Texto e design © 2014 Matheus Baeta
1ª edição – 2010 Editora Edgard Blücher Edgard Blücher Publisher Eduardo Blücher Editor Matheus Baeta Editor de desenvolvimento Matheus Baeta Editoração Matheus Baeta Capa Matheus Baeta Preparação de texto Matheus Baeta Revisão Segundo Novo acordo Ortográfico, conforme 5. ed. do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Academia Brasileira de Letras, março de 2009. Rua Pedro Alvarenga, 1245, 4º andar 04531-012 – São Paulo – SP – Brasil Fax 55 11 3079 2707 Tel 55 11 3078 5366 editora@blucher.com.br www.blucher.com.br
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Baeta, Matheus; Livro Doce Livro: construindo o ambiente certo para o seu leitor / Matheus Baeta. – São Paulo: Blucher, 2014. ISBN: 978-85-212-0549-4
É proibida a reprodução total ou parcial por quaisquer meios, sem autorização escrita da Editora. Todos os direitos reservados pela Editora Edgard Blücher
1. Design gráfico (Tipografia)
I. Título
10-07192 Índice para catálogo sistemático 1. Design Gráfico: Artes
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CDD-745.4
“A maioria das pessoas comete o erro de pensar que design é a aparência. As pessoas pensam que é esse verniz - que aos designers é entregue esta caixa e dito: “Deixe bonito!” Isso não é o que achamos que seja design. Não é só o que aparece e sente. Design é como funciona.” Steve Jobs “Design é a capacidade de transformar desejos em experiências.” Christiano Braga
Assim como o ambiente de uma casa é construído e organizado para ser tornar um local aconchegante e acolhedor – que muitos chamam carinhosamente de lar –, o livro também pode transmitir essas sensações e tantas outras. Tudo vai depender da qualidade do conteúdo e do projeto gráfico aplicado a ele pelo designer. Neste livro, você está convidado a passar por diversas áreas relacionadas ao design editorial que são fundamentais para se criar um “ambiente gráfico” funcional, diferenciado e, principalmente, adequado ao seu público. Vamos entrar?
O que é um livro? O livro é a forma mais antiga de documentação, ele registra o conhecimento, as ideias e as crenças dos povos e sua história está intimamente ligada à história da humanidade. Os livros têm uma longa história que se desdobra há mais de quatro mil anos.
As origens do livro A palavra “book” deriva-se de uma velha palavra inglesa bok oriunda de “beech tree” (faia, tipo de árvore). Em português a palavra livro deriva-se do latim liber. Os saxões e os germânicos usavam as tábuas de faia para escrever, sendo a definição literal de um livro “tábua para escrita”. O termo códex, usado para se referir aos livros ancestrais, como, por exemplo, os manuscritos bíblicos, tem origens similares. O termo caudex é a versão em latim para “tronco de árvore”, de onde se tiravam as tábuas que serviam como superfície de escrita. Quando nos referimos às folhas de um livro, estas nos remetem ao material orgânico da superfície de escrita usada pelos antigos estudiosos egípcios – as largas folhas planas das palmeiras egípcias eram usadas para esse fim. mais tarde, com o advento do papiro, seus talos foram triturados, entrelaçados e secos, formando uma superfície adequada à escrita, portanto, apta a receber tinta.
Podemos dizer que os primeiros designers de livros foram os escribas egípcios, que redigiam seus textos em colunas e já faziam uso de ilustrações. A escrita egípcia não era apresentada na forma de livro como o conhecemos, mas em rolos – as folhas de papiro eram coladas umas às outras e enroladas em forma de cilindro que chegava a medir até 20m de comprimento. O papiro continuou sendo usado em todo o mundo antigo como o principal suporte de escrita, embora amostras de escritas egípcias, gregas e romanas também tenham sido encontradas em couro e peles secas de animais. Foi provavelmente Eumênio II, rei de Pérgamo (197-158 a.C.), na Ásia Menor, quem primeiro pesquisou o uso de peles de animais como uma alternativa ao papiro, que teve sua exportação proibida por Ptolomeu Epifânio, de Alexandria. Os sábiosdo reino de Pérgamo produziram uma pele de animal (carneiro) com dois lados, que após ser esticada em um caixilho, era secada, branqueada com giz e, então, polida e alisada com pedra-pomes. Daí a origem do pergaminho, de membrana pergamena, pergamenum. As origens do códice de pergaminho encadernado podem estar ligadas às antigas práticas gregas e romanas de conectar, ao longo de uma das margens, blocos de madeira cobertos por cera. As propriedades materiais do pergaminho propiciam o desenvolvimento do códex. O pergaminho era
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feito em tamanho maior que o frágil papiro e aceitava ser dobrado sem se danificar. O códex propiciou o fim da tradição do rolo de papiro, a partir dele as folhas podiam ser ligadas borda com borda, dobradas e depois empilhadas e atadas ao longo de uma das margens. A dobra das grandes folhas de pergaminho ao meio criou dois fólios (do latim foliu termo usado atualmente para se referir ao número de páginas de uma publicação); quando se continuou a dobrar a folha ao meio, foram criadas quatro páginas, conhecidas como in-quatro ou 4to; dobrando-as novamente ao meio foram criadas oito páginas in-oitavo ou 8vo. Todos esses termos são usados atualmente para descrever tamanhos de papel derivados de folhas dobradas. Os escribas gregos e romanos seguiram o princípio do papiro egípcio para o códex, ao escreverem as páginas em colunas. A palavra página, usada para denominar o lado de uma folha, advém do latim pagína, que significa “algo atado”, refletindo suas origens na encadernação e não no acabamento em forma de rolos, próprio do papiro. O papel, palavra derivada de pãpyrus em latim ou pápyros do grego, foi desenvolvido na China por volta de 200 a.C., embora a história oficial chinesa afirme que o papel foi desenvolvido pelo eunuco Tsai Louen, diretor das oficinas imperiais, em 104 d.C. Os primeiros papéis chineses foram confeccionados com a casca da amoreira ou com o bambu cuja polpa esmagada era transformada em fibras, espalhada sobre um tecdo e deixada assim para secar. Por volta de 751 d.C., a produção de papel havia se espalhado pelo mundo islâmico e, por volta do ano 1000, ele já era produzido em Bagdá. Os mouros levaram seu conhecimento
sobre a confecção de papel para a Espanha, e o primeiro moinho de papel da Europa foi fundado em Capellades, na Catalunha em 1238. Johannes Gutemberg, nascido em Mogúncia, cidade da Alemanha, produziu o primeiro livro europeu impresso usando tipos móveis no ano de 1455. A Bíblia de Gutemberg (bíblia de 42 linhas) impressa em latim, foi fruto de tecnologias diversas. Ele conhecia o trabalho em metal e tinha familiaridade com as prensas usadas para esmagar uvas no processo de fabricação do vinho. Possuía e lia os códex encadernados e sabia da existência do papel. O status não oficial de Gutenberg como “o pai da impressão”, deriva de uma visão um tanto enganosa e eurocêntrica da história. Os tipos móveis fimdidos em molde de areia já tinham sido usados na Coréia em 1241; um livro coreano datado de 1377 exibe a informação de ter sido impresso por tipos móveis. Os chineses usavam a impressão ern blocos de madeira desde o século VII para produzir cartas de baralho e cédulas de dinheiro, que estavam em circulação desde 960 d. C Enquanto em 868 d. C., um. cânone do budismo Theravada, o livro Tripitaka, foi impresso em papel na China, envolvendo o corte de 130 mil blocos de madeira para impressão xilográfica (tipografia xilográfica). Apesar das discussões acadêmicas sobre a data exata da invenção da impressão, o impacto do livro impresso sobre o desenvolvimento da Europa Ocidental é menos contestável. Desde os tempos dos romanos, o alfabeto ocidental de 22 letras era usado na escrita manual e cada letra, palavra ou sentença de um livro manuscrito era criada individualmente: um artesão, um artefc1to. O tipo móvel e seu descendente, o livro impresso,
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permitiram que uma única pessoa, após compor um texto, pudesse reproduzi-lo. Os primeiros tipógrafos eram responsáveis pela composição e criação do layout das páginas, além de cuidaren1 da reprodução do texto. O livro impresso industrializou a produção da linguagem. O método de impressão é mais rápido que a cópia caligráfica e, como consequência, os textos se tornaram economicamente acessíveis e bastante disponíveis.
A definição de livro Estabelecida as origes das palavras “livro” e “códex” e alguns dos termos correlatos, parece sensato pensar que uma definição clara do que vem a ser um livro seria de grande ajuda. O Concise Oxford Dictionary apresenta duas possibilidades: 1. “Tratado portátil manuscrito ou impresso que preenche uma série de folhas encadernadas, vinculadas umas às outras.”; 2. “Composição literária que preenche um conjunto de folhas”. O Dicionário Houaiss por sua vez define assim: “coleção de folhas de papel, impressas ou não, cortadas, dobradas e reunidas em cadernos cujos dorsos são unidos por meio de cola, costura, etc., formando um volume que se recobre com capa resistente”. Essas simples definições identificam duas importantes características: a descrição física de um conjunto portátil de folhas impressas encadernadas e uma referência à escrita e à literatura. A Encyclopedia Britannica oferece por sua vez nas duas definições:
1. “... uma mensagem escrita (ou impressa) de tamanho considerável, destinada à circulação pública e registrada em materiais leves, porém duráveis o bastante para oferecerem uma relativa portabilidade”; 2. “Instrumento de comunicação”. Essas definições introduzem as ideias de público leitor e comunicação. Na Encyclopedia of the Book (1996), Geoffrey Ashall Glaister fornece dados a respeito do custo e extensão do livro: “Para propósitos estatísticos, o mercado editorial britânico já considerou que um livro era uma publicação que custava seis pences ou mais”. Outros países definem um livro como um volume com um número mínimo de palavras; uma conferência da UNESCO em 1950 definiu um livro como: “uma publicação literária não periódica contendo mais de 48 páginas, sem contar as capas”. Essas definições nasceram claramente de preocupações legais e regulamentações tributárias. Enquanto as descrições físicas de folhas e ligaduras são precisas, nenhuma das definições acima parece capturar a influência ou poder de um livro. Talvez possamos estimular uma discussão mais ampla, se eu apresentar a definição de livro proposta por Andrew Haslam: “Um suporte portátil que consiste de uma série de páginas impressas e encadernadas que preserva, anuncia, expõe e transmite conhecimento ao público, ao longo do tempo e espaço.
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O livro e seu valor comercial O mercado editorial atualmente é um negócio que envolve grandes cifras. A maior editora do mundo em 1999 era Bertelsmann AG, um grupo editorial com sede na Alemanha, que obteve um lucro de cerca de 27 bilhóes de marcos (mais de 14 bilhões de dólares) – valor maior que o total da economia de muitos países. O número de livros impressos no mundo aumenta a cada ano, embora o volume exato seja de difícil apuração, já que muitas publicações não usam o número padrão internacional de livro, ISBN – método utilizado para a codificação e monitoramento de livros. Não se sabe quantos livros foram impressos desde 1455, nem mesmo a quantidade de livros existentes nas bibliotecas pelo mundo afora, uma vez que muitos permanecem não catalogados. A Grande Biblioteca de Alexandria, fundada no século III a.C. pelo rei egípcio Ptolomeu Soter e destruída por um incêndio em 640 d.C. tinha algo entre 428 mil e 700 mil pergaminhos e foi a mais extensa biblioteca do mundo antigo. Atualmente, o catálogo da Library os Congress, a biblioteca nacional dos Estados Unidos, exibe 119 milhões de itens em 460 línguas; enquanto a British Library, a biblioteca nacional da Grã-Bretanha, declara possuir 150 milhões de itens nas “línguas mais conhecidas”. A taxa de aquisição da British Library é de 3 milhoes de itens por ano. Ela guarda uma cópia de todos os títulos publicados em inglês e abriga imensas coleções internacionais. No Brasil, a Fundação Biblioteca Nacional tem o mesmo procedimento, regulamentado pelo Lei do Depósito Legal nº 10.994 de 14 de dezembro de 2004. A maior livraria do mundo é a Barnes and
Noble, situada no número 105 da Quinta Avenida, em Nova York, e contém 207 mil metros de estantes repletas de todo tipo de publicação.
O livro e seu valor comercial O livro impresso tem sido um dos meios mais poderosos para a disseminação de ideias e mudou o curso do desenvolvimento intelectual, cultural e econômico da humanidade. Pode-se ter uma medida dessa influência apenas considerandose alguns deles: a Bíblia, o Corão, o Manifesto Comunista, Quotations from Chairman Mao Zedong (o famoso Pequeno livro vermelho de Mao Tsé-tung) e o Mein Kampf (Minha luta) de Hitler. Ainda que seja impossível quantificar a influência coletiva desses livros na vida de milhões de pessoas ao longo da história, fica claro que estabeleceram muitas das bases religiosas e políticas de grande parte do mundo moderno. Uma lista similar poderia ser elaborada, com os títulos que serviram de apoio aos fundamentos da Medicina, Ciência, Psicologia, Literatura, Teatro e assim por diante – de fato, pode-se fazer o mesmo para todas as disciplinas intelectuais. Tais livros são conhecidos globalmente, suas ideias e seus autores podem ter sido tanto reverenciados quanto denegridos, entretanto, sem o trabalho de profissionais que sempre são esquecidos – o designer e o impressor de livros – a influência das ideias contidas nessas obras teria sido transitória.
Criando um livro Onde começa um livro? O modelo convencional de desenvolvimento do livro situa o autor no início da cadeia de produção. O autor tem uma ideia e prepara um texto na expectativa de que ele seja aceito por um editor para ao final materializarse em forma de livro. Essa maneira tradicional de se elaborar um original permanece como o modelo predominante para trabalhos de ficção, além de também ser usada na publicação de não ficção. Os autores procuram uma editora que publique temas semelhantes aos seus e, às vezes, contando com a intermediação dos agentes literários, submetem os manuscritos e esperam obter um contrato. O modelo de desenvolvimento de um livro com frequência é chamado pelos editores de “o caminho crítico”. Ele identifica a ordem dos estágioschave e é geralmente acompanhado por um cronograma de produção detalhado. Os editores de não ficção tornaram-se mais pró-ativos no processo de elaboração de um original, desenvolvendo vários modelos alternativos. Editores mais modernos e avançados encaram sua função não somente como a de veículos de boa literatura ou informação de qualidade, mas também se veem como fornecedores de um produto comercial. Algumas editoras tornaram-se fortes marcas por oferecerem uma grande variedade de produtos editoriais. O evidente crescimento desse mercantilismo e as consequentes estratégias de marketing não são bem- vistas pelas editoras tradicionais,
preocupadas com literatura de qualidade e com a aprovação da crítica. Apesar de tudo, as editoras mais bem-sucedidas financeiramente são muito conscientes do status de sua marca. Atualmente há uma postura editorial que vem mudando o conceito de edição. A figura do autor como conhecemos está desaparecendo e em seu lugar está surgindo escritores que produzem textos sob encomenda. As casas editoriais, os editores, os diretores de arte, por exemplo, podem ter um conceito, uma ideia para uma coleção de livros. Eles procuram escritores que possuam conhecimento sobre um determinado tema e solicitam-lhes que escrevam textos de um determinado tamanho para um público específico. Para a editora esse modelo que encara o livro como produto tem. muitas vantagens; embora o investimento inicial seja mais alto, o mercado potencial é bem maior. . Os custos são previsíveis e os direitos autorais são da editora, em lugar de pertencerem a um autor. As casas editoriais estão conseguindo aplicar com eficiência o modelo de produção em escala tanto em títulos individuais como em coleções. O alcance dos produtos e a margem de lucro têm aumentado e o volume de vendas tem a perspectiva de se elevar. O leitor passa a ter afinidade com a marca de uma coleção e não mais com o autor. No Brasil já há editoras estrangeiras que adquiriram empresas nacionais que estão implementando esse tipo de procedimento em suas linhas editoriais.
Criando um livro 17
Abordagem do design Os designers experientes desenvolvem livros por meio de várias abordagens. Essas são comuns ao design gráfico e podem ser classificadas em quatro grandes categorias: documentação, análise, conceito e expressão. Essas categorias não são mutuamente excludentes; é improvável que um projeto de design se baseie inteiramente em uma única abordagem. A maioria dos trabalhos de design inclui um elemento de cada uma, embora não necessariamente na mesma proporção. Além disso, há uma parte do processo de design que é peculiar a cada designer, e não é facilmente definida pela análise prática. O design é uma mistura de decisões racionais e conscientes que podem ser analisadas e decisões subconscientes que não podem ser deliberadas tão prontamente, uma vez que derivam da experiência e da criatividade do designer. Por essa razão, alguns designers mostram-se de certa forma constrangidos e evasivos quando questionados sobre seu processo de trabalho, sugerindo que um exame mais detalhado restringiria sua criatividade. Frases como “expressão pessoal” e visões acerca da
individualidade são formuladas, aliadas a um desejo “de não ser sufocado pelo sistema”, ou à ideia de que “é importante preservar o mistério”. Tal como várias atividades criativas, o design tem um “fator x” indefinível, e examiná-lo muito minuciosamente significa arriscarse a destruí-lo. Trocando em miúdos, o subconsciente tem influência sobre o layout de uma página e com frequência o designer posiciona os elementos com base em sua experiência ou instinto, no lugar de fazê-lo como resultado de uma decisão técnica. O elemento subconsciente do design torna-se parte da memória cinética das pessoas, da mesma maneira que caminhar ou andar de bicicleta. Essas são habilidades desenvolvidas por intermédio da prática e que se tornam tão arraigadas que dificilmente tem-se consciência delas como parte do processo. Entretanto, ao examinar esses quatro pontos racionais iniciais a meta desejada é oferecer uma percepção das características do processo de design que podem ser examinadas e que, por meio da prática, possam ser implementadas.
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Os componentes de um livro
Criando um livro 19
O volume do livro 1. lombo lombada de um livro, onde as páginas são grampeadas, coladas ou costuradas (dependendo do tipo de encadernação usado). 2. cabeceado pedaço de tecido (algodão ou seda) colorido e co lado na parte interna (pé e cabeça) da lombada em um livro de capa dura. 3. charneira tira de pano ou de couro que se aplica ao longo do encaixe do livro a fim de formar a guardaespelho. 4. seixa superior projeção da capa dura que se estende para além do refile fina l da cabeça do livro. 5. pasta frontal frente da capa dura formada por uma placa de cartão, parte do material de revestimento e uma folha da guarda. 6. capa revestimento de papel, cartão ou outro material que é colado, grampeado ou costurado ao miolo do livro. 7. seixa lateral projeção da capa dura que se estende para além do refile final da frente do livro. 8. placa pedaço de cartão formador das pastas da capa dura. 9. seixa do pé projeção da capa dura que se estende para além do refile final do pé do miolo do livro. 10. guardas folhas de papel encorpado (120 g/m² ou mais) dobradas, formando quatro ou oito páginas, sendo uma colada na placa de cartão na frente e outra no final
do livro de capa dura. A finalidade é prender o miolo à capa dura. 11. cabeça superfície superior do miolo do livro. 12. folhas conjunto de duas páginas geralmente numeradas com algarismo ímpar na frente e par no verso. 13. pasta do verso quarta capa do livro de capa dura formada por uma placa de cartão, parte do material de revestimento e uma folha da guarda. 14. quarta capa verso da capa do livro. 15. frente borda frontal do livro. 16. virada também denominada debrum. Trata-se da porção do material de revestimento da capa dura que recobre as bordas das placas de papelão que formam as pastas. 17. base parte inferior do miolo do livro. 18. guarda branca folha sem impressão, mas que faz parte do caderno impresso. 19. pé superfície inferior do livro. caderno (não consta da ilustração acima) folha impressa e dobrada, em múltiplos de quatro páginas para formar uma seção de livro.
20 O Espaรงo
Criando um livro 21
A página 1. retrato formato no qual a altura da página é maior que a largura.
página. 13. título linha que define a posição do título na grade.
2. paisagem formato no qual a altura da página é menor que a largura.
14. margem superior ou margem da cabeça. Espaço em branco compreendido entre a borda superior da área de mancha e a borda superior da página refilada.
3. altura e largura medidas da página, sempre nessa ordem). Este livro, por exemplo, 19 x 19 cm.
15. intervalo/ calha de coluna espaço vertical que divide as colunas.
4. verso página do lado esquerdo do livro.
16. margem interna espaço em branco compreendido entre a borda da área da mancha e a dobra interna da página presa à lombada.
5. página única folha única encadernada à esquerda. 6. página espelhada duas páginas (sempre uma par e outra ímpar) onde o material impresso ocupa as margens internas como se fosse uma página única. 7. cabeça superfície superior da página. 8. página de frente página da direita quando o livro está aber to frequentemente identificada com numeração ímpar. 9. frente borda frontal da página.
17. cabeçalho linha que define a posição do cabeçalho na grade. 18. módulo unidade da coluna de grade modernista, divisível pela medida da entrelinha. Separada na horizontal por uma linha branca e na vertical pela calha da grade. 19. fio linha colocada entre ilustrações.
10. pé superfície inferior da página.
20. largura da coluna/medida largura da coluna determinada pelo comprimento das linhas de texto individuais.
11. calha margem interna entre duas páginas faceadas ou margem de dobra do caderno.
21. linha de base linha sobre a qual é posicionada a base das letras.
A grade 12. numeração linha que define a posição do número da
22. coluna espaço retangular na grade usado para acomodar as linhas de texto. As colunas de uma grade podem variar em largura, mas sua altura é sempre maior que seu comprimento.
22 O Espaço
23. margem inferior espaço em branco compreendido entre a borda inferior da área de mancha e a borda inferior da página refilada. Os termos a seguir não constam das ilustrações anterior: margem dianteira espaço em branco compreendido entre a área de mancha e o cor te oposto à lombada. profundidade da coluna altura da coluna definida em pontos, milímetros ou número de linhas.
caracteres por linha número médio de caracteres fixados em tamanho de ponto, dada uma medida específica. encarte página que apresenta uma das dimensões maior que o formato das páginas do miolo do livro refilado, e que é dobrada uma ou mais vezes para ser incluída ao miolo, de modo a não ultrapassar as suas dimensões. autor. No Brasil já há editoras estrangeiras que adquiriram empresas nacionais que estão implementando esse tipo de procedimento em suas linhas editoriais.
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Princípios Básicos O layout O layout está relacionado com a disposição de elementos de texto e imagem em um design. A maneira como esses elementos são posicionados, tanto um em relação ao outro quanto no projeto como um todo, afeta o modo como o conteúdo é recebido pelos leitores, e também sua reação emocional ao design. O layout pode ajudar ou impedir a recepção das informações apresentadas em um projeto. Layouts criativos agregam valor e elegância a uma peça, enquanto layouts contidos e sutis permitem que o conteúdo brilhe sozinho. O layout é o arranjo de elementos de um design em relação ao espaço que eles ocupam e em conformidade com um esquema estético geral. Também podemos chamá-lo de gestão da forma e do espaço. O objetivo principal do layout é apresentar os elementos textuais e visuais de uma forma que o leitor os receba com o mínimo de esforço. Com um bom layout, o leitor pode navegar por informações bastante complexas. O layout aborda os aspectos práticos e estéticos de um projeto – por exemplo, onde e como o conteúdo será visto –, seja o formato final uma revista, um site, uma imagem televisiva ou uma peça para design de embalagens. Não existem regras de ouro para a criação de layouts, a não ser uma:
o conteúdo vem sempre em primeiro lugar. Por exemplo, um guia transmite seu conteúdo de uma maneira muito diferente daquela de um dicionário – portanto, os layouts não são transferíveis per se. Quando pensamos em design do layout, podemos pensar em grid, hierarquia e medidas e relações específicas.utilizadas em um design. Isso implica dizer que o layout é utilizado para controlar ou ordenar a informação, mas, além disso, ele também pode ser usado para dar suporte à criatividade.
Imposição Imposição é o arranjo das páginas na sequência e na posição em que elas aparecerão quando impressas, antes de serem cortadas, dobradas e refiladas. É importante saber como a publicação é fisicamente encadernada antes de começar o layout da página. Essencialmente, um plano de imposição é uma série de miniaturas de todas as páginas de uma publicação. Ele mostra como o livro é organizado e permite ao designer tomar decisões sobre reserva de cor especial, suportes e outros detalhes. É geralmente referido como a paginação de um livro.
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Ao lado Prova de uma publicação com o plano de imposição das páginas. A partir dessa impressão, outros detalhes podem ser melhor visualizados, facilitando as alterações necessárias. Abaixo Imposição (ainda em rascunho) de um pequeno livro infantil.
Trabalhando com páginas O que é uma página? Qual o propósito do layout de página? Uma página é um espaço para apresentar imagem e texto. Para fazer isso de modo eficaz, é preciso considerar o objetivo e o segmento de público de uma obra. Características do formato (como o processo de impressão) e especificações do acabamento (como a encadernação) são considerações essenciais. Por exemplo, a publicação deve abrir completamente? Ela deve ser lida bem de perto? É um livro de referência ou um romance? Tudo isso afeta o layout. Como um layout é guiado por uma série de linhas invisíveis, a maioria dos layouts só se torna perceptível em uma sequência de páginas.
28 A Organização
Ao lado Páginas do encarte do álbum Stolen Apples de Paul Kelly. Com a sequência de imagens é possível identificar o tipo de layout utilizado no livro. Através de apenas uma ou duas páginas, fica difícil perceber o layout proposto para uma publicação.
Princípios Básicos 29
Abaixo Certas projetos gráficos são elaborados utilizando-se um layout bem flexível, que permite diversas aplicações para textos e imagens. Nesses casos, mesmo visualizando várias páginas, o layout usado ainda é dificilmente percebido.
30 A Organização
Seção áurea
posicionamento de blocos de texto e assim por diante devido às suas proporções harmoniosas.
Antes de elaborar um grid, precisamos de uma página para posicioná-lo. No campo das artes gráficas, a seção áurea forma a base para os tamanhos de papel, e seus princípios podem ser utilizados como um meio para criar designs equilibrados. Na antiguidade, a seção áurea era vista como uma maneira de representar proporções universalmente belas. Dividir uma linha pelo coeficiente aproximado de 8:13 significa que a relação entre o maior e o menor segmento é a mesma que entre o maior segmento e a linha toda. Os objetos com essas proporções são agradáveis aos olhos e com frequência são encontrados no mundo natural. Isso ocorre, por exemplo, nos padrões das pétalas de flores, na construção de colméias e na forma de determinadas conchas. Esse valor também é extremamente valorizado na arte. Muitas pessoas acreditam que grids são utilizados para dar medidas extaas ao posicionamento de elementos na página. Embora isso seja verdade, às vezes o uso de grids pode ser uma simples questão de avaliar proporções.
Sequência de Fibonacci Série numérica em que cada número é a soma dos dois números anteriores. A série, inicialmente em zero, pode ser vista ao lado. Os números de Fibonacci são importantes por sua ligação com o coeficiente 8:13 da seção áurea. Eles também são utilizados como medidas para tamanhos de fonte,
Ao lado Para formar uma seção áurea, pegue um quadrado e secione-o ao meio (a); crie um triângulo isósceles (b); extenda um arco do ápice do triângulo até a linha de base (c); desenhe uma linha perpendicular à linha de base do ponto em que o arco a intersecciona e complete o retângulo.
O Grid O grid é a base sobre a qual um design é construído. Ele permite que o designer organize de modo eficiente diversos elementos em uma página. Em essência, é o esqueleto de um trabalho. Grids adicionam ordem e estrutura aos designs, sejam eles simples ou com grande quantidade de informação.
Por que usar grid O grid fornece uma estrutura para todos os elementos de design de uma página, o que facilita e simplifica os processos de criação e de tomada de decisão por parte do designer. Utilizar um grid aumenta a precisão e a consistência da localização dos elementos da página, fornecendo uma estrutura para um alto nível de criatividade. Grids permitem que o designer tome decisões conscientes e use seu tempo de modo eficiente. Eles podem agregar dinamismo a um design – o posicionamento do que parecia um elemento pequeno e irrelevante, como um fólio, por exemplo, pode ter um impacto surpreendente em uma página, pulsando por todo o trabalho impresso. Embora a maioria de nós hoje visualize conteúdos em formato eletrônico ou via Web, os princípios estruturais por trás do design de uma
página impressa ainda se aplicam, uma vez que o modo como lemos uma página e extraímos informações dela permanece o mesmo.
Como lemos uma página Qualquer página tem elementos ativos e passivos devido à sua natureza do conteúdo e à maneira como enxergamos a página – o modo como o olho varre a página para localizar a informação. O designer tem bastante liberdade quando se trata de posicionar diferentes elementos de design dentro de um layout. Entretanto, o modo como o olho humano examina uma imagem ou um corpo de texto faz com que certas áreas da página sejam mais visadas, ou mais ativas, do que outras. Isso significa que, em uma página, existem áreas centrais e periféricas, e os designers podem usar esse conhecimento para direcionar a localização dos principais elementos de design –tornando-os mais ou menos visíveis. Diante de uma nova página de informação, o olho humano habitualmente procura uma entrada no lado superior esquerdo, varrendo a página na diagonal para baixo até o canto inferior direito.
O Grid 33
Ao lado Diagrama ilustrando o percurso do olho humano diante de uma nova página de informação. A profundidade das cores indica onde o foco de atenção é mais forte. Página ao lado A forma como lemos uma página deve ser levado em consideração no momento de organizar os diversos elementos na página, como texto, imagens de exemplo e legendas. Nas páginas da foto, percebe-se que o destaque foi dado às imagens que exemplificam o conteúdo do texto.
Forma e função
Formas em uma página
Embora o designer precise levar em consideração as limitações físicas e as exigências da mídia ou do formato usados, a forma de um design deve ser completamentar a sua função. A forma de um projeto varia de acordo com o público-alvo a que se destina. É essencial enxergar o grid como algo adaptável e flexível e não como algo prescritivo e inviolável. Esse ponto de vista modernista pode ser útil nos estágios iniciais de um design. Em certa medida, a forma do grid será ditada por sua função. A quem ele se destina? Como será usado? Onde será lido? Por meio de uma série de perguntas, o design acaba falando por si mesmo. Por exemplo, um grid que seja apropriado para um livro de culinária terá exigências diferentes e não necessariamente acomodará um relatório anual, um catálogo de vendas ou os classificados de um jornal. Um princípio orientador para um design eficaz é o de que a forma de um trabalho deve seguir a sua função, ou seja, um design deve ser facilmente usado e acessado por um público-alvo.
A composição de um design é construída com tipos e imagens, que, essencialmente, resultam em formas em uma página. O grid tem ligações fortes com determinados movimentos artísticos, como o cubismo, o construtivismo e outros ramos do modernismo, que defendem um uso rígido das estruturas. Texto e imagem podem ser tratados como formas a fim de produzir um design coerente e eficaz. Assim como os pintores, os designers podem atrair a atenção do observador compondo elementos em uma tela. As diferentes formas capturam o olhar o olhar e estabelecem uma série de relações, que complementam a mensagem do design ou da pintura. Nas páginas a seguir, veremos um resumo de algumas das composições de design mais comuns. Os objetos podem dominar a página ou ser apenas uma inserção tímida em um canto; podem estabelecer relações entre si ou ser claramente diferentes do restante.
34 A Organização
Agrupamento Os elementos são agrupados para formar em unidades ou blocos de informações relacionadas. Alinhar as bordas dos diferentes elementos de design ajuda a estabelecer conexões entre eles. O método de agrupamento funciona pela separação dos blocos em zonas distintas na página, na página dupla ou mesmo na publicação.
Perímetro Os elementos são agrupados com imagens sangradas, o que mostra um uso surpreendente do perímetro. O perímetro é frequentemente evitado no design para que se mantenha um quadro ou passe partout limpos; entretanto, ele pode ser usado criativa e eficazmente para agregar dinamismo e movimento ao trabalho.
O Grid 35
Horizontal Os elementos da página têm uma ênfase horizontal que atrai o olhar do observador por toda a página. Essa técnica será abordada mais adiante.
Vertical Os elementos da página têm uma ênfase vertical que conduz o olhar do observador para cima e para baixo na página. Essa técnica será discutida mais adiante.
36 A Organização
Deitado O texto é apresentado de modo que a leitura seja feita na vertical em vez de na horizontal, forçando o observador a ajustar sua seleção física com a página. Esse método normalmente é usado para apresentar material tabular que é muito longo para uma página padrão.
Perímetro O texto angular também força o observador a mudar sua relação com a página. Embora tipo e imagens possam ser colocados em qualquer ângulo, o ideal é usar uma configuração uniforme em função da consistência, como o ângulo de 45 graus usado no exemplo ao lado.
O Grid 37
Orientado pelo eixo Os elementos da página são conscientemente alinhados a um eixo, como o vertical centralizado mostrado aqui. O alinhamento pode ser em qualquer direção. Essa técnica será discutida mais à frente.
Passe partout Técnica comum de apresentar fotografias, em que a imagem domina o espaço na página e é marcada por uma borda.
Tipos de Grid São vários os tipos de grid que o designer pode escolher para criar um projeto. O grid é o elemento estrutural comum por trás de todo o trabalho que agrega uma noção de ordem, consistência e eficiência ao processo de design. Os grids servem a diferentes objetivos; alguns são mais adequados para imagens ou uma variedade de informações complexas, enquanto outros se adaptam melhor a corpos de texto grandes.
Simétrico Um grid simétrico usado em páginas duplas de uma publicação tem as páginas reto e verso espelhadas. Um grid equilibrado pode se tornar limitado e repetitivo quando usado em páginas secessivas. Porém, esse grid um tanto formal e funcional pode ser adaptado e melhorado por meio do acréscimo de outros elementos da página – fólios, títulos, rodapés. A figura ao lado mostra blocos de texto com duas colunas em cada página. Cada bloco de texto de página verso é posicionado de modo a espelhar o bloco da página reto. Eles dividem o mesmo tamanho de margem interna e externa para criar equilíbrio e harmonia, o que resulta em uma aparência atraente e coerente.
Acima Exemplo de gris simétrico seguindo o modelo da imagem apresentada nesta mesma página.
Tipos de Grid 41
Assimétrico Um grid assimétrico apresenta uma página dupla em que as duas páginas usam o mesmo layout, normalmente com um deslocamento ou para o lado esquerdo ou para o lado direito da página. Com os grids assimétricos, é possível dar um tratamento criativo a certos elementos, mantendo, ao mesmo tempo, a consistência e o ritmo geral do design. A figura ao lado tem um deslocamento para o lado direito que estimula o leitor a virar a página.
42 A Organização
Módulos Módulos são caixas ou unidades discretas dentro de um sistema de grid usadas para conter e agrupar determinados elementos de texto e imagem. O emprego de módulos transforma o grid em uma série de blocos ou compartimentos que podem ser usados para incutir uma ideia de movimento no design. Ao se combinar módulos, áreas
de uma página podem ser bloqueadas para criar movimento vertical ou horizontal. Os módulos também podem ser utilizados para produzir um design estático. Não há limite para a quantidade de módulos em um grid, tanto no plano horizontal quanto no vertical, como ilustrado abaixo pelos quadrados e retângulos.
Grid de módulo simétrico Este grid apresenta uma estrutura espelhada nas páginas verso e reto, embora os conjuntos de módulos não sejam agrupados simetricamente, e oferece um equilíbrio otimizado entre as páginas. Como as margens externas do grid são uniformes, elas agregam certa tranquilidade ao layout, chamando a atenção para o centro, em direção à margem central.
Grid de módulo assimétrico As páginas verso e reto neste grid não são espelhadas. Essa abordagem ativa e levemente desequilibrada agrega movimento ao layout devido ao viés que introduz. Há uma mudança no foco, porque as margens externas são diferentes. Nesta figura, a margem da direita é mais estreita, o que estimula o leitor a virar a página.
Tipos de Grid 43
Grids compostos As ideias e os conceitos por trás dos grids simétrico, assimétrico e de módulos podem ser combinados com a utilização de um grid composto. Este tipo de grid utiliza e reúne elementos do grid para criar um modelo prático e versátil que oferece ao designer um alto grau de flexibilidade, mantendo, ao mesmo tempo, a capacidade de produzir designs consistentes.
Acima Exemplo de grid organizado em módulos. Nesse exemplo, o título da matéria é distribuído como imagens intercaladas com os blocos de texto.
44 A Organização
Trabalhando sem grid O grid oferece uma estrutura e condiciona o modo como o design deve ser disposto. Às vezes, o uso de um grid não é apropriado, devido à natureza do material a ser apresentado ou ao efeito visual que designer quer produzir. Abandonar o grid dá maior liberdade e criatividade, embora o
Ao lado Livro de tributo à David Ogilvy com seus trabalhos mais relevantes. Este livro e a imagem da página ao lado mostram como um grid pode ser distorcido, ou até mesmo abandonado, para que certos elementos ou uma ideia proposta na obra possa ser valorizada e receber o destaque apropriado. Livros com ilustrações, principalmente os infantis, são os maiores exemplos de publicações onde o grid não é utilizado de forma rígida e comum.
designer ainda precise de certo controle para evitar que o projeto perca sua funcionalidade. Mesmo trabalhando sem um grid, o designer ainda pode se guiar pelos princípios básicos ou pela temática do trabalho para apoiar suas decisões. Assim, a estrutura permanece, mas não será ditada pelo grid.
Elementos do Grid Os grids são criados para conter os vários elementos que compõem o design, como texto e imagens, com uma variedade de diferentes estruturas que incluem colunas e grids de linhas de base. Grids precisam conter, organizar e apresentar inúmeras informações e devem ser suficientemente flexíveis para lidar com os diferentes parâmetros que elas agregam, a fim de que possam ser produzidos designs atraentes e eficazes. Um dos mais importantes elementos do grid é a coluna. É possível manipular o número e a largura das colunas usadas para apresentar o texto e produzir designs capazes de mostrar as mais diversas informações da maneira mais conveniente para o leitor. Na prática, dentro de um só trabalho, o designer geralmente usa uma seleção de diferentes formatos de colunas para criar uma variação visual tentando, ao mesmo tempo, satisfazer as exigências dos diferentes níveis de informação.
Tipo No geral, o tipo é o principal elemento que um grid deve conter, moldar e estruturar. O tipo é muito mais do que a seleção da fonte, uma vez que o modo como é tratado e manipulado dentro do
grid afeta substancialmente a aparência geral do design. O texto precisa ser legível e deve transmitir a mensagem que contém de modo eficaz. A maioria dos elementos do grid existe para ajudar a posicionar o texto, mas eles também podem ser usados para posicionar caixas de imagem. Essa é uma das principais razões por que grids são capazes de acomodar uma grande quantidade de complexidade. Cor tipográfica A variedade de fontes e pesos de tipos disponíveis oferece uma paleta de tonalidades de cor, quando usadas criativamente, podem aprimorar e influenciar o visual de uma página e de um design. Em essência, algumas fontes são “mais escuras” que outras, pois são feitas com linha mais largas ou contém serifas mais largas que adicionam cor às fontes. A variedade de fontes e pesos de tipos disponíveis oferece uma paleta de tonalidades de cor, quando usadas criativamente, podem aprimorar e influenciar o visual de uma página e de um design. Em essência, algumas fontes são “mais escuras” que outras, pois são feitas com linha mais largas ou contém serifas mais largas que adicionam cor às fontes tipográficas.
Elementos do Grid 49
Tipografia “clara” (acima) A figura acima mostra como o tipo adiciona “cor” à página. Este texto está configurado em Myriad Pro Light, uma fonte clara em cor que contrasta com a coloração muito mais escuro da versão regular.
Tipografia “escura” (acima) A figura acima mostra como o tipo pode escurecer a página. O maior peso da Myriad Pro regular cria uma impressão muito mais escura do que a a Myriad Pro light, usada à esquerda.
Mudando o tipo (ao lado) Mudar o tipo usado em um design também pode afetar a coloração da página. Veja como a cor percebida fica mais clara quando o texto muda de Bodoni (esquerda) para Latin Modern Roman (direita).
“O tipo é muito mais do que a seleção da fonte, uma vez que o modo como é tratado e manipulado dentro do grid afeta substancialmente a aparência geral do design.” Paul Harris
52 A Organização
Imagens O grid é usado para conter, melhorar e guiar o posicionamento das imagens. As imagens e sua disposição no layout têm grande impacto sobre o design geral de uma publicação. O grid é, essencialmente, um mecanismo para controlar o conteúdo dinâmico de uma imagem, seja por meio da apresentação sóbria, uniformizadora de um passe partout, seja pela utilização do efeito sangrado.
A imagem alinha-se à linha de base e, portanto, fica posicionada mais ao alto do que o texto. OPrimeiro exemplo: tipo e imagem alinham-se à linha de base Um grid de linhas de base, como o de 12 pt mostrado aqui, oferece intervalos regulares que podem ser usados para alinhar imagens. Entretanto, se o tipo senta sobre a linha de base e não preenche todo o espaço entrelinhas, uma imagem alinhada ao grid não ficará alinhada ao texto.
Com linha enforcada, a caixa fica alinhada à altura da capitular do tipo. OPrimeiro exemplo: tipo e imagem alinham-se à linha de base Um grid de linhas de base, oferece intervalos regulares que podem ser usados para alinhar imagens. Entretanto, se o tipo senta sobre a linha de base e não preenche todo o espaço entrelinhas, uma imagem alinhada ao grid não ficará alinhada ao texto.
Alinhamento imagem e texto Alinhar texto e imagens pode parecer algo simples e objetivo, mas de fato oferece algumas dificuldades específicas. Alinhar texto e imagens verticalmente em uma coluna é relativamente simples, pois tanto o bloco de texto quato a imagem preenchem a mesma largura. O alinhamento vertical entre eles torna-se mais difícil em situações como as mostradas na figura abaixo.
Elementos do Grid 53
Contorno O designer pode usar o contorno ou a quebra de linha automática para que blocos de texto e imagem sejam mantidos separados. Isso faz com que o texto corra apenas em volta da imagem, parando a uma certa distância dela, especificada pelo designer. O contorno é configurado como um valor comum, normalmente em pontos, a todos os lados da caixa de imagem. Outra alternativa é os lados receberem diferentes valores, forçando a imagem a ter mais espaço de um lado do que de outros.
Abaixo No exemplo abaixo é possível ver a ideia de contorno aplicada com imagens de diferentes formatos. Dependendo da quantidade de texto e da forma como se pretende mostrá-lo, pode-se trabalhar o contorno de imagens de diferentes maneiras.
54 A Organização
Alinhamento horizontal O texto pode ser alinhado horizontalmente à esquerda e à direita, irregular (como o texto deste livro), justificado ou centralizado, oferecendo uma variedade de métodos de apresentação. As seções de texto irregulares têm o fim das linhas desalinhado e não têm justificação ou que-
bra de palavras, o que geralmente cria uma forma que se torna uma característica visual marcante. Diversificando o tratamento dos diferentes tipos de informação, como corpo de texto e título, o designer pode usar esses vários alinhamentos para estabelecer hierarquia.
Elementos do Grid 55
Alinhado à esquerda/ irregular à direita Este tipo de alinhamento oferece pontos de entrada fáceis de encontrar e espacejamento entre palavras uniforme. Entretanto, pode formar lacunas feias ao final das linhas. Aplica-se a todos os elementos textuais, particulamente o corpo de texto.
O uso de diferentes alinhamentos horizontais pode criar novos problemas de espacejamento, como caminhos de rato e lacunas. Entretanto, kerning e espacejamento entre palavras e letras podem ser usados para melhorar a aparência do bloco de texto.
Ao lado O título do livro da imagem ao lado está alinhado de forma justificada. O uso de letras de tamanhos diferentes evita qualquer problema de espacejamento.
Alinhado à direita/ irregular à esquerda Este estilo tem um espacejamento entre palavras uniforme, mas o ponto de entrada muda a casa linha, podendo deixar lacunas feias no início das linhas. Aplicase a textos curtos, como subtítulos e legendas.
Centralizado O alinhamento centralizado tem espacejamento entre palavras uniforme, mas o ponto de entrada muda a cada linha. Também pode formar lacunas feias no início e ao final das linhas. Aplica-se a pequenos blocos de texto, como chamadas e títulos.
Justificado
F
o
r
ç
a
d
o
O texto justificado oferece pontos de entrada fáceis de encontrar e espacejamento entre palavras variável, o que pode formar lacunas no meio do bloco de texto (os chamados “caminhos de rato”). Esse alinhamento se aplica ao corpo de texto.
Este tipo de alinhamento tem pontos de entrada fáceis de encontrar e espacejamento entre palavras variável, o que pode formar lacunas ou caminhos de rato. A justificação de uma só palavra ou de linhas curtas pode ser apropriada para títulos, mas não para a última linha de um parágrafo.
56 A Organização
Alinhamento vertical Alinhar itens verticalmente em caixas de texto oferece maneiras novas e alternativas de posicionar e apresentar o texto. O texto pode ser alinhado ao topo, à base ou ao centro da caixa de texto. Normalmente, vemos
o texto alinhado à esquerda no plano horizontal e ao topo no plano vertical. Há momentos, porém, em que outras combinações são usadas para criar formas fortes na página.
Acima Exemplo de alinhamento ao topo aplicado em uma capa de livro de design de embalagens. Ao lado Na capa do livro Design de Embalagem, é possível observar diferentes tipos de alinhamento usados simultaneamente no projeto gráfico. Se o grid for bem planejado, é possível utilizar esses elementos sem afetar a organização visual desejada.
Elementos do Grid 57
Alinhado ao topo Esta é a forma mais comum de alinhamento de texto e oferece um ponto de entrada lógico e fácil de ser encontrado.
Centralizado Alinhado à base Este alinhamento coloca o texto no ponto de saída da página. Por ser alinhado à direita, a leitura de uma linha para a outra é mais difícil, razão pela qual é mais usado para títulos secundários e legendas.
Justificado
Estes exemplos mostram como o texto pode ser apresentado por meio da utilização de diferentes tipos de alinhamento vertical. Eles podem ser combinados com alinhamentos horizontais para criar uma série de diferentes possibilidades de apresentação. Entretanto, é importante garantir que a leitura do texto permaneça fácil.
O texto justificado é espelhado para preencher verticalmente a caixa de texto. Pode ser configurado com qualquer alinhamento e é normalmente utilizado para fazer com que o texto alcance mesma altura de uma imagem em grid. O texto justificado é espelhado para preencher verticalmente a caixa de texto.
O alinhamento central vertical combinado com o centralizado horizontal cria uma forma simétrica agradável que pode ser usada para inserções de textos pequenos, como chamadas e títulos.
Vertical e horizontal Tipo justificado vertical e horizontalmente preenche toda a caixa de texto. Pode ser usado para garantir uma cobertura uniforme dos espaços, mas pode resultar em lacunas e caminhos de rato. Pode ser usado para garantir uma cobertura uniforme dos espaços, mas pode resultar em lacunas e caminhos de rato.
Elementos do Grid 59
Colunas Coluna é uma estrutura vertical em um grid que contém e dá forma aos elementos textuais dentro de um design. A página pode ter uma ou várias colunas, e elas podem ter qualquer largura. O número de colunas e suas respectivas larguras normalmente dependem da quantidade de elementos textuais a serem apresentados. É possível também ajustar o tamanho das margens entre colunas de texto, o que pode influir na legibilidade do conteúdo. Colunas
podem ser usadas de várias maneiras e em graus de complexidade diversos, como nos exemplos a seguir.
Abaixo Exemplos de layouts que utilizam as colunas como elementos principais do grid.
O papel Os livros devem a sua forma à qualidade do papel. O papel compõe a forma física do bloco do livro, a superfície impressa e as páginas, portanto, é importante que o designer conheça as suas propriedades físicas e os diferentes tipos disponíveis no mercado onde atua. Vamos examinar brevemente as propriedades físicas do papel, o sentido da fibra, a gramatura, os formatos padronizados e a escolha do suporte apropriado para o resultado desejado. O papel tem sete características-chave: o formato, a gramatura, o corpo, o sentido da fibra, a opacidade, o acabamento e a cor. Todas devem ser consideradas, junto com o custo e a disponibilidade, no processo de decisão sobre o papel adequado a ser usado no processo industrial do livro. Outras propriedades que o designer deve conhecer são a absorção, o pH e o conteúdo de fibras recicladas.
Formato Quando o papel feito à mão foi produzido pela primeira vez, não existia um padrão de formato de folha . Depois cada fabricante o produzia em quantidades e formatos variáveis. Com o advento da impressão mecanizada, no século XIX, tornou-se necessário padronizar os formatos
do papel de modo a conformar-se aos formatos das impressoras. Na América do Norte e por todo o Império Britânico, a polegada imperial foi adotada para especificar os formatos de papel, enquanto na Europa Continental o sistema métrico tornou-se o padrão de medida de comprimento, especificado nas normas DIN (Deutsches Institut fiir Normung) ou lSO (lnternational Organization for Standardization). Hoje, os formatos ISO são predominantemente usados na Europa; a Inglaterra tem economia mista e o papel é produzido no formato imperial tradicional e no sistema métrico A, enquanto nos Estados Unidos a maioria dos papéis para livros e artigos de papelaria tem os formatos especificados em polegadas, os formatos A existem, mas são menos populares. Formato ISO de papel A série A é baseada numa folha A0, que tem área de 1m². Todas as folhas da série A são múltiplos e submúltiplos do formato A0, sempre dividindo-o ao meio; por exemplo: A1 é a metade de A0, A2 é a metade de A1 e assim por diante. A terminação R ou SR é acrescentada ao formato A para indicar margens ligeiramente maiores, a fim de acomodar os sangrados. As folhas RA e SRA possuem uma margem para a pinça e as cruzes de registro, resultando em uma folha de formato A após o
O Papel 63
refile. O formato B foi concebido para estar entre os formatos A, mantendo a mesma proporção e o princípio de que cada formato seguinte corresponde à metade do formato anterior. O
Preto: papéis da série A em escala de 1 : 10 A0 841 x 1189mm A1 594 x 84lmm A2 420 x 594mm A3 297 x 420mm A4 210 x 297mm A5 148 x 210mm A6 105 x 148mm A7 74 x 105mm A8 52 x 74mm Laranja: papéis da série B em escala de 1 : 10 B0 1000 x 1414mm B1 707 x 1000mm B2 500 x 707mm B3 353 x 500mm B4 250 x 353mm B5 176 x 250mm B6 125 x 176mm B7 88 x 125mm Azul: papéis da série C em escala de 1 : 10 C0 917 x 1297mm C1 648 x 917mm C2 458 x 648mm C3 324 x 458mm C4 229 X 324mm C5 162 X 229mm C6 144 X 162mm C7 81 X 114mm
formato C foi concebido primeiramente para impressos padronizados e compartilha os formatos comuns com A e B.
64 O Acabamento
Gramatura do papel O peso do papel é medido de duas maneiras. Na América do Norte, o papel é medido e especificado em libras por resma (500 folhas) e por formato de folha . Isso é frequentemente chamado de peso básico ou peso da resma. Quando se usa o sistema norte-americano para comparar o peso do papel, o formato da folha deve ser o mesmo; se este não for o caso, o designer deve usar uma tabela de conversão do fabricante. No Brasil, o peso do papel é expresso em gramas por metro quadrado (g/m²) . O sistema métrico considera urna folha medindo um metro quadrado (A0) . É mais fácil comparar o peso do papel em gramas, a despeito do formato da folha , visto que todos os papéis são medidos na mesma escala, por exemplo, 50 g/m² será sempre um papel muito leve, enquanto 240 g/m² será muito mais pesado independentemente do formato da folha. Não se deve confundir o peso da folha com o peso do pacote ou resma a ser adquirido. Lembrando que o termo resma refere-se a um volume de 500 folhas de um determinado papel em um determinado formato. Os pacotes no Brasil têm quantidade de folhas que variam em função da gramatura específica, ou seja, um pacote de papel ofsete de 90 g/m² contém 250 folhas, enquanto um pacote de cartão de 250 g/m² contém 125 folhas.
Corpo O peso e o corpo estão relacionados para um mesmo tipo e um mesmo fabricante, mas é errado afirmar que um papel mais pesado é por natureza
mais encorpado, pois a densidade do papel varia. O papel mata-borrão não é muito denso devido ao fato de as fibras serem pouco unidas, mas é encorpado, enquanto o cartão prensado é muito denso e pesado, embora fino. O corpo do papel é chamado de “espessura” e é medido em milésimos de polegada ou milímetro. O instrumento usado para medir o corpo é o micrômetro. Quatro folhas de papel são medidas e a soma dividida por quatro, para estabelecer a espessura do suporte, por exemplo, 12 ou 15 pontos. À medida que a espessura do papel varia, a altura da pilha também varia. Para o designer de livro, portanto, é importante conhecer o corpo do papel, uma vez que ele determina a espessura da lombada. Por essa razão, o corpo do papel não é somente especificado em pontos, mas também pelo número de páginas por polegada, ou PPI. Os papéis com elevado PPI são finos, enquanto aqueles com baixo PPI são relativamente espessos. Na Europa, esse cálculo pode ser dado em páginas por centímetro, ou PPC. Se o miolo do livro contiver dois tipos de papel, o designer deve estabelecer o número de cadernos e de páginas com cada um deles, dividir o respectivo PPI pelo número de páginas e somar as duas espessuras, para estabelecer a espessura da lombada. Diversos editores solicitam a confecção de um boneco encadernado no formato correto simulando a produção real, com o mesmo papel a ser usado na edição. Isso é muito útil para o designer e para o editor, pois proporciona a ambos uma visão da publicação e permite conferir a espessura da lombada além de outros detalhes de miolo e capa.
66 O Acabamento
Sentido da fibra O sentido da fibra é determinado pela direção na qual as fibras assentam na folha durante o processo de fabricação. Os papéis produzidos em máquinas têm sentido de fibra; os feitos à mão não. O papel é normalmente entregue ao comércio em folhas retangulares; se as fibras estiverem alinhadas com o lado maior da folha, o papel é chamado de fibra longa; se as fibras estiverem perpendiculares, o papel é chamado de fibra curta. O papel rasga mais reto e fácil paralelo às fibras, mas irregularmente contra as fibras. A dobra é mais fácil e uniforme a favor da fibra. Não se deve fazer confusão entre o sentido da fibra do papel e o comprimento da fibra. A fibra de comprimento longo se obtém com a celulose retirada do pínus, enquanto a fibra de comprimento curto é produzida a partir da celulose retirada do eucalipto. Os livros devem ter o sentido de fibra paralelo à lombada, isso facilita o manuseio das páginas e assegura que o caderno não fique mais espesso na área da dobra.
sualizem as imagens e os textos que estão impressos no verso. A transparência pode ser usada com criatividade como elemento de composição para formar camadas, mas a imagem do texto na página do verso pode prejudicar a legibilidade e a estética do projeto. Um simples medidor de opacidade, mostrado à direita, pode ser usado para julgar a transparência relativa de diferentes suportes.
Acima Fibra curta perpendicular à pinça da folha.
Opacidade A opacidade é a medida da quantidade de luz que passa através da folha de papel. Isso é determinado pela espessura, pela densidade das fibras e pelo tipo de acabamento superficial do papel. Os papéis mais finos, abaixo de 150 g/m², não são completamente opacos. A opacidade do papel é importante para o designer de livro, pois determina o grau de transparência das páginas. Os papéis altamente opacos minimizam a transparência, enquanto os de baixa opacidade permitem que se vi-
Acima Fibra longa paralela à pinça da folha.
O Papel 67
Acabamento superficial
Acima Medidor de opacidade: sobrepondo diferentes folhas de papel sobre o medidor de opacidade o designer pode julgar visualmente a transparência relativa entre eles.
O acabamento superficial da folha de papel determina sua capacidade de ancorar a tinta e sua adequação a diferentes tipos de impressão. Devido ao processo de fabricação, cada tipo de papel tem as suas características, por exemplo, o acabamento de um papel telado (produzido sobre uma tela de tecido) é uniforme, enquanto um papel vergê (produzido sobre uma tela estriada) tem um padrão reconhecível de linhas paralelas ou perpendiculares à pinça da folha . O processo de calandragem alisa a superfície do papel; quanto maior for o número de cilindros da calandra que o papel tiver contato, maior será a lisura de sua superfície. Os papéis podem ter diferentes tipos de acabamento aplicados em cada lado da folha; por exemplo: o papel couchê L1, é revestido apenas em um dos lados, o que receberá a impressão, enquanto o verso não é revestido, para facilitar a colagem de pôsteres ou o processo de montagem de capa dura caso o material impresso se destine ao revestimento da capa. Acabamentos especiais, gofrado ou perolado, podem ser aplicados com rolos texturizados durante o processo de calandragem. Os fabricantes podem produzir um único tipo de papel de uma determinada gramatura, corpo e opacidade e dar acabamentos diferenciados por lotes, permitindo ao designer usar o mesmo papel com acabamentos diferentes dentro do mesmo livro.
Superfície O acabamento superficial do papel também
68 O Acabamento
afeta a quantidade de transparência quando ele é impresso, embora, infelizmente, isso não possa ser avaliado com o medidor de opacidade. Os papéis não revestidos são mais porosos e desse modo as tintas de impressão são mais absorvidas pela superfície, tornando-se mais visíveis no verso. A opacidade inicial do papel, avaliada com o medidor de opacidade, será inevitavelmente comprometida. Quanto mais poroso o papel maior a tendência ao atravessamento. Muitos fabricantes de papel têm mostruário com reproduções em quadricromia e textos em preto que permitem ao designer julgar a transparência ou a opacidade na impressão, bem como a qualidade relativa do ponto de retícula em diferentes suportes.
Cor A cor é geralmente adicionada ao papel no estágio de preparação da massa. Os papéis produzidos a partir de fibras recicladas não podem ser coloridos nesse estágio, pois as fibras provêm de diferentes tipos de papel. Já a brancura do papel tem um largo espectro. Essas diferenças sutis na brancura do papel têm um efeito importante no resultado da reprodução das cores. Os brancos variam: creme com tendência ao amarelo; pergaminho com tendência ao marrom e ártico tendendo para o azul. É importante considerar cuidadosamente como as cores de texto e imagem irão reproduzir em um suporte particular. Um livro sobre jardinagem com cores altamente saturadas, com ilustrações predominantemente verdes, pode parecer muito limpo sobre uma superfície fria, dura e com acabamento branco moderno.
Seleção de suporte adequado Nem sempre é possível para o designer selecionar um papel para um livro específico, uma vez que os livros em série são geralmente produzidos no mesmo papel, para manter o conjunto e permitir ao editor trabalhar com um custo fixo . Entretanto, quando puder, o designer deve considerar cuidadosamente as sete características do papel em relação a sua percepção física, o assunto e a leitura do livro, bem como os processos de impressão e de acabamento. O editor e o departamento de produção terão um agudo interesse no preço do papel e podem sugerir alternativas competitivas de um fabricante conhecido que produza um papel igualmente bom. Os fabricantes estão constantemente inovando para produzir suportes mais lisos, mais brancos, mais finos e com novos acabamentos. Portanto, é importante que o designer esteja sempre atualizado. Fazer o próprio mostruário de papéis e cartões pode ajudar muito, assim como sempre saber o que está disponível no mercado. Uma visita rotineira às livrarias também ajuda a aumentar o conhecimento das possibilidades nessa área.
Ao lado Mostruários de papel e cartão são úteis quando o designer tem a oportunidade de escolher o suporte. Revendo as características do papel – formato, gramatura, corpo, sentido da fibra, opacidade, acabamento e cor – em relação ao conteúdo, assunto, leitura e aos processos de impressão e acabamento, o designer irá em direção à seleção apropriada.
O Papel 69
Outros acabamentos Refile Chama-se refile aos cortes no papel necessários para a finalização do impresso. Ele pode ser realizado em diversas etapas da produção. Nos processos eletrográficos, muitas vezes não há refile algum, pois é comum que a impressão ocorra com o papel já cortado no formato final. Por ser uma etapa básica e invariavelmente necessária, o refile sequer é mencionado no item “acabamento” dos pedidos de orçamento. Ele pode ter quatro funções, de acordo com a etapa na qual ocorre. Logo após a saída da impressora, é utilizado para:
eliminar as margens e marcas de impressão reproduzidas na folha de entrada em máquina. em lâminas soltas, para separar as diversas unidades impressas (corte linear). em impressos paginados para abrir os cadernos após eles serem formados pela dobradura da folha de entrada. definir o formato definitivo do impresso, já na etapa final do acabamento. No caso de impressos paginados, é aplicado o refile trilateral: as páginas dos diversos exemplares são refiladas simultaneamente nos seus três lados, igualando toda a tiragem.
Outros Acabamentos 73
Dobradura Na determinação do número de dobras, é preciso levar em conta a gramatura do papel utilizado. Em caso de dobras complexas ou pouco usuais, procure saber o esquema de dobradura do equipamento usado pela gráfica: talvez seja necessário recorrer ao processo manual. As dobras mais comuns são as paralelas (nas quais todas as abas estão viradas para o mesmo lado), as sanfonadas (nas quais as abas se viram para lados diferentes, alternadamente) e as cruzadas (nas quais uma dobra se sobrepõe a outra, ortogonalmente).
Vincagem O vinco é um sulco aplicado ao papel para facilitar seu manuseio ou a realização de dobras. No primeiro caso, ele é utilizado em capas de brochuras com lombada quadrada, localizado próximo à lombada, permitindo a abertura da capa sem forçar o papel. No segundo, é usado em papéis de maior gramatura, principalmente quando a localização da dobra é transversal à direção das fibras. O vinco é produzido num equipamento próprio, com uso de uma lâmina arredondada de aço que pressiona o papel.
Ao lado Exemplos de dobras frequentemente usadas em publicações. 1(dobra simples); 2,7 e 8 (dobras sanfonada); 3,5 e 6 (dobras paralelas); 4 (dobras cruzadas).
74 O Acabamento
Cortes (com uso de faca)
Encadernação
Embora o refile seja um corte, este termo é utilizado para aqueles que necessitam de lâminas específicas. Ou seja: para aqueles que, diferentemente do refile, não podem ser produzidos nas guilhotinas comuns. É um recurso muito adotado na confecção de embalagens, que necessitam de cortes limitados para a geração de abas. É também um recurso expressivo para a valorização de layouts, inclusive com a inclusão de formas vazadas no papel. Trata-se de um acabamento caro, pois é necessária a fabricação de uma lâmina de aço com o formato desejado, que é fixada sobre um suporte de madeira: a faca de corte. A lâmina atua por pressão sobre o conjunto de impressos, realizando o corte desejado simultaneamente sobre várias unidades.
Em geral, é a última etapa do acabamento de impressos paginados. Embora a rigor o termo encadernação seja usado apenas no caso de volumes com capa dura, ele hoje é aplicado a qualquer operação que resulte na união das páginas de uma publicação. Assim considerada, a encadernação pode ser classificada em cinco tipos: Canoa (ou dobra-e-grampo, ou encadernação a cavalo) É a forma mais simples, rápida e barata para a confecção de brochuras: os cadernos são encaixados uns dentro dos outros, sendo reunidos por grampos na dobra dos formatos abertos. O número total de páginas tem de ser múltiplo de quatro. Comum em revistas semanais e de baixo custo.
Outros Acabamentos 75
Lombada quadrada (ou brochura sem costura) Utilizando adesivo térmico (hot melt), dá uma aparência um pouco mais sofisticada, por criar uma lombada. O processo é em geral aplicado em equipamentos com uma fresa que faz pequenas incisões no dorso da publicação, nas quais penetra a cola derretida. Na lombada quadrada, são eliminados as dobras do formato aberto, ficando as folhas soltas (por isso, basta que o número total de páginas seja par). Quando o papel utilizado no miolo é mais encorpado, é comum a aplicação de vinco na capa, em torno de 5mm de distância da lombada. É muito utilizada em revistas mensais, sendo adequada para volumes entre 40 e 200 páginas e que não se destinem a grande manuseio, pois o adesivo pode se romper, “quebrando” a publicação em duas ou mais partes.
Com costura e cola As folhas de cada caderno são unidas por costura na dobra do formato aberto e só então os cadernos são reunidos, lado a lado, com o uso da cola. Mais resistente e de custo maior, a técnica é adequada para impressos com mais de 200 páginas (total sendo múltiplo de quatro) que exijam apresentação mais nobre ou destinados a grande manuseio (como livros didáticos).
76 O Acabamento
Capa flexível (capa integral) Versão intermediária entre a capa dura e a brochura, sendo mais barata do que a primeira e mais resistente do que a segunda. Utilizando recursos da capa dura – como debruns e folhas de guarda –, sua diferença mais evidente é que não inclui a base de papelão, sendo portanto bem menos rígida. Em geral, é impressa com papel mais encorpado (em torno de 250g/m²), podendo receber revestimentos como vernizes e laminações. Adequada para publicações de grande manuseio e/ou que exijam diferenciação a custo bem mais baixo do que capa dura. Pode ser utilizada como qualquer tipo de encadernação, inclusive canoa. É pouco comum no Brasil.
Impressões Adicionais Certos recursos utilizados como elementos adicionais de acabamento são, em realidade, processos de impressão. Seja porque têm um custo muito alto ou porque seu efeito é demasiado marcante, eles acabam por ser utilizados apenas em determinados elementos do layout, conferindo-lhes destaque no conjunto. Alguns desses processos convertidos em elementos de acabamento são: Gravação a quente (Hot Stamping) Processo relevográfico, só possível em maquinário próprio, que consegue obter efeito semelhante ao de uma impressão em metal (ouro, prata e outras tonalidades), tanto com relação à coloração quanto ao brilho e à textura. Sua aplicação tente a conferir um aspecto nobre. O hot stamping tem como matriz (apenas traço) um clichê em metal ou em fotopolímero, que é pressionado contra o suporte em alta temperatura. A tinta utilizada – em forma de fitas ou folhas de celofane – se liquefaz com o calor, aderindo por pressão ao papel ou outro suporte, como o couro. Não é recomendável o uso de elementos visuais detalhados ou letras serifadas em corpos inferiores a nome pontos, devido à baixa definição obtida.
Ao lado Aplicação de hot stamping (imagem desta página); exemplo de aplicação de relevo americano em título de livro (imagem da página ao lado).
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Timbragem Processo encavográfico com matriz de chapa de aço que recebe tinta apropriada e é fortemente pressionada contra o papel, gerando uma impressão em relevo. Há impressoras automáticas para esse processo, muito raras no parque gráfico brasileiro – no qual o mais comum é a aplicação manual, com o uso de prensas simples. Uma opção ao seu uso é o chamado relevo americano. A mesma denominação também é utilizado como referência ao relevo seco.
Relevo americano (termografia, relevo tipográfico) Em realidade, não se trata de um relevo, mas de uma impressão tipográfica cujo resultado produz uma textura espessa, com efeito tátil. Esse resultado é obtido imediatamente após a impressão comum, pela adição de pó resinoso à tinta ainda úmida. Em seguida, o impresso é submetido a efeito térmico, em estufa, resultando na dilatação de resina misturada à tinta. Seu custo não é baixo.
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Revestimentos Plastificação Seu principal objetivo é o aumento da durabilidade do impresso – daí seu uso em capas. A plastificação consiste na aplicação, mediante calor e pressão, de um filme, em geral de polietileno, sobre o papel já impresso. O papel deve ter entre 75g/m² e 500g/ m² - mas, para diminuir os riscos de enrugamento, recomenda-se que não seja abaixo de 120g/m². A plastificação não é recomendável no caso do uso de tintas metálicas na impressão e de papéis ásperos com grandes áreas chapadas. Há diversas espessuras disponíveis para o filme utilizado. Laminação Recurso com objetivos e efeito semelhante ao da plastificação, porém com maior aderência e maior diversidade de insumos para o revestimento. A laminação fosca tem sido largamente utilizada a partir dos últimos anos do século 20, por propiciar um acabamento discreto, resistente, elegante e de baixo custo. No entanto, ela tende a diminuir a vivacidade das cores e a prejudicar a definição de elementos pequenos e detalhados (como letras abaixo de corpo 8). Há diversas qualidades de laminados, que podem diminuir ou aumentar esses efeitos e, também, influir na lisura do resultado final.
Vernizes A aplicação de verniz pode ter como objetivo efeitos gráficos (criação ou destaque de elementos do layout), valorização do impresso
(proporcionada pelo brilho, a lisura e o avivamento das cores) ou maior resistência ao calor, à abrasão, etc. Verniz de máquina (verniz offset) É o mais barato e consiste numa impressão adicional realizada com matriz semelhante à usada na impressão de tintas. É um recurso barato, simples e rápido, mas tende ao amarelamento e tem baixa resistência à abrasão. Verniz de alto brilho É utilizado principalmente como revestimento para capas, cartazes e folhetos de luxo. Seu uso é cada vez mais raro, já que a plastificação atende à mesma função com menor custo e maior rapidez (embora não com a mesma qualidade). A aplicação deste tipo de verniz exige maquinário próprio, sendo muitas vezes necessária a terceirização. Verniz U.V. Necessita de equipamento apropriado, com matriz específica em nylonprint (de alto custo) e estufa de luz ultravioleta (daí sua denominação). É um recurso considerado top de linha por sua durabilidade e por seu efeito, encorpado e homogêneo. O verniz U.V. é muito utilizado sobreposto apenas a alguns elementos gráficos impressos sobre papel fosco, dando-lhes destaque, ou mesmo como uma forma de impressão sobre fundo homogêneo, “criando” a imagem apenas pelo brilho e textura do verniz, e pela cor da tinta. Esse recurso é denominado verniz localizado, verniz de reserva ou verniz em reserva. Gráficas pequenas e médias não costumam dispor do equipamento adequado, sendo necessário terceirizar essa etapa.
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Abaixo Aplicação de verniz de máquina em local especídico da capa de um livro; exemplos de relevo seco aplicados em capas de livro.
Efeitos sobre o papel Impressão em relevo Obtido pela pressão de uma matriz encavográfica e um contramolde que moldam o papel, é utilizado para dar destaque a elementos impressos do layout. A dificuldade da obtenção do registro não recomenda o uso deste recurso em elementos tipográficos com corpos abaixo de 12 pontos. Relevo seco (ou relevo a seco) Recurso idêntico à impressão em relevo, porém sem o uso de impressões. Com isso, a imagem é formada apenas pelo relevo obtido pela pressão da matriz e do contramolde.
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Gofragem Forma de dotar o papel liso de fábrica com texturas específicas (linho, casca-de-ovo, reboco, etc.), por meio de sua prensagem por duas calandras, sendo uma delas com a textura desejada. Com a oferta de papéis já texturizados em fábrica, o alto custo da gofragem só se justifica nos casos em que a textura de fábrica possa vir a prejudicar a qualidade de impressão (como em policromias detalhadas). Serrilhados Utilizados para a produção de itens destacáveis (canhotos, cartões-resposta, etc.) e também como etapa preliminar para dobraduras em papéis de alta gramatura. Os serrilhados são pequenos cortes na folha de papel, distanciados de acordo com o ajuste da máquina e da serrilha utilizada. São produzidos em equipamentos próprios ou por meio de serrilhas ajustadas a equipamentos para corte e vinco. Picotes Também utilizados para itens destacáveis (mas não como auxílio a dobraduras). O picote consiste numa perfuração do papel de maneira que os pequeninos furos, lado a lado, formem uma linha. Seu destacamento costuma ser mais eficaz do que o do serrilhado. É produzido em máquina específica para esse fim.
Outros recursos Douração do corte É o mais barato e consiste numa impressão adicional realizada com matriz semelhante à usada na impressão de tintas. É um recurso barato, simples e rápido, mas tende ao amarelamento e tem baixa resistência à abrasão. Encartes Quando os encartes não são presos à encadernação, o processo pode ser automático, com o uso de um equipamento conhecido como inserter. Para prender o encarte, é necessário que ele seja projetado com uma dobra central, formando uma segunda folha ou uma aba (flap). A encadernação com lombada quadrada dispensa este recurso. Solda eletrônica (costura eletrônica) Recurso para a adesão de duas ou mais superfícies de plástico – em geral, uma mais fina, com a impressão, e a outra, mais encorpada, usada como base (muitas vezes, borracha E.V.A.). A resistência da solda é espantosa, mas a pouca flexibilidade do produto final pode ser uma desvantagem, dependendo do projeto em questão. Usada em embalagens, galhardetes e brindes (mouse pads, pastas, sandálias, chaveiros, etc.).
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Vacuum-forming Utilizado apenas sobre suportes plásticos, este recurso simula uma tridimensionalização de imagens impressas e é produzido a partir de um clichê metálico microperfurado sobre o qual é colocada a lâmina plástica já impressa. Sob a ação
do calor e sugado contra o clichê, com a passagem do ar pelos microfuros, o plástico assume o relevo desejado, e que deve acompanhar o contorno das imagens (editadas no layout prevendo o registro com o volume). Utilizado em displays, embalagens e cartazes.
Abaixo Exemplos de aplicação da técnica de vacuum-forming en diferentes objetos. O efeito proporcionado se assemelha ao efeito obtido com a técnica de relevo seco utilizada em papel.
Esses são alguns dos aspectos do design editorial, que, se utilizados, irão valorizar o projeto gráfico, atraindo assim a atenção de quem realmente importa ao longo de todo o trabalho: o usuário. O conteúdo de um livro pode ser excelente, mas se não estiver associado a um projeto gráfico inteligente e funcional, dificilmente receberá a atenção do leitor. As aplicações de ferramentas e conceitos da organização do espaço e de acabamento apresentadas aqui ajudarão você a dar o destaque necessário ao seu livro.