Livro "Índia, a Beleza no Caos" (India, Beauty in the Chaos) - Marina Silper

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ÍNDIA A BELEZA NO CAOS Marina Silper





ÍNDIA A BELEZA NO CAOS

Projetado por Marina Silper


Copyright @ 2017 by Marina Silper É permitida a reprodução dessa obra com prévia autorização. Projeto, conceito e design gráfico: Marina Silper Universidade do Estado de Minas Gerais Impresso no Brasil. Printed in Brazil.

C555 Índia: a beleza no caos / Maria Silper. Ed. Única - Belo Horizonte: Editora Silper, 2017. 216 p. ISBN 525-16-60605-05-1 1. Índia. 2. Design Gráfico. 3. Design Editorial. I. Silper, Marina. II. Título. CDD: 3112.047045


Dedicado a Achyuta Akella. Achyuta, leia o significado por trás deste livro, ainda que não entenda o idioma. Essa é uma maneira de dizer coisas que eu não poderia expressar somente com palavras. É uma maneira de estar com você em tempo integral. Transportei o que temos para um objeto, que agora está eternizado.

Dedicated to Achyuta Akella. Dear Achyuta, read the meaning behind this book, even if you don’t speak its language. This is a way of telling you things that couldn’t be expressed with words only. It is a way of being with you 24/7. I transported what we had into an object which now is eternalized.


SSU UM MÁ ÁR RIIO O 6 INTRODUÇÃO 10 PANORAMA DA ÍNDIA 12 Dados principais 28 Uma breve história da Índia

54 A BELEZA 56 5 mil anos de história preservada 62 Religião 74 Arquitetura e Artes 140 Celebrações 152 Culinária 158 Biodiversidade

166 O CAOS 176 Superpopulação 182 Sistema de castas 186 Trânsito


198 O GRID DESCONTRUÍDO 200 Explorando outras opções 202 A desconstrução do grid 204 Composição linguística 206 Composição ótica espontânea 208 Operação aleatória

210 DOIS MUNDOS UMA REALIDADE 214 CRÉDITOS



INTRODUÇÃO


ÍN DIA

Esse livro tem como objetivo relacionar a Índia com o design editorial. A partir disso, definiramse as seguintes relações:

NA ÍNDIA, BELEZA E CAOS SE CORRELACIONAM.

É essa a realidade do país responsável por causar diversas sensações em visitantes que não compartilham a mesma realidade. Por que será que a Índia nos intriga tanto? O que há de tão curioso e, ao mesmo tempo, estranho em tal cultura milenar? O que faz o mundo Ocidental se atrair tanto por ela - seja para buscar referências na moda, música ou ciência - , ainda que sejam culturas tão diferentes? Como a cultura indiana contribuiu para o mundo? Nós, os ocidentais, nos chocamos diante dos grandes contrastes que a Índia carrega. O caos da vida cotidiana nos intriga intensamente, mas não impede que a consideremos um berço cultural em vários aspectos. São inúmeras as invenções vindas de nossos amigos indianos. A tecnologia foi agraciada pela régua, o algodão e o xadrez. Os amantes foram celebrados nas esculturas e escritos eróticos. Os músicos da década de 1960 enfim abriram os olhos para o que sempre esteve lá: a riqueza cultural de um povo. Tudo isso em um ambiente caótico. Uma estranha ordem no caos. A vida à indiana. É isso que faz a Índia ser o que ela é: a beleza no caos.

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“Assim como o caos tumultuado de uma tempestade traz uma chuva nutritiva que permite à vida florir, assim também nas coisas humanas tempos de progresso são precedidos por tempos de

NO GRID DESCONSTRUÍDO, BELEZA E CAOS SE CORRELACIONAM.

desordem. O sucesso vem para aqueles que conseguem sobreviver à crise.”

I Ching

O design editorial também possibilita a dualidade entre criatividade e contextos não convencionais por meio do grid desconstruído. Existe a riqueza estética e gráfica em uma situação em que a ordem não impera necessariamente. Assim, verificamos que o caos não impossibilita que o designer exerça um papel que atrai os olhos e intriga o pensar.

BELEZA CAOS

GR ID 9



PANORAMA DA ÍNDIA


NOME OFICIAL: República da Índia (Bharat Juktarashtra)

CAPITAL:

FUSO-HORÁRIO: +8h30min em relação à Brasília

POPULAÇÃO: 1,30 bilhão

CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO: 1,2 % ao ano (entre 2010 e 2015)

ÁREA: 3.287.782 km²

DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 395,40 hab./km2

CLIMA: Clima de monção (maior parte), Clima tropical, equatorial (S), Árido tropical (NO), de montanha (N).

NACIONALIDADE: Indiana 12


DA DOS PRIN CIPAIS LOCALIZAÇÃO: Sul da Ásia

DATAS NACIONAIS: 26 de janeiro (Proclamação da República); 15 de agosto (Independência); 2 de outubro (aniversário de Gandhi).

FORMA DE GOVERNO: República Parlamentarista

PRESIDENTE: Pranab Mukherjee

PRIMEIRO-MINISTRO: Narendra Modi (desde maio de 2014)

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RELIGIÃO: hinduísmo 80,3%, islamismo 11% (sunitas 8,2%, xiitas 2,8%), cristianismo 3,8% (católicos 1,7%, protestantes 1,9%, ortodoxos 0,2%), sikhismo 2%, budismo 0,7%, jainismo 0,5%, outras 1,7% (em 1991)

MOEDA DA ÍNDIA: Rúpia Indiana IDIOMAS: hindi (oficial), línguas regionais (principais: telugu, bengali, marati, tâmil, urdu, gujarati). 14


TAXA DE ANALFABETISMO: 37,1% (estimativa 2015) RENDA PER CAPITA: US$ 1.614 (ano de 2015) IDH: 0,609 (Pnud 2014) - IDH médio

COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO: indo-arianos 72%, drávidas 25%, mongóis e outros 3% (censo de 1996). 15


ASPECTOS GEOGRÁFICOS

RELEVO A República da Índia ocupa, com o Paquistão e Bangladesh, o Subcontinente Indiano, no sul da Ásia. O território do país com área de 3.287.263 Km, o sétimo do mundo em extensão, divide-se em quatro grandes regiões. No norte, ao longo de 2,4 mil quilômetros, estendese a cordilheira do Himalaia, que na Índia culmina no Kanchenjunga, a terceira montanha mais alta do planeta, com quase 8,6 mil metros. Ao sul há uma zona de férteis planícies aluviais regadas pelos principais rios indianos: Indo, Ganges e Brahmaputra. No oeste, junto ao Paquistão, a planície transforma-se no deserto de Thar, ou Grande Deserto Indiano. Ao sul das planícies fica o Decã, um grande planalto triangular, rochoso, com cordilheiras baixas e vales profundos, que ocupa a maior parte da Índia peninsular. O Decã é cercado por dois sistemas montanhosos: os Ghats Ocidentais e os Ghats Orientais. Os primeiros ultrapassam os 900 metros de altitude e se estendem até as proximidades do mar da Arábia, do qual estão separados pela fértil planície de Malabar. Os Ghats Orientais são mais baixos, com picos em torno de 450 metros, e também estão limitados por uma planície, a costa de Coromandel, banhada pelo golfo de Bengala..



VEGETAÇÃO E CLIMA Devido à ampla variedade de altitudes, solos e climas, a Índia possui uma flora muito rica. Nos picos do Himalaia, a vegetação é do tipo ártico; nas bases das montanhas crescem espécies subtropicais, como orquídea, magnólia, bambu, carvalho, palmeiras e coníferas. Nos sopés dos Ghats Ocidentais e na planície de Malabar, há florestas com espécies de valor comercial expressivo. Na maior parte do país, o clima é tropical e sofre forte influência dos ventos de monção. Eles sopram de junho a novembro, trazendo chuvas abundantes que costumam provocar grandes inundações. Entre dezembro e fevereiro há uma estação seca, pouco favorável à agricultura. Nas regiões mais altas predomina o ambiente continental.

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ASPECTOS DEMOGRÁFICOS Com uma população de 1,252 bilhão de habitantes, a Índia é o segundo país mais populoso do

PRINCIPAIS CIDADES

mundo, atrás apenas da China. Entre as várias etnias que, no decorrer dos séculos, invadiram e povoaram

MUMBAI

(antiga

a região, destacam-se três grupos:

Bombaim) é a cidade mais

o caucasiano, o mongoloide

populosa da Índia, com cerca

e o australoide. Atualmente,

de 19 milhões e habitantes.

considerando os antecedentes mais

A capital do estado de

próximos, a população é formada

Maharashtra é o principal

principalmente por indianos,

centro econômico do país,

chineses, europeus e tibetanos. A

respondendo, sozinha, por

religião mais popular é o hinduísmo

mais de metade de seus

(73,9%), seguido pelo islamismo

rendimentos.

(12,2%), pelo cristianismo (6,2%), pelas crenças tradicionais (3,8%) e pelo siquismo (2,2%). As línguas oficiais são o hindi e o inglês. No total, porém, falam-se cerca de 1,6 mil idiomas e dialetos pertencentes a 14 grandes grupos linguísticos. A implementação de ações afirmativas pelo governo e o desenvolvimento econômico vêm contribuindo para o lento desaparecimento do tradicional sistema de castas que historicamente impera no país.

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Ao norte encontra-se

Délhi, a segunda maior cidade, com mais

de 15,9 milhões de habitantes. Conhecida por sua caótica paisagem urbana, Délhi conjuga áreas tradicionais com zonas modernas, erguidas graças ao rápido desenvolvimento econômico dos últimos anos.

Em terceiro lugar está

Calcutá,

no leste. Os 14,8 milhões de indianos que moram na cidade e no seu entorno possuem, de maneira geral, condições de vida inferiores às duas

outras metrópoles. Apesar do intenso desenvolvimento industrial, chamam atenção os bairros miseráveis onde milhares de pessoas moram.

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A Índia, uma das economias que mais cresce na atualidade, dispõe de uma força de trabalho de 438 milhões de trabalhadores. Em 2009, o país apresentou PIB (Produto Interno Bruto) de 3,6 trilhões, enquanto o do Brasil foi de 1,5 trilhão no mesmo ano. As reformas econômicas feitas desde 1991 transformaram o país em uma das economias de mais rápido crescimento do mundo. No entanto, esse crescimento tem ocorrido de maneira desigual, em especial se comparada à qualidade de vida nos diferentes grupos sociais, econômicos, em diversas regiões geográficas, zonas rurais e urbanas.

ASPECTOS ECONÔMICOS

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AGRICULTURA O setor primário responde por um quarto do PIB da Índia. O país é o segundo maior produtor mundial de arroz, atrás apenas da China. Outros itens agrícolas de destaque são painço, cana-de-açúcar, algodão, café e chá. A pecuária abrange a criação de bois, búfalos, cabras, ovelhas, porcos e aves. A pesca é praticada tanto no mar quanto nos rios. A silvicultura, comercialmente pouco desenvolvida, fornece lenha e carvão.

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INDÚSTRIA A Índia encontra-se entre os maiores produtores mundiais de ferro, carvão e bauxita. Além disso, dispõe de reservas de manganês, mica, ilmenita, cobre, fosfato, ouro e prata. A indústria é muito diversificada, destacando-se nos ramos siderúrgico, têxtil, alimentício, petroquímico, químico, automotivo, mecânico, de eletrodomésticos, de material ferroviário, do papel, de material de construção e de informática. Mais de 80% da eletricidade é produzida em usinas termelétricas, cerca de 15% em hidrelétricas e 3% em centrais nucleares. O extraordinário incremento da indústria das tecnologias da informação (TI) deu origem a que a Índia seja já, mundialmente, classificada como uma “superpotência” neste setor, em particular, na área dos serviços tecnológicos.


Produtos agrícolas: algodão em pluma, arroz, chá, castanha de caju, juta, café, cana-deaçúcar, legumes e verduras, trigo, especiarias, feijão. Pecuária: bovinos, ovinos, caprinos, suínos, equinos, camelos, búfalos, aves. Mineração: minério de ferro, diamante, carvão, asfalto natural, cromita. Indústria: alimentícia, siderúrgica (ferro e aço), têxtil, química e medicamentos. PIB (nominal): US$ 2,09 trilhões (ano de 2015) Força de Trabalho: 502,1 milhões de trabalhadores (estimativa 2015)


ÍNDIA COMO

POTÊNCIA EMERGENTE

A Índia, país mais importante do sul asiático, uma vez que suas proporções são incomparáveis às de seus vizinhos, tanto em termos de território, população e economia, quanto em capacidade política e militar, cumpre, no âmbito do sistema internacional, um novo papel. Com destaque no cenário internacional pelo seu rápido crescimento econômico e importância geopolítica, o país passou a compor o chamado BRIC (sigla que se refere a Brasil, Rússia, Índia e China, que se destacam no cenário mundial como países em desenvolvimento).


A inserção indiana na economia global se dá, sobretudo, devido ao seu rápido avanço nas tecnologias de informação e farmacêuticas, que têm atraído muita atenção, particularmente depois que a Índia passou a importar empregos norte-americanos da área. É um modelo oposto ao chinês, de integração em massa baseada na manufatura de baixo custo. A Índia destaca-se, entretanto, pelo seu sistema educacional de padrão internacional em Tecnologia da Informação e business. Estima-se que a classe média indiana tenha crescido em 150 milhões de pessoas. O setor de TI, como é chamado, embora empregue não mais do que 1 milhão de pessoas atualmente, deve crescer enormemente no médio prazo. A inserção global indiana também está refletida na integração junto ao eixo asiático, cujo comércio vem crescendo mais rapidamente do que no NAFTA e na União Europeia.


UMA BREVE HISTÓRIA DA

Índia

As evidências indicam que possivelmente durante o neolítico, os habitantes do subcontinente foram assimilados pelas tribos invasoras drávidas, que provavelmente vieram do oeste. Segundo os descobrimentos arqueológicos do vale do Indo, a civilização desenvolvida pelos drávidas é comparável em esplendor às civilizações da antiga Mesopotâmia e do Egito. Até meados do III milênio a.C., a Índia drávida sofreu a primeira de uma série de invasões de tribos, do grupo linguístico indo-europeu, conhecidas como indo-arianas. Quase tudo o que se conhece com segurança da situação política é que no decorrer do I milênio a.C. se estabeleceram 16 estados autônomos. Os reinos mais importantes foram Avanti, Vamsas e Magadha, que em meados do século VI a.C. se transformou no reino dominante. Durante o reinado de seu primeiro grande rei Bimbisara (543-491 a.C.), Buda e Vardhamana Jnatiputra ou Nataputta Mahavira, fundadores do budismo e do jainismo respectivamente, pregaram e ensinaram em Magadha. No ano 321 a.C. Chandragupta tomou o controle de Magadha, fundou a dinastia Maurya de reis indianos, estendeu sua soberania sobre a maior parte do subcontinente e converteu o budismo na religião dominante. Das dinastias que apareceram no período que se seguiu à queda dos Mauryas, os Sunga são os que mais tempo permaneceram no poder, por mais de um século. O principal acontecimento desse período (184-72 a.C.) foi a perseguição e o declínio do budismo, e o triunfo do brahmanismo, com o qual o sistema de castas se estabeleceu com força na estrutura social. 28


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Em 320 um marajá de Magadha chamado Chandragupta I, conquistou os territórios vizinhos e fundou um novo regime imperial e a dinastia Gupta. Seu neto Chandragupta II (reinou de 375 a 413) expandiu seu reino, subjugando todo o subcontinente ao norte do rio Narmada. O período foi de paz duradoura, crescimento econômico contínuo e êxitos intelectuais. O hinduísmo experimentou um forte renascimento ao assimilar algumas características do budismo. Após um prolongado período de lutas internas, um novo poder, solidamente unido sob o islã, surgiu na Ásia ocidental. Esse novo poder era Khurasan, antes uma província Samânida que Mahmud de Gazni (que reinou de 999 a 1030) havia transformado em um reino independente. Até 1025 Mahmud havia anexado a região de Punjab ao seu império. O mais afortunado dos governantes muçulmanos depois de Mahmud foi Muhammad de Gur, cujo reinado começou em 1173. Considerado como o fundador real do poder muçulmano na Índia, subjugou toda a planície Indo-Gangética ao oeste de Benares. Após a morte de Muhammad de Gur, Qutb-ud-Din Aybak, seu vice-rei em Délhi e um antigo escravo, proclamou-se sultão. A denominada dinastia dos Escravos durou até 1288.

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Em 1398, quando o conquistador mongol Tamerlão guiou seus exércitos até a Índia, encontrou pouca resistência organizada. Babur, um descendente de Tamerlão e o fundador da grande dinastia mongol se autoproclamou imperador dos domínios muçulmanos e controlou uma grande parte da Índia. O Império mongol alcançou seu auge cultural sob o reinado de Sah Yahan (1628-1658), que coincidiu com a idade dourada

e pequenos principados,

da arquitetura sarracênica

e os governadores das

indiana, cujo melhor exemplo é o

províncias imperiais

Taj Mahal.

formaram grandes

Na primeira metade o

estados independentes.

século XVIII, o Império mongol

Em 1764, o imperador

deixou efetivamente de

mongol obteve de novo

existir como um estado. O

seu trono. Entretanto, sua

caos político do período foi

autoridade era puramente

marcado pelo rápido declínio

nominal, como ocorreu

da autoridade centralizada.

com seus sucessores. O

Criaram-se numerosos reinos

país, que durante muito


tempo foi cenário de uma rivalidade colonial entre os poderes marítimos da Europa, foi caindo cada vez mais sob o domínio britânico. No início do século XVII o monopólio português do comércio com as Índias, mantido durante mais de um século, acabou devido à ação da Companhia das Índias Orientais. Dois anos antes, a rainha Isabel I havia outorgado um foro à primeira Companhia Inglesa das Índias Orientais. As negociações da companhia com o imperador mongol Jahangir obtiveram êxito e em 1612 os ingleses haviam fundado sua primeira feitoria no golfo de Khambhat. A disputa entre os franceses e os britânicos pelo domínio da Índia se desenvolveu como uma extensão da Guerra dos Sete Anos na Europa. No decorrer das hostilidades, os britânicos terminaram de maneira efetiva com os planos franceses de controle político do subcontinente. Segundo


as disposições do acordo de paz que se seguiu à guerra, o território francês na Índia se reduziu a uns poucos entrepostos. A desunião entre vários reinos e principados indianos prepararam o caminho para a dominação britânica de todo o subcontinente e as regiões contíguas, em especial a Birmânia. Enquanto aumentava o mal-estar na Índia, cresceu um movimento conspiratório entre os sipaios, as tropas indianas empregadas pela Companhia Britânica das Índias Orientais. Um levantamento geral, conhecido como a revolta dos sipaios, começou em 1857. Uma vez sufocada a rebelião, o Parlamento britânico aprovou o Acta para o Melhor Governo da Índia em 1858, que transferia a administração da Índia da Companhia das Índias Orientais à Coroa britânica. Em 1876 o governo britânico, então liderado por Benjamin Disraeli, proclamou a rainha Vitória como imperatriz da Índia. Nos últimos anos do século XIX e na primeira década do século XX, o nacionalismo indiano começou a ameaçar seriamente a posição britânica. Havia sido criada uma série de associações dedicadas à luta contra o mandato britânico. De todas, a mais influente era o Congresso Nacional Indiano, fundado em 1885. Essa organização,

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que contava com o apoio de muitos hindus e muçulmanos proeminentes, acelerou a tendência para a unificação nacional. Do ponto de vista cultural, o famoso poeta e educador Rabindranath Tagore realizou contribuições duradouras a favor da unidade da Índia. As lutas políticas continuaram depois da I Guerra Mundial. Como resposta ao grande aumento da atividade nacionalista, o Parlamento britânico aprovou as Leis Rowlatt, que suspenderam os direitos civis e estabeleceu a lei marcial em áreas nas quais haviam tumultos e levantes. Essas leis precipitaram uma onda de violência e desordens. Nesse período de tumultos, Mohandas K. Gandhi, um reformador social e religioso hindu, pediu aos indianos que enfrentassem a repressão britânica com a resistência passiva (Satyagraha). O resultado acabou com a matança de Amritsar. O

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movimento contra os britânicos ganhou maior importância. A característica mais destacada desta fase da luta era a política de Gandhi de não violência, instituída em 1920. Combinado com métodos parlamentares de luta, o movimento demonstrou ser uma arma efetiva na luta pela independência. Em 1935, depois de uma série de conferências em Londres entre dirigentes britânicos e indianos, o Parlamento britânico aprovou o Government of India Act. Esta lei previa o estabelecimento de corpos legislativos autônomos nas províncias da Índia britânica, a criação de um governo central representativo das províncias e estados principescos e a proteção das minorias muçulmanas. Além disso, a lei previa uma legislatura nacional bicameral e um braço executivo sob o controle do governo britânico. Em grande parte influenciado por Gandhi, o povo indiano aprovou as medidas, que passaram a ser efetivas em 1937. Muitos membros do Congresso Nacional Indiano, entretanto, seguiram insistindo na independência completa.

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O plano para a federação demonstrou ser inviável pelo antagonismo entre os príncipes indianos e os radicais do Congresso Nacional Indiano, assim como as demandas muçulmanas de que os hindus teriam uma influência excessiva na legislação nacional. Como alternativa, a Liga Muçulmana advogava pela criação de um estado muçulmano independente (Paquistão). Esta proposta encontrou uma violenta oposição hindu. Com o início da II Guerra Mundial, o vicerei da Índia, Victor Alexander John Hope, declarou guerra à Alemanha em nome da Índia. Este passo, dado de acordo com a Constituição de 1937, mas sem consultar os chefes indianos, afastou Gandhi e a importantes setores do Congresso Nacional Indiano. Grupos influentes dentro do Congresso, que apoiavam a postura de Gandhi, intensificaram a campanha por um autogoverno imediato como seu preço pela cooperação na guerra. O Congresso Nacional Indiano retomou a campanha de desobediência civil em 1940. Depois de uma nova onda de agitação contra os britânicos, em 1942 o governo

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britânico enviou propostas com a finalidade de satisfazer as demandas nacionalistas. Porém, esta resultou em fracasso por conta das objeções dos dirigentes do Congresso Nacional Indiano e da Liga Muçulmana. O movimento de desobediência civil foi reiniciado em 1942. Gandhi, Nehru e milhares de seus seguidores foram encarcerados e o Congresso Nacional Indiano ilegalizado. Em 1945, Nehru foi liberado do cárcere e uma nova onda de tumultos e manifestações contra os britânicos varreu o país. As negociações foram

infrutíferas e o vice-rei britânico Archibald Wavell anunciou a formação de um governo provisório de emergência; um conselho executivo interino, liderado por Nehru e que incluía representantes de todos os grandes grupos políticos. Entretanto, a rivalidade entre muçulmanos e hindus aumentaram em algumas regiões. Em 1947, o primeiro-ministro britânico anunciou que seu governo renunciaria ao poder na Índia. A tensão política aumentou em todo o território, com sérias possibilidades de uma desastrosa guerra civil entre hindus e muçulmanos. Depois de consultar os

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dirigentes indianos, o vicerei recomendou ao governo britânico a imediata divisão da Índia, como o único meio de evitar uma catástrofe. Em 15 de agosto de 1947, conforme estipulado na Lei de independência, foi estabelecido que a Índia e o Paquistão seriam estados independentes dentro da Commonwealth, com o direito de retirar-se ou permanecer dentro dela. O governo indiano optou por manter-se dentro. Os novos estados da Índia e do Paquistão foram

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ministros, com Nehru como primeiro-ministro. Para anteciparse às disputas nas fronteiras, estabeleceu-se antes da divisão uma comissão de limites com um presidente neutro criados a partir de critérios

(britânico). Em

religiosos. As áreas habitadas

Punjab, a linha

pelos hindus foram destinadas

de demarcação

à Índia e aquelas com maioria

incluiu quase dois

da população muçulmana ao

milhões de sikhs,

Paquistão. Devido ao fato da

tradicionalmente

maioria da população ser hindu,

antimuçulmanos,

a maior parte dos territórios

sob a jurisdição

foram incluídos, durante a divisão,

do Paquistão.

dentro da União Indiana, como se

Teve lugar um

chamava o país.

êxodo maciço de

Depois da transferência do

muçulmanos do

poder, a Assembléia Constituinte

território da União

confiou a responsabilidade

até o Paquistão e

executiva a um conselho de

de sikhs e hindus do Paquistão até o território da União, o que produziu constantes tumultos que agravaram as relações entre os dois estados. Kashmir, um estado

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principesco habitado sobretudo por muçulmanos, mas governado por um hindu, transformou-se em um grande foco de conflito entre a Índia e o Paquistão. Insurgentes muçulmanos apoiados por correligionários invasores procedentes da província da Fronteira Norte-ocidental do Paquistão, proclamaram o estabelecimento de um governo provisório de Kashmir; diante disso, o marajá hindu deste estado, anunciou sua entrada na União Indiana. Ao aprovar a decisão do marajá, o governo indiano mandou tropas à capital de Kashmir, Calcutá, principal objetivo dos insurgentes. As hostilidade rapidamente adquiriram grandes proporções e em 1948, o governo indiano formulou uma queixa perante o Conselho de Segurança da ONU, na qual acusava o Paquistão de prestar ajuda aos insurgentes muçulmanos. 42



Os esforços pacificadores do Conselho de Segurança finalmente obtiveram êxito em 1949, quando tanto a Índia como o Paquistão aceitaram a proposta de um plebiscito sobre o futuro político de Kashmir, que se realizou sob os auspícios da ONU. Embora a Índia e o Paquistão tenham concordado, em 1949, com uma linha demarcando suas zonas respectivas de ocupação em Kashmir, as duas nações foram incapazes de resolver suas diferenças sobre os termos do plebiscito. A Assembléia Constituinte da Índia aprovou uma Constituição republicana para a União em 1949. Uma de suas características é uma cláusula declarando ilegal o conceito de que existia uma casta de “intocáveis”, antigo costume que havia condenado cerca de 40


milhões de hindus à degradação social e econômica. A Assembléia Constituinte se reconstituiu em um Parlamento provisório e Jawaharlal Nehru foi eleito primeiro-ministro. Os resultados das primeiras eleições gerais na República da Índia foram anunciados em 1952. O Congresso Nacional Indiano, o partido do governo, venceu em quase todos os estados constituintes. Rajendra Prasad foi eleito presidente.

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As conversações entre a Índia e o Paquistão sobre as disposições de um plebiscito para Kashmir terminaram em 1953 sem chegarem a um acordo. A Assembléia Constituinte de Kashmir aprovou por unanimidade a adesão à República da Índia no início de 1954. Em 1957, a Índia declarou o estado de Kashmir parte integrante da República da Índia, apesar das queixas do Paquistão perante a ONU. Durante a revolta tibetana de 1959, cerca de 9.000 refugiados tibetanos buscaram asilo político na Índia. Depois disso, houve vários choques nas fronteiras entre tropas chinesas e indianas e as primeiras penetraram no território indiano. Uma conferência para acabar com a disputa, que teve lugar em 1960, terminou sem adotar nenhuma solução positiva. Durante 1962 as disputas fronteiriças entre a China e a Índia tornaram-se cada vez mais tensas. No início deste ano, os indianos foram incapazes de frear o avanço chinês, que terminou quando Pequim anunciou o cessar fogo unilateral no final de novembro.


Em 1964 morreu Nehru, que havia sido o primeiro-ministro desde a independência. Lhe sucedeu Lal Bahadur Shastri. O Paquistão seguiu requerendo o estado de Kashmir, de maioria muçulmana, onde em 1965 alguns incidentes envolvendo as guerrilhas paquistanesas e tropas indianas precipitaram uma guerra não declarada entre os dois estados. As hostilidades continuaram até as negociações entre Shastri e o presidente paquistanês, com mediadores soviéticos, que em 1966 tiveram como resultado um acordo de retirada de tropas. Depois da morte de Shastri, a filha de Nehru, Indira Gandhi, foi eleita para ser a nova primeira ministra. A guerra civil explodiu no Paquistão quando o governo nacional, dominado por paquistaneses ocidentais, reprimiu os esforços bengaleses de alcançar a autonomia para o Paquistão Oriental. Embora milhões de refugiados bengaleses atravessassem a fronteira para a Índia, as relações entre a Índia e o Paquistão Ocidental


se agravaram. Em dezembro, a Índia se uniu à guerra em ajuda ao Paquistão Oriental e foi o primeiro país a reconhecer a nova nação de Bangladesh. As condições econômicas na Índia agravaramse em meados da década de 1970. O desemprego crescia e se intensificavam as acusações de corrupção do governo. O candidato respaldado por Indira Gandhi, Fakhruddin Ali Ahmed, foi eleito presidente.

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Em 1975, Indira Gandhi foi declarada culpada de corrupção durante a campanha eleitoral de 1971. Enfrentou a perda de sua cadeira parlamentar e declarou o estado de emergência. Centralizou o poder em suas próprias mãos e implantou medidas duras para fomentar o desenvolvimento econômico e diminuir a taxa nacional da natalidade. Seus métodos, em especial a censura da imprensa e o sistema para obrigar à esterilização do povo como parte do controle da natalidade, produziram um grande ressentimento. Em 1977, Indira Gandhi convocou eleições gerais nas quais perdeu sua cadeira no Parlamento e o Partido do Congresso foi incapaz de obter a maioria no legislativo pela primeira vez desde 1952. O Partido Janata ganhou cerca da metade das cadeiras no Parlamento e seu dirigente, Morarji R. Desai, foi nomeado primeiroministro. Em 1979, depois de mais de dois anos no poder, o governo Janata perdeu sua maioria parlamentar. As eleições que tiveram lugar em 1980 deram uma grande vitória a Gandhi e a seu partido no Congresso, que voltou a ocupar o cargo de primeira ministra. Seu filho mais velho, Rajiv Gandhi, ocupou uma cadeira no Parlamento. Para apaziguar as demandas sikhs de autonomia para o Punjab, onde são maioria, Indira Gandhi apoiou a candidatura presidencial de Zail Singh, que em 1982 se tornou o primeiro chefe de estado sikh da Índia. Entretanto, continuou a agitação pela autonomia

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com uma série de incidentes terroristas e em 1983, Gandhi colocou o Punjab sob mandato presidencial. Em 31 de outubro, Indira Gandhi foi assassinada por membros sikhs de sua guarda pessoal, e Rajiv Gandhi prestou juramento como primeiro-ministro. A eleição como presidente de Ramaswami Venkataraman pareceu consolidar a posição de Gandhi. Durante a campanha eleitoral de 1991, Rajiv Gandhi morreu assassinado por um terrorista tamil. Os eleitores ultrajados deram a maioria parlamentar ao Partido do Congresso e P. V. Narasimha Rao, seguidor de Gandhi, converteu-se em primeiro-ministro. Em 1996, foi substituído por H.D. Dewe Gowda (membro da Terceira Frente) e este, um ano depois, por Inder Kuman Gujral (militante do Janata Dal).

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No início da década de 1990 aumentaram as tensões entre a Índia e o Paquistão sobre Kashmir. A partir de 1989 no Estado de Jammu e Kashmir há lutas esporádicas entre o exército indiano e os separatistas muçulmanos militantes, que querem tanto a formação de um estado independente como unir-se ao Paquistão. Em julho de 1997, um membro da casta dos intocáveis, Kocheril R. Narayanan, foi eleito presidente da República.

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A B E L EZA


5 MIL ANOS DE HISTÓRIA PRESERVADA A cultura indiana está marcada por um alto grau de sincretismo e pluralismo. Os indianos têm conseguido conservar suas tradições previamente estabelecidas, enquanto absorvem novos costumes, tradições e ideias de invasores e imigrantes, ao mesmo tempo que estendem a sua influência cultural a outras partes da Ásia, principalmente na Indochina e no Extremo Oriente. Inicialmente, a Índia era constituída por três etnias: negros (Dravidianos), orientais (mongóis) e brancos (caucasianos). Posteriormente, outros povos lá estiveram em vários períodos de sua longa história. Deve-se a isso a grande tolerância religiosa existente no país, uma vez que o povo está acostumado a conviver com uma enorme diversidade cultural, que inclui diferenças até mesmo nas línguas (que são realmente muitas).


Durante a idade do bronze (3200 – 1200 a.C.) destaca-se no subcontinente indiano uma cultura que se desenvolveu ao longo do vale do rio Indo. Esta cultura, chamada de Harappeana, era precocemente letrada e, a julgar pelo padrão de sua cultura material, era extremamente uniforme, o que sugere um regime centralizado que pode ter contribuído para alguns elementos da vida hindu posterior. Alguns dos famosos “selos harappeanos” representam posições corporais mais tarde utilizadas na ioga. O auge desta civilização foi entre 2500 e 2000 a.C., sendo seu fim computado por volta do ano 1750 a.C. Após a civilização Harappeana, uma nova cultura surge, mais desta vez no vale do rio Ganges, conhecida como cultura Védica. Tomando corpo no fim do segundo milênio antes de Cristo, esta civilização durou até o início do império Máuria, em 322 a.C. Se a contribuição da civilização de Harappa para a Índia moderna é diminuta e controversa, o período Védico é indubitavelmente


importantíssimo como substrato cultural para as sociedades que vão se desenvolver no subcontinente indiano. É nesta época em que são compostos os Vedas, um conjunto de quatro textos (Rigveda, Yajurveda, Samaveda e Atarvaveda) que será a base de toda religião e educação hindu posterior. Uma forma primeira de Sânscrito também será formulada neste período, assim como o budismo e o jainismo. São essas as bases de todo o desenvolvimento cultural posterior indiano. A Índia é caracterizada por uma continuidade cultural. Não uma continuidade gradativamente linear, houve, como em qualquer sociedade, momentos de florescência maior em oposição a outros de estagnação e regressão. O importante é perceber que jamais houve uma rejeição violenta da cultura anterior como no caso europeu por ocasião da hegemonia do cristianismo. A religião hindu sempre permitiu maior liberdade de opiniões, sempre esteve mais aberta. Um bom exemplo de como saberes ditos científicos caminharam ao lado dos saberes transcendentais são as diversas universidades indianas. Ao longo de vários séculos instituições de ensino superior proliferaram na Índia. Uma das mais famosas vem a ser o centro de educação superior de Nalanda. Criada ao que tudo indica ao longo da dinastia Gupta (320-546 d.C.)



esta universidade estava, como todas as outras na Índia, ligada a alguma instituição religiosa. Mas isto não significava imposição de credo e impossibilidades de conhecimentos extra religiosos. Segundo relatos do viajante chinês Xuang Zang, tratava-se de uma “escola de discussão”, em que pessoas de diferentes credos e seitas podiam debater em público, e possuía uma administração “democrática”, com um ensino marcado pela tolerância e pela liberdade; os estudantes podiam realizar estudos bramânicos ou budistas, tanto nas artes como nas ciências. Um outro aspecto que permitiu o continuo desenvolvimento do saber cultural indiano sem grandes rupturas foi a língua Sânscrita. A língua deu origem a diversos idiomas (lembremos que a Índia atual conta em 27 o número de línguas oficiais), mas sempre foi preservada. Mais uma vez, houve períodos de regressão, com menos conhecedores do idioma e outras de expansão. O fato, contudo, é que a língua nunca passou ao status de língua morta, permitindo sempre que necessário uma volta aos textos escritos passados, criando um elo forte entre o presente e as épocas idas.



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RELIGIÃO A Índia é o país mais místico do mundo, com cheiro de incenso, cheio de guirlandas e santos vagando pelas ruas, convivendo lado a lado com uma população progressista, moderna. Nos dias atuais, muito da influência cultural ocidental tem permeado esta cultura. As filosofias religiosas indianas - porque seus povos desenvolveram vários sistemas filosóficos que sempre estão associados à religião - deram origem às principais religiões na Índia: hinduísmo, jainismo, budismo e sikhismo. Quase tudo na Índia é espiritualidade; o grande propósito da cultura indiana é conhecer Deus, seja em seus aspectos pessoal ou impessoal.

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hinduísmo

O Hinduísmo é uma das religiões mais antigas do mundo. Não há um fundador desta religião, ao contrário de tantas outras - no Islamismo, por exemplo, temos Maomé, e no Budismo, o próprio Buda. O Hinduísmo, na verdade, se compõe de toda uma intersecção de valores, filosofias e crenças, derivadas de diferentes povos e culturas. Para compreender o Hinduísmo, é fundamental situá-lo historicamente. Por volta de 3 000 a.C., a Índia era habitada por povos que cultuavam o Pai do Universo, numa espécie de fé monoteísta. Pouco depois, em 2 500 a.C., floresceu a civilização dravídica, no vale do rio Indo, região que hoje corresponde ao


Paquistão e parte da Índia. Os drávidas eram adeptos de uma filosofia de louvor à natureza, de orientação matriarcal e baseada no princípio da não violência. Porém, em 1 500 a.C., os arianos invadiram e dominaram aquela região, reduzindo os antigos drávidas à condição de “párias” espécie de subclasse social, que até hoje permanece sendo a casta mais baixa da pirâmide social indiana.

HINDUÍSMO VÉDICO E HINDUÍSMO BRAMÂNICO

Na primeira fase do Hinduísmo, que recebe o nome de Hinduísmo Védico, temos o culto aos deuses tribais. Dyaus, ou Dyaus-Pitar (“Deus do Céu”, em sânscrito), era o deus supremo, consorte da Mãe Terra. Doador da chuva e da fertilidade, ele gerou todos os outros deuses. O Sol (Surya), a Lua (Chandra) e a Aurora (Heos) eram os deuses da luz. Divindades menores e locais são as árvores, as pedras, os rios e o fogo. A partir da influência ariana, o simbolismo de Dyeus passou por uma transformação e tornou-se Indra, jovem divindade que rege a guerra, a fertilidade e o firmamento. Indra representa os aspectos benevolentes da tempestade, em contraposição a Rudra, provável precursor do deus

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Shiva, o destruidor. Também nesse período surgiram diversas outras divindades, inclusive Asura, representante das forças maléficas. Na segunda fase do Hinduísmo, que recebe os nomes de Vedanta (fim dos Vedas) ou Hinduísmo Bramânico, ocorre a ascensão de Brahma, a divindade que simboliza a alma universal. Brahma é um dos deuses que compõem o Trimurti (Trindade) do Hinduísmo. Ele representa a força criadora. Os dois outros deuses são Vishnu, o preservador, e Shiva, o destruidor. Neste momento, surge a figura dos brâmanes, que compõem a casta sacerdotal da tradição hindu. Os rituais ganham uma série de componentes mágicos e elaboramse idéias mais complexas acerca do Universo e da alma, inclusive conceitos como o de reencarnação e o de transmigração de almas.

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A TERCEIRA FASE

No século XII, a Índia é invadida pelos muçulmanos, e grande parte de sua população é forçada à conversão. Aliás, o termo hindu designava qualquer pessoa nascida na Índia, mas a partir do século XXIII este termo ganhou uma conotação religiosa, tornando-se sinônimo de "nativo não convertido ao Islamismo". A influência muçulmana se faz sentir dentro da ritualística hindu, pois uma das características marcantes do Hinduísmo é sua capacidade de absorver novos elementos e agregá-los ao seu sistema de crenças. Isso também ocorre quando, no século XVIII, o Cristianismo se insere no universo indiano, pela influência predominante dos colonizadores franceses. Este Hinduísmo híbrido também se divide em várias correntes, cujos expoentes são gurus como Sri Ramakrishna (1834-86), Vivekananda (1863-1902) e Sri Aurobindo (1872-1950). O que essas correntes têm em comum é a preocupação em estender o trabalho espiritual ao âmbito social, por meio de trabalhos filantrópicos e assistenciais.

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Por força dessa nova fase, a própria organização social da Índia - em sistema de castas -, começa a perder o sentido, pois existe um clamor ético por igualdade e solidariedade. O maior mestre do Hinduísmo moderno é Mahatma Gandhi (1869-1948), conhecido no Ocidente como chefe político, mas venerado na Índia como guru espiritual. Gandhi, adepto da Ahimsa (o princípio da não violência), apregoava a importância do homem exercer perfeito controle sobre si mesmo. Hoje, o Hinduísmo é a crença predominante na Índia. Mais do que uma religião, ele se caracteriza como uma tradição cultural, que engloba modo de viver, ordem social, princípios éticos e filosóficos.

AS ESCRITURAS SAGRADAS

VEDAS: Primeiros livros do Hinduísmo, surgidos aproximadamente no ano de 1 000 a.C., que aglutinam quatro coletâneas de textos. Dentre eles, destaca-se o Mahabharata, que contém o poema épico Bhagavad Gita (A Canção do Senhor). O conteúdo dos Vedas oscila entre o Monoteísmo (culto a um deus único) e o Politeísmo (culto a diversos deuses).

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UPANISHADS: Essas escrituras, que podem ser traduzidas como Doutrinas Arcanas, foram redigidas por místicos que representam o expoente máximo do Bramanismo (uma das vertentes do Hinduísmo). Sua estrutura é a de uma série de diálogos entre mestres e discípulos, cujo ensinamento fundamental é o seguinte: o mundo em que vivemos é feito de maya (ilusão), e embora possamos ter a impressão de que o mundo é real, a única verdade é Brahma, a divindade suprema.

FUNDAMENTOS IMPORTANTES

- Para o Hinduísmo, as pessoas possuem um espírito (atman), que é uma força perene e indestrutível. A trajetória desse espírito depende das nossas ações, pois a toda ação corresponde uma reação - Lei do Carma. - Enquanto não atingimos a libertação final chama de moksha -, passamos continuamente por mortes e renascimentos. Este ciclo é denominado Roda de Samsara, da qual só saímos após atingirmos a Iluminação.

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- Os rituais se compõem de dois elementos principais: Darshan, que é a meditação / contemplação da divindade, e o Puja (oferenda). - A alimentação vegetariana é um dos pontos essenciais da filosofia hindu. Isso porque é livre da impureza (morte / sangue), e como todo alimento deve ser antes oferecido aos deuses, não se poderia ofertar algo que fosse “sujo”. - As preces são entoadas como cânticos no idioma sânscrito, língua que deu origem ao hindi e a um grande número de dialetos praticados na Índia. Essas preces recebem o nome de mantras. Os mantras são dirigidos a diversas divindades, ou estimulam qualidades pessoais. Em geral, são entoados 108 vezes, e para sua contagem utiliza-se o japa-mala (colar de contas), uma espécie de “rosário”, confeccionado em sândalo ou com sementes de rudraksha

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(árvores consideradas altamente auspiciosas pela tradição indiana). - O mantra mais importante é o OM, “sílaba sagrada” que representa o próprio nome de Deus. OM é a semente de todos os mantras e princípio da criação. Foi dele que derivou toda a matéria - neste aspecto, podemos até traçar um paralelo com o gênesis da Bíblia: “E o som se fez carne”.


SHIVA, A DIVINDADE MAIS POPULAR DA ÍNDIA Shiva é a divindade que representa o princípio masculino. É o deus da morte, da destruição e das transformações profundas. Sua atuação é fundamental, porque do caos que ele promove, é que se faz a nova vida. Em geral, é mostrado em movimento de dança, no meio de uma roda de Fogo, elemento da natureza ao qual ele está associado. Sua dança, denominada Tandava, simboliza o eterno movimento do universo. Com o pé direito, ele esmaga a cabeça de uma figura bestial - a ignorância - e com o pé esquerdo ele faz um movimento ascendente, indicando a liberação espiritual.

Na Índia, é comum encontrarmos os saddhus - homens “santos”, que renunciam ao mundo e vagueiam em busca de sabedoria e iluminação. Devotos de Shiva, os saddhus costumam andar seminus, têm os cabelos bastante compridos e emaranhados e dedicam-se à prática da ioga, que seria uma expressão da dança de Shiva. O princípio feminino da criação é Shakti, que se manifesta como Parvati (a mãe), Durga (a deusa da beleza), Lakshmi (senhora da arte e da criatividade) e Kali (senhora da destruição). Todas elas são esposas de Shiva. 71


GANESHA, O REMOVEDOR DE OBSTÁCULOS

Ganesha é representado como um ser com corpo de homem e cabeça de elefante. De acordo com um dos mitos associados a esta divindade, Parvati tirou uma de suas próprias costelas e com ela fez um filho, a quem encarregou de guardar seus aposentos. Quando seu marido Shiva chegou e encontrou aquele homem nas proximidades do quarto da esposa, matou-o e arrancou-lhe a cabeça. Diante da tragédia, Parvati exigiu que o marido devolvesse a vida a Ganesha. Então, Shiva prometeu que colocaria em Ganesha a cabeça da primeira criatura viva que aparecesse em seu caminho - e foi justamente um elefante. Ganesha é protetor dos comerciantes e também dos sábios e escritores. Seus atributos são a prosperidade, a inteligência, o intelecto e a capacidade de superar obstáculos. Também simboliza a união entre o masculino e o feminino (ou os princípios Shiva e Shakti), pois sua tromba é uma forma fálica, e a boca é a forma receptora. 72




ARQUITETURA E ARTES Conjunto das obras artísticas e arquitetônicas do subcontinente indiano desde o III milênio a.C. até nossos dias. Para os adeptos da tradição ocidental, podem parecer, à primeira vista, exagerados e sensuais; porém, mesmo estes, vão apreciando seu refinamento. Caracterizam-se também por um grande sentido do desenho, patente tanto nas formas modernas quanto nas tradicionais. A cultura indiana costuma manifestar volúpia com uma liberdade de expressão não habitual. A arte da Índia pode ser compreendida e julgada no contexto das pretensões e necessidades ideológicas, estéticas e rituais da civilização hindu. Tais pretensões se fixaram já no século I a.C. e têm exibido notável tenacidade ao longo dos séculos. A visão hindujaino-budista do mundo depende da resolução do paradoxo central de toda a existência, segundo o qual a mudança e a perfeição, o tempo e a eternidade, a imanência e a transcendência, funcionam como partes de um único processo. 75


Assim, não se pode separar a criação do criador e o tempo deve ser entendido como uma matriz da eternidade. Este conceito, aplicado à arte, divide o universo da experiência estética em três elementos distintos, ainda que relacionados entre si: os sentidos, as emoções e o espírito. Estes elementos ditam as normas para a arquitetura, como instrumento para fechar e transformar os espaços, e para a escultura, em termos de volume, de plasticidade, de modelagem, de composição e de valores estéticos. No lugar de representar a dicotomia entre a carne e o espírito, a arte hindu, por meio da sensualidade e da voluptuosidade deliberadas, funde ambas, através de um complexo simbolismo que, por exemplo, transforma a carnalidade de um corpo feminino num mistério perene de sexo e de criatividade, no qual a momentânea esposa se revela como a mãe eterna. O artista hindu utiliza de forma acertada alguns motivos, como a figura feminina, a árvore, a água, o leão e o elefante numa composição determinada. Ainda que o resultado seja às vezes inquietante no tocante aos conceitos, no que se refere à vitalidade sensual, ao sentido do terreno, à energia muscular e ao movimento rítmico permanecem inconfundíveis. Todos os elementos que formam a pintura indiana — como a forma do templo hindu, os contornos dos corpos dos deuses hinduístas, a luz, a sombra, a composição e o volume — são encaminhados para glorificar os mistérios que resolvem o conflito entre a vida e a morte, entre o tempo e a eternidade. A arte indiana manifestada na arquitetura, na escultura, na pintura, na joalheria, na cerâmica, nos metais e nos tecidos estendeu-se por todo o Oriente com a difusão do budismo e do hinduísmo e exerceu uma grande influência sobre as artes da China, do Japão, da Birmânia, da Tailândia, do Camboja e de Java. As duas religiões, com suas ramificações, predominaram na Índia até que o islamismo tomou força entre os séculos XIII e XVIII. A religião muçulmana proíbe a representação da figura humana nos contextos religiosos, motivo pelo qual a decoração passou a representar motivos geométricos. 76



arquitetura

A primeira mostra de arquitetura indiana foi a construção de edifícios de tijolos, ao tempo que se levantavam estruturas de madeira. Embora estas últimas tenham desaparecido ao longo dos séculos, foram imitadas por construções de pedra que ainda estão de pé. A época clássica primitiva começou no ano 250 a.C., durante o reinado de Asoka, que emprestou ao budismo o patrocínio imperial. Muito comuns nessa época são as stupas (pequenos templos para guardar as relíquias dedicadas a Buda) e os chaityas (templos rupestres), entre os quais destacam-se a Grande Stupa de Sanchi, iniciada pelo imperador Asoka e ampliada em épocas posteriores, e o Chaitya de Karli, do início do século II.

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A partir do século V, ocorreu o ocaso do budismo, com a ascensão do hinduísmo e do jainismo. O estilo inerente a estas religiões se misturaram para dar lugar aos motivos elaborados que constituem a marca da arquitetura indiana e que aparecem talhados nas rochas, formando sanefas. Os exemplos mais importantes estão na colina de Parasnath, em Bihar; no monte Abut, em Abu Rajasthan; e em Strunjaya, em Gujarat. A arquitetura islâmica da Índia vem desde o século XIII até os nossos dias. A ela pertencem o famoso mausoléu de Gol Gundadh (1660), em Bijapur, estado de Mysore; a torre Qutb Minar (século XII), com cinco andares de pedra e mármore, em Délhi, capital; e a mesquita de Jami Masjid (1423), em Ahmadabad. A fase mongol do estilo indo islâmico, entre os séculos XVI e XVIII, fomentou o uso de materiais luxuosos, como o mármore. O exemplo culminante desse estilo é o mausoléu do Taj Mahal, em Agra. Desde o século XVIII, a construção de grandes edifícios na Índia tem mantido as formas históricas próprias ou se submetido aos modelos europeus introduzidos pelos britânicos. 79


TAJ MAHAL O Taj Mahal, mausoléu da esposa de um imperador mongol do século XVII, foi construído por cerca de 20.000 trabalhadores de 1631 a 1648 em Agra, cidade no norte da Índia. Este enorme edifício rematado com cúpulas foi construído em estilo indo islâmico, onde se usou mármore branco e gemas incrustadas. Em cada esquina há um minarete e as paredes exteriores são adornadas com passagens do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos. Os corpos do imperador e de sua esposa jazem em uma cripta. O Taj Mahal é também conhecido como a maior prova de amor do mundo. É incrustado com pedras semipreciosas, tais como o lápis-lazúli entre outras. A sua cúpula é costurada com fios de ouro. O edifício é flanqueado por duas mesquitas e cercado por quatro minaretes.

A palavra “Taj” provém do persa, linguagem da corte mogol, e significa “Coroa”, enquanto que “Mahal” é uma variante curta de Mumtaz Mahal, o nome formal na corte de Arjumand Banu Begum, cujo significado é “Primeira dama do palácio”. Taj Mahal, então, refere-se à “coroa de Mahal”, a amada esposa de Xá Jahan.


Ao longo dos séculos o Taj Mahal inspirou a prosa de viajantes, escritores, e outras personalidades de todo o mundo, colocando em relevo a grande carga emocional que representa o monumento:

“Apesar dos seus adornos severos, puramente geométricos, o Taj Mahal flutua. Na cúpula, a imensa cúpula, há algo levemente excessivo, algo que todo o mundo sente, algo doloroso. Documenta a mesma irrealidade. Porque a cor branca não é real, não pesa, não é sólida. Falso abaixo do Sol, falso na claridade da Lua, espécie de pez prateado construído pelo homem com uma ternura nervosa.”

“O Taj Mahal parece a encarnação de todas as coisas puras, de todas as coisas sagradas e de todas as coisas infelizes. Este é o mistério de edifício.” “Há uma lágrima no limiar dos tempos.”




ELEMENTOS FORMAIS Os elementos formais e decorativos são empregues repetida e consistentemente por todo o complexo, unificando o vocabulário estético. As principais características do mausoléu refletem-se no resto da construção: 1) Finial: remate ornamentado das cúpulas usado nos pagodes asiáticos igualmente. 2) Decorações de lótus: esquemas cujo motivo é a flor de lótus, esculpidos nas cúpulas. 3) Amrud: Cúpula em forma de cebola, típica na arquitetura islâmica e que, mais tarde, seria usada na Rússia. 4) Tambor: base cilíndrica da cúpula, que serve de apoio e transição formal sobre o resto do edifício. 5) Guldasta: agulha decorativa fixa no rebordo das balaustradas. 6) Chattri: galeria de colunas e cúpula, utilizado principalmente em monumentos de carisma comemorativo. 7) Cenefas: painéis esculpidos sobre as arcadas. 8) Caligrafia: escritura estilizada de versos do Corão sobre as arcadas principais. 9) Arcadas ou portais: também denominados pishtaq (palavra persa para os portais). 10) Dados: painéis decorativos sobrepostos às parede da fachada frontal do edifício. Pagode é um termo que se refere a um tipo de torre com múltiplas beiradas, comum na China, no Japão, nas Coreias, no Nepal e em outras partes da Ásia.


SIMETRIA O conjunto do Taj Mahal, com a sua fachada principal perpendicular a uma ribeira do Yamuna, foi construído com os seguintes elementos arquitetônicos:

1) Portal de acesso 2) Tumbas secundárias 3) Pátios 4) Pátio (esplanada) de acesso principal 5) Darwaza ou forte de acesso 6) Jabaz 7) Mesquita 8) Mausoléu 9) Minaretes

No centro, os amplos jardins divididos em quadrados, organizamse mediante a cruz formada pelos canais. A superfície da água reflete os edifícios, produzindo um efeito adicional de simetria.

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EDIFÍCIOS SECUNDÁRIOS

Darwaza de acesso ao Taj Mahal

Interior do jawab usado possivelmente como hospedaria

O masjid, a mesquita

O Iwan principal do mausoléu

O Taj Mahal visto do rio Yamuna 86


DECORAÇÃO

Motivos vegetais: detalhe do painel junto a um arco

Detalhe da cúpula do mausoléu

Placas do cenotáfio, em mármore talhado e com incrustações de pedras preciosas

Caligrafia sobre o grande portal de acesso ao mausoléu

Interior da cúpula da mesquita do Taj Mahal, mostrando o trabalho geométrico em pedra


TEMPLO DE BRIHADISVARA

O templo de Brihadisvara, situado na cidade de Tanjore (Thanjavur), Índia do Sul, é um templo hindu exemplar do estilo dravidiano de arquitetura religiosa. É o primeiro grande templo do granito do mundo e exemplo brilhante do apogeu do reino Chola de Vishwakarmas e da arquitetura tâmil. É um tributo e reflexão sobre o poder do seu patrono Rajaraja Chola I. É ainda o maior templo da Índia e uma das maiores glórias da arquitetura indiana. Faz parte do sítio classificado pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade denominado “Grandes Templos Vivos de Chola”. Foi construído pelo rei Chola Rajaraja Chola I entre 1003 e 1010. No 257.º dia do 25.º ano do seu reinado (1010), Rajaraja Chola I assistiu à instalação do pote de cobre no topo do vimâna de 13 andares, com um total de 66 m e coroado com um bloco monolítico 88


de 80 toneladas. Esta cerimônia indica que o templo ficou completo e está em funcionamento. O edifício, dedicado a Shiva-Rudra, é rodeado por dois compartimentos retangulares, e é ele próprio feito de blocos de granito. A lenda diz que uma rampa de terra de mais de 6 km foi necessária para construir o bolbo monolítico até ser colocado no topo do vimâna, uma técnica também usada no Antigo Egito. Arqueólogos, ao que parece, descobriram os restos deste artefacto. O lingam do templo é provavelmente o maior já feito, e foi originalmente chamado Adavallan, que é um bom dançarino - para atrair a figura de Shiva Natarâja tradicional no sul da Índia. O templo está coberto exterior e interiormente, o que é muito raro, por um grande número de esculturas, algumas das quais tiveram alterações no período Maratha. O Nandi, que data do período Nayaka, que está alojado em seu próprio mandapa, é consistente com as proporções do edifício. Este é um Nandi monolítico pesando cerca de 25 toneladas de 4 metros de altura e 5 metros de comprimento. O Periya Nayak, no interior do recinto, é uma adição do período Pandya. Em 2010 o templo completou um milênio, tendo na ocasião servido de palco a numerosas festividades e comemorações.

Uma inscrição no templo

Entrada principal

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TEMPLO DE LÓTUS

O Templo de Lótus, é uma Casa de Adoração Bahá’í situado em Nova Délhi, na Índia, popularmente conhecido como Templo de Lótus devido a sua forma de flor. O edifício foi concluído em 1986 e serve como templo mãe no subcontinente indiano. Ele já ganhou inúmeros prêmios de arquitetura e tem sido destaque de centenas de artigos de jornais e revistas. Tal como acontece com todas as outras Casas de Adoração Bahá’ís, o Templo de Lótus é aberto a todos, independentemente da religião ou qualquer outra distinção, assim como enfatizam os textos bahá’ís. As leis bahá’ís indicam que o espírito das Casas de Adoração sejam um lugar para que pessoas de todas as religiões se reúnam para adorar a Deus. As leis bahá’ís também estipulam que além das escrituras sagradas da Fé Bahá’í, as de qualquer outra religião podem ser lidas ou cantadas dentro do templo; e em qualquer idioma; no entanto, não é permitido tocar qualquer instrumento, nem realizar sermões ou qualquer outra cerimônia ou prática ritualística. 90


ESTRUTURA Todas as Casas de Adoração Bahá’ís, incluindo o Templo de Lótus, compartilham certos elementos arquitetônicos, alguns dos quais são especificados pelas escrituras Bahá’í’s. ‘Abdu’l-Bahá, o filho de quem fundou a religião, estipulou que uma característica essencial é de que existisse uma forma circular de nove lados. Inspirado pela flor de lótus é composto por 27 pétalas em 9 lados. Embora atualmente todas as Casas de Adoração Bahá’ís no mundo tenham uma cúpula, esta não é considerada uma parte essencial de sua arquitetura. As escrituras bahá’ís também estabelecem que não devem haver fotos, imagens ou estátuas dentro da Casa de Adoração, e que nenhum púlpito ou altar seja utilizado, as nove portas do Templo de Lótus abrem para o hall central com capacidade para 2.500 pessoas, e sua superfície é feita de mármore branco. O mármore branco provêm da montanha Penteli na Grécia, o mesmo com que muitos dos monumentos antigos foram construídos e também muitos outros templos Bahá’ís. A Casa de Adoração, junto com nove lagos e jardins ao seu redor somam cerca de 105,000 m. O local está na vila de Bahapur, no território da capital nacional de Délhi. O arquiteto é um iraniano, que vive agora no Canadá, chamado Fariborz Sahba, em 1976 ele foi convidado para projetá-lo, mais tarde supervisionou a construção. No processo, também construiu uma estufa para estudar que plantas seriam mais adequadas para o lugar. A maior parte dos fundos necessários para comprar o terreno foram doados por Ardishír Rustampúr de Hyderabad, Índia, que deu suas economias de uma vida inteira para este propósito, em 1953.




escultura No vale do Indo, entre os restos dos edifícios de tijolo queimado de Mohenjo-Daro, têm sido encontrados objetos do III milênio a.C., entre os quais há figuras de alabastro e mármore, estatuetas de terracota e louça fina representando deusas nuas e animais, um modelo de carreta em cobre e numerosos selos quadrados de louça e marfim com animais e pictografias. Com a chegada do budismo, no século III a.C., iniciou-se a evolução de uma arquitetura monumental em pedra, que se completava com a escultura em baixo relevo. Os exemplos mais destacados desse período são os capitéis com formas de animais das pilastras de arenisca para os editos do monarca Asoka e as varandas de mármore que rodeiam as stupas de Bharhut, perto de Satna, em Madhya Pradesh. Também são notórias as portas da Grande Stupa de Sanchi (século II a.C.), cujos relevos têm a delicadeza e a minúcia dos trabalhos talhados em marfim. Os vestígios das obras precoces pertencentes a essa escola denotam também uma estreita relação com o estilo escultural de Bharhut. Mais tarde, nos séculos I e II, a escola de Mathura desenhou os antigos símbolos de Buda e começou a representá-lo por meio de figuras reais. Tal inovação foi adotada nas sucessivas fases da escultura indiana. No período gupta, que abrange do ano de 320 até cerca de 600, fizeram-se figuras de Buda com linhas claramente definidas e contornos depurados, envoltas em vestes diáfanas que colavam ao corpo como se estivessem molhadas, como a de Sultanganj, no estado de Bihar.

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Neste período, ocorreu também o desenvolvimento da escultura hindu. Talharam-se relevos para adornar os santuários escavados na rocha de Udayagiri (400-600), em Madhya Pradesh, e os templos de Garhwa, perto de Allahabad e Deogarh. Desde o século IX até a consolidação de poder muçulmano, no princípio do século XIII, a escultura indiana foi, pouco a pouco, voltando-se para as formas lineares, para o contorno pronunciado em vez do volume. Cada vez era mais utilizada como decoração, subordinada ao estilo arquitetônico. Era rica em intrincados detalhes e se caracterizava por figuras de múltiplos braços, tiradas do panteão dos deuses hindus e jain, que vieram substituir as sensíveis figuras dos deuses budistas, com a multiplicidade de formas acentuando a importância do domínio técnico. Quando os muçulmanos subiram ao poder, no século XIII, adotaram muitos dos motivos nativos para suas ornamentações. As tradições se mantiveram até a época atual, sobretudo no sul, onde a arte ainda mantém a pureza hindu.


CONJUNTO DE TEMPLOS DE KHAJURAHO Khajuraho é hoje um dos mais populares destinos turísticos na Índia, provavelmente pela presença do maior grupo de templos Hindus medievais, famosos pelas suas esculturas eróticas, onde serviu de capital religiosa à dinastia Hindu Rajput dos Chandelas, que controlou esta parte da Índia entre o século X e o século XII os quais seriam seguidores do culto tântrico. O conjunto de templos foi construído ao longo de cem anos, desde o ano 950 até ao ano 1050, dotado de uma área central protegida por uma muralha com oito portões, cada um dos quais com duas palmeiras de ouro. Na época áurea da cidade, contavam-se mais de 80 templos Hindus, dos quais apenas 22 se encontram em estado razoável de conservação, espalhados numa área de cerca de 21 km.


São um exemplo da ligação entre a religião e o erotismo, sendo excelentes demonstrações dos estilos arquitetônicos da Índia que ganharam popularidade devido à representação lasciva de alguns aspectos da forma de vida tradicional durante a época medieval naquela região. Viriam a ser redescobertos somente durante o século XX, tendo sofrido bastante com o crescimento das selvas circundantes que causaram prejuízos a alguns dos monumentos. O declínio econômico e financeiro dos Chandelas Rajputs é tido como a razão principal para o abandono do local como centro de culto e vida social, sendo por isso a principal causa da deterioração provocada pela ação dos elementos da natureza aos monumentos. O conjunto de monumentos foi classificado pela UNESCO como Patrimônio Mundial.

ESCULTURAS ERÓTICAS Algumas correntes de opinião mais críticas catalogam os templos de Khajuraho como uma forma de expressão do Hinduísmo ligada ao nudismo ou o sexo, mas as correntes de opinião contrárias contrapõem, afirmando que na atualidade os templos não têm expressão religiosa existente, servindo apenas como meros monumentos. A dinastia Hindu Rajput dos Chandelas, era seguidora do culto tântrico, segundo algumas opiniões, muitas vezes mal interpretado, que crê na gratificação dos desejos terrenos como um passo adiante para atingir a libertação total (e posteriormente o Nirvana).




Pensa-se que os segmentos filosóficos do tantrismo, como é o exemplo do “Mahanirvana Tantra” tenham sido completamente esquecidos após o abandono do local como forma de culto, o que pode explicar o porquê dos grupos tântricos terem desaparecido.

CURIOSIDADES - Nenhum dos templos de Khajuraho contem temas relacionados com a sexualidade nas suas áreas interiores, estando a representação erótica presente apenas através das esculturas nas paredes exteriores de alguns templos. A razão para esta organização dos elementos eróticos estará ligada ao facto de que, o visitante crente que pretendia estar perto da divindade, deveria deixar os seus desejos sexuais fora do templo. Seria assim experimentada por parte do crente, uma pureza interior inerente à divindade com o qual se pretenderia manter contato, mantendo igualmente a pureza de atman (ou da alma) para que não houvesse lugar a um estado de desejo ou tendências grosseiras, medo do destino, etc. - Os elementos eróticos estão presentes apenas em cerca de dez por cento de todas as esculturas, representando cenas de erotismo ou sexo entre figuras humanas e não entre divindades. As restantes esculturas representam situações da vida social da altura, como são os exemplos das esculturas que representam mulheres a colocar maquiagem, músicos, oleiros, camponeses, etc. Todas estas representações estão fora das zonas sagradas dos templos, indicando que o visitante crente deveria tomar os Deuses como o ponto central da vida, mesmo quando existem assuntos normais da vida para tratar. - É um erro comum concluir que, uma vez que o complexo de Khajuraho é constituído por templos, estes representam práticas sexuais entre divindades. - Nos templos de Khajuraho, os ídolos de Shiva, Nandi, Princesa Durga, representações de encarnações de Vishnu, etc. estão completamente vestidos. - Na Índia, não existem templos que contenham representações de ídolos ou divindades em poses de nudismo ou em posições eróticas. 101


pintura Em duas localidades se conservam restos de pinturas indianas anteriores ao ano 100 de nossa era. Os fantásticos murais das cavernas de Ajanta cobrem o período compreendido entre os anos 50 e 642. Destacam-se também as pinturas da cova de Jogimara, em Orissa, que pertencem a dois períodos: ao século I a.C. e à época medieval, as primeiras de desenho mais vigoroso e de melhor qualidade do que as segundas. No período gupta, alcançou-se a fase clássica da arte indiana, às vezes serena e espiritual, outras vezes enérgica e voluptuosa. Em Patan, Gujarat, conserva-se um Kalpa Sutra (manual de liturgia religiosa) do ano 1237, ilustrado em folha de palma.


A pintura de Rajput floresceu em Rajputana, Bundelkhand (atualmente parte de Madhya Pradesh), e no Punjab Himalaya, entre os séculos XVI e XIX. Baseava-se na iluminura de manuscritos com motivos decorativos planos e é uma pintura popular refinada e lírica, que ilustra as epopeias hindus tradicionais, sobretudo a vida do deus Krishna. A pintura mongol, derivada da sofisticada tradição persa, era uma arte cortesã patrocinada pelos imperadores.




artes decorativas OS ENCANTOS DA JOALHERIA INDIANA

A joalheria indiana tem definido o estilo de vida dos indianos. A tradição de adornar o corpo é antiga, tendo surgido, de acordo com historiadores, há 5 mil anos. Inicialmente, as pessoas se enfeitavam com colares, tornozeleiras e anéis feitos de pedras brutas e metais. As joias indianas evoluíram depois do domínio da arte de polir metais, como a prata e o ouro, e da extração de pedras preciosas e semipreciosas. Os reis foram os primeiros a usar as joias e adornos fabricados em ouro e em gemas preciosas. A Dinastia Sunga tornou o design das joias indianas mais refinado com a inclusão do ouro, rubi, ágata, coral e safira. O Império Mughal (1526-1761) é considerado um dos mais importantes períodos da joalheria indiana. Os ourives da época recebiam patrocínio real e um legado desse período é o Taj Mahal


construído pelo imperador Shah Jahan. Imperadores e rajás competiam entre eles, adornando-se com joias. A rica coleção de joias Mughal está guardada no Museu do Kuait. Todo objeto de adorno recebia um nome específico que identificava sua função. Para os indianos, o ouro é sinal de natureza e de abundância. É sempre utilizado nas joias também por ser o símbolo da deusa Lakshmi. Na Índia é proibido usar ouro nos pés. Uma característica que marca a joalheria indiana é a grande variedade de ornamentos para quase todas as partes do corpo. No Rajastão, as tornozeleiras em ouro usadas pelos homens, demonstravam nobreza e riqueza. Durante séculos, Jaipur atraiu as melhores pedras do mundo para ser lapidadas, polidas e montadas, uma tradição que remonta ao início do século XVIII, quando o marajá governante Sawai Jai Singh 2° fundou a cidade Jaipur como a capital do Rajastão. Ele atraiu os melhores artesãos de toda a Índia para criar bainhas de espadas cravejadas de joias, brincos e colares e até braceletes para os tornozelos dos elefantes reais. Com o tempo, os artesãos de Jaipur ganharam fama por sua habilidade para lapidar pedras especialmente frágeis como as esmeraldas.



Os estilos da joalheria indiana variam conforme a região do país. Peças em filigrana de prata são especialidades dos estados de Orissa e Andhra Pradesh. O meenakari, ou esmaltação das joias, é popular no Rajastão. Das jazidas de Golconda eram retirados diamantes de alta qualidade. A The Gem Palace é reconhecida como uma das melhores escolas de ourives do mundo. Foi criada na Índia há mais de 50 anos. A arte hindu, iraniana e holandesa influenciaram o design de joias indianas. Na Índia, as joias não têm propósito apenas de adorno, tem caráter étnico, religioso e social. As peças são feitas e oferecidas para humanos e deuses. Muitas joias estão associadas às cerimônias religiosas, especialmente, o casamento. Um Mangal Sutra (ou Mangala Sutra) é um símbolo indiano da união Hindu, equivale à nossa aliança de casamento. A joia é feita em ouro, corais pretos e uma linha amarela preparada com Turmeric para conceder proteção à noiva durante todo o casamento. Dependendo da região, as pedras usadas no Mangalas Sutras podem variar.

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Apesar do aparecimento de estilos modernos, o design tradicional indiano continua sendo muito buscado. A combinação entre joias tradicionais e modernas sustenta o mercado indiano atual e é essa mistura que atrai compradores e admiradores. As mulheres indianas adornam-se com muitas peças como brincos, anéis, colares de muitas voltas, braceletes e inúmeras pulseiras. Os brincos são compostos por uma extensa variedade de motivos florais e adornados com pérolas, filigranas, rubis, diamantes, esmeraldas, safiras e corais. O anel começou a ser amplamente usado a partir do século XV para enfeitar nariz, orelhas e dedos das mãos e dos pés.

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PRODUÇÃO TÊXTIL

Diante de tantas diferenças com o ocidente, por possuir iguarias até hoje muito conhecidas e apreciadas, a Índia possui uma riqueza cultural muito grande. É uma nação dividida por castas e variadas origens, toda a sua mistura é refletida na maneira como se vestem e produzem seus tecidos. Por ser um país pioneiro na confecção e tingimento de tecidos, possui grandes técnicas artesanais na área. Cores e padrões nunca vistos no ocidente foram desenvolvidos em terras indianas, além do pioneirismo no cultivo de algodão. O algodão teve sua origem na Índia – onde foram tecidas as peças mais antigas. Neste país encontraram-se vestígios dessa fibra tecida que datam 3200 a.C , além de sinais de remotas plantações de algodão. Até hoje na Índia encontram-se plantas perenes de algodão, de grande porte, cujas fibras superam as de lã de carneiro tanto em qualidade como beleza.

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Existem tecidos de algodão que são denominados indianos (é um nome genérico) e podem variar entre os mais leves e os mais fechados conforme a sua composição e trama. Mas outros tecidos também são originários da Índia, entre eles estão o cashmere, o calicot, o madras e o surah, sendo o primeiro deles citado, mais conhecido na atualidade. A tradição de tecidos na índia está muito bem enraizada em sua cultura, mas nem todos os indianos podem usar certos tipos de tecidos. Muitos deles são utilizados como meio de diferenciação de castas. As padronagens levam significados que diferenciam o nível social de cada pessoa. Os tecidos produzidos na índia foram descobertos pelos ocidentais quando Alexandre Magno invadiu a Índia em 327 a.C. A partir disso os desenhos e padrões da 113


estamparia indiana foram difundidos por toda Europa. Esses tecidos são conhecidos como indiano, chita pintada ou de chita e sua popularidade cresceu rapidamente. Se, no entanto, a pressão dos tecelões de seda e lã que estavam assustados com a possibilidade de perder mercado e conseguiram promulgar leis na França e na Grã-Bretanha a proibir a venda de chitas pintadas, tingidas, estampadas e coloridas. Apesar de serem desenhos coloridos e elaborados, as estampas indianas foram consideradas inapropriadas, por isso os ingleses resolveram desenvolver estampas próprias, para a confecção de telas com essas padronagens escolhidas. Diferentes culturas que dominaram aquele país tiveram influência na criação de seus tecidos. Como exemplo, podem citar as regiões com forte presença do islamismo, onde motivos sensuais de personagens hindus são substituídos por geométricos e caligráficos. Contudo, foi evidente a influência dos europeus, pois, após sua chegada, os motivos de arte indiana passaram a ser composto por flores e animais e cenas iconográficas ocidentais. Nas mãos de artesãos indianos, esses projetos eram cada vez mais estilizados, dando origem à criação de um estilo híbrido exótico conhecido como chita.


Após a tentativa de banir tecidos e telas provenientes da Índia, os europeus resolveram produzir seus próprios tecidos imitando as técnicas desenvolvidas pelos indianos, mas, por mais que a demanda de mercado fosse muito grande, não foi possível obter a qualidade dos produtos vindos da Índia. As primeiras tentativas europeias foram medíocres. Cada vez mais, a grande moda pedia tecidos de algodão pintados ou estampados.

Mesmo após a proibição de comércio de telas vindas da Índia, muitas delas chegaram a Inglaterra através do comércio ilegal, e, a partir desse momento, os desenhos foram sendo modificados e grandes empresários se aproveitaram para abrir suas fábricas de estamparia nos portos de entrada. Dentro do pensamento do exótico, a Índia é um dos países que inspiram os estilistas de décadas passadas e atuais, sempre de maneiras diferentes. Inspirados por essa cultura fazem sua interpretação e reinterpretações de suas vestimentas.

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música Na Índia, obedecendo a sua intensa diversidade cultural, encontramse vários padrões musicais, que vão do tradicional aos hits pop dos musicais cinematográficos indianos. Não há um largo conhecimento da musicalidade indiana no Ocidente, mas alguns nomes se destacam nesta região do planeta, tais como Ravi Shankar e Sheila Chandra.


A música na Índia tem origens ancestrais, de pelo menos seis mil anos de trajetória, e uma mistura da influência de várias culturas e civilizações. Os arianos - provenientes do ramo asiático da família indo europeia -, ao atingirem o subcontinente indiano, levaram em sua bagagem conhecimentos e ritos posteriormente transcritos nos quatro Vedas, textos em sânscrito que compõem as escrituras sagradas do hinduísmo, contendo cada um deles seu próprio esquema declamatório. As músicas criadas pelos dravídicos - habitantes do Sul da Índiaassociaram-se à sabedoria védica. O paradigma clássico unia a música verbal, conhecida como ‘gita’, a parte instrumental ou ‘vadya’ e a coreografia interpretativa, chamada ‘nrtya’. O budismo contribuiu para a disseminação da produção musical do período cristão, levando consigo seus acordes pelo Tibet, China, Coréia e Japão, bem como pelo Sudeste Asiático, Indonésia, Myanmar e Tailândia.

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Ao final do domínio budista e helenismo, que durou de meados de 250 a.C. a 600 d.C., houve um renascimento da musicalidade hindu, em sua natureza sagrada, renovada pela presença de novos recursos instrumentais e de trabalhos mais teóricos. Nesta época surgiram peças famosas, como o Brhaddesi, do século X, e o Sangitaratnakara, de Sarngadeva, que tem papel de destaque na jornada musical da Índia, lançado no século XIII. A musicalidade árabe desembarcou no solo indiano no século XIV, durante a vigência do Islamismo, conferindo à musica local uma nova vibração, um novo colorido. Mas a queda do império da Mongólia, no século XIX, e a concretização do imperialismo britânico na Índia, desvaneceu-se o antigo brilho da cultura musical. Mesmo assim, pode-se afirmar que a presença da música produzida no Ocidente é quase nula nesta região da Ásia.

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Já no universo Ocidental, a influência da música indiana cresceu com a ascensão do grupo The Beatles, uma vez que seus integrantes tinham grande afinidade com esse estilo musical, e contribuiram para a divulgação destes ritmos no Ocidente. Esta tradição, adepta de uma temporalidade muito diferente da ocidental, não percebendo distinções entre o presente, o passado e o futuro, imprimiu suas marcas na musicalidade europeia e americana. Os indianos só diferenciam o hoje - ‘aj’ -, do passado e do futuro, ambos traduzidos pela mesma expressão - ‘kal’. Esta concepção temporal reflete diretamente na visão musical, na criação das escalas, na divisão das oitavas, na instituição dos intervalos, no tecer das melodias. A música indiana não segue a convencional percepção ocidental, de começo e fim; ela flui, como se nascesse repentinamente e se esvaísse da mesma forma. Seu sistema melódico atual baseia-se no RAGAS - composto por 5, 6, ou 7 notas ligadas às estações sazonais, às horas diárias, aos sentimentos, às paixões, às castas, entre outros elementos desta cultura. Os principais instrumentos que acompanham as músicas indianas são o sitar, a vina, a flauta de bisel e as tablas.




literatura

A tradição literária indiana é principalmente poética e essencialmente oral. Seus autores são, frequentemente, desconhecidos. Por esta razão, torna-se difícil estabelecer a história da literatura indiana. Grande parte da literatura tradicional inspira-se na tradição sânscrita, como também nos textos budistas e jainistas escritos em pali e outras línguas prácritas (dialetos medievais do sânscrito). Isto é válido tanto para a literatura dravídica, como para a literatura escrita nas línguas indo européias do norte. A influência das culturas islâmica e persa é maior na literatura escrita em urdu, embora em outras literaturas também se possa observar tendências islâmicas.

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Entre os séculos II e V foram escritos grandes romances em verso, também chamados epopeias: Cilappatikaram (O bracelete de ouro) de Ilanko Atikal e em seguida Manimekalai (O cinturão de pedras preciosas), uma obra budista escrita por Cattanar. Até 1500 a maior parte da produção literária indiana era formada por traduções de histórias extraídas das epopeias em sânscrito, os puranas. Muitas das versões do Ramayana - O Mahabharata e Bhagavata-Purana - datam deste período. A literatura medieval aborda também outros temas, como os Caryapadas, versos tântricos do século XII que relatam o ensino e a proeza do fundador da seita mahanubhava. As primeiras obras em língua kannada (a partir do século X) e em língua gujarati (a partir do século XIII) são romances jainistas. Outros exemplos literários distanciados destas tendências sectárias são os relatos heroicos e de cavalaria em língua rajasthani, como o poema épico do século XII Prithviraja-râsau, de Chand Bardâi de Lahore. Posteriormente, desenvolveram-se outras literaturas religiosas associadas a filosofias e seitas regionais: os textos tântricos que mais tarde deram origem a gêneros como o mangala-kavya (poesia de um acontecimento ressabiado) de Bengala. Esta poesia era dirigida a

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divindades como Manasa (a deusa serpente), forma local da principal divindade feminina chamada Devi. A principal influência para a literatura indiana posterior foi o culto a Krishna e Rama escritos nas línguas nacionais. A história de Krishna desenvolveu-se em sânscrito a partir do Mahabharata e através do Bhagavata-Purana até o poema composto no século XII por Jaydev, Gitagovinda (O canto do vaqueiro). Em torno de 1400, surge uma série de poemas de amor, escritos pelo poeta Viyapati, que influenciou de maneira decisiva o culto a Radha-Krishna praticado em Bengala, além de toda a literatura erótico religiosa associada a ela. A tradição do bhakti encontra-se na obra dos alvars tamiles místicos que, entre os séculos VII e X, escreveram hinos em louvor a Visnú. Estes hinos manifestam-se, especialmente, nas obras escritas em avadhi (hindi oriental) de Tulsi Das, cujo Ramcaritmanas (Lago dos atos de Rama 1574-1577) transformaram na versão canônica do Ramayana. Os primeiros gurús, ou fundadores da religião sij, particularmente Nanak e Arjuna, escreveram hinos bhakti que formam parte do Adi Granth (Livro primeiro ou Livro original), livro sagrado dos sijs, compilado em 1604 por Arjuna.


Durante o século XVI a tradição bhakti dirigiu-se a outras formas de divindade. Assim, por exemplo, a princesa Rajasthani e o poeta Mira Bai escreveram seus versos para louvar a Krishna, igual ao poeta gujarati Narsimh Mehta. Em urdu, uma língua nova, foi escrita a poesia lírica de Wali. Os ghazals de Mir y Ghalib pode ser considerado o auge da poesia lírica em urdu. Destacados poetas como Ghalib viveram e trabalharam durante o período de dominação britânica, tendo provocado uma autêntica revolução literária como resultado do contato com o pensamento ocidental. Em meados do século XIX, surgiu uma tradição literária em prosa que absorveu todos os gêneros poéticos tradicionais, exceto o dos poetas urdus. Nos últimos 150 anos, a literatura indiana foi registrada nas principais quinze línguas do país, incluindo o inglês e o bengali, esta última oferecendo uma das literaturas mais ricas da Índia. Um de seus principais representantes é Rabindranath Tagore, o primeiro escritor indiano a receber o prêmio Nobel de Literatura (1913). Na poesia, destaca-se o líder e filósofo islâmico sir Muhammad Iqbal, escrita originalmente em urdu e persa. A autobiografia de Mohandas K. Gandhi, Minhas experiências com a verdade, escrita originalmente em gujarati entre 1927 e 1929 é, hoje, considerada um clássico. Entre os escritores de língua inglesa cabe citar Mulk Raj Anand, autor de romances de protesto social e R.K. Narayan, que escreveu romances e relatos sobre a vida rural. Entre os escritores mais jovens da Índia moderna destacam-se Anita Desai e Ved Mehta. 127


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BAGAVAD GUITÁ

Bhagavad-Guíta (“Canção de Deus”) é um texto religioso. Este diálogo transcendental apareceu na Índia. Faz parte do épico Maabárata, embora seja de composição mais recente que o todo deste livro. Na versão que o inclui, o Maabárata é datado no Século IV a.C.. O texto, escrito em sânscrito, relata o diálogo de Krishna, A Suprema Personalidade de Deus, a verdade absoluta e inconcebível, com Seu (seu discípulo guerreiro) em pleno campo de batalha. Arjuna representa o papel de uma alma confusa sobre seu dever, e recebe iluminação diretamente do Senhor Krishna, que o instrui na ciência da auto realização. No desenrolar da conversa são colocado pontos importantes da filosofia divina, que incluía já na época elementos do bramanismo e do Sankhya. A obra é uma das principais escrituras sagradas da cultura da Índia, e compõe a principal obra da religião Vaishnava, que envolve várias ramificações de fé em Vishnu ou Krishna, dentre as quais o popularmente conhecido movimento para consciência de Sri Krishna, que a difundiu, a partir de 1965, no ocidente, por Bhaktivedanta Swami Srila Prabhupada. A obra foi traduzida e comentada sem adulteração sendo genuína, fidedigna com a autoridade e benção do Parampara (sucessão discipular) pelo erudito indiano, dando origem ao Bhagavad-Gita Como ele é, contendo os principais ensinamentos do Dharma, religião Bhagavata e instruções a respeito do serviço devocional a Krishna segundo os preceitos de inúmeros escritos sagrados védicos. Dentre estes preceitos, o livro apresenta a ciência da auto realização e da consciência em Krishna através do serviço devocional da bhakti-yoga. O Bagavad-Guitá é a essência do conhecimento védico da Índia e um dos maiores clássicos de filosofia e espiritualidade do mundo. A filosofia perene do Bagavad-Guitá tem intrigado a mente de quase todos os grandes pensadores da humanidade, tendo influenciado de maneira decisiva inúmeros movimentos espiritualistas.

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KAMA SUTRA

Kamasutram, geralmente conhecido no mundo ocidental como Kama Sutra, é um antigo texto indiano sobre o comportamento sexual humano, amplamente considerado o trabalho definitivo sobre amor na literatura sânscrita. O texto foi escrito por Vatsyayana, como um breve resumo dos vários trabalhos anteriores que pertencia a uma tradição conhecida genericamente como Kama Shatra. “Ao contrário do que muitos pensam, o Kama Sutra não é um manual de sexo, nem um trabalho sagrado ou religioso e também não é um texto tântrico. Na abertura de um debate sobre os três objetivos da antiga vida hindu - Darma, Artha e Kamadeva - a finalidade do Vatsyayana é estabelecer kama, ou gozo dos sentidos, no contexto. Assim, Darma (ou vida virtuosa) é o maior objetivo, Artha, o acúmulo de riqueza é a próxima, e Kama é o menor dos três.” — Indra Sinha. Kama é a literatura do desejo. Já o Sutra é o discurso de uma série de aforismos. Sutra foi um termo padrão para um texto técnico, assim como o Yôga Sútra de Pátañjali. O texto foi escrito originalmente como Vatsyayana Kamasutram (ou “Aforismos sobre o amor, de Vatsyayana”). A tradição diz que o autor foi um estudante celibatário que viveu em Pataliputra, um importante centro de aprendizagem. Estima-se que ele tenha nascido no início do século IV. Se isso for correto Vatsyayana viveu durante o ápice da Dinastia Gupta, um período conhecido pelas grandes contribuições para a literatura Sânscrita e para cultura Védica.

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TRECHOS DO LIVRO

“Foi dito por alguém que não há ordem ou momento exatos entre o abraço, o beijo e as pressões ou arranhões com as unhas ou dedos, mas que todas essas coisas devem ser feitas, de um modo geral, antes que a união sexual se concretize, ao passo que as pancadas e a emissão dos vários sons devem ocorrer durante a união. Vatsyayana, entretanto, pensa que qualquer coisa pode ocorrer em qualquer momento, pois o amor não se incomoda com o tempo ou ordem.”

“Quando o amor se intensifica, entram em jogo as pressões ou arranhões no corpo com as unhas. As pressões com as unhas, entretanto, não são comuns senão entre aqueles que estejam intensamente apaixonados, ou seja, cheios de paixão. São empregadas, juntamente com a mordida, por aqueles para quem tal prática é agradável.”

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dança A Índia, com seu extenso território, suas variadas etnias, culturas e idiomas, abriga as mais diversas expressões na dança, desde o modelo clássico, passando pelo folclórico e desembocando no contemporâneo. O padrão clássico se desenvolveu ao longo dos séculos, nascendo entre os devadasis – bailarinos que exibiam sua arte no interior dos templos. Estes artistas, associados aos templos do hinduísmo, com suas existências dedicadas somente ao culto do deus Shiva, ingressavam nestes recintos ainda na infância, entregues pelos próprios pais. A partir de então, as bailarinas transformavam-se em esposas da divindade, contraindo


matrimônio com o deus em um ritual semelhante ao do habitual casamento indiano. Elas eram preparadas para exercitar a prática desta dança nos ritos realizados no templo. Esta dança tem que seguir as regras inscritas no Natyasastra, a ancestral obra sobre o drama, ao qual desde o início esteve ligada. Aos poucos, porém, ela foi se desligando dessa conexão, e então surgiram os mais distintos modelos clássicos, conforme os locais da Índia nos quais nasceram. Todos têm em comum os rudimentos básicos do nritta – dança pura -; o nritya – a expressão – e o natya – fator dramático. Os movimentos coreográficos clássicos incluem o tandava, energia masculina, e o lasya, o poder feminino.


Em cada região da Índia surgiram diferentes versões das danças indianas, preservando, porém os mesmos preceitos, as mesmas leis registradas no Natyasastra. Entre as que se destacam neste campo, encontramos: - Bharata natyam: nascida no interior dos templos de Tamil Nadu, no sul da Índia, é o estilo mais célebre junto ao povo indiano. Ela é embalada por intensa percussão e um suave compasso marcado pelos pés. - Kathak: muito conhecida no Norte indiano, tornando-se famosa por algum tempo nas cortes hindu e mongol; envolve um elaborado movimento dos pés e vertiginosos rodopios corporais; - Odissi: ela tem origem no leste indiano; os bailarinos assumem posturas que lembram esculturas, conferindo a esta coreografia um aspecto muito sedutor. Imagens desta dança, que constitui arqueologicamente o modelo feminino mais ancestral, estão gravadas nas paredes de determinados templos. - Manipuri: este modelo é proveniente de Manipur. Seus adeptos movem-se por meio de passos miúdos e saltitam, em torno de lendas sobre Krishna. Não é necessário, como nos outros estilos, o uso de guizos nos tornozelos. - Kathakali: esta prática enérgica e intensa está intimamente ligada ao exercício de artes marciais. Através de gestos, maquiagem e figurino próprios, esta dança retrata cenas do Mahabharata ou do Ramayana. - Mohini Attam: esta mescla do Bharata natyam e do Kathakali, somada a alguns elementos folclóricos regionais, nasceu igualmente em Kerala. As bailarinas se vestem de branco e dourado. - Kuchipudi: adotou o nome do local de onde provém, na região de Andhra Pradesh. Também tem muitos pontos em comum com o Bharata natyam, é forte e enérgica, associando danças solo e coreografias próprias do drama. Outra modalidade é a dança folclórica, geralmente composta de bailes sociais, organizados para festejar eventos como, por exemplo, casamentos; de coreografias criadas para as mulheres e outras para os homens. As mais famosas são a bhangra do Punjab, o garba e o dandia ras, proveniente de Gujarat. 138




CELEBRAÇÕES

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Muitas celebrações indianas são de origem religiosa, ainda que algumas independam da casta ou credo. Alguns dos festivais mais populares do país são: Diwali, Holi, Durga Puja, Eid ul-Fitr, Eid al-Adha, Natal e Vesak. Além destas, a nação tem três festas nacionais: o dia da República, o dia da Independência e o Gandhi Jayanti, em homenagem a Mahatma Gandhi. Uma outra série de dias festivos, variando entre nove e doze dias, são oficialmente celebrados em cada estado nacional. As práticas religiosas são parte integral da vida cotidiana e são um assunto de interesse público.


DIWALI

O Diwali é uma festa religiosa hindu, conhecida também como o festival das luzes. Durante o Diwali, celebrado uma vez ao ano, as pessoas estreiam roupas novas, dividem doces e lançam fogos de artifício. Este festival celebra, entre outras histórias, a destruição de Narakasura por Sri Krishna, o que converte o Diwali num evento religioso que simboliza a destruição das forças do mal.


O Diwali é um grande feriado indiano e um importante festival para o hinduísmo, o sikhismo, o budismo e o jainismo. Muitas histórias são associados a Diwali. O feriado é atualmente comemorado pelos hindus, sikhs e jains em todo o mundo como o festival das luzes, onde as luzes ou lâmpadas significam a vitória do bem sobre o mal dentro de cada ser humano. Diwali é comemorado no primeiro dia do mês lunar Kartika, que ocorre no mês de outubro ou novembro, sendo uma época de muita religiosidade, votos de sacrifício e introspecção. Em muitas partes da Índia, é o Baile do Rei Ramachandra em Ayodhya, após 14 anos de exílio na floresta. Sri Rama, um dos avatares de Vishnu, derrotou o mal encarando em Ravana, que havia raptado sua esposa Sitadevi. O povo de Ayodhya (a capital do seu reino) congratulou-se com Rama por iluminação em fileiras (avali) das lâmpadas (Deepa), dando assim o seu nome: Deepavali. Esta palavra, em devido tempo, se tornou Diwali em hindi. Mas, no sul indiano em algumas línguas, a palavra não sofreu qualquer alteração e, portanto, o festival é chamado Deepavali no sul da Índia. Existem várias observâncias do feriado em toda a Índia. O Jainismo Diwali é marcado como o nirvana do Lord Mahavira, que ocorreu em 15 de outubro, 527 a.C.


Entre os sikhs, o Diwali veio a ter significado especial a partir do dia ao qual houve o retorno a cidade de Amritsar do iluminado Guru Hargobind (1595-1644), que havia sido detido no Forte em Gwalior sob as ordens do imperador Mughal, Jahangir (1570-1627). Como o sexto Guru (professor), do Sikhismo, Guru Hargobind Ji, foi libertado da prisão - juntamente com 53 hindus Kings (que eram mantidos como prisioneiros políticos) a quem o Guru havia organizado sua libertação. Após a sua libertação ele foi para o Darbar Sahib (Templo Dourado) na cidade santa de Amritsar, onde foi saudado pelo povo com tamanha felicidade que acenderam velas e diyas para cumprimentar o Guru. Devido a isto, sikhs referem frequentemente que Diwali também como Bandi Chhorh Divas - “o dia da libertação dos detidos”. O festival também é comemorado pelos budistas do Nepal, especialmente os Newar budistas. Na Índia, o Diwali é hoje considerado um festival nacional quanto ao aspecto estético, entretanto, é usufruído pelos hindus, independentemente da fé.


HOLI

Holi ou Festival das Cores é um festival realizado na Índia todos os anos entre fevereiro e março, que comemora a chegada da Primavera. Neste dia, as pessoas atiram tintas das mais diversas cores umas às outras, com muita bebida, comida e música. Essa brincadeira começa quando crianças atiram as tintas aos pais e irmãos sendo que, no final, todos estão completamente pintados e coloridos.


Holi, também chamado de Festival das Cores, é um popular festival Primavera observado na Índia, Suriname, Guiana, Trindade, Reino Unido, Ilhas Fiji e no Nepal. Em Bengala Ocidental da Índia e do Bangladesh, é conhecido como Dolyatra (Doljatra) ou Boshonto Utsav (“Festa da Primavera”). O principal dia, Holi, também conhecido como Dhulheti, Dhulandi ou Dhulendi, é celebrado por pessoas que atiram água e pó colorido uns aos outros. As pessoas cumprimentam-se dizendo “Holi Hai”.

Holi é comemorado no dia de lua cheia do mês de Phalugna ou Falguna (Phalgun Purnima), que geralmente cai na parte posterior de fevereiro ou março. Em 2009, Holi (Dhulandi) está em 11 março. Dahan Holika está em 10 março. Rangapanchami ocorre poucos dias mais tarde, em um Panchami (quinto dia da lua cheia), marcando o fim das festividades que envolvem cores.

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HISTÓRIA E SIGNIFICADO

Os historiadores contam que o Holi antecede em muitos séculos o nascimento de Cristo e são muitas as lendas que explicam o seu aparecimento, em geral remetendo ao temível Rei Hiranyakashyap. Muito vaidoso, ele queria que todos no seu reino o adorassem, mas foi justamente o seu filho Prahlad quem resolveu adorar uma entidade diferente, chamada Vishnu . Hiaranyakashyap combinou com a sua terrível irmã Holika, que tinha o poder de não se queimar, que ela entraria numa fogueira com Prahlad em seus braços para matá-lo. Mas Holika deu-se mal porque ela não sabia que o seu poder de enfrentar o fogo seria anulado quando ela entrasse na fogueira acompanhada de outra pessoa. O deus Vishnu reconheceu a bondade e devoção de Prahlad e salvou-o. O festival, portanto, celebra a vitória de um deus contra o outro e o triunfo da devoção. A tradição da queima Holika ou o “Holika Dahan” vem principalmente a partir desta lenda.


Apesar de esta ser uma festa colorida, existem vários aspectos de Holi, o que o torna tão importante para a cultura da Índia. Embora possa não ser tão evidente, um olhar mais atento e um pouco de pensamento revelará o significado do Holi em mais formas do que aquilo que simplesmente se vê. Holi celebra também a lenda de Radha e Krishna, que descreve o extremo prazer que Krishna teve na aplicação de cor sobre Radha e Gopis. Esta brincadeira de Krishna mais tarde, tornou-se uma tendência e uma parte das festividades do Holi.

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CULINÁRIA

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Da culinária do subcontinente indiano, caracteriza-se o extenso uso de vários tipos de temperos, ervas e outros vegetais, além de frutas locais. Cada família da cozinha indiana possui um extenso sortimento de pratos e técnicas culinárias. Como consequência, ela varia de região para região, refletindo a variedade demográfica e a diversidade étnica do subcontinente. A crença e a cultura hindu vem mostrando grande influência na evolução da cozinha indiana. Porém, a culinária indiana é interpretada como resultado das grandes interações regionais do subcontinente desde os mongóis, até a ocupação e saída dos britânicos fazendo dela uma mistura única de várias cozinhas internacionais. Cada tempero comercializado entre a Índia e a Europa, as especiarias, como por exemplo, a pimenta, o gengibre, a canela, o cravo e a noz- moscada, teve importância histórica e esse comércio foi o maior catalisador que motivou era dos descobrimentos europeu, iniciada com as tentativas de alcançar a Índia contornando a África pelo mar. A descoberta da rota marítima para a Índia em 1498, por Vasco da Gama, sinalizou o início do estabelecimento de territórios controlados pelas potências europeias no subcontinente.


Os portugueses constituíram bases em Goa, Damão, Diu e Bombaim, dentre outras. Seguiram-se os franceses e os neerlandeses no século XVII. Mais tarde no período colonial, com a ocupação inglesa, foi introduzida a culinária europeia na Índia, o que diversificou ainda mais a cozinha indiana. A Companhia Inglesa das Índias Orientais estabeleceu uma primeira base em Bengala, em 1757. Na altura dos anos 1850, os britânicos já controlavam quase todo o subcontinente, inclusive o território correspondente aos atuais Paquistão e Bangladesh. E mais recentemente, quando os ingleses após a Segunda Grande Guerra Mundial resolveram deixar e dividir a Índia (de predomínio hindu ao sul) criando o Paquistão (região de maioria muçulmana), provocou-se maciços deslocamentos humanos de grandes grupos populacionais entre os dois territórios motivados por preconceito de ambas as partes decorrentes de diferença religiosa, também influenciando a cultura culinária local. Tal se deu porque organizações sociais fundadas no final do século XIX e início do século XX para defender os interesses indianos junto ao governo da Índia britânica transformaram-se em movimentos de massa contra a presença 155


britânica no subcontinente, agindo por meio de ações parlamentares e resistência não violenta. Após a partição da Índia, ou seja, a separação do antigo Raj britânico entre a República da Índia e o Paquistão, em agosto de 1947, o mundo testemunhou a maior migração maciça da história, quando um total de 12 milhões de hindus, siques e muçulmanos cruzaram a fronteira da Índia com o Paquistão Ocidental e a fronteira da Índia com o Paquistão Oriental. Hoje a cozinha indiana vem influenciando as cozinhas em todo o mundo, especialmente no sudeste da Ásia e no Caribe. A culinária indiana apresenta uma forte dependência de ervas e especiarias, com pratos muitas vezes apelando para o uso sutil de uma dúzia ou mais de condimentos diferentes; a gastronomia do país também é conhecida por suas preparações tandoori. No tandoor, um forno de argila usado na Índia há quase 5 000 anos, as carnes ficam com uma “suculência incomum” e é possível produzir o pão sírio inchado conhecido como naan. Os alimentos básicos são o trigo (principalmente no norte do país), arroz (especialmente no sul e no


leste) e lentilhas. Muitas especiarias populares no mundo todo são nativas do subcontinente indiano, enquanto o pimentão, que é nativo das Américas e foi introduzido pelos portugueses, é amplamente utilizado pela população local. O ayurveda, um sistema de medicina tradicional, usa seis rasas e três gunas para ajudar a descrever os comestíveis. Ao longo do tempo, conforme os sacrifícios de animais feitos pelos védicos foram suplantados pela noção de sacralidade inviolável da vaca, o vegetarianismo foi associado a um alto nível religioso e tornou-se cada vez mais popular, uma tendência auxiliada pelo aumento de normas budistas, jainistas e bhaktis hindus. A Índia tem a maior concentração de vegetarianos do mundo: uma pesquisa realizada em 2006 constatou que 31% dos indianos eram lactovegetarianos e outros 9% eram ovovegetarianos. Entre os costumes alimentares mais tradicionais e comuns estão refeições feitas perto ou no próprio chão, refeições segregadas por casta e gênero e uso da mão direita ou de um pedaço de roti (tipo de pão) no lugar dos talheres.

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BIODIVERSIDADE

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O território indiano se encontra dentro da biorregião himalaia, que apresenta grande biodiversidade. Acolhendo 7,6% de todos os mamíferos, 12,6% de todas as aves, 6,2% de todas os répteis, 4,4% de todos os anfíbios, 11,7% de todos os peixes e 6% de todas as espermatófitas do mundo, a Índia é um dos dezoito países megadiversos. Em muitas regiões indianas existem altos níveis de endemismo; em geral, 33% das espécies indianas são endêmicas. Os bosques da Índia variam de florestas úmidas nas ilhas de Andamão, Gates Ocidentais e noroeste indiano, até florestas temperadas de coníferas do Himalaia. Entre esses extremos encontram-se os bosques caducifólios da Índia Oriental; o bosque caducifólio no centro-sul e o bosque xerófito do Decão central e a planície ocidental do Ganges. Estima-se que menos de 12% da massa da Índia Continental esteja coberta por densos bosques.

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Muitas espécies da Índia são descendentes de táxons originários de Gondwana, do qual a placa tectônica indiana se separou. O movimento posterior da placa do subcontinente indiano e a sua colisão com a massa de terra da Laurásia deu início a um intercâmbio massivo das espécies. Entretanto, o vulcanismo e as mudanças climáticas registradas há vinte milhões de anos provocaram uma extinção em massa de espécies originárias de Gondwana. A partir de então, mamíferos ingressaram ao subcontinente a partir da Ásia por meio de dois passos zoogeográficos em ambos os lados emergentes do Himalaia. Em consequência, apenas 12,6% dos mamíferos e 4,6% das aves são espécies endêmicas, em contraste com 45,8%


dos répteis e 55,8% de anfíbios endêmicos. Na Índia existem 172 espécies ameaçadas, ou 2,9%. Entre elas encontram-se o leão asiático, o tigre de bengala e o abutre indiano de dorso branco (Gyps bengalensis), que está quase ameaçado de extinção devido à ingestão de carne de gado tratada com diclofenaco. Nas últimas décadas, a invasões humanas generalizadas e ecologicamente devastadoras criaram uma ameaça crítica à vida silvestre da Índia. Em resposta, o sistema de áreas protegidas e parques nacionais, estabelecido pela primeira vez em 1935, foi


ampliado consideravelmente. Em 1970, o governo indiano decretou a Lei de Proteção da Vida Silvestre e o “Projeto Tigre”, para proteger o habitat crucial destes animais, além de em 1980 ter sido decretada a Lei de Conservação dos Bosques. A Índia tem mais de quinhentos santuários de vida selvagem e treze reservas da biosfera, quatro das quais fazem parte da Rede Mundial de Reservas da Biosfera. Vinte e cinco zonas de umidade estão registradas na Convenção sobre as Zonas Úmidas.

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O CAOS


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Trânsito caótico, poluição, má conservação de prédios e ruas, medo de ataques terroristas e pobreza são características visíveis para quem visita Nova Délhi, capital da Índia, um dos países mais promissores aos olhos do Ocidente. Com uma população de aproximadamente 20 milhões de pessoas, segundo dados de 2010 das Nações Unidas, Nova Délhi possui também uma grande quantidade de veículos em circulação. Em um trânsito aparentemente sem regras, em que veículos constantemente trocam de faixa sem sinalizar e desrespeitam sinais de trânsito, carros dividem espaço com bicicletas, motos e diversos carros de três rodas com capacidade para transportar de cinco a oito passageiros, conhecidos como tuc-tucs. Os tuc-tucs são o principal meio de transporte coletivo na Índia e é comum ver os carros transportando mais passageiros que a capacidade. Alguns tuc-tucs de oito lugares chegam a levar até 18 pessoas. Como eles não têm porta, os passageiros se amontoam muitas vezes deixando partes do corpo do lado de fora do automóvel. Em meio ao trânsito complicado, a buzina acaba se tornando um acessório primordial.


A poluição sonora faz parte da rotina dos indianos. A arquitetura de Nova Délhi, que privilegia as rotatórias, em vez de cruzamentos, faz com que se reduza o número de sinais de trânsito e, assim, se crie um fator de risco para o pedestre. Para atravessar as ruas, muitas vezes, as pessoas têm que se arriscar no meio dos carros em movimento.


A pobreza é outro elemento visível para quem visita Nova Délhi. É comum ver famílias inteiras deitadas no chão e pessoas pedindo esmolas nas ruas, oferecendo serviços como o de guias ou trabalhando no setor informal.

Segundo o Ministério do Trabalho indiano, 93% dos cerca de 400 milhões de trabalhadores da Índia (de uma população de 1,1 bilhão de pessoas) não têm emprego formalizado.


Isso inclui uma grande massa de jovens. Em uma caminhada de cerca de um quilômetro pelo centro de Nova Délhi, a reportagem da Agência Brasil foi abordada, em momentos diferentes, por dois adolescentes. Os dois tinham histórias semelhantes. Ambos vinham de Jaipur, cidade no estado do Rajastão, próximo de Délhi, onde deixaram suas famílias para tentar a vida na capital. Eles eram estudantes e se ofereciam para servir de guia pela cidade. Um deles, apesar de insistir na oferta, não chegou a pedir dinheiro. Já o segundo, ao ver que não teria seu serviço aceito, pediu dinheiro para comprar um livro. O medo de ataques terroristas também é percebido por quem visita a Índia, nação de inúmeros grupos étnico religiosos, como hindus, muçulmanos e sikhs, e vizinha do Paquistão, país com o qual mantém uma histórica rivalidade. Atentados em Nova Délhi, Mumbai e Jaipur, por exemplo, já deixaram centenas de mortos. Por isso, seguranças

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nos portões de prédios públicos e hotéis vasculham, com detectores de explosivos, cada carro que entra nesses locais. A Índia tem mais de 1,1 bilhão de habitantes e 3,2 milhões de quilômetros quadrados de superfície. Além do inglês e do hindi, o país tem outras 14 línguas oficiais.


Segundo as Nações Unidas, em 2020 a Índia ultrapassará a China, e em 2050 haverá 400 milhões de indianos a mais do que chineses. Pelas estimativas, o pico demográfico acontecerá em 2100, quando o país contará com 1,56 bilhão de habitantes. A Population Foundation of India faz outras previsões: a estabilização já aconteceria em 2080, mas com 1,86 bilhão de habitantes. A discrepância se deve às incertezas sobre o futuro da fertilidade, da mortalidade e das migrações. Sob o impacto das epidemias de peste, cólera e gripe espanhola o país apresentou crescimento negativo entre 1911 e 1921. Somente a gripe espanhola eliminou 5% dos habitantes. Apesar da epidemia de fome de 1940, as taxas de mortalidade diminuíram de forma consistente a partir da década de 1920.


O Ã Ç O A ÃO L Ç U A Ã P L Ç O U A P P L RPOPU E P R UPERPO S U E S P U S Desde a independência, proclamada em 1947, houve declínio da taxa de mortalidade, que hoje chegou a 8 para cada mil habitantes. A expectativa de vida, que em 1950 era de 38,7 anos para os homens e 37,1, para as mulheres, agora é de 64,4 e 67,6, respectivamente, só devendo chegar aos 70 anos em 2025. Na época da independência, a mortalidade infantil era de 200 a225 óbitos para cada mil nascidos vivos, taxa que hoje é igual a 50. A taxa de fertilidade de 6,6 filhos por mulher, em 1966, caiu para 2,8, em 2010. Em dez anos, a fertilidade chegará a 2,1, nível considerado de reposição, quando o número de óbitos iguala o de nascimentos.

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A transformação demográfica na Índia é única porque não obedece à transição clássica, na qual o desenvolvimento econômico primeiro faz cair a mortalidade, para depois haver queda da natalidade. A Índia foi o primeiro país do mundo a aplicar programas de planejamento familiar. O declínio da fertilidade foi obtido quase exclusivamente por meio da esterilização feminina. As meninas casam-se em média aos 18 anos, mas 50% das que vivem na zona rural o fazem antes dessa idade. O casamento é universal e os filhos costumam nascer dentro dele. O uso pouco frequente de contraceptivos temporários explica por que as mães dão à luz precocemente e se submetem à esterilização definitiva muito cedo. Em Andhra Pradesh, um 177


dos estados em que a queda da

demográficas estão criando

fertilidade foi mais rápida, a maior

novas oportunidades para o

parte das laqueaduras foi realizada

desenvolvimento econômico. A

em mulheres com menos de 25

queda rápida dos nascimentos

anos.

resultou em aumento da

O censo atual mostra um déficit

relação de dependência

de meninas com menos de 6 anos:

(calculada dividindo-se o

para cada 914 existem mil meninos.

número total de habitantes

A diferença revela o impacto dos

pela soma dos que têm de 0

abortamentos seletivos, estimados

a 14 anos com os que estão

em 3,1 milhões a 6 milhões apenas

acima de 65 anos). Em 2010

na última década. Curiosamente,

essa relação atingiu 56%. Numa

nascem muito menos meninas

população total de 1,21 bilhão,

quando as mães estudaram mais

essa proporção revela que

de dez anos. Há consenso de que as mudanças


há mais de 600 milhões de indianos em idade de trabalhar. De acordo com as previsões, esse dividendo demográfico acelerará substancialmente o crescimento da economia nas próximas duas décadas. Por outro lado, 25% dos indianos com mais de 7 anos estão condenados ao analfabetismo. Nas mulheres o índice é de 35%. Integrar no mercado de trabalho essa massa de pessoas despreparadas é o grande desafio que a Índia enfrenta neste momento.

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SIS TEMA DE CASTAS A principal religião da Índia interfere diretamente na estruturação social, uma vez que o hinduísmo divide a sociedade em castas. A divisão da sociedade em castas é determinada a partir da hereditariedade. As castas se definem de acordo com a posição social que determinadas famílias hindus ocupam. Fator que estabelece um tipo de “hierarquia” social marcada por privilégios e deveres.

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Em um primeiro momento existiam somente quatro tipos de castas na �ndia, que eram: os brâmanes (composta por sacerdotes), xatrias (formada por militares), vaixias (constituída por fazendeiros e comerciantes) e a mais baixa, os sudras (pessoas que deveriam servir as castas superiores).

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As pessoas que não faziam parte de nenhuma das castas recebiam o nome de párias ou intocáveis. Pessoas excluídas que tinham a incumbência de realizar os mais deploráveis trabalhos, aqueles rejeitados por indivíduos que integrava alguma das castas. Atualmente, existem cerca de 3 mil castas distintas na Índia. A proliferação do número de castas se deve, principalmente, pelo crescimento populacional e também pelo dinamismo e diversidade das atividades produtivas, promovidas pelo crescimento econômico que o país vem passando nos últimos anos. 184


Esse sistema tem como principal característica a segregação social, determinando a função das pessoas dentro da sociedade indiana. Tal segregação resulta em desigualdade social, que é explicada pelo fato de um indivíduo não poder ascender para uma casta superior. Segundo o governo indiano, o sistema de castas não existe mais no país. Apesar do governo não admitir, a verdade é que esse sistema está presente na sociedade, interferindo diretamente na qualidade de vida da população indiana.

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TRÂN O trânsito na Índia é uma questão à parte. É sempre muito importante lembrar que o país tem 1,2 bilhão de habitantes, e essa gente precisa, como todo mundo, andar pra lá e pra cá. Então, é sob essa perspectiva que o trânsito deve ser analisado.

As maiores cidades da Índia, Mumbai

SI

e Délhi, têm enorme contingente populacional, tal como Rio de Janeiro e São Paulo. Além disso, há muitas outras cidades indianas que já ultrapassaram a barreira do milhão de habitantes, o que amplia

o problema do trânsito não só

TO

nas grandes metrópoles, mas também nessas muitas cidades consideradas de médio porte. A deficiente infraestrutura urbana voltada para o trânsito

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(por exemplo, a falta de calçamento faz com que não se estabeleça um limite físico por onde os carros e motos podem passar) e o volume de veículos que transitam pelas ruas, resultam em um sistema de trânsito aparentemente caótico e desordenado. As principais características do trânsito indiano são a permanente utilização de buzinas, com os mais variados sons, a existência de pessoas e animais (principalmente vacas, mas também camelos, cachorros, cabras, ovelhas, pavões, macacos e porcos) dividindo as ruas com os veículos, a não delimitação de espaços por onde cada um deva andar, dentre outras.

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À primeira vista, não se entende como os motoristas se orientam, muito menos como podem sair incólumes após uma volta de carro por cidades maiores, em que o tráfego é muito intenso. Após andar por algumas cidades, grandes, médias e pequenas, além de viajar por muitas rodovias indianas, percebem-se alguns comportamentos que talvez nos permitam entender um pouco melhor o funcionamento do trânsito na Índia. A primeira coisa que percebemos é que, antes de mais nada, a direção é, em boa parte, defensiva, ou seja, o motorista está sempre atento ao que está ocorrendo ao seu redor, antecipando o movimento de todos os demais veículos, pessoas e animais. Por essa razão, mesmo nas estradas, não é comum se atingir velocidades acima de 80 km/h.

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Outro ponto importante é que a buzina é absolutamente necessária. Não se trata de um instrumento utilizado para reclamar de outro veículo ou pedestre, mas para alertá-los de que o motorista está fazendo ou prestes a fazer determinado movimento. Todas as ultrapassagens são precedidas de buzina, por exemplo. O mais interessante é que receber um buzinaço de outro carro não é considerado ofensivo, tanto assim que quem o recebe não costuma expressar qualquer insatisfação ou irritação. A buzinada insistente significa apenas que um veículo está fazendo ou fará algum novo movimento que poderá interferir na direção alheia.

Há sim uma lógica no trânsito indiano que é até bastante razoável. Quem está mais obviamente bem posicionado para fazer determinado movimento, deve fazê-lo. No Brasil, isso não funciona, pois, de acordo com a “Lei do Mais Esperto”, mesmo que a situação de uma pessoa não seja obviamente a mais favorável para fazer determinado movimento, provavelmente ela tentará de qualquer jeito levar vantagem.

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Pois na Índia isso não ocorre. Parece que todos sabem que, para a bagunça funcionar, é preciso respeitar essa lógica e haver um senso de cooperação mútua entre todos que participam da intrincada movimentação urbana. E é exatamente essa cooperação que mais nos chama a atenção. Isso sem falar na utilização de veículos de menor tamanho, como os tuc-tucs e os riquixás, além das milhares de motocicletas, bem como a grande quantidade de pessoas por veículos, o que se observa


rapidamente quando se anda de carro na Índia. Esses elementos, principalmente os de cooperação mútua e direção defensiva, são fundamentais para que o caótico torne-se não só possível, mas também eficiente, de uma maneira indiana, se é que se pode entender… Parece que, em matéria de trânsito, os indianos têm a exata noção de que, sem a colaboração de cada um dos envolvidos, os resultados seriam amplamente desfavoráveis a todos.


CURIOSIDADES

Atrás da grande maioria de ônibus e caminhões, há a frase “Blow horn, please”, ou seja, “Por favor, buzine”, o que é impensável para os brasileiros.

A maioria dos carros indianos não tem rádio, pois mudar as estações ou as faixas de CD é fator de desconcentração para o motorista, e, na Índia, qualquer mínimo descuido pode ser realmente fatal.


Os animais são realmente presença constante nas ruas e nas estradas. E, embora haja o maior cuidado por parte dos motoristas, vemos muitos bichos atropelados e mortos, principalmente nas rodovias.

Os veículos carregam, de modo geral, um número de pessoas muito maior do que sua capacidade. Não é incomum ver veículos, de todos os tipos, com 3 vezes mais pessoas do que poderia levar. Nos ônibus, por exemplo, muitas pessoas andam sobre o teto do veículo, algo bastante arriscado, evidentemente.

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O GRID

DES CONSTRUÍDO


Até o final do século XX, a indústria do design, ao se promover ou ao descrever sua evolução histórica, costumava ressaltar a influência do racionalismo, e com boas razões: a ênfase sobre os aspectos racionais e pragmáticos do design ajuda

os clientes a entender e confiar nos recursos da profissão. Mas em todo campo de atividade artística existem diferentes escolas de pensamento, algumas contraditórias, e o design gráfico não é exceção.

200


A estrutura de grid na tipografia e no design se tornou par do seu status quo, mas, como mostra a história recente, existem várias outras maneiras de organizar a informação das imagens. A decisão de usar um grid sempre depende da natureza do conteúdo num determinado projeto. Às vezes, o conteúdo tem uma estrutura interna própria

EXPLORANDO OUTRAS OPÇÕES

que nem sempre o grid consegue esclarecer; às vezes, o conteúdo deve ignorar totalmente a estrutura para criar tipos específicos de reações emotivas no público alvo; às vezes, o designer simplesmente quer um envolvimento intelectual mais complexo do público, como parte de seu contato com o objeto.

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DESCONSTRUÇÃO DO GRID

Como diz o próprio termo, o objetivo da desconstrução é deformar um espaço racionalmente estruturado, forçando os elementos desse espaço a formar novas relações: em termos mais simples, é começar com um grid e alterá-lo para ver o que acontece. Dito isso, provavelmente está claro que não existe nenhum conjunto real de regras a serem aplicadas ao processo de desconstruir. Mas, se o objetivo é encontrar novas relações espaciais ou visuais

quebrando uma estrutura, é bom pelo menos começar a pensar no processo de maneira sistemática. A primeira ideia que pode surgir, como modo de encarar esse processo, é pensar em subdividir um grid convencional -mesmo um extremamente simples. Uma estrutura pode ser alterada de inúmeras maneiras. Primeiro, o designer pode experimentar ‘”cortar” e mover grandes zonas, na horizontal ou na vertical. É importante ver o que acontece quando a informação que 202


normalmente apareceria num

com positivo. As colunas de

lugar esperado -marcando

texto, ou outros elementos,

uma junção estrutural no grid

como peças flutuantes.

- é deslocada para outro lugar,

Uma estrutura de grid

talvez alinhada com algum

convencional, repetida em

outro tipo de informação,

orientações diversas, permite

criando uma nova conexão

a exploração de um espaço

verbal que não existia antes.

arquitetônico mais dinâmico,

A informação deslocada

ao criar diferentes eixos de

também pode esticar-se para

alinhamento. Por exemplo,

trás ou para cima de outra

grids de duas e três colunas,

informação, caso haja também

de escalas diferentes e em

uma mudança de tamanho ou

ângulos contrários, irão criar

densidade. A confusão ótica

novas zonas espaciais que

gerada pode ser percebida

se entrelaçam. Da mesma

como uma espécie de espaço

maneira, grids sobrepostos

surreal onde primeiro e

com módulos de diferentes

segundo planos trocam de

proporções, ou que correm

lugar.

em direções diversas, podem

Mover ou quebrar módulos ou

introduzir uma espécie de

colunas do grid, de forma que

ordem na ambiguidade

eles comecem a se sobrepor,

espacial e direcional criada

mesmo quando trazem

pelas camadas, sobretudo se

informações sequenciais

alguns elementos estiverem

(como um texto corrido),

orientados por duas camadas

pode criar a percepção de

ao mesmo tempo. Esse tipo de

camadas dentro do espaço

desconstrução arquitetônica ressaIta as quaIidades visuais de múltiplas estruturas em interação; mudanças de escala ou densidade nessas estruturas ajudam a distinguir tipos específicos de informação, além de criar um espaço interativo, mas ainda geométrico e inteligível. 203


cO O içãO Osiçã mpOs cOmp Podem-se usar indicações VERBAIS ou CONCEITUAIS dentro do conteúdo para quebrar uma estrutura de grid.

O ritmo NATURAL da linguagem ORAL, por exemplo, é muitas vezes usado como guia para a mudança do peso, tamanho, cor ou alinhamento dos tipos; palavras GRITADAS ou “FORTES” podem ficar em tipos MAIORES, em bold ou ITÁLICO, de acordo com as TÔNICAS na fala.

Dar “voz” à linguagem VISUAL ajuda a alterar a estrutura de um texto, puxando palavras para fora do parágrafo ou forçando relações entre módulos ou colunas, onde a lógica NATURAL da escrita cria uma ordem VISUAL.


lIngu guÍstI ÍstIca ca lIn Por exemplo, tratar todos os adjetivos de uma maneira ESPECÍFICA cria uma estrutura SECUNDÁRIA com qualidade RÍTMICA e ORGÂNICA. Quebrar frases e palavras num texto CORRIDO chama a atenção para partes INDIVIDUAIS de um discurso.

Quando se aumenta o espaço entre elas, o texto assume uma aparência de matriz e a suposta ordem da leitura pode começar a mudar.

Geralmente isso interfere no texto, mas em alguns casos a ambiguidade resultante pode ser ADEQUADA ao conteúdo, permitindo associações entre palavras ou imagens capazes de reforçar seu sentido LITERAL.


COM POSI ÇÃO ÓTICA ESPON TÂNEA

Longe de ser aleatório, este método compositivo pode ser definido como uma distribuição intuitiva deliberada do conteúdo com base em seus aspectos formais: enxergar as relações e contrastes visuais intrínsecos dos elementos e criar conexões para o observador baseadas

206


em tais relações. Às vezes, os designers usam este método como etapa no processo de construção de um grid, mas seu uso como ideia organizativa em si é igualmente válido. Essa abordagem começa rápida e solta: o designer trabalha com o conteúdo como se fosse um pintor, tomando decisões ágeis ao reunir o material e ver Quando as diferentes qualidades óticas dos elementos começam a interagir, o designer pode

ÓTICA ESPON TÂNEA

pela primeira vez suas relações.

determinar quais as qualidades que

serão afetadas por aquelas decisões iniciais e fazer ajustes para realçá-

Ias ou eliminá-Ias da maneira mais adequada para a comunicação.

ÇÃO

A vivacidade característica deste método tem afinidade com a técnica da colagem; seu senso de

urgência e o caráter direto podem ser muito convidativos para os

POSI

espectadores, proporcionando uma experiência simples e gratificante, que é bem acessível. O resultado é uma estrutura que depende das tensões óticas da composição e de

suas conexões com a hierarquia das

COM

informações contidas no espaço.

207


O P E R A ÇÃO O uso do acaso como princípio organizativo pode parecer anti intuitivo. Mas os resultados imprevisíveis muitas vezes ajudam a comunicação de um ponto de vista conceitual, ao conseguir justaposições de elementos que passariam desapercebidos. Conduzir

uma operação aleatória supõe que haja um certo grau de controle sobre o acaso, e geralmente é o que acontece: o designer pode jogar tinta numa superfície, mas sabe que surgirão certos padrões devido ao tamanho do pincel ou ao tipo de gesto; aumentar o corpo de um tipo numa composição sem ajustar a posição inicial pode resultar numa composição orgânica invulgar. Numa operação semelhante, imagens cortadas podem ser fisicamente

espalhadas ou jogadas de uma certa altura sobre uma superfície. A disposição aleatória resultante pode ajudar a comunicar idéias de movimento, de imprevisibilidade da natureza, de absurdo, e assim por diante. Escolhendo o tipo de operação aleatória, o designer pode, até certo ponto, dirigir os resultados a seu favor, assegurando a adequação à forma e permitindo que a imprevisibilidade crie novas relações visuais a que não se chegaria com uma

208


ALE

ATÓR I

A

concepção estruturada do leiaute. O designer pode inclusive usar um grid para direcionar tipos específicos de acaso, sabendo que a estrutura subjacente fará com que os resultados casuais se comportem de maneiras (esperadamente) desejáveis, que iluminam o conteúdo e criam, ao final do processo, o mesmo tipo de composição visual inesperada. Por exemplo, o designer pode aplicar arbitrariamente uma matriz a uma imagem

grande, para determinar como recortá-Ia para diversas páginas, mas o formato do recorte e os detalhes resultantes podem fornecer uma textura interessante ou se conectar conceitualmente ao texto. Às vezes, introduzir o acaso no processo de design ajuda a ver o material com mais clareza, permitindo que o designer o organize de maneiras menos previsíveis, e, no entanto, mais esclarecedoras. 209



DOIS MUNDOS UMA REALIDADE


ORDEM E CAOS

Os conceitos de ordem e caos, tanto quanto o conceito de racionalidade, não têm uma significação normativa. A ordem não é de per si positiva e o caos não é de per si negativo. Parece até que entre os dois existe uma mútua dependência. Klaus Schulten, em seu trabalho: “Ordem do caos, razão por acaso” (Schulten, 1987), analisou a questão de como o cérebro humano usa, para o direcionamento do comportamento racional, o papel construtivo do acaso. A biologia molecular, já há bastante tempo, usa o conceito do caos de forma heuristicamente rica (Eigen e Schuster; 1978). Assim, mostraram como seres vivos geram sistematicamente o acaso e investigaram, dessa forma, o meio deles. O voo da mosca (mosca doméstica) não tem direção bem definida, mas constitui um conjunto de movimentos não ordenados, que admite que o acaso tenha um papel decisivo na determinação da trajetória. O movimento do voo acidental está sendo criado no sistema nervoso motor do inseto. Podemos então dizer que ele cria permanentemente ordem no caos, na medida em que ele não se perde no espaço e alcança seus objetivos biologicamente definidos de alimentação e reprodução.

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O caos pode ser precisado no espaço não estruturado. Isso é possível porque o espaço mesmo não é um lugar, mas a possibilidade de todos os lugares. O caos diferencia-se do nada, pois não tem como anti conceito do ser, a existência. O caos é um estado específico do ser, não em uma forma objetivada, mas dinâmica, abrindo-se a todas as possibilidades. A ordem, ao contrário, define lugares e mostra alternativas claras para as mudanças de posição. Na forma estética, a contradição entre ordem e caos é dissolvida em favor da ordem. A composição musical transforma o rumor do universo na batucada do samba ou na sinfonia clássica. A grande arte, para o gosto europeu, é a que deixa pressentir o caos sob a superfície estruturada. Mesmo a estética do feio não foge à ordem, pois ela continua sendo determinada pela oposição ao belo. Assim, não é caótica, mas altamente ordenada.

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