"A Borda Extrema do Vazio" - Cidade dos Mortos

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CIDADE DOS MORTOS


“TODOS OS CAMINHOS LEVAM À MORTE. PERCA-SE” Jorge Luis Borges


tRABALHO fINAL DE gRADUAÇÃO - tfg 2013 Trabalho final de Graduação - TFG 2013

Arquitetura e Urbanismo - UNISEB Ribeirão Preto / SP



A BORDA EXTREMA DO VAZIO PERCURSO, PASSAGEM E VAZIO

Autora: Maristela Pucci Monteiro Orientadora: Ana Lucia Machado Ferraz



AGRADECIMENTOS

Agradeço pela vida…



Este trabalho tem como objetivo mostrar a importância simbólica da arquitetura que, como toda forma de arte, é a expressão crítica da cultura e da sociedade. A lternando entre o

concreto e o sensível, entre o material e o imaterial, a construção de uma linha tênue se consolida. Céu e água, vida e morte... É nessa borda extrema que o tema transita. Especificamen- te

na arquitetura caráter vezes,

simbólico,

mortuária, por

o cemitério. Esse espaço de

vezes, de percepção individual,

de rituais coletivos,

um espaço impactado

pelo

por sen-

timento do que é transitório e ao mesmo tempo eterno.


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SUMÁRIO 1.

2.

ESPAÇOS DE PASSAGEM 1.1 A ÁGUA 1.1.1 Necrotério de Léon 1.1. 2 Bridge Moses 2.1 A PEDRA 1.2.1 Ossário de Massano 1.2.2 Cemitério Santo Stefano 1.2.3 Cemitério de Igualada 3.1 O AR 1.3.1 Igreja Borgloon 4.1 O FOGO 1.4.1 Capela Bruder Klaus

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CEMITÉRIOS DE RIBEIRÃO PRETO 2.1 Cemitério da Saudade 2.2 Cemitério Bom Pastor 2.3 Memorial Parque dos Girassóis

82 83 89 95

3. ÁREA DE INTERVENÇÃO

4.

5.

22 24 32 40 42 48 54 60 62 70 72

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PROJETO – CIDADE DOS MORTOS 4.1 Conceito 4.2 Partido

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BIBLIOGRAFIA

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INTRODUÇÃO O trabalho expõe a espacialidade simbólica na arquitetura, com uma leitura quase que abstrata, mas potencializando as percepções do espaço. O estado primitivo dos valores humanos é demonstrado através dos símbolos, mostram a trajetória oculta em busca do desconhecido, sem qualquer explicação para suas etapas terrenas, o homem criou símbolos para comungar com seu próprio sentimento. Para representar a passagem do homem por este mundo obscuro que é a vida, muitos símbolos foram criados, dela não sabemos nada, somente sobre sua finitude. A morte é responsável por muitos símbolos conhecidos, por uma caveira, por uma ampulheta, mas também a morte pode ser simbolizada por um símbolo de vida eterna como a fênix que sempre renasce das cinzas; neste sentido os símbolos acompanham o homem desde os primórdios da civilização. O cemitério foi escolhido como tema por representar a sensibilidade da arquitetura e do usuário. Mostra que o arquiteto domina uma parte do processo, conferindo ordem ao espaço, mas deixa sempre a possibilidade de impacto com o outro. A espera do outro. A princípio vão ser estudados espaços relacionados com o tema que estão agrupados em duas categorizações. A água e a pedra. Dois elementos naturais, que com toda sua concretude, torna- se quase que invisíveis, imateriais, na sua representação arquitetônica. Em um segundo instante serão apresentadas leituras projetuais dos cemitérios existentes na cidade de Ribeirão Preto, mostrando diferentes maneiras de lidar com a simbologia mortuária.

Por fim, será apresentado o projeto de um espaço para a morte, que discorra sobre a efêmeridade da matéria, sobre sua concretude e sua imaterialidade.

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As cidades e os mortos “O que distingue Argia de outras cidades é que no lugar de ar existe terra. As ruas são completamente aterradas, os quartos são cheios de argila até o teto, sobre as escadas pousam outras escadas em negativo, sobre os telha- dos das casas premem camadas de terreno rochoso como céus enevoados. Não sabemos se os habitantes podem andar pela cidade alargando a galerias das minhocas e as fendas em que se insinuam raízes: a umidade abate os corpos e tira toda a sua força; convém permanecerem parados e deitados, de tão escuro. De Argia, daqui de cima, não se vê nada; há quem diga: “Está lá embaixo“ e é preciso acreditar; os lugares são desertos. “À noite, encostando o ouvido no solo, às vezes se ouve uma porta que bate.” (CALVINO, 1990, p. 116)

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A MORTE A morte é uma simples mudança de estado, Monteiro Lobato dizia: “quando morremos passamos do estado sólido para o gasoso, mas continuamos a ser os mesmos.” Na natureza nada permanece igual. Não existe morte sem vida nem vida sem morte, fazem parte de um mesmo processo, quase simbiótico. A morte não é um estado, mas sim a passagem de uma forma de vida para outra forma de vida. A morte é o meio, pelo qual a vida se diversifica e progride na evolução das espécies. A vida e a morte são etapas do mesmo processo, mas não se encontram em pé de igualdade; pelo contrário a vida está em um plano superior, pois não depende da morte para existir, mas a morte sim, esta existe em função da vida. Cem trilhões de células compõem o nosso corpo; cada uma delas comporta-se como se fosse um ser vivo único, seguindo as regras que regem esse planeta, ou seja, nascem, crescem, reproduzem e morrem; é desta forma que se explica o crescimento, a transformação, o envelhecimento e morte do nosso corpo. Para a maior parte dos homens, a morte continua a ser o grande mistério, o sombrio problema que ninguém ousa olhar de frente; morrer é fatalidade que nos aguarda e devemos esperar a morte com serenidade e confiança.

A morte não deveria preocupar-nos, pois nunca coincidiremos; enquanto nós existirmos ela não existirá; quando ela existir não existiremos nós. (Karl Marx)

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Existe uma linha tênue entre o concreto e o sensível, o material e o imaterial,

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entre o céu e a água, entre a luz e a sombra...Entre a vida e a morte...

Espaços de passagem

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Necrotério de Léon

Bridge Moses

ÁGUA

Espaços de passagem

PEDRA

AR

Ossário de Mazzano

Cemitério Santo Stefano Cemitério de Igualada

Igreja Borgloon

Capela Bruder Klaus

FOGO 20


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Na água tudo é ‘solvido’, toda ‘forma’ é demolida, tudo o que aconteceu deixa de existir; nada do que era antes perdura depois da imersão na água, nem um contorno, nem um ‘sinal’, nem um evento. A imersão é o equivalente ao nível humano, da morte ao nível cósmico, do cataclisma (o Dilúvio) que, periodicamente, dissolve o mundo no oceano primevo. Quebrando todas as formas, destruindo o passado, a água possui este poder de purificação, de regeneração, de dar novo nascimento... A água purifica e regenera porque anula o passado e restaura - mesmo se por um momento - a integridade da aurora das coisas” (Eliade, 1964, p. 112).

ÁGUA

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Necrotério de Léon

Espanha Arquiteto: Jordi Badia / Josep Val Localização: León, Espanha Projeto: 1999 Construção: 2000 Fotografias: Eugeni Pons

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O edifício pensa a arquitetura negativa, para baixo da cota da linha do horizonte, ele é a própria linha do horizonte e o plano de água desmaterializa o edifício tornando-o quase imaterial...

ÁGUA Uma folha de água em cima de uma cobertura, mostra a única fachada, refletindo o céu como uma alegoria da morte.

CÉU=CHÃO

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Área verde

Convívio coletivo Espaço de velar Espaço de preparação


conexões entre dentro e fora Tudo o que emerge da água são os dedos misteriosos em busca de luz para a oração. Espaço de preparação do corpo

Espaço de orações

Área verde

Espaço administrativo e descanso 26


ESPAÇOS COLETIVOS

A sala de espera se abre para uma grande inclinação gramada e é forrada com madeira envernizada, grandes tapetes e iluminação indireta para melhorar a sua aparência confortável.

Luz

Área verde

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FLUXOS Elevadores para acesso dos corpos

Acesso para visitantes

Circulação para transporte de corpos

Circulação para visitantes

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Luz

Entrada estacionamento carros fúnebres

Projeção piso superior

Estacionamento para carros fúnebres 29


céu

reflexo simbiose céu

água

céu

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Moses Bridge

Holanda Arquitetos: RO&AD architecten Ano Projeto: 2011 Área construída: 50 m² Localização: Halsteren, Holanda Fotógrafo: Cortesia RO&AD architecten Escritório Ro&Ad Architekten

Uma base militar construída no século XVII, Fort Roovere, considerada patrimônio cultural pela Unesco, é cercada por um canal que serviu de proteção contra as invasões estrangeiras da época. Moses Bridge (a Ponte de Moisés), uma ponte que parece submersa na água, faz o cenário parecer curioso, a ponte se desmaterializa na água, dando a sensação de que as pessoas estão submersas. Estando o solo e a ponte, esta torna-se dando a sensação de entre as águas assim

água no mesmo nível da invisível vista de lon- ge, que o visitante ca- minha como Moisés.

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percurso

vida passagem

morte 33


O existente que “quase” não existe.

reflexo água mundo negativo 34


imaterial

etĂŠreo 35


submersa

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A ponte é contruída na borda da paisagem. O visitante tem a sensação de imaterialidade, ele está inserido na paisagem.

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PEDRA

Marco Polo descreve uma ponte, pedra por pedra. - Mas qual é a pedra que sustenta a ponte? – pergunta Kublai Khan. - A ponte não é sustentada por esta ou aquela pedra – responde Marco-, mas pela curva do arco que estas formam. Kublai Khan permanece em silencio, refletindo. Depois acrescenta: - Por que falar de pedra? Só o arco me interessa. Polo responde: - Sem pedras o arco não existe.

CALVINO, Italo. As cidades invisíveis, Companhia das Letras, 1990, p.79.

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Ossário de Massano A filosofia da meditação esta clara no projeto, jardins de pedra com uma certa monumentalidade simbólica. Ossários, caixas empilhadas formada por quatro peças orientadas de variadas formas, são configuradas como objetos autônomos.

Itália Arquiteto: Gaetano Bertolazzi Fotografia: Alberto Muciaccia Colaboradores:: Arch Cavagnini Alexander, Ing Ducoli Carla

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A projeção interna do portal, determina um pequeno altar com bancos de ripas de madeira, um local para meditação e funções religiosas.

A água reflete o 44 infinito


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O jardim de pedras é um convite a meditação.

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Cemitério de Santo Stefano

Itália

Arquiteto: Aldo Amoretti + Marco Calvi Giancarlo Ranalli Localização: Santo Stefano al mare, IM, Itália Projeto Ano: 2003-2005 Ano de construção: 2005-2006 Fotografias: Aldo Amoretti

O objetivo do projeto é a ampliação de um cemitério municípios pequena de Santo Stefano al Mare, no lado norte-oeste da Itália, em frente ao mar Mediterrâneo. A nova intervenção está situada em uma faixa de terra pequena entre a parede do cemitério velho e a maneira mar. Esta faixa é orientado de leste a oeste e corre paralelamente à costa. O nível térreo (5 m) está em um nível intermediário entre o nível do mar (0) e ao nível antigo cemitério (8 m).

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Uma seqüência de blocos prismáticos contemporâneo constitui os túmulos. As aberturas entre um bloco e outro permitem um contato visual constante com o mar.

DESFRAGMENTAÇÃO

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material

As aberturas entre um bloco e outro permitem um contato visual constante com o mar.

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vazio

descansar nos prismas brancos 52


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Cemitério de Igualada O cemitério de Igualada, Catalunha, Espanha, levou 10 anos para ser construído, sua obra concluída em 1994 serve como um local de reflexão e memórias. Um lugar de descanso para os mortos, mas o cemitério também serve para aqueles que virão buscar paz e serenidade na paisagem catalã.

Espanha Arquiteto: Enric Miralles + Carme Pinos Localização: Igualada, Catalunha, Espanha Ano de construção: 1984 - 1994

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Texturas de concreto e tubos de metal cruzam a descida da rampa, a natureza ĂŠ ordenada pela mĂŁo do homem.

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Dois aspectos bem distintos diferenciam a pedra. Por um lado, e devido a sua brutalidade e arestas, simboliza a natureza grosseira e imperfeita do homem. Por outro, graรงas a sua solidez e estabilidade, reflete sua presenรงa imutรกvel.

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O espaço parece tão irregular e inacabado que quase não dá para entender. O feio torna-se belo.

Paredes inclinadas com campos quadrados mostram os nomes de famílias inteiras.

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Alguns lugares com sepulturas subterr창neas e outros com catacumbas verticais conformadas junto ao terreno acidentado.

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VEJA ATRAVÉS ou nas entrelinhas

AR

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Igreja Borgloon

Bélgica Arquitetos: Gijs Van Vaerenbergh Localização: Looz , Limburg, Belgium Ano: 2011 Fotografias: Filip Dujardin

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vazio

desmaterialização 64


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Conforme o ponto de vista do espectador, a Igreja é um grande edifício, ou se transforma em um vazio na paisagem. Esses espectadores que olham de dentro da igreja para o ex- terior, assistem um jogo abstrato de linhas que remodelam a paisagem, e mais do que isso controem a paisagem com seu movimento, se tornam mais do que espectadores, construto- res conjuntos do espaço. Desta forma, a igreja e a paisagem dão sentido ao título ’LER NAS ENTRELINHAS’, mostrando o espaço latente que há para além daquilo que está inscrito, ou dito. Em outras palavras: a igreja faz a experiência subjetiva da paisagem, e vice-versa.

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“Enquanto o fogo durar, a vida irradiará pelo Universo; os corpos submetidos às leis de evolução de que ele é o agente essencial, completarão os diferentes ciclos das suas metamorfoses até a sua transformação final em espírito, luz ou fogo. Enquanto fogo durar, a matéria não cessará de prosseguir a sua penosa ascensão para a integral pureza, passando da forma compacta e sólida (terra) à forma líquida (água), depois ao estado gasoso (ar) e ao estado radiante (fogo).” (Fulcanelli)

FOGO

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Capela bruder Klaus

Alemanha Arquiteto: Peter Zumthor

Localização: Mechernich, Alemanha Projeto Ano: 2007 Fotografias: Samuel Ludwig , Thomas Mayer Referências: Peter Zumthor

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Agricultores da regiĂŁo se uniram para construir o projeto, em homenagem ao seu santo padroeiro, Klaus Bruder do sĂŠculo 15. A estrada para a entrada da capela leva o visitante por um longo e contemplativo caminho de brita. De longe, parece tomar o lugar de uma torre de relĂłgio, sozinho na encosta calmamente assistindo a terra.

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Sutilmente o concreto com sua cor de terra se funde com os campos circundantes e completam a paisagem , sem feri-la.


O método de construção da capela é o mais fascinante, primeiramente foi montada uma tenda com 112 troncos de arvores, terminada a estrutura, o concreto foi vertido em 24 camadas, formando as paredes de 50 cm de espessura. Após a secagem a estrutura de madeira foi incendiada, deixando uma cavidade oca, de paredes carbonizadas.

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Os elementos de luz, água e fogo se tornam fisicamente perceptível no interior meditativo da capela. A natureza se encontra notória no cheiro da madeira queimada, na água, no solo e na luz, onde se parece estar no infinito.

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Cerca de 300 meio-esferas de vidro são embutidos nas paredes. Através dos tubos a luz penetra no interior da capela e cria uma atmosfera única.

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A água da chuva entra pelo óculo formando uma poça d’água, trazendo a Essência Divina para o interior.

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universo contido


A laje do chão é coberta com chumbo derretido, criando uma textura áspera e fria ao toque.

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Lembrando monólito encontrado em antigos lugares A laje doum chão é coberta com chumbo derretido, de culto, a forma capelaemostra criando umaexterior texturadaáspera fria aosolidez toque.e força. A porta é feita de chumbo pesado, ainda que seja relativamente fácil de abrir e fechar.

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Planta A figura de cinco pontas representa os seres humanos, de acordo com as culturas exotÊricas. O ponto mais alto simboliza a cabeça, os pontos esquerdo e direito simbolizam os braços e os pontos mais baixos simbolizam as pernas.

Corte transversal

Corte longitudinal

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Ribeir達o Preto

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cemitĂŠrios 82


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CemitĂŠrio da Saudade


História Cemitério da Saudade

Serviços: Dados Técnicos:

O Cemitério da Saudade está localizado no Bairro mais populoso de Ribeirão Preto: Campos Elíseos, no quadrilátero formado pela avenida da Saudade e ruas Flavio Uchoa, Luiz Barreto e Fernão Salles. Nas quatro entradas estão localizados guaritas e banheiros públicos, sendo que na entrada principal – pela Avenida da Saudade – fica a área administrativa. No interior do cemitério tem uma Capela e um Cruzeiro com local próprio para queimar velas.

Serviços: Sepultamento Exumação Inumação Construção Limpeza, manutenção e segurança

Dados Técnicos: Inaugurado no dia 30 de setembro de 1.893 Área de 100.000 m² 7.500 jazigos (sem área para novas concessões) 2.622 gavetas ossuárias (muro) 126.868 pessoas sepultadas até 22/10/2012.

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As imagens mostram os velórios existente no entorno do cemitério

VELÓRIO DA SAUDADE

VELÓRIO DA SAUDADE

Acesso principal VELÓRIO SAMARITANO

VELÓRIO NOVO MUNDO

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A simbologia tumular aponta um elemento metafĂłrico visĂ­vel em lugar de algo invisĂ­vel, que tanto pode ser um objeto, como um conceito ou ideia.


Afim de perpetuar a vida, a simbologia tumular estรก presente, carregada de dinamismo, conformando o ser vivente.

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CemitĂŠrio Bom Pastor


História Cemitério Bom Pastor Em novembro de 1972, a CODERP recebe a incumbência de projetar construir e administrar um espaço para atender as necessidades de Ribeirão Preto, pois o cemitério da Saudade já não as comportava.

Dados Técnicos:

Totalmente elaborado pela equipe técnica da Coderp, o projeto foi confeccionado em 1973 após visitas a diversos cemitérios jardins do Estado de São Paulo, entre eles o Morumby, Gethsemoni, Alvorada, e os das cidades de Campinas e Piracicaba. Em junho de 1974, o cemitério Bom Pastor encontravase á disposição da população, com uma área de 6 alqueires, cerca de 14 mil jazidos, 4 gavetas e lugar para 4 mil indigentes. Todo ajardinado, já não permitia nenhuma edificação sobre os túmulos.

Localização Localizado na região leste da cidade, Avenida das Lágrimas, no Jardim Zara. O Cemitério Bom Pastor fica próximo a Rodovia Anhanguera, aproximadamente cinco quilometros do marco zero da cidade.

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FUNERÁRIA CAMPOS ELÍSEOS

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A imagem mostra uma funerária com velório existente ao lado do cemitério.


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A vida ĂŠ eternizada com objetos pessoais.

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LEMBRANÇA E ESQUECIMENTO

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Memorial Parque dos Girass贸is


Historia Memorial Parque do Girassóis

Dados Técnicos:

No Memorial Parque dos Girassóis o conceito de cemitério-parque ganha uma nova dimensão. O projeto tem 242 mil m², localizados em uma área total de 600 mil m² na zona sul da cidade. No entorno da área destinada aos jazigos será implantado um extenso cinturão verde formado por árvores nativas. O cenário se completa com um gramado repleto de árvores, jardins e uma área de reserva ambiental. Um projeto arrojado e desenvolvido para oferecer o máximo de aconchego e comodidade em todos os momentos.

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242 mil m² de área total na zona sul Grande reserva ambiental Seis salas de velório Cafeteria Sala de estar Estacionamento com 300 vagas Capela Ecumênica

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MEMORIAL PARQUE DOS GIRASSテ的S

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área

intervenção

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DIRETRIZES VIÁRIAS: HIERARQUIA VIÁRIA FUNCIONAL

Área escolhida para o projeto

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Fazenda Experimental

A ESTAÇÃO DA FAZENDA EXPERIMENTAL de Ribeirão Preto, é uma estação do INSTITUTO AGRONOMICO de Campinas ( IAC), que faz parte da SECRETARIA DA AGRICULTURA E ABASTECIMENTO do GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Sendo que, de acordo com o PLANO DIRETOR da cidade de Ribeirão Preto, consta que, 50% de sua área (no mapa escolhida aleatoriamente) está destinada a área de Interesse social, de acordo com o mapa de áreas especiais.

Detalhe do mapa de áreas especiais da cidade de Ribeirão Preto

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Topografia demonstra baixo risco ambiental

A área escolhida favorece a implantação do cemitério no sistema modular acompanhando a topografia natural do terreno, este também com um desnível favorável quanto a questões ambientais para implantações de cemitérios no meio urbano.

Cota altimétrica de 570 m

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PROJETO

A localização da área escolhida para o desenvolvimento do projeto beneficia a implantação do cemitério, por apresentar além de uma topografia favorável, se encontra distante dos cemitérios já existentes na cidade de Ribeirão Preto.

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Fotos tiradas no local da intervenção – Fazenda Experimental 105


FAZENDA EXPERIMENTAL

ÁREA DE INTERVENÇÃO

Elementos naturais

Equipamentos urbanos

Declividade

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“Todos os caminhos levam à morte. Perca-se.” Jorge Luis Borges

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O CONCEITO

Infinito "Há um ponto em que todas as contradições harmonizam-se no seio do mistério da existência; onde o movimento não é totalmente movimento nem a quietude totalmente quietude; onde a idéia e a forma, o interior e o exterior, unem-se; onde o infinito se torna finito sem perder, apesar disso, sua infinitude. Se essa união for desfeita, então as coisas se tornam irreais. Quando vejo uma pétala de rosa com o microscópio, eu a vejo em um espaço mais dilatado do que ela realmente ocupa. A medida que aumento mais o espaço, a pétala se torna mais vaga, porque, no infinito puro, ela não é nem pétala de rosa nem qualquer outra coisa. Ela só se transforma em pétala de rosa quando o infinito se liga com o finito em um ponto dado. Quando nos afastamos desse ponto, para o pequeno ou para o grande, a pétala começa a perder sua realidade". (Rabindranath Tagore, A personalidade. In: Meditações, p. 82)

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PRIMEIROS ESTUDOS A mata nativa faz parte do complexo como um espaço para reflexão e paz. Os túmulos serão dispostos de uma forma qua não prejudique a idéia inicial do projeto, a desmaterialização.

A morte estará presente, mas a vida se mostra mesmo depois da morte...

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PRIMEIROS ESTUDOS A mata nativa faz parte do complexo como um espaço para reflexão e paz.

A área escolhida favorece a implantação de complexo mortuário no sistema linear acompanhando a topografia natural do terreno, este também com um desnível favorável quanto a questões ambientais para implantações de cemitérios no meio urbano.

Os túmulos serão dispostos de uma forma qua não prejudique a idéia inicial do projeto, a desmaterialização.

A morte estará presente, mas a vida se mostra mesmo depois da morte...

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111 Jazigos

Ossรกrio

Velรกrio

Velรณrio

Capelas

Demarcadores de passagens

PARTIDO


PROGRESSÃO GEOMÉTRICA 112


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O PROJETO

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A princípio o projeto se define através de um simbolismo existente nos cemitérios estudados, muito mais que matéria, o incorpóreo e o efêmero tornam-se visíveis. A idéia principal é trabalhar com o sistema modular com lajes de concreto, facilitando a adequação da edificação ao relevo. Estes módulos de piso possuem medidas idênticas, percorrem o parque transformando-se em caminhos e passagens ocupadas ou não por jazigos, velário, ossário ou mesmo uma capela; estes elementos não encontram-se presentes no início do projeto, vão se adicionando conforme a necessidade de ampliação do mesmo, criando assim trilhas que se desmaterializam durante o percurso. Estes módulos de concreto servem de base para módulos ortogonais em estrutura metálica na cor branca de dimensões que desenvolvem em progressão geométrica, estas estruturas receberão o programa descrito: 0,75 m – velário 1,50 m – ossário 3,00 m – jazigos 6,00 m - modulação velórios 12,00 m - demarcação de passagens 24,00 m – demarcação de capelas

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Durante o percurso no eixo principal encontramos um caminho de velas que se estende iluminando e aquecendo os dois lados da passagem. Em quatro pontos do caminho estão as capelas representando os elementos da natureza: Água, Pedra, Ar, Fogo. Os velórios tambem fazem parte da natureza existente, os caixões estão localizados em salas individuais envidraçadas, dando ao visitante a sensação de que a natureza faz parte do ritual funerário. Um encontro único entre um ambiente arquitetônico e um ambiente natural que se fundem nas lembranças e no esquecimento, uma alteração do espaço finito que se revela infinito. Vistos ao longe os módulos metálicos rígidos se apresentam com uma fluidez que salta e se dissolve em meio ao verde, produzindo uma dinâmica de densidades que evidenciam visões inesperadas e serenas em meio a paisagem. Um encontro único entre um ambiente arquitetônico e um ambiente natural que se fundem nas lembranças e no esquecimento, uma alteração do espaço finito que se revela infinito.


PROGRAMA Cemitério -

jazigos espaço ecumênico acesso público acesso carro fúnebre estacionamento

Velório -

lanchonete copa funcionários depósito banheiro funcionário banheiro público sala de primeiros socorros sala de espera comum sala de vigília administração recepção acesso público acesso carro fúnebre

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Mármore Branco usado nas sepulturas Módulo com sepulturas

Os módulos metálicos dos jazigos possuem dimensões de: L=3,00m x A=3,00x P=3,00m, cada um deles acomodam 6 sepulturas com dimensões de: L=1,20m x A=0,70m x P=2,80m, estas possuem espaço suficiente para caixões com medidas padrão e medidas especiais, serão construídas em mármore branco. Os caixões serão colocados dentro de um recipiente de "Polímero Reforçado com Fibra de Vidro”(material altamente impermeável), eliminando a possibilidade de contaminação por necrochorume inerente à corpos mortos.

JAZIGO E CAIXÕES 117

Exemplo de caixão colocado dentro do recipiente impermeável


Exemplos de tubos estruturais em aço Ossário

Os módulos metálicos dos ossários possuem dimensões de: L=1,50m x A=1,50x P=1,50m, cada um deles acomodam 6 gavetas com dimensões de: L=0,60m x A=0,40m x P=1,30m, estas possuem espaço suficiente para uma ou mais urnas de cinzas ou ossada. Os módulos dos velários possuem dimensões de: L=o,75m x A=0,75m x P=0,75m, estes com suportes de aço nas laterais e findo em pedra para colocação de velas.

Velário

Todos os módulos metálicos serão fabricados em tubo estrutural em aço, com bitola de 0,20mx0,20m e pintados na cor branca.

Módulos estruturais em aço

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Exemplo de laje maçiça convencional

O piso é composto por módulos com dimensões de lados iguais: 12m x12m com altura de 0,20m. Podem ser dispostos lado a lado formando caminhos ou áreas maiores.

Colocação de piso em forma linear

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Capela da Ă gua

Capela do Ar

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Capela da Pedra

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Capela do Fogo


CRESCIMENTO A ocupação da área é definida por meio de módulos, formando um traçado ortogonal à espera de crescimento.

Ocupação ortogonal 122


FLUXOS e LOCALIZAÇÃO Acesso

Capela do Fogo Capela da pedra

Percurso principal

TERRA Acesso

Capela da Água

Capela do Ar

Velórios

AR

Detalhe da área do projeto

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Acesso

Acima do percurso principal, os módulos e capelas tocam o solo, representando a matéria. Abaixo deste percurso, está representado o ar, o imaterial, os módulos ora tocam o solo, ora se elevam dando lugar a passagens cobertas e mirantes.


Mirantes

TERRA

AR

Mirantes

TERRA

AR 124


uma din창mica de densidades 125


evidenciam vis천es inesperadas 126


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Vista 3

Vista 2

Vista 1

Vista 4

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VELĂ“RIO


Vista 1

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Vista 2 131


Vista 3 132


Vista 4 133


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A CIDADE DOS MORTOS

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