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Formação

Falamos com...

Francisco Teixeira Barbosa fundador do blog Periospot e especialista em formação online

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Estamos a viver uma democratização da formação online”

Francisco Teixeira Barbosa é um reputado implantologista, residente em Barcelona, que também desenvolve uma intensa atividade formativa e comunicativa, tanto de forma presencial como com formatos online. Sobre esta última metodologia é realmente um experto, uma vez que detém o blog

Periospot, onde agora o acompanham outros profissionais, e participou em todo o tipo de iniciativas digitais para partilhar o seu conhecimento com a profissão. Nesta entrevista, Francisco Teixeira Barbosa não só fala dos benefícios do método online como também sobre como se deve direcionar o uso das redes sociais para a criação de uma marca digital.

Durante a crise de saúde pública originada pelo novo cornavírus, disparou a oferta de formação online. No seu caso, como profissional com ampla experiência nesta área, como viveu este auge?

Sempre que há uma crise em todos os setores produz-se uma reestruturação, uma reinvenção e uma adaptação às novas circunstâncias. Isto acontece em diferentes âmbitos: económicos, sociais e também tecnológicos. Durante esta crise da COVID-19 vimos a adoção da tecnologia por parte de uma grande percentagem de profissionais. Esta crise não tem nada de positivo, mas se queremos buscar algo de que possamos tirar proveito, diria que graças a ela muita gente teve que adaptar-se à tecnologia. Ao longo da história recente, temos constatado que as grandes mudanças tecnológicas conseguiram o seu maior impulso em paralelo a momentos de crise. Com as guerras mundiais do passado século surgiram alterações tecnológicas importantíssimas. A rádio demorou 30 anos para alcançar os 50 milhões de utilizadores e foi durante a Segunda Guerra Mundial que disparou o número de utilizadores porque era uma tecnologia necessária para estar informado. A televisão só precisou de 15 anos para conseguir os 50 milhões de telespectadores. No entanto, Facebook ou Twitter conseguiram esse mesmo número de utilizadores em apenas um ano. Cada vez fazemos a adaptação à tecnologia muito mais rápido. Com esta crise, muitos profissionais acostumaram-se a ferramentas como Microsoft Teams, Slack ou Zoom. Para a maioria dos médicos dentistas esta transformação foi importantíssima e faz parte de uma mudança social.

“Em formação online tudo deve estar claramente definido a priori e sabermos a quem nos dirigimos. Se tentarmos criar conteúdo digital para todo a gente, acabaremos por criar algo que não serve ninguém”

Superou-se o receio (ou as reticências) quanto ao recurso à formação online?

Os escéticos da formação online sempre existiram, mas seguramente são cada vez menos. A formação online já existe há muito tempo. Um dos pioneiros foi o doutor Maurice Salama com Dental XP. Este tipo de formação sempre teve um sucesso relativo. Passámos muitos anos, cerca de duas décadas, assistindo a experiências quanto à formação online que são verdadeiramente interessantes, mas apesar de tudo o gold standard continuou a ser a formação presencial. Havia uma tendência generalizada no setor por apostar pelo método presencial.

Acha que nos centrámos demasiado nas limitações da formação online?

Todo o método tem as suas limitações, mas também temos que ver que a formação online tem muitíssimos benefícios. Exponho um exemplo que tive recentemente durante o período de confinamento devido ao coronavírus: vivo em Barcelona e tinha que viajar até Vigo para lecionar uma formação sobre redes sociais no Colégio de Ourense e Pontevedra; é claro que, com o Estado de Emergência, não podia viajar e pensámos anular a formação. No entanto, decidimos optar por fazê-la online e o resultado foi que os assistentes ficaram encantados com o método proposto: estiveram conetados dia e meio através do programa Zoom, podiam fazer as suas perguntas, enviar links, fazer exercícios em direto. Ficámos todos contentes, já que eles aprenderam e eu pude cumprir o meu compromisso como orador. Além disso, poupámos tempo e dinheiro em transporte e alojamento, e não contaminámos. A formação online chegou para ficar. Observamos vários tipos de formação online. Por um lado, há propostas que se centram em pequenas cápsulas de conhecimento, como por exemplo webinars de meia hora para tratar conceitos básicos. Estes formatos geralmente são gratuitos para os profissionais ou têm muito baixo custo. Mas, por outro lado, também há webinars ou congressos virtuais de grande valor, com conteúdos online que requerem um pagamento para lhes ter acesso. Embora tudo isto já existisse, abre-se agora uma oportunidade clara de desenvolvimento, porque as pessoas se acostumaram à interação online. Além disso, as ferramentas foram criadas em tempo recorde. Nos últimos meses, lançaram-se e melhoraram-se ferramentas incríveis; de resto, na Periospot publiquei um artigo sobre as plataformas que se podem utilizar.

Abriu-se a formação online para toda a profissão?

Estamos a viver uma democratização da formação online. Nos últimos meses realizaram-se congressos de rotundo êxito, como o KitCOVID que organizou o doutor Daniel Robles com fins solidários. Como todos os outros, os médicos dentistas são resilientes e darão a volta por cima porque têm uma enorme capacidade de adaptação. A formação online não só vai acompanhar-nos, como vai encantar-nos. Outro aspeto que me parece relevante destacar da formação online é a humanização que temos visto nos úl-

O reputado médico dentista português está radicado em Barcelona, onde se dedica especialmente ao domínio da formação online.

timos meses. Os profissionais estão a frequentar cursos, reuniões ou entrevistas desde as suas casas, e de alguma maneira estamos a abrir as nossas casas e o nosso ambiente mais íntimo a outras personas. Pode acontecer que apareça um filho no ecrã ou vejamos parte do mobiliário da casa de outras pessoas, e é algo inevitável em muitos casos. Não me parece mal que para além do currículo das pessoas ou do conhecimento que cada um pode partilhar também vejamos a própria pessoa.

Há uma formação online ajustada a cada perfil de profissional ou tudo vale para todos?

Se tentarmos fazer uma formação online sem definir o nosso buyer persona (arquétipo de cliente ideal), o mais provável é falharmos. Quando se monta uma start-up, uma das perguntas frequentes dos investidores ou economistas é: isto é para quem? É preciso segmentar o público e definir o nosso buyer persona. O destinatário tipo tem que estar em concordância com o nosso produto, ou seja, o conteúdo está pensado exatamente para um perfil de profissional; por exemplo, médico dentista de 36 anos, trabalhador por conta de outrem numa grande cadeia. Em formação online tudo deve estar claramente definido a priori e sabermos a quem nos dirigimos. Se tentarmos criar conteúdo digital para toda a gente, acabaremos por criar algo que não serve ninguém.

Uma vez alcançado o estatuto de organizador de formação online, falta a etapa da promoção, que também pode fazer-se mediante marketing digital. Qual é a estratégia recomendável neste sentido?

É um aspeto muito interessante ao qual nem sempre se presta a devida atenção. Temos visto muitíssimos exemplos de profissionais que criam a sua network, o seu círculo de influência e promoção, baseando-se exclusivamente em plataformas de terceiros, tais como

“A rede social é um meio para chegar ao público, mas todo esse tráfico de pessoas deve dirigir-se a uma plataforma web que deve ser nossa, e essa é que tem de ser cuidada”

o Facebook ou Instagram. Na minha opinião, está-se a dar demasiada importância às redes sociais para uso de marketing ou de difusão e, estou em crer, está-se a cair num grande erro. Fazem-se grandes esforços para conseguir seguidores, gerando conteúdo para redes sociais, mas não podemos esquecer que se nos limitarmos a isto estamos nas mãos de terceiros. Se o Facebook encerra ou se bloqueia por qualquer escândalo, as consequências podem ser desastrosas. A rede social é um meio para chegar ao público, mas todo esse tráfico de pessoas deve dirigir-se a uma plataforma web que deve ser nossa, e essa é que tem de ser cuidada. Se quisermos construir algo relativo a formação, devemos contar com uma plataforma web própria; não depender de terceiros. Assistimos ao auge do Facebook, depois ao do Instagram, hoje está na moda o Tik-Tok, mas limitarmo-nos a isso é estarmos expostos à corrente do momento. O meu conselho é claro: as redes sociais são um meio, mas a chave é contar com uma plataforma própria, que será a nossa marca. Evidentemente, essa plataforma deve assumir uma posição nos motores de busca. Estamos num mercado competitivo e quase todos querem melhorar o seu nível profissional; portanto, as empresas que contratam não o fazem às escuras, procuram o nosso nome na plataforma LinkedIn, veem quem somos, mas também se informam através das redes sociales; ou seja, o mais inteligente é derivar esse conteúdo subido às redes sociales para o nosso portal web. No meu caso, durante muito tempo a minha marca foi a Periospot, mas estamos a introduzir mudanças para que não seja um projeto ligado unicamente à minha pessoa, por detrás há uma equipa transversal de profissionais e isso é o que deve refletir-se. Todas as semanas enviamos uma newsletter gratuita para partilhar conhecimento diverso e próximo, mas sempre com rigor científico, porque aqui temos de pensar que o nosso benefício como profissionais tem que representar um benefício para o paciente.

Na opinião de Francisco Texeira Barbosa, está-se a dar demasiada importância às redes sociais para uso de marketing ou de difusão.

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