5 minute read

Como a Tecnologia ao Serviço da Prevenção Pode Salvar Milhares de Vidas

Desde Abril, Moçambique conta com o primeiro de vários equipamentos que permitem prever, com antecedência e precisão, a evolução de ciclones e tempestades tropicais. E serão também instalados equipamentos de detecção de descargas atmosféricas, que vitimam muita gente, principalmente no Centro e no Norte. Num País demasiado exposto aos riscos climáticos, há uma tecnológica moçambicana que está a trabalhar para fazer face a estes problemas. E até já tem o Radar da Beira para o mostrar

Ainstalação, na cidade da Beira, do primeiro radar para a visualização antecipada de intempéries meteorológicas severas vai permitir que a população seja avisada sobre esses eventos com a devida antecedência, e que os organismos responsáveis consigam organizar-se no sentido de minimizar os impactos como os verificados no ciclone Idai, Kenneth e outros.

Advertisement

Portanto, é uma boa nova. Mas, neste espaço, vamos explorar como funcionam na que viu assim rentabilizado o investimento feito numa nova rede meteorológica nacional, processo em tudo idêntico (se bem que mais cedo) ao que está a ser desenvolvido em Moçambique e envolvendo o mesmo fornecedor de equipamento. Desta forma, quando o Dorian atingiu as Bahamas, informações e alertas mais precisos foram enviados, permitindo que milhares de cidadãos e organizações se preparassem e buscassem abrigo contra a ameaça da intempérie em forma de furacão que atingiu as Bahamas com estes equipamentos do ponto de vista tecnológico, na sua complexa função de localizar, estimar o nível das intempéries, o tipo e intensidade da precipitação (chuva, neve ou granizo) e de calcular o seu deslocamento.

Antes disso, porém, importa referir que equipamentos semelhantes ao que foi instalado na cidade da Beira, da fabricante finlandesa Vaisala, líder mundial de tecnologia de equipamentos meteorológicos, já foram usados com sucesso.

Por exemplo, através deles foi rastreado o furacão Dorian, em Setembro de 2019, quando se aproximava das Bahamas, zo- ventos máximos sustentados de cerca de 300 km/h, as maiores velocidades de vento de um furacão no Atlântico jamais registadas.

A tempestade resultou em danos significativos nas ilhas paradisíacas e a maioria das estruturas foi arrasada afectando directamente 70 mil pessoas que ficaram sem as suas casas. Mas se o furacão não tivesse sido devidamente monitorado e alertas oportunos não tivessem sido dados com antecedência, as consequências poderiam ter sido ainda bem piores. Esta experiência traz a Moçambique algum ânimo e esperança de que os impac- tos das próximas intempéries serão minimizados.

Como funcionam os radares meteorológicos?

O primeiro radar inaugurado na cidade da Beira é o Doppler. Considerado como um dos mais modernos equipamentos do género, está a ser implementado e instalado por uma tecnológica moçambicana, a TVSD, que será também a responsável pela manutenção do mesmo nos próximos cinco anos.

Para melhor conhecer as funcionalidades destes equipamentos, a E&M falou com o CEO da empresa fundada em 2000, Sérgio dha Costa, que começa por explicar que o novo radar é de dupla polarização, isto é, mede simultaneamente através de ondas de rádio polarizadas horizontal e verticalmente, “o que permite que o equipamento forneça medições de qualidade muito mais precisas do que antes como, por exemplo, a medição mais precisa da intensidade de chuva, com menos anomalias ou erros nos dados”, explica. “O radar modelo WRM200 da Vaisala inclui muitos algoritmos de processamento de dados patenteados que o tornam no instrumento mais ‘sensível’ e preciso da sua classe”, complementa.

De uma maneira geral, os radares meteorológicos são principalmente radares pulso-Doppler, com polarização simples ou dupla, capazes de detectar o movimento radial de um conjunto de hidrometeoros (principalmente gotas de chuva, cristais de gelo e granizo) e ainda estimar a intensidade da precipitação associada à queda dos mesmos.

As variáveis obtidas podem ser analisadas para determinar a estrutura interna das nuvens de chuva (por exemplo, tempestades), assim como as correntes de vento ascendentes, descendentes, convergentes e rotacionais associadas. Desta análise pode-se determinar o seu potencial para causar tempo severo, numa detecção que poderá ir até aos 300 km/h, dependendo de vários factores. O equipamento utiliza um sistema de ondas electromagnéticas para poder medir distâncias, direcções, altitudes e velocidades de objectos, tanto estáticos como em movimento, capazes de monitorar veículos, aviões, navios, etc.

Nesse caso, as ondas são utilizadas para avaliar formações meteorológicas e têm um monitoramento contínuo do movimento das nuvens. O seu funcionamento é simples: geram um pulso de rádio que é reflectido no alvo, sendo recebido da mesma posição do emissor.

Graças a isto, pode ser obtido um conjunto de informações sobre a localização das nuvens, a sua densidade e forma, se estão a crescer ou se causarão algum tipo de precipitação. Será o primeiro de vários equipamentos do género no País.

Detectores de descargas atmosféricas. Como funcionam?

Em Moçambique será também instalado equipamento para detectar descargas eléctricas decorrentes de relâmpagos, que têm causado muitas vítimas, principalmente no Centro e no Norte. Sérgio Dha Costa explica que é chamado de sensor Vaisala LS7002 o equipamento usado para detectar descargas elétricas resultantes de raios. “Os sistemas de detecção de raios usam várias tecnologias, incluindo detecção de radiofrequência (RF) e localização de direção magnética. A detecção de RF é o método mais comum usado em sistemas de detecção de raios. Envolve o uso de uma rede de sensores para detectar as ondas de rádio geradas por raios”, releva. Ainda de acordo com o CEO da TVSD, ao analisar a frequência e a amplitude das ondas de rádio, os sistemas de detecção de raios podem determinar a sua localização e intensidade. “O LS7002 da Vaisala também usa a detecção de direcção magnética, que prevê as mudanças no campo magnético causadas por raios e ao triangular a localização dessas mudanças, os sistemas de detecção de raios podem determinar a sua localização. Os sensores usam, então, a combinação de localização de direcção magnética e técnicas de tempo de chegada para detectar pulsos de relâmpagos de nuvens e relâmpagos nuvem-solo e localizá-los com muita precisão fornecem uma visão abrangente da actividade do raio dentro de uma tempestade e capturam amplos conjuntos de dados para a toma- da de decisões bem informadas”, esclareceu. O País beneficiará do sistema de detecção de raios quando estiver totalmente instalado e comissionado. O momento da instalação dependerá do planeamento, financiamento e aquisição do sistema pelo Governo de Moçambique.

Para o efeito, a TVSD, juntamente com a Vaisala e o Instituto Nacional de Meteorologia (INAM), efectuaram um workshop técnico no dia 20 de Abril na cidade da Beira, envolvendo entidades governamentais, como empresas ligadas ao sector eléctrico, sector de transportes e outros, no sentido de começarem a delinear o arranque desse projecto.

“Neste momento, são necessários sete radares para cobrir o território moçambicano. Já temos o da Beira, recentemente inaugurado, e estão já em análise o arranque de dois novos radares até ao primeiro trimestre de 2024 nas cidades de Xai-Xai e Nacala”. O radar instalado na Beira será operado pelo INAM a partir do seu centro de controlo no aeroporto da Beira e da sua sede na cidade de Maputo. Além do INAM, outras entidades oficiais envolvidas incluem o Gabinete de Reconstrução Pós-Ciclones (GREPOC) e o Banco Africano de Desenvolvimento, que é responsável pelo financiamento.

Com 23 anos de experiência na indústria das telecomunicações, a TVSD é a principal fornecedora e instaladora de soluções de telecomunicações e serviços de manutenção em Moçambique. Sediada em Maputo, iniciou a sua actividade no ano de 2000 tendo, à época, como principal objectivo, o negócio da TV pré-paga, cobrança de taxas e venda de equipamento. Com o passar do tempo, as operações da TVSD evoluíram, estando agora em várias áreas.

This article is from: