Gina damico croack 01 croak

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For Mom, Dad, and Lisa. In exchange for years upon years of supporting my nincompoopery, I offer you this simple, heartfelt dedication. Call it even?


Um Lex se perguntou, por um instante, o que a cabeça de seu diretor pareceria se fosse apunhalada por uma lança de madeira gigante. — Não consigo imaginar porque você está sorrindo, senhorita. — Sr. Truitt disse detrás de sua mesa, — mas posso lhe garantir que não há nada de engraçado nessa situação. Quantos de seus colegas precisam acabar na enfermaria até que você coloque nessa sua cabecinha que brigar nas dependências da escola é estritamente proibido? Lex bocejou e puxou o capuz de seu moletom preto ainda mais sobre seu rosto. — Pare com isso. — Sua mãe puxou o capuz para trás, revelando longos cabelos negros despenteados. — Você está sendo grosseira. — Eu estou em uma situação embaraçosa aqui. — o diretor continuou, passando uma mão pelo seu ralo cabelo gorduroso. — Eu não quero expulsar Lex. Eu sei que vocês são ótimos pais; Cordy é praticamente uma aluna exemplar! — Ele parou e olhou Lex por um momento para que isso fosse absorvido, na esperança de que talvez a travessa menina se sentisse culpada. O rosto dela, contudo, permaneceu sem expressão. — Mas quando se trata de Lex, eu não vejo outra opção, — ele prosseguiu, franzindo a testa. — Desculpe—me, mas a lista de marcas que os meus estudantes


tem sofrido nas mãos de sua filha cresce a cada semana. O braço do pobre Logan Hochspring vai carregar para sempre uma impressão dos dentes dela! — Você o mordeu? — disse o pai de Lex. — Ele me chamou de aspirante a vampira. — ela disse. — O que eu deveria fazer? — Ah, eu não sei, talvez não mordê—lo? Lex se isolou em seus pensamentos enquanto seus pais se lançavam, mais uma vez, na tradicional prática de implorar ao Sr. Truitt por apenas mais uma chance. Ela já havia ouvido aquilo tantas vezes que já era capaz até mesmo de imitar algumas partes, com um “Ela só está com problemas, sabe” regado com um monte de “Provavelmente, é só uma fase” e fechando, é claro, com o mais popular “Vai ser diferente desta vez, o senhor tem nossa palavra”. Lex enfiou um dedo pequeno em sua boca e vasculhou até encontrar um pequeno cabelo loiro. Ela o descartou com um breve estalo em seus dentes, enquanto a lembrança do choro assustado de dor de Logan Hochspring soava pelos seus ouvidos. — Muito bem. —Sr. Truitt finalmente disse, levantando—se. — Mais uma chance. Restando apenas uma semana de ano letivo, eu dificilmente posso explicar uma expulsão. — Ele apertou as mãos dos pais de Lex com sua mão gorda, então cumprimentou Lex com um sorriso. — Talvez um verão fora faça bem a você. Lex assobiou. Enquanto ela era puxada até o estacionamento, contudo, a despedida enigmática do diretor começou a incomodá—la. E algo no jeito que ele havia sorrido – como aquele sorriso que os médicos lançam às crianças antes de espetá—las vacinas de tétano – pareceu muito ameaçador. — O que ele quis dizer com um verão fora? — ela perguntou. — Eu sabia que você não estava escutando. — disse sua mãe. — Nós conversaremos sobre isso durante o jantar. — Mal posso esperar. — Lex disse enquanto seu pai a empurrava para banco traseiro, notando a maneira adorável com que ele tentava engatar a trava de segurança infantil sem que ela percebesse.

***


Lexington Bartleby, de dezesseis anos, tinha passado os últimos dois anos transformando sua vida de garota comportada e estudiosa na de uma vadia. Uma delinquente. Uma malandra perversa, por assim dizer. Para um olho destreinado, parecia que Lex estava somente muito entediada. Ela tinha começado a agir de todas as formas que um pacote frustrado de puberdade poderia: roubava coisas, falava palavrões como um pirata bêbado, e socava as pessoas. Muitas pessoas. Nerds, atletas, líderes de torcida, góticos, gays, héteros, negros, brancos, o aluno da cadeira de rodas – ninguém escapava. Seus colegas tinham que admirá—la por isso, pelo menos – Tiranossauro Lex, como eles a chamavam, era uma predadora igualitária. Mas algo nessa transformação não fazia muito sentido. Seus acessos de raiva eram causados por incômodos insignificantes, borbulhavam do nada, não importa o quanto ela tentasse resistir a eles. E pior ainda, eles pareciam ficar cada vez mais fortes com o passar do tempo. Ao final de seu primeiro ano do ensino médio, os palavrões já ecoavam em um volume ensurdecedor, e cada saco de pancadas humano já havia perdido ao menos um de seus pré—molares permanentes. Pais, professores e colegas de classe estavam frustrados com o péssimo comportamento desse monstro de capuz preto. Estes crimes hediondos simplesmente não combinavam com a brilhante e afável Lex que todo mundo havia conhecido e amado pelos últimos catorze anos. Até mesmo sua irmã gêmea, Concord, que a conhecia melhor que ninguém, não conseguia achar uma maneira de desvendar essa grande conspiração. Lex estava furiosa com algo, e ninguém sabia dizer o que era. Mas a verdade era que Lex também não sabia. Era como se sua mente tivesse sido infectada por uma doença traiçoeira, como os vírus desses filmes de zumbi, que transformam seres humanos decentes em maníacos sanguinários e desgrenhados que são incapazes de impedir a si mesmos de soltar sua ira na massa tristemente despreparada de pessoas. Ela só sentia raiva, o tempo todo, por absolutamente nada. E toda vez que ela tentava identificar a razão disso, não importa o quanto se esforçasse, ela nunca conseguia achar uma única explicação sequer.


*** A residência dos Bartleby era uma casa pequena e modesta, apertada em uma rua de um bairro lotado em Queens, Nova Iorque. Dava a impressão de que os planejadores da cidade, ao montarem a escassa pilha de madeira que um dia os Bartlebys chamariam de lar, simplesmente empurraram as casas vizinhas de cada lado, despejaram um caminhão de tábuas de assoalho e tubulação e fios elétricos no espaço vazio, e deixaram a natureza tomar seu curso. A sala de jantar ficava na parte de trás da casa, dando para um pequeno quintal que continha os seguintes itens: um balanço enferrujado, uma desbotada caixa de areia de plástico em formato de tartaruga, uma churrasqueira portátil ainda com crostas das sobras esquecidas dos churrascos do último verão, e a casa da árvore, antes tão amada, agora habitada por uma família de guaxinins. Lex olhou, através da porta de vidro deslizante, os restos de sua infância e se perguntou se os novos inquilinos da casa da árvore eram raivosos. Talvez ela pudesse treiná—los como seus servos. — Lex, — disse a Sra. Bartleby, despertando sua filha de suas fantasias maníacas, — seu pai e eu iremos falar com você. E você irá sentar aqui e escutar. Alguma pergunta? — Sim. — disse Lex. — Os sermões são realmente necessários dessa vez? — Pode apostar que sim. — Sua mãe apertou fortemente o emaranhado de cordas de pular em volta do corpo de Lex, ao mesmo tempo em que lutava para esconder sua tristeza. Sra. Bartleby, apesar de aparentar o oposto nos últimos tempos, amava seus filhos mais do que qualquer coisa no mundo. Cada nó que ela fazia na corda refletia um crescente caroço retorcido repuxando profundamente em suas entranhas. — Isso não é abuso infantil? — Cordy perguntou do outro lado da mesa, olhando sua irmã gêmea se contorcendo. — Ela não vai nos morder. — Talvez vá, quando começarmos a falar. Note a ausência de talheres também. Há uma boa razão para eu ter feito tacos esta noite.


Lex se remexeu mais um pouco, mas logo percebeu que as cordas estavam mais apertadas do que o normal. — Isso é loucura! — ela gritou, arrancando os nós. — Sério, que caral... — Lexington! — sua mãe apontou do outro lado da cozinha, onde havia um pote de picles cheio até a borda com notas de dólares. — Eu acho que eu não preciso lembrá—la de que você já está devendo quarenta e dois dólares. Você não pode mais sustentar seus palavrões, minha querida. — A Sra. Bartleby detestava palavrões, mas na verdade estava começando a desfrutar secretamente do pequeno estoque que a boca suja de sua filha tinha produzido. Ela estava pensando em usar a renda para comprar uma réplica em miniatura do canhão da Guerra Civil para sua classe da quinta série, já que a única coisa que a Sra. Bartleby amava mais do que suas filhas era a história da América e o espetacular armamento que ela havia produzido. — Podemos prosseguir com isso? — Sr. Bartleby disse. — O jogo começa em vinte minutos — Você e esse seu time infernal, honestamente... — ela começou, mas então fechou sua boca depois de receber um olhar áspero de seu marido, que frequentemente afirmava que, ninguém que fosse louco suficiente para colocar os nomes das primeiras batalhas da Revolução Americana em suas filhas, tinha o direito de acusar alguém de ser muito obcecado por algo. Sr. Bartleby respirou fundo e contemplou por trás da mesa sua pequena e amável família. Nuvens de tempestade estavam começando a se juntar no céu sombrio do lado de fora, adicionando habilmente a quantia certa de tristeza à situação. — Ok, Lex — ele começou, — é o seguinte. Você é nossa filha e nós amamos muito você. — Ele lançou um rápido olhar a sua esposa, como que para confirmar este fato. — Mas já chega. Eu não sei o que deu em você nos últimos dois anos, mas eu não gosto do que eu tenho visto, e eu definitivamente não gosto do rumo que isto está tomando. — Ele coçou seu cavanhaque, tentando pensar em como dizer o que ele deveria dizer depois. Sua careca lustrosa, raspada todas as manhãs, refletia o brilho opaco da luz da sala de jantar. Ele olhou impotente para sua filha, com olhos gentis e tristes. — Nós achamos – sua mãe e eu – que seria melhor para você se afastar por um tempo.


Lex arregalou os olhos. Cordy derrubou seu taco. — Aonde? — Lex disse, dobrando os esforços para se soltar. — Você está me expulsando de casa? A mãe de Lex sacudiu a cabeça. — Não, querida, é claro que não. Nós jamais colocaríamos você na rua. — Então o quê? O Sr. Bartleby olhou para sua esposa, depois para sua filha não amarrada, depois para cima, para o nada. Qualquer coisa para evitar o rosto contorcido e magoado de sua garotinha problemática. — Você vai para o norte com seu Tio Mort durante o verão. — ele contou ao teto. Lex, que um segundo antes estava completamente preparada para explodir em uma raiva violenta e tinha até começado a planejar um tipo de mergulho dramático através da janela de vidro, com a cadeira e tudo, ficou pela primeira vez muda de choque. A Sra. Bartleby colocou sua mão no ombro de Lex. — Eu sei que esta é uma decisão bem inusitada, mas nós achamos que alguns meses de ar fresco poderiam te fazer bem. Você pode entrar em contato com a natureza, dar uma mão na fazenda do Tio Mort, talvez até aprender algo! Você pode ordenhar uma vaca! Cordy soltou um ronco de deboche. — Ela provavelmente iria socar a vaca. — Nós já estamos pensando nisso há um tempo, e realmente acreditamos que é o melhor para todos no momento. — disse o Sr. Bartleby. — Vai ser só durante o verão, querida. Lex não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Eles estavam realmente fazendo aquilo. Eles a estavam expulsando. Mas eles eram seus pais! Lidar com as besteiras que ela fazia era o trabalho oficial deles – eles não podiam simplesmente se esquivar disso! Ela tentou engolir o caroço que se formava em sua garganta. Como eles podiam fazer isso com ela? Como eles podiam não olhar além da imprudência e dos espancamentos e lembrar—se da filha de verdade que eles haviam criado? Ela ainda estava lá em algum lugar, bem lá no fundo. Não estava? Quase como uma resposta para essa pergunta, a fúria inevitável brotou outra vez. Com um último puxão nos nós, Lex se levantou, atirou a corda


desembaraçada na mesa, e, consciente do quão malcriado isso pareceu, cuspiu a única coisa que seu temperamento perturbado poderia pensar. — Eu odeio você! Seu pai suspirou enquanto ela trovejava escada acima. — Eu sei.

*** Lex despencou em sua cama e encarou o teto. Ela desejou, como quase todas as crianças desejam vez ou outra, que ela pudesse se transformar em um pterodáctilo e voar para longe sem nunca mais voltar. Cordy cautelosamente se dirigiu para dentro do quarto que ela e sua irmã haviam dividido por todos os seus dezesseis anos juntas. Deve—se notar, contudo, que a simples palavra “quarto” não poderia de maneira nenhuma expressar suas exatas dimensões. Ele parecia, na verdade, ter o dobro do espaço original. Um quarto normal não teria possibilidade de conter aquele tanto de coisa. Todos os cantos disponíveis eram preenchidos por roupas jogadas. Trabalhos de escola estavam empilhados no meio do chão. As paredes já não eram mais visíveis por trás da infinidade de posters, tapeçaria e trabalhos artísticos. Cordy, que a partir dos cinco anos de idade havia sonhado apenas em trabalhar desenhando montanhas russas, mantinha um baú cheio de projetos de engenharia sob a janela; enquanto Lex, que apesar de anos de boletins impecáveis ainda não havia encontrado uma única aspiração de carreira, armazenava um cemitério de hobbies abandonados embaixo de sua cama. Prateleiras curvas de madeira suportavam dezenas de livros, velas, brinquedos de McLanche Feliz do McDonald’s, filmes, globos de neve, prêmios e pedaços de doces velhos e esquecidos. Era um verdadeiro museu de tranqueiras sem uso. Mas todos esses tesouros não eram nada em comparação com as fotografias. Fotos de Lex e Cordy cobriam o quarto como confetes gigantescos, nem um único espaço do quarto ficava exposto. Uma infância inseparável, toda resumida em infinitos conjuntos de revelações 10x15: muitas tiradas na enfermaria do hospital logo após o nascimento delas, algumas de seus primeiros


passos, duas mostrando suas mochilas cor—de—rosa iguais no primeiro dia de aula, uma tirada no Halloween quando elas tinham oito anos e se vestiram de saleiro e pimenteiro, e outra tirada cinco segundos depois, quando o pesado capacete acabou derrubando Lex no chão. Festas de aniversário, palhaçadas no quintal, brincadeiras da escola, jogos de futebol – nenhum evento escapava da dedicada documentação. E embora as fotos mais recentes indicassem a evolução de duas espécies distintas e separadas, as garotas Bartleby eram inegavelmente gêmeas, por completo. O quarto compartilhado era uma mera extensão de suas vidas compartilhadas, e Lex sentiu suas mãos tremendo quando Cordy se sentou em sua cama. Ela não conseguia lembrar a última vez que elas haviam sido separadas, porque isso nunca havia acontecido. — Hey, — Cordy disse suavemente, — você está bem? Lex se endireitou e olhou para a pessoa com quem ela havia compartilhado um ventre, estudando os contornos do rosto que eram tão similares ao seu próprio. Embora as meninas não fossem gêmeas idênticas, muitas características ainda eram refletidas em perfeita harmonia biológica: o nariz pequeno, a pele morena clara, e claro, os olhos grandes e quase negros que ambas as irmãs consideravam ser sua melhor característica. Elas também estavam em total acordo de que a sua pior característica, por outro lado, era o patético e escuro cabelo no topo de suas cabeças: o de Lex era um longo, grosso, e ondulado esfregão, e o de Cordy era uma bagunça irreparável de frizz e cachos. Nenhuma delas tinha nenhum interesse nessa situação sem conserto, o que levou a mais brigas com a mãe delas do que qualquer um seria capaz de contar. — O que você pensa sobre isso tudo? — Lex perguntou. Cordy pegou um elástico que estava próximo e, distraída, enrolou—o em seus dedos. — Eu não sei. É uma droga. — É. — disse Lex. Cordy não estava olhando para ela. — Só não é justo. — ela prosseguiu. — Quer dizer, eu sei que eu venho sendo uma merd... — ela se interrompeu, imaginando se sua mãe poderia estar escutando de fora do quarto, com o pote dos palavrões preparado. — Eu tenho sido uma pirralha. Mas...


— Mas por que você tem sido uma pirralha? Por que você está agindo assim? — Cordy estreitou os olhos. — Você era uma monitora de corredor. — É. Aqueles foram dias verdadeiramente mágicos. Nada como o poder tirânico de dar detenção aos calouros. — Mas agora você os dá lesões! — Cordy se levantou em um pulo, seu rosto enrubescendo de raiva. — Eu simplesmente não entendo porque você tem que ser assim! Você percebe quantas vezes eu já defendi você, dizendo às pessoas que você não era assim de verdade, só para ter isso esfregado na minha cara toda vez que você era suspensa por ter quebrado o nariz de alguém? Você não pode simplesmente parar? — ela disse, com o desespero esticando sua voz. — Eu tentei! — Lex baixou seus olhos. — Você sabe que eu tentei. Cordy desmoronou. — Então vá. — ela disse, sua voz falhando. — Eu não quero que você vá, mas se o Tio Mort é a única coisa que vai impedir você de dizimar a população da escola, se isso é o que é preciso para trazer de volta o ‘você’ de antigamente, vá. Ela atravessou a sala e sentou—se em sua própria cama. Lex observou, cabisbaixa, incapaz de argumentar contra a lógica de sua irmã – até que algo a ocorreu. Ela deu à Cordy um olhar divertido. — Huh. — O quê? — Cordy perguntou, irritada. — É meio estranho, não é? — O que é estranho? — Que eles escolheram o Tio Mort. — E daí? O que tem de errado com o Tio Mort? — Cordy, qual é! Nós não o vemos há anos. Você consegue pelo menos se lembrar da última vez que ele nos visitou? Cordy franziu seu rosto. — Mais ou menos. Nós tínhamos seis anos, não é? Ele trouxe aquelas coisas, o que quer que elas sejam. — Ela apontou para um par de bugigangas de vidro esférico em uma prateleira próxima. Elas apresentavam um turbilhão de pequenas luzes por dentro, e cheiravam fracamente a álcool. — Exatamente. Sem contar as tranqueiras aleatórias que ele manda nos aniversários, nós mal conhecemos o cara. Metade do tempo é como se o papai até esquecesse que ele tem um irmão mais novo. Então por que ele? — Ela rastejou para a borda da cama. — Por que não tia Veronica, em Oregon? Ou tio Mike? Ou o


primo da mamãe, Dom – ele é um agente penitenciário! — Ela abaixou sua voz. — Pelo que sabemos, Tio Mort deve ser um caipira idiota que vive de atropelamentos e bebe sua própria urina. Como que viver em um barraco nojento em um inferno rural do norte vai me tornar uma moça obediente? Cordy fraziu as sobrancelhas. — Mamãe e papai devem ter suas razões. Eles não iriam simplesmente despachar você para um assassino em série. Talvez eles queiram que você o conheça melhor. Talvez ele seja um cara legal! — Isso não faz o menor sentido — Bom, você também não faz nenhum sentido. Lex olhou cansadamente para sua irmã gêmea, a quem ela não havia nenhuma vez socado, batido, mordido, ou mesmo perturbado. — Sinto muito, Cordy. — ela falou. — Quer dizer, sinto muito por você estar no meio disso. Eu posso suportar deixar a cidade, mas deixar você... Cordy deitou—se e abraçou seu polvo de pelúcia esfarrapado, Capitão Wiggles. Lex olhou para os olhos lacrimejantes da irmã e suspirou. Quão chateadas elas realmente podiam ficar? Elas já iriam provavelmente ser separadas no ano seguinte de qualquer maneira, se elas fossem para faculdades diferentes (se Lex conseguisse surrupiar as recomendações dos professores para pelo menos entrar em uma faculdade). Elas não podiam ser crianças para sempre. Temendo que mais introspecção pudesse levar a uma crise de choro frustrada, Lex aspirou de volta suas próprias lágrimas e caiu em seu travesseiro. — Não consigo acreditar que eu realmente vou. — ela disse afinal, no que ela esperava ser uma voz madura. Cordy assentiu. — Vai ser tão estranho. Lex olhou de relance a prateleira de livros. Lá, confortavelmente aninhado entre um troféu de softbol e uma foto das duas meninas sorrindo com pinturas de dedo lambuzadas por todo o rosto com seus braços enrolados nos ombros uma da outra, estava a estranha engenhoca de vidro do Tio Mort, balançando—se ligeiramente. Ela levantou uma única sobrancelha. — Não brinca!


Dois Lex olhou fixamente por fora da janela do ônibus Greyhound para a tempestade furiosa e apocalíptica. Rajadas de vento ferozes chicoteavam pelo céu enegrecido, gotas enormes de chuva apedrejavam o vidro, e de vez em quando um relâmpago iluminava o ônibus todo, aterrorizando o homem sentado atrás dela, cujo vício em cocaína já havia se tornado óbvio para qualquer um que estivesse sentado num raio de cinco lugares ao seu redor. Claramente, o tempo não era o único mau elemento dessa viagem. Lex estava, para seu desprazer, sentada ao lado de um estudante universitário indo para casa. Ela foi capaz de perceber isso pelo suéter que ele estava vestindo, que ostentava um trio de letras gregas, e pelo colarinho da camisa de baixo, que estava descaradamente saltado e esticado para cima. Ele parecia um Count Chocula formal. E, como a maioria dos Count Choculas formais, ele não fazia a menor ideia de como estava ridículo. Deduzindo que qualquer interação com os seus colegas de viagem iria provavelmente levar a uma forma de homicídio culposo, Lex tinha feito tudo o que estava a seu alcance para evitar ter um companheiro ao seu lado. Ela tinha derramado todo o conteúdo de sua bolsa no assento vizinho vazio. Espalhou seu corpo e fingiu estar dormindo. E quando o motorista pediu que ela esvaziasse o banco, ela atirou um sapato em seu rosto. Tudo em vão, ela pensou amargamente enquanto olhava feio para o menino, que tinha feito sua melhor cara de “Eu sou um babaca” e tentado iniciar uma conversa no mesmo segundo em que se sentou.


— E aí, bonitinha. — ele disse. — Qual é o seu nome? Lex revirou os olhos e virou—se para a janela. — Mata—me. — Kimmy1? Eu sou Steve. — ele continuou, implacável. — Então, você está na escola? Eu vou para Universidade de Nova York. Aonde você vai? Lex deu a ele o mesmo olhar que um leopardo dá a uma gazela antes de devorá—la. — Escuta, eu realmente aprecio os seus esforços para deixar minha viagem infinitamente mais torturante do que ela já é, mas o que você acha de talvez calar essa boca pelo resto do caminho, para que eu não tenha que destruir esses óculos escuros horrorosos e começar a bater na sua cabeça com eles? Steve parecia ter acabado de engolir uma chave de fenda. — Desculpa. — falou. — Só tentei ser gentil. — Cale—se, Steve. O humor de Lex estava pior do que o normal. Não apenas ela estava sendo enviada para a Terra da Psicose do Tio Demente, mas ela também tinha recebido a mais sombria das despedidas quando sua família a deixou na estação de ônibus. Mamãe chorou. O queixo do papai estremeceu. E Cordy a embalou em um abraço rabugento, cravando as unhas nas costas de Lex enquanto sussurrava, — Coloque tudo isso para fora. Traga de volta a velha Lex, ou Deus me ajude, eu vou falar para todos que você foi para um acampamento musical. As duas irmãs cruzaram o olhar uma última vez quando Lex ocupou seu lugar na janela e o ônibus começou a se afastar. Lex desviou o olhar primeiro, olhando fixa e amargamente para o banco a sua frente. Se Cordy não percebia que essa separação era igualmente excruciante para as duas, bem, então ela era desprezível. Lex tentou voltar ao seu livro, mas nem mesmo o bom e velho Edgar Allan conseguia melhorar a terrível situação para a qual ela estava sendo arrastada a sessenta e cinco quilômetros por hora. Nervosa com tamanha injustiça na sua vida, ela fechou o livro com uma batida e tinha apenas começado a explorar a vizinhança em busca de algo para bater quando um lampejo de luzes vermelhas e azuis chamou sua atenção.

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A autora fez um trocadilho com Kill me e Kimmy.


Ela apertou os olhos em meio à chuva enquanto o ônibus desacelerava para o acostamento. Um trator—reboque havia derrapado do outro lado da estrada, levando três carros com ele. Ficaram todos misturados no gramado em uma massa torturada e retorcida de metal. Era difícil dizer onde um veículo terminava e outro começava. Ambos os lados da estrada estavam paralisados. Sirenes de ambulância apitavam através do maçante barulho da chuva conforme mais veículos de emergência passavam a toda velocidade. Lex observava os destroços com nada além de um interesse passageiro e uma expressão sombria – até que algo bizarro apareceu. Um clarão de luz branco e ofuscante. Assustada, Lex espiou através da chuva. Foi tão rápido – como o flash de uma câmera – que ela nem conseguia ter certeza de que tinha visto aquilo mesmo. Ou se ela tinha, deveria ter sido um relâmpago – exceto que a luz tinha vindo de dentro de um dos carros? Mas isso não fazia sentido. O veículo fora amassado além do normal, não havia sinais de vida. Outro flash aconteceu, dessa vez definitivamente emanado de dentro de um SUV capotado. Lex olhou para os paramédicos, alguns deles estavam acendendo lanternas para dentro dos carros – mas nenhuma de suas luzes correspondia ao brilho, ou à brevidade, das chamas poderosas que ela tinha acabado de ver. Esquecendo—se momentaneamente de sua política de isolamento do temido Povo do Ônibus, Lex chicoteou seu olhar ao redor, esperando que os passageiros estivessem espantados com as luzes também, mas parecia que ninguém sequer tinha notado. Alguns observavam os destroços; outros resmungavam sobre o trânsito. Lex bufou impacientemente. Aquele povo era cego? Ela espetou Steve, que estava ouvindo música e tentando dormir. — Ai! Que foi? — Olha. Ele tirou seus fones de ouvido. — Ah, agora você quer conversar? — Vê se cresce, Steve. Isso é simplesmente um caso de necessidade. — Ela recostou—se em seu assento para que ele pudesse ver pela janela. — Olha – aí


vem mais um! — ela gritou quando a eletricidade peculiar faiscou mais uma vez. — O que é isso? Steve apertou seus olhos. — Hm, um acidente de carro, eu acho? Lex resistiu o impulso de agarrar seu colarinho esticado e mandar sua cabeça numa viagem extravagante através do vidro. — Não, eu quero dizer isso. — Ela apontou para o SUV. — O flash estranho que acabou de vir daquele carro! — Você está falando de um raio? — NÃO, a… Isso! — ela exclamou em outra explosão de luz. — Logo ali! — Ela bateu o dedo no vidro da janela para enfatizar, mas o rosto de Steve permaneceu interrogativo. Um calafrio percorreu o corpo de Lex. — Você não consegue ver? — Eu não vejo nada além de um enorme acidente de carro e provavelmente um monte de vítimas. — Steve franziu a cara em desaprovação. — Você não deveria se intrometer assim, é uma coisa meio horrenda de se fazer. Lex estava pronta para dispensar uma réplica, mas perdeu sua chance quando o ônibus saltou de novo e eles foram empurrados contra o banco. — Não, não, não. — ela sussurrou, se chacoalhando enquanto o ônibus pegava velocidade. — Eu ainda não terminei. — Mas o motorista acelerou até que a cena macabra não passasse de um borrão de luzes desbotando à distância. Steve, revoltado, colocou de volta seus fones de ouvido. Lex engoliu em seco e olhou seu relógio. Mais uma hora para chegarem a Albany, e então mais duas até a parada do Tio Mort. Ela reclinou o banco e fechou seus olhos. Com certeza aquilo havia sido algum tipo de fenômeno meteorológico. Ou talvez um pouco da cocaína remanescente no ar tivesse achado um caminho até ela. De qualquer forma, alucinação não era algo que ela precisava adicionar a sua lista de problemas agora. Já havia muitas outras porcarias para lidar. Incluindo um roncador Steve, que estava chegando cada vez mais perto de ter As Obras Completas de Edgar Allan Poe empurrado garganta abaixo.


Três Três horas depois Lex finalmente pisou fora do ônibus. E em uma gigantesca poça de água. Por sorte, àquela hora poucos passageiros ainda estavam lá para presenciar seu infortúnio. Steve tinha saído em Albany, junto com o cara da cocaína e mais alguém com o bom senso suficiente de não continuar indo mais ao norte do estado. Ela resmungou um agradecimento ao motorista, que, obviamente ainda amargurado com todo o incidente de arremesso de sapato, rapidamente fechou a porta atrás dela e murmurou — Boa sorte. Quando Lex avaliou seus arredores, ela começou a entender porque de repente sorte tinha se tornado algo tão essencial. Ela estava em pé em uma trincheira lamacenta na beira da estrada, uma estrada que se esticava por aproximadamente quinze metros em ambas as direções antes de ser engolida por árvores. E as árvores... Lex nunca havia imaginado que uma floresta poderia ser tão espessa. Era como se elas estivessem realmente brigando por um espaço no chão, uma inextricável teia de amplos troncos e galhos emaranhados e espalhados. Ela pegou seu celular. Sem sinal. — Maravilha. Pelo menos a chuva havia parado. Lex colocou sua mochila nos ombros, levantou seu capuz para bloquear o triste céu nublado, e examinou a estrada em busca de algum sinal de civilização. Como seus pés chapinhavam dentro do tênis encharcado, ela desejou desesperadamente que a bagagem que sua mãe tinha


embalado e mandado para a casa de seu tio tivesse pelo menos um par extra de sapatos. Claro que teria. Conhecendo sua mãe, ela provavelmente havia mandado cinco, junto com vários bilhetes escritos à mão proclamando seu amor incondicional. Uma pontada de culpa cutucou o peito de Lex. Dane—se, ela pensou, tirando isso de sua cabeça. Eles que tiveram a ideia tola de eu vir aqui, não eu. Ainda enquanto ajustava sua mala abarrotada e pensava em Cordy – provavelmente no trabalho agora, escavando sorvete no Baskin—Robbins e curtindo uma fonte infinita de cookies com gotas de chocolate – Lex chegou à conclusão de que essa coisa traiçoeira de zumbi raivoso, o que quer que fosse, era extremamente injusta. Por que ela? E porque logo no meio do ensino médio, quando já é tão difícil agir como um terráqueo normal e bem ajustado? Ela suspirou e olhou para seu relógio. Já era para o Tio Mort ter ido buscá—la havia cinco minutos. Inquieta, ela começou a andar na estrada lamacenta, sem nem ter certeza de que estava na direção certa. Sem dúvidas, um urso chegaria para comê—la em breve. Ela realmente esperava que Sr. Truitt ficasse feliz ao saber que seu cadáver ensanguentado havia sido encontrado em uma vala cheia de lama. Um estrondo alto à distancia parou seus passos. Lex girou seu corpo. Algo estava vindo. Ela retomou a caminhada. Nada poderia assustá—la agora. Ela agradeceria um pouco de perigo, na verdade. Um ataque mortal de urso—pardo seria certamente preferível a um verão como vaqueira. O barulho ficou mais alto, ecoando dos troncos úmidos da floresta. Estava a poucos metros atrás dela agora. Lex abafou suas orelhas com as mãos e finalmente começou a correr, mas foi inútil. O ruído ficava cada vez mais perto... E parou. Lex abaixou suas mãos, virou—se, e quase borrou as calças. Sentado em uma motocicleta listrada em preto e roxo estava, em um chocante número de detalhes, o exato tipo de vilão retratado no livro ilustrado Nunca Fale com Estranhos! Que havia sido tão ensinado a Lex quando criança: um homem de quase dois metros de altura, com trinta e tantos anos, esguio, mas forte,


maliciosamente atraente, e ostentando um conjunto bastante discreto de uma camiseta branca manchada, um par de jeans, e pesadas botas de combate pretas. Espreitando por de baixo de suas mangas estavam amostras do que era, sem dúvidas, uma impressionante variedade de tatuagens, e uma cicatriz vermelha e enrugada ia desde sua orelha direita até o canto de seu olho escondido atrás dos óculos escuros. Claramente, esse era um homem que não iria perder tempo em agarrar o pescoço de quem quer que fosse que começasse a irritá—lo. E isso ainda era só o começo do que havia espantado Lex. Uma nítida mudança no ar havia se estabelecido sobre a pele dela no momento em que o motor parou. A própria atmosfera começou a crepitar com uma eletricidade bizarra e desconhecida. Conforme ela pesquisava a imagem do homem em busca de alguma explicação, mais e mais peculiaridades começavam a se destacar. Os dedos finos e pálidos enrolados em volta do guidão pareciam os de um esqueleto, ainda que seu rosto estivesse bronzeado e com a barba pelo menos dois dias sem fazer. Em volta de seu pulso havia uma braçadeira de ferro cinza escuro de cerca de uma polegada de largura, com a superfície que parecia ficar estática a cada poucos segundos, como se fosse a tela de uma televisão com sinal ruim. E no topo disso tudo, em sua cabeça, estava uma caótica bagunça de cabelos. Mais negros até do que os de Lex, e listrados de roxo como a moto, eles estavam levantados pelo vento, despenteados, como se ele tivesse colocado o dedo em uma tomada apenas alguns segundos antes. Ele estralou seus dedos. — Suba. Lex permaneceu muito quieta. — Hm, minha carona deve chegar logo. — Sério, Lex! Ela piscou. — Tá brincando, garota! Não me diga que você nem reconhece seu Tio Mort! O que escapou dos lábios de Lex foi mais que um suspiro. A força foi tanta que ela meio que esperava que as árvores próximas se desenraizassem e se alojassem em sua garganta. — Você tá surda? — Tio Mort puxou os óculos para cima de sua cabeça, revelando um par de olhos verdes penetrantes. — Eu disse pra você subir.


Lex não se mexeu. — Na verdade eu não estou muito na vibe de ser esviscerada por um estranho assustador hoje. — ela disse, incapaz de esconder o nervosismo em sua voz. — Meus órgãos vitais estão muito bem onde eles estão. Ele soltou uma risada curta. — Isso é engraçado. Você é engraçada. — Ele deu uns tapas no assento da moto. — Agora suba. — Não. Os olhos de seu tio se contraíram. — Você teve cinco horas para mudar de ideia. Suba na maldita moto. As mãos de Lex ficaram quentes, do mesmo jeito que ficavam quando ela estava furiosa. — Como eu posso saber que você está dizendo a verdade? — Eu não iria mentir para você. Nós somos da família. — Você não parece da família. Você parece uma aberração. — Tudo bem, Lex. — ele disse, acelerando o motor novamente. — Eu não queria que chegasse a isso, mas você não me deixa outra... — seus olhos se arregalaram para algum horror desconhecido atrás dela. — Aquilo é um urso? — O quê? — ginchou Lex, virando—se para se proteger de… Nada. Mas aquele milésimo de segundo de alarme falso era tudo o que Tio Mort precisava. Habilmente agarrando—a pela cintura, ele a lançou no banco de trás, chutou a engrenagem de sua moto, e rasgou a estrada como a explosão de um canhão. — Não acredito que você caiu nessa! — ele gritou por cima do ronco do motor. — Mas que diabos há com você? — Lex jogou freneticamente seus braços ao redor do corpo dele e gritou tão alto que um bando de pássaros próximos levantou vôo, escapando do brado. — Deixe—me SAIR! Ele acelerou. — Você é bem vinda para pular quando quiser. Esquecendo por um momento como o vento funcionava, Lex tentou cuspir nele. Não deu certo. Ela enxugou o cuspe de sua bochecha, decidindo que o tempo para diplomacia havia acabado. Mantendo uma mão no tórax dele e amontoando a outra em um punho, ela explodiu em uma fúria histérica, surrando sua cabeça, costas, e, seu alvo preferido, os rins. Sem nem olhar, Tio Mort prontamente alcançou e agarrou por trás o braço solto de Lex, espremendo seu pulso com uma força e convicção que Lex nunca


havia sentido de um adulto. Ela olhou fixamente para ele com os olhos arregalados enquanto ele parava a moto e se virava para encará—la. — Você pode ter saído impune dessa besteira infantil e petulante em casa, mas eu te garanto, não vai funcionar aqui— , ele disse, soltando os braços dela. — Então eu vou lhe fazer um acordo: você se comporta como o indivíduo maduro que no fundo eu sei que você é, e em troca, você vai ser tratada como um. Parece justo? Lex sentou, estupefata. Nos últimos dois anos as várias figuras autoritárias de sua vida haviam lhe repreendido, suplicado, dado sermão, persuadido, reprimido, e ameaçado com lesões corporais, mas nenhuma delas havia falado com ela com algo que parecesse respeito. Tio Mort aproveitou essa breve oportunidade de sossego para atirá—la um capacete. — Quase esqueci. Segurança em primeiro lugar. Lex deu uma olhada na cicatriz talhada no canto dos olhos de seu tio e rapidamente enfiou o capacete em sua cabeça. — Cadê o seu? — Eu tenho um crânio bem espesso. — ele disse, seus olhos reluzindo com um tipo de olhar que só os criminosos insanos possuem. Lex olhou. — Você é maluco. — Só um pouco. A motocicleta voltou à vida de novo e se atirou na estrada. Lex apertou os olhos contra o vento enquanto eles andavam, as árvores eram um monótono borrão verde, e a estrada, uma fita vertiginosa sob seus pés. — Tá pronta, menina? — Tio Mort finalmente gritou. — Pronta para quê? — Um pouco de animação. Segure firme! Ele acelerou. Assim que eles se aproximaram de uma poça de lama, ele empurrou o guidão para esquerda. Lex apertou o torso de seu tio ainda mais forte, sua cabeça pendendo de uma forma cômica enquanto a moto inclinava para virar e a lama borrifava dos pneus para seu rosto. Lex pensou brevemente nas pessoas que amava e se preparou para morrer, parando apenas para amaldiçoar o nome de seu tio direto para o inferno por ter—lhe roubado todos os comentários sarcásticos que ela nunca teve chance de dizer. Mas a moto logo se endireitou. — Você tá MALUCO? — ela berrou, cabeceando—o com o seu capacete enquanto ele seguia para uma estrada de terra


escura e estreita. Ela olhou para as árvores incrivelmente densas, cujos galhos cinzentos e hostis se esticavam agora para a estrada, formando um dossel de teto baixo. Era como se eles estivessem entrando em um túnel sinistro e deserto. Tio Mort parou a moto e se virou em seu assento para admirar seu trabalho manual. — Você tem um pouco de lama no rosto. — Não brinca, seu idiota— , ela disse com um careta, limpando a lama de seu rosto. — O que vem depois? Você vai tacar fogo em mim? — Não seja ridícula, Lex. O lança—chamas atira para frente. Lex não podia mais aguentar. Aquela maluquice tinha que parar. — Tudo bem, espere um pouco. Você é meu Tio Mort? Irmão do meu pai? Um membro biológico certificado da família mais chata da Terra? — Culpado. E eu estou extasiado em ver você, garota. Quando seu pai me contou que você estava ficando insuportável, bem... — Ele olhou para os lados, sua boca contraída ironicamente por alguma piada pessoal. — Eu simplesmente tinha que convidá—la. — Para sofrer na sua carona da morte? Nós poderíamos ter sido mortos! — Poderíamos ter sido mortos. Perceba que nós não fomos. — Por pouco! O que está acontecendo? — Relaxa, Lex. Eu sei que parece estranho, mas tudo vai ser explicado na hora certa. — Explica agora! — Ela socou seu braço com uma boa dose de raiva fluindo. — Você é determinada, hein? — ele disse, ignorando o golpe. — O irmãozão disse que você era toda elétrica, mas eu realmente não fazia ideia. — Ele coçou o queixo, pensando consigo. — Isso vai funcionar melhor do que eu pensava. Lex olhou para seu punho em choque, perplexa que ela ainda não tivesse infligido a quantidade habitual de dor. — Beleza, seja todo misterioso. — ela disse em uma tentativa equivocada de psicologia reversa. — Eu não ligo. — Maravilha. Isso enfureceu Lex novamente. Ela saltou do assento da moto, apenas para ser agarrada pela cintura e atirada de volta a ele. — Deixe—me sair! — Ela arrancou um retrovisor atingiu a cara dele. — Estou falando sério! Eu não quero ir para o seu miserável celeiro dos infernos, seu fazendeiro psicopata retardado!


Ele soltou uma risada divertida. — Eu não sou um fazendeiro. Lex parou de se queixar por um momento e piscou confusa. — Então o que você é? — Digamos que eu trato de negócios de importação e exportação. Ela revirou os olhos. — Chame do que você quiser. Isso ainda envolve fertilizantes. — Eu suponho que sim, por assim dizer. Lex cerrou seus dentes. Entre suas várias outras deficiências, ela não era uma garota muito paciente. Não sabia quanto tempo mais ela poderia aguentar ficar no escuro, irritada e confusa por um homem descaradamente desequilibrado que só falava por enigmas. — Não se preocupe, Lexington. — ele disse com uma voz calorosa e paternal. — Você tem muito potencial, eu posso dizer. Você vai se destacar aqui. — Destacar—me no quê? Fazer perguntas inúteis que nunca são respondidas? — Ah, com certeza. Mas, além disso... — Ele espiou o espelho nas mãos dela e sorriu enigmaticamente. — Esse vai ser o melhor verão da sua vida. Confie em mim. Como todas as crianças sabem, já é difícil o bastante confiar em qualquer adulto, quanto mais um importador—exportador demente e arriscador de vidas. Enquanto seu tio acionava as marchas da moto, a possibilidade de que talvez ele realmente fosse um assassino em série rastejou de volta a sua mente. Claro que ele era. Claro que ele tinha um facão escondido em algum lugar nas florestas. Seu pequeno intestino seria em breve espalhado desordenadamente pela estrada enquanto sua cabeça quicaria no meio das árvores como uma bola de futebol. Os pneus batiam constantemente em mais lama enquanto eles dirigiam mata adentro, no coração das montanhas de Adirondack. O céu havia desaparecido de vista. Ela espiou por sobre o ombro dele, mas não conseguiu ver nada além do que a subida de uma colina. — Aqui estamos. — Tio Mort disse quando eles chegaram a uma parada no topo. — Onde? Ele apontou à frente. — O miserável celeiro dos infernos.


Lex olhou. E olhou. Foi—se o grosso e feio borrão de floresta. Em seu lugar estava um vale baixo, com colinas de árvores verdes se estendendo tão longe quanto os olhos atônitos de Lex conseguiam enxergar. Lagoas azuis deslumbrantes brilhavam intensamente quando o sol finalmente rompia as nuvens. Uma brisa suave soprava por entre as árvores frondosas até o morro, trazendo com ela o delicioso perfume de lavanda, baunilha, e grama recém—cortada. Tio Mort virou—se para ela e sorriu. — Bem—vinda a Croak.


Quatro — Tenho que ser honesto, Lex — tio Mort disse enquanto seguiam colina abaixo à cidade, diminuindo o ritmo para que pudessem falar sem gritar. — você parece estar prestes a borrar suas calças. Lex lhe atirou um olhar, e então viu uma placa do lado da estrada que dizia POPULAÇÃO DE CROAK: 78. O número virou para 80 quando eles passaram. Ela franziu o nariz. — Isso foi estranho. — Mas exato. Lex olhou para o punhado de pequenos edifícios por onde passavam. — Eu não entendo. Onde está a cidade? — ela perguntou, procurando pelo caminho. — Você está nela. — É isso? — É pequena. — tio Mort concordou. — Mas tem coração. Lex assumiu que ele quis dizer isso tão literalmente quanto figurativamente, já que ambos os lados da rua estavam repletos de flores vermelhas brilhando como um coração sangrando. Enquanto abria a boca em espanto para os pequenos edifícios, ela teve a estranha sensação de que tinha tropeçado num parque temático histórico. As vitrines pareciam tão antiquadas, como se fossem parte de um passado distante, ou até mesmo do ano passado. Ela havia visto lugares assim só no noticiário da noite durante os anos de eleições, quando os políticos invadiam para beijar bebês e comprar tortas caseiras de donos de padarias desdentados e sorridentes. — Por favor, me diga que você tem água canalizada. — ela disse.


— Claro. Terças e quintas—feiras. — ela não conseguiu saber se ele estava sendo sarcástico. — Não se preocupe. — ele disse. — Croack é um lugar bem moderno. Lá em cima há o Pine Condos, onde algumas das pessoas mais jovens vivem, e algumas boas lojas à direita, descendo pela Slain Lane. — ele apontou para um lado da rua pavimentada com paralelepípedos, ao contrário do pavimento liso da que eles estavam. Lex esticou o pescoço e avistou um punhado de lojas de nomes estranhos: uma floricultura chamada EMPURRANDO MARGARIDAS2, uma loja que vende colchões identificada como O GRANDE SONO3, e um mercado com um letreiro gigante que se lia CAÍDO MORTO. No cruzamento das duas estradas, um obelisco de lápide subia de uma pequena fonte. Tio Mort acenou pra esquerda. — Melhor jantar do universo logo ali. Olá, Dora! — ele falou para a velha mulher varrendo a calçada lá fora. Ela acenou alegremente. — E a biblioteca acima à esquerda – ah, mas veja isso, nosso orgulho e alegria. — ele disse com reverência, olhando pra frente. Em uma bifurcação na estrada estava o edifício mais alto da cidade, dispoto em dois andares colossais. A casa Vitoriana era pintada de um amarelo ensolarado, com letras amigáveis soletrando a palavra Banco em toda a fachada. O alpendre de madeira continha uma rede, uma pequena mesa e, naturalmente, um jarro de limonada. — Nós levamos nossos investimentos muito a sério. Lex se esforçou pra absorver tudo. Ela nunca tinha visto um banco que parecia que poderia funcionar como uma casa de verão. Ela nem poderia imaginar um lugar que não parecia ter um único semáforo. E a placa de rua bizarra e nostálgica rotulada de Beco Sem Saída em vez de Rua Principal só confirmava suas suspeitas de que a cidade certamente tinha enlouquecido. Então, de repente, tudo ficou para trás. A motocicleta virou na bifurcação à esquerda do Banco e passou um grande campo à direita. Depois daquilo, uma dúzia de casas se estendiam em outra bifurcação, parecendo como qualquer outro subúrbio na América.

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No inglês, PUSHING DAISIES, que significa estar morto

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THE BIG SLEEP: À Beira do Abismo


Lex se retorceu em seu assento. — Você está de brincadeira? Isso não é uma cidade. — ela disse. — Quer dizer, onde está o Starbucks? Tio Mort suspirou. — Lex, eu sei que você vem de Nova York, então vou te perdoar por isso. Mas deixe—me te dizer uma coisa agora, algo que eu não quero que você esqueça nunca: Starbucks é uma abominação. Lex ficou sem palavras, pois agora ela acreditava que de jeito nenhum, nem um milhão de anos, este homem poderia ser um parente de sangue. — E aqui está a minha casa. — ele disse quando a motocicleta desacelerou. — O que você acha? Lex já não sabia mais o que pensar. A casa era praticamente uma versão menor do próprio Tio Mort – espalhafatosa, esquizofrênica, e potencialmente fatal. Salpicada com todos os tipos de cores sem nenhum padrão aparente, parecia como se tivesse rolado pelo campo pegando itens aleatórios e outras coisas antes de finalmente parando no topo do morro. Lex lançou uma olhadela para os dispositivos bizarros saindo de cada janela quando motocicleta parou. Ela tirou o capacete e deixou—o cair no chão. — Você realmente mora aqui? — ela perguntou, sua voz marcada com o menor traço de cordialidade. Essa casa, em toda sua glória caótica, a lembrou de seu quarto em casa. Tio Mort desmontou da motocicleta. — Sim. E agora, você também. — ele lhe entregou um conjunto de chaves. — Seu quarto fica na primeira porta à esquerda. Lex, que desde o momento da sua concepção, nunca tinha tido um quarto só seu, pegou as chaves da mão dele e correu pra dentro da casa. Se ela realmente ia ficar presa ali durante o verão, ela devia se acostumar com os aposentos que ela sem dúvida iria hibernar. E, pelo menos, essa era uma casa real, com paredes reais, e não um sótão duro e fétido como ela temia. Ela quase parecia – ela dificilmete se atreveu a pensar nisso – até que legal. Ela invadiu o corredor da frente. Sem surpresa, a cozinha estava uma bagunça, e a sala de estar foi enterrada sob pilhas de parafernálias não identificáveis. Lixo desnecessário entupido em cada poro. Retratos vazios de fotografias coletavam poeira a cada passo, enquanto um grande tanque de água— viva se esticava por uma parede inteira, como um mural ao vivo. A bagagem que a


mãe de Lex tinha mandado estava na beirada de tudo, se misturando perfeitamente. Lex sorriu, seu senso de alienação diminuindo. Esse era exatamente o jeito que ela e Cordy haviam preferido viver: Na imundície absoluta e desordem. Formigando em antecipação, Lex correu pelo corredor até seu quarto e abriu a porta. Seu rosto caiu. Sem confusão. Sem coisas desagradáveis. E nem um único objeto aparentemente inútil. Em vez disso, um armário bem esculpido graciosamente no canto. Próximo a ele, uma mesa feita de carvalho branco impecável. Cama rosa, cortinas e tapetes, como se um flamingo tivesse explodido. E o pior de tudo, aparecendo na parede, acima dos babados da cama perfeitamente arrumada: Um pôster do filme Titanic. Lex gritou de horror e bateu a porta. — O que foi aquilo? — O que há de errado?— tio Mort perguntou enquanto entrava na casa. — Você não gosta disso? — Eu odeio! Eram guardanapos? — Droga — ele suspirou. — achei que podia confiar nele com isso. Lex olhou para a porta ligeiramente aberta em frente dela, onde estava pregado um cartaz de The Who. Ela espiou pela fresta, mas tudo o que conseguia ver era um conjunto enorme de bateria. Junto a isso, outra porta estava aberta e expelindo um fluxo pesado de fumaça. Ela estreitou os olhos para uma escadaria com vários frascos borbulhantes de gosma. — Seu porão está pegando fogo. — Ah, isso é apenas meu laboratório, — tio Mort respondeu calmamente, fechando a porta e abanando a fumaça sulfúrica pra longe. — eu gosto de funilaria. — Eu vejo. — Lex desviou de volta para a sala de estar e olhou ao redor, confusa. — Onde está a televisão? — Não tenho uma. — O QUÊ? — ela gritou. — O QUÊ? — Depois de alguns dias você não vai nem se importar. E não se preocupe com o quarto, tudo vai estar arrumado quando voltarmos. — Voltarmos? Para onde vamos?


— Sair. Não podemos deixar os redecoradores entrarem enquanto você ainda está aqui dentro, podemos? Além disso, nós temos que conversar. — Sim, certo. — , ela bufou, entrou na cozinha e sentou—se, jogando os pés enlameados em cima da mesa. — Você quase me matou cerca de doze vezes na última hora. Eu não vou a lugar algum com você. — Ah, mas você vai. — Me obrigue. — Com prazer. E com uma investida ultrarrápida de seu braço, tio Mort pegou sua sobrinha pela cintura novamente, atirou—a sobre seu ombro e saiu pela porta.

*** Enquanto ela era arrastada de cabeça para baixo pelas ruas vazias de Croak, Lex se debateu com uma ferocidade que teria impressionado até mesmo os mais experientes oficiais de justiça. No entanto, tio Mort pareceu não notar, e em pouco tempo, os protestos de Lex foram reduzidos a nada mais que um gemido ocasional. — Quase esqueci – prometi à sua família que ligaríamos quando você chegasse aqui. — ele disse alegremente enquanto passavam para a outra extremidade da cidade, seu ombro enterrando cada vez mais no estômago dela a cada passo. Lex, agora bastante enjoada, enfiou o cotovelo na parte inferior das costas dele e apoiou sua cabeça confusa na mão. — Aqui vai uma ideia. — ela disse fracamente. — Você me coloca no chão, eu vou usar meu celular. — Sem sinal por milhas. Por isso, o Punho. — ele disse, indicando a estranha faixa em torno de seu pulso. — Fascinante. Coloque—me no chão. Tio Mort a ignorou. — Tenho que fazer uma ligação pessoal primeiro. — ele fez alguma coisa com o Punho – ele ficou parado novamente e permaneceu daquela forma – então começou a discretamente resmungar. Lex pensou que ela o ouviu proferir algumas frases—chave como — é um quarto, não a Victória’s Secret. —


mas no momento ela estava oscilando muito perto da inconsciência para adivinhar o que estava acontecendo. — Estou a dois segundos de vomitar tudo sobre cada centímetro de você. — ela disse ao tio em uma voz arrastada quando ele desligou. — E eu sem um poncho. Pena. Ela arriscou deixar escapar um pequeno arroto. — Ah, Deus. Coloque—me no chão. Por favor? — Isso foi uma palavra mágica que eu acabei de ouvir? Será que uma linha de educação acabou de escapar da boca de Lexington Bartleby? Acho que sim! — e com uma gentileza surpreendente, ele colocou sua passageira enjoada em pé. — Melhor? — ele perguntou, dando a ela um tapinha no ombro. — Sim. — os olhos de Lex se focaram, e depois ficaram fora de foco. — Não. Cabeça rodando. — ela disse a caminho do chão. Cinco minutos depois ela acordou e olhou de soslaio para a cabeça de seu tio pairando. — Ei, garota. Qual o seu nome? — ele perguntou. — Lex. — Em que mês estamos? — Julho. — Yankees ou Mets? — Mets. — Boa garota. — ele a levantou do chão e apontou para uma colina próxima — Por aqui. Lex engoliu um par de vezes, apertou a barriga, e o seguiu por entre as árvores, quando ele começou a falar em seu pulso mais uma vez. — Sim, ela chegou muito bem, sem problemas para falar. Lex, diga oi pro seu pai. — Pai! — ela agarrou o braço de seu tio e gritou no metal piscando. — Seu irmão é um lunático. Ele está tentando me matar! — Boa tentativa, Lex. — a voz metálica de seu pai respondeu. — Você não vai voltar pra casa tão facilmente. — Eu não acho que você está entendendo totalmente a grandiosidade da situação, pai. Ele nem sequer tem uma televisão!


Tio Mort puxou o braço, levantando, e começou a andar mais rápido. — Chega de bate—papo. Vamos aproveitar um pouco a natureza. Lex tentou acompanhar. — Boa ideia. Encontre pra mim uma árvore agradável pra vomitar. Eles estavam agora subindo o lado levemente inclinado de um penhasco cheio de grama. Quando finalmente chegaram ao topo, Lex ficou boquiaberta com o ambiente, o que incluía, entre outras coisas, uma enorme rocha cinza que quase parecia estar vigiando a cidade abaixo. — Onde nós estamos? Tio Mort caminhou até a beira do precipício e sentou—se na borda do penhasco. — No melhor lugar em Croak pra assistir o pôr do sol. Algo em Lex estalou. Ela não queria assistir um pôr do sol. Ela queria que dissessem o que diabos estava acontecendo ali. A raiva agitou mais uma vez, estimulando—a a pegar o braço do tio e torcê—lo por trás das costas o mais forte que podia. Aparentemente entediado com suas palhaçadas, tio Mort deu um suspiro sereno e olhou para longe. O sol, uma ardente bola de laranja neon, se situou sobre a vila abaixo deles. — O que você consegue ver lá fora, Lex? — ele perguntou com uma voz tranquila. — Bem. — Lex disse, torcendo mais forte. — Eu vejo uma cidade patética, algumas árvores, algumas colinas, e um homem completamente louco e insultante. — ela cravou as unhas em seu punho. — Isso descreve? — Mais ou menos. Ei, você se importaria em soltar? Está começando a fazer cócegas. Lex deixou o braço cair com um grunhido derrotado. Como ela não tinha separado seu ombro até agora? Porque ele não estava implorando por misericórdia? — Sente—se. — ele disse. — Você pode continuar sua tentativa de retirar um dos meus membros mais tarde. Agora, existem algumas coisas que você precisa saber. Lex sentou, derrotada, exausta, mas mais do que tudo, confusa – porque apesar de todos os esforços para suprimir tais inclinações, ela não podia evitar sentir um pouquinho de admiração por seu tio, que agora estava limpando as gotas de sangue que emergiram onde as unhas dela tinham cavado em sua pele.


Ele pegou seu olhar tímido. — Não se preocupe, eu já fiquei bem pior. — ele disse, seus olhos brilhando de tanta excitação juvenil ou delírio demente. — Eu sabia que você lutaria bastante. Ficaria surpreso e, francamente, insultado se você não fizesse. Lex inclinou a cabeça. A ira que tinha a enfurecido dentro dela poucos segundos atrás parecia estar derretendo rapidamente pra longe, como uma tempestade se enfraquecendo. O que estava acontecendo? — Mas você também é inteligente — ele continuou. — e é por isso que você vai ouvir muito atentamente o que estou prestes a te dizer. Certo? Lex se encontrou assentindo. Como ele fazia isso? Ele ficou sério, todos os traços de insanidade deixando seu rosto abruptamente. — Seus pais não tem sido inteiramente honestos com você, Lex. E nem eu tenho sido inteiramente honesto com seus pais. Foi ideia minha que você viesse pra cá, não deles. Quando ouvi que você tinha virado uma delinquente, eu sabia que sua hora tinha chegado. Então eu sugeri pro seu pai que você me visitasse e experimentasse um pouco da vida no campo. — seus olhos ficaram escuros. — Mas esse não é o seu propósito aqui. Lex ouviu tão pacientemente quanto podia, rasgando um pedaço de grama em fragmentos microscópicos. — Nós vamos pra cidade amanhã, e quero que você esteja preparada. O que nós fazemos aqui é um negócio importante e nunca, jamais, deve ser substimado. Nós fomos abençoados – e sobrecarregados – com uma responsabilidade muito séria4, se você for perdoar o trocadilho. — ele olhou por cima do vale. — Croak, como você pode ter percebido, é um tipo diferente de cidade. Todos os seus cidadãos existem por um propósito comum. Naturalmente, de vez em quando, nós precisamos de algum sangue fresco, que é onde você entra. E como eu disse antes, vai ser instintivo. Confie em mim nisso. Tudo o que você precisa fazer é prestar muita atenção, aprender o tanto quanto puder, e tentar não se assustar com qualquer coisa que ver.

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No inglês grave, que além de sério também significa sepultura.


— Assustar com o quê? — ela disse. — O quão repugnantemente adorável sua pequena aldeia é? As flores perfeitamente cuidadas? As – as... — Lex gaguejou. Uma cadeia de cafeterias nacionais não era a única coisa faltando nessa cidade. Ela não tinha visto corpo de bombeiros, departamentos de polícia, igrejas, postos de gasolina, escolas... Uma explosão furiosa de arrepios cintilou em sua pele. Tudo estava começando a parecer muito estranho. Aquele mesmo crepitar elétrico foi atirado pelo ar mais uma vez quando tio Mort abriu a boca para falar. — Lex. — ele disse. — Croak é um portal – um que fica entre o nosso mundo e o próximo. Um barulho estranho escapou dos lábios de Lex, algo entre um suspiro estupefato e uma risadinha duvidosa. — O que? — É por isso que você está aqui. Vou te ensinar como fazer o que eu faço. — E o que é? Ele se inclinou mais perto. Ela podia sentir a respiração dele em seu rosto. — Eu mato pessoas.


Cinco Morrendo de fome e exausta, mas incapaz de dormir sem o som familiar de Cordy bufando a três metros de distância, Lex se deitou em sua coberta naquela noite e encarou a gigante cabeça de Leonardo DiCaprio. Tirando o pôster, todo o resto tinha sido misteriosamente remodelado depois que ela e o tio Mort saíram para conversar. A maioria dos itens rosa foi embora, o armário tinha sido substituído por um pequeno tanque de água—viva, e uma série de antenas parabólicas e aparelhos agora se estendiam para fora da janela. O pôster, no entanto, tinha sido colado tão fortemente na parede que nada na casa conseguiu removê—lo. Lex não sabia há quantas horas ela estava ali deitada acordada, meticulosamente analisando cada palavra que seu tio tinha dito, mas aquilo parecia ao menos umas treze horas. E a dor de estômago produzido pelo saco Tamanho Família de Doritos que ela tinha comido no lugar de um adequado jantar não estava ajudando também. Então ela simplesmente agarrou seu travesseiro, inacreditávelmente atordoada – e não só pela touca bizarra do Léo. — Como é? — ela tinha dito de volta ao penhasco. — Você mata pessoas? O que isso devia significar? — Significa que eu sou um de um seleto grupo de pessoas que são dotados com o poder de transportar almas desta vida para a próxima. — seu tio olhou para ela, seus olhos verdes brilhando. — Isso é o que nós somos. Isso é o que você é.


Uma pequena onda subiu pelo peito de Lex. Ela quase a reconheceu como excitação – algo que ela não sentia há muito tempo –, mas a parte racional de seu cérebro demoliu isso rápido demais pra ela saborear. — Você é louco. — ela disse a ele. — De verdade. Meu pai está ciente da sua deterioração mental? Você precisa de ajuda. Ele a observou, divertido. — Quer dizer, escuta, eu aprecio o esforço pra fazer essa coisa de estadia na fazenda um pouco mais fascinante do que apenas um exercício de distribuir comida para os porcos, mas isso é idiotice. Ou – espera, eu entendi, você está falando metaforicamente, certo? Nós matamos as vacas e as entregamos para uma nova ‘vida após a morte’ nas prateleiras dos supermercados? Hilário. Muito inteligente. — ela se levantou, tirou o pó de suas calças, e cruzou os braços. — Vamos embora. — ela disse tristemente. — Porque você me arrastou até aqui? Não me entenda mal, o pôr do sol foi simplesmente de tirar o fôlego, mas a questão é: Eu estou presa nessa cidade estúpida pelo verão, não importa o quê. Então eu vou limpar quantas merdas de cabra você quiser jogar em mim, tudo bem, mas não se preocupe em fazer isso soar como a descoberta da cura do câncer. Ele balançou a cabeça lentamente. — Bem, mil desculpas. — ele finalmente disse com um encolher de ombros. — Eu acho que estava errado sobre você. Ela começou a se afastar, descendo o morro. — A menos, é claro, que você já tenha visto um brilho da morte. Lex virou. Ele estava de pé na beira do precipício, seu corpo uma silhueta contra o sol. — Um o que? — Brilho da morte. — ele disse. — Uma luz branca ofuscante que brilha quando alguém morre. Soa familiar? — Eu... — Lex franziu o rosto. — Na vinda de ônibus pra cá, houve um acidente. Eu vi uma luz... Um monte de luzes... — Você quer saber por que eu arrastei você pra cá, Lex? — ele apontou para a cidade. — Faça—me um favor. Conte quantos tratores você vê. Lex voltou ao precipício e examinou a vista, realmente olhou dessa vez, e a repentina realização que se seguiu quase deu um curto—circuito em seu cérebro: a vasta paisagem, verde para o horizonte mais distante, era desprovida de qualquer


mínimo esforço agrícola. Não tinha celeiro, silo, campo ou frango errante a vista. Ela se virou para ele, estupefata. Ele só sorriu. — Tudo bem. — Lex disse, descascando compulsivamente a casca de um graveto enquanto eles caminhavam de volta para casa. — Vamos apenas cogitar, por um momento de completa noção menta, que o que você está dizendo é verdade. Como eu nunca ouvi nada disso antes? Como ninguém nunca ouviu sobre isso antes? Como é que um buraco do além só apareceu no meio de Adirondacks 5? Como um pequeno humano insignificante como você se tornou encubido de um empreendimento tão grande? Como funciona o transporte de uma alma? Como é que alguém ao menos segura uma alma? E o que, em nome de tudo isso que está perturbando, você quis dizer quando disse que vai me ensinar a matar pessoas?— Ele riu. — Você não achou realmente que ia passar o verão inteiro tirando leite de vacas, achou? — Não! Mude! De! Assunto! — ela gritou, apunhalando o galho em seu braço a cada palavra até que se prendeu lá. Ele se esforçou para tirá—lo. — Tenho que dizer, Lex, suas habilidades de negociação realmente deixam algo a desejar. Ela piscou em descrença pra lasca ensanguentada. — E mesmo se toda essa besteira fosse verdade, porque eu? O que faz você pensar que uma calamidade ambulante como eu seria ao menos uma fração de um pouquinho qualificada a matar pessoas? — Bem, você acabou de bater em seu próprio tio com uma vara. Lex se encolheu um pouco. — Isso... É diferente. — E você bateu em todas aquelas crianças na escola. — Sim, mas – ei, isso não é justo. Não é como se eu quisesse que eles morressem ou coisa do tipo. Ele arqueou uma sobrancelha. — Então o que você está falando é que, talvez, você não seja realmente tão má quanto todo mundo pensa que é. A boca de Lex se escancarou. Lá estava, aquela crença firme na qual ela tinha se agarrado por todo o tempo, a única coisa que seu diretor, seus professores, 5

Adirondacks: A Adirondack é uma cordilheira do do Estado americano de Nova Iorque que ultrapassa os 1200 metros de altitude em 40 dos seus picos.


e até mesmo seus próprios pais não tinham sido capazes de ver. Ele tinha acabado de dizer isso. Em voz alta. — Você não acabou aqui por acaso, Lex. — tio Mort disse. — Se você acredita em apenas uma coisa que te contei essa noite, acredite nisso. Eu sei que nada mais faz sentido agora, mas tente pensar nisso. — ele sorriu. — E amanhã eu vou te mostrar como fazer coisas que uma calamidade ambulante como você nem sequer sonhou.

*** Lex acordou na manhã seguinte com um pulo. Depois de alguns segundos de pânico desorientado, ela espantou o sono de seus olhos, se sentou, e imediatamente agarrou seu estômago que roncava, amaldiçoando seu tio por suas escassas opções de refeições. — Desculpa por não preparar uma festa de boas—vindas. — ele tinha dito quando chegaram em casa, jogando pra ela o Doritos enquanto ele descia para o porão cheio de fumaça. — Não é meu forte. Lex levou um momento para olhar ao redor do quarto à luz do dia e refletir exatamente qual era o forte dele, enquanto ia se tornando cada vez mais evidente que não era, de fato, a agricultura. Os aparelhos estranhos do lado de fora da janela sugeriam algum tipo de ocupação na tecnologia, mas ela não conseguia imaginar como poderia ser isso, vendo como ele vivia no meio do nada. E o que a água—viva tem a ver com tudo isso? Ainda assim, a única outra explicação que ele tinha fornecido era, em uma palavra, loucura. Lex tinha assistido os especiais do Discovery Channel o suficiente pra saber que conspirações e segredos desta magnitude não existiam no mundo real. E mesmo se existissem, as chances dela ser inteligente ou talentosa ou uma garota loira sexy suficiente pra estar a par disso eram quase nulas. No entanto, porque ele se incomodaria em inventar uma mentira como aquela? E os brilhos de morte, como ele os chamou – ela os tinha visto, sem dúvida. Como ele podia saber disso?


Ela resolveu torturá—lo sobre isso hoje. Ela saiu da cama e pegou uma blusa, um par de jeans, tênis, e sua touca preta, e então entrou no corredor e abriu a porta do banheiro. — Ei! — Wow! — Lex gritou. — Desculpa! O garoto de pé no banheiro ficou constrangido no mesmo instante, ou Lex teria dado uma boa olhada melhor. Daquele jeito, ela podia dizer que ele era provavelmente um pouco mais velho que ela, mas não por muito. Seu cabelo castanho profundo era da cor do solo enriquecido, o tipo vendido em lojas de ferragem. Como Mort, mas com corte mais curto, também espetado em todas as direções possíveis, como se sofrendo uma crise existencial sobre de que jeito deveria ficar. Ele parecia alto e magro, mas não esguio; boa forma, mas não cheio de músculo. Ele usava uma camisa azul desbotada, shorts de carga, e um surrado par de Chuck Taylor de cano alto. Mas nenhuma dessas características fez diferença, porque Lex estava perplexa por um único elemento em sua aparência. Seu olho direito era marrom. Seu olho esquerdo era azul. Ambos os olhos de Lex, por sua vez, piscaram loucamente. Seu rosto instantaneamente corou, embora ela não tivesse certeza se isso era devido à humilhação ou ao fato de que esse garoto fazia até mesmo o garoto mais quente em sua escola se parecer com um monstro do pântano. — Quem é você? — ela perguntou. — O ocupante atual desse banheiro. — ele disse sem fôlego, as mãos tateando o zíper como se eles nunca tivessem se fechado antes. — Já ouviu falar de bater? Em uma tentativa de suprimir qualquer outra alteração hormonal, Lex protegeu os olhos e apalpou a maçaneta, sua habilidade motora a abandonando no exato momento em que mais ela precisava. — Sinto muito! O garoto, claramente sem estranhar suas próprias alterações hormonais, continuou trabalhando em seu topete e olhando pra ela como se ela fosse um velociraptor avançando. — E você ainda está aqui. — Ok, eu sei. Desculpa. — Lex em última instância conseguiu dar um passo atrás para o corredor e recuperar suas capacidades. Ela franziu o cenho. Tio Mort não tinha filhos, ela sabia disso. — O que você está fazendo aqui?


— Não é óbvio? — Quero dizer aqui, nesta casa. Com um puxão final em suas calças, o garoto se endireitou. Ele deu descarga, respirou fundo e caminhou até a pia de uma forma muito mais composta. — Eu moro aqui.

— ele disse afavelmente, lavando as mãos. — Prazer em te

conhecer, colega de quarto. Lex não sabia como lidar com aquilo. Na escola, nem mesmo as aulas de ginástica eram mistas, e muito menos os banheiros. — Eu não sou colega de quarto de ninguém. — ela respondeu, nervosa; O garoto deu um passo em sua direção. Lex saltou para trás, seus instintos briguentos despertando. — Pare aí. — ela advertiu. — Eu soco, eu chuto, e eu me sinto obrigada a avisá—lo, eu posso morder mais forte do que um crocodilo da Amazônia. Ele sorriu e se inclinou contra o batente da porta. — E eu me sinto compelido a te avisar que o banheiro que agora dividimos tem um teto furado. — ele disse, apontando para cima. — Há um guarda—chuva sob a pia, se você vai ficar aqui por um tempo. — Estou falando sério. — ela continuou, sua voz subindo. — Eu vou chutar o seu traseiro! — E a torneira do chuveiro emperra um pouco, às vezes você tem que balançá—la. — Ei! Você não me ouve? — Eu acho que toda a cidade consegue te ouvir. Lex balbuciou. Ela estava tão confusa. Essa era uma garota que uma vez tinha reduzido toda a equipe de hóquei do time do colégio em um coro de alta— frequência de soluços. Ela podia entender Mort não ser intimidado por ela, desde que ele era um adulto, mas esse garoto era apenas... Bem, um garoto. Sua capacidade imbatível a desarmou, assim como seus olhos cativantes estúpidos. — Quem é você? — ela perguntou, ainda gritando. — Sou Driggs. — ele sorriu e estendeu a mão. — É um absoluto– — — Esse é um nome idiota. — – desprazer te conhecer. — ele retirou a mão, passou por ela pelo corredor, e então gesticulou de volta ao banheiro. — Todo seu.


Lex o viu caminhar pelo corredor e pra dentro do quarto com o pôster de The Who. — Espera. — ela disse, seguindo—o. — Quer dizer, quem é você? Porque você estava no meu banheiro? O que você é – A porta bateu na sua cara. Um ruído de bateria rodeou lá de dentro. Lex bateu na cara de Pete Townshend por alguns momentos até que finalmente, percebendo que o garoto estava irritantemente fazendo—a bater no ritmo, ela foi forçada a admitir a derrota. Ela caminhou de volta pro banheiro, concluiu seu negócio lá, e ao sair para o corredor, ouviu um farfalhar de jornal na cozinha. — Hora de ir, Lex! — gritou o tio Mort. Ela o encontrou sentado à mesa. — Quem é o idiota com a bateria? — ela perguntou. — Driggs. — tio Mort disse evasivamente, deslizando um jornal intitulado de O Obituário. — Sim, eu peguei essa parte. Quem é ele? — Meu garoto da piscina. Lex fechou a boca e passou os próximos segundos lutando contra um forte desejo de virar a mesa da cozinha em frustração. Tio Mort olhou pro relógio na parede. — Metade do dia acabou. Você dormiu bem? — Poupe—me de gentilezas. Qual é o plano? — Você verá. — Quando? — Logo. — Quão logo? — Em pouco tempo. — Chega! — selvagem do jeito que só a juventude excêntrica e exausta pode ser, Lex bateu com os punhos na mesa. — Chega de toda essa merda estranha e evasiva. Você não é um fazendeiro. Você não é um importador—exportador. E você com certeza não é o todo—poderoso Anjo da Morte. Então é melhor você me dizer realmente porque eu estou aqui, ou eu vou embora. De verdade. Seu tio se recostou na cadeira e a examinou. — Porque você está aqui, Lex? Eu sei, seus pais te fizeram vir, mas nós dois sabemos que você poderia sair dessa,


se realmente quisesse. Porque desistir de um verão em casa, livre pra ir à praia, explorar a cidade, — ele levantou uma sobrancelha. — sair com os amigos? Um pouco da luta saiu dela. Os olhos de Lex caíram no linóleo. — Não tenho nenhum amigo. Ela não estava orgulhosa disso. Tanto quanto ela tentou se convencer do contrário ao longo dos últimos anos, o buraco vazio em sua vida onde seus amigos costumavam estar parecia como uma contusão sensível. Eles a tinham abandonado com razão, é claro, mas ainda doía. E só tinha piorado com o tempo. Tio Mort se inclinou. — Lex, a razão para as coisas que te contei ontem à noite estarem te incomodando tanto é porque há um êxtase muito pequeno, uma parte muito curiosa de seu cérebro que pensa que há uma chance disso tudo ser verdade, que este é o momento que sua vida finalmente vai melhorar. Mas o único jeito que eu posso fazer isso acontecer é se você concordar em largar o teatro a partir de agora, tentar reduzir o sarcasmo, e começar a agir como um adulto sobre tudo isso. O êxtase muito pequeno, a parte muito curiosa do cérebro de Lex começou a saltar ao redor de sua cabeça como um pinball. Ela o estudou. Tudo o que ela tinha que fazer era se comportar? — Você vai me contar hoje? — ela perguntou. — O máximo que nós pudermos fazer entrar, sim. — E você promete revelar tudo? — Eu prometo. — ele disse, estendendo a mão. Ela hesitou por um momento, e então a sacudiu. — Combinado. — Ah, o suborno. — ele sorriu para sua sobrinha. — Existe alguma coisa que isso não consiga? Ela se mexeu, irritada. — Então o que agora? — Café da manhã primeiro. Nós precisamos adaptá—la a uma forma de vida mais consciente. Aqui.

— ele lhe entregou uma caixa de cereal Life. — É

ironicamente delicioso. Lex sentou—se, serviu—se de uma tigela, e inalou o conteúdo por cerca de trinta segundos. Depois de engolir o leite, ela passou um guardanapo pelo rosto e olhou para ele com expectativa. — Agora o quê?


— Paciência, garota, — ele disse, sem olhar por cima do jornal. — ou você vai desmaiar antes mesmo de chegarmos lá. — Chegarmos onde? — No Banco. — No Banco? O que há no maldito Banco? — Lexington, precisamos falar sobre esse seu hábito de praguejar. Pessoalmente, eu não dou a mínima. Mas está proibido pelo resto do verão – é uma ordem direta da sua mãe. Lex resmungou. Por tudo que sabia, tio Mort tinha sido forçado a criar uma intricada série de microfones escondidos para retransmitir cada palavra diretamente a sua mãe, que estaria esperando em casa com uma robusta lista de praguejamentos para volta de sua filha. — Tudo bem. — ela resmungou, batendo impacientemente a colher na mesa. — E outra coisa. — tio Mort pegou a colher da mão dela e arremessou—a na pia. — Isso não são férias. É um trabalho em tempo integral, com dez horas por dia. A partir de agora, você vai se levantar de madrugada. — ele caminhou até a porta e a abriu. — Vamos. Você está aqui pra trabalhar, não pra dormir. Lex lhe deu um olhar amargo quando ela se levantou da mesa. — Dez horas? — Não se preocupe. — ele disse, segurando a porta aberta para ela. — O tempo voa quando você está violando o espaço—tempo continuamente.

*** Tio Mort não disse mais nada enquanto eles se apressavam descendo a rua da casa, um pacote de pano preto debaixo de seu braço. Depois de cinco minutos, chegaram a um grande campo do lado esquerdo, atrás do Banco. Lex parou de repente. Um punhado de pessoas estava no campo, espalhadas pela grama em grupos de dois. Lex tentou ver o que eles estavam fazendo, mas tio Mort a puxou pra longe. — Ainda não. Ela estava ansiosa ao lado dele quando chegaram ao Beco sem Saída, praticamente correndo pra acompanhar seus passos largos. Seu silêncio marcante


foi rasgando as estranhas dela em pedaços. Foi quase o suficiente para fazê—la agarrar o colariho de uma das pessoas tomando café gelado que se movimentavam pela rua e implorar para que lhe contasse o que estava acontecendo, ou porque eles pareciam estar boquiabertos como ela com fascinação, ou ao menos onde eles tinham pegado o café. Eles estavam prestes a subir os degraus pro Banco quando um homem queimado pelo sol forte e segurando um mapa amassado bateu no cotovelo do tio Mort. — Com licença. — ele disse em uma voz amigável. — Você pode me dizer onde fica a Pousada Abeto Feliz? — Volte pelo caminho por onde você veio. — tio Mort disse. — Ande por cerca de vinte milhas, então... Eu não sei, vire a esquerda ou algo assim. Não posso perder isso. E você pode querer se apressar, temos um alerta de tornado no radar. O homem olhou para os pedestres claramente indiferentes, depois para o céu sem nuvens. — Ah, ok. Obrigado, amigão. Lex começou a se afastar, mas tio Mort permaneceu onde estava e pigarreou. O homem fez uma careta. Depois, em um flash de entendimento, ele cavou sua carteira e deu a tio Mort uma nota fresca de cinco dólares. — Desfrute da sua estadia no Adirondacks! — tio Mort disse, jogando—lhe um sorriso teatral. O sorriso derreteu de seu rosto no momento em que ele e Lex alcançaram a porta do Banco. — Três simples regras para se livrar de turistas, Lex: minta, negue e tire vantagem. Um pequeno conjunto de sinos anunciou sua entrada no lobby, que parecia menos como um banco e mais como a sala de estar sofisticada de alguém. Pequena e aconchegante, personalizada com dois sofás macios, uma mesa de centro de mogno, cortinas vermelhas bem dispostas, e um balcão de informações apresentando uma série de folhetos para atrações locais e hotéis. Um elegante tapete oriental corria o comprimento da sala para o corredor, e o ar estava visivelmente permeado com de aromas de potpourri que destoavam devido à multiplicidade de vasos espalhados por toda parte. Lex enrugou o nariz. — Cheira como uma loja de vela aqui.


— Eu sei, é nojento. — tio Mort disse, cutucando uma pilha de pétalas rosa secas. — Mas é melhor não lutar contra ela. — Quem? — Bom dia, Mort. — uma mulher gorda de meia—idade com cabelo da cor tomate—vermelho apareceu de trás do balcão, um sorriso estampado no seu rosto ofuscante. Ela usava um terno de negócios azul—pavão e um colar de pérolas brilhantes. Um enorme buquê de flores ocupava metade de seu peito. — E quem temos aqui? — Esta é a minha sobrinha, Lex. — tio Mort disse com orgulho. — Nossa mais nova recruta. — Que maravilha! — a mulher apertou a mão de Lex com firmeza e a sacudiu vigorosamente. — Estou tão contente por conhecê—la! Meu nome é Kilda! Lex olhou para o tio pedindo ajuda, mas ele tinha escorregado para o corredor do lado. Ela viu quando ele abriu uma porta e começou a conversar com um homem de terno – um homem que estava olhando pra ela. Embora tivesse certeza que ela não tinha feito nada para ofendê—lo, Lex podia sentir seus olhos amarelos de raposa nos dela com uma animosidade distinta. Alto e magro, com linhas de carranca permanentes gravadas em seu rosto pálido, ele emanava o ar de alguém que odiava essa terra e tudo nela e que seria muito mais feliz se só se libertasse de sua órbita e se arremessasse para o sol. Lex se encolheu. Enquanto isso, Kilda ainda estava gritando boas vindas, e apesar de Lex tentar ignorá—la, logo se tornou bem difícil fazer isso. Ela nunca tinha conhecido alguém cuja cada frase terminava em um ponto de exclamação. — Eu sou a diretora de turismo de Croak! E especialista em relações públicas! E acima disso tudo, chefe de correios, se você puder acreditar! Lex pensou que a histeria nunca teria fim, mas finalmente seu tio intercedeu para separar suas mãos. — Sem tempo pra conversar, Kilda. — ele disse. — Nós temos um dia cheio pela frente. E você tem um texano perdido por aí prestes a começar a pedir por lembrancinhas. — Bem, isso não vai acontecer! — Kilda correu pra fora, seus dentes manchados de batom cintilante. — Lá vou eu! Lex agarrou a manga de seu tio. — O que eu fiz pra merecer isso?


— Ela é muito pra lidar, eu sei. Mas Kilda é um gênio na sua área. Você devia ouvir as besteiras que ela pode vender para todo mochileiro perdido que chega aqui. — Quem é aquele homem com quem você estava conversando? — Ah, é Norwood. Ele estava supervisionando você no seu primeiro turno. Vou lhe apresentar amanhã. Ela fez uma careta. — Sem pressa. — Quer dizer, você estava programada para ter uma breve orientação com ele hoje, mas você sabe, você precisava de seu sono de beleza, então não temos tempo. Você está ciente, Lex, que a preguiça é um pecado mortal? Ela fez uma careta pra ele, então olhou de volta ao corredor. Ela pensou que poderia elaborar uma desordem por trás da variedade de ladrilhos de vidro fosco que cobria a parede do seu lado direito, mas tio Mort a conduziu para fora pela porta rápido demais para ela conseguir um olhar mais atentamente. — Espere, nós acabamos aqui? — Bem, eu ia te mostrar o andar de cima também, mas– — Sem tempo. Preguiça. Eu entendi isso. — Pecado mortal. As pessoas muitas vezes acham que árvores são chatas. Essas pessoas obviamente nunca colocaram seus olhos sobre a fascinante assustadora árvore Australian Ghost Gum, ou Corymbia aparreinja, debaixo da qual Lex estava agora. Tio Mort a levara para o centro do campo atrás do Banco e a instruiu a ficar parada enquanto ele falava em seu Pulso. As pessoas que ela tinha visto antes foram embora. Lex, certa da opinião de que árvores são impressionantes, correu os dedos sobre o tronco morto da Ghost Gum. Em vez da casca escura e áspera, a superfície era pálida e suave. Sua cor branca pura brilhou a luz do sol radiante, enquanto os seus galhos tortos e retorcidos se estendiam amplamente pelo céu. Não havia folhas enfeitando os galhos, mas um único grande ninho estava empoleirado no topo do galho mais alto, como se tivesse caído ali por uma gaivota desorientada. — Este é o Campo. — tio Mort disse. — A pista de pouso, se você quiser. — Hm? — Lex perguntou inutilmente, sabendo muito bem que ele não iria esclarecer.


Ele não esclareceu. Lex se perguntou o que Cordy teria dito sobre tudo isso – a cidade bizarra, a confirmação da loucura de seu tio distante, o fato de que era quase meio—dia e ela ainda não tinha consumido uma gota de cafeína. Ela começou a fazer uma lista mental de coisas a contar pra ela, no caso improvável de uma conexão de internet existir em algum lugar na Terra do Cabo Esquecido. Ela cutucou o ombro do tio. — Posso tomar café? — Você só tem dezesseis anos, Lex. Tente melhorar na vida. Para evitar estrangulá—lo, ela voltou seus pensamentos para o clima. Uma série de nuvens fofas em forma de truta pontilhou o céu. Ela não sentia nem um pouco de calor em seu suéter preto, apesar do sol escaldante. Sem brisa também – embora ela pudesse jurar que viu um farfalhar de arbusto nas proximidades por vontade própria. — Ok, estamos prontos. — tio Mort disse, desligando e olhando para algo atrás de Lex. — Ah, ao menos alguém está pontual hoje. Lex se virou e engoliu em seco. Caminhando em direção a eles estava uma garota, talvez alguns anos mais velha que Lex, usando uma camiseta apertada e jeans. Ela também carregava um pacote de pano preto. Magra, alta e tonificada, seus membros flutuavam como se estivessem ligeiramente ligados ao seu corpo. Embora seu rosto pálido fosse angular e sério, seus olhos eram leves e pensativos. No entanto, Lex estava fascinada mais do que qualquer coisa por seu cabelo, que era longo e espesso, com uma ligeira onda, e inconfundívelmente prata. Não cinza, não branco, mas prata – como se joias tivessem sido derretidas e estendidas em uma cachoeira de fios lindos e sedosos. Lex tentou olhar pra longe, mas não conseguiu. O que havia com esse lugar e esse cabelo louco? — Lex, essa é Zara. — tio Mort disse, pronunciando as duas sílabas em seu nome

com

um

som

de

ah,

que

Lex

pensou

ter

sido

uma

maneira

desnecessariamente extravagante de dizer aquilo. A garota sorriu e estendeu a mão, tudo ao mesmo tempo olhando fundo nos olhos de Lex, como se tentando decifrar algum segredo escondido dentro deles. — Ouvi muito sobre você. — ela disse em uma voz forte.


— Sério? — entorpecida, Lex apertou a mão dela, e então fez um esforço para parar de olhar para menina como se ela fosse uma aberração. O que definitivamente era. — Ok, Lex. — disse tio Mort. — Para sua primeira vez, tudo que você tem que fazer é assistir. Mas preste muita atenção, porque é a única vez que você vai observar. — Hm – o que? Zara riu. — Não se preocupe. — ela disse, a intensidade desaparecendo de seus olhos cinza de inverno. — Você vai pegar o jeito disso em breve. — Tudo bem. — tio Mort bateu as mãos. — Se vista. — tanto ele quanto Zara desdobraram os novelos de pano preto que carregavam e os deslizaram sobre a cabeça. Tio Mort alcançou seu bolso. — E pra você, Lex, um termorregulador leve e durável – oh. — ele parou e a examinou. — Você já tem o uniforme? Eles olharam um pro outro. Todos os três estavam vestindo moletom com capuz preto idênticos. Tio Mort coçou a cabeça. — Eu te dei isso de manhã? — Não, isso é o que eu sempre uso. Na verdade. — ela disse, uma lembrança curiosa ocorrendo a ela de repente. — você não me mandou esse de presente no meu aniversário de 13 anos? — Mandei? — ele disse, sua boca virando ligeiramente para cima. — Que repreensivelmente irresponsável da minha parte. Lex olhou pra Zara, que deu de ombros. Lex bateu as palmas juntas. — Bem, vamos levar esse show pra estrada! — ela disse em uma voz excessivamente alegre. — Provoquem a morte! Essas almas não vão se ceifar sozinhas! Tio Mort parecia prestes a estapeá—la, mas em vez disso, esticou um apertado sorriso em seus lábios. — Mal posso esperar pra ver o olhar em seu rosto. — ele murmurou para Zara, que riu. Ele se voltou para Lex. — Você. Suba nas minhas costas. O sorriso sarcástico de Lex desapareceu. — Ahn? — Suba nas minhas costas e se segure o mais firme que puder. Ela se afastou. — Claro que não. Na última vez que fiz isso, você quase me despejou pela calçada.


— Eu sei que é estranho, mas é só para fins de treinamento. Venha. — De jeito nenhum. Você provavelmente vai me arremessar dentro de um vulcão ou algo parecido. — Se você não subir agora, eu absolutamente vou. Lex finalmente decidiu não testar isso. Ela colocou as mãos nos ombros de seu tio, pulou para fora do chão, e colocou suas pernas na lateral dele. — E sem chutar minhas bolas. — ele alertou. — Não prometo. Ele prendeu a mão dela em torno do seu pescoço. — Nós vamos com calma na sua primeira vez, começar com uma esquisitice fácil. Depois disso, é a todo vapor. Como eu disse, preste muita atenção, porque vai acabar antes que você perceba. Mas o mais importante é: não entre em pânico. Não grite, não feche os olhos, e acima de tudo, não me largue. Você entendeu?— — Sim, mas– — Lex engoliu, um pequeno caroço de nervos agora formando em seu estômago. O que estava acontecendo? Olhando para nada além de um ao outro, Zara e tio Mort levantaram o braço direito acima de suas cabeças – raios solares reluzindo livremente de algo brilhante em suas mãos – e então abaixaram ao mesmo tempo com um rápido movimento de corte. Lex, entretanto, continuou a examinar a cena em apreensão, tentando adivinhar o que possivelmente poderia justificar todo esse melodrama. Lá estavam eles, perfeitamente parados no meio de um vale tranquilo banhado de sol, onde parecia como se nada de excitante já tivesse acontecido e provavelmente nunca aconteceria – exceto que havia o farfalhar de mato novamente. Havia alguém ali atrás? Alguém assistindo? Mas já não importava. Lex tinha desaparecido.


Seis Sua primeira sensação foi de tontura. Lex não podia dizer qual caminho subia, descia ou saia. Seu estômago caiu com um solavanco, um pertubador, mas estranhamente agradável sentimento como o lançamento na primeira ladeira de uma montanha russa. Ela correu através das profundezas do espaço de suas entranhas, uma distorção do espaço—tempo através das galáxias, o buraco do Universo girando ao redor de um turbilhão sem fim. Ela via cores – todas as cores, mesmo aquelas além da visilibilidade espectral. O ar chicoteando por seus pulmões – se alguém pudesse mesmo chamar isso de ar, era mais como a força de uma tempestade de vento que destruía e forçava seu caminho traquéia abaixo – picando suas narinas como balas de hortelã. Cada centímetro de sua pele se arrepiando, todo o arsenal de suas terminações nervosas explodindo dentro de um trêmulo calafrio. Mas o barulho – o barulho era ensurdecedor. Era como se cada som que estivesse sido proferido na história do mundo estivesse sendo jogado para trás, no volume máximo, ao mesmo tempo. Lex tinha lutado para dar sentido a tudo isso, tentando focalizar as imagens distorcidas, ultrapassar um único som da cacofonia (ela pensou ter ouvido o mugido de uma vaca), mas eventualmente ela desistiu e se rendeu ao momento. Eufórica, ela gritou para o vazio, meio guinchando meio rindo. Até que tudo se tornou inesperado. Lex não podia dizer quanto tempo tinha passado. Podiam ser segundos, podiam ser horas. Ela olhou ao redor desorientada. A única coisa que ela podia


realmente ter certeza era o pescoço de seu tio, ainda firmemente apertado no meio dos braços dela. Eles estavam em um lugar escuro. Enquanto sua visão ajustava—se, Lex percebeu que era um quarto – fresco, silencioso e cheirando almíscar e canja de galinha. Todas as coisas pareciam desfocadas nas bordas. Ela franziu seus olhos. Dormindo em uma cama numa posição quase fetal estava uma velha mulher. Fotos emolduradas de seus netos sorriam na parede, enquanto uma verdadeira farmácia de frascos de comprimidos ficava como uma pequena cidade em seu criado—mudo. Era uma cena pacífica, pelo o que Lex podia ver ali. Ela estava com medo de respirar, não queria atrapalhar nada ou acordar a mulher – até que ela notou que um dos potes de pílulas tinha tombado. Deitadas ao lado, pequenas pílulas verdes derramavam—se sobre a borda da mesa. Mas elas não estavam caindo. Elas estavam congeladas no meio do ar. Os olhos de Lex se esbugalharam. — O que– Tio Mort a calou. — Observe. — Ele estendeu um único dedo branco e tocou a mulher na bochecha. Um brilhante lampejo de luz branca brevemente iluminou a sala – a mesma espécie de labareda que Lex tinha visto no trajeto do ônibus – juntamente com o mais estranho barulho: um alto estalar misturado com um estridente guinchar perfurante. Uma espécie de névoa começou a emergir da mulher – uma luz azulada fluía suavemente para fora de seu corpo, flutuando através do ar como uma aurora sobrenatural. Lex exalou. Era a coisa mais bonita que ela já tinha visto. Zara estendeu a mão em direção a luz. A luz parecia obedecer seus movimentos, graciosamente girando em seus dedos abertos como se isso estivesse ansioso para ser coletado. Ela cuidadosamente guiou a luz para dentro do recipiente esférico – Lex não podia dizer o que isso era – até o último vestígio desaparecer e a luz ir embora, sumindo no ar com um suspiro quase humano. Zara colocou o recipiente de volta em seu bolso e retirou um objeto brilhante novamente. Ela e Tio Mort o golpearam através do ar ao mesmo tempo – e soprou furiosamente de volta ao turbilhão. Lex soltou um grito, cada um de seus órgãos internos se debateu de prazer. Ela ainda estava gritando quando eles pousaram, minutos ou eras mais tarde, no


mesmo ponto de onde eles tinham saído. Todo ar saiu de seus pulmões, ela se deixou cair para fora dos braços de seu tio e começou a cambalear ao redor da grama. Zara fez uma careta. — Será que ela vai vomitar? — Lex? — perguntou Tio Mort. — Você vai vomitar? — Não. — Lex tossiu. — Não, eu estou bem. Apenas me dê um segundo. Ela colocou sua mão sobre seus olhos e tentou respirar calmamente. Depois de uma batida, ela exalou e derrubou suas mãos para os lados. — Oh meu DEUS! — ela gritou. — É isso. — Tio Mort deu uma cotovelada em Zara. — Esse é o rosto. — Como nós fizemos – onde nós fizemos – o que é isso? — Deixe—me responder essa pergunta. — Tio Mort disse, enfiando a mão no bolso do seu moletom, — Com um presente. Ele retirou uma retangular rocha preta polida feita de pedra tão escura que parecia negar a própria ideia de luz. Prestando atenção Lex pegou—a dele e correu seus dedos sobre sua suave e incrivelmente dura superfície, finalmente alcançando—a com um solavanco. Ela agarrou a pequena saliência e desdobrou— a como um canivete, seu coração começou a correr enquanto ela notava o que isso era: uma lâmina curva de navalha afiada feita da mesma pedra negra. Isso girou silenciosamente para fora e veio parar num ângulo de noventa graus com o cabo, formando uma curva em L. Ela segurou a arma como se isso fosse feito do mais frágil vidro, girando repetidamente em suas mãos. Ela nunca teria pensado ser possível se apaixonar por um objeto inanimado, mas neste caso, amar não seguia qualquer conjunto particular de regras. — O que é isso? Uma faca? — Não. — Tio Mort disse, seus olhos brilhando. — Uma foice. Lex apenas olhou. — Permita—me explicar. — Tio Mort sentou no chão e inclinou—se contra a Ghost Gum. — O nada – ou melhor, cada coisa existente – para a qual nós apenas retornamos é chamada de éter. — ele disse enquanto as duas garotas juntavam— se a ele na grama.


— É o método de transporte que nós usamos para transferir almas desta vida para a próxima. Lex escutava, absorvida. Ela não piscou por minutos. Tio Mort estava satisfeito com a reação dela, como se isso não fosse finalmente algo repulsivo ou ultrajante ou ambos. — Nós sempre trabalhamos em pares, porque há dois tipos de Trabalhadores de Campo – Killers6 e Cullers7. Você e eu somos Killers. — ele disse claramente. — Com um único toque, um Killer oficialmente extingue a vida de um ser humano liberando a Gama8, ou alma, de seu corpo. — Aquilo era uma alma? — Lex disse em reverência. — Zara, por outro lado, é uma Cullers. Seu trabalho é coletar a alma, colocar ela um Vessel9 seguro e providenciar uma passagem segura de volta aqui no Croak10, onde ela é processada e colocada em armazenamento, por assim dizer. — Vessel? Zara lhe entregou a pequena esfera branca com o tamanho aproximado de uma bola de beisebol. Lex colocou suas mãos em concha ao redor de sua superfície suave e maravilhou—se com os fios de seda que foram tecidos juntos para dar sua forma. Lex devolve—o para Zara, em seguida, procurou o rosto de Tio Mort por uma explicação. — Então espere. — ela disse, sua mente entorpecida. — Eu realmente tenho que Matar as pessoas? — Ter que matar? Não. Você não tem que fazer qualquer coisa. Mas você está aqui porque você é especial e você é especial porque – bem, eu não gosto de lançar mão de palavras como ‘destino’, mas vamos colocar dessa forma: esse trabalho escolheu você. Querendo ou não, você retribuir é completamente seu chamado. — Lex não sabia o que dizer. Sua garganta estava seca. Ela sacudiu sua foice aberta novamente e começou a lançá—la distraidamente de uma mão para outra, mas Tio Mort rapidamente agarrou—a no

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Seria uma espécie de assassino, que retira a alma finda a vida no corpo. Espécie de selecionador de almas, leva as almas. 8 Espécie de energia. 9 Espécie de recipiente. 10 Lugar do mortos. 7


ar. — Uma foice não é um brinquedo. — ele repreendeu. — Ela é sua amiga mais próxima, ferramenta mais valiosa e uma habilidosa gazua11 em caso de emergência, mas nunca um brinquedo. — Ele colocou cuidadosamente de volta na sua mão. — Ceifar é como nós entramos no éter para chegar aos nossos alvos. Para que nós façamos nosso trabalho, nós precisamos entrar e sair tão rapidamente e eficazmente quanto possível. Aí é onde a foice entra. — Ele sacou sua própria foice, uma arma um pouco maior feita de – Lex quase engasgou. — Isso é diamante? — Sim. Cada foice é feita a partir de um metal, rocha ou mineral diferente. O material de sua foice diz algo sobre sua personalidade... Ou algo assim. Eu não sei, eu não compro facilmente qualquer dessa merda hippie. — Zara abafou uma risada. — Basta dizer que sua foice é sob medida para você e você somente. — ele disse. — Trate—a bem e servirá você com o máximo de fé e lealdade no triste fim. — Mas como você conseguiu diamante? — Sei lá. É o mais duro mineral que exite, certo? E eu sou… Teimoso? Um osso duro de roer? Duro de olhar? Eu não sei, escolha seu favorito. Verifique a de Zara. Zara levantou sua foice, feita de prata brilhante. — Auto explicativo. — Do que é a minha? — perguntou Lex, correndo seus dedos sobre a pedra fria. — Obsidiana. — disse Tio Mort. — Uma das mais suaves e afiadas lâminas conhecidas pelo homem. Usada em cirurgias, na verdade. Lex interrompeu antes que ele pudesse lançar o que era, sem dúvida, assustadoramente vasto conhecimento de suprimentos médicos. — Mas o que isso significa? Ele coçou o queixo com barba por fazer. — Obsidiana é um tipo de vidro formado a partir de rocha ígnea, encontrado na lava fluídica em torno dos vulcões. Ardente e explosivo – eu diria que é você em poucas palavras.

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É o termo usado para se referir a uma ferramenta qualquer que tenha por função fazer funcionar fechaduras e cadeados.


Lex girou sua foice sobre suas mãos mais uma vez, incapaz de tirar seus olhos dela. — É incrível. — E tão escura. Também. — Zara disse. — Eu nunca tinha visto uma tão escura antes. Tio Mort rolou seus olhos. — Então está combinado, a foice é totalmente um sonho. — Ele levantou—se e sorriu aquele sorriso deslocado novamente. — Mas não é nada mais do que uma faca de manteiga até que você a coloque em ação. — Hummm. — Infelizmente, — ele continuou em uma voz que sugeria que não havia nada de infeliz sobre isso tudo, — não há coisa melhor como treino quando se trata de ceifar. Você apenas tem que saltar direto e rezar para que todas as partes de seu corpo faça isso com você. Lex ficou de pé, seus nós dos dedos incrivelmente brancos contra o ébano da foice. — Agora? — ela disse nervosamente. — Só isso? — Eu achei que você quisesse ser poupada das amabilidades. Zara ficou de pé. — Tente visualizar o ar a sua volta como uma substância viscosa e fluida que pode ser rasgada fisicamente. — ela disse a Lex. — Agarre a foice firmemente em suas mãos – você irá querer usar ambas ao mesmo tempo – então traga ela para baixo tão duro e rápido quanto você puder numa espécie de movimento cortante e dê ao seu pulso um pouco de movimento no final, como se você estivesse atirando um Frisbee. — Em seguida salte por ele. — adicionou Tio Mort. — Simples. — Espere. — Lex disse. — Pular através do que? — Esteja pronta para ir em poucos minutos. — Ele girou sua própria foice como uma pistola, enfiando sua mão no bolso e se afastou para longe, cutucando seu Pulso. — Eu apenas preciso chamar o Banco, dizer—lhes que você está pronta para ir. Lex votou—se para Zara. — O que o Banco tem a ver com isso? — Bem, o Banco não é realmente um banco. — Zara disse. — É mais como um comando central para tudo no Croak. As pessoas que trabalham lá são como o controle do tráfico aéreo, programando nossas foices para rotas de transportes para os alvos adequados. Cada vez que uma nova morte é colocada em jogo, eles retransmitem ela para qualquer equipe que está livre agarrá—la.


Eles ficaram em silêncio por um momento. Lex olhou para cima para os ramos fantasmagóricos da árvore. — Isso não pode ser real. — ela murmurou para si mesma. Zara olhou para ela. — Não ficará muito mais real. — Mas sério. Nós realmente temos o poder de golpear as pessoas? Zara soltou um bufo exasperado, como se ela tivesse estado sobre isso incontáveis vezes antes. — Nós não batemos nos homens, Lex. Nós não causamos a morte. Nós apenas estamos lá para pegar os pedaços. — Hã? — Tudo bem, a cabeça de um cara foi cortada. Ele está morto, certo? Mas sua alma não está. Nosso trabalho é remover a alma viva do corpo morto. No espaço de yoctosegundos – isto é sete milhões de segundos – depois da morte nós pulamos através do éter com a distância de um braço para o alvo, Kill12 ou Cull13, em seguida, saímos. — Então por que os termo ‘Killer’, se o alvo já está morto? Zara olhou quase surpresa pela pergunta. — Gamas são nossas vidas inteiras. Tudo o que aconteceu para nós, todos que nós encontramos, cada sentimento que nós já tenhamos sentido. Um corpo – mesmo um corpo fisicamente morto – está tecnicamente ainda vivo se a alma estiver dentro. Então o que um Killer realmente faz é remover cada última parte do que faz uma pessoa humana. Se ela não for Killing14, eu não sei o que acontece. — Ela olhou Lex. — Almas vivem sem seus corpos. Mas corpos sem alma não são nada além de adubo. Com isso, Zara manteve um postura paciente e olhou para suas unhas, seu cabelo prateado ofuscado pela luz do sol. Lex, por outro lado, sentia fortemente que ela devia começar a gritar. Cada curiosa parte de seu cérebro que Tio Mort tinha falado tinha aumentado e ampliado tão perversamente que Lex temia que ela tivesse aberto um buraco em seu crânio para aliviar a pressão. Zara virou para ela. — Você está se divertindo? Lex atirou. — Eu deveria estar?

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Assassinar. Selecionar. 14 Assassinada. 13


— Eu não sei. — disse Zara com um olhar interrogativo. — Mas eu aposto que você terá um excelente desempenho aqui. Você é... Diferente. Lex estreitou seus olhos. — Diferente como? — Pronta garota? — Tio Mort interrompeu quando ele se aproximou. — Você está pronta para ir. Você fará um pequeno deslocamento de cinco alvos com Zara, e então amanhã nós estabeleceremos o seu novo parceiro. — Zara não é minha parceira? — Não, ela é apenas uma substituta, apenas aqui hoje para ajudar com o treinamento. — ele disse quando Zara removeu a Braçadeira de seu bolso e coloco—a. — Agora, como na maioria das circunstâncias, trios não são permitidos, mas eu estarei saltando no primeiro alvo para observar seu trabalho. Não preste atenção em mim, apenas se concentre no que você está fazendo. Zara chamará por ajuda se você tiver quaisquer problemas. — Ele bateu em sua Braçadeira. — Coopere com ela, siga sua liderança e nunca perca o foco. Mas o mais importante de tudo, — ele disse, sua voz diminuindo, — você deve acreditar com cada fibra de seu corpo que aquelas pessoas tem suas vidas chegando ao fim. Confie que você está fazendo a coisa certa ao tocá—las, porque você está – não importa o que. — Lex engoliu a seco. — O que acontece se eu não acreditar? — Então suas almas ficarão presas em seus corpos para sempre. Acredite em mim, você não quer ser um dos responsáveis por eliminar o direito de alguém a vida eterna após a morte. — Ele se inclinou quase que ameaçadoramente. — Mas isso não está indo acontecer, vai? Você tem um trabalho a fazer agora, Lex, e com certeza você está indo fazê—lo. Você entendeu? — Sim, mas– — Sua boca parecia um deserto. O que estava errado com ela? Volte para casa, como tiranossauro Lex não teria tido nenhum problema em distribuir esse tipo de destruição. Ela teria saltado dentro do éter no mesmo instante, fazendo isso facilmente, passando por aqueles dois sem se preocupar com o mundo e talvez até mesmo dando—lhes umas concussões pelo caminho. Mas Lex sabia como o buraco daquela parte má dela realmente era. Todas aquelas pequenas explosões de violência – elas pareciam tão vazias e sem sentido agora que ela encarava uma tarefa com tal importância. Nada a tinha preparado para isso.


Lex olhou para seu tio, o peso e a realidade da situação finalmente penetrando. — Eu não sei se eu posso fazer isso. Ele assentiu calorosamente, sentindo a mudança nela. — Eu acho que você pode. Lex lambeu os lábios, olhando ao redor pera seu pequeno círculo de conterrâneos e apertou sua mão na foice. Iinalando profundamente, ela a levantou sobre sua cabeça e deslizou para baixo através do ar apenas como Zara tinha instruído. Seu corpo ficou imediatamente tenso. Ela não tinha esperado encontrar resistência – no meio do nada? Ainda assim ela continuou lacrimejando, lembrando—se de cortar com a foice no ângulo em direção a parte inferior até que um rasgo no tecido do espaço misteriosamente apareceu diante dela – uma linha ondulada já se definindo, como se uma turva umidade passasse através de uma estrada sob o sol escaldante. — Deslize. — Tio Mort disse. Lex olhou para o rompimento. Ela se inclinou mais perto e mais perto até que as leis da gravidade implodiram—se mais uma vez. Um espiral de dinamização caiu sobre ela como uma oportunidade, encharcando todos os átomos de seu corpo. Eventualmente o caos chiou uma parada bizarramente silenciosa. Congelado em frente a ela estava um homem de meia idade em uma maca, seu peito aberto e expondo toda sua brilhante e nojenta glória. Lex espiou através do ar borrado das esterelizadas paredes brancas, o tipo que podia somente pertencer a uma sala de operação. Um time de médicos e enfermeiras rodeava o homem, seus rostos travados em expressões de preocupação e determinação. Um cirurgião tinha colocado suas mãos em concha ao redor do coração do paciente, o massageando de volta a vida. Seus esforços obviamente tinha sido infrutíferos. — Faça isso! — Zara disse para Lex. — É seguro, vá em frente! Lex engoliu, a imagem do coração brilhando queimou em sua memória. Ela nunca tinha visto nada tão terrivelmente real. Estremecendo, ela levantou sua mão, lentamente estendendo seu dedo e tocando o ombro do homem.


Um choque percorreu seu corpo com pura força e o brilho de uma explosão de supernova. Lex engasgou. Isso não era como o éter. O éter era vertiginoso e engraçado, mas isso – o que quer que fosse – isso era excruciante. Ambos, corpo e mente foram atormentados por uma corrente elétrica, do tipo que Lex nunca tinha experimentado – uma sensação quase de outro mundo pulsando para cima e para baixo, espasmando seus nervos, dilacerando cada espessura dela – — Lex? — Tio Mort disse. Ela piscou forte enquanto o impulso diminuia. Ela atirou um olhar desesperado para seu tio, que por alguma razão olhava impressionado ao invés de concentrado. A expressão de Zara, por outro lado, era o mais estranho acúmulo de temor, horror, surpresa, inveja, raiva e o menor sinal de — –isso era curiosidade? Mas isso acabou tão rápido quanto tinha vindo à tona, seu rosto fundindo— se em um olhar de concentração enquanto ela terminada de Culling15 a brilhante Gama e colocando—a no Vessel. — Ceife, agora. — Zara instruiu. Lex mal podia respirar. — Espere– eu não posso— — Vamos. — Zara agarrou a mão de Lex enquanto elas simultaneamente ceifavam para dentro do éter – e acabavam do lado de fora tão rápido, desta vez sem Tio Mort. Elas estavam em um beco. Um morador de rua de sexo indeterminado caído deitado no chão. — Vá. — Zara disse. — Mas isso queima. — Lex engasgou. Desta vez o rosto de Zara nada entregava. — Vamos, apresse—se. Lex lançou a ela um doloroso olhar de súplica, mas ela sabia agora que isso não a levaria lugar nenhum. Ela tinha um trabalho a fazer e ela estava certa que o faria. Então ela fechou seus olhos, estendeu seus dedos e entrou no mundo de dor mais uma vez.

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Selecionando.


Mais uma vez Zara terminou a Culling16 e elas tinham ceifado os destroços mutilados de uma acidente de carro, Lex não se preocupou em olhar para o sangue espalhado em todo o para—brisa quebrado antes de bater seus dedos no braço do motorista. Qualquer coisa para acabar com isso tão rápido quanto possível. Após sua chegada no hospital, ela mal notou os membros da família chorando ao lado da cama do paciente com câncer quando ela estendeu seu toque. E quando elas aterrissaram numa luxuosa sala de estar onde um jovem homem estava espalhado pelo sofá, apenas depois que ela o golpeou na nuca que ela registrou o burraco de bala vermelho brilhando em seu peito. E o olhar assustado em seu rosto. E a– — Bom trabalho. — Zara disse em uma voz que soava menos do que sincera. — Vamos voltar. Zara preparou sua foice, mas Lex não tinha se juntado a ela. Ela estava olhando a porta da cozinha. Uma figura estava em pé lá, as observando. E apontava uma arma.

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Selecionando.


Sete — Quem é essa? — Lex perguntou. Zara olhou para cima. — Quem? — Aquela mulher lá em cima – ela está nos observando! — Não, ela não está, ninguém pode nos ver. Vamos, foice para cima, isso automaticamente te levará de volta para o Croak. — Mas ela tem uma arma! — Isso não importa! Ela está congelada no tempo, ela não pode dispará— la. Lex sentiu uma pontada de alívio, uma que rapidamente se derreteu em pavor. — Ela assassinou ele. — Vamos, Lex. As mãos de Lex repentinamente ficaram muito quentes. — Mas nós não podemos apenas deixar ela sair assim! — ela protestou, se lançando na direção da mulher. Algo tinha que prendê—la. Era semelhante a inexplicável raiva que ela sentia todas as vezes, mas – não, era muito mais do que isso – — Lex! Sem perder tempo, Zara agarrou seu braço, cortando o ar com a lâmina de prata, e puxando—a de volta para o éter.

***


Enquanto Zara desembarcou de volta no Campo com um salto gracioso, Lex caiu no chão como um filhote de girafa. Ela estava prestes a começar a gritar e talvez até mesmo socar, mas Tio Mort começou antes que ela pudesse cerrar seu punho. — Maldição. Lex! — ele disse enquanto ela se levantava, seu rosto radiante de orgulho. — Isso foi o mais tranquilo primeiro Kill17 que eu já vi! Como você se sente? Sua raiva diminuiu momentaneamente com esta manifestação generosa de elogios, embora suas mãos ainda parecessem anormalmente quentes e formigando. — Eu sinto... — Ela ficou sem palavras. O que exatamente ela devia estar sentindo? Culpa pelas vidas que ela tinha acabado de encerrar? Uma dor vigorosa pelas pancadas brutais? Raiva sobre a mulher que tinha escapado? Ou – e ela suspeitava que essa fosse a opção mais apropriada – vergonha sobre o fato de que ela aparentemente era tão boa nisso tudo? — Em conflito. — ela finalmente disse. — Eu sabia desde o início que você era autêntica. — Ele deu um tapinha em suas costas. — Como você conseguiu com os demais? — Na verdade. — Tudo bem. — Zara disse. A mandíbula de Lex caiu. Ela começou a contestar, mas o olhar que Zara disparou para ela podia ter silenciado uma capela18 de macacos guinchando. — Overdose, acidente de carro, câncer, ferimento por arma de fogo. — Zara enumerou rapidamente. — Bom trabalho, no total. Eles foram interrompidos pela Braçadeira de Tio Mort. — Isso deve ser Norwood. Espere um segundo. — ele disse, se afastando e gritando no seu pulso. Zara olhou para Lex. — Seja bem—vinda. — Você está louca? Nós apenas deixamos uma assassina solta sem nenhuma razão!

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O termo tem como significação original assassinar ou matar, mas como Lex é uma ceifeira, encaixasse melhor como ceifar. 18 Substantivo coletivo que denomina macacos.


— Nós temos muitas razões. — Zara disse sob sua respiração. — Você tem alguma ideia de quantos problemas você poderia ter começado com isso? Eu apenas salvei sua bunda voltando aqui! Apenas mantenha o plano por enquanto, ok? Lex abriu sua boca para dizer a Zara exatamente onde ela gostaria de enfiar o tal plano, mas Tio Mort tinha terminado sua chamada, então ela foi forçada a deixar isso ir. Mas ela continuou a olhar para Zara, que agora tinha um olhar de satisfação em seu rosto. — Está tarde. — Tio Mort disse. — Você está pronta para ir para casa? — Já?— Lex olhou para cima em descrença pelo céu escuro. Ela não tinha tomado o café da manhã somente a pouco tempo atrás? — Eu disse que o tempo voa. — Ele virou seu rosto para Zara. — Obrigado por sua ajuda, Zar. — Sem problemas. E boa sorte amanhã. — ela disse a Lex. — Você precisará. — Por quê? — Oh, nenhuma razão. — ela disse enquanto ela caminhava de volta para a cidade. — Seu parceiro é um pouco temperamental, isso é tudo. Lex bufou, — Quem aqui não é?

*** No segundo que ela entrou na cozinha, Lex percebeu que estava faminta. — Eu estou prestes a roer meu braço. — ela disse para Tio Mort. — O que há para o jantar? — Jantar? — Ele olhou confuso. — Eu já dei seu café da manhã. — Bem, na maioria dos planetas, tutores alimentam suas crianças com três refeições por dia. — Isso parece excessivo. — Quais são seus sentimentos por pizza congelada? — uma terceira voz perguntou.


O garoto daquela manhã estava de braços cruzados no batente da porta. — Mort não acredita realmente na culinária. — ele disse, entrando no cômodo. Ele abriu a porta do freezer e agilmente transferiu uma pizza da caixa para o micro— ondas. — Ele chama de desperdício de tempo e de ácido sulfúrico. Lex tentou disfarçar uma expressão desgostosa de curiosidade e aborrecimento que tinha involuntariamente aparecido em seu rosto. — E você saberia o motivo, pois você é... — O garoto da piscina. — Não há piscina! — ela virou para Tio Mort, a ira crescendo mais uma vez. — O que ele está fazendo aqui? Tio Mort soltou um melodramático encolher de ombros, — O que qualquer um de nós faz aqui, realmente? — ele disse, agitando os braços filosoficamente. — Jesus. Vocês são do mal. — Isso não é maneira de falar sobre seu tio. — seu tio disse. — Ou seu parceiro. — Driggs adicionou. — O que? — Lex gritou, um novo conjunto de emoções borbulhava. Não sabendo o que mais fazer, ela agarrou o saleiro e atirou nele, seguido pela pimenta. — Você é meu parceiro? Driggs pegou ambos os itens e começou a fazer malabarismo. — Sim, ele é. — disse Tio Mort. — E no caso de você esquecer, você ainda tem um semana cheia de treinamento – treinamento que eu posso facilmente cancelar e transformar em único bilhete de volta para casa se você continuar agindo como uma troglodita— . Lex franziu a testa, mas baixou o pote de açúcar que ela tinha preparado. — Então vocês dois, é melhor encontrarem uma maneira para se dar bem. Agora se abracem. — De maneira nenhuma. — Ela olhou para Driggs. — Eu não estou abraçando isso. — Oh sim você está. — Tio Mort estava adorando aquele pequeno show. — Sejam amigos ou outra coisa. Ela não tinha escolha. Cuidando para evitar o olhar de Driggs, Lex relutantemente entrou no gelado abraço. — Você não tem nenhuma intenção de fazer amizade, não é? — Driggs sussurrou.


— Eu prefiro tomar um banho com uma torradeira. Alheio aos seus murmúrios, Tio Mort deu um aceno satisfeito enquanto eles se retiravam. Driggs, um olhar malicioso em seus olhos azuis, retirou a metade da pizza assada do micro—ondas, fatiando—a em duas metades desleixadas e gesticulou para Lex segui—lo. — Nós vamos construir alguma confiança, ok, Mort? — ele disse, desaparecendo com os pratos pela porta. — Sim, tudo bem. — Tio Mort murmurou enquanto eles saiam. — Façam laços. Lex observou Driggs subir uma escada com seu jantar. — Suba. — ele disse. Chegava uma hora na vida de uma garota quando ela é instruída por um completo estranho a subir uma escada alta para jantar no sótão e em quase todos os casos a melhor coisa a fazer é recusar e correr para casa e ligar para o hospício do qual o estranho escapou. Mas depois de um dia terminando com a vida de pessoas vivas e cortando pelo espaço—tempo com mágicas lâminas de bruxas, Lex descobriu que outra dose de absurdos não podia machucar. Então ela pegou os degraus e arremessou—se para cima sobre a superfície suavemente inclinada. — Aqui. — Driggs disse, atirando—lhe sua metade. Infelizmente, Lex e projéteis nunca tinham se dado bem. Ela pegou, se atrapalhando e observou enquanto o pedaço deslizou graciosamente no chão. Lex, que tinha esperado manter sua incompetência atlética em segredo por pelo menos mais do que um dia nesta nova cidade, sentou chocada e refletiu sobre esta irritante situação. Aqui estava ela, jogando fora seu jantar na frente de um garoto estranho com quem ela em breve estaria trabalhando em uma estreita proximidade diariamente e que, por razões que ela ainda não podia averiguar, era imune as suas ameaças habituais. Como ela poderia ser parceira de um garoto que tinha tão caprichosamente inserido a si mesmo em sua vida e que teve a audácia de ignorá—la agressivamente? Irritada, ela olhou para baixo para as poucas luzes cintilantes do vale de Croak. Ela podia apenas perceber os galhos íngremes da Ghost Gum da luz do luar, sua copa um pequeno ponto contra o céu escuro. Driggs silenciosamente entregou—lhe o restante de sua própria pizza, em seguida observou com divertimento enquanto ela lutava com uma forma de aceitá—


la com humildade. Eventualmente ela desistiu do decoro e empurrou a coisa toda dentro de sua boca em apenas duas mordidas, uma desajeitada decisão que ela instantaneamente se arrependeu. — Você tem molho em sua narina. — Driggs a informou. Lex suspirou. — É claro que eu tenho. — Ela agarrou uma folha nas proximidades e cuidou da situação. — Melhor? — Radiante. — Ele sorriu, recostando—se em seus cotovelos e a observando com expectativa. Lex olhou de volta, confusa. Ela agarrou a folha e limpou o rosto de novo, mas ele ainda não afastou o olhar. — O que? — Você não tem nenhuma pergunta? Eu quero dizer, Mort ama seus segredos e Zara nunca elabora sobre qualquer coisa, especialmente para os novatos. O que quer dizer que se você quer alguma resposta, eu sou seu cara. — O que você poderia possivelmente me contar que eu não possa aprender na parte de trás de um menu infantil? Ele sentou—se. — Eu sei o porquê trouxeram você para o Croak. Você sabe? Lex inalou bruscamente. Ela não tinha ansiado por nada além de informações desde que ela chegou e agora aqui estava, balançando na frente dela como um copo de Caramelo Mocchiato. — Não, por quê?— ela disse zangadamente, esquecendo todas as regras de espaço pessoal quando ela agarrou sua camiseta. — Por quê? — Relaxa, nervosinha19. — Ele riu, balançando seus cotovelos. — Você está aqui devido um aumento no livro das tendências esgoístas e violentas de comportamento. A única coisa que todos nós temos em comum. Isso foi claramente dito diretamente para ela. Uma explicação. O coração de Lex saltou tão alto, ela não teria se surpreendido se ele pulasse fora de seu peito e começasse a sapatear nas telhas. Neste momento, todas as questões, todas as detenções – uma resposta concreta. Ela não podia esperar para dizer a Corby – ela fez uma careta. Cordy. Elas tinham estado um dia inteiro sem se falar.

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Significa uma pessoa que age de modo insano ou desajeitado.


Lex expeliu isso para fora de sua mente. Ela resenharia o sentimento de culpa depois. — Todos nós costumávamos ser benditos terrores. — Driggs continuou. — Os períodos selvagens desvaneceram assim que nós chegamos aqui. — ele disse, olhando para sua mão arranhada. — embora em alguns casos, pode demorar mais tempo. — Desculpa. — Lex gaguejou, largando sua camiseta. Ela limpou sua garganta. — Foi isso o que aconteceu com você? — Yep. Eu nem sempre fui o balaurte da virtude que eu sou hoje. Em um minuto eu era uma criança imaculada, no seguinte, um selvagem um pouco criminoso. Envolvendo—me em lutas, usando drogas, roubando coisas. Fui pego algumas vezes, mas eu não me importava. — E seus pais? — Ambos não se importam. Lex pensou que era muito triste, mas ela decidiu não dizer, de qualquer modo. — Como você acabou aqui? Ele se iluminou. — Isso foi o que Mort fez. Mostrou—se uma noite e ofereceu—me a chance de fazer alguma coisa produtiva com minha vida. — E você foi com ele? — Lex perguntou duvidosa. — De boa vontade? — Mort é um cara persuasivo. — O que seus pais fizeram? Driggs olhou para longe e ficou em silêncio. — Eles não se opuseram. — ele disse depois de um momento. Lex estremeceu. Ela nunca foi boa em nada daquela coisa toda de consolar. — Pizza boa. — ela soltou em vez disso, imediatamente detestando a si mesma. — Sim. — ele disse com ironia. — Mama Celeste é um gênio da culinária. Lex engoliu essa indignidade e pressionou. — Mas por que você vive com Tio Mort? — Seus olhos se arregalaram em terror. — Nós não somos parentes, nós somos? — Não! — ele disse um pouco rápido demais. — Eu quero dizer, não. — Então... Não?


— Certo. Não. — Ele correu sua mão por seu cabelo, a atmosfera no telhado afundou rapidamente em uma fossa de constrangimento. — Uh, devido a circunstâncias atenuantes, Mort me recrutou quando eu tinha quatorze anos e não dezesseis como todos os outros. Eu não podia realmente viver no dormitório com os garotos mais velhos ainda, então ele me deixou ficar em sua casa – e quatro anos depois eu ainda não sai. Eu gosto da companhia do cara. — ele disse com afeição. — Suas divagações dementes aquecem meu coração. — Então espere um minuto. Quantas outros garotos estão aqui? — Há sete de nós júniores em treinamento – agora oito, contando você. — E vocês todos fazem o mesmo tipo de coisa que eu aprendi hoje? — Yeah, mais ou menos. Pense nisso como um estágio. Dura cinco anos, até você completar vinte e um anos. Então você torna—se um Sênior. Lex olhou de vota para a árvore Ghost Gum de novo, sua mente espiralando. Aqui estavam eles, falando sobre tudo isso como se fosse um divertido acampamento de verão, quando na verdade Lex tinha encontrado pessoas hoje nos últimos momentos de suas vidas e então passou a findá—las. Apenas não parecia certo. Mas não parecia errado, também. — Eu não entendo. — ela disse. — Eu quero dizer, por que adolescentes? Por que escolher a mais imatura pessoa na terra para lidar com enorme responsabilidade? Dirggs olhou para cima para as estrelas, então de volta para Lex. — Você conhece A Fantástica Fábrica de Chocolates? Lex olhou. — O mundo de pura imaginação? — ele adicionou. — Eu estou familiarizada com o mundo de pura imaginação. — Lex disse secamente. — Eu apenas sou cética quanto como a fabricação de doces é de alguma maneira similar com colher almas mortais. — Você sabe como no final, Willy Wonka dá a Charlie a fábrica? — Driggs continuou. — Você lembra o motivo pelo qual ele escolheu uma criança? — Yeah, ele disse que adultos queriam fazer todas as coisas de sua própria maneira, enquanto uma criança —


— Aprenderia todos os segredos. — disse Driggs, — e manteria os segredos. — Ele jogou uma pedrinha do telhado. — Eu quero dizer, agora que você viu o que realmente se faz aqui, você pensou por pelo menos um segundo em nos dedurar? — Não, mas. — A ansiedade silenciosa que tinha sido bombeada por suas veias desde que Tio Mort tocou a velha mulher veio derramando tudo de uma vez. — Eu apenas acho que pertubador que aquelas pessoas – nós pessoas comuns, mortais e idiotas – sejam responsáveis por tudo isso. E nós temos acobertado isso pelo quê, milênios? Você realmente espera que eu acredite nisso? — Apenas porque é o maior segredo da história do mundo não o torna mesmo verdadeiro. Mesmo Lex não podia pensar em uma sarcástica resposta para isso. — Acabei de explodir sua mente? — Driggs pediu. — Eu acho que eu simplesmente explodi sua mente. Com isso, ele puxou um punhado de pelo menos doze Oreos20 de seu bolso e empurrou três em sua boca. — Ooooo quê tu cho sso? — ele perguntou, pulverizando—a com migalhas de biscoitos. Lex pegou uma migalha de seu cabelo. — Perdão?— — Desculpa. O éter. — ele repetiu dando a ela um biscoito. — O que você acha disso? — Eu não sei. — ela disse mastigando pensativamente. — Alto? Turbulento? Excepcionalmente divertido? — Ela pensou no redemoinho vazio. — Por que é assim? — Driggs encolheu os ombros. — Eu acho que tem algo a ver com o fato que você está viajando por cada pedaço da humanidade que já existiu, mas tudo de uma vez. Uma incomensurável profundidade acrescida de ausência de gravidade mais belas cores é igual bastante agradável. — E altamente viciante. Eu poderia a voar naquela coisa o dia todo. É o paraíso comparado com a tortura de Killing21. Driggs sentou—se abruptamente, derrubando um par de Oreos nas telhas. — Qual é a tortura? Lex olhou para ele, perplexa. 20 21

Bolacha recheada parecida com Negresco. Ceifar findando à vida.


— Tocar os alvos. Quando isso acontece, esse choque que você recebe. Ele franziu a testa. — Você sabe o que eu quero dizer, certo? — Lex continuou concentrada. — Parece como eletrocussão? Confie em mim, eu toquei um fio exposto quando eu tinha dez anos e não foi nada comparado a isso. — Isso é— — Driggs olhou preocupado. — Isso não é posposto acontecer. — O pescoço de Lex se arrepiou. — O que você quer dizer? Eu não estou inventando isso. Ele a estudou mais seriamente agora. — Eu não disse que você estava. Lex tentou varrer a ansiedade fora de seu rosto, mas seu mecanismo de limpeza parecia estar quebrado. — Talvez seja diferente para Cullers22. Driggs balançou sua cabeça lentamente, nunca quebrando o contato visual. — Não, é a mesma coisas para todo mundo, Killing ou Culling23. Você somente sente um pequeno pinçar em seu dedo, como um choque estático. — Oh. — Lex disse. Ela devia ir em frente ou deixar ir? Talvez essa fosse a uma daquelas coisas que as pessoas deviam manter para si mesmas, como o ódio por bebês pandas ou a paixão por música polka. Todo mundo precisa de um segredo ou dois. Mas o que a fazia tão diferente? Driggs ainda estava olhando para ela. — Por que você não disse qualquer coisa sobre isso antes? — Você quer dizer, porque não levantei essa única coisa ridícula em meio a bilhões de outras coisas ridículas que aconteceram hoje? Eu não sei, boa pergunta. Eu entrarei em contato com você sobre isso. — É apenas um tipo de grande problema, é tudo. — Bem, eu sou um tipo de grande problema. Um sorriso se espalhou pelo seu rosto. — Eu posso ver isso. Lex exalou irritada, morrendo de vontade de mudar de assunto. — Esqueça isso, ok? Deus, você é pior do que Zara. Ele riu. — Eu duvido disso. Ninguém é pior do que Zara. O que ela fez para você? 22 23

Selecionadores , aqueles que levam as almas. Ceifando ou coletando (selecionando).


Lex encolheu os ombros. — Nada. Eu quero dizer, ela foi legal no começo, depois uma espécie de cadela, eu nem mesmo sei o porquê. — Não leve isso para o lado pessoal. — ele disse. — Isso acontece todos os anos. A garota odeia novatos. Ela é a melhor Júnior no Croak, então ela fica toda ofendida e competitiva quando uma pessoa nova invade seu território. E já que você conseguiu tanta atenção, o ciúme está, provavelmente, comendo ela viva. — Atenção? — Lex deixou escapar um pequeno suspiro de alívio. — De quem? Driggs olhou assustado, como se percebesse que ele tinha dito mais do que ele devia. — Não é grande coisa, apenas pequenos rumores aqui e ali. Todo mundo está curioso sobre como você se sairá – você sabe, já que você é sobrinha de Mort e tudo. Como uma deixa, uma grande nuvem de fumaça cresceu rapidamente na janela do porão e afastou—se passando o telhado. — Sim, sorte a minha. — Lex disse, farejando o ar. — Ele faz com que seja difícil de dizer, mas Mort é realmente um gênio certificado. Você devia ver o laboratório que ele tem lá embaixo. Toneladas de dispositivos, experiências, antenas parabólicas, quem sabe o que mais. Ele foi quem inventou as Braçadeiras – ideia brilhante, usando infusão de ferro no éter para contornar as zonas mortas de recepção. E ele sabe mais sobre o Croak do que qualquer um. Além disso, ele está encarregado de pesquisar lá fora novos júniores – eu não tenho ideia de como ele os encontra, mas a cada ano que ele vai, os localiza como um feixe a lazer. É um dom, eu acho. — Yeah, bem, isso não compensa sua falta de sanidade. Ou instintos paternais. Ou habilidades de decoração. Você vê que horrível exibição de vômito feminino que é para ser o meu quarto? — Oh? Você não gostou? — Inferno, não. — Por que não? Titanic é um clássico antemporal. A suprema história de amor. Uma das mais imponentes realizações cinematográficas– — Espere um maldito minuto. — Lex interrompeu quando sua expressão séria começou a rachar. — Você fez isso? De propósito?


— Não, garotas gostam de Titanic? Para seu crédito, Lex realmente tinha tentado. Ela tinha conseguido conversar com alguém de sua própria idade por um extenso período de tempo sem sentir a necessidade de lançá—lo pra fora do telhado. Mas isso – isso era imperdoável. Então ela cerrou seu punho, recuou o braço e golpeou—o direto no olho azul. Ela engoliu um sopro frio de ar noturno. Que parecia tão bom. Até que outro tapa forte ecoou dentro do céu. Um espasmo de dor rasgou pelo seu rosto, sua visão explodindo em estrelas. — Você me bateu de volta?! — ela gritou. Driggs estava espasmado pela descrença de sua própria mão. Lentamente, ele se recuperou e olhou para ela por seu olho bom. — Eu tenho a sensação que você ficaria mais ofendida se eu não o fizesse. Lex olhou de volta. Ele não poderia estar mais certo. — Você não pode bater em uma garota. — ela disse, seu rosto ruborizando. — Você me bateu primeiro. — Então? — Então eu estava me defendendo. Lex bufou. Isso estava ficando terrível. — Você não pode fazer isso! — Parece que eu acabei de fazer. — ele replicou com uma risada pomposa. Ela fez uma careta. — Você não é normal. — Nem você é. — ele disse com um sorriso irônico. — E não se preocupe Lex – agora que você é um de nós, ninguém cometerá o erro de pensar assim nunca mais.


Oito Na manhã seguinte, enquanto Lex aninhava—se confortavelmente na cama, um ruído de chocalhos explodiu em meus ouvidos. Ela abriu os olhos para contemplar Driggs batendo—os vigorosamente, um sorriso malicioso em seu rosto e um grande hematoma ao redor de seu olho. — Eu espero, para o bem de sua fertilidade que você esteja usando um protetor. — ela alertou com os dentes cerrados. — Vamos. — ele disse saltando no colchão. — Está na hora de trabalhar. Lex gemeu. — Como é que você já está tão acordado? — Se você se recorda, eu comi um monte de chocolate. — Dez minutos e duas disputas no banheiro depois, eles deslizaram em seus assentos na mesa da cozinha. Tio Mort deu uma olhada nos olhos roxos deles e assentiu. — Yep. — ele disse para si mesmo, voltando para seu jornal. — É mais ou menos o que eu esperava.

*** Depois do café da manhã, o trio se dirigiu ao ardente sol da manhã e foram para a cidade. Lex bocejou. Além da dor em seu olho inchado, o rosto daqueles que ela tinha Killed24 continuaram com ela metade da noite. 24

Ceifado. Terminado com a vida.


Assombrosas imagens – o coração exposto, a pele amarelada de jornal da velha mulher, o disparo no peito do homem – agitavam—se ao redor de sua cabeça como um redemoinho torturante. Além disso, ela ainda não podia se acostumar em dormir em um quarto inteiro para si própria. Ela pensou em Cordy, que estava sem dúvida pronta para estrangulá—la nesse momento. Lex não tinha telefonado, não tinha escrito e não tinha nem mesmo enviado um e—mail. A menos... — Vocês tem internet aqui?— ela perguntou quando eles se aproximaram do Banco. — Pra quê? — Driggs perguntou. — E—mail. Ele deu a ela um olhar de lado. — Para quem você o enviará? — Minha irmã. Alguma pergunta mais, Pai? — Pare com isso. — Tio Mort disse a ela quando eles subiram as escadas para o Banco. — E preste atenção. Você está começando um típico dia de trabalho júnior. Cinco horas pela manhã uma hora de intervalo para o almoço, então mais cinco horas à tarde. — Bom Deus. — Aproveite enquanto você pode – Sêniores tem dois turnos de quatorze horas. Mas isso não é ruim. — ele disse ao vê—la com rosto pasmo. — O tempo se perde no éter, lembra—se? Cinco horas somente parece com duas. — Ele parou no pórtico tomando um gole de limonada. — Então aqui é o treinamento. Cada manhã você virá aqui para o Banco para se inscrever com as Cteras. — Espera, o que? — Cteras. CTE significa Controladores de Tráfico do Éter e o seu apelido apenas evoluiu de lá. — O que isso nos torna, então? — Bem, tecnicamente. — disse Tio Mort, — nós somos chamados de Remoção Gama e Gerentes de Imigração. — Mas somos mais comumente conhecidos como Grims25. — Driggs disse. 25

O Grim (em inglês: Church Grim; em sueco: Kirk Grim, Kyrkogrim; em finlandês: Kirkonväki) é uma figura do folclore inglês e escandinavo. Diz-se que são espíritos protetores das igrejas, cada um zelando pelo bem-estar da sua própria igreja. São descritos como cães negros ou como pequenas e deformadas pessoas de pele escura. Em partes da Europa, incluindo as Ilhas Britânicas e a Escandinávia, era costume enterrar vivo do lado norte dos terrenos de uma nova igreja um cão completamente negro, com o objetivo de criar um espírito guardião para a proteger do demónio. Figura sinistra do ceifeiro com capa preta, rosto de caveira e foice na mão para nós.


— Não posso dizer que eu aprovo o termo. Tio Mort agitou sua afiada foice e sorriu. — Nós não somos tão sinistros, somos? Lex riu. Tio Mort terminou sua limonada e abriu a porta do Banco. — Oi, Kilda. — ele disse apressadamente enquanto eles caminhavam pelo vestíbulo. Kilda sorriu. — Bom dia! Maravilhoso ver você! — Desculpe, terrivelmente apresado. — Tenha um dia resplandecente! Quando eles chegaram ao corredor, Tio Mort abriu uma porta à direita para revelar um enorme e elegante escritório, sua atmosfera totalmente fora de lugar comparado com o resto folclórico Banco. Zumbindo e girando na forma de um caos controlado, isso lembrava a Lex uma instalação moderna ultrassecreta do governo – ou pelo menos umas daquelas da televisão. Um homem de terno estava latindo ordens e um punhado de outras pessoas sentadas em máquina que pareciam um tipo de computador, mas não totalmente. Um grande aquário se extendia pela parede oposta, a água—viva no interior brilhava em azul como se ferozmente tentasse fazer sua parte para contribuir para a sensação futurista do lugar. — Isso. — Tio Mort disse, gesticulando para a sala, — é o cubo, onde todos os nossos ceifeiros são controlados e monitorados. As pessoas que trabalham aqui são muito boas no que elas fazem, por isso não – eu repito, não – entre em seu lado ruim. — Quem, eu? — Lex dizze em uma voz inocente. — Não comece, Lex. Norwood! — Ele caminhou até o homem de terno gritando. — Lex, esse é Norwood, diretor de controle de Tráfego do Éter. Norwood, essa é minha sobrinha, nossa mais nova Killer26. O homem avaliou—a com um olhar ameaçadoramente frio, o mesmo olhar que ele tinha dado a ela no dia anterior no corredor. — Foice. — ele disse bruscamente, estendendo sua mão. Lex olhou para Driggs, que entregou a sua. Ela relutantemente fez o mesmo, então observou enquanto Norwood conectava ambas ao lado de seu computador.

26

Ceifeira.


— E aqui está sua adorável esposa e codiretora, Heloise. — disse Tio Mort. — Bom dia, Hel. — Uma igualmente repugnante mulher se aproximou, esbelta e severa, usando um caro terno e uma feroz carranca. Ela meneou a cabeça. — Mort. — Seu cabeço ruivo puxado em um coque apertado não se movia uma polegada. Desarmada, Lex apoiou—se contra a escrivaninha, derrubando um grampeador no chão. Norwood resmungou. — Eles ficam mais incompetentes a cada ano, não ficam, Mort? — Ele correu uma mão pelos seus secos cabelos castanhos grisalhos. Lex meio que esperava uma nuvem de cinzas pulverizar fora dele. — Mais cedo ou mais tarde, um ‘deles’ será responsável por atear fogo na cidade logo que pisar nela. — Oh, eu não sei. — Tio Mort disse distraidamente, folheando uma pilha de papéis. — Eu não acho que o Fim da Linha seja inflamável. Norwood se inclinou para Lex, próximo o bastante para torcer o nariz de forma audível para ela. — O que você fez em seu olho? Chegou muito perto de um espelho? Lex estreitou os olhos para ele. — Bem, você não é um poço de felicidade. Heloise caminhou para o lado de seu marido, seus pontiagudos saltos batendo ameaçadoramente pelo chão. — Destrutiva e sarcástica— , ela disse, estalando sua língua e piscando para Lex um sorriso falso, — Sorte nossa. Tio Mort interveio antes que as coisas ficassem mais peludas. — Orientação, Norwood. Vamos. Norwood respirou profundamente, em seguida, pulou para seu discurso preparado em um monótono desinteresse. — Para sua primeira semana, você deve verificar todos os turnos comigo ou Heloise. Sem reclamações, sem lamentações, sem pedidos especiais. Depois da checagem, saia diretamente para o Campo para seu primeiro turno. Sem desvios, sem conversa, sem pausas para o café. Ele sentou em sua escrivaninha e começou a bater no estranho teclado que continha uma confusa série de símbolos ao invés de letras e números, bem como vários botões de forma estranha. Lex seguiu os cabos da máquina para baixo no chão, onde eles estavam fundidos com outros e serpenteavam por várias estações de trabalho, finalmente se conectando no fundo de um grande aquário de águas vivas na parede mais distante do escritório. — O que há com tudo o–


— Água viva detecta morte. — ele continuou, antecipando sua pergunta. — Todos os sinais de Gama recebidos chegam por elas e somente elas. Elas trabalham em uma gigantesca rede global, cada uma capaz de se comunicar com alguma outra no planeta, não importa a espécie. Nós usamos esse sistema por duas razões: águas—vivas existem em cada oceano e seu alcance é infinito. Uma única água— viva fora da costa Sul—africana pode perceber uma morte tão longe quanto o Alasca. A energia que elas exalam é tão profunda que ela mesma estende—se para o éter, desse modo alimentam nossa capacidade de ceifar os alvos designados. Quanto ao tanque de águas—vivas, não toque, não bata, não perturbe. Lex mais uma vez encontrava uma insuportável dificuldade em acreditar nas palavra que ela estava ouvindo. — E o que isso faz? — ela perguntou, estendendo a mão para a estranha máquina. — Ela tem internet? — Isso é uma Smack27. — Norwood disse, estapeando sua mão longe. — Se eu alguma vez pegá—la tocando nela, você perde um dedo. Heloise deu a Lex um olhar severo. — Smacks monitoram e decodificam todos os alertas Gamas que chegam para que nós possamos direcioná—los para vocês lá fora no Campo. Sem eles – e nós – vocês não seriam nada mais do que um par de moleques armados com facas brincando de faz de conta. — E assim termina a orientação Ctera. — Tio Mort adicionou antes que qualquer insulto mais pudesse ser arremessado. Norwood olhou para ele, batendo em mais algumas teclas e puxou as foices fora da Smack. — Tudo pronto. — ele disse, entregando—as de volta. — Obrigado. Vamos crianças. — Tio Mort fez um gesto para eles o seguirem enquanto ele caminhava para fora no hall. Lex olhou para a porta, mas uma vez mais Tio Mort estava fora de vista, Norwood agarrou seu braço e apontou um dedo em seu rosto. — Vamos deixar uma coisa bem clara, princesa. — ele rosnou. — Se você alguma vez nos der qualquer coisa menos do que um trabalho absolutamente estelar, eu farei você se arrepender do Nepotismo do Tio Mort ter contrabandeado você para cá. Entendeu?

27

Seria uma espécie de máquina que decodifica os sinais recebidos.


Heloise se inclinou para sussurrar no ouvido dela. Lex podia sentir sua respiração quente em sua bochecha, tão bem como o olhar de gelo de Norwood. — Nós estaremos observando você. — Venha, Lex! — Tio Mort gritou do corridor. Ela se separou de seu aperto e se juntou a Driggs do lado de fora do hall. — Por que eles são tão mal humorados? — ela perguntou a ele. — Quem sabe? — ele disse enquanto seguiam Tio Mort do lado de fora. — Mas eles são assim o tempo todo, então mantenha distância de seu desdém. É mais saudável dessa forma. Lex nunca tinha sido hábil em fazer qualquer coisa com seu desdém exceto causar lesão corporal. Mas curiosamente a ameaça de Norwood não tinha instigado um único desejo de sangrar seu nariz, arrancar seus olhos ou seguir por qualquer um de seus impulsos habituais de violência. Na verdade, ela podia até sentir a raiva se dissipar antes que pudesse emergir, escorrendo para longe de seu corpo com calma, em ondas compassadas. Ela contemplou essa serenidade recém—descoberta com uma cautela distinta. Driggs tinha dito que sua ferocidade desapareceria, mas durante a noite? Ela voltou a pensar na raiva que ela tinha sentido na cena de tiro ontem. Talvez sua raiva tivesse apenas se tornado mais focada em quem merecia. Mas ela poderia classificar tudo isso mais tarde. — Será que toda essa porcaria que ele acabou de dizer sobre água—viva é realmente verdade? — ela perguntou enquanto ela ia para o Campo. Tio Mort assentiu. — Pode apostar . — E vocês são os únicos que descobriram isso? Os cientistas do mundo ainda estão no escuro sobre os poderes místicos dos sinos da morte das pessoas fracas? — Biólogos não tem acesso ao mesmo conhecimento que nós temos. — disse Tio Mort, — e portanto não tem a tecnologia para perceber plenamente as habilidades de nossas queridas amigas gelatinosas. Lex abriu sua boca, em seguida a fechou. Qual era o ponto? — É por isso que as máquinas são chamadas Smacks. — Driggs disse, — porque ‘smack’ é o termo técnico– — Para um grupo de águas—vivas. — Lex terminou.


Ele olhou para ela em descrença. Ou admiração. Era difícil dizer. — Como você sabe disso? — Não é muito gentil da sua parte supor que eu sou apenas uma idiota raivosa tal como você. — Oh, eu nunca suporia o que eu já sei ser verdade. — Não pense que eu não deixarei roxo esse outro olho. — Não pense que eu não riria com prazer de sua tentativa fútil. — Crianças. — Tio Mort disse. — Coexistam, por favor. Lex coçou sua cabeça. — Então realmente, como esse lugar tem sido mantido em segredo por tanto tempo? Vocês são proibidos de sair? — Bem, Croak não é uma prisão. — Tio Mort disse. — Grims são livres para sair da profissão quando eles quiserem. Há somente um único problema: eles não lembram uma única coisa sobre isso. E, é claro, eles nunca podem voltar. — Isso são dois problemas. — Hei, a criança pode somar. — disse Driggs. — O que aconteceu com seu parceiro antigo? — Lex perguntou a ele. — Suicidou—se, eu imagino? Ele franziu o cenho. — Pior – negócios escolares. Você pode acreditar nisso? Dois anos em Croak, e então um dia o garoto decidiu que ele queria ser o próximo Donald Trump. Então nós o atiramos em um carro, deixamos ele perto de Woodstock, e agora ele pensa que passou os últimos dois anos numa confusa neblina de drogas em alguma comunidade hippie. — Belo pacote de desligamento. — É para nossa própria proteção. — Tio Mort disse. — O mesmo destino aguarda qualquer Grim que se recuse a Kill ou Cull seus alvos, ou quem sussurrar uma palavra de algo disto para o mundo do outro lado. Lex eriçou—se. Total confidencialidade? O que ela deveria dizer para sua irmã, que ela tinha estado tosquiando ovelhas esse tempo todo? Cordy nunca compraria isso. — Yeah, política de tolerância zero. — Driggs disse. — Um único movimento errado e você está fora. E não apenas banida do Croak – da esfera Grim, também. Memória limpa e está de volta na sua antiga existência miserável. Mas isso é


realmente raro. Muitas das pessoas estão nisso para vida toda. É uma apresentação muito doce. — Oh definitivamente. — Lex disse com amargura, pensar em voltar para a inquietação que ela tinha sentido enquanto ela Killing, os rostos daqueles alvos de ontem. — Findar com a vida das pessoas é uma piada. Tio Mort parou de caminhar e agarrou o ombro de Lex. Ela olhou para cima para ele, assustada, quando ele falou. — Os veterinários não se deliciam em colocar um animal doente para dormir, mas isso é parte do trabalho, não é? A alternativa seria desumana. — Seu rosto estava a centímetros do seu, seus olhos furiosos. — Lex, se você não está apenas sendo espertinha, se você realmente tem um problema com tudo isso, agora é a hora de dizer. Se você está hesitante, você está em dúvida e se você está em dúvida, tenha certeza, você nunca será uma Grim. Lex instantaneamente sentiu—se muito pequena. Não importava quão moralmente contrária ela estivesse se sentindo, uma coisa era certa: ela não queria sair. — Não, eu – a coisa de espertinha. Eu estou bem. Eu estou ok com isso. — Bom. — Tio Mort deixou o braço dela ir e começou a caminha de novo. Lex, intimidada, o seguiu. — Exceto que eu realmente não estou ok com o choque que vem em Killing pessoas. — Oh, o pequeno pinçar? — Tio Mort disse, aparentemente em melhor espírito. Lex não podia acompanhar aquelas oscilações de humor dele. — Isso não é nada. Você se acostumará com isso. Eu mal o sinto agora. — Não, eu quero dizer um choque maciço que parece como se eu estivesse enfiando meu dedo dentro de um cabo de eletricidade. — Sério? — Tio Mort disparou para ela um olhar curioso. — Interessante. — Na verdade, não. Doloroso. Por que isso está acontecendo? E por que somente comigo? Ele franziu a testa, perdido em pensamentos por um alguns momentos. — Eu não sei. — Ele encolheu os ombros. — Embora, eu aposte que tem algo a ver com aquelas suas habilidades naturais. Eu nunca tinha visto nenhum Kill tão rápido, especialmente na primeira tentativa. — Hummm?


— A maioria do Killers tem que manter seus dedos nos alvos por um segundo ou dois, mas você Killed instantaneamente. E eu nem posso contar o número de vezes que eu tive que correr para terminar o trabalho de um novato porque eles não conseguem perceber a Gama completamente. Mas você percebeu, todas as vezes. — Ele olhou para ela. — Melhor Kill novata que eu tenho visto em... Bem, nunca. Ela engoliu em seco. — O que você acha que isso significa? — Não tenho ideia. No mínimo eu diria que isso aponta para uma enorme quantidade de potencial adicional. Quem sabe onde você pode ir daqui? — Ele deu um tapinha em suas costas. — Eu tive a sensação de que você teria talentos. Lex enrugou seu rosto. Ele estava fazendo ela soar como uma nerd. — De qualquer forma, com um talento como o seu – Croak não é somente um jogo na cidade, você sabe. — Tio Mort continuou, seus olhos brilhando quando eles chegaram ao Ghost Gum. — Há outras cidades, outras posições. Escadas para se subir, lugares que você pode realmente ir, se você possuir tal ambição. — Talvez eu tenha. Ele olhou para ela. — Bem, isso é tudo muito distante. — ele disse, ondulando suas mãos para rejeitar o pensamento. — Primeiro você deve estabelecer uma sólida compreensão dos fundamentos. Isso exige monte de trabalho duro para ascender a uma posição como a minha. — Por que, o que você é? Driggs soltou uma risadinha enquanto ele vestia uma Braçadeira. — Ele é o prefeito, Lex. — O que? Você nunca me contou isso! — Detalhes, detalhes. — Tio Mort disse. — Estou apenas no comando da cidade e de todos as operações dos Grims. — Oh. Só isso. Ele deu um modesto encolher de ombros. — Não é nada tão glamoroso quanto parece. Eu perco o trabalho no lado de fora no Campo. — ele disse, tocando a Ghost Gum. — Então tenha alguma diversão lá fora por mim. Se você tiver algum problema, eu estarei na biblioteca. E lembre—se, você tem um parceiro agora, então tente não lhe dar qualquer outra contusão, está bem?


Não concordando com tal coisa, Driggs e Lex procuraram em seus bolsos e tiraram suas foices. E desde que o Croak não era tão diferente de qualquer outra cultura – e portanto, continha seu próprio equivalente de concurso de mijo – os dois parceiros imediatamente avaliaram as foices um do outro enquanto eles rasgavam através do ar. — Safira. — Driggs disse ondulando a brilhante arma azul. — Obsidiana. Tio Mort sorriu. — Adorável. Os dois rolaram seus olhos ao mesmo tempo, em seguida desapareceram no éter.

*** — Para referências futuras. — Driggs disse enquanto ele Culled a alma de um homem preso dentro de um trator. — Eu não sairia por aí contando às pessoas sobre aqueles teus choques. — Por que não? — Lex perguntou. — É como anunciar ao mundo que você tem chato. É embaraçoso e ninguém nunca mais apertará sua mão novamente. — Mas estas sensações não tem nada de coceira genital. — ela disse enquanto eles ceifavam a parte inferior de uma garganta. Ela tocou em seu alvo, um andarilho caído empalado em uma rocha irregular e se encolheu quando a carga percorreu seu corpo. Driggs observou, enervado. — Por que eles deviam ser embaraçosos? Tio Mort apenas disse que eles são uma overdose de talento ou qualquer outra coisa. — Eles são diferentes. Pessoas não gostam do diferente. E se Zara descobrir – confie em mim, ela fará de sua vida um inferno. — Eu acho que é muito tarde para isso. — ela murmurou, lembrando do olhar que Zara lhe tinha dado. Lex tentou suprimir os choques pelo resto da manhã (que, como o Tio Mort tinha prometido, voou mais rápido do que ela poderia ter imaginado), mas nada funcionava. Ao longo das próximas cinco horas Killing, ela viu morte o suficiente


para durar uma vida inteira de pesadelos – carros destruídos, velhotes, ataques cardíacos, doenças, drogas, suicídios, uma miscelânea de outras fatalidades – e as correntes disparadas em seus nervos parecia se intensificar com cada alvo que ela tocava. E as reações de Driggs certamente não estavam ajudando. Até o final de seu turno, o olhar de perplexidade que brilhava pelo seu rosto sempre que ela Killied, estava a fazendo querer arrancar os olhos dele fora com uma melon—baller28. — Eu estou tentando, ok? — ela finalmente se irritou enquanto eles ceifavam o interior do convés de um navio. — Mas eu não posso evitar! Está enraizado em meu sistema nervoso ou algo assim, parece como fogos de artifício explodindo no meu corpo. — Ela acertou o alvo, recuou e chupou seu dedo inflamado e olhou para o rosto de estupefato de Driggs. — Vê? Você está olhando para mim como se eu estivesse afogando um saco cheio de gatinhos. — Eu não estou – eu quero dizer, em partes, mas é principalmente porque você é – Ele cocçou sua orelha e pareceu quase tímido. — Você é realmente rápida. — Oh. Humm... Obrigada. — ela murmurou, de repente ela estava muito consciente da última vez que ela tinha sido elogiada por um garoto (nunca) e nas atuais condições de seu cabelo (caos puro). Ela alisou-o e tentou mudar de assunto enquanto Driggs Culled o alvo, uma mulher quase queimada em cinzas ao sol do meio—dia. — Morte por bronzeamento? — Dã. Sua bebida foi batizada. Lex

olhou

para

a

taça

de

margarita

vazia

colocada

próxima

a

espreguiçadeira. — Como você possivelmente poderia saber isso? — HGB. Droga do estupro. Gosto salgado quase impossível de detectar em uma taça de margarita mareada em sal. — Como você– — Experiência. Uma vez que você tem bastante disso, determinar a causa da morte se torna uma habilidade.

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É aqueles utensílios de cozinha utilizados para fazer bolinhas em vegetais.


O desejo de procurar no navio pelo culpado rapidamente se elevou, mas Lex lembrou o que Zara tinha dito a ela no dia anterior e ela relutantemente evitou verificar isso. — Oh, sério? — ela disse indiferente enquanto eles ceifavam nas arquibancadas de um estádio de beisebol. — Então como esse cara morreu? Ela apontou para o alvo, um homem curvado sobre seu brinde. Lex olhou ao redor, aturdida. Havia algo estranho sobre a cena silenciosa de trinta e oito mil pessoas torcedores parados no meio de aplausos, jogadores pairando em mergulhos petrificados em direção as bases e cervejas espirrando suas grossas gotículas pelas arquibancadas. — Experiência. — Driggs disse, franzindo o cenho, — pode também ser uma amante instável. — Ele olhou para o campo, em seguida, para o chão. — O que você está fazendo? — Procurando a bola. — ele disse debaixo dos assentos. — Talvez ele tenha sido atingido belo rebatedor. — Yeah, certo. Eu detesto esportes tanto quanto um ser minimamente inteligente, mas mesmo eu sei que uma bola nunca pode alcançar um caminho todo para subir até aqui. E mesmo se ela pudesse, não seria fatal. — Verdade. — Ele se endireitou para examinar o homem mais próximo. — Nenhum sinal visível de machucados, não parece como se ele tivesse qualquer problema de saúde. Vá em frente toque nele. — Lex obrigou—se, apesar de alguma coisa sobre essa cena estar começando a parecer não muito bom. A preocupação de Driggs aumentou quando ele Culled a Gama. — É como se ele apenas... Parasse de viver. Talvez– Ele parou abruptamente, caindo no chão mais uma vez. Ele espreitou o rosto do homem. — Olhe isso. — ele disse, sua voz estranha. Lex se agachou ao lado dele. — Whoa. Os olhos do homem estavam completamente brancos. Lex franziu o cenho. — O que há de errado com ele? — Eu não sei. — Driggs puxou o Vessel nervosamente de seu bolso enquanto eles ceifavam uma vez mais, desta vez automaticamente retornando para a Ghost Gum.


Lex olhou com surpresa para o sol, diretamente acima. O turno deles já tinha acabado? Ela nunca seria capaz de se acostumar com o negócio de dobrar o tempo. Driggs, enquanto isso, estava andando para frente e para trás. — Eu nunca tinha visto qualquer coisa como isso. — O que você quer dizer? — Eu tenho feito isso há quatro anos e eu fui capaz de encontrar cada causa de morte. — Ele engoliu em seco. — Mas esse cara – eu não tenho ideia. Lex pensou. — Ataque do cardíaco? Driggs balançou sua cabeça. — Você não pode morrer de uma ataque cardíaco tão rápido. Haveria pelo menos um sinal de aflição. — Veneno. Drogas? — Nenhum produto químico funciona tão instantaneamente, você viu o cara – parecia como se ele ainda estivesse lendo seu programa. — Então o que, pó mágico de fada? Aperto mortal de um Vulcano? — Foco, Lex. Acorde essa célula cerebral única. — Bem, o que você está tentando dizer? Ele não era para estar morto? — Isso é o que parecia, mas– — Mas como isso é mesmo possível? — Não sei. Eles ficaram em silêncio por um momento. Lex enfiou suas mãos em seus volumosos bolsos de novata, somente para tirá—las rapidamente de novo. Ela tinha esquecido sobre os montes de Vesséis que Driggs tinha dado para ela guarda—los lá. — Nós estamos indo descarregar essas coisas?— ela perguntou, um traço de nervosismo rastejando em sua voz. — Eles estão começando a me dar nojo. — Eles são apenas almas. — Mas eles estão quentes. Como ovos. Eu sinto—me como um salmão desovando. — Driggs riu. Isso somente vez sua voz ficar mais alta. — E eles são almas de pessoas e elas são meio que importantes, então nós não devíamos talvez, eu não sei – maldição, o que devemos fazer com elas?


— Hei. — Driggs colocou suas mãos nos ombros dela e pegou seu olhar maníaco. — Relaxa, nervosinha. Eu mostrarei a você.

*** Acima no Banco, Kilda estava aterrorizando um par de francesas inquietas sentadas no sofá da entrada. — É claro suéters pretos são o estilo daqui, eles estão na moda em toda a América!— Ela inclinou—se ameaçadoramente, seu corpete gigantesco quase tocando seus narizes. — Agora, deixe—me dar a vocês alguma opções de jantar na cidade mais próxima! Driggs conduziu Lex para o corredor e para cima nas escadas, indo para a entrada no topo de um pequeno patamar. Em frente a eles estava uma porta sem identificação. Ele girou a maçaneta. Lex tinha esperado algo um pouco mais nobre para existir no único segundo andar do Croak, a decepção se seguiu quando eles entraram na sala. Contendo nada mais do que um vaso de planta, uma porta preta na parede do lado esquerdo, uma porta de cofre de banco de aço e uma escrivaninha, atrás da qual se sentava um garoto com o olhar entediado, com aproximadamente a idade de Lex, com um punhado de cabelos laranja florescente. Ele estava olhando fixamente para um computador e batendo nas suas teclas. — D—bag. — ele disse sem olhar. — E aí? Driggs fechou a porta atrás deles. — Eu troxe um presente para você. Essa é Lex. — O garoto não respondeu. — Hei. — O que? Eu estou tentando trabalhar aqui. — Essa é Lex. — ele repetiu. — Ela está em treinamento hoje. Ele deu a ela um sinal de positivo com o polegar nada entusiasmado, seus olhos ainda fixos na tela. — Estupendo. Driggs cruzou a sala, sentando na escrivaninha e olhando sobre os ombros do garoto. — Nível sessenta e três, legal. Quem é a elfa quente?


— Espere um minuto. — Lex disse, olhando o jogo na tela. — Isso tem internet? — ela perguntou ao garoto. — Não para você. Lex cruzou seus braços. — Lex. — Driggs disse, — conheça meu melhor amigo Ferbus. — Sério? — ela disse com um olhar de ceticismo. Driggs e esse nerd lerdinho? — Vocês são melhores amigos? Ferbus olhou para cima brevemente lhe dando um olhar presunçoso. — Nós preferimos o termo companheiros de vida heterossexual. Lex revirou os olhos. Driggs levantou—se e bateu na enorme porta circular do cofre, que era feita de impecável metal escovado e estendia—se por todo o caminho até o teto. No seu centro havia uma grande roda, o tipo que parecia com o leme de um navio pirata. — Como está o tempo lá dentro hoje? — ele perguntou a Ferbus. — Parcialmente turbulento com uma chance de tiroteio. Driggs sorriu para Lex, mas tudo que ela podia devolver foi um dar de ombros indiferente. Além disso, ela sentia—se um pouco desconfortável na sala, como se algo estivesse levemente errado com a física dali. Mas ela não podia descobrir o que isso era. Ela olhou para Ferbus, então para a janela atrás dele, então para a porta do cofre. Ela franziu o cenho. Isso não podia estar certo... — Ok, primeira parada do tour. — Driggs disse. — Confira. — Seus olhos seguiram seus dedos para algo que ela não tinha notado antes: uma versão em miniatura da porta do cofre, aproximadamente do tamanho de uma toranja, fixada na parede ao lado um grande talão de recibo. Ele começou a girar essa pequena roda. — Aqui é onde nós depositamos as almas. A porta se abriu par revelar nada mais do que escuridão. Lex se inclinou para inspecionar ainda mais, mas ela via somente mais espaço escuro, com pequenas picadas de agulhas brancas ao longe. — No final de cada turno. — ele disse, tirando um punhado de Vessel de seus bolsos, — nós subimos aqui em cima, abrimos o túnel e depositamos todos os Vessel coletados. Basta colocá—los nesse buraco e em seguida–.


O primeiro Vessel desapareceu, sugado para o túnel antes que ele pudesse terminar sua sentença. — É isso. — Um por um, ele abasteceu com o resto, cada um desaparecendo tão rapidamente quanto o primeiro. — Agora faça você. Lex procurou seus bolsos e avidamente depositou os globos brancos dentro do buraco, contente por se livrar deles. Quando todos eles tinham desaparecido, ela olhou para baixo no tubo. — Para onde eles vão? — Para nossa próxima parada no tour. Nós estamos ok para entrar, Ferb? — Não tenho certeza. Burr e Hamilton duelaram ali fora de novo essa manhã. Da última vez que eu verifiquei, Abe ainda estava limpando a bagunça. Ele pegou o telefone, seus olhos ainda na tela. Lex percebeu que ele não discou qualquer número nas teclas antes de começar a falar – se é que alguém podia até mesmo falar com isso. Seu lado da conversa era mais como uma série de grunhidos monossilábicos. Ele desligou e voltou a bater no teclado. — Tudo limpo, vá em frente. — Maravilha. — Driggs fechou a pequena porta do túnel e virou para Lex. — Você está pronta para ver algo realmente louco? — Já estava na hora. — ela brincou. Ferbes digitou um código no computador, resultando numa série de sons atrás da porta do cofre. Driggs pegou a pesada roda na porta e girou para esquerda. E foi aí que Lex percebeu o que a tinha estado incomodando sobre a sala. Afinal de contas – de acordo com sua planta mental da construção – essa porta de cofre devia ser aberta diretamente para o nada, dois andares acima do Campo. Mas, é claro, isso não foi nem perto de onde isso realmente levava.


Nove A parte racional do cérebro de Lex supôs que ela não tinha sido exatamente atirada ao centro do sol, mas pelo brilho, ela com certeza estava numa proximidade perigosa. A luminescência cegante podia ser sentida até mesmo com suas pálpebras fechadas. Enquanto ela tateava em direção a Driggs, seus pés saltavam e vacilavam sobre uma superfície suave e macia. E no entanto, apesar de todas as boas razões para entrar em pânico, uma sensação geral de paz começou a se estabelecer em seus nervos em frangalhos. — Leva um minuto para se ajustar no começo. — Driggs disse. — Você vai se habituar a isso. — Essa é a milésima vez que você diz isso. — ela disse, piscando. — Existe algo aqui que eu nunca irei me habituar? — Provavelmente esses caras. Lex abriu os olhos. Por um momento ela poderia ter jurado que ela estava em um daqueles museus de história viva – do tipo que apresenta robôs animatrônicos, os estilos de narração de James Earl Jones, e o tipo de exibição que invade os pesadelos das crianças por anos. Mas em vez de um ciborgue John Wilkes Booth descarregando sua bala mortal atrás de uma cabeça plástica de Lincoln, uma versão bastante real do assassino estava envolvida em uma violenta partida de queda de braço com Elvis Presley. Lincoln estava assistindo à luta, divertido. — Vamos lá, John. — ele disse. — Você pode fazer melhor que isso.


— Ele é só papo. — Elvis sussurrou de volta. — Silêncio! — rugiu Booth. — Estou tentando me concentrar! Lincoln revirou os olhos. Lex estava atordoada. — Mas. Que. Diabos? — Sem diabos. — disse Driggs. — Só Pós—Vida.

*** Depois de escapar estreitamente de um biplano contendo os irmãos Wright e receber uma recepção calorosa de um bombástico Teddy Roosevelt em nome de toda a turma de ex—presidentes, Lex exigiu uma explicação. Ela tentou seguir Driggs quando ele a puxou de canto, mas era difícil andar normalmente, porque a estranha substância que formava o chão era muito elástica e irregular para navegar. Felizmente, eles logo chegaram a uma rede feita de material branco e almofadado. Enquanto Lex a escalava, Driggs pegou algum para si, apalpou o assento, e sentou—se ao lado dela. — Então. — ele disse, abrindo os braços, — essa é a Pós—Vida. Veja, ali estão nossos alvos desta manhã. — Ele apontou para uma confusa massa de pessoas. Lex reconheceu a mulher drogada do navio de cruzeiro. — O túnel arremessa os Vessels neste espaço, o átrio. Pense nisso como um grande corredor de entrada. Uma vez aqui, os Vessels se dissolvem e as almas são liberadas e assumem formas corporais de novo. Elas são então recebidas por um embaixador.—

Ele apontou para George Washington, que balançava a mão

queimada de sol da mulher. — O embaixador os deixa a par da situação, depois os leva para fora do átrio, no Void. Lex balançou a cabeça, como que para liberar mais espaço para compreender isso tudo. — E isso é... O céu? — Não exatamente. Isso é mais como qualquer coisa que você quiser. Você pode fazer qualquer coisa – sair com todos os seus parentes falecidos, comer rosquinhas o dia todo, ir esquiar por meses... — Maldito o dia que você nasceu. — lamentou um homem magro com um bigode preto, cavando numa pilha de escombros próxima e, aparentemente, mantendo uma conversa com o elegante corvo sentado em seu ombro. — Eu te


disse que não estava aqui, Quoth. Alguém viu minha gravata? — ele gritou para ninguém em particular. Lex caiu de sua rede. — Mas que... Você é Poe? — Infelizmente. — ele suspirou, alisando suas calças. — Me chame de Edgar. Ou de O Pum Revelador, esse é o preferido de Teddy Roosevelt. — Ele lançou um olhar de mau gosto para a multidão de presidentes. — Idiotas. — Uau. — Lex corou, chocada pela primeira vez na vida. — Hum, como estão as coisas? — Lamentáveis. Lex olhou para Driggs. Ele deu de ombros. — O... Ok. — ela disse, retornando à rede e procurando ao redor por paredes ou teto, sem encontrar nada. — Quão grande é esse lugar? — Imenso. — Driggs disse. — Maior do que você pode imaginar. Esse lugar contém quase todo mundo que já morreu... — Quase todo mundo? —... E tem espaço suficiente para todos que eventualmente vão morrer. Tem que ser gigante. Mas você pode viver onde você quiser... Edgar soltou um grunhido. — Desculpe, ir onde você quiser. — Driggs disse. — Desertos, oceanos, geleiras, a Terra de Oz, espaço sideral – qualquer coisa que você puder sonhar. Algumas almas, inclusive, criaram planetas inteiros só para elas. — Tipo Mozartopia. — Edgar disse, de mau humor. Quoth arrepiou suas penas ressentidamente. — Eu posso vê—los? — Lex perguntou. — Não. — Edgar respondeu. — Você ainda está viva. — Nós não podemos passar fisicamente o átrio. — Driggs disse, apontando. — Só os mortos podem entrar no Void. Ela acompanhou o que ele apontava na distância, onde a luz se intensificava muito brilhantemente para ver qualquer coisa. — Por quê? — Nós nos perderíamos muito rápido. Com bilhões de almas entortando o espaço, seria impossível para qualquer um de nós, meros mortais, encontrar o caminho. Além disso, se nós tentássemos ficar até mesmo no átrio por dez horas


ou mais, nós começaríamos a, uh... Como dizer isso de uma maneira leve... Morrer de exposição. Ela deu a ele um olhar dúbio e estava prestes a pressionar mais, mas foi distraída quando Thomas Jefferson passou com um par de nunchakus caseiros. — Eles estão muito bons, Tom. — Driggs disse a ele. O fundador assentiu com orgulho e saiu correndo. — Por que há tantos presidentes aqui? — Lex perguntou. — Porque nós estamos na cidade Grim mais próxima de onde a maioria deles morreu. Alguns se voluntariam para serem embaixadores, e o resto apenas gosta de passear no átrio por causa das reações. Os olhares nos rostos das novas almas quando encontram presidentes mortos em carne e osso, por assim dizer... Esses caras os idolatram. — Então existem mesmo outras cidades Grim? — Por todo o mundo. — disse Driggs. — Apenas nos Estados Unidos, há DeMyse na Costa Oeste – o que me disseram parecer uma grande festa do Oscar – e Necropolis, a capital, em Kansas. A jurisdição de Croak abrange apenas o terço leste do país. Lex se arrepiou toda por um momento, o tipo de arrepio que uma pessoa experimenta quando percebe o quanto sabe pouco sobre o mundo. Ela estudou o Void. — Então espera, e sobre religião e diabo e tudo isso? — Ela virou para Edgar. — Existe um Deus? O rosto de Edgar ficou branco. Seu bigode se contraiu. — Se existe, ninguém está contando. — Driggs disse. — As almas são muito reservadas quanto a essas coisas de ‘sentido da vida’. Essa é outra razão pela qual os vivos não são aceitos mais adiante. — Você deve esperar sua vez. — Edgar cortou. Lex virou um pouco a rede e olhou para o céu, ou o que quer que fosse. — Então se esse é o paraíso... — Não é o paraíso. — Driggs disse. — E não é o inferno. É o Pós—vida. Completamente neutro. É qualquer coisa que você fizer ser. — Assim como a vida. — Edgar disse. Lex pensou por um momento. — Mas se não existe inferno. — ela disse, se sentando, — se não há chance de punição depois, então por que se incomodar


tentando ser bom enquanto está vivo? Não há pelo menos um poço de cobras famintas ou algo assim? Driggs deu de ombros. — Talvez. Mas nós não vamos descobrir até chegarmos lá. Lex apontou furiosamente para a multidão. — John Wilkes Booth! O que ele está fazendo aqui? E por que essas pessoas realmente parecem gostar dele? — Eu não. — Edgar disse. — Ele roubou minha pena favorita. — Mas... Não tem fogo e enxofre para os bandidos? — Lex balbuciou. — Isso não é justo! — Bem, a vida não é justa. — Driggs disse calmamente. — Por que a morte deveria ser diferente? Lex se calou. — Eu preciso ir. — Edgar disse, dando em Quoth um tapinha gentil. — Roosevelt provavelmente transformou minha gravata em uma bandeira de pirata a essa altura. Ingrato. — Ok. — Driggs disse. — Até mais, Ed. Lex resmungou. — Desculpe não sermos as melhores companhias. Edgar a deu um aceno imponente. — Eu gostei de quando você caiu da rede. Driggs assistiu enquanto ele se afastava, depois se virou para Lex conturbado. — É muita coisa para digerir, eu sei. — ele disse. — Mas uma hora entra na cabeça. — Ele se esticou e levantou de seu assento improvisado, que derreteu de volta para o chão. — Nós precisamos ir embora também. Eu ainda tenho que te mostrar a Sepultura. — E foi ótimo que eles decidiram partir, pois um Mark Twain raivoso e de cabelo crespos tinha chegado para expulsá—los da sua rede. Ao se aproximarem da porta do cofre, Lex notou uma mesa esculpida com penugem, que a súbita cegueira a tinha impedido de ver antes. — Oh meu Deus! Oi! — exclamou a alegre menina loira que estava sentada atrás da mesa. — Merda. — disse Driggs. — Você é Lex, não é? — A menina pulou e agarrou Lex pelos ombros, que sua cabeça mal alcançava. Ela usava um vestido verde, um colar de ouro, várias pulseiras, e um enorme sorriso. — Sou Elysia. Desculpe por eu não ter conseguido


recebê—la no caminho, eu estava lidando com mais um dos ataques sibilantes de Taft. Mas eu estou tão feliz que você está aqui! Nós estivemos esperando por você desde sempre. O que aconteceu com seu olho? Você já começou a Killer? Eu sei que você ia fazer uma parada ontem, mas você não fez então fiquei me perguntando o que você estava fazendo. Eu gerencio a recepção aqui, por isso fico presa aqui dentro o dia todo. Esta é a sua primeira vez na Pós—Vida, não é? O que você acha? Muito legal? Eu disse aos presidentes para se comportarem quando você chegasse e parece que todos eles agiram bem. Ugh, exceto McKinley. Bill! — Ela repreendeu à distância. — Ele está tão encantado com a invenção do bermudão que ele não pode deixar de mostrá—los. Pessoalmente, eu acho que ele deve ser um pouco retar... — Elysia! — interrompeu Driggs. — Diminua a droga da velocidade. Ela sorriu para Lex. — Desculpe. Eu falo muito quando eu fico animada. — Tudo bem. — disse Lex com um aceno de cabeça malicioso. — Todos nós temos nossas falhas. Driggs aqui ama Titanic. — Sério?? Driggs cruzou os braços e estudou as meninas. — Eu já posso ver as ramificações de uma aliança entre vocês duas. E elas são problemáticas. — Ah, cala a boca. — disse Elysia. Ela pegou o braço de Lex, seus olhos castanhos gentis cintilando com vivacidade. — Estou tão feliz por você estar aqui. Esses caras podem ser tão idiotas às vezes. Altos xingamentos clamavam por detrás da porta do cofre. — Eu ouvi isso! — A voz abafada de Ferbus soou. — Bem, é verdade! — Ela apontou para a porta. — Ele é o mais mal— humorado de todos. A única coisa que alegra aquele garoto é algum tempo a sós com seu precioso Nintendo. — Xbox! — Seja qual for! — Olha baixinha. — disse Driggs — Temos que correr. Eu quero mostrar a ela a Sepultura antes do almoço. — Eca. — Um olhar de desgosto se espalhou pelo rosto de Elysia. — Bem, divirtam—se com isso. — Ela abriu o cofre para eles. — Eu saio para a minha pausa


em poucos minutos, podemos ir almoçar juntos! Eu posso mostrar a você o Necrotério, é realmente... — Sim, nós vamos estar lá, ok, tchau. — disse Driggs, fechando a porta. Lex franziu o cenho para ele. — O quê? — disse ele inocentemente. — Ei, eu amo a menina até a morte, mas se você não dete—la rapidamente, ela vai falar até entrar em um caso de laringite. — O que faz com que ela fale ainda mais.— disse Ferbus em um tom que sugere que ele sabia disso muito bem. — Eu gosto dela. — Lex ficou surpresa ao ouvir—se dizer. Driggs e Ferbus a olharam incrédulos. Como todos sabem, a única população mais felina que um verdadeiro bando de gatos é um bando de garotas adolescentes. Em casa, às vezes parecia para Lex como se seus espancamentos violentos não pudessem sequer causar tanta dor quanto a maldade da língua afiada do povo. Eventualmente isso ficou tão ruim que ela chegou a descartar para sempre a possibilidade de ter amizade com outra garota, a não ser Cordy. Mas a simpatia de Elysia era contagiante. Fazia tanto tempo que Lex não recebia uma exuberância bem intencionada de uma garota, que era impossível não se animar sobre isso. — De qualquer forma. — Driggs disse, olhando para ela estranhamente, — a Sepultura é por aqui. — Ele atravessou a sala para a porta preta brilhante, girou a maçaneta, e parou. Ele olhou para Lex. — Se eu venho te interpretando corretamente – e eu gosto de pensar que eu venho – eu vou chutar que você não é o tipo de pessoa que vai gritar quando nós entrarmos nessa sala. Mas só para o caso de eu estar errado – não grite. Isso perturba elas. — Elas? Mais água—viva? — Elysia gritou. — Ferbus disse de sua mesa. — Mesmo que você tenha dito para ela não fazer isso. Lembra? — Ei! — a voz abafada de Elysia veio através da parede. — Na verdade, se eu bem me lembro. — continuou Ferbus. — Eu acho que ela quase chorou.


— E? — a voz rebateu. — Muitas pessoas sãs fariam isso! Sério, você deveria pôr um aviso nessa sala ou algo assim. Algum dia desses ela vai dar um ataque do coração em um novato, porque eu sei que o meu quase explodiu... Ferbus começou a bater sua cabeça sobre a mesa. — Vão logo. — ele disse entre contusões. — Isso pode demorar. Driggs empurrou a maçaneta para frente para revelar uma sala mal iluminada. Envoltas no que parecia ser uma incrível quantidade de veludo, as paredes quase pareciam ser pulsantes, apesar de Lex não conseguir dizer por quê – até que Driggs acendeu as luzes. Cobrindo a sala do chão ao teto estavam milhares de aranhas viúvas— negras.


Dez Lex não estava com medo. Ela não estava nem com nojo. Ela estava paralisada e hipnotizada pelo contorcionismo rítmico da grande colônia, seu formato mais como um gigante organismo do que como montes de entidades minúsculas. Seus corpos pretos reluzentes brilhavam ameaçadoramente na áspera luz fluorescente. — Você está bem? — perguntou Driggs, fechando a porta atrás deles. — Sim. — ela sussurrou. — Você se importa se eu diminuir as luzes agora que você já deu uma boa olhada? — ele disse, se virando para o regulador de luz. — Elas não gostam de muita claridade. — Claro, tanto faz. — Lex disse, mal o ouvindo. As lâmpadas espalhadas acima deles suavizaram para um brilho opaco, e de fato, as aranhas pareceram relaxar. Tubos de ensaio cheios de um líquido pálido forravam a parede ao lado da porta, e uma pilha de Vessels estavam no canto. Na nova iluminação, as teias de seda em torno do bando deram ao quarto uma aparência etérea e fantasmagórica. — Aqui estão minhas adoráveis damas. — Driggs disse, carinhosamente olhando ao redor da sala. — O que você acha? — Eu acho que você deve ser um garoto muito solitário. Ele estendeu o dedo, permitindo que uma grande aranha rastejasse até ele. — Tem certeza que você quer zoar o cara que é responsável pela sala de aranhas venenosas?


— Quem em sã consciência colocaria você como responsável de qualquer coisa? — O Mort, assim que começou a perceber que eu estava ficando com elas o tempo todo. Amor à primeira vista, eu acho. Lex bufou. — Para que elas servem? — Aqui. — ele disse, moldando uma mancha branca no ar. — O fruto do trabalho dessas pequeninas. Lex pegou e deu a ele um olhar incrédulo. — Os Vessels são feitos de teia de aranha? — Um dos materiais mais fortes do mundo. — Legal. — Ela pegou nas fibras moles da bola. — É só isso? — É só isso? Uma sala cheia de aranhas labutando vinte e quatro horas por dia para fazer milhares de Vessels por semana, e você está perguntando se é só isso? — É. Ele sorriu. — Na verdade, não, não é. Nós também extraímos o veneno delas. — Por quê? — Para que possamos isolar e colocar no ar a química que induz a perda de memória. É assim que confundimos os estranhos que perambulam pela cidade. Nós proporcionamos a eles bons momentos, tiramos vantagem de seus orçamentos de viagem, e os colocamos em seus caminhos apenas com a lembrança sem importância de suas visitas e uma estranha sensação de que nunca mais deveriam voltar. — Ele apontou para os tubos de ensaio. — Kilda é nossa principal linha de defesa – ela se embebeda de Amnésia todos os dias. Uma borrifada de seu broche e os turistas se esquecem até dos seus números de telefone. — Mas por que isso não nos afeta? — Nós criamos imunidade. Você está respirando isso em pequenas quantidades desde que chegou. — Ele se inclinou para uma teia e deixou uma aranha rastejar até seu nariz. Ela fez uma careta. — Você nunca é mordido?


— Nah, elas me amam. — ele disse com uma certa gentileza que até Lex achou cativante. — Eu não tocaria nelas se eu fosse você, apesar disso. Elas podem sentir incompetência. Lex ignorou. Ela cuidadosamente soprou outro fio de seda ao seu lado e examinou as paredes rastejantes, notando que entre os milhares de olhos lustrosos e negros, a colônia também era salpicada com um bando de minúsculos pontos vermelhos. Ela inspecionou uma aranha dentro de um aglomerado próximo. Com certeza, centralizado diretamente na parte inferior de seu abdômen bulboso estava uma grande marcação escarlate na inconfundível forma de uma ampulheta. — Assustadoramente apropriado. Driggs assentiu. — Natureza não é nada sem um senso de humor negro. — Ele gentilmente pegou a aranha de seu cabelo, colocou—a na parede, e abriu a porta. — E esse é o Banco. — ele disse quando eles saíram para o escritório. Elysia estava sentada na mesa de Ferbus, esperando por eles. — Nojento, né? Vocês estão prontos para o almoço? Minha substituição acabou de começar, mas ainda estamos esperando pela de Ferbus. Ah, ele ainda precisa matar esse dragão ou algo assim. — Ela olhou para a tela. — Esquerda! Pra baixo! Esfaqueie! — Cala a boca, mulher! Eles não tiveram que esperar muito. Depois de mais alguns minutos de batidas frenéticas no teclado, um homem entrou na sala e andou até a mesa. — Ótimo, aqui está ele. — Elysia disse, apagando a tela do computador. — Vamos! O uivo de Ferbus ecoou por milhas.

*** Elysia se desculpou durante todo o caminho do restaurante. — Me desculpe! Como eu poderia saber que era um dragão realmente importante?— — Silêncio. — disse Ferbus, seu rosto ainda branco. — Você morreu para mim. Eles chegaram a uma porta de tela, que Driggs segurou aberta para o grupo enquanto eles passavam. Ferbus foi direto para a jukebox e começou a tocar — Everybody Hurts. — enquanto Elysia o repreendeu por ser tão melodramático.


Driggs guiou Lex até o balcão. — Bem vinda ao Necrotério. — ele disse. Ela levou um tempo para avaliar o restaurante, o qual, como decretado pelo American Diner, Soda Fountain, e Greasy Spoon Preservation Act, estava teimosamente apegado à decoração da década de 50 em todas as maneiras imagináveis. Um longo balcão de aço inoxidável com banquetas cilíndricas azuis estava na parede mais distante, enquanto dezenas de Grim Sêniors encapuzados conversavam entre si em brilhantes cabines de couro vermelho, um monte de “tumor do tamanho de um celeiro!” e “esmagado por uma geladeira!” flutuando no delicioso ar com cheiro de hambúrguer. — Dora! — Driggs gritou pelo restaurante radiante. Uma velha mulher – na verdade, a mesma cara—de—bruxa que Tio Mort havia apontado para Lex quando ela chegou em Croak – sorriu para eles por detrás do balcão. — Meu deus. — ela gargalhou quando eles se aproximaram. — Driggs finalmente conseguiu arranjar uma garota. Quanto ele está pagando você, querida? — Calma aí, Dora. — Driggs disse, empurrando um prato de biscoitos de chocolate próximo. — Ou eu vou me lembrar daquela catapora fora da remissão. — Vish! — gritou Ferbus do outro lado do recinto. — Tire suas patas sujas daí! — Ela bateu nos dedos de Driggs com uma mão pálida e cheia de pintas. — A última coisa que você precisa é de outra explosão de acne. — Lex reprimiu uma risada. As orelhas de Driggs se avermelharam. — O rosto dele costumava parecer o Anel de Fogo do Pacífico. — Dora contou à Lex, suas feições enrugadas brilhando de alegria. — Lex, essa é Pandora.— Driggs rapidamente interveio em um esforço nada sutil para mudar o assunto. — Mais feia que um troll e mais velha do que poeira. Qualquer pergunta sobre a Era Mesozóica pode ser feita diretamente a ela. — Prazer, Lex. — Dora disse, dando a ela um aperto no ombro. — Eu espero que esse aí não esteja te dando muito probl... Ah, pelo amor de Deus, Driggs! — Ela cuspiu nas mãos e esfregou na cara dele. — Parece que você foi criado por texugos. — Ela limpou uma mancha de sua bochecha, depois, agilmente evitando um surto de defesa, abordou o desafio muito mais difícil de seu cabelo despenteado. — Com o que você lava essa coisa, rapaz? Xarope de bordo? Driggs lutou em vão, gritando — Queimem a bruxa! — e — Me larga, sua velha! — até que ela finalmente soltou seu couro cabeludo, apertou suas


bochechas, e o puxou para perto de seu nariz retorcido. — Que feioso. — ela disse. — Mesmo com um olho roxo. Olha só esses olhos! Driggs torceu o rosto, depois relaxou e afagou—lhe carinhosamente no cotovelo. — Obrigado, Dora. — Nós gostamos de brincar. — ela disse para Lex. — Mas não ligue para uma velha cansada que nem eu. Ele é um ótimo partido. O sorriso de Lex instantaneamente virou uma careta, enquanto o rosto de Driggs corou em um roxo espetacular. — Ah. — Pandora cacarejou. — Entendo. Bem. O que posso fazer por vocês? — Uma pilha de hambúrgueres. — Driggs disse, passando a mão pelo seu cabelo irremediavelmente caótico. — E... —... Oreos. E pra você, querida? — Hum... — Lex se encolheu enquanto ela refletia sobre o menu, que mostrava itens como Vaca—Louca Burguer, Ebola Cola, e o trocadilho improvisado Sorvete de Salmonilha. — Não se engane pelos nomes. — Pandora disse. — É frozen yogurt de verdade. Vinte quatro horas antes Lex teria dado sua alma por um copo de Café— Caixão, mas em comparação com a pressa do éter e os solavancos dos choques, cafeína agora parecia muito... Fraco. Então ela pediu um Frangopora e um copo grande de algo chamado HomiCidra. Depois de Dora servir as refeições deles, Lex agarrou sua bandeja e seguiu Driggs para a maior cabine do restaurante. Uma ferradura em formato gigante e vermelha, ela parecia ser mais desbotada e mais usada que as outras mesas, e JUNI GIMS estava escrito com o que parecia ser ketchup em uma placa de madeira que pendia do teto – apesar do rótulo praticamente não ser necessário, já que a mesa estava claramente povoada apenas por Grims adolescentes da parte junior. Ferbus, agora um pouco recuperado, pegou um hambúrguer da bandeja de Driggs e sentou—se à mesa. Elysia juntou—se a ele, seguido por Driggs, depois Lex, que podia sentir os olhares das outras crianças penetrando sobre ela. Um deles era um asiático musculoso cujo cabelo escuro desbotava para um loiro oxigenado no centro, formando algo como uma falsa crista de um falcão. Ao lado


dele estava uma garota alta de pele achocolatada com os cabelos caindo vertiginosamente em um labirinto de tranças. — Gente, esta é ela! — disse Elysia. — Esta é Lex! O garoto balançou a cabeça e engoliu metade de seu hambúrguer em uma única mordida. A garota virou a cabeça num estalo para encarar Lex, atingindo o garoto no rosto com suas tranças. — Oi! Eu sou Kloo. — ela disse gentilmente. — E esse é Ayjay. — O que aconteceu com seu olho? — ele balbuciou com a boca cheia. Kloo lhe deu uma cotovelada. — Quer dizer, oi. — Então. — Elysia disse, — Kloo é quem você precisa ir se você se cortar com a foice ou se você tiver outro olho roxo ou se você cair das escadas porque você tropeçou em um cadarço desamarrado. — Um rápido olhar de desaprovação para Ferbus sugeriu que isso deveria acontecer com frequência. — Ela é praticamente uma médica, ela pode te curar em um momento e até te atirar em uma semana cheia de cuidados e preocupações. Ela é como nossa mãe. Kloo assentiu para Lex de uma maneira indescritivelmente maternal, de alguma maneira enchendo a vida de compaixão, apoio e carinho, tudo com um ligeiro maneio de cabeça. — É verdade. — ela disse. — Qualquer coisa que você precisar, querida. — E Ayjay é... Hum... — Eu como. Eu durmo. Eu Cull. Eu malho.— Ayjay sorriu e fez um gesto para a academia do outro lado da rua chamada Peso Morto, mostrando um bíceps bem esculpido. Ele deu outra mordida. — É isso. Elysia assentiu. — Ayjay é um homem de poucas palavras. Ayjay virou—se para Kloo. — Você vai beber isso? — ele perguntou, apontando o copo dela. — Não. Vou derramar dentro da sua calça. — Sexy. — É? Você acha? Eles então começaram a se beijar. — Ótimo, aí estão eles de novo. — disse Ferbus em voz alta, como se aquilo não fosse óbvio para todos no restaurante. — Você pensa que isso vai passar, mas aparentemente não vai.


— E essa é Zara, com quem você treinou ontem, certo? — disse Elysia, determinada a continuar com suas apresentações. — Como ela se saiu, Zara? Zara se ajeitou em sua cadeira. — Bem. — ela disse, um pouco carrancuda. Elysia trocou um olhar exasperado com Driggs. — Mas não tão bem quanto você, Zara. Claro, nós sabemos. Ah, e essa é Sofi. Ela é uma Etecetera. — Uma menina morena se aproximou da mesa, seu cabelo liso e castanho com luzes mal descoloridas. — Minha nossa! — ela chiou quando viu Driggs. — O que aconteceu com seu rosto? — Briga de bar. — Ah, você. — ela disse, se espremendo no assento vazio ao lado dele. Ela se virou para encarar Lex e estremeceu ao ver sua contusão semelhante. — Uau, garota, você também? Vocês, tipo, caíram do telhado? — Tipo isso. — Driggs disse. Sofi riu e balançou seus brincos pendurados. Lex imaginou que esse era o tipo de garota que tem um caderno cheio de assinaturas combinando seu primeiro nome com o sobrenome de garotos fofinhos. — Essa é Lex. — Elysia disse a ela. — Espera, não me diga. — Sofi olhou para Lex de cima a baixo. — Toootalmente uma Killing. Tipo, cem zilhões por cento. — Como você faz isso? — Driggs perguntou. — Talento de nascença. — Ela piscou os olhos e deu um gole em seu refrigerante. Lex vomitou internamente. — Ei, gente. — Driggs disse para a mesa. — Vocês viram algo estranho em seus turnos recentemente? Nós pegamos um cara muito esquisito hoje – eu não sei o que aconteceu com ele. Não consegui descobrir a causa da morte. — Você não conseguiu? — Ferbus disse com espanto. — Sem ferimentos, sem doenças, sem abuso de substâncias, sem sinal de luta. Ele parecia normal, exceto por... Bem, os olhos dele estavam completamente brancos. Um murmúrio geral de confusão tomou conta da mesa. — O que você quer dizer? — disse Elysia.


Lex viu uma oportunidade de contribuir para a conversa em vez de continuar sentada ali como um peso morto. — Um branco sólido. — ela disse. — Eles pareciam pedras de granizo. Driggs assentiu. — O que significa que também não foi veneno, porque não há nenhum que eu conheça que possa cegar e matar uma pessoa tão rápido sem que a vítima sequer se contorça. A não ser... — Ele soltou um estranho ruído ofegante, sufocando sua própria epifania. — Gente, e se um Grim fez isso? Talvez um Penetra! Sua sugestão foi recebida com ataques de riso. — Ou um leprechaun! Ou uma sereia! — disse Ferbus, sacudindo uma batata frita para ele. — O que é um Penetra? — Lex perguntou. — Nada. — disse Ferbus. — Driggs está bêbado, só isso. — Percebi. — Viu só, D—bag? Até a novata sabe mais. Lex mordiscou os dedos de frango, chocada com como ela parecia ter sido aceita no grupo tão rápido e completamente, apenas com um sussurro zombeteiro. Ela não conseguia nem se lembrar da última vez que ela havia sentado para almoçar com pessoas da sua idade. Na escola, ela tinha sido forçada a passar os últimos dois anos sentando com os professores, que não confiavam que ela não fosse ensopar o grupo das líderes de torcida de novo com o ketchup. — Bom, sei lá. — disse Driggs com um encolher de ombros, ligeiramente diminuído com a ridicularização de Ferbus. — Fiquem atentos em seus turnos, sugiro. — Quem dera. — disse Ferbus. — Quase me dá vontade de saltar de volta para o Campo, só para ver você perder a cabeça. — Por que vocês dois trabalham na Pós—Vida? — Lex perguntou a Ferbus e Elysia. — Por que vocês não ficam no Campo? — Eu era uma Culler ano passado. — Elysia disse. E Ferbus era um Killing. Nós éramos parceiros. — Eles trocaram olhares enojados. — Mas quando você termina o primeiro ano, pode decidir que área você quer tentar dentro da comunidade Grim. Mais ou menos como na faculdade. — Como eu. — disse Sofi. — Eu fui uma Killing por, tipo, poucos meses, até começar a implorar para trabalhar com os Smacks.


— Kloo e Ayjay são Grims do Campo em tempo integral. — Elysia continuou. — Eles são os Juniors mais velhos, quase graduados. E Zara está dando um tempo com o trabalho no Campo – exceto quando nós precisamos de um substituto – porque ela está fazendo um estágio de gatuna no açougue este verão. — Eu não quero falar sobre isso. — Zara estremeceu. — É nojento. — Estágio de gatuna? — Lex disse. — Os donos de todas as lojas e restaurantes na cidade – em sua maioria Grims e Eteceteras aposentados – são chamados de gatunos. — Elysia disse, toda feliz por ter mais coisa para explicar. — O trabalho deles é pegar coisas do mundo exterior para nosso próprio uso, como alimentos, roupas, remédios, produtos de higiene pessoal... — Vitela, língua, moela. — Zara disse com um olhar de repulsa. — Gatunos usam suas foices de uma maneira um pouco diferente. — Elysia continuou. — Eles abrem pequenas janelas no éter – só o suficiente para que eles passem – e pegam suprimentos que geralmente passam despercebidos de lugares como grandes armazéns, salas dos fundos de mercearias, lavanderias... — Lavanderias? — Você precisava ver nosso inventário de meias. — Driggs disse. — Enorme. Elysia assentiu. — Nós ficamos muito isolados aqui, então é um sistema muito eficiente. Lex estava pasma. — Eu não fazia ideia de que furto fosse um esforço tão nobre. — Bem. — disse Zara, — quando você pensa sobre os serviços graciosos que prestamos aos cidadãos desse mundo, é pelo menos justo. As pessoas deveriam agradecer por não cobrarmos mais. — Mas vocês nunca são pegos? — Não. — ela disse, penteando os cabelos estáticos prateados com os dedos longos e ossudos que todos em Croak pareciam ter. — Nós só pegamos o suficiente para sustentar nossa pequena população. As pessoas lá fora nunca percebem que suas coisas estão faltando, e se elas percebem, elas se culpam de qualquer jeito.


Lex pensou nostalgicamente em sua mãe, e em todas as roupas que ela reclamava de ter perdido ao longo dos anos. Agora, havia a prova definitiva de que a máquina de lavar roupas não era um “monstro voraz devorador de blusas” como ela dizia. — Quanto a mim, estou atualmente experimentando o Contato da Pós— Vida. — Elysia disse. — E Ferbus, bem... — Ferbus queria aprimorar suas habilidades de defesa. — disse Ferbus. — Então Ferbus assumiu o Posto do Jazigo. — Certo, habilidades defensivas. — Lex disse. — Aposto que aquilo vem a calhar em ataques reais de dragão. Ferbus estreitou os olhos. — Meu trabalho pode parecer sem sentido, — ele disse, irritado, — mas se algum indivíduo não autorizado chegar, é meu trabalho garantir que eles não entrem no Covil ou na Pós—Vida. — E como você faz isso? — Não posso contar. Basta dizer que Mort me treinou, e que no tempo de algum intruso dizer ‘Quem é aquele diabo bonitão?’ eu já teria quebrado o pescoço dele em três lugares. — Mas ele ainda não consegue amarrar os sapatos. — disse Driggs. Todos riram. Elysia riu ainda mais. — Acho que vocês devem aprender a se entreter por aqui, sem TV nem nada. — disse Lex. — Ah, nós temos uma TV. — Elysia disse. Lex agarrou seu braço. — Diga isso de novo? Ela riu. — Na Cripta. É o nosso dormitório. E o que é nosso, é seu, apareça quando quiser. Nós todos vivemos lá, exceto você e Driggs. Driggs concordou. — Melhor não nos misturarmos com os peões sujos. — É só porque Tio Mort é meu tio. — Lex disse, revirando os olhos. — Meus pais iriam enfartar se eu tivesse que viver sozinha. Se essa cena tivesse acontecido em um desses filmes de comédia extravagantes, a agulha de uma vitrola teria soado nesse momento para denotar o silêncio atordoado que a declaração de Lex havia produzido, seguido por uma ou duas tosses incômodas. Mas em um restaurante barulhento, o súbito silêncio de um pequeno grupo de pessoas passou despercebido, e Lex só ficou sabendo que


ela tinha dito algo errado quando ela percebeu que todos os Juniors estavam olhando para ela de boca aberta. Driggs reclamou baixinho. — O quê? — Lex perguntou, perplexa. — O que tem de errado? — Você... Você tem pais? — engasgou Elysia. — Hum, sim. — Dois? — Ferbus perguntou. — Quantos eu deveria ter? Ferbus lançou um olhar furioso para Lex. Elysia mordeu as unhas e pareceu estar prestes a chorar. Todos os outros olhavam para a mesa. Driggs tocou Lex levemente no cotovelo. — Lex, — ele disse, seus olhos azuis piscando tristemente, — o resto de nós não tem pais. Elysia fungou. Zara tinha uma expressão dura. — Desculpe, pessoal. — ele disse para o grupo. — Eu não contei a ela. Lex se ajeitou na cadeira estranhamente, sem saber o que fazer ou dizer. Ela se sentiu mal. — Os meus partiram quando eu tinha dez. — Kloo disse amargamente, quebrando o silêncio. — Me largaram na casa da minha velha avó e nunca voltaram atrás. — Mamãe teve overdose. — Ayjay disse. — Papai está na cadeia. — Me expulsaram de casa. — disse Elysia. — Eu passei por todos os orfanatos do estado. — Ferbus estava fervilhando. — Me pergunte quantos pais eu tenho. Lex olhou para baixo. — Eu não sabia. — ela disse em um sussurro que mal dava para ouvir. Depois de um momento, Kloo falou. — Não é sua culpa, querida. Nós temos vidas melhores agora, de qualquer forma. É por isso que estamos aqui. — Mas então o que... — disse Sofi para Lex com os olhos ainda transtornados, — O que você está fazendo aqui? — É. — disse Ferbus com um sorriso de escárnio. — Se você tem uma família tão amável?


Driggs se endireitou. — Ei, ela virou uma delinquente assim como nós. — ele disse defensivamente. — E lembrem—se, foi decisão do Mort trazê—la aqui. Então se alguém tiver algum problema com isso, eu sugiro que trate com ele. Isso pareceu funcionar. O resto do grupo se atenuou, apesar do olhar amargo no rosto de Ferbus nunca ter ido embora. — Ai meu Deus! — disse Elysia, olhando seu relógio. — Eu preciso ir. Prometi ao Ben que eu iria assistir seu próximo experimento com pipa. Eu continuo dizendo a ele que eletricidade é um conceito muito bem conhecido agora, mas isso não o impede de tentar superar Thomas Edison o tempo todo. — Ela virou para Lex. — Sério, às vezes os mortos adultos agem como crianças! Lex soltou um riso nervoso enquanto os Juniors juntavam seus lixos e se levantavam para sair. Pandora atirou a Lex uma piscadela amigável quando eles se amontovam na porta. Ela acenou de volta hesitantemente. — Então eu acho que nos vemos mais tarde. — disse Kloo quando eles chagaram ao lado de fora. — Certo. — Lex cuidadosamente respondeu quando o grupo se separou. — Tenham um bom dia? Ninguém respondeu. Depois de eles terem andado uma distância considerável, Lex cutucou Driggs na costela. — Por que você não me contou? — Eu realmente esqueci. — ele disse. — Quer dizer, você estava realmente tendo um momento legal e se dando bem com todos. Imagine meu choque. — Bom, espero que tenha aproveitado, porque agora eles me odeiam. — Pensei que você queria ser odiada. — Só por você. Ele riu. — Eles vão se aproximar. Eu não perderia o sono por isso. — Eu só perco o sono quando você bate naqueles malditos tambores. — Legal. Minha missão é incomodar. — Missão cumprida. Driggs jogou um sorriso torto para ela, o qual Lex, para sua surpresa, retribuiu. Felizmente, ela se conteve, e seguiu rapidamente com uma carranca.


Onze Lex mordia seus lábios enquanto se encostava à árvore de Ghost Gum e assistia pares de Grims sêniores trocarem suas pausas para o almoço, emoções girando em sua mente como um furacão incansável. Tantas perguntas não respondidas, fracassos morais, inseguranças sociais, e sentimentos misteriosos, tanto hormonais como não... Ela descartou aquelas últimas bem facilmente. Lex nunca teve nenhum interesse em metade da imbecil raça humana, e ela não planejava começar a ter tão cedo. Seus olhos vagaram para o topo da árvore, onde os ramos íngremes arranhavam o céu como dedos esqueléticos. Então, ela olhou para a mão de Driggs e bufou com a semelhança. — O quê? — ele perguntou. — Nada. Sua mão ossuda de morte me diverte, só isso. — Espere até a sua ficar igual. — ele disse, preparando a foice. — Espera... O quê? — Ela bateu a lâmina de safira para fora das mãos dele. — O que você quer dizer? É por isso que todo mundo aqui tem dedos tão assustadores? — É. — Ele abaixou para pegar sua foice. — Eu não sei porque isso acontece, no entanto. Provavelmente pela mesma estranha razão pela qual nosso cabelo fica todo instável. — O quê? — ela latiu, jogando a foice dele no chão mais uma vez.


— Para com isso! — O que acontece com nosso cabelo? Ele apontou para o desastre acima de sua cabeça. — Você acha que eu quero parecer um ouriço bêbado o tempo todo? Isso é por andar tanto no éter. Ele mexe com seus folículos ou algo assim. Não acontece com todo mundo, mas posso te garantir que o de Ferbus não foi sempre da cor de um uniforme de presidiário, Zara não nasceu prateada, e Mort vem combatendo o estilo eletrocutado há anos. Olhe, o seu já está ficando mais liso. Lex passou a mão pelo cabelo. Ele tinha mesmo perdido um pouco de seu volume. Havia tido tantos outros espetáculos de insanidade para lidar ultimamente que ela sequer tinha percebido. Ele estava calmo, controlável, até – ela estremeceu ao pensar isso – sedoso e brilhante. — Ah meu Deus. — ela disse com desgosto. — Estou em um comercial de shampoo. — E logo você vai ter um par de garras mortais para usar. — Ele balançou seus dedos no nariz dela. — Tira essas coisas finas da minha cara. — ela disse. — E os meus olhos? Eles vão se transformar em monstruosidades, como os seus? — Não. — ele disse, girando sua foice. — Estes são cem por cento feios e meus. Lex riu, embora ela admitisse relutantemente a si mesma que, de todas as palavras para descrever Driggs, “feio” não era uma delas. Ela puxou seu capuz para cima de suas bochechas coradas e preparou sua foice. “Bem, eles combinam bem com o resto de sua feiura”, ela compensou. Tio Mort não estava brincando quando prometeu a Lex que ela estaria indo a todo vapor. Seu turno da tarde foi tão intenso quanto o da manhã, se não mais – embora seus sentimentos perturbadores estivessem começando a se dissipar agora que ela já tinha visto a Pós—Vida. Se ela estava realmente mandando almas para um lugar tão maravilhoso, o que ela estava fazendo não poderia ser tão errado. A não ser que nem todas chegassem lá. — Ei. — ela disse para Driggs quando eles desembarcaram em um grande escritório de quina. Ela encostou no cotovelo de um homem que havia acabado de explodir seus miolos nas janelas. Depois do brilho da morte, a Gama fluiu do corpo


do homem, enrolando—se no ar como um vapor fruta cor. — Você tinha dito que quase todo mundo vai para o Pós—Vida quando morre. Então, quem não vai? Eu sei que se eu não fizer meu trabalho, as almas ficam presas, mas o que acontece se você não fizer o seu? Como resposta, Driggs apontou para a Gama se misturando pela sala. — Hum, ok. — ela disse, sua voz afiada com pânico enquanto ela observava a luz escapar. — E se você não pegar isso? O rosto de Driggs se fechou. — Você acredita em fantasmas? — Não. — Deveria começar. — A Gama cintilou enquanto fluía para as mãos de Driggs à espera. Lex soltou uma respiração que ela não havia percebido que prendia. — Ah. Ela trabalhou em uma quieta reflexão pelos alvos seguintes até que eles desembarcaram em uma rala floresta próxima a um parque infantil. Lex deu uma olhada ao redor e suspirou. Uma jovem garota, ferida e ensanguentada, estava deitada sobre uma árvore caída. Um ursinho de pelúcia respingado de sangue estava nas dobras de seu braço. Driggs desviou o olhar. — Apenas faça. — ele disse. — É melhor ser rápida com as crianças, especialmente com as brutais. Lex, ainda encarando com horror, se abaixou e inspecionou o rosto da garota. Sua pele era suave; ela não deveria ter mais do que oito anos. Lex sentiu o desprezo brotando mais uma vez, o mesmo tipo que havia surgido quando ela estava com Zara e viu aquela mulher com a arma... Ela se levantou abruptamente e vasculhou a área. — Driggs... — O quê? — O cara ainda está aqui. Cega pela fúria, Lex não conseguia ver nada além do homem que escapava pelas árvores, quase três metros de distância. O ódio tomou conta de seu corpo, suas mãos ficaram em brasa, e sua língua detectou o gosto metálico de sangue. Emitindo um fraco rosnado, ela agarrou sua foice e caminhou pela grama em direção ao homem – cada vez mais perto, até que a lâmina estivesse a poucos centímetros dele. — Esse pervertido, esse doente f...


— PARE! — Driggs gritou, agarrando os braços dela e forçando—a de volta ao alvo. — Toque—a. Agora. — ele disse, segurando suas mãos sobre a criança. — Mas ela é apenas uma criança! — Ela já se foi! Você quer que a alma dela fique aprisionada? Lex resistiu por mais um momento, então desviou o olhar enquanto amargamente enfiava seu dedo na pele da garotinha. Driggs, de alguma forma, conseguiu Cull com uma mão enquanto continuava detendo Lex. — Nós estamos partindo. — Segurando o pulso dela, ele rasgou o ar com sua foice e a puxou de volta do éter para o Campo. Isso não acabou bem. Lex estourou em uma enxurrada de socos, batendo loucamente como um avestruz ferido, mas Driggs – agora um pouco mais esperto – colocou as mãos na cabeça dela e segurou os braços estendidos, tornando seus movimentos inúteis. — Pronto? — ele perguntou depois de uma dúzia de surtos. Lex abaixou os braços. Infelizmente, Driggs fez o mesmo, dando a ela a oportunidade perfeita para chutar sua virilha. O que ela fez. — Isso... Foi... Desnecessário. — ele gemeu no chão. Lex soprou um tufo de cabelo de seu rosto. — Discordo.

*** Lex olhou para suas mãos enquanto Driggs a arrastava pela rua. Elas pareciam estar pegando fogo. Ela respirou fundo, colocou—as em seu bolso, e piscou para conter as lágrimas quentes ardendo em seus olhos. Claro, ela já havia enlouquecido antes – os últimos dois anos de explosões ferozes eram provas suficientes disso. Mas elas não eram nada comparadas àquela. — A que devo o prazer? — Tio Mort disse quando Driggs arrastou Lex para dentro da Biblioteca Pública de Croak. — Ela falhou no Campo, tentou ir atrás de uma pessoa— , Driggs disse, sentando—a em uma grande mesa de madeira. — É melhor você seguir os Termos.


— Eu pensei que isso poderia acontecer. — disse Tio Mort, olhando incisivamente para sua sobrinha. — Eu vou pegar os slides. Enquanto ele tropeçava para o armário, Lex olhou pela sala. Além de um exército de prateleiras gigantescas empilhadas de poeirentos e esquecidos livros grossos, as paredes da biblioteca também ostentavam uma extensa exposição de retratos antigos de pessoas antigas, todas sisudas e usando pesadas capas pretas. Ela fez uma careta para eles. — Eu não fiz nada de errado. — ela disse para Driggs. — Eu reagi como qualquer ser humano decente reagiria. Ok, eu entendo que a garota já estava morta, tá bom. Mas aquele cara... Como você pôde ignorá—lo? Você viu o que ele fez com ela? — Lex... — Primeiro Zara, agora você. Vocês são doentes. — Espera... O que tem a Zara? — Quando estávamos treinando ontem, a mesma coisa aconteceu. A mulher atirou em seu marido ou amante ou o que quer que seja, então tentei ir atrás dela, mas Zara me deteve e me disse para não contar ao Tio Mort porque isso me traria muito problema. Driggs suspirou e estreitou os olhos. — Tem tantas coisas erradas nessa frase. — Tipo o quê? — Pra começar, Zara deveria agir melhor. Ela conhece o protocolo para treinamento de calouros. Esse é o tipo de coisa que nós denunciamos logo depois de acontecer. — O que faz parte de toda a história de ciúmes e sabotagem, certo? — Certo. Mas essa não é a questão. — Ele se inclinou. — Você não pode sair por aí fazendo justiça com as própias mãos, Lex. Se você perder a cabeça como fez lá e acabar atacando um não alvo... Confie em mim, você não faz ideia do quão severo são as consequências para a execução de qualquer que seja o plano que você tem nessa sua cabeça. — Me esclareça, então. — Esse é o trabalho dele. — Driggs disse quando Tio Mort surgiu do armário.


— Achei os slides. — ele disse, colocando—os em um projetor. Uma quantidade inumerável de fluxogramas apareceu em frente a eles. Tio Mort inutilmente lutou contra o foco até que o texto aparecesse claro, depois embaçado, depois ilegível. — Ok, esqueça. — ele disse, lançando toda a engenhoca de volta ao armário. — Você é uma menina esperta, não precisa de gráficos de pizza. — Ele pegou um livro pesado de uma prateleira próxima e jogou—o em cima da mesa, onde ele caiu com um baque retumbante. Uma nuvem de poeira flutuou no ar, através do qual Lex conseguiu ler Termos de Execução gravado em letras douradas na capa. Tio Mort pairava sobre eles. — Os Termos de Execução são diretrizes às quais todos os Grims aderem. — ele disse. — Elas são rigorosas – umas das leis mais rigorosas já escritas – e qualquer um que decida quebrá—las, faz isso ciente de que a punição será rápida, severa, e astronomicamente desconfortável. — Ele indicou o livro. — Claro, eu demoraria anos para ensinar apropriadamente a você cada uma das regras que a Grimsfera concebeu ao longo dos séculos, então eu vou poupar vocês do problema dizendo que elas se resumem essencialmente à mesma coisa: faça seu trabalho, e só o seu trabalho. Mate o alvo. Isso precisa ser feito com o mínimo de julgamento quanto for humanamente possível. Só porque o tempo fica parado e os assassinos estão sem poder para se defender isso não significa que você possa correr como uma maníaca e vingá—los, não importa o quão ruim você pense que eles são. Nós somos objetivos, imparciais a terceiros, Lex. — Ele se inclinou, aquele brilho assustador em seus olhos de novo. — Não cabe a nós decidir quem morre e quem vive. — Mas aquele monstro na floresta, com aquela menina… Ele vai fazer aquilo de novo! — Isso é uma coisa horrível de se dar as costas, eu sei. — Tio Mort disse tristemente. — Mas quando esses sentimentos vierem à tona, você deve reprimi— los. Não está na descrição do nosso trabalho impor justiça. É lamentável, sim, que pessoas matem outras, mas é assim que o mundo funciona. E nós não temos direito de mudar isso. Não podemos interferir na natureza humana e no livre arbítrio mais do que podemos intervir nas leis fundamentais do universo. Esse não é nosso lugar.


Lex balançou a cabeça. — Isso é muito confuso. Se nós tivermos a chance – o poder – de impedir alguém de matar de novo... — Deixe eu te perguntar uma coisa. — Tio Mort disse. — Você é uma nova iorquina. Quantas vezes você deu esmola aos mendigos? — Hum... — Lex foi pega. — Quase nunca. — Viu? É fácil ignorar as injustiças do mundo. As pessoas fazem isso todo dia. E isso é exatamente o que você vai fazer aqui. — Ou então o quê? Limpeza de memória e exílio?— — Para menores infrações, sim. Mas por prejudicar um não alvo... — Ele e Driggs trocaram olhares sombrios. — Vamos dizer desta forma: a taxa de criminalidade da Grimsfera é praticamente nula. Tire suas próprias conclusões. — Mas... — Chega, Lex. — Tio Mort disse, rispidamente pegando sua sobrinha pelos ombros. — Tudo se resume a isso: violar os Termos é a maneira mais rápida de destruir sua carreira, vida, e qualquer felicidade que você esperava alcançar com qualquer uma delas. Se decidir atacar um não alvo, melhor estar muito preparada para as consequências. Entendido? Os ombros de Lex caíram. Ela assentiu. — Já está bom por hoje. Vá para casa, refresque sua mente, e estaremos prontos para amanhã. — ele disse, com uma pontada de decepção em sua voz. Mas quando Driggs e Lex se levantaram para sair, os olhos dela permaneceram por um segundo a mais no rosto de seu tio, o qual ela podia jurar que trazia uma expressão inconfundível de alguém que estendia um desafio.

*** — Isso é besteira. — Lex disse, descendo a rua. — Deixar assassinos e estupradores fora do gancho por causa de uma regra idiota. Deixá—los continuar matando para seu próprio entretenimento. — Jesus, Lex. Não é assim.


— Mas seria tão fácil detê—los! Eu iria reconhecer o rosto daquele cara de novo em um segundo; tudo o que teríamos que fazer é descobrir onde aconteceu, localizá—lo, e bam – sem mais crianças mortas! — Sempre existirão crianças mortas, Lex. — Driggs disse em um tom mais suave. — E sempre existirão crimes indescritíveis. Quem é você para decidir quem é punido e quem não é? Lex franziu o rosto. Na escola, ela nem sequer precisava de uma desculpa para se lançar contra as pessoas – e agora ela tinha que reter sua ira na presença de criminosos reais? As coisas eram tão complicadas aqui. Se ela pelo menos pudesse conversar com sua irmã, Cordy resolveria tudo. E Mamãe iria cozinhar duas dúzias de cookies para ela. Caramba, até o Papai saberia o que dizer para fazer tudo aquilo parecer bem, em vez de tão, tão errado. — Isso é uma merda. — ela disse em uma voz baixa. Driggs fez um par de movimentos estranhos enquanto eles andavam, como se ele estivesse tentando tocá—la de uma maneira reconfortante, mas desistiu. — Fica mais fácil depois. — ele disse com uma voz simpática. — Prometo. Lex permaneceu em silêncio. — Ei. — ele disse, se iluminando. — Eu sei o que vai te animar. Ele não disse mais nada até chegarem a casa. Uma vez dentro, ele a conduziu à sala de estar e a sentou em uma pequena mesa, com um conteúdo volumoso coberto por um pano. — Por que você não brinca com isso por um tempo? — ele disse, removendo a cobertura. O coração de Lex parou no meio de uma batida. — Existe um Deus. — ela sussurrou, olhando para o computador antigo. Ela agarrou a camiseta de Driggs. — Internet? — Oh. Sim. — Ele ligou. — Mas eu não sei se a conexão é boa. Nós quase nunca usamos. — O que tem de errado com vocês? — ela resmungou, batendo nas teclas. — Como vocês podem não ligar para o que está acontecendo no mundo? Ele a deu um olhar triste. — Espere até que você tenha visto tantos ursinhos de pelúcia ensanguentados quanto eu. O mundo é muito superestimado.— Ele


pegou uma caixa de Oreos de cima da geladeira e se dirigiu ao seu quarto. Minutos depois, uma batida de bateria irrompeu de lá de dentro. Lex observou ele partir, então entrou na sua conta de e—mail. Seu coração se afundou em uma poça de culpa quando ela olhou a tela. Onze mensagens, todas de Cordy. Ei fulana, Onde você ESTÁ? O tio mort vive na idade da pedra ou o quê? Ou talvez ele tenha te trancado no porão. Quantos outros corpos têm aí? Michael Thorley veio na loja hoje. Eu estava ocupada demais olhando os olhos dele para ouvir o que ele pediu então quando ele disse que queria nozes extras, eu comecei a rir incontrolavelmente por alguma razão, até que ele meio que foi embora sem levar nada. Pois é. Eu acho que nunca mais poderei ir pra escola de novo. Escreva de volta, idiota. Cordy P.S. mamãe achou a montanha de roupa suja que você deixou dentro do armário. Ela não está nada contente. Lex não conseguia digitar rápido o suficiente. Ela abriu seu coração – do Tio Mort e a cidade aos Juniors e a Pós—Vida. Ela contou sobre como se sentiu quando ela Killed, sobre os choques dolorosos. Ela descreveu a situação com a menina na floresta em detalhes gráficos, seguido de um desesperado apelo por um conselho. E fechou com a bastante sincera afirmação de que ela sentia saudades de Cordy mais do que qualquer coisa na galáxia, incluindo televisão. Quando ela terminou, Lex leu de novo o que havia escrito. Seu coração se afundou. — Eu não posso enviar isso. — ela disse para a tela. Ela não podia contar à Cordy o que Croak realmente era, a não ser que ela quisesse que ambas acabassem com dois buracos gigantes na memória. Mas ela não podia falar nada, também. Cordy perceberia e começaria a fazer perguntas, que apenas levariam a mais mentiras.


Lex engoliu em seco. Não havia outra opção – ela teria que ignorá—la. Ela foi clicar em Descartar, então mudou de ideia e apertou Salvar. Talvez ela pensasse em algo. Frustrada, ela se levantou e começou a caminhar pela sala. Ela parou em frente ao tanque de águas—vivas quando a beleza graciosa e estranha delas prendeu seu olhar. As bolhas gelatinosas tremiam e flutuavam pela água, os tentáculos fantasmagóricos delas batiam no vidro como pinceladas em uma tela. Ela estremeceu, maravilhando—se com as visões que elas eram capazes de ter, imaginando uma vida que consistia em nada além de pesadelos reveladores de morte. Isso veio a ela em um flash, depois desapareceu tão rapidamente: uma repentina vontade de quebrar o vidro e libertá—las.


Doze — Whoa. — Lex disse alguns dias depois enquanto ela e Driggs ceifavam em um banheiro de aparência suja. Eles olharam para o alvo: uma mulher de meia idade com uma legging bem justa com estampa de pele de leopardo, caída sobre o vaso. — Há algo que você não pode não ver. Driggs não respondeu. Ele apertou os olhos, depois se enfiou no banheiro e pegou um pedaço do cabelo oxigenado. Lex recuou. — Driggs, eca. Ele a ignorou e continuou a levantar a cabeça da mulher. — Eu sabia! Sem machucados, sem trauma, e voilà. — Ele virou a cabeça para Lex. Duas órbitas brancas sem vida olharam de volta para ela. — Então isso não foi uma anomalia. — ela disse. — Não. Ela apontou para a garrafa de vodka vazia no canto. — Acha que tem alguma coisa a ver com isso? — Desde quando o álcool evoluiu para a miraculosa habilidade de apagar os globos oculares? Os últimos dias tinham sido interessantes, para dizer o mínimo. Como Driggs prometeu, os Juniors foram rápidos em ser amigáveis com Lex novamente – embora não tivesse dúvidas de que ela era diferente deles e sempre seria. Assim como a nova carreira recém descoberta de Killing de Lex, ela continuava a impressionar Tio Mort com suas habilidades, velocidade e tudo de mais foda como


um Grim – embora ela ainda estivesse amarga com a discordância sobre menina na floresta. Mortes violentas apareciam pelo menos uma vez ao dia, e apesar de que até agora ela tinha tentado bastante fazer o que lhe foi ensinado e controlar seus impulsos vingativos, a pergunta de por quanto tempo ela poderia continuar assim nunca saia de sua cabeça. E os choques que ainda sacudiam seu corpo com cada morte ainda não tinham mostrado sinais de enfraquecimento, também. De fato, uma bolha vermelha começa a tomar forma em seu dedo onde eles tinham queimado a sua pele. Mas nenhuma dessas dores de cabeça eram suficientes para silenciar o sentimento geral de satisfação que tinha enraizado em Lex. Quase tudo tinha ficado mais fácil (novamente, assim como Driggs prometeu), e em vez de se sentir desconfortável sobre ser a que puxaria o plug, Lex estava agora começando a apreciar verdadeiramente a responsabilidade com cada uma que ela tinha sido confiada. Estando tão próxima de pessoas que tinham estado vivas há apenas um octosegundo atrás – tinha uma beleza triste e assombrosa nisso tudo. Isso não poderia ser negado por muito mais tempo: Lex tinha se apaixonado por Croak. Ela amava as pessoas, ela amava a cidade, ela amava que ela fizesse parte, e ela amava ser parte de alguma coisa significante. Lex finalmente tinha encontrado seu propósito na vida, e isso não era, como pensado anteriormente, levar o diretor da sua escola a uma aposentadoria precoce. Ainda sim, cada dia tinha a promessa de uma nova bola curva. Depois da mulher de olhos brancos, Lex e Driggs ceifaram na saída do banheiro e entraram no éter sussurante. O rugido logo cessou, assim como o turbilhão de imagens incompreensíveis. Mas o peso ainda continuava. Lex olhou em volta tremendo, vendo nada além do céu azul. Aberto e pacífico, isso quase a fez lembrar da vida depois da morte. Até que ela olhou para baixo. Para as nuvens. Para os pássaros. E finalmente, milhas abaixo de seu corpo flutuante, o solo.


Lex respirou fundo. Depois ela gritou. Depois ela amaldiçoou bem alto. Sete mil milhas longe, sua mãe olhava sem vontade para a jarra cheia de dinheiro na cozinha por razões que ela nunca seria capaz de descobrir. Driggs olhou com diversão enquanto Lex se contorcia indefesa no ar, arranhando o nada. — Relaxa, nervosinha. — ele disse. — Não estamos lidando com o físico Wile E. Coyote aqui. Se você não caiu até agora, você não vai cair mais. Vire—se. Lex embarcou na missão estranha de se girar no ar, remando com os membros pela troposfera em uma tentativa cômica de realizar o que Driggs tão irritantemente fazia com facilidade. Com um último empurrão, ela se virou o suficiente para testemunhar a razão do seu mergulho improvisado pelos céus. Uma explosão colossal agigantou—se diante deles, suspensa no meio do centro do céu. A fuselagem do avião em chamas tinha se partido em duas partes, o metal se retorceu em tiras longas e irregulares. Faíscas laranja se lançavam em todas as direções. Uma nuvem negra começou a se formar, assim como aglomerados de pequenos pontos flutuando em torno dos destroços, dessa forma Lex reconheceu os corpos. Um monte de corpos, ela pensou sombriamente. Ela se virou um pouco mais até que a figura chamuscada de uma mulher entrou no seu campo de visão. Lex prendeu a respiração, olhou para longe, e gentilmente tocou a testa da mulher. Assim que o Gama começou a emergir, Lex olhou boquiaberta para o avião. — Hey! — ela disse enquanto mais flashs de morte espocavam na distância. — Isso é— Driggs seguiu o seu olhar enquanto ele Culled. — Kloo e Ayjay, sim. — Ele assentiu para um grupo de outros Grims Seniores espalhados pela devastação. — Esse é um múltiplo, então vários da nossa gente estão nisso.— Ele encheu o Vessel no seu bolso e levantou sua foice. — De fato, nós provavelmente teremos que– — Eles ceifaram pelo céu, depois terminaram em lados opostos do desastre. — ficar por aqui para algumas pancadas.


Eles abateram mais uns cinco alvos no lugar, todos eles tinham sido feridos de uma forma que Lex nunca teria pensado ser possível. A cada golpe, um novo pesadelo: pele queimada, membros decepados, vísceras voando – E então parou. Ela tinha acabado de desviar o olhar de uma aeromoça brutalmente estripada quando ela se encontrou de volta no Campo, debaixo da Ghost Gum. O sol da tarde brilhava alegremente acima de suas cabeças. Lex balançou onde ela estava, olhando para a pele pálida da árvore, sua mente uma terra de ninguém. Ela não podia ao menos começar a processar as imagens que ela acabou de ver, as sensações que ela apenas sentiu, o vômito que ela quase deixou sair. Driggs a olhava com uma expressão ilegível no rosto. Os galhos lúgubres e nus da árvore batiam na brisa calma. — Hey. — ele disse ternamente depois de um momento, buscando seus olhos confusos. — Você quer um corn dog?

*** Corn dogs raramente são a solução para qualquer coisas, mas Lex estava faminta e trêmula, e uma refeição quente e frita é geralmente um bom remédio para os dois. E então ela se achou no Necrotério, esmagada no assento infantil entre Ferbus e Ayjay, que estavam engajados em um debate sadio sobre quantos pacotes de açúcar Ferbus poderia enfiar no nariz (cinco). — D—money, — Ferbus disse através do nariz cheio de açúcar, — você já fez as coisas? — Não, eu estive trabalhando. Um conceito com o qual vocês não estão familariados. — Driggs disse, se esquivando das batatas fritas que Ferbus jogou. — Vou fazer depois do trabalho. — Ele se virou para Kloo. — Nós vimos uma morte estranha hoje, uma daquelas coisas de olhos brancos. E vocês? — Não, nada ainda. — Kloo disse. — Estou começando a pensar que vocês estão fazendo a coisa toda. — Ele provavelmente está. — Ferbus riu. — Ainda acha que um Grim está fazendo isso?


— Na verdade sim, — Driggs disse. Ferbus riu ainda mais, uma névoa de açúcar saindo de seu nariz. Naquela hora, Lex não poderia se importar menos com os mortos de olhos brancos. A imagem do acidente de avião e a mulher carbonizada ainda estava pulsando em sua cabeça. Seu estômago revirava enquanto ela relembrava das vítimas mutiladas, os últimos momentos de suas vidas um pesadelo de–. — Nós os ajudamos. — Kloo sussurrou. Lex saiu do seu transe e olhou para ela, imaginando como a garota sabia o que ela estava pensando. Kloo deu um sorriso para ela. — Várias mortes, explosões, desastres naturais – eles não ficam mais fáceis, mas elas não são tão ruins se você tiver em mente que você está libertando aqueles alvos. Não importa o quanto eles sofreram nos últimos segundos, o fim chega – e com ele, alívio. O que vem em seguida na vida após a morte é um sopro, e é você quem traz isso para eles. — Isso... É verdade. — Ela sorriu para Kloo, uma calma baixando sobre ela. — Obrigada, Mãe. Kloo deu um tapinha carinhoso no braço dela. — Sempre que precisar, querida. Agora com um espírito mais leve, Lex voltou a prestar atenção no que Driggs estava falando. — E as chances são de que vai acontecer de novo. — Ele se inclinou para o grupo. — Então temos o avião. Kloo e Ayjay, chequem três vezes todos os seus alvos. Procure por olhos brancos. E se vocês não puderem imaginar a causa da morte, tentem se lembrar de todos os pequenos detalhes da situação. Sofi, vamos dar uma olhada nos registros, observar se Smacks descobriu alguma coisa estranha. Elysia, Ferbis – procurem por alguma coisa estranho acontecendo no Pós—vida. E Zara, pegue qualquer turno extra no Campo que você puder. Entenderam? — Todo mundo assentiu. — Oh, e vocês conhecem a regra – não contem para nenhum Senior. — Por quê não? — Lex perguntou. Os olhares foram cautelosos. — Nos metemos em uma grande confusão ano passado por fazer esse tipo de coisa. — Elysia disse. — Huh? — Os suicídios. — Ayjay disse entre mordidas.


— Houve um grupo de crianças em Connecticut que começaram a se enforcar. — Kloo disse. — Todos sozinhos em seus quartos, um por um, mais ou menos todos os dias. — Hey, eu me lembro disso. — Lex disse. — Estava nos jornais. — Isso mesmo, — Ferbus disse, — mas ninguém podia descobrir porque eles estavam fazendo isso. Nós pensamos que se nós bisbilhotássemos seus quartos um pouco, nós pudéssemos descobrir o que estava acontecendo. Mas alguém nos delatou. — Ele lançou um olhar de desprezo para Zara. — Eu disse a vocês mil vezes, que isso foi para nossa própria proteção. — ela disse, apertando os lábios. — E se você quer a minha opinião, eu não acho que seja certo manter silêncio sobre isso também. Mort iria querer saber. — Eu não quero a sua opinião. — Ferbus fez uma careta para ela. — Deixa de ser tão adestrada, Bizarra. — Cale a boca, Fungus. — Você que é um fungo! — De qualquer forma, — Elysia disse, — nos metemos em uma tonelada de problemas. — Por quê? — Lex perguntou. — Vocês não estavam fazendo nada de errado. — Grims não são permitidos a se envolver pessoalmente, lembra? — Zara deu a ela um olhar significativo. — Sob quaisquer circunstâncias. Lex deixou seu olhar vagar pela janela. — Foi o que eu ouvi. — ela murmurou. — Acontece que era tudo um pacto de virgindade que deu errado, ou algo lamentável do tipo. — disse Elysia. — Mas Norwood ficou muito bravo conosco por até mesmo investigar, em primeiro lugar. — Hey! — uma voz alta soou pelo restaurante. — Ótimo. — Driggs murmurou. — Você convocou as feras. Norwood e Heloise marcharam em direção à mesa dos Juniores, suas narinas em chamas. — Você. Mestiça. — Heloisa apontou para Lex. — Eu acabei de completar a revisão dos seus registros da primeira semana. Por que você saiu no meio do seu turno no outro dia? — Lex puxou o ar. A menina na floresta – agora todo mundo ia saber o que Lex quase fez.


Ela aventurou um olhar para Zara, quem estava olhando direto para frente. Não com um olhar de contentamento, mas com um olhar meio interessado, como se Lex tivesse alguma coisa grande e possivelmente hilariante presa em seus dentes. — Calma, Demônio. — Driggs disse para Heloise. — Não foi grande coisa. Por que você não volta para a central? Eu tenho certeza que têm outras pessoas mais importantes com as quais você precisa gritar. Norwood colocou as mãos na mesa e pairou sobre Driggs. — Ouça, seu pequeno inútil. — ele disse friamente. — Um dia – e eu rezo para que não esteja longe – essa sua falsa arrogância vai te meter em vários problemas que essa seu pretexto lamentável de cérebro jamais poderia imaginar. Todos vocês. —

Ele

apontou para a mesa. — Nada mais que malditos punks. Mort vê potencial em vocês? Tudo o que eu vejo é um bando de imbecis imprudentes aos quais não deveria ser confiada uma escova de dentes, quem dirá a responsabilidade de ceifar a morte. Se isso fosse minha responsabilidade– — Mas não é. — Driggs apontou. Heloisa agarrou energicamente seu marido antes que alguém pudesse dar um soco, o que é sem dúvida o que aconteceria se ela não tivesse intervido. Norwood se endireitou, seus lábios ainda curvados em um escárnio malevolente. — Degenerados. — ele murmurou. Driggs olhos para eles enquanto eles saíam. — Isso é a razão pela qual faremos isso. — ele disse para todo mundo. — Para provar para aqueles babacas que nós não somos tão inúteis como eles pensam que somos. Então mantenham suas bocas fechadas. O resto dos Juniores assentiu, até mesmo Zara. Aparentemente indiferentes da origem das acusações de Norwood, eles logo terminaram o almoço sem outra palavra sobre isso. Lex exalou, aliviada. — Então eu vejo vocês... — Driggs disse, dando um aceno estranho e sugestivo para o pessoal enquanto ele saía do restaurante, — essa noite? Ayjay sorriu ironicamente, fazendo uma arma com as mãos. — Com certeza. Enquanto Driggs e Elysia foram para o balcão comprar alguns milk—shakes para viagem, Lex correu para a porta. Infelizmente, Zara estava do lado de fora esperando por ela.


— Você fez alguma idiotice de novo, não foi? — ela disse baixinho. — Bom trabalho, recruta. Lex chiou irritada, mas não disse nada. A tentativa de Zara para marcar território era tão óbvia, Lex não ficaria surpresa se ela fizesse xixi na árvore Ghost Gum. — Anéis de cebola? — Zara disse, dando a ela um saco de sobras. Como todo mundo sabe, oferta de anéis de cebola não se descarta. Anéis de cebola são de longe mais valiosos que os outros acompanhamentos do prato – batatas fritas e chips – e, como tal, trouxeram inúmeras reconciliações ao longo da história. Então Lex estava dividida. Zara não era exatamente uma amiga, como evidenciado pela sua atitude pretenciosa e os seus incessantes olhares de reprovação. Mas também não era uma inimiga, na verdade, e esse tipo área nebulosa era estranha a Lex, que tinha previamente dividido as pessoas em dois grupos: aqueles a ser atacados e aqueles a ser ainda mais atacados. Com cuidado, Lex pegou um anel engordurado do saco e o colocou na boca. — Qual é o seu problema, Zara? — Ah, vamos lá. Você é a novata. Eu posso ter alguma diversão com você. — Sim, exceto que ninguém mais parece ter recebido o memorando, então você é a única agindo como uma grande vaca. — Hey. — Zara disse com uma ferocidade repentina. — Criança de ouro. Vamos deixar uma coisa clara. Você pode estar aqui sob a aba do seu tio, e você pode ganhar o coração e mentes de todos esses ignorantes desesperados, mas uma coisa que você não está permitida a fazer é me responder. Lex sentiu seus punhos se apertarem instintivamente. — Eu posso responder a quem eu quiser. — Errado. — Zara disse, seus olhos brilhando. — E aqui está o porquê. Você sabe aquele sentimento que você tem quando você Kill as pessoas? Esse grande choque? A boca de Lex caiu aberta. Ela pensou no seu primeiro dia de treinamento, para aquele olhar no rosto de Zara depois de sua primeira Kill. Tanto esforço para manter seu choque em segredo. Zara levantou a sua mão para revelar um dedo vermelho igual. — Bem, eu tenho isso também, quando eu Cull. — ela disse,


suavemente. — Então nós precisamos ficar juntas, porque a coisa é... — sua voz ficou ainda mais baixa. — Nós somos as únicas. Lex estava atordoada. Ela estava tão envolvida em seus próprios choques naquele dia que ela nem notou Zara. Ela abriu sua boca, mas Elysia e Driggs estavam saindo do Necrotério, de milk—shakes na mão. Zara lançou um último olhar para Lex. — Conversamos depois. — ela disse, descendo a rua. Lex ficou perdida em seus pensamentos enquanto ela e Driggs voltavam para o Banco com Elysia, a qual falou por todo o caminho. — Essa semana está me destruindo. — ela disse, tomando um gole do seu milk—shake. — Ford não cala a boca sobre essa estúpida linha de montagem, Emily chorando por todos os lados, Grant e Lee estão nessa de novo – oh, e Dewey não para de socar Truman no olho. Ele continua dizendo que é um acidente, mas eu sei a verdade. — Ela suspirou. — Eu queria que ao menos uma vez eles agissem como os mortos que eles são. Eles se separaram quando chegaram ao Banco. — Tchau, Lex! — Elysia disse, subindo as escadas do Pós—Vida. — Vejo você à noite! — O quê? Por quê? — Lex se virou para Driggs. — Huh? — Você verá. — ele disse. Ela cruzou os braços. — Você percebe que me arrastando por todos esses pequenos mistérios isso pode voltar um dia e morder a sua bunda, certo? — Eu falhei em ver como isso poderia me impedir de continuar.

*** Na central, Lex se encontrou amuada sentada em frente a uma mesa adornada com várias fotos de golfinhos, uma coleção de bonecas da Hello Kitty, e um iPod rosa. Sofi sentava no meio disso tudo, sorrindo para Driggs. — Agora que você está por aqui há uma semana, — Driggs disse a Lex — nós não temos mais que nos apresentar à Norwood ou Heloise. — Ele conectou a sua foice no Smack e sentou—se em cima da mesa. — Nós podemos pegar qualquer um que quisermos. — E eu sou sua favorita, não é, Driggs? — Sofi disse. — É isso mesmo.


Lex assistiu essa pequena troca com algo de vergonha alheia. A reaplicação implacável de seu brilho labial e o afofamento dos cabelos e o alisamento da saia (a qual Lex estimou ser dois tamanhos menor) eram demais. Ela conectou sua própria foice, depois olhou para as águas vivas para se distrair. Uma delas tinham os tentáculos soltos em uma aceno amigável. — Lex? — Driggs disse alguns momentos mais tarde, de um jeito que sugeria que ele estava se repetindo. — Se importa de se juntar a nós? — Hmm? — ela disse. — Oh, desculpa. Eu perdi a conversa fascinante de vocês? Driggs e Sofi trocaram um olhar misterioso. — Sofi está pesquisando pela mulher do banheiro desta manhã. Sofi bateu nas teclas incompreensíveis do Smack. — Susan Karliak. — ela leu o que estava na tela. — Dez e vinte e sete da manhã, Richmond, Virginia. — Ela deixou sair um ganido alarmante. — Causa da morte: desconhecida. Driggs ficou pálido. — O quê? Eles estavam tão abismados que Lex quase caiu na gargalhada. — O que está errado? — Eu nunca vi um desconhecido antes. — Sofi disse com temor. — Nem eu. Eu não sabia que eles existiam. — Driggs disse. — Procure pelo cara do beisebol do outro dia. — Qual é o problema? — Lex disse enquanto Sofi digitava. — Pessoas morrem por causas desconhecidas o tempo todo. — Desconhecida para os legistas. — Driggs disse. — Não para os Smacks. — Arnold Scadden. — Sofi leu. — Onze e quarenta e cinco da manhã, Boston, Massachusetts. Causa da morte: desconhecida. Driggs olhou pela central. — Eu me pergunto se Norwood e Heloise sabem sobre isso. — Questionável. — Sofi disse. — Causas de morte são apenas listadas como uma formalidade, Etceteras nunca olham para elas. Até agora, nunca houve uma razão para isso. Driggs pensou por um momento. — Tem algum jeito de rastrear esse tipo de alvo para apenas os Juniores?


Sofi torceu a boca. — Eu não posso fazer pedidos especiais, mas — Driggs lançou para ela um olhar suplicante. — Tudo bem. Você tem sorte por eu gostar de você. — Seus dedos dançaram pelo teclado. — Okay, eu criei um filtro. — ela disse com orgulho. — Genial. — Lex disse com uma voz monótona. Ela se levantou, arrancou a sua foice do Smack, e olhou para Driggs. — Vamos. Sofi fez beicinho com seus lábios sabor melancia. Mas seu sorriso reapareceu quando Driggs pulou da mesa, sussurrou, — Vejo você à noite! — e lhe acariciou a cabeça. Sorrindo, ela tentou tocá—lo de volta, mas errou por centímetros. Lex, segurou a vontade de vomitar, se virou sem uma palavra e seguiu para a porta. Driggs a seguiu, parando apenas para jogar um pacote de sal no café intocado de Norwood. — O que está errado com você? — ele perguntou quando eles chegaram na entrada. — Nada. — ela disse. — Eu acho que eu só não gosto daquele... Lugar. — ela concluiu incerta. Mas a verdade era que Lex estava apenas confusa. Sofi não tinha sido nada mais que gentil desde que se conheceram, mas ainda assim Lex não conseguia parar de imaginar a cabeça dela em algum tipo de parede de troféus. Enquanto eles saiam do Pós Vida, eles viram Tio Mort, que estava dando um sermão para um trio de mulheres segurando binóculos que combinavam com seus chapéus. — Sim, cinquenta dólares a taxa para observar os pássaros. — ele disse. As senhoras trocam olhares intrigados enquanto elas entregavam o dinheiro. — Mãos atadas, é o maldito governo. O quê você pode fazer? — Ele deu de ombros inocentemente, dando uma piscadinha para Lex. Depois de um coro de obrigados, as mulheres correram para o carro. Tio Mort acenou para elas, depois contou o dinheiro. — Com um pouco de sobra para a embriaguez. — Ele sorriu, enchendo os seus bolsos. — Hey, uma semana, hein, Lex? — ele disse, jogando para ela uma Braçadeira. — Aqui está seu presente de formatura. — Legal. — Ela a deslizou em seu pulso. Estava fria, com uma leve vibração. — Obrigada.


— Então, você está se sentindo treinada? Driggs está te ensinando tudo o que ele sabe? — Sim. Eu estou completamente qualificada para operar um abridor de latas. Driggs soltou um suspiro. — Que adorável pirralha você trouxe à nossa honrada cidade, Mort. — De nada. — ele disse a Driggs. — Vocês já fizeram as coisas? — Depois do trabalho. — Driggs disse pelo canto da boca. — Ótimo. — Ele subiu na sua moto. — Vá direto para casa depois do seu turno, okay? Especialmente você, Lex. — ele disse, esfregando as mãos de um jeito diabólico. Ela o observou ir. — Isso não é um bom sinal.

*** Isso não foi mesmo um bom sinal. Assim que ela e Driggs colocaram os pés na garagem mais tarde naquela noite, tio Mort apareceu na porta da frente. — Dentro de casa, Lex. — Por quê? — Porque eu disse. E porque Driggs está gesticulando descontroladamente para eu me livrar de você. Lex girou. Driggs parou qualquer exagerada forma de linguagem de sinais que ele estava tentando e acenou para ela inocentemente enquanto ele seguia para o quintal. — Vamos lá, garota. — tio Mort disse, segurando a porta. Lex relutantemente se permitiu ser tragada para dentro da cozinha e sentou à mesa. — O que está acontecendo? — Você tem um encontro com o telefone. — Ele bateu com um plástico cor de abacate na frente dela. Ela olhou para ele, apreensão congelando lentamente o seu corpo. — Desculpa? — Ligue para os seus pais.


Lex congelou. O inevitável tinha chegado. Todos os seus planos de isolamento – que tinham estado funcionando tão bem até agora – estavam prestes a ruir em uma grande pilha de remorso e desculpas inúteis. Não é que ela não sentisse falta dos seus pais. Ela sentia. Ela nunca tinha ficado tanto tempo sem falar com eles, e a culpa a estava comendo viva. Ela sabia o quanto eles sentiam a sua falta e o quanto a amavam – e o quão difícil deve ter sido para eles deixa—la ir. Mas agora que ela tinha uma amostra de onde ela realmente pertencia, sua velha vida poderia muito bem estar localizada em outro planeta. Ela não poderia suportar a dor em suas vozes quando ficasse óbvio que ela era muito mais feliz aqui do que ela alguma vez foi em casa. — Eu... Não posso. — ela balbuciou. — Besteira. — tio Mort disse. — Não entre em detalhes, apenas os deixe saber que você está bem. — Eu não quero. — Que pena. — Mas eu nem ao menos sei como funciona essa coisa. Onde estão os botões? — É um telefone de disco, Lex. — Um o que? — LEX! Ligue para a sua maldita família! — Ele discou o número e enfiou o fone em sua mão. — Eu não esqueça de mentir. Lex cobriu o bocal. — Sobre o que eu devo falar? — Eu não sei. Sobre o tempo? Ela estava prestes a fazer um gesto vulgar para ele quando uma voz apareceu do outro lado da linha. — Alô? Alô? Lex suspirou. — Oi, mãe. — Querida! Você está bem? Como foi a viagem? Você chegou bem? Outro clique anunciou a chegada do seu pai. — Lexy, como está indo? Como está Mort? — Você está comendo bem? Por que você não tem ligado? — O quê você tem aprontado?


— Você levou roupas de baixo suficientes? — Mãe! — Lex gritou de vergonha. — Eu tenho que perguntar. Sou sua mãe. — Sim. — ela disse, ficando aturdida. — Sim para todas as suas perguntas. Tudo está bem. Seu tio se inclinou com um olhar diabólico. — Diga a eles quantas pessoas você Killed hoje. — Tio Mort está mandado um oi. — Ela o afastou. — Olha, eu não posso falar por mais tempo. Eu tenho um monte de, uh... Feno para pegar. — Ele não está fazendo você limpar cocô de vaca, não é? — sua mãe gritou. — Claro que ele está. — seu pai disse. — É parte do trabalho. — Mas isso é nojento! — Como ela vai aprender a se comportar sem ao menos ficar atolada em estrume? — Hey, pessoal? — Lex interrompeu desesperadamente. — Eu tenho que ir. As cabras estão ficando inquietas. E o galo está cantando – ou algo do tipo. Eu ligo para vocês em breve, okay? Um adeus demorado se seguiu, terminando com uma promessa fervorosa de nunca se aproximar dez metros de um debulhador de trigo, como a mãe tinha visto em um especial no Dateline e ficou preocupada. — Okay, tchau! — Assim que os seus pais desligaram, Lex exalou pela primeira vez em minutos. Ela tinha sido evasiva, ela tinha sido robótica, e ela de alguma forma conseguiu não cuspir um monte de confissões pelo seu amor desabrochado por Croak. — O que era– — Doloroso. — uma voz soou através do telefone. Lex quase derrubou o fone. — Cordy! O que você está fazendo? — Espionagem. E dando muitas risadas das suas tentativas de mentir. — Eu não estou — Lex pegou um vislumbre do seu tio. — Fazendo isso. — Sim, certo. Por que você não está atendendo o seu telefone? Eu liguei tipo umas cem vezes. — Não tem sinal aqui. Mas– — O que tio Mort te mantem fazendo aqui? Trabalhos forçados? Drogas? — Sim, Cordy. Mais uma lobotomia só por diversão.


— O que mais explicaria o seu entusiasmo repentino por agricultura? Lex olhou o quintal pela janela, onde Driggs estava mirando uma mangueira para alguma coisa no chão. — Cordy, ouça. Apenas – confie em mim, okay? Eu estou bem. Todo mundo aqui é legal e não usam drogas e são extremamente normais. — A mangueira tinha escapado de Driggs e agora estava saltitando pelo quintal, molhando—o. Tio Mort, enquanto isso, estava fuçando a torradeira com um garfo. — Ou perto disso. — Oh, por favor Lex. Você acha que eu sou estúpida? — Lex hesitou. Por um momento ela pensou em contar tudo para ela, cuspindo cada uma das coisas proibidas na frente de tio Mort. Ela não poderia continuar mentindo para a sua irmã, especialmente desde que Cordy era a única pessoa com a qual isso nunca, jamais tinha funcionado. Mas Cordy poderia facilmente detectar a excitação em sua voz. Ela perceberia que Lex gostava daqui, até mesmo preferia isso a ficar enfiada em casa o verão todo. Cordy já se sentia miserável por ter sido abandonada; como ela receberia a notícia que Lex estava vivendo a melhor época da sua vida?Ela não aceitaria isso muito bem, isso era certo. — Eu realmente não posso falar. — Lex disse, decidindo adiar as confissões para outro dia. — Eu ligo em breve, okay? Coma montes de sorvete por mim. — Mas– — Tchau. — Lex disse, batendo o telefone no gancho. Do balcão, seu tio deixou sair um bufo. — Então como vai a família? Ela olhou para ele. — Você é um saco.

*** Aquela noite, depois do jantar super fino do Chef Boyardee, Lex se afastou das notícias online sobre a explosão do avião (aparentemente causada pela fiação defeituosa) e bateu na porta do quarto de Driggs. — Hey! — ela gritou. — Acorda! Nada. Ela bateu novamente, olhando da escada do porão para o laboratório do tio Mort. Através da fumaça ela podia apenas imaginar uma série de mapas com


anotações presos na parede. — Se você entrou num coma induzido por Oreo, eu não vou te ressuscitar. Ainda nada. Ela foi para a cozinha e notou que a porta da frente estava levemente aberta. Furtivamente, ela abriu para encontrar Driggs sentado nos degraus da varanda da frente entre dois baldes cobertos, sua cabeça abaixada.Ela se esgueirou por trás dele e notou que ele estava sorrindo para alguma coisa. Quanto mais perto ela chegava, mais nítido ela podia ver o que ele tinha nas mãos: uma foto de alguém... Uma garota... — Quem é? Driggs quase pulou de susto. — O que diabos há errado com você? — ele gritou, amassando a foto na mão. — Quem é? — ela repetiu, sua voz crescendo. — Sua namorada? Suas bochechas ficaram adoravelmente coradas. — Não. — ele disse, de cara amarrada. — Não é ninguém. Esqueça. Cale a boca. Ele enfiou a foto no bolso. Lex congelou. Ela nunca iria saber agora. Então novamente, porque ela sequer se importava? — Não está na hora de a gente ir atrás dessa coisa misteriosa? — ela disse irritada. — Sim, está. — ele disse, pegando os baldes. — Se você pode se afastar da sua noiva, então vamos. Driggs apertou os dentes. — Quais são as chances de você deixar essa passar? — Quase nenhuma. — Ótimo. — Ele a encarou por um momento. — A menos... — Sim? — Você pode ser subornada? Lex levantou uma sobrancelha. — Estou ouvindo. — Você é uma fã de embriaguez? — Qual pessoa de dezesseis anos que se preze não é? Ele pegou um maço de notas e as chacoalhou na frente do rosto dela. — Então o que você acha de eu apenas te pagar uns drinques e nós esquecemos que toda essa coisa sequer aconteceu?


Lex abafou uma risada. — Você não quer dizer roubar algumas bebidas e engoli—las atrás de uma Seven—Eleven? Da última vez que eu verifiquei, nós ainda éramos menores de idade. Driggs jogou um braço em volta dos ombros dela. — Não em Croak.


Treze Enquanto Driggs a conduzia para a cidade, Lex começou a perceber que todas as promessas dele de bares e bebidas eram completamente mentiras. Mentira, depois de tudo, era o que um garoto de dezoito anos fazia de melhor. — Você vai amar esse lugar. — Driggs disse a ela, parando bem depois do Necrotério em uma porta de madeira e girando a maçaneta. — Corpps é o melhor pub na Grimsphere. Ganhou um prêmio. — Pelo quê? Invisibilidade? Seu ceticismo virou confusão enquanto eles entravam no que parecia ser uma união profana entre um pub irlandês retrô e uma galeria de arte esquizofrênica. Cada superfície estava coberta por uma variedade de pinturas espessas e manchadas. Um mural gigantesco – retratando o que Lex apenas poderia pensar ser o céu, como se ele fosse uma piscina de cores, formas, pessoas e centenas de outros desenhos abstratos – esticados através do teto abobadado. As paredes variavam entre grandes manchas coloridas e listras longas, salpicadas de espirais. Um tema de Starry Night parecia se formar num canto, onde o início de um manuscrito de um romance estava espalhado pelo chão. Um cheiro doce e quente invadiu a taverna, que simplesmente era tão incrivelmente acolhedora e repleta de fregueses rindo. Lex ficou boquiaberta de admiração. Isso não era nada do que ela tinha imaginado de um bar em uma cidade repleta de executores. — Boa noite, Driggs. — disse um homem de pele escura atrás do bar enquanto eles se aproximavam.


— Boa noite, Lex. — Como você sabe o meu nome? — ela perguntou. — Pandora é minha esposa. Eu sei de toda a fofoca, quer eu queira, quer não. — ele disse, suas sardas dançando. Ele colocou uma tigela de amendoins na frente deles. — Mais, seu tio nunca para de tagarelar sobre você. — Esse é o Corpp. — Driggs disse para Lex. — Um extraordinário bartender por cinquenta anos e contando. — Oi. — Lex disse timidamente. Tinha alguma coisa boa no rosto do homem. Ela gostou dele imediatamente. Driggs colocou um dos baldes no balcão. — Por precaução. Corpp o pegou com um sorriso e o colocou atrás do bar. — Ah, sim. Já está aqui há uma semana? — ele disse para Lex. Ela levantou uma sobrancelha enquanto Driggs levantava o segundo balde. — O que tem aí? — ela perguntou para ele. — Uma cabeça humana. — Você é maravilhoso, sabia? — O que eu posso pegar para vocês crianças? — Corpp perguntou depois de guardar os baldes, limpando as mãos deformadas em um pano de prato. — Dois Yoricks. — Driggs puxou um maço de notas de seu bolso e começou a folheá—lo. — Aqui está o seu pagamento. — ele disse, dando a Lex algumas notas de vinte. — Cem dólares para os Juniores, trezentos para os Sêniors. — Cem dólares por uma semana de um bilhão de horas de trabalho? O que nós somos, escravos? — Algo assim. Mas os Grims não estão nisso pelo dinheiro. Mais, a bebedeira é barata. — Aqui vamos nós. — Corpp baixou duas canecas enormes que pareciam crânios ocos. Lex recuou do balcão marrom e espesso. — Uh, eu sou mais do tipo fã de cerveja. Driggs fez um barulho alto de engasgo. — Cerveja é nojento. Acredite em mim, uma vez que você toma um Yorick, você nunca mais tocará em qualquer


dessas porcarias de novo. — Ele deu a ela um dos crânios e depois pegou o próprio. — Saúde. — ele disse, batendo sua caneca com a dela e dando um gole gigante. Lex não acompanhou. Ela olhou para a gosma lamacenta, desejando que ela não tivesse começado essa noite com a combinação perigosa de leite e SpaghettiOs. — Não é um crânio de verdade. — Driggs assegurou, com um bigode espumoso no lábio superior. — E mesmo que fosse, eu tenho certeza que Corpp teria dado uma limpeza completa. Eles olharam para o venerável bartender. Ele acenou, uma casca de amendoim abrigada em sua espessa sobrancelha. Lex olhou para a sua caneca. — Isso é estranho e nojento. — Assim como você. Uma combinação vencedora. — Lex, Driggs! — A voz estridente soou por toda a sala. — Aqui! Lex se virou para a multidão para encontrar uma Elysia sorridente e um Ferbus nada surpreso tomando seus próprios Yoricks. Kloo e Ayjay estavam dando uns amassos atrás deles, enquanto Zara e Sofi brincavam de um jogo de beber chamado Caveiras, Driggs informou a ela. Lex olhou interrogativamente para Zara, e não disse nada. Ela estava morrendo para saber mais sobre o que Zara disse mais cedo, sobre os choques, mas trazer isso a tona no meio de um pub lotado provavelmente não era a melhor maneira de manter seus segredinhos sujos em sigilo. — Parabéns pela primeira semana! — Elysia disse gesticulando com as mãos, suas unhas pintadas com um roxo vivo. — E bem—vinda ao Corpp’s! — Obrigada. — Lex disse. — Era sobre isso que vocês estavam sussurrando no outro dia? — Uh... Claro. Hey, advinha? — Ela bateu no cotovelo de Ayjay, apesar de seu foco óbvio em outras coisas. — Ayjay, diga a eles! Ayjey limpou uma mancha de saliva dos lábios. — Nós vimos uma dessas coisas mortas de olhos brancos. — Eu também, na verdade. — disse Zara, tirando os olhos do seu jogo com Sofi. — Eu fiz uma substituição essa manhã. — Meu filtro funcionou! — Sofi disse, cutucando Driggs.


— Então isso é oficialmente uma coisa. — Driggs disse. — O que significa– — Ele fez sinal para eles chegarem mais perto. — O que significa que o que quer que esteja matando essas pessoas é um Grim. — ele finalizou, seu rosto sério. — Eu disse a vocês! — Espera um segundo. — Ferbus disse, ainda cético. — Que filtro, Sofi? Sofi disse a eles como ela tinha redirecionado as mortes de olhos brancos somente para os Juniores. — Mas vocês sabem o que é realmente de pirar o cabeção? — ela disse com a voz escandalizada. — A causa da morte de todos eles tem sido listadas como desconhecidas. Um barulho de confusão pairou sobre o grupo. — Isso é impossível. — Elysia disse. — Certo como o inferno que parece desconhecido para mim. — Ayjay disse. — Driggs estava certo – nenhum sinal de machucados, doença, crime. — É como se eles apenas deixassem de viver. — Kloo disse. — O que quer que seja que esteja matando essas pessoas está fazendo isso instantaneamente – mesmo que isso seja medicamente impossível. — Sem mencionar incrivelmente perturbador. — Zara disse. Elysia tremeu. — É. — Agora vocês acreditam em mim? — Driggs perguntou para o grupo. — Tem que ser um serviço interno. Quem senão Grims poderia se esgueirar dentro e fora no espaço de octosegundos? — Merda. Eu acho que ele está certo. — Ferbus disse, parecendo desapontado. E com medo. — Mas vamos lá, Driggs, você realmente acha que estamos lidando com um real Crasher? Lex levantou a mão. — Novamente eu pergunto, o que é um Crasher? Ferbus olhou em volta, depois baixou sua voz. — Um Grim que achou um dos Loopholes. — Um Loophole é um documento antigo e obscuro. — Elysia disse a Lex. — Apenas alguns foram feitos, e eles estão espalhados por todo o mundo, então eles são bem difíceis de achar, apenas aparecendo de século em século. Provavelmente porque ninguém tem certeza sobre como ele é – podem ser livros ou cartas, ou sabe lá o que.


— O que quer que sejam, — Driggs disse, — cada Loophole é uma lista idêntica de instruções para um procedimento secreto que, quando seguidos exatamente, darão a um Grim a habilidade de Quebrar o sistema, ceifar fora da jurisdição dos Etceteras e fora do radar, não apenas programar os alvos. Lex olhou em volta do círculo. — Por que isso é importante? — Por que? — Ferbus parecia escandalizado. — Isso é como– como– — Pense nisso dessa forma. — Kloo disse. — Quando estamos trabalhando no nosso turno, é como se tivéssemos pegado um trem para uma direção. E os alvos que os Etceteras nos atribuem são estações diferentes que nós paramos. Mas os Crashers estão aptos a pular em volta das outras estações, em outras rotas, até mesmo lugares onde não há rotas. — A coisa é. — Elysia disse, — Crashers não são capazes de controlar onde eles ceifam. Então um Grim pode procurar toda sua vida pelo Loophole, achar, e se tornar um Crasher, apenas para terminar ceifando aleatoriamente e selvagemente e ser morto por Crashing no meio de um bando de lobos famintos ou algo do tipo. — Que é o que faz esse caso tão especial. — Driggs disse. — Isso é um Crashing. — Parece muito com — Ferbus quebrou enquanto ele dava um olhar significativo para os outros. Aparentemente ele não estava sozinho nesse pensamento: logo todo mundo estava olhando para o outro com tanto terror que uma onda de arrepios correu pela pele de Lex. — O que? — Lex disse. — O que eu estou perdendo? — Nada. — Driggs parecia um pouco embaraçado. — Apenas uma antiga lenda, na verdade. Supostamente no século catorze teve um psicopata chamado Grotton que entrou para a história como o único Grim que descobriu como Crash em lugares específicos – e pessoas específicas. — Interessante. E o que ele fazia quando ele chegava lá? — Matava—os. — Ayjay disse. — Dava—lhes veneno, empalava com a foice, atirava em suas cabeças com uma besta– — Entendemos, parceiro. — Kloo disse. — Por que ele não apenas tocava neles? — Lex perguntou, um desejo inominável mexendo dentro dela.


Zara deixou escapar um bufo. — Não é como se você pudesse andar pela rua e acertar quem quer que você deseja. — ela disse. — Mortes apenas podem dar conforto as almas dos corpos que já estão mortos. Eles não podem causar a morte – ao menos não por apenas tocá—los. — Então me deixa entender isso direito. — Lex disse. — Esse cara o Gritton iria ceifar uma lavadeira da vila que o tinha aborrecido mais cedo naquela manhã, esmagar sua cabeça com uma pedra, guardar a foice, tudo antes de um time de Grim chegar para Kill e Cull a coitadinha? — Exatamente. — Driggs disse. — Crashing direcionado o permitia matar instantaneamente quem ele quisesse, quando e onde ele quisesse, o tempo todo escapando da detenção. O mais eficiente maníaco homicida de todos os tempos. O silêncio caiu na roda. — A menos — Lex começou. Eles olharam para ela. — Eu quis dizer, como vocês sabem com certeza que ele era tão malvado? Ferbus se eriçou. — Você não ouviu o que nós acabamos de falar? — Eu quis dizer, talvez as pessoas que ele matou fossem ruins, ou... — Ela parou de falar com a visão de rostos enojados olhando para ela. — Eles não eram. — Ferbus disse secamente. — Como você sabe? — Porque– — Elysia olhou em volta, depois sussurrou, — Porque um monte deles eram Grims. As sobrancelhas de Lex se levantaram. — Ele foi atrás da sua própria gente? — Com o tempo, sim. Lex olhou em volta do bar para os indivíduos que agora poderiam ser descritos como a sua própria gente. Tio Mort tinha chegado e já estava colocando fogo no drinque de alguém, muito para a alegria daqueles que estavam em volta dele. Ela também não pôde deixar de perceber o olhar de curiosidade que vinha que alguns Grims Seniors; alguns deles até mesmo apontaram para ela, gesticulando — sobrinha do Mort.— A maioria parecia amigável. Alguns, predominantemente em volta de Norwood e Heloise, não eram. — Bem. — Lex disse lentamente, — Grims podem ser facilmente pessoas ruins. A existência de Grotton não prova isso?


— Não importa se eles são bons ou maus. — Driggs disse. — O que importa é se ele está impiedosamente abatendo uma porrada de gente usando um poder que humanos nunca deveria pensar em possuir. Lex ficou quieta por um momento. — Não leve a mal, — ela disse, — mas isso tudo parece muito rebuscado. — Duh. — Sofi disse. — Por isso é chamado de lenda. — Mas o que vocês estão dizendo aqui? Que esses alvos estão sendo mortos por um bicho papão metafórico? Driggs olhou para ela com desprezo. — Vamos lá, Lex. Grotton se foi há séculos, se ele até mesmo chegou a existir. Mas os mitos vivem, e eles ainda assuntam muito os Grims até hoje. O pensamento de alguém aprendendo sobre como funciona – é bem inquietante, você não acha? — Mas aprender a fazer o que? — Lex disse. — Não havia nenhuma flecha saindo da cabeças dessas pessoas. Driggs pareceu pensativo. — Grotton não era exatamente um modelo ideal de sutileza. Existem vários outros meios modernos de matar uma pessoa agora, melhores meios de cobrir rastros – apesar de que eu não sei de nada que possa causar o fim da vida instantaneamente. Ou branquear os olhos de alguém. — Nem os Smacks. — Sofi disse. Depois de um instante de silêncio contemplativo Driggs deu de ombros. — Apenas vamos nos manter procurando por eles, eu acho. Não podemos fazer muita coisa. — A não ser ficar bêbado. — Ayjay disse. E assim, a sombra se dissipou. Zara foi para o bar para pegar mais bebidas, e Kloo e Ayjay voltaram a engolir as amídalas um do outro. Lex levou Elysia para um lado. — Sério, Lys. — ela disse. — Essa coisa do Grotton é realmente verdade? — Oh, sim. — Elysia disse com os olhos arregalados. — Ele é o equivalente ao Hitler no mundo Grim. Lex gostava de Elysia de verdade, então ela tentou muito não rir disso. — Mas por que? — ela perguntou. — Eu quero dizer, eu posso ver porque ele era uma ameaça para as pessoas no mundo lá fora, mas os Grims não são protegidos pelo céu? — Depois da queda do avião Driggs tinha explicado que a razão pela qual eles


não tinham perdido a consciência a 35 mil pés ou ter ficado molhados na água ou queimados no fogo era que toda vez que eles ceifavam, seus corpos ficavam rodeados por uma fina camada do céu que os protegia dos elementos. Elysia inclinou a cabeça. — Não de tudo, Lex. — Então – espera. Nós não somos à prova de balas? — Não. — Elysia respondeu. — Nós podemos morrer tão fácil quanto qualquer pessoa. Um tremor de medo passou pelo corpo de Lex. Ela não estava certa do porque ela tinha assumido que Grims eram invencíveis, mas a repentina descoberta que eles não eram bateu nela como um banho de água fria. — O que significa, — ela disse, — que se esse assassino alguma vez decidir parar de mirar nos fãs de beisebol e lobas bêbadas e ir atrás de Grims como Grotton fez... nós estaremos completamente indefesos? Elysia assentiu. Aturdida, Lex olhou para a sua bebida. Uma bolha grande e encardida tinha entrado em erupção. — Por que você não está bebendo? — Ferbus se intrometeu. — Isso é um desperdício de um Yorick perfeitamente bom. — Eu não sei, eu acho que eu não estou no clima para esgoto bruto. — Shhh,— Driggs disse preocupado, pondo a mão por cima da borda da sua bebida. — Ele vai te ouvir. Lex não podia ver nenhuma razão para não arremessar todo o conteúdo da caneca diretamente na cara dele. Driggs sentiu isso. — O que eu quis dizer é, você tem que respeitar o Yorick. — ele disse. — Vamos lá, Lex, você tem dezesseis anos e está em um bar. Beba já. Era difícil argumentar com essa lógica. E então ela bebeu. A primeira coisa a bombardear os seus sentidos foi o gosto – um gosto rico, cremoso, deliciosamente doce que era tão profundamente satisfatório que parecia que fluía por cada veia em seu corpo, indo para os seus dedos dos pés. Como um milk—shake de chocolate—baunilha—caramelo—maltado—mel—coco—ecstasy, a poção amanteigada permaneceu na língua muito tempo depois que tinha descido pela sua garganta. Um aroma suntuoso preenchia suas narinas, enchendo seus pulmões com uma poderosa queda, queimando quente e gelado ao mesmo tempo.


Mas isso não era tudo. Lex percebeu que em adição ao sabor doce, ela estava fisicamente provando a sensação de júbilo. Todos os seus problemas se derreteram; de fato, era difícil imaginar que ela alguma vez já tivesse tido algum problema. Um brilho suave se estabeleceu na visão de seus amigos rindo do seu estupor. Ela nem ligou. Ela os amava. Ela os amava tanto… — Whoa. — Driggs gritou, agarrando seus ombros e os agitando. — Yummmm. — ela esguichou. Ferbus e Elysia riram. Driggs terminou sua própria caneca e esboçou um sorriso bobo. — Volto já. — ele disse, cambaleando para o bar. — O que tem nessa coisa? — Lex tomou outro gole, não querendo desperdiçar um precioso segundo com conversas bobas. — Elixir. — Elysia disse. — É feito da penugem branca do átrio. Lá ela está em sua forma mais crua – estritamente funcional e arquitetônica. Mas quando você a remove do Pós Vida, ela condensa em um estado líquido e te dá a sensação mais maravilhosa do mundo. Tudo o que Corpp faz é misturar isso com uma combinação especial. — De que, crack? — Quem sabe? — Elysia sorriu. — Yoricks são diferentes em qualquer lugar que você vá no mundo Grim. O de DeMyse tem gosto de frutas, e em Necropolis eles são bem mais amargos. Cada lugar tem sua própria receita secreta, mas eu pessoalmente amoooo a nossa. Parece sobremesa. — Parece um arco—íris. — Ferbus murmurou. As garotas olharam para ele. — De qualquer forma, — Elysia continuou, — eles são populares onde quer que você vá. A bebida internacional dos Grims. E a melhor parte é– — Sem ressaca! — Driggs retornou com outra rodada. — Ele não fica no seu sistema tanto tempo quanto o álcool, ele nunca vai fazer você vomitar, e no outro dia você acorda como se você tivesse ganhado todas as Olimpíadas. Lex virou o resto de sua caneca e procurou por outra. — Isso não pode ser tão fácil. — ela disse. — Se isso ficar público, seria proibido em segundos. — Na verdade, tem um limite de três drinques. — Elysia apontou para uma placa em cima do bar. — E isso é estritamente reforçado. Mas isso é tudo o que


você precisa. É uma coisa potente. O que quer que tenha no Elixir realmente não é significante para esse mundo. Algumas gotas puras poderiam derrubar você em um piscar de olhos. É por isso que é tão diluído nos drinques, e é por isso que tem uma cota. Beba mais um pouco que isso, e você para de respirar. — Ela disse alegremente. — Mas Grims têm feito essas coisas por séculos. — Driggs disse, — então nós ficamos muito bons nisso. O único jeito de você ficar ferida sob a sua influência seria se você fosse abraçar um armário e seu olho pular pra fora. — Tudo é diversão e jogos até alguém perder um olho. — Ferbus disse alto demais. — Depois é apenas uma diversão caolha. Elysia colocou um guardanapo na cabeça dele. — É por isso que não tem idade para beber aqui. Dificilmente você pode impedir algo que alegra as pessoas, especialmente com o tipo de trabalho feito aqui. Lex apontou para as paredes. — A decoração teoricamente é para nos alegrar também? — Sim! Corpp costumava ser um artista. — Elysia disse. — Então quando ele se aposentou do Culling e abriu esse bar, ele não conseguiu evitar. Ele os repinta todos os dias. — Ela tomou outro gole. — Veja bem, Corpp sempre quis ter um lugar para os Grims virem e apenas se divertirem. Você sabe, um alívio do trabalho mórbido que nós fazemos e poder ir para uma obra—prima grande, única e satisfatória. Enquanto Elysia ria bêbada em sua bebida, Lex olhou para o senhor atrás do bar. Ele sorriu para ela. Ela sorriu de volta. E enquanto a noite passava, ela continuou a sorrir com tanta frequência e com tanta vontade que na hora da última rodada, ela temeu que seu rosto ficasse daquele jeito para sempre. Ela nem mesmo xingou quando Ferbus cuspiu sua bebida em cima da camisa dela. — Seu maldito desastrado! — Elysia gritou. — Hey! — ele disse. — Eu sou a vítima aqui! Esse era o meu último drinque! Rindo apesar do seu estado miserável, Lex foi em direção ao banheiro para se limpar. Ela segurou sua camisa debaixo da secadora de mãos até que estivesse quase seca, depois deu uma olhada rápida no espelho. O rosto que olhava de volta era quase irreconhecível.


Era feliz. A tontura diminuiu, entretanto, enquanto ela saía do banheiro para achar apenas um corredor vazio onde os Juniores tinham estado. — Para onde foi todo mundo? Driggs, o único que ficou, deu de ombros. — A Cripta tem um toque de recolher. Se eles não voltarem até a meia—noite, eles ficam trancados para o lado de fora, então eles tiveram que correr. — Sem se despedir? — Lex disse cautelosamente. Ela tentou em vão pegar os olhos dele, mas eles pareciam estar firmemente presos em seu peito ensopado. — O que? — Ele olhou para cima. — Sim, você está bem. — Agora ele pareceu confuso. — Uh, vamos para casa. Ele a puxou pela multidão, colocou suas canecas vazias no balcão, e foi para a porta. — Espera, e os baldes? — Lex perguntou, dando um olhar interrogativo para Corpp. Ele lhe deu um sorriso agradável. — Divirtam—se! Lex tentou decifrar isso enquanto eles andavam pelo Beco sem Saída. — Se divirtam com o que? — Oh, eu não sei. Talvez... Com isso. — Driggs disse enquanto ele se espremia em um beco apertado. Lex seguiu cegamente, suas mãos tocando ao longo das paredes até eles saírem na borda da floresta. Ela parou. Driggs deu um olhar diabólico, toda a sua atenção agora focada. — Vamos lá. — ele disse, mergulhando nas árvores. Lex olhou em volta nervosa, sua coragem caindo cada vez mais rápido. Ela deu uma sacudida determinada com a cabeça. Certamente uma malfeitora como ela não poderia estar assustado por um pouco de escuridão. E um monte de sombras assustadoras. E a floresta mais densa que ela já viu. Driggs chamou por ela mais uma vez, então ela timidamente pisou na floresta, entrou na trilha, e tentou não olhar para os impossíveis espaços negros entre as árvores. Até alguma coisa branca entrar no seu campo de visão. Ela observou a figura – uma forma encurvada se mexendo lentamente pela floresta. Por alguma


razão, ela lembrou da sua primeira vez no Campo, quando ela sentiu alguma coisa a observando atrás de um arbusto. O pânico apertou a sua garganta. Com certeza era um cervo ou um coelho especialmente grande – mas não, Elysia tinha dito a ela que os animais normalmente evitavam Croack, muito assustados com o ar onipresente da morte. Lex se movia um pouco mais rápido agora, olhando nervosa para a figura, a qual por algum pequeno milagre não estava fazendo nenhuma tentativa de se aproximar. Ela olhou a trilha, procurando desesperadamente por Driggs, mas o caminho tinha uma curva acentuada e ela o perdeu de vista. Ela começou a correr, se obrigando a não olhar para trás, mas depois de meros cinco segundos ela não pode evitar. Ela se virou e balançou – para nada. A floresta estava vazia. Agora ainda mais assustada, Lex se virou – apenas para bater em alguma coisa sólida na forma de Driggs. — Idiota! — ela gritou em um tom histérico, socando—o. — Au! — Ele esfregando as costas. — Rins de novo? Já sentiu vontade de mudar? Talvez para um órgão não vital? — Eu não vejo nenhuma razão para mudar a tradição. — Lex disse, puxando o ar e tentando voltar a sua voz uma oitava ao normal. — Deus, você é tão... — Ele olhou para ela com uma expressão que ela não poderia decifrar. Nos seus estados bêbados e corados, era difícil dizer onde esta perda de inibição poderia levar. Mas o rosto dele estava se aproximando. Lex segurou o olhar dele e não se afastou. — O quê? O nariz dele estava a centímetros do dela. — Tão perturbadora. Um turbilhão de borboletas atravessou o estômago de Lex. Ela engoliu e mordeu os lábios, seu cérebro tentando antecipar o que estava prestes a acontecer, se ela iria parar isso, e como evitar parecer como uma idiota inexperiente se ela não impedisse. Por sorte, um invisível ramo pendurado a poupou da decisão. Ele cutucou Driggs diretamente no seu olho machucado, fazendo—o dar um pulo e se desequilibrar. — Merda! Viu o que eu disse? Lex piscou algumas vezes, depois achou a sua voz. — Uma semana ruim para o olho, huh?


Driggs lançou—lhe um olhar, depois se afastou e se perdeu de novo na escuridão, resmungando. Lex o seguiu, sorrindo para a sua insanidade temporária. O que exatamente ela esperava que acontecesse? Aqueles Yoricks devem ser mais potentes do que ela pensava, para ela ao menos considerar a ideia de saltar a bordo do tesão adolescente. Ela continuou a segui—lo pela trilha um pouco mais, clareando a mente de toda aquela bobagem e pensando que A Bordo do Tesão Adolescente seria um bom nome para uma banda, até que eventualmente as árvores começaram a acabar. Lex entrou em uma clareira. A lua, espiando entre as nuvens, refletia ligeiramente a superfície de um lago. — Onde estamos? — ela perguntou, se aproximando da margem. Sua pergunta se encontrou com o silêncio. — Driggs? — ela chamou, procurando freneticamente ao redor da pequena praia. Ele desapareceu. De novo. Lex tentou não pirar. As sombras eram apenas sombras. A coisa branca tinha ido embora. Ela estava em um lugar seguro. Tudo o que ela tinha que fazer era achar o caminho de volta, ir para casa, e matar Driggs silenciosamente enquanto ele dormia. Fácil. As árvores começaram a ranger, um coro de gemidos de outro mundo. Lex enfrentou cegamente a floresta, suas costas para a água, vulnerável e presa. Jurando não deixar sua foice em casa novamente, ela pegou um pau que estava por perto, como se isso pudesse defendê—la dos horrores que se materializavam em sua imaginação. Ela tinha acabado de calcular quantos socos no olho precisaria para derrubar um chupacabra, quando – um galho estalou. Alguém gritou. E sete balões de água atingiram Lex diretamente no rosto. Instantaneamente encharcada, ela deixou sair um grito agudo não diferente de um gato molhado com raiva. Ela sacudiu a água dos olhos, jogou o pau inútil, e rosnou enquanto um exército de Juniores saía das árvores. — Mas que diabos?? — Lex atirou, lutando com a logística de como socar sete pessoas de uma vez. — Desculpa, Lex, nada pessoal. — Driggs riu. — Novatos sempre são atacados no seu aniversário de uma semana. Não há necessidade de mexer com a tradição, certo?


Lex investiu contra ele, mas Ferbus a deteve. — Segure esse pensamento. — ele disse, jogando um balde de munição aos seus pés. — Guerra de balões até a morte. Pegue quantos você puder e não mostre misericórdia. — Ele enfiou uma dúzia de balões na frente da camisa e correu para dentro da floresta. Lex tirou um pedaço do balão de seu cabelo e deixou sair uma risadinha. — Vocês estão falando sério? — Muito sério. — Elysia disse, pegando balões. — Eu começaria o estoque se fosse você. Lex teve um vislumbre de Ayjay mirando do outro lado da praia. Sem um plano melhor, ela rapidamente pegou uma mão cheia de balões e se abrigou atrás de uma tora. Outro grito ecoou, e o caos se seguiu. A carnificina era indescritível. Torpedos de balões em todas as direções. Roupas estavam encharcadas. Gargalhadas ecoaram por toda a parede de árvores para o céu escuro. E em pouco tempo, todos acabaram na lagoa, com roupa e tudo. Menos Lex. — Cuidado! — Kloo gritou para Sofi e Zara enquanto elas se empurraram na água. — Eu não vou fazer boca a boca dessa vez, estou falando sério! Lex ficou boquiaberta com um Ferbus nu enquanto ele se balançava em uma corda em direção ao lago. — Vocês estão todos ferrados. — ela disse para ninguém em particular. — Ilumine—se, Lex. — Driggs disse enquanto corria, se jogando na água e a encharcando completamente. Ela não poderia mais resistir. — Você está morto! — ela mergulhou atrás dele para o abismo. A água gelada penetrou instantaneamente nas suas roupas, arrastando—a para a profundeza escura. Quando seus pulmões estavam próximos de explodir, ela foi para a superfície e colocou a cabeça para fora da água, apenas para encontrar—se olhando diretamente para um único olho azul. — Oh. — ela disse. — Olá. Driggs sorriu. — Seu nariz está completamente ranhoso. — Que pena ser você, então. — ela disse, enchendo a boca de água e cuspindo na cara dele. Driggs a olhou reprovadoramente, mas ela não se importou. Ela se jogou para trás, deu um pequeno giro, então flutuou na superfície e olhou para o céu


estrelado. Como era possível que apenas uma semana atrás ela tinha estado presa em uma vidinha de merda? E agora aqui está ela, mais feliz do que já foi alguma vez, rodeada de pessoas que ela gosta e as quais milagrosamente gostam dela também, e descobrindo uma porrada de talentos que ela nunca pensou ter. Mais uma vez, sua mente se inundou de pensamentos de uma garotinha com um ursinho de pelúcia, do homem que fez várias coisas inumanas com ela e o calor que tinha pulsando pelas mãos de Lex. O que ela teria feito a ele se Driggs não a tivesse parado? Lex sabia que ela estava aqui por uma razão. Ela sentiu isso todas as vezes que ela Killed, com cada ataque ofuscante. Que outros talentos estão escondidos? Seu futuro estava cheio de possibilidades ilimitadas. Mesmo tio Mort tinha dito que ela ia longe. Seus lábios se curvaram em um sorriso malicioso. O quão longe ela poderia ir?


Quatorze Um monte de coisa pode acontecer em um mês. Lagartas se transforam em lindas borboletas. Árvores de natal vão de símbolos da alegria do feriado para cadáveres nus e murchos condenados ao picador de madeira. E um mês depois de chegar em Croak, Lex também passou por uma estranha transformação. Ela mergulhou em um estado até então desconhecido, foi introduzida em um território estrangeiro, e se transformou em algo que ela nunca poderia imaginar. Lex se tornou popular. De fato, ela tinha subido tão rápido nas fileiras sociais da população de Grims Juniores que parecia que ninguém poderia se lembrar de uma vez que ela não estivesse estado no topo. — Então nós fomos nesse restaurante bacana para o nosso aniversário, e Cordy pegou o maior pedaço de bife que eu já tinha visto. — ela disse para o grupo, sentada do outro lado em volta da fonte enquanto eles almoçavam. — Era mais ou menos do tamanho de uma bola de golfe, não estou brincando. Sem surpresa, ela começa a engasgar. Então, meu pai a envolve pela cintura e faz a manobra Heimlich, a bola de carne sai pela sua boca, e bam – eu a pego no ar! Mas Cordy estava muito ocupada lidando com a asfixia para notar. Então eu a envolvi em um guardanapo, levei para casa, embrulhei e dei a ela como um presente de aniversário a noite. Nós rimos tanto, que os vizinhos reclamaram. Os Juniores riram também. — Clássico. — Kloo disse, limpando as lágrimas dos olhos. — Clássico.


— Sim. Ela quase morreu. — Lex pegou uma garrafa de ketchup meio vazia e a sacudiu vigorosamente em cima dos anéis de cebola que tinham dado a ela. Quando nada saiu, ela correu para a porta do restaurante e enfiou a cabeça. — Dora! — ela gritou pelo restaurante. — Te mataria substituir esses ketchups de vez em quando? Eu sei que você guarda suas relíquias da Idade da Pedra, mas é hora de deixa—las ir! A velha proprietária mancou. — Que boca essa tem. — ela reclamou consigo mesma, praticamente jogando uma garrafa nova para Lex. — O que aconteceu com o respeito para com os idosos? — Não é para isso que servem os paleontologistas? Pandora fechou a cara, suas rugas estavam como rochedos. — Mocinha, você é o diabinho mais rude, desprezível que já teve a desgraça de pisar nesse estabelecimento. — Sua carranca se transformou em um sorriso escancarado. — Você me lembra a mim. Lex sorriu. — Obrigada, Dora. Oh, o mais estranho dessa manhã foi um cara que se engasgou com um hamster. — Puta merda. — Pandora disse em reverência. Um par de semanas antes, Lex tinha ingenuamente se gabado com Dora que ela já tinha testemunhado cada jeito que um ser humano poderia morrer. Dora, ela mesma uma Killer aposentada, beijou Lex do lado da cabeça e informou a ela o seu erro. — Uma vez Killed um cavalheiro que tinha caído em uma piscina cheia de porco—espinhos. — ela disse. — Algumas mortes desafiam a razão. Sempre haverão algumas extraordinárias, guarde minhas palavras. O enorme número de mortes inconcebíveis forçou Lex a admitir. Teve uma mulher que tentou usar um secador de cabelo no banho. O atendente de pista do aeroporto atropelado por um carrinho de bagagem. E a criança que disparou uma pistola de pregos em seu peito para matar um mosquito que tinha estado ali. A lista era interminável. Quanto mais mortes bizarras Lex assistia, mais ela tinha que admitir que um monte de pessoas apenas foram completas imbecis. Mas de longe as mortes mais estranhas eram as dos olhos brancos, as quais estavam crescendo em números e características em um ritmo alarmante. Nenhum dos corpos tinha exibido ainda qualquer sinais claros de morte – na verdade, na maioria das vezes, os alvos estavam morrendo de jeitos e situações mais


inimagináveis. Claro, alguma coisa incomum estava sendo feita para extinguir essas pessoas perfeitamente saudáveis de um jeito instantâneo – os olhos vítreos e gelados eram prova disso – mas nenhum dos Juniores tinha chegado perto de adivinhar o que era isso. Ou quem estava fazendo isso. Então, enquanto eles se arrastavam para o final de Julho, todo dia chovia várias novas ideias, mas nunca chegaram a uma conclusão sólida. Discussões espalhavam—se entre os Juniores depois de cada turno, mas tudo o que eles tinham para mostrar em o seu trabalho era um punhado de pistas vazias e uma lista de suspeitos. Mas tudo isso estava prestes a mudar. — Uh, pessoal? — Ferbus disse com uma voz estranha, folheando pelas páginas do O Obituário daquele dia. — Vocês têm que dar uma olhada nisso. Lex voltou para a fonte e se espremeu em torno do jornal. — “Mortes incomuns surgem em Necropolis”. — ela leu em voz alta. — Noite passada, sete grupos de Grim Senior retornaram de seus turnos noturnos com relatos de atividades

anormais

em

todo

o

centro—oeste.

Enquanto

detalhes

das

irregularidades não forem divulgados, autoridades anunciaram publicamente que não há razão para preocupação. Entretanto, eles pediram para os Grims do Campo que observem qualquer coisa fora do comum durante seus turnos para, por favor, contatar seu diretor local o mais rápido possível. — Uau. — Ayjay disse. — Alvos anormais? — Kloo disse. — Deve ser a mesma coisa que estamos vendo, não é? Ferbus folheou o resto das páginas. — Parece que sim. — Mas nós apenas tivemos um por dia aqui. Sete em uma noite parece bastante. — Não se você pensar como um serial killer. — Driggs disse. — Nós estamos assumindo que essa pessoas seja um Croaker, certo? Então– — Por que estamos assumindo isso? — Zara perguntou. — Essa é a primeira menção do O Obituário de qualquer morte estranha em qualquer lugar no país. Então a menos que tenha outra cidade Grim com uma sociedade de jovens corajosos determinados a resolver o Mistério dos Cadáveres


com Olhos Congelados por conta própria sem alertar qualquer Senior, eu acho que nós temos um monopólio nessa. — Isso é verdade. — Zara disse, concordando. — Continue. — Okay. Até agora, essa pessoa só esteve apta a Crash lugares na jurisdição de Croak, primeiramente na região leste. Mas agora eles estão abrindo um pouco as asas, achando que eles podem ceifar mais longe ainda, meio caminho do outro lado do país, até – bam! Uma noite inteira de crime! — Uau. — Lex disse. — Bom trabalho, Nancy Drew. — Isso é impossível. — Elysia bufou. — Todo mundo em Croak trabalha ou o dia inteiro ou a noite inteira, sem tempo para orgias homicidas. Eles teriam que estar em dois lugares ao mesmo tempo. Isso não faz nenhum pingo de sentido. — Sim. — Lex disse, pensando. — Quer dizer, nós supostamente devíamos estar procurando algum tipo de significado em tudo isso, ou talvez um padrão? Qual é o objetivo desse maluco? — Talvez não haja um. — Kloo disse. — Você acha que eles estão matando todas essas pessoas apenas por diversão? Era isso que Grotton fazia? Elysia respirou fundo, do jeito que ela sempre fazia antes de falar por vários minutos. — Não, ele– — SHHH! — todo mundo menos Lex assobiou. Lex olhou em volta. — O quê? — Uh– nada. — Driggs eram um péssimo mentiroso. Esse era um de seus muitos defeitos. — Vamos lá, pessoal. — Elysia disse. — Ela vai descobrir mais cedo ou mais tarde. — Sempre é mais cedo, no seu caso. — Ferbus disse. Elysia lhe mostrou um dedo. Ele retornou o gesto. — Okay, pode ter mais um pedacinho da lenda de Grotton que não contamos a você. — Driggs disse culpadamente para Lex. — Mas as pessoas nunca falam sobre isso. — É por isso que ninguém sabe muito sobre isso! — Elysia interrompeu. Driggs olhou para ela. — Me desculpe, Elysia, você quer contar a história?


— Sim, eu quero. — Ela varreu a rua com um olhar ansioso, depois falou com um sussurro. — Grotton aprendeu como Crash o itinerário e matar pessoas enquanto o tempo estava congelado, mas ele não parou por aí. Um dia, o massacre desordenado parou. Sem mais facadas ou bestas. — O que você quer dizer? — Lex perguntou. — Ele desistiu? — Não. — Elysia disse. — Grotton estava fazendo algo ainda pior que matar suas vítimas. Mas as histórias são tão terríveis, que apenas algumas delas foram repassadas – apenas alguns rumores de corpos empilhados nas florestas, corpos que haviam sido incinerados. — Ele tacou fogo nas pessoas? — Pelo lado de dentro. — Ayjay disse. — Eca. — Lex franziu o cenho. — Como ele fez isso? — Ninguém sabe. — Elysia disse. — E fazendo isso – suas almas desapareciam. Ou ao menos elas não iam para o Pós Vida, isso com certeza. Lex deixou sair um longo suspiro. — Então o que aconteceu a eles? — Ninguém sabe também. — Kloo disse. — Mas se essas pessoas estão ao menos tentando alcançar o mesmo fim... Eles ficaram quietos por um instante. — Pessoal, nós precisamos contar ao tio Mort. — Lex finalmente disse. — Não importa o quanto de problemas nós iremos nos meter. — Finalmente. — Zara disse com triunfo. — Ao menos alguém que não quer que sejamos mortos. — Mas quem iria querer nos matar? — Ferbus se opôs. — Você pode honestamente pensar em qualquer um em Croak que faria isso? Eles deram de ombros, derrotados. — Não. — Driggs disse simplesmente. — Não posso. De forma alguma. — Ótimo. É totalmente um caso perdido. — Ferbus disse, jogando as mãos para cima. — Devemos ir pegar um Yorick e encerrar o dia? — E porque nós deveríamos fazer uma coisa dessas? — Uma voz estridente disse acima. Uma ave de rapina parecida com Heloise pairava sobre eles. — Comer alguma coisa, — Lex disse alto, — antes que ele fique mal humorado e devore um transeunte desavisado.


Heloise zombou deles como se eles fossem alguma coisa que ela tinha apenas tirado debaixo da ponta de seu sapato. — Hilário. — Ela olhou para o relógio. — Tem alguma razão em particular para vocês não estarem no trabalho ainda? — Estamos tomando sol. — Driggs disse. — Me diz, como um vampiro como você conseguiu não se desintegrar em uma pilha de cinzas até agora? Heloisa estava menos que deliciada. — Eu tinha a impressão de que vocês crianças têm um trabalho para fazer. — Ela arqueou as sobrancelhas finas. — Não acho que até uma pessoa importante como a amada sobrinha de Mort deveria se eximir de suas obrigações. — Hey, você leu o jornal hoje? — Ferbus perguntou, alheio a sua bronca. — Deveríamos manter os olhos abertos para qualquer coisa estranha? Heloise apertou os lábios. — Doninha intrometida, não é? — ela olhou para o jornal. — Nada disso é da sua conta, mas nosso escritório não notou nada fora do comum. Eu acho que tudo isso é o mesmo velho absurdo. Necropolis sempre foi atormentada por sua cota de problemas, assim como Croak foi perpetuamente amaldiçoada com adolescentes preguiçosos. — LEXINGTON!— Lex estava tão assustada, que deixou cair o que restava do seu cachorro— quente dentro da fonte. Ela virou—se e encontrou o furioso rosto de réptil de Norwood. — Oi, Woody. — ela disse, franzindo a testa quando ela pegava sua gravata. — Essa cor não fica bem em você. Ele arrancou a gravata de suas mãos e a colocou em sua camisa. — Por que você está protelando os seus locais de destino? Lex hesitou. Verdade, ela e Driggs estavam demorando muito mais tempo nos alvos anormais. E sim, teve aquela única vez (ou duas, ou talvez dezessete) que a sua mão tinha roçado contra a do seu parceiro e ambos ficaram incapazes e estranhos por um minuto ou mais antes de recuperarem a compostura. Mas Norwood descobrindo sobre qualquer coisa – ela não estava preparada. — Hey, não estamos quebrando nenhuma regra. — ela disse, tentando soar despreocupada. — Nós ceifamos eventualmente. O que importa quando isso acontece?


Ele fez careta. — Importa porque quando vocês pequenos cretinos se metem em problemas – quando, não se – vai ser eu quem vou lidar com isso, eu que vou ter enviar reforços, eu que vou pagar a fiança de vocês– — E eu que vou ter que sofrer com todos os seus discursos fedorentos. — ela disse, acenando sua mão na frente de sua boca. — Sério, Woody, um Tic Tac uma vez ou outra não vai te matar. Isso não caiu bem. Norwood parecia prestes a jogar cada um dos Juniors bem no meio da fonte. — Eu sei que vocês crianças pensam que isso é uma piada, uma brincadeira, um maldito acampamento de verão para gênios como vocês. Mas se vocês não pararem de ferrar por aí, eu vou ter uma palavra para vocês: exílio. — Com isso, ele alisou sua gravata, correu a mão por seu cabelo sem vida, e saiu. Heloise o seguiu, dando a eles um aceno vingativo enquanto ela saia. — E eu tenho duas palavras para vocês. — Ayjay disse baixinho. — Gerenciamento da raiva. — Uau, ele realmente odeia você, Lex. — Elysia disse com cuidado. — Até mesmo mais que Driggs! Vocês viram a distância que aquele cuspe voou da boca dele? Deve ter sido uns cinco pés. Lex o observou ir. — Que babaca. Fora de si. — Bem, não completamente. — Driggs disse. O rosto de Lex era assassino. — Desculpa! — ele disse. — Mas ele está certo, não? Um silêncio glacial se seguiu. — Um, melhor nós voltarmos ao trabalho. — Kloo disse. Um murmúrio de aprovação passou pelo grupo enquanto eles se apressavam em pegar as suas coisas e sair. Ayjay bateu no ombro de Driggs. — Boa sorte, cara. Uma vez que eles estavam sozinhos, Lex pegou Driggs pela orelha e começou a gritar. — Eu estou apenas te ajudando com as suas amadas investigações. Você sabe muito bem que eu sou a Killer mais rápida desse lugar e eu poderia entrar e sair do céu em menos de um segundo. A única vez que eu não faço isso é quando nós pegamos uma dessas mortes de olhos brancos, para que eu possa olhar em volta e tentar resolver essa pequena novela policial.


Driggs puxou sua cabeça para longe de seu aperto. — Eu só quis dizer que você paralisou os outros também. — ele disse com um olhar suspeito. — E sobre– — Qual é, Driggs. Eu só estou fazendo isso para mexer com o Norwood. Ele esfregou o braço. — Okay. — ele disse secamente, em dúvida. Ele começou a andar em direção ao Banco. — Espera! Você não acredita em mim? — Lex, eu só– Ela cruzou os braços e olhou para ele, que, de alguma forma, apenas o irritou mais. Ele apertou os olhos. — Você acha que eu não vejo o que você está fazendo? Farejando como um puro sangue cada vez que pegamos um alvo, procurando por alguém que merece punição? Lex apertou os dentes enquanto ela passava por ele. — Você não sabe do que está falando. — Eu acho que sei. — ele disse baixinho, a seguindo. — E eu acho que isso a chateia mais que qualquer coisa. Lex, que não tinha uma resposta para isso por causa da sua precisão perturbadora, continuou andando.

*** — Driggs! — Kilda gritou enquanto Lex e Driggs voltavam do seu turno aquela tarde. Ela acenou para ele da mesa de informação. — Oh, Driggs! Driggs deixou escapar um gemido alto. — Oi, Kilda. — ele disse, dando um sorriso educado. — O que eu posso fazer pro você? — Eu preciso de mais Amnesia! Estou quase sem! — Isso é impossível, Kilda. — ele disse em um tom paciente. — Eu ordenhei as aranhas um mês atrás e peguei o suficiente para durar até o final do verão. — Bem, eu não sei o que dizer para você! Ela praticamente acabou! Ele a olhou de esguela. — Kilda, será que você não está pegando um pouco de Amnesia para si? — Eu senti uma ofensa nisso!


— Okay, okay. — Driggs gritou sobre seus protestos. — Eu vou te arranjar um pouco mais. Ele e Lex andaram pelo corredor e subiram as escadas para depositar o Vessel. Eles conversaram com Ferbus um pouco, mas assim que a conversa se desviou para o computador e a sua nova armadura para o duende, Lex entrou no Pós Vida. — Oi. — Elysia disse, esfregando os olhos enquanto Lex sentava em sua mesa. — Eu estou tão feliz por você estar aqui, eu estou quase pronta para me matar – oh, desculpa, Emily. — Ela rapidamente se desculpou com uma soluçante Emily Dickinson. — Por que você não vai brincar com o Dr. Seuss um pouco? Ele normalmente te anima. — Emily enxugou o nariz com um lenço sujo, e então saiu. — Ela é tão deprimente. Lex não respondeu, enquanto ficava muito distraída com os alvos se materializando no átrio, incluindo o dentista de olhos brancos que ela tinha Killer enquanto ele estava fazendo um canal. Ela sacudiu a cabeça, perplexa. Como diabos essas pessoas estavam morrendo? — Hey. — ela disse para Elysia, uma ideia surgindo para ela. — Eu posso ir falar com aquele cara? Perguntar se ele lembra o que aconteceu? Elysia estremeceu e brincou com seu colar. — Nós não estamos realmente autorizados a falar com os recém—chegados. Isso meio que bagunça a cabeça deles. — Mas e se ele puder nos dizer algo importante? Elysia balançou a cabeça. — Ele não poderia lembrar. Alvos normalmente têm pouca memória das circunstâncias que rodeiam a sua morte. Especialmente essas de olhos brancos – o tempo estava congelado, então eles nem ao menos saberiam o que bateu neles. Lex pensou por mais uns instantes. — Eu vou perguntar de qualquer forma. — ela disse, se levantando. — Lex espera! — Hey! — Lex gritou para o infeliz dentista. Ele se virou para ela, atordoado. — Oi, eu queria apenas um momentinho do seu tempo. Você poderia me dizer como você morreu? O dentista cambaleou. — Eu estou morto?


— Oh. Você não sabia? Ele esfregou sua cabeça. — A última coisa que eu lembro, era que eu estava fazendo um canal na Sra. Costello. Aquelas gengivas dela, meu Deus, eu nunca vi uma periodontite tão avançada... Lex foi lançada para o lado por uma Betsy Ross irritada. — Suma, minha querida. — Ela pegou o homem confuso pelo braço. — Por aqui, Dr. Nolan. — ela disse, acompanhando—o para o Void. — Meu Deus, que casaco branco bonito! — Deixa para lá, Lex. — Elysia disse quando Lex retornou para a mesa. — Deixe isso para as autoridades. Você é apenas uma criança. Se divirta. Vá brincar na nuvem. — Mas não aqui, no entanto. — disse uma criatura pálida e miserável detrás de uma pilha próxima. — Eu construí uma Fortaleza de Solidão. Lex observou o dentista mais um momento, e então desistiu. — O que está errado, Edgar? — Nada. — Ele fez beicinho. — Okay. Tudo. — Ele suspirou dramaticamente enquanto se aproximava, os cabelos negros oleosos caindo no seu rosto. — Eu mordi a língua essa manhã, eu derrubei guacamole na minha bota favorita, Teddy Roosevelt debochou do meu bigode, e – oh sim – eu estou morto. — Ele cruzou os braços com um pequeno bufo. — Hey, Quoth. — Lex disse para o pássaro em cima do ombro dele, — Vá fazer cocô em Teddy Roosevelt. — O corvo deu um levo aceno enquanto ele se lançava no ar e voava para o emaranhado de presidentes, onde ele parou, mirou com cuidado, e deixo cair uma bomba branca direto na cara do vigésimo sexto presidente dos Estados Unidos. Edgar mostrou a língua. — Onde está o seu porrete agora, Urso Teddy? — Merda, Poe! — Teddy grunhiu, sacudindo o punho. — Eu vou te pegar por isso! Edgar deixou sair um grito não muito diferente do de uma menina de sete anos. E mergulhou de volta na sua fortaleza, enviando nuvens de penas brancas no ar. Lex as assistiu flutuando, sua mente compreendendo alguma coisa. — Oh meu Deus, é isso! — ela levantou—se da mesa. — Elysia, eu vou te pegar mais tarde. Edgar – você é um gênio. — Estou ciente disso. — uma voz abafada respondeu.


Quinze — Onde estamos indo? — Perguntou Driggs, enquanto Lex o arrastava pelo Beco sem Saída abaixo. — Corpp. — O primeiro passo é admitir que você tem um problema, Lex. Lex deu-lhe um leve tapa na cabeça. — Não é para beber. Ela o puxou para a calçada. — O que quer que esteja matando os alvos, o faz instantaneamente, não é? E o que é que nós conhecemos capaz de fazer isso, que os Grims produzem? Driggs pensou por um momento, então acertou a própria cabeça. — Elixir. — Certo. E quem é a única pessoa em Croak que tem constante acesso a grandes quantidades disso? Driggs olhou para a porta da taverna. — Você não está achando... — Não, não estou. Mas vamos ver o que ele sabe. Corpp passava um ambiente diferente logo no começo da noite – vazio, frio e quieto demais. Lex e Driggs sentaram no bar enquanto o velho proprietário surgia vindo da casa que compartilhava com sua esposa na parte detrás, fora do bar. A “cabana do sexo”, como Pandora gostava de chamar, geralmente seguida por um coro de engasgos. — Um pouco cedo para vocês, não acham? — Falou Corpp, limpando uma caneca. — Há outras formas de se divertir além de beber, vocês sabem.


A boca de Driggs se abriu. — Corpp, não vamos dizer nada do que possamos nos arrepender. — Não estamos aqui para beber. — Falou Lex. — Só queremos conversar com você a respeito de algo. Tem um minuto? Ele olhou para a sala vazia. — Por que não? Acho que consigo espremer vocês no meu horário. — Disse ele com um cacarejo, enquanto oferecia um pote de amendoins. — Excelente. Então, estava só me perguntando, onde você armazena seu Elixir? Corpp franziu. — Por que pergunta? Lex se encolheu e observou o sinal de “TRÊS DRINKS NO MÁXIMO, SENÃO...”. — Um, estou fazendo um relatório sobre isso. — Driggs tossiu alto e Lex chutou a sua canela. — Juniors recebem dever de casa, agora? — Perguntou Corpp, parecendo confuso. Lex pensou rápido. Se essa mentira fosse funcionar, ela tinha que ser crível. — É uma punição por responder ao Norwood. Ele disse que eu preciso aprender a respeitar os mais velhos, por isso me mandou fazer um trabalho sobre o Croak que eu mais admiro. E esse... Ao que tudo indica... É você.— Ela sorriu docemente. Um sorriso apreciativo se espalhou pelo rosto do velhote. — Bem, eu seria essa pessoa. — Eu sei, é uma honra e tanto. — Lex agarrou um punhado de amendoins. — Então, me conte, como você faz aqueles esplêndidos Yoricks? Aposto que começa com o Elixir. — De fato. — Falou Corpp, olhos brilhando. — E devo dizer, está melhor do que nunca. Vejamos, no meu tempo, nós tínhamos que importar Elixir aos barris e armazenar na adega. É claro que nunca estragou, mas depois de um tempo começava a perder aquele toque especial. Mas cerca de cinquenta anos atrás, eu e alguns dos outros rapazes resolvemos abrir um canal que ligasse diretamente o Pós Vida ao bar, aqui. — Ele estendeu a mão e deu carinhosas pancadinhas no topo da torneira. — Agora cada gota é tão limpa quanto um assobio!


— Então deixe-me ver se entendi. — disse Lex — Não há absolutamente nenhuma outra formar de obter Elixir em toda a Croak, que não seja por essa torneira aqui. — Isso mesmo. E eu e minha esposa somos os únicos que sabemos como usá-la. — Ele indicou o restaurante de Pandora. — Mas o que você realmente quer saber é sobre a socialização! Bem, eu não posso divulgar as minhas receitas secretas, mas vou te dizer qual o ingrediente sem o qual eu não posso viver-. — Obrigado Corpp! — Lex pulou da banqueta. — Foi realmente interessante. De verdade. Agradeço pelo tempo. Te vejo a noite, certo? — Mas... Bem, tudo bem. — Ele sorriu confuso. — Pegue alguns amendoins! Driggs, que avidamente aceitou um punhado, mal pode segurar a risada enquanto eles saiam. — E o Oscar vai para-. — Vá para o inferno. Descobrimos o que precisávamos, não descobrimos? Elixir não pode ser roubado do bar, o que significa-. — Que está sendo pego do Pós Vida? — Ele falou em dúvida enquanto mastigava. — O lugar está constantemente sob bloqueio. Não tem como contrabandear Elixir de lá sem meia dúzia de pessoas notarem. — Então está vindo de outro lugar. — Ela parou de andar. — O que quer dizer que precisamos fazer mais perguntas. E quem sabe mais sobre Croak do que qualquer um? Driggs pareceu relutante. — Certo. — Falou depois de um momento. — Mas só com uma condição: eu falo.

*** — Olá, Tio Mort! — Gritou Lex quando eles entraram na cozinha. — Inacreditável. — Driggs murmurou. Tio Mort estava sentado à mesa da cozinha, vasculhando uma cópia do — O Obituário. — e palitando os dentes com sua foice. — Hey, garotos. Como foi o trabalho? — Bem, — falou Driggs — não foi...


— Como foi o seu dia, Tio Mort? — Lex se intrometeu tão encantadoramente quanto possível, deslizando no assento ao lado dele, e assumindo uma expressão sincera no rosto. Driggs tomou o assento em frente a ele e falou de forma inaudível — Sutil. Contudo, diferente de Corpp, Tio Mort não estava caindo nessa. — O que você quer? — Ele disse, olhos ainda no jornal. Lex se fez de ofendida. — Não quero nada! — Se é dinheiro que você quer, eu não tenho nenhum. E eu penso que nós discutimos minha apólice no jantar. Lex tomou outro fôlego, mas Driggs foi mais rápido. — Mort, há algo que nós queremos te perguntar. — Ele disse. Tio Mort colocou o jornal de lado e começou a folhear outro, intitulado “Águas-Vivas, Cuidados e Alimentação: Tirando o Máximo dos Nossos Amados Mensageiros da Morte”. — É? O que é agora? — Temos percebido algo incomum durante nossos turnos. — Continuou Driggs. — Agora, poderia ser só uma coincidência, e nós podemos estar errados, e não temos nem certeza que isso realmente signifique alguma coisa, mas... — Alguém está assassinando pessoas que, supostamente, não deveriam morrer. — Lex disparou. Driggs pareceu furioso. — Lex! — Oh, seja homem. — Ela entrelaçou as mãos e se inclinou para frente. — Tio Mort, temos visto esses casos quase diariamente há cerca de um mês, nós até achamos que é o mesmo tipo de caso que estava no jornal essa manhã. Esses são alvos que não apresentam nenhum machucado ou doença, exceto seus olhos, que estão completamente brancos. Nós achamos que um Grim é um Crashing que os encontra e em seguida, os mata, mas até agora não conseguimos descobrir como estão fazendo isso. Ou por quê. Mas algo com certeza está acontecendo. E nós imaginamos que se há alguém que poderia saber sobre isso ou explicar, essa pessoa seria você. Tio Mort, rosto em branco, sentou—se imóvel. O silêncio encheu a sala. A porta de tela se escancarou, espalhando um saco de doces pelo chão como bolas de feno. — Bem, — disse ele seriamente — já não era sem tempo.


Queixos despencaram. — O quê? Tio Mort esfregou sua barba rala. — Cerca de um mês atrás, perdi uma aposta para um dos turnos nortunos e tive que assumir seu turno, o que estava tudo bem pra mim, uso qualquer desculpa para sair no Campo. Mas o último alvo era uma mulher sentada à beira de uma piscina, comendo uma tangerina e assistindo o fim de uma chuva de meteoros. Estava escuro, e presumi que ela tinha sido atingida, até que eu vi seus olhos. Lex e Driggs acenaram vigorosamente. — Sim, é bem parecido com o que temos visto ultimamente. — Falou Driggs. — Achei estranho. — Tio Mort continuou — Por que eu já lidei com mortes assim antes, e posso dizer que com um ataque de meteorito, sobra muito pouco do alvo pra Kill. E a coisa do olho, nunca vi nada assim. Desde então estive esperando que as equipes do Campo viessem a mim com mais anomalias. Não posso sair por aí perguntando eu mesmo, não quero dar inicio a um pânico, mas não ouvi nada. Embora acredite que seja devido a monopolização da ajuda de Sofi por parte de vocês? Driggs pareceu nervoso. — Os Juniors... Nós pensamos que poderíamos... — Sem surpresa. — Tio Mort abriu um sorriso. — Não espero nada menos de vocês garotos. Lex mostrou a língua triunfantemente a Driggs. — Tem que ser um Crasher. — Pressionou Driggs, ignorando-a. — Quem você acha que é? — Sei lá. — Tio Mort se levantou da mesa, foi para a sala de estar e começou a escavar uma pilha de jornais. — As técnicas envolvidas em direcionar Crashing são tidas como tão avançadas que nem mesmos os Grims mais velhos possuem experiência suficiente para poderem realizá-las. — Ele retornou para cozinha e soltou uma pilha de páginas impressas em cima da mesa. Lex olhou para a página de cima, um artigo novo sob o título de MORTE MISTERIOSA NO PARQUE FENWAY, junto à foto do homem que ela havia Killed no jogo de baseball. Ela se voltou para seu tio, surpresa. — Você vem seguindo isto? — Sim. — Tio Mort sentou-se novamente. — Um dos meus trabalhos é manter os olhos nas principais mídias por qualquer morte fora do comum. Então quando estas histórias de cair-morto-do-nada começaram a aparecer, alguns dias


depois da mulher do meteorito e estritamente limitado à região leste do país, imaginei que os dois estavam conectados. — Ele apontou para uma das páginas. — Autópsias não deram em nada. E os olhos das vítimas estavam bem, então o que quer que seja que os esteja matando deve se dissolver bem rápido. — Elixir! — Falou Driggs, desesperado para ser de alguma utilidade. — Hei! — Gritou Lex. — Eu pensei nisso! Tio Mort acenou lentamente, ignorando a disputa. — Não sei de onde eles tiraram isso, mas sim, faria sentido. Não deixa rastro. — Mas por que isso deveria importar? — Perguntou Lex. — Por que um Grim se daria ao trabalho de conseguir Elixir, que, você está certo, quem sabe como eles fazem isso, quando eles poderiam tão facilmente usar arsênico ou cianeto ou, sei lá, uma arma? Por que se importar em manter isso limpo? Não é como se qualquer autoridade lá fora pudesse pegá-los. — Eles estão nos enviando uma mensagem. — Disse Driggs, pensando. — Usar qualquer arma antiga não é grande coisa, mas roubando Elixir? É preciso ter bolas. Quem quer que esteja fazendo isso quer que os Grims saibam que eles superaram o sistema, que podem controlar esse poder e estão dispostos a fazer coisas horríveis com ele. Tio Mort acenou em concordância, então entregou o papel a Lex. — E é aqui onde fica realmente louco. Repare no alvo. Lex examinou o artigo. — Arnold Scadden, trinta e dois anos de idade. Sem esposas ou filhos. — Os olhos dela esbugalharam. — Criminoso sexual condenado? Driggs agarrou a próxima folha no topo da pilha e leu rapidamente. — Susan

Karliak,

49.

Aguardando

julgamento

por

dirigir

embriagada.

Dr. Dennis Nolan, 56. Duas vezes processado por negligência. — Disse Lex, mostrando a foto a Driggs. — Olha, o dentista! Tio Mort examinou os demais. — E mais outros trintas acusados de assalto, extorsão, pornografia infantil, fraude, estupro, tráfico de drogas, incêndio... Pode escolher. Um fervor tomou conta de Lex. Alguém estava realmente fazendo isso. Alguém estava indo atrás dos criminosos que precisavam ser parados! — Assassinos também? — Disse, levantando os olhos animadamente. Mas assim que as palavras deixaram sua boca, ela percebeu seu erro.


Tio Mort estava dando-lhe um olhar duro. — Curiosamente, não. — Respondeu ele com um tom de voz plano. — Assassinos não. — Uma pena. — Lex falou sob a respiração. Tio Mort e Driggs trocaram olhares. Ele se inclinou em direção de sua sobrinha. — Você lembra aquelas Regras que nós examinamos, certo garota? — Sim. — Bom. — Falou Tio Mort. — Só quero ter certeza que nós estamos falando da mesma coisa aqui. Isso não está certo, Lex. Não quero você reverenciando essa maluquice. Você, de todas as pessoas, deveria ficar bem longe dos planos deles, especialmente desde que... — Ele interrompeu-se abruptamente, um hesitante e quase surpreso olhar em seu rosto. — Desde o que? — Bem, desde que eu nunca vi nada parecido até você chegar aqui. Lex ficou boquiaberta. — Você acha que isso tem algo a ver comigo? — Não. Não diretamente, é claro. Ainda assim, — falou ele calmamente, e mais para si mesmo — é um inferno de coincidência. Lex se voltou para Driggs, que a estava olhando com uma expressão estranha. Ela fez uma careta para ele. — Então, pra onde vamos agora? — Eu darei uma passada no Campo esses dias, ver o que está acontecendo por mim mesmo. — Falou Tio Mort, se levantando. — Obrigado por me contar. E mantenham o padrão do criminoso entre nós, tudo bem? — Ele deixou a cozinha apressadamente em direção ao seu laboratório, trancando o porão depois de passar. Lex começou arranhar uma mancha na mesa e pensou sobre as implicações do que o que o seu tio havia acabado de lhe contar. Todo o mau que estava solto no mundo... Uma forma de controlar isso... Ela olhou para Driggs, que ainda a estava encarando. — Posso ajudá-lo? — Perguntou ela, desafiante. — Pare com isso. — Parar o quê? Não estou fazendo nada. — Sim, está. Está maquinando. — Ele se levantou e foi em direção ao seu quarto. — Maquinações levam a ideias malucas. Ideias malucas levam a problemas. Eu sou arrastado para os seus problemas, nós dois somos chutados de


Croak, e a próxima coisa que se sabe é que estamos congelando até a morte nas águas do Atlântico Norte. — Cara, você estão obcecado demais com Titanic. Driggs pareceu indignado. — O que há de tão errado em ter uma relação saudável por uma inigualável obra cinematográfica de partir o coração... — Ele balançou a cabeça. — Olhe, não é sobre mim. Apenas desista dos planos malignos, okay? Se você for exilada, vou ficar realmente puto.— Ele bateu a porta. — Por quê? — Ela gritou. Ele colocou a cabeça pela porta. — Não quero ter que limpar o seu quarto novamente. — Ele bateu a porta outra vez e desapareceu dentro das batidas de uma bateria. Lex não estava contente. Embora secretamente, ela estivesse.


Dezesseis Mais tarde, depois de descobrir que nenhum dos Juniors estava no Corpp, não demorou para Lex e Driggs imaginarem que a turma havia decidido passar a noite na sala comum da Cripta. Juntos, eles desceram o Beco Sem Saída e passaram por um túnel escuro e estreito, eventualmente emergindo em um pátio rodeado por um bloco de salas. Enquanto se aproximavam da maior, o som de uma discussão entre Sofi e Ayjay flutuou pela janela. — Eu tenho dez hotéis no Conservatório. Sério, você me deve, tipo, oitenta trilhões de dólares. — Não até eu conseguir minha carta tripla de pontuação por ultrapassar Vá para. — De jeito nenhum! Você não podia remover o Cavalo de Charley, lembra? — E daí? Eu ainda encontrei o Cano de Chumbo em Park Place! — Que você teve de hipotecar depois que a rainha Frostine afundou complemente o seu navio de guerra! Lex tentou seguir essa conversa enquanto passava pela porta, mas falhou por volta da hora em que Elysia quase caiu sobre o tapete Twister. — Pula. — disse Elysia do chão, cambaleando perto demais do tanque de água-viva. — Há algumas de fichas deixadas na caixa. Driggs sentou-se em um dos muitos sofás desgatados e vasculhou pela caixa, retirando uma chave inglesa, um chapéu, uma torre, um homem de gengibre verde, e um robô Rock'Em Sock'Em decapitado. Lex olhou para o tabuleiro de jogo


em cima da mesa, uma mistura de pedaços de Monopólio, Clue, Candy Land, Scrabble, e xadrez. — Que porcaria é essa? — Perguntou ela na sala. — Não toque no Candelabro ou você perderá automaticamente. — alertou Elysia do tapete, girando a roleta com a mão livre. — Pé direito no vermelho. Ok, então uma noite no ano passado, chegamos em casa do Corpp muito tarde, mas ainda estávamos todos muito bêbados e risonhos para dormir, então Ferbus pegou todos os jogos de tabuleiro que estavam no armário desde o início dos tempos e os misturou em um só. — Lex pegou uma carta de Uno solitária. — Quais são as regras? — Ninguém realmente sabe. — Kloo disse, olhando para sua bandeja de peças de Scrabble. — A gente só meio que inventa enquanto vai jogando. — Entendo. E qual o nome deste jogo? — Não tem um nome. — disse Zara, distraidamente assistindo uma reprise dos Simpsons que estava passando na velha televisão deles. — Mentira! — Gritou Ferbus, torcido como um pretzel debaixo de Elysia. — Chama-se Ferbusopólio, e todos vocês sabem disso! — Hey, Milton Bradley29? Suas ferrovias estão inundando. — O quê? — Ele caiu no chão e correu para o tabuleiro. — Droga. Eu nunca deveria ter deixado o Coronel Mostarda no comando. — gemeu ele, enxugando uma Short Line30 encharcada. — Ei, vocês nunca vão acreditar nisso. — Driggs falou para o quarto. — Mort já sabia sobre os olhos brancos. Ele vem rastreando-os desde o começo. — De jeito nenhum! — Disse Sofi. — Isso é tão louco! — Exatamente o que eu penso. — Disse Lex secamente. — Ele estava bravo? — Perguntou Kloo, entregando-lhes algumas fatias de pizza. — Não. — falou Driggs. — Na verdade, ele parecia um pouco orgulhoso de nós. — Isso é porque Mort é infinitamente mais legal do que Norwood. — disse Ferbus. — O que mais ele disse? Alguma ideia de quem? Ou por quê? 29 30

Milton Bradley é um fabricante de jogos de tabuleiro. Short Line é uma das quatro ferrovias do jogo Monopólio


— Não. E... Não. — Driggs lançou um olhar de advertência a Lex para ela manter a boca fechada sobre o padrão do criminoso. — Mas nós descobrir como. — Nós? — Disse Lex. — Ok, Lex descobriu como. Ela contou-lhes sobre o Elixir e o interrogatório de Corpp. — Duh! — Elysia gritou, puxando o cabelo. — Eu trabalho com essa maldita coisa o dia todo, por que não pensei nisso antes? — Ainda assim, se não está vindo do Corpp ou do Pós Vida, então de onde? — Perguntou Ferbus. — E como eles estão matando as pessoas com isso? E por que paramos de jogar o meu jogo? A discussão continuou enquanto eles jogaram noite adentro, devorando caixa após a caixa da deliciosa pizza de Pandora. Lex construiu uma torre de blocos de madeira em Boardwalk, afundou o destroyer de Driggs com uma palavra de pontuação dupla, e capturou um bispo na Floresta Peppermint com a senhora Pavão, tornando óbvio que anos de noites de jogos de tabuleiro em família fizeram dela uma força a ser reconhecida. Talvez fosse uma lembrança muito vívida - a memória de Lex pulou de volta para sua família a cada rolar dos dados. Ela olhou com saudade para o tabuleiro de Scrabble, lembrando-se do tempo em que Cordy tinha jogado teatralmente um monte de consoantes inúteis em seu rosto. Lex suspirou. Não importa o quanto ela tentava ignorar, a lembrança de casa estava sempre lá, empoleirada no fundo da sua mente como um abutre espreitando. Sua estratégia de esmagar todas as imagens da sua família antes que pudessem vir à tona completamente simplesmente não estava mais funcionando. Tão surpreendente quanto o seu tempo em Croak tinha sido, a ferida da separação de sua família continuou fresca e crua, e quanto mais ela se aprofundava na Grimesfera, pior ficava. Ela tinha ido embora há pouco mais de um mês, mas já estava sendo partida em duas direções distintas e preocupantes. Nunca, em um milhão de anos, ela tinha esperado se divertir neste exílio de verão no norte do Estado. Mas sua imersão em Croak tinha sido tão rápida, tão completa. Era como se ela tivesse vivido lá a vida toda. Como ela poderia esperar ansiar por uma casa que agora parecia tão insuportavelmente comum em comparação?


Um grito alto de Ferbus a despertou. Ele puxou um cartão de cor Candy Land, em seguida, colocou o Revólver na Avenida Báltico. — O que o Professor Plum está fazendo aqui? — Protegendo a rainha. — Falou Driggs. — O quê? Duelo! — Os dois garotos se levantaram e foram em direção ao meio da sala, olhando um para o outro como tigres se rondando. Lex sentiu um soco forte em suas costelas. — Vamos lá. — Disse Zara baixo, acenando em direção da cozinha. — Espere, eles vão lutar. — Falou Lex. — Eu quero ver. — Esses idiotas, lutar? Eles vão apenas jogar Hungry Hungry Hippos. — Disse Zara, puxando-a para fora da sala. — O vencedor se torna o Governante Supremo da Companhia Elétrica e o perdedor tem que passar uma rodada preso na passagem secreta entre a Cozinha e a Biblioteca. — Merda. Meu submarino está escondido lá dentro. Os olhos de Zara cintilaram enquanto ela arrastava Lex para perto do fogão, fora da vista dos outros. — Quero te perguntar uma coisa. Ao longo das últimas semanas, nas raras ocasiões em que elas conseguiram se afastar do grupo, Lex e Zara tinham estabelecido uma relação incomum. Zara não era exatamente sua nova melhor amiga, mas depois da confissão de que ela também sentiu um choque esmagador durante Culling, Lex pensou que poderia não ser uma má ideia ter companhia no seu mergulho à loucura. Pouco a pouco, elas começaram a confiar uma na outra, trocando histórias das surpresas que elas experimentaram. E secretamente, Lex estava contente por ter alguém com quem pudesse confiar esses sentimentos supostamente vergonhosos. Toda vez que ela os contava a Driggs, ele dava—lhe aquele mesmo olhar, aquele que fazia seus olhos azuis parecem extremamente críticos. Diferente de Zara. Ainda assim, a rivalidade acirrada entre elas permaneceu palpável. Agora que Lex tinha superado Zara como a melhor Júnior de Croak, as suas trocas tinha ficado um pouco espinhosas. — Como vai o trabalho? — Perguntou Zara, olhando de relance para a porta. — Não há mudanças no seu... Você sabe. Certo? — Não. — Disse Lex. — Eles estão ficando mais fortes, continuo te falando isso. Você também, não é?


— Claro que estão! — Zara pareceu ofendida. — Só estou paranóica, eu acho. Os seus vão parar e eu serei a única que vai restar. — Que é o que você realmente quer, não é? — Lex murmurou baixinho. Zara pareceu irritada. — Vou ignorar isso. — Mais alguma coisa? — Disse Lex, ficando impaciente. — Sim. — Zara se aproximou e abaixou a voz. — Isso foi realmente tudo o que Mort disse? Ou existe mais alguma coisa que você não está nos dizendo?— Lex notou o flash de ciúme nos olhos de Zara. Ela deveria incluí—la nisto? Não tinha como negar que sua experiência tinha algum valor, mas Lex poderia facilmente imaginar Zara levando todo o crédito, orgulhosamente declarando para o Tio Mort que ela tinha descoberto tudo sozinha. Isso simplesmente não podia acontecer. Além disso, Lex pensou, em algum lugar nas profundezas de sua mente, se há realmente alguém indo atrás dos bandidos, eu quero ser aquela que vai encontrálos. — Não, isso é tudo. — Disse Lex. O rosto de Zara mudou para a expressão de alguém que sabe que está sendo enganada. — Vamos lá, Lex. Talvez eu possa ajudar. E admita, você me deve. Os ombros de Lex caíram quando ela lembrou os segredos que Zara tinha guardado, o conhecimento dos choques de Lex e impulsos vingativos que ela não tinha contado para outros Juniors, ou mesmo para Norwood. Lex realmente devia a ela. Então, ela cedeu. — Isso é loucura. — Disse Zara, os olhos preocupados, depois que Lex tinha dito a ela tudo sobre os criminosos. Lex mordeu o interior da boca, imagens da menina com o ursinho piscando por sua mente. — É mesmo? — Disse ela em voz baixa, uma febre raivosa queimando seu pescoço. — O que você quer dizer? — Zara deu a Lex um olhar. — Você não está mais atacando assassinos no Campo, não é? Lex estreitou os olhos e apoiou-se contra o fogão, uma caixa de pizza vazia cutucando suas costas. Ela sabia que não deveria levar as coisas mais longe, mas as palavras simplesmente saíram, cada vez mais alto e mais alto. — Ir atrás desses


monstros é antiético? Sim, absolutamente. É errado? — Seu rosto estava vermelho, as mãos ardendo. — Não tenho tanta certeza. — Nós não temos permissão... —... Para interferir. Eu sei. Mas talvez nós devêssemos! — Mas isso é contra as Regras... — Pro inferno com as Regras! — Lex explodiu, batendo com a mão. Aconteceu mais rápido do que qualquer uma delas percebeu. Congeladas em horror, incapazes de se mover, olhando para a caixa de pizza que tinha explodiu em chamas. Depois de um segundo, elas entraram em ação. Zara abriu a geladeira e pegou uma jarra de água, enquanto Lex agarrou uma espátula e começou a golpear a caixa, tentando empurrá-la para a pia. Eventualmente, seus esforços combinados tiveram sucesso e as chamas foram extintas, a fumaça do papelão carbonizado da caixa deixou um cheiro azedo. Zara olhou para Lex com enormes olhos assustados. — O que foi isso? — Eu não sei! — Lex chorou, assustada. Ela apontou para o fogão. — Devo tê-lo ligado por acidente! — As duas olharam para os botões, todos claramente na posição de desligado. — E o desliguei também, eu acho? — Certo. Sim. — Zara a estudou. — Isso já aconteceu antes? — O que aconteceu antes? — Lex revidou, a expressão acusatória da Zara provocando sua raiva mais uma vez. — Um incêndio na cozinha envolvendo papelão encharcado de gordura? Apenas cerca de um bilhão de vezes, provavelmente! Zara deu-lhe um olhar duvidoso e abriu a boca para dizer algo mais, mas um grito vindo da outra sala a fez parar. — Nós deveríamos voltar... Lex não soube o que a fez fazer isso, mas ela agarrou o braço de Zara. — Não conte a ninguém. Zara se livrou do aperto. — Talvez você queira se livrar disso. — Ela disse friamente, apontando para caixa encharcada enquanto saía da cozinha. Lex engoliu a seco e se ocupou em destruir as provas. Enquanto ela empurrava a caixa em um saco de lixo e abanava a fumaça para fora pela janela, sua mente se agitava. Foi um acidente, obviamente. Não havia outra explicação.


Exceto... Ela bateu mão contra a caixa, não o botão. Ela tinha certeza disso. E por que suas mãos ainda estavam escaldando, seu temperamento ainda irado? Pare com isso, disse a si mesma. Um acidente. Nada mais. Quando ela enfiou as mãos nos bolsos e voltou para a sala de estar, Lex ficou aliviada ao descobrir que tanto a sua ausência quanto o incidente haviam passado despercebidos. Ferbus levantou seus punhos sobre sua cabeça em triunfo enquanto os outros aplaudiam (incluindo Zara, que estava agindo como se nada tivesse acontecido), enquanto Driggs olhava desanimado para o seu hipopótamo perdedor. — Ele trapaceou. — Queixou-se à Lex enquanto ela se sentava. — Me distraiu com uma barra de chocolate. Ferbus jogou os dados e avançou com seu token. — E isso seria uma Connect Four. — Ele sorriu. — Eu ganhei. O grupo soltou um gemido coletivo de derrota. Lex olhou em volta, incrédula. — O quê? — Disse ela, ainda furiosa. — Ele ganhou? — Nossa, Ferbus. — Driggs suspirou com um toque de admiração. — Você nunca vai perder? — Claro que não, ele está inventando tudo! — Lex gritou. O grupo todo arquejou. Ferbus estalou a língua. — Você acabou de insultar o Todo Poderoso Conquistador do Universo. — Disse ele, entregando-lhe uma caixa. — O que significa que você tem que limpar.

*** Depois de vinte minutos completos de limpeza, Lex e Driggs foram para casa. Lex condenou as regras (ou falta delas) o caminho todo, focando sua raiva em algo real, algo que tinha o mínimo de sentido. — Marvin Gardens é uma aérea proibida, minha bunda. — Apenas para os cones. — Falou Driggs, subindo para o telhado. — Hei, o que Zara queria com você?


— Oh... Hum, ela só queria fazer uma troca pela carta Saída Livre da Cadeia. Ele franziu o cenho. — Mas ela não estava na cadeia. — E daí? — Disse irritada. Lex estava, em uma palavra, dividida. Ela confiava em Driggs, mas a verdade era tão malditamente complicada. A coisa do fogo... Bem, ela não sabia o que fazer com isso, e nem ele saberia. Tudo essa coisa com a Zara, os choques que compartilhavam, era muito difícil de explicar. E ela não queria nem pensar no que aconteceria se ela contasse que tinha entregado o segredo do padrão do criminoso que Tio Mort havia encontrado. Para Zara, de todas as pessoas. Ele provavelmente a chutaria do telhado. Então, ela não disse nada. — Você com certeza sabe o caminho de volta de uma torre de Jenga. — Falou Driggs. — O quê? — Lex respondeu, distraidamente. — Ah. Obrigada. — Como você ficou tão boa nesses jogos? — Minha família... Nós jogávamos o tempo todo. Eu provavelmente poderia, dormindo, recitar tudo sobre Monopólio para você. — Um pequeno sorriso apareceu no rosto dela. — Não sei, acho que meus pais pensaram que eram educacionais. Driggs a observava. — Você realmente acha que eles vão fazer você voltar no final do verão? Ela suspirou. — Eu não acho. Eu sei. — Mas você é uma adulta. Deveria ser capaz de fazer o que quiser. — Sim, claro. — Lex bufou. — Não no mundo real. Você não tem nem idéia de como é ter... —

O

quê?

Pais

devotados?

Disse

ele

friamente,

seus

olhos

repentinamente insensíveis. — Uma fonte infinita de amor incondicional? Pessoas que realmente dão a mínima para onde seu filho está? Lex cerrou os punhos, a raiva crescendo novamente. Parecia estar a todo vapor essa noite. E, de qualquer forma, ela estava cansada de recuar frente ao: “Ai de mim, eu sou um órfão”. Não era culpa dela se a sua casa estava inteira. — O que aconteceu com seus pais, Driggs? — Ela disse em uma voz extremamente gelada, até mesmo para ela. Mas ela estava se sentindo imprudente.


— Por que você está todo cheio de segredos sobre eles? Todo mundo parece amar chafurdar em seus contos de miséria e tristeza. Por que você não? As narinas de Driggs inflaram. — Eu não quero falar disso. — Falou ele, em voz baixa e distante. — É assim tão difícil de entender? — Ele se inclinou. — Você, Lex, acha tão incompreensível que uma pessoa possa querer manter alguns segredos para si mesma? Aquilo atingiu um nervo. Lex o encarou de volta, ambos os olhos negros indo automaticamente para o único azul dele, que estava lendo-a perfeitamente. — E o que isso quer dizer? — Você me fala. — Oh, pelo amor de Deus. — Ela se levantou. — Chega dessa porcaria esquiva e reservada que vocês soltam o tempo todo! Você é incapaz de dizer alguma coisa de verdade? — Por quê? — Ele explodiu, se levantando também. — Então você pode vir com algo espirituoso e sarcástico que vai te fazer parecer toda cheia de si e superior, apesar de ser claramente uma tentativa meia-boca para esconder suas próprias inseguranças? — Oh, bom trabalho aí, Freud. Pelo menos eu não tenho que aumentar a minha baixa auto-estima inalando montes de Oreos, bebendo um barril de Yorick, e fingindo ser um detetive de homicídios. — Você honestamente acha que eu não sou capaz de dizer o tipo de coisa distorcida com a qual você vem ocupando essa sua pequena mente doentia? Você pode ser capaz de enganar os outros, Lex, mas não a mim. — Respirando pesadamente, ele bateu levemente na testa dela. — Há uma série de impulsos mal intencionados chocalhando aqui dentro, e é muito claro que você não está com pressa nenhuma de se livrar deles. Ela fingiu uma expressão de terror. — Oh, desculpe-me por não cair morta de medo ao pensar em violar uma das amadas Regras de Croak. — Ela estava a centímetros do seu rosto. — Eu não gostaria de acabar no assustadooooor exílio! — Talvez você mereça! — E talvez você devesse voltar para o seu santuário de amigos aranha e chorar até dormir! — Pelo menos elas não são abominações como você!


— Covarde! — Aberração! De repente, ocorreu a ambos, Driggs e Lex, naquele mesmo instante, que nenhum deles queria mais nada no mundo do que arrancar cada peça de roupa um do outro e fazer selvagem, apaixonado e confuso amor adolescente sob o brilho radiante da lua cheia. O peito deles subia e descia. Alguns segundos se passaram. — Eu vou dormir. — Driggs ofegou, escalando o telhado. — Eu também. — Lex bufou, logo atrás dele. E sem nenhuma outra palavra, eles fugiram para os seus quartos, bateram as portas, e lançaram-se na cama, onde ambos passaram as próximas cinco horas atordoados, contemplando seus respectivos tetos.


Dezessete Na manhã seguinte, as coisas estavam complicadas. Para dizer o mínimo. Fugindo do banheiro que compartilhavam, Driggs murmurou um pedido de desculpas apressado depois que acidentalmente bateu na escova de dente de Lex no toalete. Na mesa do café, Lex derramou suco de laranja em seu cereal ao invés de leite. — O que há com vocês dois hoje? — Tio Mort perguntou em seu caminho para fora da porta. —… não dormi muito… — Driggs resmungou. Sua caminhada silenciosa para a cidade foi eclipsada do desconforto apenas por sua checagem no Banco, que era muito tênue em comparação com seu turno. Quando eles voltaram para a Ghost Gum e se dirigiram para o Necrotério para almoçar, Lex tinha a sensação eu ela estava somente a segundos de distância de uma combustão espontânea na nuvem de névoa e espinhoso ressentimento. Não ajudou que Kloo e Ayjay fossem os únicos lá e que eles tinham decidido passar a maior parte da hora de seu almoço comendo o rosto um do outro ao invés dos hambúrgueres. Lex e Driggs sentaram um em cada lado deles, silenciosamente lamentando o desconforto da situação. Lex examinou o saleiro. Driggs pegou um pedaço de goma. Eventualmente a mortificação disso tudo tornou-se muito para suportar. — Quer ir? Lex grasnou em uma voz estranha.


— Humm, com certeza. — Façam as pazes, vocês dois. — Pondora disse quando eles se esgueiraram pela porta. — Neste ritmo, vocês nunca entrarão nas calças um do outro.

*** No Banco, Driggs entregou a Lex sua foice e correu escada acima. — Você faz a checagem. — ele disse, sem dúvida em uma corrida para escapar dela. — Desça logo. — Espere – oh, tudo bem. — ela disse amargamente. — Diga oi para sua esposa Ferbus. Lex estava extremamente sem sorte. Não só pela última briga da noite passada deixaram ela e o já confuso relacionamento com Driggs em pleno estado de emergência, mas a coisa toda do fogo era inteiramente incômoda. Tanto assim que ela finalmente decidiu simplesmente parar de pensar sobre isso, fechando isso à chave na parte abandonada de seu cérebro, muito, muito longe de qualquer pensamento importante, em um espaço normalmente reservado para trivialidades esportivas e o preâmbulo da constituição. Ela vasculhou o centro. A única disponível na Etcetera era Sofi. — Naturalmente. — ela murmurou pra si mesma se aproximando da mesa. — Oi, Lex. — Sofi disse. — Checagem? Lex fez uma careta. Interagir com Sofi sempre fazia ela querer cravar uma tachinha em seu olho. — Yep. — Ela conectou sua foice e deslizou na mesa, batendo no globo de neve no processo. — Sinto muito. Depois de deixar claro para ambas que Lex não o pegaria, Sofi suspirou e fez isso ela mesma. — Por que você não gosta de mim Lex? — ela perguntou com um beicinho. Lex decidiu elaborar uma negação. Sofi não era exatamente um indivíduo astuto; ela podia facilmente ser enganada. — É claro que eu gosto de você. — ela disse, pensando sobre uma forma de mudar de assunto. — Na verdade, eu estava me perguntando – o que você acha que os Loopholes são?


Sofi parecia satisfeita por ser consultada, mas ela deu de ombros. — Como eu saberia! — Ela inclinou. — O que quer que eles sejam, eu aposto que eles são, como Loucos Dj’s com Caras loucas. Por que mais eles seriam destruídos no processo? — Espere um minuto. — Lex disse, chocada que o que ela pensou que seria uma conversa estúpida estava realmente indo para algum lugar. — O que você quer dizer? — Essa é a única parte que sei deles – qualquer que seja o procedimento, os Loopholes estão envolvidos nisso, e se acostumam ou algo assim. — Portanto, o número de Loopholes cresceu cada vez menor a cada vez que um é encontrado? — Yepppp. E porque ninguém sabe quantos existiam no começo, ninguém sabe quantos restaram. Uma vez que faz muito tempo desde o último deles foi encontrado – no início do século 18 – algumas pessoas nada pensavam. — Embora a julgar pelo que está acontecendo agora, é óbvio que isso não é verdade. — Lex estalou. Sofi ergueu uma sobrancelha. — Chica, você precisa relaxar. — Ela enfiou a mão dentro de sua mesa e entregou para Lex uma brilhante bola anti-estresses preenchida com gel. — Aqui. Lex deu a bola um aperto. — Eu estou apenas – e essa Loopholes – isso não pode ter nada a ver com os Smacks? Não há nenhuma maneira de substituir o sistema? — ela perguntou. — A menos que você se transforme em uma água-viva. — Sofi disse. — Eles são os únicos que podem captar sinais Gama. Eles enviam para nós e nós enviamos vocês para fora com as foices, que são perfeitamente sincronizadas. Elas sempre levarão vocês diretamente para o meio da morte, no momento exato. Você não pode ceifar de qualquer outro modo. Isso não funcionará. — E vocês nunca interferem? — Lex disse, atirando um olhar suspeito para Norwood e Heloise. — Não. — Sofi respondeu em voz alta. Ela atirou um olhar temeroso em torno do centro, em seguida baixou sua voz. — Somente quando vocês garotos fazem um pedido especial, que eu não deveria concordar. Ou se, por exemplo, sua avó morre. Ninguém espera que você Kill sua própria família.


— E não há nenhuma maneira de você programar Grims que não são verificados? Sofi estava começando a hesitar. Ela olhou para porta. — Onde está Driggs? — Andar de cima. Por que, você precisa de sua permissão? Sofi soltou um bufo agudo. — Eu não recebo ordens de Driggs. Lex bufou. — Exceto que você faz isso, o tempo todo. — É complicado, ok? — Por que? Vocês estão saindo ou algo assim? — Lex desabafou com toda a sutileza de uma granada-foguete. Um sorriso maroto espalhou-se pelo rosto de Sofi. — Eu sabia! — ela discursou. — Isso é totalmente a razão por você não gostar de mim. Você acha que nós temos alguma coisa acontecendo. Sangue martelou pelas bochechas de Lex. Ela amaldiçoou a si mesma que a próxima vez que sua língua começasse a mexer sem o expresso consentimento por escrito de seu cérebro, ela cortaria a maldita coisa fora. — Você está corando! — Sofi disse triunfantemente. Ela pegou uma lixa de unha e passou a trabalhar em seu palpite. — Bem, não se preocupe. Eu nunca pulei a bordo com o grande Driggs. Embora não seja por falta de tentativas. Lex, com seus lábios frisados, estrangulou a bola de estresse. Sofi arregalou seus maquiados olhos. — Honestamente? Você está latindo para a árvore errada com aquele garoto. Você sabe como ele carrega aquela foto com ele para todos os lugares? Eu acho que ele tinha uma garota, provavelmente, no outro lado ou algo alguma coisa assim, porque ninguém aqui jamais conseguiu mais que um beijinho na bochecha dele. — Isso não é– — Sério, ele é uma causa perdida. — Ela estalou sua língua. — Questões importantes. Lex deu a ela um violento aceno de cabeça, como se para expulsar todos os pensamentos indesejados ressoando por lá. — Qualquer que seja. Eu não me importo, ok? Isso não tem nada a ver com qualquer outra coisa e você está errada sobre tudo de qualquer forma.


— Okeydokey31, rabugenta irritadinha. — Sofi disse isso com um olhar tímido ainda estampado em todo seu rosto. Aturdida, Lex abandonou sua linha de questionamento e pulou fora da mesa para ir embora. — Você está nos verificando? — Yep. — Sofi replicou, desplugando as foices. — Diga oi para seu garoto por mim. Uma película de espessa de gosma imediatamente cobriu o cubículo. — Sinto muito. — Lex disse, jogando a bola de estresse explodida para uma estupefata Sofi. — Ela escorregou.

*** Ao longo dos próximos dias Lex decidiu focar sua energia nervosa em alguma coisa útil: o computador. Ela secretamente leu artigo após artigo, extraindo cada pedaço de informação sobre as inexplicáveis mortes que tinham sido reportadas sobre toda a Costa Leste e a longa lista de delitos que cada alvo tinha acumulado. E quanto mais Lex lia, mais ela decididamente acreditava – sem se importar sobre o que seu tio ou Driggs ou Zara disseram – que cada uma das vítimas teve exatamente o que ele ou ela merecia. O que Lex não fez, entretanto, foi escrever um único e-mail. Ela ignorou sua caixa de entrada transbordando, fingindo não notar que Cordy tinha enviado emails para ela, pelo menos uma vez por dia, às vezes duas vezes. Lex apenas não teve coragem de responder. Quando elas vinham de Cordy, silêncio era melhor do que mentiras. Pelo menos o constrangimento entre ela e Driggs tinha dissipado. Isso não era mais evidente do que a tarde em que Lex pegou Driggs deitado de barriga pra baixo no chão do Lair, permitindo que dezenas de aranhas viúvas negras rastejassem sobre seu corpo. — De novo? — Lex disse, exasperada. — Sério? — Você tem que tentar isso? — ele disse satisfeito no chão.

31

é uma famosa frase de aprovação usada por Mario ou Luigi nos jogos da série e outras mídias. Seu significado é o mesmo que okay, ou seja, ok.


— De jeito nenhum. Elas não gostam de mim da maneira que elas gostam de você. — Provavelmente porque você não chora por elas até dormir. — ele disse, citando sua provocação de sua grande briga. A coisa toda tinha se transformado em uma espécie de piada entre eles. Frequentemente, quando entediados ou desconfortáveis, eles repetiam os insultos tinham arremessado um ao outro naquela noite, ruidosas gargalhadas a cada repetição. Isso é o que é conhecido como um mecanismo de defesa. Driggs, entretanto, tinha começado a passar muito mais tempo em seu quarto, ensaiando com sua bateria. Ele estava fazendo isso tão alto que uma noite quando Tio Mort chegou em casa do trabalho que Lex estava lendo um artigo sobre um incendiário notório, nem mesmo o ouviu chegar. — O que você está fazendo? — Tio Mort perguntou a ela. Ela desligou a tela. — Jogando paciência. Ele esfregou seus olhos e bateu na porta de Driggs. — Hei, Ringo, dê um descanso! A bateria parou. — Como foi seu turno? — Lex perguntou quando Tio Mort afundou exausto no sofá. Ele vinha pegando tantos turnos quanto ele podia nos últimos dias. — Você viu mais alguma coisa? — Sim. — ele disse. — Estranho como o inferno. — E agora? Mais turnos? — Não. — ele disse, pensando. — Vocês garotos continuem fazendo o que vocês estão fazendo e deixe-me saber se algo mudou. Eu não quero que pareça que eu estou muito envolvido. Eu não tenho tempo, de qualquer forma. — Sério? Ele soltou um suspiro. — Por que as crianças pensam que adultos levam uma vida recheada de lazer? — Ele balançou sua cabeça. — Acredite em mim, eu não levo. Eu tenho uma cidade para governar, relatórios para serem enviados para Necrópoles – mais esta anomalia, seja o que for, eu tenho passando muito tempo obcecado sobre isso – sem mencionar a caça desse ano a novos recrutas. — O que você quer dizer? — Lex disse. — Eu pensei que eu fosse a recruta.


— Sim, bem, esse foi um ano bizarro. O período de treinamento Júnior geralmente começa no início do que seria décimo sétimo grau – em Setembro, não em Junho. Mas os dois últimos Setembros foram muito exaustivos e em seguida Rob partiu para a faculdade de administração. — Perdedor! — Driggs gritou através da parede, nos ouvindo. — Foi sua escolha. — Tio Mort gritou de volta. Ele olhou para sua sobrinha. — Sempre há uma escolha. — Lex se remexeu. — De qualquer forma, isso nós deixou com três baixas. — ele continuou. — Mas quando eu descobri que você tinha se tornado uma delinquente, eu decidi que você seria uma substituta adequada. — Mas eu já tinha sido assim pelos dois últimos anos. Por que você não me trouxe para cá em Setembro passado, em primeiro lugar, para meu primeiro ano? — Eu realmente não devia ter trazido você de qualquer modo. — Tio Mort disse suavemente. — Mas o mundo, como se vê, tinha planos diferentes. Lex não disse nada por um momento. Toda essa conversa de Setembro estava só servindo como um lembrete de sua partida eminente. Ela olhou a águaviva, em seguida para suas mãos. — Eu realmente tenho voltar para casa no fim do verão? — ela perguntou em uma voz baixa. Tio Mort olhou para ela pensativamente. — Eu tenho certeza que seus pais querem que você conclua sua educação. — Ele removeu uma bola de vidro de seu bolso e discretamente rolou-a por suas mãos. — Mas quem se preocupa com o último ano? — ela meio que gritou. Driggs estava provavelmente ainda ouvindo, mas ela não se importava. — Eu já sei mais do que a maioria dos professores na escola inteira e eu acabarei vindo direto para cá depois que eu me graduar de qualquer modo. Eu estou treinando para uma carreira! Isso é mesmo como uma faculdade! — Todos os argumentos válidos. Você não se esqueça de apresentá-los durante sua visita. — Qual visita? Ele jogou a esfera no ar. — O aniversário de sua mãe, eu acredito?


Lex bateu suas mãos sobre a boca. É bastante comum para as crianças esquecerem o aniversário dos pais, é claro, enquanto a maioria das crianças não pode imaginar a situação de que o mundo não para de girar em volta delas mesmas por vinte quatro horas. Mas devido as estratégias de Lex de suprimir todos os pensamentos sobre sua família, aquela data em especial – amanhã, ela percebeu com crescente remorso – tinha completamente escapado de sua mente. Não somente Lex tinha esquecido de enviar um cartão; ela não tinha se preocupado em ligar em semanas. Ela não podia começar a imaginar quão desastrosa uma visita real seria. Eles teriam enforcado ela no local. — Você terá uma semana de folga. — Tio Mort disse. — Não, eu não terei! Não existe essa coisa de fim de semana aqui. A morte não espera folgas de cinco dias! — ela gritou desesperada, citando o que Driggs tinha recitado mês passado quando ela perguntou o motivo pelo qual ele estava pulando em sua cama tão cedo no sábado de manhã. — Nós vamos sobreviver sem você. — Tio Mort disse. — Além disso, eu já comprei suas passagens de ônibus. — Passagens? — Lex perguntou com apreensão. — No plural? Uma alto BA-dum-CHING bateu diante do quarto de Driggs. Isso desencadeou o pânico. — Oh não, não, não… Tio Mort agarrou o jornal no topo da pilha. — Essa repórter do Post parece ter adquirido um interesse real nas mortes misteriosas, tem escrito sobre um bom número delas. Eu consegui uma reunião para Driggs com ela amanhã sob o pretexto de uma entrevista de estágio. Ele vai descobrir o quanto ela sabe. Lex instintivamente ficou com inveja. — Eu poderia fazer isso! — Você com certeza poderia. Se você não tivesse que visitar sua família. Ela soltou um gemido angustiado. — Isso é tão injusto. — Eu tenho a sensação de que você reagiria assim. — Tio Mort disse. — É por isso que eu despachei você somente por uma noite. Eu disse a seus pais que nós precisamos chegar cedo para começar cedo a inseminação das vacas esse ano. Lex olhou para ele, boca aberta. — Você pode me agradecer depois. — ele adicionou. — Apenas lembre-se de dar a família o meu melhor. E obviamente, nenhuma palavra sobre o negócio de Croak para ninguém.


Lex deixou-se cair derrotada. Não havia como escapar disso tudo. Seu estômago deu uma guinada com o pensamento de uma breve visão de sua casa, seus pais, sua implacavelmente inquisitiva irmã, seu quarto com as fotos e estantes de livros– — Espere um minuto. — Ela apontou para a bola dançando pelas mãos de Tio Mort. — Eu vi essa coisa antes! Você deu uma para mim e a para Cordy aquela vez que nos visitou! — Eu dei? — Ele atirou isso para ela com um astuto sorriso. — Quão imprudente eu sou, trazendo para minhas sobrinhas uma invenção imperfeita. Lex estudou a esfera. Similar a um bulbo de luz brilhante, sua superfície era feita de um liso vidro frio. Dentro, dezenas de pequenas manchas de luz zumbiam e lançavam a si mesmas sobre o espaço, batendo nas laterais e uma na outra, emitindo pequenos flashes brilhantes em cada colisão. Quase parecia como Gama preservado. — O que é isso? — Isso. — Tio Mort disse orgulhosamente — é uma Faísca. Mede a força vital de qualquer ser conhecido. Neste caso, a minha. Lex estudou o pequeno orbe. — Então, quantos anos ainda te restam?— Tio Mort soltou um bufo ofendido. — Faíscas medem qualidade, não quantidade. Neste momento que eu estou vivo, minhas faíscas de vida estão em movimento. Quando eu morrer... — Ele parou e limpou sua garganta. — Bem. Eu não morri ainda, então eu não sei o que acontece. Mas eu tenho certeza que indica a morte de algum modo. Lex lhe deu um olhar duvidoso. Tio Mort sorriu para ela. — Mesmo eu não tenho as respostas para tudo.

*** O final de semana de palavras planejadas de Lex passou rapidamente. No Corpp’s naquela noite, Kloo e Ayjay apenas murmuraram um olá antes de correr para babar tudo um no outro no canto. Zara e Sofi, envolvidas em um jogo de força


de Caveiras, ignoraram ela completamente. E Ferbus manteve-se olhando para ela com uma expressão muito estranha. Lex sentia-se terrível. Ela tinha tentado arduamente evitar qualquer lembrança de seus laços familiares perto de seus amigos, mesmo agora aqui, ela estava praticamente gritando. Ela olhou para o bar, desejando que Driggs se apressasse com as bebidas. E onde estava Elysia? — Hei. — Ferbus disse, tomando um gole de sua bebida. — Esta coisa de Nova York – cuide do Driggs, ok? — Por quê? Ferbus correu uma mão pelo seu desordenado cabelo. — Eu tenho certeza que um idiota como eu só consegue um melhor amigo na vida. — ele resmungou, quase sincero pela primeira vez. — Uma vez que ele se for, sem recargas. Lex estava ligeiramente tocada pela sua rara demonstração de afeição. Tanto era assim que ela disse, — Bem então, eu me certificarei de empurrar ele na frente do primeiro ônibus que eu vir. — Veja o que você faz. — Até agora, Lex e Ferbus tinham tacitamente compreendido um ao outro melhor do que qualquer outra dupla em Croak. Ele era o melhor amigo e ela era a ameaça. Isso era uma relação saudável e pervertida. O momento de estranheza passou. — Agora eu tenho que fazer xixi. — Ferbus anunciou. Ele cambaleou para o banheiro, passando por Elysia enquanto ela retornava. — Oi, Lex! — ela disse, amigavelmente como sempre. — Eu ouvi sobre sua viagem. Você está animada? Lex hesitou. — Está tudo bem. — Elysia disse, sentindo sua relutância. — Eu não me sentiria mal. — Ok. — Lex começou incerta. — Eu estou meio que temendo isso, para ser honesta. — Por quê? — Oh, toneladas de razões. Eu estarei feliz por vê-los, eu imagino, mas você sabe como isso é. — Ela fez uma careta nervosa. — Ou talvez você não saiba. Merda. Tem certa que você não se importa de eu falar sobre isso? — Lex, relaxa. O que há de errado com você? Lex suspirou. — Todo mundo me odeia por toda parte novamente.


Elysia olhou ao redor para os amargurados Júniores. — Eles não odeiam você. — ela disse. — É apenas toda essa bagagem – ainda dói de vez em quando. Eles tiveram vidas bem difíceis, você sabe? A minha foi maçante em comparação. Lex assentiu, desejando que sua boca ficasse absolutamente fechada. Elysia cutucou ela. — Você está insanamente curiosa, não está? — Insanamente. — ela deixou escapar. — Eu não culpo você. Deve ser estranho encontrar todos nós, jovens desordeiros tristes, sem ter uma história de soluçar. — Yep. — Lex disse em uma melancólica voz sarcástica. — Tem sido realmente difícil. Elysia riu. — Os outros podem parecerem inteiramente defensivos, mas eles mudarão de opinião. Você é uma de nós agora, não importa de onde você veio. — Ela tomou outro gole de Yorick, em seguida pareceu tomar uma decisão. — Ok. Eu tinha dezesseis anos, — ela começou, — e namorava o capitão do time de futebol. O que fazia total sentido, já que eu era a capitã das líderes de torcida. — Eu sei disso. — Lex disse, bebendo. — Primeira semana do primeiro ano, final de semana do jogo de Boas Vindas. Nós vencemos o jogo. Depois do baile, uma coisa leva a outra, minha roupa de baixo acabou na vala em algum lugar e a próxima coisa que eu sei é eu estava grávida. Ela tomou outro gole. — Duas semanas depois eu contei para meus pais e eles me chutaram para fora de casa. Eu estava em choque. Eu quero dizer, eu sempre suspeitei que eles fossem do tipo conservadores, mas eu amava meus pais e eu pensei que... Bem, aparentemente isso não era mútuo. Então eles apanharam um monte de roupas do meu closet, e jogou no gramado da frente e fecharam a porta. — Todas as minhas amigas – elas foram repugnantes. Que por sinal é incrivelmente hipócrita, já que elas eram bem vadias. Mas tanto faz. Cada vez que eu ia para a casa de uma delas, elas tinham esse olhar superior e esnobe e eu perdi a cabeça completamente. Tipo, assustador. Atirando coisas por toda parte em suas casas, atacando-as fisicamente. Nenhum de seus pais me permitia ficar. E quem poderia culpá-los, realmente?


— Então eu fui para a casa do meu namorado. Ele não queria nada comigo. Nada surpreendente, ele sempre foi um idiota. Mas eu surtei. Eu quebrei o braço do cara. Como eu fiz isso? Eu tenho um metro e meio, mal consigo levantar minha própria mochila. Como eu agarrei os ossos de um quarterback de cento e dez quilos. — Então o que eu deveria fazer agora, cair fora da escola? Você precisa entender – acima de tudo isso, eu era uma criança perfeita. Só tirava nota A, presidente da sociedade de honra, planejando a faculdade. Eu queria ser professora. Mas agora eu estou perdida. — Eventualmente eu acabei na casa de meu vizinho. Ele era da minha idade e ia para uma escola diferente. Ele me escondeu em seu porão. Eu parei de ir à escola. Eu saia durante o dia enquanto ninguém estava em casa e roubava no shopping. Por quê? Sair do tédio? Eu não sabia o que estava me obrigando a fazer isso, mas eu certamente não precisava de cinco pares de protetores de ouvidos, isso é certo. — Então um dia eu não pude sair do sofá. Minhas entranhas pareciam como se estivessem sendo rasgadas e havia sangue em todo lugar. Eu esperei até a família sair, em seguida corri para o banheiro e... Bem, esse foi o final disso. Eu chorei sete horas direto, no dia seguinte Mort apareceu. — Ela bebeu o resto de seu Yorck e deu a Lex um sorriso fraco. — E aqui estou eu.

*** Quando Lex foi deitar naquela noite, tentando cair no sono, uma enxurrada de emoções surgiu com o pensamento de ver sua família incondicionalmente amorosa. E gratidão agora era uma delas.


Dezoito — Bom dia! — Driggs gritou para o mal-humorado motorista do ônibus. — Que clima agradável está, não é? Mas ele e Lex podiam mal puderam ouvir sua resposta por causa de toda a chuva caindo sobre o pavimento. Tio Mort tinha amontoado os dois em um Gremlin 74 amarelo-cheddar que aparentemente ficava em sua garagem e era para ser usado apenas nas “viagens de campo”, então disparou rapidamente para fora da cidade – o sinal de Croak! População automaticamente mudando de 85 para 82 – os deixou perturbados. — Tentem não morrerem fora daqui! — Vinte ensopados minutos depois, o ônibus finalmente roncou no final da rua e parou na vala lamacenta em que eles estavam. Nem o clima nem o atraso do ônibus, no entanto, tinham feito alguma coisa para diminuir o humor ofuscante de Driggs. Além dele nunca ter estado na cidade de Nova York (ou qualquer grande cidade, aliás), essa forma particular de transporte era também a primeira vez para ele. — Eu tenho uma passagem de ônibus! — ele exclamou no momento do embarque. O motorista não compartilhava de seu entusiasmo. — Sim. Você tem. — Onde nós podemos sentar? — Bem aqui. — Lex disse, empurrando-o para o assento vago mais próximo. — Agora cale a boca antes que nós sejamos esfaqueados. — O que você quer dizer?


— Eu quero dizer, — ela disse através dos dentes cerrados, — que provavelmente metade das pessoas neste ônibus está carregando armas. Então basta sentar-se – não, sente. — Ele tinha se levantado para olhar dentro do compartimento de armazenagem de bagagem. Ela agarrou seu ombro e fortemente empurrou-o no assento. — Sente, olhe pela janela e coma seu doce. Driggs

pegou

ocasionalmente

uma

pausando

barra para

de se

Snickers espantar

e

mastigou

com

o

alegremente,

aparecimento

de

atropelamentos. — Achatado como uma panqueca. — ele disse para a janela. Lex fechou os olhos e deu um profundo suspiro. Se um plano existia, ela não sabia uma coisa sobre ele. Tudo o que Tio Mort disse era que Driggs era sua escolta para casa e que sua família esperaria ela por volta de uma hora. O mais provável era que eles não estariam conscientes de que ela teria um menino de dezoito anos de idade a tiracolo. Ela não tinha certeza como explicaria a presença dele, muito menos como ela poderia responder as questões que inevitavelmente viriam à tona sobre o que ela tinha feito por todo o verão. E no topo de tudo pairava A Coisa Horrivelmente Atroz que ela tinha decidido contar a eles. Ela não sabia sobre o que ela estava mais assustada, dizer isso alto ou ouvir a reação deles... Ela roeu suas unhas. — Gambá. — Driggs relatou.

*** Após sua chegada ao terminal de Port Authority, Lex cheirou o ar poluído com desdém. Driggs entretanto, ficou boquiaberto com o terminal de ônibus com puro prazer, sua excitação aumentando quando eles entraram na estação do metrô e embrancaram em um trem com sentido ao Queens. Ele se pendurou na barra de ferro como se sua vida dependesse disso enquanto lia os vários anúncios. — Esse médico com certeza odeia acne. — ele disse. — E essa faculdade comunitária tem tudo isso – educação, acessibilidade e conveniência!


— Fica quieto! — Lex disse. — Onde estão seus Oreos? — Eu comi. — Já? — Eu estava animado! Lex suspirou e deixou seu olhar derivar para o chão. Um jornal amassado largado no canto, a palavra INEXPLICÁVEL era a única parte que ela podia ver. Ela agarrou ele e lei as manchete. — Olhe para isso. — ela disse, mostrando para Driggs. — Cinco misteriosas mortes esse mês. — ele disse folheando o artigo. — Autoridades ainda perplexas, no Centro de Controle de Doenças há rumores que em breve se declare uma epidemia – me dê isso. — Ele guardou em sua mochila. — Lembranças para Mort. Quando eles finalmente chegaram, Lex arrastou Driggs para fora do trem e começou a percorrer a curta distância até sua casa. — Ok. Ok. — Ela estava quase hiperventilando. — Então quando você voltar da entrevista – eu ainda não sei como explicar quem você é. As suspeitas vão aumentar. Eu não posso necessariamente garantir que meu pai não ameaçará você com uma arma. — Ele não irá. — Você está brincando? Esse é o homem que nem sequer permite que nossas Barbies brinquem com os Kens. — Então é uma coisa boa que eu não o encontrarei. — Ele sorriu. — Mort disse que seria um castigo cruel e incomum sujeitar a família de seu irmão a nós dois ao mesmo tempo. Depois da entrevista eu estou por minha conta até nós nos encontrarmos amanhã de novo. — Eu – hummm? O que você vai fazer por sua conta? Driggs desdobrou o mapa do metrô com um estalo gracioso de seu pulso. — Eu li em algum lugar que Hershey e M&M’s tem lojas gigantescas na Time Square. Eu planejo esvaziá-los. Ela abafou uma risada. — Mas onde você dormirá essa noite? — Não se preocupe comigo, Lex. Eu sou um adulto plenamente funcional. Lex duvidava seriamente dessa afirmação, mas ela não podia negar o alívio que já estava inundando seu sistema em pânico. Uma coisa a menos para se


preocupar. — É isso. — ela disse, chegando a um impasse a alguns metros de distância da frente de sua varanda. Ele olhou a casa de cima a baixo, uma olhar melancólico no rosto. — É bem caseiro. — Não, não é. É uma porcaria de barraco. — Ela estava andando para lá e para cá agora. Driggs agarrou seus braços e a fez parar. — Relaxa, nervosinha. — Ele deu a ela um sorriso de lado. — Por que você está tão nervosa? — Porque eu senti falta deles, porque eles sentiram falta de mim provavelmente mais do que qualquer coisa no mundo e porque– Seus ombros caíram. — Porque eles vão pirar. — São apenas quatro palavras pequenas. — Eu sei. — Lex apontou o trem. — Apenas vá. Eles vão inevitavelmente olhar para fora da janela e você não pode ser visto aqui quando eles fizerem isso. — Ok. Encontro você de novo aqui amanhã? — Sim. Espere. — ela disse, agarrando seu colarinho. — Sua gravata está torta. — O terno que Tio Mort tinha emprestado para ele para a entrevista era um pouco grande demais... Mas ainda era um terno. Lex tinha se pego encarando mais do que ela queria admitir. — Como eu pareço? — ele perguntou. Lex, que podia jurar que pegou um sopro de perfume, sentiu a temperatura subir enquanto sua boca tentava lembrar como formar palvras. — Bem. — ela eventualmente gaguejou recuando, — Adulto. Ele riu. — Deus me livre. — Ok, vá. — ela disse incapaz de manter por mais tempo. — Boa sorte com a repórter. — Obrigado. Boa sorte com o pessoal. O que aconteceu em seguida foi uma estranha montueira de cada um se movimentando para dar ao outro um abraço, cada um pensando que o outro estava se movimendo para fazer alguma coisa a mais, um subsequente duplo recuo de forma embaraçosa, sacudindo como braços de polvo e o grande final de algo que podia somente ser descrito como uma desajeitada e platônica colisão de peitos. Não foi bonito.


Depois de murmurar um humilhante adeus, Driggs pegou o trem e Lex se voltou para sua casa. Sua barriga estava agitada, todos os pensamentos em Driggs e em Croak e em todas as outras coisas evaporaram quando ela lembrou o que estava indo fazer. Ela olhou ao redor ansiosamente confusa. Como o bairro dela poderia parecer tão familiar e tão estranho ao mesmo tempo? — Você pode fazer isso. — ela disse para si mesma enquanto ela subia os degraus da porta de entrada, respirando fundo e tocando a campainha. — Eles a desprezarão para sempre e possivelmente colocarão fogo em todas as suas posses terrenas, mas você pode fazer isso. — Por que ela está tocando a campainha, ela mora aqui, não mora? — Lex ouviu sua mãe divagar enquanto ela abria a porta. — OH MEU DOCE BEBÊ! — Hghu. — Lex lutou por ar, suas vias respiratórias sufocadas pela força do abraço. — Feliz Aniversário, mãe. — Seu pai e Cordy vieram para a porta poucos segundo depois e quando todos os abraços terminaram Lex já estava exausta. — O que aconteceu com seus cabelo? — Cordy disse, horrorizada. — Olhe para ela. — disse sua mãe para seu pai como se Lex não fosse capaz de ouvir. — Ela parece diferente. Ela parece bem! — ela gritou, sorrateiramente escondendo um punhado de corda de pular atrás dela. — Pra que é isso? — Lex perguntou cautelosamente. — Apenas uma precaução. Olhe para seus olhos querida! Ela não nos odeia mais! Lex se moveu desconfortavelmente. — Eu nunca odiei vocês. — Você não se meteu em nehuma encrenca lá, certo? — seu pai perguntou em uma voz serena. — Eu disse a Mort para ligar no segundo que você se transformasse em um incômodo. — Obrigada pelo voto de confiança, pai. — Você socou alguém? — Cordy perguntou. — Só no primeiro dia. — Lex disse. — Mas ele mereceu. Sua mãe se encolheu. — O que? — Eu estou apenas brincando. — Lex mentiu rapidamente. — Então, como vocês estão pessoal?


Uma enxurrada de movimentos os carregou para dentro da sala de jantar, onde eles sentaram para comer a refeição favorita de Lex, fazendo-a se sentir infinitamente pior, seus pais conversaram longamente sobre seu verão até agora, incluindo uns quinze minutos de discurso inflamado sobre os vizinhos desleixados e o lixo “ilícito” que frequentemente voava do quintal deles. Seu pai tinha também acabado de receber um aumento e sua mãe ficou ocupada dando aulas na escola de verão. — E como está seu trabalho? — Lex perguntou a Cordy. — Insatisfatório. — Cordy irritadamente empurrou uma colher de milho em sua boca. — Se eu tiver que olhar para mais um rosto de pegajoso de algum pirralho mimado enquanto ele pede ‘confeito’ extra, eu vou me auto-afogar em um balde de calda de chocolate quente. Lex se encolheu. Ela odiava crianças. — Diga a ela o que mais você está fazendo. — sua mãe disse. — Oh sim, eu sou voluntária na casa de repouso no final da rua. — Argh. — Lex engasgou. A única coisa mais repugnante para ela do que crianças era os velhos. — Nojento. Cordy lançou um ameaçador olhar depreciativo. — Eles não são nojentos. Apenas velhos. — A mesma coisa. — Lex pensou em todos os velhotes enrrugados que ela tinha tocado ao longo das últimas semanas e estremeceu. — Bem, boa sorte. — ela disse. — Alguém tem que impedi-los de usarem utensílios de cozinha, certo? Cordy rolhou seus olhos. — Eles são pessoas perfeitamente agardáveis, Lex. Apenas porque você não é capaz de– — Ela parou e apontou causadora. — O que há de errado com suas mãos? Lex escondeu seus pálidos dedos magros sob seu guardanapo. — Nada. Milho, mãe? A tarde progrediu firmemente com mais conversa sobre os vizinhos e suas terríveis transgressões. Ao repetir o prato, Lex tinha se tornado essa bolha trêmula de nervos que ela não sabia o que fazer consigo mesma, por que eles não estavam perguntando sobre seu verão? Como eles poderiam torturá-la assim? Tanto tempo tinha passado que ela começou a nutrir a ridícula ideia que eles não se importavam sobre sua ausência, de qualquer modo.


Isso, é claro, era ridiculamente falso. Ela tinha uma colherada de purê de batatas em sua boca quando seu pai limpou sua garganta. — Então Lexington. Quando você está planejando nos contar sobre seu verão ou nós deveríamos adivinhar? Lex lentamente tirou o purê de suas gengivas, seus ruídos molhados ecoando visivelmente pela sala silenciosa. Seus pais olharam para ela, em seguida um para o outro, então de volta para ela. Eventualmente ela engoliu a seco. — Eu… Tenho estado… Trabalhando. — ela disse cuidadosamente escolhendo cada palavra. Cordy estreitou os olhos em suspeita. — Com vacas, certo? — Sim. — Lex disse para seus pais, ignorando Cordy. — Com vacas. Eu tiro leite. E outras coisas. Eles trocaram olhares confusos. — E outras coisas? — sua mãe perguntou com uma pequena careta. — Você pode elaborar? — Humm, eu limpo currais. — ela disse com entusiasmo forçado. — As cabras, também... Eu as alimento. Seu pai parecia perplexo. Ela os estava perdendo. — Oh, e eu coleto ovos das galinhas. — ela disse com mais confiança, empurrando outro monte de batatas dentro de sua boca desonesta. — Sim, há esse galo que é realmente bonito. Ele está sempre, tipo, se pavoneando por aí e mostrando sua plumagem. — Sua plumagem. — seu pai duvidosamente repetiu. — Sim. — Ela colocou a cara mais inocente que ela pode. — Sua plumagem. Cordy cruzou seus braços. — Qual é nome dele? — Sr. Frisado. Seus pais olharam. Cordy tossiu. — Bem. — sua mãe disse depois de um momento. — Eu acho que é maravilhoso. Você parece estar indo maravilhosamente, você não tem entrado em qualquer problema e você fez amizade com as galinhas! — Ela sorriu para a filha. — Que maravilhosa oportunidade você teve, Lex.


— Ela parece uma pessoa diferente! — seu pai disse. — Nós teremos uma filha novíssima quando ela voltar para casa. — Hummm. — Lex disse, dobrando o guardanapo. — Sobre isso. Os sorrisos derreteram-se de seus rostos logo depois. Exceto Crody, cuja a expressão gelada de ceticismo não tinha hesitado por um momento. Era agora. Lex respirou fundo. — Eu quero ficar. Olhando seus rostos chocados, Lex quase retirou o que disse. Contudo, ela se forçou a continuar. — Eu quero ficar com Tio Mort. Eu não quero voltar. — Mas você tem mais um ano de escola. — seu pai disse com naturalidade como se incapaz de compreender qualquer outra alternativa. — E em seguida faculdade! — sua mãe gritou. — Eu sinto que meus talentos estão em outro lugar. A sala mergulhou no silêncio mais uma vez. Crody ainda encarava, sua boca pendia ligeiramente aberta. O refrigerador deixou escapar um arroto. Um caminhão de sorvete passou. E então, como se Lex nunca tivesse ido embora, a vida doméstica dos Bartleby explodiu em seu usual estado de caos.

*** — O que você acha que está acontecendo? — Cordy perguntou, espalhada em sua cama enquanto seus pais continuavam discutindo escada abaixo. — Com toda honestidade? — Lex disse para ela de sua própria cama, enquanto — Ela puxou a sua mãe! — subia lá de baixo. — Isso. — Eu não posso acreditar que Papai lançou sua perna do peru. — Eu não posso acreditar que Mamãe atirou a outra. Cordy abruptamente encarrou o rosto de sua irmã, seus olhos ferozes. — O que diabos está acontecendo com você, Lex? Você não tem escrito uma única palavra de volta para mim todo o verão e agora isso? Você quer ficar? — Eu quero. — Com as vacas, certo?


— Sim. Com as vacas. Corby levantou-se e desabou sobre a cama da irmã. — Lex, é melhor você me contar o que está acontecendo agora ou então Deus me ajude, eu a arrastarei direto para a casa de repouso e apresentarei você a Srta. Neddlemeyer32. Lex recuou. — Você não faria isso. — Ela tem uma papada, Lex. — Cordy sorriu demoniacamente. — Uma papada. — Tudo bem! — Lex gritou derrotada, levantando-se para fechar a porta. — Eu direi a você, mas mantenha sua voz baixa. E você não pode dizer para ninguém. — Eu não direi. Lex tentou silenciar as vozes que estavam gritando para ela não fazer isso. — Não, Cordy, eu quero dizer. — Ela se sentou na cama e inclinou-se perto. — Você não pode dizer uma única palavra a qualquer pessoa do planeta todo. Cordy, que estava ficando mais do que um pouco assustada pelo estranho comportamento de sua gêmea, soltou uma gargalhada ansiosa. — Porque então eu teria que matá—los? — Não. Esse é meu trabalho.

*** Vinte minutos depois Cordy deitou na cama, seu rosto uma página em branco. — Eu acho que devo exigir algumas drogas pesadas. — Você queria saber. — Lex disse, esgotada. O que aconteceria agora? Poderia ela realmente ser chutada para fora de Croak? O que eles fariam com Cordy? Cordy sentou-se. — Mas Lex, isso é insano. Pensar no que você está realmente fazendo! Eu não posso acreditar que nosso Tio colocaria você nisso. — Ele não me colocou em coisa alguma! Eu amo o que eu faço! Cordy olhou assustada. — Sim, eu posso ver isso. Lex olhou ao redor de seu quarto, passando pelo grande mosaico de fotos, até seus olhos finalmente repousarem em duas animações de Sparks empoleiradas 32

Personagem do The Amazing World of Gumball.


nas prateleiras. Pequenos lampejos de luz zumbiam e voavam em volta das órbitas de vidro. — Então o que acontece se você não voltar? Ninguém será capaz de morrer? — Cordy disse sarcasticamente. — Imortalidade para todo mundo, tudo porque algum adolescente aleatório teve que sair para conseguir seu diploma de segundo grau? — Olha. Se você não acredita em mim, tudo bem. Eu não acreditaria seu eu não tivesse– — Se você não tivesse o que? Começado a matar pessoas inocentes com suas próprias mãos? — Não é assim. — É assim que isso soa para mim. Olha, mesmo que seus dedos estejam todos queimados. — Cordy disse, agarrando sua mão. Lex puxo-os. — Você não entende. — Não, eu não entendo! Como isso pode ser algo que você goste? É isso que você quer fazer para o resto de sua vida? — Porque eu nasci para fazer isso! — Lex gritou tão alto que até mesmo seus pais escada abaixo ficaram em silêncio por um momento. Cordy ficou boquiaberta com sua irmã. Então, lentamente, ela assentiu. — Sim. — ela disse em uma voz baixa. — Talvez você tenha nascido. Lex olhou para longe. Ela correu sua mão sobre a cadeira de balanço de madeira onde sua mãe tinha sentado e cantado canções de ninar para suas garotinhas todas as noites, até o dia que elas timidamente lhe informaram que elas tinham se tornado velhas demais para tais disparates. — Então o que acontece agora que você me contou? — Cordy perguntou. — Será que o demônio ardente do inferno está chegando para reclamar sua imortalidade? — Não, o demônio ardente do inferno tem o fim de semana de folga. — Responda minha pergunta! É essa a razão pela qual você não falou comigo? — Cordy disse, sua voz aumentando. — Ou é porque você tem amigos agora e não dá a merda sobre sua própria irmã? — ela estava zangada agora, seu rosto uma confusão de dor. — Todo esse tempo que eu fiquei presa por você. Lex,


eu defendi você – até mesmo na escola quando você fez todas aquelas coisas terríveis! Como você pode apenas esquecer de mim desse jeito? — Esquecer de você? — Lex apontou o outro lado do quarto para o computador. — Você percebeu quantos e-mail não-enviados eu tenho deixado armazenados, cheios de cada pequeno detalhe sobre ser um Grim, cada pessoa que eu tenho encontrado, cada centímetro de Croak, cada insegurança, emoção e medo que eu tenho sentido desde que eu cheguei lá? Você tem ideia do quanto eu desejei que você estivesse lá comigo? Cordy olhou para ela como se ela tivesse estapeado seu rosto. O silêncio encheu a sala. — Eu sinto muito por ignorar você. — Lex disse em uma voz mais calma. — Eu pensei que seria melhor do que mentir. A expressão de Cordy suavizou. Ela inclinou—se contra a parede e abraçou seu polvo de pelúcia. — Você realmente escreveu tudo isso? Lex assentiu. Cordy olhou como se ela quisesse dizer algo mais, mas não sabia o que. Lex olhou para fora da janela de sua velha casa. Alguma coisa mudou no interior. Aparentemente os guaxinins tinha voltado. — Vamos, Cordy. — Lex disse. — Não tema a ceifeira. Cordy riu, apesar de seus melhores esforços para não fazer. — Quanto tempo você esteve esperando para dizer isso? — Desde que eu cheguei. Cordy finalmente abriu um sorriso. — Eu senti sua falta, cara de cocô. — Eu senti falta de você também. — Lex disse, aliviada. — Você sabe quão estranho foi a primeira noite, dormir nesse quarto sem você? — Impossível ter sido mais estranha do que a minha. — Lex disse, recordando o arfante busto de Kate Winslet. Cordy a observou por um momento. — Quem é aquele garoto? Lex congelou. — Que garoto? — Aquele garoto que eu vi com você, antes de você subir e tocar a campainha. As janelas desta casa são totalmente funcionais, você sabe.


Lex não se incomodou em mentir dessa vez. — Seu nome é Driggs. Ele é meu parceiro. — Ah, parceiro. Tão Law and Order33. — Cala a boca, é apenas como isso funciona. — Eu vi. E vocês dois não tiveram uma brincadeira no feno ainda ou isso perturbaria Sr. Frisado, o galo? — O que? — Lex gaguejou, procurando uma réplica viável. — O que? — ela finalmente repetiu. Cordy deu a ela um olhar incrédulo. — Vamos, Lex. Ele é fodifamente lindo. Qualquer um com metade de uma retina poderia ver isso. Lex bufou. — Tanto faz. Ele é apenas meu estúpido parceiro. — Sim. Ok. Qual a razão dele não entrar? — Por que, você queria que eu apresentasse vocês dois? Cordy a olhou, em seguida, soltou um grunido. — Você poderia? Michael Thorley revelou ser um palhaço bundão e o restante desse lugar não é nada além de uma terra árida. O único cara que está mostrando o menos desprezível entre os de meu interesse nesse verão é Sr. Papadopoulos no terceiro andar da casa de repouso. Ele disse que eu tinha a bunda de uma garota chamada Russian. — Ah, senilidade. Cordy riu e empurrou o rosto da irmã no travesseiro. — É melhor você voltar ou eu irei até Crack ou seja lá como for chamado e encontrei você por mim mesma. — Por que eu apenas não envio você direto para lá agora? — Lex disse, agarrando o travesseiro e esmagando contra a cabeça de sua irmã. Elas continuaram a golpear uma a outra sem sentido por um longo tempo depois que seus pais cessaram a gritaria e apenas quando sua mãe gritou, — Vocês tem quase dezessete anos, pelo amor de deus! — elas finalmente largaram o cabelo uma da outra.

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É uma série policial dos Estados Unidos. Sua estreia foi no dia 13 de setembro de 1990. Criada por Dick Wolf e transmitida pela NBC, tem como cenário a cidade de Nova Iorque. Aborda os complexos casos policiais que envolvem a metrópole e os esforços dos policiais e dos promotores de justiça em solucioná-los.


*** — Adeus, querida. — A mãe de Lex balbuciou na manhã seguinte enquanto todos eles caminhavam para a porta. Lex esfregou seus olhos, exausta. Descrever cada mínimo detalhe de Croak para Cordy levou a noite toda. — Você tem certeza que tem que partir tão cedo? — Sim, mãe. As vacas– — Certo, certo, as vacas. Minha pequena fazendeira! — Ela envolveu sua filha em um abraço sufocante. — Você tem se divertido lá. E realmente mataria você ligar de vez em quando? Depois das irmãs se abraçarem e Crody sussurrou, — Você bateria em Michael Thorley por mim? — Sr. Bartleby finalmente tomou sua relutante filha em seus braços. — Divirta-se o resto do verão, querida. E nós veremos você em poucas semanas. — Mas, Pai– — A resposta é não. — ele disse gentilmente. — Mas nós ainda amamos você. — Tanto faz. — ela murmurou, descendo as escadas para a calçada. Um Driggs despenteado estava esperando por ela na estação de trem com cotovelo afundado em um balde de M&M’s34. Ele estava usando jeans e camiseta, ambos enrugados e sujos e a gravata ainda estava desordenadamente envolta em seu pescoço. Ele parecia com um sem-teto. — Hei Lex. Como foi–. — Eu contei tudo a Cordy. Ele parou de mastigar por um segundo, em seguida assentiu. — Eu sei. — O que? Como? — Porque você é Lex. Há uma lei contra contar as pessoas, então é claro que você quebrou ela em uns mil pedaços. Ela mordeu seu lábio. — Você não vai me dedurar, vai? — Não. Mas obrigado por me fazer de cúmplice. 34

São pequenos pedaços de chocolate ao leite populares em vários países


— Você poderia tomar isso como um elogio, você sabe. Que eu confio em você. — Eu estou profundamente tocado. — Ele engoliu outro punhado de doces. — O que eles disseram sobre ficar? Lex fez uma careta. — Eles disseram não. O rosto de Driggs caiu. — Oh. Que tal depois do próximo ano? — Eles disseram que nós falaremos sobre isso. — ela disse quando eles embarcaram no trem. — Mas eu conheço eles. Se eu não concordar com a faculdade eles vão me renegar. — Ela suspirou e ocorreu a mão sobre seu cabelo. — Mas tanto faz, eu pensarei em alguma coisa. Que tal você? Como foi com a repórter? Seu rosto de iluminou. — Impressionante. Ela me contou tudo – eu acho que foi porque ela estava tão empolgada que eu acreditei nela. Ninguém mais ouviu suas teorias malucas. — Ele voltou para o balde. — Ela estava lendo os relatórios de autópsia de todas as mortes misteriosas, tentando encontrar alguma coisa que as ligasse. É verdade que ela teve mais dificuldade do que nós, que tínhamos descoberto quem as vítimas eram, já que a coisa do olho branco desaparece aqui fora. Mas pelos corpos que ela conseguiu rastrear, verificou que cada um deles tinha uma minúscula ferida de perfuração, como de uma seringa ou alguma coisa. Mas já que nenhum traço de drogas foi encontrado em seus sistemas, exames médicos não foram capazes de explicá-los. — É isso! — Lex disse. — Eles estão sendo injetados! Com Elixir! — Bem, sim, eu percebi isso, mas eu não poderia exatamente sair e dizer a ela. Ele sorriu. — A cabeça de Mort vai explodir. — Para dizer o mínimo. — ela disse. — Alguma outra história comovente? — Sim. Você sabia que você pode comprar M&M’s em qualquer cor que você quiser? Ela esboçou um sorriso. — Eu ouvi dizer. — E eu comi um Reese’s Peanut Butter Cup35 que era maior do que minha cabeça.

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https://www.hersheys.com/reeses/products.aspx#/REESE'S-Big-Cup-Peanut-Butter-Cups


— Parabéns. — Um cheiro de terra tinha começado a flutuar através das narinas de Lex. Intrigada, ela cheirou a camiseta de Driggs. — Hummm... Onde você ficou na noite passada? Ela coçou sua cabeça. — Eu encontrei um lugar. Com correntes de ar e um pouco apertado, mas não era ruim. Eles desceram do trem para estação de ônibus e para o ônibus até o caminho de volta para Croak e não até que Lex estivesse na cama, olhando para os cílios de Leonardo DiCaprio e pensando sobre os supostos guaxinins em sua casa na árvore, foi que ela finalmente percebeu onde Driggs tinha dormido.


Dezenove Depois de sua decepcionante visita, Lex esperava sacrificar qualquer tempo de lazer que ela pudesse encontrar para descobrir uma forma de ficar em Croak, especialmente já que parecia ter conseguido escapar dos gritos de Cordy. Mas enquanto agosto passava, o trabalho a tornava mais e mais ocupada. — É o calor. — Kloo explicou um dia depois de um turno da manhã particularmente brutal. — Os velhotes não podem suportam. — Eu gostaria que eles reclamassem tanto. — Lex disse. — Está ficando repetitivo. — E aquele cara do Jet Ski? — disse Driggs. — Ele era legal. — Isso é verdade. A cabeça simplesmente caiu fo a como uma rolha de cortiça, hummm? — E nós tivemos uns realmente deformados no acidente de fogos de artifícios no outro dia. — Ayjay disse. Kloo lançou-lhe um olhar de desaprovação. — Eu quero dizer, uma pena os dedos dos filhos deles, mas eles cresceram de volta, certo? No almoço Pandora passou perto da cabine deles com apenas um olá. — O que você quer? — Ela vociferou, equilibrando uma torre de caixas sobre seus braços. — Oh, eu não tenho tempo para pedidos. — ela disse antes que qualquer pudesse responder. — Nós estamos cheios, tentando nos livrar de todos aqueles malditos astrônomos. Professor Elbow Patches lá não pode aceitar a sugestão. — Ela fez um gesto em direção a um homem de paletó tweed e sua esposa, debruçados


confusamente sobre uma infinidade de folhetos que Kilda tinha enfiado em suas mãos. — Apenas coma isso. — Dora arremessou um prato de cachorros-quentes e vários copos de suco de Poisonberry36 na mesa, em seguida correu de volta para a cozinha. — O que há com ela? — Lex perguntou quando eles começaram a comer com vontade. Seus companheiros juniores encararam. — Oi. — ela disse. — Eu sou a Lex. Nós podemos ter nos encontrado antes, talvez em uma das centenas de outras vezes que vocês tiveram que explicar alguma coisa para mim. — Ohhh. — Ferbus disse em sua melhor voz condescendente. — Eu não acho que ela saiba. — Hoje é Luminous Tweltfh37! Elysia disse enquanto Lex chutava Ferbus embaixo da mesa. — É como uma grande festa comunitária para a cidade toda. Toneladas de alimentos e Yoricks38 e múscia e dança e então nós ficamos acordados a noite toda para observar a chuva de meteoros! — Legal. — Lex disse. — Isso acontece todo o ano? — A cada dia doze de Agosto. — Sofi disse. — É como nosso Quatro de Julho. — E nós temos que fazer alguma coisa? Driggs balançou sua cabeça enquanto um estrondo emergia da cozinha. — Nops, Dora tem isso sob controle. — ele por cima da resultante corrente de palavrões. — Tudo o que nós temos que fazer é aparecer e fazer nosso melhor para assustar os turistas. — Eu acho que há um Band-Aid em meu hambúrguer. — o professor sussurrou para sua esposa. Ferbus ameaçadoramente mostrou seu punho. — Nossos cumprimentos ao chefe. — a mulher replicou com a voz trêmula, agarrando a mão de seu marido e fugindo para a rua.

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Espécie de planta nativa da américa. Comemoração tradicional na Inglaterra, uma espécie de festa onde as pessoas se fantasiam e fazem brincadeiras entre si. 38 Bobos da corte da peça Hamlet de Shakespeare. 37


*** Aquela noite, depois do trabalho, a festa começou. Lex e Driggs saíram do Beco sem Saída, que tinha sido caprichosamente decorado para a festa, colorindo feira de rua. Barracas de comida e bebida estavam alinhadas na rua, lanternas vibrantes e flâmulas alegres adornavam os edifícios e os paralelepípedos de Slain Lain ostentava dezenas de dançarinos bêbados, todos rindo e gritando ao ritmo da música animada. Corpp distribuía Yoricks para os foliões ansiosos reunidos ao seu redor, parando para plantar beijos em Dora cada vez que ela aparecia para entregar um novo lote de anéis de cebola. Uma grande bola em forma de disco estava pendurada sob a praça, seu brilho rivalizando apenas com as cintilantes estrelas cruzando o céu acima. Enquanto Driggs corria para pegar alguns Yoricks, Lex andou até uma das cabines ao ar livre e ficou olhando maravilhada com a impressionante variedade de carnes escaldante na grelha diante dela. — Hummm. — Ela apontou. — Uma dessa, eu acho? — Isso mesmo, mocinha. — o açougueiro, pegou o que parecia ser um TBone Steak39 com pernas. — Eu não comeria isso. — Zara disse a Lex enquanto ela arrastava um grande cooler, suor emplastava um chumaço de cabelo prata em sua testa. — É uma de sua próprias misturas. — Argh. — Lex olhou para o açougueiro, um homem baixo com cara de porco com olhos redondos. Ela podia ver o porquê que ele não devia ser o mais adorável empregador. — É melhor sair e se posicionar na tenta do Corpp. — Zara disse. — É onde todos os outros estão. Lex examinou Zara. Desde o incidente do fogo a relação delas tinha sido bastante tensa. Zara tinha parado de incomodar ela sobre os choques – não uma coisa boa, na cabeça de Lex. Isso provavelmente significava que ela estava planejando uma fofoca sobre as tendências subversivas de Lex a qualquer minuto, a fim de recuperar o trono Júnior de grandiosidade para si mesma. 39

Também conhecido como bisteca ou chuleta.


— Você se juntará a nós? — Lex perguntou na voz mais amigável que ela pode reunir. — Talvez mais tarde. Eu tenho que trabalhar até toda a comida ter desaparecido. Salve-me um Yorick ou dois. Ou dez. Lex grasnou uma risada nervosa. Ela encontrou os Júniores, cujos os níveis de embriaguez tinham começado a surgir em um ritmo impressionante. — Não, VOCÊ É um ornitorrinco! — Ferbus girtou para Elysia. — Isso não faz qualquer sentido! — ela gritou de volta. — VOCÊ É um sentido! Driggs se aproximou de Lex e lhe entregou um Yorick. — Se divertindo? — Eu estou tentando não cochilar. Driggs sorriu. — Esse é o espírito. — Você acabou de perder, você acabou de perdêêêê-looo40. — Elysia disse a ela. — Ferbus engoliu um botão. — Isso caiu da minha camisa! — ele gritou, como se isso explicasse alguma coisa. Lex olhou ao redor. — Kloo e Ayjay ainda não estão aqui? — Advinha, não. — Driggs disse. — Eles devem ter trocado com alguém do turno noturno. — Ele apontou para o bando de Grims Seniors de aparência excêntrica que eram mais pálidos do que qualquer outra pessoa. — É tradição dividir os turnos na Luminous Twelfth para que todo mundo seja capaz de vir pelo menos um pouco. Juniores não são obrigados a trabalhar, mas eles se voluntariam. — Então essa festa realmente vai assolar a noite toda? — Yep. Ou até que todos desmaiem, o que acontecer primeiro. Ela olhou para cima em tempo de pagar um brilhante flash de um arco branco no céu. — Isso é tão legal. — ela sussurrou, quase para si mesma. Tio Mort, com Yorick na mão, cambaleou para o chafariz no centro da praça. — Hei todo mundo, ouçam! — Espera aí! — Pandora empurrou ele para fora do caminho e afundou na beirada da fonte. — Juntem-se, juntem-se. — ela vociferou. Todo mundo

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Espécie de jogo.


instintivamente aglomerou-se junto, como se eles tivessem feito isso inúmeras vezes antes. Dora segurou uma grande câmera e tirou a foto deles, um brilhante flash brevemente iluminou a rua. — Obrigado, Dora. — Tio Mort disse. — Vai pro inferno! Enquanto o assunto foto se dissipou, ele subiu na fonte e limpou sua garganta, — Feliz Luminous Twefth, Croak! Uma recepção calorosa para todos vocês e um igualmente caloroso bem vindo para a família Skorski, que não consegue lembrar onde eles estacionaram seu carro! — Um grupo de viajantes, encolhidos sob o olhar atento de Kilda deu um pequeno e aterrorizado aceno. — Então, todos sabem o que virá à seguir. — ele continuou. — O anual snoozfest41 conhecido como o State de Croah Adderss42. Uma rodada de aplausos varreu a multidão. — Eu recebi um número de requisições para interromper pouco nosso tempo bebendo quanto possível esse ano, então aqui está a versão resumida: os números foram altos e os gastos foram baixos e nossos esforços educacionais continuam a fornecer jovens problemáticos a integridade moral que eles tão desesperadamente desejam. — Os Juniores soltaram um grito e colidiram suas canecas de crânios juntas, pulverizando a multidão. — É uma longa história, Croakers são os melhores malditos Grims deste lado do Pós Vida! A multidão irrompeu em estridentes aplausos, tomando isso como um sinal para continuar as festividades. Tio Mort, entretanto, manteve-se no topo da fonte. — E, como tal, — ele gritou acima da diversão, uma nota de apreensão rastejando em sua voz, — vocês merecem a verdade. O barulho e gritos morreram abruptamente, até que o único som restante foi os arrotos de Ferbus. — Como muitos de vocês leram agora. — ele continuou em uma voz severa, — perturbadores acidentes estão sendo reportados fora da Necrópoles. Os poderes

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Evento tão entediante que causa um cochilo espantaneamente. Em português seria algo como o Discurso do Estado do Croak.


constituídos declararam publicamente estas concorrências isoladas e nada mais. — Ele respirou fundo. — Mas esses poderes são mentirosos. Os Juniores dispararam olhares assustados um para o outro. — A verdade é, as mesmas mortes anormais tem sido testemunhadas por um time de Grim daqui do Croak. Na verdade, eles se originaram aqui. — Vários gritos de pânico soaram, mas Tio Mort levantou suas mãos para acalmá-los. — Histeria somente fará as coisas piores. Vocês garotos sabem bem disso. Eu não espero nada além de um nível de quase sensatez e compostura de cada habitante dessa cidade. E em troca, eu informarei a vocês o pouco que eu sei sobre a situação. Silêncio absoluto caiu sobre as ruas, com exceção da família Skorski, que ansiosamente acelerou para fora da cidade às pressa em seu o carro encontrado. — Nós não sabemos quem está fazendo isso. — ele continuou, — ou o porquê. Mas parece que tem um Grim que ganhou habilidade para– Um grito horripilante cortou o ar da noite. Todos os olhos voaram para o fim da rua, onde Kloo cambaleava fora do túnel da Cripta arrastando alguma coisa pesada. Quando ela veio para a luz, seu fardo revelou ser Ayjay, ensopado de sangue e aparentemente inconsciente – ou pior. Tio Mort pulou da fonte. — Traga ele aqui! — Um par de Grims Seniores pegou Ayjay dos braços de Kloo e deitou seu corpo sem vida na beirada da fonte, cuidadosamente sem tocar na ferida aberta que cruzava sua testa. No entanto eles recuaram em segundos. — O que está errado com olho dele? — Kilda guinchou. Tio Mort deu uma olhada em Ayjay desfalecido, o olho turvo e imediatamente sentiu o pulso. Seu rosto caiu. Ninguém falou. Tio Mort agarrou os ombros de Kloo. — O que aconteceu? — Eu não lembro! — Tente! Uma

forte

tosse

rasgou

o

silêncio.

Ayjay

cuspiu

e

se

debateu

descontroladamente, em seguida sentou-se com um enorme sobressalto, como se estivesse lutando para se manter acordado de um pesadelo. Ele esfregou seu peito, piscando várias vezes e olhou ao redor confuso.


— Ayjay! — Kloo envolveu ele em seus braços. A multidão soltou um suspiro coletivo de alívio, mas a paz não durou muito. — Como isso aconteceu? — alguém gritou. — Mort! O que está acontecendo? — Seu olho! — Quem fez isso? Tio Mort ignorou suas perguntas e agarrou Kloo e os braços de Ayjay. — Eu preciso saber o que aconteceu. — O rosto de Kloo estava sem cor, além do habitual, mas seu tom se manteve calmo. — Eu não sei. Nós estávamos– — Ela interrompeu a si mesma e olhou envergonhada. — Sozinhos. Ainda estava claro naquele momento. E então – isso aconteceu tão rápido – alguém apareceu no meu quarto. Do nada! A preocupação da multidão lentamente diminuiu. Olhares de ceticismo foram trocados. Ferbus bufou. — Vamos, Kloo—. — É verdade! Pelo menos– — Ela olhou para Tio Mort. — Pelo menos eu acho que é. Eu não posso lembrar de qualquer coisa depois disso. — E sobre você, Ayjay? — Tio Mort perguntou. Ayjay, claramente ainda lidando com uma grande quantidade de dor, balançou sua cabeça. Lex grunhiu em frustração. — Como eles apenas esqueceram? — ela sussurrou para Driggs. — E então eu acordei poucos minutos atrás e ele estava deitado lá. — Kloo continuou. — Sem respirar, sem pulso, couro cabeludo dilacerado, pequena marca de injeção no peito, e... Ayjay ainda estava piscando muito. Ele esfregou seus olhos até que eles ficaram vermelhos e lacrimejantes. Ele olhou para ela. — Eu não consigo ver com isso. — ele disse calmamente. Kloo apertou sua mão. — Você ficará bem. Eu suturarei sua cabeça e o olho– — Ela engoliu em seco, sem ter certeza. — Eu posso consertar isso. — Eu não sei sobre isso, Kloo. — disse Tio Mort imerso em pensamentos. Ele gesticulou para alguns Grims Seniores. — Ele não está fora de perigo ainda. Levem eles para o médico.


Enquanto Kloo e Ayjay foram escoltados, Tio Mort subiu na fonte mais uma vez. — Sem pânico, — ele disse calmamente, com o rosto sombrio, — mas é quase idêntico ao modo de aproximação dos assassinos. Eles Crash em uma certa localização, então injetam na vítima poucas gotas de Elixir puro enquanto o tempo está congelado, causando morte instantânea e sem deixar rastros. — Crash? — Heloise gritou. — Você quer dizer que alguém encontrou uma Loophole? E pode Crash com direção? — Parece que sim. Mas– — Espere um maldito minuto, Mort. — gritou um irado Norwood. — Você não pode apenas pegar Elixir em uma loja de mercearia! — Isso é verdade. — Tio Mort disse. — Eu não tenho certeza de como o Elixir está sendo acessado. Mas– — Quem tem visto essas mortes? — Heloise interrompeu. — E porque não tem mais ninguém testemunhando qualquer coisa incomum? Nós não temos o direto de saber? — Estes indivíduos em particular me contaram, sob sigilo, sobre essas anormalidades. — Tio Mort respondeu rispidamente. Enquanto eles desejarem permanecer anônimos, eles irão. Quanto à questão do porquê eles tem sido os únicos que as tem visto – bem, eles pediram ajuda a um Etcetera, então talvez, eu deva estar perguntando a você essa questão, codiretora. Heloise eriçou-se e disparou a ele um olhar cheio de ódio, mas não disse nada. — Mas como Ayjay sobreviveu? — Corpp perguntou. Tio Mort coçou a cabeça. — Ele foi agredido em tempo real, ao invés de durante o tempo congelado. Provavelmente outro tipo de experimentação com o processo, assim como quando as vítimas são escolhidas na jurisdição de Necrópoles ao invés da nossa. Minha melhor suposição é que Kloo instintivamente golpeou a agulha para longe, impedindo que ele recebesse a dosagem inteira. O Crasher entrou em pânico, nocauteou eles e fugiu. Silêncio encheu o ar. — O que nós vamos fazer? — Elysia perguntou em uma voz baixa. — Neste momento, meu conselho é para ficar em alerta constante. Se vocês virem qualquer coisa incomum, deixe-me saber tão breve quanto possível. Mas– —


Tio Mort hesitou e olhou com tristeza sobre a multidão. — Mas com toda a honestidade, nós estamos muito indefesos aqui. Não há nenhuma maneira que eu posso pensar para evitar que um Crasher43 venha a qualquer hora, em qualquer lugar, atrás de qualquer um. Até agora, todas as vítimas estavam no mundo real – mas realisticamente falando, era somente uma questão de tempo até os Grims serem alvos também. Nós não estamos imunes. Se há alguma coisa, nós ainda somos mais vulneráveis. O que fazemos aqui... Bem, alguém tem um problema com isso e eles estão dispostos a tirar vidas a fim de deixar isso bem claro. Ninguém falou. — O que significa que nós precisamos prosseguir tão normalmente quanto possível. — ele finalizou. — Se nós não pudermos dançar macarena até o sol nascer, o terrorista já terá uma vitória. Ou algo. — Ele pulou da fonte. — Eu estou indo informar isso a toda Necrópoles e eu voltarei tão logo quanto eu tiver mais informações. Tentem ter alguma diversão, a noite inteira, certo? Olhem, não é nem mesmo meia-noite ainda e Ferbus já está usando um abajur. Com um último vislumbre dos rostos conturbados de sua cidade, Tio Mort se virou e começou a caminhar rua abaixo. Lex começou a it atrás dele, mas Driggs rapidamente entendeu o olhar do prefeito e puxou-a de volta. — Ele não quer que nós o sigamos. — ele sussurrou para ela. — Mas nós podemos ajudar! — Eu não acho que o Mort que que o resto da cidade saiba que seus mais confiáveis conselheiros são de fato adolescentes causadores de problemas atualmente residindo sob seu teto. — Por que? — Ela disparou para ele. — Apenas porque nós somos Juniores não significa que nós não– — Não é porque nós somos Juniores. — O que é, então? Sou eu? Ela considerou seu silêncio como um retumbante sim.

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Espécie de invasor, que penetrar na encolha em um local.


Vinte A festa – se é que isso ainda podia ser chamado disso – persistiu através da noite, embora o estado de ânimo tivesse mudado consideravelmente; embora a maioria dos festejadores acabou deitado na rua e observando as estrelas em silêncio. Por volta do nascer do sol, eles se arrastavam como zumbis para o Necrotério, quando uma aparentemente incansável Pandora agarrou uma panela e começou a jogar para o alto lotes após lotes de panquecas. — Nós nem sequer tiramos uma soneca? — Lex bocejou enquanto os Júniores caiam em sua barraquinha, exaustos mais pela preocupação do que pela falta de sono. — Não realmente. — uma Elysia com os olhos turvos disse. — Eu poderia tentar mais tarde, mas somente se Alexander Graham Bell respeitasse sua promessa de parar os experimentos com ringtones. — Eu odeio esse cara. — Ferbus disse. — Não quero ir trabalhar. — Oh, por favor. — Lex disse irritantemente. — Você apenas fica sentado por aí e se masturba o dia todo. Nós realmente temos coisas para fazer. — Fecha sua boca. — ele fracamente. Lex olhou ao redor da mesa, Sofi estava cochilando em seu muffin inglês. Zara tinha mordido suas unhas até as pontas dos dedos. E Driggs tinha um Amuleto da Sorte preso em sua testa. — Você tem um– — Lex gesticulou. — Buá? — ele respondeu sonolento. — Ferradura Roxa. — ela disse, sacudindo-a fora.


— Oh. — ele disse, sua mente em outro lugar. — Eu estava guardando isso para mais tarde. Nenhum deles sabia para onde Kloo e Ayjay tinham sido levados ou se Ayjay tinha ao menos sobrevivido à noite. Então, eles se arrastaram através da refeição, roboticamente empurrando utensílios em suas bocas e recuando a cada ruído aleatório que ousava a permear o restaurante. Pela primeira vez eles saíram para seus turnos, ansiedade estava em um ponto alto – de tal forma que Lex praticamente abordou Tio Mort quando ela o avistou a caminho do Banco. — Onde estão Kloo e Ayjay? — ela exigiu. — Recuperando-se. — ele disse, caminhando rapidamente. — O que você contou a Necrópoles? O que eles disseram? — Palavras. Hei, pegue algumas salsichas em seu caminho para casa hoje, está bem? Eu tenho que alimentar as águas-vivas. Lex franziu a testa. — As águas-vivas não comem salsichas. — Olha, eu não digo a você como fazer seu trabalho. — Sim, você faz, todos os dias. — Tenho que ir. Nós nos falaremos mais tarde, ok? E então Lex foi deixada sem nada além de mais perguntas e agora uma incumbência de compras. Para piorar as coisas foi Kilda, quem gritou, enquanto eles passavam por sua mesa. — Uma esplêndida noite de sono e sucesso vocês colherão! — Ela vai levar colher uma surra se ela não calar a maldita boca. — Lex disse sob sua respiração.

*** Quando eles terminaram o trabalho naquela tarde, Lex e Driggs circulavam em volta dos paralelepípedos de Slain Lane e dirigiam-se para a loja chamada de Carne Morta. Um pequeno sino tocou quando eles abriram a porta, embora o resto da loja – fria, escura e impregnada com um esmagador cheiro – não parecia tão acolhedora. Lex sentiu como se ela tivesse entrado numa tumba. Driggs se aproximou do balcão. — Há alguém aqui?


— Vire a direita! — uma voz soou na parte detrás. Segundos depois uma Zara com olhar atormentado emergiu vestindo um avental ensanguentado. — Oh. É você caras! — Como vai o negócio de carne? — Driggs perguntou. Zara fez uma careta. — Eu não posso esperar até que esse estágio acabe. Eu tive que roubar o mais sujo e mais repugnante frigorófico da terra para essa estúpida festa na noite passada e todos os dias eu vou para casa fedendo a sangue e tripas e resto de porco. Eu odeio isso! — ela gritou, um pequeno glóbulo de gosma tremendo em seu cabelo prata. — Wow, sinto muito. — Lex disse, não podendo deixar de sentir um pouco de prazer com a desgraça de Zara. — Isso é realmente uma porcaria. Zara olhou para ela. — Yep, é sim. E o nervosismo da noite passada não ajudou. — Ela enxugou a testa. — Enfim, o que eu posso fazer por vocês? Enquanto Driggs fazia a encomenda, Lex olhou para fora da janela. Alguns Grims Seniores estavam descendo a rua e olhando em volta apreensivamente, como se esperasse um ataque por trás ou por cima. Eles foram encontrar outros Grims que falava com eles em voz baixa. Antes do grupo se dissolver, eles se abraçaram. Lex fez uma careta enquanto ela tentava imaginar o que isso deve ser para um Grims que esteve aqui por décadas. Toda uma carreira ceifando estranhos, examinando e cutucando corpos como se eles nunca tivessem sido humanos vivos, completamente isolados dentro de sua pequena cidade. Não se admira que eles se tornassem cegos para os terrores reais do mundo. A morte era um velho chapéu para os Grims, o desfecho de uma piada contada no almoço com hambúrgueres gordurosos no Necrotério. Mas acidentes com fogos de artifício e a dedos faltantes não pareciam mais tão engraçados. Agora que a ameaça estava aqui, aparentemente caindo do céu e nenhum profissionalismo podia parar Lex, ou qualquer, de um de olhar incessante sobre seus ombros com medo. — Eu não sei. — Driggs estava dizendo para Zara. — Mort não está dizendo muito para nós, mas eu acho que eles estão bem. — Eu espero que sim. — Zara disse, colocando as salsichas na balança. Conforme ela moveu seu braço, no entanto, a manga de seu jaleco de açougueiro ficou presa e enrolou até o cotovelo. Lex deu uma olhada para o braço


exposto de Zara e engasgou. — Oh meu Deus. — ela disse. — O que aconteceu com você? Diversas manchas vermelhas aglomeradas corriam o cumprimento do braço pálido de Zara. A pele na parte inferior estava enrrugada, cheia de cicatrizes irreconhecíveis, enquanto talhos profundos atravessavam como trilhos de trem. Os olhos mortificados de Zara voaram para sua manga. — Não é da sua conta! — ela vociferou, puxando para baixo. Lex ficou atordoada em silêncio. Como todos os outros em Croak, Zara usava manga comprida, capuz preto na maioria das vezes, mesmo no quente verão; Lex percebeu que ela nunca tinha visto os braços de Zara nus até hoje. — Eu – sinto muito. — ela balbuciou, agora imensamente confusa. — Apenas esqueça isso. — Zara disse, dando a Driggs um olhar significativo. Ele devolveu com um olhar de desculpas. — Obrigado, Zara. — ele disse gentilmente, pegando o pacote e entregando-o para Lex. — Tenho uma boa tarde, ok? Zara estava tremendo quando eles saíram. — Sim, ok.

*** Driggs não disse nada o caminho todo para casa. Quando eles se aproximavam da entrada da garagem, Lex não pode aguentar mais. — Ok, você vai me contar ou não? — Contar a você o que? — Que diabos foi aquilo? Por que Zara parecia pronta para arrancar meu coração diretamente do meu peito e envolvê-lo junto com o resto de nosso pedido? Driggs permaneceu em silêncio. Ele enfiou as suas mãos em seu bolsos e se dirigiu para a varanda. — Hei. — ela disse, seguindo ele. — Eu perguntei a você um– — Lex, pare. A borda de fúria em sua voz a fez vacilar. — Qual o problema?


Lentamente, com hesitação, ele rolou a parte inferior de se capuz até que seu peito estivesse exposto. — Você não sabe o que isto é, você sabe? — ele disse em uma voz baixa, olhando para longe. Lex examinou sua pele, que estava manchada com cerca de vinte pontos escuros do tamanho de uma pílula. — Não. — ela disse, apertando seus olhos na luz fraca. — Eu não sei. — Yep, você não saberia. — Ele olhou para o por do sol. — Elas são queimaduras de cigarro. Meu pai tinha prazer em usar seu único filho como um cinzeiro. Lex recuou, uma curta respiração escapou de seus lábios. O olhar de Driggs estava perdido, estranho. — Isso não é nem mesmo o pior disso. Mas o ponto é, Zara e eu não somos os únicos. Todo mundo aqui – exceto você – veio de infernais vidas pessoais e a maioria tem literalmente cicatrizes para provar isso. — Ele abaixou sua camiseta e olhou para ela. — Então se você conseguir se lembrar disso de vez em quando, nós todos apreciaremos muito isso. Lex respirou fundo para dizer alguma coisa, mas nada saiu. Só então a porta se abriu par revelar um Tio Mort jubilante. — Peguem sua cartolas e monóculos, crianças. — ele disse, acenando um maço de dinheiro. — Eu vou levá-los para jantar fora.

*** Quinze minutos mais tarde os três se sentaram numa mesa em um canto escuro do mais extravagante e “mais zoologicamente eclético” restaurante de Croak, de acordo com sua placa. — O canguru é bom aqui. — Tio Mort disse enquanto folheava o especial de bebidas. Lex olhou para Driggs detrás do menu, mas ele estava aparentemente muito absorto no aperitivo oferecido para olhar em sua direção.


— Bem-vindos ao Assssshhes44. — Uma suave voz flutuou sobre suas cabeças quando uma alta e pálida mulher se materializou na mesa deles. Seu cabelo escuro alcançava a altura de sua cintura, enquanto a cauda de seu vestido preto se arrastava por pelo menos cinco pés atrás dela. — Obrigado. — Tio Mort disse em um tom atrevido. — Um aterrorizante prazer, como sempre. —

Posso

traaaazzzeeerr

a

vocês

alllllggggggggggggoooo

para

bbbbbebbberrrr? — ela perguntou, correndo uma magra mão por seu cabelo. — Eu – souuuu... — Ele gemeu alegremente, fechando seus olhos. — Eu quero uma Essência de Newt. Pura, sem gelo, com polpa extra... Suculento...— Lex chutou ele embaixo da mesa. Seus olhos se esbugalharam. — O que? — Eeeeeee para vocês dooooiiissss? — Água. — eles rapidamente disseram em uníssimo. — Éééééé para jáááááá. — Ela respondeu, se afastando. Tio Mort ficou de pé. — Eu preciso, hummm, usar as intalações. — ele disse, saindo. Driggs observou ele sair, então distraidamente correu seus dedos sobre a chama da vela. Lex preparou a si mesma mentalmente. Ela nunca sido nada boa em se desculpar e ela duvidava que esse seria o avanço pelo qual que ela tinha esperado. — Hei. — ela disse. — Eu sinto muito sobre antes. — Está tudo bem. — Seus lábios mal se moveram enquanto ele observava os lampejos amarelos. — Você não sabia. Lex assentiu por um momento. — Você quer falar sobre– — Nops. — Ok. Hummm, se você alguma vez quiser, eu sempre estou–. — Sim. Entendi. Lex meneou sua cabeça mais uma vez, certa que isso em breve se separaria. Ela abriu sua boca, então a fechou. Ela pegou o menu e olhou. Ela largou o menu.

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O nome do restaurante seria cinzassss, mas ficaria estranho em portugu~es.


— Ok, claramente, eu sou terrrível nisto. — ela confessou. — O que você quer que eu diga? Ele coçou seu pescoço. — Não é realmente algo que sobre o que eu gosto de falar. Isso foi a muito tempo atrás. — Ele deu a ela um sorriso fraco. — Eu fugi para Croak por muitas boas razões, assim como todos os outros. Lex se encolheu. — Exceto eu. — Oh, eu estou certo que você teve uma razão. — ele disse, apontando os dedos com bolhas. — Uma melhor do que o resto de nós, eu aposto, já que você foi arrancada de tal obscuridade. — Obscuridade? — Ela sorriu. — Você quer dizer uma quente, amável casa? Driggs finalmente soltou um sorriso e riu. — Yeah. Isso é oficialmente uma definição. A garçonete trouxe uma cesta de muffins enquanto Tio Mort retornava para a mesa e agarrava um menu. — Eu podia realmente ir para algumas moelas de texugo. — ele disse entusiasmadamente. — Por que você está com bom humor? — Lex perguntou. — E o que nós estamos fazendo aqui? Por que o repentino alarde? Ele riu culposamente. — Ah, eu posso ter multado um divertido casal de andarilhos Canadenses. Driggs deu a ele um olhar irônico. — Isso foi antes ou depois de Kilda destruir a câmera deles? — Depois. Mas eles estavam saindo de qualquer maneira, devido à explosão de gás eminente–. — Garotos. — Lex interrompeu, — vamos frear a A.D.D45 por um tempo, vamos? Kloo e Ayjay estão bem? — Abalados, mas bem. — Tio Mort disse. — Receio que o olho esteja perdido, no entanto. Driggs afundou. — Isso é uma merda. Tio Mort cuidadosamente acariciou sua própria cicatriz. — Eles se acostumarão com isso. — O que a Necrópoles disse sobre a noite passada? — Lex perguntou.

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Déficit de desordem de atenção.


Tio Mort iluminou-se. — Eles estão furiosos! — ele disse com alegria. — Praticamente prontos para me pendurar por uma corda porque eu dei muitos detalhes. — Para a cidade, você quer dizer? — Driggs perguntou. — Yeah. E para O Obituário. Lex inalou bruscamente. — Você disse a imprensa? — Yep. Cat’s out of the bag46. — ele disse orgulhosamente. — Confie em mim, a cobertura da mídia ajudará. Um time sênior já tinha informado um morte pelo Elixir hoje e mais seguirão. Esse bastardo não pode ficar escondido por muito tempo com o mundo inteiro da Grimesfera à procura. Lex agarrou um muffin. — Eu gostava mais quando era apenas nós. — Falando nisso, — Tio Mort disse, atirando a ela um olhar enigmático, — nós não vamos contar a ninguém sobre isso, ok? Se as pessoas descobrirem que vocês foram os primeiros a vê-los– — O que? — Lex perguntou, determinada a chegar ao final disso. — Você sente vergonha de mim ou algo assim? Seu rosto nublou. — Lex, eu juro pelo dispositivo de fusão a frio no porão que eu não poderia estar mais orgulhoso de você. Mas nem todos... — Ele parou de falar, procurando pelas palavras certas. — Você apenas tem que perceber que algumas pessoas não aprovam você. Isso não significa que você não mereça estar aqui. — ele adicionou quando ela começou a argumentar. — Porque você absolutamente merece. Mas nem todos verem desse modo. — Como Norwood e Heloise. — Sim. — Por quê, então? — ela perguntou. — Porque eu sou sua sobrinha. — Algo como isso. — ele murmurou. — Ouça, não se preocupe com isso. Enquanto eu tiver guardando suas costas, você não precisa dar a mínima para o que todos os outros pensam. Lex, irritada, lambuzou mirtilo pela mesa. Ele sorriu. — Não que alguma vez você tenha se preocupado.

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Expressão idiomática que significa que um segredo foi revelado, geralmente sem a intenção.


Vinte e Um No dia seguinte, o diretor de Controle de Tráfego do Éter de DeMyse caiu morto no meio do seu turno. Um dia depois, uma Culler em Necropolis caiu de cabeça dentro de sua tigela de cereal no café da manhã. Até o fim da semana, cada equipe em Croak tinha testemunhado ao menos um assassinato Elixir em primeira mão durante seus turnos. E o moral estava mais baixo do que nunca. Tudo tinha mudado. Os cidadãos de Croak foram arrastados de suas vidas como fantasmas sem almas. Seus nervos estavam exaustos de constantemente recuar ao menor sussurro, encolher cada vez que uma nuvem passasse na frente do sol, temendo a morte súbita em cada turno. Não havia tido mais ataques contra Croak, mas todo mundo sabia que era apenas uma questão de tempo. Uma vez que o paradeiro do Elixir roubado ainda era desconhecido, Corpp foi fechado até novo aviso, deixando a população sem como aliviar o tamanho pavor. Então Tio Mort convocou uma reunião em uma noite de tempestade para discutir os pontos de vista, abordar os ataques a Grimesfera e permitir que a população desabafasse. Lex e Driggs concordaram em encontrar Ferbus e Elysia depois do trabalho e irem juntos. Lex estava no escritório, examinando a porta do cofre. — Sabe. — disse ela para Ferbus. — Eu estive pensando... — Bem, há uma primeira vez para tudo. Sem estar no clima para as piadas dele, Lex pegou uma tesoura e brandiua em seu rosto.


— Eu realmente sugiro que você se livre de objetos pontiagudos no seu espaço de trabalho, Cabeça de Cenoura. Nós não queremos quaisquer castrações infelizes, queremos? — Driggs! — Ferbus gritou para o Covil cheio de aranhas, onde Driggs tinha corrido para escapar de suas constantes brigas. — Sua parceira está ameaçando me castrar! — Sim, ela faz isso. — Driggs disse lá de dentro. — Sabe, intimidar pessoas com instrumentos cortantes não é realmente a melhor maneira de limpar o seu nome. — disse Ferbus quando Lex abaixou a tesoura. — Limpar meu o quê? Ele inclinou-se: — Eu ouvi o que os Seniors estão dizendo. Eles acham que você está conectada a esses assassinatos. Lex ficou boquiaberta. — O quê? Por que eu? — Pensa só: nada disso começou até você aparecer, e agora você está aterrorizando pobres habitantes inocentes com armas pontiagudas — ele deu de ombros e voltou-se para seu jogo de feiticeiro — Apenas não parece bom, é só. — Bem, nem o seu rosto. Agora perturbada, ela pulou da mesa e ficou no meio do cofre da Pós-Vida, onde Elysia estava em cima de uma pilha de madeira, plásticos, e os irmãos Wright. — Limpem isso. — Elysia repreendeu e voltou-se para sua mesa. — Eles acham que podem fazer qualquer coisa voar. — ela disse a Lex. — Uma mesa, um microndas, um vagão de metrô. Não importa. Se não tiver asas, é uma experiência esperando para acontecer. Lex mal a ouviu. Ela olhou de volta para a porta do cofre e fez uma careta. — O que há de errado? — pergunto Elysia preocupada. — É o fato de que o próprio fundamento do nosso mundo está desmoronando ao nosso redor e que nós estamos caindo diante de uma visão infernal de incerteza e terror que nunca foram vistos antes? — Parece maravilhoso pra mim. — Edgar disse vagamente. Lex se voltou para Elysia.


— Você sabia que as pessoas pensam que estou ligada a tudo isso? Os olhos de Elysia agitaram-se de culpa. — Uh... Sim. Eu ouvi umas conversas. Mas é provavelmente apenas porque você é nova. — um olhar triste passou por seu rosto. — Ninguém quer acreditar que alguém que conhecemos e amamos por anos poderia fazer algo assim. Lex fez uma careta. — Bem, eles podem todos se danar quando eu for pra casa e isso continuar acontecendo. Mas a ideia de ir embora a fez se sentir ainda pior. O verão estava se aproximando do fim, e ela ainda não tinha sido capaz de pensar em um jeito de ficar em Croak. Enquanto isso, Cordy havia redobrado a quantidade de e-mails, e apesar desta vez Lex tinha realmente respondido alguns deles, ela sempre fez questão de deixar convenientemente de fora a parte sobre um assassino enlouquecido à solta. Elysia franziu a testa. — Você ainda acha que seus pais não vão deixar você ficar? — Você não conhece meus pais. Se eu não voltar por vontade própria, aposto que eles vão dirigir até aqui eles mesmos e me arrastar diretamente pra fora. — Talvez em casa vá ser melhor. Deve ser mais alegre do que aqui. — disse Elysia melancolicamente, observando o mais novo grupo de almas com aparência atordoada que entravam pelo túnel. — Até aqueles caras ali estão melhor. Ignorância é uma bênção, certo? Lex congelou. — Espere um minuto. — disse ela, mantendo os olhos sobre os recémchegados, perturbada. — Por que as almas não se lembram de suas mortes? — O túnel. Reprime automaticamente essa memória específica até que elas sejam capazes de lidar com isso. — Então não é porque o Elixir está aqui? — Não. O Elixir não causa amnésia. Se fosse assim, não teríamos que ordenhar as aranhas.


— Aranhas... — Lex ficou de pé e segurou os ombros de Elysia. — Elysia, me escute. Pense em antes de começar o verão, antes de eu chegar aqui. Você consegue se lembrar de qualquer pessoa que esteve aqui e retirou o Elixir? Elysia sorriu confusa. — Não. — Você tem certeza? — Sim, isso é meio que ilegal. Eu gritaria bem alto. Esse é o objetivo do meu trabalho, além de discutir os presidentes. Um grito soou de dentro do escritório. Lex fez uma pausa, em seguida, virou-se para Elysia. — Pense melhor. — ela continuou, respirando com dificuldade. — Houve algum dia que você não consegue se lembrar? Talvez, como se você perdesse a noção por algumas horas? — Não. — Sim — Edgar disse. Ambas as garotas se viraram para ele. — O quê? — Um dia, alguém veio aqui e levou um monte dessas estúpidas nuvens — ele disse. — Você gritou bem alto, mas depois se sentou em sua mesa por um tempo sem dizer nada. Eu lembro especificamente porque era o dia que Eleanor Roosevelt jogou um bule de chá em mim. — Do que você está falando, Edgar? — Elysia virou-se para Lex. — Eu não me lembro disso. — Lex! — Driggs gritou do outro cômodo. Ele parecia em pânico. Lex se lançou para a porta do cofre, em seguida, virou-se para Elysia. — Pergunte por aí. Descubra se alguém aqui viu quem era. — ela voou para a porta do escritório, onde Driggs estava segurando um tubo de ensaio quebrado, um olhar igualmente chocado em seu rosto. — Amnésia. — disseram eles ao mesmo tempo. — É por isso que Kloo e Ayjay não se lembravam de nada! — disse Lex. — Eu pensei que Kilda estava apenas sendo Kilda. — disse Driggs. — Mas ela estava certa, praticamente desapareceu tudo. O assassino deve tê-lo tirado do Covil.


— Então roubou o Elixir do Pós-Vida. — E então drogado Ferbus e Elysia para fazê-los esquecer a coisa toda! Ferbus soltou um grito. — Eu nunca fui drogado! — Você não se lembra se foi. — Lex rebateu. — Esse é o ponto! — Mas... Mas... Lex e Driggs se encararam por mais um momento, então correram pelas escadas (exclamando um — Mas que diabos...? — como Norwood), fora do Banco, e em direção à forte chuva. Eles irromperam pela porta da biblioteca logo quando a reunião estava começando. Tio Mort e todo mundo na sala se virou para olhá-los. — Pegaram Amnesia - roubaram o Elixir-Pós-Vida — eles chiaram. — Devagar. — disse Tio Mort. — O que aconteceu? Norwood e Heloise apareceram na porta atrás deles, seguidos por Ferbus e Elysia. Driggs respirou fundo e começou a descrever o que tinham descoberto, diante de um coro de surpresa das pessoas da cidade. — Eu perguntei por aí no Pós-Vida. — uma Elysia encharcada soltou. — Mas apenas algumas almas viram o que aconteceu, e elas não puderam ver quem estava sob o capuz. — Ok. — disse Tio Mort. — Obrigado, Elysia. — Você está agradecendo? — Norwood estourou. Ele e Heloise estavam tão furiosos, estava quase saindo fumaça de suas cabeças molhadas. — Essas crianças são as culpadas de tudo! — Como vocês puderam deixar isso acontecer, seus pequenos ingratos? — Heloise cuspiu para um Ferbus e Elysia trêmulos. — Vocês têm um trabalho a fazer! — Heloise. — Tio Mort interrompeu. — Eles não estão aqui há muito tempo, então suas imunidades à Amnesia não são tão fortes quando a dos idosos. Provavelmente é por isso que eles foram o alvo. Não é culpa deles. — Oh, bobagem. — Norwood zombou. — Você não entende, Mort? Isso é o que se podia esperar de todos estes amadores inúteis! Eu venho dizendo isso há anos, e agora olhe para a bagunça que eles nos meteram!


— É possível, seu falador pomposo! — Pandora guinchou. — Eu não vejo ninguém tentando descobrir o que está acontecendo aqui. Essas crianças são as únicas entre todos vocês que se importam! — Mas eles viram as mortes desde o início e não contaram a ninguém! — uma nova voz gritou. Todos os olhos se viraram para Zara, que ficou de pé. — Desculpa, gente. — disse ela, olhando para Lex e Driggs — Mas já chega. — ela apontou para eles e dirigiu-se à multidão. — Esses dois foram os primeiros, depois os outros Juniors se juntaram. Vocês devem ter descoberto isso semanas atrás, mas eles queriam descobrir tudo por si mesmos. E Mort os ajudou, ele planejou com eles o tempo todo. E sabe o que mais ele não está dizendo a vocês? As vítimas não são aleatórias, elas são um alvo específico, porque elas são criminosas! Driggs amaldiçoou em voz baixa. — Você contou a ela? Lex dirigiu a ele um olhar culpado. — Sofi! — a voz estridente de Heloise soou. — Você esteve ajudando eles? Sofi, tremendo em seu lugar, mal conseguiu falar: — E-eu não sabia. — Oh, é claro que não sabia! — Norwood interrompeu. — Nenhum desses pirralhos sabem porcaria nenhuma! Estes dois não conseguem nem vigiar uma porta. — ele disse, apontando para Ferbus e Elysia. Ele apontou para Kloo e Ayjay — Esses dois não podem parar de se agarrar tempo suficiente para perceberem que estão sendo atacados. — então ele apontou o dedo no rosto de Lex e se virou para o Tio Mort — E se você pensar por um segundo, essa sua sobrinha ainda é remotament— Chega! — Tio Mort trovejou. A sala ficou em silêncio. Quando ele voltou a falar, sua voz era calma, mas firme. — Sim, Lex e Driggs foram os primeiros a ver anormalidades. Sim, eles foram auxiliados por Sofi e os outros Juniors. Eles vieram a mim, admito, mais tarde do que deveriam, e descreveram o que tinham visto. Eu lhes permiti continuar, porque pensei que era melhor para conter a situação e envolver o menor número de pessoas possível. Não me arrependo dessa decisão. Norwood praguejou. Tio Mort o ignorou.


— Quanto às vítimas, Zara está certa, parece que a maioria delas são criminosos. Mas como todos já leram no jornal ao longo dos últimos dias, os alvos estão sendo os Grims agora, que é o porquê de ser mais importante do que nunca ficarmos unidos assim. Eu convoquei esta reunião para discutirmos o que todo mundo têm visto, para juntar nossas informações juntos, e tentar fazer algum progresso, não para apontar dedos. Nós não temos tempo para essa mesquinharia, essa besteira melodramática. Por isso, vamos continuar com a reunião como planejado, e se você não gostar, está livre para sair. Norwood e Heloise fizeram exatamente isso, batendo a porta na saída. Todos os outros permaneceram, apesar do distinto clima pesado da sala de quando a discussão começou. Lex, por sua vez, estava tão brava com Zara que poderia enforcá—la com seu próprio estúpido cabelo prateado. Ela examinou os assentos e viu Zara encarando-a. — uma ativid de que Driggs também parecia estar apreciando fazer. — O quê? — Lex calmamente virou-se para ele. — O que eu fiz? — Eu não acredito que você contou a ela. — Oh, meu Deus. — disse ela, revirando os olhos. — Isso é tão colegial. Vou chorar no meu armário. — Esqueça. Conversamos mais tarde. — Boa ideia. Isso vai me dar tempo de consultar minha cartomante de papel. A reunião continuou até a noite, e apesar de não ter havido mais discussões, ficou claro que as palavras de Norwood geraram desconfiança aos habitantes da cidade. A hostilidade deles tornou-se tão evidente que até o final, Pandora teve que esgueirar os Juniors pela porta dos fundos para que eles pudessem escapulir para a Cripta em paz. Todos exceto Zara, é claro, que felizmente ficou para trás para responder qualquer pergunta que os Seniors tinham para ela, a Junior mais responsável em Croak. Lex não podia suportar encarar Tio Mort, não depois de ter traído a confiança dele assim. Então ela o evitou assim que a reunião acabou, correndo direto para seu quarto, e não saiu até a próxima manhã. Infelizmente, como Driggs estava em seu próprio quarto tocando sua bateria com uma ferocidade renovada, ela acabou sozinha com seu tio na mesa do café, o constrangimento sentado entre


eles como uma feia peça de decoração. Ela olhou-o com cuidado, esperando que ele começasse a xingar, mas a bronca nunca veio. Ele nem sequer parecia bravo. — Uma pergunta engraçada. — disse ela, na esperança de distraí-lo por prevenção. — Por que Norwood e Heloise estão permitidos a nos tratar como lixo? — Porque eles provavelmente incendiariam o Banco se não pudessem — disse Tio Mort, folheando o jornal. — Eles são assim. Nunca foram fãs do programa com os Juniors. — Você não pode demiti-los? — Lex, se todas as pessoas com uma atitude ruim fossem demitidos, o serviço postal deixaria de existir — disse ele. — Norwood e Heloise são os melhores no que fazem, e inegavelmente ganharam seus lugares aqui. Eventualmente, você também ganhará. Lex estava indignada. — Eu já ganhei meu lugar aqui! — Olhe. — ele disse, olhando para cima. — Esse é exatamente o tipo de pensamento arrogante que eu detesto. Ela fez uma careta e olhou para seu cereal. No entanto, Tio Mort continuou olhando para ela, como se a solução para um quebra cabeças muito complicado estivesse nos contornos de seu jovem rosto perturbado. — Lex. — disse ele por fim, lentamente deslizando seu dedo ao longo de sua cicatriz. — Você gostaria de me ajudar a pegar esse desgraçado? Ela abriu a boca. — O quê? Como? Ele levantou-se e caminhou pelo cômodo, parando na pia. — Eu tenho uma ideia. É perigoso e vem com uma alta probabilidade de fracasso. Eu suponho que você está dentro. — Mas é claro! Ele entrou na sala, chamando-a para segui-lo. Ele avançou através do acumulado lixo no chão até um pequeno armário empoeirado e abriu a porta. Lex olhou para baixo, para o familiar objeto quadrado dentro. Ela olhou pra ele, estupefata. — Isso é o que eu acho que é? Ele assentiu com a cabeça.


Eles voltaram para a mesa da cozinha, onde Tio Mort passou os próximos minutos cuidadosamente esboçando seu plano. Ele fez Lex repetir os detalhes de volta pra ele umas três vezes, então, instruiu-a a não prosseguir até que ele lhe desse permissão. — E, finalmente, — ele disse. — a pergunta de um milhão de dólares. Posso confiar em você com isso? — Claro! Como você pode sequer me perguntar isso? — ela encolheu ligeiramente. — Quero dizer... Olhe, me desculpe por Zara. Mas ela foi a única pra quem eu contei, juro. — Você jura? — todo comportamento de Tio Mort mudou tão rapidamente, que Lex verdadeiramente recuou. — Não brinque comigo, Lex. — ele rosnou. — Você acha que não sei sobre sua pequena conversinha com Cordy? Ela gelou. — Você acha que todo esse equipamento de vigilância é apenas para decoração? — ele apontou para a antena redonda saindo da janela, em seguida, inclinou-se e agarrou Lex pelo cotovelo. — A única razão de você estar sentada nessa mesa agora é porque eu escolhi ignorar um grande número de sérias condições referentes a divulgação da Grimesfera. Se você não fosse minha sobrinha, teria sido expulsa daqui tão rápido que você sequer se lembraria seu próprio nome, e muito menos onde esteve durante todo o verão. O que você fez foi imperdoável. Você colocou Croak em perigo, colocou a si mesma em perigo, e o pior de tudo, você colocou Cordy em perigo. — Ele soltou o braço dela, mas seu olhar não amoleceu. — Então sim, eu preciso perguntar sobre confiança. Preciso da sua palavra de que tudo o que nós acabamos de falar ficará apenas entre nós. — disse ele, inclinando-se para trás na cadeira. — Não há mais segundas chances, Lex. Eu não posso te proteger. Se você estragar isso, você está fora daqui. Para sempre. Lex olhou pra ele, chocada. — Ok. — ela gaguejou. — Quero dizer, sim. Sim, você pode confiar em mim. Não vou contar a ninguém. Ele cruzou os braços e olhou-a por um momento, e então finalmente relaxou sua expressão. — Com exceção de Driggs, certo? — Não! Eu não vou!


— Você deve. — O quê? Mas você acabou de dizer. — Ele é seu parceiro. Seria cruel mantê-lo no escuro. E não é por isso que ele está tão chateado agora mesmo? Por algo que você esqueceu de contar a ele? Uma série furiosa de ruídos veio do quarto de Driggs, como se confirmasse isso. Lex fez uma careta. — Eu vou pensar sobre isso. Mas ele vai surtar. Ele se apavora sobre tudo o que eu faço. — Não posso nem imaginar por que. Ela colocou as mãos sobre os ouvidos quando o barulho ficou ainda mais alto. — Por que você o deixou ter isso em primeiro lugar? Ele piscou. — Alivia o estresse.


Vinte e Dois — Outro velhote, hein? — Lex disse para Driggs uns dias mais tarde, sobre um homem tentando soprar cada uma das oitenta e oito velas de aniversário. — Não deixou de viver nada, não concorda? A noite do bingo foi cancelada? Driggs a ignorou, muito do que ele tinha feito desde a reunião. — Vamos lá, Driggs, eu disse que sinto muito. — Lex disse, Killing o homem com a pontinha do seu cotovelo. Os choques estavam sendo demais para as suas pobres mãos para aguentar, ela tinha começado a delegar as tarefas para outras partes do corpo. — Quando você vai começar a falar comigo de novo? Driggs não disse nada enquanto ele Culled. Lex o assistiu, seu estômago em nós. Ele estava dando o tratamento do silêncio a ela há quase uma semana, e isso não era bom. O silêncio extra estava dando a ela muito tempo com os seus pensamentos, os quais inevitavelmente voltavam para Zara e o incidente com fogo, uma questão que, desde a reunião, tinha infeccionado e inchado até que ela não podia pensar em mais nada. Alguma coisa tinha que dar. — Eu coloquei fogo em uma caixa de pizza. — ela desabafou. Driggs piscou. — O quê? Assim que eles ceifaram eles voltaram para o Ghost Gum, Lex contou tudo a ele – como ela e Zara compartilham os mesmos choques, porque ela tinha dito a ela sobre o padrão criminal, e, finalmente, o que tinha acontecido na cozinha. — Eu estava tentando não pensar sobre isso, tentando dizer a mim mesma que tinha


uma explicação perfeitamente lógica, a qual eu tenho 99% de certeza que tem – mas e se não tiver? Ela olhou para ele com temor. — E se eu realmente fiz isso? Driggs, sua irritação com ela se evaporando a cada confissão temerosa, suspirou e deu um sorriso. — Então eu digo que é hora de abrir a cabeça do seu tio e se banquetear com o doce conhecimento que ela tem.

*** Aquela noite Lex e Driggs fizeram miojo no micro-ondas e entraram na sala de estar. O venerável prefeito estava no topo da escada que pairava sobre um tanque de água-viva. Afixado em sua cabeça estava algum tipo de capacetebinóculo, as lentes de algo estavam submersas abaixo da superfície da água. — Checagem de rotina. — ele disse a eles enquanto inspecionava o tanque. — O que tá rolando? Lex olhou para Driggs. Eles concordaram que não tinha como fazer isso sem ser dolorosamente sinceros. — Tio Mort, — ela disse, — como Grotton colocava fogo nas pessoas? A cabeça de tio Mort estalou com atenção, os binóculos caíram no tanque e espirraram água pela sala, seus olhos gigantes nas lentes. — Perdão? — Grotton. — Driggs disse, chupando um macarrão. — Fogo. Tio Mort olhou para eles, depois soltou uma risadinha. — Eu vejo que vocês crianças estão contanto histórias de fantasmas novamente. — Ele retirou os binóculos, desceu da escada, e sentou no sofá. Lex sentou perto do tio e aproximou o rosto do dele. — Vamos lá, tio Mort. Cuspa. Nós sabemos que você sabe, e no caso de não estar claro, nós vamos ficar o mais irritantes o possível até você nos contar. — Oh, isso está bem claro. — Ele esfregou os olhos, depois suspirou. — Eu vou contar a vocês, mas somente porque vocês parecem tão ignorantes. Vocês realmente pensam que ele colocou fogo nas pessoas?— ele disse em tom de gozação. — Eu espero que não. — ela disse, olhando para Driggs.


Tio Mort sacudiu a cabeça. — Por que eu estou supondo é que você está se referindo a alguma coisa completamente diferente. Alguma coisa muito mais sinistra, um poder tão perturbador que até mesmo a história mais compreensiva dos livros da Grimsfera não mencionam, e tão rara que Grotton é a única pessoa de que nós sabemos que nasceu com isso. Lex engoliu. — O que é? — ela perguntou, quase sussurrando. — O poder de Condenar almas. — Tio Mort olhou para suas mãos. — Com um único toque Grotton era capaz de destruir uma pessoa instantaneamente, sem soltar o Gamma. Isso era diferente de ser preso ou transformado em fantasma – em vez das almas serem confinadas ao corpo ou perdidas no mundo, elas eram infectadas. Elas murchavam e apodreciam, mas nunca morriam. No Pós Vida, sem nenhuma paz – somente uma grande dor inconcebível e tormento por toda a eternidade. Suas palavras pairaram no ar enquanto Lex e Driggs tentavam dar sentido a elas. — Isso é... A coisa mais assustadora que eu já ouvi na vida. — Driggs disse. — E esse é o motivo pelo qual nós não fazemos isso exatamente uma parte do currículo. — tio Mort disse. — Danação é uma habilidade muito arcaica e malevolente, e o número de Grims na terra que sabe sobre isso pode ser provavelmente contados não mais do que nos dedos das duas mãos. Mais, detalhes são extremamente escassos. Ninguém sabe como isso funcionava ou como parecia. Corpos queimados foram encontrados, e essa é a única prova concreta que temos. — E ninguém a não ser Grotton fez isso? — Lex perguntou. — Bem, eles tentaram. Você pensa que o nosso pequeno assassino Elixir aqui é o primeiro a brincar de Deus? — Tio Mort perguntou com uma risada. — Eu odeio dizer isso para vocês, crianças, mas quando o poder da morte é confiado aos humanos, eles não são obrigados a ser um bando de malucos jogados ao longo do caminho que pensam que podem impedir o sistema e bagunçar a estrutura do universo. Já aconteceu antes, e vai acontecer de novo. Porque vocês acham que alguns Grims gastam metade da vida tentando encontrar essas malditas Loophole? Alguma coisa sobre o jeito que ele disse isso – quase com um tom de frustração – fez Lex pensar nos mapas que ela tinha visto em seu laboratório. Ela olhou para a porta do porão.


Tio Mort a flagrou. — Não tema. — Ele disse com um leve sorriso. — Se alguma vez eu achar alguma, você vai ser a primeira a saber. — Mas porque Grotton foi o único que podia Condenar? — Driggs perguntou. Tio Mort deu de ombros. — Bem, eu acho que é possível que tiveram outros antes dele, mas os livros de história não foram tão longe. De qualquer forma, não houve ninguém desde então. Como eu disse, a habilidade de Condenar é uma coisa que você nasce com ela. E se essas chances são ruins o bastante, qualquer um que tentar imitar Grotton teria também que achar a Loophole. E aprender como Crash com direção. Acredite em mim, o cara era uma tempestade perfeita, e ele sabia disso – é por isso que ele era capaz de explorar suas habilidades de uma forma que ninguém nunca conseguiu antes. — Talvez ele não pudesse evitar. — Lex disse baixinho. Ela olhou para suas mãos empoladas, lembrando da última vez que ela ouviu tio Mort mencionar talento inato e força bruta, ele tinha estado falando dela. Tio Mort estudou a sua sobrinha, parecendo quase ler a sua mente. — Você está perdendo o ponto. — ele disse. — Grotton não foi forçado a usar o seu poder. Ele escolheu. Suas vítimas poderiam ter vivido vidas plenas se ele não tivesse mutilado as suas almas. — Ele parou e deu a eles um olhar desconfiado, como se percebendo que ele tinha falado demais. — A título de curiosidade, porque você perguntou? Driggs olhou para Lex. — Conte para ele. — ele disse. Quando ela terminou, tio Mort parecia mais divertido do que ele jamais esteve. — Mas foi em um fogão, certo? — Foi. — Lex disse. — Então eu acho que eu posso ter ligado acidentalmente, e eu apenas não notei no meio da confusão. — Você acha? — Tio Mort deu a ela um sorriso simpático. — Lex, a história está cheia de Grims que pensavam que tinham desenvolvido poderes especiais, que eles iam se tornar o próximo Grotton. Mas nunca haverá outro Grotton? Não. Ninguém foi apto a Condenar desde ele. E se você está pensando a sério que você pode, então eu lamento informar que você perdeu sua impressionável jovem cabeça. Lex e Driggs não tinham nada a dizer sobre isso.


— Satisfeitos? — Tio Mort disse, se levantando. — Ótimo. Nós temos questões mais prementes para lidar no momento. — Ele pegou uma impressão do computador. — Olha. Driggs tocou de leve. — O velhote do bolo de aniversário era um senador? — E amado avô de doze netos. — tio Mort adicionou. — E sob investigação de corrupção. O FBI está em cima dessa coisa agora, para não mencionar a mídia. Mortes são o novo preto. — Mas eles não poderiam saber o que realmente está acontecendo, certo? — Lex perguntou. — Não. E eles nunca irão, se nós conseguirmos parar isso a tempo. — Ele deu a ela um aceno conspiratório, depois colocou os binóculos e voltou para as águas-vivas. Não querendo derrubar Driggs, Lex levantou rapidamente e foi para a cozinha. — Hey, Lex? — Tio Mort chamou por ela. — O quê? — ela disse bruscamente, mergulhando a cabeça na sala de estar. Ele ergueu uma taça de água do tanque e a sacudiu com entusiasmo. — Nós temos um objetivo para sexta. — Ótimo. — Ela saiu novamente, tentando desesperadamente sair da cozinha antes que Driggs pegasse alguma coisa no ar. Ela ainda não estava pronta para dizer a ele. — O que vai acontecer na sexta? — ele perguntou enquanto ela ia para a pia. — Nada. Esquece. — Você sabe muito bem que eu não sonharia em esquecer.

*** Vinte minutos mais tarde Driggs tinha arrastado Lex para o seu quarto, trancado a porta, e se lançado vigorosamente em um solo de bateria. Lex estava curvada no chão em posição fetal, apertando um travesseiros contra os ouvidos. — PARE!


Suas mãos frenéticas pararam. — O que vai acontecer na sexta? — ele perguntou, girando as baquetas. — Eu vou passar por uma cirurgia para recuperar a minha audição! Driggs voltou para a bateria. Lex gritou no travesseiro.

*** Uma hora depois, eles terminaram no telhado. Lex tinha distraído Driggs apenas tempo suficiente para fugir pela janela, mas ele a seguiu tão prontamente que ela entrou em pânico e subiu a escada. — Sério? O telhado é o seu plano de fuga? — ele disse provocativamente, se equilibrando nas telhas. — Não assistiu filmes de terror? — Ele se virou e chutou a escada. Ela caiu no chão com um suave tump. Lex a assistiu cair. — Você perdeu a cabeça? — Me diz o que vai acontecer na sexta. Lex levantou as mãos. — Okay, tudo bem. Mas eu não sou responsável pelo aneurisma que você está prestes a ter. — Ela mordeu o lábio. — Tio Mort tem um plano. Eu vou tentar rastrear o assassino. Driggs a encarou em silêncio. Por dois segundos inteiros. — O QUÊ? — Viu, era por isso que eu não queria contar a você. Eu sabia que você ia pirar e fazer algo estúpido como tentar me proteger. Driggs olhou sério para ela, seu olhar azul torto aparecendo sob luar. — Lex, em dois meses, você me socou, chutou o meu saco, e permanentemente destrói os meus rins. Você realmente acha que eu acredito que você precisa de proteção? Lex congelou. — Não. Driggs deitou e colocou a mão sobre os olhos. Ela sentou ao lado dele. — O quão perigoso é isso? — ele perguntou. — Perigo é um termo muito relativo… — Lex. Em uma escala de um a dez. Ela vacilou. — Doze? — DOZE? — ele gritou, ficando na posição vertical.


— Ouça, tio Mort tem tudo planejado. Enquanto nós fizermos nosso trabalho, nós ficaremos bem. — ela disse, colocando a mão em seus joelhos. Ele olhou para a mão. Ela a retirou. — Eu não posso evitar notar a mudança do pronome aqui. — ele disse. — Bem, sim, você vai ter que ajudar também. — ela admitiu. — Eu penso que você concorda com isso. — Lex, as coisas que você assume erradamente poderia preencher um silo. — Ele olhou para cima, depois exalou. — Qual é o plano? — Okay. — ela começou excitadamente. — Você sabe que as placas mudam sempre que a população de Croak sai ou entra? Isso é porque todos de Croak estão em uma grade que o tio Mort monitora, o que significa que ele pode dizer se alguém deixa a cidade. — Eu sei disso. — Driggs disse. — Mas Grims desaparecem e reaparecem toda hora durante os seus turnos. Como ele vai de zero a apenas uma pessoa? — Precisamente porque é somente uma pessoa. Todos os outros Grims trabalham em grupos. Se ele conseguir detectar que somente um Grim desaparece de Croak, ele vai saber que esse é o nosso assassino. — Mas o sistema de grade mostra somente números. Ele não identifica pessoas específicas. — Certo. É por isso que tio Mort vai usar seu próprio Smack para invadir o sistema dos Eteceteras enquanto eles estão cumprindo seus turnos. Usando o conhecimento avançado que um único Grim deixou em Croak e que a próxima morte vai ser uma morte Elixir, ele vai rastrear nossa trajetória e programar nossas foices para nos levar para aquele lugar mais rápido que os Eteceteras jamais puderam. Então se formos rápidos o bastante, nós podemos pegar o assassino antes que ele possa ceifar novamente. — E depois o que? — Nós voltamos para Croak e dizemos ao tio Mort quem é. — Se ele não nos matar primeiro. —... Certo. Driggs se deitou novamente. — Isso é pura loucura. — Mas pode funcionar! E mais, o plano é do tio Mort, não meu. — Então porque ele não faz isso?


— Porque eu– — Ela parou. Ele olhou para ela. — Você o que? Ela pegou uma telha. — Ele disse que eu posso ceifar ainda mais rápido que ele. Driggs finalmente hesitou. — Ele disse isso? — Sim. Driggs pensou sobre isso um tempo, depois sacudiu a cabeça. — Lex, você já parou para pensar alguma vez que você pode estar indo direto para as mãos do Crasher? — O que você quer dizer? — Nós já sabemos que esse cara tem uma queda para o drama, certo? Derrubando os Killings mais novos e mais talentosos de Croak na linha do dever – não fica mais trágico que isso. Ela deixou sair uma risada amarga. — Oh, eu tenho certeza que a cidade vai amar isso. Ela levantou e olhou para as luzes lá embaixo. — Eles farão um desfile de honra. — O que isso significa? — Ferbus disse que as pessoas acham que eu estou envolvida nisso. — Ela se virou. — Você alguma vez me diria isso? Ou você apenas planeja pegar um tridente junto com a população enfurecida e começar a espetar? — Você não entende, não é, Lex? — Ele se levantou. — Essa é uma cidade que tem operado com perfeição por centenas de anos. E então você aparece e tudo dá errado. Eu quero dizer, o que as pessoas vão pensar? Você se tornou a melhor Killer daqui em menos de uma semana, e você não fez exatamente um segredo de como você despreza os Meios de Execução. Então não, me desculpe, mas eu realmente não os culpo por suspeitaram de você. — Então você é um idiota. — ela disse. — E eles também, por pensarem que uma novata pode por em prática algo tão ambicioso. Ele deixou sair uma risada curta e dura. — Ambicioso, né? Essa não é a palavra que Mort usou. — E daí? — Você admira esse psicopata, não é?


As narinas de Lex inflaram. — Eu tenho um certo apreço pelo conjunto de habilidades e engenho que tal fúria exigiu, sim. — ela disse entre dentes. — Apreço? Vamos lá, Lex. Não me diga que o pensamento de eliminar sistematicamente os criminosos não te daria uma grande alegria. Ela fechou as mãos em punhos. — Eu tenho trabalhado nisso tão duro quanto você, se não mais! Eu quero pegar esse– — Porque, para você se juntar a ele? — QUAL É! Seu grito foi tão alto, que os dois pararam para escutar enquanto ele ecoava pelo vale. — Sinto muito. — Driggs disse. — Eu não quis dizer isso. Lex tentou respirar uniformemente. — Olha, eu sei que eu tenho te dado muito poucas razões para confiar em mim. — ela disse. — E eu concordo que essa coisa toda parece uma ideia terrível, mas é uma ideia terrível de Mort. Você confia nele ao menos, certo? — Eu confio em vocês dois. — ele murmurou. Seus ombros caíram enquanto ele olhava a cidade. — Okay. Se isso é realmente o que você quer, então eu estou dentro. — Obrigada,— Lex disse, aliviada. — E se eu estiver errada... — Ela parou. — EU não sei. Você é bem vindo para encontrar um novo parceiro uma vez que isso tudo tenha acabado, eu acho. — Eu não quero um novo parceiro,— Driggs disse, incapaz de esconder a pontada de pânico na sua voz. Ele deu um passo para frente, sua frente perigosamente perto dela. — Mas eu também não quer um morto. Eles se olharam por um momento. — Por que você se importa tanto? — ela perguntou. Driggs suspirou. — Você não sabe? Então alguma coisa aconteceu nos dois segundos seguintes, mas nem Lex ou Driggs seriam capazes de lembrar o que exatamente. Tudo o que eles sabiam era que depois que acabou, seus olhos se encontraram novamente, dessa vez apavorados. — Por que você beijou minha orelha? — Lex perguntou nervosa. Driggs piscou. — Porque você virou a sua cabeça.


— Eu achei que aquela árvore... Se moveu. — Oh. Outro momento de silêncio. Driggs mordeu o lábio. — Você se importa se eu tentar novamente? Ela engoliu. — Okay. Então alguma outra coisa aconteceu, e dessa vez tanto Lex quanto Driggs iriam se lembrar exatamente o que foi.


Vinte e Três Na manhã seguinte, enquanto Driggs e Lex iam para a cozinha para o café da manhã, tio Mort deu uma olhada para eles e começou a rir. — O quê? — Lex perguntou. Isso apenas o fez rir mais alto. — O quê??? Quando eles deram a entrada com Norwood, ele olhou de um para o outro e depois resmungou. — Oh, puta merda. E no almoço Pandora os estudou por dois segundos completos antes de declarar para todo o restaurante, — Já era hora! — Nós estamos transmitindo algum tipo de sinal? — Lex perguntou baixinho para Driggs no lugar onde os Juniors almoçavam e sorriam descaradamente para eles. — Eu acho que eles sabem. — Driggs sussurrou para ela. — Claro que a gente sabe. — Elysia afirmou alto. — Era apenas uma questão de quando. — Ela olhou triunfantemente em volta da mesa. — Paguem, pessoal. Um coro de resmungos surgiu do resto dos Juniors enquanto eles enfiavam as mãos os bolsos e jogavam uma montanha de dinheiro na mesa. Elysia varreu tudo para o seu colo. — Eu fiquei fora por três semanas. — Ayjay disse. — Muito obrigado, idiotas.


*** Os últimos dias do verão foram um borrão. Quando sexta chegou, os esforços de Driggs para Lex mudar de ideia ficaram desesperados. — Eu te dou cem dólares. — ele disse a ela no café da manhã. — Vamos lá, é o pagamento de uma semana inteira. — Cara! Talvez eu possa comprar para mim outro pôster do Titanic! — Ele murmurou. — Mort, me ajuda aqui. — Lex já é grandinha. — tio Mort disse. — Ela sabe o risco. Mas ela é a melhor chance que a gente tem. Driggs deu um suspiro frustrado e saiu igual um furacão da casa. Lex o olhou ir, engolindo o desânimo doentio que ela tentou ignorar a semana inteira: se o plano funcionasse ou não, ela ia embora no dia seguinte. Não havia como fugir disso. Tio Mort, vendo o seu rosto angustiado, mostrou uma pacote embaixo da mesa. — Presente de despedida. — ele disse. — Uma coisinha inventada por mim. Lex desamarrou o barbante e afrouxou o embrulho, o qual, após uma breve inspeção, era na realidade uma camiseta velha. Ela removeu uma estrutura de vidro de uns dez centímetros de altura, fixa por uma moldura de metal com três hastes. Pequenas esferas no fundo serviam como pés, e uma aranha metálica feita de porcas e parafusos soldados estava empoleirada na parte de cima, com os olhos de rubi brilhando. — Uma ampulheta? — Errado. — tio Mort disse. — Um medidor de vida. Lex girou o objeto em suas mãos. Ele estava cheio não com areia, mas com uma gosma viscosa que brilhava fraquinho, todas as cores do espectro girando juntas em um borrão furta-cor. Mas a coisa mais notável era que a maior parte da substância ficava teimosamente no fundo, e não importava quantas vezes Lex tentava virar, nenhuma gota caía. — Está quebrando. — Não está. — Tio Mort pegou das mãos dela e o colocou na mesa. — Veja, a maioria das ampulhetas despejam enquanto o tempo vai passando, de pouquinho


a pouquinho, até não restar mais nada além de um lado vazio. Mas isso, minha amiga, não é jeito de medir a vida. — Ele bateu no vidro. — Isso vai salvar e lembrar os elementos de sua vida que são mais importantes para você. Não é uma contagem regressiva, é uma contagem progressiva. É por isso que vai para trás. — Para trás? — Assim que a palavra saiu de sua boca uma pequena gota surgiu do lodo; subindo para a abertura estreita, e se contorcendo pelo caminho, finalmente se estabelecendo feliz no vale da parte superior. — Aqui temos uma! — ele disse. — Eu comecei a fazer isso no momento que o seu pai decidiu que você viria para Croak. Cada memória importante, pensamento, ou emoção que você teve desde então estão bem aqui. — Ele apontou para a parte superior. Lex olhou para a gosma, e por um instante ela podia jurar que ela pegou um vislumbre de si mesma, de boca aberta ao olhar pela primeira vez para a sua novíssima foice. — Mas o que aconteceu quando acabar? Eu morro? — Isso não vai acabar. Tem espaço o suficiente aí para uma vida inteira. Atulhe tanta saudade quanto você puder. — Isso é legal. — ela disse, olhando o objeto por todos os ângulos. — Todo mundo tem um desses? Você tem? Os olhos do tio Mort se anuviaram enquanto ele olhava para o vidro. — Eu tinha. — ele disse com uma voz estranha. — Mas eu quebrei. — De propósito? Ele não respondeu. Seu rosto estava duro, perdido nas memórias que ele aparentemente tinha destruído. Quase ao mesmo tempo, Lex percebeu o quão pouco ela sabia sobre ele – quem ele tinha sido, o que ele tinha feito, ou como ele se tornou prefeito. Por um breve momento, esse homem foi um estranho. Lex estudou seu semblante de pedra. — Tio Mort, — ela disse, tomando uma respiração superficial, — como você conseguiu essa cicatriz? Ele se virou para ela com uma expressão nova e estranha – um sorriso torto e fugaz, quase com raiva. — Você faz muitas perguntas, garota. Lex não sabia o que dizer para isso. Então ela quebrou o olhar, pegou o contador de vida nas mãos, e se levantou para sair. — Bem, eu adorei. Obrigada.


— De nada. Apenas– — Parecia que ele queria dizer mais alguma coisa, mas pensou melhor. — Apenas o use bem.

*** Cinco horas depois Lex sentou no lugar dos Juniors no Necrotértio com uma enorme faixa de Vamos Sentir a Sua Falta, Lex! Em cima da sua cabeça e com uma careta no rosto. Pandora enviou um prato de coisas fritas para a mesa deles e esguichou ketchup na bebida de Lex. — Boa viagem para o lixo ruim, eu digo! — ela riu, determinada a torturar Lex com tudo o que ela podia para compensar o tempo que elas ainda tinham juntas. Driggs jogou um palito de queijo na cabeça de Dora enquanto ela voltava para a cozinha. Elysia, enquanto isso, tinha um pacote embrulhado na mesa perto do Contador de Vida, o qual Lex tinha trazido para mostrar. — Isso é para você, Lex. — ela disse. — Nós todos rachamos. — Rachamos, significa que vocês usaram os ganhos da sua pequena piscina? — Lex perguntou ironicamente. — Correto. Lex arrancou o papel para revelar uma moldura de madeira esculpida com imagens de Croak. Ela reconheceu a fachada do Banco, o raquítico letreiro do Dead End, várias caveiras de Yorick, um grupo de aranhas, e um monte de águas—vivas, e um monte de outras coisas que fizeram os cantos de sua boca contorcerem involuntariamente. E centralizado orgulhosamente atrás do vidro estava uma foto do grupo que Pandora tinha tirado na celebração do Luminous Twelfth. Elysia deu um pequeno sorriso triste. — Agora quando você for pra casa, você pode levar um pouquinho da gente com você. — Uau. — Lex disse suavemente. Ela olhou para os rostos na foto, depois levantou a cabeça para olhar para os de verdade brilhando na frente dela. Ela se sentiu mal de novo. — Eu amei. Obrigada, pessoal. As comemorações foram quebradas por Pandora, quem arremessou uma bola de sorvete em Lex que pousou na mesa com um sploosh pegajoso.


— Não deixe a porta bater onde o bom Deus espirrar! — ela gritou, correndo de volta para a cozinha.

*** Depois de deixar os presentes em custódia na mesa de Ferbus, Lex e Driggs desceram as escadas para a central para dar entrada no turno da tarde. Sofi, que não participou da festa, olhou para eles com desdém. — Oi. — ele disse em uma voz monocórdica. — Olá. — Lex respondeu alegremente. Ela pensou que talvez tivesse uma chance de que a frieza de Sofi tivesse a ver com o fato que ela se meteu em um problemão com Norwood e Heloise... Mas conhecendo Sofi, ela apenas estava com muito ciúme. — Ela é, meio, não uma fã nossa. — Lex zombou quando ela e Driggs deixaram o Banco. — Apresse-se. — Driggs disse, andando mais rápido. — Quanto mais cedo começarmos nosso turno, mais cedo acabamos com esse plano idiota. — Quer parar com isso? — Ela passou por ele em direção ao Campo, onde o Ghost Gum esperava, esticando seus membros com aparente excitação. Ela levantou a manga e murmurou — Saindo agora. — dentro do seu punho, depois virou para o seu parceiro. — Nós vamos ficar bem. — Seu otimismo só serve para aumentar a minha preocupação. — Driggs, esse é o meu último turno. — Lex puxou seu capuz para cima e preparou a sua foice. — Faça-o tolerável, ou você e eu estaremos terminados. Ele sorriu. — Promessas, promessas.

*** Cinco horas, vários velhotes, três afogamentos, zero mortes por Elixir, e uma debandada de circo mais tarde, o dia chegou ao fim. — Mais um para acabar. — Driggs disse, enfiando um Recipiente no bolso e olhando com cuidado para um elefante trapaceiro. — Está pronta?


— Você quer dizer agora que eu sei como um avestruz se parece? — Lex disse, mais que irritada. — Sim, eu estou bem. Driggs olhou para o rosto irritado. Com cada ceifa em uma nova locação, ela tinha ficado em guardo, pronta para saltar em cima do assassino com a rapidez de um caçador de recompensas – mas nada tinha acontecido. — Eu sinto muito que o plano não tenha funcionado. — ele disse sinceramente. — Eu sinto de verdade. Eu também quero pegá-los. Lex fez uma careta enquanto eles pularam no céu, permitindo a corrente girar em torno dela – o vento batendo em seus ouvidos, seu estômago revirando como um balão de água instável, seu coração doendo com o quanto ela ia sentir falta disso tudo. O único jeito de conseguir esse efeito em casa seria via substâncias psicotrópicas, e ela tinha certeza absoluta que seus pais não iriam concordar. Mesmo se ela perguntasse direitinho, sem nenhum soco. Antes de um grande e sólido chão se materializar debaixo de seus pés. Ela e Driggs ficaram ao lado de uma cama. Uma mulher velha com um caroço inchado no pescoço estava esparramada em cima dela, com os olhos fechados. Lex olhou para ela, depois para o rosto confuso de Driggs. — O que está errado? — Ela não está morta. Ela não é o alvo. — ele disse com uma voz estranha, olhando para Lex. — Quem–. O sangue correu do seu rosto tão rápido que Lex quase olhou para o chão, esperando ter uma poça ali. — Lex. — ele disse bem devagar, olhando para alguma coisa atrás dela. — Me ouça. Não se vire. Ela engoliu. — Por que? O medo tinha enchido a voz de Driggs. — Apenas não vire. — ele disse tremendo. — Por favor. Pegue a minha mãe. Vamos para casa. Lex estendeu o braço e pegou as pontas dos dedos dele. Por dentro, sua mente estava girando. O que estava atrás dela? Poderia ser assim tão ruim? Sua curiosidade cresceu exponencialmente, roendo ainda mais as suas entranhas a cada segundo que passava.


Ela tinha que saber. Sua mão congelou a uma polegada da de Driggs. Ela respirou fundo, segurou... E virou. — NÃO! — Driggs gritou. Mas Lex mal pode ouvi-lo. Ela não podia mais sentir. Ela não podia mais pensar. Tudo o que ela percebeu foi o frio, uma sombra escura se estabeleceu sobre a pele arrepiada. O alvo, de pé em frente a ele, era Cordy.

*** Em meio a escuridão, de algum lugar no fundo do abismo, um pequeno ponto de luz rompeu a superfície da consciência de Lex. Incapaz de um pensamento lúcido, ela registrou fracamente e observou com algo semelhando a um coração partido quando a diversão nadou por sua mente. Ela estava sentada no seu quintão, se jogando na caixa de areia verde tartaruga. Cordy com seus anos de idade sentada na frente dela, as pernas abertas para dar espaço para a engenhoca elaborada na qual elas estavam trabalhando por mais ou menos uma hora: um dispositivo de dispersão de areia Rube Goldbergian. Cordy examinava e ajustava um dos sistemas de polias. Sua língua para fora da boca, como ela fazia quando estava criando. Todo o mecanismo foi feito por Cordy, claro, mas Lex contribuiu em um montante igual de trabalho na construção, layout, e todo o lado estético. Elas faziam um bom time. Ela observou sua irmã por um tempo. Depois, por nenhuma boa razão, ela pegou uma mão cheia de areia e jogou em seu rosto. Cordy olhou chocada para cima, grandes pedaços de areia agarrados em sua franja desgrenhada. — Por que você fez isso? — ela perguntou, com os olhos arregalados. — Eu não sei. — Bem, para. Esse trabalho é Muito Importante. Elas continuaram o que estavam fazendo – Cordy agitando as polias, Lex arrumando as pás do motor do moinho de vento – até Lex novamente encher a mãos de areia e inexplicavelmente jogar outra bola de sujeira.


Dessa vez, entretanto, seu alvo não estava. A sujeira bateu no moinho de vendo e explodiu no ar, grãos de areia ricochetearam no seu vestido, no seu cabelo, e direto no seu olho direito. — Aiiiii! — Lex uivou de dor enquanto ela ficava de pé, fazendo com que uma parte da engenhoca se quebrasse. Toda a estrutura balançou perigosamente. Mas Cordy nem notou sua criação arruinada. — Você está bem? Ela correu para a sua irmã e a abraçou pelos ombros. — Você está bem? Lex lamentou. — Está doendo! — Não fique assustada. — Cordy disse tentando manter a voz suave. Mas o seu tom estava em pânico. — Vamos entrar. Mamãe vai saber o que fazer. Braços envolveram os ombros da sua gêmea, Cordy levou Lex para dentro. E enquanto a sua mãe segurava a sua cabeça debaixo da pia, mirando a corrente diretamente na córnea da filha, o outro olho bom de Lex contemplou uma visão que ela tinha esquecido completamente até esse momento: sua irmã de pé uns metros mais longe, assistindo a cena desastrosa se desdobrando, doente de medo, seu projeto de construção Muito Importante completamente esquecido.

*** Lex piscou forte – uma, duas vezes. Vagamente ciente que a gritaria no fundo tinha parado, ela trancou nos olhos congelados da sua irmã e não desviou o olhar. Quanto mais tempo ela parava, mais tempo o Elixir correria pelo corpo de Cordy. Lex abaixou a foice e chamou por um Matador de emergência para terminar o trabalho, mas muito tempo já tinha se passado. Ela pensou em Ayjay e na dor que o Elixir tinha causado a ele. Ela não podia deixar Cordy sofrer assim, mesmo se fosse por uma fração de segundo. Ela engoliu em seco, reprimindo o medo em sua garganta. Ela tinha que fazer. Ela tinha que ser quem faria isso. Cordy iria querer que fosse ela. Da manga escuro da sua veste, Lex estendeu um dedo trêmulo e passou pelo rosto de sua irmã, tocando gentilmente a sua testa. Um feixe de luz fluiu pela sala. O choque que normalmente saía do corpo de Lex, mas dessa vez ela não se


importou. Isso era bom, quase, para o seu corpo ficar com tanta dor quanto o seu coração estava. — Lex. Ela se virou abruptamente, como se ficasse surpresa em encontrar Driggs ainda ali. Sua mandíbula estava tensa com o choque, seus olhos arregalados. — Você se Matou? — Eu precisei. — ela disse, sua voz partindo. — Não precisei? Ele ficou sem voz por outro instante, depois engoliu em seco. — Nós precisamos voltar. — Espera, você precisa Colhê-la — Não. — ele disse, olhando a alma de Cordy a deriva no ar. — Alguma coisa está muito errada aqui. Nós vamos procurar Mort, ele pode mandar o pessoal de emergência–. — Por favor? — Seus olhos estavam frenéticos. Ele a olhou por mais um momento e então assentiu. Ele foi em direção ao lado dela e relutantemente levantou a mão, seus próprios olhos treinados olhando para o chão. Lex foi para onde ele tinha estado em pé e o assistiu trabalhar, até que um barulho soou nas suas costas. Ela se virou. E assim que o assassino de sua irmã deu um passo atrás da cortina, Lex cambaleou para trás, cada emoção se torceu de repente substituída por apenas uma – fúria desenfreada. Seus últimos encontrar com vítimas inocentes, com a garotinha e o seu urso de pelúcia sangrando – tudo parecia birra infantil comparado a isso. Batimentos cardíacos violentos e irregulares de dentro do seu peito, e sem pensar – sem ouvir os gritos inúteis de Driggs para ela parar, sem parar por ao menos um único yoctosegundo para considerar as consequências – Lex revelou a figura ameaçadora. Assim que eles se tocaram, um choque mais poderoso que qualquer outra coisa que Lex já sentiu antes sacudiu de suas mãos. Fez ondular seus braços e seu corpo, colidindo e fundindo com a fúria que ela tinha dentro. Ao mesmo tempo, uma forte sucção acumulou em seus ossos, como se eles estivesse extraindo alguma coisa muito arraigada. As duas forças opostas rugiram, uma mais forte que a outra, até que Lex não poder aguentar mais e cair no chão.


Driggs, que tinha estado assistindo tudo com seu terror incompreensível, começou a gritar novamente. Mas suas palavras foram varridas para o céu, enquanto Lex era arrastrada para ele com nada além de um vislumbre de um brilho metálico.


Vinte e Quatro Lex caiu sobre um piso de madeira empoeirado. Ela estava em um porão. Uma lâmpada fraca pendurada no centro da sala espalhava sombras ao longo das paredes de cimento estéril enquanto oscilava para frente e para trás. Uma janela perto do teto revelava um sinistro céu cinzento. Grandes gotas de chuva caiam no chão do lado de fora. Ela tentou ficar de pé, mas descobriu que estava fraca demais para aguentar. O que quer que tenha acontecido apenas extinguiu sua energia - e, além disso, suas mãos estavam sendo amarradas atrás de suas costas. Um gemido abafado veio a partir do canto. Lex olhou através da escuridão e viu uma figura irregular - um homem, amarrado e amordaçado. Seus olhos estavam aterrorizados. O captor de Lex apertou um nó final, endireitou-se, e pôs-se diante dela. O clarão prateado brilhou mais uma vez. — Oi, Lex. — Zara disse cansada, o rosto pálido. A boca de Lex ficou seca. Ela tentou se concentrar, mas sua visão se manteve borrando. Suas mãos, chamuscadas do choque, queimaram com dor. — Zara? — Ela engasgou. — O que você está fazendo? — Funcionou. — Zara sussurrou para si mesma, olhando para as próprias mãos. — Puta merda, funcionou. — O que funcionou? Por quê- — Ela quase não podia dizer isso. — Por que você matou a minha irmã? — Ela chorou, tateando com as mãos atadas ao redor do piso. Zara levantou a foice de Lex. — Procurando por isso?


Lex afundou, derrotada. — E todas as outras pessoas. Todos aqueles Grims. Deve ter havido— Noventa e seis. Bem, noventa e sete, incluindo Cordy. Noventa e sete anos e meio, se você quiser contar Ayjay. Lex estava muito tomada de raiva para responder. — Você não acreditaria em como foi fácil, Lex. — Zaraenfiou as foices em seu bolso, inclinou-se contra a parede, e deslizou para o chão. Ela parecia tão abalada quanto Lex se sentia. — Furtando seringas de hospitais e ceifando fora de vista, tudo sozinha no quarto dos fundos da loja daquele açougueiro imundo. E tudo o que eu precisava eram algumas poucas picadas de águas-vivas de nossa amigável vizinhança . A boca de Lex se abriu. — O Loophole? Um pequeno e cansado sorriso encontrou o seu caminho no rosto de Zara. — O Loophole. — O que é isso? Como você encontrou um? — Eu tenho minhas fontes. Inferno, eu comecei a pesquisar em minha segunda semana em Croak. Procure com intensidade e por tempo o suficiente e você pode encontrar qualquer coisa - especialmente se você sabe onde olhar. — Mas, o que seria isso? Zara deu-lhe um olhar desconfiado. — Você é sortuda. Na maioria das circunstâncias, você não poderia me forçar a falar, porém, apenas acontece que eu consegui o último. — Ela sorriu novamente. — O Loophole é uma infusão especial de éter que rola entrelaçado a partir de uma teia de aranha – da mesma forma que embarcações - com fotos que servem como instruções. Você deixa cair dentro de uma água habitada por água-viva, espera por isso se dissolver, e então percorre seu braço através dos tentáculos. A solução torna-se inativa após alguns minutos, então você tem que ser rápida. Todavia, depois disso, você pode ceifar qualquer local do planeta. — Ela esfregou o braço. — Não que as picadas de águas-vivas não sejam dolorosas. Elas machucam como uma cadela, na verdade. E você não acreditaria em como fica a cicatriz. A memória de Lex nadou de volta para aquele dia no açougue, para os braços mutilados da Zara. Sua cabeça começou a latejar.


Zara fechou os olhos e apoiou a cabeça contra a parede, mas continuou falando. — Mas a chave para um controle completo é uma grande e prolongada concentração. Essa foi a parte realmente difícil. Com prática - e prática, e prática - eu aprendi como ceifar não apenas em lugares específicos, mas também pessoas específicas. A escória que temos deixado livre por tanto tempo, a ralé da sociedade que se alimenta dos inocentes e não deixa nada além de dor e sofrimento em seu rastro. Lex olhou desconfiada para o homem no canto. Ela começou a suar. — Quem é aquele? Zara a ignorou. — Molestadores de criança que foram deixados de lado, criminosos de colarinho branco que roubam as economias de vida das pessoas, bêbados que talvez estivessem apenas a uma parada de trânsito de matar uma confusão de pessoas — O mundo é um lugar melhor sem eles. — Ela abriu os olhos e olhou para Lex. — E você sabe disso. Lex olhou de volta. — Mas como você os encontra? Zara soltou uma risada curta. — Você não é a única com acesso à Internet, Lex. Em manchetes, registros policiais, registros de agressores sexuais — estes delinquentes estavam praticamente implorando para eu persegui-los. E quanto a Ayjay e o outro Grims – bem, exemplos precisam ser definidos. Se você é parte do sistema corrupto, você é parte do problema. — Mas o que dizer de Cordy? Ela nunca fez nada de errado na sua vida! — Eu sei. — O rosto de Zara se tornou cheio de remorsos. — Eu realmente sinto muito, Lex. Você tem que acreditar em mim. Eu não queria matá-la, mas eu não tive outra escolha. Eu precisei de você. Lex puxou suas cordas furiosamente. — De mim? Para quê? Zara se levantou e começou a circular lentamente sua prisioneira. — Você é diferente, Lex. Eu soube desde o momento em que nos conhecemos, no dia que você queria estrangular aquela mulher que tinha atirado em seu marido. Você se sente da mesma maneira que eu, que não há nenhuma razão no mundo para fecharmos os olhos para os violadores e assassinos, não quando podemos fazer algo sobre isso. Lembre-se o quão excitada você ficou quando tio Sherlock finalmente quebrou o padrão criminoso? Você mesma disse: pessoas más devem


ser punidas, não importa o que as condições digam. E você sabe o quê? Você está absolutamente certa. — Mas você nunca foi atrás dos assassinos! — Lex protestou. — Por que se preocupar com ladrões e bêbados quando você poderia estar perseguindo o pior dos piores? — Exatamente! — Os olhos de Zara se iluminaram. — Essa é a questão, não é? O que fazer com os verdadeiros monstros? Se apenas houvesse uma maneira de saber com certeza que esses criminosos não seriam deixados de lado na vida após a morte, livres para brincar ao redor em qualquer felicidade despreocupada que escolham para si mesmos. Se ao menos houvesse uma maneira de garantir que as suas almas sofreriam através do inferno absoluto! O coração de Lex bombeou em um ritmo nauseante. As paredes da sala pareciam estar se fechando. Suas mãos latejavam. Zara olhou para ela. — Você não tem idéia do quanto você é especial, não é? — ela perguntou, uma pitada de inveja rastejando em sua voz. — Diga-me, o seu querido tio nunca lhe contou sobre o único outro Grim com um excesso de poder de morte tão forte que causou choques? — Você quer dizer, além de nós? — Não há um 'nós', Lex. — Zara disse amargamente. — Eu nunca senti um choque em minha vida.— — Mas- a sua mão-. Zara levantou seu dedo empolado. — O que, isso? Eu o prendi na fritadeira no Morgue. Lex gelou. Ela sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Zara se agachou e agarrou seu queixo. — Grotton. Apenas você e Grotton. Ele se envolveu nas mesmas mortes insignificantes que eu tenho feito, mas ele abandonou tudo isso quando ele percebeuseu verdadeiro talento - a única habilidade que eu tenho cobiçado por anos. Lex fechou os olhos. — Maldição. — É isso aí. Um castigo muito pior do que a morte. — Ela soltou o queixo de Lex. Lex abriu os olhos e assistiu como Zara caminhou até o homem que estava preso. — Você ouviu isso? — Ela berrou. — Parece divertido, hein?


Lex engoliu, sufocando a náusea. — Você está mentindo. — disse ela, embora seu instintodissesse outra coisa. — Eu não posso amaldiçoar. — Você pode, se você ficar com raiva o suficiente. Basta pegar esse excedente de choque e misturá-lo com uma dose saudável de raiva. — disse Zara a partir do canto. — Como você acha que a caixa de pizza pegou fogo? E antes, quando você me tocou - olhe para as suas mãos! Lex não precisava. Ela já podia sentir as bolhas se contraindo. — Mas você não está amaldiçoada. Você nem mesmo está morta! — Você não entende, Lex? — Zara correu de volta e sentou-se na frente dela. — Vamos lá, você tem sido boa como uma pequena detetive até agora. Eu invadi o fornecimento Amnesia, droguei Ferbus e Elysia, roubei Elixir do Afterlife e injetei-o naqueles pessoas - você descobriu tudo isso! Então, pense. Pense bastante. Ela cutucou Lex no peito. — Você é especial. Eu não sou. Mas o que me falta em talento nato eu compenso em inteligência. Eu descobri como clonar seus poderes para mim. É por isso que eu tive que matar a sua irmã. — Ela pegou uma seringa do bolso de seu moletom, presumivelmente, a que ela tinha usado em Cordy - e deixou ela cair na frente de Lex. — Porque você reagiu exatamente do jeito que eu precisava que você fizesse: você tentou me amaldiçoar. E assim que nos tocarmos, eu pegarei seu poder. — O coração de Lex afundou. Tinha sido uma armadilha. Cordy foi morta por causa dela. Ela olhou para a seringa, sem sentir. — Como você sabia que iria funcionar? — Como eu disse, eu tenho minhas fontes. O silêncio encheu a sala. Zara se levantou e começou a andar. Lex desesperadamente arranhou as cordas atando suas mãos. Elas estavam começando a deslizar, mas apenas um pouco; era difícil de contornar as queimaduras. — Por que você está fazendo isso? — Ela perguntou. — Qualquer uma dessas coisas? Os olhos de Zara escureceram. Ela olhou para Lex por baixo de uma sobrancelha rígida. —

Você

sabe

onde

nós

estamos?

Ela

disse

em

uma

voz

perturbadoramente em branco. — No porão de meu padrasto. Este é o local para o


qual ele me trouxe todas as noites após o jantar. Eu costumava me esconder naquele canto, — ela disse, apontando para o homem — e esse inacreditável desgraçado me bateria com qualquer coisa que ele considerasse necessário para os crimes daquele dia. Às vezes cintos, às vezesseus próprios punhos, com muita freqüência com umagarrafa de uísque quebrada. Sempre havia muitas dessas em mão. Lex desviou o olhar. A chuva batia do lado de fora. — O mundo é revoltante. — Zara rosnou. — Como poderia permitir que coisas como essas acontecessem com uma garotinha indefesa? — Ela estava gritando agora, partículas raivosas de saliva voando de sua boca, suas mãos enrolando em punhos. — Como é possível tantas pessoas desprezíveis serem permitidas a continuar sem punição? Ela tomou uma respiração profunda. — Eles não podem. Eles simplesmente não podem. — Zara parou na frente de seu padrasto. Ela olhou para ele por um longo tempo. Sua respiração se tornou mais pesada. Ele soltou outro gemido estrangulado e pendeu ao redor do chão, tentando debilmente se libertar. Sua expressão era de puro terror. Lex tentou não assistir, mas ela não podia evitar. Com um grito abrupto e sobrenatural, Zara o chutou com força. Um som de estalo veio de suas costelas. Seus gemidos aterrorizados ecoaram pelas paredes do porão. Zara estava sobre ele, triunfante, enquanto ela estendeu seu dedo e tocoulhe na testa. Mas nenhum fleche de luz surgiu. Nenhum som. E nenhuma alma. Ao invés, uma escuridão espessa e palpável surgiu no ar, despedaçando a lâmpada. Isto tomou conta do lugar tão rapidamente que Lex foi batida em suas costas e pode senti-la sussurrando através de sua pele. Depois de um segundo ou dois, a luz vinda da janela começou a rastejar de volta. Lex, atordoada, sentou-se e olhou através do lugar. Agora, uma sombra negra e sinistra cercava o corpo imóvel. Tufos de escuridão pareciam estar se infiltrando pelas paredes, se materializando do nada. Eles giraram sobre o homem em uma dança incompreensível, agitando e turvando, até que finalmente toda a massa afundou sob seu próprio peso e dissolveu-se dentro de seus restos mortais.


Por um momento, nada aconteceu. Em seguida, o homem ficou ereto, seus olhos esbugalhados em pura agonia. Alguma tortura desconhecida assumiu o controle quando ele começou a se debater no chão em uma série de convulsões brutais, suas unhas deixando marcas de arranhões no piso onde ele agarrava. Fumaça emergiu de seu nariz, então de sua boca, como se um fogo tivesse sido aceso dentro de seu corpo. Logo, pequenas línguas de fogo começaram a estourar de sua pele, uma a uma, como pipoca. Em pouco tempo, a totalidade de seu corpo estava envolto por uma chama ardente que lançava sombras dramáticas na parede, enquanto uivos desumanos de dor escapavam de sua garganta. E então, com uma lufada repentina, as chamas se apagaram. O homem estava enrugado em uma pilha, seu corpo metade em cinzas, metade em carne derretida. Tudo estava quieto. Depois de um momento, Zara se levantou de onde ela tinha sido derrubada no chão e cuspiu no cadáver de seu padrasto. — Eu estive esperando para fazer isso por 10 anos. Ela sentou-se contra a parede, puxou os joelhos contra o peito e enterrou a cabeça em seus braços. Uma escuridão caiu sobre a sala, um silêncio tranquilo quebrado apenas pelos pingos de chuva, pelo trovão distante e pelo ocasional soluço que vinha debaixo da capa de Zara. Lex rasgou com mais fúria as cordas que atavam suas mãos, mas seus dedos estavam ficando muito inchados. Sua Braçadeira estava emitindo um leve zumbido, a superfície disto vibrando contra sua pele, mas ela não conseguia alcançá-lo para pedir ajuda. Isto não teria importado de qualquer maneira, ninguém poderia pegar a sua localização, nem mesmo se eles soubessem onde ela estava. Nem mesmo ela sabia onde estava. Zara se levantou, respirou com força e enxugou o rosto com sua manga. Ela virou-se para Lex com uma expressão assustadoramente calma. — Então, por onde nós deveríamos começar? — Ela murmurou, removendo ambas as foices de seu bolso. — Eu estou pensando no corredor da morte. Eu sei que eles estão condenados de qualquer maneira, mas isso poderia levar anos. Nós podemos ajudar a acelerar o processo. — Nós?


Zara deu a Lex um olhar surpreso. — Você vem comigo. — disse ela, como se isso fosse óbvio. — Por que diabos eu iria querer fazer isso? — Porque você pode! — Zara explodiu, seu rosto furioso. — Isto é aquilo pelo qual você tem estado lutando desde sempre, desde que você chegou, a capacidade de punir as pessoas que merecem! O que você acabou de ver não é nada – nada comparado com o que a alma daquele desgraçado vai passar pelo resto da eternidade. Então, não ouse sentar aqui e me dizer que você não quer fazer isso, que você não acredita que esta é a coisa certa a se fazer. Pense na diferença que nós podemos fazer! Nós temos poder total sobre qualquer pessoa com um movimento! E eu quero dizer poder real, e não apenas a insignificante bruxaria que vem junto com ser um Grim. Você não pode simplesmente jogar isto fora! — Ela soprou uma mecha suada de cabelo prateado fora de seu rosto. — Este é o lado a que você pertence, Lex. E você sabe disso. Lex tomou uma respiração e a segurou. Para qualquer pessoa normal, a escolha seria óbvia. Sempre escolher bem sobre o mal. Qualquer um que já estudou história, leu uma história em quadrinhos, ou viu The Princess Bride47 saberia disso. Mas Lex não era uma pessoa normal. E assim, apesar de tudo, ela hesitou. Ela sabia que os sentimentos imorais dentro dela nunca iriam permanecer dormentes; o constante aumento na intensidade dos choques era prova suficiente disso. Não havia nenhuma maneira de suprimi-los, nenhum jeito deexpulsá-los de sua mente e corpo, nenhum modo de impedi-los de construir seus pensamentos hediondos e afastá-los das pessoas que ela tão cuidadosamente guardou. Tornouse claro para ela que impulsos como estes não iriam embora nunca, que eles não poderiam ser destruídos. E agora que ela tinha tocado o cadáver de sua própria irmã, ela não tinha certeza de que ela queria que eles fossem. O mundo era um lugar hediondo. Ele merecia a destruição que ela poderia criar. E Zara estava certa: seria tolice desperdiçar um presente tão valioso. Se Lex realmente pudesse parar qualquer pessoa que ela quisesse, por que não ir atrás dos monstros mais cruéis do mundo? Ela estaria violando os Termos de Execução, 47

The Princess Bride (A Princesa Prometida) é um filme estadunidense, dirigido por Rob Reiner, baseado no romance de 1973 de William Goldman.


ela teria que abandonar Croak para sempre, mas talvez se isso tudo fosse para o bem maior... Mas e todo mundo em Croak, que a tinham amado e aceitadocomoanormal que era, ficariam devastados. Eles nunca a perdoariam; ela nunca seria capaz de voltar. Lá ela tinha construído um verdadeiro lar, de alguma forma conseguindo forjar um punhado de relacionamentos reais que significavam mais para ela do que quase qualquer coisa queelatenha tido antes. Valia a pena jogar tudo isto fora? E quanto ao bem maior - Lex nem mesmo sabia o que isso significava mais. O tio Mort estava ao lado do bem? Ou era Zara? Alguém estava? Lex engoliu. Não valia a pena. A perniciosa e sempre vigilante raiva continuaria a vir à tona, não havia nenhuma dúvida sobre isso. E talvez um dia ela iria sucumbir a ela, mas ainda não. Não ao lado de Zara. Se isso significava a morte ou Danação, então que assim seja. A alternativa, a idéia de formar parceria com a pessoa que tinha assassinado sua irmã a sangue frio – fez Lex se sentir suja, infectada, doente. Ela nunca poderia viver consigo mesma. Lex olhou desafiadoramente nos olhos selvagens da Zara. — Eu não vou a lugar nenhum com você. — O quê? — Zara desesperadamente apontou ambas as foices para ela. — Mas ter nascido com um talento como o seu - você é a segunda pessoa na história! — Eu não me importo. — É melhor se importar. — Os lábios de Zara enrolaram. — Porque ou você está comigo ou você está amaldiçoada. Eu não posso deixar você ir. Você deve saber disso. Lex esquadrinhou o corpo do padrasto, ainda fumegando. Onde sua alma estava agora? O que estaria acontecendo com ela? Pela primeira vez, a Zara começou a parecer inquieta. — Vamos lá, Lex. Não me obrigue a fazer isso. — Vá para o inferno. Zara raivosamente se afastou para o canto, onde ela permaneceu em silêncio por um momento antes de deixar escapar uma pequena risada. — Você quer ouvir uma coisa engraçada, Lex? — Ela se virou para mostrar um sorriso


grotesco. — Eu busquei a capacidade de amaldiçoar porque a minha vida era uma bagunça terrível e insuportável. Minha mãe nos abandonou – apenas me deixou sozinha com aquele pervertido doente quando eu tinha nove anos e nunca mais voltou. Não surpreende que eu me tornei do jeito que eu sou. Mas você... — Ela disse com um brilho nos olhos, — Você pode amaldiçoar apesar da educação utópica, apesar da família amorosa. Por que, Lex? De onde toda essa malevolência vem? Lex olhou inexpressivamente, como se faz quando confrontado com uma pergunta que não tem resposta. Zara viu que ela tinha atingido um nervo. Mas Lex permaneceu em silêncio, e em pouco tempo um flash de raiva surgiu no rosto de Zara. — Faça como quiser. — ela resmungou balançando a cabeça enquanto se aproximava e estendendo sua mão. — É uma pena, no entanto. Você poderia ter sido muito, muito boa nisso. Lex se encolheu no chão e se preparou para a dor. Mas então ela pensou em Cordy, e em como ela não teve a menor chance de se defender. Ela nem soube o que estava vindo. E assim, com um último e desesperado puxão, Lex saltou para seus pés, jogou as cordas desatadas no chão, e pegou ambas as foices das mãos de Zara. — Me desculpe. — disse Lex. — Mas eu também sou muito, muito boa em escapar. E com um golpe rápido de sua foice para cima, Lex saltou dentro do éter, os gritos de surpresa e fúria de Zara ecoando suavemente no vento ensurdecedor.


Vinte e Cinco Lex ficou imóvel no chão do Campo e olhou para o céu arroxeado. Alegres nuvens cor de rosa flutuavam preguiçosamente ao longo dos ramos do Ghost Gum como uma brisa quente varrendo a planície, transportando o comum e ordinário aroma de grama. Ela exalou e assistiu as manchas de poeira dançando no ar, todo o tempo tentando desesperadamente não pensar no fato de que sua melhor amiga no universo estava morta. O cabelo espetado de Driggs se meteu imediatamente em sua visão, bem na frente de uma nuvem em forma de avestruz. — Lex? — ele disse suavemente, agachando-se. — Você está bem? Ela se sentou e piscou para o grupo de Grims seniores que estavam ao seu redor. Ela sacudiu sua cabeça para acalmar seus pensamentos em corrida. Cordy estava morta. Zara tinha escapado. Todos estavam em problemas. Cordy estava morta. Água-viva. Cicatrizes. Morte. — O Banco. Eu tenho que chegar ao banco. Sem outra palavra Lex saltou para seus pés, empurrou os Grims seniores, e correu através do Field (ou campo). Driggs decolou depois dela enquanto ela subia as escadas para a varanda e entrava no lobby, onde Kilda estava sentada torcendo as mãos nervosamente. Lex passou na frente dela e correu diretamente até a escada, explodindo no pequeno escritório no segundo andar. Elysia estava esperando por ela. — Ela está bem. — ela sussurrou, com a voz trêmula. — Nós pegamos ela, ela está bem.


Lex, empunhando ambas as foices, ofegou pesadamente e fez um gesto para a porta do abrigo. — Eu quero vê-la. — Lex. — Elysia disse suavemente, — Seria melhor não. Ela está confusa, ela vai precisar de alguns dias para entender. Dê-lhe algum tempo. Alguma coisa em Lex entrou em colapso. Ela se lembrou do dentista atordoado que ela tinha aborrecido, o seu olhar de desorientação misturado com um medo apavorante. Abordar Cordy agora só iria piorar as coisas. Lex não podia fazer isso com ela. — Ela está com Edgar. — Elysia abraçou Lex. — Ele vai cuidar dela. Lex sufocou um soluço no cabelo de Elysia, que cheirava a morangos. O tempo parecia se dissolver enquanto ela se segurava em sua amiga. Espectros dessa provação explodiram em sua cabeça em fragmentos dispersos, por fim se estabelecendo na persistente pergunta final de Zara: Por que Lex nasceu com esse mal dentro dela? E pior ainda, como isto poderia possivelmente valer pela vida de sua irmã? Driggs logo saltou as escadas, seguido de perto pelo tio Mort. Lex se afastou dos braços de Elysia e olhou para o rosto torturado de Driggs. Ele evitou seu olhar. — Tio Mort. — disse Lex, — Isto é muito pior do que nós pensávamos. — Eu sei. — ele respondeu com uma voz imparcial, removendo as foices de suas mãos. Ela as tinha estado segurando com tanta força que, mesmo com as queimaduras, os nós de seus dedos tinham se tornado brancos. — Você precisa me dizer tudo. Ela assentiu, enxugando o rosto vermelho e manchado com suas mãos vermelhas e manchadas. Tio Mort, incapaz de afastar seus olhos da foice de prata, eventualmente colocou-a no bolso e virou-se para Driggs. — Reúna a todos lá em cima, na fonte. Reunião de emergência. Obrigatória. Driggs assentiu e se desviou para fora da sala. Tio Mort jogou um braço sobre os ombros de sua sobrinha e começou a levá-la pelas escadas abaixo. — Espere! — Ela gritou, correndo de volta para a mesa de Ferbus para recuperar seus presentes. O topo da Lifeglass pareceu agora consideravelmente mais cheio. Captando um vislumbre sombrio de Zara, Lex rapidamente o colocou debaixo do braço.


Tio Mort a trouxe para a biblioteca, onde ele enfaixou suas mãos enquanto ela contava tudo: o que tinha acontecido no porão empoeirado, o que seus flashes de raiva realmente significavam, o que ela tinha acabado de liberar sobre o mundo. — E então eu ceifei, — ela terminou amargamente, — sem atacá-la, sem fazer nada para impedi-la de ser capaz de condenar qualquer um que ela encontre. — O que significa que se você não tivesse roubado sua foice, todos nós estaríamos em muito mais problemas. — Tio Mort disse com uma pitada de orgulho. — Sem uma foice, ela não pode Crash. Ela está limitada aos meios regulares de transporte, do mesmo jeito que o resto de nós. — Mas ela ainda está lá fora. Nós não podemos procurar por um Loophole por nossa própria conta e persegui-la? Ela disse que encontrou o último, mas isso tem que ser mentira, certo? Ele balançou a cabeça. — Eu não acho que Zara teria te dito o que isto era se ela não estivesse absolutamente, cem por cento certa, de que não haveria nenhum outro para ser encontrado. — Mas como ela poderia saber isso? — Pelo que tenho lido, um Loophole que é encontrado e aberto de alguma forma mostra o número de Loophole que são deixados. — Ele suspirou. — Eu não tenho nenhuma dúvida de que Zara viu um grande e gordo zero nessa lista. — Então, nós não temos nada. — Certo. — Ele se mexeu ansiosamente, roendo as unhas. Lex olhou para suas mãos, em seguida, fechou os olhos. — Eu tentei amaldiçoar ela, tio Mort. Eu não sabia o que eu estava fazendo, mas eu sabia que queria ela morta. Devo ter quebrado dezenas de leis. — Ela olhou de volta para ele. — Em quantos problemas eu estou? — Eu não sei. Dadas as circunstâncias... — Ele coçou o queixo. — Eu vou falar com Necropolis, ver o que eles dizem. Eu provavelmente teria feito a mesma coisa. Lex olhou para o pesado livro ‘Termos de Execução’que estava sobre a mesa. Suas páginas foram preenchidas com as transgressões e punições dos Grims, o pior entre os piores. E agora ela era um deles.


— Você disse que Grotton era o único. — ela disse em uma voz baixa. — Eu sei. Eu estava errado. — Ele engoliu em seco. — Eu sinto muito. — Isto não é sua-. — Isto é. A culpa foi minha. Você demonstrou todos os sinais, eu apenas nunca pensei- — Ele balançou a cabeça e soltou um longo suspiro. Lex estudou seu tio. — Tio Mort, você sabe por que eu posso amaldiçoar? Ele olhou diretamente para ela, o olhar intenso. — Não. Lex desviou o olhar. Aparentemente, ela não era a única mentirosa na família. Eles se sentaram em silêncio. O som de pessoas se ajuntando começou a aumentar, pedaços de fofocas flutuando a partir da praça. — O que eu deveria dizer a eles? — Lex perguntou sem graça. — Você não vai dizer nada. — Ele se levantou. — Eles terão muitas perguntas, e você não está exatamente– — Ele começou a dizer alguma coisa, mas mudou de ideia. — É melhor para você ficar fora do olhar público. Pelo menos por esta noite. Lex se levantou e foi para a porta. — Mas-. Ele agarrou seus ombros, bloqueando o caminho. — Por favor, criança, apenas confie em mim e fique aqui. Respeito mútuo, se lembra? Lex pensou por um momento a mais, então assentiu. Ela se arrastou de volta ao seu lugar e desmoronou nele, sua energia esgotada. Tio Mort saiu pela porta, parando apenas para olhar para a sua sobrinha novamente por um breve segundo. — Lex, — ele disse tristemente, com a mão na maçaneta, — você é uma boa garota. Você realmente é. Lex se sentou sozinha na mesa de madeira e ouviu os sons abafados dos anúncios de seu tio, bem como os lamentos decorrentes vindos da multidão do lado de fora. Ela assistiu a luz solar ir desaparecendo no chão, em seguida, ela estudou o numeroso grupo de fotografias de Grims que estavam nas paredes, desde as em preto-e-branco de antigamente, até a cópia da foto que ela tinha acabado de receber. Por alguma razão, elas a acalmaram. Ela era um deles; ela pertencia a ali.


Então, ela se sentou atordoada, do mesmo jeito que ela ficou quando soube pela primeira vez o que eram os Termos e por que ela não poderia sair por aí Killing quem ela quisesse. Mas a coisa era, ela poderia. E se tivesse, talvez Cordy não estaria-. Ela apertou os olhos bem fechados. Ela não podia pensar sobre isso agora. Inquieta, ela foi até uma grande prateleira repleta de livros em decomposição. Seus dedos enfaixados varreu através de suas lombadas rachadas, deixando uma trilha em meio à poeira pesada, até que um leve brilho de ouro chamou sua atenção. Ela limpou um pouco mais da sujeira e leu o título dourado: A Lenda de Grotton: um mito tolo, ou uma completa mentira. Lex percebeu que tinha tropeçado na seção ‘Grotton’ da biblioteca. Por que ela não tinha pensado em procurar aqui antes? Zara, obviamente, tinha. Irritada, ela pegou o livro da estante e abriu sua capa. Rabiscado desordenadamente pela página de título, em uma tinta grossa e pesada, estavam as palavras LIVRO ERRADO. Franzindo a testa, ela o colocou de volta na prateleira e pegou o próximo— ‘O Valente Líder Criminoso na Destruição do Mundo Inteiro, Quem uma Vez se Aproximou de Destruir Tudo que Nós Amamos: Um Livro Pop-Up48’ – e encontrou o rabisco mais uma vez. Mas não parecia que poderia ser de Zara. Quem teria escrito isso? Ansiosa agora, ela correu através do resto dos volumes na prateleira, apenas para descobrir que cada um continha a mesma frase – livro errado, livro errado. Lex fez uma careta. Qual era o livro certo? A resposta estava no fim da fileira. Um espaço aberto, completamente vazio, agigantava-se dentro da prateleira, quase insultando ela. Zara. Zara deve ter pego. Derrotada, Lex folheou distraidamente o livro que tinha na mão, um volume de aparência acadêmica, intitulado simplesmente como Grotton: uma biografia. Quando ela virou para o final, no entanto, ela parou. Seus olhos se alargaram

48Livros Pop-Up são aqueles com imagens que parecem saltar das páginas quando o abrimos.


enquanto lia a parte inferior da última página. Manuscrita em letras muito pequenas estava uma nota. SE A REDENÇÃO É O QUE VOCÊ PREZA, NÃO ACREDITE EM TODAS ESTAS MENTIRAS. A CHAVE PARA A MORTE AGUARDA NO ALTO— TUDO QUE VOCÊ PRECISA FAZER É ABRIR SEUS OLHOS. — OSSO A DOENTE FOICE BANDIDA Lex murmurou a assinatura. Por razões pouco claras, mesmo para ela, a figura branca vinda dos bosques surgiu em sua mente. Ela olhou para o teto, mas não viu nada mais do que algumas teias de aranha. Infelizmente, ela não tinha tempo para continuar contemplando, pois a porta para a biblioteca começou a ranger aberta. Ela rapidamente rasgou a página do livro, colocou isto no bolso e se virou o rosto para enfrentar Driggs. — Como você está? — Ele perguntou. Ela encolheu os ombros. Lágrimas ardiam em seus olhos, mas ela se virou e afastou-as. Ele andou até ela. — Mort acaba de nos dizer o que aconteceu. — disse ele, balançando a cabeça. — Eu não posso imaginar-. — Driggs. — ela engasgou com um caroço do tamanho de uma bola de softball: — Eu não quero falar sobre isso. De verdade. — Quando você desapareceu, eu ceifei de volta pra cá o mais rápido que eu pude, entreguei Vessel dela, chamei por ajuda-. — Acabou, está bem? — A raiva ultrapassou a tristeza. — Minha irmã está morta, eu não estou, e Zara está – eu não sei - em fuga, ou algo assim. Driggs exalou em descrença. — Como você pode brincar sobre isso? Você não percebe o que isso significa para a cidade, para toda a Grimsphere? Zara está. — -indo se esconder por um tempo. Ela não planejou exatamente que eu escapasse e arruinasse seu plano. Tio Mort irá reportar para o Obituário e amanhã cada Grim no país vai ter uma boa olhada em seu rosto. Nós vamos encontrá-la.


Driggs franziu a testa, desanimado ante a óbvia resistência que ela estava levantando. Ele tentou encontrar seu olhar. — Lex. — Eu deveria ter parado ela. — ela gritou em um tom maníaco. — Isso é tudo minha culpa. Eu tinha ela. Eu tinha ela, e eu a deixei ir. Ele deu um olhar de soslaio. — Por que você está fazendo isso para si mesma? — Driggs, pare. — O quê? — Você está tentando me fazer falar sobre meus sentimentos. — Então? — Então que você não é a Oprah. Me deixe em paz. — Vamos, fale comigo. Cordy se foi, mas eu ainda sou-. — Mas eu deixei ela primeiro! . — Ela finalmente explodiu ante o som do nome de sua irmã. Ela não conseguia segurar as lágrimas por mais tempo. — Nós nunca nos separamos por mais do que algumas horas, e eu simplesmente saí. Como se isso não fosse nada! — Ela estava gritando agora. — Você quer saber por que eu estou fazendo isso para mim mesma? Porque metade da minha existência foi arrancada e isso foi minha culpa! Porque eu sinto como se alguém tivesse cortado meu braço ou coração ou entranhas ou alguma outra parte vital de mim com um serrote enferrujado! — Eu sei. — disse ele, tocando-lhe no ombro. — Você não sabe! — Ela empurrou sua mão. — Você tem um irmão gêmeo? — Não, mas-. — Então, você não tem idéia! A sala mergulhou num silêncio doloroso. Lex e Driggs olhavam para o chão, em seguida, para o teto, então para todos os outros objetos na sala, até que finalmente não havia mais nada para olhar exceto para o outro. — Eu sinto muito. — Driggs disse. — Eu acho que eu não sou melhor nessa coisa de consolação do que você. Lex se sentiu esgotada. — Acho que não. — Eu apenas estou feliz que você está viva. — Ele passou os braços em volta dela. — Você realmente me assustou.


Ela fungou em seu ombro. — Qual é a novidade? Um sorriso forçado surgiu no rosto dele, desaparecendo em seguida. Eles ficaram em um silêncio constrangedor mais uma vez. Mas isso logo levou para onde os silêncios mais incômodos levam, e os lábios deles permaneceram trancados por vários minutos até que Lex finalmente o afastou. — Eu não estou tão certa sobre isso. — disse ela relutantemente, limpando sua boca. Driggs deu-lhe um olhar. — Não faça isso. — O quê? — A mesma coisa que os super-heróis fazem, onde você me afasta porque acha que você está me colocando em perigo. Eu posso tomar minhas próprias decisões, obrigado. — Mas ela vai vir atrás de você primeiro. Então tio Mort, em seguida Elysia – eu sou como uma praga agora. — Vou tentar reprimir o mau humor. — ele disse com um sorriso. — Sim, mas... E a sua namorada? — Minha o quê? — Aquela foto que você está sempre carregando por aí. Quem é ela? Ele pensou por um momento. Então seu rosto se abriu em um sorriso tímido. — O quê? — Perguntou Lex. — O quê? Alguns segredos, devido ao seu potencial para causar um enorme constrangimento, deveriam receber uma grande quantidade de consideração antes de serem divulgados. Driggs pelo menos teve o bom senso de fazer uma pausa. A estratégia que ele escolheu foi a de remexer no bolso de seu moletom, como se Lex pudesse ser levada a pensar que a foto não tinha deslizado para a mão dele no momento em que ele a alcançou. Finalmente, ele suspirou, tirou a foto, e lhe entregou. Lex olhou. E olhou. E olhando de volta para ela estavam as duas irmãs Bartleby, cobertas de pintura a dedo, a mesma foto que era exibida orgulhosamente em seu quarto na sua casa, ao lado dos Sparks.


— Hum, eu meio que tenho estado apaixonado por você desde o dia em que cheguei aqui. — Driggs murmurou, bagunçando seu cabelo. — Ou por seu sorriso, pelo menos. Eu tinha quatorze anos, e... Uh, Mort sempre teve fotos de vocês duas por toda a casa, você sabe? E no minuto que eu vi aquela de seu aniversário de doze anos, onde vocês estão jogando bolo uma na outra, eu pensei que vocês eram realmente... Yeah. — Ele olhou, humilhado, para a foto em sua mão. — Eu quero dizer, eu sei que carregar por aí esta foto em particular me faz parecer um pedófilo, mas eu acho que apenas significa que ela sempre foi a minha favorita. O sorriso em seu rosto, seus olhos, a pintura - parece que você estava se divertindo muito. — Seus olhos escureceram. — Minha infância não foi muito divertida. E definitivamente nós não tivemos muitas fotos de pessoas rindo ao redor da casa. — Eu acho que isso explica todas as molduras vazias na sala de estar. — Assustador, certo? Eu sei. — Seus olhos corriam nervosamente. — Eu sei que soa estranho e perseguidor. Mas era apenas uma quedinha, honestamente. Eu não tinha idéia de que você viria pra aqui. Eu praticamente derreti no chão quando Mort me disse. — Mas você nunca tinha me encontrado, como você poderia-. — Eu não sei, ok? — Ele retrucou. — Tudo o que sei é que eu nunca tinha visto ninguém como você, e seu sorriso estúpido era contagiante, e eu me apaixonei por isso, e desde que você chegou aqui eu tenho me apaixonado pelo resto de você, e agora eu estou tão apaixonado que não há absolutamente nada que eu possa fazer sobre isso. Ok? — Ele arrancou a foto das mãos dela. — Feliz agora? Lex soltou um riso rouco e enferrujado. — Ligeiramente. Driggs balançou a cabeça em derrota, mas seus olhos eram gentis quando ele colocou seus dedos nos dela. Eles foram interrompidos por uma batida suave na porta da biblioteca. — Lex? — Tio Mort colocou sua cabeça. — Você está bem? — Eu acho que sim. — Então, vamos para casa. Driggs apertou o cotovelo dela antes que eles pisassem na rua. — Hey, coloque o seu capuz para cima. — Por quê?


Ele puxou-o sobre a cabeça dela. — Apenas faça. E, enquanto os três faziam o seu caminho pela a multidão, Lex começou a entender. Embora seu rosto fosse pouco visível, ela podia ouvir os sussurros. Ela podia sentir os olhares. E ela sabia que amanhã - ou quando ela finalmente pudesse voltar a aparecer em público - eles teriam um monte de perguntas para ela, para a garota que começou tudo isso.


Vinte e Seis Funerais são deprimentes, mesmo sob as melhores circunstâncias, se tal coisa existe, e o funeral de Cordy não foi diferente. Lex se confortou no fato de que o caixão permaneceu fechado, mas, por outro lado, ela se sentiu como se ela tivesse caído em um liquidificador gigante cheio de sal e suco de limão. Toda a família tinha aparecido, incluindo tios e tias que Lex tinha esquecido que existiam, primos que ela sequer tinha conhecido, e Capitão Wiggles, o amado polvo de Cordy, que tristemente examinava a cena a partir do alto de um grande arranjo de flores. Uma parcela considerável de seus colegas de turma estava no serviço de funeral (incluindo Michael Thorley), sendo que nenhum deles parecia se capaz de parar de lançar olhares a Lex. Muitos professores também vieram, bem como um punhado de pessoas que estavam apenas tangencialmente envolvidos na vida da família Bartleby – o dono da mercearia local, o carteiro, o encanador, e até mesmo os vizinhos ultrajados. Lex não pode evitar pensar que, se tivesse sido ela dentro do caixão em vez de sua irmã, a taxa de participação não teria sido tão impressionante. Seus

pais,

naturalmente,

estavam

inconsoláveis.

Seus

parentes

acreditavam que precisavam dizer palavras gentis, e assim dispensaram uma seqüência interminável de condolências ao longo do dia. Seus amigos achavam que eles precisavam de espaço para estar a sós com sua dor. E o resto da comunidade decidiu que eles precisavam de caçarolas de comida, que foram entregues na casa aos montes.


Mas os Bartleby não precisam de nenhuma dessas coisas. Eles não eram capazes de começar a entender o porquê de sua filha ter sido tirada deles de uma forma tão inesperada, e não havia nenhuma explicação que pudesse ser dada. O legista estava perplexo. O chefe de polícia tinha assistido e re-assistido as fitas da segurança da casa de repouso onde Cordy trabalhava até que ele desmaiou em sua tigela de mingau noturna, mas ele não tinha sido capaz de descobrir nada. Finalmente, ficou concluído que a morte de Cordy tinha sido mais uma das mortes inexplicáveis que vinham varrendo a nação - a última, na verdade, em vários dias. O que o senhor e a senhora Bartleby realmente precisavam era de um encerramento. Infelizmente, essa era a única coisa que nem sua família, nem amigos, nem vizinhos, poderiam proporcionar. E enquanto Lex os assistia ao lado do caixão de sua própria filha, chorando silenciosamente e se segurando um no outro por consolo, ela percebeu o que ela tinha que fazer. O jantar naquela noite foi silencioso. A casa ficou escura com o pôr do sol; ninguém conseguia fazer o esforço de acender uma luz. E, apesar da disseminação bastante impressionante de mais de uma dúzia de caçarolas, a comida apenas permaneceu lá, fria e, na sua maior parte, não consumida. Tio Mort sentou na cadeira de sua falecida sobrinha e cutucou a protuberância cinzenta de goulash49 em seu prato. Atormentado pela culpa, ele não disse muita coisa desde o dia em que Cordy morreu. Lex, que não havia deixado a casa até que era a hora de dirigir para a cidade, tentou tranquilizá-lo de que não havia uma única coisa que ele poderia ter feito; que os poderes de Zara tinham se tornado tão forte que não teria feito diferença. Lex percebeu que, por alguma razão, isso fez com que ele se sentisse pior. À medida que a noite avançava, o silêncio se tornou mais e mais pesado, até que ameaçava desmoronar em si mesmo e formar um buraco negro ali mesmo, na mesa da sala de jantar. Quando deram oito horas, Tio Mort lentamente se levantou de seu assento. — Eu deveria ir. — ele murmurou.

49 É um guisado de carne de vaca, a que por vezes se adiciona carne de porco, cortado em cubos e rapidamente alourado em gordura quente, juntando-se-lhe então farinha, cebola e especiarias, sendo depois o conjunto cozido em água.


— Tome um pouco de comida. — disse a senhora Bartleby suavemente. — Claro, claro. Apenas me deixe pegar o carro. A porta de tela balançou. O Sr. Bartleby recolheu seu prato. E, enquanto o barulho de motor do Gremlin atravessou as paredes da casa, Lex se levantou. Seus pais olharam para ela em um terror miserável. — O que você está fazendo? — perguntou sua mãe. — Eu estou voltando. — ela disse suavemente. — Absolutamente não! — Novas lágrimas brotaram dos olhos de sua mãe. — Nós acabamos de perder uma filha, se você pensa por um segundo que nós vamos deixar a única filha que nos resta apenas... Simplesmente sair... — Ela desmoronou em um ataque de soluços. O pai de Lex somente encarou. Mas sua mãe lutou, ofegando por ar. — Sua pequena egoísta – nós já dissemos não! A escola começa em dois dias! — ela engasgou, seu rosto uma bagunça desesperançada de fúria e tristeza. — E deixar sua família em um momento como este - como você se atreve? Lex olhou para longe, incapaz de olhar nos olhos da mãe cujo coração ela estava quebrando mais uma vez. — Eu sei quem fez isso. — disse ela ainda mais baixinho. — E eu tenho que voltar. — Ela olhou para cima. — Eu tenho que voltar e terminar isso. Sua mãe, agora derrotada demais para falar, chorou. No entanto, seu pai estava olhando para ela com uma expressão estranha em seu rosto. — Você sabe quem fez isso? — Ele repetiu sem expressão, roubando um olhar para suas mãos enfaixadas. Lex assentiu. Ele levantou de sua cadeira, caminhou até sua esposa que estava chorando, ajoelhou—se ao lado dela, e tomou-a em seus braços. — Vá. — Ele disse a Lex. — O quê? — Sua mãe chorou desesperadamente, lutando contra o marido. — Não! Ela não pode ir! Como você poderia deixar ela-. — Shhh... — Mr. Bartleby exalou, acariciando os cabelos dela. Exausta, a Sra. Bartleby finalmente se esmagou nos braços de seu marido, emitindo gemidos estrangulados de agonia.


— Vá. — ele murmurou mais uma vez, olhando para Lex, seus olhos agora cheios de lágrimas. — Vá procurar o monstro que matou a minha garotinha, e mate aquele filho de uma-. Ele se calou quando um soluço sufocou sua garganta. Lex saiu da mesa e subiu as escadas silenciosamente. Ela pegou a mochila vazia de Cordy e começou enche-la com vários itens, apressadamente retirando o conteúdo do quarto onde ela e Cordy uma vez construíram uma nave espacial a partir de uma caixa de papelão e voaram todo o caminho para o Planeta dos Playgrounds Infinitos. Ela pegou algumas roupas de seu guarda-roupa, um par de botas pesadas, vários livros, o Capitão Wiggles, um punhado de fotos, e-. Ela parou. Uma fatia de luz brilhou a partir da estante. Ela moveu uma foto para revelar as duas Sparks das garotas, sentado lá do jeito que ela os tinha deixado. A que pertencia a Lex ainda estava reluzente e cintilante, os pequenos reflexos de luz zunindo ao redor do globo e batendo no vidro, tornando-os ainda mais brilhante. Mas a que pertencia a Cordy já não continha brasas luminosas. Em vez disso, brilhava branco e claro, um farol brilhante contra a escuridão da sala. Assim como o flash de uma alma, Lex pensou. Ela pegou as duas Sparks, atirou-as no saco, e fechou o zíper, tremendo um pouco. Ela tinha conseguido o que queria, ela estava voltando para Croak mas por todas as razões erradas. Isso não era como devera acontecer. E muito embora Lex soubesse que ela estava fazendo a escolha certa, apesar de ela não querer nada além do que enfrentar a luta que surgiu diante dela, ela ainda olhou para trás e deu uma última olhada em seu quarto, imaginando se algum dia iria vê-lo novamente. Ela desceu as escadas. Sua mãe e seu pai ainda estavam se segurando um no outro, agora de luto pela perda de não apenas uma, mas de ambas as suas filhas. Levantando a bolsa em seu ombro, ela fez seu caminho pela sala de jantar e se inclinou sobre seus pais. — Adeus, pai. — Lex sussurrou, beijando-o suavemente em sua cabeça brilhante. Ela fez o mesmo com sua mãe, escovando de lado um tufo de cabelo emaranhado, memórias distantes de canções de ninar cantarolaram suavemente em sua mente. — Adeus, mamãe.


Foi assim que ela os deixou quando saiu da casa, fechou a porta de tela, e afundou-se no assento do carro de tio Mort. E era assim que ela se lembraria deles por muito tempo depois disso, mesmo no mais sombrio dos momentos: seus dois pais amorosos, agarrando-se um ao outro no escuro, chorando noite adentro.

Fim...


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