Revista Brasil Marista - Edição 6

Page 1

EDIÇÃO 06 • FEV/2013

Direitos das crianças Norberto Liwski

Tecnologias emergentes José Manuel Moran

Espaçotempos e horizontes na educação de infâncias e juventudes

Contribuições da neurociência Miguel Nicolelis

Acenos da ciência, política e espiritualidade Frei betto

Cultura como princípio educativo

Edição Internacional do 4º Congresso Marista de Educação permite o diálogo e propõe políticas e práticas para promover o direito à educação de qualidade

E ainda:

Ariano Suassuna

Painel de Experiências Internacionais em Educação Fóruns Temáticos Seminários Temáticos Fóruns de Experiência Momentos de Espiritualidade Programação Cultural Com participação de Leonardo Boff, Ana Maria Machado, Marina Silva, brasil marista | 1 Marcelo Gleiser, entre outros grandes nomes


2 | brasil marista


brasil marista | 3


Í NDICE

EDITORIAL ..................................................................................................................................... 6 Nossa cara, nosso coração ......................................................................................... 7 A identidade visual do 4º Congresso Marista de Educação – Edição Internacional

Debates e contribuições para a educação . ....................................................... 8 Evento discute os desafios e as oportunidades da educação na atualidade

GRANDES CONFERÊNCIAS Ciência e protagonismo do educando ............................................................... 10 Educação das Infâncias e Juventudes – Contribuições da Neurociência, com Miguel Nicolelis

O protagonismo como elemento de mudança na garantia dos direitos das crianças e dos jovens . ........................... 14 Direitos da Criança e Educação, com Norberto Liwski

Não ao consumismo; sim à espiritualidade .................................................... 17 Acenos das Ciência, Política e Espiritualidade para a Educação na Contemporaneidade, com Frei Betto

Os desafios das nações para uma educação de qualidade ................ 20 Painel de Experiências Internacionais em Educação

A integração entre ambientes físicos e digitais na escola ............... 23 Tecnologias Emergentes e Educação: Concepções e Impactos, com José Manuel Moran

Os caminhos para a valorização da cultura na educação . ............. 26 Cultura como Princípio Educativo, com Ariano Suassuna

fóruns temáticoS O currículo como ferramenta para redemocratização da escola ....................................................................... 29 Currículo, Escola e Sociedade

A busca pela excelência educacional ................................................................. 32 Gestão em Educação

A infância na centralidade das políticas de educação ...................... 35 Políticas Públicas, Direitos e Educação

A mística do cuidado e o desenvolvimento das pessoas . .................... 38 Espiritualidade e Educação

4 | brasil marista


SEMINÁRIOS temáticoS Ciência e fé a serviço da evolução ........................................................................ 41 O espaço, o letramento e a infância: um diálogo possível . ............... 43 O desafio do estímulo à leitura . ............................................................................ 45 A busca pela formação plena dos jovens ......................................................... 47 Leitura, emoção e memória: ingredientes para um bom aprendizado . .......................................................................................... 49 Educação Plural ................................................................................................................. 51 A tênue relação entre família e escola . ........................................................... 54 Educar para a sustentabilidade ............................................................................. 56

fóruns DE EXPERIÊNCIA Grupo Marista ....................................................................................................................... 58 Província Marista Brasil Centro-Norte . .......................................................... 60 Província Marista do Rio Grande do Sul ......................................................... 62 Instituições Convidadas .............................................................................................. 64

A dimensão da espiritualidade no contexto educacional ............... 66 A representação da arte e da cultura ............................................................... 68 Carta Aberta: sistematização de reivindicações e olhares .............. 70 Uma grande vitrine – Espaço dos expositores .............................................. 72 Repercussão positiva ....................................................................................................... 76 EXPEDIENTE . ............................................................................................................................... 78

brasil marista | 5


E DIT O RIAL

Ir. José de Assis Elias de Brito Coordenador geral do 4º Congresso Marista de Educação – Edição Internacional e coordenador da Área de Missão da UMBRASIL Caro leitor, É com grande satisfação que a União Marista do Brasil (UMBRASIL) dirige-se a você neste tempo de pós-congresso, no desejo de possibilitar que seu coração e sua mente revivam as experiências e os sentimentos compartilhados durante a edição internacional do 4ª Congresso Marista de Educação em 2012. Com o tema Espaçotempos e horizontes na educação de infâncias e juventudes, o nosso congresso teve por objetivo “possibilitar aos educadores e gestores educacionais o diálogo, bem como a apropriação de conceitos sobre a educação das infâncias e das juventudes na contemporaneidade”, a fim de propor políticas e práticas que promovam o direito à educação de qualidade, o respeito mútuo às diferentes culturas e tradições fundamentadas na dignidade humana e igualdade de direitos. Em sua realização contamos com a participação de 2.500 pessoas: educadores, gestores de educação, estudantes universitários, membros de entidades representativas e parceiros de outros sistemas e diversas redes de ensino públicas e particulares interessados em discutir a educação na contemporaneidade. Com esta edição celebrativa, fazemos a chegar a você que participou do nosso congresso e também a muitos que, por diversos motivos, não puderam fazer-se fisicamente presentes, uma efeméride dos temas discorridos em nossa programação por meio das grandes conferências, painel de experiências internacionais, fóruns temáticos e de experiências e, ainda, seminários temáticos. Atentos às vozes e aos direitos das crianças, adolescentes e jovens, esperamos que a leitura destes artigos favoreça a nossa atenção aos sinais e mudanças dos tempos, de modo que consigamos responder adequada e generosamente ‘‘às demandas necessárias à formação de bons cristãos e virtuosos cidadãos’’, como o desejou São Marcelino Champagnat, nosso pai fundador. Nossa gratidão a todos que contribuíram na realização desse congresso e que Champagnat e a Boa Mãe nos animem sempre e favoreçam a nossa unidade pela missão de educar na defesa, promoção e garantia dos diretos das infâncias, adolescências e juventudes. Boa leitura! 6 | brasil marista


IDE NTI DADE V IS U AL

Nossa cara, nosso coração A identidade visual para o 4º Congresso Marista de Educação – Edição Internacional foi criada pela agência Caselato Comunicação, sob a orientação da Coordenação de Comunicação e Marketing da UMBRASIL e a partir da avaliação e da contribuição dos setores de Comunicação e Marketing das Províncias Maristas. A proposta foi baseada em um conjunto de elementos e cores relacionados à educação e ao universo marista e teve, como referência, a identidade visual do Projeto Educativo do Brasil Marista, produção coletiva político-pedagógicopastoral cujo propósito é dar unidade ao processo educativo das escolas maristas, com respeito às experiências, trajetórias e diversidades. O boneco serve de referência ao estudante marista de forma lúdica, revelando também um corpo múltiplo e integrado, de vários em um só, ressaltado pelas cores. Os traços que saem do corpo estilizado remetem à ideia de movimento, dinamismo e abertura, próprios da educação. Partem do coração, expressando graficamente que estão relacionados à dimensão da emoção, que se liga à razão como aporte da sensibilidade marista no processo educativo, destacando o caráter missionário do carisma marista: “Para bem educar é necessário amar”, já dizia Marcelino Champagnat, fundador do Instituto. Para o lettering foi escolhida a família de fontes Ubuntu, garantindo a unidade entre as diferentes peças de comunicação. A tipologia apresenta características relacionadas à logomarca, tais como suavidade, sobriedade e modernidade. Suas formas curvilíneas fazem referência direta às formas da logo. Essa definição de elementos criou uma marca orgânica, que será adaptada a cada nova edição do Congresso, promovendo ligação e continuidade entre os eventos. brasil marista | 7


AB E RT URA

educação

Debates e contribuições para a

Durante quatro dias, os participantes do 4º Congresso Marista de Educação estiveram ligados a um objetivo comum: promover o debate sobre os desafios e as oportunidades da educação na atualidade.

8 | brasil marista

A edição internacional do 4º Congresso Marista de Educação, promovido pela União Marista do Brasil (UMBRASIL), foi realizada de 17 a 20 de julho de 2012, no Palácio de Convenções do Anhembi, em São Paulo, com a presença de duas mil e quinhentas pessoas, entre educadores e gestores educacionais dos sistemas público e privado de ensino, estudantes universitários, representantes maristas de todo País e do exterior, e entidades ligadas à educação. Mais de 50 renomados palestrantes nacionais e internacionais, entre os quais: a escritora Ana Maria Machado; o poeta Ariano Suassuna; o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad; o teólogo Frei Betto, o doutor em teologia Leonardo Boff, a

ex-ministra Marina Silva, e o neurocientista Miguel Nicolelis, falaram aos congressistas. Por meio de conferências, seminários, fóruns temáticos e de experiência, o Congresso deu voz para representantes de diversos segmentos da sociedade: educadores, gestores públicos, representantes católicos, escritores, filósofos, cientistas, pesquisadores e educandos. O tema do evento foi Espaçotempos e Horizontes na Educação de Infâncias e Juventudes. O objetivo do encontro foi debater a escola como um espaçotempo de educação, de formação de sujeitos pautados por valores cristãos, de produção e circulação de culturas, de elaboração e reelaboração de saberes, de protagonismo. Enfim, os parti-


cipantes estiveram ligados, durante quatro dias, a um objetivo comum: promover o debate sobre os desafios e as oportunidades da educação na atualidade. “A construção metodológica do Congresso, desenvolvida para atender os mais diversos interesses de gestores e educadores, bem como a escolha criteriosa de temas e de conferencistas de renome nacional e internacional foram fatores determinantes para o sucesso do 4º Congresso”, comemorou Mércia Maria Silva Procópio, assessora da Área de Missão da UMBRASIL e coordenadora técnico-científica do 4º Congresso Marista de Educação – Edição Internacional. Durante o encontro, foram colocadas em pauta questões fundamentais, como o direito das crianças a uma formação de qualidade, em especial nos seus primeiros anos de vida; os desafios da educação diante das novas tecnologias; a necessidade de que sejam respeitados os direitos das crianças e jovens como protagonistas no processo educacional; as dificuldades e carências encontradas em torno da questão da formação do professor; os desafios da elaboração de um currículo e um modelo de avaliação ajustados às realidades dos educandos; a problemática da evasão escolar, especialmente no Ensino Médio; entre muitos outros temas. Com o objetivo de envolver o maior número de espectadores, durante os quatro dias, os debates tiveram transmissão online simultânea. Para Isabel Cristina Michelan de Azevedo, da ABEC/ UCE (Associação Brasileira de Educação e Cultura/ União Catarinense de Educação), diretora educacional do Grupo Marista e membro da Comissão Organizadora do evento, “a programação qualificada do 4º Congresso Marista de Educação permitiu aos participantes acompanhar as principais discussões presentes na sociedade brasileira nos últimos tempos”. Segundo Isabel, as atividades evidenciaram que a educação é uma área complexa, multifacetada e rica em oportunidades, e, por isso, é tão importante reunir pessoas interessadas em estabelecer um diálogo aberto e profundo que favoreça pensar e repensar o cotidiano das escolas. Já a coordenadora da Câmara de Educação da ANEC (Associação Nacional de Educação Católica do Brasil), Janaína Paim, entidade apoiadora do Congresso, ressaltou a importância do encontro como uma oportunidade ímpar para imprimir avanços à educação católica no País. “Adiamos nosso Congresso para trazer pessoas para esse evento, que apoiamos integralmente. Um evento que está fortalecendo a educação católica no Brasil”, salientou.

Ir. Valdícer Civa Fachi

Secretário executivo da UMBRASIL

Encontro de seres e saberes O Instituto dos Irmãos Maristas reúne atualmente 50 mil pessoas, espalhadas por 79 países, entre eles o Brasil, que atendem 500 mil crianças e jovens. Em território brasileiro, o trabalho é realizado em 24 estados e no Distrito Federal. São 103 cidades brasileiras, mais de 30 mil irmãos e leigos dedicados que trabalham pela educação solidariedade, saúde e comunicação. Essas frentes beneficiam, em nosso País, cerca de 350 mil pessoas. São 86 colégios, 51 unidades sociais, três veículos de comunicação, três editoras, quatro instituições de ensino superior e sete hospitais. O Congresso, que está em sua quarta edição, faz parte desses esforços, que são permeados por valores humanos e cristãos. Para Irmão Valdícer Civa Fachi, secretário-executivo da UMBRASIL, “o Congresso foi um encontro de seres e saberes que se conectaram em torno da reflexão de uma educação contemporânea”. Alinhado a essa perspectiva, Irmão Délcio Balestrin, presidente da Editora FTD, parceira na realização do evento, e membro da diretoria da UMBRASIL, salientou que “o 4º Congresso Marista de Educação representou um momento celebrativo de profunda reflexão e relevância para a educação marista”. Ele também destacou a qualidade dos conferencistas, o grande número de participantes e a dedicação da equipe organizadora. Ressaltou, por fim, a importância dos apoiadores para o sucesso do evento, e comemorou: “Realizamos um evento internacional, com a participação de ilustres e renomados conferencistas, que reforçam, além da diversidade cultural, a credibilidade e a qualidade da educação marista no mundo”. brasil marista | 9


g ra ndes confe r ê nc i a s

Educação das Infâncias e das juventudes: Contribuições da Neurociência

“Temos de dar voz às nossas crianças. Temos de ouvi-las. Criar um ambiente de liberdade em que elas se sintam seguras para se expressar, sem medo do professor e da prova.“

Miguel Ângelo Nicolellis 10 | brasil marista

Ciência e prota A Conferência de abertura do 4º. Congresso Marista de Educação foi realizada por Miguel Ângelo Nicolelis, neurocientista brasileiro, reconhecido internacionalmente, e eleito um dos 20 maiores cientistas da atualidade pela revista Scientific American. Nicolelis possui graduação em Medicina pela Universidade de São Paulo e doutorado em Ciências (Fisiologia Geral) pela mesma instituição. Atualmente, é professor titular do Departamento de Neurobiologia e codiretor do Centro de Neuroengenharia da Duke University (EUA), consultor do Instituto Cérebro e Mente da Escola Politécnica Federal de Lausanne (Suíça) e diretor científico do Instituto Internacional de Neurociências de


Ir. Benê Oliveira, Miguel Ângelo Nicolelis e Rômulo França Severino

gonismo do educando Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS).

O palestrante compartilhou com a plateia sua experiência, em especial no Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS). A Associação Alberto Santos Dumont para Apoio à Pesquisa (AASDAP), uma Organização de Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), é responsável pela gestão do Instituto, captando e administrando recursos públicos e privados destinados a patrocinar

pesquisas científicas e projetos sociais no Brasil. A principal missão do trabalho ali realizado é promover o crescimento da pesquisa científica de ponta e, assim, contribuir para o desenvolvimento educacional, social e econômico do Rio Grande do Norte, em especial das cidades de Natal, Macaíba e circunvizinhanças. Em atividade desde 2005, o Instituto agrega pesquisa científica com uma missão social, usando a ciência como agente de transformação, brasil marista | 11


“É dever do educador encontrar Agentes decisivos um novo caminho, de modo que Além do Centro de Saúde, o trabalho do Instraga a felicidade para todos, tituto contempla uma ação com estudantes de escolas públicas. Quando o projeto foi estabeledesde quem ministra as aulas até cido como piloto, a região tinha o título de pior escolar do Brasil. “Queríamos provar as crianças que estão conosco. distrito que essas crianças podiam atingir seu potencial Temos de promover um ambiente de desenvolvimento intelectual”, afirmou NiFoi criado então, no turno oposto ao da rico em muitas experiências. colelis. escola pública convencional, para estudantes de Temos de reaprender a ensinar 11 a 17 anos, um espaço para aprender a fazer ciência. Tudo é realizado dentro da perspectiva para fazer isso.“ da inclusão social dos educandos. A proposta conteúdos de diferentes disciplinas Mônica Jandira de Macedo integra (Ciência e Tecnologia, Ciência e Arte, Robótica,

promovendo a produção e a disseminação do conhecimento, e tornando a educação científica qualificada acessível às crianças e aos jovens do ensino público da região. Todos os programas de pesquisa desenvolvidos no Instituto concentram-se, principalmente, no desenvolvimento e na educação da criança, mas com foco também na saúde da mulher gestante. “Os maiores investimentos públicos são aqueles feitos na primeira infância”, ressaltou o palestrante. “Para cada um real de investimento em um programa de educação infantil, economiza-se dez reais ao longo da vida do cidadão brasileiro”, reforçou. Um retorno de dez vezes sobre o investimento. Dentro da perspectiva apresentada por Nicolelis, o ensino começa no pré-natal das mães dos futuros estudantes. Segundo o cientista, se o pré-natal não for bem feito, poderá haver um comprometimento no potencial daquele ser humano, afinal, é nessa fase que o cérebro está sendo formado. Nesse sentido, o projeto conta com o Centro de Saúde Anita Garibaldi, um núcleo assistencial perinatal, de caráter multidisciplinar, voltado à gravidez de alto risco gestacional, com patologias que repercutam na saúde fetal, e às crianças portadoras de complicações neurológicas. O Centro está inserido no SUS (Sistema Único de Saúde) e destaca-se também, entre suas proposições, a de desempenhar o papel de Centro de Saúde Escola, onde são proporcionadas atividades acadêmicas e estágio curricular obrigatório aos estudantes do curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). 12 | brasil marista

História, Química, Biologia e Física), que não se apartam da vida dos estudantes, pois, segundo o palestrante, os projetos científicos precisam servir à cultura e à coletividade, favorecendo a diversidade de olhar a realidade e de melhor compreendê-la para transformá-la sempre em patamares mais humanos.

Dentro do escopo do trabalho do Instituto, há ainda um programa de educação continuada para os professores da rede pública. A ideia é disseminar nesses professores a consciência de que é possível aprender se divertindo. Afinal, o pesquisador acredita que as crianças são “agentes decisivos e participantes da própria educação”, e somente por meio da conscientização dos educandos pode-se estabelecer uma dinâmica educacional satisfatória. Segundo o olhar do conferencista, o objetivo é estimular nas crianças a “ousadia de Santos Dumont aliada ao humanismo de Paulo Freire”.

Novos tempos Nicolelis ressaltou que os cérebros de nossos filhos e netos não são como os nossos e que precisamos estar atentos a essa realidade. “O que funcionou para nós, não funciona mais”, observou. Para ele, “educar é fazer com que a criança atinja o ideal humano de felicidade”. Ele lembra que a escola tem de se adaptar aos estudantes de hoje, os chamados “nativos digitais”. Compartilhando da mesma percepção, Mônica Jandira de Macedo, educadora do Ensino Fundamental do


“As crianças são ‘agentes decisivos e participantes da própria educação’, e somente por meio da conscientização dos educandos pode-se estabelecer uma dinâmica educacional satisfatória.“ Miguel Ângelo Nicolellis Colégio Marista João Paulo II, em Brasília (DF), Província Marista do Rio Grande do Sul, afirmou: “É dever do educador encontrar um novo caminho, de modo que traga a felicidade para todos, desde quem ministra as aulas até as crianças que estão conosco. Temos de promover um ambiente rico em muitas experiências. Temos de reaprender a ensinar, para fazer isso”. O papel do educador foi ponto sublinhado em muitos momentos do 4º. Congresso Marista de Educação. Nicolelis, por exemplo, lembrou que “professor tem de ser um facilitador”. E reforçou: “Temos de ver e dar voz às nossas crianças. Temos de ouvi-las. Criar um ambiente de liberdade em que elas se sintam seguras para se expressar, sem medo do professor e da prova. Se você tem prazer em fazer alguma coisa, você vai e faz”. Fica claro, assim, que o diálogo entre a ciência e a educação é possível. Contudo, o papel do educador deve ser considerado. Afinal, não há tecnologia que substitua o professor, não há máquina que substitua o elemento humano. Segundo o palestrante, as crianças de hoje não conseguem estar por 50 minutos numa sala de aula dentro dos parâmetros convencionais, em que o professor fala, como autoridade máxima, e os educandos ouvem. “Hoje, elas querem ser agentes protagonistas”, explicou. Essa opinião é partilhada pela congressista Agda Oliveira, Coordenadora Pedagógica do Colégio Marista de Goiânia (GO), do Grupo Marista, que assistiu atenta às explanações do cientista. “Dentro da perspectiva de que o estudante deve ser protagonista, a neurociência é uma maneira de o educador se aproximar do educando, manter um diálogo, contribuindo para que ele descubra potencialidades, aumente sua autoestima, acre-

dite em si mesmo e, futuramente, possa ser um agente transformador da sociedade”, concluiu. No Brasil, de acordo com Nicolelis, temos uma média de 56% de evasão de estudantes na transição do Ensino Fundamental para o Ensino Médio. No Nordeste, esse número é maior, fica em torno de 80%. Entretanto, após a implantação do projeto, a região de abrangência do trabalho apresenta uma taxa de evasão de apenas 2%. “As crianças adquiriram a obsessão de continuar aprendendo pelo resto da vida. Entram na Universidade Federal sem cursinho”, comemorou. Ele espera que, no futuro, o IINN-ELS seja um catalisador para o desenvolvimento de iniciativas econômicas baseadas no conhecimento, que favoreçam um crescimento sustentável e ecologicamente equilibrado na região Nordeste do Brasil. Para Irmão Claudiano Tiecher, Diretor do Colégio Marista João Paulo II , Província Marista do Rio Grande do Sul, a palestra abordou um elemento essencial: “O despertar quanto à necessidade de se investir em pesquisa na área de educação. Como pudemos assistir, quando se investe em ações na área educacional se tem resultados. Os professores podem tentar desenvolver projetos, seja qual for o campo, para melhorar o seu dia a dia e trazer algo que realmente contribua para o desenvolvimento e formação dos educandos de uma forma diferenciada e eficaz.”

Miguel Ângelo Nicolelis brasil marista | 13


Gra ndes confe r ê nc i a s

Direitos da Criança e Educação

Norberto Liwski

O protagonismo como elemento de mudança na garantia dos direitos

das crianças e dos jovens

14 | brasil marista


É importante que as escolas trabalhem o fortalecimento da pedagogia participativa, que deve abrir espaço para que crianças e adolescentes se envolvam no processo educativo. Na sociedade contemporânea, muito se tem debatido sobre os direitos da criança no âmbito da educação. No Brasil, a criação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) foi um marco fundamental para que o País iniciasse uma nova era no sentido de garantir à população infantojuvenil uma vida mais digna e o direito a uma formação educacional de qualidade. O conteúdo do ECA serviu, inclusive, como fonte inspiradora para que outras nações latino-americanas avançassem também nessa área, visando assegurar o desenvolvimento integral e pleno de suas crianças e adolescentes. Trata-se, portanto, de um tema de grande importância e complexidade, que exige reflexão para se propor as mudanças necessárias e oferecer uma nova realidade para as crianças e os jovens. Para abordar o assunto, foi convidado um expoente nesta área, que apresentou dados atuais e analisou essa questão na região latino-americana. Com auditório lotado, Noberto Liwski, médico pediatra social, pesquisador associado na Universidade de Buenos Aires (Argentina), na cátedra Cultura para a Paz e Direitos Humanos, além de membro do Conselho Bureau International Catholique de I’Enfance – Bice, foi responsável pela condução da Grande Conferência sobre Direitos da Criança e Educação, realizada no segundo dia do Congresso. Durante sua apresentação, ele ressaltou que assegurar os direitos da criança e do jovem não significa garantir somente educação, mas também habitação, moradia, alimentação, saúde, lazer etc. “Os direitos são indivisíveis. Ou seja, temos de pensar na integralidade dessa questão. A escola não pode se eximir dessa reflexão”, comentou o conferencista.

Segundo ele, os educadores devem estimular o protagonismo dos jovens, criando oportunidades para que eles possam conhecer seus direitos e comecem a ser ouvidos em assuntos que os envolvam. “A Declaração Internacional dos Direitos da Criança e Adolescente da ONU (Organização das Nações Unidas), bem como o próprio ECA, no Brasil, possuem textos que reafirmam a importância do protagonismo juvenil, orientando para caminhos que podem ser trilhados nesta direção. As transformações do sistema educacional com base nesses princípios, certamente, trazem novas perspectivas para uma atuação mais comprometida das nações nesse campo. Mas de nada vale esse discurso se não forem colocadas em prática ações pedagógicas que contribuam para a garantia dos direitos“, complementou.

Pedagogia participativa Liwski ressaltou que as escolas devem trabalhar o fortalecimento da pedagogia participativa, focando os direitos humanos e abrindo espaço para que crianças e adolescentes se envolvam no processo educativo. Na visão do conferencista, o protagonismo é uma cultura que traz novos cenários de esperança para a educação. “Temos tido avanços, mas a prática desses princípios exige uma quebra de paradigmas, ou seja, mudanças nas áreas de psicologia, pedagogia e em outros campos, a fim de transformar estilos e formas de nos relacionarmos com as famílias, sociedade e escola”, acrescentou. Na opinião de Acádio João Heck, diretor-geral do Colégio Marista de Londrina (PR), Grupo Marista, que assistiu à palestra, com o protagonismo, iniciamos um caminho para uma nova dinâmica no contexto escolar. Entretanto, tratase de uma mudança cultural, tanto no âmbito da gestão escolar quanto das famílias. “Hoje, a educação na família tende a privar as crianças e jovens de qualquer tipo de frustração. Ou seja, tudo é permitido e não há limites. Quando isso acontece na escola, gestores e educadores não sabem como lidar com isso. Portanto, o desafio é como ter um protagonismo juvenil sem se criar uma ditadura em que a premissa é poupar os jovens de qualquer dificuldade. Precisamos brasil marista | 15


tomar cuidado com o protagonismo individualizado em que o educando não se preocupa com o coletivo e só visa benefícios para si próprio”, avaliou Heck. A congressista Jaqueline de Souza, professora de Educação Infantil do Colégio Marista de Palmas (TO), Província Marista Brasil Centro-Norte, acredita ser preponderante os educadores refletirem sobre essa questão, verificando o que pode ser aplicado no dia a dia em seu contexto de trabalho. “Sem dúvida, estamos caminhando para uma nova era em que a criança começa a ter uma participação mais ativa no âmbito escolar. Portanto, cabe aos educadores encabeçarem esse movimento em busca de mudanças. Devemos voltar nosso olhar para uma nova educação e abandonar a utopia das palavras, aplicando, de fato, esses princípios, que são a grande tendência na educação mundial”, lembrou a professora.

Educação x pobreza A relação entre educação e a pobreza na região latino-americana foi outro ponto abordado na palestra. De acordo com Liwski, em 2010, a Cepal (Comissão Econômica para América Latina e o Caribe da ONU), que tem como objetivo o estudo e a promoção de políticas para o desenvolvimento da região, já sinalizava um aumento dos jovens que não trabalham e não estudam na América Latina. Dados do ano passado apontam que, dos jovens entre 25 a 29 anos, apenas 8,3% concluíram o terceiro grau. Na comparação entre jovens ricos e pobres, para cada 27 jovens de melhor poder aquisitivo que terminam o 3º grau, apenas um jovem pobre consegue essa façanha. No sexo feminino, a situação é ainda mais complexa: enquanto 80% das mulheres latino-americanas de 15 a 29 anos, com maior renda participam do mercado de trabalho formal no continente, menos de 50% das jovens pobres conseguem estabelecer vínculos formais. “São indivíduos abandonados pelos Estados, que acabam vivendo à margem da sociedade e sendo vítimas de grupos inescrupulosos, que os levam para a vida do crime. Isso incita outra discussão a respeito da redução da maioridade penal. Ora, os Estados não oferecem a educação 16 | brasil marista

Ir. Benê Oliveira e Norberto Liwski

básica aos jovens e querem mudar a maioridade penal?”, questionou. Para o conferencista, sob essa ótica, os educadores também têm um papel insubstituível na transição dos novos tempos. “Não queremos substituir o educador e eleger a ditadura da criança, mas criar um novo espaço para nos relacionarmos, em que os campos de aprendizagem desenvolvam na criança todas as suas possibilidades”, destacou. O congressista Cristiano Prado Ribeiro, professor da Escola Marista de Maringá (PR), Grupo Marista, concorda com o conferencista. “Temos o dever de criar essa cultura, pois o protagonismo se torna cada dia mais relevante. Por exemplo, hoje não se pode mais trabalhar aulas padronizadas. O educador tem de se adequar à classe e à realidade dos alunos. Adequar-se à realidade é, de certa forma, reconhecer o protagonismo do educando”, explicou. Outra congressista, Maria Lúcia Almeida, diretora da Escola Marista Champagnat de Contagem (MG), Província Marista Brasil Centro-Norte, comentou que os educadores se apropriaram de um modelo de autoridade que precisa ser aprimorado. “Rever esse modelo para fortalecer uma educação com foco em direitos humanos, é fundamental”, expôs. Irmão Marcelo Allbrandt, da Pastoral do Colégio Marista de Ribeirão Preto (SP), Grupo Marista, lembrou que em muitas pastorais o protagonismo já é uma realidade. “Toda nossa ação procura evidenciar que o jovem tem algo a dizer. Colocar o jovem no papel de protagonista resgata o indivíduo”, declarou o congressista.


Gra ndes confe r ê nc i a s

Acenos da Ciência, Política e Espiritualidade para a Educação

Ricardo Tescarolo e Frei Betto

Não ao consumismo; sim à

espiritualidade Somente pela valorização da espiritualidade na educação podemos abrir os olhos das nossas crianças contra o modismo consumista de nosso tempo.

Frei Betto dispensa apresentações. Frade Dominicano, teólogo, filósofo, jornalista e escritor, é militante ativo de movimentos pastorais e sociais. Ocupou a função de assessor especial de Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República, entre 2003 e 2010, quando foi coordenador de Mobilização Social do Programa Fome Zero. Tem uma história político-pastoral intensa, é autor de dezenas de livros de sucesso e recebeu vários prêmios por sua atuação em prol dos direitos humanos e em defesa dos movimentos populares. brasil marista | 17


Já no início de sua palestra, que teve como tema Acenos da Ciência, Política e Espiritualidade para a Educação, o palestrante lançou uma frase impactante: “O sonho da garotada de hoje é mudar o professor de canal”. A razão de tal afirmação? Estamos diante de um jovem que é acostumado a escolher o que quer escutar e ver e, assim, não seria fácil entrar numa sala de aula, em que os parâmetros de ensino ainda são muito arcaicos. Com essas palavras, ele chamou os educadores presentes a uma reflexão sobre a época em que estamos vivendo. “Vivemos uma mudança de época”, ressaltou. Ele reforçou que estamos passando da modernidade para a chamada pós-modernidade, um momento de ruptura e desafios. E completou: “Só os artistas e os loucos conseguem ser contemporâneos a uma mudança de época”. Ele admitiu a importância da TV e da Internet na vida das crianças e dos jovens da contemporaneidade. “A família, a igreja e a escola querem formar cidadãos. Temos a TV como adversária e deveríamos tê-la como aliada”, pontuou. Acreditando no poder dos meios de comunicação como agentes transformadores, mas também na influência nefasta que podem ter sobre crianças e jovens, ele fez duras críticas à programação apresentada pela TV. Segundo Frei Betto, os meios de comunicação de massa “querem formar consumistas e não cidadãos”. Haveria, nessa perspectiva, a necessidade de disciplinarmos o acesso das crianças e dos jovens à TV e à Internet. Em tom de crítica, lembrou uma piada em que uma criança pergunta para o avô: “Vovô, hoje temos iPad, iPhone, o que vocês usavam?”. E o avô, sem titubear, responde: “o cérebro”. A criança, na visão do palestrante, é influenciada o dia todo por mecanismos que propagam que o cidadão só será feliz se consumir. Lembrou que estamos vivendo na sociedade do “consumo, logo existo”. Referindo-se ao Natal, ele salientou que o mercado se esquece da figura de Jesus Cristo e introduz a figura consumista do Papai Noel. Os anúncios da TV reforçam o tempo todo a visão equivocada de que uma pessoa é menos importante ou aceita socialmente porque não tem esse ou aquele carro; não usa uma determinada marca de roupa; ou não frequenta dado local. 18 | brasil marista

Motivando os educadores presentes a se contrapor a essa realidade, lembrando-os de que os professores e a família têm um papel fundamental na formação dos valores dos educandos, reforçou a importância de que promovam a valorização da espiritualidade e a religiosidade na sociedade. E, para tanto, propôs que os educadores, sejam professores ou pais, tornem-se agentes de transformação da realidade social por meio de atitudes concretas. Frei Betto frisou que “a criança grava o que fazemos e não o que falamos”. Para ele, o gesto ensina mais do que mil palavras. Alinhado ao pensamento do palestrante, Flávio Correia, diretor-adjunto da escola particular Padre Butinha, do Rio de Janeiro, afirmou: “A geração atual é extremamente consumista. Só vamos conseguir quebrar os paradigmas se mostrarmos para esses jovens como mudar e por que mudar. O professor tem papel fundamental nessa busca”. Ronaldo Campos Diogo, pastoralista do Centro Marista de Curitiba (PR), Grupo Marista, também compartilha do mesmo pensamento: “Não se tem protagonismo com pessoas individualistas e consumistas. A escola pode ajudar a desenvolver os projetos de vida de cada educando, reforçando a espiritualidade e o crescimento pessoal”, comentou ao final da palestra de Frei Betto.

Os números da desigualdade Reforçando que estamos nos distanciando de valores fundamentais à dignidade do cidadão, Frei Betto ainda apontou alguns números resultantes do caminho que estamos trilhando. O balanço de nossa época, segundo o palestrante, é que das cerca de sete bilhões de pessoas do mundo, quatro bilhões vivem abaixo da linha da pobreza, apesar dos avanços conquistados pela ciência. Frei Betto pontuou também que há hoje no mundo um bilhão de famintos crônicos e que cinco milhões de crianças, com menos de cinco anos, morrem ainda de doenças curáveis. “Houve avanços na ciência, mas esses avanços foram acompanhados de uma brutal desigualdade”, ressaltou. Na educação, tema dos debates do Congresso, o quadro não seria menos preocupante. Ele refor-


çou que, embora lutemos para chegar a 10% do PIB para a educação, atualmente, só dispomos de 5%, sendo que grande parte desse montante é usado em infraestrutura. “No Japão, 12% do PIB é voltado à educação. Professor lá é rei”, lembrou. Enquanto isso, ele salientou que, no Brasil, “nós queremos que nossos filhos tenham bons professores, mas não queremos que sejam bons professores”. Há uma visão equivocada da sociedade em relação à importância do professor como agente de transformação social. Para ele, a cultura traz discernimento crítico, e os educadores precisam levar essa perspectiva à educação das crianças e dos jovens. Mas, se o palestrante fez críticas ao consumismo propagado pelos meios de comunicação de massa, não menos contundentes foram suas observações em relação ao papel da Igreja diante das mudanças de nosso tempo, a chamada “pósmodernidade”. “A Igreja mal chegou a entrar na modernidade e nós já estamos na pós-modernidade”, salientou Frei Betto. Nesse sentido, tanto a escola quanto a Igreja estariam em desalinhamento com os novos tempos. Ele criticou, por exemplo, a divisão territorial estabelecida pela Igreja. “Hoje, a pessoa não têm noção de quem é seu vizinho de porta, e seu melhor amigo mora no Japão. Enquanto que a Igreja ainda organiza as

pessoas por paróquias, por território”, observa.

Política na escola Outro ponto ressaltado pelo conferencista foi a importância do diálogo ecumênico. Ele lembrou: “Deus não tem religião”. Para ele, os católicos ainda têm dificuldade de aproximação com os evangélicos por preconceitos. Nesse sentido, precisaríamos vencer competições entre as igrejas a partir do diálogo inter-religioso. “A espiritualidade deveria ser a base da religião, a abertura do coração ao outro e ao transcendente”, reforçou. Segundo o conferencista, somente pela valorização da espiritualidade na educação podemos nos precaver e abrir os olhos das nossas crianças e dos jovens contra o modismo consumista de nosso tempo. Por fim, pensando em política e na dissociação que algumas pessoas impõem entre a prática política e a religiosa, ele afirmou: “Tudo na nossa vida tem a ver com a política”. E foi incisivo: “Quem tem medo da política é governado por quem não tem”. Com essas palavras, ele convocou os educadores a levarem a política para as escolas, lembrando a bem-sucedida militância política dos movimentos pastorais e sociais da própria Igreja Católica. Frei Betto

brasil marista | 19


Gra ndes confe r ê nc i a s

Experiências Internacionais em Educação

Ceciliany Alves, Maria Figueiredo-Cowen, Jason Beech e Fernando Haddad

Os desafios das nações para uma

educação de qualidade 20 | brasil marista

Educar respeitando a formação humana, as individualidades e as realidades de cada região foi o convite deixado à plateia.


A troca de experiências sobre a realidade educacional de diferentes países foi um dos pontos fortes desse encontro entre Maria Figueiredo Cowen, grande conhecedora da educação universitária nos países ibero-americanos, PhD em Educação pela Universidade de Londres; Jason Beech, PhD em Educação pela Universidade de Londres e diretor da Faculdade de Educação da Universidade de San Andres, na Colômbia; e Fernando Haddad, ex-ministro da Educação do Brasil e candidato eleito à prefeitura de São Paulo pelo PT. Os palestrantes ressaltaram as mudanças pelas quais passa a nossa sociedade, lembrando que é nesse novo contexto que temos de nos movimentar e realizar os programas educacionais, sem deixar de lado as peculiaridades de cada nação. Educar diante de novos desafios, respeitando a formação humana, as individualidades e as realidades de cada região foi o convite realizado à plateia. Diante de um cenário de mudanças, os palestrantes propuseram que os educadores saiam da teoria para ações de sucesso que permitam aos educandos um aprendizado efetivo. Maria Figueiredo trouxe alguns resultados levantados no último PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), realizado em 2009, e que avaliou sistemas educacionais de cerca de 65 países. A prova, aplicada a cada três anos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), avalia o conhecimento de estudantes de 15 anos de idade em Matemática, Leitura e Ciências. Na última edição, o Brasil ficou na nada expressiva 54ª posição. A palestrante lembrou que em nações que tiveram excelente pontuação, como China e Finlândia, há razões concretas para que se tenha chegado a resultados satisfatórios. No caso da China, a boa classificação resultaria das formas educacionais implementadas naquele país: professores bem treinados e com melhores salários. Na Finlândia, as razões também passam pela qualificação do professor, que conta com excelente preparo acadêmico, motivação e status social. Surpreendentemente, não há, segundo ela, uma correlação direta entre investimentos em educação e bons resultados no exame. O exemplo demonstrado foi o dos Estados Unidos, que, embora tenham investimentos significativos em

educação, não tiveram resultados tão positivos no exame quanto a República Tcheca, que conta com apenas 1/3 dos investimentos por estudante feitos naquele país. Houve um certo tom de crítica a esse tipo de avaliação, que levaria a uma educação reducionista, focada na estrutura curricular. Tais exames podem induzir, na concepção dos palestrantes, a uma busca por resultados a qualquer preço. A preocupação levantada é: até que ponto esse tipo de avaliação, essa padronização, nos leva a uma efetiva educação de qualidade? Dentro da mesma perspectiva que Cowen, Jason Beech lembrou que as redes globais, como a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), definem o que é uma boa educação, mas não existe muito espaço para que essas ideias sejam contextualizadas. “Tem de haver maleabilidade. Temos de contextualizar o discurso global à lógica de cada território”, reforçou. O congressista Adriel Rizzo, educador do Grupo Marista, que atua no Centro Social Irmão Lourenço, em Itaquera, na Zona Leste da cidade de São Paulo, concorda com Beech. “O Brasil é um país muito amplo”. Segundo ele, na própria cidade de São Paulo já há diversidade regional. Falando sobre sua atuação na Zona Leste, ele ponderou: “Quando partimos para a Zona Leste, que é um território de migrantes nordestinos, de grupos marginalizados, nos deparamos com a questão do empobrecimento, diferenças de linguagem, de cultura etc.”, ponderou. Beech ainda enfatizou o papel dos professores nesse processo, ressaltando que os educadores devem conferir significado específico aos discursos globais, interpretando-os para dar sentido, coerência e sustentabilidade a suas práticas. Abordou também as mudanças rápidas do mundo que são impulsionadas pelos avanços tecnológicos e pontuou a necessidade de adaptação da educação a esse futuro. Mas fez críticas e demonstrou preocupação em relação ao fato de, muitas vezes, estarmos usando “as mudanças tecnológicas como motor das mudanças educativas”. E alertou: “A mudança tecnológica não é boa por si mesmo. Pode ser positiva ou não”. brasil marista | 21


A educação para formação de cidadãos Já o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, iniciou sua exposição lembrando que “o objetivo final da educação é a formação de indivíduos autônomos, com capacidade crítica”. Para tanto, na sua visão, é necessário que sejam oferecidas amplas condições para o desenvolvimento do educando, a fim de que ele possa se socializar e adquirir capacidade de se colocar frente à sociedade. “Essa tarefa é das mais complexas. Tratase de um processo social, e não da tarefa de um estabelecimento só. Envolve a sociedade e, especialmente, a família”, completou. Reforçou ainda a relevância da formação de quem está em contato direto com o educando. “A escolaridade e o desempenho dos estudantes estão ligados à escolaridade dos professores e das mães dos educandos”, alertou. Haddad também propôs que não existe diferença entre investir no Ensino Básico ou em qualquer outra etapa do processo educacional. “Você não segmenta a educação. Ou você faz com que a sociedade tenha uma imersão no processo educacional no seu conjunto, ou não consegue os efeitos imaginados”, ponderou. O conferencista lembrou que houve avanços nos investimentos brasileiros em educação, e disse que o Brasil, no século passado, investia 2,5% do PIB em educação. Hoje, são investidos 5%. Res-

Ceciliany Alves, Maria Figueiredo-Cowen, Jason Beech e Fernando Haddad 22 | brasil marista

saltou que demos passos positivos nos últimos anos no sentido de levar educação ao campo e a regiões remotas, e nos centros urbanos houve diminuição das distâncias entre as escolas, com a abertura de um maior número de estabelecimentos.

A eficácia dos testes de avaliação Um dos temas mais polêmicos da realidade educacional brasileira – os testes padronizados de avaliação de estudantes – também mereceu destaque. Segundo Haddad, a implantação dessa metodologia foi uma forma de trazer o aprendizado para o centro da atenção das escolas, pois os estabelecimentos de ensino estavam estagnados e sendo percebidos como espaços assistenciais e não de aprendizagem. “Isso estava ganhando muito corpo”, afirmou. Entretanto, Haddad reconhece que podemos formar uma pessoa com destreza em Matemática e Língua Portuguesa e que seja um péssimo cidadão. Nesse sentido, ele pontuou que, ainda que considere a importância dos testes, uma escola deve ir muito além dessas habilidades em matérias específicas. Para a congressista Simone Valéria da Cruz, diretora da Escola de Ensino Fundamental Municipal Oswaldo Pires, em Riversul (SP), os testes educacionais, como o Enem, são pertinentes. “Acredito que os testes são válidos, pois mostram para a comunidade a qualidade educacional da escola e para os gestores o que pode ser melhorado. Mas não devem ser a ferramenta principal para se medir a excelência educacional da instituição”, afirmou. Ao final de sua exposição, Haddad admitiu que temos ainda muito a avançar na América Latina em termos de educação. Mas ele acredita que já demos os primeiros passos e estamos, inclusive, mais próximos de outros países da região nessa luta. Para ele, o século XXI não vai ser nada parecido com o século XX: “Há um despertar muito marcante não só com o compromisso orçamentário, mas como compromisso com a educação. Não consigo ver a classe política brasileira voltando as costas para a educação como fez no século passado”, finalizou.


Gra ndes confe r ê nc i a s

Tecnologias Emergentes e Educação: Concepções e Impactos

A integração entre ambientes

físicos e digitais na escola

“O educador precisa ir ao encontro dos estudantes. Conhecer o que é importante para eles, desenvolvendo planos de aulas que façam sentido para os educandos e que estejam ligados a projetos de vida.” José Manuel Moran brasil marista | 23


Em tempos de Internet e tecnologias móveis, vivemos conectados o tempo todo. É impossível imaginarmos nossas vidas sem esses recursos que, de fato, facilitam as tarefas cotidianas, mas, ao mesmo tempo, vêm provocando mudanças profundas na forma como nos relacionamos e nos comunicamos com as pessoas e com o mundo. Essa nova era também chegou às escolas e tem sido um grande desafio para gestores, educadores, pais e estudantes, no sentido de transformar essas soluções nas melhores práticas pedagógicas. Para discutir os impactos das novas tecnologias em sala de aula, o 4º Congresso Marista de Educação contou com uma presença ilustre: Dr. José Manuel Moran, diretor de Educação a Distância da Universidade Anhanguera-Uniderp, doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo e professor aposentado de Novas Tecnologias na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Moran iniciou sua palestra explicando que os estudantes de hoje são os chamados nativos digitais, ou seja, nasceram em uma época em que a tecnologia já faz parte do dia a dia dos jovens desde a infância. O conferencista lembrou que o crescimento da Internet aconteceu no final da década de 1990. Nesse período, já se começava a pensar como seria a escola do futuro dentro dessa nova realidade que surgia. “O que percebemos é que muitas soluções, como os robôs, tablets, smartphones, iPhones etc., que vislumbrávamos naquela época como tendência, se consolidaram nos dias de hoje. Por outro lado, as escolas e universidades ainda enfrentam dificuldades para introduzir as novas tecnologias na prática educacional. O educador tem um desafio enorme, pois precisa, cada vez mais, se preparar para atuar dentro desse contexto complexo”, avaliou. Mas esse processo, segundo o conferencista, deve ocorrer devagar, a fim de se evitar impactos negativos no aprendizado escolar. “Não é possível simplesmente abandonar um modelo arraigado há anos para se adotar uma nova prática repentinamente. Apesar dos avanços, a escola ainda não tem condições de absorver esse novo modelo rapidamente”, enfatizou. 24 | brasil marista

Educação humanista Na visão do conferencista, em tempos de Internet, é necessário se desenvolver uma educação humanista inovadora, que contemple a utilização cada vez maior de tecnologias, mas sem nunca abandonar a figura do professor. “O ato de ensinar jamais será realizado por robôs. É um processo humano em que a finalidade é ajudar os indivíduos a se desenvolver em todas as dimensões: ética, política, emocional etc.”, ressaltou o palestrante. Por outro lado, Moran lembrou que com a Internet e outros meios de atualização digitais, o professor deixa de ser o único informante do conteúdo programado para a sala de aula. E isso impacta a relação de educadores e educandos. Para a participante Magali Covatti, coordenadora pedagógica do Colégio Marista Conceição de Passo Fundo (RS), Província Marista do Rio Grande do Sul, também é certo que a tecnologia nunca ocupará o espaço do professor como educador: “Mas ela é necessária e indispensável hoje na sala de aula. O aluno hoje já nasce convivendo com essa tecnologia. E indispensável que tenha o suporte da escola para usufruir dessa habilidade tecnológica. Mas, o professor, muitas vezes, acaba repelindo isso por não dominar a tecnologia”. Essa também é a opinião da congressista Heliane Concesso, vice-diretora da Escola Marista de Palmas, Província Marista Brasil Centro-Norte. Para ela, o professor jamais perderá sua função. “A tecnologia veio para ficar. O segredo é começar passo a passo, identificando possibilidades de se introduzir esses recursos na escola. O professor precisa se apropriar desse conhecimento, que, sem dúvida, será um grande aliado em sua prática diária”, analisou. Alinhado a esse pensamento, Moran acredita que o mundo digital é um ambiente que amplia as possibilidades na educação. Entretanto, muitas instituições confinam essas tecnologias em alguns espaços, como laboratórios, biblioteca etc., criando locais formais de aprendizagem. Outras, em contrapartida, utilizam os ambientes virtuais para complementar o que se dá em sala de aula.


A escola do futuro

“Os próprios estudantes já portam tablets, smartphones etc. A pressão está em estabePara o conferencista, o futuro sinaliza lecer formas de acesso para para o uso intensivo das tecnologias que os educandos possam innas escolas. As instituições terão de teragir com essas tecnologias. organizar seus modelos pedagógicos, E o professor, muitas vezes, incluindo os recursos tecnológicos. Ele acaba perdendo o controle do também vislumbra a utilização cada conteúdo. Portanto, fica claro vez mais forte de jogos e aplicativos, que não podemos continuprincipalmente na educação infantil. ar ensinando e aprendendo em um só espaço, em tempos “Não é preciso temer esses novos tempredeterminados e da forpos. Mesmo que o estudante já venha ma convencional. A grande José Manuel Moran para a sala de aula com conhecimento trincheira é como integrar as a respeito de vários assuntos devido ao atividades nos espaços e tempos formais, alian- acesso ao ambiente digital, o diferencial estará do os recursos presenciais aos virtuais”, avaliou sempre no professor. Daí a importância de terele. mos educadores mais abertos, humanos e dispostos a desbravar esse novo campo”, destacou De acordo com Moran, existem escolas que estão o palestrante. bem à frente e são inovadoras no uso de tecnologias. Nesse aspecto, ele citou a adoção das aulas Na visão da congressista Tania Regina Damásio, invertidas, ou seja, uma tendência em algumas professora do Colégio Marista São José da Barra, instituições, que consiste em habituar o estudan- no Rio de Janeiro, Província Marista Brasil Cente a utilizar os meios digitais para se informar tro-Norte, a palestra foi um convite à reflexão. antes da aula sobre o conteúdo que será tratado. “Estou repensando as minhas práticas pedagóDessa forma, o professor discute em sala as dú- gicas. Vejo que o principal desafio é trabalhar vidas e consegue se aprofundar em outros pon- com essas tecnologias de uma maneira integrada à rotina da sala de aula”, relatou. tos importantes, fomentando o debate. “Essa metodologia nada mais é do que criar interligação entre ambientes físicos e digitais. O educador precisa ir ao encontro dos estudantes. Conhecer o que é importante para eles, desenvolvendo planos de aulas que façam sentido para os educandos e que estejam ligados a projetos de vida. É preciso usar metodologias em sala de aula que estimulem a pesquisa. Por que não, por exemplo, criar uma atividade com os estudantes usando o Facebook?”, questionou Moran. César Augusto Ribeiro, coordenador de Pastoral do Colégio Marista de Maringá (PR), Grupo Marista, e um dos presentes à palestra, faz uso das tecnologias nos projetos com os estudantes. “Já adotamos, por exemplo, o Facebook para algumas atividades com resultados muito bons. O fato é que, mesmo com os avanços tecnológicos, gestores e educadores não devem abandonar a proposta de uma educação mais humanista, que vise o desenvolvimento integral do ser humano”, ressaltou.

Já para Eveline Morelli Lima, diretora do Colégio Marista Nossa Senhora da Penha, de Vila Velha (ES), Província Marista Brasil Centro-Norte, a palestra abordou um assunto que envolve todos os educadores. “Precisamos estar atualizados e nos despir de toda e qualquer forma de temor. E como disse o próprio professor Moran, os estudantes vão nos ensinar isso, eles serão nossos mestres”, declarou. O que mais chamou atenção de Ivana Suski Vicentin, orientadora educacional do Colégio Nossa Senhora Medianeira – Congregação dos Jesuítas, de Curitiba (PR), Grupo Marista, é que a escola não precisa deixar de trabalhar os aspectos formais, mas pode ampliar esses espaços da sala de aula, procurando integrar os ambientes físicos aos virtuais. “Para que isso ocorra, o professor precisa se apropriar das novas tecnologias. As próprias instituições devem pensar em espaços e momentos para preparar o professor”, sugeriu. brasil marista | 25


Gra ndes confe r ê nc i a s

Cultura como princípio educativo

Ariano Suassuna

cultura na educação

Os caminhos para a valorização da

Os brasileiros conhecem os grandes filósofos estrangeiros, bem como a música de outros países, mas desconhecem o que existe de melhor no Brasil. 26 | brasil marista


Uma das mais esperadas palestras do Congresso foi protagonizada pelo escritor, dramaturgo e poeta paraibano Ariano Suassuna, e reservada para o último dia do evento. Ferrenho defensor da cultura genuinamente brasileira, Suassuna brindou a todos com sua irreverência e espontaneidade. Em muitas ocasiões, aplaudido de pé pelo púbico, arrancou risos da plateia com comentários bem-humorados e performances inusitadas – em determinado momento, numa análise singular das manifestações culturais estrangeiras, o escritor chegou a se levantar da cadeira e se arriscou, com muita maestria, numa imitação de um toureiro. Com 85 anos, completados recentemente, e uma memória extraordinária, Suassuna iniciou sua aula-espetáculo encantando o público com a declamação de uma poesia de Camões, de quem confessou ser fã. O escritor, que já foi secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, tem uma vida intensa. Membro das Academias Brasileira, Pernambucana e Paraibana de Letras, foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura 2012, para apreciação da Academia Sueca como candidato do Brasil. Hoje, empenha-se em buscar a identidade da cultura brasileira, com suas matrizes indígena, portuguesa e africana, por meio da música e da dança. Para isso, o autor de obras célebres, como o Auto da Compadecida e o romance A pedra do Reino, dedica-se, entre outras atividades, a divulgar o projeto de sua autoria, batizado de A Onça Malhada, a Favela e o Arraial, uma iniciativa que visa levar para todo o Estado de Pernambuco as palestras que fascinam os brasileiros. A proposta é convidar o povo a assistir, embaixo de uma lona de circo, apresentações com bailarinos e músicos. Durante a sua conferência, intitulada Raízes Populares da Cultura Brasileira, o escritor explicou que a Onça Malhada é uma “metáfora da nação, tão mesclada de cores e etnias, que representa a força e a diversidade da cultura brasileira”. Suassuna, que é um dos principais incentivadores do Movimento Armorial, iniciativa artística com objetivo de criar arte erudita a partir de elementos da cultura popular nordestina, fez críticas ao que chama de “uma arte de baixa qualidade”. “É um absurdo que um músico de

primeira linha, como Antonio Madureira [referindo-se ao violinista e compositor nordestino, que há décadas vem atuando para disseminação do Movimento Armorial na região], não seja valorizado, enquanto que os brasileiros admiram e consomem canções como as da cantora norteamericana Lady Gaga e da Banda Calypso”, reclamou. O escritor, que se orgulha de não usar o computador e fazer tudo à mão, também criticou a Internet. “Nunca naveguei pela Internet. Não há como chegar à boa arte pelo computador. A boa arte exige dedicação e olhar exclusivo”, alfinetou. Para mostrar o preconceito que existe com a arte indígena, o conferencista apresentou um slide de um cartaz de uma exposição de 1979, realizada no Museu de Arte de São Paulo, em que estava escrito Arte no Brasil - Uma História de Cinco Séculos. “Como podemos mostrar cinco séculos de arte no Brasil sem contemplar a cultura indígena, com seu rico conteúdo artístico?”, questionou o palestrante, referindo-se à ausência de manifestações artísticas indígenas na exposição mencionada. De acordo com ele, os brasileiros conhecem os grandes filósofos estrangeiros, bem como a música de outras nações, mas desconhecem o que existe de melhor no País. “Não sou hostil a outras culturas, mas só não posso admitir apresentarmos ao povo brasileiro uma arte de baixa qualidade, com toda a riqueza que temos por aqui”, proclamou o escritor. Suassuna ainda exibiu um vídeo aos congressistas, chamado Toré, que mostrou um balé inspirado em um ritual indígena e fascinou os presentes pela beleza da performance e riqueza de conteúdo. “Viram como é possível apresentar alternativas para essa música americanizada e de quinta categoria que faz sucesso hoje no País? A boa arte nunca envelhece. Já o sucesso é efêmero”, declarou.

Professor tem de ser criativo Ao discorrer sobre a cultura como princípio educativo, Suassuna, que também foi professor, disse que todo educador precisa ter um pouco brasil marista | 27


olhar sobre o rico patrimônio cultural brasileiro e buscar novas maneiras para se utilizar a arte na sala de aula. “A arte na educação é fundamental. O que o Ariano está nos propondo é que haja uma valorização da nossa cultura. E vejo isso de forma natural. Algumas vezes, faço interpretações em sala de aula e crio vozes de personagens para certas fórmulas, por exemplo. Além disso, tenho um amigo imaginário, o Joe, que desenho na lousa, e ele conversa com os estudantes. Acredito que algo mais lúdico, em meio a tanta teoria, é muito importante, já que aumenta a atenção e melhora o rendimento de cada um”, revelou André Macul, professor de Ciências do Colégio Marista da Glória, de São Paulo, do Grupo Marista. Ariano Suassuna

de ator. Para ele, não existe arte voltada à sala de aula. “Arte que é arte procura a beleza, ensina e educa por si só”, explicou. Por outro lado, na opinião de Suassuana, o educador precisa ser criativo, utilizando elementos que possam facilitar o aprendizado e atrair o interesse dos estudantes. O conferencista ainda ressaltou a importância da leitura para a formação dos jovens. “Aprendi a ler antes dos sete anos. Quando menino, o que me interessava eram o circo e a leitura. Mas vejo que os jovens de hoje afirmam, sem qualquer constrangimento, que não gostam de ler. Tenho pena da juventude que está abandonando os livros. A pessoa que gosta de ler não morre sozinha, porque o livro é um companheiro para o resto da vida”, destacou. Mesmo em meio a toda defesa que faz da cultura brasileira, Suassuna acredita que a arte não deve ser imposta. “Infelizmente, a mídia só divulga o que está na moda, e não apresenta alternativas para as pessoas escolherem o que mais gostam. O povo deve ter liberdade de escolha. E digo mais: que democracia é essa em que as coisas são impostas pelo gosto médio, que é o mais puro exemplo de mau gosto?”, questionou. Terminou sua palestra aplaudido de pé. Sem dúvida, um momento único que despertou nos gestores e educadores o interesse em ampliar o 28 | brasil marista

Ligia Cadematori, doutora em Teoria da Literatura, além de autora e tradutora de clássicos pela Editora FTD, acredita que educação é inseparável do conceito de cultura. “Entendo a educação como uma apropriação da cultura. Portanto, não é uma questão de influência, é mais uma questão de acesso à cultura, afinal, é ela que norteia, ou deveria nortear, a educação. Eu me entusiasmei muito com a palestra de Ariano, mas tenho uma concepção distinta da dele. Acredito que as culturas se entrecruzam. Por isso, não há a nossa cultura. Penso que as culturas dos diferentes países se incluem, e não se excluem. No entanto, a figura dele, brilhantemente ‘Quixotesca’, defendendo a nossa arte periférica, sempre me emociona”, complementou. Outra congressista, Maria Betania Leal, professora do Colégio Marista Pio XII, de Serubim (PE), Província Marista Brasil Centro-Norte, também é da opinião de que a arte deve fazer parte do contexto escolar. “A arte ajuda na formação do cidadão e na construção do senso crítico. Os educadores precisam encontrar uma maneira de inserir essa cultura brasileira de uma forma que os estudantes se interessem e se aprofundem no assunto. Para isso, às vezes, pequenas ações são suficientes. O diferencial é factível. Ou seja, podemos contribuir para a transformação da juventude e da sociedade. Nesse aspecto, concordo que o professor precisa usar de criatividade para utilizar a arte conforme a realidade de cada estudante”, avaliou.


Fó run s temá ti cos

Currículo, Escola e Sociedade

O currículo como fe r r a m e n t a p a r a

redemocratização da escola

A escola hoje enfrenta novos desafios decorrentes dos progressos científicos e tecnológicos e da emergência de novas formas de comunicação e produção, por isso precisa promover uma construção participada com compromisso de todos os atores envolvidos. brasil marista | 29


Promover o debate em torno do currículo escolar como ferramenta de composição dos processos educativos frente aos desafios da multidisciplinaridade, dos mecanismos necessários à construção do sujeito e dos conhecimentos científicos, econômicos, tecnológicos e políticos da sociedade contemporânea. Esse foi o objetivo dos fóruns da edição internacional do 4º Congresso Marista de Educação, que abordaram o tema Currículo, Escola e Sociedade. A escola hoje enfrenta novos desafios decorrentes dos progressos científicos e tecnológicos e da emergência de novas formas de comunicação e produção, por isso precisa promover uma construção participada com compromisso de todos os atores envolvidos. Durante as palestras, os painelistas ressaltaram a urgência da participação intensa dos educadores nesse âmbito, a fim de se entender as propostas das políticas educacionais que chegam às escolas por meio do currículo escolar. José Carlos Morgado, doutor em Educação, especialista em Desenvolvimento Curricular pela Universidade do Minho, de Portugal, além de docente no Departamento de Estudos Curriculares e Tecnologia Educativa do Instituto de Educação da Universidade do Minho, membro do Conselho Científico e Diretor-Adjunto dos Cursos de Doutoramento em Ciências da Educação do mesmo Instituto, foi um dos palestrantes, cuja apresentação versou sobre o tema Democratizar a Escola através do Currículo, em que expôs a realidade portuguesa nessa área. “Embora minha palestra esteja focada na experiência lusitana, acredito que os professores do Brasil também enfrentam dificuldades semelhantes em relação à criação de um currículo democrático, que garanta uma escola para todos. Redemocratizar o currículo remete-nos à necessidade de repensar a instituição de ensino, analisando os processos de mudanças e idealizando alternativas para se criar sistemas educativos que estejam alinhados às necessidades do jovem de hoje. E isso se reflete no trabalho dos educadores”, comentou ele. Para Morgado, a escola vive um dilema. De um lado, continua sendo o “centro das atenções” por ser um espaço para a formação de cidadãos. Por outro, recebe críticas por ser incapaz 30 | brasil marista

de compreender as mudanças que foi sofrendo ao longo dos anos. “A escola não é mais aquela instituição de referência, como era qualificada antigamente. A escola se massificou, mas não se democratizou.”, comentou.

O estudo como escolha Outra dificuldade do atual modelo educacional, segundo o painelista, é fazer os jovens perceberem o porquê da necessidade de frequentar a escola. Diante disso, na opinião do especialista, a democratização do currículo deve ocorrer no sentido de garantir que a opção pelo estudo seja realmente uma escolha e não um destino para os educandos. “A necessidade de redemocratizar a escola implica permitir que o estudante deixe de reproduzir meramente o que ouve para ter um aprendizado pautado no saber”, ressaltou. Segundo o palestrante, um currículo é democrático quando o ensino está focado na condição humana e o estudante passa a ser centro de toda ação educativa. Angela Naves, gestora em pedagogia do Colégio Marista de Goiânia (GO), do Grupo Marista, concorda com tal afirmação. Para ela, a palestra trouxe um panorama do cenário educacional português que cabe muito bem à realidade brasileira. José Carlos Morgado


Isabel Azevedo e José Carlos Morgado

“Ao mesmo tempo em que sabemos que precisamos contribuir para a construção de um ser humanizado, temos uma dificuldade cultural, porque a excelência ainda é medida por vestibulares e testes, como o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que não são amplos em suas métricas. O desafio é justamente encontrar uma forma de criar seres humanos melhores, mas sem deixar de lado a excelência acadêmica. Para isso, são necessárias a construção democrática do currículo e a participação de todos os envolvidos, sejam eles estudantes, professores, gestores, pais e sociedade”, analisou Angela.

logia da Universidade de São Paulo, pós-doutor pela Universidade de Barcelona e pesquisador do CNPq, ministrou a palestra “A crise da Educação Formal versus o fulgor dos processos de governamentalização educacional”.

Em outro momento do Fórum, Jacqueline Gysling, investigadora da Universidade de Los lagos e docente do Departamento de Estudos Pedagógicos da Universidade de Chile, falou sobre os desafios na implementação do currículo nacional chileno. A apresentação problematizou o desenho curricular nacional a partir da experiência desenvolvida pelo Ministério da Educação do Chile nas últimas duas décadas, começando por refletir sobre as razões que justificaram a existência de um currículo centralizado e sobre as características que deveriam ter para responder à diversidade de realidades escolares existentes.

De acordo com Marlucy, há o desafio e objetivo de pensar possibilidades de um currículo que aprende e ensina. Para ela, o currículo, atualmente, está em seu ápice e é um objeto de disputa. Para se viver e aprender, a estratégia é desaprender, fugindo de práticas que regulam e da ânsia por ensinar tudo a todos. Essas possibilidades podem ser mobilizadas ao nos desfazermos de um raciocínio que separa e hierarquiza crianças.

No segundo dia do Fórum “Currículo, Escola e Sociedade”, Julio Groppa Aquino, mestre e doutor em Psicologia Escolar pelo Instituto de Psico-

Dando prosseguimento ao fórum, Marlucy Alves Paraíso – professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais e do Programa de Pós-graduação em Educação da mesma universidade – falou sobre o currículo escolar na contemporaneidade e suas funções de ensino e aprendizagem.

“O currículo transmite culturas, valores, modos de ser, estar e viver e é território no qual se pode aprender. Para isto, é necessário se abrir à experiência com o outro, e com qualquer coisa que desperte o desejo. Quando você deseja, você estabelece conexões que lhe permitirão aprender”, enfatiza Marlucy. brasil marista | 31


FÓRUns TE Má ti cos

Gestão em Educação

educacional

A busca pela excelência

Jaqueline de Jesus, Renato Judice e Maria Elisa Penna Firme

“Sabemos que a boa classificação no Enem traz reconhecimento perante a sociedade, mas a escola é muito mais do que um resultado acadêmico.” Maria Elisa Penna Firme 32 | brasil marista

Como garantir excelência educacional e uma gestão com foco em resultados mediante os novos cenários educacionais? Essa foi a problemática central discutida no Fórum de Gestão em Educação pelos palestrantes convidados. Com a palestra “As características das Escolas Eficazes, conforme Pesquisas Nacionais e Internacionais sobre o Efeito Escola”, Renato Judice, doutor em Educação e representante da Avalia Educacional e da Associação Brasileira de Avaliação Educacional (ABAVE), abordou três grandes temas: o papel das avaliações externas para a produção de resultados padronizados; uma noção de efeito escola e características de escolas eficazes. Sobre o papel das avaliações externas, Judice enfatiza que a métrica única estabelece uma escala de proficiência. No entanto, reforça que a regularidade na avaliação oportuniza não apenas compa-


rações numéricas, mas principalmente esforços pedagógicos para estratégias de melhoria. Em relação ao efeito escola, Judice reforça que escola efetiva é aquela na qual os estudantes progridem além do estimado para o seu grupo. Isso significa entender as escolas nos seus respectivos contextos e na sua série histórica. Judice elencou, ainda, algumas características de Escolas Eficazes. Essa teoria afirma, entre outras premissas, que escolas eficazes possuem uma direção legitimada em seu saber educacional, clareza de objetivos, programas bem elaborados, foco nos ambientes de aprendizagem e boa gestão do tempo. Além disso, investem em recursos e infraestrutura adequados, organização e gestão da instituição, clima acadêmico, proporcionando “ambiente de aprendizado”, formação e bons salários e ênfase pedagógica. Silvio Meira, PHD em computação, professor titular de Engenharia de Software da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e chief scientist do www.cesar.org.br, discutiu os cenários educacionais por meio das tecnologias e do conhecimento, abordando a mudança de cultura escolar (o aprender e o ensinar) ocasionada por tecnologias muito avançadas. Silvio aponta que o processo de ensino e aprendizagem passa pela tecnologia. Já a aprendizagem passa por fases de adquirir, desenvolver e modificar os conhecimentos, comportamentos e habilidades. “É necessário passar pelo processo de aprenderdesaprender para novamente reaprender”. O que fica claro é que não podemos fugir das tecnologias, pois elas no futuro dominarão todas as facetas da vida. Usá-las da melhor maneira garantirá a subsistência harmônica da vida. Realizar uma gestão com foco em resultados pressupõe agregar valor ao serviço oferecido, ampliando a satisfação dos clientes – no caso, os pais e os estudantes. Essa foi a abordagem realizada pelo professor Paulo Emílio Carreiro, professor e consultor da Fundação Dom Cabral. Segundo ele, quem define o valor de um produto ou serviço é o próprio cliente, com base nas próprias experiências e nos benefícios esperados. As empresas precisam estar atentas às circunstâncias que afetam o consumo. Carreiro enfatiza que a maioria das pessoas consomem movidas pelo desejo e não pela necessidade e

Valéria Arcari Muhi

que, na área de Educação, é importante estar atendo às circunstâncias que fazem os pais e alunos optarem por uma determinada escola, dentre elas: formação curricular, formação integral e cidadã. Ele cita que a maior dificuldade de planejamento das empresas é fazê-la com base na experiência do passado e não na percepção de futuro. “O equilíbrio do planejamento está em pensar-se à frente, adaptando-se ao futuro. Hoje há muita similaridade entre diferentes empresas e a diferenciação está diretamente relacionada ao sucesso do negócio”. É preciso haver um planejamento para que os resultados financeiros obtidos retroalimentem a qualidade educacional da escola; isso ocorre por meio do investimento em recursos materiais (em especial os tecnológicos), bem como na formação dos profissionais: empresas de educação trabalham com prestação de serviços, portanto, o investimento em pessoal é fundamental para o sucesso da escola. Um amplo debate envolvendo os participantes se deu a partir das palestras proferidas: empresas educacionais de sucesso implementam políticas salariais que atraem e fidelizam os melhores educadores. Como uma boa gestão financeira administrativa favorecerá a existência dessa política? Os novos cenários educacionais pressupõem mudanças quanto à forma do estudante aprender e do professor ensinar, isso tudo ocasionado pela incidência de tecnologias cada vez mais interativas. O que significa investir em tecnologias, considerando que sua depreciação é muito rápida? Na sociedade do conhecimento qual valor terá a Educação, em comparação a outros bens e serviços? Para favorecer a discussão do tema foram apresentados dois cases de sucesso envolvendo o tema gestão em educação. Um deles tratou da brasil marista | 33


tras atividades pedagógicas, que também fazem parte do currículo regular, como, por exemplo, as feiras de ciências, aulas de informática, de artes e de música, eventos sociais, olimpíada esportiva, entre outras, que visam a formação moral e cultural dos seus 1.124 estudantes. Maria Elisa Penna Firme

Formação de Gestores – trabalho realizado pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. O relato foi apresentado pela senhora Valéria Arcari Muhi- assistente técnica do CGEB (Coordenadoria de Gestão da Educação Básica). O outro case foi a apresentação do modelo de gestão curricular do Colégio de São Bento, do Rio de Janeiro, pela professora Maria Elisa Penna Firme, coordenadora educacional do Colégio.

O case da Escola de São Bento, Rio de Janeiro Fundado em 1858, o Colégio São Bento é um estabelecimento católico, de Ensino Fundamental e Médio, voltado exclusivamente para meninos, que estudam em período integral. Nos últimos cinco anos, a escola vem apresentando excelente classificação no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) entre as instituições do País: quarto lugar em 2006; primeiro lugar em 2007; primeiro lugar em 2008; quarto lugar em 2009; e primeiro lugar em 2010. A escola mantém um currículo abrangente, que exige do estudante um crescimento contínuo de sua capacidade cognitiva. Na implementação de sua proposta político-pedagógica, o colégio conta com professores de qualificada formação acadêmica, que possuem remuneração acima da média e são estimulados ao estudo continuado. Para se ter ideia, mais da metade do corpo docente concluiu uma pós-graduação. Além das disciplinas tradicionais, os estudantes participam de várias ou34 | brasil marista

“Sabemos que a boa classificação no Enem traz reconhecimento perante a sociedade, mas a escola é muito mais do que um resultado acadêmico. Existem muitas instituições excelentes que não estão no ranking do Enem. Por isso, entendemos serem necessários outros tipos de métricas para classificação da qualidade educacional. Ou seja, devemos ampliar o olhar de avaliação nas instituições, a fim de reconhecer e destacar outras práticas de sucesso que possam ser compartilhadas na busca pela excelência da educação”, revelou a professora Maria Elisa. O Prof. Renato Judice de Andrade, diretorfinanceiro da Abave, acrescentou que “para termos escolas eficazes precisamos trabalhar características que as tornem mais dinâmicas e que ajudem os gestores na difícil tarefa de motivar os estudantes a se dedicarem o maior tempo possível ao aprendizado, utilizando as ferramentas que lhes são oferecidas em sala de aula”. Ele enfatizou a importância de pensar-se a avaliação externa para o processo educativo, com o rompimento da endogenia, quando tendemos a nos avaliar sobre os critérios estabelecidos por nós mesmos. O processo de avaliação, tanto interno, quanto externo, funciona como parâmetro para tomarmos decisões estratégicas que viabilizem melhorias contínuas.


FÓRUns TE Má ti cos

Políticas Públicas, Direitos e Educação

Cláudia Laureth, Francisca Pini e Jorge Freire

A infância na centralidade das

políticas de educação “A escola precisa ser compreendida como um lugar de encontros: encontros da cultura, da diversidade, enfim, de pessoas que trazem consigo conhecimentos e aprendizagens acumulados criticamente ao longo da vida.“ Francisca Pini

Muitos têm sido os avanços em todo o mundo em relação ao reconhecimento da criança e do adolescente como sujeitos de direitos. O Brasil, por exemplo, foi o primeiro da América do Sul, após ter assinado a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, adotada pela ONU (Organização das Nações Unidas), a promulgar o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Entretanto, o País não consegue efetivamente assegurar esses direitos, especialmente quando o assunto é educação. Esse foi um dos temas abordados por Francisca Pini, assistente social, mestre e doutora em Políticas Sociais e Movimentos Sociais pela PUCSP brasil marista | 35


Cenários latino-americanos Após a apresentação de Francisca Pini, foi a vez do painelista uruguaio Jorge Freire abordar os cenários latino-americanos pelo direito à educação. O palestrante ratificou que a América Latina é uma região que vem avançando muito forte na garantia dos direitos da criança e do adolescente. Para ele, os adultos precisam atuar para defender os princípios da Convenção Internacional da ONU, mas a criança também deve conhecer seus direitos e ser protagonista nesse processo. “Nesse sentido, o educador é um agente fundamental. Como professores, temos de agir para que as políticas públicas garantam esses direitos de forma integral”, frisou. Francisca Pini

e diretora pedagógica do Instituto Paulo Freire, que proferiu a palestra Direito à Educação e Participação Infantil, no fórum sobre Políticas Públicas, Direitos e Educação. “O ECA foi reconhecido do ponto de vista legal, mas ainda existem muitos desafios para traduzirmos os princípios do estatuto na prática. Para isso, é necessário o envolvimento da sociedade. No entanto, embora o cidadão tenha direito a essa participação desde a promulgação da Constituição, vivemos uma política pública hierarquizada, centralizada na gestão do órgão público e com pouco envolvimento das pessoas. Se possuímos esse perfil político, os conselhos de infância não conseguem avanços no sentido de ajudar a implementar os princípios do ECA junto à sociedade”, analisou Francisca. Segundo a painelista, devemos buscar uma democracia participativa ativa em que contribuímos com ideias. Nesse aspecto, Francisca acredita que a escola tem um papel preponderante. “A escola precisa ser compreendida como um lugar de encontros: encontros da cultura, da diversidade, enfim, de pessoas que trazem consigo conhecimentos e aprendizagens acumulados criticamente ao longo da vida. A escola não é uma mera reprodutora de conhecimentos. A participação na sociedade desde a infância, a interdisciplinaridade, o diálogo e o conhecimento precisam ter conexão, para que a criança entenda o mundo de forma integral”, ressaltou. 36 | brasil marista

Segundo o painelista, os países da América Latina vêm aumentando os investimentos públicos em políticas sociais que impactam positivamente a educação, mas esses esforços não têm diminuído os índices de pobreza. De acordo com dados apresentados por Freire, a América Latina possui 524 milhões de pessoas em condição de pobreza, das quais 80 milhões são crianças e adolescentes. Para se ter ideia, dos 14 países com maior taxa de homicídio no mundo, mais da metade é da América Latina. Outra grande preocupação da região é com a grande quantidade de jovens, entre 15 e 24 anos, que não trabalham e não estudam, e se concentram nas famílias mais pobres. Um em cada três jovens da região está fora do sistema de educação. “Não estamos criando condições para o desenvolvimento das pessoas. Precisamos revisar os sistemas nacionais de proteção e promoção de direitos, visando entender o problema da violência, que gera discriminação e segregação. Devemos trabalhar para termos um gasto público social equitável na região, a fim de assegurarmos o acesso à educação e demais direitos para toda essa população”, observou o painelista. O Fórum teve ainda a presença de Miguel Arroyo, doutor em educação, com experiência em Política Educacional e Administração de Sistemas Educacionais, que explanou sobre a “Formação de Educadores com Enfoque em Direitos”. Com ênfase nos direitos das infâncias


e juventudes, a palestra de Miguel Arroyo foi dividida em quatro partes: Direito, Educação, Sujeitos de Direitos e Políticas Públicas. Segundo Arroyo é necessário uma consciência social de que a educação é um direito. “Enquanto a educação for um privilegio e vista como mercadoria e não vista como direito de todos, não será possível um avanço”, declara.

Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), apresentou os desenhos curriculares do Tempo Integral em desenvolvimento no país.

A temática Políticas Públicas, Direitos e Educação, contou também com participação de Iolete Ribeiro, mestre e doutora em Psicologia pela UNB, que ministrou a palestra “O papel da Universidade na Formação de Educadores com Enfoque em Direitos”. Gesuina Leclerc, representante do Ministério da Educação e consultora da Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura, trouxe contribuições sobre a ampliação e reinvenção dos tempos e espaços educativos, com a ampliação do olhar e do repertório sobre a meta de ampliação da Educação em Tempo Integral prevista no Plano Nacional de Educação. Maria Amabile Mansutti, Coordenadora Técnica no

Foi lançada no Fórum a publicação CADE? Crianças e Adolescentes em Dados Estatísticos, obra que trata a situação das infâncias e juventudes no país em números, contribuindo para que o educador possa analisar o cenário local baseado em dados para seu posicionamento e articulação.

Miguel Arroyo

Acompanhamento da sociedade civil

Organizado pelo Fórum Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (FNDCA), o documento conta com o apoio da Rede Marista de Solidariedade e traz um registro e compilação de dados para sinalizar situações que mereçam atenção, além de trazer um retrato do estado dos direitos da criança e do adolescente.

Jorge Freire brasil marista | 37


FÓRUns TE Má ti cos

espiritualidade e educação

pessoas

A mística do cuidado e o desenvolvimento das

“É importante criar espaços de experiências místicas e gerar oportunidades para que jovens e crianças tenham condições de desenvolver autonomia para vencer seus problemas.” Padre Vilson Groh 38 | brasil marista

Ir. Afonso Tadeu Murad e Lama Padma Samten

A vivência e o cultivo da espiritualidade são princípios fundamentais na educação marista. No 4º Congresso este foi um dos assuntos abordados nos fóruns temáticos, cujo objetivo foi discutir a espiritualidade no contexto educacional, visando tornar os espaços educativos ambientes de fraternidade, de diálogo e de disseminação de princípios cristãos para a formação integral do ser humano. A espiritualidade na educação integral foi o tema da palestra do espanhol Rafael Yus, doutor em Ciências pela Universidade de Granada. Autor de diversos artigos e livros científicos e de pedagogia, é especialista na formação permanente de professores, didática e ciência, educação integral e integração curricular.


Yus afirma que a consolidação da escola laica trouxe como consequência o esquecimento da dimensão espiritual na educação, ao identificar erroneamente o espiritual com o dogma religioso. Ao mesmo tempo, a ênfase das sociedades modernas no crescimento econômico e na competitividade supervaloriza essas características, descuidando de um dos princípios básicos de toda a educação: o cultivo de todas as dimensões da pessoa. Segundo ele, para alcançar a segurança e abertura necessárias para uma exploração significativa de desenvolvimento espiritual, os estudantes e o professor devem criar ‘regras do jogo’: “Seriam condições que os estudantes considerem essenciais para falar sobre o que mais importa a eles. Os jogos ajudam a garantir que os alunos se concentrem, relaxem e tornem-se uma equipe, por meio de risadas e cooperação”. A palestra seguinte foi do mestre budista Lama Padma Samten, físico, com bacharelado e mestrado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que, em 1996 foi ordenado lama – título que significa líder, sacerdote e professor. No Fórum Temático “Espiritualidade e Educação”, Lama Padma Samtem abordou o tema “A Dimensão Espiritual na Educação: Diálogo Inter-Religioso e Ecumenismo”. Houve uma reflexão sobre a dimensão espiritual da educação, desde a tradição budista. Foi destacada a perspectiva sapiencial do Budismo que permite reconhecermo-nos nela. A reflexão convergiu com o tema apresentado por Rafael Yus quanto à educação para a conexão que a dimensão espiritual pode acrescentar. Dentre os pontos de convergência entre o Cristianismo e o Budismo, o debatedor e irmão marista Afonso Murad destacou o tema da alegria. Ambas as tradições exigem um olhar positivo sobre o mundo e a inclusão do outro no conceito de felicidade. Ir. Murad também ministrou palestra, falando dos desafios contemporâneso da Espiritualidade na Educação. Algumas das diretrizes fundamentais para uma atual vivência da fé apontadas foram mística, autoconhecimento, autodisciplina, engajamento e via de sabedoria. “Precisamos cultivar a intimidade com Deus, aprender a lidar

Rafael Yus

com o lado luminoso e tenebroso do ser humano, saber o momento de agir, engajar-se pelo bem dos outros. Quem o faz toca o mistério de Deus e desenvolve a intuição”, explica Murad. Na palestra A mística do Cuidado na Formação dos Sujeitos da Educação, padre Vilson Groh tratou com propriedade o tema. Groh é formado em teologia pelo Instituto Teológico de Santa Catarina e mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente, mora e atua nas comunidades de periferia de Santa Catarina. Coordena o trabalho do Instituto Vilson Groh (IVG), que é constituído por sete organizações que atendem mais de cinco mil crianças, jovens e adultos da Grande Florianópolis e dos municípios de Lages e Joinville. Monitora ainda o trabalho da grande rede que constitui o Fórum de Entidades do Maciço do Morro da Cruz em Florianópolis, com forte influência nas políticas públicas municipais e estaduais, nas áreas de segurança, meio ambiente, geração de trabalho e renda, saúde e educação. Como revelou o palestrante, mística é um processo de querer bem e de proporcionar o bem, ou brasil marista | 39


seja, é a força que nos motiva a criar espaços que contribuam para a edificação e a recuperação de pessoas mais fragilizadas. Durante a palestra, padre Groh descreveu alguns projetos realizados pelo IVG, que conta com a contribuição de empresários, educadores, autoridades governamentais, voluntários, entre outros, fomentando uma grande rede externa de participação. Um dos projetos bem-sucedidos de Groh é o Centro de Educação e Evangelização Popular (Cedep), criado em 1987. Inicialmente, o propósito foi apoiar e fortalecer iniciativas dos movimentos populares que emergiram, principalmente, da leva migratória originada do campo naquele período e que se estabeleceu na capital do Estado em condições de grande pobreza. Em 1991, começou o trabalho educativo com crianças e adolescentes, denominado Projeto Oficinas do Saber, instalado em casas comunitárias localizadas em quatro áreas. Devido às restrições físicas e administrativas das unidades para um atendimento de maior abrangência,

concentrou-se o atendimento em uma sede maior: um prédio de 1.100m², localizado no bairro Monte Cristo e viabilizado com recursos das iniciativas privada e governamental. Atualmente, são atendidas 320 crianças e adolescentes nessa unidade.

Espaços teologais Para Groh, quando a sociedade se envolve em projetos na área da educação, bons resultados surgem mais facilmente. “Nosso objetivo é fomentar uma rede externa que traga a dimensão da compaixão pelo outro de forma apaixonada. Nossos projetos têm sucesso porque justamente o jovem sabe o que está por trás de cada iniciativa e quem realmente se preocupa com ele”, complementou. Na visão do painelista, a escola é um espaço propício para se praticar a mística do cuidado, ou seja, um ambiente para o pensamento solidário e a preocupação com o outro. “A mística recupera esse processo de que o outro é ‘parte de mim e vice-versa’. Por isso, é importante criar espaços de experiências místicas e gerar oportunidades para que jovens e crianças tenham condições de desenvolver autonomia para vencer seus problemas”, explicou. Para a congressista Heloísa Afonso de Almeida Souza, diretora do Centro de Estudos Marista de Belo Horizonte (MG), Província Marista Brasil Centro-Norte, a espiritualidade não deve ser excludente e não pode estar ligada essencialmente à religiosidade ou à catequese . “A espiritualidade é a abertura para a vida e para se cultivar valores voltados para o bem”, lembrou.

Padre Vilson Groh

40 | brasil marista

Nesse aspecto, Groh assegurou que nos espaços teologais a espiritualidade não é trabalhada do ponto de vista da religiosidade. “Nós atuamos propondo atividades em que as crianças possam se desenvolver e reconstruir a sua identidade pessoal a partir de fundamentos consistentes. As crianças só aprendem o que vivem. A espiritualidade é colocada como uma ferramenta para mudanças. A solidariedade nasce com a pessoa e se manifesta com a reciprocidade”, garantiu Groh.


SE MINá ri os TE MÁ ti cos

CIÊNCIA E FÉ

Ciência e fé Marcelo Gleiser

a serviço da evolução

Como duas vertentes tão distintas podem ser complementares em dias atuais? O físico Marcelo Gleiser e Frei Betto responderam essa questão durante o seminário Ciência e Fé.

Frei Betto brasil marista | 41


Partindo de duas máximas antigas “A Fé procura a razão” e “A razão procura a fé”, é que aconteceu o seminário Ciência e Fé, mediado pelo lrmão EvilázioTeixeira, vice-reitor da Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul (PUCRS), e apresentado pelo físico e astrônomo de formação, Marcelo Gleiser, e por Frei Betto. O encontro mostrou que o diálogo entre fé e ciência, antes um enorme desafio, hoje se apresenta de forma mais tangível, numa redescoberta da dimensão do conhecimento e da ciência. A palestra foi aberta por Frei Betto, um ex-aluno marista que se debruça, por meio de seus mais diversos títulos já publicados, em reparar o divórcio entre fé e ciência. “A ciência é o reino da dúvida, e tudo o que é científico tem de ser verificado”, falou aos quase mil espectadores presentes no auditório. Ele prosseguiu afirmando que a religião, desde sempre, teve a pretensão de explicar tudo, sobrepondo-se à ciência, em questões como “o que Deus fazia antes de criar o Universo”. Ainda nessa linha de pensamento, Frei Betto afirmou que a Bíblia não foi feita para explicar a natureza, simplesmente porque não tem uma página sequer de teologia. “É um almanaque, um relato analógico e metafórico, e que deve ser lido sob a ótica da fé, ao contrário do Livro da Natureza, de Santo Agostinho, que precisa ser enxergado pelo viés da dúvida”, ressaltou. Segundo ele, ambos os livros são complementares, e a fé, sendo a união desses dois conceitos, é um dom da inteligência. E, lembrando São Thomás de Aquino, pontuou que a razão é a imperfeição da inteligência. “A fé é um dom da inteligência que, por usa vez, é irmã da intuição”, declarou. Mas onde é que entra a fé num contexto científico e determinista? Segundo o filósofo, mesmo que a hipótese do Big Bang venha a ser comprovada, a crença criacionista, ainda assim, não é unânime, já que não é dada à ciência a comprovação da existência ou da inexistência de Deus. Transportando esses conceitos para a atualidade, Frei Betto sustenta que as escolas precisam dar uma educação científica mais experimental possível. “A fé não pode depen42 | brasil marista

der de uma educação racionalista, portanto, as escolas precisam fazer com que a experiência da fé seja vivenciada”, observou. Ele ressaltou que mesmo num mundo cheio de tecnologias, a fé ainda fica exatamente no meio do coração do ser humano que, buscando o transcendente, encontra na religião um sentido para a vida. Mas é a ciência que facilita tudo, porém, sem imprimir à vida o sentido. “Em outras palavras, jamais teremos um computador que escreva um romance, como o Grande Sertão Veredas, por mais avançado que seja”, finalizou.

Somos criaturas solares A segunda parte do seminário foi apresentada pelo físico e astrônomo Marcelo Gleiser, que ressaltou a importância de se abrir diálogos e não deixar o fundamentalismo, seja religioso ou científico, vir à tona. “O primeiro passo para a educação é contextualizar o jovem no mundo em que ele vive”, afirmou. Marcelo abriu sua linha de raciocínio explicando que os seres humanos evoluíram num planeta próximo ao Sol, o que nos torna criaturas solares e, principalmente, suscetíveis às transformações ao longo dos tempos. “O papel da ciência é justamente mostrar que o mundo e a percepção da informação mudaram no decorrer de nossa evolução”, explica Gleiser. Por meio de fotos tiradas pelo Telescópio Hubble, Marcelo foi contando a origem do Sistema Solar. “Quando olhamos para tudo isso, percebemos como somos solitários. Daí surgem perguntas que fazem parte do discurso científico, como ‘quem somos nós?’, ou ‘como surgimos?’, ou ainda ‘por que morremos?’”, apontou o físico. Para ele, o papel da ciência não é tirar Deus da criação, mas, sim, “descrever como funciona o mundo para vivermos melhor”. Na visão do painelista, esse tipo de paixão pela busca de respostas para mistérios é o que move a ciência. “A mola propulsora da curiosidade faz com que procuremos Deus. E quanto mais avançamos, mais evoluímos. É papel dos educadores incitar isso nos jovens, promovendo assim novas ciências”, finalizou.


SE MINá ri os TE MÁ ti cos

Letramentos e Educação das Infâncias

O espaço, o letramento e a infância:

um diálogo possível Vera Melis

A Educação Infantil é um lugar de encontro, uma grande biblioteca de estímulos para a ação, um ecossistema especialmente preparado para que as crianças se sintam bem e seguras.

Esse seminário temático foi conduzido por duaspesquisadoras de temas voltados à educação e infância: professoras Vera Melis e Vitória Faria. Com o tema Letramentos e Educação das Infâncias, as palestrantes abordaram como se dá o letramento desde a Educação Infantil e ressaltaram a importância da mediação e do espaçotempo na escola nesse processo. Vera Melis, pedagoga, mestre em Educação com ênfase na formação de professores e espaços para Educação Infantil, enfocou a relevância no fato de que oportunizar às crianças um espaço físico brasil marista | 43


onde possam ficar boa parte do tempo para seu aprendizado e convivência é item primordial para sua formação. “Quando organizamos espaços institucionais estamos, quase sempre, diminuindo a poesia do cotidiano infantil”, explicou. Vera acredita que a criação de espaços alternativos é um grande desafio dos programas educacionais, visto que é necessário se manter a singeleza da infância, levando-se em conta como será este tempo de vida na escola e não o que será deste tempo. “O espaço ao qual me refiro não se restringe às paredes da sala de aula, mas a todo o prédio, inclusive as áreas externas, com sua beleza, luz natural e presença de recursos que amplificam a experiência pedagógica”, ponderou. Esta organização de espaço revela as maneiras como os educadores se relacionam com as crianças e com o tempo para aproximá-las do universo mágico das histórias, músicas e fantasias inerentes à infância. Segundo a professora, todo espaço educa, assim como a linguagem ou as relações interpessoais. Portanto, pode facilitar ou limitar tudo o que se aplica à Educação Infantil. Um exemplo de limitação seriam os espaços que não favorecem o atendimento dos interesses das crianças e a realização das atividades educativas. A decoração, neste sentido, pode ser significativa, ou pobre e sem expressão, condições que interferem no desenvolvimento. Segundo Vera, sob a ótica dos educadores, esses espaços são fontes de oportunidades, já que a condição externa favorecerá ou dificultará o processo de crescimento pessoal, condicionando o desenvolvimento das atividades educativas que se deseja realizar. A Educação Infantil é, portanto, um lugar de encontro, uma grande biblioteca de estímulos para a ação, um ecossistema especialmente preparado para que as crianças se sintam bem e seguras. Por isso, a escola de Educação Infantil deve ser acolhedora, uma espécie de “oásis”, onde as crianças se sintam encorajadas a assumir riscos motores, sociais e intelectuais. “O que mais precisamos nesta faixa etária é que os pequenos falem e ouçam novas palavras, a fim de poderem ampliar seu universo linguístico e a comunicação com o mundo ao 44 | brasil marista

seu redor, o que possibilitará o seu crescimento e desenvolvimento naturais”, finalizou.

Do espaço ao letramento Vitória Faria, mestre em Educação, dedicou a maior parte de sua trajetória docente à Educação da Infância, tanto como professora quanto formadora de professores em programas de formação continuada. A professora observou que as profundas mudanças de paradigmas, geradas pelos rápidos avanços científicos e tecnológicos das últimas décadas, afetaram significativamente as concepções acerca da infância, criando a necessidade de reformulação de conceitos, objetivos e metodologias de ensino. A partir daí, surge o termo “letramento”. “O conhecimento das letras é apenas um meio para o letramento, que é o uso social da leitura e da escrita”, explicou. Segundo a conferencista, o letramento é mais do que a própria alfabetização, uma vez que não ocorre apenas durante determinado tempo da vida do indivíduo, mas, sim, antes e durante a alfabetização, e continua para todo o sempre. A professora também ressaltou a importância do papel do outro nesse processo, sejam adultos ou crianças mais experientes, pois é nessa mediação que a linguagem oral e escrita e o seu uso social ganham sentido. Para Claudia Osório de Campos, educadora do Colégio Marista Rosário de Porto Alegre (RS), Província Marista do Rio Grande do Sul, uma frase proferida pela palestrante Vera Mellis resumiu a importância do seminário: “Todo ser humano é competente desde que nasce. Temos de dar oportunidades”. Claudia defende que “acreditar no potencial de cada estudante, respeitando seu ritmo, tempo, sua bagagem de vida, motivando-os, encorajando-os, mostrando-lhes o quão capazes são, acreditar na educação e na transformação é fundamental, e é isso que me motiva e me encanta em ser professora”. E conclui: “Amo muito aprender e ensinar a cada dia, olhar os olhinhos brilhantes de cada um dos meus pequenos a cada nova descoberta é algo maravilhoso e incrível!”.


SE MINá ri os TE MÁ ti cos

Literatura e Formação do Leitor

estímulo à leitura

O D E SA F IO DO “O acesso ao livro nas escolas não é mais um problema, nem nas escolas mais longínquas.” Ana Maria Machado

Ceciliany Alves, Marisa Lajolo, Elizabeth Serra e Ana Maria Machado

brasil marista | 45


Estimular o gosto pela leitura. é o grande desafio da conEsse foi um dos principais temporaneidade e um papel pontos abordados durante o a ser desempenhado por um seminário temático Literatura adulto competente em leie Formação do Leitor, ministura que seria significativo trado por três expoentes da para o aprendiz. “Menos cultura de nosso País: Marisa teoria e mais prática”, proLajolo, professora da Univerpôs Ana Maria Machado, sidade Mackenzie, escritora sugerindo que os educadoe crítica literária, ganhadora, res, pais e professores, conem 2009, do Prêmio Jabuti tem mais histórias, convernas categorias Teoria /Crítica sem sobre livros, ajudem Literária e Livro do Ano Não as crianças a imaginar ouFicção; Ana Maria Machado, tras histórias. A presidente presidente da Academia Brada Academia Brasileira de sileira de Letras e autora de Ana Maria Machado Letras relatou que fez uma mais de 100 livros; e Elizabeexperiência com crianças th Serra, pedagoga e secretária geral da FNLIJ de sua família. “Desliguei a energia, simulando (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil). falta de luz. Acendi velas e propus ler histórias”, relatou. No dia seguinte, o resultado do estímulo As palestrantes lembraram que a literatura é o foi recompensado, quando as crianças, mesmo caminho para a formação humanista e para o com a energia normalizada, pediram que a auentendimento. Sinalizaram que, no Brasil, não tora voltasse a ler histórias. Ao contar esse epifaltam pesquisas e projetos voltados à leitura. As sódio, Ana Maria Machado arrancou aplausos pesquisas apontam para o baixo desempenho efusivos da plateia, que parece ter concordado dos leitores e baixos índices de leitura de uma que a motivação seria a base da relação com os forma geral. Entretanto, os projetos apresenta- jovens leitores. dos, quer para governos ou outras organizações, a fim de minimizar essas questões, têm As palestrantes ressaltaram a importância da reainda um caráter bastante instrumental. Estão ciclagem e formação dos professores no processo voltados à oferta de livros e premiações, numa de estímulo à leitura. Na visão de Marisa Lajolo, visão equivocada que supõe que essas medidas há uma deficiência dos próprios educadores enestimulariam os leitores e tornariam a leitura quanto leitores. Para ela, no Ensino Fundamengratificante. tal, que é o período em que se forma o leitor, as condições dos professores “deixam ainda muito Ana Maria Machado lembrou que “o acesso ao a desejar”. Em tom de alerta, se dirigiu à plateia: livro nas escolas não é mais um problema, nem “Nós, professores, temos a ideia de que o mal nas escolas mais longínquas”. Na verdade, o está nos outros. A gente repete um certo discurso grande desafio seria descobrir do que se tece, catastrófico em relação à leitura”. como se constrói o prazer da leitura. Elizabeth Serra ressaltou que “o prazer da leitura está Segundo o que foi proposto durante o debate, no envolvimento que o ato proporciona”. Se- a leitura compreensiva se constitui em uma das gundo ela, o que se lê no livro de literatura é mais importantes competências a serem desensempre invenção, ficção e, por ser imaginação, volvidas no âmbito escolar. Dela depende boa nos envolve. Depois de ler, voltamos a nossa parte das demais aprendizagens, sendo conhecivida, mas “voltamos a ela diferentes do que da, de longa data, a importante contribuição da éramos quando começamos a leitura”, afirmou. literatura não só para o desenvolvimento dessa competência tão essencial, mas também para gerar e ampliar em crianças e jovens as capacidades do autoconhecimento, da criatividade, do Estimular o prazer pela leitura em nossos jo- senso crítico, da apreciação estética, entre tantas vens, um prazer que é aprendido e construído, outras.

A contribuição do educador

46 | brasil marista


SE MINá ri os TE MÁ ti cos

Ensino Médio – Novas Perspectivas e Desafios

A busca pela formação plena dos jovens

A contemporaneidade exige uma escola em que se substitua a participação passiva pela ativa. Isso traz transformações tanto de conteúdos e objetivos, quanto de métodos e práticas educacionais. Luis Carlos de Menezes

O seminário temático Ensino Médio – Novas Perspectivas e Desafios trouxe a discussão da importância da educação humanista na busca pela excelência da formação dos indivíduos. Quem expôs o tema foi o professor Luis Carlos de Menezes, colaborador sênior do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, orientador de doutoramentos e mestrados em Ensino de Ciências e em Educação e professor de disciplinas do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e de Licenciatura em Física da USP. O palestrante apontou a necessidade de os educadores contribuírem para a construção de escolas com foco na excelência acadêmica, visando não somente a boa colocação em testes de avaliação de desempenho, mas comprometidas em desenvolver pessoas com senso crítico e mais questionadoras. “Nas últimas décadas, a educação tem sido desafiada pelos novos paradigmas sociais e do mundo do trabalho, em que máquinas e sistemas assumiram funções laborais. Com isso, a formação demandada é cada vez mais voltada à promoção de capacidades críticas, analíticas e propositivas”, explicou. Segundo ele, essa educação se promove desenvolvendo conhecimentos dinamicamente relacionados a valores reais, habilidades e competências, e não somente por meio de saberes estáticos. “Outro fator que impacta profundamente a cultura juvenil é a interconectividade sem fronteiras, um contexto em que cada indivíduo é polo receptor e gerador de informações. Diante desse cenário, passa-se a exigir uma escola em que se substitua a participação passiva pela ativa. Isso traz transformações tanto de conteúdos e objetivos, Sandra Regina Garcia

brasil marista | 47


quanto de métodos e práticas educacionais”, disse o palestrante, referindo-se aos currículos obsoletos que muitas instituições ainda mantêm.

O direito ao acolhimento O painelista apontou que, paralelamente, entre os elementos que passaram a pautar a educação básica no Brasil, particularmente no Ensino Médio, há uma nova cultura de avaliação de desempenhos estudantil e escolar. Ele entende que exames nacionais, como o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), elaborados a partir de expectativas educacionais gerais, já são referências que não podem ser desconsideradas. Por outro lado, e lamentavelmente, na corrida por melhor classificação, tem havido uma competição entre instituições e redes escolares, que visa, às vezes, objetivos mercadológicos em vez da busca pela qualidade educacional. “Numa escola marista, por exemplo, a busca pelo bom desempenho não deve implicar a seleção prévia de estudantes em prejuízo ao direito de todos ao acolhimento, ao cuidado e ao desenvolvimento não discriminatório”, exemplificou. Nesse sentido, comentou que no Ensino Médio da escola marista, a educação que será colocada em prática deve preservar a vocação da instituição para uma formação humanista, capacitando os jovens para a cidadania plena. Isso implica, na visão do painelista, preparar seres humanos que possam superar os diferentes obstáculos que uma sociedade em permanente transição impõe, tanto para garantir ingresso no ensino superior desejado, quanto igualmente para uma participação significativa e solidária na vida social e

produtiva. “Para enfrentar esses desafios, essa escola deverá ser um ambiente de produção cultural intensa, de protagonismo juvenil permanente”, afirmou. Segundo o professor, tais escolas devem ter características próprias, incorporadas a um projeto pedagógico que atenda os aspectos sociais, culturais ou econômicos da comunidade, assim como às especificidades de seus estudantes. Entre as especificidades listadas por Luis Carlos estão a necessidade de explicitação de princípios, objetivos, métodos, práticas e regras de convívio escolares, que assegurem maior comprometimento de gestores, professores, funcionários, estudantes e suas famílias; aulas e atividades participativas; vivência e contextualização dos conhecimentos disciplinares; avaliações do aprendizado que não fiquem restritas a situações de prova; utilização de novos recursos de comunicação com os educandos, como as redes sociais virtuais; discussão de questões sociais, econômicas, culturais, tecnológicas e ambientais; mobilização de voluntários da comunidade escolar para atuação solidária; e intercâmbio entre as comunidades de escolas maristas, partilhando experiências e questionamentos de forma contínua. Sandra Regina de Oliveira Garcia, doutora em Educação e Coordenadora Geral de Ensino Médio no Ministério da Educação, também participou como palestrante do evento. Ela abordou os dados estatísticos do MEC a respeito do perfil dos estudantes brasileiros por faixa etária e grau de formação, analisando o movimento de permanência e evasão durante o histórico estudantil ao longo da Educação Básica.

Luis Carlos de Menezes, Paulo de Tarso e Sandra Regina Garcia

48 | brasil marista


SE MINá ri os TE MÁ ti cos

NEUROCIÊNCIA E EDUCAÇÃO

Le i t u r a , e m o ç ã o e m e m ó r i a :

ingredientes para um bom aprendizado

“Os educadores já receberam uma educação em que a leitura é colocada como escolarizada, em que o estudante lê para responder perguntas. Assim, como poderão formar seres pensantes?” Elvira Lima O seminário temático Neurociência e Educação foi conduzido por Elvira Lima e pelo Dr. Ivan Izquierdo, que apresentaram uma relevante exposição sobre a formação da memória e a importância deste processo no desenvolvimento das aprendizagens. Quem abriu os debates foi Izquierdo, coordenador do Centro da Memória da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e responsável pela descoberta dos principais mecanismos moleculares da formação, evocação, persistência e extinção das memórias. Durante sua palestra, ele explicou como é armazenada a memória, dando ênfase na importância da leitura nesse processo. “Memória tem a ver com emoção, e só guardamos aquilo que realmente nos marca, nos toca, tais como livros, filmes, peças de teatro, momentos etc.”, afirmou. Essa regra também vale para o aprendizado na escola, independentemente da faixa etária da criança, uma vez que o cérebro é moldável aos estímulos do ambiente. Graças a esses estímulos, são formadas novas sinapses – uma forma de comunicação entre neurônios – que, ao se tornarem mais intensas, processam as informações com capacidade molecular. “Nas crianças, as sinapses aumentam de tamanho e, para aproveitar todo

esse potencial de armazenamento de informações, ainda em tenra idade, os educadores têm que dar a motivação necessária para que haja o aprendizado”, explicou o médico. Outro exemplo em que o armazenamento de informações e o aprendizado precisam ser complementares, segundo Izquierdo, são os cursos pré-vestibulares. Geralmente, com salas repletas de estudantes, oriundos dos mais diversos tipos de educação no Ensino Médio, os professores precisam criar mecanismos, como músicas e personagens, para atrair a atenção dos estudantes e tentar proporcionar um aprendizado pleno. Ele, durante sua explanação, pontuou que nem todos os jovens que ouvem e escrevem a mesma coisa, participando da mesma aula, vão apreender aquele conhecimento para o resto da vida. “Alguns guardam na memória aquele conteúdo somente para a prova; já outros jamais se esquecerão daquela aula”, exemplificou. Isso acontece porque, segundo ele, a memória e as emoções ficam interligadas quando ativadas pelo processo de aprendizagem, e os estudantes precisam sentir-se “seduzidos” por atividades e temas que são relevantes para suas vidas para absorverem o conhecimento. brasil marista | 49


Seres de emoção e seres de cultura A segunda parte do seminário foi apresentada pela professora Elvira Lima, pesquisadora em desenvolvimento humano, com formação em Neurociências, Psicologia, Antropologia e Música. Ela destacou a relevância do conhecimento da Neurociência na educação, frisando a necessidade de repensar o currículo escolar, e privilegiar as linguagens artístico-culturais. Segundo a palestrante, uma das importantes contribuições da Neurociência é compreender e conhecer o adulto que ensina, do ponto de vista dos processos de desenvolvimento e de como isso pode ampliar a perspectiva pedagógica. Justamente por isso, ela se debruça sobre a questão curricular, começando pela formação do professor, tanto a pedagógica, quanto a cultural. A palestrante reforçou a importância da formação dos educadores como reflexo para um bom aprendizado dos educandos. “Essa formação está absolutamente fragmentada”, afirmou. “Os educadores já receberam uma educação em que a leitura é colocada como escolarizada, em que o estudante lê para responder perguntas. Assim, como poderão formar seres pensantes?”, indagou. Para ela, outra grande conquista proveniente da

Neurociência foi ter esclarecido que somos seres de emoção e seres de cultura. Assim como Izquierdo, ela pontuou a importância do impacto emocional no aprendizado: “Não formaremos leitores dessa maneira que estamos fazendo no País, já que esse processo se dá pelo encantamento da narrativa e pela emoção”, alertou. Nesse sentido, manifestou sua crítica à forma instrumental como é feita a formação de leitores nas instituições de ensino na contemporaneidade. Por fim, valendo-se da importância da formação da memória baseada em emoções, Elvira sustentou a necessidade da leitura como experiência estética, a fim de criar o conteúdo cultural e pedagógico, tanto dos professores, quanto dos estudantes. “A utilização da memória dos docentes, do ponto de vista cultural, é fundamental para o ensino, caso contrário a aplicação pedagógica não será plena”, concluiu. Para a auxiliar Ana Claudia Silva, do Colégio Marista Santo Angelo (RS), Província Marista do Rio Grande do Sul, o seminário tratou da importância de conhecer um pouco mais sobre o desenvolvimento humano: “Entender o funcionamento do cérebro, da memória e suas estratégias de aprendizagem possibilita aos professores um conhecimento riquíssimo, além de trazer sugestões para trabalhar com a neurociência em sala de aula. Portanto, como Izquierdo nos disse: “Nós somos o que a nossa memória guarda”. Elvira Lima, Aloirmar José da Silva e Ivan Izquierdo

50 | brasil marista


SE MINá ri os TE MÁ ti cos

Espaços Educativos Emergentes, Mediação e Múltiplas Linguagens

Educação

Aureliano Hernández, Tião Rocha, Francisco Iêdo e Diógenes Philippsen

Plural

“Educação pode ser o que quisermos, desde que aconteça no plural. Nela eu troco o que tenho pelo que não tenho.” Tião Rocha brasil marista | 51


Respeitar a cultura das comunidades, “aprender fazendo e convivendo”, promover o protagonismo dos sujeitos, utilizar de múltiplos recursos, mediações e linguagens que levem ao aprendizado, integrar a comunidade no processo de educação foram algumas das propostas levantadas no seminário temático intitulado Espaços Educativos Emergentes, Mediação e Múltiplas Linguagens. A mesa foi coordenada pelo professor Dyógenes Philippsen Araújo, filósofo, assessor do Grupo Marista. Entre os debatedores estavam o antropólogo Tião Rocha, educador popular e fundador do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD); Aureliano Juárez Hernández, educador social e parceiro na Missão Marista de Guadalupe (Província Marista do México Central), que atua junto às comunidades indígenas tradicionais nas montanhas de Chiapas, no México; e Francisco Iêdo Lopes da Silva Filho, educando e gerente do Memorial do Homem Kariri, na Fundação Casa Grande. Inicialmente, o jovem Francisco compartilhou a experiência vivenciada por ele e outros colegas na Fundação Casa Grande. Trata-se de uma organização não governamental, cultural e filantrópica, concebida em 1992 por Alemberg Quindins, com sede em Nova Olinda, Ceará, Brasil. De acordo com Iêdo, a Fundação Casa Grande nasceu com a missão de promover a formação de crianças e jovens protagonistas. Na verdade, a gestão da organização sempre foi feita, quase na totalidade, por crianças e jovens voluntários. A organização oferta programas lúdico-educacionais que enfatizam a memória regional (histórica, arqueológica, cultural), as competências da comunicação, as artes clássicas e regionais, a pesquisa e o turismo de conteúdo. Os projetos pedagógicos são desenvolvidos através dos laboratórios de conteúdo e produção (aprender fazendo juntos), nos quais as crianças envolvidas têm total participação desde 52 | brasil marista

Francisco Iêdo

a concepção, o planejamento e a execução dos projetos. Ou seja, “aprender fazendo e convivendo” é um princípio fundamental que permeia todas as atividades. Há programas de rádio (programas infantis feitos de criança para criança); turismo comunitário (foram criadas pousadas domiciliares nas residências dos pais dos estudantes, e há formação de meninos e meninas para o receptivo turístico); atividades esportivas (foi construído um Parque Ambiental), atividades artísticas (teatro e música), escavações arqueológicas (cujo objetivo é mostrar para as crianças como viveram os Kariris, primeiros habitantes da região com sua cultura neolítica). Hoje, a Fundação Casa Grande-Memorial do Homem Kariri é uma organização de referência em tecnologia social, sobretudo no que se refere ao protagonismo e participação juvenil nos processos de gestão e educação para a cidadania. Não menos ousado e desafiador é o trabalho exposto por Aureliano Hernazez, realizado desde 1995 com comunidades indígenas. Apoiado pelos irmãos maristas mexicanos e Igreja Católica, o projeto busca levar a educação para as crianças e jovens das comunidades mais retiradas – visto que essas, na grande maioria, encontram-se desamparadas pelo poder público – bem como formar lideranças locais para continuidade dos


Tião Rocha

projetos, para a reivindicação dos seus direitos e preservação da cultura dos povos indígenas. “Levamos uma nova proposta de educação, que nasceu de nossos povos. Uma educação que nos ajuda a viver com dignidade e a manter nossa vocação de camponeses”. São formados comitês de educação e todos aprendem juntos, inclusive os pais, que fazem parte da proposta educacional. “O objetivo é ajudar as crianças a ver por si mesmas, de uma forma crítica e construtiva”, concluiu Aureliano.

Aprender brincando Tião Rocha, por sua vez, reforçou a necessidade de ampliarmos o conceito de educação e daquilo que comumente compreendemos por espaços educacionais. Tião defende a democratização social da educação. O que não deve ser confundido com “escola de massa”, ou seja, imposição de políticas educacionais homogeneizantes, pasteurizadas, que desconsideram o protagonismo das crianças e jovens, que não envolvem a comunidade, que subestimam as tecnologias sociais do aprendizado e da convivência. A lógica “professor ensina e o estudante aprende” é a receita da escola que não funciona. Tião Rocha enfatiza que há diferenças substanciais nas funções de professor e educador: “professor é aquele que ensina. Educador é aquele que ensina e aprende.”

Movido por essa indignação – que nasceu da convivência com o mestre Paulo Freire – Tião funda em1984 o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento visando a formação de educadores e produção de tecnologias sociais de educação. O CPCD é uma organização nãogovernamental, sem fins lucrativos e de utilidade pública federal, estadual e municipal, vinculada ao 3º Setor (de natureza privada e função social pública), com sede em Belo Horizonte (MG), para atuar nas áreas de Educação Popular de Qualidade e Desenvolvimento Comunitário Sustentável, tendo a cultura como matéria prima e instrumento de trabalho, pedagógico e institucional. As tecnologias desenvolvidas pelo CPCD já estão espalhadas pelo Brasil e por vários países. O palestrante reforçou a importância de aprender brincando e de uma escola que respeite o ritmo e o tempo do educando. “Aprender não precisa ser um castigo. Educação pode ser o que quisermos, desde que aconteça no plural. Nela, eu troco o que tenho pelo que não tenho”, afirmou. E foi mais longe dizendo que “precisamos criar maneiras inovadoras de produzir aprendizado, de acordo com as múltiplas culturas e valores do Brasil”. Dyógenes concluiu enfatizando que aquilo que hoje consideramos critério de inovação no cenário educacional não pode restringir-se apenas à imagem tecno-científica da escola, emoldurada de recursos tecnológicos digitais (os tablets, lousas eletrônicas, ebooks, hardwares e softwares). Na verdade, temos a emergência de novos cenários e tecnologias sociais, complementares às estruturas tradicionais de educação, que são os espaços e tempos múltiplos e possíveis da educação, capazes de integrar diferentes sujeitos, experiências, saberes curriculares e culturais, formando (ou resgatando) tecnologias de aprendizado e da convivência que nos dignificam. brasil marista | 53


SE MINá ri os TE MÁ ti cos

Relação Família-Escola

família e escola A tênue relação entre

Mostrando a importância da parceria escola-família, Patrícia Quaresma falou sobre como pais e instituições podem atuar de forma integrada, contribuindo para a formação de cidadãos.

Onde termina a responsabilidade da família e começa a responsabilidade da escola? Para responder essa e outras perguntas, a pedagoga, psicóloga e especialista em Terapia Cognitiva, Patrícia Quaresma, apresentou o seminário temático Relação Família-Escola. Em sua apresentação, traçou um panorama das mudanças que nossa sociedade vem enfrentando em quase todos os setores, mostrando que as alterações delas decorrentes afetam os padrões de relacionamento de maneira nem sempre positiva. “Em muitas áreas da sociedade, percebe-se uma desorientação em relação à forma como se comportar, 54 | brasil marista

como se relacionar e aos valores que se devem utilizar”, analisou. Para ela, tanto família quanto escola não conseguiram blindar-se diante das mudanças da contemporaneidade. Adaptar-se às demandas cotidianas, num trabalho conjunto entre pais e escola, seria, nesse sentido, fundamental para uma formação saudável e funcional de filhos e estudantes. “A maneira como se educa um filho ou estudante reflete no modo como ele se comportará e nos aspectos que valorizará em sua vida”, apontou.


Dados científicos demonstram que as práticas educativas usadas por pais e professores podem tanto estimular quanto inibir o desejo de realização, bem como afetar a construção do autoconceito acadêmico. “É inegável o forte impacto de pais e professores na educação de filhos e estudantes, no sentido de ampliar os horizontes da educação. É necessário utilizar essa influência a favor da constituição dos verdadeiros pilares do autoconceito pessoal e acadêmico”, ponderou.

Patrícia Quaresma

Segundo a especialista, são os exemplos, falas e atitudes que levarão crianças e adolescentes a se tornarem pessoas com mais capacidade de enfrentamento e protagonistas da educação, lidando com as adversidades da vida de maneira positiva em situações como: ter sucesso nos campos afetivo e profissional; cuidar da família, da saúde e da vida social; e buscar uma postura mais efetiva diante dos obstáculos. A professora Mariel Neto Dias, do Colégio Marista Santo Angelo (RS), Província Marista do Rio Grande do Sul, destacou uma frase da palestrante: “Um estilo competente de atuação requer atribuir significado e sentido ao processo de ensinar, pois é um exercício de imortalidade e, de alguma forma continuaremos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia de nossa palavra. Isso me fez repensar e refletir muito sobre nosso papel”.

Atuação integrada de pais e mestres Como a maioria das pessoas passa uma parte significativa de sua vida na escola, em atividades relacionadas a este espaço, convivendo diariamente com professores, funcionários e colegas, a instituição de ensino torna-se a principal parceira dos pais na criação dos filhos. Neste contexto, a boa formação do indivíduo estaria diretamente ligada a uma atuação equivalente entre pais e mestres.

Entretanto, a painelista pontuou que se percebe com frequência que muitos pais não se envolvem com a rotina escolar dos filhos, até que apareçam as notas baixas, a reprovação e as advertências. Filhos de pais que delegam a responsabilidade integral da escolarização às instituições de ensino apresentam níveis de escolaridade mais baixos. Por outro lado, a participação excessiva e controladora dos pais na formação escolar também vai na contramão desse processo.

Segundo a pedagoga, é importante que os pais se questionem sobre qual é o seu lugar, o que se fala sobre a escola e ainda sobre a rotina escolar. Para isso, é fundamental que analisem o estilo de educação que transmitem dentro de casa, ainda mais com a presença crescente de estímulos, como a Internet e a televisão. “Muitos pais não têm a real dimensão do impacto de suas opiniões e comportamentos na formação dos filhos. É fundamental que reconheçam sua influência na vida dessas crianças”, afirmou. Por fim, a palestrante ressaltou que a escolha da escola é uma decisão muito importante. “Os pais precisam ter uma linha de coerência entre a educação e valores praticados em casa e a proposta da instituição de ensino”, explicou. Dessa forma, ainda de acordo com Patrícia, os filhos passarão a ser estudantes numa conjuntura em que o contrato entre escola e família não se encerre apenas em acertos práticos e econômicos, mas que se transforme numa verdadeira parceria e compromisso mútuo, a fim de desenvolver cidadãos de direito e de deveres em nossa sociedade. Para Cristina Pergher Kunz, professora do Colégio Marista Rosário de Porto Alegre (RS), Província Marista do Rio Grande do Sul, o seminário mostrou na prática a importância das relações positivas e do afeto no dia a dia da escola e da vida: “Foi um seminário para cada um dos participantes utilizarem também nas suas vidas fora da escola”. Maria Guadalupe López também participou como palestrante do Seminário, compartilhando a Experiência Miravalles México. brasil marista | 55


SE MINá ri os TE MÁ ti cos

Cultura de vida e sustentabilidade

Educar para a

sustentabilidade “Todos tem de ser mobilizados: o teólogo, o político, o educador, o cidadão comum. É preciso que saiamos do confortável lugar de espectadores para protagonistas.” Marina Silva

Cipriano Luchesi, teólogo, filósofo, psicoterapeuta em Biossíntese e doutor em Educação: Filosofia e História da Educação, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP); Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente; e Leonardo Boff, doutor em Teologia e Filosofia pela Universidade de Munique e um dos principais expoentes da Teologia da Libertação, foram os responsáveis pela condução do seminário temático Cultura de Vida e Sustentabilidade. Com status de Grande Conferência, auditório lotado, os palestrantes falaram sobre os desafios que enfrentamos no tocante à sustentabilidade nos dias atuais. Marina Silva iniciou sua exposição dizendo que “estamos vivendo uma crise que se constitui de múltiplas crises”. Lembrou a crise econômica europeia; e a crise na educação, ressaltando que, no Brasil, temos ainda hoje dez milhões de analfabetos; a crise ambiental, com perda da biodiversidade do Planeta, mudanças climáticas, elevação de temperaturas; e, por fim, a crise de valores. Sobre a situação ambiental, afirmou: “Cinquenta por cento do Planeta já está comprometido. Se tivermos um aumento de mais 2ºC, vamos destruir o equilíbrio do que sustenta a vida”. Ao comentar os problemas no campo dos valores, lembrou que as pessoas defendem interesses que não são legítimos, ou seja, fazem prevalecer interesses próprios em malefício dos outros. Como exemplo, citou a redução de áreas indígenas, em benefício do lucro. “Um modelo que elimina culturas não é sustentável”, ressaltou.

Marina Silva 56 | brasil marista

Nesse sentido, seria necessário, para avançarmos e revertermos esse processo, levar às pessoas uma cultura de vida, de sustentabilidade. “Todos tem de ser mobilizados: o teólogo, o político, o educador, o cidadão comum. É preciso que saiamos do confortável lugar de espectadores para protagonistas ”, afirmou.


A importância da educação familiar Alinhado à perspectiva de que sustentabilidade tem a ver com a relação entre o ser humano e meio em que vive, seja ele natural ou cultural, Luchesi fez suas ponderações sob um foco psicossociológico, com o objetivo de identificar o que tem dificultado a sustentabilidade e o que pode ajudá-la, individual e coletivamente. Durante sua exposição, ele citou Lawrence Kholberg, um psicólogo norte-americano, que nos anos 1960 dedicou-se a compreender os estágios de desenvolvimento ético do ser humano, articulados com o desenvolvimento psicológico emocional. Ele definiu esses estágios em préconvencional (ética infantil = “tudo para mim”), convencional (ética adulta = “eu cumpro os pactos”) e pós-convencional (ética do amor universal = “estou a serviço da vida”). Segundo Luchesi, como sociedade, 92% da humanidade estaria no primeiro estágio da ética, a infantil, pois focamos nossa atenção em nós mesmos, nos nossos pares e na sociedade em que vivemos. Para investir numa cultura de

vida e garantir a sustentabilidade, o caminho seria, segundo o palestrante, a educação familiar. “O caminho é a educação familiar, escolar e social,de tal forma que possamos sustentar relações interpessoais e com o meio com características adultas, aquelas que garantem a nossa sobrevivência”, acrescentou. Leonardo Boff também reforçou o papel da educação na composição de mudanças e de um cenário futuro mais promissor. Ele lembrou que educar significa levar o educando a “aprender a pensar, aprender a fazer, a ser”. Educar, dentro dessa perspectiva, seria levar o indivíduo ao desenvolvimento como pessoa humana, que sabe conviver com o próximo e cuidar do meio ambiente. Numa visão otimista, ele afirmou: “O legado da crise de hoje é uma esperança: a descoberta do capital humano, espiritual. Até agora nos concentramos no capital material”. Ao final alertou: “O progresso tocou nos limites da Terra. O destino nos conclama para um novo começo, uma maneira nova de ver a Terra. Esse é o nosso desafio”. Com essas palavras encerrou a palestra, convocando a plateia a optar pela vida, o maior dom de Deus, para que não desapareça da face da Terra. Cipriano Luckesi, Marina Silva e Leonardo Boff

brasil marista | 57


Fó run s de E xp e r i ê nc i a

Advocacy

GRUPO MARISTA

pe l o d i r e i t o à E d u c a ç ã o I n f a n t i l Esse fórum teve por objetivo discutir a experiência da Rede Marista de Solidariedade no Advocacy pelo direito à educação infantil. Viviane Aparecida da Silva apresentou o trabalho de articulação, que busca atuar em três frentes: promoção, defesa e educação para a solidariedade. A primeira diretriz, promoção, diz respeito ao atendimento, de qualidade, às crianças e jovens, por meio das unidades sociais e educacionais da Rede Marista de Solidariedade (RMS). A segunda, defesa, refere-se ao anúncio dos direitos e de sua violação em ações educativas, de comunicação, assessoria e incidência política. Por fim, no que tange à educação para a solidariedade, a terceira frente de atuação, o objetivo é a contribuição para a formação de atores críticos, dispostos e capazes de defender interesses coletivos e abordar os mecanismos que geram a violência, a pobreza e a exclusão. O resultado do trabalho realizado em nove unidades da Rede Marista de Solidariedade, e que atende 1.200 crianças, é uma proposta socioeducativa com enfoque nos direitos da criança, utilizando uma metodologia de autoavaliação construída coletivamente. Além disso, já foram realizados, por meio da iniciativa, itinerários formativos (nove seminários e sete congressos maristas para as infâncias com a participação de 3.220 educadores da rede pública de Curitiba, no 58 | brasil marista

Paraná, Santos e São Paulo). A mobilização e os esforços deram ainda importantes contribuições para o Grupo de Trabalho Ensino Fundamental de nove anos; para o capítulo de educação infantil do Plano Nacional Primeira Infância; para o Exame Periódico Universal (EPU); e ainda resultaram na implantação do curso de extensão e pós-graduação em Educação Infantil, em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), que atenderá, na primeira turma, 300 professores de Recife (PE), Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR) e São Paulo.


GRUPO MARISTA

processo avaliativo Ref l e x õ e s e m t o r n o d e u m

com nota qualificada A mudança no sistema de avaliação proposto pelas palestrantes da Província Marista Brasil Centro-Sul, agora denominada Grupo Marista, desenvolvido em todas as unidades daquela região, visou romper com posturas centradas na autoridade do professor e num currículo fechado. Para a execução das mudanças, os idealizadores do projeto contaram com recursos da mantenedora marista e com o empenho de coordenadoras pedagógicas e consultores externos. A avaliação foi determinada por níveis de aprendizagem: nível 4, aprendizagem plena; nível 3, aprendizagem suficiente; nível 2, aprendizagem parcial e suficiente; e nível 1, aprendizagem insuficiente. Para chegar à nova metodologia de avaliação, foram estabelecidos objetivos a serem alcançados pelos estudantes. Tais objetivos foram trimestrais no Ensino Fundamental e semestrais no Ensino Infantil. Foram definidos indicadores (critérios para a observação da aprendizagem), que permitiram ao professor observar em que

momento da aprendizagem o estudante se encontrava. O objetivo das mudanças implementadas no processo avaliativo, segundo as conferencistas, foi transformar os estudantes em “sujeitos reais”. Por outro lado, segundo o exposto, as transformações resultaram num professor mais atento, que passou a observar e registrar os resultados da aprendizagem e a respeitar os diferentes contextos sociais dos educandos. Na verdade, passou-se a adotar um currículo construído junto, e não construído para o estudante. De acordo com as conferencistas Claudia Princhak T. Pinto, Maria de Lourdes R. Remenche e Marize Mazzoli Rufino, a nova metodologia trouxe para os educandos a tomada de consciência das próprias dificuldades. Os estudantes passaram a ter consciência exata do que eles precisavam buscar para se apropriar do conhecimento. Houve a substituição do “devo fazer” pelo “por que fazer”.

brasil marista | 59


Fó run s de E x p e r i ê nc i a

Província Marista Brasil Centro-Norte

Sistemas de Avaliação d a C o m pe t ê n c i a Le i t o r a e E s c r i t a d o s Educandos do 1º ano do Ensino Fundamental O segundo fórum de experiência, exposto no Congresso, trouxe exemplos da Província Marista Brasil Centro-Norte. A primeira situação foi apresentada por Elaine Sampaio, analista de Educação Infantil e Fundamental, que abordou os sistemas de avaliação da competência leitora e escrita dos educandos do 1º ano do Ensino Fundamental. O case trouxe o tipo de avaliação implementado em março de 2011 e aplicado duas vezes por ano aos estudantes daquela região. Batizado de ‘Provinha’, tem a função de regular as aprendizagens no âmbito do domínio do sistema de escrita alfabética sob a perspectiva do letramento. Visa também monitorar as práticas pedagógicas, com vistas ao fortalecimento da identidade e dos padrões maristas de qualidade educacional, além de alcançar melhores índices de alfabetização. Na primeira fase de aplicação, em 2012, foram avaliados 1.884 estudantes, dos 1.945 matriculados no 1º ano do Ensino Fundamental da Província Marista Brasil CentroNorte. Como base referencial foram utilizados os documentos Diretrizes Curriculares para Educação Infantil e Avaliação na Educação Infantil e no 1º ano do Ensino Fundamental. A Provinha é um modelo clássico de testes com itens de múlti60 | brasil marista

plaescolha e de escrita, padronizada com índices de correção que vão de 0 a 10. “A contribuição desse tipo de avaliação está no diagnóstico individual, e depois coletivo, da situação da aprendizagem, em tempo hábil para a intervenção via ensino diferenciado. Além disso, objetiva a promoção das práticas de alfabetização sem descompasso entre o domínio das tecnologias e das funções sociais da escrita alfabética”, explica Elaine. Após o diagnóstico inicial é feita uma análise de resultados entre as unidades da província, via videoconferência, com discussões e decisões para possíveis intervenções. Com o diagnóstico final já desenhado, é realizado o planejamento do ano letivo consecutivo, levando às escolas práticas mais arrojadas e aos estudantes um ensino de melhor qualidade.


Província Marista Brasil Centro-Norte

Formação Encontros de

A proposta da exposição foi mostrar a importância dos Encontros de Formação entre estudantes, professores e coordenadores. Criados em 2008, pela Comissão de Evangelização da Província, tinham inicialmente como finalidade unificar processos pedagógico-pastorais, a partir de uma orientação comum que respondesse às exigências de uma ação evangelizadora orgânica, processual e dinâmica.

protagonismo e na cidadania.

Atualmente, os Encontros de Formação são articulações pedagógico-pastorais, de experiências cotidianas entre estudantes, professores, coordenadores e pastoralistas, em que todos são convidados a sair da rotina de sala de aula para se envolver em vivências, discussões, debates, dinâmicas e experiências sobre necessidades valorativas, atitudinais e comportamentais, com foco na formação do

“Educar para a participação é criar espaços para que o estudante possa empreender, ele próprio, a construção de seu ser”, explica Jorge Santos, analista de Pastoral em 34 unidades da Província Marista Brasil Centro-Norte. Segundo ele, as práticas e vivências são os melhores caminhos, já que a docência dificilmente dará conta das múltiplas dimensões envolvidas no ato de participar.

A metodologia empregada abrange o planejamento transdisciplinar até o encontro em si, com toda a sua estrutura de duração, organização, roteiro básico, recursos etc. A continuidade se dá por meio do pós-encontro, que verifica a experiência de culminância atingida por todos os envolvidos.

Elaine Sampaio, Ir. Luíz André Pereira e Jorge Santos

brasil marista | 61


Fó run s de E xp e r i ê nc i a

PROVíNCIA MARISTA do RIO GRANDE DO SUL

educação tecnológica e construção de protótipo Robótica Educacional:

Neste fórum, a Província Marista Brasil Rio Grande do Sul apresentou um case sobre Robótica Educacional, (disciplina) projeto implantado em 18 colégios da região, contemplando cinco mil estudantes, desde a Educação Infantil ao Ensino Médio. A experiência, aplicada por 35 educadores com formação na área de robótica, integra atividades de dois centros sociais, unindo ex-alunos e comunidade. “A metodologia para esse projeto baseia-se no uso da tecnologia como ferramenta (serviço da) de aprendizagem, por meio de propostas inovadoras e que estimulem o raciocínio lógico, a construção do saber e a autonomia, sempre de forma lúdica e atraente. Utiliza-se de criatividade e conceitos multidisciplinares, que envolvem diversas áreas do conhecimento (Física e Matemática), por exemplo”, contou Francisco Meneghette Júnior, coordenador de Robótica Livre. O primeiro contato do educando acontece com o robô Roamer, utilizado pelos colégios maristas desde 1995 (2001), quando se desenvolvem as primeiras noções de Robótica Educacional. O trabalho é voltado à Educação Infantil e aos primeiros anos do Ensino Fundamental, e visa desenvolver a reflexão, a translação e a rotação, permitindo diversas (O robô, com uma estrutura esférica, faz movimentos para qualquer direção e efetua giros de até 360º, também) montagens (animais, personagens, meios de transporte etc.) criando várias possibilidades para os estudantes em suas aulas de Português, Matemática, Ciências, Geografia e História. Além do Robô Roamer, também são utilizados outros protótipos de Robótica como o Lego, o VEX e a Robótica livre. Trata-se de projetos 62 | brasil marista

que trabalham funções específicas de organizar, construir e programar, é também aplicado desde a Educação Infantil ao Ensino Médio, por meio de atividades curriculares e extraclasse curricular. “Com a robótica, os limites passam a ser intransponíveis. Crianças, jovens e adolescentes desenvolvem habilidades de uma forma extremamente criativa e inovadora, construindo um novo jeito de aprender”, descreve o supervisor de Tecnologias Educacionais da PMRS, Maurício Anony.


PROVíNCIA MARISTA do RIO GRANDE DO SUL

Projeto de Inclusão Digital:

C i d a d a n i a , I n c l u s ã o e Re c i c l a g e m d e L i x o E l e t r ô n i c o Este trabalho teve início em 2006, a partir do desenvolvimento de um telecentro. No local, são realizadas atividades de manutenção de computadores com jovens. A experiência é feita no contraturno escolar, com foco no aprendizado em tecnologia. As qualificações oferecidas são: hardware e software, montagem e manutenção de micros, robótica básica e avançada, meta-arte e informática básica para crianças, jovens e adultos. Ao todo, já foram qualificados 775 jovens, e 3.875 computadores foram recondicionados e doados para escolas e instituições. Os estudantes envolvidos aprendem que os materiais chamados de resíduos eletrônicos, tais como computadores, máquinas caça-níqueis, placares eletrônicos, entre outros, são matériaprima para todo o trabalho desenvolvido por eles. A partir desses componentes, equipamen-

tos são recondicionados pelos educandos e doados para várias instituições sociais do nosso País. (atendidas pela Província Marista Brasil Rio Grande do Sul.) O que não é utilizado no recondicionamento vai para as aulas de Robótica Básica e Avançada, e também para a Robótica Livre, em que os jovens são instigados a desenvolver novos robôs ou novas soluções para objetos que, aparentemente, iriam para o lixo. Por fim, o que realmente não serve mais, ou o que não tem mais conserto, vira arte, com direito à exposição e venda das peças. “A tecnologia nos serve de ferramenta para a inclusão digital. Por meio de um projeto multiplicador, que é ‘educando hoje se transforma em educador amanhã’, tiramos os jovens de uma situação de vulnerabilidade social”, explicou Fabiano Flores, coordenador do Polo Marista de Formação Tecnológica.

brasil marista | 63


Fó run s de E xp e r i ê nc i a

INSTITUIÇÕES CONVIDADaS – INSTITUTO ALIANÇA

Com.Domínio Digital Educação Profissional com Foco em Te c n o l o g i a s d e I n f o r m a ç ã o e C o m u n i c a ç ã o O último fórum de experiência do Congresso Marista deu voz a instituições convidadas que promovem processos para a melhoria contínua da educação. O primeiro case apresentado foi o projeto Com.Domínio Digital, do Instituto Aliança, uma associação sem fins lucrativos, de atuação nacional, criada em janeiro de 2002. O trabalho, com foco em informática, exposto por Ilma Oliveira, diretora do Instituto, foi implementado em 2005. Já atendeu mais de 20 mil jovens em todo o País. A proposta é a formação profissional e a inserção social e econômica de jovens de escolas públicas, que não têm oportunidades de ingresso no mercado de trabalho. O princípio básico é a educação integral com o foco no jovem, estimulando assim a descoberta e o desenvolvimento do potencial de cada um. Com um modelo transdisciplinar de formação, o projeto tem carga horária total de 500 horas, divididas em módulos de desenvolvimento social e pessoal, tecnologia da informação e comunicação e contexto de relações de trabalho. Além disso, há mais 100 horas voltadas à vivência prática de todo o aprendizado. Após essa etapa, há a inserção do jovem no mercado de trabalho por meio do envolvimento de uma rede de parceiros governamentais, da iniciativa privada e do Terceiro Setor. As vagas contam com benefícios trabalhistas assegurados, 64 | brasil marista

permanência após seis meses e salário mínimo, numa ação coerente aos degraus do projeto de vida e carreira de cada um. O Instituto Aliança acompanha esses jovens com visitas regulares às empresas e encontros de grupo nos núcleos. A professora Marilei Kovatli, do Colégio Marista Santo Ângelo (RS), Província Marista do Rio Grande do Sul, valorizou a troca de experiências: “O case deixou claro como é possível ter um melhor aproveitamento das tecnologias para potencializar o aprendizado e o desenvolvimento, principalmente nas áreas de português e matemática, grande deficiência na educação básica dos jovens”.


INSTITUIÇÕES CONVIDADaS – UNESCO

Custo Aluno-Qualidade Inicial d a E d u c a ç ã o d e Te m p o INT E GRAL :

o Brasil merece uma escola por inteiro

Esse case é decorrente da experiência da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, nascida em 1999, e que articula mais de 200 organizações, movimentos e redes brasileiras. A proposta é atuar pela efetivação dos direitos educacionais estabelecidos em lei, colaborando para uma melhor educação pública para todos. “O Custo Aluno-Qualidade é o gasto anual por estudante necessário para se alcançar um patamar inicial de qualidade, sintonizado com o que estabelece o Plano Nacional de Educação”,

explicou Iracema Nascimento, coordenadoraexecutiva da Campanha. Seu conceito está ligado à educação entendida como aquela que leva pessoas a serem sujeitos de direitos, de aprendizagem e de conhecimento. Vincula-se também à valorização da diversidade humana, superando preconceitos e discriminações. Além disso, reconhece as desigualdades sociais presentes na própria educação e considera as necessidades, as potencialidades e os desafios locais. Para tanto, há a exigência de um investimento financeiro em longo prazo e de políticas consistentes de avaliação, que não podem se limitar à medição do desempenho dos estudantes em testes padronizados. Infelizmente, ainda são poucos os municípios que empregam esse modelo de gestão. “O Custo Aluno-Qualidade propõe verificar quantas crianças, adolescentes, jovens e adultos estão matriculados; quantos ainda precisam ser matriculados; e calcula o investimento necessário para oferecer educação de qualidade a todos, a partir de determinados insumos”, apontou Iracema. Segundo ela, os recursos gastos na educação e em outras políticas sociais não são suficientes para que a lei seja cumprida, uma vez que, ao definir o orçamento para os projetos sociais, os governos partem do dinheiro disponível depois de já terem investido a verba em outras áreas. brasil marista | 65


es p i ri tua li da de

espiritualidade A dimensão da

no contexto educacional

“Uma preocupação foi fazer com que as acolhidas e orações não tivessem conotação religiosa, mas reforçassem que a educação marista luta para garantir uma vida mais digna para quem não tem voz e não tem vez.“ Pe. Vilson Groh 66 | brasil marista

Com base na visão de que uma educação de qualidade deve contemplar necessariamente o desenvolvimento espiritual e pleno do ser humano, a programação do 4º. Congresso Marista contou com atividades que reforçaram esse princípio e mostraram aos educadores a importância da evangelização no contexto educacional. As acolhidas e orações foram alguns desses momentos. Com o objetivo de criar um espaço que contemplasse a dimensão da espiritualidade, disseminando entre o público a importância


de celebrar, cantar e atuar para a construção de um mundo melhor, tais atividades aconteceram durante todos os dias do evento, precedendo as primeiras grandes conferências. “Procuramos envolver todas as Províncias nesse trabalho, que foi realizado pelas pastorais de cada região. Uma preocupação foi fazer com que as acolhidas e orações estivessem alinhadas com os temas que seriam tratados em cada dia do Congresso e não apresentassem conotação religiosa, mas reforçassem que a educação marista valoriza o diálogo, a participação e a cooperação. Ou seja, todo mundo lutando pelos mesmos ideais no sentido de transformar o planeta e garantir uma vida mais digna para quem não tem voz e não tem vez”, explicou João Carlos de Paula, assessor da Área de Missão da UMBRASIL.

Transformação à luz do evangelho Segundo João Carlos, a espiritualidade permite o autoconhecimento e possibilita desenvolvermos uma educação que coloca a vida como valor universal. “A programação visou ressaltar a importância de defendermos a dignidade do ser humano, motivando cada pessoa a respeitar o outro com suas diferenças

e limitações”, complementou. Para reforçar esse princípio, as Províncias buscaram criar maior interação com o público presente nas palestras. “O objetivo foi passar uma mensagem na qual todos se sentissem responsáveis por evangelizar, mostrando que os maristas têm um coração sem fronteiras e possuem os mesmos ideais, de modo a transformar a sociedade à luz do evangelho”, acrescentou o assessor. Nesse sentido, Padma Samten, lama budista, acredita que não só as acolhidas, mas o Congresso como um todo, cumpriram seus objetivos. Na opinião do líder, foi possível perceber durante o evento uma convergência religiosa na busca pelo desenvolvimento espiritual do ser humano. “Fiquei muito satisfeito em participar do Congresso e encontrar uma identidade de propósitos, que é fundamental para a construção de um mundo mais justo”, opinou o líder budista. Segundo ele, é importante entender a experiência de educação marista no contexto da espiritualidade, assim como conhecer outros modelos, que podem atuar conectados, contribuindo para tornar os seres humanos mais felizes. João Carlos complementou, dizendo que a espiritualidade para o Brasil Marista não se limita às orações. “Queremos ajudar as pessoas a terem projetos de vida, independentemente de sua confissão de fé. E nossa maior satisfação é saber que temos conseguido grandes avanços nesse sentido, aliando a fé, a educação e a solidariedade. Na verdade, como dizia Marcelino Champagnat: ‘quando fazemos os outros felizes, encontramos nossa felicidade’. O Brasil Marista acredita e pratica esse princípio”, concluiu. brasil marista | 67


cu ltura

arte cultura

A representação da

Grupo Armorial Ariano Suassuna

e da

As diversas apresentações culturais, realizadas durante todos os dias do Congresso, abrilhantaram o evento e mostraram como a arte pode ser grande aliada na prática escolar. 68 | brasil marista

A arte permite desenvolver o raciocínio e a inteligência. Por isso, envolver esse elemento na educação é contribuir para a transformação e o crescimento integral dos indivíduos. Foi partindo dessa premissa que a programação do 4º Congresso Marista de Educação trouxe a diversidade cultural em vários momentos, reforçando a arte como um importante princípio educativo. As diversas apresentações culturais, realizadas durante todos os dias do Congresso, enriqueceram o evento e mostraram como a arte pode ser grande aliada na prática escolar, à medida que é disciplinadora e forma para a vida. “As escolas estão preocupadas com a excelência acadêmica. Entretanto, a criação de um clima lúdico no ambiente escolar, que gere bem-estar aos estudantes na realização das várias atividades, pode contribuir para se atingir essa qualificação. Ao mesmo tempo, garante-se maior retenção e maior envolvimento dos educandos, que sen-


tem prazer em frequentar a escola. A arte facilita o aprendizado e estimula a criatividade”, ressaltou Irmão Eduardo D´ Amorim, coordenador de Arte e Esporte da Província Marista Brasil Centro-Norte e membro da Comissão Organizadora do evento. Segundo ele, a programação cultural do Congresso foi elaborada com o envolvimento das Províncias Maristas. As atrações, algumas protagonizadas por estudantes e professores, foram bastante elogiadas pelos congressistas. Quem participou das performances também avaliou positivamente a experiência. “Faço ginástica olímpica na escola e entramos com o nosso corpo de baile para uma apresentação em que mesclamos dança e ginástica. É emocionante mostrar nossas atividades culturais em um evento como esse, onde estão reunidas pessoas do mundo inteiro”, declarou Pedro Zancan, estudante do 3ª ano do Ensino Médio do Colégio Arquidiocesano, de São Paulo (SP), que fez parte de uma das coreografias de dança exibidas no Congresso.

Grandes talentos As manifestações aconteceram no palco do auditório, onde foram realizadas as grandes conferências, e também nos corredores do Pavilhão de Exposições, durante os intervalos das palestras e horário do almoço. O público foi contemplado com apresentações brilhantes, como a da Orquestra de Câmara e Coral da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), que emocionou a todos. Outro momento de grande riqueza cultural foi o show de poesia e música, conduzido pelo Grupo Três por Quatro. Durante 30 minutos, a plateia foi convidada a cantar, dançar e recitar. O repertório foi baseado em cantigas de roda, poesias, adivinhas, trocadilhos e trovas populares. A figura do palhaço e suas diversas interpretações fazem parte do imaginário de qualquer adulto. Quem quando criança não se encantou ao assistir à atuação de um palhaço? Essa magia do circo esteve presente no evento, por meio da participação da Trupe Zé Bediee e os Tripas. O grupo focou o entretenimento por meio de palhaços, que interagiram com as pessoas, de forma descontraída e divertida.

Irmão Eduardo D’Amorim

Orquestra de Câmara e Coral da PUCPR

O público também foi contemplado com a belíssima apresentação da Banda Paralela, formada por cinco sopros e duas percussões, que buscou resgatar a tradição das bandas brasileiras, usando humor, descontração e interação com o público. Abrilhantando ainda mais a programação cultural do Congresso, o Grupo Armorial Ariano Suassuna (Colégio Marista Pio X, de João Pessoa), da Paraíba, encerrou as atividades, no último dia do encontro, com uma performance brilhante. O grupo trabalha a arte erudita a partir da cultura popular do Nordeste brasileiro e, ao mesmo tempo, resgata o movimento armorial entre os educados. É formado por jovens de diversas idades, que têm aulas especializadas e utilizam instrumentos musicais eruditos e populares, como violino, violoncelo, oboé, flauta, violão, acordeon, piano etc. Atualmente, é regido pelo educador Yuri Ribeiro. Durante o evento, diversas escolas mostraram o talento de seus estudantes, em coreografias de dança e performances artísticas, completando um trabalho de grande consistência cultural. brasil marista | 69


CARTA AB E RTA

Carta Aberta: sistematização de reivindicações e olhares

O propósito maior da Carta Aberta é envolver os cidadãos, muito além dos espaços maristas, chamando a atenção, das entidades representativas que protagonizam as decisões acerca da política educacional no Brasil.

Katiuscia Sotomayor 70 | brasil marista


Além do conteúdo compartilhado com todos os participantes, o 4º. Congresso Marista de Educação teve como resultado a produção da Carta Aberta, importante contribuição para os avanços da educação no País. O documento, uma grande síntese de ideias associadas às práticas e políticas que promovam o direito à educação de qualidade, foi concebido durante o evento e está à disposição no endereço http://congressomarista.com.br/?page_id=1022 para leitura e novas adesões dos cidadãos que compartilhem das reivindicações e olhares ali propostos. O objetivo da Carta Aberta foi a definição clara das proposições que emergiram das reflexões e dos debates do Congresso, a fim de promover um diálogo com a sociedade. O propósito maior do documento é envolver os cidadãos, muito além dos espaços maristas, chamando a atenção, especialmente, das entidades representativas que protagonizam as decisões acerca da política educacional no Brasil. Para Maria Waleska Cruz, coordenadora educacional da Província Marista Brasil Rio Grande do Sul, e uma das responsáveis por acompanhar a elaboração do documento, contribuir com essa iniciativa foi uma imensa responsabilidade. “Sinto-me feliz por poder fazer valer minha cidadania, participando de um movimento intencional, que se quer justo, necessário e solidário em favor dos jovens e das crianças brasileiras”, ressaltou. Um dos objetivos específicos do 4º Congresso Marista de Educação era reconhecer os educandos como sujeitos de direitos, protagonistas em diferentes espaçotempos da educação. “A intencionalidade da produção da Carta no evento foi de propagar e sensibilizar a sociedade sobre esses direitos”, explicou. Segundo Waleska, trata-se de um documento de alerta à população e às autoridades governamentais. “Esperamos que traga ecos positivos de sensibilização e ação em prol dos direitos das crianças e adolescentes”, concluiu.

Direito consagrado A Carta reconhece que a educação das infâncias e das juventudes é um direito consagrado nos tratados internacionais e uma obrigação do Estado. Deve ser garantida em sua totalidade, a partir de critérios que permitam o desenvolvimento das potencialidades do educando e, em

particular, promovam a autonomia progressiva e a participação ativa na construção de uma sociedade justa, fraterna, igualitária e solidária. O documento pretende também ser um apoio aos esforços, por meio do Projeto de Lei do Plano Nacional de Educação 2010-2020, no sentido de garantir que 10% do PIB sejam destinados à educação, ante os 5% que são disponibilizados atualmente. Manifesta a insatisfação frente à falta de uma lei que garanta, com orçamento público suficiente, educação para todas as etapas da vida de crianças, adolescentes e jovens, sobretudo, aqueles que têm sido, reiteradamente, excluídos e submetidos a discriminações. Busca ainda a efetividade da educação disponível, e que seja acessível, aceitável e adaptável a todos, o que se encontra em risco no Brasil. Segundo o Relatório Crianças e Adolescentes em Dados Estatísticos (CADE Brasil 2011), somente 8% da população de 0 a 3 anos de idade e 40% dos que possuem de 4 a 6 anos de idade estão matriculados em escolas de nosso País. Somado a esse quadro preocupante, 1,3 milhão de estudantes ingressam no 1º ano do Ensino Médio com idade inadequada e a taxa de abandono nessa fase da formação escolar é de 11,5%. Além disso, o manifesto objetiva a inclusão dos educandos, educadores e gestores de educação no processo de elaboração e avaliação das políticas públicas de educação, ampliando assim as possibilidades de que as escolas sejam centros de promoção dos direitos humanos e de agentes de transformação social. A situação dos educadores brasileiros é outra relevante questão levantada pelo documento, que conclama as autoridades para que sejam priorizadas condições adequadas de trabalho aos professores, oferecidas infraestruturas físicas dignas e estabelecidas metodologias, currículos e itinerários formativos que considerem os espaçotempos nos quais as crianças, adolescentes e jovens estão inseridos. Nesse contexto, espera-se que esse documento, consolidado por meios das discussões estabelecidas no Congresso e sistematizado mediante o debate e os anseios de diferentes setores da sociedade, dê voz à justa causa da melhoria das condições da educação brasileira, tão fundamental para o desenvolvimento de uma nação. brasil marista | 71


es p a ço do s e x p o s i to r e s

vitrine

Uma grande

Cerca de 30 expositores de diversas áreas participaram do Congresso e apresentaram serviços e produtos para um público altamente qualificado.

72 | brasil marista

Além da vasta programação técnica-científica, o Congresso Marista de Educação contou com cerca de 30 expositores das mais diversas áreas, apresentando serviços (seguros, financiamentos educacionais e soluções em tecnologia) e produtos (livros, revistas, materiais didáticos e paradidáticos, entre outros), voltados às escolas, aos educadores e educandos. Os congressistas também conheceram de perto os itens confeccionados pelos participantes do projeto de Comercialização Solidária do Instituto Marista de Solidariedade, oriundos de várias regiões do País. Alguns expositores participaram do evento pela primeira vez, como a Universia Brasil, Editora Segmento e International Paper. Confira a seguir a opinião de alguns participantes.


Universia Brasil A Universia Brasil, marca do Grupo Santander, teve como foco captar clientes universitários interessados em seus produtos. “Pudemos apresentar ao qualificado público presente soluções que se encaixam na educação como um todo. Somos uma rede de cooperação universitária presente em 23 países na Ibero-América. Atuamosno Brasil com 270 instituições parceiras”, explicou Francine Daniel, analista de relações com Universidades. Editora Segmento A Editora Segmento levou revistas voltadas a professores, gestores e administradores. “Aproveitamos o público do Congresso para lançar a Revista Educação Infantil, uma publicação trimestral com ênfase na primeira infância, com artigos e reportagens sobre o tema”, contou Everton Roberto da Cruz, representante comercial da Editora. International Paper A International Paper apostou na aproximação com professores e gestores, expondo produtos específicos para a sala de aula. “Estamos aqui graças à parceria com a FTD, pois fornecemos papéis para a impressão dos livros da editora”, explicou Fabiana Andrade, analista de Marketing da International Paper. FTD A participação da FTD teve como foco estreitar ainda mais o relacionamento com os clientes. Segundo Daniela Silveira Lima, coordenadora de Marketing, o Congresso foi uma ótima oportunidade para comemorar os 110 anos da editora e lançar produtos didáticos e paradidáticos. Âncora Seguros Marcando presença no Congresso pelo terceiro ano, a Âncora Seguros é uma empresa líder no segmento de seguros educacionais, com mais de 500 mil estudantes segurados e presença em 21 estados do país. O objetivo da participação foi a divulgação da marca junto aos visitantes. “Temos parcerias com os maristas desde 2000 e, atualmente, atendemos 50 unidades da rede em todo o Brasil”, afirmou Ana Fontes, gerente de relacionamento da marca. brasil marista | 73


Lego Education Marca consagrada, a Lego Education está presente em muitas escolas maristas, que já utilizam os kits e os projetos pedagógicos da Lego Education, sobretudo em robótica, como complementação da grade curricular. Para Nilton Joaquim, vice-presidente da Associação Brasileira das Franquias Premium Lego Education, o Congresso é uma excelente oportunidade para mostrar a proposta educacional diferenciada da empresa, justamente por ser uma ferramenta que agrega valor às aulas e auxilia no aprendizado. Instituto Marista de Solidariedade O Instituto levou seis expositores, vindos de diversas regiões do Brasil, para apresentarem o resultado do Projeto de Comercialização Solidária. A experiência deles foi relatada num livro, intitulado Comercialização Solidária no Brasil: uma estratégia em Rede, lançado durante o Congresso. “O livro é um retrato das experiências de comercialização solidária que foram articuladas e comercializadas em rede, de forma coletiva e autogestionária. Foi uma ação bem-sucedida que gerou receita para os participantes”, explicou Rizoneide Souza Amorim, analista social do Instituto Marista de Solidariedade.

CriativeEcoArte Durante o evento, a carioca Regina Fontes fez o lançamento da marca CriativeEcoArte. A linha de produtos é composta por objetos de decoração, bijuterias e acessórios confeccionados com palha de milho e outros materiais recicláveis. “A aceitação foi tão grande, que vendi tudo o que trouxe”, revelou a artesã. Buriti da Amazônia A Buriti da Amazônia, do Acre, comemorou a boa receptividade do público em relação a seus produtos – biojoias feitas a partir de sementes da biodiversidade brasileira, principalmente 74 | brasil marista

da região Norte do País. “Graças ao projeto de comercialização solidária, nossos produtos são vendidos por todo o Brasil e, mais recentemente, no exterior, em feiras e eventos, como o Congresso”, afirmou Marcia Silvia de Lima, proprietária.


GRIF – Grupo Inspiração Feminina Vindo de Alagoinhas, interior da Bahia, o GRIF (Grupo Inspiração Feminina) é fruto da criatividade da artesã Neide Alves. Produz cartões, ímãs de geladeira e quadros utilizando uma mistura de areia, casca de cebola, palha e pequenas folhagens. Segundo Neide, muitos professores revelaram a intenção de incorporar a ideia dos materiais nas salas de aula. “É possível aliar a consciência ecológica à educação em várias atividades escolares”, observou a artesã. Justa Trama No espaço para os artesãos, a Justa Trama representou por completo os princípios de economia solidária, uma forma de produção centrada na valorização do ser humano e não do capital. “Na Justa Trama, o algodão é produzido por pequenos agricultores no interior do Ceará; o tecido é fabricado em Minas Gerais; e as roupas são confeccionadas no Rio Grande do Sul e Santa Catarina e customizadas com sementes do Norte do País”, contou Terezinha da Silva Maciel, representante da marca.

brasil marista | 75


positiva DE PO IME NTO s

Repe r c u s s ã o

O 4º Congresso de Educação Marista registrou repercussão positiva, superando as expectativas de palestrantes, congressistas e convidados. Confira alguns depoimentos sobre o evento.

“O 4º Congresso Marista apresentou temas de fundamental importância para o desenvolvimento de nosso trabalho. Tivemos a oportunidade de representar a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e apresentar o trabalho de Formação Continuada de Gestores, conduzido pelo Centro de Planejamento e Gestão do Quadro do Magistério. As grandes conferências, painéis e seminários foram de grande valor para professores, gestores e outros profissionais refletirem sobre suas atitudes, tendo em vista que, muitas vezes, são tidos como exemplos perante seus pares, sejam estudantes, colegas de trabalho ou outros públicos. Agradecemos a oportunidade e o aprendizado.” Solange Guedes Secretaria Estadual da Educação de SP

“Esse foi o evento mais significativo que acompanhei no decorrer de toda a minha vida acadêmica. O nível dos palestrantes foi muito bom, o conteúdo rico e de acordo com o que a gente vive na contemporaneidade nas escolas.” Vanessa P. Souza Professora de Educação Infantil do Colégio Marista São Luís, em Jaraguá do Sul (SC), Grupo Marista 76 | brasil marista

“O Congresso é uma oportunidade única de rever conceitos, de se renovar e aprimorar conhecimentos. Um momento de troca de experiências e de refletir sobre nossas ações, para melhor estar a serviço das pessoas.” Maria das Dores Menezes Educadora da Pastoral do Colégio Marista Arquidiocesano (SP), Grupo Marista

“Esse 4º Congresso confirmou convicções, promoveu reflexões além de possibilitar muitas trocas de experiências. O ambiente estava rico em desafios intelectuais e humanos.” Viviane Truda, Supervisora Educacional da Província Marista do Rio Grande do Sul

“Tivemos palestras voltadas a várias áreas. Os momentos que mais me marcaram foram as exposições de Ariano Suassuna, que foi voltada à cultura, e de Miguel Ângelo, que tratou da Neurociência.” Claudânia Santos Educadora do SEAC (Serviço de Arte e Cultura), da Escola Marista Champagnat, em Teresina (PI), Província Marista Brasil Centro-Norte


“O Congresso é um importante espaço de debates que assegura a discussão da educação para a sustentabilidade. É o esforço que a educação precisa fazer para conscientizar os cidadãos de que os recursos do planeta não são infinitos.” Marina Silva, Ex-ministra do Meio Ambiente

“A nossa Província esteve muito bem representada pelos educadores e gestores, que tinham alegria, vibração e brilho nos olhos.” Ir. Wellington Mousinho de Medeiros, Presidente das Mantenedoras UBEE/UNBEC (União Brasileira de Educação e Ensino e União Norte-Brasileira de Educação e Cultura)

“O 4º Congresso Marista de Educação superou expectativas pela qualidade de sua programação científica, pela dinamicidade metodológica com que atendeu as necessidades e expectativas dos congressistas e pelo brilhantismo cultural apresentado.” Maria Waleska Cruz, Coordenadora Educacional da Província Marista do Rio Grande do Sul e membro da Comissão Organizadora do 4º Congresso

“Além de ser um espaço de formação e de partilhas de experiências, é também uma oportunidade ímpar de celebração da educação marista no Brasil. Os olhares da nossa Província estiveram voltados ao Congresso. Essa conjugação de intencionalidades e saberes, com certeza, agregará vitalidade à caminhada social e educacional da PMBCN.” Dilma Alves, Superintendente Socioeducacional da Província Marista Brasil Centro-Norte

“Penso que o Congresso foi um grande encontro. Não só da diversidade educacional marista, mas com o que há de mais moderno no pensamento educacional. Todas as discussões tentaram responder a pergunta: Como melhorar a educação para as juventudes e infâncias?” Jaqueline de Jesus, Gerente educacional da Província Marista Brasil Centro-Norte e membro da Comissão Organizadora do 4º Congresso

“A edição internacional do 4º Congresso Marista de Educação possibilitou o enriquecimento pessoal e profissional dos educadores presentes, por ser um espaço de aprendizagens educacionais significativas com vistas a uma educação de qualidade.”

“Este Congresso certamente marcou a agenda de eventos paulistana no campo da Educação. Foi um encontro da Educação com a cidadania e a solidariedade, por um conhecimento que se constrói em favor de uma vida digna para todos e todas, com humanismo. Foi também uma oportunidade para rever conceitos, se aprimorar e agregar valores aos saberes constituídos.”

Adriana Castiglia Filipetto, Supervisora Pedagógica da Província Marista do Rio Grande do Sul e membro da Comissão Organizadora do 4º Congresso

Monica Kondziolková, Coordenadora da Área de Representação Institucional da UMBRASIL e membro da Comissão Organizadora do 4º Congresso

Fernanda Golmic, Formação Continuada de Educadores da Educação Infantil, da Secretaria Municipal de Educação de Lins (SP)

“O Congresso reforçou minha percepção de que é preciso trabalhar mais o ser; parar de pensar no eu e pensar na totalidade. É preciso formar crianças para serem felizes, embasadas em outros valores, que não só o ter, mas a tolerância e o respeito mútuo.”

brasil marista | 77


ex p ed i en te

União Marista do Brasil (UMBRASIL) DIRETORIA DA UMBRASIL Diretor-Presidente Ir. Arlindo Corrent Diretor-Tesoureiro Ir. Délcio Afonso Balestrin Diretor-Secretário Ir. José Wagner Rodrigues da Cruz SECRETARIADO DA UMBRASIL Secretário Executivo Ir. Valdícer Civa Fachi Área de Gestão Coordenador Ir. Rosmar Rissi Assessor José Messias de Almeida Pina Analista Sonia de Sousa Vidal Área de Missão Coordenador Ir. José de Assis Elias de Brito Assessores Mércia Maria Silva Procópio Leila Regina Paiva de Souza João Carlos de Paula

Analista de Inteligência Competitiva Gustavo Lima Ferreira Secretária Geral Núbia Azevedo dos Santos Arquivista Ana Paula Sales

Apoio Alan Paes Candeia Alexandre Cardoso Amanda Ribeiro Bruno Bonamigo Caroline Miranda Danilo Roquete Gustavo Caselato Irene Simões Letícia de Castilhos Lidiane Amorim Marcos André Scussel Miriam Aguiar Patricia do Amaral Paulo de Tarso Pollyana Nabarro Raquel Pulita

Área de Vida Consagrada e Laicato Coordenador Ir. Antonio Quintiliano da Silva

Textos Anelisa Maradei, Madalena Almeida a Andréa Diniz

Assistente Administrativa Ana Maria da Silva Peixoto Coordenadora de Comunicação e Marketing Katiuscia Sotomayor Analista de Comunicação e Marketing Marjoire de Carvalho Castilho Coordenadora Administrativo-Financeira Cristiane Cardoso Costa Analista de Suporte de TI João Luiz da Costa e Costa 78 | brasil marista

Aloirmar Silva

Ir. Antonio Quintiliano

Ascânio João Sedrez

Bárbara Pimpão

Ceciliany Alves

Cristiane Cardoso

Décio Andrasy

Dyogenes P. Araújo

Ir. Eduardo D’Amorim

Gustavo Lima

Ir. Iranilson Lima

Isabel Azevedo

Jaqueline de Jesus

João Carlos de Paula

Joaquim A. Andrade S.

Ir. José de A. E. de Brito

José Messias Pina

Katiuscia Sotomayor

Leila Regina Paiva

Mª Waleska Cruz

Marjoire Castilho

Mércia Procópio

Monica Kondziolková

Núbia Azevedo

Ricardo Tescarolo

Ir. Rosmar Rissi

Simone Engler Hahn

Sonia Vidal

Ir. Valdícer Civa Fachi

Ir. Valter Zancanaro

Auxiliar de Serviços Gerais Eliane Almeida

Cobertura Jornalística Amaradei Comunicação

Área de Representação Institucional Coordenadora Monica Kondziolková

Adriana Filipetto

Auxiliar Administrativo Anderson Cabral

Analista Deysiane Farias Pontes

Assessor Joaquim Alberto Andrade Silva

Comissão Organizadora do Congresso

Coordenação Anelisa Maradei

Edição e Revisão Final Katiuscia Sotomayor Fotos School Picture Identidade Visual Caselato Comunicação Diagramação PUCRS – Faculdade de Comunicação Social/Famecos Reitor da PUCRS Ir. Joaquim Clotet Diretora da Famecos Profª Mágda Cunha Coordenador do Espaço Experiência Prof. Fábian Chelkanoff Núcleo Design Editorial Prof. Rogério Fraga, Giovanna Maia e Lúcia Vieira


Crescer com Alegria e Fé: plantando a semente da igualdade desde cedo. A partir das narrações da Bíblia, as crianças internalizam conceitos que as nortearão a ser mais éticas, fraternais, solidárias e tolerantes. Temas como Eu e Deus, Família, Vivendo em grupo, Amigos de Deus e Transformação estão presentes em cada volume. O material complementar é tão rico que parece até principal: Orações e oficinas, Adesivos, CD de músicas e DVD para o professor.

Histórias camente bíblicas ri texto e as d ra ilust cil gem de fá com lingua aluno, Manual ao o sã , compreen rientações or com o , do profess atividades extras e sugestões nais sobre io ic ad es e informaçõ históricos aspectos s. o ic g ló o te

ssos Adotando no terá livros, você acesso ao SUPORTE CO PEDAGÓGI DIGITAL

ENSINO RELIGIOSO Ensino Fundamental I

0800 772 2300

www.ftd.com.br brasil marista | 79


JULHO DE 2013

Marcelino Champagnat, durante toda a sua vida, colocou-se a serviço da evangelização de crianças e jovens. Continuador dessa missão há quase 200 anos, o Instituto Marista favorece espaços de encontro, partilha, celebração e formação juvenil. Persistindo no sonho de Marcelino, o Instituto criou o Encontro Internacional de Jovens Maristas (EIJM), que acontece na semana que antecede a Jornada Mundial da Juventude e, em 2013, será promovido de 17 a 22 de julho na cidade do Rio de Janeiro.

SAIBA MAIS:

Instituto dos Irmãos Maristas 80 | brasil marista


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.