Consciência Negra, com retratos da servidão afetiva/sexual e material dos homens e mulheres negras.
Há quem diga que, “... Negros só conseguirão a libertação da opressão a partir do conhecimento, da valorização da sua cultura e de seus pares...”
20 de Novembro comemora-se, o dia da Consciência Negra em muitos países, para marcar, enfatizar e incentivar as lutas do povo negro, africano, afrodescendente em relação a descriminação racial, oportunidades iguais e também do privilegio branco pelo qual se vive. Em Moçambique estas questões não são discutidas de forma aberta e muito menos fala-se deste dia, porém, estes são desafios do dia a dia, numa tendência forte de camuflagem da discussão, com subterfúgios, fingimento dos aspetos de gênero e raça. Aqui, finge-se estar tudo bem e daí o sucesso do branqueamento no qual vemos os homens e mulheres negras/os entender e pensar que ter uma pessoa branca ao seu lado é estar socialmente em ascensão, sem ter em conta os valores, princípios e personalidade, e ser aceite em certos meios que trarão oportunidades “a famosa portas abertas” e passaporte para os espaços Schengen. Escuta-se palavras como, “Minha Enverga- Envergadura” esta palavra, no dicionário online tem sinônimo de Pujança, Competência, Capacidade, pode-se encontrar exemplos desse significado como esta frase de Antônio de Oliveira Salazar “... Nós continuamos aferrados à ideia de que somos pequenos, flanamos em pequeno. Há que fazer tudo em grande. Mas, somos para ai uns pobres e parecemos não ter envergadura para isso...” i E por isso precisamos estar submissos a quem tem esse poder. Ao meu ver esta forma de exaltação coloca sempre a pessoa branca num lugar de poder e que dá muitas vezes o negro moçambicano o lugar de submissão em vários aspectos. Mas que, aqui gostaria de marcar a forma como os relacionamentos amorosos, amizades são construídos, com base na necessidade de ascensão social, econômica, afirmação, pseud. autoestima, muitas vezes sob forte omissão à mulher negra.
Vivo num circuito social, cultural em que essa exaltação incomoda-me, a outros manos e manas que têm a visão de ascensão por mérito da afirmação, resistência a curva-se ao neocolonialismo e necessidade de que sejamos vistos como pessoas capazes de construir suas oportunidades, fortificar seus núcleos e suas economias sem precisar de ofertas com contrapartidas sexuais e afetivas que enfraquecem nosso círculo de manutenção étnica. Por isso ao trazer esta abordagem deveras escondida sobre o amor negro, inter-racial no meu circuito cultural e social, gostaria que os manos e manas neste dia e mês da consciência negra fizessem uma introspeção e refletissem sobre o que lhes move nas relações inter-raciais, Inter étnicas, e espero que isso não remeta à um pensamento que a autora está a ser radical e que não é a favor disso ou daquilo, por isso adianto a dizer que sou pro o amor entre as pessoas independentemente de sua etnia, estatuto, posição, origem. Sinto que há uma tendência contraria, somos educados a ter uma preferência pelo europeu, pelo estrangeiro, inclinação baseada no poder econômico, e não no simples gostar de escolhas livres. Contudo, repito que, me incomoda ver, ouvir que os africanos se sentem ou se elevam quando estão vinculados à pessoas de culturas europeias, me desgasta ver e ouvir que são tidos/tas e auto-colocados a dispor da hipersexualização, disponíveis pela necessidade imediata, tidos como objetos de servidão sexual afectiva. Neste dia de consciência negro quero dizer que, à nós mulheres negras africanas, falo no coletivo porque este texto é reflexo de conversas com outras mulheres etnoculturalmente idênticas, com bastante cunho para etnocentrismo racial dos africanos que conhecem ou desconhecem o seu valor. Seja consciente da sua africanidade, do seu valor, seja digno da sua família e comunidade.
20.11.2018, MD
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