Universidade de São Paulo Instituto de Arquitetura e Urbanismo São Carlos - SP TGI II Mariana Carloto Novembro 2015 COMISSÃO DE ACOMPANHAMENTO PERMANENTE David Moreno Sperling | Francisco Sales T. Filho | Lucia Zanin Shimbo | Luciana Bongiovanni M. Schenk COORDENADOR DE GRUPO TEMÁTICO Givaldo Luiz Medeiros
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aos meus pais que sempre acreditaram.
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agradecimentos 6
Aos meus pais João e Dora por terem sonhado junto comigo e me dado todo o suporte necessário ao longo da graduação. Ao meu irmão Alexandre, pela paciência de sempre e pelo computador compartilhado. Ao meu noivo Éric por todo apoio, compreensão e pelo abraço amigo que nunca faltou nos momentos mais difíceis. Aos mestres que afloraram o instigante interesse pelas questões da arquitetura, da cidade e da paisagem. Em especial Lúcia, Givaldo, Sales, Castral, Luciana e Davi que orientaram, motivaram e acompanharam de uma forma especial essa etapa final da caminhada. Aos técnicos e amigos Dibo e Odinei que muito ajudaram e contribuíram na construção dos infindáveis modelos físicos. E, finalmente, aos amigos com os quais dividi essa jornada e que, certamente, são em grande parte responsáveis por torná-la incrível e inesquecível.
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sobre o trabalho
No mundo contemporâneo, que coloca uma diversidade de hábitos e modos de vida, uma pluralidade de necessidades e predileções além de rápidas alterações e instabilidades sociais parece não fazer mais sentido uma arquitetura a produzir um IMÓVEL, estanque. A capacidade de adaptação é considerada uma nova exigência contemporânea para as edificações. Argan(2001) vai dizer que “o homem não se adapta ao ambiente, mas adapta o ambiente a si”, portanto o ambiente necessita ser adaptável. A vida cotidiana das pessoas passou por uma série de mudanças causada pelos avanços tecnológicos e pela globalização, seja nas formas de trabalho, nos tamanhos das famílias, etc; o que exige repensar a concepção arquitetônica, de um modo especial na habitação. A pergunta que cabe nesse contexto, portanto, é como a arquitetura pode acompanhar a velocidade das mudanças na sociedade atual? O presente trabalho busca encontrar para a habitação uma resposta na arquitetura flexível, isto é, uma arquitetura que seja facilmente adaptável através de um projeto que coloca um leque de possibilidades para a utilização e adaptação dos espaços, prevendo futuras mudanças e aumentando assim também a vida útil da edificação.
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_tema_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 10 _referências projetuais_ _ _ _ 18 _o lugar_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 22 _o projeto _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 34
sumário
conjunto _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 36 edifício _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 54 unidade_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 70 _perspectivas _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 82
_referências bibliográficas_86 _bibliografia _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 88 tgi_II mariana carloto
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tema 10
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a impessoalidade da habitação multifamiliar
O programa que se busca investigar é a habitação. A habitação é sempre um assunto importante para a arquitetura pois se trata do lar, do morar, do lugar individual ou familiar na cidade. A habitação é a célula urbana. A habitação multifamiliar, especificamente, tem sido discutida por anos e dilema de diversos arquitetos. A questão central que nesse programa, e para o presente trabalho, é importante ressaltar é a impessoalidade de se projetar para usuários desconhecidos, o que difere muito de uma unidade habitacional encomendada por um cliente do qual se pode conhecer o grupo familiar, os gostos e hobbies, o trabalho e as predileções. No caso da habitação multifamiliar o que se tem apresentado principalmente pelo grande mercado imobiliário é criação de um usuário tipo, para o qual se supõe uma determinada renda, um determinado núcleo familiar e quadro de necessidades. Com isso se constrói uma edificação inteira e o que por fim acontece é que o indivíduo acaba por encontrar unidades muito parecidas que nem sempre atendem plenamente suas necessidades e anseios. A padronização habitacional torna a habitação impessoal desconsiderando diversos grupos familiares e modos de morar; como reação natural o usuário modifica o ambiente. Nesse sentido passa-se a buscar como alternativa uma habitação inacabada em que a modificação exercida pelo usuário possa ser prevista, projetada, a fim de aumentar a capacidade de a habitação multifamiliar atender a diferentes grupos familiares e diferentes modos de vida tornando-se menos impessoal. Duas questões são importantes serem analisadas para compreender melhor a questão colocada na produção de habitação. A constituição do grupo familiar e os modos de vida da sociedade atual. Essas questões foram abordadas e recortadas, para o presente trabalho, das discussões do grupo ‘Cidade: assentamentos precários, habitação coletiva e inserção urbana’ em TGI-I que se propôs a discutir o habitar e a produção habitacional. tgi_II mariana carloto
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A realidade é que a sociedade contemporânea coloca uma diversidade de grupos familiares, de hábitos e modos de vida, uma pluralidade de necessidades e predileções além de rápidas alterações e instabilidades sociais que precisam ser considerados e abordados para pensar a habitação. “De fato, nas últimas décadas, as mudanças sócio-demográficas têm sido rápidas e significativas, destacando-se: as modificações na estrutura da família patriarcal convencional, a redução no tamanho das famílias, o aumento no número de pessoas morando sozinhas, o aumento no número de separações e divórcios, o postergamento do casamento e os novos papéis desempenhados pela mulher. Ou seja, há uma composição de fatores geradores de uma maior diversidade de arranjos familiares. Acrescente-se aí outras mudanças como, por exemplo, a tendência do trabalho em casa (o home-office ou o tele-trabalho), gerando a necessidade de prover espaços com instalações de comunicação, fax, modem. Sem falar no grande desenvolvimento tecnológico no campo dos eletrodomésticos e equipamentos para o lar, sendo interessante citar como exemplo, o advento do home theater.” (BRANDÃO, 2002, p.04) Segundo Brandão (2002) a partir do início dos anos 90, como resultado da extinção do Sistema Financeiro da Habitação, houve um estreitamento da relação entre cliente e construtoras a partir da compra do imóvel na planta com prazos em torno de três anos e esse quadro resulta numa maior participação dos clientes através de solicitações e acordos para modificações dos projetos e memoriais descritivos. Isso coloca um novo condicionante do processo produtivo da construção civil: a personalização, a planta aberta, a possibilidade de escolha. A possibilidade de escolha ainda na fase de projeto e pré-construção vem sendo discutida e experimentada - muitas vezes timidamente - na produção de habitação de mercado, porém consta-se que não é uma tendência geral em relação à habitação, também é passível de ser percebida sua necessidade na produção de habitação de interesse social. Verifica-se que as Habitações de Interesse Social (HIS) construídas no Brasil são frequentemente modificadas por seus moradores, entre outros aspectos, por motivos de caráter funcional, simbólico ou econômico (BARBIRATO; MARROQUIM, 2007, p.02). Barbirato e Marroquim (2007) desenvolveram pesquisa que analisou modificações realizadas ao longo dos anos em habitações de um conjunto habitacional de interesse social implantado na cidade de Maceió, Alagoas, em relação ao seu projeto original, no aspecto da flexibilidade espacial.
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O conjunto estudado, Osman Loureiro, foi implantado no final dos anos 1980 para atender a uma população com faixa de renda, na época, entre 3 e 5 salários mínimos. Sendo um conjunto de residências térreas apresenta já a princípio condições que favorecem a intervenção do usuário. A pesquisa constatou que a maioria das modificações (70%) ocorreu nos três primeiros anos de ocupação, ou até mesmo antes da sua ocupação, evidenciando a falta de sintonia do projeto arquitetônico original com as necessidades dos usuários e verificou que as modificações são executadas principalmente por razões de adequação dimensional dos ambientes às funções e necessidades domésticas de seus ocupantes – uma questão especial para a habitação de interesse social que é produzida com área útil reduzida. E para o planejamento e/ou execução das reformas, 70% não consultaram um profissional qualificado, o que frequentemente, resultou no confinamento de ambientes, prejudicando aspectos de ordem estética, iluminação, ventilação e, consequentemente, a salubridade da habitação como um todo. Em relação ao conjunto constatou-se com a pesquisa de Barbirato e Marroquim (2007) que apesar de o conjunto ter sido implantado unicamente para o uso residencial, após 16 anos de sua ocupação, encontra-se certa diversificação nos tipos de uso de solo - comercial, serviços, institucional/ensino - o que evidencia a colocação de que produzir habitação é produzir cidade e o habitar deve ser considerado em nível de unidade habitacional assim como de cidade. A possibilidade de escolha e a questão da personalização ou customização na produção habitacional não se colocam somente como resultado de necessidades, mas também pode ser percebido com caráter simbólico-emocional do indivíduo que sente a necessidade de diferenciar, de se distinguir na multidão. Nesse sentido, Brandão (2002) coloca: “É importante ressaltar que a necessidade de se ofertar uma maior diversidade de produtos ou de torná-los personalizados não provém somente de aspectos conjunturais ligados à economia e à tecnologia. Vem, principalmente, da tendência inerente do ser humano em diferenciar-se do outro, buscando sua própria identidade.” (BRANDÃO, 2002, p.03) Esse recorte dentro do universo de questões relativas à habitação é o mote gerador de um processo de trabalho que buscou resposta na arquitetura flexível para produção de habitação nos dias atuais.
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flexibilidade na habitação multifamiliar 16
Estratégias de flexibilidade para a arquitetura foram pensadas desde o modernismo. A partir do racionalismo moderno, alguns grupos de arquitetos pensaram a flexibilidade como uma possibilidade a ser conseguida através de algumas estratégias básicas: _forma | função – edifícios de apartamentos com diferentes tipologias, bipartição em áreas diurnas ou noturnas; _sistemas construtivos – modulação, estrutura independente, planta livre; _interiores – divisórias leves, organização de equipamentos, design de mobiliários. Em momentos de revisão da arquitetura moderna entram em cena os arquitetos Herman Hetzberger e Nicolaas John Habraken que defendem o conceito de participação do usuário intimamente ligado ao conceito de flexibilidade. Assumem que os desejos e necessidades do homem se alteram conforme o tempo e, portanto assumem o usuário como participativo da composição arquitetônica. Percebe-se, portanto, que a flexibilidade vem a tempos sendo investigada na arquitetura. O processo de projeto que constrói uma arquitetura flexível pode considerar princípios - que vem sendo colecionados na história da arquitetura - a fim de facilitar o alcance da flexibilidade e criar estratégias de projeto. Alguns exemplos são: não hierarquização de ambientes, a criação de estruturas independentes, a modulação, a utilização de divisórias leves ou móveis, a construção de núcleos de serviços e circulação, fachadas livres, pisos elevados, mobiliário etc. A flexibilidade resulta de um conjunto de estratégias definidas e combinadas. Existem diferentes tipos de flexibilidade. Gustau Gili Galfetti(1997) em ‘Pisos Piloto: células domésticas experimentales’ ressalta dois principais: a Flexibilidade Inicial como a possibilidade de oferecer ao usuário uma escolha anterior à ocupação, e permite uma participação do usuário na flexibilidade de usos e tipos na habitação
concepção da arquitetura. A teoria de ‘desenho de suportes’ de J. N. Habraken é um exemplo desse tipo de flexibilidade. Brandão e Heineck em ‘Formas de Aplicação da Flexibilidade Arquitetônica em Projetos de Edifícios Residenciais Multifamiliares’ establecem dois subconceitos para a Fexibilidade Inicial: Flexibilidade Permitida(=personalização) e Flexibilidade Planejada. A primeira se dá quando apenas uma opção é dada ao usuário seja de layout ou acabamentos atendendo aos pedidos viáveis de modificação do projeto. A segunda seria quando na etapa de projeto já são criadas diferentes opções para escolha do usuário. O outro tipo de flexibilidade colocado por Galfetti é a Flexibilidade Permanente que corresponde a possibilidade de modificar o ambiente ao longo da vida útil da edificação, ou seja, durante a ocupação. Esse último foi subdividido por Galfetti em três conceitos: mobilidade, evolução e elasticidade. Mobilidade é colocada por Galfetti como a capacidade de modificar o interior dos espaços de maneira fácil e rápida a fim de adaptá-lo a diferentes horas do dia e diferentes atividades. Evolução é a capacidade de modificações de longo prazo por consequência de mudanças na estrutura familiar. E, elasticidade é a capacidade de modificar a área habitável adicionando ou subtraindo ambientes. As estratégias incorporadas pelo presente trabalho a fim de atingir a flexibilidade foram buscadas em experiências de arquitetura flexível e combinadas. Buscando atender o conceito de flexibilidade inicial e dentro deste a flexibilidade planejada, coloca-se a oferta de diversas tipologias em uma mesma edificação que podem vir a ser escolhidas pelo usuário ainda na etapa de projeto e a possibilidade de customização da fachada a fim de atender melhor ao planejamento de uso para os ambientes internos. E buscando atender o conceito de flexibilidade permanente, a combinação das estratégias de utilização de paredes e divisórias leves e/ou móveis que se enquadram no conceito de evolução de Galfetti e a separação do espaço em espaços serventes e espaços servidos - nesse caso a flexibilidade, de acordo com Galfetti, se baseia em liberar espaços dos serviços e instalações a fim de alcançar um espaço neutro, isto é, que possa abrigar diferentes usos.
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referências projetuais 18
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A aproximação com os conceitos teóricos foi dada por referências projetuais. Desde edifícios que apresentam diferentes tipologias e possibilidade de rearranjo delas como o caso do edifício de Apartamentos Dogarilor, passando por projetos como a Habitação em Fukuoka do Steven Holl que explora a utilização de divisórias móveis e chegando a estudos como os de Yves Lion para concepção de espaços flexíveis a partir da bipartição entre espaços servidos e serventes. tgi_II mariana carloto
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o lugar 22
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São Carlos, localizada no interior de São Paulo com aproximadamente 250.000 habitantes, intitulada Capital da Tecnologia, abriga duas grandes universidades públicas: a Universidade de São Paulo (USP) – com dois campi situados no município – e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), além do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) e a instituição de ensino superior privado Centro Universitário Central Paulista (UNICEP). Tal concentração de universidades resulta em um considerável número de pesquisadores - um doutor (PhD) para cada 180 habitantes1 – e uma população flutuante de mais de vinte e nove mil pessoas2 entre graduandos e pós-graduandos. Endossando o caráter de pólo de desenvolvimento científico e tecnológico a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) mantém dois centros em São Carlos: Centro de Pesquisa de Pecuária Sudeste e Centro Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento de Instrumentação Agropecuária. A cidade também é um importante centro industrial que conta com unidades de produção de algumas empresas multinacionais como Volkswagen, Faber-Castell, Electrolux, Tecumseh, e de algumas nacionais como Toalhas São Carlos, Tapetes São Carlos, Papel São Carlos, Engemasa. 1 fonte: www.saocarlos.sp.gov.br - acesso em 01/11/2015 2 fonte: pt.wikipedia.org/wiki/São_Carlos_(São_Paulo) - acesso em 01/11/2015
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mapa_densidade demográfica_ fonte:censo2010
são carlos e região_ limite de município_fonte:googlemaps_acesso em 03|11|2015
limite de município e perímetro urbano
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Para o presente trabalho procurou-se uma área em um eixo de crescimento de São Carlos direcionado pela Av. Miguel Petroni. Algumas considerações favoreceram a escolha. Primeiramente por se tratar de uma área de crescimento da cidade, por já ter uma centralidade própria dada pela presença de diversos estabelecimentos de comércio e serviço além de equipamentos públicos e por se encontrar num interessante ponto médio entre os dois campi da USP em São Carlos e próximo também à Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) - considerando que as universidades tem importante contribuição no número de habitantes de São Carlos concentrando principalmente estudantes que residem na cidade somente durante o período de graduação ou pós-graduação.
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A região dispõe de diversos lotes não edificados capazes de abrigar o projeto de um edifício habitacional.
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Foram escolhidos dois terrenos próximos e passíveis de serem relacionados. A escolha foi pautada pela proximidade com a praça, a pista de skate e o ginásio de esportes visualizando a possibilidade de relacioná-los com o projeto. Os terrenos ainda estão favoravelmente conectados a paradas de transporte público das principais linhas da região. 30
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o projeto 34
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intensões de projeto
O projeto busca promover habitação para diversas demandas e diferentes usuários atendendo os princípios de flexibilidade já citados. Será apresentado em três escalas: conjunto, edifício e unidade, entendendo que a flexibilidade na habitação não se dá somente em termos de unidade isolada ou de edifício, mas também na concepção dos espaços coletivos sejam eles públicos ou privados. O ato de habitar – assim como a possibilidade de flexibilização – também não se restringe à unidade unifamiliar, mas abrange a cidade, em sua diversidade de usos e oportunidades. Nesse sentido, o projeto já localizado em uma região favorável busca ainda ser um conjunto com diversidade de usos – além da habitação – compondo com seu entorno imediato e com sua inserção urbana e as oportunidades que esta proporciona. tgi_II mariana carloto
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conjunto 36
A implantação foi pensada a fim de estabelecer uma conexão entre as ruas Miguel Petroni e Miguel João, conectando paradas de ônibus, e entre a área de implantação e as áreas livres ao redor - praça e pista de skate. Essa conexão é dada de forma concreta por uma praça majoritariamente seca entendida e pensada também como área externa e de possível ocupação para o equipamento cultural que se propõe para o térreo de suas imediações. Equipamento tal - salas para oficina, pequeno auditório, sala para exposição - que possa se relacionar com a pista de skate e a praça sendo considerado não somente local, mas capaz de abrigar uma demanda municipal dada a sua localização na cidade. Dividido em três edifícios, conforma toda a área da praça de conexão do conjunto. Nas proximidades da via prevê-se para o térreo, no restante do conjunto, o uso comercial. São implantadas habitações térreas quando a localização delas se mostra favorável, buscando não comprometer a privacidade dos habitantes em relação à rua. A área de conexão do conjunto recebe uma massa vegetal mais densa na esquina com a função de contenção e direcionamento do fluxo, porém, composta por árvores altas que não obstruam a vista da praça.
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edifício sobre pilotis
marquise - acesso ao centro cultural
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edifício sobre pilotis
cultural residencial comercial São previstos quatro andares devido a intensão de que o edifício se adeque a paisagem ao redor que não apresenta altos gabaritos, e ainda sem necessitar de elevador, apresente considerável densidade. Passarelas largas ligam os edifícios e são projetadas não somente como passagem, mas a fim de que possam ser usadas para outros propósitos – contemplação, espaço adicional de interação e encontro dos moradores. As dimensões generosas das passarelas por si só
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corte AA
corte BB
já são capazes de torná-las mais flexíveis. Os pavimentos superiores podem receber as tipologias, desenvolvidas para o projeto, aleatoriamente - podendo ser pensadas de acordo com a demanda ou escolhidas pelos primeiros usuários. O sistema proposto prevê que o edifício seja capaz de combinar as tipologias de diferentes maneiras. Com a possibilidade de tipologias duplex o gabarito pode vir a alcançar o quinto pavimento nesse caso.
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tipologias comerciais
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tĂŠrreo 5 tgi_II mariana carloto
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pavimento 01
pavimento 02
Tipologias escolhidas aleatoriamente a partir do primeiro pavimento para efeito de apresentação do projeto. Somam no total 92 unidades. O número de unidades pode ser diferente e variado de acordo com as unidades escolhidas pelos primeiros usuários para compor o edifício. 42
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pavimento 03
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pavimento 04
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subsolo 01 44
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praça de conexão entre área de projeto pista de skate e praça preexistente atualmente é um gramado vazio ao lado da pista de skate
praça
pista de skate
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edifício
O edifício é concebido em estrutura metálica pela capacidade de oferecer um vão livre considerável com elementos estruturais esbeltos. A modulação estrutural é colocada em 7 m x 4 m e tais dimensões são resultado de estudos sobre a concepção de um módulo neutro, isto é, um ambiente cujas dimensões permitem ser utilizado de diferentes maneiras – no caso da habitação: quarto, sala de estar, sala de jantar, sala de TV, escritório, etc. Cuidando para que este módulo neutro não fosse demasiadamente grande o mesmo foi fixado em 3m x 3m. A experimentação na justaposição de módulos neutros para concepção da unidade deixou evidente que além deles ainda se faz necessário reservar área para circulação. Sendo assim, foram estabelecidos os vãos estruturais para edificação 4 m (3m + 1m referente à circulação) e 7 m (3 m + 3 m + 1 m referente à circulação) constituindo um edifício em lâmina com as unidades dispostas em galeria e acessadas por corredor externo. É importante ressaltar que a concepção do edifício e das tipologias não garante que todos os ambientes tenham medidas 3 m x 3m, porém na medida do possível busca-se manter um ambiente com área e dimensões próxima a esse módulo neutro definido.
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O módulo estrutural básico compõe uma extensão de 28 m² - contados dos eixos estruturais - e a partir dela são dimensionadas e projetadas diferentes tipologias. 28 m² - estúdio; 56 m² - dois módulos; 84 m² - 3 módulos e 112 m² - 4 módulos. A solução modular permite que as tipologias sejam dispostas aleatoriamente – segundo as necessidades dos primeiros usuários – ao longo do edifício. Desse modo, não é concebido um pavimento tipo, mas colocada a possibilidade de composição de diferentes pavimentos com a intenção de atender o conceito de flexibilidade inicial. Quanto ao eixo hidráulico, ele é locado na superfície da edificação na extensão do corredor galeria e pontuado modularmente ao longo da lâmina. Pode ser facilmente acessado pelo corflexibilidade de usos e tipos na habitação
redor externo à unidade favorecendo a manutenção e atualização. Essa organização do sistema hidráulico garante que as tipologias habitacionais possam ser dispostas aleatoriamente ao longo dos pavimentos e permitir diferentes organizações internas. E a distribuição do sistema elétrico se dá pelo forro, garantido junto a viga em decorrência do uso da laje alveolar de concreto que dispensa viga intermediária. O projeto estrutural do edifício assim como a simplicidade e fácil legibilidade do sistema construtivo permite alterações futuras e inclusive a reorganização das unidades que podem vir a ser unidas ou divididas no sentido horizontal e vertical da edificação.
corredor galeria
duto hidráulico
varanda
28m²
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56m²
84m²
112m²
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A vedação do edifício se dá por painéis pré-fabricados, propondo-se a obra seca. São projetados 8 tipos de painéis para compor a fachada que podem ser escolhidos pelo primeiro usuário de acordo com a organização interna pretendida para a unidade habitacional. Tais painéis têm 1,20 m de largura, 1/3 do vão entre os pilares – dispostos a cada 4 metros nas fachadas.
esquadria de alumínio
persiana embutida na esquadria
1,20
2,58
1,00
vidro 56
guarda-corpo - painel com montante metálico, gesso acartonado na face interna, placa cimentícia na face externa e miolo de lã de vidro flexibilidade de usos e tipos na habitação
painel vidro fixo
painel duplo - largura 2,40 m porta de abrir e vidro fixo
painĂŠis esquadria fixa
painel duplo - largura 2,40 m portas de correr
painĂŠis porta
1,70
painĂŠis janela tgi_II mariana carloto
painel cego 57
A lateral cega do edifício lâmina é vedada com painel leve sustentado por montantes metálicos com a face interna em gesso acartonado, a face externa em placa cimentícia e o miolo preenchido por lã de vidro. Essa estrutura de painel compõe todo a face externa dos edifícios onde não há painel porta - está presente no guarda-corpo dos painéis janela. A divisória entre unidades tem a mesma estrutura sustentada por montantes metálicos e miolo em lã de vidro porém com gesso acartonado de ambos os lados. A divisória interna da unidade por sua vez segue a mesma estrutura com gesso de ambos os lados porém sem a lã de vidro.
chapa externa de placa cimentícia para fachada e gesso acartonado de ambos os lados para divisão entre unidades
(fonte: Catálogo Paredes Knauf. 2015)
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(fonte: Catรกlogo Paredes Knauf. 2015)
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(fonte: Catálogo Paredes Knauf. 2015)
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(fonte: Catรกlogo Paredes Knauf. 2015)
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edifício exemplo
Na cobertura do quarto pavimento – não necessariamente o último devido a existência de tipologias duplex – uma viga de maior altura se projeta sobre a fachada e suporta tirantes, os quais sustentam varandas e brises acopladas a fachada afim de conferir espaços de contemplação e controle da insolação. Tomou-se como exemplo um edifício do conjunto:
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cobertura
pavimento 04
pavimento 03
pavimento 02
tipologia tipologia tipologia tipologia tipologia tipologia tgi_II mariana carloto
01 - 28 m² 02 - 56 m² 03 - 56 m² duplex 04 - 84 m² 07 - 112 m² duplex comercial
pavimento 01
térreo
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edifício cultural 68
Os painéis de vidro fixo, porta e painel cego também são usados nos edifícios culturais mudando a altura somente na sala de exposição e auditório que tem um pé direito maior que o restante do conjunto. A marquise ligada a entrada da sala de exposições e a parada de ônibus, que segue a mesma linguagem, são projetadas em grelha metálica. flexibilidade de usos e tipos na habitação
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unidade 70
Foram concebidas, de acordo com a modulação estrutural já mencionada oito tipologias habitacionais. Que tem por princípio a criação de espaços servidos e espaços serventes, esses últimos podendo ser subdivididos com divisórias leves e/ou móveis a fim de promover uma flexibilidade permanente de caráter evolutiva. O desenho da tipologia foi pensado para receber painéis leves de gesso acartonado estruturados com perfil metálico na dimensão comercial de 1,20 metros de largura, evitando desperdícios e facilitando a montagem. Painéis cegos e com porta são capazes de subdividir a unidade de diversas maneiras diferentes. A seguir são apresentadas as unidades com algumas possibilidades de subdivisão da mesma.
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tipologia 01
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tipologia 02 - alternativa
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referências bibliográficas ARGAN, G. C. Projeto e destino. São Paulo: Ática, 2001. BARBIRATO, G. M. ; MARROQUIM, F. M. G. Flexibilidade espacial em projetos de habitações de interesse social. BRANDÃO, D. Q. ; HEINECK, L. M. Formas de Aplicação da Flexibilidade Arquitetônica em Projetos de Edifícios Residenciais Multifamiliares BRANDÃO, D. Q. Personalização do produto habitacional: novas demandas e respostas das tecnologias de construção. XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Curitiba, Paraná, 2002. GALFETTI, G. G. Pisos Piloto Células domésticas experimentales. Barcelona, 1997
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bibliografia _ARGAN, G. C. Projeto e destino. São Paulo: Ática, 2001. _BARBIRATO, G. M. ; MARROQUIM, F. M. G. Flexibilidade espacial em projetos de habitações de interesse social. Universidade Federal de Alagoas. Alagoas, 2007. _ BRANDÃO, D. Q. Personalização do produto habitacional: novas demandas e respostas das tecnologias de construção. XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Curitiba, Paraná, 2002. _BRANDÃO, D. Q. ; HEINECK, L. M. Formas de Aplicação da Flexibilidade Arquitetônica em Projetos de Edifícios Residenciais Multifamiliares. _ GALFETTI, G. G. Pisos Piloto. Células domésticas experimentales. Barcelona, 1997 _MARTINS, M. S. ; ROMANINI, A. ; MUSSI, A. Q. ; FOLLE, D. Projeto de habitações flexíveis de interesse social. Campinas, 2013. _SCHNEIDER, T. ; TILL, J. Flexible Housing. Architectural Press. 2007. _TEIXEIRA, B. A. R. Flexibilidade: uma contribuição para a sustentabilidade. Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Construção Civil da Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Engenharia da UFMG. Belo Horizonte, 2011.
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