COOPERAÇÃO: UMA RELEITURA DOS ESPAÇOS CRIATIVOS DE PRODUÇÃO.
Trabalho final de graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie para obtenção do título de bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Prof. Dr. Lucas Fehr Universidade Presbiteriana Mackenzie São Paulo, Junho de 2016
AGRADECIMENTOS Ao meu pai, Marcelo Curzio Ready, pela inspiração diária. Por todo carinho e paciência durante todos esses anos. Pelo esforço absoluto a fim de me proporcionar uma boa educação e conhecimento. Por sempre me incentivar. Por acreditar nas minhas ideias mais malucas. Por alimentar meus sonhos. Por confiar em mim. Minha mãe Irani e meus irmãos Marcelo Renan e Marjory, pelo amor incondicional. Lucas Fehr, pela orientação. Pela troca. Pelos estímulos e liberdade durante todo processo. Pelas conversas. Francisco Petracco, pela experiência. A todos os professores que me acompanharam durante a minha formação. A banca presente, por aceitar o convite e disponibilidade para debater o tema apresentado. Tony Chen, pela sua incrível generosidade. Pela influência. Pela crítica. Pelos detalhes. Pelo exemplo. Alessandra Musto, pela amizade sincera e fiel. Nara Diniz, pelo companheirismo. Pelas viagens e experiências. Luca Caiaffa, pelo carinho. Pelas brisas.
Amanda Amicis e Camilla Dall’oca, por me surpreenderem cada dia mais com boas energias. Pedro Peduti, compreensão.
pela
parceria
e
A todos meus amigos que me acompanharam neste percurso tornando-o mais leve e prazeroso. À arquitetura.
SUMÁRIO 008. UMA DISCUSSÃO... 011. SOBRE A COOPERAÇÃO 039.
SOBRE AS OFICINAS
105. SOBRE A CIDADE 131. SOBRE O ENSAIO 190.
BIBLIOGRAFIA
192. LISTA DE IMAGENS
UMA DISCUSSÃO A discussão se dá sobre o comportamento cooperativo da sociedade contemporânea, o presente trabalho busca entender as suas origens abordando os conceitos tratados por Richard Sennett sobre as relações sociais refletindo sobre como inseri-los no modo de pensar a arquitetura. O trabalho inicialmente discute os motivos pelos quais os laços sociais sofreram modificações com o passar dos anos principalmente nas grandes metrópoles, como a sociedade se comporta atualmente e como podemos compreender essas diferenças e dificuldades para, enfim, desconstruir a realidade e propor novas formas de pensar. São apresentados conceitos que poderiam servir de ferramenta para a prática efetiva da cooperação e discute sobre como pensar nessas ferramentas como método do projeto arquitetônico. Nessa fase do trabalho, discutindo sobre a cooperação, a principal base de conhecimento para levantar as questões sociais partiram de obras escritas por filósofos e sociólogos tanto presentes nas discussões atuais da contemporaneidade como nos responsáveis pela introdução das primeiras ideias de cooperação. Em seguida, levanto questões sobre as oficinas, tanto sobre a sua história e os 8
primeiros conceitos que serviram de base para suas origens como sua releitura com o passar dos anos até o momento atual. Nesse capítulo, as ideias de experimento, troca informal de conhecimento e o conserto entram em discussão. São ideias que servem de base para a metodologia das plataformas colaborativas na contemporaneidade. Elas surgem como resposta ao desenvolvimento tecnológico e como uma possível solução para alguns problemas sociais nos países em desenvolvimento e, principalmente, na cidade de São Paulo, local de escolha para discussão do tema. Por fim, busco questionar o tratamento do espaço público por parte da sociedade e do poder público na área do Brás, São Paulo. A inserção do projeto na área de estudo é apresentado nessa fase do trabalho. O cooperar na arquitetura é apresentado em diferentes escalas: na escala do bairro, como uma possível interconexão de usos em potenciais, na escala da quadra, como um ensaio da proposta de revitalização do espaço público, na escala do edifício, com o desenvolvimento do objeto construído e na escala do mobiliário, com uma proposta de organização espacial que responda as necessidades do uso do edifício.
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UMA DISCUSSÃO SOBRE...
A COOPERAÇÃO
COOPERAÇÃO co.o.pe.ra.ção sf (cooperar+ção) 1 Ato de cooperar; colaboração; prestação de auxílio para um fim comum; solidariedade. 2 Organização da vida econômica, baseada no princípio de “fazer retornar o lucro” ao consumidor. (Dicionário Michaelis)
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A cooperação poder ser definida como uma troca onde todas as partes envolvidas se beneficiam. Trabalhar em conjunto, praticar um bem comum. Cooperar pressupõe a preocupação dos indivíduos em praticar um ato coletivo mesmo que esse ato exija, em muitos casos, o sacrifício do eu individual para que seja possível proporcionar desenvolvimento e progressão de todo o conjunto. De forma sucinta, a falta da cooperação induz a competição, ato de competir, rivalizar, concorrer e buscar vantagem sobre o outro. “o apoio recíproco está nos genes de todos os animais sociais; eles cooperam para conseguir o que não podem alcançar sozinhos.” (SENNETT, 2012, p.15) Compreender os conceitos que envolvem o ato de cooperar possibilita a sua utilização como instrumento do pensar na produção da arquitetura, no redesenhar do espaço público e na reflexão sobre como seria possível repensar no modo de vida da sociedade contemporânea.
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UM OLHAR SOBRE A SOCIEDADE A homogeneização cultural enfraquece as relações sócias e, dentro dos interesses do capital, é nesse caminho que a sociedade segue. Os costumes e hábitos tendem a ser tornar cada vez mais próximos tanto no comportamento – vestuários, hábitos rotineiros, alimentação, etc...- como no próprio modo de ver a cidade e se fazer presente nela. Além disso, igualar-se ao padrão imposto pelo sistema torna cada vez mais complicada a relação com aquele outro que está fora desses costumes e gostos. O padrão é a neutralização da diferença e impede que a riqueza da diversidade se faça presente. Bernard Mandeville, filósofo e economista político, acreditava que toda a virtude, considerada por ele a ação do homem feita ao contrário do seu impulso natural é apenas uma mera ficção imposta por líderes e governos para controlar as relações sociais e que, como consequência, gera detrimento para a sociedade, comércio e evolução intelectual pois o vício, ação praticada pelo impulso natural, é o que realmente determina o interesse do homem. O vício, gerado pelo auto-interesse, é que faz a diferença natural das pessoas prevalecer no meio social. A virtude, se pensarmos que é uma ação forçada e não-natural, poderia ser exemplificada como ações – máscaras - de um indivíduo em busca de contentamento e reconhecimento de honestidade. Ainda 15
assim, o vício pode ser um fator positivo se pensarmos que a ação coletiva praticada pelo indivíduo em prol do autointeresse pode traz benefícios públicos. No extremo das suas afirmações, a obra “Fábula das Abelhas” de Bernard Mandeville, conta de forma irônica sobre a importância dos vícios para o bem comum da sociedade. Ele conta como o trabalho em conjunto das abelhas na colméia eram vitais para o desenvolvimento do todo, cada uma com seu vício, e a partir de um dado momento, as abelhas, que tanto pregavam pelo dom da virtude tiveram seu desejo atendido e, assim, levou o grupo a estagnação e declive. Em contraponto, Adam Smith, também filósofo economista, acreditava em uma virtude auto-interessada na qual os resultados geravam uma cooperação invisível, contradizendo as ideias de Mandeville sobre a relação virtude-vicio, mas concordando com o fato de que os auto-interesses trariam, de qualquer forma, benefícios para a vida pública. Em suma, para que a cooperação se torne legítima e eficiente, é necessário compreender que cada indivíduo, com seus diferentes vícios (ou possíveis virtudes auto-interessadas), pode praticar o bem comum. A cooperação, então, não seria apenas restrita a indivíduos com ações planejadas e diretas sobre suas vontades. A ação talvez possa acontecer 16
“Uma grande colmeia, de abelhas repleta, Que viviam em luxuosidade completa, Porém tão famosa por leis e ação Quanto por copiosa população, Constituía o grande manancial Do saber científico e industrial. Não havia abelhas com governo melhor, Com mais contentamento, inconstância menor; Não eram escravas da tirania, Nem sofriam com democracia, Mas tinham reis, que errar não podiam, Pois seu poder as leis comediam. Embora o enxame a fértil colmeia abarrotasse, Essa multidão fazia com que ela prosperasse; Milhões procuravam dar satisfação Mútua a sua cupidez e ostentação; Outros tantos entravam na lida Para ver sua obra destruída. Abasteciam o mundo com sobra, Mas tinham mais trabalho que mão-deobra. Alguns, com pouco esforço e grande capital, Faziam negócios de lucro monumental; Outros, condenados a foices e espadas E a todas essas árduas empreitadas Em que, voluntariamente, infelizes suavam Para poder comer, as forças esgotavam; Outros ainda a mistérios estavam votados, Aos quais poucos aprendizes eram encaminhada Que não requeriam senão o impudor, E sem um centavo podiam se impor Como parasitas, gigolôs, ladrões, Punguistas, falsários, magos, charlatões,
E todos os que, por inimizade Ao honesto labor, com sagacidade Tiravam vantagem considerável Da lida do vizinho incauto e afável. Chamavam-nos canalhas, mas os diligentes, Exceto o nome, não agiam diferente. De todos os negócios a fraude era parte, Nenhuma profissão era isenta dessa arte. (…) Assim, o vício em cada parte vivia, Mas o todo, um paraíso constituía; Temidos na guerra, na paz incensados, Pelos estrangeiros era respeitados, E, de riquezas e vidas abundante, Entre as colmeias era a preponderante. Tais eram as bênçãos daquele estado; Seus crimes tomavam-no abastado; E a virtude, que com a politicagem Aprendera bastante malandragem, Tomara-se, pela feliz influência, Amiga do vício; por consequência, O pior elemento em toda a multidão Realizava algo para o bem da nação. (…) Assim, o vício fomentava o engenho Que, unido ao tempo e ao bom desempenho, Propiciava da vida as comodidades, Seus prazeres, confortos e facilidades, A tal extremo que mesmo os miseráveis Viviam melhor que os ricos do passado, E nada podia ser acrescentado. Como é vã dos mortais a felicidade! Soubessem eles da precariedade, E de que, cá em baixo, a perfeição Não pode dos deuses ser concessão, Teriam os animais se contentado
Com ministros e governo instalados. Porém eles, a cada sobrevento, Como seres perdidos e sem tento, os políticos e as armas maldiziam, Enquanto “Abaixo os desonestos!” rugiam. Os próprios defeitos podiam tolerar, Mas dos demais, barbaramente, nem pensar! (…) A menor coisa que um erro mostrasse, Ou que os negócios públicos trancasse, E todos os velhacos gritavam aos céus: “Se ao menos houvesse honestidade, oh céus!” Mercúrio sorria ante o descaramento, Já outros chamavam de falta de tento Protestar sempre contra o mais amado. Mas Júpiter, de indignação tomado E, por fim, irritado, jurou de vez Livrar a colmeia da fraude. E assim fez. No mesmo momento em que ela partia De honestidade o coração se enchia; Tal como para Adão, se lhes revelaram Aqueles crimes dos quais se envergonharam, Que então, em silêncio, confessaram, E ante sua torpeza coraram, Como menino de mau comportamento Que pela cor denuncia o pensamento, Imaginando, ao ser olhado, Que os outros vêm o seu passado. (…) Vede agora na colmeia renomada Honestidade e negócios de mão dada; O show terminou; foi se rapidamente, E mostrou se tom face bem diferente. Pois não apenas foram se embora Os que gastavam muito a toda hora, Como multidões, que deles dependiam,
Para viver, forçadas, também partiam. Era inútil buscar outra profissão, Pois vaga não se achava em toda nação. Enquanto que orgulho e luxo minguavam, Gradativamente os mares deixavam, Não os mercadores, mas companhias. Fábricas fechavam todos os dias. Artes e ofícios mortos estão. Ruína da indústria, a satisfação Faz com que apreciem o que possuem E nada mais cobicem ou busquem. Assim, poucos na colmeia ficaram, Nem centésima parte conservaram Contra os ataques de inimigos vários, A quem sempre enfrentavam, temerários, Até encontrar algum refúgio forte, Onde se defendiam até a morte. Em suas forças não houve mercenários; Valentemente, lutaram eles próprios. Sua coragem e integridade total Foram coroadas com a vitória final. Triunfaram, porém não sem azares, Pois as abelhas morreram aos milhares. Calejadas de árdua lida e exercício, Consideraram a comodidade um vício, O que aperfeiçoou sua moderação Tanto, que para evitar dissipação Instalaram se duma árvore na cavidade, Abençoadas com satisfação e honestidade.” *
* A Fábula das Abelhas, de Bernard Mandeville. https://economianostra.wordpress. com/2013/06/12/a-fabula-das-abelhas-debernard-mandeville/]
de forma indireta por pessoas que não estão necessariamente buscando cooperar mas que, pelo conjunto de suas diferenças e características cooperam apenas por ser quem elas são e fazer parte de um todo, principalmente na cidade. A cooperação só é possível a partir da ação de dois ou mais indivíduos que agem em conjunto. Nenhum indivíduo é igual a outro, portanto a ação de cooperar está diretamente ligada a diversidade. E os vícios garantem a diversidade de cada um, pois nenhuma pessoa é igual a outra. “A tese genérica de Erik Erikson certamente faz sentido para mim: a autoconsciência manifesta-se no contexto da experimentação e da comunicação com os outros. Também concordo com Alison Gopnik quando enfatiza que o desenvolvimento inicial consiste em um ensaio de possibilidades.” (SENNETT, 2012, p.25) Erik Erikson foi psicanalista, responsável pela Psicologia do Desenvolvimento ,que é o estudo científico sobre as mudanças de comportamento relacionadas a idade durante a vida de uma pessoa e examina mudanças que envolvem, entre outras coisas, a aquisição de linguagem, entendimento moral e formação de identidade. Alison Gopnik, professora de psicologia, e é conhecida por trabalhos na área de desenvolvimento cognitivo e 20
da linguagem sobre o pensamento. O desenvolvimento inicial citado por Sennett se refere ao processo de absorção do conceito de cooperação nas crianças durante o seu crescimento e aprendizado. Assim, podemos observar que a atitude de cooperar entre si é mais instintiva e natural nas crianças (antes da sua alfabetização) e que, com a inserção delas nas instituições de ensino tradicional, essa atitude pode se perder ou sofrer alterações que as tornem mais individualistas com o passar do tempo. O fato de que a perda da capacidade de cooperar no decorrer da vida torna as pessoas mais individualistas se reflete na sociedade atual. O próprio sistema em que as pessoas estão inseridas induz esse tipo de comportamento. A falta dessa prática faz da sociedade contemporânea uma sociedade mais individualista e com ela também está a sua direta ligação com a insegurança e solidão nas grandes cidades. As pessoas atualmente buscam combater esses problemas cada vez mais frequentes e resultantes da falta de cooperação entre si.
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< Fotografia tirada próxima ao metrô BresserMooca
Então como poderíamos aumentar a capacidade cooperativa nas crianças e evitar sua perda durante o seu processo de desenvolvimento? Existiria alguma forma de retomar essa capacidade inicialmente instintiva nos adultos? Como o espaço público, a convivência entre as pessoas e o os espaços de produção criativa nas grandes cidades podem ser repensados a partir do conceito de cooperação? Em quais escalas esses conceitos poderiam ser aplicados?
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A PRÁTICA X O ENSAIO O trabalho individual quando tem-se por objetivo o aperfeiçoamento possui um caminho mais longo do que o desenvolvimento desse mesmo trabalho em grupo. Além disso, trabalhar em grupo pode diminuir ou até mesmo evitar o sentimento de frustração quando algo não ocorre como o planejado, aumentando também as responsabilidades daqueles que trabalham em equipe. Trabalhar em grupo e colaborar entre si é sempre um fator positivo para as relações sociais mesmo quando o processo de aperfeiçoamento de um trabalho ocorra de forma repetitiva. O trabalho intelectual de um processo criativo ou até mesmo um trabalho manual de replicação de um objeto, por exemplo, vincula as pessoas de forma que todos trabalhem juntos em prol de um melhor resultado. “a prática é uma experiência solitária, e o ensaio, uma experiência coletiva” (SENNETT, 2012, p.28) Praticar requer treino e repetitividade. A pratica é essencial para o aperfeiçoamento de qualquer atividade a ser desenvolvida e tende a ser um ato individual. O ensaio tende a ser coletivo justamente pela sua necessidade de experimentação. Experimentar passa a ser uma atividade que, quanto mais coletiva, melhor. No experimento, qualquer nova ideia é bem vinda e os erros são completamente aceitáveis e passíveis de revisão. 24
^ Desenho do aluno Jose Leandro da Orquestra Infantil Maestro JosĂŠ Siqueira.
O FALAR COMO FERRAMENTA Uma das possibilidades de troca de conhecimento senão a mais comum delas é através da fala. O falar explicita as vontades, organiza as ideias e transmite a informação ao outro. Cada indivíduo possui a sua particularidade ao falar. A prática da cooperação pode ser relacionada com essa prática, que passa a ser uma ferramenta de aplicação do cooperar. As pessoas que não observam não podem conversar.* A afirmação de Bowne mostra que a fala por si só não funcionaria como prática da cooperação se não fosse também a possibilidade de observar. O observar na arquitetura torna-se essencial para compreender os espaços. Observar as pessoas faz com que o indivíduo observe a si mesmo, ou seja, um bom observador potencializa a sua capacidade de auto-crítica e de crítica a sociedade. Cooperar, então, pode ser o equilíbrio entre o falar, o ouvir e o observar. Saber equilibrar a própria fala é evitar o excesso de ênfase e, assim, estreitar as relações na “máquina social” através da troca.
* Balfour Browne, KC, citado in Geoffrey Madan, Notebooks ((Oxford: Oxford University Press, 1985)), p.127 28
“Tanto a simpatia quando a empatia transmitem reconhecimento, e ambas forjam um vínculo, mas aquela é um abraço; esta, um encontro. A simpatia supera as divergências através de atos imaginativos de identificação; a empatia mostra-se atenta à outra pessoa em seus próprios termos. A simpatia costuma ser considerada um sentimento mais forte do que a empatia, pois “eu estou sentindo a sua dor” dá ênfase ao que eu sinto, ativando o ego. A empatia é uma prática mais exigente, pelo menos na escuta; o ouvinte precisa sair de si mesmo.” (SENNETT, 2012, p.34) Ambas ocorrem através do falar, da conversa. Conversar com o outro significa estar dando atenção a essa pessoa, ouvi-la e possibilitar uma troca. Isso estreita as relações e possibilita uma nova forma de aprendizado. Possibilita o reconhecimento da simpatia e da empatia pelos usuários.
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ARGUMENTAÇÃO DIALÉTICA DISCUSSÃO DIALÓGICA
X
“A conversa é como um ensaio, que depende da capacidade de escuta. [...] Os procedimentos dialéticos e dialógicos facultam duas maneiras de praticar uma conversa, uns pelo jogo de contrários que leva a um acordo, outro pelo ricochetear de pontos de vista e experiências de forma aberta. Na boa escuta podemos sentir simpatia ou empatia; são ambas impulsos cooperativos.” (SENNETT, 2012, p.37) Percebe-se que a sociedade contemporânea organiza-se de melhor forma com relação as trocas dialéticas, onde o desenvolvimento da conversa ocorre em sua maior parte através da argumentação e não da discussão. Reunir pessoas que provavelmente nunca conversaram entre si e estão ocupando um mesmo espaço físico, trocando conhecimentos e sugerindo novos contatos, é uma forma de promover uma discussão dialógica.“Ensaios, conversar, coalizões, comunidades ou oficinas podem contrabalançar esse impulso destrutivo”. (SENNETT, 2012, p.85) O impulso destrutivo trata-se da competição. A cooperação é flexível e não rígida. As criaturas individualmente insuficientes compensam através da divisão do trabalho, cada uma delas executando 32
Matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo no dia 24 de Abril de 2015. >
pequenas tarefas separadas, e com isso o grupo se torna mais forte. “A divisão do trabalho nos ajuda a multiplicar nossos poderes insuficientes, mas essa divisão funciona melhor quando é flexível, pois o próprio ambiente está em constante processo de mudança. As mudanças ambientais vão á frente dos comportamentos geneticamente padronizados”. (SENNETT, 2012, p.93) Sennett considera a divisão do trabalho como uma questão positiva, porém quando a divisão do trabalho não é feita de forma horizontal, passa a ser mais uma forma de alienar o indivíduo, principalmente quando este não tem a consciência do processo como um todo.
Matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo no dia 24 de Abril de 2015. > 34
AS TROCAS A troca é uma importante ferramenta na prática da cooperação. Trocar conhecimento e experiências é o que faz um espaço comum se tornar um laboratório experimental. Envolve então, muito mais do que apenas incentivas as pessoas através do projeto dos espaços, envolve o comportamento de cada um naquele espaço. Os animais sociais são influenciados pelo meio em que vivem. Se nesse meio as trocas trazem benefícios é assim que de forma geral as pessoas que frequentam ali vão se comportar. O mesmo acontece em ambientes onde a rivalidade prevalece e, assim, a tendência seria que esse tipo de comportamento aumentasse cada vez mais. O tipo de troca que buscamos encontrar em ambientes criativos de produção são as trocas ganhar-ganhar e as trocas diferenciadas. “[...] trocas altruístas, implicando auto sacrifício; trocas ganhar-ganhar, nas quais ambas as partes se beneficiam; trocas diferenciadas, nas quais os parceiros se conscientizam de suas diferenças; trocas de soma zero, nas quais uma das partes prevalece em detrimento da outra; e trocas tudopara-um-só, nas quais uma das partes anula a outra.” (SENNETT, 2012, p.93) 36
Sennett também usa o meio animal como exemplo para explicar a trocas. As formigas trabalham em conjunto, mas em certo momento podem oferecer seu próprio corpo como alimento e, nesse caso, teríamos trocas altruístas no seu exemplo extremo. Os passaros trabalham em conjunto para criar o ninho e, mesmo após a criação também cooperam para mantelo seguro, essa troca é a ganhar-ganhar pois todos os membros se beneficiam do esforço. O lobo tem uma troca invariavelmente letal com as ovelhas, seria uma troca tudo-para-um-só. E no exemplo humano temos todos os tipos de trocas, exemplificadas por pessoas que vão desde Joana D’arc até ao comportamento que gera o Genocídio. O altruísmo tratado por Sennett referese a doação onde, aquele que doa, não busca receber nada em troca. “O altruísmo preserva a qualidade de um ato encoberto – exatamente a qualidade que identificamos na observação cotidiana de que as pessoas altruístas parecem dotadas de uma forte motivação interior” (SENNETT, 2012, p.97)
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UMA DISCUSSÃO SOBRE...
AS OFICINAS
OFICINA o.fi.ci.na sf (lat officina) 1 Lugar onde se exerce um ofício. 2 Laboratório. 3 Lugar onde trabalham os oficiais e aprendizes de algum ofício ou arte. 4 Casa ou local onde funciona o maquinismo de uma fábrica. 5 Lugar onde estão os instrumentos de uma indústria, arte ou profissão. 6 Mesa em que certos oficiais mecânicos trabalham. 7 Dependência de igreja etc. destinada a refeitório, despensa ou cozinha. (Dicionário Michaelis)
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As cidades globais buscam, atualmente, incentivar atividades cooperativas em prol de uma melhor qualidade de vida para a sociedade. Estudos sobre filosofia, economia, política e desenvolvimento urbano mostram que atividades cooperativas trazem benefícios não somente para as relações sociais mas também para o modo com que as pessoas enxergam a cidade. Pesquisando sobre esse assunto, foi possível encontrar conceitos atualmente discutidos que ajudam a compreender a prática do cooperar na cidade contemporânea. São eles, por exemplo, o DIY (Do it yourself), Maker Culture, Coworking, Open Source Urbanism, FabLab, entre outros. Todos eles possuem o mesmo anseio de fazer com que a sociedade coopere entre si em busca da melhoria das condições sociais existentes, cada um com sua particularidade e escala de intervenção. “Desde a antiguidade a oficina tem sido um modelo de constante cooperação. No mundo antigo – fosse na China ou na Grécia -, a oficina se apresentava como a mais importante instituição de ancoramento da vida cívica, e como local de produção praticava a divisão do trabalho em grau muito mais avançado que a agricultura. As complicações do trabalho artesanal somaram-se ao valor familiar da continuidade ao longo das gerações; filhos trabalhavam com os pais 41
como ceramistas; filhas, ao lado das mães como tecelãs. A oficina gerava uma ideia de justiça, de que os objetos produzidos pelas pessoas não podem ser-lhes arbitrariamente tomados, e desfrutava de uma espécie de autonomia política, pelo menos na Grécia, pois os artesãos podiam tomar suas próprias decisões sobre a melhor maneira de praticar a sua arte.” (SENNETT, 2012, p.74) Além disso, na antiguidade, as oficinas também funcionavam como rituais sociais, onde os códigos de honra entre os que ocupavam esse espaço eram recíprocos mesmo que em níveis de conhecimento diferentes, por exemplo, relacionando senhores e aprendizes em um mesmo espaço comum. Diante dessa solidariedade ritualizada, tanto Confúcio quanto Platão acrescentavam que artesãos eram bons cidadãos.* A visão de sociedade do artesão estava ligada a experiência direta e concreta com os outros e não em possíveis abstrações. A sociedade pós-moderna, com o fim da era artesanal e a constante substituição do homem pela máquina “desabilitou” as pessoas da pratica da cooperação. O início desse problema se deu a partir da produção industrial e criou uma rivalidade entre indústria e oficina. * Platão, The Republic, trad. Melissa Lane et al. (Londres: Penguin, 2007), V.1-16;VI.19-VII.5; e Confúcio, Analects, trad. D.C. Lau (Londres: Penguin, 2003), livro 7, 4-19. 44
“A medida que o capitalismo industrial começava a se impor, a oficina artesanal ficava parecendo uma crítica a fábrica, mais humana em seu funcionamento. Mas também estava fadada a morrer, pois a fábrica parecia inevitavelmente destinada a esmagar esse modo de vida melhor” (SENNETT, 2012, p.75) Esse fator pode estar diretamente ligado a profissionalização da mão de obra e o modo como a divisão do trabalho se deu a partir do período industrial. O desenvolvimento das cidades foi influenciado pelo modo de produção dentro do sistema capitalista e isso fez com que a sociedade buscasse se adaptar a essas rápidas transformações. No livro “Lina por escrito” a arquiteta Lina Bo Bardi propõe que os arquitetos pensem em formas de coletivizar o conhecimento, correndo do lado contrário a tendência das grandes metrópoles nos modos de produção. Suas vontades foram materializadas em seus projetos, o mais simbólico deles dentro do contexto da cooperação poderia ser o SESC Pompéia, com grandes oficinas e programas amplos que garantem a coletividade de seus usuários. “Abrir caminhos para uma interdisciplinaridade. Numa época coletiva, os homens devem estar preparados para uma colaboração, sem distinção hierárquica, onde somam 45
conhecimentos” 2009, p.110)
(RUBINO;GRINOVER,
Para que fosse possível superar as problemáticas encontradas fez-se necessário buscar novas formas de produção de conhecimento de forma coletiva, agrupando conhecimentos práticos e teóricos em um mesmo ambiente criativo, curioso didático e receptivo. Robert Owen teve importante papel na reflexão sobre as oficinas e suas formas de trabalhar. Ele idealizou possíveis modos de modernização desses espaços promovendo sistemas de produção onde a partilha das funções, a flexibilidade na execução de tarefas e a conexão entre demais oficinas fosse possível. Os Princípios de Rochdale (1844), de Robert Owen, foram os princípios do cooperativismo. Esses princípios surgiram entre trabalhadores ingleses que buscavam na cooperação solidária a solução para os problemas econômicos causados pela concentração do capital. Os princípios baseavam-se nos valores de auto-ajuda, de auto-responsabilidade, igualdade, equidade, solidariedade e serviram de guia para o desenvolvimento das oficinas ideais e também das ideias socialistas que norteiam as leia trabalhistas atuais. Esses princípios foram revisados em três momentos pela Aliança Cooperativa 46
Internacional em 1937,1966 e 1995 e, ainda hoje, servem como alicerce de diversas cooperativas do mundo e também como exemplo para instituições que procuram aplicar esses valores. Os princípios são:
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OS PRINCÍPIOS DE ROCHDALE 1º Princípio - Adesão voluntária e livre - As cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidades como cooperados, sem discriminações sociais, raciais, políticas, religiosas ou de gênero. 2º Princípio - Gestão democrática e livre - As cooperativas são organizações democráticas, controladas por seus cooperados, que participam ativamente na formulação das suas políticas e na tomada de decisões. Os conselheiros e diretores - eleitos nas assembléias gerais como representantes dos demais cooperados - são responsáveis perante estes. Nas cooperativas de primeiro grau os cooperados têm igual direito de voto (cada cooperado, um voto); nas cooperativas de grau superior pode ser instituída a proporcionalidade de votos, desde que se mantenha a forma democrática da organização. 3º Princípio - Participação econômica dos cooperados - Os cooperados contribuem eqüitativamente e controlam democraticamente o capital de suas cooperativas. Os cooperados destinam os excedentes a finalidades como o desenvolvimento da cooperativa, eventualmente através da criação de reservas, parte das quais, pelos menos será, indivisível; benefício aos cooperados na proporção das suas transações com a cooperativa; apoio a outras atividades desde que aprovadas pela assembléia geral dos cooperados. 4º Princípio - Autonomia e independência - As cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, controladas pelos cooperados. Em caso de firmarem acordos com outras organizações – incluindo instituições públicas – ou recorrerem a capital externo, devem fazê-lo em condições que assegurem o controle democrático pelos cooperados e mantenham a autonomia da sociedade. A Constituição Brasileira promulgada em 1988, em seu Art. 5º, Inc. XVIII reforça este princípio básico do cooperativismo ao disciplinar: “a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, vedada a interferência estatal em seu funcionamento.” 5º Princípio - Educação, formação e informação - As cooperativas promovem a educação e a formação de seus cooperados, dos representantes eleitos, dos gerentes e de seus funcionários, de forma que estes possam contribuir eficazmente para o desenvolvimento da cooperativa. Divulgam os princípios de
cooperativismo, e informam a natureza e os benefícios da cooperação para o público em geral, particularmente para os jovens e os líderes de opinião. 6º Princípio - Intercooperação – Para as cooperativas prestarem melhores serviços a seus cooperados e agregarem força ao movimento cooperativo, devem trabalhar em conjunto com as estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais. 7º Princípio - Interesse pela comunidade - As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas comunidades através de políticas aprovadas pelos cooperados. Este sétimo princípio foi especialmente instituído pelo Congresso da Aliança Cooperativa Internacional em setembro de 1995.*
* h t t p : / / w w w. p a r a n a c o o p e r a t i v o . c o o p . b r / p p c / i n d e x . p h p / s i s t e m a - o c e p ar/2011-12-05-11-29-42/2011-12-05-11-44-19
“Cada oficina era até certo ponto autogerida, o que envolvia reuniões especiais nas quais os alunostrabalhadores discutiam seu trabalho sem a presença de um professor. Os princípios de Rochdale manifestavamse, assim, nessas regras básicas: trabalho aberto a todos, participação ativa, reconfiguração do trabalho em que houvesse cooperação.” (SENNETT, 2012, p.74) As oficinas, assim como antigamente, utilizam como base os princípios de Rochdale e, com isso, foi possível concluir que observar o comportamento delas e compreender como elas funcionam na prática pode ser uma forma de relacionar a arquitetura e a cooperação através de um objeto construído, onde princípios que valorizam a vida coletiva também possam ser aplicados no contexto da contemporaneidade nas grandes cidades. A “solidariedade móvel” contemplada por Owen tratava-se da ideia de tornar as oficinas exclusivas de pequenas comunidades flexíveis e portáteis onde “as habilidades cooperativas deviam estabelecer-se no eu do trabalhador, podendo ser transferidas de um lugar ao outro” (SENNETT, 2012, p.77) Na escala da cidade, as oficinas podem se tornar mais eficientes quando tratadas em conjunto, formando uma possível rede de conexão e troca de 50
conhecimento. Além disso, a oficina torna o “saber comportar-se de maneira sociável” um fator essencial para o desenvolvimento das instituições quando se trata de lealdade e solidariedade. São comportamentos necessários para que o benefício mútuo aconteça nesses ambientes de trabalho e estudo promovendo o compromisso social. A noção da “rede” torna-se importante pois possibilita não só a troca de usuários entre diferentes unidades (mudança de espaço físico) mas também, e talvez mais importante, a transição de informações. É um trabalho feito em conjunto onde todos desenvolvem seus conhecimentos e evoluem socialmente suas relações.
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“[,,,] Johnston também encenou essa fotografia, como uma coreógrafa, para mostrar como os trabalhadores se relacionavam. Ali estão todas as diferentes etapas da construção de uma escada; de um só relance, uma clara narrativa do trabalho que estão executando. Os trabalhadores não se entreolham, mas a coreografia deixa evidente que estão intimamente conectados. Trabalhando cada um na sua tarefa, eles parecem tranquilos mas não informais, como nos encontros casuais de uma casa comunitária; tranquilos apesar de estarem executando juntos uma tarefa árdua; e tranquilos por estarem à vontade com suas ferramentas. Contemplando essa fotografia, percebemos que as pessoas na oficina são exatamente o que parecem ser; não existe nenhuma história oculta; eles não formam uma coalizão. A estrutura da imagem repousa na narrativa da construção de uma escada, que modela o objetivo compartilhado pelos operários; o projeto nutre seu respeito mútuo.” (SENNETT, 2012, p.81)
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O EXPERIMENTO O institudo Hampton foi estabelecido em 1868, três anos após o término da guerra civil, quando o educador e filantropo Samuel C. Armstrong convenceu a Associação de Missionários Americanos a financiar a escola de Afro-americanos para estimular suas “excelentes qualidades e capacidades” dos soldados que haviam lutado na guerra sob o seu comando visando em uma educação que preparassem eles para a independência produtiva.
Fotografias tiradas por FRANCES JOHNSTON, do Instituto Hampton. Exibidas em 1900 em uma galeria parisiense à beira do Sena. > 53
^ Hans Holbein, Os Embaixadores, National Gallery em Londres 56
Os instrumentos na mesa pintada por Holbein são considerados produtos de um novo tipo de oficina, o laboratório técnico, uma oficina que alteraria a maneira como os artesãos praticavam a cooperação segundo Richard Sennett em seu livro “Juntos”. A pintura de Holbein está ligada a expansão das oficinas de antigamente para os laboratórios experimentais. Esses laboratórios aconteceram a partir do desenvolvimento da tecnologia que, por sua vez, marca a transição desse momento para a modernidade e colocava em jogo novas formas de repensar em como as pessoas nesses ambientes poderiam cooperar juntas tratando de novas descobertas. “[...] Os embaixadores é uma pintura emblemática na medida em que assinala três grandes mudanças na sociedade europeia no séc XVI. Foram elas a transformação dos rituais da religião; a mudança das práticas da produção material; e o surgimento de uma nova ética da sociabilidade. A pintura de Holbein marca um momento da virada nas três maneiras como as pessoas cooperavam no alvorecer da era moderna.” (SENNETT, 2012, p.124)
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Então foi nesse momento que o processo experimental tornou-se particularmente importante para o tipo de troca ganharganhar em prol do benefício mútuo. As descobertas técnicas possibilitaram a inovação de forma geral que, atualmente, poderíamos comparar ao avanço da tecnologia. Tanto para as mudanças relacionadas as oficinas como as mudanças no processo de pensamento da arquitetura sofreram transformações derivadas do desenvolvimento tecnológico. “Na época em que surgiu, a oficina experimental parecia perturbar os tipos de rituais a que os trabalhadores estavam acostumados. As descobertas técnicas podiam desequilibrar as relações hierárquicas estabelecidas entre mestres e assistentes, se o aprendiz fizesse uma descoberta que ameaçasse a primazia do mestre. [...] Os mestres tentaram acabar com a inovação, e os adolescentes “traíram” a oficina ao passar a agir por conta própria. Ainda que a oficina se mantivesse coesa, a inovação mudava o significado da cooperação em seu interior. A cooperação precisava agora dar conta dos acidentes de trabalho, da descoberta acidental de algo novo ou diferente. Desse modo, a oficina-laboratório trouxe a comunicação dialógica ao primeiro plano.” (SENNETT, 2012, p.140) 58
Na arquitetura, a tecnologia possibilitou diferentes formas de produção, sistema construtivo e materialidades, possibilitando também novas formas de experimentação para que novas soluções possam ser encontradas a discutidas. No caso das oficinas, a experimentação é essencial para o deu desenvolvimento. Pensar em como inserir na cidade contemporânea programas nos projetos que visem a experimentação e incentivem a tecnologia ao mesmo tempo pode ser uma forma de colaborar para a cooperação e a melhoria das relações sociais. A experimentação, então, proporciona comunicação, conversa dialógica e discussão entre as pessoas. O ato de experimentar levanta novos resultados, hipóteses e procedimentos diferenciados e que, ao contrário dos rituais, são flexíveis e livres, dando liberdade a criatividade de cada um dos usuários para desenvolver aquilo que bem tem vontade e necessidade.
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“Qualquer interrupção da rotina pode despertar as pessoas – e, quando despertas, elas se deslocam para a zona de informalidade; podem ser despertas e deslocadas por coisas aparentemente triviais, e não necessariamente por grandes crises” (SENNETT, 2012, p.189)
A TROCA INFORMAL CONHECIMENTO
DO
Na cidade contemporânea, arquitetos e urbanistas que buscam cada vez mais compreender como a troca informal do conhecimento pode de proporcionar melhoria na qualidade de vida tendem a se adaptar aos novos conceitos de organização dos espaços em diversas escalas. A arquiteta e designer Rosan Bosch busca adaptar seus projetos as necessidades dos usuários e acredita que o design precisa acompanhar o desenvolvimento das pessoas para que possa servir de ferramenta para desenvolver o corpo e a mente delas. Para isso, o seu estúdio trabalha com as áreas de conhecimento que envolvem arte, design e arquitetura e prol da melhoria da qualidade de vida das pessoas. Seu foco principal está nos projetos de ensino e nos espaços públicos urbanos, visando sempre a criatividade e inovação desses espaços para que possa criar estímulos na troca de conhecimentos entre os usuários. “O isolamento é o inimigo óbvio da cooperação, muito bem conhecido pelos estudiosos do local de trabalho moderno.” (SENNETT, 2012, p.204) Quando um espaço se mostrar flexível, esse isolamento passa a não existir e o fortalecimento das relações acontecem de forma efetiva. 61
VITTRA TELEFONPLAN ROSAN BOSCH A escola projetada em 2011 localiza-se em Hägersten, Stockholm, na Suécia. A escola possui 1.900m² e foi projetada a partir dos conceitos da escola Vittra. Modelo onde não existem salas de aula nem paredes entre os alunos. Ao contrário, eles são ensinados a conviver e exercitar-se em grupos de acordo com seus respectivos níveis de embasamento escolar. A escola vittra baseia-se nos conceitos pedagógicos de “the wateringhole”, “the show-off”, “the cave”, “the campfire” e “the laboratory”. Esses conceitos são abordagens didáticas que criam diferentes tipos de situações de ensino. O sistema escolar vittra entende que educar alunos em salas de aula comuns e regulares faz com que esses indivíduos se tornem mais individualistas durante seu desenvolvimento e que, um trabalho mais cultural e diversificado possibilita melhores condições para o desenvolvimento coletivo. O studio projetou a escola dentro desses princípios, proporcionando divisões espaciais e design personalizado significativo. O interior do edifício surge como ponto de partida dos princípios pedagógicos do sistema Vittra e funciona como ferramenta para o funcionamento coletivo do dia-a-dia da escola. 64
No lugar das clássicas mesas e cadeiras escolares, o Telefonplan possui um grande iceberg utilizado como cinema e espaço para relaxamento.Além disso, a inserção de laboratórios possibilitam atividades “hands-on” com diversos temas e projetos. Outro fator relevante para o sistema Vittra é o incentivo a tecnologia. No projeto da escola, os ambientes possuem apoio para mídias digitais. Os usuários podem interagir com a tecnologia nos ambientes livres da escola. Pode-se perceber então, que nesse projeto as características físicas do interior e a arquitetura fazem do espaço físico a própria ferramenta de conscientização e desenvolvimento dos usuários em prol da coletividade.
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VITTRA SCHOOL SÖDERMALM ROSAN BOSCH A escola södermalm localiza-se no centro de Estocolmo, na Suécia, em um edifício histórico. O projeto foi executado em 2012 e resultou da reestruturação da antiga escola tradicional para o sistema Vittra. Os arquitetos transformaram as áreas comuns em ambientes de aprendizagem e inspiração, na busca pelo equilíbrio e a não divisão entre educação e lazer. O design da escola possibilita diferentes ambientes de aprendizagem, sendo uma nova oportunidade para alunos e professores para dividir seus conhecimentos. As formar orgânicas e não lineares do mobiliário interno induzem a coletividade. Mesas sempre com espaços para acomodar grupos e ambientes onde os trabalhos desenvolvidos possam ser vistos pelos demais tanto no seu processo de construção como no resultado final. A troca informal de conhecimento também é um dos fatores de apoio para o sistema Vittra. Como o novo interior do edifício tem sido o foco de concentração para as atividades ligadas a ensino, workshops e atividades sociais. Uma caixa central não convencional torna-se a biblioteca da escola. Biblioteca essa com livros, revistas, ipads, computadores portáteis e diversos materiais de pesquisa que atrai os usuários para o conhecimento. 68
O CONSERTO “Existem três maneiras de proceder a um conserto: fazer com que um objeto danificado fique parecendo novo, melhorar seu funcionamento ou alterá-lo completamente; [...] restauração, retificação e reconfiguração.” (SENNETT, 2012, p. 257) Dessas três, a retificação é a que se mostra mais eficaz na renovação da cooperação, pois é a que leva em consideração o existente de forma a reconhecer suas deficiências para que exista uma melhoria do seu funcionamento. Seria como um equilíbrio entre os dois pontos mais extremos na maneira de consertar. Na arquitetura, o conserto envolve não somente a transformação que o arquiteto pode dar para um em um edifício já existente (restauração) ou também nas transformação no projeto urbano da cidade através do reconhecimento das problemáticas como forma de melhorar o funcionamento (retificação), mas também na completa alteração daquele espaço, que poderia ser, por exemplo, a demolição e reconstrução de edifícios em uma quadra “A cooperação não é como um objeto hermético, impossível de recuperar uma vez danificado; como vimos, suas origens – sejam genéticas ou no primordial desenvolvimento humano – não na verdade duradouras; 71
admitem conserto.” 2012, p.265)
(SENNETT,
Perceber na cidade locais que possibilitam conserto e entender suas problemáticas pode ser uma forma de praticar as intervenções com consciência partindo do pressuposto de que aquele experimento projetual é passível de novas alterações mesmo depois de concluído. A constante mudança da cidade e da forma de pensar arquitetura faz com que o conserto seja constante e necessário. Quanto maior for a responsabilidade do arquiteto no desenvolvimento do projeto, menor será a probabilidade de conserto daquele espaço no futuro. Aliás, não somente a responsabilidade do arquiteto poderia diminuir a probabilidade do conserto, mas a responsabilidade da sociedade com relação ao espaço público, a cidade e as pessoas também pode ser uma forma de repensar a vida urbana e interferir nela como forma de consertar o meio social. É possível perceber então que, no caso das oficinas, os processos do fazer e consertar estão também vinculados com a vida fora desses espaços. Os gestos informais dentro da oficina estabelecem relações e vínculos emocionais entre as pessoas e esses gestos em menor escala podem ser alimentados na comunidade até que cheguem na escala da cidade. “A prática do uso da força física mínima na oficina tem uma sensível ressonância fora dela na condução de trocas verbais 72
diferenciadas.” (SENNETT, 2012, p.265) A força física mínima seria possível pois a oficina não é vista como um ambiente de produção manual mas como um laboratório experimentar e espaço para desenvolvimento do pensar.
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ESPAÃ&#x2021;OS COLABORATIVOS
REDBULL STATION A partir da restauração e reforma do edifício da antiga companhia de energia Light surge o projeto do RedBull Station. Concebido pelo escritório de arquitetura Triptyque, o edifício consiste em uma plataforma experimental de arte e música. Localiza-se na Praça da Bandeira, entre a Av. Nove de Julho e a Av. Vinte Três de Maio, região central da cidade de São Paulo onde o meio urbano é intenso e sofre constantes modificações. Sua inserção foi feita de forma a se adaptar as condições existentes do edifício ao mesmo tempo em que insere novos usos que fomentam a cultura e a experimentação. O edifício funciona como um grande equipamento contemporâneo de plataforma colaborativa. Sua principal atração são as residências artísticas. A cada trimestre ocorre uma inscrição e seleção de artistas para participarem da residência. Nesse período eles utilizam o edifício para suas criações, experimentações e desenvolvimento de seus respectivos projetos. O processo de desenvolvimento do conhecimento acontece de forma colaborativa e horizontal, com contato direto não somente entre residentes mas também com o público em geral, já que o edifício também é ponto de encontro para diversas discussões sobre a cidade e organiza diversas palestras durante 76
todo o ano. Fora os eventos específicos, o RedBull é aberto ao público de segunda a sexta para visitação com entrada gratuita. No seu uso estão inseridos: galerias expositivas com possibilidades para performances de artes visuais, exibições e shows; estúdios de música; escritório; ateliês individuais (criados para o projeto de residência artística); ateliês coletivos para workshops e palestras; galerias transitórias onde os trabalhos desenvolvidos são expostos durante o seu processo de criação e desenvolvimento. Além disso, a cobertura do edifício abriga um espaço para eventos e encontros e também – no térreo - um café/restaurante como apoio ao programa principal. O projeto então trata-se de uma aplicação dos conceitos relacionados a cooperação na arquitetura e, por estar inserido no contexto da cidade de São Paulo, passa a ser um exemplo possível e aplicável desses novos usos na cidade. O modo como os espaços foram solucionados pelos arquitetos demonstra a preocupação em estabelecer contato direto entre seus usuários e, mesmo que as alvenarias –divisoras do espaçotenham sido mantidas por questões de conservação do patrimônio do edifício, os demais ambientes e usos estabelecidos para esses espaços condizem com a proposta da instituição em si.
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LA PASSEGGIATA “L’arte di camminare è um’arte visiva grazie alla quale si acquista la capacità di guardare al mondo in maneira diversa” Cattabriga,Giovanni La Passeggiata foi uma instalação temporária de 1.600m² do arquiteto Michele De Lucchi na área “Workplace3.0” do Salone del mobile que aconteceu em 2015 em Milão. A instalação teve como principal objetivo levantar questões e pensamentos sobre os ambientes de trabalho e faz uma metáfora com a ideia de nunca estar estático pela ação do caminhar. Ele utiliza o percurso como principal conector de usos e comenta também que geralmente ambientes de maior mobilidade dentro dos escritórios como, por exemplo, a recepção, copa ou cozinha e até mesmo o corredor são mais agradáveis do que o próprio ambiente de trabalho pois são lugares em que as relações sociais se estreitam e possibilitam maior interação entre as pessoas podendo até mesmo ser um ponto onde o conhecimento e os problemas relacionados a empresa ou escritório possam ser discutidos de maneira informal. O arquiteto subdivide a instalação em quatro partes/conceitos: o clube, o homem livre, àgora e laboratório.
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Croqui feito por Michele De Luchi sobre La Passeggiata. >
O clube seria um espaço reservado ao encontro e trocas, uma espécie de plataforma de trocas informais organizado de forma a possibilitar o desenvolvimento de um trabalho ao mesmo tempo em que o usuário pode tomar um café ou comer a qualquer momento, sem limitações. O homem livre representa o espaço de trabalho onde a troca de ideias e competências possibilitam o equilíbrio ente o “eu” e “nós”, entre os espaços de concentração individual e os espaços coletivos. A àgora trata-se de um pavilhão de encontro para exposições, conferências, apresentações, espetáculos e eventos. Uma área onde a troca de conhecimento, discussões e ideias em maior escala desenvolve o senso de comunidade. O laboratório concentra o processo criativo dos documentos, apresentações, protótipos, imagens e aplicativos. Nele é possível desenvolver o trabalho manual, explorar novos instrumentos, se inventar e renovar de maneira coletiva. Além disso, Michele circunda esses ambientes com áreas verdes, é possível observa-las durante o percurso como um “intervalo mental” em que os usuários pensam em como e onde deve percorrer para alcançar seus objetivos. No conjunto, os espaços idealizados pelo arquiteto busca favorecer as relações humanas, inserir a arte nos espaços de 82
trabalho e contribuir para os processos criativos, estimulando os sentidos e a imaginação, criança ambientes informais que aliviam o peso de uma jornada de trabalho tradicional.
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^ Desenho feito por Michele de Luchi - . La passeggiata
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NAVE DE LA MUSICA Os arquitetos María Langarita e Victor Navarro ( Langarita Navarro Arquitectos) projetaram para a Redbull Music Academy (RBMA) em 2011 a Nave de la Musica, projeto temporário para abrigar 60 pré-selecionados do festival anual. Os participantes são cercados de DJ’s, músicos e produtores e tem a oportunidade de experimentar e fazer o intercâmbio de conhecimentos e ideias sobre o mundo da musica visando a produção de áudio. O local conhecido como Matadero Madrid abrigou a instalação. O espaço caracteriza-se principalmente como uma plataforma colaborativa experimental. O projeto foi elaborado a partir de cinco principais diretrizes: Prazos e orçamentos, pois o projeto deveria ser construído em 2 meses e isso fez com que a proposta visasse estruturas leves e de fácil adaptação. Respeito ao edifício existente mantendo suas características originais. A inserção de um programa livre que envolvesse estúdios, escritórios e ambientes de gravação. Adaptações acústicas, envolvendo formas e organizações espaciais que valorizassem esse fato, além de materialidade e solução construtiva. O caráter temporário, já que as peças deveriam ser montadas, desmontadas e ajustadas conforme as necessidades dos usuários. < Diagrama de distribuição dos usos. 87
Como resultado, o projeto funcionou como uma grande plataforma e se desdobrou no interior do edifício antigo na forma de estrutura urbana fragmentada na qual a variável relação entre proximidade e independência, preexistência e desempenho pôde oferecer suporte e comunidade e aos espaços coletivos de produção que, nesse caso especificamente, envolve a área musical.
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FAB LAB Os Fab Labs são uma abreviação do termo inglês “Fabrication Laboratory” e é uma plataforma de fabricação digital e prototipagem rápida. Em geral, esses espaços são destinados a qualquer tipo de pessoa ou empreendedor que deseja experimentar o processo de criação e chegar a um resultado de protótipo de forma rápida. Designers, arquitetos e artistas utilizam com mais frequência esses espaços para desenvolver suas ideias e enriquecer seus conhecimentos através de uma troca informal entre os usuários daquele espaços.
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Esses espaços se conectam mundialmente através de uma rede e possuem um grupo de máquinas de baixo custo que seguem um padrão tipológico de acordo com o nível profissional dos usuários. Essas máquinas são, por exemplo, de corte a laser 2D e 3D, de corte de vinil, fresas para diversos tamanhos e outras ferramentas. Além disso, a disponibilidade de workshops e cursos para utilização dos softwares também são importantes para um Fab Lab. A principal qualidade dos Fab Labs e o que diferencia esses espaços dos demais laboratórios de prototipagem de empresas é a sua livre circulação do público e a falta de burocracia para que a população utilize esses espaços.
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Os usuários não devem possuir nenhum pré-requisito para fazer parte da experimentação. Independente do diploma, projeto ou uso, todos podem utilizar um Fab Lab e trocar conhecimentos. Esse tipo de laboratório, então, possui uma troca horizontal onde a cooperação, colaboração, interdisciplinaridade, compartilhamento e aprendizagem através da prática (Do It Yourself). “Essa abertura, chave do sucesso e da popularidade dos Fab Labs, facilita os encontros, o acaso e o desenvolvimento de métodos inovadores para o cruzamento de competências. Estes espaços abertos a todos e acessível (tarifas baixas ou mesmo o acesso livre) favorece a redução de barreiras à inovação e à constituição de um terreno fértil à inovação” (EYCHENNE; NEVES, 2013)
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No Brasil, existe uma Associação Nacional que visa esclarecer as questões referentes aos princípios de um Fab Lab e auxiliam na divulgação de informações relevantes para a área e para os novos espaços emergentes para garantir que os objetivos dessas plataformas funcionem como uma real forma de inovação tecnológica e desenvolvimento do processo de produção criativa. A Associação Fab Lab Brasil foi criada em 2012. Em São Paulo, temos alguns espaços já em funcionamento como o Memorial Fab Lab, Garagem Fab Lab, o Fab Lab SP (na USP), o Insper Fab Lab (no Insper) e alguns outros da prefeitura pela cidade.
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^ Mapa com a distribuição de Fab Labs em 2016 no mundo e a quantidade de instituições por região.
SESC POMPÉIA Projeto de Lina Bo Bardi, o SESC Pompéia ocupa o edifício de uma antiga fábrica de tambores. A arquiteta ítalo-brasileira conciliou as antigas estruturas existentes com novos volumes arquitetônicos para a inserção e programas ligados a cultura e lazer. Atualmente o SESC Pompéia inclui inúmeras atividades ligadas à oficinas. Cursos ligados a marcenaria, tecelagem, artes plásticas e visuais, cerâmica, tapeçaria, gravura e tipografia ocupam os espaços voltados às oficinas abertas ao público, além das demais atividades ligadas ao esporte, lazer e cultura. “O SESC Pompéia define programaticamente uma arquitetura como espaço de convivência, de conhecimento, de criação artística, ligado à vida cotidiana de uma comunidade social, étnica e culturalmente diversificada. É o modelo de uma intervenção poética sobre a realidade, por mais pontual que possa parecer, através do meio arquitetura. Define um sentido específico de arquitetura civilizatória por meio da dignificação da vida humana, da participação ativa em processos artísticos coletivos de criação e comunicação, da gestão coletiva do conhecimento, da criação coletiva de uma identidade 96
reconhecível.”* A conexão entre os diversos usos em uma mesma implantação faz com que a cooperação e troca de experiências de forma horizontal prevaleça sobre as individuais. O espaço coletivo é cada vez mais intenso e se torna uma referência para plataformas colaborativas. Além disso, podemos perceber no layout dos ateliês, do espaço de convivência, bibliotecas e espaço de exposição a liberdade dos mobiliários e divisórias. Esses espaços são abertos e possibilitam o contato visual entre os usuários. Nenhuma divisória impede a circulação livre das pessoas. O projeto também consiste em espaços de poio como restaurante, cozinha industrial, refeitório e vestiários para funcionários.
* Texto de Eduardo Subirats originalmente publicado na Revista Projeto n°143 em junho de 1991 e retirado do livro Cidadela da Liberdade de Lina Bo Bardi,2013. 97
“A experiência do SESC Pompéia contém uma chave para aqueles que quiserem refletir sobre o papel da arquitetura na vida dos homens. Uma chave contemporânea, ativada e ao nosso alcance. É uma experiência arquitetônica que alia criatividade a um grande rigor, liberdade com responsabilidade, riqueza com concisão e economia de meios, poética com ética.” (FERRAZ, 2008, pg. 83)
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UMA DISCUSSÃO SOBRE...
A CIDADE
O CONFLITO Pessoas iguais e diferentes se descobrem diariamente nos espaços públicos da cidade. Essa convivência não só fortalece as relações sociais de forma positiva, mas também enriquece a dinâmica cidade de forma geral. É o espaço onde cada indivíduo se descobre como cidadão e a particularidade de cada um tem o direito de aflorar-se. A experiência direta com os outros enfraquece os estereótipos, fortalece a convivência entre as pessoas e diminui o preconceito segundo sociólogo norte-americano Samuel Andrew Stouffer. Conviver em conjunto com a diversidade proporciona tanto ambientes de conflito como amigáveis. Isso reforça a importância da convivência entre indivíduos que se assemelham e se divergem. O conflito, muitas vezes, surge a partir do reconhecimento da reação de um indivíduo impulsionado pela vontade própria de expressar-se e que o faz, por direito, onde desejar. Richard Sennet cita em seu livro “Juntos” que as diferentes religiões, raças e classes sociais transforma qualquer “nós-contraeles” em receita certa para o conflito. São diferentes costumes e interesses presentes em um mesmo espaço. O conflito, de forma geral, pode ser definido como situação ou ações opostas e incompatíveis que não podem ocorrer ao mesmo tempo. O conflito ocorre 106
“Somente por conviverem com outras pessoas podem perceber-se como indivíduos diferentes dos demais. E essa percepção de si distinta das outras é inseparável da consciência de também ser percebido pelos outros, não apenas como alguém semelhante a eles, mas, em alguns aspectos, diferentes de todos os demais” [ELIAS,1994, Pg.160-161]
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em qualquer assunto social e isso é necessário para buscar a evolução e reflexão sobre os fatos buscando sempre melhorar a qualidade de vida em qualquer meio não somente urbano. Um conflito só pode ser resolvido através de um consenso entre ambas as partes justamente por não ser possível continuar andando em paralelo com os fatos opostos. No meio urbano e principalmente nas grandes cidades a luta de classes e a desigualdade social sempre gerou conflito. Conflito esse que proporciona uma alteração no comportamento das pessoas para com as outras e com elas mesmas. Além disso, o capital também influência no comportamento daqueles que se adequaram ao sistema gerando outros tipos de conflito. Jacques Derrida, no livro “Da Hospitalidade” coloca em discussão o conceito de hospitalidade, o quanto as pessoas conseguem ser hospitaleiras incondicionais. A tentativa de ser receptivo só acontece justamente porque o oposto existe. Espaços receptivos na cidade se contrapõe a vontade de outras pessoas de se sentir “seguras” e limitar cada vez mais duas relações interpessoais, julgando, exigindo explicações e controle sob os outros. Não é possível um espaço ser e não ser receptivo ao mesmo tempo. Os espaços 109
não receptivos devem servir de exemplo (mesmo que ruim) para que a buscar um melhora no meio urbano aconteça. Os espaços estão cada vez mais sendo menos hospitaleiros. A cidade está cada vez menos recebendo incondicionalmente as pessoas. Os moradores procuram condomínios fechados com a falsa ideia de proteção. Proteção contra quem? Contra que? Contra que tipo de pessoa? Até mesmo as instituições fecham suas portas e limitam seus acessos enquanto deveriam servir de exemplo para a sociedade. Porém devido a esse tipo de comportamento podemos definir o que seria adequado em oposição a essas situações. O conflito gera discussão. Quando a comunidade compreende o espaço público como pertencente a todos e, inclusive, a própria comunidade, esta passa a ter um cuidado e reconhecimento maior daquele espaço. Então, melhorar o espaço público contribui indiretamente para a cooperação comunitária na cidade. A cidade, por si só, se faz presente pela diversidade e “é composta de diferentes tipos de homens; pessoas semelhantes não podem dar existência a uma cidade” (1968 apud SENNETT, 2012)*. Essa diversidade fazem com que a cidade sofra constantes transformações e faz com que os espaços públicos acabem se tornando suportes para que elas possam ser percebidas. * Aristóteles, Política, ed. Richard McKeon, trad. Benjamin Jowett (Nova York: Random House,1968), p.310] 110
Compreender as transformações a partir desses suportes nos ajuda a discutir outras dinâmicas que envolvem a política pública, economia, filosofia e arquitetura. Para discutir as dinâmicas faz-se necessário trabalhar em conjunto com outras áreas do conhecimento e cooperar testando as possibilidades e experimentações possíveis a favor da melhoria dos espaços públicos da cidade.
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^ Mapa da cidade de SĂŁo Paulo pontuando a area do BrĂĄs. 114
O TERRITÓRIO A abordagem de como as oficinas colaborativas seriam inseridas ao contexto urbano da cidade de são Paulo passa a desenvolver uma relação forte com o bairro do Brás, historicamente industrial em seu desenvolvimento. A relação do projeto com seu local fortalece a sua inserção, como um contraste entre o antigo –fábrica- e o novo –oficinaem um território que sofre atualmente aceleradas transformações. Com a construção do atual Mercado Municipal em 1932, próximo à Rua 25 de Março, a vocação comercial daquela região central se fortaleceu. Vizinha à área e sofrendo influência das ferrovias que transportavam safras para a cidade, surgiu a zona Cerealista, de grande importância para o comércio de grãos. Ainda nesse período, a partir da década de 1930 a vocação comercial do bairro do Brás passou a criar corpo com comércios ligados a calçados, roupas, móveis e máquinas e, em especial, o comércio ligado ao couro e madeira que foram se aproximando da Rua do Gasômetro. “Se por um lado esse movimento transformava o Brás em um subcentro de referência para a cidade de São Paulo, por outro, degradava as condições urbanas e habitacionais ali presentes” (MEYER, Regina; GROSTEIN, Marta Dora. 2010. Pg. 111) 115
^ Publicação feita pelo Jornal O Estado de São Paulo em 25/01/1993 116
Isso aconteceu devido à perda gradativa da população a partir da década de 1940 que, segundo as autoras do livro “A leste do Centro”, aconteceu por dois motivos fundamentais: por moradores de maior poder aquisitivo fugindo do ambiente urbano degradado por indústrias e pelos mais pobres fugindo do aluguel em busca de moradia nas regiões da periferia da cidade. Ao mesmo tempo, muitos migrantes brasileiros, principalmente nordestinos, chegavam a São Paulo e ocupavam os antigos casarões e cortiços que antes serviam como moradia para imigrantes italianos. E pouco a pouco os trabalhadores italianos foram substituídos pelos nordestinos. Além disso, as indústrias buscavam se aproximar das rodovias e o poder público implementava na cidade grandes obras viárias como, por exemplo, a Radial Leste. Apesar do desinteresse do poder público pelo bairro, o mercado imobiliário reconheceu na região um o potencial para construção de edifícios residenciais e condomínios de baixo e médio padrão. Esse reconhecimento veio pela identificação de galpões industriais em grandes terrenos planos (baixo custo e fácil construção) e pela proximidade do bairro com o centro de São Paulo, região atualmente saturada de edifícios e com alto índice de déficit habitacional. Obra presente no Museu do Imigrante, no Brás > 118
A REVITALIZAÇÃO DA RUA DO GASÔMETRO O projeto concebido pelo escritório de arquitetura Paulo Bastos & Associados buscou promover a requalificação da Rua do Gasômetro, no Brás. A parceria entre o escritório e a Associação Cultural de Revitalização e Recuperação do Brás, a subprefeitura da Mooca, o Programa de Ruas Comerciais da Prefeitura, a EMURB e a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente foi essencial para o desenvolvimento do projeto. “A proposta foi unificar as vias existentes em uma única via central, com a eliminação da ilha existente, proporcionando aumento significativo das calçadas. Esse alargamento do espaço de circulação do pedestre iria criar uma verdadeira área de estar urbana, dotada de jardins arborizados, bancos e mesas.” segundo memorial disponível no site do arquiteto. O projeto visa priorizar o pedestre, melhorar a qualidade do espaço público e proporcionar acessibilidade em um local onde o espaço de percurso não possui as condições mínimas necessárias. Para isso, a homogeneização das calçadas foram um fator adotado no projeto como forma de facilitar a linguagem do espaço público e melhorar o fluxo dos usuários. Outro fator importante no projeto foi possibilitar melhores condições para o fluxo de automóveis da região. Vagas em 122
45° foram propostas para as calçadas que, alargadas, possibilitam esse recurso e dão espaço as paradas de ônibus e paradas rápidas de automóveis para carga e descarga. Além disso, a rua Monsenhor de Andrade seria fechada para pedestre a transformada em calçadão, possibilitando a utilização do espaço para atividades decorrentes dos eventos promovidos pela igreja e a comunidade. Ainda no projeto urbanístico, o escritório propões e revitalização da praça Benemérito Bras, a poucas quadras do Gasômetro para transforma-la em um espaço de recreação e convivência para que possa se tornar um ponto importante com área verde no bairro. O projeto por si só serve de referência para um ideal de revitalização das ruas na cidade de São Paulo e também um ideal de pensar em uma cidade para pessoas com a priorização do pedestre e do transporte público.
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< Mapas com o antes e o depois do projeto de revitalização da Rua do Gasômetro proposta pelo escritório Arquiteto Paulo Bastos & Associados.
UMA DISCUSSÃO SOBRE...
O ENSAIO
Como resultado final da aplicação dos conceitos apresentados, o projeto consiste em implantar oficinas colaborativas – de marcenaria e fabricação digital - e propõe a revitalização do espaço público e das quadras na região do Brás, em São Paulo. O projeto das oficinas trata-se de um experimento de como a arquitetura pode traduzir na construção os conceitos que envolvem a cooperação e coletividade. Enquanto algumas regiões tornaram-se pólos econômicos e se desenvolveram aceleradamente a cada ano, outras, que não responderam aos anseios do capital de investimento, sofreram na mesma velocidade com o processo de degradação e abandono. O Bairro do Brás concentra importantes edifícios históricos e, alguns deles, tombados pelo IPHAN. Ainda assim, um bairro que deveria ter seu devido reconhecimento histórico sofreu com o abandono e ausência do poder público na intervenção desses problemas, intensificando mais ainda a falta do sentimento de pertencer ao bairro e, consequentemente, o desinteresse em apropriar-se do espaço público por parte dos moradores, comerciantes e usuários rotativos/temporários da região. Percebeu-se então que o projeto - da cooperação - deveria ser desenvolvido em todas as escalas para que efetivasse um experimento real de possibilidade 130
A REDE
tecelagem
zona cerealista
marcenaria
serralheria
usinagem
misto
BRĂ S
de revitalização da cidade. São essas a escala da cidade/bairro, da quadra, do edifício e, por fim, dos mobiliários e equipamentos. Ainda que o mercado imobiliário atualmente esteja alterando drasticamente a paisagem urbana do Brás, foi possível reconhecer – na escala do bairro áreas com diferentes potenciais de uso: tecelagem, marcenaria, serralheria, alimentícia/cerealista, usinagem e mista. Esses usos são marcados pela concentração de comércios e industrias de mesmo setor concentrados em um determinado espaço físico, além de alguns equipamentos de ensino profissionalizante voltados para a especialização da mão de obra, como o SENAI. A implantação das oficinas colaborativas na escala do bairro visa inserir um novo programa, com novos usos, mas que converse com o uso já consolidado e existente na região incentivando a tecnologia, estimulando a troca de conhecimento e fortalecendo as relações sociis. Para isso, foi proposta uma rede de oficinas. Cada oficina estaria localizada em uma área em potencial e teria um programa específico para cada uma dessas áreas de acordo com as necessidades e deficiências de cada uma delas.
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A oficina escolhida pra o desenvolvimento do projeto foi a de marcenaria. As quadras de intervenção e inserção da oficina estão localizadas entre a Rua do Gasômetro e a Avenida Rangel Pestana, que possuem um abastecimento maior de transporte público e transpõem a linha de trem da CPTM que, atualmente, é uma grande “cicatriz” não só para o bairro mas também para toda a cidade de São Paulo e, perpendicular a essas vias, as ruas Jairo Góis, Oyapock e Correia de Andrade. A partir da escolha da quadra de implantação Iniciou-se o reconhecimento dos problemas específicos e suas proximidades. A conservação dos edifícios sofre constante degradação e o critério de conservação teve como base a realidade do Brás para a análise entre boa, média e ruim/péssima conservação. Visualizando alguns problemas gerais foi possível perceber a necessidade de um projeto urbano que revitalize o espaço público.
Possibilidades de fluxos para a conexão das oficinas. Um ensaio. > 136
V V
V
V
CONSERVAÇÃO má conservação V
média conservação boa conservação
TRANSPORTE vias coletoras vias arteriais linha de ônibus linha de trem e metrô ciclofaixa
V V
V
V
GABARITO acima de 8 pavim. V
2 a 8 pavim. 1 ou 2 pavim.
V
V
V
V
USOS misto residencial
V
institucional comercial
DIRETRIZES
fachada ativa
equipamentos urbanos
transporte público
equipamentos de apoio
oficinas colaborativas
fortalecimento das relações pessoais e troca informal de experiências
uso misto da quadra
incentivo a tecnologia
intervenção nas empenas cegas
paisagismo
Os critérios de avaliação para manter ou demolir os edifícios das quadra foram baseados nos estudos de conservação, relevância arquitetônica, gabarito e usos. A partir dessas definições, o projeto da quadra buscou interpretar os fluxos e conexões entre as vias do entorno. A intervenção passa a ser então um experimento de ocupação das quadras. Principalmente levando em consideração a intervenção imobiliária na região
< permanência e remoção
< novos fluxos 146
< vias peatonais e calçadas
< empenas cegas
< ocupação 147
que, sem critério algum, provoca a demolição de todos os edifícios da quadra para construir em seu lugar grandes empreendimentos. Além disso, foi levado em consideração o projeto de revitalização da rua do gasômetro aprovada pela Prefeitura da Cidade de São Paulo que já em fase de execução. O programa inserido na quadra consiste no edifício das oficinas colaborativas, praça de recreação infantil, refeitório, biblioteca, bicicletários, pavilhão de eventos, cinema a céu aberto, pequenos comércios e escritórios de coworking, praça de alimentação e guarda-volumes. A quadra oferece usos relacionados a ensino, serviços e apoio à sociedade. Os usos foram distribuídos na quadra de acordo com as necessidades e conveniências de cada um. Os bicicletários localizam-se nas extremidades do eixo cental. A Av. Rangel pestana possui uma ciclofaixa e foi possível perceber a falta de pontos de parada e suporte para o ciclista nas proximidades. A praça de alimentação e o guardavolumes servem como apoio aos usuários rotativos/temporários, funcionários e comerciantes da região e, portanto, localizam-se ao leste da quadra, onde está a passagem de pedestre para os viadutos que transpõem a linha férrea chegando ao largo da concórdia, ponto de concentração de pessoas devido ao comércio de ambulantes. Além disso, é 148
o lado da quadra de melhor acesso para as pessoas que chegam da estação do Brás. A área reservada para recreação infantil localiza-se próximo à Rua Correia de Andrade, mais tranquila e reservada. Está próxima ao guarda-volumes e a praça de alimentações, possíveis usos de apoio para os usuários desse programa. Próximo a essa uso e voltando-se para a Rua do Gasômetro, o edifício das oficinas colaborativas rompe com a sequência de edifícios pré-existentes para proporcionar a esse lado da quadra um recuo com área verde, espaço amplo de calçada – com vagas em 45° para veículos - e um grande vão livre que serve como convite aos pedestres para explorar os novos percursos internos da quadra. O edifício segue o alinhamento interno da pré-existência para reforçar o fluxo longitudinal. Nesse fluxo localizam-se os usos de apoio ao edifício das oficinas como o refeitório, com equipamentos de cozinha para os usuários fixos da quadra, um pavilhão de exposições, para atividades externas as oficinas e exposição dos trabalhos que ali se desenvolvem, e um cinema a céu aberto ao lado do pavilhão de exposições e que propõe a utilização da empena cega como tela de projeção para exibição de filmes possibilitando uma atividade cultural e incentivando a ocupação no período noturno.
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Voltando-se para a Av. Rangel Pestana está o edifício da biblioteca, também pública, que serve de apoio não só para os usuários das oficinas mas também a Escola Estadual Romão Puiggari, localizada do outro lado da avenida e ao SENAI, também próximo a quadra. A biblioteca possui um grande vão livre e conecta-se por uma passarela com o edifício voltado aos escritórios coworking e pequenos comércios. Tanto a biblioteca quanto os escritórios conformam um espaço mais reservado com bancos e grande arborização para que esse espaço se conforme em uma área de permanência e silencio.
oficinas
bicicletรกrios
refeitรณrio
bancos prรณximos a biblioteca
praça de alimentação
cinema a cĂŠu aberto
recreação infantil
^ edifício oficinas | planta subsolo
^ edifício oficinas | planta térreo
^ edifício oficinas | planta 1° pavimento
^ edifício oficinas | planta 2° pavimento
^ corte longitudinal
^ corte transversal
Sua estrutura é composta por pilares mistos - com uma base de concreto que se divide em dois braços metálicos – que suporta uma viga vierendeel com altura do pé direito do segundo pavimento e vão livre de 40 metros. Nessa grande vierendeel estão atirantados cabos de aço que suportam a laje do primeiro pavimento que, por sua vez, é travado por vigas metálicas. Após a definição do sistema estrutural e da configuração interna dos usos do edifício de forma a traduzir para a arquitetura a cooperação, iniciaram-se os estudos de insolação para determinação do sistema a ser adotado como fechamento. A princípio, a ideia consistiu em manter o edifício o mais transparente possível para que o seu uso fosse contemplado tanto pelas pessoas que estivessem do lado de fora e para que os usuários do lado interno do edifício pudessem observar as diversas atividades que acontecem na quadra. A transparência conecta as pessoas de forma indireta e faz com que elas se reconheçam naquele espaço.
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^ elevação 01 - norte
^ elevação 02 - sul
^ elevação 03 - oeste
^ elevação 04 - leste
Com os estudos feitos, apenas a fachada sul, voltada para o interior da quadra, pode se projetada sem brise. Nas demais fachadas o ideal seria adicionar um fechamento para garantir o conforto térmico em seu interior. Com esse resultado foi possível fazer alguns reajustes de usos no layout do projeto para garantir uma melhor percepção dos usuários e melhor conforto no desenvolvimento de suas atividades. Com a fachada voltada para o interior da quadra sem brise foi possível proporcionar aos usuários maior transparência e vida ativa, onde suas atividades possam ser observadas do lado externo do edifício. Já nas demais fachadas, a solução de brise buscou manter de certa forma a transparência para que a estrutura pudesse ser vista, e ao mesmo tempo cumprisse com a sua função. A melhor disposição para os brises foi de forma horizontal. Para que a transparência pudesse ser garantida, os brises deveriam manter certa distância entre si. Para isso, a adoção de brises com vegetação de pequeno porte se fez necessária, assim o ambiente teriam um conforto intensificado e cumpriria com a sua função e intenção estética de forma efetiva.
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CONSIDERAÇÃO FINAL
“O TIPO DE CIDADE QUE QUEREMOS NÃO PODE SER SEPARADA DA QUESTÃO DO TIPO DE PESSOAS QUE QUEREMOS SER, QUE TIPOS DE RELAÇÕES BUSCAMOS, QUE RELAÇÕES COM A NATUREZA NOS SATISFAZEM MAIS, QUE ESTILO DE VIDA DESEJAMOS LEVAR, QUAIS SÃO NOSSOS VALORES ESTÉTICOS.” ( HARVEY, David )
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