TFG | Mariana Carvalho

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LARGOS PAULISTANOS



LARGOS PAULISTANOS Mariana Pinheiro de Carvalho Orientador: Eugenio Fernandes Queiroga

Trabalho Final de Graduação FAUUSP junho 2014



Quando eu vi Que o Largo dos Aflitos Não era bastante largo Pra caber minha aflição Tom Zé



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Introdução

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Espaço público e apropriação Esfera de vida pública Vida cotidiana e apropriação Espaço livre público hoje

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Os largos historicamente Autores portugueses Autores brasileiros Cartas históricas

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Largos Paulistanos

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Estudos de caso

Estudo morfológico Levantamento de campo geral

Metodologia Trabalho de campo Largo do Rosário, Penha Largo Oliveira Viana, Freguesia do Ó Largo Treze de Maio, Santo Amaro Largo da Lapa, Lapa Largo da Misericórdia, Sé

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Propostas

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Considerações finais

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Referências bibliográficas



Agradecimentos

Ao Eugenio Queiroga, pelo diálogo e orientação cuidadosa ao longo desses sete anos. À Vera Pallamin e ao Raul Pereira, por aceitarem participar da banca. Às equipes do NUPEC e da Casa de Dona Yayá, por me possibilitarem o convívio e aprendizagem com duas experiências exemplares de trabalho no setor público. Aos amigos da FAU, com quem dividi esses anos de formação acadêmica e de vida. Em especial aos laços que surgiram da indignação e do anseio: Bernardo Loureiro, Clara Laurentiis, Gabriel Rochetti, Giovanna Saquietti, João Miguel, Thaís Marcussi e Victor Próspero. À Kim Hoffmann e Marina Leonardi, pelos encontros e desencontros. À Luciana Mattar, pela gentileza e suporte na diagramação. À Bia Trujillo e Sabrina Fontenele, que me tiram do isolamento, pelo apoio, estímulo e carinho. À Beatriz Mentone e Laís Silveira, por me trazerem o mundo fora da arquitetura. À Edna, no limiar entre força e consolo, com quem olhei a cidade pela primeira vez. Ao Carlos, que está sempre lá, por ter sonhado junto. À Marilia, pelos exemplos e coragem (“de quem finge que nada é perigoso”) que me guiaram a vida toda. Saudade.


Introdução

Esse trabalho surgiu da percepção de alguns largos de São Paulo como espaços com vivências muito ricas: a escadaria do Largo da Memória com pessoas sentadas e deitadas; a passagem pelo Largo do Paissandú na hora do almoço cruzando com pessoas que vem de todos os cantos da cidade; os artistas que acumulam plateias no Largo de São Bento; e o almoço de domingo no Largo da Matriz. Ou mesmo em outras cidades: a multidão do bloco de carnaval no Largo da Carioca (Rio de Janeiro) e a atração turística do acarajé da Dinha no Largo de Santana (Salvador). A princípio, a intenção era investigar sobre as apropriações nos largos paulistanos, partindo de alguns estudos de caso com o objetivo de refletir sobre a esfera de vida pública contemporânea na cidade de São Paulo. No entanto, algumas especificidades do objeto – largo – tornaram necessária a ampliação do escopo desse trabalho. Se outros espaços livres públicos, tais como praças, parques, ruas e calçadas, são amplamente abordados pelos mais diferentes enfoques, os largos raramente são estudados como objeto principal. Assim, alguns questionamentos iniciais sobre quais seriam suas características morfológicas ou qual sua origem histórica, não obtiveram respostas já formuladas. O que encontramos foi uma diversidade de informações incompletas e, geralmente, opostas. Assim, entendemos que uma abordagem histórica e morfológica era imprescindível, inclusive para amparar as investigações sobre apropriação. Dessa maneira, nos cinco capítulos que se seguem, procuramos cercar a temática dos largos sem perder de vista a discussão sobre a esfera de vida pública apresentada no capítulo que introduz o trabalho. No segundo capítulo, a partir da contraposição entre autores portugueses e brasileiros, traçamos um panorama sobre como esse objeto de estudo vem sendo conceituado. Além disso, já adentrando o territó-

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rio paulistano, analisamos a presença dos largos em algumas cartas históricas da cidade de São Paulo, contrapondo a jardins, praças e campos. Os largos paulistanos são problematizados no terceiro capítulo, no qual estabelecemos algumas características morfológicas e de apropriação como sendo fundamentais para se pensar esses espaços. Após essa conceituação genérica, no quarto capítulo, apresentamos as sínteses e discussões fomentadas pelos cinco largos escolhidos como estudos de caso. Por fim – mas que não seja encarado como um processo linear que tinha como objetivo o projeto – pensamos algumas propostas para os cinco largos estudados. Entendendo o projeto como mais um momento de reflexão sobre a experiência dos vivenciadores.

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capítulo 1 ESPAÇO PÚBLICO E APROPRIAÇÃO

1 Largo da Memória, janeiro de 2014. [foto da autora]

A escolha por abordar os largos essencialmente sob o viés dos espaços livres públicos e suas implicações, se baseia na seguinte afirmação de Miranda Magnoli “O espaço livre público é o espaço da vida comunitária por excelência. O espaço edificado público é só eventualmente tão público quanto o espaço livre público.” (MAGNOLI, 2006: 182). Essa compreensão do espaço livre público como o espaço público paradigmático é fundamental para esse trabalho, que tem como objetivo investigar por meio do estudo das apropriações desses lugares a esfera de vida pública contemporânea na cidade de São Paulo. A partir da premissa de que os largos de São Paulo são lugares representativos e importantes na vida pública do seu entorno imediato e, em alguns casos, para áreas mais amplas, entendemos que com o estudo desses espaços podemos traçar algumas reflexões sobre a esfera de vida pública na cidade como um todo1.

1 A escolha pelo espaço público como o espaço capaz de representar questões da cidade em geral aparece em alguns autores, entre eles, Solange Araújo: “Dentre os diversos elementos envolvidos nos processos de urbanização, o espaço público, historicamente, sempre foi aquele em que mais claramente se pode evidenciar a dinâmica da cidade.” (ARAÚJO, 2006: 24).

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Esfera de vida pública 2 Sobre a diferenciação entre “espaço público” e “esfera de vida pública”, Eugenio Queiroga afirma: “Compreendendo-se o espaço à maneira miltoniana, não há como confundir “espaço” com “esfera de vida”, pois são conceitos de natureza distinta: o primeiro é uma instância social híbrida entre materialidade e ação; o segundo é campo de relações sociais do mundo vivido, desde a vida familiar (esfera íntima habermasiana) à pública política (esfera pública arendtiana).” (QUEIROGA, 2012: 57).

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São inúmeros os autores que relatam as transformações que a esfera de vida pública2 sofreu ao longo dos tempos. Em geral, há uma avaliação bastante pessimista do que é a esfera de vida pública na contemporaneidade, como demonstra o trecho abaixo: Privatização, enclausuramento e instrumentos de distanciamento oferecem meios não só de se retirar e de se minar um certo espaço público (moderno), mas também de se criar uma outra esfera pública: uma esfera que é fragmentada, articulada e garantida com base em separação e toda uma parafernália técnica, e na qual a igualdade, a abertura e a acessibilidade não são valores básicos. (CALDEIRA, 2000: 337) Uma autora fundamental para compreender a relação entre as esferas de vida e suas mudanças ao longo dos tempos é Hannah Arendt (ARENDT, 2013). Essa autora parte de uma avaliação histórica de qual era o significado dessas duas esferas de vida na Antiguidade, em especial para os gregos, para a partir dessa condição exemplar estabelecer as principais mudanças que aconteceram até a configuração das esferas de vida tal como vemos hoje em dia. A questão fundamental para os gregos era a polarização e complementação entre a esfera de vida pública e a esfera de vida privada. A vida pública tinha como essência duas atividades políticas: a ação e o discurso, pelos quais os homens tinham condição de ser visto e ouvido por todos os seus iguais, isto é, os outros homens políticos. Por outro lado, a vida privada significava justamente a privação da vida política, e dela participavam todos aqueles que se dedicavam somente às atividades mais relacionadas a manutenção da vida propriamente dita, portanto, escravos, mulheres, crianças e homens que não tinham condições de se livrar dessas necessidades mais básicas. O centro dessa segunda esfera de vida era a família.


O domínio da pólis, ao contrário, era a esfera da liberdade, e se havia uma relação entre essas duas esferas era que a vitória sobre as necessidades da vida no lar constituía a condição óbvia para a liberdade da pólis. (ARENDT, 2013: 36) Para Arendt, a grande mudança nessas esferas ocorre com o advento da esfera de vida social na Era Moderna, quando a política passou a ser apenas mais uma função da sociedade e questões econômicas e preocupações antes restritas à família passam a ser o centro da vida coletiva. Assim, a esfera de vida pública perde seu caráter libertador e a polarização em relação à esfera de vida privada deixa de existir. Aqui se colocam questões fundamentais em oposição a análise feita por Richard Sennett sobre o mesmo tema (SENNETT, 1988). Sennett assim como Arendt traça as mudanças que tornaram a esfera de vida pública cada vez mais enfraquecida. No entanto, há duas distinções importantes entre os autores. Primeiramente, enquanto Arendt estabelece a Antiguidade como paradigma para a análise das esferas de vida, o segundo autor considera que as mudanças que esvaziaram a vida pública começaram com a queda do Antigo Regime. Em segundo lugar, enquanto Arendt coloca o surgimento do social como causa para o enfraquecimento das outras duas esferas de vida, para Sennett o declínio da esfera de vida pública é consequência do crescimento da esfera de vida privada verificada na exacerbação do indivíduo e da vida pessoal. É importante ressaltar que o surgimento da esfera de vida social não significou apenas o enfraquecimento da esfera de vida pública, mas também o declínio da esfera privada. Contemporaneamente à Arendt, Jürgen Habermas apresenta dois aspectos à discussão das transformações nas esferas de vida que são importantes de serem ressaltados aqui. Em primeiro lugar, em seu livro “Mudança estrutural da esfera pública: investigação quanto a uma categoria da sociedade burguesa”, o autor diz: “Concebemos a esfera pública

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burguesa como uma categoria típica de época; ela não pode ser retirada do inconfundível histórico do desenvolvimento dessa sociedade burguesa.” (HABERMAS, 2003: 9). Nesse sentido, o autor relaciona a esfera pública à uma sociedade específica, abrindo espaço para a interpretação de que diferentes momentos históricos apresentam diferentes constituições de esfera pública e, ainda que tenhamos algum desses momentos como exemplares, isso não significaria a inexistência das esferas de vida em períodos históricos distintos. Além disso, um segundo aspecto importante é a adjetivação ao termo “esfera de vida pública” usada por esse autor, por exemplo, “burguesa” ou “plebeia”. Nesse sentido, o autor concebe a existência de algumas esferas de vida pública simultaneamente, em oposição a postura de Arendt e Sennett que, cada um à sua maneira, estabelecem uma esfera de vida pública única e original que com o tempo foi transfigurada. À esfera de vida pública tal como caracterizada por Arendt, Habermas nomeia de “esfera de vida pública política”. A importância dessas duas questões apresentadas por Habermas fica mais evidente quando retomamos o objetivo desse trabalho que é a discussão da esfera de vida pública na atualidade e no contexto paulistano. De alguma maneira, podemos dizer que a visão do autor possibilita uma investigação mais otimista sobre o presente, ao invés de somente negar a existência de uma esfera de vida pública tal como ela se constituiu um dia. Nesse sentido, em sua tese de livre docência, Eugenio Queiroga (QUEIROGA, 2012) propõe a diferenciação entre a nomenclatura de “esfera pública política” e “esfera pública geral”, considerando justamente a caracterização dessas esferas no momento histórico atual e no Brasil. Com essa distinção o autor não nega a existência de uma esfera de vida pública arendtiana, mas assume a existência e valoriza outras atividades que acontecem em público nos dias de hoje. Assim, o olhar sobre a vida cotidiana se coloca como um dado fundamental para analisar a

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nossa sociedade. Nas palavras do autor: Propõe-se, por outro lado, denominar esfera pública geral a toda a vida “em público”, incluindo, portanto, o debate público (político e intelectual), a ação comunicativa, inclusive cotidiana, e qualquer outra ação que se compartilhe “em público”, seja no espaço real, seja no virtual. Não se trata, desse modo, de uma relação de oposição entre esfera pública política (esfera pública em sentido estrito) e esfera pública geral. A esfera pública geral inclui a esfera pública política, não apenas como um conjunto que contém outro conjunto, mas sistêmica e dialeticamente, de sorte que o que ocorre numa esfera modifica a outra e vice-versa, em movimento dialético entre todo (esfera pública geral) e parte (esfera pública política). (QUEIROGA, 2012: 49) Vida cotidiana e apropriação

É com essa perspectiva de valorização do cotidiano que se propõe o enfoque no estudo das apropriações, nesse caso, dos largos paulistanos. Trata-se de reconhecer o caráter público de atividades que não estão estritamente relacionadas à política, mas que desempenham papel fundamental na socialização e formação dos indivíduos. Ao tratar da relação entre cidadãos religiosos e cidadãos não religiosos, Habermas (2007) diz “(...) na virtude política do relacionamento civil recíproco manifestam-se determinados enfoques cognitivos que não podem ser impostos de cima para baixo, apenas aprendidos.”, ou ainda: “Nós, homens, aprendemos uns dos outros. E isso só é possível no interior de um espaço público, capaz de fornecer estímulos culturais”. Nesse sentido, não é mais só a superação das necessidades vitais que pode levar o homem à vida pública nos dias de hoje, mas, principalmente as articulações que decorrem do esforço de todos em suprimir essas necessidades. Assim, o caminho para o trabalho, o trajeto entre o supermercado e a farmácia, o convívio na saída da escola podem em si estimular uma convivência em público importante. A aproximação e

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interesse de pesquisas e projetos desse cotidiano dos vivenciadores da cidade pode compreender melhor esse ambiente público e estimulá-lo em alguma medida, ou ao menos não prejudicá-lo. Outra perspectiva bastante interessante é a possibilidade de que essa “esfera pública geral” fomente o desenvolvimento da “esfera pública política”. Por exemplo, ao longo dos levantamentos de campo que relataremos mais a frente, um grupo de moradores do bairro da Penha de França se organizou a princípio motivados por obras que vinham sendo realizadas na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, localizada no Largo do Rosário. Essa mobilização gerou o “Primeiro Seminário sobre Patrimônios Históricos da Zona Leste” com a presença de representantes das esferas municipal, estadual e federal, que ocorreu no Centro Cultural situado no mesmo largo. Esse exemplo fortalece justamente a ideia de que das questões mais corriqueiras podem surgir debates e reflexões que se aproximam bastante da esfera pública política. Assim, compreender melhor como se estabelecem essas apropriações cotidianas por meio dos vivenciadores – programadas ou espontâneas – é fundamental para refletir sobre as características da esfera pública contemporânea (geral e política). Espaço livre público hoje

Essa relação proposta entre a análise do espaço urbano e as reflexões sobre as esferas de vida pode não ser uma passagem tão imediata e simples. Teresa Pires do Rio Caldeira, ao estudar o surgimento e disseminação dos enclaves fortificados na cidade de São Paulo, reflete justamente sobre a relação entre forma urbana e forma política: (...) o fato de que a consolidação da cidade de muros em São Paulo, com seu espaço público não democrático, coincidiu com o processo de democratização política. Foi exatamente no momento em que os movimentos sociais eclodiam na periferia, quando sindicatos paralisavam fábricas e lotavam estádios para suas assembleias, quando

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as pessoas votavam para os cargos executivos pela primeira vez em vinte anos, que os residentes da cidade começaram a erguer muros e a se mudar para enclaves fortificados. Quando o sistema político se abriu, as ruas foram fechadas e o medo do crime se tornou a fala da cidade. (CALDEIRA, 2000: 314) No discurso oficial, já faz algum tempo que os espaços livres públicos ganharam destaque na publicidade sobre uma cidade sustentável e com lazer para todos. É pelo discurso da sustentabilidade que esses espaços adquirem lugar privilegiado na lógica da espetacularização das cidades. Já faz alguns anos que a implementação de “parques lineares”, muitas vezes vinculados a áreas habitacionais de populações de baixa renda, se faz presente nas falas de políticos. É ainda interessante notar como quase qualquer área recém arborizada e com alguns equipamentos instalados passou a adquirir esse rótulo de “parque linear”. Mais recentemente, foi amplamente divulgado em jornais a regulamentação da Prefeitura do Município de São Paulo para a implementação do “parklets”, chamados por alguns de “pracinhas”. Por um lado, há um discurso político oficial sobre esses espaços, tomando somente por esse viés, a reflexão sobre as esferas de vida na sociedade paulistana atual seria bastante limitada, para Angelo Serpa: Com a instauração e consolidação de um mercado da paisagem e do paisagismo, os novos parques são, hoje, mediadores da cultura oficial, nivelando as diferenças e fazendo emergir uma representação estática, teatralizada e simplificada da “Natureza” no contexto urbano. (SERPA, 2007: 37) Essa reflexão do autor sobre os parques pode ser estendida em maior ou menor grau para outros espaços livres públicos. Portanto, as apropriações e experiências programadas pela cultura oficial precisam ser analisadas e debatidas, mas não dão conta da totalidade da vida co-

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tidiana que acontece nos espaços públicos. O estudo das apropriações pretende dar conta justamente da vida pública que fica à margem do discurso oficial, segundo Jacques (2005): “Mesmo estando sujeitos ao rolo compressor homogeneizador da cidade-espetáculo, atores sociais urbanos ainda conseguem reverter o processo ao se apropriar de espaços públicos, para habitação ou encontros variados”. Assim, ainda que muitas vezes a forma urbana possa estar vinculada a interesses oficiais econômicos e políticos que direcionam para certos usos do espaço público, há muitas outras apropriações que também dizem respeito à esfera de vida pública atual em São Paulo e que muitas vezes se opõe ao espaço construído oficialmente.

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capítulo 2 OS LARGOS HISTORICAMENTE

2 Placa na fachada da Igreja de São Gonçalo, na Praça Doutor João Mendes, janeiro de 2014. (foto da autora)

A partir de pesquisa bibliográfica tentamos estabelecer um panorama histórico dos largos com base em duas fontes principais: autores brasileiros e autores portugueses. Em ambos os casos, buscamos tanto informações sobre a formação dos largos nas cidades, sua origem, o momento em que surgiram, para a partir dos dados históricos de sua formação compreender aspectos específicos desses espaços; como, definições e conceituações sobre os largos a partir de autores que na sua produção os estudaram. Se os estudos sobre a ‘praça’ são inúmeros, abarcando todos os períodos da História da Humanidade e dizem respeito aos seus usos, morfologia, relação com os espaços adjacentes etc; de fato, ao longo da pesquisa, se comprovou a hipótese inicial de que a produção acerca dos largos é bem mais escassa e descontínua. No entanto, nos itens seguintes conseguimos traçar uma visão geral sobre como a problemática dos largos tem sido abordada. Um dado bastante relevante para a pesquisa foi a quantidade de

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nomenclaturas diferentes para definir alguns espaços livres públicos tanto na história portuguesa como na história brasileira, os autores, no entanto, apenas citam esses nomes sem explicitar possíveis diferenças. É o caso dos adros, terreiros, rossios e campos. Além das leituras, a abordagem histórica também foi feita por dois outros meios: a análise da cartografia histórica da cidade de São Paulo e a pesquisa iconográfica dos largos paulistanos.

3 Esquema das relações entre praças e ruas proposto por Krier. (Fonte: FONT, 2003: 29) 4 Quadro síntese proposto por Colom diferenciando as praças planejadas das praças resultantes. (Fonte: FONT, 2003:31) 5 Esquema das relações entre praças e ruas proposto por Caro. (Fonte: FONT, 2003: 29)

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Autores portugueses

Uma ideia muito difundida, mas também amplamente contestada é a que assimila o urbanismo português à ausência de planejamento e normas, diferenciando-o do urbanismo espanhol3. Assim, associa-se inicialmente a forma irregular dos largos em geral à irregularidade do próprio urbanismo português4. O autor português José Lamas (2011) apresenta justamente essa ideia ao tratar da morfologia das praças, diferencia os largos pela absoluta ausência de planejamento: (...) Outros espaços como o largo, o terreiro, não podem ser assimilados ao conceito de praça. São de certa maneira espaços acidentais: vazios ou alargamentos da estrutura urbana e que, com o tempo, foram apropriados e usados. Mas nunca adquirem significação igual ao da praça porque não nasceram como tal. (LAMAS, 2011: 100) É importante notar, primeiramente, que Lamas define o largo não por si mesmo, mas em oposição à praça. Em segundo lugar, para o autor a importância que o espaço adquire para a vida urbana das cidades está estreitamente relacionada ao fato de ter sido projetado ou não. A conceituação dos largos como “acidentais” é, portanto, para esse autor, a definição deles como lugares com apropriações casuais e sem grande relevância. No contraponto desta definição, outros dois autores portugueses vão salientar as inúmeras tipologias de praças que existiram ao longo da história de Portugal, sendo inclusive importantes para a caracterização dos “traçados urbanos portugueses” (TEIXEIRA, 2001: 9). Manuel C. Teixeira ainda coloca duas ideias fundamentais para o entendimento dos largos dentro da estrutura urbana portuguesa e, consequentemente, colonial. A primeira, de que A praça estruturada de uma forma regular é um tipo de espaço urbano que só lentamente se implanta na cidade portuguesa. As praças adquirem a sua estruturação formal simultaneamente com a assunção do seu papel como sedes do poder, a partir do século XVI. (TEIXEIRA, 2001: 12).

3 Essa ideia tem origem no capítulo “O semeador e o ladrilhador” de Raízes do Brasil: “A cidade que os portugueses construíram na América não é produto mental, não chega a contradizer o quadro da natureza, e sua silhueta se enlaça na linha da paisagem. Nenhum rigor, nenhum método, nenhuma previdência, sempre esse significativo abandono que exprime a palavra ‘desleixo.” (HOLANDA, 1995: 110). 4 Murillo Marx ressalta a irregularidade do urbanismo português como herança colonial nas cidades brasileiras, mesmo após transformações radicais que elas sofreram: “O desenho urbanístico atual – ou a sua falta – reflete, viva e claramente, uma maneira de conviver indisciplinada e condescendente, forjada nos tempos da colônia. (...) Os vícios e as virtudes dessa cidade apontam a paternidade ibérica e, particularmente, a portuguesa. (...) É constante a presença de ruas tortas, das esquinas em ângulo diferente, da variação de largura nos logradouros de todo o tipo, do sobe-e-desce das ladeiras.>>

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>>(...) Os corações históricos das maiores e mais transformadas aglomerações atuais são exemplos desta característica, nossa velha conhecida. São empecilhos à vida moderna e, como em São Paulo, quase o único testemunho do estabelecimento colonial.” (MARX, 1980: 23)

Essa informação é importante porque aponta para a ideia – depois apresentada pelo mesmo autor – de que os largos eram os espaços livres públicos fundamentais das cidades portuguesas até o início desse processo lento de construção de espaços mais regulares como as praças. Ao descrever as cidades medievais portuguesas o autor diz: existe, em geral, uma rua rectilínea que liga duas portas localizadas em posições extremas da muralha, ou a porta principal e o castelo instalado no extremo oposto, mais facilmente defensável. Perto do meio desta via principal abre-se um largo onde se localizam os edifícios institucionais mais importantes. Em Monsaraz, que constitui um exemplo deste tipo de cidades, é neste largo que se situa a Igreja e outros edifícios públicos. Neste caso, como noutros, este espaço corresponde apenas a um alargamento da rua, obtido através de um recuo da Igreja; a rua não atravessa o largo, sendo antes tangente a um de seus lados. (TEIXEIRA, 2001: 70) Neste trecho está apontada a segunda questão fundamental para os largos que são os usos e funções dos edifícios do seu entorno, destacando a Igreja e edifícios públicos. O mesmo autor ressalta a importância das funções nas praças portuguesas: função de mercado, função militar, função política e administrativa e função religiosa; segundo o autor é constante a presença de praças diferentes para cumprir cada função. Um segundo aspecto que para Teixeira distingue as praças portuguesas entre si é o traçado vernacular e o traçado erudito. Os largos, segundo a descrição que ele mesmo faz, estariam no primeiro grupo: estes espaços resultam habitualmente do cruzamento ou do entroncamento de caminhos e são bastante ricos do ponto de vista morfológico, apresentando uma grande variedade de formas resultantes das situações topográficas em que se situam e dos tipos de confluências de caminhos a partir dos quais se geraram. Estas praças são normalmente pontuadas por edifícios de natureza religiosa e são

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muitas vezes geradoras dos tecidos urbanos que em torno delas se desenvolvem. (TEIXEIRA, 2001: 11) Embora Teixeira se oponha à Lamas com relação à importância dos largos para as cidades portuguesas, esse autor estabelece esses espaços dentro do discurso e pesquisa que faz sobre as praças, caracterizando-os muito mais como uma tipologia de praça em função do período histórico de construção. A terceira autora portuguesa que ressaltamos reforçará o argumento de Teixeira que distancia o traçado retilíneo da importância que os espaços adquirem para a vida urbana: (...) importa aqui sublinhar, que os espaços urbanos ditos orgânicos não são “irregulares” e muito menos “informais”, ao contrário do que habitualmente são designados em bibliografia específica. Mesmo não sendo ortogonais, eles têm uma geometria própria, que resulta das condições do sítio e têm uma estrutura organizada, tal como a própria palavra “orgânico” indica. (GUERREIRO, 2001: 24) Mas mais do que isso, a autora estabelecerá características dos largos a partir do estudo desses espaços, não da definição do espaço das praças. Assim, a autora descreve a morfologia desses espaços livres públicos a partir de sua estreita relação com o sítio em que estão inseridos. Para isso, explica o traçado das ruas nas colinas das cidades portuguesas (local onde quase sempre as cidades começavam a ser instaladas), composto por dois sistemas: o viário principal que acompanhava as curvas de nível e o viário secundário que ligava duas ruas principais em ângulo oblíquo, não perpendicularmente. Daí a autora desenvolve, usando como exemplo a cidade de Alfama: A geometria mais simples que estes largos podem assumir, é a forma triangular (três entradas), que resulta da ligação do percurso principal, paralelo às curvas de nível com o seu oblíquo. O espaço intersticial dado pelo ângulo mais pequeno fica normalmente li-

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vre de edificado gerando um pequeno alargamento. Depois, temos a forma retangular, que resulta da orientação do espaço livre no sentido paralelo e perpendicular às curvas de nível. As restantes situações, mais complexas, derivam do aumento respectivo do número de percursos e aumento respectivo do número de entradas. As formas assim geradas tendem a que um ou vários lados destes largos se tornem curvos. (GUERREIRO, 2001: 23) Assim, se Teixeira coloca a rua como “tangente” ao largo, Guerreiro estabelece uma relação de dependência do largo ao traçado das ruas, atentando para os ângulos oblíquos e agudos ocasionados por um relevo menos plano.

6 Trecho da planta da cidade do Porto (Portugal) envolvida pela muralha. Nela foram destacados cinco largos e duas praças, nomeados dessa maneira na própria cartografia. Observa-se a proximidade que os sete espaços mantém com a muralha. (Fonte: SANTOS, 2001: 140)

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Autores brasileiros

Segundo a pesquisadora brasileira Lilian Vaz, que estudou as praças coloniais no Rio de Janeiro: “Observa-se que, nos séculos XVIII e XIX, o termo “largo” predominava e o termo “praça” se reservava aos espaços aos quais atribuía um papel central de caráter cívico.” (VAZ, 2001: 142). Essa constatação da autora parece tornar inevitável a todos os autores brasileiros que pelo menos citem os largos ao falar das cidades brasileiras. Mas, assim como com os autores portugueses, são poucos que tratam do largo especificamente e cada um ressalta aspectos diferentes. 7 Mapa da cidade do Rio de Janeiro em 1808, com treze largos, uma praça, um campo e um passeio público. (Fonte: VAZ, 2001: 144.)

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8 Pintura do Largo do Carmo (atual Praça XV de Novembro) no Rio de Janeiro, início do séc XIX. (Fonte: SANTOS, 2001: 146)

Murillo Marx (1980) constrói uma visão bastante poética para ressaltar a importância desses espaços na malha urbana brasileira, equiparando-os e, em alguma medida, sobrepondo-os às ruas, que com eles tem uma relação de dependência mútua: As ruas se destacam na cidade brasileira tradicional, entre os inúmeros vazios. Na trama urbana, amoldada ao sítio irregular, a linearidade usual delas provém. Perfilam o casario na direção dos pontos de interesse e de concentração realçando espigões, descendo encostas, beijando várzeas (...). A vida urbana tem nas ruas o caminho dos largos, dos edifícios importantes, do campo e das outras cidades. Confia-lhes, por isso, a feira, a procissão, o pretexto de encontro. Os próprios largos são uma continuação das ruas, um determinado trecho e momento seu diante das construções mais significativas, o seu clímax. Qualquer segmento de caminho público, que ligue dois desses alargamentos especiais e atrativos, passa frequentemente a ser o principal da aglomeração. É o caso típico das ruas Direitas. (MARX, 1980: 43) O largo como momento mais importante da rua, como elemento que traz movimento à vida urbana, que institui fluxos na cidade. E aqui o autor cita a presença de edifícios significativos. Mais pra frente, ao falar da “presença e influência” dos estabelecimentos religiosos, o autor

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comenta o entorno das “capelas, capelas curadas, paróquias, sés, irmandades e conventos” e evidencia a qualidade de centralidade que esses espaços tinham “A morada, o negócio e, quando não a sede administrativa, gravitaram à sua sombra”, daí o autor conclui sobre os variados núcleos que existiam na cidade de São Paulo nesse período, constituindo largos, pátios e terreiros” (MARX, 1980: 28). Portanto, aqui está colocada a faceta dos largos como espaços livres diretamente relacionados à função religiosa (como Lilian Vaz havia dito, espaços com caráter cívico menos evidentes). Essa função religiosa está bastante presente para o autor Benedito Lima de Toledo (2004), que ressalta esses espaços como única herança colonial e diz: Quase todas as praças do centro de São Paulo originaram-se de “largos”, isto é, espaços deixados na trama urbana para criar perspectiva para os vultuosos edifícios religiosos. (TOLEDO, 2004: 52) Sobre a formação da cidade de São Paulo o autor destaca os sete largos que constituíam o centro histórico que hoje conhecemos, alguns sendo chamados de largos até hoje: [nos primórdios do setecentismo] Havia, então, sete largos, dos quais Colégio, Sé, Misericórdia e São Gonçalo em zona de maior densidade de casas; os outros entre os quais os do Mosteiro (São Bento) e São Francisco, já ficavam na periferia da vila. No alvorecer do século XIX surgiram os largos da Legião (Arouche) e do Zunega (Alagôas em 1813) atual Paissandu. (TOLEDO, 1963) É também esse autor que cita a função dos largos como pontos de encontro de tropas de mula, como o Largo da Memória e o Largo do Bexiga. Ana Rita de Sá Carneiro e Liana Mesquita, também colocando em pauta outras funções atreladas aos largos, apresentam um conceito fechado sobre esses espaços no que diz respeito aos espaços livres do Recife:

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Largos: são espaços livres públicos definidos a partir de um equipamento geralmente comercial, com o fim de valorizar ou complementar alguma edificação como mercado público, podendo também ser destinados a atividades lúdicas temporárias. (SÁ CARNEIRO; MESQUITA, 2000: 29)

9 Largo de São Bento em 1930. (Fonte: TOLEDO, 2004: 90) 10 Largo da Sé em 1880. (Fonte: TOLEDO, 2004: 5)

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Ainda sobre as funções específicas dos largos, Solange Souza Araújo as define em oposição ao que caracterizaria o espaço das praças, ressaltando os fluxos como aspecto importante mais do que instituições ou equipamentos diversos: As praças, por essência, trazem o caráter do encontro e da permanência, do lugar da socialização, das comemorações e do comércio, enquanto os largos constituem-se, de acordo com a sua denominação, por alargamentos e/ou confluência de vias, como espaços que estimulam fluxos e passagens e, por vezes, a concentração de pessoas. (ARAÚJO, 2006: 25)


Cartas históricas

Foram analisadas nove cartas históricas da cidade de São Paulo que abarcam o período de 1810 a 1905. Demarcamos em cada uma delas os espaços nomeados na própria carta como largos, praças, campos e jardins, outras nomenclaturas não apareceram nesse recorte temporal escolhido. A carta de 1810 é a primeira existente da cidade de São Paulo e a última (1905) estudada por nós se impôs por duas razões: as dimensões que a cidade tem a partir da próxima carta e a verificação de que com essas cartas já era possível analisar a existência dos largos na cidade e sua relação com os espaços nomeados como ‘praças’. É importante assinalar que a análise de cartas já tem como dado recortes subjetivos impostos pela própria cartografia: a delimitação da área a ser desenhada; o destaque a locais mais importantes para o momento; o objetivo da carta (ressaltar sistema viário, ressaltar edifícios institucionais, por exemplo); o nível de detalhamento escolhido etc. Nesse sentido, estabelecemos um critério único para analisar os nove mapas, que foi o de marcar os largos, praças, campos e jardins que apareciam nomeados dessa maneira. Assim, evitamos um índice ainda maior de especulação, que poderíamos empregar caso quiséssemos analisar a cartografia independente do que está representado. Por fim, antes de passarmos para as análises propriamente ditas, achamos importante ressaltar um último aspecto que é, muitas vezes, a existência de mais de uma nomenclatura para o mesmo espaço na mesma época, ou a mudança constante de nomes5, o que pode gerar diferenças de uma carta para a outra, que tentaremos diminuir com base em outras pesquisas históricas. Para expormos essa problemática da mudança constante de nomes, montamos uma tabela a partir das cartas e dos textos de Toledo (2004) e Pont (2003):

5 Sobre essa problemática Lilian Vaz afirma: “É difícil listar e precisar o número de praças e semelhantes em diferentes momentos históricos, mesmo quando estes momentos precisos foram registrados em diversos documentos. As denominações que recebiam alteravam-se continuamente com o passar do tempo; terreiros e ruas recebiam vários nomes diferentes em seus diversos trechos; seus limites deslocavam-se muitas vezes e o reconhecimento formal não correspondia ao informal. (...) O que hoje denominamos comumente como praça era geralmente chamado de largo.” (VAZ, 2001: 141)

33


11 Largo da memória, 1862 (Fonte: TOLEDO, 2004: 50)

Campo

Largo

Praça

Praça dos

Largo

Praça da

dos curros

dos Curros

da Legião

milicianos

7 de Abril

República

12 Largo da memória antes do replanejamento de 1919. (Fonte: TOLEDO, 2004: 130)

Largo de

Largo da

Largo

Largo da

Largo

Praça João

São Gonçalo

Cadeira

do Teatro

Assembleia

Municipal

Mendes

Campo

Largo dos

Praça Prince-

Largo do

Pátio do

Redondo

Guayanazes

sa Isabel

Palácio

Colégio

Largo do

Largo

Largo do

Largo

Praça

Zunega

Alagôas

Paissandú

da Sé

da Sé

Largo

Largo

Largo

Praça Antonio

da Legião

do Arouche

do Rosário

Prado

Largo

Largo da

Largo

Praça das

do Piques

memória

do Bixiga

Bandeiras

34


35


13 Planta da Imperial cidade de São Paulo, levantada em 1810 pelo Capitão de Engenheiros Rufino J. Felizardo e Costa e copiada em 1841 com todas as alterações. 1 Largo do Carmo 2 Largo do Collegio 3 Largo da Sé 4 Largo do Pelourinho 5 Largo de S. Gonçalo 6 Largo da Forca 7 Largo São Bento 8 Largo São Francisco 9 Largo Piques 10 Jardim Botânico largo campo praça

36

Nessa primeira carta aparecem representados nove largos, todos dentro dos limites do triângulo histórico. Além deles – fora desse limite – está representado o Jardim Botânico. Dentre esses nove largos, todos com exceção de dois tem algum edifício religioso nos lotes lindeiros, as exceções são o Largo Piques (que Benedito Lima de Toledo associa ao chafariz e ao obelisco, além das tropas de mulas); e o Largo da Forca, associado ao cemitério. Além disso, existem os largos associados a outros edifícios além dos religiosos: Largo do Collegio (Collegio dos Jesuítas e Palácio do Governo); Largo São Gonçalo (Igreja de São Gonçalo, Igreja dos Remédios e Cadeia); Largo São Francisco (Convento de São Francisco e Academia).


1 4 2

6 3 5

8 7

9

10


14 Carta da Capital de São Paulo, 1842. 1 Campo Redondo 2 Campo do Curro 3 Jardim Botânico largo campo praça

38

Embora muitos dos largos estabelecidos na carta anterior estejam representados nessa carta, nenhum está nomeado. Chama atenção a representação e nomeação somente de espaços livres públicos maiores como o Jardim Botânico e os Campos Redondo e do Curro (que serão posteriormente o Largo dos Guayanazes e o Largo dos Curros, respectivamente).


3

1

2

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15 Planta da cidade de São Paulo, 1868 1 Largo dos Guaianazes 2 Campo dos Couros 3 Praça do Paisandú 4 Largo da Memória 5 Largo de Riachuelo 6 Praça do Mercado 7 Largo da Sé e Largo da Fundição 8 Largo de S. Gonçalo 9 Campo Redondo 10 Jardim Público largo campo praça

40

Novamente, embora muitos espaços livres estejam representados, poucos estão nomeados: um jardim público, dois campos, duas praças (entre elas a Praça do Paissandú, que aparece como praça somente neste mapa e é conhecida como largo até os dias de hoje) e seis largos. É interessante notar a nomenclatura ‘largo’ para o Largo dos Guaianazes (atual Praça Princesa Isabel), localizado no bairro dos Campos Elíseos, que não tem uma disposição semelhante aos bairros de formação colonial, sendo um loteamento posterior de traçado retilíneo.


10 1

9

2

3

4 5 6 7

8


16 Mappa de São Paulo, 1877 1 Largo dos Guayanazes 2 Largo 7 de abril 3 Largo do Paysandú 4 Largo de S. Bento 5 Largo do Riachuelo 6 Largo de S. Francisco 7 Largo do Palácio 8 Largo da Sé 9 Largo da Cadeia 10Largo 7 de setembro 11 Largo da Liberdade 12 Largo do Hospício 13 Jardim (ilegível) 14 Jardim público 15 Pateo do Collegio largo campo praça

42

Essa carta é bastante detalhada, enfatizando os edifícios públicos, religiosos, linhas de bonde e espaços arborizados. Estão marcados doze largos, dois jardins públicos e o Pateo do Collegio. Ressaltamos três aspectos a partir dela: o primeiro, é que a representação dos edifícios importantes evidencia a relação dos largos com essas construções, principalmente na área do triângulo histórico; em áreas mais afastadas como o Largo da Liberdade (atual Praça da Liberdade), Largo 7 de Abril (atual Praça da República) e Largo dos Guayanazes, não aparece nenhuma edificação que justifique a existência do largo. O segundo aspecto é a representação da arborização de alguns largos (Largo São Bento, Largo do Palácio, por exemplo) que demonstra que a arborização

não é prerrogativa das praças, como poderíamos pensar. E terceiro, a carta indica a localização dos chafarizes na cidade, somente o Chafariz do Paissandú está relacionado ao largo, no entanto, quase todos os outros estão localizados em lugares onde já existiam ou existirão largos (mas não estão nomeados nesta carta), é o caso do Chafariz Sete de Setembro em frente à Igreja do Rosário, no Largo do Rosário; do Chafariz da Misericórdia, localizado no Largo de mesmo nome com igreja também de mesmo nome; do Chafariz de Carnis à frente do Convento do Carmo em largo de mesmo nome; do Chafariz do Piques no Largo do Piques; e do Chafariz da R. Alegre, no Largo de Santa Efigênia em frente ao Palacete do D. Ant. Tobias.


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17 Planta da cidade de São Paulo, 1881 1 Largo do Commercio da Luz 2 Largo dos Guayanazes 3 Largo do Arouche 4 Largo 7 de abril 5 Largo do Paysandú 6 Largo São Bento 7 Praça da Concórdia 8 Largo da Memória 9 Largo do Riachuelo 10 Largo de São Francisco 11 Largo da Sé 12 Largo do Palácio 13 Largo Municipal 14 Largo 7 de setembro 15 Largo da Liberdade 16 Largo da Glória 17 Jardim Público 18 Campo da Luz largo campo praça

44

Nesta carta são quinze largos, um jardim público, um campo e uma praça. A única praça, curiosamente, no Brás, depois muda de nome para Largo da Concórdia. Neste mapa aparece pela primeira vez o Largo do Commercio da Luz, sobre o qual não temos mais informações, mas aparentemente aponta para a relação dos largos com os espaços de comércio da cidade.


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18 Planta da capital do estado de São Paulo, 1890 1 Largo do Commercio da Luz 2 Largo Duque de Caxias 3 Largo dos Goyanazes 4 Largo do Arouche 5 Praça da República 6 Largo do Paysandú 7 Largo de São Bento 8 Largo da Concórdia 9 Largo da Memória 10 Largo do Riachuelo 11 Largo de São Francisco 12 Largo do Palácio 13 Largo da Sé 14 Largo 7 de setembro 15 Largo da Liberdade 16 Largo da Glória 17 Jardim Público 18 Campo da Luz largo campo praça

46

É nessa carta que a Praça da República aparece pela primeira vez como praça, a única do mapa, com um jardim, um campo e quinze largos. É interessante notar, nessa e em outras cartas, o alargamento de algumas ruas ou o encontro de duas ou mais ruas de direções diferentes, mas sem a nomeação como largos. É o caso da região dos atuais Largo de Santa Cecília e Largo de Santa Efigênia, mas também do espaço nomeado na carta de 1877 como Largo do Hospício. Embora o hospício apareça nas cartas seguintes e o alargamento se mantenha, o largo desaparece como nomenclatura.


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18

17

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19 Planta da cidade de São Paulo, 1895 1 Largo do Comércio da Luz 2 Largo do Senador de Congonhas do Campo 3 Largo do Jardim 4 Largo Brigadeiro Galvão 5 Largo dos Guayanazes 6 Largo General Osório 7 Largo (ilegível) 8 Largo Santa Cecília 9 Largo do Arouche 10 Praça da República 11 Largo do Paysandú 12 Largo São Bento 13 Largo do Riachuelo 14 Largo do Ouvidor 15 Largo de São Francisco 16 Largo (ilegível) 17 Largo do Palácio 18 Largo da Sé 19 Largo do Carmo 20 Largo Municipal 21 Largo 7 de setembro 22 Largo da Liberdade 23 Praça de São Paulo 24 Largo do Cambucy 25 Largo do Paraíso 26 Praça do Rio Branco 27 Jardim Público 28 Largo da Concórdia largo campo praça

48

Esta carta já começa a abranger um entorno um pouco maior da cidade de São Paulo, estão marcados vinte e quatro largos, três praças e um jardim. É importante notar como a nomenclatura ‘largos’ se mantém mesmo em espaços de ocupação mais novos na cidade, como é o caso do Largo Brigadeiro Galvão (Palmeiras), Largo de Santa Cecília (Santa Cecília), Largo do Paraíso (Paraíso) e Largo do Cambucy (Cambucy).


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20 Planta da capital de São Paulo organizada sob a direção do Dr. Gomes Cardim, Intedente de Obras, 1897 1 Praça (ilegível) 2 Largo de Perdizes 3 Largo Brigadeiro Galvão 4 Largo dos Guaianazes 5 Largo do Jardim 6 Largo Santa Cecília 7 Largo do Arouche 8 Praça da República 9 Largo do Paissandú 10 Largo São Bento 11 Largo do Concórdia 12 Praça da Sé 13 Largo 8 de setembro 14 Largo da Liberdade 15 Praça São Paulo 16 Largo (ilegível) 17 Largo Rio Branco 18 Largo São João da Boa Vista 19 Praça Dona Rosa Paulina 20 Praça São Carlos 21 Praça do Monumento 22 Praça (ilegível) 23 Praça (ilegível) 24 Praça Coronel Rodovalho 25 Praça Floriano Peixoto 26 Praça Bernardo de Carvalho largo campo praça

50

Nesta carta, ainda mais ampla que a anterior, vemos a formação de novos loteamentos com o uso predominante de ‘praça’, é o caso de Ipiranga e Vila Prudente. No entanto, ainda são um jardim, dez praças e catorze largos.


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21 Planta geral da cidade de São Paulo, 1905 1 Praça (ilegível) 2 Jardim Público 3 Largo do Jardim 4 Largo do Quartel 5 Largo das Perdizes 6 Largo Brigadeiro Galvão 7 Largo dos Guaianases 8 Largo General Osório 9 Largo do Arouche 10 Praça da República 11 Largo do Paissandú 12 Largo Santa Efigênia 13 Largo São Bento 14 Largo da Memória 15 Largo São Francisco 16 Largo da Sé 17 Praça João Mendes 18 Largo 7 de Setembro 19 Largo da Liberdade 20 Largo Rio Branco 21 Largo Guanabara 22 Largo da Concórdia 23 Largo São José 24 Praça Rudge 25 Praça Conceição 26 Praça Rodovalho 27 Praça (ilegível) largo campo praça

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Esta é a última carta que analisamos. São dezenove largos, sete praças e um jardim. Os largos ainda são preponderantes, mas a tendência de aumento do uso do termo ‘praça’ se confirma na leitura da sequência das cartas. No entanto, é importante notar que embora um perímetro maior da cidade seja representado (incluindo bairros como Sant’Anna, Nossa Senhora do Ó e Pinheiros – todos bairros com largos até os dias de hoje), a nomeação e detalhamento dos espaços ainda se faz predominantemente nas áreas centrais.


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2 5 6

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capítulo 3 LARGOS PAULISTANOS

22 Largo da Matriz de Nossa Senhora do Ó, janeiro de 2014. (Foto da autora)

Diante da escassez de pesquisas específicas sobre os largos, uma questão muito importante presente desde o início desse trabalho foi a de quais seriam os elementos definidores desses espaços. Ainda que, desde o princípio, algumas hipóteses acerca de suas dimensões e apropriações indicassem para uma definição, nesse capítulo mostramos a metodologia usada para essa delimitação e seus resultados. Para enfrentar a tarefa de definir os largos conceitualmente foram estabelecidas três etapas básicas que se somam ao arcabouço histórico do capítulo anterior: 1. Levantamento de quais são os largos paulistanos atualmente; 2. Estudo morfológico de todos os largos; 3. Levantamento de campo geral de largos selecionados. Evidentemente a definição conceitual de um “tipo-ideal” de largo dentro da complexidade da cidade, pretende auxiliar na compreensão e estudo desses espaços como relevantes para uma análise sistêmica dos espaços urbanos. Um conceito de largo entendido isoladamente não ajuda nem na compreensão do próprio largo – uma vez que esse não existe sem as relações que o cercam – nem na compreensão da cidade.

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6 Em outro trecho Milton Santos tratará essa questão do estudo do todo (cidade, nesse caso) pela parte (largo, nesse caso) da seguinte maneira: “o espaço deve ser considerado como uma totalidade, a exemplo da própria sociedade que lhe dá vida. Todavia, considerá-lo assim é uma regra de método cuja prática exige que se encontre, paralelamente, através da análise, a possibilidade de dividi-lo em partes. Ora, a análise é uma forma de fragmentação do todo que permite, ao seu término, a reconstituição desse todo.” (SANTOS, 2008: 15) 7 É importante ressaltar aqui a possibilidade de sobreposição de campos conceituais, principalmente com o conceito de praça.

8 http://www.dicionarioderuas. prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/Introducao.aspx. Acesso em 16 nov. 2012

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Nesse sentido, nos referimos à discussão proposta por Milton Santos, que coloca o estudo da parte como relevante para a compreensão do todo: O movimento que estamos tentando explicitar nos leva a admitir que o espaço total, que escapa à nossa apreensão empírica e vem ao nosso espírito sobretudo como conceito, é que constitui o real, enquanto as frações do espaço, que nos parecem tanto mais concretas quanto menores, é que constituem o abstrato, na medida em que o seu valor sistêmico não está na coisa como tal a vemos, mas no seu valor relativo dentro de um sistema mais amplo. (SANTOS, 2008: 31) Assim, não pretendemos afirmar que o estudo dos largos isoladamente (o que é uma abstração em si) dê conta de qualquer questão urbana que seja. Mas conceituá-los e estudá-los na sua relevância atual para a dinâmica urbana é um eixo de aproximação com o urbano que pode ser bastante interessante6. Portanto, a conceituação que propomos não pretende afirmar ou restringir “isto é um largo” ou “isto não é um largo”7. Desde já, podemos afirmar que todos os largos visitados apresentam algumas das características que definiremos abaixo e não apresentam outras. No entanto, acreditamos que se aproximar desses espaços a partir dos pontos levantados e instigados pelos próprios levantamentos de campo é importante para partir de um mesmo parâmetro de análise, ainda que posteriormente as especificidades de cada local tenham que permear a análise. A nossa abordagem pretende dar conta dos seguintes aspectos, que consideramos relevantes: morfologia, história e apropriação. A partir de um levantamento que procurou compatibilizar e complementar as informações do site da Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP)8, do Guia de Ruas, do Google Earth e das placas que estão fixadas em cada local9, chegamos aos 72 largos. Pensando na divisão por zonas da cidade, são: 14 na zona norte, 15 na zona leste, 19 na zona sul, 6 na zona oeste e 18 no centro. Essa


constatação foi importante para contestar a percepção de que os largos são espaços existentes apenas nas regiões de formação colonial. Se, por um lado, eles se mostram bastante presentes nesses locais, como Santana, Santo Amaro e Penha, além do próprio Centro; por outro lado, bairros com formação mais recente também apresentam largos na sua configuração espacial, entre eles: Parada de Taipas, Guaianazes e Eldorado. Evidentemente, isso não exclui a origem colonial desses espaços, mas reforça a permanência deles no tecido urbano mesmo após o período colonial. Isso indica para duas hipóteses importantes: a primeira, de que a maneira de se pensar e fazer a cidade tem muitos resquícios coloniais; em segundo lugar, indica para uma relação funcional ou afetiva dos cidadãos com os largos, de maneira que eles permaneçam no espaço urbano.

9 As informações de cada um desses lugares não são as mesmas. O Largo da Memória, por exemplo, que aparece no site na PMSP e em vasta bibliografia, não está registrado no Guia de Ruas. O Largo Mestre de Aviz está nomeado como largo no Guia de Ruas e nas placa fixada no local, mas aparece como Praça no Google Earth. O Largo do Escotismo que aparece no site da Prefeitura, não aparece em nenhuma outra referência e, portanto, não conseguimos localizá-lo. Como esses, aconteceram outros casos.

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23 Localização dos 72 largos paulistanos. Abaixo, em vermelho, os que fizeram parte do levantamento de campo geral. 1 Ana Rosa, Vila Mariana 2 André Francisco, Parada de Taipas 3 André Jolivard, Jardim Imbé 4 Do Arroz, Água Rasa 5 Do Arouche, Santa Cecília 6 Da Batalha, Jardim Luzitânia 7 Boa Vista, Eldorado 8 Bonneville, Santo Amaro 9 Dr. Borges Macedo, Vila Canero 10 Do Brás, Brás 11 Do Café, Centro 12 Do Cambuci, Cambuci 13 Do Campo Limpo, Vila Pirajussara 14 Do Comissário, Freguesia do Ó 15 Como, Chácara Vista Alegre 16 Da Concórdia, Brás 17 Coração de Jesus, Campos Elíseos 18 Fernando Galego, Centro 19 Frederick Corder, Sete Praias 20 Brigadeiro Galvão, Barra Funda 21 Gioçara, Guaianases 22 Gomes dos Santos, Vila Maria 23 Henrique Medeiros, Pedra Branca 24 Da Igreja, Jaraguá 25 Da Igreja, Aricanduva 26 Imarará, Vila Santa Terezinha 27 Do Infante, Jardim Luzitânia 28 Do Japonês, Vila Nova Cachoeirinha 29 Juparanã, Jardim Nordeste 30 Da Lapa, Lapa 31 Los Andes, Vila Gertrudes 32 Da Matriz, Vila Carmosina 33 Da Matriz de Nossa Senhora do Ó, Freguesia do Ó 34 Da Matriz Velha, Freguesia do Ó 35 Do Mercadinho, Vila Gomes

36 Da Memória, República 37 Mestre de Aviz, Moema 38 Da Misericórdia, Centro 39 Conselheiro Moreira Barros, Santana 40 Nossa Senhora do Amparo, Freguesia do Ó 41 Nossa Senhora do Bom Parto, Vila Gomes 42 Nossa Senhora da Conceição, Cambuci 43 Oliveira Viana, Freguesia do Ó 44 General Osório, Santa Efigênia 45 Pacová, Eldorado 46 Paissandu, Centro 47 Do Pari, Pari 48 Padre Péricles, Perdizes 49 Dos Pinheiros, Pinheiros 50 Piracicaba, Vila Santo Antônio 51 Da Pólvora, Liberdade 52 Da Primavera, Parque Primavera 53 Senador Raul Cardoso, Vila Clementino 54 Do Redentor, Cambuci 55 Riachão do Jacuipe, Vila Gustavo 56 Do Rosário, Penha 57 Santa Ângela, Vila Moraes 58 Santa Cecília, Santa Cecília 59 Santa Efigênia, Santa Efigênia 60 Santana, Santana 61 Santo Agostinho, Paraíso 62 São Bento, Centro 63 São Francisco, Centro 64 São João Batista, Vila Ipojuca 65 São João Clímaco, São João Clímaco 66 São José do Belém, Belenzinho 67 São José do Maranhão, Maranhão 68 São Rafael, Mooca 69 Sete de Setembro, Liberdade 70 Do Socorro, Jardim Socorro 71 Treze de Maio, Santo Amaro 72 Ubirajara, Belenzinho

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Estudo morfológico

Em um primeiro momento, para uma aproximação mais geral, ainda sem a proximidade possibilitada pelo trabalho em campo, foi realizado um estudo morfológico a partir de imagens aéreas desses 72 largos. Esse estudo teve três focos principais: perceber estritamente a forma desses espaços; a partir de uma mesma escala verificar as variações de dimensões dos diferentes largos; e, selecionar que largos fariam parte de um levantamento geral, dessa vez, em campo. a. Forma

24 Largo Coração de Jesus nos Campos Elíseos, com formato retangular. (Fonte: Google Earth) 25 Largo da Matriz na Vila Carmosina, com formato de rotatória. (Fonte: Google Earth) 26 Largo Juparanã no Jardim Nordeste, dois triângulos compostos pela passagem de veículos. (Fonte: Google Earth) 27 Largo Conselheiro Moreira de Barros em Santana, formato triangular. (Fonte: Google Earth)

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A forma dos largos é definida pela maneira como as ruas que os delimitam se encontram, geralmente em ângulos agudos. Isso que determina o número de lados de um largo. Embora alguns largos – principalmente os de regiões com formação mais recente – tenham o formato de rotatória, isso não é uma característica predominante. Assim como não é o mais frequente largos com formato retangular e inseridos em malhas quadriculadas e regulares. Em sua maioria, a forma dos largos está determinada pelo encontro de três ou mais ruas de maneira não perpendicular. Grande parte desses espaços tem formato triangular ou quadrangular. Os largos em forma de um ou mais triângulos tem duas configurações básicas. No primeiro caso, o encontro de três ruas não perpendiculares origina um espaço de três lados que tem seu centro com calçada ocupada com vegetação, equipamentos públicos e/ou edificações, com a passagem de veículos somente nas bordas. O segundo caso é configurado pelo encontro de quatro ou mais vias, sendo o formato triangular originário da subdivisão do espaço central geralmente para abertura de passagem para veículos. De alguma maneira é justamente esse formato triangular que favorece a interpretação dos largos como espaços residuais, assemelhando-os aos canteiros triangulares que organizam o trânsito. Concordamos que especialmente o segundo tipo de largo triangular é formalmente


muito semelhante a esses canteiros, no entanto o que nos faz negar essa hipótese é justamente a análise da apropriação desses espaços, que são bem distintas dos tais canteiros ajardinados.

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28 Largo do Paissandú no centro, forma quadrangular. (Fonte: Google Earth) 29 Largo Senador Raul Cardoso na Vila Mariana, alargamento da via. (Fonte: Google Earth) 30 Largo Santa Efigênia, atrelado à quadra. (Fonte: Google Earth) 31 Diagramas esquematizando as formas dos largos definidas acima. Na sequência: largo triangular pelo encontro de três ruas; largo triangular pela subdivisão para passagem de veículos; largo quadrangular; largo atrelado à quadra; largo formado pelo alargamento de via.

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No que diz respeito aos largos de formato quadrangular, como já foi dito acima, a grande maioria não apresenta ângulos retos, sendo justamente isso que caracteriza suas formas. Além desses dois formatos mais comuns, há duas situações menos presentes, mas que conformam largos igualmente: a primeira é o simples alargamento de uma via, na qual não existe um espaço central destinado aos pedestres, predominando o leito carroçável; e o segundo, o largo que resulta do encontro de vias, mas é atrelado a uma das quadras que o conformam, não sendo o espaço central propriamente. Essas quatro formas especificadas (triangular, quadrangular, alargamento de via e atrelado a uma quadra) encontram-se na cidade de São Paulo de maneira mais ou menos fiel a descrição, sendo que alguns largos tem a forma resultante de mais de um desses processos. b. Relações de escala

No estudo morfológico, resumido na ilustração das páginas seguintes, foi importante notar que há também uma questão de dimensão a ser pensada sobre os largos e que os diferenciam de outros espaços livres públicos. Assim como a diferença de áreas entre praças e parques são um critério para diferenciá-los, os largos também tem um padrão mais


ou menos comum de dimensões. As relações de dimensão dos diferentes espaços livres públicos não dizem respeito somente ao tamanho de cada um, mas também influencia em outros fatores como a proximidade com o entorno imediato, a quantidade de equipamentos públicos (quadras, bancos etc) que podem ser instalados, ou ainda o tipo de vegetação presente. Ao usar a mesma escala para representar os 72 largos, percebemos que há um tamanho padrão aproximado na quase totalidade desses espaços. É muito evidente na imagem abaixo que o Largo do Arouche e o Largo Mestre de Aviz claramente escapam a essa dimensão comum, essa diferença tão gritante reforça áreas bastante próximas entre os outros largos. Como já foi dito, a dimensão influencia muito no tipo de apropriação que pode ser feita de um espaço, seja ela formal ou informal. Por exemplo, uma pista de ciclismo só é possível na dimensão de um parque, já um parquinho pode ser instalado numa praça também; da mesma maneira, o comércio ambulante encontra maior facilidade de se instalar em algumas situações físicas específicas. Foi muito interessante notar no trabalho de campo como esses largos considerados fora das dimensões padrão não tinham outras características que mais à frente colocaremos como fundamentais para definir esses espaços.

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32 (página anterior) 72 largos desenhados na mesma escala. 33 Chegada ao Largo do Paissandú pela Rua Conselheiro Crispiniano. (Foto da autora)

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Levantamento de campo geral

Foi importante a partir de uma pré-seleção uma primeira visita de reconhecimento e documentação de 30 largos . Alguns desses largos já eram conhecidos, alguns inclusive fazendo parte de meus percursos cotidianos. Essas visitas foram rápidas, percorrendo em média sete largos por dia. Esse levantamento mais geral e, podemos dizer, mais quantitativo, foi importantíssimo para apontar para as variáveis definidoras desses espaços dentro da cidade a partir do olhar do observador, somando-se às características que pudemos apontar na análise morfológica. As visitas principalmente aos largos inexplorados ressaltou o fator de surpresa que esses espaços configuram no tecido urbano. Essa é uma característica que se perde quando frequentamos muito um espaço, mas é absolutamente marcante quando estamos num caminho que desconhecemos e de repente defrontamos com um espaço não edificado. Ainda que os edifícios vizinhos continuem bastante próximos, é muito distinto da paisagem da rua (lote – calçada – leito carroçável – calçada – lote) que estamos mais acostumados. Esse momento não escapa à percepção que o vivenciador tem da cidade, e essa percepção é visual, mas não só, é corpórea também: é difícil manter o mesmo caminho retilíneo; é difícil não esbarrar em alguém no encontro dos diferentes fluxos; é difícil não tentar abranger com o olhar aquele espaço que se abre. Essa característica ainda que possa estar presente em muitas praças e até mesmo parques, não aparece como um elemento definidor desses espaços. Ao contrário, além de estarem normalmente sinalizados na cidade, esses espaços costumam ter elementos que evidenciam sua presença, como vegetação, iluminação e canteiros diferenciados, vias largas que servem como “foyer”. O largo, pelo contrário, não é anunciado antecipadamente por nenhuma das vias que desembocam nele, o que reforça a sensação de surpresa.



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Uma segunda questão que se evidenciou muito foi a dos fluxos. Estudos dos mais variados relacionados à análise da cidade apontam os fluxos como aspectos determinantes para entender as dinâmicas urbanas. Portanto, afirmar a importância dos fluxos para a compreensão dos largos de alguma maneira é somente reafirmar essa temática para o estudo do urbano. No entanto, o que se pretende ressaltar aqui é o largo como espaço livre público, que, assim como as ruas, tem a relação mais estreita com os fluxos. Essa importância dos fluxos se faz perceber de duas maneiras distintas. A primeira, já enumerada nas definições formais que estabelecemos, isto é, os largos não existem sem as ruas que se direcionam para eles e os conformam, embora eles não se confundam com o espaço das ruas, sua relação com os fluxos trazidos e levados por ela é inevitável e desejável. Esse aspecto formal, naturalmente, se verifica em outras características, como o caráter de “passagem” dos largos. Isso não significa que o único tipo de apropriação existente é o do caminhar direcionado à outro espaço, mas as apropriações se relacionam ao movimento de passagem em sua maioria: a parada na frente de uma vitrine, a parada para comprar algum alimento rápido e continuar caminhando, a parada para descansar um instante, a parada para ver uma apresentação de artista de rua, o espaço de conversa antes de entrar na igreja ou no descanso do horário de almoço, a passagem da farmácia ao banco e depois à padaria. Novamente, usamos as diferenças com as praças e os parques para caracterizá-lo. A ida ao parque se define como um evento para a maioria dos habitantes da cidade, que se faz uma vez por semana aos domingos, por exemplo. As praças estão mais presentes no dia-a-dia, como a passagem pela Praça da República na saída do metrô ou a passagem pela Praça Dom José Gaspar na hora do almoço; no entanto, esses espaços também estão relacionados a outros momentos como o lazer no parquinho das crianças no final da tarde ao voltar da escola, ou o show

33 Largo de Santa Cecília: outros usos se somam aos fluxos. (Foto da autora) 34 Largo do Japonês: jogo de xadrez e troca de figurinhas da Copa. (Foto da autora)

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10 “A vida urbana tem nas ruas o caminho dos largos, dos edifícios importantes, do campo e das outras cidades(...). Qualquer segmento de caminho público, que ligue dois desses alargamentos especiais e atrativos, passa frequentemente a ser o principal da aglomeração. É o caso típico das ruas Direitas.” (MARX, 1980: 43)

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de comemoração do aniversário da cidade. É nesse sentido que afirmamos o caráter cotidiano dos largos. No entanto, evidentemente há largos que se caracterizam por outras atividades de caráter mais permanente, mas, em geral, a relação com o fluxo é estabelecida. Um terceiro fator que nos pareceu importante na observação foi a centralidade desses espaços no entorno próximo, mas, muitas vezes, para uma região maior. Se, como mostramos na abordagem histórica, os largos estavam relacionados a inúmeras atividades que garantiam sua relevância e influência no cotidiano das pessoas, tais como edifícios religiosos, chafarizes, paradas de linhas de bonde, encontro de tropas de mula; hoje em dia, os largos, em geral, mantém sua configuração nodal por conta de outras atividades, ainda que muitas vezes permaneça a presença das igrejas e monumentos, há uma diversidade imensa de comércios e serviços, pontos de ônibus, saídas de metrô, etc. Foi curioso notar como as bancas de jornal e os postos policiais estão presentes nesses espaços, o que só reforça os largos como estratégicos para a movimentação da cidade. Aqui, destacou-se também outra característica já apontada no levantamento histórico: a vivacidade dos caminhos que levam aos largos. Afinal, esse nó repleto de inúmeras atividades cotidianas reverbera para as ruas do entorno. Ao percorrermos as ruas próximas, não nos direcionamos por acaso para esses espaços, há uma centralidade evidente estabelecida tanto morfologicamente (as ruas direcionam para esse espaços), como pela apropriação. É notório, por exemplo, como a relação das “ruas direitas” apresentada por Murillo Marx continue se mantendo nos dias de hoje10. A vitalidade dessas ruas que ligam dois ou mais largos é inquestionável, e isso não aconteceria com ruas que ligam dois “espaços residuais”, mas sim em caminhos que relacionam dois pontos de intenso movimento. Por fim, o que esse levantamento de campo geral possibilitou foi a percepção das relações intrínsecas entre morfologia e apropriação.


Os espaços que visitamos que fugiam muito aos padrões formais que estabelecemos, mostravam também outras dinâmicas em geral menos específicas dos largos. Dois exemplos foram fundamentais para isso: o primeiro, dos largos regulares como o Largo Coração de Jesus, que se configura como um ponto central e de intenso fluxo, mas onde o espaço central do largo propriamente é cercado, o que geralmente nem é possível pelas dinâmicas que descrevemos acima, principalmente pela forte relação com os lotes lindeiros. Ali, como no Largo do Arouche que tem as maiores dimensões de todos esses espaços, a relação de surpresa não se estabelece, e nesse segundo caso em especial nem a percepção visual do espaço como um todo é possível. Assim como apontamos esses espaços que recebem o nome de largos mas não possuem muitos dos aspectos que apresentamos aqui como fundamentais para configurar um largo, poderíamos apontar alguns outros espaços na cidade de São Paulo que recebem outros nomes, mas no que diz respeito a suas apropriações e morfologias poderiam ser nomeados como largos. Alguns exemplos: Praça Cívica (Lapa), Praça Santa Marcela (Freguesia do Ó), cruzamento das Ruas São Vicente e Cardeal Leme (Bela Vista, onde acontecem os ensaios da escola de samba Vai-Vai).

35 Rua São Bento que liga Largo de São Francisco, Largo do Café e Largo São Bento. viaduto Santa Efigênia que liga Largo São Bento e Largo Santa Efigênia. E rua Antonio de Godói que liga Largo Santa Efigênia e Largo do Paissandú.

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capítulo 4 ESTUDOS DE CASO

36 Largo da Concórdia, janeiro de 2013. (Foto da autora)

Após todos esses apontamentos e reflexões, a escolha de alguns casos para estudo específico se tornou muito mais criteriosa, tentando abarcar nos cinco largos escolhidos as várias características apontadas, ainda que todas elas num trabalho de campo específico ganhem novas variáveis locais. Os cinco largos escolhidos foram: Largo do Rosário na Penha, Largo Oliveira Viana na Freguesia do Ó, Largo Treze de Maio em Santo Amaro, Largo da Lapa na Lapa e Largo da Misericórdia na Sé. A escolha por limitar alguns estudos de caso decorreu da compreensão de que quando tratamos da apropriação, ainda que possamos definir alguns elementos comuns, evidentemente, a aproximação com o lugar e suas especificidades é fundamental. No entanto, era muito importante que esses cinco largos escolhidos representassem alguns dos aspectos históricos observados como importantes na definição dos largos, algumas das características morfológicas enumeradas e algumas das questões de dinâmica urbana relatadas. Assim, a escolha foi feita de maneira que o conjunto desses cinco espaços conseguisse abarcar muitas dessas questões ao longo dos levantamentos de campo específicos.

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Uma segunda consideração bastante importante nessa definição foi a tentativa de abranger situações distintas dentro da cidade de São Paulo. Não se trata, portanto, do estudo dos largos da região central ou de qualquer outra delimitação de área dentro do território municipal. Claro que esses cinco largos não representam a totalidade dos largos da cidade, nem as regiões em que estão situados dão conta das questões urbanas de São Paulo, mas o importante aqui era que essa diversidade de questões e, consequentemente, reflexões fossem reforçadas. Metodologia

11 Atividades que contassem com a participação dos usuários, como entrevistas, mapas mentais, rodas de conversa, entre outras.

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Os estudos de caso dos cinco largos tiveram a mesma metodologia. Num primeiro momento, de maneira bastante breve, fizemos leituras sobre a formação de cada uma das cinco regiões, quando possível, identificando aspectos históricos diretamente relacionados aos largos. Além das leituras, a inserção do entorno na análise se deu por meio da tentativa de entender um pouco o viário de cada região, a relação com outras áreas da cidade e a topografia geral. O segundo momento consistiu nas visitas a cada um dos largos propriamente. Foram entre seis e oito visitas para cada largo, tentando contemplar diferentes dias da semana e diferentes horários, de maneira que os dados observados pudessem estabelecer um panorama da apropriação de cada um deles e não apenas um retrato de um momento específico. As visitas se resumiram a duas atividades: - anotações diversas sobre uso e ocupação, fluxos de veículos e pedestres e apropriações; - fotografias. Seria desejável e complementar ao trabalho, o desenvolvimento de atividades que envolvessem os vivenciadores de cada largo abarcando questões de memória e percepção11. No entanto, as limitações principalmente de tempo foram definitivas para considerarmos que tipo de abordagem teríamos. Assim, ao longo das visitas tentou-se não apenas


atuar como observadores, mas procurar um contato mais próximo com alguns interlocutores de mais fácil acesso, como vendedores, taxistas e pessoas no ponto de ônibus. Essas conversas informais obtiveram os mais diferentes tipos de informações, sendo algumas bastante úteis para ajudar a caracterizar alguns dos usos; constituindo uma relação importante na “contaminação” do arquiteto pelos vivenciadores. A sistematização dos dados recolhidos em campo a fim de entender melhor cada um dos largos e gerar reflexões a partir das análises de todos foi feita pela criação de oito mapas para cada largo, sendo os seguintes: 1 Implantação atual: pretende, mais do que a vista aérea (bastante desatualizada principalmente nos casos do Largo do Rosário e do Largo Treze), caracterizar e localizar o estado atual de calçadas, canteiros, vegetação, pontos de ônibus e outros equipamentos; 2 Mapa de uso e ocupação do solo: caracteriza o entorno dos largos no que diz respeito aos usos das construções lindeiras com as quais as apropriações se relacionam; 3 Mapa de verticalização: complementa o mapa de uso e ocupação do solo na caracterização dos sistemas de objetos presentes em cada largo, mas também expõe informações importantes sobre a visibilidade, enclausuramento e escalas, relevantes na discussão sobre paisagem; 4 Mapa de espaços livres privados: ressaltando apenas os espaços livres de construções privados podemos compara-los aos espaços livres públicos sobretudo no que diz respeito as dimensões, evidenciando a importâcia dos espaços livres públicos no tecido urbano; 5 Mapa de espaços livres públicos: juntamente com o mapa anterior, esse mapa enfatiza a oposição com os espaços livres privados, mas também a relação de complementaridade para o desenvolvimento do cotidiano;

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12 Sejam bens de uso comum do povo (centros culturais e bibliotecas, por exemplo) ou bens de uso especial (hospitais e escolas, por exemplo). 13 A demarcação desses espaços foi resultado da análise de cada largo específico.

6 Mapa de espaços públicos: além dos espaços livres públicos, destacamos os espaços construídos públicos12 e os espaços que mesmo sendo de propriedade privada se caracterizam fortemente pelo uso coletivo/comunitário no contexto em que estão inseridos13; 7 Mapa de fluxo de veículos: foram sintetizadas as contagens de fluxo de veículos feitas em dias da semana e períodos distintos, sendo acrescentado o percurso de transportes públicos. 8 Mapa de fluxo de pedestres e apropriação: une duas atividades bastante relacionadas, o fluxo de pedestres e outras apropriações vinculadas a esse fluxo. O fluxo de pedestre demarcado é produto de uma síntese das contagens de fluxo feitas em dias da semana e períodos diferentes; Trabalho em campo

14 A denúncia como estrangeiro é inevitável pela máquina fotográfica, pelos 40 minutos parados com prancheta na mão desenhando etc.

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Duas observações gerais podem ser feitas sobre o trabalho nos cinco largos no sentido de refletir sobre a relação do arquiteto com o campo. Em primeiro lugar, ficou muito evidente como esses cinco largos correspondem a escalas de interferência e relações com a cidade distintas. Essa observação é muito relevante porque ela influencia decididamente na relação mais ou menos impessoal que os vivenciadores estabelecem com diferentes espaços dentro da cidade e, consequentemente, na relação que irão estabelecer com um observador-estrangeiro14. Se por um lado, a relação mais ou menos estreita dos usuários com um determinado lugar influencia num olhar mais ou menos simpático ao observador, no questionamento mais ou menos amigável, em maior ou menor naturalidade ao perceber o registro de uma fotografia; por outro lado, de tanta influência e tão inescapável quanto, estão as relações que o pesquisador tem previamente com cada lugar e seu entorno. Essa influência pode ser positiva quando permite uma interação mais fácil com as pessoas do lugar e conhecimentos prévios, mas também pode ser negativa uma vez que pode-se tomar algumas noções


equivocadas da experiência pessoal como parte da análise. A seguir, tratamos separadamente cada um dos largos. Apontando alguns aspectos históricos específicos e a partir das fotografias e mapas produzidos gerando um diagnóstico de como se constituem as apropriações nos cinco largos escolhidos, a fim de fomentar, posteriormente, por meio de proposições para cada um dos espaços uma reflexão sobre as esferas de vida pública nesses lugares. 37 Localização dos largos do estudo de campo.

Largo Oliveira Viana Largo da Lapa Largo do Rosário Largo da Misericórdia

Largo Treze de Maio

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Largo do Rosário, Penha

38 Largo do Rosário, Sara Brasil (1930).

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A chegada ao Largo do Rosário para quem não conhece a Penha é uma experiência muito bonita e surpreendente. O percurso para quem vai de outras regiões da cidade é pela Marginal Tietê. Chegamos pela cota do rio, acessamos o bairro pela Ponte Aricanduva e logo passamos por baixo da linha do trem. Então, a cota vai aumentando rapidamente e, a pé ou de veículo, o caminho fica tortuoso. Depois de uma curva já estamos diante da Igreja de Nossa Senhora da Penha (a cúpula já tinha se insinuado) em praça com o mesmo nome. Contornando essa igreja, depois de uma quadra curta, avistamos a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, na cota mais baixa do Largo do Rosário, e na cota mais alta, o Centro Cultural da Penha. Esse percurso chamou muita atenção desde a primeira vez que visitamos esse largo. Primeiramente, o “fator de surpresa” é muito evidente, se a primeira igreja se enuncia já com alguma distância, a igreja do largo está rebaixada e cercada em uma das laterais por um muro de arrimo. Em segundo lugar, a importância do largo na dinâmica da região também é muito reforçada: é ali, no topo da colina da Penha, no centro do bairro, no lugar da primeira ocupação, que está o largo. E ainda, a relação com os outros espaços livres públicos do entorno é inegável, quando percorremos em sequência a Praça de Nossa Senhora da Penha, o Largo do Rosário e a Praça 8 de setembro. A Penha é um dos locais da cidade de São Paulo de ocupação colonial. As primeiras referências documentais à paragem de Nossa Senhora da Penha datam da segunda metade do século XVII. A capela dedicada à Nossa Senhora da Penha original data de 1667, entorno dela começou a se formar o povoado que daria origem ao bairro. O requerimento da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos para poder construir uma capela – uma vez que os homens pretos estavam proibidos de frequentar a capela principal – data de 1802 . Não existem informações mais precisas sobre a consolidação do Largo do Rosário.


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39 Largo do Rosรกrio e entorno. 1 Largo do Rosรกrio 2 Praรงa Nossa Senhora da Penha 3 Praรงa 8 de setembro 4 Praรงa D. Micaela Vieira 5 Ponte Aricanduva

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Atualmente a capela sofreu algumas alterações que desconfiguraram principalmente seu interior. Ainda que os cultos aconteçam geralmente na igreja maior, todas as vezes que visitamos o largo, haviam algumas pessoas no interior da capela. Além disso, celebrações importantes usam a capela e o largo como extensão, presenciamos o Domingo de Ramos, mas a mais importante delas é a Festa do Rosário que acontece durante o mês de junho. Aqui, apontamos para uma primeira apropriação do largo, ele como foyer da capela. O edifício da capela é definidor na configuração dos espaços do largo. Há o espaço mais próximo a escada, onde também está o local para velas; dois espaços apropriados privadamente pela igreja, ambos juntos ao muro de arrimo; um espaço ao lado da capela junto a uma banca de jornal e ao ponto de táxi, com algumas mesas, quase como um espaço mais íntimo; e o grande espaço que faz frente para igreja, onde atualmente existem algumas mesas e bancos, além de canteiros e um palco pequeno. O espaço central do largo sempre está ocupado por algumas pessoas sentadas, conversando, jogando nas mesas ali dispostas. É interessante notar que na sequência Praça de Nossa Senhora da Penha – Largo do Rosário – Praça 8 de setembro, o largo é o único que se caracteriza também como espaço de estar, não só de passagem. O fluxo de pedestres é muito mais frequente nas bordas desse espaço, onde inclusive se instala faz dez anos uma feira de alimentos/artesanato de quarta a sábado e, aos domingos, a feira dos bolivianos. O fluxo tanto de veículos como de pedestres é bastante intenso, sobretudo nas duas vias de maior dimensão (que são justamente as que relacionam o largo com o sistema de espaços livres mais próximo). A via situada acima do muro de arrimo é também a que separa a parte de baixo do largo, da parte de cima. Em cima, com canteiros e tratamento paisagístico mais recente, o largo faz limite com o Centro Cultural da Penha. Nessa parte, a presença de pessoas pelo ponto de ônibus e a saída e entrada de alunos para o Centro geram uma movimentação constante e um uso bastante intenso dos bancos e escadas.

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40 Igreja vista a partir do Centro Cultural. Torre se destaca. Via que corta o largo é importante artéria para circulação do bairro. 41 Feira que acontece de quarta à sábado, acompanhando o fluxo principal de pedestres que acontece na borda do largo. Uso das mesas existentes.

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42 Movimentação na frente do Centro Cultural: foyer para os frequentadores e fluxo do ponto de ônibus. 43 Celebração do Domingo de Ramos e feira dos bolivianos. Uso dos equipamentos existentes e complementação com cobertura improvisada e mesas de plástico. 44 Uso frequente das mesas do largo. 45 Altar para velas.

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46 Implantação: nessa imagem fica clara a divisão entre o largo de cima e o largo de baixo, separados pelo muro de arrimo. Os canteiros apresentam desenho bastante irregular.

1 Igreja N. Sra. do Rosário dos Homens Pretos 2 Centro Cultural da Penha 3 Palco 4 Bancas de jornal 5 Ponto de táxi 6 Altar para velas 7 Posto policial 2

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residencial comercial/serviço institucional misto

47 Uso e ocupação do solo: predominância nos lotes lindeiros de uso comercial e de serviços, mas com uso residencial bem próximo. Destaque para a proximidade de instituições, além da Igreja e do Centro Cultural, 3 escolas.

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48 Verticalização: predominância de edifícios de até 4 pavimentos. Embora a construção da Igreja seja baixa, a torre se destaca para quem está acima do muro de arrimo.

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espaços livres privados

49 Espaços livres privados: esse mapa demonstra como o entorno é ocupado por lotes estreitos que possuem pouca área livre de construção.

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50 Espaços livres públicos: além do largo, esse mapa considera o espaço das ruas, calçadas e da Praça 8 de setembro. Comparando com as áreas destacadas no mapa anterior, percebemos a importância que os espaços públicos livres tem nessa região.

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espaços livres públicos


espaços livres públicos espaços de caráter públicos

51 Espaços públicos: além dos espaços livres públicos, destacamos o Centro Cultural da Penha, a Escola Estadual Santos Dumont (tombado) e a Igreja.

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52 Fluxo de veículos: as duas transversais ao largo são as vias mais relevantes para o fluxo de veículos incluindo transporte público. A via que corta o largo mesmo sendo estreita, é bastante importante para a conexão da região.

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passagem de transporte público fluxo de veículos


fluxo de pedestres feira vendedores ambulantes pontos de ônibus

53 Apropriações: o fluxo de pedestres se caracteriza como a apropriação mais importante, acontecendo principalmente nas bordas do largo. Vinculadas ao fluxo estão as feiras que também ocupam principalmente a borda do largo. Além disso, os

dois pontos de ônibus são importantes espaços de concentração de pessoas, ainda que a calçada seja estreita. A presença de comércio ambulante é bem baixa. No centro do largo constantemente há pessoas ocupando as mesas.

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Largo Oliveira Viana, Freguesia do Ó

15 Essa nomeação aparece nos transportes públicos e pelos moradores do bairro. Dificilmente alguém saberia qual é o Largo Oliveira Viana. 54 Largo Oliveira Viana, Sara Brasil (1930).

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O bairro da Freguesia do Ó, localizado na Zona Noroeste de São Paulo, assim como a Penha, tem formação colonial, fundado em 1580 pelo bandeirante Manuel Preto. Esse passado colonial está bastante presente nas construções no entorno dos largos que abrigam a Igreja da Matriz (Largo da Matriz Velha e Largo da Matriz de Nossa Senhora do Ó). O Largo Oliveira Viana se articula a esse núcleo tido como mais antigo pela Ladeira Velha e pela Rua Antonieta Leitão, apesar da proximidade, seu entorno tem características bastante distintas, tanto no que diz respeito às construções (edifícios mais novos e em constante transformação) como no que diz respeito à apropriação como abordaremos a seguir. É importante notar que embora não seja parte do núcleo reconhecido como histórico e tombado, o Largo Oliveira Viana aparece desenhado como morfologia (ainda não com essa nomenclatura apontada) desde a carta da cidade de São Paulo de 1897, na qual também o núcleo de Nossa Senhora do Ó aparece pela primeira vez. A localização do largo é absolutamente privilegiada na região, ele é a porta de entrada ao bairro, que também é acessado pela Marginal Tietê. Esse largo é a ligação entre a Avenida Santa Marina (do outro lado do rio), a Ponte da Freguesia do Ó e o bairro; estando ainda na cota do rio. Hoje em dia o bairro tem outros pontos de acesso, como a Ponte do Piqueri e as avenidas de fundo de vale (Avenida General Edgar Facó e Avenida Inajar de Sousa), mas o largo como ponto importante de fluxo se mantém. Outro aspecto histórico importante para entender a relação dos moradores com esse lugar é ele ser conhecido como Largo do Clipper15. Esse nome se deve a existência no largo do Cine Clipper na década de 60. A localização desse largo, como já dito anteriormente, num ponto nodal importante para a região, faz com que os fluxos de veículos e pedestres sejam determinantes para a análise de suas apropriações. Tanto no sentido de entender como as três ruas que conformam o largo distribuem pedestres, transporte público e transporte privado, mas, princi-


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55 Largo Oliveira Viana e entorno 1 Largo Oliveira Viana 2 Largo da Matriz de N. Sra. do Ó 3 Largo da Matriz Velha 4 Praça Flavio Rangel 5 Ponte da Freguesia do Ó

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palmente, pelas atividades atraídas por esse trânsito intenso. A concentração de serviços e comércio é muito intensa, em especial tratando-se de uma região residencial. Bancos, perfumarias, farmácias, padarias, demais comércios relacionados à alimentação, lojas de ferragens, lojas de calçados, lojas de roupas e óticas, além de barraquinhas e carrinhos que se fixam principalmente no entorno dos pontos de ônibus oferecendo alimentos rápidos. Ao mesmo tempo em que há essa intensidade de comércio, o caráter desses usos é muito local. Vale ainda destacar a localização de um posto policial e de uma banca de jornal em dois dos quatro “triângulos” criados pela subdivisão dos espaços. Principalmente a banca de jornal acaba sendo um atrativo bem forte para que os pedestres atravessem pelo espaço central do largo. Mas, por mais que o fluxo de veículos e pedestres seja intenso e provoque um ambiente barulhento e pouco acolhedor, o espaço central maior tem atualmente alguns bancos além dos canteiros com vegetação que costumam ser bastante usados, principalmente por trabalhadores do entorno em pausas de suas atividades. Além disso, a presença da linha de alta tensão acaba gerando um limite invisível para as atividades que acontecem no entorno do largo.

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56 Vista do Largo (cota do rio) a partir do cruzamento entre a Ladeira Velha e a Rua Javoraú, ambas ladeiras que acessam o núcleo antigo do bairro. 57 Ponto de ônibus sem cobertura com bastante movimento. Por ele passam linhas importantes que percorrem a Freguesia do Ó e outros bairros próximos. Na frente do ponto, dois bares que aproveitam o fluxo intenso.

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58 Vista do largo para quem chega ao bairro. O espaço para pedestres é cercado por leito carroçável de bastante movimento. 59 Embora o fluxo principal de pessoas aconteça nas calçadas imediatas aos lotes, o centro do largo constantemente tem seus bancos ocupados. Nas imagens, esse uso em dois períodos distintos.

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60 Sequência de três fotos com variedade de comécio ambulante nas calçadas do largo. Na maioria, comércio de alimentos, mas há também troca de baterias de relógio, venda de produtos piratas etc. Importante notar que se tratam de vendedores com “pontos fixos”, que não circulam.

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61 Implantação: a forma triangular do largo (encontro de três vias) é condicionada pela passagem de veículos, resultando em 4 ilhas.

1 Banca de jornal 2 Posto policial 3 Atual Banco do Brasil, onde foi o Cine Clipper 2

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10m


residencial comercial/serviço institucional misto

62 Uso e ocupação do solo: predominância de uso comercial e de serviço. Alguns usos relacionados à alimentação, mas diversos outros como: farmácias,

perfumarias, óticas, lojas de roupas e sapatos, padaria, escola de idiomas, loja de ferragens, bancos etc.

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63 Verticalização: as construções são baixas, destacando-se o banco.

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espaços livres privados

64 Espaços livres privados: em geral, a área de espaço livre privado de cada lote é bem pequena. As quatro áreas maiores que aparecem são três estaciona-

mentos (sendo dois para clientes dos bancos) e a via interna de uma vila fechada, que acaba se configurando como espaço privado.

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65 Espaços livres públicos: este alargamento não é muito maior do que a própria largura das vias que o conformam,

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mas ainda assim, quando comparado às dimensões dos espaços do mapa anterior, resulta em espaço significativo.

espaços livres públicos


espaços livres públicos espaços de caráter públicos

66 Espaços públicos: nesse largo, o único espaço que soma aos espaços livres públicos é a área da linha de alta tensão

que, na prática, não representa nenhuma possibilidade de apropriação nova.

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67 Fluxo de veículos: o largo se mostra como importante ponto de entrada e saída do bairro tanto para o transporte público como para o particular. No en-

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tanto, ao observarmos o percurso realizado pelas linhas de ônibus notamos que a subdivisão do largo em 4 ilhas é resultado do fluxo de veículos privados.

passagem de transporte público fluxo de veículos


fluxo de pedestres vendedores fixos vendedores ambulantes pontos de ônibus

68 Apropriações: o desenho dos fluxos e outras apropriações nesse mapa evidencia uma atividade mais intensa de um lado do largo. Podemos notar rela-

ção com o fluxo de transporte público do mapa anterior. Além disso, o fluxo dentro das ilhas é bem inferior ao das calçadas.

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Largo Treze de Maio, Santo Amaro

A chegada ao Largo Treze tem aspectos muito semelhantes ao do Largo do Rosário, o que demonstra certos critérios de ocupação do período colonial. Santo Amaro teve origem num aldeamento indígena nas proximidades do núcleo central da vila de São Paulo. Em 1560 os jesuítas tomam posse oficial do aldeamento, que em 1686 vira paróquia. Somente em 1737 se inicia a construção de um caminho ligando São Paulo a Santo Amaro e em 1935 Santo Amaro é anexado como bairro à cidade (por isso é o único largo que não aparece no Sara Brasil). O Largo Treze, que corresponde aproximadamente ao espaço do antigo “Largo do Jogo da bola”, sempre foi o centro desse povoado. Na descrição abaixo fica evidente a vocação para o comércio desse espaço: A loja do ‘Seu’ Adolfo ficava na esquina da Rua Direita com o Largo da Matriz. Tinha de tudo: joias de ouro, baralhos, óculos, chumbo, ferro, sapatos, aço, espingardas, remédios, ferragem, papelaria, pólvora, fazenda, roupas feitas, armarinhos. (BERARDI, 1981: 61)

69 Largo do Jogo da Bola, s/data. (Fonte: BERARDI, 1981: 75)

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A igreja atualmente está em uma das bordas do largo que é atrelado à quadra. Como na Penha, o acesso ao bairro se dá pela cota do rio, o Pinheiros, nesse caso. Passamos por baixo da Linha Lilás do metrô e a acompanhamos por um espaço curto até avistarmos no fim da ladeira da Avenida Padre José Maria a Catedral de Santo Amaro, mesma percepção para quem adentra o bairro pela Alameda Santo Amaro. Ao nos aproximarmos da igreja, percebemos o alargamento na sua lateral que a afasta das quadras vizinhas. Atualmente passam 2 milhões de pessoas por dia pelo Largo Treze. Ele se configura como uma centralidade de uma região bastante extensa da cidade. Nele se localizam saídas da Estação Largo Treze do metrô e o Terminal de Ônibus Santo Amaro. O largo encontra-se numa área que une três quadras de trânsito exclusivo de pedestres, separado pela Avenida Adolfo Pinheiro de outra área de aproximadamente três


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70 Largo Treze e entorno 1 Largo Treze de Maio 2 Praça Floriano Peixoto 3 Terminal Santo Amaro 4 Metrô - Linha lilás 5 Sesc Santo Amaro

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71 Vista a partir da Igreja da demarcação do “lote” com grades e canteiros. 72 Fila na frente de uma peixaria na Sexta Feira Santa. Relação estreita do comércio lindeiro ao largo com o fluxo cotidiano de pessoas. 73 Vista da Igreja a partir do calcadão da antiga Rua Direita: fluxo de pedestres e vendedores fazendo pesquisas.

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quadras com a mesma característica. A antiga Rua Direita, hoje Rua Capitão Tiago Luz, liga o largo à Praça Floriano Peixoto (antigo Largo do Rosário, onde funcionavam a cadeia e a Prefeitura), continua se caracterizando pela vivacidade. A relação entre esses dois trechos é tão importante que hoje o leito carroçável da Avenida que os separa é reduzido pela metade com obstáculos de maneira improvisada, ampliando ainda mais a área exclusiva para pedestres. Se inúmeras apropriações se encontram vinculadas a essa quantidade de fluxo, com uma quantidade grande de vendedores ambulantes, artistas de rua que pintam quadros na hora ou oferecem música ao vivo, carros de sons frequentes anunciando produtos, além, é claro, do comércio intenso dos mais diversos produtos que apostam na compra rápida entre a saída do metrô e a chegada ao destino; há um estranhamento muito forte gerado no cercamento do que corresponderia ao “lote” da igreja, que proíbe o livre fluxo justamente no que seria o centro do largo. O Largo Treze dos estudos de caso é o que mais aparenta a falta de programa e cuidado com o espaço livre público, para não dizer de projeto. Por um lado a igreja cerca mais da metade da área do largo disfarçando a cerca com canteiros de aspecto bastante doméstico, por outro lado a solução provisória para aumentar o espaço para os pedestres parece ser definitiva.


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74 Vista da frente da Igreja com o alargamento ao lado, o encontro das vias diante da Igreja cria um ponto nodal importante. 75 Vista do Largo pelos fundos da Igreja, com os canteiros que delimitam o lote e a banca de jornal localizada na esquina do calçadão.

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76 Vista de quem chega pelo calçadão atrás da Igreja. 77 Encontro de pessoas no karaokê em frente a saída do metrô. 78 Obstáculos que ampliam a área destinada somente à pedestres e reduzem o leito carroçável.

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79 Implantação: o mais evidente nesse mapa é o contraste entre a ampliação da calçada com obstáculos improvisados e o cercamento do lote da Igreja.

1 Igreja de Santo Amaro 2 Posto policial 3 Banca de jornal 4 Estação de metrô Largo Treze 5 Ponto de ônibus 6 Respiro do metrô

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5

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3

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10m


residencial comercial/serviço institucional

80 Uso e ocupação do solo: predomínio do uso comercial e de serviço.

misto

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81 Verticalização: o entorno do largo tem construções com poucos pavimentos. Alguns edifícios mais de cinco andares são pequenos shoppings.

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3

+10

4


espaços livres privados

82 Espaços livres privados: os lotes pequenos do entorno são quase inteiramente construídos. Em destaque o espaço livre da Igreja.

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83 Espaços livres públicos: nesse mapa fica ainda mais evidente como o cercamento do espaço livre da Igreja diminui o espaço livre de uso público. O

116

alargamento da lateral deixa de existir e o largo fica conformado somente pelo encontro de vias na frente da Igreja.

espaços livres públicos


espaços livres públicos espaços de caráter públicos

84 Espaços públicos: destacamos como espaços públicos construídos apenas as estações de metrô. Ao contrário do Largo do Rosário, a construção

e espaço livre da Igreja não foram assinalados por terem o caráter público enfraquecido na relação com as demais apropriações do largo.

117


85 Fluxo de veículos: as vias que chegam ao largo são bastante movimentadas, a relação com o transporte público (já assinalada em relação ao metrô) é

118

bastante intensa pela proximidade com o Terminal de ônibus Santo Amaro. Ainda assim, o estreitamento da via não causa grandes transtornos.

passagem de transporte público fluxo de veículos


fluxo de pedestres vendedores fixos pesquisa vendedores ambulantes pontos de ônibus

86 Apropriações: nesse mapa fica evidente o caráter de centralidade que o largo tem para uma região grande. O fluxo de pedestre se assemelha aos do

centro da cidade. A ele, além do comércio já demonstrado no mapa de uso e ocupação, estão vinculados inúmeros vendedores ambulantes.

119


Largo da Lapa, Lapa

87 Largo da Lapa, Sara Brasil (1930).

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A ocupação do território onde hoje se encontra o bairro da Lapa também remonta ao período colonial. O Largo da Lapa está compreendido no trecho conhecido como “Lapa de baixo”, entre o Rio Tietê e a estrada de ferro Santos-Jundiaí. No mapa Sara Brasil de 1930 esse largo aparece como sendo o terreno hoje ocupado pela EMEI Neide Guzzide Chiacchio, portanto houve uma redução significativa desse espaço, responsável também pelo atrelamento desse largo à quadra. Entre os cinco estudos de caso, esse é o inserido em área mais residencial que corresponde ao núcleo de antigas moradias vinculadas à São Paulo Railway, no entanto, essa área é bem estreita, sendo circundada por antigos galpões, intenso comércio e novas sedes do setor de serviços. Localizado a uma quadra dos trilhos, esse largo se distancia um pouco da estação, não estando no núcleo principal de comércio popular vinculado ao fluxo de passageiros. Portanto, os pequenos comércios existentes ao redor do largo, na maioria bares, servem mais aos moradores das proximidades e trabalhadores, não há um fluxo de pessoas tão intenso quanto nos outros quatro casos. Ao fluxo local, se acrescenta o fluxo de trabalhadores de um grande conglomerado de empresas situado a 500 metros do largo. Esse fluxo é bem localizado no sentido estação-largo-empresas no período da manhã e na direção contrária no final da tarde. As apropriações mais relacionadas a esse movimento são a banca de jornal e uma vendedora de café-da-manhã. Essa relação bastante local dos moradores com o largo se evidenciou muito durante as visitas a campo. Em todas elas causamos algum incômodo com a nossa presença e em alguns momentos fomos questionados severamente sobre qual era o nosso trabalho ali. Ao mesmo tempo, esse foi o único entre os largos em que as apropriações noturnas se demonstraram bastante distintas das que observados no período vespertino. Os bares mantém suas mesas ocupando


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6

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88 Largo da Lapa e entorno. 1 Largo da Lapa 2 Estação Lapa da CPTM 3 Viaduto da Lapa 4 Mercado da Lapa

3

5 Ponte do Piqueri 6 Praça Sebastião Jaime Pinto 7 Praça Jácomo Zanella 8 Siemens Communications

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o largo ao longo de todo o dia, se somando as mesas que são próprias do espaço. A presença de algumas pessoas nessas mesas é constante, no entanto, nas noites principalmente de sexta-feira e sábado, alguns carros parados ao redor do largo voltam seus sons para esse espaço, o que acaba por alterar bastante um espaço muitas vezes pacato.

89 Vista do largo para pedestre que chega pela Rua Engenheiro Aubertin. 90 Vista de quem está no largo (embaixo dos toldos dos bares) para o cruzamento das vias. Além das figueiras, o restante da vegetação é recém plantada. 91 Uso das mesas dos bares como extensão dos equipamentos do largo. As mesas permanecem no local o dia inteiro e recebem fluxo constante de pessoas. 92 Vista do largo para quem chega pelo lado oposto, vindo da estação de trem.

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123


93 Implantação: recentemente esse largo foi ampliado com a eliminação de uma via que subdividia o alargamento atual em duas partes. Os canteiros e piso são novos e muitas das árvores

são recém plantadas. 1 Banca de jornal 2 Mesas e bancos 3 Toldos do comércio 4 EMEI Prof. Neyde Chiacchio

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10m


residencial comercial/serviço institucional

94 Uso e ocupação do solo: entre os cinco largos, esse é o único no qual o entorno imediato tem predomínio residencial.

Ainda assim, nas construções que fazem frente para o largo, há predomínio de comércios pequenos vinculados à passagem.

misto

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95 Verticalização: predominância de edifícios com até 3 pavimentos.

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espaรงos livres privados

96 Espaรงos livres privados: embora o entorno tenha lotes pequenos, comparando com os outros largos, quase todos os lotes tem espaรงo livre.

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97 Espaços livres públicos: nesse mapa fica bastante evidente a conformação do largo pelo encontro de vias em ângulos agudos.

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espaços livres públicos


espaços livres públicos espaços de caráter públicos

98 Espaços públicos: além dos espaços livres públicos, destacamos a EMEI e a linha de trem. A comparação entre o

largo atual e o espaço da escola antes livre ressalta a diminuição do espaço livre.

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99 Fluxo de veículos: o fluxo de veículos não é intenso.

130

passagem de transporte público fluxo de veículos


fluxo de pedestres (manhã) fluxo de pedestres (final de tarde) vendedores fixos mesas dos bares pontos de ônibus

100 Apropriações: esse foi o único largo em que separamos os períodos do fluxo de pedestres. Além disso, destacamos

as mesas dos bares diante do largo que funcionam como uma extensão das mesas e bancos do próprio largo.

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Largo da Misericórdia, Sé

101 Largo da Misericórdia, Sara Brasil (1930).

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Atualmente o alargamento que recebe o nome de Largo da Misericórdia é quase imperceptível para o pedestre, se na imagem aérea ele é bastante visível, para quem passa pelos calçadões do centro da cidade, justamente no ponto de alargamento há uma banca de jornal que estreita o espaço. O nome do largo se deve à Irmandade da Misericórdia e a sua igreja que se situava nesse local, igreja está que 1716 a 1752 funcionou como Matriz para a cidade de São Paulo e que foi demolida depois de perder a importância com a inauguração da catedral na Praça da Sé atual. Ao longo do tempo alguns acontecimentos importantes marcaram a relevância desse espaço na cidade: em 1744 os terrenos pertencentes à Irmandade foram vendidos para a construção da Santa Casa; foi residência do Ouvidor da Capitania em 1747; em 1793 sediou a construção do primeiro chafariz da cidade (que inclusive motivou a mudança de família tradicional por conta da movimentação que gerou no largo); os escritórios centrais das Indústrias Matarazzo se localizaram nesse largo entre as décadas de 20/30; em 1939 a Santa Casa construiu o edifício “Ouro para o Bem se São Paulo”. O largo situado no encontro da Rua Direita (a meio caminho entre a Praça da Sé e a Praça do Patriarca) com a Rua Quintino Bocaiúva está dentro do perímetro de uso exclusivo de pedestres no centro da cidade, tendo a movimentação incrível que caracteriza essa região durante todo o dia e o esvaziamento, também característico, a noite. De todos os cinco largos esse é o que tem o entorno com edificações mais altas, o que amplia a sensação de abertura do alargamento. Nas ruas do entorno do largo, o comércio avança sobre as calçadas visualmente (com seus toldos e araras que vão até o limite do lote) e sonoramente (com os vendedores que anunciam seus produtos nas caixas de som), somando-se à movimentação de vendedores ambulantes, dos inúmeros vendedores de serviços que ficam com suas pranchetas no meio da passagem e dos homens-placa. Além disso, o alargamento


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2 102 Largo da Misericórdia e entorno 1 Largo da Misericórdia 2 Praça da Sé 3 Páteo do Colégio 4 Largo São Francisco 5 Largo do Café 6 Praça do Patriarca 7 Praça Ouvidor Pacheco e Silva

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possibilita um espaço bastante propício para a aglutinação de pessoas em volta de artistas de rua, inclusive nos finais de semana. Até às oito horas da noite toda essa vivacidade se mantém ininterruptamente, nesse horário as lojas fecham e alguns comércios de alimentos se mantém mais uma hora abertos, aproveitando os últimos trabalhadores que passam pelo centro. Depois disso, o largo se esvazia, mas logo atrás do edifício “Ouro para o Bem de São Paulo”, dois bares com os toldos sobre a calçada mantém o movimento e a música ao vivo.

103 Mesmo se caracterizando principalmente pelo fluxo ininterrupto de pessoas, em alguns momento essa movimentação é interrompida, como na concentração de pessoas em volta de artista de rua. 104 A lanchonete que faz frente para o largo está sempre cheia. 105 Vista panorâmica do largo a noite. A banca de jornal estreita o que seria o alargamento.

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106 Vista da Rua Direita, que liga Praça da Sé à Praça do Patriarca, tendo o Largo da Misericórdia no meio do percurso. 107 Duas imagens de como a iluminação natural incide no piso do largo e vai mudando de desenho ao longo do dia. 108 Bar atrás do edifício “Ouro para o bem de São Paulo”, único movimento que permanece depois que os comércios fecham.

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109 Implantação: à imagem aérea, essa implantação acrescenta apenas a localização das bancas de jornal.

1 Edifício “Ouro para o bem de São Paulo” 2 Banca de jornal

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residencial comercial/serviço institucional

110 Uso e ocupação do solo: inteiramente comercial e de serviço.

misto

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111 Verticalização: predominância de edifícios com mais de seis pavimentos. Nesse caso, além do largo caracterizar um espaço de alargameno das vias,

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também é responsável por uma maior incidência de luz natural num entorno com edifícios altos.

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espaços livres privados

112 Espaços livres privados: esses espaços são bem pequenos e geralmente se caracterizam como fossos de ventilação e iluminação dos edifícios altos.

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113 Espaços livres públicos: a diminuição do alargamento pela banca de jornal fica bastante evidente nesse mapa. A relação com outros espaços livres pú-

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blicos maiores (canto da Praça da Sé aparece no mapa), caracteriza o Largo da Misericórdia principalmente pelos fluxos de pedestres.

espaços livres públicos


fluxo de pedestres vendedores fixos artistas de rua

114 Apropriações: a intensidade de fluxo desse largo é característico do centro da cidade de São Paulo. Inúmeros homens-placa anunciando produtos es-

tão vinculados a essa movimentação. Próximo ao alargamento, geralmente há algum artista de rua tanto durante a semana como nos finais de semana.

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capítulo 5 PROPOSTAS

115 Largo do Café, janeiro de 2014. (Foto da autora)

Efectivamente, és más fácil construir ciudades que vida urbana (GAVIRIA, In: Lefebvre, 1973: 10)

Inicialmente não nos propusemos a pensar projetos, isso só se configurou como um desejo com a experiência em campo em cada um dos cinco largos. Portanto, a estrutura desse trabalho não foi concebida como um percurso que resultasse num ato projetual. É importante ressaltar para que este trabalho não seja encarado como um processo linear que tem como desfecho o projeto. Ao contrário, o projeto se apresenta como mais um momento de reflexão, mais uma maneira de se relacionar com as apropriações e desejos dos vivenciadores, de se posicionar diante dos conflitos e das potencialidades observadas e vividas. O projeto é aqui metodologia, não fim. Assim, as questões de apropriação, morfologia e história dialogam com as propostas pensadas. Ao pensar num partido para cada um dos largos voltamos a refletir sobre os aspectos que caracterizam esses espaços, sobre os programas que melhor respondem às suas qualidades. Abaixo elencamos algumas questões que se mostraram relevantes para todas as propostas, mas não no sentido de homogeneizar as decisões, pelo contrário, procuramos

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16 A implantação de estações de metrô em alguns largos demonstram claramente essa situação de fragmentação. É o caso do Largo São Bento, do Largo Santa Cecília e do Largo Sete de Setembro.

17 Sobre as apropriações formais e informais, Eneida Mendonça diz: “Deste modo, afetas às apropriações encontram-se as possibilidades de uso indicadas diretamente pelo ambiente urbano construído, mas também, as possibilidades intuídas a partir dele, adaptadas às necessidades imediatas ou aos desejos e intenções não satisfeitos na construção do ambiente.” (MENDONÇA, 2007)

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enfatizar as especificidades de cada lugar: - pensar a apreensão visual da totalidade de cada um desses espaços; -repensar elementos que fragmentam não só visualmente, mas também fisicamente os largos16; - fortalecer o potencial para fluxos de pedestres, por exemplo, aumentando dimensões de calçadas, favorecendo a relação com o transporte público, diminuindo a influência do transporte privado sobre o desenho da cidade e retirando obstáculos físicos tais como canteiros altos; - salientar a importância dos pisos desses espaços tanto para comodidade dos pedestres, como por aspectos formais que reforcem e diferenciem os largos; - quando necessário a implantação de equipamentos (mesas e bancos, por exemplo) evitar usar uma solução global, pensando esses elementos também segundo as especificidades de cada lugar; - enfatizar esses espaços como espaços livres, pensando em soluções para as construções necessárias (postos policiais e bancas de jornal) que influenciem minimamente na percepção dos largos; Um aspecto muito importante que perpassa todo nosso estudo sobre as apropriações desses espaços livres públicos foi a diversidade de ações que os vivenciadores impregam em cada um desses espaços, muitas vezes sendo apropriações previstas pelo poder público e/ou pelo projeto ali implantado, mas muitas vezes sendo informalidades17. Assim, um projeto que delimite demasiadamente as apropriações possíveis ignora as variáveis implícitas ao uso: Os praticantes ordinários das cidades atualizam os projetos urbanos e o próprio urbanismo, através da prática, vivência ou experiência dos espaços urbanos. Os urbanistas indicam usos possíveis para o espaço projetado, mas são aqueles que o experimentam no cotidiano


que os atualizam. São as apropriações e improvisações dos espaços que legitimam ou não aquilo que foi projetado. (JACQUES, 2008) Não se trata evidentemente de pensar projetos incompletos ou menos detalhados, mas de pensar projetos que não sejam restritivos em espaços - que como demonstrado ao longo de todo esse trabalho - apresentam muitas formas de apropriação distintas. Nesse sentido, lembramos do projeto de Victor Dubugras para o Largo da Memória (definido por Benedito Lima de Toledo como a melhor praça de São Paulo), no qual um desenho marcante e elaborado resolve questões fundamentais para aquele ambiente - fluxos e desnível - propondo alguns usos e possibilitando novas ações. A seguir apresentamos os partidos projetuais e estudos preliminares elaborados para cada um dos cinco largos escolhidos.

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Largo do Rosário, Penha 116 Obra “Naufrágio da nau da Cia. das Índias” (1992) de Adriana Varejão. 117 Pisos megadreno da marca “Braston” usados como referência: ouro fulge medio crema, ouro fulge medio tabaco, ouro levigado branco.

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O partido para o Largo do Rosário teve como fundamentação principal a criação de um desenho de piso único que caracteriza-se as duas partes do largo (de cima e de baixo) como um espaço só. No entanto, entende-se que o destaque nesse largo é a Igreja, então propormos um piso que seguisse a ortogonalidade da capela com faixas em três tons de amarelo diferentes (como referência usamos os piso da “Braston”, com alta permeabilidade). Para mantér ainda mais a percepção de continuidade entre esses dois espaços, suprimimos as duas vias longitudinais ao largo e elevamos o piso das duas vias transversais na extensão do largo, separando o espaço do pedestre do leito carroçavel com cones sinalizadores. Praticamente toda a vegetação árborea existente foi mantida, mas com alteração do desenhos dos canteiros, agora individuais. Outro elemento importante da proposta é um espelho d’água que acompanha o muro de arrimo, que receberá mural de azulejos (como referência usamos os trabalhos de Adriana Varejão). Para substituir as coberturas improvisadas da feira boliviana, criamos algumas coberturas tensionadas móveis que ficarão guardadas na lateral da Igreja e fixadas em alguns eventos específicos. Por fim, alteramos os desenhos de bancos e mesas, com um longo banco diante do espelho d’água e mesas em tamanhos variados ao lado da Igreja. A parte de cima do largo só sofre a alteração do piso, tendo passado por uma reforma recente que contempla às apropriações envolvidas naquele trecho.


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corte AA

corte BB

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Largo Oliveira Viana, Freguesia do Ó

A proposta para o Largo Oliveira Viana partiu da constatação de que a subdivisão do largo em quatro triângulos menores se dava unicamente para o uso do transporte privado. Assim, mantivemos as vias que dão acesso ao largo e são usadas pelo transporte público e fechamos as demais vias, desviando o fluxo de veículos privados para a Avenida João Paulo I. Dessa maneira, ampliamos consideravelmente a área de circulação de pedestres, integrando o centro do largo às calçadas adjacentes. Realocamos a banca de jornal e o posto policial, possibilitando maior apreensão visual de todo o largo. Com o aumento de área propusemos um banco único para servir aos usos de “estar” que já existiam. Com relação à vegetação, mantivemos as árvores de maior porte, cada uma com um canteiro individual; ampliamos o número de palmeiras, para reforçar o marco visual para quem vê o largo a partir das ladeiras que o conformam.

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B

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corte AA

corte BB

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Largo Treze de Maio, Santo Amaro

O projeto para o Largo Treze parte da eliminação da grade e dos canteiros em volta da Igreja, liberando o centro do largo para o fluxo intenso de pedestres. Além disso, ampliamos o calçadão antes demarcado com obstáculos, estendendo essa ampliação para a frente da Igreja, onde o fluxo de pedestre conflituava com o ponto de ônibus sempre muito lotado. Boa parte da arborização existente foi mantida (sendo realocadas para a cota do piso), mas eliminamos um grande número e adotamos a solução de canteiros individuais. A diferença de cota entre a Igreja e o largo, de aproximadamente 2 metros, é solucionada com quatro patamares que configuram um local de “estar” no largo, antes improvisado nos canteiros.

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corte AA

corte BB

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Largo da Lapa, Lapa

118 Vieux Port Pavilion, Foster + Partners (2013) 119 Serpentine Gallery, SANAA (2009)

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Buscamos evidenciar o espaços que conforma o Largo da Lapa colocando todo o piso na cota do pesdestre e distinguindo a calçada do leito carroçável com balizadores. Além disso, mudamos o muro da escola (antigo largo) por elementos vazados que permitem maior interação visual. Como as figueiras existentes eram bastante impróprias para a área desse espaço, escolhemos uma espécie única para enfatizar essa unidade do largo, o jacarandá, espécie já existente na escola local. Realocamos a banca de jornal para que ela não fragmente o centro do largo. Propusemos para essa parte central uma cobertura leve (tomamos como referência os projetos destacados abaixo) que substitua os vários toldos que existiam, possibiltando um espaço protegido maior. Embaixo dessa cobertura, apenas dois bancos, ficando o restante do espaço livre e flexível para as mesas dos bares ou outras apropriações.


A A

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corte AA

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Largo da Misericórdia, Sé

Por fazer parte do calçadão do centro da cidade de São Paulo, o partido que tomamos para o Largo da Misericórdia procura manter a unidade com o restante da calçada, mas evidenciando o espaço do largo. Assim, a proposta é alterar somente as placas do piso de granito (mantendo a moldura de pedra portuguesa) para outra coloração. Como um aspecto marcante foi incidência de luz natural, escolhemos um tom de amarelo que “clareie” o piso do largo. Além disso, para o período noturno, propomos uma iluminação artificial diferente para esse trecho.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

119 Largo de Santa Efigênia, janeiro de 2014. (Foto da autora)

A proposta desse trabalho (a partir de um objeto – largo – propor um viés de reflexão – esfera de vida pública atual na cidade de São Paulo) resultou em dois caminhos próximos que conseguimos manter ao longo desse um ano de pesquisa. O primeiro caminho consistiu em desvendar os aspectos históricos, morfológicos e de apropriação dos largos paulistanos. O segundo caminho consistiu em criar arcabouço teórico que possibilitasse discutir a constituição da esfera de vida pública. Num trabalho final de graduação, nem um caminho nem o outro pretendem dar conta de todas as discussões propostas, nem das muitas outras que podem ser instigadas a partir deles. Trata-se de esforço de reflexão sobre questões que parecem fundamentais de serem pensadas – e vividas – na cidade. Ao longo do percurso desse trabalho, o objeto escolhido revelou muitos aspectos: é ainda pouco problematizado; possui presença predominante na formação colonial e imperial da cidade de São Paulo; ainda está presente na cidade tanto nos bairros mais antigos como nos bairros

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mais novos; exercem centralidade em cada lugar. Os largos se confirmaram, sobretudo, como espaços ricos em apropriações. A abrangência do objeto em alguns momentos se sobrepôs à temática proposta. Mas a reaproximação entre ambos os caminhos se deu justamente no trabalho de campo. A proximidade com a vida cotidiana ressaltou a relação intrínseca entre apropriações do espaço e esferas de vida. E, também em campo, os aspectos analisados e descritos como característicos dos largos (apontamentos relativos à constituição histórica, forma, dinâmica e relações de escala) se mostraram auxiliares na observação e compreensão das apropriações. Por meio dessas camadas de análise, pudemos com maior facilidade passar do todo à parte e da parte ao todo, relacionando os cinco largos estudados entre si e com a cidade de uma maneira geral. Anteriormente, já havíamos indicado para a importância de reconhecermos todas as atividades em público como pertencentes à esfera de vida pública, sendo inclusive isso o que justifica a análise das apropriações. Porém, duas questões persistiram intensamente na tentativa de relacionar o campo à discussão teórica: como pensar a esfera de vida pública na cidade de São Paulo hoje a partir de observações das atividades mais cotidianas? O que a relação dos vivenciadores com o espaço público indica sobre a esfera de vida pública nos dias atuais? Um aspecto muito importante da apropriação dos largos é o fato de serem espaços especialmente de fluxos. Num certo sentido, não se trata do passeio com a família no parque, ou a festa com os amigos na praça, apropriações importantes de outros espaços livres públicos. Mas, assim como as ruas, os largos são espaços do dia-a-dia, da atividade mais cotidiana, o que coloca os vivenciadores numa posição individual ao se relacionar com a cidade e com os outros cidadãos. Em certa medida, ainda que não seja a relação política ideal, é uma relação entre indivíduos, não de famílias ou outros grupos. Ouvimos insistentemente sobre o caráter de negação do outro com que todos agem atualmente

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nos espaços públicos, o largo nos pareceu muito mais um espaço de convívio ao invés de negação. A forte apropriação desses espaços em alguma medida justifica essa sensação de convivência mais do que de conflito. Além disso, o alargamento que amplia as visuais torna esses espaços menos hostis e próximos à escala do pedestre. O largo é um espaço do cotidiano. Não se trata de encarar os largos como espaços especiais da cidade que fogem à lógica perversa de exclusão e mercantilização, mas de identificar neles espaços de contato, proximidade, convívio, encontros e diálogos – essenciais à esfera de vida pública tanto geral como política – que nos possibilitam um olhar mais otimista e propositivo sobre a cidade.

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