Sonho de Pedra

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Sonho de Pedra

Por Marina Castelani


A musa doente

Charles Baudelaire

O que tens essa manhã, ó musa de ar magoado? Teus olhos estão cheios de visões noturnas, E vejo que em teu rosto afloram lado a lado A loucura e a aflição, frias e taciturnas. Teria o duende róseo ou o súcubo esverdeado Te ungido com o medo e o mel de suas urnas? O sonho mau, de um punho déspota e obcecado, Nas águas te afogou de um mítico Minturnas ?


Marina Castelani


Marina Castelani


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Quisera eu que, vertendo o odor da exuberância, O pensamento fosse em ti uma constância E que o sangue cristão te fluísse na cadência Das velhas sílabas de uníssona freqüência, Quando reinavam Febo, o criador das cantigas, E o grande Pã, senhor do campo e das espigas.




A beleza Charles Baudelaire

Eu sou bela, ó mortais! como um sonho de pedra, E meu seio, em que sempre o homem absorve a dor, Feito é para inspirar aos poetas este amor Mudo e eternal que na matéria medra. Eu impero no azul, esfinge singular; Sou coração de neve e branco cisne lento; Porque desloca a linha, odeia o movimento, E nem sei o que é rir, nem sei o que é chorar.


Marina Castelani


Marina Castelani

Sempre o poeta porém a esta grande atitude Que eu pareço copiar de uma estátua distante, Fôrça é que, dia a dia, austero o ser, me estude; Tenho para encantar este dócil amante, Pondo beleza em tudo, os mais puros cristais: Meu olhar, largo olhar de clarões eternais.


Marina Castelani


Fotos por Marina Castelani Tipografias: Playfair Display e Lora Poemas retirados do livro As flores do mal, escrito por Charles Baudelaire e Traduzido por Mario Laranjeira. SĂŁo Paulo: Martin Claret, 2011. Outono de 2017


Sonho de Pedra

Por Marina Castelani


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