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ntre março e abril de 2013, saímos em expedição para registrar os sons timbres e cores da Amazônia ocidental. Buscamos seguir os passos do primeiro registro audiovisual da região, realizado pelo etnógrafo alemão Koch-Grünberg, mais de 100 anos atrás. Com um estudio móvel de gravação fomos da fronteira da foz do rio Içana, perto da fronteira da Colômbia, até a comunidade de Kumarakapay, na Venezuela. Por esse caminho conhecemos mestres da cultura popular e tradicionais, assim como jovens compositores. Neste livro-CD, compartilhamos os melhores momentos dessa aventura, onde a música é o cerne da história.
Instrumentos aerófonos do rio negro: flauta de pã, japurutú e jurupari. Trecho de canto baníwa que narra o percurso das cachoeiras onde estão escondidos os desenhos das flautas sagradas.
A banda Marupiara é regida por Ademar Garrido Delgado, compositor e gaitista. Seus parceiros são Pedro Damião Castro Fernandes (Guitarrista solo), João Paulo de Lima (Guitarrista base), Eleomanr Buchão (contrabaixo), José Francilino Sobrino(pandeiro), Nertan Márcio Dutra de Araújo e Marcus Augusto (zabumba), Mirian Camico Vital(back vocal) e Deusita Rodrigues (vocal).
Às vezes, dois deles soprando as flautas, entravam na casa e dançavam por lá rodando, até que se lhes ajuntassem duas moças, com as quais desapareceriam aos poucos na escuridão da noite. (KOCH-GRÜNBERG, 307, 2005)
Chegamos a São Felipe ao meio dia. [...] Dom Germano Garrido y Otero, nascido no norte da Espanha, manda aqui com rigor e justiça. A praia gingantesca que fica em frente das casas, como distintivo de São Felipe, visível desde longe, oferece na sua deslumbrante pureza quase um símbolo do lugar inteiro e do caráter dos seus moradores. Fui recebido com muitíssima cordialidade e conheci Dom Germano. [...] Nunca esquecerei a sua ilimitada hospitalidade, quando depois de dois anos de minhas muitas viagens fui despedir-me definitivamente daquele magnífico ancião ancião, sentimos ambos o peso da separação. (KOCHGRÜNBERG, 55-56, 2005)
Taína Rukena é o nome de uma cachoeira que tem próximo à comunidade de Boa Vista do rio Içana. Significa buraco da criança: uma lenda que nossos pais sempre contavam sobre o desaparecimento de crianças levadas por essa cachoeira. Demos o nome da nossa banda o nome dessa cachoeira. (Alcimar Bruno, vocalista da Banda TR)
Uma cena encantadora observei aqui pela primeira vez. Duas pessoas, ou também um homem e uma mulher, ofereciam-se reciprocamente as cuias com caxirí, ao mesmo tempo alternadamente entoando uns versinhos melodiosos e lisonjeiros, evidentemente com texto improvisado, uma espécie de desafio. Então vinham os rapazes com grandes cuias trazendo a bebida refrescante, e exclamando em alta voz: “tsá - - ã - - !” (KOCH-GRÜNEBRG, 1905)
A tradição, o ritual aqui das tribos tem uma batida. Para encontrar esse ritmo foi difícil, ele tem uma cadência muito lenta. Para fazer uma apresentação de duas horas com brincantes, com o público do Festribal, tivemos que adaptar. Isso de uns anos para cá, após muitas discussões entre os novos músicos e os que defendem a tradição. O que nós fizemos? Basicamente, mantivemos o estilo e aceleramos a cadência. (Denilson Reis, radialista e compositor de São Gabriel da Cachoeira)
Seu Ademarzinho Garrido conta que é descendente de espanhol, de Dom Germano Garrido, anfitrião de Koch-Grünberg de 1903 a 1905, quando este viajava pelo alto rio Negro.
Muito esquisitos instrumentos são as “flautas” de crâneos de veado, de cuati e outros animais. Uma grande parte do crâneo fica tapada com breu. Ficam abertos somente os buracos da nuca e do nariz. Soprando por cima de um destes buracos, a gente usa o outro buraco como buraco de tom. (KOCH-GRÜNBERG, 311, 2005)
Todas as danças e os cantos de danças desses índios estão intimamente ligados a seus mitos lendas. Para as letras de dança, o mito em questão é que nos dá a chave. Assim, por exemplo, o parischerá se refere a um extenso mito em que desempenham seu papel uns instrumentos mágicos de caça e pesca que um xamã recebe dos animais e que, ao final, por culpa de seus parentes malvados, tem de devolver. Tal como o tukúi ou tukúschi é a dança de todos os pássaros e de todos os peixes, o parischerá é a dança dos porcos e de todos os quadrúpedes. A chegada dos dançarinos e dançarinas numa longa corrente, sob a música dos trompetes de madeira, representa os porcos-do-mato que se vão, grunhindo surdamente. (KOCH-GRÜNEBRG, 79, 2005)
Posto de Atração era o setor do antigo Serviço de Proteção (SPI) aos índios destinados à “pacificação”. Para se aproximar das comunidades, deixava em algum lugar estratégico os terçados, panos e miçangas, em troca de confiança. Eliakin Rufino, poeta e músico de Roraima
A dança tem início à tarde, pouco após as 3 horas, como desejei por causa das fotografias. Uma corrente interminável de dançarinos de parischerá, homens e mulheres, chega do oeste, da savana, sob a gritaria abafada das buzinas de madeira, uns duzentos participantes. Uma visão grandiosa! Então eles dançam e cantam na praça da aldeia, numa roda enorme. No meio do círculo, homens e mulheres dançam tukúi, a dança do beija-flor. [...] Em grupos de dois ou de três, parte deles de braços dados, andam um atrás do outro, dobrando os joelhos, batendo com o pé direito no chão. Os homens acompanham soprando sempre o mesmo som de maneira estridente num curto pedaço de taquara. Nessa, como na dança parischerá, também se cantam, de vez em quando, longos cantos épicos em inúmeras estrofes. (KOCH-GRÜNEBRG, 78, 2005)
Representante do Reggae do Lavrado, Mike conserva a influ锚ncia do ritmo caribenho muito difundido nas col么nias inglesas e em Roraima.
Wadaka-tepuy se distingue das demais montanhas da cadeia do Roraima por ser o tepuy mais fino e em forma de torre.
Rapemon significa Raça Americana Pemon e surgiu da inspiração hip-hop. Depois o nascimento do projeto, por meio de uma improvisação, nasceu a ideia de aprofundar uma nova leitura da cultura indígena. MC Jeremias Cliffe
FICHA TÉCNICA Coordenação: Agenor Vasconcelos Pesquisa: Karina Sanchez Som direto e captação de áudio: Davi Escobar Design: Markeetoo Direção de Fotografia: Yure César Cova Assistente de Câmera em Roraima: Márcio Peixoto Assistente de Mixagem: Rafael Ângelo dos Santos Produtor regional em São Gabriel da Cachoeira: Paulo Moura Mixagem: Cauxi Produções Masterização: Vanius Marques(RJ) Faixas 02, 04, 06 e 09 - Gravação realizada no dia 18.03.2013 em São Gabriel da Cachoeira(AM), Rádio Municipal, com a banda Marupiara. Formação conforme página 4. Faixas 01, 08 e 12 - Gravação realizada no dia 21.03.2013 em São Gabriel da Cachoeira(AM), comunidade de Itacoatiara-Mirim. Canto, flauta Japurutú e apito do crâneo do veado: Luiz Laureano da Silva Baníwa. Canto e flauta Japurutú: Mário Felício Joaquin Baníwa. Canto: Luzia Inácia Baníwa Faixas 01, 03, 05 - Gravação realizada no dia 03.03.2013 na comunidade do Tupé. Canto, flauta de Jurupari e Cariço: Raimundo Veloso Dessana, Alessandro e Kissib. Faixa 07 - Gravação realizada no dia 22.03.2013 na Comunidade de Boa Vista(AM), antigo Destacamento, foz do rio Içana, com a Banda Taína Rukena. Vocal: Alcimar Bruno. Guitarra: Edenilson Alberto. Teclado: Josimar Peinado.
Faixa 10 - Gravação realizada no dia 19.03.2013 em São Gabriel da Cachoeira na Rádio Municipal. Voz e violão: Denilson Reis. Faixa 13 - Gravação realizada no dia 19.04.2013 na comunidade de Barro Vermelho (RR). Canto Parixara no idioma Macuxi: José Aristo de Souza (José Macuxi). Faixas 14 e 17 - Gravação realizada no dia 18.04.2013 em Boa Vista(RR). Participantes e suas funções: Eliakin Rufino Voz e violão. Faixa 15 – Gravação realizada no dia 23.04.2013 na Comunidade Canauanim(RR) pelo grupo Kanaw ‘wa ‘u San nau (Filhos de Canauanim). Canto: Valdélia Edoíno dos Santos, Tarcila da Silva Pereira, Dolores Caetano e Elza da Silva. Buzina de Taquara: Rivanildo Cadete Fidelis e Faixa 16 - Gravação realizada no dia 19.04.2013 em Boa Vista(RR). Voz e violão: Marcos Edwards. Back vocal: Leonela Edwards. Faixa 18 - Gravação realizada no dia 21.04.2013 na Comunidade de São Francisco- Kumarakapay, na Venezuela. Participantes e suas respectivas funções: Canto e Tambor(piel de vaca): Yennian Fernandez. Canto e chocalho: Yuenni Fernandez. Canto: Yovenni Fernandez e Bioma Fernandez. Faixa 19 - Gravação realizada no dia 20.04.2013 na Comunidade de São Francisco-Kumarakapay, na Venezuela. Voz: Jeremias Cliffe. Pista: Abel Duran.