11ª Revista Mazup - Sobre essas emoções

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sOBRE Essas

EMoÇÕEs

não reco mendada < 18 anos.

eDIção 11 ano 2 - set-Out/14 distribuiçãO free




ROLÉ PELA EDIÇÃO

LETRA DE QUEM LEU

6 Trash Net 8 A mãe natureza pede um tempo 10 Os barros da relação 12 A morte do gigante moribundo 14 Horóscopo Maldito 16 Oba-oba do desperdício 18 8 por 5 20 Geração Smile 28 Editorial de moda 34 Brasil que compra sexo por um real 36 Conversa Casual 38 Desabafo

Entrevistas e artigos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Mazup.

NOSSA CAPA

eXPediente

Ficou na dúvida, tem sugestões ou quer dar letrinha? revista@mazup.com.br

alex Kemmerich “Eu sou suspeito para falar sobre qualquer coisa que envolva o Mazup - declaro que eu sou muito fã do veículo. A matéria ‘Operação Orkut: evacuar’ me arrancou sorrisos a cada linha. Assim que migrei para o Facebook, excluí a minha conta, mesmo jamais tendo pensado que excluiria o meu tão amado Orkut. Mas como tudo na vida passa, ele também se foi. E irá permanecer na memória, na companhia de boas risadas por ser minha primeira rede social.”

Direção Maico Eckert maico@mazup.com.br Supervisão César Krunitzky cesar@mazup.com.br redação Andreia Rabaiolli revista@mazup.com.br Bárbara Scheibler Delazeri barbara@mazup.com.br

Kelly Raquel Scheid kelly@mazup.com.br Raquel Carneiro revista@mazup.com.br Comercial Maico Eckert maico@mazup.com.br Patrick Silva patrick@mazup.com.br


Gabriela Mueller “A revista Mazup é sempre diferenciada. A cada edição, a expectativa, a espera e a curiosidade permanecem até a hora de ler e mergulhar em um mundo de novas experiências, opiniões diversas e com as respostas para as dúvidas - que todo mundo tem. Uma plataforma jovem que está sempre ligada no que a galera quer ver, preparando tudo com muito carinho. Desde a última revista, já estava superpilhada pela 11ª edição!”

Colaboração João Timotheo Taís Grün Márcio Grings

Lucas Cecconello “A revista Mazup tem algo que me prende, sem enjoar: a linguagem despojada. Sempre que eu leio, me impressiono com os textos, justamente por não seguirem o politicamente correto - e que é mil vezes mais a minha cara! Traz assuntos que estão nos top trends, então, logo me identifico com a leitura, pois faz parte da minha rotina. Por mais que eu não saiba o que virá na próxima página, tenho a certeza de que nada será chato.”

Fotografia Luca Lunardi, Bárbada Delazeri e divulgação

Leitura experimental Adriana Mellos

Produção de capa e matéria principal Luana Rohr

Projeto gráfico Pedro Augusto Carlessi

Modelo Júlia Sebastiany

Diagramação Felipe Johann Dobro Comunicação

Ilustração Alessandro Mença

Élin Schaffer “Sou megafã da revista e sempre garanto a minha! Assuntos e matérias triinteressantes, abordados com uma linguagem superaberta. Sem falar do Horóscopo Maldito, que sempre arruma um jeitinho nada carinhoso de fazer dos escorpianos os mais maus e sórdidos do zodíaco, hahahaha. Revista Mazup é a nossa cara!”

Impressão e CTP Grafocem Tiragem 6 mil exemplares revista@mazup.com.br @tonomazup fb.com/tonomazup instragram.com/mazup

(51) 3748-2459 Rua Júlio May, 217/03 Lajeado/RS Mazup é um veículo multiplataforma de comunicação jovem. Empresa integrante do Grupo RVC.


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FITNEss E SEXY

MERGULHO VULCÂNICO

ESTÁTUA SAFADINHA

CHOCANDO AS LENTES

O casal brasileiro Jaco Excellence e Natalia Chicos está fazendo sucesso pela web por causa da forma como encara a prática de exercícios físicos. Marido e mulher fazem do treino um momento para, além de tonificar a musculatura, fortalecer a relação. Usando um o corpo do outro como apoio, os pombinhos treinam força e equilíbrio de modo muito sexy.

Você se acha corajoso? Provavelmente, não deve ter ouvido falar da façanha de Sam Cossman. O cara viajou até Vanuatu, na Oceania, para ficar de cara com um vulcão em erupção. Com todos os equipamentos de segurança, Sam ficou a poucos metros da lava e filmou o desafio com uma GoPro. O resultado rola no perfil do maluco no site Vimeo, intitulado “Diving into an Active Volcano”.

Em uma dessas manhãs de setembro, uma obra de arte balançou a cidade de Vancouver, no Canadá. Os moradores do bairro de Grandview-Woodlands foram surpreendidos com uma estátua de Satã ao cruzarem uma praça da região. Detalhe: a escultura mostrava um alto grau de excitação. Bom, não demorou muito tempo para a prefeitura remover o objeto polêmico sem descobrir qual era o autor da brincadeira.

Foi por estar cansado de precisar se preocupar em deixar seus fotografados confortáveis diante das lentes que o norte-americano Patrick Hall resolveu criar uma série em que o oposto acontecia: seus modelos corajosos - eram clicados enquanto recebiam choques. Sim, submetidos a uma arma de eletrochoque com descarga de 300 mil volts é que os personagens fizeram as caras e bocas para The Taser Photoshoot.



A Mãe Natureza pede um tempo Um exemplo? É provável que enquanto tu, leitor(a), estejas vibrando e talvez espirrando sem parar com o começo da primavera, eu, no Hemisfério Norte, suspiro resignada. É o fim do verão no Canadá. E o indício de que minha estação preferida atinge seu término, está na copa das árvores. As folhas, antes tão verdinhas, passam a explodir em cores que enchem os olhos até dos mais nostálgicos como eu. Amarelas, vermelhas, alaranjadas... lindas, lindas, lindas! De repente, as folhas de bordo (representadas na bandeira do Canadá) ganham tons deslumbrantes antes de se desprenderem dos galhos para cobrir e colorir calçadas, ruas, carros, quintais. É como se, sob eterno anonimato, um grande pintor passasse as noites dando pinceladas aqui e ali só para nos extasiar nas manhãs seguintes. Mas a obra de arte logo se desfaz.

Diz-se que tudo é uma questão de perspectiva, ponto de vista ou tempo. Concordo e vou além. A localização geográfica também influencia quem somos, como vivemos e até o que sentimos

Cientistas da América do Norte discordam quanto as razões que explicariam essa mudança de cor repentina. Biólogos e fisiologistas da Universidade de Oxford afirmam que o brilho colorido das folhas contém uma mensagem: “Insetos, deixem-me sozinha! Sou uma árvore letal para suas crias”. Desta forma, a árvore estaria se protegendo do depósito de larvas no seu tronco, cujo resultado poderia ser devastador para ela na primavera. É que essas mesmas larvas podem sugar os nutrientes da planta e, talvez, também seu suposto veneno. Contudo, pesquisadores da Universidade de Wisconsin defendem que as folhas do outono

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não são nada mais, nada menos do que um protetor solar natural. O colorido das folhas não passaria de uma prova concreta de que as árvores estão fazendo uma intensa reserva de nutrientes para enfrentar o inverno rigoroso. Enquanto a clorofila se desmantela, nitrogênio e fósforo vão para a despensa. Outros estudiosos resumem o fenômeno meio que chamando as árvores de bordo de um bando de mascaradas. A clorofila, que dá o tom verde aos vegetais e faz um excelente trabalho na captura da luz solar - mais intenso na primavera e no verão -, estaria escondendo, durante as estações mais quentes, outros pigmentos presentes nas folhas. Com a chegada do outono, as árvores quebram sua clorofila e eis que a aquarela surge na paisagem. Há, pelo menos, um consenso: não é por nada que o outono no Canadá seja tão bonito. Minha humilde teoria é a de que a mãe natureza sempre resolve nos presentear, nesta época do ano, com um espetáculo que precede o longo inverno. Um desolador manto cobrirá tudo de branco até que a gente volte a reparar nas primeiras folhas que começam a despontar. Outro ciclo, então,recomeça. E eu suspiro... de alívio. A natureza só tinha dado um tempo. Taís Grün é jornalista, tradutora, revisora e, há sete anos, se encanta com o outono, enfrenta o inverno, vibra com a primavera e curte o verão no Canadá.


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Tabu Nº 2

os barros da RELAÇÃO Oi, tá indo fazer alguma refeição? Então vai e volta depois aqui. Okay? Se você não tem estômago para levar um papo reto sobre o que passa pelo reto, sua parada está na pauta seguinte. Sim, por aqui, o assunto é meio bosta mesmo, e se estiver indo para o troninho na velocidade do número 2 e quiser levar a reboque a revista, fique à vontade

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Putz, mas seu namorado, se vir você indo ao banheiro carregando a revista, vai deduzir que não é só a sua bexiga que precisa ser esvaziada. OMG, melhor só abrir a torneira, deixar o barulho da água corrente contaminar o ambiente e fazer o que tem de ser feito tão rápido quanto uns urinam - antes de ele descobrir: “Minha namorada faz cocô!”.Errou! Até quando você vai brincar de Maria Chiquinha dizendo ao Genaro que foi ao mato cortar lenha? O quê? Eu sempre desconfiei da letra dessa música e da versão cantada pela Sandy - ah, e falando na cantora, até ela murcha as flores do azulejo volta e meia, hein! Não que você vá anunciar em um megafone sua próxima sessão do descarrego, porém, ficar fingindo


que “não, não estou com vontade agora” pode ser extremamente prejudicial à saúde, levando até ao câncer retal - e isto é válido para os caras também. Precisar usar banheiros públicos causa um baita desconforto em muita gente, que espera chegar em casa depois do trabalho ou da faculdade para praticar o rapel sentado. Tá. Agora, segurar os bagaços por horas e horas só porque não está no seu próprio lar, doce lar é muito nonsense. Depois, não adianta chamar de ineficaz o iogurte com lactobacilos se você fica trancando a saída. Se o seu “x” da questão é sonoro, saiba que já inventaram aplicativos capazes de simular, por exemplo, o barulho do chuveiro - e, de quebra, também evitam o desperdício de água. E como a criatividade humana não tem limites, tem até app para monitorar consistência, cor, tamanho, duração e esforço da evacuação dos seus segundos tempos. Sério! Ó, embarcou em um relacionamento achando que o pacote não seria completo? Aqui não é Hollywood, e os gostos, as manias, os cheiros e os sons do outro fazem parte daquilo que chamamos de amor. Mais intimidade e menos nojinho, por favor!

Kelly Raquel Scheid / kelly@mazup.com.br


Muitos acreditam que as mazelas sociais da América Latina - como corrupção, impunidade, pobreza e prostituição estariam ligadas aos tipos humanos que foram mandados para cá. Que nossas terras teriam sido ocupadas pela escória humana que existia na Europa. Que as terras de além-mar foram o destino de bandidos, ladrões, assassinos, prostitutas e hereges. Esta é uma meia verdade

A MORTE DO

GIGANTE MORIBUNDO

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Observando as listas de imigrantes que desembarcaram aqui, de 1750 a 1875, notaremos que a maioria dos que foram mandados para cá foram os pobres e os perseguidos, como curandeiras, bruxas e protestantes. Claro que alguns bandidos também vieram. Mas vendo a documentação, notaremos que a maioria destes eram delinquentes que cometeram pequenos e discutíveis delitos, como furto de comida, adultério, blasfêmia ou invasões de terras do Estado. Mas por que - de fato - milhares de pessoas abandonaram a Europa a partir do século XVI? Podemos citar alguns motivos. O afastamento do homem da religião, o desenvolvimento da medicina e da ciência fizeram aumentar a produção agrícola e melhorar as condições sanitárias da Europa. Houve, então, a diminuição dos óbitos de recém-nascidos e o aumento do tempo de vida dos seres humanos. Com a explosão demográfica, vieram a fome, a peste, a guerra e a morte. Os governos europeus, então, desenvolveram políticas migratórias impositivas ou voluntárias, mandando o excedente da população - os socialmente indesejáveis - para a América Latina. Com essa choldra também veio um punhado

de “homens de negócios”, que tinham por intenção fazer fortuna a qualquer custo. E, assim, a Europa acabou com a suas mazelas sociais expulsando todos os “tipos indesejáveis”, como os famintos, prostitutas, malucos e delinquentes do seu território. E no fim do século XIX, quando as áreas de extração da América do Sul estavam se esgotando, os europeus começaram a se interessar pelos territórios africanos. Ocupações, genocídio e a transformação dos territórios em colônias foram o resultado final da barbárie. Lá na África houve mais resistência das populações e sangrentas guerras de independência do meio para o fim do século XX. Os europeus transformaram - com a força e a religião - todos os povos do mundo em seus descendentes e, assim, todos americanos e africanos se consideram um pouco europeus. A gentalha agora reclama sua herança e está voltando para o Velho Continente. Este é o motivo do crescimento de grupos de ultradireita e do reaparecimento do nazismo na Europa, motivo que levou os europeus a criarem leis anti-imigrantes, transformando-os em foras da lei. Este é o estopim das revoltas sociais e do terrorismo que matarão o Gigante Moribundo. E eu aguardo ansioso pelo fim. Era o que tinha para ser dito. E assim foi. João Timotheo Esmerio Machado Professor de História Ilustração Alessandro Mença



HORÓSCOPO MALDITO ÁRIES (21 de março a 20 de abril) No mínimo, você deve ter quebrado umas três vezes o braço tamanha sua fissura em brincadeiras de ação e desafios. De personalidade forte e consciente sobre quando uma brincadeira não era bem-vinda, exercia uma liderança natural sobre outras crianças, bancando, às vezes, o autoritário do grupo. Sua frase? “Quero, porque quero”, e seus pais devem lembrar bem disso. Haja puxão de orelha para você aprender que o mundo não girava ao seu redor. TOURO (21 de abril a 20 de maio) Ciumento e teimoso você? Capaz, hahaha! Apesar de, possivelmente, ter sido superapegado em seus

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Você foi uma criança birrenta. Todos foram. Por trás daquela carinha de anjo que as tias amavam apertar as bochechas, tinha um pequeno grande temperamento. Não adianta negar. Ué, “porque não e ponto final!”

brinquedos e resistente em ter que dividir, conquistava adultos por sua meiguice e carisma. Foi uma criança muito tátil, tendo a necessidade de constante contato físico, como ganhar abraços e beijos. O mundo dos objetos era a sua praia. Fazer todas suas vontades podia se revelar um verdadeiro campo minado para seus pais. GÊMEOS (21 de maio a 20 de junho) A cada dez frases, nove delas tiveram um “por que” no início. É, geminiano, essa sua curiosidade é de longa data. A favor de brincadeiras que estimulassem a inteligência e das que todos pudessem participar, sua facilidade em inventar histórias era a mesma para fazer amizades.

Mas, alto lá, moleque! Seus pais tiveram muito trabalho para lembrá-lo dos limites na hora de utilizar sua esperteza e “flexibilidade” com as palavras. CÂNCER (21 de junho a 21 de julho) Fazer birra era sua “especialidade da casa”, né, canceriano? Emotivo e do tipo que preferia a barra da saia da mãe, se entrosar com a vizinha poderia ser uma novela. Brincadeiras tradicionais, como pular corda e passa-anel, estavam em seu top ten, mas o importante mesmo era que todos se divertissem e fortes elos com as outras crianças fossem construídos. Uma coisa que seus coroas devem ter tirado doutorado foi “como encorajá-lo a fazer coisas novas”.


LEÃO (22 de julho a 22 de agosto) Personalidade e ideias próprias eram o que não faltava nesse corpo, assim como a necessidade de se destacar e impor suas regras. E quantos “peça desculpas” dos seus pais você teve que ouvir ao ser meio abusado, hein? Apesar de parecer orgulhoso, sensibilidade e compreensão também reinavam no pequeno grande você. Atraído por brincadeiras expressivas, tinha uma atração natural por teatro e atividades criativas. VIRGEM (23 de agosto a 22 de setembro) É provável que seus “veios” tenham cogitado a hipótese de você ter transtorno obsessivo-compulsivo em razão de seu relacionamento sério com rotinas e tim-tim por tim-tim. Para entrar em uma brincadeira, as regras deviam estar claras, e mais “fera” ela seria se, claro, o tornasse útil em alguma função. Ensinar-lhe a não ser tão crítico consigo e com outras crianças e que nem tudo necessita de regras fez seus pais suarem a camiseta. LIBRA (23 de setembro a 22 de outubro) Hum, por qual lado começar... Esta dúvida deve tê-lo sugado centenas de vezes, né, indeciso e exageradamente justo libriano? Esse zelo por união e harmonia - e medo de desagradar - o fez uma criança com dificuldades para impor sua personalidade e manter lealdades quando pressionado. Ajudá-lo a se autoenxergar foi a

missão de seus pais quando você não estava entretido desenhando ou brincando com amigos. ESCORPIÃO (23 de outubro a 21 de novembro) Tudo ou nada: desde “toquinho” você reage a tudo com paixão ou repulsa. Brincadeiras que permitiam usar astúcia e descarregar intensas emoções eram as suas preferidas. Já que tolerar personalidades variadas principalmente as fracas - não era de seu domínio, é aceitável que a maioria de suas idas ao “cantinho de pensar” tenha sido motivada por algum comportamento malvado e opressor seu. Quando recebia amor, respondia com lealdade. SAGITÁRIO (22 de novembro a 21 de dezembro) Inquieto, parecia que você não cabia em si. Ficar em casa? Não! Desafios, esportes e explorar novos lugares ou seu próprio mundo da imaginação eram com você mesmo, não é? Volta e meia alguém tinha que puxar as suas rédeas, porque nem que tudo lhe fosse liberado seria o suficiente para acalmar esse espírito sagitariano. Do quarto bagunçado à sinceridade nua e crua: limites eram invisíveis para você tanto quanto os seus deveres - danadinho! CAPRICÓRNIO (22 de dezembro a 20 de janeiro) Para intimidá-lo, a pessoa, no mínimo, deveria ser muito

insistente, certo? Com uma maturidade acima da média, curtia regras - mas não exceções à regra - e, apesar de geralmente obedecer a seus pais e adultos, oferecia resistência quando estes mostravam autoridade fraca. Brincar, para você, era como trabalhar: o negócio era levado a sério. Dominava jogos com estratégias e adorava unir o lazer ao útil. AQUÁRIO (21 de janeiro a 19 de fevereiro) Aquariano, se você não foi uma dessas crianças meigas, certamente era porque estava ocupado demais sendo o capetinha do pedaço. Na pele de uma ou outra, bagunça e agito havia de sobra por onde você passava com suas brincadeiras criativas e desafiantes. Ah, também não dispensava

um bom videogame, confere? Com uma individualidade distinta das outras crianças, seus coroas tiveram que aprender a aceitar sua imprevisibilidade e ponto final. PEIXES (20 de fevereiro a 20 de março) Você vivia nadando na maionese. Megacriativo e sensível, adorava desenhar, pintar e criar, mas enchia o saco quando pedia “só mais uma vez” para assistir a seu desenho favorito pela milésima vez. Embora pudesse ter sido tagarela, apresentava um temperamento introspectivo e, volta e meia, seus pais tinham que incentivá-lo a interagir novamente com o mundo e outras crianças.


Dedo na ferida

OBA-OBA DO DESPERDÍCIO De todos os desafios que inundaram seu feed de notícias, nenhum alcançou tamanha repercussão -internacional e midiática - como o Ice Bucket Challenge, conhecido por solo verde-amarelo como Desafio do Balde de Gelo, e é dele que os maiores “tititis” surgiram.

Dessas correntes pelas redes sociais que viralizam da noite para o dia é difícil avaliar o que sobra mais: gente pegando a onda sem saber surfar ou guardiões da moral que saem descascando a incoerência entre o comportamento dos adeptos e o objetivo da campanha, de preferência, em status e tweets

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Com o objetivo de difundir e arrecadar fundos para o combate à Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) - doença neurodegenerativa ainda sem cura e com tratamento pouco expressivo, que em um prazo de cinco anos, a partir do diagnóstico, diminui progressivamente a capacidade muscular do paciente até levá-lo à paralisia total e morte -, a campanha da ASL Association acabou virando brincadeira para aparecer na web. Ficou mais barbada fazer uma lista dos artistas, políticos e empresários que ainda não tinham levado o banho de água fria dos que cumpriram o desafio. E mais fácil ainda: dos famosos que sacaram que só virar balde de gelo não explica nada a ninguém e que realmente quebraram o porquinho pela causa, lembrando de não ostentar água para apoiar.

Apesar da banalização do desafio e da superatenção que o último artista a cair na modinha ganhava - em vez da luta contra a ELA -, a movimentação fez com que milhões de reais fossem parar na conta da entidade estadunidense. Sim, guardiões, o alvo de seus ataques - o desperdício de H2O - está ajudando milhares de pessoas afetadas pela doença a terem esperança da cura. E tem mais: desperdício é quando você lava a calçada um dia sim e outro não, deixa de consertar por preguiça aquela torneira que há dois meses não fecha direito, escova os dentes com torneira aberta enquanto litros vão pelo ralo abaixo ou usa a máquina de lavar roupa não tendo acumulado nem meia dúzia de peças sujas. É fácil falar dos erros do outro quando este está em voga. Quem sobra para falar do seu esbanjamento, daquele resto do almoço que você põe no lixo, pois se nega a comer comida requentada. Querendo ou não, aí vai a dica: faça melhor, porque mais uma boca para reclamar nunca fez a diferença mesmo.

Kelly Raquel Scheid / kelly@mazup.com.br



8 por 5. Faz sentido? A jornada de trabalho já não é mais a mesma, e a convenção da fração oito horas por dia, cinco vezes por semana afrouxa quando se fala em ritmo pós-moderno. Estamos glamorizando novas tendências

Você é daqueles que acreditam que a jornada de trabalho é uma jaula? Estar à disposição da empresa oito horas por dia, cinco vezes por semana, pregado ao fio invisível do relógio na parede o torna um “macaco” infeliz? Cada vez mais, o empreendedor pósmoderno dá um jeito na tradição e se solta das amarras das convenções sociais, moldando o seu próprio ritmo.

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Quem viveu os loucos anos 1980 pôde conhecer o sentido da música Rotina, da Banda Camisa de Vênus. “Odeio o relógio de ponto, as paranoias depois eu conto” cantava o grupo, ironizando a contravenção do esquema fracional 8 por 5. Afinal, quem disse que tem de ser assim? A resposta é rápida e certeira: a Justiça. No Direito, regular o período de trabalho se tornou essencial ao homem. Se voltarmos para trás, há 200 anos, as pessoas e até mesmo

crianças chegavam a atingir picos de trabalho de 16 horas diárias. Aí, então, entrou a Declaração Universal dos Direitos Humanos que preconizou que “todo o homem tem direito a repouso e limitação razoável nas horas de trabalho”. Com ela, veio a Justiça e sim, por que não dizer uma espécie de tédio. Há sempre os dois lados da mesma moeda. E é por causa dele que as coisas no mundo pós-moderno vivem se adaptando.

RITMO LOUCO A geração Y (ou quarentões que pensam como a geração Y) vem quebrando o padrão da rotina trabalhista. Descolada, ela dá rumo a um novo tipo de jornada de trabalho: uma jornada customizada, aquela feita à la carte, bem do jeito que gosta. A internet e as redes sociais ajudam a impulsionar esse novo padrão de vida trabalhista, afinal de contas, encurta distâncias, e novos formatos de trabalho se criam por conta da cibercultura. Ossos dos novos ofícios. Com nome de profissão americano, o light designer André Heuser (37) tem o horário embolado e é assim que

ele gosta: “Tem dias que não trabalho nada e há outros em que fico 48 horas ligado nas tarefas”. O iluminador de eventos não troca sua falta de rotina por um dia encaixadinho. “Só tive rotina dentro do quartel. Para mim, a vida é louca.” A liberdade de agir e se confundir com hábitos noturnos faz com que ele produza melhor. “O meu trabalho só aparece quando o astro rei vai embora.” No trabalho, sem relógio de ponto, o astro rei é o próprio Heuser. Orbita em torno de seu próprio deleite luminoso.

Andreia Rabaiolli / revista@mazup.com.br



#BEM-VINDO À

Sorrir é verbo intransitivo, tá lá no dicionário. Isso significa que não precisa de complemento numa frase, nem de gesto que o sustente: ele basta por si! É uma contração voluntária de músculos faciais externando o que vem do coração

Fotos Luca Lunardi

GERAÇÃO SMILE Sorrir por estar alegre, satisfeito, por pura disposição, agrado e até por ironia e dúvida. Gargalhar assistindo a uma comédia na TV, de uma piada, de uma história hilária daquele amigo que o faz rir! E nessas horas, não tem ninguém fotografando ou filmando, já reparou? Muito prazer, esse é o seu sorriso verdadeiro, o que vem da alma! Acha que o estou chamando de falso? Não, imagine! Mas “atire” o primeiro clique do celular quem nunca fez sinal de “paz e amor”, ou na frente do espelho fez biquinho para uma selfie, mesmo estando numa fossa desgraçada! Numa tarde de domingo, abro uma velha caixa de fotografias. Reviro retratos da minha infância. Vejo minha mãe pequenina, o cotidiano na casa de meus avós, nos anos 1950. Percebo que quanto mais antigas,

mais aquelas fotos tinham coisas em comum e se diferenciavam das minhas. Não era o colorido ou a diversidade tecnológica, a qual hoje permite que guardemos uma imagem como quisermos. Nos retratos da minha família, as pessoas não olham para a câmera, e mais: não sorriam! Em uma foto, minha mãe, com 10 anos, realizou o sonho de ganhar uma bicicleta de Natal. Na outra, meus avós haviam acabado de subir ao altar e ter dito “sim”! Recém-casados e mais sérios do que nunca? Cadê o sorriso, gente? Ao fechar a caixa, me dei conta: a diferença daqueles retratos para os que vejo hoje é a naturalidade, uma palavra que em tempos superconectados some gradativamente.

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Taca-le pau nesse carrinho! Há poucos anos - sim, sou uma criança dos anos 1990, faz pouco tempo! -, eu ainda brincava com a gurizada descendo com carrinho de lomba a rua na frente de casa. Às vezes, alternava com as minhas Barbies, minha bicicleta e aquela mochila cheia de papel e canetinhas que eu arrastava para todo o lado. Não foram poucas as ocasiões em que eu não tinha com quem brincar, mas criar aquele universo me divertia tanto que fui aprendendo a gostar também da minha própria companhia. Celular? Não tive, até meus 18 anos. Usava os da minha mãe. Eles eram aqueles tijolos da Nokia e Motorola, que para pegar o sinal, a gente subia numa pedra no jardim e ficava com a antena apontada para o Cruzeiro do

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Sul! Comunicação era via telefone fixo. Comprava cartões com 40 unidades e saía em busca do orelhão mais próximo para combinar a balada com minhas amigas. Depois da ligação, falaríamos apenas olho no olho, na pista! Hoje, quem aguentaria essa comunicação quase primitiva? Porém, por que é tão difícil, hoje em dia, ficarmos sozinhos alguns minutos, sem estar teclando com alguém?

Ah, solidão... As facilidades proporcionadas pela tecnologia, geralmente, são acusadas de vilãs, de malvadas do século XXI. Por causa de tamanha praticidade, estamos sozinhos, nos exibimos e distribuímos falsidade afetiva aos montes. No entanto, a psicanalista Diana Corso escreveu que a coisa não é bem assim. Para ela, a verdadeira solidão está na inexistência de comunicação, ou seja, na ausência de diálogo, nem que seja imaginária. A psicanalista explica que não basta viver uma experiência. Nós sentimos uma vontade doida de contar isso para alguém. Quando sofremos, seja por um amor ou por alguma dor, a solidão é o nosso próprio inferno. Mas quando vivemos algo extraordinário, uma viagem com paisagens exuberantes, por exemplo, contar é uma forma de crer naquilo que estamos vendo. E não é que essa malucagem faz algum sentido? Se não faz para você, faz para muita gente, como para um escritor norteamericano. Por causa dele, o mundo nunca mais foi o mesmo.


cinema, tendo na direção o brasileiro Walter Salles, estrelando a atriz vampiresca Kristen Stewart. Se não leu o livro ou viu o filme, ponha na lista. A história é baseada no tempo em que Kerouac passou viajando pelos Estados Unidos, com amigos, nos anos 1940. E certa vez, depois de já ter aprontado muito, Kerouac disse que precisava de solidão e queria desligar a máquina de “pensar” e “curtir”. Ele queria apenas “deitar na grama e olhar as nuvens”. Leu numa escritura antiga que “a sabedoria só pode ser obtida através do ponto de vista da solidão”. Pois muito bem. O louco se inscreveu no Departamento de Agricultura dos Estados Unidos para trabalhar como vigia na Floresta Nacional de Mount Baker.

Sempre na estrada

Pense numa figura que gosta de farra! Esse foi Jack Kerouac, o cara que escreveu o livro On The Road (Pé na Estrada, traduzido no Brasil), que nas décadas de 1960 e 70, na efervescência da revolução sexual e explosão do rock, foi chamado de “Bíblia Hippie”. Em 2012, a obra ganhou uma adaptação para o

Sem parar, ele pensava nos pinheiros maravilhosos à margem de um lago pela manhã, na vida perfeita e bucólica. E assim foi. Ele, Deus e uma cabana no meio do mato. Teve tempo de sobra para refletir sobre a vida, observando o ruído do vento e as nuvens velozes, os retalhos de montanha, os animais silvestres e o brilho do sol. E foi apreciando o céu à noite que Kerouac se deu por conta de que não importa onde ele esteja, seja em um quartinho repleto de ideias ou no universo infinito de estrelas, tudo está na nossa mente, não havendo necessidade de solidão para sempre. Conviver com os outros e contar essas experiências eram fundamentais. Bastava apenas manter a mente limpa das ideias obscuras que as pessoas “fumegam como fábricas no horizonte”.


Tudo está virando... líquido? Seja como forma de crer naquilo que estamos vendo ou para reafirmar nossa condição, a questão é que comunicar dá um chega pra lá na solidão e faz parte da nossa essência. E com tantos meios é quase impossível ficar só. E não há mal nisso. A pergunta é de que forma e o porquê de não querermos ficar na companhia de nós mesmos. Aí, um baita sociólogo polonês, que vem ganhando o mundo com suas obras e ideias geniais, diz que galerinha usa a tecnologia para disfarçar, sim, o conhecido medo da solidão. Aos 87 anos, Zygmunt Bauman vai além e arrasa: afirma que vivemos tempos líquidos e que nada é para durar. Ressalta, ainda, que nossos laços humanos são frágeis, e as relações, hoje, se misturam e se condensam com laços momentâneos e volúveis. Ou seja, uma confusão! Os relacionamentos seriam como água escorrendo pelas nossas mãos porque temos dificuldade na comunicação afetiva. Todo mundo quer compartilhar a vida com alguém em algum momento. Porém, na hora que dá certo, não dura muito por medo ou insegurança. Bauman compara as relações a um vaso de cristal que, na primeira queda, já era! E aí, a gente pensa que cortando vínculos se termina com o problema. Mas o que mal sabemos é que criamos problemas em cima de mais problemas.


O fantástico mundo virtual Ser amigo, desconectar, curtir e comentar são movimentações das redes sociais que já fazem parte do cotidiano. Para muitos, isso tudo é tão essencial quanto comer e tomar água. Basta um clique, um comentário, mesmo que mal tenha lido o post, e pronto. É prático e, principalmente, rápido. Afinal, a palavra “tempo” está escassa e em falta no mercado. Agora, quer ver miscelânea mesmo? Pegue esses comportamentos cibernéticos e os pratique no mundo real, onde o buraco é bem mais embaixo, ou pelo menos deveria ser. Estamos tratando as situações e pessoas de carne e osso com a mesma instantaneidade virtual, feito aqueles três minutos para cozinhar o Miojo. Faltam-nos calma, entrega, paciência e verdade. O amor criado pela sociedade, hoje, nos tira a responsabilidade de relacionamentos sérios e duradouros. Namoros longos, então... adeus! Passamos a nos tratar como os vídeos e posts que curtimos e postamos: objetos e bens de consumo. Tá com defeito, apresentou problema? Ponha fora ou troque por uma versão mais atualizada, ora! O tal “amor” e uma série de sentimentos, entre eles a alegria no simples sorrir, foram fragmentados, banalizados e diminuídos a vários tipos de experiências pelas pessoas.

Eu? Um Millennial? Há milhões de explicações para esse abalo sísmico que vem acontecendo nas estruturas emocionais e comportamentais da sociedade, principalmente, com a base dela, a juventude.

Alguns dizem que essa é a primeira geração “global”. Comunicar com outro continente e visitá-lo nas férias, atualmente, é apenas uma questão de escolha e planejamento. Nunca se desejou tanto viajar. Além disso, o que escrevemos na web diariamente ganha dimensões que mal calculamos. Nossas ideias são visualizadas por pessoas que nunca vimos na vida. Conhecer outras culturas, nos mais diversos cantos do mundo, se tornou algo normal. A toda hora, nós realizamos diversas conexões estéticas e comportamentais. E embaralhados no meio de tanta informação é fácil imaginar que nosso filtro não tenha capacidade de peneirar tudo. Molhados por uma chuva de informação, vamos desenvolvendo um modo de pensar não linear, um retrato da linguagem vivenciada na internet. Sim, a gente começa uma coisa e termina em outra, né? É feito as janelas que vamos abrindo em cascata no navegador. Lá nos anos 1990, dizer que eu era só punk ou só surfista já não era algo assim tão bacana. Hoje, transitamos em diferentes grupos e tribos, e ressaltar

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as nossas diferenças e restrições significa ter personalidade. eu não preciso gostar apenas de uma coisa, mas ser várias em uma: professora, comissária de bordo, radialista, jornalista, cantora, babá no exterior, gostar de praia, sambas antigos e rolling stones. tamanha abrangência de vida e pluralidade é lindo porque mostra que estamos nos reconhecendo, nos respeitando, mesmo tendo inúmeras diferenças. aí voltamos, caro leitor, à questão inicial: essa expansão toda, essa rede social sem fim alimenta o modo como tratamos os relacionamentos aqui fora: leia-se na velocidade de um clique! entendeu agora por que as emoções, como o choro, riso, dor, alegria, tudo parece tão superficial e exagerado?

faCEbooK, aI, qUE INvEJa! Esqueça. Você verá raras demonstrações espontâneas das emoções nas redes sociais, principalmente no Facebook, o maior site de relacionamentos, com mais de um bilhão de usuários. A razão? Bem, o comportamento funciona num processo bem parecido com uma grande “espiral”. A expressão é fruto de um estudo realizado pela Universidade Humboldt, de Berlim, em parceria com a Universidade Técnica de Darmstadt. Eles entrevistaram 600 usuários do Face e constataram que a utilização da rede traz infelicidade. Questionados sobre o que sentiam após ver a timeline dos amigos, eles responderam: frustração e inveja. Afinal, basta correr o olho pela vida on-line alheia para ver galera satisfeita, feliz

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e realizada todos os dias, como se vivesse uma permanente festa. E você, ali, baixando a barra de rolagem e se sentindo uma boba, sem dinheiro para viajar, com um trabalho que não gosta e empacada na dieta. O estudo destaca, então, que esses sentimentos se espalham em um fenômeno que chamam “Espiral da Inveja”, ou seja, você, além de sentir aquela “invejinha branca”, instintivamente passará o comportamento que viu ali, adiante. Os objetos da inveja das pessoas no Facebook variam, claro, de acordo com a cultura do país. Na Alemanha, por exemplo, ver que os amigos estão de folga ou em férias e, ainda por cima, viajando, deixa os alemães doidos. Imagine que, se acontecesse agora uma catástrofe que destruísse o planeta, sobrando somente as páginas do Facebook, pobres historiadores! Eles concluiriam que vivíamos em uma época fantástica, com muita gente feliz, bonita e festeira, não é?

sorrIa, voCÊ NÃo EsTá sENdo fILMado! Os avanços tecnológicos e a capacidade fabulosa de quem os cria e opera, ou seja, nós, jovens criativos, repletos de ideias, são maravilhosos. Hoje, somos mais realistas, e nossos ídolos não morreram de overdose. Eles são pessoas comuns, que realizam pequenos e possíveis sonhos, que não são utópicos. Somos o rosto de uma nova economia, cada vez mais voltada para iniciativas coletivas e colaborativas, porque entendemos que apenas juntos as coisas

podem dar certo. Aí, devemos sim, utilizar o real poder da internet, o de transformação, em vez de usá-la como chance para editar nossas vidas, oferecendo uma compilação “the best of de mim mesmo” que nunca acaba! Muitos comportamentos que não eram entendidos no passado, hoje são coisas naturais. Sim, o novo sempre intimida. A gente pode, sim, tentar tomar parte delas, ou sentar acomodados, de forma confortável. Vivemos relações cheias de incertezas, líquidas, nas quais o amor é negado e mascarado. Assim, fica difícil achar a nossa vida interessante e ter amor-próprio, não acha? Nós queremos nos sentir ouvidos, amparados e, sim, muito amados! E queremos que o outro sinta a nossa falta, não só na timeline. Relacionarse, atualmente, é como caminhar na neblina sem ter certeza de nada. Mas não tem problema. Para achar o caminho de volta, basta lembrar daquele sorriso que distribuímos lá na infância, aquele natural, que vinha do coração, ao brincar com os amigos. Este nunca terá Photoshop e nunca nenhuma rede social saberá traduzi-lo!

raquel Carneiro / revista@mazup.com.br



ALL JEANS O melhor amigo de todas as horas

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Produção executiva: Ana Luísa Johann Fotografia: Karina Jacques e Marcos Castellan Tratamento de imagem: Karina Jacques Moda: Ana Luísa Johann Beleza: Aline Dotto Modelo: Brenda Rocha e Thiago Folle (Premier Models Mgt) Agradecimentos: Lojas Levi’s e Casa da Traça


Uma coleção completa para você arrasar neste verão.

A exuberância está na moda.


O Brasil que compra sexo por um real “Meu trabalho é dizer às mulheres que elas são bonitas, possuem um coração lindo e não precisam vender o próprio corpo. Meu trabalho é amor.” Estas são as palavras de Ashley Kibiger, de Indiana, USA, que esteve no Vale do Taquari, em agosto, com a equipe cristã JOCUM (Jovens com uma missão)

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Ashley e mais sete amigos, entre americanos e mexicanos, fundaram o grupo na Cidade do México há três anos. De junho a agosto, o grupo passou por São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Natal, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Bom Retiro do Sul, para conscientizar a sociedade de algo obscuro, mas real: tráfico de pessoas, atividade que movimenta mais de US$ 32 bilhões por ano


com o principal objetivo de praticar a exploração sexual. O grupo percorre as comunidades acompanhado de tradutores, para mostrar essa realidade nada confortável com base em um documentário chamado 1 Real: The other side of the coin (Um real: o outro lado da moeda, www.1real.org.br). O vídeo traz dados da prostituição, e o nome se deu em razão de uma noite em que a assessora parlamentar Damares Alves estava com um colega em um posto de gasolina e uma menina de 8 anos ofereceu sexo oral para ele por R$ 1. Outro caso bastante comum e que o documentário também retrata é a venda de crianças. As pessoas que trabalham com exploração sexual oferecem dinheiro aos pais para que levem seus filhos, sob pretexto de que podem dar a eles uma vida melhor. Mas o que ocorre, na verdade, é uma lavagem cerebral nas crianças. Os traficantes dizem que elas serão espertas se aproveitarem para ganhar dinheiro com o sexo: “É um jogo psicológico”, declara Ashley. Um episódio ocorrido em Salvador é de cair o queixo: “Um colega se passou por um cara interessado

em sexo e questionou um morador que passava na rua sobre onde conseguiria. ‘Logo ali’, respondeu o homem. E então, o colega disparou: ‘Mas eu gostaria de sexo com crianças’. O homem disse: ‘Ali, no mesmo lugar’. Isso impactou meu coração”, desabafa Ashley. E não é só lá no Nordeste: “Nosso grupo conversou com turistas em Copacabana, no Rio, e vários declararam que já receberam ofertas de sexo com crianças”, relata. Ashley conta que seu amor por suas irmãs a motiva a trabalhar para erradicar o tráfico. “Eu enxergo as mulheres traficadas como se fossem minhas irmãs. Não posso ficar de braços cruzados. Meu sonho é que, daqui a dez anos, as pessoas olhem para trás e digam: “Tráfico humano, no Brasil?! Não é possível que já existiu!”. Assista à versão em português do documentário - http://youtu.be/ uUv2gpoH5G8

Bárbara Delazeri barbara@mazup.com.br


conversa casual Deixa o bicho descansar Entro pela porta da frente. Atravesso o corredor sem cruzar com vivalma. Um som toca baixinho. Desço as escadas e chego até os LPs. Um gato descansa sobre uma pilha de vinis sem capa. Do alto do seu pedestal, parece não se importar com minha presença. Entrando por uma janela empoeirada, o sol distribui raios opacos e ilumina o rosto felino que continua de olhos fechados. O cheiro de mofo. Coço o nariz e vasculho vinis. Reconheço a música: Love Me Two Times, do Doors.

- Tem um toca-discos neste canto diz o dono da loja, apontando para o aparelho, sem olhar nos meus olhos. Aceno com a cabeça e sujo os dedos naquele amontoado de coisas antigas. Deve haver uns dez mil discos naquele cubículo. Enquanto folheio os vinis nacionais, um casal se junta a mim no garimpo. - Olha esse Gil, será que ele não gostaria? - diz a garota. - Tá detonado, Carol. Ela tira o disco da capa e vê o troço todo riscado mesmo. De canto de olho reparo. Ele pega um LP de capa vermelha e olha com mais atenção. A garota afaga o

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gato. Aborrecido, o animal pula para outra estante e derruba uma pilha de compactos. O dono da loja ouve o barulho e briga com o bicho: - Chewbacca! Desce daí, capeta! - Me desculpa, eu o incomodei diz a moça. O dono do felino não amacia. Abre a porta dos fundos e tranca o gato. O rapaz aproveita a cruzada e pergunta: - Como faço para saber o preço dos LPs? - É só olhar nesta tabela na parede. Ele espia o papel e conclui: - Então, esse Transa, do Caetano

Ilustração: Alessandro Mença

Veloso, tá vinte contos? - Sim. Transa, de 1972, do Caetano? Deus, como não eu vi esse troço?! O moleque paga o lance e sai com a namorada irradiante a tiracolo. Perdi. Nunca fui bom nesse negócio de desencavar tesouros. O gato arranha a porta da sala onde está confinado. Abro e liberto o bicho. Passa nas minhas pernas e sobe na pilha de compactos onde estava antes. Ele faz estripulia de novo. Um disco do Crosby, Stills, Nash and Young despenca. É importado, de 1970. Bato o olho na contracapa e vejo a linda música que narra a rotina de um casal: Our House, balada de Grahan Nash. A letra é simples. Um deles acende o fogo, o outro põe as flores no vaso; um quarto aconchegante, janelas iluminadas e gatos passeando no quintal. Olho o preço na tabela, custa R$ 5. Pago o velho. Antes de sair, afago a cabeça do gato e agradeço, afinal, a sorte da estripulia me deu um belo vinil. O bicho nem abre os olhos e devia pensar: - Não precisa agradecer, seu humano idiota. Agora vê se some daqui e me deixa tirar minha pestana matutina.

Márcio Grings é escritor, jornalista e radialista. Essas e outras histórias, leia no blog do Grings: portalbei.com.br/grings


DESABAFO Sobre a falta de naturalidade De selfies de biquinhos forçados com maquiagens borradas em frente de espelhos de banheiros escrotos a relacionamentos passageiros de uma semana que haviam como acordo uma vida inteira. Desculpa. Foi mal! Se é que é necessário pedir desculpa por jogar à mesa a verdade sobre como temos nos comportado nos últimos tempos e sobre os reflexos de uma sociedade tensa que vive em uma montanharussa de emoções e que administra o caos dia após dia. Óquei! A gente sabe que esta é a edição mais tapa “na cara da sociedade” de todas as revistas já lançadas por nós. Ocorre que não deu para segurar. Foi mal! Tá na hora de fazer alguma coisa para reverter o que ainda tem tempo hábil de ser revertido. De repente, nossas relações de amor, amizade, trabalho evaporam com uma simples fervura de ânimos. Por muito pouco trocamos o certo pelo arriscado porque simplesmente ficou mais fácil abrir mão de tudo e de todos do que encarar o sofrimento da dureza que qualquer tipo de mudança exige.

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Enquanto isso, nessa geração smile de hoje, a foto de um sorriso largo com a frase “um beijo no ombro” geralmente é o reflexo público mais íntimo do profundo e sinistro choro da perda ou frustração. Pronto! Todas viram inimigas. E vida longa a elas. Nos comentários logo abaixo do post que foi para a rede social, você prontamente identifica o recalque, as que sofreram pela mesma dor e todas aquelas que já interpretaram felicidade antes e depois do choro baixo da hora do banho. Foi mal! Mas quem nunca?! O teto de vidro tá por toda parte. Em tempos de superexposição da vida privada não há naturalidade que resista ao charme da interpretação. A grama do vizinho nunca foi tão verde. A felicidade nunca tão constante. Nunca fomos tão ricos, nem nunca comemos tão bem. Também nunca malhamos tanto e jamais fomos tão gostosos.

ONG americana que está no Brasil para combater o tráfego de mulheres, as quais são vendidas por R$ 1. Citei acima o caos, não citei? Falamos sobre o quase insustentável modelo de oito horas de trabalho por dia, cinco dias por semana. E a facul? E a academia? E a diversão? Foi mal! Não é preguiça. É, tipo, só queremos trabalhar para viver e não o contrário.

Foi mal! Ative-me praticamente a um único assunto que abordamos aqui. No entanto, no quesito ferida no dedo, no que tange à reflexão, ah, fomos perfeitos! Como o 11 desta edição. Batemos um papo com uma

Gente, por fim, esta edição não está tristinha, não. Vem cá, ó, senta aqui. Fica assim não, tá? A gente pode mudar isso. Juntos! Respira, põe esse sorriso no rosto, compartilha e acredita. Foi mal!




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