boletim
Associação
de
Artes
Marciais
Ya n g
YMAA Portugal
Portugal
Boletim
As Raízes do Grou Branco de Shaolin
nº
8
- Abril
2005
- Sumário -
nº 8 - Abril 2005 boletim YMAA Portugal n a c a p a : D r. Ya n g J w i n g - M i n g e m v á r i a s p o s t u r a s do Grou Branco. Director Vítor Casqueiro Editor Jorge Ribeiro
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Prefácio
Layout e Produção Jorge Ribeiro e Ricardo Guerreiro
Notícias e Eventos Cartas e Pontos de Vista
Tr a d u ç ã o Edgar Perdigão, Hugo de Almeida e Pedro Rodrigues Fotografia e Digitalização Jorge Ribeiro, Paulo Segadães, Ricardo Guerreiro e Ricardo Rodrigues Revisão Ana Gama
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Taiwan, Professores e Treino - II Parte
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As Raízes do Grou Branco de Shaolin
C o n t r i b u i ç ã o d e Te x t o s Almada * Ricardo Carvalhosa Amadora * Edgar Perdigão, Hugo Almeida e Pedro Rodrigues Corroios * Ricardo Guerreiro
16 Item de Estudo 17 O Qigong das 4 Estações - Verão
A g e n d a
Abril 2 e 3 - Seminário de Primavera - Dr. Yang - Almada VIII Campeonato Regional Sul - FPAMC - Lisboa 23 a 25 - II Acampamento AAMYP - Odemira Maio XIII Campeonato Nacional - FPAMC Junho 5 - V Estágio de Competição - Almada Julho 3 - IX Estágio Nacional AAMYP - Almada Agosto 5 a 14 - VI Summer Camp - Costa da Caparica 19 a 2 - Summer Camp - Califórnia - EUA Setembro 11 - VI Estágio de Competição - Almada Outubro 25 a 31 Seminário de Outono - Dr. Yang - Almada Novembro V Taça de Portugal - FPAMC Dezembro III Gala YMAA - Festival Kung Fu - Amadora
Lisboa * Claudia Cadima Agradecimentos Drª Isabel Sampaio do Centro de Acupunctura Isabel e Liu Impressão Centros de Cópia Arco Iris (Apolo 70) Apoios Câmara Municipal da Amadora Centro de Acupunctura Isabel e Liu Centros de Cópias Arco-Iris O boletim YMAA é publicado semestralmente. A publicação está também disponível na internet n o s i t e c o m o e n d e r e ç o w w w. y m a a p o r t u g a l . c o m Y M A A N e w s Ve r s ã o O r i g i n a l D i r e c t o r D r. Ya n g , J w i n g - M i n g Editor e Layout Dan Wood A YMAA News é uma publicação com uma regularidade trimestral. A publicação está também disponível na Internet no site com o endereço www. y m a a . c o m YMAA Publication Center 4 3 5 4 Wa s h i g n t o n St r e e t , Roslindale, MA 02131, U.S.A. Te l e f o n e : + 6 1 7 3 2 3 - 7 2 1 5 Fax: +617 323-7417 w e b s i t e : w w w. y m a a . c o m email: ymaa@aol.com A s s o c i a ç ã o d e A r t e s M a r c i a i s Ya n g P o r t u g a l Rua Moreira Cardoso, nº 2, 1º Andar Apartamento nº 4 2720-337 Amadora Te l e f o n e / F a x : 2 1 4 9 5 6 1 2 3 website: www. y m a a p o r t u g a l . c o m email: ymaap@netc.pt Se estiver interessado em contribuir com artigos para o nosso boletim sobre as Artes Marciais Chinesas, envie para o seguinte email: aamyp@ymaaportugal.com
Prefácio
Dr. Yang, Jwing-Ming
Foreword do YMAA News de Março de 2000 Traduzido por Hugo de Almeida
A
amizade é construída sob a égide de uma confiança mútua. Uma vez perdida essa confiança, a relação será abalada ou completamente destruída. É costume dizer-se que são necessários vários anos para construir uma relação sólida e de confiança, mas poderá bastar apenas uma noite para a destruir por completo. Uma vez ferida ou mesmo destruída, essa relação, poderá necessitar de vários anos para se restabelecer. Todos nós temos vários amigos, mas a questão é saber o quão real são as relações que com eles temos. Será que a relação apenas existe por causa de benefícios mútuos? Será a relação um meio para nos ajudar a alcançar e a realizar as nossas ambições? Se estas são as causas, uma vez desaparecido o propósito que lhe deu origem também a amizade desaparecerá. Confiança mútua é o padrão pelo qual podemos julgar a profundidade da amizade. Quando pela primeira vez nos tornamos “conhecidos” de um novo amigo, quão aberto, quão de confiança e quão sinceros são os sentimentos que partilhamos? É difícil encontrar bons amigos nos quais valha realmente a pena confiar e quando isso acontece, é uma dádiva que devemos manter a todo o custo. A amizade não se constrói no interesse mútuo. A amizade deve ser entendida como uma oportunidade para partilhar a vida e a espiritualidade. Na cultura chinesa crê-se que numa vida inteira, poderemos encontrar apenas um ou dois amigos, no verdadeiro sentido da palavra e quando tal acontece a vida torna-se magnifica. Os bons amigos irão dizer-te quando fizeres algo errado ou estúpido, mesmo que para isso tenham que por a amizade em perigo. Bons amigos nunca irão hesitar em partilhar os louros e as lições de vida que forem colhendo ao longo das suas vivências. Nunca te irão trair em prol da sua própria glória ou dignidade. A
boletim AAMYP
amizade verdadeira é estabelecida pelo cuidado e compreensão mútua. Mesmo quando pensamos ter encontrado verdadeira amizade, devemos ter em atenção uma coisa muito importante: as pessoas mudam, umas vezes devido a novos ambientes, outras devido a novas formas de pensar. Nestes casos, novas ideias ou sonhos irão nascer substituindo outros mais antigos. Muitas vezes e para nos protegermos, devemos aprender como nos ajustar às novas situações. As nossas ideias e padrões de amizade estão constantemente a mudar. Assim, manter uma amizade de confiança verdadeira por um longo período de tempo, não é uma tarefa nada fácil e requer muita dedicação. Na minha opinião devemos apreciar sempre as amizades que temos e enquanto as temos. Devemos estar sempre preocupados com os sentimentos e a situação dos outros. Mesmo quando a relação muda, e enfraquece, os sentimentos de uma amizade verdadeira irão continuar e perdurar pelos tempos.
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N O T Í C I A S
Seminário Internacional de Treino de Jovens
Realizou-se no fim-de-semana de 6 e 7 de Novembro de 2004, na Torre do Tombo, mais um Seminário Internacional sobre Treino de Jovens com o mote “Num desporto com valores, preparar o futuro” que reuniu vários especialistas nacionais e estrangeiros. Como habitual, a Associação de Artes Marciais Yang Portugal (AAMYP) foi representada por quatro membros. Integrado no programa “Jovens no desporto - Um pódio para todos” e realizado pelo Instituto do Desporto de Portugal (IDP), tem conquistado importância desportiva entre crianças e jovens. O seminário decorreu num ambiente sereno, no qual os oradores expuseram as suas recentes pesquisas e teorias relacionadas com o tema em questão. Foi fornecido material de apoio a todas as apresentações para um melhor acompanhamento e compreensão dos assuntos discutidos. As sessões embora sobre o mesmo tema, focaram diferentes aspectos. Desde a preocupação pelo planeamento e realização dos programas de treino, passando pela motivação e o papel do treinador na aprendizagem e respeito pelos valores no desporto, até às influências negativas do treino de carga excessiva e aos benefícios do treino coordenativo em idades precoces. Todas as sessões se interrelacionaram. O pontos altos do seminário foram protagonizados, na minha opinião, por dois dos oradores: o Prof. Jurgen Weinec e o Prof. Jim MacClements, ambos com um vasto currículo na matéria e demonstrando com a profundidade das suas apresentações a razão pela qual são internacionalmente conhecidos. Weinec presenteou-nos com fabulosas apresentações repletas de vídeos com os exemplos práticos da aplicação das suas pesquisas, enquanto que MacClements, um verdadeiro teórico, realizou duas excelentes apresentações num estilo que em muito me fez lembrar o Mestre Yang. No exterior do auditório estavam à disposição bancadas com a mais recente literatura sobre desporto e um agradável buffet onde os participantes puderam dividir as suas atenções. Nesta interessante experiência tive a oportunidade de conhecer novos conceitos e rever outros com diferentes pontos de vista. Pude observar noutra perspectiva todo o meu percurso como desportista e analisar muitos dos erros que cometi, bem como, a competência para o ensino de muitos dos treinadores que tive. Na tentativa de melhorar as minhas capacidades, tanto de atleta como de treinador, decidi investir algum dinheiro em literatura sobre este tema. Embora que os temas abordados neste seminário se dirigissem aos desportos mais conhecidos, vi muitos dos conceitos terem uma excelente aplicação nas Artes Marciais. A autodisciplina, o respeito pelos outros, o papel do treinador, entre outros, são pequenos exemplos desta estreita ligação que promove uma vida saudável e nos leva aos limites do conhecimento. Agradeço assim à nossa Associação o investimento que tem vido a efectuar na formação dos seus atletas. Estou certo que para o ano, com o mesmo rigor, nos faremos representar novamente. Ricardo Guerreiro
Canto Sup. Esq. - Quatro Intervinientes (Treino de Jovens) Canto Sup. Dir. - Bancada de Livros (Treino de Jovens) Canto Inf. Esq. - Grupo com Diversas Posições (II Festival de Kung Fu) Canto Inf. Dir. - Forma de Punho contra Bastão (II Festival de Kung Fu)
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II Festival de Kung Fu
E V E N T O S
boletim AAMYP
No passado dia 12 de Dezembro realizou-se a 2ª edição do Festival de KungFu, um evento organizado pela Associação de Artes Marciais Yang Portugal (AAMYP). Assim, pelo 2º ano consecutivo o Teatro D. João V, na Damaia, recebeu mais uma grande demonstração de Artes Marciais Chinesas. Durante quase duas horas foi possível ver um pouco do que se faz nesta modalidade em Portugal, contando assim com a participação de atletas da AAMYP e da Associação Portuguesa de Kung Fu Xuan Wu (APKFXW). Os preparativos iniciaram-se cedo, tendo os atletas comparecido no recinto às 10h para um ensaio geral. Todos os participantes tiveram assim a oportunidade de se ambientar ao cenário e de adaptarem as suas rotinas à área de demonstração, de forma a assegurar uma actuação livre de percalços. Durante este período procedeu-se ainda à preparação da sala e ao escalonamento das actuações. Seguiu-se a pausa para almoço e descanso, após a qual teria início o grande evento. Pelas 15h30 e após acomodadas as várias dezenas de espectadores que afluiram ao D. João V, iniciou-se então o espectáculo. As actuações sucediam-se no palco. Os atletas da AAMYP demonstraram vários elementos dos estilos Punho Longo, Grou Branco e Taijiquan, sendo de particular nota as sequências a dois apresentadas por Pedro Rodrigues e Vítor Casqueiro, os dois representantes da AAMYP com maior graduação no nosso país. Também os alunos da APKFXW nos presentearam com excelentes demonstrações, não só das suas rotinas Tradicionais mas também na àrea do Wushu Moderno. Esta modalidade, assim como o SanShou (combate desportivo, demonstrado por elementos da AAMYP), goza no momento de um grande aumento de popularidade dada a forte probabilidade de ser aprovada como Modalidade Olímpica para os Jogos de 2008, em Pequim. Uma vez mais e avaliando pela resposta do público e atletas em partes iguais, o evento foi um êxito. No entanto, na opinião do autor, sempre que se conseguir reunir semelhante grupo de pessoas com paixão pelas Artes, praticantes ou não, o êxito estará sempre assegurado – resta-nos portanto aguardar pelos próximos Festivais e dar o nosso melhor para que possam continuar a crescer, sempre. Ricardo Carvalhosa
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cartas e pontos de vista Aprender a Não Ser “Alguém”, é Aprender a Ser “Nós Próprios”
eu... A quem se torna premente demonstrar que conseguimos, que somos capazes, que estamos à altura do que nos é proposto? Aos outros, ou a nós próprios? A minha questão prende-se com um factor que considero muito importante na vida e que ao fim e ao cabo são poucos os que sabem ensinar isso, que sabem passar esses valores tão importantes a quem está a crescer, a quem está a aprender: o mais importante somos nós próprios. Quando chega o momento de percebermos que estamos a demonstrar precisamente a nós, temos uma batalha ganha, a maior de todas elas, a mais importante. A partir daí, a competição tem razão de ser, pois sabemos ter espírito competitivo. Sabemos ganhar, perder, apoiar os outros, ser equipa, tudo aquilo que se perde quando pensamos apenas em vencer, nada mais. Felizmente, na família que somos na YMAA, existe espaço para todos. Além disso, tive a felicidade de encontrar um professor que sabe ensinar, com uma paciência santa, aquilo que cada um dos seus alunos precisa de aprender, no momento certo, sem forçar e sem nunca se impôr. E fazendo eu aulas em dois lugares completamente diferentes, com o meu querido professor Pedro Rodrigues, posso afirmar isso com toda a certeza. Como um verdadeiro mestre, vai oferecendo a sua sabedoria a quem quiser absorvê-la, sem menosprezar ninguém e sabendo incutir nos outros que não é pelo facto do nosso companheiro do lado saber menos que é mau, nem é pelo companheiro do outro lado saber mais que tem o direito de se sentir superior. Para mim, a aprendizagem do Taiji foi fazendo parte do meu dia-a-dia. Não apenas os movimentos, não apenas as formas, ataques ou defesas. Saber que há um mundo por explorar dentro de cada um de nós faz parte da vida. O Taiji faz parte da vida de quem quer ser saudável física e emocionalmente. Em cada momento podemos aplicar aquilo que aprendemos. Em cada segundo que passa, em cada situação que se depara à nossa frente. Felizmente, é-nos ensinado que, mesmo não ganhando “prestígio”, estamos a ganhar alguma coisa, qualquer que seja ela. Que pena que todos os professores que existem no mundo não aprendam uma coisa tão simples como esta para a poderem transmitir... Claudia Cadima
Um dia fui ver um combate de Taekwondo. Entre crianças. Fiquei muito impressionada. Não foi o desempenho deles que me causou este sentimento. Não foi a técnica que aqueles seres ainda pequenos já tinham indubitavelmente desenvolvido... não era a destreza que apresentavam. Fiquei impressionada com o olhar de ódio que já traziam dentro deles. Com os nervos que ainda não sabiam disfarçar. A inocência que não podiam esconder. Atrás deles, com uma impaciência que transpirava pela pele, os seus instrutores, e mais afastados ainda, no meio das bancadas e para quem tivesse um olhar mais atento, distinguiam-se claramente os progenitores daqueles que se preparavam para derrubar o inimigo. No fundo, a sensação com que também fiquei, foi que eram os adultos, sobretudo, que deviam estar ali, mas como não era para a idade deles, ou como, por alguma razão não puderam enveredar por aquele caminho, tentavam que aquelas crianças desempenhassem os seus sonhos perdidos. Quando levei o meu filho pela primeira vez a conhecer a sua nova escola, era ele ainda muito pequenino, a directora, muito orgulhosa pela política desenvolvida no seu colégio, disse logo que “aqui, no meu estabelecimento, as crianças aprendem a entrar neste mundo competitivo”. Ao longo dos anos vão incutindo aos estudantes um sentimento de culpa quando são derrotados e uma recompensa psicológica de forma a inferiorizarem os outros quando são os melhores. Quando se parte do princípio que o importante é ensinar às gerações vindouras a ser o primeiro em tudo, o que vai acontecer então nas alturas em que não se consegue ultrapassar os outros? Para haver alguém melhor do que os outros é necessário que existam dois pólos: o alguém e os outros. Porque sem os outros, o alguém não existe. E tem de haver sempre um inferior para haver um superior... No Taiji, não enveredei pelo lado competitivo e no entanto, compreendo perfeitamente e conheço, através de outros desportos, de outras artes marciais e não marciais, a adrenalina, o nervo, a satisfação de vencer, de demonstrar que somos capazes. Mas demonstrar a quem? Pergunto-me
Acupunctura Tradicional Chinesa Fitoterapia chinesa Moxibustão Tuina (Massagem Chinesa) Programa de emagrecimento Programa para deixar de fumar Acompanhamento de outras toxicodependências Auriculopunctura ISABEL & LIU - Terapias Alternativas Ldª Avenida do Brasil, 52C - 2700-134 AMADORA Site: http://www.acupunctura.com.pt E-Mail: centro@acupunctura.com.pt Telefone: +351 21 495 06 99 / 93 862 12 98 boletim AAMYP
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Taiwan, Professores e Treino Uma entrevista com Dr. Yang, Jwingming por Michael A. Demarco Dr. Yang aos 16 anos de idade
- 2ª Parte Traduzido por Edgar Perdigão Agora que nos forneceu alguma informação fascinante sobre a sua relação com a família, com os estudos e com o trabalho, gostaria de me focar no seu estudo das artes marciais. O que fez com que se interessasse por elas? Por favor, conte-nos alguns detalhes sobre o seu primeiro professor. Lembra-se como foi o primeiro contacto com ele? Desde pequeno que me sinto atraído pelas demonstrações de rua de artes marciais feitas por artistas de toda a China. A isto juntou-se o desejo de infância de me tornar num super-homem, causado pelos filmes de artes marciais. Não apenas por isso, mas também porque nasci numa família pobre e sempre que as pessoas se riam das minhas roupas, eu lutava com elas. Não tive sapatos até entrar no liceu e usei sempre roupas cheias de remendos e buracos por todo o lado que haviam pertencido ao meu irmão. No entanto, o factor determinante que me levou a aprender artes marciais prende-se com a intenção de provar a mim mesmo que não precisava de ter medo ou de ser cobarde.
porque gostava de ensinar e um aluno aprendia porque gostava de aprender. Por exemplo: eu aprendi através de três mestres sem pagar um único cêntimo. Por isto mesmo, um professor não aceitava um aluno assim tão facilmente. Escolhiam apenas alunos dedicados e sinceros. Se eles não gostassem de nós, expulsavam-nos pura e simplesmente, sem razão alguma. Os mestres tinham autoridade absoluta para fazer isso. Não era a mesma coisa que hoje em dia. Qualquer um pode arranjar um professor desde que esteja disposto a pagar-lhe. O treino serve de divertimento e é um negócio. A relação professor - aluno é muito superficial. A moralidade marcial não é enfatizada a sério. Os alunos escolhem um professor e o professor implora-lhes que treinem. Para mim, isto é muito estranho, o mundo virou-se de pernas para o ar. Por isto, a qualidade do ensino diminuiu significativamente. O coração para aprender e ensinar não está lá. O aluno vai aprender apenas aquilo por que pagou. Como é um negócio, existem muitos professores não qualificados que estudaram dez estilos diferentes em apenas três anos. Eu só me consigo rir quando penso nisso. Eu fui tão burro que demorei mais de 41 anos para compreender apenas três estilos e ainda acho que estão muito superficiais. Fui apresentado ao meu mestre de Grou Branco pelo meu colega de escola, Sr. Chen Nianxiong. Eu não sabia que ele já praticara Gong Fu com este mestre por alguns anos. Como eu gostava de lutar, um dia ele perguntou-me se eu gostaria de aprender a lutar como deve ser e de aprender com um verdadeiro mestre de artes marciais. Naturalmente, fiquei muito feliz e excitado com esta proposta. Nessa tarde, logo depois das aulas, ele levou-me a Guqifeng, o cume de uma montanha localizada depois do meu liceu. Quando chegámos, o meu mestre estava a trabalhar nos campos de arroz. Nós aproximámo-nos dele cuidadosamente no caminho estreito do campo de arroz. O meu coração batia fortemente, estava excitado e preocupado por poder não ser aceite. O Sr. Chen apresentou-me, contando-lhe do meu pedido para ser um dos seus alunos. Ele olhou para mim e sorriu. Disse a Chen :"Trá-lo para treinar mais logo à noite"- aquele foi o dia mais feliz da minha vida. Naquele final de tarde, eu era o décimo nono do grupo. O Mestre Cheng já tinha ensinado alguns grupos anteriores àquele. Eu era o mais novo daquela geração. Como tal, durante as sessões de treino eu tinha que servir toalhas e água ao mestre, bem como a todos os meus colegas. Nos primeiros seis meses o que aprendi foram algumas bases de Grou Branco e algumas sequências. Ocasionalmente, um dos meus colegas mais velhos aproximava-se de mim para me corrigir e dar-me uns chutos aqui e ali. Os alunos mais novos ficavam
Grão-Mestre Li a ensinar forma de dois homens punho ao Dr. Yang nos anos 70
Durante os anos 60 a situação dos adolescentes americanos não era diferente. A guerra do Vietname estava no ar e toda a gente tinha medo de ser recrutada. Em Taiwan, esta situação era pior, pois devido à guerra, a esperança do contra-ataque de Jiang Kaishek à China Continental crescia outra vez. Todos os adolescentes tinham medo de ir para a guerra, mas ao mesmo tempo não podiam mostrarem-se cobardes. Sob esta espécie de desequilíbrio emocional, aprender artes marciais, pode fazer com que uma pessoa se sinta mais forte e confiante. Em todo o caso, o problema não era só político. Não era fácil encontrar um professor de artes marciais que nos aceitasse como alunos. Quase nenhum artista marcial ensinava os seus alunos a troco de dinheiro. O dinheiro não entrava na relação professor - aluno. Um professor ensinava boletim AAMYP
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grupo que ensinou. O mestre era eremita e iletrado. Contudo, a sua compreensão do sentido da vida veio de uma das mentes mais brilhantes que alguma vez vi. Existem algumas histórias entre o Mestre Cheng e a minha pessoa. Uma tarde fui visita-lo e perguntei-lhe porque dois dos meus colegas aplicavam um mesmo movimento de formas diferentes. Ele olhou para mim e perguntou: “Pequeno Yang! Quanto é um mais um?” Sem hesitação respondi: “Dois”. Ele riu-se para mim, abanou a cabeça e disse: “Não! Pequeno Yang, não é dois”. Estava confuso e pensei que ele estava a brincar comigo. Ele continuou:” O teu pai e a tua mãe são dois. Depois do casamento têm cinco filhos. Agora já não são dois mas sim sete. As artes são vivas e criativas. Se as tratares como mortas são duas, mas se as tornares vivas podem ser muitas. Esta é a filosofia do desenvolvimento das artes marciais. Agora tenho cinquenta anos, quando tiveres a mesma idade que eu, se a tua compreensão das artes marciais for igual à minha, então eu falhei-te e tu falhaste-me.”
extremamente contentes e apreciativos quando alguém prestava atenção ao que estavam a fazer. Numa noite enquanto treinava, quase um ano depois, comecei a sentir dores provenientes da úlcera. Tinha este problema desde os nove anos de idade. Pálido, sentei-me num canto e o mestre aproximou-se fazendo algumas perguntas. Depois, utilizou os dedos para tocar na zona do meu pulso. Disse-me que eu tinha um problema nos órgãos internos. Perguntei-lhe como poderia resolver este problema antigo e ele disse: “ Ouvi dizer que a prática do Taijiquan pode ajudar-te a relaxar os órgãos internos e curar esse problema.” Aquilo significava que ele estava a sugerir que procurasse um mestre de Taijiquan e aprendesse com ele. Significava também que o mestre me estava a dar permissão para aprender com outro professor. Os alunos do presente devem compreender que, tradicionalmente, aprender com outro mestre sem o consentimento do mestre original é considerado traição. O meu mestre de Grou Branco, o Sr. Cheng Gingsao, nasceu a 15 de Novembro de 1911 e faleceu a 3 de Maio de 1976. Era o segundo filho do sexo masculino da família Chen. Mediante um acordo entre o seu pai e a sua avó foi adoptado pela família Cheng para transportar o apelido Cheng depois de nascer. Assim sendo, e apesar do seu pai ser perito em Taizuquan e noutros estilos que desconheço, o meu mestre nunca teve oportunidade de aprender com o seu pai. É necessário compreender que, para proteger o secretismo de um estilo de artes marciais, um mestre não passava os segredos da sua arte a outras pessoas que não pertencessem à sua família. Mesmo assim, mais tarde, o meu mestre aprendeu Taizuquan com o seu irmão, ainda que com pouca profundidade, disse. Quando o Grão-Mestre tinha 15 anos de idade encontrou o Grão-Mestre Jin Shaofeng a viver como eremita num local montanhoso e profundo. Naquela época foi aceite como o nono aluno. O Grão-Mestre Jin viveu na China continental. A sua especialidade era o Grou Branco do Sul. Também conhecia o Punho dos Cinco Antepassados (Wuzuquan) que incluía os estilos do Grou Branco (Baihequan), Taizuquan, Dazuquan, Luohanquan e o estilo Macaco (Houquan). Song Taizu foi o primeiro imperador da dinastia Song (960-1279) e foi creditado como o criador do estilo Taizuquan. Os estilos Dazuquan e Luohanquan pertenciam às artes marciais Budistas originárias no Templo de Shaolin. O estilo Macaco foi passando de geração em geração e tornou-se popular na província de Fujan. Os criadores de Dazuquan, Luohanquan e do estilo Macaco são desconhecidos. Sabe-se que ambos foram passados através dos mosteiros Budistas durante a dinastia Tang (618-907) e que o estilo Macaco foi criado há muito tempo atrás. Muitos suspeitam que derivou dos Qigong medicinal “Desporto dos Cinco Animais”. A especialização do meu mestre era mais elevada nos estilos Palma de Borboleta (Hudiezhang) e nas 18 Mãos de Luohan (Shibaluohanshou). Estes dois estilos internos/ externos de artes marciais eram os níveis mais elevados de treino em Dazunquan e Luohanquan. O Mestre Cheng treinou com o Mestre Jin Shaofeng durante 23 anos. Após a morte do seu mestre, ele e três colegas de treino ficaram perto da campa para a proteger e manter limpa durante três anos, separando-se em seguida. Quando comecei a treinar com o Mestre Cheng ele já tinha 50 anos de idade (1950). Eu era um dos alunos do terceiro
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Na frente, Grão-Mestre Cheng, Gin-Gsao com os seus dois filhos. Atrás, Dr. Yang (à direita) e o seu colega de treino Chen, Ming-Shou, 1965
Através desta história podemos concluir que a mentalidade das artes marciais é criativa. Se depois de aprender todas as técnicas do seu professor nunca aprendesse a criar, o grande músico Beethoven não se teria tornado quem se tornou. O mesmo acontece com Picasso. Se ele não soubesse ser criativo, depois de aprender as técnicas de pintura com o seu professor, nunca se teria tornado um artista de renome. Desta forma podemos ver que as artes estão vivas e não mortas. Mesmo assim, se não aprendermos técnicas suficientes e não atingirmos um nível profundo de compreensão, quando começarmos a criar, teremos perdido o caminho correcto e a arte será defeituosa. Na sociedade das artes marciais diz-se que: “O professor leva-nos à porta; a cultivação depende de cada um de nós.” Para além disso, quando aprendemos uma arte devemos compreender que a mentalidade da aprendizagem é sentir e ganhar a sua essência. Só aprenderemos a raiz se o nosso coração atingir a essência. Com essa raiz seremos capazes de crescer e de nos tornarmos criativos. O Mestre Cheng também me contou outra história. Era uma vez um rapaz que tinha ido ter com um velho homem e lhe perguntou: “Honrável senhor, ouvi dizer que era capaz de transformar pedra em ouro. É verdade?” “Sim, rapaz. Tal como os outros pretendes um pouco de ouro? Deixa-me
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perguntado sobre a origem do estilo. Só sabia que aquele que aprendíamos era do estilo Yang. Não tinha ideia da linhagem. Na realidade também não queria saber pois o meu objectivo principal era recuperar a saúde e, naqueles tempos, era rude perguntar ao professor quais eram os seus antecedentes. Todos os professores eram muito rigorosos. Para o Sr. Gao isto era especialmente verdade. Depois de ter olhado para mim durante um tempo perguntou:“Queres mesmo aprender Taijiquan?” “Sim, Mestre.” Respondi. “Tens que estar aqui todas as manhãs às seis e meia. Não podes faltar um único dia, caso contrário, serás expulso.” “Sim, Mestre.” Respondi. De seguida pediu-me para ficar parado. Colocou ambas as mãos no meu peito e fez-me saltar uns cinco metros. Pediu que me aproximasse outra vez dele e disse: “Agora conheces o poder do Taijiquan. Por isso, obedece!” Comecei por fazer duros exercícios diários que não costumava fazer com o meu mestre de Grou Branco. Surpreendentemente, seis meses mais tarde a minha úlcera começou a diminuir e em pouco tempo desapareceu. As técnicas simples de respiração e os movimentos de coluna resolveram o problema que me atormentava há quase sete anos. Continuei a treinar com ele até ter quase 19 anos. Foi quando tive que me mudar para Taipei por causa da faculdade. Treinei com ele um total de 2 anos e meio. Foi quando me mudei para os EUA em 1974 que me apercebi que a razão da minha boa fundação e compreensão das artes marciais se devia ao treino com o Sr. Gao. O que mais me surpreendeu quando me mudei para Taipei e comparei o Sr. Gao a outros instrutores de Taijiquan, foi o facto de este dar grande importância ao movimento do corpo e às aplicações marciais, aspectos ignorados pelos outros instrutores, ainda que, frequentemente discutidos nos clássicos de Taijiquan.
transformar um bocado para ti”. O rapaz respondeu: “Não, não! Eu não quero um bocado de ouro. Gostaria de aprender o truque.” O que pensam desta pequena história? Quando aprendemos alguma coisa, se não ganharmos a essência da aprendizagem, vamos manter-nos à superfície, apenas a segurar os ramos e as flores. No entanto, se formos capazes de sentir as artes profundamente, então, seremos capazes de criar. Sentir profundamente permite-nos ponderar e finalmente compreender a situação. Sem este sentimento profundo o que vemos estará apenas à superfície. Este sentimento é a chave para compreender a teoria da arte. O meu mestre de Grou Branco contou-me outra história quando tinha 17 anos. Era uma vez um bambu que tinha acabado de nascer da terra. Olhou para o céu, sorriu e disse para si: “Alguém me disse que este céu era bastante alto e que era impossível de atingir. Não acredito que seja verdade.” O bambu sentia-se jovem e forte. Acreditava que se continuasse a crescer, um dia, atingiria o céu. Então continuou a crescer e a crescer. Tinham-se passado dez anos e depois mais vinte anos. Finalmente, apercebeu-se que algo se estava a passar, estava a começar a curvar-se. Quanto mais crescia, mais se curvava. O meu professor pediu-me que nunca esquecesse que “quanto mais alto o bambu cresce, mais se dobra.” Finalmente, existe uma outra história que afectou bastante a minha vida. Um dia fui visitar o Mestre Cheng depois das aulas. Encontrei-o sentado em frente à sua casa a tocar huqin (um tipo de guitarra chinesa), o seu instrumento musical favorito. Aproximei-me e fiz-lhe uma pergunta. Contei-lhe que me sentia frustrado porque a minha aprendizagem era muito lenta e a minha compreensão era muito superficial comparada com a dos meus colegas. Ele olhou para mim com uma cara bondosa e disse: “Porque olhas à tua volta se a razão porque gostas de arar é porque tu queres arar? Não queres saber se as pessoas olham para ti ou não. Também não te preocupas se és mais rápido ou mais lento que os outros. Quando aprendes artes marciais é a mesma coisa. Baixa simplesmente a cabeça e continua a cavar. Não olhes à tua volta. Se olhares e vires que estás à frente, então, estarás orgulhoso e satisfeito contigo mesmo. Se estás atrás, então, ficarás deprimido. Por isso baixa a cabeça e continua a trabalhar. Um dia, quando estiveres cansado e descansares, vais reparar que deixaste os outros tão atrás de ti que nem sequer serás capaz de os ver”. Eu não compreendi totalmente estas palavras até ter sentido o que ele disse, anos mais tarde, quando vim para os EUA. Através destas histórias podemos ver que tipo de pessoa era o Grão-Mestre Cheng. Agora regressemos à história da minha aprendizagem. Uma semana depois do Mestre Cheng me dizer para praticar Taijiquan, descobri que havia um professor de Inglês/Taiji no Liceu Provincial, perto da minha escola. Decidi ir ter com ele e implorar-lhe que me aceitasse como aluno. Uma manhã levantei-me cedo e dirigi-me à sala de reuniões do seu liceu. Vi-o a ensinar Taijiquan a cinco alunos. Mantive-me afastado e observei-os por algum tempo. Quando tive oportunidade aproximei-me do Sr. Gao e fiz-lhe uma vénia. Contei-lhe que tinha um problema com os meus órgãos internos e que gostaria de aprender Taijiquan para o curar. O Sr. Gao Tao tinha 29 anos de idade naquela altura. Aprendeu Taijiquan com o seu pai desde os seis anos. Veio para o Taiwan com Jiang Kaishek. Não sabia e não tinha boletim AAMYP
Grão-Mestre Cheng a executar a forma de Duplo Bastão Curto (Shuang Jian), 1965
Só comecei a cavar mais fundo na teoria e a procurar a essência e o significado de cada movimento em 1975 quando a Universidade de Purdue me pediu para dar aulas de Taijiquan para o Departamento de Teatro. Aí comecei a dar-me conta que o que tinha aprendido com o Mestre Gao era uma fundação preciosa que não conseguiria encontrar noutras fontes. Para começar a explicar a teoria do Taijiquan aos meus alunos comecei a coleccionar documentos antigos. Estudei-os, ponderei-os, experimentei-os com eles. Em poucos anos comecei a tocar na essência crucial da prática do
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pelo exército. Lá, aprendeu Punho Longo de Shaolin (Changquan) com Han Quingtang, estilo do Louva-a-Deus com Fu Jiabin e Sun Bin Quan com Gao Fangxian. O Grão-Mestre Han pertenceu à primeira geração dos famosos professores do Instituto Central de GuoShu em Nanking. Quando o partido de Jiang Kaishek se retirou para o Taiwan, ele foi convidado para ensinar artes marciais Chinesas na Academia de Polícia Central. O Grão-Mestre Han era muito conhecido devido às suas técnicas de trancar articulações (Qin Na).
Taijiquan. Para agregar estas ideias minuciosamente, decidi compilar a minha compreensão em forma de livro. Foi fantástico reparar que, depois do livro estar completo, a minha compreensão do Taijiquan tinha atingido um nível mais elevado. O título do livro era Advanced Yang Style Tai Chi Chuan, Vol. I (título actual: Tai Chi Theory and Martial Power). Para compreender o que tinha aprendido com o Mestre Gao e juntar a teoria à prática escrevi um livro sobre as aplicações do Taijiquan. Como tal, o segundo livro foi publicado como Advanced Yang Style Tai Chi Chuan, Vol.2 (título actual: Tai Chi Chuan Martial Applications). Para além das minhas expectativas, estes dois livros trouxeram-me reconhecimento pela sociedade de Taijiquan Ocidental. A partir desse momento, continuei a pesquisar, estudar, ensinar e praticar. Para meu agrado a minha compreensão do Taijiquan foi capaz de atingir um nível mais profundo. Este novo desafio é especialmente excitante pois a minha compreensão do Qigong Chinês está a tornar-se mais profunda. Pelo que sei, o Qigong Chinês é a fundação interior de todas as artes marciais Chinesas, especialmente das internas. No primeiro ano em que fui para Taipei para estudar Física na Universidade de Tamkang, conheci um novo colega, o Sr. Nelson Tsou. Em alguns meses descobri que ele estava a aprender Punho Longo de Shaolin com o Mestre Li Laoching. Os estilos de Punho Longo focam-se no combate da longa distância e as aplicações de chutos são muito enfatizadas. O Grou Branco especializa-se em técnicas de mãos e no combate de curta distância. Quando o Sr. Tsou descobriu que eu tinha aprendido Grou Branco do Sul decidimos testarmo-nos um ao outro. Como tal, fomos para uma sala de aula e afastámos as mesas e as cadeiras para que pudéssemos combater. Alguns rounds depois, apercebi-me de que era muito difícil aproximar-me dele pois ele sabia manter-se a uma distância segura. No entanto, ele também descobriu que quando me conseguia colocar na curta distância, ele tinha dificuldade em defender os meus ataques. Após alguns combates, pedi-lhe que me ensinasse Punho Longo. Contudo, ele sugeriu que fundássemos um Clube de Gongfu e convidássemos o Mestre Li para ser o nosso supervisor e professor. Em poucos meses criou-se o Tamkang Guoshu Club. Comecei a aprender Punho Longo com o Mestre Li. Lembro-me que quando comecei a treinar, o nosso grupo era composto por 105 alunos. No entanto, depois de terem treinado algumas vezes com o Mestre Li, este grupo encolheu para 20 em poucos meses. Quando me formei, quatro anos depois, existiam apenas quatro pessoas do meu grupo que tinham sobrevivido ao treino. Alguns anos mais tarde, fui aceite na Universidade Nacional de Taiwan, para fazer um Mestrado em Física. Continuei a estudar com o Mestre Li no Liceu de Jianquo onde ele ensinava e tornei-me seu assistente. Em apenas um ano fui convidado para ensinar artes marciais no Liceu de Bangiao, num subúrbio de Taipei. Três anos mais tarde obtive o meu Mestrado e fui recrutado para ensinar Física na Academia Júnior da Força Aérea Chinesa. Depois de ter servido um ano, voltei à Universidade de Tamkang para ensinar Física e continuei os meus estudos com o Mestre Li até 8 de Agosto de 1974, dia em que fui para os EUA para fazer o meu Doutoramento. O Mestre Li nasceu a 5 de Julho de 1926 na cidade de Qingdao (província de Shandong), onde cresceu. Mais tarde, quando a 2ª Guerra Mundial começou, foi recrutado
Grão-Mestre Li a ensinar Qi Mei Jian o Mestre Yang nos anos 70
Chegou a aprender Taizuquan juntamente com o Grou Branco? Esse estilo não é muito conhecido. Podia falar-nos um pouco dele? O Grão-Mestre Cheng não chegou a aprender muito Taizuquan com o seu pai. No entanto, acredito que ele tenha aprendido esse estilo com o Grão-Mestre Jin Shaofeng. O Grão-Mestre Jin também sabia o Punho dos Cinco Antepassados, o qual já mencionei e que era constituído por Grou Branco (Baihe), Taizuquan, Dazuquan, Luohanquan e estilo do Macaco (Houquan). Esta conclusão advém do conhecimento de que o Grão-Mestre Jin também sabia Palma de Borboleta (Hu Die Zhang) e as Dezoito Mãos de Luo Han (Shi Ba Luo Han Shou). Estes dois estilos pertencem ao Dazunquan e às mãos de Luo Han. Infelizmente, não tinha atingido o nível de perícia para compreender esses dois estilos. Também aprendi um pouco de Garra do Tigre (Huzhua) com ele. Não sabia qual era a sua origem. De facto, o estilo Garra do Tigre era um estilo popular e frequentemente praticado em muitos estilos do Sul. Teve a sorte de aprender o Grou Branco de Shaolin, o estilo Yang de Taijiquan e os sistemas de Punho Longo de Shaolin. Como é que os vê quando olha para trás? É possível misturá-los no seu treino ou existem diferenças dramáticas na teoria e na prática? O Grou Branco deu-me uma fundação forte de conhecimento de ambos os estilos internos e externos, suaves e duros. Isto porque o Grou Branco é um estilo “Suave-Duro” que cobre a teoria e a prática dos estilos internos e externos. De facto, é graças ao meu antecedente de Grou Branco que consigo compreender claramente a teoria do Taijiquan. Isto acontece simplesmente porque o Dao (teoria) se mantém o mesmo, independentemente do estilo. A única diferença é a forma de a manifestar. Aprecio realmente os antecedentes da minha aprendizagem de Grou Branco. Sem este estilo, Continua na página 13...
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Estilo do Grou Branco Por Dr. Yang Jwing-Ming - Traduzido por Pedro Rodrigues
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a China antiga, a maioria das artes marciais nunca conservou formalmente os seus registos históricos. Em vez disso, a história de cada estilo era transmitida oralmente de geração em geração. Por sua vez tornou-se num conto depois de ser transmitida nesse formato durante muitos anos (ocasionalmente acrescentaram-se novos contos). Os registos históricos mais precisos encontram-se, em muitos casos, nos romances de artes marciais escritos naquela época, uma vez que se baseiam nos costumes e acontecimentos contemporâneos da mesma. Por exemplo: os romances “Drama Histórico de Shaolin” (Shaolin Yen Yi, ) de Shao Yu-Sheng e “Qiang Long Visita o Sul do Rio” (Qian Long Xia Jiang Nan, ) de um autor desconhecido, foram escritos durante a dinastia Qing acerca de duzentos anos. Nestes romances, as personagens e a história são baseadas em pessoas e factos reais. Está claro que se tomaram algumas liberdades com a verdade, mas como os romances iam ser lidos pelo público da altura, estes tinham que ser bastante factuais. Devido a este e a outros romances do género, pode determinar-se, com alguma precisão, a origem histórica da maioria das artes marciais. Este é o caso da história do estilo do Grou Branco. À excepção da informação valiosa que pode ser obtida no livro “Registo Histórico do Templo de Shaolin” (Shaolin Si Zhi, ), a maioria da informação é vaga. Como tal, podem
tratar este registo histórico como um conto ou como história informal. Na verdade, ninguém tem a certeza do seu grau de exactidão. A história aqui descrita é baseada no Registo Histórico do Templo de Shaolin” (Shaolin Si Zhi, ), em romances antigos, especialmente do “Drama Histórico de Shaolin” (Shaolin Yen Yi, ), no “Grande Dicionário do Wushu Chinês” (Zhong Guo Wushu Da Ci Tian, ), no “Zhong Guo Wushu” (Zhong Guo Wushu Shi Yong Da Quan, ), em algumas fontes casuais e na transmissão oral do meu mestre de Grou Branco. É conhecido que o Templo de Shaolin foi construído no ano 495 d.C., na Montanha ShaoShi, Condado Deng Feng, (Deng Feng Xian, ) Província de Henan, (Henan Sheng, ), pela ordem do imperador Wei Xiao Wen ( ) (471-500 d.C.). O imperador construiu o Templo para um Budista chamado Ba Tuo ( ) com a finalidade de pregar e venerar a Buda. É sabido que nessa altura os monges não praticavam artes marciais . Em 527 d.C., durante o reinado do imperador Liang Wu ( ) (502-557 d.C.), um Budista chamado Da Mo ( ), cujo último nome era Sardili ( ), também conhecido como Bodhidarma, príncipe duma tribo Indiana, foi convidado pelo imperador Liang para pregar o Budismo. Quando o imperador mostrou o seu desagrado pela filosofia Budista de Da Mo, este retirou-se para o Templo de Shaolin. Em retiro no Templo, escreveu dois clássicos de Qigong: “O Clássico da Mudança dos Músculos/Tendões” (Yi Jin Jing, )e “ O Clássico da Lavagem do Cérebro/Medula” (Xi Sui Jing, ). Da Mo morreu em 539 d.C.
Os Punhos das Cinco Formas ou o Padrão dos Cinco ) Animais (Wuxing Quan, A data exacta da criação do estilo do Grou Branco não é clara. Uma lenda diz que já se praticava os Punhos das Cinco Formas (Wuxing Quan, ) quando Da Mo se retirou para o Templo de Shaolin (527-536 d.C.). Essas formas incluíam o Dragão (Long, ), o Tigre (Hu, ), a Pantera (Bao, ), a Cobra (She, ) e o Grou (He, ). Se esta lenda for correcta, então a história do Grou Branco deve-se ter iniciado durante este período. No entanto, no livro “Registo Histórico do Templo de Shaolin” (Shaolin Si Zhi, ), é mencionado que, durante a dinastia Song (960-1278 d.C.), um monge de Shaolin chamado Qiu Yeu Chan Shi ( ), compilou as técnicas dos Punhos das Cinco Formas e escreveu um livro: “A Essência dos Punhos das Cinco Formas” ( ).O nome de Qiu Yue Chan Shi é Bai Yu Feng ( ) e veio do Condado de Taiyuan, Província de Shangxi ( ). Mais tarde entrou para o Templo de Shaolin e tornou-se monge. A partir destes registos podemos verificar que os Punhos das Cinco Formas já existiam e eram praticados no Templo de Shaolin há bastante tempo.
Postura da Yao Gu (Abanar o Tambor) (Forma de Punho – Garra de Tigre e Grou Branco) boletim AAMYP
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O Estilo do Grou Branco do Sul (Nan Bai He Quan, ) Diz-se que este estilo foi criado por uma senhora chamada Fang, Qi Niang ( ), durante o início do período Qing Kanxi ( ,1662-1723 d.C.). De acordo com o livro: “Teses do Punho do Grou Branco” (Bai He Quan Lun, ), existiu em Lishui, Província de Zhejiang ( ) no período Qing Kanxi, um artista marcial chamado Fang, Zhen Dong ( ), também chamado de ) que ensinou artes marciais à Fang, Zhang Guang ( sua filha Fang, Qi Niang. Ela costumava ir para um rio perto de sua casa onde observava os grous a caçar, a brincar na água, a saltar, a sacudirem-se a gritar, a pousar, a dormir, etc. A partir destas observações, ela combinou o que havia aprendido dos movimentos dos Grous com o estilo do seu pai, criando assim o estilo do Grou Branco do Sul. De acordo com o livro: “Registo do Condado Yongchun: Número 24, As Habilidades Locais” (Yongchun Xian Zhi, 24 Juan, Fang ji Zhuan, ), o estilo do Grou foi transmitido a Zheng Li ( ) no Condado de YongChun por Fang, Qi Niang. Desde então, a sua pratica espalhou-se de forma popular no Sudeste da China, especialmente em Fuzhou ( ), Yongchun ( ), Fuqing ( ), Changle ( ) e Putian ( ) da Província de Fuzhou ( ). Alastrou-se igualmente para a Província de Taiwan( e para o Sudeste da Ásia.
)
Na minha opinião pessoal, Fang, Qi Niang utilizou a sua herança pessoal que deveria conter algumas bases do Grou como ponto de partida e combinou-a com movimentos dos Grous por ela interpretados, criando assim um novo estilo. A minha convicção assenta no facto de Os Punhos das Cinco Formas de Shaolin serem populares e amplamente praticados nesta altura, e o Grou era um deles. Hoje em dia, depois de tantos anos de desenvolvimento e transmissão, conta-se a existência de quatro estilos comuns do estilo Grou Branco. Esses quatro estilos são: Zhong He Quan (Punho do Grou Ancestral, ), Shi He Quan (Punho do Grou que Come, ), Fei He Quan (Punho do Grou Voador, ) e Ming He Quan (Punho do Grou que Grita, ). Muitos destes estilos usam a sequência básica San Zhan ( ) no início dos seus programas de treino. Internamente, todos se debruçam "como afundar o Qi no Baixo Dan Tian", "como fortalecer o Qi no baixo Dan Tian" e "como aplicar o Qi no Jin". Externamente, é típico dar-se ênfase à postura do corpo: cabeça direita, percoço firme, costas arqueadas, ombros descontraídos, cintura e ancas relaxadas e coordenação nos movimentos do anûs. Este critério é semelhante ao do Taijiquan. O estilo do Grou Branco é então classificado de estilo suave-duro, é suave como o Taijiquan e tem um Jin tão forte como o do Tigre. Além disso, todos os estilos do Grou Branco focalizam o treino da raiz e do trabalho de pés baseando-se na teoria das cinco fases (metal, madeira, água, fogo e terra). Mesmo que a teoria de base seja partilhada por todos os estilos, cada um deles tem o seu ênfase especial e metodologia própria de treino. O Grou Ancestral (Zhong He Quan, )
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Cai Tui (Pontapé em Passo) na Forma Bai He (Punho Grou Branco)
) também chamado de Grou que Dorme (Su He Quan, ou Grou que Treme (Zhan He Quan, ), é especialista na emissão do Jin (força marcial a qual resulta da manifestação da força muscular apoiada pelo Qi). É chamado estilo Ancestral porque se acredita que carrega os ensinamentos do antecessor do estilo original. Também é chamado de Grou que Dorme porque imita a calma e a quietude do Grou. Quando a oportunidade e o timing certo aparecem, ataca repentinamente. Como tal, dá ênfase à defesa como ataque. Finalmente é chamado de Grou que Treme porque imita a força do abanar ou sacudir do grou (Zhan Dou Jin, ). Depois de uma chuvada os Grous podem ser vistos a sacudir a água das penas com um movimento rápido. O Grou que Grita (Ming He Quan, ) é especialista em usar a palma para atacar, costuma gritar enquanto combate. Este estilo usa as palmas como as asas do Grou e os sons que emitem à noite e de manhã cedo. Acredita-se que o choro dos grous pode ser ouvido a quilómetros de distância porque o seu Qi no Dan Tian é muito forte. O estilo do Grou que Grita dá ênfase ao acumular do Qi no Dan Tian. O Grou que Come (Shi He Quan, ) é especialista em atacar com o bico. Os seus movimentos são ágeis e leves. A velocidade é crucial para executar uma técnica com sucesso. Por último, o Grou Voador (Fei He Quan, ) que imita os saltos e o voo do grou usando, simultaneamente, as asas para atacar o oponente. Os sons também são usados com frequência neste estilo.
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), iniciado, ele começará pelo Qigong Duro do Grou ( o que ajudará a fortalecer a estrutura física das suas pernas, braços, dedos e acima de tudo, do seu dorso (incluindo a coluna e o peito). A partir do treino do Qigong Duro do Grou, o iniciado será capaz de construir uma base firme para executar as técnicas duras que dependem da força muscular. Naturalmente, serão ensinadas algumas das sequências ou rotinas duras de treino do Grou Branco, como por exemplo San Zhan ou Jiao Zhan. Na generalidade dos casos, depois de alguns anos a treinar as sequências de Qigong Duro do Grou, o praticante passará gradualmente para o Qigong Suave do Grou ( ). A partir do treino do Qigong Suave do Grou o praticante construirá a força e a resistência dos seus ligamentos. Aprenderá também como acumular o Qi no Baixo Dan Tian ( ) e como guia-lo para os membros com a mente. A este nível, o Jin executado, será suave como um chicote.
Postura da Sha Shou Jian “Bastão da Mão Mortífera”
Teorias de Treino nos Estilos do Grou Branco do Sul As teorias de treino são a raíz de todos os estilos. As acções são técnicas que derivam da compreensão dessas teorias. Se treinarem contrariando estes princípios, as técnicas que executam não poderão ser consideradas do Grou Branco.
Na sociedade das artes marciais chinesas sabe-se que quando um aluno pratica o lado duro do Qigong marcial, e o aplica ao treino duro das artes marciais durante algum tempo, este deve começar o treino do Qigong Suave, afim de evitar o problema da "Dispersão de Energia" (San Gong, ). Os sintomas mais comuns da dispersão de energia são a rápida degeneração do dorso causada pelo excesso de treino na contracção do corpo físico, dores nas articulações, hipertensão arterial, assim como, são comuns lesões na zona lombar da coluna vertebral. O mesmo acontece no treino do Grou Branco do Sul. É devido a este facto que o aluno, depois de ter praticado mais de três anos o lado duro, irá lenta e gradualmente entrar no lado suave do treino. O objectivo final do treino do Grou Branco é a manifestação dos Jin Suave e Duro de forma mais eficaz e eficiente. Isto significa que quando for necessário ser-se suave, ele será. Quando for necessário ser-se duro, ele será. Além disso, muitos dos Jin do Grou Branco começam por ser manifestados suavemente para guiar o Qi para os braços e, acabam por se tornar duros momentos antes de atingirem o adversário, de modo a proteger os ligamentos das articulações.
O Grou Branco é considerado um estilo suave - duro, logo o iniciado começa pela parte dura e vai entrando gradualmente na parte suave do treino. Isto significa que o treino começa pelo lado externo (físico) e entra lentamente no lado interno (maior ênfase na cultivação do Qi). Existem algumas razões para que o treino seja programado desta forma. 1. É mais fácil para um iniciado ser duro do que suave. Isto significa que é mais fácil, para um iniciado, usar a força muscular e adopta-la de imediato para lutar. Antigamente era necessário aprender a lutar o mais rápido possível. Normalmente, três anos de treino eram o suficiente para construir boas técnicas musculares para a defesa. 2. A teoria para cultivar o Qi é difícil de se entender para um iniciado. Não apenas isso, como o cultivo do Qi é um segredo importante para a manifestação do Jin, o mestre só ensinará o seu aluno se este o tiver seguido durante muito tempo e lhe tiver ganho a sua confiança.
Se entenderam a teoria básica acima descrita, então estarão no caminho certo do treino.
3. A manifestação do Jin duro é mais fácil do que a do suave. Novamente isto está relacionado com a cultivação do Qi. Outra razão assenta no facto de ser mais fácil lesionar os ligamentos nas articulações quando o Jin se executa suave. Normalmente, no treino do Jin duro, existem menos problemas com lesões nas articulações. 4. As sequências baseadas nos Jin suaves são muito mais difíceis de executar. Por exemplo, o sucesso de manifestar o Jin de enroscar, Jin de controlar, Jin de guiar, Jin de colar e o Jin de aderir depende do um alto nível de compreensão e capacidade de executar o Jin de ouvir (sentir com a pele ou tacto) e o Jin de compreender. Para se atingir o mais alto nível destes Jins, o corpo tem de estar muito relaxado, permitindo assim ao Qi circular suave e livremente no corpo. Esta parte do treino é em tudo semelhante ao Taijiquan ( ). Grou da Manchuria - Espécie que inspirou a criação do estilo do Grou Branco
Tendo por base as razões acima descritas, podem concluir que, normalmente, quando um mestre ensina um aluno boletim AAMYP
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Características do Estilo do Grou Branco O Grou é um animal fraco sem muito poder físico para usar numa luta. No entanto, quando necessário, pode defender-se eficientemente. Um Grou ao defender-se depende apenas de três coisas: da habilidade de saltitar, da capacidade de partir objectos com as asas e da agressividade do bico. O saltitar é usado para evitar um ataque, mas também para se aproximar de um adversário, para atacar. Quando o Grou usa as asas para atacar pode gerar força suficiente para partir um ramo grosso. O segredo para tal força é a velocidade. Lembrem-se que até mesmo a água que é mole, quando projectada a extrema velocidade, pode ser usada como um bisturi em intervenções cirúrgicas. Por último, a velocidade com que um Grou pode bicar é muito importante quando usada em áreas vitais. Esta é também uma capacidade de sobrevivência, uma vez que o Grou usa o seu bico para pescar. Tendo isto como base, podemos resumir algumas características do estilo do Grou: 1. As mãos são mais importantes que as pernas. Quando um Grou usa o bico ou as asas para lutar, tem de o fazer com estabilidade, diminuindo a sua habilidade de chutar. Como tal, tanto na defesa como no ataque, as mãos são usadas com o formato de asas ou bicos, enquanto que as pernas são menos importantes e são usadas em coordenação com as técnicas de mãos. O segredo para defender e atacar eficazmente, baseia-se na velocidade e precisão das mãos. 2. A defesa é usada como ataque. Como o Grou é um animal fraco sem a vantagem da força, tem que usar a defesa como ataque. Tem de ser calmo, quieto e imóvel, mas também tem que estar em alerta e preparado para atacar. Quando a oportunidade e o timing certo aparecem, o ataque é executado
num piscar de olhos. A estratégia do Grou é então proteger-se e esperar a oportunidade para atacar. 3. Lutar na curta e média distância. Como o Grou usa a defesa como ataque, tem de ser especialista na curta e média distância. Quando o adversário vem da longa distância para a média distância, o artista marcial do estilo Grou deve saltar para a curta distância, atacando assim com as mãos em coordenação com um número limitado de técnicas de pernas. Depois do ataque, o artista marcial do estilo Grou recuará para trás, evitando assim de ser agarrado. Uma vez que o Grou é um animal fraco, se for agarrado não terá hipóteses de escapar. Para preencher esta falha, os artistas marciais do estilo do Grou especializaram-se nas técnicas Qin Na (Agarrar e Controlar, ) para se defenderem caso sejam agarrados. 4. A velocidade é mais importante do que a força. Embora se considere importante a força de um ataque, não o é tanto quanto a velocidade no treino do Grou. Para tornar as técnicas eficientes, terão de ser capazes de sair e entrar, rapidamente, atacando com as mãos ou com as pernas. Para aumentar a efectividade é dado ênfase á precisão dos ataques nas áreas vitais. Em suma, o treino do Grou foca-se em manter a distância correcta, saltando ou movendo e, na velocidade e precisão dos ataques a áreas vitais.
Kong Shou Dui Gun (Punho Contra Bastão) (Forma Dois Homens Armas - Grou Branco) boletim AAMYP
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vida a tentar alcançar uma compreensão mais profunda destas artes e atingir uma qualidade melhor de treino, especialmente no Taijiquan. A razão é a minha idade (56 anos). Já não é fácil agir como um rapaz novo. Continuo a minha aprendizagem através do estudo de documentos antigos e através do ensino. Sinceramente, os alunos são, muitas das vezes, os meus melhores professores. A partir do ensino aprendi muito.
nunca teria tido a compreensão nem a experiência suficientes para compreender os outros estilos. O Punho Longo proporciona-me um bom conceito, estratégia e técnicas de luta de longa distância. Isto é o que falta no Grou Branco. Acredito que é devido ao meu antecedente de Punho Longo que o meu treino e compreensão se tornaram mais completos. No que diz respeito à manifestação da força, consigo introduzir facilmente o lado mais duro do Grou Branco na teoria do Punho Longo e aplicar. Também consigo aplicar a teoria e a prática no Taijiquan, devido à minha compreensão do lado mais suave do Grou Branco. De facto, escrevi um livro de Taijiquan que vai sair este ano e que se chama: “Dr. Yang’s Taijiquan Theory.” A fundação teórica encontrada neste livro é uma mistura da minha compreensão e experiência com o Grou Branco e com o Taijiquan. Quando as pessoas lêem este livro, cedo percebem que o Dao das artes marciais é o mesmo.
Existe uma grande variedade de técnicas que estão incluídas nos sistemas que ensina: mãos vazias e utilização de armas, por exemplo. Qual é o aspecto destas artes de luta que acha mais agradável no seu treino actual? Porque é que é tão agradável? Em mãos vazias, gosto do Taijiquan porque me providencia um estado de espírito calmo e pacífico e porque a sua essência é muito profunda. É mais difícil e estimulante manifestar a teoria na prática. Quanto às armas, gosto da espada e da lança. A espada é considerada a rainha das armas curtas e a lança a rainha das armas longas. A razão é simples: para mestrar estas armas, é necessário mestrar muitas outras antes. Sem a experiência das outras armas aquilo que se manifesta na espada e na lança será muito superficial. A teoria da utilização destas duas armas é muito difícil de compreender e manifestar o seu espírito é ainda mais complicado.
Por vezes diz-se que os vários estilos das artes marciais são como línguas separadas. Se começarmos com uma, afectaremos o modo como aprendemos e praticamos a outra. Se fizermos isso com as línguas, é natural que o sotaque fique diferente. Isto também é verdade nas artes marciais. No final, incorporamos aquilo que estudamos. Pela sua experiência, qual a arte que sente ser a central? Tal como mencionei anteriormente, como aprendi Grou Branco por volta dos treze anos, mais tempo do que qualquer outro dos dois estilos, esse é o centro das minhas artes marciais. Agora que comecei a aplicar no Taijiquan a teoria do Qigong que compreendo cada vez mais, apercebi-me que, actualmente, o centro das minhas artes marciais está, gradualmente, a mudar-se para o Qigong.
Durante o ensino, quais são os aspectos do treino que pensa serem importantes para um aluno se concentrar enquanto aprende? A parte mais importante do treino é aquela que comporta os exercícios básicos. Estes exercícios são a fundação de todas as habilidades que vão ser desenvolvidas no futuro. Se uma pessoa tem uma raiz firme nesses exercícios, a manifestação futura da arte será profunda. Estes exercícios estabelecem uma boa qualidade na arte. Os exercícios mais importantes são: o enraizamento, o movimento do corpo, a manifestação da força e o sentido do inimigo. Muitos artistas marciais focam-se demasiado nas formas e ignoram o mais importante que é a essência da arte: o significado de cada movimento. Isto significa toda a essência do estilo. Para compreender essa essência, um aluno deve debruçar-se sobre as aplicações de cada movimento e deve mestrar as técnicas antes de poderem ser utilizadas num combate real. Sem isso, as demonstrações das formas serão vazias e sem significado. Para além do mais, sem conhecer as aplicações marciais da arte, o espírito e a moral para a demonstrar, terão desaparecido. Como tal, um aluno deve levar tempo. Aprender devagar e focar-se na qualidade e aplicação de cada movimento. Deve praticar até que todas as aplicações se tornem reflexos naturais, para que estas possam ser utilizadas, sem que se pense nelas. Finalmente, para aqueles alunos que se querem tornar artistas marciais competentes, devem estudar a teoria das artes marciais durante muito tempo. A teoria é como um mapa de uma cidade. Com este mapa a pessoa é capaz de se guiar em direcção ao objectivo. Sem ele, será aluno para sempre. Por isto, mantenham-se humildes e mantenham uma boa atitude de aprendizagem. O meu mestre de Grou Branco disse: “Quanto mais alto o bambu cresce, mais baixo se dobra.” Se o estudo e a prática da arte têm um limite, então, não é uma arte eterna.
Grão-Mestre Li a ensinar Dr. Yang nos anos 70
Quais as razões para o seu estudo das artes marciais? Continua a aprender por si mesmo ou com outros professores? A minha razão antiga foi explicitada anteriormente. Presentemente, a razão ou o significado do estudo é compreender a própria arte. Comecei a compreender aquilo que o meu mestre de Grou Branco me disse: “O que aprendes não são artes marciais mas sim um modo de vida”. É tão verdade! Este é o meu sentimento agora. Ocasionalmente, para ter o sabor e o sentimento dos seus estilos, aprendo alguma coisa com outros mestres. Não é minha intenção mestrar outro estilo. Prefiro passar o resto da minha boletim AAMYP
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influência importante, ainda que em fase de crescimento, é a publicação. É interessante verificar como o seu trabalho tem evoluído para esta capacidade profissional e nós discutimos esta parte do seu trabalho, bem como, o seu envolvimento como praticante de artes marciais.
Depois de muitos anos de ensino, incluindo seminários dados pelo mundo fora, quais as suas observações em relação ao carácter dos alunos? Como lida com a variedade de alunos? Generalizando, os alunos que vivem em países mais pobres, tais como os da Europa de Leste, treinam mais duramente e o seu espírito é também mais elevado que os dos países mais ricos. Como tal, é relativamente fácil encontrar um aluno dedicado nesses países. No entanto, a situação está a mudar rapidamente desde que têm mais liberdade e mais acesso aos estilos de vida Ocidentais. Os alunos que vivem em países com uma história mais profunda e longa parecem aguentar-se mais no treino. Acredito que isto aconteça devido à disciplina tradicional no seu desenvolvimento cultural. No entanto, o mais importante de tudo é o ambiente de aprendizagem de treino. Se uma escola tem um professor bom e duro, normalmente o aluno vai ser igual. Um professor é um exemplo para os alunos. Não apenas isso, se um professor é humilde e continua a aprender de fontes diferentes, normalmente os alunos terão uma mente aberta e estarão dispostos a aceitar novos conhecimentos.
Como e porque é que decidiu criar o Centro de Publicações YMAA? Os meus primeiros quatro livros foram publicados pela Unique Publications. Antes de os meus livros terem sido aceites, já tinha tentado outras editoras. A maior parte delas exigia alterações tanto na estrutura como no conteúdo dos livros. Isto acontecia porque as editoras pretendiam publicar os livros do ponto de vista do marketing. No entanto, muitos dos meus livros são profundos, por isso, o mercado é muito reduzido. Para mim, o mais importante é a promoção da arte e não tanto o fazer dinheiro, apesar de, naturalmente, compreender o ponto de vista das editoras. Em parte, a YMAA foi criada para publicar os meus livros que continham uma discussão teórica relativamente mais profunda do que a maior parte dos livros de artes marciais existentes no mercado. Devido à escassez de mercado para estes livros, a YMAA perdeu mais de 700.000 dólares desde 1984, quando foi estabelecida. Para podermos sobreviver começámos a publicar alguns livros cujo mercado era mais amplo. Começámos a compreender que, para sobreviver, era necessário publicar alguns livros que tinham um mercado maior e que para promover e preservar as artes, tínhamos também que publicar livros de elevada qualidade. As razões que me levaram a criar o Centro de Publicações YMAA foram: 1. Preservar a essência das tradições marciais; 2. Para exaltar e promover a qualidade de todas as artes marciais e da indústria do Qigong; 3. Para conduzir o estudo e a prática das artes marciais para um campo mais respeitável, para que estas recebessem uma maior aceitação da sociedade, tal como o golfe, o ténis, o basquetebol, etc. Até agora, a maioria das pessoas ainda acredita que as artes marciais servem apenas para lutar. De facto, a disciplina das artes marciais é superior às dos outros desportos;
Dr. Yang em frente da sepultura do Grão-Mestre Cheng, Gin-Gsao, 1979.
Deseja transmitir algum conselho que gostaria de ter recebido quando começou a treinar aos 15 anos de idade? Sim. Primeiro deve aprender-se devagar e dar mais importância à qualidade do que à quantidade. Segundo, se alguém pretende adquirir um nível profundo nas artes marciais é necessário que as trate como um modo de vida. Se a motivação vier do desejo de nos exibirmos ou de participar em torneios, a arte será superficial. A aparência poderá ser boa, mas o sentimento será vazio. Terceiro, não se precipitem em aprender de todas as vezes que encontrarem um professor. Um bom professor pode conduzi-los a um caminho futuro correcto e um mau professor pode fazê-los criar maus hábitos e desviar-vos do caminho correcto de treino. Na China existe um ditado: “Um aluno passará três anos à procura de um professor qualificado e um professor demorará três anos a testar um aluno”.
4. Para traduzir e fazer comentários de documentos antigos existentes. A maior parte destes documentos está escrita em Chinês. Sem tradução destes documentos, a única fonte de aprendizagem é o professor. Com esses documentos, um aluno poderá agarrar a essência das artes mesmo que o seu professor não tenha conseguido. Quando é que decidiu publicar trabalhos de outros autores? Na verdade, desde o início que a YMAA tencionava publicar livros de outros autores cuja qualidade fosse boa e cujo mercado existisse. No entanto, durante os primeiros anos em que o nome YMAA era desconhecido, apenas alguns manuscritos nos foram enviados para apreciação. Agora é muito mais fácil desde que a YMAA estabeleceu o seu nome e reputação pelo mundo.
As Publicações Os anos de ensino do Dr. Yang nos seus próprios estúdios e noutros sítios do mundo deixaram uma marca profunda no estudo e apreciação das artes marciais Chinesas. Outra boletim AAMYP
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-eu. Agora tudo é diferente. Temos designers profissionais para fazer a capa, editores profissionais para editar os livros, um revisor para avaliar os manuscritos utilizados e um bom distribuidor, a National Book Network, para distribuir os nossos livros. Presentemente os assuntos cobertos variam desde os meus próprios até aos de outros autores.
Por favor, descreva-nos como começou o seu negócio e o que implicou. Quais foram os prazeres e as dificuldades envolvidas? Quando comecei a escola da YMAA a 1 de Outubro de 1982 não tinha dinheiro nenhum para investir. Quando comecei com as Publicações YMAA a 1 de Janeiro de 1984, também não tinha muito dinheiro com que brincar. Pedi dinheiro emprestado para publicar os primeiros livros, mais tarde, quando a escola começou a crescer, os lucros eram frequentemente transferidos para a sobrevivência e crescimento das Publicações. Assim sendo, as Publicações YMAA têm sido uma grande dívida. Não obstante, nos últimos anos têm-se tornado independentes. Agora estamos à espera do crescimento dos lucros. As maiores dificuldades envolveram conseguir dinheiro para impedir que as Publicações YMAA terminassem. O que mais custou reporta-se à época em que dois dos nossos distribuidores declararam falência e se perdeu um total de 120.000 dólares, devido a estes incidentes súbitos. Os fluxos de caixa estavam estagnados. A segunda dor de cabeça veio quando foi necessário encontrar a pessoa certa para tomar conta dos aspectos comerciais. Naturalmente, a falta de dinheiro para o marketing tem sido sempre o maior problema. Por outro lado, o que dá mais prazer é receber inúmeras cartas de apreciação, e-mails e chamadas telefónicas que me encorajam a continuar. Para além disto, sempre que um bom livro é introduzido no mercado, ficamos alegres por ter sucesso. Evidentemente que aprender pela escrita é o meu prazer pessoal. Como resultado das minhas publicações também tenho sido convidado para realizar seminários por todo o mundo. As Publicações YMAA têm sido traduzidas para mais de dez línguas. As escolas da YMAA continuam a crescer até as actuais 56 espalhadas por 16 países diferentes. Estas alegrias estão para além das palavras.
O que pretende alcançar com as Publicações YMAA nos próximos dez anos? Em primeiro lugar, mantermo-nos vivos. Depois, aumentar o número de livros publicados de oito para trinta por ano. Não apenas isso, mas também saltar para a produção de DVD’s e continuar a introduzir as artes orientais ao público em geral. Também gostaria de continuar a melhorar a qualidade dos produtos, não só no design e na edição, mas também no conteúdo. Aqui termina a segunda de duas partes da entrevista ao Dr. Yang, Jwing-Ming no que diz respeito ao seu estudo das artes marciais e carreira de publicação. Gostaria de agradecer pessoalmente ao Dr. Yang por partilhar tanta informação e por nos deixar publicar fotografias que nunca foram vistas noutra publicação. Espero que o conteúdo desta entrevista sirva para aumentar o conhecimento geral das tradições marciais chinesas, assim como oferecer conhecimento da vida de um homem excepcional que tanto se dedicou neste campo. O seu trabalho reflecte o conceito de “civil e marcial” (wen wu), simbolizado no logótipo do nosso jornal. Um agradecimento especial aos representantes da YMAA, David Ripianzi e Carol Shearer-Best pela sua ajuda no processo da entrevista, particularmente com as suas opiniões e ajuda na edição e materiais ilustrativos.
Quais foram os problemas mais difíceis que teve de enfrentar como editor de livros e cassetes? Por exemplo, lidar com a romanização dos termos, editar e distribuir? No início, incluir caracteres chineses no texto era sempre uma grande dor de cabeça. Não existiam fontes chinesas disponíveis. Tinha que escreve-las com um pincel chinês e tirar-lhes uma fotografia. Depois disso tinha que cortar e colar os caracteres onde eram necessários. Que romanização a ser utilizada? A Tradicional ou sistema Pinyin? Agora esses problemas estão resolvidos. No entanto, a distribuição continua a ser o maior desafio pois não temos muito capital para investir em marketing. Só posso esperar que as vendas aumentem através da conversa entre as pessoas. De facto, a boa reputação dos produtos da YMAA tem sido o seu maior anúncio. O que é que lhe passa pela cabeça quando compara os seus primeiros livros com os mais recentes, especialmente no que toca a aspectos de edição e design? É claro que existe um sentimento completamente diferente para cada um. Agora tudo é mais profissional. Antes de 1992 era eu que fazia tudo; desde o design da capa até aos cortes e colagens, os contactos com a impressão e com a distribuição. É claro que pagava a um editor para corrigir o meu “Chinglês”! No entanto, todos esses produtos eram feitos por um amadorboletim AAMYP
Grão-Mestre Li, Dr. Yang e os seus colegas de treino, 1972
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itens de estudo Por Ricardo Guerreiro THE ESSENCE OF TAIJI QIGONG THE INTERNAL FOUNDATION OF TAIJIQUAN Dr. Yang, Jwing-Ming YMAA Publication Center 176 Páginas.
Este será um valioso manual para os alunos que completaram a forma e querem atingir novos níveis de compreensão e prática. Contém três conjuntos completos de Qigong e mais de 200 fotografias e ilustrações, bem como uma discussão mais profunda da teoria de Taiji e Qigong. Prepare-se para praticar o Taijiquan aquecendo os músculos, estimulando a circulação do Qi e focando a sua concentração. O Qigong servirá também para aumentar a sua potência marcial no Taijiquan.
TAI CHI THEORY AND MARTIAL POWER ADVANCED YANG STYLE Dr. Yang, Jwing-Ming YMAA Publication Center 288 Páginas.
Um livro essencial a alunos avançados que completaram a forma, começaram o treino de Pushing Hands e que agora querem melhorar e refinar as suas habilidades como praticantes de Taijiquan (Tai Chi Chuan). Este livro foca a essência marcial do Taijiquan, um aspecto ignorado pela grande parte dos livros e autores modernos. Explore profundamente o tema da potência marcial (conhecida como Jin), a teoria geral do Taiji e a aplicação do Qi na forma de Taijiquan.
GUIA DOS MOVIMENTOS DE MUSCULAÇÃO ABORDAGEM ANATÓMICA Frédéric Delavier 124 Páginas.
Esta obra descreve de modo claro e preciso a maioria dos movimentos de musculação. Cada exercício é apresentado por meio de desenhos de qualidade excepcional que permitem a visualização dos grupos musculares solicitados. Cada ilustração é acompanhada de um texto detalhado que permite ao iniciado ou atleta avançado elaborar as suas sessões de treino. Pela sua abordagem anátomo-morfológica e pelo rigor científico das ilustrações, este livro impõe-se tanto para alunos como para professores e médicos como uma obra de referência.
THE BODY ELECTRIC ELECTROMAGNETISM AND THE FOUNDATION OF LIFE Robert O. Becker, M.D. and Gary Selden 368 Páginas.
Neste livro, o Dr. Becker, um pioneiro no campo da ciência bioeléctrica, apresenta um fascinante olhar sobre o papel que a electricidade poderá ter nos processos regenerativos do corpo, desafiando a visão clássica e tradicional da medicina convencional. Com alguma controversia, esta é uma obra acerca de pesquisa independente, política, médica e científica e de descobertas inovadoras que oferecem novas possibilidades para combater doenças e potenciar os mecanismos curativos do corpo. Para os praticantes de Medicina Tradicional Chinesa ou Qigong em geral, este livro oferece descobertas que poderão pela primeira vez servir como paralelo e explicação científica (na visão e linguagem Ocidental) dos métodos tradicionais do Oriente e desta forma facilitar a compreensão e aceitação destes métodos pelo Ocidente.
TAIJIQUAN, CLASSICAL YANG STYLE THE COMPLETE FORM AND QIGONG Dr. Yang, Jwing-Ming DVD instrutivo. 240 minutos. Todas as regiões.
Criado como complemento do livro do mesmo título, este DVD será tanto para o aluno iniciado como para o de nível médio uma boa ferramenta de estudo. Muito mais que um video da sequência de Taiji, esta obra disseca de forma simples e fácil de seguir pelo aluno, todo o treino fundamental desde as posições básicas à demonstração e explicação dos Treze Padrões (Posturas), bem como os Sets Primário e Sets em Andamento do Taiji Qigong. Numa secção posterior são ensinadas as três partes da sequência tradicional de Taijiquan do estilo Yang da linhagem de Yang, Ban-Hou, com as devidas instruções sobre a respiração para cada postura.
SHAOLIN LONG FIST KUNG FU BASIC SEQUENCES Dr. Yang, Jwing-Ming DVD instrutivo. 180 minutos. Todas as regiões.
Este DVD de três horas contém as sequências fundamentais do Kung Fu Shaolin do Norte da China. Estas sequências foram treinadas na Associação Jing Wu e no Instituto Central de Guoshu de Nanjing no início do século XX e podem ajudar o praticante a adquirir uma base sólida do estilo Punho Longo (Chang Quan). Uma óptima referência para o aluno que adquiriu os conhecimentos básicos de posições, movimentação, exercícios de braços (bloqueio e ataque) do Punho Longo e quer agora aprofundar os conhecimentos evoluindo para as sequências que transportam a linhagem e tradição do estilo. Inclui as sequências Lian Bu Quan, Gong Li Quan e as doze rotinas Tan Tui bem como aplicações das técnicas e introduções históricas sobre cada sequência dadas pelo mestre Yang.
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O Qigong das 4 Com a chegada do Verão o ambiente e o clima atingem o extremo Yang. O corpo muda de fraco Yang para extremo Yang. Durante este período, as condições que asseguram o estado Yin do orgão coração (O Meridiano Yin Menor do Braço) tornam-se cada vez mais fracas. A excitação emocional como a alegria, pode levar o coração a um estado Yang tornando-se nociva. O Qi Guardião apresenta-se no seu estado mais forte e para libertar o excesso de Qi dos órgãos internos, todos os poros da pele estão bem abertos. Com a prática do Qigong do Verão o maior objectivo é manter o coração no estado Yin correcto. Usar a respiração através de profundas inspirações pode acalmar a mente e remover o excesso de Qi do coração para os pulmões.
(M-UE-48) Jubi (PE)
Mente 1 - Emoções excitadas e estimuladas. 2 - Respiração profunda e Mente calma. 3 - Manter a Mente afastada do coração. Respiração 1 - Respiração Abdominal Normal (inspiração mais longa do que a expiração). Inspiração - abdómen expande, ânus para baixo Huiyin (Encontrar o Yin) (Co-1). Expiração - abdómen encolhe, ânus para cima Huiyin (Encontrar o Yin) (Co-1). 2 - Respiração Embrionária - Guiar o Qi para a Pele e para a Medula Óssea.
Shufu (K-27) Shangzhong (Co17) Jianneiling
Por Pedro Rodrigues
Sons Verão (Coração – Fogo): He Armazenar o Qi na medula: Heng
Tíantu (Co-22) Qihu (S-13) Zhongfu (L-1) Yingchuang (S16) Ruzhong (S-17) Rugen (S-18) Jiuwei (Co-15)
Juze (P-3)
Massagem com as mãos 1 - Massajar o Tórax a) Massajar as clavículas das extremidades para o centro, Tiantu (Pilar do Céu) (Co-22), inspirar; mão no topo do peito; expirar, escovar até ao abdómen, dedos em ponta e bater ao longo do externo de cima para baixo. b) Shufu (Mansão Shu) (K-27), Qihu (Porta do Qi) (S-13), Zhongfu (Residência Central) (L-1). c) Shanzhong (Meio do Peito) (Co-17) - massajar em ambos os sentidos, inspirar; mãos no centro do peito; expirar; mãos para as extremidades do peito. d) Jiuwei (Rabo de Pombo) (Co-15) - massajar com a mão direita no sentido dos ponteiros do relógio, guiar para o lado esquerdo do abdómen; massajar no sentido contrário dos ponteiros do relógio, guiar para o centro do abdómen. e) Yingchuang (Janela do Peito) (S-16), Ruzhong (Meio do Peito) (S-17), Rugen (Raiz do Peito) (S-18) - massajar ao mesmo tempo. f) Massajar o peitoral (peito). 2 - Massajar o Coração Usar a mão direita sobre o coração a uma distância de pelo menos 5 cm movendo-a em círculos crescentes no sentido contrário dos ponteiros do relógio, depois guiar o Qi para o lado direito do abdómen (fígado) até ao fundo.
Laogong (P-8)
3 - Massajar o Meridiano do Pericárdio Jianneiling (M-UE-48), Jubi (PE), Juze (P-3), Laogong (P-8) - massajar com a mão direita no sentido contrário aos ponteiros do relógio.
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Estações - Verão Figura 1 - A Grande Roca Estica as Asas
1.1
1.2
1.1 e 1.2 - Inspirar; braços relaxados, mãos ao centro, palmas para fora; expirar; afastar as mãos.
1.4
1.3
1.3 e 1.4 - Inspirar; mãos à altura do peito, palmas para dentro e juntas ao peito; expirar; afastar as mãos do peito.
Figura 2 - A Grande Roca Arqueia as Asas 2.1 - Inspirar; mãos à altura do peito, palmas para fora e afastadas do peito. 2.2 e 2.3 - Expirar; descair os braços e mãos para trás das costas, dedos a apontar o mais em frente possível. 2.1
2.2
Figura 3 - O Bébé Pássaro Recebe a Comida
2.3
Figura 4 - Balouçando os Braços para a Frente e para Trás 4.1 - Inspirar; um braço na frente, perna oposta com o joelho dobrado e o pé em ponta. 4.2 - Expirar; trocar de braço e perna (simulação do andar) sem tirar a ponta do pé do chão, colocar o peso no pé que está assente.
3.1
3.2
3.1 - Inspirar; levantar os cotovelos ao nível da cabeça, mãos relaxadas. 3.2 - Expirar; cotovelos descem e relaxam, palmas frente a frente como se segurassem uma pequena bola.
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4.1
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4.2
Instrutores Assistentes de Shaolin: Arménio Silva (Almada) Celso Barja (Amadora) Joaquim Barros (Almada) José Martins (Amadora) Pedro Rodrigues (Amadora) Vítor Casqueiro (Amadora) Instrutores Assistentes de Taiji: Carla Feiteira (Cascais) Pedro Graça (Cascais) Pedro Rodrigues (Amadora) Vítor Casqueiro (Amadora)
Escolas Oficiais:
Escolas Provisórias:
YMAA AMADORA Centro Comercial Babilónia Rua Elias Garcia, 362-D, Bloco A- 4º 2700-377 Amadora Telefone / Fax: 21 498 98 10 Email: af-cgd@centro-ginasticadanca.pt Site: www.centro-ginastica-danca.pt Director: Pedro Rodrigues Disciplinas: Shaolin, Taijiquan e SanShou
YMAA ALMADA AIRFA Academia Almadense Rua Capitão Leitão, 64, 2800-133 Almada Telefone: 21 272 97 50 Email: almada@ymaaportugal.com Director: Tony Chee Disciplina: Shaolin, Taijiquan e SanShou
Directores de Escolas: Pedro Graça (Cascais) Pedro Rodrigues (Amadora / Lisboa) Tony Chee (Almada)
YMAA CASCAIS Centro PARADOX Av. Costa Pinto nº 91 - 1º Esq 2750-329 Cascais Telefone: 21 484 30 04/05 Email: ymaa.cascais@netcabo.pt Site: http://ymaacascais.no.sapo.pt Director: Pedro Graça Disciplina: Taijiquan YMAA LISBOA Ginásio Mega Craque Clube Faia Rua Prof. Jesus Bento Caraça, Telheiras - 1600 Lisboa Telefone: 21 756 74 40 Fax: 21 756 74 43 Email: ginasiosCraque@ip.pt Site: www.craque.com Director: Pedro Rodrigues Disciplina: Taijiquan
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Qualquer nome ou escola que não constem nesta lista, não é reconhecido como instrutor qualificado ou escola YMAA