René René Magritte Magritte OORealismo RealismoMágico Mágico
Marta Gouveia, nº 49874
Prefácio Como projeto individual proponho-me elaborar um livro digital que servirá de base de informação acerca da vida e obra de um dos artistas surrealistas mais completos do seu tempo – René Magritte. Ao longo do livro serão apresentadas variadas obras, nomeadamente as que mais impacto tiveram na sociedade e na cultura da época, assim como uma explicação simples e breve sobre as principais caraterísticas do pintor. O conceito que idealizei para o projeto é ser uma espécie de biografia ilustrada e isso tem um propósito – hoje em dia e dado o destino do trabalho ser a visualização em smartphones e/ou tablets, é de ter em atenção o equilíbrio que deve sempre haver no que diz respeito à imagem e ao texto. Atualmente a imagem tem grande poder na forma como recebemos a informação e este livro tenta por isso divulgar factos interessantes, suportando-se da força e estímulo visual. Além disso e não menos importante está o conteúdo do mesmo que faz parte de um espaço reservado aos mais interessados e que não tem por parte do público jovem muita atenção - A Pintura.
Realismo Mágico René François Ghislain Magritte (Lessines, 21 de novembro de 1898 – Bruxelas, 15 de agosto de 1967) é considerado como um dos principais artistas plásticos surrealistas. É conhecido pelas obras provocadoras, espirituosas e que desafiam as perceções de quem observa, por não estarem condicionadas de modo algum pela realidade que as toma. Filho de Léopold e Regina Magritte, este assiste ao suicídio da própria mãe, em 1912. Pouco tempo depois decide entrar na Académie Royale des Beeux-Arts, em Bruxelas. As suas primeiras pinturas tinham clara influência cubista e futurista, lembrando o famoso pintor catalão, Pablo Picasso. No início da sua carreira começou por arranjar pequenos trabalhos como o da fábrica de papel de parede ou o de designer de cartazes e anúncios, aproximadamente até 1926 ( desenhou pósteres e capas de discos durante grande parte de década de 20 a 30). É a partir desta altura que René começa a dedicar o seu tempo exclusivamente à pintura, destacando-se no movimento surrealista após assinar um contrato com a Galeria de Arte de Bruxelas.
Influência Cubista e Futurista nas primeiras pinturas de Magritte
Three Nudes, 1929
Magritte tentava reproduzir os trabalhos de pintores vanguardistas, mas foi dando conta da vontade que o levava a expressar-se de uma maneira mais intensa. Inspirado pela obra metafísica de Giorgio Chirico, produz a sua primeira obra surrealista Le Jockey Perdu (1926). Um jockey tenta fugir de um lugar desconhecido, em que o interior e o exterior se confundem. As formas lineares do seu trabalho apontam para uma infinidade monótona do cenário.
Em 1927, Magritte vai para Paris e passa a frequentar um meio artístico surrealista repleto de artistas como André Breton, Paul Éluard e Marcel Duchamp. Ao concluir o contrato na galeria, volta a Bruxelas e acaba por fundar o primeiro grupo surrealista no país. Apesar das práticas do grupo francês serem diferentes e de terem maior reconhecimento, a corrente surrealista belga opta por realizar um procedimento artístico de forma consciente, alterando a própria representação dos objetos, retirando-os do seu contexto (um trabalho semelhante a colagens ou ilustrações). Já na França, havia uma tentativa de alcançar a arte surrealista pela libertação do inconsciente, de forma transcendente. Os critéri-
os para criação do Surrealismo são as colagens, criando uma combinação do metafórico, do intangível, do fantasioso e do inconsciente. A imagem surge não da comparação, mas da afinidade entre duas realidades paralelas, ultrapassando os limites da mente ciente e atingindo os devaneios. A partir desta altura, começa a reproduzir formas corporais padronizadas, uma caraterística para sempre presente nos seus quadros. O homem de chapéu tem a sua aparição precisamente em 1927. Este aparece pela primeira vez fazendo parte de um cenário de romance policial, num típico local de crime.
A questão do crime e do mistério resulta também da experiência de vida do próprio artista que acaba por ter influências de escritores como Edgar Alan Poe, conhecido pelas suas histórias de terror, suspense e crime. Nos dois anos que se seguem surgem as obras mais reconhecidas de Magritte, em 1928 com os Amantes e em 1929, com a Traição das Imagens. A primeira é uma obra surrealista que desafia a lógica com uma imagem perturbadora, em que se coloca uma nova visão da realidade com uma claridade e um destaque impressionante. Desafiando o senso comum, desperta o imaginário, indo para além do realismo.
Já a segunda, considerada uma das obras-primas de Magritte assim como um ícone da arte moderna, surge como um desafio à convenção linguística, onde o surrealismo aparece enquanto reação contra o “racionalismo”. A frase do quadro “Isto não é um cachimbo” aparece então como uma provocação e resulta das teorias freudianas e também de uma inclinação para o conteúdo semiótico, continuamente inspirado no trabalho anterior do artista – a publicidade (o tipo de letra e as cores da pintura são em tudo semelhantes ao tipo de publicidade feito na altura).
Filosofia no Quarto representa a identificação da mulher e do que está com ela. A questão da identidade e do valor feminino é criticado, de igual modo. Apesar de ter conseguido reconhecimento mesmo antes da Segunda Guerra Mundial, com as suas exibições junto do grupo surrealista e das suas exposições a solo, só conseguiu ser internacionalmente aclamado aquando do contrato como Alexandre Lolas, em 1950.
Magritte tinha espírito travesso, e, em Golconda, os seus bizarros homens de chapéu-coco caem do céu absolutamente serenos, expressando algo da vida como a conhecemos. A sua arte, pintada com tal nitidez que se assemelha ao real, carateriza o amor surrealista aos paradoxos visuais: embora as coisas possam dar a impressão de serem normais, existem anomalias por toda a parte: Golconda tem uma estranha exatidão, e o surrealismo atrai justamente porque explora a nossa compreensão oculta da esquisitice
Uma das marcas mais significativas na obra de Magritte é a sua suposta incoerência, que se apresenta nos quadros anteriormente apresentados. A ilusão que é pintada e o raciocínio que não é possível fazer-se ao analisar cada uma das suas obras. Com as obras revelam-se pequenos detalhes, repletos de enigmas que relacionam filosofia e existência, a condição humana e a psicologia. Estas vertentes não se explicam através de uma conceção objetiva e racional, à letra da pintura. Magritte acaba por falecer em 1967, de cancro, sendo enterrado no Cemitério do Schaerbeek. A vertente surrealista surge repleta de expressões irracionais, criando sentimentos confusos e curiosos. Carregado de non-sense, é influenciado pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud e as obras deste movimento, como Magritte exemplifica, evidenciam a irracionalidade, os artistas que procuravam fugir da razão e da lógica fazendo com as suas obras fossem até aos confins da consciência tradicional. A vertente surrealista surge repleta de expressões irracionais, criando sentimentos confusos e curiosos. Carregado de non-sense, é influenciado pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud e as obras deste movimento, como Magritte exemplifica, evidenciam a irracionalidade, os artistas que procuravam fugir da razão e da lógica fazendo com as suas obras fossem até aos confins da consciência tradicional.
René Magritte foi um dos artistas mais importante deste movimento tão peculiar. As suas pinturas são conhecidas por serem perturbadoras, conceituais e que desafiavam a compreensão dos observadores, por serem completamente desprovidas de sentido. Sempre inconformado, o artista deixou isso explícito nas suas obras, ainda que à primeira vista pareçam todas lúcidas, ocultam verdadeiros paradoxos. A sua arte carregada de anomalias criou uma estranha assiduidade que instiga a nossa perceção oculta do que é perturbador. Ao criar os seus quadros a partir de coisas simples, objetos do cotidiano como árvores, cadeiras, portas, pessoas, estantes, janelas, sapatos, mesas, procurava fazer-se compreender justamente pela representação das coisas simples (as mais difíceis de entender, muitas vezes). Aquando da criação de uma obra, havia
a preocupação em desafiar o observador de questionar os pontos de vista marcados pela rotina; de facto refletia uma relação lógica entre o objeto central e o nome a ele dado. O artista repete e combina signos em diversos quadros, como nos famosos homens de chapéu-coco, maçãs e cabeças de peixe. Signos óbvios dão resultado a uma realidade não-real, por estarem em contextos inusitados e confusos. Um objeto depende do outro dentro de uma obra, mas ao mesmo tempo, formam imagens irracionais. As obras de René Magritte são a fusão consciente da realidade em ficção, extrapolando sem limites o mundo onírico. É rejeição ao tédio e ao comodismo da convenção, uma alternativa aos conceitos que nos habituaram. Indagando os limites da metafísica, da utopia, dos delírios de ótica e das ilusões psicológicas representadas de maneira fria e objetiva impelem o ser humano a ir mais além e a olhar para lá do que se vê.
“A arte evoca o mistério, sem o qual o Mundo não viveria.” René Magritte