Now magazine

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Edição nº 1 | Mensal ! Novembro 2016

Revista de Ilustração

Yum Yum A história por detrás dos seus brinquedos

Domine as técnicas de gradiente Tutorial no Adobe Illustrator


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NOW Diretora MARIANA NUNES DA PONTE pontemn@gmail.com Coordenadora de Redação Maria Jaquelina da Conceição mconceicao@now.pt Redação Marta Leitão marta.leitao@now.pt nowmagazine@now.pt Rua de Santa Catarina 805 4000-446 Porto Consultora Técnica Cândida Manuela cand.manuela@now.pt Especialistas: António Amorim; António Verríssimo; Sónia Lopes Arte Coordenador de imagem Miguel Félix; Filipa Fonseca Fotografia João Carlos Oliveira, Rui Botas Designer Mariana Ponte Tratamento de Imagem Alexandre Rosário CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO PRESIDENTE MARIANA PONTE VICE-PRESIDENTE E ADMISTRADOR DELEGADO NORBERT LEHMANN Diretora-Geral Comercial Cecília Pina Prata Publicidade Paula Duarte pduarte@now.pt Marketing José Clemente, Maria Teresa Gomes, Vera Santos Assinaturas e Edições atrasadas Sara Tomás assinaturas@now.pt Todos os direitos reservados. Em virtude do disposto no artigo 68º nº2, i) e j), artigo 75º nº 2, m) do Código do Direito do Autor e dos Direitos Conexos artigos 10º e 10 Bis da Conv. de Berna, são expressamente proibidas a reprodução, a distribuição, a comunicação pública ou colocação à disposição, da totalidade ou parte dos conteúdos desta publicação, com fins comerciais diretos ou indiretos, em qualquer suporte e por quaisquer meios técnicos, sem autorização da NOW MAGAZINE, lda.

Editorial Mariana Nunes da Ponte Diretora pontemn@gmail.com

Nos dias de hoje, a Ilustração Digital é o meio mais comum de produção de imagens depois da fotografia. Dentro do mercado do entretenimento, a Ilustração Digital é amplamente utilizada em jogos, filmes e capas de livros e abrange inúmeras outras possibilidades. Nos jogos, por exemplo, a Ilustração Digital é bastante utilizada em splash art, telas de loading, caracterização personagens, imagens de divulgação, sendo até recurso para a criação de jogos inteiros, como por exemplo, Card Games. Além disso, existem também alguns jogos de tabuleiros que utilizam ilustrações na sua produção. Outro exemplo, nos filmes, a Ilustração Digital é utilizada nos matte paintings e no desenvolvimento das personagens e cenários. É difícil pensar em numa produção que não recorra com ilustrações digitais.

trabalho de Derek Laufman, ilustrador de vídeo-jogos; o estúdio de Yum Yum London e as magníficas ilustrações de Oscar Ramos e portfólio destacado do mês pertencente a Martina Nalti. Dispomos também de uma secção chamada Passo-a-Passo onde todos os meses serão mosrados tutoriais e dicas que poderão ser bastante úteis. Nesta edição, será um pequeno tutorial de como usar técnicas de gradiente, neste caso na criação de uma coruja.

É, assim, no seguimento da importância e abrangência da ilustração que surge a NOW megazine. Esta edição é a primeira da NOW megazine, uma revista especializada em ilustração digital. Publicada em Portugal, o nosso principal interesse é a partilha do melhor que se faz na área, tanto nacional como internacionalmente.

No final, é possível encontrar-se algumas páginas destinadas à agenda cultural, onde todos os meses iremos recomendar alguns eventos relacionados com a ilustração, nomeadamente a ilustração digital.

Teremos também artigos que mostram o que melhor se faz no mundo da ilustração como os heroís da Marvel pela mão de um ilustrador português que dá vida ao Porto Business School; Aleppo(nica): um cartoon de um português deu a volta ao mundo.

Queremos promover de todas as formas possíveis a importância, viabilidade e modo único como a ilustração pode ser usada na publicidade, publicações, projetos empresariais, editoriais e animações. Assim, nesta primeira edição apresentamos-lhe o

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Entrevista com Derek Laufman Derek é um ilustrador de vídeo-jogos que trabalha em Londres. Ele desenha profissionalmente há mais de 15 anos, e também é co-fundador da Halfbot Studios.

Ilustrador português da Marvel cria heróis para a Porto Business School Alexandre Mauro: novo talento da ilustração

40 Adobe Illustrator: Domine as técnicas de gradiente

Leonel David Mendes foi um dos vencedores do concurso mundial “What if...”, lançado pela cadeia de informação britânica

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Ilustradores pelo mundo

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“Ilustrar não é só desenhar” - Alain Corbel

ALEPPO(NICA) 6 3 O cartoon de um português deu a volta ao mundo

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Os corvos não esquecem caras, as alforrecas não têm coração


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A HISTÓRIA POR DETRÁS DOS BRINQUEDOS DE YUM YUM Quando vimos pela primeira vez os desenhaos hilariantes do estúdio Yum Yum, não pudemos deixar de nos rir. Com personagens divertidas, desde uma avózinha do karaté a um heroi de ação apaixonado por galinhas, fazem-te querer criar históris loucas por detrás destas personagems. Fomos assim conversar com as mentes brilhantes dos Yum Yum e fazer-lhe algumas perguntas.

Martina Naldi

O portfolio destacado deste mês pertence a Matina Naldi, uma ilustradora freelancer italiana.

Martina Naldi

O portfolio destacado deste mês pertence a Matina Naldi, uma ilustradora freelancer italiana.

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Óscar ramos Portfólio

André da Loba

lustrador português André da Loba foi distinguido como finalista na competição anual da Society of Illustrators e vai integrar a sua exposição anual, que é inaugurada em Janeiro, em Nova Iorque, nos Estados Unidos.


ILUSTRADORES PELO MUNDO Ilustrador Português João Fazenda distinguido em Londres Ilustrador Português ganha concurso da BBC Leonel David Mendes foi o vencedor europeu do concurso mundial “What if...”, lançado pela cadeia de informação britânica, com uma ilustração a preto e branco intitulada “Richard Dawkins was here”.

Rogério Coelho ganha na categoria de Ilustração de livro infantil O principal prémio da produção literária brasileira, o Jabuti, consagrou nesta 58º edição o paulista radicado em Curitiba Rogério Coelho. Ele é responsável pelo livro “O Barco dos Sonhos”, que levou a categoria Ilustração de Livro Infantil.

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O ilustrador português João Fazenda foi distinguido pela Association of Illustrators (AOI), de Londres, com um livro de contos tradicionais japoneses, a editar em outubro em Portugal, revelou a organização.

Ilustrador russo foi o vencedor do VI Premi Internacional Catalonia D’illustrado O ilustrador russo Gennady Spirin foi nomedo o vencedor do VI Premi Internacional Catalonia D’Illustrado de libres per a Infants com o seu livro `Kashtanka’.

Ann Catherine James distinguida no Australia Day Honours 2016 Ann Catherina James foi distinguida na edição do Australia Day Honours deste ano pelo seu serviço pela literatura infatil enquanto autora e ilustradora.


~ Ilustrar nao é só desenhar Texto: RITA PIMENTA

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lain Corbel, bretão, ilustrador e professor, viveu em Portugal durante dez anos e gostaria de ter cá ficado, mas não conseguia pagar as contas. Trabalha agora em Baltimore, EUA, no Maryland Institute College of Art. Sempre que pode, volta. Fomos encontrá-lo em São João do Estoril, enquanto ilustrava a edição da Granta dedicada a África – outra das geografias amadas. Veio para Lisboa em 1997 e conseguiu viver dos seus desenhos até 2007. No entanto, Alain Corbel diz não se sentir ilustrador. “Ilustrar não foi uma escolha à partida. Foi um

ganha-pão durante o tempo que passei em Portugal. Quando cheguei, meu objectivo era outro: era confiar no meu talento e conseguir trabalhos. Poder caminhar sozinho, fazendo obras como banda desenhada, pintura e outras coisas. Mas depois veio a realidade…”, diz à NOW, na sua mais recente visita a Portugal. “E a realidade é ter de pagar as contas no final do mês”, acrescenta o também professor, para quem “ilustrar não é só desenhar, é também o contacto com as pessoas, o prazer que podemos ter” com elas. A palavra “prazer” repete-se bastante no discurso de Alain Corbel,

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A palavra “prazer” repete-se bastante no discurso de Alain Corbel, que nos recebeu em casa de um amigo, em São João do Estoril, descalço e descontraído, depois de nos ter ido buscar à rua, com uma criança ao colo e duas pela mão: três filhos com África na pele. A filha mais velha é adulta, vive em Lisboa e tem a cor europeia dos pais. Corbel não consegue dissociar o acto de ilustrar da sua experiência em Portugal: “Foi o facto de estar em Lisboa e não viver em Paris, um mundo mais violento, mais fechado, com menos ternura. Para mim, ilustrar é estar em Portugal.” Até pelos grandes amigos que fez (e mantém), que tanto lhe emprestam a casa, como uma cadeira de bebé ou tempo de conversa à mesa. “São como irmãos.” Mesmo depois de ter vencido o Prémio Nacional de Ilustração 2002 (Contos e Lendas de Macau, texto de Alice Vieira e edição da Editorial Caminho), o que as editoras e a imprensa pagavam pelos seus trabalho não permitiu que continuasse a viver aqui. A exposição que lhe foi dedicada no ano seguinte no Festival de Banda Desenhada e Ilustração da Amadora acabaria por motivar a sua ida para os Estados Unidos. O artista e professor espanhol José Villarrubia viu-a, deu a conhecer o ilustrador no Maryland Institute College of Art e Alain Corbel foi convidado para leccionar naquela universidade, apesar de na altura não falar inglês. O convite deu-lhe estabilidade, mas não alegria: “Foram os dois anos [de 2007 a 2009] piores da minha vida de adulto. Foi muito, muito duro. E não podia voltar para trás”. Conta o que se seguiu: “Em 2009, consegui dar a volta. Vim cá com um grupo de alunos americanos e percebi que conseguia organizar estas viagens facilmente. Então, fui falar com a escola para ver se podia organizar uma viagem igual, mas em África.” Aceitaram. Agora, anualmente, vai a São Tomé e Príncipe com os alunos. E assim sempre “foge” temporariamente dos EUA.

Ter memória visual, mas não copiar Para Alain Corbel, os estudantes americanos diferem dos portugueses no profissionalismo: “De uma certa forma, são muito mais profissionais. Exigem de nós muitas coisas, mesmo que sejam coisas erradas. Gastam tanto dinheiro para estar na escola que precisam mesmo de trabalhar. Isso faz com que cumpram as regras. Como não se atrasarem, por exemplo. Temos alunos que são melhores do que os professores. São mesmo muito bons.” E o que é ser um bom aluno em ilustração? “É um aluno que tem uma boa memória visual e ao mesmo tempo não tenta copiar nem criar um estilo para ganhar a vida logo a seguir à sua formação. Ou

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mo tempo não tenta copiar nem criar um estilo para ganhar a vida logo a seguir à sua formação. Ou seja, não [querer] entrar imediatamente numa companhia grande. É uma pessoa que confia no seu talento, arrisca e consegue.” No entanto, até pela sua própria experiência, compreende a urgência de muitos deles em arranjarem emprego de imediato em ilustração, “são estudantes e ao mesmo tempo estão a trabalhar noutras áreas, não é um mundo fácil”. Ainda assim, Alain Corbel prefere “o caos” dos alunos portugueses: “Dei algumas aulas no Ar.Co [Centro de Arte e Comunicação Visual]. Há caos porque do lado dos professores não há pressão. É mais uma relação de amizade [entre alunos e professores], o que é muito melhor para mim, no sentido de estar com alguém, ensinar, partilhar um ensinamento, mas não uma matéria técnica. Como uma partilha, um ritual artístico, um prazer.” Mas o prazer maior é estar em África com grupos de crianças e adolescentes num trabalho contínuo, como já teve oportunidade de fazer em vários países daquele continente e também em Timor-Leste: “Quando estou em África ou em Timor, quase não preciso de desenhar. Tenho um prazer imenso só em estar lá com as pessoas e em ajudá-las, sobretudo crianças, adolescentes ou jovens adultos.


Partilhar, ajudar a fazer desenhos, pequenas narrativas. Sinto-me criativo a ajudar essas pessoas, a falar com elas, a ver como vivem. Quase não preciso de desenhar.” Encolhe os ombros e compara-se com os amigos e com os estudantes americanos: “Eles não estão muito preocupados com o quotidiano das pessoas, preferem carregar os seus diários gráficos. Eu não, prefiro beber uma cerveja e estar lá a falar com as pessoas do que fazer qualquer outra coisa.” E conclui, divertido: “Tenho um lado muito preguiçoso.” No entanto, todas essas vivências e atmosferas são transpostas mais adiante para os desenhos que faz, como os que estava a criar para a edição sobre África da revista Granta enquanto decorria a entrevista. Um trabalho mal pago, mas que não conseguiu recusar: “Eu não tinha ideia dessa revista, parece que é bastante conhecida na Inglaterra e nos Estados Unidos. Mas o tema é África e apanhou-me pelo lado bom.” Se fosse noutro país, não aceitaria. “Não é pelo prestígio que faço este trabalho, é pelo prazer. Prazer de ler os textos e no fim ver o meu trabalho ligado a pessoas que estimo.”

À procura do estilo Enquanto falava, íamos vendo nascer a imagem que possivelmente acompanharia o texto de Sousa Jamba, “é angolano, mas talvez tenha vivido em França

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da história: “Um jovem volta para Angola. Num encontro, há um homem que fica bastante comovido por vê-lo porque sabe que a mãe dele assistiu ao seu nascimento. Mas nenhum dos homens está no seu estado normal. Estão bêbedos.” O ilustrador descreve o que pincela com guache preto sobre acetato: “Queria desenhar pessoas a preto e branco. Mas não queria pôr muitos homens. Somente um, mas com matéria, com textura, uma coisa carregada. Do outro, mostrar as calças, limpas, mais elegante, mais leve. E simplesmente apanhar esse contraste. Depois, posso digitalizar.” E faz contas: “Trinta cêntimos o acetato, também não custa nada, dois euros o guache, os pincéis são chineses, superfracos e baratos. Com um bocado de esforço, faço uma coisa boa.” Ri-se. Corbel explica a sua relação com o material que escolhe: “Não pode resistir, tem de ser meu escravo. Se o material começar a resistir, sinto mal-estar, não conseguindo assim trabalhar. Tem mesmo de ser um prolongamento da minha mente e da minha mão. Tem de ser maleável, flexível, só assim é que tenho prazer. Sem prazer não consigo trabalhar.” Também revela a forma como parte para uma nova criação: “O problema que tenho sempre é em encontrar o estilo. Um quebra-cabeças porque tenho várias portas para entrar. Uma primeira porta, que seria a maior, é: como posso fazer isso rapidamente, poupando tempo e trabalhando menos.” Mas nem sempre resulta. “De facto, é sempre a porta maior, mas depois é a pior. Faço tentativas para encontrar uma forma rápida de trabalhar e afinal de contas passo [perco] mais tempo com isso, porque estou a fazer muitas experiências. É um bocado o caso para este trabalho.” Dá o exemplo do texto de Mia Couto para esta edição da Granta, em que o autor fala sobre como é ser escritor. “Um texto muito bonito, mas muito complicado. Ele conta mesmo factos: identifica a casa onde morava com a sua , a rua que estava perto da casa da mãe, a varanda onde ele brincava. Podia fazer um desenho bastante realista, mas não quero ser redundante.” Desvenda um pouco mais da história para clarificar a forma como passa da leitura de um texto para uma imagem que o possa traduzir: “Acho que era um amigo dele que tinha uma noção muito mais cartesiana do que ele próprio. Uma pessoa que acreditava mais nos espíritos. E ele [Mia Couto] começou a pensar de uma outra forma acerca da realidade.” Corbel identifica-se bastante com estes mundos: “Eu, que nasci no campo, entendo isso perfeitamente. Se fosse falar sobre a maneira campo, entendo isso perfeitamente. Se fosse falar sobre a maneira como nasci, eu podia dizer que a minha matriz não foi só a minha

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mãe, foi a terra. Podia ser uma beterraba, um fruto da terra. Porque faz sentido. Como pessoas, somos um pedacinho de um todo, de coisas, temos essas ligações todas com as coisas da terra, incluindo os espíritos. Sou muito animista, não na minha religião, porque não tenho religião nenhuma, mas na minha maneira de ser e de pensar.” Tudo isso se transporta depois para as imagens a criar. “Quando resolvi fazer uma ilustração do Mia Couto, tinha de ser uma coisa metafórica, onde eu pudesse falar da minha própria experiência e que o resultado final, o desenho, fosse entendido de uma certa forma. Ao mesmo tempo, não tenho muito medo porque, mesmo que eu fizesse uma coisa completamente abstracta, existe o texto. E o texto não é nada abstracto, portanto…” Mas tem de haver ligação, ou não? “Tem de haver uma ligação, sim. Mas pode ser muito ténue, frágil, mas é uma ligação. Não quero contrariar o Mia Couto”, conclui divertido.

Vozes de nós A sua paixão pelo continente africano resultou em (e de) vários projectos com a Associação para a Cooperação entre os Povos (ACEP), uma organização não governamental com sede em Lisboa, alguns com textos de Pedro Rosa Mendes. Fala-nos agora de Vozes de Nós, trabalho que decorreu de 2010 a 2013 e levou à edição dois belos livros. Anteriormente, já tinha realizado Notícias do Quelele, Bairro de Bissau, que diz ter sido “ semente” dos projectos que se seguiram. Experiências que o levaram a Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Moçambique, Angola e também Timor-Leste. E é com entusiasmo que as recorda: “O que fiz foi entrevistar jovens, não sobre o quotidiano deles, como em de Notícias do Quelele, Bairro de Bissau, mas sobre a sua experiência de vida. Todos tinham problemas, digamos assim. Fui sabendo o que lhes tinha acontecido e depois, com grupos mais ou menos grandes, fazíamos desenhos.” Quando fala em “problemas”, está a referir-se a casos de “jovens que vivem num orfanato em São Tomé e Príncipe, meninos que moram em bairros populares em Maputo, jovens assassinos de Timor-Leste”. Alain Corbel convidou-os a contar as suas histórias e a ilustrá-las, com diferentes técnicas: “Trabalhei muito com material tridimensional porque me dava jeito. Viajar com material é muito difícil. Então, [basta] ter uma máquina fotográfica e poder trabalhar na Guiné, São Tomé… ali há montes de material no chão: plantas, flores.”


Passou um mês com cada grupo. “Em Timor-Leste e São Tomé, eram grupos pequeninos. Em Moçambique e na Guiné-Bissau, eram enormes, 100 a 200 meninos”, recorda, e quer dizer o nome de todas as organizações com que trabalhou em cada país: “Centro Miguel Magone Fórum Comunicação e Juventude], em Timor-Leste; AMIC [Associação dos Amigos da Criança] e as escolas populares Aruna Embaló e Penha-Bôr, na Guiné-Bissau; Novo Futuro, em São Tomé; Meninos de Moçambique, em Maputo; Acrides [Associação Crianças Desfavorecidas], em Cabo Verde, e Okitiuka, em Angola.”. Sentiu algum receio antes de iniciar o trabalho com o grupo de Timor-Leste: “São pessoas muito reservadas. Mas quando cheguei ao centro Miguel Magone, em Díli, aquele grupo foi fantástico.”

E diz, depois de um sincero e prolongado suspiro: “Eu podia ficar um ano com aquelas pessoas, sem problema. São muito de-icadas, muito concentradas. Depois, faziam coisas tão lindas!” Por isso, não é de estranhar a ausência de ilustrações do próprio autor: “Para que é que eu ia ilustrar, sabendo que eles faziam para mim e melhor do que eu? Eu tenho o prazer de olhar, simplesmente. Díli tem muitas praias, havia muito lixo e fizeram coisas… Superlindo.” Diz não ter interesse em fazer o que muitos colegas fazem, como “pôr fotografias no Facebook e colocarem-se sempre à frente”. Não os condena, simplesmente não é a sua prática: “Gosto mesmo é de ver o trabalho dos outros e principalmente, com grupos de 20 jo-

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vens todos juntos, e a praia a transformar-se numa galeria de arte…” Novo suspiro.

A vida e a arte em contínuo Um processo criativo, uma experiência e um tipo de relacionamento que, segundo Corbel, não podem ser vividos noutras geografias. “Como é que eu hei-de explicar isto? Nas nossas vidas, tudo é cortado em pedaços. Estamos aqui. Para irmos comer, temos de ir ao supermercado, chatearmo-nos com dezenas de pessoas que estão lá com os seus carros e mais não sei o quê. Quando vamos para São Tomé, o peixe está ali, o carvão está ali, o barbecue também, e em cinco minutos já temos tudo. Eu tenho sempre saudades disso. Desse mundo onde está tudo conectado.” No trabalho, sente idêntica ligação: “Quando faço arte com os miúdos, é igual. Eles produzem montes de desenhos e o prazer é intenso e partilhado entre todos. Logo. E vê-se na cara deles que é um prazer partilhar.” Já na escola, nos Estados Unidos, não é bem assim: “É um processo muito mais demorado, mais longo. Devo ensinar, fazer esboços, pensar no conceito. Depois, eles vão para casa, na semana seguinte vejo os trabalhos. Depois, talvez sejam publicados, colocam no seu blogue, etc. etc. E às vezes nem têm prazer em fazer isso. Vão pensar que as minhas críticas nem servem. O prazer não é tão intenso. Às vezes tenho prazer, mas nem sempre.”

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Às vezes tenho prazer, mas nem sempre.” Noutras latitudes, não sente o quotidiano cortado aos pedaços: “É um contínuo, um fluxo, a vida mesmo, é o sangue que está lá presente. E é por causa disso que gosto destas experiências. Gostaria muito de viver em África precisamente porque uma pessoa, nesse tipo de mundo, precisa de ser criativa a todo o momento. Para se safar, é preciso ser-se criativo.” Noutro tipo de mundo, nem tanto: “No mundo americano, no mundo francês, as pessoas podem esconder-se atrás das leis. Têm um quadro [padrão], podem encaixar-se nesse quadro e a vida vai decorrer assim mais ou menos bem”, diz sem entusiasmo. Sobre Portugal, para onde gostaria de regressar, “talvez como professor numa escola boa”, diz: “É um país óptimo, mas não dá condições às pessoas que têm talento. Das que eu conheço, escritores, jornalistas, ilustradores, há pessoas que fazem reportagens, filmes que merecem um público maior do que o português, mas nem o facto de os angolanos, moçambicanos, guineenses ou brasileiros falarem português ajuda essas pessoas. É um bocado triste.” Precisa de poucas coisas para viver, “não tenho carro, não tenho montes de objectos que toda a gente quer, sou uma pessoa muito frugal”, mas “não completamente irresponsável”. Sabe que “não é fácil viver em São Tomé quando se tem de pagar facturas em França”. Embora se considere preguiçoso, Alain Corbel está quase sempre a


trabalhar, só que mais facilmente desenha quando ninguém lhe pede do que quando tem encomendas e prazos para cumprir. Como agora que está cá, nestes dias de Verão: “De vez em quando vou à praia desenhar. Vou com a minha máquina fotográfica, vejo a areia, o mar deixou rastos, mexilhões, pequenas coisas, pedaços de madeira, algas, plásticos, sei lá o quê. Organizo as coisas, tiro

fotografias, volto para casa, vejo o que fiz, posso contar pequenas histórias. Não tenho pressão nenhuma, como uma respiração. E é também como continuidade do que fez o mar. Eu gosto dessa ligação de ida e volta”, descreve. E termina dizendo: “Não sei explicar, é o meu prazer.” N

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Ilustrador portugues da Marvel cria heróis para o Porto Business School

Texto: SAMUEL SILVA

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o ano em que celebra 25 anos, a Porto Business School apresenta os finalistas do The Magellan MBA 2012/2013 às empresas, uma vez mais, de forma inédita em Portugal. Sem os tradicionais currículos e apresentações formais, cada aluno é transformado em super-herói, com poderes especiais, ocupando o lugar de protagonista na “luta contra o mal”.

dos criadores da personagem Bruno Aleixo e realizador de alguns dos videoclipes da cantora Luísa Sobral.

Os 24 super-heróis são criações de Filipe Andrade, o ilustrador português da Marvel, reconhecida editora internacional de comics. Há quatro anos a trabalhar com a Marvel, Filipe Andrade é o responsável pelo desenho de personagens como Captain America, Wolverine, Moon Knight ou John Carter.

A campanha de promoção de alunos arrancou dia 1 de outubro, terça-feira, com o lançamento de um trailer que desvenda o cenário da história, onde os alunos/heróis têm um papel a desempenhar. O vídeo, desenvolvido em motion graphics, a partir das ilustrações de Filipe Andrade, é da autoria da equipa Homembala – responsável pelo mais recente brand video da McDonalds. É ainda lançado um site dedicado ao projeto, onde podem ser consultadas todas as informações sobre os alunos finalistas do The Magellan MBA 2012/2013.

Este trabalho de Filipe Andrade pretende promover os alunos junto das empresas nacionais e internacionais. O vídeo que acompanha o processo de criação desta ilustração pretende dar a conhecer, não só as competências técnicas (hard skills), mas também as características pessoais de cada aluno (soft skills), cada vez mais valorizadas pelas organizações. O enredo, que dá forma a esta história contada às empresas, conta com guião e realização de João Pom beiro, um

Esta estratégia pretende tirar o máximo partido das redes sociais, numa relação win-win. Através da partilha individual e diária, tanto a Porto Business School como cada aluno finalista partilharão, com a respetiva rede de contactos, o perfil dos super-heróis. Tirando máximo partido da dimensão global das redes e da viralidade do tema, a Porto Business School espera assim criar um verdadeiro buzz em volta de cada herói e da Escola de Negócios. N

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Entrevista com Derek Laufman, ilustrador de vídeo jogos Texto: RICARDO NUNES

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erek é um ilustrador de games profissional que trabalha em Londres. Ele desenha profissionalmente há mais de 15 anos, e também é co-fundador da Halfbot Studios, que é o estúdio de jogos independentes responsável por jogos conhecidos mundialmente como The Blocks Cometh ou Super Crate Box (que foram para a sessão de jogos notáveis da Apple), também tendo participado de jogos externos como World of Warcraft. Atualmente Derek esta trabalhando na produção de um RPG pra PC chamado Bullet Age, veja os últimos estudos e telas que ele tem postado nas redes sociais. Recentemente tive a oportunidade de entrevistá-lo e tirar o máximo de seu conhecimento e experiência de mercado pros nossos Chocoleitores. Foi um papo extremamente rico, Derek é um profissional muito consciente e disposto a compartilhar o conhecimento, a

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conversa foi grande, mas vale muito a pena pra quem quer conhecer cada parte do mercado de games e ilustração. Derek, além de jogos, trabalha com artes comissionadas pelo facebook e deviantart.

Derek, conte-nos sobre sua carreira. Como você começou o seu trabalho do ilustrador? Eu cresci nos arredores de Toronto, Ontario em uma cidade chamada Burlington. Me lembro que eu sempre gostei de desenhar, desde pequeno. Quando eu estava no grau 3 que eu desenhei uma história em quadrinhos chamada “Derek and Bad”, sobre um personagem baseado em mim mesmo e um personagem mal, chamado “mau”. Eram quadrinhos bobos que eu fiz para fazer meus amigos rir. Mal sabia que eu estava me puxando para algo que eu faria o resto



Até que aos 12/13 anos tomei a consciente decisão de perseguir a arte como carreira. A seguir ao secundários, fui para Sheridan College onde acabei por tirar o curso de Animação Clássica, mesmo não tendo a mínima intenção de entrar no mundo da animação. Passei a maior parte da minha adolescência desenhando bandas desenhadas com meus amigos no porão, sonhando ingressar as fileiras da DC e da Marvel. Depois de me formar, tive algumas oportunidades de trabalhos com quadrinhos que caíram do céu, incluindo um grande projeto com a Image Comics. Mas esta experiência me azedou um pouco sobre a indústria de quadrinhos e eu fiquei me perguntando o que fazer com minha carreira. Decidi deixar o sonho de quadrinhos para trás. Depois de um alguns anos trabalhando como designer gráfico eu consegui um emprego em estúdio relativamente novo de vídeo game em Londres chamado Blue Big Bubble. E esta experiência sim, me abriu os olhos para um mundo totalmente novo de criação de jogos. No início eu trabalhei em alguns projetos muito legais para GBA e em Mage Knight para Nintendo DS. Trabalhar para uma pequena desenvolvedora que, eventualmente, dobrou de tamanho ao longo dos 5 anos que passei lá, me proporcionou a oportunidade de me tornar um artista mais experiente, um produtor com muita liderança criativa. Depois de meus 5 anos lá eu decidi deixar a empresa para se concentrar mais na minha carreira artística. Depois de quase um ano longe de desenvolvimento de jogos, formei o Estúdio Indei Hal-

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fbot com o meu bom amigo e ex-colega de trabalho, Melvin Samuel. Desde então, passamos a criar o The Blocks Cometh e também para trazer o Super Crate Box para IOS.

Você teve um momento que decidiu a sua carreira ou que ajudou a defini-la? Um encontro com um mentor ou um trabalho específico que te ajudou na decisão? Eu não tenho certeza se houve um momento específico, mas os anos que passei como um adolescente desenhando BDs no porão com meus amigos, permitiu-nos sonhar com uma carreira na banda desenhada e isto que alimentou a minha condução mais do que qualquer coisa.

Qual é o seu processo criativo? Você tem artistas que o inspiram? Meu processo quase sempre começa com a inspiração. Eu tenho tantos artistas que me inspiram que eu costumo gastar cerca de 30 minutos em uma boa procura através de imagens e coleta de referência antes de qualquer grande projeto de arte que eu esteja começando naquele dia. Eu sempre faço um esboço, e assim que eu tiver um modelo para a imagem final, vou limpá-lo com uma limpa lineart e, em seguida, colori-lo.

Que tipo de material que você usa para desenhar? Canetas? Tintas?


Quando eu esboço, gosto de usar lapiseiras, canetas e marcadores simples. A maioria do meu trabalho profissional é feita no Photoshop e no Manga Studio usando minha Cintiq 24HD. Que foi, na minha opinião, o melhor dinheiro que eu já investi na minha vida.

Qual você acha a parte mais divertida do seu trabalho? E a mais chato? A parte mais divertida do meu trabalho é esse sentimento que tenho quando estou orgulhoso de criar algo. Quando outras pessoas podem apreciá-lo, isso é o que eu gosto. A coisa mais irritante é quando eu apenas estou tendo um dia de folga. Às vezes você imagina uma idéia em sua cabeça, mas simplesmente não consegue fazê-la funcionar no papel, isto pode ser frustrante, mas eu sempre saio e tento de novo mais tarde. Isso parece ajudar. Sobre a Halfbot, eu sigo a evolução de ”Bullet Age” em seu tumblr, esta incrível!

Você pode nos dizer sobre a produção do jogo? Primeiro de tudo obrigado! Estou realmente muito animado sobre este projeto. É de longe o nosso jogo mais ambicioso e estou animado para que as pessoas jogá-lo logo. Bullet Age tem estado em desenvolvimento há cerca de um ano e meio. Recebemos uma subvenção incrível de um fundo do governo e isto permitiu-nos a oportunidade de fazer um jogo tão grande, e á pagar por uma parcela de nossos salários. Ah, e pudemos trazer em um talentoso músico para o projeto. Melvin é o nosso programador e ele leva

toda a minha arte e design e dá a todos vida na tela. Nós formamos uma equipe muito sólida, e eu sou às vezes ficamos espantados do que temos sido capazes de realizar com Bullet Age até agora. Nosso foco principal agora é ter Bullet Age pronto para acesso no outono. Uma vez que somos uma equipe pequena estaremos confiando muito na comunidade e dos nossos fãs para nos dar feedback e nos ajudar com o empurrão final da produção do jogo.

”The Blocks Cometh” é um jogo simples e muito dinâmico, tem milhares de downlads e bons comentários aqui no Brasil, como foi a produção dele? The Blocks Commeth começou como um protótipo de uma tarde, feito sensivelmente num espaço quatro horas. Nós estávamos trabalhando num jogo para uma editora no momento, e nós precisamos urgentemente de uma pausa. Eu vim com o conceito, enquanto nós comemos o almoço e terminamos um protótipo naquela tarde. Aquela pequena demonstração finalmente transformou-se em um jogo com mais de um milhão de downloads. Não foi um enorme sucesso financeiro, apesar dos downloads, mas ele realmente ajudou a colocar Halfbot no mapa.

Você joga jogos de vídeo ou ler quadrinhos? Que são? Eu não leio muita banda desenhada, mas há alguns meses atrás eu li Guardiões da Galáxia assim como Planeta Hulk. Ambos são grandes livros! Atualmente, jogo Fallout, sempre fui um fã do jogo e aguardo ansiosamente Fallout 4. N

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Alexandre Mauro: ~ novo talento da ilustraçao Texto: RAQUEL VASCONCELOS

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enho o prazer de apresentar um novo talento da ilustração brasileira, que atualmente está envolvido em vários projetos interessantes que vêm por ai.

Na ilustração, como muitos outros ilustradores, Alexandre começou na estampagem de camisolas. Iniciou seus trabalhos em parceria com a marca Bendita Augusta, com quem ainda hoje colabora.

Alexandre Mauro nasceu em Campinas e desde criança que apresentava habilidades para desenho. Aos dezassete anos, mudou-se para São Paulo, onde então frequentou o curso de Desenho Industrial no Mackenzie, onde formou-se como designer com ênfase em design de produto.

Alexandre afirma que suas maiores inspirações são as pessoas, às vezes andando na rua, vê alguém que o inspira e logo já começa a desenhar. Porém, sempre procura referências em revistas, livros e até trabalhos de outros ilustradores. É possível perceber assim, uma grande influência de linguagem de moda em seus trabalhos, por exemplo. Não à toa, alguns dos seus ilustradores favoritos são Jordi Labamba e Mc Bess.

Apesar desta formação, Alexandre sempre mostrou interesse maior para a programação visual do que para design de produto. Por este motivo, especializou-se em Design Gráfico no Instituto Europeu de Design em Milão, onde morou em 2010 e 2011. De volta ao Brasil, Mauro apresenta um traço e estilo distinto, resultado do olhar de um latino americano ao estilo de vida europeu.

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Em relação à técnica, Mauro não prescinde do desenho à mão, mas usa principalmente o Illustrator para dar vida às suas ilustras, finalizando algumas no Photoshop. Para conhecer mais do trabalho de Alexandre Mauro, visite seu portfólio e seu Behance Network N


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“Aleppo(nica)”: o cartoon de um ^ portugues deu a volta ao mundo A

leppo(nica) é o nome do desenho que Vasco Gargalo publicou em Maio, no blog pessoal, e que disponibilizou em Agosto na plataforma Cartoon Movement. Desde então, o trabalho ganhou uma projecção nacional e internacional que o autor não estava à espera. No cartoon, Vasco Gargalo recria a famosa obra “Guernica”, pintada por Pablo Picasso há quase oitenta anos, para abordar o conflito na Síria, os protagonistas e as vítimas. Nele vêem-se o presidente da Rússia, Vladimir Putin, Barack Obama, presidente dos Estados Unidos da América, Bashar al-Assad, presidente da Síria, crianças, bombas, armas, desespero e morte. “Eu costumo dizer que, enquanto cartoonista, tenho um compromisso com o mundo.

Andava atento sobre a guerra na Síria e queria fazer um ‘cartoon’ sobre o tema, queria fazer uma síntese sobre o que se passa, respeitando o formato e as figuras representadas na obra de Picasso”, explicou o autor à agência Lusa. Vasco Gargalo, 39 anos, cartoonista e ilustrador que mantém colaborações esporádicas com a imprensa portuguesa e alguns média internacionais, viu o seu nome e trabalho terem uma visibilidade ainda maior. “Eu não tinha noção do que se estava a passar depois de ter sido divulgado no Cartoon Movement, onde teve muitas visualizações, até que começaram a surgir solicitações para falar sobre o trabalho. Foi a Al-Jazeera, a imprensa francesa, depois dois jornais na Dinamarca e na Suíça. Tornou-se viral sem eu me aper-

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ceber e tem sido um reboliço”, contou.

ao cartoonista.

“Só prova o poder do ‘cartoon’”

Vasco Gargalo disse conhecê-la muito bem, desde a infância, por ter convivido com uma reprodução na casa dos pais, em Vila Franca de Xira, onde nasceu. O “cartoon” deu-lhe também mais visibilidade em Portugal, onde diz ser um ilustrador precário, um “camaleão”, sem uma colaboração fixa adaptando-se tanto à área editorial como à ilustração.

Vasco Gargalo já desenhou muitos “cartoons” sobre conflitos, em particular sobre a Síria e sobre as vítimas mais inocentes, as crianças, e também não lhe escapa a política internacional, das disputas eleitorais nos Estados Unidos às demonstrações de força na União Europeia. Mas foi “Aleppo(nica)” que chamou mais atenção, talvez “pela leitura imediata e pelo reconhecimento de um quadro tão famoso em todo o mundo”. “Só prova o poder do ‘cartoon’. Nunca imaginei que pudesse dar assim a volta ao mundo”, conclui. A obra de Picasso, criada em 1937 na sequência do ataque nacionalista à cidade basca durante a Guerra Civil de Espanha, é familiar

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O blogue e as redes sociais ainda são a ferramenta mais fácil de divulgação do trabalho que, além do “cartoon” inclui ilustração de livros para crianças, como o que acaba de editar, “Amadeo de Souza-Cardoso - tenho mais fases que a lua”, com texto de João Manuel Ribeiro, pela Opera Omnia. N


~ Os corvos nao esquecem caras, ~ ~ ^ as alforrecas nao tem coraçao Texto: RAQUEL VASCONCELOS

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á toda a gente sabe que os elefantes não conseguem saltar. Mas nem todos conhecem o atípico sono dos porquinhos-da-índia, que dormem com os olhos abertos, ou que os corvos nunca, mas mesmo nunca, esquecem uma cara. O que não é nada fácil. Na verdade, a vida de muitos animais está longe de ser despreocupada — e os desenhos de Brooke Barker comprovam-no. Desde o ano passado que a jovem norte-americana se dedica a ilustrar factos curiosos e algo “tristes” do reino animal, partilhando-os online no site e na conta de Instagram Sad Animal Facts. O sucesso foi tanto que deu agora origem a um livro com mais de 150 desenhos, em que tanto descobrimos que as alforrecas não têm coração (“sorry not sorry”, diz a retratada) ou que os ratos comem entre 15 a 20 vezes por dia (“onde está o meu segundo brunch?”). Para fazer estes

desenhos a ilustradora procura por novas investigações em jornais, subscreve revistas especializadas, “visita jardins zoológicos e museus de taxidermia para ler as placas”, contou ao “Mashable”. Foi assim que descobriu que os corvos, não só nunca esquecem uma cara, como também a descrevem a todos os corvos que conhecem - cuidado com eles, portanto. São sempre curiosidades melancólicas q.b.: “É mais divertido contar às pessoas factos tristes porque estamos sempre a ser bombardeados com factos felizes enquanto crescemos”. E, pelo meio, lá vai informando. “Dizem-nos que os gatos têm sete vidas, mas isso nem sequer é verdade. É muito mais interessante saber que os gatos adultos não reconhecem as mães, que as línguas não saboreiam as coisas doces e que podem ter borbulhas.” É o que gosta de desenhar. Quem quiser pode colaborar e contar um “facto triste” para a autora. É só enviar um email.

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A histรณria por detrรกs dos bonecos de Yum Yum


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uando vimos os hilariantes bonecos de Yum Yum, não conseguimos parar de rir. Com as suas personagens tão diversificadas desde uma avozinha vigorosa e mestre no karatéa um herói de ação com um carinho por galinhas, fazem-te querer parar tudo e inventar as tuas próprias histórias por detrás dessas personagens tão fantásticas.

Quem é o vosso público-alvo?

Viemos assim fazer algumas perguntas às mentes por detrás de Yum Yum, nomeadamente a Beth Algieri, a Diretora de Design e Animação da Yum Yum London, que vai falar sobre os seus bonecos que serão lançados brevemente e como a media ajudou-os a contruir uma comunidade apaixonada e cada vez maior.

Alguns são desenhados e inspirados em personagens de filmes, por exemplo o herói de ação a segurar a galinha é inspirado numa minstura de Bruce Willis com o Arnie. A avó do Kung Fu foi inspirada num artigo que lemos num jornal sobre uma avó que assustou uns ladrões saltando para uma posição de Kung Fu.

Podes-nos falar um pouco do vosso estúdio?

Outras personagens como o Cachorro Quente, o Cacto ou o Polvo foram criados de forma a ir ao encontro de algo que gostaríamos de ter nas nossas prateleiras e simplesmente porque são das coisas que gostamos de desenhar.

Na Yum Yum London, somos um estúdio de design fundado em 2007, por dois diretores que adoram design de personagens, animação e narrativas. O que fazemos, fazemos bem, para que as pessoas gostam e divertam-se. Descobrimos que temos habilidade de realizar histórias loucas e personagens fantásticas que temos em mente e damos-lhes vida. E uma coisa espetacular de se fazer como emprego. Temos a oportunidade de conviver com imensas pessoas realmente talentosos, agências criativas e designers.

Como chegam a estas personagens? Nós adoramos colecionar bonecos, daí decidirmos que iriamos fazer uma coleção nossa. As ideias podem chegar de diversas coisas: podem vir de um filme, uma música ou simplesmente a andar numa rua movimentada de Londres ver um indivíduo que desencadeira uma ideia para uma personagem. Chegamos ao estúdio, e desenhamos as personagens, objetos e cenas com lápis e papel. Depois de estramos satisfeitos com o desenhos, o Jonny começa a modelar, usando os desenhos como referências.

Onde e quando vão vendê-los? Algumas pessoas têm nos pedido para vender a retalho nas suas lojas. Vamos manter as pessoas atualizadas onde serão vendidos.

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Pessoas que queiram passar um bom momento de riso e ter algo que os faça sorrir sempre que olham para os bonecos.

Os vossos bonecos são inspirados em pessoas reais?

Como é que a interação ajudou-vos a espalhar o vosso trabalho? Todo o trabalho que fazemos é dirigido para os nossos amigos e fãs. Nós temos sempre em mente esse pequeno grande pormenor quando estamos a desenhar ou a escrever os guiões. Os blogs e comunidades são ótimos porque permitem-nos chegar aos nossos seguidores facilmente, mostrar as nossas animações e trabalhos a novas pessoas e fazer pessoas rir que de outra forma, em situações normais, não veriam o nosso trabalho. O melhor é mesmo o feedback recebido: ouvimos comentários e vemos quem está a gostar do que fazemos.

Quais são os vossos sites de arte e design favoritos para vos inspirar? Hmmm... é uma pergunta difícil, são imensos. Ffffound é definitivamente um dos nossos favoritos. Home Sweet Home é super fixe também. Nós vamos ao Motionographer para nos atualizar com as coisas que se anda a fazer no mundo da animação. Ah, o My Modern Metropolis é ótimo, claro.


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Adobe Illustrator: Domine as téscinas de gradiente Muitos trabalhos parecem complicados são feitas a partir de elementos muito simples. Neste tutorial, a artista russa Alexandra Zutto vai-nos mostrar como construir imagens complexas a partir de camadas com elementos pequenos, variando para prevenir a monotomia. Neste trabalho, que Zutto criou para a exposição Blood Sweat Vector, em Berlin, ela afirma: “Tentei reproduzir a atmosfera da Truda com uma iluminação suave e sol pálido. Isso requereu uma analise aprofundada a diversas referências para entender como podia atingir esse tipo de efeitos”. Neste tutorial, vais aprender como acumular vários elementos para criar uma imagem vectorial como profundida rica e real. Zutto explica: “Dispendi muito tempo a escolher cores que combinassem umas com as outras para conseguir uma composição de cores harmónica. Isso leva tempo, mas vale o esforço.”

Time to complete 2 days Software Adobe Illustrator, Photoshop

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passo

01

Recomendo fazer primeiro um esboço para te ajudar a ter a composição correta: é mais fácil desenhar formas bonitas em papel. Digitaliza e retoca o brilho e contraste no Photoshop. Se as linhas não estiverem bem definidas, passa por cima com um pincel fino. Importa para o Illustrator numa camada vazia e bloqueia-a. Normalmente uso o desenho a 30% de transparência.

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passo

02

Vamos começar pela coruja, uma vez que é a figura principal da composição. Crie uma nova layer e comece a desenhar um olho. Com a ferramenta da Eclipe (L), crie um círculo sem contorno com um gradiente radial usando vários tons. Ajuste as cores e posição dos sliders usando a ferramenta do gradiente (G) e a respetiva barra. Analise algumas fotografias de animais para entender como a luz atravessa o olho. Com a ferramentea de Eclipe desenhe a pupila do olho. Adicione alguns reflexos com 10-20% de transparência. Para adicionar profundidade, faça reflexo brilhante, usando um gradiente radial de opacidade (cria um gradiente de duas cores usando a mesma cor e põe a cor exterior transparente. Seleciona todas as formas do olho e agrupa-as (ctrl-G).

passo

04

Vamos agora cingirmo-nos às penas. Numa nova camada, desenha uma oval e arrasta a ponto de âncora inferior com a ferramenta de seleção direta. Preenche-a com um gradiente vertical. Posicione a camada das penas abaixo da camada do olho. Com a tecla Alt primida, arraste para fazer copias das penas. Usando a ferramente de Seleção (V), distribui as cópias das penas à volta do olho. Ajusta a escala e rotação de cada pena para dar um ar um pouco caótico, dando assim um ar mais realista.

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passo

03

Para fazer o bico, comece por desenhar uma forma redonda e preenche-a com uma cor base. Adiciona algumas colunas e filas, usando a Mesh Tool (U). Movimente alguns pontos com a seleção direta (A) de forma a criar a forma do bico, da sua preferência e preencha os pontos das bordas com cores mais escuras para adiconar volume. Adicione também alguns detalhes como reflexos com a Pen Tool.

passo

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Quando acabares de colocar as penas, ajusta as cores dos gradientes para adicionar alguma varieade e contraste. PAra fazê-lo, seleciona algumas formas e faz as cores mais escuras. Seleciona o olho e todas as penas à volta e faz um cópia, reflete-o (lado direito do rato > Transform > Reflect > Vertical). Da mesma forma que fizeste do outro lado, continua enchendo a cabeça e corpo da coruja com penas.

passo

06

Quando o corpo estiver pronto, desenhe a árvore que se encontra debaixo da coruja. Preenche-a dom um gradiente vivo para contrastar com os olhos. De seguida, usando a ferramenta da caneta e gradientes, adicione penas longas na cabeça da coruja e desenha as garras, no tronco. Para criar as sombras debaixo das garras, copie as formas que constituem as garras numa camada diferente e une-as com o Pathfinder e envie a forma a«para trás das garras.

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passo

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Precisamos agora de criar um fundo atmosférico. Eu quero uma paisagem tundra com um sentido de profundidade real com uma iluminação suave. Desenhe um retângulo do tamanho do canvas e posicione-o numa nova camada, atrás de todas as outras camadas. Preencha com um gradiente em que a cor mais brilhante esteja no topo. Desenhe os montes com a ferramenta da caneta e preencha-os com gradiente, fazendo os mais próximos, mais escuros do que os montes mais afastados, para criar profundidade. Desenhe nevoeiro usando a caneta, preencha-o com uma cor suave e ponha a forma transparente, colocando-a à frente da árvore.

passo

09

Faça o corpo da criatura e usando o pincel que criamos desenhe tracinhos à sua volta. Quando todo o pelo estiver pronto, selecione todos os traços e expanda-os (Object > Expand Appearance). De seguida, usando o Pathfinder, una todo o pele com a forma do corpo. Aplique um gradiente e adicione detalhes como os olhos, orelhas, nariz etc. Faça várias personagens com a mesma técnica e disponha-os na composição.

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passo

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Para fazer criaturas fofas e peludas, precisamos primeiramente de criar um pincel personalizado. Desenha a forma do pincel com a caneta e arraste-a para o painel de pinceis (F5) e escolha “art brush”. Nas opções, escolha a direção pretendida e selecione “Proporcional” para que cada pincelada tenha um tamanho único.

passo

10

O próximo passo é adicionar uma fonte de luz. Em Tundra, a luz é pálida e sem um foco em específico. Assim, faça um círculo e preencha-o com um gradiente radial claro. Faça com que a cor exterior do gradiente seja 100% transparente. Ajuste o slide do gradiente para dar suavidade ao sol. Use esta técnica para fazer pequenas partículas e distribua-as pela composição.

passo

11

Falta-nos só os últimos pormenores. Se quiser adicionar mais algumas criaturas, como viados no fundo, arranje algumas fotografias dele e crie o seu contorno e coloque-o no fundo. Crie algumas formas da mesma forma que o sol foi criado e faça-as quase transparentes e coloque-as na composição onde quiser adicionar mais alguma luz.

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PORTFÓLIO


ÓSCAR RAMOS É um mestre a criar persongens espectaculares, expressivas, transmitindo assim emoção aos seus trabalhos. A quantidade de pormenores nas suas ilustrações vai-te prender por horas.

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André da Loba: dos “melhores entre os melhores” nos EUA Texto: RAQUEL VASCONCELOS

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ilustrador português André da Loba foi distinguido como finalista na competição anual da Society of Illustrators e vai integrar a sua exposição anual, que é inaugurada em Janeiro, em Nova Iorque, nos Estados Unidos.

André da Loba, que é distinguido há sete anos consecutivos e já recebeu duas medalhas, concorreu este ano com ilustrações que fazem parte do livro “Obscénica”, que foi lançado na semana passada em Lisboa. “É fantástico estar entre os melhores dos melhores ano após ano. É um processo difícil e que requer muita persistência e trabalho. Desde 2007 que faço parte deste grupo restrito composto por pessoas que admiro imenso e me inspiram diariamente a reinventar-me”, explicou o ilustrador à agência Lusa. Considerado em 2010 como um dos 200 melhores ilustradores de todo o mundo, André da Loba nasceu em Aveiro, em 1979. Colabora regularmente com o The New York Times e soma várias distinções internacionais. O seu último livro, “OBSCÉNICA - Textos

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Eróticos & Grotescos”, reúne textos da escritora brasileira Hilda Hilst e as suas ilustrações. “Hilda Hilst escreveu também alguns textos eróticos e grotescos para ‘alegrar-se um pouco’. O projecto tornou-se mais relevante quando percebemos que, em Portugal, a literatura de Hilda Hilst era quase desconhecida”, explicou o autor. André da Loba viveu sete anos em Nova Iorque, mas regressou este ano à Europa, onde já viveu temporadas nas cidades de Milão, Viena, Madrid, Lisboa, Porto, Londres e Barcelona. “Este lado do oceano é tão interessante como Nova Iorque a nível da ilustração. Apesar da crise, ou por causa dela, acho que vivemos uma época de produção gráfica de alto nível”, disse o ilustrador. Explicando que há muitos projectos independentes a surgir na Europa, o português acredita que estes profissionais estão a mostrar “que há outras maneiras de fazer as coisas, sobretudo através da partilha e discussão honesta de conteúdos de onde nascem, depois, publicações físicas e digitais que mantêm a cultura e a educação dos europeus viva e de boa saúde.”


André da Loba já publicou mais de uma dezena de livros para a infância, entre os quais “Querer muito” (com João Paulo Cotrim), “O Arenque Fumado” (de Charles Cros), “Pensamientras” (com Eugénio Roda), “Elefante em loja de porcelanas” (com Adélia Carvalho) e “Bestial”. No ano passado, recebeu a medalha de ouro da Society of Illustrators na categoria “Moving image”, pelo filme “Tuttodunpezzo”. No mesmo ano, outra portuguesa, Marta Monteiro, conquistou a medalha de ouro na categoria “Uncomissioned” — ilustrações não publicadas em livro — com o trabalho inédito “Little People”. A instituição norte-americana Society of Illustrators foi fundada em 1901, para distinguir “e promover a arte da ilustração”. A sua exposição “Illustrators 57” é inaugurada a 7 de Janeiro, no Museum of American Illustration, em Nova Iorque, e as medalhas de ouro serão entregues a 9 do mesmo mês.

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Martina Naldi: ^ O portfĂłlio destacado do mes O portfolio destacado deste mĂŞs pertence a Matina Naldi, uma ilustradora freelancer italiana.

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Guia de Portugal publicado pela “Monocle” com ~ ilustraçoes portuguesas Texto: RAQUEL VASCONCELOS Um mapa de Portugal em tons de verde, com os monumentos principais, muitas ondas e árvores, é a primeira ilustração de José Cardoso que vemos quando folheamos “Portugal: A Monocle Travel Guide”. O pequeno guia de 36 páginas integra a edição de Dezembro e Janeiro da revista britânica, já nas bancas, e esquematiza, em textos curtos e fotografias, o que de melhor há para conhecer em Portugal. De todas as ilustrações, apenas a capa não é de José Cardoso — Satoshi Hashimoto é quem a assina. O editorial começa por sublinhar que este não é um guia com os pontos fortes normalmente associados a Portugal: “Há mais na nação ibérica do que apenas sol e mar”. Ainda que a praia — sobretudo o surf — esteja presente, de Norte a Sul, a equipa de editores aborda novos projectos de

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comércio, design, moda e as paisagens naturais, sem esquecer a arquitectura. Porto e Lisboa são descritas como uma mistura entre “modernidade e a grandiosidade do mundo antigo” e nem a economia é deixada de lado: há também uma menção ao crescimento de 1% da economia nacional em 2014, o primeiro desde 2008. José Cardoso, ilustrador e designer de 30 anos do Porto, já tinha colaborado com a “Monocle” em 2012, aquando da edição dedicada à lusofonia. Dois anos depois voltou a ser convidado, algo que o surpreendeu, admite ao P3 em conversa telefónica. “Sinto-me mesmo bem a trabalhar com eles. Não sei se é uma atitude profissional típica dos ingleses, mas são mesmo cordiais e sensatos. Deixam-me mesmo à vontade para experimentar e fazer sugestões”, explicou ao P3, através do qual soube que a revista já estava nas


bancas. Para esta edição especial, a revista fez pedidos bastante específicos. “Em finais de Outubro perguntaram-me a disponibilidade para as três semanas seguintes, já tinham a coisa basicamente organizada”, conta o jovem. O terramoto de 1755, os pastéis de nata e a Torre de Belém foram alguns dos pedidos, para as páginas sobre Lisboa, que iniciam o guia. À medida que as várias regiões do país são apresentadas (em falta está informação sobre os arquipélagos da Madeira e dos Açores), o trabalho do ilustrador — que conhecemos em 2012 aquando da sua greve de fome por um trabalho — vai aparecendo em pequenos pormenores. Doçaria conventual e cortiça no Alentejo, o cão de água e as típicas açoteias no Algarve, as tripas à moda do Porto e o vinho verde do Minho são alguns dos pormenores. Na última página, um roteiro nacional em seis desenhos: dos mercados tradicionais de frescos aos ovos moles aveirenses, há ainda tempo para a saudade do fado e passeios pela natureza — a Costa Vicentina aqui em destaque. Desde 2012 que a “Monocle” tem dado destaque a Portugal: depois da “Geração Lusofonia” ter surgido na capa de uma das edições,

foi a vez de a loja Vida Portuguesa participar no seu mercado de Natal. Já em Abril de 2014, ficámos a saber que Portugal está entre os dez maiores mercados da revista de culto, com menções ao presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, e a fábricas nacionais. André da Loba já publicou mais de uma dezena de livros para a infância, entre os quais “Querer muito” (com João Paulo Cotrim), “O Arenque Fumado” (de Charles Cros), “Pensamientras” (com Eugénio Roda), “Elefante em loja de porcelanas” (com Adélia Carvalho) e “Bestial”. No ano passado, recebeu a medalha de ouro da Society of Illustrators na categoria “Moving image”, pelo filme “Tuttodunpezzo”. No mesmo ano, outra portuguesa, Marta Monteiro, conquistou a medalha de ouro na categoria “Uncomissioned” — ilustrações não publicadas em livro — com o trabalho inédito “Little People”. A instituição norte-americana Society of Illustrators foi fundada em 1901, para distinguir “e promover a arte da ilustração”. A sua exposição “Illustrators 57” é inaugurada a 7 de Janeiro, no Museum of American Illustration, em Nova Iorque, e as medalhas de ouro serão entregues a 9 do mesmo mês.

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Joana Estrela edita o premiado livro ilustrado “Mana” Texto: RAQUEL VASCONCELOS

O livro para a infância “Mana”, que valeu à autora e ilustradora portuguesa Joana Estrela o Prémio Internacional de Serpa para Álbum Ilustrado, acaba de ser publicado pela Planeta Tangerina. “Mana” surge como uma carta que uma rapariga escreve à irmã mais nova, com queixas e lamúrias sobre o comportamento dela, mas ao longo do texto a narradora vai suavizando as críticas e recordando os pontos em comum com a “companheira de brigas e brincadeiras”. Joana Estrela, 26 anos, tinha o projecto deste livro em hibernação depois de o ter apresentado, sem grande sucesso, a algumas editoras com vista à publicação. “É um livro um pouco alternativo e precisava de um ‘feedback’ de uma editora para o continuar. O que eu gostei do concurso é que aceitava projectos de livros, que depois pudessem ainda ser trabalhados”, contou à agência Lusa. Conquistado o prémio internacional, Joana Estrela pôde finalizar

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o livro, cujo mote se inspira na sua própria relação com a irmã, três anos mais nova. “Comecei por escrever uma lista de coisas que a minha irmã me fazia e o livro foi-se construindo a partir daí”. Quando foi distinguida com aquele prémio, o júri elogiou-lhe o recurso “a uma grande variedade de linguagens, tanto ao nível das imagens como das palavras”.

Escrever para crianças: “um mundo novo” Visualmente, “Mana” tem detalhes que remetem para a infância e para a forma como as crianças desenham. Joana Estrela usou lápis de carvão, lápis de cor e incluiu alguns desenhos que a irmã fez em pequena. “Gosto de livros que têm pormenores, nos quais se descobrem coisas a cada leitura”, disse Joana Estrela, para quem a escrita de um destinado às crianças livro é diferente de todas as outras coisas que já fez. “É todo um mundo novo. Pensar na escrita para crianças é como escrever poesia, é preciso ter mais atenção ao ritmo das palavras”, explicou.


Nascida em Penafiel em 1990, Joana Estrela estudou Design de Comunicação na Faculdade de Belas Artes do Porto, onde vive actualmente. Em 2014 publicou a banda desenhada “Propaganda”, um diário gráfico que regista a temporada que viveu na Lituânia, entre 2012 e 2013, como voluntária da Liga Gay Lituana. Na página oficial na Internet é possível ler ainda outros trabalhos na área da ilustração e da banda desenhada, como “Hoje não janto rissóis” e “Os vestidos do Tiago”, um livro pequenino que aborda o tema da sexualidade e da identidade de género.Este ano Joana

Estrela foi ainda uma das artistas selecionadas para a Ilustrarte Bienal Internacional de Ilustração para a Infância, com uma série de ilustrações bordadas em tecido, inspiradas na história da Santa Quitéria. Actualmente, Joana Estrela estuda, realiza “workshops” de banda desenhada e escrita criativa visual e está a preparar um novo livro, a partir da história de Antónia Rodrigues, que se disfarçou de homem para combater como militar pela Coroa Portuguesa, no século XVI.

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AGENDA “Epopeia”, de Hazul, na galeria DaVinci “Esta mostra relata as aventuras, os encontros, as descobertas e as experiências vividas ao longo do ultimo ano”. Em ela, papel, madeira e cartão em vez dos habituais muros das cidades do Porto, é assim que se apresenta Hazul, no sábado, dia 12 de Novembro, na galeria DaVinci (Rua Adolfo Casais Monteiro, 30–32). Durante essa viagem o ponto central foi a busca de um equilíbrio entre o exterior e o interior, entre a rua e o atelier, entre o inesperado e o programado”, pode ler-se em comunicado. A exposição estará patente até ao dia 3 de Dezembro.

Uma Implosão de ilustração em Lisboa

Artistas portugueses expõem no Caroussel du Louvre A ilustradora Sofia Neto e o pintor César Barros Amorim — mais conhecido por Mutes — vão expor em Paris no XVIII Salão Internacional de Arte Contemporânea, no Caroussel du Louvre, entre os dias 21 e 23 de Outubro. O cartaz do Figueira Film Arte — Festival de Cinema da Figueira da Foz de 2014, desenhado por Sofia Neto, integra a lista de obras a ser expostas em Paris. A ilustração de um marinheiro a usar uma câmara de filmar dirigida a um mar azul e ondulante valeu à portuguesa a distinção na publicação “Lürzer’s Archive”, que a colocou entre os 200 melhores ilustradores do mundo.

Já lá vão três anos desde que a Implosão, plataforma de divulgação de ilustração criada por estudantes da ESAD das Caldas da Rainha, começou a agitar Portugal. Agora, preparam-se para apresentar a sétima exposição do currículo, a primeira em Lisboa. “Nos últimos três anos (...) críamos meios para mostrar e provocar a ilustração nas Caldas da Rainha. Porém, por mais gente que fosse incluída e por mais gente que nos viesse visitar, a Implosão sempre se tratou de um assunto de família”, refere a organização. Estão prometidas cinco novas exposições em 2016 — a primeira inaugura já a 29 de Janeiro com os “velhos conhecidos” Carola, Damn, Murta e Rubro, que se apresentam nesta galeria com trabalhos antigos. “A -B” está patente no Irreal (Rua do Poço dos Negros, 59) até 13 de Fevereiro.

Circus Network: agência de artistas abre galeria, loja e coworking

o “nobel” da literatura infantil vai estar no Folio

A abertura (com entrada livre) está marcada para a tarde de 11 de Abril, sábado, quando também é inaugurada a exposição “Bibó Puorto, Carago”, resultado de um convite lançado a 15 artistas com trabalho realizado na cidade. André da Loba, Mr. Esgar, Ana Seixas e Mariana Rio são alguns dos nomes cujas obras vão estar em exposição.

Jutta Bauer, ilustradora alemã vencedora do Prémio Hans Christian junta-se, em Setembro, ao colectivo de ilustradores da Mostra de Ilustração para Imaginar o Mundo, patente now Festival Literário Internacional de Óbidos. A ilustradora que, além do Prémio Hans Christian Andersen (2010), considerado o “Nobel da Literatura Infantil”, conta no currículo com outros prémios como o German Youth Literature Prize (prémio alemão de literatura juvenil 2001) é já uma das presenças confirmadas no Folio Ilustra, capítulo do festival dedicado à ilustração e à literatura infantil e juvenil.

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o melhor da ilustração nacional reúne-se na “Braga em risco” De 12 a 20 de Novembro, todos os riscos vem dar a Braga. Durante estes oito dias, o Município brinda os bracarenses e visitantes com um evento de participação gratuita dedicado exclusivamente à ilustração. O grande destaque do Braga em Risco vai para a mostra colectiva de ilustração, que estará patente ao público na Casa dos Crivos, e que reúne 23 artistas de renome e talentos emergentes da ilustração. Com a curadoria de Pedro Seromenho, a exposição Braga 22x22 resulta de um desafio lançado aos ilustradores que “aceitaram ver, sentir e representar a Cidade de Braga com os seus traços inconfundíveis”.

Exposições com visitas guiadas vila de óbidos

Jazz Age: a exposição sobre a moda nos lou- Ana Sofia Neves inaugura cos anos 20 exposição em Azambuja

Até 31 de janeiro de 2017, a vila de Óbidos tem patente três exposições, com a opção de visitas guiadas, gratuitas, para escolas, dos mais diversos graus de ensino, para empresas, ou famílias. “Utopia Hoje” e “O Lagarto”, no Museu Abílio, e “PIM! Mostra de ilustração”, na galeria novaOgiva, são as três mostras já preparadas para uma visita.

A exibição conta com mais de 150 trajes da época, ilustrações e fotografias que caracterizam o look de 1920.

Mostra intitulada “Todo o Tempo” vai estar patente até 3 de Dezembro.

É no Fashion and Textile Museum, em Londres, que se encontra em exibição a exposição Jazz Age, assente no tema dos loucos anos 20. Esta apresenta uma coleção de peças de alta costura e de moda de pronto-a-vestir, que remonta ao intervalo de anos entre 1919 e 1929.

A galeria da Biblioteca Municipal de Azambuja vai inaugurar no próximo sábado, 5 de Novembro, pelas 16h00, uma exposição de pintura e medalha da artista Ana Sofia Neves, natural de Vila Franca de Xira. A mostra, intitulada “Todo o Tempo”, vai estar patente até 3 de Dezembro e pode ser visitada de terça-feira a sábado, entre as 10h30 e as 18h30. As entradas são livres.

Na mesma exibição encontrará também as coloridas ilustrações de Gordon Conway do Arquivo Ilustrado de Notícias de Londres em Mary Evans, assim como fotografias de Abbe, Beaton, Ray Man e Baron de Meyer.


o melhor da ilustração nacional reúne-se na “Braga em risco” De 12 a 20 de Novembro, todos os riscos vem dar a Braga. Durante estes oito dias, o Município brinda os bracarenses e visitantes com um evento de participação gratuita dedicado exclusivamente à ilustração. O grande destaque do Braga em Risco vai para a mostra colectiva de ilustração, que estará patente ao público na Casa dos Crivos, e que reúne 23 artistas de renome e talentos emergentes da ilustração. Com a curadoria de Pedro Seromenho, a exposição Braga 22x22 resulta de um desafio lançado aos ilustradores que “aceitaram ver, sentir e representar a Cidade de Braga com os seus traços inconfundíveis”.

Exposições com visitas guiadas vila de óbidos Até 31 de janeiro de 2017, a vila de Óbidos tem patente três exposições, com a opção de visitas guiadas, gratuitas, para escolas, dos mais diversos graus de ensino, para empresas, ou famílias. “Utopia Hoje” e “O Lagarto”, no Museu Abílio, e “PIM! Mostra de ilustração”, na galeria novaOgiva,

Jazz Age: a exposição sobre a moda nos lou- Ana Sofia Neves inaugura cos anos 20 exposição em Azambuja A exibição conta com mais de 150 trajes da época, ilustrações e fotografias que caracterizam o look de 1920.

Mostra intitulada “Todo o Tempo” vai estar patente até 3 de Dezembro.

É no Fashion and Textile Museum, em Londres, que se encontra em exibição a exposição Jazz Age, assente no tema dos loucos anos 20. Esta apresenta uma coleção de peças de alta costura e de moda de pronto-a-vestir, que remonta ao intervalo de anos entre 1919 e 1929.

A galeria da Biblioteca Municipal de Azambuja vai inaugurar no próximo sábado, 5 de Novembro, pelas 16h00, uma exposição de pintura e medalha da artista Ana Sofia Neves, natural de Vila Franca de Xira. A mostra, intitulada “Todo o Tempo”, vai estar patente até 3 de Dezembro e pode ser visitada de terça-feira a sábado, entre as 10h30 e as 18h30. As entradas são livres.

Na mesma exibição encontrará também as coloridas ilustrações de Gordon Conway do Arquivo Ilustrado de Notícias de Londres em Mary Evans, assim como fotografias de Abbe, Beaton, Ray Man e Baron de Meyer.




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