Che Guevara

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Título Ernesto Guevara de la Serna Design e edição Maria João Leite Tipografias usadas Flama Minion Pro Número de páginas 16 páginas Formato 210x297mm


PODEM MORRER AS PESSOAS, MAS NUNCA AS SUAS IDEIAS. E RNE ST O G U E VAR A



1928 Uma embarcação descia o rio Paraná. A bordo, Ernesto Guevara Lynch e Célia de La Serna, a sua jovem esposa grávida. Viajavam para Buenos Aires, onde Célia planeava dar à luz.

Ernesto Guevara tinha quatro irmãos: Juan Martinde la Serna, Roberto, Anna Maria e Célia Guevara la Serna

Momentaneamente, alojaram-se no número 480 da rua Entre Ríos, onde, num quarto improvisado, o bebé nasceu. Recebeu o nome do pai, Ernesto. Até aquele momento, sua a única herança havia sido um nascimento complicado. Os Guevara não se demoraram. Retomaram o caminho do Atlântico e se fixaram, durante algum tempo, em San Isidro, perto de Buenos Aires, onde Ernesto Guevara Lynch trabalhou como engenheiro civil. Desportista assumida, Célia inscreveu-se no clube náutico da cidade e cultivou o hábito de levar o filho para as margens do rio da Prata. Numa manhã de maio de 1930, ao sair da água, o rapaz manifestou sintomas de gripe. Contraiu, em seguida, uma pneumonia que degenerou em recorrentes crises de asma. Os problemas de saúde de Ernesto condicionaram as migrações da família em busca de um clima capaz de lhe devolver a saúde. Em 1933, após alguns anos de nomadismo, os pais decidiram fixar-se em Alta Gracia, junta de Serra Chica, perto de Córdoba. Foi lá, numa cidade fundada pelos jesuítas, que Ernesto cresceu. Mas o ar puro de Alta Gracia, que atraía turistas e tísicos, não bastou para curá-lo. A debilidade da sua saúde impediu-o de frequentar regularmente a escola. Preocupada com sua instrução, Célia tornou-se professora “Ensinei o meu filho Ernesto a ler. Ele não podia ir à escola por causa da asma. Os irmãos traziam os trabalhos de casa e ele trabalhava em casa”. Em torno dele, todos se preocupavam. “Então, perdido por perdido, decidiu decretar a própria liberdade e, como um pássaro que abre o cadeado da gaiola, o Che, até então confinado ao seu quarto, descobriu o exterior, a natureza”, recordou a irmã Anna-Maria.

Ernesto Guevara em criança no ano de 1929.

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1947 Ernesto ingressou a faculdade de medicina da Universidade de Buenos Aires. “Quando decidi ser médico (...), a maior parte dos princípios que tenho hoje como revolucionário ainda não faziam parte dos meus ideais. Queria vencer na vida, como toda a gente, sonhava ser um investigador célebre... naquele momento isso era apenas um projeto pessoal” Junto com os estudos, Ernesto teve vários empregos em regime de meio período, mas, de todos eles, o trabalho que realizava na Clínica Pisani, especializada no tratamento de alergias, era o mais absorvente, como também aquele em que ficou mais tempo. O próprio Guevara nunca explicitou as razões por que escolhera a carreira de médico, a não ser quando disse, anos mais tarde, que fora motivado por um desejo de “triunfo pessoal”: “Sonhei em tornar-me um investigador famoso (...), trabalhar infatigavelmente para descobrir algo que pudesse ser posto de forma definitiva à disposição da humanidade.” Ele já se mostrara competente em ciências,e uma carreira em engenharia seria uma opção fácil, mas não estava apaixonadamente interessado por ela. Na medicina, pelo menos, poderia fazer alguma coisa que valesse a pena. A sua família achava que a sua decisão era consequência da frustração com a inabilidade dos médicos em diminuir a agonia de sua avó moribunda. O choque da sua morte, apesar da idade avançada, pode ter contribuído para impulsionar a decisão de Ernesto de mudar a sua opção de carreira, mas, como a escolha da especialização revelaria, também estava obcecado em descobrir a cura para a própria doença. Na universidade, Ernesto teve contacto com alguns militantes da Federação Juvenil Comunista, a Juventude Comunista da universidade. Um deles, Ricardo Campos, recordou as suas conversas sobre política como “ásperas e difíceis”, “Ele tinha ideias muito claras sobre certas coisas”, disse Campos. “Sobretudo de uma perspectiva ética. Mais do que um ser político, via-o naquela época como alguém com uma postura ética.”

Para o irmão de Tita Infante, Carlos, outro comunista, Ernesto era um liberal progressista cujos principais interesses pareciam ser apenas a medicina e a literatura. Estudantes da Faculdade de Medicina, em 1948.

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1951 Depois de fazer a sua primeira viagem realmente sozinho pelo interior da Argentina, Ernesto volta à faculdade. Tinha então 23 anos de idade e ainda lhe faltavam dois para acabar o curso de medicina, mas já não achava estimulante a rotina de aulas e provas. Um mal-estar se havia instalado devido a amores não correspondidos e uma certa inquietação. A sua ânsia de viajar fora aguçada pela viagem de motocicleta que havia feito.

Foi então que a 14 de Janeiro do mesmo ano, Ernesto Guevara partiu numa viagem Alberto Granado, seu amigo, numa antiga motocicleta Norton intitulada de La Poderosa. Levaram cerca de 4 semanas a sair da Argentina devido a alguns problemas de saúde de Ernesto que, por isso, esteve hospitalizado durante vários dias. Os fracos recursos financeiros tinham dimínuido, tornando os dois amigos nuns “magueros motorizados” (pedintes motorizados), como referia Ernesto ironicamente. Por vezes eram obrigados a pernoitar sem um tecto, mas na maioria das vezes conseguiam encontrar um espaço no chão de garagens, cozinhas, celeiros e, frequentemente, em esquadras de polícia, onde compartilhavam as celas e também refeições com uma variedade de criminosos. Depois de ter usado e abusado do seu suposto “diploma” de médico, pediram a Ernesto que examinasse um dos clientes do La Gioconda, uma empregada idosa, prostrada por uma asma crônica e um coração enfermo. Encontrou o quarto onde ela morava e ali sentiu um odor de “suor concentrado e pés sujos”. Ela estava rodeada pela “mal disfarçada irritação” da família, que parecia suportar sua presença com dificuldade. Estava a morrer e Ernesto pouco podia fazer por ela.

Um dos inumeros arranjos da motocicleta La Poderosa.

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Esse encontro afetou-o profundamente e levou-o a pensar sobre a insensibilidade da pobreza. “Ali, nos momentos finais de pessoas cujo horizonte mais distante é sempre o dia seguinte, vê-se a tragédia que envolve as vidas do proletariado no mundo inteiro. Naqueles olhos moribundos, há uma apologia submissa e também, frequentemente, um apelo desesperado por consolo que se perde no vazio, como seu o corpo logo se perderá na magnitude da miséria que nos rodeia. Não tenho meios para dizer por quanto tempo perdurará este estado de coisas, baseado numa concepção absurda de castas, mas já é hora de aqueles que governam dedicarem menos tempo a fazer propaganda da compaixão de seus governos e aplicarem mais dinheiro, muito mais dinheiro, patrocinando obras de cunho social.” Depois da passagem por vários países e vários locais que o marcaram, tanto pelo o que viu mas também pelo fez, Ernesto chegou aos Estados Unidos “aquele país do Norte” cuja presença exploradora na América Latina tanto o irritara durante a viagem. O que viu ali evidentemente confirmou suas ideias negativas preconcebidas, pois mais tarde disse a amigos em Buenos Aires que havia testemunhado incidentes de racismo de brancos contra negros e fora interrogado por policiais norte-americanos quanto às suas afiliações políticas.

Ernesto Guevara e Alberto Granado em San Pablo de Loreto, Peru, 1952.

(Imagem da página da direita) Estadia no Peru na cidade de Torata em 1952.

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1953 A pessoa que escreveu essas notas morreu ao pisar de novo o solo argentino. Quem as edita, eu, já não sou eu. O perambular pela nossa América modificou-me mais do que eu pensava.

Ernesto Guevara com a sua esposa Hilda Gadéa.

Fiel à promessa que fizera à mãe, Ernesto voltou a Buenos Aires para concluir os estudos. Concluiu o curso de medicina em junho de 1953. As sucessivas viagens, contudo, tinham acabado por moldar sua consciência progressista. Os sonhos de Ernesto tinham se transformado em projetos políticos. Na estação de General Belgrano, a que o acompanhara para uma nova partida, Célia viu o comboio distanciar-se em direcção à Bolívia. Da janela, herdeiro d sonhos igualitários, o filho gritou: “Aqui vai um soldado da América!” Ernesto passou por variados países como Argentina, a Bolívia, o Peru, o Equador, deparando-se com diferentes realidades. Em Guatemala, onde passou uma temporada, conheceu Hilda Gadéa com quem se viria a casar mais tarde. Ernesto elegera a revolução esquerdista da Guatemala como a primeira causa política com que abertamente se identificava. Disse à família que, apesar de seus muitos defeitos e falhas, era o país em que se podia respirar o “ar mais democrático” da América Latina. Encontrar algo útil para fazer ali era o próximo obstáculo a enfrentar. Os seis meses que se seguiram tornaram-se uma sucessão frustrante de “dias sem vergonha nem glória, num refrão que tem a característica de se repetir num grau alarmante”, escreveu. Enquanto isso, porém, ia conhecendo pessoas. Hilda Gadea apresentou-o a alguns contactos do alto escalão do governo, entre eles o aristocrático ministro da Economia, Alfonso Bauer Paiz, e o secretário do presidente Arbenz, Jaime Díaz Rozzoto. Hilda também apresentou Ernesto ao professor Edelberto Torres, um exilado político nicaraguense, estudioso do falecido poeta Rubén Darío. A casa do amistoso Torres era ponto de encontro de Hilda e outros exilados, e Ernesto e Gualo foram bem recebidos nesse círculo. No primeiro dia na casa de Torres, Ernesto conheceu alguns entusiasmados e extrovertidos exilados cubanos que estavam na cidade há vários meses: Antonio “Ñico” López, Armando Arencibia, Antonio “Bigotes (bigodes)” Darío López e Mario Dalmau.

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Os cubanos destacavam-se na comunidade de exilados porque apenas eles eram veteranos de um conjunto armado contra uma ditadura. Embora a sua tentativa tivesse fracassado, demonstraram determinação e bravura, conquistando ampla admiração e até mesmo publicidade para sua campanha contra Batista. Depois de participarem dos ataques aos quartéis do Exército de Moncada e Bayamo, liderados pelo jovem advogado Fidel Castro Ruz, Ñico e os seus camaradas escaparam à captura refugiando-se na embaixada da Guatemala, em Havana.

Fidel Castro na prisão depois dos ataques aos quartéis do Exército de Moncada e Bayamo.

Porém, os dias de tédio de Ernesto estavam prestes a terminar, pois os acontecimentos evoluíam com rapidez rumo a um confronto entre os Estados Unidos e Guatemala. A 14 de junho, Ernesto celebrou o seu 26º aniversário. No dia seguinte, o presidente Eisenhower convocou uma reunião para dar os retoques finais na Operação Sucesso. Dois dias depois, mercenários norte-americanos começaram a sobrevoar Guatemala em missões de bombardeio.

A 18 de junho, à frente de seu insignificante exército, com cerca de quatrocentos combatentes, Castillo Armas cruzou a fronteira hondurenha e entrou em Guatemala.

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1954 Ernesto agora parecia decidido a seguir para um destino específico. A Cidade do México era para onde se estavam a dirigir Arbenz e a maioria dos seus aliados que escaparam da prisão, bem como muitos dos exilados políticos latino-americanos que estavam em Guatemala. Vários deles refugiaram-se na embaixada mexicana e esperavam viajar logo que o novo governo guatemalteco lhes fornecesse os passaportes. Desde que o México tivera a sua própria revolução “anti-imperialista” havia apenas quatro décadas, a capital mexicana, politicamente tolerante e culturalmente dinâmica, tornara-se um santuário para milhares de exilados políticos de esquerda dos quatro cantos do mundo, inclusive um número significativo de judeus europeus e republicanos espanhóis que fugiram do fascismo nos anos 1930 e 1940. Em meados de setembro, Ernesto passou a fronteira com um jovem estudante guatemalteco, Julio Roberto “El Patojo” Cáceres, com quem se encontrou na estrada e seguiu para a Cidade do México. Embora tivesse algumas pequenas dúvidas quanto à sua segurança, a viagem transcorreu sem incidentes. Os cubanos exilados seguidores de Fidel Castro chegavam aos poucos à Cidade do México, vindo de todo o hemisfério desde o começo de 1954. Estabeleceram uma espécie de quartel-general informal no apartamento de María Antonia González, uma cubana casada com um lutador profissional mexicano chamado DickMedrano. Em Cuba, onde Fidel Castro transformara-se numa cause célèbre, Batista convocara eleições para legitimar o seu regime de facto e houve então uma crescente pressão pública sobre ele para que Castro e outros moncadistas presos fossem perdoados. Ñico disse a Ernesto que, quando Fidel Castro fosse libertado, o México seria a base para o seu grande plano, de organizar e treinar um movimento de insurreição armada que voltaria para Cuba e começaria uma campanha de combates para derrubar Batista. Ernesto respondeu a uma carta na qual a sua mãe criticara o comportamento dos exilados comunistas guatemaltecos que ele havia enviado à sua casa.

Os comunistas não têm a mesma noção de amizade que a sua, mas entre eles a possuem no mesmo grau, ou maior, que a sua. Vi isso claramente na hecatombe em que a Guatemala se transformou depois da queda, quando todos só pensavam em se salvar. Os comunistas mantiveram intactas a sua fé e a sua camaradagem e foram o único

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grupo que continuou a trabalhar lá (...). Acho que são dignos de respeito e que, mais cedo ou mais tarde, entrarei para o Partido. Um mês depois, em dezembro, tornou a escrever para a mãe, aparentemente em resposta à preocupação pela sua declaração de pretender, eventualmente, entrar para o Partido Comunista. Ele disse-lhe: “Isso que a mãe mais teme é atingido por dois caminhos: de forma positiva, por estar convencido diretamente, ou de forma negativa, depois de uma desilusão com tudo. A maneira pela qual os gringos tratam a América provocara em mim uma indignação crescente, porém, ao mesmo tempo, estudei a teoria por de trás das razões para os seus actos e descobri que era científica.”

Não lhe posso dizer em que momento deixei o caminho da razão e adpotei algo parecido com a fé, porque o caminho foi muito longo e com muitos passos para trás. Ali estava. Se a sua família não tivesse tido suficiente aviso prévio, Ernesto declarava e descrevia agora a sua conversão. Ele era um comunista. Bombardeamentos em Guatemala no ano de 1954.

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1955 Um acontecimento político foi conhcer Fidel Castro, o revolucionário cubano, um homem jovem, inteligente, muito seguro de si e de uma audácia extraordinária. Acho que há uma simpatia mútua.

Che é uma palavra em guarani que o povo argentino costuma usar numa expressão que se pode traduzir livremente como “Ei, tu”.

O encontro aconteceu poucos dias depois da chegada de Castro ao México, a 7 de julho, no apartamento de María Antonia. Depois de conversarem durante algum tempo, Ernesto, Fidel e Raúl foram jantar num restaurante no mesmo quarteirão. Após várias horas, Fidel convidou Ernesto para se juntar ao seu movimento de combate. Ernesto aceitou imediatamente. “Che”, como os cubanos começaram a chamá-lo, seria o seu médico. Era a fase inicial, Fidel estava muito longe de montar todo seu ambicioso esquema, mas era a causa que Ernesto estava à procura. Apesar das muitas diferenças, Ernesto e Fidel tinham alguns traços em comum. Ambos foram favorecidos com famílias grandes, extremamente mimados, descuidados quanto à aparência pessoal e sexualmente vorazes. Porém, homens para os quais os relacionamentos vinham em segundo lugar em relação aos objetivos pessoais. Tinham uma vontade de ferro e um sentido de propósito maior que a vida. E, por último, queriam realizar uma revolução. Na altura em que se conheceram, cada um deles já tinha tentado desempenhar um papel directo em acontecimentos históricos de seu tempo, tendo sido frustrados, e identificavam o mesmo inimigo, os Estados Unidos.

A primeira fotografia conhecida de Ernesto Guevara e Fidel Castro juntos. Estavam na prisão no México no ano de 1956.

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Ernesto decidiu seguir Fidel na sua luta pela libertação de Cuba. Acrescentou, contudo, no seu juramento uma única reserva: “Retomar minha liberdade de revolucionário depois do triunfo da Revolução. Se o triunfo acontecer”. O pacto foi fechado. Che Guevara foi recrutado pelas tropas rebeldes. A partir de 1956, fez o curso de guerrilheiro. No final de agosto, pediu licença à esposa e à filha para preparar o desembarque na costa cubana. “Eu analisara os caminhos da América. Estive entre os maias, na Guatemala, para descobrir uma revolução. Lá, encontrei-ma com um camarada que se tornou meu guia. Em conjunto vivenciamos a ideia de defender aquele pequeno país (...)

Agora, para mim, chegou a hora de combater, desta vez noutro país, para derrotar a exploração e a miséria, com a vontade de construir um mundo melhor e mais justo, no qual tu, filha, irás poder viver. Ernesto deixara uma carta para que fosse remetida à mãe. Nela escrevera que “para evitar pateticismos pré-mortem”, a carta não seria enviada até que “as batatas estejam realmente no fogo e então a mãe saberá que seu filho, num ensolarado país americano, estará se condenando por não ter estudado mais sobre cirurgia para poder socorrer um homem ferido (...). “E agora vem a parte difícil, velha, aquela da qual nunca fugi e sempre gostei. Os céus não ficaram negros, as constelações não saíram de suas órbitas nem houve enchentes ou furacões demasiado insolentes. Os sinais são bons. Eles indicam a vitória. Porém, se estiverem errados, afinal, até os deuses cometem erros, então eu acho que posso dizer como um poeta que a mãe não conhece: ‘Eu só levarei para o túmulo / o pesadelo de uma canção inacabada.’ Beijo-a novamente, com todo o amor de um adeus que resiste a ser completo. Seu filho.”

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