Livro Fundação Jose Augusto 40 anos

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FUNDAÇÃO José Augusto

40 anos 1963 - 2003

Natal - RN 2004 40 Anos

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ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

WILMA MARIA DE FARIA Governadora FUNDAÇÃO JOSÉ AUGUSTO

FRANÇOIS SILVESTRE DE ALENCAR Presidente

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A todos cujo trabalho e dedicação hajam contribuído, direta ou indiretamente, para a consolidação do que hoje é a Fundação José Augusto. O Coordenador 40 Anos

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CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS JUVENAL LAMARTINE-CEPEJUL Tarcisio Rosas, Coordenador José Albano da Silveira, Subcoordenador Coordenação do projeto e redação Tarcisio Rosas Revisão de texto José Albano da Silveira e Rosane Braga Ponte Revisão gráfica Jorge Rodrigues da Silva Pesquisa Afrânio Pires Lemos Aucides Sales Clênia Maria de Luna Freire Genildo Batista de Oliveira Heitor Lopes Varella Filho Heriberto de Andrade Pessoa Jorge Rodrigues da Silva José Albano da Silveira Kátia Maria Gurgel Amaral Maria Cândida Eugênio de Melo Maria de Fátima Arruda Rosane Braga Ponte Sérgio Cunha de A. Mendes Tânia Lúcia da Silva Cabral Projeto gráfico Jailton Augusto da Fonseca Capa Anchieta Xavier (foto) 6

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APRESENTAÇÃO

O meu Governo está dando à cultura a prioridade que ela merece. Eu prometi que a cultura seria tratada com respeito e dignidade. O trabalho que a Fundação José Augusto vem realizando, sob o comando de François Silvestre, é uma prova de que a minha promessa não foi discurso em vão. A terra de Câmara Cascudo merece e deve tratar a cultura popular com a dimensão universal que tem a obra do mestre. O meu Governo encontrou o Estado em processo falimentar. Inclusive aqui, na Fundação José Augusto. Estamos trabalhando com todo o empenho e dedicação para fazer o Rio Grande do Norte avançar no caminho do desenvolvimento e da justiça social. E a cultura é elemento contributivo para que consigamos alcançar esse objetivo. A Revista “Preá”, no seu nº. 01, publicou uma frase minha que quero repetir agora: O exercício do poder para quem quer apenas o benefício próprio é fácil e agradável. Mas para quem o exerce com vistas ao bem comum é ao mesmo tempo uma atividade honrosa e sofrida. Meus parabéns para a Fundação José Augusto. Que ela continue, como está agora, indispensável à cultura do Rio Grande do Norte. Wilma Maria de Faria

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NOTA DA PRESIDÊNCIA

A história da Fundação José Augusto confunde-se com a vida cultural do Rio Grande do Norte. Nas últimas quatro décadas não se pode falar de cultura, neste Estado, sem que se lembre desta Fundação. Há hiatos, algumas deficiências e deformações, mas este não é o momento de cuidar dos defeitos. Quero lembrar da utilidade da Casa. Desde sua criação por Aluízio Alves, em 1963, até este instante do Governo Wilma de Faria, com o mais arrojado programa de interiorização da ação cultural em toda a sua vida. Tudo sob o comando da Fundação, cumprindo determinação expressa da Governadora. A publicação deste livro faz parte do processo de reativação prática do Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine. Além do elenco de obras físicas, inclusive com a restauração do prédio onde funciona a Fundação, com a criação da Galeria Newton Navarro e do Espaço Cultural Odilon Ribeiro Coutinho, é preciso acentuar a decisão política de democratização do atendimento e da forma de agir da administração da Entidade. Essa não é uma figura de retórica; é uma prática, de constatação notória. Não se promove ação cultural sem democracia. As ditaduras não agem culturalmente. Elas deformam a cultura. As ações culturais, nas ditaduras, são caricaturas da arte. Na escolha entre continuar participando dos eventos elitistas, legítimos, ou empregar a energia no apoio à cultura popular, nós optamos pelo segundo gesto. Sem demagogia ou populismo. O certo é que a elite tem como prover sua diversão, bancando eventos culturais. O que nos cabe é prover um mínimo de logística para que a camada mais pobre da população tenha acesso à cultura que ela própria produz. Ela produz e a elite desfruta. Essa deformação tem de ser enfrentada. Em resumo, taí o livro do CEPEJUL sobre a Fundação José Augusto, nos seus quarenta anos. Parabéns para a Casa e que tenha vida longa. François Silvestre de Alencar

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PREFÁCIO 40 Anos

Não tem futuro quem não cuida do seu passado. A frase que imaginei para pessoas é ainda mais válida para as instituições. A Fundação José Augusto, por quatro decênios, vem fazendo e preservando História, estimulando a criação artística e intelectual, acreditando que a cultura é o meio de superar as dificuldades do nosso povo. Nesses 40 anos gloriosos, a Fundação passou a ser uma instituição essencial. Até se poderia dizer que ela caracteriza o nosso Estado. As pessoas que a integram participam do trabalho com amor, além da coincidência feliz de serem escolhidos bons administradores em governos diferentes. Assim, a inteligência dos Presidentes concorreu para não haver descontinuidade na obra da Fundação, quaisquer que tenham sido os matizes políticos e psicológicos de cada dirigente. A marca da personalidade de cada um permanece incorporada no espírito da Fundação como a noção clara da cultura e da história de Hélio Galvão, a lucidez criativa de Ilma Melo Diniz, o conhecimento filosófico e sociológico de Sanderson Negreiros, a arte na história de Franco Jasiello, o humanismo de Cláudio Emerenciano, a política hábil e solidária de Valério Mesquita, a visão administrativa de Evilásio Leão, a capacidade de realização de Paulo Macedo, a crítica e atividade corajosas de Woden Madruga, o saber popular do médico, escritor e pintor Iaperi Araújo. O nome faz parte do destino do homem. François Silvestre tem cultura francesa, precursor como o seu xará Rabelais, com o lirismo de Il Poverello de Assis e é cidadão do mato, agreste, que, sob aparência urbana, é um homem silvestre. Acredito que o patrono José Augusto, a quem tive a honra de suceder na Academia Norte-rio-grandense de Letras, homem seridoense e universal, político de rigor ético, tem influenciado com seu saber e postura ética os dirigentes da Fundação. E continuará a iluminar os futuros. Em verdade, decorridos 120 anos do nascimento de José Augusto Bezerra de Medeiros (1884-1971) a sua orientação é ainda continuada. Apontava para a necessidade do “saber organizado”, indicando que “a inteligência e o saber dominam todos os ramos da atividade social”. A Fundação, 11


com a inteligência e conhecimentos dos que a integram, é agente de preservação e estímulo à cultura. Exerce influência positivamente transformadora sobre a nossa comunidade. José Augusto ocupou altas funções no Estado, como Deputado Estadual e Federal, Governador, Senador da República. Em todas as atribuições prevalecia o seu sentimento de professor de História e Geografia do Atheneu, instituição antecipadora da Universidade. Dirigiu duas revistas nacionais de educação que tratavam da transmissão cultural e que tiveram enorme influência no país. Além dos trabalhos de preservação histórica e das manifestações culturais da comunidade, a Fundação tem ampliado as suas atividades ao interior, com a implantação das Casas de Cultura e as respectivas ações valorizadoras da nossa identidade cultural. Tem reconhecido que não há fronteiras entre as manifestações artísticas, populares ou eruditas, que o bom poeta poderá ser um cantador de feira ou um letrado de gabinete. A sua tarefa cultural tende a harmonizar o homem do Rio Grande do Norte no seu sistema de vida. A Fundação José Augusto tem se associado a ações das Universidades, da Academia de Letras e do Instituto Histórico. É preciso notar que na Secretaria de Estado da Educação, da Cultura e dos Desportos, os problemas de educação são tão avassaladores que fazem esquecer a área cultural, da qual a educação é apenas instrumento. O turismo cultural é o futuro do nosso Estado. Os primeiros passos para a integração com o turismo vêm sendo dados. Será mais uma conquista da Fundação José Augusto que aponta para o futuro. Este é um livro básico. Nele se vê um registro da história, das funções exercidas, dos órgãos que congregam a Fundação e, até mesmo, é texto que examina a abertura do amanhã. Neste livro até o apêndice é essencial. Porque os padrinhos e as madrinhas são modelos iniludíveis da Fundação e dos seus órgãos. Diógenes da Cunha Lima 12

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................................................................................................

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PRIMEIRA PARTE .................................................................................................................................................................................. ANTECEDENTES HISTÓRICOS ..................................................................................................... Considerações iniciais ......................................................................................................................................... Contexto sociocultural de Natal, à época .......................................................................... Finalidades da Organização .................................................................................................................... (a) Comentário ......................................................................................................................................................... NOTA PRELIMINAR ................................................................................................................................................. Função Educacional – (1963-1974) ..................................................................................................... Ação cultural (a) Período de transição – (1975-1982) ................................................................................... (b) Consolidação do processo – (1983-2003) ...............................................................

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SEGUNDA PARTE .............................................................................................................................................................................. PERÍODO INICIAL – (1963-1974) ................................................................................................................ Encarte: Faculdade de Filosofia ............................................................................................................ Faculdades de Filosofia, Jornalismo e Sociologia .......................................................... Instituto Juvenal Lamartine ..................................................................................................................... Biblioteca Pública do Estado .................................................................................................................. Museu de Arte e História do Rio Grande do Norte ................................................... Implantação da Gráfica Manimbu ............................................................................................... Observações dos presidentes da época ..................................................................................

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TERCEIRA PARTE ............................................................................................................................................................................. PERÍODO DE TRANSIÇÃO – (1975-1982) ........................................................................... Fase preliminar – (1975-1979) ................................................................................................................ (a) Criação dos Centros de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine-CEPEJUL e de Desenvolvimento Cultural-CDC .........

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(b) Programa de Formação de Executivos-PROFIED e surgimento do Centro de Recursos Humanos-CRH ................................................. 84 (c) Criação e operacionalização da Consultoria Técnica .................... 86 Fase complementar – (1980-1982) ............................................................................................................ 89 Reestruturação administrativa: (a) Criação dos Centros de Documentação-CDC e de Promoções Culturais-CPC ......................................................................................................................................................... 89 Encarte: Organograma da FJA (1979) ................................................................................... 93 (b) Redimensionamento do CRH ............................................................................................... 95 (c) Reativação do CEPEJUL .............................................................................................................. 96 (d) Consolidação do Sistema Estadual de Bibliotecas ..................................... 98 Observações dos presidentes da época ................................................................................. 101 QUARTA PARTE ...................................................................................................................................................................................... CONSOLIDAÇÃO DO SISTEMA – (1983-2003) ................................................................ Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine ................................................. Centro de Documentação Cultural Eloy de Souza-CDC .............................. (a) Subcoordenadoria de Documentação ................................................................... (b) Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico ................................ (c) Memoriais Câmara Cascudo e Mons. Expedito ................................ (d) Ação da Biblioteca Pública Câmara Cascudo ............................................. (e) Sistema Estadual de Museus ........................................................................................... Centro de Promoções Culturais-CPC ..................................................................................... (a) Cultura popular, principais projetos .................................................................... (b) Cidade da Criança; Escolas Cândido Portinari, Newton Navarro e Rossini Perez; Pinacoteca Estadual/Palácio da Cultura ..................................................................................................................................................................................... Outros segmentos de difusão cultural .............................................................................................. (a) Área teatral Teatros Alberto Maranhão e Lauro Monte Filho; Centro Cultural Dep. Adjuto Dias ................................................................................................................................................................ (b) Área musical Instituto de Música Waldemar de Almeida-IMWA, Corais Canto do Povo e Harmus, Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte, Projeto “Seis e Meia” e Programa de Incentivo às Bandas de Música do Estado .............................................................................................................................................................

(c) Área Literária .............................................................................................................................................. Conselho Editorial-CONEDI ............................................................................................................. Concursos e premiações ............................................................................................................................... Obras e autores publicados ..................................................................................................................... Núcleo de Literatura ........................................................................................................................................... 14

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Presidentes da época ........................................................................................................................................... 195 QUINTA PARTE ........................................................................................................................................................................................ ATIVIDADES COMPLEMENTARES ................................................................................................ Centro de Recursos Humanos-CRH ................................................................................................ Contribuição da Gráfica Manimbu ....................................................................................................... Informação e divulgação: Ass. de Imprensa; Jornais e Revistas ....... Informações sobre o Arquivo da Fundação ............................................................................ Projetos produzidos (a) Considerações iniciais ................................................................................................................. (b) Projetos produzidos, por área ...................................................................................................

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SEXTA PARTE ........................................................................................................................................................................................... INFORMAÇÕES SUPLEMENTARES ......................................................................................... Referências históricas sobre o prédio-sede da Fundação ............................ Lei Câmara Cascudo ............................................................................................................................................ Encarte: Grupo Escolar “Antônio de Souza” (1923) .............................................. Depoimentos de ex-funcionários ............................................................................................................... Prognósticos dos ex-presidentes ........................................................................................................... Interiorização da ação cultural ............................................................................................................ Encarte: Fachada atual da Fundação José Augusto ................................................. Comentário final ............................................................................................................................................................

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APÊNDICE ............................................................................................................................................................................................... 251 PATRONOS E MADRINHAS (dados biográficos) ....................................................................................................................................................... 253 GLOSSÁRIO ................................................................................................................................................................................ 319

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Introdução

Muito embora a comunidade norte-rio-grandense saiba, grosso modo, o que é a Fundação José Augusto, poucos têm a percepção clara do que ela representa no contexto histórico-cultural do Estado. Suas intervenções, precedidas de divulgação, caracterizam-na de forma inconfundível como o instr umento da estr utura administrativa governamental encarregada de promover a cultura ou, dito de modo mais preciso, de formular e executar a política cultural no âmbito do Rio Grande do Norte. Isto, porém, se a define, não diz tudo. Entendemos que, formalmente, há uma distinção essencial entre o simples conhecimento do que à Fundação compete e a sua substância; entre o seu quefazer e o como o faz; entre o exclusivismo de sua proposta (o fenômeno cultural) e o universalismo de sua ação (a multiplicidade de manifestações). Nesta perspectiva, até o momento não se havia tentado a sua abordagem. Diga-se, de início, que, interagindo com o campo vasto da sociedade, cuja característica básica é a interpenetração dinâmica de valores e experiências – um constante entrechoque de idéias e concepções – e, por outro lado, subordinando-se a dois fatores também cíclicos, o político e o econômico, esta Entidade modificou-se no tempo, ora limitando suas intenções ou as expandindo, utilizando de forma plena ou moderada suas potencialidades, elegendo como prioridades aspectos infra ou superestruturais e, enfim, considerando tal ou qual manifestação como suporte programático a períodos de curta, média ou longa duração. A partir de 1994-95, por exemplo, com a implantação de uma nova política econômica no país, portanto com a adoção de novos conceitos no trato orçamentário, foram suscitadas radicais alterações programáticas em todos 40 Anos

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os setores da administração pública. Dessa reavaliação geral resultou drástica redução no ritmo de atividade do órgão, fazendo-o verter-se especialmente para intervenções na capital, em detrimento dos demais municípios. Como se vê, a questão não é tão simples. Evidencia-se que, no decurso destes quarenta anos, oscilando ao acaso de tais variáveis, viu-se compelida por diversas vezes a alterar sua estrutura organizacional de sorte a adaptá-la às diferentes situações. Sua apreensão, pois, depende da visão de conjunto, de um conhecimento objetivo e claro de todas as fases do seu trajeto, dos meios então disponíveis e de eventuais percalços com que se terá defrontado. Em outras palavras, se a definição programática está subordinada às inconstâncias político-econômicas e sociais, o seu tratamento e execução dependem da qualificação dos recursos humanos e das disponibilidades dos meios materiais. Há, assim, vários fatores intervindo, constituindo cada meta estabelecida e cada objetivo perseguido uma exaustiva síntese de valores, concepções, experiências, qualificação profissional, respeito às diretrizes políticas e contenção nos quase sempre estreitos limites orçamentários. Afora o sentido informativo à comunidade potiguar sobre o que tem representado a Fundação José Augusto ao longo de sua existência, dois objetivos fundamentais pretendemos atingir, com o presente estudo: preservar a história da instituição e subsidiar nossos quadros administrativos e técnicos com um resumo de elementos capazes de levar a uma avaliação do seu desempenho, desde a sua origem aos nossos dias. A preservação da memória justifica-se por seus próprios fins: como exercer a função de repositório do acervo cultural do Estado quando, sequer, consegue fazê-lo em relação aos fatos que conformam sua própria evolução?... Quanto à avaliação, é elementar sua importância para a realimentação do sistema, para a manutenção e/ou circunstancial correção de rumo. Certamente, não foi uma tarefa fácil. O considerável volume de documentos e, nestes, de informações e dados a manipular – verificandoos, cotejando-os e os interpretando –, exigiu-nos não só recursos técnicos e estruturais como, inclusive, uma atenção redobrada, uma vigilância constante, considerando que não estávamos reconstituindo os principais momentos de algo perdido no tempo, de algo estático cujas imagens e sucessos pertencessem a um instante dado do passado remoto (um sítio arqueológico ou um monumento histórico, por exemplo) mas, ao contrário, 18

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de um mecanismo vivo, pulsante, participativo e integrado à estrutura administrativa governamental, lutando por avanços mas sujeito a retrocessos – pelos já mencionados incidentes de percurso –, com sentido e fins definidos. Destarte, enquanto revolvíamos os nossos arquivos e analisávamos o significado e a importância de cada registro, mantínhamo-nos à escuta dos projetos e realizações da atualidade, procurando assimilar a seqüência lógica dos fatos e acontecimentos, compreender-lhes a sintonia para, enfim, estabelecer um parâmetro de abordagem de modo a assegurar a versão mais exata possível de como eles se deram. Cremos haver atingido o nosso propósito, mesmo porque nos ativemos aos fatos e poucos foram os momentos em que nos detivemos em apreciações subjetivas, considerando que nunca se é de todo isento, numa narrativa; há, sempre, o crivo de uma interpretação, especialmente quando se teve a vivência emocional de significativa parcela de tais momentos. Alguns dos ex-presidentes do Órgão também se manifestam, nas próximas páginas (os depoimentos são de 1993). Julgaríamos incompleto o trabalho não fora a visão de cada um deles sobre o respectivo período e as perspectivas da Fundação, segundo sua ótica. Deles ouvimos, ainda, palavras de estímulo, com lúcidas mensagens e apreciações sobre o processo cultural norte-rio-grandense, pelas quais, neste instante, formalizamos sinceros agradecimentos, bem como ao atual Presidente, François Silvestre de Alencar, cujo incentivo e apoio foram decisivos para a editoração desta pesquisa. É de tal soma de elementos que ressalta, a seguir, a realidade não de todo apreendida sobre a Fundação José Augusto, tantas vezes julgada de forma precipitada e, portanto, depreciativa. Não nos moveu o propósito de enaltecerlhe a existência e atuação, longe disso. Não se trata de um preito de homenagem, de rebuscado e estéril cântico de exaltação mas, sim, de proceder à exumação e recomposição dos fatos que a fazem para que a melhoremos. A verdade, em síntese, é o propósito que nos anima e o fim que nos dirige. Outro assunto. Queremos registrar, aqui, nossos agradecimentos a diversos colaboradores que nos cederam informações e/ou fotografias nãoexistentes em nossos arquivos. Agradecemos especialmente a Ducineide Rodrigues da Silva, nossa colega de Fundação, a qual desde o primeiro instante nos facultou amplo acesso aos arquivos da Casa. Tarcisio Rosas 40 Anos

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Ata de instalação dos Conselhos Curador e Diretor da Fundação José Augusto (03.06.1963)

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PRIMEIRA PARTE

ANTECEDENTES HISTÓRICOS Considerações iniciais ........................................................................................................................................ Contexto sociocultural de Natal, à época ......................................................................... Finalidades da Organização .................................................................................................................... (a) Comentário .....................................................................................................................................................

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NOTA PRELIMINAR Função Educacional – (1963-1974) .................................................................................................. Ação cultural (a) Período de transição – (1975-1982) ....................................................................... (b) Consolidação do processo – (1983-2003) ....................................................

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Considerações iniciais Criar uma instituição pressupõe não só a implementação de um complexo conjunto de medidas jurídicas e administrativas mas, inclusive e sobretudo, a clara percepção, por parte de quem a tal se decida, de sua real e efetiva necessidade. Os fatores possíveis, capazes de suscitar tal percepção, são múltiplos, contudo. Há quarenta anos, nascia a Fundação José Augusto; quais as razões causais, deter minantes, que terão concretizado este fato? Entendemos que, mesmo coexistindo motivos diversificados, seguramente um fator terá contribuído de for ma significativa: a insatisfação da comunidade com as limitadas alternativas artísticoculturais existentes. Com efeito, operava-se no Estado – especialmente nesta cidade – uma efervescência natural, sedimentada ao longo de vasto período de maturação, dando origem a um clima no qual, inelutavelmente, algo deveria ocorrer, quanto à ação cultural: se não a criação, por parte do Governo Estadual, de uma instituição para tal vocacionada, pelo menos o exercício efetivo, pela Secretaria de Estado da Educação, da Cultura e dos Desportos-SECD – por exemplo – desse papel. Em outras palavras, se não tivesse sido criada a Fundação José Augusto, naquele momento histórico, alguma outra entidade, de qualquer esfera administrativa, necessariamente assumiria as responsabilidades que lhe foram incorporadas e confiadas. Mas, por que isso, qual o impositivo essencial, orgânico, que terá incidido nas raízes daquele ato, afinal puramente administrativo?... 40 Anos

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Desportos-SECD –


Foto: Jaecy (acervo Marcos Pedroza)

Para fixarmos com mais objetividade e, portanto, nitidez, o nosso racíocinio, recuemos um pouco no tempo, às décadas de 40 e 50, nas quais o comportamento da sociedade natalense, apesar do impulso tomado nos anos de participação brasileira em eventos da Segunda Guerra Mundial, longe estava do que se poderia chamar de revolucionário e inovador.

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Contexto sociocultural de Natal, à época É comum dizer-se que Natal, embora em inegável processo de expansão e modernização, guarda, ainda, alguns resquícios provincianos. Mesmo agora, despontando como promissor núcleo turístico regional, para isso contando com uma rede hoteleira integrada aos padrões tidos pela Empresa Brasileira de Turismo-EMBRATUR como plenamente satisfatórios, dispondo de vida noturna com boas alternativas, como de uma malha viária bem distribuída e modernizada, além de um comércio, se não portentoso, descentralizado e de variadas opções, revelando, enfim, alguns indiscutíveis traços de metrópole emergente, ainda mantém um certo encanto de província, rematado pelo caráter psicológico de seu povo, de ordinário bastante acolhedor. Isto é um fato. As arrojadas linhas arquitetônicas do campus universitário, do centro administrativo, do estádio de futebol, da catedral metropolitana, de dezenas de edifícios, viadutos, complexos residenciais e comerciais, assim como a base de lançamento de engenhos espaciais, o centro de treinamento da Força Aérea Brasileira, o belo traçado da via costeira e, sobretudo, a mentalidade aberta e comunicativa dos seus mais de setecentos mil habitantes, entre outros indicadores, não chegam a disfarçar aquela peculiaridade já integrada à própria personalidade urbana. Não vai longe o tempo, porém, em que, despida desses elementos, assumia convictamente sua condição de cidade modesta, pacata, ordeira, cujos únicos atrativos, afora a legendária Fortaleza dos Reis Magos, eram simplesmente os da natureza – pródiga, aqui, sem dúvida. Com efeito, até meados da década de 50, Natal se portava, praticamente, como uma “cidade-satélite” de Recife, cujo poder catalisador e 40 Anos

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centralizador, em quase todas as áreas, abrangia substancial parcela da região, envolvendo predominantemente os municípios de João Pessoa e Natal, ao norte, e os de Maceió e Aracaju, ao sul (se bem que este último também subordinado à força de atração de Salvador), afora a maioria das cidades interioranas contidas no espectro desse raio de abrangência. A influência de Fortaleza, também ponderável, era exercida especialmente sobre outras partes do Estado, como as microrregiões do Oeste Potiguar, Salineira Norterio-grandense e do Seridó. Assim, partindo de uma maior significação econômica no contexto da Federação, aquelas capitais, sobretudo Recife, sediavam as entidades federais mais importantes, os comandos militares, vários consulados e outras representações estrangeiras, empresas de maior expressão, etc., com o que se reciclavam permanentemente em suas respectivas infra-estruturas urbanas (indústria, comércio e serviços), reordenando seguidamente seu processo de desenvolvimento, o que, até certo ponto, persiste: note-se que os dois órgãos de maior expressão, do ponto de vista do desenvolvimento regional – o Banco do Nordeste do Brasil e a SUDENE –, estão sediados exatamente naquelas capitais. Convém assinalar que, se a SUDENE foi virtualmente extinta no Governo Fernando Henrique Cardoso, está em processo de reabertura na administração atual. Seguindo a regra geral, a cidade não dispunha de uma universidade. Afora a Escola de Serviço Social (1945) e as Faculdades de Farmácia e Odontologia (1947) e de Direito (1949), todas então recentes e, portanto, sem tradição, não havia outras opções. Sua proximidade de Recife e Fortaleza tornava cômoda aquela situação de quase indigência cultural, pois as famílias mais abastadas, de onde seria de esperar alguma iniciativa de natureza reivindicatória, mantinham-se em atitude passiva, simplesmente encaminhando os filhos àqueles centros, quando não para capitais mais prósperas, enquanto as demais se atinham às limitadas perspectivas dos cursos de nível médio, então Científico, Clássico, Pedagógico e Contabilidade. Repetia-se, regionalmente, o comportamento do começo do século, quando as elites brasileiras mandavam os seus descendentes estudar na Europa. Portanto, a cada ano partiam daqui centenas de estudantes, dentre os quais gratas promessas no campo intelectual, como única possibilidade de darem seqüência ao seu aprendizado e de assegurarem uma formação profissional condizente com o nível de aspiração do meio a que pertenciam. Muitos deles jamais tornariam a Natal, vez que o processo natural de fixação do indivíduo ao ambiente (trabalho e família) os reteria, inexoravelmente. 32

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Mas tal estado de coisas não poderia perdurar, indefinidamente. O crescimento populacional, a modernização administrativa e, apesar de lento, o desenvolvimento econômico do município requeriam um volume de mãode-obra qualificada cada vez maior. Finalmente, em 1958, durante O Governo Dinarte Mariz, era criada oficialmente a Universidade Estadual do Rio Grande do Norte-UERN. Aquele ato vinha coroar a luta e a perseverança de um grupo de abnegados, tendo à frente o Dr. Onofre Lopes da Silva, que seria com muita justiça o seu primeiro reitor. Desde então não só foi significativamente contida a prefalada evasão como, inclusive, abriram-se novas perspectivas para aquelas famílias menos abastadas, a cujos filhos era dificultado o acesso ao ensino superior. Este acontecimento trouxe profundos reflexos para o desenvolvimento de Natal, com nítida repercussão na área da cultura. Efetivamente, ampliada a faixa de indivíduos com formação universitária, pouco a pouco ressaltaria com maior clareza a fragilidade da infra-estrutura cultural do Estado. Tínhamos artistas, claro; sempre os tivemos. Faltava-nos era um instrumento adequado à sua identificação e à abertura de caminhos que lhes permitissem ou, quando menos, lhes facilitassem a comunicação estética através das múltiplas formas de manifestação (música, dança, poesia, pintura, estatuária, etc.), assim como ao estudo organizado dos fatos históricos, e que fosse, ainda, adequado a futuras intervenções, do ponto de vista técnico-administrativo, no arcabouço da fenomenologia sociocultural norte-rio-grandense. Em princípios da década de 60, persistia o marasmo na vida cultural da cidade e, por derivação natural, do Estado. Claro, as insatisfações eram crescentes pois não havia, ainda, qualquer estrutura institucional dedicandose, formal e sistematicamente, à exploração dos valores tradicionais da cultura local, e todas as iniciativas neste campo eram absolutamente isoladas, estanques. Afora o Teatro Alberto Maranhão, discretamente utilizado, o Estádio Juvenal Lamartine – que, além de futebol, servia de palco a shows artísticos, cerimônias religiosas e, até!, a jogos de bingo –, alguns clubes sociais de tradição, tais como o Natal Clube, no centro da Cidade Alta; o Aero Clube e o América no Tirol; o Alecrim Clube, no bairro do mesmo nome, os cinemas São Luiz, São Pedro, Rex, Rio Grande e Nordeste, este, aliás, à época com alguns anos de existência, pouco mais era oferecido por Natal, em termos de entretenimento, lazer e arte. A Rádio Poti promovia dois programas de auditório semanais – “Vesperal dos Brotinhos”, aos sábados, e “Domingo Alegre” – e no centro do Alecrim havia um espaço cultural, o “Quitandinha”, 40 Anos

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onde eram realizadas esporádicas apresentações artísticas e as grandes concentrações públicas da cidade.(1) Um outro ponto de encontro foi o Bar e Sorveteria Oásis, inovação no estilo de bar, essencialmente juvenil (talvez mesmo por tratar-se, inclusive, de uma sorveteria), instalado numa área de boemia consagrada. Situava-se anexo ao Cinema Nordeste, na Rua João Pessoa, esquina com a Rua Dr. José Ivo, o chamado Beco da Lama, pontilhado de botecos ao longo de décadas, de ordinário freqüentado por artistas e escritores – o poeta Jorge Fernandes escreveu versos em suas mesas, Newton Navarro e Bosco Lopes eram habitués –, proximidades do famoso Bar do Nasi e não distante dos bares Dia e Noite, ao lado do Edifício Sisal, também na Rua João Pessoa, e Acácia Bar, este na Avenida Rio Branco, vizinho à Casa da Música, de Gumercindo Saraiva. Nos períodos festivos, porém, como no carnaval e nos ciclos junino e natalino, sobretudo durante a administração do Prefeito Djalma Maranhão (1961-1964), as artes e a cultura populares passaram a ser objeto de atenção, notadamente em espetáculos folclóricos da nau-catarineta, do pastoril, dos bois, presépios e lapinhas; das pitorescas batalhas carnavalescas nos diversos bairros da cidade. Uma concha acústica, erguida no centro da Praça André de Albuquerque naquela época, concentrava muitas dessas iniciativas, operando como elemento catalisador e disseminador da cultura do povo. Foi, contudo, um esforço fugaz, face aos acontecimentos políticos que seriam desencadeados a partir de 31 de março daquele ano de 1964. Ademais, a centenária fortaleza não passava de monumental relíquia, com sua dimensão histórica e o seu valor cultural esquecidos ou relegados aos escaninhos das bibliotecas e à memória de alguns fiéis e insistentes pesquisadores. Àquela época não havia, a rigor, museus, exposições, concertos, festivais, concursos, editorações ou quaisquer outros eventos que denunciassem, mesmo de longe, iniciativas do gênero com um mínimo de regularidade. Claro, de tempo em tempo, a largos espaços assistemáticos, surgia um artista, um grupo, uma trupe; era encenada uma peça, lançado um livro ou realizada uma exposição itinerante oriunda quase sempre do sul do país, às vezes de Recife ou Fortaleza. Qualquer desses eventos, contudo, constituía grande acontecimento, dada a raridade de ____________________

Essa estrutura, localizada na Praça Gentil Ferreira, no cruzamento da Avenida Presidente Bandeira com a Rua Amaro Barreto, era uma sólida construção, em alvenaria, constando de bar e lanchonete na parte térrea e, sobre a cobertura - amplo espaço em concreto -, uma espécie de “tribuna popular”, servindo tanto para manifestações estudantis e de trabalhadores, como para apresentações artísticas e manifestações políticas. Ali estiveram presentes e fizeram comícios personalidades como Getúlio Vargas, João Goulart, Leonel Brizola, Juscelino Kubitschek, Juarez Távora, Tancredo Neves, Carlos Lacerda e Jânio Quadros entre outros -, da vida pública nacional, e políticos potiguares, como Café Filho, Dinarte Mariz, Djalma Maranhão, Djalma Marinho, Georgino Avelino, Aluízio Alves, Cortez Pereira, etc. Naquele local, via de regra, ocorria o encerramento das campanhas eleitorais. (1)

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Foto: Anchieta Xavier

Perspectiva do Beco da Lama, no centro de Natal. 40 Anos

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ocorrências. Aquelas doses homeopáticas de arte e cultura eram, realmente, extremamente esporádicas. Provavelmente data daquele período a conhecida frase, tantas vezes repetida por pessoas da terra quando em viagem para centros mais evoluídos: vou tomar um chá de cultura!, figurando a imensa desigualdade entre a então desprovida Natal e os núcleos urbanos com atividade cultural mais intensa. Com efeito, não raro ia-se a Recife ou Fortaleza – por exemplo – apenas para ver um filme ou uma peça teatral, assistir a um concerto sinfônico ou, até!, consultar uma biblioteca. João Machado, jornalista talentoso e irreverente, tipo humano dos mais espirituosos desta cidade rica de tipos humanos, costumava dizer que Natal era uma fazenda iluminada, o que resume de forma eloqüente o que vimos reiterando. Essa realidade está refletida, ainda, nas palavras do ex-Governador Aluízio Alves, mentor e criador da Fundação José Augusto, em depoimento ao jornal “O Galo”, em junho de 1993: Até o meu Governo, o Estado não tinha uma política cultural. As raras atividades desse setor eram atribuídas à Secretaria de Educação que, com as tarefas próprias e os encargos dos convênios com a Aliança para o Progresso , não dispunha nem de tempo nem de recursos para promover estímulos à cultura. Reflete um pouco e completa: Dei o primeiro sinal dessa preocupação quando realizei, na Lagoa Manoel Felipe, que transformei em espaço cultural na época, o 1º. Festival do Escritor Norte-rio-grandense. Trouxe conterrâneos residentes em vários Estados, até então desconhecidos, para lançar aqui os seus livros, e escritores nacionais para prestigiar o evento e atrair o público que, certamente, não iria (apenas) ver escritores conhecidos. Jorge Amado foi a principal estrela do Festival. E reitera: Mas era necessário ter uma política cultural permanente e (antes disso, claro!) os instrumentos para criá-la e implementá-la. Observe-se que, de uma forma ou de outra, urgia uma tomada de posição pelos poderes constituídos. A carência era tão grande e a pressão de certos segmentos comunitários (setores da universidade, da imprensa e da população) tão intensa, que algo deveria ser feito. Então, algo foi feito: Com Hélio Galvão, além de jurista um grande escritor, estruturei a Fundação José Augusto, que, sem as exigências burocráticas da administração direta, poderia exercer essa tarefa. (...) À Fundação caberia, além de ações culturais da maior amplitude – desde (a promoção de) semanas de jazz e (escola) de pintura infantil, até a estruturação do Instituto Juvenal Lamartine, que pretendia fosse réplica norte-riograndense do Instituto Joaquim Nabuco, para pesquisas, realização de seminários, acompanhamento de nossa vida social, econômica e política, e a Escola de Jornalismo 36

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fosse réplica


Foto: Arquivo da FJA /CDC

Ex-Governador Aluízio Alves, em depoimento ao jornal “O Galo” (junho, 1993). 40 Anos

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Eloy de Souza, que não deveria ser um simples curso de comunicação, mas um instrumento de formação de comunicadores que conhecessem o Nordeste e pudessem levar, para a imprensa local e a do sul, para a qual boa parte se deslocava, a preocupação e a visão do nosso drama e das nossas perspectivas. Na Fundação pusemos, também, a Faculdade de Filosofia, particular, que encampamos para que não fechasse, entregando-a a Edgar Barbosa, e a Escolinha de Arte Cândido Portinari, confiada a Newton Navarro. Começamos, então, a formação de recursos humanos para os vários setores. Iniciamos a edição de livros há muito esgotados, como os de Ferreira Itajubá, Palmira Wanderley e outros, e já encomendávamos livros com a história de todos os municípios, continuando a série que iniciáramos, em 1943, através de uma iniciativa particular, a Biblioteca de História Norte-rio-grandense. Adquirimos a gráfica, necessária a essas atividades. Várias transformações sofreu a Fundação José Augusto, após o trabalho inicial do meu Governo. Para a Universidade Federal foram transferidas a Faculdade de Jornalismo, seu atual Curso de Comunicação, e a Faculdade de Sociologia. O Instituto Juvenal Lamartine perdeu seus objetivos iniciais. Conclui seu depoimento o ilustre potiguar dizendo ter a expectativa (...) de que nenhum interesse menor possa fraudar o sonho para cuja realização ela foi criada.

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Finalidades da Organização A Fundação José Augusto, entidade autônoma com personalidade jurídica de direito privado, foi criada pelo Decreto-lei nº. 2.885, de 8 de abril de 1963, do Governo do Estado do Rio Grande do Norte que, como já vimos, à época era exercido pelo Exmº. Sr. Dr. Aluízio Alves. Outros instrumentos legais, no decorrer do tempo, alterariam alguns dos dispositivos constantes nessa lei original, bem como sua própria estrutura, extinguindo e criando novos setores operacionais. Assim, num primeiro momento, uma de suas funções básicas foi a de aglutinar e manter outras organizações que lhe eram preexistentes, como a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Natal, o Instituto Juvenal Lamartine, a Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza e o Museu de Arte e História, bem como a de criar e manter a Biblioteca Pública do Estado (que só entraria em funcionamento efetivo a partir de 1969), que passaram a constituir o seu arcabouço institucional. Além desses órgãos, sua estrutura compreendia os Conselhos Diretor e Curador, conforme dispõem os Art. 3º. e 6º. da citada lei. A Fundação está bastante modificada, tendo perdido seu caráter especialmente educacional daquele período e enfatizado, em contrapartida, o projeto de ação cultural. A propósito, é interessante cotejar suas finalidades, expressas no início das atividades e como se colocam, atualmente. Na origem, destina-se a uma ação cultural e científica, privilegiando no entanto esta última área, conforme estabelece o Decreto nº. 4.068, de 29.05.63, que institui o órgão, em seu Art. 4º., letras “c” e “e”, onde consta que à Fundação compete: 40 Anos

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(a) “concorrer para melhor compreensão dos problemas regionais e locais, propiciando seu estudo e debate, constituindo-se em centro de alta cultura, de pesquisa e documentação para sistematizar e divulgar conhecimentos técnicos” e (b) “incentivar o trabalho científico e estimular a formação de pessoal técnico e especializado para atender às exigências do desenvolvimento econômico e industrial da região”. Hoje, como se sabe, há uma definição vocacional mais diretamente vinculada à ação cultural. Quanto às suas finalidades, o texto em vigor, definido no Decreto nº. 7.789, de 10.12.79, Art. 1º., é bastante claro: “(...) promover o desenvolvimento sociocultural e científico do Estado...” Muito embora não se possa dizer que, explicitamente, há uma alteração formal de suas finalidades, é notável a diferença dos enunciados, considerando que, no primeiro deles, dá-se o detalhamento das ações a serem implementadas, isto é, através de “estudos, pesquisas, documentação, divulgação dos conhecimentos produzidos, incentivo ao trabalho científico e estímulo à formação de técnicos especializados”, o que, certamente evidencia o lado científico de seus objetivos, diversamente do que ocorreu na redação do decreto ora vigente, sensivelmente priorizando a ação cultural. A aparente divergência se explica, provavelmente, nos cursos universitários e no Instituto de Pesquisas que mantinha. Com efeito, quando as faculdades de Filosofia e de Jornalismo foram incorporadas à UFRN, a exemplo do que ocorreria com a Faculdade de Sociologia e Política, até então integrada à estrutura do Instituto Juvenal Lamartine de Pesquisas Sociais, esvaziou-se, de certa forma, essa sua finalidade. Quanto ao Instituto Juvenal Lamartine, seria transformado em Centro com a Lei nº. 4.403, de 23.10.74, mas um ano depois desativado (justamente com a transferência do curso de Sociologia), retornando, enfim, com a reformulação organizacional da Entidade em 1979, desta feita definitivamente com o status de Centro, permanecendo até hoje. (V. p. 91).

(a) Comentário Conforme vimos, havia uma tríplice proposta nos objetivos da Instituição, originalmente. A educacional, caracterizada nos cursos superiores de Filosofia, Jornalismo e Sociologia; a cultural, então especialmente desempenhada na realização de conferências e círculos de debates sobre aspectos relevantes da realidade sócio-político-cultural e 40

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científica regional, e a científica ou de pesquisa, na incorporação e operacionalização do Instituto Juvenal Lamartine de Pesquisas Sociais. Certamente tais enfoques foram alvo de inúmeros programas e projetos, naqueles anos iniciais, perdurando até meados da década de 70. Contudo, como todo sistema complexo, esta Entidade sofreria alterações em seu dinamismo, sempre convergindo para o reordenamento de sua estrutura e de suas metodologias face às exigências político-econômicas e culturais que lhe iam sendo impostas pelo desdobramento dos fatos – no decorrer daquele período histórico. As leis e decretos, também já mencionados, que pontilham ao longo de sua trajetória, suscitaram pequenas alterações ou estabeleceram radicais transformações em suas respectivas épocas, como no caso do Decreto nº. 4.923, de 17 de dezembro de 1979, dotando a Fundação de uma estrutura organizacional sobremodo diferenciada da de suas origens e, mesmo, das imediatamente precedentes. Claro, por trás de tudo isso encontra-se, disfarçada ou claramente, a dinâmica social e a cultura, por sua própria natureza, é especialmente dinâmica. Uma organização tradicional, como banco, tribunal, firma comercial etc., pode permanecer décadas a fio sem mudanças substantivas em seus procedimentos básicos, limitando-se apenas a um ajustamento tecnológico do seu desempenho ao progresso. Um órgão cultural, diversamente, está sujeito à vasta soma de elementos que diuturnamente influem em significativas, às vezes abruptas, correções de curso. Assim, a multiplicidade das manifestações populares, os compromissos com datas e fatos históricos, a repercussão dos eventos promocionais, a susceptibilidade dos produtores culturais, a insatisfação das elites, o choque cultural, as pressões políticas, os radicalismos e a severidade da crítica – afora a manifesta ausência de tradição, no País, no trato administrativo das questões vinculadas à área cultural, nunca encarada como prioridade, entre outros fatores, constituem alguns desses elementos intervenientes. Portanto, se ocorreram alterações, e isto é um fato, elas surgiram a partir de necessidades que costumam ressaltar do seio da própria comunidade, nascendo e se impondo aos múltiplos processos interagentes que sustentam e vitalizam a estrutura social. Mas, não só em termos oficiais, na ordem jurídica, ia se consolidando tal complexo de mudanças. Sempre antecedendo às medidas técnicoadministrativas e legais, operava-se pouco a pouco uma transformação nos indivíduos que, por isso mesmo, as promoviam, reformulando o seu modo de observar, captar e analisar as situações, reorientando os seus pontos de vista e, 40 Anos

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enfim, revertendo tal conhecimento e experiência em modificações nos instrumentos e formas de ação e de intervenção na realidade. Porém, se mudava a forma, permaneciam os seus objetivos, afora a função educacional, com a passagem dos cursos universitários para a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (o primeiro deles, Filosofia, em 1969; o de Jornalismo, em 1974, e o último, Sociologia, no segundo semestre de 1975). Enquanto esses estiveram sob a responsabilidade do Órgão, todavia, constituiam-se na sua mais importante linha de ação, mesmo porque muitas das iniciativas culturais partiam dos respectivos Diretórios Acadêmicos. Quanto à proposta científica, explícita no decreto de criação e implícita na operacionalização do Instituto de Pesquisas, a cuja estrutura pertencia a Faculdade de Sociologia e Política, era desenvolvida não só na ação desses organismos mas, inclusive, em seminários e debates sobre temas afetos, sempre bastante sugestivos, como os que se seguem: O Impacto do Urbano sobre a Personalidade do Homem Contemporâneo, Alternativas para um Desenvolvimento Integrado, Antropologia e Desenvolvimento, A Questão Agrária Nordestina e Perspectivas do Desenvolvimento Agrícola Integrado, Visão Atual da Ciência Política e muitos outros. Mas foi na área cultural que, enfim, a Fundação encontrou mais marcadamente sua posição, perante a comunidade norte-rio-grandense. Com efeito, com a saída dos cursos, a partir de 1975, voltou-se a Entidade para as suas demais atribuições, encontrando no componente cultural, até então com discreta participação – grosso modo, de cunho elitista –, o seu caminho efetivo e definitivo.

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NOTA PRELIMINAR Para uma mais clara percepção do desenvolvimento da Fundação José Augusto, no decorrer dos seus primeiros quarenta anos de existência, podemos estabelecer, informalmente, a ocorrência de dois períodos, mais ou menos personalizados, nos quais predominaram certa ordem de interesses e, pois, de tendência programática mais ou menos específica. O primeiro desses períodos é bem demarcado: surge com a criação do órgão, em 1963, e vai até 1974; o segundo, contudo, poderia ser subdividido em três momentos, quais sejam, 1975 a 1979, 1980 a 1982 e, desde então, até esta parte, não fossem demasiado sutis as diferenças. Adiantamos, porém, que se trata de mero recurso metodológico, sem maior rigidez, mesmo porque quando se inicia o segundo período e, neste especialmente, o segundo e terceiro hipotéticos momentos não se extinguira, de todo, os modelos antes predominantes. Reiteramos que, se há uma clara distinção entre o primeiro e o segundo períodos, neste último os estágios se dão num prolongamento homogêneo, constituindo a separação proposta apenas a intensificação da atividade e a ampliação da área de abrangência. Vejamos o esquema, a seguir.

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Função educacional – (1963-1974) Temos assim que, inicialmente, desde a sua criação e até por volta de 1974 -75, destacavam-se as faculdades como a viga mestra da instituição. Com a transferência da Faculdade de Filosofia para a UFRN, em 1969, tal papel ficou restrito aos cursos de Jornalismo e Sociologia, cujo desempenho intensificou-se e se consolidou de forma incontestável, quer nos âmbitos específicos de suas respectivas atividades ou nas ações integradas que passaram a realizar. O fato é que esta fase fixou-lhe a imagem de órgão educacional por excelência. As ações essencialmente ditas culturais restringiam-se, via de regra, a conferências isoladas ou ciclos de palestras e debates sobre temas de alguma sorte vinculados às áreas de conhecimento daqueles cursos. Sobre o assunto, retornaremos mais adiante. Foram presidentes, no período: Hélio Galvão, primeiro dirigente da Entidade; uma Junta Governativa, integrada inicialmente por Paulo Pinheiro de Viveiros, Fernando de Miranda Gomes e Ney da Silva Gurgel, depois os dois primeiros sendo substituídos por Jurandyr Navarro e Bianor Medeiros; posteriormente, Jurandyr Navarro, Ilma Melo Diniz e Diógenes da Cunha Lima.

Ação cultural (a) Período de transição – (1975-1982) Com a saída dos cursos universitários (as últimas turmas concluintes foram as de 1974 e 1975), a Fundação José Augusto deveria reorientar os seus objetivos e, claro, readequar suas prioridades. Havia cumprido fiel e rigorosamente o papel – pioneiro no Rio Grande do Norte – do ensino da sociologia, com todas as implicações preconceituosas e restritivas de que se revestia esse campo do conhecimento (especialmente numa época de regime político austero, de sérias limitações da cidadania), assim como o de consolidar o curso de Jornalismo, cujas atividades inerentes a tais profissões até ali eram exercidas, em Natal, por indivíduos com formação em outras áreas. Com o reconhecimento desses cursos pelo Ministério da Educação e Cultura-MEC e, sobretudo, com a sua conseqüente federalização, encerrava-se, a nosso ver, uma das mais significativas etapas da história desta Instituição. A criação e operacionalização da Consultoria Técnica (julho, 1975), sinaliza o início de uma nova fase no desempenho da organização. Alguns projetos notáveis datam daquele período, dentre os quais destacaríamos o Circo da Cultura (que permaneceria em atividade até fins dos anos oitenta) e 44

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importantes obras de restauração, como a da antiga Casa de Detenção de Natal, hoje abrigando o Centro de Turismo, a Casa-grande do Engenho Guaporé, no município de Ceará-Mirim, e a do Solar do Ferreiro Torto, em Macaíba, edificação cujo valor se expressa não só na imponência de sua estrutura e na beleza de suas linhas arquitetônicas, mas, inclusive, no conteúdo histórico que encerra, afora o fato de tratar-se de um dos últimos exemplares da arquitetura rural do século XIX, no Rio Grande do Norte. Era Presidente, então, Sanderson Negreiros, em cuja administração seriam assentadas as bases para uma futura interiorização da ação cultural que, até ali, permanecera – conforme acentuamos em outra parte – dentro do modelo tradicional, isto é, sem flexibilidade, atendo-se a promoções acadêmicas, e assistemáticas, de encontros, congressos, estudos e debates sobre problemas conjunturais, com raras incursões no campo objetivo, e vasto, das manifestações populares. Foi um período tipicamente de transição, do qual resultaria a definição de um caminho a seguir; não, necessariamente, de uma política de ação, por natureza, efêmera. Afora Sanderson Negreiros, já mencionado, foram presidentes, na época, Franco Maria Jasiello, em seguida novamente Sanderson (que logo renunciaria) e Cláudio José Freire Emerenciano, que, assumindo a presidência em abril de 1979, permaneceria no cargo até julho do ano seguinte, nesse meio-tempo revolucionando métodos de trabalho e operando radicais mudanças comportamentais no quadro técnico da Fundação, que se tornou mais dinâmico. Na administração Franco Jasiello praticamente concluíra-se o que designamos por “fase de transição”, algo como um momento laboratorial para a transposição entre a função educacional por excelência e a efetiva e exclusiva ação cultural. Promovendo uma ampla reformulação na estrutura do Órgão, já no segundo semestre de 1979, visando dotá-lo de mais agilidade, logo no princípio do ano seguinte o Presidente Cláudio Emerenciano inauguraria um novo estilo de administração, ampliando o seu raio de abrangência e ocupando espaços até então impermeáveis a uma abordagem oficial. Esta fase se caracteriza por uma intensa e maciça produção de projetos direcionados para múltiplas áreas da fenomenologia cultural, saturando de forma inteligente as fontes passíveis de viabilizá-los, do ponto de vista financeiro (FUNARTE, INL, IPHAN, EMBRAFILME, etc.). Para se ter uma idéia do esforço produtivo e da dinâmica instaurada, diga-se que, entre os dias 4 de fevereiro e 7 de março de 1980, foram elaborados precisamente vinte e dois projetos e três cartas-consulta, envolvendo um semnúmero de manifestações. 40 Anos

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Meio ao saudável exercício de criatividade embutido naquele turbilhão de propostas, pouco a pouco se foi delineando a vocação natural da Entidade. As idéias iam surgindo e logo sendo trabalhadas num ininterrupto quefazer, operando no sentido de trazer à luz o vasto repertório das ações artísticoculturais até ali confinadas em suas origens, sem divulgação e, assim, sem repercussão. Incluía-se praticamente tudo: da tentativa de operacionalizar a publicação da História do Rio Grande do Norte em quadrinhos ao esquadrinhamento do cenário dos casarões centenários, com um conjunto de planos para a sua restauração e recuperação; da revitalização do folclore multifacetado ao resgate da poética peculiar; da biblioteca e do teatro redimensionados à xilogravura e à pictórica redescobertas. A prematura saída de Cláudio Emerenciano não alteraria, em substância, o firme propósito da equipe em levar a cabo o empreendimento: seu estilo combativo fora assimilado de forma conseqüente e os frutos do esforço não tardariam a surgir. Assumindo interinamente a presidência, o Prof. Evilásio Leão de Moura daria seqüência aos planos traçados por seu antecessor, sem arriscar-se em alterações no curso dos acontecimentos. Mais algum tempo e, já na gestão de Valério Alfredo Mesquita, seria consolidado aquele período, no qual a Fundação assumia o perfil até hoje dominante de órgão eminentemente cultural. Esta fase, em síntese, caracteriza-se por uma ação mais agressiva na busca de uma definição de espaço, na escolha seletiva de um caminho. Iniciada, como vimos, em 1979, ela vai se exaurir com a fixação definitiva de sua proposta, dentro do extenso campo ocupado pela área cultural. Tal consolidação ocorre por volta de 1982, a meio-caminho da administração Valério Mesquita, uma das mais fecundas da história da Entidade.

(b) Consolidação do processo – (1983-2003) Aqui chegamos à etapa final do nosso esquema de abordagem, englobando os últimos 20 anos. Como todo organismo vivo, sujeito portanto às injunções do meio, a Fundação passou por transformações episódicas mais ou menos significativas, neste período. De início, por exemplo, vários monumentos históricos foram restaurados, avultou-se o número de editorações e concretizaram-se algumas importantes pesquisas. Não obstante, o quadro funcional foi ampliado aleatoriamente, ou seja, nem sempre observando-se a devida correspondência entre as qualificações profissionais de grande parte dos novos contratados e as funções que lhes competiriam desempenhar. Desse fato resultou, decerto, o assoberbamento de atividades para um segmento 46

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funcional e o surgimento de uma categoria de servidores que se caracterizava pela extrema ociosidade. Dentre estes, muitos pareciam se comprazer naquela instável situação; outros, contudo, longe de pretenderem abrir mão das benesses que lhes eram prodigalizadas, certamente se afligiam com a incômoda sensação de inutilidade a que se viam compelidos suportar, reforçada pelo ar de desdém que lhes votavam não poucos dos companheiros de repartição. Em contrapartida, teve sensível impulso a atividade museológica e se intensificaram as intervenções na área da cultura popular, foram criados e instalados o Memorial Câmara Cascudo e o Instituto de Música Waldemar de Almeida; o Teatro Alberto Maranhão foi incorporado à esfera administrativa da Fundação e surgiram o jornal “O Galo” e o Coral Canto do Povo, entre outras realizações. Mais adiante, novo período crítico. Circunstâncias adversas – especificamente no que diz respeito a cortes orçamentários face às dificuldades econômico-financeiras atravessadas pelo país, como um todo, e pelo estado, em particular –, suscitaram radicais restrições em nossa programação, notadamente a partir de 1995. Tais circunstâncias, no entanto, não impediriam o surgimento e a consolidação de novos importantes projetos, três dos quais inclusive fixando sua marca no calendário de eventos da cidade, não só no plano especificamente cultural mas, também, no turístico, outra expressiva vertente da vocação desta comunidade. São eles: Projeto Seis e Meia (às terças-feiras, de março a dezembro); Encontro de Cultura Popular (na Semana da Cultura, em agosto) e Um Presente de Natal (no período natalino), que reúne dezenas de artistas das áreas da música, dança, artes plásticas, teatral e circense. Ainda nesse meio-tempo foi criado o Coral Harmus, implantado e operacionalizado um programa de apoio às bandas de música comunitárias e editados trinta e nove títulos, além de outras iniciativas que serão tratadas a partir do próximo capítulo. Os presidentes desta época são os seguintes, nesta ordem: Valério Mesquita, Paulo Macedo, Woden Madruga, Iaperi Araújo, novamente Woden Madruga (por duas gestões) e, atualmente, François Silvestre de Alencar.

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SEGUNDA PARTE

PERÍODO INICIAL (1963-1974) Faculdades de Filosofia, Jornalismo e Sociologia ................................................ Instituto Juvenal Lamartine ..................................................................................................................... Biblioteca Pública do Estado ........................................................................................................................ Museu de Arte e História do Rio Grande do Norte ....................................... Implantação da Gráfica Manimbu ................................................................................................ Observações dos presidentes da época .................................................................................. Hélio Mamede de Freitas Galvão .......................................................................................... Jurandyr Navarro da Costa ............................................................................................................. Ilma Melo Diniz ................................................................................................................................................ Diógenes da Cunha Lima .................................................................................................................

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Fachada original do prédio da Fundação José Augusto (1963). 40 Anos

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Faculdades de Filosofia, Jornalismo e Sociologia Em 1963 a Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN estava, ainda, no início de suas atividades. Como já referimos, fora criada em 1958 e, claro, seis anos constituem muito pouco tempo para um sistema complexo se fixar. Até ali vários cursos haviam sido instalados, integrando-se à sua estrutura administrativa: os de Farmácia e Odontologia, de Direito, de Medicina e, datando de 1957, o de Engenharia. Outros, só anos mais tarde seriam criados ou incorporados, como os que são objeto de interesse no presente item. A Faculdade de Filosofia fora inaugurada, também, em 1957, e pertencera, até ser absorvida pela Fundação José Augusto, à Associação dos Professores, vínculo que se estabelecia na medida em que, contendo a especialidade de pedagogia, propunha constituir-se em continuidade natural ao pedagógico – Curso Normal –, sendo portanto, plenamente ajustada à órbita de interesse daquela Organização. No ato – decreto – de criação da Fundação José Augusto, referido em outra parte deste trabalho, essa faculdade lhe foi incorporada; cinco anos depois seria federalizada, mas só em 1969 passaria, em definitivo, a funcionar no âmbito da UFRN. Já a Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza era autônoma, até ser anexada à Fundação junto com o curso acima referido, isto é, pela mesma lei que criara a Fundação. Permaneceria, contudo, até 1974, quando foi igualmente incorporada à UFRN com a denominação de Comunicação Social. Quanto à Faculdade de Sociologia, a denominação inaugural (1965) era a de Curso de Sociologia, integrado ao Instituto Juvenal Lamartine de Pesquisas Sociais; três anos depois, por sugestão do então diretor Laércio Bezerra de 40 Anos

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Melo, foi extinto para dar lugar à criação da Faculdade de Sociologia e Política, com estrutura independente do IJLPS. Teve sua grade curricular reformulada e foi dotada de biblioteca especializada, sendo Laércio Bezerra designado para fazer o levantamento bibliográfico pertinente. Com a transferência desta faculdade para a UFRN (1975), recebeu o nome de Curso de Estudos Sociais e, posteriormente, o de Departamento de Ciências Sociais, com habilitação em Sociologia, Ciência Política e Antropologia. O afastamento do Sociólogo Laércio Bezerra da direção desta instituição de Laércio Bezerra, 1º. diretor ensino (março, 1969), deveu-se a um ato de força do da Faculdade de Sociologia regime autoritário que dominava o país, àquela época. Assim, entre 1963 e 1975, ao longo dos seus primeiros doze anos, portanto, a Fundação José Augusto participou ativamente do processo educacional potiguar, estimulando e difundindo o ensino universitário em áreas não-tradicionais do ensino superior, no Brasil (neste Estado, absolutamente inéditas). Com efeito, afora os cursos da Faculdade de Filosofia – História, Geografia, Didática, Matemática e Letras Neolatinas –, Sociologia e Jornalismo eram inteiramente desconhecidos, enquanto objeto de estudo formal, sistematizado, em nossa universidade. As funções que lhes eram inerentes costumavam ser desenvolvidas, aqui, como em diversas outras partes do país, por indivíduos com formação não-específica, às vezes caracterizando-se um certo paralelismo, outras tantas extremamente distanciadas. Considerando que a Faculdade de Filosofia não só preexistia à Fundação como, inclusive, teve existência efêmera sob a sua tutela, foram as duas outras que se afirmaram como instrumentos essencialmente transformadores da mentalidade universitária então predominante. Os cursos convencionais, Direito, Medicina e Engenharia, assim como os que lhes são naturalmente decorrentes, sempre foram conduzidos de forma a reproduzirem o sistema, não possibilitando, a rigor, o aprofundamento nas causas e conseqüências do labirinto dos problemas sociais, políticos e econômicos regionais e do país. Sempre lhes faltou, até então, uma perspectiva histórica e análise contextual dessas questões. O surgimento do ensino da Sociologia no Brasil, a partir de 1936, operaria alterações importantes nesse equilíbrio (talvez devesse dizer marasmo). No Rio Grande do Norte, onde chegou no início do período autoritário, evidentemente tornou-se, quando menos, incômodo aos setores oficiais. Quanto ao Curso de Jornalismo, pelas próprias peculiaridades da função 54

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informativa a que se propõe, é certo que também se tornava alvo de desconfiança, ainda com mais motivo quando aquela geração estava sendo preparada em franco processo interativo com as turmas coirmãs da área sociológica. Tal particularidade, à primeira vista sem maior significação, hoje, observada à distância, permite admitir que teve momentos positivos e certamente terá repercutido de alguma forma na vida profissional dos – à época – futuros jornalistas. A propósito, convém assinalar que a extensão universitária era das mais intensas e participativas, muitas vezes contando com o concurso dos dois segmentos estudantis em promoções específicas, o que vale dizer em típico processo de intercâmbio. Eram particularmente concorridas as Semanas de Estudos Sociais, iniciativa do Diretório Acadêmico Josué de Castro, da Faculdade de Sociologia e Política, e o irreverente – contudo, sério – “Xeque-mate”, da Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza, que ainda hoje, de certa forma, subsiste na UFRN. Para o primeiro eram convidados cientistas sociais, professores, políticos e outras autoridades da área, e de áreas afins, para proferirem palestras e participarem de debates sobre temas vinculados aos problemas mais agudos da realidade regional e brasileira. O caráter político-ideológico dos questionamentos instigava o diálogo conseqüente, direto, incisivo – não raro gerando natural apreensão em setores ortodoxos da administração pública local e atraindo a discreta, mas firme, presença de observadores dos serviços de repressão. Quanto ao “Xeque-mate”, criado no início da década de 70, foi concebido como uma entrevista coletiva, laboratorial, aberta e, até onde era possível àquela época, sem censura. A personalidade visitante se via submetida a uma bateria de perguntas as mais imprevisíveis,(2) literalmente flanqueada por uma platéia constituída basicamente, pela totalidade dos alunos e pela maioria dos professores dos dois cursos, sistematicamente colocando-a “em xeque”. Vários políticos, administradores, empresários e líderes de outros segmentos representativos da sociedade foram naturalmente levados, às vezes quase induzidos, a uma participação clara, sem subterfúgios, sobre assuntos via de regra oportunos do ponto de vista do interesse coletivo, em alguns instantes atingindo aspectos bastante delicados (sob o prisma ideológico), de alguma forma rompendo o círculo de fogo do silêncio. Esses programas, paralelos ao ensino regular, contribuíram de modo ____________________

Em 27 de fevereiro de 1989 o senador Mário Covas, do PSDB paulista, candidato à Presidência da República, foi entrevistado neste programa. (2)

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flagrante para o aprimoramento dos processos formativo, intelectual e profissional de significativa parcela daqueles estudantes. Os acirrados debates, os apartes inflamados, as colocações críticas ao sistema e às questões conjunturais, no conjunto iam pouco a pouco delineando e fixando o caráter da instituição, que passou a ser vista pela comunidade como um núcleo potencial não exatamente de resistência mas, pelo menos, de manifesto inconformismo quanto ao sistema político vigente. Certamente aquele comportamento atrairia as atenções dos setores e agentes responsáveis pela ordem estabelecida, não raro infiltrando “olheiros” em pontos de maior concentração de alunos no âmbito da Fundação, e mesmo na qualidade de alunos em várias turmas, com o fim de identificar os mais entusiastas e inflamados, as lideranças potenciais, a fim de neutralizar quaisquer movimentos contrários aos interesses do Poder. Por diversas vezes a Fundação foi cercada pela Polícia, que ostensivamente impedia a saída ou entrada de qualquer aluno, seja pela Rua Jundiaí ou Açu. Naquelas oportunidades suas dependências eram diligentemente esquadrinhadas e revistadas, à procura de líderes estudantis e de material tido como subversivo – panfletos e coisas do gênero. Dezenas de situações semelhantes, das formas as mais diversificadas, ocorreram no recinto da Faculdade, muitas delas já esquecidas, outras de viva lembrança – algumas, até, folclóricas. Certa vez, alguém avisou que a polícia estava chegando. Um estudante, recolhendo seus livros, pretendeu sair pela porta dos fundos, em direção à Rua Açu. Próximo da porta que dá acesso ao pátio, nos fundos da Gráfica Manimbu, um capitão da polícia barrou os seus passos e indagou o que ele trazia nas mãos. “Livros, apostilas....”, respondeu o jovem. O oficial estendeu um braço e pegou os livros, passando a vista nas capas, com ar analítico. Em seguida devolveu-os, sem qualquer comentário, e mandou-o retornar à sala de aula. Um dos livros era “O Capital”, de Karl Marx. De outra feita, por volta de 1968, o Diretório Acadêmico Josué de Castro promoveu um concurso sob o tema “Problemática Educacional do Nordeste”, para estudantes de Sociologia. Após o resultado, o ganhador do prêmio (uma determinada soma em dinheiro), visitado por membros do Diretório, foi informado de que aquela quantia fora utilizada para enviar um representante ao Congresso da UNE, que se realizaria em São Paulo, e que aquele era o único recurso encontrado para fazê-lo viajar sem chamar a atenção. Oportunamente, seria reembolsado – disseram, então. Obviamente, a coisa ficou por ali; caiu no esquecimento. A rigor, tais incidentes não deveriam constar deste estudo retrospectivo 56

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da Fundação, no entanto, pelo tragicômico, para caracterizar a diversidade de obstáculos com que se debatiam aqueles estudantes, e mesmo pelo que de pitoresco suscitam – à distância –, houvemos por bem mencioná-los. Alguns daqueles estudantes se viram compelidos, em razão de ocorrências semelhantes, a se afastar do curso, vez que as sucessivas suspensões de matrícula, para escapar ao cerco da repressão, tiveram como conseqüência a virtual impossibilidade de sua conclusão – pelo menos de forma regular. Mas, afora as “Semanas de Estudos Sociais” e os concursos literários, é importante registrar outras iniciativas do Diretório Acadêmico Josué de Castro, tais como: realização de cursos sobre cinema; exibição de clássicos das cinematografias brasileira e internacional, no extinto cine Poti; criação de um grupo teatral, de um jornal e de um programa radiofônico, o “Sociologia em Foco”, veiculado através da Emissora de Educação Rural, por esse instrumento divulgando os cadernos populares da UNE, denunciando os acordos MECUSAID, lesivos aos interesses nacionais, realizando entrevistas com personalidades, dentre elas D. Hélder Câmara, e, inclusive, solidarizando-se com a luta dos “excedentes”; participação na criação da Executiva Nacional dos Estudantes de Sociologia e Ciências Sociais-ENESCS e respectivas regionais (ERESCS), cuja sede regional foi implantada em Recife e, enfim, promoção de eventos na boate da Lagoa “Manoel Felipe”. A própria escolha do Prof. Josué de Castro como Patrono do Diretório foi polêmica. Era exilado em Paris. Enviou carta de agradecimento, de próprio punho, onde, além de se mostrar honrado com a escolha, destaca estar escrevendo uma mensagem aos estudantes do Nordeste. Procuramos levantar o total de alunos que passaram pelos bancos escolares dessas faculdades. Infelizmente, não nos foi de todo possível face a quase completa inexistência dos números referentes à Filosofia, afora os de 1966, ainda funcionando na Fundação José Augusto, mas já federalizada. As fontes mais indicadas, como a própria Fundação, o Departamento de Ciências, Letras e Artes e o Departamento de Assistência ao Estudante-DAE, ambos da UFRN, não os dispõem – salvo os do ano mencionado. Em todo o caso, conseguimos localizar o Sr. Aníbal Délio da Silva, que foi secretário do curso de Filosofia desde a época em que foi criada, em 1957, e até 1968, ano anterior a sua transferência definitiva para a UFRN, o qual gentilmente nos concedeu entrevista onde, além de trazer uma luz sobre o assunto ajudou-nos num cálculo estimativo dos totais de concluintes. Conforme o seu depoimento, na Faculdade de Filosofia chegaram a funcionar cinco cursos, a saber: História, Geografia e Letras Neolatinas, de 1963 a 1968 (aliás, este último passaria a denominar-se simplesmente Letras, a 40 Anos

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partir de 1966); em 1965 foi criado o curso de Didática e, finalmente, no ano subseqüente, o de Matemática, ambos permanecendo, como os demais, até 1968. Convém ressaltar que, após 1965, a Faculdade de Filosofia passou à responsabilidade da UFRN, embora continuando por mais alguns anos a funcionar no recinto da Fundação. Aquela Faculdade teria formado, no conjunto dos seus cursos, turmas médias anuais de sessenta concluintes – estima o senhor Aníbal Délio da Silva; contudo, os dados oficiais referentes a 1966, constantes em registros na Fundação, dão conta de apenas quarenta e cinco concluintes. Optamos por adotar este último dado como ponto médio (anos de 1965-66), reduzindo em quinze unidades para os anos anteriores de 1963-64 e permanecendo com a estimativa feita pelo citado informante para os anos posteriores, resultando em duzentos e setenta concluintes, o que representa uma redução em 25 % em relação à estimativa original do informante e nos assegura, em contrapartida, uma maior margem de segurança em não extrapolarmos o que de fato terá ocorrido. Com relação aos demais cursos, com os respectivos valores distribuídos por sexo, os dados são os seguintes: TABELA 1 TOTAL DE CONCLUINTES DOS CURSOS DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA E DE JORNALISMO NA FUNDAÇÃO JOSÉ AUGUSTO, POR SEXO SEXO

T O TA L

CURSOS

Abs

MASCULINO

%

Abs

%

FEMININO %

Abs

To t a l

286

100,0

139

48,6

147

51,4

Sociologia e Política Jornalismo

126 160

100,0 100,0

58 81

46,0 50,6

68 79

54,0 49,4

FONTE: Arquivos da Fundação José Augusto

Como se vê, o curso de Sociologia e Política, nas suas sete turmas concluintes (1969-1975), formou cento e vinte e seis sociólogos, acusando uma média de dezoito profissionais por ano, com ligeira predominância do sexo feminino; o de Jornalismo, cento e sessenta, ou 22,8 a.a., mais bem distribuídos quanto ao sexo. Esses números correspondem a algo em torno de quarenta e um novos profissionais liberais lançados anualmente – no decorrer daquele período – num mercado de trabalho incipiente mas, na verdade, encravado numa realidade carente dos serviços que estavam, pelo menos teoricamente, aptos a prestar. No conjunto, as três faculdades terão formado quinhentos e cinqüenta e seis técnicos de nível superior, de 1963 a 1975. Onde andarão esses técnicos? 58

Fundação José Augusto


Alguns, em Natal mesmo deitaram suas raízes, e, com muito esforço, enfrentando as dificuldades próprias a uma típica sociedade fechada, de acentuados contornos provincianos, sem falar no tumultuado período por que o Brasil atravessava, sedimentaram o desempenho profissional; outros, ansiosos por aplicar seus conhecimentos de forma mais produtiva, quer pela estreiteza de oportunidades de trabalho, quer por insatisfação intelectual, partiram para centros mais evoluídos. Há, ainda, os que simplesmente fizeram outra opção profissional e se dispersaram. O certo é que hoje, muitos daqueles então estudantes contribuem como profissionais, em diversos setores da Comunidade. São professores, pesquisadores, jornalistas, assessores, consultores, escritores, políticos, publicitários, administradores em diversos níveis e áreas, funcionários públicos, etc. Em segmentos variados, em posições de destaque ou discretas, nem por isso com menor eficiência, participam, homogeneamente, do esforço contra o subdesenvolvimento anacrônico, talvez não mais com a paixão e as ilusões que só a juventude alimenta, mas certamente com maior convicção e firmeza, virtudes mais próprias da maturidade. De uma forma ou de outra, a manutenção desses cursos foi, sem dúvida, uma notável contribuição da Fundação José Augusto nas raízes de sua existência.

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Foto: Arquivos da FJA / CEPEJUL

Ex-Governador Juvenal Lamartine de Faria (1928-1930), patrono do Instituto e do CEPEJUL. 60

Fundação José Augusto


Instituto Juvenal Lamartine O Instituto Juvenal Lamartine(3) foi criado através do Decreto nº. 3.871, de 15.12.1961, do Governo Estadual – já exercido por Aluízio Alves –, antecedendo, assim, à própria Fundação José Augusto. Aliás, observando-se aquele texto, depreende-se que sua função original em muito se assemelha a que, posteriormente, caberia a esta última, conforme veremos a seguir. O documento, citando a Constituição (Art. 121, VI), argumenta que é dever do Estado “estimular o desenvolvimento das ciências, das artes e das letras” e “amparar as instituições culturais” (idem, Art. 123), e que, para o cumprimento desses princípios constitucionais, “cabe ao Estado não só incentivar a iniciativa privada, mas também promover a criação de organismos e instituições de caráter público ou em regime de cooperação com particulares”. Essas formulações permitem supor o dimensionamento de uma estrutura abrangente, com pretensões igualmente amplas, cujas atribuições comportariam, inclusive, a pesquisa social, além do desenvolvimento de mecanismos e o desencadeamento de ações capazes de suscitar o estímulo aos trabalhos científico, artístico e literário. E qualquer dessas variáveis, tomadas isoladamente, contém inestimável gama de alternativas e de possibilidades. Mais adiante expressa o empenho do Governo em executar um plano cultural – plano entendido em seu sentido mais elástico de política cultural –, no qual estivessem previstas “(...) atividades de pesquisa e divulgação nos campos da história, da sociologia e do folclore” (doc. cit.). Ainda assim a pesquisa (ou atividades de pesquisa) a que se refere não se restringe ao estudo ________________________ (3) Na verdade, só com a Lei nº. 3.694, de 7.10.1968, seria acrescida ao seu nome a designação “pesquisa social”.

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sócio-econômico dos fenômenos, conforme mais tarde seria definido como uma das prioridades de ação do Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine-CEPEJUL, órgão que daria seqüência ao Instituto; ela (a pesquisa) engloba as “tradições históricas e folclóricas”, hoje mais diretamente subordinadas aos objetivos e às ações dos Centros coirmãos de Documentação e de Promoções Culturais. Em outras palavras, os itens história e folclore, plenamente ajustados à natureza e aos propósitos da Fundação, não se situam, necessariamente, entre os prioritários na perspectiva do atual CEPEJUL. Essas variáveis são eventualmente examinadas e aprofundadas, segundo o requeiram as características e peculiaridades dos estudos em curso. Para um órgão em gestação, ainda por compor sua infra-estrutura, constituíam aquelas diretrizes um desafio singular, só concebível numa perspectiva de longo prazo, especialmente numa época em que havia escassez de recursos humanos devidamente qualificados. As medidas inicialmente tomadas foram, assim, sobremodo prudentes: buscou-se preencher os seus quadros, implementar uma biblioteca especializada e definir, com clareza, os seus objetivos e linhas de ação, iniciativas básicas para o estabelecimento de um plano de trabalho conseqüente. Foram organizados, nesse meio-tempo, sucessivos seminários e ciclos de debates, eventos artísticos e outros empreendimentos do gênero, inclusive a publicação de algumas obras de autores norte-rio-grandenses. Os temas conjunturais da época, então, foram sistematicamente abordados. Com o advento da Fundação José Augusto (abril, 1963), este Instituto foi absorvido pela nova entidade que assumiu, enfim, considerável parcela de suas atribuições. Dois anos mais tarde era criado o Curso de Sociologia (outubro, 1965) e incorporado hierarquicamente ao Instituto, a partir daí realizando algumas pesquisas. Em 1968, conforme referimos anteriormente, o Curso foi transformado em Faculdade de Sociologia e Política e desvinculado formalmente do Instituto, passando a constituir órgão autônomo. Com a reforma administrativa da Fundação, ocorrida em 1974, através da Lei nº. 4.403, de 23 de outubro, o então Instituto teve alterada sua personalidade jurídica, passando à denominação de Centro de Estudos e Pesquisas, seguido do nome do patrono. Foram diretores do Instituto: José Augusto Pérez, Augusto Carlos de Viveiros, Laércio Bezerra de Melo, Flórida Mariano Accioly Rodrigues e Avani Polycarpo Feitosa.

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Biblioteca Pública do Estado A Biblioteca Pública do Estado, oficialmente criada pela Lei nº. 2.885, de 8.04.1963 – a mesma que deu origem à Fundação José Augusto –, só viria a ser inaugurada e operacionalizada seis anos depois (fevereiro, 1969), na administração da Profª. Ilma Melo Diniz. Seriam necessários mais quatro anos até incorporar, à sua denominação, o nome do ilustre historiador potiguar, Câmara Cascudo. Vejamos trechos da ata da reunião do Conselho Diretor que trata do assunto: CONSELHO DIRETOR DA FUNDAÇÃO JOSÉ AUGUSTO (ATA DE 25.02.1969) Ata da oitava (8ª.) reunião do Conselho Diretor da Fundação José Augusto. Aos vinte e cinco (25) dias do mês de fevereiro de hum mil novecentos e sessenta e nove (1969), a hora de costume, no Gabinete da Presidência da Fundação José Augusto, tendo sido convocado extraordinariamente, reuniu-se o Conselho Diretor, com o comparecimento dos seguintes conselheiros: Alvamar Furtado de Mendonça, Jurandyr Navarro da Costa, Ivan Maciel de Andrade e Ilma Melo Diniz que, como presidente do Conselho, dirigiu a sessão. De início, explicou que a presente reunião tinha o objetivo de comunicar àqueles cavalheiros que o Secretário de Estado da Educação e Cultura, Dr. Jarbas Bezerra, encaminhara ao Governador deste Estado, Monsenhor Walfredo Gurgel, uma proposta para que a Biblioteca Pública do Estado passasse a ser 40 Anos

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administrada por esta Fundação a partir de vinte e seis (26) de fevereiro do corrente ano, data de sua inauguração, quando, ao ensejo, seria firmado um convênio entre esta entidade e aquela Secretaria de Estado. Segue o documento assinalando que, naquela oportunidade, a Profª. Ilma Melo apresentou a minuta do referido convênio cuja cláusula primeira estava redigida nos seguintes termos: A Biblioteca Pública do Estado, órgão integrante da Secretaria de Estado da Educação e Cultura, passará a ser administrada pela Fundação José Augusto, que, para tanto, deverá promover os meios necessários ao seu normal funcionamento através da organização de pessoal especializado, fixação de normas internas de atividades e adoção de todas as demais providências incluídas nas atribuições de direção administrativa das entidades de direito público. No ano seguinte, pelo Decreto nº. 5.324, de 12 de agosto de 1970, o Governo do Estado doa à Fundação o prédio da Biblioteca, conforme estabelece em seu Art. 1º.: “Fica doado à Fundação José Augusto o próprio estadual, com todo o seu acervo, situado na Rua Potengi, s/n, nesta Capital, onde vem funcionando a Biblioteca Pública do Estado”. Diversamente do que ocorre na atualidade, naquele tempo sua ação se restringia ao papel clássico de qualquer biblioteca pública, qual seja o de manter e preservar livros e documentos congêneres, facultando o acesso de interessados pela leitura, estudo, consultas e empréstimos. Constituía sua clientela mais característica professores e alunos do Colégio Estadual do Atheneu, o que se explica pela proximidade física dos dois órgãos (funcionam em prédios vizinhos), e não poucas pessoas julgavam que a biblioteca fosse, apenas, um anexo do Atheneu. Em parte por pertencer a um órgão cultural, em parte por uma tendência programática do Instituto Nacional do Livro-INL, o certo é que, a partir da década de oitenta, incorporou aos seus planos anuais de atividades metas e objetivos mais flexíveis, assumindo um papel mais participativo junto à comunidade. Essa nova postura resultaria, em pouco tempo, na atração de novos contingentes de usuários dos seus serviços. Tornaremos ao assunto na abordagem ao Sistema Estadual de Bibliotecas. No período que estamos tratando, a Biblioteca Pública Câmara Cascudo teve duas coordenadoras: Zila da Costa Mamede (1969-1970) e Ana Zélia de Melo Maia (1971-1974). 64

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Museu de Arte e História do Rio Grande do Norte Tal como a Biblioteca Pública do Estado, referida no item anterior, o Museu de Arte e História foi criado pela mesma lei da qual originou-se a Fundação. Àquela época, Natal não dispunha de museólogos; não tínhamos, portanto, experiência na área, donde resulta que foi – sobretudo – um trabalho experimental, um esforço praticamente amadorístico. Funcionando no prédio chamado “Sobradinho”, na Rua da Conceição (ao lado do Palácio do Governo Estadual), podiam ser encontradas lado a lado, na maior sem-cerimônia, peças tão díspares e de conceituação tão opostas como, por exemplo, utensílios domésticos indígenas e o fardamento completo de norte-rio-grandenses que participaram da Guerra do Paraguai; engenhocas para o fabrico de farinha e moedas brasileiras antigas; mobiliário de séculos passados e medalhas e comendas conferidas ao ex-Presidente Café Filho. Tanto mais rico o acervo quanto precária a organização, ferindo os princípios que norteiam a mais elementar técnica museográfica. No entanto (e isso redime a ausência de um padrão de qualidade técnica), era um trabalho feito com amor, com abnegada dedicação e a mais pura intenção de acertar. Na verdade, melhor não poderia ter sido feito uma vez consideremos, também, o plano secundário a que era relegada a ação cultural, face à projeção assumida pelo segmento educacional universitário do órgão. Aliás, essa idéia de se conferir privilégios a alguns setores em detrimento da atividade museológica foi uma prática comum na Fundação. Durante muito tempo foi encarada de modo discreto, sem grandes arroubos programáticos. Seus projetos não eram divulgados com a mesma intensidade nem com o mesmo nível de importância emprestado aos de outras manifestações culturais. 40 Anos

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Por outro lado, afora esses obstáculos internos, não havia uma articulação em nível federal que regulasse e, enfim, apoiasse, sob a forma de patrocínio, esse tipo de manifestação, como ocorria com o cinema (EMBRAFILME), com a biblioteca (INL), etc. Até que houvesse alguma mudança nesse estado de coisas (o que só viria acontecer com o advento do Ministério da Cultura), essa linha de trabalho da Fundação José Augusto continuaria envolta em semitotal apatia e inoperância, a despeito de nesse meio-tempo haver-se criado uma meia dúzia de novos museus. Voltaremos ao assunto mais adiante, quando tratarmos da criação do Sistema Estadual de Museus.

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Implantação da Gráfica Manimbu A Gráfica Manimbu foi criada em outubro de 1965, constituindo seus objetivos básicos: (a) apoiar o Plano Editorial da Fundação, (b) executar serviços gráficos em geral, mediante pagamento, e (c) projetar e executar impressos para os diversos órgãos da Fundação, aí incluída toda a sorte de modelos padronizados que reclamassem uma apresentação gráfica mais apurada, tais como boletins, fichas, catálogos, questionários, convites, cartazes, folders, etc. Sua implantação foi uma estratégia das mais lúcidas, quer do ponto de vista econômico ou da praticidade de desempenho, pois a demanda de tais produtos já era bastante intensa naquele ano e a tendência, certamente, era de crescimento. Com efeito, afora a estrutura de sua sede (gabinetes da presidência e vice-presidência e setores administrativo e financeiro), a Fundação mantinha, como referido em itens anteriores, o Museu de Arte e História, o Instituto de Pesquisas e duas faculdades, as de Filosofia e Jornalismo, e inauguraria a terceira, a de Sociologia, no ano seguinte, e todo o complexo necessitava, constantemente, de impressos. Mas havia, inclusive, sua função de apoio à editoração de livros aprovados pelo Conselho Editorial-CONEDI, consolidando-a como instrumento significativamente importante ao tornar a Fundação auto-suficiente em serviços gráficos, fator desejável por qualquer organização cultural, sobretudo quando destinada a sustentar uma política de preservação. Com mais razão, ainda, constituía, naquela quadra, um setor operacional 40 Anos

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Foto: Arquivos da FJA/CEPEJUL

estrategicamente expressivo para a Instituição face à precariedade do mercado local na oferta de tais serviços. Sete anos após sua implantação, em 04 de novembro de 1972, seria acrescido ao seu parque gráfico novos recursos tecnológicos, incluindo sistema completo off-set, plastificadora rotativa e calandra (máquina de prova tipográfica), plastbrill, dobradora automática e impressora automática tipográfica, afora a criação e operacionalização do Departamento de Arte e Produção, com o que certamente terá otimizado a sua prestação de serviços. Foi seu primeiro diretor o Jornalista Celso da Silveira.

Fachada da Gráfica Manimbu, localizada na Rua Açu, bairro do Tirol. 68

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Observações dos presidentes da época Quando da elaboração do projeto que resultaria no presente trabalho, conjeturamos sobre a conveniência de, na medida das possibilidades, incluir a memória e análise dos ex-presidentes da instituição sobre suas respectivas atuações. Entendíamos que seria uma forma de, proporcionando maior clareza ao texto, legitimá-lo pela co-participação. Lapsos e/ou omissões que porventura tivéssemos cometido seriam devidamente suprimidos, com vantagem, por cada um deles, pois tanto mais é permanente e instigante a lembrança dos fatos quando com eles se teve intimidade. Esse cuidado prende-se, especialmente, às administrações mais antigas, posto que os últimos quinze anos, por exemplo, se apresentam com bastante nitidez na memória da equipe que produziu este documento, além do que os acontecimentos mais importantes estão suficientemente descritos em relatórios circunstanciados. Hélio Galvão 1º Presidente Podemos dizer que, grosso modo, levamos a cabo a idéia. Dos ex-presidentes, o Prof. e Historiador Hélio Mamede Galvão é o grande ausente, mas como foi o primeiro, quando o Órgão dava seus primeiros passos e tentava equacionar questões básicas de organização e definição dos seus objetivos, de certa forma é dispensável um tratamento mais aprofundado, sobretudo considerando que os pormenores sobre aquele período estão disseminados nos itens anteriores, conforme vimos.

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Em resumo, sua tarefa foi a de dotar a Fundação de uma estrutura organizacional – obviamente sem as complexidades da atual – e a incorporação das duas faculdades preexistentes (Filosofia e Jornalismo) e, enfim, traçar as primeiras diretrizes na área cultural. Também em sua gestão foi criado o Curso de Sociologia. No início de 1966, determinadas circunstâncias de ordem administrativa geraram uma crise que, pouco a pouco, se tornaria praticamente incontornável, a tal ponto que, em meados daquele ano, o então Governador Mons. Walfredo Gurgel (1966-1972), após designar uma Comissão para analisar o problema – oriundo “de divergências entre professores e dirigentes da Fundação” –, concluiu pela exoneração, ex-officio, do Presidente e de todos os integrantes dos Conselhos Diretor e Curador da Entidade, cujas atividades escolares “estavam quase totalmente paralisadas” e “posta em risco a própria sobrevivência da Fundação”, segundo relata o Decreto nº. 4.685, de 12 de agosto de 1966, no mesmo documento constando a designação de uma Junta Governativa “destinada a gerir provisoriamente a Fundação José Augusto” integrada pelos bacharéis Paulo Pinheiro de Viveiros e Fernando de Miranda Gomes e pelo Prof. Ney da Silva Gurgel. “Passados alguns meses”, diz Jurandyr Navarro, “Fernando era substituído por Bianor Medeiros e, em seguida, Ney Gurgel por ele, Jurandyr”. Finalmente, com a renúncia de Paulo Viveiros, aqueles dois últimos membros prosseguiram com a tarefa administrativa, até que, com o afastamento de Bianor Medeiros para assumir a direção do Instituto de Previdência do Estado-IPE, em 02 de fevereiro de 1968 foi conduzido à Presidência da Casa Jurandyr Navarro da Costa. Jurandyr Navarro O último parágrafo do item anterior faz parte do depoimento do próprio Jurandyr, que resume: (...) por três momentos prestei serviços a esta Entidade: integrando a Junta Governativa, durante um ano e meses; depois, como Presidente, por alguns meses, e, finalmente, como membro do Conselho Diretor, na gestão Ilma Melo Diniz. A esses três, acrescente-se mais um momento: durante a primeira administração presidida por Woden Madruga, Jurandyr Navarro foi o Diretor Administrativo do órgão. Prossegue em seu depoimento: Na época da Junta Governativa, no Governo do Mons. Walfredo Gurgel, a atribuição principal, conforme o Decreto de Intervenção, foi a de dar ênfase à parte administrativa propriamente dita, mesmo porque a Fundação fora criada fazia pouco tempo e nenhuma atividade cultural havia sido estruturada, ainda. 70

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Cuidava-se, àquele tempo, precipuamente, em se formar jornalistas e sociólogos, nas escolas superiores existentes, além de profissionais da área de filosofia. Segundo o ex-presidente, mesmo quando se deram as sucessivas modificações no âmbito da mencionada Junta – até a gestão Jurandyr/Bianor –, não houve, em substância, alteração na política de ação adotada. Prossegue Jurandyr: A Gráfica continuou com seu trabalho de impressão de livros, dentre os quais destacaria: Padre Francisco de Brito Guerra, um Senador do Império, de José Melquíades; Injustiça Social e Depoimentos, de Jurandyr Navarro, e Empresa Pública, de Jobel Amorim das Virgens. O edifício-sede da Fundação foi ampliado, nesse período, com a construção da parte que presentemente serve ao almoxarifado, térreo e primeiro andar. Foram feitos, ainda, reparos internos na Gráfica e refeita a fachada do prédio-sede da Fundação, sendo colocado o revestimento em mármore, de matiz cinzento, que ainda permanece. Quanto ao pessoal, foi procedida uma reestruturação, objetivando modernizar a máquina burocrática para conferir apoio à política e às metas finalísticas da Entidade – tendo em vista o seu futuro, concluiu. Considerando que nenhuma entidade pública se firma e consolida no espaço de uma administração, e que, ao contrário, requer um somatório de esforços, uma paciente e exaustiva experimentação de alternativas até que, contabilizando-se os acertos e excluindo-se os erros, se cunhe e legitime a sua personalidade, evidencia-se que aqueles períodos iniciais do Jurandyr Navarro ex-Presidente órgão – conforme acentua Jurandyr, embora com incipiente (mas necessária) ação cultural, representaram uma preparação de sua estrutura para o futuro. Nesta perspectiva, aliás, cada gestão, somada às anteriores – como numa corrida com bastão – constitui uma etapa na construção do que é a Fundação José Augusto. Ilma Melo Diniz Por razões alheias à nossa vontade, não conseguimos estabelecer contato com a Professora Ilma Melo. Envidamos todos os esforços nesse sentindo mas, infelizmente, seus inúmeros afazeres impediram-na de dar notícias de viva voz sobre como administrou a Fundação José Augusto. Mas, se não temos sua opinião sobre a instituição nos dias atuais nem, tampouco, a antecipação do 40 Anos

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que ela será, segundo a sua ótica, pelo menos o resgate do que foi em fins da década de 60 nos é dado relatar. Com efeito, recorrendo às atas daquele período extraímos o resumo que, conforme tais documentos, representa a essência de tudo quanto foi realizado, senão vejamos: Sua posse deu-se a 15 de março de 1968, confirmando a aceitação do convite que lhe fora feito pelo então Governador do Estado, Exmº. Sr. Monsenhor Walfredo Gurgel. Interessante mencionar o detalhe de que a escolha daquela dirigente originou-se da indicação dos alunos da Faculdade de Sociologia e Política, portanto um ato essencialmente democrático, em que pese estar o país, à época, em pleno regime de exceção. Pelas características comportamentais de então, onde imperava o medo da cassação pelos motivos os mais fúteis, foi sem dúvida um gesto de desprendimento e coragem do Governador. O trabalho da Professora Ilma, largamente prestigiado pelo Monsenhor, teve como meta principal a obtenção de recursos para a construção de um moderno prédio destinado à instalação da Biblioteca Pública. O projeto arquitetônico atendeu aos requisitos técnicos mais avançados e era modelo comparável aos existentes nos grandes centros culturais do país. Também foi notável a rapidez com que se concretizou aquela obra: antes que se completasse um ano de sua posse, a Biblioteca foi entregue à comunidade. Precisamente a 26 de fevereiro de Ilma Melo Diniz ex-Presidente 1969 ocorria a sua inauguração simultaneamente com o início do trabalho de outra ilustre norte-rio-grandense, a saudosa Zila Mamede. Só mais tarde, durante a administração de Diógenes da Cunha Lima, a Biblioteca receberia a denominação de Luís da Câmara Cascudo, numa justa homenagem ao velho mestre. Por ocasião do ato inaugurativo, ainda, foi celebrado convênio entre a Fundação José Augusto e a Secretaria de Educação e Cultura do Estado objetivando a transferência de responsabilidade da administração da Biblioteca, até aquela data prevista em lei como sendo da Secretaria aludida. Outra área importante em que deixou sua marca foi a literária, editando um jornal, uma revista, um álbum de desenhos e os seguintes livros: (a) Igreja e Desenvolvimento, Pe. Alceu Ferrari; (b) Cerca de Pedra, Hilda Araújo; 72

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(c) Opiniões e Sugestões, Instituto Juvenal Lamartine de Pesquisa Social; (d) Poliantéia, Associação dos Professores; (e) Cartas a um Desconhecido, Eloy de Souza; (f ) Encouramento e Arreios do Vaqueiro do Seridó, Oswaldo Lamartine; (g) Nomes da Terra, Luís da Câmara Cascudo; (h) Viagem ao Universo de Luís da Câmara Cascudo, Américo de Oliveira Costa; (4) (i) Os Mortos são Estrangeiros, Newton Navarro; (j) Hôrto, Auta de Souza; (k) Livro de Poesias, Jorge Fernandes. O Álbum, denominado Futebol, de autoria de Newton Navarro, foi um dos mais belos trabalhos daquele artista potiguar (pintor, poeta, contista, boêmio e admirador do pôr-do-sol no Rio Potengi); o jornal “Extra” foi algo como laboratório dos estudantes de jornalismo da Faculdade Eloy de Souza; quanto à revista, “Província”, podemos dizer que foi repositório de depoimentos de grandes nomes da cultura brasileira, além de evidenciar fatos e traços notáveis, curiosíssimos da vida e obra de Luís da Câmara Cascudo. Aliás, vale lembrar que o aparecimento dessa revista mereceu elogios do mestre Gilberto Freyre, o qual publicaria a seu respeito artigos em revistas e jornais de âmbito nacional. O último aspecto relevante, no período: foi no ano de 1969 que a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras passou à esfera administrativa da UFRN, ficando a Fundação com os cursos de Jornalismo e Sociologia. Diógenes da Cunha Lima O período em que tive a honra de presidir a Fundação José Augusto foi marcado por muitos acontecimentos. Em parte, conseguimos desenvolver as ações a que nos propusemos. Iniciamos o programa – que se tornaria nacional – de restauração de monumentos históricos. Um dos passos decisivos de nossa presença, aliás, foi retirar da Secretaria de Educação o comando do Forte dos Reis Magos, passando-o à Fundação, além de conseguir, junto à Secretaria de Planejamento da Presidência da República, atual Ministério do Planejamento, recursos que possibilitaram sua _____________________ (4)

Prêmio Nacional Luís da Câmara Cascudo.

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restauração, integrando-o à vida cultural do Estado de maneira efetiva. A Fundação José Augusto teve, depois, inúmeras iniciativas na área. Destaco, também, o Museu do Sobradinho – procuramos dar-lhe nova vitalidade. O Prof. Oswald de Souza, que o dirigia, executou uma pesquisa de importância nordestina: levantou informações sobre rendas e labirintos de toda a região e documentou esse trabalho, posteriormente editado. Um outro plano de grande significação foi o de tentarmos fazer uma biblioteca em cada município do Estado. Cento e cinqüenta bibliotecas no Rio Grande do Norte. Se não atingimos o total, grande parte foi concretizada. A Fundação atuava, na época, não como administradora, mas como catalisadora, como estimuladora do surgimento, da viabilização das bibliotecas. Então, a partir da nossa gestão, a Biblioteca Pública, que passou a se chamar ‘Câmara Cascudo’ em homenagem ao velho mestre – e acho que nenhuma casa merecia mais o nome de Cascudo do que uma casa de livros –, assumiu a liderança desse movimento junto às Prefeituras Municipais, aos clubes de serviço e ao Instituto Nacional do Livro, o qual nos forneceu muitos livros. Diógenes vai rememorando os fatos e os desfiando: Ao lado desse tipo de preocupação, fizemos voltar ao funcionamento a Gráfica Manimbu, que estava desativada, alugada, sem máquinas, máquinas Diógenes da Cunha Lima ex-Presidente estragadas. Então, fizemos uma restauração e a aquisição de novos equipamentos compatíveis para poder tocar o programa editorial. E a Gráfica realmente produziu bastante, durante muito tempo. Fizemos, ainda, um trabalho interessante na área do Instituto de Pesquisa Juvenal Lamartine (que seria desativado e voltaria a funcionar, em outras administrações). O Instituto desenvolveu estudos e pesquisas sobre o Rio Grande do Norte. Após pequena pausa, retoma: E procuramos atuar das mais diferentes maneiras. Por exemplo: junto à Secretaria de Educação e Cultura para que a cultura também fosse objeto de sua atenção, e não só a educação; para que ela, que tinha o nome pomposo de Educação e Cultura, passasse a cuidar da cultura. Cultura popular nas escolas, por exemplo, pleito que se tornou efetivo quando saí da Fundação para ser Secretário de Educação. Com relação à editoração, diz Diógenes: A publicação de livros foi uma continuidade; houve, realmente, títulos extraordinários publicados àquela época. Como o poeta José Bezerra Gomes, Antologia, e muitos outros trabalhos. Uma História da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte, 74

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de Câmara Cascudo. Aliás, vários livros de Cascudo foram editados. Um deles, faço o registro, que ele dizia que não publicaria nunca. Era o Prelúdio e Fuga do Real . Eu disse: Professor, esse livro não pode ficar na estante até se perder no tempo. Ao que ele respondeu: ‘Mas isso foge à minha obra e eu não vou publicar’. Vai, sim!, insisti. Ele me queria muito bem. Botei o livro debaixo do braço, carreguei e editei. Então, muita coisa foi publicada, na época, seguindo já uma tradição da Fundação que vinha do tempo de Hélio Galvão, passando por Ilma Melo, que também se dedicou a publicações. Cita um fato pitoresco (expressão dele): Uma briga minha com o Governador, porque as dificuldades do Estado o levaram a decidir a venda das ações da Petrobrás, que mantinham a Fundação. E eu ameacei: deixaria a Fundação, se ele as vendesse. A questão foi várias vezes adiada, mas a crise do Estado continuou e, enfim, terminou com a venda das ações. Nós tínhamos uma dificuldade muito grande pelo reduzido número de funcionários. Creio que não atingia a oitenta – hoje talvez conte com oitocentos. Oitenta funcionários faziam a Fundação mas trabalhavam duro e pesadamente, dois expedientes e uma dedicação extraordinária. Alguns deles, como Sanderson Negreiros e Franco Jasiello, chegariam a ocupar a Presidência da Entidade. Fred Jofilly, que era o vice-Presidente, teve um trabalho muito bonito no campo administrativo; sério, dedicado. A Fundação José Augusto estabeleceu e manteve contatos, à época, com muitos órgãos, recebendo apoio às vezes até moral para desenvolver suas atividades, como o Conselho Federal de Cultura, onde resssalto Lúcio Costa (arquiteto), que conhecia bem e tinha todos os parâmetros do Forte dos Reis Magos; ele nos deu orientação sobre muita coisa que estávamos por fazer, notadamente no plano da restauração de monumentos. Outras questões mencionadas pelo ex-presidente: (a) instalamos, com dificuldade, o Conselho de Cultura na Fundação José Augusto, lá permanecendo por longo período; (b) pretendíamos que a Coluna Capitolina viesse a ocupar um local privilegiado da cidade, que tivesse uma estrutura ao seu lado, um pequeno lago, por exemplo, para espelhar o monumento, que é pequeno, e dar-lhe verticalidade; (c) era nossa idéia, ainda, a urbanização de toda a área onde se situa a Pedra do Rosário, não só para efeitos religiosos mas cultural e turístico. Trata-se de um dos monumentos e lugares mais fantásticos do Rio Grande do Norte, de beleza natural indescritível, e ali se fez uma coisa apequenada, menor, menos expressiva, observa. Fala sobre a Faculdades de Sociologia e Jornalismo, dizendo do seu entendimento de que deveriam ser transferidas para a Universidade: fugiam à função eminentemente cultural da Fundação para acrescer-lhe o encargo educacional. E acrescenta: Entendíamos que a preocupação com a educação é tão grande que se esquece o 40 Anos

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lado da cultura, consoante ocorria com a Secretaria de Educação; à Fundação cumpria a promoção da cultura, tornar-se um órgão de cúpula na execução de uma política cultural. Conclui dizendo que foi positiva a transferência para a UFRN daqueles cursos porque as disponibilidades financeiras eram consumidas pelas faculdades, não permitindo um trabalho mais profícuo. Sobre o “Xeque-mate”, da Faculdade de Jornalismo, mencionado em outra parte deste trabalho, Diógenes fala com entusiasmo, inclusive lembrando que foi o primeiro entrevistado: colocava o homem público em ‘xeque’ e o obrigava, muitas vezes, a mudar de rumo. Era a crítica popular mais autêntica e inteligente e chegamos a reeditá-la, na Universidade. Outro fato curioso citado por ele: Certo dia chega ao gabinete um tal Calazans, professor de russo, que tinha feito uma revista cultural chamada ‘Crítica’, um dos números dedicado a Cascudo. Diz ele: – Quero uma segunda edição desse número dedicado a Cascudo. Respondi-lhe: Calazans, você me desculpe mas em lugar nenhum do mundo existe segunda edição de revista. Segunda edição é de livro.– Mas eu quero uma segunda edição. Achei curioso, até inovador e maluco, e autorizei a reedição. Assim, a Fundação publicou – pela primeira vez na história – a segunda edição de uma revista! Cascudo adorava esta história, contava em todo o canto. ‘Imagine o que eu sofro nesta terra, até uma segunda edição de revista já saiu!’. Quanto a como vê a Fundação, hoje (1993), tomando-a como um todo, diz: A Fundação tem sido um órgão privilegiado, no meu entendimento. Sempre contou com o trabalho de pessoas que se dedicaram, presidentes capazes. A meu ver, por curiosa coincidência, a Fundação teve excelentes presidentes. Cita-os um a um: Hélio Galvão, primeiro, extraordinário presidente; homem de talento, escritor de mão-cheia. Ilma Melo Diniz fez um belo trabalho, naturalmente com o apoio do Governador Walfredo Gurgel – que era tio do seu marido. Ilma era uma pessoa ligada, com muita vontade. Sanderson Negreiros, que abriu o Circo da Cultura e deu continuidade a trabalhos que tínhamos desenvolvido. Sem dúvida ampliou a presença da Fundação. Franco Jasiello, também com um trabalho interessante. Cláudio Emerenciano, que deu grande nível ao órgão. É, sobretudo, um homem de nível cultural, inteligente, capacitado. Deu grandeza à Fundação. Muita grandeza. Valério Mesquita, um trabalho indiscutível. Político hábil, ampliou os quadros da Fundação mas deu-lhe prestígio e força. Paulo Macedo – para mim, um realizador, um homem com muita força de vontade. Sua obra, para mim, é o Memorial Câmara Cascudo. Houve centenas de críticas mas eu fiquei do seu lado por uma razão muito simples: é que no Brasil ou se faz a coisa quando se quer ou, se esperar pelo tempo, pela maturação da idéia, não se faz nunca; se ele obedecesse às críticas, nunca teria feito. Quanto ao Woden Madruga, fez um trabalho fantástico. “O Galo”, por exemplo, 76

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queira Deus continue por muitos e muitos anos, porque mostra o nível da cultura norte-riograndense ao País. Deixamos de ficar envergonhados com nossa literatura para ficarmos orgulhosos e elogiados lá fora. Muita gente discorda da Fundação, de algumas de suas linhas de ação dos seus dirigentes, mas uma coisa é certa: qualquer pessoa desapaixonada verá que foi (e tem sido) feito um grande trabalho, sobretudo quando se considera as dificuldades para suas realizações. A Fundação parece que tem um visgo, que pega as pessoas e essas se apaixonam e a ela se dedicam de corpo e alma. Não conheço Presidente desta Fundação que não se tenha apaixonado por ela, dedicado o melhor do seu esforço. É fácil criticar, em função de interesses políticos e da politicagem local que é da pior espécie. Nós, norte-rio-grandenses, somos apaixonados, mais do que qualquer outro povo; compare-se com o Ceará e com a Paraíba, nossos vizinhos – lá, a paixão política é muito menor do que no Rio Grande do Norte. Aqui, os amigos são ‘gênios’, ‘heróis’ e ‘santos’; os inimigos, ‘bandidos’, ‘diabos’. Numa análise fria, isenta, o que existe é muita contribuição, muito esforço de todos os presidentes e do pessoal que faz a Fundação. Isto não pode ser obscurecido e o futuro vai mostrar que estou certo, enquanto que aqueles que fazem crítica destrutiva, que procuram denegrir os seus presidentes, ‘fulano é bom’, ‘sicrano é mau’, estão errados – porque todos contribuíram para que a Fundação marcasse presença e, hoje, se tornasse um órgão nacionalmente conhecido. Creio que a Fundação é uma obra que veio para ficar, nasceu para ficar, ou seja, ela vai continuar à frente, porque os homens não terão a insensibilidade de destruir um trabalho que tem sido feito ao longo do tempo, desde Hélio Galvão até os dias atuais. Creio que a Fundação tenderá a ser um órgão à frente de todo o movimento cultural do Rio Grande do Norte, inclusive no terreno da ecologia: no meu entender, há uma tendência natural, clara, da Fundação para cuidar da ecologia. Hoje, é indissociável a cultura da ecologia. Creio que a grande contribuição que a Fundação dará, no futuro, será nesse sentido. Outro papel fundamental da Instituição seria a difusão e preservação dos valores culturais brasileiros, numa tendência de aldeia global. Nos tempos de hoje, a televisão apequena e desmoraliza as diversificações regionais histórico-culturais do povo, tornando-as universalizadas. Deve haver uma atuação junto aos órgãos de educação mais marcante, de tal maneira a voltar àquele princípio de cultura popular, de valorização das coisas do povo, de sorte a que se evite ou diminua o impacto da universalização purificante pela diversificação cromática do nosso pensamento, do nosso sentimento até. Outras coisas que considero básicas: quando estava à frente da Reitoria entendi que a Universidade deveria ser a guardiã da literatura de cordel. São, talvez, arrisco dizer, cem mil títulos, talvez mais. (Os autores dizem que temos uns vinte ou trinta mil títulos, mas acho que já passam dos cem mil.) Creio que errei, colocando esse trabalho na Universidade; a Fundação é mais dinâmica, neste sentido, e seria capaz de fazer uma biblioteca de cordel e, até, que a transformasse em objeto de estudo 40 Anos

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Fotos: Arquivos da FJA/CEPEJUL

através de computação. O cordel mostra os vários ângulos do pensamento popular, o sentimento e as raízes do nosso povo (no Museu Britânico há uma exposição permanente sobre o cordel brasileiro). Também importante é o programa Memória Viva, desenvolvido pela Televisão Universitária. São dezenas de depoimentos de figuras as mais importantes, do Estado e do País, que nos tenham visitado. Djalma Marinho, Câmara Cascudo, Hélio Galvão, Luiz Tavares – um homem do povo, mas que chegou a níveis nacionais –, Dom Hélder Câmara, Oscar Niemeyer. É um programa de imagens das matrizes do pensamento contemporâneo, depoimentos sobre o que os levaram a fazer aquilo. Também fizemos um amplo documentário sobre a música norte-rio-grandense, na Universidade. Então, ao lado do cordel, a música; ao lado da música, a imagem e o som, tentando marcar matrizes do pensamento do homem brasileiro, do homem nordestino, do homem potiguar. E complementa: Que bicho homem é esse, que está aqui?... Creio que se pode fazer isso da melhor maneira possível. Está dentro desta mesma perspectiva o Museu da Segunda Guerra Mundial, porque há imagens que se vai gravar. Sintetiza seu pensamento sobre o futuro da Fundação: Acho que a Fundação tem cumprido o seu papel, sem dúvida. Claro que houve falhas, ela depende do Governo do Estado e o Estado é pobre, há outras prioridades. Não se faz cultura com barriga vazia. Há falhas, às vezes de orientação, de metas; há o imediatismo, sem a preocupação de fazer coisas a longo prazo. Na minha gestão cometi erros, todos cometemos erros, mas, pelo menos, não-intencionais. Mas acho que o órgão tem cumprido o seu caminho e a tendência é crescer, a não ser que apareça um Governo debilóide que resolva matá-lo. A classificação não poderia ser outra: só um debilóide destruiria uma obra que vem sendo construída com tanto carinho, com tanto esforço. A menos que isso aconteça, a Fundação só tende a crescer, a se fortalecer.

Em 1966, o Gov. Mons. Walfredo Gurgel designou uma Junta para gerir a Fundação José Augusto.

Da esq. para a dir.: Paulo Viveiros, Fernando Gomes e Bianor Medeiros, três dos integrantes da Junta Governativa da Fundação José Augusto (1966-1968).

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TERCEIRA PARTE

PERÍODO DE TRANSIÇÃO (1975-1982) Fase preliminar – (1975-1979) ............................................................................................................... (a) Criação dos Centros de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine-CEPEJUL e de Desenvolvimento Cultural-CDC ....... (b) Programa de Formação de Executivos-PROFIED e surgimento do Centro de Recursos Humanos-CRH ...................................... (c) Criação e operacionalização da Consultoria Técnica ............. Fase complementar – (1980-1982) ............................................................................................. Reestruturação administrativa: (a) Criação dos Centros de Documentação-CDC e de Promoções Culturais-CPC ...................................................................................................................................... (b) Redimensionamento do CRH ..................................................................................... (c) Reativação do CEPEJUL ...................................................................................................... (d) Consolidação do Sistema Estadual de Bibliotecas ........................ Observações dos presidentes da época ............................................................................. Franco Maria Jasiello ................................................................................................................................ Cláudio Emerenciano ............................................................................................................................ Evilásio Leão de Moura ...................................................................................................................... Valério Alfredo Mesquita ...................................................................................................................

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Cláudio José Freire Emerenciano

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Fase preliminar (1975-1979) (a) Criação dos Centros de Estudos e Pesquisas e de Desenvolvimento Cultural-CDC O surgimento desses órgãos deu-se em 1974, com a expectativa de transferência para a UFRN da última faculdade ainda em funcionamento no âmbito da Entidade (a Faculdade de Sociologia e Política), estabelecida para o ano posterior. Aquele evento portanto, demarcaria o encerramento das atribuições de ensino que até então lhe haviam sido conferidas e que constituíam a característica predominante em sua órbita de atuação. A iniciativa de instalar-se aquelas unidades, assim, decorreu justamente da necessidade de implementar-se um plano de ação que viesse configurar, com inequívoca clareza, as suas novas diretrizes, doravante norteadas exclusivamente para a investigação, documentação, divulgação e preservação dos fatos e objetos que, através de múltiplas formas de manifestação, compõem a história e expressam as peculiaridades da arte e da cultura norte-rio-grandenses. Pouco a pouco, contudo, os fatos viriam demonstrar que a questão era bem mais complexa do que se supunha, no primeiro momento. Vejamos a performance de cada uma daquelas estruturas, tomadas isoladamente. Na realidade, o Centro de Estudos e Pesquisas não foi criado senão administrativamente: a nova designação jurídica – Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine, ou mais concisamente CEPEJUL – veio substituir a do antigo Instituto Juvenal Lamartine de Pesquisas Sociais, anterior, inclusive, à própria Fundação, como já tivemos oportunidade de mencionar. A história do CEPEJUL pois, está indissoluvelmente relacionada à do Instituto de Pesquisas, sendo mais apropriado, talvez, dizê-las uma só 40 Anos

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organização que teve, em dado momento, alterada a sua personalidade jurídica. Não houve qualquer alteração na estrutura remanescente, inclusive quanto ao quadro de pessoal. A perda do status de instituto coincide, conforme dissemos linhas atrás, com a transferência, logo no ano seguinte, da Faculdade de Sociologia e Política, até então integrada à sua hierarquia administrativa, para a Universidade Federal. Mas o fato é que, logo em seguida, caiu num marasmo que culminaria com a sua desativação por alguns anos. O que terá provocado tal retrocesso?... Analisando mais detidamente aquele momento, identificamos alguns fatores que nos parecem ter íntima conexão com o fenômeno, senão vejamos. Enquanto a Faculdade de Sociologia estava integrada à estrutura do Instituto, as pesquisas eram realizadas contando-se com os alunos na condição de auxiliares-técnicos (para serviços de coleta de informações, apuração e tabulação de dados). Por outro lado, grande parte das atividades desenvolvidas no Instituto era direcionada especialmente para questões inerentes ao ensino. Ora, com a saída do contingente universitário, desfalcavase seriamente o Instituto daquele suprimento de pessoal para a realização de suas pesquisas, com a circunstância agravante de que parte significativa do seu quadro compunha-se de burocratas cujo perfil, grosso modo, é incompatível com o funcionamento de um órgão de pesquisa. Tais fatores, a nosso ver, foram definidores para que ocorresse aquele estágio pouco expressivo. Mas isso é, apenas, uma explicação possível; abstraiamos essas particularidades e consideremos tão-somente o fato de que referido recesso (que se prolongaria até meados de 1979) deveu-se ao desligamento e conseqüente afastamento da Faculdade, gerando sério impacto na organização pela perda de substancial parcela de sua estrutura, requerendo algum tempo, portanto, para absorvê-lo e recompor-se. Os Centros de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine-CEPEJUL e de Desenvolvimento Cultural-CDC, foram criados pela Lei nº. 4.403, de 23.10.74. Este último (não confundir com o atual CDC, Centro de Documentação) mostrar-se-ia mais atuante e realizador que aquele, na época, quando estava prestes a se iniciar o que chamamos, aqui, de “período de transição” no curso do desenvolvimento da Entidade. Mas estava-se, ainda, na fase em que prevalecia dentre os seus interesses e preocupações o ensino superior, o que não impediria, por outro lado, a implementação de medidas aptas a refletir uma presença concreta e, assim, mais conseqüente na área explicitamente artístico-cultural. O Centro de Desenvolvimento teve participação direta, por exemplo, no processo de operacionalização do Sistema Estadual de Bibliotecas – iniciada 82

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no ano anterior – na criação e implantação da Consultoria Técnica (a qual, por sua vez, operaria projetos importantes, como veremos no próximo item), na promoção de eventos culturais, como encontros folclóricos e literários e, enfim, na organização e execução de um dos seminários mais oportunos de quantos já foram realizados nesta Fundação, versando sobre a valorização do Patrimônio Histórico e Artístico, quando se buscava levantar as prioridades nessa área, na esfera estadual. Não poderia ser mais produtivo, todavia, face a alguns fatores, dentre os quais destacaríamos: (a) a ausência de uma política cultural melhor definida, do que resultaria maior visibilidade técnica e, conseqüentemente, o alargamento das alternativas de intervenção; (b) a insuficiência, em seus quadros, de técnicos com percepção (sensibilidade) cultural algo mais acurada (diversamente do que ocorre hoje, conforme veremos em outra parte) e, enfim, (c) a discreta participação da crítica especializada, assim como de produtores culturais, fosse incentivando e estimulando com sugestões, fosse provocando e instigando com o exame severo daquelas iniciativas, cingindo-se, via de regra, a uma postura moderada, mais descompromissada do que reivindicativa. Assim, aquela adinamia expressava, até, a pacata vida provinciana, perpassada por um certo conformismo. Considere-se, outrossim, que mal havia nascido o movimento em busca da memória cultural, das tradições históricas e artísticas da Nação.(5) Sob tal prisma, nossa comunidade não se achava, ainda, imbuída do sentimento e do propósito de resgate social do passado potiguar, do conjunto dos hábitos e costumes, lendas, artes, letras – feitos e fatos – que delineiam e conformam o perfil histórico-cultural do homem norte-rio-grandense. Diversamente das polêmicas e severa avaliação crítica que permeiam e nutrem as iniciativas da atualidade, portanto, a comunidade se postava antes neutra que questionadora, com o que, sem chegar a tolher, ao menos dificultava ________________________

A Semana de Arte Moderna (1922), a que se seguiu em decorrência natural o Movimento Pau-brasil (1924), liderados por Oswald de Andrade, rompendo com os padrões europeus e valorizando a arte e a literatura nativas, e a criação da Sociedade Brasileira de Folclore (1941), por Câmara Cascudo, emergiram, espontâneos, dessa ingente necessidade; porém, mesmo cumprindo importante papel nesse processo não lograram persuadir a sociedade numa dimensão mais ampla (especialmente o Governo Federal, a quem cumpriria definir estratégias direcionadas para tal fim), praticamente ficando tais idéias circunscritas a setores pontuais da intelectualidade: nem todos compartilhavam aquelas inovações. À percepção daqueles pioneiros, enfim, juntar-se-ia a implantação do Programa Integrado de Reconstrução de Cidades Históricas do Nordeste (1973), pelo MEC, incluindo monumentos, manifestações culturais e obras de arte, programa esse que se inspirava, decerto, em linha de ação correspondente desenvolvida pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), qual seja a de proteção ao patrimônio cultural. Demandaria algum tempo, ainda, a exata compreensão e fixação, no seio da sociedade, de sua inquestionável necessidade, hoje um fato. (5)

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o processo natural de aprimoramento do sistema. Em outras palavras, não ocorrendo uma determinada pressão da coletividade, face à qualidade dos serviços que lhe são prestados – e não só na área cultural, claro! –, pressão essa que se pode manifestar sob a forma de sugestões e/ou de reivindicações, no apontamento de alternativas de ação ou, ainda, de crítica a eventuais inadequações e desacertos, presume-se a aceitação, sem reservas, do modelo então adotado, com o que se abrem espaços para os lugares-comuns e, enfim, para a rotina. Este risco foi superado, contudo. Apenas pretendemos registrar o fato para dar uma idéia dos percalços e dificuldades, muitas vezes as mais sutis, com que chegaram a se defrontar administradores e técnicos da Fundação: é evidente que, se não havia um referencial seguro para que se realimentasse o processo programático, muito provavelmente este fator terá contribuído para a relativa demora da Entidade em se afirmar como instrumento cultural, após a saída do último curso universitário por ela mantido. A despeito desses fatos, porém, o Centro de Desenvolvimento Cultural foi produtivo, evoluindo de forma a que, no fim daquela década (70), já se mostrava com a estrutura obsoleta, mal conseguindo comportar a diversidade de linhas de ação que lhe competia operacionalizar. Esse crescimento espontâneo e, de certa forma, desordenado, suscitou a que, em dado instante, nova reformulação administrativa viesse cindir aquela mencionada estrutura, desdobrando-a em dois novos Centros, os de Documentação e de Promoções Culturais. Foram diretores do Centro de Desenvolvimento Cultural, ao longo de seis anos de existência, Ana Emília de Melo Cortez, Jansen Leiros Ferreira, Tarcísio Gurgel e Deífilo Gurgel, nesta ordem.

(b) Programa de Formação de Executivos-PROFIED e surgimento do Centro de Recursos Humanos-CRH A história do Centro de Recursos Humanos-CRH, em certa medida, interpenetra-se e se confunde com a do primeiro trabalho que executou, exatamente o Programa de Formação Integrada de Executivos para o Desenvolvimento-PROFIED. Aliás, foi exatamente a implantação desse Programa que requereu a criação do CRH, cujos primeiros cinco anos de atividade resumiram-se a administrá-lo. Vimos há pouco que o CEPEJUL, oriundo do Instituto Juvenal Lamartine, não resistiu ao afastamento da Faculdade de Sociologia; aqui dá-se fenômeno inverso, isto é, com a extinção do PROFIED é que o CRH adquire maturidade e se impõe com efetiva e indivisível personalidade. Tomemos, pois, para efeito de melhor entendimento a compreensão desse 84

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órgão, esses dois momentos, ou seja, a fase em que predomina o PROFIED e aquela exclusivamente liderada pelo Centro de Recursos Humanos. O PROFIED originou-se de uma experiência de formação de quadros dirigentes, realizada em Natal entre 1973 e 1974. Esse trabalho compunha o Programa Global de Desenvolvimento Integrado do Estado, contando com a participação de uma equipe interprofissional, selecionada de organizações locais, sob a coordenação e orientação de especialistas do Consórcio CITACO-BATTELE. Os estudos e reflexões desenvolvidos naquela oportunidade levariam a uma proposta de criação de um programa para a formação de executivos, a qual contaria com o apoio e patrocínio do Programa Nacional de Treinamento de Executivos-PNTE, órgão vinculado à Secretaria de Planejamento da Presidência da República. Como resultado, foi elaborado o projeto de implantação do PROFIED, preliminarmente aprovado pela SEPLAN/RN e, em seguida, em caráter conclusivo, pelo aludido PNTE. Como conseqüência, foi firmado um convênio entre o Governo do Estado e aquele órgão ministerial, tendo como intervenientes a SUDENE, a Secretaria de Estado da Educação e Cultura, o Núcleo de Assistência Empresarial do Rio Grande do Norte-NAE e o Instituto Euvaldo Lodi-IEL. Das propostas de solução institucional aprovadas para a operacionalização do Programa, foi selecionada e designada a Fundação José Augusto por ser adequado o modelo organizacional desta instituição aos seus propósitos e finalidades. Assim, no dia 28.11.75, através do Ato Institucional nº. 232/75, foi feita a nomeação do Coordenador do Programa e a sua implantação oficial. A finalidade básica do PROFIED era a de articular e desenvolver dirigentes e intermediários da área empresarial, de sorte a aprimorar e intensificar a sua produtividade no desempenho funcional. Em síntese, as ações concretizadas por aquela estrutura, ao longo de sua existência, compreenderam: (a) Um curso de Capacitação Técnica para o sistema estadual de planejamento; (b) Dois cursos de Aperfeiçoamento em Planejamento e Administração de Universidades, em convênio com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN; (c) Sete cursos de Formação de Recursos Humanos para órgãos diversos e, (d) Onze seminários, abertos e fechados, para organizações públicas e privadas, respectivamente, além de mais um seminário nacional de Valorização do Patrimônio Histórico e Artístico, em convênio com a SEPLAN/PR. 40 Anos

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Além dessas atividades, realizou ainda uma intervenção de consultoria em desenvolvimento organizacional em empresa de economia mista do Estado, uma pesquisa sobre órgãos de formação profissional no Nordeste e alguns estudos sobre metodologias de treinamento, baseadas no conceito de autoformação. A partir de janeiro de 1978, com a extinção do PNTE, passou aquele programa a ser financiado pelo Centro Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresas-CEBRAE, através do Centro de Apoio à Pequena e Média Empresas do Rio Grande do Norte-CEAG/RN, órgão com o qual esteve a Fundação José Augusto conveniada até 31.12.79, quando então foi desativado e, portanto, extinto o PROFIED. Em janeiro de 1980, assim, o CRH passou a existir de fato, com os seus objetivos próprios. Era seu diretor José Bezerra Marinho, sendo coordenadores do PROFIED Flávio José Dantas de Oliveira e Paulo Fernandes de Oliveira. Voltaremos a tratar do Centro de Recursos Humanos no devido tempo, a partir de fevereiro de 1980.

(c) Criação e operacionalização da Consultoria Técnica Dizíamos há pouco da significativa presença do Centro de Desenvolvimento Cultural-CDC no decorrer das mudanças por que passava a Fundação José Augusto, especialmente após a transformação do Instituto Juvenal Lamartine de Pesquisas Sociais-IJLPS no Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine- CEPEJUL, do que resultou, como referimos, sensível declínio em seu desempenho operacional (já mencionamos, inclusive, a que se deveu tal malogro), a ponto de chegar a entrar em recesso durante alguns anos.(6) Na verdade, esses dois organismos – CDC e CEPEJUL – deveriam constituir os pilares de sustentação programática da instituição mas, enfim, este papel passou a ser da exclusiva responsabilidade do CDC, que viria naturalmente a se ressentir com o peso suplementar de suas atribuições técnicas (confecção de planos de ação e de projetos, por exemplo) e aquelas mais especificamente culturais. Assim, se havia competência, faltava agilidade: a despeito de todo o esforço da equipe, muitas oportunidades de capitalização de recursos eram seguidamente desperdiçadas em virtude do fator tempo. O então _________________________

No período, o CEPEJUL passou a funcionar na condição de simples Coordenadoria do Centro de Desenvolvimento Cultural, então uma Diretoria. (6)

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presidente, Sanderson Negreiros, constatando a imperiosa necessidade de dinamizar a produção de projetos e, ao mesmo tempo, percebendo o impasse, deliberou no sentido de criar um setor especializado que viesse suprir aquela defasagem, servindo como base de apoio, em conjunto com o Centro de Desenvolvimento, para a política de interiorização da ação cultural que tentaria concretizar. Após algumas reuniões com auxiliares e o estabelecimento de contato com dirigentes de outras instituições, dentre os quais João Faustino, então Secretário Estadual de Educação, e Marlúsia Saldanha, à época Coordenadora do Grupo Especial de Programação (GEP) do SESI, a 12 de agosto de 1975 a Consultoria Técnica era instalada e iniciava suas atividades. A equipe compunha-se de um sociólogo, dois economistas, uma assistente social, um arquiteto e um desenhista, este, universitário de arquitetura, com a função de auxiliar nos projetos da área de restauração de monumentos. Foi providencial, sem dúvida, aquela iniciativa. Aliás, a identificação de uma determinada situação-problema só se torna efetivamente útil quando, à tal percepção, seguese o não-conformismo; este é o fator sine qua non para estabelecer-se uma estratégia visando revertêla. Instr umentava-se a Entidade, pelo inconformismo com a esdrúxula circunstância, com um setor que se mostraria bastante produtivo durante sua relativamente curta existência (cerca de quatro anos), confirmando o acerto da medida tomada naquele momento específico. Sanderson Negreiros ex-Presidente Referimos em outra parte que os projetos do Centro de Turismo de Natal (a partir da restauração da antiga Casa de Detenção), Casarão do Antunes e Casa-Grande do Engenho Guaporé (ambos no município de Ceará-mirim), do Solar do Ferreiro Torto (em Macaíba) e o do Circo da Cultura, que atuava em todo o Estado, foram alguns dos trabalhos mais emblemáticos daquele órgão. Mas se o advento da Consultoria Técnica, por um lado, desafogava o Centro de Desenvolvimento quanto à elaboração de projetos, não o cobria, mesmo porque não tinha essa função, quanto à execução das metas, ou seja, a promoção de eventos nas diversas manifestações – artes plásticas, literatura, cultura popular, música, etc. –, o gerenciamento dos museus e da biblioteca, a produção de documentários e outras intervenções próprias ao sistema. Pouco a pouco – mas de forma irreversível – desenhava-se, outra vez, a 40 Anos

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Foto: Arquivos da FJA /CEPEJUL

necessidade de alterações estratégicas na estrutura da Fundação. Desta feita, porém, seriam mais profundas e duradouras. É o que veremos, a seguir. Em todo o transcurso da existência da Consultoria Técnica (1975-1979), foi seu chefe Luís Carlos Cabral; anos mais tarde seria criada a Assessoria Técnica com atribuições similares de formulação de projetos para todo o sistema e de acompanhamento técnico da execução orçamentária da Entidade. A Assessoria Técnica, por sua vez, foi dirigida por Evane Longo da Silva Torres.

Solar do Ferreiro Torto (Macaíba), um dos últimos exemplares da arquitetura rural do século XIX no RN. 88

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Fase Complementar (1980-1982) Reestruturação administrativa (a) criação dos Centros de Documentação-CDC e de Promoções Culturais-CPC Na segunda metade do Governo de Tarcísio Maia (1975-1979), Franco Maria Jasiello foi investido no cargo de Presidente da Fundação José Augusto. Naquele período deu-se nova reforma do Regimento Geral da Entidade, aprovado pelo Conselho Diretor em 18.11.77 e publicado no Diário Oficial em 19.01.78. Dos órgãos de operação remanescentes, o CEPEJUL, cuja existência era tão-somente virtual, foi momentaneamente deixado à parte, permanecendo apenas o Centro de Desenvolvimento Cultural e o Centro de Recursos Humanos-CRH, este último criado três anos antes (outubro de 1974), justamente quando surgia o CEPEJUL oriundo do então extinto Instituto de Pesquisas. A experiência não foi positiva. Mesmo contando com a Consultoria Técnica – a qual cumpria, basicamente, formular projetos para todo o sistema, afora realizar o acompanhamento técnico da execução orçamentária da Fundação –, o volume de atribuições do Centro de Desenvolvimento praticamente o inviabilizava. Duas coordenadorias, apenas, geriam praticamente todas as atividades da Casa, senão vejamos: à Coordenadora de Atividades do Patrimônio Histórico e Artístico competia: (a) “coordenar e supervisionar as atividades de restauração, conservação e manutenção do patrimônio histórico e artístico do Estado” e (b) “programar e supervisionar as atividades de pesquisa artístico40 Anos

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cultural necessárias à Fundação” (este segundo item de suas atribuições, como se vê, praticamente pretendia abarcar as ações antes pertinentes ao CEPEJUL). Quanto à Coordenadoria de Atividades Culturais, cabia: (a) “coordenar a execução do programa estabelecido para as áreas de cursos, concursos e exposições”; (b) “elaborar a programação e coordenar as atividades do Circo da Cultura, do Carro-biblioteca e do Carroção da Cultura”; (c) “compatibilizar a programação das bibliotecas e orientar o desempenho das atividades dos museus”, e (d) “elaborar a programação e supervisionar o desempenho das atividades de documentação sonora e fotográfica da Fundação”. Note-se que não há qualquer referência sobre a qual das duas coordenadorias cumpriria responsabilizar-se pelo armazenamento e manutenção de documentos. A gestão de Franco Jasiello, não obstante, foi fecunda, especialmente quanto à restauração de monumentos tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN, mas o próprio Franco, em capítulo específico (pp. 101-102), com bem mais propriedade discorre a respeito. Em maio de 1979 – havia pouco Lavoisier Maia Sobrinho fora empossado Governador do Estado –, Sanderson Negreiros foi reconduzido à chefia da Fundação. Desta feita, porém, permaneceria brevíssimo tempo no cargo, em virtude de sua anuência a novo convite profissional (assumiria uma pró-reitoria na Universidade Federal do Rio Grande do Norte). Com a vacância do cargo, foi convocado o Prof. Cláudio José Freire Emerenciano. Era flagrante, àquela altura, o quase imobilismo a que estava sujeita a Fundação, o crescimento desordenado do CDC e os inúmeros encargos de suas coordenadorias – conforme vimos –, e aquele congestionamento figurava a necessidade de urgente modificação na sua estrutura. A Consultoria Técnica, por sua vez, apresentava um perfil sobremodo diferenciado daquele dos primeiros tempos. De certa forma se despersonalizara, se transmutara de órgão formalmente constituído para a formulação de projetos em apêndice do sistema administrativo e financeiro e do CRH. A realidade é que, em síntese, haviam se esvaziado os objetivos que a concretizaram. Só para se ter uma idéia aproximada do problema considere-se o fato de que, por volta de meados de junho daquele ano (1979), foram terceirizados serviços para elaboração de projetos, ocorrência similar vindo a se repetir em dezembro. 90

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Bem, o novo presidente chegara com idéias novas. Queria dinamizar e expandir as atividades, envolver maior número de manifestações e, para isso, precisava contar com um corpo técnico ágil, com maior flexibilidade de ações. Instigou seu pessoal, nesse sentido. Os resultados foram aquém de suas expectativas e isso o levaria, por fim, a realizar as mudanças que se impunham absolutamente inadiáveis, as quais se concretizariam com o advento da Lei nº. 4.923, de 17.12.79. Ao instituir essa lei o Governo demarcava, de forma indelével, o antes e o depois no trato da coisa cultural no âmbito do Estado. A partir de sua implantação e, especialmente, com a implementação das medidas fundamentais ali expostas, a Fundação José Augusto conseguiu, afinal, “desemperrar” a máquina administrativa e deslanchar em seus diversos segmentos operacionais. O CEPEJUL retornou ao sistema, deixando a pesquisa de ser mero núcleo incrustado numa coordenadoria de atividades culturais, o CRH foi redimensionado de forma a tornar-se mais desenvolto e agressivo e o Centro de Desenvolvimento foi fracionado, dando origem a dois novos centros – o de Documentação e o de Promoções Culturais –, passando a apresentar-se a Fundação com novo organograma (V. pp. 93-94). Quanto aos dois prefalados centros (CDC e CPC), uma particularidade os distingue, naquele início, senão vejamos. Quando o Centro de Desenvolvimento foi desmembrado, toda a estrutura remanescente (salas, mobiliário, equipamentos e quadro de pessoal) foi automaticamente incorporada pelo Centro de Promoções, em detrimento do Centro de Documentação. O fato, aparentemente esdrúxulo, tem uma explicação, não uma justificativa, necessariamente. Para grande parte da Fundação, notadamente para o pessoal oriundo do ex-Centro de Desenvolvimento, este apenas tivera alterada a denominação, enquanto que o CDC estava sendo criado naquele instante. Esta perspectiva, certamente incorreta, era reforçada pelo fato de que o diretor do órgão em extinção, assim como as suas demais chefias, assumira a direção do CPC, ocorrendo assim uma continuidade natural, linear, em todos os sentidos, inclusive o programático. Para os que viam por essa ótica é evidente que, a rigor, nada mudara. Ao CDC, portanto, cumpria iniciar do marco-zero, muito embora compreendesse, logo de saída, as Coordenadorias de Bibliotecas e de Atividades do Patrimônio Histórico e Artístico, esta última com os Núcleos de Restauração e de Museus, além do Setor Fotográfico. Passaria a gerir, ainda, a Coordenadoria de Produção e Documentação, com núcleos correspondentes. Na verdade, é este o Centro mais amplo da Fundação, homogêneo nos 40 Anos

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fins e propósitos, mas heterogêneo nas formas de intervenção. Quanto às ações a serem implementadas por esta última coordenadoria, isto é, no campo específico da documentação, tudo estava por fazer, inclusive a própria infraestrutura. Dentro das limitadas condições que se ofereciam, as providências foram sendo tomadas. Pouco a pouco se foi desenhando e fixando o perfil do novo órgão. Seus objetivos principais, afora aqueles próprios exclusivamente das bibliotecas e do Núcleo de Restauração, são os de “guardar e preservar os bens culturais móveis e facilitar o seu acesso à comunidade, através das atividades museológicas e arquivísticas, bem como produzir e promover a editoração de documentos de valor cultural”. Naturalmente tais objetivos pressupõem a pesquisa histórica, com a aplicação de diversos instrumentos e técnicas. E eles foram perseguidos a cada projeto e a cada iniciativa, nos limites das possibilidades existentes. No período que estamos tratando, foi diretor do Centro de Documentação Tarcisio Rosas. Quanto ao Centro de Promoções, como já dissemos, manteve a composição técnico-administrativa do Centro de Desenvolvimento, seu antecessor, e tornou-se, não obstante, claramente mais funcional e produtivo; libertara-se da pesada carga a tolher-lhe os movimentos, repassando-a ao CDC. Este aspecto foi vital, dentro da política de dinamização do órgão que estava sendo implantada. Com efeito, ao transferir as Coordenadorias de Biblioteca e de Atividades do Patrimônio Histórico e Artístico, esta última com os setores de restauração de monumentos e de museus, para o CDC, tornou-se mais ágil, iniciando uma política de intensa participação na área promocional de eventos – em conformidade com os seus objetivos –, aí destacando-se as artes plásticas e o folclore, em suas variadas manifestações. Aliás, era justamente esse o efeito pretendido, conforme estipulam os seus objetivos, assim descritos no Regimento Geral da Fundação: “promover atividades na área cultural, estimulando a prática da arte e da cultura e difundidoas, através do apoio aos produtores culturais no campo das artes plásticas, cênicas, musicais e outras”, para isso desenvolvendo “uma política estadual de interiorização da ação cultural”. Sua estrutura, compreendendo as Coordenadorias de Atividades Artísticas e de Divulgação e Promoção, com os Núcleos de Desenvolvimento Artístico, Criatividade, Divulgação e Promoções, implementou múltiplos projetos, destacando-se a modernização e a estadualização do Circo da Cultura, a criação da Feira Cultural, a realização de encontros e festivais anuais de teatro, 92

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folclore e mamulengos e pelo menos meia dúzia de projetos visando à recuperação e manutenção de grupos folclóricos - com a aquisição e doação de instrumentos e adereços. Deífilo Gurgel foi seu primeiro diretor.

(b) redimensionamento do CRH Dizíamos a certa altura que o Centro de Recursos Humanos, ao longo dos seus primeiros cinco anos de funcionamento, resumia-se praticamente ao PROFIED. Este programa predominava de tal forma sobre aquele órgão que a imagem projetada, fora da Fundação, era a de sua existência como entidade autônoma, sendo desconhecida, ou muito pouco conhecida, a do CRH. Mas tudo tem sua razão de ser. Ora, o Programa Nacional de Treinamento de Executivos-PNTE dispunha de verbas em larga escala. Já dissemos que era órgão pertencente à estrutura da Secretaria de Planejamento da Presidência da República, fato que fala por si mesmo. O PNTE, pois, em suma, dava apoio ao PROFIED, proporcionando-lhe os meios imprescindíveis ao seu desenvolvimento, diversamente do que ocorria com o CRH propriamente dito, cujo orçamento, além de extremamente despretensioso, era gerido de forma parcimoniosa. Mesmo após a extinção do PNTE, em 1978, o PROFIED continuou prestigiado, desta vez pelo CEBRAE e através do CEAG/RN, cujo convênio veio a extinguir-se a 31 de dezembro de 1979, fato que teve como conseqüência imediata o fim puro e simples do PROFIED. Uma nova década se iniciava e o CRH deveria encontrar o seu próprio caminho. Se o PROFIED e suas provisões orçamentárias já não existiam e se as verbas destinadas ao Centro continuavam extremamente insuficientes, urgia uma reformulação nos conceitos de trabalho, uma ação mais enérgica no sentido de captação de recursos, e isso era, em síntese, o ponto crucial a desafiar a criatividade dos novos dirigentes daquele órgão. Seguindo o espírito que movia os demais órgãos da instituição – CEPEJUL, CDC e CPC –, o CRH sem demora executou um plano sistemático de contatos com entidades as quais pudessem interessar a realização de cursos e seminários e, a partir daí, começou efetivamente a adquirir personalidade própria. Os objetivos daquela organização se resumiram a: (a) planejar, coordenar e executar atividades de capacitação técnica de recursos humanos, no Estado; (b) oferecer assistência técnica, na área de recursos humanos, a organizações públicas e privadas, e 40 Anos

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(c) promover estudos e pesquisas sobre recursos humanos, no Rio Grande do Norte. Duas Coordenadorias, a de Programação Didática e a de Assistência Técnica, desenvolviam os projetos e trabalhos do Centro; a primeira delas, planejava e executava os seminários e cursos abertos e fechados (isto é, sem restrições quanto à clientela e exclusivos para determinadas organizações), de curta e média duração, enquanto a de Assistência Técnica era responsável pela elaboração e execução de projetos de pesquisas e por atividades de assessoria e consultoria técnica. Pouco a pouco este Centro se foi firmando no conceito e no respeito da comunidade e os seus cursos e seminários, sempre rigorosamente planejados e executados, constituíram um acontecimento de significação expressiva na área de conhecimentos em que se realizaram. No período de que estamos tratando, Paulo Fernandes foi o seu diretor.

(c) Reativação do CEPEJUL Ficamos em que o CEPEJUL fora desativado, quando do desmembramento da Faculdade de Sociologia e Política de sua estrutura. Em 1979 retomaria, então renovado, refeito em seus quadros, emulado e, o que é importante, com a firme determinação de realizar os estudos e pesquisas de há muito reclamados pela Instituição. Com efeito, desde suas origens os objetivos que o orientam são os de “exercer atividades de planejamento, elaboração e avaliação de projetos de pesquisas, sejam de caráter oficial ou particular, direcionados, com

Capas de livros do Programa “História do seu Município”, executado pelo CEPEJUL, no início dos anos 80. 96

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Eduardo Gomes (atual Parnamirim), Florânia e Caicó também foram parceiros da Fundação, neste programa.

especialidade, para a realidade norte-rio-grandense e regional”. Para isso devemos acionar mecanismos que levem ao “intercâmbio com instituições afins, da área sócio-econômica e cultural”, conforme dispõe o Regimento Interno da Fundação. Constitui-se, portanto, num órgão destinado a dar suporte às promoções da política cultural, bem como aos planos de estudos sócio-econômicos da Fundação José Augusto e, ainda, a atender a demanda eventual de pesquisas oriundas do setor privado. Naquele retorno confirmaria os seus propósitos de recuperar, digamos assim, o tempo perdido, de imediato iniciando o processo de reformulação de propostas de trabalho. Assim, nos anos que estamos tratando, o CEPEJUL já arrancava com intensa participação. Por aquele período foram iniciados trabalhos importantes e de alto significado social, dentre os quais podemos destacar A Política de Combate à Seca – antes e depois da SUDENE, Levantamento dos Usuários da CAERN, Levantamento e Diagnóstico das Favelas de Natal, Desemprego e Educação, História do seu Município, Crescimento Vertical de Natal e a História do Futebol Natalense (este último trabalho, infelizmente, não pôde ser concluído àquela época e foi arquivado para ulterior retomada). Com o primeiro desses estudos tentava-se proceder a uma análise comparativa de como se dera o processo de intervenção do Governo Federal nos longos períodos de estiagem, desde o começo do século XX e até o advento da SUDENE, e as estratégias adotadas posteriormente. Foi um estudo complexo, minucioso e que teve como referencial básico os jornais da oposição e da situação de todas as capitais do Nordeste. 40 Anos

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Com relação ao trabalho executado para a CAERN, teve nuanças bastante dinâmicas. O número de técnicos existentes no Centro era insuficiente para cobrir a quantidade de domicílios prevista para o projeto, sendo necessária a contratação de pessoal em regime extra. Uma Kombi Volkswagen foi adquirida e um ônibus contratado para assegurar a distribuição diária do pessoal em pontos estratégicos da cidade. Vê-se, portanto, nos primeiros anos daquela época toda a equipe do Centro estava envolvida nesses projetos. O seu diretor, então, era o sociólogo e professor Itamar de Sousa.

(d) Consolidação do Sistema Estadual de Bibliotecas

Foto: Arquivos da FJA / CDC

Dissemos que aquele ano de 1980 foi um marco no processo de desenvolvimento da Fundação. A nova mentalidade implantada, fundamentalmente direcionada para a ampliação das linhas de ação do órgão, mas a partir de bases seguras, conscientes, terminou por operar resultados positivos. Aquela mudança na estrutura, eliminando o risco de paralisação do

Biblioteca Pública Câmara Cascudo, na Rua Potengi, em Petrópolis, centro de Natal. 98

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sistema com o estrangulamento do ex-Centro de Desenvolvimento, com o tempo mostraria ter sido providencial. Aos novos Centros de Documentação e de Promoção Cultural somavamse o ressurgimento dos Centros de Pesquisas e de Recursos Humanos com novo ânimo, com vontade de acertar, todos imbuídos da convicção de que só com muita criatividade e dinamismo seria possível chegar à construção efetiva de um canal viabilizador, de um caminho conseqüente. Em todas as frentes programáticas, pois, havia empenho e dedicação, apesar de eventuais fragilidades técnicas em alguns setores específicos. Como se deu esse processo, no âmbito da Biblioteca Pública Câmara Cascudo? De início, diga-se que a Biblioteca, a partir daquele instante, também sofreria reformulações e apresentaria um novo estilo de trabalho. Pouco a pouco ela permearia, por acréscimo, um plano de atividades mais flexíveis, onde não só o papel da biblioteca tradicional fosse o centro das atenções e preocupações mas, também, a elevação dos padrões culturais da comunidade, através de sua clientela. Claro, a leitura (o livro, o leitor) continuava sendo o ponto principal, a essência de sua nova postura. Esta concepção prevalece até nossos dias (2003): ela vem desempenhando não só a função de mantenedora de dezenas de milhares de livros e documentos congêneres mas, inclusive, a de núcleo catalisador e disseminador da arte e da cultura, seja co-participando de inúmeras das ações desencadeadas pela Fundação ou por iniciativa própria. Logo naquele tempo, sem se descuidar dos seus projetos de extensão (Caixas-Estantes, Carro-Biblioteca e Feira de Livros), afora o programa permanente da Sala Infantil, não raro participava de atividades de outros segmentos operacionais da Instituição: Feiras Culturais (enquanto perduraram), artes plásticas (estas já constituindo parte integrante de sua própria estrutura física e programática, através da manutenção de uma sala de exposições), literatura e, certa vez, até, cinema. Foi em 1982. A Fundação, conjuntamente com a Universidade, com as Secretarias Estadual e Municipal de Educação e com o Cine Clube Tirol, desenvolveu o projeto Espaços Culturais Cinematográficos em Diferentes Contextos Sociais, cuja essência era a projeção de filmes informativos e formativos, seguidos de debates com os espectadores, experiência essa levada a diversos bairros de Natal e a outros municípios. A Biblioteca aproveitou a idéia e programou uma projeção semanal, na Sala Infantil, dentro do mesmo sistema – certamente adaptando o padrão dos debates à natureza do público. Outros projetos da Biblioteca registraram essa tendência à fuga do 40 Anos

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Foto: Arquivos da FJA/ BPCC

estilo ortodoxo de trabalho: concursos literários, palestras, treinamentos. Mas há um projeto mais ambicioso, da maior repercussão, cujos primeiros passos foram ensaiados ainda em 1974: a organização de bibliotecas em todo o Estado, com vistas à implementação de um sistema estadual integrado. A respeito, diz Diógenes C. Lima, então presidente do órgão: Um plano seguramente de grande significação foi o de tentarmos fazer uma biblioteca em cada município do Estado. Cento e cinqüenta bibliotecas no Rio Grande do Norte. Se não atingimos o total, grande parte foi atingida. Na verdade, em que pese os seus esforços, apenas sete anos depois, através do Decreto nº. 5.075, de 18.01.81, seria criado o Sistema Estadual de Bibliotecas, tendo como meta prioritária a implantação de bibliotecas nos municípios ainda sem esse tipo de estrutura, reunindo-as sob um programa integrado. O trabalho foi desenvolvido a partir de convênio celebrado entre o Instituto Nacional do Livro-INL, a Fundação José Augusto e as respectivas Prefeituras Municipais. Coube à Biblioteca Pública Câmara Cascudo a coordenação do sistema, o que se concretizava na prestação de assistência técnica às demais unidades,

Flagrante do carro-biblioteca em plena atividade num dos bairros da periferia de Natal. 100

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na realização de supervisões periódicas, na redistribuição de material bibliográfico e, anualmente, na promoção de treinamentos de atualização. A partir de 1975 a Biblioteca foi coordenada por Ana Emília de Melo Cortez (1975-1976), Eliana Lúcia Pessoa (1977-1980), Maria do Socorro Cunha de Matos (1980-1983), Zila da Costa Mamede (1983-1985), novamente Maria do Socorro Cunha de Matos (1985-1987), Neusa Pinheiro de Medeiros (19871991), Sônia Santos Ferreira (1991-1994), Ana Cristina Tinoco (1995-1996), Maria Luíza Morais Araújo (1996-1998), Rejane Lordão Monteiro (1998-2002) e, atualmente (2003), mais uma vez está sendo administrada por Maria do Socorro Cunha de Matos.

Observações dos presidentes da época Quando Diógenes da Cunha Lima deixou a Presidência da Fundação, em 1974, foi substituído pelo Jornalista Sanderson Negreiros. Aproximava-se o fim daquela fase em que predominara o ensino universitário e caberia justamente a Sanderson (professor universitário, cronista e poeta) operacionalizar a transição. Isso já foi descrito exaustivamente, em outra parte. Não fora o impacto sofrido pelo Centro de Pesquisas (oriundo do Instituto de Pesquisas, mudança ocorrida em outubro daquele ano) com a saída da Faculdade de Sociologia, poder-se-ia dizer que, embora lenta, essa etapa transcorrera naturalmente, de maneira progressiva e segura. Algumas alterações estratégicas, do ponto de vista administrativo, foram efetuadas. Importantes convênios foram firmados, inclusive o que originou o famoso PROFIED. Uma consultoria técnica foi criada, em 1975, provendo o órgão de uma equipe exclusivamente direcionada para a geração de projetos. Data desse período, e isso também já foi assinalado, algumas importantes propostas (que se concretizariam) de restauração de monumentos, dentre os quais a Casa-grande do Engenho Guaporé, o Ferreiro Torto e a Casa de Detenção (atual Centro de Turismo); iniciativas na área da cultura popular (Circo da Cultura, por exemplo), entre outras. Sanderson passou o cargo a Franco Jasiello, que assim se pronunciou. Franco Maria Jasiello Ocupei a Presidência da Fundação José Augusto de agosto de 1977 até maio de 1979, apesar de exercer o cargo de Presidente (extra-oficialmente) desde meados de 1976, inicia Franco. Durante minha administração, prossegue, foi dada grande ênfase ao Programa de Restauração de Monumentos Históricos e Artísticos, através da 40 Anos

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fixação do Setor, da elaboração de praticamente todos os projetos arquitetônicos que se encontravam em fase de estudos e da restauração e inauguração dos monumentos Casarão do Antunes e Casa-grande do Engenho Guaporé, em Ceará-Mirim; Solar do Ferreiro Torto, em Macaíba, e Câmara Municipal de Acari, deixando prontas para inauguração a Igreja do Rosário, também de Acari, e a Casa Paroquial de Jardim do Seridó. Lembra que, em sua gestão, foi redigido o Anteprojeto de Proteção do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado, posteriormente transformado em Projeto e aprovado pela Assembléia Legislativa, tornando-se Lei Estadual. Em seguida, passa a elencar outras ações, no período: (a) foi criado o Encontro de Mamulengos do Nordeste, em convênio com a FUNARTE/Campanha de Defesa do Folclore, e revitalizado o Teatro Amador, com encenação de peças e ajuda a grupos; (b) foram criados os Prêmios de Pintura Newton Navarro e ‘Governador do Estado’ e o Prêmio Literário Fundação José Augusto; (c) foi revitalizado o Circo da Cultura, cuja equipe, basicamente fixa, passou à visitação média de trinta municípios por ano; (d) foram realizados cursos para várias entidades, através do Centro de Recursos Humanos, com especial destaque para dois encontros. O primeiro, de relevância interna: Seminário sobre a Situação da Fundação, em que todos os participantes, a maior parte dos funcionários, tiveram facultada a palavra para debater, criticar, pleitear e sugerir. O segundo, de relevância nacional, com a participação dos maiores nomes na área, sobre Restauração Histórica e Artística; (e) no campo editorial foram feitas várias edições e, inclusive, foram inciados os serviços editoriais de Dante Alighieri e a Tradição Popular no Brasil, de Luís da Câmara Cascudo, 2ª. edição, e feito o lançamento, na Fundação Casa Rui Barbosa, da Antologia de Cordel, de João Batista Nunes, com o patrocínio da Shell do Brasil. Quanto às dificuldades encontradas, assim se expressa o Prof. Franco Jasiello: (...) foram as que, em grande parte, continuam, até de forma mais grave: exigüidade de verbas, falta de um sistema de divulgação adequado, desconhecimento por parte do público, em geral, e dos produtores culturais, em particular, das reais finalidades de uma Fundação Cultural, de suas funções e limitações, adiantando que os aspectos positivos podem ser representados por tudo que ficou em definitivo e permitiu aos sucessores melhorar, ampliar e inovar. Indagado sobre como vê a Fundação, hoje, Franco foi claro: Considerando a situação específica do País, especialmente no âmbito cultural, e a exasperação das pretensões dos produtores e de alguns consumidores culturais, não poderia ser melhor. Muito está sendo feito e declaro, isentando-me de emocionalismos de qualquer espécie, que ninguém poderia 102

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fazer mais e melhor. Pela primeira vez na História da Cultura deste Estado, há um espaço aberto para as letras, para os velhos e novos talentos, que o jornal – revista ‘O Galo’, confundido, pelos mal-informados, ou malintencionados, com os órgãos oficiais de divulgação – quando é apenas uma tribuna livre, confeccionada com sacrifício e competência e de cuja falta os intelectuais da terra sempre se ressentiram, concluiu. Complementando o seu depoimento, o exPresidente se reportou às perspectivas da entidade, não as vendo com otimismo, tampouco para qualquer outro tipo de atividade, a menos que aconteça uma verdadeira reviravolta na situação Franco Maria Jasiello ex-Presidente econômico-sócio-política do País. E afirma, encerrando: Especialmente no campo da cultura, as disposições vigentes, principalmente a Lei Sarney, são mais limitativas e castradoras do que incentivadoras. (Esta entrevista foi realizada em 1988). Em 23 de maio de 1979, mais uma vez ocupava a Presidência da Fundação José Augusto o Jornalista e Prof. Sanderson Negreiros. Desta vez, contudo, cerca de 20 dias após renunciaria, sendo de imediato substituído pelo Prof. Cláudio José Freire Emerenciano. Certamente não houve tempo, praticamente, de estabelecer novas diretrizes de ação, cabendo ao seu sucessor fazê-lo, como veremos a seguir. Cláudio Emerenciano Iniciada em junho de 1979, a gestão de Cláudio Emerenciano se prolongaria até 12 de junho de 1980, durando algo em torno de doze meses, portanto. O seu depoimento começa com uma síntese dos objetivos a que se propôs, que foram: Proceder a uma análise do desempenho da Fundação, até aquela época; avaliar sua estrutura funcional e, ouvindo as expressões da cultura do Estado (não só da cultura erudita mas, sobretudo e principalmente, da cultura popular), definir uma política cultural. Prossegue: Seguiu-se a elaboração de projetos para todas as áreas definidas na política cultural e, por fim, sua implantação e execução. Feita esta introdução, o Prof. Cláudio Emerenciano passa a historiar sua administração nos seguintes termos: A Fundação vinha de esforços notáveis, realizados pelos diversos dirigentes que me haviam antecedido, cita-os nominalmente: Sem dúvida alguma, tudo fizeram para bem desempenhar suas funções. As dificuldades que ainda hoje embargam, dificultam e atropelam o desempenho da Fundação José Augusto, contudo, sempre existiram. Essas dificuldades ora se manifestam de modo mais ostensivo, mais 40 Anos

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expressivo, mais aplicável, ora não; são fases que dependem das prioridades conferidas no Brasil, na administração pública brasileira, a partir do próprio Governo Federal. Aliás, o Governo Federal gera, por via de conseqüências, efeitos e desencadeamentos que alcançam as administrações estaduais e municipais. Cita que, após realizar aquela “espécie de autocrítica do desempenho da Fundação”, elaborou e propôs, ao então Governador Lovoisier Maia, uma nova estrutura para o órgão, o qual a encaminhou, na forma de anteprojeto de lei, à Assembléia Legislativa, sendo aprovada sem restrições. Continua: Os Centros que hoje existem foram criados na nossa administração. Alguns órgãos que haviam sido extintos, por circunstâncias e razões conjunturais, foram reativados. Cita um exemplo: quando a Fundação José Augusto foi criada, no Governo Aluízio Alves, um dos seus carros-chefes era o Instituto Juvenal Lamartine de Pesquisas Sociais. Com o passar do tempo, esse Instituto foi desativado, ou por falta de recursos, ou por falta de investimentos federais, sobretudo por falta de interesse do Governo Federal em subsidiar as suas pesquisas. Nós, nessa reformulação da Fundação José Augusto, o restauramos, então com o nome de Centro de Estudos e Pesquisas Sociais. Diz, ainda: Procuramos imprimir, na nossa gestão, os conceitos de atividades-meio e atividades-fim, conforme os entendemos. As atividades-fim seriam, fundamentalmente, próprias aos Centros de Promoções e de Documentação Cultural. Segue-se um sumário das atribuições e abrangência desses dois organismos, o que tomamos a liberdade de suprimir face à existência, em outra parte deste documento, de matéria específica a respeito. O Prof. Cláudio, no entanto, fez observação sobre o CDC; diz ele que este Centro tem características de atividades-meio e fim, simultaneamente. E completa: Explico e justifico: meio, quando a Fundação passou a coordenar, a assumir, na nossa administração, a responsabilidade pelo Sistema Estadual de Bibliotecas, também já mencionado. Lembramos que o Sistema de Bibliotecas é subordinado, hierarquicamente, ao CDC. Cláudio enfatiza este particular: Disseminar bibliotecas por todo o Estado, por todo o Rio Grande do Norte!... fruto do apoio que obtivemos do então Presidente do INL que me deu condições e me permitiu, realmente, realizar a obra, que consideramos permanente. E que não é de uma administração: é impessoal. Sobre os museus diz que, afora a Casa Café Filho, chamada Museu do Sobradinho, não estavam comprometidos com o recolhimento, preservação e conservação de tudo aquilo que seja digno e representativo como parte da história e cultura do Estado, e da própria maneira de ser, agir e pensar do nosso povo. Fala das ações cinematográfica e teatral. Relata que tentou operacionalizar um projeto na área do cinema mas infelizmente, não obtivemos os meios necessários à concretização das propostas. Ressalta, porém, que chegou a identificar pessoas e entidades que possuíam filmes, documentando fatos da vida do Estado e que, a exemplo do notável acervo fotográfico produzido por 104

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João Alves de Melo, de posse dos seus herdeiros, espera que seus sucessores tenham tomado outras iniciativas. Quanto ao teatro, durante sua administração foi dinamizado em dois Festivais Estaduais, cujas peças eram apresentadas simultaneamente no Teatro Alberto Maranhão e no centro da cidade, no Grande Ponto: em palanque armado na Praça Kennedy, a Fundação promovia a presença de alunos das redes estadual e municipal de ensino, durante dez dias; inclusive com reapresentação, à noite, das peças de maior identificação popular. Quando retoma o depoimento, fala sobre a Gráfica Manimbu: A Fundação sempre teve um problema sério com a Gráfica, por falta de apoio financeiro do Governo do Estado. Mas nós a reativamos. Criamos o Conselho Editorial e elaboramos um programa de edições. Em nossa administração editamos, diretamente, quatorze títulos, e co-editamos, com o Instituto Nacional do Livro, com o Instituto Nacional do Folclore e com a Shell, mais seis obras. Como se vê, foram vinte títulos publicados em um ano. A Gráfica Manimbu, portanto, ligada diretamente à Presidência, funcionava como instrumento de apoio logístico, sobretudo ao Centro de Documentação, para a execução da política editorial. Sobre recursos humanos: Quando assumimos a Fundação José Augusto encontramos um Programa que era executado em articulação com a Secretaria de Planejamento da Presidência da República. Era o PROFIED. Um Programa de aprimoramento de recursos humanos sobretudo para a administração pública mas, também, para a inciativa privada. Após avaliarmos sua Cláudio Emerenciano importância para o papel a ser desenvolvido pela Fundação, ex-Presidente operacionalizamos o Centro de Recursos Humanos, que absorveria o Programa. Como vimos em outra parte, o PROFIED(7) foi extinto em 31.12.79, seis meses após o início da administração Cláudio Emerenciano, assumindo então o CRH, conforme assinala o Prof. Cláudio, as atividades que lhe eram inerentes. Prossegue: Encontramos um grande déficit nesse Programa, um sério problema financeiro, mas em oito meses promovemos o seu saneamento, com a obtenção de apoio da SUDENE, da própria SEPLAN-RN e dos Ministérios do Interior e, à época, da Educação e Cultura. Desse modo tornou-se possível executar, no Rio Grande do Norte, um modesto mas objetivo programa de recursos humanos. Em seguida, menciona o apoio do Prof. Cláudio do Nascimento, então Presidente do Instituto Nacional do Folclore, possibilitando a edição de algumas _______________________ (7)

PROFIED: Programa de Formação Integrada de Executivos para o Desenvolvimento.

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obras, inclusive a reedição de Dante Alighieri e a Tradição Popular no Brasil. Este, como já vimos, teve os serviços gráficos iniciados na época do Presidente Franco Jasiello. E de Simbolismo do Povo, ambos de Câmara Cascudo, e, também, o redimensionamento de atividades iniciadas em gestões anteriores, como foi o caso do já referido Festival de Mamulengos do Rio Grande do Norte, extensivo a vários Estados do Nordeste: Trazíamos mamulengueiros de Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Paraíba e mobilizávamos esses notáveis artistas populares, inclusive nas escolas estaduais e municipais. Era uma tentativa de despertar o interesse das novas gerações, desde o pré-escolar, para a cultura popular nordestina e brasileira. Quero esclarecer – adianta Cláudio Emerenciano – que iniciávamos uma programação concebida por nossa Assessoria, que contava com o folclorista Deífilo Gurgel na direção do Centro de Promoções Culturais. O programa era muito interessante e compreendia um trabalho permanente junto às escolas. Realizamos, ainda, dois festivais de emboladores, chegando à descoberta do famoso embolador Chico Antônio, objeto de estudo de Mário de Andrade. Isto se deve, realmente, ao Deífilo Gurgel. Chegamos a elaborar trinta e oito projetos, naquele período, abrangendo diversas áreas. Em dezembro, por exemplo, durante o ciclo natalino, promovemos o I Encontro de Seresteiros do RN, na Praça Kennedy. Reunimos mais de sessenta artistas. O encerramento deu-se com uma homenagem a Câmara Cascudo. Sobre restauração de monumentos: dentro do Centro de Documentação Cultural se encontra toda a estrutura de conservação e restauração de monumentos históricos. Concluímos alguns e iniciamos outros projetos, sem dúvida complementados pelas administrações que nos sucederam. Por exemplo: executamos oitenta por cento da restauração do Convento Santo Antônio e sua inauguração deu-se um mês após a nossa saída. Outros projetos citados por Cláudio: o de Inventário de Bens Culturais Móveis e Imóveis do RN, elaborado em sua gestão, mas cuja execução, restringida aos bens imóveis, dar-se-ia anos depois; obras arquitetônicas em Vila Flor, projeto oriundo de administrações anteriores, ampliado na sua e concluído nas subseqüentes; obras de conservação e restauração de uma Igreja, em Acari; restauração de imóveis considerados importantes para a história arquitetônica do Estado nas cidades de Açu, Mossoró, São José de Mipibu e Goianinha, entre outras. Diz ele: Quando estávamos saindo, iniciamos os trabalhos de restauração das ruínas de Cunhaú e entregamos à comunidade norte-rio-grandense o livro, reeditado, Os Holandeses no Rio Grande do Norte, do Mons. Paulo Herôncio, com episódios de Cunhaú e Uruaçu. Encerrando, retoma três itens da área de documentação: 106

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Promovemos, com o Cine Clube Tirol, sessões de cinema no Centro de Turismo; reativamos a Galeria de Arte, da Biblioteca Pública Câmara Cascudo, e, enfim, retomamos um projeto de microfilmagem de documentos, com o Arquivo Nacional, que fora iniciado na época da Profª. Ilma Melo Diniz, mas há muito tempo interrompido. À questão sobre como vê o desempenho da Fundação, responde Cláudio: Vejo, como não poderia deixar de ser, como resultado do esforço, da abnegação de todos os que fazem a sua direção. A Fundação, ao longo de sua história, tem realmente executado o seu papel. Em algumas administrações, um pouco mais; em outras, um pouco menos. Não por culpa dos seus responsáveis, mas face a condições e circunstâncias que escapam à sua vontade. Em síntese, se algo mais não tem sido feito é pela indigência, lamentavelmente, de recursos financeiros nos níveis federal e estadual, para a execução de uma ampla política cultural. Como disse no início, há um ‘efeito cascata’ que alcança todos os órgãos de promoção cultural. Quanto às perspectivas da Instituição: Estamos em pleno processo constituinte estadual. A nova Constituição contempla a cultura com um capítulo ou com uma seção – já vi o anteprojeto(8) – mas, infelizmente, suas normas representam apenas intenções. Não expressam algo de concreto. Acho que o futuro da Fundação vai depender muito daquilo que ficar definido na Constituição: seria importante que houvesse referência ao seu papel e à sua responsabilidade na execução de uma política cultural. Mesmo com as limitações constitucionais a que se refere, sintetiza a função da Fundação José Augusto e emite uma mensagem de otimismo quanto ao seu futuro: Uma política cultural se divide entre aquilo que representa o esforço para preservar e aquilo que representa o esforço para difundir; difundir a cultura popular, a cultura erudita, estimular novas vocações artísticas e culturais... enfim, a função da Fundação é a de coordenação e articulação, não a de gerência. A Fundação não pode ter aquela intenção soberba de pretender produzir cultura, de modo algum. Ela é um instrumento de articulação, de coordenação de todas as forças vivas que fazem, efetivamente, a cultura norte-rio-grandense. (o grifo é nosso). Foi assim que presidimos a Fundação, com esse compromisso e com esses propósitos. Não temos dúvida que ela haverá de se encaminhar, cada vez mais, para a realização dos seus altos objetivos. Evilásio Leão de Moura Com a saída de Cláudio Emerenciano, assumiu a Presidência da Fundação ______________________ (8)

Este depoimento foi concedido em meados de 1989.

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o Prof. Evilásio Leão, em caráter interino, que perduraria até outubro daquele ano de 1980. Relembrando aquela época, assim se pronuncia Prof. Evilásio: Acredito ter cumprido fielmente as metas a que me propus, quando da minha posse. Fruto da experiência no exercício da Diretoria Administrativa e Financeira, desde junho de 1979, e em razão de constantes substituições ao Presidente, não me trouxe maiores novidades ou dificuldades a atuação como titular. Todos os projetos em execução ou em tramitação para a obtenção de recursos junto ao Governo do Estado ou ao do País – Instituto Nacional do Livro, Evilásio Leão Fundação Pró-Memória, FINEP, INACEN, ex-Presidente FUNARTE, etc. – foram levados a termo sem maiores empecilhos. Assim é que, nos cerca de quatro meses que passei à frente da Fundação José Augusto, complementamos a restauração da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Acari, através da Fundação Pró-Memória; com o apoio da FINEP e da Livraria Universitária, publicamos o livro Os Degredados Filhos da Seca, do sociólogo Itamar de Souza, e concluímos a editoração do título História do Teatro Alberto Maranhão, do saudoso Meira Pires. Através do Instituto Nacional de Artes Cênicas - INACEN, realizamos o Festival de Teatro Amador, em todo o Estado, enquanto com a Fundação Nacional de Arte FUNARTE, dávamos uma ênfase toda especial à realização de Feiras Culturais nas cidades de Currais Novos, Macau, Pau dos Ferros e Açu. Em Macau, inclusive, lançamos o livro O Navegador e o Sextante, de Gilberto Avelino. O projeto Circo da Cultura foi rigorosamente cumprido na minha gestão, sendo interiorizada a arte cênica através de grupos com apresentações no Circo da Cultura em várias cidades do interior. Igual apoio foi dado ao Folclore, com a ajuda do INACEN, facultando aos grupos tradicionais da cidade – como o Asa Branca e o Araruna – a renovação de suas indumentárias e dos seus instrumentos musicais. Também o mamulengo foi enfatizado. Promovemos o Festival e levamos os artistas a várias cidades, inclusive apresentando-os no âmbito do Circo. Reformei parte da Biblioteca Pública Câmara Cascudo, além de equipá-la para um melhor funcionamento. Também foi renovado o teto de uma ala do prédio da Fundação. Entendo, portanto, que desenvolvi os projetos em andamento e que cumpri o programa que tracei – desde a minha posse, em 12 de junho. Faz um comentário final: Enfrentei a dificuldade conhecida: falta de recursos. É a falta de recursos que exige 108

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do administrador criatividade e, sobretudo, tráfego governamental, bem como disposição de luta junto às entidades já citadas, ou seja, INL, Pró-Memória, INACEN, FUNARTE e outras, sem o que a sua administração será um vazio sem fim, limitada às vernissages dos artistas plásticos locais. Quanto às perspectivas da Fundação, é este o seu parecer: A Fundação José Augusto tem um grande papel a cumprir, no Rio Grande do Norte. E o tem feito, mesmo a duras penas, registrando e promovendo nossa cultura. Todos os presidentes cumpriram as metas traçadas. Resume sua experiência quanto ao desenvolvimento de uma política cultural: Planejamento adequado e isenção política na distribuição de benesses aos produtores culturais, em primeiro lugar. É preciso vigilância permanente aos objetivos a serem alcançados. É indispensável, ainda, que o Presidente tenha tráfego político junto ao Governo e capacidade para suscitar o acesso às instituições federais, bem como que seja aceito pela intelectualidade estadual e pelas entidades responsáveis pelo folclore, artes cênicas, artes plásticas, etc. E conclui: Para se fazer um bom trabalho é preciso haver comunhão de esforços, no sentido de possibilitar a realização concreta das atividades. O engrandecimento da cultura norte-rio-grandense depende de um trabalho sério, concreto e coeso de órgãos como a Fundação José Augusto. Valério Alfredo Mesquita A Evilásio seguiu-se Valério Mesquita, uma das mais longas administrações da Fundação. Assumindo o cargo em outubro de 1980, nele permaneceria até fevereiro de 1986, desenvolvendo um trabalho que se centralizou, especialmente, em três áreas, conforme ele próprio acentua em seu depoimento: À época, não era novidade se proclamar a falta de recursos das instituições culturais, principalmente as mantidas pelo Poder Público. Tratamos, de imediato, da montagem de uma política cultural que pudesse abranger, basicamente, três aspectos considerados fundamentais: restauração do patrimônio histórico, editoração e animação cultural. Após este preâmbulo, Valério faz três sínteses: a primeira, dos monumentos e sítios históricos restaurados; a segunda, da parte das Valério Mesquita ex-Presidente obras editoradas e, por fim, a terceira, a 40 Anos

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problemática atravessada pela cultura e, por extensão, pelas instituições culturais, fruto da ausência de uma política eficaz, seja em nível federal ou estadual. Essas três abordagens de Valério, realmente bastante lúcidas, envolvem todo o período do seu trabalho à frente da Fundação, motivo pelo qual as deixaremos para ser inseridas em item posterior (como vimos, este item diz respeito ao período 1980-1982). Adiantamos, não obstante, que Valério Mesquita não se descurou de um trabalho sério e profícuo em muitas outras áreas, como as de bibliotecas, pesquisas, artes cênicas, artes plásticas, etc.

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QUARTA PARTE

CONSOLIDAÇÃO DO SISTEMA (1983-2003) Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine ....................................... Centro de Documentação Cultural Eloy de Souza-CDC ......................... (a) Subcoordenadoria de Documentação .............................................................. (b) Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico ........................ (c) Memoriais Câmara Cascudo e Mons. Expedito ........................... (d) Ação da Biblioteca Pública Câmara Cascudo .................................. (e) Sistema Estadual de Museus ........................................................................................... Centro de Promoções Culturais-CPC ..................................................................................... (a) Cultura popular, principais projetos .................................................................... (b) Cidade da Criança; Escolas Cândido Portinari, Newton Navarro e Rossini Perez; Pinacoteca Estadual/Palácio da Cultura ................................................................................................................................................................................... Outros segmentos de difusão cultural .................................................................................. (a) Área teatral: Teatros Alberto Maranhão e Lauro Monte Filho; Centro Cultural Adjuto Dias .................................................................................................... (b) Área musical: Instituto de Música Waldemar de AlmeidaIMWA, Corais Canto do Povo e Harmus, Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte, Projeto “Seis e Meia” e Programa de Incentivo às Bandas de Música do Estado ...................................................................................... (c) Área Literária ............................................................................................... Conselho Editorial-CONEDI ........................................................................... Concursos e premiações .................................................................................... Obras e autores publicados ............................................................................. Núcleo de Literatura ............................................................................................ Presidentes da época ......................................................................................................................................... 40 Anos

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Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine No início dos anos oitenta o CEPEJUL terá experimentado, provavelmente, um dos momentos mais intensos em sua dinâmica de atividades, envolvendo vários trabalhos. Alguns desses estudos não foram concluídos – Desemprego e Educação, Crescimento Vertical de Natal e Levantamento e Diagnóstico das Favelas de Natal, por exemplo –, este último, inclusive, havendo sido suspenso após o levantamento realizado em vinte e sete núcleos habitacionais. Não conseguimos identificar, pelo menos oficialmente, as razões ou circunstâncias que ocasionaram as seguidas interrupções; todavia, não raro a eventual mudança de governo, ou mesmo da presidência do órgão, altera de forma sensível a linha programática até então adotada por alguns setores, o que é perfeitamente compreensível. Afora este fator, o surgimento de oportunidades de firmar-se convênios com determinadas instituições – e isto também ocorreu naquele período – provoca a natural retração em trabalhos da própria iniciativa, dando-se absoluta prioridade àqueles que serão custeados por outrem. Os recursos próprios, é ocioso explicar, são escassos. Os estudos a que nos referimos acima foram iniciados por volta do segundo semestre de 1980 e primeiros meses de 1981, e, neste último ano, exatamente, foram feitos alguns importantes convênios compreendidos no Programa História do Seu Município, ao qual já nos reportamos na p. 97, bem como no ano seguinte, enquanto era aprovado pela Financiadora de Estudos e Projetos-FINEP – Ministério da Ciência e Tecnologia, o projeto A política de combate às secas antes e depois da SUDENE, cuja pesquisa só seria iniciada em 1983, ano em que começava-se a trabalhar a História do 40 Anos

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BANDERN: Origem e Evolução, e na Atualização do cadastro de usuários da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte-CAERN. Em 1983, portanto, estavam em curso todos estes estudos e, ainda, desde algum tempo, parte da equipe trabalhava numa pesquisa sobre a História do Futebol em Natal. Foi, sem dúvida, uma etapa da vida do Centro que marcou pelo afã produtivo, pela emulação. Os levantamentos em arquivos, as entrevistas e coletas simultâneas requeriam urgente e significativo aumento do quadro de pessoal, sob pena de descumprir-se os cronogramas. Este fato, com certeza, foi uma das razões que resultaram na suspensão, mais adiante, da pesquisa relativa ao futebol. Sobretudo o levantamento para a CAERN, por suas peculiaridades – quase todos os prédios residenciais e comerciais da cidade deveriam ser visitados e registradas as suas características –, exigia apreciável número de pesquisadores. Foi ampliado, portanto, o quadro de pessoal auxiliar. Uma sala extra foi improvisada para descongestionar o setor. Enquanto alguns técnicos analisavam o material coletado e passava os dados para intermináveis mapas de apuração, outros supervisionavam as equipes de trabalho de campo ou, ainda, faziam entrevistas. No caso da pesquisa relativa ao fenômeno da seca, inclusive, alguns técnicos se deslocaram para outros Estados (a metodologia desse estudo pretendia coletar dados e informações – editoriais, comentários, artigos e notícias sobre a seca – em dois jornais, um da situação e outro da oposição, nos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e Pernambuco). Enfim, foi um período de intensa produtividade. Com relação ao Programa História do Seu Município, foram firmados convênios com dezenove prefeituras e produzidas, efetivamente, doze monografias, das quais nove foram publicadas, abrangendo os municípios de Cerro-Corá, Eduardo Gomes (Parnamirim), Serrinha, São Gonçalo do Amarante, Macaíba, Caicó, Florânia e Santo Antônio. Os estudos sobre Parelhas, São José de Mipibu e Nísia Floresta necessitavam, apenas, de revisão final quando foi interrompido o programa. BANDERN: Origem e Evolução, envolve o período desde as primeiras idéias sobre a necessidade de um banco para desenvolver o Estado, no decurso do século XIX,(9) até o ano de 1982. Foi publicado pela Companhia Editora do Rio Grande do Norte-CERN em 1985. Na seqüência, outros estudos surgiriam. É evidente que, a essa altura, não mais com aquele ritmo febril, embora mantendo uma dinâmica saudável. Assim foi até 1986. ___________________ (9)

O nome inicial do BANDERN foi Banco do Natal, criado em 1906 pelo então Governador Tavares de Lyra.

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Fotos:Arquivos da FJA / CEPEJUL

À esquerda, ex-Governador Tavares de Lyra, criador do Banco do Natal (1906), primeiro nome do BANDERN. Acima, edifício-sede daquela instituição, na Ribeira.

De março de 1987 a julho de 1988, não obstante, por força de circunstâncias estruturais, ocorreu fenômeno inverso, isto é, o Centro manteve-se praticamente estagnado. Não havia dotação orçamentária para estudos com recursos próprios e os contatos mantidos com o setor privado não obtiveram maior repercussão. Por outro lado, estava sendo iniciada uma nova administração que daria ênfase, num primeiro momento, à infra-estrutura: mudança das instalações (que se haviam tornado exíguas para comportar a equipe, desde àqueles trabalhos acima assinalados), aquisição de equipamentos e reivindicação de melhores salários, pois a insatisfação crescente, neste particular, ameaçava comprometer o rendimento da unidade. O certo é que, fundamentalmente, as causas antes apontadas – escassez de recursos e ausência de interesse nos segmentos da iniciativa privada – foram definidoras para a drástica queda na dinâmica de trabalho anteriormente imprimida. No decorrer daquele período, por conseguinte, o CEPEJUL limitou-se a duas atividades, a saber, apoio ao CDC no levantamento informativo sobre as origens históricas de monumentos compreendidos pelo Programa de Reconstrução de Cidades Históricas, e, depois, a um treinamento da equipe. 40 Anos

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Em seguida, mais uma vez o Centro passa a mostrar-se mais atuante. Do segundo semestre de 1988 até fins de 1993 executou três pesquisas, todas inéditas, uma das quais, revista e complementada, resultou na presente publicação. Trata-se do estudo denominado Fundação José Augusto, 30 Anos de História (1963-1993), transformado neste que cobre os quarenta anos da Instituição. Outro estudo foi Hábitos de Leitura em Natal, pesquisa que teve como universo o número de alfabetizados deste município a partir da 4ª. série do Ensico Fundamental, tendo como estratos os três graus de ensino. Foi executada em todos os bairros da cidade. Além do leitor potencial – aquele enquadrado no universo – foram entrevistados editores, livreiros e bibliotecários, proporcionando uma visão bastante abrangente do fenômeno. O estudo foi arquivado, carecendo, após dez anos!, reavaliação do projeto e uma nova execução. Por fim, História da Cidade do Natal (1941-1991), a partir de convênio firmado com a Prefeitura Municipal do Natal, o qual, por limitações orçamentárias, não veio a ser publicado. É intenção retomar o trabalho, proximamente, desta feita abrangendo os últimos sessenta anos do século XX. Nesse meio-tempo, ainda iniciou o Projeto Caderno da Educação e da Cultura Norte-rio-grandense, que permaneceu estacionário por falta de patrocínio, e elaborou o Projeto História da Indústria do Rio Grande do Norte, solicitado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte-FIERN, o qual também não veio a ser executado. Seguem-se outros estudos e atividades do CEPEJUL: Teatro Alberto Maranhão (1904-1994). Trata-se de um relato sobre a história daquela Instituição, com vistas à comemoração dos seus 90 anos. O roteiro então desenvolvido compunha-se de três partes principais. A primeira delas resumia-se a um esboço das características socioculturais do Brasil, particularmente do Rio Grande do Norte e de Natal, em fins do século XIX – quando foi iniciada a sua construção – e os primeiros anos do século XX; a segunda, a mais densa em informações, é uma síntese do livro História do Teatro Alberto Maranhão, de Meira Pires, e a terceira parte compreende os acontecimentos que vão, daí, até 1994. Este estudo encontra-se em nossos arquivos: quando o trabalho foi concluído não havia mais tempo hábil para a sua editoração e lançamento na data aniversária (24 de março), por tal motivo permanecendo inédito. Personalidades Históricas do Rio Grande do Norte (século XVI a XIX). Consiste em sínteses biográficas de pessoas que contribuíram para a criação, formação, desenvolvimento e evolução do Rio Grande do Norte, ou que, por suas ações, ou por força dos cargos que ocuparam, intervieram de 116

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alguma forma nesse processo, consignando o papel e a expressão que tiveram no contexto histórico do Estado. Compõe-se de centenas de verbetes enfeixados no 1º. volume, publicado em agosto de 1999. Este estudo, que terá seguimento com nomes do século XX, será oportunamente disponibilizado para cosultas pela INTERNET. Cadastro de Artistas Plásticos Norte-riograndenses. Visa à consolidação de informações objetivas, na forma de verbetes, sobre artistas plásticos locais, buscando, quanto possível, caracterizar gêneros, estilos e tendências, assim como a representatividade do conjunto de suas respectivas produções. Trabalho a ser concluído, necessitando atualização das informações e, certamente, revisão geral do texto. Dramaturgos Potiguares. Semelhante ao estudo anteriormente citado, pretende constituir-se num instrumento de divulgação de informações específicas sobre os autores teatrais do Estado, bem como a respeito de suas obras. Este estudo já foi concluído mas, até o momento, não editado. Mapeamento e Diagnóstico da Cultura Popular. Iniciado em 1995, foi interrompido anos depois por escassez de recursos. Será reavaliado proximamente, para ser retomado com estratégia mais simplificada. Enquanto perdurou, no entanto, foi bastante positivo, possibilitando o contato direto e, assim, o entrosamento com artistas populares, condição essencial para levar a bom termo outras ações na área, sempre objetivando a valorização, a preservação e a disseminação da arte popular em suas diferentes linguagens. Aliás, desta proposta e deste conhecimento foram gerados pelo menos mais dois projetos, o de Encontro de Cultura Popular, do qual falaremos mais adiante, e o Chico Traíra. O Projeto Chico Traíra, desenvolvido por este Centro a partir de 1996, objetiva divulgar a literatura de cordel – uma das formas de expressão artística mais espontâneas do nosso povo –, homenageando, com a sua denominação, um dos nomes mais emblemáticos do Estado no domínio desta arte, e, simultaneamente, estimulando e provendo poetas-cordelistas e xilógrafos (estes, tradicionalmente responsáveis pela confecção das capas dos folhetos). Mais informações a respeito encontram-se no item Cultura Popular, na p. 154. Afora o elenco de estudos e projetos referidos convém assinalar, ainda: (a) as atividades desenvolvidas em parceria com outros órgãos da Fundação, e (b) a inclusão, a partir de 1998, de outros núcleos de ação cultural no âmbito do CEPEJUL. 40 Anos

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Foto: Ayres Marques

Com relação às ações conjuntas – ou em apoio às ações pertinentes às atribuições das unidades coirmãs, CDC e CPC –, elas retroagem à década de 80, durante a vigência do projeto Feiras Culturais, executado pelo Centro de Promoções em cidades interioranas (Açu, Currais Novos e Macau, entre outras). Posteriormente (1987-88) participou, em conjunto com o Centro de Documentação, do levantamento informativo sobre os Monumentos Históricos da Grande Natal, envolvendo entrevistas, pesquisa bibliográfica e elaboração dos respectivas resumos históricos. Os resultados encontram-se arquivados no CDC. Mais recentemente, entre 1996 e 2002, o CEPEJUL coordenou a execução do projeto Encontro de Cultura Popular, originariamente produzido e realizado pelo CPC. Determinadas circunstâncias técnicas e administrativas foram os fatores condicionantes de tal mudança. A exemplo do projeto Chico Traíra, este também será abordado com mais propriedade no item Cultura Popular. Participou, integrado com o CDC e o CPC, da pesquisa Mulher Potiguar: Cinco Séculos de Presença, a qual subsidiou um documento ilustrado em comemoração aos 500 anos do Brasil e a uma exposição realizada no Senado Federal, em Brasília; no Palácio da Cultura

Abertura do II Encontro de Cultura Popular (1996). Da esquerda para a direita: Dramaturgo Ariano Suassuna, Woden Madruga (então Presidente da FJA) e Garibaldi Alves Filho, à época Governador do Estado. 118

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– Pinacoteca do Estado –, em Natal, e no município de Acari-RN, em 2000. A seleção dos nomes priorizou o critério de representação por época e por diversidade de áreas de atuação em destaque. Integrado com o CDC participou, ainda, de duas outras atividades, a primeira das quais um levantamento histórico para a instalação do Memorial Alzira Soriano, em Angicos, na casa onde residiu a primeira mulher a ser eleita, no Brasil (Prefeita de Lajes, em 1928); a segunda, trabalhos de pesquisa documental para subsidiar a implantação do Acervo Manoel Rodrigues de Melo no Solar João Galvão. A respeito de outros núcleos que passaram a compor a estrutura do Centro de Pesquisas, são: Oficina de Gravuras Rossini Perez e Núcleo de Literatura. Originariamente, a Oficina, criada pela Portaria nº. 170/80, de 12 de maio de 1980, era subordinada ao Núcleo de Criatividade do Centro de Promoções Culturais, e ali se manteve até 1996, quando entrou em recesso. Recentemente (agosto, 2002) retomou as atividades, desta feita migrando para o Centro de Estudos e Pesquisas, constituindo um dos seus objetivos apoiar o projeto Chico Traíra. Com a implantação do novo perfil administrativo na estrutura da Fundação, o que deverá ocorrer proximamente, certamente retornará ao CPC. Caso semelhante dar-se-á com o Núcleo de Literatura, por suas especificidades. Nos itens correspondentes – “Artes Plásticas” (pp. 139140), e “Literatura”, (p. 177), retornaremos aos respectivos assuntos. Foram seus diretores: Itamar de Souza, François Silvestre, Tarcisio Rosas, Dinarte Filho, Valério Andrade, Dácio Galvão e, atualmente, de novo Tarcisio Rosas.

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Foto: Arquivos da FJA/ CDC

Senador Eloy de Souza, Patrono da Faculdade de Jornalismo e do CDC. 120

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Centro de Documentação Cultural Eloy de Souza-CDC Através da Portaria nº. 499/03, de 28 de agosto de 2003, o Diretor Geral da Fundação José Augusto, considerando o transcurso do 130º. aniversário de nascimento do Jornalista e Escritor Eloy de Souza, resolveu “(...) dar o nome de Eloy de Souza ao Centro de Documentação Cultural -CDC, desta Fundação, com sede no Solar João Galvão de Medeiros”. Esta determinação foi publicada no Diário Oficial do Estado na edição do dia imediatamente posterior (29.08). Este é o mais amplo Centro da Fundação José Augusto. A documentação (ou aquisição), organização, guarda e preservação de documentos em suas diversas formas – papéis, inclusive algumas coleções especiais de livros, fitas magnéticas, disquetes, filmes, microfilmes, slides, etc. –, está sob a responsabilidade da Subcoordenadoria de Documentação. Em apoio às atividades desta Subcoordenadoria, mas ligado diretamente à Coordenadoria, foi reativado o Núcleo de Som e Imagem na atual gestão (2003-2006). Destina-se à realização de documentários em vídeo com conteúdo expressamente artístico-cultural, abordando artistas, fatos e eventos da terra e levando-os ao público, para o que foi firmado convênio com a TV Cabugi com vistas à veiculação desse trabalho sob o título peculiar de Momento Cultural. O primeiro programa já foi gravado e até o final de 2004 o arquivo do Núcleo deverá contar com 54 fitas, afora a documentação das Casas de Cultura. A preservação do patrimônio histórico e artístico, as atividades museológicas (aí incluída a Pinacoteca do Estado) e da Biblioteca Câmara 40 Anos

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Cascudo complementam a estrutura do Centro, e cada uma dessas organizações será tratada isoladamente, doravante.

(a) Subcoordenadoria de Documentação

Foto: Arquivos da FJA /CEPEJUL

Considerando os obstáculos naturais (pole position para a escassez de recursos tantas vezes reiterada), esta Subcoordenadoria detém um amplo acervo. Há centenas de fitas-cassete abordando um sem-número de temas vinculados à história, à política e à cultura norte-rio-grandenses; centenas de fotografias, negativos fotográficos e slides, devidamente organizados e catalogados, igualmente envolvendo múltiplos aspectos da nossa realidade, além de uma coleção de fotos – Natal Era Assim –, emoldurada, compreendendo o período de 1898 a 1950, a qual foi exposta em vários bairros da cidade.

Rua Dr. Barata, na Ribeira (Natal), em 1915. 122

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Esta Subcoordenadoria(10) organizou, ainda, um curso sobre música popular brasileira – De Chiquinha Gonzaga a Paulinho da Viola –, em parceria com o Serviço Social do Comércio - SESC, em 1984, por volta desse mesmo ano iniciando um trabalho que culminaria com a criação do Ateliê de Restauração de Peças Museológicas, anexo ao antigo Núcleo de Museus (hoje, Subcoordenadoria), dentre cujos projetos iniciais destacam-se a Recuperação da Santa Cruz da Bica (um dos marcos que delimitavam a cidade no princípio da colonização, localizado no Baldo) e a de um conjunto de imagens da Igreja de São Gonçalo do Amarante. Iniciado no CEPEJUL, a Coleção Documentos Potiguares, dirigida pelo Sociólogo Leonardo Barata, teve continuidade no âmbito do CDC (1986). Vários estudos de expressão histórica, política e cultural foram produzidos, dos quais alguns editados. Mais adiante há referência a respeito. Afora as ações acima expostas, este Setor participou, na década de 80, de diversas atividades dos centros coirmãos, notadamente do CPC, na elaboração de Projetos e colaboração no desenvolvimento das Feiras Culturais. Com relação a sua mudança para o Solar “João Galvão de Medeiros”, se faz necessário relembrar alguns acontecimentos pertencentes à história da cidade, particularmente da Ribeira, no início do século XX. Consta que aquele prédio data de mencionado período e que um dos seus primeiros proprietários foi o Coronel Aureliano Medeiros, próspero comerciante oriundo de Pilar-PB, com passagem pelo município de Macaíba-RN onde chegou a assumir o cargo de Intendente. Transferiu-se para Natal ao fim do seu mandato (1905), onde se estabeleceu no ramo de tecidos e investiu na construção civil, “(...) adquirindo e reconstruindo todos os prédios da antiga travessa da Alfândega, hoje Travessa Aureliano Medeiros, e alguns da Rua Dr. Barata” (Personalidades Históricas do RN, vol. 1, p. 153). Com relação à edificação de que tratamos, situada na Av. Junqueira Aires, ergueu um palacete ao lado, onde passou a residir; após sua morte, no local foi instalado o Hotel Bela Vista, anos atrás restaurado pela Fundação José Augusto. Quanto ao Solar, atravessou quase meio-século em ruínas, até que descendentes de outro proprietário (João Galvão de Medeiros, neto do Coronel _____________________

Até 1997 o CDC era uma diretoria e a atual Subcoordenadoria, uma Coordenadoria; desde 1998 o Centro passou à condição de Coordenadoria e esta à titulação atual. (10)

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Aureliano) negociaram-no a preço simbólico com o Governo do Estado com a condição de que, após restaurado, recebesse o nome do antigo dono. Procedidos o tombamento e a desapropriação – também sob a responsabilidade desta Fundação –, concretizou-se a restauração, conservando o frontão, típico da época, com cornijas e varandas laterais. Além de sediar esta Subcoordenadoria, que mantém inclusive quatro núcleos especiais, o ambiente dispõe de salas de exposição e está aberto à visitação pública, seja para referidas mostras ou, mesmo, pelas características arquitetônicas do prédio. No que diz respeito aos núcleos prefalados, há um que se destina à organização dos processos e plantas do Patrimônio e três outros resultantes da doação de acervos particulares, dos ex-governadores José Augusto Bezerra de Medeiros e Sylvio Piza Pedroza e o do escritor e antropólogo Manoel Rodrigues de Melo. Ali estão alocadas obras raras, correspondências de alto valor histórico, jornais do início do século XX, periódicos diversos e fotografias que demarcam ou sinalizam aquelas respectivas personalidades e constituem, certamente, uma preciosidade para pesquisadores que tenham em vista o resgate da memória histórica do Estado. O documento GESTÃO ADMINISTRATIVA (1995-2002), deste Órgão, faz uma advertência: “Documentos, artigos e fotos que necessitam de uma digitalização urgente, ainda estão a depender de condições favoráveis em termos de recursos e de pessoal”. Além de exposições, o Solar funciona como local para lançamento de livros. A Subcoordenadoria contribuiu, enfim, na produção do filme For All, com subsídios de pesquisa sobre a indumentária em voga, em Natal, no período da II Grande Guerra.

(b) Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico As atividades de preservação do patrimônio histórico e artístico compreendem estudos e processos para tombamentos e/ou desapropriações de monumentos do Estado, serviços de manutenção de prédios da Fundação José Augusto, levantamentos arquitetônicos, elaboração e execução de projetos de construção, reforma e restauração e, enfim, realização de vistorias e emissão de pareceres técnicos. Mas, antes de entrar no mérito da questão de como ela vem se desenvolvendo no âmbito desta Entidade, é interessante considerar alguns antecedentes que se colocam nas origens da, então, Coordenadoria do Patrimônio Histórico e Artístico, com o seu Núcleo de Restauração, de forma a melhor situar sua evolução e desempenho. 124

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Em primeiro lugar, diga-se que, até os primeiros anos da década de 70, pouco se falava em memória cultural, no País. Iniciativas mais ou menos isoladas, visando à preservação do patrimônio histórico e artístico, evidente que havia, mas sem a conotação privilegiada que passaria a ter posteriormente. Hoje, a própria Constituição Federal, em seus artigos 215 e 216, enfatiza, incentiva e garante o estudo e a proteção do patrimônio cultural. Em 1973, após um estudo especificamente direcionado para o Nordeste por um grupo de trabalho interministerial, concluiu-se com a “constatação e confirmação da existência de um grande acervo histórico, artístico e cultural, carente de preservação e melhor uso”, segundo Exposição de Motivos nº. 076-B, de 31.05.73, dos Ministérios do Planejamento e Coordenação Geral e da, então, Educação e Cultura, endereçada ao Presidente da República. Aquele documento constituiria o primeiro passo para a criação e instalação do Programa Integrado de Reconstrução de Cidades Históricas do Nordeste, subordinado diretamente ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN (depois Secretaria e, posteriormente, Fundação Pró-Memória) e financiado pelo Ministério do Planejamento, com vistas à “restauração progressiva de todos os monumentos históricos, artísticos e expressões culturais do Nordeste”. Foi a partir desse ato que se concretizou a política de preservação dos bens culturais imóveis, não só pelo trabalho de restauração física desses bens mas, principalmente, pelas medidas legais para a sua proteção (leis estaduais) e pelo despertar da consciência coletiva para a importância de que eles se revestem, como testemunho da própria história e das tendências culturais, especialmente as arquitetônicas. O Rio Grande do Norte, através da Fundação José Augusto, foi um dos primeiros Estados a se engajar ao Programa. Inicialmente com a restauração do Fortaleza dos Reis Magos, o qual passou, àquela época (por volta de 1974), a ser administrado pela Instituição (até então, era vinculado à Secretaria Estadual de Educação e Cultura). Depois, no segundo semestre de 1975, através da Consultoria Técnica, foram elaborados os projetos para a restauração do Solar do Ferreiro Torto, em Macaíba; do Casarão do Antunes, em Ceará-Mirim, e do prédio da antiga Casa de Detenção, hoje Centro de Turismo de Natal e efervescente pólo comercial de artesanato. Nos anos seguintes essa linha de atividade se foi afirmando como das mais dinâmicas da Entidade, a tal ponto que, em 06.10.78, a Lei nº. 4.775, que dispõe sobre a proteção do patrimônio histórico e artístico do Estado, designa, em seu artigo 2º., além da Secretaria Estadual de Educação e Cultura, como órgão de direção, e do Conselho Estadual de Cultura, como órgão consultivo, 40 Anos

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a Fundação José Augusto como entidade executora do Programa, o que, como vimos, de fato já vinha ocorrendo. Um ano depois, enfim, com a Lei nº. 4.923, de 17.12.79, é instituída a nova estrutura básica da Fundação, criando, entre outros organismos, o Centro de Documentação Cultural e, neste, a Coordenadoria do Patrimônio Histórico e Artístico, com equipe especializada em restauração, apta à execução de trabalhos por administração direta. Hoje, os principais monumentos do Estado (afora, evidentemente, os já restaurados) estão devidamente documentados sob a forma de proposta de restauração – ou outro tipo de intervenção, quando é o caso – e/ou sob a proteção legal de tombamento. Dos vinte e cinco imóveis restaurados até 1988, destacam-se aqueles que já haviam sido considerados de importância nacional, através de tombamento pelo Patrimônio da União, como é o caso da Fortaleza dos Reis Magos, em Natal; da Igreja de Nossa Senhora do Rosário e da Casa de Câmara e Cadeia, de Acari; da Igreja de São Gonçalo do Amarante, na cidade do mesmo nome; da Capela de Nossa Senhora das Candeias, do Engenho Cunhaú, em Canguaretama, e do Frontão do Cemitério de Arês. Destacam-se, ainda, pela importância arquitetônica, imóveis como a Igreja de Santo Antônio (ou Igreja “do Galo”, como também é carinhosamente chamada pelos natalenses), em Natal; a Casa-grande do Engenho Guaporé, o Solar do Antunes e o Mercado Público, em Ceará-Mirim, e a Capela de Utinga, em São Gonçalo do Amarante. Pela representatividade histórica de que se revestem, em nível estadual ou regional, foram restaurados o Solar do Ferreiro Torto e as Capelas de São José e de Nossa Senhora da Soledade, em Macaíba; a Cadeia Pública de Mossoró; a Igreja de Nossa Senhora do Desterro, em Vila Flor; a Casa Paroquial, de Jardim do Seridó e, em Natal, o prédio da antiga Casa de Detenção, a Casa de Padre João Maria, a sede do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, o prédio do antigo Quartel General, o Solar Bela Vista e parte do prédio da antiga Capitania dos Portos.(11) Em 1989, foi restaurado o Teatro Alberto Maranhão e a partir dali foram realizados 21 tombamentos, incluindo-se assim, entre estes, o Memorial Câmara Cascudo; o antigo Palácio do Governo (na Rua Chile, Ribeira); o Grande Hotel; a antiga Base de Hidroaviões, na “Rampa” (Canto do Mangue); a Mata da Estrela, em Baía Formosa; a Casa de Câmara Cascudo, em Natal, e o Pico do Cabugi, no município de Angicos. _____________________

Da intervenção no prédio da antiga Capitania dos Portos resultou a implantação da Capitania das Artes pela Prefeitura Municipal do Natal. (11)

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Fotos: Arquivos da FJA/CDC

Casa de Câmara e Cadeia de Vila Flor, antes e depois da restauração realizada pela Fundação José Augusto (início dos anos 80).

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Entre 1989 e 1993, foram elaborados cerca de dez projetos, abrangendo os itens de restauração, manutenção, ambientação e construção; emitidos pareceres diversos sobre preservação (Casarão dos Guarapes e Confeitaria Atheneu, entre outros) analisado o processo de tombamento do Rio Potengi e redigida uma Cartilha de Arqueologia, afora vários serviços de manutenção no âmbito da Fundação José Augusto.(12) Entre 1995 e 2002 foram realizados serviços de manutenção no edifíciosede da Fundação, incluindo a reforma da “Sala dos Grandes Atos” e construção de uma sala para abrigar a Oficina de Gravuras “Rossini Perez”; no Teatro Alberto Maranhão, abrangendo a construção da “Sala Tonheca Dantas”, com revestimento acústico, para ensaios da Orquestra Sinfônica; na Fortaleza dos Reis Magos, compreendendo a recuperação da passarela e dos taludes; no Palácio Potengi; na Cidade da Criança; no Instituto de Música Waldemar de Almeida; no Memorial Câmara Cascudo; no Solar João Galvão de Medeiros; na Gráfica Manimbu, e nos Museus de Arte Sacra, Arte Popular e Café Filho. No período assinalado foram realizados diversos tombamentos, a saber: em Natal, o do antigo prédio da Escola Doméstica, na Praça Augusto Severo, Ribeira; da casa onde nasceu Café Filho, na Rua Quinze de Novembro (antiga Rua do Triunfo), Ribeira; da casa de Luís de Barros, na Rua Chile, Ribeira; do antigo Palácio do Governo, também na Rua Chile, Ribeira, que passou a comportar o Museu de Arte Popular e a Escola de Dança-EDTAM; do antigo prédio do Liceu Industrial, posteriormente denominado Escola Industrial, na Avenida Rio Branco, Cidade Alta; da casa onde funcionou o Hotel Majestic, na Cidade Alta, e da Maternidade-Escola Januário Cicco, em Petrópolis. No interior do Estado, das Capelas de São José e de Nossa Senhora da Soledade, em Macaíba; da Escola Estadual Barão do Mipibu, em São José de Mipibu; da Capela de Santa Rita das Dores, em Pedro Velho; da Casa de Alzira Soriano, em Angicos; da Casa Paroquial de São Paulo do Potengi, para a instalação do Memorial Monsenhor Expedito de Medeiros, e da Casa Velha, em Lagoa de Velhos. Essas intervenções sejam quais forem as causas que as concretizaram, deram ensejo (e isto parece-nos fundamental) à criação, no seio da comunidade, de uma nova concepção sobre a representatividade e importância dos seus monumentos, dos seus sítios históricos e paisagísticos, refletindo-se numa crescente preocupação com o destino desses imóveis. Tal conseqüência é percebida, por exemplo, quando consideráveis segmentos da sociedade se organizam e investem contra a especulação imobiliária, sempre que esta ameaça o nosso patrimônio cultural em nome de uma suposta ação modernizadora. ____________________________ (12)

O projeto de construção refere-se à proposta de Criação de Bancas Culturais.

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Fotos: Arquivos da FJA/CDC

Casa-grande do Engenho Guaporé, em Ceará-Mirim, antes e depois da restauração realizada pela Fundação José Augusto em 1979.

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(c) Memoriais Câmara Cascudo e Mons. Expedito

Fotos: Arquivos da FJA/CDC e BPCC

No local onde se situava uma construção datada do século XVIII, destinada ao Real Erário, foi reconstruído, em 1875, o prédio da Tesouraria da Fazenda. Após vários usos, inclusive o de sede do Quartel-General do Exército, o monumento foi designado pelo Governo do Estado para abrigar o Memorial Câmara Cascudo. Sob a supervisão da Fundação José Augusto, através do Centro de Documentação, o Memorial reúne um importante acervo compreendendo jornais, correspondências e fotografias, além da biblioteca particular do eminente historiador e folclorista Luís da Câmara Cascudo, com cerca de nove mil títulos. Localiza-se no eixo denominado “corredor cultural”, na Praça André de Albuquerque, entre as Igrejas Santo Antônio e Matriz de Nossa Senhora da Apresentação e nas proximidades do Instituto Histórico e Geográfico, das Praças Padre João Maria e Sete de Setembro, do Museu Café Filho (ocupando o primeiro prédio assobradado de Natal, na Rua da Conceição) e dos Palácios Potengi e Felipe Camarão. Quanto ao Memorial Monsenhor Expedito, está instalado na Casa Paroquial de São Paulo do Potengi, onde residiu o Monsenhor Expedito de Medeiros, que se notabilizou por uma vida inteira dedicada ao serviço dos

Memorial Câmara Cascudo (1986), localizado na Praça André de Albuquerque, em Natal. 130

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pobres, combatendo sem trégua as injustiças sociais (em apêndice, há uma síntese biográfica sobre esta insigne figura humana). O acervo contém documentação sobre a seca, correspondências, vários painéis ilustrativos sobre a vida e as ações do sacerdote, sua biblioteca particular, mais de uma centena de vídeos com registros de sua vida religiosa, fotografias e mobiliário antigo.

(d) Ação da Biblioteca Pública Câmara Cascudo Via de regra, as bibliotecas ou são autônomas ou estão associadas a estruturas educacionais. Claro, há aquelas institucionais; mas, neste caso, elas têm suas atividades definidas estritamente dentro dos limites de sua competência, mesmo porque não lhes cabe desempenhar funções estranhas à sua natureza. A Biblioteca de que tratamos não se encaixa em nenhuma daquelas situações. Ou melhor: houve um tempo em que pertencia, efetivamente, a uma estrutura de ensino – à Fundação José Augusto dos primeiros tempos; hoje, as funções da Instituição a que pertence longe estão de serem estranhas à sua natureza e competência; ao contrário, são profundamente interligadas. Em outras palavras, a Biblioteca Câmara Cascudo se utiliza de recursos existentes em outros setores da Fundação para melhor desenvolver sua política de leitura.

Uma das salas da Biblioteca Pública Câmara Cascudo, em Petrópolis, Natal. 40 Anos

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Não estamos falando dos recursos audiovisuais ou de microfilmagens, por exemplo, comuns a qualquer biblioteca moderna; referimo-nos a uma participação concreta, efetiva e conseqüente no processo de difusão cultural, obviamente sobretudo através do livro, mas não só neste particular. Já enfatizamos sua incursão em projetos da área cinematográfica. Enveredou, inclusive, por experimentações – positivas – na área da cultura popular, participando de feiras culturais promovidas pelo CPC e coordenando feiras de livros, cujas programações envolviam apresentação de cordelistas, cantadores de viola e repentistas, concursos de batidas feitas com frutas regionais e outras atividades do gênero. Durante muitos anos desenvolveu um trabalho importantíssimo junto às crianças, através da implementação da Sala Infantil, que terá funcionado como embrião da atual Biblioteca Infanto-Juvenil Myriam Coeli, localizada na Cidade da Criança. Havia sessões de cinema, laboratório de artes plásticas, hora da leitura e outras intervenções, sempre com farta explicação dos assuntos abordados e canalizando o interesse dos jovens para a utilização do livro como instrumento informativo e formativo. Na área específica, qual seja, a de “preservar as informações científicas, didáticas, históricas e culturais, nos seus diversos formatos, para fins de pesquisa, estudo e leitura da comunidade norte-rio-grandense”, ao longo do seu percurso instituiu o programa de “caixas-estante”, pelo qual era possibilitado o acesso de operários e comerciários ao livro, inclusive com orientação; havia, ainda, o “carro-biblioteca”, em ação pelos bairros menos favorecidos da cidade ou por aqueles que, distantes da biblioteca, dificultavam o acesso daqueles moradores ao seu recinto. Programas similares foram operacionalizados, vez por outra, dentro da idéia e da concepção de que a biblioteca não deve permanecer como uma estrutura estática, imobilizada em sua postura eminentemente tradicional de guardiã de milhares de títulos irrepreensivelmente organizados e acondicionados em seus escaninhos. Claro que o armazenamento de livros é fundamental, mas não deve interpretar-se esta particularidade elementar, básica, como constituindo o seu universo e a sua razão de ser. Ao contrário, ela deve aperfeiçoar – como qualquer outro organismo –, implementar renovados recursos no atento acompanhamento, na medida do possível, dos avanços tecnológicos para manter satisfatório padrão de qualidade em sua prestação de serviços. A sociedade é dinâmica: se a clientela de ontem se limitava à pesquisa ou consulta bibliográfica, a de hoje requer acesso à INTERNET. E a de amanhã?... A propósito, nos últimos anos foi realizada uma compra significativa de móveis e equipamentos, além das consecuções através do Ministério da Cultu132

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ra. A parceria com o Ministério possibilitou a aquisição de computadores e do software “Arches Lib”, exigindo, porém, por parte da Fundação, novas demandas para a manutenção do sistema. Através da Secretaria de Informática do Estado do Rio Grande do Norte-SECRIN, foi possível viabilizar a conexão com a rede INTERNET e a criação da página eletrônica da Biblioteca. Um dos objetivos perseguidos e ainda não concretizados, vem sendo a inserção da Biblioteca no programa do Fundo de Universalização dos Serviços de TelecomunicaçõesFUST (Ministério das Comunicações e Ministério da Cultura). Por outro lado, um Convênio de Cooperação Técnica com o “Instituto Embratel 21”, permitiu, recentemente, a criação da Videoteca, com a recepção da TV Digital da Embratel, via Projeto Biblioteca Digital Multimídia, que propicia ao usuário a audiência de vídeos, conferências e programas culturais. A Biblioteca Pública Câmara Cascudo é a unidade central da Coordenadoria de Bibliotecas, cuja constituição inclui a Biblioteca InfantoJuvenil Myriam Coeli, que dá continuidade ao programa antes desenvolvido pela já referida Sala Infantil, e a Biblioteca Zila Mamede, situada no bairro de Ponta Negra. Além da manutenção das unidades acima discriminadas, a Coordenadoria de Bibliotecas gerencia o Sistema Estadual de Bibliotecas Municipais, composto por todos os municípios do Estado que mantêm o acordo do Termo de Cooperação Técnica. Sobre o acervo, sessenta e cinco mil volumes, aproximadamente, é formado pelas coleções: (a) geral - compreendida por livros de assuntos diversos; (b) referência - dicionários, enciclopédias, anuários e obras similares; (c) didática - constituída por títulos destinados a estudo; (d) periódicos - formada por jornais, revistas, boletins, etc.; (e) braille - edições exclusivas para deficientes visuais; (f) autores norte-rio-grandenses - reunindo livros de autores potiguares e/ou sobre o Rio Grande do Norte, quando de outras regiões; (g) especiais - obras raras, coleções “Brasiliana” e “Documentos Brasileiros”, entre outras, e (h) bibliotecas particulares - composta por livros que pertenceram a intelectuais e/ou colecionadores do Estado, os quais constituem as Salas “Jayme Adour da Câmara”, “Berilo Wanderley”, “Floriano Cavalcanti” e “Humberto Nesi”. Sobre a Biblioteca Myriam Coeli, as informações estão no item que aborda a Cidade da Criança. 40 Anos

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O Plano de Ação Cultural para as Bibliotecas Públicas, inclusive através das Casas de Cultura, corrobora o que dizíamos no início, isto é, entre as linhas programáticas deste plano inclui-se o fortalecimento da biblioteca enquanto agência de animação cultural. Esta é a Biblioteca Pública Câmara Cascudo. Mesmo fisicamente afastada da sede da Fundação é, seguramente, um dos órgãos mais atuantes deste complexo cultural. Como vimos, um excelente desempenho, inclusive na manutenção da Pinacoteca da Fundação José Augusto em dado período. Quanto às coordenadoras da Biblioteca, no período que estamos tratando, já estão discriminadas no item consolidação do Sistema Estadual de Bibliotecas (p. 101).

(e) Sistema Estadual de Museus Ainda dentro da esfera de abrangência do CDC, um último ponto a considerar diz respeito à área museológica, durante muito tempo relegada a plano secundário em nosso Estado. Efetivamente, se o desenvolvimento de uma política museológica sempre foi objeto de interesse da Fundação, uma vez levemos em conta não ter sido outro o sentido de incorporar-se o Museu de Arte e História do Rio Grande do Norte à sua estrutura já no ato de criação da Entidade, assim como, através do Decreto nº. 4.713, de 20 de setembro de 1965, integrar-se ao seu patrimônio o Museu do Forte, além de diversas outras iniciativas – tais como a criação dos museus Casa Café Filho e Casa-grande do Engenho Guaporé (1979), em Natal e Ceará-Mirim, respectivamente (aliás, este último posteriormente passaria a denominar-se “Nilo Pereira”, em homenagem ao ilustre escritor ceará-mirinense), Alm. Ary Parreiras (1981), também em Natal, e Capitão Antas (1986), no município de Pedro Avelino, afora a própria criação do Núcleo de Museus (1979) e do Ateliê de Restauração de Peças Museológicas (1985-86) –, os resultados obtidos até 1986, a rigor, negavam tal intenção. Na verdade, contudo, alguns obstáculos se interpuseram a praticamente todas as tentativas de dinamização dessa área. A proposição, mesmo a firme convicção teórica, nem sempre encontra ressonância nas condições práticas oferecidas pela realidade. Há que considerar, por exemplo, a ausência, no plano federal, de uma política conseqüente de incentivo, conforme sempre ocorreu com outros segmentos, como a literatura e a biblioteca, que de há muito contavam com o apoio do Instituto Nacional do Livro-INL, das artes cênicas, que os recebiam do Instituto Nacional de Artes Cênicas-INACEN e, em certas circunstâncias, 134

Fundação José Augusto


do Serviço Nacional de Teatro-SNT e da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais-SBAT, do programa de restauração e preservação do patrimônio histórico e artístico, promovido (e devidamente provido) pela Fundação Pró-Memória, e da cultura popular em suas diversas formas de manifestação, a reboque da Fundação Nacional de Arte-FUNARTE, entre outros. Estes, sempre acusaram um bom ou satisfatório rendimento. No plano local, por outro lado, a não-inclusão da ação cultural entre as prioridades do Governo Estadual, em sucessivas propostas orçamentárias, inviabilizou seguidamente quaisquer esforços nesse sentido. Como se vê, os descompassos e atrasos na definição de uma adequada linha de ação para os seus museus não foi, exatamente, por descaso ou inoperância da Instituição, mas sim pela total ausência de oportunidade, por parte do poder público nas diversas instâncias. O quadro começaria a ser revertido, porém, naquele ano de 1986, quando o Ministério da Cultura, através do Ministro Celso Furtado, criava e implantava o Sistema Nacional de Museus, com o objetivo de articular o intercâmbio informativo na busca do aprimoramento e conseqüente desenvolvimento integrado (sem, no entanto, interferir nos procedimentos técnicos e político-administrativos das diversas áreas), sugerindo na ocasião a todos os Estados, que deveriam criar e operacionalizar os respectivos Sistemas Estaduais, condição básica para se beneficiarem dos recursos alocados para a dinamização da área. Precisamente no dia 29 de setembro daquele ano, em todos os Estados da Federação então representados, foi instalado o Sistema, com uma proposta avançada, aberta, sugerindo uma nova linguagem e uma nova metodologia para a ação museológica. Entendia o Sr. Ministro que o Brasil, pelas suas dimensões continentais, por sua ampla diversidade de costumes e multiplicidade criativa, não poderia continuar importando o modelo clássico de museu, de origem européia, mas sim encontrar seus próprios caminhos. A relação museu-comunidade não deveria ser passiva, mas dinâmica. Apelou, em seguida, para que todos os dirigentes e técnicos culturais ali presentes não só transmitissem aquelas idéias para suas regiões e setores operacionais, mas, sobretudo, as incorporassem e as pusessem em prática, o que representaria um primeiro passo. Ficou assentado, também, que os diversos Estados deveriam – a seu turno – criar e instalar os respectivos Sistemas Estaduais, num prazo, que, ultrapassado, estariam automaticamente impossibilitados de pleitear o patrocínio de projetos e/ou outras formas de subvenção do MinC, através do Sistema Nacional, doravante responsável pelos pareceres emitidos a respeito. 40 Anos

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Foto: Candinha Bezerra

Vista aérea da Fortaleza dos Reis Magos, na desembocadura do Rio Potengi.

Numa segunda reunião, realizada em 29.04.87, durante a qual se analisou as propostas do conjunto dos Estados, o Rio Grande do Norte foi o único que teve todos os projetos apresentados virtualmente aprovados, dentre os quais o que propunha a criação do Museu de Arte Sacra do Estado, oficializado pelo Decreto nº. 10.273, de 21.12.88, e instalado em março de 1989. Naquele período, entre abril e agosto de 1987, além do projeto que originou o Museu de Arte Sacra, referido acima, foi produzido pelo CDC um outro, de singular importância para o Rio Grande do Norte, especialmente para os Municípios de Natal, Parnamirim e Macaíba. Trata-se do Museu Histórico da Aviação e da Segunda Guerra Mundial, criado pelo Decreto nº. 10.393, de 12 de junho de 1989, o qual infelizmente não vingou, em que pese haver sido concebido de forma tal que ultrapassava as dimensões do museu tradicional e se projetava, digamos, numa perspectiva histórico-cultural que, provavelmente, muito contribuiria para o estudo e a compreensão do desenvolvimento de Natal e das cidades assinaladas.(13) Conforme se pode observar, esse projeto se enquadrava perfeitamente ________________________

A aviação, assim como a participação brasileira em episódios da II Grande Guerra, operaram singular influência nos modelos comportamentais, de natureza sócio-econômica e cultural, nesta Capital e adjacências. Em 1922, com a travessia do Atlântico pelos portugueses Sacadura Cabral e Gago Coutinho, inicia-se o movimento aviatório ( intensificado a partir de 1926 ), mas podemos “recuá-lo” ao começo do século XX, considerando as experiências de Augusto Severo com o dirigível “Pax”. O evento guerra, a seu turno, dá-se entre 1942 e 1945. O museu em questão pretendia reunir um acervo de peças, fotografias, material bibliográfico e “quaisquer outros tipos de documentos pertinentes” vinculados aos dois temas. (13)

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Fundação José Augusto


Foto: Arquivos da FJA / CDC

Museu Café Filho, situado na Praça 7 de Setembro, no centro da Cidade Alta, em Natal.

na linha de ação recomendada pelo Ministério. Ato contínuo, este Estado criou, pelo Decreto nº. 9.987, de 11 de janeiro de 1988, o Sistema Estadual de Museus do Rio Grande do Norte, definindo, a partir daí, uma política de museus dentro daquele espírito e conceito, cuja conseqüência imediata foi a implantação do Museu de Arte Sacra, um dos mais expressivos acervos de quantos são administrados pela Fundação. Além da responsabilidade de gerir o Sistema Estadual, pelo que se obriga a prestar assistência técnica na implantação e/ou instalação de museus municipais e comunitários, a instituição, através da Subcoordenadoria de Atividades Museológicas, mantém os seguintes museus: Fortaleza dos Reis Magos. É uma das edificações militares, em sua categoria, mais expressivas do país. Sua construção inicial, em pau-a-pique, data de 6 de janeiro de 1598; a construção atual, em alvenaria, foi dada por concluída em 1628. Suas muralhas foram erguidas com pedras extraídas dos arrecifes que a circundam. Na ocupação holandesa (1633-1654) recebeu o nome de “Kastel Keulen” (em homenagem ao Alto Conselheiro da Companhia das Índias Ocidentais Mathijs Van Keulen). A Fortaleza mantém suas características arquitetônicas originais e encontra-se em perfeitas condições físicas. Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN, é uma das principais atrações turísti40 Anos

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Foto: Joana Lima

cas do Estado e o seu museu o mais visitado. Em seu interior está exposto o “Marco de Touros”, o marco colonial mais antigo do Brasil, chantado na Praia de Touros em 1501, pela expedição portuguesa de Gaspar de Lemos. Museu Casa Café Filho. Exposição permanente de objetos, comendas, fotografias, discursos, artigos, decretos e o livro de memórias (Do Sindicato ao Catete) do ilustre norte-rio-grandense. Museu de Arte Sacra. Através de convênio firmado com os Frades Capuchinhos, esse museu foi instalado na Igreja de Santo Antônio, no centro da cidade. Seu acervo consta de imagens dos séculos XVII ao XX, afora alfaias, pinturas, mobiliário, ourivesaria e prataria utilizados nos rituais litúrgicos católicos. Contém, ainda, imagens e oratórios de camarinha, como mostra da devoção doméstica. Museu de Cultura Popular. Mantém acervo de fotografias, peças, indumentárias e instrumentos utilizados nas diversas manifestações populares do Estado, além da coleção de cordéis editada pelo Projeto Chico Traíra, desenvolvido por esta Fundação. O prédio onde está instalado sediou a administração da antiga Província e os primeiros anos do regime republicano, na antiga Rua do Comércio (hoje, Rua Chile), bairro da Ribeira. Com a transferência da sede do Governo para a Praça Sete de Setembro (1902) – atual Palácio Potengi –, pelo então Governa-

Palácio do Governo até 1902, neste prédio funcionou o “Wander-Bar” e, hoje, sedia o Museu de Cultura Popular (Ribeira) da Fundação José Augusto. 138

Fundação José Augusto


dor Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão, o sobrado passou a ser explorado como casa noturna, nos anos de guerra recebendo a denominação de “Wander-Bar”. A Fundação José Augusto, com o apoio do Ministério das Comunicações, restaurou a edificação, antes de alocar o museu em suas dependências. Museu Capitão Antas. Homenageia uma figura lendária do Município de Pedro Avelino – localizado na área central do Estado –, bisneto do fundador da comunidade. Seu acervo consta de indumentárias e mobiliário do século XIX, cerâmicas, imagens sacras, objetos pessoais do ilustre norte-riograndense, etc. Dados biográficos sobre o Capitão Antas encontram-se em anexo (V. apêndice, SÉTIMA PARTE). A Pinacoteca do Estado também é vinculada a esta Subcoordenadoria. Aliás, as artes plásticas são tratadas em três níveis pela Fundação: (a) busca talentos, através da Escolinha de Arte Newton Navarro, instalada na Cidade da Criança ( p. 158); (b) estimula a produção, com exposições individuais e coletivas, e (c) preserva a memória, na guarda do considerável acervo de telas, gravuras e esculturas que integram a Pinacoteca do Estado, alocada no Palácio da Cultura.(14) As artes plásticas, notadamente a pintura, o desenho, a gravura e a tapeçaria, tiveram um grande impulso na última década, aqui em Natal. Aliás, sempre tivemos bons artistas. Newton Navarro, por exemplo, tanto na pintura como no desenho. Dorian Gray é um mestre consagrado. Nas gerações mais recentes há nomes como Carlos José, Marconi Grevy, Humberto Dantas, Aucides Sales, Emanoel Amaral, Assis Marinho, Manxa, Jordão e Zaíra Caldas, entre outros. A produção intensa de quadros e outros objetos de arte, aliada à ativa participação da Associação dos Artistas Plásticos do Rio Grande do Norte, constantemente reivindicando, instigando a Fundação à realização de promoções na área, tornaram este segmento artístico-cultural dos mais promissores, naquele período. A esses fatores some-se a inauguração da Sala de Exposições da Biblioteca Pública Câmara Cascudo, por volta de 1980 e, posteriormente, a da Galeria do Centro Cultural de Natal (hoje, Memorial Câmara Cascudo), as quais cumpriram, sobretudo a primeira, um programa marcadamente dinâmico. ___________________________

Com a transferência da Governadoria para o Centro Administrativo do Estado (1996), a Fundação José Augusto, com o apoio da Fundação Cultural Banco do Brasil, restaurou o prédio do Palácio Potengi, ali instalando referida coleção e realizando eventos como exposições, lançamentos de livros e outras iniciativas do gênero, passando a designá-lo “Palácio da Cultura”(1999). (14)

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Foto: Ayres Marques

Um resumo das iniciativas, na área, assinala a promoção de trinta e dois concursos, incluindo cinco prêmios de pintura (Newton Navarro, Governador do Estado, Galeria Anna Quadros, Base Almirante Ary Parreiras e João da Escóssia) e um de escultura, Monumento à Câmara Cascudo, abrangendo dezesseis anos e classificando cerca de sessenta obras, aí incluídos primeiros, segundos e terceiros lugares, algumas menções honrosas e prêmios de aquisição. Foram realizadas, ainda, algo em torno de trezentas exposições. Nenhuma outra área foi beneficiada com tal índice de promoções, o que se pode constatar na simples leitura dos demais itens aqui apresentados; portanto, nenhuma outra apresentou tão prodigiosa performance. Aliado a esse maciço apoio aos artistas, a manutenção da Escolinha de Arte Cândido Portinari e da Oficina de Gravuras Rossini Perez constitui outra vertente de significativa expressão, dado que suas propostas, em síntese, visam alimentar o processo formativo de novas gerações de produtores culturais. Quanto à Oficina de Gravuras Rossini Perez, até 1993 (conforme vimos anteriormente, esta fora criada em 1980) era subordinada ao Centro de Promoções Culturais – CPC, com a finalidade de desenvolver e aprimorar a arte da gravura no Estado, área até então sem maior repercussão local. Naqueles treze anos mantinha-se, a exemplo da Escolinha, antes aludida, fiel àqueles

Palácio Potengi, hoje chamado Palácio da Cultura, sediando a Pinacoteca do Estado. 140

Fundação José Augusto


princípios expressos em sua origem, implementando ações que se afirmavam com resultados bastantes promissores. No ato da sua implantação encontrava-se equipada com duas prensas para impressão de xilogravuras, litografias e gravuras em metal; posteriormente, sua estrutura foi capacitada para a realização de cursos de desenho, xilogravura, serigrafia e litografia artísticas e gravura em metal, dentro de um padrão de desempenho considerado plenamente satisfatório. Diversos artistas se iniciaram ali, em seus cursos regulares ou informais. Não se limitando ao ensino de técnicas de manipulação de seu instrumental (torno, formão, buril, cinzel, madeira, metal, papel, etc.) e identificação da matéria-prima adequada aos processos de produção, bem como à orientação dos aprendizes quanto à sua importância e significado culturais, prestava serviços também como efetivo núcleo produtor, expressando suas atividades na confecção de desenhos e gravuras. Em 1980 a UFRN, através da Pró-Reitoria de Extensão Universitária, solicitou os serviços desta Oficina para a confecção das capas de folhetos e outras publicações, inclusive do livro Gravura Popular, sobre temas vinculados ao Projeto Memória Viva, desenvolvido por aquela Instituição. Os desenhos produzidos foram transformados em cartões postais, o que permite conjeturar-se sobre o nível do trabalho. Isso, quando a Oficina tinha apenas alguns meses de funcionamento. Cumpre registrar sua ação em outras regiões do Estado. Com a implantação do Programa de Interiorização da Ação Cultural, iniciado por volta de fins de 1980 e primeiros meses de 1981, foi desenvolvida, com êxito, a estratégia de integração de cursos de curta duração ao programa do Circo da Cultura. Como aquela programação sempre era discutida com líderes comunitários semanas antes da sua operacionalização, incluiu-se como uma das alternativas a realização de um curso de xilogravura durante o período de permanência do Circo na localidade.(15) Esta oficina realizou exposições em Macaíba e em Mossoró, além das que – obviamente – fez em Natal. Por volta de 1981, iniciou atividades na área da história em quadrinhos. Foram produzidos, no então estilo da literatura de cordel, os folhetins História de Lampião e Jesuíno Brilhante. Porém, por escassez de recursos, o projeto não foi reimplementado. Era um trabalho bastante promissor. A idéia era a de produzir uma coleção, exclusivamente em quadrinhos, sobre o vasto campo dos fatos que compõem as tradições históricas e culturais norte-riograndenses, inclusive suas lendas. Quem sabe o trabalho poderá ser retomado, _________________ (15)

Em média, o Circo da Cultura permanecia 15 dias em cada cidade.

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de vez que há significativa faixa de público consumidor deste tipo de literatura, especialmente nos segmentos jovens. Anos depois foram realizados trabalhos mais aprimorados e destinados a outras camadas socioculturais: em 1985 foi editado o álbum Via Sacra, com versos de Chico Traíra, desenhos de Márcio Coelho e gravuras de Aucides Sales. No ano seguinte, publicou Casa Nordestina, com poemas de Racine Santos e gravuras de Aucides Sales, Eribaldo Furtado e Carlos Borges. Fora do Estado, numa experiência de intercâmbio com a Oficina de Gravuras do Museu Goeldi, do Pará, foram feitas exposições de cada uma das Oficinas na capital do Estado coirmão. Internacionalmente, afora coletivas em Austin (Texas, Estados Unidos) e em Tóquio (Japão), expôs na Petit Galerie, no centro de Paris, em evento denominado Gravateurs Brasiliens. Tempos atrás realizou convênio com a Universidade do Rio de Janeiro, do qual resultou a vinda a Natal dos professores Jean Guido Bonfanti, José Maria Paixão e Kazuo Iha para ministrarem cursos nesta cidade. Àquela época a Oficina manteve intercâmbio com várias escolas de arte de Natal, dentre as quais a do Solar Bela Vista, a do Atelier da então Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte-ETFRN e a do Colégio Nossa Senhora de Fátima. Fora do Estado, manteve contato permanente com o Núcleo de Arte e Cultura da Universidade da Paraíba e com a Oficina Guaianases, de Olinda-PE. Em 1996 suas atividades foram suspensas, retornando enfim em agosto de 2002 (p. 159). A implantação da Pinacoteca, por sua vez, foi possível graças à reunião do acervo preexistente no Estado, à doação de artistas e à aquisição por compra. A aquisição de acervo, mormente em uma instituição de caráter museológico, é de singular relevância, tanto do ponto de vista de atualização das coleções quanto de uma política de incorporação e ampliação. O trabalho visa cumprir a finalidade de valorizar, estudar e conservar o que se relacione com o interesse histórico, artístico e técnico, expondo ao público de forma prazerosa e educativa. No período 1995-2002, a implantação da Pinacoteca do Estado, no Palácio Potengi, a criação do Museu de Cultura Popular e a renovação de acervo em outros museus sob a responsabilidade da Fundação, exigiram que a incorporação de novos acervos se processasse por três vias – compra, doação e comodato, conforme discriminação abaixo: COMPRA Coleção de arte popular, com 119 (cento e dezenove) peças; g

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cinco desenhos, da artista primitiva Maria do Santíssimo; cinco esculturas, em cimento constituído, do artista plástico Jordão; dois óleos, do artista primitivo Nivaldo Rocha; duas placas, em cerâmica, da artista Côca; um óleo sobre cartão; uma pintura, do artista plástico Raul Córdula; uma gravura, do xilógrafo Ciro; uma escultura, em pó-de-mármore, do artista Galego, e uma escultura, em pedra-sabão, do artista Emanoel Amaral. DOAÇÃO Coleção de Artes Visuais, do extinto Banco do Rio Grande do NorteBANDERN, composta de 92 (noventa e duas) peças; Coleção de Artes Visuais, do Banco Central, composta de quarenta e nove peças; seis esculturas sobre plano e cinco óleos sobre madeira, da artista Zaíra Caldas, pela autora; duas cerâmicas, da artista Regina Guedes, pela autora; dois óleos, do pintor Ranilson Rabelo, pelo autor; óleo sobre papelão, de autoria não-identificada, pelo artista plástico Iramar Araújo; um óleo, de Fé Córdula, pelo autor; uma obra de arte cinética, do artista Abraão Palatnik, pelo autor, e uma escultura em chumbo, revestida em folhas de ouro, representando Buda em pé (com 70 cm de altura), de origem indiana, pelo suíço Fritz Alcin Gegauf. COMODATO cinco óleos: 02 (dois) da artista Ir. Miriam, 01 (um) do artista Assis Marinho e 02 (dois) de autoria não-identificada, cedidos pelo Colégio Nossa Senhora das Neves, e duas esculturas – terracota e gesso –, do artista Hostílio Dantas, cedidas pelo Professor Protásio Alves de Melo. g

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Com a finalidade de preservação, guarda e mostra do acervo de artes visuais, a Pinacoteca dispõe de peças em seis núcleos expositivos, além do mobiliário antigo do Palácio. Possui, também, salas reservadas para exposições de artistas, ou para outras atividades culturais, tais como seminários, recitais e lançamentos de livros. Como se vê, portanto, a área de museus, que conta inclusive com uma eficiente e operosa oficina de recuperação de peças, desenvolveu uma longa e 40 Anos

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Foto: Arquivos da FJA / CDC

paciente trajetória até se firmar, hoje, como um segmento dos mais importantes para que a Fundação consolide seu papel de órgão máximo da ação cultural potiguar. Dirigiram o Centro de Documentação Cultural-CDC, no período, Tarcisio Rosas, Ivoncísio Medeiros, Francisco Alves, Jeanne Nesi da Fonseca e Neusa Pinheiro de Medeiros e, atualmente, é dirigido por Dácio Galvão.

Foto: Anchieta Xavier

Solar João Galvão de Medeiros, antes e depois da restauração (1995), situado na antiga Av. Junqueira Aires, atual Av. Câmara Cascudo.

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Centro de Promoções Culturais-CPC Dissemos em outra parte que a Lei nº. 4.923, de 17 de dezembro de 1979, instituiu os Centros de Documentação e de Promoções, a partir da cisão do antigo Centro de Desenvolvimento. Não obstante, o processo de difusão cultural, nesta Fundação, dá-se através de vários canais, constituindo mesmo parte das atribuições de praticamente todos os seus setores. Esta circunstância pode levar o leitor menos familiarizado com a sua estrutura ao seguinte questionamento: se todos (ou praticamente todos) os setores têm esta preocupação, qual a razão de ser do Centro de Promoções Culturais? Requer, portanto, uma explicação. O leque de ação ou, melhor dizendo, o raio de abrangência programática da Fundação José Augusto assume funções diversificadas, na conformidade de algumas das dimensões conferidas ao conceito “cultura”. Esta realidade está refletida em sua setorialização, atendendo exigências que vão do registro dos fenômenos à promoção de eventos, passando pela pesquisa e documentação, seja de fatos ligados estritamente às manifestações culturais ou aos de natureza histórica, social, política ou econômica. Nessa perspectiva – reiteramos –, todos os segmentos da Fundação trabalham no sentido de difundir e promover a cultura potiguar no âmbito da sociedade.(16) Ainda aí, pergunta-se: “por que, então, a existência de um setor destinado exclusivamente à promoção cultural?...” A dinâmica social, nos seus desdobramentos, gera situações e vivências que _____________________

(16) É evidente que, quando o CDC realiza um documentário ou o CEPEJUL uma pesquisa, por exemplo, não o faz simplesmente para armazenar e preservar as informações; doravante elas estarão disponíveis para pesquisadores e demais interessados em eventuais consultas. Assim, o fato documentado – ou pesquisado -, o livro editado, o monumento restaurado e a peça museológica constituem produtos plenamente acessíveis à comunidade e, portanto, aí estará ocorrendo a difusão cultural.

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Foto: Anchieta Xavier

exigem linguagens diferenciadas para expressar sua natureza. O fato sociocultural (histórico, político, etc.) requer identificação, registro, documentação, exposição e preservação através de múltiplos mecanismos condizentes com cada uma dessas situações. O CPC, enfim, guarda essa particularidade que o distingue dos demais setores: utiliza-se das linguagens cênicas, normalmente de caráter lúdico, ajustando-se, dessa forma, ao perfil das atividades que lhe compete desenvolver. Feito o esclarecimento, prossigamos. O Centro de que tratamos compreende os segmentos que operacionalizam atividades pertinentes à cultura popular, à música e à dança. No domínio da cultura popular os projetos mais marcantes, ao longo do tempo, foram o do Circo da Cultura, o das Feiras Culturais e os dos Festivais de Folclore e de João-redondo, aos quais se junta o do atual Encontro de Cultura Popular; na área da música, destacam-se o de Apoio às Bandas de Música Comunitárias e o Projeto Seis e Meia, enquanto que, no que diz respeito à dança, coordena a Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão-EDTAM. Mas não há rigidez programática, o que implica em dizer que incursiona, ou é passível de incursionar, por quaisquer outras formas de expressão artística, do que é exemplo o projeto Um Presente de Natal, de sua responsabilidade, do qual participam diversos órgãos da Instituição e que abrange múltiplas manifestações (música, dança, artes plásticas, teatral e circense).

Encenação de “Um Presente de Natal”, em frente ao Palácio da Cultura. 146

Fundação José Augusto


Foto: Arquivos da FJA/CDC

Para viabilizar os seus planos o CPC, como de resto todos os demais setores da Fundação, sempre captou recursos em organismos externos, com especialidade a Fundação Nacional de Arte-FUNARTE e o Instituto Nacional de Artes Cênicas-INACEN, organismos vinculados ao Ministério da Cultura-MinC. Dentre os projetos desenvolvidos alguns se constituíram em verdadeiras estratégias de ação, tais como o Circo da Cultura, mencionado acima, por longos anos tendo sido utilizado como importante mecanismo de veiculação dos seus programas junto às comunidades periféricas de Natal e a diversos municípios do interior do Estado. A Feira Cultural, também referida, foi outro projeto que se mostrou um instrumento ágil e funcional para a disseminação artístico-cultural norte-riograndense. Esta se apresentava como uma feira tradicional estilizada, com barracas para a venda de comidas e bebidas típicas da região onde se instalava, assim como de peças artesanais ali produzidas, além de exposição de quadros da Pinacoteca do Estado e lançamentos, exposição e venda de livros de autores potiguares. Uma outra proposta que se repetia com certa regularidade – por vezes retomada nos últimos anos – era a de recuperação de grupos folclóricos (indumentária, adereços e instrumentos), concebida basicamente face à decadência desse tipo de prática pelas dificuldades econômicas: esses grupos, como

Flagrante de uma apresentação de um grupo folclórico, no Circo da Cultura. 40 Anos

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é notório, são constituídos, via de regra, por indivíduos oriundos das camadas pobres da população. Os trabalhos assinalados – o Circo, a Feira, os Festivais e a Recuperação de Grupos –, no decurso dos anos 80 e primeiros anos da década seguinte foram importantes estratégias muito oportunamente utilizadas pelo CPC. Posteriormente, surgiram os Encontros de Cultura Popular. Foram diretores do Centro de Promoções, a partir da sua criação, Deífilo Gurgel (1980-1987), Francisco Alves (1987-1991), novamente Deífilo Gurgel (1991-1994), Maria Dolores (1995-1999), Olga Aranha (1999-2001), Iara Queiroz (2001-2002), Hilneth Correia (2003) e, atualmente, é coordenado por Maria Amélia Freire. Seguem-se as linhas de difusão cultural, não necessariamente apenas as desenvolvidas pelo CPC, como já foi explicado.

(a) Cultura popular, principais projetos

Foto: Arquivos da FJA / CDC

Pessoas distintas, em distintas épocas, consideraram a essencialidade e a urgência do resgate e da preservação dos fatos que conformam (e animam) as bases da cultura dos povos, seja de um grupo étnico (cultura indígena, cultura negra), de uma região (cultura potiguar, cultura nordestina) ou de uma nação

Visão da abertura da Feira Cultural de Currais Novos (1980). 148

Fundação José Augusto


Foto: Acervo de Deífilo Gurgel

(cultura francesa, cultura brasileira), reputando-os como fatores que os personalizam e identificam: “Muitas sociedades menosprezaram as expressões de sua arte, mas virá um dia em que voltarão sobre o seu passado e lamentarão o desaparecimento dessas obras que esqueceram temporariamente. Aos que compreendem o valor dessas tradições, cabe colhê-las a tempo. Os descendentes dos iconoclastas de hoje lhes ficarão agradecidos”. Estas palavras são de Alfred Métreaux, antropólogo francês, Prof. da Universidade de Yale e um dos maiores pesquisadores do culto vodu na América Central, especialmente no Haiti. O comentário foi feito em 1949, em relatório da UNESCO acerca da proteção e do desenvolvimento das artes populares, e citado, com muita propriedade, pelo Prof. Deífilo Gurgel, escritor e folclorista potiguar, em uma de suas obras sobre o assunto. Na mesma linha mas no estilo confessional – falando de sua experiência e percepção a respeito –, disse Câmara Cascudo: “Queria saber a história de todas as coisas, do campo e da cidade. Convivência dos humildes, sábios, analfabetos, sabedores dos segredos do mar e das estrelas, dos morros silenciosos. Assombrações. Mistérios. Jamais abandonei o caminho que leva ao encantamento do passado. Pesquisas. Indagações. Confidências que

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hoje não têm preço. Percepção medular da contemporaneidade” (Revista Província, nº. 2, FJA, p. 5, 1971). Um dá o grito de alerta, iniciando com um lamento, mas encerrando com um voto de fé no futuro; outro, exemplifica e ensina o caminho. Cremos que a Fundação sempre adotou uma postura compatível com tal entendimento, o que se pode constatar nos textos e na execução dos seus projetos. Fomos pinçar num trecho do relatório da primeira Feira Cultural realizada pelo CPC (julho, 1980), em Currais Novos, um resumo bastante aproximado do nível ou importância com que é encarada a cultura popular, nesta Entidade. Ao mesmo tempo se pode observar com mais atenção, e exatidão, o significado da Feira, enquanto veículo de disseminação das artes e da cultura potiguares. Vejamos: “( ... ) Seguiu-se à abertura da Feira o lançamento do livro Os Holandeses no Rio Grande do Norte, do Mons. Paulo Herôncio, cuja apresentação foi feita pelo Pe. Ausônio de Araújo, pároco de Currais Novos. “A programação desenvolvida incluía a apresentação do grupo folclórico Bambelô Asa Branca; de grupos parafolclóricos de escolas da região; de emboladores, cantadores de viola e repentistas, e da Banda de Música de Carnaúba dos Dantas; projeção de filmes cedidos pela EMBRAFILME; exposição de quadros da pinacoteca da Fundação e de um artista da cidade, e o funcionamento de barracas estilizadas com exposições e venda de livros, produtos artesanais, comidas e bebidas típicas”. Observe-se que, utilizando-se de uma estrutura familiar àquela comunidade, explorou-se ali, a música e a dança folclóricas, o artesanato, o cancioneiro e a culinária popular, a retreta, o cinema, a literatura e as artes plásticas. Vale acrescentar que a Feira Cultural esteve em várias outras cidades e em todas elas lançou livros de autores da terra, promoveu artistas da região, gerou um saudável intercâmbio. Outras iniciativas que colheram bons resultados foram os Encontros de Emboladores, os Circuitos de Teatro e os já assinalados festivais, entre outros eventos do gênero, sistematicamente trazendo a Natal representantes dessas manifestações do Estado e da região. Essas promoções eram desenvolvidas em palanques erguidos em pontos estratégicos da cidade, em escolas e na Sala dos Grandes Atos, sala nobre da Fundação.(17) Nesse período (década de 80), um dos artistas populares que se apresentaram nos eventos da Fundação, especialmente nos Festivais de Emboladores, foi Chico Antônio (1902-1993), natural de Pedro Velho-RN, cuja importância foi registrada em várias obras de Mário de Andrade (18931945): Danças Dramáticas do Brasil, Os Cocos, Melodias de Boi, O ______________________________ (17)

V. depoimento do prof. Cláudio Emerenciano, ex-presidente da Fundação José Augusto, na p.103.

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Turista Aprendiz e Vida de Cantador, esta última inteiramente dedicada ao autor do famoso “Coco do Boi Tungão”. Mário de Andrade, nome de grande expressão do movimento modernista, foi quem o descobriu, na viagem realizada por todo o Rio Grande do Norte – ciceroneado por Câmara Cascudo –, entre dezembro de 1928 e janeiro de 1929. Posteriormente relegado ao ostracismo, cinqüenta anos depois (agosto, 1979) seria redescoberto pelo Prof. Deífilo Gurgel, no curso de uma pesquisa realizada para a Fundação José Augusto, momento em que o apresentou ao mestre Cascudo: “Mário de Andrade comparou-o a Caruso e ao Uirapuru do Amazonas, pelo encantamento que sua voz despertava”, lembra Deífilo. Quando abordamos o Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine (QUARTA PARTE, p. 113), referimos o projeto de Mapeamento da Cultura Popular (p. 117), a ser retomado e concluído, e adiantamos que, a despeito de não ter sido consolidado, teve o mérito de gerar dois outros projetos: o de Encontro de Cultura Popular e o Chico Traíra. O primeiro deles – idealizado para divulgar as manifestações populares e incentivar os artistas –, realiza-se ininterruptamente desde 1995, sempre na semana que inclui o Dia Nacional do Folclore,(18) cujo dia específico é 22 de agosto. O programa é elaborado de sorte a envolver municípios de todas as regiões do Estado e, inclusive, de outros Estados do Nordeste, não só os vizinhos (Ceará, Paraíba e Pernambuco) mas, em algumas ocasiões, atraindo figuras de outros centros urbanos. Nomes importantes, como Ariano Suassuna, com sua “aula-espetáculo”, abrilhantaram o evento, em ocasiões diversas; escritores e conferencistas do gênero, comprometidos com a sobrevivência das tradições populares, ali lançaram seus livros e realizaram palestras. Dentre os grupos, destacam-se: Boi-bumbá, de Axixá-MA; Banda Cabaçal (irmãos Aniceto, descendentes dos índios cariris), o mais importante grupo musical, de origem popular, do Ceará; Orquestra Sanfônica, de Campina Grande-PB, constando de vinte e um sanfoneiros e sete percussionistas, além do maestro, cujo repertório abrange da música erudita ao forró pé-de-serra; Bandas Cascabulho, Mestre Ambrósio e de Pífanos Dois Irmãos, todas de Pernambuco, além de outros artistas como Hermeto Pascoal, de Alagoas; Antônio Nóbrega,(19) de Pernambuco, e Gereba, da Bahia. __________________________

O arqueólogo inglês William John Thomas em 1846 criou a palavra FOLCLORE (Folk-lore) para designar todos os estudos populares sobre Tradições, Antiguidades, Costumes e Literatura. No dia 22 de agosto daquele ano o jornal londrino “O Atheneu” publicou uma carta de Thomas sugerindo a criação da palavra “Folclore”, hoje aceita em quase todo mundo. Em 17 de agosto de 1965 o então presidente da República Castelo Branco assinou o Decreto n.º 56.747 instituindo o dia 22 de agosto como o Dia do Folclore no Brasil. (18)

“Na Pacanda do Ganzá”, CD e espetáculo do famoso artista, foi produzido em homengem a Mário de Andrade e a Chico Antônio. (19)

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Foto: Joana Lima

Quanto ao Rio Grande do Norte, citamos os grupos Caboclinhos e Congosde-Guerra (Ceará-Mirim); Cangaceiros (Arês); Coco-de-zambê (Tibau do Sul); Araruna, Congos-de-calçola e Boi-de-reis (Natal); Pastoril (Parnamirim); Dança-do-espontão dos Negros do Rosário (Caicó); Bandeirinhas e Lapinha (Touros); Marujada (Georgino Avelino), e Dança de São Gonçalo (Portalegre) – afora o grupo parafolclórico da UFRN. Destacamos, ainda, os artistas Elino Julião (Timbaúba dos Batistas), D. Militana Salustino, romanceira de largo prestígio no Estado (São Gonçalo do Amarante), emboladores de coco (Serra de São Bento), violeiros, sanfoneiros e rabequeiros de diversos municípios. Entre os inúmeros espetáculos dignos de menção, registre-se uma excepcional apresentação do Grupo Suzuki do Instituto de Música Waldemar de Almeida, tendo como solista o tocador de marimbau Joaquim Penha, natural de Campo Redondo e residente em Lagoa de Velhos. Versão sertaneja do berimbau (este de origem africana), o marimbau é um instrumento de fabricação caseira, montado pelo próprio artista (consistindo num objeto formado por uma lata de querosene, uma baqueta de pereiro, madeira típica do semiárido, e a corda retirada da argola de pneu adaptada no arco de mimosa, outro tipo de vegetal), o qual, com a utilização de uma faca ferindo as estrias da argola, sustentada por dois feixes de pedras, executa notas que vão desde o clássico ao popular, com singular qualidade sonora.

Grupo folclórico “Caboclinhos de Ceará-Mirim” 152

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O evento prevê atividades paralelas de lançamentos, exposições e venda de livros, cordéis e CDs, exposições fotográficas, mostras de escultores populares, oficinas artesanais e feiras de culinária, não necessariamente em todos os encontros, mas de forma alternada. No IV Encontro de Cultura (1998) o historiador e folclorista Luís da Câmara Cascudo foi homenageado com um selo comemorativo do centenário do seu nascimento, na mesma oportunidade sendo inaugurado o Museu de Cultura Popular (p. 138), assim como, posteriormente – VIII Encontro (2002) –, a reabertura da Oficina de Xilogravura. Inicialmente realizado no auditório da Fundação (Sala dos Grandes Atos), nos anos subseqüentes foi transferido para a então Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte-ETFRN, hoje CEFET –, Teatro Alberto Maranhão e Memorial Câmara Cascudo, sempre atraindo grande público, sobretudo de jovens estudantes. Quanto ao Projeto Chico Traíra, criado em 1995, fundamenta-se na proposta mais ampla de preservação e difusão da cultura norte-rio-grandense, onde, por via de regra, estão inseridos todos os programas da Fundação, considerando que tais fins, preservação e difusão, estão no cerne da própria razão de ser da Entidade (esta particularidade foi exaustivamente demonstrada, páginas atrás); suas especificidades, porém, o personalizam de forma incontestável e o distinguem como uma das boas iniciativas na área da cultura popular, conforme veremos em seguida. Em primeiro lugar, observava-se a necessidade de “organizar-se um levantamento da situação do cordel, assim como dos cordelistas, no âmbito do Estado”, condição quando não-essencial, certamente importante para as ações subseqüentes de: (a) “apoio aos artistas, editando seus cordéis (poesia e xilogravura)”; (b) “incentivo ao surgimento de novos talentos, na área”, e (c) “concessão de meios, ao público interessado (aí incluídos leitores, pesquisadores, estudantes e demais aficcionados do gênero), de acesso à sua aquisição”. Foi queimada aquela etapa inicial, no entanto, a do levantamento, em face das limitações de recursos.(20) Pressupunham os seus objetivos, ainda, a intenção de “contribuir para o ressurgimento dessa arte no âmbito do Rio Grande do Norte”, o que constituiria, evidentemente, uma derivação natural dos anteriormente descritos. Na verdade, ressentia-se a Fundação José Augusto – e, assim, os poetas-cordelistas e os pesquisadores – de uma atuação mais efetiva no que ____________________ (20)

Há plano de se retomar referido levantamento.

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diz respeito à literatura popular, pelo que sua repercussão foi bastante positiva junto à comunidade. Do Relatório da Fundação José Augusto (1995-2002) extraímos o seguinte trecho, a propósito deste Projeto: “(...) A estratégia consiste em, inicialmente, realizar a chamada dos poetas, por rádio e/ou outros meios de comunicação, de todo o Estado, para participarem do projeto encaminhando cordéis inéditos. Depois, a partir de um processo de seleção, estes são impressos no formato tradicional, com capa em xilogravura de artistas-gravadores. A tiragem (mil exemplares por título selecionado) é distribuída na proporção de cinqüenta por cento para os respectivos autores, dez por cento para os gravadores das capas e o restante destinada ao arquivo da Fundação e à política de divulgação nas escolas, etc.”. Acrescenta, ainda, aquele documento, que o projeto permanece em atividade desde sua implantação, com uma média de dez unidades editadas por ano, com o que se tem oitenta mil exemplares, no período. Por outro lado, as capas dos cordéis editados deram origem a um álbum de Xilogravuras, homenageando os gravadores. A denominação do Projeto Chico Traíra buscou resgatar a memória de Francisco Agripino de Alcaniz, seu nome de batismo, falecido no fim dos anos 80 (século XX), considerado um dos maiores, provavelmente o maior de quantos violeiros nasceram neste Estado. Seu improviso genial era reconhecido por toda a região e, mesmo, em outras partes do país. Entre seus inúmeros cordéis cabe destacar A minha vida de cantador (1978) – publicado pela Companhia Editora do Rio Grande do Norte-CERN –, pelo primoroso registro dos momentos mais representativos de sua trajetória artística, resumo admirável e ao mesmo tempo simples, ingênuo às vezes, no qual uma extrema sensibi-

Mostra de alguns “Cordéis” do Projeto Chico Traíra, publicados pela Fundação José Augusto. 154

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lidade perpassa cada estrofe. Como dá nome a um dos projetos da Fundação, seus dados biográficos encontram-se no APÊNDICE do presente trabalho, no item “Patronos e Madrinhas” (p. 257). Um último ponto a considerar, com relação a este item, diz respeito ao projeto Casa de Cultura Popular, iniciado justamente neste ano em que se comemora o quadragéssimo aniversário da Fundação. Foi concebido de forma a dotar os diversos municípios do Estado de um equipamento apto ao desenvolvimento de ações artístico-culturais vertidas, fundamentalmente, para a evolução social e política do indivíduo, restabelecendo a sua dignidade e consciência de cidadania. Os seus programas abrangem biblioteca informatizada, oficinas de artes plásticas e de artes cênicas, bandas de música (uma tradicional e uma de flauta doce), leituras dramáticas, salas de exposição, TV e vídeo, cursos, palestras e seminários, apresentações teatrais e lançamento de livros. A sua peculiaridade, em relação aos projetos anteriormente descritos, é a ocupação de um espaço físico definido, com possibilidade real de fixar-se e projetar-se por vasto período senão definitivamente, com a criação posterior, pouco a pouco, de equipamentos complementares, tais como cinema, museu, sala de dança e outros, segundo as características da cultura local, a depender da sensibilidade das futuras administrações municipais, de sua percepção de que o hábito da leitura, por exemplo, deriva do estímulo constante, com o tempo transformando-se em prazer e, pois, em opção pessoal. Da mesma forma as artes plásticas, a música, o teatro e outras práticas constituem alternativas pelas quais o indivíduo é levado a aprimorar a capacidade de reflexão sobre a realidade que o cerca e, assim, de tentar transformá-la. Já foram implantadas e inauguradas as Casas de Cultura Popular dos municípios de Nova Cruz, Caicó, Martins, Açu, e está em vias de ser inaugurada a de Santa Cruz.(21) No conjunto destes projetos, portanto, percebe-se que as formas de expressão cultural oriundas do seio do povo são as mais diversificadas e sua representatividade se revela justamente na capacidade do indivíduo em transpor, na palavra, na música, no gesto, na matéria bruta, trabalhando-os em conformações estéticas criativas, singulares, sua visão de mundo, sua compreensão da realidade. E é esta capacidade ou aptidão, que transcende os conceitos comuns de educação formal, que deve ser preservada e estimulada a todo custo, pois constitui elemento fundamental à identidade cultural do povo. É assim que a cultura popular é vista pela Fundação José Augusto. __________________

Conforme vimos acima, neste primeiro ano quatro municípios foram beneficiados pelo programa; pretende-se implantá-lo, contudo, em todas as cidades cujas respectivas prefeituras se disponham a formalizar parceria. (21)

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Nova Cruz, Caicó, Martins e Açu,


(b) Cidade da Criança; Escolas Cândido Portinari, Newton Navarro e Rossini Perez; Pinacoteca Estadual/Palácio da Cultura

Foto: Arquivos da FJA / Cidade da Criança

A Resolução n º. 007/93, de 7 de dezembro de 1993, do Presidente da Fundação José Augusto, cria a estrutura administrativa da Cidade da Criança – como Órgão Suplementar –, que passaria a funcionar efetivamente, sob a responsabilidade desta Instituição, a partir de janeiro de 1994. Em 1998 é tornada Subcoordenadoria do CPC e, no início do corrente ano de 2003, volta à condição anterior. Ocupando um espaço de setenta mil metros quadrados na zona central da cidade, a Cidade da Criança é um ambiente particularmente aprazível e acolhedor, quer pela exuberante vegetação que a preenche e circunda, quer por sua proximidade do litoral, de onde sopra permanente brisa (as elevadas temperaturas, típicas da região, em Natal acusando uma média anual de 26ºC são contrabalançadas, também, pela presença dos ventos alísios). Lagoa de Manoel Felipe – eis o dístico elementar – lavrado na mais intimista tradição da era colonial: Alto do Rodrigues, Carnaúba dos Dantas, Santana do Matos, Olho d’Água do Borges, Timbaúba dos Batistas, a de-

Fachada principal da “Cidade da Criança” (Av. Rodrigues Alves, Tirol). 156

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nominação assinalando a posse da terra independentemente da escritura cartorial. Em outras palavras, aqueles nomes indicam, grosso modo, os grandes sesmeiros ou latifundiários fundadores dos antigos povoados que se fariam vilas e cidades. A Lagoa de Manoel Felipe, em que pese bem menos pretensiosa, não foge à regra: também foi sítio que virou “cidade” nas várias réplicas disseminadas. Ali estão fisicamente representados os Três Poderes do Estado – os Palácios Potengi e da Justiça e a Assembléia Legislativa –, uma biblioteca, uma escola de artes, concha acústica, capela e minizoológico, entre outros equipamentos. Antes, porém, várias experiências resultaram em sucessivos fracassos. Até meados do século XX fazia-se piqueniques naquela área. Posteriormente foi utilizada para apresentações artísticas, exploração comercial de bares e lanchonetes e, até, de boate, intercalando tais usos com períodos mais ou menos longos em que permaneceu simplesmente fechada, até que, enfim, tendo sido administrada pela Empresa de Propaganda e Turismo do Rio Grande do Norte-EMPROTURN, hoje extinta, passou à órbita administrativa da Fundação, conforme vimos. Mas, quem terá sido Manoel Felipe?... Em 1959 Câmara Cascudo escreveu uma Acta Diurna sobre a Lagoa de Manoel Felipe, depois editada pelo Instituto Histórico e Geográfico do RN (O Livro das Velhas Figuras, v. 2, p. 116, 1976). Pertencera – “ainda sem nome” – a Francisco Alves Bastos, em seguida a seu filho, Manoel Alves Bastos (em julho de 1743), com “confirmação plena” do Senado da Câmara de Natal.(22) Esta, diz o historiador, é a mais antiga menção da lagoa. Quanto a Manoel Felipe, parece não se ter encontrado vestígios, qualquer referência à sua pessoa: “Não deparei Manoel Felipe em documento algum, consultando os vários arquivos da Cidade. (...) Creio que viveu já no século passado (dezenove) porque não me foi possível descobrir-lhe rasto na era dos setecentos” (op. cit., p. 117). Bem, se o nome desse personagem perdeu-se nos antigos arquivos, enquanto denominação do logradouro permanece vivo na tradição oral da comunidade, pois quando se fala “Lagoa de Manoel Felipe” todo natalense sabe a que área urbana se refere, tanto como se se mencionasse o Parque das Dunas, a Via Costeira, as principais avenidas da cidade ou as praias que a margeiam. Espécie de “oásis” na metrópole emergente, o bucólico cenário é, certamente, um dos mais encantadores de Natal. Quanto às ações desenvolvidas são de duas naturezas que, pelas características da clientela a que se destinam, naturalmente se integram e confundem: _____________________________ (22)

O Senado da Câmara, na Província, correspondia à atual Câmara dos Vereadores

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culturais e recreativas. Ali os jovens podem cantar, dançar, representar, recitar poemas, contar histórias, pintar e/ou entreter-se com brinquedos variados e em cantigas de roda que remetem os adultos à memória das mais ingênuas e puras tradições das cirandas infantis. Há oficinas de artes plásticas, programa de educação ambiental e de literatura infantil. Todas as atividades são acompanhadas de pessoal qualificado (pedagogos, monitores, etc.). A Escolinha de Arte Newton Navarro, cuja criação antecede à da própria Fundação José Augusto (maio/1962), e a Biblioteca Infanto-Juvenil Myriam Coeli, com efeito, são dois dos mais importantes instrumentos da Cidade da Criança, constituem como que o eixo sobre o qual praticamente tudo o mais gira. A primeira surgiu de uma proposta do próprio artista plástico e poeta Newton Navarro (1928-1991), sendo também sugestão sua o nome inicial de Cândido Portinari (1903-1962) para o estabelecimento do qual seria o primeiro diretor. Após o seu falecimento a Fundação, com muita justiça, houve por bem homenageá-lo com a atual denominação. Sua função tem sido a de proporcionar a iniciação artística para crianças e adolescentes, estimulando o desenvolvimento de aptidões e instrumentalizando o alunado em suas respectivas áreas de interesse, simultaneamente despertandoo para a importância da arte na formação do indivíduo. Com circunstanciais alterações no curso do tempo, sobretudo na incorporação de novas tecnologias, o circuito de suas intervenções percorre – compreendidos num programa mais amplo de Iniciação às Artes Plásticas – conteúdos como desenho à mão livre e a bico-de-pena, pintura a óleo, pigmentação natural, reciclagem de materiais e outros do gênero, além de preleções que visam sensibilizar e motivar os jovens para a exploração e desenvolvimento de suas tendências subjetivas, ou seja, o seu imaginário e criatividade, para o que inúmeros projetos foram postos em execução, dentre os quais Brincando de Pintar, Iniciando com Guache, Fazendo Arte, etc., quase sempre com denominações ajustadas ao universo infantil. A propósito, um projeto também destinado a este tipo de clientela, embora realizado fora do ambiente da Cidade da Criança, foi o Brincarte, experiência ocorrida entre abril e agosto de 2002 no Paço da Pátria – Favela do Areado –, área de mangue às margens do Rio Potengi e na altura da Cidade Alta. As Oficinas utilizaram, como matéria básica, a sucata (papel-jornal, madeira, latas, bolas de gude, etc.), e os participantes foram encaminhados para o projeto Um Presente de Natal daquele ano. Outro curso ministrado naquele espaço cultural é o de Belas-Artes, também com uma boa freqüência – cinqüenta por ano, em média –, cobrindo outras faixas etárias. 158

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Do Relatório da Fundação José Augusto (1995-2002), outras vezes citado, destacamos o seguinte trecho: “A capacitação de professores e agentes multiplicadores foi realizada através de Oficinas de Reciclagem de Papel, atendendo a cento e oitenta e nove alunos representando sessenta e três municípios do Estado; foram capacitados, ainda, duzentos e dois professores e agentes multiplicadores nas Oficinas de Literatura Infantil, Educação Infantil (0 a 6 anos), Minirradialistas, Recreação Infantil, Musicalização e Teatro de Bonecos”. Nos últimos anos a Escolinha passou a ofertar, também, curso na área de teatro. Tomando o período 1995-2002, seus diversos cursos atenderam uma média anual de duzentos alunos, noventa por cento dos quais estudantes da rede pública de ensino, isentos de pagamento (dos demais é cobrada uma taxa simbólica). Em julho do corrente ano (2003) a Escolinha promoveu uma exposição de desenhos e pinturas em homenagem ao centenário de Cândido Portinari, apresentando retratos, auto-retratos, desenhos do corpo humano e estudos de várias técnicas, como pintura à tinta guache, aquarela e óleo. Pela natureza do seu trabalho a Escolinha só encontra paralelo, no âmbito da Fundação José Augusto, na antiga Sala Infantil da Biblioteca Pública Câmara Cascudo, que funcionou até 1988, quando foi transformada na Biblioteca Infanto-Juvenil Myriam Coeli, hoje também alocada na Cidade da Criança (conforme referido acima), ambas sintonizadas com um trabalho de base. Esta recebe orientação técnica diretamente da Biblioteca Pública Câmara Cascudo. Seu acervo atual ascende a oito mil e quinhentos títulos e o número de consultas, no ano de 2002, ficou em torno de duas mil ocorrências. Além de organização de catálogos e de programas que visam à dinamização das atividades em datas comemorativas, foi criado o projeto Coleções Especiais para preservar – e destacar – os escritores clássicos de contos e fábulas infantis. Valendo-se de uma programação ágil – Hora do Conto, Teatro de Fantoches, etc. – e utilizando-se de didática específica para esse tipo de público, a Biblioteca vem desempenhando um trabalho de grande significação para a formação de leitores.

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Foto: Candinha Bezerra

Apresentação do Grupo Araruna, da Sociedade de Danças Antigas e Semidesaparecidas, liderado pelo mestre Cornélio Campina (Solar Bela Vista). 160

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Outros segmentos de difusão cultural Disséramos, na Introdução deste estudo, que um dos seus objetivos é o de “subsidiar nossos quadros administrativos e técnicos com um resumo dos elementos capazes de levar a uma avaliação do seu desempenho” (p. 18), considerando que a qualidade do planejamento vincula-se diretamente à extensão (e profundidade) do conhecimento da realidade a que se destina. Esta preocupação parece se tornar mais consistente ao se observar a diversidade de campos de ação e a amplitude de programas empreendidos pela Fundação José Augusto: o alargamento da perspectiva tende, naturalmente, a diminuir a percepção dos detalhes. Com efeito, vimos, até aqui – afora o paulatino desenrolar da história do Órgão e a descrição do aparato instrumental de que se utiliza – quando menos cinco desses campos: história (resgate da memória: vultos, documentos, fatos e monumentos artísticos); museologia, biblioteca, cultura popular e artes plásticas. Considere-se ainda que, sob a designação genérica de cultura popular, abrigam-se diversas formas de expressão: artesanato/xilogravura, cordel, culinária, dança e música folclóricas, teatro popular (joão-redondo) e folguedos (pastoril, lapinha, marujada, nau-catarineta, boi-de-reis, etc.). Vimos, já, tudo isso e restam, ainda, teatro, música e literatura. E convém lembrar que, sem operar a área de cinema, em certa época o CDC, em parceria com o Cine-Clube Tirol e o Núcleo de Arte e Cultura-NAC da UFRN, contando com o apoio da EMBRAFILME, executou projeto nessa área. Some-se a tal variedade de manifestações as inúmeras formas de abordagem e ter-se-á a dimensão do trabalho empreendido, ao longo destas quatro décadas. Vale a pena uma reflexão a respeito. 40 Anos

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(a) Área teatral Teatros Alberto Maranhão e Lauro Monte Filho; Centro Cultural Dep. Adjuto Dias. Em nossa tarefa de pesquisar, às vezes somos surpreendidos com verdadeiros achados. Uma entrevista, uma referência aparentemente simples, uma nota de rodapé e... eis a ponta de um novelo ao fim do qual não raro sucede descortinarmos algo de cuja existência sequer suspeitávamos. Compulsando arquivos, analisando mapas, verificando informações de múltipla natureza, de repente dá-se a descoberta. Um desses momentos ocorreu-nos observando uma foto do Teatro. Desgastada, sofrível. Desgastada, pelo tempo; sofrível pela técnica então empregada, longe dos padrões sofisticados de hoje. Nada incomum, a princípio. Trata-se de uma foto simples, inclusive destituída de beleza estética, datada de 1899. A fachada principal, parcialmente erguida, esconde-se meio-encoberta por andaimes, enquanto o chão, sem cuidados, é um assimétrico rendilhado de metralhas. Há belas fotos do teatro, claro, mas aquela é particularmente significativa pois emerge de outro século, de uma época bem diversa da atual, como se fora um gesto de doação da Cidade Antiga aos pósteros, em flagrante contraste com a amarga crônica dos nossos dias. O roteiro do Tempo parece nos transportar àquele período, onde tudo parecia achar-se em começo: a abolição da escravatura, a instalação da República, a literatura norte-rio-grandense e, enfim, o próprio teatro. Aquela construção retratada nos traz à memória um Governo com profunda percepção e sensibilidade cultural – Alberto Maranhão –, em que pese tratar-se, naquele ano, da Administração Ferreira Chaves, este o seu idealizador primeiro. As obras, iniciadas em 1898, foram interrompidas no ano seguinte. Com a posse do Governador Alberto Maranhão, em 1900, um apaixonado das artes, seriam reiniciadas de imediato e, sem mais interrupção, concluídas em 1904, inaugurando a Casa em 24 de março daquele ano com o nome de “Carlos Gomes”, respeitando a escolha do seu antecessor. Reconduzido ao poder, seis anos mais tarde (1910) já o reformaria, face ao desgaste sofrido naquele curto período. A mudança do nome do Teatro deu-se em 1957, após uma campanha que durara cerca de seis anos. Houve uma longa e acirrada polêmica, na qual situavam-se em pólos opostos Câmara Cascudo e Eloy de Souza, duas das mais respeitáveis inteligências da terra. Sobre o assunto, assim se manifestou Cascudo, no jornal “A República” 162

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Foto: Arquivos da FJA / CEPEJUL

do dia 17 de agosto de 1957: Já devíamos ter o Teatro Alberto Maranhão. É uma homenagem ao Mecenas da Arte norte-rio-grandense, o animador e o intelectual. Nós é que devemos valorizá-lo, lembrando-o insistentemente ao Brasil, que conhece e glorifica o nome eterno de Carlos Gomes, a quem Natal doou uma praça. Não deve haver prescrição para as dívidas de gratidão coletiva. Se Alberto Maranhão não merece o seu nome no Teatro da cidade que remodelou, embelezando-a para a vida presente, não haverá mais estímulo para a imitação administrativa. Meira Pires, que lançara a proposta, viu-se forçado a defendê-la por diversas vezes. Disse, a certa altura: Coisa alguma deixei sem a devida resposta, inclusive o pronunciamento do Mestre Eloy de Souza que opinou contrariamente à mudança e afirmou que havia sido Alberto Maranhão quem escolhera o nome de Carlos Gomes para o nosso Teatro. Contestamos o notável jornalista divulgando uma nota inserta na edição de “A República” do dia 30 de março de 1898, Ano X, nº. 68 (...) em sua primeira página. A nota menciona que Ferreira Chaves já escolhera o nome de Carlos Gomes antes de iniciar-se a construção do prédio (PIRES, pp. 36-37). Enfim, a 23 de agosto de 1957 o então Prefeito de Natal – Djalma Maranhão – assinou a Lei nº. 744, cujo Art. 1º. tem o seguinte teor: “O atual Teatro Carlos Gomes, de propriedade do Município, passa a denominar-se Alberto Maranhão”. Entre os anos de 1959 e 1960 houve nova restauração do prédio.

r i u t i t s Sub Aspecto da construção do teatro (1899), no Governo Ferreira Chaves. 40 Anos

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Revitalizou-se o palco, especialmente quanto à iluminação e ao som. Também foram melhorados os camarins e as condições gerais de acomodação da platéia. Afora isso, serviços de conservação, repintura geral e modernização dos equipamentos. Mas, àquela época, não se atentava – pelo menos não com a devida seriedade – para serviços de manutenção e preservação: no dia 30 de junho de 1988 desabou o terraço que se localiza no segundo andar do pátio interno, um trecho que dá acesso ao Salão Nobre, devido às inúmeras goteiras e vazamentos provenientes de fortes chuvas que se abatiam sobre a cidade. Mesmo precariamente ainda continuaram as atividades até que, por absoluta falta de condições, a 19 de julho o prédio foi interditado para uma reforma geral. Mesmo a uma visão superficial ressaltavam claramente os danos que se alastravam na velha estrutura. Que danos eram esses?... Eis um resumo: as paredes apresentavam fissuras em várias partes, vidros quebrados nos caixilhos carcomidos, portas emperradas em apelantes gemidos, tabuado do piso desgastado e opaco, instalações elétricas irremissivelmente condenadas, encanamento entupido, cobertura ameaçando ruir, poltronas endurecidas nas articulações e do jardim interno só restava a lembrança. Coube à Fundação José Augusto proceder a nova intervenção no maltratado prédio. E ela, Fundação, não estaria, tão-somente, recuperando o mais nobre e tradicional espaço cultural da cidade, ressonância da longínqua belle époque – traço de união com a ancestralidade –; resgataria do ostracismo e da decadência, talvez do inelutável fim, o mais expressivo palco para os artistas das novas e futuras gerações. E, mais: além de recuperar o monumento, à Fundação caberia a responsabilidade de administrá-lo, doravante. Vejamos trechos do relatório sobre as obras de restauração, elaborado pelo setor correspondente, vinculado ao Centro de Documentação Cultural: “Foram executadas obras de conservação no Teatro em 1946, então sendo recuperadas as instalações elétricas e hidro-sanitárias do prédio. Em 1959 (...) o Teatro foi restaurado, obedecendo as características da época de sua (primeira) restauração, em 1910. O estilo do prédio foi mantido e o velho Teatro transformou-se num ambiente mais confortável. “Desde essa grande restauração e até meados de 1988, o Teatro foi mantido com pequenas obras de conservação. “Em junho de 1988 a Fundação José Augusto efetuou uma vistoria, quando foram constatadas as precárias condições da Casa”. Prossegue o relatório dando conta de que os trabalhos foram iniciados a partir das áreas mais críticas, descrevendo-as em seguida e elencando os serviços então realizados, a saber: 164

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(a) “O salão de danças, localizado na parte posterior do prédio, apresentava a estrutura da cobertura comprometida e ameaçando ruir. Nele foram executadas obras de recuperação total da referida cobertura, com substituição do madeiramento e telhas. O forro também foi substituído e as esquadrias recuperadas, (assim como) refeitas as instalações elétricas e hidráulicas. Recuperado e lixado o assoalho. Pintura geral. (b) “O Salão Nobre, localizado no pavimento superior da parte anterior do prédio, apresentava a estrutura da cobertura em estado precário. Foi substituído todo o madeiramento e telhas, refeito o forro em tabuado de cedro e recuperado o assoalho e as instalações elétricas e telefônicas. Revisão nas esquadrias, instalação de novas cortinas, recuperação do mobiliário e substituição dos lustres. Pintura geral. (c) “As alas que circundam o pátio interno tiveram a cobertura toda substituída. Foram refeitas as instalações elétricas e hidro-sanitárias. Forro em gesso. Revestidos em mármore os degraus das escadas de acesso ao Salão Nobre. Pintura geral. (d) “Os camarins, localizados no pavimento da parte posterior do prédio, não apresentavam as mínimas condições de conforto e higiene. Foi necessário reestruturar toda a área. Paredes foram demolidas, outras construídas. Havia seis camarins pequenos e um grande; com a conclusão das obras, ficaram cinco camarins grandes, com banheiros privativos e ar-condicionado. O piso foi refeito em cerâmica, o revestimento das paredes em azulejos e o forro em gesso. As instalações elétricas e hidro-sanitárias foram substituídas. Recuperadas as esquadrias existentes e confeccionadas outras. Os camarins ganharam uma feição moderna com bancadas em mármore, espelhos e luminárias novas. Pintura geral. (e) “Palco e platéia – o ‘coração’ do teatro – tiveram a estrutura metálica da cobertura toda recuperada, com substituição das telhas de fibrocimento. As instalações elétricas foram refeitas e recuperada a central de ar-condicionado. Os urdimentos do palco foram mecanizados através de projeto executado por firma de Porto Alegre especializada nessa área. Quanto à sonorização e iluminação cênica, tudo foi substituído: noventa e seis refletores foram instalados em cinco varas de luz, das quais setenta e seis com mil watts, inclusive dois refletores elipsoidais dos mais avançados e uma mesa de luz com doze canais. Foram instaladas duas torres com grave e médio-grave, médio e agudo, mesa de oito canais, duas fontes de potência, equalizador stéreo e novos microfones. Os tecidos cênicos foram confeccionados e instalados por firma de São Paulo (também) especializada. Todo o mobiliário foi recuperado, as cadeiras 40 Anos

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da platéia revestidas em napa branco-gelo, as cadeiras das frisas e camarotes tiveram o estofamento recuperado e o revestimento substituído por camurça fosca especial vermelho-vinho, mesmo tecido utilizado nas cortinas do palco. Foi aplicado carpete vermelho nos camarotes, frente do palco e entrada da platéia, e passadeiras vermelhas nas áreas de circulação. Limpeza e pintura geral”. E complementa: “O pátio interno foi todo reestruturado, através de projeto elaborado pelo paisagista Eugênio Mariano, e restaurada a estátua fundida em ferro pela Fundição Vald’Osne, de Paris. As dependências reservadas à administração do Teatro foram pintadas, houve recuperação do mobiliário e instalação de carpetes e cortinas novas. “As fachadas do prédio, respeitando a feição de sua fabricação original, foram pintadas, destacando-se os frisos, cornijas e adornos da época. A preocupação fundamental nesta obra de restauração foi a de transformar o Teatro numa moderna e tecnicamente equipada Casa de Espetáculos mas, evidentemente, sem ferir os traços e características arquitetônicas desta valiosa obra do início do século XX”. O texto está assinado pelo Engenheiro Civil e, então, Coordenador do Patrimônio Histórico e Artístico, Orígenes Monte Neto. Mais recentemente (2002), novas intervenções foram requeridas, desta feita para adequar suas instalações e alguns dos seus equipamentos às exigências naturalmente impostas pelas novas tecnologias, as quais tornavam obsoletos vários implementos até então tidos como plenamente aceitáveis e/ou satisfatórios. Com efeito, conforme descreve o Projeto de Reestruturação/Modernização do Teatro Alberto Maranhão, constatou-se a necessidade de substituição do piso do palco e do sistema de som, bem como a de aquisição de novas cadeiras para a galeria, medidas que foram tomadas rigorosamente de acordo com as especificações técnicas estabelecidas naquele documento e, ainda, em inteira concordância com o oportuno e lúcido parecer emitido pelo Prof. Franco Maria Jasiello, para quem nunca é demais lembrar que (...) o teatro, em sua expressão arquitetônico-decorativa e até na gestual-oral, é a mais tradicional das atividades que representam o mais belo fruto do talento humano: a arte.(23) A 4 de abril de 1989 – mesmo durante o andamento das obras cujo relatório transcrevemos linhas atrás – o Teatro era incorporado à estrutura administrativa da Fundação José Augusto, na condição de órgão suplementar,

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Prof. de História da Arte da Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN, Crítico de Arte da Associação Brasileira de Críticos de Arte-ABCC e da Association Internationale des Critiques D’Art-AICA, escritor e ex-Presidente da Fundação José Augusto. (23)

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através do Decreto nº. 10.338 do Governo Estadual. Essa, enfim, sua destinação natural, pois os seus objetivos se confundem no mesmo propósito. Aliás, verificando o acervo documental sobre o Teatro referente ao ano de 1963, uma data especialmente significativa nos chama a atenção: 8 de abril. Enquanto ali era encenada a peça “A Mulher Sem Pecado”, de Nelson Rodrigues, em outra parte da cidade, não longe da antiga “Campina da Ribeira” – como era chamado o sítio onde fora construído –, estava surgindo outra instituição, nova frente de luta em favor das tradições culturais norte-riograndenses. Uma simples nota daquela data distante, dispersa meio à imensa massa de registros sobre espetáculos cênicos, concertos, recitais, madrigais e um sem-número de variedades, amarelecida pelo tempo e esmagada por centenas de referências a bailados, ilusionismos e a feéricas fantasias dos grandes musicais, dá conta da criatividade daquele autor exibindo-se em nossa ribalta no momento em que, na Rua Jundiaí, 641, no “coração” do Tirol, era criada a Fundação José Augusto, órgão que, no futuro – por estes anos que correm –, seria tão importante para a afirmação do seu desempenho. Assim, prestes a completar cem anos de existência, afora circunstanciais espetáculos cênicos (por que não há uma programação sistemática para espetáculos cênicos?...), os concertos da Orquestra Sinfônica e as atrações do Projeto Seis e Meia – estes, sim; sistemáticos –, temos a cada ano o Encontro de Corais e, neste 2003, a I Semana do Teatro Nordestino, quando será oficialmente lançado o Concurso Nacional de Dramaturgia José Wanderley, evento marcante a ser consolidado com a premiação a 24 de março de 2004, data do seu Centenário. Eis um pouco da história do Teatro Alberto Maranhão. Outro teatro administrado pela Fundação é o Lauro Monte Filho, de Mossoró, que surge praticamente um século após o anteriormente descrito: data de 26 de dezembro de 2002. O prédio onde está instalado fora ocupado, tempos atrás, por outra importante casa de cultura, o Cine-teatro Cid, de tradição na cidade. Sua desapropriação pelo Governo Estadual permitiu à Fundação proceder a uma ampla reforma, tornando-o um espaço cultural definitivamente integrado à comunidade. Recorremos mais uma vez ao Relatório da Fundação José Augusto - Gestão Administrativa 1995-2002, que assinala: “(...) o palco do Teatro Lauro Monte Filho é um dos mais bem equipados do Nordeste e a sua sala de espetáculos é toda climatizada, com capacidade para um público de seiscentas pessoas. O prédio contém, ainda, salas para ensaios, galeria para exposições de arte, bar e café”. Sua denominação homenageia ilustre escritor e ator mossoroense, cujos dados biográficos encontram-se em apêndice. 40 Anos

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O Centro Cultural Dep. Adjuto Dias, de Caicó, tem uma proposta mais eclética, prestando-se à realização de palestras, encenações teatrais e outras apresentações artísticas. Este foi inaugurado em meados de 2003, pelo que ambas as Casas, de tão recentes, têm como fato histórico a caracterizá-las apenas a coincidência de pertencerem a este período que demarca o quadragésimo aniversário da Fundação José Augusto. A exemplo de Lauro Monte Filho, informações biográficas de Adjuto Dias, benemérito dos esportes e da cultura em sua cidade, também se encontram no anexo acima referido.

(b) Área musical Instituto de Música Waldemar de Almeida-IMWA, Corais Canto do Povo e Harmus, Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte, Projeto “Seis e Meia” e Programa de Incentivo às Bandas de Música do Estado.

Foto: Arquivos da FJA / TAM

Temos visto, ao longo destas páginas, que a Fundação José Augusto, especialmente a partir de 1975 – quando assumiu, de maneira efetiva e exclusiva, o papel de órgão cultural –, não pára de crescer. E sempre numa linha laboratorial: criando e recriando, acrescentando ou suprimindo, redefinindo e modelando os

Teatro Alberto Maranhão, após a última reforma (Praça Augusto Severo, Ribeira). 168

Fundação José Augusto


diversos compartimentos do sistema, pouco a pouco se foi desenhando o seu perfil, eclético por excelência. O Instituto de Pesquisas passou à condição de Centro; o antigo Centro de Desenvolvimento Cultural desdobrou-se nos Centros de Documentação e de Promoções; o extinto PROFIED possibilitou a operacionalização do Centro de Recursos Humanos e a Consultoria Técnica dos anos 70 evoluiu para a Coordenadoria de Atividades do Patrimônio Histórico e Artístico, nesse meio-tempo, ainda, tendo sido criados vários outros setores e mecanismos (estratégias) de intervenção na comunidade. Em fins de 1985, por exemplo, começou-se a pensar numa forma adequada à inclusão, em suas ações, da área musical. Até então, o ensino da música, no Estado, restringia-se praticamente à Universidade Federal e, assim, tinha um cunho algo elitista. O que se pretendia, enfim, era facilitar o seu acesso à comunidade. Sem excluir a música erudita – o que seria uma impropriedade! –, buscava-se desenvolver uma linha de trabalho direcionada, sobretudo, para a música popular regional e brasileira, inclusive com vistas ao suprimento do mercado de trabalho local (se bem que, àquela época, bastante incipiente). Em síntese: além de fomentar o estudo da arte musical como uma opção de desenvolvimento do indivíduo, havia a preocupação de proporcionar alternativas de mão-de-obra qualificada para a demanda interna. Foi a partir dessas idéias que surgiu o Instituto de Música Waldemar de Almeida, para o que também terá contribuído uma instigante estatística: “Cerca de mil matrículas deixaram de ser efetuadas, na Escola de Música da UFRN, entre 1983 e 1985, por absoluta falta de vagas” (esta informação consta no projeto para a sua implantação). Ainda naquele documento fala-se da criação de um conjunto de câmara, então a ser constituído pelo corpo docente do Instituto, e esse núcleo básico deveria desenvolver as seguintes áreas: (a) ensino de instrumentos de sopro (flauta doce, flauta transversa, clarinete, saxofone, pistom, trombone, trompa, trompete, fagote e oboé) e, num segundo momento, de cordas (piano, viola, violão, violino e violoncelo); (b) ensino teórico, incluindo uma visão geral da história da música, formação cultural, morfologia, etc. Implantado em janeiro de 1986, ganharia sede própria em setembro do ano seguinte, quando se desvinculou da Fundação José Augusto e passou a constituir uma instituição autônoma. Pela Lei nº. 5.852, de 30 de dezembro de 1988, do Governo Estadual, retornaria esta Entidade na condição de órgão suplementar, muito embora permanecendo em prédio pró40 Anos

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prio (dadas as suas especificidades) situado na Rua Mossoró, no mesmo bairro em que está instalada a Fundação, de onde em pouco tempo seria mais uma vez removido, desta feita para a Rua Manoel Dantas, em Petrópolis. O seu funcionamento exigia determinadas características ambientais que aqueles sucessivos edifícios pelos quais passara não atendiam, pelo menos não de forma satisfatória. Por fim, em 1994, após a execução de serviços de adaptação das salas ao bom desempenho de suas atividades, voltaria ao próprio da Fundação – alto da Gráfica Manimbu –, onde permanece até o momento. Pelas suas finalidades destina-se a incentivar e desenvolver iniciativas na área da música no âmbito do Estado, para o que, além de apoiar artistas, grupos e entidades, coordena um complexo de atividades curriculares e extracurriculares, mediante a realização de cursos livres de música erudita e popular, além de manter grupos camerísticos para a promoção e difusão das músicas potiguar, regional e brasileira. Atualmente oferece vinte e sete cursos profissionalizantes, além de curso de extensão. Em fins de 2002 – e aqui mais uma vez recorremos ao Relatório da Gestão 1995-2002 – contava com aproximadamente setecentos alunos matriculados regularmente e uma chamada “lista de espera” semestral de trezentos candidatos. A procura desses cursos, especialmente o de Iniciação Musical, tem sido crescente, ano-a-ano, resultando daí sua operosidade. Nestes quinze anos de existência o Instituto se impõe com respeitável presença, não só na linha programática da Fundação, mas inclusive, no cenário artístico da cidade e do Estado. Bem, além de ministrar os cursos, o Instituto realiza recitais, audições de alunos, seminários e debates sobre música, mantém o Regional Sonoroso (aquele grupo criado em 1988), o Grupo Suzuki e o Coral Harmus, estes últimos criados em 1995 e 1997, respectivamente. Mas, antes de falar do Harmus, importa considerar a excepcional performance do Coral Canto do Povo (1988-1999), também mantido pelo IMWA. Após formar e dirigir o Madrigal da Escola de Música, da UFRN, e o Coral Lourdes Guilherme, da ETFRN, hoje CEFET, o Padre Pedro Ferreira da Costa idealizou um grupo vocal de caráter mais permanente, a fim de que a continuidade do trabalho permitisse o amadurecimento necessário ao seu aprimoramento. Disse ele: no princípio era o ritmo e, por isso, todos os seres entram para a existência no embalo de um movimento rítmico: cosmológico para todos, biológico-musical para a espécie humana. Consciente dos seus pontos de partida e de chegada, o Homem ordenou os movimentos, uniformizou-os, deu-lhes forma sistemática, e o ritmo tornou-se musical, e a música, por sua vez, um fenômeno natural. 170

Fundação José Augusto


Àquela louvável intenção somava-se a carência de estímulo a atividades na área da música: até então, o espaço destinado a desenvolver formalmente a sensibilidade musical dos talentos anônimos era demasiado estreito, distante. Ainda hoje, são poucos os conservatórios, as escolas e os projetos empenhados na formação musical. Nesta perspectiva, sem dúvida a criação de um coral nos moldes concebidos pelo maestro Pe. Pedro Ferreira possibilitaria à Fundação José Augusto dar uma parcela de contribuição para, se não resolver, minimizar o problema. Compulsando os termos do projeto que deu origem ao Coral Canto do (24) Povo, vemos que o seu objetivo fundamental contempla duplamente essa perspectiva, senão vejamo-lo em sua essência: (...) Abrir um espaço-resposta aos anseios de quem sente o impulso natural para a música, enquanto equaciona os movimentos que tangem suas emoções em fórmulas substancialmente estéticas. Com relação aos seus objetivos específicos, pretendia: (a) proporcionar uma saudável realização dos nossos valores artísticomusicais, face às formas de sua expressão vocal; (b) divulgar o empenho e a experiência do músico e alargar os espaços a médio e longo prazos do mercado de trabalho para quem se habilite à referida atividade, e (c) fazer o público apreciar a música através de uma elaboração séria, encarregada de revelar com autenticidade suas manifestações populares e de concerto. Criado pelo Governo do Estado do Rio Grande do Norte em abril de 1988, pertence à Fundação José Augusto e teve sua estréia no dia 14 de setembro do mesmo ano, realizando concerto no Centro de Convenções de Natal. O Coral Canto do Povo é constituído por quarenta e cinco cantores e um regente titular. Cada um dos seus naipes (sopranos, contraltos, tenores e baixos) dispõe do chefe que auxilia na preparação dos ensaios. Trabalha um acervo eclético, variando da Renascença aos nossos dias, do Sacro ao Folclórico e Popular, do Nacional ao Internacional. Realiza concertos oficiais, educativos, e a convite por ocasião de congressos, formaturas, celebrações religiosas e eventos culturais. Sua atividade inclui programações conjuntas com a Orquestra Sinfônica do RN, na capital e no interior. Dentre as realizações mais importantes em níveis regional, nacional e internacional, o Canto do Povo participou: (a) do II FENACOPE-89 quando foi selecionado para representar as _________________________

A escolha desse nome pretende expressar sua proposta, que é a de estudar o canto dos povos, das épocas, dos “sotaques” regionais (ou regionalismos), “... na tentativa de interpretar suas expressões com sensibilidade, graça e vida”, como explica o seu mentor. (24)

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Foto: Revista Jornal de Hoje

regiões Norte e Nordeste no I Brasil Cantat; (b) do XIV Festival Internacional de Porto Alegre-RS (1989), sendo classificado entre os melhores do Festival; (c) do Curso Internacional de Música no Espaço Cultural de João Pessoa-PB (julho de 1990), a convite do maestro Eleazar de Carvalho para executar a Nona Sinfonia de Beethoven e a Segunda Sinfonia de Mahler; (d) do I Brasil Cantat, em Novo Hamburgo-RS, quando foi inserido no catálogo da Federação Internacional de Coros, na qualidade de coral representativo do Brasil; (e) do III FENACOPE, saindo indicado para representar o Nordeste no II Brasil Cantat; (f) dos eventos comemorativos do XII Congresso Eucarístico Nacional, realizado em Natal, ocasião em que se apresentou para o Papa João Paulo II, pela primeira vez (outubro, 1991). Naquela oportunidade o Papa proferiu ao maestro do Coral uma frase que entraria para sua história: Canto do Povo, Canto de Deus!; (g) do II Brasil Cantat, em Belo Horizonte-1992, e (h) das festividades comemorativas do trigésimo aniversário de criação da Fundação José Augusto-1993.

Coral “Canto do Povo” se apresentando no palco do Teatro Alberto Maranhão. 172

Fundação José Augusto


Convidado pela Confederação Brasileira de Coros, representou o Brasil numa turnê (entre abril e maio de 1995) pela Europa, incluindo Alemanha, França e Itália. Na passagem por Roma, voltou a se apresentar para o Papa João Paulo II, “(...) durante uma audiência pública, na manhã de um domingo, diante de quarenta e cinco mil pessoas de setenta e cinco países” (Revista do Jornal de Hoje. Natal: Ano I, nº. 3, mar. 1999. p. 05). O próprio regente complementa: Cantamos quatro músicas sacras: Exultate Deo, de Scarlati; Nisi Dominus, de Monteverdi; Kirie, da Missa Criola, e o Salutaris, de Pedro Ferreira (op. cit., mesma página). Para um coral nordestino, genuinamente potiguar, permear aquelas paragens do Velho Mundo – berço da música erudita e do canto-coral –, soltando pelo ar daquelas plagas longínquas e frias o calor da sua voz harmônica, foi o ápice do grupo e um dos momentos expressivos dentre os que a Fundação José Augusto reafirma a que veio. A turnê previa a duração de vinte e nove dias (de 17 de abril a 16 de maio). O grupo, com quarenta e cinco integrantes, cumpriria a seguinte agenda de concertos: (a) França (19 a 21 de abril): Paris, Brunoi e Versailles; (b) Alemanha (23 de abril a 4 de maio): Hamburgo, Berlim, Limburgo, Frankfurt e Simmern, e (c) Itália (7 a 12 de maio): Lecco e Roma. Quanto ao Coral Harmus foi fundado em 1997 e é constituído por alunos do Instituto. A partir de 1999 passou a ser conduzido pela regente Marilene Campos (Leninha Barros), Profª. de Técnica Vocal e Prática de Canto Coral do IMWA. O grupo tem realizado diversos recitais em Natal e em várias cidades interioranas, assim como se apresentado nos Encontros de Corais da Cidade do Natal, evento ocorrido anualmente no Teatro Alberto Maranhão. Em 1999 e em 2001 o Coral Harmus participou da gravação da trilha sonora do espetáculo Um Presente de Natal, projeto executado pelo CPC e ao qual se integram diversos setores da Fundação; em 2000 gravou o CD “O Nascimento de Cristo” e, ainda em 2001, colaborou para a trilha sonora do auto “Oratório de Santa Luzia”, encenado em Mossoró durante as festividades em homenagem à Padroeira daquele município. Com um repertório bastante eclético – do período renascentista, passando pelo barroco, à música regional e contemporânea –, o grupo incorpora às suas atividades práticas de apreciação musical e o desenvolvimento da técnica vocal através de aulas e ensaios semanais. Convém assinalar que alguns dos seus integrantes foram transferidos, a 40 Anos

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Foto: Revista Jornal de Hoje

convite, para o Madrigal da UFRN, a seu turno reconhecidamente o mais importante coral norte-rio-grandense da atualidade. Ainda dentro da área musical, a Fundação mantém a Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte, originalmente criada pela Secretaria de Estado da Educação, da Cultura e dos Desportos-SECD em março de 1976. Precisamente doze anos mais tarde (março, 1988) passaria a integrar a estrutura básica desta Instituição, no ano seguinte sendo enquadrada como órgão suplementar pelo Decreto nº. 10.338, de 4 de abril de 1989. Na sua primeira fase era regente o maestro Mário Câncio Justo dos Santos, e contava com vinte e três músicos; reestruturada pela Fundação, passou a ser regida pelo maestro Oswaldo d’Amore. Atualmente é composta por sessenta e cinco profissionais contratados a partir de concursos realizados em 1995, 1997, 1999 e 2000. Um curso de reciclagem foi executado em fevereiro de 2002, visando ao aprimoramento técnico dos instrumentistas. Ensaia exaustivamente para atender aos diversos tipos de concertos compreendidos em sua programação. Seu vasto repertório permite reunir em suas apresentações a música erudita e a música popular, como resultado de estudos e produção ininterrupta de arranjos, além da permanente busca de recitais conjuntos com nomes expressivos da MPB, tais como Henrique Cazes, mestre do cavaquinho, e Sivuca,

Intervalo de uma apresentação do Coral “Canto do Povo” na Praça de S. Pedro, no Vaticano, para o Papa João Paulo II. 174

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da sanfona. Por outro lado, apresentou-se com Bibi Ferreira, talvez a mais importante intérprete brasileira da extraordinária cantora francesa Edith Piaf. O resgate de nomes que fizeram a história da música no Estado também se processa em obras orquestradas pelo Maestro como, por exemplo, a célebre valsa “Royal Cinema”, do norte-rio-grandense Tonheca Dantas (1870-1940). Nos últimos oito anos (não-computado 2003), a Orquestra Sinfônica realizou cento e cinqüenta e sete apresentações, entre concertos oficiais, didáticos, populares e especiais, com uma média de público, para os dois primeiros, de seiscentos espectadores, enquanto que os especiais e populares, em espaços mais amplos, também na média, atingiram cerca de duas mil pessoas. Com efeito, desenvolvendo um trabalho voltado para a formação de novas platéias, a estratégia adotada prevê a realização de: (a) Concertos Oficiais e Didáticos, no Teatro Alberto Maranhão; (b) Concertos Populares, no Bosque dos Namorados, na Cidade da Criança ou em outras áreas da capital e do interior do Estado, e (c) Concertos Especiais, programados para situações específicas, tendo sido realizados, entre outros locais, no Centro Administrativo, no Palácio Potengi e em diversos colégios.

Foto: Joana Lima

Uma informação complementar, a propósito: nos Concertos Didáticos

Concerto da Orquestra Sinfônica, no Teatro Alberto Maranhão, durante o IV Encontro de Cultura Popular (1998). 40 Anos

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– direcionados para estudantes –, são transmitidos ensinamentos sobre música e sobre os instrumentos que compõem uma orquestra, complementados com a distribuição de uma cartilha ilustrada. A Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte tem um CD gravado pela Fundação José Augusto (1997), com a participação especial de músicos e artistas como Canhoto da Paraíba, Henrique Cazes, Sivuca e Morais Moreira, entre outros. No texto de apresentação, Tárik de Souza a ela assim se refere: Usina de músicos, laboratório de sons - a mera existência de uma Orquestra Sinfônica já atesta a profundidade do lastro cultural de uma comunidade. A estréia em disco da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte, em profícua atividade há vinte anos (...) une a sintaxe erudita ao fundamento da música popular, numa comunhão com platéias mais amplas. Complementam este item os Projetos Seis e Meia e Incentivo às Bandas de Música do Rio Grande do Norte. O primeiro, surgido em 1995, objetiva a divulgação de artistas da terra – músicos, compositores e cantores – , utilizando-se da estratégia de apresentá-los ao público ao lado de nomes consagrados de outros centros. Esta atividade, desenvolvida no Teatro Alberto Maranhão, de ordinário inicia-se na última semana de março e segue até a primeira semana de dezembro, sempre às terças-feiras. Entre 1996 e 2000 estendeu-se a Mossoró, sendo suspensa naquela cidade por falta de patrocínio. Quanto ao Projeto Bandas (implantado em 1997), visa valorizar as bandas comunitárias do Estado, equipando as já existentes, incentivando a formação de novas bandas e aprimorando músicos e maestros que as compõem, através da realização de seminários e cursos. O crescimento quantitativo, no período, se deu pelo aumento de cem por cento das Bandas de Música, no Estado. De cinqüenta passou a cem, graças à doação de instrumentos musicais pelo Ministério da Cultura, através da Fundação José Augusto, e pelo interesse despertado pelo movimento nos poderes municipais e na própria comunidade. O crescimento qualitativo foi incentivado pela realização de dez “Seminários de Música”, realizados em nove cidades das diversas regiões do Estado: Natal, Carnaúba dos Dantas, Acari, Currais Novos, Baraúna, Macau, Cruzeta (dois), Mossoró e Açu. Foram emitidos mais de quatro mil “Certificados de Participação”, contando como instrutores respeitados músicos do Estado e do Nordeste. Foram realizados os seguintes cursos: Regência, Harmonia, Arranjo e Orquestração, Teoria e Percepção Musical, Musicologia, Edição de Partituras em computador, Prática de Chorinho, Prática de Coral, Teclado, Flauta (doce e transversa), Saxofone, Clarinete, Trompete, Trombone, Trompa, Tuba e Percussão. 176

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(c) Área Literária Tomando exclusivamente a área cultural, ou seja, excetuando a de ensino, a literatura é a mais antiga das manifestações exploradas pelos planos e programas da Fundação José Augusto. E a mais constante: entre 1965, quando se inicia o processo de editoração, e 2003, apenas em um ano não houve publicação de pelo menos uma obra, conforme veremos adiante. Por outro lado, talvez seja a que se apresenta com mais irregularidade no plano geral de suas realizações. Claro, é difícil manter linearidade de atuação quando se toma tão vasto período, simultaneamente lidando com múltiplas linhas de ação e, inversamente, com recursos racionados: invista-se maciçamente em qualquer delas (museu, biblioteca, artes plásticas, etc.) e provavelmente dar-se-á estagnação ou, pelo menos, sensível diminuição no ritmo de atividade das demais. Há altos e baixos, portanto: como em quase todas as demais áreas, ocorreram oscilações entre excelente e fraca produção, seja em publicações ou na realização de concursos, seja, ainda, na atuação de determinados organismos de apoio à área, como é o caso do Conselho Editorial. Diversamente das demais manifestações, contudo, cujo estímulo e conseqüente desenvolvimento só se daria anos, às vezes décadas após o surgimento da Entidade (vimos que várias ações só se firmaram, efetivamente, a partir do início dos anos 80), a ação editorial, repetimos, começa já em 1965 com a divulgação de nomes notáveis do passado, até então praticamente desconhecidos do grande público, tais como Ferreira Itajubá (1875-1912), Polycarpo Feitosa (1867-1955) e Juvenal Lamartine de Faria (1874-1956). Até o fim daquela década atingimos o resgate de dezessete títulos. Esse dado é expressivo? – poder-se-ia indagar. É, sem dúvida, responderíamos. Não seria, absolutamente, se a Fundação fosse uma editora, por exemplo, ou se suas ações se restringissem à literatura ou, mesmo, se naquela época já existissem os recursos gráficos da atualidade.(25) Nenhuma dessas condicionantes prevalece, no entanto. Considere-se, inclusive, que naquele início ainda estava se delineando o seu perfil administrativo (convém lembrar que a Gráfica Manimbu foi criada em outubro de 1965, constituindo um dos seus objetivos justamente apoiar o plano editorial). A exemplo do que ocorrera nos primeiros anos, até meados da década de 70 a editoração se concentra, salvo raras exceções, em reedições de obras reconhecidamente representativas das letras norte-rio-grandenses: Auta e Eloy _________________________

Hoje, em fins do 3º ano do 3º Milênio, Natal dispõe de poucas editoras e gráficas aptas a executar trabalhos de bom nível. Não obstante, não poucas vezes, quando se pretende a confecção de livros com acabamento mais apurado, recorre-se a outros centros. Que dizer da estrutura correspondente, nesta cidade, há quarenta anos?... (25)

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de Souza, José Bezerra Gomes, Luís da Câmara Cascudo, Oswaldo Lamartine, José Melquíades e Veríssimo de Melo, entre outros (nas próximas páginas há a relação completa de livros e autores publicados). Quando se inicia a década de 80 há uma profunda emulação nos diversos compartimentos da Entidade (isso está exaustivamente descrito em outros capítulos), e a literatura não fica de fora. Àquela altura, amontoavam-se literalmente dezenas de textos com pedidos de publicação, nem sempre trabalhos convincentes, colidindo, em contrapartida, com vários títulos de indiscutíveis méritos. A pressão se acentuaria de sorte a justificar a criação do Conselho Editorial, para o qual foi transferida a responsabilidade pelo disciplinamento desse processo. Por suas características, há de se convir da singular importância assumida por esse instrumento num organismo cultural como a Fundação José Augusto, a menos que em determinadas administrações a editoração porventura não estivesse incluída entre suas prioridades. É difícil admitir, contudo, que a literatura, em algum momento, tenha sido excluída de qualquer elenco programático, pelo menos de bom grado; não será difícil, no entanto, se atentarmos para a reiterada interveniência do fator recursos financeiros. Com efeito, a certa altura, a despeito da vontade dos dirigentes deste Órgão, eis que de tal fator resulta a desativação do Conselho, pelo que discorreremos a seguir no tempo passado.

Conselho Editorial-CONEDI O Conselho Editorial-CONEDI foi oficializado a 1º de junho de 1983, e destinava-se a receber, analisar e emitir pareceres técnicos sobre obras literárias, em prosa e em verso, com vistas à sua eventual publicação pela Fundação José Augusto, quer assumindo o patrocínio exclusivo ou em regime de coedição. Na qualidade de órgão consultivo e normativo, estendia suas atribuições à apreciação e emissão de recomendações sobre todos os assuntos ligados à editoração, no âmbito desta Casa. Muito embora a dimensão da política editorial da Fundação, por si só, se impusesse como fator condicionante para o estabelecimento de um conselho consultivo, sua criação, naquele ano, foi determinada – conforme dito acima – pela excessiva procura do Órgão por parte dos autores, a maioria dos quais inéditos, em busca da aprovação e, claro, publicação dos seus manuscritos. O vigor criativo, tradicionalmente intenso nesta cidade (parecendo copiar épocas distantes nas quais dominava, aqui, o ofício das letras, a ponto de inspirar o conhecido verso: “Natal: em cada 178

Fundação José Augusto


Foto: Arquivos da FJA / CDC

esquina um poeta, em cada beco um jornal”), requeria então uma triagem crescentemente meticulosa, a fim de garantir uma produção de bom nível, em termos qualitativos. Aliás – permitam-nos uma ligeira digressão –, muito compreensível que, aqueles que intencionem se tornar escritores, logo cedo anseiem em ver seus trabalhos publicados. Não diferem, a não ser em substância, dos compositores, cantores ou músicos em relação ao primeiro CD, ou dos artistas plásticos em face da primeira exposição. Mas, se essa emulação é visceralmente importante, essencial, em certo sentido (do ponto de vista da instituição responsável por sua eventual edição, por exemplo), pode tornar-se num problema suplementar, em vista da intensificação do volume de manuscritos a analisar e a encaminhar aos serviços gráficos. Vários dos títulos recebidos, ao longo daquele período, eram de boa qualidade, alguns até excelentes, mas muitos certamente figuravam demasiado elementares, praticamente não ultrapassando o nível laboratorial. Em alguns momentos, não fora a exaustiva análise dos textos, sem dúvida o seu alentado número não só inviabilizaria – dada a escassez de recursos – como, especialmente, seria impraticável a manutenção de um mínimo padrão de qualidade do produto final, circunstância indesejável à Fundação e, claro, aos próprios autores.

Manoel Rodrigues de Melo autografa “Dicionário da Imprensa do RN (1909-1987)” para o ex-Governador Aluízio Alves (1987). 40 Anos

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Em seguimento natural àquela função básica, cumpria ao CONEDI, anualmente, elaborar o Plano Editorial para o exercício subseqüente, nele incluindo indicações para reedição, submetendo-o à apreciação do presidente da Entidade. (A propósito, parece oportuno lembrar que alguns daqueles livros iniciais não têm a ficha catalográfica, outros dificultam localizar-se o ano de publicação e vários ainda estão a pedir reedição, seja por apresentarem inúmeros erros de revisão, pelo bolor exalado de suas páginas amarelecidas ou, inclusive, por terem as folhas soltas das lombadas à menor pressão, afora – evidentemente – pela importância que assumem, obra e autor, no quadro referencial de nossa bibliografia, sobretudo ante as novas gerações.) O Conselho era composto por sete membros, nomeados pelo Presidente da Casa, um dos quais sendo designado para exercer sua chefia. Na apreciação dos manuscritos que lhes eram encaminhados, os conselheiros, obedecendo a critérios regimentais, verificavam e estudavam o seu valor cultural, sua importância no quadro bibliográfico potiguar e sua potencialidade comercial, constituindo estes itens, basicamente, os fatores condicionantes para a respectiva aprovação. Três conselheiros analisavam cada trabalho e sua aprovação se dava por maioria absoluta. Reitere-se a preocupação com o apoio ao jovem autor, certamente resguardada a qualidade do trabalho. Em síntese, o relator de cada título se obrigava a redigir o parecer cingindo-se a esses elementos. Da decisão do Conselho não cabia recurso, muito embora os originais não-habilitados pudessem ser reapreciados, desde que reformulados segundo as sugestões e/ou recomendações então feitas. Importa referir, aqui, que havia sigilo absoluto quanto aos pareceres, sendo divulgada, apenas, a aprovação ou não da matéria apresentada, cujo arquivamento davase em nível rigorosamente confidencial.

Concursos e premiações Quanto aos concursos, de início destinados exclusivamente à ficção e à poesia, são realizados a partir da década de 70; só nos primeiros anos da década seguinte foram incluídos concursos de ensaios e de reportagens. Posteriormente, todos foram suprimidos até que, recentemente, em homenagem ao saudoso poeta Luís Carlos Guimarães (1934-2001), que chefiara o Núcleo de Literatura da Fundação entre 1999 e 2001, foi criado o concurso de poesias que leva o seu nome, já naquele ano do infausto acontecimento, ocorrendo neste 2003 a sua terceira edição. Os concursos literários são duplamente positivos, em seus resultados: afora o “peneiramento” natural, exercem uma certa medida de pressão sobre 180

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o conjunto dos concorrentes, instigando-os ao aprimoramento dos seus textos. Em outras palavras, o concurso age como um poderoso núcleo crítico, pois os prêmios costumam limitar-se a um ou dois autores, forçando os demais a sucessivas recomposições dos trabalhos, por decorrência a aprimorálos, gerando um fluxo de realimentação do processo. Em suma, é um ciclo estrategicamente enriquecedor, posto que dele resulta, por acréscimo – na saudável tendência natural da competição – o aperfeiçoamento dos que eventualmente são preteridos. Quando a Fundação promove esses eventos está, na verdade, diversificando suas ações de apoio e estímulo às letras do Estado. Um resumo das iniciativas, na área, assinala a promoção de mais de trinta concursos, incluindo poesia (16), ficção (08), ensaios e reportagens (04, cada), homenageando os nomes de José Augusto (1884-1971), patrono da Entidade, Auta de Souza (1872-1901), Elias Souto (1848-1906), Aurélio Pinheiro (1882-1938), Edgar Barbosa (1909-1967) e o já referido Luís Carlos Guimarães, ilustres figuras representativas das letras e da cultura norte-riograndenses em diversas áreas e períodos. No total somam cerca de noventa títulos classificados, considerando os primeiros e segundos lugares e as inúmeras menções honrosas. Os prêmios mais antigos de que se tem registro, no âmbito desta Casa (“Fundação José Augusto”, de ficção, e “Auta de Souza”, de poesia), datam de 1979.

Obras e autores publicados Apresentamos a relação dos títulos publicados, ano a ano, seguidos, no caso das co-edições, das iniciais FJA e do nome da editora correspondente. Este levantamento foi realizado pela Biblioteca Pública Câmara Cascudo cuja Coordenadora, Maria do Socorro Cunha de Matos, alerta para a possibilidade de eventuais omissões, problema comum em classificações desta natureza e proporção. Segue a relação: 1965 001 Gizinha (Polycarpo Feitosa) 002 Poesias completas (Ferreira Itajubá) 003 Roseira brava e outros versos (Palmyra Wanderley) 004 Toda palavra é uma semente (Dom Nivaldo Monte) 005 Velhos costumes do meu sertão (Juvenal Lamartine de Faria) 40 Anos

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1966 006 Azul solitário (Maria Eugênia Montenegro) 007 Delmiro Gouveia, mais que um industrial (Antiógenes Chaves) 1968 008 Duas palestras (José Melquíades) 009 Nomes da terra: geografia, história e toponímia (Luís da Câmara Cascudo) 010 Padre Francisco de Brito Guerra, um Senador do Império (José Melquíades) 1969 011 Cartas de um desconhecido (Eloy de Souza) 012 Encouramento e arreios do vaqueiro do Seridó (Oswaldo Lamartine de Faria) 013 Viagem ao universo de Câmara Cascudo (Américo de Oliveira Costa) 1970 014 Hôrto (Auta de Souza) 015 Livro de poemas e outras poesias (Jorge Fernandes) 016 Luís da Câmara Cascudo: 50 anos de vida intelectual (Zila Mamede) 017 Os mortos são estrangeiros (Newton Navarro) 1971 018 Contribuição do Nordeste ao Movimento Modernista (Veríssimo de Melo) 019 John Tagliabue: um poeta do Maine (Protásio Melo) 1972 020 Um governo e um homem: Alberto Maranhão (Paulo Pinheiro de Viveiros) 021 Uma História da Assembléia Legislativa do RN (Luís da Câmara Cascudo) 022 Tércio César de Lima Rebello: um cidadão potiguar (discursos) 1973 023 Comércio exterior e desenvolvimento (Elinaldo Renovato de Lima) 024 Demanda de transportes urbanos na Cidade do Natal (IJLPS) 025 ICM: Legislação Federal (Secretaria da Fazenda/RN) 026 Matéria e nunca ouvido canto (Juarez da Gama Batista) 027 Movimento da Indepência no Rio Grande do Norte (Luís da Câmara Cascudo) 028 Palestra de fim de jornada (Geraldo Gonzaga) 029 A primeira feira de José (Manoel Onofre Júnior) 030 Rendas e labirintos do Nordeste (Oswaldo Câmara de Souza) 182

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031 O ritual umbandista (Sérgio Santiago) 032 Somando os dias do tempo (Raimundo Nonato) - FJA/Pongetti 033 Tavares de Lyra: uma vida em linha reta (Carlos Tavares de Lyra) 034 TENAT: um projeto cultural (Inácio Meira Pires) 035 Tradição e cultura de massa (Diógenes da Cunha Lima) 1974 036 Antologia poética (José Bezerra Gomes) 037 Babel (Dailor Varela) 038 Uma câmara vê Cascudo (Carlos Lyra) 039 A porta e o vento (José Bezerra Gomes) 040 Prelúdio e fuga do real (Luís da Câmara Cascudo) 1975 041 Exercício da palavra (Zila Mamede) 042 Instrumento dúctil (Diógenes da Cunha Lima) 043 Os de Macatuba (Tarcisio Gurgel) 044 Memórias (Eloy Castriciano de Souza) 045 Poética (João Lins Caldas) 046 Projeto de autoformação (PROFIED) 047 Romance da Cidade do Natal (Nei Leandro de Castro) 048 Sinopse da História de Currais Novos (José Bezerra Gomes) 049 Teatro de joão-redondo (José Bezerra Gomes) 050 Touros à meia-tinta (Geraldo Gonzaga) 051 Viajando o sertão (Luís da Câmara Cascudo) 1976 052 Antologia do Padre Monte, v. 1 (Jurandyr Navarro) 053 Cinco contistas potiguares 054 Documentos do Rio Grande do Norte (Ivoncísio Meira de Medeiros) 055 Por uma vanguarda nordestina (Anchieta Fernandes) 056 O Rio Grande do Norte em visão prospectiva (Joaquim Inácio de Carvalho Filho) 057 A vaquejada nordestina e sua origem (Luís da Câmara Cascudo) 1977 058 Antologia da literatura de cordel (Sebastião Nunes Batista) 059 Imagens do Ceará-Mirim, 2ª. ed. (Nilo Pereira) 060 Locuções tradicionais no Brasil, 2ª. ed. (Luís da Câmara Cascudo) FJA/Campanha de Defesa do Folclore 061 Meu Seridó (José Praxedes) 062 O moinho e o vento (Gilberto Avelino) 063 São João de 1977 (Folheto) 40 Anos

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064 Título provisório (Vital Correia de Araújo) 065 Três ensaios franceses (Luís da Câmara Cascudo) 066 Trovas (Jaime dos Guimarães Wanderley) 1978 067 Antologia do Padre Monte, v. 2 (Jurandyr Navarro) 068 Os açudes do sertão do Seridó (Oswaldo Lamartine de Faria) 069 Estudos norte-rio-grandenses (Manoel Onofre Júnior) 070 A Fortaleza dos Reis Magos (roteiro) 071 A humana palavra necessária (Sanderson Negreiros) 072 José Pacheco Dantas: esboço biográfico (Hélio Dantas) 073 Lembranças e tradições de Açu (Maria Eugênia Montenegro) 074 O tempo ontem (Augusto Severo Neto) 075 Meleagro (Luís da Câmara Cascudo) - FJA/Agir 1979 076 Contracanto (Jarbas Martins) 077 Dante Alighieri e a tradição popular no Brasil (Luís da Câmara Cascudo) 078 A Fortaleza dos Reis Magos e a Capitania do Rio Grande (Pedro Rebouças de Moura) 079 Jazz, cinema e educação (Alvamar Furtado de Mendonça) 080 A poesia e o poema do Rio Grande do Norte (Moacy Cirne) 081 Ponto de fuga (Luís Carlos Guimarães) - FJA/Clima 1980 082 Os amigos do sangue noturno (Franco Maria Jasiello) - FJA/Ed. Universitária 083 Corpo breve (Diógenes da Cunha Lima) 084 As filhas do arco-íris (Eulício Farias de Lacerda) - FJA/Ática 085 Folclore do Brasil: pesquisas e notas (Luís da Câmara Cascudo) FJA 086 Fulô do mato e outras poesias (Renato Caldas) 087 A granja e eu (Dom Nivaldo Monte) 088 História do Teatro Alberto Maranhão (Inácio Meira Pires) 089 Os holandeses no Rio Grande do Norte (Mons. Paulo Herôncio) FJA/Clima 090 O menino e seu pai caçador (Berilo Wanderley) - FJA/Clima 091 Migrações internas no Brasil (Itamar de Souza) - FJA/Vozes 092 Não enterrarei os meus mortos (Francisco Sobreira) 093 O navegador e o sextante (Gilberto Avelino) 094 Os pontos cardeais (Gilberto Avelino) - FJA/RN-Econômico 184

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1981 095 Acervo do Patrimônio Histórico e Artístico do RN (Oswaldo Câmara de Souza) 096 Os brutos, 2ª. ed. (José Bezerra Gomes) - FJA/Clima 097 Cerro-Corá (CEPEJUL) 098 O compadrio, da política ao sexo (Itamar de Souza) - FJA/Vozes 099 Itajubá esquecido (Nilson Patriota) 100 Inventário (Myriam Coeli) - FJA/Achiamé 101 Persona: uma face perversa (Francisco Ivan da Silva) - FJA/Ed. Universitária 102 O pioneiro esquecido (Augusto Fernandes) 103 Roderic Crandall, um mossoroense da Califórnia (Vingt-un Rosado) 104 São Gonçalo do Amarante (CEPEJUL) 105 Serrinha (CEPEJUL) 106 Uma viagem pelo arquivo epistolar de Adauto da Câmara (Raimundo Soares de Brito) 1982 107 Aconteceu na Quinta Delegacia (Nilo Sérgio Emerenciano) 108 Antologia do Padre Monte. v. 4 (Jurandyr Navarro) - FJA/Secretaria de Educação e Cultura 109 Antologia poética (Luís Rabelo) 110 A Biblioteca e seus habitantes (Américo de Oliveira Costa) - FJA/ Achiamé 111 Caicó (CEPEJUL) 112 O dia em que a Coluna passou (Eulício Farias de Lacerda) - FJA/ Cátedra 113 Eduardo Gomes (CEPEJUL) 114 A festa do rei (Racine Santos) 115 Flor dos romances trágicos (Luís da Câmara Cascudo) - FJA/ Cátedra 116 Florânia (CEPEJUL) 117 História do Rio Grande do Norte (Augusto Tavares de Lira) - FJA/ Senado Federal 118 Humanismo e tradição: ensaios e palestras (Veríssimo de Melo) 119 José Augusto Bezerra de Medeiros, um democrata (Nilo Pereira) 120 Le tiers monde et sa modernité de second main (Alf Schwarz) 121 Memorial do Varela (Ionah Campiello Varela Asfora) 122 Menino 16 (Afrânio Pires Lemos) 40 Anos

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123 O Nordeste dentro da realidade brasileira (Nelson Hermógenes Freire) 124 Poemas diabólicos e dois temas de Satã (Franklin Jorge) 125 O popular em 78 rotações (Grácio Barbalho) 126 Salvados (Manoel Onofre Júnior) 127 Serpentário (Edna Duarte) 128 Sete degraus do absurdo (Edna Duarte) 1983 129 Açu no roteiro das glosas (Francisco Amorim) 130 O calvário das secas (Eloy Castriciano de Souza) - FJA/Cátedra/INL 131 Canto vivo (Dione Maria Barros) - FJA/Clima 132 Contos do entardecer (Jansen Leiros) 133 Cronologias mossoroenses (Lauro da Escóssia) 134 Um dia ... os mesmos dias (Francisco Sobreira) 135 Feiras e feirantes (Dorian Gray Caldas) 136 História de São Paulo do Potengi (Aluísio Azevedo) - FJA/CERN 137 Itinerário do imprevisto (Franco Maria Jasiello) - FJA/Achiamé 138 O luar potiguar (Homero Homem) - FJA/Presença 139 Macaíba (CEPEJUL) 140 Meu barco sem roteiro (Clarice Palma) 141 A piabinha encantada e outras histórias (Maria Eugênia Montenegro) 142 O reino das joaninhas (Camilla Cascudo Barreto) - FJA/Achiamé 143 Relíquias de mãe, encantos da vida (Maria Rosicler Rabelo Dias) 1984 144 Armadilha das aranhas (Tarcisio Rosas) 145 Bandeira desfraldada: Walter Pereira e amigos (depoimentos) - FJA/ Livraria Universitária 146 Calungagem de papel (Edna Duarte) 147 Catálogo das publicações da Fundação José Augusto - 1965/84 (Coord. Zila Mamede) 148 Centenário de José Augusto Bezerra de Medeiros - síntese biográfica (CEPEJUL) 149 Cinema Pax (Moacy Cirne) - FJA/Achiamé 150 Cordiais saudações (Anselmo Pegado Cortez) 151 Deusa do além - pulsações: um estudo estranho e profundo ... (Carlos Gurgel) - FJA/Coojornat 152 A dissipação da aurora (Fagundes de Menezes) - FJA/Presença 153 Dois discursos em Natal (Fagundes de Menezes) - folheto 154 Elegia do mar aceso em lua (Gilberto Avelino) - FJA/RN-Econômico 186

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155 A esperança não morre (Dom Nivaldo Monte) 156 Evolução urbanística de Mossoró (Raimundo Nonato) - FJA/ESAM 157 Guia poético da Cidade do Natal (Manoel Onofre Júnior) - FJA/ Nossa Editora 158 História de Lagoa de Velhos (Aluísio Azevedo) 159 História do Rio Grande do Norte, 2ª. ed. (Luís da Câmara Cascudo) - FJA/Achiamé 160 José Augusto, o líder (Dinarte Mariz) 161 Literatura de cordel em discussão (Umberto Peregrino) - FJA/Presença 162 Marrons, crepons, marfins (Marize Castro) 163 O mundo de Sylvio Pedroza: retrospectiva fotográfica - 1930/1983 (catálogo) 164 Padre Miguelinho, vida e obra (Dorian Gray Caldas) 165 Pensamento e ação: marco de uma trajetória de governo (Sylvio Piza Pedroza) 166 Pouso em Natal (Stella Leonardos) - FJA/Clima 167 Raízes dos Batistas potiguares (Mário Jesiel de Oliveira Alexandre) 168 Rio do vento (Antônio Pinto de Medeiros) 169 Seminário sobre José Augusto Bezerra de Medeiros (depoimentos) - FJA/Assembléia Legislativa-RN 170 É tempo de recordar (Jaime dos Guimarães Wanderley) 171 Via-sacra: xilogravura e poemas (Chico Traíra) 172 Macau (Aurélio Pinheiro) - FJA/UFRN/Presença 173 Documentos potiguares - 16 (série): José Augusto B. de Medeiros (Org. Leonardo H. Barata) 1985 174 BANDERN: origem e evolução (CEPEJUL) 175 Canguaretama centenária (José Jácome Barreto) 176 Correspondência atrasada (Franco Maria Jasiello) 177 Era uma vez... (contos infantis) - FJA/Nossa Editora 178 Euthanasia (Januário Cicco) - ed. fac-similar 179 Janaína: poemas (Afrânio Pires Lemos) 180 Leitura de Jorge Fernandes (Francisco das Chagas Pereira) 181 Macaíba: imagens, sonhos, reminiscências (Menerval Dantas) - FJA/ Presença 182 Mutante (Jorge Luís Azevedo) 183 Palavras (Nathalie Bernardo Câmara) 184 Poemas do bem e do mal (Esmeraldo Siqueira) 40 Anos

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185 Poesia na geração alternativa (J. Medeiros) - FJA/Nossa Editora 186 Proto-história do Rio Grande do Norte (Tarcísio Medeiros) - FJA/ Presença 187 Notas de história (Antônio Soares de Araújo) 188 Tempo e vida (João Batista Rodrigues) 189 Terapêutica pela mecânica (Maria do Socorro Nogueira Ferreira) 190 Levitas do Senhor (Mons. Severino Bezerra) - FJA/CERN 1986 191 Anedotas do Padre Mota (Lauro da Escóssia) 192 Curiosidades do mundo animal (Anadila Borges) - FJA/Clima 193 Um gosto amargo de fim (Nilson Patriota) 194 Itinerário de um sertanejo (Jansen Leiros) 195 Lembranças e andanças: crônicas (Waldir Reis Espínola) - FJA/Clima 196 Natal daqui a cinqüenta anos (Manoel Dantas) 197 Prelúdios de um novo dia (Jansen Leiros) 198 Pequena história do Integralismo no Rio Grande do Norte (Luiz Gonzaga Cortez) - FJA/Clima 199 Sete canções da terra & outros poemas (Carlos Humberto Dantas) 200 O vento leste (Gilberto Avelino) 201 Fatos da História do Rio Grande do Norte (Pedro Rebouças de Moura) - FJA/SEPLAN-RN/Prefeitura de Macaíba 1987 202 Dicionário da imprensa no Rio Grande do Norte, 1909-1987 (Manoel Rodrigues de Melo) - FJA/Cortez 203 Padre Francisco de Brito Guerra, um Senador do Império, 2ª. ed. (José Melquíades) 1988 204 Crônica da banalidade (Carlos de Souza) - FJA/Clima Publicação periódica: 205 O GALO: jornal cultural Iniciado em: Ano 1, nº. 1, março de 1988 (editora: Marize Castro) Encerrado em: Ano 14, nº. 10, outubro de 2002 (editor: Nelson Patriota) 1989 206 Derradeiras cartas da praia e outras notas sobre Tibau do Sul (Hélio Galvão) - FJA/Clima 207 Imagens do Ceará-Mirim, 3ª. ed. (Nilo Pereira) 208 Mãe (Henrique Castriciano) 209 Opúsculo humanitário (Nísia Floresta Brasileira Augusta) - FJA/Cortez 188

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210 No rastro dos flamengos (Olavo de Medeiros Filho) 1990 211 Esqueça a primavera, irmão: ensaios de independência cultural (Nestor dos Santos Lima) 212 Novos poetas do Rio Grande do Norte (coletânea) 213 Nuvem poema (João Gualberto de Aguiar) 214 Eu sem ego (Homero Homem) 1991 215 Além das salinas (Gilberto Avelino) 216 O gume e a pedra (Augusto Severo Neto) 217 Lavadeiras: poesias 218 Terra natalense (Olavo de Medeiros Filho) 219 Velhas oiticicas (Pery Lamartine) 1992 220 Eu quero voar (Pedro Coelho da Silva) 221 Ginásio Diocesano Seridoense: meio-século de presença educativa (CPC) 222 Os habitantes do sonho (Iaperi Araújo) 223 Cartilha de preservação (folheto) 224 Tempo de saudade: memórias (Lair Tinoco) 225 Veredas do Seridó (Airton de Negreiros Monte) 1993 226 Caminhos: poesias (Marluce G. Brandão) 227 Calendário cultural 1993 (CPC) - FJA/Gráfica Santa Maria 228 Cantilena diabólica (Dailor Varela) 229 Como se faz(ia) um reitor (Lauro Bezerra) 230 Dez poemas para José Bezerra Gomes (Moacy Cirne) 231 O Engenho Cunhaú à luz de um inventário (Olavo de Medeiros Filho) 232 Gracioso ramalhete: poesias (Ferreira Itajubá, org. por Cláudio Galvão) 233 Textos de história para estudantes de colégio (Carlos Borges de Medeiros) Publicações periódicas: 234 CADERNOS DO CEPEJUL: Juvenal Lamartine - Ano 1, nº. 01, nov. 1993 235 CADERNOS DO CEPEJUL: Dix-Sept Rosado - Ano 1, nº. 02, dez. 1993 1994 236 De braços abertos (Chris James Ortojic) 40 Anos

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237 238 239 240 241 242

A bença, meu padim! (Iaperi Araújo) Natal: secreta biografia (Paulo de Tarso Correia de Melo) Pequena História da Fortaleza dos Três Reis Magos (Hélio Galvão) Poemas da tarde (Hélio Galvão) Uma pura criação potiguar (Hélio Oliveira) Trapézio e outros movimentos (Nivaldete Ferreira) - FJA/Coop. Cultural Universitária Publicações periódicas: 243 CADERNOS DO CEPEJUL: Padre Monte - Ano 2, nº. 03, abr. 1994 244 CADERNOS DO CEPEJUL: Ubaldo Bezerra de Melo - Ano 2, nº. 04, mai. 1994 245 CADERNOS DO CEPEJUL: Padre João Maria - Ano 2, nº. 05, jun. 1994 246 CADERNOS DO CEPEJUL: Clara Camarão - Ano 2, nº. 06, jul. 1994 247 CADERNOS DO CEPEJUL: Maria do Santíssimo - Ano 2, nº. 07, jul. 1994 248 CADERNOS DO CEPEJUL: Georgino Avelino - Ano 2, nº. 08, jul. 1994 249 CADERNOS DO CEPEJUL: Berta Lutz - Ano 2, nº. 09, ago. 1994 250 CADERNOS DO CEPEJUL: Henrique Castriciano - Ano 2, nº. 10, ago. 1994 251 CADERNOS DO CEPEJUL: Januário Cicco - Ano 2, nº. 11, set. 1994 252 CADERNOS DO CEPEJUL: Jesiel Figueiredo - Ano 2, nº. 12, set. 1994 253 CADERNOS DO CEPEJUL: Seabra Fagundes - Ano 2, nº. 13, nov. 1994 254 CADERNOS DO CEPEJUL: José Augusto - Ano 2, nº. 14, dez. 1994 255 CADERNOS DO CEPEJUL: Theodorico Bezerra - Ano 2, nº. 15, dez. 1994 1995 256 Cartas e cartões de Oswaldo Lamartine (Veríssimo de Melo) 257 Epopéia nos ares (Pery Lamartine) 258 Frutos do meu pomar (Olegário Oliveira Júnior) 259 As marés e a ilha (Gilberto Avelino) 1996 260 Contracanto, 2ª. ed. (Jarbas Martins) - FJA/Ed. Universitária 190

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261 O fruto maduro (Luís Carlos Guimarães) 262 Todas as Marias (Maria Eugênia Montenegro) 263 Velhos costumes do meu sertão, 2ª. ed. (Juvenal Lamartine de Faria) 1997 264 Angicos, ed. fac-similar (Aluízio Alves) 265 Feriado municipal: contos (Geraldo Edson de Andrade) 266 A lágrima de um caeté (Nísia Floresta Brasileira Augusta) 267 Vocabulário do criatório norte-rio-grandense (Oswaldo Lamartine de Faria e Guilherme Azevedo) 268 O lirismo nos quintais pobres: a poesia de Jorge Fernandes(Humberto Hermenegildo) 1998 269 Alma patrícia: crítica literária, 2ª. ed. (Luís da Câmara Cascudo) 270 Canto da quase aurora (Maia Pinto) 271 A hora da lua da tarde (Sanderson Negreiros) 272 A imprensa periódica no Rio Grande do Norte de 1832 a 1908, 2ª. ed. (Luiz Fernandes) - FJA/Sebo Vermelho 273 José Augusto Bezerra de Medeiros: político e educador (Marta Maria Araújo) - FJA/Ed. Universitária/A. Legislativa do RN 274 O livro de José: memórias (José Maria Guilherme) 275 Obras completas (Newton Navarro) - FJA/FIERN 276 Rio Vermelho (Moacy Cirne) - FJA/DEI 277 A última estação (Alex Nascimento) 1999 278 História do Seminário de São Pedro (José Melquíades) - FJA/ DEI 279 Personalidades Históricas do Rio Grande do Norte - Século XVI a XIX (CEPEJUL) 2000 280 Auta de Souza e a estética simbolista, 3ª. ed. (Giselda Lopes do Rego Pinto) 281 Chuva ácida: poemas (Carmem Vasconcelos) 2001 282 Almas de rapina (Alex Nascimento) 283 O alvissareiro (Adriano de Souza) 284 O cancioneiro de Auta de Souza (org. Cláudio A. Pinto Galvão) FJA/Ed. Universitária 285 Em alpendres d’Acauã: conversa com Oswaldo Lamartine de Faria - (org. de Natécia Campos) 40 Anos

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286 Literatura do Rio Grande do Norte: antologia (org. Constância Lima Duarte) - FJA/SEPLAN 287 Mulher potiguar: cinco séculos de presença (org. Ana Amélia Fernandes e Hélio Oliveira) 288 O plantador de sons: vida e obra de Felinto Lúcio (Danilo Guanais) 289 Prelúdios potiguares (Oriano de Almeida) 2002 290 Cavalo-de-pau (Manoel Rodrigues de Melo) 291 Destempo (Carmem Vasconcelos) 292 O guerreiro de Yaco: Serra das Almas - memórias de Zé Rufino (Calazans Fernandes) 293 Pois é a poesia (Luís Carlos Guimarães) 294 A noite de Florânia: Santuário de N. S. das Graças (João Medeiros Filho) - FJA/Letra Capital 2003 295 Dicionário crítico Câmara Cascudo (org. de Marcos Silva) - FJA/ Perspectiva/USP/FAPESP/Ed. Universitária Publicações periódicas: 296 PREÁ: revista cultural - Ano 1, nº. 1, mai. 2003 (editor: Tácito Costa) 297 PREÁ: revista cultural - Ano 1, nº. 2, jul. 2003 (editor: Tácito Costa) 298 PREÁ: revista cultural - Ano 1, nº. 3, set. 2003 (editor: Tácito Costa) 299 PREÁ: revista cultural - Ano 1, nº. 4, dez. 2003 (editor: Tácito Costa) Publicações sem data: 300 ABC do cantador Clarimundo (Newton Navarro) 301 Barreira do Inferno (Fernando Mendonça) 302 O Forte dos Reis Magos e a história colonial (Marcos Maranhão) 303 Igreja de Santo Antônio - FJA/Fundação Pró-Memória 304 Do outro lado do rio, entre os morros (Newton Navarro) 305 A pobreza do mundo rico (Otomar Lopes Cardoso) - FJA/Nossa Editora 306 Reflexos (Lívia Medeiros) 307 Tempos humanos (Rubem G. Nunes) 308 Tobias Monteiro (José Augusto Bezerra de Medeiros) 309 Regimento interno da Fundação José Augusto

Núcleo de Literatura Havia um Núcleo de Literatura no antigo Centro de Desenvolvimento Cultural mas, na prática, era um tanto inoperante, tanto que só com a criação 192

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Fotos: Arquivos da FJA/ O GALO

Acima, da esq. para a dir.: os escritores Odilon Ribeiro Coutinho, Nilson Patriota, Ticiano Duarte e Luís Carlos Guimarães, em conversa descontraída durante o I Encontro de Literatura. Ao lado, à esq.: Odilon Coutinho, realizando palestra em referido encontro; abaixo, escritor sergipano Francisco Dantas, em depoimento no II Encontro de Literatura.

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Foto: Clóvis Tinoco

do já descrito CONEDI é que temos um maior dinamismo na atividade literária. Não há registros consistentes a respeito daquele núcleo. Em 1995, contudo, foi criado um outro setor com a mesma designação – Núcleo de Literatura –, o qual se susteve especialmente com a execução do programa Semana da Literatura, trazendo anualmente a Natal nomes expressivos das letras do Nordeste para depoimentos, palestras e debates profundamente instigantes. Estiveram aqui, entre outros, Odilon Ribeiro Coutinho, Marcos Acioly, Humberto Hermenegildo de Araújo, Francisco Dantas e Jorge Taufic, os quais mantiveram substanciosas trocas de experiência – no debate às vezes ameno, às vezes acirrado – com autores locais. Dirigia o Núcleo Luís Carlos Guimarães (resumo biográfico em APÊNDICE). Hoje , este setor dedica-se especialmente à revista PREÁ e à realização do Concurso Luís Carlos Guimarães, de poesia. É dirigido por Gustavo Porpino de Araújo.

Flagrante do auditório, durante a realização do I Encontro de Literatura. 194

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Presidentes da época Como certamente recorda o leitor, quando abordamos o período 1975-1982 da história deste órgão, o último presidente a emitir considerações foi Valério Mesquita. Mas não coincide, naquele ano, o término do seu mandato, que se prolongaria até fins de fevereiro de 1986. Na verdade, conforme dizíamos naquela oportunidade, a administração de Valério foi a mais longa até aquele momento, pois ele, que viera a princípio para completar a gestão Cláudio Emerenciano, foi reconduzido ao cargo, ou nele confirmado, no ato da posse do Governador José Agripino, então em seu primeiro exercício das altas funções de Chefe do Poder Executivo Estadual. O primeiro depoimento desta última fase, portanto, será de Valério, em continuidade natural à exposição anterior, da qual fazemos um rápido resumo neste instante. Valério Alfredo Mesquita Disse o ex-presidente que, àquela época (início da década de 80), falavase muito em ausência de recursos nas instituições culturais, principalmente nas mantidas pelo Poder Público, acentuou. Resolveu montar um plano centrado, basicamente, em três aspectos então considerados fundamentais: restauração do patrimônio histórico, editoração e animação cultural. Retomaremos, pois, a partir deste ponto. Prosseguindo, assim se manifesta Valério: Para sermos objetivos, nesse período administrativo desenvolvemos, por título, as seguintes ações: 40 Anos

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(a) construção da Nova Passarela do Forte dos Reis Magos; (b) restauração do antigo prédio do Quartel General; (c) conservação da Igreja de Santo Antônio, em Natal; (d) restauração das Capelas de São José e da Soledade, em Macaíba; (e) restauração da Igreja Matriz e da Capela de Utinga, em São Gonçalo do Amarante; (f) restauração da Igreja de Nossa Senhora das Candeias e Agenciamento da Praça, em Vila Flor; (g) restauração da Capela de Cunhaú, em Canguaretama; (h) restauração da Cadeia Pública de Mossoró; (i) conclusão da restauração da Casa Paroquial de Jardim do Seridó; (j) início da restauração dos Mercados Públicos de Macau e Ceará-Mirim, e (l) início do Inventário de Bens Culturais Imóveis do Rio Grande do Norte. Faz uma pequena pausa e complementa: Essas obras foram executadas com recursos provenientes das Fundações Pró-Memória e Roberto Marinho e do Governo do Estado. Sobre editoração, também faz uma síntese: Talvez neste aspecto tenhamos realizado um trabalho tão importante quanto o desenvolvido no campo da preservação da memória histórica do Estado. Mais de cem títulos foram publicados, dentre os quais passo a enumerar os mais importantes. Vejamos algumas reedições:(26) História do Rio Grande do Norte, Folclore no Brasil, Civilização e Cultura, Flor dos Romances Trágicos e Viajando o Sertão, de Câmara Cascudo; História do Rio Grande do Norte, de Tavares de Lyra; O Pioneiro Esquecido, de Augusto Fernandes; Inventário, de Myriam Coeli; Os Brutos, de José Bezerra Gomes; O Calvário das Secas, de Eloy de Souza; Rio dos Ventos, de Antônio Pinto de Medeiros; Acervo do Patrimônio Histórico e Artístico do Rio Grande do Norte, de Oswaldo de Souza, e Macau, de Aurélio Pinheiro. Das edições, cita as seguintes: Os Filhos do Arco-Íris e O Dia em que a Coluna Passou, de Eulício Farias de Lacerda; O Navegador e o Sextante e Os Pontos Cardeais, de Gilberto Avelino; Itinerário do Imprevisto e Correspondência Atrasada, de Franco Jasiello; Memória de um Jornalista de Província, de Lauro da Escóssia; Pensamento e Ação, de Sylvio Pedroza; A Biblioteca e seus Habitantes, de Américo de Oliveira Costa; José Augusto Bezerra de Medeiros - um democrata, de Nilo Pereira; Januário Cicco - um homem além do seu tempo, de Iaperi Araújo; Feiras e Feirantes - desenho e texto, de Dorian Gray Caldas; Cinema _________________________ (26)

Aí incluído todo o período de sua gestão (1980-1986).

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Foto: Arquivos da FJA /CDC

Aspecto da restauração do prédio do antigo QG, hoje sediando o Memorial Câmara Cascudo.

Pax, de Moacy Cirne; O Sal da Palavra, de Luiz Carlos Guimarães; O Luar Potiguar, de Homero Homem; A Pobreza do Mundo Rico, de Otomar Lopes Cardoso; Pouso em Natal, de Stella Leonardos; A Dissipação da Aurora, de Fagundes de Menezes; A Esperança não Morre, de Dom Nivaldo Monte; Guia Poético da Cidade do Natal, de Manoel Onofre Júnior; Marrons, Crepons, Marfins, de Marize Castro; Literatura de Cordel em Discussão, de Humberto Peregrino; Proto-História do Rio Grande do Norte, de Tarcísio Medeiros; Menino 16, de Afrânio Pires; Poemas do Bem e do Mal, de Esmeraldo Siqueira, e Pequena História do lntegralismo no Rio Grande do Norte, de Luís Gonzaga Cortez. Na seqüência, discorre a respeito da Fundação e de suas perspectivas: As dificuldades naturais que a Instituição atravessa atualmente não são, a rigor, diferentes das vivenciadas no passado recente. Todas são fruto da ausência de uma eficaz política de cultura - tanto em nível federal como estadual. Paralelamente, a Lei Sarney não tem sido aplicada de forma eficiente e muito menos o Governo Federal tem se esforçado para isso. (27) E conclui: Em suma: inexiste, na prática, o Ministério da Cultura. Cultura é in_________________________ (27)

Este depoimento foi prestado antes da extinção da referida lei.

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Foto: Arquivos da FJA /CDC

O Pte. Valério Mesquita no lançamento de livro da escritora Maria Eugênia Montenegro.

vestimento. Não havendo dinheiro para tal objetivo não se pode traçar nem, inclusive, antever perspectivas. Improvisar e assumir as feições das circunstâncias são as alternativas, aqui e agora. Lamentavelmente. Paulo Macedo Com efeito, as ações da Fundação José Augusto, entre os meses de fevereiro de 1986 e março de 1987, presidida pelo Jornalista Paulo Macedo, caracterizaram-se pela ênfase à solução dos problemas de infra-estrutura. Muitas das suas dependências exigiam urgentes reparos, reformas ou, em alguns casos, ampla restauração. Os setores de transportes e comunicações estavam literalmente estrangulados, praticamente desativados, e vários outros careciam de equipamentos e de material permanente. Numa única frase Paulo Macedo dá a dimensão das dificuldades com que se deparou: A soma dos problemas internos era tal que dispensava estudos preliminares para estabelecer-se prioridades. A tarefa se tornava duplamente dificultosa quando deveria sustentar uma intensa programação, conforme ele mesmo relata: Por outro lado, não poderíamos negligenciar os projetos e programas 198

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anterioriormente eleitos, excelentes projetos do meu antecessor, Deputado Valério Mesquita, nem outras idéias que foram surgindo. Dentro das possibilidades que nos foram permitidas, realizamos cursos, concursos artísticos e literários, ciclos de palestras, concertos sinfônicos, pesquisas e documentários, restauração de monumentos e, enfim, iniciativas nas áreas de biblioteca, museu e editoração. Lembra o ex-presidente que, ao final de sua gestão, lançou um folder com o elenco de todas as realizações efetivadas no período, dentre as quais destaca: (a) idéia, projeto e construção do Memorial Câmara Cascudo, compreendendo a restauração do edifício e instalação de equipamentos para a guarda e preservação da obra do mestre, além de construção de uma praça, com jardins e espelho d’água, e nela uma estátua do homenageado em tamanho natural; (b) criação e instalação da Casa do Produtor Cultural, destinada à prática e à convivência profissional dos produtores culturais potiguares, envolvendo todas as organizações do setor; (c) restauração da sede do Instituto Histórico e Geográfico do Rio G. do Norte, inclusive renovando seus equipamentos e promovendo a pintura total do prédio; (d) criação e instalação da Biblioteca Floriano Cavalcanti, com um acervo de dez mil volumes compreendendo variados assuntos - especialmente vinculados à história, filosofia e direito (doação da família do homenageado); Paulo Macedo ex-Presidente (e) restauração da Fortaleza dos Reis Magos, incluindo suas instalações hidráulicas e elétricas, pintura completa - interna e externa -, recuperação dos canhões, pavimentação a blokret da passarela de acesso ao monumento e, por acréscimo, constituição de policiamento da área, através de convênio com o Comando da Polícia Militar do Estado; (f) reforma geral da Biblioteca Pública Câmara Cascudo, renovando o sistema de ar-condicionado e procedendo a aquisição de novos birôs, estantes, mesas e equipamentos afins; (g) aquisição de uma central de telex e de uma central telefônica; (h) restauração da Sala dos Grandes Atos, da sede da Fundação, desde os lustres e luminárias à recuperação e alinhamento de todas as suas poltronas e a instalação de arcondicionado central; (i) recuperação da Igreja de Santo Antônio, na Cidade Alta, em Natal; (j) restauração do edifício onde funciona o Museu Café Filho, e (l) continuidade da execução do Projeto de Inventário dos Bens Culturais Imóveis do Rio Grande Norte, cobrindo 36 (trinta e seis) municípios. 40 Anos

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Realmente, considerando o curto espaço de tempo para a sua atuação, a administração Paulo Macedo foi dinâmica, especialmente – conforme já acentuado – no que diz respeito aos aspectos infra-estruturais do Órgão. Também acusou boa presença na área da restauração de monumentos históricos, como vimos no rol acima. Outras ações, não citadas, foram desenvolvidas, em similar padrão de representatividade. Woden Madruga

Foto: Arquivos da FJA /BPCC

Em março de 1987 Paulo Macedo passaria o cargo para outro jornalista, também combativo, profundo conhecedor da terra e de sua gente, Woden Madruga, que trazia, entre outras, a idéia de criar e implantar o Museu Histórico da Aviação e da II Guerra Mundial. Por feliz coincidência no mês seguinte estaria sendo concretizada a primeira reunião efetiva – para julgamento de projetos – do Sistema Nacional de Museus, que tinha uma proposta aberta, revolucionária: propunha a desmistificação do museu enquanto reduto inexpugnável, ambiente de ungida contrição onde se guarda intocáveis relíquias. Ao contrário, num país de tão colossais dimensões, de tantas peculiaridades culturais quantas são suas regiões imensas, o museu deveria desligar-se da ortodoxia imposta pela cultura européia e tornar-se, enfim, descontraído como

Flagrante de um grupo de balé se apresentando na Sala dos Grandes Atos, durante o III Encontro Estadual de Bibliotecas Públicas (1994). 200

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sua gente, onde os jovens tivessem acesso para conhecer, fazer estudos e pesquisar sem constrangimento. Cada Estado deveria buscar o seu próprio caminho, à feição das características culturais e comportamentais do seu povo no decurso de sua história. Mais uma vez ocorria coincidência: essa linha de pensamento não destoava da concepção de Woden, avesso a formalismos no que diz respeito ao trato da coisa natural, que deve ser objetivo e claro por excelência. Foi aí que a área museológica, na Fundação José Augusto, recebeu o estímulo de que tanto necessitava. A partir daquele instante passou a ser realmente implementada, com a criação do Sistema Estadual de Museus, criação e implementação do Museu de Arte Sacra do Rio Grande do Norte, criação e/ou dinamização de vários outros museus pelo interior do Estado e, enfim, fixação das bases para a futura instalação do Museu Histórico da Aviação e da II Guerra Mundial,(28) já que se tornara impraticável concretizá-lo naquela quadra. Também foi na administração de Woden Madruga que o jornal “O Galo” surgiu, dando uma nova dimensão à cultura norte-rio-grandense e mostrandoa ao resto do país. Sem dúvida, este terá sido um dos mais importantes veículos de divulgação cultural do Estado nos últimos tempos. Outras iniciativas de excepcional repercussão foram a restauração do Teatro Alberto Maranhão, a reestruturação e redimensionamento do Instituto de Música Waldemar de Almeida e a criação do Coral “Canto do Povo”. Na área da pesquisa, a investigação sobre os Hábitos de Leitura, em Natal, a respeito da qual nos reportamos com mais detalhes em outro item deste trabalho, foi um estudo pioneiro, de propósitos e sentido eminentemente socioculturais e educativos mas que, infelizmente, até o momento encontra-se inédito. Woden Madruga passaria o cargo para o Médico Iaperi Araújo em março de 1991. Iaperi Araújo As atividades compreendidas no quadriênio 1991-1994, no qual esteve à frente da Entidade Iaperi Soares de Araújo, estão relatadas ao longo da Quarta Parte. Destacaríamos, contudo, a cria-

Iaperi Araújo ex-Presidente

_________________________

O Projeto de Criação e Instalação e o Decreto-lei da Criação do Museu Histórico da Aviação e da II Guerra Mundial, datam daquele período, infelizmente não-concretizado até o momento. (28)

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ção da estrutura administrativa da Cidade da Criança, que passava à responsabilidade da Fundação, a instalação do Instituto de Música Waldemar de Almeida em sua sede definitiva – andar superior da Gráfica Manimbu – e o novo impulso dado ao plano editorial. Reiteramos que estas intervenções são apenas destaques, conforme o texto. Woden Madruga A exemplo do que foi dito da administraWoden Madruga ção anterior, as intervenções de Woden Madruex-Presidente ga, em seu segundo período na presidência da Fundação (que engloba oito anos), estão contidas na Quarta Parte deste estudo, em grande parte extraídas do documento GESTÃO ADMINISTRATIVA (1995-2002).

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QUINTA PARTE

ATIVIDADES COMPLEMENTARES Centro de Recursos Humanos-CRH ...................................................................................... Contribuição da Gráfica Manimbu ............................................................................................ Informação e divulgação: Ass. de Imprensa; Jornais e Revistas ...... Informações sobre o Arquivo da Fundação ................................................................... Projetos produzidos (a) Considerações iniciais ............................................................................................................... (b) Projetos produzidos, por área .......................................................................................... INFRA-ESTRUTURA ADMINISTRAÇÃO ............................................................................................................................ EXCLUSIVAMENTE CULTURAIS ESTUDOS E PESQUISAS .............................................................................................................. DOCUMENTAÇÃO ...................................................................................................................... PATRIMÔNIO HISTÓRICO ....................................................................................................... MUSEUS .............................................................................................................................................................. BIBLIOTECA ............................................................................................................................................ DIFUSÃO CULTURAL ...................................................................................................................

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Centro de Recursos Humanos-CRH Ao longo da década de 80 esse departamento teve um impulso formidável. Disséramos, alhures, do seu indisfarçável ostracismo enquanto perdurara a existência do PROFIED (V. p. 84), e que, com a extinção daquele Programa, deveria encontrar os seus próprios caminhos e, enfim, adquirir personalidade. Foi o que ocorreu, efetivamente. Com efeito, realizando cursos e seminários para instituições diversas, para empresas dos setores público e privado e para a própria Fundação (reciclando segmentos específicos do seu quadro), o CRH se foi afirmando e, com o tempo, passou a apresentar uma folha de serviços prestados dos mais significativos. Os seus objetivos se resumiam em três pontos, a saber: (a) planejar, coordenar e executar atividades de capacitação técnica de recursos humanos, no Estado; (b) oferecer assistência técnica, na área de recursos humanos, a organizações públicas e privadas, e (c) promover estudos e pesquisas sobre recursos humanos, no âmbito do Rio Grande do Norte. Duas coordenadorias, a de Programação Didática e a de Assistência Técnica, desenvolviam os projetos e trabalhos do Centro. A primeira, planejava e executava os seminários e cursos abertos e fechados (isto é, sem restrições quanto à clientela e exclusivos para determinadas organizações), de curta e média duração, enquanto a de Assistência Técnica se responsabilizava pela elaboração e execução de projetos de pesquisas e por atividades de assessoria e consultoria técnica. 40 Anos

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Assim, firmado no conceito e no respeito da comunidade, os cursos e outras intervenções do CRH, sempre rigorosamente planejados e executados, constituíam um acontecimento de significativa expressão na área do conhecimento em que se realizavam. A partir de 1983, foram seus diretores: Paulo Fernandes, Jean Polzadski e Lucina Hermila Figueiredo da Silva.

Contribuição da Gráfica Manimbu Havemos de consignar uma palavra de reconhecimento ao trabalho desenvolvido pela Gráfica Manimbu, mormente por ter atravessado vastos períodos de extremas dificuldades econômicas e nem por isso ausentar-se dos seus encargos e responsabilidades para com a Fundação José Augusto. Houve momentos em que, preterindo serviços para terceiros, o que significa abrir mão de faturamento certo, dedicou-se à atividade no âmbito institucional, participando do processo cultural com desenvoltura mas assumindo, com esse gesto de desprendimento, o ônus de inúmeras dificuldades. A Gráfica editou dezenas de títulos, incluindo literatura, folclore, antropologia e outros itens, reproduziu centenas de documentos e uma quantidade incalculável de outros impressos – abrangendo desde simples timbre em envelopes oficiais até solenes convites para recitais e vernissages. Das referências acima depreende-se a considerável contribuição que a Gráfica Manimbu tem prestado a este complexo cultural a cuja esfera de ação está subordinada, embora em parte se mantendo com recursos próprios, conforme já assinalamos. Foram diretores nos últimos tempos Pedro Vicente, Francisco Alves, Jansen Leiros, Danilo Emerenciano, José Pinto Bezerra e Francisco Pinto Bezerra. Hoje, responde pela direção Maurício Gomes dos Santos.

Informação e divulgação: Assessoria de Imprensa; Jornais e Revistas Desde meados de 1980 a Assessoria de Imprensa já se mostrava atuante. Quando, em fins de 1979, a estrutura da Fundação foi redimensionada, operando como reflexo imediato a intensificação do fluxo de produção e execução de projetos, passou a ter mais presença nos noticiários da imprensa local. Até então, suas chefias e técnicos responsáveis pelos diversos programas esta206

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beleciam contato diretamente com as redações dos jornais para divulgar as respectivas informações. Mesmo a Presidência se via, muitas vezes, compelida a manter tais contatos, convidando os repórteres ao Gabinete quando o assunto era complexo ou necessitava cuidadosa exploração. Mas a intensificação dos serviços, o volume de ações em rápida expansão e, às vezes, as solicitações das instituições patrocinadoras, tornavam mais e mais premente e inadiável a contratação de um profissional da área em caráter definitivo. A princípio, um repórter era o suficiente; depois, o acúmulo de serviços gerou a necessidade de criação de um setor exclusivo, no caso a Assessoria. Como objetivo fundamental, evidentemente, destina-se a manter o público informado de todo e qualquer acontecimento vinculado à Fundação; por extensão, visa contribuir para a disseminação de aspectos gerais e específicos da cultura norte-rio-grandense, de modo a fixá-la como elemento indispensável à formação do homem potiguar. É norma, aliás, em todos os setores da Entidade, a convergência para esse princípio. Suas rotinas de trabalho compreendem: (a) a leitura e análise diária de jornais, com a separação e armazenamento de registros sobre a Entidade; (b) a alimentação das fontes informadoras (jornais) com matérias pertinentes; (c) o acompanhamento sistemático de todos os eventos e acontecimentos vinculados à Fundação; (d) a atualização dos arquivos fotográficos (quando os acontecimentos são documentados por esse processo), e (e) a manutenção de contatos sistemáticos com toda a organização, de modo a assegurar a completa cobertura informativa. Em síntese, pois, a Assessoria de Imprensa centraliza as atividades de informação sobre todos os órgãos, com especialidade sobre o Gabinete da Presidência. As intervenções nas áreas museológica, teatral, musical, de restauração, de recursos humanos, documentação e pesquisa, etc., foram e têm sido alvo da sua intermediação para a comunidade, em alguns momentos com maior ou menor eficiência – segundo as disponibilidades de recursos. Mas isso, como já vimos, é traço comum a todo o sistema. Afora o jornal O Galo, que se manteve por quase quinze anos, as publicações da Fundação José Augusto não foram além de alguns poucos números, como se fora uma relação atávica com o passado remoto da Cidade do Natal quando inúmeros jornais surgiam e se eclipsavam a cada dois ou três meses de 40 Anos

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circulação (da maior parte deles ter-se-ia perdido a memória, não houvesse oportunamente sido realizada pesquisa a respeito).(29) Por volta de 1970, por exemplo, circulou a brochura Província (quase livro com formato de revista), abordando a cada número uma personalidade de expressão do Estado. Em nossos arquivos localizamos a de nº. 2, datada de 1971, a mesma de que dispõe o Instituto Histórico e Geográfico, enquanto que a Biblioteca Pública Câmara Cascudo detém as de nº. 2 e 3. Não se sabe informar sobre a sua periodicidade, nem mesmo se efetivou a publicação do eventual nº. 4. A de nº. 2 homenageia a figura de Luís da Câmara Cascudo pelo transcurso dos seus então cinqüenta anos de atividades literárias (publicara Alma Patrícia, seu primeiro livro, em 1921). Constitui-se de uma coletânea de depoimentos de intelectuais de diversos matizes, tais como Oswaldo Lamartine, Newton Navarro, Jaime Wanderley, Jorge Amado, Joracy Camargo, Gilberto Freyre, Afonso Arinos, Paulo Ronai e Carlos Drummond de Andrade, entre outros, sobre o ilustre autor. Na segunda parte, contém textos do homenageado, inclusive vinte de suas “Actas Diurnas”. Informe Com Texto, do Centro de Documentação, só foi impresso no ano de 1984. Tinha uma estrutura bastante dinâmica, dando conta dos arquivos do órgão e os colocando à disposição para consultas, resumo de uma entrevista com o poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto, informações sobre prêmios literários e os diversos projetos da Fundação então em andamento. O jornal O Galo foi oficialmente criado em 1987 mas o seu primeiro número só seria publicado em março de 1988, em formato tablóide, com vinte e oito páginas e tiragem de oito mil exemplares. A exemplo da maioria dos suplementos culturais existentes no país, os quais basicamente divulgam os respectivos estados, O Galo surgiu para divulgar e incentivar as artes e a cultura norte-rio-grandenses. Esse caráter regionalista, no entanto, não excluía, literalmente, enfoques de outras regiões: artistas e intelectuais de todo o país participavam com matérias as mais diversas, a título de colaboração, por todo o transcurso de sua existência. Na verdade, esta abertura, não só no sentido geográfico mas inclusive quanto às diversas tendências e correntes de pensamento e à multiplicidade de concepções e estilos, funcionava como salutar estratégia para a fixação do intercâmbio com os demais Estados, consolidando aqueles princípios de estímulo e disseminação do produto cultural. _________________________

No Dicionário da Imprensa do Rio Grande do Norte (1909-1987), de Manoel Rodrigues de Melo, observa-se esse fenômeno, nos idos das primeiras décadas do século XX.

(29)

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Este periódico tinha uma tiragem de oito mil exemplares, aliás modesta no confronto com a repercussão e, por decorrência, com o crescente número de pedidos que vinha recebendo de leitores e de entidades afins de todas as regiões. Mas esses resultados não tinham origem no acaso. Sua editoria desde o início tinha primado pelo aspecto gráfico do jornal, pela elaboração de uma estética atraente, característica esta, via de regra, mencionada positivamente nas correspondências recebidas. É evidente que o conteúdo também constituía preocupação fundamental: havia todo um processo de análise e de verificação dos textos antes de sua veiculação, os quais necessariamente deviam abordar assuntos culturais (a editoria tinha autonomia para recusar, eventualmente, matérias julgadas inadequadas). Enfim, o trabalho era desenvolvido a partir de convênio assinado com a Companhia Editora do Rio Grande do Norte-CERN (hoje Departamento Estadual de Imprensa), responsável pela fotolitagem e impressão do jornal, cuja capa estava sempre aberta para divulgar e publicar trabalhos dos artistas plásticos do Rio Grande do Norte. A valorização do artista era uma constante em nossa linha editorial. Desde os primeiros números publicados – e isto pode ser constatado na simples leitura da secção “Cartas dos leitores” – houve ampla aceitação desse veículo informativo, não só no Estado como, inclusive, no país e no exterior. Entre a edição do seu primeiro número e novembro de 2002, o jornal só foi desativado apenas em uma temporada (por razões econômicas), voltando a circular em agosto de 1991, já com novo formato (revista). Uma curiosidade: a então revista O Galo teve uma edição especial, bilíngüe (português-espanhol) em agosto de 1994, oportunidade em que houve dois lançamentos, a saber: 40 Anos

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(a) no evento “Cumplicidade – uma mostra da cultura ibérica”, em Natal, e (b) “Muestra de la cultura nordestina”, em Portugal. A primeira editora de O Galo foi Marize Castro, seguindo-se Socorro Trindade, Auricéia Lima e Nelson Patriota. Outra iniciativa frustrada foi o Caderno cultural-educativo norte-riograndense, trabalho do CEPEJUL em parceria com as Secretarias de Educação do Estado e do Município do Natal, idealizada em 1991. Sua proposta era a de levar a professores e alunos da rede pública de ensino matérias informativas e formativas relativas à educação e à cultura, num fluxo trimestral. Uma edição, em caráter experimental, estava consolidada quando, por falta de patrocínio, foi arquivada. FJA em Ação, outro jornal cultural da Entidade, tinha circulação restrita a instituições coirmãs, artistas e funcionários. Simples, sem dúvida, porém conseqüente em seus objetivos e atualidades. Circulou entre abril de 1991 e outubro de 1992. Calendário Cultural, uma co-edição Fundação José Augusto e Fundação Sociocultural Santa Maria, organizado pelo Centro de Promoções, foi outro instrumento logo desativado. Não se restringia à Fundação José Augusto, nem às esferas administrativas oficiais; informava, inclusive, sobre espaços culturais da iniciativa privada. De feitio e objetivos simples, mencionava toda a programação artístico-cultural prevista para o ano, em Natal, e principais eventos do interior do Estado. Tinha uma proposta de continuidade, mas só ocorreu aquela publicação em 1993. Era bastante esclarecedor para entidades, empresários e produtores culturais, assim como pesquisadores e estudantes. Cadernos do CEPEJUL (1993-1994) foi uma coleção com informes biográfícos sobre personalidades potiguares dos mais distintos segmentos (políticos, literários, históricos, etc.), dos quais se poderia dizer que foram o embrião do livro Personalidades históricas do Rio Grande do Norte (Século XVI a XIX), fruto de ampla pesquisa realizada anos mais tarde por este Centro. Com relação aos Cadernos, os números iniciais enfocaram, entre outras, as figuras de Clara Camarão, Padre João Maria, Januário Cicco, Henrique Castriciano, Georgino Avelino, Dix-Sept Rosado, Seabra Fagundes, Maria do Santíssimo, Ubaldo Bezerra e Jesiel Figueiredo. Algumas destas publicações contavam com o apoio da Associação Potiguar de Educação e Cultura-APEC, outras da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte-FIERN. 210

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Fundação José Augusto - notícias, produzido pela Assessoria de Imprensa, inicia-se em maio de 1996 e segue até fins de 1998. Numa única folha de papel ofício havia o resumo das principais ações desenvolvidas a cada semana. Sua publicação dava-se sistematicamente às sextas-feiras. Caderno Nossa Gente foi uma evolução do anteriormente citado Cadernos do CEPEJUL. Também se propunha abordar vultos da terra mas, tal como Caderno cultural-educativo, morreu no nascedouro, não chegando a editar o primeiro número (que abordava a figura de João Café Filho). Data de 2001. Preá, revista de cultura, editada a partir de maio do corrente ano de 2003, em seu início portanto, já se consolida como instrumento absolutamente integrado ao espírito desta Casa e aos propósitos da atual administração. Sua diagramação, seu esmero gráfico e editorial têm sido referidos positivamente desde a estréia, como se observa na secção “Cartas” da edição de nº. 2, p. 5. E certamente há de tentar superar-se a cada número: O que a segunda filha perde no alvoroço da espera ganha na serenidade da experiência, diz François Silvestre (op. cit., p. 4), assim a terceira em relação à segunda, a quarta em relação à terceira... O surgimento desta revista suscitou certa celeuma nos círculos intelectuais da cidade, uma polêmica que se arrastou por várias semanas tendo como “mote” ou pomo de discórdia uma suposta prevenção da administração recém-empossada contra o periódico anterior, jornal O Galo, pecha rebatida com a seguinte explicação: Há uma confusão, na crítica, de que a Preá é substituta de ‘O Galo’. Não é verdade. ‘O Galo’ não foi editado porque não tivemos condições de cuidar de dois veículos. E dei prioridade à revista. A diferença da revista para o jornal, além de outras, é a durabilidade. O jornal tem o condão da notícia e a fragilidade material. No interior, ele não teria vida longa. A não ser nos colecionadores ou arquivistas. Até a sua distribuição para o interior é difícil. Veja o caso dos jornais de 40 Anos

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Natal, todos com distribuição precária no interior. Uma revista cultural, além da informação, ou até mais que ela, há de ser um veículo de formação. Que sirva para pesquisas e discussão. Coisa de que o jornal carece, por conta de seu material de feitura. (ib., p. 4). Esta a Preá, firmando-se a cada edição. Romperá o ciclo atávico com o passado?... Espera-se que sim, dado seu objetivo maior de servir de instrumento catalisador entre as comunidades produtoras de cultura em nível estadual. A Preá nasceu com propósitos nobres, e por isso merece não apenas o apoio, mas o acolhimento e respeito de todos os norte-rio-grandenses, sobretudo das autoridades constituídas, seja na esfera municipal, estadual ou federal.

Informações sobre o Arquivo da Fundação Quando nos debruçamos, hoje, sobre o passado desta Casa, vem-nos à mente, com um certo pesar, o pouco caso que se fazia da organização do seu acervo documental.(30) Aliás, até um tempo relativamente recente, por volta do final da década de 80. Não está longe em nossa memória quando, para inibir os servidores faltosos e indisciplinados, se utilizava o recurso extremado de “condená-los” a trabalhar naquele setor. Nunca falhava. O mais recalcitrante dentre os rebeldes dobrava-se em cândida performance ante a temível perspectiva, e aquele que se dispunha a pouco invejável tarefa de trabalhar no Arquivo – pouco mais que simples depósito de papéis – poderia inclusive ter a saúde afetada. Que fique claro este aspecto: estamos falando de organização e bolor pelo excesso de fungos; sempre houve rígido controle da entrada de docu_________________________

Uma espécie de “arquivo morto”, literalmente. Os setores específicos sempre mantiveram os respectivos arquivos e fichários satisfatoriamente operacionais. (30)

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mentos e tudo, absolutamente tudo que é pertinente, está alocado ali, hoje inclusive com irrepreensível esmero, pois oportuna intervenção do Centro de Documentação veio reverter a situação, conforme veremos mais adiante. Àquela época, contudo, pastas estavam empilhadas por toda a parte, meio a exemplares d’O Diário Oficial; recortes de jornais diversos se misturavam com fichas catalográficas parcialmente preenchidas; projetos os mais díspares intercalavam-se com textos de convênios, decretos e portarias, tudo isso apresentando raríssimos vestígios de ordenamento. Quanto às condições ambientais, não eram das melhores: uma comprida mesa estava sempre protegida por espessa camada de pó, traças usufruindo do dito bolor em regime de tempo integral. Finas conformações estéticas em espiral, medindo espaços nas prateleiras das estantes, não mais eram que intocáveis teias de aranhas. O único birô existente naquele espaço singular não destoava do conjunto: de suas gavetas emperradas pendiam papéis e o seu tampo estava totalmente desgastado pela maresia do desleixo. Dissemos que isso era prática comum àquela época, verdadeiro contrasenso num órgão que se propõe à manutenção e preservação históricas de bens culturais, onde o registro criterioso, o rigor do dado e a meticulosa observação de cada notícia e de cada informe é o testemunho vivo do passado. A Coordenadoria de Documentação do CDC empreendeu o trabalho Foto: Arquivos da FJA/ Gabinete

Sala do Arquivo da FJA, antes de sua recuperação física e organização do acervo. 40 Anos

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de transformação, reciclando pessoal, adquirindo equipamentos, organizando fichários, pondo ordem no caos. Hoje, o setor de Arquivo é ágil, funcional, eficiente. A reversão iniciou-se em 1989, a partir de um acordo tácito mas consistente entre a direção do CDC e a do setor de Serviços Gerais, ao qual o Arquivo estava subordinado. Iniciava-se, ali, as atividades técnicas de seleção e organização do material alocado no acervo. Fez-se necessário, a partir de então, a criação legal de um Núcleo de Arquivística, que seria responsável direto pelas atividades de recepção, guarda e preservação do acervo administrativo, desmistificando parte do preconceito que envolvia as atividades do setor. Tal não foi concretizado, contudo, o que felizmente não desestimulou as partes interessadas. A não-implantação do núcleo pretendido foi resolvida, ainda dentro da informalidade do citado acordo, com a Coordenadoria de Documentação assumindo aquelas tarefas (as de recepção, guarda e preservação de documentos, hoje armazenados em duzentos e três metros lineares, acumulados desde 1963). É ali, sobretudo, que está guardada a história da Fundação. Sua constituição dá-se de forma lenta mas ininterrupta, acompanhando passo a passo a trajetória da Entidade. Considerando que essa massa documental – de caráter administrativo, funcional, contábil e cultural – reflete tudo o que foi produzido por seus diversos setores, salvo a danificação de algumas séries documentais vitimadas pela intempérie no período anterior, aludido no início deste item, é indiscutível a importância do setor para estudos como este empreendido pelo CEPEJUL, ou outros que ao longo do tempo venham a se concretizar. Desenvolveu-se, a princípio, um trabalho de identificação, análise e seleção dos documentos existentes. Classificou-se o material em séries específicas, ordenando-as de forma cronológica e setorial. Posteriormente tais séries foram armazenadas em caixas-arquivo, conforme as normas arquivísticas vigentes. Na fase de avaliação, convém registrar, foram criteriosamente expurgadas as cópias de documentos com prazo de validade vencido, assim como se passou a exercer estreita vigilância sobre aqueles que poderiam servir de lastro informativo às pesquisas administrativas. É função deste, ainda, atender a consultas e empréstimos de documentos diversos solicitados por outros setores cuja finalidade seja a de fundamentar informações que necessitem prova e evidência legal. Paralelo a tais iniciativas, naquela época (fev., 1989) foi implantado o Núcleo de Microfilmagem, com o objetivo de restringir a massa documental, o que possibilitaria maior segurança e rapidez no acesso à informação; no 214

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entanto, devido a vários fatores (inclusive deficiência no equipamento), encerrou suas atividades cerca de cinco anos após sua criação. Pela peculiaridade de poder exercer suas funções no estilo tradicional – o que ainda vem ocorrendo –, não significa que haja renunciado à aquisição de novas tecnologias, o que possibilitaria a otimização de sua prestação de serviços.

Projetos produzidos (a) Considerações iniciais O volume e a finalidade dos projetos produzidos são fatores de ponderável importância para se avaliar o nível de desempenho da Fundação, muito embora nem todas as atividades desenvolvidas o tenham sido através de projetos, da forma que também nem todos os projetos produzidos, necessariamente, foram aprovados. A maioria dos trabalhos realizados com recursos próprios, por exemplo, dispensou essa construção formal, sendo desenvolvidos a partir de simples roteiros ou esquemas metodológicos. Observe-se as artes plásticas, cujo total de projetos elaborados não ultrapassa sequer a meia dúzia, não obstante este segmento haver efetuado mais de uma centena e meia de exposições. A área de biblioteca revela fenômeno similar. Por outro lado, é acentuada a quantidade de propostas não-consolidadas, o que se explica em grande parte pela carência de recursos nas fontes de captação. Há, ainda, projetos que foram reduzidos, ampliados, parcial ou totalmente reformulados – geralmente por sugestão dos órgãos potencialmente patrocinadores – e que, enfim, por outras circunstâncias nem sempre claras e convincentes, nem assim lograram aprovação. Exemplo flagrante foi o Inventário de Bens Culturais, encaminhado em quatro versões para três entidades, entre 1980 e 1984, sempre atendendo a recomendações de tais organismos, até ser arquivado para ulterior oportunidade por absoluta falta de sintonia. Destes fatos resulta que não devemos nos fixar, apenas, na quantidade dos projetos produzidos para avaliar e estimar a performance da Fundação, muito embora esse dado, como dissemos acima, constitua um forte indicativo, uma significativa referência. Há, porém, outras informações que devem ser levadas em conta com bem mais propriedade, quais sejam aquelas sobre as ações efetivas de pesquisas, documentários, editoração, festivais, exposições, concertos, concursos etc., tantas vezes referidos. (b) Projetos produzidos, por área Subdividimos os projetos produzidos em dois grandes grupos, de for40 Anos

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ma a permitir uma visão abrangente se bem que extremamente sintética. O primeiro deles compreendendo “os de cunho administrativo” (construção e reforma de prédios, criação e instalação de setores, aquisição de equipamentos, etc.) e “os de recursos humanos” (cursos, seminários e afins), na tabela 2 designados sob o título de “área infra-estrutural”. O segundo grupo reúne os projetos “exclusivamente culturais”. Segue o demonstrativo: Este quantitativo – treTABELA 2 zentas e sessenta e oito unidaTOTAL DOS PROJETOS POR ÁREA, des – é, na verdade, uma aproESPECIFICADOS OS EXCLUSIVAMENTE CULTURAIS (1974-2003) ximação. Há fortes razões VALORES para crer que alguns projetos % Abs tenham passado ao largo dos ÁREAS arquivos e se perdido na me- TOTAL 368 100,0 mória do tempo, afora o fato Infra-estrutura 108 29,4 de que muitos dos que estão .Administração 47 12,8 61 16,6 .Cursos, seminários e afins computados foram reimple260 70,6 mentados anos seguidos, sem- Exclusivamente(1)culturais 94 25,5 .Difusão cultural pre passando por reformu59 16,0 .Pesquisa 107 29,1 lações, mas sendo contados .Documentação(2) apenas uma vez (seria um des- FONTE: Arquivos da Fundação José Augusto propósito somarmos cinco Inclusive biblioteca. Exclusive biblioteca. vezes o projeto Festival de Folclore, por exemplo, face à sua execução por igual número de anos: I, II, III... Festival, assim sucessivas Semanas de Teatro ou Encontros de Cultura Popular, mesmo que sofrendo reajustes metodológicos). Por outro lado não estão incluídos, nesta tabela, eventuais projetos elaborados no período inicial, quando prevaleciam os cursos universitários: as Semanas de Estudos Sociais e o programa Xeque-mate, por exemplo, referidos na primeira parte deste estudo, são eventos não-consignados. Fica o registro. Isto posto, fixemo-nos nestes trezentos e sessenta e oito projetos, para efeito das próximas apreciações; se estão aquém da realidade efetiva não estarão muito distantes, resguardadas aquelas observações. Como vemos na tabela acima, perto de 30% dos projetos produzidos se concentram na área infra-estrutural, dos quais 16,6%, voltados para a realização de cursos, seminários e afins (a maioria desses cursos destinou-se à capacitação de recursos humanos, como veremos na discriminação mais adiante; outros, porém, tinham uma feição especificamente cultural, mas mesmo assim os conservamos no item “infra-estrutura” pelo seu caráter de aprimoramento do quadro de pessoal). Os demais projetos, compreendendo a área (1)

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“exclusivamente cultural”, se distribuem entre pesquisas (16%), difusão cultural (25,5%) – reunindo os projetos de promoção de eventos e os de biblioteca –, e documentação (29,1%), concentrando as propostas pertinentes à restauração e recuperação de monumentos, museus e documentários diversos. Restringindo-nos a estes, vejamos a produção de projetos por setor operacional, não decorrendo daí que os valores registrados correspondam necessariamente às ações desenvolvidas pelos respectivos Centros. Para efeito de demonstração podemos assinalar que o Centro de Documentação elaborou projetos de pesquisa e de promoção os quais foram computados, aqui, para estes segmentos; igualmente, vamos encontrar inclusos no CDC projetos de outros centros cujas características se ajustam à documentação. Assim os demais setores: TABELA 3 O dado, já destacado, PROJETOS EXCLUSIVAMENTE CULTURAIS, de projetos em maior númePOR ÁREA DE INTERVEÇÀO ro na área de documentação, face a somar inclusive os seVALORES tores de museus e do % Abs ÁREAS patrimônio histórico, seguido TOTAL 260 100,0 dos de difusão cultural, por (1) Difusão Cultural 94 36,2 sua vez incluindo os de bibli- Pesquisa 59 22,7 otecas (afora um sem-núme- Documentão 107 41,1 (2) .Patrimônio histórico 52 20,0 ro de atividades promo.Museus 26 10,0 cionais), em relação aos de .Outros(3) 29 11,1 pesquisa, é reforçado pelo FONTE: Arquivos da Fundação José Augusto de eventos e bibliotecas. Restauração e recuperação de monumentos. fato de (a) os projetos de pes- Promoção Documentação, propriamente dita. quisa requererem uma bem mais complexa formulação e (b) o desenvolvimento de uma pesquisa ser sumamente mais demorado, podendo estender-se por meses seguidos, às vezes um ou mais anos. Mas isso é apenas um detalhe. De resto, os números acima, dispostos na tabela 3, falam por si mesmos, cabendo a cada leitor tirar as próprias conclusões. Elencamos, a seguir, todos os projetos produzidos, por área e natureza: (1)

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INFRA-ESTRUTURA ADMINISTRAÇÃO Instalação da Biblioteca Pública Câmara Cascudo Construção e implantação de Centros Culturais Criação do Caminhão da Cultura g

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Criação do Circo da Cultura Construção da Passarela do Forte dos Reis Magos Proposta de criação do Centro de Atividades Culturais Estruturação e implantação do PROFIED Proposta para a criação de um Centro de Cultura Popular Aquisição de equipamentos para a Biblioteca Pública Câmara Cascudo Criação e implantação do Museu Casa Café Filho Criação do Sistema Estadual de Bibliotecas Conservação e Manutenção do Circo da Cultura Criação da Oficina de Restauração de Peças Museológicas Criação e implantação do Museu Ary Parreiras Criação da Pinacoteca e da Oficina de Gravuras Rossini Perez Proposta de criação da Sala de Projeção Cinematográfica Aquisição de equipamentos para espaços culturais Aquisição de livros para a Biblioteca Pública Câmara Cascudo Instalações elétricas e manutenção do Forte dos Reis Magos Revitalização do Circo da Cultura Ampliação da Oficina de Restauração de Peças Museológicas Restauração da Passarela do Forte dos Reis Magos Ampliação física e expansão do Parque Gráfico da Gráfica Manimbu Ampliação da Biblioteca Pública Câmara Cascudo Criação do Instituto de Música Waldemar de Almeida Criação e implantação do Museu Capitão Antas (Pedro Avelino) Implantação do Núcleo Audiovisual da Fundação José Augusto Criação e instalação da Biblioteca Zila Mamede Infra-estrutura para a Biblioteca Zila Mamede Implantação de Banco de Dados na Fundação José Augusto Criação e instalação da Biblioteca Myriam Coeli Criação do Sistema Estadual de Museus Implantação do Núcleo de Microfilmagem do CDC Criação e implantação do Museu de Arte Sacra do RN Criação do Museu Mons. Paulo Herôncio (Currais Novos) Reforma e estruturação do Auditório Epílogo Campos (Mossoró) Ampliação física do Centro de Documentação Cultural Ampliação do Instituto de Música Waldemar de Almeida Implantação do Instituto de Artes Plásticas do RN Redimensionamento das instalações físicas do CRH Ampliação do Núcleo de Processamento de Dados da FJA Construção dos Centros Culturais das Zonas Norte e Sul de Natal 218

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Criação da Oficina de Restauração de Bens Móveis do Maranhão Ateliê de Restauração de Esculturas Policromadas de São Luiz -MA Recuperação do Circo da Cultura Recuperação do parque gráfico da Gráfica Manimbu Ampliação da Oficina de Conservação e Restauração

CURSOS, SEMINÁRIOS E AFINS Capacitação técnica para o Sistema Estadual de Planejamento Planejamento e Desenvolvimento Organizacional para Assessores Seminário de Desenvolvimento para Executivos do Setor Público Seminário de Integração Interdepartamental Curso de Planejamento e Administração de Universidades Seminário de Autoformação e Acompanhamento de Processos Autoformativos Formação de Docentes e Desenvolvimento Gerencial Seminário de Diagnose Organizacional e Autoformação Seminário sobre Exportação: Incentivos e Procedimentos Desempenho Gerencial e Diagnose Organizacional para Executivos Seminário sobre Administração de Recursos Humanos Curso de Administração de Cargos e Salários Seminário sobre Administração de Treinamento Seminário sobre Métodos e Técnicas de Ensino Seminário sobre Metodologia da Avaliação Aplicada ao Treinamento Seminário sobre Processos de Mudanças Encontro sobre Análise Transacional Curso sobre Comportamento e Mudança Organizacional Curso sobre Dessensibilização Sistemática Seminário sobre Chefia, Motivação e Liderança Curso de Gerência e Controle de Material Seminário sobre Desenvolvimento Interpessoal Grupo de Vivência em Análise Transacional Treinamento sobre Administração de Estoques em Supermercados Curso de Relações Humanas Curso de Consultoria e Desenvolvimento Organizacional Curso sobre Administração Integrada de Farmácias Seminário sobre Chefia e Liderança Situacional Grupo de Vivência em Bioenergética Seminário sobre Eficácia Gerencial Curso de Organização Sistemática e Métodos Administrativos g

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Planejamento e Controle Gerencial Gestalterapia Gerência e Controle de Custos Seminário sobre o Desenvolvimento Psíquico da Criança Seminário sobre Análise Transacional Ciclo de Palestras sobre Sexualidade Humana Gestão de Estoques em Farmácias e Drogarias Curso de Língua Inglesa para a Indústria Turística Seminário sobre Planejamento Estratégico Curso de Atualização em Redação Empresarial Curso de Secretária Moderna As Técnicas de Dinâmica de Grupo no Treinamento de Pessoal Seminário de Autodesenvolvimento para Secretárias - Curso Básico e Grafologia Seminário sobre Administração Estratégica de Benefícios Técnicas de Redação e Correspondência Oficial Entrevista: Processo Básico no Recrutamento e Seleção de Pessoal Ética e Postura Profissional para Secretárias Seminário sobre Técnicas de Elaboração de Atos Oficiais Balanço social da empresa: Base de Diagnóstico e Planejamento Estratégico de RH Curso de Cultura Cinematográfica Curso de Teatro Curso sobre Música Popular Brasileira Capacitação de Pessoal para a Área Museológica Curso de Especialização Técnica em Museografia Curso de Iniciação às Artes Plásticas Seminário sobre Valorização do Patrimônio Histórico e Artístico Seminário sobre Acervo de Cultura Popular e Museus Informações Turísticas para Guias de Museus Seminário: Arquivística, uma Alternativa Econômica

EXCLUSIVAMENTE CULTURAIS ESTUDOS E PESQUISAS Diagnóstico da Cultura Norte-rio-grandense Textos Sócio-Econômicos sobre o Rio Grande do Norte Estrutura do Eleitorado Natalense Demanda de Transportes Urbanos na Cidade do Natal g

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Mercado do Pescado na Cidade do Natal e Adjacências O Movimento de Natal: a Igreja e o Desenvolvimento da Comunidade Substituição da Mão-de-obra nas Populações de Baixa-renda do NE Crescimento Urbano da Cidade do Natal Diagnóstico das Favelas de Natal Pequeno Comércio da Periferia de Natal Movimento Operário no Rio Grande do Norte Inventário de Bens Culturais Móveis e Imóveis do RN Inventário dos Bens Culturais Imóveis do RN (nova formulação) Sincretismo Religioso na Grande Natal Desemprego e Educação em Natal Projeto CAERN: Cadastro de Usuários A Política de Combate às Secas: antes e depois da SUDENE Levantamento de Estudos sobre Emprego, Migração e Mão-de-obra Coleção das Leis Imperiais do Rio Grande do Norte Mensagens dos Presidentes do Estado do Rio Grande do Norte na Primeira República, VIII (José Augusto Bezerra de Medeiros) Bibliografia Norte-rio-grandense O Integralismo no Rio Grande do Norte História do BANDERN História da Associação Comercial do Rio Grande do Norte História das Organizações Estaduais de Saúde História do Futebol Natalense História do Município de Cerro-Corá História do Município de Serrinha História do Município de Eduardo Gomes História do Município de São Gonçalo do Amarante História do Município de Caicó História do Município de Florânia História do Município de Macaíba História do Município de Santo Antônio História do Município de João Câmara História do Município de São José de Mipibu História do Município de Goianinha História do Município de Nísia Floresta História do Município de Parelhas História do Município de Pau dos Ferros História do Município de Martins História do Município de Caraúbas 221


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História do Município de Carnaúba dos Dantas História do Município de Pedro Avelino História do Município de Angicos Hábitos de Leitura em Natal Vida e Obra de Café Filho Sincretismo Religioso na Grande Natal (nova formulação) Construção da Base Naval de Natal (história) Evolução Histórica da Indústria no Rio Grande do Norte Tipos e Aspectos do Rio Grande do Norte História da Cidade do Natal (1941/1991) Cadastro de Artistas Plásticos do RN Diagnóstico e Mapeamento da Cultura Popular Dramaturgos Potiguares Personalidades Históricas do Rio Grande do Norte (Séculos XVI-XIX) Memorial Nísia Floresta Memorial Mons. Expedito Fundação José Augusto - 40 Anos

DOCUMENTAÇÃO Memória Cultural do Rio Grande do Norte Circuito Integrado de Cultura da Grande Natal Memória Musical do Rio Grande do Norte Interação Básica em Diferentes Contextos Sociais (cinema) Divulgação e Preservação dos Negros do Rosário Projeto de Arte Postal Documentação de Danças Folclóricas Catálogo do Artesão Norte-rio-grandense Cadastro dos Artistas Plásticos do Rio Grande do Norte Cadastramento de Artistas e Grupos Teatrais do RN Cadastro de Escritores Norte-rio-grandenses Cadastro de Músicos Norte-rio-grandenses Cadastro de Terreiros e Pais-de-santo da Grande Natal Dinamização da Gravura em Intercâmbio Postal Caderno da Educação e da Cultura Norte-rio-grandenses Projeto “Sessão Especial” (cinema) Circuito Popular de Cinema Publicação do Catálogo do Acervo Câmara Cascudo Organização Técnica do Arquivo Administrativo da FJA Expansão do Circuito Popular de Cinema g

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Banco de Textos Teatrais do Rio Grande do Norte Fotografias, Resgate de uma História Banco de Talentos Proposta para a Criação do Laboratório de Conservação e Restauração de Livros e Documentos do Fórum Municipal de Currais Novos Documentação e Difusão Cultural Catálogo do Acervo de Câmara Cascudo Reestruturação do IHGRN: restauração do acervo fotográfico Inventário do Acervo Museológico

PATRIMÔNIO HISTÓRICO Plano Quadrienal de Reconstrução de Cidades Históricas Levantamento Arquitetônico da Igreja de São Gonçalo do Amarante Levantamento do Forte e Igreja de Nossa Senhora dos Remédios (Fernando de Noronha) Agenciamento da Praça Onofre Soares (Ceará-Mirim) Agenciamento da Praça e Igreja de Nossa Senhora do Desterro (Vila Flor) Construção do Memorial de Touros Restauração do Solar do Antunes (Ceará-Mirim) Restauração do Solar do Ferreiro Torto (Macaíba) Restauração da Casa-Grande do Engenho Guaporé (Ceará-Mirim) Restauração da Casa-Grande de Pendências Restauração da Casa de Câmara e Cadeia de Acari Restauração da Casa de Câmara e Cadeia de Vila Flor Restauração da Casa Paroquial de Jardim do Seridó Restauração da Casa de Padre João Maria (Natal) Restauração da Cadeia Pública de Ceará-Mirim Restauração da Cadeia Pública de Mossoró Restauração da Igreja de N. Sª do Rosário (Acari) Restauração da Igreja de N. Sª do Desterro (Vila Flor) Restauração da Igreja de N. Sª do Rosário dos Pretos (Natal) Restauração da Igreja de Santo Antônio (Natal) Restauração da Igreja de São Gonçalo do Amarante Restauração da Igreja de Santana (São Luiz-MA) Restauração da Igreja de Padre João Maria (Natal) Restauração da Capela de N. Sª da Soledade (Macaíba) Restauração da Capela de Utinga (São Gonçalo do Amarante) Restauração da Capela de Nossa. Sª das Candeias, Fazenda Cunhaú, (Canguaretama) g

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Restauração do Mercado Público de Ceará-Mirim Restauração do Mercado Público de Macau Restauração do Antigo Quartel-General (Natal) Restauração do Antigo Palácio do Governo (Natal) Restauração da Antiga Casa de Detenção de Natal Restauração do Instituto Histórico e Geográfico do RN Restauração do Casarão da Junqueira Aires (Natal) Restauração da Capitania dos Portos (Natal) Conservação e Manutenção da Igreja de Santo Antônio (Natal) Conservação e Manutenção da Igreja de São Gonçalo do Amarante Conservação e Manutenção do Forte dos Reis Magos Conservação e Manutenção do Teatro Alberto Maranhão Conservação de Monumentos Tombados do Rio Grande do Norte Revitalização do Forte dos Reis Magos Revitalização da “Cidade da Criança” (Lagoa de Manoel Felipe) Recuperação do Forte dos Reis Magos Restauração da Rampa para Instalação de Museu Histórico Recuperação do Museu do Sobradinho Restauração do Acervo de José Augusto Restauração do Casarão de Patu Restauração do Casarão dos Italianos, em Florânia Iluminação e Ambientação da Concha Acústica da Cidade da Criança Reestruturação do Instituto de Música Waldemar de Almeida Restauração do Teatro Alberto Maranhão Ampliação da Biblioteca Pública Câmara Cascudo

MUSEUS Implantação do Museu de História e das Tradições Populares do Rio Grande do Norte Projeto de Instalação de Museu no Forte dos Reis Magos Instalação do Museu de Arte Popular de Natal Conservação de Imagens Sacras (Goianinha) Renovação do Espaço Museológico da Casa Café Filho Reestruturação do Museu Capitão Antas (Pedro Avelino) Proposta Conceitual e Museográfica do Museu Histórico de Acari Museu Histórico da Aviação e da II Guerra Mundial Revitalização do Museu de Currais Novos Revitalização Museográfica do Museu Casa Café Filho Revitalização do Museu do Seridó g

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Revitalização Museográfica do Museu Câmara Cascudo Recuperação do Gabinete de Câmara Cascudo Elaboração Conceitual do Museu do Forte dos Reis Magos Proposta Conceitual e Museográfica do Museu de Macaíba Criação da Reserva Técnica do Museu Câmara Cascudo Proposta Conceitual e Museográfica do Museu de Touros Museus Comunitários, uma Alternativa para o Rio Grande do Norte Museu Histórico da Aviação e da II Guerra Mundial (nova formulação) Laboratório de Restauração e Conservação de Couro de Teresina-PI Montagem do Museu de Arte Sacra do Maranhão Projeto “Guia-Mirim” O Pré-Escolar nos Museus Implantação de Museus Comunitários Inventário do Acervo Museológico Inventário da Arte Sacra Potiguar

BIBLIOTECA Projeto de Cooperação “Corpo da Paz” Manutenção do Sistema Estadual de Bibliotecas Treinamento de Auxiliares de Biblioteca Projeto “Bancas Culturais” Instalação de Caixas-Estante Projeto “Nossa Biblioteca” Implementação da Coordenadoria do Sistema Estadual de Bibliotecas Projeto “O Autor na Biblioteca” Projeto “O Escritor na Cidade” Projeto “Vivendo a Leitura” Projeto “Biblioteca-Pólo” g

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DIFUSÃO CULTURAL Revitalização e Expansão: Implantação de Centros Culturais Artes Plásticas do Rio Grande do Norte Centro de Produção e Comercialização do Artesanato do Rio Grande do Norte Encontro do Compositor Potiguar Plano de Incentivo à Arte Musical Festival de Música Camerística Concerto na Praia Música, Som e Luz g

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Projeto “Seis da Tarde” (música) Festival de Emboladores do Rio Grande do Norte Projeto Ademilde Fonseca Violando e Embolando I Ciclo de Dança de Natal Interiorização do Teatro e da Dança Implantação do Circo da Cultura Projeto Cine-Teatro Encontro de Emboladores do Rio Grande do Norte Teatro no Circo da Cultura Semana Potiguar do Teatro Amador Encontro Nacional sobre a Poesia Popular Brasileira Projeto Cultural-Educativo para o Circo da Cultura Oficina de Teatro (direção, cenografia e interpretação) Projeto Cinema Volante I Festival Nacional de Teatro de Rua Projeto Paralelo 16 Circuito Teatral da Grande Natal Projeto Escolinha do Circo Mostra do Teatro de Currais Novos Ciclo de Palestras sobre a Presença do Nordeste no Cinema Nacional Edital de Auxílio e Montagem de Peças Teatrais Projeto “O Autor Vai à Escola” (palestras e debates) Circuito de Interiorização das Artes Cênicas Projeto Quadrinhos Potiguares Oficinas Moduladas para Criação de uma Escola de Teatro Curso de Roteirização de Desenho na História em Quadrinhos Encontro de Mamulengos do Nordeste História do Rio Grande do Norte em Quadrinhos Recuperação e Fortalecimento do Teatro de Bonecos do Rio Grande do Norte Estudos Sociais: Comunicação e Expressão em Quadrinhos Apoio ao Mamulengo Potiguar Programa de Incentivo ao Folclore Semana da Dramaturgia Potiguar Encontro de Folclore do Rio Grande do Norte Semana da Dramaturgia Nordestina Preservação de Grupos Folclóricos Revista Sobre o Teatro Nordestino 226

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Projeto Feiras Culturais Projeto de Editoração: Coleção Folclore Potiguar Projeto de Editoração: Coleção História do Rio Grande do Norte Projeto de Editoração: Coleção Ficção Projeto de Editoração: Coleção de Literatura de Cordel Projeto de Editoração: Clássicos da Seca Projeto de Editoração: Coleção Biografia Projeto de Editoração: Cadernos Literários Projeto de Editoração: Coleção Ensaios - crítica e pesquisa Projeto de Editoração: Coleção Poética Projeto de Editoração: Histórias Infantis Exposição de Fotografias: “Natal Era Assim” Criação do jornal “O Galo” Reestruturação e Animação Cultural da “Cidade da Criança” Projeto Feiras Culturais (nova formulação) Animação Cultural junto às Populações Confinadas Arte e Educação na Fundação José Augusto Dinamização da Gravura através do Intercâmbio Postal Projeto Ruth Aklander (Interiorização da Ação Cultural) Restauração e Dinamização dos Grupos Folclóricos do Rio Grande do Norte Implantação do Instituto de Artes Plásticas Cândido Portinari Literatura Potiguar: Cordel Revitalização e Apoio ao Folclore Potiguar Restauração da Capela de São José (Macaíba) Plano Editorial (1993) Incentivo à Produção Cênica do Rio Grande do Norte Dinamização Cultural da Cidade da Criança Revitalização e Apoio ao Folclore Potiguar VIII Festival de Cinema de Natal Incentivo à Produção Musical do Rio Grande do Norte Projeto Renascer (bandas de música) Projeto “Seis e Meia” Encontro de Cultura Popular do Rio Grande do Norte Encontro de Emboladores do Rio Grande do Norte Projeto “Chico Traíra” Um Presente de Natal (auto natalino) Implantação de “Casas de Cultura Popular” 227


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SEXTA PARTE

INFORMAÇÕES SUPLEMENTARES Referências históricas sobre o prédio-sede da Fundação ........................... Lei Câmara Cascudo ............................................................................................................................................ Depoimentos de ex-funcionários ........................................................................................................... Maria Eliene Ferreira de Souza ................................................................................................. Maria Aparecida Feitosa Fernandes ............................................................................. José Camilo de Barros ............................................................................................................................... Terezinha Dantas Gadelha ............................................................................................................... Maria Nazareth de Freitas Barros ......................................................................................... Prognósticos dos ex-presidentes ...................................................................................................... Interiorização da ação cultural ........................................................................................................... Comentário final .............................................................................................................................................................

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Referências históricas sobre o prédio-sede da Fundação É bastante razoável supor que tudo (ou quase tudo) o que se fez, e que tenha alguma importância (histórica, social, política, cultural, econômica, jurídica, urbanística, etc.) esteja, de forma mais ou menos detalhada, registrado ou pelo menos anotado em algum lugar. Para isso existem cartórios, arquivos, bibliotecas, centros de processamento de dados. Tais informes podem estar transpostos, segundo sua natureza, em atas, certidões, escrituras, cadastros, relatórios, correspondências, crônicas e textos memorialísticos, entre outros, contendo, assim, parcelas consideráveis dos fatos e feitos da comunidade a que pertencem. Contudo, não havendo a sistemática organização de tais arquivos, se os milhares – dezenas de milhares! – de referências estão dispersos, mesmo parcialmente dispersos, sem meios adequados e eficientes a serem prontamente localizados, em termos objetivos não se tem a informação. A propósito, vejamos o que ocorreu há cerca de trinta anos, em troca de correspondência entre duas insuspeitas personalidades do Estado. Em 1972 a Fundação José Augusto publicou a obra Uma História da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte, escrita por Luís da Câmara Cascudo. A carta do Deputado Moacyr Duarte (1971), então presidente daquela instituição, ao historiador propondo o trabalho, é verdadeiro libelo ao aparente descaso com que era tratado o acervo da Casa. Não apontou responsáveis, é certo, pois a sua crítica não se dirigia aos antecessores, especificamente, antes constituindo um alerta às novas gerações de parlamentares e à própria comunidade: tratava-se de um traço cultural, ou 40 Anos

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seja, aquele “descaso” decorria, sobretudo, da falta de uma consciência crítica mais apurada por parte da própria sociedade. A certa altura de sua correspondência, diz o Deputado: Há nesta Assembléia, um abismo entre o passado e o presente... verifiquei que a Assembléia Legislativa não possui sequer os anais e os apontamentos que testemunhem, perante a Crônica dos tempos, a sua existência e a sua sobrevivência (op. cit., p. XI). Mais adiante, na mesma página: (...) jamais alguém preocupou-se em corporificar, em letra de forma, a história do Poder Legislativo norte-rio-grandense. Há quando muito, na tradição oral, na reminiscência e na saudade de uns, na lembrança e na evocação de outros, o reconto dos fatos, episódios, debates, polêmicas, apartes e discursos que assinalaram uma época, marcaram um período ou simbolizaram um estado de espírito coletivo ou comunitário. Segue o texto reiterando a necessidade de reconstituir os caminhos da Assembléia Legislativa. Declara Cascudo, em resposta, que em 1953 concluíra estudo sobre a Assembléia (...) pela primeira vez reunindo a esparsa e tumultuosa documentação, de arquivo e jornais, testificando a vida coletiva da entidade desde fevereiro de 1835 (idem, p. XIII).(31) Acrescenta que naquele mesmo ano fizera entrega solene dos originais, os quais lhe foram devolvidos posteriormente porque um funcionário benemérito temia o inevitável desaparecimento. Adianta, ainda, que quatro anos antes tentara editar seu trabalho, mas não encontrara apoio: Os originais ficaram em palácio do governo, potencialmente perdidos e sem interesse pelo meu esforço. Enfim, aceitava o encargo mas com a condição de recuperar seus originais, o que evidentemente conseguiu. O livro referido acima, pois, é uma revisão daqueles originais de 1953 com uma reestruturação dos capítulos, conforme assinala o próprio autor. Das duas correspondências extrai-se, em síntese, as informações de que (a) o acervo da Assembléia estava, então, disperso e desorganizado; (b) o estudo de Cascudo, de 1953, fora elaborado através da análise de esparsa e tumultuosa documentação e, (c) o trabalho de 1972, por decorrência, consistindo numa revisão do anterior, provavelmente se ressente da profundidade que o mestre lhe daria, fossem outras as condições de organização dos arquivos da Assembléia. Há outros exemplos históricos, claro. Que não tenhamos memória; nunca se diga que não temos história! – disse Djalma Marinho em depoimento ao programa Memória Viva, da UFRN, o que de certa forma vem ao encontro do raciocínio acima. Os fatos importantes desta comunidade certamente estão registrados nos escaninhos das repartições públicas, conquanto nem _________________________ (31)

A Assembléia Legislativa da Província do Rio Grande do Norte foi instalada em 02.02.1835.

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sempre seja possível o seu acesso justamente pela ausência de uma criteriosa e funcional classificação e ordenação dos respectivos documentos. Dissemos, alhures, das extremas dificuldades com que não poucas vezes nos deparamos, no curso deste trabalho, exigindo esforço suplementar dos pesquisadores que, com dedicação e tenacidade, a cada busca frustrada recorriam a outras prováveis fontes, na obstinada procura do fato aferido na indiscutível verdade documental. Mesmo assim ocorreu para a confecção do presente item: aparentemente das mais simples e elementares, informações sobre a origem do prédio-sede da Entidade tornaram-se, de repente, talvez as mais dificultosas. Com efeito, as únicas referências disponíveis eram as de que, nele, que pertencera à Associação dos Professores, funcionara a Escola Normal de Natal, o Atheneu feminino e a Faculdade de Filosofia. Não tínhamos sequer as datas daquelas ocupações, quando pretendíamos informes bem mais conseqüentes e consistentes: quando foi construído, quem o construiu e com que fim o fez, como eram suas linhas originais – se é que foram alteradas –, se há algum elemento histórico em suas raízes, etc. Nada. Nenhuma luz sobre tais questionamentos. E não só na Fundação, onde consultamos os setores pertinentes, inclusive a Biblioteca Pública Câmara Cascudo; também não as tem o Atheneu, o Instituto Histórico e Geográfico nem, tampouco, a Biblioteca da Secretaria do Meio Ambiente e Urbanismo. De indicação em indicação fomos encontrá-las, por fim, num livro publicado pela Companhia Editora do Rio Grande do NorteCERN, em 1985, História da Associação dos Professores do Rio Grande do Norte, de autoria do Prof. José Haroldo Teixeira Duarte. Essa Associação foi fundada a 04 de dezembro de 1920 por algumas ilustres figuras da área educacional de então, dentre as quais os professores Amphilóquio Carlos Soares da Câmara, Luís Antônio Ferreira Souto dos Santos Lima, Francisco Ivo Cavalcanti, Luís Correia Soares de Araújo e Clementino Hermógenes da Silva Câmara,(32) os quais definiram como uma de suas metas prioritárias a de instalar-se em sede própria, o que aliás costuma ocorrer com qualquer organização que se pretenda duradoura. Não demoraria muito, considerando as dificuldades inerentes a tão ambicioso projeto: pouco mais que dois anos. Precisamente a 1º. de maio de 1923 estabelecia-se na Rua Jundiaí, 641, bairro do Tirol. Na mesma data e local foi inaugurado o Grupo Escolar “Antônio de Souza” (ver encarte a seguir), provavelmente em homenagem ao Governador do Estado à época, Antônio José de Melo e Souza, também conhecido como Polycarpo Feitosa, pseudônimo que utilizava em suas peças literárias, e que dera amplo apoio ao empreendimento. _________________________ (32) Todos esses nomes, inclusive o de Polycarpo Feitosa, citado mais adiante, constituem verbetes no título Personalidades Históricas do Rio Grande do Norte (Século XVI a XIX), CEPEJUL/FJA, 1999.

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Anos mais tarde (janeiro de 1937), o prédio foi alugado ao Governo Estadual para instalar, em suas dependências, a Escola Normal de Natal, o que perduraria até meados da década de cinqüenta. Em algum momento, após 1937 – provavelmente no início dos anos 40 –, no mesmo prédio passou a funcionar simultaneamente o Colégio Estadual do Atheneu Norte-rio-grandense, secção feminina. Quanto à Faculdade de Filosofia, também inaugurada no mesmo imóvel, foi criada pela resolução nº. 1, de 12 de março de 1955, mas só iniciaria as atividades dois anos mais tarde, em março de 1957. No início dos anos sessenta a APRN atravessava séria crise financeira, inclusive correndo o risco de ter seu patrimônio desapropriado, tal o sistemático acúmulo de dívidas junto a fornecedores diversos e, até, ao Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários-IAPC. O então Governador do Estado, Aluízio Alves – conforme ele mesmo menciona em seu depoimento – , propôs saldar os débitos e, concomitantemente, a sua aquisição; o Governo criaria uma Fundação, (...) a fim de dirigir e assumir a responsabilidade pela Faculdade de Filosofia, ficando assegurada a permanência dos professores em suas respectivas cadeiras (DUARTE, p. 122). Em linhas gerais, essas são as informações disponíveis sobre o prédiosede da Fundação José Augusto, o qual, como se vê, sempre teve uma destinação cultural.

Lei Câmara Cascudo Dadas as restrições orçamentárias nas três esferas do Poder, as atividades culturais – expressamente as manifestações artísticas em todos os níveis – gestaram, no decorrer dos anos 90 sobretudo, idéias pertinentes à participação da iniciativa privada nesse processo, a partir do abatimento de determinadas frações do imposto de renda devido. Dentro desse espírito o Poder Legislativo do Estado do Rio Grande do Norte decretou, ao fim daquela década, e o Governador sancionou a Lei nº. 7.799, de 30 de dezembro de 1999, a qual “(...) Dispõe sobre a concessão de incentivos fiscais para financiamento de projetos culturais no âmbito do Estado do Rio Grande do Norte, e dá outras providências”. O Art. 3º. da citada lei estabelece, outrossim, a criação da Comissão Estadual de Cultura-CEC, destinada ao gerenciamento do programa instituído, vinculando-a à Fundação José Augusto, e determina que a presidência da referida Comissão seja exercida pelo Diretor-Geral da Fundação. Sem constituir, portanto, um setor desta Entidade é, como vimos, mais um instrumento a ela vinculado que vem em apoio ao enfrentamento das profundas lacunas ainda existentes no estímulo aos produtores culturais. 234

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Os objetivos desta lei compreendem, basicamente, duas ordens de intervenção, a saber: (a) promover o incentivo à pesquisa, ao estudo, à edição de obras e à produção das atividades artístico-culturais nas áreas das artes cênicas, plásticas e gráficas; cinema e vídeo; fotografia; literatura; música; folclore e tradições populares; museus, bibliotecas e arquivos; (b) promover a aquisição, manutenção, conservação, restauração, produção e construção de bens móveis e imóveis de relevante interesse artístico, histórico e cultural. Efetivamente, seu funcionamento inicia-se no ano 2.000 (V. data da promulgação da lei). Ano-a-ano, neste curto período, percebe-se uma ligeira evolução no entendimento dos agentes envolvidos (produtores culturais, empresários e responsáveis pela intermediação), face ao inusitado da iniciativa. No primeiro momento, porém, ressaltavam um profundo desconhecimento por parte de uns, desconfiança dos empresários e despreparo dos agentes captadores de recursos, tais as reações ao aparentemente complexo mecanismo financiador da cultura. Consolidando-se pouco a pouco, esta lei veio para engrandecer o cenário cultural do Estado, uma vez consideremos os seus propósitos de melhorar a qualidade do produto cultural e de aumentar a rentabilidade dos produtores, conseqüentemente permitindo-lhes um maior alcance em sua prestação de serviços, de certa forma – no artesanato, por exemplo – abrangendo a proposta do “lazer cultural” ofertada pela chamada indústria do turismo, hoje aspecto exponencial na economia do Rio Grande do Norte.

Depoimentos de ex-Funcionários Em qualquer dos setores que compõem a Fundação José Augusto encontraríamos personagens que, seguramente, enriqueceriam este trabalho. Pelo que os conhecemos o fariam com a lembrança de fatos expressivos que por certo permeiam e ilustram sua trajetória funcional e, neles estruturados, com a emissão de opiniões e pontos de vista sobre o que é e o que representa este Órgão no contexto cultural e humano da cidade. Não estamos nos referindo a estratos específicos, a conjuntos segmentados de servidores cuja performance profissional, por exemplo, os tenham eventualmente projetado de forma singular. Não operamos, aqui, no sentido de grupá-los segundo a importância das funções que exerceram, 40 Anos

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do seu nível intelectual ou idiossincrásico, mas, sim, apenas enquanto indivíduos pensantes, criaturas capazes de ver, ouvir e sentir a realidade que os cerca e de emitir, face a tal percepção, conceitos, juízos de valor a respeito. Alguns, fluentes, letrados; outros, humildes; todos, não obstante, indistintamente, cheios de sensibilidade, ávidos a dar seu testemunho e a sua contribuição para a obra comum de renovada construção – pedra a pedra, até a pedra angular – desta Entidade. São eles valorosos tipos humanos, “grandes figuras”, como diria Siminéa, com os quais houve por bem o acaso agraciarnos com a convivência diária. Gostaríamos de contar com a palavra de cada um deles; de dispor de suas impressões e comentários. Não sendo possível, contudo, dada a exigüidade de espaço e de tempo, pretendemos homenageá-los e a todo o corpo funcional transcrevendo resumos de depoimentos que nos foram gentilmente prestados por alguns dos que o integram. É com profundo respeito que falam sobre a Fundação, nisso especialmente há unanimidade, e se fluem com um certo sabor de nostalgia pelos meandros do passado, não escondem, no discurso do presente, a inquebrantável fé e convicção no futuro. Aliás, é notável como as pessoas se apegam a esta Casa. Certamente este fenômeno ocorre com mais intensidade entre os servidores antigos, todavia é bastante perceptível esta sensação em outros escalões, até mesmo por parte de quem aqui passa um curto período. É como diz Diógenes: A Fundação parece que tem um visgo, que pega as pessoas e essas se apaixonam e a ela se dedicam, de corpo e alma. Vejamos o que alguns dos nossos amigos nos têm a dizer (esclarecemos que estes depoimentos nos foram concedidos em 1991). Maria Eliene Ferreira de Souza Eliene é a mais antiga funcionária da Fundação José Augusto, aqui chegando em abril de 1963. Foi ela quem “preparou” o gabinete para a posse do Dr. Hélio Galvão, o primeiro presidente. Corroborando o que dissemos no início a respeito da importância assumida pela ação educacional, nos primeiros anos de existência da Fundação, diz que, (...) logo em seguida (à posse do presidente) foram ativadas as Faculdades de Filosofia e Jornalismo e, dois anos depois, criada a de Sociologia. Comenta, sobre o assunto: Apesar das dificuldades, o Dr. Hélio tinha acesso ao Governador Aluízio Alves e conseguiu fazer fluir o trabalho, resultando numa verdadeira consagração educacional para a cidade. 238

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Sem descer a detalhes sobre as causas que originaram o afastamento do Dr. Hélio Galvão da Presidência da Fundação José Augusto, menciona sutilmente o fato: isso não evitou, contudo, que o Dr. Hélio entrasse em rota de colisão com determinações superiores, fazendo-o afastar-se da Presidência. Com a saída do Dr. Hélio Galvão assumiria o cargo a Junta Governativa de que tratamos em outra parte, questão assim abordada por Eliene: Foi designada uma Junta Governativa (para dirigir a Fundação José Augusto) composta por Paulo Viveiros, presidente, Ney Gurgel e Fernando Gomes, depois entrando Bianor Medeiros e Jurandyr Navarro. Naquele tempo, conta-nos Eliene, (...) todas as atividades desenvolvidas pela Instituição deveriam constar em uma ata, lavrada mensalmente e enviada ao Quartel General. Ela, na condição de secretária, era a portadora desse e de outros documentos encaminhados àquela unidade militar.(33) Veio, depois, Ilma Melo, que (...) procedia de modo muito particular e fez brilhante administração, diz Eliene sem explicar tais peculiaridades, resumindose a comentar que, dela, guarda boas recordações. Afora essa breve referência à Prof. Ilma Melo, Eliene não destaca com especialidade nenhum presidente, preferindo dizer que todos eles foram bons e contribuíram para o engrandecimento da educação e da cultura potiguar, incluindo aí os que, à sua época, lutaram para a transferência das Faculdades para a UFRN, ampliando as possibilidades de sucesso de todos eles. Conta a entrevistada que assumiu a Coordenadoria de Pessoal da Fundação na Administração do então Governador Tarcísio Maia,(34) (...) por conhecer o serviço e ser dedicada ao trabalho, faz questão de frisar; detalhando logo em seguida: Eu conhecia protocolo, contabilidade, administração pública e as regras básicas para levar a Coordenação à frente. Ia sempre à Secretaria da Fazenda, à Receita Federal, ao Ministério do Trabalho e ao então INPS para discutir, conciliar e aprender cada vez mais sobre leis, processos e decisões. Mantendo-se isenta e imparcial em suas posições, sempre muito claras, é considerada, com justiça, uma das funcionárias mais eficientes da Instituição. Aponta Cidinha, Coordenadora de Finanças da Fundação, uma de suas amigas mais caras; juntas, trabalharam para o sucesso da Entidade. Relembra com saudade a Fundação dos primeiros tempos, tudo mais simples e tranqüilo, o edifício-sede era ainda o original, com uma passarela na entrada, uma pequena rampa, a Sala dos Grandes Atos. Depois, os sucessivos presidentes foram aumentando os espaços, _________________________

Como sabemos, o País vivia àquela época os primeiros anos do regime militar imposto pela Revolução de 31.03.64. (33)

(34) O Dr. Tarcísio de Vasconcelos Maia foi Governador do Estado do Rio Grande do Norte de 15 de março de 1975 a 15 de março de 1979.

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acrescentando-lhe a Gráfica Manimbu, reconstruindo e conservando um patrimônio que, embora digno de elogios, infelizmente necessita urgentes reformas. Tem um grande apreço pela Fundação mas, embora sem rancores, guarda algumas lembranças não muito agradáveis. Em todo caso, conclui, valeu a pena. Maria Aparecida Feitosa Fernandes Há vinte e oito anos – a Fundação tinha apenas dois de inaugurada –, o clima entre os funcionários era de manifesta amizade e espírito de grupo. Contribuía para isso alguns fatores aparentemente fortuitos mas, na verdade, fortemente associativos. Em primeiro lugar, o Órgão não era tão departamentado quanto hoje, o que pressupõe uma maior aproximação física entre os seus servidores; inversamente, a ampliação setorial da atualidade envolve nada menos que onze espaços físicos diversos na capital, afora um sem-número de dependências ocupadas na sede, e dois no interior do Estado.(35) Ademais, justamente por ter um quadro de pessoal bastante reduzido, havia transporte para todos (uma Kombi apanhava-os em casa e fazia o percurso inverso ao final do expediente), fornecimento de lanches e de fardamento, “inclusive sapatos e bolsas”. Essas coisas nos foram contadas por Cidinha (Maria Aparecida), que aqui chegou naquela época, na condição de uma simples datilógrafa. Cidinha é um exemplo daquelas pessoas que, pela vontade fortalecida na fé, pela persistência, conseguiram se afirmar profissionalmente. Com muita dedicação ao trabalho e esforço para aprender técnicas do serviço contábil, ela tornar-se-ia uma verdadeira expert no assunto, dominando-o como poucos. Dá-nos um exemplo de sua luta e de sua determinação: Em certo período, não tínhamos máquina de calcular e eu preparei a folha de pagamento do 13º. salário dos professores da Faculdade de Filosofia à mão. Isso é admirável. E não foi, apenas, num momento crucial; em várias oportunidades repetiram-se iniciativas do gênero. Quando Sanderson Negreiros assumiu a Presidência, em meados da década de 70, criou uma chefia para o Setor Financeiro, hoje uma coordenadoria; desde então, Cidinha a ocupa (excetuando-se o período de Administração Woden Madruga, quando foi remanejada para a Coordenadoria de Serviços Gerais). Diz ela, com emoção: Assumir a Chefia do Setor Financeiro foi o momento mais gratificante de minha vida _________________________

O prédio-sede (inclusive a Gráfica Manimbu), o Memorial Câmara Cascudo, as Bibliotecas Câmara Cascudo, Zila Mamede e Myriam Coeli, a Escolinha de Arte Cândido Portinari, o Instituto de Música Waldemar de Almeida, o Teatro Alberto Maranhão e os museus Café Filho, de Arte Sacra do Rio Grande do Norte e do Forte dos Reis Magos. No Interior, os Museus Capitão Antas, em Pedro Avelino, e do Solar do Ferreiro Torto, em Macaíba.

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funcional, pois ascendia de uma simples mecanógrafa pelo interesse e competência, mesmo sem curso superior, e complementa que sua formação se deu procurando informações em órgãos de direito, como a Secretaria da Fazenda e o Tribunal de Contas do Estado. Sobre os presidentes, destaca Franco Jasiello pelo amor e dedicação à Fundação José Augusto, Cláudio Emerenciano por haver melhorado os níveis salariais dos funcionários e Valério Mesquita pela firmação de convênios, editoração e restauração de monumentos, isto é, pelo volume de atividades realizadas. Cita uma particularidade curiosa: na época de Franco Jasiello eu o substituía em suas ausências, autorizada por portaria. A certa altura de seu depoimento Cidinha fala do valor afetivo de sua relação com a Fundação José Augusto: O meu amor pela Fundação se foi expandindo à medida em que o tempo passava e aumentavam as responsabilidades. Passei a considerar o ambiente de trabalho como uma extensão de minha casa, cuidando dos equipamentos que adquirimos com tanto sacrifício através de convênios. Passei, inclusive, noites inteiras trabalhando em balanços e relatórios que eu mesma datilografava. Após pequena pausa, prossegue: A minha dedicação e amor pela Fundação são tamanhos que não gozo férias. Quando estava de licença gestante da minha terceira filha, com apenas quinze dias, retornei ao serviço atendendo o pedido do Presidente Sanderson Negreiros, embora saindo mais cedo para amamentar a criança. Não é preciso dizer mais nada, a não ser que tem o nosso respeito e a nossa mais profunda admiração. José Camilo de Barros No dia 1º. de fevereiro de 1965 Camilo chegou à Fundação com uma função definida: vigia. A vaga, no entanto, sumira; o antigo titular desistira de sair e o Dr. Hélio Galvão, que convidara o entrevistado, deslocou-o para a função de contínuo. Nela permaneceria até 1970, quando assumiu o Almoxarifado, vinculado ao Setor de Serviços Gerais. Confirmando o que nos disseram os outros entrevistados, Camilo comenta sobre o transporte gratuito dos funcionários, face ao reduzido quadro de pessoal existente. Sobre o trabalho, relembra: Os serviços foram aumentando e, antes de terminar a década de 70, havia muito material para se cuidar. A Fundação tinha uma frota de oito veículos, dentre os quais uma caminhonete (para o transporte de mercadorias próprias à Fundação ou à Gráfica Manimbu); esta chegava cheia de bobinas de papel, folhas e maços, necessitando da ajuda de todos (para descarregá-la). E não se resumia a uma viagem só; eram três ou quatro. Isso dá a idéia de como havia material a nosso dispor, ao contrário de hoje, que pouco recebo, embora os serviços e as responsabilidades tenham se multiplicado. 40 Anos

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Vivenciou momentos folclóricos nos tempos duros de restrição dos direitos de cidadania, quando soldados rondavam a Fundação – por ser órgão educacional – combatendo alguns estudantes que se manifestavam contrários à repressão. Lembra-se, inclusive, de uma tarde na qual eles chegaram com baionetas, fustigando os garotos e criando celeuma inimaginável. Fala bem de todos os presidentes, sem destacar qualquer deles, pois todos cumpriram sua missão, de uma forma ou de outra, mas guarda boas recordações do pintor Newton Navarro, quando diretor da Escolinha Cândido Portinari. Ele e seus colegas sempre viveram bem, entre política e baionetas, trabalhando, suprindo, fazendo funcionar um organismo que nasceu para ser útil à sociedade, à educação e à cultura do Rio Grande do Norte. Não está arrependido do que foi e do que fez; chegando sua aposentadoria, jamais deixará de vir aqui. Ama demais a Fundação. Terezinha Dantas Gadelha Terezinha chegou à Fundação em fevereiro de 1966, nomeada pelo então Presidente Dr. Hélio Galvão, para trabalhar como datilógrafa no Museu do “Sobradinho”.(36) Lá passou três dias, sendo transferida para o Instituto Juvenal Lamartine de Pesquisas Sociais, cujas atribuições incluía administrar a Faculdade de Sociologia e Política. Sua nova função foi a de secretariar a direção da Faculdade, a cargo do Dr. José Augusto Pérez. Foi Terezinha quem fez a matrícula dos primeiros alunos daquela instituição de ensino. Posteriormente, com a posse da nova diretora da Faculdade – Flórida Accioly, socióloga pernambucana –, foram executadas várias pesquisas, dentre as quais Terezinha destaca uma sobre alimentação, outra sobre o mercado do pescado e as indústrias do Estado, afora importante investigação sobre o mercado de trabalho. Terezinha, que também foi secretária na nova administração, diz que, para desenvolver aqueles estudos, o Instituto contava com uma dinâmica equipe de técnicos especializados. Todas essas pesquisas canalizavam recursos para a Fundação. Foi uma época de bastante trabalho – relembra. Quando a Faculdade de Sociologia foi agregada à UFRN e o Instituto desativado, alguns funcionários foram demitidos mas Terezinha, convidada a permanecer pelo então Presidente Sanderson Negreiros, aceitou. Lotada no almoxarifado, organizou o sistema de entrada e saída _________________________

A entrevistada está se referindo ao Museu Café Filho, também chamado de Museu do “Sobradinho” por ser o primeiro prédio assobradado de Natal; a configuração estética do teto dessa edificação também lhe confere a denominação de “Véu de Noiva”. (36)

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de material. Em seguida, passou a integrar o quadro de servidores do Setor de Serviços Gerais, auxiliando o seu responsável, Murilo de Brito. Do Setor de Serviços Gerais, Terezinha foi trabalhar no Setor Financeiro, com Cidinha, permanecendo ali até 1980, quando solicita ao Presidente Cláudio Emerenciano seu retorno à área de pesquisas (àquela época o Instituto havia sido transformado em Centro, o CEPEJUL) e é prontamente atendida. Desde então encontra-se neste setor, tendo a oportunidade de realizar vários trabalhos, dentre os quais uma pesquisa sobre a vida e obra de José Augusto Bezerra de Medeiros, Patrono da Entidade, e a coordenação do levantamento de usuários da CAERN, afora haver secretariado todos os diretores do Centro desde aquele ano. Segundo Terezinha, a convivência entre o Instituto de Pesquisas e a Faculdade de Sociologia era a melhor possível, tanto do ponto de vista administrativo quanto funcional, a ponto de trabalhos de tabulação serem feitos em sua casa, nos finais de semana, por um grupo de trabalho por ela constituído. Seu curso de Ciências Sociais, iniciado na Fundação José Augusto e concluído na UFRN, teve, seguramente, influência do trabalho que desenvolvia no antigo Instituto. Indagada sobre os funcionários da Fundação naquela época, diz que, com raras exceções, desenvolviam suas atividades com amor, destacando dentre eles Eliene, Cidinha e Lenício Queiroga. Era uma equipe realmente dedicada. Quanto aos presidentes tem admiração e apreço por todos, mas destaca o Prof. Cláudio Emerenciano por duas razões: primeira, por tê-lo conhecido desde a infância; depois, por entender que foi o presidente que mais se preocupou com os servidores. Hoje temos – diz ela –, na pessoa do Dr. Iaperi, um homem dinâmico, conhecedor profundo das necessidades e enfoques da cultura norte-riograndense, além de ser muito bem relacionado com os funcionários. Encerrando, Terezinha fala do seu amor pela Fundação e esse é o traço dominante nesta série de depoimentos, conforme dizíamos páginas atrás. Observa que foi através dela que criou e educou os seus filhos, razão pela qual a tem como uma extensão de sua própria casa, de sua família. E conclui: Que Deus abençoe a Fundação... Maria Nazareth de Freitas Barros D. Nazareth é uma das mais antigas servidoras em exercício no Serviço Público Estadual. Começou a trabalhar no Colégio Estadual do Atheneu Norte-rio-grandense em 1945, quando funcionava na Avenida Junqueira Aires, próximo ao Palácio Felipe Camarão, sendo transferida em 1954 para o então recém-inaugurado prédio da Rua Campos Sales, em Petrópolis. Seus olhos 40 Anos

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brilham quando fala daquele período de sua vida, de seu carinho por aquele educandário. Em 1966 veio para a Fundação José Augusto, a princípio sendo lotada na secretaria da Faculdade de Jornalismo, depois sendo incorporada ao Setor de Pessoal da Fundação, onde se encontra até hoje. São, portanto, 48 anos de atividade plena, dos quais 27 dedicados a esta instituição, e este fato, se pressupõe um “receio” implícito da aposentadoria, não esconde, explicitamente, um notável exemplo de apego ao trabalho. Com efeito, ela é responsável pelos serviços inerentes às carteiras do PIS, PASEP, RAIS, certidões e assemelhados, desenvolvendo suas tarefas com criteriosa atenção e esmero. Aqui chegou trazida pela diretora do Curso de Jornalismo, à época, Profª Ivone Barbalho, e desde os primeiros dias exerceu múltiplas atividades, ganhando a simpatia dos estudantes, professores e demais funcionários. Um registro curioso: foi d. Nazareth quem assinou o primeiro diploma expedido por aquela Faculdade, na condição de diretora substituta, entregue ao acadêmico Geraldo Queiroz, hoje (1991) Reitor da UFRN. Não aponta qualquer funcionário como particularmente destacado e considera-se amiga de todos, mas por diversas vezes cita o nome de Auxiliadora com uma ponta de indisfarçável admiração. Com relação aos presidentes, a princípio se mostra irredutível, afirmando reiteradas vezes que todos foram igualmente importantes. À insistência de Afrânio e Albano, que a entrevistaram, diz que o Dr. Hélio Galvão distinguiu-se pelo dinamismo e que era uma ótima pessoa para os funcionários; o Dr. Paulo Viveiros se mostrou extremamente exigente e Cláudio Emerenciano, excelente presidente, destacando-se por haver realizado uma notável administração, com a criação de Centros, reestruturação do Órgão e valorização do funcionalismo. Ressaltou o amor, a dedicação, o gostar desta Casa, visto que houve oportunidade de transferir-me para a Universidade junto com a Faculdade de Jornalismo, mas optei por permanecer: já estava apegada a esta Fundação de Cultura, finalizou.

Prognósticos dos ex-Presidentes Como vimos em itens anteriores, há muita unidade de pensamento quanto à importância do órgão e à relevância do papel que desempenha no âmbito cultural do Rio Grande do Norte. Segundo os seus depoimentos, é unânime a convicção de que, em que pese os obstáculos e dificuldades com que se tem havido, notadamente no setor econômico-financeiro (e não só pela conjuntura crítica que atravessa a 244

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sociedade mas, inclusive, pela ausência nos planos governamentais da cultura como uma das prioridades no processo de desenvolvimento), a Fundação José Augusto tem demonstrado sensível capacidade para a execução de uma política cultural efetiva. Por outro lado, se a maioria julga fora de discussão a perspectiva de que a Fundação se consolidará, necessária e forçosamente, como órgão cultural do Governo Estadual, a não ser que surja um debilóide que a destrua, outros fazem a ressalva de que isso dependerá, exclusivamente, da sensibilidade e vontade dos futuros Governos: os recursos são demasiado escassos, a própria Constituição Estadual não privilegia a cultura como era de se esperar. Assim, dizem, é improvável qualquer crescimento e evolução se os investimentos na área continuarem meramente em nível emergencial. Vimos uma opinião que, mesmo aparentemente dura, é tão lúcida quanto as demais e basicamente de uma objetividade e clareza absolutamente incontestável. Diz um ex-presidente que não devemos ter ilusões: Inexiste na prática, o Ministério da Cultura. Cultura é investimento. Se não há dinheiro para tal objetivo não podemos traçar planos nem tampouco, antever perspectivas. Improvisar e assumir as feições das circunstâncias são as alternativas, lamentavelmente. É uma mensagem contundente mas realista e, na verdade, vem em apoio ao depoimento dos demais. São opiniões seguras e claras, oriundas de quem esteve à frente dos problemas da Instituição. Elas devem ser levadas em conta, em qualquer plano.

Interiorização da ação cultural Em algumas outras ocasiões a Fundação José Augusto tentou implementar ações que levassem, de forma objetiva, à interiorização de suas iniciativas.(37) Foi assim com os Projetos Circo da Cultura e Feiras Culturais, por exemplo, dois importantes instrumentos, como vimos em outras partes deste estudo, mas que, ou por serem estruturas móveis e, assim, de natureza temporária (ambas passavam curtos períodos em cada cidade, às quais dificilmente retornariam), ou por ausência de envolvimento mais efetivo das respectivas Prefeituras Municipais, não lograram colher os frutos de intervenções plenas e duradouras, aptas a assegurar um trabalho sistemático junto às camadas jovens da população. A implantação do Sistema Estadual de Bibliotecas, evidentemente, também terá sido significativa proposta, tal como o plano de restauração de _________________________

Vários presidentes, a partir da gestão de Diógenes da Cunha Lima (1970-1974), tentaram operar um plano efetivo de interiorização da ação cultural, alguns o conseguindo apenas parcialmente. (37)

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Foto: Ivanísio Ramos

monumentos históricos e artísticos – vinculado ao Programa Integrado de Reconstrução das Cidades Históricas do Nordeste –, não obstante, por sua vez, atingirem faixas limitadas de público. A atual administração, fundamentada neste princípio – sem descurar-se, no entanto, dos aspectos tidos como elitistas das suas linhas programáticas (artes plásticas, música erudita, literatura, etc.) –, busca concretizá-lo de forma consistente e, tanto quanto possível, conseqüente, para o que criou a Revista “Preá” e o Programa “Casas de Cultura”, cujas concepções estão direcionadas para tal fim, muito embora a revista também divulgue a cultura potiguar para além-fronteiras do Estado e da Região. Quando dizemos tanto quanto possível conseqüente é no sentido de que tenham continuidade, independentemente das circunstanciais alternâncias partidárias nos poderes públicos estadual e municipal: o complexo de padrões de comportamento, as crenças e costumes, tradições e formas de expressão são peculiares e exclusivos a cada comunidade, e são, portanto, elementos constitutivos da sua identidade cultural, não podendo permanecer indefinidamente submetidos aos humores passageiros dos administradores. Com efeito, estes dois agentes constituem importantes elementos na atual política cultural do Órgão, sob a liderança ativa e participativa do Presidente François Silvestre de Alencar, a partir de “determinação expressa da Governadora” (V. Nota da Presidência, p. 9). Tal perspectiva expande o raio de atuação da Entidade, concretiza um sonho de várias gerações e dignifica a cultura do nosso povo.

François Silvestre, atual Presidente da FJA; Solar da Baronesa, onde está instalada a Casa de Cultura de Açu, na Praça São João, principal logragradouro daquela cidade. 246

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Comentário final Chegamos ao fim do nosso trabalho. Refizemos o roteiro palmilhado pela Fundação José Augusto desde o longínquo ano de 1963. Nele, falamos de tudo – ou de quase tudo. Falamos dos primeiros tempos, das faculdades, dos centros culturais e das suas atividades. Discorremos a respeito dos monumentos históricos e dos museus, os quais representam as nascentes da nossa formação enquanto sociedade organizada. Dissemos das tintas e cores vivas destas artes tropicais, da forma que enaltecemos a verve dos nossos escritores e a estuante vitalidade expressa nos versos dos nossos poetas. O teatro, o folguedo, a cultura popular, estão nestas páginas das quais não sem esforço escondemos – nós, que fazemos a Fundação José Augusto – um pouco de orgulho por termos dado parcela de contribuição para a obra comum. Mas, a Fundação não é feita, apenas, deste seu lado vistoso: para que espoquem as notas das sinfonias ou brilhem os lustres da Sala dos Grandes Atos, todo um trabalho de bastidores há de ter sido realizado, da forma que, para escrevermos sobre a história da Entidade, recorremos ao seu Arquivo Geral. Assim, neste comentário final pretendemos lembrar, rapidamente, alguns aspectos da Fundação que, ou por não conterem os atrativos e interesses que suscitam, por exemplo, a descrição de como surgiram os diversos setores e a narrativa dos presidentes, ou por não representarem, por si sós, elementos ponderáveis para a compreensão do contexto histórico em que eles se deram, não lograram destaque nestas páginas, senão em circunstanciais referências. Os setores de Contabilidade, de Pessoal e de Serviços Gerais; o Almoxarifado e a Secção de Transporte. São segmentos que também 40 Anos

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contribuem para o brilho da coreografia, para manter o órgão em funcionamento. São pilares de sustentação de todo o arcabouço. Essas referências, mesmo discretas, significam uma mensagem para aqueles servidores que lutam no dia-a-dia, ombro a ombro com todos e com cada um de nós, em busca do aperfeiçoamento do sistema. Se não coube mencionarmos essas peças da engrenagem, porque são a infra-estrutura e seria árido e inconseqüente um discurso contábil, tanto quanto quantificarmos os veículos de nossa frota, cabe referirmos a luta dos nossos companheiros por aprimorar aqueles serviços, reorganizando os arquivos, facilitando-nos os deslocamentos, polindo o assoalho e cada friso desta Casa nesta festa de quarenta anos, tão deles quanto nossa. O CEPEJUL saúda a todos quantos têm colaborado para o engrandecimento da Fundação José Augusto: do conjunto dos Presidentes àqueles que, por quarenta longos anos, não deixaram um dia de varrer o seu piso ou de servir um simples cafezinho. Outro assunto. Na palavra dos presidentes há gritos de alerta, mensagens de confiança no futuro e planos otimísticos. Tudo isso é fundamental, uma vez encontremos o ponto de equilíbrio. O alerta cuida para que mantenhamos os pés no chão e, sempre atentos, aproveitemos as oportunidades. Se possível, até, provocando para que elas surjam. A confiança no futuro é o elã vital que forja a luta do presente e enobrece o trabalho do homem. Sonhar é preciso. Ponhamos um belo sonho lá na frente e o persigamos, e lutemos por ele. Tracemos planos otimísticos e, com a fronte erguida, os encaremos com fé no peito. Credo; qui absurdum non credere, disse Santo Agostinho (Creio, seria um absurdo não crer). Se repararmos bem, já vemos frutos dessa extraordinária semeadura. Que Deus a proteja!

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APÊNDICE

PATRONOS E MADRINHAS (dados biográficos) ....................................................................................................................................................... 253 ALBUQUERQUE MARANHÃO, Alberto Frederico de (Patrono de Teatro em Natal) ..................................................................................................... ALCANIZ, Francisco Agripino de (Chico “Traíra”) (Patrono do Projeto Chico Traíra) ...................................................................................................... ALMEIDA, Waldemar de (Patrono do Instituto de Música) ............................................................................................. ARAÚJO, Adjuto Dias de (Patrono do Centro Cultural de Caicó) ........................................................................ ARRUDA CÂMARA, Lauro (Patrono da Casa de Cultura de Nova Cruz) ........................................................ BARBOSA, Edgar Ferreira (Patrono de Prêmio Literário) ............................................................................................................... BILRO, Newton Navarro (Patrono da Escolinha de Artes) .................................................................................................. BRITO GUERRA, Pe. Francisco de (Patrono da Casa de Cultura de Caicó) ........................................................................ CAFÉ Filho, João (Patrono de Museu em Natal) ............................................................................................................... CÂMARA, José Antônio Pinheiro da (Patrono da Casa de Cultura de Martins) .............................................................. CARVALHO E SILVA, Belisária Lins Wanderley de (Madrinha da Casa de Cultura de Açu) .................................................................. CASCUDO, Luís da Câmara (Patrono da Biblioteca e do Memorial) ............................................................................ CASTRO, Josué Apolônio de (Patrono do D.A. da Faculdade de Sociologia) ................................................. 40 Anos

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FARIA, Juvenal Lamartine de (Patrono do Centro de Estudos e Pesquisas) ............................................................ GALVÃO, Hélio Mamede de Freitas (Patrono da Sala dos Grandes Atos) ......................................................................................... GUIMARÃES, Luís Carlos (Patrono de Prêmio Literário) ............................................................................................................. MAMEDE, Zila da Costa (Madrinha de Biblioteca) .............................................................................................................................. MEDEIROS, João Galvão de (Patrono do Solar) ........................................................................................................................................ MEDEIROS, José Augusto Bezerra de (Patrono da Fundação) ........................................................................................................................ MONTE Filho, Lauro (Patrono de Teatro em Mossoró) ..................................................................................................... PARREIRAS, Ary (Patrono de Museu em Natal) .................................................................................................................... PEREIRA, Nilo de Oliveira (Patrono de Museu em Ceará-Mirim) .............................................................................................. PEREIRA PINTO, Alexandre Francisco (Patrono de Museu em Pedro Avelino) .......................................................................... PEREZ, Rossini Quintas (Patrono da Oficina de Gravuras) ....................................................................................... PINHEIRO, Aurélio Valdemiro (Patrono de Prêmio Literário) .................................................................................................... PORTINARI, Cândido (Patrono da Escolinha de Artes) ............................................................................................ SANTOS LIMA, Elias Antônio Ferreira Souto dos (Patrono de Prêmio Literário) ..................................................................................................... SILVEIRA, Myriam Coeli de Araújo Dantas da (Madrinha de Biblioteca em Natal) ............................................................................................... SOBRAL DE MEDEIROS, Mons. Expedito (Patrono do Memorial em São Paulo do Potengi) ............................................... SOUZA, Auta de (Madrinha de Prêmio Literário) ......................................................................................................... SOUZA, Eloy Castriciano de (Patrono da Faculdade de Jornalismo e do CDC) ...................................................... WANDERLEY, José dos Guimarães (Patrono de Prêmio de Dramaturgia) ..............................................................

GLOSSÁRIO ...........................................................................................................................................................

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283 285 287 289 291 293 295 296 297 299 301 303 305 307 309 311 313 315 317 319

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PATRONONOS E MADRINHAS 40 Anos

A exemplo da escolha da personalidade do exgovernador, escritor e memorialista José Augusto para denominar esta Fundação, diversos setores do órgão – centros, teatros, bibliotecas, memoriais, casas de cultura e prêmios literários, entre outros – também elegeram seus representantes, cujos nomes, via de regra, pressupõem manter vivas as tradições artísticas e culturais correspondentes. No instante em que se pretende trazer à luz toda a gama de atuação da Entidade no decurso dos seus primeiros quarenta anos de existência, julgamos oportuno, para consolidar esta pesquisa, incluir alguns traços biográficos de cada um deles, considerando que, sobretudo, as gerações mais novas talvez não os conheça mais detidamente: o que foram, o que fizeram, o que representaram no contexto histórico-cultural. São informações objetivas, na forma usual de verbetes, observando o mesmo estilo adotado para a confecção de Personalidades Históricas do Rio Grande do Norte (século XVI a XIX), trabalho produzido e publicado por esta Fundação em 1999. Uns mais brilhantes, outros mais humildes – todos dignos e insuspeitos exemplos de inteligência, abnegação e envolvimento em seus respectivos domínios –, constituem referenciais para os que, hoje e doravante, pretendam desenvolver atividades na área. Seguem-se os nomes, em ordem alfabética. 253

diversos setores do Órgão –


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ALBUQUERQUE MARANHÃO, Alberto Frederico de (Patrono de Teatro em Natal) Nasceu em Macaíba-RN, a 02.10.1872, filho de Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão e d. Feliciana Maria da Silva e Albuquerque, e irmão de Pedro Velho, Augusto Severo, Amaro Barreto Filho, Fabrício Maranhão e Inês Augusta. Formou-se na Faculdade de Direito do Recife (1892), no mesmo ano tornando-se Secretário de Governo (estava em curso a administração Pedro Velho, acima referido) e iniciando as atividades profissionais como Promotor Público na Comarca de Macaíba (por essa época terá casado com d. Inês Barreto de Albuquerque Maranhão). Naquela década, seria, ainda, Procurador Geral (1898) e Governador do Estado (eleito a 14 de junho de 1899), este último cargo exercendo-o de 25 de março de 1900 à mesma data de 1904. No dia em que deixou o governo, passando-o a Tavares de Lira, substituiu a este na Câmara Federal. Concluída a legislatura (1905), foi reconduzido para o período seguinte (1906-1908). Também em 1908 (a 25 de março) retorna ao Governo do Estado, desta vez para cumprir um mandato de seis anos. Sua atividade política incessante prosseguiria, tornando a ser investido no cargo de Deputado Federal em cinco legislaturas a partir de 1915 e até 1927-1929. Alberto Maranhão ainda hoje é reverenciado como um dos maiores governadores deste Estado. Modernizou o ensino primário, inaugurou a Escola Normal de Natal e o Conservatório de Música, inovou o serviço de bondes da Capital (evoluindo da tração animal à energia elétrica), construiu o Teatro Carlos Gomes – hoje, Teatro Alberto Maranhão –, o Hospital Juvino Barreto, a Casa de Detenção e um abrigo para mendigos. Foi ele quem instalou o Palácio do Governo na Praça Sete de Setembro (1902), até então funcionando num 40 Anos

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prédio da Rua do Comércio (hoje, Rua Chile). Alberto Maranhão abriu as portas do jornal “A República” para os talentos da terra e, enfim, sancionou a lei nº. 145, de 6 de agosto de 1900, autorizando o Tesouro Estadual publicar obras literárias de efetivo interesse para a cultura norte-rio-grandense. “Um dos raros homens de Estado preocupados e enamorados pela cultura literária, arte, música”, dele disse Câmara Cascudo (História do Rio Grande do Norte, p. 491). Sem descaracterizar ou minimizar suas diversas intervenções nos múltiplos compartimentos do complexo administrativo (educação, saúde, segurança pública, estradas, etc.), esse traço – o mecenato – parece, hoje, à distância, haver constituído o elemento personalístico, dominante, em suas administrações. É ainda Cascudo quem o enfatiza: “Intelectualmente foi o maior animador de poetas e literatos locais (...). Orador, jornalista, tomando parte nas tertúlias literárias, determinou uma época de esplendor que não mais se repetiu. A pequena orquestra de salão, financiada pelo Governo, era composta de professores ilustres, uma das melhores do Brasil pelo equilíbrio dos valores componentes, execução maravilhosa e programação superior. As festas em Palácio, os bailes de alta elegância social, os concertos, deixaram fama e saudade” (op. cit., p. 218). Aposentou-se no cargo de Inspetor do Instituto Nacional do Sal. Faleceu em Angra dos Reis-RJ, a 1º. de fevereiro de 1944, e foi sepultado em Parati.

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Fontes: PIRES, Inácio Meira. Teatro Alberto Maranhão e seu Patrono (síntese histórica). Natal: Secretaria de Estado da Educação, da Cultura e dos Desportos, 1975; Personalidades Históricas do Rio Grande do Norte (século XVI-XIX) FJA/CEPEJUL, 1999. Foto: Arquivos da FJA/CEPEJUL.

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ALCANIZ, Francisco Agripino de (Chico “Traíra”) (Patrono do Projeto Chico Traíra) Nasceu no Sítio Pau de Jucá, em Ipanguaçu-RN, a 08.01.1926, segundo o registro oficial (consta que, na verdade, terá sido em 1922). Cantador e repentista famoso, abandonou a viola em virtude de distúrbios pulmonares, recorrendo então ao folheto de cordel como meio de sobrevivência. Desenvolveu sua arte não só nas feiras livres e nas cidades e vilas disseminadas pelos sertões afora mas, inclusive, mantendo programas fixos em emissoras de rádio, atuando em diversos eventos institucionais – alguns promovidos pelo extinto MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), por exemplo – e participando de dezenas de encontros e congressos de violeiros. Certa vez, atravessando dificuldades financeiras, viu-se compelido a expor à venda sua viola. O Deputado Nei Marinho entregou-lhe um ch e q u e n o va l o r e s t i p u l a d o e d e vo l ve u - l h e o i n s t r u m e n t o. Posteriormente, vendeu-a a um amigo cantador. “Fui obrigado a vender / minha viola querida / arrimo de minha vida / a quem amei com ardor...” – prantearia em versos melancólicos a suposta perda (não sabia, ainda, que apenas temporária). Com efeito, após bem-sucedida campanha liderada pela Profª. Lourdinha Guerra tornou a reavê-la, outra vez voltando às mãos do seu legítimo dono que, sensibilizado, prometeu não mais negociá-la. “Um mestre em sua arte!” – eis o parecer unânime de folcloristas e admiradores do gênero. É verbete no Dicionário de Repentistas e Poetas de Bancada, de Átila de Almeida e José Alves Sobrinho (Vol. I, pp. 56 e 307, 1978). Também é citado nas obras 40 Anos

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Poetas e Boêmios do Açu, de Ezequiel Filho (pp. 162-177, 1984) e Repentes e Desafios, de José Lucas de Barros (p. 92, 1985). Faleceu em Natal, a 7 de maio de 1989. Nota complementar A inauguração do projeto “Chico Traíra”, em 1995, coincidiu com o lançamento do cordel “Poemas do Açu”, do próprio Francisco Alcaniz, do qual extraímos as seguintes estrofes: I As formosas paragens do Açu vêm de mil seiscentos e cincoenta, habitada por tribos violentas, por indígena que andava quase nu. Se chamava a aldeia Taba-Açu. Janduís eram os índios do arraial, se estendiam próximo ao litoral, de Açu a Mossoró, a Upanema, empunhando feroz o tangapema. Janduí era o chefe principal.

IV Depois de Vila Nova Princesa Já no ano de mil oitocentos E trinta e cinco com leis e documentos Foi passada à comarca com certeza E sobre esta vasta redondeza Progredia a comarca e prosperava Já um templo católico se elevava Aos incrédulos propondo grande guerra O primeiro vigário desta terra Manuel de Mesquita se chamava.

II Foi em mil seiscentos e noventa e seis que Bernardo Vieira governava, Rio Grande do Norte as leis ditava, enviadas do reino português. A seis de fevereiro dia e mês atacou os indígenas, propôs guerra, Expulsou-os além da grande serra, Estendeu seus domínios e poderes E foi Nossa Senhora dos Prazeres O arraial primitivo desta terra.

V Já criando maior prosperidade De produtos e vários alimentos E no ano de mil e oitocentos Quando é fragorosa a invernada E quarenta e cinco foi cidade Com perfeita municipalidade E a Matriz que o católico a Deus adora D. Clara Macêdo tinha outrora Muita fé em S. João e amou-o tanto Que uma légua de terra deu ao Santo Que cidade de Açu se chama agora.

III O Açu, alguns anos se tornou Esquecido do reino português Mas em mil setecentos e setenta e três Município tornou-se e prosperou Depois de dois anos se instalou Sua sede cresceu, criou riqueza Possuindo alguns meios de defesa Contra o índio feroz na luta afoito Em mil setecentos e setenta e oito Se chamou Vila Nova da Princesa.

VI Está a cidade edificada Com um quilômetro e meio de distância No seu rio que corre em abundância Quando é fragorosa a invernada Ao norte a cidade é limitada Com a linha que faz a divisão Da terra de Santo está então Limitando-se com o córrego na nascente Com o cemitério público no poente E com o sul a fazenda de S. João.

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Fontes: Arquivo da FJA/CEPEJUL; Jornal “O Galo”, edição de agosto de 1999; arquivos do escritor e folclorista Gutemberg Costa. Foto: Arquivos da FJA/CEPEJUL.

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ALMEIDA, Waldemar de (Patrono do Instituto de Música) Nasceu em Macau-RN, a 24.08.1904, filho de Cussy de Almeida e d. Corintha Henriques de Almeida. Estudou no Atheneu Norte-rio-grandense e na Escola de Comércio de Natal. Desde cedo revelou inclinação para a música, “(...) embora contra a vontade do pai, que desejava encaminhá-lo ao comércio”, conforme assinala Veríssimo de Melo (Patronos e Acadêmicos, vol. II, pp. 186-187). Alexandre Brandão foi o seu primeiro professor de piano e aos 10 anos já participaria de uma audição no então Teatro Carlos Gomes, interpretando peças de Beethoven. Mais tarde foi cursar a Escola Nacional de Música, no Rio de Janeiro, dali transferindo-se para a Europa onde passaria cerca de sete anos entre Paris e Berlim, aperfeiçoando-se em técnica de execução, harmonia e teoria musical com os grandes mestres da época. Regressando, deu aulas particulares e foi contratado professor de música e canto orfeônico dos Colégios Atheneu e Santo Antônio. Fundou a Sociedade de Cultura Musical (1932) e o Instituto de Música do Rio Grande do Norte (1933), dirigindo-o por mais de quinze anos. Integrou comissões julgadoras em concursos de piano realizados em várias capitais, como Fortaleza, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, e consta que terá declinado de convite de Vila-Lobos para trabalhar no Rio de Janeiro. Foi, todavia, para Recife (1950), onde prosseguiu sua obra, além de iniciar o curso jurídico. Instalou-se com o ensino particular, simultaneamente, tornandose professor da Escola Normal de Pernambuco. Uma de suas alunas chegou a se apresentar no V Concurso Internacional de Piano Frederic Chopin, em Varsóvia (1955), evento para o qual foi convidado como observador (naquele mesmo ano tornar-se-ia advogado). Criada a Ordem dos Músicos de 40 Anos

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Pernambuco, foi Waldemar de Almeida distinguido com o cargo de primeiro presidente da entidade e com diploma honorífico da Sociedade Lírica de Pernambuco. Era, ainda, membro da Academia Nacional de Belas-Artes, da Academia Norte-rio-grandense de Letras e do Círculo de Estudos da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra; compôs peças musicais baseadas em temas folclóricos e, enfim, publicou as seguintes obras: Do Recife à Varsóvia, Normas Pianísticas – obra clássica sobre o assunto –, Do Recife a Dallas e Hino Nacional Brasileiro, deixando inéditos estudos sobre técnicas pedagógicas na área musical. No Rio Grande do Norte o seu discípulo de maior expressão, provavelmente, foi Oriano de Almeida,(38) intérprete de rara sensibilidade e também compositor. Sua presença no contexto artístico-cultural e histórico do Rio Grande do Norte pode ser sintetizada na feliz expressão de Veríssimo: “Waldemar de Almeida foi o centro irradiador, a partir de 1930, de um dos movimentos musicais mais ativos e brilhantes do Estado” (op. cit., p.186). Faleceu em São Paulo, a 26 de maio de 1975. _________________________

Fontes: AZEVEDO, Aluísio. Cronologia do Rio Grande do Norte: Cinco Séculos de História. Natal: Gráfica Santa Maria, 1996; MELO, Veríssimo Pinheiro de. Calendário Cultural e Histórico do Rio Grande do Norte. Natal: Conselho Estadual de Cultura, 1976, e Patronos e Acadêmicos, vol. II. Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1974.

Nota complementar Afora as referências contidas no verbete acima, aditamos alguns informes que tornam essa excepcional figura mais perceptível, do ponto de vista humano, especialmente para aqueles que não pertenceram a sua geração. Veríssimo de Melo, que foi seu amigo apesar de dezessete anos mais jovem, é quem registra:(39) Era de porte físico imponente, alto, forte, cabeleira vasta e extrema simpatia no sorriso amistoso e constante bom-humor. Generoso até onde poderia ser. Tinha a gratidão como emblema de vida e não tolerava injustiças, em qualquer sentido. Era enérgico em sua metodologia de ensino: a arte pianística era a sua missão e paixão. Fez de cada aluno um amigo. Todos o estimavam. g

Tinha a palavra fácil, foi conversador brilhante. De sua vivência na Europa, principalmente Berlim e Paris, guardava repertório rico de fatos e pessoas com as quais convivera. Os diálogos que reconstituía eram espontâneos, emprestando colorido e vivacidade às cenas que descrevia. g

Foi utilíssima e fecunda sua liderança e atuação. Felizes os alunos que tiveram a ventura de usufruir os ensinamentos do seu saber refinado e privar de sua amizade. g

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(38) Homenageando o mestre, Oriano gravou (1970) o LP “Oriano de Almeida interpreta Waldemar de Almeida”, uma seleção de quinze de suas composições. Foto e referências extraídas da plaquete “Waldemar de Almeida, Noventa Anos de Saudade”, Natal, 1994, de Veríssimo de Melo. (39)

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ARAÚJO, Adjuto Dias de (Patrono do Centro Cultural de Caicó) Nasceu em Caicó-RN, a 07.12.1935, filho de Adauto Dias de Araújo e d. Adalgisa Araújo. Iniciou os estudos em escola particular, fez o primário no Gr upo Escolar “Senador Brito Guer ra” e cursou parcialmente o segundo grau no Ginásio Diocesano Seridoense – ambos em sua terra –, daí afastando-se para se dedicar integralmente à atividade empresarial ao lado do pai. Aos quatorze anos de idade comprou seu primeiro caminhão para transportar cargas. Oito anos depois (1958), já empresário bem-sucedido, casou-se com Cleonice Costa Dias de cuja união nasceram sete filhos (Álvaro, Renato, Anselmo, Humberto, Débora e as gêmeas Andréa e Adriana). Ajudou, ainda, na criação dos irmãos menores Augusto, Adauto Filho e Airton, órfãos do pai em 1969. Sua natureza empreendedora levou-o a adquirir as usinas de beneficiamento de algodão pertencentes a Odilon Ribeiro Coutinho localizadas em Caicó, Serra Negra do Norte e Santa Cruz. Também beneficiou algodão em Jucurutu, ampliando os negócios nessa área. Fundou a União Industrial Adjuto Dias S.A.-UNIDAS, conglomerado que empregava centenas de trabalhadores na região. Foi o primeiro empresário norte-rio-grandense a possuir avião particular, na década de 60. Simultaneamente às atividades profissionais, integrou a comissão que ajudou na criação da Emissora Rural de Caicó, incentivou a realização de eventos culturais (através da UNIDAS) e patrocinou campeonatos de futebol amador. Ingressou na vida pública com o estímulo de Dinarte Mariz, a quem por sua vez apoiara na campanha para o Governo Estadual (1955). Elegeu-se Deputado 40 Anos

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Estadual em dois mandatos, entre os anos de 1970 e 1978. Em seguida, desenvolveu negócios nas áreas de hotelaria e turismo. Faleceu em Natal, a 7 de janeiro de 1985. _________________________

Foto: Arquivo da PM Caicó

Fonte: Informações e foto fornecidas por seu filho, Renato Costa Dias.

Foto: Ivanísio Ramos

Acima: Centro Cultural Dep. Adjuto Dias, projetado para a realização de apresentações artísticas diversas. Abaixo: Casa de Cultura Pe. Francisco de Brito Guerra, ambas em Caicó.

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ARRUDA CÂMARA, Lauro (Patrono da Casa de Cultura de Nova Cruz) Nasceu em Lábrea-AM, a 09.10.1912, filho de Antônio Arruda Câmara e d. Taciana Baía Arruda Câmara. Não havia completado dois anos de idade quando seus pais se transferiram para o Rio Grande do Norte, fixando residência no município de Nova Cruz. Estudou no Colégio Santo Antônio (Marista), em Natal. Casou-se com d. Joanita Torres Arruda Câmara (1935), passando a residir na Fazenda Umbuzeiro, propriedade do sogro, localizada em Nova Cruz. Desta união nasceram oito filhos, dois dos quais já falecidos (Paula e Laurita Arruda Câmara); os demais, são: Marluce, Cassiano (jornalista), Leonardo (advogado e político), Cid (engenheiro), Domício e Lauro Arruda Câmara Filho (médicos). Dedicou-se ao comércio, explorando os ramos de tecidos e eletrodomésticos, com estabelecimentos disseminados por três municípios - Nova Cruz, inclusive na própria Fazenda Umbuzeiro, São José de Campestre e Serra de São Bento. Foi Prefeito de Nova Cruz no pós-guerra (1948), renunciando ao mandato quando foi eleito Deputado Estadual (out., 1950) pelo PSD-Partido Social Democrático, legenda a que sempre foi fiel. Segundo assinala o seu filho Leonardo Arruda, assumiria ainda, na condição de suplente, o mandato de Deputado Estadual nas legislaturas 1955-56 e 195962. Não se reelegendo posteriormente, abandonou a política e passou a dedicarse à agropecuária. Faleceu, em Natal, em 24 de julho de 1996. _________________________

Fontes: CASCUDO, Luís da Câmara. Uma História da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte. Natal: Fundação José Augusto, 1972; Informações prestadas por seu filho, Leonardo Arruda Câmara. Foto: acervo da família.

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Fotos: Anchieta Xavier

Inauguração da Casa de Cultura Lauro Arruda Câmara, de Nova Cruz, jul., 2003: (1) fachada do prédio e (2) o Pte. François Silvestre, discursando.

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BARBOSA, Edgar Ferreira (Patrono de Prêmio Literário) Nasceu em Ceará-Mirim-RN, a 15.02.1909, filho de Vicente Justiniano Barbosa e d. Joana Ferreira Barbosa. Cursou o primário em sua cidade, o secundário no Colégio Diocesano Santo Antônio, em Natal (1922-1926), e o superior, na Faculdade de Direito do Recife (1927-1931). Em 1927 foi revisor de “A República”, jornal a que retornaria no biênio 1935-37 na condição de diretor e redator da Imprensa Oficial do Estado. Nesse meio-tempo, exerceria as funções de redator dos jornais “O Debate” (1929-1930) e “A Ordem” (19311932). Posteriormente, e por vasto período, seria redator-chefe e editorialista de “O Diário de Natal” (1939-1957). Ainda com relação à imprensa foi, por curto período, secretário da revista “A Cigarra”, dirigida por Aderbal de França. Como magistrado, foi nomeado Juiz Federal no Estado (1937), Suplente do Presidente da Junta de Conciliação e Julgamento (1942), Juiz de Direito das Comarcas de São Miguel e Pau dos Ferros (1946), Canguaretama e São José de Mipibu (1952), Ceará-Mirim (1952-1956) e da 2ª. Vara de Natal (1956-1957), além de Juiz eleitoral das citadas comarcas e das de Santo Antônio, Santa Cruz e Macaíba. Como professor, ensinou Português no Atheneu – deste colégio mais tarde vindo a ser seu diretor – e na Escola de Aprendizes Artífices (hoje, CEFET); Direito Constitucional e Legislação de Menores, na Escola de Serviço Social de Natal (1949-1954), Direito Constitucional, Direito Internacional Privado e Teoria Geral do Estado, na Faculdade de Direito (1949-1971). Foi fundador e diretor da Faculdade de Filosofia de Natal (1955), ali lecionando as cadeiras de Filologia Românica e Literatura Brasileira e Portuguesa. Edgar Barbosa presidiu a Academia Norte-rio-grandense de Letras e o Rotary Club 40 Anos

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de Natal, e dirigiu o Departamento de Educação e Cultura da UFRN, nesta instituição compondo os Conselhos Universitário e de Curadores. Afora todas essas atividades, publicou os seguintes livros: Síntese Histórica (1929), Origem e Desenvolvimento da Língua Portuguesa (1933), Vícios de Linguagem (1933), História de uma Campanha (1936), Três Ensaios (1960), Imagens do Tempo (1966) e 12 Anos de Universidade - Mensagem para o futuro (1971). Para Nilo Pereira, Edgar Barbosa é, sem dúvida, “o maior estilista do Rio Grande do Norte” (cit. por João Medeiros Filho em Contribuição à História Intelectual do Rio Grande do Norte, p. 149), no que tem o aval de Veríssimo de Melo: “Estilista por excelência. Uma espécie de pintor, músico e mágico das palavras. (...) Sabe retirar do sortilégio de sua imaginação poética as mais belas frases e expressões a propósito dos temas que aborda ou o fascinam” (Patronos e Acadêmicos, p. 49). É nome de rua em Natal e de concurso jornalístico na Fundação José Augusto. Faleceu em Natal, a 06 de agosto de 1976. _________________________

Fontes: MEDEIROS Filho, João. Contribuição à História Intelectual do Rio Grande do Norte, Vol. 1. Natal: 1983; MELO, Veríssimo Pinheiro de. Patronos e Acadêmicos, Vol. II. Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1974.

Nota complementar Edgar Barbosa foi o orador oficial na sessão conjunta que a Academia Norte-riograndense de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte fizeram, em memória de José Augusto Bezerra de Medeiros, em 22 de setembro de 1971. Através de requerimento do então Deputado Grimaldi Ribeiro, aludido discurso passou a constar dos Anais da Câmara. Transcrevemos, aqui, alguns tópicas daquela peça oratória:(40) Comecei a conhecer José Augusto em 1927, quando terminava o seu quadriênio de governo. Não parece fácil a qualquer de nós, jovens daquele tempo, prestar um testemunho impassível sobre a personalidade de José Augusto, tão mágica era a sua simpatia, tão envolvente seu modo de desfazer reservas ou hesitações de estudantes admitidos a trabalhar na redação d’A República. g

Quase todas as manhãs o Governador aparecia n’A República. Lia os telegramas, comentava-os entre os circunstantes, conversava com auxiliares e chefes políticos e às vezes despachava o expediente. A impressão que deixava era a de que governava pouco, ou não tinha o que governar, cingido que estava aos usos e praxes do liberalismo. Mas, era uma impressão falsa: a simplicidade de José Augusto desarticulava as pautas do formalismo. g

Seus títulos morais e intelectuais, seu prestígio internacional, o poder que deteve por aclamação dos seus méritos, jamais desequilibraram sua naturalidade, seu modo de ser gentilhomem cuja nobreza guardava apenas o brasão da honradez. g

_________________________ (40)

extraído da Revista da ANL, Ano XXI, nº. 10, pp. 195-198, 1972.

Foto: extraída do jornal “O Galo”, ano XI, nº. 2 (1999).

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Fundação José Augusto


BILRO, Newton Navarro (Patrono da Escolinha de Artes) Nasceu em Natal, a 08.10.1928, filho de Elpídio Soares Bilro e d. Celina Navarro Bilro. Foi aluno dos Colégios Santo Antônio e Atheneu Norte-riograndense, posteriormente da Faculdade de Direito do Recife, mas não concluiu o curso. Freqüentou curso livre de pintura naquela capital, onde conviveu com artistas como Lula Cardoso Ayres, Hélio Feijó e Reinaldo Fonseca. Participou do I Salão de Arte Moderna do Recife, em 1948, no mesmo ano realizando sua primeira mostra em Natal. Em 1951 foi a Buenos Aires e em 1964, a Paris, “(...) visitando museus, vendendo quadros e convivendo nos recantos da boemia parisiense” (MELO, p. 344). Em 1966 tornaria à Europa, expondo em Lisboa. Além de artista plástico, foi poeta, contista, cronista e teatrólogo. Colaborou n’A República, Diário de Natal e Tribuna do Norte e publicou os seguintes livros:. Subúrbio do Silêncio (poesias, 1953); Solitário Vento do Verão (contos, 1961); 30 Crônicas não-selecionadas (crônicas, 1563); Beira-Rio (crônicas, 1970); Os Mortos São Estrangeiros (contos, 1970); De Como se Perdeu o Gajeiro Curió (novela, 1974); Do Outro Lado do Rio, Entre os Morros (sem indicação) e ABC do Cantador Clarimundo (poesias). Produziu, ainda, álbuns de gravuras e peças teatrais. Pertencia à Academia Norte-riograndense de Letras. Foi o mentor e primeiro diretor da Escolinha de Artes Cândido Portinari, da Fundação José Augusto, hoje tendo o seu nome. Faleceu em Natal, em 18 de março de 1991. _________________________

Fontes: MELO, Veríssimo Pinheiro de. Patronos e Acadêmicos, vol. II. Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1974; Cardoso, Rejane (coordenação), 400 Nomes de Natal. Natal: Prefeitura Municipal do Natal, 2000. Foto: Acervo da família.

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Nota complementar No discurso de posse na Academia Norte-rio-grandense de Letras o poeta Luís Carlos Guimarães, referindo-se ao seu antecessor na Cadeira nº. 37 - Newton Navarro -, disse:(41) Newton transformava em poesia tudo quanto tocava. Mais destacado como desenhista e pintor, suas atividades de pensamento na pintura e na ficção estão a exigir um estudo crítico, pois ambas merecem igual atenção e uma não é mais importante que a outra. Se em alguma instância o escritor supera o pintor, este aparece naquele pela impressionante capacidade descritiva de ambientes, paisagens, figuras, numa composição detalhista e plástica possível apenas a quem tem o domínio absoluto da arte pictórica. g

Seus desenhos possuem um estilo que ficou conhecido em todo o Brasil, pela elaboração e firmeza do traço que é só seu e pela clareza marcante da construção pictórica nos quais, mesmo com a força de um sulco gravando a forma de uma figura humana ou paisagem, não lhe faltavam leveza e delicadeza. Nada neles é labiríntico ou obscuro: a sua arte guarda a essência do que projeta, meridiana e de alta plasticidade. g

Não é redundante afirmar que ninguém esquecerá a suave aspereza de seus vaqueiros e pescadores, nem a agressividade de seus cangaceiros trágicos e solitários. Nem a paisagem desafiadora do Sertão, com o traço simultaneamente forte e tênue em nanquim, nem as esmaecidas aquarelas de nossas praias, nem as poucas telas em lápis cera e guache, que resultaram de sua breve viagem a Paris. g

_________________________ (41)

extraído da Revista da ANL, Vol. 39, nº. 27, pp. 57-70, 1998.

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BRITO GUERRA, Pe. Francisco de (Patrono da Casa de Cultura de Caicó) Nasceu na Fazenda Jatobá, município de Campo Grande-RN, a 18.04.1777, filho de Manuel da Anunciação Lira e d. Ana Filgueira de Jesus. Iniciou os estudos em Vila Nova da Princesa (hoje Açu), com o Padre Luís Pimenta de Santana. Depois, o seu pai o levou para a povoação de PasmadoPE (hoje Abreu e Lima), cercanias do município de Igaraçu, entregando-o aos cuidados de um tal Manuel Antônio que passaria a orientar os seus estudos, sobre o qual não há informações precisas mas que “(...) deveria ser homem erudito, pois é o último professor indicado na vida do vigário Guerra, daí, ingressando no Seminário de Olinda onde se demorou apenas dois anos e já gozava fama de latinista” (MELQUÍADES, p. 30). É provável que, após a permanência com esse Manuel Antônio e antes do ingresso no Seminário, tenha passado um tempo em Baturité-CE, lecionando latim, mas esta informação é incerta entre os próprios historiadores.(42) O fato é que pertenceu à primeira turma do Seminário de Olinda, fundado em 1800, ali cursando a cadeira de retórica e ordenando-se em fins de 1801. Oficiou a primeira missa (fev., 1802) em Campo Grande e tornou-se Vigário Colado de Caicó (1810) a partir de concurso, onde fundou uma escola de latim. Ingressou na política provincial elegendo-se Deputado em duas legislaturas seguidas (1830-33 e 1834-37), inclusive assumindo a presidência da Assembléia em 1835. É feito Visitador Apostólico de Pernambuco (1833), missão que desempenharia até praticamente o fim de sua vida. Com a morte do senador Afonso d’Albuquerque Maranhão (jul., 1836) _________________________

Àquela época havia um curso de latim em Baturité e para lá afluíam latinistas das províncias vizinhas, do que decorre ser plenamente aceitável a hipótese de sua estada naquela cidade por algum período. (42)

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foi seu sucessor, no ano seguinte sendo eleito. “Primeiro e único norte-rio-grandense que, no Império, teria a honra de representar na Câmara Vitalícia a sua província, o Senador Guerra foi figura ímpar e vigorosa, cheio de idéias magníficas que encalharam na lama fofa da política” (CASCUDO, p. 346). O mesmo historiador menciona que “morreu paupérrimo”, doando tudo o que recebia. Recebeu a Comenda da Ordem de Cristo. Faleceu, no Rio de Janeiro, a 26 de fevereiro de 1845 e está sepultado na Catedral de Caicó. _________________________

Fonte: BEZERRA, Mons. Severino. Levitas do Senhor, Vol. I. Natal: Fundação José Augusto/CERN, 1985; CASCUDO, Luís da Câmara. Uma História da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte. Natal: Fundação José Augusto, 1972; MELQUÍADES, José. Padre Francisco de Brito Guerra, Um Senador do Império. Natal: Fundação José Augusto, 1987. Foto: extraída do livro 400 Nomes de Natal.

Nota complementar Do prefácio escrito por Nilo Pereira na 1ª. edição do livro “Padre Francisco de Brito Guerra, um Senador do Império”, de José Melquíades, extraímos os seguintes tópicos: José Melquíades reconstitui toda a vida do Senador Padre Brito Guerra, a sua formação, a sua atividade de vigário e de político, o seu mundo - às vezes pequeno, às vezes grande -, e tem sempre para o seu biografado uma palavra amena, compreensiva e humana. g

Seu trabalho é arguto, penetrante. Deixa diante do leitor uma figura válida, tangível, quase cor pórea, projetado na sua perspectiva histórica - um servidor de sua terra, um pároco atento aos seus deveres, um patriota, um sacerdote empenhado no trato das almas, um político com os vícios da época mas voltado para a sua Província, que tornou conhecida na Corte pela ilustração e pela dignidade com que a serviu no Parlamento. g

Muita coisa que se dizia de Brito Guerra teve, afinal, um esclarecimento e, não raro, uma retificação. Não admira que, em torno dele, homem importante e influente, houvesse equívocos com aparência de verdades históricas, como as que o ligaram a Feijó desde os primeiros anos, numa tentativa de substituir Pasmado e Olinda pelo Seminário de Itu. g

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CAFÉ Filho, João (Patrono de Museu em Natal) Nasceu em Natal, no bairro da Ribeira, a 03.02.1899, filho de João Fernandes Campos Café e d. Florência Amélia Campos Café. Estudou no Atheneu Norte-rio-grandense, Escola Normal e Colégio Americano. Aos quinze anos produziu um jornalzinho, manuscrito – “O Bonde” –, e logo em seguida, também composto e impresso à mão, “A Gazeta”, ambos de caráter oposicionista e, por tal, impedidos por seu pai de continuarem em evidência. Também em sua juventude Café Filho presidiu várias associações esportivas e lítero-recreativas. Logo após o curso secundário transferiu-se para Recife, ali freqüentando a Academia de Ciências Jurídicas e a Escola de Engenharia, trabalhando como comerciário para manter-se. Voltando a Natal, fez concurso para o Tribunal de Justiça e passou a exercer as funções de Advogado Provisionado. Casou-se aos 22 anos com d. Jandira Carvalho de Oliveira Café, filha de Ovídio Fernandes de Oliveira (à época, Inspetor da Alfândega). Nesse período dirigiu o “Jornal do Norte”, órgão político e noticioso que fazia oposição ao Governo do Estado (a redação funcionava na Av. Tavares de Lira, 20, e o seu primeiro número circulou no dia 17 de junho de 1921, segundo consta no Dicionário da Imprensa no Rio Grande do Norte, 1909-1987, p. 159, de Manoel Rodrigues de Melo). Naquele ano de 1921 ingressou na vida pública, passando a apoiar a candidatura de Nilo Peçanha e João Seabra e fazendo oposição ao Senador Arthur Bernardes, à Presidência da República. Um ano depois foi eleito Vereador, muito embora não tenha assumido o cargo por intervenção do Governador Antônio de Souza, que chegou a rasgar o seu diploma. Sofreu perseguição política e transferiu-se para Bezerros-PE, onde 40 Anos

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foi nomeado Secretário da Prefeitura. Seu espírito jornalístico leva-o a editar, naquela cidade, o “Correio de Bezerros”. Em 1925 foi para Recife, passando a dirigir o periódico “A Noite”. Um ano depois estava, novamente, em Natal; desta feita foi processado e condenado a três meses de prisão por haver aderido aos revolucionários da Coluna Prestes. Fugiu para Itabuna-BA, mas logo retornou e se entregou para o cumprimento da pena no Quartel do Esquadrão de Cavalaria. Posto em liberdade, começa a organizar o operariado em torno de sindicatos e federações. É nesse período que funda o Sindicato Geral dos Trabalhadores, cuja sede era no prédio onde hoje funciona o Museu Casa Café Filho, na Rua da Conceição. Elegeu-se Vereador, mais uma vez, e novamente foi perseguido, refugiandose em Recife. No jornal “A Noite” fez oposição aos governos estadual e federal. Transferindo-se para o Rio de Janeiro, tornou-se redator do jornal “A Manhã”. O próximo retorno a Natal dá-se em 1930, quando é recepcionado com significativa manifestação popular no centro da cidade. Engajou-se com empenho no movimento revolucionário da Aliança Liberal e, em outubro daquele ano, por decreto da Junta Governativa do Estado, assume as funções de Chefe de Polícia (anos depois, durante a interventoria do Comandante Bertino Dutra, tornaria a ocupar aquele cargo, oportunidade em que criaria a Guarda Civil e a Guarda Noturna). Também foram atos seus a concessão de liberdade a presos políticos e a proibição de porte de armas por parte da população. Deputado Federal (1934-1937), perdeu o mandato face à instituição do Estado Novo: ocupava a tribuna para denunciar a articulação de um golpe contra as instituições constituídas. Perseguido politicamente, pediu asilo na Embaixada Argentina; no ano seguinte, contudo, retornaria ao Rio de Janeiro para dirigir uma empresa de transporte rodoviário. Em 1945 tornou a se eleger Deputado Federal e, em 1950, por força de uma coalizão política, Vice-Presidente da República, na chapa de Getúlio Vargas. Com o suicídio de Getúlio (1954), assumiu a Presidência, embora não chegando a concluir o período constitucional de governo: acometido de surmenage (estafa), passou o cargo ao então Presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Luz. Posteriormente, seria nomeado Ministro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro. Café Filho publicou o livro Do Sindicato ao Catete, obra autobiográfica na qual expõe toda a sua trajetória política. Deixou valiosa biblioteca, hoje compondo o acervo da Casa Café Filho, mantida pela Fundação José Augusto, além de cartas, comendas, diplomas, medalhas e souvenirs. Foi um homem honesto: considerando os altos cargos de que foi investido, morreu praticamente pobre. Faleceu no Rio de Janeiro, em 11 de fevereiro de 1970. 272

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CÂMARA, José Antônio Pinheiro da (Patrono da Casa de Cultura de Martins) Nasceu em Recife, a 15.05.1924, filho de José Bonifácio Pinheiro da Câmara e d. Alina Leal da Câmara. Iniciou os estudos no Colégio Salesiano São José, posteriormente indo para o Seminário de onde se afastaria por não se sentir vocacionado para a vida sacerdotal. Em 1941 ingressou na Polícia Militar de Pernambuco, saindo no ano seguinte para prestar serviço ao Exército no posto de Sargento. Tinha curso, então, a II Grande Guerra. Casou com d. Ilza de Freitas Pinheiro da Câmara (abr., 1944). Mais tarde (nov., 1946) deixa o Exército para assumir, em Martins-RN, o cargo de Escrivão, em seguida o de Coletor da Coletoria Federal. Jovem, dinâmico, de espírito associativo e empreendedor, não se ateve às rotinas do serviço público – desempenhando-as, não obstante, com seriedade – e integrou-se à vida social da cidade. Desportista, pratica o futebol e o atletismo e introduz o voleibol na comunidade; católico praticante, participa ativamente de trabalhos junto à paróquia não só nos eventos regulares mas, inclusive, na Festa da Padroeira (Nossa Senhora da Conceição, 8 de dezembro). Mais adiante (1949), junto com alguns companheiros, funda o Centro Lítero-esportivo de Martins-CLEM, que se constituiria em fator de impulsão e difusão da vida sociocultural da cidade nas décadas seguintes e onde se destacaria como animador cultural. Em fins dos anos cinqüenta foi criada a Escola Comercial de Martins, também preocupação sua, da qual não só assumiu a direção como o ensino de algumas disciplinas. Apesar das inegáveis qualidades de liderança nunca postulou, nem aceitou, cargos políticos – “para 40 Anos

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Fotos: Anchieta Xavier

No alto, fachada da Casa de Cultura de Martins, momentos antes de sua inauguração (set. 2003). Abaixo, da esquerda para a direita: Marcos Fernandes, Prefeito do Município; Antônio Jácome, vice-Governador do Estado; Wilma de Faria, Governadora; François Silvestre, Presidente da FJA, e José Bonifácio, filho do homenageado.

preservar-se dos divisionismos”, dizia. Com a extinção da Coletoria, deixou Martins em fevereiro de 1969. Constituiu numerosa família (quatorze filhos, cinco dos quais nascidos em Martins): José Bonifácio, Magnólia Maria, Flávio Augusto, Paulo César, Alina Leal, João Gualberto, Domingos Sávio, Luiz Emydio, José Antônio, Clidenor Augusto, Luís Alessandro, Walter Wagner, Maria das Graças e Ilza de Freitas (falecidas). Faleceu em Natal a 31 de julho de 1990. _________________________

Fonte: Informações e foto, acervo da família.

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CARVALHO E SILVA, Belisária Lins Wanderley de (Madrinha da Casa de Cultura de Açu) Nasceu em Açu-RN, a 13.10.1836, filha de Manuel Lins Wanderley e d. Maria Francisca da Trindade Wanderley. Casou-se com Felipe Néri de Carvalho e Silva, que se tornaria Barão de Serra Branca. (...) fazendasítio enorme, vistosa, com casa-grande, gadaria, escravos e servidores. Serra Branca dava repercussão às façanhas dos vaqueiros, às glórias dos invencíveis cavalos-decampo, ágeis e finos, pisando no duro e no molhado, com patas infatigáveis e nobres (CASCUDO, p. 69). O decreto dando a Felipe Néri e d. Belisária referidos títulos – Barão e Baronesa – foi assinado pela Princesa Isabel, em 19 de agosto de 1888. Abolicionista convicto, Felipe Néri libertou os seus escravos em 30.03.1880, oito anos antes da Lei nº. 3.353, a famosa “Lei Áurea” e, posteriormente, d. Belisária banqueteou-os, ela própria ser vindo-os à mesa. Talvez por influência deste gesto de desprendimento e magnanimidade, o município do Açu, poucos anos depois, referendava aquela iniciativa, estendendo o benefício a todos os escravos ainda existentes em seu perímetro. Isto deu-se a 24 de junho de 1885, portanto ainda três anos antes do que determinaria a referida lei. Belisária Wanderley foi a última representante do período imperial no Rio Grande do Norte. Faleceu em Natal, em 13 de abril de 1933.

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Fontes: CASCUDO, Luís da Câmara. O Livro das Velhas Figuras, Vol. I. Natal. Instituto Histórico e Geográfico do RN, 1974; WANDERLEY, Walter. Família Wanderley - História e Genealogia. Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1966. Foto: extraída do livro Família Wanderley, acima citado.

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Nota complementar ATA DE LIBERTAÇÃO E DECLARAÇÃO DE QUE SE ACHA LIVRE A CIDADE DO ASSU DO ELEMENTO ESCRAVO Aos 24 (vinte e quatro) dias do mês de junho de 1885 (um mil, oitocentos e oitenta e cinco), nesta Cidade do Assu, Província do Rio Grande do Norte, na Igreja Matriz do Glorioso São João Batista, Padroeiro desta Freguesia, pelas 9 (nove) horas da manhã, onde se achava reunida, em sessão solene, a Sociedade Libertadora Assuense e presentes o Ilmº. Revmº. Arcipreste desta Província, Vigário Pedro Soares de Freitas, o Sr. Dr. Juiz de Direito da Comarca Ângelo Caetano de Souza Cousseiro, Presidente da Câmara Municipal, representantes da imprensa, numeroso concurso de pessoas gradas, senhoras, cavalheiros e grande massa de povo, foi pelo mesmo Revmº. Arcipreste aberta a sessão e lida, pelo Revmº. Vigário Antônio Germano Barbalho Bezerra, Presidente da mesma Sociedade, o documento pelo qual se demonstrou que a Cidade do Assu está livre, e que dentro de sua circunscrição não existe um só escravo. Depois das salvas e descargas foi executado o Hymno da Redempção da Cidade do Assu. Fallarão os diversos oradores inscritos e recitarão poezias referentes ao acontecimento. Uma banda de música de pancadaria tocou o Hymno Nacional, depois de entregues as cartas de liberdade, tendo tocado differentes peças ao passo que terminavão os seus discursos os oradores. Logo que foram concluídas as formalidades de estylo foi encerrada a sessão pelo Dr. Juiz de Direito desta Comarca, Ângelo Cousseiro, e para constar foi lavrada a presente ata em livro especial, em que assignarão a Sociedade Libertadora Assuense e as pessoas que quiseram. Eu, Torquato de Oliveira, secretário, a escrevi. Vigário Antônio Germano Barbalho Bezerra, Presidente; Antônio Dantas Cor reia de Medeiros, vice-presidente; Torquato de Oliveira, Socretário; Elias Antônio Ferreira Souto, orador ; Pedro Soares de Araújo, Tesoureiro; Augência Virgílio de Miranda e Galdino dos Santos Lima, Promotores da Liberdade; Vigário Pedro Soares de Freitas, Arcipreste; Vigário Félíx Alves de Souza, Ângelo Caetano de Souza Cousseiro, Manoel Lins Caldas, Palmério Augusto Soares de Amorim, Epaminondas Lins Caldas, Manoel Cândido Maciel de Brito, Justiniano Lins Caldas, Francisco Urbano de Souza Macedo, Antônio Cabral de O. Barros Filho, Manoel Liberalino Freire de Carvalho, Theofilo de Oliveira Lins, Antônio Soares de Macedo, Egídio Ferreira de Carvalho, Dr. Luís Carlos Lins Wanderley, Antônio Filgueira Segundo e Luís Antônio Freire de Carvalho, sócios. 276

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CASCUDO, Luís da Câmara (Patrono da Biblioteca e do Memorial) Nasceu em Natal (bairro da Ribeira), a 30.12.1898, filho do Coronel da Guarda Nacional Francisco Justino de Oliveira Cascudo e Ana Maria Câmara Cascudo. Teve uma infância atípica, com a perda de três irmãos vitimados pela difteria: temendo perdê-lo também, seus pais o protegeram com excessivos cuidados, negando-lhe acesso a praticamente tudo aquilo que compõe o universo sensorial infantil (correr, saltar, andar descalço, levar sol, chuva, vento da tarde ou sereno; brincar naturalmente com outras crianças, comer bolo de tabuleiro ou, mesmo, ter contato com a água da maré, etc.). Restou-lhe o direito de ver livro de figuras, colecionar estampas de santos e ouvir estórias de Trancoso (...), comenta Zila Mamede (LUÍS DA CÂMARA CASCUDO: 50 Anos de Vida Intelectual-1918/1968, Vol. I, Parte 1, p. 11). Lia aos seis anos de idade. Vivia cercado por impressos – coleções, revistas, álbuns. Foi o primeiro menino, em Natal, a possuir um quarto para a biblioteca que era visitada, gabada, aludida nos jornais por gente grande (op. cit., p. 12). Estudou em colégios religiosos e cursou humanidades no Atheneu Norte-rio-grandense. Iniciou-se no jornalismo (1918) escrevendo uma coluna no jornal “A Imprensa”, mantido por seu pai; posteriormente, colaboraria em todos os demais de Natal. Fez medicina na Bahia até o 4º. ano, desistindo e optando pelo bacharelato em Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito do Recife (1924-1928). Além de jornalista – na prática diária – e advogado, seus conhecimentos, acumulados na leitura e (43)

_________________________

Compensando, talvez, aqueles tempos em que se via compelido à permanência numa redoma, por questões de saúde, na sua mocidade, em Natal, Cascudo teve existência de príncipe. Andava de polainas, monóculo e bengala do Egito, guiando um ‘Ford bigode’, dos primeiros chegados à cidade. A Vila Cascudo, no Tirol, era centro permanente de reuniões literárias, jantares festivos, recitais de músicos famosos que transitavam por Natal (...) (Veríssimo de Melo, op. cit., p. 125). (43)

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pesquisa incessantes, fizeram-no, no transcurso de décadas, antropólogo, etnógrafo, folclorista, historiador, sociólogo e professor, possuidor de vasta erudição. Para Zila, embora escrevendo sobre variados assuntos, (...) é evidente a sua especialização na etnografia e no folclore e a sua predileção pela história, pela geografia e pela biografia (ib., p. 16). Seu primeiro livro publicado foi Alma Patrícia, crítica literária (1921), seguindo-se muitos outros, tais como: Histórias Que o Tempo Leva (1924), O Mais Antigo Marco Colonial do Brasil (1934, 1940, 1965), O Brasão Holandês do Rio Grande do Norte (1936, 1949, 1955), O Marquês de Olinda e Seu Tempo (1938), Informação de História e Etnografia (1940, 1944), Contos Tradicionais do Brasil (1946, 1955, 1967), Geografia dos Mitos Brasileiros e História da Cidade do Natal (1947), Os Holandeses no Rio Grande do Norte (1949), Geografia do Brasil Holandês (1949, 1956), Dicionário do Folclore Brasileiro (1954, 1962), História do Rio Grande do Norte (1955, 1984), Paróquias do Rio Grande do Norte (1955), Vida de Pedro Velho (1956), A Cozinha Africana no Brasil (1964), Flor dos Romances Trágicos (1966), Folclore do Brasil (1967), História da Alimentação no Brasil (v. 1, 1967; v. 2, 1968), Civilização e Cultura (1973) e, em seis volumes, O Livro das Velhas Figuras (entre 1974 e 1989), este baseado em suas crônicas no jornal “A República” (coluna Acta Diurna), entre dezenas de outros. Sua obra compreende mais de 150 títulos, muitos dos quais foram traduzidos e reeditados no exterior. A maior parte desse trabalho foi produzida no seu gabinete - casarão da Rua Junqueira Aires, 377, onde residia, hoje tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional. A extensão de temas sobre os quais pesquisou e escreveu é, segundo seus biógrafos, “prodigiosa”, sobretudo ao considerar-se a particularidade de que trabalhava só (críticos experientes se surpreenderam ao constatar tratar-se de trabalho individual obra cuja dimensão, em circunstâncias normais, sugere a intervenção de uma equipe): É ele o conhecedor dos problemas em todos os campos da expressão literária e artística, especialmente no que se entende com as tradições populares que integram a ciência que estuda mitos, contos, fábulas, adivinhas, música, poesia, provérbios, sabedoria tradicional e anônima (João Medeiros Filho, Contribuição à História Intelectual do Rio Grande do Norte, p. 31). Para Veríssimo de Melo, o seu desempenho foi singular no país: Sobre cada setor da nossa cultura popular – contos, literatura de cordel, superstições, mitos, rede de dormir, jangadas, etc. – ele escreveu um volume. Além da coleta pessoal, foi às raízes de cada manifestação, comparando, interpretando, procurando as origens, num esforço de exegese, compreensão e amor pelas tradições do nosso povo, que, em amplitude e profundidade, não tem paralelo no Brasil (Patronos e Acadêmicos, Vol. II, p. 122). Zila Mamede, menos emocional e mais técnica, corrobora: (...) povo e gente, municípios, cidades, vilas, fazendas, engenhos; mares, praias, rios, serras, cavernas; economia e produção; igrejas, casas, ruas, becos, festas populares, santos, artistas. Quem quer que seja que deseje escrever sobre o Rio Grande do Norte, sobre a cidade do Natal, terá, evidentemente, que partir de 278

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Luís da Câmara Cascudo. Sua obra é a fonte inicial (ib., p. 16). Em 1941 fundou a Sociedade Brasileira de Folclore; em 1948 foi nomeado pelo então Prefeito de Natal, Sílvio Pedroza, “Historiador da Cidade”, e, em 1955, a rua em que nascera, das Virgens, passou a ter o seu nome, por iniciativa do prefeito à época, Wilson Miranda. Ensinou História do Brasil e Etnografia Geral no Atheneu, na Escola Normal e no Instituto de Música, e Direito Público Internacional na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Exerceu os cargos de Secretário do Tribunal de Justiça, Consultor Jurídico do Estado, Diretor do Arquivo Público Estadual e do Museu do Rio Grande do Norte, Presidente do Conselho Municipal de Turismo e Membro do Conselho Federal de Cultura. Foi sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e, segundo Veríssimo, de todos os Institutos Históricos dos Estados; sóciofundador da Academia Norte-rio-grandense de Letras (1936) e integrante das academias de letras do Pará, Piauí, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Acre; pertencia à Academia Nacional de Filologia; à Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnologia, e ao Centro de Ciências, Artes e Letras de CampinasSP. No plano internacional pertencia a várias instituições dedicadas ao estudo da arqueologia, antropologia, etnologia, história, geografia, folclore, filosofia e sociologia, como sejam: Instituto Português de Arqueologia, História e Etnologia; Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia da Universidade do Porto (Portugal); Academia Nacional de História e Geografia, do México; Sociedade de Geografia de Lisboa; American Folk-lore Society (honorário); International Society for Folk-Narrative Research (Gottingen, Alemanha); Comission Internacional des Arts et Traditiones Populaires (Paris, França); Associación Española de Etnologia y Folk-lore; Sociedade de Folk-lore do México; Societé des Americanistes de Paris; Societé Suisse des Americanistes; Academia de Ciências de Lisboa; Instituto de Coimbra (Portugal); Real Academia Galega (Galiza, Espanha); Honorary Life Membership of the American International Academy (New York, Estados Unidos), além de outras localizadas na Inglaterra, Irlanda, Argentina, Chile, Uruguai, Peru e Bolívia. Era do Lyons Club Natal-centro desde sua fundação e o primeiro sócio honorário do Lyons Club Internacional. Recebeu dezenas de condecorações e títulos honoríficos, a saber: Grande Oficial da Ordem do Mérito Naval, Comendador da Ordem do Rio Branco, Comendador da Ordem de Cristo (Portugal), Comendador da Ordem dos Cisneiros (Espanha), Comendador da Ordem de São Gregório (Vaticano) e Oficial da Ordem da Coroa (Itália), entre outras no grau de comendador; recebeu, ainda, a Medalha de Guerra do Brasil, a Star and Cross of the Academy Honor (da The American International 40 Anos

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Academy of New York), as Medalhas Culturais Pacificador, Tamandaré, Atlântico Sul (Aeronáutica), Guararapes, Sílvio Romero, Alberto Maranhão, Pirajá da Silva, Vital Brasil, Nina Rodrigues, Alexandre de Gusmão e do Mérito (esta, de Recife), etc. Entre os prêmios de literatura, constam: “João Ribeiro” (1948), “Machado de Assis” (1956), “Brasília”, pelo conjunto de sua obra, e “Henning Albert Boileesen”, por sua luta em favor do desenvolvimento cultural do País. No centro da capital potiguar o Memorial Câmara Cascudo guarda o fabuloso acervo por ele construído, admirável obra individual a surpreender os contemporâneos e exemplificar os pósteros. Sua efígie estampou papelmoeda (1991) e seu nome está em biblioteca, escola, museu, concurso literário, etc. Faleceu em Natal, a 30 de julho de 1986.

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Fonte: texto e foto, Arquivos da FJA/CEPEJUL

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CASTRO, Josué Apolônio de (Patrono do D.A. da Faculdade de Sociologia) Nasceu em Recife, em 1908. Formou-se em Medicina (1929) e Filosofia (1938) pela Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro-DF. Seus estudos científicos sobre o problema da fome no mundo, especialmente no Nordeste do Brasil, sua atuação política e a intensa participação em diversos organismos internacionais distinguiram-no de forma singular, no país e no exterior. Em 1939 era professor de Geografia Humana na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e, no período 1942-44, trabalhou no Serviço Técnico de Alimentação Nacional. Deputado Federal pelo PTB (1955-1962), presidente do Conselho da Organização de Alimentação e Agricultura das Nações Unidas-FAO (1952-1956), do comitê da Campanha de Luta Contra a Fome, de sua iniciativa (ONU, 1960), do conselho do Comitê Intergovernamental para as Migrações Européias-CIME (1963), do Comitê Mundial por uma Constituição dos Povos (Denver, EUA) e vice-presidente da Associação Parlamentar Mundial (Londres). Pioneiro no Brasil em estudos sobre alimentação e nutrição, realizou o primeiro inquérito social para apurar as condições de vida do povo brasileiro. Suas pesquisas foram divulgadas em livros, conferências e publicações científicas. Foi professor honorário em diversas universidades estrangeiras. Exilado na França, após o golpe militar no Brasil (1964), quando foi demitido do cargo de embaixador brasileiro junto aos organismos internacionais da ONU em Genebra, foi professor da Universidade de Paris e do Centro Universitário de Vincennes, além de assumir o cargo de diretor do Centro Internacional para o Desenvolvimento, de assessoria aos países subdesenvolvidos. Obras: O problema da alimentação 40 Anos

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no Brasil (1933), Condições de vida das classes operárias no Recife (1935), Alimentação e raça (1935), Salário mínimo (1935), Documentário do Nordeste (1937), Alimentação brasileira à luz da geografia humana (1937), Science et technique (1938), A festa das letras (em colaboração com Cecília Meireles, 1938), Fisiologia dos tabus (1939), Geografia humana (1939), Alimentação e aclimatação humana nos trópicos (México, 1946), Geografia da fome (traduzido para várias línguas, 1946) e Geopolítica da fome (traduzido para 14 idiomas, 1951). No Brasil, foi agraciado com o Prêmio “Pandiá Calógeras”, da Associação Brasileira de Escritores, e com o “José Veríssimo”, da Academia Brasileira de Letras; internacionalmente, recebeu o Prêmio “Roosevelt”, da Academia Norte-americana de Ciências Políticas (1952), o Prêmio Internacional da Paz (1954), do Conselho Mundial da Paz, e a Medalha da Cidade de Paris, oportunidade em que o Presidente do Conselho anfitrião assim se expressou: “A obra revolucionária de Josué de Castro, no campo da alimentação e nutrição, é equivalente a que realizou Copérnico, no da astronomia”. O eminente brasileiro faleceu em Paris, a 24 de setembro de 1973. _________________________

Fontes: Arquivos da FJA/CEPEJUL; Grande Enciclopédia Larousse Cultural. São Paulo: Nova Cultural Ed., 1998 (Vol. 6, p. 1241); foto cedida pelo DN.

Nota complementar A obra “Geografia da fome”, escrita em 1939, persiste como tema eminentemente atual, e não só pelo projeto “Fome Zero”, do Governo Federal, mas sobretudo pelos altos índices de miséria existentes no país e no mundo. No prefácio da 5ª. edição deste monumental estudo, disse o Prof. André Mayer:(44) Ninguém poderá esquecer, depois de as ter lido, as páginas em que o autor nos conta a tragédia dos seringueiros alquebrados pelo beribéri, engolidos na voragem da floresta amazônica, nem aquelas em que nos descreve a seca alastrando-se pelo sertão do Nordeste brasileiro esterilizando as terras, matando os animais, expulsando os homens. Ou então as páginas em que nos narra a história impressionante dos colonos, destruindo progressivamente a floresta do mesmo Nordeste, para plantar a cana-deaçúcar e deixando-se iludir pela atração do lucro, até suprimirem as próprias culturas de sustentação e destruírem aquelas mesmas populações que edificavam sua fortuna. g

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Extraído do livro “Geograria da Fome”, Ed. Brasiliense, SP, 1957.

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Extraído do livro “Geografia da fome”, Ed. Brasiliense, SP, 1957.

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FARIA, Juvenal Lamartine de (Patrono do Centro de Estudos e Pesquisas) Nasceu em Serra Negra-RN, a 9 de agosto de 1874, filho do Coronel Clementino Monteiro de Faria e d. Paulina Umbelino dos Passos Monteiro. As primeiras letras aprendeu em casa, seguindo para Caicó a fim de estudar Latim e Francês. Em 1891, no Atheneu, iniciou os preparatórios, que concluiu em João Pessoa. Bacharelou-se em Direito no Recife, em 1897. Voltando a Natal, assume a redação de “A República” e a vice-diretoria do Atheneu. Em 1898 é Juiz de Direito em Acari e, em 1903, vice-Governador do Estado. Em 1906, elegeu-se Deputado Federal pelo Partido Republicano, o “Perré”. Seguem-se sete legislaturas vitoriosas, até chegar ao Senado, em 1927. Nessa Casa, apresentou projeto criando uma base internacional aérea em Natal, com uma secundária em Fernando de Noronha e um farol no Rochedo de São Pedro e São Paulo. Já naquela época ele vislumbrava a importância estratégica da nossa posição geográfica. Na Comissão de Justiça mostra-se favorável ao voto feminino. Renunciou ao cargo para ser Governador do Estado, empossado em 1º de janeiro de 1928. Pioneiro da aviação civil, criou o Aero Clube e a Escola de Pilotagem; construiu 30 campos de pouso no Estado e lutou pelo estabelecimento de escalas regulares de empresas internacionais em Natal, trazendo a “Condor”, a “Aeropostale” e a “Panair”. Construiu 416 quilômetros de rodovias e várias pontes de concreto. Edificou o Leprosário São Francisco de Assis, a 14 de janeiro de 1929; o prédio da Saúde Pública em 1º. de outubro do mesmo ano e o estádio de futebol da cidade. Modernizou o Fisco. Reorganizou a Imprensa Oficial. Na Educação, ampliou a rede escolar, elevando o número de matrículas em 82%. Ajudou na manutenção da Escola Doméstica. 40 Anos

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Reorganizou a Polícia Militar, combatendo o Cangaço. Seus críticos alegam que foi duro com os adversários políticos e contra criminosos comuns, pondo sua administração entre o dever real e a violência policial. Por outro lado, instituiu o voto feminino no Rio Grande do Norte, pela primeira vez no País, inscrevendo, em Lajes, a primeira eleitora a tornar-se Prefeita, no Brasil (Alzira Soriano). A fim de evitar a falência do Banco de Natal, modificou-lhe os estatutos e transformou-o no Banco do Rio Grande do Norte, robustecendoo com novas agências. Deu apoio às Letras e às Artes. Deposto pela Revolução de 1930, exilou-se na Europa. Regressou em 1933, seguindo para sua fazenda, em São Paulo do Potengi. Escreveu Velhos Costumes do Meu Sertão, O Seridó suas produções e suas riquezas e O Meu Governo. Foi um dos fundadores da UDN e do PSP, mas não se elegeu Senador em 1945. Presidiu o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, a Federação Rural e o Rotary Club. Eleito para a Academia Norte-rio-grandense de Letras, na Cadeira de Amaro Cavalcanti. Faleceu em Natal, a 18 de abril de 1956. Hoje, é nome do estádio de futebol que construiu (1929); de rua, no bairro do Tirol, e do Centro de Estudos e Pesquisas da Fundação José Augusto.

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Fonte: Arquivos FJA/CEPEJUL. Ilustração: lápis do prof. Hostílio Dantas, Natal (1948).

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GALVÃO, Hélio Mamede de Freitas (Patrono da Sala dos Grandes Atos) Nasceu em Tibau do Sul-RN – à época município de Goianinha – a 18.03.1916, filho de José Mamede Galvão e d. Isabel Genuína Galvão. Casou com d. Ilíria Tavares (1936) com quem teve quatorze filhos, seis dos quais já falecidos (Sany, Hélio Filho, Stela Maris, Ana Maria, Lúcio Galvão e Tarcísio), sendo os demais Hilton, José Arno (advogado), Maria do Céu e Maria de Fátima (pedagogas), Sebastião, Sérgio e Dácio Galvão (mestre em Literatura Comparada) e Andréia Clara (Psicóloga). Era católico praticante. Desde jovem freqüentou a Congregação Mariana, da Catedral Metropolitana, e chegou a ser agraciado pelo Papa João XXIII com a comenda no grau de Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno. Cursou a Escola Normal de Natal, foi tabelião no Cartório de Pedro Velho-RN. Diplomou-se pela Faculdade de Direito de Alagoas (1952): “(...) no foro de Natal, Hélio Galvão possui clientela numerosa e escolhida, prova do seu valor como profissional e como jurista”, diria Manoel Rodrigues de Melo em depoimento para a obra Patronos e Acadêmicos (MELO, p.30). Na área do magistério lecionou nos níveis secundário e superior, a saber: Português, História do Brasil e Literatura Brasileira, na Escola de Comércio de Natal e no Seminário São Pedro; Pesquisa Social, na Escola de Serviço Social; Antropologia Cultural, na Faculdade de Filosofia, e Sociologia, na Escola de Jornalismo Eloy de Souza. Desde cedo integrou o corpo redacional de “A Razão”, órgão ligado ao Partido Popular, colaborando, ainda, nos jornais “O Cunhaú”, “Tribuna do Norte”, “A Ordem”, “A República” e “Diário de Natal”, na revista “Bando”, também local, no periódico “Fronteiras & Tradição”, do Recife, “Sociologia”, de São Paulo, e no Boletim do Ministério da Agricultura, 40 Anos

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Rio de Janeiro. Participou do Movimento Integralista, de Plínio Salgado, mais tarde lutou pela redemocratização do país (1945) e foi um dos fundadores locais do Movimento Democrático Brasileiro-MDB. Era membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte-IHGRN e da Academia Norte-rio-grandense de Letras-ANL, regularmente colaborando nas respectivas revistas. Além de estudos na área do direito civil a sua bibliografia compreende pesquisas históricas, folclóricas, antropológicas e etnográficas, destacando-se, entre outros, os seguintes: Velhas Heranças (publicado na revista “Bando”, Natal, nº. 1, vol. II, Ano III, 1951, e nº. 6, vol. IV, Ano VI, 1954); Revogação de Isenção Tributária (Memorial forense ao STF, 1958); Mutirão no Nordeste (Rio de Janeiro, 1959); O Caso da Jazida Estrondadeira (Memorial forense, 1960); Canais de Circulação Vertical na Sociedade Nordestina (Natal, 1962); Dos Efeitos Patrimoniais em Mandado de Segurança (Natal, 1962); Calamidade Pública e Responsabilidade Civil (Rio de Janeiro, 1967); Cartas da Praia (Rio de Janeiro, 1967); Novas Cartas da Praia (Rio de Janeiro, 1969); Estrutura Agrária no Rio Grande do Norte (1973), e História da Fortaleza da Barra do Rio Grande (MECConselho Federal de Cultura, Rio de Janeiro, 1979). Postumamente, foram publicados: Dix-Sept Rosado - uma biografia política (1982); Derradeiras Cartas da Praia & Outras Notas Sobre Tibau do Sul (1989); Poemas da Tarde (1994); Romanceiro (1994), e História da Fortaleza da Barra do Rio Grande, 2ª. ed. Natal: Fundação Hélio Galvão/Scriptorim Candinha Bezerra, 1999. Foi o primeiro presidente da Fundação José Augusto (1963-1966), órgão destinado a planejar e executar a política cultural do Governo do Estado, à época exercido por Aluízio Alves. A Fundação Hélio Galvão, criada por seus filhos, objetiva basicamente preservar o seu acervo arquivístico e bibliográfico. Dele, disse Cascudo: “Hélio Galvão, na idade do soneto, mergulhou nos cartórios, revivendo a dinastia incomparável dos ressuscitadores do nosso passado”. Faleceu em Natal, a 20 de outubro de 1981.

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Fontes: MELO, Veríssimo Pinheiro de. Patronos e Acadêmicos, Vol. II. Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1974; foto e informações complementares fornecidas por seu filho, Dácio Galvão.

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GUIMARÃES, Luís Carlos (Patrono de Prêmio Literário) Nasceu em Currais Novos-RN, a 23.05.1934. Estudou em Caicó, Natal e João Pessoa, onde se formou em Direito pela Universidade Federal da Paraíba. Fixou residência em Natal, aqui exercendo a advocacia e, simultaneamente, colaborando em alguns jornais e dedicando-se ao magistério. Foi promotor e juiz, cargo no qual se aposentou. Através da literatura, contudo, é que se tornaria mais conhecido. Iniciou na poesia em 1961, com o livro “O Aprendiz e a Canção”, quatro anos depois publicando “As Cores do Dia”, trabalho que lhe deu o primeiro lugar no concurso Prêmio de Poesia Luís da Câmara Cascudo. Em que pese revelarse, nas letras, sobretudo como poeta, também se destacou na prosa. Em 1974 foi o vencedor do Prêmio Luís da Câmara Cascudo, instituído pela Prefeitura Municipal do Natal, com a novela “O Pequeno Relógio da Coragem”. Posteriormente, surgiriam: “Ponto de Fuga” (1979), ganhador do Prêmio de Poesia Fundação José Augusto; “O Sal da Palavra” (1983), também obtendo o primeiro lugar no concurso Otoniel Menezes, de poesia (PMN); “Pauta de Passarinho” (1992); “A Lua no Espelho” (1993), vencedor do Prêmio Jorge de Lima, da União Brasileira de Escritores; “O Fruto Maduro” (1996), “113 Traições Bem-intencionadas” (1997) e, enfim, “A Pastora e o Arcoíris” (1999), pelo qual recebeu o Prêmio Banco Real de Talentos da Maioridade. Deixou inédito, ainda, um livro de contos, dentre eles – “O olho de sangue da lua cheia” – foi publicado pelo jornal “O Galo” (Ano XIII, nº. 7, julho, 2001, pp. 3-5). Seu último poema, “Ode a uma lua vagabunda”, também está transcrito no referido jornal, edição de fevereiro 40 Anos

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de 2002, nas pp. 18-19. Nos últimos anos de sua existência dirigiu o Núcleo de Literatura da Fundação José Augusto. Integrava a Academia Norte-rio-grandense de Letras, ocupando a Cadeira nº. 37, que pertencera a Newton Navarro e que tem como Patrono o poeta Jorge Fernandes. Faleceu em Natal, em 21 de maio de 2001. _________________________

Fonte: Arquivos da FJA/CEPEJUL. Foto: Acervo da família.

Nota complementar Comentários de escritores contemporâneos de Luís Carlos Guimarães,(45) quando do lançamento de “A Lua no Espelho” (1993): Em seu novo livro, “A Lua no Espelho”, Luís Carlos Guimarães mostra para que serve a poesia, redescobrindo a beleza das palavras e das emoções que elas são capazes de transmitir. Um poeta maduro, conhecedor da técnica e da carpintaria do poema, transcendendo em cada verso os limites da expressão. (Celso Japiassu) g

No trabalho poético de Luís Carlos Guimarães, são nítidas as etapas conquistadas e desdobradas. Essa evolução encontra o seu páramo mais alto neste “A Lua no Espelho”. Nele, o sentimento do verso e o sentimento do poema se unem e criam um espaço de afirmação pessoal que reclama a atenção e o interesse do leitor de poesia. (Lêdo Ivo) g

Desde a década de 60, Luís Carlos Guimarães vem construindo, com apaixonada persistência de tecelão, uma das obras líricas mais importantes do país. Sua poesia tem momentos tão altos quanto os mais altos vôos dos nossos poetas consagrados. (Nei Leandro de Castro) g

Nesta última fase, o poeta consegue a síntese de uma visão unificadora do mundo, o seu mundo, arrancando de tudo que passa a incólume certeza de aprisionar a poesia, em sua fugacidade permanente, como nebulosas que se expandem no espaço curvo e finito. É quando o verso banha-se do frêmito de paz e tranqüilidade pela graça de uma sagração bela e precípite. (Sanderson Negreiros) g

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Extraído do livro “A Lua no Espelho”, Ed. Clima, 1993.

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MAMEDE, Zila da Costa (Madrinha de Biblioteca) Nasceu em Nova Palmeira-PB, a 05.09.1928, filha de Josafá Gomes da Costa e d. Elídia Bezerra Mamede, ambos de raízes norte-rio-grandenses. Era ainda pequena, (...) Cinco, seis anos de idade, quando a família transferiu-se para Currais Novos-RN. Mais tarde viria para Natal, onde se fixaria. Estudou no Colégio Imaculada Conceição e, depois de uma tentativa frustrada de tornarse religiosa (seu pai a impedira de entrar para o convento), estimulada por forte impulso interior – talvez contendo algo de angústia existencial –, começou a escrever. Tinha, então, 21 anos de idade. Seus primeiros poemas, publicados sob o título de Rosa de Pedra (1953), causaram excelente impressão junto à crítica especializada, inclusive com manifestações efusivas de alguns autores consagrados, tais como Mauro Mota: O poder comunicante parece a qualidade mais forte dessa poetisa nordestina. E quando esse poder existe, o artista ultrapassa as experiências e começa a tomar conta do seu lugar (Diário de Pernambuco, 16.07.1953) e Manuel Bandeira: Rosa de Pedra merece ficar nas estantes ao lado dos melhores livros de versos brasileiros (Manuel Bandeira: Poesia e Prosa, vol. 2, 1958). Formou-se em Biblioteconomia no Rio de Janeiro (1955), passando a dirigir a Biblioteca do Colégio Estadual do Atheneu Norte-rio-grandense e, posteriormente, a Biblioteca da Sociedade Cultural Brasil-Estados Unidos. Fez pós-graduação na Universidade de Brasília (1965) e especialização em Biblioteconomia e Documentação na Syracuse University Library, regressando a Natal e assumindo a direção da Biblioteca Central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Sua vida profissional acusa, ainda, passagem pelo Departamento de Recursos Humanos da SUDENE, pelo Instituto Nacional do Livro-INL, pela 40 Anos

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Biblioteca Pública Câmara Cascudo e, como pesquisadora, pela elaboração de importantes estudos, a saber: Biografia de Xico Santeiro (1966), Luís da Câmara Cascudo, 50 Anos de Vida Intelectual – 1918-1968 (bibliografia anotada, em 3 vol., publicada a partir de 1970) e Civil Geometria: bibliografia crítica e anotada de João Cabral de Melo Neto (publicada postumamente em 1987). Como poetisa, seu segundo livro foi Salinas (1958), seguido de Arado (1959), prefaciado por Cascudo. As inúmeras atividades profissionais e de estudo a absorveriam por vasto período, até a publicação de Exercício da Palavra (1975) e, anos mais tarde, Corpo a Corpo e Navegos (1978), este último uma coletânea do conjunto de sua obra, e A Herança (1984). Sinto-me tão norte-rio-grandense que tenho susto quando olho minha carteira de identidade!, teria dito, certa feita. Dedicara o Arado ao avô e a Nova Palmeira, que chamara de terra mãe, fonte, raiz, chão do meu sertão, conforme refere Edson Nery da Fonseca em conferência realizada na UFRN, a 29.09.1998,(46) não obstante admitir, em outra ocasião: Gostaria que Nova Palmeira, vila fundada por meu avô e pelo meu padrinho de batismo, fosse no Rio Grande do Norte. Era uma fazenda, uma vila, hoje é mais um município brasileiro, mas não é como município e sim como fazenda do meu avô que permanece na minha geografia sentimental.(47) A essa vertente telúrica se contrapõe, claramente, o fascínio pelo mar, também lembrado por aquele conferencista: Tendo vivido a maior parte de sua existência numa cidade talássica, soprada pelos alísios (...), é natural a presença, em muitos dos poemas de Zila Mamede, do mar, dos ventos, das ondas, salinas, dunas, algas, navios, sargaços, peixes, caravelas, gaivotas (op. cit., mesma página). Já aos vinte e quatro anos de idade demonstrava profunda desilusão e algo de premonitório no poema “Canção do vento e do teu amor”: O vento que vem de longe, / o vento que vem do mar, / o vento que chega à toa, / vem à toa me chamar. Velho vento intrometido / aos pulos, solto, vadio, / invade a minha janela, / enche o meu quarto vazio. Vento, vento foi-se embora / levando um pouco de mim. Teu amor é como o vento: / chega e foge sempre assim (do livro Rosa de Pedra). A 13 de dezembro de 1985, materializou-se aquela imagem: nadava na Praia do Meio, na Natal que tanto amara, quando as águas a envolveram, suprimindo num átimo todas as suas desilusões e angústias. Horas mais tarde seu corpo foi encontrado na Praia da Redinha.

_________________________ (46) – matéria inserta no (47)

jornal “O Galo”, ano X, nº. 8, set, 1998, p.11.

– INTERNET: www.memoriaviva.digi.com.br

Fontes: MAMEDE, Zila da Costa. A Herança. Recife: Edições Pirata, 1984; FONSECA, Edson Nery. “Vida e Morte de Zila Mamede”, artigo publicado no Diário de Pernambuco, Recife, 1985; FONSECA, Edson Nery. “A Poesia de Zila Mamede”, conferência realizada na UFRN em 29.09.1998 e publicada no Jornal “O Galo”, set. – 1998; Jornal “O Poti”, edição de 15 de dezembro de 1985; foto, Arquivos da FJA/CEPEJUL.

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MEDEIROS, João Galvão de (Patrono do Solar) Nasceu em Natal, a 14.09.1921, filho de Oswaldo Orlando de Medeiros e d. Maria Galvão de Medeiros, sendo seus avós paternos Aureliano Clementino de Medeiros (que construiu os Solares Bela Vista e João Galvão) e d. Maria Rosa de Medeiros, e maternos João Chissostomo Galvão e d. Maria de Miranda Galvão. Engenheiro diplomado pela Escola Nacional de Engenharia (Rio de Janeiro, 1946), ingressou no Departamento Nacional de Estradas e Rodagens-DNER em 1948, órgão ao qual permaneceria sempre vinculado. Nomeado por decreto do Exmo. Sr. Presidente da República, então Getúlio Dornelles Vargas, para exercer o cargo em comissão de Diretor da Estrada de Ferro Sampaio Correia, do Ministério de Viação e Obras Públicas (publicado no Diário Oficial de 03.04.1951), ficaria nesta função até janeiro de 1955. Em 1953 foi eleito presidente do ABC Futebol Clube, reeleito em 1954, quando também foi eleito presidente do Clube de Engenharia para o mandato de um ano. Exerceu, ainda, o mandato de Deputado Federal pelo Rio Grande do Norte no período de fevereiro de 1955 a janeiro de 1959, no decurso do qual foi membro da Comissão de Transportes da Câmara. Casou-se com d. Lúcia Cotta Galvão de Medeiros com quem teve dois filhos: João Galvão de Medeiros Filho e Bernardo Galvão de Medeiros, ambos também Engenheiros. Faleceu no Rio de Janeiro em 16 de setembro de 1976. _________________________

Fonte: Informações e fotos, acervo da família.

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Nota complementar Um dos conjuntos residenciais mais antigos de Natal é a Vila Ferroviária, situada no Bairro das Rocas. São casas humildes, geminadas, em nítido contraste com os condomínios concebidos pela moderna arquitetura, mas na época de sua construção (1954) emprestaram um novo colorido à cidade, especialmente para quem se dirigia à Praia do Meio pela Rua do Areal. As fotos abaixo, extraídas do jornal “O Ferroviário” – de circulação interna na Rede Ferroviária Sampaio Correia –, constituem momentos significativos da história daquela Instituição, de certa forma também da Cidade do Natal. Vê-se, numa, a chegada do Dr. João Galvão de Medeiros, acompanhando o então Presidente da República Café Filho, no local para a inauguração do condomínio; na outra, ambos reunidos a populares. Estes fatos se deram em 11 de dezembro de 1954.

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MEDEIROS, José Augusto Bezerra de (Patrono da Fundação) Nasceu em Caicó-RN, a 22.09.1884, filho de Manoel Augusto Bezerra de Araújo e d. Cândida Olindina de Medeiros. Descendia de Tomaz de Araújo Pereira (primeiro presidente da Província do Rio Grande do Norte) e do Senador José Bernardo de Medeiros. Começou a estudar aos cinco anos. Além de sua mãe, foram seus professores primários d. Maria Leopoldina de Brito Guerra e Manoel Hypólito Dantas, em Caicó; d. Adelaide Câmara e José Amorim Garcia, em Natal, e Tomaz Sebastião de Medeiros em Acari, onde concluiu o curso (1896). Casou-se com d. Alice Godoy Bezerra de Medeiros, de família gaúcha (1917), e teve quatro filhos (Cândido, Manoel, Marina e José). Concluíra o curso jurídico em 1905, na Faculdade de Direito do Recife, logo assumindo a Procuradoria da República no Estado. A partir daí, exerceu os cargos de professor e diretor do Atheneu Norte-rio-grandense; Juiz de Direito da Comarca de Caicó; vice-Presidente da Conferência Institucional do Ensino Primário; Chefe de Polícia do Estado do Rio Grande do Norte; redator dos jornais “Diário de Notícias”, “O Jornal” e “A Manhã” (todos no Rio de Janeiro), e de diretor das revistas “A Educação” e “Revista Brasileira de Educação”. Aliás, Fernando de Azevedo (A Cultura Brasileira, p. 647) cita a revista “Educação”, fundada e dirigida por José Augusto no Rio de Janeiro em 1922, como (...) uma das novas correntes do pensamento pedagógico, tecendo algumas considerações elogiosas ao potiguar. José Augusto foi Deputado Estadual, Deputado Federal (em seis legislaturas), Senador (duas legislaturas) e Governador do Estado do Rio Grande do Norte (1924-1927). Entre outros, escreveu os seguintes livros: “Famílias Seridoenses”; “Representação Profissional das 40 Anos

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Democracias”; “Pela Educação Nacional”; “O Regime Parlamentarista”; “O Sal e o Algodão na Economia Potiguar”; “O Seridó e O Anteprojeto da Constituição em Face da Democracia” (1934). Era sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; sócio benemérito do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e da Associação Comercial do Rio de Janeiro; sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico do Ceará; sócio remido da Associação Brasileira de Imprensa; membro do Conselho Nacional de Economia, da Sociedade Brasileira de Economia Política, da Comissão Diretora da Associação Comercial do Rio de Janeiro, da Comissão Executiva do Instituto Nacional do Sal, da Subcomissão de Legislação Social, da Comissão Diretora da Associação Brasileira de Educação, da Academia Norte-rio-grandense de Letras e da Academia Brasileira de Escritores, além de, no âmbito internacional, haver pertencido, também na qualidade de membro, ao Conseil de Direct on de l´academie internacional de Science Politique et d´Histoire Constitucionelle e a Société de Legislation Comparée, ambos na França. José Augusto, que foi inclusive Delegado do Brasil à Assembléia Geral da Organização das Nações, em Paris (19511952), é o Patrono da Fundação Cultural do Estado e dá nome ao Palácio da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte e a uma rua na Praia de Areia Preta. (...) José Augusto era um tipo humano que amava o lugar de nascimento, a civilização do gado e do couro, o agreste do algodão, a caatinga, com seus cactos e sua paisagem dura, angulosa e trágica, disse João Medeiros Filho. – Mas, completou, o homem José Augusto não foi um cacto, foi um político amável, habilidoso, contemporizador, envolvente, olhos fitos no progresso e no bem-estar do seu povo (Contribuição à História Intelectual do Rio Grande do Norte, p. 45). Um homem singular. Faleceu no Rio de Janeiro, a 28 de maio de 1971.

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Fonte: Texto e foto, Arquivos da FJA/CEPEJUL.

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Fundação José Augusto


MONTE Filho, Lauro (Patrono de Teatro em Mossoró) Nasceu em Mossoró-RN, a 01.06.1933, filho de Lauro de Albuquerque Monte Rocha e d. Maria de Lourdes Nogueira do Monte. Formouse em Ciências Jurídicas na FURRN- Fundação Universitária Regional do Rio Grande do Norte. Foi sócio-fundador da Academia Mossoroense de Letras-AMOL, onde ocupava a Cadeira nº. 26, cujo patrono é o diretor teatral Inácio Meira Pires. Com efeito, participou ativamente do processo teatral mossoroense, dando grande visibilidade ao Teatro de Amadores de Mossoró-TEAM, sobretudo nos idos da década de 60, inclusive chegando a publicar importante estudo a respeito – Caleidoscópio do TEAM – pela Coleção Mossoroense. Dele, disse Dorian Jorge Freire: Com a inesperada morte de Lauro Monte Filho cessou uma fonte rica e humana de inteligência a serviço da cultura em Mossoró. Lauro era o historiador de nosso teatro, era cronista e memorialista do Tibau, estudioso da genealogia das grandes famílias daqui – os Nogueira, os Rocha (jornal O Mossoroense, ed. de 08 julho de 1937). Faleceu em Mossoró, a 07 de junho de 1997.

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Fonte: Texto e foto cedidos pelo Prof. Raimundo Soares de Brito.

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PARREIRAS, Ary (Patrono de Museu em Natal) Nasceu no Rio de Janeiro, em 17.04.1890. Formou-se na tradicional Escola Naval, no Rio de Janeiro, e no decurso de sua carreira assumiria o comando da Base Naval daquela cidade. Como oficial do contratorpedeiro-líder “Piauí” tomou parte na I Guerra Mundial, sendo agraciado com a Cruz e a Medalha da Vitória pelo Governo Inglês. Participando de conspirações e movimentos revolucionários, foi preso diversas vezes a partir de 1924, chegando a ser condenado a um ano de reclusão (1929). Anistiado com a Revolução de 30, foi designado Interventor Federal no Estado do Rio de Janeiro. No período de 1941 a 1945 o Almirante Parreiras foi incumbido de coordenar os trabalhos de construção da Base Naval de Natal, cuja finalidade era a defesa do litoral do Nordeste do país no decurso do conflito mundial. Tornou-se o seu primeiro comandante e aquela instituição homenageou-o adotando o seu nome. Ao fim daqueles eventos foi condecorado com a Ordem do Cruzeiro do Sul e com a Medalha de Ouro, pelos relevantes serviços prestados à Marinha de Guerra e ao Brasil. Receberia, ainda, a Medalha da Legião de Honra, do Governo Norte-americano. Faleceu em NiteróiRJ, a 9 de julho de 1945.

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Fonte: Arquivos da FJA/CDC. Foto: acervo do Museu Ary Parreiras (Marinha do Brasil - Natal)

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PEREIRA, Nilo de Oliveira (Patrono de Museu em Ceará-Mirim) Nasceu em Ceará-Mirim-RN, em 11.12.1909. Veio para Natal no início dos anos 20, aqui cursando o Atheneu Norte-rio-grandense e, posteriormente, a Escola de Comércio, onde se diplomaria Contador. Ainda nesta capital iniciou-se no jornalismo escrevendo para o “Diário de Natal”. Foi estudar Direito no Rio de Janeiro (1928), transferindo-se para a Faculdade do Recife (1930) e concluindo o curso dois anos mais tarde. Na capital pernambucana se estabeleceria profissionalmente, bem como empreenderia atividades paralelas nos campos educacional, cultural e político: (...) ele foi jornalista, professor, memorialista, historiador, ensaísta, conferencista, poeta, administrador, jurista e político, sem esquecer os raros dons de ‘causeur’ e de epistológrafo consumado e constante (BRITO GUERRA, p. 161). Em 1930, a convite de Aderbal de França, passou a colaborar no jornal “A República”, de Natal, e a partir de 1935 – e praticamente até o fim dos seus dias – escreveu para o Jornal do Comércio, no qual manteve a coluna “Notas Avulsas”. Exerceu diversos cargos públicos no Estado de Pernambuco, nas áreas da educação e da imprensa, ali também tendo sido eleito Deputado Estadual (1950-1954). Lecionou na Escola Normal de Pernambuco, em alguns colégios do Recife e na Faculdade de Filosofia da Universidade Católica, da qual foi um dos fundadores. Era membro das Academias Norte-rio-grandense e Pernambucana de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, do Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco, do Conselho Diretor do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais e de diversas outras instituições do gênero de outros estados. Além do 40 Anos

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Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra, recebeu a Medalha Almirante Tamandaré, concedida pela Marinha de Guerra do Brasil, a Medalha do Mérito Pernambucano e a comenda da Ordem de Cristo, tendo ainda sido agraciado com o Colar de Ouro do Instituto de Coimbra da Universidade de Coimbra (Portugal). Entre mais de quatro dezenas de títulos produzidos pelo ilustre potiguar, destacamos os seguintes: A Dimensão Humana (Ed. Universitária, UFPE, Recife, 1975); O Tempo Mágico (Ed. Universitária, UFPE, Recife, 1976); Imagens do Ceará-Mirim, prefácio de Edgar Barbosa (Fundação José Augusto, Natal, 1977); A Faculdade de Direito do Recife – 1927-1977, prefácio de Gilberto Freire (Ed. Universitária, UFPE, Recife, 1977); Lembrança de Edgar Barbosa (Ed. Universitária, UFRN/Coleção Mossoroense, Natal, 1978); Reflexões de um fim de século (Ed. Radier, Recife, 1979); O Guaporé restaurado (Ed. Radier, Recife, 1979); Notícia do Invisível (Ed. Pirata, Recife, 1982); A Rosa Verde (Ed. Universitária, UFPE, Recife, 1982) e José Augusto Bezerra de Medeiros, um Democrata (Fundação José Augusto, Natal, 1982). Passara a infância no Engenho Guaporé – cuja casa-grande foi tombada pelo IPHAN, após restauração executada pela Fundação José Augusto –, e em suas dependências esta instituição instalou o museu que leva o seu nome. Nilo Pereira faleceu em Recife, a 23 de janeiro de 1992.

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Fontes: MELO, Veríssimo Pinheiro de. Patronos e Acadêmicos, V. II. Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1974; BRITO GUERRA, Otto de. Elogio de Nilo Pereira in Revista da ANL, Vol. 37, nº. 25, 1996, Natal. 400 Nomes de Natal. Foto: extraída do livro 400 Nomes de Natal.

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PEREIRA PINTO, Alexandre Francisco(*) (Patrono de Museu em Pedro Avelino) Nasceu na então Vila de Angicos-RN, hoje município, em 13.11.1834, filho de Alexandre Francisco Pereira Pinto (mesmo nome que o seu, portanto), e de d. Damásia Francisca dos Santos. Era bisneto de Antônio Lopes Viega, fundador da comunidade. Conhecido como “Capitão Antas”, tinha temperamento forte, tinha temperamento forte mas era profundamente humanitário; certa vez financiou, a juros simbólicos, a agricultura local, numa época de imensas precariedades (não havia, ainda, o sistema de cooperativas e os roçados praticamente se resumiam à produção para o consumo). Foi nomeado subdelegado de Gaspar Lopes, Distrito do Município de Angicos, em 1891, cargo do qual só seria exonerado em 1916 a seu pedido, dada a idade avançada. Consta que o exerceu com moderação e sabedoria, nunca se valendo de sua posição para “tirar proveito” ou humilhar seus concidadãos. Casara duas vezes, do que resultaram treze filhos (quatro deles morrendo ainda criança). Profundamente estimado pelo seu povo, Capitão Antas (o apelido surgira em razão de alguns tropeiros acharem-no parecido com um tal “Dantinha do Teixeira” e de seus irmãos só conseguirem pronunciar “Antinha”, fixando-lhe a partir daí o nome “Antas”). Faleceu em 1923, aos 89 anos de idade, depois de toda uma vida dedicada à sua região. Hoje dá nome ao museu da cidade de Pedro Avelino, em cujo cemitério se encontram os seus restos mortais. _________________________

(*) Esgotamos todos os recursos possíveis no sentido de localizar uma foto deste patrono, inclusive através de contatos com familiares seus. Fonte: Arquivos da FJA/CDC.

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Fotos: Ricardo Monteiro

Museu “Capitão Antas”, no Município de Pedro Avelino, antes e depois da restauração realizada pela Fundação José Augusto.

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PEREZ, Rossini Quintas (Patrono da Oficina de Gravuras) Nasceu em Macaíba-RN, a 16.09.1931, filho do Espanhol da Galícia Jaime Queiroz Perez e da norte-rio-grandense Joana Geraldo. Gravador, desenhista, pintor e professor. Ativo em Paris, desde 1961, regressou ao Brasil em 1972. Estudou gravura com Fayga Ostrower, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1953), onde também, sob a orientação de Margaret Spence, fez o curso de cerâmica. Foi assistente de Johnny Friediander e de Edite Behring 1959 a 1961), no mesmo Museu. Mais tarde foi aluno da Rijksakademie de Amsterdã, como bolsista da UNESCO. Participou do I ao IX Salão Nacional de Arte Moderna, Rio de Janeiro (1952 a 1960), obtendo isenção de Júri (1955) e prêmio de viagem ao País (1960); do III, IV e V Salão Paulista de Arte Moderna (de 1954 a 1956), prêmio aquisição e segundo prêmio Governo do Estado (1956); da III a IX Bienal de São Paulo (1955 a 1967), isenção de júri (1961) e prêmio ltamarati; da XXXI Bienal de Veneza (1962); da III Bienal de Paris (1963); das mostras de Arte Moderna em Buenos Aires, Rosário, Santiago do Chile, Lima e Brasil; da Exposição Arte Brasileira Atual, em Londres e Viena (1965); da exposição Artistas Brasileiros Contemporâneos, no Museu de Arte Moderna de Buenos Aires (1966); do IV Salão Baiano de Belas-Artes, obtendo menção honrosa (1966); da Bienal de Carrara, Itália, obtendo o Prêmio Internacional de Gravuras, de mostras coletivas em Munique, Oslo, Madri, Jerusalém, Washington, Nova lorque e Londres. Realizou individuais em Montevidéu (1959), Lima (1960), Lisboa (1961 e 1965), Roma (1961), Hamburgo (1962), Amsterdã (1964), Londres (1965), Roma (1966), nas Galerias Seta, São Paulo (1965), em Brasília (1965) e Gemini no Rio de Janeiro 40 Anos

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(1967). Tem feito ilustrações para jornais e revistas do Rio de Janeiro. Foi professor de gravura no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e nos cursos de gravura do Instituto Brasil-Bolívia, em La Paz, da Escola de BelasArtes de Lima, da Sociedade Gravura de Lisboa e das Universidades de Belém e Brasília. A seu respeito escreveu Walmir Ayala (Jornal do Brasil, 25/7/72), quando de individual do artista na Galeria Bonino, no Rio de Janeiro: “(...) Uma poderosa demonstração de técnica e criatividade a mostra deste artista que, consciente da armadilha da cozinha da gravura, exercita a tridimensionalidade, além do relevo gráfico, num gesto insatisfeito de superar seus próprios instrumentos. (...) Rossini Perez... soube trazer a lição da inquietação e da vitalidade, num momento em que a gravura parecia desandar na superficialidade dos seus azeites e brilharecos. (...) Os complicados nós, que sugerem o indissolúvel, a fusão dos novelos enlaçados, os labirintos gratificantes de cálida matéria relevada testemunham uma estrutura efetiva e de positiva humanidade que conduz a memória de infância deste artista consumado à construção de uma obra que não se deixa sufocar pela técnica estéril. . .” Tem obras no Museu de Hamburgo, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Museu do Havre, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, Museu de Leverkusen, Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, Museu de Southampton e no Museu Nacional de Belas-Artes, no Rio de Janeiro, onde reside atualmente.

Nota complementar Em 1999 a Academia Brasileira de Letras expôs uma seleção de gravuras de Rossini Perez – “Trajetória 1954-1981” -, dentro da Mostra Rio Gravura, ocasião em que o Acadêmico Antonio Olinto emitiu o seguinte parecer: O negro profundo de muitos dos seus trabalhos é, de vez em quando, substituído por traços rápidos a que a prensa empresta determinado tom de leveza. Falei em “coração da matéria”, e é nessa penetração mais funda e forte no íntimo dos objetos que vejo o vigor de Rossini Perez como gravador. g

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Fonte: Transcrito de Artes Plásticas do Rio Grande do Norte, de Dorian Gray Caldas, UFRN-FUNPECSESC. Natal, 1989. Foto: Juan Esteves (cedida por Rossini Perez).

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PINHEIRO, Aurélio Valdemiro (Patrono de Prêmio Literário) Nasceu em São José de Mipibu-RN, a 28.01.1882, filho de Manuel Pinheiro e d. Maria Barbosa Pinheiro. Cursou humanidades no Atheneu Norte-rio-grandense e tornou-se médico na Faculdade da Bahia. Integrou-se a movimentos literários na provinciana Natal do início do século XX, participando de grupos como o “Le Monde Marche” em cujo jornal, “Oásis”, publicou versos e crônicas. Foi funcionário da Fazenda Estadual (1907), clinicou em Macau e Areia Branca e, aproveitando momentos de folga, escreveu crônicas e novelas. Em “O Mossoroense” escreveu a seção “Bilhetes da Serra” (1909), sob o pseudônimo de Estanislau Pamplona, e “Crônicas” (1910), assinando A. Áureo Pinho. Mudando-se para Parintins, no Amazonas, abriu consultório e foi nomeado Inspetor Sanitário, dali enviando matérias para “A República”, às quais deu o título geral de “Notas do Amazonas”, no mesmo período colaborando com jornais daquele Estado. Como romancista, seu livro inicial – O Desterro de Umberto Saraiva (1926) – foi premiado pela Academia Brasileira de Letras e editado pela Livraria Clássica, de Manaus, naquele mesmo ano. Seguiu-se Gleba Tumultuária (1927), também publicado pela Livraria Clássica. Dois anos mais tarde torna a se transferir, dessa vez para o Rio de Janeiro, passando a ensinar em Niterói e prosseguindo em sua produção. Traduz obras de autores como Stefan Zweig, André Maurois, Carlyle, Máximo Gorki e Sinclair Lewis, na área literária, e alguns estudos científicos. Publicaria, ainda, um 40 Anos

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“Dicionário de Sinônimos da Língua Nacional” (provavelmente em 1930), e Macau (1934), deixando inéditos Diário de um Médico, À Margem do Amazonas, Página da Vida (contos) e O Ouro do Sucunduri (romance). Aurélio Pinheiro é o Patrono da Cadeira nº. 27 da Academia Norterio-grandense de Letras. Para Américo de Oliveira Costa, foi “o maior dos romancistas norte-rio-grandenses”. Faleceu em Niterói, a 17 de novembro de 1938.

Nota complementar “(...) Macau é, para nós, seus conterrâneos, o seu trabalho mais representativo, justamente por suas características regionalistas: a estória, os tipos humanos, o ambiente, os costumes, as circunstâncias nos restituem (...) um passado de oitenta ou noventa anos, na cidade de Macau, seu centro urbano, os subúrbios, o aterro, as salinas, as praças, as ruas. Romance social, além de regionalista? Digamos: mais romance de costumes, e, como todo romance de costumes, romance realista. “Aurélio não pretendeu servir-se da presença das atividades para levá-la ao seu livro, como background. Outros o tentariam, como José Mauro de Vasconcelos em ‘Barro Blanco’. O objetivo de Aurélio foi, mais definidamente, o ‘piccolo mondo’ macauense de que o romancista se tornou, como acentuou o crítico Agripino Grieco, o ‘arrecadador de sentimentos infinitesimais’, depondo como testemunha de vista e ouvido. Recriou-o o escritor com a verdade de sua memória e de sua imaginação, fixando pessoas, fatos e cenários que deixaram raízes na lembrança coletiva.” Estas colocações fazem parte do prefácio da obra “Macau”, elaborado por Américo de Oliveira Costa,(48)que assim o conclui: “Quando saiu ‘Macau’, o crítico Agripino Grieco, já aqui citado, em artigo publicado na Imprensa do Rio, e inserto, depois, em seu livro ‘Gente Nova do Brasil’ (Ed. José Olímpio, 2ª. edição, 1948, pp. 60-62), frisou: ‘De outros romances se tem falado demais. Deste se tem falado de menos.’ Observação que bem resume todo o injusto destino literário de Aurélio Pinheiro. Sempre de menos se falou dele, nunca na extensão, na proporção de sua exata importância.” ________________________ (48)

Américo de Oliveira Costa, Natal, 1984

Fonte: Arquivos da FJA/CEPEJUL. Foto: Reprodução da gravura de Francisco Iran, por Anchieta Xavier.

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PORTINARI, Cândido (Patrono da Escolinha de Artes) Nasceu numa fazenda de café em Brodósqui-SP, a 29.12.1903, filho de imigrantes italianos. Cresceu entre trabalhadores do campo, diz o seu biógrafo e amigo Celso Kelly. A fazenda e o pequeno povoado constituíam quadros vivos do Brasil-rural, ante os olhos penetrantes e ávidos do menino Cândido. As recordações desse ambiente nunca mais se apagariam, completa. Em 1914, com apenas 11 anos, apresentou o primeiro trabalho, um retrato de Carlos Gomes, e em 1918, só com o curso primário, fixou-se no Rio de Janeiro, iniciando-se no Liceu de Artes e Ofícios e, a seguir, na Escola Nacional de Belas-Artes, onde freqüentou as classes de Amoedo, Batista da Costa e Lucilo de Albuquerque. É seguidamente premiado no Salão Nacional de Belas-Artes, com a medalha de prata (1927) e a de ouro (1928), neste último ano conquistando inclusive um prêmio de viagem à Europa, ali permanecendo por vasto período. Em 1935 tornou-se professor do Instituto de Artes da então recém-fundada Universidade do Distrito Federal, no mesmo ano ganhando a segunda menção honrosa do Prêmio Carnegie, em Pittsburgh (EUA), com a tela “Café”, projetando-se internacionalmente. Em 1937 iniciou os estudos para a série de murais que executaria nas paredes do hall, do auditório e do salão do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro, edifício cuja construção fora projetada por um grupo de arquitetos liderados por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. No ano de 1938 o Museu de Nova Iorque adquiria um de seus quadros e o Ministério da Educação promovia, no Museu Nacional de Belas-Artes, uma exposição de 269 obras do artista. Em 1939 expôs três grandes painéis na Feira Mundial de Nova Iorque e, no ano seguinte, a Universidade de Chicago publicou um livro40 Anos

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álbum com o título “Portinari, sua vida e sua arte”. Há painéis seus na Biblioteca do Congresso, em Washington, na Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, e na sede da Organização das Nações Unidas (ONU). Expôs na Galerie Charpentier (1946), em Paris, onde recebeu a condecoração da Legião de Honra do Governo Francês. Vários outros trabalhos produziu, como os painéis históricos: “Tiradentes”, “Chegada de Dom João VI ao Brasil” e “Descobrimento do Brasil”. Sua última obra (1961) foi um grande painel, em azulejo, num edifício de Paris. Intoxicado pelas tintas que manuseava, Cândido Portinari – considerado a mais alta expressão da pintura moderna no Brasil – faleceu no Rio de Janeiro, a 6 de fevereiro de 1962. _________________ Fontes: Arquivos da FJA/CEPEJUL; site www.portinari.org.br (inclusive foto).

Nota complementar Com uma prodigiosa produção superior a 4.000 obras – incluindo murais, afrescos, painéis, pinturas, desenhos e gravuras –, abordando extrema variedade de aspectos da realidade brasileira do seu tempo (primeira metade do Séc. XX), Portinari ainda encontrou tempo para fazer poesias, inclusive atendo-se a mesma temática do seu trabalho nas artes plásticas. Em 1964 foi publicado o livro “O Menino e o povoado”, com uma seleção dos seus poemas realizada pelo poeta Manuel Bandeira, no qual consta uma revelação do ilustre pintor. – Quanta coisa eu contaria, se soubesse a língua como a cor! ... Ao seu respeito, disse o escritor Jorge Amado: O Cândido Portinari nos engrandeceu com sua obra de pintor. Foi um dos homens mais importantes do nosso tempo, pois de suas mãos nasceram a cor e a poesia, o drama e a esperança de nossa gente. Com seus pincéis, ele tocou fundo em nossa realidade. A terra e o povo brasileiros – camponeses, retirantes crianças, santos e artistas de circo, os animais e a paisagem – são a matéria com que trabalhou e construiu sua obra imorredoura... _________________ Foto: Reprodução da obra Jangada 60 x 72 / Ano 1950; pintura a óleo / tela.

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SANTOS LIMA, Elias Antônio Ferreira Souto dos (Patrono de Prêmio Literário) Nasceu em Açu-RN, a 25.01.1848. Aos 20 anos fez concurso em Natal para Professor do Ensino Primário, sendo nomeado sucessivamente para as cidades de Açu, Macau e São José de Mipibu. Tornar-se-ia, no entanto, o primeiro jornalista profissional do Rio Grande do Norte. Fundou vários jornais, começando com “O vaga-lume” (1873). Seguiram-se “O Sertanejo” (18731876), “Jornal do Açu” (1876-1885), “A Abolição” (1883) e “O Açuense” (1885), estes em Açu; em Macau “O Macauense” (1886-1889) e em São José de Mipibu “O Nortista” (1892-1893) que, ao transferir-se para Natal (1895), passaria a denominar-se “Diário”, meses depois “Diário do Natal” (segundo Cascudo, este teria circulado de 1895 a 1913). Apesar dessa intensa atividade, Elias Souto era paralítico desde jovem. Agressivo e inconformado com a situação política de sua época, tornou-se adversário do então Governador do Estado Pedro Velho. Foi abolicionista, inclusive um dos fundadores da organização “Libertadora Açuense”, mas mantendo-se fiel ao Partido Conservador. A aversão de Elias Souto a Pedro Velho não se limitava à política: o Governador o designara para ensinar em Pau dos Ferros, extremo oeste do Estado, apesar de suas extremas dificuldades de locomoção, duplamente agravando-se o problema por tratar-se da disciplina “Calistenia” (correspondente à Educação Física), mesmo sabendo que vivia numa cadeira de rodas. Elias Souto faleceu no dia 17 de maio de 1906. _________________________

Fonte: Arquivos da FJA/CEPEJUL Foto: extraída do livro 400 Nomes de Natal.

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Nota complementar Registramos uma curiosidade, a respeito do ilustre jornalista. Vimos, acima, que fundou vários jornais, inclusive “O Nortista”, em São José de Mipibu. Mundando-se para esta capital, continuou a publicá-lo dando seqüência à numeração: em março de 1893 distribuiu o nº. 56, já em Natal. Posteriormente, havendo Elias Souto adquirido a empresa Libro-Tipográfica Natalense, aumentou-lhe o formato e mudou-lhe a denominação para “Diário do Natal”, mais uma vez prosseguindo a numeração iniciada com “O Nortista”, desta feita publicando o nº. 292 a 7 de setembro de 1895, “com o mesmo programa, os mesmos fins e intuitos e a mesma redação”. O redator-chefe também era o mesmo – Elias Souto –, cujo escritório situava-se na Rua da Conceição, nº. 33. A tipografia, porém, estava instalada na Rua Visconde do Rio Branco, nº. 28, mais tarde sendo transferida também para a Rua da Conceição “esquina do Beco da matriz”. Consta que referida tipografia “(...) foi assaltada e em grande parte destruída na noite de 18 para 19 de fevereiro de 1905, causando esse ato sumamente lamentável a interrupção da publicação do jornal por algum tempo”. No ano seguinte, com o falecimento de Elias Souto, assumiu a chefia de redação o Dr. Augusto Leopoldo Raposo da Câmara. _________________________

Fonte: Informações colhidas no livro “A Imprensa periódica no Rio Grande ao Norte - 1832-1908”, de Luiz Fernandes, 2ª. edição, FJA/ Sebo Vermelho, 1998.

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SILVEIRA, Myriam Coeli de Araújo Dantas da (Madrinha de Biblioteca em Natal) Nasceu em Macapá-AP, a 01.11.1926, filha de José Silvino de Araújo e d. Maria Esther de Araújo. Com apenas dois meses de idade veio residir em São José de Mipibu, onde mais tarde cursaria o primário no Grupo Escolar Barão de Mipibu. Fez o secundário no Colégio Estadual do Atheneu Norte-rio-grandense (1943-1946), em Natal, e o Superior na Faculdade de Filosofia do Recife, ali recebendo o título de Bacharel em Letras Neolatinas (1949), e na Escuela Oficial de Periodismo de Madrid, Espanha (onde foi bolsista do Instituto de Cultura Hispânica), titulando-se em Jornalismo (1954). Naquele país, aliás, teve oportunidade de ampliar seus conhecimentos sobre a história da arte, da língua e da literatura espanholas, estudando tais disciplinas na Faculdade de Filosofia y Letras de Madrid. Retornando ao Estado, lecionou Francês no Ginásio Municipal (1959), Português na Escola Técnica Federal (1964-1971) e Literatura Portuguesa no Colégio Estadual do Atheneu Norte-rio-grandense (1971); foi Profª. Assistente na Cadeira de História da Língua Portuguesa – cujo titular era o Prof. Arnaldo Arsênio de Azevedo – na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Natal (1966) e Profª. na Cadeira de História da Imprensa da Faculdade de Jornalismo “Eloy de Souza” (1966), além de integrar bancas examinadoras de concursos de habilitação (inclusive em vestibulares) em várias instituições. Manteve coluna literária na Tribuna do Norte (1952), no Diário de Natal (1953) e n’A República (1956-1961). Numa época em que a participação feminina no emprego era, ainda, muito incipiente, mormente na redação dos jornais, consta que terá sido pioneira, em Natal, neste particular (eventuais 40 Anos

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ocorrências anteriores, como nos casos de Isabel Gondim, Clarice Palma ou, mais recentemente, “Chicuta” Nolasco, deram-se, apenas, a título de colaboração, sem contrato formalizado ou compromisso com as técnicas jornalísticas então vigentes). Publicou Imagem Virtual (1961), uma coletânea de poemas escritos em parceria com seu marido, o também Jornalista Celso da Silveira, Vivência Sobre Vivência (1980), Cantigas de Amigo (prêmio “Otoniel Menezes”, 1980), Inventário (prêmio Fundação José Augusto, 1981) e Catarse (prêmio “Otoniel Menezes”, 1981). Myriam Coeli recebeu vários títulos, dentre os quais o que mais a identificava era o de “Dama Laço Azul Celeste”, da milenária Irmandade Santa Helena, fundada pelo Imperador Constantino, recebido em Madrid (1954). Faleceu em Natal a 21 de fevereiro de 1982. _________________________

Fontes: SILVEIRA, Celso da. Ave, Myriam, Coletânea de depoimentos e homenagens (Co-edição Editora Universitária/Edições Clima, Natal, 1984); MYRIAM COELI de Araújo D. da Silveira (1926-1982). Documentos curriculares; Jornal A República, edição de 25.02.1982; Jornal Diário de Natal, edição de 25.02.1982; Jornal Tribuna do Norte, edição de 26.02.1982.

Nota complementar Poema extraído do livro Inventário: MEUS BRINQUEDOS DE CARTÃO Para meus filhos Cristiana Coeli e Eli Celso Meus brinquedos de cartão todos trocados estão: Meu El-Rei cavaleiro, por homem verdadeiro. A bela dama antiga, por uma nova amiga. Todos cavalos pintados por outros ajaezados. Meus brinquedos de cartão desfeitos todos estão: meu El-Rei cavaleiro fugiu-me bem ligeiro; A bela dama antiga já morreu de coriza. Todos cavalos pintados já foram esquartejados. Meus brinquedos de cartão perdidos na infância estão. _________________________

Foto: Arquivos da FJA/CEPEJUL

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SOBRAL DE MEDEIROS, Mons. Expedito (Patrono do Memorial em São Paulo do Potengi) Nasceu em São Rafael-RN, a 13.12.1916, filho de João Batista de Medeiros e d. Umbelina Sobral de Medeiros. Iniciou os estudos na Escola “7 de Setembro”, em Lajes, também neste Estado. Ingressou no Seminário Menor aos 11 anos de idade (1928), transferindo-se mais tarde (1933) para o Seminário Maior da Prainha, em Fortaleza, onde, além de concluir os cursos de Teologia e Filosofia, recebeu as ordens de praxe que antecedem a do efetivo exercício eclesiástico. Foi ordenado sacerdote a 19 de novembro de 1939, na Catedral Metropolitana de Natal, hoje Matriz de

Residência do Mons. Expedito Medeiros, transformada no Memorial que o homenageia. 40 Anos

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Nossa Senhora da Apresentação, no dia seguinte oficiando sua primeira missa, na Capela do Colégio Santo Antônio. Em 1943, por designação de Dom Marcolino Dantas, então Bispo da Diocese de Natal,(49) assumiu a Paróquia de São Paulo do Potengi como seu primeiro Vigário, posto em que permaneceria até sua morte, quando foi substituído por Pe. Severino dos Ramos Vicente (jan. 2000). Destacou-se por suas ações sociais no meio rural, tendo sido, inclusive, um dos líderes do “O Movimento de Natal”, do qual resultariam as comunidades eclesiais de base da Igreja Católica progressista. Nos últimos anos, apesar da idade bastante avançada, integrou-se na luta por um semi-árido mais humanizado e pelo combate à seca. Foi um dos mais eloqüentes defensores do projeto de adutoras. A Casa Paroquial de São Paulo do Potengi, onde residia, foi tombada pelo Governo Estadual (set., 2002), ali sendo instalado importante acervo de objetos pessoais e da obra daquele que entraria para a história do Rio Grande do Norte como “O Apóstolo das Águas”. Faleceu em 16 de janeiro de 2000. _________________________

Fonte: Livro “Biografia dos Sacerdotes” – Cúria Metropolitana da Arquidiocese de Natal.

Nota complementar Quando do falecimento do ilustre norte-rio-grandense, o então Governador do Estado, Garibaldi Alves Filho, recebeu a seguinte mensagem do Presidente da República: Senhor Governador, Estou sendo informado do falecimento do Reverendíssimo Monsenhor Expedito Medeiros, abnegado servidor da Igreja Católica e desprendido apascentador do povo potiguar e a quem tive a honra de conhecer quando da inauguração de obras hídricas nesse Estado, em companhia de Vossa Excelência. A força e a obstinação com que defendia a expansão da oferta de água para o semi-árido nordestino, como condição essencial para a preservação da vida e da dignidade humana, deixaramme forte e indelével impressão, permitindo-me passar a denominá-lo de ‘apóstolo das águas’. A sua mensagem e o seu exemplo de luta estão sendo perpetuados através das importantes obras de captação e adução que o meu Governo, em conjunto com o Estado, está realizando no Rio Grande do Norte, dando Vossa Excelência, merecidamente, o seu nome a uma das adutoras recentemente inauguradas. Associo-me aos seus familiares, ao Clero e, através de Vossa Excelência, ao povo potiguar pela partida do insigne Monsenhor Expedito. Atenciosamente, Fernando Henrique Cardoso _________________________

A Diocese de Natal só seria elevada à categoria de Arquidiocese a 16 de fevereiro de 1952, na mesma data sendo Dom Marcolino confirmado como primeiro Arcebispo da Cidade. (49)

Fotos: Mons. Expedito (Joana Lima-DN); Memorial (cedida por Pe. Ramos).

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SOUZA, Auta de (Madrinha de Prêmio Literário) Nasceu em Macaíba-RN, a 12.09.1876, filha de Eloy Castriciano de Souza e d. Henriqueta Leopoldina de Souza. Foram seus irmãos Eloy de Souza, Henrique Castriciano, Irineu Rodrigues e João Câncio Rodrigues de Souza. Estudou no Colégio São Vicente de Paula, em Recife, sob a orientação de religiosos franceses, “(...) almas formosas e santas que me educaram o coração e o espírito”, diria ela singelamente no oferecimento do seu livro. Adoeceu aos 14 anos de idade, justamente do mal que a vitimaria (tuberculose). Em 1900 publicou, em Natal, Hôrto, prefaciado por Olavo Bilac. A segunda edição foi lançada em Paris (1911) e, mais tarde, duas outras no Brasil: no Rio de Janeiro (1936), prefaciada por Alceu Amoroso Lima, e em Natal (1970), sob o patrocínio da Fundação José Augusto. Notabilizou-se como poetisa sofrida e triste. Divagações, preces, saudades, túmulos e uma profunda essência nostálgica da infância passeiam em sua imaginação amargurada e mística. “A infância e a morte são o ‘leitmotiv’ dos seus poemas”, diria Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde), no Prefácio do Hôrto, p. 9. Percebe-se isso, com efeito, em quase todas as suas composições: “Ela passou por mim toda de preto / Pela mão conduzindo uma criança... / E eu cuidei ver ali uma Esperança / E uma saudade em pálido dueto. Pois, quando a perda de um sagrado afeto / De lastimar esta mulher não cansa, / Numa alegria descuidosa e mansa, / Passa a criança, o beija-flor inquieto” (estrofes do poema “Estrada Afora” - Hôrto, 4ª. edição, p. 26). Faleceu em Natal, a 7 de fevereiro de 1901. 40 Anos

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Nota complementar Trechos do prefácio da 3ª. edição de HÔRTO, de Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde): “Depois das palavras que Henrique Castriciano, Nestor Victor e Jackson de Figueiredo escreveram sobre Auta de Souza, tudo que é essencial foi dito sobre essa grande alma sofredora. Sua poesia alcançou uma intensidade de sentimento cristão que até hoje não envelheceu. E o esgotamento sucessivo de duas edições do Hôrto, único livro que a precariedade de sua saúde e os curtos anos que viveu lhe permitiram deixar, bem mostra que os seus versos despertaram ecos em muitos corações. “Auta de Souza não pertence nem a uma escola nem a um momento literário. Filiada, por natureza, à corrente das letras femininas em nosso país, nela se destaca, no dizer de Jackson de Figueiredo – ‘como a mais alta expressão do nosso misticismo, pelo menos, do sentimento cristão, puramente cristão, na poesia brasileira’. “Morreu, como tantos dos nossos grandes poetas, aos vinte e poucos anos. E o pensamento da morte domina toda a sua poesia, ao lado do sentimento da infância. A infância e a morte são o leitmotiv dos seus poemas, sempre intensamente vividos e brotados sem esforço, com uma seiva natural que dela realmente fizesse, como o disse, um formoso fruto do seu jardim das oliveiras – ‘a noiva do verso’. O tema que mais canta é o da morte das crianças. E nas páginas torturantes que lhe dedica, passa e perpassa essa dupla sombra, negra e branca de dor e de angelitude, que domina todo o seu Hôrto. Basta isso para mostrar a infinita tristeza dos seus poemas”. E conclui: “Nunca sonhou com a glória literária. Nem mesmo com esse eco que só depois de morta veio encontrar no coração dos simples, onde toda uma parte dos seus poemas encontrou a mais terna repercussão. “E esse sentimento de absoluta pureza é o que mais encanta nos seus poemas. Auta de Souza viveu em estado de graça e os seus versos o revelam de modo evidente. Daí o grande lugar que ocupa em nossa poesia cristã, em cuja cordilheira sempre há de ser um dos altos mais puros e mais solitários. Todas as almas sofredoras, todas aquelas que aspiram a esse estado de graça em que ela viveu, ou, mesmo, as que lutam com uma natureza mais rebelde e mais tortuosa hão de encontrar nos poemas místicos, ou simplesmente líricos, do Hôrto uma companhia angélica que lhes trará, porventura, um pouco de serenidade na lição de uma dor que encontrou o seu sentido sobrenatural e, portanto, se transmuta em esperança e em amor pelo inefável”. _________________________

Fonte: SOUZA, Auta de. HÔRTO. 4ª. edição. Natal: Fundação José Augusto, 1970. Foto: arquivos da FJA/CEPEJUL

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SOUZA, Eloy Castriciano de (Patrono da Faculdade de Jornalismo e do CDC) Nasceu em Recife-PE, em 04.03.1873, filho do comerciante Eloy Castriciano de Souza e d. Henriqueta Leopoldina de Souza, vindo ainda pequeno morar em Macaíba. Eram seus irmãos Irineu, João Câncio, Auta e Henrique Castriciano de Souza (recomendamos a leitura dos verbetes correspondentes aos dois últimos, no livro Personalidades Históricas do Rio Grande do Norte, Séculos XVI a XIX, desta Fundação). Estudou em escolas preparatórias de Natal e Recife, nesta última cidade formando-se na Faculdade de Direito. Graduou-se, também, em Ciências Sociais. Foi Delegado de Polícia em Macaíba, Deputado Estadual (1894), Deputado Federal nas legislaturas 1897-1899, 1900-1902, 1903-1905, 1906-1908, 1909-1911, 1912-1914, 1927-1929 e 1930-1932 e Senador da República, primeiro em 1914, substituindo a Joaquim Ferreira Chaves, então eleito Governador do Estado, depois, nos seguintes períodos: 1915-1917, 19181920, 1921-1923, 1924-1926 e 1935-1942 (este último foi interrompido dois anos após iniciado, pois o Senado Federal foi dissolvido a 10 de novembro de 1937). No exercício dos inúmeros mandatos de que foi investido sempre mostrou-se intransigente na defesa dos interesses do Rio Grande do Norte. Era profundo conhecedor de questões vinculadas ao problema da seca, tendo viajado pela Europa e África, onde adquiriu vasta experiência sobre o assunto. O Presidente Epitácio Pessoa o apoiou em projeto de lei pertinente (1919). É considerado um dos mais importantes políticos potiguares da primeira metade do século XX. Como jornalista e parlamentar escreveu artigos em jornais de Natal e do Rio de Janeiro. Aqui, 40 Anos

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dirigiu “A República”, “A Razão” e “O Democrata”. Publicou livros de caráter regionalista como Alma e Poesia do Litoral do Nordeste, Costumes Locais, Vida de Pedro Velho, Cartas de um Sertanejo, Um Problema Nacional (1911) e Calvário das Secas (1938). Como obra póstuma, a Fundação José Augusto publicou Memórias de Eloy de Souza (Natal, 1975). Foi um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. Faleceu em Natal, a 7 de outubro de 1959. _________________________

Fonte: Arquivos da FJA/CEPEJUL. Foto: extraída do livro 400 Nomes de Natal.

Nota complementar “Figura brilhante de intelectual, jornalista vigoroso e parlamentar de largos movimentos, formado na erudição e no humanismo das gerações que vinham da tradicional Escola do Recife, Eloy de Souza emprestou ao Estado, por vários ciclos da sua vida, o concurso inequívoco do seu talento e da sua inteligência, sempre postos ao serviço da terra comum e da sua gente”. Quem assim se pronuncia é Raimundo Nonato, no prefácio do livro Cartas de um desconhecido por ele organizado, e composto de uma coletânea de textos de Eloy de Souza publicados entre 1914 e 1915 no jornal “A República” sob o pseudônimo de Jacinto Canela de Ferro. Tais cartas são enriquecidas com adendos e referências sobre diversos aspectos da realidade norte-rio-grandense, e este fator - sobretudo - é o que qualifica o trabalho como um excelente documentário. A propósito, complementa Raimundo Nonato: “(...) essas cartas, que Eloy de Souza escreveu debaixo da modéstia do nome Jacinto Canela de Ferro, representam alta contribuição no plano de estudo da geografia e do homem dos sertões nordestinos. “Com essa intenção foi que realizei o levantamento das mesmas (...) dando-lhes atualização ortográfica e plano de organização, pensando, desse modo, poder contribuir para maior divulgação do nome e do trabalho do autor”. 316

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WANDERLEY, José dos Guimarães (Patrono de Prêmio de Dramaturgia) Nasceu em Natal, a 19.12.1905, filho de Celestino Carlos Wanderley e d. Ana de Freitas dos Guimarães Wanderley. Não encontramos registros sobre os primeiros anos de sua vida, em Natal. Provavelmente era de índole algo introspectiva: Não conhecemos versos de sua autoria mas é bem possível que os tenha bem guardados, anotou o biógrafo da família, acrescentando que ele (...) não é de muitas confidências, por isso só conhecemos mesmo suas peças teatrais. Com 24 anos de idade transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde permaneceria definitivamente. Pertencia a uma família de extensa (e intensa) participação nas letras potiguares, com especialidade nas áreas poética e teatral.(50) Confirmando a peculiaridade do labor artístico de sua ascendência, José dos Guimarães, por outro lado, irmão do poeta e dramaturgo Jaime dos G. Wanderley, nunca pisou nem escreveu para o palco no Rio Grande do Norte, conforme assinala Racine Santos (revista “Em Cena”, abr., 2003, p. 22). Seu texto inaugural, a comédia em três atos Compra-se um Marido (1933), foi encenado por Procópio Ferreira no Teatro Boa Vista, em São Paulo. Seguiram-se outros importantes trabalhos – Era Uma Vez um Vagabundo, A Vida Brigou Comigo, Tudo por Você, Pertinho do Céu, etc. – para as grandes companhias teatrais da época, mas, aquele primeiro seria o mais representado em toda a trajetória desse autor, inclusive várias vezes _________________________

Luís Carlos Lins (1831-1890), poeta, romancista e dramaturgo; Manoel Segundo (1860-1909), poeta e dramaturgo; Celestino Carlos (1862-1942), seu pai, poeta; Ezequiel Lins (1872-1933), dramaturgo e cronista; Carolina (1891-1976), poetisa; Sandoval Carlos (1893-1972), ator, poeta e dramaturgo, fundador do Teatro de Amadores de Natal-TAN, e Jaime dos Guimarães Wanderley (1897-1986), seu irmão, poeta, teatrólogo e memorialista, entre muitos outros. (50)

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encenado no então Teatro Carlos Gomes (hoje, Teatro Alberto Maranhão), e publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais-SBAT, nº. 28 (meados dos anos 30). Algumas das suas peças foram escritas em parceria com Mário Lago, outras com Daniel Rocha, ambos autores renomados. José Wanderley, que trabalhou no antigo Serviço Nacional de Teatro e secretariou o SBAT (1942-1945), foi o mais representado autor norte-rio-grandense. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1982.

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Fontes: WANDERLEY DE ALBUQUERQUE, Walter Fonseca. Família Wanderley – história e genealogia. Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1966; Revista Em Cena, abril, 2003, p. 22. Foto: extraída do folheto Teatro Brasileiro 42, edição da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais-SBAT.

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GLOSSÁRIO 40 Anos

Dada a extrema variedade de temas tratados ao longo deste trabalho, com o que necessariamente há ampla utilização de termos peculiares ou, até, exclusivos a vários deles – a exemplo de “estrofe” à poesia, “relicário” a museu, “debuxo” às artes plásticas, “estrato social” à pesquisa e belle époque à história, entre outros –, julgamos oportuno acrescê-lo com um glossário para facilitar sua leitura. Certamente, nem todos necessitarão se valer dele; não obstante, é de supor com larga margem de probabilidade que outros tantos, mesmo afeitos às formas de expressão de um ou mais destes temas, não os domine na totalidade. Advertimos, contudo, que os diversos verbetes se atêm especialmente à área cultural, com o que tombamento, por exemplo, não se expressa em seu sentido literal, mas sim, no de “fazer o tombo, o inventário de determinado bem, móvel ou imóvel, para, sob a guarda do Estado, conservá-lo e protegê-lo”. Explicados estes pormenores, segue-se referido glossário. 319


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A

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a cabo (levar) – fazer chegar ao fim, fazer terminar, completar, concluir, finalizar. adinamia – estado de prostração física e/ou moral; debilidade geral; falta de forças. No texto: a Cidade do Natal, no período assinalado, mostrava-se inoperante, do ponto de vista cultural. adinâmico – relativo à adinamia. adução – operação de trazer a água, nos sistemas de abastecimento, desde o ponto de captação até a rede de distribuição. afresco – técnica de pintura aplicada em paredes e tetos, que consiste em pintar sobre camada de revestimento recente, de modo que possibilite o embebimento da tinta. agreste – relativo ao campo, sobretudo quando não cultivado; campestre; área entre a mata e o sertão nordestinos caracterizada pelo solo pedregoso e pela vegetação escassa e rasteira. ajaezados – enfeitados, ornados, adereçados. Alecrim Clube – clube social e recreativo localizado no centro do bairro que lhe dava o nome. Sua expressão maior deu-se em meados do século XX, sobretudo em fins dos anos quarenta e década de cinqüenta. Não confundir com Alecrim Futebol Clube, outra entidade do mesmo bairro. alfaia – móvel ou utensílio de uso ou adorno doméstico; enfeite, adorno, atavio; jóia; paramento de igreja. amostra – subconjunto de uma população por meio do qual se estabelecem ou estimam as propriedades e características dessa população. amostragem – ato ou processo de seleção de amostras para ser analisada como representante de um todo; ato ou processo de seleção e escolha dos elementos de uma população para constituir uma amostra. Amostragem acidental: que se realiza segundo uma lei probabilística. anais – história ou narração organizada ano a ano; publicação periódica de ciências, letras ou artes; registro de fatos históricos ou pessoais. animação cultural – arte ou técnica de organizar e/ou dirigir atividades de natureza recreativa no universo artístico-cultural (danças, folguedos, espetáculos cênicos, etc.). apoio logístico – planejamento e execução de serviços auxiliares ao desenvolvimento das atividades fins. a priori – diz-se de conhecimento, afirmação, verdade, etc., anterior à experiência, ou que a experiência não pode explicar. apriorístico – relativo a, ou em que há apriorismo. área de boemia – numa cidade, é a zona de maior concentração de freqüentadores de bares, botequins e ambientes congêneres. área cultural – território ou zona geograficamente delimitada, definida pela presença, entre a população aí estabelecida, de um conjunto de elementos culturais dados, relativos a um ou vários aspectos da vida coletiva, como a ecologia, a economia, a cultura material, etc. arquitetura rural – arte de construir edifícios rústicos de modo que se prestem às exigências do trabalho agrícola. arranjo (mús.) – versão diferente da original, de obra ou fragmento de obra musical, feita pelo próprio compositor ou por outra pessoa; harmonização. art nouveau – estilo decorativo que floresceu aproximadamente entre 1895 e 1914, surgido como reação ao historicismo imitativo do século XIX, e que se caracteriza, em princípio, pela assimetria das linhas sinuosas, pelas formas orgânicas. arte – atividade que supõe a criação de sensações ou de estados de espírito de caráter 40 Anos

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estético, carregados de vivência pessoal e profunda, podendo suscitar em outrem o desejo de prolongamento ou renovação. arte (obra de) – obra produzida segundo o conceito de arte, especialmente a que é tida como de boa qualidade. Objeto executado com perfeição, acabamento, gosto, senso crítico. arte barroca – a que se caracteriza pelo estilo artístico que vigorou no Ocidente do século XVI ao XVIII, em reação ao espírito renascentista. arte cênica – conjunto das artes e técnicas relativas à representação teatral. arte cinética – forma de arte que rompe com a imobilidade da pintura e da cultura tradicionais; as obras, em três dimensões, têm partes móveis animadas por motores, pelo movimento do ar ou por impulsão manual. Aquela em que o movimento é componente estético. arte circense – a que se ocupa diretamente com a exibição de qualidades e proezas humanas (no teatro, circo, cinema, dança, rádio, televisão). arte moderna – conjunto das manifestações artísticas desenvolvidas no mundo ocidental durante a história moderna, isto é, no período que, no âmbito cultural, se inicia com o Renascimento no século XV. arte sacra – relativa, inerente, pertencente ou dedicada a Deus, a uma divindade ou a um desígnio religioso. artesanato – a técnica, o tirocínio ou arte do artesão; o produto do trabalho do artesão. artesão – aquele que exerce uma atividade produtiva de caráter individual; indivíduo que exerce por conta própria uma arte, um ofício manual. artista primitivo – aquele que adota por modelo a ingenuidade de forma e o sentimento da arte dos povos primitivos. assistemático – que não tem, ou em que não há sistema; não sistemático. ata (livro de) – registro escrito no qual se relata o que se passou numa sessão, convenção, congresso, etc. atávico – adquirido ou transmitido por atavismo. atavismo – reaparecimento, em um descendente, de um caráter não presente em seus ascendentes imediatos, mas sim, em remotos. ateliê (fr. atelier) – oficina onde trabalham em comum certos artesãos, operários, pintores, escultores, fotógrafos, etc. _____●

B

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background – o conjunto dos conhecimentos, experiências, etc., que compõem a base intelectual, técnica, etc., de alguém. baixo (mús.) – a mais grave das vozes masculinas; o cantor que tem essa voz; baixista. Baldo – área no perímetro urbano de Natal, situada no limite entre os bairros do Alecrim e Cidade Alta, caracterizada por pronunciado declive. bambelô – dança de roda, com solistas ao centro, ao som de instrumentos de percussão; coco-de-praia, coco-da-praia, zambelô, jongo-de-praia. banner – peça publicitária em forma de bandeira, confeccionada em plástico, tecido ou papel, impressa de um ou de ambos os lados, geralmente para ser pendurada em postes, fachadas ou paredes, exposta na via pública, em pavilhões de exposições, pontos-de-venda etc.; bandeira, galhardete. batalha (carn.) – evento que tinha lugar nas sextas-feiras que antecediam o Carnaval, desenvolvendo-se em diferentes áreas do perímetro urbano de Natal (Alecrim, Cidade Alta, Lagoa Seca, Quintas, Rocas e Vila Naval), consistindo em prévias dos festejos momescos. 322

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Beco da Lama – Rua Dr. José Ivo, no centro de Natal. A designação “Beco da Lama” advém de fins do século XIX “(...) e primeira metade do século XX” (Rev. Preá, n.º 02, jul. 2003), face aos dejetos que eram atirados dos quintais da Rua Voluntários da Pátria. Com o fechamento desse trecho, 1937/45, a denominação foi transferida para a então chamada Rua do Meio. belas-artes – designação comum das artes plásticas, especialmente a pintura, a escultura e a arquitetura. belas-letras – a gramática, a eloqüência, a poesia, a literatura, etc., ensinadas ou estudadas especialmente pelo prazer de ordem estética que possam proporcionar. beletrismo – criação literária, inclusive a oratória, a retórica e a poesia. belle époque – a época relativa aos primeiros anos do século XX, considerados como de uma vida agradável e fácil; diz-se dos costumes, das tendências, dos objetos, etc., característicos dessa época. beribéri – doença decorrente da deficiência de vitamina B1 e que apresenta polineurite, edema e cardiopatia. bilíngüe – indivíduo que fala duas línguas; texto escrito em dois idiomas. boi-bumbá – variedade de bumba-meu-boi. boi-calemba – a versão potiguar de bumba-meu-boi nordestino é o boi-calemba, expressão registrada por Câmara Cascudo e Mário de Andrade, entre outros. bolor – denominação vulgar de fungos que vivem de matérias orgânicas por eles decompostas; mofo. Comum em arquivos e bibliotecas. brochura – folheto ou opúsculo brochado; livro encadernado. bumba-meu-boi – dança dramática do ciclo natalino, difundida em todo o Brasil com variedades locais, cujo personagem central é um boi que morre e ressuscita; boi-bumbá, boi-calemba, boi-calumba, boi-culemba, boi-de-mamão, boide-matraca, boi-de-melão, boi-de-orquestra, boi-de-reis, boi-de-zabumba, boimelão, boi-pintadinho, boi-surubi(m), boizinho, bumba, bumba-boi, cavalomarinho. buril – instrumento com ponta de aço para cortar e gravar em metal, lavrar pedra, etc.; cinzel, posteiro. _____●

C

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caixilho – a parte de uma esquadria onde se fixam os vidros ou outro material transparente; moldura. cancioneiro – coleção de canções; coleção da antiga poesia lírica galego-portuguesa e provençal; coleção de poemas de apelo popular. cantador (de viola) – diz-se de ou poeta popular que, em versos cantados de improviso e geralmente acompanhados de viola ou rabeca, relata acontecimentos diversos, freqüentemente em desafios com outros cantadores. canto-coral – canto (melodia) em coro (conjunto de cantores); termo genérico que designa as atividades ligadas à música para coro. catalisar – produzir catálise em; estimular, dinamizar, incentivar. causal – relativo a causa; que expressa causa; motivo em que algo se funda; causa, origem, explicação. causeur – conversador brilhante. cedro – árvore de grande porte sem ramificação, com numerosas sementes, que fornece madeira própria para esculturas e xilogravuras, entre outros. cênica (ilum.) – técnica de iluminar um cenário ou um ambiente qualquer de modo a criar neste, por meio de variações e efeitos de luz, o clima adequado à cena filmada ou televisionada levada ao palco. O efeito produzido por essa técnica. 40 Anos

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chantar – fincar no chão; plantar de estaca (marco ou pedra fundamental); fixar-se, estabelecer-se. choque cultural – conflito de valores resultante da interação social vivenciada por indivíduos de culturas diferentes. cidade-satélite – cidade com autonomia administrativa ou sem ela, e cuja vida depende de outra cidade mais desenvolvida, mais ou menos próxima. científico (curso) – curso de nível médio, em três anos, em que predominava o ensino das ciências exatas, da biologia, etc. clássico (curso) – curso de nível médio, em três anos, no qual predominava o ensino de línguas, de filosofia, etc. coco – dança popular de roda, originária de Alagoas, e acompanhada de canto e percussão; pagode; zambê. coco-de-roda – o mesmo que coco. coco-de-zambê – difere do coco-de-roda em alguns aspectos fundamentais, como sejam: (1) só é praticado por indivíduos do sexo masculino; (2) ao invés de um, dois dançarinos se apresentam na roda, e (3) além do sapateado característico, ambos se agridem com movimentos rápidos e bruscos das pernas (rasteiras). coletiva (pint.) – exposição conjunta de diversos artistas plásticos. Coluna Capitolina – oriunda de um templo sagrado no Monte Capitólio, em Roma, datada do IV século d. C. Foi chantada na Esplanada Silva Jardim, na Ribeira, em 8 de janeiro de 1931 pelo aviador Ítalo Balbo, como oferta do governo italiano – então exercido por Benito Mussolini – ao Brasil, em memória do feito aeronáutico dos aviadores italianos Ferrarin e Del Prete, no vôo sem escala de Roma ao Brasil, pousando na Praia de Touros em 5 de julho de 1948. Atualmente esta coluna está chantada no Largo Vicente Lemos, ao lado do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, no Centro de Natal. comenda – benefício que antigamente era concedido a eclesiásticos e a cavaleiros de ordens militares; distinção puramente honorífica. comodato – empréstimo gratuito de coisa não fungível, que deve ser restituída no tempo convencionado pelas partes. comunicação estética – cada uma das formas de expressão artística (a composição musical, o poema, a pintura, a escultura, etc.). concerto (mús.) – composição musical para um instrumento solista, com acompanhamento de orquestra. Espetáculo em que se executam obras musicais. concha acústica – construção concoidal, capaz de propagar eficazmente os sons e destinada a apresentações de música e teatro, geralmente ao ar livre. confessional (estilo) – relativo a ou próprio de confissão; que se assemelha a uma confissão. conjunto de câmara (mús.) – grupo estável de músicos que tocam juntos, ou de dançarinos, ou de pessoas que cantam em coro. conselho curador – órgão da administração superior que delibera sobre as políticas e projetos propostos pela presidência e pelo conselho diretor. conselho diretor – reunião de pessoas para deliberarem sobre assuntos particulares. contexto sociocultural – relativo aos fatores ou aspectos sociais e culturais de um dado grupo, em período determinado. contralto (mús.) – voz feminina de tessitura mais grave; cantora que a possui. coral – relativo a coro (conjunto de cantores); que constitui um coro ou que dele participa. cordel (lit. de) – termo relativo à literatura popular, impressa em livretos de baixo custo, e feita por poetas populares; relativo à literatura popular. 324

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cordelista – autor(a) de literatura de cordel. cornija – ornato que assenta sobre o friso de uma obra; molduras sobrepostas que formam saliência na parte superior da parede, porta, etc. coro – conjunto vocal que se expressa pelo canto ou pela declamação; conjunto de cantores que cantam trecho musical em uníssono ou em várias vozes. cultura erudita – conjunto de conhecimentos acumulados e socialmente valorizados que constituem patrimônio da sociedade. cultura popular – conjunto de padrões de comportamento, crenças, conhecimentos, costumes etc. que distinguem um grupo social. O mesmo que folclore. curso aberto – curso ou treinamento oferecido ao público em geral. curso fechado – curso oferecido especificamente a uma clientela de um determinado órgão ou segmento profissional. _____●

D

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debuxo – rascunho; desenho de um objeto em suas linhas gerais; projeto, traçado: debuxo de um romance; esboço: debuxo de um retrato. dégradé – diz-se de cor que vai esmaecendo em tonalidades cada vez menos vivas; o conjunto dessas tonalidades. diagramação – ato ou efeito de diagramar. diagramar – determinar a disposição de (os espaços a serem ocupados pelos elementos – textos, ilustrações, legendas, etc. – de livro, jornal, revista, etc.), precisando o formato do impresso, os títulos a serem utilizados, as medidas das colunas, etc. dignitário – aquele que ocupa cargo elevado, que goza de alta graduação honorífica. dinâmica social – impulsos ou forças vitais dos seres humanos tal como se articulam nas atividades coletivas. direito público – ciência que estuda as regras de convivência na sociedade humana; jurisprudência; conjunto de leis e normas jurídicas vigentes num país. drama – designação genérica de obra literária escrita para ser encenada; atividade de representar; arte dramática. dramaturgia – arte ou técnica de escrever e representar peças de teatro; a totalidade de recursos técnicos, mais ou menos específicos, de tal arte, usados para compor e representar peças de teatro. dramaturgo – autor de peças de teatro; dramatista. _____●

E

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elipsoidal – que tem forma de elipse; elipsóide. embolada (mús.) – forma poético-musical do Nordeste brasileiro, em compasso binário e de andamento rápido, usada pelos solistas nas peças com refrão ou dialogadas (como cocos ou desafios). embolador (mús.) – que ou o que compõe e/ou canta emboladas. enquete – pesquisa de opinião sobre uma questão qualquer, que envolve documentos, depoimentos, experiências pessoais etc.; sondagem; referendo. epistolografia – o gênero literário respeitante a cartas; arte de escrever cartas. epistológrafo – aquele que cultiva a epistolografia. equalizador – que ou o que equaliza; uniformizador, equilibrador. espontão (dança do) – dança guerreira integrante das festividades do dia de Nossa Senhora do Rosário, no Nordeste do Brasil, em que um grupo de homens dança empunhando lanças e espontões, saltando, avançando e recuando, com larga margem de improvisação, ao som apenas do tambor marcial. 40 Anos

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estatuária – arte de criar estátuas; esculturas. estilizado – a que se deu forma estética diferente do original. estrato social – conjunto de indivíduos cujas características socialmente significativas são semelhantes. estrofe – divisão de um texto lírico ou épico, formada por um determinado número de versos que apresentam ou não rima entre si; estância. estrutura administrativa – organização de uma instituição em função da inter-relação dos seus segmentos operacionais. ex-abrupto – de súbito; sem preparação, intempestivamente. exegese – comentário ou dissertação para esclarecimento ou minuciosa interpretação de um texto ou de uma palavra (aplica-se de modo especial em relação à Bíblia, à gramática, às leis). ex-officio – por obrigação e regimento; por dever do cargo. ex-voto – quadro, imagem, inscrição ou órgão de cera, madeira, metal, etc., que se oferece e expõe (em igreja, capela, mausoléu ou equivalente), face a uma graça alcançada. _____●

F

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fagote – instrumento musical de origem indígena. fandango – auto ou representação popular em torno da chegada de uma embarcação à vela a porto seguro; dança folclórica nordestina (também chamada - segundo a localidade - chegança ou marujada). fenomenologia cultural – conjunto das práticas artísticas e culturais inerentes e peculiares à sociedade. flauta doce – um dos mais antigos instrumentos musicais, formado por um tubo oco com orifícios, num dos quais o executante sopra, ao mesmo tempo que ocupa os dedos em tapar ou destapar os demais, para obter variações na altura dos sons. flauta transversa – a que é executada em posição horizontal; flauta transversal. folclore – conjunto de costumes, lendas, provérbios, manifestações artísticas em geral, preservado, através da tradição oral, por um povo ou grupo populacional; cultura popular, populário; ciência das tradições, dos usos e da arte popular de um país ou região. folclorista – pessoa que gosta de investigar e/ou colecionar material colhido nas tradições, nos usos e nas artes populares; pessoa que estuda criticamente esse material. folder – impresso de pequeno porte, constituído de uma só folha de papel com uma ou mais dobras, e que apresenta conteúdo informativo ou publicitário; folheto. folguedo – brincadeira, divertimento, festa. folhetim – seção literária de um periódico que ocupa, de ordinário, a parte inferior de uma página; gazetilha. Fragmento de um romance publicado em jornal dia a dia, suscitando o interesse do leitor. folheto – obra impressa de poucas folhas, quase sempre na forma de brochura; publicação impressa não-periódica, com no mínimo cinco e no máximo quarenta e oito páginas, sem contar as capas. formão – ferramenta manual, própria para madeira, com uma extremidade embutida num cabo e a outra chata, terminando em lâmina afiada (usado especialmente em obras de talha e corte de ensambladuras); instrumento semelhante, para cortar pedras moles (ardósia, xisto etc.). foro (jur.) – corte; tribunal de justiça. forró pé-de-serra – baile popular, em que se dança aos pares com música de origem 326

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nordestina; arrasta-pé; essa música, de gêneros variados (coco, baião, xote etc.); baile popular, em que se dança aos pares, com músicas de gêneros variados, especialmente sertanejas e geralmente ao som de sanfona. fortaleza – designa construção erguida à entrada de uma praça (cidade, etc.) para protegêla, com guarnição permanente. Similar a forte na maioria dos dicionários, difere deste na acepção particular dos conceitos na linguagem da arquitetura militar: a fortaleza pressupõe um castelo, ou cidadela, reforçado em sua estrutura defensiva (para maiores detalhes, sugerimos consultar a obra do historiador Hélio Galvão, História da Fortaleza da Barra do Rio Grande). forte – é uma construção de menores proporções que a fortaleza (V. acima), edificada de ordinário em região isolada, sem guarnição permanente e para utilização eventual. fotolito – forma reduzida de fotolitografia; pedra ou mais freqüentemente chapa de metal com imagem fotolitográfica para impressão ou transporte. fotolitografia – arte ou processo de impressão litográfica em que a imagem é transferida para a pedra ou o zinco, com o auxílio da fotografia, diretamente ou por meio de transporte. Estampa obtida por esse processo. frêmito – sussurro, rumor; tremor, estremecimento (de alegria, de prazer). frisa – nos teatros e salas de espetáculo, camarote que se situa quase no nível da platéia. frontispício – fachada principal (aplicável mais comumente a edificações). fundação – pessoa jurídica de direito público privado, sem fins lucrativos; entidade criada por lei com o objetivo de desenvolver atividades que não devam obrigatoriamente ser desenvolvidas pelo poder público. _____●

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G

galeria – estabelecimento para exposição e venda de obras de arte; coleção de objetos de arte. ganzá – espécie de chocalho formado por um cilindro de metal contendo sementes ou seixos; canzá; tambor cilíndrico de tronco escavado. gestual – relativo a gesto, movimento; realizado por meio de gestos. gestualística – qualidade de gestual; conjunto dos gestos (de alguém) como meio de expressão; gestual. grupo étnico – grupo biológico e culturalmente homogêneo; o mesmo que etnia. _____●

H

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habitat – área típica habitada por determinados e específicos seres vivos; ambiente próprio à existência das respectivas espécies. habitué – freqüentador assíduo; habituado, acostumado; que freqüenta regularmente um lugar. humanista – versado no estudo de humanidades; indivíduo com vasta formação literária e científica. humanístico – relativo a humanismo ou a humanista. _____●

I

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ibérico – pertencente ou relativo à Ibéria, antigo nome da Espanha; pertencente ou relativo à Península Ibérica, constituída por Espanha e Portugal. ícone – imagem; coisa, fato, pessoa, etc., que evoca fortemente certas qualidades ou características de algo, ou que é muito representativo dele. 40 Anos

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iconografia – arte de representar por meio da imagem; conjunto (exposição, etc.) de fotografias, pinturas ou desenhos. identidade cultural – conjunto de elementos socioculturais peculiares de um povo (cultura brasileira, cultura judaica, cultura francesa, etc.). indigência cultural – carência, necessidade; mediocridade intelectual. No texto: a ausência ou insuficiência de ações artístico-culturais no âmbito da Cidade do Natal na década de 50. in loco – no lugar; no próprio local. inserto – introduzido, inserido (num texto). instituição – associação ou organização de caráter social, educacional, cultural, religioso, etc.; estrutura decorrente de necessidades sociais básicas, com caráter de relativa permanência; instituto. instituir – dar início a; estabelecer, criar, fundar; nomear, constituir. intempérie – tempo instável, temperaturas oscilantes; mau tempo. intendência – cargo ou direção de intendente; repartição onde o intendente exerce suas funções. intendente – designação dada ao chefe do executivo municipal, no Brasil, até 1930 (corresponde, hoje, a prefeito). _____●

J

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jazz – música moderna de origem negro-americana, muito difundida após a guerra de 1914-1918, caracterizada pelo improviso e pelas sonoridades e ritmos sincopados, basicamente extraídos do ragtime e do blues. joão-redondo – o mesmo que mamulengo. _____●

K

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know-how – conhecimento de normas, métodos e procedimentos em atividades profissionais, especialmente as que exigem formação técnica ou científica. _____●

L

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lapinha – folguedo popular dramático representado em um tablado e composto por cantos, danças, declamações e louvações, via de regra executado no período natalino e em homenagem ao nascimento de Jesus; folclore nordestino; o mesmo que pastoril. leitmotiv – motivo condutor; tema central. legislar – estabelecer ou fazer leis; decretar, formular (leis, regras, princípios, etc.); determinar, preceituar. legislativo – referente ao poder de legislar. legislatura – período durante o qual as assembléias legislativas exercem as funções para as quais foram eleitas. linha de ação – cada um dos segmentos que compõem a área de ação programática de uma instituição. Pesquisa, documentação e promoção de eventos, por exemplo, são linhas de ação compreendidas e desenvolvidas pela Fundação José Augusto. linotipo – máquina que funde em bloco cada linha de caracteres tipográficos, composta de um teclado, como o da máquina de escrever (as matrizes que compõem a linhabloco descem do magazine onde ficam armazenadas e, por ação do distribuidor, a ele voltam, depois de usadas, para aguardar nova utilização). litografia – processo de reprodução que consiste em imprimir sobre papel, por meio de prensa, um escrito ou um desenho executado com tinta graxenta sobre uma superfície calcária ou uma placa metálica, geralmente de zinco ou alumínio. 328

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lúdico – relativo a jogo, a brinquedo; qualquer objeto ou atividade que vise mais ao divertimento que a qualquer outro objetivo; que se faz por gosto, sem outro objetivo que o próprio prazer de fazê-lo. _____●

M

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malha viária – rede, mais ou menos complexa, das vias (ruas e avenidas) que compõem a estrutura física de comunicação urbana. mamulengo – espetáculo de marionete, de conteúdo freqüentemente crítico, que representa cenas entre boneco e público, boneco e operador, ou entre dois bonecos. No Rio Grande do Norte, joão-redondo ou calunga, expressão mais usada no nosso sertão. mamulengueiro – indivíduo que faz o mamulengo ou o fantoche se mover. manifestação cultural – ato de manifestar-se ou exprimir-se (pensamentos, idéias) através das diversas formas de expressão artística; cada uma dessas formas de expressão: dramaturgia, música, dança, etc. marujada – denominação dada ao fandango, sobretudo desde a Bahia até o Sul do Brasil. matiz (pint.) – colorido obtido da mistura ou combinação de várias cores num todo (pintura, bordado, tecido, paisagem etc.); gradação de uma cor ou cores; nuança; tom suave de cor; variedade de detalhes, de aspectos sentidos ou descritos de maneira viva, colorida, sugestiva. mecenas – indivíduo rico que protege artistas, homens de letras ou de ciências, proporcionando recursos financeiros, ou que patrocina, de modo geral, um campo do saber ou das artes; patrocinador; protetor dos artistas. mecenato – condição, título ou papel de mecenas (mecenas: patrocinador generoso das letras e artes). memória cultural – tradições socioculturais e históricas de um povo trazidas à atualidade pelo estudo, pesquisa e reconstituição, com vistas a sua preservação para a posteridade. memorial – lugar destinado à reunião e exposição de objetos pessoais de determinado indivíduo caro à comunidade em questão, quer por seus feitos quer por sua representatividade histórica. microrregião – subdivisão de uma região geográfica natural. minuta – a primeira redação, ainda não definitiva, de um texto; borrão, rascunho. modernismo – gosto ou tendência pelo que é moderno; modernice; designação genérica de vários movimentos artísticos e literários (cubismo, dadaísmo etc.), surgidos no fim do século XIX e início do XX, que buscaram examinar e descaracterizar os sistemas estéticos da arte tradicional. monsenhor – título honorífico, concedido pelo Papa a alguns eclesiásticos. museografia – estudo dos museus sob o ponto de vista de sua história e da tecnologia necessária para organizar, catalogar, apresentar e conservar acervos. museólogo – indivíduo formado ou especializado em museologia; museologista. música clássica – composição cuja estrutura respeita as características predominantes no classicismo (século XVII e parte do século XVIII); atualmente também são consideradas clássicas determinadas composições populares, com tratamento erudito. música erudita – o mesmo que música clássica. música popular – música urbana de tradição oral, da qual os autores são normalmente conhecidos. música profana – a que não se destina a culto religioso. música sacra – composição musical especialmente feita para ser executada durante ritos e ofícios religiosos, nas igrejas. 40 Anos

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N

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naipe (mús.) – num conjunto instrumental ou vocal, grupo de executantes do mesmo tipo de instrumento ou mesma classificação vocal. nau-catarineta – auto popular de origem portuguesa que narra a epopéia de uma nau que se perdeu em alto mar. neoclássico (estilo) – relativo a ou adepto do Neoclassicismo. neolatinas – diz-se de ou família lingüística originada do latim, que inclui o italiano, o provençal, o francês, o espanhol, o catalão, o português, o dálmata, o romeno e diversos dialetos, cuja língua ou civilização é de origem latina. normal (curso) – diz-se de curso ou escola que se destina a formar professores para as primeiras séries do ensino fundamental. _____●

O

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oboé – instrumento da família dos sopros de madeira, com palheta dupla e tubo cônico, utilizado em orquestras. ofsete (off-set) – método de impressão litográfica em que a imagem ou os caracteres, gravados por processo fotoquímico em uma folha de metal flexível (chapa), geralmente zinco ou alumínio, são transferidos para o papel por intermédio de um cilindro de borracha. Nome inglês da fotolitogravura. ópera – obra dramática musicada, geralmente desprovida de partes faladas, composta de recitativos, árias, coro, às vezes de balé, e acompanhada de orquestra; drama musical. organograma – gráfico da estrutura hierárquica de uma organização social complexa, que representa simultaneamente os diferentes elementos do grupo e as suas ligações. ortodoxia – qualidade de ortodoxia; fiel, exato e inconcusso cumprimento de uma doutrina religiosa; conformidade com essa doutrina. Absoluta conformidade com um princípio ou doutrina. ortodoxo – relativo a ou conforme com a ortodoxia; que professa os padrões, normas ou dogmas estabelecidos, tradicionais. _____●

P

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paisagista – que ou o que pinta ou descreve paisagens; que ou o que se dedica ao paisagismo. paisagístico – relativo à paisagem; referente ao paisagismo. panfleto – texto curto, violento e sensacionalista, geralmente sobre assuntos políticos, impresso em folha avulsa ou folheto, e de distribuição limitada; folha avulsa ou folheto que contém esse texto. panteão – originalmente, templo romano dedicado a todos os deuses; aplica-se, hoje, a outras religiões: santos do panteão católico, orixás do panteão africano; monumento em homenagem à memória de personagens importantes (ex.: Panteão dos Mortos da Segunda Grande Guerra). parafolclórico – grupo, dança ou festejo que, assemelhando-se às características folclóricas tradicionais, difere quanto à ancestralidade, isto é, não se perpetua através das gerações. páramo – o ponto mais alto; pico. pároco – sacerdote encarregado de uma paróquia; vigário, cura. paróquia – divisão territorial de uma diocese sobre a qual tem jurisdição um pároco. partitura – material gráfico, contendo notações impressas ou manuscritas, que mostra a totalidade das partes de uma composição musical; grade. 330

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pastoril – representação dramática composta de várias cenas (jornadas), durante as quais se sucedem cantos, danças, declamações e louvações, e que se realiza diante do presépio natalino (entre o Dia de Natal e dos Santos Reis Magos), para festejar o nascimento de Jesus. pau-a-pique – espécie de parede feita com uma trama de ripas ou varas coberta com barro. Pedagogia (curso de) – ciência que trata da educação dos jovens, que estuda os problemas relacionados com o seu desenvolvimento como um todo. pedagógico (curso) – curso de nível médio que prepara professores para o ensino infantil. Pedra do Rosário – espaço devocional e turístico da Cidade do Natal, localizado na margem direita do Rio Potengi em área adjacente ao centro (bairro da Cidade Alta). Consta que naquele lugar, em 1º de novembro de 1753 (ou 1736), pescadores encontraram uma imagem de Nossa Senhora, a qual seria denominada da Apresentação, passando desde então a ser cultuada como Padroeira da capital potiguar. pedra-sabão – variedade de esteatita (talco), muito utilizada para confecção de esculturas e ornatos arquitetônicos. percussionista – aquele(a) que toca instrumento de percussão. performance – exercício de atuar, de desempenhar; atuação, desempenho notável de ator; proeza de representação. perspectiva histórica – visão contextualizada, via de regra de caráter analítico, de determinados fatos ou acontecimentos do passado. pictórico – referente à, ou próprio da pintura; pictorial, pictural. pífano – instrumento musical rústico utilizado em conjuntos musicais populares; variação de flauta. pinacoteca – coleção de quadros de pintura; museu de pintura; lugar onde se guarda e se expõe quadros; galeria. política cultural – conjunto de objetivos que conformam e estruturam o programa de ação governamental e condicionam a sua execução num período determinado. poti – camarão; nome do chefe indígena Felipe Camarão, da tribo dos potiguares, também chamado Potiguassu. potiguar (do tupi poti’war, comedor de camarão) – indivíduo dos potiguares, tribo indígena tupi; rio-grandense-do-norte. povoação – o mesmo que povoado. povoado – pequena aglomeração urbana; lugarejo, vila, aldeia. praxe – aquilo que se pratica habitualmente; rotina. profissional liberal – aquele que exerce profissão caracterizada pela inexistência de qualquer vinculação hierárquica e pelo exercício predominantemente técnico e intelectual de conhecimentos. província – no Segundo Império, cada uma das grandes divisões administrativas do Brasil (hoje, estados), a qual tinha por chefe um presidente. provinciano – relativo ou pertencente à província. _____●

Q

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quefazer – ocupações, negócios; afazeres. quintessência – o mais alto grau; o requinte, a plenitude, o auge; o que há de mais apurado. _____●

R

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rabeca – espécie de violino, com quatro cordas e sonoridade fanhosa, que se toca apoi40 Anos

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ando-a na altura do coração ou no ombro esquerdo, mas sempre com a voluta (parte superior da cabeça do instrumento, enrolada em forma de espiral) para baixo. rabequeiro – no Nordeste, diz-se do indivíduo que toca rabeca; rebequista. realismo (mov.) – doutrina segundo a qual a arte deve expressar somente os caracteres essenciais da realidade. recalcitrante – teimoso, obstinado, insistente. recital – audição em que são recitadas composições literárias. regente (mús.) – diretor de orquestra, banda, orfeão, etc.; maestro. reisado – festa popular que se realiza na véspera e no dia de Reis; reisada; tipo de auto natalino surgido no final do XIX, difundindo-se no Norte e Nordeste, constituído de um figurante acompanhado por um coro cantando peças em seqüência. relicário – caixa, cofre, lugar próprio para guardar relíquias; bolsinha ou medalha com relíquias que algumas pessoas trazem ao pescoço, por devoção. Renascença – movimento artístico e científico dos séculos XV e XVI, que pretendia ser um retorno à Antiguidade Clássica. Renascentista – relativo à, ou próprio da Renascença. repentista – cantador popular que faz versos de improviso. retreta – concerto popular de uma banda em praça pública. ribalta – fileira ou série de luzes, na parte externa do palco, entre a orquestra e o pano de boca, destinando-se a iluminar os primeiros planos da cena. romantismo – grande movimento intelectual e artístico ocidental que, a partir do final do século XVIII, fez prevalecer, como princípios estéticos, o sentimento sobre a razão, a imaginação sobre o espírito crítico, a originalidade subjetiva sobre as regras estabelecidas pelo Classicismo, as tradições históricas e nacionais sobre os modelos da Antiguidade, a imaginação sobre o racional. _____●

S

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Santa Cruz da Bica – cruzeiro instalado ao sul da cidade, no declive do Baldo, com fins de demarcação do perímetro urbano nos primeiros anos da colonização. Seridó – região nordestina entre o campo e a caatinga, que compreende terras do RN e da PB, e onde se realizam largas culturas de algodão de fibra longa; nome de microrregião do RN, onde se destaca o município de Caicó. serigrafia – técnica de impressão de desenhos de cores planas através de um caixilho com tela. A tinta é colocada sobre uma tela (tecido de seda, de náilon, rede metálica) com umas regiões permeáveis e outras impermeáveis, de modo a formar um desenho sobre qualquer base (papel, metal, tecidos etc.). sine qua non – expressão que indica uma condição sem a qual não se fará certa coisa; indispensável, essencial. sinfonia – peça exclusivamente instrumental, que serve de prelúdio às grandes obras vocais: ópera, oratório, cantata, etc. sinfônica (orquestra) – aquela que executa sinfonias. sítio arqueológico – aquele onde se pesquisa e colhe material arqueológico; jazida arqueológica. sítio histórico – lugar assinalado por alguma circunstância (ou acontecimento) importante. Sobradinho (Museu do) – primeiro prédio assobradado de Natal, localizado no centro da cidade e onde está instalado o Museu Café Filho, seu nome efetivo. soprano (mús.) – a voz feminina mais aguda; tiple; cantora que tem esse tipo de voz. status quo – o estado em que se achava anteriormente certa questão. No texto, a expressão status quo vigente significa a sociedade de então. 332

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T

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tablóide – publicação em formato de meio jornal. tangapema – arma indígena; tacape. tangível – que pode ser tocado ou apalpado; palpável; sensível. teatro de bonecos – aquele em que os personagens são interpretados por bonecos articulados e apresentados sob diversas formas, especialmente fantoches. teatro de fantoches – o mesmo que teatro de bonecos. tenor (mús.) – no canto, a voz mais alta (de homem) com uma extensão de uma oitava para o dó central. terracota – argila manufaturada e cozida no forno. tiragem – número de exemplares impressos numa edição de revista, jornal ou livro. tombamento – ato ou efeito de tombar, de fazer o tombo; ato de se guardar alguma coisa num arquivo público. tombar – fazer o tombo de; arrolar, inventariar, registrar. tragicômico – relativo à tragicomédia; que é ao mesmo tempo trágico e cômico. trupe – conjunto de artistas, comediantes, de pessoas que atuam em conjunto. _____●

U

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Uirapuru – pássaro amazônico cujo canto, que só se ouve uns quinze dias por ano (quando constrói o ninho) e, ademais, apenas durante cinco a dez minutos, ao amanhecer, é tido como particularmente melodioso, musical e diverso do que o de qualquer outra ave, a ponto de, segundo a lenda, os outros pássaros todos se calarem para escutá-lo. universo (pesq.) – conjunto, com grande número de membros, cujas propriedades se investigam por meio das de subconjuntos que lhes pertencem (amostragens). urdidura – ato ou efeito de urdir. urdimento – no palco dos teatros, o travejamento do teto e dos sótãos que ficam por cima dele. urdir – tecer; dispor ou entrelaçar os fios. _____●

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variável (pesq.) – na análise de uma situação dada, aspecto que deve ser considerado por sua relevância em referido contexto. vernissage (pint.) – abertura de uma exposição de pintura (originalmente, o dia que antecede a abertura de uma exposição de pintura, onde se supõe que o artista dá a última demão em seus quadros). vertente – que verte; de que se trata; a respeito de que se fala; que é objeto de discussão. violeiro – que ou aquele que fabrica instrumentos de corda; que ou quem toca viola (brasileira ou portuguesa). violoncelo – instrumento de arco e cordas friccionáveis, que corresponde ao baixo da família dos violinos, executado, porém, entre as pernas, e apoiado num espigão; cello, rabecão pequeno. virtuose – artista que atingiu um altíssimo grau de conhecimento e domínio técnico na execução de sua arte; virtuoso. vodu (culto) – religião de origem africana, de raiz semelhante ao candomblé praticado no Brasil, seguida especialmente pelos negros do Haiti e, em menor grau, também de outras ilhas das Índias Ocidentais; voduísmo, vudu, vuduísmo. 40 Anos

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W

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Wander-bar – no pós-guerra, bar localizado na Rua Chile, no prédio onde funcionara o Palácio da Ribeira (sede do governo estadual até 1902). Esta designação deveu-se à forte influência dos norte-americanos nos costumes da cidade naquele período. _____●

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Xeque-mate – programa de entrevistas e debates promovido pela então Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza, ainda hoje realizado através da TV Universitária-UFRN. Xilogravura – arte e técnica de fazer gravuras em relevo sobre madeira. Xilógrafo – gravador em madeira; o mesmo que xilogravador ou xilogravurista.

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FUNDAÇÃO JOSÉ AUGUSTO Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine-CEPEJUL Rua Jundiaí, 641 - Tirol NATAL-RN CEP 59020.120 Tel.: (084) 232 5313 / 232 5314 Email: www.fja.rn.gov.br

Todos os direitos desta edição reservados à Fundação José Augusto. 40 Anos

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