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Uma Crise de Confiança no Sistema Bancário Internacional
Osector financeiro internacional em Março ficou marcado por uma elevada volatilidade, em consequência de uma crise de confiança no sector bancário que resultou na queda de dois bancos norte-americanos, o Silicon Valley Bank (SVB) e o Signature Bank, e um na Suíça, o Credit Suisse.
Desde o primeiro semestre de 2022, tem-se assistido nas principais economias uma tendência crescente das yields por consequência da adopção de uma postura hawkish dos maiores bancos centrais, com subidas sucessivas das taxas de juros, com o objectivo de controlar a inflação. Esta subida das taxas de juro tem gerado perdas acumuladas por reavaliação nas carteiras de obrigações dos bancos.
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O banco SVB foi encerrado pelo Departamento de Protecção Financeira e Inovação da Califórnia, após uma redução material no valor dos seus investimentos, e a retirada de elevadas somas de dinheiro por parte dos seus depositantes num curto período.
O banco, entre 2019 e 2022, observou um crescimento expressivo do balanço (USD 209 mil milhões em activos), que resultou de um aumento significativo de depósitos, liquidez que foi usada para a aquisição de obrigações e para a concessão de crédito.
Entretanto, na actual conjuntura de subida de taxas de juros, em que as yields das obrigações têm estado a aumentar, levou a que estas obrigações perdessem valor. Por outro lado, alguns clientes do banco, a sua maioria associados ao sector da indústria tecnológica, enfrentaram dificuldades financeiras neste período e iniciaram um processo de levantamento dos seus depósitos, que rapidamente se tornou num movimento em “bola de neve”.
Para satisfazer esta perda de liquidez, o banco foi forçado a vender parte da sua carteira de obrigações, realizando perdas financeiras. A maior parte dos depósitos do banco estavam acima do limite de garantia do Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) em caso de insolvência, o que incentivou os clientes a procurarem levantar cada vez mais rapidamente os depósitos, registando-se um total de USD 42 mil milhões em tentativas de levantamento em cerca de 48 horas.
Ainda nos Estados Unidos, após as notícias da queda do SVB, os depositantes de outros bancos regionais, em particular os não cobertos pelo FDIC, entraram em pânico, o que levou ao encerramento do Signature Bank.
Este banco, para além de deter grandes somas em depósitos não garantidos (USD 79,5 mil milhões) e estar exposto ao sector das criptomoedas, apresentava um risco excessivo de liquidez, pois somente 5% do seu activo era mantido em caixa, contra uma média de 13% na indústria.
Os reguladores temiam o contágio contínuo no sector bancário e fecharam o Signature Bank, para além de terem tomado medidas de disponibilização de liquidez aos bancos, como forma de tentar conter o pânico que já se havia instalado.
Do outro lado do Atlântico, poucos dias mais tarde assistiu-se ao colapso do Credit Suisse, que por razões diferentes do que aconteceu nos Estados Unidos, em particular uma série de escândalos, a queda contínua do preço das acções e as declarações do seu maior accionista de que não estaria disposto a injectar mais capital no Banco no meio desta crise bancária, contribuíram para maiores saídas de liquidez e ditaram o seu colapso.
O Credit Suisse enfrentou vários escândalos nos últimos anos, entre eles a espionagem a colaboradores, o envolvimento na estruturação e colocação das dívidas ocultas em Moçambique, o colapso de dois fundos de investimento em que o banco estava fortemente envolvido e uma sucessiva troca de executivos.
Após o colapso destes três bancos, gerou-se um clima de elevada incerteza no sistema financeiro global, gerando grandes preocupações por parte dos principais depositantes e entidades reguladoras de várias economias mundiais. Estes eventos fizeram com que as acções de vários bancos cotados em Bolsa desvalorizassem, dada a falta de confiança no sistema pelos investidores.
Uma situação que se estabilizou assim que começaram a surgir informações sobre as garantias de devolução integral dos depósitos pelo FDIC, a proposta de aquisição do SVB pelo First Citizens Bank nos Estados Unidos e a aquisição do Credit Suisse pelo seu antigo concorrente, o UBS, avaliada em cerca de USD 3,3 mil milhões.
Estes movimentos, aliados às facilidades de liquidez concedidas pelos bancos centrais contribuíram para apoiar o sistema bancário global e evitar o colapso do mesmo, reduzindo desta forma os riscos sistémicos de contágio e de perda de confiança. O Fundo Monetário Internacional (FMI) entende que a recente instabilidade no sistema bancário, principalmente nos Estados Unidos, poderá aumentar a severidade e a duração da recessão que estimam para 2023.
Alguns analistas defendem que o custo económico do stress no sistema bancário apenas se sentirá após alguns meses, à medida que os bancos restringem cada vez mais os critérios de concessão de crédito e reduzem a disponibilidade de crédito às famílias e empresas.
Em Moçambique, estes eventos não parecem constituir um perigo para o sistema financeiro nacional, até porque, no cenário actual, estes parecem distantes da realidade do País tendo em consideração diversas perspectivas.
Na perspectiva de contágio, o risco é reduzido por se tratar de uma economia mais fechada onde os accionistas dos bancos que operam em Moçambique estão pouco expostos aos bancos ou às regiões que foram mais afectados, e as obrigações emitidas no País são predominantemente de taxa variável, com menor impacto nos resultados dos bancos em caso de subida de taxas de juros.
Na perspectiva de confiança, após os casos de insolvência e intervenção ocorridos há cerca de seis, sete anos, em bancos nacionais, os bancos têm conseguido manter rácios de solvabilidade e liquidez adequados, não existindo preocupações materiais relativamente ao risco de continuidade dos bancos no País.
Numa perspectiva macroeconómica, o Banco de Moçambique tem estado, desde 2021, a adoptar uma postura hawkish com algum sucesso, tendo conseguido manter a inflação muito próxima do target de referência (abaixo de um dígito) o que contribui para a estabilidade nas yields das obrigações.
Contudo, a volatilidade dos mercados financeiros internacionais continua muito elevada, e a visibilidade futura é muito reduzida no que concerne ao rumo que a economia global vai tomar nos tempos que se avizinham.
Reflectindo Sobre Moçambique Independente: Pessoas, Instituições, Recursos Naturais E Utopias
Falta menos de três meses para Moçambique completar 48 anos de independência nacional. A aproximação do dia 25 de Junho foi o mote para esta reflexão breve sobre os sonhos, o caminho trilhado, os resultados alcançados, os desafios enfrentados e o que se pode enxergar além do horizonte.
O que será o nosso País daqui a 30 anos? Será um País com parte significativa da sua população pobre, com crianças enfrentando problemas de desnutrição crónica, com famílias consumindo água inadequada, padecendo de enfermidades simples de prever e sem habitação apropriada?
Ou queremos que em 2053 tenhamos no País escolas e universidades para todos, com famílias saudáveis, bem alimentadas, que participem activamente na vida da Nação e que caminham orgulhosos perante a história?
Que respostas daremos aos nossos netos quando nos perguntarem, daqui a 30 anos, “mas, afinal, o que fizeram vocês para preparar um futuro de progresso, bem-estar e prosperidade para nós?” Que respostas vamos poder dar-lhes?
Gostaria de responder que trabalhámos para edificar um País estável, culto, saudável, ético e democrático, de justiça social e com oportunidades iguais para todos, um Povo que caminha de cabeça erguida, onde a voz do Povo não sirva para esconder a fome, pobreza e miséria, mas para exaltar a sua riqueza cultural, espiritual, intelectual, material e humanística.
Depois da longa noite colonial, Moçambique alcança a sua independência nacional com insuficiência de recursos humanos, com poucos quadros capacitados para o desafio de implantar um Estado Pós-Colonial eficiente e eficaz, com instituições frágeis para dar o suporte