Caderno p7

Page 1

p7

casa de arte indĂ­gena



UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROJETO ARQUITETÔNICO VII

MARIA FERNANDA MODESTO VIDIGAL

centro verde, centro vivo casa de arte indígena

FLORIANÓPOLIS 2018.1


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 06

1.1 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

2 PENSAR A CIDADE | DISCUSSÃO TEÓRICA 05

2.1 ESPETACULARIZAÇÃO URBANA

3 SENTIR A CIDADE | INTERVENÇÃO URBANA 3.1 A PRESENÇA INDÍGENA NO CENTRO DA CIDADE

06

3.2 CENTRO CINZA X CENTRO ACOLHEDOR

07

3.3 A INTERVENÇÃO

08

3.3.1 LOCALIZAÇÃO

10

3.3.2 MATERIAIS

12

3.3.3 EXECUÇÃO

13

3.3.4 PERSPECTIVAS

14

03


4 AGIR NA CIDADE | PROJETO ARQUITETÔNICO 4.1 O ATO DE MORAR

15

4.2 AGRICULTURA E ARTESANATO

15

4.3 LOCALIZAÇÃO

17

4.4 PROGRAMA

19

4.5 IMPLANTAÇÃO GERAL

20

4.6 PLANTA BAIXA

21

4.7 CORTE

23

4.8 PERSPECTIVAS

24

5 REFERÊNCIAS

29

04


1 INTRODUÇÃO 1.1 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

O presente trabalho é resultado de diversos questionamentos e experimentos que foram realizados durante o semestre que iniciou com uma discussão teórica sobre espetacularização urbana e como a participação cidadã atualiza o espaço público. Em um segundo momento partimos para a etapa de viver e sentir o centro de Florianópolis. Através da deriva, enxergamos além do que está ali para ser visto, ouvimos mais do que aquilo que foi feito para ser ouvido. Essa última etapa é a síntese de tudo que foi pensando e sentido sobre a cidade até então que resultou em uma ação: o projeto arquitetônico como forma de resistência.

2 PENSAR A CIDADE | DISCUSSÃO TEÓRICA 2.1 ESPETACULARIZAÇÃO URBANA

São as pequenas resistências, os improvisos e as vivências que reinventam a cidade e se opõem à ordem estabelecida pelo processo de revitalização urbana. Esse modelo de projeto urbano cada vez mais comum no Brasil, principalmente em áreas turísticas, elimina os conflitos naturais tornando esses espaços cada mais homogenêos e reduzidos a meros cenários. Isso porque os costumes e os encontros deixam de acontecer de forma natural e cotidiana.

05


3 SENTIR A CIDADE | INTERVENÇÃO URBANA 3.1 A PRESENÇA INDÍGENA NO CENTRO DA CIDADE

Segundo Jaques, uma cidade espetáculo é criada para ser admirada, vista, mas não sentida ou praticada. No centro de Florianópolis a revitalização do mercado público pode ser considerada uma proposta para espetacularizar o patrimônio cultural existente a medida que torna o local puramente turístico e gourmetizado. Esse processo de espetacularização – comum nos espaços urbanos de cidades turísticas – pode ser enfrentado a partir de pequenas resistências e da prática daquele espaço. A presença de indígenas no espaço público urbano representa uma dessas pequenas resistências uma vez que causa desconforto naqueles que acreditam que o índio pertence apenas às aldeias. O centro um dia foi mata, ou seja, esses espaços são lugares de memórias. O cinza ocupou o lugar do verde, a água deu lugar às vias, mas os índios permanecem. Levam seus filhos sempre juntos para experimentarem o mundo, se relacionarem com essa nova dinâmica. Para viver na cidade o indígena abre mão de costumes e tradições e busca se adaptar. O espaço urbano não foi feito para ele, o que implica em grandes dificuldades para sobreviver. Além disso, depara-se com o preconceito e com a falta de políticas públicas que englobem esse povo. Dessa forma, a presença indígena nos centros urbanos ainda é vista com estranhamento.

06


3.2 CENTRO CINZA x CENTRO ACOLHEDOR

A ausência de vegetação nas ruas do centro de Florianópolis influencia diretamente na qualidade desses espaços e na vida cotidiana dos seus usuários. Arborização urbana proporciona ambientes mais acolhedores, sombreados e em harmonia com o meio natural, contribuindo no desenvolvimento de cidades mais sustentáveis. Além disso, a presença de árvores e das ambiências que elas proporcionam no espaço público, contribuem para o fortalecimento das relações sociais e da criação de uma paisagem afetiva.

CENTRO CINZA CENTRO EM MOVIMENTO

Dessa forma, a presença de vegetação torna o espaço mais acolhedor e instiga o usuário a permanecer e não apenas transitar. E uma memória afetiva com o lugar vai sendo construída. Árvores frutíferas são especialmente lembradas pelas pessoas, além de proverem alimentos àqueles que se encontram em situação de rua e aos índios que permanecem vendendo seus artesanatos. O verde por entre as ruas se mistura, então, com o colorido das esquinas.

07

CENTRO COLORIDO CENTRO ACOLHEDOR


3.3 A INTERVENÇÃO

A proposta busca associar o meio urbano ao natural a fim de instigar seus usuários para a criação de espaços mais harmônicos e confortáveis. Hoje, a vegetação só existe nas praças enquanto as ruas não contam com espaços de permanência ou amenidades. Para isso serão fixadas cordas verdes nas estruturas metálicas existentes como heras saindo da Praça XV e entrando na Felipe Schimitd até a esquina com a Rua Deodoro, onde há uma expressiva quantidade de índios vendendo artesanatos. Nas esquinas, o verde se transforma em diversas cores representando os encontros, a pluralidade de etnias e a diversidade. A questão indígena foi relevante nessa proposta. Embora a intervenção não seja diretamente com esse povo, foi projeta para atendê-los e representá-los. Afinal, porque ao invés de levá-los para longe, como muitos defendem, não trazemos um pouco de natureza aos nossos espaços públicos? Eles também pertencem àquele lugar e o lugar pertence a eles. A preserça de elementos da natureza influencia na qualidade de vida de usuários e transeuntes e também pode fortalecer a relação do índio com o espaço público, local, por essência, de manifestar diferenças, de movimento e mistura.

08


Fonte: Joice Schenkel

Fonte: Arquivo pessoal

09


3.4 LOCALIZAÇÃO

Desde a praça XV seguindo pela Rua Felipe Schmidt até a esquina com a Rua Deodoro, onde existem estruturas em arcos. A intervenção utilizará oito dessas estruturas existentes.

No trajeto escolhido não há carros passando. Pedestres caminham; passam; observam. Estão sempre em movimento. Não há verde, não há sombra, nem lugares para sentar.

10


Fonte: Arquivo pessoal

Fonte: Arquivo pessoal

11


3.3.2 MATERIAIS

1. Cordas tranรงadas | ร = 28mm Cores: Verde bandeira, verde musgo, azul, rosa, amarela e natural. Quantidades Cordas verdes variadas: Demais cores variadas: 2. Clips de aรงo Quantidade: 3. Estruturas metรกlicas existentes Quantidade: 8

12


RU A

TE

NE

NT

ES

ILV

EIR

A

A

SE

LH

EIR

ON

O

PR

RU AC

XV

RU A

TR

AJ

AN

O

RU A

DE O

DO

RO

3.3.3 EXECUÇÃO

MA

FR

A

Planta Baixa | Esc 1:2500

Vista estrutura metálica | Esc 1:200

Planta Baixa | Esc 1:1000

13


3.3.4 PERSPECTIVAS

14


4 AGIR A CIDADE | PROJETO ARQUITETÔNICO 4.1 O ATO DE MORAR

“O ato de morar é uma manifestação de caráter cultural que suplanta o valor de um mero abrigo de proteção física contra intempéries”. (CARRINHO, 2010). Para os índios, as edificações servem para proteção e reza, enquanto as outras atividades são realizadas no exterior da habitação. O fogo possui significado simbólico e não é apenas utilizado para cozimento de alimentos. O elemento está dentro da casa, presente nos rituais e no descanso. (CARRINHO, 2010) 4.2 AGRICULTURA E ARTESANATO

Muitas tribos indígenas não apenas coletavam, mas também cultivavam diversos alimentos. Dominavam técnicas de manejo florestal utilizadas até hoje e praticavam a policultura, buscando imitar a mata nativa e vivendo em plena harmônia com a natureza. Com o deslocamento do índio para a cidade atividades de subsistência praticadas na mata vão sendo esquecidas e as novas gerações perdem o contato com as antigas tradições como a agricultura, a pesca e a caça, por exemplo. O artesanato, todavia, se mantém e serve como fonte de renda de famílias que vem à cidade. A proposta visa fortalecer os antigos costumes indígenas mesmo nos centros urbanos, possibilitando a convivência harmônica entre povos e natureza e ainda prover abrigo e condições de moradia àqueles que não conseguiram retornar às aldeias. 15


Cerca de 80 indígenas estão ocupando o Terminal de Intergração do Saco dos Limões. No verão, esse número aumenta para 300. Em 2017, justiça determinou a construção de uma Casa de Passagem para abrigar os índios que vem vender artesanato em Florianópolis durante o verão.

“O que queremos é um espaço para podermos trabalhar e vender nosso artesanato. Nós só viemos para cá depois de muita luta e muito protesto. Estávamos embaixo de um viaduto, sem nenhuma condição”, conta Leandro Inácio, que representa os indígenas da Aldeia Condá, de Chapecó. https://ndonline.com.br

“Na Grande Florianópolis, índios da Aldeia Itaty, no Morro dos Cavalos, e da terra indígena Ygua Porã, em Biguaçu, ambos da etnia guarani, ainda não tiveram suas terras homologadas pelo governo federal.” https://ndonline.com.br


4.3 LOCALIZAÇÃO

CENTRO DA CIDADE PRAÇA DA ALFÂNDEGA Para abrigar a casa de arte indígena e o comércio de artesanatos, foram escolhidos prédios que não estão sendo utilizados e econtram-se em estado de abandono.

17


PRAÇA DA ALFÂNDEGA 18


4.4 PROGRAMA

1 CASA DE ARTE INDÍGENA

pav0: trabalhar e trocar. Área para produzir os artesanatos; trocas com visitantes. pav1: conviver e comer. Local de aprendizado; preparar o alimento; se alimentar. pav2 e 3: descansar. Apoio aos indígenas que não puderam voltar à aldeia.

2 HORTAS URBANAS

área externa: agricultura indígena. Cultivo de alimento; local de aprendizado para crianças; estreitamento da relação ser humano/natureza.

3 COMÉRCIO DE ARTESANATOS

edificações praça da Alfândega: sobrevivência. Comércio dos artesanatos produzidos; local legítimo para venda; suporte aos indígenas que saem das aldeias e vão à cidade.

19


R. CONSELHEIRO MAFRA

4.5 IMPLANTAÇÃO GERAL

ESC 1:750

R. ARCIPRESTE PAIVA

h

1 2 2

comércio olaria

PRAÇA DA ALFÂNDEGA

posto pm 3

3

2

COMCAP

AV. PAULO FONTES

20


4.6 PLANTA BAIXA CASA DE ARTE Ă?NDIGENA

trabalhar e trocar

pav0 esc 1:125

fogo

comer e conviver

21

pav1 esc 1:125


fogo

descansar

pav2 esc 1:125

fogo

descansar

22

pav3 esc 1:125


4.7 CORTE


4.8 PERSPECTIVAS |

pav0


pav1


pav1


pav2


pav3


4 REFERÊNCIAS

FARAH, Ivete. Arborização Urbana e Paisagem Afetiva. Rio de Janeiro. FAU/UFRJ, 2010. SANTOS, R. D.; LODDI, B. R.; ZANIN, N. Z. Sobre lugares, práticas, corporeidades, dominação e parceria: a experiência gentrifcadora e seus atravessamentos na cidade contemporânea. Belo Horizonte. revista Indisciplinar/UFMG, 2017. CARRINHO, Rosana Guedes. Habitação de interesse social em aldeias indígenas: uma abordagem sobre o ambiente construído mbyá-guarani no litoral de Santa Catarina. Florianópolis. PósARQ UFSC, 2010. NOTÍCIAS DO DIA. Índios abrigados em terminal desativado de Florianópolis aguardam casa de passagem. Florianópolis, 2018. Disponivel em <https://ndonline.com.br/florianopolis/noticias/indios-abrigados-em-terminal-desativado-de-florianopol is-aguardam-casa-de-passagem>. Acesso em junho de 2018.

29


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.