A Voz Humana, de Jean Cocteu - ensaio visual de Marta Almeida I (Livro)

Page 1



A VOZ A VOZ HUMANA HUMANA DE JEAN DE JEAN COCTEAU COCTEAU ensaio visual de Marta Almeida tradução Carlos de Oliveira

I I I X X


ZOV A ANAMUH NAEJ ED UAETCOC


A VOZ HUMANA DE JEAN COCTEAU ensaio visual de Marta Almeida tradução Carlos de Oliveira

I I I X X


Copyright© 2013 Marta Almeida Direitos reservados Edições IIIXX Rua Nova, Lote 6 nº5-3ºEsq. Bairro da Carochia 2620-469 Ramada Telefone 916640283 Texto original “La Vox Humaine” de Jean Cocteau, 1930 Tradução Carlos de Oliveira Concepção gráfica Marta Almeida Tipo de letra Ideal Sans da Hoefler & Frere-Jones Impressão e acabamentos CMYK zero Data de impressão Janeiro 2013 Depósito legal nº 000 555/22 ISBN 123-987-46-2143-1 Este volume foi desenvolvido no âmbito da disciplina de Projecto de Design Gráfico I, do 2º ano do curso de Design Gráfico, na Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha. O corrente exemplar trata-se de uma prova de artista. O recurso a tipos de letra não autorizado é justificado pelo seu contexto pedagógico.


Ă€s minhas vozes ausentes



E

stá, está lá, está? .......... Não, minha senhora, são as linhas cruzadas; por favor, desligue ................ ................. Está? ......... Tenho prioridade, porque sou assinante ................. Oh! .............. Está? .............. Desligue a senhora, já lhe disse .............................. Está, menina, está? ........... Deixe-me em paz ............... Claro que não sou o Dr. Schmit ................. Zero oito e não zero sete ............. Francamente .............. está? ............... Há uma chamada para aqui; não sei. (Desliga, sem largar o telefone. Tornam a chamar) ....... Está? .............. Que quer a senhora que eu lhe faça? ....................... Ainda por cima é indelicada ....................... O quê? a culpa é minha?! ............ de maneira nenhuma ................ tenha paciência, de maneira nenhuma ........................ ........ Está? ................................ está lá, menina? ............ Há uma chamada para aqui, mas não posso atender. Linhas cruzadas, meio mundo a falar. Diga a essa senhora que desligue (Desliga. Tornam a chamar) Está? és tu? .................... és tu? ........... Sim ...................... Ouço-te mal ................................. ao longe, muito longe .............................. Está? ......... é tão desagradável ....... ............................. não sei quantas pessoas na mesma linha ............... torna a pedir a chamada. Está? Tor-na a pe-dir a cha-ma-da ............................... Sim, que tornes a pedir a chamada................................................. Por amor de Deus, minha senhora, desista. Duma 9


E

oãs ,arohnes ahnim ,oãN .......... ?átse ,ál átse ,áts ................ eugilsed ,rovaf rop ;sadazurc sahnil sa euqrop ,edadiroirp ohneT ......... ?átsE ................. .............. ?átsE .............. !hO ................. etnanissa uos ,átsE .............................. essid ehl áj ,arohnes a eugilseD -alC ............... zap me em-exieD ........... ?átse ,aninem oãn e otio oreZ ................. timhcS .rD o uos oãn euq or ............... ?átse .............. etnemacnarF ............. etes orez -ral mes ,agilseD( .ies oãn ;iuqa arap adamahc amu áH .............. ?átsE ....... )ramahc a manroT .enofelet o rag ....................... ?açaf ehl ue euq arohnes a reuq euQ a ?êuq O ....................... adaciledni é amic rop adniA ................ amuhnen arienam ed ............ !?ahnim é apluc ........................ amuhnen arienam ed ,aicnêicap ahnet ............ ?aninem ,ál átse ................................ ?átsE ........ .redneta ossop oãn sam ,iuqa arap adamahc amu áH -es asse a agiD .ralaf a odnum oiem ,sadazurc sahniL ?átsE )ramahc a manroT .agilseD( eugilsed euq arohn -uO ...................... miS ........... ?ut sé .................... ?ut sé egnol otium ,egnol oa ................................. lam et-oç ....... levádargased oãt é ......... ?átsE .............................. amsem an saossep satnauq ies oãn ............................. -roT ?átsE .adamahc a ridep a anrot ............... ahnil euq ,miS ............................... ad-am-ahc a rid-ep a an.................................................adamahc a ridep a senrot amuD .atsised ,arohnes ahnim ,sueD ed roma roP 9



vez para sempre, não sou o Dr. Schmit ............... Está? (Desliga. Voltam a chamar) Até que enfim ......................... és tu? ........................... sim .................. já se pode falar ..................... está? .............. sim ............................. Era um verdadeiro suplício ouvir-te com toda essa gente pelo meio ............... sim ................. sim ............................................... . não .............................. uma questão de sorte ......................... Entrei há dez minutos ............................. ...... Ainda não tinhas telefonado? ......... ah! ....................... não, não ...................... Jantei fora ......................... com a Marta ............ Devem ser onze e um quarto .................. Estás em casa? ............. Então tens o relógio em frente ......................... E o que eu pensava .......... Sim, querido, sim ..................... Ontem à noite? Ontem à noite deitei-me cedo e como não conseguia adormecer tomei um comprimido .................... não ........ apenas um .............. acordei às nove horas .................... Doía-me a cabeça um pouco, mas levantei-me logo. A Marta apareceu e almoçou comigo. Dei umas voltas, regressei a casa, meti as cartas todas no saco amarelo e .............. O quê? ............................... Enfrentarei a situação, descansa .... .............................. juro-te que sim ................. sou corajosa, mais do que imaginas ...................... Depois? De12


pois vesti-me, a Marta veio buscar-me para jantar e pronto ........................ Acabo de chegar de lá. Ela foi estupenda ..................... muito atenciosa ........ De facto, achava-a egoísta, mas enganei-me. Tinhas razão, como sempre ..................................................................... ........................... O vestido cor-de-rosa e o casaco de peles ..................... o chapéu preto ........... Acertaste; ainda não tirei o chapéu ................... não, não estou a fumar ................ Hoje? Apenas três cigarros ...... Sim, realmente é verdade .................................... Claro, claro .......................... és muito amável ........................ E tu, chegaste agora? ................. Ficaste em casa ....... Qual processo .................. Ah! Já sei .................... Não trabalhes demais ....................... Está? está lá? Não corte a ligação, menina. Está? .......................... está, querido? ................ está? ..................... Se desligarem, pede logo outra chamada ............................ com certeza ............................. Está? Não ........................... sou eu ............... O saco? ................ Sim, as tuas cartas e as minhas. Podes mandar buscá-lo quando quiseres ...... ....................................................... Custa um pouco ........ ........................................... Compreendo ...................... Oh! meu amor, não te desculpes, nada mais natural, eu é que estou a ser estúpida ..................................... sempre amável, querido .......................................... sempre amável ............. Eu própria não me julgava as13



sim tão forte ................... Não mereço cumprimentos por isso. Vagueio como uma sonâmbula. Visto-me, saio e volto a casa maquinalmente. Amanhã, talvez seja menos corajosa ..................................... Tu? ............................ Enganas-te, querido ............................. ......... não tenho a mínima censura a fazer-te ............................. eu .................. eu .............. deixa lá ...... ....................................... o quê? ......... sem dúvida ..................... Pelo contrário ............................... Combinámos falar sempre com a maior franqueza e seria criminoso que me ocultasses tudo até ao último momento. Seria um golpe insuportável. Mas assim, não. Tive tempo de me habituar, de compreender ..................... Uma comédia? ............ Está? ..................... ....................... Quem? ............. Eu, a representar uma comédia?! ..................................... Conheces-me bem e sabes que eu seria incapaz de me controlar a esse ponto .................................................... de modo nenhum ................. bastante calma .............. tu perceberias .................... digo-te que perceberias facilmente. Não tenho com certeza a voz de uma pessoa que esconde qualquer coisa ...................... Não. Decidi ter coragem e hei-de tê-la ............... Ouve .................. isso era diferente ..................... talvez, mas por mais que se preveja, por mais que se espere a infelicidade, nem por isso ela dói menos quando chega ............................ 15


.................. Não exageres ................ Tive tempo de me habituar, apesar de tudo. Foste carinhoso. Soubeste embalar-me, adormecer-me ........................................... .................... O nosso amor embatia contra tanta coisa! Era preciso resistir, recusar cinco anos de felicidade ou aceitar os riscos. Nunca pensei que pudesse ganhar. E agora pago caro uma alegria sem preço .............................. Está? .................... sem preço e não lamento ...................... não lamento nada-nada-nada .. ............................... Tu .................................................. como tu te enganas ....................... como tu ..................... te enganas. Tenho ..................... Está? ...................... tenho o que mereço. Fui excessiva e quis um amor excessivo .................................. querido ................ ouve ......... está? ........ querido ............................. deixa-me ..................... está? ................ deixa-me falar. Não te acuses. Tudo foi culpa minha. Sim, sim ......................... ......... Lembras-te do domingo de Versailles e da história do pneu? ............................... Ah! .......................... Vês? ...................... Fui eu que te quis acompanhar, fui eu que te convenci. Fui eu que te disse que nada tinha importância para mim ................. Não .............................. não ............... não, estás a ser injusto agora ................... ........................... Quem telefonou primeiro? Eu. Lembras-te? ...................... Não, na terça-feira ....................... Uma terça-feira, tenho a certeza. Uma terça-feira, 16


vinte e sete. O teu telegrama chegou na segunda, 26. Bem vês, sei as datas de cor ,.......................... A tua mãe? por que é que .......................................................... Não vale a pena ............................. Ainda não sei ........................ sim .............. talvez ...................... Oh! não, imediatamente não, e tu? ........................................ ......... Amanhã? ............................ Não pensava que fosse tão depressa ...................... Nesse caso ..................... espera, é muito simples ............................ amanhã de manhã o saco estará na porteira. O José que passe por lá a buscá-lo ............................................. ...... Sabes, não decidi ainda. É possível que fique ou vá uns dias ao campo, a casa da Marta .......................... ..................... Está aqui. Parece uma alma penada. Ontem passou o dia inteiro entre o hall e o quarto. Olhava-me, levantava as orelhas, ouvia. Procurava-te por toda a parte. Tive a impressão que me censurava por continuar sentada, sem o ajudar a encontrar-te ......... .......................... O melhor será tomares conta dele ...... ................................... Como este bicho deve sofrer ...... ............................. Oh! não, ficar aqui, acho pouco acertado. Não o saberia tratar, não sairia com ele à rua. E melhor de facto que o leves ................................. ............ Esquecer-me-á depressa ........... tu verás ..................... tu verás que sim ............................ Não me parece complicado ................................... Basta dizeres 17





que é o cão dum amigo. Ele gosta bastante do José. O José poderia vir buscá-lo ................................................. .... Ponho-lhe a coleira vermelha. Não tem placa ................... Descansa, há-de esquecer-me ................... ......................... sim ............ sim, meu amor ..................... ................ entendi .......... com certeza, querido ............. ............................. Quais luvas? ......................................... .. as luvas forradas? ................. Não sei ..................... não as vi. É possível. Vou procurar ......................... Espera um momento. Não deixes cortar a ligação. (Apanha da mesa atrás do candeeiro, as luvas «crispin» forradas, que beija apaixonadamente. Fala com elas contra a face) .................. Está? .......................... está lá? ................... não ............................. procurei na cómoda, no sofá, no hall, por toda a parte. Não estão cá ............................. fazem-te falta para o carro? ............ Ouve ...................... Vou procurar outra vez, mas tenho a certeza ..................... Se por acaso as encontrar amanhã de manhã, mando-as para baixo com o saco ....................... Não ouvi, desculpa ............................ As cartas? ................ sim ............... deves queimá-las ................... Vou pedir-te uma coisa tola ........................... Não, o que eu queria dizer-te era isto; se as queimares, gostaria que guardasses as cinzas na caixa de tartaruga que te dei para os cigarros e que tu .................... Está? ....................... Não ..................... sou uma estúpi21


.ésoJ od etnatsab atsog elE .ogima mud oãc o é euq ........................................... ol-ácsub riv airedop ésoJ O acalp met oãN .ahlemrev arieloc a ehl-ohnoP .......... ................. em-receuqse ed-áh ,asnacseD ................... .................. roma uem ,mis ............ mis ........................... ......... odireuq ,azetrec moc .......... idnetne ................... ..................................... ?savul siauQ ................................. ..................... ies oãN ................. ?sadarrof savul sa ...... ......................... rarucorp uoV .levíssop É .iv sa oãn .oãçagil a ratroc sexied oãN .otnemom mu arepsE »nipsirc« savul sa ,orieednac od sárta asem ad ahnapA( sale moc alaF .etnemadanoxiapa ajieb euq ,sadarrof ?ál átse .......................... ?átsE .................. )ecaf a artnoc -omóc an ierucorp ............................. oãn ................... ác oãtse oãN .etrap a adot rop ,llah on ,áfos on ,ad ............ ?orrac o arap atlaf et-mezaf ............................. -et sam ,zev artuo rarucorp uoV ...................... evuO rartnocne sa osaca rop eS ..................... azetrec a ohn ocas o moc oxiab arap sa-odnam ,ãhnam ed ãhnama ............................ aplucsed ,ivuo oãN ....................... sal-ámieuq seved ............... mis ................ ?satrac sA ........................... alot asioc amu et-ridep uoV ................... -amieuq sa es ;otsi are et-rezid aireuq ue euq o ,oãN -rat ed axiac an saznic sa sessadraug euq airatsog ,ser .................... ut euq e sorragic so arap ied et euq agurat -ipútse amu uos ..................... oãN ....................... ?átsE 12




da ................ perdoa-me. Sentia-me tão forte! (Chora) .......................................... Pronto, acabou-se. Recompus-me. Enfim, gostaria de guardar essas cinzas. Era isto, querido .......................... como tu és compreensivo! ..................................... Ah! (A actriz dirá a passagem entre aspas no idioma estrangeiro que melhor conhecer) ...................... «Pour les papiers de ta soeur, j’ai tout brûlé dans le fourneau de la cuisine. J’ai pensé d’abord à ouvrir pour enlever le dessin dont tu m’avais parlé, mais puisque tu m’avais dit de tout brûler, j’ai tout brûlé ........................... Ah! bon .................... bon ................ oui» ............. Pois claro, estás de roupão ................. Vais-te deitar? ........................ Não deves trabalhar até tão tarde. Se tens de levantar-te amanhã cedo, deves ir dormir .............................. Está? ............. Está lá? .................... e assim, não ouves? ........................ Só se eu gritar ............. E assim? ............................. Ainda não? ................ Tem graça, porque tu é como se falasses aqui no quarto ............... ................................................... Está? ....... Está lá? ........................ está? ......... Agora sou eu que não distingo a tua voz .................... Sim, mas muito longe .................. O quê? .................. Já me ouves outra vez. E uma espécie de jogo. Ora tu, ora eu .............................. Não, não desligue! ......................... Está? ............... Continuo, menina,continuo ............................................ 25


-ohC( !etrof oãt em-aitneS .em-aodrep ................ ad .es-uobaca ,otnorP .......................................... )ar sasse radraug ed airatsog ,mfinE .em-supmoceR sé ut omoc .......................... odireuq ,otsi arE .saznic zirtca A( !hA ..................................... !ovisneerpmoc euq oriegnartse amoidi on sapsa ertne megassap a árid ed sreipap sel ruoP« ...................... )recehnoc rohlem -isiuc al ed uaenruof el snad élûrb tuot ia’j ,rueos at -sed el revelne ruop rirvuo à droba’ d ésnep ia’J .en tid siava’m ut euqsiup siam ,élrap siava’m ut tnod nis nob !hA ........................... élûrb tuot ia’j ,relûrb tuot ed -se ,oralc sioP ............. »iuo ................ nob .................... ........................ ?ratied et-siaV ................. oãpuor ed sát -navel ed snet eS .edrat oãt éta rahlabart seved oãN .............................. rimrod ri seved ,odec ãhnama et-rat -uo oãn ,missa e .................... ?ál átsE ............. ?átsE ?missa E ............. ratirg ue es óS ........................ ?sev ,açarg meT ................ ?oãn adniA ............................. .......... otrauq on iuqa sessalaf es omoc é ut euqrop ?ál átsE ....... ?átsE ........................................................ -sid oãn euq ue uos arogA ......... ?átse ........................ egnol otium sam ,miS .................... zov aut a ognit E .zev artuo sevuo em áJ .................. ?êuq O .................. .............................. ue aro ,ut arO .ogoj ed eicépse amu ............... ?átsE ......................... !eugilsed oãn ,oãN ............................................ ounitnoc,aninem ,ounitnoC 52



........................Ah! A tua voz, de novo. Muito nítida, amor. Sim, foi desagradável. Como se tivéssemos morrido. Ouvir e não poder falar .................................... ......... Não, nenhuma interferência. É mesmo estranho que nos deixem conversar tanto tempo. Geralmente cortam ao fim de três minutos e depois dão-nos um número errado .................. sim, sim .................. muito melhor que há pouco, mas o teu telefone ressoa. Nem parece o mesmo .............................................. . Claro que sou capaz de ver-te. (Ele obriga-a a adivinhar) ............... O lenço que puseste ao pescoço? .................... É o lenço vermelho ................... Ah! ................... Um pouco descaída para a esquerda ....................... As mangas do roupão arregaçadas .................. na mão esquerda? tens o telefone. Na direita a caneta. Desenhas no mata-borrão perfis, corações, estrelas. Ris-te? Não sei porquê. Reduzida a ouvir-te, vejo com os ouvidos ......................................... ............................ (Esconde o rosto num gesto maquinal) ....................... Não, meu amor, sobretudo não olhes para mim ............................... Medo? ........................... Não será bem isso .............................. é pior ................... Sabes, perdi o hábito de dormir sozinha ....................... ......................... Sim ..................... sim ................................ ....................... sim ....................... sim, sim ........................ .......... Prometo .............. prometo .................................... 28






........................... prometo .................................. és muito amável ........................................................ Não sei. Agora evito olhar-me. Não me atrevo já a acender a luz no quarto de vestir. Ontem encontrei-me cara a cara com uma velha senhora inesperada ............................... ............... Não, não! uma velha senhora magra, de cabelos brancos e uma infinidade de rugazinhas .............................. Obrigada, querido, mas um rosto admirável é pior que tudo, é bom para os artistas ....... .......................... Gostava mais quando me dizias: esse focinhito de gata ....................... Sim, meu caro senhor! .................................. Estava a brincar ...................... Não sejas tolo ................................................... Ainda bem que és um pouco desastrado e gostas de mim. Se não gostasses e fosses mais habilidoso, o telefone tornar-se-ia uma arma assustadora. Uma arma que não deixa vestígios, que não faz barulho .............................. ........................... Eu, maldosa? ............................ Está ............................... está lá? ....... Onde estás tu, está? ....... querido?, Está, menina, está? (Toca) Por que é que desligaram? (Pousa o auscultador. Silêncio. Volta a pegar no auscultador) Está? (Toca. Respondem) És tu, querido? Não, menina, não acabei ............... cortaram-me a ligação ................... Não sei .................. quer dizer ........ espere lá? sim, Auteuil 0497. Está ................. A falar? Com certeza quer ligar para aqui 33


-ium sé .................................. otemorp ........................... .ies oãN ........................................................ leváma ot a redneca a áj overta em oãN .em-rahlo otive arogA a arac em-iertnocne metnO .ritsev ed otrauq on zul .................... adarepseni arohnes ahlev amu moc arac ,argam arohnes ahlev amu !oãn ,oãN .......................... sahnizagur ed edadinfini amu e socnarb solebac ed otsor mu sam ,odireuq ,adagirbO .............................. ...... satsitra so arap mob é ,odut euq roip é levárimda esse :saizid em odnauq siam avatsoG ........................... !rohnes orac uem ,miS ....................... atag ed otihnicof ...................... racnirb a avatsE .................................. adniA ................................................... olot sajes oãN .mim ed satsog e odartsased ocuop mu sé euq meb enofelet o ,osodilibah siam sessof e sessatsog oãn eS euq amra amU .arodatsussa amra amu ai-es-ranrot ................... ohlurab zaf oãn euq ,soigítsev axied oãn ............................ ?asodlam ,uE ...................................... ,ut sátse ednO ....... ?ál átse ............................... átsE roP )acoT( ?átse ,aninem ,átsE ,?odireuq ....... ?átse .oicnêliS .rodatlucsua o asuoP( ?maragilsed euq é euq )mednopseR .acoT( ?átsE )rodatlucsua on ragep a atloV ............... iebaca oãn ,aninem ,oãN ?odireuq ,ut sÉ .................. ies oãN ................... oãçagil a em-maratroc átsE .7940 liuetuA ,mis ?ál erepse ........ rezid reuq iuqa arap ragil reuq azetrec moC ?ralaf A ................. 33




............................... Obrigada, menina. (Desliga. O telefone toca) Está? É do 0497? Oito sete, não; nove sete. Oh! (Toca) Está lá? Enganou-se, menina. Deu-me o 0487 e eu queria o 0497. Sim, Auteuil 0497. (Espera de auscultador na mão) Está lá? é do 0497? Ah! sim. É você, José. Daqui fala a senhora. Cortaram-me a ligação ............................................... O senhor não está em casa?! ............................... sim ............................................ compreendo ...................................... dorme fora esta noite ............................................. claro, que cabeça a minha ............................... o senhor estava a falar-me dum restaurante quando cortaram a ligação e eu, distraída, pedi o número de casa ................................ Desculpe, José ........................................................... Obrigada ...................... Muito obrigada ..................... Boa noite, José ............................................ (Desliga e sente-se mal. O telefone toca) Ah! és tu, querido? ............................. Desligaram ................... Não, não. Continuei à espera. O telefone tocou, atendi mas ninguém respondeu .................................... Sem dúvida ................................... seguramente ........................... Estás com sono ................................ Foi bondade tua teres telefonado .................................... sim, bondade (Chora) ............................................................................... ......................... (Silêncio) ................................................... ........... Estou, querido ......................................... O quê? 37


-elet O .agilseD( .aninem ,adagirbO ............................... .etes evon ;oãn ,etes otiO ?7940 od É ?átsE )acot enof o em-ueD .aninem ,es-uonagnE ?ál átsE )acoT( !hO arepsE( .7940 liuetuA ,miS .7940 o aireuq ue e 7840 .mis !hA ?7940 od é ?ál átsE )oãm an rodatlucsua ed em-maratroC .arohnes a alaf iuqaD .ésoJ ,êcov É oãn rohnes O ............................................... oãçagil a .......................... mis ............................... !?asac me átse emrod ...................................... odneerpmoc .................. euq ,oralc ............................................. etion atse arof a avatse rohnes o ............................... ahnim a açebac oãçagil a maratroc odnauq etnaruatser mud em-ralaf ........................ asac ed oremún o idep ,adíartsid ,ue e ......................................................... ésoJ ,eplucseD ........ ..................... adagirbo otiuM ...................... adagirbO .. agilseD( ............................................ ésoJ ,etion aoB ?odireuq ,ut sé !hA )acot enofelet O .lam es-etnes e .oãn ,oãN ................... maragilseD ............................. sam idneta ,uocot enofelet O .arepse à ieunitnoC -ivúd meS .................................... uednopser méugnin ........................... etnemaruges ................................... ad aut edadnob ioF ................................ onos moc sátsE edadnob ,mis .................................... odanofelet seret ............................................................................... )arohC( .................................................. )oicnêliS( ......................... ?êuq O ......................................... odireuq ,uotsE ............ 73







................. Desculpa ......................... Não, que ideia ...... .......................... Nada, nada ....................... Não tenho nada ............................ Juro-te que não tenho nada .................. É o mesmo ............................. Absolutamente nada. Enganas-te ........................................ O mesmo que há bocado ................ Apenas, compreendes, uma pessoa fala, fala, e não pensa que será preciso acabar, desligar, cair outra vez no silêncio, nas trevas .................. e então ............................................. (Chora) Ouve, meu amor. Nunca te menti. Eu sei, eu sei, eu acredito, eu estou certa que sim ................... não, não se trata disso .................................... é que tenho estado a mentir ...................................... vou explicar-te já ................................ aqui .................................. ao telefone, há um quarto de hora que te minto. Sei bem que perdi a última oportunidade, mas a mentira não me dará mais nenhuma, e depois não gosto de mentir, não posso nem te quero mentir, mesmo para teu bem .................................. Oh! nada de importante, meu amor, não te assustes ................................ Só menti quando falei do meu vestido e do jantar com a Marta ........................................... Não jantei; e não trago o vestido cor-de-rosa. Pus um casaco sobre a camisa de dormir. Esperei tanto a tua chamada, olhei tanto para o telefone, sentei-me e levantei-me tantas vezes, andei tanto dum lado para o outro, que jul44




guei endoidecer. Então, pus o casaco pelos ombros e ia sair, tomar um táxi, ficar diante das tuas janelas, esperar ................................. Não mo perguntes. Esperar, esperar sei lá o quê ..................................................... ................ Tens razão ....................... sim ........................... .......... ouvir ................ serei ajuizada. Estou a ouvir, querido .......... sim, estou a ouvir. Juro que responderei a tudo Não saí. Não comi nada ........................... Doente, muito doente ........... Não podia ...... Ontem à noite, ia tomar um comprimido para dormir, quando pensei que se tomasse mais alguns dormiria melhor e, se os tomasse todos, dormiria sem sonhos, para sempre. Morreria. (Chora) ............................................... ............................................ Tomei doze ............................ ..... Com um pouco de água morna ................................. Sim, como uma pedra. E afinal tive um sonho. Sonhei a própria realidade. Acordei sobressaltada e alegre porque se tratava dum sonho, mas quando vi que era verdade, que estava só, que não tinha a cabeça apoiada ao teu pescoço, ao teu ombro, e as minhas pernas entre as tuas, senti que não podia, que não podia mais viver .................................................. leve, leve e fria, o coração silencioso. E a morte sem chegar. Foi nesta angústia insuportável que ao fim de uma hora telefonei à Marta. Não tive coragem de morrer sozinha ......................... Querido ........................ 47





............. Querido ................................................... Eram quatro horas da manhã. A Marta chegou com o médico que mora no prédio dela. O médico viu-me a febre .................................. Mais de quarenta graus. Parece que é difícil a gente envenenar-se, que se erra sempre a dose. Receitou qualquer coisa e a Marta ficou ao pé de mim até há pouco. Pedi-lhe que partisse porque me tinhas dito que telefonarias uma última vez e receei que ela me impedisse de falar ................... ................................... Já estou bem, querido ................. Já passou ............................................. Sim, é verdade .............................. Um pouco de febre .......................... 38 e 3 ................................. apenas nervos .................... Não te inquietes .......................................... Como sou desastrada! Tinha jurado a mim mesma não te afligir, deixar-te partir tranquilo, dizer-te adeus como se nos fôssemos encontrar no dia seguinte ....................... ........................................ Que parvoíce a minha ............. ....................... Sim, que parvoíce! ..................................... .......................................... O que me custa é ter de desligar, apagar esta última luz ............................................. ..................... (Chora) ............. Está? ....................... Pensei que tivessem cortado ................................................. .. Oh! meu amor ..................... Meu pobre amor, a quem fiz tanto mal ........................................................ Sim, fala, fala, diz o que quiseres .................................... 51


marE ................................................... odireuQ ............. -idém o moc uogehc atraM A .ãhnam ad saroh ortauq erbef a em-uiv ocidém O .aled oidérp on arom euq oc eceraP .suarg atnerauq ed siaM .................................. -mes arre es euq ,es-ranenevne etneg a licífid é euq uocfi atraM a e asioc reuqlauq uotieceR .esod a erp essitrap euq ehl-ideP .ocuop áh éta mim ed ép oa amitlú amu sairanofelet euq otid sahnit em euqrop .................. ralaf ed essidepmi em ale euq ieecer e zev ................. odireuq ,meb uotse áJ .................................... edadrev é ,miS ............................................. uossap áJ .......................... erbef ed ocuop mU .............................. .................... sovren sanepa ................................. 3 e 83 uos omoC .......................................... seteiuqni et oãN -ifla et oãn amsem mim a odaruj ahniT !adartsased es omoc sueda et-rezid ,oliuqnart ritrap et-raxied ,rig ..................... etniuges aid on rartnocne somessôf son ......... ahnim a ecíovrap euQ .......................................... ............................... !ecíovrap euq ,miS ........................... ed ret é atsuc em euq O ................................................ ..................................... zul amitlú atse ragapa ,ragilsed ....................... ?átsE ............. )arohC( ............................. ........................................ odatroc messevit euq iesneP ,roma erbop ueM ..................... roma uem !hO ........... ........................................................ lam otnat zfi meuq a .................................... seresiuq euq o zid ,alaf ,alaf ,miS 15






...................................... Sofria a ponto de me rolar no chão e a tua voz bastou para me serenar e eu esquecer. Sabes, algumas vezes quando estávamos deitados e poisava a cabeça no teu peito a ouvir-te o coração, falavas e a tua voz era exactamente a mesma que esta noite ao telefone ............................................. Fraco? ............................... eu é que sou fraca, meu amor. Tinha jurado ................................................. eu ................ ................... não digas isso! Tu que .............................. tu ..................... tu que não me deste senão felicidade ..... ...................................... Mas, meu amor, isso não é verdade, ouviste? Eu sabia, sabia, esperava o que aconteceu. Ao contrário de tantas mulheres que se imaginam a passar a vida inteira junto do homem que amam e se vêem de súbito, desprevenidas, em frente da separação — eu já sabia .............................................. ........ Nunca to disse, mas cheguei mesmo a ver, na modista, um magazine com o retrato dela .................... .............................................. Sobre a mesa, aberto de propósito naquela página ......... É humano, ou melhor, feminino ....... Porque eu não queria estragar as nossas últimas semanas ......................................................... .. nada mais natural. Não me faças melhor do que sou ................................................................... Querido, estou a ouvir música ................... sim, disse-te que estava a ouvir música ........................... Pois bem, devias bater 57


on ralor em ed otnop a airfoS ...................................... -euqse ue e raneres em arap uotsab zov aut a e oãhc -atied somavátse odnauq sezev samugla ,sebaS .rec -aroc o et-rivuo a otiep uet on açebac a avasiop e sod euq amsem a etnematcaxe are zov aut a e savalaf ,oãç -arF ............................................. enofelet oa etion atse .roma uem ,acarf uos euq é ue ............................... ?oc .............. ue ................................................. odaruj ahniT .............................. euq uT !ossi sagid oãn ..................... -adicilef oãnes etsed em oãn euq ut ..................... ut oãn ossi ,roma uem ,saM ........................................... ed euq o avarepse ,aibas ,aibas uE ?etsivuo ,edadrev é es euq serehlum satnat ed oirártnoc oA .uecetnoca euq memoh od otnuj arietni adiv a rassap a manigami etnerf me ,sadineverpsed ,otibús ed meêv es e mama ............................................ aibas áj ue — oãçarapes ad an ,rev a omsem ieugehc sam ,essid ot acnuN .......... ................. aled otarter o moc enizagam mu ,atsidom ed otreba ,asem a erboS ................................................. ,rohlem uo ,onamuh É ......... anigáp aleuqan otisóporp -son sa ragartse aireuq oãn ue euqroP ....... oninimef ......................................................... sanames samitlú sas uos euq od rohlem saçaf em oãN .larutan siam adan .. uotse ,odireuQ ................................................................... a avatse euq et-essid ,mis ................... acisúm rivuo a retab saived ,meb sioP ........................... acisúm rivuo 75




na parede e impedir os vizinhos de tocar gramofone a estas horas. Não tens vivido em casa e eles abusaram, já se vê ............................................... Não vale a pena. De resto, o médico da Marta voltará amanhã ... .............................................................. Não, meu amor. É um médico excelente e não há nenhuma razão para o magoar chamando outro agora ....................................... ....................... Não te preocupes ........................ com certeza ................................... com certeza ........... Ela te dará notícias ............ Compreendo ................................. ............................ compreendo ............................... Aliás, desta vez portar-me-ei à altura ............................ O quê? ................................... Oh! sim, mil vezes melhor. Se não tivesses telefonado morreria .............................. .................................... Não ................................ espera .............................. espera ........................... encontremos uma saída ................................................................... ....... (Anda de um lado para o outro. Gemidos, dor, suspiros) ........................................ Perdoa-me. Eu sei que é uma cena intolerável, e muita paciência tens tu, mas compreende-me, querido; sofro, sofro como nunca. Este fio é a única coisa que me liga ainda à nossa vida ............................................ Anteontem à noite? Dormi. Deitei-me com o telefone ............................................... ................ Não, não. Levei-o para a cama ....................... Claro, fui ridícula, mas se levei o telefone para a cama 61


é porque ele, apesar de tudo, nos une ainda. Liga esta casa à tua casa e não te esqueças que me tinhas prometido falar. Imagina que mergulhei numa confusão de sonhos. A tua chamada transformava a campainha do telefone num som mortal e eu caía; depois, vi um pescoço branco que alguém estrangulava; depois ainda, achei-me no fundo dum mar que se parecia com o apartamento de Auteuil, ligada a ti por um tubo de escafandro e a suplicar-te que o não cortasses. Enfim, sonhos estúpidos quando se contam; mas o pior é que durante o sono eram demasiados vivos. Terrível, meu amor ............................. Porque tu me falas. Há cinco anos que vivo de ti, que és o único ar que posso respirar, que levo o tempo à tua espera, a julgar-te morto quando te demoras, a morrer porque te julgo morto, a reviver quando entras e te vejo, a morrer com medo de partires. Neste momento, respiro porque tu me falas. O meu sonho, afinal, não é assim tão falso; se desligares agora, morrerei afogada naquele mar que parecia o teu apartamento ............... ..................................................................... De acordo, meu amor; dormi. Dormi porque era a primeira vez. O médico bem disse: é uma intoxicação. Mal ele sabia ... A primeira noite, dorme-se. O sofrimento distrai, é uma novidade, e suportamo-lo. O que não se suporta é a segunda noite, a de ontem, e a terceira, a de hoje, 62


a que vai começar dentro de alguns minutos, e amanhã e depois de amanhã, dias sobre dias, a fazer o quê, meu Deus? ................................................................. ........ Não tenho febre, nenhuma febre; e vejo as coisas com clareza ........................................ Exactamente porque não existe solução é que eu devia ter arranjado coragem bastante e insistir nas mentiras. Seria bem melhor ................................................................ e admitindo que eu consiga dormir, depois do sono há sonhos e o acordar e comer e levantar da cama e tomar banho e sair e ir aonde? ............................... Mas, meu pobre querido, nunca tive outra coisa a fazer que não fosse estar contigo ............................................. ............ Perdão, andava sempre ocupada, é certo, mas ocupada por ti e para ti .................................................... .... A Marta tem a sua vida organizada ........................... .............. É o mesmo que perguntares a um peixe como espera arranjar-se sem água ........................................... ...... torno a dizer-te que não preciso de ninguém ....... ............................... Distracções! Vou confessar-te uma coisa que não é muito poética mas é verdade. Desde o nosso malfadado domingo à noite, só me distraí uma vez, no dentista, quando ele me tocou num nervo ....................................................... Sozinha ................... ................................. sozinha .............................................. ......... Há dois dias que não deixa o hall ......................... 63





........ Tentei chamá-lo, acariciá-lo, mas não consente que lhe toquem. Um pouco mais e mordia-me ........... ............................................ Acredita. Se pudesses vê-lo .......... Arreganha a boca, rosna . Parece-me outro cão. Chego a ter medo dele ..................................................... ............................. Em casa da Marta? Já te disse que não deixa ninguém aproximar-se. A Marta viu-se e desejou-se para sair daqui. Ele não queria que abríssemos a porta ............................................................... É de facto mais prudente. Juro-te que me assusta. Não come, não se mexe. E quando me olha fico arrepiada ................................... Como queres tu que eu saiba? Julga talvez que te fiz mal .......................................... Pobre bicho! .............................................................. Odiá-lo? Mas porquê?! Compreendo-o perfeitamente. Gosta de ti. Já não te vê entrar e julga que a culpa é minha ..................................................................... ....... O José, penso que ele seguiria o José docilmente .............................. Oh! eu ............................................ Tanto me faz ........................................ Não morria de amores por mim. Como se vê agora ............................... .......................... Talvez tivesse ar disso, mas juro-te que não será preciso bater-lhe para o pôr a andar ...... ................................... Se não o queres, entrega-o a alguém que tome conta dele. E inútil deixá-lo adoecer e tornar-se perigoso ..................................................... 67


etnesnoc oãn sam ,ol-áiciraca ,ol-ámahc ietneT ........ ......... em-aidrom e siam ocuop mU .meuqot ehl euq -êv sessedup eS .atidercA .............................................. ortuo em-eceraP . ansor ,acob a ahnagerrA .......... ol............................................ eled odem ret a ogehC .oãc essid et áJ ?atraM ad asac mE ...................................... -uiv atraM A .es-ramixorpa méugnin axied oãn euq euq aireuq oãn elE .iuqad rias arap es-uojesed e es........................................................... atrop a somessírba -sussa em euq et-oruJ .etnedurp siam otcaf ed É .... ocfi ahlo em odnauq E .exem es oãn ,emoc oãN .at euq ut sereuq omoC ................................... adaiperra ........................... lam zfi et euq zevlat agluJ ?abias ue ...................................................... !ohcib erboP ............... -iefrep o-odneerpmoC !?êuqrop saM ?ol-áidO ........ euq agluj e rartne êv et oãn áJ .it ed atsoG .etnemat ................................................................ ahnim é apluc a -licod ésoJ o airiuges ele euq osnep ,ésoJ O ............ ..................................... ue !hO .............................. etnem airrom oãN ........................................ zaf em otnaT ....... ......................... aroga êv es omoC .mim rop seroma ed et-oruj sam ,ossid ra essevit zevlaT ................................ ..... radna a rôp o arap ehl-retab osicerp áres oãn euq -la a o-agertne ,sereuq o oãn eS .................................... receoda ol-áxied litúni E .eled atnoc emot euq méug ..................................................... osogirep es-ranrot e 76








Não morderá a ninguém se estiver em tua casa. Gostará de quem tu gostares ................................................. ... Quero dizer que gostará das pessoas com quem viveres ........................ Sim, meu amor. Compreendi; mas não te esqueças que é um cão. Apesar de inteligente, não pode adivinhar o que se passa .................... .............................................. Tenho disparatado à sua frente. Deus sabe o que ele imaginou! .......................... ............................................... É possível que não me reconheça ou que eu lhe faça medo .................................. ........ Duvido, meu amor ........................... pelo contrário .................................................... Olha a tia Joana, na noite em que lhe disse que o filho tinha sido morto. É muito pálida e pequena. Pois bem; ficou vermelha e enorme. Transformou-se, cresceu. Uma figura gigantesca, afogueada, com a cabeça a roçar o tecto e mãos por toda a parte; a sua sombra enchia o quarto e ela metia medo ............................................................... ........................... sim, metia medo! .................................... .......... Desculpa-me o discurso sobre a tia Joana. Mas a sua cadela, debaixo da cómoda, a uivar à dona como a um bicho estranho, nunca mais a esqueço ..... ............................................. Não sei, querido! Como queres tu que eu saiba, se estou fora de mim? Fiz coisas espantosas. Vê lá tu que rasguei o maço das fotografias e o envelope em que estavam duma só vez e 75


-soG .asac aut me revitse es méugnin a áredrom oãN ............................................... seratsog ut meuq ed árat meuq moc saossep sad áratsog euq rezid oreuQ ..... ;idneerpmoC .roma uem ,miS ........................ sereviv -etni ed rasepA .oãc mu é euq saçeuqse et oãn sam ................. assap es euq o rahnivida edop oãn ,etnegil aus à odatarapsid ohneT ................................................. .......................... !uonigami ele euq o ebas sueD .etnerf -er em oãn euq levíssop É ............................................... ................................. odem açaf ehl ue euq uo açehnoc -ártnoc olep ........................... roma uem ,odivuD ......... an ,anaoJ ait a ahlO .................................................... oir .otrom odis ahnit ohlfi o euq essid ehl euq me etion ahlemrev uocfi ;meb sioP .aneuqep e adiláp otium É -ig arugfi amU .uecserc ,es-uomrofsnarT .emrone e e otcet o raçor a açebac a moc ,adaeugofa ,acsetnag otrauq o aihcne arbmos aus a ;etrap a adot rop soãm ............................................................ odem aitem ale e ............................... !odem aitem ,mis .............................. .anaoJ ait a erbos osrucsid o em-aplucseD ............... anod à raviu a ,adomóc ad oxiabed ,aledac aus a saM .. oçeuqse a siam acnun ,ohnartse ohcib mu a omoc omoC !odireuq ,ies oãN ................................................ -ioc ziF ?mim ed arof uotse es ,abias ue euq ut sereuq -otof sad oçam o ieugsar euq ut ál êV .sasotnapse sas e zev ós amud mavatse euq me epolevne o e safiarg 57






sem dar por isso. Mesmo para um homem seria uma proeza ............................................................................. Os retratos para a carta de condução ........................... .................... O quê? .......................... Não, não tornarei a precisar da carta .................................................. não foi grande perda. Estava furiosa ...................................... ....................... Nunca! Tive a sorte de te encontrar numa viagem. Agora, se viajasse, podia ter a pouca sorte de te encontrar de novo ......................................... ................................. Não insistas, querido ................... deixa lá ..................................................... Está? Está? Outra vez a senhora! .................................................. Somos assinantes. Ou ainda não lho tinha dito? ............. .................... De maneira nenhuma .................................. ....... Não procuramos ser engraçados. O que tem a fazer é desligar .......................................... Se nos acha ridículos por que perde o seu tempo a ouvir-nos e não desaparece da linha? ............................... Oh! .............................. Meu amor! meu amor! Não te zangues ................................................... Enfim! ..................... ............. não, não. Desta vez fui eu. Bati sem querer no telefone. Ela desligou logo depois daquela grosseria .......................... Está? ......................... Tu ficaste chocado. Sim, ficaste, reconheço na tua voz, e foi por causa do que ouviste ............................. Eu ,..................... mas, querido, essa mulher deve estar doente e não te co81


amu aires memoh mu arap omseM .ossi rop rad mes ............................................................................. azeorp ......................... oãçudnoc ed atrac a arap sotarter sO ieranrot oãn ,oãN .......................... ?êuq O ...................... oãn .................................................. atrac ad rasicerp a .................................. asoiruf avatsE .adrep ednarg iof rartnocne et ed etros a eviT !acnuN ........................... acuop a ret aidop ,essajaiv es ,arogA .megaiv amun ....................................... ovon ed rartnocne et ed etros ................... odireuq ,satsisni oãN ................................... ?átsE ?átsE ..................................................... ál axied ................................................. !arohnes a zev artuO .. ?otid ahnit ohl oãn adnia uO .setnanissa somoS . ..................... amuhnen arienam eD ............................... euq O .sodaçargne res somarucorp oãN .................... son eS .......................................... ragilsed é rezaf a met son-rivuo a opmet ues o edrep euq rop solucídir ahca !hO ............................... ?ahnil ad ecerapased oãn e -naz et oãN !roma uem !roma ueM .............................. ..................... !mfinE ................................................... seug on rereuq mes itaB .ue iuf zev atseD .oãn ,oãn ............. airessorg aleuqad sioped ogol uogilsed alE .enofelet -acohc etsacfi uT ......................... ?átsE .......................... asuac rop iof e ,zov aut an oçehnocer ,etsacfi ,miS .od ,sam ....................., uE ............................. etsivuo euq od -oc et oãn e etneod ratse eved rehlum asse ,odireuq 18





nhece. Julga-te igual aos outros homens ...................... ........................................ Não, meu amor! Não é nada a mesma coisa. Que remorsos? ......................................... Deixa, deixa lá ................................................ Não penses mais nessa estupidez. Põe-se um ponto final no assunto ............................................ Como és ingénuo, querido! ............................................. Quem? Não importa quem. Anteontem encontrei a pessoa cujo nome começa por S .......................................................... ........... Pela letra S. Sim, B.S ................................. Perguntou-me se tinhas um irmão e se era o casamento dele que vira anunciado ................................................... .... Que queres tu que eu sinta ao ouvir isto? ............... ............................................... A verdade é que ................. ................... um ar de condolências ........................... Confesso-te que não me demorei. Disse que tinha gente à espera em casa ................................................ Não compliques tanto as coisas. A explicação é simples. As pessoas detestam ser abandonadas e eu abandonei, pouco a pouco, toda a gente ...................... ............................................. Não queria perder um só minuto que nos pertencesse ............................... É-me indiferente. Podem dizer o que quiserem ..................... ........................................ Precisamos ser justos. A nossa situação é inexplicável para os outros ........................... ............................ Para os outros ....................... Para os 86




outros, ou se ama ou se detesta. Separações são separações. Olham com muita pressa. Nunca os farás compreender ................................................... Nunca os farás compreender certas coisas .................................... ....................................... O melhor é fazer como eu, não os levar a sério .......................................................... Todos (Solta um grito de dor) Oh! ........................................ ................................... Nada. Falo, falo; penso que estamos a falar como dantes, mas de súbito a verdade volta ...................................................... (Lágrimas) .......... ........................... Criar ilusões, para quê? ........................ ............ Sim ................................ sim .................................. ... Não! Outrora, as pessoas nas nossas circunstâncias marcavam um encontro e podiam então perder a cabeça, esquecer as promessas, arriscar o impossível, convencer-se com um beijo ou um abraço. Um simples olhar bastava para mudar tudo. Mas entre nós, separados por este telefone, o que acabou, acabou ... ........................................................................ Fica tranquilo. Ninguém se envenena duas vezes ....................... ........................ Talvez, para tentar dormir ....................... .................. Não saberia comprar um revólver. Nem creio que me imagines a comprá-lo ............................... .......................... Onde arranjaria eu força para inventar uma mentira, meu pobre adorado? .............................. Exausta ..................................................... Devia ter tido 89


-es oãs seõçarapeS .atseted es uo ama es uo ,sortuo sáraf so acnuN .asserp atium moc mahlO .seõçarap so acnuN ................................................... redneerpmoc ................................ sasioc satrec redneerpmoc sáraf ,ue omoc rezaf é rohlem O ........................................... .......................................................... oirés a ravel so oãn .................................... !hO )rod ed otirg mu atloS( sodoT -se euq osnep ;olaf ,olaF .adaN ....................................... edadrev a otibús ed sam ,setnad omoc ralaf a somat ......... )samirgáL( ...................................................... atlov ...................... ?êuq arap ,seõsuli rairC ............................ ............................... mis ................................ miS .............. -nâtsnucric sasson san saossep sa ,arortuO !oãN ...... a redrep oãtne maidop e ortnocne mu mavacram saic ,levíssopmi o racsirra ,sassemorp sa receuqse ,açebac -mis mU .oçarba mu uo ojieb mu moc es-recnevnoc ,són ertne saM .odut radum arap avatsab rahlo selp uobaca ,uobaca euq o ,enofelet etse rop sodarapes -nart aciF ........................................................................... .................... sezev saud anenevne es méugniN .oliuq ................... rimrod ratnet arap ,zevlaT ........................... meN .revlóver mu rarpmoc airebas oãN ...................... ............................... ol-árpmoc a senigami em euq oierc ratnevni arap açrof ue airajnarra ednO .......................... .............................. ?odaroda erbop uem ,aritnem amu odit ret aiveD ..................................................... atsuaxE 98




mais coragem. Há momentos em que a mentira é útil. Tu, se mentisses para me tornar a separação menos penosa ................................................................................. Não digo que me tenhas mentido. Digo: se mentisses e eu soubesse. Supõe, por exemplo, que não estavas agora em casa e me dizias ................................................ .................................................. Não, não, querido! Ouve ........................ Eu acredito ................................... Não quis insinuar que duvidava de ti .................................... Por que te zangas? ........................................... Sim, alteraste a voz. Queria explicar-te apenas que se me enganasses por bondade e eu percebesse, teria ainda mais ternura por ti ................................. Está? ............................ está lá? .................................................. está? (Desliga falando baixo e muito depressa) Meu Deus, fazei que ele volte a ligar. Meu Deus, fazei que ele volte a ligar. Meu Deus, fazei que ele volte a ligar. Meu Deus, fazei (O telefone toca. Ela atende) Cortaram outra vez. Estava a dizer-te que se mentisses por bondade e eu soubesse, teria ainda mais ternura por ti ................................... Com certeza ............................ Não sejas doido, meu amor! ............................................ ..................... meu querido amor ....................................... ... (Enrola o fio do telefone em volta do pescoço) ............. .................................. Claro que é preciso desligar, mas custa muito ................................................. Sim. Ter a 93


.litú é aritnem a euq me sotnemom áH .megaroc siam sonem oãçarapes a ranrot em arap sessitnem es ,uT ............................................................................... asonep -nem es :ogiD .oditnem sahnet em euq ogid oãN .. oãn euq ,olpmexe rop ,eõpuS .essebuos ue e sessit ............................... saizid em e asac me aroga savatse -euq ,oãn ,oãN ................................................................... ........................... otiderca uE ........................ evuO !odir ................... it ed avadivud euq raunisni siuq oãN ........ ......................................... ?sagnaz et euq roP ................. euq sanepa et-racilpxe aireuQ .zov a etsaretla ,miS .. -et ,essebecrep ue e edadnob rop sessanagne em es ?átsE ................................. it rop arunret siam adnia air ................................................. ?ál átse ............................ ueM )asserped otium e oxiab odnalaf agilseD( ?átse . euq iezaf ,sueD ueM .ragil a etlov ele euq iezaf ,sueD .ragil a etlov ele euq iezaf ,sueD ueM .ragil a etlov ele -atroC )edneta alE .acot enofelet O( iezaf ,sueD ueM rop sessitnem es euq et-rezid a avatsE .zev artuo mar rop arunret siam adnia airet ,essebuos ue e edadnob ............................ azetrec moC ................................... it .......................................... !roma uem ,odiod sajes oãN ..................................... roma odireuq uem ....................... ........... )oçocsep od atlov me enofelet od ofi o alornE( ..... sam ,ragilsed osicerp é euq oralC .................................... a reT .miS ................................................. otium atsuc 39




ilusão de estarmos abraçados um ao outro e de repente interpor caves, esgotos, uma cidade inteira entre nós ............................................... Lembras-te da Ivone, que não podia conceber como a voz passava através dum fio tão torcido? Pois tenho o fio em volta do pescoco. A tua voz em volta do pescoço ................ ............................... Ah! se a companhia cortasse a ligação por acaso ..................................................................... ....................... Oh! meu querido! Como podes supor que eu penso semelhante coisa? Um de nós tem de tomar a decisão e eu sei bem que é ainda mais cruel para ti que para mim ..................... não ........................... ........... não, não ............................................ Em Marselha? ............................................... Ouve, querido: já que vocês chegam a Marselha depois de amanhã à noite, eu queria .......................................................... enfim, eu gostaria ............................................................................... ................................. gostaria que não fosses para o hotel onde ficámos tanta vez. Não te zangas? ................. ................................ Porque as coisas que não imagino não existem ou então existem numa espécie de torpor que me dói menos ............................................ compreendes? ............................................................... Obrigada .................................... Obrigada. És muito bom e eu amo-te. (Levanta-se e dirige-se à cama com o telefone na mão) E agora ................................................. 97


-er ed e ortuo oa mu sodaçarba somratse ed oãsuli arietni edadic amu ,sotogse ,sevac ropretni etnep ad et-sarbmeL ............................................... són ertne avassap zov a omoc rebecnoc aidop oãn euq ,enovI atlov me ofi o ohnet sioP ?odicrot oãt ofi mud sévarta .............. oçocsep od atlov me zov aut A .ococsep od -il a essatroc aihnapmoc a es !hA ................................. ................................................................. osaca rop oãçag ropus sedop omoC !odireuq uem !hO ........................... ed met són ed mU ?asioc etnahlemes osnep ue euq leurc siam adnia é euq meb ies ue e oãsiced a ramot ........................ oãn ..................... mim arap euq it arap -raM mE ............................................ oãn ,oãn .............. áj :odireuq ,evuO ............................................... ?ahles à ãhnama ed sioped ahlesraM a magehc sêcov euq -ne .......................................................... aireuq ue ,etion .............................................................. airatsog ue ,mfi sessof oãn euq airatsog .................................................. ?sagnaz et oãN .zev atnat somácfi edno letoh o arap oãn euq sasioc sa euqroP ................................................. eicépse amun metsixe oãtne uo metsixe oãn onigami ........................................ sonem iód em euq roprot ed ............................................................. ?sedneerpmoc .... otium sÉ .adagirbO .................................... adagirbO .. o moc amac à es-egirid e es-atnaveL( .et-oma ue e mob ................................................. aroga E )oãm an enofelet 79




agora ............................................................................ Ia dizer maquinalmente: até logo ....................................... ....................................................................... Duvido ......... ................................... Nunca se sabe ................................ .......... Oh! .......................... É melhor assim ..................... ................................ muito melhor ............................... (Deita-se e aperta o telefone nos braços) Meu amor ..... ................................... meu amor perdido ......................... ........................ não hesites ................................ eu estou preparada. Vamos. Desliga! Desliga! Desliga depressa. Amo-te, amo-te, amo-te, amo-te, amo-te ............ ............................................................................................... (O auscultador cai no chão) PANO

101


aI ............................................................................ aroga ...................................... ogol éta :etnemlaniuqam rezid ....... odivuD ........................................................................ ............................ ebas es acnuN ..................................... ................ missa rohlem É .......................... !hO .............. ............................... rohlem otium ..................................... ..... roma ueM )soçarb son enofelet o atrepa e es-atieD( ......................... odidrep roma uem ................................... uotse ue ................................ setiseh oãn ........................ -serped agilseD !agilseD !agilseD .somaV .adaraperp ............ et-oma ,et-oma ,et-oma ,et-oma ,et-omA .as ............................................................................................... )oãhc on iac rodatlucsua O( ONAP

101




ed estético açep erbe lconceptual éc a mahnap de mo grande ca euqparte snegados mi sdeseA -nhos; netneo rvalor es mque evedencontro oãn emuneste lov ettrabalho sen uaetestará coC nanaeJ ates munaom experiência oc uo ,otxeque t odprotagonizei oãçartsuli ardurante em omoaqueles c sadid dias. ad seAs tnaimagens es-matsão arT por .airóvezes taela demasiado socsibar edsimplórias, oãçceloc noutros íad ,otxecasos t o etndesnecessariamente emlausiv ranecne edcomplexas, avitatnet agranhnim -de noparte l ajetsdelas e lauspraticamente iv oiasne sarvinfantis, alap sad eaholoconjunto cse a euqé inconsistente, ía éta ,otxet odtal aruétieal variedade ad siopeD dos .etneresultados. coni res edNo eg -entanto, sesbo oãan totalidade es ,levásnada cni experiência, mu ierugani ,cujos odicehcomponocsed nentes ohlabarvão t eddasaescolha roh mocdas ( stintas, aid siopincéis, d ed osshoras ecorpa oque vis ,trabalhei, 3102 ed oariedisposição naJ ed 11 ecom 01 ,9que ed o gfiz, noletc..., oa sapara díubialém rtsid -dos irbadesenhos euq saniem gápsi, saéd que sotapretende rter-otuaser sodavaliada. oãçpecxTão eà sdesesperada odaem me scomo odivlovanpersonagem esed ,seõçarde ediA snVoz oc sHumana, atse mag aestive supoeu rp eàmprocura siauq sde o eum tnarresultado ud )2102 que ed ome rbutsatisfiuO ed zesse. serodacAsiminha r sod smensagem évarta anapassa muH zpela oV Adescrença, raterpretnai sraiva, ocilírcaaobsessão sod serocesaaddependência ahlocse a :otareque p roop texto ahnit treeuq ,sanda. ahnupsDei id eupor q edmim sa sana ssepele meredessa s ed omulher, tcaf oa emesmo s-eved -não eferme lartendo opmettornado oãçatimgrande il ad mfã élasua. araPEste .olplivro mexeé rum op dos airandois imretobjectos oicícrexeque o edocumentam uq mébmat icoelsucedido. ebatse ,adA ir sdistribuição ahlof sa saddas ot ofiguras tsag es(intercaladas sevit euq miscom sa odfotograec siam fias saleptiradas airanim durante ret ahlaas tabhoras A .ahem nit eque uq 3decorreu A socolBeste sod -processo), atnit ed adnão apotem sne ,relação 11 aid oddirecta ãhnamcom ad aoiedesenrom e otio o lar txda et opeça; il óSa.sordem olebacéscronológica. od ziar à étaAssim, esauq o antexto ihc-ade dCocteau, sodatluseem r soboa trec parte ed racolocado sepa ,zev em amusituações etnemlade rgeditni fícil otxelegibilidade, t oa iessergertoma :omsneste em odvolume sotrecxeum edpapel merivquase res es -acessório. avarg marÀs acfitantas em eéuq elesaque rvalilustra ap sa roevmeu ercsn trabalho. art arap rolav o moc atiefsitas Caldas etnemdaraRainha, lucitra14 pu tse oãN sad deoJaneiro de.2012 6 105 01


As imagens que acompanham a célebre peça de Jean Cocteau neste volume não devem ser entendidas como mera ilustração do texto, ou como uma colecção de rabiscos aleatória. Tratam-se antes da minha tentativa de encenar visualmente o texto, daí que a escolha das palavras ensaio visual esteja longe de ser inocente. Depois da leitura do texto, até aí desconhecido, inagurei um incansável, se não obsessivo processo de dois dias (com horas de trabalho distribuídas ao longo de 9, 10 e 11 de Janeiro de 2013, à excepção dos auto-retratos das páginas que abrigam estas considerações, desenvolvidos em meados de Outubro de 2012) durante os quais me propus a interpretar A Voz Humana através dos riscadores que tinha por perto: a escolha das cores dos acrílicos deve-se ao facto de serem essas as de que dispunha, por exemplo. Para além da limitação temporal referida, estabeleci também que o exercício terminaria mais cedo assim que tivesse gasto todas as folhas dos Blocos A3 que tinha. A batalha terminaria pelas oito e meia da manhã do dia 11, ensopada de tinta-da-china quase até à raiz dos cabelos. Só li o texto integralmente uma vez, apesar de certos resultados se servirem de excertos do mesmo: regressei ao texto para transcrever as palavras que me ficaram gravadas. Não estou particularmente satisfeita com o valor 106


estético e conceptual de grande parte dos desenhos; o valor que encontro neste trabalho estará antes na experiência que protagonizei durante aqueles dias. As imagens são por vezes demasiado simplórias, noutros casos desnecessariamente complexas, grande parte delas praticamente infantis, e o conjunto é inconsistente, tal é a variedade dos resultados. No entanto, a totalidade da experiência, cujos componentes vão da escolha das tintas, pincéis, horas a que trabalhei, a disposição com que o fiz, etc..., para além dos desenhos em si, é que pretende ser avaliada. Tão desesperada como a personagem de A Voz Humana, estive eu à procura de um resultado que me satisfizesse. A minha mensagem passa pela descrença, a raiva, a obsessão e a dependência a que o texto tresanda. Dei por mim na pele dessa mulher, mesmo não me tendo tornado grande fã sua. Este livro é um dos dois objectos que documentam o sucedido. A distribuição das figuras (intercaladas com fotografias tiradas durante as horas em que decorreu este processo), não tem relação directa com o desenrolar da peça; a ordem é cronológica. Assim, o texto de Cocteau, em boa parte colocado em situações de difícil legibilidade, toma neste volume um papel quase acessório. Às tantas é ele que ilustra o meu trabalho. Caldas da Rainha, 14 de Janeiro de 2012 107


;sohAs neimagens sed sod eque trapacompanham ednarg ed lautapecélebre cnoc e peça ocitétde se Jean an setCocteau na áratseneste ohlabvolume art etsennão ortdevem nocne eser uq rentenolav o .didas said scomo eleuqamera etnailustração rud iezinodo gato texto, rp euou q acomo icnêireuma pxe ,colecção sairólpmisdeorabiscos daisamedaleatória. sezev roTratam-se p oãs sneantes gami sda A -minha narg ,stentativa axelpmocde etencenar nemairasvisualmente secensed sosoactexto, sortudaí on éque otnauescolha jnoc o e das ,sitnpalavras afni etneensaio macitavisual rp saleesteja d etraploned o geNde .soser datinocente. luser sod Depois edadeirda av leitura a é latdo ,ettexto, netsisn até ocnaíi -desconhecido, opmoc sojuc ,inagurei aicnêirep um xe incansável, ad edadilatse ot não a ,oobsestnatne sivo euq aprocesso saroh ,siéde cnidois p ,satdias nit sa(com d ahlohoras cse adde oãvtrabalho setnen distribuídas méla arap ,...ao ctelongo ,zfi o de euq9,m10 oceo11 ãçde isoJaneiro psid a ,iede hla2013, bart o à ãexcepção T .adailavados resauto-retratos edneterp euq das é ,ispáginas me sohnque esedabrisod ,gam anam estas uH zconsiderações, oV A ed meganodesenvolvidos srep a omoc aem daremeados psesed -de fisOutubro itas em eu de q 2012) odatludurante ser mu eos d aquais rucorpme à upropus e evitsea ainterpretar ,açnercsedAaVoz lep aHumana ssap megatravés asnem ados hnimriscadores A .essez -que ert tinha otxet por o euperto: q a aicanescolha êdnepeddas a ecores oãssedos sboacrílicos a ,aviar o deve-se msem ,ao rehfacto lum ade sseserem d elepessas an masimderoque p iedispunha, D .adnas m por u éexemplo. orvil etsEPara .ausalém ãf edda narlimitação g odanrottemporal odnet emrefeoãn rida, A .odestabeleci idecus o mtambém atnemucque od eouqexercício sotcejboterminaria siod sod -mais argotcedo of moassim c sadaque lacrtivesse etni( sagasto rugfi stodas ad oãças iubfolhas irtsid dos etseBlocos uerroceA3 d eque uq m tinha. e sarA ohbatalha sa etnaterminaria rud sadaripelas t safi -oito orneesemeia dom daocmanhã atceriddooãdia çal11, er m ensopada et oãn ,)de osstintaecorp -da-china ed otxet o ,quase missAaté .aciàgóraiz lonodos rc écabelos. medro aSó ;açliepo atexto d ral -integralmente id ed seõçautiuma s me vez, odacapesar oloc etrde ap certos aob meresultados ,uaetcoC se esaservirem uq lepapde muexcertos emulovdo etsmesmo: en amotregressei ,edadilibao igetexto l licíf para .ohlabtranscrever art uem o aas rtsupalavras li euq eleque é same tnaficaram t sÀ .oirógravasseca particularmente 2das. 102 eNão d orieestou naJ ed 4 1 ,ahniaR ad sadlaC satisfeita com o valor 108 701



1




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.