A Nova Sociedade - A Tese

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A Nova Sociedade A Tese


A Nova Sociedade – A Tese Conteúdo 1.Referencial Teórico 1.1. Introdução 1.2. Religião 1.3. Paganismo 1.4. Símbolos 1.5. Rito, Ritual, Ritualística, Liturgia 2.Formação Histórica dos Núcleos Familiares 2.1. Sociologia e Filosofia 2.2. Matriarcado 2.3. Poliandria 3.Construção da Nova Sociedade – A Tese 3.1. Fundamentos 3.2. Aspectos gerais 3.2.1.Valores culturais, filosóficos e psicológicos 3.2.2. A Nova Mulher e o Novo Homem 3.2.3. Concepção inovadora de família 3.2.4. A Ordem da Fêmea Superior - O.F.S. , 3.3. Estrutura da Nova Sociedade 3.3.1. Fundação de sociedade discreta e reservada, 3.3.2. Funcionamento 3.3.3. Constituição e regras 3.3.4. Ingresso e sociabilidade 3.3.5. Rituais, ritos, cerimônias e simbolismos da Nova Sociedade 4.Conclusão 5.Anexos 5.1. Anexo I - Pesquisa 5.2. Anexo II - Manifesto 5.3. Anexo III - Bibliografia 5.4. Anexo IV – Glossário 6.Textos de Apoio 6.1. As mulheres e a filosofia como ciência do esquecimento, Márcia Tiburi 6.2. Candance e matriarcado - o parlamentarismo no império de Kush, Walter Passos 6.3. Os Celtas; conferência de João Barcellos 6.4. O Sagrado feminino no ‘Código Da Vinci’, Priscila de S. Moreira, Tânia Mara Silva Benfica, Tatiana Salzer Rodrigues 6.5. Revolução da família - estigmas de uma mudança cultural, Clélia Peretti e Regiani Maria Bugalho 6.6. O paganismo, a sociedade matrifocal celta e a religião da Grande Mãe - comentário dos autores


Copyright by Anna G.Khalil e Gebara Khalil Capa: Arte sobre foto by Aastrid Foto contra capa interna: Arte sobre foto by Aastrid Revisão: N.Godunov Produção e organização: Anna G.Khalil e Gebara Khalil Todos os direitos reservados aos autores N386uh Khalil, Anna G. e Gebara A Nova Sociedade – A Tese 1.Sexo; 2.Psicanálise; 3.Gênero Editora A Nova Sociedade Porto Alegre (RS), Brasil, 2010 3ª. Edição’2014 – e-book


1. Referencial Teórico

ritual de passagem do estatuto da juventude para o estatuto de adulto.

1.1. Introdução “O que está em jogo não é o desaparecimento da família, mas sua profunda diversificação e mudança do seu sistema de poder”. (Castells, 1999). Segundo Lévi-Strauss (1974) a família é um grupo social com origem no casamento, e constitui-se numa união legal com direitos e obrigações, destacando as econômicas, religiosas e sexuais. Lévi-Strauss associa o casamento a sentimentos como o amor, o afeto, o respeito ou o temor e, para ele a família é necessária para a reprodução social de um grupo humano, porque garante a sobrevivência e a continuidade biológica e social do próprio grupo. Assim, a família pode ser considerada como uma unidade que envolve as economias individuais e que pratica uma economia moral ou cultural coletiva com base nas relações de parentesco, o que Jack Goody (1986), denomina como economia oculta do parentesco. Porém a unidade familiar não está isenta de tensões, rivalidades internas e externas, negociações e conflitos. Para O’Neill (1984), o matrimônio pode ser considerado como uma ameaça ao patrimônio entre os quais vai existir uma tensão estrutural. Portanto, as tensões e articulações entre os condicionamentos sociais e os projetos pessoais que possam existir são ingredientes da existência humana em sociedade.

De acordo com Edmund Leach (1971), o casamento serve para definir o pai legal dos filhos de uma mulher e para definir a mãe legal para os filhos de um homem; para dar ao marido o monopólio sobre a atividade sexual da mulher e para dar à mulher o monopólio sobre a atividade sexual do marido; para dar ao esposo o direito sobre serviços domésticos e trabalhos da mulher e para dar à mulher o direito parcial ou monopólio sobre o trabalho do homem, assim como dar ao marido o direito de propriedade sobre os pertences da mulher e dar à mulher o direito de propriedade sobre os pertences do marido. Ainda conforme Leach, casamento estabelece um fundo comum de propriedade em benefício dos filhos nascidos do casamento ao mesmo tempo em que estabelece um parentesco de afinidade entre o marido e os irmãos da mulher. Na história das relações humanas, os casamentos constituem-se de formas variadas, as mais comuns são o casamento monogâmico, entre um só homem e uma única mulher, e o poligâmico, normalmente constituído de um homem com mais de uma mulher. Mais adiante, neste trabalho, verificaremos as condições culturais em que se estabelecem os vínculos entre os grupos, constituindo as instituições Matriarcais e Patriarcais.

Robert Rowland (1997) diz que a família vem a ser a consequência das relações de parentesco, é um grupo doméstico co-residente e possui limites variáveis segundo os contextos culturais.

De qualquer forma, o casamento é um assunto de grupo, pois os personagens principais interiorizam as obrigações para com os parentes. Observamos, ainda, os casos do matrimônio imposto pela decisão dos parentes – ou chefes do clã, onde os personagens são protagonistas, sem o poder da escolha e decisão. Para Goody (2000) é o romantismo quem desenvolve a ideia do amor como motivo principal do casamento.

O casamento consagra uma instituição social de todas as culturas, a família, mas com diferentes implicações sociais. O casamento é um ritual de passagem da juventude para a vida adulta. O casamento regulamenta a relação sexual e a procriação, mas também as ligações sociais entre famílias e grupos humanos. A cerimônia do casamento varia de cultura a cultura em términos formais, mas no geral é um

Fontella & Majolo (2000), em “Família História e Subjetividade” sugerem que as diversas variáveis ambientais, socioeconômicas, culturais e políticas constituem os fatores determinantes para a composição do núcleo familiar. Para Escardó (1955), “a palavra família não designa uma instituição padrão, fixa e invariável. Através dos tempos a família adota formas e mecanismos sumamente diversos e na

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atualidade coexistem no gênero humano tipos de família constituídos sobre princípios morais e psicológicos diferentes e ainda contraditórios e inconciliáveis” e, segundo Lévi-Strauss (Osório, 1996), os tipos de relações pessoais que configuram a família, aliança (entre o casal), filiação (entre pais e filhos) e consanguinidade (entre irmãos) são o resultado das variáveis ambientais, posição que nos conduz à ideia de parentesco, que consiste numa relação entre pessoas, ou que se vinculam pelo casamento ou cujas uniões sexuais geram filhos, ou que possuam ancestrais comuns e, embora a noção de família repouse sobre a existência do casal que lhe dá origem, sua essência está na relação entre pais e filhos, já que a origem e o destino deste agrupamento humano coincidem no objetivo de gerar e criar filhos. A condição neotênica da espécie humana, ou seja, a impossibilidade de sua descendência sobreviver sem cuidados ao longo dos primeiros anos de vida, foi responsável pelo surgimento do núcleo familiar como agente de perpetuação da vida humana. Além de sua finalidade biológica, propicia, também, a matriz para o desenvolvimento psíquico dos descendentes e a aprendizagem da interação social e, segundo Osório, a família é uma unidade grupal onde se desenvolvem aqueles três tipos de relações pessoais, mas que, a partir dos objetivos genéricos de preservar a espécie, nutrir e proteger a descendência e fornecer-lhe condições para a aquisição de suas identidades pessoais desenvolveu funções diversificadas de transmissão de valores éticos, estéticos, religiosos e culturais. A família também pode se apresentar sobre três formatos básicos: a nuclear, constituída pelo conjunto pai, mãe e filhos; a extensa, que é composta por membros que tenham qualquer tipo de parentesco; e a abrangente, que incluem mesmo os que não são parentes, mas que coabitam. Assim, entendemos que a família representa um grupo social primário que influencia e é influenciado por outras pessoas e instituições. É um grupo de pessoas, ou um número de grupos domésticos ligados por descendência - demonstrada ou estipulada, a partir de um ancestral comum, matrimônio ou adoção. Nesse sentido o termo confunde-se com clã. Dentro de uma família existe sempre algum grau de parentesco. Membros de uma família

costumam compartilhar do mesmo sobrenome, herdado dos ascendentes diretos. A família é unida por múltiplos laços capazes de manter os membros moralmente, materialmente e reciprocamente durante uma vida e durante as gerações. Desta forma definimos família como um conjunto invisível de exigências funcionais que organiza a interação dos seus membros, considerando-a, igualmente, como um sistema, que opera através de padrões transacionais. No interior da família, os indivíduos podem constituir subsistemas, formados pela geração, sexo, interesse, função ou afinidade, com diferentes níveis de poder, e onde os comportamentos de um membro afetam e influenciam os outros membros. A família - como unidade social, enfrenta uma série de tarefas de desenvolvimento, diferindo em nível dos parâmetros culturais, mas possuindo as mesmas raízes universais (Minuchin, 1990). O conceito histórico de família vem de famulus (escravo doméstico), introduzido em Roma pelas tribos latinas, com o começo da agricultura e da escravidão. Este conceito já traz – na sua denominação, a noção de poder que envolve estas relações. Segundo Lewis H.Morgan, o desenvolvimento da família se deu, paralelamente, com a evolução da humanidade da selvageria, passando pela barbárie, até a civilização. Na selvageria, existia a apropriação de produtos da natureza, em lugares adequados. Na barbárie, surgiu a criação de gado e a agricultura, onde surge – também, a necessidade da manufatura, desenvolvimento da criação e das manifestações de arte. Malinowski afirma que a permanência dos laços familiares como o padrão de toda a organização social é a condição de cooperação na cadeia de produção, não existindo um instinto gregário nestas relações. A constituição da família implica desejos e atribuições para o homem e para a mulher, sob a influência da cultura. Ainda de acordo com Malinowski, o vínculo do casamento - nas culturas mais elevadas, impõe ao homem o cuidado de seus filhos como uma espécie de pagamento pelos direitos que tem sobre a mulher. Contudo, este comportamento paterno não pode ser universalizado. Sabe-se que entre os Nayars, indianos, por exemplo, os guerreiros se divorciam para não serem sobrecarregados com

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os cuidados com a família e os filhos pertencem à mãe. Na China, por motivo cultural-religioso, os filhos são necessários para assegurar a imortalidade dos pais, cuidando dos seus sepulcros e queimando incenso em sua memória. Sumner, por sua vez, apresenta uma aparente contradição ao considerar o impulso sexual subordinado à conservação da raça. Para ele o impulso sexual é a força motivadora e a procriação, o produto resultante. Com o “Direito Materno” de Bachofen, em 1861, começa o estudo sobre a história da família e a preocupação em estudar e analisar suas origens. Na obra, o autor formula as seguintes teses: 1) primitivamente, os seres humanos viveram em promiscuidade sexual (impropriamente chamada de heterismo por Bachofen); 2) estas relações excluíam toda a possibilidade de estabelecer, com rigor, a paternidade, pelo que a filiação apenas podia ser contada por linha feminina, segundo o direito materno, e isso se verificou em todos os povos antigos; 3) como consequência desse fato, as mulheres, como mães, como únicos progenitores conhecidos da jovem geração, gozavam de grande apreço e respeito, alcançando, de acordo com Bachofen, o domínio absoluto (ginecocracia); 4) a passagem para a monogamia, em que a mulher pertence a um só homem, incidia na transgressão de uma lei religiosa muito antiga (isto é, do direito imemorial, que os outros homens tinham sobre aquela mulher), transgressão que devia ser castigada, ou cuja tolerância se compensava com a posse da mulher por outros, durante determinado período. O sucessor de Bachofen, nesse campo, revelou-se em 1865. O pesquisador J.F.Mac Lennan elabora antítese do seu predecessor. Mac Lennan chama as primeiras de tribos exógamas e as segundas de endógamas e, sem mais, estabelece logo uma antítese bem definida entre estas duas definições. Suas investigações sobre a exogamia lhe evidenciam que, em geral, essa antítese só existe na sua imaginação, mas, mesmo assim, a tem como base para toda a sua teoria e, de acordo com ela, as tribos exógamas, que tomariam mulheres de outras tribos, mediante rapto, em razão das guerra tribais, característica do estado selvagem. McLennan também vai afirmar que a exogamia está relacionada à ideia de consanguinidade e incesto, em razão do costume dos selvagens, de

matar as crianças do sexo feminino logo após o seu nascimento, o que resultaria num excedente de homens em cada tribo, tendo como consequência imediata a posse de uma mesma mulher, em comum, por vários homens, isto é, a poliandria. Daí decorria, por sua vez, que a mãe de uma criança era conhecida, mas não o pai, por isso, a ascendência era contada pela linha materna e não paterna (direito materno). E da escassez de mulheres no seio da tribo – escassez atenuada, mas não suprimida pela poliandria – advinha, ainda, outra consequência, que era precisamente o rapto sistemático de mulheres de outras tribos. “Como a exogamia e a poliandria procedem de uma só causa, do desequilíbrio numérico entre os sexos, devemos considerar que, entre todas as raças exógamas, existiu primitivamente a poliandria”. Mac Lennan admitia três formas de matrimônio, poligamia, poliandria e monogamia, e é considerado o fundador - e primeira autoridade - em história da família. Em “A Origem da Civilização”, Lubbock (1870) identifica outras formas de matrimônio, destacando o matrimônio por grupos, o communal marriage, e, em 1871, Morgan estuda o sistema de parentesco de expressivo número de tribos de índios norte-americanos, constituído pelo matrimônio por grupos, a exemplo de outros grupos sociais identificados e comparados, na Ásia e África, bem como os antecedentes verificados na formação da família na Europa, entre os germanos (Tácito, Germânia, capítulo XX), e no relato de César de que os bretões tinham as suas mulheres em comum, por grupos de dez ou doze, e em todas as demais referências feitas pelos autores antigos a respeito da posse em comum das mulheres dos bárbaros, em exemplos incontestáveis da existência da poliandria entre estes povos. Em “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”, Friederich Engels nos traz interessante contribuição para a origem da família. A partir das ideias de Darwin, muitos antropólogos, na segunda metade do século IXX acreditaram na existência - em determinado tempo remoto da humanidade, do sistema do matriarcal, que seria uma organização social inteiramente determinada por mulheres.

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Como vimos, a primeira hipótese matriarcal surgiu com Bachofen (1861), quando sugeriu a existência de sociedades matriarcais na préhistória. Nesta linha evolucionista, Morgan (1877) defende que as relações de parentesco eram dadas pelas mulheres. Todavia é Engels, a partir da observação dos estudos de Morgan, quem vai apresentar uma das mais valiosas contribuições para a construção da ideia da formação dos núcleos familiares. Na obra “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado (1884), Engels aceita a existência de uma sociedade matriarcal, num passado muito distante. Para o pensamento de Engels, o sistema patriarcal e as consequentes modificações na estrutura familiar não ocorreram em razão da proeminência dos deuses masculinos como pensara Banhofen, mas sim à introdução do princípio da propriedade privada. Com o surgimento do conceito de propriedade, delimitação das terras, em função dos saques oriundos das vitórias em combates e guerras, os machos necessitaram exigir fidelidade sexual das mulheres pela dúvida sobre a legitimidade dos filhos ao receber a herança. Neste momento o adultério feminino passou a ser considerada grave infração e, até mesmo, crime capital. A supressão da liberdade feminina – então, surge concomitantemente à ideia de manutenção patrimonial. Este conceito suprime – ao mesmo tempo, as liberdades femininas e as torna cativas, presas a um casamento monogâmico. O pensamento Marxista, aqui representado por Engels, conclui que a opressão da mulher ocorre em decorrência da necessidade de manutenção da propriedade privada e que a emancipação feminina seria um dos benefícios do fim da sociedade burguesa. Darwin imaginava o monopólio sexual sobre as fêmeas no seu “O Mito do Pai Morto”, que serviu de base para a teoria de Freud, onde a exogamia aparece com o retorno dos filhos assassinos do exílio, que – reconhecendo a culpa, terminam por impedir a morte do totem, gerando o fim da organização patriarcal. Entretanto para Morgan o símbolo este estado primitivo de promiscuidade gera: 1) A família consanguínea - que ele considera a primeira etapa da família; 2) A família

punaluana, que exclui – de dentro da família consanguínea, os pais e filhos das relações sexuais, como num processo de seleção natural e que deu origem à instituição da gens, base da ordem social da maior parte dos povos bárbaros do mundo, inclusive passando por Grécia e Roma. Aqui o conceito é o da cisão das famílias primitivas (consanguíneas) a partir de determinadas gerações; 3) A família sindiásmica - onde o regime de matrimônios por núcleos – que traz como consequência o cruzamento consanguíneo a partir de determinadas gerações, onde - no casamento monogâmico, o homem vive com uma mulher sem descartar a possibilidade da poligamia ou da infidelidade ocasional, como direito masculino, e exigência de total fidelidade da mulher com duras penas para o adultério por parte delas. Aqui os filhos continuam a pertencer à mãe, em casos de dissolução do vínculo do casamento. Por fim, Morgan observa a 4) Família monogâmica - que nasce da família sindiásmica, no período compreendido entre a fase média e a fase superior da barbárie e baseia-se no predomínio do homem, que tem a finalidade expressa de procriar os filhos cuja paternidade seja indiscutível, garantindo – assim, a posse dos genes do pai, na qualidade de legítimos herdeiros. A mulher perde o último dos seus direitos, o de romper com o vínculo, que passa a ser direito exclusivo do homem que mantém o direito à infidelidade conjugal. O Código de Napoleão chega a outorgar este direito expressamente. Quando a mulher recorda as antigas práticas sexuais e propõe renová-las, é castigada mais rigorosamente do que em qualquer outra época anterior. Entre os gregos, encontramos, com toda a sua severidade, a nova forma de família. Enquanto a situação das deusas na mitologia, como observa Marx, nos fala de um período anterior, em que as mulheres ocupavam uma posição mais livre e de maior consideração, nos tempos heroicos já vemos a mulher humilhada pelo predomínio do homem e pela concorrência das escravas. Na Idade Media constatamos algumas mudanças nos relacionamentos familiares. A mulher aparece não apenas como a dama do amor cortês, mas também como a dona de casa, trabalhando na roça ou acompanhando o marida

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na caça. No século XIII surge o direito da primogenitura. A camponesa aparece trabalhando com o homem. A figura da criança permanece ausente até final do século XV, aparecendo na cultura familiar somente no século XVI. O progresso do individualismo se acumula na cultura juntamente com a consolidação do sentimento de família, incluindo a criança. A primogenitura contribui para consolidar a autoridade paterna e definir o lugar dos filhos na família. A família, como realidade social e moral, entre os nobres, se confundia com a prosperidade do patrimônio e a honra do nome; entre os pobres, quase não existia, sentimentalmente, visto que eles passavam a maior parte do tempo no local de trabalho pertencente aos seus senhores. Para Engels, a relação entre o sentimento de família e de classe se institui mais nas classes populares. Ao retirar a criança da família, por um desejo de intimidade, inicia-se uma ascensão moral da família, originando um fenômeno burguês. A revolução industrial, a concentração de população nos polos urbanos e as profundas transformações nas relações do processo de trabalho são fatores de pressão na composição do grupo familiar e das relações entre seus membros e – destes, com o grupo social. Se antes a família se diluía na comunidade (família extensa), na modernidade ela se isola (família nuclear). O fortalecimento da burguesia e a consequente migração das populações rurais para os limites dos burgos iniciam o redesenho das comunidades, preparando o terreno para a industrialização. Começa, ao mesmo tempo, ruir a estrutura patriarcal primitiva dos burgos e surge um novo modelo de família onde existe a escolha recíproca dos parceiros para o matrimônio, isolamento dos casais do grupo comunal original, autonomia patrimonial e apropriação de novas tecnologias, cultura e educação. Na Europa, a partir da sociedade industrial, o terreno é fértil para o surgimento de novas estruturas familiares – Áries (1981) e Osório (1996). Na Idade Moderna a família burguesa e a família proletária passam a proporcionar alteração nos valores culturais, onde as estruturas familiares possuem exigências - em função da necessidade de transmissão dos

interesses da classe dominante emergente, e preservação do mito da prosperidade (para a família burguesa) e dos interesses de satisfação das necessidades primárias (para a família proletária). Pelos interesses opostos, percebe-se a diferença entre os dois tipos familiares. Enquanto na primeira ainda tem-se uma família mais patriarcalista, onde o homem contribui com o sustento da casa e a mulher na lida doméstica, no segundo tipo vê-se configurar uma família onde, tanto homem quanto mulher, saem para o mercado de trabalho, com vistas ao sustento familiar. Para Roudinesco (2003), são três as fases de evolução da família. A primeira se referia à família dita tradicional, que serviria para assegurar a transmissão do patrimônio. A família moderna se enquadraria na segunda fase, como o receptáculo de uma lógica afetiva, fundada no amor romântico com a reciprocidade de sentimentos e dos desejos carnais, através do casamento. Este modelo familiar valoriza a divisão de trabalho entre os cônjuges que buscam a satisfação pessoal, deixando a educação dos filhos ao encargo do Estado. A família contemporânea, ou pósmoderna, na terceira fase, os dois indivíduos se unem em busca de relações íntimas ou realização sexual. Família, sexualidade e subjetividade – o psíquico familiar Sabe-se, hoje, da existência do fenômeno identificado como psiquismo familiar, formado a partir de um jogo de reflexos que envolvem conteúdos intrapsíquicos de cada membro individual do grupo, cuja função central é promover a partilha inconsciente pelos membros do grupo, de modo a organizar um funcionamento intersubjetivo e um sentido para o "estar junto". O psiquismo familiar pressupõe investimentos libidinais entre os sujeitos do grupo e, evidentemente, uma psicodinâmica dos vínculos, responsável, entre outras coisas, pela criação dos lugares, posições e, principalmente, pelas funções exercidas no espaço interpsíquico e, além de metabolizar as angústias arcaicas do indivíduo recém-nascido, possibilita a transformação das experiências sensoriais do bebê em vivências psíquicas próprias, da

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mesma forma como um importante fundamento para a transmissão psíquica entre as gerações, sobretudo, por estar organizada – como num arquivo, no espaço interpsíquico do grupo familiar. Diretamente relacionado à identificação e, de certo modo decorrente desta, está o processo de constituição da identidade sexual. Freud trata desse aspecto como primordial à subjetivação e – principalmente, em três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905), mostra como os conceitos de masculino e feminino, num primeiro momento, são usados no sentido biológico, como se fossem consequências naturais da conformação anatômica do sujeito. Em outro momento, tais conceitos são associados às características de atividade e passividade, assumindo-se que a primeira seja pertinente ao sexo masculino e a segunda, ao sexo feminino, o que deve estar relacionado ao caráter falocêntrico da teoria freudiana. Embora esse caráter se revele em sua obra, podemos dizer que Freud já inferia que a apreensão de gênero antecede a diferenciação sexual anatômica e, ainda que o sexo biológico e o gênero sejam coincidentes na maioria das vezes, o sexo anatômico não determina, ou assegura, a priori, o gênero. Para McDougall (1997, 1999), a partir da bissexualidade original, a criança precisa renunciar aos desejos bissexuais da infância, o que significa que ela precisa se identificar como pertencente ao sexo masculino ou feminino, em paralelo ao conflito edípico. Para a autora, a realização de cada uma das duas identidades fundamentais do indivíduo, ou seja, a identidade de gênero e a identidade sexual, não acontecem por transmissão hereditária, mas pelas "representações psíquicas transmitidas" primeiramente pelo discurso dos pais e pelo inconsciente biparental e, posteriormente, pelo discurso sociocultural do casal parental. Em “A Construção da Masculinidade” (1998), Ceccarelli ressalta a importância da relação do indivíduo com o pai real, ou com seu substituto, como decisiva para o acesso às representações simbólicas do masculino e ao modo como o indivíduo vivenciará sua masculinidade. Da mesma forma, Freud - “O Futuro de uma Ilusão” (1927), afirma que compete ao pai a tarefa, inicialmente cumprida pela mãe, de proteger a criança dos perigos e

ameaças do mundo externo. O pai protetor, herói e grande homem da infância - admirado, às vezes ao extremo, mas igualmente temido, talvez pela relação anterior da criança com a mãe deixa suas marcas por meio do "anseio pelo pai" (Freud, 1927-1939), ou da "nostalgia do pai", como quer Ceccarelli (1998-2001). Tais sentimentos refletem a necessidade de proteção associada ao desamparo humano. Esse pai protetor é o mesmo que irá delimitar e direcionar o desejo do filho por meio da ameaça de castração. Como síntese, pode-se afirmar que a identificação com o pai facilita a estruturação de uma castração simbólica, por meio da qual será possível a referência ao masculino e ao feminino, no que diz respeito ao destino sexual do ser humano. Consideramos, portanto, que a formação da identidade sexual está subordinada às representações psíquicas transmitidas pelo discurso dos pais, assim como pela transmissão oriunda do inconsciente biparental, ao qual são agregados posteriormente os conceitos do discurso sociocultural dos pais. O processo de subjetivação da família é o principal responsável pelas transmissões geracionais. A história familiar precedente servirá de base para que o indivíduo retire dela material necessário às suas fundações narcísicas, como vetores da subjetividade. Nesse processo, ele recebe não só uma herança intergeracional organizada por meio de vivências psíquicas elaboradas, tais como fantasias, imagens e identificações que se fundam em uma história familiar, como também uma herança transgeracional, que consiste de elementos brutos, provenientes de vivências traumáticas, de não ditos (segredos) e de lutos não elaborados. Justamente pela falta de elaboração em gerações anteriores é que esses elementos reaparecem assimilados pelos sujeitos de uma geração atual. Em “Totem e Tabu” (1912-1913), Freud aponta duas formas de transmissão do psiquismo entre gerações. A primeira consiste na identificação com os modelos parentais, cujo processo está ligado à história do indivíduo. A segunda forma é a transmissão genérica caracterizada por traços mnemônicos de relações com as gerações precedentes, sendo que seu processo se refere à pré-história do indivíduo.

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O “Complexo de Édipo”, inspirado na tragédia Grega, reproduz o mito do pai morto. Ao contrário, Malinowski acredita que este complexo deve ser entendido como uma reação à família na qual o indivíduo se envolve mais do que um estágio inevitável pelo qual cada menino tenha que passar. Por exemplo, entre os nativos de Trobriand, a paternidade é somente um parentesco social que não implica em autoridade sobre os filhos. Nessa sociedade, os pais são mais eficazes, não gerando medos e rebeliões em seus filhos.

Mitologia é uma coleção de contos e lendas com uma concepção mística em comum, sendo parte integrante da maioria das religiões. Todavia suas formas variam grandemente dependendo da estrutura fundamental da crença religiosa. Não há religião sem mitos, mas podem existir mitos que não participem de uma religião.

1.1. Religião

Não há registro em qualquer estudo por parte da história, antropologia, sociologia ou qualquer ciência social, de um agrupamento humano em qualquer época que não tenha professado algum tipo de crença religiosa. As religiões são então um fenômeno inerente a cultura humana, assim como as artes e técnicas. Pode-se afirmar que muitos dos movimentos humanos significativos abrigaram na religião, uma razão, ou motivo, impulsionador. Desta forma, observamos que a maior parte das convulsões sociais e guerras tiveram legitimação religiosa. Estruturas sociais foram constituídas tendo - como base, religiões e grande parte do conhecimento científico, filosófico e artístico tiveram como vetores os grupos religiosos, que durante a maior parte da história da humanidade estiveram aliados ao poder político e social.

A religião é uma das mais antigas manifestações do homem. Sua essência consiste num ato de conciliação dos poderes divinos, que o homem acredita capazes de dirigir e controlar o curso da natureza e da vida humana. Esses poderes sobrenaturais sempre causaram medo e um sentimento de reverência à consciência primitiva. O homem, cercado por uma natureza selvagem e desconhecida, criou essas entidades que, para ele, dirigiam cada fenômeno do universo. Para aplacá-las, ofereciam-lhe orações ou veneravam-nas com rituais mágicos. Religião deriva do termo latino re-ligare, que significa religação com a divindade. Esta definição engloba necessariamente qualquer forma de aspecto místico e religioso, abrangendo seitas, mitologias e quaisquer outras doutrinas ou formas de pensamento que tenham como característica fundamental um conteúdo metafísico, ou seja, de além do mundo físico. Sendo assim o hábito, geralmente por parte de grupos religiosos de taxarem tal ou qual grupo religioso rival de seita, não têm apoio na definição do termo. Seita, derivado da palavra latina secta, significa um segmento minoritário que se diferencia das crenças majoritárias, mas como tal também é religião. Heresia, outro termo mal compreendido, significa conteúdo que vai contra a estrutura teórica de uma religião dominante. Assim, o cristianismo pode ser compreendido como uma heresia judaica, assim como o protestantismo seria uma heresia católica, ou ainda, o budismo uma heresia hinduísta.

Compreende-se por Mística, qualquer coisa que diga respeito a um plano sobre material, um “mistério”.

Nos dias atuais, com todo o avanço científico, o fenômeno religioso sobrevive e cresce, desafiando previsões que anteviram seu fim. A grande maioria da humanidade professa alguma crença religiosa direta ou indiretamente e a religião continua a promover diversos movimentos humanos, e mantendo estatutos políticos e sociais. Assim como a ciência, a arte e a filosofia, a religião é parte integrante e indissociável da cultura humana. São várias as formas de religião, e são muitos os modos que os estudiosos utilizam para classificá-las. Porém há características comuns às religiões que aparecem com maior ou menor destaque em praticamente todas as divisões. A primeira destas características é a cronológica, pois as formas religiosas predominantes evoluem através dos tempos nos sucessivos estágios culturais de qualquer sociedade.

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Outro modo é classificá-las de acordo com sua solidez de princípios e a sua profundidade filosófica, o que irá separá-las em religiões com e sem livros sagrados. De qualquer forma, o processo de construção filosófica da religião divide-se em quatro: Panteísmo, Ateísmo

Politeísmo,

Monoteísmo

e

Nessa divisão há uma ordem cronológica. As religiões panteístas são as mais antigas, dominando em sociedades menores e mais primitivas, tanto nos primórdios da civilização mesopotâmica, europeia e asiática, quanto nas culturas das Américas, África e Oceania. As religiões politeístas - por vezes, se confundem com as panteístas, mas surgem num estágio posterior do desenvolvimento de uma cultura. Quanto mais a sociedade se torna complexa, mais o panteísmo vai se tornando politeísmo. Já as monoteístas são mais recentes, e mais disseminadas, o monoteísmo quantitativamente ainda domina mais da metade da humanidade. E existem os ateístas, que negam a existência das entidades espirituais diversas. Esta divisão também traça uma hierarquia de rebuscamento filosófico nas religiões. As panteístas por serem as mais antigas, não têm livros sagrados ou qualquer registro mais sólido do que a tradição oral, embora na atualidade o renascimento panteísta esteja mudando isso. As politeístas muitas vezes possuem registros de suas lendas e mitos em versão escrita, mas não possuem uma revelação, que é um privilégio, por assim afirmar, do monoteísmo. Todas as grandes religiões monoteístas possuem ”revelação divina” em forma de registro (livro) sagrado. Panteísmo As religiões primitivas são panteístas, acredita-se num grande "Deus-Natureza". Todos os elementos naturais são divinizados, se atribuí inteligências espirituais ao vento, a água, fogo, populações animais e etc. Há uma clara noção de equilíbrio ecossistêmico, onde é comum a realização de ritos de agradecimento pelas dádivas naturais e pedidos às divindades da natureza, em alguns casos requisitando autorização mesmo para o consumo da caça que

embora tenha sido obtida pelo esforço humano, seria na verdade permitida, se não ofertada, pelos entes espirituais. A relação de dependência do ser humano com o ecossistema é clara, assim como a de parentesco e de submissão. As entidades elementais da natureza estão presentes em toda a parte, conferindo a onisciência do espírito divino. Embora haja a tendência da predominância de uma presença mística feminina, a "mãe-terra", o elemento masculino também é notável a partir do momento que os seres humanos passam a compreender o papel do macho na reprodução. Ocorre então a presença de dois elementos divinos básicos, o feminino e masculino. Aqui ocorre a presença do domínio de pensamento transcendente, mais compatível com a subjetividade e a síntese, não sendo, assim, casual que este seja o tipo religioso onde as mulheres mais tenham influência. A presença de sacerdotisas, bruxas e feiticeiras é em muitos casos, muito mais significativa que a de seus equivalentes masculinos. Todas essas religiões são ágrafas, sem escrita, com exceção é claro dos neo-panteísmos contemporâneos. Portanto são as mais envoltas em obscuridade e mistérios, não tendo deixado nenhum registro além da tradição oral e de vestígios arqueológicos. As religiões mais antigas, remontando a préhistória onde tinham predominância absoluta, e também presentes em muitos dos povos silvícolas das Américas, África e Oceania, além da Europa pré-medieval, mais notadamente entre os povos Celtas, tem – como característica, serem ágrafas. Utilizam no máximo totens e alguns outros fetiches, é comum o uso de vegetais, ossos, ou animais vivos ou mortos. Em geral, ligados a natureza e ocorrendo em contato com esta. É comum o uso de infusões de ervas e outros recursos naturais, danças, oráculos e cerimônias ao ar livre. Politeísmo Com o tempo e o desenvolvimento as necessidades humanas passam a se tornar mais complexas. A sobrevivência assume contornos mais específicos, o crescimento populacional hipertrofiado graças à tecnologia que garante maior sucesso na preservação da prole e da longevidade, gera uma série de atividades

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competitivas e estruturalistas nas sociedades, que se tornam cada vez mais estratificadas. Nesse meio tempo a influência racional em franca ascensão tenta decifrar as transcendentes essências espirituais da natureza. Surge então o politeísmo, onde os elementos divinos são então personificados com qualidades cada vez mais humanas. O que era antes apenas água, um ser de essência espiritual metafísica e sagrada, agora passa a ser representada por uma entidade antropomórfica ou zoomórfica relacionada à água. No princípio as características dessas divindades não são muito afetadas, mas com o tempo, a imaginação humana ou a tentativa de se adequar as religiões às estruturas sociais, elas ficam cada vez mais parecidas com os seres humanos comuns, surgindo então entre os deuses relacionamentos similares aos humanos inclusive com conflitos, ciúmes, traições, romances e etc. E cada vez mais os deuses perdem características transcendentes até que a "degeneração" chegue a ponto destes se relacionarem sexualmente com seres humanos, o que significa a perda da natureza metafísica, da característica invisível, ou mais, de haver relações físicas e pessoais de violência entre humanos e divindades, sem qualquer caráter transcendente. Em muitos casos é difícil distinguir com clareza se determinadas religiões são pan ou politeístas. Mesmo no estágio panteísta por vezes pode-se identificar com muita evidência algumas personificações das entidades divinas, mas algumas características como as citadas no parágrafo anterior são exclusivas do politeísmo. É possível que os elementos que contribuam ou realizem essa transição sejam o animismo, fetichismo e totemismo. Surgem num estágio posterior de desenvolvimento social, tendo sido predominantes na Idade Antiga em todo o velho mundo, e mesmo nas civilizações mais avançadas das Américas pré-colombianas. Nas sociedades letradas possuem – frequentemente, registros literários sobre seus mitos, e mesmo nas ágrafas possuem tradições icônicas mais elaboradas. Diversos deuses criaram, regem e destroem o mundo. Tem relações de forma tensa com os seres humanos e - não raro, hostil. As lendas dos deuses se assemelham a dramas

humanos, havendo contos dos mais diversos tipos. Surgem os ídolos zoo ou antropomórficos na forma de pinturas e esculturas em larga escala. A simbologia icônica se torna complexa em alguns casos resultando em formas de escrita ideográfica. Ocorre também uma relativa equivalência entre deidades femininas e masculinas, embora as masculinas mostrem sinais de predominância à medida que o sistema de crenças se torne mais mundano, características de uma fase mais racional e técnica onde muitas vezes a religião politeísta caminha junto com filosofias da natureza. É sempre nesse estágio que as sociedades desenvolvem escrita, ou pelo menos passa a utilizar símbolos abstratos e códigos visuais mais elaborados. No caso do politeísmo - asiático, egípcio e europeu, por exemplo, evoluiu para um sistema de escrita complexo. Muitas destas religiões têm então, narrativas de seus mitos em forma escrita, mas tais não possuem o valor e a significância de uma revelação propriamente dita. Num estágio final tende a ocorrer o fenômeno da monolatria, onde a adoração se concentra numa única divindade, o que pode ser o ponto de partida para o monoteísmo. Monoteísmo O monoteísmo não é a crença em uma única divindade, mas sim a soberania absoluta de uma. A própria teologia judaico-cristã-islâmica adota hierarquias angélicas que são inclusive encarregadas de reger elementos específicos da natureza. Um elemento que caracteriza mais claramente o monoteísmo mais específico, zoroastrista, judaico, cristão, islâmico e sikh, é antes de tudo a ausência ou escassez de representações icônicas do Deus supremo, e a ausência parcial de qualidades humanas - nem sempre bem sucedidas. As entidades secundárias são comumente retratadas artisticamente. A própria mitologia grega através da monolatria, já traz sinais de se dirigir a um monoteísmo similar ao que chegou a religião Hindu, ou a egípcia com a instituição do deus único Akhenaton, durante o reinado de

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Amenóphis IV, embora ainda impregnadas fortemente de politeísmo a até de reminiscências panteístas no caso do bhramanismo. Zeus consolidava-se, cada vez mais, como o regente absoluto do universo. Entretanto um obstáculo teológico impedia que tal mitologia atingisse um estágio sequer semiMonoteísta. Zeus é filho de Chronos, neto de Urano, essa descendência evidencia sua natureza subordinada ao tempo, ele não é eterno ou sequer o princípio em si próprio, que é uma característica obrigatória de um Deus uno e absoluto como Bhraman ou Jeová. Todas estas religiões, apesar de seu princípio Uno, são – ao mesmo tempo, dualistas, pois contrapõem um Deus do Bem contra um do Mal. Entretanto não se presta qualquer culto ao deus maligno, como ocorre nas politeístas. Saber se o deus maligno está ou não sujeito ao deus supremo é uma discussão presente há mais de 3.000 anos. Diferente do estado panteísta original não ocorre harmonia entre os opostos, e um deles passa a ser privilegiado em detrimento do outro. Sendo assim, onde antes ocorria a divinização dos aspectos masculinos e femininos do universo - e a sacralidade da união, aqui ocorre a associação de um com o maligno, fatalmente do elemento feminino, uma vez que todas as religiões monoteístas surgiram na fase patriarcal da humanidade. O bhramanismo sendo o mais antigo, ainda conserva qualidades tais como veneração às manifestações femininas da divindade, não condena a relação sexual e ainda detém a crença reecarnacionista que é uma quase constante no panteísmo. Do politeísmo, guarda uma quantidade de deuses personificados, com histórias bastante humanas que envolvem conflitos e paixões. Mas a subordinação a um ‘Uno’ supremo, no caso representado pela trindade Bhrama-Vinshu-Shiva, é clara. O panteão anterior Hindu foi completamente absorvido pelo monoteísmo Bhraman, e conservou até mesmo a deusa Aditi, que outrora fora a divindade suprema. Os monoteísmos posteriores, mais afastados do fenômeno panteísta, entram em choque mais evidente com o Politeísmo que geralmente está em estado caótico. Ocorre um abafamento da

religião anterior pela nova e seu caráter patriarcal e associado à violência, especialmente a partir do Judaísmo, se impõe de forma opressiva. As divindades femininas são erradicadas ou demonizadas, sendo então obrigatoriamente associadas ao elemento maligno do universo. Esse fenômeno acompanha a queda da condição social feminina na sociedade. Embora as teologias monoteístas, especialmente na atualidade, se esforcem para afirmar o contrário, o deus único Hebreu, Cristão e Islâmico, basicamente o mesmo, assim como o do anterior Zoroastrismo e posterior Sikhismo, são nitidamente masculinos aparentemente renegando o aspecto feminino divino do universo, mas na verdade o absorvendo, uma vez que ao contrário de deuses "supremos" Politeístas como Zeus, Osíris e Odin, eles são carregados de atribuições de amor e compaixão, embora ainda conservem sua Ira divina e seus atributos violentos, o que resulta em entidades complexas, que possuem aspectos paternos e maternos simultaneamente. Tal como a própria emocionalidade, esse é o período mais contraditório da evolução do pensamento Teológico. Apesar de estar sob o domínio de uma característica de predominância subjetiva, é o momento onde as sociedades se mostraram paradoxalmente mais androcráticas. Os elementos femininos são absorvidos pelo Deus Único dando a ele o poder de atrair e seduzir as massas pela sua bondade, mostrando sua face benevolente, mas por outro lado a espada da masculinidade está sempre pronta a desferir o golpe fatal em quem se opuser a sua soberania. Mais recentes, surgindo a partir do último milênio a.C. e predominando da Idade Média até a atualidade. Possuem Livros Sagrados definidos e que padronizam as formas de crença, servindo como referência obrigatória e trazendo códigos de leis. São tidos como detentores de verdades absolutas. Um Ser transcendente criou o mundo e o ser humano, há uma relação paternal entre criador e criaturas. Na maioria dos casos um semideus se rebela contra o criador trazendo males sobre todos os seres. Messias são enviados para conduzir os

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povos, profetiza-se um evento renovador violento no final dos tempos, onde a ordem será restaurada pela divindade. O Deus supremo geralmente não possui representação visual, mas os secundários sim. Utilizam símbolos mais abstratos e de significados complexos. Ateísmo Surgem a partir do século V a.C., tendo sido consolidada, destacadamente, no Oriente e no Ocidente ressurgindo somente após a renascença numa forma mais filosófica que religiosa. Possuem textos básicos de conteúdo predominantemente filosófico, não possuindo força dogmática arbitrária ainda que sendo também revelados por sábios ou seres iluminados. O Não-Ser Supremo não pode ser representado, mas há muitas retratações dos seres iluminados. Há vários símbolos representativos da natureza e metafísica do Universo. A caracterização ateísta nega a existência de um “Ser Supremo Central”, que tudo tenha criado e a tudo controle. O ateísmo na Grécia Antiga surge através dos “Filósofos da Natureza”, que estabeleciam como princípio primário universal alguma "substância" completamente impessoal. Mais especificamente, Aristóteles colocava o motor imóvel como o princípio primário, e Plotino, estabelecia o Uno. Porém essa breve ascensão do ateísmo filosófico e científico ocidental foi logo minada pelo sucesso do monoteísmo cristão. O Ateísmo no Ocidente só surgiu novamente após a renascença, no Iluminismo, onde outras formas filosóficas se desenvolveram, mas a mistura destas com os neo-panteísmos e o avanço científico em geral resulta num quadro difícil de diferenciar. Religiões ateístas e neo-panteístas As religiões ateístas não creem numa entidade suprema central, mas pregam a interdependência harmônica do Universo, da mesma forma que o panteísmo. Pregam a harmonia dos opostos como Yin e Yang, da mesma forma que a harmonia entre a Deusa e o Deus no panteísmo, e constantemente adotam uma posição de neutralidade em relação aos eventos.

Provavelmente não por acaso Taoísmo e Budismo são as mais avançadas das grandes religiões, num sentido metafísico, racional e – mesmo, científico. São imunes à contestação racional, pois seus conceitos trabalham num plano mais abstrato, ao mesmo tempo capaz de explicar a realidade, e recheados de paradoxos escapistas, além de extremamente mais flexíveis que as religiões monoteístas, por exemplo. Não há casos significativos de atrocidades cometidas em nome destas religiões em larga escala como ocorre com as monoteístas ou nas politeístas monolátricas. Porém, barreiras intransponíveis impedem que essas religiões - sejam nesse esquema de divisão, classificadas como panteístas. Taoísmo e Confucionismo, que são chinesas enquanto o Budismo e Jainismo Indianos são religiões letradas, isto é, possuem seus escritos fundamentais. Por esta razão são classificadas como religiões ateístas, por declararem a inexistência de um Ser Supremo. Pelo contrário, o Tão ou o Nirvana, o centro de todo o Universo segundo o Taoísmo e Confucionismo, e o Budismo, são uma espécie de “Vazio”, um “Não-Ser”. O neo-panteísmo possui sim seus textos. É o caso do Espiritismo Kardecista, do Bahaísmo, do Racionalismo Cristão e etc. Embora muitos insistam em negarem-se como Panteístas se inclinando para o Monoteísmo, porém uma série de fatores a distanciam muito deste grupo. A ênfase atenuada dada ao livro base da doutrina, que embora seja uma revelação, não tem o mesmo peso dogmático e em se apresenta de forma predominantemente racional. Assim como a postura passiva e não proselitista, e muito menos violenta, do monoteísmo tradicional e a caracterização de seu fundador que mesmo sendo dotado de dons supranaturais, não reivindica deificação e nem mesmo reverência especial. E o mais importante, diferenciando-as principalmente do monoteísmo "ocidental", o tratamento totalmente diferenciado dada a questão da existência do "Mal". Esses são alguns exemplos que tendem a afastar essas novas religiões, que prefiro agrupar na categoria neo-panteísmo, do grupo das monoteístas.

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Neo-panteísmo Embora possuam representantes em todos os períodos históricos, popularizam-se ou surgem a partir do século XVIII. Possuem textos básicos de conteúdo predominantemente filosófico, não possuindo força dogmática arbitrária ainda que sendo também revelados por sábios ou seres iluminados. Acredita-se em geral no Monismo, uma substância única que permeia todo o Universo num Ser único. São em geral reencarnacionistas e evolutivas. A falta de qualidades do Ser supremo por vezes as confunde com o Ateísmo. Diversos símbolos e mitos de diversas outras religiões são resgatados e reinterpretados, também não há representação específica de um Ser Supremo, mas pode haver de outros seres elevados. 1.2. Paganismo Ao contrário do que se pensa, paganismo nada tem a ver com o culto ao demônio - até porque o demônio não passa de uma invenção das tradições judaico-cristãs. O termo "pagão" vem do latim "paganus", que é aquele que vive no campo, ou ainda, aquele que vive do campo, da natureza. Assim, por consequência, também define “homem do campo", "camponês" ou "aldeão". Entende-se que, em termos religiosos, o paganismo é o culto e o respeito às forças da natureza. Para o pagão, toda a natureza é viva e sagrada. Seus deuses e deusas refletem essa crença, oferecendo conforto e equilíbrio àqueles que compreendem o real significado de se respeitar à natureza. Paganismo significa uma série de tradições marcadas pela devoção à natureza e a crença em vários deuses. Teve suas origens na préhistória onde vários povos praticavam rituais à natureza, pois acreditavam que a Terra era sagrada e seus elementos eram associados à divindades. A realização de sacrifícios, oferendas e festivais para homenagear os deuses e também para receber o novo ciclo da natureza, faziam parte da vida dos povos pagãos. Acentuam a experiência religiosa individual sendo politeístas por natureza, ou seja, alguns veneram deuses e deusas enquanto outros veneram uma força vital, e outros ainda

veneram o casal cósmico. Enfatizam a existência de uma Deusa que deve ser adorada. Os pagãos desenvolvem liturgias e costumes religiosos típicos, locais e ancestrais que diferencia das demais religiões. Dentre os tipos de paganismo, destaca-se a wicca que é a feitiçaria moderna, bruxaria tradicional - que são videntes, mágicos, profetas, curandeiros, stregheria, tradições nórdicas, druidismo, xamanismo, asatru e luciferianismo. Chamamos de povos Pagãos, aqueles que na antiguidade tinham nos campos e plantações seu sustento, a base de sua vida. A Terra era, portanto, sagrada para eles. Toda a sua cultura e religião giravam em torno da natureza: a época das colheitas, as estações, os solstícios, etc. Muitos dos povos pagãos eram politeístas, atribuindo aos deuses faces da Natureza com que conviviam. Assim, havia o deus do sol, a deusa da lua, o deus da caça, a deusa da fertilidade, etc. Foram pagãos os povos gregos, romanos e celtas, por exemplo. Uma característica muito marcante da religião pagã é a existência de deuses e deusas, às vezes com igual poder, e – em regra geral, tendo-se a figura feminina como dominante. Nos povos celtas, por exemplo, antes da influência do cristianismo, sua cultura era totalmente matriarcal. As cerimônias religiosas eram conduzidas por sacerdotisas, a medicina era praticada por curandeiras, as decisões tomadas por grupos de “sonhadoras”, e o Deus era o Consorte da Deusa - a Grande Mãe. Como religião, o paganismo busca o equilíbrio, o casamento perfeito entre masculino e feminino, tanto no mundo exterior como dentro de cada indivíduo. Equivocadamente, emprega-se paganismo como sinônimo de sinônimo de não-cristão. Este equívoco transformaria em pagãs as religiões como o judaísmo, o Islã e outras. Da mesma forma, incorre em erro o uso do termo para denominar aquele que não foi batizado no cristianismo. Também é observada a confusão no uso dos termos "paganismo" e "ateísmo". Ateísmo é, como já visto anteriormente, a ausência de crença, o que é diferente da noção de paganismo enquanto caminho religioso.

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Originalmente, o termo ‘pagão’ era empregue para diferenciar os seguidores das religiões que incorporam os valores e fenômenos associados à terra e fenômenos da natureza e atribuem-lhes valores divinos. É este o sentido que adotamos quando utilizamos o termo "paganismo". Assim, costumamos nos referir às culturas pré-cristãs da Europa e das Américas (apenas como exemplos clássicos) como "culturas pagãs". Poucas pessoas hoje em dia ainda mantêm um contato direto com as tradições originais do paganismo, daí a necessidade de se diferenciar o paganismo original - surgido na antiguidade - do novo paganismo, representado por diversas correntes recentes. Para que tal diferenciação, autores e pesquisadores optam por utilizar o termo neo-pagão, ou seja, os novos pagãos - aqueles que seguem tradições filosófico-espirituais inspiradas nos ensinamentos e valores das antigas religiões. Dentre estas correntes neo-pagãs, sem dúvida ganham destaque a wicca e o neo-druidismo. Para alguns autores, o paganismo é, na verdade, uma cultura, tal como a cultura oriental, cultura ocidental, cultura aborígene, e assim por diante. E, como toda cultura, ele também tem uma espiritualidade típica que pode se traduzir em diferentes religiões. Mas o paganismo em si, não seria uma religião. O correto seria dizer que a wicca e as bruxarias italiana e ibérica são religiões pagãs, ou seja, religiões que manifestam a cultura pagã. Dos pontos comuns a todas as sociedades da cultura pagã, surgem as características das religiões pagãs, ou seja, dos esquemas que dão forma e concretude à espiritualidade pagã. É possível que a principal característica da religiosidade pagã, seja a radical imanência divina, ou seja, ela se encontra na própria natureza, o que inclui os humanos, manifestando-se através de seus fenômenos. Uma religiosidade baseada no feminino, representado pela ‘Grande-Mãe’. O masculino surge a partir dessa referência feminina básica, como filho e consorte e, portanto, só conhecido a partir da Deusa. Talvez por isso a maioria dos povos pagãos não tenha desenvolvido a noção de um "Deus-Pai", embora vejam o Deus como provedor e como educador.

A ausência de dualismo, ou seja, não têm noções de opostos e/ou complementares (bem x mal, céu x inferno, matéria x espírito), mas leva à ausência da noção de pecado, inferno e mal absoluto. Como a relação com os deuses é sempre pessoal e direta, a ideia de uma afronta à divindade é tratada também pessoalmente, ou seja, entre o indivíduo e a ‘Deidade’ ofendida. Sem noção de pecado, também não há noção de inferno. A sacralidade da ‘terra’ também levou à ausência de templos, o que, no entanto, não impede a noção de ‘sítios sagrados’, em geral bosques, grutas ou montanhas. Templos pagãos vão ocorrer já na modernidade. A imanência dos deuses e a ideologia da ancestralidade divina, possibilitam à deidade, características antropomórficas e as relações tendem a ser de igual para igual. Esta sacralidade da natureza torna as religiões pagãs em religiões de comunhão, que não visam dominar a natureza, mas harmonizar-se com ela. Por isso, também são religiões intuitivas e emocionais. Em geral, os pagãos não "pensam" sobre sua espiritualidade, mas simplesmente vivem-na. O calendário religioso se confunde com o calendário sazonal e agrícola, o que lhe confere um caráter de fertilidade. Portanto, as festividades acontecem nos momentos de mudança e auge de ciclos naturais. Essas relações pessoais humanos-deuses conduzem à ausência de dogmatismos e estruturas religiosas padronizadas, havendo, uma grande liberdade de culto. O indivíduo tem liberdade de cultuar os Deuses em sua casa, da forma que desejarem. Basicamente, é uma religiosidade doméstica ou de pequenos grupos com laços de sangue ou de compromisso. No entanto, os Grandes Festivais são sempre rituais comunitários, pois comprometem todos os membros da comunidade. Embora alguns povos tenham desenvolvido a ideia de um "Outro Mundo", a vida pós-morte nunca foi um ideal pagão, pois isso significaria ficar fora do ciclo e, portanto, da comunidade. Para os pagãos, "outro mundo" é apenas uma passagem entre uma vida e o renascimento. O encontro com a ‘Deidade’ acontecerá sempre na comunhão com a natureza, e não no “outro mundo”. A perspectiva cíclica do tempo dá a certeza do eterno retorno.

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O que, por outro lado, também leva a um profundo respeito pelos antepassados, que sacrificaram sua vida para que a comunidade continue a existir; o que inclui o tradicionalismo na produção econômica e nos costumes sociais. Diferentes povos da cultura pagã desenvolveram suas liturgias, rituais e costumes religiosos típicos, locais e ancestrais, o que pode aparecer como "diferenças" entre religiões. No entanto, essas características básicas permanecem, pois são típicas do paganismo. O respeito aos ancestrais e o tradicionalismo que isso implica, faz das religiões pagãs uma experiência de continuidade ancestral, evidenciada na repetição histórica dos ritos, criando união mística com aqueles que já celebraram no passado. Nesse momento, rompe-se o tempo, estabelecendo uma relação mágica (a mística) com ele (o tempo), ou seja, a repetição do rito torna presente o momento primitivo de sua realização e todos aqueles que, ao longo dos séculos, dele tenham participado, consolidando a relação presente-passado-futuro, num mesmo instante. Esse sentimento de ancestralidade é partilhado também com a natureza e particularmente com os seres-vivos, levando a um fundamental respeito a todas as formas de vida e existência. A cultura pagã tem uma relação mágica com a natureza, o que inclui a sexualidade e sua forma de organização social, baseada na partilha e na fraternidade. Por outro lado, a organização política tem caráter matrifocal, onde a rainha e a sacerdotisa significam funções permanentes e hereditárias, que conferem, por associação, legitimidade ao chefe de político. A esta matriz matrifocal se junta um sentimento bem claro de corresponsabilidade entre todos os membros da comunidade, ligados por laços de parentesco a uma “ancestral comum”, a ”Grande Mãe”. Por sua raiz paleolítica, desde os tempos de grupos nômades, caçadores e extrativistas, a principal característica é, sem dúvida, uma forte ligação a terra e a natureza, tida como sagrada e viva - o que determinou o desenvolvimento de uma medicina natural, baseada nas qualidades curativas das ervas, e xamânica, baseada no poder fértil da natureza e na relação mágica com a realidade.

É extraordinária nesta cultura, a noção cíclica do tempo, a partir da ciclicidade dos fenômenos naturais - estações, lunação, movimentos do sol e dos astros, em contraposição à noção linear das culturas de matriz abrâmica, e o consequente sentimento de profunda responsabilidade e parceria com a natureza, tornando os humanos corresponsáveis pela continuidade do círculo. Calendário pagão No passado, quando as pessoas vivam em conjunto com a natureza, o passar das estações e os ciclos lunares tinham um profundo impacto em cerimônias religiosas. A lua era vista como um símbolo divino, por isso as cerimônias de adoração, magias e celebrações eram feitas sob sua luz. A chegada do inverno, as primeiras atividades da primavera, o quente verão e a entrada do outono também eram marcados por rituais. Na tradição da wicca o calendário religioso possui treze celebrações de lua cheia e oito dias de poder - sabbaths. Quatro desses dias são determinados pelos solstícios e equinócios, que são o início astronômico das estações. Os outros quatro rituais baseiam-se em antigos festivais folclóricos. Muitas datas das comemorações pagãs coincidem com as das cristãs. Entretanto, o paganismo é muito anterior ao cristianismo; ou seja, foram os cristãos que incorporaram elementos da cultura pagã e adequaram-nos às suas tradições, depois perseguindo e condenando os praticantes de rituais pagãos, exterminando, quase que completamente, sua cultura. Yule: 21/junho, hemisfério sul - 21/dezembro, hemisfério norte É o solstício de inverno, a noite mais longa do ano. Esta data antiga deu origem ao Natal cristão. Neste período, a Deusa dá à luz o Deus, que é reverenciado como criança prometida. Em Yule é tempo do re-encontro de esperanças, dos pedidos aos Deuses. A comemoração coincide com a do Natal e tem significado semelhante, o nascimento do Deus menino, filho de uma Divindade maior, e que trará a esperança à Terra. O hábito de trazer pinheiros para dentro de casa é um hábito totalmente pagão. O pinheiro, azevinho e outros são árvores cujas

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folhas são perenes e estão sempre verdes, simbolizando a continuação da vida. As árvores eram sagradas e os meses do ano tinham nomes de árvores. Os sinos são símbolos femininos de fertilidade, e anunciam os espíritos que possam estar presentes. Imbolc ou Candlemas: 01/agosto, hemisfério sul - 01/fevereiro, hemisfério norte Sabbath é dedicado à Deusa Brigit, senhora da poesia, da inspiração, da cura, da escrita, da metalurgia, das artes marciais e do fogo. O Deus está crescendo e se tornando mais forte, para trazer a Luz de volta ao mundo. É o momento de pedir proteção para todos os jovens, em especial a família. Também conhecido como Festival das Luzes, em que se acendem velas por toda a casa, nas janelas, anunciando a vinda do sol e mostrar ao menino Deus seu caminho. Ostara: 21/setembro, hemisfério 21/março, hemisfério norte

sul

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Equinócio da primavera, onde a duração do dia e a noite se fazem iguais. É uma data de equilíbrio e reflexão. Ostara é o Festival em homenagem à Deusa Oster, da fertilidade, cujo símbolo é o coelho. Foi desse antigo festival que se originou a Páscoa, tal como a comemoramos. É costume antigo colocar ovos pintados no altar. Eles simbolizam a fecundidade e a renovação. Os ovos são pintados crus e depois enterrados, ou cozidos e comidos enquanto são mentalizados os desejos. Os ovos eram decorados com símbolos mágicos e os pedidos eram voltados à "fertilidade". Beltane (a fogueria de belenos): 01/novembro, hemisfério sul - 01/maio, hemisfério norte Beltane é o mais alegre e festivo de todos os Sabbaths. Deus, que agora é um jovem no auge da sua fertilidade, se apaixona pela Deusa, que em Beltane se apresenta como a Virgem e é chamada "Rainha de Maio". Em Beltane se comemora esse amor que deu origem a todas as coisas do universo. Beleno é a face radiante do Sol que voltou ao mundo na Primavera. Em Beltane se acendem duas fogueiras, pois é costume passar entre elas para se livrar de todas as doenças e energias negativas. Nos tempos antigos, costumava-se passar o gado e os

animais domésticos entre as fogueiras com a mesma finalidade. Daí veio o costume de "pular a fogueira" nas festas juninas. Uma das mais belas tradições de Beltane é o “maypole”, ou “mastro de fitas”. Trata-se de um mastro enfeitado com fitas coloridas. Durante um ritual, cada membro escolhe uma fita de sua cor preferida ou ligada a um desejo. Todos giram ao redor do mastro trançando as fitas, representando a reciclagem do seu próprio destino, colocando-se sob a proteção dos Deuses. É costume na Wicca jamais se casar em no mês de maio, pois esse mês é dedicado ao casamento do Deus e da Deusa. A sociedade ocidental, modernamente, atribui o mês de maio como “mês das noivas”. Midsummer – Litha: 21/dezembro, hemisfério sul - 21/junho, hemisfério norte Nesse dia o Sol atinge sua plenitude. É o dia mais longo do ano (solstício de verão). O Deus chega ao ponto máximo de seu poder. Na noite de Midsummer, fadas, duendes e toda a sorte dos elementais correm pela Terra, celebrando o fervor da vida. É hora de pedirmos coragem, energia e saúde. Nos tempos antigos, a data era comemorada com jogos e festivais onde o corpo e o físico eram reverenciados. Lamas – Lughnasadh: 01/fevereiro, hemisfério sul - 01/agosto, hemisfério norte Lughnasad era tipicamente uma festa agrícola, em agradecimento pela primeira colheita do ano. Lugh é o Deus Sol. Na mitologia celta, ele é o maior dos guerreiros, que derrotou os gigantes, que exigiam sacrifícios humanos do povo. A tradição determina que sejam feitos bonecos com espigas de milho ou ramos de trigo representando os Deuses, que nesse festival são chamados Senhor e Senhora do Milho. Nessa data se agradece a tudo o que se colhe durante o ano. O outro nome do Sabbath é Lammas, que significa "A Massa de Lugh". Isso se deve ao costume de se colher os primeiros grãos e fazer um pão que era dividido entre todos. Mabon – Angus: 21/março, hemisfério sul 21/setembro, hemisfério norte Equinócio de outono. No panteão celta, Mabon, também conhecido como Angus, era o

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Deus do Amor. Nessa noite dedicava à súplica por harmonia no amor e proteção para as pessoas amadas. É a segunda colheita do ano e neste festival, deve-se pedir pelos que estão doentes e pelas pessoas mais velhas que precisam de ajuda e conforto. Também é nesse festival que ocorrem as lembranças das antepassadas femininas. Samhain – Halloween: 30abril, hemisfério sul - 31/outubro, hemisfério norte É o mais importante de todos os festivais, pois, dentro do círculo, marca tanto o fim quanto o início de um novo ano. Nessa noite, o véu entre o mundo comum e o mundo dos mortos se torna mais tênue, sendo o tempo ideal para a comunicação com os que já partiram. As bruxas não fazem rituais para receber mensagens dos mortos, e muito menos para incorporar espíritos. O sentido do halloween é a sintonia com os mortos quando são enviadas mensagens de amor e harmonia. A noite do samhain é uma noite de alegria e festa, pois marca o início de um novo período nas vidas dos indivíduos, com muita comemoração, à base de ponche, bolos e doces, além de brincadeiras, danças e músicas. Antigamente, as pessoas colocavam abóboras na janela para espantar os maus espíritos e os duendes que vagavam pelas noites do samhain. Essa palavra significa "sem luz", pois, nessa noite, Deus morreu e o mundo mergulha na escuridão. A Deusa vai ao “mundo das sombras” em busca do seu amado, que está esperando para (re)nascer. Eles se amam e - deste amor, a semente da luz espera no útero da mãe, para renascer no próximo solstício de inverno como a “criança da promessa”. Paganismo greco-romano O paganismo greco-romano dominou todo o império romano até a ascensão do cristianismo como religião universal do ocidente. Parte dessa rede mitológica tem origem na Grécia, onde a religião foi resultado do encontro de duas civilizações diferentes - a mediterrânea oriental e a indo-europeia. A primeira, de uma tradição agrícola e matriarcal e a segunda, de tradição pastoril e patriarcal. O encontro dessas duas diferentes tradições deu origem à civilização grega e sua religião, reunindo mitos das mais diversas origens, desde o Zeus patriarcal até a

Deméter matriarcal e agrícola. A própria organização do Olimpo - morada das diversas divindades cultuadas, na mitologia grega, traduz esse mundo concreto da “polis” grega. Outra parte da complexa rede mitológica do paganismo greco-romano teve sua origem na Itália primitiva, entre os latinos, e consistia no culto doméstico prestado aos espíritos protetores familiares. Como a maioria dos povos de origem indo-europeia, os romanos também cultuavam um deus supremo - Júpiter, senhor do céu, ao lado das divindades menores que encarnavam as forças da natureza, como a chuva e a fertilidade. Essas divindades eram espíritos - ou numina, sem representações físicas. O contato com as civilizações gregas e etruscas é que vai influenciar os romanos na criação de uma religião com inspirações nacionais. Essa religião oficial surgirá após um longo processo de incubação lá pelos idos do século III a.C. A introdução dessas religiões "importadas" entre os romanos, possibilita a mescla entre as divindades primitivas romanas Jano, Vesta, Penates, Gênios e Lares, e as divindades estrangeiras - Zeus, Hera, Deméter, Ares, Atena, gerando assim personagens que tomarão nomes romanizados para o agrado da sociedade. A religião primitiva dos romanos permitia o culto aos espíritos dos mortos - os Di Manes, durante as festividades das Lemúrias, em maio. Esses cultos pretendiam aplacar os espíritos para evitar que eles atormentassem os vivos. Também durante as Parentalias, em fevereiro, os espíritos familiares eram cultuados com ofertas de alimentos (leite, mel, azeite) em um banquete familiar onde os vivos se reuniam à memória dos mortos para festejarem as dádivas familiares. Com as conquistas militares de Roma - e a consequente expansão do Império, a religião sofreu um crescimento pelo abarcamento de cultos provindos das mais diferentes regiões geográficas conquistadas, desde a Europa, até a Ásia e a África. As divindades primitivas se confundiram com os deuses gregos e os mitos se fundiram para criar o panteão dos deuses do capitólio romano. Com todo esse processo nasceu o paganismo greco-romano. Nessa religião oficial o culto ao gênio do imperador

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tornou-se o culto à própria organização estatal romana, vasta e poderosa como um verdadeiro deus. O paganismo nos dias atuais O Paganismo é um dos movimentos espirituais que mais cresce no ocidente nos dias de hoje. Pagãos são aqueles que veneram os deuses pré-cristãos de nossos ancestrais ou de nossa terra. Originalmente, o termo "pagão" é aplicado àqueles que veneravam os deuses do "pagus", que em latim significa "localidade". Pagão também é utilizado de outra forma pelos cristãos para significar "camponês", ou aqueles que vivem no campo. Outro termo de origem alemã - utilizado no inglês, "heathen", também significa pagão, ou aqueles que veneram os deuses do norte da Europa. "Heathen" significa “aqueles que moram nas charnecas e que adoram os deuses da sua terra”. "Paganismo" não é uma palavra que nossos ancestrais utilizaram, mas muitas vezes é utilizado de forma pejorativa. Por outro lado, os pagãos às vezes a rejeitam considerando-a como uma forma pejorativa de colonialismo ocidental as suas crenças tradicionais. Na África Ocidental, referem-se às suas crenças como Religião Tradicional Africana. Da mesma forma, no Ocidente, os termos Espiritualidade Nativa, Espiritualidade Celta, Religião Tradicional da Europa, Antiga Fé, ou Velha Religião são utilizadas para denominar as religiões pagãs. Venerar as antigas divindades pode parecer estranho nos dias de hoje. Os pagãos veneram seus deuses e deusas porque eles não são artefatos arqueológicos, mas sim energias vivas de grande poder, no imaginário dos seguidores e superam qualquer imagem externa de suas estátuas retiradas de templos antigos e que estão expostas em museus ao redor do mundo. Para os pagãos, o mais importante é que os sentimentos em relação às deidades sobrevivem na memória humana - no inconsciente coletivo, onde são armazenados o conhecimento religioso e as experiências. As crenças pagãs são baseadas em ensinamentos, mitos e sagas que sobreviveram através do tempo. O paganismo nunca morreu. Apesar das antigas crenças pagãs terem sido

vistas apenas como mitos ou contos de fadas, as histórias ouvidas através das gerações foram importantes na construção dos mitos. De geração em geração, esses mitos e lendas foram transmitidos às gerações, pela tradição oral. Foram cantados pelos gregos nas águas do Mar Egeu, pelos bardos nórdicos e irlandeses. Os mitos e lendas sobreviveram através de simbolismos e alegorias, linguagem apropriada para a conservação do “mistério”, incitando a mente à imaginação pela falta de compreensão absoluta sobre os fatos narrados. Mitos são importantes porque neles está contida a sabedoria espiritual e coletiva, em longos períodos de tempos. Não são “revelações” religiosas. A religião pagã está ao nosso redor, na paisagem moldada por gerações, nos montes sagrados ou círculos de pedras, lugares onde gerações e gerações honraram e veneraram os deuses de seu povo e de sua terra. É uma religião que se preserva pelas de suas músicas folclóricas, das suas danças em cada troca de estação, cultuadas através de bonecas de palha de milho e brinquedos com as maçãs e abóboras no halloween, nem sempre lembrando que estes são os remanescentes de ancestrais celtas, germânicos e de outras tribos que delinearam as heranças do ocidente. O milênio surge com o testemunho do renascimento do culto às antigas tradições espirituais. Deuses e Deusas antigos despertam na imaginação das pessoas e o paganismo é praticado com força no mundo, em manifestações na Europa, Américas e Oceania, chegando a ser aceita como religião oficial na Islândia. Alguns pagãos veneram os deuses de seus ancestrais, ou do lugar onde vivem, ou – ainda, ligados às deidades que não fazem parte da sua terra ou herança racial. Pessoas veneram deidades egípcias, por exemplo. Outros pagãos veneram divindades de diversas religiões e diferentes tradições. Eles podem adorar a “Grande Mãe”, observando as diferentes formas nas quais essa divindade é venerada, e em vários lugares do mundo. Outros veneram a Odin ou Cernunnos. Muitos adoradores dos deuses pagãos definem-se simplesmente como pagãos, ou adoradores da “Deusa”, ou membros da “velha religião”, e também que segue as tradições particulares dentro do próprio paganismo. Um dos mais conhecidos é o Druidismo. Os druidas eram os sacerdotes dos

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celtas e também grandes poetas e curadores. Existem pesquisadores que estudam as habilidades do Druidismo e veneram seus deuses. Outros se autodenominam Odinistas seguidores de Odin, ou Asatru - seguidores dos grandes deuses do norte da Europa no qual se sobressai Odin. E existem os que se assumem seguidores da arte ou bruxaria (witchcraft ou wisecraft) conhecida como arte dos sábios dos povos antigos. Porém, o mais comum são os “wiccanianos”, uma forma de manifestação de arte que venera a “Grande Deusa” e seu consorte, o Deus com chifres, inspirados nos mistérios da religião do antigo mundo, que teriam ancestrais nos costumes genuínos dos mais antigos povos celtas do centro da Europa. Se alguns pagãos praticam os mistérios dos antigos gregos, ou romanos, na América do Norte, tem os que buscam inspiração na espiritualidade de ancestrais nativos, talvez porque sintam necessidade de resgatar sua herança e porque acreditam que a espiritualidade esteja enraizada na herança de sua terra, ou da terra para o qual imigraram. Mesmo que a forma de veneração dos antigos deuses seja diversificada, isso é o suficiente para que sejam integrantes de um movimento espiritual que está em evolução, o paganismo. O neo-paganismo Trata-se, o neo-paganismo, de um movimento religioso/espiritualista/ecológico que ganha espaço em todo o mundo, principalmente na América do Norte e Europa e busca reviver o modo de vida desses povos. Afirma-se como “paganismo” porque retoma suas crenças e práticas, e é “neo” porque tem que se adaptar ao novo modo de produção capitalista, à sociedade moderna, às novas tecnologias e – também, à vida urbana. A preocupação com o futuro, com a degradação da natureza provocada pelo homem, leva milhares de pessoas em todo o mundo a observar esta natureza com maior zelo e, de forma romântica, tentam interpretar os astros de uma forma diferente, e a celebrar as estações em busca de alcançar algo perdido no passado. As árvores são sagradas, e as fogueiras da primavera são acesas novamente, como atividade festiva e mística. O conceito de ser neo-pagão é estar na Terra, e tê-la dentro de si mesmo.

Texto Ilustrativo no. 01 Do Paganismo Ao Cristianismo, de Marion Zimmer, do site www.netsaber.com.br/resumos, 27/10/08. Do Paganismo ao Cristianismo, Arthur é considerado por muitos um deus solar, graças à sua espada Excalibur "que reluz como trinta archotes" e por sua personalidade honesta e luminosa. O mundo de Arthur é mágico e pagão e, não obstante, considerado uma porta de entrada para a afirmação do cristianismo. Sua Távola Redonda - onde todos os cavaleiros sentavam-se em cadeiras iguais e onde não havia lugares especiais, ajudava a consolidar a crença de que todos eram iguais perante seu rei e perante Cristo. A bandeira de Camelot era simbolizada pela cruz cristã e tinha a Ave Maria como protetora. Ao recusar a bandeira de Pendragon, seu antigo domínio, em favor de um símbolo cristão, Arthur contribui para instituir uma religião única por toda a antiga GrãBretanha, traindo os ideais da antiga religião pagã de Avalon e do povo das fadas. Avalon deve muito de seu mistério às lendas celtas que a consideram uma porta de passagem para outro nível de existência. Uma existência povoada de magia e amplitude espiritual. Também era chamada de "Ynis Vitrin" ou Ilha de Vidro, onde seres mágicos, isolados do mundo mortal, desfrutam a eternidade. O nome tem origem no semideus celta Avalloc. Pesquisas arqueológicas atestam que os campos de Glastonbury, há milhares de anos, foram pântanos drenados, ou seja, a cidade já foi uma ilha, o que reforça sua proximidade com as lendas de Avalon, famosa por suas densas brumas e por abrigar aprendizes de magia, elfos, ninfas e sacerdotisas da lua, Avalon era o refúgio preferido de Arthur, que para lá se dirigia em busca de conselhos ou para se curar magicamente das feridas de guerra. Cantada em prosa e verso por trovadores medievais, Avalon sempre pertenceu ao domínio da fantasia. Para muitos respeitáveis estudiosos, porém, não há dúvidas de que a pacata e bucólica Glastonbury de hoje foi outrora a mística Ilha de Avalon. Todos os anos, milhares de visitantes e peregrinos, de todo mundo, acorrem a seus verdes campos e imponentes castelos para encontrar na força do mito de personagens e feitos fantásticos um pouco da magia interior sufocada pela vida moderna.

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Texto Ilustrativo no. 02 Paganismo, Palestra de Janos Biro para a CMI, do site www.midiaindependente.org, 27/10/08. O paganismo como conhecemos hoje não é o paganismo que fez parte das vidas humanas durante 90% de sua existência na terra. O paganismo de hoje tem origem no culto à deusa, que é uma divindade da fertilidade e da terra, ligada à agricultura. Porém, sabemos que a agricultura é uma atividade nova na história humana, tem apenas 10 mil anos, e os humanos tem pelo menos 100 mil anos. Na maior parte do tempo, éramos coletores. O culto à deusa não é o culto original do homem. Apenas com a criação da agricultura é possível criar o conceito de produção e de fertilidade enquanto necessidades dignas do maior esforço. A agricultura e a fertilidade geram a expansão de territórios e o acúmulo de comida. O mito de criação da bíblia mostra o início da agricultura e da criação de animais. Os semitas eram pastores e não plantavam nada. Eles foram atacados pelos caucasianos que eram agricultores, e a mistura desses povos deu origem aos hebreus. Os hebreus tinham a idéia de que o mundo estava em decadência, mas que um messias o salvaria. Esse messias conduziria os homens como um pastor conduz as ovelhas. Mas ovelhas são animais domesticados, cativos de um poder totalitário. Animais domesticados são patéticas caricaturas de sua forma selvagem. Os hebreus foram escravizados pelos egípcios, e o deus monoteísta tem origem numa divindade solar egípcia. Abraão introduziu o deus solar único como forma de renegar o politeísmo egípcio, mas destruiu também a religião tribal hebraica que era animista. Mais tarde os judeus foram escravizados pelos romanos e da mesma forma tiveram que mudar sua religião. O cristianismo tem elementos de filosofia grega, que é o que os romanos estudavam. Os romanos assimilaram o cristianismo e o transformaram em religião oficial do império. Então o usaram para combater os outros povos dominados, que não tinham um deus monoteísta, e foram chamados de pagãos. Ocorreu também a perseguição aos judeus não-convertidos. Os mouros, que também descendiam dos hebreus, tinham feito o mesmo no oriente

médio e por isso tinham outro messias. E os dois começaram a brigar para ver quem tinha o deus melhor. Os árabes conheciam Aristóteles e os europeus não, mas com a guerra eles trocaram conhecimento e a Europa expandiu seu império graças ao novíssimo conceito de ciência. A navegação permitiu que eles viessem para novos mundos e começassem a explorar aqui também. Mas alguns povos ainda permaneciam com a religião pagã. Os índios americanos foram massacrados, os africanos foram escravizados, os europeus faziam guerras entre si, os asiáticos se aglomerando. Agora, temos um mundo globalizado por uma nova versão do império romano - fortalecido por um novo cristianismo protestante que favorece o capitalismo. E algumas pessoas querem voltar às raízes de uma suposta religião pagã. Mas que religião pagã é essa? Todas essas religiões que chamamos de pagãs cultuam deuses de culturas que não são anteriores à agricultura, como os celtas. E qual o problema disso? É que essas religiões não são diferentes de nossas atuais religiões, são apenas menos avançadas. Jesus sugeriu que as espadas se tornassem arado. Arados são ferramentas de agricultura, de expansão, de produção de excedente. Logo, os pagãos de hoje não são radicais o suficiente quando a questão é negar as religiões totalitárias. As religiões pagãs não criticam o modo de vida baseado no acúmulo e na expansão, porque dependem disso. Eles querem ser aceitos na comunidade global das religiões. O Casamento Sagrado - Hieros Gamos Na antiguidade, o sexo era considerado sagrado e sua prática era uma forma de “reconexão” entre o indivíduo com o EU divino - o “re-ligare”, religião - sempre associado à idéia de comemorações, e rituais de fertilidade. Esta manifestação – o sexo mágico, representa o domínio e o poder do feminino, considerado algo sagrado e que envolve o ritual de entrelaçamento das energias entre os chacras masculinos e femininos canalizados – desde o Mladhara - penetração, despertando o Kundalini - serpente sagrada, até a obtenção do Sahashara - simbolizado pelo extraordinário fluxo das energias telúricas, gerado no clímax do enlace. No sexo sagrado, o corpo da mulher se torna um templo a ser venerado e o enlace entre o

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sacerdote - que assume o papel de um deus e a sacerdotisa - que assume o papel de uma deusa, adquire uma sublimação que desperta grandes energias e faz com que eles cheguem à iluminação. Na Suméria, neste ritual, praticado antes dos anos 4.000 a.C., a alta sacerdotisa assumia o papel do avatar da grande deusa Inanna, e fazia sexo com o rei ou imperador, que assumia o papel do deus Dumuzi, e servia para demonstrar a sua aceitação, pela deusa, como o governante justo. Este ritual era executado diante da corte, sem tabus, em uma cerimônia religiosa. O símbolo desta união era um chifre – a “cornucópia”, numa referência à vagina da Grande Deusa em sua abertura e no falo do grande deus em seu chifre, do qual brotava a fartura dos campos, numa associação entre os rituais sexuais de fertilidade e as colheitas energizadas por tais rituais. O símbolo da cornucópia foi eternizado na mitologia grega, através dos ritos Dionísicos e sua presença no Olimpo, e até hoje é um símbolo de fartura. Eram três, as classes de sacerdotes iniciados no antigo Egito. O Culto ao Templo Solar, cujo templo principal ficava em Hélios, baseado nos mistérios de Osíris de sua morte e ressurreição, da conspiração de Seth, da vingança de Hórus e seu triunfo. Este culto tratava das energias masculinas em seus rituais baseados na força e simbolismo do sol, movimentando os aspectos de Yang - positivos, fortes, racionais e diretos. Desta ordem surgiam os comandantes dos exércitos do templo e, posteriormente, os Cavaleiros Templários e a Maçonaria. Além desta Ordem, existia a Ordem dos Mistérios de Ísis, voltada para mulheres. Estas ordens lidam com a energia lunar, com o Yin desenvolvendo a intuição, a sedução e as emoções sutis. Ísis recebeu vários nomes em seus cultos: Islene, Ceres, Rhea, Venus, Vesta, Cybele, Niobe, Melissa, Nehalennia no norte; Isi com os hindus, Puzza entre os chineses e Ceridwen entre os antigos bretões. O terceiro tipo, as Ordens de Ísis e Osíris, ou as ordens mistas. Estas eram ordens espirituais, preocupadas com o estudo das ciências e dos fenômenos naturais. Pode-se dizer que foram as primeiras ordens de cientistas do planeta, estudando ao mesmo tempo fenômenos físicos, matemáticos e

espirituais. Destas ordens, grandes iniciados como o faraó, Nefertiti, Akhenaton (ou Amenophis IV) e Moshed (ou Moisés para os íntimos) estabeleceram as bases de praticamente todas as escolas iniciaticas que surgiram, inclusive todos os ramos das Ordens Rosacruz. Os templos eram formados por até 13 membros, cada, sendo comum a participação de membros da Ordem do Sol ou da Lua nas ordens mistas, como até hoje é comum maçons ou wiccas participarem das ordens rosacrucianas. Treze pessoas em um grupo era considerado o ideal, pois constituía o que chamavam de “círculo completo”, cada um dos iniciados representando um dos signos do zodíaco, ao redor do Grande Sacerdote, forma observada em práticas rituais em outras culturas - celta, romana, bretã e, também, africana. Havia um quarto grupo, formado por sacerdotes especialmente escolhidos do Templo do Sol e do Templo da Lua, especialmente para as festividades das Cheias do Nilo, Morte e Ressurreição de Osíris, Início do ano e várias outras celebrações importantes. Estas celebrações eram as chamadas “hieros gamos” – casamento sagrado, onde um sumo-sacerdote orientava - sem participar, do sexo ritualístico entre seis casais, - totalizando treze pessoas. Estes casais eram – em geral, casados e assumiam posições no círculo formando um hexagrama, com o sacerdote ao centro. Estes rituais eram realizados em um templo ou no interior de pirâmides. Os celtas utilizaram estes mesmos princípios em seus rituais e em festivais. Em grandes festividades, iniciados também participavam fora do círculo principal, que era formado por casais mais poderosos, formando um segundo círculo externo e as sacerdotisas assumiam a representação da deusa Meret, a deusa das danças e das festividades, e os sacerdotes assumiam a representação de Hapi, deus da fecundidade e das cheias do Nilo. É importante ressaltar que nestes rituais cada sacerdote copulava apenas com a sua parceira, sendo comum o uso de máscaras, normalmente cabeças de animais representando os aspectos relacionados ao ritual ou deus que estava sendo objeto de veneração – origem dos bailes de máscaras - que secretamente abrigavam hieros gamos, e posteriormente ainda os bailes de carnaval. Após as festividades, havia dança, celebrações e sexo

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não-ritualístico/hedonista. Estas sacerdotisas eram chamadas de Meretrizes. Junto às meretrizes, estavam as “Virgens Vestais” virgens que trabalhavam um tipo diferente de energia e eram consideradas as “Protetoras do Fogo Sagrado”. Elas existem desde o Egito, mas ficaram mesmo conhecidas no período grego e romano.

tem mais potência sexual e na lua crescente Shiva está mais viril; na lua nova, ambos estão relativamente sexuais e na minguante a energia pode não estar muito propícia; e envolve a preocupação com os exercícios para desenvolver os chakras, vestimentas e alimentação apropriadas, meditação e concentração.

Paralelamente aos ritos egípcios, existiam rituais sexuais ligeiramente diferentes na Índia, mas baseados nos mesmos princípios de união dos chacras para despertar a kundalini.

Ao contrário da ritualística egípcia, que é extremamente rígida em relação à escolha dos parceiros, os rituais e festas tântricas eram basicamente hedonistas - voltadas para o desenvolvimento do ser humano através do prazer e felicidade, podendo haver troca de parceiros - caminhos central e da mão esquerda somente, ou envolvimento de mais de uma parceira/o, com respeito e consensualidade entre os participantes. Estes grupos mantiveram-se sempre de maneira secreta em praticamente todas as sociedades, até os dias de hoje – modernamente chamada prática do swing. E existem registros de grupos que aprimoraram conceitos diferenciados e comportam-se como sociedades secretas, desenvolvendo rígidas regras de conduta.

O tantra A palavra tantra vem do védico e pode significar “teia” ou “libertação da escuridão” ou ainda “aquilo que amplia o conhecimento”. Basicamente, o tantra possui uma filosofia de amor. Amor ao semelhante, à natureza, à vida e ao sexo. O ato sexual é mágico no tantra, e esta é apenas uma das manifestações desta filosofia que prega o culto ao corpo, à mente e ao espírito; o respeito pelos seres vivos; defende a paz e a harmonia com o cósmico, cultiva a devoção ao feminino e ao estudo das artes Os bárbaros arianos que invadiram a, em 2.000 a.C., proibiram as práticas tântricas e sua filosofia. O principal ritual de sexo tântrico é chamado de Maithuna, e prega a existência de três vertentes do Tantra - o “caminho da mão esquerda”, que defende a realização destes rituais com estranhos, para atingir um máximo de erotização (voltado para o prazer e deu origem ao Kama-Sutra); o “caminho da mão direita”, que prega que o Maithuna deve ser feito apenas com sua parceira, gerando maior intimidade energia maior no ritual; e “caminho do meio” que afirma serem, os rituais sexuais ideais para realização, tanto com uma parceira quanto com mais parceiras. Durante o ato sexual, o homem assume o papel de Shiva e a mulher de Shakti. O papel da mulher é sempre o de uma deusa a ser venerada e envolve todo um ritual antes do sexo, desde a depilação e o banho de ervas e perfumes até o preparo do ambiente, pelo homem, com música e incensos, em relações que duram cerca de cinco horas, podendo chegar até vinte e um dias. O Maithuna é programado segundo o ciclo dos signos e as fases da lua - na lua cheia Shakti

Conceitos greco-romanos Na Grécia, o culto a Ísis era o mesmo egípcio, com Toth sendo conhecido como Hermes e os mistérios de Osíris se transformam em culto a Dionísio. Na mitologia, Dionísio nasceu da relação entre Zeus e Perséfone. Dionísio atraiu a fúria de Hera, que enviou os titãs para matá-lo. Zeus o protegeu enviando raios e trovões para despedaçar os titãs, mas quando conseguiu derrotá-los, sobrou apenas o coração de Dionísio. Zeus colocou seu coração no ventre de Semele, uma de suas sacerdotisas, que se tornou sua segunda mãe. Dionísio era conhecido como o “nascido duas vezes” e, da mesma forma, abriga a metáfora da adoção. O culto à morte e ressurreição de Osíris e os rituais que demonstravam a vida após a morte está representado também nesta mitologia, onde Semele era uma sacerdotisa virgem do culto a Zeus - uma virgem vestal. Na mitologia, com frequência observa-se que muitos iniciados nasceram de “virgens”. Para a mitologia, virgem tem o significado de “espiritualmente pura”, como na história de Jesus Cristo, que também pode ser interpretada como uma linguagem mítica.

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Os cultos à Dionísio eram os cultos ao Deus Baco – Bacchus, e suas sacerdotisas iniciadas nos cultos lunares eram conhecidas como Menades ou Bacantes, tem origem na Grécia e tornam-se populares em Roma a partir de 200 a.C. O historiador grego, Homero, descreve que estas sacerdotisas “iam para as montanhas realizar estranhos rituais”, e descreve alguns destes rituais de “bacchanalia” a partir de relatos da sacerdotisa Sappho, cujo templo Mytilene localizava-se na ilha de Lesbos em torno do ano 600 a.C., e envolviam relações e “sexo mágico” entre mulheres. Mais populares em cidades como Esparta, voltada para o aperfeiçoamento do corpo e da mente através de treinamentos físicos desenvolvidos pelos Guardiões do Templo, os cultos solares incluíam ritos de iniciação, como longos períodos de isolamento em regiões desérticas com a finalidade de reflexão e ritos de passagem. Nos cultos de Dionísio, o “hieros gamos” assume a forma de relações sexuais entre os deuses, para a realização de diversas comemorações ou rituais. No panteão Olímpico, Zeus, Hera, Poseidon, Afrodite, Ares, Atenas, Hermes, Hefesto, Apolo, Ártemis, Demeter e Hestia formavam um grupo de 12 pessoas, 6 pares de homens e mulheres, completando 13 com a “participação” de Dionísio - sumosacerdote, formando – assim, o círculo completo para o “hieros gamos”, e cada deus era relacionado a um signo do zodíaco. Estas sessões de cultos receberam o nome de Orgion – em grego, ritual secreto, presididas pelo Orgiophanta, cuja latinização deu origem ao termo orgia. O culto solar ganha força em Roma, através do culto a Mithra – Deus-Sol, ou Sol Invictus, e, em 180 a.C., o senado romano editou o “Senatus Consultum de Bacchanalibus”, que estabelece regras para a realização dos cultos “hieros gamos”. As Vestais - sacerdos vestalis, sacerdotisas da Deusa Vesta, eram encarregadas de manter aceso o Fogo Sagrado de Vesta, o santuário mais importante de cada cidade romana. Para alguns historiadores, pode ser a origem da tocha olímpica e cuja origem remonta ao fogo que

Prometeu roubou dos deuses e que lhe custou o castigo eterno. Prometeu é citado pelos historiadores Ascilus e Hesíodo como “o Portador da Luz”, cujo nome em grego é Phosporos. As Vestais eram virgens, e sua energia e chacras eram conhecidas por chastitas, origem da castidade. Os rosacruz chamam estas jovens de columbas. As chastitas escolhem a virtude do agap - ou amor pela humanidade, como caminho da realização. Platão estudou esta ritualística, origem do termo “amor platônico”. Por outro lado, Sócrates, desenvolveu o chastitas pederastia, que é uma relação de amor casto entre um jovem e um adulto do mesmo sexo. Todavia o amor a que se referia Sócrates não era o amor homo-erótico (que incluía sexo), mas sim o amor fraternal de um Mestre para com o Aprendiz, tendo em vista que, segundo seu suas observações determinavam que a relação fosse entre um guerreiro mais velho e um aprendiz, mais jovem. Neste caso, a castidade transforma o desejo carnal e sexual em uma energia espiritual através do desenvolvimento dos chacras superiores e do controle dos chacras inferiores, despertando valores espirituais elevados. Os monges budistas e sacerdotes castos desenvolvem esta forma de sublime amor. Magia e poder sexual feminino Se as origens da magia sexual estão nos ritos verificados na Suméria, no Hieros Gamos egípcio e na cultura greco-romana, pode-se analisar as relações de poder dali emanadas, sob óticas também diferentes. Sob o ponto de vista masculino, do Templo Solar - determinante dos valores que regem os exércitos e guerreiros; na visão feminina do Templo Lunar - orientada às sacerdotisas, e as Fraternidades Mistas - que compunham os grupos envolvidos nas atividades festivas pagãs do Hieros Gamos. As mulheres possuem uma vantagem sobre os homens neste aspecto. Durante a magia, a utilização de fluídos corporais potencializa os resultados do ritual. Em ordem de poder temos: a saliva, sêmen, líquidos vaginais, sangue e, finalmente, o mais poderoso de todos: o sangue menstrual (do latim, menstruum). Por isso, determinados ritos femininos (as Bacantes, por exemplo) eram realizados em

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determinadas luas, potencializado com os ciclos menstruais alinhados nos casos de várias mulheres reunidas, quando estariam em seus períodos menstruais em determinados rituais e este “extra” compensa a presença de um homem. Para os homens, não há nada que se possa fazer. Aleister Crowley foi um dos primeiros a estudar variações destes rituais para homossexuais masculinos, em 1874, chegando a imaginar um 11º grau na OTO apenas dedicado a este tipo de magia (a OTO vai apenas até o grau 10). Oscar Wilde, Georges Cecil Ives e Montague Semmers tentaram alguma coisa semelhante em 1899, através de uma Ordem Secreta composta apenas de homossexuais chamada “Order of Chaeronea”. Na Babilônia, o culto a Ishtar era famoso pelos templos dedicados a Inanna e Ishtar (ou Astarte), a grande deusa da Babilônia. As sacerdotisas ficavam mais sagradas e mais poderosas nestes templos dedicados à deusa do amor e da sexualidade. O nome “prostituta” vem de “aquelas que se prostram (diante de Ishtar)”. Nestes templos, as “Ishtartu” ou “damas dos prazeres” tinham o domínio sobre sua sexualidade, oferecendo-se para estranhos em troca de contribuições pecuniárias para o templo, em rituais de adoração a Ishtar. Mulheres que desejavam se casar, para obter as bênçãos de fertilidade da deusa, precisavam passar um período de sete dias na porta do templo para obter dinheiro suficiente para a doação, no chamado “dote”. Este ritual prénupcial era chamado “fornicatio”, de onde surgiu mais tarde a palavra “fornicação” e o local onde ocorriam estas negociações era chamado de “fornix” (câmaras arqueadas), onde recebiam instruções das sacerdotisas nas artes do amor e da capacidade de agradar aos homens. Muitas famílias nobres enviavam suas filhas para servirem como harlots (termo inglês utilizado para designar prostituta, sem tradução para o português). A harlot entrava em um templo na condição de virgem vestal e sacrificava sua virgindade ritualisticamente para o sacerdote, o que a iniciaria nos mistérios do Hieros Gamos. Este sacrifício de sangue para Ishtar marcava a iniciação destas sacerdotisas e considerado muito importante O tecido onde ficavam depositadas as manchas de sangue era queimado e dedicado às deusas num ritual sagrado. Este ritual é a origem da “prima

noche”, em que o senhor feudal requisitava o direito de tirar a virgindade de qualquer mulher que fosse se casar com a exibição do lençol sujo de sangue como “prova” da virgindade rompida. Apesar de todo o culto de sexo sagrado, Ishtar sempre surge reverenciada com o título de “a virgem”, implicando com isso que seus poderes e sua criatividade não dependiam de nenhuma influência masculina. As mulheres detinham o poder e o controle. Isthar era Afrodite - para os gregos, e Vênus - para os romanos. A partir do Código de Hamurabi, em aproximadamente 1750 AC, tudo isso mudou. A mulher passou a necessitar da permissão de seu marido ou pai para tudo, o poder das sacerdotisas foi massacrado e Innana e Ishtar perderam muito do prestígio que possuíam, tornando-se divindades menores e, mais adiante, classificadas como demônios. A influência na condição masculina O Culto Solar - composto apenas por homens, girava em torno do uso da magia para expandir habilidades de batalhas e lutas, desenvolver capacidade de raciocínio matemático, engenharia e construção, utilizando a geometria, táticas de combate e filosofia, além da proteção às sacerdotisas. Todavia, o fato de não existir mulheres nos exércitos e as ‘ordens’ serem totalmente militares, estas relações – com frequência, ocorriam disputas nas relações masculinas x femininas, o que levou às ordens lunares tornarem-se secretas, abrigadas entre os celtas e romanos, longe da influência da moral judaico-cristã. Com o tempo, os solares adquiriam muito poder, em função da sua condição bélica. Características ocultistas determinaram o posicionamento e construção de obeliscos nas Linhas de Ley e serviram para marcar os principais locais de realização de rituais, e conectar outros monumentos nestas “linhas invisíveis”. Estes monumentos servem para ajudar a ajustar a Terra para permitir melhores colheitas, paz, harmonia e prosperidade em seu entorno. O ‘obelisco’ representa acima de tudo um raio de sol petrificado que cai sobre a terra em um ponto específico. Outra característica importante dentro dos cultos solares - a

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iniciação de seus principais guerreiros, serviu para qualificar a formação de líderes, sendo comum – nestes rituais de iniciação, o envio do iniciado para algum lugar inóspito armado apenas com uma adaga, esperando-se que ele não apenas sobrevivesse como trouxesse uma prova de sua capacidade de caçador, trazendo a pele do animal abatido. Entre os celtas e bretões, era tradicional abaterem gamos ou alces, e o iniciado removia os chifres e trazia-os presos em sua cabeça. A capa vermelha dos reis simboliza a pele coberta de sangue do animal, assim como as capas vermelhas dos soldados romanos, dos espartanos e dos guerreiros celtas. Entre os nórdicos, eram usuais as peles de ursos (bersekir, de onde se originou o termo berserker para designar os guerreiros imbatíveis do norte que lutavam sob o efeito de poderosos rituais xamânicos). Os chifres na cabeça representam o deus das florestas encarnando naquele sacerdote – ou guerreiro, o que seria de vital importância no Hieros Gamos, pois mostraria que aquele iniciado estava apto a incorporar o avatar de Cernunnos (Baco, Dionísio ou Dummuz) nos rituais. Este hábito de iniciação de usar os chifres na cabeça do principal sacerdote do Hieros Gamos da origem à “coroa” (que nada mais é do que chifres simbolizado em metal nas pontas da coroa, somados às jóias da sabedoria divina). Estes chifres às vezes eram simbolizados por aquele “penacho” que vocês já devem ter visto nos legionários romanos, ou então pela coroa de louros dos gregos/imperadores. Influência militar romana Estas ordens solares - maioria dos exércitos da antiguidade era em centúrias, formada por 100 soldados, comandadas por um centurião e constituídas por 10 conturbernium, comandados por um decurion. Estas ‘contubernias’ eram formadas por oito combatentes – octeto, e mais dois não combatentes auxiliares, encarregados dos cavalos, comidas, armas e armaduras do octeto. Estes grupos eram tão unidos que acabavam sendo punidos ou recompensados como um todo pratica tradicional na formação da unidade militar, mesmo na falta ou ato irregular de um indivíduo, caso em que os dez soldados pegavam palitos de trigo e aquele que tirasse o menor palito era apedrejado pelos nove colegas. Desta prática, chamada decimatio, surgiu o conceito do “puxar o palito menor”

como sinônimo de má sorte, além da origem do termo “dizimar” como matança. Seis centúrias formavam uma cohorte, formada por 600 soldados, e o conjunto destas cohortes formava a legião. O grão mestre destas ordens era chamado de monosarchen – do grego, comandate. Monosarchen é a origem da palavra Monarca - ou monarch, em inglês. Influência celta O culto à natureza – característica dos celtas, druidas e bretões, assim como os cultos secretos das bacantes e dos soldados do templo solar, sempre estiveram presentes nestas manifestações ritualísticas. O historiador grego Sótino, de Alexandria no século II a.C. registra o testemunho destes rituais. Os druidas - em latim, druides, mesma origem de dríade, que significa ‘ninfas da floresta’ – da mitologia grega, era o termo empregado pelos romanos para designar as sacerdotisas celtas que realizavam rituais nas florestas. Do Egito, os ritos espalharam-se em toda a Grécia e suas ilhas. Assim como os sábios gregos construíam panteões, templos e obeliscos utilizando-se da geometria sagrada, os bretões e celtas erguiam círculos de pedra com a mesma ferramenta. Enquanto os gregos realizavam as bacchanalias, os celtas e bretões realizavam os festivais de solstícios e equinócios, e as festas de beltane e samhain, celebrando os Hieros Gamos. Nos ritos sagrados, o aspecto masculino da divindade era representado primariamente pelos deuses Cernunnos e o “Green Man” – homem verde. Cernunnos é o Deus Chifrudo das florestas e representa as forças viris da natureza. Seus chifres traziam a simbologia fálica e representavam – também, a iniciação dos sacerdotes dentro da tradição solar, apresentando-se vestido com peles de animais e com o casco de bode. Cernunnos possui as mesmas atribuições do deus Pan (grego) e do deus Pashupati (hindu). Pan vem do grego Paon, que significa ‘tudo’, mas também significa ‘pastor’. O “green man” era a imagem construída a partir da própria floresta, cujo rosto formado por plantas - ou um sacerdote com o corpo pintado de verde, representando a fertilidade r o renascimento das plantas após o inverno.

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A origem do carnaval Para fugir da perseguição religiosa, os “hieros gamos” passam a ser celebrados na forma de bailes de máscaras - ou carnavais. A origem do carnaval remonta das saturnálias, que eram festas romanas em homenagem à Saturno, e ocorriam entre 23 de Dezembro e 06 de Janeiro, envolvendo sexo, danças e troca de presentes, além de sacrifícios, e o nome carnaval vem de “carrus navalis” - carro naval, que simboliza a barca de Apolo, que era levada através das multidões nas ruas. Esta barca é versão romana da barca de caronte, que - por sua vez, é a versão grega da arca da aliança, versão judaica da barca de Ísis, por sua vez egípcia. As máscaras de carnaval são versões das máscaras dos deuses egípcios nos rituais, citados anteriormente. Assim, os sacerdotes dos deuses antigos – protegidos em sociedades secretas reuniam-se em bailes de máscaras para realizar seus antigos rituais, sem serem importunados pela igreja. A wicca A wicca é uma religião baseada na Terra e em suas manifestações. Wicca é o nome alternativo que se dá às práticas modernas da bruxaria. Muitos dos seus rituais e filosofia são inspirados nos ritos da Europa antiga, recorrendo, no entanto, a fontes mitológicas clássicas - sumeriana, egípcia, nórdica e de inúmeras outras culturas do mundo. É uma religião de princípios xamanísticos, fundamentada na natureza e seus ciclos, reverenciando duas divindades - A Grande Deusa Mãe e o Deus Cornífero, seu filho e consorte. Os wiccanianos - ou wiccanos, acreditam na Deusa como a Criadora de tudo e de todos. A Deusa é a principal deidade wiccanianna, simbolizada pela Lua e pela Terra e recebeu diferentes nomes em diferentes culturas onde foi cultuada e celebrada. Ela é eterna, imortal e exerce supremacia em todas as práticas e rituais. A wicca é uma religião polarizada e por isso também acreditam - os wiccanos, no princípio criador masculino, o Deus Cornífero, simbolizado pelo Sol - representante da fauna, flora e animais - um antigo Deus das primeiras culturas da humanidade responsável pela caça e fartura. Ele é considerado o filho e consorte da Deusa.

A wicca possui crenças básicas como o conceito do papel preponderante da Deusa em suas práticas e mitos, o papel secundário do Deus, cultuando também os antigos deuses da natureza que são vistos como vários aspectos da Deusa e do Deus; a utilização da magia natural, formando o conjunto operacional da Religião e a crença na reencarnação, vista não somente como forma de evolução, mas também como o desejo de retornar no mesmo tempo e local das pessoas amadas. Por ser uma religião centrada na natureza, o calendário litúrgico wiccaniano tem base nas mudanças que ocorrem na natureza, consistindo de vinte e um rituais anuais, realizados em treze esbats – ou ritos da Lua Cheia e oito sabbats ritos que marcam as mudanças sazonais. A wicca possui um único dogma, o Dogma da Arte, que prega o "faça o que quiser, sem prejudicar a nada e nem a ninguém" – que se constitui na única Lei Pagã. Também creem em mágicas, compreendidas como um conjunto de técnicas capazes de transformar a natureza em favor da vontade – que seria a parte operacional da wicca, que se reconhece como uma crença que busca inspiração para a sua religiosidade nas antigas manifestações religiosas pré-cristãs, por isso antes do conceito monoteísta de um Deus masculino criador do Universo e da criação do Diabo ou do Demônio. Os conhecimentos da Bruxaria teriam sobrevivido através da tradição oral transmitidos de boca a boca pelos seus praticantes e, sendo esta a razão de não existir um livro sagrado que os praticantes wiccanos devam seguir. Apesar dz existência de inúmeros livros publicados sobre o assunto, nenhum deles atua como livro padrão para rituais e práticas. Os interessados na wicca buscam seus conhecimentos obras de uma infinidade de autores, na natureza e através de praticantes mais experientes. A wicca se autoproclama religião libertária e não hierárquica não existindo autoridades hierárquicas considerando, entretanto, a opinião de praticantes mais experientes. Sendo a wicca uma religião fundamentada na natureza e de amor incondicional a ela, qualquer ato contra a vida é reprovado, e considera a natureza o templo dos Antigos Deuses, onde os rituais são realizados na natureza sempre que possível, apesar de

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registros de realização de rituais em locais fechados, por opção pela privacidade. Os rituais ocorrem sob os símbolos sagrados do Triskle, da Espiral, da Triluna, do Labirinto e do Labrys. Todavia, o símbolo mais associado à wicca é o Pentagrama, que representa o homem de braços abertos dentro do “círculo mágico”, com o espírito e os quatro elementos. Os wiccanos chamam sua prática como ‘tradições’ e os rituais como ‘tradições de arte’. Pode-se afirmar que se constitui numa uma religião individualista, onde as pessoas encontram possibilidade de extravasarem sua religiosidade e noção própria do ‘divino’, bem como sua forma de cultuar.

Em 1999, Ronald Hutton - renomado historiador das religiões pagãs britânicas professor na Universidade de Bristol, publicou "The Triumph of the Moon" - "O Triunfo da Lua". Neste trabalho, Hutton conduz detalhadas pesquisas sobre as práticas pagãs pré-históricas conhecidas e pesquisou nos manuscritos não publicados de Gardner. Assim como Davis, Hutton não conseguiu encontrar provas conclusivas acerca da existência do coven de quem Gardner teria aprendido a arte, e afirma que a religião ancestral que Gardner afirmava ter descoberto não passava de uma mistura de materiais oriundos de fontes relativamente recentes.

O contraponto à wicca Com base no trabalho de Charlotte Allen (2001), dois respeitados estudiosos apresentaram teorias essencialmente idênticas sobre as origens da wicca. Em 1998, Philip G. Davis, professor de Religião na Universidade da Ilha Prince Edward, publicou "Goddess Unmasked: The Rise of Neopagan Feminist Spirituality" - "A Deusa Desmascarada: a Ascensão da Espiritualidade Neo-Pagã Feminina", sob o argumento de que a wicca é a criação de um funcionário público inglês e antropólogo amador chamado Gerald B. Gardner (1884-1964). Davis afirma que as origens do movimento da Deusa tiveram como base o interesse dos ‘românticos’ alemães e franceses - em sua maioria homens - nas forças naturais, especialmente as associadas às mulheres. Gardner admirava os ‘românticos’ e pertencia a uma sociedade rosa-cruz chamada Fellowship of Crotona - Companhia de Crotona, um grupo influenciado por vários outros grupos ocultistas do final do século XIX, por sua vez influenciados pela maçonaria. Nos anos 50, Gardner apresentou uma religião que denominou wicca. Apesar de Gardner afirmar ter recebido os conhecimentos wiccanos de um centenário coven de bruxos, também integrantes da “companhia de crotona”, Davis desenvolve a tese de que ninguém conseguiu localizar esse coven e que Gardner inventou os ritos que anunciava, emprestando elementos de rituais anteriormente criados no século XX pelo ocultista inglês Aleister Crowley.

Aparentemente, Gardner baseou-se nas obras de duas pessoas: Charles Godfrey Leland, um folclorista amador americano que afirmava ter encontrado um culto à Deusa Diana sobrevivendo na Toscana, e Margaret Alice Murray, uma egiptóloga britânica que também se embasava nas ideias de Leland e, iniciando nos anos 20, criou um sistema detalhado de rituais e crenças. Baseado em sua própria experiência, Gardner incluiu elementos maçônicos tais como vendar o iniciado, as iniciações, o segredo e "graus" de sacerdócio. Ele incorporou uma parafernália associada ao Tarot, como bastões, cálices e a estrela de cinco pontas rodeada por um círculo, o equivalente wiccano da Cruz. Gardner também incluiu a linguagem arcaica - "thee", "thy", "'tis", "Ye Book of Ye Art Magical" - exemplos de inglês elizabetano. Apreciador do nudismo - Gardner pertenceu a uma colônia nudista nos anos 30, e afirmava que muitos rituais wiccanos deviam ser praticados "vestidos de vento". Algumas inovações de Gardner possuem tonalidades sexuais e até mesmo de dominação e disciplina. O ‘sexo ritual’ - que Gardner denominou ‘grande rito’, desconhecido na antiguidade, era parte da liturgia do Beltaine e de outros festivais. Para Gardner, os praticantes simulavam o ato com um punhal e um cálice. Outros rituais exigiam que os iniciados fossem amarrados e açoitados, além do ‘beijo quíntuplo’ aplicado aos pés, nos joelhos e ventre, nos seios e lábios. Hutton contrapõe a teoria de que antigos costumes pagãos sobreviveram ocultos nas

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práticas cristãs medievais. Suas pesquisas afirmam que algumas poucas tradições, como decorar a casa com plantas verdes no ‘yule’ e celebrar o ‘mayday’ com flores, são coincidências e que nenhuma prática pagã como veneração de deuses, sobreviveu desde a antiguidade. Sua teoria traz a informação de que os passatempos rurais ancestrais vistos pelos folcloristas como antiguíssimos rituais de fertilidade - incluindo a dança do ‘maypole’, na verdade tiveram origem na Idade Média ou no século XVIII. Hoje existe um consenso entre os historiadores, os quais afirmam que o Catolicismo permeava completamente a mentalidade da Europa medieval, introduzindo uma forte cultura popular com santuários de santos, devoções e até mesmo encantamentos e sortilégios. A noção de que os rebeldes medievais eram originalmente pagãos é herança da Reforma Protestante. O pesquisador também aponta para uma falta de provas de que os antigos Celtas ou qualquer outra cultura pagã celebravam os "oito festivais da Roda", tão importantes à liturgia ‘wiccana’. "Os equinócios aparentemente não possuem festivais pagãos nativos por trás deles e se tornaram importantes apenas para os ocultistas do século XIX", afirma, e que “não existem provas que atestem a existência de um ritual pagão ancestral à Páscoa" - um festival que os pagãos modernos celebram como ‘ostara’, o equinócio de primavera. Os historiadores também derrubaram outra crença básica da Wicca: a de que o grupo possua uma história de perseguições superior à dos judeus. Os números citados por Starhawk nove milhões executados ao longo de quatro séculos - derivam de um historiador alemão do final do século XVIII, foram coletados cem anos depois por uma feminista chamada Matilda Gage, e logo entraram para o evangelho wiccano. O próprio Gardner foi responsável pela criação da expressão "burning times" (era das fogueiras). A maioria dos historiadores atualmente crê que o número real de execuções pode ter chegado a 40.000 pessoas. O mais completo estudo recente da bruxaria histórica é "Witches and Nighbors" - "Bruxas e Vizinhos" (1996), de autoria de Robin Briggs, historiador na Universidade de Oxford, que vasculhou os documentos dos julgamentos dos bruxos

europeus e concluiu que a maioria deles ocorreu durante um período relativamente curto, de 1550 a 1630, e estavam restritos a uma área englobando partes da atual França, Suíça e Alemanha, já então envolvidas pelo tumulto religioso e político da Reforma. Se podemos nos basear nos chatrooms da Internet, muitos wiccanos se agarram com toda força à idéia de que eles próprios são vítimas institucionais em grande escala. De modo geral, contudo, os wiccanos parecem estar se acomodando com as muitas evidências acerca de seus antecedentes: por exemplo, eles estão passando a ver suas origens ancestrais como uma lenda inspiradora ao invés de uma história verídica. No final dos anos 90, com o lançamento dos livros de Davis e Hutton, muitos wiccanos passaram a se referir à sua estória como um mito de origem, e não como uma história de sobrevivência. "Nós não fazemos o que as bruxas faziam há cem ou há quinhentos anos", disse-me Starhawk, "não somos uma tradição ininterrupta, como a dos índios norte-americanos". Na verdade, muitos wiccanos atualmente descrevem aqueles que levam ao pé da letra os elementos da narrativa do movimento como "fundamentalistas wiccanos". Diotima Mantineia é o pseudônimo da editora associada do site "The Witches' Voice" "A Voz das Bruxas". Ela não revela seu nome real, em parte porque mora numa cidade sulista que, segundo ela, é hostil aos neo-pagãos. Ela resumiu seus sentimentos sobre a desmistificação da narrativa wiccana oficial da seguinte forma: "Não me importa o quão velha é a wicca, pois quando me conecto a Deidade na forma da Senhora, creio que estou me ligando a algo muito maior e vasto do que jamais poderei compreender. O (A) Criador (a) deste universo manifestaram-se – sempre, na forma dos deuses e deusas com os quais a humanidade estabeleceu relações. A wicca se propõe a facilitar essa conexão, e é isso o que realmente importa." 1.3. Símbolos O pentagrama O ser humano, em sua trajetória, sempre se sentiu envolto por forças superiores e trocas energéticas que nem sempre soube identificar.

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Sujeito a perigos e riscos e diante de uma natureza recheada de atividades voluntárias que não conseguia explicar as causas, teve a necessidade de reunir forças para se proteger. Lançando mão de imagens e objetos, o indivíduo primitivo criou e adoraram símbolos capazes de registrar sua história, que pudessem representar as estranhas e superiores forças naturais a que estava submetido. Dentre estes inúmeros símbolos criados pelo homem, se destaca o pentagrama, que evoca uma simbologia múltipla, sempre fundamentada no número cinco, que exprime a união dos desiguais. As cinco pontas do pentagrama põem em acordo, numa união fecunda o masculino, o feminino e o andrógeno. Simbolizando a forma, mais simples de estrela, traçada com uma única linha, é também chamado de "laço infinito". A potência e associações do pentagrama evoluíram ao longo da história. Atualmente, é um símbolo onipresente entre os neo-pagãos, com muita profundidade mágica e grande significado simbólico. Um de seus mais antigos usos vem da Mesopotâmia, onde a figura do pentagrama aparecia em inscrições reais e simbolizava o poder imperial que se estendia "aos quatro cantos do mundo". Entre os Hebreus, o símbolo foi designado como a Verdade, para os cinco livros do Pentateuco Velho Testamento, atribuídos a Moisés. Na Grécia Antiga, era conhecido como Pentalpha, geometricamente composto de cinco ‘As’. Pitágoras, filósofo e matemático grego, grande místico e moralista, e que seria iniciado nos grandes mistérios, percorreu o mundo nas suas viagens, dedicando muitos registros à presença do pentagrama, no Egito, na Caldéia e nas terras ao redor da Índia. A geometria do pentagrama e suas associações metafísicas foram exploradas pelos seus seguidores de Pitágoras, considerando o pentagrama emblema de perfeição. A geometria do pentagrama ficou conhecida como "a proporção dourada" e - ao longo da arte pós-helênica, foi grafada em diversos templos. Para os agnósticos, era o pentagrama a "estrela cadente" e, como a Lua crescente, um símbolo relacionado à magia e aos mistérios do céu noturno. Para os druidas, era um símbolo divino e, no Egito, era o símbolo do útero da terra, guardando uma relação simbólica com o conceito da forma da pirâmide. Os celtas

pagãos atribuíam o símbolo do pentagrama à Deusa Morrigan. Os primeiros cristãos relacionavam o pentagrama às cinco chagas de Cristo e, desde então, até os tempos medievais, era um símbolo cristão. Antes da inquisição não existia associação maligna ao pentagrama sendo este a representação da verdade implícita, do misticismo religioso e do trabalho do Criador. O imperador Constantino I, depois de receber ajuda dos Cristãos na posse militar e religiosa do império romano em 312 d.C., passou a utilizar o pentagrama juntamente com o símbolo de chi-rho - forma simbólica da cruz, como selo e amuleto do seu reinado. Tanto na celebração anual da ‘epifânia’, que comemora a visita dos três reis magos ao menino Jesus, assim como também a missão da Igreja de levar a verdade aos gentios, tiveram como símbolo o pentagrama, embora em tempos mais recentes este símbolo tenha sido mudado, como reação ao uso neo-pagão do pentagrama. Em tempos medievais, o "laço infinito" era o símbolo da verdade e da proteção contra demônios, sendo utilizado como amuleto de proteção pessoal e guardião de portas e janelas. Os templários - ordem militar de monges, formada durante as cruzadas, ganharam grande riqueza e proeminência através das doações de todos aqueles que se juntavam à ordem, e amealhou também grandes tesouros saqueados na Terra Santa. Na localização do centro da "Ordem dos Templários", ao redor de Rennes du Chatres, na França, estudiosos garantem ser possível observar um pentagrama natural quase perfeito, formado pelas montanhas que medem vários quilômetros ao redor do centro. Há grande evidência da criação de outros alinhamentos geométricos exatos de pentagramas como também de hexagramas, centrados nesse pentagrama natural, na localização de numerosas capelas e santuários nessa área. Sabe-se que, nas ruínas das construções dos Templários, os arquitetos e pedreiros associados àquela ordem conheciam a geometria do pentagrama, incorporando aquele misticismo aos seus projetos. O fim da "Ordem dos Templários" - inteiramente dizimada pela Igreja com ajuda de Luiz IX, religioso fanático da França, em 1303, marca o início do período

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da Inquisição e suas práticas de torturas e falsos-testemunhos, de purgações e queima de “infiéis”. Durante este longo período, ocorreu a eliminação de heresias e a Igreja identificava ‘diabolismos’ em várias práticas não alinhadas aos dogmas e conceitos da Igreja Cristã. O pentagrama passou a ser associado ao símbolo da cabeça de um bode ou o próprio diabo, na forma de Baphomet, a quem a Inquisição acusou os Templários de adorar. Também, neste período, envenenar como meio de assassinato entrou em evidência com a introdução de ervas e drogas desconhecidas, trazidas do leste durante as Cruzadas, entraram na farmacopeia dos curandeiros. Curas, mortes e mistérios desviaram a atenção dos religiosos na Inquisição, dos hereges cristãos, para as bruxas pagãs e para os sábios, que tinham o conhecimento e o poder do uso dessas drogas e venenos. Durante a purgação das bruxas, outro deus cornudo, como Pan, chegou a ser comparado com o diabo conceito cristão, e o pentagrama - popular símbolo de segurança, associado ao mal e recebe o nome de ‘pé da bruxa’. As velhas religiões e seus símbolos caíram na clandestinidade em fuga da perseguição religiosa, e lá permaneceram durante séculos. As sociedades secretas de artesãos e eruditos que durante a Inquisição viveram clandestinas, realizando seus estudos longe dos olhos da Igreja, com o fim momento histórico, trouxeram o conhecimento do hermetismo, ciência doutrinaria ligada ao agnosticismo surgida no Egito e atribuída ao deus Thot, chamado pelos gregos de Hermes Trismegisto, e constituída pela associação de elementos doutrinários orientais e neo-platônicos. Este momento é traduzido pelo ensinamento secreto em que se misturavam filosofia e alquimia, ciência oculta da arte de transmutar metais em ouro. O simbolismo gráfico e geométrico floresceu, se tornou importante e, finalmente, o período do Renascimento emergiu, dando início a uma era de luz e desenvolvimento. Um novo conceito de mundo pôde ser passado para a Europa renascida, onde o pentagrama - representação do número cinco significava agora o microcosmo, símbolo do ‘homem pitagórico’ que aparece como uma figura humana de braços e pernas abertas, parecendo estar disposto em cinco partes em forma de cruz - o ‘homem individual’. A

mesma representação simbolizava o macrocosmo, o ‘homem universal’, passando por dois eixos, um vertical e outro horizontal, passando por um mesmo centro. Um símbolo de ordem e de perfeição - a Verdade Divina. Portanto, "o que está em cima é como o que está embaixo", como durante muito tempo era ensinado nas filosofias orientais. O pentagrama pitagórico - que se tornou, na Europa, o de Hermes, gnóstico - já não aparece apenas como um símbolo de conhecimento, mas também como um meio de conjurar e adquirir poder. Figuras de pentagramas eram utilizadas pelos magos para exercer seu poder, surgindo pentagramas de amor, de má sorte, e assim por diante. No calendário de Tycho Brahe Naturale Magicum Perpetuum (1582), novamente aparece à figura do pentagrama com um corpo humano sobreposto, que foi associado aos elementos. Henry Cornelius Von de Agripa Nettesheim, contemporâneo de Tycho Brahe, mostra proporcionalmente a mesma figura, colocando em sua volta os cinco planetas e a Lua no ponto central – ou genitália, da figura humana. Outras ilustrações do mesmo período foram feitas por Leonardo da Vinci, mostrando as relações geométricas do Homem com o Universo. Mais tarde, o pentagrama veio simbolizar a relação da cabeça para os quatro membros e consequentemente da pura essência concentrada de qualquer coisa, ou o espírito para os quatro elementos tradicionais: terra, água, ar e fogo - o espírito representado pela quinta essência - a "quinta essentia" dos alquimistas e agnósticos. Na Maçonaria, o homem microcósmico é associado com o Pentalpha - estrela de cinco pontas, com a utilização do símbolo de forma entrelaçada e perpendicular ao assento do mestre da loja. As propriedades e estruturas geométricas do "laço infinito" foram simbolicamente incorporadas aos setenta e dois graus do compasso - emblema maçônico que simboliza a virtude e do dever. Eliphas Levi Alphonse Louis Constant, ilustra o pentagrama vertical do homem microcósmico ao lado de um pentagrama invertido, com a cabeça do bode de Baphomet - figura panteísta e mágica que identifica o absoluto. Em decorrência dessa ilustração e justaposição, a figura do pentagrama, foi levada ao conceito do bem e do mal. Contra o racionalismo do Século XVIII, sobreveio uma reação no Século XIX, com o

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crescimento de um misticismo novo que muito deve à Santa Cabala, tradição antiga do Judaísmo, que relaciona a cosmogonia de Deus e universo à moral e verdades ocultas, e sua relação com o homem. Desta forma, não se compreende wicca como religião, mas como sistema filosófico de compreensão fundamentado num simbolismo numérico e alfabético, relacionando palavras e conceitos. Eliphas Levi – estudioso da Cabala instrumentou o caminho para a abertura de diversas lojas de tradição hermética no ocidente, como a "Ordem Temporale Orientalis" - OTO, a "Ordem Hermética do Amanhecer Dourado" - Golden Dawn, e a "Sociedade Teosófica" - os "Rosacruz", bem como as modernas lojas e tradições da Maçonaria. Levi, entre outras obras, utilizou o Tarot como sistema de imagens simbólicas, que se relacionavam de perto com a Cabala. Foi Levi também quem criou o Tetragrammaton - o pentagrama com inscrições cabalísticas, que exprime o domínio do espírito sobre os elementos, e através deste, seria possível - em rituais mágicos, invocar os silfos do ar, as salamandras do fogo, as ondinas da água e os gnomos da terra - "Dogma e Ritual da Alta Magia" de Eliphas Levi. A Golden Dawn – 1888 a 1918 - contribuiu para a disseminação das raízes da Cabala Hermética moderna ao redor do mundo e, através de escritos e trabalhos de seus membros, em especial Aleister Crowley, estabeleceu ideias mais de filosofia e mágica da moderna Cabala. Por volta de 1940, Gerald Gardner adota o pentagrama vertical como símbolo usado em rituais pagãos. Era também o pentagrama desenhado nos altares dos rituais, simbolizando os três aspectos da deusa mais os dois aspectos do deus, estabelecendo – neste momento, a nova religião de wicca. Por volta de 1960, o pentagrama retomou força como poderoso talismã, juntamente com o crescente interesse popular em bruxaria e wicca, somado à publicação de livros, principalmente romances, sobre o assunto, que levou à reação da Igreja. O culto satânico - "A Igreja de Satanás" - elaborado por Anton La Vay - adotou o pentagrama invertido - inspirado na figura de Baphomet de Eliphas Levi, como símbolo, agravando as relações com a Igreja Cristã, que transformou o símbolo sagrado do pentagrama, invertido ou não, em símbolo demoníaco.

A configuração da estrela de cinco pontas, em posições distintas, trouxe vários conceitos simbólicos para o pentagrama, associados aos neo-pagãos, a conceitos de magia branca e magia negra. Por consequência, foi criado um código de ética de wicca. Apesar da literatura existente diferenciando o uso do pentagrama pela religião wicca das utilizações feitas pelo satanismo, principalmente nos Estados Unidos, onde os cristãos fundamentalistas se tornaram particularmente agressivos a qualquer movimento que envolvesse bruxaria e o símbolo do pentagrama. Alguns wiccanianos posicionaram-se contrários ao uso do símbolo, como forma de proteção contra a discriminação estabelecida por grupos religiosos radicais. Ainda assim o pentagrama tornou-se o principal símbolo indicador de proteção, ocultismo e perfeição. Suas mais variadas formas e associações em muito evoluíram ao longo da história e se mantêm com toda a sua onipresença, significado e simbolismo. Pode-se afirmar que o pentagrama é o símbolo de toda criação mágica. O Pentagrama é conhecido com a estrela do microcosmo, ou do pequeno universo, a figura do homem que domina o espírito sobre a matéria, a inteligência sobre os instintos. Na Europa Medieval era conhecido como "Pé de Druida" e como "Pé de Feiticeiro", em outras épocas ficou conhecido como "Cruz dos Goblins". O pentagrama pode representar o próprio corpo, os quatro membros e a cabeça, e constitui-se na representação primordial dos cinco sentidos e também simboliza os cinco estágios da vida do indivíduo: 1. O nascimento, início de tudo; 2. A infância, momento em que o indivíduo cria suas próprias bases; 3. A maturidade, fase da comunhão com as outras pessoas; 4. A velhice, fase de reflexão, momento de maior sabedoria; 5. A morte, fim do ciclo, momento de um novo início. Também se pode afirmar que o pentagrama seja o mais alto símbolo da arte, pois mostra o homem reverenciando a Deusa, já que é a estilização de uma estrela – o homem, assentada no círculo da lua cheia – a Deusa, e cada uma das pontas possui um significado em especial: 1. O espírito, que representa os criadores, a Deusa e o Deus, pois eles guiam a vida e

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ajudam na realização dos ritos e trabalhos mágicos. O Deus e a Deusa são detentores dos quatro elementos e estes elementos são as outras (quatro) pontas. 2. A terra, que representa as forças telúricas e os poderes dos elementais da terra e é a ponta que simboliza os mistérios, o lado invisível da vida, a força da fertilização e do crescimento. 3. O ar, que representa os poderes dos Silfos e corresponde à inteligência, o saber e a força da comunicação e da criatividade. 4. O fogo, que representa a energia, à vontade e o poder das salamandras e corresponde às mudanças e transformações. Significa a força da ativação e da agilidade. 5. A água, que representa as forças aquáticas e aos poderes das ondinas e está ligada às emoções, ao entardecer e ao inconsciente e corresponde às forças da mobilidade e adaptabilidade. O triskle O Triskle é um símbolo celta que representa as tríades da vida em eterno movimento e equilíbrio, traduzidas em: 1.nascimento, vida e morte; 2.corpo, mente e espírito; e 3.céu, mar e terra. Também conhecido como triskele, triskelion ou tryfot, o triskle é uma espécie de estrela de três pontas, geralmente curvadas, o que confere ao símbolo a necessária fluidez de movimento. Pode ainda ser definida como um conjunto de três espirais concêntricas. É um dos elementos mais presentes na arte celta, e tem sua origem atribuída aos povos mesolíticos e neolíticos. O triskele é um antigo símbolo indo-europeu e foi utilizado por povos germânicos e gregos. Para os Celtas, o número três era sagrado. A primitiva divisão do ano em três estações primavera, verão e inverno - pode ter tido seu efeito na triplicação de uma deusa da fertilidade com a qual o curso das estações era associado. A wicca associa o triskle - com suas três pontas, ao fluxo das estações e por consequência representa a própria Deusa, estabelecendo conexões com as três faces da Deusa - donzela, mãe e anciã; às três fases da lua - crescente, cheia e minguante; e, também, com a natureza humana tríplice - corpo, mente e alma. Assim, é claro o entendimento da

importância do triskle para a religião da Deusa. Sua presença em achados arqueológicos em terras celtas, da Irlanda à Europa Oriental, atesta sua ampla adoção pelos povos antigos. A iconografia continental atribui grande ênfase ao simbolismo da tríade, o conceito da triplicidade, e o conteúdo mítico-literal ausente no continente é amplamente fornecido pela infindável variação desse tema na literatura irlandesa e galesa. 1.4. Rito, ritual, ritualística, liturgia Rito é o cerimonial próprio de um culto, ou de uma sociedade, determinado pela autoridade competente; é a ordenação de qualquer cerimônia e, por extensão, designa culto, religião, seita. Ritual é tudo o que é relativo a rito, ou que contém ritos; é, também, o livro que contém a ordem e a forma das cerimônias, religiosas ou não, com as palavras - ou orações, que devem acompanhá-las; mais extensamente e refere-se a qualquer cerimonial, ou conjunto de regras a seguir. Por essa definição, rotinas da vida de uma sociedade, ou se um indivíduo são formas de um ritual. Ritualística compreende tudo aquilo que é relativo ao ritual, ao rito, ou ao ritualista. Não deve ser confundido com ritualismo, que significa o sistema dos que se apegam a ritos. Ritualista é o indivíduo apegado a ritos. Liturgia é termo mais aplicado à religião e designa a forma e a ordem, aprovadas pela autoridade eclesiástica, para celebrar os ofícios divinos, e também significa o estudo dos ritos sagrados. Pela própria etimologia da palavra originada do grego leitourgia – λειτουργία, que significa função pública, qualquer sociedade ou grupo de indivíduos que realize um cerimonial, público ou reservado, em que exista uma ordenação e uma determinada forma de desenvolvimento da cerimônia, estará exercendo uma função litúrgica. Liturgia é, antes de tudo, ação - e ação pressupõe movimento. A liturgia se expressa mediante palavras e gestos. Por isso, dizemos que a liturgia é feita de sinais sensíveis, ou seja, sinais que chegam aos nossos sentidos - tato, paladar, olfato, visão e audição. Na chamada Bíblia dos Setenta (LXX) - a tradução grega das escrituras, o vocábulo "liturgia" é utilizado para designar os ofícios religiosos realizados pelos sacerdotes levíticos

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no Templo de Jerusalém. No princípio, a palavra não era utilizada para designar as celebrações dos cristãos, que entendiam que Cristo inaugurara um tempo inteiramente distinto do culto do templo. Mais tarde, o vocábulo foi adaptado, com um sentido cristão, por isto afirma-se que a liturgia tem raízes cristológicas e utiliza a Bíblia para 1.leitura e proclamação dos textos sagrados; 2.oração; 3.inspiração das fórmulas litúrgicas e 4.fonte de inspiração para sinais e fatos. Este conjunto litúrgico é realizado dentro de um rito, que a igreja define como ritualidade, e que significa expressar o “mistério da vida”; e leva (esta ritualidade) à experiência litúrgica. Ou seja, esta experiência litúrgico-ritual determina a subjetivação da objetividade do rito. Para os teólogos, a parte objetiva de um rito surge com a tradição da Igreja e se expressa à experiência através de gestos e palavras e a parte subjetiva é a realidade - as experiências dos indivíduos, seus desejos e expectativas. Subjetivação da objetividade pode ser a decodificação dos códigos, a interpretação das experiências reais dentro de um cenário simbólico, mas real. O (ritual) vedas Considerando o sacrifício como ato religioso fundamental em homenagem a um/a deus/a ou deuses/as para a obtenção de graças ou favores, pressupõe-se o sacrifício como uma oferta, onde o ato sacrificial – karman significa a sacralização do profano, exercendo o sacerdote a dupla função, de oficiante da parte de quem oferece e custeia o sacrifício, e também de mandatário dos deuses. Os sacrifícios védicos, em geral, são súplicas, e não ação de graças – como observa Luís Renou, havendo neles o inegável influxo de ideias oriundas da prática da magia, cujas fórmulas são encontradas no ‘atarva’. No sacrifício, a prece é relacionada com a oferta e as divindades são convidadas a aproximarem-se da oblação com a finalidade de consumi-la. No soma, cuja oblação caracteriza o culto védico, é o sumo extraído dos talos de uma planta, ainda não identificada, o cânhamo, segundo Chandra Ray, o ruibarbo selvagem, na opinião de Aurel Stein. Os talos são embebidos

em água e por maceração obtém-se o suco, recolhido em cubas e misturado ainda com água, também leite, às vezes mel. O fogo é o veículo da oferta, o intermediário entre o sacerdote e a divindade. O sacrifício – ‘kannan’ - celebra-se com um, três ou, às vezes, cinco fogos acesos, quando se trata de sacrifício do soma. Um dos três fogos é o do "dono da casa", do qual se tira a chama para se acenderem os outros. Já o ‘agnistoma’ é celebrado anualmente na primavera e também observa o consumo de plantas, e venera várias entidades como Indra, Maruts – pela manhã; Ribus – à tarde e Agni. O significado do Agnistoma, segundo Oldenberg, é um ritual de chuva e, para Hillebrandt, a chuva é o suco do soma levado como néctar aos deusas da lua. De qualquer forma, os orientalistas franceses – Renou, Filiozat, Meile, Esnou e Silbum, consideram este rito um festival primaverial. Além destes prolongados sacrifícios, realizam-se reuniões ‘sattra’, algumas das quais também se prolongam pelo menos por muitos dias, às vezes até por um ano. O tipo do ‘sattra’ anual é o ‘gavâmayana’ - "a marcha das doze vacas", ou seja, o percurso do sol pelos doze signos zodiacais. No ‘gavamayana’, não há honorários, e se trata de uma prática exclusiva da vida sacerdotal. As cerimônias especiais – geralmente, ocorrem em dois períodos separados pelos solstícios. Das ‘centans’ de cerimônias e rituais do soma, as mais significativas para esta abordagem são 1) o vajapeya - bebida da vitória, rito de fecundidade, cujo período de duração pode estender-se de 17 dias a um ano; 2) o rajasuya - "consagração real", em que há o investimento de um príncipe na função de monarca soberano em um dos muitos Estados em que se dividia o território indiano; 3) o açvamedha - "sacrifício do cavalo", o mais famoso dos ritos védicos, festejo real e popular com a finalidade de se obter dos deuses prosperidade para o reino e para cada um dos seus habitantes e que durava três dias, mas os preparativos se processavam por um ou dois anos. O ritual védico, sem dúvida, adaptou-se às condições de existência da Índia moderna. Mas ainda está vivo o culto doméstico do fogo. Diznos a senhora Madalena Biardeau: "O fogo, o puro por excelência, é objeto de culto sob a

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tríplice forma do sol, da chama do sacrifício e do altar doméstico, que se correspondem reciprocamente como símbolo. Um brâmane não pode dispensar as oblações de cada dia ao fogo, as quais asseguram a permanência da ordem cósmica - Rita - e a prosperidade da sua família." "Não há culto sem fogo: a pequena lâmpada de barro, ao lado do altar, a grande lâmpada suspensa por uma longa corrente, na qual estão acesas várias mechas, a chama de cânfora, que se move lentamente em torno da imagem de um deus, são exemplos da potência divina do fogo. Este tem a virtude de eliminar barreiras intransponíveis. Um hindu de alta casta não receberia, sob nenhum pretexto, alimento preparado por um cozinheiro de casta inferior, mas receberá desse mesmo cozinheiro arroz cru que a prova do fogo tornou consumível". Conforme Luís Renou - é difícil testemunhar uma cerimônia védica. Aqueles vastos ofícios, que às vezes se prolongavam durante dias inteiros são muito dispendiosos além da necessidade de intenso e longo treinamento do pessoal qualificado. Entretanto, Luís Renou pôde presenciar a execução de um sacrifício de tipo modesto, sem cânticos, sem oblação de soma, sem imolação de animal, com a presença de apenas seis sacerdotes e duração de somente quatro horas. Todavia, “construído com um conjunto de gestos, de movimentos, bastante amplos para que se percebesse o que fora um grande ritual religioso, no mais longínquo passado da Índia Ariana". Na qualidade de escritura sagrada, de fundamento literário da cultura hindu, os Vedas permanecem válidos, vivos, pois não faltam no território indiano "salas de recitativos" de trechos daqueles livros milenários. Renou refere-se à sua audição no "Colégio Vivekananda", de Madrasta, de um recitativo da Narayana-sukta por quinhentos jovens, sendo impecável a dicção daquela multidão de rapazes, sentados sobre um estrado baixo, pernas cruzadas, vestidos de túnica de larga franja de cor amarela ou vermelha. São necessários anos de trabalho paciente para se recitar de cor um texto como o do Rigveda com 160.000 palavras. O Rigveda é o mais antigo texto ritualístico de importância para a antropologia cultural. Essa coleção de hinos litúrgicos, provinda de uma época na qual os Árias permaneciam ainda submetidos às

condições da economia coletiva de tipo agropastoril, assumiu forma estilizada, em período posterior à antiga sedimentação dias invasores da Índia, na região noroeste da península. Admite-se que os Árias sejam procedentes do norte da Ásia. Penetraram na Índia pelo Kabul e vales do Kabir, fixando-se no Pendjab "Terra dos cinco rios", de onde depois desceriam para a bacia do Ganges. Prosseguindo na descida para o sul, encontraram os Dravidianos e muitos outros povos primitivos, hoje classificados como australóides. A língua védica apresenta particularidades, segundo a posição cronológica dos textos e a posição geográfica da sua redação. Excetuandose talvez alguns documentos hititas, o Rig apresenta-se como a mais antiga literatura redigida em idioma indo-europeu. Sem dúvida, há nessa coleção de hinos uma estratificação linguística. Admite-se que a parte mais antiga é a dos "livros de família" com os nomes dos respectivos richís. De qualquer modo, a classificação cronológica dos hinos denuncia haver muitos afastados uns dos outros, quanto à época da elaboração, segundo a maior frequência do nome de uma divindade em um grupo de hinos. Embora não seja possível a indicação de datas exatas, é inegável a intervenção dos brâmanes na reformulação linguística e na disposição formal dos textos. A reformulação linguística, estilística e estrutural feita pelos brâmanes ocorreu em período extenso, sendo evidente a existência de textos com teor linguístico arcaizante, enquanto em outros predomina um sânscrito que seria moderno para a época dessa redação. Passando do estágio tribal ao de sociedade politicamente organizada no regime de castas, teria sido atribuída às famílias de brâmanes a função poética, hereditária. Talvez funcionasse alguma corporação de sacerdotes-poetas, os bahvrica – ou, "portadores de muitas estrofes" - adidos à corte de um rajá. Nos estudos sobre os vedas, afirma Renou, durante muito tempo, coube parte preponderante aos alemães. Supôs-se que esse interesse, demonstrado por alguns alemães, decorresse da satisfação de encontrarem nos

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Vedas uma espécie de Bíblia ariana, que eles pudessem, legitimamente, opor à Bíblia semita. O romantismo contribuía para realçar o significado dos vedas. A imaginação romântica fugia para os tempos da humanidade primitiva, dedicada ao culto da natureza, adorando o sol, as águas, o fogo a aurora. Max Müller contribuiu para o prestígio dos vedas, nos círculos românticos e sua tese era a de que os vedas são um documento primitivo e por assim dizer espontâneo. Posteriormente, declarou Max Müller: "Sustento que o nome veda não é somente o título de um texto ou de vários textos, mas que foi originariamente concebido com um significado muito mais extenso". Na Alemanha, estudiosos opuseram-se a esta interpretação, como destacaram Weber, Pischel, Hillebrandt, Oldenberg. Na França, Bergaigne também discordou de Max Müller. Para Bergaigne, os hinos védicos continham concepções cultistas, exemplo de uma escolástica ritualística. Mito Do grego mythos, é uma história narrativa, é estrutura vocabular relacionada com um evento ocorrido ou não. Ou seja, pode ser uma história cujo relato é exclusivo da fantasia do narrador; ou um evento ocorrido em época remota; ou – ainda, interpretação fantasista de fatos e eventos, recentes ou remotos, relacionados com um indivíduo ou uma coletividade. Além dessas características, o conteúdo do mito está sempre condicionado à estrutura ideológica. Em se tratando de acontecimentos remotos, reais ou imaginários, essa estrutura ideológica tem colorido religioso, oriundo da crença em seres invisíveis e poderosos, deuses, anjos, demônios, espíritos, almas humanas, seres que intervêm na vida cotidiana, que atendem ou negam atenção aos pedidos e prescrevem normas para a existência gregária. Nessa classe de mito, inclui-se a narrativa bíblica da outorga da parte de Jeová das tábuas da lei a Moisés, como também a narrativa do nascimento da Gautama o Buda, que saiu de um dos flancos do corpo da sua mãe, a rainha Maila.

O etnólogo francês Marcel Mauss, afirma que "o mito, propriamente dito, é uma história simples, que implica em ritos" e que “faz parte dos sistemas obrigatórios de representações religiosas, por se impor a crença no mito". São bons exemplos de mito a viagem de Enéias, fugitivo da Tróia incendiada pelos gregos; e a fundação de Roma, onde Rômulo e Remo teriam sido amamentados por uma loba. Segundo os estudiosos da história romana, lupa – loba, seria o nome de uma prostituta ou camponesa. A fundação de Roma, iniciada como reduto de bandidos, tem todas as aparências de fato real, remoto, mitificado. Para o francês Vitor Larock "a noção de mito ultrapassa os limites do sagrado". O mito faz parte da cultura social, formas morais, jurídicas e institucionais, de uma sociedade. Já, Larock afirma que mito não se resume simplesmente à narrativa, à evocação de deuses ou de heróis; por mais impregnado que esteja de religião, esta não é o seu único objetivo. Também não é obra individual. Em suas representações o mito envolve todo o universo, visível e invisível, toda a atividade social. Para ele, o valor essencial do mito está em sua força coesiva, que induz os membros de uma coletividade a comungarem das mesmas emoções, dos mesmos sentimentos de esperança e de temor, da mesma fé e da mesma vontade. Mito, rito e religião O mito é sempre uma representação coletiva transmitida através das gerações, e que relata uma explicação sobre um fato ou acontecimento. Mito é, por conseguinte, a parole, a palavra "revelada", o dito, a imagem, o gesto, que circunscrevem o acontecimento antes de fixar-se como narrativa. O mito expressa o mundo e a realidade humana cuja essência é efetivamente uma representação (ou símbolo) coletiva que chegou até o momento presente, transmitida através das gerações. À medida que se pretende explicar o mundo e o homem, isto é, a complexidade do real, o mito não pode ser lógico: ao revés, é ilógico e irracional, e serve para muitas interpretações. Decifrar o mito é, pois, decifrar-se. Como afirma Roland Barthes, o mito não pode, consequentemente, "ser um objeto, um conceito ou uma ideia: ele é um modo de significação, uma forma". Assim, não se há de definir o mito "pelo objeto de sua mensagem, mas pelo modo como a profere".

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Roland Barthes procurou reduzir o conceito de mito, apresentando-o como qualquer forma substituível de uma verdade. A verdade que esconde outra verdade. Talvez fosse mais exato defini-lo como uma verdade profunda de nossa mente. É que poucos se dão ao trabalho de verificar a verdade que existe no mito, buscando apenas a ilusão que o mesmo contém. Muitos veem no mito tão-somente os significantes, isto é, a parte concreta do signo. É importante ir além das aparências e buscar-lhe o significado - a parte abstrata - o sentido profundo. Para Carl Gustav Jung, mito é definido como a conscientização de arquétipos do inconsciente coletivo, quer dizer, um elo entre o consciente e o inconsciente coletivo, bem como as formas através das quais o inconsciente se manifesta, onde inconsciente coletivo é a herança das vivências das gerações anteriores. Desse modo, o inconsciente coletivo expressa a identidade de todos os homens, seja qual for a época e o lugar onde tenham vivido. Arquétipo, do grego "arkhétypos", etimologicamente, significa modelo primitivo, ideias inatas. Como conteúdo do inconsciente coletivo foi empregado pela primeira vez por Yung. No mito, esses conteúdos remontam a uma tradição, cuja idade é impossível determinar e pertence a um mundo do passado, primitivo, cujas exigências espirituais são semelhantes às que se observam entre culturas primitivas ainda existentes. Normalmente, ou didaticamente, se distinguem dois tipos de imagens: a) imagens (incluídos os sonhos) de caráter pessoal, que remontam a experiências pessoais esquecidas ou reprimidas, que podem ser explicadas pela anamnese individual; b) imagens (incluídos os sonhos) de caráter impessoal, que não podem ser incorporados à história individual. Correspondem a certos elementos coletivos: são hereditárias. Para Jung “os conteúdos do inconsciente pessoal são aquisições da existência individual, ao passo que os conteúdos do inconsciente coletivo são arquétipos que existem sempre a priori”.

Embora se tenha que admitir a importância da tradição e da dispersão por migrações, casos há e muito numerosos em que essas imagens pressupõem uma camada psíquica coletiva: é o inconsciente coletivo. Mas, como este não é verbal, quer dizer, não podendo o inconsciente se manifestar de forma conceitual, verbal, ele o faz através de símbolos. Atente-se para a etimologia de símbolo, do grego "sýmbolon", do verbo "symbállein", "lançar com", arremessar ao mesmo tempo, "com-jogar". Antigamente, símbolo era um sinal de reconhecimento, um objeto dividido em duas partes, cujo ajuste e confronto permitiam aos portadores de cada uma das partes se reconhecerem. O símbolo é a expressão de um conceito de equivalência. Assim, para se atingir o mito, que se expressa por símbolos, é preciso fazer uma equivalência, uma "conjugação", porque, se o signo é sempre menor do que o conceito que representa, o símbolo representa sempre mais do que seu significado evidente e imediato. Em síntese, os mitos são a linguagem imagística dos princípios e "traduzem" a origem de uma instituição, de um hábito, a lógica de uma gesta, a economia de um encontro. Para Goethe, os mitos são as relações permanentes da vida. Mitologia - do grego, mitologema, é a soma dos elementos antigos transmitidos pela tradição, é a expressão do mito, o ‘movimento’ verificado na tradição oral da passagem entre as gerações, e - do ponto de vista etimológico, mitologia é o estufo dos mitos, concebidos como história verdadeira. Religião - do latim ‘religione’, a palavra possivelmente se prende ao verbo ‘religare’, ação de ligar, pode, assim, ser definida como o conjunto das atitudes e atos pelos quais o homem se prende, se liga ao divino ou manifesta sua dependência em relação a seres invisíveis tidos como sobrenaturais. Tomandose o vocábulo num sentido mais estrito, pode-se dizer que a religião para os antigos é a reatualização e a ritualização do mito. O rito possui "o poder de suscitar ou, ao menos, de reafirmar o mito". Através do rito, o homem se incorpora ao mito, beneficiando-se de todas as forças e

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energias que jorraram nas origens. A ação ritual realiza no imediato uma transcendência vivida. O rito toma, nesse caso, "o sentido de uma ação essencial e primordial através da referência que se estabelece do profano ao sagrado". O rito é a praxis do mito. É o mito em ação. O mito rememora, o rito comemora. Longe de serem narrativas lúdicas e infundadas, os mitos são narrativas emanadas do inconsciente coletivo das sociedades, que relatam acontecimentos da esfera transcendental ou dos primórdios de uma coletividade humana. De modo geral, os mitos têm origem em visões transpessoais de grandes videntes ou em fatos históricos ocorridos em tempos primordiais, que são expurgados de seu conteúdo menos importante e acrescidos de imagens arquetípicas e universais. Quase todo mito é uma estória fabulosa das origens de povos, nações e do próprio mundo. A finalidade do mito não é jornalística ou informativa, e sim educativa. Visa criar valores fortes, senso de identidade ou transmitir verdades transcendentais. Geralmente as estórias míticas são exageradas e fabulosas para compensar a perda de conteúdo produzida pela transmissão oral. Como a finalidade não é relatar, o inconsciente coletivo lança mão de imagens arquetípicas dotadas de um alto poder de impacto emocional, para manter a intensidade e a força da transmissão. O mito nunca é uma construção individual. É um constructo coletivo elaborado por muitas gerações, envolvendo toda uma concepção das origens do macrocosmo ou do microcosmo, sendo construído camada por camada por uma atividade social, criando raízes na memória de uma coletividade humana. Por mais que o mito esteja mesclado com religiosidade, seu objetivo não é de natureza religiosa, e sim criar valores, senso de identidade e coesão entre os membros de um grupo social ou de uma nação. Ele visa fazer com que os indivíduos comunguem a mesma cosmo-visão, as mesmas emoções, os mesmos sentimentos e a mesma vontade, produzindo um elo de ligação e de identidade, sem o qual a comunidade se desfaz em função das pressões internas e externas. Não se sabe em que medida a comunidade cria o mito e em que medida é o mito que cria a comunidade.

Atualizando os mitos, renovando-os por meio de rituais, o homem torna-se apto a repetir o que os deuses e os heróis fizeram "nas origens", porque conhecer os mitos é aprender o segredo da origem das coisas. Este retorno às origens, por meio do rito, é importante, à medida que voltar às origens é readquirir as forças que jorraram nessas mesmas origens. Não é em vão que na Idade Média, as histórias contadas iniciavam com a origem do mundo com a finalidade de recuperar o tempo forte, o tempo primordial. O rito, que é o aspecto litúrgico do mito, transforma a palavra em verbo. À ideia de reiteração prende-se a ideia de tempo. O mundo transcendente dos deuses e heróis é religiosamente acessível e reatualizável, exatamente porque o homem da cultura primitiva não aceita a irreversibilidade do tempo. O rito abole o tempo profano, cronológico, é linear e, por isso mesmo, irreversível (pode-se "comemorar" uma data histórica, mas não fazê-la voltar no tempo), o tempo mítico, ritualizado, é circular, voltando sempre sobre si mesmo. É precisamente essa reversibilidade que liberta o homem do peso do tempo morto, dando-lhe a segurança de que ele é capaz de abolir o passado, de recomeçar sua vida e recriar seu mundo. O profano é tempo da vida; o sagrado, o "tempo" da eternidade. A "consciência mítica", embora rejeitada no mundo moderno, ainda está viva e atuante nas civilizações denominadas primitivas: "O mito, quando estudado ao vivo, não é uma explicação destinada a satisfazer a uma curiosidade científica, mas uma narrativa que faz reviver uma realidade primitiva - que satisfaz as profundas necessidades religiosas, as aspirações morais, as pressões e aos imperativos de ordem social e mesmo a exigências práticas. Nas civilizações primitivas, o mito desempenha uma função indispensável: ele exprime, exalta e codifica a crença; salvaguarda e impõe os princípios morais; garante a eficácia do ritual e oferece regras práticas para a orientação do homem. O mito é um ingrediente vital da civilização humana; longe de ser uma fabulação vã, ele é, ao contrário, uma realidade viva à qual se recorre incessantemente; não é, absolutamente, uma teoria abstrata ou uma fantasia artística, mas uma verdadeira codificação da religião primitiva e da sabedoria prática".

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Os ritos são a interpretação cênica e dramatizada do mito. Por meio das palavras, dos gestos, da indumentária, dos cânticos, do ritmo e do cenário, os ritos visam fornecer ao mito uma força viva e atualizada, como se o fato gerador do mito estivesse se repetindo naquele instante, e representam externalização e a recordação do mito em ações coordenadas e plenas de simbolismo. O rito tem o objetivo de eternizar o mito, trazendo-o do passado remoto para o presente ativo, renovando-o permanentemente e se baseiam no fato de que os eventos arquetípicos narrados pelo mito não estão localizados no passado. Estão vivos e se manifestando a cada momento. Dessa forma, o rito procura estabelecer uma conexão entre determinado evento arquetípico e sua representação cênica, que tem por objetivo captar a energia vital farta e vivificante emanada por aquele evento. Os egípcios antigos tinham um rito de saudar o nascer do sol. Os sacerdotes vestiam trajes rituais ornamentados em ouro (o ouro era a “pele do sol”) e entoavam cânticos à luz, quando o primeiro raio de sol iluminava a pirâmide dourada que ficava no topo de todos os obeliscos. Aquele evento era alusivo ao momento primordial da criação, quando o pássaro Benu (fênix) renascia de suas próprias cinzas e pousava na Pedra Benben (obelisco), iniciando um novo ciclo de manifestação. Aquele rito visava ajudar o sol a nascer após sua longa jornada pelo oceano subterrâneo, onde tinha de enfrentar a serpente Apophis, o espírito do caos. Muitos egiptólogos superficiais supõem que os egípcios tinham medo de que o sol não nascesse a cada dia e, por isso, faziam esse rito para garantir o novo nascer do sol. Na verdade, eles faziam o rito para recordar o fato primordial da criação e absorver a grande energia que flui naquele momento mágico. Na consciência altamente simbólica, imaginativa, analógica e ritualizada dos egípcios, eles sabiam que o sol certamente nasceria, mas tinham receio de que o sol da razão superior não nascesse para eles, que perderiam a noção da harmonia divina do universo, o que levaria ao caos e à destruição de sua sociedade. Desta forma, os ritos são instrumentos de auto-recordação ativa, tendo um poder de mobilização de energias superior ao simples estudo intelectual, ou à expressão verbalizada.

Pode-se afirmar, com pequena margem de erro, que o rito é a encenação dramática de algum mito. Com base nos textos de Fernando Tullio Colacioppa Sobrinho sobre ritos maçônicos, rito é o conjunto das fórmulas, regras, normas e prescrições a serem observadas na prática de um trabalho religioso, no desenvolvimento de um culto, ou de uma seita, que estão consolidadas ou consignadas num documento a que chamamos de ritual. O pesquisador também chega a afirmar que a maçonaria “não tem a idade da humanidade, como muita gente pensa. A influência nos Rituais é que é antiga. A instituição, não”. Este trabalho coloca foco nos tiros maçônicos, por ser esta uma instituição perfeitamente organizada, muito antiga e por orientar-se através de símbolos e ritos. Denomina-se rito maçônico, o conjunto sistemático de cerimônias e ensinamentos maçônicos, que variam de acordo com o período histórico, conotação, objetivo e temática dada pelo seu criador, Os ritos maçônicos mais utilizados, nestes dias, são o rito de York, o rito Escocês Antigo e Aceito, e o rito Francês ou Moderno. No Brasil se exercem todos esses, mais se destacam também o rito brasileiro e o adonhiramita. Os símbolos, por outro lado, representam a etimologia da palavra, esclarecendo o seu significado. A palavra símbolo provém da junção de dois vocábulos gregos: o sufixo sin, que quer dizer junto, e o verbo bolein, que quer dizer lançar. Assim, o símbolo é a imagem visual que “lança junto” - em uma imagem reduzida, toda uma complexa cadeia de significados, diferentemente dos signos e sinais, os símbolos trazem sempre conteúdos arquetípicos capazes de suscitar conteúdos cognitivos e emocionais do inconsciente. Um cristão teria uma forte impressão emocional ao visualizar a imagem de uma cruz, que traria à sua mente todo o conteúdo e significado de sua fé. Um muçulmano teria impressão semelhante ao ver um crescente lunar. Os nazistas utilizaram a suástica por representar o mais antigo símbolo dos ário-germânicos, associado ao martelo de Thor.

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Foi Karl Jung quem primeiro descobriu e desenvolveu um estudo sistemático e científico sobre os símbolos e seu efeito sobre o inconsciente humano. Para Freud, o símbolo era uma redução de determinado conteúdo cognitivo e emocional a uma unidade básica e diminuta de significado. Para Jung, ao contrário, o símbolo era uma magnificação do conhecimento, levado a uma síntese de ordem cognitiva superior, capaz de transmitir uma enorme cadeia de significados em uma pequena unidade de informação. Estudos na área de propaganda e marketing concentram pesquisa sobre os efeitos do chamado “branding” que se refere às marcas e são aquelas formas de identificação de um produto ou setor de atividade humana qualquer. Marca é de um conjunto de símbolos que significam identidade, que lembra alguma coisa. Estes símbolos são gráficos ou não-gráficos, mas que provocam lembrança e identificação, tem relação a algo que deve ser lembrado. Os estudos nesta área provocam uma viagem à própria história da humanidade, sempre orientada por símbolos, marcas e/ou expressões – gráficas ou orais, que registram e delimitam períodos e acontecimentos significativos para a humanidade. 2. Formação familiares

histórica

dos

núcleos

2.1. Sociologia e filosofia Ruth Benedict (1934), em sua obra, não somente mostra a diversidade do comportamento em várias culturas, mas também mostra como o comportamento anormal pode ser relativo a um determinado ponto de vista. Enquanto algumas culturas valorizam determinados comportamentos, outras, pelo contrário, condenavam, além de que, praticamente todas prescrevem a seus membros a noção de bom ou ruim, de normal ou anormal e assim por diante. O ser humano vive, nos dias de hoje, num mundo onde os poderes econômicos e tecnológicos exercem forte influência nas condutas humanas. No Ocidente, são maiores as dificuldades em aceitar as diversidades culturais do que entre os povos primitivos, que veem

através do contato com seus vizinhos, a existência de diversos costumes, às vezes completamente adversos de sua própria cultura. A postura radical e reducionista de alguns autores no ocidente, se valendo da ciência sem a consciência crítica de suas limitações, como por exemplo, dentre outros, o trabalho de Wilson, que despreza a influência da cultura no comportamento e na saúde de um indivíduo. Um exemplo de diversidade cultural pode ser encontrado dentre os Guayakis da América do Sul, região do Paraguai que possuem sua sexualidade praticamente liberada, pois quando um homem não tem mulher, ele divide a de seus companheiros. Há um maior número de homens nesta sociedade, pois eles geralmente matam uma menina para compensar a morte de um homem estimado. Quase que sempre o amante é secreto e quando o marido prenuncia problemas com seu concorrente, ele obriga sua esposa a casar com este amante, oficializando a relação e colocando-o hierarquicamente numa posição inferior. O padrão de beleza deste povo é bastante diferente do nosso, pois eles preferem se apresentar gordos e se alimentam de carne rica em lipídios e com excesso - os Guayakis têm horror de ser magros. Outro detalhe é que um homem nunca consome sua caça, oferecendo-a aos outros. A poliandria, como dentre os Guayakis, ocorre também entre os Yanomami do norte do Brasil, os Toda da Índia e os tibetanos do Tibete que praticavam infanticídios femininos, mas a poligamia casamento de um homem com várias mulheres, é mais comum dentre os povos em geral. 2.2.Matriarcado Segundo Leonardo Boff, num estágio já avançado do processo civilizatório, as mulheres compareciam como as principais produtoras de cultura. Há pelo menos trinta mil anos, dependendo das regiões, florescia em todos os continentes o matriarcado. Segundo a pesquisadora do matriarcado Heide GöttnerAbendroth, as grandes culturas das cidades (a partir de 10.000 a.C) eram matriarcais, ligadas à introdução de um novo modo de produção: a agricultura, o cultivo de plantas e a domesticação de animais. Era o tempo das grandes Deusas, que inspiravam organizações sociais marcadas pela cooperação, pela reverência à vida e a seus mistérios. As mulheres detinham a hegemonia política; eram elas que mediavam e solucionavam os conflitos

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e organizavam as sociedades. Eram responsáveis pelo bem comum do clã na vida e na morte. Nesse momento a natureza não era vista como um entorno a ser conquistado, mas como uma totalidade da qual cada ser humano era parte e parcela e com a qual deveria viver em harmonia, respeitando-a e venerando-a. As instituições do matriarcado, caracterizadas por grande força integradora, foram tão significativas que se transformaram em arquétipos e em valores e, como tais, deixaram incisões na memória genética até os dias de hoje. O fim do matriarcado é situado, atualmente, por volta de 2000 a.C., variando nas datas de região para região. É fato histórico que, a partir de então, o mundo começou a pertencer aos homens, fundando o patriarcado, base do machismo e da ditadura cultural do masculinismo. São obscuras as razões dessa passagem que demorou cerca de 1000 anos para se impor, perdurando ainda até os dias atuais. Provavelmente, a vontade de dominar a natureza levou o homem a dominar a mulher, identificada com a natureza pelo fato de estar mais próxima dos processos naturais da gestação e do cuidado com a vida. O grave é que os homens conseguiram tornar natural essa dominação histórica, introjetá-la nas mulheres a ponto de muitas delas aceitarem tal situação como normal. Todas as formas de antifeminismo antigas e modernas baseiam-se nessa dominação do homem sobre a mulher. O patriarcado não pode ser entendido apenas como dominação binária macho-fêmea, mas como uma complexa estrutura política de dominação e hierarquização, estrutura estratificada por gênero, raça, classe e religião. As relações de gênero, particularmente no seio da família, vêm marcadas pela guerra surda e, não raro, gritante dos sexos. Só é possível a convivência harmoniosa do casal mediante uma atitude vigilante de auto-crítica, capacidade de aceitação dos limites de um e de outro, uma ética transparente de benevolência e de compaixão. No século XIX, vários antropólogos, defenderam a existência num tempo remoto da humanidade do sistema do matriarcado, uma

organização social inteiramente predominada por mulheres. A hipótese matriarcal surgiu em 1861, quando o suíço Johann Jakob Bachofen sugeriu a existência de sociedades matriarcais na pré-história. Suas idéias influenciaram fortemente antropólogos e arqueólogos do final do século 19 e começo do século 20. Seguindo na linha dos antropólogos evolucionistas, seguidores de Darwin, o americano Lewis Morgan (A Sociedade Antiga, 1877), defendeu, ao estudar as tribos dos iroqueses, o ponto de vista de que as relações de parentesco eram dadas pelas mulheres, pelas mães (até hoje é antigo hábito ibérico de apor o sobrenome da mãe no final, e não no meio do nome do filho). Consequentemente, confirmava-se para ele, a teoria do Direito Materno de Bachofen, como sendo o direitomatriz das sociedades. Friedrich Engels, bem como Karl Marx, entusiasmou-se pelo trabalho de L. Morgan, extraindo dele consequências bem mais amplas do que as origens do parentesco e as alterações ocorridas na familiar. Engels (Origem da família, da propriedade privada e do estado, 1884) aceitou também existir num passado longínquo uma sociedade matriarcal, não da mítica tribo das guerreiras amazonas, que tanta lenda gerou, na qual as mulheres dispunham de uma liberdade sexual desconhecida para os modernos. Para o companheiro de Marx, entretanto, o surgimento do patriarcalismo e as subsequentes modificações na estrutura familiar nada deviam à crescente proeminência dos deuses masculinos como pensara Bachofen, mas sim à introdução do princípio da propriedade privada. Com o surgimento do costume do cercamento e da delimitação das terras, adotadas pelos homens vitoriosos em combates e guerras, os machos passaram, disse Engels, a exigir fidelidade sexual das mulheres porque não aceitavam ter de legar os seus bens, obtidos com sangue e pela exploração do próximo, a um descendente que não fosse seu filho legítimo, gente do seu próprio sangue. Foi então que o adultério feminino passou a ser considerado ‘grave transgressão’, senão crime capital. As exigências do patrimônio enfeixado nas mãos dos homens teriam então suprimido as liberdades femininas, tornando as

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mulheres cativas, presas a um casamento monogâmico. De certa forma era inevitável que um militante socialista como Engels concluísse que a opressão feminina derivava em última instância da existência e manutenção da propriedade privada, induzindo a que se concluísse que a verdadeira emancipação feminina só poderia advir da abolição da sociedade burguesa. Pesquisas antropológicas feitas com mais rigor no século XX concluíram que jamais houve uma sociedade matriarcal. Isso não significa negar que em várias tribos ou civilizações as mulheres fossem altamente consideradas (por exemplo, na Grécia arcaica). Para Ricardo Cole – ‘O Reino das Mulheres: O Último Matriarcado’ (2005), tradução de Sandra Marta Dolinsky, contendo o relato da viagem de Ricardo Coler, esta experiência única narrada, faz pensar sobre a sociedade tradicional e as mudanças nos papéis dos homens e das mulheres nos dias de hoje. Na obra, o autor imagina a vida numa sociedade que desconhece a guerra e a violência sistemática, que não possui classes nem estrutura rígida de poder, que não oprime mulheres nem homens e que celebra a vida a ponto de adorar a natureza como expressão de um ser divino, como um sonho dourado de futuro. Em linhas gerais, é assim que muitas pessoas acreditam que foi o passado da humanidade. Essa fase aparentemente idílica é conhecida por alguns, como período matriarcal que teria existido na Europa e na Ásia, pelo menos desde o ano 35.000 a.C. Todavia, os traços dessa cultura teriam sido progressivamente extintos a partir de 4.000 a.C., quando invasores vindos das estepes teriam tomado os continentes e introduzido o machismo, a cultura da guerra e a sociedade patriarcal. A possível existência de uma fase matriarcal na história da civilização foi sugerida no século 19 e chegou a ser considerado um fato histórico por importantes arqueólogos e antropólogos, até meados do século passado. Nas últimas duas décadas este debate não tem encontrado espaço na comunidade científica, que prefere rejeitar a hipótese. Entretanto, fora da discussão acadêmica, existe a convicção de que houve um passado onde as relações entre homens e

mulheres eram igualitárias entre os adeptos das religiões neo-pagãs e as feministas. A hipótese matriarcal que surgiu em 1861, com Bachofen, aceita a existência de sociedades matriarcais na pré-história. Suas ideias influenciaram fortemente antropólogos e arqueólogos do final do século 19 e começo do século 20. Quando os pesquisadores da chamada era do gelo (40.000 - 10.000 a.C.) desencavaram grande quantidade de estátuas femininas conhecidas como Vênus, foram rápidos em identificá-las como representações de deusas-mãe. Em 1901 o arqueólogo britânico Sir Arthur Evans descobriu a civilização minóica, que teve seu auge na Grécia entre os séculos 27 e 11 a.C., e afirmou tratar-se de uma sociedade matriarcal. Nos dias atuais, um exemplo de sociedade matriarcal – talvez o último que se tem notícia, pode ser a localidade de Loshui, pequeno povoado da China, um lugar em que todo o poder é das mulheres. Neste lugar elas podem escolher os homens com quem dormirão ou irão casar, a política é assunto exclusivo delas e o homem obedece sem constrangimento. Para Pablo Nogueira, em seu ensaio ‘Matriarcado, História ou Mito’ (1999), a ciência desafia a crença em sociedade igualitária e dirigida por mulheres, sob o argumento de que o gene da crueldade do poder e da dominação está presente em toda a raça humana e que, uma vez no controle e detentora do poder, a mulher incorreria nos mesmos erros que o homem. Segundo Géssica Hellmann, no artigo “Mutações da Sexualidade Feminina - Uma Introdução ao Matriarcado”, estudar o matriarcado é conhecer a história feminina, uma história que pode mudar a visão da forma como as mulheres se vêem, e como a sociedade as projeta. Sanz (2007), em sua extensa pesquisa sobre os escritos de Bachofen, afirma que ele foi o grande iniciador dos estudos sobre as origens do matriarcado, da ‘cultura ginecocrática’ na antiguidade. Pensador e investigador do século XIX, docente colega de Nietzsche, Bachofen distinguiu três momentos importantes na constituição do período matriarcal no passado grego e sua passagem

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para o patriarcado. No primeiro estágio, dominado pela deusa Afrodite, a vida se encontrava então em plena de símbolos do feminino e da natureza. O direito natural que prevalece aqui é o da fecundidade da terra e sua capacidade criadora. A terra é a “grande mãe”. No segundo estágio ocorre o predomínio do à deusa Deméter, na qual o feminino aceita a mediação do matrimônio num plano social e na agricultura como uma forma essencial, contudo, em unidade com a natureza. No terceiro estágio acontece o Triunfo de Apolo, o deus-sol. Inicia o predomínio masculino e o desprezo ao feminino, produzindo a passagem do sistema matriarcal para o patriarcal. A sociedade patriarcal privilegia o racional, a individualidade, a guerra, a autoridade e a dominação. Segundo a autora, Bachofen ‘converte’ sua investigação em uma antropologia histórica das representações simbólicas que configuram a memória coletiva de um povo e, em última instância, sua identidade. Seguindo a linha dos antropólogos evolucionistas, Morgan defendeu, ao estudar as tribos dos Iroqueses, a visão de que as relações de parentesco eram matrilineares. Afirmou também que, na sucessão para a filiação patrilinear, depois do aparecimento da propriedade, o parentesco passou a ser constituído por um homem, considerado o antepassado comum, pelos seus filhos, pelos filhos dos seus descendentes masculinos e assim sucessivamente. (Morgan, 1976). Na opinião de Götner-Abendroth (2007), o trabalho de Bachofen situa-se no campo da história das culturas e encontra-se em paralelo perfeito com o trabalho de Morgan no campo da antropologia/etnologia. Mas a crítica avaliou muito diferentemente o trabalho desses estudiosos: Morgan foi considerado o pai da etnologia/antropologia; já a Bachofen, não lhe foi dada a devida importância. Para a autora a razão é simples: "se fosse feito um exame minucioso de seu trabalho, isso causaria o começo da ruína da visão patriarcal, da ideologia e do mundo. Marca o início do desenvolvimento de um novo paradigma da história humana: por isso é tão ‘perigoso’ estudá-lo adequadamente". Götner-Abendroth (2007) afirma que, por mais importante que tenham sido - e o foram

realmente - os primeiros textos sobre o matriarcado, foram escritos por homens que viviam e estavam completamente inseridos em uma sociedade machista e patriarcal. O trabalho da autora, assim como de outros contemporâneos, procura revisar o conhecimento sobre a estrutura do matriarcado numa visão menos preconceituosa. Para Bachofen, as sociedades humanas, em seus primórdios eram, seguramente, sociedades matriarcais. "As mulheres" - afirmou, "dominavam o mundo de então" (Existiu, 2007). Götner-Abendroth (2007) discorda do termo "dominar", ela reformula o próprio significado do termo matriarcado: "Nós não somos obrigadas a seguir a noção machista do termo matriarcado significando: dominação pelas mães". A autora afirma que a palavra grega "arché" tem um duplo sentido, significa tanto "começo" quanto "dominação". A definição mais precisa de matriarcado seria então: "as mães do princípio", enquanto o patriarcado, por outro lado, seria traduzido corretamente como "domínio dos pais". Segundo a autora, a redefinição do termo matriarcado tem relevância política, pois ele não evita discussão com colegas profissionais e com a audiência interessada. A sociedade matriarcal era estruturada social, cultural e economicamente, ainda segundo Götner-Abendroth (2007), da seguinte forma: Em nível econômico, sociedades agrícolas, onde as tecnologias agrícolas desenvolvidas vão, desde simples jardinagem (horta), a uma agricultura completa com arado (início do Neolítico) e, finalmente, aos sistemas de grandes irrigações das primeiras culturas urbanas as mais adiantadas. Os bens não são acumulados por uma pessoa ou por um grupo específico, a sociedade é igualitária e nãoacumulativa. Cada vantagem ou desvantagem a respeito da aquisição dos bens é mediada por regras sociais. Por exemplo, nos festivais da cidade, os clãs mais ricos são obrigados convidar todos os habitantes. Organizam o banquete, no qual distribuem sua riqueza para ganhar a honra. Em nível social, o parentesco é matrilinear, no qual todos os títulos sociais e políticos são transmitidos através da linhagem materna. Este tipo de matri-clã consiste pelo menos em três gerações das mulheres - a clãmãe, suas filhas, sua netas - e os homens diretamente relacionados - os irmãos da mãe, de seus filhos e de netos. As mulheres vivem

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permanentemente e nunca saem da casa do clã de sua mãe, quando se casam. A isso se chama matri-localidade. As mulheres têm o poder de controlar as fontes nutrição: campos e alimento. Os clãs são auto-suficientes e se relacionam com outros clãs através da união do casamento. Esse casamento não é uma união individual, mas uma união comunal que conduz ao matrimônio comunal. Por exemplo, os homens novos da casa do clã A são casados à casa do clã nova B das mulheres, e os homens novos da casa de clã B são casados às mulheres novas na casa de clã A. A isto, chama-se união mútua entre dois clãs em uma aldeia matriarcal. Os homens matriarcais nunca consideram os filhos de sua esposa como seus, porque não compartilham de seu nome de clã. A paternidade biológica não é conhecida, nem a ela se dá atenção. Os homens matriarcais cuidam de seus sobrinhos e sobrinhas num tipo de paternidade social. Mesmo o processo de tomada de decisão política é organizado ao longo das linhas do parentesco matriarcal. Os delegados de cada casa de clã encontram-se no conselho da aldeia, onde todos os assuntos são discutidos. Estes delegados podem ser as mulheres mais velhas dos clãs (as matriarcas), ou os irmãos e os filhos que escolheram para representar o clã. Nenhuma decisão a respeito da aldeia pode ser feita exame sem o consenso de todas as casas de clãs. Um fato importante: os delegados, que estão discutindo a matéria, não são aqueles que tomam a decisão, os delegados possuem a função simplesmente de porta-vozes. Pessoas que vivem em uma determinada região tomam decisões na mesma maneira: os delegados de todas as vilas encontram-se para trocar as decisões de suas comunidades. Em contraste aos erros etnológicos frequentes feitos sobre estes homens, elas não são os "chefes", pois não depende deles a decisão. A decisão é tomada em nível regional, um consenso entre todas as casas de clãs. Consequentemente, do ponto de vista político, as sociedades matriarcais são sociedades igualitárias ou sociedades do consenso. Exatamente neste sentido, estariam livres de dominação, desprovidas de uma classe de dominadores e uma classe excluída, isto é, não possuem os aparelhos repressivos necessários para estabelecer a dominação.

No nível cultural é preciso esclarecer que não são sociedades caracterizadas por "cultos à fertilidade", mas que desenvolveram complexos sistemas religiosos. O fator comum seria crença no renascimento, não como a ideia abstrata da transmigração de almas, mas em um sentido muito concreto: todos os membros de um clã sabem que, após a morte, vão renascer - por uma das mulheres de seu próprio clã, em sua própria casa de clã, em sua aldeia natal. As mulheres em sociedades matriarcais são grandemente respeitadas, porque elas garantem o renascimento. Assim como na natureza, cada planta resseca no outono e renasce na próxima primavera, a terra é a grande mãe que concede o renascimento e a nutrição a todos os seres. No cosmos e na terra, os povos matriarcais observam este ciclo da vida, da morte e do renascimento. De acordo com o princípio matriarcal da conexão entre o macro-cosmo e o micro-cosmo, veem o mesmo ciclo na vida humana. A existência humana não seria diferente dos ciclos da natureza, mas seguiria as mesmas regras. Da perspectiva matriarcal, a vida traria a morte e a morte traria a vida, cada coisa em seu próprio tempo. Da mesma maneira, a fêmea e o macho também seriam uma polaridade cósmica. Nunca ocorreria a um povo matriarcal considerar o outro sexo como mais fraco ou inferior ao outro, como é comum em sociedades patriarcais. O grande mérito destas obras, publicadas nas décadas de 1870 e 1880, foi a constatação de que a família tinha história e que, ao longo dos séculos, tinha conhecido várias formas. A família monogâmico-patriarcal era apenas uma delas. Conclusão: o poder masculino e a submissão da mulher não eram eternos, como diziam as religiões e as pseudociências racistas e sexistas da época" (Buonicori, 2007). Ainda segundo Buonicori, Engels afirmaria que a monogamia teria sido fundada sob a dominação do homem com o fim expresso de procriar filhos duma paternidade incontestável, na qualidade de herdeiros diretos. Mas somente ao homem, garantido pelos costumes, é concedido o direito da infidelidade conjugal, já a mulher infiel é punida severamente pela sociedade. Em outras palavras, podemos afirmar que, com a monogamia, instituiu-se a prostituição e o adultério. A mulher é condenada caso não aceite a condição monogâmica, enquanto o homem pode carregar uma "leve mancha

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moral", mas, ainda assim, é aceitável, até nos dias de hoje, principalmente pelas próprias mulheres, que o homem se relacione com prostitutas. Pensamos agora na neurose coletiva, ou nos indivíduos normopatas, como diz Gaiarsa, ou nos anônimos, como prefere Reich. Ao reprimir a sexualidade, ao criar esta idéia do "sexo frágil", da "inferioridade feminina", defendida durante séculos por estudiosos do comportamento humano e da sexualidade, ao negar o feminino proclamando um único Deus masculino, ao negar a sexualidade sadia de Cristo, ao tornar Maria um ser assexuado - ao fazer tudo isso, a quem estamos agredindo, a não ser a nós mesmos? O que tanto tememos? A liberdade? A felicidade? Com o advento da sociedade patriarcal, com o casamento monogâmico, criamos as guerras, os genocídios, a negação do prazer e da felicidade. Por isso é preciso entender a estrutura deste processo de transformação da sociedade matriarcal para a patriarcal e suas consequências. 2.2. Poliandria Poliandria – encontrada na Polinésia, no Tibete, no Nepal e na Índia, significa uma mulher casada com vários homens. Caso paradigmático é o da poliandria fraternal ou ‘adélfica’ do Himalaia, onde uma mulher casa com dois homens que são irmãos entre eles. Estes tibetanos trabalham como guias de caravanas, o que implica dilatadas estadias fora de casa, entretanto a mulher e os filhos ficam com o irmão do marido. Outro exemplo é o caso dos "Todas" do sul da Índia - tribo das montanhas Nilgira de mil indivíduos, onde ¼ são cristãos e economia dependente dos búfalos, embora sejam vegetarianos. Entre os "Todas", o infanticídio feminino é frequente para equilibrar o número de mulheres com o dos homens. Para evitar a divisão da propriedade os filhos casam com a mesma mulher, garantindo a unidade do patrimônio. Era frequente no primeiro ano o irmão maior manter relações sexuais com a esposa até que ela engravide. No ano seguinte é o “turno” do 2º irmão - resolução da tensão estrutural entre matrimônio e patrimônio.

Um exemplo mais é da Somália, no "Corno da África", onde uma mulher casa com um homem de outro povoado, onde a mulher vai viver. Mas se a mulher acorda-se de que são as festas do seu povoado, ela vai lá sem despedirse do seu marido; e depois ali, se encontra um dos seus pretendentes na festa pode marchar com ele e casar com ele. É esta uma flexibilidade notável para desintegrar e atar as relações de casamento. A sociedade zoé é poligâmica e poliândrica. Como nos diz Rosa Cartagenes, indigenista, “o casamento poligâmico, tanto masculino quanto feminino, é um dos pilares fundamentais da extensa rede de alianças entre os diversos grupos familiares, com relevância para a poliandria, que entre os zoés é altamente estimulada e desejável socialmente como esteio das relações familiares e políticas. Ressalte-se que entre os zoés a poliandria não é eventual nem apenas ‘tolerada’ como mecanismo de equilíbrio demográfico.” O mais interessante é a relação com os filhos. Uma mulher pode ter filhos de outros maridos, mas os seus filhos são igualmente filhos dos pais dos irmãos. Ou seja, uma criança zoé é cuidada por dois ou três pais, por exemplo. Outro tema muito importante para entender a complexidade do universo zoé é a ausência de hierarquia. Não existem pajés ou caciques. O contato com os índios wai-wais, que vez por outra invadem a reserva, é uma das principais fontes de tensão na área. Os wai-wais são contatados há muito tempo e têm relações com missionários evangélicos. Na Fundação Nacional do índio (FUNAI), há 54 missões religiosas cadastradas, mas o número pode ser maior, já que muitos missionários conseguem se infiltrar entre os indígenas, sem o conhecimento do órgão. É preciso pegar um avião monomotor e, depois de uma hora de bastante emoção, pousar numa pista de pouso de chão batido, na Frente de Proteção Etno-ambiental Cuminapanema. Lá está a vida dos zoés, um grupo indígena de cerca de 250 pessoas que preserva em muito as suas tradições e modo de viver. A reserva etnoambiental fica nos municípios de Óbidos e Alenquer, a 253 quilômetros de Santarém, Pará. Não existe acesso fluvial, só aéreo ou depois de dias de pernada, como se diz entre os indigenistas. Na reserva, só se pode entrar com

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autorização da FUNAI. Os zoés tiveram contato “oficial” com os não-índios em meados da década de 1980.

cada um deles pode ter em comum com vários outros homens uma segunda mulher, e mesmo uma terceira, uma quarta, e assim por diante

O povo Nyinba, do Nepal, pratica a poliandria fraterna. Poliandria é uma forma de poligamia em que uma mulher tem vários maridos. Na cultura Nyinbian, quando uma mulher se casa com um homem, ela também se casa com todos os seus irmãos. Todos os irmãos têm igual acesso sexual à esposa e toda a família cuida das crianças, embora reconheçam cada irmão como pai de uma determinada criança. Este tipo de estrutura matrimonial concentra a riqueza e recursos de todos os irmãos dentro da família e também as terras e riquezas de seus pais.

3. Construção da nova sociedade

Engels, em A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, definiu que – antes de passar à monogamia, à qual a reversão do direito materno proporcionou um desenvolvimento rápido, digamos ainda algumas palavras sobre a poligamia e a poliandria. Essas duas formas de casamento não podem ser consideradas senão como exceções, por assim dizer produtos de luxo da história, a menos que elas não se apresentem num país uma ao lado da outra, o que, sabemos, não é o caso. Os homens excluídos da poligamia consolaram-se aos pés das mulheres deixadas de lado pela poliandria, e tendo permanecido, até aqui sensivelmente igual o número de homens e de mulheres, sem levar em conta as instituições sociais, é impossível, logicamente, que uma ou outra dessas formas de casamento se tornem gerais. De fato, a poligamia de um homem era um produto evidente da escravatura e limitado a casos excepcionais isolados. Na família patriarcal, antes de semítica, o próprio patriarca e alguns de seus filhos, ou todos eles, vivem em poligamia; os outros são obrigados a contentarem-se com uma única mulher. Ainda assim é no Oriente; poligamia é um privilégio dos ricos e dos grandes, que têm a possibilidade de comprar escravos; a massa do povo vive em monogamia. É uma exceção análoga a poliandria na índia e no Tibet, cuja origem, sem dúvida interessante, vinda do casamento por grupos, fica para ser estudada mais profundamente. Na sua prática, ela parece ainda mais atraente do que a organização do harém ciumento dos maometanos. Entre os Naires da índia, ao menos, três ou quatro, ou mais, possuem, é verdade, uma mulher comum, mas

3.1.Fundamentos A nova sociedade – a tese Introdução Pelas observações colhidas no farto testemunho científico - contido no referencial teórico, nos permitimos ter a sensação de que foram as sociedades com base matriarcal, as que desenvolveram maior equilíbrio em sua estrutura, e atingiram a prosperidade em harmonia com os conceitos de comportamento sócio-emocional, consciência cidadã, respeito humano e ao meio ambiente. Estes agrupamentos sociais gerenciados pela visão feminina de mundo obtiveram resultados mais significativos, tanto nas questões de desenvolvimento sócio-econômico, quanto nas áreas do comportamento humano. A capacidade gerencial e administração de crises também se evidenciam na análise. Por exemplo, nos momentos de crise econômica, escassez de recursos e esgotamento da capacidade produtiva, estas sociedade chegaram a reorganizar-se em grupos familiares constituídos de uma fêmea com mais de um macho, com a necessária divisão de tarefas, aumento da capacidade produtiva, racionalização das atividades e recursos envolvidos nos processos de produção e insumos, sem a perda da identidade da família, necessidade entre os seres humanos e que desenvolve a ideia de proteção e abrigo. Se, de um lado não ficam excluídos os sentimentos de família, de outro, ficam satisfeitas as necessidades biológicas dos indivíduos quanto às relações sexuais e a solidariedade para com a prole, uma vez que todos os machos são pais da prole gerada. E, não havendo crescimento populacional – uma vez que a fêmea só engravida uma vez ao ano, mesmo com vários machos envolvidos, os recursos disponibilizados passam a ser em quantidade administrável dentro de ciclos críticos. Vejamos como a fêmea consegue gerenciar a crise dentro de casa, administrando os machos

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e seus interesses e sentimentos distintos. Esta habilidade em controlar a família é bem observada nos dias atuais, principalmente nos lugares mais pobres, vilas e favelas, ou sociedades cercadas por permanentes processos de crise socioeconômica. No Brasil, as pesquisas do IBGE, desde muitos anos, apontam a figura da mulher como chefe de família nas classes B, C e D, sendo as responsáveis pelo sustento, criação e educação dos filhos e, não menos comum, contribuem para o sustendo de maridos e/ou companheiros e, muitas vezes, até do sustento de excompanheiros e suas novas famílias.

harmonia proposta matriarcal.

pela

sociedade

base

É claro que nos resta saber se esta nova sociedade, com o eixo de controle e comando de uma nova mulher, conseguirá frear o processo destrutivo a que está submetida a raça humana, por obra e força exclusivamente do elemento masculino, e – sobrevivendo, ainda terá que construir uma sociedade mais generosa, tolerante, fraterna e solidária que somente o elemento feminino pode empreender e compreender. Colonialismo e dominação

Na classe B, ainda acentua-se o crescimento da mulher tanto intelectual quanto profissional. Ainda no Brasil, dos anos 70 até entrada do século XXI, a mulher passou a liderar o número de matrículas nas universidades, primeiro conquistando as áreas humanas e depois as técnicas, bem como passou a ocupar – majoritariamente, postos gerenciais. As pesquisas apontam as mulheres como principais executivas e concentrando o maior número de cargos de comando em menos de dez anos no setor privado. No setor público não é diferente. As principais e mais destacadas lideranças (por capacidade e confiança popular) são mulheres. E o número cresce diretamente proporcional (em quantidade e velocidade de crescimento) a queda da capacidade e da confiança dos executivos públicos masculinos. No mundo todo, esta tendência é um dado relevante. Das principais lideranças mundiais, hoje, são as mulheres que se destacam em capacidade administrativa e confiabilidade. Os exemplares masculinos - salvo raras exceções, competem pelo título menos honroso de piores gestores públicos ou em quesito demagogia. Cumprindo fundamental papel no processo histórico, numa análise dialética do empoderamento feminino, a mulher deste século reposicionará o eixo do controle sócioeconômico numa nova ordem mundial, livre de crueldades, da corrupção e do paternalismo clientelista dominante, resgatando o momento histórico lá dos primórdios da raça humana quando o masculino subjugou o gênero feminino e condenou a raça humana a um atraso evolutivo que – praticamente, custou à própria existência da espécie, rompendo com a

O surgimento de uma nova ordem mundial, sob controle e visão feminina, nos remete ao fato de que a inversão necessitará ser radical. Se esta sociedade masculina nos levou a destruição quase total dos recursos existentes, tanto materiais quanto humanos, isto nos leva à conclusão - mais do que óbvia, de que tudo precisa ser revertido. O processo de dominação inicia com a conquista do poder, normalmente de forma violenta, em nossa história. Se não é violenta na conquista é violenta em sua instalação e manutenção. O jugo masculino caracterizou-se por ser violento e extremamente cruel, destruindo identidade e massacrando valores. As religiões foram as maiores colaboradoras deste processo e base de sustentação. O colonialismo caracteriza-se pelo processo de dominação após a conquista do colonizado. A instalação do processo de colonização é terrível, pois destrói a identidade do dominado, aculturando-o e reduzindo sua autoestima, tornando-o dependente, econômico e social, da matriz, modelo de sociedade desenvolvida. A ‘colonização’ do elemento feminino foi assim. Com o passar dos anos gerações inteiras de mulheres foram vilipendiadas em seu orgulho, tendo sido destruídas em capacidade e conteúdo. Foi na idade antiga que teve inicio o processo, pela necessidade do macho em se impor, reduzindo a fêmea em mera procriadora e objeto de desfrute sexual. No início da era cristã o processo tornou-se mais cruel. As religiões do tronco judaico-cristão foram cruéis na destruição dos valores femininos, caracterizando suas maiores virtudes como indícios demoníacos e destituindo as mulheres de valores na escala social. Como pode alguém

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ir contra a palavra de Deus que outorga à mulher o valor de ser um apêndice do homem? E – também - responsável histórica pela quebra da moral da família e – por isto, causa do sofrimento humano? Pois estas religiões tratam desta forma a figura feminina. Entre os muçulmanos a mulher não tem valor maior, e, mesmo no século XXI, desequilíbrios domésticos são resolvidos à luz da lei divina cuja palavra é traduzida por sacerdotes masculinos, é claro, e se impõe à mulher o horror da tortura e de castigos físicos sem direito sequer à defesa, em nome da honra masculina.

E o valor dos meninos é sua força de trabalho braçal para a maioria pobre do povo chinês. Para os socialistas, a promessa revolucionária ficou na retórica em matéria de liberdades e resgate de espaço histórico. Se os nazistas assassinaram Rosa Luxemburgo, se os facistas brasileiros prenderam e torturaram Patrícia Galvão – a Pagú, violentamente, a contra partida socialista apresenta as execuções em massa de lideranças femininas trabalhadoras na Rússia, Ucrânia e Europa Oriental, incluindo pensadoras, filósofas e revolucionárias. Mudança e inovação

Com o tempo, o valor feminino foi sendo reduzido com o objetivo de fazê-lo desaparecer por completo. Nas sociedades modernas a destruição destes valores se dá ostensivamente ou de forma velada, onde a sociedade é ‘mais desenvolvida’. Assim, se no norte da África as mulheres sofrem amputação do clitóris em pleno século XXI, em países mais desenvolvidos como o Brasil e os USA, as mulheres ganham menores salários que os homens, mesmo exercendo idênticas funções. Se no Oriente Médio as mulheres são chicoteadas em praça pública por andar com o rosto descoberto, em lugares mais ‘civilizados’ como a Argentina, o adultério feminino ainda é crime previsto no código penal. E assim por diante. Neste processo a Europa medieval e o sistema capitalista são idênticos, tanto em foco quanto em interesse, sendo cruel ao extremo de forma também idêntica. A proclamação do fim do capitalismo e o surgimento do socialismo como antítese, em nada altera esta opressão sobre a mulher. As mulheres-operárias nunca se libertaram do jugo masculino ao longo dos anos na Europa oriental. Em New York, as tecelãs assassinadas em plena luta por condições dignas de trabalho – em 1857, dentro da fábrica incendiada pelos patrões só encontra crueldade similar na China comunista, onde a mulher viuse livre do fetiche ‘dos pés enfaixados’ dos tempos do Império mas, nos 70 anos da revolução, o maior horror que se pode destacar dentre os horrores da miséria e da exploração é o fato de milhares de meninas não possuírem o direito de ter um nome porque não são registradas, ou muitas vezes são mortas pelos próprios pais, em razão da política de um só filho por casal no controle de natalidade chinês.

O século XXI emerge sob a égide da mudança e da inovação. Mudar pode ser traduzido como direcionar-se à uma posição inédita ou retornar às origens, ou posição anterior. Ora, mudar é – simplesmente, sair de uma posição para outra. Inovar é criar algo diferente. Mas inovar também pode ser entendido como síntese de uma contraposição entre tese e antítese. Inovar pode ser resultado de ação proposta e trazer em sua ‘bagagem genética’ o DNA das ações anteriores. Inovar é fazer diferente, mas que resulta de análises históricas e observações sobre situações anteriores. Inovar – ou fazer diferente, pode ser o resultado de uma mudança ou a ação de uma mudança. Se mudar pode ser inovar, inovar pode ser... mudar. Mas o concreto desta inovação que o século XXI nos proporciona, é mudar esta posição desconfortável em que se encontra a humanidade. Para nós, que defendemos a Nova Sociedade, mudar significa retomar o caminho do ponto onde foi interrompido e a inovação é corrigir o rumo, zelando para não incorrer nos erros cometidos no rumo que se tomou, espelhando os exemplos e mantendo a memória viva para não repetir erros históricos. A Nova Sociedade é regida sob a ótica feminina e adota os critérios femininos de posicionamento frente ao mundo. Seus valores são aqueles antigos de proteção, exaltação e adoração ao ambiente natural, como forma de preservação dos seres vivos. Ligados à natureza, estes valores são resgatados como entre os antigos povos Minóicos e Celtas o faziam, valorizando e cultuando a natureza e seus elementos como símbolos da vida e da

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existência de tudo, através de rituais, estabelecimento de simbologias e emblemas, retomando comportamentos e atitudes, reconstituindo marcas e identidades. Como aqueles povos, e outros que adotaram esta prática de respeito e absoluta submissão à natureza como única forma de garantia de vida, o símbolo comportamental que traduz e identifica estas relações está sustentado na figura do feminino como centro, através do culto e adoração à Deusa, que representa a MãeNatureza. Ora, é feminino porque simboliza e representa a vida. Somente o feminino é capaz de gerar vida, carregá-la dentro de si por muitos meses e, depois, alimentar esta vida gerada e conduzi-la aos primeiros passos e contatos com o mundo exterior. Somente o feminino garante a perpetuação da espécie. No século XXI, o avanço da ciência determinou que uma mulher já é capaz de gerar uma cria sozinha, a partir de células-tronco até mesmo células de outras mulheres. O masculino vai pagar o (alto) preço da sua desordenada ambição de domínio e poder. Transferência do poder As culturas espiritualistas orientais detectaram que o masculino carrega dentro de si o elemento determinante da raiva e da guerra, do raciocínio lógico formal, enquanto que o feminino pensa e vê o mundo de forma sensitiva e como um conjunto de forças e atividades, o que é fruto da análise periférica mais apurada. Para estas culturas, reservam-se ao feminino as melhores partes das ações empreendidas, principalmente no aspecto sexual, onde o prazer e realização femininos são tratados como algo sagrado. Os Celtas também agiam assim. O simbolismo da tradição Celta expressa a estrutura matriarcal e matrilinear daquela sociedade - cuja herança ainda se vê presente em muitas estruturas que sobreviveram ao feudalismo, ao período medieval e a toda a dominação imposta pela cultura do patriarcado. A veneração da natureza - expressa através da figura feminina, submete todo o conjunto social à este forte caráter: - A natureza representa a vida. A fêmea representa a vida. Logo, natureza e fêmeas são a vida. Então, venere-se a vida - natureza e fêmea, gênero feminino. São Deusas, sacerdotisas, generais, chefes de famílias, de clãs e de estado. Na literatura que sobreviveu a destruição destes

conceitos, a presença feminina sobrevive como algo sagrado. A literatura moderna sobre o passado surge para subverter esta simbologia, criando a mitologia das princesas presas em castelos, atormentadas por bruxas(!) e dragões, sendo salvas por príncipes valentes montados em cavalos brancos. Ao longo do extenso mandato e exercício do poder masculino, algumas características fortes identificam o período. O poder vasto, desregrado e sem critérios, a não ser o da manutenção do poder, cegou o individuo para a evolução da sociedade sobre seu domínio. O masculino nunca abriu concessões, sempre foi competitivo e individualista, não soube gerar conhecimento, acumular sabedoria e agregar conceitos. Não fez sócios. O masculino, sempre em guerra, subjugou o feminino, destituiu a autodeterminação natural das pessoas, escravizou a prole e também outros indivíduos masculinos. E com muita crueldade, com guerra, terror, tortura e mesquinhez. Não foi possível construir aliados. Somente inimigos. Assim, além do feminino, foram subjugadas crianças, velhos, negros, índios, animais e destruída a natureza. O processo de solapamento das culturas com a reprodução da lógica dominante - sob ótica masculina - gerou o círculo colonialista. Com a introjeção de uma cultura diferente, através de gerações, o feminino passou a reproduzir também esta lógica dominante, de diminuição dos seus próprios valores, desenvolvendo baixa-estima e decretando a completa submissão aos valores e conceitos masculinos, num processo completo de dominação e destruição cultural, num cerco prolongado de séculos e por ataques em todas as posições socioculturais. Num determinado momento, as mulheres transformaram-se em criaturas frágeis, dependentes e submissas, guetizadas e afastadas totalmente do convívio social, relegadas somente a tarefas domésticas menores, diminuindo sua contribuição cultural e econômica a níveis assustadores. As religiões contribuíram para isto, estabelecendo dogmas e valores subjetivos e depreciativos à participação feminina no conjunto dos grupos sociais, inclusive reduzindo seus valores sacerdotais à quase nulidade e transferindo a reprodução da interpretação dos valores religiosos para a pregação masculina. Pela tragédia sócio-econômico-culturalambiental, que vivemos na atualidade, e sem

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perspectivas de mudanças positivas, que resultem em melhorias na qualidade de vida para os seres vivos, resultado dos séculos de dominação masculina, a mudança radical no eixo de poder é a única via alternativa para tentar salvar a vida do planeta. E esta mudança precisa ser radical e diametralmente oposta ao que está acontecendo. A alternativa viável é a reposição do comando sob controle do feminino, de forma incondicional. Esta revolução radical proposta carrega – no seu bojo, as ações e responsabilidades decorrentes da ação. Ou seja, a mudança é radical, inverte a lógica dominante por completo e sepulta – de uma vez, a lógica e controle masculino sobre o planeta, interrompendo e cancelando todos os processos em andamento, extinguindo-os e a todas as formas hierárquicas e estruturas das cadeias de comando. Isto na prática administrativa. Nos demais segmentos o controle passa também, e de uma só vez, para o comando feminino. Mas novas estruturas deverão ser solidificadas. A construção deste novo modelo, com absoluta concentração de poder, passa por um processo de elaboração de novos conceitos sociais e místicos. Sociais, porque altera a estrutura social e conceitos de formação de família. Místicos, porque a mística reproduz, sempre, os momentos históricos que explicam – geração por geração, porque a sociedade precisou transformar-se e como isto acontece. A mística dá a sustentação moral e apresenta a base ideológica que solidifica o cotidiano e a normalidade da vida social. A recuperação de fatos históricos, a reconstrução da história a partir do momento em que foi interrompida, onde a humanidade tomou um rumo diferente e catastrófico – no passado, quando o controle e o poder foram retirados do feminino e transferidos ao masculino. Para o bem da humanidade e todas as formas de vida que habitam no planeta, esta transferência de poder precisa acontecer de maneira definitiva. Sem chance de retrocesso. Para que haja um rompimento total com o existente, a alternativa é uma revolução nos costumes, nas formas de relacionamento entre as pessoas, no status quo. A revolução precisa ser forte, dura, absoluta, sem o quê não haverá garantias de que não ocorra um retrocesso. O poder deve ser transferido de forma abrupta, total, absoluta e incondicional.

O ideal é a adoção, imediata, de uma forma de poder absolutista e revolucionária, que dure o tempo suficiente para que seja varrido – para sempre, toda e qualquer forma de influência que signifique poder masculino em qualquer área, pelo perigo que representa. E a repressão a esta possibilidade deve ser total e dura, tendo como objetivo a total submissão do masculino ao feminino, absoluta e incondicional, sem concessões, estabelecendo novas formas de comportamento sociocultural, reescrevendo a história e os costumes. 3.2.Aspectos gerais 3.2.1.Valores psicológicos

culturais,

filosóficos

e

A constituição dos valores da Nova Sociedade resgata valores suprimidos no passado e, debruçado sobre extensa pauta para exame destes valores, executa uma releitura dos mesmos, das relações interpessoais entre os seres e destes, para com a natureza, sempre sob o olhar feminino. Esta contracultura proposta enaltece os valores do feminino em sobrepujança ao masculino, que – no caminho inverso, sofrerá uma desconstituição em todos os aspectos. O ponto de equilíbrio ocorrerá quando os valores forem inversos e diametralmente opostos, em contraposição ao que acontece no mundo hoje. A sociedade se dirá em processo de construção da harmonia quando o feminino for soberano, de alto valor, e o masculino, subalterno, de baixa valoração. A construção desta cultura começa na instituição de regras e elaboração de novas formas de comportamento que promovam a transferência de poder. A base - e modelo de construção social - está alicerçado na adoção dos princípios dos antigos povos Celtas de relacionamento entre as pessoas. A sociedade é matriarcal e matrifocada, isto é, tem como princípio pétreo à supremacia e superioridade feminina, tido como algo sagrado, cláusula indissolúvel nesta nova aliança de vida. O segundo princípio pétreo é o da divinização do feminino, também com base na crença celta na natureza-mãe, com adoção da crença religiosa na divindade feminina, que consolida a ideia de construção da Religião da

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Grande Deusa. O ser feminino é divino e perfeito. Por esta razão, e por simbolizar a própria vida e existência de tudo, concentra a totalidade do poder, inclusive, sobre a vida. Nasce aí, uma filosofia de vida, fundamentada na crença da divindade e infalibilidade feminina, poder absoluto e total, com base na vida em harmonia com a natureza. Ora, esta sociedade perfeita e harmoniosa é voltada para o bem estar, conforto e desfrute de quem nela vive. A Nova Sociedade não prega a guerra, mas a harmonia. Cabe ao masculino a responsabilidade e culpa pelas mazelas da humanidade ao longo da história, desde a alteração no rumo da própria história da humanidade, quando – num golpe – tomou para si o poder sobre tudo o que existe. Assim sendo, a Nova Sociedade é concebida de forma voltada para o bem estar, conforto, desfrute e gozo do feminino em detrimento do masculino que constitui apenas uma casta inferior na base da pirâmide social da Nova Sociedade. 3.2.2.A nova mulher e o novo homem A ideia de um novo tipo de indivíduo, feminino e/ou masculino é o centro da transformação. A inversão dos papéis é radical. Com o tempo, as gerações vão sedimentando esta nova mentalidade. Se no princípio este modelo parece estranho e antinatural, lembramos que alguns milênios de dominação masculina construíram e solidificaram nos corações e mentes a estrutura “natural” em que vivemos. Com o tempo, esta “naturalidade” vai modificando e recebendo uma nova aceitação. Para a Nova Sociedade, “natural” é conceito feminino, pois significa sequência de vida, de ciclo. Modificar este conceito não é tarefa fácil. Trata-se de modificar, diametralmente, todas as estruturas sociais, culturais e conceitos de formação dos grupos sociais. Uma modificação radical nas relações humanas. Isto tudo afeta o planeta e as consequências são drásticas. Desta forma, a mudança começa no indivíduo, simultaneamente com radical mudança do tecido social e suas estruturas culturais, religiosas, políticas, econômicas. A Nova Mulher nasce sobre as cinzas de uma estrutura totalmente desintegrada e que será para sempre lembrada como símbolo do fracasso. Esta Nova Mulher, ser superior em constante

aperfeiçoamento, surge para liderar uma Nova Era da Humanidade, que será denominada como o apogeu da civilização. E o Novo Homem aparece como espécime em dívida com a natureza e que precisará redimir-se dos séculos de destruição que sua ambição liderou. A Nova Mulher, independente, livre, altiva, vem para liderar. Ao Novo Homem, cativo, submisso, sem orgulho, cabe seguir. E quem segue, não escolhe o caminho. 3.3.3. Concepção inovadora de família A concepção de família desempenha papel fundamental neste processo, porque é a base que fundamenta a educação inovadora desta nova, moderna e revolucionária forma de estrutura social. A adoção da família de estrutura matriarcal, matrifocada e matrilinear. Ou seja, matriarcal, por ter seu centro na figura feminina; matrifocada, por travar suas relações com o mundo sob a ótica e visão feminina; e matrilinear, por manter a linha de descendência com base no nome da mãe. À Nova Mulher cabe chefiar o clã formado a partir do seu foco matrilinear. Esta concepção de família remonta aos tempos remotos de construção de núcleos de indivíduos que se movem por afinidades tais como laços afetivos, empatia, necessidades, consanguinidade, interesses econômicos e assim por diante. O mais polêmico dos debates acerca desta Nova Família compreende que a fêmea concentra todo o foco da estrutura, que é elaborada conforme o conforto e necessidade desta fêmea. Por outro lado, os indivíduos machos envolvidos nesta nova formação familiar comportam-se como acessórios produtivos em torno da fêmea. A fêmea escolhe os machos que integrarão esta família, de conformidade com estas suas necessidades e conforto, numa proporção onde planejamento o econômico desta estrutura possa sustentar. Assim, viverão em perfeição e harmonia reunidos num clã, edificado de acordo com suas perspectivas de vida, centrados no conforto e necessidades da fêmea, símbolo máximo e sagrado desta relação. A fêmea, chefe do clã, agrega machos submissos ao seu comando, bem como pode agregar outras fêmeas mais frágeis.

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3.2.4. A O.F.S. – A Ordem da Fêmea Superior A Ordem da Fêmea Superior – OFS, surge como uma associação de pessoas que acreditam que o universo feminino é superior e tem preponderância sobre os demais. Estas pessoas possuem total convicção de que a fêmea tem o dom natural de comandar e guiar a humanidade até seu destino. Esta associação de pessoas, organizadas em uma estrutura institucional propõem as atitudes e mudanças que devem regular esta jornada, bem como tem instituído um código de regras indispensáveis para seu funcionamento. Este código, como uma carta régia, como um livro sagrado, traz apresentadas todas as formas de relações e princípios éticos que as norteiam e dão sentido à vida abrigada dentro da organização. O Caráter da OFS é congregar pessoas em torno de uma crença – a superioridade e o sagrado feminino, e não faz concessões contrárias a esta idéia, em nenhuma instância. Estrutura social da OFS A OFS constitui, a partir do seu ‘Manifesto por uma Nova Sociedade’ um elenco de princípios éticos derivados de um arrazoado de observações do grupo fundador e, como uma carta magna dispõe sobre a necessidade de sua existência discreta, e - muitas vezes, secreta, funcionando como uma sociedade – ou comunidade - paralela ao mundo ‘comum’. Todavia, as pessoas que a compõem carregam em sua alma a vontade de mudar o mundo para que este se constitua num mundo de melhores possibilidades, invertendo os valores machistas existentes no mundo ‘comum’, disseminando ideias, atraindo mais pessoas seguidoras destas ideias e as fortalecendo em suas convicções. Por outro lado, internamente, na OFS, todas as pessoas que a integram, seguem o padrão de comportamento adotado e se comprometem a construir e fortalecer esta forma e estilo de vida. É muito difícil fazer-se compreender desta forma num mundo dominado e pulverizado pelo pensamento machista e chauvinista, então a OFS mantém este ‘livro sagrado’ guardado e mantido como tal e institui uma organização civil, como uma organização nãogovernamental, de caráter privado, sem fins

lucrativos e caráter filantrópico, cultural e educacional, para coexistir no mundo exterior, com o mínimo de cláusulas e regras, o mais superficial que possa ser, como forma de dar vida civil a este grupo na sociedade comum. Paralelamente, existirá como sociedade discreta, aceitando membros que queiram assim viver e ter na superioridade, sacralidade e dominação feminina o seu foco, traduzido em um estilo e modo de vida. Porque ‘fêmea superior’ e não ‘fêmea suprema’? A OFS não prega que exista uma fêmea suprema, mas que todas as fêmeas são, por sua própria natureza, superiores. E todos aqueles gêneros que carregam em sua genética o feminino, são – igualmente, superiores, sagrados. A prova da sacralidade é a própria natureza que a legitima. Gerar vida é um dom tão notável que serve como ‘atesto’ divino. Este ‘divino’ é a responsabilidade e capacidade de perpetuar, ou não, a espécie. Assim, para a OFS, o gênero feminino é sagrado, superior, hereditário e absoluto. A questão masculina Para a OFS, o masculino teve seu tempo e nada construiu. Ao contrário, sendo responsável por milênios de destruição e culpados pelo atraso da humanidade em relação à sua própria história, comprometendo gerações de seres vivos e levando a possibilidade de destruição total do mundo ao seu limite máximo, a OFS entende que o masculino é o mais baixo ser na escala da sua organização, cabendo-lhe os trabalhos mais duros, e sempre guiados e orientados pelo feminino, vigiados e programados para não cometerem nenhum estrago ou risco de se ver - novamente erguidas, as bandeiras do machismo. Também cabe, ao masculino, ajustar e pagar as contas de tantos séculos de erros que condenaram a humanidade à miséria, devendo percorrer igual caminho, mas de retorno, de forma dura, difícil. Há de ser a jornada reflexiva do masculino, rumo às origens e retomada de posição frente à sua própria história, algo punitivo – pena necessária para a purificação do seu espírito.

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Para onde conduz a OFS O resultado objetivo da OFS é organizar e construir a Nova Sociedade. A OFS traduz métodos, propõe conteúdos, representa a razão e a emoção, instituindo profunda reforma no interior das pessoas, capaz de modificar formas de vida, transmutando e ‘re-ligando’ toda uma estrutura social através da crença, da fé em algo novo – mas antigo em nosso âmago, uma vez que carregamos o amor incondicional materno em nossa gênese. A OFS é o caráter moral e ético da Nova Sociedade, mundo possível para os que nele acreditam e nele tem sua fé incondicionalmente depositada. 3.3.Estrutura da nova sociedade É claro que esta Nova Sociedade possui peculiar estrutura em todas as suas instâncias diretivas, quer no campo material, quer no imaterial. Assim, as posições mais elevadas, de comando e de decisão são ocupadas pelas fêmeas, sendo escolhidas sempre as mais capacitadas apontadas por um conselho de fêmeas notáveis. A estrutura principal de comando da Nova Sociedade reúne um congresso de clãs, formando uma estrutura de estado, comandada por uma soberana escolhida entre as representantes de clãs a quem cabe a estrutura representativa da NS, e também forma um gabinete de governo, responsável pelo planejamento macro da NS como instituição, administração, planejamento e finanças. O conjunto de representantes de clãs forma o Grande Conselho, que decide em debates e por votação os assuntos de interesse da NS, bem como institui a instância jurídica que tem por função regular as relações do conjunto da NS. Cada clã tem por base no seu funcionamento às regras gerais da NS e sua carta magna, mas possui autonomia nas suas questões internas. Cabe à fêmea-chefe do clã deliberar sobre as questões internas, da mesma forma em que é responsável pelo equilíbrio das relações dentro deste clã. A Nova Sociedade adota por princípio filosófico os preceitos, regras e ditames da OFS – Ordem da Fêmea Superior, sociedade discreta e reservada que tem - por fundamento básico, a crença e convicção da superioridade dos seres femininos como dons naturais. Os membros da OFS acreditam na natureza como entidade feminina e lhe atribui valores superiores quanto à ética e moral, bem como atribui dons naturalmente manifestados

pela natureza quanto à divindade legitima e incontestável. Os membros da OFS revogam os direitos masculinos e colocam-se, de forma incondicional, à serviço das manifestações femininas presentes na natureza, com dedicação, prioridade e preferência. Ao mesmo tempo, comprometem-se à respeitar, exercer, propagar, transmitir, divulgar e proteger estes princípios. 3.3.1. Fundação de sociedade discreta e reservada A questão principal é: Como construir uma sociedade nestes termos, nos dias de hoje? Para início desta Nova Era na história da humanidade constitui-se uma sociedade discreta e reservada para abrigar o tema. Como laboratório, está proposta a fundação de uma instituição que tenha como regra de comportamento os princípios fundamentais da OFS, que mantenha estruturas, e dedique-se à prática dos seus ideais e de comportamento, bem como se lance ao estudo profundo dos desdobramentos desta tese. É discreta, porque não pretende expor suas idéias de forma massiva, evitando – desta forma, a má interpretação acerca dos seus dogmas, bem como tenta proteger-se de pessoas aventureiras e que mantenham costumes e hábitos que causem conflito com a proposta fundamental da OFS e da Nova Sociedade que pretende construir, e seus integrantes movem-se com discrição, cautela e inteligência dentro do contexto social vigente. É reservada porque protege seus membros e dedica-se a estes com total fraternidade e compreensão. Como outras sociedades, discretas e secretas, algumas existindo por milênios, a OFS se propõe a transmitir, através das gerações, esta proposta inovadora de vida. 3.3.2.Funcionamento Ao ser fundada, a OFS compromete-se a operar regularmente, instituindo um calendário de funcionamento e conjunto de regras básicas e – já nos primeiros momentos de existência, irá aprovar seus fundamentos e regras pétreos. São considerados membros da OFS os clãs e todas as pessoas que nele vivem. Sendo uma sociedade que prega a superioridade feminina, somente as fêmeas-chefas dos clãs formam o Grande Conselho e comandam a OFS. Porém a

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associação na organização jurídica é individual e as obrigações, da mesma forma, são individuais, do mesmo modo em que ocorre a progressão nos níveis de elevação, representados por ‘graus’ que conduzem as pessoas – gradativamente, por escalas progressivas de crescimento espiritual e imaterial. São nove (09) os níveis de elevação dos membros da OFS, que se equivalem aos níveis de contribuição imaterial que possam acrescentar. A contribuição imaterial é a mais importante, porque é aquela que se propões a agregar valor aos seus maiores bens, o conhecimento técnico e o espiritual. Esta escala de níveis de elevação, traduzidos em graus, corresponde a cinco (05) níveis básicos, onde todas as pessoas-membro – e todos os gêneros, podem elevar-se, através de estudos e dedicação intelectual, cultural e espiritual. Os nove os graus de elevação correspondem ao número sagrado três, na 3a potência, e estão divididos em cinco níveis básicos que correspondem aos cinco valores do pentagrama, mais os quatro graus superiores, que correspondem às quatro estações – representando as épocas de plantar e colher, de gerar e procriar. Os primeiros cinco graus, possuem natureza mista, onde fêmeas e machos estudam e se elevam no aprendizado dos preceitos da OFS, contribuindo com suas pesquisas, estudos e experiências para o crescimento da Ordem. Aqui os iniciados libertar-se-ão do egoísmo individualista e constroem o entendimento da nova relação que a OFS propõe, estudando os diferentes estágios da história da humanidade e aprendem sobre as vantagens dos valores da sociedade solidária, fraterna, tolerante e coletiva. Também aqui inicia o desprendimento e a construção da imagem de uma Nova Sociedade, centrada nos preceitos da OFS: o Poder Feminino e os valores da Sociedade e da Religião da Grande Deusa. O ingresso é livre e, na sua conclusão, tem caráter perpétuo. Por esta razão cada um dos passos deve ser dado com total solidez de convicções.

A progressão dos graus, seu significado simbólico e conteúdo 1o. Grau, que representa o Espírito Interior, é onde a/o candidata/o volta-se para si mesmo e através da reflexão profunda compara suas relações com o mundo exterior. É a/o Aprendiz, no estágio em que estuda os princípios e valores da OFS e seus fundamentos, conceituais, preceitos, valores éticos, dogmas, história e fundamentos. A/o iniciada/o presta seu juramento de absoluta e incondicional fidelidade à OFS e ao Poder Feminino, ao mesmo tempo em que se compromete a construir uma Nova Sociedade impregnada por estes valores. 2o. Grau, que representa a Água, porque é transparente, limpo, é onde se dá a primeira assepsia interior e a/o candidata/o estuda as relações entre as sociedades e reflete sobre a humanidade e seus rumos. É a/o Companheira/o, que acontece quando se efetiva o ingresso do iniciado, com renovação dos seus votos e juramento de fidelidade. Ingressa no momento da formação do caráter e da moldagem do tecido social que compõe a OFS. 3o. Grau, que representa a Terra, é quando a/o Companheira/o estuda os fenômenos da natureza e os compara com as antigas religiões e crenças. Os iniciados já sabem porque estão construindo uma Nova Sociedade e porque pretendem coexistir com outras pessoas e instituições abrigadas na OFS. Neste período, iniciam as buscas para construção dos clãs. A Fêmea Suprema inicia a formação do seu grupo familiar, planejando seu foco quantitativo e qualitativo, procurando o/s macho/s que irão compor este núcleo e construindo a forma como será direcionado este núcleo familiar e qual a sua participação e dos seus componentes na construção e elevação da Nova Sociedade e na OFS. 4o. Grau, que representa o Ar e simboliza a liberdade, é o momento da/o Companheira/o estuda e pratica os preceitos da OFS, onde os clãs estão constituídos e se aproximam de outros formando núcleos com base em afinidades, como proximidade física, de ideias e/ou conceituais. A liberdade que representa o Ar simboliza o ingresso por livre e espontânea vontade destas pessoas na OFS e a crença na construção da Nova Sociedade.

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5o. Grau, que representa o Fogo, é o segundo momento de purificação por que passam a/os candidata/os e a/os Companheira/os. Livres das impurezas e contaminações do mundo comum, passam a erguer a proteção contra estes mundos e seus perigos, fortalecendo seu espírito e praticando seus conhecimento acumulado, trocando informações e experiências. Os grupos familiares (clãs) e núcleos (conjuntos de clãs) organizam-se em estados, constituindo regras de funcionamento, Leis e estruturas organizacionais formais e representativas, estudadas, elaboradas e constituídas pelos membros da OFS em busca da construção da Nova Sociedade. Este estágio encerra a participação conjunta na elevação dos membros da OFS e é onde estes membros, por estarem totalmente aptos e prontos para o exercício das suas vidas, livres dos valores mesquinhos e reacionários do mundo comum e podem portar – com orgulho, os símbolos da OFS e da sua crença na Nova Sociedade. Nos quatro graus restantes, exclusivamente de progressão por parte das fêmeas, estão guardados os grandes segredos da OFS, como ordem filosófica denominada Ordem da Fêmea Superior, de ingresso exclusivamente das questões ligadas à sagração feminina. Daqui em diante os estágios são de fundamento filosófico e de caráter de elevação espiritual. As fêmeas emprestam sobrenome aos machos, para dar-lhes identidade e significado, seguindo a orientação matrilinear. Sem esta identificação, estes machos são como animais selvagens, carentes de educação e valor, bonitos de serem vistos, mas incapazes de contribuição social. Com a identidade do nome de um clã, este macho passa a contribuir para o crescimento de toda a Nova Sociedade então é justo que possa ser reconhecido. Todavia, a natureza maligna e destrutiva do macho precisa ser controlada e, desta forma, somente poderá progredir além do 5o Grau de Elevação, quando escudado pelo crescimento da fêmea que o mantém agregado e, por ele é responsável. Ao elevar-se além do 5o Grau, este será sempre escudado pela fêmea que o abriga. Ao mudar de parceira ou de clã, mesmo consentido, seus graus de elevação superiores ao 5o serão extintos e este macho retornará ao 5o Grau, para retomar seus estudos e descobrir – dentro de si, as razões de ter desperdiçado o tempo da Nova Sociedade e seus membros na busca tátil de algo que não

conhece e não consegue definir. O macho precisa saber que sua vida só será possível através da fêmea que o mantém. 6o.Grau, denominado Mestra; voltada aos estudos e práticas que contribuam para construção e elaboração de temas que conduzam ao aperfeiçoamento dos grupos familiares (clãs) que constituem a base da Nova Sociedade e descobertas de formas de expansão, equilíbrio econômico-financeiro, estudo de conceitos de administração de empresas, instituições, gestão de pessoas e técnicas de percepção e linguística, marketing e economia. As Mestras constituem e comandam famílias (clãs). 7o.Grau, identificado como Grande Mestra; voltada aos estudos e práticas que contribuam para construção e elaboração de temas que conduzam ao aperfeiçoamento dos núcleos (conjunto de grupos familiares/clãs) que constituem os pilares da Nova Sociedade, quanto aos seus valores filosóficos, éticos e morais, desenvolvendo estudos nas áreas de filosofia, sociologia, teosofia, história e demais ciências humanas, espirituais e do comportamento humano. 8o.Grau, onde é lapidada a Mestra Superior; voltada aos estudos conceituais e filosóficos, da constituição da Nova Sociedade, nos seus aspectos jurídicos, que constituem os fundamentos que levam ao aperfeiçoamento da estrutura organizacional e social de uma Nova Sociedade, quanto à regras de funcionamento, Leis e sua Carta Régia, dando significado e solidez cultural. No graus 7º. e 8º., o conhecimento acumulado é tal, que a fêmea possui as condições necessárias para comandar grupos de clãs, julgar, legislar, governar. 9o.Grau: Sagrada Mestra; voltada aos estudos estratégicos de funcionamento interno e a relação com o externo em relação à construção da Nova Sociedade, incluindo o planejamento da organização, instituindo as formas de comportamento individual e coletivo, estudando profundamente e aprimorando os conceitos da OFS. Neste estágio, a Sagrada Mestra tem a sabedoria necessária exercer todos os poderes dos graus anteriores e também mediar, aconselhar.

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3.3.3.Constituição e regras A Nova Sociedade constitui-se por si só como um levante revolucionário porque propõe mudança radical nas relações das pessoas entre si e, destas, para com a sociedade como um todo, invertendo papéis e subvertendo regras que não servem para consolidar a sociedade. Para tanto, um ato fundamental a constitui – denominado ‘Manifesto por uma Nova Sociedade’, que explica, em treze parágrafos a proposta revolucionária de sua fundação, organização e os pilares de seu funcionamento. O manifesto, assinado pela OFS, constitui o primeiro documento e apresenta-se como a primeira Constituição da Nova Sociedade, que traz o conjunto de fundamentos principais, imutáveis, que constituem e dão o parâmetro do seu funcionamento. Todas as regras e Leis são originárias deste documento pétreo e o candidato ao ingresso, bem como os membros da OFS guiam suas vidas e relações por este documento. 3.3.4.Ingresso e sociabilidade O ingresso na OFS ocorre, obrigatoriamente, através de convite de um membro. O clã candidato, seus membros, ou indivíduo que pretenda ingressar deverá ser leal e verdadeiro, jurando total lealdade a OFS e à Nova Sociedade que pretende implementar, bem como à seus membros, empenhando elevado espírito solidário à esta irmandade, assim como a confidencialidade sobre os assuntos tratados na OFS e na Nova Sociedade, e seus preceitos, bem como jurando obediência aos seus estatutos e regras, respeitando individualidades e conceitos de pluralidade e tolerância, e ainda – jurando absoluta discrição e reserva sobre nomes de membros e pessoas envolvidas. 3.3.5.Rituais, ritos, cerimônias e simbolismo da Nova Sociedade Com já visto, a importância de criar e exercitar os fundamentos da Nova Sociedade é fundamental para tornar a prática uma convicção. Os indivíduos-membros da OFS devem praticar à exaustão estes fundamentos, cercados de simbolismo e cultura da filosofia da sociedade. Esta ‘prática’ é também uma forma

de condicionamento e auto-convencimento que, através do exercício abnegado e frequente fornece a sustentação, a base, da forma de relacionamento como estilo de vida. O tecido humano que constitui a NS pratica constantemente suas habilidades e estuda muito para aperfeiçoar estas relações e, por conseguinte, a sociedade com um todo, através do aprendizado constante e da reflexão. A construção de simbologia para acompanhamento destas reflexões e aprendizado, representa a mística necessária, é importante e o caminho para a sua execução é a adoção de simbologia antiga, com elementos retirados das mitologias celta, nórdica, grega, romana e egípcia, por representarem os valores de sociedades antigas repletas de simbolismo. O ‘branding’ é a principal contribuição do simbolismo, que trabalha o exercício psíquico individual e coletivo, atingindo grandes resultados. Esta simbologia, junto à mística, é desenvolvida e utilizada nos ritos e rituais, com a adoção de cerimônias e movimentos litúrgicos que constroem e solidificam nos indivíduos uma visão majestática e grandiosa nos valores os quais ele acredita e alia a esta crença e convicção, o fator de mistério necessário para lhe impor a necessidade de acreditar. Pesquisas apontam que o ser humano é fetichista e crê no simbolismo que representa os mistérios da sua fé, como uma forma de materialidade dos sonhos, tornando-os reais em forma e conteúdo. 4.Conclusão A Nova Sociedade é a única (e, por assim dizer, última) esperança que a humanidade possui, por estar - a sua fé, acerca do seu futuro e existência. A Natureza – forma feminina, protesta e exige uma radical mudança existencial com total inversão dos valores que regem o comportamento humano. As catástrofes, a violência desmedida, o medo e as consequencias de milênios de dominação machista e reacionária somente construíram desgraças e consolidaram o caos como horizonte e perspectiva de futuro para a sociedade. Gerações são sacrificadas, dia após dia, em nome de um mandato ilegítimo imposto por meio da força pelo masculino sobre o planeta e as criaturas que o habitam. Não há, em toda a história da humanidade, um só período de prosperidade ou de futuro feliz para o planeta e as formas de vida que o

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habitam, que tenha ocorrido sob governança do macho. Ao contrário, somente crueldades foram semeadas e a colheita surge, no início do século XXI, na forma de desgraças terríveis. A retomada do processo de construção da sociedade como um todo deve iniciar imediatamente, devolvendo o poder ao Feminino, como condição de esperança quanto ao futuro. 5.Anexos 5.1. Anexo I – Pesquisa Oportunamente uma edição especial contendo exame detalhado das pesquisas, apresentará números interessantes e respostas às questões cruciais na comparação entre valores masculinos e femininos. A seguir, alguns elementos que consideramos importante destacar acerca da pesquisa aplicada nas universidades públicas brasileiras – considerando as federais e estaduais, em 2007. Consultado, o universo de 4800 alunos respondeu assim as principais perguntas elencadas: 1. Perguntados sobre constituição da renda familiar: - 50% responderam que é a mãe o principal provedor - 35% responderam que é o pai o principal provedor - 10% responderam que é o casal o principal provedor - 5% responderam outros, não sabem ou não responderam 2. Perguntados sobre quem decide sobre os gastos no núcleo familiar: - 78% responderam que é a mãe quem decide sobre os gastos - 9% responderam que é o pai - 13% responderam que é o casal, o conjunto familiar, não sabe ou não respondeu 3. Perguntados sobre quem é o chefe da família no núcleo familiar: - 57% responderam que é a mãe o chefe da família ou cabeça do casal - 32% responderam que é o pai - 11% não responderam, não sabe ou respondeu que é conjunto

4. Perguntados sobre quem poderia ser a figura mais importante do seu núcleo familiar - 68% responderam que é a mãe

- 27% responderam que é o pai - 5% responderam que é o casal, são outros, não respondeu ou não sabe 5. Perguntados sobre quem acha que deva tomar o comando familiar: - 72% respondeu que é a mulher - 13% respondeu que é o homem - 15% respondeu que é conjunto, são outros, não sabe ou não respondeu 6. Perguntados sobre quem seria o responsável pelos problemas de guerras, tragédias e catástrofes no mundo: - 83% respondeu que são homens que decidem e causam estes problemas - 14% respondeu que são mulheres que decidem e causam estes problemas - 3% respondeu que são ambos, nenhum, não sabe ou não respondeu 7. Perguntados sobre quem deveria governar países e administrar grandes corporações: - 81% respondeu que devem ser mulheres - 16% respondeu que devem ser homens - 3% respondeu que é indiferente, ambos, não sabe ou não respondeu 8. Perguntados sobre quem tem mais capacidade, condições técnicas, humanas e emocionais para tomar decisões, governar países e administrar grandes corporações: - 79% respondeu que devem ser mulheres - 15% respondeu que devem ser homens - 6% respondeu que é indiferente, ambos, não sabe ou não respondeu 9. Perguntados sobre ‘em quem confiaria sua própria vida?’: - 81% respondeu que seria em uma mulher - 11% respondeu que seria em um homem - 8% respondeu que é indiferente, em ambos, não sabe ou não respondeu 10.A pesquisa envolveu 100 (cem) perguntas variadas e relacionadas entre si, quanto à preferências e opinião sobre capacidade, habilidades e confiança, entre mulheres e homens. Nas classes sociais mais baixas e nas mais altas, verifica-se maior grau de confiança na figura feminina em detrimento da masculina, bem como maior reconhecimento e confiança nas habilidades femininas. A pesquisa possibilita perceber que está na classe média o maior grau de resistência à este tipo de conceito. Também a classe média aceita a mulher como mais dinâmica, mais capaz e mais confiável. Todavia existe equilíbrio nos números. Esta pesquisa, quando confrontada com pesquisas nas áreas da

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sexualidade, com cruzamento de dados, permite observar que também a mulher tem melhor desempenho em questões ligadas em confiança, capacidade e dinamismo. 11.A pesquisa descobriu que as mulheres ocupam mais cadeiras nas universidades públicas brasileiras do que os homens na graduação, na pós-graduação e nos mestrados acadêmicos e profissionais, bem como identificou que o melhor rendimento (em notas) também é das mulheres.

5.2. Anexo II – Manifesto por uma Nova Sociedade “É preciso não se render a quem proclama que sonhar é uma forma de fugirdo mundo e não recriá-lo”. (Paulo Freire) Considerando que a existência das espécies são atos exclusivos da vontade feminina e que cabe a elas a exclusiva opção de permitir a continuidade da espécie; Considerando a brutalidade, a intolerância e irracionalidade como as espécies masculinas representam a raça humana em profundo contraste com a forma sublime que a espécie feminina consegue dar ao sentido da vida; Considerando que a espécie feminina possui infinita e imensurável superioridade sobre as demais espécies quer nas relações individuais quer nas coletivas, ou na força de trabalho, sensibilidade e magnificência dos sentimentos; Considerando que a espécie feminina possui capacidade organizativa, qualidade de decisão, precisão na análise, administração do tempo, sensibilidade nas decisões; Considerando que, numa análise histórica, a humanidade chegou ao século XXI ainda pautada pela guerra, ódio e destruição da vida humana e da natureza em razão da desastrada vontade, egoísmo e prepotência da espécie masculina, incapaz de dar sentido a vida; Então, nós, representantes da espécie masculina viemos à público, diante da representação feminina, seja ela qual for, e - de forma irrevogável e irretratável, outorgar-lhe o comando e controle total sobre todas as espécies, sobretudo as masculinas. A outorga

se dá de forma incondicional porque nos confessamos incapazes de conduzir o mundo. Proclamamos a fundação da Ordem da Fêmea Superior – OFS, com o objetivo de criar condições para a construção de uma Nova Sociedade, adotando um novo estilo de vida, com base matriarcal, matrilinear, matrifocada e poliândrica, com o centro no universo feminino e nas relações harmonizadas com a natureza, protegendo e respeitando a flora e a fauna, tendo por princípio o respeito a pluralidade das ideias, a tolerância, a fraternidade, a solidariedade e a ética nas relações entre as pessoas. A OFS acolhe pessoas sem distinção de gênero, raça ou classe social, desde que tenham foco e convicção na superioridade feminina como base e na sua natureza dominante e adotem esta filosofia como estilo de vida, de forma incondicional e absoluta. A OFS acredita no poder que emana das forças e do universo feminino e adota – como matriz da sua fé, a crença antiga na Mãe Natureza – ou Deusa Mãe, como símbolo máximo da sua orientação espiritual, objeto de culto, veneração e idolatria, como representação da espécie feminina, ao mesmo tempo em que crê na Divindade – e Deidade, do Ser Feminino. A OFS não aceita ideologias contrárias ao seu princípio fundamental e rejeita quaisquer formas de organização social que não tenham estes princípios e crença. A OFS aceita nos seus quadros todas as pessoas portadoras de deficiências físicas que crêem nos princípios aqui propostos. A OFS aceita nos seus quadros pessoas de qualquer raça e defende as minorias e seus direitos de forma radical, e possui orientação diferenciada quanto à parcela de contribuição histórico-filosófica de cada conjunto étnico. Declaramos que é a espécie feminina a figura que representa a supremacia entre os seres e à ela entregamos nossa re-educação para a vida. E rogamos: - Façam de nós, os seres masculinos, algo digno e com algum significado para a raça humana!

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5.3.Anexo III - Bibliografia Buonicori, Augusto C.; Engels e as origens da opressão da mulher. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/070/70es p_buonicore.htm>. Acessado em 10/08/2007. Existiu o matriarcado? M.Voltaire, Editora Educaterra, São Paulo, 2007 Disponível em: <http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/ matriarcado4.htm>. Acessado em 10/08/2007. Götner-Abendroth, Heide; Matriarchal society: definition and theory. Disponível em: <http://www.hagia.de/documents/position.pdf> Acessado em: 01/07/2007 Morgan. Lewis H.; A sociedade primitiva. Volume I, 2 ed, Editorial Presença Lisboa Portugal, Martins Fontes Brasil, 1976. Sanz, Marta Silvia Dios; El matriarcado, Editora Tema, Madrid, 2007. Disponível em: <http://www.temakel.com/texmitmatriarcado.ht m>. Acessado em 10/08/2007. Áries, P.; A história social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981. Castells, M.; O poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra, 1999. Castien, J. I.; Familia y reproducción del capitalismo. In: Política y Sociedad, 36 (2001), Madrid (pp. 239-253). Engels, F.; A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. 1884. Escardó, F.; Anatomia de la Familia. Buenos Aires: Ateneo, 1955. Guattari, F. Rolnik, S.; Micropolítica – Cartografias do desejo. Rio de Janeiro: Vozes, 1986. Klineberg, O; Psicologia social (vol 2). Ed: Fundo de cultura. Lennan, M.; “O matrimônio primitivo “. Estudos de História Antiga, 1886;”, p. 124.

Osório, L. C.; Família hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. Petrini, J.C.; Mudanças sociais e familiares na atualidade: reflexões à luz da história social e da sociologia. Memorandum, 8, 20-37. 2005. Roudinesco, E.; A família em desordem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003. Freud, S. Totem e Tabu; Obras completas. Buenos Aires, Santiago Rueda: 1952-1955, vol.2. Família e Subjetividade (artigos no google acadêmico). 5.4.Anexo IV - Glossário Agnosticismo: Posição que declara não ser possível "Nenhum conhecimento" confiável a respeito de Deus. Seus partidários embora em geral não neguem a existência de Deus, não seguem qualquer religião. Ateísmo: Concepção de que não há qualquer forma de Deus, mas que não necessariamente invalida um plano transcendente. Ceticismo: Posição crítica que rejeita alegações sem uma boa fundamentação e apresentação de provas convincentes, principalmente se de caráter extraordinário. Deísmo: Ideia de que há um Deus, mas este não se relaciona diretamente com o Universo, tendo-o criado e depois se afastado, eliminando a possibilidade de haver revelações divinas ou qualquer comunicação com tal divindade. Deus: Qualquer entidade cujos atributos estão acima das capacidades humanas. Dualismo: Concepção de que o Universo é composto fundamentalmente por duas forças primárias, princípios complementares, substâncias equivalentes e distintas, que podem se harmonizar ou não dependendo de suas proporções estarem ou não em equilíbrio. Só poderiam ser reduzidas a uma, se puderem, num plano transcendente. Existencialismo: Doutrina que prega que o ser humano é quem determina todos os eventos a

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partir de sua própria escolha, sendo totalmente livre para fazer o que quiser, não havendo qualquer impedimento de ordem divina, moral ou ética. Nesta concepção a Existência precede a Essência do Ser, que na verdade é um NãoSer, um vazio.

subordinados à entidade máxima, que é Eterna e Imutável.

Hedonismo: Modo de vida que se ocupa unicamente da busca do prazer e satisfação pessoal.

Onipresente: Presente em tudo, característica que pode gerar confusão com o Monoteísmo.

Henoteísmo: Concepção de que existem vários deuses, mas que um possui a qualidade suprema. Maniqueismo: Religião fundada na Pérsia no século III que propunha de que o Universo é constituído de dois princípios fundamentais opostos que se repelem e não podem se harmonizar - no caso, o Bem e o Mal. Nome também usado para designar qualquer concepção de Dualismo, desarmônico e conflitivo.

Niilismo: Crença que não há qualquer forma de deus, transcendência, ética ou moral superiores. Descrença absoluta.

Panteísmo: Ideia de que Tudo é Deus. Que todos os elementos e coisas existentes são o próprio "corpo" de Deus, e mesmo que possua uma dimensão invisível, ou transcendente, está intimamente ligado à natureza e relacionado a todos os eventos. Penenteismo: Variação do Panteísmo Transcendente onde a "alma" do universo, porém excede em muito o "corpo", de modo que Deus e a Natureza não são a mesma coisa, mas Deus é.

Materialismo: Doutrina que visa explicar todos os fenômenos existentes pelo ponto de vista unicamente físico, sem apelar para qualquer conteúdo Metafísico.

Politeísmo: Ideia de que existem vários deuses independentes, que geralmente representam aspectos específicos da natureza, mas não são a natureza, e que geralmente se sucedem através de gerações.

Metafísica: Parte da Filosofia que aborda questões que transcendem o plano físico e a natureza sensível.

Solipsismo: Proposição de que o Eu é a única realidade comprovada, e todas as demais coisas podem ser projeções da mente individual.

Monismo: Ideia de que todo o Universo pode ser visto através de uma única substância, reduzido a uma única essência, que pode estar associado à ideia de Deus e mais aproximadamente de um Deus Panteísta.

Teísmo: Qualquer ideia de que há um Deus supremo ou vários deuses que se relacionam diretamente com o Universo

Monolatria: Adoração centrada num único ponto. Geralmente no Politeísmo, onde ocorre a adoração de uma só divindade embora não implique sempre em Henoteísmo. Muitas vezes o foco da adoração se desloca para uma figura humana, um Governante, Rei, Imperador, ao qual se atribuem qualidades divinas. Monoteísmo: Ideia de que existe um único Deus supremo sobre todas as outras criaturas, que é princípio e fim de todas as coisas e que criou o Universo estando separado dele. Pode confundir-se com Henoteísmo, e por vezes com o Politeísmo, por admitir a existência de outras criaturas divinas como Anjos, mas que nesse caso, não são chamadas de deuses, e são

Teocracia: Sistema de governo subordinado a uma religião, através de uma classe sacerdotal e/ou, um código de leis sagradas. Teologia: Parte da Metafísica que estuda a ideia e concepção de Deus. 6. Textos de Apoio 6.1. As mulheres e a filosofia como ciência do esquecimento, Márcia Tiburi. Falar em história das mulheres é algo um tanto novo no meio acadêmico brasileiro, mas a questão, aos poucos, vem tomando corpo e invadindo espaços variados de investigação. Maior novidade ainda é falar nos temas "mulheres", "gênero" e "feminino" como

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conceitos, o que remete ao campo próprio da filosofia. O significado desses termos tem plena atualidade filosófica e crítica. Em primeiro lugar, as mulheres são um tema ou mesmo um tópos de uma história da filosofia escrita por homens. É raro encontrar um filósofo que não tenha se ocupado da questão sempre tratada na intenção da delimitação do lugar do humano em sua relação com as mulheres. Enquanto tema, e em segundo lugar, elas são um assunto que entrelaça motivos políticos, estéticos e metafísicos. É nesse território que aparece o conceito do feminino. Os filósofos homens tentaram construir uma geografia onde situar o feminino que, como símbolo, é o locus específico eleito para as mulheres, para definir sua natureza e ditar-lhes uma lei, uma inscrição no universo previamente tecido da tradição. Gênero é o termo usado há algumas décadas para falar dessa produção de identidade segundo a cultura, a sociedade e os mecanismos de poder nela envolvidos. Gênero, portanto, para o feminismo, é um conceito crítico. Do mesmo modo, os outros dois conceitos devem ser vistos de modo crítico, considerando o aspecto retórico, a função e o uso que tentam fazer valer a verdade histórica contida na palavra. O feminismo filosófico surge diante dessas questões. Um de seus aspectos fundamentais que poderá qualificar o feminismo em filosofia em relação aos movimentos feministas de teor eminentemente prático - é a questão da relação entre teoria e prática, do conhecimento e da ação, que fundam o sentido do que chamamos, ainda hoje, de filosofia. O feminismo ajuda a questionar o discurso filosófico em seus pressupostos fundamentais - e mesmo arcaicos, tendo a filosofia como uma teoria da ação. É preciso ter em vista que a atualidade das questões políticas que envolvem as mulheres em tantos setores da atividade humana (problema sério em países inteiros) não pode ser compreendida sem atenção aos aspectos de fundo, ao espaço da fundamentação metafísicoética/ética/estética, que pode orientar para a recuperação da vocação prática da filosofia. A questão feminina é atual e dispõe-se na urgência da produção da solidariedade com o passado, o presente e o futuro da humanidade. As mulheres compõem a história violentada sob o decreto da exclusão da mulher; do mesmo modo, a história

da filosofia que, como qualificação do pensamento e da razão, determina os conceitos fundamentais que estão na base da estrutura da sociedade e participa dessa violência. O feminismo filosófico - lembremos, em sua exposição especial com Mary Wollstonecraft, no século XVIII, era a defesa do bom senso da humanidade. Portanto, uma causa voltada para a construção de uma sociedade para todos, não apenas de homens, nem apenas de mulheres. O feminismo filosófico vem levantar essa questão que é ainda atual e que diz respeito à fundação de uma sociedade justa em que a violência e a dominação sejam expostas em seus elementos constitutivos. A definição filosófica do feminismo, todavia, é tão complexa quanto à história da filosofia. É preciso uma definição apropriada do que se entende por essa história para que o conceito do feminismo e os movimentos que ele permite possam ter validade filosófica. Enquanto história, a filosofia constitui-se como tradição e cânone do qual as mulheres não participaram de modo relevante. O feminismo filosófico é a teoria que procura investigar a fundamentação dessa falta. É um modo de teorização que surge com a já citada Wollstonecraft, em seus Escritos Políticos, nos quais critica o sexismo dos filósofos homens (de Rousseau ao seu contemporâneo Burke), e que evolui até o século XX, com filósofas como Simone de Beauvoir em seu O Segundo Sexo, alertando para os direitos das mulheres na base de uma reivindicação a ser e a pensar, à vida pública e ao universo do discurso e do poder. De meados do século XX até hoje, o feminismo cresce como filosofia que tenta rever o posicionamento da mulher diante da estrutura social e da produção do conhecimento. Se as mulheres constroem um lugar de filosofas no século XX, é porque participaram de uma revolução real que altera as micro e macro estruturas da sociedade ao confirmarem sua presença. Esse é o avanço do feminismo para a filosofia: produzir a entrada das mulheres na cena ontológica - o poder ser - que redunda na cada vez mais crescente cena política e pública constituindo as mulheres como cidadãs, ou seja, seres que participam da constituição política como participantes - que não seja uma mera tautologia dizer - da "pólis".

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A ausência histórica das mulheres da filosofia pode ser explicada de muitos modos. O primeiro motivo a ser levantado é, portanto, o silêncio feminino facilmente observável na - um tanto escassa, produção de livros e textos. As mulheres filosofas são poucas e de produção quase rara relativamente aos homens. É claro que falo aqui em termos quantitativos. Não é possível dizer que as mulheres escreveram muito para acobertar uma acusação de inferioridade intelectual - argumento que, mesmo comum, não encontraria sustentação -, nem é possível dizer, entretanto, que não escrevessem ou participassem da fundação da tradição da filosofia. É preciso enfrentar a questão do silenciamento. Apenas a desmontagem desse processo histórico, por meio de uma genealogia que procura verificar seus elementos originários sempre presentes e renascentes na atualidade, permitirá compreender, pela via negativa, a verdade oculta na produção do silêncio imposto. As mulheres, é certo, participaram da filosofia, mas pela porta dos fundos, assim como de todos os setores da vida produtiva e ativa das sociedades. A improdutividade das mulheres - que não se esqueça - não pode ser avaliada sem a procura por aspectos que tocam na fundamentação dos movimentos da história. A alegação de que as mulheres tenham sido, ao longo do tempo, seres do silêncio por sua própria natureza ou que, na divisão do trabalho, tenham ficado com as tarefas do corpo, da procriação, da casa, da agricultura, da domesticação dos animais, por questões sempre naturais, perde sua validade. A produção do ideal da "natureza feminina", assim como de uma "natureza do homem" ou mesmo uma "natureza humana" serve à delimitação do humano segundo a utilidade necessária à constituição e ao interesse do poder e seus guardiões. Os filósofos sempre tocaram com essa questão na produção do humano por meio de sua definição. As mulheres sempre representaram mais do que a cultura excluída da cultura, ou da cena dos meios de produção e do conhecimento: as mulheres representam a humanidade excluída da humanidade. O segundo motivo da ausência é, pois, a construção de um ideal feminino que mascara o recalque do corpo, da natureza, da vida nua - na expressão de Walter Benjamin - da qual coube às mulheres serem os estranhos porta-vozes: toda fala das mulheres, a partir desse pressuposto, precisa ser compreendida sob o

signo do silêncio que a revela. Se o silêncio apareceu na história como um atributo feminino, que constituía parte do suposto mistério constitutivo da mulher - e mesmo do feminino enquanto ideal - é preciso rever seu lugar e pensar a construção do lugar do silêncio no qual as mulheres foram trancadas, assim como o foram em casas, escolas, conventos e manicômios para histéricas. O silenciamento das mulheres ocorreu em momentos específicos da história e concomitante a um processo que teve vítimas em setores variados. O silenciamento teve seu modo pérfido, quando mulheres foram levadas à fogueira, e teve seu modo cínico: as mulheres foram transformadas no "belo sexo" produzido pela cultura com o apoio da filosofia e das artes. A produção do ideal do belo sexo, a propósito, é uma marca da modernidade: sua função sempre foi a de afastar as mulheres do conhecimento e da política, mais do que protegê-las da imagem do mal com que foram desenhadas. A história da filosofia, em qualquer de seus tempos, é marcada pelo horror dos filósofos homens às mulheres que, dedicando-se ao saber, almejam a filosofia: nada melhor do que domesticá-las pela sensibilidade, dominá-las pela própria imagem. Sócrates - esse filho de parteira - sabia de seu poder e de sua ameaça (a ameaça política que implica a defesa de direitos) e, por isso, copia-lhes, num gesto de curiosa inveja, o procedimento corporal do parto elevando-o a método: a maiêutica é o parto das ideias que cabe aos homens, enquanto às mulheres cabe o parto do corpo. Essa superação revela-se, após uma longa história de argumentos, como um mecanismo suspeito. As mulheres produziram conhecimento ao longo da história filosófica, mas com a marca do silêncio ou pela via negativa. Desde a famosa Aspásia, mulher de Péricles e professora de retórica contra a qual se insurge Platão no século IV, até a Senhora Dacier, conhecedora de grego, contra qual se insurge Kant (em pleno século das Luzes!), não faltarão à história exemplos de horror às mulheres. Alguém mais sutil, como o afamado Rousseau, tratará a mulher como uma joia (como Sofia) que deverá valer a honra e ser a sustentação moral e emocional de seu marido (Emílio). Rousseau é um dos exemplos da misoginia que afeta, sorrateiramente, a construção do gênero

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feminino, lançando-o ao lugar da "boa" e "bela" moça e companheira, modo eufemista de sustentar a inferioridade do sexo feminino. A argumentação pela inferioridade da mulher era lugar-comum na protociencia da filosofia de Aristóteles e nos séculos da modernidade tardou a revolucionar-se segundo as normas da universalização dos direitos que ela trazia como bandeira. Apesar disso, a modernidade é um tempo de antagonismos. Descartes, por exemplo, trocará cartas importantes com a Princesa Elisabeth e inspirará a filosofia feminista de Poulain de La Barre, assim como Leibniz e Locke trocarão correspondências com filosofas como Damaris Cudworth e Catharina Cockburn. A modernidade, aos poucos se divide entre os que criticam e os que defendem as mulheres. No século XIX, sob auspícios do feminismo crescente, Stuart Mill defenderá com ardor os direitos das mulheres como outros filósofos que não encontram fundamentos para a exclusão e o impedimento da cidadania e da liberdade de ação e expressão para as mulheres. No século XIX, mantida a tensão moderna, muitos filósofos - como Nietzsche e os românticos ocupam-se das mulheres de modo ambíguo: para muitos, ela permanece como a irrefletida figura de uma natureza indomável e misteriosa. No mesmo tempo, em muitos países da Europa o feminismo, como reivindicação pública de direitos, cresce - mesmo no Brasil, Nísia Floresta (que troca correspondências com Augusto Comte, o que mostra mais uma tentativa de trocar ideias, de produzir diálogo por meio da carta) torna-se uma figura importante por seus livros cheios de ideias revolucionárias para as mulheres - e mulheres tornam-se filósofas sem mesmo precisarem entrar na questão feminista, como é o caso de Hannah Arendt. São novos tempos que resultam de um longo processo histórico de escravização passada que provam que o feminismo teve e tem ainda sentido. A história das mulheres na filosofia contribui para a escrita de uma história do silêncio, uma história do recalque, mais do que do esquecimento. Não basta - para fazer justiça ao passado - fazer uma lista dos nomes que constituíram essa história como se pudéssemos, por um artifício de arquivo, dar sentido à memória e resgatar ou enterrar simbolicamente nossas mortas e injustiçadas. A produção do

futuro, sua invenção, depende dos gestos de retomada, resgate, salvação, do presente. A ação reflexiva - declarada no feminismo precisa atingir a todos os envolvidos com a espécie humana. Retirado, em 27/05/08, do site http://www.com ciência.br Márcia Tiburi é professora da pós-graduação da Filosofia na Unisinos e Unilasalle. Atualizado em 10/12/2003. (http://comciencia.br/reportagem/mulheres/15.s html) 6.2. Candance e matriarcado parlamentarismo no império de (Cush), Walter Passos.

– o Kush

Formadoras das civilizações, as mulheres africanas representaram as primeiras deusas, mães, educadoras, sacerdotisas, médicas, cientistas, comerciantes, diplomatas e governantes do mundo. Nesse contexto, o estudo das Candaces é de suma importância para a compreensão da História Africana. Os estudos antropológicos nas sociedades africanas e afro-diaspóricas retratam a concepção de poder androcêntrico, aonde o cristianismo primitivo africano foi modificado para concepção patriarcal grego-platônica da inferiorizarão das mulheres com bases na hermenêutica antropológica de sociedades cristãs europeias. Da mesma forma, o estudo das sociedades islamizadas no continente africano corroboraram concepções patriarcais outrora desconhecidas e praticadas nas mais antigas civilizações africanas. Com a invasão, colonização e imperialismo, novos modelos produtivos baseados na exploração de classes sociais incorreram na feminilização da pobreza e na masculinização do poder, inclusive das religiões tanto na África como na diáspora. Os antropólogos brancos tentaram explicar o matriarcado e o modo de produção matrilinear com as suas concepções racistas e machistas que nos obriga assim a recorrer aos estudos da afro-centricidade para um real entendimento das sociedades africanas, como resgate da verdade histórica, que nos ajudará contra a opressão de classe, o racismo e o patriarcalismo.

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O entendimento do poder matriarcal africano configura o principal alicerce para a compreensão da civilização kushita. Kush, uma das civilizações mais antigas do mundo, foi uma sociedade de base matriarcal, onde havia o equilíbrio entre os gêneros e a difusão da justiça e igualdade, diferentemente de civilizações brancas recentes na história mundial, a exemplo de Grécia e Roma que desenvolveram o modo de produção escravagista antigo, baseados em sociedades patriarcais e patrilineares. Dentro do matriarcado não houve escravização e nem exploração de gênero, fato este que ocorreu com o advento do patriarcado e consequentes mudanças no viver africano primevo. A diferença essencial do governo das kandaces comparado a outros do mundo antigo é que não, era um poder vitalício e nem hereditário. Uma kandace governava por dez anos, outra por vinte anos, outra por 30 anos, em seguida o ciclo recomeçava em uma alternância de poder, evitando o despotismo, possibilitando uma paz política que proporcionou o grande desenvolvimento da civilização kushita. Havia um parlamento que detinha o verdadeiro poder composto por sacerdotisas e sacerdotes, anciãos e anciãs (com função senatorial) representantes da população, sendo levado esse modelo para Kemet (Egito). Na verdade, a origem da democracia é africana, sendo copiada pelos gregos em diversos estudos realizados por eles na Núbia e em Kemet (Egito). O conhecimento desse modelo de governo, somente ocorre com as últimas pesquisas pautadas na afro-centricidade. Acusamos tantos legados roubados pelos europeus, outrossim, formas de governo foram deformadas e posteriormente copiadas como o modelo parlamentar hoje instituído em países europeus e na monarquia japonesa. A civilização kushita já havia desenvolvido o parlamentarismo milhares de anos antes dos europeus. O matriarcado não impedia em alguns momentos que homens participassem do governo como reis ou esposos das candaces (ou kandances), sendo escolhido pelo parlamento, podendo se tornar governante ou consorte da rainha, conforme as leis da matrilinearidade. Uma das mais poderosas candaces foi Amanirenas, que serviu como chefe de Estado,

comandante-chefe do exército, e sumo Sacerdotisa de Isis. Amanirenas comandou a aliança do exército Kushita-Kemita à ocupação romana de Kemet, e a invasão do resto da África no tempo do Imperador Augusto César. Amanirenas apesar do poder exercido era considerada humilde e amável, detentora de um porte atlético. Com cerca de 50 anos de idade empreendeu as mais violentas batalhas contra os romanos. O conflito entre os romanos e os Kushitas originou-se da invasão feita pelos romanos a Kemet (Egito), levando o exército kushita a invadi-lo sob o comando de Amanirenas e do seu filho Akinidad, atacando a fortaleza de Assuam, resultando na captura de tropas romanas que haviam incendiando cidades e templos, entre elas o templo de Karnak, o exército kushita derrubou a estátua do imperador Augusto levando a cabeça para a cidade de Meroé como prêmio de guerra. Na realidade o domínio dessa poderosa rainha ainda é um enigma para os historiadores porque nesse período foram encontradas tropas fieis a Amanirenas espalhadas em diversas regiões da África, indicando que os Kushitas possuíam exércitos em toda a África. Heliodurus escreveu que os exércitos kushitas estavam espalhados em todas as regiões da África e apesar de Roma ter enviado uma força de 10.000 infantes, 800 cavaleiros e milhares de auxiliares, num total de cerca de 30.000 militares, no final seriam derrotados pelo poderoso exército de Amanirenas. No final, o imperador romano César Augusto e o general Gaius Petronius forma obrigados a negociar a paz, recebendo mensageiros kushitas na ilha de Samos, no mar Egeu, com flechas de ouro enviadas pela Kandace Amanirenas com a seguinte mensagem: “Trata-se de um presente da kandace. Se você quer guerra, as mantenha porque vai precisar delas. Se você quer paz, aceita-as como um símbolo de minha cordialidade e amizade". Augusto César aceitou o presente e terminou a guerra. Entre as concessões feitas por Augusto foi à permissão que os Kushitas seguidores de Isis prosseguissem a sua adoração em Elefantina, cidade egípcia controlada pelos romanos, e o pagamento indenizatório para construção de

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templos em Kush, uma vez que alguns tinham sido destruídos pelos romanos. A majestosa civilização de Kush (Cush) As escavações e estudos dessa civilização se concentram no atual Sudão, maior país da África. Os kushitas, em épocas mais recentes, ocupavam o sul do Nilo com seu impressionante exército de arqueiros. Kush foi o local do Jardim do Éden. Gen. 2:11-14 - “Um rio saía do Éden para regar o jardim, e de lá se dividia em quatro braços. O primeiro rio chama-se Fison: é aquele que rodeia toda terra de Hévila, onde existe ouro; e o ouro dessa terra é puro, e nela se encontram também o bdélio e a pedra de ônix. O segundo rio chama-se Geon: ele rodeia toda a terra de kush. O terceiro rio chama-se Tigre e corre pelo oriente da Assíria. O quarto rio é o Eufrates.”“. Nos escritos do Antigo Testamento, Kush é conhecido também por Núbia e muitas vezes citado como Etiópia. Da civilização kushita, originaram-se os egípcios, após as migrações endereçadas ao norte do continente africano. Os historiadores gregos Homero e Heródoto deixaram registrados que os kushitas povoaram o Egito, a Arábia, a Palestina, a Ásia Ocidental e a Índia. Foram considerados, por Heródoto, como os mais altos, os mais bonitos; de maior longevidade entre as raças humanas e os mais justos dos homens. São citados nos anais de todas as civilizações. A arte de embalsamento, pelo qual são famosos os faraós egípcios, teve sua origem na civilização kushita. O Império de Kush construiu três vezes mais pirâmides que os egípcios e possuíram a cerâmica mais bela do mundo, assim considerada por todos os povos, inclusive os gregos. A economia kushita era baseada em pedras preciosas, madeira de ébano, marfim, e também diversos produtos que contribuíram decisivamente para a manutenção e crescimento da civilização egípcia. A 25ª dinastia do Egito é conhecida como dinastia etíope, em 712 a.C., porque o Egito foi conquistado pelo Império kushita que governaram o Egito e a Núbia. A primeira capital do Império kushita foi à cidade de Kerma, anterior a 5.000 a.C, considerada a cidade mais antiga da África, cujo tamanho

compreendia 62 acres e possuindo mais de 200 casas, e edifícios maciços do tijolo que foram devotados ao comércio e às artes, com um templo e um palácio. A segunda capital foi Napata, um centro sagrado e devotado aos deuses. O templo fundado em Jebal Barkal, uma montanha sagrada, transformou-se na fonte de reivindicações de Núbia ao trono egípcio. Os reis de Núbia invadiram o Egito e estabeleceram a 25ª dinastia. Eram os mestres do mundo. O império de Núbia abrangeu a Síria no norte à Núbia no sul. Os reis de Núbia ajudaram o estado de Israel em seu esforço de guerra contra os Assírios. A terceira capital foi Meroé, a sua linhagem real durou mil anos. A cultura de Núbia em Meroé combinou tradições egípcias. As mulheres tiveram papel proeminente na sociedade kushita, ocupando posições de poder e prestígio. Ao contrário das rainhas do Egito que possuíam o poder derivado dos seus maridos, as rainhas de kush eram governantes independentes. Kush era uma sociedade matriarcal no período de Meroé. Os historiadores acreditam que em Meroé, uma das capitais do império kushita, nunca um homem reinou. O título de Candances para as rainhas foi originado do vocábulo ‘kentace’, e existiu por mais de quinhentos anos. Quatro dessas rainhas: Shanakdakete, Amanirenas, Amamishakete, Amamitere foram guerreiras temidas e comandaram seus bravos exércitos. A Rainha Amamishakete e seu companheiro A rainha Amanirenas reinou na cidade Meroé e quando o imperador romano Augustus tentou impor um imposto aos kushitas, Amanirenas e seu filho Akinidad, realizaram um ataque violento a um forte romano na cidade Asuan. Augustus mandou as tropas romanas comandadas pelo general Peroneus, que retaliaram, mas, encontraram uma forte resistência de Amanirenas comandando as tropas que derrotou os romanos e os obrigaram a negociar a paz. Os kushitas detiveram o avanço dos romanos na África, e colocaram um busto de César Augustus enterrado debaixo de uma entrada em um templo. Nesta maneira, todos que entraram pisariam em sua cabeça.

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A rainha Amanirenas era alta, muito forte e cega de um olho; venceu as tropas romanas no ano 23 a.C., obrigando Roma a trocar embaixadores e fecharam um acordo, onde Roma devolveu um território kushita, anteriormente pago em imposto. Outras rainhas também enfrentaram as tropas romanas. O exército africano de Kush derrotou inimigos egípcios, gregos e romanos. A civilização de Kush, com seu alfabeto, comércio e triunfos arquitetônicos é considerada por alguns estudiosos, como superior às civilizações mais desenvolvidas do mundo antigo. Walter Passos é teólogo, historiador e panafricanista, além de presidente CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke. 6.3. Os celtas - conferência de João Barcellos Os povos, sob denominação Celta, deixaram para nós uma Civilização que ainda vivemos! Falando dos povos denominados genericamente - Celta (ou Kelt), recordamos logo que as palavras Terror e Lamento têm origem na História desses povos; derivam elas, respectivamente, do culto ao deus Tor (simbolizado pelo Touro) e do culto a teocrata Lam (q.s. Cordeiro). E desta primeira abordagem a história dos povos célticos alargase pelas partes da humanidade que tem a Terra como moradia de passagem. E os celtas abarcaram toda esta Terra Da leitura das tábuas cronológicas do teólogo e historiador egípcio Mâneton (do Séc 2 aC), os Celtas Lamaístas dominaram o Egito por 953 anos, entre as dinastias 15 e 18, sendo que até à época de Mâneton haviam governado 31 Faraós. Se esta é uma leitura à luz dos documentos da História, há uma outra leitura mais abrangente: aquela que nos fala da Civilização Céltica através dos símbolos do Poder, como o Touro (na Europa e Ásia), a Águia (dos romanos e alemães); dos chifrudos capacetes reais; da essência feminina pelas famosas Três

Matres e das Druidinas (as sacerdotisas), até ao cisma que levaria o teocrata Ram (q.s. Carneiro) a transformar-se em Lam (q.s. Cordeiro) e fugir dos adoradores fanáticos do deus Tor - e, depois, a essência masculina desse mesmo mundo através da perseguição cultural à figura da Mulher tornada maldita pelo Homem (movimento do qual veio a surgir um novo povo: os Fenícios), assim como o Cordeiro, ou Lam, passou a ser uma simbologia que atravessou culturas e cultos chegando aos nossos dias como algo-cristão, da mesma maneira que a festiva Modra-Nect (a NoiteMãe) que os católicos passaram a chamar de Natal! Em traços gerais, eis a Civilização Céltica que tanta lenda e tanta estória tem feito correr. Nomeada em diversos locais, a Civilização Celta, pulverizada em vários povos, é etrusca, é vasca (ou basca), é germana, é viking, é gaulesa, é polonesa, é russa, é irlandesa, é portuguesa, é escandinava. Há milhares de anos atrás, a Raça Negra (ou Sudeana, por ser de origem equatoriana) dava a si mesma o nome de Atlantes e dominava a fraca Raça Branca, que se autodenominava de Man (q.s. Ser); Atlantes significava Os Senhores, pelo que os Man deram a si mesmos, também, o nome de Kelts (q.s. Heróis). Eis aqui a origem do nome Celta, ou Kelt. Enquanto isso, estes brancos apelidavam os negros de Pelasgos (q.s. Peles Curtidas). Quanto àquele primeiro nome Man, ainda usado nos idiomas setentrionais, vem do radical ân ou ôn, que em céltico é o verbo único Ser; daí, o latim ens, o inglês an... E, a talhe de foice, ou de chifre: que Atlantes vem das palavras Atta (Senhor) e Lant (Terra). Iniciei falando do terror e do lamento. Encontramos os sinais da Destruição humana - direi melhor: da autodestruição - em todas as culturas tocadas pelos Célticos: até entre os Astecas (leiam o que Vargas Llosa escreveu em Lituma Nos Andes), cujos sacrifícios foram uma continuação daqueles oferecidos ao deus Tor; e, mesmo entre os Tupi, os Guarani e outros grupos amazônicos (já leram a crônica quinhentista do alemão Hans

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Staden?); o Minotauro dos gregos, o autosacrifício dos Faraós ao deus Thor (Tor), depois à Águia e ao Falcão; as ofertas votivas tão características dos povos africanos e dos cultos afro-brasileiros são, na verdade, uma variante dos Cultos Célticos. E encontramos o Lamento nos cultos indiano, judaico, essênio, nazareno (seita na qual Jesus era o "cristo", isto é, o guia espiritual), chinês e japonês, tendo quase sempre o Cordeiro como símbolo: um símbolo que o próprio teocrata Ram (feito Lam durante o êxodo) viria a colocar como figura primeira, isto é, como carneiro, para iniciar o zodíaco e assim nos contar a sua fantástica história.

Portugal, México, Espanha, França); no Touro do Ano (animal que vencendo outros se torna o touro da região e o macho primeiro) e na Largada do Touro (nos Açores, na Espanha, no Brasil). Riquíssimo artesanato e joalheria estão expostos um pouco por todo o mundo. Das artes mais famosas desses povos são a prática da adivinhação e a prática das runas. Interessante, também, é lembrar que além da atualidade dessas práticas, convivemos muito com as lendas de anjos e fadas e animais grotescos tão caros à cultura oral céltica.

Quando se fala da Raça Branca é comum estabelecer certa ligação com a chegada do Ram ao norte da Índia denominando esses brancos como arianos. Isso tem levado alguns a confundir os celtas com a seita fundada pelo líbio Ário (250-336 d.C.) que, de Alexandria, ensinava que Jesus não era de origem divina e sim um humano dotado de poderes espíritas. Mas, não posso deixar de dizer que o êxodo do Ram, logo nomeado Lam, fez dos seus seguidores um povo colonizador dando origem, na Ásia, ao lamaísmo; e este, sim, talvez seja o mesmo povo de língua indo-européia que avançou pela Índia através da Pérsia: eram os arianos. Entretanto, se a semelhança é grande, acrescento que esses Celtas nada têm a ver com os Celtas que ficaram na Europa. Por isso, historietas publicamente estúpidas e estupidificantes, como aquela da raça ariana na exaltação hitleriana, serviram e servem somente para mascarar intenções ideologicamente direcionadas à simples tomada do poder temporal. Vejam este exemplo: os Godos (também um povo céltico), quando invadiram Roma, estavam imbuídos do ensinamento de Ário e nem por isso podem ser denominados como arianos.

Ontem como hoje, aqueles e aquelas que descendem dessa velha Civilização nômade sentem na alma esse sobreviver.

Sobre a civilização céltica é interessante (a) notar que quer os lamaístas quer os cristãos seguiram-lhe a tradição telúrica e contemplativa. Também, a arte céltica revive entre lamaístas e cristãos pela riquíssima Tradição decorativa em iluminuras (recordo, aqui, o famoso The Book Of Kells do início do nosso milênio), as estátuas e os relevos hindus e etruscos; já os velhos cultos a Tor sobrevivem na arte tauromáquica (touradas nas arenas, em

Celtas, kelts ou kells - os heróis.

Antes do desenvolvimento do seu próprio instinto gregário, o humano vivia situações animalescas, como as encontradas pelos portugueses, castelhanos, genoveses e alemães, no dito Novo Mundo - e, talvez que algumas espécies animais fossem até mais organizadas, na sua sobrevivência, que a humana. O primeiro culto dos celtas foi o da almadivinizada, como aconteceu também com os chineses, os hebreus e os hindus. O ser humano é fruto das suas paixões, sem a Luz divina jamais seria Civilização. Direi que a naturalíssima cultura da Terra está para o sistema ecológico como a Civilização está para a Humanidade. Foi num ato da Inteligência contra a Brutalidade (também humaníssima) que os celtas entenderam que só a constituição de governos regionais (em cada aldeia, cada tribo) poderia dar-lhes condições de sobreVivência como povo no auge da libertação face à raça negra, pois esta dominava o mundo (cerca de 5.000 anos a.C.) com todo um poderio. Sim, um poder imperial, aquele mesmo que incentivou a criação das cidades-estados com forte ascendência mítica e mística, principalmente na África e na Ásia. Ora, as monarquias européias não nasceram por acaso. Ó Mãe-África. Foi da Raça Negra a civilização que correu o mundo. Daí os povos celtas perceberam uma luz além da força do corpo e que ela poderia ser equacionada como guia de uma outra força, ainda inexplicável: a

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Força da Espiritualidade, como afirmo em minha palestra/livro O Peregrino. As amazonas, famosas guerreiras asiáticas Sabemos que os célticos reuniram os seus, elegeram ou nomearam representantes das aldeias - e, todos, escolheram o Armam (ou Gherman) como chefe militar (ou, chefe dos homens) e com estatuto quase divino conferido pela sacerdotisa espírita (a druidina). Na percepção da existência do(s) deus (es) e dos espíritos, talvez que se devam considerar os deuses espirituais e nada mais, os célticos, ao criarem entre si uma situação para decisões colegiais estabeleceram o princípio geral do Estado dividido em Poder militar (o Herman reinando sobre os kings, isto é, sobre os "reis locais"), Poder espiritual, através do drud - ou druid, que significa O princípio, e vem da palavra rad ou rud de onde derivaram o latim radix e o inglês root. Quanto ao king (q.s. Rei), ele estava à frente dos leytes (homens de armas) e dos folks (homens de trabalho). E, em tudo isto, qual o lugar da mulher céltica? Eis-nos retornando à essência feminina. Como surgiu a voluspa? Sabemos que foi através da Mulher que os povos Célticos se organizaram. Algumas mulheres, sentindo em si mesmas o espírito dos seus ancestrais e dos Deuses divulgaram essa mensagem tornando-se voluspas. Leitora do oráculo e seu eco místico, a mulher tornou-se legisladora e, com isso, poderosa: a voz da voluspa era a voz divina que vinha do ventre da Terra e ecoava por todo o sistema cósmico. Verifica-se que a Cultura céltica adotou, no seu sistema esotérico-religioso, a via matriarcal. Isso passou, aos poucos, para a vida social. O que ainda é, hoje, visível em determinadas regiões onde esse sistema foi implantado antes do Segundo Milênio a.C., como no centro e norte de Portugal (onde se formaram os celtiberos), no norte da Espanha, na Gália, nas Ilhas Britânicas (particularmente na Irlanda e na Ilha de Man), no Alto Danúbio (Boêmia e Baviera), isto é, o patriarcado ficou responsável pelas coisas da guerra enquanto o matriarcado pelas coisas do espírito, do social e do

legislativo, que o mesmo é dizer: da cultura. Forte, o oráculo da voluspa era lei geral. Enfim, a mulher tornava-se Ser humano gerando Civilização. E até formou uma fantástica corte guerreira, na Ásia, em meio à outra dissidência: um povo de mulheres que decidiu caminhar com suas próprias leis - as Amazonas. Na concepção olivetiana, a palavra compõese do radical mâs, conservado ainda no latim puro e reconhecível no francês antigo; masle, no italiano maschio e no irlandês moth; esse radical, unido à negativa ohne, forma a palavra mâs-ohne à qual se ligou o artigo fenício ha; a palavra ha-mâs-ohne significa “as que não têm macho”. Ora, nesta estrutura encontramos a origem céltica e a moradia asiática. Até meados de 1997 falar das amazonas era falar, quase sempre, de uma lenda, apesar da extraordinária contribuição dos estudos olivetianos sobre esse povo. 1997 é o ano da descoberta de tumbas, no Cáucaso, onde muitas dessas guerreiras foram enterradas. A pesquisa arqueológica - neste caso como no caso dos manuscritos do Mar Morto - é a principal arma da história contra a história oficial. Foi feita homenagem a D' Olivet. Língua e arte célticas Quanto à língua céltica propriamente dita, havia dois segmentos de um tronco denominado centum: o goidélico (de onde derivam o irlandês, o escocês e o dialeto da Ilha de Man) e o galo-britânico (de onde derivam o gaulês e o bretão – ou seja, o País de Gales e a França). Para os mais interessados em aprofundar estudos, recomendo a leitura das obras de Joseph Déchelette (2) e de Jacques Moreau (3), além dos escritos de Antoine Fabre D'Olivet (4) que, hoje, encontram-se em mãos de colecionadores e o acesso não é fácil. Falei da Língua. E a força territorial desses povos denominados Celta? Tomando posse de quase toda a Europa, os celtas dividiram esse continente em três partes: a central (teuts-land, que significa terra de teut), a ocidental (hôl-lan ou ghôl-lan, que significa

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terra baixa) e a oriental (pôl-land, que quer dizer terra alta); tudo o que estava a Norte dessas regiões denominavam de dâhn-mark (que quer dizer o limite das almas), que ia do Rio Don às Colunas de Hércules; aquele Don que os antigos franceses chamavam de Tanais e que era baliza para a ross-land (que significa terra do cavalo = Rússia). Ainda em relação a este assunto, que obviamente liga os povos célticos, está a palavra ask, de onde a denominação geral asktan dada a vários povos (os mais interessados no assunto devem procurar a velha gramática da língua do ocidente); ora, entendiase por Trasks os Asks orientais, por Tosks os Asks meridionais e por Vasks os Asks ocidentais - daí, toscanos, estruscos, vascos. Relativamente ao nome BRASIL, este não se encontra nas línguas nativas, mas há vestígios da passagem dos fenícios pelas costas equatoriais e, também, pelas do Brasil. Na antiga Língua céltica "braazi" queria dizer "terra grande" e, recordo aqui, os escritos do estudioso Sérgio Trombelli sobre o assunto. Por outro lado, sabemos que uma Insulla Brazil já existia em antigos mapas bem antes da viagem cabralina - mapas como os de Bartolomeu de Pareto (1455) e de Pero Vaz de Bisagudo (segundo Carta enviada pelo Mestre João a El-rei D. Manuel logo após o "achamento" oficial da tal Insulla Brazil). É possível que, em breve, os modernos instrumentos da Arqueologia possam, também, trazer até nós outros vestígios. E que influência tiveram os celtas na literatura europeia que tanta força emprestou ao pré-Cristianismo? As literaturas no gaélico, no galês ou no bretão, exerceram influência através da poesia pastoril e dos romances de cavalaria (a saga do King Arthur e a busca do Santo Graal), das ciências herméticas ou ocultas, da adivinhação e da cultura rúnica, até a formação ideológica das élites em ordens de cavalaria e confrarias (do tipo Rosacruzes e Maçonaria). Chamo a atenção para o fato de vários estudiosos que põem o kardecismo (de Kardec, antigo poeta esotérico celta) como um sistema

filosófico-espiritual do eixo telúrico-cósmico desenvolvido na essência mística dos célticos; aliás, Kardec (Allan Kardec) é pseudônimo do estudioso francês Léon Rivail (1804-1869) que continuou a doutrina céltica no que à transmigração das almas e dos espíritos diz respeito. E, antes dele, já os essênios, os nazarenos e outras seitas judeu-palestinas o haviam feito. Importante ainda é o fato de se poder ligar o desenvolvimento da música e da poesia aos cultos da voluspa: mesmo rudimentar, o Oráculo passou a ser lido/interpretado em voz ritmada e em versos rimados. Eis aqui a fonte dos cânticos sagrados tão caros a negros como a brancos! Foi grande a importância dessa civilização antiga na formação do “ser” português, na língua lusa que a saga marítima de 1500 levou ao mundo, legou a africanos e criou o tupi-afrobrasileiro, mesmo que à custa da destruição dos nativos pelo catecismo jesuítico e pelos ferozes salteos e bandeiras. Os povos célticos, em cinco grupos, entraram na velha província romana, chamada Lusitânia, pelo Algarve (os cinetes), entre os rios Sado e Tejo (os sempsos), entre a Estremadura e o Cabo Carvoeiro (os sepes), pelo centro (os pernix lucis) e pelo norte (os draganes). Sim, nem a Roma imperial conseguiu vencê-los na Grã-Bretanha. Foi grande a contribuição dos povos célticos para a cultura portuguesa. 1. Edicon, Edit. SP/1995 2. in Manuel d'Archeologie Préhistorique celtique et Gallo-Romaine (Paris, 1908-1934) 3. in Die Welt Der Kelten (Stuttgart 1958) 4. D'OLIVET, Antoine Fabre (1767-1825) - in História Filosófica do Gênero Humano (Paris/1905; editada no Brasil pela Ed Ubyassara-RJ c/ tradução de Edmond Jorge. Obs: fora de circulação) Das origens da adivinhação entre alquimistas e bruxos Pelas esquinas e praças de tudo quanto é habitado encontramos Alguém que nos observa com mais atenção que o comum dos mortais: esse - um Ele ou um (a) Ela -, é quase sempre

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um (a) Alguém que faz uma leitura “além de nós”, que nos fixando os olhos decifra boa parte da nossa vivência e, às vezes, num simples toque de mãos, indica-nos caminhos que nunca ousamos pensar como nossos. Estamos diante de um (a) “alguém” predestinado. E desde que o Ser Humano se conhece como civilização, independentemente da raça ou da cor, dos credos e da telúrica essência (essa, na qual assentava a Divindade primeiríssima), aquilo a que chamamos “o adivinhar”, segundo certas posições dos astros ou das coisas, era regra que antecedia qualquer ação pública ou pessoal. Daí, os (al) químicos e os físicos tornaram-se Magos e, em certas ocasiões inquisitoriais, os mesmos foram declarados Bruxos, logo, lançados à fogueira. Nessa chamada alquimia, à qual se juntaram os da astrologia, além dos sacerdotes e das sacerdotisas (de todas as religiões), surgiu a Pedra Filosofal. Pedra, sempre a pedra. Pois, foi com pedrinhas que os predestinados da telúrica essência, sob os desígnios dos astros, iniciaramse deleitando as comunidades com o que diziam ser “as sortes de cada um (a)”. Talvez que, paralelamente, outros se iniciavam com ossinhos, pedaços de madeira, movimentos aquosos, cera derretida ou, pela leitura de tripas humanas e dos animais. Esse ato “do adivinhar” acompanhou a trajetória social, cultural, bélica e religiosa de muitos povos - particularmente os celtas europeus e os negros africanos, levando os místicos ao poder político. Dessa ação muito antiga nasceu o estado feudal, no qual não havia uma linha divisória entre a política e o clero. Mas, retornemos às pedrinhas. Muitos povos costeiros, principalmente os africanos, adotaram as conchas (búzios) que, lançadas num circulo na areia (ou terra, ou sobre um tecido) com ritual adequado, proporcionam esta ou aquela leitura em cima de um fato ou de uma pessoa. Algo vivido ou a viver. Os povos antigos, ainda precariamente civilizados, tinham a caverna (gruta) e o dolmen (habitáculo feito com três enormes pedras) como - referências de uma cidadania primária culturalmente assente no viver telúrico e solar; tanto é assim que a tradição oral de muitos

povos diz-nos da importância da “pedra enquanto ser vivo”. Daí que a pedra, símbolo da telúrica essência, tivesse sido o objeto mais caro aos predestinados para o adivinhar - e, depois, a pedra que se tornou tão cara aos místicos alquimistas que a quiseram filosofal. E esse ‘alguém’ que possui o dom de nos falar do nosso ‘ontem’ como da possibilidade do nosso ‘amanhã’, às vezes vendo-nos pela primeira vez e de passagem, no ‘hoje’ (supomos), que relação tem conosco? Por que esse ‘alguém’ pode ser encarado como enviadomensageiro divino, quer pelo prisma do Bem quer pelo do Mal? Ou ainda: que força é esta que nos torna ‘além de nós’ na Cósmica leitura de um (a) ‘alguém’? Os antigos gregos chamavam de horoskopos aos que podiam dar um prognóstico sobre as gentes e as coisas; já aos signos/símbolos chamavam de zodiakos (q.s. circulo de animais). Entretanto, a relação entre os ‘astrólogos e os de ‘adivinhar’, levou a alguns desacertos. Algumas convenções da Astronomia designaram constelações às quais vários signos não correspondem. Tomemos o carneiro como exemplo: o carneiro, que tem a ver com a tradição céltica (Ram) e a mística modra-nect (noite mãe), esta, comemorada na primeira noite do solstício de inverno, o atual Natal católico. Ora, quando o teólogo Ram (ou Lam) inventou os signos pôs (como Druida que era) o carneiro (que o simbolizava) em primeiro plano. Pelas posições de Plínio e de Árrio, sabemos que o calendário rúnico existe desde 8.500 a.C.que os festejos da modra-nect caíam no convencionado sagitário, uma diferença de quatro figuras. Também, que o Ram foi confundido (?) com o sol - este, às vezes simbolizado pelo carneiro - por muitos estudiosos, sendo de crer que Plínio e Árrio foram às fontes originais da tradição para nos legarem aquela cronologia. Toda esta história, muito ligada aos eventos que culminaram com a decadência da civilização céltica e, particularmente, ao teocrata Ram/Lam, leva-nos a um ponto crucial de reflexão sobre o zodíaco e o adivinhar:

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“... que o ‘adivinhar’ é algo que transcende esse ‘alguém‘ provando que Ele/Ela, continua uma outra e anterior vivência; que os Astros influenciam e determinam todos os símbolos zodiacais historicamente tomados pelo Humano”. Eis que esse ‘alguém’ pode tornar-se aliado do Mal contra o Bem quando as circunstâncias da sua sobre-Vivência no cotidiano (ou a ganância ou a inveja) lhe tomam a Alma. E assim, simples ou culto, esse ‘alguém’ pode (rá) ter ou não ter consciência desse dom divino; porque, quer se queira ou não, esse ‘alguém’ é enviado divino re-vivendo uma Vida passada e re-transmitindo aos outros a Luz do amanhã que no passado já foi utilizada em outras circunstâncias. Quem tem o dom do adivinhar não precisa nem de objetos, pois que, com um simples olhar o(s) outro(s) determina a posição cósmica. Que o mesmo é dizer: eis-nos diante da Luz refletida na Energia por ela alimentada no Ser Humano. Por isso, somos tocados, influenciados (bem ou mal), por esse Alguém predestinado a achar o som do sino antes do toque do badalo em torno do horóscopo. Todo o mundo já ouviu falar, ou já teve contato com o zodíaco, mas poucos lhe conhecem a história. Os povos celtas, através do Ram, dominaram meio mundo e influenciaram outras culturas, nascentes ou não; o que aconteceu, também, na Ásia. Quando o Ram e os seus correligionários tiveram contato com os hindus e todo o seu sistema educativo (embasado na metafísica, na física e enquadrado na filosofia Atlante que atribuía tudo a um Princípio Único), houve uma incorporação de valores culturais entre esses povos e, com isso, foi exaltada uma gênese puramente espiritual - a Iswara. E o que isto tem a ver com os Signos e a simbologia zodiacal? Que têm os celtas a ver com o zodíaco? Falei do Ram, esse enviado divino perseguido por uma parte da civilização céltica por ser contrário aos sacrifícios humanos

ordenados na tradição e dirigidos pela voluspa. Vivendo entre e sendo um dos druidas, o Ram era um homem sábio e virtuoso, segundo a imagem desenvolvida pelas pesquisas olivetianas; esse sábio veio a descobrir o remédio para um "mal" que afligiu os célticos durante muito tempo: a elefantíase. Desesperados por esse "mal" que haviam transportado para a Europa no retorno da Ásia, os célticos tudo fizeram para encontrar um "remédio". Um dia, sonhando, o teocrata Ram ouviu uma voz e viu um homem envergando um manto: "- Oh, Ram! Eis o remédio que procuras". O homem segurava uma vara e nela estava enroscada uma serpente e, súbito, tirando do peito uma faca de ouro, cortou um ramo da árvore próxima: era o visgo de carvalho, que se tornou a árvore sagrada dos povos célticos. O Ram preparou, então, um remédio cuja receita não revelou, achando que isso era algo divino e deveria, assim, continuar na sua mente. O colégio druida dividiu-se e, a partir daí, não lhe reconheceu a Voz divina. Estava feita a cisão que seria mito cara à civilização céltica. O nome Ram (carneiro) tornou-se Lam (cordeiro) porque o colégio druida considerou o primeiro muito forte para aquele teocrata. O certo é que a perseguição Ram/Lam criou um êxodo fantástico entre continentes e o culto do pacifismo e do espiritismo. Era, precisamente na época do solstício de inverno que os célticos cultuavam seus mitos com festas populares e, também, a descoberta do remédio contra a elefantíase. Nesse evento, comemoravam a modra-nect (ou, new-heyl) pedindo boas colheitas e saúde. Pois bem, celebrando a descoberta do remédio, os celtas celebravam o Ram. Foi festejando essa nova tradição que o agora Lam colocou o carneiro (Ram) como símbolo primeiro do calendário zodiacal. Mas, foram os célticos os autores do zodíaco? A cisão entre o espírita Ram e os fundamentalistas do Tor gerou uma fuga que contribuiu para a aproximação entre os sistemas filosófico-religiosos de célticos e hindus - estes, imbuídos da crença geral da raça negra sobre o princípio único da vivência.

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Ora, os doze signos zodiacais representam, também, a histórica odisseia daquele teocrata que se afastou do espaço céltico fundando o seu sistema esotérico. Vejamos: tendo o carneiro como signo primeiro, a esfera zodiacal apresenta logo o símbolo do Deus Tor, o touro como animal enraivecido que tenta impedir a marcha do carneiro transformado em cordeiro, mas, sem o conseguir. Daí, os gêmeos representam a aliança necessária entre vencedores e vencidos, enquanto o câncer coloca as meditações e as reflexões do teocrata sobre a sua própria gênese. Logo mais, é o leão, símbolo da Ilha de Lanka - onde o Ram/Lam saiu vencedor em todos os confrontos; depois, a balança significando novamente a aliança entre uns e outros dentro do princípio paz e amor; e o escorpião, para dizer-nos da sempre possível ameaça à Paz precariamente alcançada, sendo o sagitário a vingança (também, sempre) possível. Já capricórnio, aquário e peixes, iluminam a estrada da moral nesta história (peixes, para lembrar que o Ram/Lam sobrevive sempre no seu sucessor, como o sabemos pelos lamaístas). Pelo histórico geográfico e astral, foi perto de Balk - atual Afeganistão - que o Ram/Lam idealizou tais figuras: estava a 37 graus de latitude norte, o que podemos verificar pelo círculo traçado no lado do polo austral pelas constelações navio, baleia, altair e centauro, além do espaço vazio deixado acima delas nas esferas mais antigas, demonstrando, assim, o horizonte daquela latitude e o local da idealização. Eis, em traços gerais, algo em torno dos celtas e do zodíaco, para que se possa entender como este surgiu e de como o Ram feito Lam levou a mensagem divina da paz e do amor ao mundo da época; e de como esse teocrata, sabendo insuficientes os seus recursos astronômicos, complementou a sua idealização com o calendário dos povos negros do Oriente.

D' OLIVET, Antoine Fabre (1767-1825, França). Autor, entre outras obras, de História Filosófica Do Gênero Humano (publicada em 1905 na cidade de Paris). O homem vestido com a simbólica capa dos Druidas, naquele sonho de Ram, era um dos ancestrais dos kelts, de nome Esculápio (Aeskheyl-hopa q.s. esperança da saúde no bosque). Gaita-de-Fole, uma cultura céltica Fazer uma leitura sobre o saber-do-povo ou, o "folk lore" - como dizem os britânicos, no que se refere à Música, é fazer uma viagem aos primórdios da Comunicação de Massas, aos tempos ancestrais das necessidades tribais dos chefes de Clãs e seus teocratas nas exigências da disseminação do Conhecimento entre guerreiros, camponeses e artesãos – isto é, a Comunicação entre Senhores e Servos ganhou uma mistura entre a voz-do-mando e a fala popular de sabedoria feita. Mas, como erguer uma ponte de ligação entre uns e outros? Existia uma ligação míticotelúrica entre quem lia os Oráculos (sacerdotisas e sacerdotes), ora para os Senhores ora para os Servos, mas era uma ligação que mais inspirava receios do que alívio ou esperança. A ligação não poderia ser tão seca, tão primária e institucional. Cerca de 3.000 anos antes das conquistas místico-bélicas que construíram a Era Cristã, um povo genericamente denominado kelt (celta) estava distribuído em tribos pela região que hoje conhecemos como Europa - e, esse povo, de característica indo-europeia, tinha um sistema de vida teocrático embasado no matriarcado pelo qual a mulher, relegada para segundo plano a partir da Era Cristã, exercia todas as principais tarefas e funções organizacionais em pé de igualdade com o Homem.

Notas: 

Outro pormenor sobre Ram/Lam: ele passou a ser um Sumo Pontífice e a designação de Papa (Pa-zi-Pa q.s. Pai dos Pais) vem dessa antiga teocracia. Ram é cultuado entre os Hindus como Rama; e, entre os povos do Tibete, da China, do Japão e outros, como Lama (de Lam) - mas, também como Pa-zi-Pa.

O povo céltico tinha, então, uma cultura própria: dela surgiram as primeiras concepções de estrutura militar com chefes guerreiros e de estrutura legislativa, logo - e novamente, a necessidade imperiosa de uma ponte fez-se sentir entre a vivência mítico-telúrica da vida e o entendimento social em cada tribo.

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Observando a cadência silábica da fala da Sacerdotisa na leitura do Oráculo, os artesãos celtas, enfim, acharam a ponte. E só poderia ser, na verdade, uma ligação artística. O que eles acharam? Os pastores e os camponeses utilizavam já e em diferentes partes da Terra instrumentos rudimentares para se identificarem com os rebanhos - eram Instrumentos de Sopro; aí, os artesãos conceberam a solução com a ajuda dos teólogos: era a ponte que iria adocicar a árdua Vida daqueles tempos. Ainda que rudimentarmente, desenvolveram a gaita (do gaélico ghaid, q.s. "cabra") para que pudesse acompanhar em Melodia aquele Ritmo poético que fazia ecoar a Sina ditada na fala da Sacerdotisa. E então nascia, diga-se assim, aquilo que se convencionou denominar como música popular (ou folclórica) servindo o sistema teocrata, tal como as canções que hoje ilustram os serviços religiosos, no Ocidente, e os mantras, no Oriente.

com "12 Estrofes" no âmbito de um acompanhamento polifônico sob controle para uma variedade métrica.

"Os Druidas, ao ouvirem os oráculos da Voluspa, aperceberam-se de que estes estavam sempre contidos em frases medidas, de uma forma constante, trazendo consigo uma certa harmonia que variava conforme o tema, de maneira que o tom em que a profetiza pronunciava as suas frases não diferia muito da linguagem comum. Eles examinaram com atenção essa singularidade e, após (...) imitaram as diferentes entonações que ouviam, conseguiram reproduzi-las e descobriram que elas possuíam coordenadas com regras fixas", como nos ensina o historiador e escritor Antoine Fabre D’Olivet (1767-1825), na sua obra "História Filosófica Do Gênero Humano" (editada em 1905, Paris - Fr., pela Librairie Générale Des Sciences Occultes). Este intelectual francês, vilmente perseguido por Bonaparte e pelo Vaticano, escreveu obras como "A Essência e a Forma da Poesia", "Música" e "Considerações Sobre o Ritmo", o que nos garante a discussão profunda deste estudo sobre a Cultura Céltica.

Durante o Séc. I da expansão cristã, ou o aguerrido "catolicismo" do Cristianismo, e já submetidos ao poder romano, os Povos Celtas foram aos poucos submetidos também à inquisição papal, e então, a sua estrutura cultural, militar e social foi desapropriada em favor principalmente do novo poder religioso sendo as regiões célticas mais afetadas, a Irlanda, a Península Ibérica e a Alemanha; a Escócia, que melhor resistiu à inversão dos valores culturais célticos, conseguiu preservar muitos dos seus símbolos - um deles: a ghaid, ou Gaita-de-Fole...

As tais "frases medidas" eram o Lai: a tradição da Música Monofônica (i.e., para uma voz e sem acompanhamento instrumental) vem do Canto Oracular Celta, anterior ao Canto Gregoriano (ou Romano), por isso denominado de Rito Galicano. O Lai, que Richard Wagner refere em Tristão e Isolda, é esse falar cantado das liturgias célticas que cita D’Olivet. Só a partir do Séc XIV é que o Lai foi estruturado

E então, foi durante o cerimonial dos cultos - como já mencionei: um rito mítico-telúrico embasado na essência feminina - que o Celta achou a Melodia entre a constante sonoridade da fala poética da Sacerdotisa (ou Voluspa), e o Ritmo, entre tempos fortes e fracos. Em texto editado na "Cotianet" e o jornal "Gazeta de Cotia" (em Março de 1999), sob o título "Gaita-de-Fole: Uma Cultura Céltica", recordo que na "(...) velha Escócia do Séc. XII era comum aos clãs o uso da Gaita-de-Fole na celebração dos ritos da fertilidade, natural e humana, e no adeus aos entes queridos (...) a Gaita-de-Fole até hoje é como um idioma musical celebrando o passado (...) do Povo Celta".

Por que falar sobre a Gaita-de-Fole se não é um instrumento musical tão conhecido abaixo do Equador, embora seja tradição entre povos de cruzamento céltico? Quando os conquistadores, colonizadores e povoadores portugueses, a partir de 1500 d.C., tomaram posse da Insulla Brasil - como era indicada esta parte das "Américas" no mapa de Bartolomeu de Pareto (e que o físico Mestre João lembrou em carta ao Rei D. Manuel, a par da de Caminha) -, uma das peças da sua cultura musical popular era um instrumento do seu passado céltico: a Gaita-de-Fole. A vida cultural luso-brasileira teve grande desenvolvimento no Rio de Janeiro oitocentista, mas já na São Paulo setecentista o

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capitão-general D. Luiz António (o Morgado de Matheus) fez surgir os saraus (encontros artísticos) e os te deuns (cânticos de louvor - ou, ritual religioso cantado) nos quais um dos instrumentos, além das flautas, violinos e violas, era a Gaita-de-Fole. Relatos setecentistas dizem-nos também da sua utilização popular e cerimonial em povoações da Paraíba e de Minas Gerais... Eis que a Gaitade-Fole, para espanto de muita gente, já teve o seu momento na cultura luso-brasileira. Gaita-de-Fole “... a água que de mim escorre, ao chegar junto do ninho d’águia reflete um passado, e um futuro, qual pedra rúnica que bate em meu ser com som cristalino, a minha sombra como que um relógio-de-sol, aponta para o vale verdejante selvagens corcéis entre tambores e gaitas, e aqui junto do ninho d’águia amei no prazer de viver, e aqui soube do amor o hino que os deuses em nós habitam deuses adejam, som cósmico, ontem um adeus, hoje a festa, desejos meus, outro cântico, os deuses falam do sopro vem o hino. Os deuses em nós habitam em meu ser o som cristalino, vinho em cálice telúrico, o meu fado rúnico junto do ninho d’ águia... gaita-de-fole em mim explode...” (Serra do Gerês - Port., 1979) Os artesãos célticos acharam a Ghaid como seu primeiro instrumento musical para suporte da Melodia que acharam na Fala Poética oracular; mais tarde, e tendo a Ghaid praticamente como bocal, chegaram à concepção da Gaita-de-Fole. Os músicos precisavam de uma ponte entre o sopro e a execução musical mais longa. A idéia foi tirada do fole-de-ferreiro, instrumento de um dos artesãos mais notáveis da época céltica: adaptar um fole de couro a um tubo perfurado e com uma palheta (do tipo "livre") o Ar entra por um tubo superior soprado pelo tocador e uma válvula impede o seu retorno; o tocador comprime o fole com o braço para da pressão d’ar e fazer vibrar a palheta... Depois, adaptaram-se dois e três tubos... E então, a Gaita-de-Fole ganhou nomes como Gaita Galega (na Cultura Minho-Galaica), Cornemuse (entre gauleses/franceses) e BagPipe (entre irlandeses, bretões e escoceses).

Desde o Séc XIV a Gaita-de-Fole é um instrumento marcial entre os escoceses: já entre os irlandeses, ela é também marcial (dita WarPipe), sendo ativada pela boca e mais social (dita Union-Pipe), ativada pelo fole, e para eventos em interiores; no caso inglês existe a Northumbrian-Pipe, ativada (ou soprada) com fole; e, na Índia, a Gaita-de-Fole é de bambu com uma palheta e um bordão preso a um odre de pele de cabra. Outro instrumento construído sob o mesmo princípio do fole de couro como peça intermediária é o Realejo (na verdade, um órgão portátil). Como é do conhecimento geral, a Música estuda-se, genericamente, através dos segmentos modal (no qual se inscreve o tipo mitológico e comunitário, logo, folclórico - ou, a ação musical na sua ênfase popularmente festiva e menos erudita), tonal (o tipo polifônico que levou à erudição musical, ainda durante o período medieval da Europa) e, como alguns pesquisadores defendem hoje, serial (o desdobramento da práxis musical em formas radicalizadas, como o jazz, o rock’n roll, o punk, o blues, etc, etc, além do mix entre o folclórico e o erudito). Neste breve apontamento sobre a Gaita-de-Fole interessai(nos) o segmento modal - aquele em que uma Tônica Fixa assegura o fluxo da linguagem musical popular e, às vezes, como entre os Clãs Celtas, cria uma unidade institucionalmente comunitária. No espectro da História da Música é aqui, neste segmento de estudos e práticas, que se situa a Gaita-de-Fole. Todos os grandes historiadores, do grande Heródoto ao chinês Sima Qian passando pelo árabe Al-Tabaric, o romano Tito Lívio, e os mais recentes, como o italiano Maquiavel, o francês Antoine Fabre D’ Olivet e o brasileiro Mário de Andrade, entre muitos e muitos outros, falam-nos do uso de instrumentos musicais de sopro quer em rituais tribais e palacianos quer em batalhas. Referências dos cronistas Aristófanes e Platão lembram-nos que a Gaita-de-Fole já era apreciada até entre gregos e egípcios, demonstrando mais uma vez a grande dispersão cultural céltica que cita D’Olivet. E, na Roma imperial, este instrumento era denominado como Tibia Utricularis: aqui, a Gaita-de-Fole ganhou também a simpatia palaciana e popular.

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A Gaita-de-Fole tornou-se, após a Queda do Império Romano e as lutas intestinas nas ilhas "britânicas", o símbolo nacional escocês por excelência, o que levou o escritor Walter Scott a escrever que "doze escoceses e uma gaita de fole fazem uma rebelião" ("twelve highlanders and a bagpipe make a rebellion"). E é na Escócia que a Gaita-de-Fole tem presença musicalmente mais marcante, hoje: artistas compõem peças do tipo popular (ceol-beag), como marchas e danças, e do tipo erudito (pibroch ou ceol-mor), como baladas para contemplação e rituais. Historiadores da arte musical, como Câmara Cascudo, José Miguel Wisnik e Mário de Andrade, no Brasil, ou Michel Giacometti (um corso radicado) em Portugal, põem a Gaita-de-Fole como uma espécie de instrumento musicalmente especial. Dos encontros minho-galaicos dos quais participei recordo, e é difícil esquecer..., o continuísmo da nota grave que sai do fole enquanto é dedilhada a flauta. É um "largo sopro", como eu mesmo tentei definir, em 1979 (La Coruña, Galiza-Esp.), "que nos sitia, faznos perceber o (nosso) chão". Talvez por isso, a Gaita-de-Fole serviu os exércitos celtas e serve, ainda, o exército escocês. Se nos países de Cultura Céltica os grupos de gaiteiros continuam a tradição popular, existe também produção musical mais sofisticada como a fantástica adaptação da canção "asa branca", de Luis Gonzaga, aos bombos e à gaita-de-fole pela cantora portuguesa Isabel Silvestre (EMI, Val. de Carvalho - Port., 1996), também, na produção musical de Loreena McKennitt (QR-Quinlan Road). Estes são apenas dois entre muitos exemplos que nos mostram as potencialidades musicais da gaita-de-fole. O som da gaita-defole é um hino desenvolvido para o equilíbrio da festa e do adeus entre a Humanidade e o Cosmo, teluricamente vivido pela graciosa divindade que desperta sobre a Terra. Terminando, lembro a presença telúrica e cósmica da Gaita-de-Fole acompanhando a invasão da Normandia que acabou com a barbárie hitleriana. Foi como que uma apropriação coletiva da terra sob aquele largo sopro.

(*) João Barcellos é historiador, pesquisador e escritor. 6.4. O sagrado feminino no ‘Código Da Vinci’ Priscila de Souza Moreira* Tânia Mara Silva Benfica* Tatiana Salzer Rodrigues* Resumo Este trabalho busca analisar o feminino na obra O Código Da Vinci, romance escrito por Dan Brown, cujo tema central é permeado por questões referentes ao feminino, ligando-o à arte e à religiosidade. Valemo-nos da noção de feminino apreendida pela psicanálise, para realizar essa leitura da obra, situando os esforços do autor, em sua tentativa de desvendar os mistérios do sagrado feminino. Introdução O tão enigmático e instigante tema do feminino já se tornou alvo de estudo de diversos autores que atuam nos mais variados campos do saber. O leque de interessados no assunto abrange desde médicos, psicanalistas e profissionais da área Psi em geral, a profissionais ligados à arte e a cultura, como poetas, musicistas, escritores e artistas plásticos. Um dos exemplos mais em voga no momento é o do escritor Dan Brown, autor do livro O Código da Vinci, obra recorde de vendas que já foi traduzida para aproximadamente 44 idiomas e lida por mais de 55 milhões de pessoas em todo o mundo. O interesse do autor em desvendar os mistérios do sagrado feminino chama a atenção por ter desenvolvido um romance cujo tema central é justamente esse. A história tem como pano de fundo um misterioso assassinato ocorrido no Museu de Louvre em Paris, que traz à tona uma sinistra conspiração para revelar um segredo protegido por uma sociedade secreta desde os tempos de Jesus Cristo. A vítima é o respeitado curador do museu, Jacques Saunière, o último grande líder dessa antiga fraternidade, o Priorado de Sião, que já teve como membros Sir Issac Newton, Botticelli, Victor Hugo e Leonardo da Vinci. Momentos antes de morrer, Sauniére consegue deixar uma mensagem

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cifrada na cena do crime que apenas sua neta, a criptógrafa francesa Sophie Neveu, e Robert Langdon, um famoso professor de Simbologia de Harvard, podem desvendar. Os dois transformam-se em suspeitos e detetives enquanto percorrem as ruas de Paris e Londres tentando decifrar um intricado quebra-cabeça que vai surgindo através de pistas deixadas pelo curador, a fim de que encontrem e protejam tal segredo milenar. Este segredo traz revelações bombásticas acerca da verdadeira história do Santo Graal e da vida de Jesus Cristo, e, como veremos mais adiante, sobre o sagrado feminino. É a partir das mensagens cifradas de Saunière que o romance começa a abordar o tema do feminino. Como foi dito, antes de morrer o curador do Louvre deixa pistas no local do crime, e até mesmo em seu próprio corpo, pistas estas que têm intrínseca relação com o feminino. Ele desenha em seu abdômen a figura de um pentagrama, antigo símbolo religioso pagão usado por aqueles que viviam no campo e que não haviam recebido ensinamentos cristãos. Além disso, Saunière, antes de morrer, desenhou um círculo em volta de si e se colocou de maneira que pudesse criar uma réplica do O Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci. O famosíssimo esboço consiste em um circulo perfeito (segundo a obra, símbolo feminino de proteção) no qual um homem nu se encontra inscrito com braços e pernas totalmente abertos. O livro, então, introduz a ligação entre Da Vinci e o feminino, mencionando que este pintor, assim como o curador do Louvre, também era um adorador da ordem divina da natureza, e um dos protetores do segredo que agora estava ameaçado. Com relação às obras de Leonardo da Vinci descritas no livro, quais sejam a Mona Lisa e a Ultima Ceia, veremos mais adiante como elas se relacionam com o sagrado feminino. A obra menciona, ainda, outros símbolos que têm forte relação com o sagrado feminino e que mais adiante serão descritos de forma mais detalhada, como o significado no número PHI, o jogo de cartas de tarô, a rosa símbolo do Priorado, dentre outros. O que importa mencionarmos neste momento é que, segundo o autor, o segredo

protegido pela fraternidade pode mudar completamente a história da humanidade. Ele está relacionado à verdadeira historia do sagrado feminino e, por mais incrível que possa nos parecer, à verdadeira trajetória da vida de Cristo, que é delineada na obra de forma diversa da tradicional. Para Dan Brown, Jesus foi uma figura histórica de forte influência, um grande e poderoso homem, mas que não passava de um homem. Um profeta mortal. Além disso, ele teria vivido com Maria Madalena como um casal, tendo inclusive filhos com ela. Maria Madalena, segundo o livro, é quem deveria ser a responsável pela fundação da Igreja Cristã após a crucificação de Cristo. Parece, portanto, que Jesus era um feminista original que pretendia que o futuro de Sua Igreja ficasse nas mãos de Maria Madalena. Como Jesus e sua companheira tinham descendência real – Jesus descendia do rei Salomão e rei Davi e Maria Madalena da Casa de Benjamim – a união entre eles fundiu duas linhagens reais, criando assim um verdadeiro sangue real, que está na origem do nome do Santo Graal, Sangreal, que significa literalmente sangue real.(BROWN, 2004, p. 237) A partir daí, Dan Brown introduz a ideia de que o Santo Graal não é o famoso Cálice de Cristo, usado por Jesus em sua última ceia. Ele seria, na verdade, uma forma simbólica de representar uma mulher, Maria Madalena, geradora da linhagem real, do sangue real, a própria deusa. O Santo Graal representa o sagrado feminino e a deusa, conceitos que se perderam nos dias de hoje, por terem sido eliminados pela Igreja Católica. Esta roubou da imagem da mulher a atribuição sagrada de ser exaltada por gerar a vida, tendo em vista que passou a venerar a figura de um homem com o verdadeiro Criador. Passou, então, a demonizar o sagrado feminino e considerá-lo impuro. Desta forma, segundo a obra, o Graal simboliza a deusa perdida, e as lendas de buscas de cavaleiros pelo Graal perdido são, na verdade, histórias sobre buscas proibidas do sagrado feminino. Cavaleiros que alegavam estar procurando o cálice usavam um código para se protegerem da Igreja, que, com a fundação do cristianismo, havia subjugado as mulheres, banido a deusa, queimado os hereges e proibido a adoração do sagrado feminino pelos pagãos (BROWN, 2004, pp. 112-113, 139, 152-155).

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No tópico a seguir vamos fazer um paralelo entre o enfoque dado ao feminino pelo autor, e as explicações psicanalíticas para o tema, sendo importante ressaltar que nos baseamos numa obra de ficção, e que muito do que foi dito pelo autor com relação ao feminino pode não coincidir fielmente com a realidade histórica. Porém, ao que tudo indica, Dan Brown procurou realizar uma vasta pesquisa sobre diversos assuntos contidos no livro. Já nos agradecimentos, por exemplo, ele faz referência a ajuda obtida em suas pesquisas pelo Museu de Louvre, pelo Ministério da Cultura da França, Biblioteca Nacional de Paris, Serviços de Estudos e Documentos de Pinturas do Louvre, dentre outros. Além disso, o autor agradece a sua esposa, que é historiadora da arte e pintora, e muito o auxiliou nas pesquisas para o livro. Ele mesmo estudou História da Arte na Universidade de Sevilha, Espanha, onde começou a pesquisar seriamente os trabalhos de Leonardo da Vinci. Finalmente, Brown faz questão de destacar no inicio do livro que todas as descrições de obras de arte, arquitetura, documentos e rituais secretos presentes no romance correspondem rigorosamente à realidade, e que o Priorado de Sião, sociedade responsável pela guarda do Graal, existe de fato (BROWN, 2004, pp. 1419). A exaltação do feminino na antiguidade Os antigos viam o mundo dividido em duas metades: a masculina e a feminina. Seus deuses e deusas agiam no sentido de manter um equilíbrio de poderes. Quando masculino e feminino, Yin e Yang, estavam equilibrados, havia harmonia no mundo. Quando se desequilibravam, estabelecia-se o caos. A exaltação ao feminino estava presente até mesmo no jogo de cartas medieval, onde haviam arcanos denominados A Papisa, A Imperatriz e, no sagrado feminino no ´Código da Vinci´, A Estrela, tendo o Ouros como naipe representativo da divindade feminina (BROWN, 2004, p. 43). Cada religião era baseada na ordem natural divina, onde a natureza era adorada, assim, a deusa Vênus e o planeta Vênus eram um só. A

deusa era denominada de diversas formas, além de Vênus, era a Estrela Oriental, Ishtar, Astarte, termos estes ligados ao feminino, à Natureza e à Mãe Terra. Esse planeta a cada oito anos descreve um pentagrama no céu, sendo, portanto, Vênus e o pentagrama, considerados símbolos da perfeição, da beleza e das características cíclicas do amor sexual. Para os adoradores da Natureza e da Mãe Terra, o pentagrama, símbolo religioso précristão, representa o lado feminino de todas as coisas ou o sagrado feminino. Mais especificamente simboliza Vênus, a deusa do amor sexual e da beleza. Este ícone é composto por cinco linhas que, ao se interpenetrarem, dão forma a uma estrela de cinco pontas, sendo considerado mágico e divino por diferentes culturas. O pentagrama também é expressão da Divina Proporção ou número PHI, uma vez que esta diz da perfeição na criação do universo; plantas, animais e até seres humanos possuem propriedades dimensionais que se encaixam com exatidão à razão de PHI para um. Além disso, o feminino estava estreitamente relacionado à sexualidade. Existiam rituais sexuais pagãos, como o Hieros Gamos, que data de mais de 2.000 anos, significando casamento sagrado, onde era exaltado o poder reprodutor feminino. Neste ritual, homens e mulheres vestidos de forma oposta - de preto e branco, com sapatos dourados, máscaras andróginas e segurando globos dourados, ficavam entoando cânticos ao redor de um casal que efetuava um ato sexual. Tal ritual, porém, estava para além do erotismo, era um ato espiritual. Historicamente, o ato sexual estava relacionado ao divino. Os ritos sexuais eram considerados o único caminho, para o homem, entre a terra e o céu. Os antigos acreditavam que para que o masculino se tornasse espiritualmente completo, tinha antes que ter tido conhecimento carnal do feminino. Assim, a união sexual com a mulher era condição fundamental para que o homem se tornasse espiritualmente completo, atingindo a gnose, o conhecimento do divino (BROWN, 2004, pp. 289-292). Mesmo a tradição judaica primitiva envolvia o sexo ritualístico. Os primeiros judeus acreditavam que o Santo dos Santos do Templo de Salomão abrigava não só Deus, mas também a sua poderosa consorte feminina, Shekinah (BROWN, 2004, p. 292). Inclusive, o

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tetragrama judaico para o nome sagrado de Deus YHWH (Jeová), indica uma união física entre masculino (Jah) e feminino (Havah).

Terra Santa para encobrir sua verdadeira missão.

A Bíblia, enquanto relato histórico de uma época conturbada, se desenvolveu através de traduções, acréscimos e revisões. Segundo o historiador Dan Brown, ela é uma colagem proposta pelo imperador romano Constantino, o Grande, sumo sacerdote do culto de adoração ao sol. No século III, diante da ascensão dos cristãos e da ameaça de divisão de Roma devido aos conflitos entre estes o os pagãos, o imperador resolveu unificar Roma sob uma única religião: o Cristianismo. Por isso, os vestígios da religião pagã na simbologia cristã são inegáveis (BROWN, 2004, pp. 229-237).

Seu símbolo era a flor-de-lis combinada com as iniciais P.S. Desde que encontraram o que procuravam, os Templários obtiveram privilégios religiosos e políticos ilimitados através da publicação de uma bula papal inédita do Papa Inocêncio II, conquistando força política, criando o sistema bancário moderno e acumulando muitos bens. No início do século XIV, devido ao tamanho poder que os Cavaleiros Templários haviam alcançado, o Papa Clemente V e o rei da França, ordenaram aos soldados em toda a Europa que os executassem, acusando-os de hereges, adoradores do demônio.

Para reforçar a tradição cristã, Constantino promoveu o Concílio de Nicéia, no qual, dentre outros aspectos, especula-se que o que foi debatido foi a divindade de Jesus. A divindade de Cristo convinha ao Estado e à Igreja, uma vez que ela seria o único canal estabelecido de comunhão do homem com o sagrado, através do qual este conseguiria redenção. A Igreja Católica primitiva, predominantemente masculina, sentia sua ascensão ameaçada pelo poder da mulher e sua capacidade de gerar vida, já a muito considerada sagrada.

No entanto, a fraternidade não foi totalmente exterminada e os documentos relativos ao seu segredo, provavelmente foram transferidos de lugar em lugar. Todo o conjunto de documentos, seu poder e o segredo que revelam receberam o nome de Sangreal ou Santo Graal, que significa sangue real (BROWN, op. cit., pp. 239-245). O Graal é – literalmente - o símbolo da feminilidade representando o sagrado feminino em sua capacidade criadora, e a deusa. A Rosa e a Cruz também são símbolos do Priorado.

Assim, o sagrado feminino foi demonizado e considerado impuro, a verdadeira história de Cristo foi escondida e os significados de vários símbolos pré-cristãos que tipificam o sagrado feminino foram deturpados. Aproximadamente no século IV d.C., como parte da campanha do Vaticano para erradicar as religiões pagãs e converter as massas ao Cristianismo, a Igreja promoveu uma campanha de desmoralização dos deuses e deusas pagãs, definindo seus símbolos divinos como malignos.

A Rosa é um símbolo através do qual exércitos e religiões se inspiraram, assim como as sociedades secretas. A palavra rosa é idêntica em vários idiomas: inglês, francês, alemão, entre outros e, ainda, é um anagrama de Eros, o deus grego do amor sexual. A Rosa de cinco pétalas representa o Graal no Priorado. Juntamente com o Cálice e o Santo Graal, a Rosa é um dos diversos pseudônimos de Maria Madalena.

O Priorado de Sião é uma das mais antigas sociedades secretas que presta culto de adoração à deusa pagã, reverencia o sagrado feminino, e existiria para proteger um segredo. Documentos que corroboravam com este segredo foram encontrados nas ruínas do templo de Herodes pela Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, uma ramificação militar do Priorado de Sião. Esta ordem, mais conhecida como Cavaleiros Templários, usou do disfarce de proteger a

Segundo Brown, ainda hoje o Priorado de Sião venera Maria Madalena, como deusa, o Santo Graal, a Rosa e a Divina Mãe. O ícone tem vínculos com o pentagrama de cinco pontas de Vênus e com a rosa-dos-ventos, apresentando, assim, uma ligação com orientação, direção. Nos cultos primitivos à deusa, as cinco pétalas representam as cinco fases da vida feminina – nascimento, menstruação, maternidade, menopausa e morte. A imagem da flor se abrindo evoca a genitália feminina, a flor sublime através da qual toda a

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humanidade entra no mundo (BROWN, 2004, pp. 43-45; 240-241). A Cruz quadrada precede a cristandade em cerca de 1500 anos. É considerada pacífica, e seus elementos vertical e horizontal equilibrados passam a idéia de união natural de masculino e feminino, harmonia, portanto, coerente com a filosofia do Priorado. Segundo o autor do livro, Maria Madalena representava uma ameaça destruidora, e, sendo assim, a Igreja perpetuou sua imagem como prostituta e ocultou as provas do casamento de Cristo. Porém, antes de Maria Madalena ser braço direito de Jesus, ela já tinha poder, pois era da tribo de Benjamim. A linhagem real criada a partir da união de Jesus com Maria Madalena preocupava a Igreja devido a seu poderio político com o potencial de reclamar legitimamente o direito ao trono e restaurar a linhagem de reis como era nos tempos de Salomão. Ela foi o cálice (útero feminino), que concebeu a descendência do sangue real de Cristo. O feminino psicanalítico

segundo

o

referencial

Essa visão de feminino, remetida ao místico, que se apresenta no livro de Brown, nos parece ir ao encontro de teorizações de Lacan sobre o gozo. Lacan vai propor a existência de uma dualidade de gozos, existindo de um lado um gozo fálico, sexual, e de outro, um gozo Outro, relacionado ao feminino, a um gozo-a-mais, que estaria para além do gozo fálico, da potência vital (MAURANO, 2004, inédito, pp. 29-38). Supomos que esse gozo Outro suposto por Lacan ao feminino, pode relacionar-se ao que Brown descreve como uma concepção existente na antiguidade, de que a comunhão com a mulher traria para o homem, a possibilidade de um instante de êxtase, caracterizado por um esvaziamento da mente, breve vácuo mental, e a consequente capacidade de ver Deus (BROWN, 2004, pp. 289-292). Tal estado também seria possível de ser atingido através da meditação, efetuada pelos gurus, atingindo o estado de Nirvana, verdadeiro orgasmo espiritual. (BROWN, 2004).

Tal estado de Nirvana nos remete ao seminário 20 de Lacan, onde o autor aborda a questão do gozo dos místicos, e diz que este estaria relacionado ao gozo Outro (LACAN apud MAURANO, 2004, inédito, pp. 29-30). Segundo Sérgio Telles, o conceito do gozo místico, se aproxima notavelmente da “visão analítica do desejo, do gozo, do Princípio de Nirvana, da pulsão de morte, essa descarga absoluta de tensões, que tem como modelo a vida uterina.”(TELLES, 1988, p.7) O feminino comportaria, assim, um gozo supostamente relacionado à infinitude, à transcendência e ao místico. No fim do desejo, ao tocar um Nada, que é tudo o que resta, encontra-se A/mulher. Com o conceito de A/mulher, Lacan designa o enigma absoluto da mulher, situando-a num plano outro que o da castração, relacionado ao ilimitado. Lacan ressalta que tanto os homens quanto as mulheres estariam na referência fálica, e que o feminino a que se refere, consequentemente não é sinônimo de uma característica pertencente à mulher (LACAN apud MAURANO, 2004, pp. 29-30). Neste mesmo sentido, Lacan fala da inexistência da relação sexual, pois não há de fato relação complementar entre os sexos, dado que o feminino ao qual ele se refere está fora da ordem sexual, é alheio à ordem fálica, revelando-a como insatisfatória. O gozo fálico estaria ocupado da satisfação de si mesmo, já o gozo Outro vai além da afirmação de si, sendo melhor caracterizado pela entrega, pela dessubjetivação (LACAN apud MAURANO, 2004). O sexo, enquanto meio de geração de novas vidas, para os antigos, era considerado milagroso, e havia crença de que só um Deus teria a possibilidade de realizar milagres. A mulher, enquanto geradora de vida, ao possuir um útero, era então considerada uma deusa. “A relação sexual era a união respeitosa entre as duas metades do espírito humano – a masculina e a feminina –, por meio da qual o macho podia encontrar integridade espiritual e comunhão com Deus” (BROWN, 2004, p. 291). Com isso parece que temos aqui a menção a uma situação na qual a insuficiência da

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satisfação obtida via o sexual, busca apoio num mais além do sexual, onde a mística e o feminino se encontram. O feminino na arte e na obra de Leonardo da Vinci Dan Brown, ao escrever O Código Da Vinci mistura realidade e ficção e propõe que Leonardo Da Vinci seria sabedor do local onde estaria escondido o Santo Graal e teria deixado pistas ocultas em suas obras. O que vai nos interessar neste trabalho é que a partir daí, o autor vai fazer uma leitura de elementos de algumas das obras de Da Vinci que estariam relacionadas à exaltação do feminino. Da Vinci nasceu em Vinci, na Itália, em 1452, se tornando um genial pintor, escultor, engenheiro, arquiteto e cientista. Segundo BROWN (2004, pp. 51-52; 162-163; 219), Da Vinci seria um adorador da ordem divina da natureza e um adepto da religião da deusa. Sua obra Homem Vitruviano, ícone da cultura moderna, retrata a imagem de um círculo perfeito no centro do qual está um homem nu, com os braços e as pernas bem abertos, no formato de um pentagrama. A nudez presente na obra nos remete à nudez de Vênus, enquanto deusa da sexualidade humana, e o círculo, símbolo feminino de proteção, completam a mensagem da harmonia entre feminino e masculino que Da Vinci pretendia passar. A correlação entre esse símbolo e o sagrado feminino é difundida de modo amplo entre historiadores da arte e simbologistas, associada ao enlace entre masculino e feminino. Na natureza há o número PHI, que representa a divina proporção reinante na mesma. A obra Homem Vitruviano foi assim chamada em homenagem a Marcus Vitruvius, nome de destaque na arquitetura romana, que escreveu um texto sobre a divina proporção. Da Vinci era um grande conhecedor do corpo humano em sua estrutura, chegando a exumar cadáveres, medindo suas proporções e demonstrando a existência de razões proporcionais entre seus elementos, equivalentes a PHI (BROWN, 2004, p. 94).

Homem vitruviano A Mona Lisa era considerada por da Vinci a sua mais perfeita obra, a mais sublime expressão da beleza feminina. O fundo atrás do rosto dela é desigual, apresentando uma discrepância gritante. A linha do horizonte que Da Vinci pintou à esquerda se encontra num nível bem mais baixo que a da direita, fazendona parecer muito maior da esquerda do que da direita daí o fato de muitos considerarem o seu rosto um mistério. Historicamente, os conceitos de masculino e feminino estão ligados aos lados, o esquerdo é o feminino e o direito masculino. Como Da Vinci seria um grande fã dos princípios femininos, fez a Mona Lisa parecer maior quando vista da esquerda que da direita. Ele sempre considerava o equilíbrio entre o feminino e o masculino. Acreditava que a alma não podia ser iluminada a não ser que os elementos masculinos e femininos estivessem presentes nela. A análise da obra mostra a presença tanto de traços femininos quanto masculinos, numa fusão que remete à androginia, o que endossa dimensão enigmática do sorriso presente na obra. Isso se reflete no próprio título da obra, onde há a mescla do nome do Deus da fertilidade masculina, Amon, e da Deusa egípsia da fertilidade, Ísis, cujo pictograma antigo era L’ISA, assim, temos AMON L’ISA, anagrama da união divina do masculino com o feminino (BROWN, 2004, pp. 116-123). A Mona Lisa Também o afresco de Da Vinci, A Última Ceia, representa um importante tributo ao sagrado feminino. Tal obra é vista como possuindo elementos ocultos. Retrata a reunião de Jesus e seus discípulos em torno de uma mesa, quando Jesus revela que seria traído por um deles. Dan Browm propõe que o Santo Graal estaria representado não propriamente como O Cálice de Cristo, já que cada personagem retratado era possuidor de uma taça, e sim por através de uma simbologia própria. (BROWN, 2004, pp. 229-237). A Última Ceia Os ícones frequentemente utilizados para representar o masculino e o feminino, como aquele remetendo a um escudo e uma lança e este a um espelho, onde a beleza é refletida,

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teriam origem em símbolos astronômicos dos planetas Marte e Vênus. O símbolo masculino seria também representado por um falo rudimentar, ícone denominado a lâmina, símbolo de agressão e masculinidade; e o feminino, bem se caracteriza pela forma de um cálice, lembra um receptáculo - um útero feminino - representando feminilidade, maturidade feminina e fertilidade (BROWM, 2004, pp. 225-227). Estes símbolos remetem a uma identificação do feminino com a passividade e do masculino com a atividade, o que é interessante, mas deve ser considerado levando em conta a observação do próprio Freud, no texto Feminilidade, no qual indica que a feminilidade teria como característica psicológica uma preferência por fins passivos, mas alerta que fazer coincidir o feminino com passividade seria errôneo, já que já que muitas vezes para se chegar a um fim passivo é necessária uma grande carga de atividade (FREUD, 1932, pp. 113-116). Da mesma forma, também seria um erro fazer coincidir o masculino com a atividade. O cálice e a lâmina Segundo Brown, a descrição do Santo Graal como cálice seria apenas uma metáfora, seu verdadeiro significado seria uma mulher, Maria Madalena, figurando à direita de Jesus, em A Última Ceia e com as cores de roupa invertidas em relação às de Jesus, formando imagens especulares, Yin e Yang, que quando observados em conjunto gerariam a imagem do símbolo feminino e um grande M, talvez de Matrimônio ou de Maria Madalena (BROWN, 2004, pp. 229-237). O autor propõe que a história do Graal – e, portanto do feminino – estaria sendo transmitida ao longo da história por simbolismos e metáforas, através das expressões artísticas, assim, obras artes literatura, música, livros e filmes buscariam veladamente que o sagrado feminino proibido fosse restaurado. Da Vinci, Botticelli, Poussin, Bernini, Mozart e Victor Hugo, e mesmo Walt Disney, além de contemporâneos, se utilizariam recursos para reverenciar o feminino em suas produções. MAURANO (2005), nos lembra que a beleza se harmoniza com o que é da ordem do divino, coloca-se (...) como meio de transporte que faz essa comunicação. Faz-se simultaneamente acolhimento do precário e

expressão de expansão. (MAURANO, 2005, p. 3). Assim, o feminino também estaria presente nas mais diversas expressões da arte, através da beleza, como possibilidade de se ultrapassar o registro fálico e operar com a dimensão do infinito, indo na direção de um gozo de outra natureza, gozo Outro, remetendo à pulsão de morte, que é essencial à criação. A arte vem a ser a estratégia que faz o não ser vir a ser. Implica uma passagem pelo nada, pelo não ser, com a possibilidade de vir a ser. Considerações finais O estudo do livro O Código da Vinci em sua relação com o feminino nos serviu para melhor atrelarmos diversos postulados da psicanálise sobre o tema do feminino. O feminino realmente é alvo de interesse e de pesquisas por muitos autores, ainda que estes não trabalhem diretamente com a psicanálise. Os segredos do feminino instigam os estudiosos, justamente por apresentar um grande mistério e uma enorme beleza. Ainda que se trate de uma obra de ficção, como é o caso do livro em debate, podemos perceber ligações com o que ele prega sobre a feminilidade e os ensinamentos de Freud e Lacan. Segundo Dan Brown, o segredo do Priorado de Sião, era a proteção dos documentos do Sangreal, o sepulcro de Maria Madalena e sua linhagem, que vive em perpétuo risco. O autor fala do sagrado feminino como algo capaz de salvar o mundo e a humanidade da destruição, do caos. Segundo ele, se este for restaurado o mundo será capaz de encontrar um equilíbrio, como supostamente ocorria na época do culto as religiões ligadas à natureza (BROWN, 2004, p. 43). Obviamente que para a psicanálise, não se trata de salvação via o feminino, mas este não deixa de colocar-se com um ponto de visada que se situa mais além do Complexo de Édipo, mais além da afirmação fálica de si mesmo. Sendo assim, que seja bem vindo o Sagrado Feminino. Bibliografia BROWN, Dan. O Código Da Vinci. Rio de janeiro: Sextante, 2004.

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FREUD, Sigmund. Conferência XXIII: Feminilidade. Edições Estandarte Brasileira das Obras Psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, Vol. XXII, 1932. MAURANO, Denise. Torções do gozo: o barroco á luz da psicanálise. Tese de PósDoutorado, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, inédito, 2004. O feminino no seio da cultura. Diário do Nordeste - Cultura, Fortaleza, 08/05/2005. TELLES, Sergio. O gozo místico. Folha de São Paulo. São Paulo, 22 out 1988.

enão da família propriamente dita. O grupo e a comunidade têm papel fundamental no cuidado dos relacionamentos familiares, e os filhos são personagens centrais da cena familiar. A família é referência no desenvolvimento do indivíduo e nos processos de subjetivação de seus membros. A paternidade e a maternidade constituem não apenas componentes da espiritualidade conjugal e familiar, mas uma autêntica pedagogia do coração e do corpo. Práticas sociais e pastorais se constituem em geradoras de vínculos duradouros de amor e fortalecem valores enfraquecidos na sociedade. Introdução

Resumo

Reflete-se hoje sob várias perspectivas as transformações em curso na família, destacando interações entre gerações e gênero, morfologia sociais singulares, relações intersubjetivas, processos de subjetivação dos membros familiares, funções paternas e maternas que podem ser exercidas por sujeitos do mesmo sexo, como ocorre, por exemplo, numa organização homoparental. Suas transformações e combinações transparecem - não como uma totalidade homogênea e fixa, mas como uma instituição em mutação. Há especialistas que reconhecem, que a assim chamada “família tradicional”, estaria deixando seu lugar em favor de um conceito polimorfo de família, que se estende a multiplicidade de grupos domésticos distanciando-se do modelo tradicional, composto por um casal heterossexual, cuja convivência estável é legitimada por um pacto público de tipo religioso ou civil, ou então uma relação pais/filhos.

Este artigo faz análise reflexiva da questão da família de raiz patriarcal e as consequentes interações entre diferentes configurações familiares e relações de gênero. O impacto biosóciotecnológico dos saberes perpassa a dicotomia entre o cultural e o natural baseado no pressuposto de que a primeira domina a segunda e, a isso, se conecta a concepção moral de autoridade e dominação sobre toda a família. A cultura familiar, marcada por transformações profundas, por elementos de confronto éticos à normalização da sexualidade possibilita multiplicidade de formas familiares, unindo adultos e crianças numa recombinação das estruturas. A tendência é o enfraquecimento cada vez maior da família de núcleo patriarcal

A crescente pluralização de formas familiares: matrimônios mistos, divórcios, separações, famílias reconstituídas, unoparentais ou homoparentais, assim como as reproduções assistidas, a barriga de aluguel, as clonagens, a adoção sob múltiplas formas, ao mesmo tempo que provoca instabilidade na função social da família, enfraquece os papéis tradicionais do pai e da mãe, e reforça cada vez mais papéis genéricos de partner, que podem ser varão e mulher, e também, inclusive, aprovados por um pacto público, porém não necessariamente. A multiplicidade de formas familiares torna difícil uma definição unívoca de família: ela “parece ter-se transformado de célula primária da vida social em célula

LEONARDO DA VINCI. Disponível em Wikipédia, a enciclopédia livre URL: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Leonardo_da_Vin ci.> Acesso em: 22 jul. 2006. Priscila de Souza Moreira, Tânia Mara Silva Benfica e Tatiana Salzer Rodrigues são graduandas do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora. Este material foi coletado em 2008 na publicação Psicanálise & Barroco, Núcleo de Estudos e Pesquisas em Subjetividade e Cultura, Campus Universitário – ICH em Juiz de Fora, MG, Brasil - www.psicanaliseebarroco.pro.br/revista 6.5. Revolução da Família: Estigmas de Uma Mudança Cultural Clélia Peretti (1) e Regiani Maria Bugalho (2)

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primária, quando muito da vida do indivíduo, portanto, um fato eminentemente privado e não mais de relevância pública” (BELARDINELLI, 2007, p. 24). A relação intersubjetiva é apontada aqui como fundamento do eixo particular inerente à noção de família. Não podemos considerá-la como uma realidade monolítica que se reproduz sempre do mesmo modo, ela é uma instituição social, sofre, talvez como nenhuma outra instituição, o ataque das transformações amplas, profundas e rápidas da sociedade e da cultura. Não obstante, sua realidade deve ser reconhecida em profundidade a fim de lhe oferecer um serviço e uma ajuda para que possa conhecer a si mesma e sua tarefa no mundo à luz dos desígnios de Deus (Familiaris consortio). Estabelecendo conexões A partir da segunda metade do século XX uma revolução tem acontecido nos aspectos mais profundos da vida social. No sentido substantivo da palavra, uma “revolução cultural” vem dominando as práxis e expandindo para além do que já é conhecido. Desse modo, a cultura assume a função extremamente importante da estruturação e organização de uma sociedade, engendram relações sociais numa teia com distintas histórias e diferentes modos de vida, especialmente delineando as famílias contemporâneas. Notadamente são perceptíveis as transformações culturais ocorridas no cotidiano da vida da maioria das pessoas: o tamanho das famílias, autoridade e responsabilidade dos pais, declínio do matrimônio, incremento do divórcio, envelhecimento da população com sistemas de saúde mais eficientes, aumento de famílias monoparentais, com as biotecnologias da reprodução humana, o surgimento de famílias homoparentais, gerações conflitantes em consequencia da declinação de uma ética puritana e a valorização da ética hedonista, consumista. Mulheres, que, ainda, sendo mais capacitadas, recebem remuneração a níveis mais baixos do que a maioria dos homens. São alguns deslocamentos culturais que também sofrem ao ritmo das localidades geográficas. Porém, são cada vez mais raros os lugares que estão fora do alcance destes poderes culturais.

Mensagens são bombardeadas pela mídia, culturas de outros povos e modos de vida diferentes dos nossos, são transmitidos. Um consumismo prático em olhar, escolher e comprar, virtualmente, ou não, prolifera e media o ambiente secundário de relacionamentos. Instaura-se, assim, uma cultura do estilo de vida soft, sem precedentes. Essa cultura interfere no princípio biológico do primado natural da união de um homem e de uma mulher, resultando numa transposição do natural para o cultural - originada do domínio patriarcal sobre as mulheres, e especificamente, sobre a família. Dessas variações insurgem fatores propulsores que conscientizam as mulheres quanto à sexualidade feminina calcada no gênero, na medida em que os homens vão perdendo o controle sobre o corpo das mulheres, devido à introdução de novas tecnologias de procriação. Associado a essas mudanças, outro fenômeno aparece em cena e toma força na conquista de cidadania por uma parcela significativa da população, que se reconhece como homossexual (sendo esse reconhecimento a respeito ao ethos de indivíduos urbanos e não tão somente, práticas sexuais entre pessoas do mesmo sexo) que é o desejo de filiação. As configurações familiares com base na conjugalidade homoerótica concentram tendências muito presentes nos hábitos modernos que transformam na esfera da reprodução, a “opção” em uma questão de “escolha”. É presumido que os casais heterossexuais escolham ter filhos, mas a “opção" permite não os terem. Já para os homossexuais o sentido dessa presunção é oposto, que não tenham filhos, fazendo com que a "opção" seja de tê-los. No entanto, não se devem desconsiderar as consequencias sobre os filhos nestas opções e/ou escolhas. A criança é o personagem central da cena familiar e, o cuidado dispensado aos filhos, surge como medida de legitimidade da parentalidade. A instância afetiva é valorizada como o aspecto mais importante na constituição de vínculos familiares. Dessa forma, “o amor”, dom precípuo de Deus, se apresenta como o principal fator na constituição dos diferentes arranjos familiares, num movimento que desloca pais e mães homossexuais de um lugar

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de desconfiança para o de normativo, acolhedor conforme esses valores. Pater, paternalidade, parentesco, filiação: transformações culturais

procriação, parentesco e filiação. Mãe e pai são aqueles que dão a vida à criança, uma relação tão natural que não nos damos conta de que possa ser submetida a uma lei social, diante do contexto que a cultura está inserida.

Historicamente o enraizamento do patriarcalismo na estrutura familiar caracterizou-se pela autoridade do homem sobre a mulher e filhos no âmbito familiar. O exercício dessa autoridade abarcava toda uma organização social: produção, consumo, política, leis e cultura. A família foi adquirindo o significado de centro de estruturação da sociedade, núcleo organizador do qual será o suporte de transmissão dos valores de nossas culturas, principalmente ocidentais.

Lévi Strauss apontou que: a família não é uma entidade em si nem, tampouco, uma entidade fixa, ela é, antes, o lugar onde se desenvolvem as normas de filiação e de parentesco, construindo sistemas elementares cuja finalidade é ligar os indivíduos entre eles e à sociedade. São os vínculos entre os indivíduos que criam à família e são essas variações possíveis desses vínculos intra-familiares que caracterizam as formas possíveis de família (LÉVI-STRAUSS, 1976).

Situando-nos no tempo e espaço podemos distinguir três períodos evolucionais da família: a “tradicional” - a autoridade do pai era de direito divino e de transposição monárquica destinada principalmente a transmissão do patrimônio. Embora houvesse a figura da mãe e das crianças, o grupo era governado pelo pater e, incluía igualmente os servos, agregados e escravos. Pouco importava se as crianças fossem seus filhos biológicos. Ser o chefe não significava ser o genitor. Os casamentos eram arranjados geralmente em idade precoce (ZAMBRANO, 2006). A família “moderna” final do século XVIII até meados do século XX - baseava-se no amor romântico, na reciprocidade dos sentimentos, e a filiação era subordinada ao casamento. A autoridade sobre o filho era compartilhada, sendo a educação atribuída ao estado e aos pais. O pai era o marido da mãe. A partir de então, a existência de uma família passa a ser a relação entre seus membros: a criança no centro da família, e o pai e a mãe em torno dela. Por volta de 1960, a família “contemporânea”, sobrepõe ao caráter de instituição moral o da realização sexual como ideal de dois indivíduos. Aumentando os divórcios e as recomposições de conjugalidades, torna-se mais difícil e problemática a transmissão da autoridade do pai na família. A dinamicidade da família patriarcal, antes tão sólida, hoje, é indicador de uma crise na família e nas relações familiares (CASTELLS, 2006).

O vínculo familiar pode ser desdobrado em quatro elementos: o primeiro é do vínculo biológico derivado da concepção e origem genética; o segundo relaciona-se ao parentesco, vínculo que une dois indivíduos em relação a uma genealogia, determinando o seu pertencimento a um grupo e ao lugar onde o sujeito se situa; o terceiro é a filiação, que se dá pelo reconhecimento jurídico de acordo com as leis sociais do grupo a que pertence, e, por último, a parentalidade, relacionada ao exercício cotidiano da função parental implicando cuidados com alimentação, vestuário, educação, saúde etc. Esses elementos podem estar combinados entre si dependendo de como será estabelecido o valor de cada um em relação aos outros, de acordo com as escolhas feitas em uma determinada cultura e numa determinada época.

Tornou-se natural em nossa cultura uma criança ter apenas uma mãe e um pai, acrescentando na família o fator biológico da

A antropologia mostra que para conceber uma criança há necessidade de um homem e de uma mulher. Nas diversas sociedades, as consequências de uma adequação do “natural” entre a genitora e a mãe, entre o genitor e o pai, não são as mesmas. Em muitas delas os vínculos que se estabelecem poderão ser os mais variados, o apego afetivo e a educação não são associados à função reprodutora e, essa, não é determinante da filiação (ZAMBRANO, 2006). Para ilustrar essa transformação, tomamos como exemplo o caso relatado no centromeridional do Sudão, entre os Nuer, uma população de meio milhão de habitantes, que tem as uniões matrimoniais como exógenas, ou

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seja, proibidas entre pessoas do mesmo grupo social (apesar dos clãs constituírem tribos patriarcais), uma mulher rica e casada, considerada estéril, volta à sua família de origem e passa a ser considerada “homem”, com possibilidades de obter uma esposa da qual se torna marido. A procriação é garantida por um criado, mas todas as crianças são do marido, conforme a lei social que determina a filiação (AUDACIA, 2000). Diante dessa variedade de papéis sociais parentais estabelecidos nas diferentes culturas, pode-se compreender significativamente que parentalidade não é sinônimo de parentesco e filiação, podendo ser exercida por pessoas sem vínculo legal ou de consanguinidade com os filhos, como acontece atualmente também nas famílias recompostas, quando o cônjuge da mãe ou do pai participa cotidianamente da criação do filho. Portanto, “as regras adotadas pela parentalidade, nem sempre são réplicas exatas da natureza” (ZAMBRANO, 2006, p. 12).

Outra questão relevante que promove reconfigurações nos padrões patriarcais é das práticas de não-reconhecimento paterno dos filhos. Os homens-pais, que não assumem sua responsabilidade ética, negando a legalidade do reconhecimento jurídico e o pior, a negação do reconhecimento social e afetivo, que tem igual importância valorativa. Diante desses horizontes, o reconhecimento paterno tem implicações sociopolíticas no exercício de cidadania, na dimensão geracional de respeito à descendência e cuidados dessas gerações, assim como o acolhimento solidário com a mulhermãe.

Relações e papéis de gênero

O empoderamento, a autonomia feminina, a visibilidade das mulheres, seja nas relações sociais ou de trabalho, coloca em crise não apenas a identidade masculina, baseada no patriarcalismo, como também envolvem uma complexidade de novas relações entre homens e mulheres, filhos e enteados, que multiplicam as possibilidades de identificação dos filhos com o feminino e o masculino, não mais composto apenas pela figura do pai ou da mãe, uma vez que agora temos a figura cada vez mais recorrente dos novos companheiros dos pais (FÉRES-CARNEIRO, 2003).

Com a economia globalizada, os efeitos e as tendências sociais diante de uma crise patriarcal, necessariamente irão reconstruir ou substituir paulatinamente, suas instituições patriarcais conforme condições de sua própria cultura. A tendência é o desaparecimento da família de núcleo patriarcal e, não da família propriamente dita. Na verdade a família está em processo de reorganização e recombinação em novas estruturas. Pesquisas mostram que hoje existem mais famílias monoparentais, em decorrência de produções independentes, ou de separação, bem como famílias homossexuais. A mulher, atualmente, quando está insatisfeita, demanda a separação porque não depende mais economicamente do marido. Mesmo em condições desfavoráveis, muitas já são responsáveis pelo sustento da família. Aumentou estatisticamente o número de domicílios sob a responsabilidade feminina, Diante dessa revolução cultural as mulheres heterossexuais direcionam seus objetivos à quatro fins específicos: filhos, pelo instinto maternal; redes femininas de apoio emocional; homens, como objetos eróticos; e homens como provedores da família, mas não na condição de provedor exclusivo.

O reconhecimento paterno promove a igualdade na fratria, certamente erodindo práticas patriarcais, favorecendo o aprofundamento da democracia e a abertura de espaços para novas formas de relações parentais, como a homoparentalidade e a pluriparentalidade (THURLER, 2006).

Vivemos um período de transição, onde as relações parentais precisam ser repensadas, assim como também o comportamento entre os sexos. Neste embate as mulheres ainda são injustiçadas. Pagam um alto preço em troca de sua independência econômica, trabalham mais, ganham menos, ficam mais pobres quando executam o papel de provedoras indispensáveis da família. De outra maneira também, como a base econômica do patriarcalismo familiar está corroída economicamente, a maioria dos homens precisa da renda adquirida pelas mulheres, e não muito quando são explorados pelos maridos. Dessa forma, o primeiro estilo de vida resultante dessa “crise”, é a de famílias constituídas por mães e filhos. E, assim,

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sucessivamente, as filhas se tornam mães, e as mães em avós dando continuidade ao sistema de apoio feminino. Um modelo de autossuficiência centrado na mulher, mas com base econômica frágil. Os homens, embora socialmente tenham privilégios maiores, não conseguem formar redes de apoio emocional. Os vínculos constituem apenas em reuniões sociais masculinas, supondo a sustentabilidade de que as mulheres e os filhos estão em casa esperando. A predisposição ao homossexualismo aumentou entre os homens, consequentemente aumentam as redes de apoio, facilitam a parceria em termos de igualdade, já que papéis preponderantes não são determinados pelas normas sociais. No entanto, para além do desejo e do amor entre duas pessoas, para a maioria dos homens a melhor solução em longo prazo é o retorno a uma família heterossexual. Dessa transição cultural os mais prejudicados são os filhos que estão cada vez mais negligenciados. O cuidado do cuidador e dos filhos Se pensarmos no processo de humanização como pano de fundo para definir as relações constitutivas da organização da comunidade familiar, restaria pensar as condições as quais os indivíduos e o grupo são submetidos. Tratase, evidentemente, de tomar consciência de que estamos perante um bem em si mesmo, um valor, uma relação comunitária que, enquanto tal, produz, garantindo benefícios para o indivíduo e para a sociedade; portanto, é de interesse desta mesma sociedade reconhecer e promover a dignidade e a humanização nas relações humanas, sobretudo naquelas que se expressam no desenvolvimento primário do indivíduo. Por exemplo, se a educação dos filhos é um grande bem para a sociedade, devese, então, admitir as indispensáveis mediações exercitadas pela família como decisivas para o sucesso desta mesma educação. Mesmo diante de suas diferentes configurações esta nunca deixará de ser a referência mais importante para o indivíduo, sobretudo se considerarmos que os pais são os principais modelos identificatórios para os filhos. Estamos persuadidos de que o cuidado no tocante ao cuidador é um grande valor social e de que são necessárias políticas socioeducativas promotoras de um ethos familiar humanizador.

Mesmo que nossa sociedade considere que não pode mais ser guiada por “normas morais ou espirituais porque ela é individualizada”, permanece o problema se essa procura de uma “nova forma individualista da moral” pode isentar um pai ou a sociedade da exigência de indicar alguns modelos, alguns estilos de vida, em detrimento de outros (BELARDINELLI, 2007, p. 40-41). Nem a família e nem a sociedade podem se desobrigar de cumprir algumas escolhas preferenciais na tarefa de educar e de acompanhar o processo de subjetivação dos filhos. A transmissão de valores, crenças, legados e mitos familiares fazem parte da própria estruturação do núcleo familiar, mas isto exige, hoje, uma re-elaboração e seleção, uma adaptação e inovação coerentes (SARECENO, 1997). É no espaço natural da comunidade familiar que se educa para a convivência, para os valores, para o compromisso e a responsabilidade comunitária. Sendo a educação a busca da verdade e exercício do dom irrestrito de si, o educador, é uma pessoa que gera em sentido espiritual (CARTA AS FAMÍLIAS 16). Na visão cristã, a família é a “via” da Igreja, é uma verdadeira comunidade de pessoas, como primeira e fundamental expressão da natureza social do ser humano. Para João Paulo II, a vida conjugal e familiar constitui um “valor” e uma “vocação”. O ser humano é “imagem e semelhança”, chamado livremente à existência por amor e ao amor. Ao criar o ser humano “macho e fêmea”, Deus dá a dignidade de igual modo ao homem e à mulher, enriquecendo-os dos direitos inalienáveis e responsabilidades que são próprios da vida humana (Familiaris consortio, 22). A paternidade e a maternidade humana, mesmo sendo biologicamente semelhante às de outros seres da natureza, tem diferença fundamental: “... tem em si mesmas, de modo especial e exclusivo, uma semelhança. com Deus, sobre a qual se fundamenta a família, concebida como comunidade de vida humana, como comunidade de pessoas unidas no amor” (CARTA AS FAMÍLIAS 6). O homem e a mulher são revestidos da mesma dignidade; são criados diferentemente surgindo assim a masculinidade e a feminilidade, características básicas de comunhão e de complementaridade que existem

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entre homem e mulher. A maternidade implica necessariamente a paternidade, e, vice-versa, essa é fruto da dualidade obsequiada pelo Criador ao ser humano desde o principio. Paternidade e maternidade são como que uma “novidade” na vida do casal. Necessário aprender a ser pai e ser mãe, fundamental é preparar-se para este momento e compreendê-lo como corporificação de seu amor conjugal. Diante do momento histórico pelo qual passa a família, alvo de forças destruidoras e deformadoras, a ação do cuidador consiste em proclamar e resgatar os objetivos da missão da família que são a vitalidade e a vida humana. A vida, “não é um perigo ao qual é preciso defender-se”, uma ameaça, mas sim uma benção (Familiaris consortio). Na concepção e no nascimento de um filho, os pais se deparam com o “grande mistério” de que fala São Paulo (Ef 5,32). A criança é concebida e orientada para a eternidade, não existindo apenas para ao tempo. Deus o quer para si mesmo, mas confia seu nascimento e sua educação à família: Esta é a dimensão da genealogia das pessoas, que Cristo revelou definitivamente, projetando à luz do seu Evangelho sobre o viver e o morrer humano, e, portanto, sobre o significado da família humana (CARTA ÀS FAMÍLIAS). Considerações finais A formação de uma família acontece, quando duas pessoas se unem e expressam o desejo dessa união. Cada um dos elementos tem expectativas, valores, crenças, tanto conscientes quanto inconscientes. É no cotidiano que as relações intra e intersubjetivas vão se construindo. A unidade familiar desenvolve, através dos tempos, padrões de interação que vão constituir a estrutura familiar. Cada estágio requer uma forma de cuidado, por exemplo, o cuidado familiar durante o pré-natal, o cuidado do casal como futuros pais, e assim sucessivamente. As mudanças e as diferentes combinações de família nuclear - heterossexual, monogâmica e com fins procriativos, para uma família recomposta - mono e homoparentais, e de acolhimento afetivo, têm fortes incidências nas políticas familiares. As inovações tecnológicas introduziram com as práticas sociais

recombinadas, de reprodução assistida – inseminação artificial homóloga (com sêmen do próprio cônjuge ou companheiro) de heteróloga (com doação de sêmen), de FIV (Fertilização in vitro, com doação de sêmen, óvulo ou embrião), de útero de substituição, novos valores e novos comportamentos no cotidiano das pessoas. Se por um lado, a família atual experimenta as mudanças em andamento como conquistas de igualdade e de corresponsabilidade diante das tarefas e das exigências da convivência familiar, por outro, essas novas circunstâncias, aliadas ao contexto sociocultural, contribuem para o enfraquecimento das redes de solidariedade familiar, acentuando tendências individualistas e comportamentos autônomos, ambos com reflexos nem sempre construtivos. Conhecer a família, os dinamismos de suas relações, os vetores que a constroem/destroem os vínculos que a constituem, é um dos grandes desafios para a sociedade e a Igreja. A cooperação entre instituições públicas e privadas, de associações e de voluntariados, joga um papel indispensável na criação de uma cultura familiar baseada na “civilização do amor”. (*) Publicado no Encontro de Bioética do Paraná: Bioética início da vida em foco, 1, 2009, Curitiba. Anais eletrônicos. .Champagnat, 2009. Disponível em: http://www.pucpr.br/congressobioetica2009/ (1) Doutoranda em Teologia pela Escola Superior de Teologia - EST, São Leopoldo/RS. Bolsista CAPES/PROEX. Professora do Curso de Bacharelado de Teologia e do Programa de Cultura Religiosa na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). (2) Graduanda do Curso de Bacharelado em Teologia da PUCPR. Participa no desenvolvimento de projetos com o PIBIC da PUCPR. Referências: ARIÉS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos, 1981.

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BELARDINELLI, Sergio. A pluralidade das formas familiares e a família como insubstituível “capital social”. In: BORGES, Ângela, CASTRO, Mary Garcia (Orgs). Família, gênero e gerações: desafios para as políticas sociais. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 22-43. BORGES, Ângela; CASTRO, Mary Garcia. Família, gênero e gerações. São Paulo: Paulinas, 2007. CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2006. FÉRES-CARNEIRO, Terezinha (Org.) Família e casal: arranjos e demandas contemporâneas. São Paulo: Editora PUC-Rio; Loyola, 2003. JOÃO PAULO II. Carta do papa João Paulo II às famílias. Roma, 2 Fev. 1994. _______________. Familiaris Consortio. Sobre a função da família cristã no mundo de hoje. Roma, 22 Nov. 1981. São Paulo: Loyola, 1982. LÉVI-STRAUSS, Claude. As estruturas elementares do parentesco. Petrópolis: Vozes, 1976. POVOS DE ÁFRICA. Revista Eletrônica Audácia, junho 2000. Disponível em: http://www.audacia.org. Acesso em: 19 Mai. 2009. RUDINESCO, Elisabeth. A família em desordem. Tradução André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. SARECENO, Chiara. Sociologia da família. Lisboa: Estampa, 1997. THURLER, Ana Liése. Sociedade Estado, v. 21, n. 3, Brasília, set.- dez. 2006. Disponível em: http://www1.ibge.gov.br. ZAMBRANO, Elizabeth. O direito à homoparentalidade: Cartilha sobre as famílias constituídas por pais homossexuais. Porto Alegre: Vênus, 2006. 6.6. O paganismo, a sociedade matrifocal celta e a religião da Grande Mãe comentário dos autores.

Sua origem remonta aos primórdios da humanidade, quando os seres humanos começaram a despertar sua percepção para os mistérios da vida e da natureza. Segundo estudiosos, a primeira demonstração da arte devocional foram as Madonas Negras, encontradas em cavernas do período neolítico. Portanto, as deusas da fertilidade foram os primeiros objetos de adoração dos povos primitivos. Eles acreditavam que o universo deveria ter sido criado por uma Grande Mãe. Entre os povos que dependiam da caça, surgiu o culto ao Deus dos Animais e da Fertilidade, também conhecido como Deus de Chifres ou Cornífero. O Paganismo, ou Bruxaria - surgiu no período Neolítico, em várias regiões da Europa, onde hoje se localizam a Irlanda, Inglaterra, País de Gales, Escócia, indo até o Sudoeste da Itália e a região da Britânia na França. Quando os Celtas invadiram a Europa, quase mil anos antes de Cristo, trouxeram suas crenças que se misturaram às da população local. Embora a Wicca tenha se firmado entre os Celtas, é importante lembrar que a bruxaria é anterior a eles! A sociedade Celta era matrifocal, isto é, o nome e os bens da família eram passados de mãe para filha. Mulheres e homens tinham os mesmo direitos, sendo a mulher respeitada como sacerdotisa, mãe, esposa e guerreira. O culto da Grande Mãe e do Deus Cornífero predominaram nas regiões da Europa dominadas pelos Celtas, até a chegada dos romanos, que praticamente dizimaram as tribos Celtas, que nessa época já estavam sendo dominadas pelos Druidas, que representavam uma introdução ao patriarcalismo. Porém, em muitos lugares, a religião da “Grande Mãe” continuou a ser praticada, pois havia certa tolerância por parte dos romanos. Foi somente na Idade Média que a Bruxaria foi relegada às sombras com o domínio da Igreja Católica e a criação da Inquisição, cujo objetivo era eliminar de vez as antigas crenças, que eram uma ameaça a um clero muito mais preocupado em acumular bens e riquezas do que a propagar a verdadeira mensagem de Jesus. Foi a Igreja Católica que inverteu os valores pagãos. Os chifres, por exemplo, que representavam a fertilidade, coragem e todos os atributos

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positivos da energia masculina, foram usados para personificar a imagem do Diabo. Se fôssemos descrever essa época infame, em que milhões de pessoas, em sua maioria mulheres, foram perseguidas, torturadas e assassinadas pela Inquisição, com certeza, escreveríamos um livro com milhares de páginas. Muitas das vítimas da Inquisição não eram Bruxas, e sim, pessoas com problemas de saúde, doenças mentais, deficiências físicas ou somente o alvo da suspeita e inveja do povo.

Também era comum acusar pessoas para tomar seus bens, pois esses eram divididos entre os inquisidores. Durante o tempo das fogueiras, muitos dos conhecimentos passaram a ser transmitidos, de forma oral, por medida de segurança, e, assim, muito se perdeu. Por isso, não é correto dizer que a Wicca de hoje é a mesma de séculos atrás. No presente, um grupo de pessoas abnegadas e corajosas está redescobrindo e recriando a Nova Bruxaria ou Neo Paganismo, como também é conhecido.

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