DIรกRIO DE VIAGEM
mayra biajante
Em novembro de 2016 iniciei um ano sabático. Deixei meu trabalho e minha casa e comecei uma viagem pela América do Sul. Nessa experiência escolhi viver por um tempo em algumas cidades. Diferente das outras viagens que havia feito, nessa não houve pressa, mas o desejo de sentir um pouco da rotina e da vida que acontece nesses lugares. A série fotográfica Diário de Viagem foi criada para documentar isso. Através de imagens e textos, conto como foi minha passagem por esses lugares. No total, registrei 15 cidades de Uruguay, Argentina e Chile. Ao contrário do que havia planejado, minha viagem não durou um ano. Em nove meses voltei ao Brasil. Isso porque a vida acontece apesar do que esperamos. Você planeja e Deus ri, diz um velho ditado. Aqui reúno minhas imagens e textos, descrevo com eles os momentos e lugares inesquecíveis pelos quais passei. Foi uma viagem transformadora. Um encontro. Um renascer.
Uruguay #1: La Paloma #2: Punta Ballena Punta del Este #3: La Pedrera #4: Punta del Diablo #5: Montevideo Argentina #6: Buenos Aires #7: Bariloche #8: El Chalten #9: Ushuaia Chile #10: Torres del Paine #11: Isla ChiloĂŠ #12: Frutillar #13: Pucon #14: ValparaĂso #15: Punta de Choros
#1: LA PALOMA, URUGUAY No dia que cheguei em La Paloma aconteceu uma tromba marina, um tipo de tornado que acontece no mar. Cheguei junto com uma garoa, que se transformou em chuva forte e muito vento. Mas depois disso, como explica uma expressão daqui, “siempre que llovió, paró”, vieram dias tranquilos e ensolarados. La Paloma fora de temporada é sinônimo de ruas desertas e tranquilidade. A maioria das casas é de veraneio e estão todas fechadas, com aquelas placas na fachada do tipo “El sueño”, “La Luna”, “Diosimar” ou alguma mistura com Dios ou Mar. Isso porque aqui se vive basicamente do turismo, que os moradores estão lutando para que aumente e aconteça todo o ano. Agora, em novembro, só passam pela cidade mochileiros europeus e turistas de férias. Mas tudo muda quando janeiro chega. Por aqui existe um pouco de pesca (aliás, a cidade começou a partir dessa atividade) e trabalho no campo também, mas no mais, as pessoas têm que ir a Rocha, uma cidade vizinha, para trabalhar.
É curioso que aqui, mesmo sendo uma cidade de mar, raramente se come peixe, mas sim carne todos os dias. A carne é barata e por sorte pude provar os deliciosos asados uruguaios. Em La Paloma os carros ficam abertos na rua e as portas e janelas das casas também. A maioria cachorros são criados soltos, tem suas casas, mas são livres para ir á rua ou a praia quando quiserem. Aqui me senti segura. A cidade é dividida em cidade velha e cidade nova e o centro é formado por uma única avenida, onde está a maioria dos comércios. Nessa avenida está também o único edifício da cidade. A parte velha se formou próximo do Faro de Santa Maria, enorme e imponente, que pode ser visto de vários pontos da cidade. Também é possível subir até o topo e ter uma vista panorâmica da pequena La Paloma, suas ruas tranquilas, praias, porto e toda a calma que existe aqui. Com o passar dos dias percebi que a cidade se movimenta no fim da tarde e muitas pessoas vão para a praia, admirar o por do sol. O sol pinta tudo de dourado e desaparece no mar e o céu vai mudando de cor. Rosa, laranja, vermelho, roxo. Então a noite chega e as ruas ficam frias e vazias de novo.
ruas tranquilas de La Paloma
El Faro de Santa Maria
vista del Faro de Santa Maria
apรณs o por do sol, na Playa del Faro
#2: PUNTA BALLENA E PUNTA DEL ESTE, URUGUAY Punta Ballena e Punta del Este são uns dos principais destinos turísticos do Uruguay no período de alta estação. Punta Ballena tem casas imensas, chiques e sem muro. Ruas cheias de verde e jardins bem cuidados. Aqui é praticamente necessário ter um carro, ao contrário, se caminha muito para ir a qualquer lugar. Em seu pequeno centro, com mercados, farmácia e alguns restaurantes, tudo é praticamente o dobro do que é cobrado em outros lugares. Na primeira vez que fui a praia, era início da tarde uma segundafeira. Eu esperava um lugar só pra mim, como estava acostumada em La Paloma, e assustei quando vi a praia cheia, famílias inteiras com seus cachorros, livros e mates. Era o começo da temporada e as pessoas estavam chegando. Em Punta del Este existem mais opções de tudo. Praticamente todas as ruas do centro são compostas por lojas de roupas de marca, restaurantes de todos os tipos, casinos, galerias de arte, bares e boliches, como são chamadas as baladas daqui.
Por todos os lados se veem letreiros luminosos, propagandas, edifícios super altos e espelhados, hotéis com fontes gigantescas e academias em que as pessoas fazem exercício olhando para o mar. O pequeno porto está repleto de veleiros e iates com bandeiras de todo o mundo. É possível caminhar por tudo isso a pé, mas carros caríssimos passam a todo momento pela rambla. Punta de Este é ostentação. Por ser começo de temporada, senti a energia dos preparativos e da ansiedade que corre por todos os lados, á espera das pessoas que chegariam em alguns dias, do preparo para meses de trabalho sem descanso. Nesse período, é preciso dar o máximo e ganhar dinheiro pra se manter durante todo o inverno daqui, gelado e solitário, ou pra fugir dele, viajando pra outros lugares. Há gente daqui, há gente de outras cidades ou departamentos, há estrangeiros também. Todos na mesma onda. Fiquei quinze dias em Punta Ballena e três dias em Punta del Este. Nesses dois lugares enxerguei e conheci além da parte turística, das famosas La Mano e Casa Pueblo, além das lojas caras e casinos.
Peguei carona e fui pra lugares escondidos, aprendi a fazer pizza, peguei lenha pra esquentar a água para o banho, conheci e dancei muita cumbia e candombe, fiz amigos importantes, que encheram o meu coração de alegria e me fizeram querer ficar mais. Mas a viagem continua e partir também é necessário.
Playa Portezuelo, Punta Ballena
crianรงa brinca na Playa Portezuelo, Punta Ballena
Playa de Portezuelo, Punta Ballena
Northern Magic, veleiro encalhado em Punta del Este
prĂŠdios e casas de Punta del Este
quase pĂ´r do sol, no Porto de Punta del Este
#3: LA PEDRERA, URUGUAY Menor e mais roots, La Pedreira é vizinha de La Paloma, a primeira cidade que morei no Uruguay. Fui pra lá passar os meus dias livres, porque tem uma unidade do mesmo hostel em que trabalhei em Montevideo. A cidade é rodeada por bosques e a maioria das ruas são de terra. Eu me perdia caminhando por elas no final de tarde, quando os últimos raios de sol brilhavam por ali. Como toda cidade pequena, existe uma avenida principal, que aqui se chama Avenida Principal, e que concentra todos os comércios. Chegando ao final dessa avenida, existe uma vista tão linda e impactante do mar, seus tons de azul e das pedras. Esse é o cartão postal da cidade e de onde vem a origem do seu nome. De cada lado dessa pedra estão as praias. A esquerda está a Playa del Desplayado, onde quase não há ondas e se caminha muito pela água que insiste em não passar do joelho.
À direita está a Playa del Barco, minha preferida. Praia de tombo, com ondas grandes, mas com períodos de calma, pra você relaxar também. Desse lado também acontece o por do sol e está a carcaça do barco Cathay, naufragado em 1977, o que deixa tudo por ali mais bonito e diferente. Dali, bem longe, se enxerga La Paloma, seu farol e o único prédio da cidade. La Pedrera é tão pequeno que é impossível sair para caminhar e não encontrar com alguém conhecido, principalmente vivendo num hostel. Passei o Natal ali e, diferente do que estou acostumada, não havia família nem ceia. O hostel estava lotado e o clima era de muita festa, música e bebida. Fizemos um asado, bebemos, dançamos e fomos pra avenida principal onde haviam alguns bares. No outro dia não havia almoço com o que sobrou da ceia, mas sim ressaca e chuva.
ruas de terra no fim de tarde
no fim da Avenida Principal, o mar e as pedras de La Pedrera
surfistas na Playa del Barco e, de longe, La Paloma
depois da chuva, fim de tarde na Playa del Barco
#4: PUNTA DEL DIABLO, URUGUAY Quando estava em La Paloma, a primeira cidade que vivi na minha viagem, fui passar um dos meus dias livres em Punta de Diablo. De primeira, não gostei muito da cidade, o mar tinha uma cor estranha, meio marrom, havia muito vento e era impossível entrar na água, geladíssima. Porém também foi um dia bom, tudo sempre tem um lado bom. Bebendo uma cerveja na praia fiz um amigo, daquelas pessoas positivas que te incentivam e acreditam em você. E voltei pra casa feliz no final do dia. Agora, na virada do ano, voltei para ficar alguns dias. E a energia da cidade foi tão boa, leve e de festa, que Punta del Diablo agora é o meu lugar preferido no Uruguay. Foi importante poder voltar e redescobrir o mesmo lugar. Cheguei em Punta del Diablo no último dia do ano. Estava em Montevideo e a cidade estava vazia. Nessa época todos se vão para a praia e eu fui também. Cheguei com uma neblina que tomava toda a cidade e dava a sensação de estar em um filme. Era encantador.
Passei a virada do ano numa festa linda, com amigos, asado, cumbia, reggaeton e amanhecer nas dunas da Playa de la Viuda. Voltei pro hostel cheia de areia e felicidade, que continuou por todos os dias que estive ali. Reencontrei pessoas e desencontrei com outras, conheci mais gente. Aliás, a cidade estava lotada, não havia mais vaga no hostel, mas havia uma onda de celebração, que fazia com que tudo ficasse bem. Descansei e festejei. Fui à praia. Tomei muito sol e muita chuva. Caminhei pelo centro cheio de artesanatos, hippies, restaurantes e lojas de lembranças. Fui embora com vontade de ficar e, agora, escrevendo sobre esses dias, sinto saudade e gratidão por tudo. Meu ano começou da melhor maneira.
edifĂcio abandonado
neblina no Ăşltimo dia do ano
crianรงa nas dunas da Playa de la Viuda
gaivotas na Playa de los Pescadores
#5: MONTEVIDEO, URUGUAY Eu vivi pouco de Montevideo. Não fui aos museus, aos parques. Não almocei no Mercado del Puerto e passei bem rápido pela Ciudad Vieja. Também corri da tumultuada 18 de Julio, principal avenida da cidade. Não por falta de interesse, um pouco por falta de tempo, e muito por querer aproveitar outras coisas. Trabalhei num hostel incrível, uma casa antiga, laranja e azul no bairro de Palermo, onde me senti tão bem que me emocionei ao me despedir. Ali me senti parte de uma família. Fazia muito calor e, no meu tempo livre, geralmente ia para as Playas Ramirez ou de Pocitos, que ficavam próximas, ou caminhava pela Rambla, avenida que bordea o Río de La Plata. Na Rambla, perto do Parque Rodó, vi um pôr do sol de cinema, daqueles que parecem mentira. Um pequeno barco passava lentamente em frente ao sol, no momento em que entrava no rio iluminado. Depois a noite veio, mudando as cores do céu. Essa era a minha vibe no momento e o que eu queria fazer ali.
No mesmo período, também intercalei a minha estadia entre La Pedrera e Punta Del Diablo, onde há outras unidades do mesmo hostel. Onde também passei por dias lindos. Montevideo é cidade grande com cara de cidade pequena. Tudo é calmo e a vida parece caminhar em outro ritmo. Tudo é mais lento, mais sossegado. Palermo, onde fica o hostel, é um bairro e calmo, de casa antigas com pé direito alto e portas e janelas grandes, com muitas árvores e gente que te cumprimenta quando cruza na calçada. É um bairro com uma importância histórica e uma carga cultural muito grande. Nele se concentra a população afro-uruguaya, responsável pelo nascimento do candombe, ritmo tocado com tambores e que dá vida ao Carnaval, a maior festa da cidade. As llamadas, que são os desfiles dos grupos de candombe, começam na rua Isla del Flores nos fins de tarde dos finais de semana e feriados. No Dia de Reis fui conhecer e me encantei com a vibração dos tambores que tocam sem descanso, com a alegria que flui pelas ruas.
Enquanto assistia, um garoto me ensinou que tapando os ouvidos, se pode escutar o candombe com o coração. É uma energia especial. Eu precisava de mais dias pra aproveitar o que faltou, mas também precisava partir. Montevideo tem tanto pra oferecer, mas sinto falta principalmente das pessoas, dos amigos que fiz por lá. Isso também é uma desculpa pra voltar. E volto, certeza que sim!
casas de Palermo e o Compay Hostel
Playa de Pocitos
llamada de candombe na rua Isla de Flores
moradora assiste รกs llamadas de candombe
RĂo de La Plata, visto da Rambla
#6: BUENOS AIRES, ARGENTINA Buenos Aires te testa e te engole, como se você precisasse provar se merece ficar ou partir. E nesse jogo você aprende a viver, percebe se odeia ou se apaixona pela cidade. No primeiro dia, assim que saí do porto, procurava pelo ponto do ônibus pra ir para a casa que eu ia trabalhar e fui recebida por um temporal, daqueles que deixam o céu negro e em minutos a chuva cai, toda de uma vez. Parei no ponto mais próximo e antes que pudesse colocar minha capa de chuva, um carro passou pela enxurrada e me molhou dos pés à cabeça. Outros carros e ônibus repetiram essa gentileza e foi água, água e mais água. Decidi pegar um taxi, mas todos que passavam estavam ocupados, e continuei por ali, molhada até a alma, até que finalmente um parou e eu entrei, exausta. A casa não era longe e não podia ser diferente, assim que desci do táxi, a chuva parou e o sol apareceu de novo. Mayrita, bem vinda á Buenos Aires.
Buenos Aires é cidade grande e tem uma arquitetura incrível, prédios altos, muitos parques, praças, museus e estátuas por todos os lados. Mesmo no verão, quando todos estão de férias, há muita gente, ruas lotadas, trânsito. E o calor de janeiro é intenso. Por outro lado, falta pôr do sol. A cidade foi construída de costas para o mar e só se vê a claridade indo embora e a noite que chega de repente. Por sorte tenho amigos na cidade e foi tão bom reencontrar gente próxima, matar um pouco da saudade do que é conhecido e falar português. A cidade também me fez reencontrar com amigos do começo da viagem, desencontrar com amigos antigos e me deu amigos novos. Recebi muito carinho. Fiquei hospedada em uma casa em La Boca, onde trabalhei com pintura e restauração de móveis. O bairro tem esse nome porque era a porta de entrada da cidade pelo Río Riachuelo, por causa do porto. Aí chegaram e permaneceram muitos imigrantes que fizeram suas casas de chapas e madeira e as pintavam com as tintas que sobravam dos barcos. Por isso há tanta cor e a arquitetura é tão particular.
O bairro se transforma pouco a pouco em um reduto de artes. Muitos artistas e músicos vivem por ali e agora galerias, teatros, centros culturais e museus estão aparecendo. Os turísticos Caminito e o estádio La Bombonera já trazem muita gente ao bairro, principalmente nos fins de semana. La Boca é lugar de gente simples e se anda pela rua. As calçadas são quase todas elevadas e difíceis de caminhar, porque antigamente as ruas e casas costumavam alagar. Nessas calçadas as famílias ficam até tarde, charlando e tomando mate, brincando com as crianças, passeando com o cachorro. E sempre há alguém com a camisa azul e amarela: Boca Juniors é uma paixão. Depois de um mês vivendo em Buenos Aires, posso dizer que aquele temporal do primeiro dia serviu para despertar um sentimento bom pela cidade. Vivi momentos lindos nesse lugar, surgiram oportunidades e haverão reencontros. Hasta luego!
esquina linda de La Boca. mistura entre edifĂcios antigos e arte de rua
La Boca e o RÃo Riachuelo
casa de chapa, caracterĂstica do bairro
as cores azul e amarelo, do time Boca Juniors, estĂŁo presentes em toda parte
o turĂstico El Caminito
em La Boca, a rua é espaço para distração
#7: BARILOCHE, ARGENTINA Assim que se chega a Bariloche, a primeira vista das montanhas e a cor azulada da água do lago Nauhel Huapi impressionam. A cidade foi construída principalmente num dos lados desse lago. A avenida principal segue o seu entorno e ali se pode ter acesso as lindas praias ou se dirigir aos cerros e, no final da subida, peder ainda mais o fôlego com a beleza da cidade vista do alto, seus diferentes tons de azul e verde. Nessa avenida, pedi carona pela primeira vez. Os ônibus da cidade estavam de paro ou greve e demoravam muito para passar, ou passavam lotados e nem paravam. Hacer dedo foi a melhor opção pra se locomover. Depois de sair de uma cidade tão grande e barulhenta como Buenos Aires, foi lindo me reencontrar com a natureza. Me encantava passar os finais de tarde nas praias e sentir o calor dos últimos raios de sol no rosto, ouvir o barulho da água tocando as pedras, observar um veleiro passando bem longe, sentir a delicadeza de todo tipo de vida que existe. Abelhas, borboletas, pássaros, lagartos. Tudo é tão perfeito.
Fui recebida por amigos de amigos de amigos. Quando se viaja, uma grande rede de conexões se cria e as pessoas sempre estão dispostas a ajudar. Há sempre uma troca muito grande de experiências e conhecimento. Cozinhamos, bebemos, caminhamos, experimentamos. No dia em que cheguei ajudei a plantar uma margarida que havia sido rejeitada e ia para o lixo, numa noite fiz feijoada, alguns dias depois estava fazendo acroyoga! Num fim de semana fizemos uma trilha noturna até a Playa Muñoz. Caminhar pelas montanhas a noite com a lua cheia nos iluminando me fez entrar nos meus pensamentos, e quando percebi havia voltado muito tempo na minha memória, muitos anos. É lindo ver o passado, o quanto se viveu, mudou, cresceu; comparar ao presente e perceber que o futuro é tão incerto. No fim da trilha fizemos um fogo para comer e nos aquecer. Havia uma mistura de cansaço e felicidade. Eu nunca havia caminhado a noite, foi uma aventura. E no outro dia, ao sair da barraca, a vista da praia com águas transparentes era tão linda que só se podia sorrir.
vista do Cerro Campanรกrio
Cerro Otto, ao final de uma das ruas da cidade
homem pescando na Playa MuĂąoz
Roseo, nas águas da Bahía de Los Troncos
águas transparentes da Playa Muñoz
fim de tarde no Lago GutiĂŠrrez
#8: EL CHALTEN, ARGENTINA Cheguei a El Chalten depois de três dias de carona. Foram mais de 1.500 km de estrada, cinco carros diferentes, dois dias em um caminhão amarelo, espera no frio, vento e chuva no meio do nada. Mas foi incrível. Eu sempre tive um pouco de receio de hacer dedo. Já havia feito em percursos curtos dentro de uma mesma cidade, mas nunca da maneira que fiz. Estar sozinha, ser mulher, tantas histórias que se escuta por aí. Mas conheci pessoas que me encorajaram e finalmente tentei. E deu tudo certo! Sempre que entrava em um carro contava a minha história e conhecia as histórias das pessoas também, tanta vida, tantos sonhos e expectativas. É algo lindo e engrandecedor. A cidade é linda, pequena, construída em meio a montanhas e em dias sem nuvens, se pode ver uma parte de Glaciar Fitz Roy ao fundo, deixando tudo ainda mais bonito. A cidade aproveita bem o turismo que dura o ano todo. San Martín, a avenida principal, é repleta de restaurantes, hotéis, cafés, lojas de turismo e lembranças.
Mas mesmo assim, há um charme de cidade de interior, onde as coisas chegam um pouco depois, onde a vida corre mais devagar. Me hospedei na Casa de Ciclistas El Charito, projeto emocionante de Florencia, que por muitos anos abriu a casa para os ciclistas viajeiros que não tinham onde ficar. Agora cobra pouquinho, porque a casa precisa de reparos. E em toda parte do lugar se observam demonstrações de agradecimento. A Florencia te trata com alguém da família e as pessoas passam por lá e escrevem até nas pareces e deixando as marcas de carinho. Em El Chalten há trilhas impresionantes, em que se caminha por horas, com os pés doloridos, frio e um vento que quase te leva. Em determinadas partes da trilha, como a que leva ao Fitz Roy, sobese em 1 km o equivalente a um prédio de mais de 100 andares. É pesado. E como sempre ao final sempre se chega a uma paisagem impressionante, de montanhas, glaciares, neve, lagoas de água azul turquesa, e mais uma vez, me percebi sozinha em meio a tanta natureza, mas feliz e agradecida. El Chalten ganhou o meu coração e me fez querer ter uma barraca. Aproveitaria muito mais se tivesse uma. Ali fiquei por quatro dias, fui embora mas deixei um pedacinho do meu coração.
El Chalten, construĂda em meio as montanhas
caminho sentido Fitz Roy
Fitz Roy
caminho para La Loma del Pliegue Tumbado
La Loma del Pliegue Tumbado
outro viajante pelo caminho
#9: USHUAIA, ARGENTINA Conhecida como o fim do mundo ou mais austral, Ushuaia é a cidade argentina mais ao sul, sendo assim, a mais próxima da Antártida. A cidade começou como uma colônia penal. Presos reincidentes eram trazidos e exerciam diversos tipos de trabalho, o que ajudou a construir e ampliar o lugar. E hoje, além do charme das casas e ruas tranquilas, Ushuaia também tem praias lindas, parques, pinguineiras, glaciares, cerros e lagos. O tempo é uma loucura. No verão, no mesmo dia, podem acontecer todos os tipos de clima: sol, chuva, vento, frio, neve. É o chamado microclima. E no inverno, fica tudo branco. Dizem que é triste. Dizem que a taxa de suicidio na região é alta por isso. As pessoas não podem sair de casa por semanas por causa da neve. Alcoolismo e depressão. Mas também dizem que é impressionante. Cheguei mais uma vez de carona e, no meio do caminho, durante a travessia numa barca, fiz um amigo de estrada que virou companhia de caminhada e acampamento.
Sim, agora eu tenho uma barraca. Antes de ir pra Ushuaia, passei numa cidade chamada Punta Arenas, onde há uma zona franca e comprei! Nesse acampamento, no Parque Nacional Tierra Del Fuego, o mais lindo que já acampei, selvagem, rodeado de lagos e montanhas, também fiz outros amigos. Rimos, compartilhamos, nos ajudamos. Caminhamos na chuva, na lama, caímos, nos levantamos. No fim do mundo passei o meu carnaval. Em alguns momentos observava os meus amigos comemorando, cheios fantasias, alegria e purpurina. Deu saudade do calor, do meu lugar, da minha gente. Mas o que estou vivendo nessa viagem é intenso e lindo, meu coração vibra como os tambores, há um bloco de carnaval dentro de mim.
a cidade vista do Glaciar Martial
BahĂa de Ushuaia
mirador do Glaciar Martial
caminho para o Cerro Guanaco
Cerro Guanaco
#10: TORRES DEL PAINE, CHILE O Chile sempre teve um lugar especial no meu coração desde uma viagem que fiz em 2015. Nessa viagem, que foi tão importante pra mim, num momento bem complicado da minha vida, conheci o norte do país e algumas outras cidades. O sul, no entanto, ficou de fora. Não havia tempo nem dinheiro para tanto. E ficou uma vontade grande de voltar e conhecer o que faltou. A expectativa foi aumentando aos poucos, por relatos de amigos que já haviam conhecido e pelo que contavam os amigos que fui conhecendo durante essa viagem. Eu já sentia que seria lindo, difícil e inesquecível. A parte difícil seria particularmente pelo frio, que nunca gostei muito e sabia que seria pesado, também pelas longas caminhadas que me esperavam, seguramente mais difíceis do que as que já havia feito. E, por estar sempre me movendo no último mês, com pouca internet, não consegui pesquisar muito, não me programei em nada e cheguei ao lugar que tanto esperei um pouco perdida.
Cruzei a fronteira e cheguei em Puerto Natales no fim de uma tarde bem chuvosa, num carro com um senhor e três senhorinhas fofas, com as bolsas cheias de cigarros que haviam comprado na Argentina. A cidade, mesmo com chuva, demonstrava um clima tranquilo, como todo lugar pequeno. Depois, nos outros dias, caminhando um pouco mais, conheci mais da beleza do lugar e das pessoas. O entardecer colorido á beira do rio, as casas simples de madeira e jardins floridos, gente na praça, vizinhos conversando na calçada. A beleza do cotidiano, da simplicidade. Mais uma vez, com a ajuda de um amigo e essa rede de amigos que se forma quando se viaja, fiquei hospedada na casa de uma família incrível, cheia de bondade, vontade de compartilhar e amor ao próximo. Mais uma vez tive sorte. Eles me ajudaram com todas as dicas que precisava para conhecer e aproveitar a cidade e, principalmente o Parque Nacional Torres del Paine. Eu queria fazer o circuito W, são quatro dias de trekking, carregando mochila com comida, fogareiro, barraca, saco de dormir e tudo mais.
Mas a primeira informação que tive sobre essa caminhada foi a necessidade de agendar todos os campings em que iria pernoitar e que era preciso fazer isso com antecedência, pois a concorrência era grande. De fato, só consegui reservar um camping dos quatro que precisava e meu plano de fazer o circuito W foi por água abaixo. O plano B, então, era passar dois dias no parque e voltar. Saí em direção ao terminal de ônibus e os primeiros raios de sol começavam a sair. Fazia frio e eu me sentia ansiosa. Quase não havia dormido na noite anterior. Amanheceu um dia lindo e, após montar a barraca, iniciei a primeira caminhada pelo parque. E como a vida é cheia de surpresas, encontrei uma amiga no meio do caminho. Juliana. Foi tão bom ter alguém conhecido por perto, falar português, relembrar e falar da vida, das experiências, das novidades. Caminhamos juntas e chegamos às incríveis Torres del Paine e, pra deixar tudo mais perfeito, praticamente não haviam nuvens e o cartão postal do parque estava visível, imponente e deslumbrante.
Durante esse dia, fui encorajada várias vezes a arriscar e fazer o circuito W mesmo sem reserva dos campings, afinal eu já estava ali e não tinha ideia que quando poderia voltar. Despertei no outro dia, abri a minha barraca e havia mais um dia incrível. Eu não queria voltar. Decidi finalmente fazer o circuito completo e segui para o próximo camping. Cheguei até o final. Consegui lugar nos outros campings com pensamento positivo e humildade. As pessoas boas estão em toda parte. Nesses quatro dias, testei meus limites em tantos sentidos. No total foram 71 quilômetros de caminhada, subidas e descidas, muitas vezes com a mochila pesada. Passei frio, calor, caminhei na chuva, com vento, com sol. Tive que me reorganizar em relação à comida e comer um pouco menos para ter o suficiente pra todos os dias. Senti dor e cansaço como nunca havia sentido. Dormia sem saber se teria ânimo para continuar no dia seguinte. Quando despertava, a vontade de chegar até o final e a certeza que conheceria lugares inesquecíveis me davam força e eu seguia.
As pessoas que ia conhecendo no caminho e nos campings me incentivavam. Era um incentivo mútuo. E, como o mundo é uma roda gigante, também encontrei com mais pessoas que havia conhecido em outras cidades. No terceiro dia, depois de caminhar por toda a manhã, precisava deixar um camping e seguir para outro. Demorei muito para desarmar a barraca e comer algo e iniciei a trilha no final da tarde. Teria luz do sol até cerca das 22h, então segui tranquila. Mas, justamente pelo horário, não havia ninguém pelo caminho. Durante todo o percurso cruzei com duas pessoas. Por isso os animais começavam a aparecer. Haviam muitos coelhos e, no meio da trilha, vi um deles morto, em pedaços. Seguramente havia sido um puma e o medo de encontrar com ele tomou conta de mim. Segui ainda mais rápido, praticamente correndo. O peso da mochila aumentava a cada passo, mas eu não queria parar. Pensei em tanta coisa, rezei tanto para o meu anjo da guarda e me senti tão aliviada quando avistei de longe o camping que ia passar a última noite. Não encontrei com o puma. Estava segura agora.
No dia seguinte caminhei o dia todo na chuva para ir até o Glaciar Gray. Retornei ao camping, arrumei as minhas coisas e segui ao barco que me levaria à saída do parque. Estava exausta e com uma sensação incrível por ter chegado ao final, por ter conseguido fazer o circuito W. Já no ônibus, ainda dentro do parque, voltando para Puerto Natales, sinto-o freando e parando. As pessoas se levantam e sacam as câmeras. Eu olho para o lado de fora e um puma nos observava.
caminho para as Torres del Paine
um guanaco pelo caminho
Torres del Paine
Lago Nordenskjรถld e suas รกguas cor de esmeralda
Mirador Britรกnico
Mirador Britรกnico
Paine Grande e Lago Skottsberg
Glaciar Gray
#11: ISLA CHILOÉ, CHILE Chiloé é uma ilha cheia de histórias, mitos e crenças. Para chegar lá tomei um ônibus de mais de trinta horas. Estava tão cansada depois de Torres del Paine que optei por não hacer dedo. O ônibus saiu de Punta Arenas e, por não haver caminho por terra no Chile, é necessário ir à Argentina e depois voltar. Amanheci observando e sentindo as curvas da Cordilheira. Do lado de fora tudo era branco. Havia muita neve. Tanta beleza. Depois, em Puerto Montt, troquei de ônibus e peguei uma barca. E assim finalmente cheguei a Chiloé. Em Castro, capital da ilha, um casal de amigos me esperava. Na casa deles tive uma espécie de reencontro com a minha infância e com o que eu planejei pra mim por um tempo. Lembrei da época que eu era criança e passava os fins de semana na casa dos meus avós. Comer fruta no pé, que delícia! Por toda a parte havia amoras e maçãs. Comida à lenha, bebida, violão, família, mais amigos e conversas longas sobre a vida e outras coisas.
Crianças brincando no chão, gato, cachorro, filhotes de cachorro, porco, vaca, cavalo, ovelha de estimação. Caminhei muito por estrada de terra, cortando caminho pelo terreno do vizinho, acompanhada pelos cachorros que vão aparecendo pelo caminho. Foi interessante observar o movimento de sobe e desce das marés, que transformavam a mesma paisagem num instante. Que vida linda! Me senti, de alguma forma, mais próxima do meu lugar. Até hoje a Isla Chiloé mantém muitas histórias e mitos antigos e, de fato, parece que o tempo parou um pouco por ali. Essa mitologia vem se formando há muito tempo, a partir dos povos povos indígenas, e foi passando de geração em geração. Histórias emocionantes de lutas entre seres, de lugares sagrados e rituais, de coisas do mar, de proteção e sabedoria. Chiloé é formada por várias ilhas, onde são construídas casas multicoloridas de palafitas á beira da água, e que as vezes, pela maré, podem mudar de lugar. Existem coisas que só existem lá. Há comidas deliciosas e diferentes como o alho chilote.
Um passeio pelo mercado central é uma mistura linda de cores e sabores. Ali perto, na Chichería, provei a chicha, bebida fermentada tradicional da ilha, feita a base de maçã. Pescadores, marisqueiros, gente simpática e alegre estava lá, felizes por compartir. Realmente vivi dias de alegria nessa ilha. Realmente necessitava de dias tranquilos depois de Torres del Paine. De novo, me senti pronta pra arrumar a mochila e voltar para a estrada.
Castro, capital de ChiloĂŠ
maçãs por toda parte
cortando o caminho para Castro
casas de palafitas
palafitas
pescador na marĂŠ alta
marĂŠ baixa no fim de tarde
#12: FRUTILLAR, CHILE Frutillar é uma cidadezinha tranquila e bem cuidada, construída as margens do Lago Llanquihue de onde se avistam os vulcões Osorno e Calbuco e o Cerro Tronador. Uma vista incrível formada por tons de azul e branco. Colonizada por alemães, está cheia de casas e restaurantes no estilo e comidas com esses nomes estranhos cheios de consoantes. Fui parar nessa cidade por indicação de algumas pessoas que conheci pelo caminho. Por ser linda e tranquila, mais barata e não tão turística. Já seguindo para o norte, o clima é mais quente. Foi bom sentir o calor e o sol na pele, molhar os pés, não estar coberta de roupa e sentindo frio o tempo inteiro. Senti muita falta disso nos últimos meses. Acampei em uma fazenda, cheia de animais. Vacas, patos, aves. Haviam muitas frutas também. Ali se chegava por estrada de terra, que me afastava um pouco do pequeno centro da cidade.
Ali completei meus 4 meses de viagem e a noite ganhei um cÊu estrelado. Deitei na minha barraca com a cabeça para fora e contemplei aquela beleza por um bom tempo. Observei estrelas cadentes. Adormeci feliz.
um senhor contempla os vulcĂľes Osorno, Calbuco e o Cerro Tronador
homem nada no Lago Llanquihue
homem caminha pela praia
cĂŠu estralado, visto da minha barraca
#13: PUCON, CHILE A primeira coisa que me chamou a atenção em Pucon foi o vulcão Villarrica, que fica próximo da cidade e pode ser visto em quase toda parte dela. O Villarrica é considerado um dos vulcões mais ativos do Chile e, desde a última vez que entrou em erupção, em 2015, quase sempre é possível observar uma fumaça saindo do topo dele. Ter um vulcão ativo tão perto foi impressionante e amedrontador ao mesmo tempo. Pucon aproveita bem o seu turismo que dura todo o ano. No verão há lagos, parques, cachoeiras, termas, esportes aquáticos, etc. No inverno há neve e a todos se divertem na estação de esqui. Apesar de ser bem turística, a cidade é muito calma e organizada e, quando se afasta um pouco do centro, sente-se um ar de interior com as casas no campo e estradas de terra. Pucon também é uma cidade universitária e muita gente se muda pra lá pra estudar turismo, especializando-se em mergulho, montanha ou caiaque.
Havia calor do fim do verão e eu nadei nas águas do lago Caburgua. Havia saudade de caminhar e fui fazer uma das trilhas do Parque Huerquehue, repleto de araucárias milenarias. Outra coisa que me chamou a atenção foi a quantidade e o preço dos passeios. Há muita coisa para ver e conhecer por ali e há opções bem caras. Mas também há lugares incríveis que não se paga e que pouca gente conhece. E esses sempre são os melhores. Por isso me encanta fazer couchsurfing. Além da troca enorme de cultura, geralmente o seu host te indica os lugares que realmente valem a pena serem visitados. E há coisas que são simples e tem muito valor. Companhia num fim de tarde em frente ao lago, numa cachoeira escondida, um jogo de futebol no bar com os amigos.
VulcĂŁo Villarrica
Laguna Verde do Parque Huerquehue
araucรกrias do Parque Huerquehue
Salto El Claro, cachoeira escondida e sua queda impressionante
VulcĂŁo Villarrica, visto do Parque Huerquehue
#14: VALPARAÍSO, CHILE Estive em Valparaíso em uma outra viagem que fiz a Chile, no final de 2015. Na época, passei um só dia na cidade e foi o bastante pra me apaixonar e prometer pra mim mesma que iria voltar. Antes de sair de casa, uma das certezas dessa minha viagem é que viveria aqui por um tempo. Queria conhecer mais, caminhar mais por essas ruas coloridas que parecem labirintos, por essas escadas sem fim, com casas antigas que são construídas umas sobre as outras, de uma forma tão criativa e linda. Há algo diferente nessa cidade. Um clima de desordem, mas onde tudo se encaixa. Lugares de paz e caos, natureza e cimento, descanso e muita festa. Voltei. Passei duas semanas na cidade, trabalhando num hotel em construção, feito com contêineres, com uma vista incrível. Foi um trabalho duro e prazeroso. Pintei, trabalhei com madeira, reboquei e lixei paredes. Aprendi muito. Durante esse tempo, foi interessante passar pelos mesmos lugares lugares com mais calma, entender que a cidade muda e se
transforma e, ao mesmo tempo continua a mesma. Foi uma mistura de saudosismo e conhecimento do novo. Valparaíso é formada por morros ou cerros e eu fiquei no Cerro Mariposa. Quando o sobe e desce pelas ruas e escadas sem fim fica pesado e é necessário parar um pouquinho para descansar, é só olhar para o horizonte. A vista e o cheiro do mar hipnotiza. Toda essa grandeza do Pacífico e suas águas geladas, a rotina do porto, seu barcos enormes se movimentando como algo que não termina. Às vezes despertava durante a madrugada, dentro do meu quarto contêiner, e contemplava a cidade e suas luzes, onde tudo era mais calmo. Lá embaixo, no centro, o movimento é de pessoas, lojas e camelôs que vendem de tudo. Eu estava de volta à intensidade de uma cidade relativamente grande, depois de passar meses em meio á natureza, e senti esse choque. Por isso, nos meus dias de folga, fugi dos bares e da agitação da noite, um dos atrativos de Valparaíso. Acampei em Las Docas, uma praia distante e de uma beleza incrível. Mar, pedras, por do sol, lua e estrelas. Vinho, violão e boa companhia.
ValparaĂso, vista do Cerro Mariposa
casas antigas do centro
casas do Cerro Mariposa
barcos se movimentam sem parar pelo PacĂfico
Playa Las Docas
#15: PUNTA DE CHOROS, CHILE Ao norte de Chile, Punta de Choros é povoado pequeno, com casas simples. É aquele tipo de lugar em que todo mundo se conhece, com crianças brincando na rua e a vida que passa devagar. Aquele ar de cidade pequena que me encanta. O caminho para chegar até lá é desértico, areia, cactos, um carro ou outro que passa levantando uma nuvem de poeira. Talvez tenha sido um dos lugares mais complicados para pedir carona em toda a minha viagem. Porém, lugares assim, difíceis de chegar, sempre valem o esforço. Punta de Choros tem as praias mais linda que já conheci, com água azul turquesa, areia branca, conchas, ilhas. No muelle comprei peixes e mariscos fresquinhos diretamente com os pescadores, enquanto me divertia com a briga aérea das gaivotas pelos pedaços que são jogados a elas. Palometas, jaibas, locos. Conheci e provei os deliciosos peixes e mariscos do Pacífico.
Depois de alguns dias no continente, peguei minha barraca e fui para a Ilha Gaviota. Por ser fim de temporada, não havia praticamente ninguém lá. Nesse lugar também não mora ninguém, não há nenhuma casa. Caminhando pela ilha, entre muitas pedras e cactos, encontrei muitas coisas que por algum motivo vão parar lá. Roupas, óculos, cordas, bóias de embarcações. Coisas interessantes que o mar devolve. Ali vi o entardecer cor de rosa na companhia de um lobo marinho e a noite chegar trazendo um céu estrelado. Sem comunicação, água, luz, nada. Só a natureza e toda a sua beleza, conversas sobre a vida, música e fotografia.
deserto e mar
um barco de pescador na praia de areia branca
barcos de pescadores no muelle
pรกssaros no caminho para a Isla Gaviota
Lukas, companheiro de novas aventuras.
Muitas pessoas fizeram parte da minha viagem e contribuíram para que ela tenha sido como foi. Inesquecível e transformadora. Pessoas que eoncontrei pelo caminho e que compartilharam de um breve momento até días ou semanas. Amigos e família, que de longe também me acompanharam e sempre estiveram perto, em meu coração. A todos agradeço com todo o amor que há em mim e desejo que, nessas novas caminhadas, nos encontremos cada vez mais. Com amor, Mayra Biajante
janeiro de 2018
www.mayrabiajante.com