Na linha de frente
1ª Edição Orfeu Brocco
Itanhém, 2011
Nota: Esta é uma obra de ficção, com contextos históricos reais, expresso aqui todo meu respeito e solidariedade aos combatentes da Revolução de 32 e aos prejudicados pelo regime militar.
Dedico este livro carinhosamente a meu avô e avó adotados, Seu Carlos e Dona Lair. Obrigado pelos materiais de consulta sobre a Revolução de 32 e pelos depoimentos pessoais. Dedico também em memória de meu bisavô Luigi Brocco que lutou e sobreviveu nas trincheiras em 32.
16 de Outubro 1967 – São Paulo Um estranho uniforme
Ele se instalou ali na casa do falecido primo disposto a transformar aquele enorme casarão em um aparelho1 do movimento estudantil, seu nome era Pedro, agora se chamava Leônidas em seus documentos falsos e sua nova aparência para fugir dos militares, junto de seu braço direito ele ouvia o brado de um dos colegas que discursava: — Os militares já vem nos enrolando com essa conversa de eleições diretas a mais de três anos e nada, tudo que eles fazem é reprimir qualquer chance de esclarecimento real! Os olhos escuros de Leônidas que assistiam aquele discurso cheio de indignação e paixão por uma causa movimentaram-se para o lado e fitaram Maria que lhe chamava fazendo sinais. Ele 1
Gíria usada para esconderijos utilizados pelos perseguidos pela ditadura nos anos 60.
silenciosamente esgueirou seu corpo musculoso com sutileza e alcançou a estudante. – Camarada Leônidas... – sussurrou baixinho a moça. —Encontrei aqui na casa um quarto secreto, será útil ao nosso movimento, venha comigo dar uma olhada! Pedro a seguiu até um quarto nos fundos e após se distanciarem dos outros e notarem que não havia mais ninguém ali, ela roubou-lhe um beijo e ele sorriu, em seguida levantou algumas madeiras do assoalho e mostrou um alçapão, após descerem ela mostrou o que mais a intrigou um estranho chicote com ornamento indígena, luvas, botas e uma máscara.
13 de Julho 1932 — Rebuliço no bonde — Muito bem, condutor, de agora em diante você não vai efetuar as paradas do bonde, seguirá nossas ordens, ou além dos gaúchos todo mundo vai morrer! — ordenou o homem encapuzado. — Por Deus, rapaz! Não faça isso, ninguém aqui tem nada a ver com esses motins! Vais atrair a atenção da Força Pública 2 e...— o condutor calou— se quando sentiu a faca no pescoço. Outros quatro homens encapuzados criavam o maior rebuliço no bonde lotado, clamando que queriam somente que os gaúchos traidores da luta contra o absolutismo de Vargas e sua falsa promessa de Nova Constituição se revelassem. Ninguém ousou se apresentar, todos atônitos observavam a violência dos encapuzados, mas ninguém ousava se trair. — Vem cá, rameira! — uma moça puxada 2
Antiga denominação da Polícia Militar.
pelos cabelos soltou um grito e sentiu uma faca encostar na ponta de seu seio. — Não diga nada, já lhe aviso, se os gaúchos presentes não se apresentarem, vocês verão como se faz uma autópsia diante de teus olhos! No meio da confusão quase ninguém notou no canto do bonde uma capa que cobria alguém que estava encolhido, quase ninguém. — Ei X ! Olhe ali no canto, há algum louco dormindo e coberto com um capote! — bradou com escarnio um dos atacantes. — Acorde esse vadio com uma bela duma sova! Imagine, capote nesse calor!Só pode ser um bebum! — ordenou X. O encapuzado que atendia por Y foi se aproximando lentamente, parecia sentir certo receio, receio este justificado, porque quando ergueu o capote imenso e ia dar uma bofetada no dorminhoco, ouviu um estalo e sentiu um golpe na face que causou um corte superficial, os outros homens desviaram sua atenção para ele. Uma figura mascarada com luvas, botas e
roupas escuras se apresentou, enquanto Y arregalou os olhos e começou a berrar: — Não! Não! Papai, não, por favor ! — ele parecia uma criança assustada em seus delírios, com um certeiro movimento de pernas que mais parecia um golpe de capoeira, a luta proibida, o homem foi derrubado do bonde. — Solte a menina, paspalho e venha ter comigo, se for homem o suficiente! — desafiou o capoeirista mascarado. — Você só pode estar do lado dos traidores da revolução !Z! W! L! Vão e peguem esse malaco inimigo da pátria ! Eu cuido da gauchinha aqui! Os três homens portando facas avançaram contra o misterioso homem, um dos passageiros passou uma rasteira em W que caiu de queixo no chão e deixou a faca cair do bonde, os outros desestabilizados pela velocidade do bonde foram presas fáceis quando o homem agarrou a barra de aço do veículo, deu uma giratória e os lançou para a rua. W se levantava quando recebeu uma chicotada e caiu
com as mãos nos olhos chorando e rindo, alegando ver demônios e anjos. — Condutor! Diminua a velocidade! — bradou o herói. — Se você fizer isso velhote, eu extirpo um peito desta traidora ! Acelere , porque vamos todos morrer! Todos pela causa !Traidores e patriotas! — ele deslizou a faca pela barriga da moça. Ameaçando cortá-la. — X eu soltarei o chicote e me entrego, mas peça ao condutor que diminua ou o bonde sairá dos trilhos e sua luta será em vão, você não acha justo? — X concordou, o bonde diminuiu um pouco, o mascarado soltou o chicote e colocou as duas mãos no chão. X exibiu um sorriso insano, empurrou a moça que se desequilibrou e ia cair do bonde, mas se agarrou em uma barra. — Agora você é meu, traidor ! — o criminoso avançou em direção ao herói e o povo gritava desesperado, mas girando o corpo e virando os pés em direção ao homem com a faca , ele o atingiu no estomago, em seguida uma rasteira o derrubou.
Aproveitando o momento de distração do criminoso caído, ele levantou e estendeu a mão para a moça, mas enquanto a puxava sentiu um corte nas costas. Ignorando a dor ele jogou a moça para dentro e atingiu o homem com um chute no peito. — Fique com a minha benção! — a faca caiu no chão do bonde e os populares acudiram a moça assustada, o herói arrancou a máscara do criminoso e com uma cabeçada o levou a nocaute. — Eu odeio pessoas que usam de uma ideologia para praticar o mal! Durante guerras e revoluções, somos nós o povo que sofre! Basta! — enquanto o bonde diminuía até parar, o povo aplaudiu e o homem tocou as costas cortadas. — Quem é você? Que faremos com os dois? — perguntou o condutor. Antes de descer do bonde o mascarado remanescente pegou o chicote que alguém lhe jogou, a moça sorriu, isso indicava que estava bem, ele estalou o chicote. — Deixem a Força Pública cuidar deles! E se perguntarem o que houve... Digam que foi uma
intervenção do Escorpião! Ele disparou até a rua e após arrancar com maestria a tampa de um bueiro desapareceu. — Só pode ser um enviado de Deus! — comentou uma senhora. — Sei não, era algum doido varrido, viu as roupas que usava neste calor? — respondeu um senhor assustado. — Muito ágil, sumiu pelo bueiro como um rato! — exclamou um rapazinho. Naquele momento o condutor sorriu e proferiu: — Não um rato, mas um autêntico escorpião!
1º de Novembro de 1967 – O quadro da índia Pedro observava o chicote pensativo, durante semanas indagou. Quem realmente era seu primo Evaristo? Que chicote estranho era aquele? Por puro fetiche o levou durante um protesto no qual a polícia baleou um estudante e quando a tropa de choque tentou pará-lo, ele por instinto usou o chicote contra o agressor e o viu cair por terra delirando, conseguiu fugir junto dos camaradas e contou a Maria o que aconteceu. No quarto secreto, após se amarem, descansavam, Leônidas levantou e observou o chicote, as luvas, botas e máscara. Após toca-las com certo carinho e admiração sem saber por que, ele encarou na parede o quadro de uma bela indígena desnuda. Maria havia dito que ouvira alguns rumores sobre
espiões do Dops3 ali naquela área, isso era motivo para suspender as reuniões por enquanto, não apoiava a guerrilha armada, preferia lutar através do clamor e da conquista de aliados através dos protestos, mas e se precisasse proteger alguém? Olhou para o chicote e sentiu vontade de continuar as buscar por ali, tiveram pouco tempo para procurar por mais algo, evitavam movimentos exagerados ali, poderiam ser denunciados pelos vizinhos, acordou Maria e começaram a procurar por esconderijos ali dentro mesmo. — Léo! Aqui! — ela apontou uma estante que ao ser empurrada mostrava gavetas escondidas em um armário feito de cimento, Leônidas puxou a gaveta e Maria achou um arquivo identificado como Irmandade do Ódio, quando o abriu viu diversos desenhos e anotações sobre vodu, um dos desenhos
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Departamento de Ordem e Política Social responsável pela repressão aos subversivos.
mostrava um homem numa máscara de esqueleto coberto por uma mortalha. — Aqui tem uma inscrição: Dr. Vodu! Léo, seu primo era meio pirado, satanista ou o que? — Sei não, Maria, ele era 30 anos mais velho, nunca tive muito contato com ele, meu erro! — ele suspirou e ao desviar o olhar encarou o quadro da índia. — Não tira os olhos da pelada né? Tudo bem, ela é um brotinho mesmo! — brincou Maria. — Alguma coisa nesse quadro me intriga, será que ela existiu? Será que tinha alguma relação com essa loucura mascarada de Evaristo? — questionou o rapaz a esmo. — Sei não, mas bem que pode ter algo escondido atrás do quadro! — Leônidas arregalou os olhos e concordou. Maria retirou o quadro e atrás dele havia uma abertura tapada com uma cerâmica, ele retirou com jeito e sorriu havia algo lá dentro numa caixa de ferro com cadeado. Após Maria tentar várias vezes abriu o cadeado com um grampo e viram
uma esmeralda idêntica a que usava a índia do quadro, ele a pegou, examinou e a passou a Maria. — Somente uma joia e nada mais. — mas quando olhou para a companheira viu seus olhos castanhos tornarem-se o puro reflexo da esmeralda, ele assustou ao ver que Maria tremia e a repentina mudança na cor dos olhos, mas ela o afastou. Parecia emanar uma grande energia. — Nesta pedra estão está toda a verdade e eu a vejo! — disse a revolucionária sorrindo.
16 de Julho de 1932 – A Bruxa O andar dela inspirava uma confiança incomum, muito distinta das mulheres da cidade, possuía uma inocência, porém uma força enorme, seu corpo era torneado, os olhos verdes tomados pela magia que a possuía conferiam medo em alguns e a outros encantavam, vinda de uma tribo tida pelos antigos conquistadores como mitológica, ela provinha de uma sociedade só de mulheres, revoltadas contra a submissão imposta pelos homens indígenas, elas se afastaram e somente aceitavam a presença destes para procriar, os meninos nascidos eram levados embora e as meninas permaneciam na aldeia oculta. Fora de seu habitat a indígena caminhava por São Paulo, a procura de um chicote místico roubado há tempos por um dos índios e vendido ao homem branco em troca de favores, diante da impotência da mulher citadina , ela passou a caçar os homens que brutalizavam as mulheres , enquanto não encontrava
o rastro do artefato roubado, ela decidiu agir contra aqueles que abusavam de sua força e influência sobre as mulheres. Era noite, entre a bruma composta pela fumaça dos cigarros e os restos dos cartazes amassados que o M.M.D.C4 espalhava jogados ao chão, ela fitou de longe o medíocre conhecido como Vadão. Ele cheirava éter escondido num beco e não se surpreendeu com a presença dela. — Quer um pouco também? Posso até pensar, se você for boazinha... — ele tentou tocar— lhe o seio, mas ela deteve a mão e a torceu. — Você vai pagar pelo que fez a aquela mulher ! Você a violentou e a deixou morrer! Vadão puxou uma faca escondida e tentou perfurar o rosto dela, mas com a agilidade de uma 4
Levante revolucionário formado a partir do assassinato de manifestantes pelas tropas federais, em homenagem a estes: M.M.D.C são as iniciais de seus sobrenomes: Martins. Miragaia, Drausio e Camargo, o M.M.D.C foi o grupo mais ativo em convocar os paulistas para a guerra constitucionalista.
jaguatirica ela o desarmou em instantes e pôs de costas no chão e o subjugou. — Como você se sente? Não foi isso que fez com ela ? — ela mergulhou a cabeça dele no chão. — Não sei do que você fala !Me solta ! — ele tentou se soltar, mas o corpo dela o envolvia de forma que parecia estar agarrado por uma serpente. O sangue escorria do nariz e manchava o chão onde jazia. — Eu a encontrei agonizando e através de suas lembranças , eu o vi, vi o que fez. — a bela mulher de olhar sisudo virou o corpo do cafetão para cima e após um golpe certeiro no queixo, fez com que ele implorasse por piedade. Ela puxou o rosto dela para perto e ele viu os olhos tornarem—se cor de sangue. — Esta é minha piedade! Você não morrerá, mas carregará toda a dor que causou! — com um toque a mente dele foi preenchida por uma súbita loucura e Vadão começou a se contorcer e em seu corpo sofria a dor do próprio abuso que cometera. Quando encontraram pela manhã o viram
jogado no canto do beco onde ele se autoflagelava com uma garrafa. Os homens passaram a temer uma misteriosa mulher que fazia justiรงa as atrocidades cometidas contra as mulheres e em muitos lugares ecoavam burburinhos sobre uma misteriosa bruxa decidida a vingar as mulheres oprimidas.
5 de Novembro de 1967 O novo Escorpião Desde o dia em que a esmeralda foi encontrada, Maria demonstrava cada vez mais potenciais estranhos, parecia ter sido invadida por memórias alheias do passado de alguém que esteve ao lado do falecido Evaristo, ela se pôs a contar toda a história que envolvia uma figura pouco conhecida durante a revolução constitucionalista, o Escorpião e sua parceira vulgarmente conhecida como Bruxa. Apesar de saber as propriedades estranhas do chicote e dos estranhos dons que Maria vinha aflorando, Leônidas só se deu por convencido da existência do antigo herói quando um senhor de 80 anos que havia sido condutor de bonde lhe contou um ato que testemunhara trinta e cinco anos atrás, quando homens tomados de ira pela deserção das tropas gaúchas da aliança com São Paulo, decidiram atentar contra qualquer um que fosse proveniente do sul. Leônidas e Maria cada vez mais unidos mergulhavam
na história dos heróis do passado e tentavam a todo o momento burlar as investigações do Dops para captura—los, ambos perceberam que apesar das ditas boas intenções dos guerrilheiros armados, muitos cometiam barbáries contra as pessoas do mesmo jeito ou até piores que os militares. Um sentimento de descrença os abateu, já não tinha lados para aderir, não se podia lutar contra um inimigo usando de seus mesmos métodos. Mas algo veio até Leônidas como resposta. No quinto dia de novembro de 67, foram sequestrados por grupos de extermínio seis jovens acusados de serem partidários de ideais comunistas, três deles eram amigos de infância de Leônidas. Através de investigações descobriu—se que estavam cativos em um galpão na zona leste de São Paulo e movido por um sentimento de desespero, o revolucionário vestiu o uniforme do Escorpião e partiu para o resgate, deixando uma carta a Maria avisando—a que se fosse pego deveria fugir de São Paulo para o Uruguai.
— Sua puta comunista nojenta, vamos lá ! Diga quais são os próximos passos de sua organização! — o truculento homem mergulhou a cabeça da jovem num barril cheio d’água e ficou assistindo o corpo dela se debater enquanto os outros três algozes riam. Os outros cinco cativos assistiam impotentes, a tortura e o vilipendio da companheira, armas de grosso calibre jaziam encostadas na parede e instrumentos de tortura artesanalmente construídos decoravam o galpão. O vestido vermelho da jovem rasgado ao chão, e as roupas intimas banhadas em sangue mostrava os sinais de violências sexuais sofridas, os gritos não podiam ser ouvidos naquele lugar , somente o horror preenchia aquele recinto. O opala preto de Leônidas jazia estacionado, perto dali, e o foragido próximo ao galpão contava com as sombras da noite para esconde—lo e com a resistência dos amigos. Como iria iniciar o ataque? Pensava o rapaz e pensava em Maria. Se morresse esperava que ela
sumisse do Brasil, não saberia se resistiria a tortura e jamais se perdoaria se entregasse Maria. — Xisto, vá verificar os fundos do galpão, deve ter caído alguma coisa lá, mas melhor prevenir né ?Enquanto isso nós vamos prosseguir o interrogatório com esta belezinha aqui! — disse Hércules. Xisto apanhou a arma calibre doze e partiu para verificar a origem do barulho, devia ser mais um rato imbecil, pensou Xisto, em seu orgulho ferido, sempre aceitando ordens e nunca desempenhando um papel melhor que merecia. — Vou matar esse rato na bala! — Xisto engatilhou a doze. Quando passou por um corredor, não verificou uma das frestas, virou para o lado inverso e achou um rato que seria seu bode expiatório. — Vem cá , ratinho! — quando ia atirar, algo se enrolou no seu pescoço e o puxou, derrubando—o de costas e fazendo com que a arma caísse. Leônidas , calado e rápido desferiu vários socos no rosto de Xisto uq petrificado mal teve tempo de reagir e teve a
cabeça atingida por uma coronhada da própria arma. Seguindo o corredor ele começou a escutar com mais nitidez os gemidos de uma jovem e as risadas de outros homens. Ele jogou o corpo desfalecido na parede e o acordou com um tapa. — Seja direto e me responda quantos tem lá! Ou vou explodir sua cabeça! — sussurrou o Escorpião mirando a arma no rosto do recém—acordado. — Oh meu Deus! Você? Mas... — Xisto sentiu a arma tocar sua testa — São três! Por favor, não me machuque! — Chame dois deles e agora, se bancar o sacana, você vai pro inferno neste momento! — a mente de Xisto começou a viajar pelas memórias de um distante dia há 35 anos e lágrimas começaram a escorrer, seria o mesmo homem? Não poderia ser possível, se fosse, estava mais agressivo. Ele balançou a cabeça fazendo sim. — Walter! Yuri! — chamou fingindo bom humor.
Hércules violentava a jovem, enquanto os outros dois assistiam, ao ouvir o chamado de seu comparsa, o estuprador, indicou com a cabeça que fossem ver o que o inútil precisava, de certo precisava de ajuda pra matar a droga de um rato. Walter e Yuri riram, deixaram o homem sodomizando a garota e caminhavam desarmados em direção ao corredor onde o velho amigo os chamava, este que novamente havia sido desacordado com uma coronhada na têmpora. Após um estalo, Walter caiu de joelhos e Yuri só teve tempo de olhar para o lado e receber um golpe da coronha no queixo, facilmente os dois foram abatidos sem alarde. Leônidas olhou para trás e viu que Walter babava e murmurava baixinho coisas sem sentido. Ao entrar na sala de torturas improvisadas, flagrou o homem que vilipendiava a moça, os outros cativos amarrados compreenderam o sinal de silêncio. — Saia de cima dela! — a ordem foi dita com dureza e reforçada pelo cano que encostou na cabeça do violador. — Com as mãos para cima !
— Quem é você? — perguntou Hércules, a moça se jogou para o lado destituída de qualquer ação e como resposta Hércules recebeu um chute direto nas partes intimas que o fez se dobrar de dor no chão. — Garota ,preciso que você seja forte , levante-se e solte seus amigos. — ordenou o mascarado, mais por medo que qualquer outra coisa a moça levantou-se e desamarrou cada um deles. O Escorpião entregou a arma a um dos rapazes, ninguém ousou perguntar nada, o violador questionado sobre chaves de algum automóvel apontou a calça jogada num canto, um dos rapazes pegou a chave. — Saiam daqui! Imediatamente! Vou cuidar que esse lugar jamais seja usado novamente para estas atrocidades! —Naquele momento todos foram surpreendidos com um rugido e em seguida com os restos do crânio de Hércules que se espalhava pela sala de tortura. A moça ofegante com uma das armas em mãos chorava e o novo Escorpião não sabia o que pensar, se aquilo era certo ou errado.
Momentos depois, o Escorpiรฃo partiu daquele lugar em seu Opala preto deixando para trรกs um lugar em chamas e corpos desfalecidos a sua prรณpria sorte.
Dr. Vodu
20 de Julho de 1932 – Dr Vodu e a Irmandade do Ódio A lei marcial havia sido decretada, por trás de muitos acontecimentos havia a mão de um homem, ninguém sabia ao certo como era, sempre usava disfarces para modificar o rosto, sempre astuto e quando demonstrava sua malevolência utilizava uma máscara com feições demoníacas do que julgava parecer a morte encarnada, naquele momento ele vestia a máscara e usava um uniforme que mesclava as vestimentas de um general e um monge. — Esses idealistas , tolos! Acham mesmo que vencerão as forças federais! Esse confronto todo se sucedendo e eles usam essas matracas 5 achando que vão assustar as tropas de Vargas !Fazem suas campanhas ridículas para atrair esses mortos de fome para a linha de combate! — por trás da máscara o homem sorria. 5
Instrumento de som usado para simular o som das metralhadoras devido a falta de armamento das forças paulistas.
— Doutor , pensei que estivesse do lado paulista! Afinal de que lado o senhor está? — perguntou o homem truculento que dialogava com o sociopata. — Do nosso , é claro, da irmandade! Acho um disparate Vargas querer reinar absoluto e sem restrição de seus poderes, porém acho ridícula a tentativa desesperada dos paulistas de querer se reerguer usando esta tola revolução constitucionalista como desculpa! — ponderou o doutor. — Enfim, qual é nosso real papel nisso? Gostaria de saber as nossas reais intenções, afinal também almejo poder! — perguntou o leão de chácara de riso sádico. — Vamos continuar criando tensões entre São Paulo e o resto do Brasil, os gaúchos já abandonaram a corrente paulista e agora apoiam Vargas. O objetivo é simular afrontas vindas dos dois lados até criar uma situação irremediável entre o estado e o resto do Brasil, assim aliado aos separatistas a independência será inevitável. —
explicou o bizarro doutor mascarado. — Entendi. Após a independência a irmandade chegará ao poder e então será uma nova oligarquia regida pela irmandade, atuando as sombras de algum partido estupido. — raciocinou o outro homem. — Perfeito raciocínio Egídio, pensamos na mesma sintonia, por isso você será um chefe de estado do novo país! — Dr. Vodu via no homem a sua frente um visionário, no instante seguinte bateram a porta do escritório. — Se você não se importa caro Egídio, preciso resolver uma situação com alguns incompetentes, se quiser fique aqui. Mostrarei—lhe como lidar com fracassos de homens diminutos! A porta se abriu após a voz cavernosa ordenar que entrassem e 4 homens entraram na sala, os quatro apresentavam marcas de um incidente sofrido em um bonde semanas atrás. — Deixe—me ver, Walter, Xisto, Yuri e Lourenço...Os rapazes que eu gastei uma fortuna
para tirar da cadeia por não fazerem direito o que lhes foi pedido! — os olhos da mascara demoníaca pareciam penetrar dentro das almas dos quatro. — Doutor houve a intervenção de uma figura estranha conforme o senhor já sabe. — explicou Walter esfregando o hematoma no rosto. — Sim, isso me interessa. Essa figura interferiu em outros planos meus como do ataque a prefeitura que seria realizado e a autoria seria jogada às tropas de Vargas, entre outros pequenos problemas. Porém ninguém soube me dizer, quem ou que esse homem era. Algum de vocês pode me explicar? Yuri ? — Pode parecer um disparate a princípio, mas aquele homem portava um chicote. — Yuri apontou a marca em Walter. — E quando ele atingiu alguns de nós com isso, foi como se uma loucura tomasse nossas mentes, como se fosse uma droga ou magia do Diabo! — Magia? Deixe de ser tolo Yuri, ele deve ter drogado a ponta do chicote, faz jus ao nome que ele
vem usando “Escorpião”, esse negócio de magia é tudo farsa ! — bradou Lourenço. — Magia? Estranho isso, porque um dos meus contatos Vadão, foi acometido de uma loucura terrível, se cortou todo com uma garrafa e jura que foi por obra de uma bruxa ou índia... —comentou Egídio. — Bem , rapazes, por ter lhes tirado da cadeia , há um pequeno preço a pagar ... — Vodu tirou um boneco de dentro da gaveta. — Preço? — perguntou Xisto. — Quanto? — Chama-se vida, um de vocês vai perder a vida, qual de vocês tem menos valor em ? Egídio saboreou a crueldade do momento e imaginou como um deles seria eliminado, os quatro engoliram a seco e por mais que tivessem um mau caráter, não ousariam indicar nenhum deles para morrerem no lugar de outro. Havia certos princípios que até mesmo aqueles facínoras seguiam. — Lourenço, o que achou daquela vadia que se deitou com você, após você sair da prisão? Teve
uma noite boa? —Lourenço ouviu a pergunta e não entendeu o que aquilo tinha a ver com o momento. — Ora, ela era perfeita, foi ótimo, mas ...Por que quer saber? — Lourenço esqueceu a tensão daquele momento e relaxou. — Bem, porque foi sua última noite com uma mulher. — Dr Vodu mostrou o boneco e girou o pescoço ao contrário, Lourenço mal teve tempo para um grito e caiu morto. — Sorte de vocês que eu já tinha escolhido minha vítima para lhes mostrar o preço de um fracasso, aquela vadia que se deitou com ele, foi a meu pedido, ela me trouxe algumas mechas de cabelo e bem... — Aconselho vocês a não falharem e tomarem cuidado com quem se deitam. Eu só queria alguns sulistas mortos e uma tensão, agora temos esse Escorpião vivo e atrapalhando minhas manipulações, mas eu sou bondoso, quem me trouxer o chicote dele e o próprio, ganhará muito, mas muito mesmo. Espalhem isso!
Após saírem da sala arrastando o cadáver de Lourenço, Egídio entendeu o que era a magia e se interessou em buscar pela tal bruxa que o enlouquecido Vadão havia comentado.
20 de Novembro de 1967 — O Escorpião e Jaguara Tomado pelo estranho sentimento de fazer mudanças sem se denunciar, Leônidas passou a agir secretamente como o Escorpião, frustrou diversas torturas por parte dos militares a civis, frustrou também diversos ataques realizados por guerrilheiros, como saques em vilas para levantar fundos para a guerrilha armada, era preciso mudar as coisas, mas não agir como um monstro para isso. Quando percebeu, ele havia compreendido toda a ideia do falecido primo, mas ele se tornou obcecado em fazer justiça, porém para equilibrar seu lado herói, havia seu amor por Maria que o ajudava a se conter. Maria era quem descobria os planos do exercito e dos guerrilheiros através de suas investigações, ela repassava as informações a Leônidas que agia para evitar maiores! — explicou Maria. — Precisamos? É muito arriscado para você
ir. — argumentou Léo. — Para um homem que luta pela liberdade , você é bem machista, qual é a sua? Sou mulher suficiente para você só para tomar pílula? — explodiu Maria. — Tenho medo que você seja ferida! Será que você não entende? — Leônidas rebateu. — E você acha que eu não tenho medo? Acha que penso ser seguro, você trabalhar na clandestinidade sendo procurado pela polícia, agindo contra os dois lados? Qual é a sua, cara? Não me vê como igual, é isso ? Só porque você é homem, acha que é o machão dominante? — Maria com um tapa jogou o abajur no chão. — Porra, Maria e o que você vai fazer contra um bando armado em? Vai discursar sobre o direito feminino? — Leônidas cometeu erro de cutucar a ferida de Maria. Os olhos dela brilharam e se tornaram vermelhos, no mesmo instante os livros da estante se arremessaram sozinhos todos em direção a Leônidas que por pouco não recebeu na face uma pesada pancada de uma
esquecida constituição que levitava. — Eu farei isto! Alguma dúvida? — ameaçou ela, temendo criar um desastre, ele avançou sobre Maria e a amou sobre os livros caídos no chão. O coronel de sessenta anos estava sendo espancado covardemente pelos 3 homens, enquanto outros cinco faziam uma limpa total na casa , remédios, dinheiro, roupas, bebidas tudo era levado como expropriação para a guerrilha armada. Quando o coronel caiu sem forças, um dos homens ordenou que jogasse gasolina por toda a casa estava suspenso o sequestro do coronel, seria fuzilado e sua esposa e dois filhos seriam levados como reféns , em troca da libertação de presos políticos. — Me matem, mas deixe-os, são inocentes, não tem nada a ver com esta situação absurda da ditadura! — suplicou o coronel. — Quem é você para falar de ditadura , velhote? Logo, um opressor! — mas a verdade é que aquele coronel era um democrata. Nem todo militar era torturador ou fascista.
Misteriosamente, um dos homens que faziam a limpa caiu vítima de um golpe, desestabilizando assim a atenção dos guerrilheiros, uma névoa estranha surgiu e enquanto todos sem exceção tossiam e tinham a visão nublada, alguém invadiu o quarto e estalos de chicote foram ouvidos. Mas a névoa temporária se dissipou e dois novos personagens surgiram um homem que usava uma máscara negra e uma bela com uma pintura indígena que cobria seu corpo branco. Os homens tentaram atirar contra eles, mas as armas falharam, neste momento o Escorpião com uma zarabatana atirou dardos no pescoço de dois deles que caíram grogues, enquanto outros dois corriam pelo quarto alucinados. Restavam somente liquidar com três homens armados com más intenções e armas de grosso calibre. — Seus idiotas, iam disparar com a casa embebida em gasolina? Qual é? O tempo dos kamikazes
passou6! — bradou o Escorpião em sua voz abafada pela máscara e foi o suficiente para os homens vacilarem e baixarem as armas que foram arrancadas de suas mãos por forças invisíveis, mas os homens não se abalaram e puxaram suas facas e investiram contra eles. Maria, agora clamava ser a guerreira Jaguara7 rugiu como um animal e com suas unhas transformadas em garras pela magia da esmeralda fez um enorme rasgo no abdômen do líder da investida malfadada que foi ao chão e começou a se arrastar para fora da casa, dos dois remanescentes um foi violentamente atingido pelo chicote e se jogou sobre o homem que havia sido derrubado primeiro em estado de delírio. O último foi puxado pelas pernas e através do velho coronel em uma manobra de sufocamento perdeu os sentidos. O silêncio reinou por um minuto. — Não diga nada, coronel, apenas agradeça a si
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Deus dos Ventos em japonês, nome dado aos aviadores suicidas japoneses na Segunda Guerra Mundial. 7 Onça em tupi-guarani.
mesmo pela sua integridade. —balbuciou o Escorpião. Mas começaram a sentir um forte cheiro de queimado vindo do lado de fora, a mulher e os dois filhos pequenos que estavam acuados correram para fora e os outros a seguiram, quando viram o cabeça do ataque rir. — Minha expropriação, pode ter fracassado, mas esse milico do cacete, fica sem casa ! — com um fosforo jogado sobre a gasolina derramada do lado de fora da casa um incêndio de grandes proporções iria destruir o lugar. O homem desmaiou enquanto ria e o fogo começou a se alastrar, mas naquele momento, como se tivesse sido tomada por uma entidade Jaguara começou a dançar e entoar um canto. Porangamana-só syk-a, porangamana -só syk-a ...
Amanayara aisó, Amanayara syk-a...8 Timidamente a chuva começou a cair junto ao corpo de Jaguara que caiu desfalecido num sorriso, a chuva mansa fez escorrer a tinta que pintava o corpo da heroína e levou o fogo embora. O Escorpião tomou o corpo da moça nos braços e partiu muito seguro que sem ela, nada seria tão belo e forte, assim como a singela chuva, somente ele sabia o quanto a amava.
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A bela chuva vai chegar, a bela chuva vai chegar, a senhora formosa das chuvas vai chegar, traduzido do tupi antigo.
1 de Agosto de 1932 – O Escorpião e a Bruxa A situação era um impasse, ao redor os corpos desfalecidos, graças aos ataques da Bruxa combinados aos do Escorpião, assistiam uma tremenda situação de dúvida. A moça indígena clamava o chicote místico que havia sido tirado de sua tribo e o Escorpião que sabia de seus poderes não desejava ataca—la, mas também não devolveria o chicote numa situação tão crucial. — Entenda, homem branco, sua atitude pode ser honrosa, mas o chicote deve voltar comigo, pois se cair em poder de outros, pode gerar mais calamidade! — argumentou a índia num sotaque muito diferente. Tomado por uma fúria imensa ao ouvir as palavras ditas, o Escorpião num ímpeto arrancou a máscara. Seus olhos faiscaram de raiva e a luz da lua pareceu fazer brilhar sua pele negra com algumas poucas
feições indígenas. — Homem branco ,tem certeza ? — vociferou o Escorpião. Apesar de ser inocente a respeito dos assuntos fora de seu mundo, a mulher entendeu a ofensa dita sem intenção alguma. Naquele momento, um dos adversários levantou e agarrou o homem pelo cabelo e com uma faca ia rasgar sua garganta, num ato desesperado e desejoso de redenção, os olhos da Bruxa tornaram—se vermelhos e num gesto o corpo do atacante foi jogado para trás, arrancando apenas um filete de sangue do herói desprotegido que se assustou com o poder manifestado. —Lhe devo essa, então pegue a droga do chicote, eu posso muito bem continuar a proteger as pessoas sem ele. — disse com dificuldade devido ao pequeno corte na garganta e arremessando o chicote aos pés dela. Evaristo se levantou e virou as costas, para partir. Afastou um pouco sem olhar para trás, quando ouviu—a perguntar: — Guarini9 ...aonde vai? 9
Guerreiro ou lutador.
— Para casa. — respondeu sem olhar para trás, mas não se conteve e voltou o rosto em seguida. — E você? Um rápido silêncio que se desfez com uma resposta, seguida de um nó na garganta fez com que ele voltasse. — Não tenho aonde ir. — foi a resposta e mesmo sabendo o quão arisca ela poderia ser, ele mostrou um sorriso sem malícia alguma e estendeu—lhe a mão, com certo receio e talvez vergonha, pela sua distinta criação , ela hesitou mas tomou a mão dele. Mas nenhum dos dois percebeu que nas mãos do homem que feriu o Escorpião havia alguns fios de cabelo. Naquela mesma noite, Egídio e Dr. Vodu receberam ótimas notícias vindo do único pseudo-terrorista que havia escapado da Força Pública. — Orestes, Orestes...Você é um homem esperto e apesar de não ter trazido o chicote, a feiticeira ou o malaco, trouxe-nos ótimas notícias e como nós somos homens de palavra, você será recompensado.
— disse Egídio. Vodu tomou os fios de cabelo e vibrou, após isso concordou com Egídio com a cabeça e uma maleta com uma grande quantidade de dinheiro foi dada ao vilipendiado Orestes que sorriu. — Puxa, eu até tomaria outra surra daquelas, se soubesse que ia me render tudo isso! Continue contando com meus serviços, senhores. — disse Orestes sorrindo — Realmente está disposto a continuar cooperando, mesmo após isso? — uma ideia brotou da mente maligna do doutor. — Claro, só esperem eu me restabelecer dessa sova que manterei meus préstimos! — concordou o enriquecido Orestes. Os olhos de Egídio e Dr. Vodu brilharam. O necromante se esgueirou para perto dele. — Senhor Orestes, o senhor é cristão? — perguntou. — Não, nem no fio de cabelo! — foi a resposta que mais alegrou o dia de um sociopata.
— Puxa, você estava mesmo faminta, por onde andou esse tempo todo sem comer direito? — perguntou o herói em seu lar a moça faminta. — Por aí, estava a procurar o chicote! — a resposta era bem óbvia, mas fez o homem rir e tocar a garganta que estava ilesa. — Ninguém nunca andou atrás de mim por aí, ao ponto de passar fome. — proferiu ele rindo novamente, ela nada disse, talvez por estar de boca cheia, talvez por não ter entendido a piada. — Como você fez meu ferimento sumir? — interrogou curioso. — É um dom que vem da pedra em meu pescoço. A maioria deles vem dela, inclusive nosso entendimento. — explicou a moça enquanto cortava um pedaço de pão. — Como assim? — os olhos negros dele acompanhavam cada trejeito dela. Parecia selvagem em certos modos, mas muito inocente em outros. — Não falo sua língua direito, a pedra faz com que você entenda do jeito que você fala e eu te entenda do jeito que eu falo. Qual seu nome mesmo? Nem perguntei! — dito isso parou de comer e esperou.
— Me chamo Evaristo, não entendi seu nome até agora! — Kunyãpira. Já lhe disse, que significa seu nome? — Meu pai dizia que significava “bom”...e o seu ? — Em sua língua seria algo como “mulher peixe”, ei o que é aquilo? — ela apontou para o rádio. — Vou te mostrar! — divertindo—se com a série de perguntas, ele ligou o rádio. Aqui é Ademar Casé10, trazendo para você um sucesso novo do maravilhoso Noel Rosa! A principio ela achou estranho, mas depois se divertiu e nem questionou como a música vinha dali, Evaristo colocou as sobras no lixo e percebeu o quanto ela estava suja. — Você não quer tomar um banho? Pode parecer ofensa, mas... Ah bem, esqueça! — deixou de lado o que ia falar, pois pensou que complicaria a situação. — Quero sim, tem água ? Ele a levou até o banheiro e abriu o chuveiro, havia 10
Sim ,ele existiu! Adivinha de quem ele é avô?
gastado uma nota, mas conseguira enfim ter água quente em casa. — Água? Quente! — ela disse ao colocar a mão e retirar logo em seguida. Espantada se despiu e entrou embaixo do chuveiro, deixando Evaristo boquiaberto e sem graça, ele virou—se de costas e saiu de fininho. Enquanto ela se banhava, ele preparou uma cama para que ela repousasse e apesar de imaginar que ela dormia nua, preferiu separar uma de suas calças e uma camisa para que vestisse, estava frio e ele preferia assim, senão ele não conseguiria dormir. Vinte minutos depois, ela saiu sorridente com os cabelos molhados, não havia se secado e aquilo mexeu com Evaristo de uma maneira bem peculiar. — Me emocionei ao ver a água e esqueci o quanto vocês se embaraçam com as pessoas despidas. Mas você é uma boa pessoa, não me faria mal, não é? — Kunyãpira sorriu feliz. — É ,eu sou boa pessoa. — ele pensou que ainda que não fosse ela poderia destroça—lo em pedaços com aquelas garras como quase fez com alguns daqueles homens, ele afastou o pensamento, mostrou a cama
a ela e estendeu as duas mudas de roupas. — Melhor você vestir, aqui faz frio. — ela vestiu as roupas dele e ele achou engraçado o modo como ficaram largas, mas de alguma maneira aquilo o excitou mais Ele deitou no colchão e apagou a luz. — Guarini, por que vocês estão em guerra? — aquela pergunta amenizou um pouco a excitação dele. — Porque nosso líder não estabeleceu limite dos próprios poderes e as pessoas aqui não concordam com isso. — ele escolheu as melhores palavras para explicar. — Você está do lado dos que não concordam ? — perguntou enquanto o fitava com aqueles belos olhos. — Sim, mas não concordo que resolvam também em guerra. Guerra só fere pessoas inocentes. — respondeu Evaristo virando—se para o outro lado. — Guarini... — a palavra em tupi foi dita de uma maneira suave que congelou o coração dele. — O que é , Kunyãpira? — Como você é um homem honrado, eu ficarei até essa guerra acabar e depois levo o chicote para a
tribo. É o mais justo a fazer. — aquelas palavras o fizeram feliz, porém de alguma maneira triste também. — Obrigado. Mas , me responda uma coisa : afinal qual a serventia desse chicote lá para vocês? — perguntou curioso. — Não é mais usado, porém no tempo antigo quando uma de nossas deusas havia vindo como gente o criou para castigar as guerreiras que não agiam certo. Mas , é melhor que fique aonde pertence. — explicou a indígena e bocejou. — Durante todo o caminho para cá, você disse o quanto os homens são cruéis, nunca parou para pensar que as mulheres podem ser também? — enfim ele encontrou um modo para mostrar a ela que a crueldade não tinha distinção. — Mas nem todas são assim. —respondeu ela demonstrando certo triunfo. — Nem nós. — Sim, alguns são como você. Ele sorriu e desejou boa noite.
13 de dezembro de 1967 – Os “zumbis” Pessoas aparentemente sem interesses políticos vinham desaparecendo, Maria suspeitando dos militares começou a conduzir as investigações, o coronel salvo na fazenda havia dito que havia alguém nas sombras manipulando acontecimentos, conduzindo as pessoas a guerrearem entre si, após ler os arquivos do falecido Evaristo, eles chegaram a conclusão que poderia ser obra da extinta Irmandade do Ódio ou de algum membro remanescente, apesar do arquivo detalhado, o antigo Escorpião não havia deixado detalhes sobre o paradeiro do criminoso conhecido somente por Dr. Vodu. A desconfiança cresceu mais ainda quando alguns desaparecidos retornaram tomados por um ódio incontrolável e desprovidos de qualquer outra emoção, a não ser o ímpeto em destruir tudo. Pareciam corpos sem almas, por isso Maria os chamava de zumbis. Cada vez mais os zumbis surgiam e durante seus
ataques só eram detidos quando mortos, uma tensão enorme e perigosa ameaçava desencadear uma guerra civil entre os que queriam a democracia de volta e o governo que clamava estar agindo do modo certo para a proteção de todos. Felizmente conseguiram capturar um dos zumbis e após o manterem sobre custódia percebeu—se sinais de lobotomia no pobre operário e o pior havia um tipo de selo místico que mantinha sua alma presa a algo, por dias Maria tentou usar os poderes da pedra para romper o selo, mas sem sucesso. — Maria, você tentou todos os meios que pôde através dos conhecimentos que adquiriu da esmeralda, agora vamos tentar uma ideia minha. — pela primeira vez Leônidas manifestou ideias acerca do misticismo. A ideia era simples logo que o zumbi dormisse, Maria induziria Léo ao sono e tentaria conectar a mente dos dois durante o sono. Logo que o lobotomizado adormeceu, Maria evocou os poderes da pedra que adormeceram o Escorpião e levaram sua forma astral aos sonhos de outro.
Leônidas viu que durante o sonho trajava o uniforme do Escorpião e ao olhar ao redor uma paisagem começou a se formar, como se estivesse sendo desenhada, era uma paisagem bucólica porem cercada por muros altíssimos, a forma de uma máscara demoníaca preenchia todo o sonho, entre gargalhadas malévolas e cenas de torturas e lavagens cerebrais , as lembranças do homem sem alma tomavam forma e se misturavam ao sonho, centenas de insetos começaram a caminhar pelo corpo do Escorpião que se jogou ao chão gritando desesperado, enquanto a risada do demônio ecoava por todo lugar e uma centena de homens de olhar repleto de ódio berravam frases em um idioma esquecido e batiam no peito, quando a multidão abri espaço, um imenso cavalo sem cabeça em chamas vinha na direção do herói, o mais estranho era o cavaleiro que montava a besta, tratava—se dele mesmo, vestido como um monge portando o chicote da loucura, cada vez mais o barulho dos trotes se aproximava e o barulho do estalar dos chicotes era mais alto, Leônidas sabia que durante os sonhos
ninguém morria, mas temia que se fosse destruído ali, jamais voltasse a seu corpo, mas uma figura familiar surgiu como um relâmpago e o arrancou dali, era Evaristo ou o espírito dele. O novo Escorpião foi lançado através do espaço e ao dar conta estava em uma sala repleta de pregos no chão e do outro lado, estava o espírito do cativo, cativo dentro de si. Tudo aquilo era uma alegoria do que realmente acontecia, a alma do homem estava confinada no abismo mais escuro de sua mente, O Escorpião tentou atravessar , mas quando seguia sobre os pregos via que cada vez mais se afastava o espaço entre ele e o operário. Entendendo a situação, sem mesmo saber como, ele tirou as botas e penosamente começou a caminhar sobre os pregos enfrentando uma dor inimaginável, mas a cada passo a distância diminuía e após perceber que ao enfrentar a imensa dor dera somente três passos, os mais sofridos e sua mão tomou o espirito que após ser puxado de volta, desmoronou todas as paredes dali e num grito de liberdade tomou o Escorpião no colo e partiu para o despertar.
2 de Outubro de 1932 – O demônio e a rendição Kunyãpira amparou o corpo quebrado do homem que amava em segredo, estava caído, usando seus poderes malignos o Dr. Vodu surgiu em pessoa diante de um despreparado e desarmado Escorpião e através de um boneco preenchido com os cabelos dele usou de sua magia e quebrou-lhe os braços e as pernas, além de pisotear todo o corpo do boneco diversas vezes deixando o herói a beira da morte que não aconteceu graças a intervenção de Kunyãpira que poderia ter dado cabo facilmente do sociopata , mas o deixou fugir para salvar a vida do amado. Kunyã vestia uma belo vestido que o próprio Evaristo havia confeccionado para ela, o mesmo vestido molhado pelas lágrimas da guerreira virgem, estava manchado pelo sangue justo. A maga retirou o vestido e o jogou ao lado do corpo quase sem vida, ao redor a cachoeira onde haviam ido para sentirem—se livres parecia ser o cenário bucólico da morte e de um amor não concretizado.
Retirando a esmeralda de seu pescoço, colocou sobre o peito dele, a energia dela não deixaria o espirito dele ir embora, pelo menos por um curto espaço de tempo, o necessário para que ela fizesse a barganha. — Ixé orosausub, Guarini11·. — Kunyã mergulhou na água e pediu aos espíritos das águas que viessem até ela. Os espíritos reconhecendo a autêntica filha da natureza começaram a fazer círculos em volta dela, quando percebeu a amazona flutuava no meio de uma imensidão de água e respirava como se fosse um peixe, eles haviam saudado e a levado até seu mundo. Aiyra Amanaiara, tereguahê porãke !12 A voz ecoava com uma imensa paz e parecia mais uma onda de energia que atingia a doce Kunyã, quando ela abriu os olhos um peixe de dimensões fantásticas, era uma entidade menor que habitava os
11 12
Eu te amo, guerreiro. Filha de Amanaiara (Senhora das Chuvas), bem-vinda !
rios e sempre era gentil, disposto a uma barganha. A entidade ouviu e consentiu, ao retornar para a superfície, ela constatou que Evaristo dormia sereno e ileso, ele estava salvo. Dr. Vodu sabia que havia vencido o Escorpião, não se importava mais com o resultado de seu plano de dominação e separatismo, existia apenas o ódio pelo seu mortal inimigo, a indígena com certeza viria em seu encalço, desorientada pela morte do vigilante e ele teria os poderes dela e de lambuja o chicote. Os combates nas trincheiras seguiram sangrentos, durante 3 meses haviam perdas dos dois lados, o exército paulista formado pela Força Pública e os que se alistaram voluntariamente enfrentavam as forças federais enviadas por Vargas, algumas cidades como Lorena foram bombardeadas, em segredo Kunyã e Evaristo estiveram lá e ajudaram os feridos, não os interessava a guerra e sim ajudar as pessoas, vítimas dos bombardeios e os alvejados. Reunindo provas da existência da Irmandade do Ódio, o Escorpião entregou provas a Força Pública e
por mais que quisessem captura-lo, por considera-lo um justiceiro acerca da lei, concordaram em deixa-lo participar da investida final contra o quartel general da irmandade que servia de fachada para uma escola militar. A investida foi marcada para o dia 2 de Outubro de 1932, dali a duas semanas. Prevendo o pior que poderiam acontecer na noite em que o ataque foi decido, eles decidiram passar as últimas duas semanas juntos, Kunyã aprendeu o gosto do beijo e uma noite, reclusos do mundo no quarto secreto, ela observava os quadros pintados por Evaristo. — Quero que você me desenhe. Você faria isso? — perguntou a moça temendo o futuro deitada sobre o peito dele. — Claro. Mas agora? — Agora. — a resposta veio de um modo tão serio que Evaristo pegou uma das telas vazias e selecionou algumas tintas, fez os preparativos e a acarinhou. — Como você quer ser pintada? — perguntou Evaristo.
— Da forma que eu sou de verdade. — sutilmente ela tirou o vestido e se despiu por completo deixando somente a esmeralda no pescoço. O coração daquele homem disparou , ela muito linda, jamais pode dizer isso, apesar de tudo que passaram naqueles dias recentemente, jamais tinha a amado de corpo (como ela chamava o sexo), ele sabia que se acontecesse partiria dela, dos lábios dele quase escaparam palavras de amor, mas ele se recompôs e começou a fazer o esboço, durante horas e horas a fio ela foi pintada, palavra alguma foi dita pelos dois, durante todo aquele silêncio somente trocavam olhares iluminados pelas luzes de dois lampiões, domando a excitação. — Guarini ... — somente faltava pintar os olhos, ela se aproximou dele e o beijou de um jeito desajeitado, mas cheio de amor, ele tocou o seio dela e em seguida retirou a esmeralda do pescoço com os dentes, ela disse algo que ele não compreendeu, ele colocou o dedo indicador sobre os lábios dela e a beijou, ela o abraçou e em seguida as horas foram preenchidas por sussurros em tupi e português.
Em sua base o Dr. Vodu soube que possivelmente seria atacado pela Força Pública, ele observou seu novo ás na manga que outrora foi um mercenário chamado Orestes agora convertido numa criatura medonha, havia sido possuído por uma entidade que havia sido ludibriada por Dr. Vodu através de ritos satânicos, ele observou a criatura que tinha o rosto coberto por um pano preto e o corpo amarrado por correntes místicas, somente a indígena poderia encara—lo, mas como ela chegaria até ali? Depois que dizimasse as tropas, ele soltaria a besta na cidade para seguir o rastro dela. No dia 2 de Outubro a guerra finalmente terminou com a última trincheira que se havia se recusado a parar de combater mesmo mediante o termo de rendição assinado pelas tropas paulistas, após o término dos combates, os poucos que sobreviveram assistiram o por do sol em Guaratinguetá, amparando os companheiros caídos com seus corpos manchados de sangue, tendo cessado o som das matracas e das metralhadoras.
Coincidiu assim o fim da guerra, com o dia da investida final contra a Irmandade do Ódio, soldados da Força Pública invadiram a base do Dr. Vodu que reagiu mandando seus acólitos reagirem com as armas, houveram baixas porém, a Força Pública era mais numerosa e foram obrigados a se renderem. O sociopata foi encurralado. — Sua insanidade acaba aqui, Vodu! — o Escorpião estalou o chicote. — A vadia deve ter lhe salvo de alguma maneira, mas é o fim da linha pra você! — ele retirou o boneco e torceu o pescoço ao contrário. Sentindo um ódio imenso, o Escorpião lançou o chicote ao chão e rasgou a camisa mostrando uma tatuagem de um símbolo indígena, o vodu não o afetaria mais. — Posso cuidar de você com minhas próprias pernas! — Vodu deu um passo atrás e a besta enfurecida atravessou a parede e avançou contra os outros destruindo tudo em seu caminho, O monstro era enorme totalmente escarlate e musculoso, o corpo cheio espinhos e chifres enormes na fronte.
Os soldados que acompanhavam os dois heróis, começaram a ser dizimados , cada um com um golpe que lhes partiam os ossos, um deles teve o crânio esmagado pelas próprias mãos da criatura. O Escorpião tentou ajuda—la , mas foi atingido pelo próprio chicote usado pelo Dr. Vodu, enquanto delirava era cruelmente espancado pelo necromante. — Jurupari13, eu não tenho medo de você! — as garras da amazona perfuraram o abdômen do monstro diversas vezes, mas mesmo com as vísceras se esvaindo, a criatura ainda investia e só restava a Bruxa esquivar—se dos ataques. — Guarini! Enfrente o medo! O chicote só funciona se você teme! Quando ia receber mais um chute na face, Guarini segurou a bota e o derrubou com uma rasteira, em seguida ele arrancou a máscara do vilão e esmurrou diversas vezes até perder o folego e o desconhecido pender o rosto para o lado e pedir que parasse. Jurupari encurralou a Bruxa, mas quando a levantou 13
Jurupari é tido como um deus e espírito maligno pelo povo tupi e guarani.
pelo cabelo foi atingido pelo chicote e começou a berrar. — Então , você também tem medo bicho feio ? — o confronto havia chegado ao fim, Kunyãpira saltou e num golpe certeiro degolou o monstro, seu sangue ácido espirrou para todo lado, Evaristo protegeu a amada com o próprio corpo e os soldados que entraram na sala fuzilaram o corpo que ainda se movia até ele cair inerte. O Escorpião arrancou a máscara e a abraçou, ambos giraram no ar e se beijaram. — Ixé orosausub, Kunyãpira! —gritou Evaristo, quando ele a abraçou ela sorriu e derramou lágrimas que molharam o peito dele, de repente os soldados ficaram pasmos quando perceberam que a mulher desaparecera como por encanto. Deixando para trás um coração partido, sem explicações, a esmeralda ao chão e o chicote que foi a razão de tudo.
Orestes possuĂdo por Jurupari
23 de Novembro de 1967 — Epílogo Guiados pelas informações do zumbi salvo que se chamava Henrique, Jaguara e o Escorpião foram até o reformatório chamado Irmandade do Amor e lá encontraram o responsável pelas manipulações e lobotomias naquele ano. Usando um ritual ela rompeu o selo que dominava a mente dos cativos no lugar e quando acuaram o responsável por tudo, que trajava uma cópia barata do uniforme do Doutor Vodu original, encontraram apenas um velho assustado que se chamava Egídio Soares. Não houve mortes , nem tampouco feridos, quando acuado Egídio tentou disparar contra os dois , mas algo o deteve. Uma voz cavernosa soou : Você me manipulou através do sua magia suja e junto de seu comparsa e fez-me sofrer uma derrota humilhante pelas mãos da Filha de Amanaiara Um velho com feições indígenas surgiu e a pedra emitiu um brilho intenso.
— Não, não! Por favor! — Egídio acuado no canto desesperado ouviu os passos do velho que pareciam trovões do chão, ele pegou o homem pelo cabelo e começou a arrasta-lo. Vocês também virão comigo! Vão pagar pelo que me fizeram Escorpião e Filha de Amanaiara! Mas quando Jurupari se aproximou deles percebeu que não conseguia toca-los, então desapareceu levando o desafortunado Egídio. Juntos frente a uma cachoeira, os dois estavam abraçados, devorando os lábios um do outro com tanta usura que parecia que seriam arrebatados pela morte a qualquer minuto. — Filha de Amanaiara ...que será que ele quis dizer? Teria insinuado sobre uma reencarnação? — questionou Maria. — Sei não, mas ele se referiu a mim também, mas quando nasci meu primo era vivo ainda... Mas enfim
há mistérios que jamais entenderemos. — concluiu Pedro ou Leônidas. — Talvez exista algo do Evaristo em você. — disse a garota acariciando a pele negra reluzente. — Ou do Escorpião! — ele riu e ambos rolaram sobre a grama e se beijaram, depois observaram a cachoeira. — O que vamos fazer? Agora? A ditadura não acabou. — ela disse num leve baixar de olhos. — Seremos felizes juntos em qualquer lugar! — disse Leônidas sorrindo. Longe dali um homem deformado deixava um manicômio após 35 anos e ele jurou que se houvesse qualquer traço de vida ainda no responsável pela sua queda se vingaria dele e seus descendentes.
2 de Outubro de 1966 – Epílogo II Após 34 anos ele ainda se lembrava dos olhos dela, então se pôs diante do quadro que nunca terminou e com um sorriso no rosto, ele pintou detalhadamente cada singelo detalhe que aquele olhar tinha em sua memória, após isso, ele um último gole na aguardente e lançou a garrafa na parede, em seguida foi até o espelho e se olhou, notou o quanto havia envelhecido e fez a barba. Vestiu—se com a melhor roupa e partiu para a cachoeira subiu até o topo e de lá nunca mais voltou.
Sobre o Autor:
Olá, Nasci em 1988 em Uberlândia, vivo em São Paulo atualmente, sou casado e pai de dois filhos, escrevo desde a infância, sou fascinado por heróis, história e literatura em geral, principalmente de terror. Sou professor e tradutor de língua inglesa. Que tal usar seu leitor de QR Codes abaixo para acessar locais onde você pode conhecer meus trabalhos literários?
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