Revista
Expressão Ano 2
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Nº 2 • 2013
EDITORIAL Cultura e Educação
Todo ato educativo, toda prática educacional, traz em seu bojo uma concepção cultural de educação, e vários autores chamam a atenção para o papel relevante do que denominamos sensibilidade estética, ao exporem suas considerações sobre educação de qualidade, capaz de propiciar o desenvolvimento da imaginação, interpretação do vivido e o bom exercício profissional. A ampliação cultural melhora o senso lúdico, aumenta a autonomia moral e intelectual, aprimora a convivência, ao privilegiar a integração da pessoa com o meio social, garantindo a construção de relacionamentos solidários para a prática de cidadania dentro do contexto comunitário. Embora muito da formação cultural de cada estudante venha de sua vivência familiar, o ingresso em um curso superior implica na necessidade de apreensão de novas normas e enfrentamento de dilemas éticos; o desenvolvimento da consciência moral e os conflitos recorrentes dos intercâmbios sociais podem ser trabalhados no âmbito
escolar, para o compartilhamento da herança cultural, melhorando e ampliando seu capital cultural privado. A disposição para o diálogo, assim como os comportamentos inclusivos, tendem a marcar a sociedade contemporânea pelos seus aspectos de multiculturalidade, o que torna o olhar mais cosmopolita, essencial na preparação para a vida extramuro escolar. A ampliação cultural pode facilitar a integração ao grupo social mais próximo, pois a falta de disposição para o diálogo e a ausência de comportamento inclusivo impossibilitam a compreensão do próprio mundo; a conduta excludente e voltada apenas à sua própria trajetória não dará origem ao comportamento democrático e à formação de profissionais verdadeiramente afinados com seu tempo e comunidade. Uma sólida formação acadêmica, que inclua a complementação cultural, é eficiente no auxílio da gênese do ser humano.
Wanda Camargo – Conselho Editorial da Revista Expressão.
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ExPEdiEnTE
Coordenação do Projeto UniBrasil Futuro e Academia Unibrasil É responsável pelo encaminhamento de propostas culturais; coleta e divulga informações sobre órgãos, entidades, programas e projetos financiadores de atividades artísticas e culturais; toma providências para a viabilização do espaço físico e equipamentos necessários para a realização das atividades culturais. Profª Wanda Camargo E-mail: assessoria@unibrasil.com.br Tel.: +55(41) 3361-4202 I 3361-4234
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Assessoria de Comunicação Gerente de Marketing: Patrícia Russo de Paula e Silva Gibran Assessora de Comunicação: Geanine Ditzel Projeto Gráfico e Criação: Wessley Oliveira Ilustração da capa: Andrea Kraemer Fotografias: Priscilla Fiedler, Jenifer Magri, Helton Liça, Lucas Sarzi, Letícia Gabrielle, Jefersom Macedo e Ricardo Bruning Colaboração: Jenifer Magri e Adriane Leopardo Gonçalves Periodicidade: Anual Presidente: Clèmerson Merlin Clève Diretor Geral: Sérgio Ferraz de Lima Diretor Acadêmico: Jairo Marçal Diretor Administrativo, Financeiro e de Infraestrutura: Eraldo Luiz Silvestrin
UniBrasil Futuro | 02
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EROS ROBERTO GRAU e o Quartier Saint-Germain-des-Prés | 08 Nelson Savioli - O visionário verde | 10 Savioli - Concurso de redações | 14 MIGUEL KRIGSNER e o empreendedorismo | 16 Por que ler os clássicos? Luiz Felipe Pondé e os instrumentos para lidar com a humanidade | 20
Academia UniBrasil | 25 Ângelo Vanhoni e o Plano Nacional de Educação | 26 PAULO BERNARDO - Os Direitos Fundamentais e a potencialidade democrática da Lei de Acesso à Informação | 30 PAULO ABRÃO - O direito à memória e à verdade | 32 FLÁVIA CINTRA e MIRELLA PROSDÓCIMO - Maria de Rodas | 36 Israel Henrique Feferman - Inovação Estratégica | 40 EDSON CAMPAGNOLO - A importância da formação universitária para o desenvolvimento das indústrias do Estado | 42 MARIA TEREZA UILLE GOMES - Justiça Restaurativa - Uma crítica propositiva ao modelo do Sistema de Justiça Penal | 46 LYGIA PUPATTO - Inclusão Digital | 50
Cultura UniBrasil | 54 As Adaptações do Grutun! Grupo de Teatro UniBrasil | 56 Grutun! Literatura | 58 Grutun! Repertório | 59 Grutun! Pesquisa | 60 Grutun! Comunidade | 61 Atividades em Parceria | 62 Encontro com a Palavra com GUSTAVO FRANCO - Dinheiro e magia | 66
Gênero, Sustentabilidade e Responsabilidade Social | 72 Projeto Mulheres Paranaenses | 74 Saúde Feminina: Desafios para as políticas públicas | 76 Responsabilidade Social e Sustentabilidade | 80
As Faculdades Integradas do Brasil estão sempre abertas ao diálogo, ao debate e à inovação. Em conformidade com esse pensamento, a Instituição criou em 2008 o Projeto “UniBrasil Futuro”, que tem como objetivo a manutenção de um canal permanente de divulgação e discussão de ideias, ou seja, de pensar o Brasil que queremos para nós, para nossos alunos, para nossos filhos, para a comunidade. O UniBrasil Futuro é realizado periodicamente e direcionado aos estudantes e à comunidade. Nos últimos anos, foram convidadas a ministrar palestras e debater suas propostas figuras importantes de várias vertentes políticas, artísticas e do pensamento, como: Daniel Piza, Arnaldo Antunes, Osmar Dias, Ministro Paulo Bernardo, Gustavo Franco, Marina Silva e Eliane Cantanhêde.
Em 2012, o Projeto recebeu grandes personalidades como: Eros Roberto Grau, que, no dia 20 de março, palestrou sobre “O ofício de escritor e o Quartier Saint-Germaindes-Prés”; Nelson Savioli, em 29 de março, que abordou a questão dos “Empregos verdes, estratégias de formação de Recursos Humanos e o Centro de Referência das Profissões do Futuro”; Miguel Krigsner, que palestrou, em 30 de maio, sobre o tema Empreendedorismo; e, Luiz Felipe Pondé, que falou para a escola de comunicação na noite de 23 de outubro sobre “O politicamente correto”.
EROS ROBERTO GRAU e o Quartier Saint-Germain-des-Prés Após trilhar uma carreira de sucesso no mundo jurídico como professor e advogado, Eros Grau chegou ao ápice quando Ministro do Supremo Tribunal Federal. Autor de diversos livros na área do Direito, é referência para todos os professores e alunos não só pelos seus livros, mas principalmente pelos seus votos enquanto ministro do STF. O Quartier SaintGermain-des-Prés foi escolhido por Eros Grau para ser o objeto do seu novo livro, e foi tema transverso de sua palestra nas Faculdades Integradas do Brasil.
AUTORES: Carlos Eduardo Dipp Schoembakla coordenador adjunto do Curso de Direito; professor de Direito Civil e Processo Civil das Faculdades Integradas do Brasil. Denise Goedert – acadêmica do Curso de Direito das Faculdades Integradas do Brasil. 8
Uma simpatia em pessoa. Não gosta que o chamem de ministro, apenas professor. Foi com essa simplicidade que o professor Eros Roberto Grau passou pelas Faculdades Integradas do Brasil neste ano, não mais para falar de assuntos jurídicos de grande repercussão nacional, mas, sim, de “coisas da vida”, como literatura, cultura e Paris. Hoje, Eros Grau se dedica à esposa, aos filhos e aos seus romances, que adora escrever. E não poderia ser diferente. Paris encanta, apaixona, ilude e cega, assim como o amor, e é com amor, e muito bom humor, que Eros Grau descreve, em sua obra Paris-Quartier Saint-Germaindes-Près, os aspectos históricos dos principais lugares que conheceu, inclusive dos restaurantes, bares e cafés do quartier. Sentindo-se aceito e reconhecido como um verdadeiro cidadão parisiense, Eros nos convida a conhecer uma Paris vista por seus olhos, não uma Paris perfeita, mas o lugar aonde os bons americanos vão quando morrem. O livro Paris-Quartier Saint-Germain-des-Près, escrito pelo renomado jurista Eros Grau, faz o leitor viajar pela charmosa cidade de Paris, especialmente por Saint-German-des-Prés, quartier que integra o VI arrondissement – Luxembourg. Mesmo que com a insistência do autor o livro seja classificado como ensaio, poderia ser, também, um livro de crônicas escrito no tempo da delicadeza. Muito diferente do vocabulário jurídico a que estamos acostumados a ler, Eros imprime sua marca de leveza e bom humor ao longo de seus relatos. Além disso, a obra é repleta de informações culturais do quartier. Como quem conhece verdadeiramente Saint-German-des-Près e seus arredores, talvez até mais que os próprios parisienses em geral, descreve generosamente os aspectos históricos dos principais lugares por onde flanou, inclusive dos restaurantes, bares e cafés de sua predileção. Após anos de convivência, Eros e sua esposa Tânia ganharam a cidadania do quartier e, como um típico gemanopratins (onde
>> O jurista e professor Eros Grau em sua participação no UniBrasil Futuro
os habitantes sabem uns da vida dos outros), tanto conhece e é conhecido das personalidades francesas de renome (na literatura, na política e nas artes), como também é conhecido do pedinte (sempre visto no Café de Flore) que, da mesma forma, recebe tratamento respeitoso, recheado de interesse pela sua forma de existência. Percebe-se que o seu envolvimento com o lugar e com as pessoas está longe de ser superficial, como sucede à grande maioria dos turistas (meros predadores das grifes modernas, como faz referência), ao contrário, sua postura revela olhar atento e, de certo modo, intrigante, sempre em busca de conhecer o quartier em sua essencialidade. Em cada um de seus capítulos, o autor faz referência às pessoas que teve oportunidade de conhecer. Algumas, coadjuvantes, apenas ilustram comicamente o cenário. Outras, respeitadas e admiradas pelo seu ofício (como o caso de Mimi, tocador de acordeão que morrera e deixou saudades). Outras, ainda, pessoas amigas com quem tivera o prazer de desfrutar jantares e tardes de vinhos. Nada passa inadvertido à sua observação. Considerável é a simpatia que mantém por temas ligados ao “humano”, ao qual dedicou um dos capítulos a contar parte da história da vida e o fim trágico de Adrienne Le Couvreur (morta em 1730). Movido por curiosidade ou mesmo pelo sentimento de ter recebido uma missão para desvendar o caso, Eros empenhou-se em um considerável trabalho de pesquisa. Preci sava descobrir como ela havia morrido e onde fora enterrado seu corpo. Não se conformaria em deixar o assunto sem solução. Buscou descobrir o que aconteceu com Adrienne e, ao que tudo indica, descobriu, mas como disse: “o quanto li e descobri a respeito desta mulher é demasiado, excede a tolerância deste ensaio”. p.107). Entre crônicas e poesias, o livro não trata apenas de um lugar, mas, sim, da relação do autor com ele. Como que num intuito de eternizar o Quartier Saint-Germain-des-Près, tal qual conheceu, Eros sabe que ele poderá mudar, mas não
deseja que seja estranho ao seu quartier, deseja apenas que tenha sido parte da eternidade de SaintGermain-des-Près. Considera-se que Eros Graus atingiu o ápice das profissões de advogado e de professor. Mas ele afirma aos jovens que hoje estudam Direito, que ter chegado a isso não é apenas uma conquista sua. Quando menino, chegando do colégio com boas notas, seu pai simplesmente dizia: “não fez mais do que a obrigação”. Aos jovens que hoje estudam Direito, “eu pediria apenas que não se deixem seduzir por teorias que propõem a substituição da garantia e certeza da lei pelos valores dos juízes. A legalidade é o último instrumento de defesa dos humildes”. Como autor consagrado de livros de Direito e do romance Triângulo no Ponto, Eros Grau não é novato nas letras, mas sua expectativa para o novo livro é de que este seja considerado interessante. Poderia ser outra? 9
Nelson Savioli O visionário verde Savioli é formado em Direito, mas sempre foi profissional de recursos humanos. Diretor de RH de algumas das maiores empresas do Brasil, é Superintendente Executivo da Fundação Roberto Marinho e Diretor de Assuntos Internacionais da ABRH nacional. Aborda o tema “Empregos verdes e estratégias de formação de recursos humanos” no Brasil e internacionalmente; além disso, discorre sobre o Centro de Referência das Profissões do Futuro (que fará parte do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro).
AUTOR: Claudio Skora – coordenador do Curso de Administração das Faculdades Integradas do Brasil. 10
Está escrito nos dicionários que visionário é aquele indivíduo que tem projetos grandiosos, de realização difícil. No senso comum, o visionário é o indivíduo utópico, sonhador. O mundo em que vivemos foi construído com base na lógica racionalista da busca de resultados imediatos e, por medo ou comodidade, refugou até hoje pessoas com essa competência. Porém, quando um visionário foge do bloqueio e consegue mudar o padrão dominante, investido daquilo que Schumpeter chamou na sua teoria da destruição criadora de “empreendedor inovador”, logo é levado à categoria de ídolo. Perceba-se, porém, que muitas vezes esse “ídolo” aceito por todos muda somente o padrão, mas poucas vezes altera a lógica do modelo estabelecido. Na verdade, se seguir os mesmos princípios de antes, ele potencializa a exclusão, gerando pobreza e destruição, exaurindo os recursos naturais. É unânime a opinião de que esse modelo está ultrapassado. Nem o planeta o suporta, nem a sociedade o quer. Neste momento, quem pode apresentar caminhos optativos à atual situação também são visionários, desde que investidos de outra mentalidade: a da sustentabilidade. Inspirar o desenvolvimento dessa competência, adormecida em cada um de nós sob a perspectiva da sustentabilidade, foi a grande contribuição da palestra proferida por Nelson Savioli, atual Superintendente Executivo da Fundação Roberto Marinho e Presidente do Conselho Deliberativo da ABRH-RJ – Associação Brasileira de Recursos Humanos, sobre o tema “Empregos verdes e estratégias de formação de recursos humanos”, comentando também sobre o Centro de Referência das Profissões do Futuro que fará parte do Museu do Amanhã do Rio de Janeiro. Sua notoriedade foi construída por meio do sucesso do seu principal livro “Carreira – Manual do Proprietário (Seja Dono do Seu Passe)”, que difundiu o planejamento de vida e carreira entre os gestores e estudantes da área de negócios. A obra, mesmo com várias edições publicadas e traduzida para muitos
idiomas, teve, em entrevista, o seguinte comentário de seu autor: “o livro não tem nada de original. Só trabalhei em cima de coisas que já estavam sendo praticadas.” Percebese, aqui, não apenas o visionário, mas também uma postura humilde, típica daqueles que sabem como ensinar. Homem não só de palavras, mas também de ações, teve em sua trajetória profissional vários momentos em que demonstrou sua diferente forma de compreender o mundo. Sob sua responsabilidade uma área específica de ecologia social, mais tarde transformada em desenvolvimento social, foi criada num período em que nenhuma empresa ousava pensar nisso. Numa grande multinacional francesa, fundou não somente um centro de avaliação de potencial para identificar lideranças, mas também o programa Portas Abertas, democratizando as relações com os operários em pleno período das grandes greves do ABC paulista. Em um conhecido jornal brasileiro, instituiu o processo de qualidade na redação gerando resultados impressionantes. Ao homem visionário e humilde, soma-se agora o poder de realização, competência daqueles que sabem motivar pelo exemplo. Em sua palestra, ao falar sobre os empregos verdes, Nelson Savioli alertou a plateia, com cerca de quinhentos estudantes e professores. que a humanidade precisa caminhar, a passos largos, em direção a uma rápida transição em busca de uma economia com baixo consumo de carbono, necessária para evitar os efeitos irreversíveis e perigosos das mudanças climáticas sobre as sociedades e reforçou que tal postura implicará em uma profunda repercussão em nossa maneira de produzir, consumir e ganhar a vida em todas as nações e setores. Gestor ambiental em obras, lighting designer, gestor de manejo de florestas, analista de extrativismo, auditor de reciclagem e até mesmo chief visionary officer, são exemplos de profissões que começam a se desenhar para esta nova
sociedade. Quem desdenha dessas possibilidades desconhece, por exemplo, ações concretas com esse propósito, como o Pacto Global, da ONU, citado por Savioli. De acordo com a ONU, o Pacto Global, lançado em julho de 2000, é uma plataforma de liderança para o desenvolvimento, implementação e divulgação das políticas e práticas de responsabilidade social corporativa e sustentabilidade. O Pacto Global da ONU não é um instrumento regulador, mas, sim, uma iniciativa voluntária, que se baseia na responsabilidade pública, na transparência e na divulgação de ações para proporcionar um espaço para a inovação e a ação coletiva. Nessa perspectiva, no Paraná, a Federação das Indústrias, por meio das várias ações do Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial, no qual participam as Faculdades Integradas do Brasil, congrega centenas de empresários que atuam com essa visão de mundo e 11
acreditam na construção de um mundo mais inclusivo e sustentável. Por meio do trabalho cotidiano de empreendedores visionários, são criados empregos diretos nos setores que produzem bens e serviços mais verdes, empregos indiretos em suas cadeias de fornecimento e empregos induzidos, quando as poupanças de energia e matéria-prima se transformam em outros bens e serviços de maior intensividade de mão de obra. Para Savioli, os “empregos verdes” podem ser criados em áreas urbanas, bem como em zonas rurais, e incluem ocupações em todo o espectro laboral, desde o trabalho manual até o altamente qualificado. O potencial de “empregos verdes” existe em países de todos os níveis de desenvolvimento econômico. Este pensamento coincide com o da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que incentiva programas que promovam empregos verdes orientados para os grupos que deles mais necessitam: os jovens, as mulheres e os pobres. Para a OIT, para que os “empregos verdes” cumpram o papel chave de desenvolvimento sem exclusões sociais, devem ser criados empregos decentes que proporcionem rendimentos adequados, proteção social e respeito aos direitos dos trabalhadores e que permitam a esses trabalhadores expressar sua opinião nas decisões que afetarão suas vidas. Acredita a OIT que a transição para uma economia mais verde poderia gerar entre 15 e 60 milhões de novos empregos em nível mundial nas próximas duas décadas e tirar dezenas de milhões de trabalhadores da pobreza. Savioli apresentou também o Museu do Amanhã, grandiosa obra que está sendo construída no Rio de Janeiro. Iniciativa da prefeitura carioca e da Fundação Roberto 12
Marinho, na qual ele ocupa o cargo de Superintendente Executivo. Este museu, de acordo com o que foi divulgado, será um ambiente de experiências que permitirá ao visitante fazer escolhas pessoais, vislumbrar possibilidades de futuro, perceber como será a sua vida e a do planeta nos próximos 50 anos. Esse espaço vai explorar variedades do amanhã nos campos da matéria, da vida e do pensamento, além de debater questões como mudanças climáticas, crescimento e longevidade populacionais, integração global, aumento da diversidade de artefatos e diminuição da diversidade da natureza. Estar à frente de um projeto como este não pode ser ação de um homem visionário, humilde e realizador. É preciso algo a mais: sensibilidade. Em Savioli, isto é evidente por meio da leitura dos seus muitos haicais. Quem se dedica a contemplar esse tipo de poema sabe que, além do sabor da leitura, os versos promovem a condição de apenas insinuar, dando ao receptor a função de interpretar, de preencher as lacunas de significados que a síntese absorveu. Apesar de não ter seguido o cartesiano formato de um haicai, a sensação criada na noite de 29 de março de 2012 foi a mesma. Nelson Savioli em sua palestra desenhou futuros nos quais pudemos nos enxergar como agentes ativos na construção de uma nova sociedade, convidando a todos a liderar esse movimento. Instigou em todos uma postura visionária de mundo possível e diferente. Não nos deu caminhos certos, mas os inspirou. Por algumas horas viajamos alguns metros a mais em direção a uma sociedade mais justa, inclusiva e sustentável. Poucos passos foram dados, é verdade, mas estes não serão retrocedidos, afinal, quem viaja por prazer acha tão distante um como mil quilômetros.
>> Nelson Savioli, superintendente da Fundação Roberto Marinho e diretor da ABRH
savioli Concurso de redações O Curso de Administração das Faculdades Integradas do Brasil promoveu entre seus alunos um concurso de redações sobre os temas abordados por Nelson Savioli. Assim, o Núcleo Docente Estruturante selecionou trabalhos de dois alunos como representantes do pensamento do corpo discente, em que se nota claramente a preocupação com o meio ambiente como realidade para esta geração, os jovens que construirão o futuro sabem que a preservação do planeta é condição indispensável para a própria sobrevivência.
AUTORES: Ana Carla Honorato e Eduardo Luís Rossi – acadêmicos do Curso de Administração das Faculdades Integradas do Brasil; vencedores do Concurso de Redação.
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O assunto preservação e sustentabilidade vem sendo destacado nos noticiários, escolas e empresas. Mas, mesmo estando informados sobre o que está acontecendo e que as nossas atitudes nos prejudicarão no presente e intensamente no futuro, poucos tomam consciência da importância de começar a modificar seus hábitos em prol do meio ambiente. É notório, a partir das grandes catástrofes ambientais ocorridas no mundo nos últimos anos, que está ocorrendo um desequilíbrio muito grande entre as forças que regem nosso ecossistema. Falta ou excesso de chuvas, tsunamis, furacões, descongelamento das geleiras, são alguns exemplos das importantes alterações que nosso clima está sofrendo. Essas alterações se devem em grande parte à poluição ambiental gerada por empresários gananciosos que, na busca pelo lucro a qualquer preço, contribuem enormemente para o agravamento dessa situação. Felizmente grande parcela de nosso quadro industrial está caminhando na direção contrária à situação que expomos acima, buscando o desenvolvimento de tecnologias limpas, que permitam diminuir a emissão de poluentes, trazendo menores impactos ao ecossistema. Para que as organizações desenvolvam tais atividades, elas devem ter inseridas em seu leque de profissionais pessoas competentes e habilidosas para executar, dirigir e controlar seus objetivos e influenciar os demais colaboradores. O problema é que o número de profissionais disponíveis no mercado é pequeno, por isso quem tiver interesse em entrar nessa área deve começar a se especializar logo. A procura tende a aumentar, e quanto mais tarde os profissionais e as empresas começarem a se preocupar com o meio ambiente, mais prejuízos irão ter.
Para que esse processo tenha continuidade, é necessária cada vez mais a formação de profissionais voltados para o mercado verde, pois eles funcionarão como multiplicadores dos conceitos ambientais, criando assim um círculo virtuoso. A maioria das ações que conhecemos é anunciada por empresas “verdes”, mas só fazer propaganda não adianta, é preciso colocar em prática e, o mais importante, que se desenvolvam seus projetos com eficácia. Não basta apenas a cúpula da organização ter consciência e atitudes corretas, é preciso educar os seus colaboradores, de todos os níveis. Com todos comprometidos com a missão da empresa, acabarão influenciando suas famílias e os grupos informais que os cercam, fazendo assim com que os consumidores percebam o quanto a organização leva a sério seus ideais verdes, para preservar e encontrar recursos sustentáveis. Nossos governantes também devem interagir nesse processo, criando mecanismos que incentivem a redução de poluentes pelas indústrias, compensando-as com a redução de impostos.
Como podemos observar, nós, como agentes da comunidade, teremos papel fundamental nesse processo, seja nas empresas em que trabalhamos, cobrando e executando políticas verdes, seja como consumidores, priorizando produtos que contenham o selo verde que demonstra o comprometimento com o meio ambiente. Todos nós temos que ter consciência de que quem sairá perdendo não será apenas o planeta, e sim nós mesmos e as futuras gerações. A opção é parar de cuidar apenas da nossa árvore e começar a cuidar de toda a floresta.
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MIGUEL KRIGSNER e o empreendedorismo O fundador do Grupo O Boticário, o empreendedor e visionário Miguel Krigsner, palestrante hábil em democratizar o conhecimento e criar espaços dialógicos, capazes de propiciar ao público uma visão analítica da sociedade, falou sobre empreendedorismo, sua trajetória pessoal e empresarial, além de suas realizações e planos para o futuro, que, uns e outros, são muitos. Esta edição do UniBrasil Futuro também compôs a programação da VII Jornada de Negócios do Curso de Administração.
Miguel Krigsner foi o fundador do Grupo Boticário, a maior rede de franquias em perfumarias e cosméticos do mundo, empresa que atualmente inicia um projeto inovador de uso da genética e da tripla nanotecnologia na prevenção e tratamento do envelhecimento da pele; projeto baseado em pesquisas realizadas em seu próprio laboratório. Além de empreendedor de sucesso, é um empresário comprometido com a responsabilidade social e com as causas da humanidade. Quando a preservação do meio ambiente era apenas uma ideia entre nós, foi criada a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, por iniciativa de Miguel Krigsner, que não é apenas um discurso bem intencionado sobre ambientalismo, trata-se de um empreendimento de grande porte, com realizações concretas e significativas em todo o país. Mostra-nos que pode ser feito, que na dimensão de cada pessoa e de cada empresa nós podemos. Somos capazes disso. Outra iniciativa sua foi o Museu do Holocausto de Curitiba. Um memorial muito necessário para memórias muito tristes. Afinal, essas pessoas existiram, esses crimes existiram e não podem ser esquecidos. Poucas pessoas conseguem, como Miguel Krigsner, aliar a preocupação com necessidades básicas do ser humano, saúde, alimentação; seus valores, como a preservação ambiental; com a satisfação das suas necessidades emocionais, como a beleza e a autoestima.
AUTOR: Wanda Camargo – assessora da Presidência das Faculdades Integradas do Brasil. 16
O palestrante é a prova de que o sucesso profissional pode, e deve, estar associado às boas atitudes pessoais e sociais, de que a ética é um imperativo para a realização. Um visionário que acredita na concretização de sonhos com planejamento, grande apreciador de cinema, música clássica e teatro de bonecos. Sua frase preferida: “nunca deixe que suas memórias sejam maiores que os seus sonhos”.
>> Miguel Krigsner (ao centro) com o presidente das Faculdades Integradas do Brasil, Clèmerson Merlin Clève, e a assessora da presidência, professora Wanda Camargo
Diante de uma plateia formada por acadêmicos e profissionais ávidos pela história de sucesso do empresário responsável pela criação da maior rede de franquias em perfumaria e cosméticos do mundo, Miguel Krigsner revelou que não há um perfil único de empreendedor. “São várias as características que devem ser observadas, e a principal delas é enfrentar desafios”. Krigsner acrescentou que também é importante saber mobilizar pessoas. “Procuramos engajar pessoas em um único sonho, mas de forma a realizar o sonho de cada uma delas. Assim construímos relações benignas em que todos os stakeholders da organização se beneficiam”. Para Krigsner, não há como empreender seguindo uma cartilha. “O que há são profissionais com um perfil mais arrojado, talvez com certo desapego e coragem para enfrentar certas situações em que as derrotas acontecem. O empreendedor precisa saber encarar os erros e analisar onde falhou para que possa enfrentá-los de outra maneira”, disse. Inovação, visão ampla e respeito à sustentabilidade foram outros pontos destacados pelo empresário. “É preciso levar as coisas muito a sério, pois hoje não existe mais lugar para pessoas ‘mais ou menos’. O Brasil precisa de empreendedores que queiram fazer a diferença com a proposta de tentar transformar o país, criando situações que efetivamente possam melhorar a vida de todos”.
O compromisso com a sociedade é observado também em sua revelação sobre uma importante lição que aprendeu ao longo dos anos. “O poder e a vaidade, quando mal administrados, podem ser extremamente prejudiciais às relações humanas. Para haver uma relação harmônica dentro de um negócio, é importante que todos tenham satisfação, transparência e equilíbrio para que ninguém se sinta prejudicado”. Para o presidente das Faculdades Integradas do Brasil, professor Clèmerson Merlin Clève, foi muito importante convidar o empresário Miguel Krigsner para contar um pouco de 17
sua experiência como empreendedor aos acadêmicos da Escola de Negócios. “A sustentabilidade, o empreendedorismo e a inovação são hoje pontos fortes para a Escola de Negócios, e Krigsner contou sua história de sucesso a partir desses conceitos”. Clève recordou que, antes da Eco 92, Krigsner já falava em sustentabilidade, inclusive já tendo estabelecido programas de defesa da ecologia e do meio ambiente por meio da Fundação Boticário. “Miguel Krigsner é um exemplo de empresário que fala a partir de valores e princípios que são importantes para a construção da sociedade brasileira e um estímulo para os nossos alunos, ao dizer: ‘você também pode, estude em primeiro lugar e depois realize’”. Miguel é sinônimo de empreendedorismo no Paraná e, por esse motivo, é relevante que os alunos conheçam a história e a experiência desse empresário. Além de estimular os acadêmicos a empreender, Krigsner mostra como é possível trabalhar a questão da sustentabilidade e da inovação ao mesmo tempo. O coordenador do curso de Administração das Faculdades Integradas do Brasil, professor Cláudio Marlus Skora, conta que sempre pergunta aos calouros qual a empresa em que eles gostariam de trabalhar e O Boticário está sempre entre as primeiras da lista. “A
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empresa é um ícone de como um negócio pode se transformar em uma corporação extremamente forte, que leva o nome de Curitiba e do Paraná para todo o mundo”. Skora ressalta também que a palestra de Miguel Krigsner foi extremamente positiva, uma vez que mostrou aos acadêmicos como ousar e empreender com consciência ambiental. “Também reforça que as oportunidades estão abertas a todos os alunos, basta sonhar grande e ter ousadia para buscar os objetivos”. O professor do curso de Economia das Faculdades Integradas do Brasil, Edson Stein, explica que palestras que apresentam casos de sucesso, como a do empresário Miguel Krigsner, estimulam os alunos a empreender, a criar alternativas inovadoras. O professor indica aos alunos que querem empreender escolher bem a área de atuação, informar-se e conversar com empreendedores do meio para que possam fazer a diferença no ramo escolhido. Ester Proveller, da comunidade Israelita do Paraná, esteve presente no evento e também comentou a relevância de palestras como essa. “É muito importante instigar os jovens, até porque o Brasil é um país empreendedor, mas acredito que falta um pouco de estímulo”. O Projeto UniBrasil Futuro tem por objetivo manter um canal permanente de discussão e divulgação de ideias, estimulando o diálogo, o debate e a inovação.
>> Miguel Krigsner, fundador do Grupo O Boticรกrio, no evento UniBrasil Futuro
Por que ler os clássicos? Luiz Felipe Pondé e os instrumentos para lidar com a humanidade Em fala proferida nas Faculdades Integradas do Brasil, o filósofo Luiz Felipe Pondé expôs suas ideias, publicadas periodicamente em sua carreira acadêmica e na sua coluna semanal no jornal Folha de São Paulo. Centralizandoas, está o olhar crítico sobre o mundo e a recusa a seguir uma atitude passiva ao se legitimarem os lugarescomuns perpetrados na fala cotidiana. Para organizar seu ponto de vista, Pondé propôs a discussão sobre a literatura como fonte essencial para o trabalho na educação.
AUTOR: Maura Oliveira Martins professora-pesquisadora e coordenadora do curso de Jornalismo das Faculdades Integradas do Brasil. 20
Convidado para ministrar uma fala aos estudantes no Projeto UniBrasil Futuro, o filósofo Luiz Felipe Pondé fez jus à sua persona midiática e posicionou-se como franco polemista, como um arauto que, em uma espécie de marcha quixotesca, dedica-se a combater o que denomina de “praga PC”. Ou seja: ajustou sua mira, como sempre, às contaminações das diversas instâncias midiáticas com o que chama da “praga do politicamente correto”, a tendência em manter os diversos receptores em sua zona de conforto ao se produzir conteúdos “pasteurizados” (para emprestar um jargão típico do mau jornalismo) – falas e textos que não ofendem ninguém, que estimulam a manutenção do status quo, não causam desagrado nem tensionam o pensamento crítico. Em nome de uma chamada política da tolerância, abrese mão da própria humanidade – e de uma saudável postura de debate público, esperado à ciência – para assumirem-se prontamente opiniões pré-estabelecidas, além de engavetar certos temas como intocáveis. Pondé, como era esperado, não fugiu à polêmica e tocou no que é tabu: posicionou-se contra as cotas para estudantes negros, contra a ideia do amor romântico, contra uma concepção idealizada da maternidade (a única razão plausível para se ter filhos é “por nada”, provocou), contra o discurso da saúde total. Desconstruiu a ideia do senso comum da felicidade e a tendência (pós) moderna a uma vida espiritualizada-massem-religião, desconectada daquilo que dela provém, como a culpa. Problematizou os ganhos e os ônus da emancipação feminina, que deslocou o homem a um lugar incerto, quase obsoleto (e indesejado mesmo às mulheres!) em prol de uma meta de igualdade entre os sexos. Entre os diversos filósofos que configuram sua fala, pontua, não por acaso, o dramaturgo Nelson Rodrigues como alguém que foi capaz de desvendar a alma humana em seus personagens, cercados de sentimentos mundanos e de amor “verdadeiro” – aquele que ocorre quando se perde o respeito, pois (parafraseando trecho de seu libelo “Contra um mundo melhor”) não há nada de mais mentiroso do que a ideia de afetos corretos. Não à toa, as sagas perpetradas por Rodrigues serão esmiuçadas na próxima obra do filósofo. Nesse encontro, porém, Pondé resolveu centralizar sua fala na literatura. Não sem razão, intitulou sua palestra “Para uma
educação clássica no contemporâneo a partir da experiência em sala de aula”. Afinal, para que ler os clássicos? Por que, em sala de aula, o conhecimento humanista trazido pelos cânones literários deve conviver em pé de igualdade com o conhecimento técnico atrelado às especificidades das áreas? Pondé nos esclarece: nos clássicos, encontramos o que é perene, o que permanece, a essência humana recapitulada. Os grandes dilemas éticos do ser transparecem, por exemplo, nos enfrentamentos de Otelo ou de Macbeth, das obras homônimas de Shakespeare. Do mesmo modo, Sonia, par do atormentado Raskolnikóv, em “Crime e Castigo”, de Dostoievski, é apontada pelo filósofo como personagem perfeita para entendermos a dinâmica dos afetos e do amor que nos despe da “ética da alteridade” típica da praga PC (o profundo respeito aos limites do outro, e por contiguidade, a nós mesmos). Em sua profunda humildade, ao despir-se do ego, Sonia revela-se profundamente humana, tal como somos aos desvestirmos nossas defesas. Já diria Italo Calvino que a literatura é a Terra Prometida em que a linguagem se torna aquilo que na verdade deveria ser; com sua fala, Pondé talvez pudesse concluir que a literatura é o espelho que reflete o que sempre fomos e continuaremos a ser. Ressalta-se, portanto, que a figura de Pondé cumpre uma das concepções assumidas na instituição para o papel esperado ao docente: todos os grandes professores se posicionam, afinal, como grandes provocadores, cuja missão compreende a desconstrução das certezas pré-estabelecidas e típicas do senso comum – que facilitam e viabilizam nossa vida cotidiana, mas que são insuficientes no ambiente acadêmico. Cabe aos mestres a tarefa de causar desconforto, “sacudir” seus estudantes da cômoda posição das crenças em busca de novos modelos, novas formas (mais amplas, menos satisfatórias) de se observar o mundo em sua complexidade. Cabe ao professor apresentar ao seu aluno realidades outras para além dos relatos monossêmicos e redutores difundidos pelos meios de comunicação e perpetuados no nosso convívio. Talvez esse papel se resuma com precisão na significativa frase de Luiz Felipe Pondé: educação é dar aos mais jovens as ferramentas para lidar com sua própria humanidade. Como não podemos jamais nos libertar dela, os clássicos seguem como excelentes instrumentos didáticos para tensionarmos positivamente
nossos alunos para lidar consigo mesmos. Luiz Felipe Pondé é doutor em Filosofia Moderna pela USP/ Universidade de Paris e pósdoutor pela Universidade de Tel Aviv, professor da PUCSP e da Fundação Álvares Penteado. Colunista da Folha de São Paulo, é autor dos livros: “Do Pensamento no Deserto”; “Conhecimento na Desgraça”; “O Homem Insuficiente”; Crítica e Profecia”; “Contra um Mundo Melhor” e “Guia Politicamente Incorreto da Filosofia”. Mas, principalmente, é uma pessoa com capacidade de ter ideias originais e coragem para dizê-las. Um escritor que, à primeira vista, surpreende, pois não é muito comum o colunista de opinião que trata seu leitor como adulto, com intelecto, sensibilidade e senso de humor de adulto. Em sua atividade diária, deixa clara a importância da cultura na formação acadêmica, e fala de um tema fundamental: educação. Coerentemente, não foge da polêmica, falando contra as modas na educação, contra aqueles modismos simplificadores que servem apenas à preguiça e ao atraso.
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>> O filósofo Luiz Felipe Pondé falou sobre “o politicamente correto” em sua passagem pelas Faculdades Integradas do Brasil
ACADEMIA
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ia UniBrasil foi concebido com dois objetivos: o geral, vitoriosas na vida pessoal e profissional para ministrar ldades Integradas do Brasil relatando suas carreiras e onais, e o específico, de acréscimo da motivação dos s, mediante conhecimento de exemplos positivos de comportamento e trajetória possam ser emulados.
ensino superior possui uma determinada cultura, um e meta proposta para a formação de seus alunos, e que endimento interno do que seja o processo educacional, e finalidades.
cteriza, suas metas a identificam, implicando na adoção ropósitos e formas de conduzir não apenas a formação futura carreira, mas também na compreensão do que as possibilidades de exercício da cidadania.
cas parecem sugerir que a cultura escolar influi nas nsino do corpo docente e discente, modificando as sobre o outro, as práticas pedagógicas e as perspectivas a social. São também estabelecidos por esta cultura os alcançados, as formas hierárquicas de trabalho, as micas, a adequação de contatos interpessoais.
motivação do aluno é assunto relevante na rotina determina não apenas o tempo dedicado pelo estudante à resultados escolares atingidos e ao sucesso acadêmico , mas também sua convivência em comunidade como o para contribuir com o desenvolvimento social e
istas na área, motivação não é considerada um ociável da personalidade do aluno, embora muitas de s, tais como as habilidades e interesses inatos, possam ncia sobre ela, pode constituir-se em um diferencial sfação existencial imediata e de longo prazo.
discente pode ser significativamente alterada, se a uir, por meio do seu ambiente de aprendizagem, pectivas futuras, diminuir sua ansiedade e aumentar studos.
Algumas metas educacionais mostramse mais efetivas que outras, e as razões de cunho pessoal demonstram-se mais adequadas ao desenvolvimento da motivação que as impessoais para um bom programa de estudos. Afinal, duas classes de metas são possíveis: as intrínsecas, como obtenção da saúde, contribuição com o meio social, desenvolvimento pessoal, inserção social, que atendem às necessidades psicológicas básicas de relacionamento, autonomia e competência; e as extrínsecas, como dinheiro, fama, sucesso, boa aparência física, interligadas ao bem-estar e percepção social positiva. Focar-se apenas em metas extrínsecas, tais como as de desempenho, fomenta comparações interpessoais e ostentação de sinais externos do próprio mérito, capazes de produzir ansiedade, superficialidade e menor resiliência. Tarefas assumidas por motivação intrínseca, com percepção autônoma, serão sempre melhor realizadas que aquelas impostas externamente; e em função disso cabe às escolas a mudança de uma cultura predominantemente competitiva para outra, que estimule a aprendizagem de forma desafiadora, que desenvolva em seus estudantes o interesse pela sua própria competência e evolução pessoal. Ouvir o profissional de sucesso permite ao aluno autorreferência no desenvolvimento de certas tarefas, demonstração de domínio de determinadas habilidades, ou maior compreensão de fenômenos físicos ou sociais, já que o interesse intrínseco controla as atividades trazendo o prazer da aprendizagem. Wanda Camargo – coordenadora do Projeto Academia UniBrasil
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ÂNGELO VANHONI e o Plano Nacional de Educação O Deputado Federal Ângelo Vanhoni discute com alunos e professores de Pedagogia, Licenciatura em Educação Física e Serviço Social, que atuarão como educadores, as propostas do Plano Nacional de Educação (PNE). Este documento que reflete, e deveria embasar toda a política educacional do país, em todos os níveis e modalidades de ensino, estabelecendo diretrizes, objetivos, estratégias, metas e prazos para a educação brasileira, no momento em que as políticas públicas da área são planejadas, para que haja um controle social e análise de seus reflexos na prática educativa.
AUTOR: Paulla Helena Silva de Carvalho - coordenadora do curso de Pedagogia das Faculdades Integradas do Brasil e diretora do Colégio Estadual Santa Gemma Galgani. 26
O Plano Nacional de Educação (PNE) é “onde se reflete toda a política educacional de um povo, inserido no contexto histórico, que é desenvolvida a longo, médio ou curto prazo”. Além disso, o PNE estabelece políticas para formação dos trabalhadores em educação, financiamento e gestão do sistema e escolar. O PNE 2011-2020 é resultado da Conferência Nacional de Educação (CONAE) realizada em 2010, em Brasília. Tal conferência teve a participação de representantes dos diversos segmentos da educação do país, de instituições públicas, privadas, de todos os níveis e modalidades de ensino, sindicatos e demais movimentos sociais e sociedade civil. O Projeto referente ao Plano Nacional de Educação, que terá validade por dez anos, surgiu como demanda da Câmara de Deputados em 2010, ao qual Ângelo Carlos Vanhoni foi indicado como relator. O processo para construção do texto atual teve Conferências Municipais, Regionais e Estaduais, das quais saíram indicações de texto, assim como delegados para a discussão nacional. Em junho de 2012, o Plano Nacional de Educação foi aprovado pela Comissão Especial da Câmara Federal, e o texto aprovado foi encaminhado ao Senado Federal, prevendo uma expansão dos recursos para educação de 5,1% (atual) para 7%, até alcançar os 10% ao fim da vigência do plano. O governo, representado pelo MEC, anunciou que vai avaliar os efeitos e resultados da decisão e, por enquanto, espera o processo de tramitação do projeto até o Senado. O processo de votação do PNE foi adiado várias vezes e, devido a isso, diversos estudantes lotaram o plenário da comissão, o que de certa forma resultou em uma “pressão” que permitiu a conclusão dos votos. Ângelo Carlos Vanhoni, mais conhecido como Vanhoni, nascido em 1955, no município de Paranaguá, Estado do Paraná, é filho do ex-deputado e presidente da Assembleia Legislativa paranaense, Vidal Vanhoni. Atualmente Vanhoni é deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT/PR).
Iniciou sua carreira política quando ainda era estudante de Filosofia, na PUC/PR, onde durante o período acadêmico foi líder estudantil. Possui graduação em Letras pela Universidade Federal do Paraná, local em que também defendeu as causas estudantis. Atuou como bancário no antigo Banestado – Banco do Estado do Paraná, local em que fez parte de lutas sindicais, como a greve dos bancários em 1985. Foi ainda secretário-geral da CUT (Central Única dos Trabalhadores) do Paraná e vicepresidente do sindicato dos bancários de Curitiba (PR). Em sua história política, podemos destacar que, no ano 1988, disputou as eleições para vereador de Curitiba, sendo reeleito em 1992. Na Câmara Municipal, teve destaque na fiscalização do Poder Executivo e na criação da Lei de Incentivo à Cultura. De 1994 a 2006 atuou como Deputado Estadual, sempre pelo Partido dos Trabalhadores. Vale destacar que, durante todo o período de atuação na política, esteve à frente das questões de educação e cultura. Neste momento, o Deputado Federal tem recebido reconhecimento diante do processo de discussão, análise e aprovação do Plano Nacional de Educação. Porém, ações anteriores podem se reconhecidas, tais como: aprovou uma reforma na lei da Secretaria de Estado da Educação em prol dos educadores, conseguindo reajuste nos salários e qualificação profissional. É autor da Lei nº 8623/95, que garante o transporte gratuito nos meios coletivos para os deficientes físicos carentes. Por intermédio de emenda nesse mesmo projeto, garantiu também passagem gratuita para um acompanhante.
Frente ao exposto, devemos lembrar que esses são momentos em que o ato de planejar – coletivamente - deve ser garantido na escola e, neste caso, as condições para que ele ocorra dependem da intenção e ação dos sujeitos envolvidos na gestão da escola. Planejar a escola, o currículo e sua forma de ensinar é necessário para que, ao menos em certa medida, a função social da escola seja cumprida. Porém, somente discutir o que fazer, por vezes, fica no vazio, acaba em palavras, promessas e discursos. É por isso que aparece a defesa da sistematização do que foi planejado. E isso ocorre por meio da construção dos planos. Segundo Padilha (2001), plano é o documento que registra decisões, tais como: o que se pensa fazer, como fazer, quando fazer, com que fazer, com quem fazer. O plano é a “apresentação sistematizada e justificada 27
das decisões tomadas relativas à ação a realizar” Este é o caso do Paraná, o qual tem reunido, desde o mês de março de 2011, representantes das universidades, sindicato de professores, professores das diversas redes de ensino e suas respectivas modalidades, estudantes e demais interessados para propor junto aos Senadores algumas mudanças a serem alcançadas. Atualmente, o Plano Nacional da Educação institui 20 metas para o prazo de 2011 a 2020. Vale ressaltar que muitas das ações previstas no Plano que “venceu” em 2010 não foram cumpridas, cada qual por seu motivo: plano e ação diferenciados; sem tempo necessário; os envolvidos não chegaram a um consenso; a educação não ser tomada como prioridade diante dos demais Ministérios; desvio de intenções etc. O novo PNE prevê, em seu artigo 2º, diretrizes a serem tomadas neste processo de planejamento da educação em nível federal: I - erradicação do analfabetismo; II - universalização do atendimento escolar; III - superação das desigualdades educacionais; IV - melhoria da qualidade do ensino; V - formação para o trabalho; VI - promoção da sustentabilidade socioambiental; VII - promoção humanística, científica e tecnológica do País;
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VIII - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto; IX - valorização dos profissionais da educação; X - difusão dos princípios da equidade, do respeito à diversidade e a gestão democrática da educação. Para ter como fim tais objetivos, o Plano apresenta as vinte metas que darão suporte para as políticas públicas no âmbito educacional em todo período de vigência do PNE (2011/2020). Fica assegurada ainda a promoção de, pelo menos, duas conferências nacionais de educação até o final do período com o objetivo de avaliar e monitorar a execução do PNE – 2011-2020 e subsidiar a elaboração do Plano Nacional de Educação para o decênio 2021-2030. Tais metas e objetivos devem refletir o processo de planejamento a ser realizado também no nível estadual, sendo assim, de posse do PNE, os Estados brasileiros devem reunir os segmentos que representam a educação para que o Plano Estadual de Educação seja construído e divulgado para ser base das ações políticas e cobranças coletivas nesta área. Vale destacar que a ampla discussão e divulgação deste documento é primordial para que a população possa acompanhar e cobrar os rumos tomados pela educação nos próximos dez anos, assim, não corremos o risco de que o plano seja mais uma regulamentação que não saia do papel, como ocorreu com o PNE passado. Além disso, é importante que os Estados e municípios se organizem, pois, a partir do PNE nacional, as demais instâncias devem – coletivamente construir os Planos Estaduais e Municipais de Educação.
>> O Plano Nacional de Educação foi o tema da palestra do Deputado Federal Ângelo Vanhoni
PAULO BERNARDO - Os Direitos Fundamentais e a potencialidade democrática da Lei de Acesso à Informação Vivemos um momento paradoxal, de um lado os recursos da informática nos fazem crer que toda informação está disponível a um toque, de outro, informações relevantes para o cidadão ou a coletividade ainda permanecem ocultas por artifícios ou mero voluntarismo dos que as detêm. Uma das principais metas à democratização do acesso à internet por meio do Plano Nacional de Banda Larga é exposta por Paulo Bernardo, e o tema é de grande importância para todos os brasileiros, com destaque para aqueles ligados às áreas do Direito, Comunicações e Cultura.
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Paulo Bernardo da Silva é um servidor público e um militante. Começou a atuar no movimento estudantil em 1973 na Universidade de Brasília, onde estudava Geologia. Foi expulso em 1975, por tentar reorganizar o Diretório Central dos Estudantes. No mesmo ano, ingressou no Banco do Brasil, fazendo carreira na área de processamento de dados. Entrou no Partido dos Trabalhadores com a redemocratização, em 1985, e em 1990 candidatou-se à Câmara dos Deputados e obteve sucesso. Eleito por três vezes deputado federal pelo Estado do Paraná, atuou também no Poder Executivo, como Secretário de Fazenda do Estado de Mato Grosso do Sul e de Londrina e como Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão de 2005 a 2010.
AUTOR:
É Ministro das Comunicações desde 1º de janeiro de 2011 e parece estar onde gosta. Frequentador assíduo das redes sociais, responde pessoalmente às mensagens – e convites – que recebe e entra em boas discussões no espaço virtual. Compartilha músicas brasileiras, crônicas, notícias de cultura, de tecnologia e até de política; permite-se, de quando em quando, postagens pessoais. Pessoalmente, não destoa de seu perfil e é acessível e bem humorado. Responde com firmeza e tranquilidade até mesmo perguntas delicadas, mostrando equilíbrio na defesa de seus pontos de vista.
Eneida Desiree Salgado professora do Programa de Pós-Graduação em Direito - Mestrado das Faculdades Integradas do Brasil. Professora do Departamento de Direito Público da UFPR.
Está determinado a ampliar o acesso dos brasileiros à internet, com banda larga e, em alguns casos, por satélite, permitindo maior controle e participação popular. Até agora, tem como principal resultado de sua atuação junto ao Ministério das Comunicações a Lei de Acesso à Informação – Lei nº 12.527/2011 – que representa, ao menos normativamente, uma revolução na Administração Pública brasileira ao impor a transparência. Regula o acesso a informações previsto na Constituição Federal,
>> O Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, participou da academia UniBrasil a convite da Instituição
ressaltando que “todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”. Pretende disciplinar as formas de participação do usuário na administração pública direta e indireta, regulando especialmente o seu acesso a registros administrativos e a informações sobre atos de governo; garantindo que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. Por outro lado, afirma também caber à administração pública a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a toda a comunidade, o que é extremamente importante no Brasil de hoje, por delimitar claramente seu alcance. O mesmo diploma normativo lança novo olhar sobre o período da ditadura brasileira, ao disciplinar de maneira distinta o sigilo das informações. Seus principais desafios à frente da pasta são o marco regulatório da internet, o marco regulatório da comunicação
social – com temas polêmicos como o controle social da mídia e o monopólio nos meios de comunicação – e a garantia da qualidade da prestação de serviços de telecomunicações. Foi oportuna a promulgação da Lei que, enfim, torna operacionais os dispositivos do acesso a informações prenunciado em nossa Constituição. Igualmente oportuna é a vinda de uma figura pública com a dimensão política do ministro Paulo Bernardo para falar sobre este assunto. Belas brigas para um político que sempre foi marcado pelo comedimento e pela busca de consensos.
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PAULO ABRÃO O direito à memória e à verdade Ao contrário do “querem fazer crer muitos dos que não desejam revisitar o passado”, a geração dos filhos e netos da repressão tem tanta legitimidade quanto vítimas e familiares para reivindicar o direito a rememorar o mais sombrio período já vivido no país, seja para evitar a repetição, seja para reposicionar o discurso falacioso que ainda prevalece na narrativa oficial, o de que os militares agiam conforme a legalidade. O exercício da memória e da verdade, bem como o direito à reparação às vítimas e responsabilidade dos torturadores é parte da necessária rebeldia contra a impunidade do passado e que segue como herança do presente.
Paulo Abrão Pires Junior, ou Paulo Abrão, como costuma ser chamado, vem se destacando no mundo jurídico e na mídia por suas fortes declarações, reflexões e posicionamentos a respeito das diferentes fases da luta pela anistia no Brasil, do momento ditatorial militar até o presente. As reflexões feitas pelo jovem Secretário Nacional de Justiça (nascido em 1975) são coerentes com o próprio exercício do que defende com eloquência, o direito à memória e o direito à verdade, o direito a conhecer a verdade dos tempos que ele próprio não viveu, a violência que caracterizou o regime militar com tudo o que significou, as razões políticas, econômicas, o modus operandi, os requintes da tortura e da barbárie instalados no país a partir do golpe de Estado de 1964.
AUTOR:
Mas não são meramente as razões geracionais que garantem força ao discurso de Paulo Abrão e, sim, a experiência adquirida nos diversos cargos públicos que já ocupou, tendo trabalhado em diferentes funções sempre conectadas a temas de grande relevância para os direitos humanos no Brasil. Já coordenou a Missão Brasileira sobre a Lei de Anistia junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos na OEA – Organização dos Estados Americanos em Washington (2008), a Diretoria Nacional do Programa “Cooperação para o intercâmbio internacional, desenvolvimento e ampliação das políticas de Justiça de Transição no Brasil” do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), foi membro do Grupo de Trabalho da Presidência da República para a elaboração do projeto de lei
Carol Proner – professora das Faculdades Integradas do Brasil e Co-Diretora do Programa MásterDoutorado Oficial da União Europeia, Derechos Humanos, Interculturalidad y Desarrollo - Universidade Pablo de Olavide/ Univesidad Internacional da Andaluzia, Espanha. 32
Ao contrário do “querem fazer crer muitos dos que não desejam revisitar o passado”, a geração dos filhos e netos da repressão tem tanta legitimidade quanto as vítimas e familiares para reivindicar o direito a rememorar o mais sombrio período já vivido no país, seja para evitar a repetição, seja para reposicionar o discurso falacioso que ainda prevalece na narrativa oficial, o de que os militares agiam conforme a legalidade. O exercício da memória e da verdade, bem como o direito à reparação às vítimas e o direito à justiça para responsabilizar os torturadores é parte da necessária rebeldia contra a impunidade do passado e que segue como herança do presente.
para a criação da Comissão Nacional da Verdade (2009) e, atualmente, responde pela presidência do Conselho Nacional de Combate a Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual (CNCP), pela Direção Nacional do Programa de Cooperação Internacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil da Organização das Nações Unidas contra Drogas e Crime Organizado (UNODC), pela presidência do Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), pela presidência da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, ao mesmo tempo em que segue exercendo o cargo de Secretário Nacional de Justiça. Mesmo com a intensa trajetória pública e o excesso de competências e funções sob sua responsabilidade, não descuidou da dimensão acadêmica, tendo concluído o mestrado em direito pela Unisinos, em 2000, e o doutorado em direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro em 2009. Em decorrência da formação adquirida, participou e organizou uma série de eventos, congressos, seminários e obras dedicadas aos temas correlatos à justiça transicional. É no campo teórico que seu discurso ganha consistência ao encontrar as ferramentas discursivas, político-filosóficas e jurídicas prevalecentes nos diversos processos, incluindo pesquisas sobre experiências comparadas ocorridas em países latino-americanos, europeus, africanos. Ouvir Paulo Abrão, como tivemos o privilégio no evento promovido pela Academia UniBrasil no dia 24 de maio de 2012, é também, portanto, ouvir a experiência que acumulou na gestão pública nos últimos anos, experiência que coincide com os momentos mais importantes a partir da decisão do governo brasileiro de enfrentar o passado por meio de instâncias específicas, comissões, pessoal especializado, medidas de reparação econômica, atos de resgate da memória das vítimas e da memória coletiva. Boa parte do trabalho feito nessa seara está sob liderança do Presidente da Comissão da Anistia, que alia as já mencionadas características da formação político-teórica, também à capacidade de agregar e estimular pessoas e instituições no caminho da revisão, inclusive metodológica, das ações de transição. Conforme entende Paulo Abrão, “Vivemos no Brasil uma transição pactuada, controlada, distinta da Argentina, onde a transição se deu por ruptura, onde as forças militares saíram desmoralizadas diante de uma crise econômica e,
depois, pelo episódio das Malvinas. No Brasil, não houve essa ruptura. Nossa característica é a dita transição lenta, gradual e segura, que está posta até hoje. E o marco jurídico fundante dessa transição controlada é a Lei de Anistia de 1979. É por isso que toda e qualquer vez que quisermos discutir justiça de transição, reparações, comissão da verdade, será inafastável discutir a dimensão da anistia”. O resultado das assertivas de Paulo Abrão não raras vezes gera polêmica. O debate provoca o reacionarismo de parcela, cada vez mais minoritária, da sociedade diante da decisão do governo de enfrentar o passado, pedir desculpas às vítimas da repressão (com a belíssima iniciativa das Caravanas da Anistia), investir em projetos como Memórias Reveladas, financiar publicações em revistas, livros, arquivos e outros espaços de revisão histórica, bem como de instalar uma Comissão Nacional da Verdade com recursos, mandato e estrutura de funcionamento. Como porta-voz de tantos espaços fundamentais e com o acúmulo de experiências, Paulo Abrão é um exemplo de servidor público, de jurista e de ser humano. 33
>> Paulo Abrão, Secretário Nacional de Justiça e presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, falou a acadêmicos da Instituição
FLÁVIA CINTRA e MIRELLA PROSDOCIMO - Maria de Rodas A palestra Inclusão e Mídia constituiu-se em aula inaugural da Escola de Comunicação, e a palestra foi proferida por duas mulheres vencedoras, atuantes na área de comunicação: Flávia Cintra e Mirella Prosdocimo, cadeirantes, que têm a mobilidade limitada, mas nenhuma limitação na contribuição para a formação do profissional de comunicação. Profissionais realizadas, com imensa contribuição ao fazer acadêmico, Flávia Cintra é repórter, e Mirella Prosdocimo, criadora da Adaptare Consultoria, empresa que atua na área de inclusão e adaptação de ambientes corporativos.
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Duas mulheres articuladas, inteligentes, muito ativas do ponto de vista profissional e com uma condição em comum: ambas são cadeirantes. Mirella Prosdócimo é a responsável por uma brilhante campanha de grande repercussão, especialmente nas redes sociais, denominada “Esta vaga não é sua nem por um minuto”; a outra, Flávia Cintra, é jornalista da Rede Globo que, junto a outras autoras - Carolina, Tatiana, Juliana e Katya lança o livro “Maria de rodas: delícias e desafios na maternidade de mulheres cadeirantes”. São profissionais bem sucedidas, mães de filhos amados, protagonistas de suas próprias vidas, e cadeirantes. Flávia Cintra e Mirella Prosdócimo falaram sobre suas experiências, as dificuldades encontradas, as conquistas obtidas, a questão da inclusão e a percepção da mídia sobre a inclusão das pessoas com deficiência.
AUTOR:
Aliás, segundo suas palavras, “o termo correto para se referir a este grupo é: pessoas com deficiência, e não portadores de necessidades especiais. Essa foi uma resolução da ONU de 2004, em que ficou convencionado que é a melhor maneira, visto que o atual contexto dos direitos das pessoas com deficiência está baseado no modelo social de direitos humanos, cujo pressuposto é de reconhecimento de pessoa com deficiência como titular de direitos e liberdades fundamentais, independentemente de sua limitação funcional. Nesse sentido, não se porta uma deficiência como se fosse uma bolsa que se retira em seguida para no momento posterior recolocá-la. Por isso a expressão pessoa portadora de deficiência não é uma boa expressão para identificar o segmento. Pessoas com necessidades especiais também não identifica de fato sobre que grupo está se referindo, se considerarmos que todos têm alguma necessidade especial”.
Maria Paula Mansur Mader - professora da Escola de Comunicação das Faculdades Integradas do Brasil.
Flávia feriu-se gravemente em um acidente de carro, em 1991, quando tinha 18 anos. Perdeu os movimentos do pescoço para baixo por causa de uma lesão em sua coluna cervical. No entanto, após meses de fisioterapia, acabou recuperando o domínio dos braços e hoje, apesar das limitações de locomoção, consegue
levar uma vida muito ativa. “Lido com todos os desafios de uma mãe moderna, ser cadeirante é apenas mais um”, diz Flávia. A gravidez de uma mulher com lesão medular, como ocorre com grande parte das cadeirantes, é difícil e mais desconfortável do que para a maioria das mulheres e, geralmente, não é recomendada a sedação por anestesia raquidiana. Mulheres que são mães entendem perfeitamente a decisão inescapável que essas moças tomaram, pois, ainda que correndo riscos e enfrentando dores, o chamado da maternidade é mais forte, e elas optaram por atendê-lo. Após sofrer um acidente de carro que a deixou tetraplégica há 20 anos, Mirella Prosdócimo concluiu o Ensino Médio, graduou-se em Letras, fez especialização em Educação Especial e Inclusão e está concluindo Pós-Graduação em Gestão Social e Sustentabilidade. É a criadora da Adaptare Consultoria, empresa que atua na área de inclusão e adaptação de ambientes corporativos, bem como treinamento para a recepção adequada de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Mirella também é responsável pela campanha “Esta Vaga não é sua nem por um minuto”, que busca aumentar a conscientização da sociedade sobre os direitos das pessoas com deficiência. A palestra ministrada por Flávia e Mirella foi aula inaugural da Escola de Comunicação, e segundo Maura Martins, coordenadora do curso de Jornalismo, “a palestra das duas profissionais se afina com a política do curso de Jornalismo, que preza pela inclusão social e pelo planejamento de soluções comunicacionais envolvendo todos os tipos de demandas do público. Certamente, suas falas trarão boas ideias para os produtos planejados pelos alunos dentro do curso”. A relevância do tema é também evidente para a formação dos alunos de Publicidade e Propaganda e de Relações Públicas, pois promove uma reflexão sobre a comunicação e sua adequação, considerando as necessidades de uma sociedade que inclui outros grupos de públicos, com características particulares e que não devem ser esquecidas nas abordagens de campanhas e nas políticas de relacionamento.
Além disso, Mirella apresentou aos alunos de comunicação um exemplo de case de sucesso, já que em pouco mais de um mês o movimento “Esta Vaga não é sua nem por um minuto” obteve mais de mil adeptos no Facebook, além de se propagar também por outros canais de mídia online como Twitter, YouTube e Vimeo, sem contar o próprio blog do movimento (http:// estavaganaoesua.wordpress. com). Vale lembrar que a iniciativa da campanha é da agência TheGetz, o que demonstra uma excelente estratégia de imagem associada ao engajamento à causa. De acordo com Maurício Ramos, diretor institucional da agência, o objetivo vai além de mobilizar pessoas para a causa, e pretende provocar ações efetivas por parte dos governantes. Sem intermediários, ouvimos falar de inclusão pelas palavras de duas pessoas maduras que podem contar, de cátedra e cadeira, a situação da pessoa deficiente hoje, suas dificuldades, suas vitórias e, principalmente, a mídia frente àqueles que se encontram nessa situação.
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>> Inclusão e Mídia foi o tema debatido por Flávia Cintra e Mirella Prosdocimo
Israel Henrique FefermanInovação Estratégica Com a evolução da pesquisa genética, torna-se possível fazer diagnósticos personalizados e prescrever tratamentos mais eficazes, mais adequados a cada paciente, com menores efeitos colaterais. Israel Feferman discorre sobre a pesquisa, que requer conhecimentos e tecnologias de ponta, altos custos e maturação lenta, algo que supúnhamos realizado apenas em países do antigo primeiro mundo.
Os melhores cuidados com gestantes e recém-nascidos, a melhor escolarização, as campanhas de vacinação, o saneamento básico e os avanços na medicina têm proporcionado aumento significativo da expectativa de vida da população mundial; no Brasil, essa expectativa já ultrapassou os 70 anos e deve crescer mais. Vida mais longa impacta os sistemas previdenciários e de saúde; as doenças degenerativas como Alzheimer e as que afetam a coluna vertebral são um grande desafio de nosso tempo. A par disso, enfrentamos uma questão que sempre incomodou mulheres e homens, o envelhecimento da pele, que traz como principal consequência vulnerabilidade a doenças como melanomas e, por que não? afeta a autoestima, a tão injustiçada e tão humana vaidade. Os determinantes do envelhecimento cutâneo são complexos, ligados a fatores ambientais e de comportamento, como a exposição exagerada à luz solar e às características genéticas de cada indivíduo. Até pouco tempo atrás os tratamentos disponíveis eram preventivos, paliativos ou mesmo invasivos, como os procedimentos cirúrgicos, e tinham foco pouco individualizado.
AUTOR: Wanda Camargo – assessora da Presidência das Faculdades Integradas do Brasil.
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Poucas pessoas no Paraná podem falar sobre esses assuntos com a mesma pertinência que Israel Henrique Feferman, diretor executivo da Skingen Inteligência Genética, do Grupo O Boticário, que implantou o processo de Gestão Tecnológica de Produtos, incluindo a Rede Tecnológica nacional e internacional, e estruturou o Laboratório de Biologia Molecular (Labim) para a realização de pesquisas ligadas ao processo de envelhecimento da pele. O palestrante é farmacêutico Bioquímico, com MBA em Gestão Empresarial pela FGV e extensão universitária em Estatística pela Rutgers University (EUA), é especialista em gestão estratégica, pelas Kellog University (EUA) e Duke University (EUA). Tem vasta experiência nas áreas de Pesquisa e Desenvolvimento de
>> Israel Henrique Feferman, diretor executivo da Skingen Inteligência Genética, do Grupo O Boticário
Produtos, Garantia da Qualidade, Operações e Marketing. Foi Diretor de Pesquisa e Inovação d`O Boticário, acumulando interinamente a diretoria de Operações. Também é conselheiro da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, desde 2003. É, ainda, membro de diversos grupos técnicos da Associação Brasileira de Cosmetologia, Centro de Gestão de Estudos Estratégicos ligados ao Ministério de Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior e da Associação Brasileira das Indústrias de Higiene, Perfumaria e Cosméticos. Participa do Centro de Referência em Inovação, promovido pela Fundação Dom Cabral.
Suas ponderações foram acompanhadas pelos professores e alunos da Escola de Saúde, e consideradas relevantes para o entendimento de como uma empresa paranaense pode se tornar conhecida mundialmente investindo em tecnologia e valorização do conhecimento.
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EDSON CAMPAGNOLO A importância da formação universitária para o desenvolvimento das indústrias do Estado Edson Luiz Campagnolo, presidente da FIEP - Federação das Indústrias do Paraná, um empreendedor desde muito cedo, após várias experiências no comércio, fundou empresas que atuam no setor corporativo e também como fornecedores para grandes marcas mundiais do segmento esportivo. Sua palestra forneceu aos alunos da Escola de Negócios dados significativos da necessidade de formação acadêmica nos vários espaços empresariais e sociais.
O presidente da FIEP é comprometido com o desenvolvimento do Paraná. Foi presidente da Associação Comercial e Empresarial de Capanema e, posteriormente, presidiu a Coordenadoria das Associações Empresariais do Sudoeste. Ocupou ainda a vice-presidência da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná e exerceu a função de Secretário de Indústria e Comércio de Capanema. Presidiu o Sindicato das Indústrias do Vestuário do Sudoeste do Paraná.
AUTOR:
Em face da vasta experiência profissional do palestrante e diante de sua posição de destaque no âmbito de representatividade industrial, é que lhe foi sugerido o tema proferido: “A importância da formação universitária para o desenvolvimento das indústrias do Estado”.
Bianca Larissa Klein – professora do Curso de Administração das Faculdades Integradas do Brasil.
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Em 2003, tomou posse como vice-presidente da FIEP, sendo reeleito em 2007. No mesmo ano, foi eleito membro do Conselho Estadual do SENAI Paraná, e reeleito em 2009. Em 2010, passou a presidir o Conselho Estadual do SESI Paraná. Como empresário de confecção, Campagnolo participou ativamente do Conselho Setorial da Indústria do Vestuário, sendo um dos responsáveis pela criação do Paraná Business Collection, principal vitrine da moda paranaense. Em agosto de 2011, foi eleito presidente da FIEP, com expressiva votação. Na FIEP, é protagonista de importantes iniciativas. Foi o idealizador da campanha “A Sombra do Imposto”, que tem por objetivo conscientizar a população sobre o peso dos tributos e iniciar um movimento pela reforma tributária. Também coordena o Conselho Temático de Assuntos Tributários.
Num primeiro momento, Campagnolo ressaltou sua excelente impressão sobre as Faculdades Integradas do Brasil,
principalmente no que se refere ao fato de possibilitar momentos de troca como esse. Da mesma forma, a própria indústria deve ser repensada, assim como o perfil do trabalhador da indústria e do comércio. Sob essa perspectiva, discorreu sobre o papel da FIEP, SESI, SENAI, IEL e da indústria paranaense na vida das pessoas e na tarefa de colocar o Brasil no lugar de destaque em que ele deve estar. O palestrante trouxe um vídeo institucional da FIEP, cujo conteúdo é válido reproduzir:
“...Todos esses empresários podem contar com o apoio e comprometimento do sistema FIEP, uma instituição que trabalha de forma integrada, com foco no desenvolvimento industrial e sua representatividade, promovendo a educação, o crescimento sustentável e a melhoria de vida das pessoas. O Sistema FIEP é formado pela FIEP, o SESI, o SENAI e o IEL. O SESI promove a qualidade de vida do trabalhador e de seus dependentes, estimula a gestão socialmente responsável das empresas, a prática de esportes, o acesso à cultura e à educação empreendedora. O SENAI promove a educação profissional e tecnológica de jovens e adultos e os prepara para o mercado de trabalho e incentiva o constante aprendizado. O IEL atua entre os centros de conhecimento e as empresas sempre em busca dos maiores talentos para cada necessidade das indústrias. À frente de todas essas entidades está a Federação das Indústrias do Estado do Paraná – a FIEP. A FIEP é o braço político e institucional da Indústria paranaense, apoiando o empresário com serviços e produtos para diversas áreas. É uma entidade voltada para o desenvolvimento e a inovação do setor
industrial que ultrapassa os limites da fábrica, preocupada com o bem estar social dos trabalhadores da indústria e da comunidade. A FIEP oferece assessoria ao empresariado e aos sindicatos filiados. Busca meios de manter a indústria paranaense em constante desenvolvimento por meio de um diálogo com a sociedade para entender as demandas industriais do nosso estado. Além disso, a FIEP tem setores que orientam o empresariado sobre os caminhos para captar recursos para a indústria. Produz pesquisas e análises sobre a economia do setor e incentiva a competitividade. Oferece apoio ao exportador, dando suporte para a internacionalização das empresas por meio de cooperações internacionais, projetos, consultorias e capacitação. A FIEP incentiva o associativismo empresarial como forma de representatividade do setor. A FIEP defende os interesses da indústria, valorizando princípios como independência, transparência e ética. Com 108 sindicatos filiados, são mais de 46 mil indústrias que geram 820 mil empregos. A FIEP representa cada uma dessas indústrias. Cada trabalhador atuando com força total para o desenvolvimento de um Paraná cada vez melhor”.
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Comentando o vídeo, o palestrante afirmou que a FIEP é braço político e institucional das indústrias. O Estado é basicamente agrícola, mas vem se transformando em importante referência industrial – desde os anos 70 e 80 quando recepcionou a cadeia automotiva, que representa 8% da produção industrial do Brasil. O Paraná, afirmou enfaticamente, tornou-se um estado industrial. Por outro lado, lembrou que o Paraná e o Brasil são celeiros do Mundo. Explicou que o Sistema “S” engloba várias áreas econômicas: Agricultura (SENAR), Comércio (SESC e SESI), Cooperativismo (SESCOOP), Transporte (SEST), Empreendedorismo (SENAE) e Indústria (SENAI). Esclareceu, também, que a FIEP não é uma entidade Pública - nem o SENAC, o SEBRAE e o SESC - e muito menos um espaço de eventos. Destacou que a receita da FIEP vem da indústria, mas que também conta com recursos do Estado. Como exemplo, citou o CNI – 23 Centros de Inovação – que recebem investimentos do governo federal, uma vez que o Paraná sedia uma área de eletroquímicas. Segundo o palestrante, a FIEP tem se mobilizado no sentido de verificar quais são os Setores Portadores de Futuro para o Estado do Paraná 2015, bem como da Prospectiva para a futura indústria. Ou seja, qual futuro queremos construir? Para responder a essa pergunta, seis regiões do estado foram pesquisadas, revelando-se os Setores de destaque: a Biotecnologia, a área agro alimentar e a sustentabilidade.
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A partir disso, foram questionados quais perfis profissionais serão demandados. O resultado da pesquisa apontou para 12 setores, contemplando 231 perfis profissionais (24 Biotecnologia, 24 Meio Ambiente, 25 Construção, 29 TIC, 12 Turismo, 14 Metal, 14 papel,16 Agroindústria, 17 produtos de consumo, 18 plástico, 19 saúde e 19 energia). Da pesquisa já foi possível retirar tendências importantes dos perfis profissionais, ou seja, profissionais com conhecimento em: Inovação aberta, WEB30, Sustentabilidade, Qualidade de vida, indústrias de base, tecnologias, mitigação de impactos ambientais, personalização/customização, adição de valor aos sistemas de produção, desenvolvimento colaborativo, consumo consciente. Também, das tendências apresentadas, verificaram-se quais os domínios fundamentais exigidos dos perfis profissionais: gestão de projetos, interdisciplinaridade, gestão de pessoas, propriedade industrial, gestão integrada de resíduos, gestão do conhecimento, sustentabilidade, vigilância tecnológica e inteligência competitiva. Os perfis profissionais que apareceram no estudo também apontaram exigência das seguintes habilidades e competências: articulação para a sustentabilidade, gestão da inovação, desenvolvimento de novos produtos alimentares, materiais poliméricos inteligentes, produtos de consumo bioativados, telemedicina, interação humano–computador e biotecnologia para minimização dos gases do efeito estufa.
Campagnolo afirmou que tem sido realizadas, no campo da indústria, várias ações importantes, como é exemplo a Tecnopar viabilizando incentivos fiscais para produzir empreendedores voltados para o desenvolvimento científico. Da mesma forma, a FIEP tem projetos estruturantes, como a Escola de qualidade de vida para a indústria, a Escola de Gestão da Indústria, a Faculdade da Indústria, o Instituto SENAI de Inovação e a Bel.09 – Banda larga de terceira geração. O palestrante finalizou defendendo um novo capitalismo, um capitalismo social, com consumo consciente, e afirmou que ninguém deve esquecer jamais dos seus sonhos. Receber e ouvir o presidente da FIEP, Edson Campagnolo, vem reafirmar que a Academia está inserida na sociedade e tem um papel extremamente relevante, na medida em que pode suprir suas necessidades por meio do conhecimento. O evento é um dos exemplos da aproximação da Academia com os diversos espaços sociais, revelando que as Faculdades Integradas do Brasil, como instituição de ensino de qualidade, cumpre com a tríade da educação: ensino, pesquisa e extensão.
>> Edson Luiz Campagnolo, presidente da FIEP, falou sobre a importância da formação universitária para o desenvolvimento das indústrias
Justiça Restaurativa – Uma crítica propositiva ao modelo do Sistema de Justiça Penal Maria Teresa Uille Gomes, Secretária de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, cuja atuação tem tido destaque pela defesa intransigente dos Direitos Humanos, quebra o vínculo com o sistema clássico e formalista de Justiça Penal, que dava a privação de liberdade do condenado como única resposta à sociedade diante do delito. Lembrando que essa linha de enfrentamento esquece que na base do delito há um conflito humano, uma geração de expectativas que vão além da mera execução da pretensão punitiva estatal, a exposição traz contribuição importante ao futuro profissional do Direito.
AUTOR: Paulo Coen - professor de Direito Penal e Medicina Legal no Curso de graduação em Direito das Faculdades Integradas do Brasil e na pós-graduação da FEMPAR – Fundação Escola do Ministério Público do Estado do Paraná. 46
Em encontro de Docentes das Faculdades Integradas do Brasil, quando da abertura do semestre letivo, questionou-se quanto ao momento em que nossos acadêmicos deixam de pensar a partir do senso comum e passam a desenvolver o pensamento baseado em uma lógica jurídica. Acredita-se que a palestra proferida pela Dra. Maria Teresa Uille Gomes possa auxiliar esse processo. Em suas palavras, trouxe o importante conceito da Justiça Restaurativa, que se busca implantar no sistema de Justiça Penal do Estado, parte do novo Modelo de Gestão da Execução Penal no Estado do Paraná. Integram esse projeto de forma relevante, mediante o Projeto de Lei Estadual nº 135/2012, as APAC’s - Associações de Proteção e Assistência aos Condenados, entidades civis de Direito Privado, com personalidade jurídica própria, dedicadas à recuperação e reintegração social dos condenados a penas privativas de liberdade. Cada APAC é filiada à FBAC – Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados, órgão coordenador e fiscalizador das APACs, entidade reconhecida internacionalmente como de utilidade pública. O método empregado por essas associações visa oferecer ao reeducando condições de reintegração à vida em sociedade e se baseia em 12 elementos voltados à valorização humana e à evangelização. O sistema não se volta apenas ao condenado, mas também às vítimas. Dra. Maria Teresa Uille Gomes, no Auditório Cordeiro Clève das Faculdades Integradas do Brasil, em 17 de agosto de 2012, discorreu sobre uma oportunidade para que uma mudança se opere. Secretária de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, a palestrante é promotora de Justiça, sendo a primeira mulher a ocupar a Procuradoria Geral de Justiça do Paraná, em 2002. Foi presidente do Colégio dos Procuradores, de Órgão Especial do Ministério Público, do Conselho Superior do Ministério Público e do Conselho de Curadores da Fundação
Escola do Ministério Público do Paraná. Em 2011, assumiu como Secretária da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Paraná; em fevereiro de 2012, foi eleita Vice-Presidente do Conselho Nacional de Secretários de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Administração Penitenciária. Sua atuação tem tido destaque pela defesa intransigente dos Direitos Humanos. Isso quebra o vínculo com o sistema clássico e formalista de Justiça Penal, que dava a privação de liberdade do condenado como única resposta à sociedade diante do delito, e forma de demonstrar uma pretensa “força vitoriosa do Direito”. Essa linha de enfrentamento entre o infrator e o Estado esquece que na base do delito há um conflito humano, uma geração de expectativas que vão além da mera execução da pretensão punitiva estatal. Nesse modelo, a vítima é relegada a um simples papel “testemunhal”. Essas associações são entidades auxiliares do Judiciário e do Executivo na Execução Penal, nos três regimes de cumprimento da sanção penal (fechado, semiaberto e aberto). Os condenados participantes frequentam cursos profissionalizantes e supletivos além de outras atividades, e recebem da comunidade assistência jurídica, médica, psicológica e espiritual, mas são corresponsáveis pelo sistema, tomando parte inclusive dos mecanismos de disciplina e segurança das unidades, juntamente com funcionários, voluntários e diretores das entidades. Não há presença de policiais ou agentes penitenciários, e o custo unitário ao Estado, que é, no Paraná, de aproximadamente 2 mil reais por reeducando, cai para uma fração desse valor. Há, porém, uma rígida disciplina fundada em horários de trabalho e atividades, com envolvimento, inclusive, da família do reeducando. Para tanto, os condenados participantes permanecem em unidades de pequeno porte, com média de 100 a 180 reeducandos, localizadas, preferencialmente,
em local próximo ao de origem do participante, o que desonera os familiares e viabiliza os propósitos reintegradores do método. Inova-se, portanto, pela valorização da capacidade individual de recuperação e também pelo fato de o sistema municipalizar a execução penal. Eis que com a proposta das APAC’s, bem como das APAD’s - Associações de Prevenção, Atenção e Reinserção Social de Usuários e Dependentes de Drogas, objeto do Projeto de Lei Estadual nº 134/2012, proposta também defendida junto à Assembleia Legislativa pela Secretária Maria Teresa Uille Gomes, no último mês de abril, tem-se a tentativa de implementação de uma execução penal de caráter verdadeiramente restaurativo, afastando cada vez mais a realidade de um sistema penal eminentemente retributivo. Isso, em plena época de ênfase a um Direito Penal máximo e àquilo que se pode chamar de “Estado 47
Midiático” no tocante à questão criminal, é um lampejo de sobriedade diante do sobredito “lugar comum” do discurso da imprensa de massa incorporado, infelizmente, até por setores do Judiciário, do Ministério Público e mesmo da Academia. Muitos elogiam a metodologia de segurança pública denominada “Tolerância Zero”, aplicada nos Estados Unidos a partir do final dos anos 1980, em especial na cidade de Nova York. Esse tipo de modelo criminal é baseado na “Teoria das Janelas Quebradas”, conceito publicado em 1982 pelo cientista político James Q. Wilson e pelo psicólogo criminologista George Kelling. O propósito da publicação era vincular desordem e criminalidade. Assim, metaforicamente, afirmou-se que, se uma janela fosse quebrada por um delinquente e não fosse imediatamente consertada, levaria o observador à conclusão de que naquele local ninguém se importava com isso e, por conseguinte, tampouco na manutenção da ordem. Isso desaguaria na desordem, incitando as pessoas a quebrarem as janelas íntegras restantes e, em breve, viria a decadência, o abandono daquela região pelas pessoas de bem, ficando o local nas mãos dos criminosos. Na obra de 1996, Fixing Broken Windows – Restoring Order and Reducing Crimes in Our Communities, Catherine Coles e George Kelling ressaltam a relação causal entre a tolerância a pequenas infrações e a criminalidade violenta. Ou seja, o pequeno delinquente não reprimido de hoje será o criminoso violento de amanhã. Assim, a não tolerância mesmo a menores infrações seria uma clara mensagem da observância da Ordem por parte daquela comunidade. A mensagem repressiva acolhida em sua totalidade no Brasil mostrouse claramente ineficaz; as mesmas fontes 48
estatísticas que justificaram sua adoção demonstram seu não funcionamento. A palestrante, por várias vezes, conclamou a comunidade acadêmica a se incorporar ao processo, de forma opinativa, visando oferecer propostas tanto para o aprimoramento do sistema quanto, inclusive, para complementar as sugestões já oferecidas ao novo Código Penal. Em uma iniciativa inovadora, falou da realização de uma pesquisa para estudo não apenas da figura do criminoso, mas também do perfil da vítima dos crimes violentos. Ademais, ressaltou as consequências da reincidência, hoje da ordem de quase 80% nos egressos do Sistema de Justiça Penal. Questiona-se se isso poderia ser atribuído tão somente à natureza incorrigível e contumaz do delinquente, como se quer fazer pensar, ou também à própria sociedade que, conduzida pelo falar fácil dos interlocutores de massa e também castigada pelos efeitos da delinquência, esquece ou não percebe que esses podem ser atribuídos não apenas à pessoa do infrator, mas também à falência do sistema em prevenir o delito e reincorporar o transgressor. Em algum momento se verá que essa política da criação de novas figuras penais, do aumento nas sanções dos delitos já existentes e dos massivos investimentos na construção de unidades prisionais é vazia, inócua e imediatista. Tão somente cria uma ‘cortina de fumaça’ aos olhos da sociedade a buscar ocultar a inépcia pública e o óbvio desgaste do modelo importado. Há muito tempo se sabe que a possibilidade de converter o que se denomina de “delinquente antissocial violento” em “indivíduo adaptável” mediante uma longa pena não é factível. Com
>> Maria Tereza Uille Gomes, Secretária de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos
isso, deduz-se que a sanção teria finalidade unicamente retributiva (devolução por parte da sociedade do ‘mal’ praticado pelo infrator). A mensagem da palestrante vai em saudável caminho oposto. Sem abrir mão da gestão estatal da execução penal, não tenta reprimir a criminalidade violenta - fruto de uma sociedade cada dia mais individualista, fundada no consumo e na ganância predatória nas relações sociais das últimas duas décadas – com a violência repressiva estatal, mediante o lugar comum do aumento das penas e criação de novas figuras penais, mas
com a lógica do chamado ao convívio dessas pessoas excluídas por força da sanção penal. O caráter instigante dos argumentos apresentados surtiu repercussão imediata. O assédio dos acadêmicos para discutir o tema, com as mais variadas vertentes conceituais, leva-nos a apresentar o tema como linha de pesquisa para os futuros Trabalhos de Curso (TCs), ferramenta útil para ajudar a formar conceitos e bases para um futuro profissional diferenciado.
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LYGIA PUPATTOInclusão Digital O Projeto Academia UniBrasil participa, com o Curso de Sistemas de Informação e toda a Escola de Educação e Humanidades, da abertura da Décima Segunda Jornada Acadêmica de Computação e Informática, e recebe a Secretária de Inclusão Digital do Ministério das Comunicações, professora Lygia Pupatto. Um exemplo de mulher competente e bem sucedida, que fala sobre um tema muito importante para os futuros profissionais de informática, professores atuais e futuros, e para todos os brasileiros: Inclusão Digital.
AUTOR: Andreia de Jesus - coordenadora do curso de Sistemas de Informação das Faculdades Integradas do Brasil.
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Atualmente, a comunicação e a troca de informações são extremamente rápidas e fáceis, desde que se tenha acesso e conhecimento para utilizar as diferentes Tecnologias da Informação e Comunicação disponíveis na sociedade. Devido a isso, a Inclusão Digital tornou-se um tema de discussão e de grande relevância, pois não basta disponibilizar acesso às tecnologias digitais, é preciso também formar o cidadão para desenvolver habilidades com relação ao uso dessas tecnologias e conhecimento para utilizá-las com segurança, ética e autonomia. Logo, essa discussão deve ser fomentada na sociedade como um todo e, principalmente, na formação de profissionais da educação e da computação, pois estes, respectivamente, são responsáveis pela formação de cidadãos e pelo conhecimento técnico de uso dessas tecnologias, bem como as características de cada uma e a forma correta de sua utilização. Conscientes da importância do papel desses profissionais no planejamento e execução de projetos destinados à Inclusão Digital, convidamos a Secretária de Inclusão Digital do Ministério das Comunicações, Lygia Pupatto, para ministrar uma palestra sobre esse tema no Brasil, para alunos da Escola de Educação e Humanidades e alunos do curso de Sistemas de Informação. Vale ressaltar aqui que a atuação profissional de Lygia já representa a relação direta de Inclusão Digital com a Educação, pois, antes de se tornar Secretária de Inclusão Digital, foi reitora da Universidade Estadual de Londrina de 2002 a 2006, recebeu o título “Award of Highest Honor” da Universidade Soka Gakkai do Japão, pelos trabalhos desenvolvidos pela educação brasileira, e de 2005 a 2011 foi membro do Conselho Estadual de Educação do Paraná. Além disso, a Secretária foi diretora-presidente do Paraná Tecnologia, diretora-presidente do Simepar (Tecnologia e Informações Ambientais) e membro do Conselho de Ciência e Tecnologia do Estado do Paraná.
Lygia iniciou a sua fala apresentando a seguinte estatística: “15% da população produz tecnologia, 50% consome tecnologia e 35% é excluído digital. Esse panorama nos mostra o quanto são importantes os projetos de Inclusão Digital no Brasil e a formação de profissionais da educação e computação para esse tema. Digo isso, porque os 15% que produzem tecnologia precisam ter consciência do porquê e para quem eles estão desenvolvendo as tecnologias; já com relação aos 35% dos que consomem, tem que ter conhecimento e cuidados com o uso dessas tecnologias; e, por fim, os 35% que estão excluídos precisam ser alfabetizados digitalmente. Vale reforçar que ser alfabetizado digitalmente não significa ser letrado digitalmente, ou seja, é preciso ir além do saber usar o computador e internet, é preciso saber integrar os recursos das diversas ferramentas digitais para adquirir informações e produzir novos conhecimentos, só assim alcançará autonomia e criticidade no uso dessas tecnologias.”
Dentro desse contexto, os principais desafios da sociedade do século XXI, apontados pela Secretária de Inclusão Digital, são: democratizar o acesso aos espaços de produção e disseminação do conhecimento; promover a formação continuada das pessoas; estimular a sustentabilidade como princípio de convivência social; exercitar a cidadania.
Todas essas ações têm como objetivo atender à demanda da atual sociedade, a qual vem sendo intitulada por muitos estudiosos como sociedade do conhecimento ou sociedade da informação. Vale reforçar, de maneira simplificada, que os 51
termos conhecimento e informação estão sendo utilizados para referenciar a sociedade porque representam elementos essenciais para a atuação do cidadão. Ou seja, o cidadão precisa ter conhecimento sobre as tecnologias de informação e comunicação e acesso, compreensão e extração de informações nesses meios digitais para que possa ser um agente ativo na sociedade. Por isso, a Inclusão Digital está diretamente relacionada com essas demandas, e projetos dessa natureza contribuirão para transpor as diferenças sociais e vencer os desafios propostos. A Secretária Lygia Puppato finalizou destacando que os projetos, ações e iniciativas propostas pelo Ministério das Comunicações têm como objetivo promover o uso da internet e outras Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Para tanto, estão sendo elaborados projetos para a implantação de infraestrutura (equipamentos, disponibilização de sinal e internet); para o incentivo ao desenvolvimento e disponibilização de conteúdos que atendam aos requisitos de acessibilidade, usabilidade e inteligibilidade; e para a capacitação da população interessada no uso das TICs e dos profissionais que atuam diretamente no atendimento aos cidadãos. Os principais
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programas em execução no âmbito da Secretaria de Inclusão Digital são: apoio a telecentros, às cidades digitais, aos centros de recondicionamento de computadores; além da articulação de políticas que envolvem a integração das ações de inclusão digital do Governo Federal e a articulação dessas políticas com as políticas sociais. Para mais detalhes sobre os projetos, acessar a página da Secretaria de Inclusão Digital (http:// www.mc.gov.br/o-ministerio/secretaria-deinclusao-digital/). O tema abordado pela Secretária Lygia Pupatto oportunizou aos acadêmicos conhecer o atual contexto sócioeconômico da Inclusão Digital no Brasil. Essa foi uma excelente oportunidade para não só ampliar a visão do contexto tecnológico, mas, também, conscientizar-se de que antes de desenvolver qualquer tecnologia é necessário, primeiramente, questionar o que e quem ela deve atender. Além disso, ficou claro que a Inclusão Digital é uma ação muito maior do que simplesmente disponibilizar tecnologia para a população, é uma ação que também permeia a formação das pessoas com relação ao uso do computador e da internet, tendo como objetivo final a cidadania e a autonomia do cidadão brasileiro.
>> Maria Tereza Uille Gomes, Secretรกria de Estado da Justiรงa, Cidadania e Direitos Humanos
Cultura cultura Unibrasil Unibrasil
GRUTUN ! GRUPO DE TEATRO UNIBRASIL
As Adaptações do GRUTUN! Grupo de Teatro UniBrasil Neste artigo é apresentado um breve resumo dos processos de adaptação de textos utilizados na confecção de espetáculos pelo Grutun! Grupo de Teatro UniBrasil. Para isso, é necessário também contextualizar o grupo dentro de sua história e de sua característica principal: o teatro universitário - o fazer teatral e a prática acadêmica como forma de construção da cidadania.
O Grutun! Grupo de Teatro UniBrasil nasceu pelas mãos do professor e jornalista Victor Folquening no final de 2006 e tinha a ideia de aproximar os estudantes dos diversos cursos das Faculdades Integradas do Brasil com as atividades artísticas. Hoje com cinco anos, a trupe alcançou o objetivo de seu fundador e foi muito além. No seu primeiro ano, passou a ser dirigido por mim, Alex Wolf, e começamos a realizar um projeto atrás do outro, sempre buscando o desenvolvimento individual dos integrantes, baseado na atividade artística de qualidade. Atualmente o grupo possui em torno de vinte integrantes, desde estudantes até funcionários das Faculdades Integradas do Brasil, que buscam o fazer teatral com paixão e seriedade. E como diria Folquening, “praticando a cidadania através da arte.”
AUTOR:
Uma prática recorrente do fazer artístico contemporâneo é a adaptação. O diálogo entre as diversas linguagens artísticas e o universo da pós-modernidade gera uma infinidade de novos textos, esses com origem naqueles que os precederam. No ato de adaptar, aquilo que é transcrito de uma obra trata-se sempre de um texto transcrito, sem a necessidade de aproximar-se ou distanciar-se de seu original, e nada mais é, como explicitado
Alex Wolf - diretor do Grutun! Grupo de Teatro UniBrasil. Mestre em Comunicação e Linguagens 56
Com o desenvolver dos trabalhos, acabamos separando os diversos projetos em quatro vertentes que ocorrem em paralelo: Grutun! Comunidade - apresentações de peças infantis em escolas de ensino fundamental da Rede Pública da RMC (Região Metropolitana de Curitiba), hospitais e instituições filantrópicas; Grutun! Literatura - apresentação de peças teatrais ou adaptações de trechos da literatura brasileira, destinadas aos alunos de ensino médio; Grutun! Pesquisa - grupo de pesquisa teatral que desenvolve projetos de teatro contemporâneo e material acadêmico para publicações e participações em eventos de extensão e festivais específicos, e Grutun! Repertório - eventos especiais, participações esporádicas em seminários, leituras dramáticas e produções destinadas a públicos específicos. Esses projetos nos renderam reconhecimento público, como exemplo a nossa última homenagem vinda pela certificação agraciada ao Projeto Grutun! Comunidade na terceira edição do Prêmio Fani Lerner.
GRUTUN ! GRUPO DE TEATRO UNIBRASIL
pela pesquisadora Anna Camati, que o resultado de uma manifestação do processo cultural em que vivemos, numa constante mutação. A adaptação é na verdade um novo texto, uma nova obra de arte com valor de originalidade, que carrega em si o diálogo com inúmeras textualidades, sem depender de mídia ou linguagem estabelecida para e por ela. Isso permite reencontrar uma mesma história, mas de um ponto de vista diferente, criando assim uma interpretação distinta do original. Adaptar é ser intertextual. É repetir, porém repetir sem replicar. Não poderia ser diferente dentro do ambiente do teatro universitário. E é assim que as coisas acontecem dentro do Grutun!. Desde seu primeiro projeto, “Palavras de Suassuna”, desenvolvido especialmente para uma visita que o escritor e dramaturgo brasileiro faria às Faculdades Integradas do Brasil, somamos vários poemas do artista e, na forma de um jogral encenado, apresentamos aquilo que ficou muitos anos registrado nas páginas de um livro. Elogios foram declarados pelo autor à nossa ousadia e criatividade. Outro desafio foi transformar a “Casa de Bernarda Alba”, de Garcia Lorca, expoente do teatro espanhol, em um texto enxuto “Bernarda Alba”, com quarenta e cinco minutos de duração, representado nas salas do Solar dos Leões, aqui em Curitiba. Nesse projeto, o texto original da peça, assim como três traduções diferentes, foram utilizados para a confecção de um roteiro ágil que não deixou de representar claramente a profundidade das páginas escritas pelo dramaturgo espanhol. Mais recentemente, as adaptações de “São Bernardo” de Graciliano Ramos, das páginas de um romance para o palco, de “Novas Diretrizes em Tempo de Paz”, de Bosco Brasil, do teatro para o mesmo teatro, provando a possibilidade de um outro olhar sobre o mesmo objeto, e do “Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meirelles, novamente da poesia para a declamação encenada, mostramos as diversas possibilidades do adaptar com a coragem da criatividade, sem nunca esquecer a responsabilidade de manter o valor do original e sem perder a originalidade do novo. Esses três textos foram representados para estudantes do ensino médio e buscavam discutir as leituras propostas a eles por diversos vestibulares. A aceitação foi excelente, e os debates gerados pelas apresentações provaram a
eficiência das adaptações, no que se refere ao conteúdo literário mantido naquilo que foi representado, sem perda, apesar da mudança de mídia estabelecida. O próximo projeto é levar à cena o novo espetáculo do Grutun!Comunidade, baseado em “Chapeuzinhos Coloridos”, de José Roberto Torero, da literatura infantil para o teatro de rua, ousando mais uma vez a partir das possibilidades geradas pela liberdade adaptativa. As atividades desenvolvidas dentro do Grutun! Grupo de Teatro UniBrasil procuram atender a uma gama bastante grande de público, desde o infantil até o especializado em teatro. Nosso objetivo é propor espetáculos que atendam à diversidade e que mantenham qualidade artística dentro de uma poética que possa ser digerida pelo público e pelos integrantes do grupo. Assim sendo, pretendemos continuar a montar textos prontos da dramaturgia mundial, mas também buscar novos rumos e, quem sabe, até os processos autorais. O futuro é promissor e será alcançado a partir da prática textual imposta pelas atividades que desenvolvemos continuamente.
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GRUTUN ! GRUPO DE TEATRO UNIBRASIL
Grutun! Literatura Diretrizes em tempo de Paz Texto adaptado da peça teatral “Novas Diretrizes em Tempos de Paz” de Bosco Brasil. Trata do embate entre dois homens que, na verdade, representam um só na busca pela liberdade. O espetáculo foi inspirado no teatro do absurdo, período estético teatral que se preocupava em tratar a realidade de forma inusitada. Sua estreia se deu no Festival de Teatro de Curitiba de 2012. Apresentações: Sala Londrina – Festival de Teatro de Curitiba de 2012
Romanceiro da Inconfidência Espetáculo baseado na coletânea de poemas “Romanceiro da Inconfidência” de Cecília Meireles. Trata de histórias que antecederam a Inconfidência Mineira, durante a colonização brasileira no século XVII em Minas Gerais. Os textos foram representados a partir de uma declamação encenada buscando a oralidade e o lirismo da poesia da autora. O projeto foi desenvolvido em parceria com a UFPR para apresentação a alunos de ensino médio da Rede Pública e Privada. Apresentações: TEUNI - Teatro Experimental da Universidade Federal do Paraná
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GRUTUN ! GRUPO DE TEATRO UNIBRASIL
Grutun! Repertório Anuário de teatro de curitiba Publicação da Fundação Cultural de Curitiba que celebra os espetáculos teatrais realizados na capital paranaense no ano de 2011. O Grutun! Grupo de Teatro UniBrasil é representado nesta publicação pelos espetáculos “Batimpaz”, “Linha Vermelha”, “São Bernardo” e pelo projeto Ópera Popular com “La Bohème”.
Festival de Teatro de Curitiba 2012 O Grutun! Grupo de Teatro UniBrasil participa pela terceira vez do Festival de Teatro de Curitiba. Esse festival se realiza anualmente e dele fazem parte produções teatrais nacionais e internacionais, tratando-se de uma referência para as artes cênicas em nosso país. No ano de 2012, o Grutun! trouxe ao festival os seguintes espetáculos: “Novas Diretrizes de Paz”, baseado no texto de Bosco Brasil, “Batimpaz”, de Enéas Lour, “Razão de Estado”, de Clèmerson Clève e o projeto Ópera Popular com a ópera “La Bohéme” de Pucini e “Le Nozze di Figaro” de Mozart.
Exposição 5 Anos do Grutun! Exposição com a retrospectiva dos trabalhos já realizados pelo Grutun! Grupo de Teatro UniBrasil foi uma das ações organizadas pelo grupo para a comemoração dos seus cinco anos de atividades. A programação do aniversário de cinco anos iniciou com os espetáculos da trupe no Festival de Teatro de Curitiba e finalizou com uma pequena mostra dos trabalhos no hall do bloco II das Faculdades Integradas do Brasil, onde os passantes poderiam ver figurinos, fotos e trechos das peças realizadas pelo grupo. 59
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Grutun! Pesquisa Razão de Estado Espetáculo comemorativo aos cinco anos do Grutun! Grupo de Teatro UniBrasil. O texto original de Clèmerson Merlin Clève retrata a falta de ação do homem diante de seus questionamentos, em um contexto que aborda a política, a filosofia e a história. Para o Festival de Teatro de Curitiba de 2012, a peça foi adaptada buscando atender às necessidades de tempo exigidas pela organização do encontro nacional de teatro. O texto premiado de Clève em sua juventude subiu ao palco do Teatro Marina Machado com uma roupagem dinâmica e irreverente. Apresentações: Teatro Marina Machado – Festival de Teatro de Curitiba 2012; IX Festival de Arte e Cultura Popular do Litoral Paranaense – Paranaguá – PR.
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Grutun! Comunidade Vai e Vem do Bem Para a comemoração da Semana Nacional do Trânsito de 2012, o Grutun! Grupo de Teatro UniBrasil, em parceria com o Detran/PR, apresentou a peça “Vai e Vem do Bem”, produzida especialmente para o evento. A pequena peça, produzida para ser apresentada em espaços alternativos, trata dos problemas do trânsito, como a bebida em excesso, a alta velocidade e a falta de cuidado dos pedestres e motoristas com os seus deslocamentos pelas vias públicas. Apresentações: Semana Nacional de Trânsito - Centro Cívico - Curitiba - PR; Escola Municipal Araucária - XII Dia de Saúde e Cidadania Rotary Clube - Curitiba - PR; Dia da Criança - Campus Faculdades Integradas do Brasil.
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Atividades em Parceria Há uma bela canção popular que diz que “um mais um é sempre mais que dois”. Inconsistência aritmética à parte, a afirmação é pertinente ao conceito de parceria, a união de entidades ou pessoas que tem objetivos comuns ou assemelhados normalmente produz uma sinergia altamente benéfica a elas e seus objetivos. A união de ideais, esforços e conhecimentos sempre se mostrou altamente eficaz em todas as áreas. Na educacional, principalmente, pois educação é necessariamente um processo coletivo. No dicionário, “parceria” é definida como reunião de pessoas por interesse comum; sociedade, companhia. Ser parceiro significa uma escolha de realizar em conjunto algo que será melhor ou mais adequado do realizado separadamente. Em termos institucionais, quanto melhores as instituições parceiras, melhor o resultado obtido; em se tratando de instituições educacionais, embora o resultado seja muitas vezes intangível, as associações de boas escolas costumam produzir e ampliar cultura, além de melhorar a qualidade das produções científicas e intelectuais de todas as parceiras.
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Se a parceria é desenvolvida de forma comprometida com a satisfação das necessidades comunitárias, promovendo atividades extensionistas, de disponibilização dos saberes acadêmicos para toda sociedade, então o crescimento e o desenvolvimento mútuo não serão exclusivo apenas dos professores e alunos envolvidos, mas do sistema educacional como um todo. Acreditando nisso, as Faculdades Integradas do Brasil realizam atividades culturais em conjunto com parceiros, entre eles a UFPR, Universidade Federal do Paraná; a UNESPAR - Universidade Estadual do Paraná, em três de suas componentes: FAFIPAR - Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá; a EMBAP, Escola de Música e Belas Artes do Paraná, e a FAP, Faculdade de Artes do Paraná, instituições públicas que primam pela produção e difusão do saber em artes. Além destas, também com o Graciosa Country Club, promotor de diversas atividades culturais, como o Encontro com a Palavra; e o Solar do Rosário, espaço cultural em Curitiba promotor de atividades culturais, como cursos, oficinas, ateliers, lançamentos de livros, palestras e eventos ligados à arte e à cultura. Wanda Camargo
As Faculdades Integradas do Brasil, dentro de sua política cultural, passou a buscar parcerias para a realização de eventos culturais e artísticos que alcançassem de forma mais abrangente suas comunidades interna e externa. No ano de 2012, estreitou sua relação com a UNESPAR – Universidade Estadual do Paraná, a partir de suas já existentes parcerias com as faculdades EMBAP (Escola de Música e Belas Artes do Paraná), FAP (Faculdade de Artes do Paraná) e FAFIPAR (Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá).
Integradas do Brasil e da FAP, apresentando performances artísticas, workshops e debates sobre a arte e a cultura portenha. As atividades fizeram parte da programação da Jornada Acadêmica do curso de Fisioterapia das Faculdades Integradas do Brasil com o workshop “Psicomotricidade e Jogos Corporais”, ministrado pelo fisioterapeuta e bailarino Carlos Cavalcante.
A partir dessa atividade em conjunto, já baseada no sucesso de eventos anteriores, foram realizados os seguintes projetos: Tango Curitiba 2012 – Seminário de Música e Dança, Ópera Popular e Festival de Cultura e Arte Popular do Litoral Paranaense.
Tango Curitiba 2012 Seminário de Música e Dança O evento “Tango Curitiba 2012 Seminário de Música e Dança” foi realizado a partir da parceria das Faculdades Integradas do Brasil com a UNESPAR/FAP e o curso de Qualificação Profissional em Tango Dança, promovido nas dependências da Escola de Dança do Teatro Bolshoi no Brasil – Joinville/SC. Teve como objetivo proporcionar à comunidade acadêmica o contato maior com a manifestação cultural do Tango, hoje reconhecida como patrimônio imaterial da humanidade. O evento aconteceu simultaneamente nas dependências das Faculdades 63
Ópera Popular Lançado em 2011 pelas Faculdades Integradas do Brasil em parceira com a UNESPAR/ EMBAP, o Projeto Ópera Popular tem por objetivo aproximar o grande público da linguagem operística, apresentando trechos conhecidos do repertório lírico, introduzidos por um narrador que passa orientações básicas para aqueles que não conhecem essa arte. O projeto consiste de um recital encenado de voz e piano no qual são apresentados os principais números de uma determinada ópera escolhida previamente. As peças são interpretadas por estudantes do Curso Superior de Canto da EMBAP (Escola de Música e Belas Artes do Paraná), com a orientação e direção musical da cantora lírica e professora Josianne dal Pozzo. A direção cênica fica por conta do diretor teatral Alex Wolf, responsável pelo Grutun! Grupo de Teatro UniBrasil.
>> Renata Bueno - cantora lírica
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A primeira apresentação aconteceu na Capela Santa Maria com a ópera “La Bohème” de Puccini, durante a Corrente Cultural da Cidade de Curitiba do ano de 2011. Essa apresentação rendeu elogios do público especializado e o projeto voltou em nova apresentação na 30ª Oficina de Música de Curitiba, com plateia novamente lotada agora no Paço da Liberdade. Na edição do ano de 2012 do Festival
de Teatro de Curitiba, o projeto reapresentou a ópera de Puccini e acrescentou ao seu repertório a ópera “Le Nozze di Figaro”, de Mozart. Em seguida, essa peça teve outra récita, seguida pela ópera: “L’Amico Fritz” de Mascagni, voltando ao palco da Capela Santa Maria. Para finalizar os trabalhos do ano, foi realizado um recital no Teatro Guaíra com os melhores momentos das três óperas apresentadas até então. Além da aproximação do público com a ópera, o projeto também abre a oportunidade para os novos talentos da música lírica curitibana.
Festival de Arte e Cultura Popular do Litoral Paranaense Há três anos as Faculdades Integradas do Brasil incentivam a arte e a cultura paranaense por meio da realização do Festival de Arte e Cultura Popular do Litoral. O festival partiu de uma iniciativa da FAFIPAR - Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de
Paranaguá e hoje conta com o apoio das Faculdades Integradas do Brasil, FAP, EMBAP, UFPR Litoral e Prefeitura de Paranaguá. Atualmente o Festival acontece na cidade de Paranaguá e realiza eventos nas cidades de Morretes, Pontal do Paraná e Matinhos, que recebem atividades como oficinas, concursos, mostras de artes, fóruns, roteiro cultural e gastronômico e passeios turísticos. Todos os eventos são oferecidos ao público gratuitamente, ofertando assim o que há de melhor da cultura litorânea e paranaense à população do próprio litoral e de outras cidades do estado. A participação das Faculdades Integradas do Brasil vai além do apoio cultural. Ela leva oficinas e apresentações do Grutun! Grupo de Teatro UniBrasil e também colabora na organização do Festival. Os alunos dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda das Faculdades Integradas do Brasil participam da cobertura jornalística e fotográfica e finalizam o trabalho realizado.
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Encontro com a Palavra com GUSTAVO FRANCO - Dinheiro e magia Lenda ou figura histórica, Fausto gerou inúmeras recriações na música, no cinema, na literatura. O jovem Goethe encontrou o personagem na leitura de um livro popular e anônimo (Volksbuch), de histórias coletadas na feira de Frankfurt. O Graciosa Country Club e as Faculdades Integradas do Brasil, com o apoio do Solar do Rosário, receberam o economista Gustavo Franco para proferir conferência sobre o livro “Dinheiro e magia: uma crítica da economia moderna à luz do Fausto de Goethe”. A obra, de autoria do economista Hans Christoph Binswanger, possui introdução e posfácio de Gustavo Franco.
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Fausto, o homem ambicioso que fez um pacto com o diabo em troca de sua alma para obter conhecimento e prazer ilimitados. Uma lenda alemã e, também, uma figura histórica. Sim, existiu um Jorg, Johanes ou Johann Faust, que teria vivido entre 1480 e 1540 na corte alemã, ou perambulando entre o que hoje é a Alemanha e as cidades de Cracóvia, Paris e Roma. Goethe não leu a versão completa do livro, publicado pela primeira vez em 1587 e com o título comprido, que já contava o enredo: “História de D. Johann Faust, famigerado feiticeiro e necromante; a maneira como estabeleceu acordo aprazado com o diabo; a que singulares aventuras entrementes assistiu, arranjou e provocou até que finalmente recebesse a paga merecida. Gustavo Franco, Professor do Departamento de Economia da PUC-Rio, ex-presidente do Banco Central e sócio fundador da Rio Bravo Investimentos, é Ph.D. em Economia pela Universidade Harvard. Publicou “A década republicana: o Brasil e a economia internacional 1888-1900”, “O Plano Real e outros ensaios”, “O desafio brasileiro: ensaios sobre desenvolvimento, globalização e moeda”, “Crônicas da convergência: ensaios sobre temas já não tão polêmicos”, “A economia em Pessoa” e “Shakespeare e a economia”. Franco é um dos principais observadores da economia do Brasil.
AUTOR:
Goethe teve acesso à versão mais curta do “Faust”, de 1725. O pacto entre Fausto e o demônio, os 24 anos em que Fausto desfruta prazeres, sua morte violenta, a magia, além de aspectos cômicos e trágicos já presentes na versão.
Liana de Camargo Leão, professora da Universidade Federal do Paraná, editora do Global Shakespeare’s do MIT. (UFPR – CESH - Instituto Gandarela/Globe Brasil)
Outros escritores beberiam desta mesma fonte, como o dramaturgo inglês Christopher Marlowe (1564-1593), contemporâneo de William Shakespeare (1564-1616), e que usou o Volksbuch como fonte para a sua peça A trágica história do Doutor Fausto, de enorme sucesso nos palcos ingleses. Existem duas versões para o Fausto marlowiano, a versão A e B, ambas do fim do século XVI, e publicadas postumamente. O Fausto de
Marlowe popularizou o mito na Inglaterra. Vale mencionar que, como seu personagem, Marlowe era uma figura misteriosa – dramaturgo, poeta, espião, herético, homossexual, duelista, mágico. Ambicioso, Marlowe teve um fim trágico: aos 29 anos, foi, por motivos dúbios e desconhecidos, assassinado com uma facada no olho, em uma taverna, em 1593. O criador copiou a criatura. Talvez Goethe tenha experimentado o mito de Fausto em criança, em sua cidade natal. Como as lendas que corriam na feira de Frankfurt sobre o misterioso alquimista, Goethe nasceu nesta cidade, em 1749. Frankfurt respirava Fausto. Com certeza, em menino, Goethe teve oportunidade de assistir ao teatro de marionetes e viu várias versões de Fausto. A ambição faustiana vivia não só na cidade, mas também na casa de Goethe; o pai era extremamente exigente, foi o primeiro professor do filho e o obrigava a estudar e praticar, além de ciências, religião, desenho, música, dança e equitação, literatura e línguas. Com oito anos, Goethe tinha aulas de alemão, francês, italiano, latim, grego, ídiche e hebreu… Tornou-se poeta, filósofo, criador de uma teoria da
luz, advogado, executivo da administração de Weimar, e dramaturgo. Se Fausto trata da ambição pelo conhecimento, Goethe vive a ambição de seu pai pelo conhecimento ao ponto de ter adoecido e ficado tuberculoso. Não se sabe se fez algum pacto para se curar, mas o fato é que se recuperou, para o benefício da literatura e da posteridade, e a história de Fausto o acompanhou por toda a vida. Reescreveu-a diversas vezes. Publicou Fausto, um fragmento (1790); dezoito anos depois, Fausto I (1808); e, após sua morte, o Fausto II (1832).
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Mais de sessenta anos pensando em Fausto, sua obra máxima, poema “incomensurável”, nas palavras de Thomas Mann, que também reescreveria o mito em Doutor Fausto (1945). Dentre os Faustos que Goethe escreveu, para quem nunca leu, talvez o caminho mais fácil seja ler o texto que Goethe nos recusou: ele destruiu um manuscrito de 1775-76. Felizmente, o texto havia sido copiado à mão por uma amiga, Luise von Göchhausen. Luise teria se encantado com a obra que o jovem e belo Goethe, então com 26 anos, lhe mostrara. A cópia de Luise, perdida até 1887, veio à tona e trouxe-nos mais um Fausto, o Urfaust. Em termos de leitura, para os que foram além do Urfaust, para os que venceram o desafio de ler o Fausto I, há um desafio muito maior: a parte II do Fausto, mais extensa que a primeira e repleta de discussões sobre economia e política. Obra do fim da vida de Goethe foi objeto de estudo profundo e comentário crítico pelo economista alemão Christoph Binswanger, em Dinheiro e Magia (1985). O livro, traduzido para o inglês em 1994, e para o português em 2012, tem prefácio e pósfacio do economista brasileiro Gustavo H.B. Franco. O estudo de Binswanger é um dos raros comentários a abordar Fausto II sob o ponto de vista da economia. É importante lembrar que, na época de Goethe, os reis e governantes ainda buscavam a ajuda de astrólogos e alquimistas para resolver problemas do Estado, para tentar transformar chumbo em ouro, ou decidir o melhor dia para a coroação de um monarca. É bastante conhecido o astrólogo John Dee, da corte de Elizabeth I, que estabeleceu o dia 15 de janeiro de 1559 como melhor dia para a coroação da jovem rainha que governaria a Inglaterra até 1603. 68
Para Binswager, o Fausto II é um momento em que se percebe que, melhor que o astrólogo, um “economista profissional” como Fausto e Mefisto, que dominam a organização dos bancos e a emissão do papel-moeda são os novos “alquimistas”. Tudo isso e muito mais está posto no livro Dinheiro e Magia (Zahar, 2011), que traz ainda desdobramentos das reflexões de Binswamger para o Brasil, na análise fina e inteligente de Gustavo Franco: “o ideal fáustico certamente encontrou no Brasil uma terra muito fértil, tal como nos países onde estão localizados os canais transcontinentais com que sonhava Goethe, e seguramente foi um locus privilegiado para trabalhos que lembravam o pactário, começando pela bestialidade da colonização, pelo escravismo, pelos ciclos predatórios do açúcar e do café, passando pela construção de Brasília no apogeu do industrialismo juscelinista, a capital simbólica da era fáustica, em seguida pelo milagre econômico produzido pela ditadura, e chegando ao uso desmesurado da inflação como combustível para o desenvolvimento ao menos até 1994”. Franco levanta a hipótese de que o verdadeiro patrono do crescimento brasileiro seria ninguém menos do que o Fausto de Goethe. Encontramos a política e a economia no Fausto II, de Goethe, que Gustavo Franco explora em relação à tragédia do desenvolvimento brasileiro. Como escreveu o estudioso Oto Maria Carpeaux, “um crítico comparou o caminho do leitor através das páginas de Fausto à subida pelas escadas da torre de uma catedral gótica: é uma escada estreita e às vezes perigosa, mas no alto abre-se o grande panorama do espaço e do tempo.”
>> Gustavo Franco no evento Encontro com a Palavra
JOSÉ ROBERTO O’SHEA James Joyce e traduções O irlandês James Joyce tem importância vital para a literatura do século XX. A partir da revolução que realizou em Dublinenses, Retrato do Artista Quando Jovem, Stephen Herói e Ulysses nenhum outro escritor continuou escrevendo da mesma maneira. O professor, escritor e tradutor José Roberto O´Shea, considerado uma das maiores autoridades do Brasil em James Joyce e William Shakespeare, participou do “Encontro com a Palavra”, um dos maiores eventos do ano em literatura, no cenário paranaense. O “Encontro com a Palavra” foi realizado pelas Faculdades Integradas do Brasil, Solar do Rosário e Graciosa Country Club, que também sediou o evento.
José Roberto O’Shea apresentou recentemente uma revisão de sua tradução de Dublinenses e a primeira tradução brasileira de Stephen Herói, obra de grande importância por ser uma primeira versão de Retrato do Artista Quando Jovem, mas com diferenças tão marcantes que tornam os dois romances independentes. Todas as manifestações do ser humano, afeto, desafeto, amor, violência, ternura e raiva estão presentes nos 15 contos de Dublinenses que, para O’Shea, são conteúdos que calam fundo em qualquer leitor, pois este se vê ali, em situações de sua própria infância, adolescência ou idade madura, nas descobertas ou decepções do amor, e em questões que a pessoa considera importantíssimas. “Ao mesmo tempo, porém, isto configura um amadurecimento, pois você cresce com essas descobertas e percebe que você não é melhor que ninguém, que as pessoas têm as mesmas angústias e ansiedades que você. Tudo implica autoconhecimento, o que nunca é demais”, argumentou. Sobre estilo, O’Shea ressalta que a cadência e o ritmo da prosa de Joyce chamam a atenção. Segundo ele, só quando a ausência de pontuação produz quase que a incompreensão, bivalência ou uma ambiguidade não intencional, o autor aplica a pontuação. “Caso contrário, a prosa dele prescinde de pontuação, e isso na tradução é muito difícil, pois você precisa mantê-la. Você precisa ter controle da prosa, do português e da variante brasileira”. O escritor comentou que o evento “Encontro com a palavra” é uma ótima iniciativa para a integração do estudante com a área cultural. “É imprescindível um verniz, um polimento cultural, uma suplementação do conhecimento técnico com os conhecimentos de cultura. Esse polimento vai tornar o aluno que está se formando em áreas não diretamente culturais um profissional muito mais redondo, muito mais bem acabado, com uma visão de mundo muito mais holística”, completa.
AUTOR: Patricia Russo de Paula e Silva Gibran – professora nas Faculdades Integradas do Brasil. 70
O “Encontro com a Palavra” em que José Roberto O´Shea falou sobre Joyce, suas obras e traduções é mais um excelente resultado da parceria de um clube social, um centro de arte e cultura e uma instituição de ensino, que acreditam em sua responsabilidade na preservação, divulgação e inovação da cultura.
entrevista Revista Expressão: O chinês Mo Yan, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 2012, não tem nenhum livro publicado no Brasil embora seja razoavelmente conhecido em outros países. Um dos motivos parece ser a dificuldade em encontrar bons tradutores do Mandarim para Português. A seu ver há muita perda de qualidade da obra literária quando traduzida de um idioma que não é o original? José Roberto: É lugar-comum se falar em perdas no processo tradutório. De fato, em dados momentos, pode haver certo empobrecimento, seja semântico, seja estético. No entanto, não há apenas perdas, pode haver enriquecimento, seja semântico, seja estético. Revista Expressão: Uma tradução literária é obviamente muito mais refinada e complexa do que a mera transposição de textos de um para outro idioma. Em sua opinião, o que é uma boa tradução? José Roberto: Uma boa tradução é um texto capaz de reproduzir, na cultura de chegada, em conteúdo e forma, a vivência propiciada pelo texto originário. Revista Expressão: Um problema comum em traduções é a adoção da norma culta até mesmo em diálogos, o que os torna artificiais, ou o apelo a expressões populares regionais, o que faz personagens evidentemente estrangeiros usarem termos como “mano” ou “mermão”. Onde está o equilíbrio? José Roberto: O desafio do registro linguístico, sobretudo na tradução dos diálogos, é grande, e não existe fórmula mágica. Sim, é preciso um equilíbrio, mas como alcançá-lo é o xis da questão. A meu ver, uma estratégia útil é tentar seguir as modulações do registro que consta da obra originária. Se o original apresenta variação linguística intensa, registrada, por exemplo, com grafias que se apartam da norma culta e que buscam registrar sons do discurso oral, o tradutor fica mais livre para praticar desvios similares. Mas, é preciso cuidar para que a tradução não vá além do nível de variação linguística encontrado na obra originária.
Revista Expressão: James Joyce entendia a “epifania” como a apreensão da realidade deflagrada ou representada por algo geralmente muito simples. Esse conceito é tão fundamental em sua obra? José Roberto: Sim, sobretudo no caso de Dublinenses (mas, não apenas) essas revelações súbitas produzem nos personagens (e, por associação, no leitor) o paradoxo do estranhamento que conduz ao autoconhecimento. Revista Expressão: Depois de traduzir Stephen Herói, Um Retrato do Artista quando Jovem é a sequencia natural? Quando? José Roberto: Um Retrato do Artista Quando Jovem já está bem traduzido, tanto pela professora Bernardina Pinheiro, quanto pelo Elton Mesquita, a ser publicado pela Editora Hedra. Revista Expressão: Qual, então, seu próximo desafio? Revista Expressão: No momento, dando continuidade à minha pesquisa apoiada pelo CNPq, estou traduzindo e anotando Os Dois Nobres Primos, peça de autoria de William Shakespeare e John Fletcher, ainda inédita no Brasil.
GĂŞnero, Sustentabi
Responsabil
ustentabil
idade e
lidade Social
Um dos quadros mais conhecidos do pintor surrealista Salvador Dalí chamase “A persistência da memória”; retrata três relógios marcando horas diferentes e, literalmente, derretendo, tendo ao fundo uma paisagem desértica. Segundo algumas versões, o nome do quadro teria sido dado pela mulher de Dalí, Gala, salientando que quem o visse uma vez não o esqueceria. Em outra interpretação, a pintura seria a representação da relatividade do tempo e da fugacidade da memória como elemento que tenta “controlar” o tempo. Essa função da memória interessa às Faculdades Integradas do Brasil. As boas instituições de ensino têm como matéria prima o conhecimento, o que ocorreu, o que já foi pensado, o que já foi provado; e é a partir disso que contribuem decisivamente
para estabelecer as bases para o futuro, para o que ainda vai ser pensado, para o que ainda deve ser feito, para o que precisa ser provado. O novo conhecimento é tributário do conhecimento estabelecido, o pensamento inovador é primeiro pensamento e depois inovador; o momento mágico da inspiração só será consequente se precedido e procedido por muito estudo e transpiração. Dentro dessa perspectiva, ao valorizar as boas práticas nas questões de gênero, responsabilidade social e sustentabilidade, o trabalho é o exemplo de pessoas que fazem diferença para a vida em comunidade, a arte, a cultura, a ciência, o desenvolvimento social e econômico. É muito importante que os jovens em formação valorizem essas questões fundamentais para a cidadania, orientação importante para sua futura vida profissional.
Projeto Mulheres Paranaenses
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O projeto foi concebido com o objetivo geral de homenagear, todos os anos no mês de março, mês da mulher, seis personalidades femininas que tenham se destacado no cenário estadual nas áreas de Negócios, Saúde, Direito, Educação, Comunicação e Comunidade Acadêmica, e com o objetivo específico de demonstrar à comunidade acadêmica, por meio da valorização da atuação feminina, nas mais variadas áreas, empresariais, educativas, comerciais, artísticas e outras, o trabalho da mulher na construção do Paraná e o posicionamento da instituição quanto à questão de gênero. Além das homenageadas, são convidadas palestrantes representativas do trabalho, dedicação e sucesso feminino, que sirvam de norte e exemplo para as atuais e futuras profissionais paranaenses. 74
Desde sua fundação, as Faculdades Integradas do Brasil já homenagearam algumas pessoas, denominando auditórios ou salas com seus nomes. Entre elas, várias mulheres, todas relevantes na sociedade paranaense ou brasileira, e, em especial, para a vida da instituição. Wanda Camargo – coordenadora do Projeto Mulheres Paranaenses.
>> Fernanda Bernardi Vieira Richa - SecretĂĄria da FamĂlia e Desenvolvimento Social
Saúde Feminina: Desafios para as políticas públicas Mulheres constituem grande parte da força de trabalho paranaense, representando um grupo de pessoas talentosas, indispensáveis, vencedoras em suas áreas de atuação por brilho e esforço próprio. A comemoração da mulher trabalhadora nasceu como marco de movimentos políticos e trabalhistas de luta pela igualdade social, e vem avançando, embora aos poucos. Nesse cenário, discutir a saúde feminina torna-se assunto relevante, indispensável para valorização do trabalho da mulher na construção do Paraná.
AUTOR: Michelle Chalbaud Biscaia Hartmann. mestre em Direitos Fundamentais e Democracia pelas Faculdades Integradas do Brasil; doutoranda em Ciências JurídicasPolíticas pela Universidade Clássica de Lisboa; advogada militante em Curitiba, especializada em Direito à saúde. 76
O dia 08 de março, consagrado internacionalmente por decreto da Organização das Nações Unidas como “Dia da Mulher”, mais que data de comemoração, tem por objetivo suscitar a reflexão sobre o papel da mulher na sociedade contemporânea, bem como levantar a necessidade de discussão sobre as ações que podem ser desenvolvidas e empenhadas pelos poderes públicos para a derrocada do preconceito e das desigualdades entre homens e mulheres. Mesmo com os inúmeros avanços e conquistas das “multimulheres”, ainda aqueles anseios das mulheres operárias que, em 1857, morreram lutando pela sua dignidade e igualdade se fazem vivos, pois os dados estatísticos do último CENSO demonstram que ainda persistem as desigualdades regionais e a discriminação de gênero, especialmente nas relações de trabalho. O que por via transversa atinge o desenvolvimento da família reduz a autonomia individual da mulher e a sua dignidade, exigindo mais intervenção do Estado na garantia de direitos. A saúde, na forma consagrada na Constituição em seus artigos 6º e 196, que considera parâmetros estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde, é direito fundamental de todos os cidadãos brasileiros e dever imposto ao Estado para prevenção de doenças e promoção, recuperação e proteção da saúde, regendo-se pelas seguintes diretrizes: (i) descentralização que impõe a todas as esferas governamentais (federal, estadual e municipal), concorrentemente, o dever de prestá-la; (ii) integralidade da assistência, abrangendo a sua recuperação e prevenção; e, (iii) a participação da comunidade nas escolhas das políticas públicas para concretizá-lo. Essa última diretriz torna-se de suma importância para a satisfação democrática dos anseios sociais e para o
desenvolvimento da qualidade de vida, pois se trata da forma de garantir maior eficiência e otimização dos recursos públicos, com o direcionamento e racionalização das ações dos poderes públicos para as efetivas necessidades. Tal direcionamento das políticas públicas de saúde para as necessidades sociais e regionais do país é o primeiro grande desafio a ser enfrentado pelos governantes. O que se tem tentado atingir por meio da adoção de mecanismos como: orçamento participativo, audiências públicas municipais, conferências estadual e nacional de saúde, melhoria do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, dentre outros. No entanto, como por detrás do conteúdo do direito à saúde está a preservação da dignidade humana, da garantia de condições mínimas de existência e do direito à vida, é exigido dos poderes públicos sua máxima prestação, crescendo as demandas judiciais e as condenações dos entes da federação para garantirem tratamentos, medicamentos e exames, pois, na prática, ainda o Sistema Público de Saúde não consegue alcançar a total integralidade na assistência, por questões orçamentárias e até mesmo estruturais. É aí que se encontra o outro desafio: equalizar a prestação integral, com a estrutura do SUS e a limitação dos recursos públicos, visando alcançar um padrão mínimo do desenvolvimento humano, que promova a dignidade humana. Transpondo essa problemática ao universo da saúde da mulher, os desafios são potencializados, em razão dos compromissos assumidos pelo país com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. O referido programa pertence ao sistema da ONU e tem por objetivo fornecer dados, subsídios e experiências técnicas para que os paísesmembros melhorem seus níveis de desenvolvimento humano e tornem os direitos humanos acessíveis ao povo. Em diagnóstico da situação nacional do desenvolvimento humano, realizado pela ONU em 2005, apontaram-se os problemas chave para que o país possa alcançar os “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio” até 2015, concluindo que: o país vive em período de progresso social acelerado, mas, apesar dos esforços, é ainda um dos países mais desiguais do mundo.
No campo da saúde, são apontados como os maiores problemas: (i) os índices de mortalidade infantil e materna estarem muito aquém dos padrões internacionais aceitáveis, de países com desenvolvimento econômico inferior; (ii) aumento considerável da mortalidade por doenças não infecciosas; (iii) aumento da taxa de óbitos devido a acidentes automobilísticos e à violência; e, (iv) a falta de assistência de mais de 260 mil mulheres por ano que sofrem por complicações de abortos clandestinos. Constatou-se, ainda, que tais problemas se tornam maiores quando comparadas as regiões sul e nordeste do país e a população negra, pobre e indígena em relação à população branca e rica. Diante desse panorama, verifica-se que a saúde da mulher, no pré-natal, no parto e no puerpério, ganha destaque e é identificada como prioridade para a redução das desigualdades e para promoção da dignidade humana, pela ONU e pelo país, pois são os fatores relacionados à sua saúde 77
que influenciam diretamente no aumento da longevidade (no sentido de expectativa de vida ao nascer), um dos fatores preponderantes do cálculo do IDH (para além do PIB e educação). É nítido, portanto, que a preocupação não é somente satisfazer a necessidade identificada pela população como essencial para proteção da sua vida e dignidade, mas também fazer com que a imagem do país na esfera internacional melhore, reposicionando-o no ranking internacional do IDH (hoje 84º, de 187 nações). Caso contrário, a assistência à saúde da mulher, em sua integralidade, seria estabelecida como meta a ser alcançada pelas políticas públicas nacionais e estaduais, no sentido de que ao menos a assistência básica e hospitalar fosse garantida com eficiência e igualdade em todo o território nacional, superando a limitação à dimensão da saúde da gestante e do recém-nascido, ampliando: a atenção à saúde da idosa, aos tratamentos oncológicos, aos medicamentos de uso contínuo, a prevenção à gestação precoce e a redução de DST’s, investimentos na qualidade alimentar e condições de saneamento básico; redução das mortes violentas (hoje também um problema de saúde pública, o que não é realidade). Assim, a saúde da mulher e do recém-nascido, apontada como meta a ser atingida nos “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio”, só deixa mais evidenciada a necessidade de que as escolhas públicas sejam mais sociais do que políticas, promovendo a democratização no acesso efetivo ao direito à saúde. Contextualizando para a realidade do Estado do Paraná, segundo pesquisa do DATASUS, mesmo com alto grau de desenvolvimento 78
econômico, cultural e educacional, pioneiro na criação de programa governamental para a gestante, terá dificuldades para atingir até 2015 ao menos a meta mínima estabelecida para redução em 2/3 da mortalidade de crianças menores de 5 anos e redução de ¾ da mortalidade materna. Por sua vez, quando analisada a perspectiva dos municípios paranaenses, os dados são ainda mais alarmantes, segundo a ORBIS – Observatório Regional Base de Indicadores de Sustentabilidade, no atual ritmo de implementação de políticas públicas, certamente 69 dos 399 municípios não alcançarão a meta da redução da mortalidade infantil e 49 não conseguirão reduzir o índice de morte materna. Isso representa que o nível mínimo de dignidade humana aceitável não poderá ser concretizado. Portanto, se essa é a situação do Paraná e dos seus Municípios, muito maior deve ser a preocupação do governo federal com a situação dos demais Estados, particularmente, a dos Estados do norte e nordeste por conta das desigualdades econômicas e raciais. Em especial quanto ao panorama da saúde no Paraná, em que pese o pioneirismo na implementação de alguns projetos sociais, resta ainda o desafio para o administrador estadual e municipal encontrar formas de disseminá-lo, driblando: as adversidades econômicas, estruturais e, por que não, judiciais; a pouca participação da sociedade civil na vida da sociedade e nas escolhas públicas; e a dificuldade em manter e dar continuidade aos programas. Eis o desafio não só para o Paraná, mas para todo o Brasil: garantir de maneira integral o direito à saúde da mulher.
>> Dirce Doroti Merlin Clève - Coordenadora do SOROPTIMIST (SI Curitiba Glória) ministrou palestra no evento Mulheres Paranaenses 2012 sobre “Voluntáriado feminino: ações e resultados”
Responsabilidade Social e Sustentabilidade O Global Compact é uma iniciativa do Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, propondo à comunidade empresarial global o desafio de apoiar mundialmente a promoção de valores fundamentais nas áreas de direitos humanos, direitos do trabalho, proteção ambiental e combate à corrupção. O United Nations Global Compact, através do UN GLOBAL COMPACT BULLETIN, September 2012, disponível mundialmente em inglês, francês, chinês e espanhol, em seus NEWS & UPDATES, destaca a entrega do relatório de experiências de sucesso das Faculdades Integradas do Brasil, por meio da Secretaria Executiva da Rede Brasileira do Pacto Global. Esse relatório será subsídio para o Education First, uma iniciativa do Secretário-Geral da ONU em Educação, lançada no mês de setembro, por ocasião da reunião anual da Assembleia Geral. A iniciativa tem três prioridades: 1) colocar todas as crianças na escola (acesso ao ensino básico); 2) melhorar a qualidade da educação em todos os níveis educacionais; e 3) promover uma cidadania global pelo tema da Responsabilidade Social e Sustentabilidade. Nesse sentido, o escritório do Pacto Global em NY, em colaboração com o Secretariado Geral da ONU e outras agências do Sistema, irá produzir uma publicação para o lançamento dessa iniciativa, divulgando experiências já implantadas pelas empresas signatárias do Pacto Global no Brasil.
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Signatária desde 2010, as Faculdades Integradas do Brasil enviaram duas atividades, que deveriam ser já implementadas com comprovação, e que foram aceitas para publicação: o Projeto Informática Cidadã, experiência de sucesso de educação para o trabalho e inserção digital, e o Projeto Bolsas de Banners, mantido pela instituição desde 2009, parceria com o Clube de Mães da Vila Torres, em Curitiba, para reciclagem de banners utilizados para divulgação de atividades acadêmicas (seminários, cursos, palestras e outros). Além de signatária do Pacto Global, a instituição promove ações garantidoras da compreensão e participação do aluno na solução dos problemas comunitários, que facilitam uma educação verdadeiramente transformadora.
Projeto Bolsas de Banners As Faculdades Integradas do Brasil mantêm, desde 2009, uma parceria com o Clube de Mães da Vila Torres, em Curitiba, para reciclagem de banners utilizados para divulgação de atividades acadêmicas (seminários, cursos, palestras e outros). A Vila Torres, que já se chamou Vila Capanema e Vila Pinto, é uma das mais conhecidas comunidades carentes de Curitiba; distante pouco mais de dois quilômetros do centro da cidade, abriga cerca de 9 mil pessoas. O Clube de Mães reúne mulheres e moças da comunidade e desenvolve ensino e prática de atividades de artesanato, costura e bazares, para gerar renda às suas associadas. A Faculdade leva os banners usados ao Clube, e as trabalhadoras confeccionam bolsas, estojos e capas de computador com o material. Esses objetos são comprados pela própria instituição, e utilizados para presentear seus palestrantes, visitantes, ganhadores de concursos internos e participantes de cursos com o objetivo, também, de demonstrar a importância da preservação da natureza por meio da reciclagem, e de participar em projetos de geração de renda em comunidades carentes mediante trabalho de seus membros. O projeto é mantido também como atividade educativa, considerando que a única maneira de resolver os problemas
cruciais de nosso paradigma civilizatório será pela ação conjunta, em direção a um estilo de vida mais sustentável; uma educação mais democrática e pluralista envolve a mudança na postura frente aos resíduos gerados pela própria atividade educacional, com reflexos na formação oferecida. Num momento em que os jovens procuram por novos valores, é essencial a construção coletiva do conhecimento, com criatividade e privilegiando os processos individuais e sociais que auxiliem seus processos de aprendizagens. Além de signatária do Pacto Global, a instituição promove ações garantidoras da compreensão e participação do aluno na solução dos problemas comunitários, que facilitam uma educação verdadeiramente transformadora.
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Projeto Informática Cidadã A proposta do Projeto Informática Cidadã é ofertar cursos básicos de informática à comunidade local, com intuito de não somente envolver os acadêmicos de Sistemas de Informação em atividades docentes, mas também desenvolver um trabalho de inclusão digital. A concepção de Inclusão Digital, inicialmente, era a prática da alfabetização digital, capacitando os participantes do projeto a desenvolverem habilidades técnicas para a utilização instrumental da informática. Hoje, compreende também a iniciação para o exercício profissional, oferecendo aos participantes mais de um módulo, de forma
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que, além da iniciação digital, o participante poderá sair plenamente qualificado ao mercado de trabalho. Os objetivos relacionados à comunidade são os de: oferecer um projeto de inclusão digital com cursos de informática de curta duração; contribuir para a diminuição da exclusão digital (bastante expressiva em nossa sociedade); potencializar a oportunidade de emprego das pessoas que participam do projeto, já que, em geral, um dos requisitos essenciais para uma vaga de emprego são conhecimentos básicos de informática.
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