Arquitetura Como Acontecimento: O Festival Anda SP

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AN DA SP 1


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CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES DE SÃO PAULO FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO Orientador: Ivanir Reis Neves Abreu

Arquitetura

como

acontecimento: Anda SP

Marina Fiuka de Miranda São Paulo 2021

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Festival


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AGRADECIMENTOS

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“Eu agradeço, ao povo brasileiro. Norte, Centro, Sul inteiro. Onde reinou o baião.” Luiz

Gonzaga

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Agradeço antes de mais nada, àquela que me deu a vida, esse presente tão lindo e efêmero. Mãe, de nada seria esse trabalho ou qualquer outro momento da minha vida se não fosse você, agredeço não só pelas inumeras oportunidades e referências com as quais você me guiou mas também pela companhia nas noites de virada de projeto, fazendo um café ou ajudando nas maquetes, agradeço por tanto, que nem cabe aqui. Agredeço por você existir e me deixar existir seguindo você, um exemplo de determinação e independência. Nessa saga intensa que chega ao fim sei que chegamos juntas, parabéns pra nós. Amo você! Agradeço também ao meu querido orientador, Ivanir, que entre trocas me ajudou a materializar um sonho, imaginar dias melhores e permanecer com a esperança viva dentro em tempos tão sombrios. Obrigada professor, por escutar minhas inquietações infinitas e com extrema paciência sempre trazer ideias novas com sua bagagem intectual e academica. De fato, não posso deixar de agradecer todos os professores que passaram pela minha história e em especial por esses anos de faculdade, aos educadores que transformaram e trasformam visões de mundo, esse trabalho dedico a vocês. Não posso deixar de agradecer o apoio e as trocas infinitas com os meus amigos, que sempre me escutavam e devolviam com ideias novas e referências maravilhosas, amo vocês! Agradeço também meu psicologo Daniel Socrates, por tanto e sempre.

Vivamos!

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SUMÁRIO

1. INQUIETAÇÕES 11 2. O EFÊMERO 27 3. O TERRITÓRIO 49 4. O ACONTECIMENTO 80 5. ANDA SP 97 6. CENTRO SP 104 7. ACONTECIMENTOS 114 8. MÓDULOS 116 9. PAVILHÃO DA DEMOCRACIA 152 10.PAVILHÃO DA EXPRESSÃO 204 11.PAVILHÃO DA TROCA 254 12.PAVILHÃO DA FOLIE 270 13.REFERÊNCIAS 280 8


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INQUIETAÇÕES

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I n q u i e t a ç ã o Do latim inquietatio.onis. Ação de se preocupar com o que, normalmente, se encontra acima de seu entendimento; falta de satisfação intelectual: as inquietações da mente; inquietação de pensamento.

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Há cinco anos, quando iniciei minha graduação no curso de Arquitetura e Urbanismo, me encantava a ideia de construir obras belas, materializar e transformar espaços. Com o passar dos anos fui aprendendo a diferenciar o estético do funcional e, principalmente, a encontrar a magia que resulta do encontro entre os dois. Li sobre os meios de produção pós industriais e sobre os efeitos da sociedade do espetáculo nas cidades contemporâneas, passando assim a criticar planos e iniciativas privadas e governamentais. Ao estudar a história da arquitetura e da humanidade, reconheci que, ao deixar de ser nômade e optar por viver permanentemente nas cidades o ser humano plantou também a própria ruína, passando a controlar os rios, modelar o relevo, ignorar o desenvolvimento natural dos territórios. Passou a investir no padrão de cidade global, provocando mudanças de matéria, criando e introduzindo substâncias para as quais não se ensaiou um ciclo de transformação na terra. Passei a me questionar sobre os impactos ambientais incalculáveis do almejado “progresso”. Com o tempo percebi que eram questionamentos e críticas que me impulsionavam e me inspiravam ao projetar, passei a questionar de que forma minhas criações poderiam ser saídas para o futuro orientadas pela transformação, deixando de lado técnicas e repetições que geram a obsolescência dos espaços e das cidades. Quando no nono semestre fomos questionados sobre nossas inquietações, todas as questões acima vieram em minha cabeça, a preocupação com o perecível, com a obsolescência previsível e o descarte programado das edificações, o caminhar das cidades perdidas no espetáculo e como São Paulo sofre os efeitos desse movimento. Entre pensamentos e questionamentos entrei em nostalgia e recordei os processos criativos realizados ao decorrer da faculdade, visitei lembranças e encontrei os pontos em comum dos projetos nos quais mais me senti confortável com o produto da criação. Lembrei o que produzi com módulos, e como sempre me interessou o que monta e desmonta, como quando fiquei fascinada ao construir móveis de encaixe, o abrigo temporário e a follie. Passei a pesquisar que tipo de construção poderia ser feita fora da ideia da arquitetura como espaço construído e modificado, e de que forma seria possível abandonar o permanente, que implica na mesma função e utilização do espaço até que seja destruído.

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As respostas a estas inquietações começaram a vir quando me deparei com a arquitetura temporária, ou efêmera: “Um objeto arquitetônico está temporariamente em um lugar quando ele é destruído pelo homem, quando ele se destrói por processos naturais ou quando ele é retirado do local.” Quando pensamos em retirar do local o que foi construído, falamos sobre a arquitetura da desconstrução, abraçando tecnologias que permitam baixo impacto no ambiente e abracem o abandono da permanência. Mesmo preparada para a permanência, a arquitetura efêmera, em sua essência, ganha existência quando necessita cumprir uma demanda por um certo período de tempo, pode existir a fim de promover um espaço e fazer com que o novo status dele seja reversível, ou seja, após a estadia da construção no local, o mesmo volta as suas características iniciais como se nunca tivesse recebido uma intervenção. A arquitetura efêmera permite utilizar um espaço, habilitando-o para uma nova função temporária sem danificá-lo ou modificá-lo. De certo, modular, desmontável e efêmero, esse seria o tipo de sistema construtivo a ser desenvolvido e utilizado no âmbito arquitetônico do projeto, mas para construir uma arquitetura efêmera era necessário pensar num por quê, numa causa, num acontecimento.

“As flores são um outro exemplo de efemeridade. Em geral duram pouco, algumas espécies somente um dia, mas não por isso desaparecem definitivamente. Ao longo do seu curto período de duração, são polinizadas, o que garante não só que renasçam, como também proliferem. Fica claro que a condição de efêmero não se trata daquilo que dura pouco e desaparece, mas sim daquilo que tem sua curta duração associada a uma capacidade intrínseca de continuamente ressurgir.” Queiroz, 2019

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A PANDEMIA SARS-CoV-2

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Entre dezembro de 2019 e janeiro de 2020, foi notificado à Organização Mundial de Saúde (OMS), um grupo de pessoas internadas com pneumonia com causa desconhecida na cidade de Wuhan, província de Hubei, China. Após análise dos exames, foi identificado o novo betacoronavírus denominado SARS-CoV-2. No dia 11 de março de 2020, a OMS define o surto como pandemia, após o número de novos casos diários, fora da China, terem aumentado 13 vezes. Seis dias depois, dia 17 de março, a primeira morte por Covid-19 foi registrada no Brasil. Este projeto começou a ser pensado em sala de Zoom, em fevereiro de 2021 quando a pandemia SARS-CoV-2 já era parte da realidade do mundo há pelo menos um ano. Em um funcionamento dualista e polarizado, nos vimos entre a vida e a morte, entre o coletivo e o individual, sendo levados a esquecer a vida compartilhada para poder viver em segurança, isolados, em constante companhia de si. A pandemia nos colocou em isolamento e nos fez refletir como seria o mundo para o qual voltaríamos depois do isolamento social. Foi, ainda é e será um longo período de luta contra o coronavírus, estamos encerrando 2021 e as consequências das medidas de restrição, mortes e desemprego continuam a castigar cidades pelo mundo. Deste contexto, apesar dos pesares, nasce a necessidade de criar instrumentos alternativos para auxiliar organizações urbanas e governos locais a cumprir com a demanda óbvia que surgiu dessa pandemia; construir áreas mais verdes, espaços mais abertos e incentivar mais atividades ao ar livre. Mais do que nunca, as pessoas precisam sair, se exercitar e socializar com outras para que assim possam manter um estado mental minimamente saudável.

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Pesquisando sobre o efeito da pandemia nas cidades, me deparei com a UN-Habitat, ou agência das Nações Unidas para o desenvolvimento urbano sustentável, que tem como principal objetivo encontrar soluções para os desafios impostos pelo processo de crescimento e expansão urbana ao redor do mundo, e sua parceria com a Fundação Block by Block. As duas instituições se uniram afim de pensar em soluções urbanas para diferentes cidades do planeta, em principal as mais atingidas pelos efeitos da pandemia, e ajudá-las a enfrentar a volta às atividades com segurança. Foram medidas desenvolvidas em parceira com organizações e governos locais que contaram com a participação das comunidades envolvidas, tais ações ajudaram a estabelecer espaços públicos seguros e saudáveis, que abrangem desde a instalação de playgrounds móveis para as crianças de Hanói, no Vietnã, passando pela construção de estruturas temporárias para vendedores ambulantes nas cidades de Dhaka e Khulna, em Bangladesh, até a introdução de espaços públicos seguros em assentamentos informais de Bhopal, na Índia. Assim que terminei o texto “12 Estratégias para construir cidades mais resilientes em tempos de pandemia” escrito pela Christele Harrouk e disponibilizado pel Archdaily, tudo fez sentido. Dalí eu sabia aonde, por quê e para quem construir estruturas temporárias.

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Frase e foto Hellman, poeta

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Francisco brasieiro.


O EVENTO ANDA SP

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Estamos no Brasil, o ano é 2021, o país está há praticamente dois anos recebendo diariamente de todos os lados uma quantidade recorde de notícias ruins consecutivas. A crise no país não basta ser sanitária, mas também é política, econômica e social. Viver no Brasil nunca foi fácil, mas desde outubro de 2018 passou a ser um ato de resistência e coragem. Numa onda negacionista e dicotômica o país foi forçado a revisitar questões históricas, cutucar feridas e desenhar o óbvio. Depois de vergonhosos episódios que ainda se estendem revelados pela CPI da Covid, inúmeras Fake News sobre a vacina e 614 mil mortes, o Brasil pode enxergar a luz no fim do túnel. São Paulo, este mês, novembro de 2021, chegou a 100% da população adulta totalmente imunizada contra a covid e o Brasil, como um todo, está nos 60% da população totalmente imunizada. Se antes era uma dúvida quando voltaríamos à normalidade, hoje ainda restam questões, mas já temos motivos para acreditar que em 2022 a realidade pode ser diferente. Não só é possível ter esperanças por conta do avanço da ciência em relação ao coronavírus e a tão sonhada vacina, mas também podemos vislumbrar um mundo melhor com a chegada das eleições. Me pareceu oportuno juntar minhas inquietações em um projeto, afim de criticar a arquitetura contemporânea neoliberal, construir estruturas de baixo impacto ambiental e ajudar no contexto político-histórico em que estamos inseridos. Desse pensamento nasceu o festival ANDA SP. Surge a ideia de criar uma memória de relação corporal com a cidade, uma comemoração ao renascimento de uma sociedade após as trevas, um evento que anunciasse um novo tempo. Vi nas minhas inquietações a chance de criar um meio de comunicação entre o indivíduo e a cidade através de intervenções temporárias em espaços públicos que sejam catalisadoras, servindo como ferramenta de convívio e civilidade após intensa reclusão e terror social. De tantas inquietações, cria-se uma oportunidade de gerar uma experiência urbana de (re)encontro entre os indivíduos e entre o indivíduo e a cidade.

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O EFÊMERO

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“A arquitetura efêmera tem a capacidade de criar uma experiência memorável significativa. Por ser erguida em um curto período de tempo, sua montagem e comissionamento tornam-se uma espécie de performance.” KRONENBURG, 2016, tradução livre)

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A arquitetura efêmera, algumas vezes também denominada de transitória por serem sinônimos, traz um conceito que vem sendo discutido bastante nos últimos tempos, embora a técnica construtiva e a presença desse tipo de edificação datarem desde os tempos primórdios. A discussão que envolve a conceituação da arquitetura efêmera se estende desde método construtivo até a definição do que é efêmero, uma vez que se for levado o tempo de existência do planeta terra como referência para definição, a própria raça humana será efêmera. Portanto ao falar sobre efêmero, deve-se levar em consideração a escala humana como referência de tempo até para não confundirmos o tempo de durabilidade com tempo de validade, não falaremos sobre “o potencial de durabilidade, mas sobre a existência real do objeto.” (PAZ, 2018) Será considerado o período de existência e “para quê” a construção transitória será feita ao estabelecermos conceitos, uma vez que, “o apelo a uma construção temporária se dá quando se pretende melhorar a performance de um lugar para um fim igualmente temporário” (PAZ, 2018). Ou seja, para que uma arquitetura seja considerada transitória ela deve ser projetada e construída com data de validade prevista e sua funcionalidade será definida pela intenção do que se pretende abrigar. Paz (2018) também adiciona que a tecnologia de construção não é critério válido para compreender a arquitetura efêmera. A tecnologia de desconstrução sim o será, e assim chega-se na importância da técnica construtiva para uma construção transitória de sucesso. Paz (2018) ainda especifica três táticas para uma construção transitória ser bem sucedida, “a partição, compactação e rigidez”. Segundo o autor a partição é a fase em que o objeto é dividido em partes menores, o que possibilita que o conjunto seja transportado fragmentado. Na compactação, o objeto assume forma mais compacta, de forma a descaracterizar o objeto que era antes, ou seja, deixa de ser uma construção e se torna um conjunto de pequenas peças. Por fim, com a rigidez o objeto torna-se sólido, se as peças por si só forem feitas de material rígido, as mesmas quando unidas formarão uma forma rígida.

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Ainda na fase de conceituação baseada em materialidade, técnica construtiva e contextualização, vale parafrasear “Este tipo de arquitetura (efêmera) era necessariamente criada com um desenho particular que o permitisse ser desmontado e transportável.” (FERNANDES, 2018). Para o autor é necessário levar em conta a técnica construtiva ao falar sobre arquitetura efêmera uma vez que, se a técnica for desconstrutiva, aparece outra característica e vantagem, importante da arquitetura efêmera; o baixo impacto no meio ambiente pós desconstrução. Tanto é baixo o impacto no local no qual foi instalada a construção, quanto o impacto no meio ambiente como um todo, uma vez que sendo a edificação projetada para o desmonte e reutilização, evita-se a poluição. Fernandes classifica a arquitetura efêmera em dois conceitos “adaptabilidade” e “reversibilidade”. Ele descreve ser essencial a este tipo de construção o poder da adaptabilidade, uma vez que ela deve se adaptar em diferentes situações e lugares (Fernandes, 2008). O autor ainda fala sobre “reutilizar” o edifício para outros fins diferentes do primeiro, chegando no conceito de “reabilitação arquitetônica”, discussão essa necessária para arquitetura contemporânea uma vez que é provada a quantidade cada vez maior de edifícios que caem em obsolescência por não atender mais as demandas humanas que se modificam através do tempo. Ao falar sobre “reversibilidade”, Fernandes menciona como a arquitetura transitória pode existir a fim de promover um espaço e fazer com que o novo status dele seja reversível, ou seja, após a estadia da construção no local, o mesmo volta as suas características iniciais como se nunca tivesse recebido uma intervenção. A arquitetura efêmera permite melhorar um espaço, habilitando-o para uma nova função temporária sem danificá-lo ou modificá-lo.

Ao lado a “waling City” de Ron Herron classificada como arquitetura móvel, diferente de arquitetura efêmera.

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Por fim, ao conceituarmos arquitetura efêmera, não devemos somente levar em consideração sua materialidade, técnica construtiva e contexto, mas também a visão conceitual e subjetiva que este tipo de construção engloba. Robert Kronenburg, professor na Universidade de Liverpool e especialista em arquiteturas flexíveis, portáteis, transportáveis e móveis, é reconhecido no campo de discussão pelo seu livro “Flexible: architecture that responds to change” (Flexível: arquitetura que responde a mudanças), publicado em 2007. O autor classifica a arquitetura efêmera como “Demountable Buildings” (Edifícios Desmontáveis) “São desmontados e transportados em uma quantidade considerável de partes, o que oferece uma maior flexibilidade de adaptabilidade do futuro terreno.” (KRONENBURG, 2016, tradução livre) A principal crítica de Robert à arquitetura convencional é sua estabilidade e falta de adaptabilidade as mudanças humanas, para ele a boa arquitetura deve possibilitar quatro ações: Adaptação, transformação, interatividade e mobilidade. Kronenburg ainda adiciona a vantagem estética da construção transitória, “Esta particularidade pode ser uma vantagem, pois como são temporárias podem ser “extravagantes””. (KRONENBURG, 2016, tradução livre)

Afim de diferenciar tipologias, ao lado um exemplo de arquitetura perecível de “Casas do Brasil: a casa xinguana” feita fotógrafo e antropólogo Milton Guran no Parque Nacional do Xingu, em 1978, também diferente da arquitetura efêmera.

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1939

1851

1851 Fruto da Revolução Industrial, o Crystal Palace, foi concebido por Joseph Paxton para a primeira Exposição Universal, em Londres. Nunca antes uma construção dessa magnitude havia sido feita com elementos modulares pré-fabricados.

Exposição Universal de Nova Iorque. O pavilhão “O mundo de Amanhã foi projetado por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer

Expo Milão 2015, último evento de exposições universais que o Brasil participou até então. O projeto foi idealizado por Arthur Casas, e teve como tema “Alimentando o mundo com soluções”

O EFÊMERO NO TEMPO 35


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PAVILHÃO DA HUMANIDADE 37


“Assim como as imagens poéticas, as metáforas arquitetônicas produzem um impacto mental por meio de canais emocionais e corporalizados antes de serem compreendidas pelo intelecto; ou ainda, mesmo que não sejam compreendidas as metáforas podem nos comover profundamente. O poder de uma imagem poética ou arquitetônica reside em sua habilidade de acessar sua experiência existencial diretamente, sem a manipulação ou a deliberação consciente.” (PALLASMAA,

2017,

p.

101-102)

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Diante do atual cenário ambiental e o esgotamento de recursos, é mais que importante, mas urgente identificar limites e apresentar novos contornos e possibilidades para velhos hábitos. Isso se aplica ao âmbito da sustentabilidade no campo das construções civis quando falamos sobre arquiteturas impermanentes. O projeto e realização do pavilhão Humanidade 2012 no Rio de Janeiro é um dos estudos de caso que sustentam o argumento da impermanência. Este foi um equipamento arquitetônico construído para abrigar durante dez dias a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Natural (CNUDN), mais conhecida como Rio+20. O Pavilhão da Humanidade 2012 teve como diretora artística Bia Lessa e a concepção arquitetônica da arquiteta Carla Joaçaba. De frente ao desafio da concepção de um espaço para receber um evento voltado para a sustentabilidade, a diretora artística Bia Lessa teve a convicção inicial que a própria estrutura do pavilhão deveria comunicar o conceito de sustentabilidade, não somente ser um invólucro para o evento. A própria arquitetura deveria ser um acontecimento sustentável.

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“Tínhamos uma área dentro de uma base militar, com um relevo instável, uma vista representante de um dos cartões postais do Rio de Janeiro – Praia de Copacabana e Ipanema e uma natureza viril, com um vento bem pouco delicado alcançando as vezes 120 km /hora por hora. Nosso primeiro contato com o terreno foi conhece-lo. Lá estava instalado uma tenda plástica de 8.000 m quadrados, com um potente ar condicionado e uma varanda de uns 250 metros de onde se podia avistar Copacabana. Para nós a inviabilidade desse material era obvia, abrir mão do vento, da vista e do terreno e trabalhar num espaço que poderia estar instalado em qualquer região, negando o que estava a sua volta. Para nós sustentabilidade representava a utilização dos elementos que o terreno e as condições climáticas apresentavam. Como negar o vento, o mar, o sol e a chuva tão imponentes e soberanos no forte de Copacabana?” Carla

Juaçaba,

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2012


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Através do sistema de andaimes, a construção a partir de peças modulares se insere por um sistema de encaixe e transcende a duração da ideia do projeto. Um sistema que já existia antes da sua realização para este evento e que continuará existindo após a sua desmontagem. Em uma realidade onde materiais duram mais do que ideias, para a dupla que concebeu o projeto o sistema construtivo era símbolo de sustentabilidade uma vez que é 100% reutilizável. Um ponto importante que Carla Juaçaba destaca em relação a essa experiência construtiva, é o fato de ela ser completamente autoportante, o que se adequou muito bem às condições existentes do terreno acidentado, sendo que foram 7.000 pontos de apoio sem nenhum tipo de atirantamento ou de fixação. Juaçaba afirma que “apesar do grande porte apresentado, foi a solução menos agressiva que pode existir uma vez que ao ser retirada deixou o solo intacto.” Carla Juaçaba comenta em entrevista realizada pela FAU USP em 2020 no Ciclo de Debates: Arquitetura Brasileira que apesar da estrutura parecer complexa é na verdade muito simples, é um conjunto paralelo do que ela chama de “paredes estruturais” que ficam estáveis graças a presença do programa que é espalhado em salas e corredores que conectam tais estruturas. As salas seriam acessadas por rampas sutis, sem causar esforço ao visitante para que o desfrute da vista, por vezes a própria movimentação das pessoas no “edifício” transformava os visitantes em objetos de exposição visto de longe.

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“Tentamos através desse projeto realizar uma exposição onde não houvesse separação entre o que estaria exposto e o prédio propriamente dito. Não havia uma arquitetura, no sentido de um espaço desvinculado de um conteúdo expositivo. O próprio espaço era a exposição.” Carla Juaçaba, 2012

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O TERRITÓRIO 49


“O caminhar, mesmo não sendo a construção física de um espaço, implica uma transformação do lugar e dos seus significados. A presença física do homem num espaço não mapeado – e o variar das percepções que daí ele recebe ao atravessá-lo – é uma forma de transformação da paisagem que, embora não deixe sinais tangíveis, modifica culturalmente o significado do espaço e, consequentemente, o espaço em si, transformando-o em lugar.” Francesco

Careri

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Como brevemente citado nas inquietações, o mundo e em especial, as cidades dos países emergentes, passa por um processo de espetacularização. Como efeito da globalização e da sociedade do consumo, o urbanismo contemporâneo tem seguido uma lógica orientada pelos imperativos do mercado, causando uma padronização e concorrência entre as cidades. Os efeitos da globalização afetam a produção do espaço urbano transformando a cidade em mercadoria, passam a existir mais locais privados e pagos do que espaços públicos e gratuitos. Há nesse processo uma exclusão daquele que não pode bancar a mercadoria que é vendida na sociedade do espetáculo, levando a cidade a ser um território exclusivo e excludente. À medida que os imperativos do mercado começam a comandar o planejamento urbano, ocorre uma homogeneização de cenários, paisagens urbanas ficam repetitivas uma vez que os mesmos projetos são utilizados para cidades diferentes, desconsiderando a localização. Com esse movimento, apaga-se da vida do cotidiano e a corporeidade dos espaços, afasta do indivíduo o interesse e o exercício pela participação e experiência social, transformando espaços em “não-cidades” ou “não-lugares” segundo Bauman. Para Paola Berenstein Jacques, arquiteta urbanista e docente, autora de “Corpografias Urbanas” e “Grande Jogo do Caminhar”, defende o incentivo a experiência urbana corporal nas cidades como forma de micro-resistência a esse processo de espetacularização e o empobrecimento da experiência urbana.

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“Esse tipo de experiência urbana pode ser estimulada por uma prática que chamei de errâncias urbanas que, por sua vez, resulta em diferentes corpografias. Uma corpografia urbana é um tipo de cartografia realizada pelo e no corpo, ou seja, a memória urbana inscrita no corpo, o registro de sua experiência da cidade, uma espécie de grafia urbana, da própria cidade vivida, que fica inscrita, mas também configura o corpo de quem a experimenta.” Paola Berenstein Jacques

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O termo corpografia urbana, proposto por Paola, é, em suma, o resultado das interações entre o indivíduo e a cidade e como essas ficam inscritas, em diversas escalas de temporalidade, no corpo daquele que a experimenta. É inegável como essas experiências vividas pelo indivíduo levam a defini-lo e molda-lo, mesmo que involuntariamente. As experiências corporais que temos em determinados espaços nos guiam na maneira como agimos perante o mundo e também como o habitamos. A prática do caminhar pela cidade como forma de experiência urbana e resistência não é inédita, no livro “Walkscapes – O Caminhar como Estética” o autor Francesco Careri faz um traçado histórico desde os primeiros nômades até os artistas de land art dos anos 1960/1970. É de suma importância citar os situacionistas (1960) como praticantes das errâncias urbanas. Com a ideia das derivas, produzem uma crítica radical ao urbanismo e apologia a experiência das cidades, a prática dos situacionistas resultou em debates sobre as formas de apropriação do espaço, em textos e ações, relatando essas experiências através de suas ideias ou com produção de imagens, como mapas. Os situacionistas, utilizavam as errâncias urbanas afim de produzir material com os quais argumentavam a sua oposição ao urbanismo de sua época, para os situacionistas o antídoto ao urbanismo do espetáculo existia através de um ou “método”, a psicogeografia, e uma “técnica”; a deriva, que estavam diretamente ligadas. Defendiam o caminhar como produção do espaço e de interação com o mesmo.

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As errâncias urbanas se desenvolveram também no campo artístico após os situacionistas. Grupos surrealistas e dadaístas surgiram propondo interações com as cidades e o caminhar, Fluxus, grupo neo-dadaísta propôs experiências, com a ideia dos “happenings” no espaço público. No Brasil, os artistas modernistas e os tropicalistas propuseram ideias semelhantes, principalmente as Experiências de Flávio de Carvalho, próximo aos surrealistas parisienses, ou o Delirium Ambulatorium de Hélio Oiticica, leitor do mentor dos situacionistas dos anos 1960, Guy Debord.

“Dentro do contexto da arte contemporânea, vários artistas trabalharam no espaço público de forma crítica ou com um questionamento teórico. O denominador comum entre esses artistas, e suas ações urbanas, seria o fato de que eles vêem a cidade como campo de investigações artísticas aberto a novas possibilidades sensíveis, e assim, possibilitam outras maneiras de se analisar e estudar o espaço urbano através de suas obras ou experiências.“ Paola Berenstein Jaques

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O errante estuda e interage com as cidades de dentro para fora, diferente dos urbanistas que enxergam a cidade “de cima”, através dos mapas. Jacques defende a errância como micro-resistência apenas por incentivar o indivíduo a caminhar à deriva e experienciar a cidade fora do espetáculo, sem ser obrigado a consumir ou produzir. Já os situacionistas viam a errância como forma de produção de críticas ao urbanismo de sua época e apropriação do espaço urbano através da ação do andar sem rumo. São abordagens e práticas diferentes para defender o caminhar como forma de interação e experiência urbana. Mais do que isso, o caminhar pode ser visto como forma de transformação do espaço, a apologia à errância é mais do que nunca uma forma de resistência.

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A ZONA DE SÃO PAULO 61


“A zona é talvez um sistema muito complexo de armadilhas... Eu não sei o que passa ali na ausência de pessoas, mas é só chegar alguém que tudo começa a se mexer... A zona é exatamente como se estivéssemos criado nós mesmos, como nosso estado de espírito... Não sei o que se passa, isso não depende da zona, depende de nós” Trecho do filme Stalker, de Andrei Tarkovski de 1979

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Previamente citado, Franceso Careri, autor de “Walkscapes – O Caminhar como Estética” defende o “caminhar como forma de intervenção urbana”, o caminhar como forma de arte. Para Careri podemos modificar os significados dos espaços atravessando-os, uma vez que o espaço é criado pela necessidade natural de mover-se, de encontrar. Careri, é arquiteto, professor e fundador do grupo Stalker. Os Stalkers começaram em 1995 a praticar caminhadas exploratórias que por vezes duravam dias e noites quando percorriam por volta de 60km regiões as quais eles denominavam “zonas”. “Eram territórios pouco explorados, fora das amarras do cotidiano.” O intuito era sair da cidade mais praticada e conhecida de todos. Tais zonas eram normalmente lugares “do meio” fora do centro de Roma, espaços não utilizados e em estado provisório. Em contrapartida com as zonas pouco exploradas dos Stalker, este trabalho final de graduação propõe um experimento exploratório no centro da cidade de São, aqui defino o Centro de São Paulo como o resultado do conjunto “centro velho” e “centro novo” conectados pelo Vale do Anhagabaú.

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“Desde que a rua esteja bem preparada para lidar com estranhos, desde que possua uma demarcação eficaz de áreas privadas e públicas e um suprimento básico de atividades e olhos, quanto mais estranhos houver, mais divertia ela será.” Jane Jacobes, 2000

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O Centro que, apesar de ser visivelmente um local que diariamente recebe milhões de pessoas, é também um território que sofre mudanças drásticas ao decorrer do dia. Visitar o centro de São Paulo as dez horas da manhã e as dez horas da noite resultará em experiências e percepções completamente diferentes. O Centro é cenário para grandes mudanças que ocorrem até hoje, apesar do processo de gentrificação decorrente da sua requalificação, o local ainda é subutilizado no sentido de moradia, são muitas unidades habitacionais vazias e paradas no tempo enquanto novos empreendimentos surgem a cada demolição. É sem dúvida um intenso centro comercial onde as pessoas chegam as 8h da manhã e desparecem depois das 18h, fazendo com que os “olhos” das ruas sejam inconstantes. O local sofreu transformações significativas em detrimento da “evolução” paulista, se viu abandonado nas décadas de 1950, quando a população de alta renda migrou para os novos subúrbios, na década de 1960 com a migração dos negócios e comércio para a Av. Paulista e por fim em 1970 após obras urbanas desastrosas como o Minhocão, que acabou por desvalorizar a área levando a degradação. Em 1990, a então gestão de São Paulo viu no abandono do centro novas oportunidades por conta do baixo valor de mercado e deu início a um intenso processo de requalificação da área, que dura até hoje.

Ao lado fachada do prédio Ocupação Ouvidor 63

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Seguindo a teoria de Jacques sobre a errância ser uma micro-resistência, convidar o indivíduo para experienciar o centro de São Paulo fora do horário comercial, visitar o centro como cidadão e indivíduo participativo, não como produtor ou consumidor é criar uma oportunidade de resistência. Os Stalkers defendam o caminhar como produtor e modificador do espaço, portanto convidar o cidadão a um encontro de errâncias dentro do Centro é habitá-lo e apropria-lo de forma a dar e transformar a personalidade do local. Apesar dos projetos e expectativas, são os indivíduos que demonstram como o local será verdadeiramente utilizado. O evento propõe criar uma forma de conexão, uma corpografia urbana experienciada no Centro afim de mantê-lo vivendo em sua singularidade.

Ao er”

lado de

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cena do filme Andrei Tarkovski,

“Stalk1979


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PARC DE LA VILETTE 70


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O Parc de la Vilette, inaugurado em 1987, é resultado de um concurso internacional, entre os anos de 1982 e 1983, para revitalizar terrenos abandonados e mal desenvolvidos do Mercado de carnes e matadouro, em Paris, França. O autor, Bernard Tschumi conceituou o parque como um edifício explodido e modular; segundo o arquiteto uma “desconstrução programática”. O Parque abrange aproximadamente 7.000 metros quadrados e abriga atividades como Museu da Ciência e Indústria, uma Cidade da Música, teatros e espaços para concertos. No projeto criou-se uma malha ortogonal de cento e vinte metros de lado sobre uma grande superfície afim de organizar a área disponível, em cada ponto que surgiu do encontro dos eixos x e y implantou-se o que o arquiteto chamou de “folies”, são 35 edificações que marcam em conjunto um território que permite uma série de percursos diferentes, a gosto do usuário. O projeto consistiu em três sistemas: superfícies, que são os espaços verdes abertos; linhas, os caminhos do parque; e pontos, as edificações, que são o denominador comum do parque e ícones do projeto.

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As denominadas “folies” são estruturas icônicas pintadas de vermelho, que apesar de semelhantes possuem características únicas marcantes, a característica repetitiva de cada uma das folies permite que os visitantes mantenham um senso de unidade através do parque, facilitando a comunicação entre o ambiente e o indivíduo e o senso de localização. De fato, são as linhas que limitam os principais caminhos de movimento demarcados, porém é o sentido delas que faz com que o caminhante trilhe seu próprio percurso e interaja com os vários pontos de interesse dentro do parque e da área urbana circundante. “O parque foi idealizado como um espaço para a atividade e interação, que evocasse uma sensação de liberdade numa organização sobreposta que daria pontos de referência aos visitantes” diz Tschumi. As estruturas não possuem programa pré-definido, uma vez que o projeto segue o conceito de espaço definido pelo usuário, aberto a interpretação. As folies proporcionam espaços de programa informal, efêmero e cambiante, que normalmente são utilizados para grandes eventos ao longo do ano.

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O Parc de La Villete foi idealizado de forma a proporcionar a interação urbana e criar uma experiência para o caminhante. A ideia das folies se assemelham as estruturas propostas neste Trabalho Final de Graduação por serem espaços que permitem a interação e apropriação do usuário. Além disso, é interessante observar a malha ortogonal idealizada por Tschumi e como a mesma auxilia na criação de percurso e volumetria, e como a mesma técnica será utilizada na produção das estruturas efêmeras propostas aqui. De fato, o que mais chama atenção no projeto do Parc de La Villete, além da estética marcante, é a organização despretensiosa com a qual o parque se dispõe ao usuário, uma vez que delimita uma área, um território para a apropriação e auxiliam no sentido de unidade do indivíduo, de certa forma pode se dizer que assim se organizam as ruas, segundo Franceso Careri as ruas são resultado da construção do movimento em direção a uma meta e está ligada a todos os sentidos de derivação. Tschumi, elaborou ruas e caminhos dentro de um espaço delimitado, assim como as ruas do Centro de São Paulo são caminhos dentro de um espaço delimitado, os pontos de encontro entre as ruas são os espaços públicos que permitem interação com o todo. No Parc de La Villete as pessoas interagirem com as “esculturas” e experimentam caminhos desconhecidos, interagindo também umas com as outras.

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O ACONTECIMENTO

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O ACONTECIMENTO COMO INTERVENÇÃO URBANA

Intervenção Urbana é o conceito usado para designar uma manifestação da arte contemporânea realizada em espaços públicos, com o objetivo de questionar e transformar a vida urbana cotidiana e envolver, geralmente, os transeuntes como seres ativos e participantes da obra de arte. As intervenções urbanas são produções contemporâneas que interligam a arte e a arquitetura e surgiram a partir dos anos 60, quando a obra de arte ultrapassou os limites dos museus e galerias e passou a ser uma ferramenta de ocupação dos espaços públicos e degradados, garantindo ao usuário sensações como pertencimento e apropriação da cidade e permitindo transformações sensoriais no cotidiano. As instalações artísticas são manifestações artísticas contemporâneas, criadas a partir de elementos organizados em um ambiente. As instalações, como exemplo de intervenção, têm o objetivo de intervir, modificar e até mesmo, ressignificar o espaço.

Ao lado foto do Viaduto do Chá em intervenção "A cidade é para brincar" de Basurama na Virada Cultural 2013

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Ao lado foto da Cota 10, na praça XV, Rio de Janeiro, vista a partir da praça. Grua Arquitetos

As relações com o lugar tonam-se um componente indissociável da obra de arte. Essa nova experiência substitui a contemplação de objetos autônomos deslocados do contexto por uma colocação em situação. Uma radical alteração na questão da percepção [...] A obra como objeto se dilui diante da utilização do lugar como forma de experiência. Peixoto, 1999

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Ocupação Conexidade Estúdio Chão

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A obra deixa de ser uma experiência estética e passa a ser vista como urbana e cultural. A intervenção urbana é sobre a natureza efêmera dessas construções e como as mesmas servem de catalisadores para o espaço público. A arte e a arquitetura são indissociáveis, pense como arquitetura sendo a arte funcional, e é por isso que instalações urbanas artísticas volumétricas acabam por optar por técnicas construtivas desmontáveis, assim como na arquitetura efêmera. “A intervenção urbana caracteriza-se, ainda, pela reversibilidade de sua implantação na paisagem, por seu caráter efêmero, pelo intuito de provocar reações, transformações e percepções no comportamento dos indivíduos, bem como por ser um componente de subversão ou questionamento das normas sociais, por interromper o curso normal das coisas por meio da surpresa. “(WAL, 2016) É então nesse contexto que a arquitetura assume sua responsabilidade artística, social e intelectual. Intervenção urbana definida pela enciclopédia do Itaú Cultural; “Na área de urbanismo e arquitetura, as intervenções urbanas designam programas e projetos que visam à reestruturação, requalificação ou reabilitação funcional e simbólica de regiões ou edificações de uma cidade. A intervenção se dá, assim, sobre uma realidade preexistente, que possui características e configurações específicas, com o objetivo de retomar, alterar ou acrescentar novos usos, funções e propriedades e promover a apropriação da população daquele determinado espaço. “ (ITAÚ CULTURAL, 2019)

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Na sociedade do consumo, em espaços espetaculares, guiadas pelo neoliberalismo, as cidades passaram a configurar um meio de produção cultural em diversas camadas sociais. Há uma hipervalorização do trabalho e da produtividade, com isso as pessoas passaram a esquecer o ócio e pequenos acontecimentos do dia a dia, como o próprio ato de descansar ou brincar. No contexto de pandemia o distanciamento intensificou a demanda do trabalho, que nunca esteve tão próximo e simbiótico com o lar, com massiva aderência ao home office. As atividades corriqueiras que nos levavam a viver a cidade, como ir ao mercado, por exemplo, passaram a ser feitas ou via delivery, ou regadas em álcool e desespero. Nessa atualidade questiona-se como as pessoas passariam a se confrontar com o inesperado? De forma a ressignificar um espaço pós pandêmico? Alguns desses questionamentos podem ser respondidos através do conceito de intervenção urbana. A intervenção urbana acontece na interação de um objeto com o espaço público, afim colocar em questão as percepções acerca desse objeto e da ressignificação desse espaço. Quando esse novo espaço é criado dentro dos centros urbanos é, na maioria das vezes, desconhecido pelos habitantes, um espaço que se torna um campo de experimentações e interação. Este novo espaço, feito para os indivíduos da cidade, acaba por possibilitar novas formas de habitar a cidade, diferentes das rotineiras. Dessa maneira, as intervenções urbanas participam, efetivamente, na forma com a qual experimentamos a cidade, é como se fosse um veículo que nos leva através das possibilidades que aquele espaço corriqueiro nos apresenta.

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Ocupação Conexidade Estúdio Chão

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ACONTECE NO CENTRO DE SÃO PAULO 92


Acontecimentos como este proposto já costumam acontecer no centro da cidade de São Paulo, a Virada Cultural, uma referência para este trabalho, atraiu 5 milhões de pessoas em 2019, data do último evento presencial pré-pandemia SARS-CoV-2, 2 milhões a mais que em 2018. Desde sua primeira edição, em 2005, a Virada Cultural atrai milhares de pessoas de todas as partes que podem acompanhar as mais de 900 atrações culturais e artísticas que ocorrem durante as 24h de evento. A virada Cultural é gratuita e promovida pela Prefeitura de São Paulo, oferece atrações para pessoas de todas as faixas etárias, classes sociais e gostos que ocupam, ao mesmo tempo, a mesma região da cidade. Inspirado na “Nuit Blanche” francesa, em São Paulo o evento traz programação diversa distribuída por toda a região do centro. A Virada Cultural busca, antes de tudo, promover a convivência em espaço público, convidando a população a se apropriar do Centro da cidade por meio da arte, da música, da dança, das manifestações populares. O evento normalmente, possui palcos espalhados no centro “velho” e centro “novo” e durante toda a realização, o Metrô de São Paulo permanece aberto em tempo integral para que os participantes possam se deslocar entre os diversos palcos e assistir às apresentações espalhadas por toda a cidade.

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ANDA SP

“A rua, que eu acreditava fosse capaz de imprimir à minha vida giros surpreendentes, a rua, com as suas inquietações e os seus olhares, era meu verdadeiro elemento: nela eu recebia, como em nenhum outro lugar, o vento da eventualidade” Breton 1924

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Ao decorrer deste trabalho vimos como a experiência urbana tem ficado cada vez mais líquida decorrente da espetacularização das cidades na sociedade do consumo. Atualmente o cenário é ainda mais grave; a interação entre o indivíduo e a cidade passa por uma ruptura marcante desde março de 2020, quando o mundo foi atingido pela pandemia do SARS-CoV-2. É mais do que nunca urgente criar oportunidades de interação em ambientes abertos, aproveitar os espaços públicos afim de não só reviver a experiência urbana, mas também de criar cidades mais resilientes. O que se propõe neste trabalho é uma oportunidade de encontro através da experiência urbana, um evento cultural que marque um novo tempo de novos caminhos e coletividade, um acontecimento para dias ou seja, que seja efêmero.

F

e

s

t

i

v

a

l

:

1.grande festa 2.série de eventos de índole artística, cultural ou desportiva, que decorre ao longo de um determinado período de tempo, geralmente de forma periódica.

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Ao discutir sobre locais onde um evento artístico, cultural e celebrativo deve acontecer, o centro de São Paulo vem como opção certeira uma vez que o local é, ao mesmo tempo que, um palco para mudanças e retomadas é também um berço de história e cultura. O centro histórico de São Paulo corresponde à região onde a cidade foi fundada, em 25 de janeiro de 1554. Desde então, por conta do crescimento urbano descontrolado, a região passa por mudanças drásticas de cenário, causando destruição e apagamento histórico. A zona central deu espaço ao público em deveras ocasiões de apropriação e manifestação popular, como quando o movimento Diretas Já tomou o espaço da Praça da Sé em 1984. Como já visto O Centro de São Paulo é o território mais apropriado para proporcionar uma interação e reencontro entre os indivíduos, fazendo assim com que o centro crie uma corpografia em seus errantes de modo a pelo menos preserva-lo e impulsiona-lo de encontro ao estado de máxima potencialidade coletiva e cultural em que ele pode existir. O “Festival Anda SP” terá uma programação distribuída entre quatro estruturas principais e cinco intervenções urbanas, estes serão posicionados nos espaços públicos de destaque no centro histórico de São Paulo. As estruturais principais, chamadas de pavilhões, ficarão nas praças mais frequentadas do centro, são elas: Praça Roosevelt, Praça da República, Vale do Anhagabaú e Praça da Sé. As instalações urbanas servirão como ponto informativo e também auxiliarão no senso de unidade e delimitação do perímetro no qual o festival será instalado, elas ocorrerão no Largo do Arouche, Praça Dom José Gaspar, Largo do Paissandú, Mosteiro de São Bento e Pátio do Colégio.

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Para estabelecer qual programa cada pavilhão receberá foi necessário estudar a demanda de cada um desses espaços públicos, a caracterização da área, seu público e histórico. Foi necessário também fazer o pré-dimensionamento afim de estabelecer a área pública que cada instalação ocupará, a seguinte tabela demonstra o porte de cada estrutura temporária, o programa que cada uma receberá e qual área de apoio oferecerá ao público. Com a tabela é visível a diversidade de atrações que ocorrerão durante o evento, que pretende ser gratuito e promovido pela Prefeitura de São Paulo, assim como a Virada Cultural, essa que oferece atrações para pessoas de todas as faixas etárias, classes sociais e gostos que ocupam, ao mesmo tempo, o mesmo espaço. Para realizar a construção do festival “Anda SP” será necessário fazer o uso de uma estrutura desmontável que permita que a construção seja efêmera, os andaimes, sistema estrutural escolhido, é uma estrutura montada a partir de conexões entre montantes tubulares de aço, uma construção rápida, modular e limpa que “pousa” sobre o terreno, sem que condições do mesmo sejam alteradas ou danificadas. Para ajudar no dimensionamento dos pavilhões e posicionamento das peças modulares que compõe as estruturas temporárias criou-se uma malha ortogonal de 3x3m em cada área proposta, que dita a distribuição dos elementos modulares que receberão o programa do festival. O Festival Anda SP é um experimento de experiência, um convite a retomar a vida na cidade. A intervenção urbana criada pelo acontecimento cultural gera interação e participação popular, criando experiências que auxiliam ao estabelecer uma conexão física e emocional entre cidadão e cidade, gerando corpogra fias urbanas, trazendo um senso de pertencimento permitindo gerar no indivíduo a vontade de exercer seu direito a cidade.

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CENTRO DE SÃO PAULO 104


TERRITÓRIO

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uso comercial uso misto uso residencial praças públicas equipamentos públicos

USO E OCUPAÇÃO

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expressa arterial local fechada coletora

RUAS

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pavilhões instalações urbanas edifícios notáveis ruas fechadas transporte público ciclovia

MAPA ANDA SP

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ACONTECIMENTOS

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MÓDULOS

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DESCANSO 118


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TROCA 120


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FOLIE 122


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EXPRESSÃO 124


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módulos VIABILIZAÇÃO TÉCNICA

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Roseta – Permite a conexão de até oito montantes tubulares em diferentes ângulos.

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Braçadeira – Permite a montantes tubulares em

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junção de dois duas direções.


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bases 21cm,

fixas 32cm,

ajustáveis 41cm e

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de 55cm.


50 cm

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montantes tubulares verticais possuem rosetas fixas a cada 50cm e existem em peças de 50cm até 4 metros

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encaixe do aço com a

montande tubular de base fixa ajustável.

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viga treliçada com os respectivos tamanhos 5,14m, 4,14m e 3,07m

motantes tubulares verticais de 0,73m, 1,09m, 2,07m, 2,57m e 3,07m

viga

ponte

de

2,07m

e

3,07m

plataformas de aço perfurado que variam de 0,73m a 3,07m

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Escada

viga

viga

de

alumínio

escada

escada

de

de

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1m,

com

com

1,5m,e

patamares

patamar

2m.

posicionados.


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montantes

tubulares

diagonas

de

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0,5m

até

3m


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encaixe tal com

montante roseta do

tubular montante tubular

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horizonvertical


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encaixe tal com

montante roseta do

tubular montante tubular

147

horizonvertical


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encaixe to, com

do módulo padrão montantes verticais e

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usado no horizontais de

proje3,07m


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pavilhões

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PAVILHÃO DA DE

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EMOCRACIA

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VIABILIZAÇÃO TÉCNICA

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O pórtico de entrada do pavilhão que alinha a edificação com o marco zero de São Paulo, só é viavél graças a junção de duas vigas treliçadas de 5,14m.

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A nova viga treliçada de 10,28m é anexada aos montantes verticais graças as braçadeiras, uma vez que a altura da viga treliçada é de 0,75m, portanto é impossível de ser feito o encaixe pelas rosetas.

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Inicia-se a montagem dos andaimes fazendo a implantação do gabarito, colocam-se as bases começando pelos pontos mais altos para depois destribuir ao longo do terreno. No caso da Sé, apesar de ser um terreno com a topografia irregular, o chão onde a base pousa é plano, portanto não é necessário o uso de pranchões de madeira para distribuir a carga transmitida ao solo e nem nivelar as bases.

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Caixas expositivas com fechamento de placas OSB

Rampas de aço que vencem 3m e 6m com a inclinação de 8,20%

Vigas treliçadas que sustentam as caixas e as rampas.

Paredes estruturais

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PAVILHÃO DA EXPRESSÃO

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VIABILIZAÇÃO TÉCNICA 213


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Embaixo da arquibancada criada para o Anhagabaú fica a área de apoio para as apresentações, com camarins privativos e vestiários.

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Fechamento com lona de tela colorida

Arquibancada nível Viaduto do Chá

Viaduto do Chá

Telão Cinema Arquibancada nível Vale do Anhgabaú Apoio

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As cores do Anhagabaú

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módulo arquibancada

3m

2,5m

Cada módulo de arquibandacada comporta até 18 pessoas 238


módulo escada

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São nove conjuntos de módulos como esse que portam cada um 432 pessoas, totalizando em aproximadamente 3.900 pessoas sentadas na arquibancada durante o evento.

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Montagem módulo arquibancada

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PAVILHÃO DA TROCA

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Cobertura

Módulos para oficinas e trocas

Módulos para expositores

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módulo expositores

módulo para oficinas e trocas

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INSTALAÇÃO POR ENTRE AS ARVOR

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RES

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PAVILHÃO DA FOLIE 271


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Mirante

Balanço

Arquibancada

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Tobogão

Rede de proteção

Labirinto

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Referências

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