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imagemrp REVISTA EXPERIMENTAL DO CURSO DE RELAÇÕES PÚBLICAS DEZEMBRO / 2016 | UNISINOS | SÃO LEOPOLDO/RS

Empoderamento feminino


unisinos.br/novocampuspoa

Mais ideias para a cidade estão chegando. 2017 marca um importante momento para a Unisinos e também para Porto Alegre. Estamos inaugurando um campus que vai estimular novas ideias para a cidade, valorizando a inovação, a cultura e a ação social. Venha fazer parte desta história que, mais do que transformar a nossa capital, tem tudo para nos ajudar a construir um futuro melhor para todos.

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AULAS EM 20 DE MARÇO DE 2017

Projeto: AT Arquitetura. Imagem meramente ilustrativa.


CARTA DA REDAÇÃO

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Profa. Dra. Cíntia Carvalho Editora

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i, você que nos lê, já sofreu algum tipo de violência? Passou por dificuldades em ascender profissionalmente? Percebeu diferenças entre seu salário e o de um colega homem? Esses são apenas alguns de muitos questionamentos que necessitamos fazer a nós e aos nossos pares. É tempo de despertar e desmistificar! O que precisamos fazer para que a igualdade e o respeito virem normalidade? Por essa razão, essa edição da Revista Imagem RP traz reflexões sobre o empoderamento feminino. Falar sobre essa temática não significa apenas dirigir nossos pensamentos às mulheres, mas sim sobre todas as minorias existentes em nossa sociedade. Empoderar é um meio para diminuir as desigualdades que ainda existem. A luta pelos direitos de igualdade e discussões sobre atos de opressão e violência, são assuntos que podem ser conferidos em algumas matérias dessa edição como, por exemplo, a perspectiva sobre a presença feminina no mercado de trabalho, a identificação da figura feminina em franquias de cinema, padrões de beleza e uso pejorativo da imagem feminina, a desconstrução da cultura machista na infância, a comunicação e cultura do estupro. Nossa função social aqui recai sobre a promoção de reflexões e sensibilização à causa. Por isso tratamos de um tema bem atual e seus impactos sociais, o que pode ser conferido em outras matérias, tais como o ciberativismo feminista e a liberdade e segurança, aspectos relevantes para o crescimento e fortalecimento das mulheres, em busca do reconhecimento de suas capacidades individuais. Ao questionarmos as identidades e os papeis socialmente construídos que reforçam a subordinação feminina e as desigualdades de gênero, os processos de empoderamento possibilitam que mulheres possam desenvolver habilidades para a tomada de decisões sobre suas vidas, seus corpos e seus desejos, cultivando atitudes e comportamentos em direção à autoconfiança necessária para a busca da igualdade social e de gênero. Quer saber mais? Te convidamos a compreender o assunto e, com isso, se posicionar a respeito. Ao se engajar você muda o mundo delas e o seu também! Boas reflexões!

ÍNDICE

4 – A hegemonia feminina nas relações públicas 5 – A presença feminina no mercado de trabalho 6 – A figura feminina em franquias de cinema 7 – Ciberativismo feminista 8 – Meu corpo, minha decisão! 12 – Comunicação e cultura do estupro 13 – Desconstrução da cultura machista na infância 14 – HeForShe 15 – Padrões de beleza 16 – Liberdade e segurança, JÁ!


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A hegemonia feminina nas relações públicas Aline Fanti Dino Nunes

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a construção da sociedade, ao longo da história, a mulher foi posicionada um nível abaixo do homem. Era vista como objeto pessoal de seu marido, para o qual devia cuidado e dedicação em troca de seu sustento e segurança. Suas tarefas se resumiam em cuidar da casa e da família, a famosa mulher Amélia, enquanto o homem saía para trabalhar. Resquícios desse passado seguem intrínsecos quando se fala do espaço feminino no mercado de trabalho. Porém, em al-

gumas profissões a realidade é outra. Como é o caso das Relações Públicas, por exemplo. A área das Relações Públicas é de essência masculina, devido à história de sua criação. Com o passar das décadas, transformou-se em uma atividade onde a figura feminina é predominante. A atividade revelou-se para as mulheres ao mesmo passo em que ganharam força na sociedade. A grande hegemonia feminina nas Relações Públicas começou a tomar forma ainda no século XX. Porém, foi por volta dos anos 70 que este padrão sofreu grande alteração, período que marca a entrada do

gênero em vários nichos de profissões e o desafio dos limites que lhe eram impostos ao se arriscarem em campos que eram até então considerados impróprias para as mulheres. A partir desta mudança de comportamento coletivo que ocorreu a apropriação da área das Relações Públicas. Antes considerada uma profissão masculinizada, a mudança de gênero predominante na profissão foi considerada tendência para o renomado autor de relações públicas, James Grunig. E, ao que parece, esta aposta já virou realidade. Em pesquisa de perfil realizada em 2009, o Conselho

Federal de Relações Públicas (CONFERP) constatou que 80% dos profissionais da área são do sexo feminino. Realidade que pode ser mensurada dentro do próprio campus, onde constatamos que o número de alunos homens por turma do curso de Relações Públicas não ultrapassa 1%. Este mérito das mulheres, e o gosto dessa conquista é algo resultante da habilidade em articular o racional e o sentimental, de maneira a captar peculiaridades de comportamentos, expectativas e frustrações das pessoas em ambientes organizacionais, condição distante da maioria dos homens.


Amanda Hoffmeister Andréia Kunz

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mulher sempre acreditou no seu potencial e, já no século passado, lutava pelos seus direitos. Aos poucos, elas vêm construindo um caminho de vitórias, conquistando o seu próprio espaço no mercado de trabalho. Apesar disso, parâmetros desiguais como diferenças salariais e a pouca valorização de cargos femininos ainda são evidentes. Essas diferenças perduram, pois durante muitos anos, as mulheres apenas cumpriam as tarefas cotidianas do lar e o homem era vis-

to como o provedor. Enquanto ela cuidava da casa e dos filhos, ele trabalhava para garantir o sustento da família. A inserção feminina na sociedade, principalmente no âmbito trabalhista, se deu a partir das duas grandes Guerras Mundiais. Enquanto os homens estavam em batalha, as mulheres assumiam os negócios da família como também a posição de seus maridos no mercado de trabalho. Com o pós-guerra e a impossibilidade de muitos destes soldados prosseguirem nas suas tarefas, devido à traumas e mutilações, as mulheres viam-se obrigadas a tomar a frente dos projetos iniciados por seus companheiros.

Essa inserção da mulher em cargos e atividades que, anteriormente, eram ocupados somente por homens, aos poucos foi colocada em prática. Notou-se que era preciso alcançar, não somente a igualdade dos gêneros, mas também espaços femininos na sociedade por mérito e efetividade. Com a necessidade de se trabalhar de forma mais humana dentro das organizações, aliada à capacidade de ouvir e mediar conflitos, abriram-se espaços para o público feminino na área da Comunicação Social. Para a graduanda do curso de Relações Públicas da Unisinos, Letícia Gedrat, 22 anos, “as pessoas

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A presença feminina no mercado de trabalho

associam muito as mulheres às questões voltadas a relacionamentos por conta dessa imagem feminina, geralmente, mais aproximada com sentimentos e senso mais desenvolvido”. A partir de características próprias como sensibilidade, determinação e facilidade de lidar com diferentes públicos e papeis – as quais se encontram na maioria das mulheres -, elas foram crescendo em áreas específicas, como é o caso da profissão de Relações Públicas, que apresenta números mais elevados de mulheres em suas atividades. Essa versatilidade feminina em gerenciar diferentes cenários - filhos, carreira profissional e hobbies – permite que elas planejem suas férias em família ao mesmo tempo em que estão elaborando um planejamento estratégico empresarial. Entretanto, a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (ABERJE), em pesquisa realizada em 2015, demonstrou que 57% das empresas brasileiras não apresentam mulheres em posições de liderança. Além disso, elas ganham salários em média 30% menores que os homens que exercem as mesmas funções. Este contraste de dados demonstra que, no Brasil, os gêneros ainda definem atividades profissionais. No entanto, se o preconceito diminuir e o bom senso evoluir, as corporações perceberão que nenhum gênero é superior ao outro; apenas apresentam diferentes possibilidades e olhares para a resolução de problemas e alcance do sucesso empresarial e ambos podem trabalhar de forma efetiva se estiverem em harmonia.


A figura feminina em grandes franquias de cinema Roseane Pereira

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s últimos lançamentos do cinema, principalmente no quesito “franquias”, são sempre muito comentados e esperados por apreciadores, fãs e público em geral. A oferta de filmes para variados tipos de públicos aumenta a cada ano, atendendo as demandas mais exigentes. E um dos públicos que ganhou grande destaque é o público feminino, antes considerado uma minoria em séries e filmes. O girlpower, movimento que destaca o empoderamento feminino, cresceu ainda mais com o uso de mídias sociais e plataformas. A causa finalmente foi ouvida pelos grandes produtores de Hollywood e com isso, as mulheres estão ganhando mais espaço e provando o seu poder. O maior sucesso de bilheteria do ano passado, Guerra nas Estrelas: O Despertar da Força (Star Wars: The Force Awakens), trouxe a história de uma mulher protagonista. Rey, uma jovem de 19 anos, vivia uma vida miserável até encontrar Finn, personagem que a leva em uma aventura inesperada. O próximo filme da saga, a ser lançado no final de 2016, também contará a história de uma mulher. Outro sucesso literário e cinematográfico, Jogos Vorazes (The Hunger Games), conta a história de Katniss Everdeen, uma adolescente que, em um ambiente futurístico, é escolhida para representar seu distrito em uma competição sangrenta: os participantes são enviados para matar uns aos outros, até que reste apenas um. A garota é símbolo de uma rebelião, mostrando coragem, ousadia e inteligência. A fórmula da mulher como figura principal também é reproduzida em

quadrinhos; a personagem Michonne, é uma corajosa mulher que usa suas habilidades com a katana para decepar zumbis em The Walking Dead, que devido ao enorme sucesso, virou série de televisão. A Marvel, produtora dos quadrinhos de super heróis mais famosos do mundo, anunciou recentemente a inclusão da heroína Capitã Marvel em sua série de filmes. A personagem será interpretada por Brie Larson, ganhadora do Oscar de melhor atriz em 2016. Game of Thrones, uma das séries de maior sucesso de todos os tempos, traz personagens femininas que lutam pela conquista do trono de ferro. Ambiciosas e que vão até o fim para saciar seus desejos, arquitetam o jogo dos tronos com tanta maestria quanto os homens da série. Ou até mais. Se antigamente, a imagem da mulher se limitava a cuidar da casa e dos filhos mesmo na realidade do cinema, na atualidade há uma grande preocupação em renovar esse aspecto, adequando a real situação da figura feminina no mundo. Hoje, as produções audiovisuais mostram outro lado, ambientando a mulher para o século XXI. Mulheres modernas, poderosas, corajosas e que lutam pelo seu espaço. Trabalhadoras, independentes e ao mesmo tempo, com a possibilidade de escolhas. Escolher ser o que quiser ser, simplesmente. Ter o poder de fazer escolhas é uma alternativa relativamente recente, e uma temática muito atrativa para exploração. Espelhar-se nas mulheres do cinema parece ser uma tarefa mais fácil, diante da imagem que está se formando, pois apesar da lista de grandes feitos, elas também cometem erros, tornando-se de certa forma, reais. Com isso, se aproximam mais de seu público, fazendo com que inspirem milhares de mulheres pelo mundo.


Ciberativismo feminista Rossana Pires

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internet é uma rede que permite aos usuários a liberdade de comunicar. Muitos a utilizam para contatar pessoas distantes, outros para compartilhar assuntos de interesse pessoal, e também existem aqueles que adotam uma postura de cunho social e cultural. As causas são diversas, no entanto, há uma questão que ganhou força nesse meio e que se destaca por utilizar o ciberativismo - conjunto de práticas em defesa de determinada causa na internet - como contribuição ao empoderamento feminino. Com o aumento contínuo de interação nas redes, a grande tendência é que, além de alterar as relações e democratizar as comunicações, exista um crescimento de informações voltadas ao aprofundamento de temas expressivos para a sociedade. O objetivo é atingir uma quantidade maior de pessoas através da mídia, devido à inserção nas redes. A consequência disso tudo foi a explosão de páginas no Facebook focadas no tema feminismo. Em destaque estão: “Não me Kahlo”, “Feminismo sem demagogia” e “Moça, você é machista”, todas com aproximadamente um milhão de curtidas. A fanpage “Não me Kahlo” se posiciona como um ambiente de estudo sobre o feminismo e destaca em suas informações que respeita a individualidade e valoriza o trabalho em conjunto, visando à construção de uma sociedade igualitária. A página “Feminismo sem Demagogia” é destinada para debater o feminismo pela natureza Marxista, ou seja, a opressão machista/capitalista que as mulheres vivenciam. Nesse espaço,

é compreendido que o feminismo é inseparável da luta de classes. Já a página “Moça, você é machista” propõe-se a divulgação de informações e conscientização sobre o feminismo. A jornalista Carol Patrocinio, que aborda conteúdo feminino com ênfase em direitos humanos, conta que vê as redes sociais como uma plataforma para disseminação de informação. “Não importa onde o feminismo está sendo discutido, mas como isso tem sido feito. As redes sociais, porém, exacerbaram a necessidade de aprovação das pessoas e discursos rasos e de ódio ganham mais likes, portanto, acabam sendo mais escolhidos como modo. Ainda assim, a transformação que o feminismo e o ciberativismo têm levado para a vida das mulheres é espetacular” afirma Carol. Os conflitos citados pela jornalista são bastante comuns quando pessoas que não concordam com a causa e com os pensamentos compartilhados nas páginas expõem manifestações contrárias. Para evitar as hostilidades, Carol ressalta que deve ser lembrado: “Nenhum de nós está totalmente pronto para um novo mundo igualitário, a gente está trabalhando para isso”. Observa-se que o ciberativismo focado no feminismo é uma das maneiras de trabalhar para que uma sociedade igualitária fique mais próxima da realidade. Utilizar as ferramentas disponíveis a favor da defesa das mulheres na busca de uma relação social mais justa é uma oportunidade para fortalecer essa luta. Cabe destacar que esse movimento nas redes sociais intensifica a ideia de que a causa ainda precisa de engajamento, afinal #JuntasSomosMaisFortes!


Meu corpo, minha decisão! imagemrp | dezembro / 2016 | 8

Sara Erhart tamara Stucky

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do curso de Relações Públicas, com opiniões divergentes.

ntre os diversos assuntos po- # Sou contra lêmicos evolvendo o femi- o aborto! nismo, um dos que mais se “A mulher tem direito de decidestaca é o aborto. Lembrando que existe uma dife- dir, sim, tem o direito escolher o rença entre ser a favor do aborto e que quer fazer ou não da sua vida. ser a favor da legalização do aborto. Porém, é necessário atentar-se a É preciso salientar o grande proble- algo: A vida humana tem seu início ma de saúde pública no qual o aborto na concepção, portanto aquele emrepresenta. O Painel Temático: saú- brião não é um amontoado de céde da mulher, organizado pelo Minis- lulas, mas já é uma pessoa em detério da Saúde em 2005, constatou senvolvimento. É importante lemque 15% da mortalidade materna é brar que essa criança que cresce proveniente de abortos. Conforme pesquisa realizada pelo IBGE, entre os anos de 2004 e 2013, 8,7 milhões de brasileiras com idade entre 18 e 49 anos já praticaram, no mínimo, um aborto na vida. A Federação Internacional do Planejamento Familiar evidenciou outro dado de grande impacto, 70 mil mulheres morrem anualmente com abortos inseguros. Por exemplo, nos Estados Unidos onde a prática é legalizada, a taxa de mortalidade em 2011 era de 0,27 a cada 100 mil habitantes. O fato é que, cada mulher tem o direito de se posicionar contra ou a favor do aborto. EnFonte: Extraído da obra #meuamigosecreto, de autoria de Lara, Rangel, trevistamos duas alunas Moura, Barioni e Malaquias, Rio de Janeiro, edições de janeiro, 2016; p.155

no ventre materno, possui um DNA diferente, o que o torna outra pessoa, outro corpo, que merece ter seus direitos preservados e respeitados”. Nathana Fouchy.

# Sou a favor do aborto! “O aborto é uma questão essencialmente de saúde pública e vida da mulher. Ser a favor da legalização do aborto não significa que a pessoa é a favor do aborto ou que abortaria. É possível ser a favor da legalização e ser contra o aborto. Isso significa que tu és a favor do direito de escolha, da liberdade em decidir se deseja ou não interromper a gravidez. Hoje, por ser clandestino, o aborto é banalizado. O fato é que a cada 9 minutos, uma mulher morre em decorrência de um aborto clandestino”. Giulia Silvestre. A legalização do aborto não é um assunto que pode ser ignorado, já que é fundamento de um grande debate promovido pelas mulheres. O governo, através da iniciativa do Senado, aos poucos se envolve e gera enquetes sobre a temática questionando esse e outros assuntos polêmicos. É tempo de ouvir o que as mulheres desejam e principalmente, respeitar a sua escolha, seja qual for.


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No Brasil, 90% dos casos de estupro não são denunciados, atingindo mais de meio milhão de pessoas.

LIGUE 180

(Denúncia especializada em violência contra a mulher) imagemrp | dezembro / 2016 | 11


Comunicação e cultura do estupro Estevão Dornelles

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pós a gigantesca exposição midiática do estupro coletivo de uma jovem de 16 anos no Morro da Barão, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro em 21 de maio deste ano, o Brasil viu em pauta a “Cultura do Estupro”. O termo causou curiosidade na maior parte da população e, mesmo após ganhar todas as manchetes dos jornais do país e do mundo, a pergunta que fica é: o que significa, de fato, a cultura do estupro? Conforme a ONU Mulheres é “o termo usado para abordar as maneiras em que a sociedade culpa as vítimas de assédio sexual e normaliza o comportamento sexual violento dos homens. Ou seja: quando, em uma sociedade, a violência sexual é normalizada por meio da culpabilização da vítima, isso significa que existe uma cultura do estupro”. A grande atenção da mídia no caso citado, e em tantos outros, infelizmente não foca em repudiar o quão criminoso o estupro pode ser, mas acaba despejando informações completamente irrelevantes sobre a vítima. Onde ela morava- uma favela, o que costumava fazer – ir a bailes funks, usar drogas, sua vida pessoal - mãe solteira. Informações colocadas de maneira a posicionar o público para outro tipo de reflexão, a da dúvida, reforçando o machismo e não a ideia de que, independente das práticas da vítima, ela não é culpada pela violência que sofreu. Para a Vice-Diretora de Comunicação da FUNDARTE/ TV Cultura do Vale de Montenegro, Priscila Mathias, os profissionais de comunicação devem se aliar a informação de qualidade. Para Priscila, a mídia necessita não só divulgar depois que o crime aconteceu, mas sim, divulgar formas de combate e principalmente esclarecer as formas que a vítima deve proceder e como o agressor pode ser punido. “Enquanto jornalista e comunicadora sou contra a cultura do espetáculo e a exposição das

pessoas. O caso do RJ foi mais um em que os veículos abriram espaço para uma discussão do tipo: ela foi culpada ou foi vítima? Estamos de certa forma tão inseridos em uma sociedade machista que as discussões giram em torno do ‘que eu acho sobre’”. Observa-se que a informação é uma das ferramentas que podem efetivamente diminuir os casos de estupro e enfraquecer esta cultura. O Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública enfatiza que: “todos os anos cerca de 50 mil pessoas são estupradas no Brasil. Esses são os números oficiais, obtidos a partir da papelada formal. Mas eles não correspondem à realidade. O estupro é um dos crimes mais subnotificados que existem e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada estima que os dados oficiais representem apenas 10% dos casos ocorridos. Ou seja, o verdadeiro número de pessoas estupradas todos os anos no Brasil é mais de meio milhão”. Diante disso, qual é o papel da imprensa neste cenário tão sólido da cultura machista? Para Priscila, “A mídia poderia fazer duas coisas imediatas: promover espaços de discussão e sempre que noticiar alguma agressão, completar essa matéria esclarecendo os canais de denúncia e punição a esse agressor, aqui tratando de agressão não só física como também moral. É preciso mais informação de qualidade”. Acabar com a cultura do estupro não é tarefa fácil, mas abrir-se para informações relevantes e disseminar que esse tipo de cultura existe sim, é uma maneira/ação que ajuda no dia a dia a acabar com ela. Por fim, a jornalista ainda conclui que: “Todos nós cidadãos temos o dever de nos posicionar, de expor nossa opinião, de promover momentos de debate e reflexão e, principalmente, se informar sobre os casos antes de sair achando coisas. Infelizmente, a cultura do estupro está no nosso cotidiano e podemos ser mais uma nesse índice alarmante a qualquer momento”.


Desconstrução da cultura machista na infância Michele ORTIZ Natália PFITZER

Conforme a professora de Comunicação e Psicologia da Unisinos, Magda Ruschel, o processo de empoderamento e igualdade da mulher está acontecendo, porém, de maneira lenta. “As coisas ainda estão preestabelecidas, estereotipadas pelos fatores culturais que determinam a educação das crianças, sendo ela, muitas vezes, patriarcal”, enfatiza Magda. Em pleno século 21, as mudanças estão aconte-

cendo, porém, ainda levará tempo para que seja colhido resultados mais efetivos, que preguem a igualdade entre os gêneros, já que, uma cultura é feita de história e de tempo. Portanto, o compartilhamento de novos pensamentos hoje refletirão em novas possibilidades no amanhã. É fundamental manter o diálogo e persistir na educação que ressalta o respeito pela diversidade.

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educação é a base de tudo, pois é através dela que se muda o mundo e as pessoas. Seu papel é de extrema importância na quebra das barreiras de gêneros e na construção de movimentos sociais, e é dessa forma que as mulheres conquistarão o seu espaço na sociedade. O ensino não sexista é necessário desde a educação infantil, pois é a partir deste momento que a criança desenvolve seu caráter e opiniões sobre o mundo. Ao vivenciar assuntos diversos desde os primeiros ensinamentos, elas se desenvolverão com a percepção ampliada com relação ao mundo e suas diferenças. Para a psicanalista e publicitária Eloá Muniz, antes mesmo da criança nascer ela já está classificada: “menino é azul e menina é rosa. Menino brinca com carrinhos e é educado para as atividades laborais remuneradas no público e menina brinca de boneca e é educada para atividades laborais não remuneradas no privado. Meninas são belas, recatadas e do lar e meninos são brutos, conquistadores e do mundo”, acrescenta.

Por isso, existe uma grande importância em incorporar uma visão de igualdade nos lares. Ao estimular o diálogo sobre as diversidades, cria-se a ruptura da atual cultura presente dentro de casa e nas escolas, pois a presença do machismo, infelizmente, ainda é muito frequente nos ensinamentos dos pais para os filhos, bem como na escola com os alunos, ao definir cores classificando os sexos e brinquedos.


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He For She DÉBORA VOLTZ THAÍS ALMEIDA

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Campanha mundial HeForShe, idealizada pela ONU Mulheres, ganhou força nas redes sociais e, desde seu lançamento, em 20 de setembro de 2014, obteve mais de 1 trilhão de compartilhamentos no site e 3 bilhões de conversas e compromissos com a campanha. No Brasil são mais de 30 milhões de pessoas de todos os gêneros envolvidas com a iniciativa. O objetivo dela é unir toda a sociedade contra os preconceitos de gêneros, discriminação e violência a fim de trazer benefícios da igualdade para todos e todas. Para representar essas pessoas que lutam contra

isso, a atriz Emma Wildson foi escolhida a embaixadora da ONU Mulheres e da campanha. A ONU Mulheres é uma entidade das Nações Unidas dedicada ao combate à discriminação, o empoderamento das mulheres e a busca pela igualdade entre mulheres e homens como parceiros e beneficiários do desenvolvimento, direitos humanos, ação humanitária e paz e segurança. Ela foi criada para acelerar os progressos na obtenção das necessidades das mulheres e meninas em todo o mundo. Para atingir seu público, a companha buscou discutir quais caminhos devemser seguidos para chegar ao objetivo final: acabar com a desigualdade de gênero no mundo. Utilizando de mídias

sociais e estratégias de relacionamentos, o movimento He for She acelerou o avanço na sociedade, gerando solidariedade, envolvimento de homens e jovens e abriu espaço para o surgimento de lideranças do sexo feminino. Ele também incentiva os homens a participarem da campanha e se envolverem com as questões que podem acabar com a desigualdade enfrentada pelas mulheres e meninas em todo o mundo. A desigualdade não é apenas um problema de quem a sofre, isso afeta toda a sociedade, que inclui homens, mulheres e toda a comunidade LGBT. A igualdade liberta o cidadão de papéis sociais determinados pelo estereótipo de gênero, que por exemplo obriga a mulher a desempe-

nhar papéis “aceitáveis” pela sociedade: ser dona de casa, que mesmo trabalhando fora, tem a obrigação de limpar, cozinhar e cuidar dos filhos, enquanto o homem tem apenas o papel de ser o líder da família. Algumas conquistas já foram alcançadas e estão quebrando alguns preconceitos: universidades brasileiras estão permitindo o uso do nome social de transgêneros e a disponibilização no Facebook de novas definições de gêneros para seus usuários, fatores que mostram a força desses movimentos. Cada um pode ser o que quiser e se não lutarmos contra a desigualdade, quem lutará? “Se não eu, quem? Se não agora, quando? ” (Emma Wildson, Embaixadora da Campanha HeForShe).


Padrões de beleza Eduarda Couto Micaela Magedanz

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a marca LAB do rapper Emicida. Em entrevista para a Revista Ego, a modelo disse: “É muito bom ver que é possível acabar com a padronização da beleza feminina. Eu tenho 140 kg e meu manequim é 60. Quem disse que é só mulher magra que gosta de se vestir bem? Essa semana de moda é um marco pelo fim do padrão de beleza”. Como se já não bastasse a dificuldade que muitas mulheres têm em se aceitar, alguns programas de televisão e propagandas ainda trazem a imagem da mulher como objeto sexual. São mulheres com corpos lindos, esculturais, malhados e bem cuidados. Vestindo micro biquínis, com o apelo sensual, servem bebidas para homens à beira da praia, são rotuladas com nomes de frutas e alimentos. Participam de quadros em programas de humor, onde são taxadas de burras e ignorantes como se a única coisa boa que tivessem fossem os seus corpos. Hoje, muitas marcas vêm tentan-

do desfazer esta imagem, e apostam em trazer a “mulher moderna” em evidência, mostrando-as de uma forma independente, madura, com poder de decisão e liberdade de escolha. É o reflexo de uma sociedade que já rejeita os estereótipos mais grosseiros, que já lutou e contestou muito para ser ouvida. Para que as marcas consigam desfazer a imagem de que mulheres são usadas como objetos e consigam trazer a “mulher moderna” em primeiro plano, precisam se diferenciar. Grandes marcas como Omo, Eletrolux e Marisa trabalharam com uma visão inversa sobre a figura feminina e masculina, colocando em suas peças publicitárias mais recentes figuras masculinas como objeto de desejo da mulher. Não é esse o objetivo das mulheres, mas sim o respeito às diferenças. É preciso que as marcas passem uma imagem de que todos são iguais, todos podem exercer todas as funções, que não existem diferenças. Gerar conteúdo para mídias que grande parte da população terá acesso é uma difícil missão e, para que marcas e organizações alcancem êxito, precisam antes estabelecer um bom relacionamento com o público. O papel do profissional de Comunicação é levar conteúdo ao seu público-alvo de uma maneira ética e transparente. Sendo assim, deixemos a negra usar cabelo Black Power, a gorda usar roupa justa, a magra vestir calça de cintura baixa, a alta usar salto alto, a baixa usar sapatilha. Deixemos cada uma ser como for, como quiser.

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ada vez mais presente e aparente no nosso dia a dia, a luta pelos padrões de beleza impostos pela mídia e pela sociedade vem ganhando força nas redes sociais. Com a ascensão do manifesto feminista, perfis no Facebook, Instagram, blogs e outros, vêm fazendo um trabalho de autoajuda para que cada mulher se ame e se aceite como é, ou então, inicie a busca e a mudança para ser quem sempre quis ser. Vive-se hoje uma ditadura do corpo onde, a todo momento, surgem novas dietas, clínicas de estética, tipos de ginásticas e produtos de beleza que prometem a aparência perfeita. E, se você não estiver dentro destes padrões determinados, será um excluído social, lançado a julgamentos alheios. A maioria das mulheres acreditam ter algo de belo em si, porém, muitas se sentem frustradas por não conseguirem alcançar os preceitos mercadológicos de embelezamento. Na mídia, o clamor por liberdade de estilo já chegou com algumas empresas, principalmente as especializadas em cosméticos. No entanto, para chegar até esse ponto, as agências de publicidade receberam inúmeras críticas negativas e reclamações. O trabalho do profissional de comunicação, dentro das agências que produzem o conteúdo, ajuda a pensar e planejar a 360 graus todo o cenário onde vai se encaixar esse tipo de produto, para que assim, o resultado seja o mais satis-

fatório possível, sendo visto como uma inovação e não um apelo. E assim, aos poucos, algumas marcas quebraram o paradigma dos padrões de beleza, trazendo histórias inspiradoras que incentivam as mulheres a aceitarem o seu corpo do jeito que ele é. O manifesto Plus Size, por exemplo, que luta contra a ditadura da magreza, mostra que uma mulher acima do peso pode ser feliz e saudável. O movimento está chegando ao seu ápice: no dia 25 de outubro deste ano, foi lançada a primeira revista Playboy que traz uma pessoa corpulenta na capa e no conteúdo. A modelo é Juliana Romano, criadora do blog Entre Topetes e Vinis, que em suas publicações relata sobre a sua autoestima e estilo de vida. Como se já não bastasse o “lacre” de uma modelo plus size na revista de maior expressão no mundo masculino; a São Paulo Fashion Week, maior evento de moda do Brasil, trouxe às suas passarelas a modelo Bia Gremion, vestindo


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Liberdade e segurança, JÁ! Juliane Keroll Chaves

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m meio a tanta tecnologia e espaços de interação, estão sendo utilizados cada vez mais plataformas online no auxílio de denúncias contra a mulher. Essa discussão é lenta, mas precisa ser feita até os homens compreenderem que as mulheres possuem desejos e liberdade. A violência contra as mulheres é diária e se dá de várias formas, exemplo disso, é o assédio em espaços públicos por causa das roupas. Uma situação de assédio foi presenciada ao vivo na estreia do Programa MasterChef Júnior em 2015, no qual uma menina de 12 anos foi vítima de comentários maliciosos de internautas que comentavam sobre o programa no Twitter. Os comentários variavam entre: “se tiver consentimento é pedofilia?”, “a culpa da pedofilia é dessa molecada gostosa”. Assim que o caso repercutiu, o coletivo feminista Think Olga, grupo que luta contra a violência contra da mulher e o assédio em espaços públicos, lançou a hashtag #primeiroassédio no Twitter. O movimento incentivava mulheres a contar quando foi a primeira vez que foram assediadas expondo um problema compreendido como uma “coisa normal”. A campanha levantou depoimentos fortes e mostrou que muitas meninas passaram ou passam por situações semelhantes. Este é um assunto muito sério, e até pouco tempo, muitas mulheres sofriam caladas por acreditarem que eram culpadas. É preciso denunciar, independentemente da situação, existem muitas formas de realizar. O Ligue 180 foi criado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência

da República (PR), em 2005, para servir de canal direto de orientação sobre direitos e serviços públicos para a população feminina em todo o país (a ligação é gratuita). A Lei 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha, orienta mulheres que sofreram qualquer tipo de agressão, indica a delegacia mais próxima e explica os diferentes tipos de violência de gênero. A coordenadora do Coletivo de Mulheres do Calafate, Marta Leiro, destaca a importância da denúncia poder ser realizada por uma testemunha. “Não é fácil para a mulher em situação de violência fazer a denúncia. Do acontecimento até a queixa existe uma grande trajetória para a decisão. Assim, mais pessoas poderão denunciar”, ressalta. Além do trabalho sério e personalizado do disque 180, existem outras formas de canais de comunicação que podem ser utilizados para denunciar. Outro aplicativo para auxiliar na denúncia de assédios e abusos é o “SaiPraLá”, um espaço para as mulheres registrarem o tipo de abordagem usada e o local. Assim as demais ficarão atentas quando forem passar por onde isso acontece com frequência. A ideia foi da estudante Catharina Doria, de 17 anos. Depois de ser chamada de “gostosa” nas ruas de São Paulo sentiu raiva e medo, e resolveu criar o aplicativo. Como é possível perceber, as iniciativas voluntárias estão ocorrendo e, os órgãos públicos precisam tomar providências de segurança, pois ainda há muito o que ser feito, como o treinamento em delegacias e uso de mídias para falar mais sobre este assunto inibindo os agressores.


Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) ENDEREÇO: Avenida Unisinos, 950. São Leopoldo, RS CEP: 93022-000 Telefone: (51) 3591.1122 INTERNET: www.unisinos.br E-mail: unisinos@unisinos.br

ADMINISTRAÇÃO

imagemrp | dezembro / 2016 | 18

REITOR: VICE-REITOR: PRÓ-REITOR ACADÊMICO: PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO: DIRETOR UNIDADE DE GRADUAÇÃO: GERENTE DE BACHARELADOS: COORDENADORA CURSO DE RELAÇÕES PÚBLICAS:

Marcelo Fernandes de Aquino José Ivo Follmann Pedro Gilberto Gomes João Zani Gustavo Borba Vinicius Souza Erica Hiwatashi

imagemrp A revista Imagem RP é uma produção dos alunos da disciplina de Redação em Relações Públicas IV do Curso de Relações Públicas da Unisinos

TEXTOS ORIENTAÇÃO: Cíntia Carvalho (cintiascarvalho@unisinos.br) Textos: Aline Fanti, Amanda Hoffmeister, Andréia Danielle Kunz, Débora Voltz, Dino Nunes, Eduarda Couto, Estevão Dornelles, Juliane Chaves, Micaela Magedanz, Michele Ortiz, Natália Pfitzer, Roseane Pereira, Rossana Pires, Sara Erhart, Tamara Stucky e Thaís Almeida

IMAGENS PRODUÇÃO: Turma de Redação em RP IV (2016/2) IMAGENS: Aline C. de Oliveira ARTE DE CAPA: Estevão Dornelles

DIAGRAMAÇÃO REALIZAÇÃO: Agência Experimental de Comunicação (Agexcom) SUPERVISÃO TÉCNICA: Marcelo Garcia DIAGRAMAÇÃO: Mariana Matté

PUBLICIDADE (página 19) REALIZAÇÃO: ORIENTAÇÃO: SUPERVISÃO: ATENDIMENTO: DIREÇÃO DE ARTE: REDAÇÃO: ARTE-FINALIZAÇÃO:

Agência Experimental de Comunicação (Agexcom) Vanessa Cardoso (vsilvac@unisnos.br) Robert Thieme (robertt@unisinos.br) Marrih Laidens Caique Agulla Lozano Fernando Fries Pamella Rodrigues



14ª Páscoa IHU

Os Biomas brasileiros e a teia da vida


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