sinapses: centro de atendimento de referência ao TEA

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sinapses





UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

SINAPSES centro de referência de atendimento ao TEA

MARIANA RIBEIRO DE CASTRO

sob orientação de: SOLANGE MARIA DE OLIVEIRA SCHRAMM


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca Universitária Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Ribeiro de Castro, Mariana. Sinapses: Centro de Referência de Atendimento ao TEA Mariana Ribeiro de Castro. – 2018. 162 f. : il. color. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Tecnologia, Curso de Arquitetura e Urbanismo, Fortaleza, 2017. Orientação: Profa. Dra. Solange Maria de Oliveira Schramm. 1. Centro Terapêutico. 2. Apoio a Crianças com Autismo. 3. Arquitetura Sensorial. 4. Estimulação Precoce. I. Título. CCD 720


MARIANA RIBEIRO DE CASTRO

SINAPSES centro de referência de atendimento ao TEA

BANCA EXAMINADORA

PROFA. SOLANGE MARIA DE OLIVEIRA SCHRAMM Universidade Federal do Ceará

PROF. BRUNO MELO BRAGA Universidade Federal do Ceará

ARQ. ANA CECÍLIA SERPA BRAGA VASCONCELOS Universidade de Fortaleza

Fortaleza, dezembro de 2018.


antigamente, na civilização oriental, os nativos chamavam seu deus de “laço”. a força divina que une a corda, que faz cruzar o tempo entre as pessoas. os laços que construímos são um dom divino. representam o tempo que transcorre e, por vezes, modificam-se e se interceptam, emaranham-se e desemaranham-se. por todos esses fios que se cruzam e se unem para deixar meu mundo com contornos mais nítidos, agradeço:


a Deus, causa primária e essência vívida de todas as coisas. aos meus pais, Vera e Helano, pelo amor incondicional que transpassa existências. por serem início e espelho de todos os bons sentimentos que me permeiam o coração. por acreditarem no meu caminho e por me fazerem abrigo no aconchego de um olhar. à minha irmã Isabela, pelos rotineiros atos de amor e de companheirismo que me incentivam a seguir em frente. por sempre se fazer presente e por despertar o que há de melhor em mim. à minha amiga e professora Solange, por compartilhar vivências e saberes de maneira tão doce e inspiradora. pela sabedoria que orienta meus percursos e pela sensibilidade que me acolhe e me fortalece. aos professores Bruno e Renan, por serem figuras de inspiração que me motivam e me fazem acreditar verdadeiramente na minha escolha profissional à arquiteta Ana Cecília, pela gentileza e disponibiliade ao aceitar o convite para compor essa banca. às amigas Maiara, Brenda, Bianca e Carol, por trilharem comigo esse caminho repleto de alegrias e obstáculos. pelo companheirismo tão valioso que alimenta e fortalece o espírito. à Sara e à Stela, pela cumplicidade de sempre e por permanecerem ao meu lado nos bons momentos e nas adversidades da vida; às amizades tão antigas e verdadeiras que os primeiros anos de estudo me trouxeram; à Gisele, pelo apoio e carinho construídos há tempos; à Mariana, Maira e Geisa, por toda a nostalgia das madrugadas de riso; à Patrícia, Larissa, Letícia, e Catharine, pela leveza que me trazem com sorrisos e afeto; à Lara, Bianca, Bia e Raquel, por todas as alegrias compartilhadas. aos meus amigos do Escritório Ladrilho, pela oportunidade diária de aprendizado e por todo o apoio que me ofereceram nesse período; e, por fim, à minha adorada universidade que, com suas mangueiras, pessoas, sons, cheiros e cores, torna aquele lugarzinho tão grande que parece maior que o mundo. ali, por instantes que transbordam eternidade, minha vida tornou-se mais rica, mais diversa, mais humana.



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imersão

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sinestesia

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reverberações

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materialização

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ESCOPO


O presente trabalho é consequência do frutífero encontro entre uma inquietação pessoal e a identificação de uma problemática local. A arquitetura como objeto construído é um fenômeno capaz de produzir efeitos, e essa íntima relação entre o meio físico e a mente humana estrutura-se como alicerce principal do processo de diagnóstico e de intervenção do projeto proposto. Nessa visão, a psicologia ambiental afirma que, a partir de estímulos multissensoriais controlados, o ambiente pode estimular a modificação das redes neurais e, consequentemente, a estruturação de novos comportamentos humanos. A essa abordagem soma-se o conceito de fenomenologia do habitar, que estabelece o corpo humano como local de percepção e investigação dos sentidos no processamento de respostas sensoriais. Nessa visão, a arquitetura adquire o papel primordial de resgatar a unidade cósmica entre matéria, ambiente e imaginação, estabelecendo a experiência espacial e plástica do edifício como reflexo direto da existência humana. A aplicação prática desses conceitos psicológicos e fenomenológicos da arquitetura fez-se possível diante da investigação do espaço como promotor de práticas terapêuticas destinadas ao tratamento de transtornos neurobiológicos do desenvolvimento. Nesse caminho, identificou-se o preocupante panorama, na cidade de Fortaleza, do diagnóstico e do tratamento de crianças portadoras do Transtorno do Espectro Autista [TEA]. Considerado atualmente como uma questão de saúde pública mental, o TEA tem experimentado notável crescimento em seu número de diagnósticos durante os últimos anos. O aumento da taxa de prevalência do transtorno é ainda mais alarmante quando analisamos, no cenário nacional e local, a significativa ausência de proporcionalidade no crescimento de estruturas espaciais especializadas em seu diagnóstico e tratamento. Ainda, a maior parte dos espaços de intervenção existentes possui um caráter adaptado e improvisado, que impossibilita uma abordagem que faça frente à grande complexidade de fatores perceptivos e sensoriais envolvidos nas manifestações clínicas do transtorno.


Devido às múltiplas particularidades sintomatológicas observadas nos portadores do TEA, a eficiência da intervenção terapêutica é condicionada à elaboração de sistemas espaciais específicos, que contemplem as individualidades refletidas em cada quadro clínico. A estrutura ambiental deve facilitar a redução dos consequentes problemas de agitação, hiperatividade, isolamento social, estereotipais e resistências a novas situações advindos do espectro; ao mesmo tempo, deve possibilitar o desenvolvimento de potencialidades e habilidades latentes como forma de estímulo a novos processos cognitivos. O estudo em questão, portanto, propõe a elaboração de um projeto arquitetônico específico para a criação de um Centro de Referência de Atendimento ao TEA, com foco nas atividades terapêutica durante os primeiros anos de vida da criança. A intervenção precoce - isto é, o tratamento realizado durante a infância do indivíduo - estabelece-se aqui como instrumento com maior eficácia para a potencialização dos resultados terapêuticos, uma vez que essa faixa etária corresponde ao período de maior neuroplasticidade do cérebro humano. Os objetivos traçados para esse novo núcleo terapêutico baseiam-se numa abordagem transdisciplinar, que contemple os múltiplos níveis de realidade envolvidos na problemática do transtorno. Busca-se, portanto, a concepção de espaços destinados ao desenvolvimento social e relacional; a redução de comportamentos prejudiciais à integridade física e mental; o desenvolvimento de habilidades funcionais e potencialidades individuais; o oferecimento de cursos de capacitação profissional para a área médica; e por fim, ao apoio às famílias, orientando-as quanto às possíveis técnicas e estratégias que podem ser utilizadas na para a promoção de estímulos e vínculos afetivos necessários ao desenvolvimento cognitivo da criança. Nesse contexto, o universo lúdico infantil e a esfera psicológica do homem favorecem uma abordagem experiencial e sensorial, em que os princípios da psicologia ambiental e da arquitetura fenomenológica estruturam-se como base para a concepção de sistemas espaciais particulares.


É importante destacar que o espectro autista permanece, na atualidade, como um mundo em processo de descoberta. A heterogeneidade de manifestações comportamentais e os diversos graus de acometimento dos sintomas do transtorno dificulta a determinação de diagnósticos objetivos para o tratamento. Cada quadro clínico é um microcosmo, um pequeno universo com necessidades particulares. O projeto em questão, portanto, adquire um caráter de experimentação, um processo de “tatear” o desconhecido; considera-se, portanto, a possibilidade de futuras mudanças nos modelos de intervenção, à medida em que crescerem as referências bibliográficas acerca do tema. O ponto de partida é um mergulho numa realidade pouco conhecida. Uma análise mais aprofundada das repercussões neurobiológicas do transtorno fornece pistas para a adoção de posturas arquitetônicas coerentes, alimentadas pelo repertório projetual de arquitetos que se destacam por sua sensibilidade e riqueza de experiências na composição espacial. Em seguida, os pressupostos teóricos são materializados numa organização estrutural interna e externa do espaço que busca, sobretudo, a consolidação de determinados processos cognitivos, visando à conquista de autonomia e de melhores condições de vida por parte da criança. Em suma, objetiva-se a arquitetura como promotora de novas sinapses.



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OLAVO BILAC

eu vos direi: amai para entendĂŞ-las pois sĂł quem ama pode ter ouvidos capaz de ouvir e entender as estrelas


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UMA ABORDAGEM HISTÓRICA O termo “autismo” origina-se do Grego “autos”, que significa “de si mesmo”; remete, portanto, a uma condição de isolamento, de solidão, de desligamento em relação ao nosso plano de realidade. Tal denominação foi empregada pela primeira vez pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler, em 1916, para descrever a condição de retraimento interior e de fuga da realidade em pacientes acometidos pela esquizofrenia. Essa denominação foi retomada 29 anos mais tarde, em 1943, pelo psiquiatra austríaco Leo Kanner. O médico publicou um artigo científico com o relato de onze crianças que apresentavam determinadas semelhanças patológicas, relativas à inabilidade no relacionamento interpessoal e à deficiência no desenvolvimento da linguagem e de habilidades motoras. Kanner, ao perceber que o quadro clínico descrito não se enquadrava em nenhuma das classificações existentes na psiquiatria infantil, denominou a nova síndrome de “distúrbio autístico do contato afetivo”.

Nós podemos concluir, portanto, que estas crianças vieram ao mundo com uma incapacidade inata para o contato afetivo usual com as pessoas, biologicamente previsto, exatamente como as outras crianças vêm ao mundo com deficiências físicas ou intelectuais. KANNER, 1943, p. 230 [1]

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A partir de então, iniciaram-se pesquisas para a elaboração de hipóteses etiológicas relacionadas às novidades clínicas descritas por Kanner. Nesse período, vários estudos na área médica buscavam comprovar a influência do ambiente e, mais especificamente, das interações sociais sobre o desenvolvimento infantil. O psicólogo norte-americano Harry Harlow, a partir de experimentos de separação maternal em animais, reiterou que o cuidado continuado seria um fator muito mais determinante na salubridade do desenvolvimento psicológico do que as condições biológicas e naturais. Nesse contexto, passou-se a atribuir ao autismo uma etiologia de origem psicológica e relacional, resultado eminente da criação de pais frios e distantes. O psicólogo norte-americano Bruno Bettelheim foi um dos maiores defensores de tal hipótese, descrevendo em seu livro “A Fortaleza Vazia” a ideia da “mãegeladeira”; mães frias, distantes, que rejeitavam seus filhos e conduziam-lhes a um quadro psicótico de isolamento social. Contudo, segundo Gadia [2] apud SCHMIDT [3], a partir de 1960, diversos estudos científicos começaram questionar a hipótese da etiologia parental do autismo. Dentre eles, cita-se uma pesquisa orientada pela psiquiatra infantil norteamericana Marian Demyer, em 1972. Contemplando 96 famílias em seu corpo de estudo, a análise consistia num questionário acerca de uma série de medidas a respeito de práticas de cuidado infantis. As conclusões daí resultantes indicaram que não havia diferenças significativas na qualidade das interações parentais - no que se refere a termos de aceitação, práticas de amamentação, cuidados emocionais e estímulos cognitivos em geral - entre as famílias de pessoas com autismo e os outros grupos estudados.

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O resultado dessa pesquisa, assim como de outros estudos posteriores, repercutiu no progressivo descarte das teorias psicogênicas acerca do transtorno, que passou a ser considerado como uma síndrome comportamental de quadro orgânico. Essa hipótese biológica ganhou o aval do próprio Leo Kanner, através de novas publicações que contradiziam muitas de suas declarações anteriores. A partir de então, as interveções diagnósticas passaram a ser voltadas para as próprias crianças, em vez de estarem centradas na família do paciente; constatouse, em paralelo, a necessidade do desenvolvimento de estruturas de suporte familiar, com o ensino de técnicas de auxílio no enfrentamento dos problemas comportamentais da síndrome.

É reconhecido por todos os observadores (...) que o autismo não é uma doença primariamente adquirida ou feita pelo homem. (...) Fazer os pais se sentirem culpados ou responsáveis pelo autismo de seu filho não é apenas errado, mas adiciona de modo cruel um insulto a um dano. KANNER, 1968, p. 25 [4]

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1935 leo kanner publica a obra ‘distúrbios artísticos do contato afetivo’, descrevendo um novo transtorno caracterizado por déficits de interação social

1962 bruno bettelheim publica o livro ‘a fortaleza vazia’, defendendo a teoria psicogênica como hipótese etiológica do transorno

1972 marian demyer coordena uma pesquisa familiar acerca de práticas de cuidado infantil que contribui para o futuro descarte de teorias psicogênicas

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PREVALÊNCIA E DIAGNÓSTICO De acordo com a mais recente classificação estabelecida pela 5ª edição do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais [DSM-V] [5], o autismo pertence à categoria denominada Transtornos de Neurodesenvolvimento, e é reconhecido oficialmente pela nomenclatura Transtorno do Espectro Autista [TEA]. O distúrbio neurobiológico apresenta prevalência correspondente, atualmente, à proporção de um caso a cada 68 crianças - revelando um aumento de cerca de 30% com relação aos dados de 2012. [6] Para viabilizar a identificação e o diagnóstico do transtorno, o DSM-V estabelece suas três principais manifestações clínicas:

1

2

3

déficit qualitativo na interação social e comunicação

padrões de comportamento repetitivos

repertório restrito de interesses e atividades

Embora todas os portadores apresentem em certo nível as dificuldades supracitadas, a variação do grau de acometimento dos sintomas é significativamente alta. Além disso, diversas outras manifestações podem estar presentes - deficiência intelectual, déficit de atenção, distúrbios gastrointestinais etc. Dessa maneira, o termo “espectro” é utilizado para refletir as imensas variações do transtorno, de maneira a considerá-lo não como uma condição específica e determinada, mas como uma síndrome que abarca subtipos variados, tal como uma matiz de cores.

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Devido ao desconhecimento acerca de seus marcadores genéticos, o diagnóstico do espectro exige uma avaliação comportamental da criança e uma entrevista com os pais, conduzidas preferencialmente por psiquiatras infantis ou neurologistas. Ainda, é essencial que a família, a escola e o pediatra estejam atentos aos marcos evolutivos do desenvolvimento infantil, que, quando alterados, indicam a possibilidade de manifestação do transtorno. Durante o diagnóstico, algumas escalas padronizadas podem ser utilizadas para definir o grau de acometimento dos sintomas e, dessa maneira, permitir a elaboração de um plano individual de tratamento, em coerência com as deficiências e particularidades identificadas. A abordagem mais eficiente no tratamento do TEA é a intervenção precoce isto é, a aplicação de técnicas psicoterapêuticas durante a primeira infância da criança, de zero a seis anos de idade. Isso porque tal intervalo de tempo corresponde ao período de maior neuroplasticidade do cérebro; ou seja, da sua capacidade de originar novas redes cognitivas e de desenvolver habilidades e potencialidades latentes. Teixeira [2016, p. 58] refere-se a esses anos de vida como “janelas de oportunidade”, oferecendo altas possibilidades de aprendizagem e de desenvolvimento psicomotor.

Na identificação de atrasos importantes no desenvolvimento da criança, precisamos acender o sinal de alerta e iniciar uma investigação detalhada (...) quanto mais cedo for dado o diagnóstico, melhores serão as oportunidades de tratamento. TEIXEIRA, 2016, p. 40-53 [7]

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PANORAMA NACIONAL E LOCAL No cenário nacional e local, um dos principais empecilhos à realização de um prognóstico eficiente do transtorno é a demora no processo de detecção e intervenção; enquanto a recomendação médica é a realização do diagnóstico até os dois anos de vida, a média nacional situa-se entre cinco e sete anos de idade. [8] Essa deficiência decorre, dentre outros motivos, de um panorama histórico nacional de desenvolvimento tardio de espaços destinados a identificar e acolher os portadores do espectro. Até o início do século XXI, a população encontrava atendimento apenas em instituições filantrópicas, como a Associação de Amigos do Autista, fundada em 1983 por iniciativa de grupos familiares dos pacientes. A primeira iniciativa governamental na contemplação dessa problemática ocorreu somente em 2001, com a estruturação de uma rede de atenção para crianças e adolescentes com transtornos mentais - correspondente aos Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil, integrados ao Sistema Único de Saúde. Devido a esse desenvolvimento recente, identifica-se, tanto no contexto nacional quanto no município de Fortaleza, a deficiência quantitativa de instituições dedicadas ao tratamento do TEA. No cenário local, localizam-se quatro organizações sem fins lucrativos - Casa da Esperança, Pintando o Sete, Recanto Pedagógico, Projeto Diferente e Centro de Integração Psicossocial - e sete instituições privadas - Perspectiva TEACCH, Espaço Terapêutico, Núcleo de Atenção Médica Integrada [NAMI], Núcleo de Tratamento e Estimulação Precoce [NUTEP], Centro Internacional de Análise Relacional [CIAR], Centro Especializado em Autismo e outros Transtornos do Desenvolvimento [CEATD] e Conviv Neurociências e Reabilitação [img. 01]. Dos equipamentos mapeados, apenas um deles - a Casa da Esperança constitui uma unidade de intervenção exclusiva ao espectro. Nas demais estruturas, as práticas terapêuticas são voltadas ao tratamento de transtornos do desenvolvimento em geral, e o baixo nível de especialização espacial compromete a adequação física e programática às particularidades dos portadores do TEA.

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01 casa da esperança - luciano cavalcante

07 projeto diferente - aldeota

02 integração psicossocial - praia do futuro

08 ciar - aldeota

03 perspectiva teacch - dionísio torres

09 pintando o sete - benfica

04 recanto psicopedagógico - papicu

10 nami - edson queiroz

05 espaço terapêutico - bairro de fátima

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06 nutep - rodolfo teófilo

12 conviv - papicu

ceatd - papicu

N

7

4 8

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2

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1

9 6 5

1

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5km


[img 01] estabelecimentos destinados a transtornos do desenvolvimento no município. elaborado sobre base CAD da Prefeitura Municipal de Fortaleza.

Situada no bairro Luciano Cavalcante e financiada pelo Sistema Único de Saúde [SUS], a Casa da Esperança foi fundada em 1993, por iniciativa de grupos familiares de crianças com TEA. O equipamento contempla o atendimento a todas as faixas etárias do espectro, e sua estrutura de interveção é dividida em quatro setores principais - intervenção precoce, oficinas terapêuticas, atendimento educacional especializado e núcleo de atenção à família. Os diversos setores terapêuticos estão dispostos em diferentes blocos de edifícios, articulados por meio de uma extensa área verde. Ali, as árvores de médio e grande porte sombreiam os percursos dos usuários e favorecem a configuração de zonas externas de recreação [img. 02, 03]. O equipamento destaca-se por uma abordagem transdisciplinar refletida na diversidade de atividades oferecidas, que consideram tanto a necessidade de enfrentamento das dificuldades psicomotoras dos portadores quanto a possibilidade de aproveitamento de suas potencialidades individuais para o desenvolvimento de novas habilidades [img. 04, 05]. Aos espaços destinados à música, serigrafia, pintura, reforço pedagógico e atendimentos individuais, somase a utilização das áreas de circulação para a exposição dos trabalhos artísticos produzidos pelos pacientes. A principal problemática identificada no edifício traduz-se na pouca representatividade de espaços destinados à intervenção durante o intervalo da primeira infância. O setor de intervenção precoce é reduzido a três pequenas salas com cerca de 20m², de maneira que o aproveitamento das “janelas de oportunidade” anteriormente citadas é intensamente comprometido. As demais deficiências são observadas no tratamento interno dos ambientes: o mobiliário em geral apresenta um aspecto improvisado e desgastado pelo uso, que compromete a integridade física dos usuários e inviabiliza a adaptação às diferentes necessidades comportamentais; a falta de espaços para armazenamento de objetos dificulta a organização e clareza espacial; as unidades de condensadores voltadas aos espaços de circulação repercute na propagação de ruídos e afeta a agradabilidade dos percursos [img. 06, 07].

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[img 02] vista da área externa ajardinada do edifício, que permite a configuração de zonas de recreação ao ar livre. acervo pessoal. [img 03] pátios internos utilizados como extensão das atividades terapêuticas dos blocos ao redor. acervo pessoal.


[img 04, 05] oficinas de pintura e artesanato, favorecendo o fazer criativo como método terapêutico de intervenção. acervo pessoal [img 06, 07] o caráter improvisado do mobiliário e a qualidade ambiental deficiente das áreas de circulação. acervo pessoal.


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Além disso, o tratamento uniforme dos diferentes blocos terapêuticos e das áreas de circulação, somados à ausência de sinalizadores e elementos de comunicação visual, dificulta o reconhecimento e a orientação espacial dos portadores. Nos demais equipamentos, as problemáticas identificadas resultam da falta de adequação às necessidades individuais do transtorno; o excesso de informações visuais dos ambientes favorecem quadros de estresse e de ansiedade nos portadores e dificultam seu processo de adaptação a novos contextos espaciais [img. 08]. Além disso, há uma especialização restrita a uma área específica de intervenção - física, cognitiva ou pedagógica -, o que dificulta a apreensão da complexidade sintomatológica do espectro e, consequentemente, inviabiliza a elaboração de um plano global de intervenção [img. 09]. Considerando-se os mais recentes dados do IBGE acerca da população do município de Fortaleza [9] e, ainda, tomando como base a prevalência mundial do TEA [6], estipula-se a presença local de aproximadamente 26.000 habitantes portadores do espectro. Em contrapartida, segundo as informações obtidas junto aos profissionais das instituições privadas, a capacidade de atendimento por parte das unidades de tratamento corresponde a cerca de 2.500 crianças por ano.

[img 08] sala de terapia ocupacional da clínica Conviv. o excesso de informações visuais dificulta a adaptação da criança portadora do TEA ao novo contexto ambiental. acervo pessoal. [img 09] Centro de Psicomotricidade Relacional, cujas atividades de intervenção limitam-se ao desenvolvimento físico e motor da criança. acervo pessoal.

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Observa-se, portanto, o enorme descompasso existente entre a oferta e a demanda de equipamentos de intervenção terapêutica no município, impossibilitando o diagnóstico precoce e a elaboração de um plano de tratamento individual efetivo. Essa deficiência repercute diretamente na sobrecarga de atendimentos da rede pública: uma vez indicada a possibilidade do transtorno pelo profissional de saúde, a família do paciente é submetida a longas filas de espera - que podem durar até cerca de oito anos - para a consulta com o psiquiatra infantil ¹.

ong’s

proporção entre os tipos de instituições que oferecem tratamento ao transtorno no município

25%

75%

entidades privadas

exclusivo

proporção entre instituições com tratamento exclusivo ao TEA e com atendimento voltado aos transtornos do desenvolvimento em geral

10%

90%

não exclusivo

89%

pessoas não atendidas

pessoas atendidas

proporção entre população local portadora do TEA e a capacidade de atendimento por parte das instituições privadas existentes

32

11%


01 | microcosmos

DIFICULDADES DE INTERVENÇÃO

diagnóstico tardio

sobrecarga de pacientes na rede pública

ausência de unidades de tratamento

A presença pouco significativa de espaços voltados exclusivamente ao tratamento do TEA constitui um empecilho adicional nas práticas de intervenção, uma vez que suas especificidades exigem a estruturação de ambientes altamente especializados. Na quase totalidade das unidades de saúde e de atendimento terapêutico existentes, o manejo do transtorno é conduzido em paralelo ao tratamento de outros distúrbios neurológicos. Para realizarem seus atendimentos, os profissionais da saúde adaptam determinados ambientes inicialmente destinados a outras atividades, ou dividem os espaços comuns disponíveis com outros profissionais. Evidencia-se, dessa maneira, a urgente necessidade de concepção de novas unidades de tratamento na rede pública do município de Fortaleza, voltadas primordialmente à intervenção precoce nos primeiros anos de vida da criança. Soma-se a isso a demanda por estruturas de apoio familiar e de consicentização populacional acerca das possíveis manifestações do espectro, incentivando a complementação de sua bibliografia ainda pouco desenvolvida.

¹ dados obtidos a partir de entrevistas realizadas junto aos profissionais da Secretaria de Saúde do município de Fortaleza.

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imersĂŁo


CHARLES BUKOWSKI

há um pássaro azul no meu coração que quer sair mas eu sou demasiado esperto, só o deixo sair à noite, por vezes, quando todos estão a dormir.


02 | imersão

REDES NEURAIS Na elaboração de um projeto arquitetônico eficiente e significativo, as considerações compositivas não se restringem aos aspectos formais, estéticos e normativos, mas também relacionam-se com as condições ambientais que podem ser percebidas pelos usuários a partir de suas redes neurais. Pallasmaa [1986] afirma que, na atividade projetual, “não projetamos edifícios primordialmente como objetos físicos, mas como as imagens e os sentimentos das pessoas que os habitam” Assim, no desenvolvimento de espaços psicoterapêuticos destinadas ao tratamento do transtorno, a primeira etapa consiste na melhor compreensão de seus processos mentais e dos principais prejuízos psicomotores e sociais observados, produzindo uma arquitetura condizente com a consciência de quem a vivencia. Essas informações, portanto, servirão como base para o esclarecimento dos mecanismos de percepção do espaço característicos dos portadores do espectro, permitindo a concepção de estruturas espaciais que auxiliem no desenvolvimento de suas potencialidades cognitivas.

O real problema do TEA não é a incapacidade de aprendizagem, mas o fato de que a criança não aprende a partir de experiências espontâneas do dia-a-dia, tal como ocorre com as crianças de desenvolvimento típico. FARBMAN apud PARON-WILDES, 2013, p.11 [11]; tradução livre

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SUBJETIVIDADE E SIMBOLISMO

Um dos pilares das manifestações clínicas do TEA é a deficiência do pensamento subjetivo. A criança com autismo parece ser exclusivamente centrada em seus interesses pessoais e em seu universo particular, não demonstrando quaisquer gatilhos internos para estabelecer temáticas interativas externas. Tal incapacidade relaciona-se com a denominada “Teoria da Mente”, que, segundo Premack e Woodruff [1978], significa “a capacidade para atribuir estados mentais a outras pessoas e predizer o comportamento das mesmas em função destas atribuições”. Associado a tais deficiências de habilidades sociais, os portadores do transtorno apresentam um pensamento literal, ausente de imaginação e de flexibilidade mental que lhe permitam compreender simbolismos. Essa interpretação rígida da linguagem ocasiona dificuldade para entender quaisquer figurativismos - sarcasmo, humor, metáforas, figuras de linguagem, duplo sentido, etc. A interação com os objetos ao redor adquire um caráter puramente mecânico e sensorial, com pouca contribuição cognitiva.

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MOVIMENTAÇÃO E ESPAÇO

Ferrari [13] observa que a criança com TEA vive em um mundo de experiências globais fracionadas, fragmentadas nos pequenos detalhes, sem a capacidade de organizar as informações visuais e cognitivas em um conjunto coerente; consequentemente, há uma limitação da habilidade de orientação espacial e adequação a novos contextos ambientais. A psicomotricidade - definida por Alves [14] como o resultado da ação do sistema nervoso sobre a musculatura - é prejudicada no que diz respeito aos estímulos corporais, gerando deficiência nas capacidades de lateralidade, deslocamento, coordenação motora e equilíbrio. Ressalta-se ainda a usual presença de estereotipais, que podem ser definidas como ações repetitivas realizadas sem um objetivo ou finalidade específicos; são, portanto, conduzidas unicamente pela busca do prazer físico ou da autorregulação sensorial. Alguns exemplos de estereotipais motoras são o flapping - movimento de sacudir as mãos -, rocking - movimento de balançar o tronco para frente e para trás -, andar na ponta dos pés, correr sem objetivo claro ou estalar os dedos.

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COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM

Um dos grandes empecilhos dos portadores de TEA no estabelecimento de interações sociais é a sua comunicação verbal pouco desenvolvida. No geral, observa-se grande dificuldade para dar sentido à linguagem e utilizá-la para fins de comunicação, devido às deficiências das habilidades de abstração, simbolismo e codificação. Observa-se, assim, a preferência por estímulos não-verbais, destacando-se os recursos visuais. O espaço, nesse sentido, adquire um papel fundamental no auxílio à compreensão do entorno, uma vez que possibilita a utilização de atributos visuais - cores, peso, formas, texturas - como mecanismos prioritários de comunicação. De acordo com Grandin [15], as informações graficamente representadas pela escrita ou pelo desenho podem ser mais bem compreendidas que as mensagens faladas. Além das estereotipias motoras anteriormente citadas, são comuns as estereotipais verbais, caracterizadas pelo fenômeno da ecolalia - repetição mecânica de palavras, frases ou sons, sem finalidade linguística. Ainda, segundo Schmidt [16], a fala pode ser monótona, com volume inadequado, inflexões estranhas e velocidade inapropriada.

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02 | imersão

PERCEPÇÃO SENSORIAL

Notam-se também alterações nos mecanismos de percepção e de resposta aos estímulos do ambiente. Normalmente, o ser humano orienta-se no espaço a partir da captação e organização das informações à sua volta por meio de seus sistemas sensoriais: visual, tátil, olfativo, gustativo, auditivo e vestibular. Essa habilidade é denominada integração social, e é fundamentalmente necessária para a apreensão plena da realidade que nos cerca. Os portadores do TEA apresentam dificuldades na captação de diferentes estímulos ao mesmo tempo. Esse prejuízo neurobiológico repercute em quadros de hiper ou hipersensibilidade; a percepção da entrada sensorial tende a ocorrer de maneira distorcida, diminuída ou exageradamente elevada. Assim, cada indivíduo do espectro apresenta uma maneira própria de perceber, apreender e sentir o mundo ao seu redor. No campo visual, há uma preferência de orientação a partir de aspectos locais da informação, prendendo-se à observação de um pequeno detalhe do ambiente em detrimento à percepção do conjunto como um todo.

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RESTRIÇÃO E OBSESSÃO

Os processos de socialização dos indivíduos com o espectro são significativamente afetados por seu comportamento altamente restritivo ou obsessivo. Há um excessivo apego a rotinas, e a previsibilidade das situações estrutura-se como uma necessidade fundamental. [17] Devido à inabilidade de regular comportamentos de acordo com a mudança de contexto social, os portadores do TEA revelam-se extremamente agitados ou agressivos diante de pequenas mudanças ou situações inesperadas. Os processos restritivos também são observados na hiperatenção comumente dada a tópicos específicos presentes na rede neural. Os portadores do TEA apresentam interesses obsessivos, anormais em sua intensidade e foco, diante de determinado assunto – seja ele expressado através de uma música, cor, comida, roupa, animal etc.

[img. 10, 11, 12] série de pinturas produzidas por criança com TEA, exposta na Casa da Esperança, em Fortaleza; a arte é reflexo do interesse obsessivo do autor pela temática de trens. acervo pessoal.

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A PSICOLOGIA AMBIENTAL Os prejuízos neurobiológicos explicitados sugerem, na concepção de projetos arquitetônicos para espaços terapêuticos, uma abordagem eminentemente psicológica da arquitetura; ou seja, a consideração do espaço como mecanismo promotor de novas redes neurais e de novos processos cognitivos - ou, como conceituado por Bachelard [1993, p. 64] em seus estudos acerca da topoanálise, como um “diagrama de psicologia que guia os escritores e os poetas na análise da intimidade”. É válida, nesse sentido, a exploração do campo de conhecimento da Psicologia Ambiental, que, ao tecer íntima relação entre o ambiente construído e o comportamento humano, estabelece o meio físico projetado com ferramenta capaz de influenciar no desenvolvimento neurobiológico dos portadores do transtorno. Essa questão também é abordada por Broadbent [1978], nos seus estudos acerca de uma abordagem pragmática e semiótica da arquitetura, em que estabelece o edifício como “um canal de informação que está permanentemente enviando mensagens - visuais, acústicas, térmicas etc que são recebidas por um de nossos sentidos e decodificadas de acordo com a experiência pessoal do observador”. O campo de conhecimento da Psicologia Ambiental foi desenvolvido na década de 1960 - a partir, sobretudo, dos estudos do psicólogo norte-americano Kurt Lewin -, no contexto de reconstrução das cidades destruídas pela Segunda Guerra Mundial [20]. Essa vertente psicológica aborda o reconhecimento de uma relação dualística bidirecional entre o homem e o meio físico que o cerca, a partir de um intercâmbio dinâmico de influências. Ao mesmo tempo, portanto, em que o indivíduo altera constantemente o espaço à sua volta, o meio físico também modifica o comportamento humano e influencia suas relações interpessoais. Longe de ser um organismo neutro ou puramente passivo, o ambiente é capaz de assumir um caráter polivalente,

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gerador de inúmeras reações específicas, que conduzem o usuário a determinadas relações sociais ou modos de utilização do espaço. A interferência do espaço sobre o indivíduo ocorre a partir da captação de estímulos ambientais, de natureza físico-química, pelos sistemas sensoriais. São, em seguida, transformados em impulsos nervosos e, após serem processados pelo sistema nervoso central, desencadeiam determinadas respostas adaptativas. Considerando-se o cérebro humano como um sistema adaptativo complexo – isto é, que permite a manifestação de respostas psicomotoras inicialmente não esperadas – conclui-se que os estímulos ambientais constantes e repetitivos podem ser utilizados na geração de novos processos cognitivos. Nesse sentido, Sella afirma:

Os estímulos do ambiente e as experiências vividas são os principais mediadores para a ocorrência da plasticidade cerebral, definida como a capacidade adaptativa do sistema nervoso central, podendo reorganizar e modificar funções adaptando-se às mudanças internas e externas. SELLA, 2008, p. 60-61. [21]

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sinapses

1 estímulos sensoriais do meio físico

2 processamento pelo sistema nervoso

3 geração de novos processos cognitivos

Essas interações relacionais entre o cérebro humano e a dimensão construtiva dos espaços são, ainda, afirmadas por Hertzberger [2008, p. 226], quando cita que “o espaço de arquitetura compreende uma resposta aos fenômenos e camadas de significado presentes em nossa consciência pluralista”. Compreende-se, assim, que a utilização de determinadas relações espaciais podem facilitar novos comportamentos que, por sua vez, potencializem o desenvolvimento neurobiológico dos portadores do TEA. Na caracterização do vocabulário arquitetônico passível de ser manipulado a partir dessa abordagem, mostra-se válida a didática categorização elaborada por Ching [23] quanto às ordens físicas, perceptivas e conceituais da arquitetura; essas ordens são descritas por artifícios que, ao serem configurados de diferentes formas, traduzem experiências sensitivas distintas e, consequentemente, induzem a diferentes comportamentos e relações sociais de seus usuários. Uma abordagem prática da utilização de elementos arquitetônicos para a potencialização de diferentes estímulos pode ser exemplificada a partir da análise comparativa entre os projetos do Museu Judaico de Berlim [img. 13, 14, 15], de Daniel Libeskind, e da Igreja sobre a Água, de Tadao Ando [img. 16, 17]; evidencia-se o contraste entre a atmosfera propositalmente opressiva e desagradável do primeiro com o ambiente espiritualista e meditativo do segundo. Essas diferenças de percepção física, por sua vez, conduzem a modos particulares de apropriação do espaço e condicionam as relações sociais ali estruturadas.

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02 | imersão

o vocabulário arquitetônico de ching

a ordem física referente aos elementos de organização da forma e do espaço do edifício

estrutura sólidos e vazios interior e exterior

a ordem perceptiva referente aos artifícios de percepção sensorial e reconhecimento do espaço

fluxos e circulações programa de atividades luz, cor, textura, som

a ordem conceitual referente aos artifícios de representação de relações e significados projetuais

imagens padrões símbolos e sinais

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[img. 13, 14, 15] o Museu Judaico de Berlim, de Daniel Libeskind, demonstra o espaço como gerador de confusão, confinamento e mal estar. A planta labiríntica, os corredores estreitos, as paredes cegas e o aspecto áspero e frio dos materiais empregados transmitem a sensação de repressão e opressão sofrida pelos judeus durante a ocupação nazista na Alemanha. banco de imagens archdaily.


[img. 16, 17] na Igreja sobre a Água, de Tadao Ando, a paisagem é manipulada no âmbito religioso a partir de um percurso que induz à literal submersão em um lago coberto por flores de lótus. As transparências dos dois cubos sobrepostos que compõem a edificação possibilitam o íntimo contato com o exterior, gerando uma atmosfera harmoniosa e revigorante. banco de imagens archdaily.



sinestesia


MANOEL DE BARROS

o olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê. é preciso transver o mundo (...) é preciso desformar o mundo: tirar da natureza as naturalidades fazer cavalo verde, por exemplo fazer noiva camponesa voar como em Chagall.


03 | sinestesia

A FENOMENOLOGIA DO ESPAÇO A repercussão arquitetônica dos princípios relacionais entre homem e meio físico estabelecidos pela Psicologia Ambiental é concretizada a partir de uma arquitetura eminemtemente sensorial; ou seja, uma arquitetura “transóptica”, cuja riqueza compositiva ultrapasse uma percepção puramente visual ou funcional do edifício e considere os sentidos humanos em sua totalidade. As características físicas, táteis e visíveis do espaço são utilizadas para a construção de atmosferas arquitetônicas - isto é, espaços físicos que se comuniquem intimamente com nossa percepção emocional, elevando a sensibilidade à condição de protagonista nas investigações relacionais acerca do homem e do objeto.

Toda e qualquer experiência arquitetônica é multissensorial; as qualidades do espaço, matéria e escala são medidos igualmente por olhos, ouvidos, nariz, pele, língua, esqueleto e músculos. A arquitetura reforça a experiência existencial, a sensação de estar no mundo. PALLASMAA, 2005, p.11 [24]

Essa visão multissensorial aproxima-se intimamente de uma postura fenomenológica da arquitetura, que busca a superação de uma abordagem puramente diagramática e funcionalista do ato de construir; considera, sobretudo, o “habitar” em sua totalidade, o lugar como a concretização das propriedades básicas da existência humana.

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[img. 18, 19] Luis Barragán, no projeto da Quadra San Cristóbal, proporciona uma experiência multissensorial a partir dos muros cegos e perfurados dos volumes, do som e da água em movimento, do cheiro da vegetação e do contato com o solo sem pavimentos. banco de imagens archdaily.

O edifício, assim, adquire a função primordial de reforçar a experiência do sujeito no espaço, a partir da exploração do potencial expressivo de cada elemento construtivo. Nesse processo, corpo e espaço são considerados dentro de uma unidade cósmica indissociável através de uma abordagem polifônica dos sentidos; ou seja, da interação constante de todos os canais sensoriais do ser humano, numa aproximação à abordagem sinestésica de Goethe quando cita que “as mãos querem olhar, os olhos querem acariciar”. [1983, p. 308 apud Pallasmaa, 2011, p. 13]. Reforçando essa postura conceitual, Noerberg-Schulz [25] descreve como propósito primordial da arquitetura a concepção de um ponto de apoio existencial que propicie a orientação e identificação com o caráter específico de um lugar. Sua afirmação comunica-se com a filosofia de Bachelard [1993, p. 26], quando afirma que, sem arquitetura, “o homem seria um ser disperso. Ela mantém o homem através das tempestades do céu e das tempestades da vida. É corpo e é alma.” Essa postura fenomenológica também é reiterada por Steven Holl, ao conceituar a materialidade do edifício como a única forma artística capaz de captar plenamente a imediatez das percepções sensoriais:

Uma experiência cinemática de uma catedral de pedra pode levar o observador através e por cima dela (…) mas só o edifício permite que o olho deambule por entre os detalhes engenhosos; pelas sensações táteis da textura da pedra; pela experiência da luz cambiante com o movimento; pelo cheiro e os sons que ecoam no espaço e as relações corporais de escala e proporção. STEVEN HOLL, 2012 [26]

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03 | sinestesia


sinapses

A abordagem fenomenológica do lugar é precisamente traduzida no projeto das Termas de Vals, de Peter Zumthor, construído em 1996 no interior dos Alpes suíços, ao lado de uma fonte de águas termais. Ali, a racionalidade no emprego dos materiais e técnicas construtivas é aliada a uma sensibilidade estética que objetiva a concepção de microcosmos particulares. Ao optar por uma construção semi-enterrada nas montanhas, com uma coberta revestida por vegetação, o arquiteto estrutura uma perfeita simbiose entre natureza e arquitetura e veicula as experiências ambientais internas com os percursos externos da paisagem. No spa de Zumthor, o ato de banhar transpassa sua função de mera prática de higiene pessoal e converte-se num ritual de purificação espiritual e celebração social. Luz, pedra água e concreto são utilizados para a configuração de atmosferas distintas, e as seis piscinas ali projetadas diferenciam-se pelo estímulo a diferentes canais sensoriais: no banho de som, as altas paredes de pedra ecoam e modificam os sons emitidos pelos usuários; no banho de flores, pétalas submersas criam um aroma particular e potencializam as “memórias líquidas” do olfato; nos banhos de fogo e gelo, a temperatura da água induz a diferentes sensações táteis, reforçadas por luzes artificiais de diferentes cores. As gradações de luz e sombra e de espaços abertos e fechados, aliadas à iluminação difusa que entra pelos rasgos da cobertura, configuram um edifício capaz de despertar associações diversas, sem impor uma direção experiencial específica. Ao envolver as dimensões mentais de sonhos, imaginações e desejos do usuário, as termas de Zumthor aproximam-se da abordagem sensorial proposta por Pallasmaa [2011, p.11], quando cita que a edificação “redireciona nossa consciência para o mundo e nossa própria sensação de termos uma identidade e estarmos vivos; a arquitetura significativa faz com que nos sintamos como seres corpóreos e espiritualizados“.

[img. 20] o edifício semi-enterrado na paisagem, articulado como uma extensão da topografia existente. banco de imagens archdaily. [img. 21] o interior configurado como uma gruta moderna, em que a luz e a pedra são manipuladas para reforçar a experiência sensorial. banco de imagens archdaily.

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03 | sinestesia


sinapses

OS SENTIDOS NA PRÁTICA A partir de uma dimensão sensorial e experiencial, a arquitetura potencializa sua capacidade de influenciar diretamente nos mecanismos perceptivos do homem; essa abordagem, portanto, é particularmente válida no processo projetual de espaços terapêuticos destinados ao TEA, em que o impacto no desenvolvimento neurobiológico dos portadores, a partir de qualidades ambientais bem estruturadas, atua como veículo de facilitação de novos processos cognitivos.

Os princípios da arquitetura sensorial foram empiricamente testados, e suas evidências preliminares indicam que os usuários com autismo mostram aumento da capacidade de atenção, da velocidade de resposta a estímulos ambientais e da qualidade do temperamento comportamental. MOSTAFA, 2014, tradução livre [28]

Utiliza-se como base, portanto, o referencial teórico acerca dos prejuízos neurobiológicos dos portadores do TEA para eleger determinados princípios de composição necessários à concepção de atmosferas compatíveis com as necessidades de seus usuários. O estudo das reflexões teóricas e materializações práticas de arquitetos como Mostafa e Hertzberger conduziu à determinação de quatro principais fundamentos compositivos a serem considerados na concepção projetual: legibilidade espacial, organização em compartimentos, zoneamento sensorial e estimulação-reclusão.

PALLASMAA, 2005, p.11 [36]

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03 | sinestesia

LEGIBILIDADE ESPACIAL

Por conta de sua percepção visual fragmentada e dos prejuízos nas habilidades proprioceptivas, crianças com TEA costumam experimentar sensações de ansiedade e desorientação diante de novos contextos espaciais. Verifica-se, portanto, a necessidade de sistemas ambientais legíveis, que proporcionem a rápida compreensão de sua lógica de distribuição funcional e espacial. Esse princípio é abordado por Heitzberger [2008, p. 226], quando descreve como função da arquitetura ”a transparência dos diferentes níveis de experiência e, por conseguinte, do funcionamento e interligação das coisas”. A organização espacial a partir de unidades modulares pode favorecer o reconhecimento e a percepção das partes num todo compreensível. A orientação dos percursos é facilitada pela estruturação de circulações unidirecionais, com mínimas distrações ou interrupções, que viabilizem a transição fluida e natural de uma atividade para outra. Ainda, Grandin [29] refere-se ao conceito de “pensar em imagens” - isto é, a utilização de “marcos visuais” que atuem no reconhecimento de diferentes setores espaciais - conceito também recorrente nos estudos de Lynch acerca da imaginabilidade do edifício, quando cita que “a forma, a cor e a organização espacial devem facilitar a formação de imagens mentais vividamente identificadas e fortemente estruturadas” [1960, p. 09]. Defende-se, assim, a importância de promover artifícios que auxiliem no reconhecimento e na padronização ambiente, garantindo a sensação de segurança emocional no indivíduo e potencializando sua capacidade de apropriação do espaço [img. 22, 23].

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[img. 22, 23] no jardim de infância Podgorje, do arquiteto Jure Kotnik, a orientação espacial é favorecida por pinturas no piso, que demarcam um caminho sinuoso entre as salas de aula, e por placas de sinalização que comunicam as diferentes atividades desenvolvidas. Ainda, determinados elementos lúdicos demarcam as áreas coletivas e atuam como marcos visuais. banco de imagens archdaily.

a modulação pode ser utilizada para facilitar a organização espacial de maneira legível

os marcos visuais podem ser estruturados como nós de referência, auxiliando na orientação pelo espaço

os ambientes devem ser articulados de modo a favorecer os percursos bem definidos e unidirecionais

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03 | sinestesia


sinapses

ORGANIZAÇÃO EM COMPARTIMENTOS

A legibilidade espacial relaciona-se também com a recomendação de Mostafa [31] quanto à necessidade de compartimentação do edifício, a partir da definição e limitação clara de cada atividade. O projeto deve, portanto, considerar a concepção de unidades que abriguem zonas de trabalho claramente definidas, com as qualidades sensoriais correspondentes. Esse método compositivo auxilia o portador do transtorno a manter rotinas diárias que facilitem suas atividades e seus processos cognitivos; além disso, favorece a concentração nas tarefas propostas, a partir da promoção de uma regulação sensorial individualizada para cada setor de atividades. A diferenciação entre os variados compartimentos pode ser facilitada pela utilização de diferentes cores, marcadores de piso, padrões compositivos e texturas, além da associação com os marcos visuais anteriormente citados. Ainda, a separação física entre eles não exige a utilização de elementos rígidos; pode ser estruturada, por exemplo, a partir de diferenças do nível do piso, disposição do mobiliário ou até mesmo alteração nas qualidades sensoriais – iluminação, acústica, relação com o exterior etc [img. 24, 25, 26]. Apesar da necessidade de estabelecimento de uma função definida, o ambiente deve ser dotado de flexbilidade suficiente para atender às necessidades individuais de cada usuário; para isso, pode-se utilizar, por exemplo, um mobiliário móvel, que possibilite de diferentes conformações e divisões espaciais.

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03 | sinestesia

compartimentação a partir da estruturação de diferentes blocos de atividades

compartimentação a partir da variação no nível do piso na locação dos blocos de atividades

compartimentação a partir da diferença de relação com o espaço externo - aberturas zenitais

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[img. 24, 25, 26] no jardim de infância Elefante Amarelo, do escriório xystudio, as salas de aula são compartimentadas em unidades dispostas ao redor de um pátio central que conduz à transição entre exterior e interior e define diferentes zonas de atividades. cada sala de aula é estruturada dentro de uma paleta de cores personalizada, aplicada tanto nos revestimentos quanto no mobiliário, conferindo-lhe uma identidade própria. banco de imagens archdaily.


03 | sinestesia

ZONEAMENTO SENSORIAL

Diante de suas alterações nas habilidades de percepção, os portadores do TEA podem ser beneficiados com a substituição do zoneamento funcional típico pelo zoneamento sensorial. [31] Em vez do agrupamento derivado puramente das partir das funções a serem desempenhadas no ambiente, os espaços devem também considerar o nível de estímulo necessário a cada local. Definem-se, então, áreas de alto estímulo - salas de música e dança, cantina, setores de serviço etc. - e áreas de baixo estímulo sensorial - salas de terapia, fonoaudiologia, ou salas de aula em geral. Essa separação diminui os riscos de uma sobrecarga sensorial decorrente da ampla variação no nível de estímulos ambientais; ademais, possibilita o tratamento diferenciado de cada área, no que se refere aos atributos de iluminação, ventilação, cores, materiais e relação com o espaço externo. A passagem entre esses diferentes espaços deve ser facilitada pelo que Mostafa chama de “zonas de transição” [31]. São ambientes que evidenciam a mudança do contexto espacial a partir de uma atmosfera sensorial distinta; podem ser estruturados em uma variedade de formas e de elementos - ou ainda associadas às áreas externas do edifício –, desde que proporcionem a adaptação e regulação dos sentidos na transição entre diferentes setores. [img. 27, 28]. Associam-se ao conceito de “intervalos” de Heitzberger, quando afirma que estes “constituem, essencialmente, a condição espacial para encontro e diálogo entre áreas de ordens diferentes e (...) fornecem uma oportunidade para a acomodação entre mundos contínguos” [2008, p. 32-35].

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[img. 27, 28] no jardim de infância anexo à Universidade de East China, do escritório Scenic, um módulo hexagonal é utilizado para configurar um sequenciamento de salas de aula e pátios internos e externos. esses pátios, ao mesmo tempo em que fortalecem a percepção e exploração do espaço, auxiliam na regulação sensorial durante a transição entre diferentes atividades e geram uma circulação mais fluida e natural pelo espaço. banco de imagens archdaily.


03 | sinestesia

ESTIMULAÇÃO E RECLUSÃO

As diferentes reações de hiper ou hipossensibilidade apresentados pelos portadores do TEA exigem a configuração de um projeto flexível do ponto de vista de regulação sensorial. No aspecto espacial, esse controle pode ser associado ao grau de abertura e de isolamento das variadas áreas do edifício, de modo que possam ser criadas condições para uma grande diversidade de contatos - considerando tanto a necessidade de integração social quanto a necessidade de intimidade e introspecção. Assim, não se deve impor nem o contato social nem a ausência de contato social, e os fechamentos e aberturas devem proporcionar um equilíbrio que contemple as necessidades particulares de cada criança [img. 29, 30, 31]. Da mesma forma que as crianças com TEA necessitam de ambientes que estimulem as atividades sociais de extrospecção - a partir de ambientes amplos e iluminados, visualmente abertos e integrados com a paisagem -, suas reações de hiperssensibilidade exigem a configuração de espaços de reclusão, que atuem como uma alternativa de refúgio à grande quantidade de estímulos ambientais captados no meio físico. Além do grau de permeabilidade espacial e visual, a ambientação interna - no que se refere aos materiais, cores, texturas e disposição do mobiliário - também pode ser utilizada para a composição de ambientes com maior ou menor grau de estimulação sensorial.

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[img. 29, 30, 31] no centro de crescimento infantil +123, do escritório Wutopia Lab, o nível de interação e reclusão dos ambientes é controlado a partir da utilização de nichos nas alvenarias, painéis perfurados e aberturas de diferentes formatos e dimensões. Esses artifícios diversificam as linhas variadas formas de apropriação do espaço. de visão visãoe permitem e permitem variadas formas de apropriação do banco debanco imagens archdaily. espaço. de imagens archdaily.

aberturas e fechamentos podem ser configurados para garantir maior ou menor integração e permeabilidade visual do ambiente com relação à paisagem

a altura do pé direito do ambiente influencia na percepção de espaços mais amplos de integração e espaços mais reclusos de isolamento

as linhas de visão dos ambientes podem ser governadas para garantir divisões adequadas entre áreas de introspecção e extrospecção

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sinapses

UMA ABORDAGEM EXPERIENCIAL Na atual sociedade contemporânea, observa-se a progressiva substituição de uma experiência espacial e plástica, embasada na existência humana, por uma arquitetura cenográfica, baseada na estratégia psicológica da publicidade e da persuasão instantânea. O desenvolvimento da imprensa, da publicidade, da fotografia, do jornal e da poesia visual conduziram a sociedade ao privilégio epistemológico da visão, com repercussões diretas no campo arquitetônico. Ao converter-se eminentemente numa manipulação visual passiva, o edifício perde seu atributo de tatilidade e desconsidera as medidas e detalhes elaborados para o corpo humano. Convém, nesse sentido, a análise de obras arquitetônicas que façam frente à corrente da atual “arquitetura do espetáculo” - numa alusão aos conceitos precisamente desenvolvidos por Guy Debord, em seu livro “the Society of the Spectacle” - e direcionem-se à promoção da experiência do espaço, a partir de transações potenciais entre corpo, imaginação e ambiente. Considerandose a temática de análise em questão, notadamente psicológica e cognitiva e direcionada prioritariamente ao público infantil, a questão experiencial estabelece-se como questão central no estímulo à formação de novas redes neurais. Abordam-se, portanto, três diferentes obras que se estabelecem como referênciais arquitetônicos significativos, uma vez que ilustram o espaço como promotor de experiências sensitivas variadas através, sobretudo, da conciliação de polaridades - fechamento e abertura, intimidade e exterioridade, amplitude e reclusão. Neles, os fundamentos compositivos de legibilidade, compartimentação e zoneamento são materializados numa arquitetura que é, ao mesmo tempo, silenciosa e expressiva; ou seja, que reforça a experiência humana dentro de uma notável simplicidade formal, destacada pela pouca quantidade de elementos visuais e construtivos.

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03 | sinestesia

UMA ALDEIA NO CHIFRE DA ÁFRICA O SOS Children’s Village, projetado por Urko Sanchez, situa-se em Djibouti, no chifre da África. O projeto constitui, em sua essência, o entendimento do habitar e do limite enquanto elementos determinantes de composição. Aqui, as especificidades do clima, a qualidade da luz, a experiência humana e a malha urbana existente são forças que se somam para construir uma consciência poética do lugar. Desde o início, o programa se estabelece como principal condicionante da obra: solicita-se um projeto de 15 alojamentos para a execução de programas de fortalecimento familiar, com o objetivo de prevenir a retirada da criança de seu lar de origem. O ponto de partida, portanto, é a criação de espaços semelhantes a pequenas vilas, em que pátios internos configuram-se, para a criança, como artifícios de equilíbrio entre a sensação de independência o mundo exterior - e de segurança - o mundo interior [img. 32, 33, 34]. Os vazios interiores são articulados por ruas estreitas que, sombreadas pelas edificações do entorno, atuam como corredores de vento, em resposta ao clima árido da região. Os alojamentos do edifício voltam-se para dentro, protegendo os residentes de quaisquer intrusões externas que prejudiquem a segurança e proteção das crianças; ao mesmo tempo, porém, comunicam-se com os espaços abertos do interior, em que praças e quadras estimulam a convivência e a recreação familiar [img. 35, 36, 37]. Do ponto de vista formal, o programa é disposto de modo semelhante a uma fortificação - aproxima-se da tipologia das medinas árabes, aglomerados urbanos cerceados por muralhas. As reduzidas aberturas ao ambiente exterior, juntamente com a monocromia do tratamento em concreto das alvenarias, conferem à aldeia um aspecto de “barreira” aos transeuntes, estruturando internamente uma atmosfera de reclusão e introspecção. A horizontalidade do edifício permite sua integração harmônica no contexto construtivo do entorno, caracterizado por uma urbanização ainda não consolidada.

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[img. 32, 33, 34] a escala tátil e a tectônica do edifício estruturam uma atmosfera fechada e introspectiva, com alojamentos que, ao voltarem-se para dentro, criam vazios internos que atuam como elementos de integração e fortalecimento familiar. banco de imagens archdaily.


áreas verdes

pátios internos

alojamentos

[img. 35] planta baixa esquemática, com a articulação entre edificações e vazios interiores. [img. 36, 37] a utilização dos pátios internos como espaços de recreação e convívio social

aberturas reduzidas

elementos de sombreamento

redução de aberturas para o exterior

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sinapses

O ORFANATO DE VAN EYCK O Orfanato Municipal de Amsterdã sintetiza uma materialização icônica das reflexões estéticas e políticas elaboradas por Van Eyck, no que se refere à arquitetura do pós-guerra. Finalizado em 1960 e encomendado como um orfanato para crianças de todas as idades, o edifício configura-se como um reconciliador de polaridades: é, ao mesmo tempo, casa e cidade; compacto e policêntrico; único e diversificado; claro e complexo; estático e dinâmico; contemporâneo e tradicional. O plano espacial do orfanato é disposto horizontalmente a partir de um grid ortogonal, composto por unidades modulares repetidas com sutis variações [img. 38]. Nos módulos menores, conformam-se os alojamentos, e no maiores situam-se os espaços comuns - ginásio, biblioteca, cozinha, lavanderia e espaços administrativos [img 39]. A disposição dessas unidades ao longo da planta estrutura diversos pontos de interação, numa associação não-hierárquica definida pela ligação espacial dos alojamentos infantis com pequenos vazios internos - considerados pelo arquiteto como “espaços de transição” potencialmente destinados à convivência e às atividades lúdicas da criança. Esse binômio dentro-fora proporciona uma circulação fluida, em que dois caminhos diagonais se articulam para permitir o acesso aos diferentes espaços do edifício. O aspecto formal é gerado a partir da disposição escalonada dos alojamentos e da alternância, no tratamento externo, entre planos abertos envidraçados e planos fechados de tijolo cerâmico. A cobertura do edifício é estruturada a partir de cúpulas piramidais de base quadrada, suportadas por pilares redondos e vigas “T” de concreto. Apesar da utilização de uma malha estrutural aparentemente rígida, a grande variedade de espaços do orfanato permite a composição de uma arquitetura sensorialmente rica, fundamentada na relação em escala entre pequenas e grandes estruturas componentes de um mesmo todo [img 40, 41, 42].

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espaços de transição

[img. 38] planta baixa esquemática, demonstrando a utilização da modulação para compor diferentes ambiências espaciais

[img. 39] esquemas de zoneamento e compartimentação espaços livres

alojamentos

áreas de serviço


[img. 40, 41, 42] espaços internos e externos do orfanato, ilustrando a sequência de unidades que se articulam para estabelecer diferentes contatos entre interior e exterior, num modelo formal claro, organizado e expressivo. banco de imagens archdaily.


03 | sinestesia

O HOSPITAL INFANTIL DE ROBSON E COOPER O hospital infantil Nelson Mandela, dos escritórios de arquitetura Sheppard Robson e John Cooper Architecture, consiste numa instalação pediátrica terciária que contempla diversidade de especialidades de tratamento cardiovascular, neurologia, oncologia etc. -, além promover módulos de pesquisa acadêmica e de capacitação profissional. A sensibilidade sensorial na percepção espacial é aqui expressa a partir do rompimento com a tradicional ideia do “edífico caixa”, gerador de longos corredores e de ambientes usualmente pouco conectados com a paisagem; em seu lugar, surge uma abordagem experiencial baseada nos fundamentos compositivos de compartimentação e de setorização, promovendo uma dinamização do espaço e uma conexão mais frutífera e intensa com o meio exterior [img. 43]. O zoneamento sensorial é aplicado a partir da diferença de níveis: os serviços de ambulatório - de alta carga sensorial - situam-se no primeiro pavimento, pelo qual ocorre o acesso ao edifício; as instalações de cuidados intensivos e as enfermarias - de baixa carga sensorial situam-se, respectivamente, no pavimento térreo e no segundo pavimento, em espaços privados mais resguardados [img. 44]. Essa setorização, portanto, ao mesmo tempo em que evita cruzamentos indesejados, facilita a regulação dos parâmetros ambientais apropriados para cada atividade. Em cada um dos pavimentos, os serviços hospitalares são divididos em seis diferentes alas, articuladas por um eixo de circulação que se abre em quatro pontos de encontro principais, que configuram os núcleos de interação social do edifício [img. 45]. Externamente, cada uma das alas apresenta uma coloração diferente dos brises horizontais de proteção solar, dando-lhe uma identidade distinta [img. 46, 47]. Ao mesmo tempo em que promove atributos de legibilidade e clareza espacial, a partir da eficiência na distribuição espacial interna e da economia de recursos visuais compositivos, o edifício mantém um caráter lúdico e um dinamismo formal que atendem às demandas do universo infantil. Na área externa, três jardins, ornados com elementos paisagísticos nativos, fortalecem a experiência sensorial e dão suporte às atividades terapêuticas do interior [img. 48].

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[img. 43] repercussão formal externa da distribuição espacial interior, aliando o dinamismo e a lucidicade à sobriedade e à clareza espacial

01 02 03

[img. 44] zoneamento estruturado em níveis: [1] enfermarias; [2] ambulatório; [3] tratamento intensivo.

pátios internos

alas setoriais

[img. 45] planta esquemática ilustrando a compartimentação espacial articulada por núcleos de encontro.


[img. 46, 47] a compartimentação do edifício em seis alas, diferenciadas pela coloração dos brises na fachada. base de imagens archdaily. [img. 48] os jardins externos conformados nos espaços entre as reentrâncias formais do edifício. base de imagens archdaily.



reverberaçþes


ADÉLIA PRADO

uma ocasiĂŁo, meu pai pintou a casa toda de alaranjado brilhante. por muito tempo moramos numa casa, como ele mesmo dizia, constantemente amanhecendo.


04 | reverberações

O NOVO CENTRO DE REFERÊNCIA A partir de uma abordagem analítica do panorama local de tratamento e diagnóstico do TEA, justifica-se a necessidade imediata do projeto de um novo Centro de Referência de Atendimento ao transtorno, com foco no tratamento de crianças de 0 a 12 anos de idade - estabelecendo, portanto, a intervenção precoce como condição primordial para a eficiência do diagnóstico. Contemplam-se não apenas as atividades psicoterapêuticas para a formação de novas redes neurais, mas também o fornecimento de estruturas de apoio familiar que orientem o acompanhamento da criança em ambientes menos controlados. Objetiva-se, ainda, a configuração de espaços que promovam debates e discussões acerca do tema, assim como cursos de formação e capacitação para a área médica, promovendo maior eficiência nos métodos de diagnóstico e na elaboração de planos de intervenção terapêutica. Apesar das crescente discussões acerca do tema, as condições neurobiológicas do TEA ainda são permeadas de incertezas e imprecisões; há uma diversidade de métodos de intervenção, baseados em interpretações subjetivas acerca das melhores maneiras de lidar com as peculiaridades e prejuízos advindos do espectro. O projeto em questão, portanto, insere-se numa linha experimental de intervenção; a concepção e a articulação do programa absorvem a possível necessidade de mudanças e de adaptações futuras, de acordo com as novas descobertas efetuadas a respeito do transtorno. A abordagem psicológica e fenomenológica da arquitetura são utilizadas como fundamentações conceituais para a transposição arquitetônica das práticas terapêuticas já conhecidas, de maneira que o espaço atue como instrumento de facilitação para o desenvolvimento de novas redes cognitivas. A seguir, elucida-se o processo de composição do projeto: a escolha do terreno que melhor atenda aos objetivos de qualificação e de expansão das estruturas de atendimento ao transtorno; a elaboração de um programa de necessidades compatível com os prejuízos neurobiológicos anteriormente elucidados; e, por fim, a materialização espacial dos objetivos projetuais pré-estabelecidos.

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sinapses

O BAIRRO VILA UNIÃO Tendo em vista as significativas limitações psicomotoras presentes no quadro clínico de crianças com TEA, as questões de acessibilidade do projeto estabelecem-se como ponto primordial. A proximidade do edifício em relação aos principais núcleos de atendimento infantil do município é um fator determinante na escolha do terreno, cumprindo o duplo papel de conectar-se espacialmente a um polo de saúde já consolidado e de facilitar o transporte de pacientes entre as unidades de tratamento. Nesse sentido, propõe-se a localização do projeto proposto no bairro Vila União, pertencente à Regional IV e limitado ao sul com o terreno do aeroporto de Fortaleza. A região se destaca pela presença do Hospital Infantil Albert Sabin [img. 52], um órgão estadual que atua como Centro de Referência Nacional para a promoção da saúde da criança e do adolescente. Além de serviços de pediatria geral, o equipamento oferece atendimentos de neurologia, oncologia, cardiologia e emergência clínica e cirúrgica. Ainda, em 2010, a partir de uma ação conjunta com a Associação Peter Pan o Hospital inaugurou o Centro Pediátrico do Câncer [img. 51], edifício anexo que abrange unidades de terapia intensiva, salas de quimioterapia, enfermaria e atendimento médico e psicológico. O tecido urbano possui aspecto fragmentado, de uso predominantemente residencial, de modo que a maior parte do fluxo de pessoas é derivada dos equipamentos de saúde ali presentes. As arborizadas ruas de tráfego calmo, a prevalência de casas com um ou dois pavimentos e a pouca presença de equipamentos comerciais e culturais de grande porte conferem uma atmosfera tranquila e agradável à região [img. 54, 55].

[img. 49] localização do bairro Vila União e de seus equipamentos principais. elaborado sobre base de imagem aérea google earth.

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limites do bairro linha parangaba-mucuripe equipamentos educacionais 01

hospital infantil albert sabin

02 centro pediátrico do câncer 03 associação peter pan 04 lagoa do opaia 05 praça vila união 06 praça m estela braga 07 praça parreão 08 estação de metrô vila união


sinapses

A esse cenário, soma-se a grande quantidade de terrenos desocupados, a presença de espaços livres significativos no bairro e no entorno próximo - a praça M. Estela Braga, a praça Vila União e a praça Parreão - e o recurso hídrico da Lagoa do Opala, nos limites com a região do Aeroporto. Observa-se ainda, quanto aos usos predominantes, a significativa presença de creches infantis e escolas de educação primária, como a creche municipal Teodorico Barroso, a creche infantil Papa João XXIII, a escola Nova Cultura, a escola creche Primeiros Passos e a escola creche Charles Catunda. A acessibilidade da região é favorecida por sua proximidade com a rodovia BR-116, situada ao leste, e pela presença da Estação Vila União, pertencente à linha Parangaba-Mucuripe do Metrô de Fortaleza. Configurada em formato de VLT [Veículo Leve sobre Trilhos], a linha passa atualmente por um processo de expansão, visando à ligação entre duas importantes áreas da cidade: Parangaba e Papicu. Por fim, a conexão com o centro de Fortaleza é possibilitada por duas grandes vias: a Avenida dos Expedicionários e a Avenida Luciano Carneiro, em cujo entorno concentra-se a maior parte dos equipamentos comerciais e de serviço do bairro. O entorno dos equipamentos de saúde é marcado por vias locais com limites de velocidade reduzidos, a partir de sinalização horizontal e vertical e de faixas de pedestre elevadas [img. 56]. A via localizada em frente ao Centro Pediátrico do Câncer, denominada Rua da Esperança, destaca-se por seu tratamento de rua compartilhada: o leito carroçável, estruturado em piso intertravado, é nivelado com a calçada, e a separação entre ambos é feita a partir dos canteiros de vegetação e do mobiliário urbano ali presente [img. 53].

[img. 50] perspectivas esquemáticas de zoneamento, terrenos desocupados e classificação viária no bairro vila união. elaborado sobre base de imagem aérea google earth.

86


04 | reverberações

uso residencial uso institucional áreas livres uso comercial | serviços recurso hídrico

lotes com terrenos desocupados ou subutilizados

via arterial via coletora via local

87


[img. 51] entrada do Centro Pediátrico do Câncer, situado na rua da esperança. acervo pessoal. [img. 52] entrada do Hospital Infantil Albert Sabin, na rua Tertuliano Sales. acervo pessoal. [img. 53] mobiliário urbano e elementos paisagísticos na rua da esperança, separando o leito carroçável do tráfego de pedestres. acervo pessoal.




[img. 54, 55] tecido urbano horizontal da região, com a predominância de residências unifamiliares e unidades comerciais de pequeno porte. acervo pessoal. [img. 56] os limites de velocidade reduzidos nas vias do entorno das unidades de saúde do bairro. acervo pessoal.


sinapses

O TERRENO O terreno destinado à situação do projeto proposto localiza-se na porção norte do bairro, delimitado pelas ruas Abelardo Marinho, João Araripe e Moreira Gomes. O local atualmente abriga uma área de estacionamento pertencente ao Hospital Infantil Albert Sabin [img. 58], e situa-se a três quadras desse equipamento - o equivalente a cerca de 300 metros de distância. Observam-se, no sítio, duas principais características potencialmente relevantes à implantação do edifício: por um lado, a proximidade com o principal polo de atendimento infantil do município, facilitando a locomoção dos pacientes entre as unidades de atendimento, de acordo com as necessidades diagnosticadas; por outro, a significativa presença de terrenos desocupados e subutilizados no entorno, que possibilitam a futura inserção de novos equipamentos de saúde, atendendo à crescente demanda local por serviços de assistência médica à saúde mental na primeira infância. O novo Centro de Referência, assim, transcende à sua função arquitetônica e estrutura-se como elemento urbanístico de integração entre as unidades de saúde existentes e os terrenos desocupados, que permitem a futura formação de um novo polo de atendimento infantil [img. 60, 61]. A escolha do sítio também é motivada pela presença, na quadra à frente, da creche infantil municipal Papa João XXIII [img. 59]. A proximidade do edifício junto a uma instituição acadêmica favorece a potencialização do raio de influência do equipamento, incentivando um processo de conscientização acerca das características e possibilidades de tratamento do TEA e, ainda, favorecendo a estruturação de projetos de expansão das atividades ali desenvolvidas.

sítio do projeto edificações relevantes áreas verdes 2,5

5km

terrenos desocupados ou subutilizados 01

[img. 57] localização do terreno e caracterização do entorno. elaborado sobre base de imagem aérea google earth.

hospital infantil albert sabin

02 centro pediátrico do câncer 03 creche infantil papa joão xviii 04 praça parreão 05 praça m estelina braga 06 propriedade do exécito brasileiro


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1



[img. 58] vista do sítio do projeto pela rua abelardo marinho. acervo pessoal. [img. 59] vista da creche infantil papa joão XI, conectada ao terreno por faixa elevada de pedestres. acervo pessoal. [img. 60, 61] terrenos desocupados ou subutilizados do entorno, passíveis de abrigar futuros equipamentos de saúde. acervo pessoal.


sinapses

O terreno também usufrui da proximidade com duas praças presentes no bairro: a praça Parreão, ao sul, na Rua Francisco Lorda - dotada de equipamentos de ginástica e quadra poliesportiva, sombreados por uma vegetação de grande porte - e a Praça M Estelina Braga, na rua Abelardo Marinho, de dimensões mais modestas, mas intensamente utilizada como campo de futebol pelos estudantes da creche infantil ao lado [img. 63]. Os demais usos do entorno são caracterizados por residências unifamiliares e por alguns poucos equipamentos de serviço, como oficinas e lojas comerciais. Por sua proximidade com as unidades de saúde da região, o sítio localiza-se numa zona de tráfego calmo, em que o percurso de pedestres é priorizado a partir dos elementos de sinalização e das faixas de travessia elevadas ali existentes [img. 65]. Cita-se também a intensa arborização ao longo da rua Abelardo Marinho, localizada à frente do terreno, que proporciona percursos sombreados e agradáveis aos transeuntes, e cujo mobiliário urbano convida à permanência do pedestre [img. 66]. A via é marcada pela presença de um canal hídrico gradeado, que se estende por parte da rua até a Avenida Luciano Carneiro [img. 64].

[img. 62] perspectivas esquemáticas de zoneamento, massas vegetativas e classificação viária no entorno do terreno proposto. elaborado sobre base de imagem aérea google earth.

96


04 | reverberações

sítio do projeto uso residencial uso comercial | serviço institucional desocupado | subutilizado

sítio do projeto massas de vegetação

sítio do projeto via coletora via local pontos de ônibus


[img. 63] praça m. estelina braga, ao final da rua abelardo marinho. acervo pessoal. [img. 64] recurso hídrico gradeado na rua abelardo marinho, ao lado de um terreno desocupado. acervo pessoal. [img. 65] elementos de sinalização para redução de velocidade ao longo da rua abelardo marinho. acervo pessoal.


04 | reverberaçþes


[img. 66] รกrvores frondosas na rua abelardo marinho, proporcionando percursos agradรกveis e sombreados. acervo pessoal.


04 | reverberações

ASPECTOS LEGISLATIVOS De acordo com o zoneamento estabelecido pela Lei de Uso e Ocupação do Solo de Fortaleza [LUOS no 236/2017], o terreno em questão situa-se na Zona Especial de Dinamização Urbanística e Socioeconômica, que é destinada à “implantação e/ou intensificação de atividades sociais e econômicas” [34]. No que se refere à classificação de uso do solo, o sítio se insere no Grupo de Serviços e no Subgrupo de Saúde, que determina os parâmetros urbanísticos a serem considerados - índice de aproveitamento [3,00], taxa de ocupação [60%] e permeabilidade [30%], altura máxima da edificação [72m] e recuos mínimos [10m e 7m]. Todos os parâmetros foram respeitados no processo de composição projetual. Os demais aspectos legislativos referem-se às diretrizes das Normas Técnicas do Corpo de Bombeiros - que dispõem quanto à segurança contra incêndios - e da Associação Brasileira de Normas Técnicas [ABNT] - que determina a acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Das diretrizes analisadas, três aspectos principais apresentam repercussões diretas no campo projetual do edifício:

[1] os recuos estabelecidos pela LUOS - de acordo com o uso do terreno e a classificação das vias do entorno - que determinam o afastamento frontal de 10m e laterais de 7m, impactando significativamente na área disponível para construção; [2] as demandas de acessibilidade estabelecidas pela NBR 9050 da ABNT, que dispõem quanto ao dimensionamento de ambientes, especificação de materiais, sinalizações táteis e visuais, circulações e mobiliário utilizado; [3] a previsão de saídas de incêndio e de rotas de fuga determinadas pelas Normas Técnicas do Corpo de Bombeiros, que geram a necessidade de circulações e de espaços físicos específicos no esquema projetual.

101


sinapses

O PROGRAMA Os prejuízos neurobiológicos do TEA discutidos em capítulos anteriores são utilizados como base referencial para a composição do programa de necessidades do projeto, dentro de uma perspectiva transdisciplinar que considere a diversidade tipológica de intervenções terapêuticas. Propõese, portanto, uma divisão programática a partir de sete principais setores de atendimento: diagnóstico e triagem, atendimentos individuais, educacional, motricidade, neurossensorial, comunicação e oficinas terapêuticas. Cada um desses setores considera, ainda, a proximidade com os espaços de reclusão descritos anteriormente, e sua articulação espacial é promovida por meio de zonas de transição.

setor de diagnóstico e triagem objetiva a avaliação clínica da criança portadora do transtorno, estruturando um plano individual de tratamento baseada em suas particularidades neurobiológicas.

setor de atendimento individual objetiva o atendimento individualizado a partir de uma equipe transdisciplinar de profissionais de diversas áreas de especialização.

setor educacional objetiva proporcionar o suporte educacional às crianças inseridas na escola regular, garantindo o acompanhamento dos estudantes e promovendo o monitoramento integral nesse processo.

102


04 | reverberações

setor de motricidade objetivam o estímulo ao desenvolvimento motor da criança, nas esferas de motricidade fina referente aos movimentos de precisão de dedos e mãos - e de motricidade global - referente ao controle corporal em sua totalidade.

setor de neurossensibilidade objetivam a regulação dos quadros de hiper e hipossensibilidade, através do controle de estímulos ambientais; prevê-se a conformação de três salas - estimulação visual, auditiva e tátil - que contemplem a diversidade sintomatológica das crianças portadoras do TEA.

setor de comunicação objetivam o estímulo à capacidade de expressão da criança, por meio de recursos verbais desenvolvendo a habilidade linguística - e de recursos não verbais - a partir de métodos de expressão alternativa, como gestos, imagens e símbolos.

setor de oficinas terapêuticas objetiva o desenvolvimento de habilidades cognitivas, de acordo com os interesses particulares de cada criança; propõe atividades que favoreçam a descoberta de aptidões individuais, estimulando a autonomia da criança e a formação de novas redes neurais.

103


sinapses

As restrições de mobilidade e de deslocamento características das crianças com TEA exigem, frequentemente, a necessidade de acompanhamento dos pais ou de cuidadores às diferentes atividades terapêuticas. Portanto, o programa contempla, em cada setor, pequenas áreas de estar para acompanhantes; essas áreas também atuam também como espaços de reclusão, possibilitando uma alternativa espacial nos casos de sobrecarga sensorial durante a realização das atividades propostas. Além disso, blocos de sanitários são distribuidos em cada setor do edifício, conferindo maior privacidade à criança e diminuindo a necessidade de longos deslocamentos durante a intervenção de tratamento. Uma vez estabelecidos, no setor de diagnóstico e triagem, os planos de tratamento individuais de cada paciente, efetua-se o caminhamento para as demais áreas terapêuticos. Cada setor é conformado a partir de ambientes amplos, e a flexibilidade do mobiliário proposto garante sua subdivisão espacial em unidades menores, de acordo com o maior ou menor nível de privacidade e individualidade necessário a cada criança. A esses espaços, somam-se os pátios e espaços livres da área externa, que ampliam e diversificam as atividades propostas pelo programa de tratamento no interior do edifício. Propõe-se ainda a conformação de um auditório que, além de servir como espaço de apresentações artísticas para as crianças, proporcione ainda a realização de palestras informativas e de cursos de capacitação profissional para a área médica. O edifício, assim, passa a oferecer atividades em diferentes turnos do dia e transcende à sua função terapêutica, cumprindo também um papel de difusão de conhecimentos que potencializem novos estudos acerca das possibilidades de tratamento do TEA.

obs: o dimensionamento do programa de necessidades não contempla os espaços de circulação e áreas externas.

104


ÁREA [m²]

AMBIENTE

entrada | recepção

110.20m²

comunicação

diagnóstico-triagem

64.20m²

recursos verbais recursos não-verbais atividades grupais/estar

AMBIENTE

sala de espera/jardim avaliação neurológica avaliação psiquiátrica

QTE.

01 01 01

20.20m² 24.00m² 22.00m²

QTE.

165.70m² 01 01 01

motricidade atendimento individual psicologia terapia ocupacional fisioterapia fonoaudiologia pediatria nutrição estar pais

181.70m² 01 01 01 01 01 01 01

25.30m² 40.10m² 36.50m² 14.20m² 25.30m² 26.10m² 14.20m²

motricidade fina motricidade global atividades grupais/estar hidroterapia wc’s vestiários/wc’s dml

pátio interno refeitório auditório café wc’s aquário parquinho de areia cinema sala de reuniões pátios externos

01 01 01 01 02 02 01

01 01 01 01 06 01 01 01 01 02

160.00m² 149.00m² 280.00m² 52.40m² 20.00m² 33.20m² 29.30m² 90.90m² 32.30m² 119.00m²

448.05m² 04 01 03 01 01 01 01

289.00m² 38.90m² 10.90m² 25.60m² 41.85m² 08.60m² 33.20m²

259.10m²

neurossensorial sala sensorial tátil sala sensorial auditiva sala sensorial visual wc’s jardim interno área tatame/estar

82.00m² 70.00m² 35.50m² 136.35m² 05.90m² 31.60m² 08.30m²

409.00m²

966.10m²

educacional salas de aula jardim/estar wc’s reunião pais/prof. sala dos professores dml psicopedagogia

66.85m² 56.60m² 42.25m²

369,65m²

oficinas terapêuticas convivência

ÁREA [m²]

01 01 01 02 01 01

56.00m² 57.85m² 62.25m² 07.70m² 37.00m² 38.30m²

ateliê de música ateliê de desenho ateliê de pintura sala de dança e teatro salão de exposições/estar

01 01 01 01 01

administração secretaria tesouraria arquivo recursos humanos almoxarifado wc’s estar/copa

324.90m² 01 01 01 01 01 01 01

serviço cozinha dml estar/copa vestiários/wc’s lixo subestação gerador

TOTAL

60.00m² 71.00m² 71.00m² 133.00m² 74.00m²

30.20m² 30.20m² 33.00m² 25.10m² 14.60m² 07.70m² 47.50m²

154.25m² 01 01 01 02 01 01 01

44.90m² 05.50m² 19.90m² 44.00m² 10.15m² 14.40m² 15.40m²

3452.85m²



materialização


PAULO LEMINSKI

esta não é minha língua. a língua que eu falo trava uma canção longínqua, a voz, além, nem palavra. o dialeto que se usa à margem esquerda da frase, eis a fala que me lusa, eu, meio, eu dentro, eu, quase.


05 | materialização

UM NOVO POLO DE SAÚDE A abordagem fenomenológica da arquitetura define o verbo “habitar” a partir de uma experiência do espaço no tempo vivida através de todos os sentidos humanos. Essa totalidade sensorial, por sua vez, exige uma postura multiescalar que contemple a complexidade e a variedade das dimensões experienciais intrínsecas ao espaço construído. Em resposta ao reconhecimento dessas esferas dialeticamente complementares, o projeto do Centro de Referência de atendimento ao TEA visa à superação de uma intervenção reduzida à escala do objeto, considerando também a totalidade do entorno urbanístico ao qual o edifício se integra. O reconhecimento das características e potencialidades da dimensão urbana do sítio de intervenção traduz-se na proposta de concepção de um futuro polo de saúde mental, em resposta à citada deficiência municipal de equipamentos destinados ao diagnóstico e ao tratamento infantil de transtornos neurobiológicos. Propõe-se, assim, o incentivo à criação de estruturas que promovam o acompanhamento da criança durante seus primeiros anos de vida e que permitam a estimulação precoce como instrumento de desenvolvimento emocional, cognitivo e social; devem, ainda, atuar como núcleos de apoio às famílias e aos cuidadores do paciente, reforçando a necessidade de fortalecimento de vínculos afetivos e fomentando o desenvolvimento de atividades indutoras de novas conexões neurais. Nessa proposta, destaca-se a significativa quantidade de terrenos vazios ou subutilizados do entorno urbano, que estruturam-se como possíveis locais de implementação de novos edifícios. Somam-se a isso a prevalência de residências unifamiliares de baixo gabarito e a presença de elementos de sinalização para a redução do tráfego de veículos, facilitando a concepção de um contexto urbano adequado à configuração do novo polo de saúde mental infantil. A conexão espacial entre os equipamentos existentes e propostos, por sua vez, deve ser favorecida pelo redesenho da tipologia viária da região, objetivando deslocamentos mais agradáveis e acessíveis ao pedestre.

109


sinapses

Seguindo a intervenção urbana já realizada na Rua da Esperança - trecho da Rua Alberto Montezuna, ao longo do quarteirão em que se situa o Centro Pediátrico do Câncer -, propõe-se, nas vias que integram o futuro polo de saúde mental, a substituição do revestimento asfáltico pelo piso intertravado de concreto, assim como a implementação de um mobiliário urbano que favoreça à permanência e de elementos paisagísticos para o sombreamento de percursos. Ainda, propõe-se a abertura de uma via de pedestres no quarteirão situado entre as ruas João Araripe e Edgar Pinho Filho, objetivando a ligação direta com a quadra adjacente, na qual se situa o Insituto Pediátrico do Câncer, e promovendo a facilitação de descolamentos entre o Centro de Referência de Atendimento ao TEA e as unidades de saúde já existentes. Faixas de pedestre elevadas são implementadas em pontos estratégicos, favorecendo a segurança do pedestre no percurso entre os diferentes equipamentos de saúde e promovendo a transição segura entre o perímetro de intervenção e o sistema viário já existente. O terreno vazio situado na quadra do projeto é utilizado para a conformação de um jardim sensorial, cumprindo o duplo papel de espacializar novas possibilidades de interação e de convívio social e de proporcionar a extensão das atividades terapêuticas e recreativas desempenhadas no interior do edifício.

[img. 67] situação atual do perímetro urbano de intervenção, com demarcação do sítio proposto para o projeto [img. 68] identificação de terrenos desocupados e edificações subutilizadas, assim como dos equipamentos de saúde existentes [img. 69] situação urbana proposta, com áreas demarcadas utilizadas para alocar novos núcleos de saúde, interligados por um eixo viário de tratamento urbanístico diferenciado

110


05 | materialização

01 | situação sítio do projeto

02 | demarcação sítio do projeto terrenos desocupados ou subutilizados equipamentos de saúde existentes

03 | intervenção núcleos do novo polo de saúde novas áreas verdes nova via de pedestres GSEducationalVersion

eixo de intervenção viária


iro ar ne no c ucia re a

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equipamentos de saúde existentes equipamento educacional existente terrenos para implantação de novos equipamentos de saúde proposição de piso intertravado para conexão viária entre os edifícios do novo polo de saúde proposição de abertura de nova via de pedestres faixas de pedestre existentes faixas de pedestre elevadas propostas

01 02 03 04 05 06

creche municipal papa joão xxiii praça m estela braga praça parreão instituto pediátrico do câncer estacionamento existente hospital infantil albert sabin

r. a r

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planta de implantação escala 1:1250 1250

GSEducationalVersion

4500m

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[img. 70] vista do edifĂ­cio da rua abelardo marinho, ilustrando os desenhos lĂşdicos esculpidos na alvenaria da fachada



sinapses

O PROJETO As intenções projetuais que fundamentam o processo de composição baseiamse numa relação intercambiável entre forma, uso e experiência. Objetivase a concepção de um arquitetura que, ao mesmo tempo em que ofereça a especialização espacial necessária à realização das atividades propostas, seja dotada de um caráter polivalente capaz de considerar as peculiaridades perceptivas e sensoriais de cada criança. A concepção de projeto parte de um volume sólido retangular, inserido nos limites dos recuos estabelecidos pela legislação urbana vigente na área do terreno. O processo de composição pode ser entendido a partir de operações subtrativas, que dinamizam uma forma inicialmente estática e criam reentrâncias que definem os acessos e auxiliam na mediação entre espaço interno e externo. No pavimento térreo, dois principais volumes - estruturados em pé-direito duplo e correspondentes ao pátio interno e ao setor de hidroterapia - conformam núcleos centrais ao redor dos quais os outros setores ambientais serão dispostos. O edifício é concebido a partir de um mecanismo de compartimentação: os setores terapêuticos do programa são distribuídos em pequenos centros de atenção, a partir de uma sucessão de unidades espaciais com qualidades ambientais determinadas pelas atividades ali realizadas. Esse processo de compartimentação oferece maiores possibilidades de diferenciação espacial, de modo que cada setor seja facilmente reconhecível a partir da utilização de materiais, texturas e qualidades ambientais próprias. Além disso, a arquitetura compartimentada potencializa a legibilidade e contribui essencialmente para a percepção do espaço, através de unidades mais compatíveis com a escala da criança e, consequentemente, com proporções mais facilmente reconhecíveis. A compartimentação é guiada pelo princípio do zoneamento sensorial, num processo lógico de distribuição, definindo áreas de maior e menor sobrecarga sensorial. Essas diferentes zonas são articuladas por espaços de transição - que proporcionam a regulação sensorial na passagem de uma atividade para outra e, ao mesmo tempo, atuam como marcos visuais, que auxiliam na distinção visual das diferentes atividades ali presentes. O acesso ao edifício, articulado por meio de um pórtico de entrada, é situado na porção sudeste, numa localização central que favorece a praticidade dos acessos e evita longas circulações.

116


05 | materialização

estabelecimento de volume retangular inicial

articulação formal do pavimento superior

articulação formal do pavimento térreo, com estabelecimento de dois núcleos centrais

117


sinapses

No pavimento térreo, localiza-se a maior parte do setor terapêutico, que, ao ser configurado em unidades espaciais relativamente autônomas, permite o controle específico dos estímulos ambientais necessários a cada região. Essa localização térrea objetiva o acesso da criança aos diferentes espaços de tratamento sem a necessidade de cruzar as regiões mais movimentadas do edifício - situadas no pavimento superior. Nas zonas de transição, dispõem-se os chamados “percursos sensoriais”; isto é, espaços para atividades lúdicas que reforçam o caráter experiencial do programa, como parquinho de areia, aquário, área de tatame e jardins internos. No pavimento superior, localizam-se as atividades menos controladas, com maior nível de ruídos. Aqui, os ambientes dividem-se nas oficinas terapêuticas - que correspondem à parte do setor de tratamento infantil com maior sobrecarga sensorial -, no setor de auditório e café - que espacializa atividades de capacitação para a área médica, e no setor administrativo. A articulação entre as unidades compartimentadas é configurada por circulações amplas – induzindo-lhes à utilização experiencial para além de sua função de passagem - que convergem para um grande pátio central ajardinado - o “coração” do edifício. Ao mesmo tempo em que atua como principal ponto de encontro e de interação social, o pátio define a rampa de circulação ao seu redor e preenche de luz os espaços do entorno, por meio de sua iluminação zenital. Ao longo dos diferentes setores terapêuticos, estruturam-se jardins de escala reduzida, que demarcam a transição gradativa entre mundos contínguos – interior e exterior. São, portanto, “ninhos seguros” que proporcionam a sensação de contato com a paisagem sem, contudo, situarem-se fora do edifício. Essa sensação é, ainda, reforçada pela utilização de iluminação zenital indireta por sheds em diferentes pontos do edifício, reforçando o equilíbrio entre abertura e fechamento, intimidade e exterioridade, e objetivando a diversidade de experiências e percepções sensoriais. Nas áreas externas, parques de areia, áreas de estar e um jardim sensorial complementam as atividades terapêuticas do interior do edifício. Uma vegetação densa e frondosa soma-se às árvores aromáticas ornamentais, com pigmentações diversas, promovendo o sombreamento de percursos e reforçando o caráter experiencial da arquitetura proposta. 118


05 | materialização

esquema ilustrativo de zonas de iluminação zenital conformadas no edifício

11

9

esquemas ilustrativos de compartimentação do programa de necessidades

12 9 1 10

8 7 5

4 5

6 4

1

3

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12

pátio interno setor de diagnóstico setor educacional setor sensorial setor de motricidade setor de comunicação cantina serviços oficinas terapêuticas administração auditório exposições | café

2

menor sobrecarga sensorial maior sobrecarga sensorial zonas de transição acesso principal


vegetaçãodede vegetação sombreamento sombreamento

propostapara paraáreas áreasdedealta altaincidência incidência proposta solar,priorizando priorizandoespécies espéciesdedecrescimento crescimento solar, rápidodotadas dotadasdedecopas copasgrandes, grandes,altas altase e rápido densas densas sugestõesdedeespécies espécies sugestões

ipê-amarelo ipê-amarelo

juazeiro juazeiro

5-25m altura 5-25m dede altura 5-8m diâmetro 5-8m dede diâmetro

4-12m altura 4-12m dede altura 6-8m diâmetro 6-8m dede diâmetro

oiti oiti

canafístula canafístula

8-15m altura 8-15m dede altura 6m diâmetro 6m dede diâmetro

12-20m altura 12-20m dede altura 5-7m diâmetro 5-7m dede diâmetro

vegetaçãodede vegetação ornamentação ornamentação

córrego existente

propostapara paraáreas áreasdedemédia média ououbaixa baixa proposta incidênciasolar, solar,priorizando priorizandoo ouso usodede incidência espéciesaromáticas aromáticase ecom comcolorações colorações espécies diversificadas diversificadas sugestõesdedeespécies espécies sugestões

manacádadaserra serra manacá

acáciaamarela amarela acácia

3-5m altura 3-5m dede altura folhagem rosa/roxa folhagem rosa/roxa

3-8m altura 3-8m dede altura folhagem amarela folhagem amarela

paufava fava pau

jacarandá-mimoso jacarandá-mimoso

6-8m altura 6-8m dede altura folhagem dourada folhagem dourada

12m altura 12m dede altura folhagem azul/roxa folhagem azul/roxa

shed de concreto moldado in loco i: 64%

percurso percurso sensorial sensorial cascalho 1 1cascalho serragem 2 2 serragem areia 3 3areia argilaexpandida expandida 4 4argila bambu 5 5bambu pedraseixo seixo 6 6pedra pisoemborrachado emborrachado 7 7piso cimentoqueimado queimado 8 8cimento

N

planta de coberta e de proposição paisagística escala 1:1250

pavimentaçãoutilizada utilizada pavimentação pisointertravado intertravadocinza cinzaclaro claro piso pisointertravado intertravadocinza cinzaescuro escuro piso pisointertravado intertravadoamarelo amareloocre ocre piso areia areia concregrama concregrama

vegetação existente


parquinho de areia com fechamento gradeado [h:2.00m]

a

d

estacionamento

laje impermeabilizada

fechamento com cerca viva [h:1.20m]

laje impermeabilizada

laje impermeabilizada

horticultura b

b

laje impermeabilizada

espelho d’água

c

c

caixa de areia 1

d

a

2 3

acesso social

4 área de estar arborizada

área de aspersores para irrigação

pedriscos

5

6

7

8

fechamento com cerca viva [h:1.20m]


[img. 71] jardim sensorial com parques, plantas aromĂĄticas e ornamentais e texturas diversas para promover a diversidade de estĂ­mulos e experiĂŞncias



[img. 72] jardim sensorial com horticultura e pergolados de madeira para sombreamento de รกreas de estar



01

recepção e entrada: 110.20m²

09 estar pais: 14.20m²

17

dml: 08.60m²

02 sala de espera: 20.20m²

10

psicologia: 25.30m²

18

reunião pais/prof.: 25.60m²

03 avaliação psiquiátrica: 22.00m²

11

pediatria: 25.30m²

19

pátio interno: 160.00m²

04 avaliação neurológica: 24.00m²

12

psicopedagogia: 33.20m²

20 parquinho de areia: 29.30m²

05 fonoaudiologia: 14.20m²

13

sala de aula: 77.00m²

21

06 fisioterapia: 36.50m²

14

sala de aula: 58.00m²

22 sala sensorial visual: 62.25m²

07 terapia ocupacional: 40.10m²

15

jardim/estar: 38.90m²

23 área tatame: 38.30m²

08 nutricionista: 26.10m²

16

sala dos professores: 41.85m²

24 sala de reuniões: 32.30m²

a

sala sensorial tátil: 56.00m²

22

21

26

20

13

23

18

17 13

jardim interno 15

16

proj. sheds

b 14

19

proj. sheds

11 13

12 05

c

10

proj. pav. superior

01

09

06

N 07

acesso social

a

08

planta pav térreo escala 1:250


25 sala sensorial auditiva: 57.85m²

33 atividades grupais: 42.25m²

41

26 jardim interno: 37.00m²

34 recursos não-verbais: 56.60m²

42 estar funcionários: 19.90m²

27 sala de cinema: 90.90m²

35 atividades grupais: 35.50m²

43 dml: 06.60m²

28 aquário: 33.20m²

36 motricidade global: 70.00m²

44 subestação: 14.40m²

29 hidroterapia: 136.35m²

37 motricidade fina: 82.00m²

45 gerador: 15.40m²

30 dml: 08.30m²

38 refeitório: 149.00m²

46 cozinha: 39.40m²

31

39 vestiário feminino: 22.00m²

47 despensa: 5.50m²

40 vestiário masculino: 22.00m²

48 caixa d’água externa (cap. 30.000L)

vestiários/wc’s: 31.60m²

d

32 recursos verbais: 66.85m²

lixo: 10.15m²

acesso serviço 47

45

47 48

25

41

27

42 46 44

40

43

proj. marquise acesso social | serviço

39

28

24

38 30

31 29

b

37

espelho d’água

36

35

c

02

32

jardim interno

03 33

d

04

34


50 secretaria: 30.20m²

19 pátio interno: 160.00m²

51 tesouraria: 30.20m²

29 hidroterapia: 136.35m²

52 arquivo: 33.00m²

48 caixa d’água externa (cap. 30.000L)

53 estar/copa: 47.50m²

49 almoxarifado: 14.60m²²

54 recursos humanos: 25.10m²

a

01 recepção e entrada: 110.20m²

19

b

53 54

c

shed de concreto moldado in loco i: 64%

01

52

51

N

50 49 55

a

planta primeiro pav. escala 1:250


60 sala de dança e teatro: 133.00m²

56 salão de exposições: 74.00m²

61 pátio externo: 62.00m²

57 ateliê de desenho: 71.00m²

62 jardim: 21.00m²

58 ateliê de pintura: 71.00m²

63 café: 52.40m²

59 ateliê de música: 60.00m²

64 auditório: 280.00m²

d

55 pátio externo: 36.00m²

48

64

29

63 60

56

b

espelho d’água

59

c

58

61

d

57

62


GSEducationalVersion

corte a escala 1:200

corte b escala 1:200

shed de concreto moldado in loco

painel em mdf com nichos de 50cm de profundidade

pรกtio com jardim interno


3.26

0.02

brise articulรกvel de madeira parafusado em estrutura metรกlica

200m

600m

200m

600m

3.26

0.02 nicho na alvenaria


corte c escala 1:200

corte d escala 1:200

GSEducationalVersion

espĂŠcies vegetais de pequeno porte


forro acĂşstico em drywall 6.50

3.26

0.02 200m

600m

3.26

0.02

200m

600m


[img. 73] pátio interno central com espécies vegetais de pequeno porte e rampa de circulação



sinapses

ESTRUTURA A distribuição compartimentada e a articulação formal do projeto resultam num sistema construtivo simples, em que os maiores vãos estruturais correspondem ao pátio central, ao setor de hidroterapia e ao auditório. Pilares de concreto armado de seção retangular de 20x50cm são locados a partir de uma malha ortogonal com eixos estruturais longitudinais de 6.5m, 8m e 9.5m, de acordo com as dimensões e disposições de cada setor. Na maior parte do edifício, conforma-se um sistema estrutural contínuo, a partir de uma fusão entre o fechamento parietal e os elementos de suporte. Os pilares embutidos na alvenaria conferem maior flexibilidade espacial e permitem circulações livres, facilitando o deslocamento da criança ao longo dos percursos. Quando necessário, porém, o pilar é libertado das alvenarias e assume um caráter expepcional, quase escultórico, de demarcação espacial - como observado no pátio central e no refeitório. Vigas de concreto protendido, de 50x20cm, são dispostas no sentido longitudinal do edifício e sustentam lajes pré-fabricadas alveolares, que proporcionam a redução de materiais e mão-de-obra para a execução, a partir de um processo de montagem simples e repetitivo. Por seu caráter industrializado, a laje alveolar potencializa a flexibilidade espacial do edifício e gera a possibilidade de ampliação e incorporação de novos usos com o passar do tempo, de acordo com as novas descobertas efetuadas acerca do transtorno e de suas possibilidades de diagnóstico e intervenção. No auditório, por conta de suas maiores dimensões, utiliza-se a laje nervurada de concreto armado. Na cobertura, opta-se pela utilização de laje impermeabilizada, que poderá futuramente abrigar novas áreas de lazer e convivência, conforme exigir a expansão do programa. Sheds de concreto são utilizados para possibilitar a entrada de iluminação natural indireta e, ao mesmo tempo, garantir a privacidade e intimidade necessárias às atividades terapêuticas propostas.

136


PRIMEIRO PAVIMENTO

laje pré-fabricada alveolar shed de concreto

vigas 50x20cm de concreto protendido

pilares 20x50 de concreto armado

PAVIMENTO TÉRREO

laje pré-fabricada alveolar

shed de concreto

vigas 50x20cm de concreto protendido

pilares 20x50 de concreto armado


9.50 9.50

8.00 8.00

6.50 6.50

8.00 8.00

8.00 8.00

9.50 9.50

N

500m

1500m

6.50

9.50

9.50

6.50

9.50

9.50

8.00

6.50

9.50

9.50

6.50

9.50

9.50

8.00

9.50 9.50

8.00 8.00

6.50 6.50

8.00 8.00

8.00 8.00

9.50 9.50

planta estrutural pav. tĂŠrreo

500m

planta estrutural pav. superior

1500m 6.50

9.50

9.50

6.50

9.50

9.50

8.00

6.50

9.50

9.50

6.50

9.50

9.50

8.00


05 | materialização

PLASTICIDADE E INTERIORES A expressão plástica do edifício é derivada essencialmente da volumetria gerada a partir da configuração do espaço interno, num jogo dinâmico entre cheios-vazios e aberturas-fechamentos. Os “recortes” volumétricos resultantes da compartimentação espacial interna geram áreas externas de diferentes tamanhos, que contemplam a diversidade de usos e de atividades demandadas pelo espectro e pelo universo infantil - áreas menores servem como espaços de refúgio, relaxamento e introspecção, enquanto que áreas maiores abrangem estruturas de suporte ao convívio social e às atividades lúdicas. Os panos de esquadrias são protegidos por brises articuláveis de madeira, parafusados numa estrutura metálica, que possibilitam a regulação da entrada de luz solar e, ainda, oferecem maior dinamismo e plasticidade à expressão formal do edifício [det. 01, 02]. Como referenciais artísticos, são consideradas determinadas obras de Athos Bulcão e dos arquitetos holandeses Mulders vandenBerk para a configuração de painéis com padrões de azulejos e desenhos esculpidos na alvenaria de concreto da fachada, que estimulam curiosidade e a criatividade das crianças ao percorrer a volumetria externa do edifício. Internamente, os setores terapêuticos são articulados por amplas circulações que, em determinados pontos, configuram os chamados “percursos sensoriais” - zonas de transição que abrigam atividades lúdicas diversas, incentivando o caráter imaginativo e a experimentação do espaço por parte da criança. São, por exemplo, parquinhos de areia, aquário, paredes lousa e nichos na alvenaria. [det. 03, 04, 06, 07] A intervenção terapêutica, portanto, transcende aos ambientes de tratamento, e todos os espaços do edifício convertem-se em novas oportunidades de experiências e de desenvolvimento das habilidades cognitivas. A orientação e a legibilidade espacial são facilitadas pela associação dos setores de intervenção com placas de sinalização e com cores diversas, conferindo-lhes uma identidade própria. Nesses espaços terapêuticos, as amplas salas utilizam-se de estantes giratórias que permitem a subdivisão do ambiente em unidades menores, possibilitando diversos graus de interação e reclusão social, de acordo com as necessidades individuais de cada criança [det. 08, 09, 10].

139


[img. 74] área de entrada e recepção, com mobiles fixados em trilho metálico para favorecer a interação da criança com o espaço



[img. 75] área de refeitório com painel lúdico em mdf. ao fundo, bloco de hidroterapia identificado pela coloração avermelhada



[det. 01] esquema isométrico de composiço de brises articuláveis de madeira

perfil estrutural metálico 20x10cm

trilho superior com roldana em aço inox

estrutura em aço para fixação das ripas ripas horizontais 2x2cm ripas verticais 2.5x2.5cm

fachada nordeste: modulação de brises articuláveis 150m

450m

guia inferior com pino metálico


.05

.10

.80

2.69

1.79

.05

[det. 02] corte transversal: esquadrias de correr e brises articulรกveis das fachadas

ripas de madeira parafusadas em perfil metรกlico

20m

60m


pintura tinta lousa .15

.15

rebaixo na alvenaria

fachada noroeste: alvenaria do auditório com painel de azulejos com composição plástica do artista Athos Bulcão 200m

600m

.35

.35

.35

.35

1.10

1.10

1.75

2.00

[det.03] percurso sensorial: painéis interativos

nicho na alvenaria


.15

.35

1.60

.35

[det. 04] percurso sensorial: aquĂĄrio

base em granito rodapĂŠ em granito

nicho na alvenaria vidro laminado 2cm


sinapses

.15

.08

painel de MDF parafusado na estrutura tubular

.65

tubo quadrangular de inox Ø 4mm

.12

forro em madeira

painel de concreto

.45

tubo redondo de inox Ø 2mm

.25

.20

tubo redondo de inox Ø 4mm

espécies vegetais de pequeno porte jardim interno

[det. 05] corte transversal de pátio interno e rampa de circulação ationalVersion GSEducationalVersion

20m

40m


[det. 06] percurso sensorial: tatame

jardim interno

1.00 1.00

1.16

1.16

.25 .25

1.16

1.16

1.00

1.40 .25

1.00 .30

tablado de madeira

1.16

1.16

.30 .30

1.16

1.16 1.16

1.16 1.16

.30

1.10

1.16 1.16

.30 .30

.30

1.10 1.10

1.40 1.40

1.00 1.00

.30 .30

tatame tradicional japonĂŞs modulado

painel em madeira com nichos de 50cm

[det.07] percurso sensorial: piscina de areia

.50 .50

.50 .50

.15

.15 .15

.50

.50

piso deck modular removĂ­vel

painel ripado de madeira


[det. 08] corte transversal: salas de aula com armários articuláveis, jardins internos e iluminação zenital em sheds

manta de impermabilização

chapim de concreto

fachada sudoeste: desenhos esculpidos na alvenaria da fachada de composição plástica dos arquitetos Mulders vandenBerk 150m

20m

450m

60m

pino para fixação em guia superior


[det. 09, 10] esquemas isométrico de armários giratórios e possibilidades de configuração das salas de aula

pino para fixação em guia superior

rotação de armários para liberação de fluxo interno

rotação de armários para controle de fluxo interno

.45

.35

.45

.45

.50

1.25

paineis em MDF estrutura em metalon para fixação de guia e rodízios inferiores


[img. 76] área de café e de estar do pavimento superior, com nichos na alvenaria para a utilização por parte das crianças



[img. 77] brises de madeira articulĂĄveis e painel de azulejos de Athos BulcĂŁo utilizado na alvenaria do auditĂłrio



FIM


Ao longo desse processo compositivo, a interrelação do projeto arquitetônico com o processamento de novas redes neurais suscitou reflexões acerca das funções atemporais do ato de construir. Considera-se, a partir daí, a viabilidade da abordagem psicológica e fenomenológica como forma de resgate à essência, física, sensorial e corporal da arquitetura, a partir da criação de metáforas existenciais que reforçem nossa vivência no mundo. Por suas particularidades de processamento sensorial, o TEA se estabelece como campo fértil para tecer novas descobertas relativas às dimensões perceptivas e imaginativas da mente humana. Nessa experimentação arquitetônica, propõe-se o estimulo a investigações mais precisas acerca das interrelações entre pessoa e ambiente, direcionando a experiência existencial para horizontes mais amplos. A partir daí, os espaços construídos, embasados na identidade pessoal perceptiva, exercerão um papel significativo e favorável às relações e comportamentos humanos. Nesse processo, faz-se fundamental o entendimento da dialética entre permanência e mudança que permeia o fazer construtivo. Longe de apresentar uma solução única a um problema determinado, o edifício deve se inserir no fluxo permanente das necessidades do indivíduo, incorporando novos usos e funções que correspondam às mais variadas formas de perceber a realidade que nos cerca. Aqui, portanto, manifesta-se o desejo por uma arquitetura verdadeiramente humana, baseada numa constante transição entre a interioridade do homem e a exterioridade do mundo. Uma arquitetura que reforce a sensação de ser e de estar no universo, correspondendo às potencialidades subjetivas imanentes da vida.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS capítulo 01 [1] KANNER, L; “Autistic disturbances of affective contact”, Nervous Child, 1942-1943, 3, 2, p.217-230, Paris, 1983. [2] GADIA, C; R. E ROTTA, N. (2004). “Autismo e doenças invasivas de desenvolvimento”. Jornal de Pediatria, v.80, n.2, pp. S83-S94. [3] SCHMIDT, C. Autismo, Educação e Transdisciplinaridade. 5. ed. Campinas: Papirus, 2013. [4] p. 17-28. 1968.

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capítulo 02 [10] PALLASMAA, J. A geometria do sentimento: um olhar sobre a fenomenologia da arquitetura (1986). In: NESBITT, K. (Org.). Uma nova agenda para arquitetura: antologia teórica 1965-1995. São Paulo: Cosac Naify, 2006. [11] PARON-WILDES, A. Interior Design for Autism. 1. ed. New Jersey: Wiley, 2013.


[12] PREMACK, D; WOODRUFF, G. (1978). Does the Chimpanzee Have a Theory of Mind? Behavioral and Brain Sciences, 4, 515-526. [13] FERRARI, P. Autismo infantil: O que é e como tratar. São Paulo: Paulinas, 2007. [14] ALVES, F. Psicomotricidade: corpo, ação e emoção. Rio de Janeiro: Wak, 2007. [15] GRANDIN, T. Thinking in Pictures; and Other Reports from my Life with Autism. Michigan: Doubleday, 1995 [16] SCHMIDT, C. Autismo, Educação e Transdisciplinaridade. 5. ed. Campinas: Papirus, 2013. [17] FLEISCHER, S.; GRINKER, Roy Richard. Autismo: um mundo obscuro e conturbado. Tradução de Catharina Pinheiro. São Paulo: Larrousse do Brasil. 2010. [18] BACHELARD, G. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1993. [19] BROADBENT, G. Um guia descomplicado da teoria dos signos na arquitetura (1978). In: NESBITT, K. (Org.). Uma nova agenda para arquitetura: antologia teórica 1965-1995. São Paulo: Cosac Naify, 2006. [20] BERNARDINO, C. Psicologia Ambiental: uma ponte entre homem e arquitetura: Revista On-Line IPOG, Goiânia. v.1, n.14, p. 1-16, 2017 (disponível em: https:// www.ipog.edu.br/download-arquivo-site.sp?arquivo=cledja-maria-das-nevesbernardino-13121712.pdf; acesso em: 08.03.2018 [21] SELLA, M. (Org.). Snoezellen: Um caminho para o mundo sensorial. Curitiba: AMCIP, 2008. [22] HERTZBERGER, H. Space and Learning: Lessons in Architecture 3. Rotterdam: 010 Publishers, 2008. [23] CHING, F. Arquitetura: forma, espaço e ordem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

capítulo 03 [24] PALLASMAA, J. The eyes of the skin. Architecture and the Senses. Chichester: Wiley-Academy, 2000. Os olhos da pele. Porto Alegre: Bookman, 2011.


[25] NORBERG-SCHULZ, C. O fenômeno do lugar. (1976). In: NESBITT, K. (Org.). Uma nova agenda para arquitetura: antologia teórica 1965-1995. São Paulo: Cosac Naify, 2006. [26] Questões de Percepção: Fenomenologia da arquitetura / Steven Holl. 05 Jan 2012. ArchDaily Brasil. [disponível em: https://www.archdaily.com.br/18907/ questoes-de-percepcao-fenomenologia-da-arquitetura-steven-holl> ISSN 07198906; acesso em: 22.05.2018] [27] ANDO, T. A Wedge in Circumstances. The Japan Architect, 1997. Em: DAL CO, Francesco. Tadao Ando: complete works. Londres: Phaidon, 1996. [28] MOSTAFA, M. Architecture for Autism: Autism ASPECTSS™ in School Design. Design Principles and Practices: An International Journal. v.8, n. 1, p. 143-158, 2014. [29] GRANDIN, T. Thinking in Pictures; and Other Reports from my Life with Autism. Michigan: Doubleday, 1995. [30] LYNCH, K. The Image of the City. Cambridge: 1960. [31] MOSTAFA, M. Architecture for Autism: Built Environment Performance in Accordance to the Autism ASPECTSS™ Design Index. Design Principles and Practices: An International Journal. v.8, n. 1, p. 51-72, 2015. [32] VENTURI, R. Complexity and Contradiction in Architecture. Nova York: 1967.

capítulo 04 [33] Fortaleza 2040 - Plano de Mobilidade Urbana [disponível em: http:// fortaleza2040.fortaleza.ce.gov.br/site/assets/files/publications/fortaleza2040_ plano_de_mobilidade_urbana_17-08-2015.pdf; acesso em: 10.06.2018] [34] Lei Complementar no 236 - Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo do Município de Fortaleza [disponível em: http://portal.seuma.fortaleza.ce.gov.br/ fortalezaonline/portal/legislacao/Consulta_Adequabilidade/1-Lei_Complementar_ N236%20de_11_de%20agosto_de_2017_Lei_de_Parcelamento_Uso_Ocupacao_do_ Solo-LUOS.pdf; acesso em: 10.06.2018]






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