CONEXÃO, MEMÓRIA E PERMANÊNCIA ESPAÇO CULTURAL LARGO DA BATATA
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU | ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO - TFG II | NOVEMBRO DE 2016
MARIANA LUIZA SCHIPANI | RA 201208700 | 5AARM ORIENTADOR: LUIS MAURO FREIRE
Agradeço ao professor Luis Mauro Freire, que me orientou e ensinou, não
somente durante o Trabalho Final de Graduação, como em outras disciplinas. Este trabalho não existiria sem sua enorme contribuição.
Aos professores, imprescindíveis ao que sou hoje, que estimularam e
firmaram meu amor pela arquitetura.
À minha família, por absolutamente tudo. Por todo apoio que deram às
minhas escolhas, mesmo muitas vezes não entendendo o motivo das aflições e noites mal dormidas.
Aos amigos de graduação e futuros colegas de profissão que partilharam
de cada momento dessa jornada. Obrigada pelas opiniões, angústias e alegrias compartilhadas ao longo destes cinco anos.
Aos amigos de longa data, que souberam compreender as ausências em
datas especiais por conta do compromisso com a faculdade.
Ao Otávio, pela companhia nas horas de folga, pela paciência nos períodos
de trabalho, pela motivação nos momentos dificeis e por todo o amor e carinho com que tem me presenteado.
E por fim, à todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para a
minha vida acadêmica, para o desenvolvimento do TFG e minha formação enquanto arquiteta.
SUMÁRIO 1.
INTRODUÇÃO
1.1 1.2 1.3
Problemática Objetivo Justificativa
2.
LARGO DA BATATA
2.1 2.2
Aproximação histórica Leitura e aproximações ao lugar
3.
ESTUDOS DE CASO
3.1 3.2
Centro Cultural Gabriela Mistral Ampliação do Centro de Arte Reina Sofia
4.
PROJETOS DE REFERÊNCIA
4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6
Erzsebet Tér Ladeira da Barroquinha Centro Cultural Vergueiro MAXXI Museu Auditório do Ibirapuera New World Symphony
08 08 09
12 32
46 48
52 53 54 55 56 57
5. PROJETO 5.1 5.2 5.3 5.4 5.5 5.6 5.7 5.8
Tema Partido/ Diretrizes gerais Legislação Urbanística Estudo preliminar Programa/ Quadro de áreas Diagramas Memorial Espaço Cultural Largo da Batata
6.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
60 62 64 66 68 70 72 75 106
1. INTRODUÇÃO 1.1 Problemática 1.2 Objetivo 1.3 Justificativa
1.1. PROBLEMÁTICA
Observamos nos últimos anos, diversas transformações espaciais no bairro de
Pinheiros, localizado na zona oeste de São Paulo. Elas estão concentradas no Largo da Batata, nome popular dado a uma área próxima ao Largo de Pinheiros, coração do bairro. Percebemos uma acelerada verticalização da região, com mudança no padrão fundiário existente, remoção do comércio popular, demolições, obras de infraestrutura e substituição das classes sociais ali presentes. Todas essas transformações vêm ocorrendo a partir do projeto de Reconversão Urbana do Largo da Batata e da Operação Urbana Faria Lima, iniciados na década de 1990.
Objeto de concurso, as obras do projeto de reconversão iniciaram-se em 2007 e
em 2013 a prefeitura de São Paulo afirmava que haviam sido totalmente concluídas. No entanto, a grande área entregue não continha a mesma vivacidade do passado: vazio, sem árvores, bancos, mesas ou qualquer mobiliário urbano que convidasse ao convívio social, o Largo ressurgiu como um espaço de tensão.
Unido a este fator, a escolha do lugar passa pelo histórico recente dos
acontecimentos que o Largo tem presenciado: movimentos de resistência e luta pelo lugar; ocupação de coletivos e experimentações no espaço público; palco para manifestações políticas e apropriações espontâneas. Desta forma, procura-se discutir neste trabalho, a maneira como o Largo da Batata se configura como uma área suscetível à transformação e suas potencialidades para tal.
1.2. OBJETIVO
O trabalho procura analisar desde o passado à situação atual, a vocação deste
espaço, buscando que tipo de projeto arquitetônico tem identidade e vem a se enquadrar em um lugar tão marcado pela diversidade como o Largo da Batata é hoje. 8
A partir das análises algumas fragilidades do local são identificadas e com isso
nota-se a ausência de um projeto que seja adequado a proporção do espaço do Largo e que contemple um desenho harmonioso com a sua forma, que dialogue com o entorno, o bairro e com as características do local e sua história.
Sendo assim, o trabalho tem como intenção uma arquitetura capaz de
fornecer um espaço de permanência que possa dar suporte ao que já ocorre neste local (manifestações, apropriações, experimentações), transformando um grande descampado em local de convívio, servido de atividades e eventos. Um espaço público e aberto à cidade, capaz de gerar interação através de sombras e áreas de aconchego, fomentando um pedaço da cidade que hoje se constitui como lugar de passagem e “vazio urbano”, em local de estar que possa agregar as pessoas oferecendo espaço para debates, apresentações musicais, cinema ao ar livre, oficinas, saraus e festas; trazendo vivacidade e identificação.
1.3. JUSTIFICATIVA
O Largo da Batata constituiu-se como um lugar de encontro no bairro de
Pinheiros. Local que concentrava comércio popular, vendedores ambulantes, pessoas de diversas origens que utilizavam o terminal de ônibus que existia ali. Movimento de trabalhadores durante o dia e de pessoas buscando casas noturnas à noite. Hoje assistimos à uma nova dinâmica no local, marcada por manifestações populares, atuação de coletivos e apropriações do espaço, a maioria com o intuito de transformar o Largo em um grande espaço cultural e democrático, capaz de fixar quem por ali passa.
Percebe-se com isso que apesar da região de Pinheiros possuir uma gama
de equipamentos culturais nas proximidades, o Largo da Batata parece clamar por uma arquitetura capaz de convidar as pessoas à permanecer, conviver e usufruir deste espaço público. Para isso propõe-se um projeto arquitetônico capaz de retomar a memória do lugar, incentivar o convívio e conectar espaços do Largo hoje divididos pela Avenida Faria Lima.
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2. LARGO DA BATATA 2.1 Aproximação histórica Histórico Mapas e análises Operação Urbana Faria Lima Concurso Público Nacional Reconversão Urbana do Largo da Batata Situação atual Linha do tempo
2.2 Leitura e aproximações ao lugar Equipamentos Usos do solo Gabaritos Fluxos Levantamento fotográfico
2.1. APROXIMAÇÃO HISTÓRICA HISTÓRICO Para melhor compreender o local de estudo escolhido é preciso voltar no tempo e analisar os processos que constituíram o Largo da Batata em diferentes momentos da história, pontuando recortes fundamentais para a conformação da centralidade que é hoje.
Primeiramente é preciso apontar a localização de nosso objeto de estudo.
O Largo da Batata é conhecido por esse nome desde a década de 1920, mas foi oficializado somente em 2012 por Gilberto Kassab.
Figura 1: Perímetros dos dois largos: a proximidade dessas duas centralidades dentro do mesmo bairro mostra quão pulsante era a vida do lugar. Fonte: Google Earth, 2016 (imagem de 2008)
Denomina-se Largo da Batata o logradouro delimitado pelas Ruas Martim
Carrasco, Fernão Dias, Teodoro Sampaio, dos Pinheiros e pela Avenida Brigadeiro Faria Lima, no Distrito de Pinheiros, Subprefeitura de Pinheiros. (Lei nº 15.615/2012).
Por não ter limites definidos até a oficialização do nome, a localidade
sempre gerou dúvidas em relação ao seu perímetro. O Largo da Batata como conhecemos hoje encontra-se próximo ao Largo de Pinheiros, local onde nasceu o bairro e reconhecido desde quando era apenas um ponto isolado do centro da cidade. Ambos foram pontos cruciais que deram origem ao que hoje se transformou o bairro: o Largo de Pinheiros como núcleo colonial e religioso; o Largo da Batata como núcleo comercial e popular.
A fundação do bairro de Pinheiros se dá em 1560 marcado pelo
estabelecimento de uma aldeia indígena fundada pelo padre José de Anchieta, a Aldeia Nossa Senhora dos Pinheiros da Conceição onde os jesuítas construíram uma capela. Posteriormente, durante o ciclo do ouro por volta de 1710, o bairro apesar de um núcleo isolado em relação ao centro tradicional da cidade encontravase em posição estratégica na travessia do Rio Pinheiros, passando a ser lugar de
12
Figura 2: A Planta da cidade de São Paulo em 1905, aponta como a região de Pinheiros estava isolada do centro da cidade naquele momento, caracterizando
cobrança de impostos e transformando a região que deixa de ser um aldeamento e
um limite sudoeste da cidade de São Paulo (enquanto os eixos noroeste e nordeste
passa a ser local de travessia dos tropeiros e viajantes. Inicia-se assim uma função característica do local como caminho de passagem.
de São Paulo – PMSP, 2016.
já pareciam estar mais desenvolvidos). Fonte: Histórico Demográfico do Município
A partir de 1910, a centralidade passa por um novo momento marcado
pelo comércio de alimentos, caráter que fica evidente com a inauguração do “Mercado dos Caipiras”, reconhecido por esse nome porque vendia mercadorias dos sitiantes que vinham de localidades próximas como Cotia, Itapecerica, Carapicuíba, Piedade, MBoy, Una e adjacências.
É através do surgimento do Mercado dos Caipiras que o bairro passa a ter
função delimitada no quadro da cidade de São Paulo e deixa o isolamento já citado, tornando-se um ponto de encontro de pessoas, produtos, fluxos e caminhos. Figura 3: Mercado dos Caipiras na década de 1920.
Dessa forma o Mercado dos Caipiras passa a ser ícone da centralidade que se
Fonte: Gazeta de Pinheiros, 2016.
instaura em Pinheiros, uma zona comercial importante dentro da dinâmica da cidade, mas principalmente um marco no desenvolvimento econômico do bairro para as áreas periféricas que passam a utilizar o mercado como local de venda de seus produtos.
Com o tempo, o mercado foi se modernizando e começou a ficar conhecido
como Entreposto Municipal de Pinheiros ou popularmente, Mercado de Pinheiros. Essa modernização fez com que o mercado deixasse de exercer atividade atacadista e os comerciantes que exerciam essa prática deixaram o mercado e foram vender suas mercadorias nas adjacências. Por volta de 1920 a região próxima às ruas Martim Carrasco, Fernão Dias e Teodoro Sampaio ficou conhecida como Largo da Batata. As batatas eram comercializadas por imigrantes japoneses que muito contribuíram no comércio da região, principalmente após a fundação da Cooperativa Agrícola de Cotia (C.A.C.) em 1928. A C.A.C. e novas casas comerciais que surgiram no mesmo período, impulsionaram muito o comércio da região e criaram uma nova dinâmica comercial que estimulou o crescimento urbano no entorno de Pinheiros. Figura 4: Cooperativa Agrícola de Cotia – década de 1920. Fonte: <http://www.sao-paulo.com.br/largo-da-batata/> 13
A imagem abaixo demonstra como o bairro de Pinheiros era
Em comparação com o mapa de 1905 (figura 2), percebe-se a
constituído principalmente pelas imediações do Largo de Pinheiros e do
evolução da região de Pinheiros em vinte anos: expansão da cidade no
Largo da Batata:
sentido sudoeste; arruamento mais denso; presença de algumas olarias próximas ao Rio Pinheiros que utilizavam a argila como matéria-prima e a sinalização da Estrada das Boiadas, principal caminho dos comerciantes da época. Tais apontamentos ficam evidentes no mapa abaixo:
Figura 5: Planta da cidade de São Paulo em 1924. Fonte Histórico Demográfico do Município de São Paulo – PMSP.
Figura 6: Área Urbanizada de São Paulo entre 1915 e 1929. Fonte: Emplasa, 2002/2003; Adaptação: Sempla/Dipro
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Percebe-se claramente a forte urbanização que o Distrito de Pinheiros passa
entre 1915 e 1929. A partir da década de 1910, com o crescimento demográfico, o bairro recebe atenção do poder público e iniciam-se os investimentos visando suprir as novas necessidades da centralidade. Grandes transformações de infraestrutura começam a se configurar a começar pela chegada do bonde, o que demonstra a centralidade viária da região. Outra mudança importante foi a retificação da várzea do Rio Pinheiros pela The São Paulo Tramway, Light and Power Company Ltda, que autorizada a canalizar, alargar, retificar e aprofundar os leitos do rio produziu “terra urbana” nos terrenos situados próximos às margens.
Em 1943 terminam as obras de canalização do Rio Pinheiros e no mesmo
período surge uma intensa mobilidade populacional para a região que passa por Figura 7: Primeira linha de bonde no Largo de Pinheiros, 1909. Fonte: Gazeta de Pinheiros.
mudanças no caráter de suas edificações: antigos edifícios são demolidos e substituídos por novos padrões de gabarito com três ou mais pavimentos. Já se verificava a necessidade de reestruturação deste espaço para dar novos usos ao lugar que era até então principalmente comercial e residencial. A década de 1950 dá continuidade aos melhoramentos e processo de revalorização do bairro através de calçamento de ruas, canalização de córregos, alargamento do largo, etc.
A década de 1960 configura uma nova fase de importância na conformação
da região: a construção do Terminal de Pinheiros no Largo da Batata. Com o grande fluxo de transportes decorrente da confluência de diferentes linhas de ônibus, a região passa por uma mudança de caráter passando a concentrar um comércio popular, ligado ao trânsito de passageiros do Terminal.
A movimentação cada vez maior de ônibus e automóveis - característica
presente até os dias de hoje -, ampliou o comércio popular no bairro e aumentou a Figura 8: Rio Pinheiros antes e após sua retificação. Fonte: Catraca Livre.
circulação de pessoas e vendedores ambulantes. O Largo da Batata foi adquirindo um caráter popular, através de um comércio destinado principalmente aos que transitavam por ali. 15
Esse momento é crucial para entender a reprodução deste espaço nos anos
que o seguem, uma vez que a concentração cada vez maior de pessoas de renda inferior circulando pela região será parte do discurso do poder público em caracterizar o Largo como degradado e justificará suas atuações em prol da reconversão da área.
No ano de 1968, dá-se início às desapropriações de imóveis para a
abertura da Avenida Faria Lima, fato que altera a paisagem da região extinguindo o antigo Mercado dando lugar ao Terminal de Pinheiros referido acima. Posteriormente é aberto um concurso para um novo mercado que é construído em 1971. Esse é o atual Mercado Municipal de Pinheiros como conhecemos hoje, situado na esquina da Rua Pedro Cristi com a Rua Doutor Manoel Carlos Ferraz de Almeida, projeto dos arquitetos Eurico Prado Lopes e Luiz Telles.
Figura 9: Terminal de ônibus no Largo da Batata, 1991. Fonte: Blog Ponto de ônibus.
A região do antigo mercado sumiu do mapa, engolida pelo traçado da Avenida Faria Lima aberta a partir de 1968 (ele ficava entre a Cardeal Arcoverde e a Teodoro Sampaio, exatamente onde está o asfalto da Faria Lima (o mercado novo, que funciona até hoje, é de 1971). A mesma Faria Lima modificou o que era conhecido como Largo da Batata, local que desde a década de 20 atraía produtores em busca de mercado. (GUEDES, Márcia. “Pinheiros tem tanta história”. Em Alphanews Pinheiros, nº13. São Paulo: Outubro de 1998.) Em 1994, se dissolve a Cooperativa Agrícola de Cotia e amplia-se a concentração de vendedores ambulantes atuando na região. 16
Figura 10: Avenida Faria Lima em construção (1970). No alto da foto, cruzamento com a Avenida Rebouças. Fonte: Pinterest.
O Largo da Batata configurou-se a partir destes aspectos em uma centralidade
para o bairro de Pinheiros e regiões vizinhas. A princípio isolado do restante da cidade de São Paulo, serviu como conexão com áreas mais isoladas além do Rio Pinheiros. Desta forma, houveram dois momentos importantes para a estruturação do bairro: o primeiro rural, caracterizado pelo comércio de alimentos vindos de áreas periféricas e o segundo o urbano, gerado pelo comércio popular e ponto modal do transporte público, reforçando a dimensão que ganhou essa centralidade. São esses momentos que nos ajudam a entender o perfil do bairro hoje.
Figura 11: Foto tirada em setembro de 2005 mostra a ocupação dos camelôs nas proximidades dos pontos de ônibus. Fonte: Thomas Locke Hobbs Photography.
17
MAPAS E ANÁLISES MAPA 1 – 1905 PLANTA DA CIDADE DE SÃO PAULO
- Arruamento incipiente; - Ruas nomeadas localizadas mais próximas aos bairros “Villa América” e “Villa Cerqueira Cesar”; - Rua Arcoverde (atual Cardeal Arcoverde) já aparece como eixo de ligação entre esses bairros e o centro do bairro de Pinheiros; - Entre a Rua Arcoverde e a Rebouças não havia quase nenhum arruamento; - Mais próximo ao Rio Pinheiros há alguns traços de ruas, porém sem nomes.
RIO PINHEIROS PRINCIPAIS VIAS CEMITÉRIOS
MAPA 2 – 1924 PLANTA DA CIDADE DE SÃO PAULO
FONTE: Histórico Demográfico do Município de São Paulo – PMSP, 2016.
- Arruamento mais denso e agora com denominações de ruas; - Ruas entre a Avenida Rebouças e a Rua Arcoverde, que antes não existiam; - Expansão da cidade no sentido sudoeste, com formação do “Butantan”; - Rio Pinheiros melhor delimitado na planta; - Presença de algumas olarias próximas aos arredores de Pinheiros; - Estrada das Boiadas (atual Avenida Diógenes Ribeiro de Lima): caminho primordial para o percurso de comerciantes da época.
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RIO PINHEIROS PRINCIPAIS VIAS
FONTE: Histórico Demográfico do Município de São
CEMITÉRIOS
Paulo – PMSP, 2016.
MAPA 3 – 1954 FOTO AÉREA GEOSAMPA
- Área já bastante densificada, a não ser nas áreas mais próximas ao Rio Pinheiros; - Retificação do Rio Pinheiros; - Conformação de eixos importantes: Rua Pinheiros, Avenida Eusébio Matoso, Rua Cardeal Arcoverde e Teodoro Sampaio; - A partir dessas vias, surgem outras que entrecortam bastante o espaço formando quarteirões pequenos; - Nota-se a presença de um novo cemitério, o Cemitério de São Paulo, criado em 1926 para suportar a grande demanda devido à superlotação dos Cemitérios da Consolação e do Araçá.
RIO PINHEIROS PRINCIPAIS VIAS
FONTE: Mapa Digital da Cidade – GEOSAMPA, 2016.
CEMITÉRIOS
MAPA 4 – 2016 FOTO AÉREA GOOGLE EARTH
- Clara consolidação da zona oeste de São Paulo: Pinheiros, Butantã e Lapa; - Forte crescimento dos bairros Alto de Pinheiros, Vila Madalena e Butantã (à noroeste da imagem); - Presença da Marginal Pinheiros, inaugurada em 1970; - Avenida Brigadeiro Faria Lima, inaugurada também em 1970, prolongamento da antiga Rua Iguatemi ligando a Vila Madalena à Vila Olímpia; - Extensão da Rua Henrique Schaumann feita pela Avenida Paulo VI com destino à Perdizes. RIO PINHEIROS PRINCIPAIS VIAS CEMITÉRIOS
FONTE: Google Earth, 2016. 19
OPERAÇÃO URBANA FARIA LIMA
Após analisarmos os processos de produção do espaço do bairro de Pinheiros e
sua conformação como lugar considerado degradado, surge um movimento criado pelo Estado para transformar esse espaço. Estas ações intituladas como Operações Urbanas Consorciadas nasceram como projetos urbanísticos que objetivavam transformar áreas da cidade utilizando recursos obtidos através da venda de solo criado, ou seja, da outorga onerosa do direito de construir no perímetro da operação, ou ainda através da mudança de uso do solo. De acordo com o Estatuto da Cidade, a Operação Urbana Consorciada é definida como:
“§1º
Considera-se
operação
urbana
consorciada o conjunto de intervenções e medidas coordenadas pelo Poder Público municipal, com a participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores privados, com o objetivo de alcançar em uma área transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e valorização ambiental”.
(Estatuto da Cidade, Lei nº 10.257 de 10/07/2001)
Esse instrumento urbanístico prevê a parceria entre o poder público e o setor
privado: através da arrecadação das contrapartidas afim de se construir acima do permitido, os empreendedores privados financiariam o investimento público na transformação de uma determinada parte da cidade, objeto de operação. 20
As operações trazem também ações que visam tornar a área mais interessante
para novos empreendimentos. Dentre elas os Certificados de Potencial Adicional de Construção (CEPAC’s) onde cria-se uma quantidade de metros quadrados virtuais a serem vendidos em leilões públicos, podendo ser usados para a construção adicional em qualquer outro terreno dentro da operação. No entanto, um dos principais questionamentos é de que o dinheiro resultante da venda dos CEPACs quase nunca é socializado, tornando-se ferramenta para a valorização imobiliária.
Desta forma, estas operações são estratégias espaciais de dominação, uma
vez que os projetos idealmente realizariam transformações garantindo retorno econômico-financeiro, porém sua aplicação concreta gerou aprofundamento da desigualdade sócio-espacial, excluindo a população de baixa renda. Figura 12: Perímetro da Operação Urbana Faria Lima. Fonte: SkyscraperCity
Em 1995 é intitulada a Operação Urbana Consorciada Faria Lima, que
tinha por objetivos principais: realizar melhoramentos viários, obras, equipamentos e áreas públicas no perímetro da Operação urbana; melhorar a qualidade de vida, a paisagem urbana e a infraestrutura; incentivar o melhor aproveitamento dos imóveis e estimular o adensamento da região. Sua adequação ao Estatuto da Cidade resultou na Lei 13.769/04.
A Operação foi dividida em quatro setores: Hélio Pelegrino; Olimpíadas;
Faria Lima e Pinheiros, como aponta a figura 12. A região de estudo está localizada no Setor Pinheiros e para este setor a operação previa o alargamento e prolongamento da Rua Sumidouro e da Avenida Faria Lima; a implantação de um novo Terminal de Ônibus da Rua Capri para remanejar o existente no Largo da Batata; além da execução de intervenção de requalificação urbana no Largo da Batata, conforme se vê nas imagens à esquerda.
Na figura 13, nota-se os pontos de intervenção mais relevantes na região
de Pinheiros: a reconstrução do Largo de Pinheiros, a transferência do terminal de Figura 13: Programa de investimento previsto pela 2ª reunião do Grupo de Gestão. Agosto/2008. <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/ upload/apresentacao_2_roggoucfl_dez_08_1256244325.pdf>
ônibus do bairro para a rua Capri e uma ligação entre as ruas Sumidouro e Baltazar Carrasco. 21
Na figura ao lado de 2009, outras modificações: criação de uma esplanada
através do deslocamento da Avenida Faria Lima e sua reurbanização, além do alargamento das ruas Capri e Eugênio de Medeiros. Intervenções sofreram modificações devido ao projeto de Reconversão Urbana do Largo da Batata que é posterior à OUC Faria Lima.
A OUC Faria Lima, principalmente no setor Pinheiros, acentuou o caráter
empresarial da região. Além disso, transformou os usos residenciais que ainda resistiam ali. De certa maneira a Operação acabou por acentuar o caráter excludente do local através dos seguintes resultados obtidos: alteração do perfil da classe média para alta; diminuição da densidade habitacional que foi substituída pelos comércios e serviços; renovação exclusivamente dada por edifícios-torre.
A operação Faria Lima sofre críticas por ter mais gastos do Estado do que
da iniciativa privada, além disso o que se vê são obras de fraco interesse social (não é prevista a construção de edifícios públicos e equipamentos de lazer); assistimos obras viárias voltadas para o uso do automóvel; pouco ou nenhum investimento em Habitações de Interesse Social; conselhos gestores que não produzem debates com a população, construção de edifícios empresariais gigantescos e nenhum mecanismo que garanta à população de baixa renda acesso à terra urbanizada posteriormente valorizada. São recursos públicos utilizados não de forma democrática, mas reformas visando o interesse do mercado.
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Figura 14: Programa de investimento previsto pela 4ª reunião do Grupo de Gestão. Julho/2009. Disponível em <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/ secretarias/upload/apresentacao_4_roggoucfl_jul_09_1256244382.pdf>
CONCURSO PÚBLICO NACIONAL RECONVERSÃO URBANA DO LARGO DA BATATA
Em 2001, ainda dentro da Operação Urbana Consorciada Faria Lima, o
Largo da Batata é incorporado ao plano de intervenções e através de um Concurso Público Nacional é escolhido o projeto mais adequado à reconversão da área. Promovido pelo Município de São Paulo e pelo Instituto dos Arquitetos de São Paulo (IAB/SP), o concurso teve como projeto vencedor o elaborado pelo arquiteto Tito Lívio Frascino e seus associados.
O projeto vencedor, segundo a Comissão Julgadora, apresenta o melhor
conjunto de soluções e facilidade de implantação, além de cumprir com os principais objetivos definidos pela municipalidade: criar extensas áreas públicas através de praças ou equipamentos públicos e culturais tendo em vista a retirada dos ônibus da área; promover o interesse da iniciativa privada em empreender no setor e Figura 15: Planta geral da área foco – prancha do projeto vencedor. Disponível
realizar o mínimo de desapropriações. A partir daí enumeram-se as propostas de
em <http://images.slideplayer.com.br/2/351810/slides/slide_3.jpg>
projeto, vistas na imagem ao lado.
Quanto ao viário, o projeto propõe reformar todas as calçadas do perímetro
e enterrar a fiação existente. Seriam construídos calçadões nos trechos das ruas Teodoro Sampaio (entre a Rua Cunha Gago e a Av. Faria Lima) e Pedro Cristi. A ata de julgamento recomenda que seja revista a área pedestrianizada, relativamente excessiva, recuperando a função viária da Rua Teodoro Sampaio.
Percebe-se também por meio do deslocamento do eixo da Avenida Faria
Lima para oeste a criação de uma esplanada totalizando uma extensa área livre. Neste espaço foi inicialmente previsto um Empreendimento Associado (entre a EMURB-PMSP e a iniciativa privada), contendo: estacionamentos no subsolo para 960 veículos; praça comercial (aberta e ajardinada) com serviços, restaurantes e comércio diversificado; torre de serviços; centro de eventos e cultura e auditório público para 750 pessoas. 23
Ainda sobre as propostas do projeto, propunha-se implantar em um edifício
desativado e vazio na Rua Valério de Carvalho diversos postos de atendimento para atender à população. Quanto ao mobiliário urbano o projeto previa dois quiosques: um para bancas de jornal e outro para ambulantes cadastrados, com bancos, lixeiras, caixa dos Correios e telefones, árvores de sombra e iluminação pública.
As imagens à direita mostram como seriam as mudanças no espaço do
Largo da Batata, com a marquise e a grande praça com ligação à estação Faria Lima.
as obras de Reconversão tiveram início em 2007 com previsão de conclusão
em 2010, porém houve atraso na finalização. Um dos motivos para isso foi quando em 2009 o IPHAN suspendeu a obra para investigar a existência de sítios arqueológicos na região, encontrando nas escavações antigos trilhos dos bondes que circulavam por ali. Após esta paralisação houve falta de recursos para a continuidade do projeto devido aos gastos nas obras dos túneis da Avenida Rebouças e Cidade Jardim.
Em 2013, a Prefeitura afirmava que as obras haviam terminado, mas os 29
mil metros quadrados entregues haviam perdido o ar vibrante do passado. Somavase à área de intervenção do projeto vencedor, um grande espaço público vazio separado pela Avenida Faria Lima: em frente à Igreja Monte Serrat dividido em
Figuras 16 e 17: Maquete eletrônica e perspectiva aérea – Autores do projeto.
duas partes pela travessia da Rua Fernão Dias (como aponta a figura 18).
Fonte: PORTAL VITRUVIUS. Concurso Público Nacional Reconversão Urbana do
Tampouco contavam com o centro de eventos no terreno da antiga
Cooperativa Agrícola de Cotia; a praça com cobertura vegetal de araucárias, entre a Avenida Brigadeiro Faria Lima e a Rua Baltazar Carrasco, com plantio da espécie de pinheiro que originou o nome do bairro e a alameda de paus-ferros prometidos no projeto urbanístico. Vazio, sem árvores, bancos, mesas ou qualquer mobiliário urbano que convidasse ao convívio social, o Largo ressurgiu como um espaço de tensão. 24
Largo da Batata. Projetos, São Paulo, ano 02, n. 017., Vitruvius, mar. 2002 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/02.017/2143>.
À sua imensidão e aridez somou-se um contexto de dramáticas transformações
no espaço físico da cidade, marcado por remoções, deslocamentos e especulação imobiliária. Dentre elas está o discurso do Estado e sua política de combate aos vendedores ambulantes como forma de revitalizar a área. Essa situação mostra total descaso com estes trabalhadores, considerados apenas obstáculos aos pedestres. É evidente que eles exercem uma atividade de caráter ilegal, mas o poder público utilizase disto para afirmar que o combate a seu trabalho é feito em nome desse tipo de comércio. No entanto, este mesmo poder poderia regularizar a situação dos comerciantes. Esta seria uma solução extremamente plausível para resolver a questão, no entanto parece que isto não é interessante para o Estado. Por não ser um serviço destinado à elite, mas sim aos transeuntes que por ali passam, ele é fortemente combatido como forma de “limpeza”.
Quanto as demais transformações da área de intervenção ao longo dos anos
que permaneceu em obras, nota-se a mudança do padrão fundiário: diversos Figura 18: Largo da Batata após o término da tão esperada reurbanização:
empreendimentos em construção ou em pré-lançamento num raio de 800 metros do
grandes praças desertas, sem bancos, sem árvores, sem sombras.
Largo da Batata – todos de alto padrão. O que verificamos também é um esvaziamento
Fonte: Google Earth, 2016 (imagem de 2013)
de moradores, com o uso de escritórios sobrepondo o residencial.
Em 2012 víamos que o comércio popular – removido quase que completamente
– resistiu em alguns pontos, passando a ocupar as calçadas da Rua Teodoro Sampaio, apesar da movimentação já não ser a mesma depois da transferência do transporte público para o Terminal Pinheiros. Além disso as demolições e obras de infraestrutura viária só estimularam o uso do automóvel e supervalorizaram os imóveis, substituindo as classes sociais ali presentes e aumentando as desigualdades já existentes na área.
Graduais ou velozes, as mudanças a que assistimos e vivenciamos na região
vêm tentando camuflar ou até apagar muito da história e da memória deste lugar, de seus moradores e trabalhadores. Procura-se analisar na próxima parte deste trabalho, de que maneira as resistências a esse processo buscam reafirmar a importância do Largo e contribuir positivamente para a dinâmica urbana deste espaço alvo de constantes transformações. 25
SITUAÇÃO ATUAL
Os movimentos que se dão hoje no local de estudo, surgem como contestação
ao lugar neutro e vazio entregue pelo poder público em 2013. O intuito dessa parte do trabalho é mostrar como essa área configura-se atualmente, buscando novamente ser popular, ocupada e usada por todos.
O Largo da Batata ganhou destaque nas mídias brasileiras e internacionais
quando em junho de 2013, tornou-se palco para as manifestações e protestos do Movimento Passe Livre (figura 19). Nesse período em São Paulo ocorreram uma série de reivindicações contra o aumento da tarifa de ônibus em vários pontos da cidade. Um dos locais de reunião dos manifestantes foi o Largo: local grande e deserto que possibilitou o encontro e permanência destas pessoas para que de lá seguissem pela Avenida Faria Lima.
Em um segundo momento, os gastos públicos com a Copa do Mundo de
2014 acabaram se tornando pauta para outras manifestações no mesmo local e
Figura 19: Largo da Batata em junho de 2013: 100.000 pessoas nas ruas contra o aumento da tarifa de ônibus. Fonte:<http://vejasp.abril.com.br/materia/protestos-movimento-passelivre-2016>
chegaram a reunir cerca de 15 mil pessoas em maio de 2014.
O uso do Largo da Batata com esta finalidade vem se tornando comum, pois
dá acesso a importantes vias para onde os manifestantes se dirigem, obtendo atenção do poder público e da mídia. Manifestações desse porte costumavam acontecer na Avenida Paulista e ao se deslocarem para a Avenida Faria Lima e Largo da Batata estas ocupações estão confirmando o sentido de centralidade a esta área.
Além desses atos, posteriormente à finalização das obras e intervenções,
um pequeno grupo com cerca de dez participantes passou a atuar fortemente no
Figuras 20 e 21: Ocupações organizadas pelo coletivo A Batata Precisa de
Largo: focado em protestar contra o que a região se tornou e munidos de algumas
Você, registradas durante sextas-feiras de 2014.
cadeiras de praia e guarda-sóis, tornou-se rotineira sua permanência às sextasfeiras. Surgiu assim em janeiro de 2014, o coletivo “A Batata Precisa de Você”, movimento de apropriação que a partir de improvisos e gambiarras transformou o espaço do Largo em um verdadeiro laboratório público a céu aberto. 26
<http://vilamundo.org.br/2014/07/oficina-ensina-a-construir-bancos-para-olargo-da-batata/> <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/14.166/5176>
Organizados online em um grupo aberto no Facebook, os encontros
acontecem todas as sextas-feiras a partir das 18h. A agenda é aberta e tudo é elaborado coletivamente. O intuito do grupo é organizar ocupações regulares no Largo da Batata, criando diferentes eventos para que este espaço seja utilizado pelas pessoas não só como passagem, mas também como permanência.
O grupo segue alguns princípios básicos, frutos de pesquisa na área do
urbanismo tático: ações de curta duração, baixo custo e microescala, realizadas com o objetivo de melhorar uma pequena parte da cidade, qualificando o ambiente Figuras 22 e 23: Cinema ao ar livre e Tensionáveis - arquiteturas efêmeras que
urbano através da participação da população na tomada de decisão das escolhas
experimentam predisposições do local.
feitas para o espaço público. As microintervenções são propositivas e expõem
<https://queminova.catracalivre.com.br/wp-content/uploads/
carências e demandas de quem vive ou passa por esses locais, obtendo resultados
sites/2/2016/03/mosaico1.jpg>
imediatos do potencial e vocação do lugar de acordo com a aceitação ou rejeição
<http://www.bijari.com.br/arquivos/imagens/projeto/galeria/bijari-labcidade-tensionavel-01-n2yx.jpg>
da proposta.
Outro ponto do coletivo é a ativação cultural dos espaços. Através de um
diagnóstico sobre o local é pensado o que seria interessante para o lugar e do que as pessoas sentem falta.
“Muitos dos pontos indicados pelos frequentadores a serem melhorados no
espaço público não são infraestruturais, mas culturais.” (A Batata Precisa de Você: como fazer ocupações regulares no espaço público. Em Issuu. São Paulo: julho de 2015.) Essa afirmação contida no manual do coletivo disponibilizado na internet, só Figuras 24 e 25: Mesa de ping pong instalada no Largo e Festival TIM Music na
confirma o fato que apesar da existência de tantos equipamentos culturais no
Rua realizado em 2014 – Formas distintas de promover o uso e a transformação
entorno do Largo – visto pelo Sesc Pinheiros e Tomie Ohtake, por exemplo –, as
do espaço público através da cultura e lazer. <http://www.hypeness.com.br/wp-content/uploads/2015/09/PingPoint_
pessoas que o frequentam sentem a necessidade deste uso no local. Por isso o
interna.jpg>
grupo insiste no fomento às atividades culturais, esportivas e de lazer regulares,
<http://static.promoview.com.br/uploads/2015/12/images/tim_music_na_
buscando a interação entre cidadão e cidade, gerando respeito e cuidado com o
rua_2014.jpg>
espaço público. 27
A existência de móveis em ambientes públicos é essencial para que um
lugar torne-se confortável e acolhedor, e não apenas um local de passagem. Quando entregue pela prefeitura o Largo da Batata demonstrou o contrário: uma praça deserta sem bancos, árvores ou sombras. A falta de mobiliário urbano em muitos casos não é aleatória, mas pensada justamente para não atrair ocupantes “indesejados”: a ausência de bancos afasta moradores de rua; espaços sem sombras inibem ambulantes e assim por diante.
O coletivo coloca-se como uma alternativa à essa visão, dialogando com a
população de rua, os moradores do entorno e os curiosos que passam apressados com destino ao metrô. Através da criação de protótipos de mobiliários urbanos e sua instalação, um uso para o lugar é criado e com o fluxo de pessoas, esses itens têm seus “vigilantes” em forma de vivacidade no espaço público.
Desta forma esboça-se uma estratégia para entender os usos e dinâmicas do
lugar pois a atuação dos mobiliários dão a resposta se estes atenderam aos desejos da comunidade que usa o espaço. Aos poucos, com as novas peças espalhadas pelo Largo, as pessoas passam a notar que um espaço, antes vazio, possui potencial para ser ocupado e preservado.
Além da prototipagem dos mobiliários fabricados de forma colaborativa
por meio de oficinas, organizou-se um concurso em setembro de 2015, realizado pelo BatataLab e patrocinado pelo Ipiu (Instituto de Pesquisa e Inovação em Urbanismo), a fim de selecionar mobiliários urbanos que instiguem a convivência e o conforto. O resultado construído e instalado no Largo pode ser acompanhado nas imagens da página ao lado (figuras 28, 29 e 30).
Figura 26 e 27: Jardim sustentável e mobiliário urbano feito com pallets – instalações temporárias que mostram diferentes possibilidades de uso do local. <http://morarkallas.com.br/index.php/2014/09/jardim-sustentavel-revitaliza-olargo-da-batata-em-sao-paulo/> <http://tab.uol.com.br/design-cidade/>
28
Após dois anos desde o início da atuação do coletivo “A Batata Precisa de
Você”, é perceptível que não é mais só nas sextas-feiras que o Largo da Batata ganha movimento: é utilizado em outros dias da semana para atrações culturais e de lazer por outros grupos de pessoas. Aos poucos, foi se tornando um centro cultural público, construído coletivamente e auto-organizado.
Desta forma, o estudo dessas e outras ações no local são de extrema
pertinência para este trabalho, uma vez que todas experiências testadas desde 2013, serviram como um termômetro do que funciona nesse espaço e assim são objeto de análise e investigação de que tipo de projeto arquitetônico tem identidade e vem a se enquadrar em um lugar tão marcado pela diversidade como o Largo da Batata é hoje.
Figuras 28, 29 e 30 (à esquerda): Os vencedores do concurso de mobiliário urbano para o Largo da Batata onde três projetos foram premiados: um mobiliário de conforto (Rematéria), com bancos, sombra e jardim; um mobiliário lúdico (Ilha), espaço múltiplo que reúne cinco equipamentos para crianças; e o mobiliário de sombra (Trançado), um módulo formado por uma sequência de pórticos estruturados em metal, com bancos e cobertos por um trançado de cordas coloridas. Disponível em: <https://raphaelfranco.com/portfolio/batatalab-2015/> <http://projetodraft.com/para-o-ere-lab-a-ocupacao-do-espaco-publico-tem-que-ser-assunto-decrianca/> <http://www.evolo.us/architecture/woven-urban-pavilion-in-sao-paulo/> 29
1560-1900
Primeiras ocupações pelos indígenas, passando pela chegada dos jesuítas e marcando a fundação do bairro em 1560. Por volta de 1710, o Largo passa a ser um importante entreposto comercial, de extrema relevância histórica para o Brasil e, em especial, para a capital paulista. Para quem vinha da Sé o Largo era a última centralidade urbana, junto com o Largo de Pinheiros, antes de se cruzar a única ponte em direção ao interior do país, fazendo dele parada natural de tropeiros e bandeirantes.
1910-1950
A inauguração do Mercado Caipira (1910) e a Cooperativa Agrícola de Cotia (1928) tornam o local reconhecido como o
“Largo da Batata”, um reconhecido centro de comércio, comandado por imigrantes japoneses, que vendiam batatas. Na década de 1930, assume importância histórica nos meios de transporte em São Paulo, ao receber bondes elétricos, que ligavam o bairro ao centro da cidade. De 1927 à 1943 são realizadas obras de retificaçao do rio Pinheiros e as várzeas foram ocupadas por sobrados e pequenos prédios, com usos diversos – habitação, comércio e serviços. A partir dos anos 50, muitas linhas de ônibus circulam e partem do local, e a região torna-se um importante ponto de baldeação, articulando periferias ao centro. 30
No ano de 1968, dá-se início às desapropriações de imóveis para a abertura da Avenida Faria Lima - um alargamento da Rua Iguatemi –, fato que altera a paisagem da região extinguindo o antigo Mercado dos Caipiras (demolido e transferido para o CEASA) dando lugar ao Terminal de Pinheiros. Tal realocação construído o Mercado Municipal de Pinheiros como conhecemos hoje.
LINHA DO TEMPO
ressignificou o lugar, tornando-o cada vez mais um ponto modal de transporte da população. Em 1971 é
*Fontes das imagens vide Referências Bibliográficas.
1960-1990
1990-2016
Em 1995 é lançada pela Prefeitura Municipal a Operação Urbana Faria Lima, que transformaria toda a área no entorno do Largo da Batata. A Operação visou intervenções da Av. Pedroso de Morais até a Av. Eng. Luís Carlos Berrini. Em 2001, o Largo da Batata foi incorporado à Operação e sua reconversão foi responsável pela remoção de diversas edificações, incluindo o terminal de ônibus, transferido para a Marginal Pinheiros. As obras foram finalizadas em 2013 e o Largo da Batata foi entregue junto com a estação de metrô Faria Lima, vazio e sem mobiliários. Em junho do mesmo ano o local é palco das manifestações contra o aumento da tarifa de ônibus e a partir de janeiro de 2014, alvo de coletivos e movimentos que buscam transformar o Largo em um espaço de permanência. 31
2.2. LEITURA E APROXIMAÇÕES AO LUGAR LEGENDA EQUIPAMENTOS
O entorno do Largo da Batata é bem servido de equipamentos culturais e de
lazer, sendo os mais próximos o Mercado Municipal de Pinheiros, Sesc Pinheiros, Centro Brasileiro Britânico e Instituto Tomie Ohtake. Mesmo com tantas opções voltadas à cultura nas proximidades da área de estudo, ainda assim há uma movimentação no Largo (organizada pelos coletivos e apropriada por quem ali passa) com intuito da ativação deste espaço através de ocupações regulares com atividades gratuitas e diversas, dentre elas apresentações musicais, jogos e esportes, oficinas, sessões de ioga e alongamento, karaokê, cinema e debates; estimulando a sociabilidade e o uso neste local.
1
BIBLIOTECA ALCEU DE AMOROSO LIMA
2
PRAÇA BENEDITO CALIXTO
3
INSTITUTO TOMIE OHTAKE
4
PRAÇA VICTOR CIVITA
5
CENTRO BRASILEIRO BRITÂNICO
6
MERCADO MUNICIPAL DE PINHEIROS
7
SESC PINHEIROS
8
SHOPPING ELDORADO
9
JOCKEY CLUB DE SÃO PAULO
10
SHOPPING IGUATEMI
11
MUBE/MIS
TERRENO 32
1
2
3
4
5 6
7
8 11
10 9 33
LEGENDA
USOS DO SOLO
A região como um todo apresenta usos diversificados com residências
concentradas em direção ao Alto de Pinheiros e comércios, serviços e uso misto nas proximidades do Largo da Batata. A existência de muitos imóveis disponíveis para a locação (marcado pela legenda marrom), mostra uma realidade comum nessa área: seja pelos altos preços praticados pelo mercado, seja pela dificuldade em manter negócios pequenos, grande parte dos moradores e comerciantes da área acaba por sair de Pinheiros e optar por bairros com o metro quadrado menos valorizado. Os estacionamentos também aparecem como alvo da transformação deste lugar, uma vez que o mercado imobiliário e as construtoras visam as últimas áreas remanescentes, não verticalizadas.
RESIDENCIAL MISTO (TÉRREO COMERCIAL + RESIDENCIAL) COMÉRCIO SERVIÇO INSTITUCIONAL SEM USO/ ALUGA-SE / VENDE-SE / ABANDONADO EM OBRA/ EM CONSTRUÇÃO ESTACIONAMENTO TERRENO
34
35
LEGENDA GABARITOS
A planta de gabarito permite analisar a predominância na área de
edificações com até 3 pavimentos. Percebemos também pelo tom mais escuro da legenda, alguns edifícios que contribuem para a verticalização da área divididos em dois usos: próximos à Faria Lima e Teodoro Sampaio com uso destinado à serviços (uma continuidade natural aos edifícios empresariais que ladeiam a Avenida); à noroeste e leste do mapa com uso residencial caracterizado por torres de alto padrão.
TÉRREO TÉRREO + 1 TÉRREO + 2 TÉRREO + 3 TÉRREO + 4 OU MAIS TERRENO
36
37
LEGENDA FLUXOS
Através das informações cruzadas entre os levantamentos feitos pelo “A
FLUXO DE PEDESTRES
Batata Precisa de Você” e também a partir dos dados observados nas visitas a campo, observa-se que a maior parte do fluxo de pedestres nas saídas do metrô,
SAÍDA DE METRÔ
tem destino à Avenida Brigadeiro Faria Lima por conta dos empregos e serviços nessa área. No entanto outros fluxos se desenham, como o voltado ao comércio da
PONTO DE ÔNIBUS
Teodoro Sampaio e sua continuação pela Rua Pais Leme com destino ao Terminal Pinheiros. Outros eixos são observados como distribuição para os pontos de ônibus intermunicipais nas redondezas da Faria Lima que tem como principais destinos Osasco, Embu, Carapicuíba e Cotia.
38
TERRENO
39
LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO
[ TERRENO ]
2 3
1
4 5 6
9
7 8 40
1
2
3
4
5
6
7
8
9
LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO
[ TERRENO: VISTA SUPERIOR ]
Figura 31: Terreno visto do edifício TEOEMP. Fonte: Skyscrapercity. Disponível em: < http://migre.me/tTpM4 >
Figura 32: Terreno visto do edifício do CREA. Fonte: Figura 33: Terreno visto do edifício TEOEMP.Fonte:
42
Gazeta de Pinheiros. Disponível em:
ANTP.org. Disponível em:
< http://migre.me/tTpxZ>
<http://migre.me/tTptw>
Figura 34: Terreno visto do edifício do CREA. Fonte: Skyscrapercity. Disponível em: <http://migre.me/tTprv>
LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO
[ ENTORNO ]
Figura 35: Bares no entorno geram fachada ativa e garantem a vida noturna do local. Fonte:
Figura 37: Vista do Mercado para o terreno (tapumes verdes). Em 2006, foi construído
CALLIARI, Mauro. Um fim de semana no Largo da Batata. Minha Cidade, São Paulo, ano 16,
um deck dispondo de mesas ao ar livre no segundo andar. Propõe-se que os terraços do
n.
projeto estejam no mesmo nível do deck dialogando com o mercado. Fonte: Tripadvisor.
182.08,
Vitruvius,
set.
2015
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/
minhacidade/16.182/5722>.
Disponível em: <http://migre.me/tTwjk>
Figura 36: Estação Bike (próxima a saída do metrô) indica um elemento a ser mantido no local
Figura 38: Igreja Nossa Senhora do Monte Serrat ao fundo e sua relação com o Largo
por sua utilidade: possui aluguel de bicicletas, bebedouro e floricultura. Fonte: Vá de bike.
da Batata. Foto do arraial de rua tirada e junho de 2014.
Disponível em: <http://migre.me/tTwSx>
Fonte: Muller Camacho. Disponível em: <http://migre.me/tUYWe >
43
3. ESTUDOS DE CASO 3.1 Centro Cultural Gabriela Mistral 3.2 Ampliação do Centro de Arte Reina Sofia
3.1. CENTRO CULTURAL GABRIELA MISTRAL, CHILE
Localizado em Santiago no Chile, o projeto do escritório Cristián Fernández
Arquitectos Lateral arquitectura & diseño baseia-se em um Centro Cultural destinado à artes e música.
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO PARA ARTES CÊNICAS E MÚSICA (BIBLIOTECA)
SALAS DE FORMAÇÃO DE ARTES CÊNICAS E MÚSICA (SALAS DE ENSAIO, MUSEUS E EXPOSIÇÃO)
O projeto tem como partido a conexão urbana e para isso organiza sua
implantação em três volumes que contêm e representam as três áreas do programa principal: Centro de Documentação para as Artes Cênicas e Música (Biblioteca), Salas de Formação de Artes Cênicas e Música (salas de ensaio, Museus e exposição) e a Grande Sala de Concertos (Teatro para 2.000 pessoas). O projeto abre-se para a comunidade através de um programa comunitário.
Com o programa dividido em blocos separados surgem espaços de transição
entre os edifícios, denominados de praças: novos espaços públicos de qualidade, cobertos e equipados responsáveis pela articulação dos três setores do projeto.
Sobre tudo isso é projetada uma grande cobertura de dimensões monumentais
Figura 39: divisão do programa em três blocos. Fonte: Archdaily.
para distribuir as salas e instalar abaixo dela os blocos com os programas.
A escolha deste projeto como estudo de cado dá-se principalmente pela
maneira como trata as praças internas como espaços articuladores e como se dá a relação da grande cobertura delimitadora e os três blocos.
Figura 40: cobertura que articula os blocos e praças. Fonte: Blog Saquelateral. 46
GRANDE SALA DE CONCERTOS
Figuras 41, 42 e 43: Imagens do projeto. Fonte: Archdaily. 47
3.2. AMPLIAÇÃO DO CENTRO DE ARTE REINA SOFIA, ESPANHA
Localizado em Madri o projeto do arquiteto Jean Nouvel para a ampliação
do museu Reina Sofia foi escolhido para análise devido as semelhanças entre o programa proposto e a forma como a cobertura dialoga com os blocos, muitas vezes através de terraços que enxergam o pátio interno.
3
2
4
O projeto é marcado por três edifícios que se organizam em torno de um
pátio. Cada um deles tem uma função diferente: o primeiro, ao sul, é o da biblioteca; o segundo, a oeste, é o auditório, da sala de eventos, do bar e do restaurante; o terceiro, ao norte, é o das exposições temporárias, o único diretamente conectado ao museu original. Acima de alguns desses blocos acontecem escritórios.
Todo edifícios terminam em terraços, públicos ou pertencentes aos escritórios.
1
Acima desses terraços uma cobertura espessa na cor vermelha delimita o fim dos edifícios e oferece luz variável no térreo dada pelas aberturas zenitais.
Figura 45: Divisão dos programas em três blocos. Fonte: Archivo Clarin Arquitectura. 1. BIBLIOTECA 2. AUDITÓRIO/ RESTAURANTE/ BAR 3. SALAS DE EXPOSIÇÃO TEMPORÁRIAS Figura 44: Maquete eletrônica do anexo ao museu Reina Sofia. Fonte: Site do museu nacional Reina Sofia. 48
4. ACESSO 5. MUSEU EXISTENTE
5
Figuras 46, 47 e 48: Imagens do projeto. Fotos: Rui Nunes. 49
4. PROJETOS DE REFERÊNCIA 4.1 Erzsebet Tér 4.2 Ladeira da Barroquinha 4.3 Centro Cultural Vergueiro 4.4 MAXXI Museu 4.5 Auditório do Ibirapuera 4.6 New World Symphony
4.1. ERZSEBET TÉR - BUDAPESTE, HUNGRIA
Ersebet Tér é uma praça localizada na cidade de Budapeste. Neste local
havia um plano para se construir o Teatro Nacional, que abandonado durante as obras acabou deixando um grande poço de construção durante anos, situação muito semelhante ao terreno escolhido no Largo da Batata: um enorme “buraco” deixado na etapa das fundações que encontra-se parado até os dias de hoje.
Esquecido desde 1998, em 2012 a praça ganhava um novo projeto no
lugar onde antes era o poço abandonado: escadarias levam o usuário à um clube marcado por diversos programas que vão de shows de rock à aulas de dança, além dos bares e restaurantes que dão vida noturna ao local.
Observa-se nesse projeto como foram resolvidas as escadarias, que além
da transposição entre os níveis, conseguem gerar espaços dinâmicos de permanência,
Figura 50: Situação como foi deixado o local das construções durante anos: um grande poço abandonado. Fonte: Thomas Kieselbach. Disponível em:<http:// egykor.hu/images/2010/original/budapest-erzsebet-teri-godor.jpg>
com mesas e árvores que sombreiam o local.
Figura 49: O mesmo local nos dias de hoje: uma grande escadaria guia os usuários ao clube, bares e restaurantes que ocupam o subsolo (cobertos pelo espelho dágua como mostra a foto). Disponível em:https://i.ytimg.com/vi/FwhWZcJWfqU/maxresdefault.jpg 52
Figura 51: Detalhe da escadaria e dos espaços de estar que gera através dos grandes patamares. Fonte: BeBudapest. Disponível em: http://migre.me/tTMxg
4.2. LADEIRA DA BARROQUINHA - SALVADOR, BAHIA
O projeto elaborado pelo escritório Metro Arquitetos
Associados, foi escolhido como referência também por conta das escadarias: ele aproveita a morfologia do terreno que acompanha os desníveis e cria plataformas em concordância com a inclinação da rua. O resultado é um desenho orgânico, que conduz o público por dois tipos de fluxos: mais rápido para quem quer seguir direto, sem perder tempo; e o tipo que quer frequentar o comércio de couro artesanal - este, com outro tempo.
Figuras 52, 53 e 54: Fotos do local. Fonte: Archdaily. Disponível em: <http://migre.me/tTPDC>
53
4.3. CENTRO CULTURAL VERGUEIRO, SÃO PAULO
O prédio tem uma grandiosidade em forma horizontal: suas entradas e
grandes planos inclinados convidam qualquer um a entrar e aproveitar suas opções de entretenimento. Escolhe-se esse projeto por seu interior cortado por passarelas que dão acesso aos pisos e criam um ambiente que amarra os diferentes níveis. Assim, exploraram rampas e escadas a fim de criar vários caminhos possíveis para o visitante cruzar os pavimentos do centro.
Busca-se analisar as rampas desse edifício pois o projeto proposto para o
TFG propõe ligar os diferentes blocos por meio de passarelas e escadas rolantes.
Figura 55: Rampas dão idéia da dimensão deste espaço. Fonte: O que vi do mundo.com Disponível em: < http://migre.me/tTQ6B > 54
Figura 56: As rampas de acesso cruzam o vão central do prédio e conduzem os visitantes aos outros pisos. Fonte: Casa Abril. Disponível em: < http://migre.me/tTPZj >
4.4. MAXXI MUSEU - ROMA, ITÁLIA
Outro projeto pesquisado por conta das passarelas em seu
interior, o museu do século XXI projetado pela arquiteta Zaha Hadid deixa visível logo na recepção, através das escadas pretas suspensas, a maneira como os fluxos e caminhos se sobrepõem e se conectam a fim de criar um espaço dinâmico e interativo.
As escadas e o sistema linear de iluminação guiam os
visitantes pelo passeio interior dando continuidade aos espaços expositivos por um percurso de suaves curvas.
Figura 58: As escadas garantem não só o percurso como direcionam a vista do visitante Fonte: Archdaily. Disponível em: < http://migre.me/tTPdg>
Figura 57: Escadas vistas do hall de informações que recepciona o museu. Fonte:
Figura 59: As escadas conformam uma intrincada rede de percursos em direção às galerias. Fonte:
Huftow+Crow. Em: <http://migre.me/tTNXz>
Bol notícias. Disponível em: <http://migre.me/tTPen> 55
4.5. AUDITÓRIO DO IBIRAPUERA, SÃO PAULO
Concebido por Oscar Niemeyer, o Auditório Ibirapuera foi inaugurado em
outubro de 2005. No prédio funciona um auditório com 800 lugares e uma escola de música com 120 jovens e crianças que formam a Orquestra Brasileira de Escola do Auditório.
Um diferencial do projeto é o palco reversível para shows no auditório
interno e ao ar livre. O palco abre-se assim para uma praça externa através de uma porta com tratamento acústico, permitindo que os espetáculos sejam voltados não só para a parte coberta como também o gramado à céu aberto.
No projeto proposto, é pensado um auditório para aproximadamente 500
pessoas onde haja a possibilidade de se abrir para o grande descampado do Largo da Batata: para exibições artísticas, projeções na fachada ou cinema ao ar
56
livre, o auditório dará suporte às manifestações e shows que já ocorrem no local.
Figura 61: Exibição do filme Metropolis com acompanhamento da trilha sonora
Figura 60: Apresentação da Orquestra Sinfônica Municipal na parte externa do parque.Fonte: Parque
Figura 62: Vista do auditório para o palco externo.
Ibirapuera. Disponível em: < http://migre.me/tTRzz >
Fonte: Itaú Cultural. Disponível em: http://migre.me/tTRCF
ao vivo. Disponível em: http://migre.me/tTRC2
4.6. NEW WORLD SYMPHONY - MIAMI, ESTADOS UNIDOS
Além de ser um centro para formação de músicos e abrigar
uma grande sala de concertos, este projeto do arquiteto Frank Gehry cumpre a função de levar cultura para alem do prédio: as imensas paredes brancas - 650m² de fachada cega - servem como um painel de projeções.
Uma vez ao mês, projetam concertos na área externa, com
entrada gratuita. Também são projetados filmes e o lugar vira uma espécie de cinema ao ar livre.
Serve assim como referência pela maneira como dá uso à
fachada cega através das projeções e pela permanência gerada no espaço externo, que se transforma em uma grande platéia ao ar livre.
Figura 64: Exibição de concerto na área externa que se transforma em um grande palco aberto. Fonte: WhereTraveler. Disponível em: < http://migre.me/tU30s >
Figura 65: A grande empena cega ao lado da fachada envidraçada é utilizada como painel para Figura 63: As projeções se dão através de um equipamento fixo em um mobiliário
exibições. Fonte: Buildipedia. Disponível em: http://buildipedia.com/aec-pros/featured-architecture/
do parque. Fonte: Buildipedia. Disponível em: http://migre.me/tU2Yp
new-world-symphony-and-miami-beach-soundscape 57
5. PROJETO 5.1 Tema 5.2 Partido/ Diretrizes gerais Eixo Igreja-Mercado Conexão Largo Cobertura Potencial do Largo
5.3 Legislação urbanística 5.4 Estudo preliminar 5.5 Programa/ Quadro de áreas 5.6 Diagramas 5.7 Memorial 5.8 Espaço Cultural Largo da Batata
5.1. TEMA
O tema não surge de imediato, mas constrói-se. Inicia-se a partir da escolha do
lugar unida à uma inquietação quanto a esta centralidade da cidade: o Largo da Batata. A primeira vista o que nota-se nessa região é a grandeza do lugar, do espaço. Olhando com mais cuidado alguns elementos não parecem pertencer ao local e por alguma razão atrapalham essa sua característica de grandeza. De um lado do Largo, uma grande área cercada por tapumes – o antigo terreno da Cooperativa Agrícola de Cotia e local escolhido para o estudo – cujas obras foram paralisadas na etapa de fundação. Do outro, elementos circulares, o novo bicicletário e os mobiliários improvisados feitos de pallet tentam transformar esse lugar mas nota-se que falta uma unidade. Com essa primeira impressão percebe-se que o Largo está desfigurado, e com elementos que não compõe o espaço harmoniosamente com as suas vastas dimensões.
Figura 66: De um lado, o terreno escolhido, abandonado na fundação.
Fonte: Photobucket. Disponível em: <http://i1375.photobucket.com/
A segunda impressão é de um constante fluxo durante boa parte do dia. Fluxo de
carros que utilizam a Avenida Faria Lima e fluxo de pedestres que utilizam o Largo como
albums/ag455/faguido1/image2_zps01183a3d.jpg>
passagem de diversas maneiras. As grandes proporções do Largo permitem esse fluxo constante com um número avantajado de pedestres, mas não lhes oferece a permanência no local, pois não encontramos elementos que permitam permanecer nesse espaço. Apesar dos mobiliários improvisados, faltam espaços abrigados, árvores ou equipamentos públicos que assegurem a estada confortável de quem circula por ali. Esse estado de permanência acaba sendo assegurado por alguns locais comerciais como bares e lojas que existem em seu entorno, que conseguem atrair alguns trauseuntes. Esse é o Largo da Batata atualmente.
Assim, algumas problemáticas do local se delineiam: a ausência de um projeto
urbanístico e mobiliário urbano que seja adequado a proporção do espaço do Largo, que contemple um desenho harmonioso com a sua forma, que dialogue com o entorno, o bairro e com as características do local e sua história, e que apresente boas soluções com os elementos ali presentes como a estação de metrô, os pontos de ônibus existentes e locais de importância histórica, como o Mercado de Pinheiros e a Igreja Nossa Senhora do Monte Serrat. 60
Figura 67: Do outro lado, elementos que destoam da escala do lugar. Fonte: Gazeta de Pinheiros. Disponível em: http://gazetadepinheiros.com.br/uploads/Opero_Urbana_Faria_Lima_ grupo1.jpg
Através das investigações, nota-se uma grande quantidade de apropriações
do espaço através de eventos culturais, define-se então um programa para o projeto, um centro cultural: um espaço arquitetônico público e aberto à cidade, capaz de gerar interação, permanência e convívio através de sombras e áreas de aconchego, fomentando um pedaço da cidade que hoje se constitui como lugar de passagem e “vazio urbano”, em lugar de estar que possa agregar as pessoas oferecendo espaço para debates, apresentações musicais, cinema ao ar livre, oficinas, saraus e festas; trazendo vivacidade e identificação. Engloba assim um auditório com palco reversível, midiateca/livraria, praça coberta para apresentações, além de serviços de apoio como cafés, restaurantes e administração.
Devido à localização estratégica em um ponto visado comercialmente,
localizado em área de operação urbana e bem servido de infraestruturas urbanas, buscou-se a leitura deste terreno afim de aproveitar ao máximo seu alto potencial construtivo. Para isso, ao bloco cultural soma-se um bloco de serviços na tipologia de torre, destinada ao uso de escritórios - uso já predominante na região.
Unido a esses dois blocos, busca-se criar uma transposição do Largo da
Batata através de uma ligação subterrânea que conecta os dois lados e se integra ao metrô. Esse percurso do subsolo é marcado por um corredor com exposição permanente contando a história do lugar e um espaço de comércio – uma releitura à uma característica histórica do Largo. De um lado, as saídas do metrô levam o usuário para dentro da grande praça coberta de eventos dentro do empreendimento; do outro, em frente à Igreja, grandes escadarias com espaços de permanência guiam o pedestre para o nível da avenida com vista direcionada para a Igreja Figura 68 e 69: Dentre alguns eventos que o Largo abrigou: campeonato de skate
Nossa Senhora do Monte Serrat.
(acima) e carnaval de rua (abaixo).
Fonte: Skateaholic e Carnaval.ig.
Batata” remete às intenções da arquitetura proposta: CONEXÃO pela transposição
Disponível em: <http://www.skataholic.com.br/wp-content/uploads/2016/01/ Drone_02-800x450.jpg>
O título “Conexão, memória e permanência|Espaço cultural Largo da
e continuação do Largo dividido pela Avenida Faria Lima; MEMÓRIA pelos elementos
<http://i0.statig.com.br/bancodeimagens/0k/f7/
que retomam a história do Largo da Batata; PERMANÊNCIA pela proposta de um
bg/0kf7bgfxfvkgxl9qr47pu5iwv.jpg>.
equipamento capaz de dar uso e unidade a este lugar de passagem. 61
5.2. PARTIDO/ DIRETRIZES GERAIS
A idealização do projeto surge a partir da leitura do espaço, análise das
problemáticas e busca por soluções a essas questões. Desta forma, o partido se apoia em quatro diretrizes gerais determinantes à conformação do projeto:
EIXO IGREJA-MERCADO
Desde o início das investigações percebe-se a importância de dois edifícios
substanciais para o local: a Igreja Nossa Senhora do Monte Serrat e o Mercado Municipal de Pinheiros. Pretende-se assim que a arquitetura proposta seja conectora desse eixo conformado pelas duas edificações, dando continuidade a esses elementos de identidade local e referência visual na paisagem do Largo.
CONEXÃO DO LARGO
Outra questão latente que surge das análises é o fato da Avenida Brigadeiro
Faria Lima determinar uma barreira que divide o Largo da Batata em duas grandes áreas desertas. Esse obstáculo muito prejudica a qualidade deste espaço, que se conectado poderia apresentar outras potencialidades. A partir disso, pensa-se em uma transposição que contemple e priorize pedestres, ciclistas e outros modais ativos (skate, patins, etc.). Visto que o viário da avenida se destina em sua grande maioria aos veículos, buscou-se o subsolo para abrigar os passeios e a conexão proposta.
Assim foi explorado como partido do projeto, espaços rebaixados a fim de
conectar os dois lados do Largo interrompidos pela passagem da avenida, procurando resolver também as saídas do metrô (que foram realocadas, porém próximas de onde estão atualmente), interligadas à transposição proposta. 62
COBERTURA
Após diversas passagens pelo local de estudo chega-se à conclusão que o
principal elemento que falta de imediato a praça é a sombra. A fim de criar um largo mais agradável à escala do pedestre, que pudesse desviá-lo de seus fluxos rotineiros e aproximá-lo da vivência do espaço público, é pensada uma cobertura leve e unificadora com vãos de iluminação alternados com partes vedadas, visando atender às condições de conforto térmico natural. Abaixo deste grande abrigo, há uma praça articuladora onde imagina-se um espaço a ser apropriado pela população com manifestações, espaços lúdicos, feiras, atividades culturais, apresentações, etc. O bloco cultural é separado da torre de serviços através da cobertura que divide os dois programas e estende sua presença até a calçada, prolongando sua dimensão e estabelecendo um percurso de transição entre a rua e Figura 70: Estudo realizado por alunos da Escola da Cidade.
o espaço cultural.
Fotos Estúdio Vertical, Escola da Cidade
POTENCIAL DO LARGO
O caráter popular do Largo da Batata é uma característica predominante do
local, dessa forma o projeto propõe a reafirmação dessa cultura popular, por meio da criação de um espaço democrático no Largo, que abrace diferentes eventos, classes sociais e programas, cujos se dão a partir da criação de um espaço livre para feiras e qualquer tipo de evento. Define-se assim o programa, articulado às novas dinâmicas do lugar, de forma que o novo projeto a ser inserido dê estrutura, continuidade e suporte às manifestações culturais e informais que aí ocorrem. A amplitude do espaço proposto e os vazios garantem o caráter civil apontado. Dessa forma, as palavras de Jean Nouvel a respeito de novas arquiteturas propostas em locais com dinânicas próprias consolidadas, condizem ao contexto do local de estudo: Figura 71: Manifestação e a proximidade com o terreno escolhido.Disponível em: <http://s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2013/06/17/age20130617227. jpg>
“Um edifício contemporâneo num lugar ou projeto existente é bem sucedido
na medida em que ele é capaz de melhorar o seu entorno e ao mesmo tempo revalorizar o meio no qual está inserido”.
63
5.3. LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA
A área de estudo encontra-se inserida no
perímetro da Operação Urbana Consorciada Faria Lima, como mostra o mapa ao lado de Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana do Plano Diretor Estratégico. Sendo assim, segundo a Lei Nº 13.769, de 26 de janeiro de 2004 que institui a Operação Urbana Consorciada Faria Lima, temos: CAPÍTULO II OBJETIVOS E DIRETRIZES Art. 5º - A Operação Urbana Consorciada Faria Lima tem como diretrizes urbanísticas: VI - estímulo ao remembramento de lotes de uma mesma quadra e ao adensamento, sem prejuízo da qualidade ambiental, respeitado o coeficiente de aproveitamento máximo de 4,0 (quatro); VIII - incentivo a usos diferenciados nas áreas contidas no perímetro da Operação Urbana, com ocupação do Figura 72: Mapa 02 - A: Setores da Macroárea de Estruturação Metropolitana. Fonte: Plano Diretor Estratégico de São Paulo 2015.
64
pavimento térreo para fins comerciais até o máximo de 70% (setenta por cento) da área do lote;
CAPÍTULO V
Com isso, adotou-se os seguintes parâmetros:
COEFICIENTE DE APROVEITAMENTO MÁXIMO = 4;
TAXA DE OCUPAÇÃO MÁXIMA = 70%
TAXA DE PERMEABILIDADE MÍNIMA = 15%
INCENTIVOS E CONTRAPARTIDA Art. 13 - Os proprietários de imóveis não desapropriados e contidos no interior do perímetro da presente operação poderão usufruir dos seguintes incentivos: III - para qualquer lote com área superior a 1.000 m² (mil metros quadrados), será concedido, de forma onerosa, o aumento do potencial construtivo do lote, estabelecido na legislação vigente de uso e ocupação do solo, acrescido, quando for o caso, dos incentivos do inciso I deste artigo, até atingir o índice
máximo de 4 (quatro) vezes sua área, atendidas as demais exigências da legislação vigente e as disposições estabelecidas nesta lei;
65
5.4. ESTUDO PRELIMINAR
O estudo preliminar apresentado no primeiro semestre tinha como
objetivo apontar as principais diretrizes que estruturariam o projeto. A proposta parte da análise dos possíveis fluxos que existiriam dentro do terreno atrelado ao programa de necessidades que viria a ser implantado.
Ao longo da pesquisa, notam-se potencialidades e fragilidades no
Largo da Batata e é desta forma que o programa começa a ser definido. Após análise de diversos eventos temporários que este espaço abrigou e que funcionaram neste lugar, percebe-se o caráter do Largo e define-se assim o programa de um Centro Cultural e uma torre de serviços. Uma cobertura que solucionaria o problema da falta de espaços sombreados, faria a separação do bloco cultural do bloco de serviços.
A avaliação da banca intermediária e os comentários expostos,
possibilitaram uma visão amplificada a respeito da situação gerada pela primeira proposta. Em relação aos pontos a serem reavaliados, observou-
Figura 73: Primeiras investigação dos fluxos e implantação.
se que a cobertura ocupava um espaço muito grande da área do terreno e as aberturas zenitais não seriam suficientes para gerar um espaço qualificado no interior do conjunto. Outro comentário foi em relação a implantação do bloco do auditório, que em parte apoiado no térreo, bloqueava um fluxo importante neste pavimento. O bloco mais próximo ao Mercado Municipal de Pinheiros e a maneira como estava projetado (um volume muito fechado), acabava por isolar o Mercado do projeto e do Largo da Batata.
Levando em consideração estes apontamentos, buscou-se uma
revisão da implantação do programa, trazendo um novo conceito para a disposição dos blocos e a cobertura foi repensada como algo mais leve de modo a qualificar este espaço com iluminação natural e sombreamento. 66
Figura 74: Perspectiva do Estudo Preliminar do primeiro semestre.
Figura 75: Cortes programáticos elaborados para estudar as relações entre os espaços dos edifícios. 67
5.5. PROGRAMA/QUADRO DE ÁREAS AMBIENTE
Transposição
Livraria Estacionamento
AMBIENTE
SUBSOLO ATIVIDADES DO AMBIENTE Acesso ao metrô; ligação dos dois lados do Largo da Batata; exposição permanente com a história do lugar; espaço internet livre 206 vagas TÉRREO ATIVIDADES DO AMBIENTE
OBSERVAÇÕES
área pública
ligado a torre de escritórios
OBSERVAÇÕES
930,41 5245,7
ÁREA
Espaço multiuso para eventos de caráter temporário como feiras de sombreamento feito por artesanato, performances, eventos cobertura que delimita o bloco cultural de arte e saraus/ faz a conexão dos blocos
3500
Café
próximo à saída do metrô (esquina Teodoro x Faria Lima)
218,16
Livraria
próximo ao café/ dá acesso à midiateca
362
Praça coberta
Hall de acesso à torre
68
ÁREA
334,93
Apoio funcionários Guarita Carga e descarga Depósito Banheiros
acesso pela rua do Mercado
Restaurante
área total com cozinha e apoios
39,32 14,42 50 57,17 80,67 477
Áreas Gerais do Projeto Área do Terreno (m²) 9064,62 CA máximo permitido (4) 36258,48 TO máximo permitido (70%)
6345,234
AP mínima exigida (15%)
1359,693
AMBIENTE Midiateca
1º PAVIMENTO ATIVIDADES DO AMBIENTE mídias impressas e audiovisuais
OBSERVAÇÕES
ÁREA 898,65
Passarelas
acesso ao auditório e articulação entre os espaços do 1º pavimento
1640,2
Salas workshop/palestras/ oficinas
salas moduláveis para ateliers e oficinas
1191,3
AMBIENTE Terraços Auditório
AMBIENTE Salas de conferência
AMBIENTE Escritórios
ÁREA TOTAL
2º PAVIMENTO ATIVIDADES DO AMBIENTE OBSERVAÇÕES espaço com áreas de convívio, áreas avarandadas que exposições, lúdico e bares enxergam o pátio interno e o voltados ao Largo (levando em entorno conta a vida noturna do bairro). 600 lugares COBERTURA ATIVIDADES DO AMBIENTE OBSERVAÇÕES Salas moduláveis para workshops Uso ligado à torre corporativa e conferências TORRE ATIVIDADES DO AMBIENTE
OBSERVAÇÕES área do pavimento=1166,29m² x 13 pav.
ÁREA 3000 1209
ÁREA 1806
ÁREA 15162
36217
69
5.6. DIAGRAMAS
A implantação se dá através da análise dos
De modo a priorizar a travessia da quadra,
Chega-se assim aos 3 blocos onde estão
fluxos e eixos existentes no entorno imediato
as volumetrias dos blocos e suas posições
divididos o programa do centro cultural:
ao lote. Notam-se cinco grandes fluxos: da
são repensadas: eleva-se o auditório para
auditório; livraria/midiateca e restaurante/
saída do metrô com destino à Av. Faria
liberar o eixo Igreja - Mercado e possibilitar
salas para oficinas/ acesso à torre. O vazio
Lima; advindo da Rua Sebastião Gil – atalho
a travessia pelo térreo. Os blocos próximos
entre os blocos gera uma grande praça de
que liga a Rua dos Pinheiros à Rua Teodoro
à
chanfrados
eventos multiuso, capaz de servir como
Sampaio – com destino ao metrô; nas
possibilitando maior campo de visão para o
apoio às atividades que já ocorrem no
conexões entre o ponto de ônibus e o metrô;
interior do conjunto e facilitando o fluxo que
Largo da Batata.
no eixo que se prolonga da Rua Cardeal
vem desta rua.
Arcoverde e um último com direção ao Mercado de Pinheiros.
70
Teodoro
Sampaio
são
Para conexão entre os blocos, projetam-se
Após análises e levantamento das principais
Ciente da importância deste terreno por sua
passarelas que não só cumprem a função
problemáticas do local chega-se à conclusão
localização, em área de Operação Urbana
de circulação entre os diferentes programas
que o principal elemento que falta à praça é
e com alto coeficiente de aproveitamento,
do centro cultural como também geram
a sombra. Projeta-se assim uma cobertura
projeta-se uma torre de serviços acima do
comunicação visual no interior do conjunto
leve a fim de criar um Largo mais agradável
espaço cultural, de forma a utilizar totalmente
e seu entorno.
à escala do pedestre e que pudesse desviá-
seu potencial construtivo.
lo de seus fluxos rotineiros.
71
5.7. MEMORIAL
O Espaço Cultural Largo da Batata surge com a intenção de transformar esse espaço da cidade que hoje se constitui como lugar de passagem e “vazio urbano” em local de permanência. Constitui-se por dois blocos principais: um bloco cultural e aberto à cidade com programas como auditório, restaurante, livraria, midiateca, salas de workshop e um bloco de serviços que com a tipologia de torre procura tirar máximo proveito do coeficiente de aproveitamento do terreno e dar continuidade à um uso tão comum da região. Durante as análises viu-se necessária a integração entre a proposta do TFG e o metrô Faria Lima. Para isso, foram explorados espaços rebaixados capazes de articular não só o novo projeto ao metrô como também realizar a transposição dos dois lados do Largo da Batata separados pela Faria Lima, conectandoos. Do lado da Igreja Nossa Senhora do Monte Serrat essa saída foi projetada por meio de escadarias que além de resolver a diferença entre níveis, conseguem gerar espaços dinâmicos de permanência com mesas e árvores que sombreiam este local. Do lado do projeto essa saída desemboca na grande praça central e articuladora do bloco cultural. De modo a aproveitar o buraco cavado existente no terreno, é proposto no nível do subsolo um estacionamento ligado à torre corporativa e uma livraria integrada à saída do metrô. O restante é preservado como área permeável do projeto. O térreo do projeto é marcado por uma grande praça coberta: um espaço multiuso destinado às atividades de exposições e eventos e articulador dos demais programas do bloco cultural. Foram considerados os fluxos na implantação dos blocos no térreo de modo que pode-se cruzar o edifício sem necessariamente estar vinculado a qualquer atividade interna, pelo simples desejo do caminhar contemplativo. O edifício de midiateca e livraria próximo a Teodoro Sampaio, encontra-se recuado no terreno ampliando o passeio dessa rua. As fachadas envidraçadas abrem visuais para a livraria do térreo e do subsolo. A abertura presente no térreo possibilita a entrada de luz natural no espaço rebaixado. Já o outro edifício é composto no térreo por um restaurante, hall de acesso à torre corporativa e serviços de apoio do conjunto. O restaurante encontra-se próximo ao Mercado Municipal de Pinheiros e o espaço que se prolonga a partir dele converge em uma praça descoberta: lugar de estar, sombreado por massa de vegetação e que poderá ser utilizado como extensão ou apoio para eventos realizados no Mercado. 72
Pela Rua Dr. Manuel Carlos Ferraz de Almeida se dão os acessos do estacionamento ligado à torre corporativa e ao espaço destinado à carga e descarga. Na esquina desta com a Teodoro Sampaio foi locado o hall de acesso ao bloco de serviços. Acima desse nível é projetado um espaço de salas moldáveis para oficinas, ateliers, espaços de debate ou workshops, de forma a dar suporte e extensão à uma atividade que já ocorre no Largo da Batata. Ainda no bloco cultural propõe-se um auditório com capacidade para 600 pessoas com palco reversível que se abre para a esplanada do Largo para exibições artísticas, projeções na fachada ou cinema ao ar livre. Dará suporte à manifestações e shows que já ocorrem no local. Elevou-se o auditório como forma de liberar fluxos no térreo e inserir o Mercado de Pinheiros no espaço do Largo. Como estrutura, se utiliza de vigas protendidas na platéia e palco e treliças na cobertura. Acima das treliças, uma cobertura verde foi pensada de forma a ampliar o conforto acústico e melhorar as condições térmicas internas do auditório. Acima dos blocos da midiateca e salas moduláveis, um espaço de terraço público coberto que conta com bares, espaço lúdico, de exposições e de convívio. De modo a unir os programas do bloco cultural, passarelas em estrutura metálica e steel deck se sobrepõe à praça multiuso, ligando os pavimentos e terraços criando um ambiente que amarra os diferentes níveis e permite vistas direcionadas tanto para o interior do conjunto quanto para o Largo da Batata e entorno. Separando o bloco cultural do bloco de serviços, uma cobertura leve sustentada por árvores estruturais fornece ao espaço um elemento faltante no Largo da Batata: a sombra. Visando a eficiência energética solar, foram utilizadas telhas que se alternam entre telhas opacas termo acústicas e telhas translúcidas de policarbonato (estas com sistema externo de brises em alumínio); entre elas calhas estruturais. Desta forma, potencializam a iluminação natural, controlam a incidência de radiação solar e auxiliam na captação de águas pluviais. No nível da cobertura um espaço para conferências relacionado a torre corporativa avista toda região. Acima os pavimentos tipo do bloco de serviços: 13 pavimentos com 1166,29 m² de área total cada, com possibilidade de divisões do andar em conjuntos. As fachadas envidraçadas foram pensadas com sistema de proteção de brises nas fachadas sudoeste e nordeste para melhoria do conforto interno do ambiente. 73
74
5.8 ESPAÃ&#x2021;O CULTURAL LARGO DA BATATA
75
77
78
7
4 6
9
5 3
79
8 2
2 1
1. CATRACAS METRÔ FARIA LIMA 2. NOVAS SAÍDAS PROPOSTAS 3. ESCADARIAS 4. EXPOSIÇÃO PERMANENTE SOBRE A HISTÓRIA DO LUGAR 5. COMÉRCIO 6. QUIOSQUE 7. BANHEIROS 8. LIVRARIA 9. ESTACIONAMENTO DA TORRE (206 VAGAS)
SUBSOLO | ESC. 1:500
80
81
82
1
1
2
7
3 5
4
5
6 1. CAMARINS 2. PALCO 3. BANHEIROS 4. CAFÉ/BAR 5. ACESSO À PLATÉIA
8 9
6. FOYER 7. SALAS MODULÁVEIS PARA OFICINAS/ CURSOS/ WORKSHOPS/ PALESTRAS 8. BANHEIROS 9. MIDIATECA
1º PAV.| ESC. 1:500 83
84
2
1
3
4
1. SALA DE ENSAIO
8
2. PASSARELA TÉCNICA 3. APOIO/ DEPÓSITO 4. AUDITÓRIO (600 LUGARES)
5
6
7
5. APOIO
5
6. CABINE SOM 7. CABINE ILUMINAÇÃO 8. VARANDA EXTERNA 9. BAR
9 10 12
11 13 14 15
10. COZINHA 11. ÁREA DE LAVAGEM 12. BANHEIROS 13. DESPENSA 14. CÂMARA FRIA 15. LIXO 16. ESPAÇO LÚDICO
18
19
17. TERRAÇO PÚBLICO
17 16
18. ÁREA DE CONVÍVIO 19. EXPOSIÇÕES TEMPORÁRIAS
2º PAV.| ESC. 1:500 85
86
1
2 1. SALAS MODULÁVEIS PARA CONFERÊNCIAS 2. BANHEIROS
COBERTURA| ESC. 1:500 87
88
1
2
3
4
5 2
1. PAVIMENTO TIPO (ÁREA TOTAL = 1166,29 m²) 3
4
2. BANHEIROS 3. AR CONDICIONADO 4. COPA 5. HALL
TORRE | ESC. 1:500 89
90
91
92
93
94
95
96
97
98
99
100
101
102
TELHA TERMO ACÚSTICA
TERÇA
PERFIL I METÁLICO
BRISES
POLICARBONATO COMPACTO
CALHA
DETALHE COBERTURA | ESC. 1:50 103
104
NORDESTE | ESC. 1:500 90
SUDOESTE | ESC. 1:500 91
NOROESTE | ESC. 1:500 92
SUDESTE | ESC. 1:500 93
Visão da saída do metrô para o interior do projeto.
Vista do terraรงo para a Avenida Brigadeiro Faria Lima.
Perspectiva do foyer.
Acesso pela Avenida Brigadeiro Faria Lima.
Vista do Mercado Municipal de Pinheiros para o projeto.
VisĂŁo do conjunto pela rua Teodoro Sampaio.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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As
Operações
Urbanas
Consorciadas
como
instrumento
de
financiamento
e
planejamento
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dilemas
e
contradições.
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2012.
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