeste e sudeste respectivamente) recebem sol na parte da
Fig. 319: Estudo de sombreamento através do uso de varandas (fachada noroeste), disponível em: acervo da autora.
manhã, sendo que no inverno, a fachada A fica exposta até 15:00h, enquanto a B, somente até as 10:00h da manhã. As fachadas C e D (noroeste e
Fig. 320: Estudo de sombreamento através do uso de varandas (fachada noroeste), disponível em: acervo da autora.
sudoeste) recebem sol em sua maioria na parte da tarde, entretendo, no inverno, a fachada C está exposta quase
Fig. 321: Estudo de sombreamento através do uso de varandas (fachada noroeste), disponível em: acervo da autora.
o dia inteiro, a partir das 10h da manhã. Já a fachada D, passa por essa situação no verão, começando a levar sol a partir das 11h. Como os 4 edifícios são separados por pátios, e a distância entre os prédios é
de tijolos de adobe, formando um co-
de 6,20 m, as aberturas foram dispos-
bogó, que também ajuda a filtrar a luz
tas nas fachadas noroeste e sudeste de
solar.
cada bloco, de forma que as aberturas
A opção por uma cobertura única li-
das fachadas internas que estão volta-
gando os 4 blocos foi pensada no sen-
das para os pátios ficam protegidas da
tido de tornar os pátios mais atrativo, já
radiação.
que eles configuram-se como microcli-
As fachadas nordeste e sudoeste são
mas dentro do lote, associados ao uso
praticamente cegas, possuindo apenas
da vegetação.
pequenas aberturas de janelas de ba-
Os grandes beirais adotados som-
nheiros.
breiam as fachadas além de protegem a parede de taipa contra intempéries.
As fachadas externas noroeste e sudeste não são sombreadas por outros
Quanto aos aspectos de ventilação,
edifícios, e logo estão sujeitas a maior
sabe-se que os ventos predominantes
tempo de insolação. Pensando nisso,
são oriundos da direção leste na mé-
foram as varandas foram incorporadas
dia anual. Entretanto, na rosa dos
como elemento de sombreamento da
ventos A, que repreenta o período da
unidade habitacional.
manhã (mmédia anual), a direção do vento provem de sudeste.
Além disso, foram incorporados como elemento de fachada uma composição 114
Fig. 108: Rosa dos ventos para 4 situações, adaptade do software Weather Tool
Fig. 323: Rosa dos ventos para 4 situações, adaptade do software Weather Tool
Fig. 324: Rosa dos ventos para 4 situações, adaptade do software Weather Tool
Fig. 325: Rosa dos ventos para 4 situações, adaptade do software Weather Tool
Para o clima semiárido, os ventos são
móveis, para que o usuário possa filtrar
desejáveis na parte da noite, e nesse
a entrada de calor e de vento na uni-
horário, tanto a média anual como a
dade habitacional.
noite de verão (Figura 67 D), ou seja,
As unidades que estão localizadas na
noites em que mais se deseja a ventila-
parte posterior à direção principal do
ção, os ventos incidem a partir da dire-
vento tiveram a ventilação natural
ção leste.
comprometida, devido à distância en-
Os diagramas B e C representam a mé-
tre os blocos, que não é suficiente para
dia anual para o começo da noite – 18h
que o vento atinja essas unidades. Para
às 22h – e para a madrugada – 22h às
isso, incorporou-se ao projeto torres
6h. Dessa forma, reconheceu-se a ne-
captadoras de ventilação.
cessidade de controlar a ventilação
O uso de captadores de vento (figura
para esse clima, já que – como foi dito
59) é uma das estratégias existentes
nas diretrizes bioclimáticas para Caicó
para incrementar a ventilação natural
– é desejável uma ventilação seletiva.
em edificações em climas quentes, e
Como as grande aberturas das unida-
consistem em aberturas situadas acima
des são as portas que dão para as va-
do nível da cobertura.
randas, viu-se a necessidade de propor esquadrias com sistema de venezianas 115
Fig. 109: Fluxos esquemáticos de ventilação, disponível em: acervo da autora.
Fig. 111: Esquema de ventilação por captadores de vento, disponível em: acervo da autora.
Fig. 110: Venezianas e cobogó como estratégia de sombreamento, disponível em: acervo da autora.
116 Fig. 328: Venezianas e cobogó como estratégia de sombreamento, disponível em: acervo da autora.
Fig. 332: Esquema de ventilação por captadores de vento, disponível em: acervo da autora.
Além dos captadores, outra decisão projetual que favorece a permeabilidade do vento no interior dos pátios e consequentemente nas fachadas dos edifícios foi a subtração de unidades habitacionais do piso térreo, nos blocos centrais. Essa configuração, além de promover espaços de convivência semiabertos, provoca um efeito de direcionamento do fluxo de ar por diferença de pressão, também conhecido como efeito pilotis Sabendo que o clima quente e seco, mais do que os outros exigem um pédireito alto, para que o vento quente acumulado na parte superior do ambiente não interfira na zona de uso do usuário. Pensando nisso, adotou-se o pé-esquerdo de 3,06m para projeto, que com a espessura da laje de 13cm, resulta um pé-direito de 2,93m (sem forro). Entende-se a necessidade de controlar a ventilação para esse clima, já que – como foi dito nas diretrizes bioclimáticas para Caicó – é desejável uma ventilação seletiva. Como as grande aberturas das unidades são as portas que dão para as varandas, viu-se a necessidade de propor esquadrias com sistema de venezianas móveis, para que o usuário possa filtrar a entrada de calor e de vento na unidade habitacional.
117
CONSIDERAÇÕES FINAIS
P
ara projetar aliando aspectos socioeconômicos e estéticos à qualidade ambiental, devem-se fazer leituras e observações das condicionantes. Entretanto, certas
decisões na arquitetura são responsabilidade do projetista. Cabe à ele perceber e considerar o potencial de determinadas ideias ou valores para a concepção de um projeto, para que este transmita através de sua conformação visual ou de suas relações espaciais as intenções comunicativas do arquiteto. A quebra dos paradigmas culturais em relação ao construir com terra exige a reinterpretação dessa técnica, e divulgação através da educação patrimonial e sustentável, ou seja, conscientização da sociedade sobre as vantagens da arquitetura de terra. Alterar esse quadro de rejeição cultural das construções em terra exige também, o desenvolvimento técnico-científico dos procedimentos
construtivos,
que agreguem
benefícios
econômicos e interesse de mercado. Acredita-se que no que tange esses aspectos, o presente trabalho contribuiu para a aceitação e para um novo olhar sobre a arquitetura de terra (intenção comunicativa), através da elaboração de um projeto (meio de comunicação) adequado ao clima, público e condicionantes em geral(fruto da leitura e observação do contexto); de forma que pode-se considerar que os objetivos do trabalho foram atingidos.
119
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
ANDRADE, M.R. et SOUZA, M.A.A. (1981). Manual do projeto de habitação popular. Parâmetros para sua elaboração e avaliação. Recife. SECRETARIA DE HABITAÇÃO PERNAMBUCO. ARAÚJO, Fernanda Santos Gentil; MIGUEL, Jair Diniz. Arquitetura rural e cultura sertaneja no rio grande do norte. IV Encontro de História da Arte. Unicamp. Campinas. 2008. ARAÚJO, Jacqueline Pereira de. Uma habitação em Caicó: projeto de residência bioclimática unifamiliar. 1997. 74f. Trabalho Final de Graduação - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 1997. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência às edificações, mobiliário e equipamento urbano. NBR 9050. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Desempenho térmico das edificações. NBR 15220. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. BALTAZAR, Ana Paula; KAPP, Silke. MOM. MORAR DE OUTRAS
MANEIRAS.
Disponível
<http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/index.html>.
em: Acesso
em: 30 abr. 2015. BARBOSA, N. C. S. Casas de Campus. In: Rascunho Digital. Salvador: Faculdade de Educação da UFBA, 2003. Disponível em <http://www.rascunhodigital.faced.ufba.br/> Acessado em agosto de 2015. BARBOSA, N. C. S. Casas de Campus. In: Rascunho Digital. Salvador: Faculdade de Educação da UFBA, 2003.
121
BAYER, Ana Paula. Proposta de diretrizes para o desenvolvimento da arquitetura de terra no Rio Grande do Sul, a partir da interpretação de estratégias uruguaias. 2010. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil, UFRGS, Porto Alegre, 2010. CALLA GARCIA, A. La Construcción con Tierra en la Cultura Andina. SEMINÁRIO IBEROAMERICANO DE CONSTRUÇÃO COM TERRA. Salvador, 2002. CERQUEIRA, J. O Estilo Internacional Versus Arquitectura Vernácula: O Conceito de Genius Loci. Idearte – Revista de Teorias e Ciências da Arte – Ano I, N.º 2, Abr/Jun – 2005. COUTO, Armanda M.; COUTO, João P. Os benefícios ambientais e a racionalização do efeito de aprendizagem na indústria de pré-fabricação. Congresso Construção 2007. Coimbra, Portugal, dez. 2007. DANTAS, Dianna Claudine Bezerra. Projeto de edificação habitacional adequado ao clima na região Seridó-RN. 1997. 65f. Trabalho Final de Graduação – Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 1997. DANTAS, Rita De Cássia. Estudo bioclimático das habitações do Projeto Taipa em João Câmara: ênfase no desempenho térmico. Natal, RN: 2002. 144 p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. DERNTL, Maria Fernanda. A Necessidade De Racionalização. Disponível
em:
<http://au.pini.com.br/arquitetura-urba-
nismo/140/a-necessidade-de-racionalizacao-22257-1.aspx>. Acesso em: 12 jun. 2015. DINIZ, Nathália Maria Montenegro. Velhas fazendas da Ribeira do Seridó. 2008. Dissertação (Mestrado em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São
122
Paulo, 2008. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16133/tde-04032010-143402/>.
Acesso
em: 2015-09-03. EVANS, J.M., SCHILLER, S. Diseño Bioambiental y Arquitectura Solar. Ediciones Previas, EUDEBA / SEU-FADU-UBA, 3ra. Edición, Buenos Aires,1994 FERREIRA, André; LEOPOLDI, Maria Antonieta. A Contribuição da universidade pública para a inovação e o desenvolvimento regional: a percepção de gestores e pesquisadores. Revista Gestão Universitária na América Latina - GUAL, Florianópolis, p. 60-82, jan. 2013. IDEMA. Perfil do seu município Caicó. Disponível em: <Idema.rn.gov.br>. Visitado em novembro 2015. JORGE, F. FERNANDES, M. , CORREIA, M. Arquitetura de Terra em Portugal. Lisboa: Argumentum, 2005. 299 p. 9728479-36-0 LOPES, W. G. R. Taipa de mão no Brasil: levantamento e análise de construções. 1998. 232p. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, SP. MACIEL, Alexandra A.; AFONSO, Sônia. A investigação do processo de concepção em projeto de casa sustentável: contribuição à transformação da caixa preta em caixa transparente. Projetar 2003 – I Seminário Nacional Sobre Ensino e Pesquisa do Projeto. Natal, p. 1-2. out. 2003. MAHFUZ, Edson da Cunha. Ensaio sobre a razão compositiva. Viçosa: UFV, 1995. MASCARÓ, Lúcia R. de. Energia na Edificação. Projeto Editores associados Ltda., São Paulo, 1991. MEC/SG/CEDATE. Taipa em painéis modulados. Brasília: s/e, 1988 MINKE, Gernot. Manual de construcción con tierra. EcoHabitar Visiones Sostenibles, Madrid, 2000. 123
MURAMOTO, Aline Sayuri; TARALLI, Cibele Haddad. Morar & flexibilidade: projeto de habitação modular flexível com base em conceitos de adaptabilidade, evolução e itinerância. 2011. Disponível em: <http://www.fau.usp.br/disciplinas/tfg/tfg_online/tr/112/a004.html>. Acesso em: 19 jun. 2015. NETO, Cícero Onofre de Andrade [et al] (Org.). Plano diretor dos campi do Centro Superior de Ensino do Seridó - CERES. Natal: Edufrn, 2014. 136 p. OLIVEIRA, E.; Galhano, F. Arquitectura Tradicional Portuguesa. Publicações Dom Quixote; Lisboa. 1991. OLIVEIRA, Juliano Carlos C. B.; PINTO, Gelson de Almeida. O movimento dos métodos de projeto. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.105/77>. Acesso em: 18 jun. 2015. OLIVER, Paul. Atlas of vernacular architecture of the world. Hardcover, 2005. PÁDUA, Ligia. “A topologia do ser”: Espaço, lugar e linguagem no pensamento de Martin Heidegger. Departamento de Filosofia, PUC-Rio, Rio de Janeiro, 2005. PINTO, Edna M.; NEGREIROS, Bianca de Abreu ; VIEIRA, Cintia; SOUZA, Alain Henrique. Taipa em João Câmara/RN, solução para abalos sísmicos. In: 1º Congresso de História da Construção Luso-brasileira, Vitória, ES. 04 a 06 de setembro, Campus da Universidade Federal do Espírito Santo. 2013. PONTE, Maria Manuel Correia Costa da. Arquitetura de Terra: o desenho para a durabilidade das construções. 2012. 316 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Arquitetura, Departamento de Arquitetura, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, Coimbra, 2012. PRIDE, Liz. Student Housing and House for Young People. In: ADLER, David (org.). Metric Handbook: Planning and design data. Oxford: Architectural Press, 1999.
124
PROMPT, Cecília. Curso de Bioconstrução. Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável, Departamento de Desenvolvimento Rural Sustentável, Brasília , 2008. QUEIROZ, Natália Ferreira De. Casa pajuçara: casa de campo pré-fabricada de baixo impacto ambiental e energético para clima quente e úmido. Monografia (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura e Urbanismo. . Natal, RN: 2009. RAPOSO, Vivian Falcão. A utilização da técnica construtiva do adobe na execução de edificações diferenciadas. Monografia (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura e Urbanismo. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Natal, RN: 2005. Ribeiro, V. (coord. geral). Materiais, sistemas e técnicas de construção tradicional: Contributo para o estudo da arquitectura vernácula da região oriental da serra do Caldeirão. Edições Afrontamento e CCDR. Algarve, 2008. ROMERO M.A.B. Princícios bioclimáticos para o desenho urbano. São Paulo, 2000. RUDOFSKY, Bernard. Architecture without architects. New York: Museum of Modern Art, 1964. SABBATINI, Fernando H. Desenvolvimento de métodos, processos e sistemas construtivos: formulação e aplicação de uma metodologia. Tese de Doutoramento, USP-PCC, São Paulo 1989. SCOARIS, Rafael de Oliveira. O PROJETO DE ARQUITETURA PARA MORADIAS UNIVERSITÁRIAS: Contributos para verificação da qualidade espacial. 2012. 183 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.
125
SHIMITD, Carlos Borges, Costruções de Taipa: alguns aspectos do seu emprego e da sua técnica. Secretaria da Agricultura. São Paulo, 1946. SILVA, C. G. T. Conceitos e Preconceitos relativos às Construções em Terra Crua. Dissertação de Mestrado em Saúde Pública. Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2000. SILVA, Elvan. Uma introdução ao projeto arquitetônico. Ed. Da Universidade/UFRGS, Porto Alegre, 1991. SILVA, Elvan. Uma introdução ao projeto arquitetônico. Porto Alegre: Editora UFRGS, 1998. SOMMER, Robert. Espaço Pessoal, as bases comportamentais de projetos e planejamentos. São Paulo, EPU/EDUSP, 1973 SOUZA, Renato César José de. Problemas de Conservação em Construções Típicas de Minas Gerais. Cadernos de Arquitetura e Urbanismo. Belo Horizonte, 1996. THOMAZ, Ercio; OLIVEIRA, Luciana Alves de. Curso de estruturas
e fachadas
em
pré-moldados.
Disponível em:
<http://www.aea.com.br/cursos/curso-de-estruturas-e-fachadas-em-pre-moldados#programa>. Acesso em: 14 jun. 2015. TRAMONTANO, M. ; SAKURAI, T. ; NOJIMOTO, C. ; BARBOSA, L. L. ; ANTUNES, R..Ecomaterialidade para habitações reduzidas. In: ENTAC'04. São Paulo: ANTAC, 2004.210mmx297mm. 10 p. Disponível em:<http://www.nomads.usp.br/site/livraria/livraria.html> Acesso em: 19 jun. 2015.
126