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O PRECONCEITO COM OS SURDOS E AS DIFICULDADES DE INTERAÇÃO COM OS OUVINTES. Elaine de Albuquerque Fernandes
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Falar de preconceito acerca de quem é
surdo é narrar uma das vertentes da surdez. O ser surdo é desde o início, considerado como alguém incapaz de realizar muitas atividades, alguém deficiente. Desde o início da história do povo surdo, todo tipo de violência foi cometida, sendo física ou não. A criança com deficiências auditivas busca desde início de sua vida, ter alguma forma de comunicação com os demais seres ao seu redor, verificando os movimentos dos lábios, e as expressões feitas, apesar de não ser muito fáceis de decifrar, em um ambiente em que o mesmo já tenha
O mercado de trabalho tem abertura para recebimento de pessoas com deficiência auditiva, e até mesmo com surdez, porém não está preparado para absorvê-los. Muitas vezes para obter sucesso, estes deficientes se destacam por vontade própria, com muito esforço, e estudando sozinhos. Independente do grau de surdez, eles precisam dominar tanto sua linguagem de sinais, para comunicação entre surdos, assim como também precisa ter o domínio da língua portuguesa para obter destaque no mercado. “A Lei de Cotas 8.213/91 (Artigo 93) abriu oportunidades em termos de quantidade de vagas, mas não exatamente de qualidade. A
convivido diariamente, o indivíduo passa a compreender a intenção da pessoa. Porém, se qualquer uma destas expressões mudarem, a comunicação se torna muito mais difícil entre surdos e ouvintes no mesmo ambiente. O preconceito acerca o deficiente auditivo, mas o próprio ser que tenha essa deficiência deve ter autoestima para esta pessoa, verifica-se que pessoas que tem este tipo de deficiência, muitas vezes têm um preconceito consigo próprias, achando-se incapaz.
educação brasileira não acompanha a formação dessas pessoas que, apesar de brasileiras, não são usuários fluentes da língua portuguesa”, explica Jarbas Batista de Oliveira, diretor da escola de Educação Básica da Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação (Derdic) da PUC-SP. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem quase 6 milhões de pessoas com deficiência auditiva e em torno de 170 mil delas se declaram surdos – cerca de 35% dessas pessoas estão ocupadas. O Derdic da PUC-SP estima que o país tem cerca de 1 mil surdos em universidades.
Muitas organizações cometem o erro de preferir contratar deficientes auditivos, porque não precisa de muito custo com adaptação, por exemplo, rampas para deficientes físicos, porém ao contratar surdos, a empresa se depara com uma realidade completamente diferente, com um alto grau de problemas de comunicação. A grande maioria dos surdos tem dificuldade em se destacar na empresa, pois lhe aparecem poucas oportunidades, quando acontece isto, geralmente os ouvintes consideram os deficientes como indivíduos com pouca capacidade intelectual, porém podem estar enganados, pois o surdo tem a mesma capacidade intelectual que um ouvinte.
Assim como atualmente, o exercício de atividades por mulher tenha se tornado cada vez mais presente, a participação de pessoas surdas no mercado se torna algo exequível.
As grandes empresas vêm buscando fazer a contratação de pessoas com deficiência auditiva, para atender a legislação, e é uma prioridade contratar funcionários capacitados, porém quando isto não é possível, as empresas são quase que fadadas a contratar pessoas sem qualificação profissional, apenas para preenchimento da cota de pessoas com deficiência, o que torna a empresa responsável pela formação inicial deste colaborador. E os surdos, como estão no mercado de trabalho? Como estão sendo aproveitadas
as habilidades de deficientes auditivos? Na comunidade surda, as pessoas vêm a cada dia se qualificando para o mercado de trabalho, sendo que muitas delas, na hora da qualificação, preferem uma profissão que não tenha muito contato com o público, que possam exercer a procissão independente de sua condição bilíngue (utilização da língua portuguesa e da linguagem através de sinais). Vejamos o exemplo de uma instituição privada da grande São Paulo, um centro universitário que proporciona aos alunos surdos cursar o ensino superior com o
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serviço especializado de Tradutores/ Intérpretes de língua de Sinais nas aulas, com o acompanhamento pedagógico e orientação educacional. São 14 Intérpretes contratados pela instituição, é importante salientar que a presença do Tradutor/ Intérprete de língua de sinais- português na universidade está CURSO
garantida também por força de Lei, pelo Decreto nº 5.626/2005, que prevê as condições essenciais para a educação de surdos. Nesta instituição, dentre as 24 opções de cursos de graduação e 14 cursos tecnológicos, existem surdos matriculados em 10 cursos diferentes. Observe o quadro:
TIPO - DURAÇÃO
QUANTIDADE DE ALUNOS SURDOS
Administração
Graduação – 4 anos
8
Ciências Contábeis
Graduação – 4 anos
3
Engenharia da Computação
Graduação – 4 anos
1
Engenharia de Produção
Graduação – 4 anos
1
Pedagogia
Graduação – 4 anos
2
Técnico em Análise e Desenvolvimento de Sistemas
Tecnológico – 2,5 anos
3
Técnico em Design Gráfico
Tecnológico – 2,5 anos
5
Técnico em Manutenção de Aeronave
Tecnológico – 2,5 anos
1
Técnico em Recursos Humanos
Tecnológico – 2,5 anos
7
Técnico em Redes de computadores
Tecnológico – 2,5 anos
1
TOTAL
32
Tabela 1: Cursos elegidos pelos alunos do centro universitário. Fonte: http://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=12&idart=299 Banco de dados do centro universitário (2011)
O quadro acima mostra evidentemente que os surdos preferem atuar na área administrativa e gerencial (25%). Pode ser que isto ocorra, porque na conclusão de tais cursos, o surdo não precisa ter condições linguísticas para atuar na área em que se formar. O contrário ocorre na área da saúde, em que o trabalho é direto com o público, pois precisam de um maior desenvolvimento de ambas as línguas, algo que nem todos os deficientes auditivos têm desenvolvido. Um conceito criado na Universidade da Ásia, em Taiwan, pode contribuir para
resolver este problema. Trata-se de um conjunto de anéis e braceletes que servem para traduzir a língua de sinais para quem não a compreende. Funciona assim: o gadget detecta os movimentos feitos pela pessoa que está usando, identifica aquele sinal específico, e o transforma em uma mensagem de áudio. A pessoa que ouve a tradução do sinal também pode falar na sua própria língua – o aparelho é capaz de compreender a língua falada e transformá-la em um texto, que pode ser lido no visor do bracelete.
Vale lembrar que a língua de comunicação através de sinais não é a mesma, pois se muda de local, o modo de fala e escrita, também muda por consequência. A Política Nacional de Educação Especial (1994) estabelece que são alunos com necessidades especiais “aqueles que apresentam deficiências (mental, auditiva, física, visual e múltipla), super dotação ou altas habilidades ou condutas típicas devido a quadros de síndromes, neurológicos, psiquiátricos e psicológicos que alterem sua adaptação social a ponto de exigir intervenção especializada”. Já a Declaração de Salamanca em seu artigo 3º(1994, p. 3) advoga: “O princípio que orienta esta Estrutura é o de que escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Aquelas deveriam incluir crianças deficientes e super-dotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nómada, crianças pertencentes a minorias linguísticas, étnicas ou culturais, e crianças de outros grupos desprotegidos ou marginalizados.” A inclusão deve ser feita com os deficientes
auditivos, não porque eles estão exclusos da sociedade, mas pelo fato de que cada ser humano é diferente um do outro, e o indivíduo quer tratar o surdo como alguém com necessidades especiais, mas como tudo depende da finalidade, realmente precisam de algumas atenções especiais, mas conseguem sobreviver. Inserido nesta sociedade sortida de preconceito e discriminação, o indivíduo surdo fica excluído da sociedade, necessitando assim de auxílio de familiares e professores para se reintegrar ao meio social. O papel do professor é justamente entender as habilidades e as competências destas pessoas, e destaca-las no mercado de trabalho. Para que haja um avanço nesta inclusão, é necessário que haja o esclarecimento para todos os ouvintes.
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No dia Nacional do surdo, 26/03/2012, foi lançando ProDeaf Móvel para Windows Phone, o primeiro aplicativo para smartphones e tablets capaz de traduzir fala em português para a Língua Brasileira de Sinais (Libras). De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta com cerca de 10 milhões de surdos e, deste total, 2,7 milhões não conhecem a Língua Portuguesa. Hoje, a prática de Libras já alcança mais de cinco milhões de brasileiros (incluindo
ouvintes, como familiares, amigos, educadores etc.). Assim, o ProDeaf Móvel foi lançado no mercado para facilitar a comunicação entre pessoas fluentes em um dos dois idiomas oficiais do Brasil: a Língua Portuguesa e a Língua Brasileira de Sinais (Libras). O projeto é fruto de um investimento de R$ 500 mil, feito pelo próprio ProDeaf - com financiamento do Sebrae e do CNPQ. Além disso, a distribuição do aplicativo é totalmente gratuita.
...a surdez foi de grande valia para mim. Poupou-me o trabalho de ficar ouvindo grande quantidade de conversas inĂşteis e me ensinou a ouvir a voz interior.
Thomas Edison
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Há três tipos de condutas que ainda fazem com que o preconceito prevaleça diante das qualidades de um deficiente auditivo: “a indiferença, a caridade e o paternalismo” (POZZOLI, 2006, p. 192). Há vários fatores que influenciam nestes conceitos, sendo que um deles é o fator religioso, que torna as pessoas mais protecionistas, porém este é um conceito de preconceito que se formou há muito tempo atrás, e que até os dias de hoje ainda não foi difundido e modificado, conceito este que considera as pessoas deficientes como indivíduos incapazes de realizar qualquer atividade sozinhos, que a
qualquer realização precisam do auxílio de um familiar, ou então um professor, mas nunca sozinhos. Os desafios para inclusão são delicados, pois dependem de desfazer um conceito feito há tempos, para construir uma nova imagem para a sociedade, do que realmente se trata uma pessoa deficiente, refazer valores éticos e humanos, para que cada um possa ser valorizado com as habilidades que já possuir, É devido a isto, que atualmente existem leis que obrigam a existência de funcionários portadores de deficiência em alguns tipos de empresa, é
com o intuito de quebrar o paradigma que que este é um indivíduo incapaz. As barreiras devem ser quebradas, cada um tem suas características que são necessárias em uma organização, ou até mesmo na sociedade, uma pessoa surda, para aprender, basta apenas ter as mesmas características de um ouvinte, que é querer aprender, após isso, cada um aprende a sua forma, com a linguagem mais adaptável, e
então aprendendo e se capacitando, todos poderão concorrer igualmente um espaço no mercado de trabalho. Um deficiente auditivo precisa de uma atenção especial, afinal, ele não escuta, ou pouco escuta aqueles que estão ao seu redor, e para agir comumente precisa ter estes reflexos, mas paradigmas não podem existir, pois o hoje é pequeno demais para nos entretermos com preconceitos.