Dossier temático

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O verdadeiro “eu” Fernando Pessoa

Trabalho realizado por: Larissa Martins Nº11 Eduarda Cavadas Nº6 Mariana Afonso Nº13 Disciplina: Português Professora: Fernanda Lamy


Índice Introdução .................................................................................................Pág.3 Breve nota biográfica ................................................................................Pág.4 Fotobiografia .............................................................................................Pág.5 e 6 Breve antologia- Ortónimo .......................................................................Pág 7 Leve, breve Suave ....................................................................................Pág.8 Tudo o que faço ou medito .....................................................................Pág.9 O menino da sua mãe ............................................................................Pág.10 Breve antologia- Heterónimos....................................................................Pág.11 Verdadeira Liberdade ..............................................................................Pág.12 O peso de haver o mundo .........................................................................Pág.13 Amo o que vejo ........................................................................................Pág.14 A época de Fernando Pessoa......................................................................Pág.15 As características do Modernismo em Fernando Pessoa ..................Pág.16 Pessoa visto pelos outros- “Pessoa em albufeira”............................................Pág.17 Pessoa visto pelos outros .................................................................................Pág.18 Pessoa visto pelos outros ...............................................................................Pág.19 “Escrever com pessoa” ......................................................................................Pág. 20 Atividade B- tópico E .........................................................................................Pág. 21 Fernando Pessoa- Ortónimos ............................................................................Pág. 22 a 30 Webgrafia ..........................................................................................................Pág. 31

Conclusão ................................................................................................Pág.32

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Introdução

Com a realização deste dossier temático pretendemos adquirir mais informação sobre Fernando Pessoa, e conhecer o quão fantástico e interessante pode ser descobrir mais sobre a vida de uma poeta tão conhecido e de extrema importância para a poesia Portuguesa. Neste dossier vai ser possível, conhecer um pouco dos marcos mais importantes na vida de Fernando Pessoa, conhecer textos dos heterónimos e ortónimos, estudos, documentários, descobrir como Fernando Pessoa ainda está presente na sociedade portuguesa do quotidiano e que recordações têm os portugueses deste poeta. Pretendemos com este trabalho dar a conhecer melhor e expor as coisas fantástica que há a aprender com Fernando Pessoa.

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Breve nota biográfica Fernando António Nogueira Pessoa nasceu na capital de Portugal, Lisboa, no dia 13 de Junho de 1888 e morreu em Novembro de 1935. Ficou órfão de pai aos 5 anos de idade. Seu padrasto era o comandante João Miguel Rosa, que foi nomeado cônsul de Portugal em Durban, na África do Sul. Acompanhado da sua família em África, Pessoa recebeu educação inglesa. Estudou em colégio de freiras e na Durban High School. Em 1901 escreveu os seus primeiros poemas em inglês. Em 1902 a sua família voltou para Lisboa. Em 1903 Fernando Pessoa retornou sozinho para a África do Sul, onde submeteu-se a uma seleção para a Universidade do Cabo da Boa Esperança. Em 1905, retornou sozinho para Lisboa e, no ano seguinte, matriculou-se no Curso Superior de Letras. Em 1907 abandonou o curso. Em 1912 estreou como crítico literário. Fernando Pessoa usou em suas obras diversas autorias. Usou seu próprio nome (ortónimo) para assinar várias obras e heterónimos para assinar outras. Os heterónimos de Fernando Pessoa tinha personalidade própria e características literárias diferenciadas. “Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, Não há nada mais simples Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra todos os dias são meus.”

Larissa Martins

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Fotobiografia

Fig.1-Dionisia Seabra AvóJoaquim Fig.3Fig.2GeneralPessoa Joaquim Pessoa Paterna (pai);Funcionario (avô Paterno) dod mnisterio da justiçae critico do diário de noticia;Morte:Tuberculose.

Fig.4- Madalena Nogueira (avó Fig.5- Conselheiro Luís Nogueira materna) (avô materno)

Fig.6 Maria Nogueira (mãe)

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Fig.7- Comandante Rosa (padrasto)

Fig.8- Fenando Pessoa

Larissa Martins

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Breve antologia Ortónimo

LEVE, BREVE, SUAVE Leve, breve, suave Um canto de ave Sobe no ar com que principia O dia. Escuto e passou... Parece que foi só porque escutei Que parou. Nunca, nunca, em nada, Raie a madrugada, Ou ‘splenda o dia, ou doire no declive, Tive Prazer a durar Mais do que o nada, a perda, Antes de eu o ir Gozar.

Mariana Afonso 7


TUDO O QUE FAÇO OU MEDITO Tudo o que faço ou medito Fica sempre na metade. Querendo, quero o infinito. Fazendo, nada é verdade. Que nojo de mim fica Ao olhar para o que faço! Minha alma é lúcida e rica E eu sou um mar de sargaço – Um mar onde bóiam lentos Fragmentos de um mar de além... Vontades ou pensamentos? Não o sei e sei-o bem.

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O MENINO DA SUA MÃE No plaino abandonado Que a morna brisa aquece, De balas traspassado – Duas, de lado a lado –, Jaz morto, e arrefece. Raia-lhe a farda o sangue De braços estendidos, Alvo, louro, exangue, Fita com olhar langue E cego os céus perdidos. Tão jovem! Que jovem era! (Agora que idade tem?) Filho único, a mãe lhe dera Um nome e o mantivera: «O menino da sua mãe». Caiu-lhe da algibeira A cigarreira breve. Dera-lhe a mãe. Está inteira É boa a cigarreira, Ele é que já não serve. De outra algibeira, alada Ponta a roçar o solo, A brancura embainhada De um lenço... Deu-lho a criada Velha que o trouxe ao colo. Lá longe, em casa, há a prece: "Que volte cedo, e bem!" (Malhas que o Império tece!) Jaz morto, e apodrece, O menino da sua mãe.

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Heterรณnimo

Mariana Afonso

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A VERDADEIRA LIBERDADE A liberdade, sim, a liberdade! A verdadeira liberdade! Pensar sem desejos nem convicções. Ser dono de si mesmo sem influência de romances! Existir sem Freud nem aeroplanos, Sem cabarets, nem na alma, sem velocidades, nem no cansaço! A liberdade do vagar, do pensamento são, do amor às coisas naturais A liberdade de amar a moral que é preciso dar à vida! Como o luar quando as nuvens abrem A grande liberdade cristã da minha infância que rezava Estende de repente sobre a terra inteira o seu manto de prata para mim... A liberdade, a lucidez, o raciocínio coerente, A noção jurídica da alma dos outros como humana, A alegria de ter estas coisas, e poder outra vez Gozar os campos sem referência a coisa nenhuma E beber água como se fosse todos os vinhos do mundo! Álvaro de Campos, in "Poemas (Inéditos)" Heterónimo de Fernando Pessoa

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O PESO DE HAVER O MUNDO O peso de haver o mundo Passa no sopro de aragem Que um momento o levantou, Um vago anseio de viagem Que o coração me toldou. Será que em seu movimento A brisa lembre a partida Ou que a largueza do vento Lembre o ar livre da ida? Não sei, mas subitamente Sinto a tristeza de estar O sonho triste que há rente Entre sonhar e sonhar.

AMO O QUE VEJO 12


Amo o que vejo porque deixarei Qualquer dia de o ver. Amo-o também porque é. No plácido intervalo em que me sinto, Do amar, mais que ser, Amo o haver tudo e a mim. Melhor me não dariam, se voltassem, Os primitivos deuses, Que também, nada sabem. Ricardo Reis, in "Odes" (Inédito) Heterónimo de Fernando Pessoa

A época de Fernando Pessoa

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As características do Modernismo em Fernando Pessoa No início do Séc. XX, havia um sentimento geral de que não era mais possível renovar a arte tradicional. A superficialidade convivia com a crença de que a evolução era o centro de todas as mudanças e o homem tinha pouca importância nessas mundanças. As principais movimentos européias foram: -Cubismo; -Dadaísmo; -Futurismo; -Surrealismo

As grandes características são:

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 Atitude irreverente em relação aos padrões estabelecidos;  Reação contra o passado, o clássico e o estético;  Temática mais particular, individual e não tanto universal e genérica;  Busca do imprevisível e do insólito;  Abstração do sentimento fácil e falso;  Comunicação direta das idéias: linguagem cotidiana;  Interesse pela vida humana interior (estados de alma, de espírito, fenômenos psíquicos, subconscientes ou inconscientes);  Aparente hermetismo, expressão indireta, pela sugestão e associação verbal em vez da absoluta clareza.

Mariana Afonso

Pessoa visto pelos outros- “Pessoa em Albufeira”

As três perguntas criadas para depois apresentar às pessoas foram: “Sabe quem foi Fernando pessoa?” “Conhece algum poema? Se sim qual o marcou mais.” “Onde é ouviu falar sobre Fernando pessoa?” As respostas a estas perguntas foram muito interessantes e mostraram como Fernando Pessoa teve um papel interessante na vida das pessoas.

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O primeiro entrevistado foi uma mulher com 49 anos, em que mostrou grande interesse sobre Fernando Pessoa, respondeu que Fernando Pessoa tinha sido um grande poeta Português, o poema que mais marcou foi, “o amor é fogo que arde sem se ver”, e ouviu falar sobre Fernando Pessoa na escola, no 8º ano. Outro entrevistado foi um homem com 72 anos, que respondeu também que Fernando Pessoa foi um poeta Português, não se lembrava de nenhum poema, e a última vez que ouviu falar de Fernando Pessoa foi num programa de televisão. O último entrevistado foi uma mulher de 22 anos. Respondeu também que Fernando Pessoa foi um grandíssimo poeta Português mas enquanto vivo publicou apenas um poema. O poema que mais marcou foi “Todas as cartas de Amor”, ouviu falar de Fernando pessoa na escola, e teve grande impacto na sua vida pois gostou bastante de Fernando Pessoa e a partir dai tornou-se grande fã dos seus poemas. Com base nas respostas a estas três perguntas, vemos que Fernando Pessoa não ficou indiferente às pessoas, e que todas sabem que este foi um grande poeta Português. Podemos ver que os poemas de Fernando Pessoa tiveram um maior impacto na vida das pessoas mais novas, devido a este ser lecionado na escola. As pessoas mostraram grande admiração por lhes ter feito estas perguntas sobre Fernando Pessoa, pois já há muito que não ouviam falar sobre este poeta, e gostaram de como tínhamos de chegar a frente e falar sobre este tema. Apesar de Fernando Pessoa ser uma pessoa que não foi esquecida, por vezes se as pessoas não forem lembradas sobre este poeta que tanto enriqueceu a literatura Portuguesa cai no esquecimento, e estes trabalhos fazem com que a memória das pessoas seja avivada e que depois da entrevista feita possam sentar-se um pouco em frente ao computador a ler poemas, entrevistas, documentos, e só por essa razão valeu a pena realizar estas entrevistas.

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Mariana Afonso

Pessoa visto pelos outros

http://expresso.sapo.pt/iniciativaseprodutos/2015-09-15-Todas-as-faces-de-Pessoa A

15-09-2015 o expresso lançou uma coleção “ Obra essencial de Fernando Pessoa”, em que gratuitamente dá a conhecer aos seus leitores a obra criada por Fernando Pessoa, tendo ortónimo e heterónimo.

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https://www.youtube.com/watch?v=EC72GPITLNg

Música criada com um poema de Fernando Pessoa “Mar Português” cantada por Nau Martins e Os Argonautas.

http://www.umfernandopessoa.com/docume ntaacuterios--entrevistas.html Documentário da autoria de Prof. José Hermano Saraiva, em que fala sobre Fernando Pessoa e o seu percurso.

https://www.youtube.com/watch?v=VTNwr6o9XNM

“O filme do desassossego” é um filme português realizado por João Botelho, em que se baseia no livro do Desassossego de Fernando pessoa. 19


Mariana Afonso

Presságio O amor, quando se revela, Não se sabe revelar. Sabe bem olhar pra ela, Mas não lhe sabe falar. Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de dizer. Fala: parece que mente… Cala: parece esquecer… Ah, mas se ela adivinhasse, Se pudesse ouvir o olhar, E se um olhar lhe bastasse Pra saber que a estão a amar!

“Escrever com Pessoa”

Mas quem sente muito, cala; Quem quer dizer quanto sente Fica sem alma nem fala, Fica só, inteiramente! Mas se isto puder contar-lhe O que não lhe ouso contar, Já não terei que falar-lhe Porque lhe estou a falar…

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Este poema foi escolhido porque primeiramente é um ortónimo, escrito por Fernando Pessoa, sem qualquer tipo de artifícios, Fernando Pessoa fala sobre o sentimento e é bastante sensível e frágil ao descreve-lo, em vez de elogiar o amor, Pessoa fica perturbado pela maneira como o amor se revela em si mesmo. A incapacidade de sentir, de comunicar o sentimento, que é o verdadeiro tema deste poema, e não o amor, o sentimento.

Atividade B

Larissa Martins

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Clicar duas vezes para ouvir

Larissa Martins

Eduarda Barbosa

Fernando Pessoa – Ortónimos

a) O fingimento artístico

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Para Fernando Pessoa um poema em que descreve o que sentiu não reflecte as suas verdadeiras emoções pois não é escrito no momento da emoção, mas no momento da sua recordação. Por outras palavras, a sua arte poética resulta da intelectualização das sensações, o que remete para a temática do fingimento poético. Assim, ao não ser um resultado direto da emoção, mas uma construção mental da mesma a construção do poema define-se como um fingimento. O ato poético só comunica uma dor fingida, inventada, pois a dor real (sentida) continua a ser só do sujeito, que, através da sua racionalização, a exprime através de palavras, construindo o poema. A dialética da oposição do sentir e do pensar e da sinceridade e do fingimento nota-se ao recorrer ao intersecionismo como tentativa para encontrar a unidade entre a experiencia sensível e a inteligência. Fingir é inventar, modelar e construir elaborando mentalmente conceitos que exprimem as emoções – processo criativo desenvolvido pelo poeta. Para concluir, a criação poética constrói-se através da conciliação e permanente interação da oposição da razão com o sentimento.

b) A dor de pensar O sujeito poético sente-se condenado a ser lúcido, a ter de encarar a realidade, sendo que a realidade dele é dura pois tem muita perceção da mesma, isto é, considera que o pensamento provoca a dor, teoria esta que alicerça a temática da dor de pensar. Na sequência da mesma, o poeta quer ser como os inconscientes, como a “pobre ceifeira”, que “canta como se tivesse mais razões para cantar que a vida”, ou como “gato que brinca na rua” e apenas segue o seu instinto. O eu poético inveja a felicidade alheia, sendo esta inatingível para ele, uma vez que é baseada em princípios que sente nunca poder alcançar – a inconsciência, a irracionalidade – uma vez que o pensamento é uma actividade estimulante e incontrolável, ou seja, a sua consciência está a crescer cada vez mais, condicionando assim a sua felicidade, a qual se afasta cada vez mais. Impedido de ser feliz procura a realização de ter uma consciência inconsciente. O poeta deseja ser inconsciente, mas não abdica

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da sua consciência, pois ao apelar à ceifeira: “poder ser tu, sendo eu!/ Ter a tua alegre inconsciência/ E a consciência disso!”, salienta a sua vontade de conciliar ideias inconciliáveis. Resumindo, a dor de pensar que o autor descreve provém de uma intelectualização das sensações à qual o poeta não pode escapar, como ser consciente e lúcido que é.

c) A nostalgia da infância O sujeito poético sente nostalgia em relação aos seus tempos de infância, os quais estão perdidos. Descreve com uma profunda angústia o sentido da brevidade da vida e da sua efemeridade, isto é, o tempo é para ele um fator de desagregação na medida em que tudo é breve e tudo termina. O tempo apaga tudo. Ao mesmo tempo que gostava de ter a infância das crianças que brincam, sente a saudade de uma fase que acredita ter passado demasiado rápido.

Fernando Pessoa – Heterónimos

1. Alberto Caeiro a) A poesia das sensações: 24


Trata-se do “poeta da natureza”: Alberto Caeiro possui o privilégio das sensações, da observação. Observa toda a realidade, toda a natureza que se encontra em seu redor, e ama-a, sem a questionar, sem a tentar compreender, porque segundo ele " Quem ama nunca sabe o que ama/ Nem sabe porque ama, nem o que é amar...". Nos seus poemas podemos observar uma repetição das ideias e uma simplicidade na linguagem, características de alguém que, como sabemos, apenas teve a instrução primária. Eis algumas características:

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Alberto Caeiro possui o privilégio das sensações, sobretudo visuais. Só lhe interessa vivenciar o mundo que capta pelas sensações, recusando o pensamento metafisico "pensar é não compreender". Ou seja, aprender a não pensar, para se libertar de todos os modelos ideológicos, culturais ou outros, e poder ver a realidade concreta; O pensamento gera infelicidade. Para Caeiro, ver é conhecer e compreender o mundo" Pensa vendo e ouvindo". Numa clara oposição entre sensação e pensamento, o mundo de Caeiro é aquele que se percebe pelos sentidos. O mundo existe e, por isso, basta senti-lo, experimenta-lo através dos sentidos, nomeadamente através da visão. A deambulação pela natureza, procurando viver em harmonia com ela, observando os seus mais ínfimos pormenores; Atenção ao mundo circundante, à realidade exterior

b) A poesia da natureza: A natureza ocupa um espaço muito importante na vida de Alberto Caeiro. Ele não a vê só como nas imagens, como nas pinturas ou o que vemos quando simplesmente olhamos através da janela. Segundo ele, a natureza 25


tem um poder que transcende todos os outros elementos na sua vida. Desde aos seus sentimentos a respeito do amor até à forma como vê a religião, a natureza está em todo o lado. 2. Ricardo Reis a) O neopaganismo: Ricardo Reis acredita nos deuses e noutras presenças divinas e considera a brevidade e a fugacidade da vida. Tem noção de que o tempo passa e de que tudo é efémero. Acredita no destino e considera que os deuses estão acima do Homem mas que acima deles está o Fado (destino). Ricardo Reis pretende atingir o equilíbrio, calma e perfeição dos deuses em que acredita, que se confundem connosco por que não são mais do que versões de nós aperfeiçoadas.

b) O Epicurismo e o Estoicismo: O epicurismo e o estoicismo têm como característica comum garantir ao homem o bem supremo, a serenidade, a paz, a apatia. Relativamente ao epicurismo, defendia o prazer como caminho da felicidade. Para que a satisfação dos desejos seja estável é necessário um estado de tranquilidade e sem qualquer perturbação. No epicurismo não se trata do prazer imediato, como é desejado pelo homem vulgar; trata-se do prazer imediato, reflectido, avaliado pela razão, escolhido prudentemente. É preciso dominar os prazeres, e não se deixar por eles dominar. O prazer espiritual diferenciar-se-ia do prazer sensível, porquanto o primeiro se estenderia também ao passado e ao futuro e transcende o segundo, que é unicamente presente. O seu objectivo acima de tudo era libertar as pessoas do medo da morte, pois não podemos fugir do nosso destino, devendo tirar o melhor partido da única vida que temos, devendo, para tal, desfrutar dos nossos prazeres com moderação. Referente ao estoicismo, considera ser possível encontrar a felicidade desde que se viva em conformidade com as leis do destino que regem o mundo, permanecendo indiferente aos males e paixões, que são perturbações da razão. O ideal ético é a apatia, que se define como a ausência de paixão 26


permitindo a liberdade, mesmo sendo escravo. Dado que a natureza é governada por princípios racionais, há razões para que tudo seja como é. Não podemos desejar mudar isso, pois a nossa atitude perante a nossa mortalidade, ou o que nos parece ser uma tragédia pessoal deveria ser de serena aceitação. A vida ideal que aspira à liberdade e à paz como bens supremos, consistiria na renúncia a todos os desejos possíveis, aos prazeres positivos, físicos e espirituais; e, por conseguinte, em vigiar-se, no precaver-se contra as surpresas irracionais do sentimento, da emoção, da paixão. Não ser perturbado no espírito, renunciando a todos os desejos possíveis, visto ser o desejo inimigo do sossego: eis as condições fundamentais da felicidade, que é precisamente liberdade e paz. Assim sendo, para enfrentar o medo da morte, é preciso viver cada instante que passa, sem pensar no futuro, numa perspectiva epicurista do "Carpe Diem". No entanto, essa vivência do prazer de cada momento tem que ser feita de forma disciplinada, digna, encarando com grandeza e resignação esse Destino de precariedade, numa perspectiva que tem raízes no estoicismo. O único bem é o prazer, como o único mal é a dor; nenhum prazer deve ser recusado, a não ser por causa de consequências dolorosas, e nenhum sofrimento deve ser aceite, a não ser em vista de um prazer, ou de nenhum sofrimento menor. A serenidade do sábio não é perturbada pelo medo da morte, pois todo mal e todo bem se acham na sensação, e a morte é a ausência de sensibilidade, portanto, de sofrimento. Nunca nos encontraremos com a morte, porque quando nós somos, ela não é, quando ela é nós não somos mais. Em relação a Ricardo Reis e estas temáticas, procura o prazer nos limites do ser humano face ao destino e à brevidade da vida. Faz a apologia da indiferença solene diante do poder dos deuses e do destino inelutável. Considera que a verdadeira sabedoria de vida é viver de forma equilibrada e serena, "sem desassossegos grandes".

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3. Álvaro de Campos: a) A Vanguarda e o Sensasionalismo: Álvaro de Campos é, sobretudo, o futurista da exaltação da energia até ao paroxismo, da velocidade e da força da civilização mecânica do futuro. É o único heterónimo que reconhece uma evolução ("Fui em tempos poeta decadente; hoje creio que estou decadente, e já não o sou"), normalmente associando-se-lhe três fases de produção poética: a decadentista, a futurista e sensacionista; por fim, a intimista. Mais do que cada uma delas se referir a um só poema, por vezes todas elas aparecem representadas num só. Mas em termos de dominante, inicialmente, encontra-se um Campos dominado por sentimentos de tédio, enfado, naúsea, cansaço, abatimento e necessitado de novas sensações. Tal é o reflexo da falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia. Um dos poemas mais exemplificativos desta fase é o Opiário, escrito por Fernando Pessoa em 1915, todavia datado de março de 1913 para documentar, mistificadamente, uma primeira fase de Campos. Segue-se a fase designada de sensacionista e futurista, marcada por uma poesia triunfal, enérgica, repleta de vitalidade, manifestando o favoritismo pelo belo feroz, o que virá contrariar a conceção aristotélica de belo ("Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto./ Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos"-Ode Triunfal). Após a descoberta do futurismo e de Walt Whitman, Campos adotou, para além do verso livre, um estilo esfuziante, torrencial, espraiado em longos versos de duas ou três linhas, anafórico, exclamativo, interjetico, monótono pela simplicidade dos processos, pela reiteração de apóstrofes e enumerações, mas vivificado pela fantasia verbal duradoura e inesgotável. Além de celebrar o triunfo da máquina, da energia mecância e da civilização moderna, cantou também os escândalos e as corrupções da contemporaneidade, em sintonia com os sinais do modelo futurista. O ideal futurista em Álvaro de Campos fá-lo distanciar-se do passado para exaltar a necessidade de uma nova vida futura, onde se tenha a consciência da sensação do poder tecnológico e do triunfo. Esta fase também está marcada pela inteletualização das sensações ou pela sua desordem. Como verdadeiro sensacionista, inspirado no mestre Caeiro, procura o excesso violento de sensações à maneira de Walt 28


Whitman. Contudo, afasta-se de Alberto Caeiro, na medida em que este considera a sensação captada pelos sentidos como a única realidade; Campos não rejeita o pensamento. O mestre, com a sua simplicidade e serenidade, via tudo nítido e recusava o pensamento para fundamentar a sua felicidade em sintonia com a Natureza; já o discípulo, sentindo a complexidade e a dinâmica da vida moderna, procura sentir a violência e a força de todas as sensações ("Sentir tudo de todas as maneiras"). O poema Ode Triunfal exemplifica claramente esta fase poética do heterónimo Álvaro de Campos. O título sugere a grandiosidade, não só no conteúdo como na forma. A irregularidade métrica e estrófica, típicas da poesia modernista, afastam logo o poema da lírica portuguesa. A consequente irregularidade rítmica traduz a irreverência e o nervosismos eufórico do próprio poeta. A nível estilístico, sobressaem inúmeras metáforas, comparações, imagens, apóstrofes, anáforas (entre outros), a fim de realçar o sensacionismo de Campos, o quadro de referência enaltecido, as invocações produzidas ("Sentir tudo de todas as maneiras"). Neste sentido se pode entender ainda o registo de horror presente no poema: retirado o fio temático da moralidade e do belo aristotélico, a "Ode Triunfal" representa um sujeito poético que se toma como local de confluência e de procura do absoluto. Assim se entende que o poeta tanto manifeste o elogio, a invocação das máquinas, através das apóstrofes ("Ó rodas, ó engrenagens, ó máquinas!...") como também o desejo de se materializar ao identificar-se com elas ("Ah! poder eu exprimir-me como um motor se exprime! Ser completo como uma máquina!"). Daí a conclusão da ode: "Ah, como eu desejava ser o souteneur disto tudo!" - a expressão de desejo de alguém que confessa a sua limitação na ascensão ao estatuto glorioso da máquina, a ponto de se poder exprimir "todo como o motor se exprime".

b) A abulia e o tédio: Álvaro de Campos sente-se mergulhado em sentimentos disfóricos, envolvido numa abulia e num tédio resultantes da frustração de uma caminhada inglória, do insucesso face ao pretendido.

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Este Campos descaído, cosmopolita, melancólico, devaneador, irmão do Pessoa ortónimo no ceticismo, na dor de pensar e nas saudades da infância ou de qualquer outra coisa irreal, é o único heterónimo que comparticipa da vida extraliterária de Fernando Pessoa. É ele próprio que afirma "eu e o meu companheiro de psiquismo Álvaro de Campos". É Campos que reconhece os limites do humano, a apatia e o cansaço de quem quis ser máquina e não o conseguiu por ser Homem. Recusa a estética, a moral, a metafísica, as ciências, as artes, a civilização moderna, apelando ao direito à solidão, apontando a infância como símbolo da felicidade perdida (Ó céu azul - o mesmo da minha infância - / Eterna verdade vazia e perfeita!"). Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido ("O que há em mim é sobretudo cansaço -"; "Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: / Porque eu amo infinitamente o infinito, / Porque eu desejo impossivelmente o possível"). A construção paradoxal destes versos é, o espelho do interior do poeta, dominado por forças antagónicas: a da totalidade e da limitação.

Conclusão Com a conclusão deste trabalho as nossas expectativas em relação a Fernando Pessoa e ao que poderíamos aprender sobre este foram superadas. 30


Foi interessante ver como este poeta pensava, exponha as suas ideias, e como a partir dos poemas que deixou podemos aproveitar a alargar os nossos horizontes, as nossas ideias sobre as diversas coisas que Fernando Pessoa falava nos seus poemas. No futuro queremos começar a olhar mais para o trabalho deste poeta, que infelizmente não ouvimos falar muito anteriormente, pois despertou grande interesse. Esperemos ter conseguido realizar este trabalho como era esperado, pois têlo feito despertou uma grande vontade de saber mais sobre este grande poeta Português que é Fernando Pessoa, e que esta vontade de trabalhar e de aprender mais sobre este poeta continue durante muitas gerações.

Webgrafia https://www.google.pt/search? q=poemas+mais+conhecidos+de+fernando+pessoa&biw=1265&bih=902&source=lnms &tbm=isch&sa=X&sqi=2&ved=0ahUKEwiF31


PiD36XQAhVCChoKHbtoD7sQ_AUIBigB#tbm=isch&q=modernismo+em+portugal+pintu ra&imgrc=4ac1eWe-sRYDdM%3A http://modernismofernandop.blogspot.pt https://www.google.pt/search? q=modernismo&biw=1265&bih=902&source=lnms&tbm=isch&sa=X&sqi=2&ved=0ahU KEwjj686T2qXQAhWMWBoKHeZcCHgQ_AUIBigB#tbm=isch&q=modernismo+na+pintur a+na+epoca+de+fernando+pessoa&imgrc=bvmTpN5TC7QpuM%3A https://www.google.pt/#q=modernismo http://www.umfernandopessoa.com/documentaacuterios--entrevistas.html http://www.rtp.pt/arquivo/index.php?article=3268&tm=52&visual=4 https://www.google.pt/search?q=Mar+portugues+fernando+pessoa&hl=ptPT&biw=1265&bih=879&site=webhp&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwj Wt-Lt057QAhUb8YMKHfLPBw4Q_AUIBigB#imgrc=q2YxgNpzzz-OqM%3A https://www.youtube.com/watch?v=EC72GPITLNg

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