19-06-2015 | Ípsilon
Pág: 22
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 25,70 x 31,00 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 2 RUI GAUDÊNCIO
ID: 59788398
Tiragem: 33425
José Marmeleira Reunindo obras de três coleções da Península Ibérica, Tensão e Liberdade constrói-se como uma exposição que faz a apologia da liberdade artística e da actividade dos museus, contestando, em surdina, as forças que hoje os vão ameaçando.
Há uma exposição de
Carteras sin Ministro, de Antoni Muntadas (2011)
C
hama-se As Ruas de Lisboa e é composta de nove colagens de papel que as cores, as figuras e as palavras fazem vibrar. Uma berraria alegre que fala de um tempo e uma cidade: os anos que se seguiram ao 25 de Abril, com ecos de combates políticos, e Lisboa quando nela se liam e ouviam outras vozes. Realizada em 1977 por Ana Hatherly, Ruas de Lisboa mostra-se agora na sua integridade, numa das paredes frontais da nave do Centro de Arte Moderna (CAM), e oferece um ponto de vista e uma entrada para uma exposição concebida a partir das colecções da Fundación La Caixa, do Museu de Arte Contemporânea de Barcelona (MACBA) e do próprio CAM. “É a primeira vez que se reú-
nem as três num espaço expositivo”, assinala Isabel Carlos, comissária da exposição. “A ideia nasceu há dois anos. O Museu Berardo já tinha apresentado peças do acervo da La Caixa e achei mais interessante alargar o âmbito da colectiva ao MACBA. Tinha a oportunidade de trabalhar com três acervos da Península Ibérica e de arte do século XX”. Definido um “âmbito”, seguiu-se a elaboração de conceitos. “Quando comecei a ver as obras dei-me conta que, no século passado, Espanha e Portugal tinham vivido social e politicamente entre a tensão a liberdade. Conheceram ambos ditaduras e conflitos. A Espanha sofreu uma guerra civil, Portugal, a sua guerra colonial, mas também verifiquei que essa dicotomia extravasa o contexto ibérico e que se encontrava em toda a arte ocidental da segunda metade do século XX”. São várias as obras que, evocando questões, narrativas ou símbolos, lidam com a esfera sociopolítica. De Ana Hatherly, para além das cola-
arte política
RUI GAUDÊNCIO
RUI GAUDÊNCIO
no CAM
Pulling Mouth (1969), de Bruce Nauman, Finn MacCool (1983), de Richard Hamilton, fotogravura inspirada numa imagem de Raymond Pius McCartney, nacionalista irlandês, que esteve em greve de fome numa prisão britânica em 1980
gens, é possível ver o belíssimo filme Revolução (1975) e destaque-se a presença de Not all that moves is red (2012), de Azier Mendizabal, artista que em 2010 teve um notável individual na Culturgest de Lisboa. É um simples e longo pano vermelho e preto que faz da abstracção uma ilusão óptica. Mais do que meras formas geométricas, o espectador verá signos, representações, objectos de culto. Bandeiras. No mesmo “núcleo” de obras, mas apontando a outros contextos, estão as instalações de Antoni Muntadas, as gravuras de Richard Hamilton, alusivas aos conflitos na Irlanda do Norte, ou o filme do cineasta Eric Baudelaire, The Anabasis of May and Fusako Shigenobu, Masao Adachi, and 27 Years without Images, premiado no DocLisboa de 2012 (cuja exibição será programada em sessões diferentes).
Um clima de guerra Tensão e Liberdade assume um propósito. Lembrar que a arte contem-
Os museus não são apenas contentores de obras de arte, mas contentores de ideias e de acções, da história e da cultura do homem no século XX” Isabel Carlos