Fevereiro 2011 • Esta revista é distribuída com as edições dos jornais “Público” (edição sul), “Diário de Notícias” e “Jornal de Notícias” de 23.02.2011
Edições Market Iniciative
AÇORES 2011 terras das
1001 Maravilhas
Termalismo: Ilhas de Bem-estar
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Índice| AÇORES 2011 nota editorial
Ficha Técnica GeoMarket – Edições Market Iniciative Parque Peninsular, Rua David Mourão Ferreira, nº 5, Lote 3/4 - 1º Esq. 2650-050 Amadora - PORTUGAL Tel.: +(351) 309 991 731 email: geral@marketiniciative.com Edição: Market Iniciative; Direção e Coordenação Editorial: Market Iniciative (João Teixeira); Redação: Market Iniciative (Paulo M. Morais); Fotografia: Market Iniciative, Futurismo, ATA, DRC, Montanheiros, Dive Azores; Foto capa: Market Iniciative (Carlos Duarte); Design e Paginação: FuturMagazine; Impressão: Lisgráfica; Tiragem: 205.000 exemplares; Distribuição: Público (edição sul), Jornal de Notícias e Diário de Notícias de 23 de Fevereiro de 2011. Projeto desenvolvido para a Região Autónoma dos Açores com financiamento:
Governo dos Açores
Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte
Uma jornada em terras açorianas deve ter por companhia o livro de Raul Brandão intitulado “As Ilhas Desconhecidas – Notas e Paisagens”. Nessa obra maior da literatura de viagens, o autor descobre maravilhado um destino que não é o seu de origem. Página após página, Brandão busca a alma das ilhas perdidas no meio do Atlântico, investiga aquilo que torna cada parcela de Açores num lugar distinto do resto do mundo, descreve com minúcia o sentido e o pressentido. Faz tudo isto com recurso aos adjetivos apropriados, às metáforas perfeitas, quase como se a língua portuguesa tivesse sido criada à medida das nove ilhas do Arquipélago, para relatar paisagens, costumes, experiências, histórias. Porque aqui, o preto da rocha de lava é cor majestática, num domínio resplandecente que não impede o brilho das hortênsias rosadas, os verdes da floresta laurissilva, o azul do mar alteroso transformado em branco espuma quando embate na costa acidentada. Tarefa ingrata a de medir por palavras, explicar por frases, abranger por capítulos, sintetizar num livro, o que representa a experiência dos Açores. Cada ilha tanto contribui para um conjunto harmonioso, como revela uma identidade livre de amarras. Urge desbravá-las além da superficialidade e encontrar a essência do azul das lagoas, dos corredores das grutas vulcânicas, da vertigem das escarpas lávicas, da bonomia das fajãs aplanadas, da frescura das cascatas. Pede-se visão apurada, à procura dos detalhes que engrandecem o já de si magnificente. Mas é possível ir além do que os olhos veem: este é um destino para ser sentido no corpo. A génese vulcânica das ilhas presta-se a ser explorada com picos de adrenalina; na escalada de uma montanha, num voo de parapente, numa aventura espeleológica, num mergulho subaquático. E também se empresta à descoberta relaxante; em trilhos a passo de caracol, banhos em águas quentes das nascentes termais, viagens de barco à vela ao sabor do vento, sabores de uma gastronomia intensa. Este misto de experiências contemplativas e ativas encontra sempre um denominador comum: a emoção de estar-se num sítio do mundo especial e incomparável. Os Açores são... os Açores: genuínos e inesquecíveis. Por tudo isto, os visitantes dos Açores partem do Arquipélago já com a vontade de eterno retorno cravada no coração. Um regresso para apreciar o já admirado e, ainda assim, encontrar sempre uma visão diferente. E explorar mais uma mão cheia de sensações singulares, proporcionadas pelo filão inesgotável de turismo de natureza puro que dá pelo nome de Açores. n
Foto: ATA / Dive Azores / Tiago Castro
Genuínos e inesgotáveis
Maravilhas: Destinos Inesquecíveis Maravilhas: Ilhas de Encantamento Parques: Terra Nostra – Infinita Sedução São Miguel Whale Watching: Baleias – Encontro com Gigantes Pico Mergulho: Encanto Subaquático Praias: Emoções e Banhos Santa Maria Iatismo: Âncoras Atlânticas Bombordo: Mar de Aventuras Faial Trilhos: Cenários de Cinema São Jorge GeoCaching: Baú dos Tesouros Flores Vulcanismo: Mistérios Subterrâneos Alojamento: Acolhimento Confortável Terceira Termalismo: Ilhas de Bem-Estar Enogastronomia: Sabores Marcantes Graciosa Escalada: Subir Além das Nuvens Birdwatching: Aves de Três Continentes Corvo Agência Açoreana de Viagens: Parceiro de Eventos Negócios: Trabalhos Prazenteiros Golfe: Tacada Natural
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AÇORES 2011 |Maravilhas
destinos
Inesquecíveis
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pesar da existência das várias teorias do belo, o conceito de beleza natural assume enorme carga subjetiva. Nem sempre o que agrada a um observador, agrada a outro. Toda a regra tem exceções e algumas delas encontram-se nos Açores. Elevadas pelos votos dos portugueses à categoria de Maravilhas Naturais de Portugal, a Lagoa das Sete Cidades e a Paisagem Vulcânica da Ilha do Pico representam dois casos onde a beleza é sublime e consensual. Bilhete-postal da ilha de São Miguel, a Lagoa das Sete Cidades conquista com facilidade o coração de quem a encontra pela primeira vez. Não é para menos, face ao jogo amoroso entre a Lagoa Verde e a Lagoa Azul, vincado no contraste entre os tons diferenciados das respetivas águas, num enquadramento de rocha coberta de vegetação e flores. Do Miradouro da Vista do Rei, o maravilhamento é dado garantido. Perde-se uma eternidade de minutos a tentar captar numa imagem a perfeição das Sete Cidades, mas o resultado no pequeno ecrã ficará sempre aquém daquilo que os olhos veem. É a magia própria das paisagens que
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guardam o esplendor para quem as conhece pessoalmente. A Lagoa das Sete Cidades cresce além da vista digna de monarca. Sim, a imagem das duas lagoas está captada. Agora falta explorar-lhe a alma, naquela que representa uma porta de entrada para a experiência açoriana. O primeiro passo é retirar os olhos dos espelhos de água e olhar as encostas circundantes. Como será a vista do outro lado da caldeira? A partir desse momento de dúvida, está lançado o feitiço. Para quebrá-lo, é forçoso conhecer outras panorâmicas desta maravilha, missão a cumprir, em total segurança, através de dois percursos pedestres devidamente assinalados. O PR3SMI leva-nos da Vista do Rei até às Sete Cidades. Duas horas de caminhada fácil pela vertente oeste da Cumeeira da Caldeira das Sete Cidades. De um lado, a extensa Caldeira Seca, bonita língua de terreno aplanado coberta por vários tons de verde. Do outro, a costa oeste de São Miguel. O caminho de terra batida, a certa altura, mostrará uma cortada com destino à freguesia das Sete Cidades. Não se fuja da descida, mas fique-se ciente que a descoberta da Lagoa não está
extinta. O feitiço obriga à descoberta de novas perspetivas, guardadas para os 11 quilómetros do trilho PR4SMI entre a Mata do Canário e as Sete Cidades. O trajeto, classificado como fácil, demora três horas a percorrer. Mas essa cronometragem serve apenas quem não efetuar paragens para apreciar, sem demoras, os deslumbres encontrados. Como o aqueduto conhecido por Muro das Nove Janelas, onde pedra e vegetação vivem em simbiose. A ascensão até à vertente norte da Cumeeira da Lagoa Azul promete dificuldades que se verificam irreais, quando combatidas por pausas para apreciar magníficas panorâmicas, degustar o farnel transportado – o queijo da ilha a desfazer-se na boca enquanto se admira o voo de um melro-preto –, inspirar a pureza que domina a atmosfera. Cada passada neste contorno equivale à promessa cumprida de novos êxtases. E assim se chega de novo à freguesia das Sete Cidades, já na plena consciência de se estar perante uma Maravilha de Portugal, eleita na categoria de Zonas Aquáticas não Marinhas. Cresce então a vontade de regressar para trás, refazer este e aquele trilho, fazer das
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Sete Cidades uma obsessão. Sim, porque esta maravilha não se esgota numa vista digna de rei. A área da Lagoa das Sete Cidades é um movimento de encanto perpétuo que pode ser explorado por vários dias. E mesmo assim, será sempre capaz de gerar uma nova surpresa. Vestígios de grandeza A outra Maravilha Natural de Portugal que se pode encontrar nos Açores – o que torna a região autónoma na área mais premiada do território português – insere-se na categoria dos Grandes Relevos. Designação adequada para esta Paisagem Vulcânica da ilha do Pico, que engloba o ponto mais alto de Portugal. Os 2351 metros de altura da montanha do Pico mostram-se num formato cónico perfeito, onde nem sequer falta o piquinho a tocar o céu. Este vulcão que atrai todas as atenções, representa apenas um dos vestígios da natureza ardente que forjou os Açores. O resultado das erupções vulcânicas – ora num negrume intenso, ora num cinzento reforçado – espraia-se por várias partes da ilha, criando diferentes tipos de paisagem. Como os campos de lava do tipo pahoehoe, superfícies tão lisas
que parecem ter sofrido a intervenção humana, verdadeiras autoestradas naturais utilizadas em tempos para o transporte das pipas de vinho.
Montanha do Pico
Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte
Sete Cidades - São Miguel
A prova ficou nas “rilheiras”, sulcos deixados pelos rodados dos carros de bois no extenso manto cinzento. Nas áreas de escoadas lávicas do tipo aa, a maciez dá lugar a uma aparência áspera, desordenada, como se fosse uma obra de colagem de pedra bruta. Por vezes, a natureza esculpiu formas estranhas nestes “biscoitos” à beira-mar plantados, ao sabor do vento e das marés; como a cabeça de cão no lugar de Cachorro. A herança vulcânica da ilha do Pico é, assim, propensa a atos de imaginação e motivo de estranha contemplação. Os campos de lava chamados localmente de “mistérios” propagam este poder de sugestão. Fruto das erupções datadas de 1562-64, a paisagem de magma solidificado viu-se povoada de vegetação, numa prova de que nascem cores viçosas até do negro mais profundo. Será opção inteligente percorrer o trilho denominado Caminho dos Burros, extensão máxima de 8,4 quilómetros projetados para serem cumpridos em três horas e meia. É neste percurso que se encontram os “Cabeços do Mistério”, cobertos de uma vegetação rasteira que esconde a alma vulcânica do Pico, e se chega ao Parque Florestal do Mistério da Prainha, embelezado por plantas endémicas, como a urze e o cedro-do-mato, e promontório privilegiado para admirar o dorso espraiado da ilha de São Jorge. Ainda assim, o Pico vulcânico não está extinto. Há o tubo lávico da Gruta das Torres para explorar, os ilhéus dos cones vulcânicos submarinos da Madalena ou o Cabeço Debaixo da Rocha para mirar e... e o Pico, dito montanha, que em todo este trajeto nunca deixou de assinalar a sua presença magnética. Atração semelhante à provocada por um conjunto de nove ilhas atlânticas, a descobrir em ritmo calmo ou acelerado, simples ou aventuroso. Mas sempre numa experiência sem igual, que só pode ser proporcionada por um local abençoado pelas maravilhas da natureza. n
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AÇORES 2011 |Maravilhas
ilhas de
Flores – Poço da Alagoinha Mirante privilegiado para o conjunto de quase 20 cascatas que escorrem sobre uma imensa parede coberta de verde, numa sinfonia de cores, sons e emoções.
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or vezes, as paisagens mais famosas fazem sombra a outras menos conhecidas. Os Açores têm duas das 7 Maravilhas Naturais de Portugal. Mas podia ter as 7 ou até 70... As ilhas do Arquipélago são uma fonte inesgotável de lugares especiais. Esta é a autêntica terra das 1001 maravilhas, das conhecidas às por
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desvendar, das faladas às ainda secretas. Por isso, citar mais alguns dos prodígios da natureza que se podem encontrar nos Açores, pecará sempre pela escassez. Ainda bem. O que poderia ser encarado como uma tremenda injustiça, é afinal uma enorme
oportunidade; apenas significa que haverá sempre novos e diferentes locais, ansiosos por arrebatar os visitantes. Nestas nove ilhas atlânticas, é mesmo possível que cada pessoa encontre um recanto exclusivo que corresponde, como em nenhum outro lugar do mundo, à sua definição individual do que é o... deslumbramento. n
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
Encantamento
Maravilhas | AÇORES 2011
Faial – Vulcão dos Capelinhos Extensa “superfície lunar” cinzenta pontuada por um farol despido e a terminar abrupta no mar azulado, num quadro surrealista pintado pela força criadora do Vulcão dos Capelinhos.
Terceira – Mistérios Negros Três domos, resultantes de lavas de erupções vulcânicas recentes, juntam esforços para prender os visitantes num sortilégio de tons negros que sobressaem do verde circundante.
Santa Maria – Barreiro da Faneca Planície ondulada de terra avermelhada, num tesouro tímido de argila que ganha vida sob os raios dourados do sol poente e nos remete para paisagens de Marte.
Graciosa – Ilhéu da Baleia Rocha vulcânica que deu à costa na forma de baleia, atraída pela luz do farol imaginário que entretanto o homem concretizou, para poder apreciar do cimo esta dádiva da natureza.
Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte
São Jorge – Fajã da Caldeira de Santo Cristo Condensado de sensações assombrosas, apenas acedíveis por caminho pedestre, impressas tanto no sabor ímpar de uma amêijoa como na paisagem de beleza excecional.
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AÇORES 2011 |Parques
Terra Nostra
Fotos: Market Iniciative
Infinita sedução
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Parque Terra Nostra é um repositório de inúmeras espécies de árvores e plantas capaz de extasiar desde o botânico mais conhecedor ao simples amante da natureza. Para qualquer um deles, circular nos recantos deste paraíso colorido será uma experiência para repetir uma e outra vez. Jardim bicentenário, o Parque Terra Nostra é um jardim em constante mutação. Parte desta mudança é realizada pelas próprias espécies, em danças próprias da passagem das estações do ano. Mas há outras transformações que assumem toque humano, por exemplo, através da introdução de novas espécies. Deste modo, o espólio botânico e arbóreo iniciado em 1780 por Thomas Hickling, então cônsul dos Estados Unidos da América na ilha de São Miguel, tem conhecido uma evolução constante. Razão porque mesmo os que repetem a visita ao Terra Nostra, sentem uma emoção semelhante à da primeira vez. O jardim teve sucessivos proprietários ao longo dos anos, estando nas mãos da família Bensaude desde os anos 30. Atualmente acarinhado por patronos e alvo dos cuidados de uma equipa muito entusiasta de jardineiros, o Terra Nostra alia o grandioso ao detalhe. O visitante pasma perante o porte das sequóias, carvalhos, araucárias. Admira-
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-se perante os fetos viçosos e a alameda das gingko biloba. Sonha no Vale das Cycadáceas, ao conhecer uma compilação única destes “fósseis” vivos, antecedentes aos dinossauros, provenientes de várias partes do mundo. E também estaca perante a delicadeza dos metrosideros, camélias (pertencentes a uma colecção com mais de 600 variedades), azáleas. Traça-se então caminho, à procura de mais detalhes, de raridades como o pinheiro nobilis-wollemi, do reconhecimento de cada metro de Terra Nostra, cada regato e riacho, cada gota de orvalho pendente de diferentes tonalidades de verde. A viagem termina sem sequer ter começado. Falta o lago com nenúfares, a encosta de hortênsias, o jardim de plantas endémicas, os eucaliptos, o canteiro de flores anuais e o resto das 200 espécies e milhares de variedades inseridas no perímetro do parque. Um museu natural, devidamente ordenado e classificado, que cerca de beleza as escassas construções humanas, como a gruta romântica, o mirante conhecido por “O Açucareiro”, a Memória aos Viscondes da Praia e a Casa do Parque, com vista para as águas castanho-dourado do lago artificial de água férrea. Enquanto o corpo aquece nas águas quentes, a mente relaxa ao sabor das impressões deixadas pelas árvores, plantas e flores
observadas ao longo do jardim. Medra a certeza de estar-se perante um património histórico irrepetível, felizmente preservado e dinamizado por gente apaixonada. Tudo para deleite do visitante, já enxuto e a caminho de mais uma gloriosa descoberta no Terra Nostra. n
Lago artificial de águas férreas
Coleção de cycadáceas
Ilhas | AÇORES 2011
Lagoa do Fogo
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alma da maior ilha açoriana é um contraste entre o branco e negro ardente das cidades e o verde e azul da terra a bailar com o mar. Um tom acobreado, rasto deixado pelas águas ferrosas das nascentes geotérmicas, faz a ponte entre estes dois mundos tão distintos quanto complementares. Sim, há essa maravilha chamada de Lagoa das Sete Cidades. Mas São Miguel, na sua grande extensão, é um universo de diversidade, que integra paisagens naturais e citadinas. Não é preciso afastarmo-nos muito da afamada lagoa verde separada por um fio de pedra da lagoa azul. Por perto, há outras lagoas mais pequenas que ainda assim pedem meças na escala do belo, provocando a fantasia com nomes estranhos... Éguas, Empadadas, do Canário, de Santiago, Rasa e do Caldeirão Grande, do Carvão, Pau Pique. Prossigamos até outras duas lagoas, gigantes novamente em tamanho e fascínio. No mirante para a dita do Fogo suspende-se a respiração e o tempo; nas Furnas contorna-se o vasto espelho de água até encontrar a fantasmagórica ermida gótica de Nossa Senhora das Vitórias. Sinal do que espera o visitante no vale das Furnas, imerso numa névoa brotada das fumarolas e caldeiras de águas geotérmicas. Entra-se num dos tanques da Poça da Dona Beija para sentir na pele o efeito da nascente de água sulfurosa, que corre a 38º C. Em redor, um cenário de relva tratada, fetos e árvores, canteiros de flores, acolhe os banhistas mesmo quando
chove miudinho. O mesmo acontece na mais virgem Cascata Velha, lá para a Ribeira Grande, encontrada após um delicioso percurso pedestre entre vegetação frondosa. Ou nos miradouros semeados pela costa do Nordeste da ilha, a servirem panorâmicas que agasalham. Altura de descer à cidade, seja na Povoação dispersa pelas sete lombas avistadas do Miradouro da Lomba do Cavaleiro, ou em Vila Franca do Campo, onde se comem de enfiada as queijadas locais enquanto se observa o pôr-do-sol além do Ilhéu da Vila a convidar a um banho no seu cone vulcânico. As freguesias micaelenses são quase todas à beira-mar. Eis a Caloura, terra de porto e piscina natural, adiante Lagoa e, num círculo que se fecha perto das Sete Cidades, os Mosteiros decorados com um ilhéu ao largo. Deixou-se para o fim o que pode vir em primeiro: Ponta Delgada, capital económica do Arquipélago, casa dos arcos emblemáticos das Portas da Cidade (1783) e da estreita igreja onde se guarda com devoção a Imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres. Prodigiosa é igualmente a Igreja do Colégio, Núcleo de Arte Sacra do Museu Carlos Machado e repositório do maior retábulo de madeira existente em Portugal, exemplo virtuoso da arte decorativa da talha dourada. Falta visitar o museu ao ar livre chamado Ribeira Grande, onde se descobrem com facilidade inúmeras lições do jogo cromático entre o negro da pedra basáltica e o branco da alvenaria. Despedidas só após a apreciação da escadaria e torre sineira, ambas escuras, da Igreja de Nossa Senhora da Estrela, a extravagância barroca
Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte
SÃO MIGUEL
da Igreja do Espírito Santo e a popular Ponte dos Oito Arcos. Percebe-se, num instante, que a arquitetura de São Miguel tem alma de fogo a preto e branco. E o coração arde, apaixonado por este ponto no Atlântico. n
Igreja do Colégio
Plantação de chá
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AÇORES 2011 |Whale Watching
baleias
Encontro com giga
O
s Açores são exemplares no modo como se sustenta o presente e o futuro preservando o passado. O Arquipélago em tempos dado à caça da baleia, indústria que foi sustento de várias famílias, transformou-se num santuário de proteção de cetáceos. Hoje em dia, baleias e golfinhos de várias espécies nascem e vivem em paz nas águas açorianas. O cachalote é simbólico: representa em simultâneo décadas de história açoriana, envolta nos cheiros da indústria da baleia, mas também uma nova consciência de proteção da fauna e flora do nosso planeta. Espécie residente nas águas do Arquipélago, é comum encontrarem-se grupos de fêmeas com crias durante praticamente todo o ano. Os machos abandonam este santuário durante o verão para rumarem, isolados, a destinos mais a norte. Mas acabam por regressar na época de reprodução ao mar amistoso que tão bem conhecem. Deste modo, o número de cachalotes com bilhete de identidade açoriano continua a crescer, aumentando a colónia
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já existente. Avistar um cachalote é, por isso, ver um cenário típico e intrínseco aos Açores. Além da intensidade histórica e cultural deste encontro, junta-se a emoção de conhecer um dos mamíferos mais fantásticos da terra. Será quase um quebra-cabeças sem solução o facto dum animal de tamanho porte conseguir ser tão gracioso. Ninguém ficará indiferente ao charme tímido do cachalote. E como se não bastasse a presença assídua destes gigantes de cabeça quadrangular e pele cinzenta, há registo de cerca de 30 espécies diferentes de cetáceos, entre baleias e golfinhos residentes e migratórios, que se avistam neste pedaço de Atlântico. Ao todo, os Açores têm cerca de um terço do total de espécies atualmente existentes no mundo. Quase dá para iniciar – ou completar – uma coleção de avistamentos. Os cachalotes em qualquer altura (embora a época alta seja entre abril e outubro), as baleias de barbas de março a junho, o mesmo para a gigantesca baleia azul... e os simpáticos golfinho-comum e roaz-corvineiro sempre presentes, o golfinho-pintado de junho a
outubro, mais o golfinho-de-risso, ocasionalmente o golfinho-riscado... Há operadores turísticos especializados na observação de cetáceos em várias ilhas, embora grande parte esteja concentrada em São Miguel, Terceira, Faial e Pico, esta a ilha de maior tradição baleeira. A deslocação no mar pode ser feita nos tradicionais botes semirrígidos ou nos barcos de maior porte, devidamente adaptados a esta prática, que já existem no arquipélago. A experiência a bordo é bem diferente. Nos semirrígidos sente-se um contacto mais próximo com o mar, com a adrenalina a subir perante os saltos e a velocidade imprimida. Nas embarcações mais compridas, prima a estabilidade e o conforto. É comum que as viagens sejam acompanhadas por bandos de golfinhos que interagem com os visitantes humanos. Melhor ainda é descer ao mar e nadar junto deles, no respetivo habitat natural, atividade que integra os programas de alguns operadores. Uma coisa é certa: ir aos Açores e ficar sem conhecer uma ou mais espécies de cetáceos, é bem mais difícil do que ir a Roma
Museu da Indústria Baleeira - São Roque - Pico
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
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Foto: Futurismo
Regata de botes baleeiros
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
Whale Watching | AÇORES 2011
e não ver o Papa. Neste santuário atlântico, as baleias e os golfinhos estão em casa. E fazem questão de receberem os visitantes. n
Atualmente, algumas das torres de vigia que antigamente serviam de abrigo aos homens que perscrutavam o horizonte em busca de presas, continuam a ser utilizadas por gente de olhos no binóculo. Profissão que exige paciência, repleta de horas solitárias à espera da companhia da baleia, os vigias ganham experiência na observação atenta dos sinais marítimos; o esvoaçar agitado de bandos de cagarros junto ao mar, prenúncios de cardumes de atum ou chicharro, alusões à baleia submersa invisíveis aos leigos na matéria. E de repente, confirma-se: baleia à vista. É tempo de os barcos se lançarem ao mar e de o vigia serenar. Hoje haverá rostos felizes.
Foto: Futurismo
Vigias solitários
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AÇORES 2011 |Whale Watching
O bom gigante azul frequente destes mamíferos que chegam a medir 30 metros e a pesar 150 toneladas. Face à raridade e à dimensão deste gigante de pele azul acinzentada e cabeça achatada, ter a oportunidade de observar uma baleia azul representa um momento muito especial na vida de qualquer pessoa.
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
Espécies há muitas, mas ver uma baleia azul é pura magia. Além de estarmos perante o maior animal terrestre, a quantidade de espécimes existente a nível mundial tornou-se tão diminuta, que cada vez mais é difícil avistá-lo. Nos últimos anos, os Açores têm sido afortunados com a passagem
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Museu dos Baleeiros - Lajes - Pico
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Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
esmo à distância, sente-se o peso da montanha. O ponto mais alto de Portugal emana uma energia seminal a todo o território envolvente e avança mar adentro até tocar nas ilhas adjacentes. Paragem mítica na história baleeira do Arquipélago, o Pico está repleto de provas de perseverança humana. O cinzento, em cambiantes mais ou menos escuros, enquadra tudo o que desponta na ilha. É uma espécie de moldura omnipresente a que o olhar se adapta com o passar dos minutos, das horas, dos dias. O enredo dramático do Pico, taciturno à partida, acaba por revelar-se dos mais marcantes em todo o Arquipélago. Porque nesta ilha comprida, esquadrinha-se o pormenor com especial atenção. Sugam-se as cores de uma nesga de vegetação ou de uma flor vadia. Atentas, as gentes locais aprofundaram os contrastes. Edificaram casas de pedra basáltica e, como num sublinhado de que domaram a natureza, pintaram as madeiras de vermelho garrido ou verde floresta. As casas de paredes escuras e portas coloridas espalham-se pelas povoações associadas à cultura da vinha – Lajido, Cachorro, Arcos, Santana, Cabrito. Localizadas na beira-mar da costa norte, fazem a ponte com o interior
Criação Velha
Ilhéus da Madalena
acentuado pela Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico, considerada pela UNESCO, desde 2004, como Património da Humanidade. Criação Velha e Santa Luzia são áreas típicas de terreno vinhateiro, com a geografia retalhada por uma malha quadricular de muros de basalto: os “currais”, protetores máximos dos pés de videira, cravados com obstinação nas pedras
de lava conhecidas por “lajido”. A história do verdelho, em tempos uma bebida de czares da Rússia, descobre-se no Museu do Vinho, nas “rilheiras” (sulcos deixados no solo lávico pelos carros de bois que transportavam uvas e barris), nas “rola-pipas” (rampas talhadas para facilitar o deslize das pipas até aos barcos). Embalados pela paisagem delimitada por um sem
Rilheiras - Lajido
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
Madalena
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
Lajido
Foto: Market Iniciative
PICO
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
Ilhas | AÇORES 2011
fim de muros negros, edificados por milhões de gotas de suor picaroto, rola-se com estranha graciosidade até Santo Amaro, freguesia pontuada pelo cavername das embarcações que por ali ainda se constroem. Num pequeno museu particular, dá-se conta da importância que a construção naval teve na freguesia. É a antessala de outras histórias, as da caça à baleia, preservadas na atmosfera dos portos e ruelas de Calheta de Nesquim, São Mateus ou Madalena, bem como no espólio do Museu da Indústria Baleeira, em São Roque, e do Museu dos Baleeiros, nas Lajes do Pico. Nem assim se esquece o magnetismo da montanha do Pico, a clamar por atenção sempre em surdina, porque os gigantes não necessitam de gritar. É preciso encontrá-la espelhada com perfeição na Lagoa do Capitão; subi-la até ao topo, em caminhada para um dia. No cume do mundo português, entende-se Raul Brandão, quando escreveu que esta é uma ilha de insistência. Talvez por ser a mais jovem das nove, com cerca de 300 mil anos, e ter o espírito vulcânico muito vincado. Pensa-se no assunto em torno de um copo de vinho tinto local, acompanhante dum pedaço de queijo de São João. E então, num instante impreciso, o cinzento transforma-se na cor mais encantadora que existe; e a ilha do Pico aloja-se no coração e na memória de quem a visita. n
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AÇORES 2011 |Mergulho
encanto
Jamanta
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m corpo humano some-se no azul profundo. O resto do mundo fica esquecido, na companhia de uma roda de jamantas, na descoberta de um barco afundado, na contemplação de grandes meros. Apenas três exemplos das inúmeras sensações reservadas pelos mares açorianos aos amantes do mergulho. O Arquipélago encerra quase uma centena de spots assinalados no mapa que representam diferentes tipos de mergulho: zonas costeiras, naufrágios, mergulho noturno, baixas litorais, bancos oceânicos... Uma oferta adequada a mergulhadores principiantes e experimentados e a oportunidade, para os que ainda desconhecem a beleza e vertigem do mundo subaquático, de um batismo de mergulho extraordinário, efetuado em águas cálidas que variam, ao longo do ano, entre uma temperatura de 17 e 24 graus centígrados. No inverno, chega a estar mais quente dentro do mar do que fora dele. No verão, à temperatura mais quente, junta-se uma visibilidade acrescida dentro de água, que nalguns spots pode atingir os 30. É a cortina que se abre para mostrar a vida que existe no mar.
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Abundância é a palavra adequada ao cenário encontrado, face às quase 700 espécies de peixes que povoam os mares do Arquipélago. Cardumes de chicharro, barracuda, atum, bicuda, albacora, anchova, cavala, enxaréu. Amostras de estrela-do-mar, lagosta, polvo, ouriço-do-mar. Espécimes de mero, garoupa, moreia, caranguejo, tartaruga, patuço. Exemplares de tubarão, espadim-azul, cavala-da-Índia, serra, lírio. E as jamantas, em forma de losango e cauda alongada, a arrastarem-se pelas águas como se estivessem a desfilar para deleite da assistência. Todas estas espécies encontram guarida neste pedaço de Atlântico, num intrincado de montanhas, vales e cordilheiras subaquáticas, em grutas, passagens, recifes, arcadas, paredes vulcânicas. Ou nos vestígios dos navios afundados, de nomes estrangeiros como Slovonia e Papadiamandis, Dori e Olympia, ou bem portugueses como o Viana, o Terceirense e o Corvo. Em comum, há as histórias para ouvir – das tragédias dos naufrágios às características das espécies encontradas – e as histórias para contar. Porque mergulhar nos Açores
é sinónimo de memórias que apetece partilhar. Até à próxima saída para o mar. n
Tipos de mergulho -
snorkeling batismo e cursos de mergulho zonas costeiras baixas oceânicas naufrágios baixas litorais baixas oceânicas
Bagagem adicional A SATA Internacional, nos voos operados pela companhia e que não tenham partida ou destino nos Estados Unidos, oferece 10 quilogramas adicionais à franquia de bagagem para transporte de equipamento de mergulho. O transporte do material está sujeito a reserva antecipada pelo passageiro e confirmação por parte da companhia aérea.
Foto: ATA / Dive Azores / Tiago Castro
Subaquático
Foto: Direção Regional da Cultura dos Açores
Cemitério das Âncoras - Baía de Angra
Foto: ATA / Dive Azores / Tiago Castro
Mergulho | AÇORES 2011
Museus subaquáticos
Mergulho seguro A prática do mergulho requer um apertado controlo dos equipamentos a utilizar, bem como o conhecimento das condições específicas que se vão encontrar nos spots, e das próprias capacidades e limitações do mergulhador. É aconselhável recorrer a operadores de mergulho devidamente credenciados e ao apoio dos centros náuticos espalhados pelas várias ilhas para desenvolver a atividade em total segurança. Alguns centros incluem os serviços de aluguer de equipamento e enchimento de garrafas. Nas saídas de mergulho organizadas, o seguro obrigatório já está incluído no preço. Como apoio à atividade, existem câmaras hiperbáricas em Ponta Delgada (São Miguel) e na Horta (Faial).
Maior peixe do mundo Há múltiplas referências de avistamento de tubarão-baleia ao largo da ilha de Santa Maria. Considerado o maior peixe do mundo, os exemplares desta magnífica espécie medem entre cinco e dez metros. Muito dóceis, proporcionam um mergulho excecional, quer em termos de emoções vividas, quer em termos de fotografia subaquática.
Cemitério das Âncoras - Baía de Angra
Foto: Direção Regional da Cultura dos Açores
Foto: ATA / Dive Azores / Tiago Castro
Foto: ATA / Dive Azores / Tiago Castro
Foto: ATA / Dive Azores / Tiago Castro
Na baía de Angra do Heroísmo, ilha Terceira, existe um Parque Arqueológico Subaquático que possibilita ir ao encontro do naufrágio do vapor Lidador e do chamado Cemitério das Âncoras, jazida de variadas âncoras de diferentes estilos e datas. Debaixo de água, os mergulhadores encontram um circuito de visita identificado que inclui placas explicativas.
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emoções e
Banhos
O
s Açores têm mais do que verde e azul. Há o inesperado cinza claro dos areais e o negro de praias de pedra rolada das rochas que acolhem piscinas naturais. E o branco azulado da espuma das ondas a rebentar perto da costa. Oportunidades para um banho de sol ou para a emoção de surfar a onda quase irrepreensível. Porque a realmente perfeita, pode ser a seguinte. Em Santa Maria, a praia abrigada pela baía de São Lourenço fornece um quadro surreal: a faixa de areia fina estreitada pela imensidão do vasto Atlântico e a encosta trabalhada por quartéis de vinha. O sol é companheiro deste momento de repouso, enquanto se procura discernir se a visão é sonho ou realidade. Do outro lado da ilha solarenga, a situação repete-se na baía da Praia Formosa. Mas a areia aqui é ainda mais branca, quase caribenha. As praias açorianas são uma surpresa. Espera-se ir ao encontro de oceanos de verde e, afinal, também há mares de areia. Por vezes, mais negra do que o habitual nas praias de Portugal continental, marca da génese vulcânica das ilhas. Veja-se a praia de Água d’Alto, em São Miguel, escurecida mas acolhedora aos pés
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descalços. Tal como as praias de Água de Pau ou do Pópulo. Já na Terceira, ganha fama e proveito a Praia da Vitória, extensa antecâmara de areia até à entrada nas águas cálidas. Está feito o chamamento aos apaixonados das pranchas. Os spots abundam, seja em versão surf ou bodyboard. Os windsurfistas podem quedar-se pela baía circular da Praia da Vitória para velejar ao sabor do vento transparente. Surfistas e bodyboarders experientes procurarão a costa norte, mais exigente, com alguns spots onde os fundos são de calhau, com recifes à mistura. Destacam-se Santa Catarina ou Quatro Ribeiras e, de novo na ilha de São Miguel, as praias de Santa Bárbara, Monte Verde, Rabo de Peixe, Maia e Pópulo. O reconhecimento da qualidade das ondas açorianas leva a que uma etapa do circuito mundial de surf da ASP seja disputada todos os anos nas águas da zona da Ribeira Grande (São Miguel). Mais reservadas, as ondas da Fajã da Caldeira de Santo Cristo, em São Jorge, são um graal ao qual se acede por trilho pedestre. Uma vez na Caldeira, a adrenalina do surf tempera o sossego deste prodigioso pedaço de natureza capaz de gerar, quem sabe, a onda de uma vida. n
Praia de Santa Bárbara - São Miguel
Praia do Monte Verde - São Miguel
Zona Balnear da Fajã das Almas - São Jorge
Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte
AÇORES 2011 |Praias
Ilhas | AÇORES 2011
SANTA MARIA Barreiro da Faneca
Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte
Farol de Gonçalo Velho
F
amosos, os areais das baías de São Lourenço e da Praia Formosa convidam ao culto do sol. Mas basta olhar para as encostas que as empurram para o mar e abrem-se novas perspetivas da ilha de Santa Maria, ilha ainda com tanto por contar e descobrir. Em tempos cultivou-se a vinha na baía de São Lourenço. Agora, o declive que protege a praia é dominado pelo mato, a crescer desregrado. Ainda assim, sobressai a habilidade do homem, perpetuada num glorioso reticulado de muros de basalto em imponente escadaria. Sobe-se ao Miradouro do Espigão, defronte ao Ilhéu do Romeiro (ou de S. Lourenço) que arremata a baía como se fosse um ponto final, para confirmar uma das panorâmicas mais extraordinárias dos Açores. Estamos na ilha mais velha do Arquipélago, com
uma idade estimada entre os oito a os dez milhões de anos. Ouve-se o sussurro do ilhéu, a demandar um safari que junta geologia, paleontologia e turismo. Há a Pedreira do Campo, formação rochosa outrora submersa que agora exibe fósseis de conchas e ouriços-do-mar 100 metros acima do nível do mar. A Pedra-que-Pica, jazida fossilífera exuberante onde dentes de tubarão e esponjas ganham destaque, e a Malbusca, mostruário de fósseis de moluscos e peixes. Ou ainda as jazidas ricas das arribas da Baía da Cré. Aproveite-se este balanço de esgatanhar a antiguidade para caminhar entre pastagens até às escoadas basálticas com disjunção prismática da Ribeira do Maloés. Uma queda de água enfeita os bordões na parede lávica, como se a natureza tivesse esculpido uma escadaria monumental. Deixem-se por momentos as riquezas ocultas de Santa Maria, destinadas a serem encontradas pelos que não se limitam aos pontos turísticos
assinalados nos mapas. Vamos pedir auxílio ao Farol de Gonçalo Velho, nome de navegador e capitão-donatário, para alumiar o restante trajeto a partir da Ponta do Castelo. Primeiro até ao cimo do Pico Alto, cume da ilha que permite avistar mar por todos os lados. Desça-se, com a confiança de um trilho demarcado, até à costa norte. São 14 quilómetros até Anjos, mas antes de aportar no povoado com estátua de Cristóvão Colombo a custodiar a Ermida de Nossa Senhora dos Anjos, recolhem-se experiências memoráveis na travessia da floresta laurissilva. Conjuntos de uva-da-serra, tamujo, pau-branco, louro, urze ladeiam o troço e escondem o céu com abóbadas de ramos e folhagem. Sai-se do labirinto para se entrar noutro cenário encantado: o deserto vermelho do Barreiro da Faneca. Os raios solares reforçam a cor hipnótica da extensa planície de terreno argiloso ondulante. E somos transportados num sonho até à imponente Cascata do Aveiro, a despejar-se do alto de 100 metros, ao barroco imaginativo da Igreja de Nossa Senhora da Purificação, em Santo Espírito, ou até uma casa retangular de Santa Maria com a tradicional chaminé cilíndrica. Perdidos na paisagem, os moinhos de vento com as típicas armações de madeira, remetem-nos para imaginários de ilha quixotesca. Aqui mede-se a natureza aos milhões e a história aos séculos, num turbilhão de sensações imensas como a da baía de São Lourenço e singelas como as portas ogivais e janelas de traça manuelina das casas na Vila do Porto. n
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AÇORES 2011 |Iatismo
âncoras
Atlânticas
O
s iatistas que viajam entre as Américas e a “velha” Europa, sabem que nos Açores encontram portos de abrigo abençoados. Para as embarcações, representa o descanso das agruras atlânticas. Para as tripulações, afigura-se a chegada a casa. Ou não fossem estas ilhas de marinheiros. A Horta, no Faial, é o expoente máximo da ligação do Arquipélago ao oceano. A atmosfera de lobo-do-mar começa logo no cais da marina, cujos muros fazem de tela cinza para as pinturas coloridas deixadas por velejadores de todo o mundo. Este catálogo de arte informal está protegido dos ventos e marés pela situação geográfica do porto, tal como os veleiros estacionados nas 300
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amarrações disponíveis. Por aqui passa também a rota de famosas regatas internacionais (Les Sables – Les Azores, La Route des Hortensias, ARC Europe, Ceuta-Horta, OCC Pursuit Race), que aumentam a fama internacional da Horta. As peripécias vividas no mundo das vagas alterosas partilham-se nas mesas do Peter Café Sport, casa emprestada de todos os marinheiros, entre pratos com iguarias locais e copos de gin tónico – dito o melhor do mundo. Na ilha Terceira, entrar na marina de Angra do Heroísmo é descobrir uma vista excecional para o casario da cidade Património Mundial da UNESCO. Deixar o barco numa das 260 amarrações da marina, mimetiza o acontecido durante os séculos XV e XVI, em que naus carregadas de riquezas procuravam refúgio no porto angrense.
Histórias de piratas e corsários misturam-se ao espírito universal dos terceirenses, para criar uma escala tão ciosa do seu passado quanto moderna. Ruma-se a Ponta Delgada, para mais um destino âncora entre as Américas do Sul e do Norte e a Europa. O porto de Ponta Delgada, requalificado, recebe com todas as comodidades mais de seiscentas embarcações em simultâneo. A bandeira azul hasteada, tal como na Horta e em Angra, personifica a qualidade da infraestrutura que inclui um cais de honra para mega iates. Mas não é preciso ser-se personagem ilustre para ter-se uma receção amistosa nestas ilhas acostumadas à chegada de visitantes de todo o mundo por via marítima. Um porto de abrigo é como uma casa emprestada, com tapete de boas-vindas aos pés da porta aberta. n
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
Iatismo | AÇORES 2011
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte / ATA
Marina de Pêro Teive - Ponta Delgada - São Miguel
Marina da Horta - Faial
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
Marina de Angra do Heroísmo - Terceira
Outras navegações Além das principais marinas, existe uma rede de pequenos portos que permite a deslocação inter-ilhas. Nas Velas, em São Jorge, ou na Vila do Porto, em Santa Maria, os iatistas descobrem pequenas marinas. Portos de recreio espalhados pela costa, como os de Vila Franca e Povoação (São Miguel), Lajes (Pico), ou Praia da Vitória (Terceira) completam a rede de apoio aos que desejem conhecer as paisagens do Arquipélago via marítima. Também é possível alugar embarcações, com skipper, nalgumas marinas.
Foto: Portos dos Açores
Coração cosmopolita
Na marina de Ponta Delgada sobressai o novo complexo das Portas do Mar; mais do que um simples Terminal de Cruzeiros, tornou-se um espaço dinâmico da cidade. A população adotou o sítio e frequenta as esplanadas, bares, restaurantes, lojas, diversões, exposições. Os turistas aqui desembarcados contactam diretamente com os açorianos, num local arquitetado sem barreiras urbanísticas ou choques paisagísticos. Apelativo à vista, o complexo das Portas do Mar é uma nova artéria pujante na vida de Ponta Delgada.
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AÇORES 2011 |Bombordo
mar de
Vista de São Jorge
rnest Hemingway escreveu um livro inteiro dedicado à luta entre um pescador e um peixe. “O Velho e o Mar” bem podia ser passado nos mares açorianos, onde os dias de grande pescaria se sucedem com naturalidade incomum. Os aficionados da pesca encontram nos Açores um grande potencial de experiências. O big game fishing é das atividades mais espetaculares, nessa meça de forças entre o homem e a energia teimosa de um bonito ou atum. O alto mar açoriano está povoado de magníficos exemplares de espadim branco e espadim azul, que atingem recordes de peso e comprimento, tornando as águas do Arquipélago num palco habitual de competições internacionais. Há operadores turísticos especializados no aluguer de embarcações e equipamento adaptado à pesca grossa desportiva. Geralmente, utiliza-se o método de pesca do corrico e, nas saídas de acordo com as regras da Internacional Game Fish Association, os espadins são libertados com vida, exceto se o espécime for suscetível de bater um recorde mundial. Geralmente, a época alta de pesca decorre entre o início do verão e o final de setembro. Muito popular entre habitantes locais e visitantes, a pesca costeira encontra inúmeros
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locais apetecíveis. A extensa zona de rocha recortada dá acesso a viveiros naturais de pargo, bicuda, anchova, congro, goraz, a capturar com cana. Na pesca de fundo, apanha-se abrótea, besugo, sargo, meros exemplos da imensidão de espécies existente.
Com a devida licença de pesca desportiva, o destino pode ser também algumas lagoas e ribeiras. Seja qual for a opção, certamente dará para encher várias páginas de histórias para contar entre pescadores; e sem necessidade de exagerar nas quantidades e comprimento... n
Foto: Bigfishinggame / ATA
E
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
Aventuras
Ilhas | AÇORES 2011
Horta
L
igado intimamente ao azul, seja do oceano ou das hortênsias, o Faial é um dos miradouros mais soberbos para a montanha do Pico. Mas a inversão do olhar para o interior da ilha, revela mares de outras cores, capazes de suscitar emoções semelhantes. É na Horta que melhor se experimenta a ligação do Faial com esse Atlântico imenso que circunda o Arquipélago. A marina respira maresia no mais ínfimo traço dos desenhos ali soltados por navegadores de todo o mundo. O amontoado de pinturas que forma uma galeria de arte ao ar livre, revela o caráter desta cidade habituada a receber com amabilidade os forasteiros. O Peter Café Sport funciona como sala de receção informal de quem aqui chega. Fundado em 1918, tem paredes forradas de flâmulas e bandeiras coloridas. Diz-se que o gin tónico é o melhor do mundo. Talvez porque, pelo menos na imaginação, sabe a aventura oceânica. No piso superior, o Museu do Scrimshaw aprofunda a relação marítima, face à extensa coleção de peças de dentes e ossos de cachalote com gravações e baixos-relevos. Testemunhos do tempo em que a indústria da baleia era sustento de muitas famílias. Parte-se em viagem até ao interior, sempre com a companhia de centenas, milhares de hortênsias. O cromatismo azul é cortado, ocasionalmente, por peculiares moinhos de vento pintados de vermelho. As enormes pás rasgam o ar, como se quisessem resgatar
o azul do céu. Volta a atração atlântica na Ponta da Espalamaca, junto ao monumento dedicado a Nossa Senhora da Conceição. No miradouro, marca-se encontro com o vértice da grande montanha vizinha. Raul Brandão escreveu sobre o fascínio do Pico visto do Faial: “Tão longe que a luz o trespassa, tão perto que quer entrar por todas as portas dentro.” Prossiga-se até ao Cabeço Gordo para ver o vale dos Flamengos num lado, a praia de Almoxarife no litoral. Nomes de localidades que carregam memórias da saga dos Dulmos e dos Clark no romance “Mau Tempo no Canal”, de Vitorino Nemésio. Vai-se rápido ao centro da ilha, ao encontro da Caldeira imensa, revestida de verde como se tivesse vergonha de mostrar a génese de lava. Um trilho permite circundar o perímetro deste depósito de faia, cedro, musgo, hortênsia, feto, num jogo de embevecimento. A estrada costeira reclama novamente as atenções, cheia de mirantes para a paisagem faialense
Marina da Horta
Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte
FAIAL
ornamentada pelo azul, da água e das flores. E depois, a surpresa do Morro de Castelo Branco, cone vulcânico esbranquiçado, povoado por aves marinhas. Mero prenúncio do cenário mais dramático destas paragens. Pisar a terra cinza do Vulcão dos Capelinhos é como viajar até um astro diferente: um pedaço de lua negra a desfalecer no mar, vigiada pelo farol esventrado que assistiu às erupções vulcânicas de 1957 e 1958. Desce-se para dentro da terra ao encontro do Centro de Interpretação para entender a história vulcânica dos Capelinhos e dos Açores. E sobe-se à torre apagada para nova perspetiva do deserto de escórias e cinzas. Distante, o azul emite um canto de sereia. Cede-se ao chamamento e descansa-se da viagem emocional no Monte da Guia, dominante sobre as baías da Horta e de Porto Pim, conchas pontuadas por castelos e separadas pelo istmo do Monte Queimado. Lá em baixo, haverá mais ruelas, museus, igrejas e histórias para averiguar. n
Caldeira
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AÇORES 2011 |Trilhos
cenários de
Fajã dos Cubres - São Jorge
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Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte
Cinema
Trilhos | AÇORES 2011
O
s vulcões açorianos esculpiram com sapiência um território extraordinário para se conhecer a pé. Atentas, as autoridades locais assinalaram trilhos oficiais pelas nove ilhas do Arquipélago. Cada um deles é composto por cenários tão diferentes que nasce a dúvida de pertencerem ao mesmo filme. Mas são: uma longa-metragem de êxtases realistas, vividos em comunhão com a natureza. Nos Açores, cada passada mede um quilómetro de emoções. Veja-se o exemplo do trilho dos Mistérios Negros, na Terceira, num início insuspeito de terra batida, a dar passagem a uma pastagem, seguida de caminho de pé posto já entre mata de criptoméria, queiró, urze e cedro-do-mato. Desemboca-se na pequena lagoa do Vale Fundo, contornada até se entrar novamente numa zona de vegetação endémica. É uma autêntica selva de cedro-do-mato, uva-da-serra, louro, folhado, azevinho, tamujo, que forma cúpulas dignas de catedrais e restringe o horizonte para uma paleta de tons esverdeados e acastanhados. Quando a vista se alarga outra vez, aparecem três domos negros, acumulações de lavas recentes ainda virgens de vegetação. São os “mistérios”, nesse negrume prenunciado que revela, sem margem para dúvidas, a origem vulcânica dos Açores. Corta-se caminho por entre dois domos, com os pés bem amparados no piso irregular, e aproveita-se para se tocar na essência destas ilhas: a pedra preta de onde se assemelha impossível ter nascido tanto verde. Nasceu de facto, espontâneo no caso da floresta laurissilva, ou plantado como a mata de criptomérias que se encontra antes de entrar em nova pastagem. A reta final é feita em subida, até ao cimo do Pico Gaspar. No topo, junto à cratera repleta de endemismos, o silêncio impera. Ouve-se o vento a afagar a vegetação e o chilrear dos pássaros ecoa na acústica do anfiteatro natural. O filme dos Mistérios Negros está finalizado. Apetece bater palmas aos vulcões que criaram este recanto da Terra, mas a banda sonora circundante força a homenagem introspetiva. É tempo de retemperar energias. Ali ao lado, nesta ou noutra ilha, há mais um trilho sôfrego por nos mostrar as suas maravilhas. Difícil é escolher Os percursos pedestres aprovados pelo Governo Regional estão classificados em três níveis de dificuldade: fácil, médio ou difícil. Nos postos de turismo podem ser recolhidos folhetos individuais de cada percurso, com localizações, características topográficas, tempo estimado de duração (medido num trajeto sem paragens), distância e imagens ilustrativas das paisagens. A mesma informação pode ser consultada no sítio de Internet www.trails-azores.com onde se concentram os alertas sobre trilhos fechados temporariamente, devido a condições
meteorológicas adversas ou outros impedimentos. Os caminhos, sinalizados de acordo com marcas e códigos internacionais de fácil interpretação, podem ser percorridos de forma autónoma, embora vários operadores turísticos promovam saídas em grupo. Ao todo, já estão assinalados mais de seis dezenas de percursos, sendo quase metade deles em São Miguel. Grande parte dos trajetos definidos passou pela reabilitação de velhos caminhos, maioritariamente de pé posto, utilizados pelos habitantes das ilhas no transporte de produtos agrícolas e outras mercadorias, com o auxílio de cavalos, burros e mulas. Também se aproveitaram os carreiros por onde transitava o gado a caminho das pastagens. Deste modo, a rede de trilhos existente associa áreas de grande beleza paisagística a alguns vestígios da história dos Açores. Apetece esquadrinhar cada metro existente, pelo interior das ilhas ou junto ao mar, em planície lisa ou em terreno acidentado, em pastagem descampada ou em floresta densa, em passo acelerado ou ritmo lento. Porque há a certeza de que (ao virar da curva, além da lomba, no cume do pico...), se encontrará nova sedução. Nessa altura, a paixão pelos trilhos açorianos já estará bem alojada nas pernas, sedentas de mais uma passada neste pedaço prodigioso de natureza. n
Mistérios Negros - Terceira
Zona das Sete Cidades - São Miguel
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Caldeira Funda e Caldeira Comprida - Flores
Antes de partir - Confirme que o percurso escolhido está ativo - Consulte a meteorologia e, em caso de condições propensas a nevoeiros, evite os percursos em altitude - Informe alguém do trilho que irá percorrer - Use calçado e roupa adequados, incluindo capa de chuva e chapéu - Leve água e alimentos sólidos (fruta, barras de cereais, sandes) - Não saia do caminho assinalado - Tenha em conta que o tempo indicativo dos trilhos prevê um ritmo sem paragens; deve adequar o tempo de que necessitará à sua condição física e aos momentos de paragem
Passadas com ética - Guarde o lixo para depositá-lo em local apropriado - Não recolha fruta dos pomares ou amostras de plantas - Evite perturbar os animais - Se tiver de abrir cancelas, feche-as em seguida - Cumprimente as pessoas que encontrar no caminho
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Terceira
Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte
AÇORES 2011 |Trilhos
Ilhas | AÇORES 2011
Fajã dos Vimes
S
eja no cimo da cordilheira central, pontuada por uma sucessão de cones vulcânicos, ou no fundo das fajãs, a sedução da “ilha do dragão” é sempre elevada. E amaciada na boca por um queijo célebre e umas amêijoas carnudas. O perfil de São Jorge prenuncia que esta é uma jornada de altos e baixos geográficos. O maciço central, sequência de cumes e vales, estende-se por um planalto de 45 quilómetros. Em redor, avista-se o imponente Pico, ladeado do Faial. Ao longe, a Graciosa.
Em dias de céu límpido, também a Terceira. O grupo central do Arquipélago, reunido num único observatório. Chamam a São Jorge a “ilha dragão”, alcunha acertadíssima quando se descobre, a partir das ilhas adjacentes, este dorso de terra estendido sobre o mar. No costado do drago, a vertigem paisagística acentua-se pelas escarpas a pique. Umas terminam no oceano, como garras à procura de alimento; outras culminam nas pequenas planícies chamadas fajãs. Descer até esses refúgios santificados, significa encontrar a genuína identidade jorgense.
Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte
SÃO JORGE
A definição científica refere que as fajãs resultam de escorrimentos de lava e desprendimentos de terra das arribas devido a abalos sísmicos. Os solos férteis foram chamariz para povoadores, mas o clima e os acessos difíceis ditaram o abandono das fajãs mais agrestes. Muitas permanecem habitadas, por gente que mantém uma simplicidade desarmante nos costumes. Um conjunto de seis trilhos oficiais abre janelas para esta realidade ímpar açoriana. Há a descida até à Fajã dos Vimes, onde ainda se fabricam colchas em teares manuais e se prova café feito de grãos por ali semeados. O percurso até à Fajã do Ouvidor, de génese lávica, onde o desenvolvimento deu espaço a pequeno porto e zona balnear. Através de uma escadaria de pedra antiga acede-se à Fajã de Além, quase intacta nos modos de estar e na conservação das adegas tradicionais, moinho de água e explorações agrícolas. E a viagem tripartida pela já falada Fajã dos Vimes, Fajã dos Bodes e Fajã de São João, com passagem por matas de incenso, faia, urze e uva-da-serra, terras cultivadas com vinha, casas e calçadas tradicionais. Alheou-se da nomeação a Fajã da Caldeira de Santo Cristo, porque tanta perfeição levanta dúvidas de que seja real. Sábia, a natureza preservou esta paisagem mítica, dando-lhe apenas acesso pedestre. O trilho disponível passa também pela Fajã dos Cubres, mas será difícil avançar sem antes provar as amêijoas que nascem na Caldeira. Porque a magia de São Jorge é filtrada tanto nos sabores – ah, o queijo de paladar único! –, como nas vistas dramáticas – o Ilhéu do Topo, num extremo, a Ponta dos Rosais, no outro; tanto na arquitetura barroca – a Igreja de Santa Bárbara, em Manadas, classificada como Monumento Nacional –, como nos encontros fantasmagóricos – - a torre sineira da Urzelina, vestígio singular da igreja soterrada pela erupção vulcânica de 1808. E essa pacatez dinâmica das Velas, vila que continua a acolher de braços abertos os viajantes desembarcados, através de um Portão de Mar bicentenário. n
Vila da Calheta
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AÇORES 2011 |Geocaching
baú dos
Lagoa das Furnas - São Miguel
S
e um dos objetivos do Geocaching é mostrar sítios especiais do nosso planeta, então os Açores só podem ser um local de eleição para esta atividade. Há dezenas de caches escondidas pelas ilhas do Arquipélago, em locais que são verdadeiras preciosidades da natureza. Os participantes nesta caça ao tesouro moderna avançam pela paisagem através de coordenadas de GPS. De aparelho na mão, atravessam-se locais magníficos enquanto se ruma até ao ponto final do percurso. Chegados ao destino, em vez de uma arca cheia de moedas de ouro, os participantes encontram uma “cache”, ali escondida por um geocacher. Dentro desse “baú” – pode ser um tupperware, caixa de munições, balde ou outro invólucro –, está resguardado um “log book” onde os geocachers registam o respetivo achamento. Pode ainda haver diversos brindes no interior e a regra dita que caso se retire um objeto como recordação, deve deixar-se outro em sua substituição, com valor igual ou superior. A comunidade de Geocaching, bem como a listagem das caches espalhadas pelo Arquipélago, está agregada em redor do sítio de Internet www.geocaching.com. Há dezenas de hipóteses espalhadas por todas as ilhas açorianas, num inventário em constante mutação. Por misturar aventura e contacto direto com a Natureza, a atividade tem conhecido um grande desenvolvimento nos últimos anos. Traçar um caminho no mapa a partir de sinais GPS envolve uma certa dose de incógnita. Nem sempre o caminho mais direto de um ponto para outro no papel, acaba por ser executável no terreno devido ao aparecimento
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Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte
Tesouros
de obstáculos naturais. Muitas caches implicam por isso um desafio físico e técnico. Nos Açores, a resolução destes quebra-cabeças pode ter como prémio adicional uma panorâmica desconhecida. Que pode ser partilhada, numa fotografia que ilustre a magnificência do sítio, através de fóruns de geocachers. Prova de que se chegou ao destino e se ficou a conhecer mais um recanto especial dos Açores. n
N Sete Cidades - São Miguel
Aventura na ribeira Modalidade que agrega as vertentes do desporto e do lazer, o canyoning encontra condições excecionais no arquipélago açoriano. Os participantes neste concentrado de adrenalina têm de percorrer troços que passam por vales e ribeiras, escarpas e rios, utilizando técnicas como o rapel para transpor os obstáculos naturais. Flores, São Miguel e São Jorge apresentam vários percursos devidamente apetrechados, bem como operadores turísticos especializados no canyoning, possibilitando a realização da atividade em plena segurança.
esta ilha de abundância aquífera - em forma de cascata, lagoa, regato, gota de orvalho... –, respira-se frescura. As paisagens têm tanto de harmónico quanto de enérgico, pedindo uma contemplação ativa, consciente de estarmos no ponto mais ocidental da Europa. O verde a bordejar as Caldeiras Rasa e Funda, separadas por uma língua de terreno, assume-se mais intenso. Entra-se no centro da ilha à procura de mais lagoas, aqui batizados de caldeiras: a da Lomba, a Comprida, a Seca (que não faz jus ao nome), a Branca, e a Funda, repetida no nome mas nova nas sensações despertadas. Todas prometem algo de diferente: seja o tom de azul da água, a companhia de cachos de azálea e hortênsia cor-de-rosa, as pegadas de vegetação nativa. Sobe-se ao Morro Alto para apreciar este maciço central de origem vulcânica, sobressaltado por cones e ravinas. Numa elipse cinematográfica, voa-se até à Rocha dos Bordões, alojada no topo de uma elevação. A aproximação a um dos monumentos
Ilhas | AÇORES 2011
Rocha dos Bordões
Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte
FLORES
geológicas peculiares, como as silhuetas sugeridas no Morro dos Frades ou o perfil galináceo na Gruta do Galo. Mais simbólico, só o Ilhéu do Monchique. O ponto mais ocidental da Europa, ponto parágrafo de um continente, avista-se a partir da Ponta do Albarnaz. Caminho infletido, novamente para o íntimo das Flores, de encontro a outros ilhéus que marcam a zona costeira – o do Pão de Açúcar, o de Álvaro Rodrigues e do Garajau, o da Alagoa. Perto, outra espécie insular: o Corvo, plantado no meio do Atlântico como complemento umbilical das Flores. E agora, as cascatas. Entre a Fajãzinha e a Fajã Grande, vários miradouros servem fatias de êxtase da fileira de quedas de água que pontua a longa parede rochosa a dominar o horizonte. Caminha-se até ao Poço da Alagoinha para chegar quase ao sopé das cascatas, num sítio a transbordar de energia reconciliadora. A mesma sensação vivida na Cascata do Poço do Bacalhau, a água precipitada numa queda de 90 metros até à lagoa rodeada de laurissilva que convida a banhos relaxantes. No Miradouro do Monte das Cruzes, a perspetiva lembra que as Flores também têm gente. Vê-se Santa Cruz das Flores, e num segundo, entra-se no Museu cujas coleções contam a história de ofícios do mar e da terra. A fachada grandiosa da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição traz recordações de outras construções religiosas, como a Igreja de Nossa Senhora de Lurdes, alcandorada num outeiro, e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, de fachada revestida por azulejo e um adro povoado de araucárias que serve de miradouro para o porto das Lajes das Flores. A saída de um barco pressupõe uma despedida. No céu soletra-se um “até logo”. Porque as Flores nunca serão uma ilha de adeus. n
naturais mais famosos dos Açores, é para ser feita em ritmo lento. A visão da disjunção prismática está em constante mutação, metro adiante metro atrás, sol oblíquo ou direito, luz intensa ou diminuta. O conjunto de grandes colunas verticais de basalto, escadaria própria de gigantes, hipnotiza o observador. Arranca-se a partida a ferros, à descoberta de outras formações
Poça do Bacalhau
Poço da Alagoinha
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AÇORES 2011 |Vulcanismo
mistérios
Subterrâneos
F
alar da alma vulcânica açoriana representa, à primeira vista, afirmação digna de contos de fadas. Não é. Está impressa nas crateras que albergam lagoas, campos e escarpas de lava, cones e montes que definem a paisagem. Mas é nas grutas subterrâneas que esta génese se transforma numa evidência deslumbrante. Antes de se descer à Furna do Enxofre, na Graciosa, pergunte-se onde se começam a contar os degraus. O número oficial refere 183, parte dos quais na escada de caracol que termina no fundo da caverna. Após um troço por entre a vegetação frondosa da Caldeira da Graciosa, a entrada na torre de pedra, construída para substituir o antigo acesso por cordas, leva aos reinos da penumbra. A cada volta de escadaria, uma janela abre perspetivas para o mundo subterrâneo, antecâmaras de deslumbres vindouros. No solo da Furna do Enxofre, somos esmagados pelas dimensões do teto desta caverna lávica de natureza basáltica. Situada a uma altura de 50 metros, a abóbada mede cerca de 200 metros de diâmetro. A cúpula iluminada desafia as leis da gravidade, num convite a admirar um
céu de pedra, onde se fundem formas e cores para uma experiência sempre renovada. As secções de prismas lávicos afiguram-se talhadas como se houvesse um propósito geométrico, uma composição mestra, que tudo subordinasse. Paira no ar um ligeiro odor sulfuroso. É a respiração da Furna, a dar razão ao nome selecionado pelo homem. Numa extremidade, a fumarola de lama desperta curiosidade. Apenas um pormenor do universo de detalhes desta maravilha natural. O chão coberto parcialmente por blocos desprendidos da abóbada. O reflexo de luzes esverdeadas a bater na torre de pedra, em contraste com a luz natural proveniente de duas fendas que comunicam com o exterior. A iluminação alaranjada que revela o extenso lago que espelha o teto trabalhado. E o barco a remos, ancorado num cais de pedra, a despertar novos sonhos de descoberta. Espírito de explorador No Arquipélago são mais de 300 as grutas e cavidades vulcânicas conhecidas. O sonho transforma-se em realidade através de mais quatro cavidades abertas ao público: a Gruta do Carvão (São Miguel), a Gruta do Natal
Gruta das Torres - Pico
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e o Algar do Carvão (Terceira), a Gruta das Torres (Pico). As grutas, mais estreitas e baixas, providenciam a sensação de se explorar um local desconhecido. Nas Torres, o capacete na cabeça inclui uma lanterna que alumia a escuridão do caminho. Desbravam-se com feixes de luz o trajeto no chão, ora rugoso, ora liso, que leva aos tesouros escondidos pelo maior tubo lávico dos Açores: estalactites e estalagmites, bolas de lava, bancadas laterais, paredes estriadas, lavas encordoadas. A Terceira tem duas experiências espeleológicas de eleição. Na gruta com nome natalício, de percurso bem iluminado, veem-se musgos a decorar as belas formas impressas nas paredes subterrâneas. E o imponente Algar terceirense, classificado como Monumento Natural Regional, protetor de riquezas únicas como as estalactites e estalagmites de cor branca leitosa. No fundo desta introdução perfeita ao mundo da espeleologia, a lagoa alimentada por águas da chuva remete para o espelho da Furna do Enxofre. E para o barco ali deixado, símbolo de destino ainda por cumprir. É preciso avançar para a próxima etapa da fascinante descoberta do vulcanismo açoriano. n
Centro de Interpretação da Furna do Enxofre - Graciosa
Furna do Enxofre - Graciosa
Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte
Vulcanismo | AÇORES 2011
Centros de conhecimento As cavidades subterrâneas têm devido complemento nos Centros de Interpretação adjacentes que ajudam a compreender os fenómenos visitados. Aconselha-se ainda a entrada no museu da Sociedade de Exploração Geológica “Os Montanheiros”, situado em Angra do Heroísmo (Terceira), para uma maior imersão no vulcanismo açoriano. Quanto ao Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos (Faial), destaca-se tanto pela excecional arquitetura - onde desponta o enorme fuste, simulacro de erupção vulcânica – como pelo magnífico e moderno circuito expositivo.
Águas quentes vulcânicas As orlas costeiras das ilhas estão repletas de enseadas onde rastos de lava entram pelo Oceano Atlântico de modo cenográfico, face ao embate violento das ondas nas rochas negras. Alguns destes casos incluem também espaços abrigados, devidamente adaptados aos banhos de sol e de mar. As piscinas naturais de lava representam a união entre os habitantes e a génese do Arquipélago, numa utilização harmoniosa e defensora dos legados vulcânicos. Poça da Dona Beija - São Miguel
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P
aulatinamente, os Açores dotaram-se de um parque hoteleiro moderno que oferece todas as comodidades aos visitantes do Arquipélago. Pousadas, aparthotéis e empreendimentos de turismo em espaço rural enriquecem o leque de hipóteses disponíveis. Em termos de hotelaria, São Miguel destaca-se pela oferta vasta e de qualidade na área das quatro e três estrelas, bem como dos aparthotéis. Na Terceira, às hipóteses de alojamento em unidades de duas a quatro estrelas, acrescerá ainda este ano a remodelada Pousada de São Sebastião, em Angra do Heroísmo. Prevê-se que as obras de renovação da unidade histórica, instalada numa fortaleza do século XVI conhecida por Castelinho de S. Sebastião, terminem em finais de 2011. O Faial propõe um leque alargado
Marginal de Ponta Delgada - São Miguel
de infraestruturas de quatro estrelas, oferta complementada também por uma pousada de charme, inserida no Forte de Santa Cruz, datado do século XVI e classificado como Monumento Nacional desde 1947. Os quartos da Pousada da Horta abrem vistas excecionais sobre a marina e, no horizonte, a ilha montanha do Pico. São Jorge e Pico apresentam alguns exemplares na hotelaria de três estrelas. Em Santa Maria, a oferta está muito direcionada para a época de veraneio, ganhando força a hipótese dos apartamentos turísticos. A recente abertura de uma unidade de quatro estrelas na Graciosa veio enriquecer a oferta da ilha em termos de alojamento. Nas Flores, a construção de uma nova infraestrutura, classificada com quatro estrelas, veio complementar as propostas hoteleiras já existentes. No Corvo, o turismo é servido por um hotel de duas estrelas. n
Hotel da Graciosa
Hotel das Flores
Turismo de Habitação - Graciosa
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Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte / ATA
Casas com personalidade As “Casas Açorianas” são uma das formas mais características de alojamento no Arquipélago. Esta associação agrega 52 casas na área do turismo em espaço rural, todas reestruturadas para aliar o máximo conforto a uma identidade muito própria, vincada nos materiais de construção, arquitetura e pormenores de decoração. Pertencentes a diversas tipologias, a oferta abrange turismo em casas rústicas, solares e casas apalaçadas, aldeias de reconhecido valor arquitetónico, hotéis rurais, casas de campo e espaços de agroturismo. A maior concentração de casas encontra-se em São Miguel, Pico e Faial, mas existem empreendimentos em todas as ilhas, à exceção do Corvo.
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte / ATA
Confortável
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
acolhimento
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
AÇORES 2011 |Alojamento
ILHAS | AÇORES 2011
Mistérios Negros
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iderada por uma cidade com a chancela da UNESCO, a Terceira associa um espírito jovial e farrista a um território extraordinariamente composto. E a aparente contradição enriquece-se ainda com mais cambiantes, seja o cuidado na preservação da história secular ou a manutenção intacta de partes de natureza mais selvagem. Amarelo. Verde. Azul. Vermelho. Rosa. Violeta. Em Angra do Heroísmo, aboliu-se o contraste preto e branco das fachadas e pintou-se a cidade de cores primárias, num reflexo da maneira de estar festiva dos terceirenses. Do Alto da Memória, assimila-se o traçado ordeiro do centro histórico, numa estrutura que dir-se-ia pensada para tirar o máximo partido dos raios solares. Anda-se sem rumo definido a fotografar janelas e portas, a encontrar igrejas, Impérios do Santo Cristo, casas senhoriais e palacetes, monumentos e jardins. Descansa-se com vista para a baía, enquadrada pelo Monte Brasil. E no Museu de Angra, entende-se parte da rica história desta Muito Nobre, Leal e Sempre Constante Cidade de Angra do Heroísmo, Património Mundial da UNESCO desde 1983. Uma coleção de viaturas de tração animal dos séculos XVIII a XIX transpira um ar aristocrático que leva a viajar até ao passado. Sem sair do museu, as lápides, imagens, estátuas, azulejos da Igreja de Nossa Senhora da Guia, empurram o tempo ainda mais para trás, até aos Descobrimentos e primeiros povoadores. As primeiras e subsequentes gerações criaram uma ilha metódica, de paisagem ajustada por muros de pedra, sebes de hortênsias, fileiras de criptomérias. Nas expedições de espeleologia na Gruta do Natal e no Algar do Carvão, sente-se o mesmo
esmero, impresso na preparação das dádivas naturais para a receção cómoda dos visitantes. A deslocação às zonas balneares nas piscinas naturais vulcânicas da Salga, de Porto Martins ou dos Biscoitos, geram a mesma sensação de ilha bem arranjada. Tal como a marina e casario da Praia da Vitória, observados
Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte
TERCEIRA
do Miradouro do Facho, a revelar a mesma beatitude. Impõe-se a descida para ver as praças e largos arranjados, as casas onde Vitorino Nemésio nasceu e morou parte da vida, a Igreja de Santa Cruz, os Paços do Concelho. Na Praia, ou no resto da Terceira, a geometria disciplinada não cansa. Porque lê-se nessa pauta de alinhamento o tal espírito, domingueiro, folião, raiado de cores. Por isso, a ilha entra em festa rija de Maio a Outubro, com as típicas touradas à corda a marcar o calendário, em parte já preenchido pelas Festas do Divino Espírito Santo ou as famigeradas Sanjoaninas. Nos Biscoitos, o privado Museu do Vinho tenta preservar a tradição do cultivo da vinha, reabilitando a memória das épocas áureas do vinho verdelho. Ergue-se um copo e brinda-se ao que ainda falta desbravar. Porque a Terceira tem outro lado, impregnado numa natureza taurina, como no trilho de laurissilva que rodeia esses bem nomeados Mistérios Negros, na selvática Serra de Santa Bárbara, na dimensão da Caldeira de Guilherme Moniz (a maior dos Açores), nas fumarolas ao ar livre das Furnas do Enxofre. Observados a partir da costa, os Ilhéus das Cabras e o Ilhéu da Mina voltam a meter ordem na paisagem, num arremate da natureza que alia perfeição no molde e no revestimento colorido. n
Praia da Vitória
Museu de Angra do Heroísmo
Angra do Heroísmo
Praça Velha - Angra do Heroísmo
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ilhas de
Bem-estar
P
ela janela vê-se o oceano Atlântico. O duche quente reconforta o corpo e, num lance de dois degraus, mergulha-se em águas termais de temperatura amena e tom azulado transparente. Descansa-se na piscina com a lembrança ainda do azul infinito. E antecipa-se o conforto do banho de imersão, o bem-estar da massagem de relaxamento, o retempero da fome pelo sumo de laranja e biscoitos açorianos. O termalismo, nos Açores, veste-se de aromas de natureza e experiências exclusivas. Às propostas mais tradicionais de jacuzzi, banho turco, banho de imersão, duche vichy, duche de agulheta, massagens de relaxamento, as estâncias termais do Carapacho (Graciosa) e da Ferraria (São Miguel), acrescentam técnicas inovadoras como o pnf chi, o floating in (e)emotion ou o azorean stone massage. Formas de cuidar do corpo e mente, num restabelecimento da energia necessária para desbravar o infindável universo de experiências proporcionado pelas ilhas açorianas. O SPA termal da Ferraria está situado numa extraordinária paisagem à beira-mar, no sudoeste de São Miguel. O moderno edifício integra-se de modo simbiótico numa fajã lávica, pertencente ao Monumento Natural Regional do Pico das Camarinhas e Ponta da Ferraria. Uma piscina exterior, preenchida por água do mar e água termal, simboliza este estado
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de comunhão com a natureza. Além da magnífica localização, a destilar um dramatismo apaziguador, o complexo desfruta da riqueza fornecida por duas nascentes de águas termais de origem vulcânica, cujas características criaram uma aura de devoção em relação às propriedades terapêuticas da Ferraria. O mesmo se passa na ilha da Graciosa, onde ganharam fama as Termas do Carapacho, com vista para o Ilhéu de Baixo. Recentemente remodeladas, são hoje um espaço de design que usufrui dos benefícios provenientes das nascentes geotérmicas do local. Os raios de sol penetram na arquitetura minimalista, que faz mesuras ao pensamento enquanto ilumina o negrume do basalto, a suavidade da madeira, a energia das toalhas amarelas e cadeirões laranja. Neste ambiente sereno, terapeutas qualificados renovam os laços históricos entre as termas e os habitantes da ilha, ao mesmo tempo que acolhem com afeição novos visitantes da Graciosa. Ambas as termas apresentam uma extensa carta de serviços, devidamente requalificada para merecer a denominação spa. Tratamentos individuais e de grupo, programas de nomes sugestivos como Princess for a Day ou Body and Soul Escape, fisioterapia, massagens de relaxamento, drenagem linfática, banhos em águas termais, diferentes técnicas de duche... Tudo servido com simpatia, profissionalismo e uma envolvência paisagística privilegiada. n
Termas da Ferraria - São Miguel
Banhos quentes de mar - Ferraria - São Miguel
Termas dinâmicas A definição de bem-estar associada ao termalismo açoriano assume também uma faceta de grande dinamismo. Na Ferraria, é possível praticar atividades exteriores como a escalada, pedestrianismo, mergulho, canoagem, pesca ou geocaching. Prelúdios de vigor físico que culminam nas inúmeras possibilidades de relaxamento e revitalização disponíveis no complexo termal. No Carapacho, privilegia-se um clima intenso de cooperação com a comunidade local, através de eventos e atividades paralelas aos serviços e tratamentos termais.
Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte
AÇORES 2011 |Termalismo
Termas do Carapacho - Graciosa
Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte
Termalismos | AÇORES 2011
Tratamentos gourmet Entre a oferta de serviços disponível nas termas da Ferraria e do Carapacho, destacam-se alguns produtos exclusivos, associados a tratamento e/ou ao bem-estar, que revelam o toque distintivo dos Açores. PNF Chi. Abordagem ao movimento global, aliando o exercício de baixo impacto ao relaxamento. A técnica adequa-se a grávidas, idosos, diabéticos, hipertensos, fibromialgicos, entre outros.
Termas da Ferraria - São Miguel
Floating in (e)Motion. Combina a prática de técnicas de fisioterapia no meio aquático com outros princípios de técnicas mais recentes de relaxamento na água como o Watsu e Jahara. Olaria Corporal. Inspirada na milenar massagem tailandesa, alia princípios de pressão e alongamento, com técnicas de mobilização passiva das articulações e posições de estiramento de quem está a realizar os movimentos.
Termas da Ferraria - São Miguel
Azorean Stone Massage. Tratamento relaxante para corpo e mente, numa combinação dos benefícios da massagem geotermal com uma manualidade especializada em óleos essenciais.
Termas do Carapacho - Graciosa
Jazz Massage. Desenvolvida para apreciadores de jazz, é a oportunidade de usufruir de uma massagem ao som de peças de renome em que a manualidade é adaptada ao ritmo da música.
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sabores
Marcantes
O
s prazeres da mesa intensificam-se no Arquipélago mediante uma paleta de paladares vincados. Nas Furnas, o famoso cozido é mais do que um prato: é um laço cultural, demonstrativo da ligação umbilical entre os açorianos e o vulcanismo. Tal como as uvas ainda colhidas nas vinhas do Pico, plantadas em solo de lava. A ementa açoriana é composta, acima de tudo, por produtos de exceção. Os solos férteis, juntamente com um clima de temperatura amena, produziram condições naturais para várias culturas exóticas, como a do ananás e do maracujá de São Miguel, ambos com direito ao selo de Denominação de Origem Protegida. Começámos pela sobremesa de fruta mas há muito para degustar antes disso. Inevitável a incursão imediata nesse exemplo do engenho humano que dá pelo nome de Cozido das Furnas. Uma panela com os ingredientes típicos do prato – enchidos, carnes, couves, batatas –, ensacada e enterrada em buracos no solo geotérmico das Furnas. Ali fica, horas a fio, a cozer no calor natural da terra, até ser içada para rumar até às mesas dos restaurantes ou de casas particulares. Falar de carne nos Açores é referirmo-nos a uma indicação geográfica protegida e aos bifes à regional, com tira de pimenta da terra a encimá-los, que se cortam como manteiga quente. Depois há as especialidades, como a alcatra da Terceira, a molha de carne, os torresmos. E enchidos, como
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a linguiça e morcela, pratos principais quando acompanhados por inhame e ovo estrelado. Entremos no mar, para o contraponto piscícola, onde o problema é a dificuldade da escolha. Atum, congro, abrótea, albacora, cavala, chicharros... todos fresquíssimos, preparados de variadas maneiras, da simples grelha ou frigideira, às caldeiradas e caldos de peixe. Passe-se ainda pelo polvo guisado e venham de lá os mariscos, comuns como as lagostas, santolas e caranguejos, peculiares como as cracas, ou essas inesquecíveis lapas regadas com Molho Afonso. Na Caldeira de Santo Cristo crescem as únicas amêijoas do Arquipélago, só por si razão suficiente para a deslocação a São Jorge. Da mesma ilha é um dos queijos mais apreciados de Portugal, dito Queijo de São Jorge localmente e “Queijo da Ilha” no território continental. Mas há mais: o queijo fresco com pimenta da terra servido como entrada, o queijo tipo São João fabricado no Pico, o queijo artesanal do Corvo. Come-se tudo de uma penada, por vezes na companhia do magnífico bolo lêvedo. Para rematar, adoce-se a boca com as inimitáveis Queijadas da Graciosa e um cálice de Angelica, vinho licoroso saído das vinhas do Pico. Em alternativa, um chá, a partir de folhas secas na Gorreana ou Porto Formoso. Beber uma chávena de chá de São Miguel corresponde a provar o resultado das únicas plantações desta planta em solo europeu. Remate perfeito para a refeição, não fosse a vontade de voltar ao princípio. n
Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte
AÇORES 2011 |Enogastronomia
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éculos atrás, a ilha produzia e exportava cereais e vinho. O ímpeto económico naufragou com o passar do tempo, mas o panorama da Graciosa ficou marcada para sempre
Ilhas | AÇORES 2011
por moinhos de vento e plantações de vinha. E por heranças ainda mais antigas e espetaculares, de origem vulcânica, como a Furna do Enxofre e o Ilhéu da Baleia.
Museu da Graciosa
Ilhéu da Baleia
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte / ATA
Santa Cruz
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
São Mateus
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte / ATA
GRACIOSA
de rocha é uma baleia autêntica, como que petrificada para representar um Arquipélago que se transformou num santuário para os cetáceos. O resto da zona costeira é pródigo em paragens obrigatórias. A Baía da Caldeirinha, cratera de antigo vulcão no seu negrume à beira-mar; Barro Vermelho, zona onde várias cores clamam pela atenção; a Baía da Folga, concha amedrontada pelos maciços de terra que trespassam o mar. Será impossível entrar em comparações quando se ancora no Carapacho de horizonte marcado pelos Ilhéus de Baixo. Sobe-se à Ponta da Restinga, sítio de farol, para novos ângulos dos pedaços de rocha à tona de água. Corpo e mente pedem um intervalo nas Termas, antes de continuar até São Mateus (também dita Praia), com o imenso Ilhéu da Praia em frente. A fábrica das míticas Queijadas da Graciosa, está escondida numa rua interior. Procurem-se os moinhos pintados de vermelho vivo que pontuam o azul esbranquiçado do céu da Graciosa. Ou siga-se o cheiro que paira no ar. Apetite saciado, falta regressar a essa eterna atração que é a Caldeira, onde o homem plantou um parque florestal capaz de impressionar a própria natureza. A subida à Furna da Maria Encantada leva à travessia de um túnel na rocha. Depois da escuridão, o miradouro para a Caldeira. E, imediatamente, surge a vontade de regressar ao fundo da terra. Porque cada visita à Furna do Enxofre compõe uma nova sinfonia de emoções. n
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
Moderno e atraente, o Museu localizado em Santa Cruz da Graciosa é exemplar no modo como mostra a relação estabelecida entre os habitantes e o território geográfico desta pequena e pacata ilha. O circuito expositivo, entre outros temas, aprofunda as várias técnicas de moagem usadas na época de grande produção cerealífera e contempla uma zona de três lagares originais, testemunhos da pujante produção vinícola que segmentou parte da paisagem. Na Sala da Festa, um vídeo mostra os bailes e desfiles de Carnaval, manifestação popular desenrolada em clubes e nas ruas. Nesta janela para a índole do graciosense, dá-se conta da musicalidade da ilha, que mantém ativas bandas filarmónicas, academia musical, coros, grupos musicais e folclórico. Talvez algum passe pela Praça Fontes Pereira de Melo, sombreada por árvores de grande porte espelhadas nos dois largos tanques ali construídos. Viaja-se pela ilha com a sonoridade própria da viola da terra nos ouvidos. A audição aguça-se na descida à Furna do Enxofre para ouvir o borbulhar da fumarola de lama. E no encontro com as já raras “burras de milho”, estruturas de madeira cobertas de maçarocas, jura-se escutar o som da mó a moer os grãos. É miragem auditiva, sugerida pelos moinhos de vento de cúpula em bico a pautarem o horizonte. Da base ou do topo do Farol da Ponta da Barca, o Ilhéu da Baleia mostra-se sem necessidade de pedir largas à imaginação. Aquele pedaço
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AÇORES 2011 |Escalada
subir além das
Nuvens
A
atração provocada pela montanha do Pico, com os seus 2351 metros de altitude, vai para além do facto de constituir o ponto mais alto de Portugal. Aquela aparência em perfeição cónica capta as atenções de todas as objetivas fotográficas. E deixa instalar-se um desafio: escalar o Pico. Dizem os experimentados que o Pico é subido pé ante pé. Ou seja, nada de passadas largas, a desdenhar a empreitada em questão. A escalada é tarefa acessível, mas requer precauções. Estamos perante o terceiro maior vulcão do Atlântico, encimado por uma cratera de 700 metros de perímetro e 30 de
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profundidade, à espera dos olhares mais afoitos. Nesse cume do mundo português, descobre-se o segredo do vértice que rompe o céu açoriano: um cone lávico de 70 metros, conhecido por Piquinho. A conquista da montanha faz-se a partir dos 1200 metros, altura até onde se pode aceder num conforto motorizado. Começa então a aventura íngreme, a exigir concentração e respeito. Existe um trilho assinalado que permite realizar a subida de forma autónoma, opção a tomar apenas por montanhistas experientes e com o apoio prestado na Casa da Montanha, onde se providencia um telemóvel/ /GPS que monitoriza cada passada da ascensão. Vários operadores organizam escaladas em grupo,
auxiliadas por guias especializados, que aliam a vertente pedagógica à experimental, através de explicações sobre a geologia e flora do Pico. O percurso leva entre três a quatro horas a cumprir, dependendo de fatores como a condição física de cada indivíduo e das condições atmosféricas do momento. Levará outras tantas horas a descer, ou até mais, que para baixo não são só facilidades. Que sensações se experimentam ao longo do caminho? Raul Brandão, no mítico livro “As Ilhas Desconhecidas – Notas e Paisagens”, salientou aquilo a que chamou “a exaltação da vida livre”, impressa num acampamento noturno em que cheirava ao fumo da urze
Escalada | AÇORES 2011
Foto: Montanheiros / Carlos Medeiros
Falésias sedutoras
e onde o ouvido aguçado recolhia “o menor ruído da noite”. Pernoitar na montanha do Pico, uma alternativa à subida e descida no mesmo dia, é sinónimo de duas coisas: um pôr-do-sol grandioso. E um nascer do sol... grandioso. Esgotam-se os adjetivos sem se abarcar aquilo que a experiência desta escalada representa. É melhor voltar a Raul, nessa descrição da “áspera subida”, “cortando a direito e calcando pedra dura”. Na base da caldeira, “a vegetação rasteirinha diminui de tamanho”, como se tivesse sido “tosquiada”. Olha-se para o interior e “sai o pico pequeno”. Em redor, a visão pousa nas paisagens picarotas e no mar que se estende até tocar a costa
Casa de apoio à Montanha
das ilhas vizinhas: Faial, São Jorge, Graciosa, a Terceira mais ao fundo. Mais do que a paisagem revelada pelas alturas, passar o teste do Pico é uma vitória pessoal. Diz-se que a montanha é tão portentosa que consegue desunir casais, amigos, colegas. Ou então entrelaçá-los ainda mais, para o resto da vida, numa névoa de recordações irrepetíveis,
Foto: Market Iniciative
Montanha do Pico refletida na Lagoa do Capitão
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
A subida aos céus, nos Açores, passa também pela vertente da escalada desportiva. As falésias de rocha basáltica, possuídas pela sedução do negrume acinzentado, representam um manancial de experiências para os amantes desta atividade. Os vários setores equipados, em condições de total segurança, espalham-se pelas ilhas de São Jorge (Urzelina e Fajã do Ouvidor), Pico (Calheta de Nesquim, Cachorro), São Miguel (Ferraria, Porto Carneiros), Terceira (Chupa Cabras, Grota do Medo, Chanoca). A secção de escalada da associação os Montanheiros realiza cursos de aprendizagem.
numa lembrança de espíritos acalentados, amparados, acarinhados pelo companheiro de jornada. Quem vence a montanha mais alta de Portugal, supera-se a si próprio enquanto auxilia os restantes a consegui-lo. E encontra, no topo dos Açores, uma das razões que fazem deste pedaço de terra vulcânica plantado no meio do Atlântico uma paragem tão lendária. n
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aves de três
Continentes
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ão é surpresa para os aficionados europeus da observação de aves que os Açores são um dos terrenos mais populares para a observação de aves. À variedade de espécies residentes e migratórias, juntam-se cenários de grande envolvência natural para experiências memoráveis. Todos os anos, especialmente no período do inverno, é comum verem-se as ilhas do Corvo e das Flores cheias de amantes do birdwatching. Basta o passa palavra eletrónico, através do anúncio de avistamento colocado na Internet, para o Grupo Ocidental receber novos hóspedes, munidos dos seus telescópios, em busca das aves migratórias norte-americanas. Mas o manancial de experiências disponíveis alastra-se à profusão de espécies nativas: milhafre,
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canário-da-terra, alvéola, estrelinha, melro-preto, pombo-torcaz, tentilhão... Ou às populações de aves marinhas, entre as quais se encontram o garajau-comum, garajau-rosado e o localmente famoso cagarro. A iniciação ao birdwatching requer apenas um par de binóculos e um guia de observação. Além do prazer de ir ao encontro de aves muito diversificadas – delicadas ou imponentes, coloridas ou bicromáticas –, e observar-lhes o comportamento, esta atividade representa a oportunidade de conhecer habitats de excecional beleza. Perto do mar, as observações efetuam-se em lagunas costeiras, praias de calhau ou de areia, falésias e vistosos ilhéus junto à costa. No interior das ilhas, há charcos, lagoas, matas e florestas à espera da visita de aves e seus admiradores humanos.
Dos novatos aos experientes, todos quererão encontrar a estrela da companhia. Cabeça de cartaz do birdwatching, o priolo é o único passeriforme endémico dos Açores. Perseguido durante parte do século XIX por ser encarado como uma praga, esteve à beira da extinção. Atualmente, reside apenas na zona montanhosa a leste de São Miguel, com especial concentração na mata endémica de laurissilva, tendo resistido aos efeitos nocivos do homem mediante vários projetos de estudo e preservação, como o Projeto LIFE-Priolo que originou o Centro Ambiental do Priolo (www.centropriolo.com). Por isso, avistar um exemplar desta ave de pequeno porte (mede entre 15 e 17 cm), considerada uma das espécies mais raras em toda a Europa, só pode ser um momento muito especial. Para birdwatchers crónicos e não só. n
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
AÇORES 2011 |Birdwatching
Ilhas | AÇORES 2011 Descobertas radicais
Os Açores são um destino de características assumidamente adequadas à exploração ativa. Um batismo de voo em parapente (ou viagem autónoma para os já experimentados), permite observar da perspetiva das aves as magníficas lagoas, os cones vulcânicos, as falésias, as fajãs, os muros de pedra. Montar numa BTT para acelerar nos caminhos de terra batida, é certeza de adrenalina velocista imersa na natureza pura. Rodear de caiaque a zona costeira de algumas ilhas é sinal de aventura e encontro com enseadas e paisagens impossíveis a partir de terra. Desbravar os caminhos rurais num “raid” de todo-o-terreno permite e descoberta de novas miragens.
Vila do Corvo
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Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
Carreiras regulares
Um dos modos mais extraordinários e económicos de conhecer as ilhas do chamado triângulo, passa por embarcar nas carreiras regulares que ligam Faial, Pico e São Jorge durante todo o ano. A travessia proporciona vistas magníficas das ilhas, primeiro ao longe, depois perto, com especial relevo para a deslumbrante montanha do Pico. Além disso, muitos companheiros de viagem serão habitantes locais, imersos nas suas rotinas diárias, o que possibilita um contacto direto com a vivência açoriana. E, numa conversa inesperada, até se pode ficar a saber de um sítio extraordinário que os ilhéus guardam em segredo, experimentando em primeira mão a arte de bem receber.
e cada dedo valer 100 pessoas, os habitantes do Corvo cabem numa mão. O clima de confiança entre os locais gerou uma peça de artesanato única: fechaduras de madeira, dado ser desnecessário pôr tranca na porta. Visitar esta ilha é uma experiência essencialmente humana. Mas como estamos nos Açores, a natureza também deslumbra. A sensação de entrar na menor ilha dos Açores equivale, quiçá, à descoberta do ponto mais remoto de Portugal. Os menos de 500 habitantes residentes concentram-se na Vila do Corvo, com vista para a ilha vizinha das Flores. Toda a gente se conhece. Pernoitar uma, duas, três, mais noites nestes 6,3 quilómetros de comprimento e 4 quilómetros de largura máxima, equivale a integrar passageiramente a comunidade local. Porque os visitantes não passam despercebidos. E isso, neste caso específico, só pode ser bom. Adiante com a descoberta da ilha. Acede-se por estrada ao Caldeirão, caldeira de extensão dominadora e superfície adornada por duas lagoas irregulares. Reza a lenda que os cones de cinzas vulcânicas desenham na água as ilhas açorianas. É ver para crer e, depois, explorar a zona através dum trilho não sinalizado, de grau de dificuldade difícil e a exigir acompanhamento por guia especializado. Bordeja-se o cume,
Foto: ATA
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte / ATA
CORVO
promontório ideal para panorâmicas do interior da caldeira e das falésias corvinas. O piso acidentado e os nevoeiros súbitos requerem cuidados redobrados, mas os prémios ao esforço são entregues de forma constante e cadenciada: cones vulcânicos, a Ponta do Marco, uma praia, uma fonte de água, caminhos ladeados por hortênsias. Toma-se o gosto e há mais um trilho para desencobrir as maravilhas deste pedaço de terra. O percurso pedestre da Cara do Índio inicia-se junto à Cova Vermelha, por antigas “canadas” ladeadas por muros de pedra. Já junto da falésia, há uma cara de índio esculpida na rocha. Segue-se pela arriba até ao caminho que desemboca na Vila do Corvo. Sobra tempo para calcorrear as calçadas de pedra, procurar os exemplares restantes de casas com paredes negras, descansar nos bancos do Largo do Outeiro, entrar na Igreja de Nossa Senhora dos Milagres, passear no Porto da Casa. A rota à beira-mar levará até aos moinhos de vento, junto à Ponta Negra, de tronco cónico branco e cúpula de madeira. No Corvo, tudo parece simples, sem complicações ou complexos. Até os nomes dos sítios. Na Praia da Areia, revisitam-se as experiências proporcionadas por ilha tão ínfima. E, juntamente com a vontade de regressar para uma conversa no Largo do Outeiro, conclui-se que a dimensão métrica das ilhas não corresponde aos deleites lá confinados. n
Fevereiro 2011 | 39
Agência Açoreana de Viagens
Parceiro de eventos Ponta Delgada - São Miguel
C
om mais de meio século de atividade, a Agência Açoreana de Viagens posiciona-se como uma entidade líder na área da Meeting Industry. Aos serviços abrangentes prestados ao cliente, junta-se a riqueza de um destino fantástico para congressos e incentivos. Fundada em 1955, a Agência Açoreana de Viagens foi integrada em 1994 no Grupo Bensaude, um dos maiores grupos empresariais do Arquipélago. Vocacionada para a atividade de incoming, a agência encontra-se dividida em três departamentos: Individuais e Grupos, Meeting Industry e Cruzeiros. Atuante nas nove ilhas açorianas, disponibiliza ao cliente um vasto leque de serviços: transfers, excursões, passeios
pedestres, reservas de alojamento, viaturas de aluguer sem condutor, passagens aéreas, espaços para eventos e animação turística. Na área dos congressos, a Agência Açoreana de Viagens apresenta um serviço chave-na-mão, que pode cuidar das reservas de avião, transfers com guias turísticos, alojamento dos delegados, decoração e equipagem dos espaços, serviços de tradução, coffee breaks e almoços de trabalho, jantares de gala, receção e acreditação de congressistas, exposições de posters, e todos os restantes serviços inerentes e necessários à execução do evento. Mas porque os Açores são um mundo de experiências, a empresa organiza igualmente um conjunto de atividades complementares,
devidamente adequadas ao perfil dos clientes. As hipóteses acumulam-se: observação de baleias, natação com golfinhos, mergulho, passeios a pé, birdwatching, circuitos de jipe, passeios de bicicleta ou a cavalo, golfe, caça, pesca grossa em alto mar, ou excursões temáticas, como as relacionadas com a gastronomia, botânica ou vulcanologia. Apenas algumas das razões que levam a que os congressos nas ilhas açorianas tenham uma particularidade: o número de participantes acaba por ser sempre maior do que o inicialmente perspetivado. É o apelo de um destino exótico, onde o programa científico se conjuga harmoniosamente com o lazer, para a criação de eventos inesquecíveis. n
Incentivos espontâneos Os Açores constituem um manancial inesgotável para a área dos Incentivos. Às possibilidades mais comuns, juntam-se atividades radicais e invulgares, como o canyoning, a escalada ou o geocaching, para a criação de programas que geram de forma muito natural a interação entre os participantes, orientando o evento para objetivos específicos nas áreas da liderança, espírito de grupo, reforço de confiança, obtenção de objetivos comuns, entre outras.
40 | Fevereiro 2011
Hotel Marina Atlântico - Ponta Delgada - São Miguel
Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte
AÇORES 2011 |Negócios
Centro de Congressos de Angra do Heroísmo - Terceira
A
aliança entre infraestruturas modernas, boas acessibilidades, gastronomia singular, segurança e uma oferta complementar de variadas experiências turísticas numa natureza intacta, são alguns dos ingredientes que tornam os Açores num destino de eleição para a organização de congressos e incentivos.
Os Açores têm vindo a posicionar-se como uma alternativa diferenciadora no mapa dos destinos de congressos e incentivos. O Arquipélago já recebe um elevado número de eventos, muitos deles realizados fora da época alta. A oferta açoriana nesta área assenta na qualidade dos serviços prestados, simplicidade dos procedimentos na colocação dos eventos, apoio constante aos clientes. Mas o que a região representa de verdadeiramente único é a possibilidade de experiências diferentes. Nesse sentido, o fator novidade, aliado à criatividade dos agentes locais, tem vindo a ganhar notoriedade num apetente por destinos diferentes. Várias ilhas estão dotadas de infraestruturas apetrechadas para a receção de congressos e incentivos. Em São Miguel, é possível encontrar espaços que albergam com grande conforto e qualidade congressos com elevado número de delegados, podendo chegar aos 1200. Em Ponta Delgada, o Teatro Micaelense, renovado e devidamente equipado, destaca-se pela grande beleza e centralidade. Na mesma cidade, o magnífico complexo das Portas do Mar oferece
um enorme pavilhão modular e multiusos, capaz de acolher exposições, eventos e reuniões. Acresce a capacidade hoteleira de S. Miguel, cada vez mais reforçada por excelentes unidades de quatro estrelas, com uma completa e oferta de serviços neste segmento. Na ilha Terceira, a cidade de Angra do Heroísmo tem um Centro de Congressos equipado com material próprio de tradução simultânea para seis línguas. A estrutura altamente flexível cede espaço para 850 delegados, havendo ainda um auditório pequeno para 150 pessoas. Ainda na mesma ilha, a cidade da Praia da Vitória contempla um auditório, equipado com tecnologias de ponta, com capacidade para mais de 450 pessoas. Já no Faial, o Teatro Faialense, a Biblioteca Pública da Horta, o espaço multifuncional Barão Palace e o Centro Interpretativo do Vulcão dos Capelinhos representam oportunidades de organizar seminários e reuniões. Além destes locais, as unidades hoteleiras de várias ilhas estão dotadas de salas com capacidade e equipamento para acolhimento de eventos de diferentes dimensões. Fora da “ordem de trabalhos” dos eventos, os Açores mostram-se um destino seguro que apresenta uma oferta complementar diferente e de qualidade, onde se salientam as inúmeras experiências de turismo ativo – observação de baleias, passeios a pé, mergulho, golfe, termalismo – e os prazeres de degustar uma gastronomia cheia de caráter. n
Hall do Teatro Micaelense - São Miguel
Portas do Mar - São Miguel
Auditório do Ramo Grande - Praia da Vitória - Terceira
Centro Interpretativo dos Capelinhos - Faial
Apoios públicos O Governo Regional dos Açores tem disponível um apoio financeiro público a iniciativas, ações e eventos de animação turística, que tenham um impacto significativo na promoção externa do destino turístico Açores. O montante a atribuir é determinado consoante a qualidade e/ou a expressão promocional reconhecida ao evento, tendo um limite máximo de cem mil euros. As condições para a obtenção dos apoios podem ser consultadas no portal www.azores.gov.pt ou contactando os serviços da Direção Regional de Turismo.
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte / ATA
Prazenteiros
Auditório Municipal das Velas - São Jorge
Fotos: Market Iniciative / Carlos Duarte
trabalhos
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
Teatro Micaelense - São Miguel
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte / ATA
Negócios | AÇORES 2011
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AÇORES 2011 |Golfe
V
êem-se árvores, relva, flores, o azul do mar. Nos Açores, as tacadas são dadas entre uma natureza deslumbrante, longe de prédios ou casas. A exceção está nos Clubhouses, edifícios modernos que se mesclam com a paisagem para receber confortavelmente os praticantes da modalidade.
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de Golfe da Ilha Terceira, localizado a poucos quilómetros de Angra do Heroísmo e da Praia da Vitória. O campo destaca-se pela paisagem pautada pelos renques de hortênsias e azáleas ao longo dos fairways e os jogos paisagísticos entre árvores, montes e pequenos lagos. Tem uma área de treino com practice tee, chipping area e dois putting greens. n
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
No Arquipélago dos Açores existem atualmente três campos de golfe, mas graças ao Campo de Golfe da Batalha, na costa norte da ilha de São Miguel, o número de circuitos disponível passa para cinco. Os 27 buracos desenhados em 1986 por Cameron Powell num espaço de 120 hectares, caracterizam-se por fairways longos e greens largos, alguns dos quais com panorâmica para o mar. Dividido nos percursos A, B e C, o campo permite três conjugações diferentes que renovam a experiência golfista na Batalha. A cerca de 15 minutos de Ponta Delgada, dispõe de driving range para mais de 30 jogadores, dois pratice putting greens e uma chipping e pitching area. O Clubhouse inaugurado em 1993 é cenário também de casamentos, banquetes e eventos empresariais. Imersos numa vegetação tropical exuberante, os primeiros nove buracos do Campo de Golfe das Furnas foram estabelecidos por Mackenzie Ross, em 1936. Coube a Bob Cameron e Chris Powell, em 1992, ampliar o campo em mais nove buracos, em harmonia com o espírito e o estilo preexistente. Localizado num planalto no cimo do Vale das Furnas e a 25 minutos de Ponta Delgada, representa um teste de habilidade num cenário de fairways ladeados por cedros japoneses e greens torneados. O Clubhouse, renovado em 2006, conta com um acolhedor restaurante e bar, ao estilo britânico, com capacidade para 100 pessoas. Finalmente, na Terceira encontra-se o Clube
Campo de Golfe da Batalha - São Miguel
Campo de Golfe das Furnas - São Miguel
Um jogo rústico Um pneu assente no chão ou um círculo de cal desenhado na relva. Uma bandeira a assinalar o buraco fingido. Uma pastagem de erva baixa, sem animais por perto, a fazer de campo de golfe. Um vestuário que pode contemplar botas de borracha. E, acima de tudo, a partilha de um momento invulgar com os restantes jogadores. Eis o retrato do golfe rústico, atividade lúdica em contexto rural, que já conta com alguns torneios organizados em várias ilhas do Arquipélago. Jogado com descontração e diversão, este golfe destaca-se pelo cunho ambiental, dado tirar partido dos recursos naturais já existentes.
Campo de Golfe da Batalha - São Miguel
Clube de Golfe da Ilha Terceira
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte / ATA
Natural
Nos voos operados pela SATA, à exceção dos que têm como partida ou destino cidades dos Estados Unidos, os jogadores podem transportar gratuitamente um equipamento de golfe constituído por um saco, tacos, bolas, casaco próprio, chapéu, par de sapatos próprios e guarda-chuva.
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte
tacada
Foto: Market Iniciative / Carlos Duarte / ATA
Via aérea grátis