Jornal OPaís edição 1581 de 30/08/2019

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AnGOlA E COMORES PREPARAM COMiSSÃO MiSTA

FundAÇÃO WAnHEnGA XiTu inAuGuRA MEMORiAl dO SEu PATROnO EM CAlOMbOlOCA

Angola e as Comores vão criar, antes de Dezembro deste ano, uma Comissão Mista com vista a facilitar o intercâmbio entre os dois países, anunciou nesta quinta-feira, em Yokohama, Japão, o presidente comorense, Azali Assoumani. P.9

Construído numa superfície de 160 metros quadrados pela fundação de que é patrono na comuna de Calomboloca, a 80 quilómetros de luanda ,no município de icolo e Bengo, a obra é inaugurada neste Sábado, dois dias depois do seu 95º aniversário natalício, assinalado a 29 de Agosto. P.24 Director: José Kaliengue

www.opaís.co.ao e-mail: info@opaís.co.ao @Jornalopaís facebook/opaís.angola

O DIÁRIO DA NOVA ANGOLA Edição n.º 1581 Sexta-feira, 30 /08/2019 preço: 40 Kz

AndEbOl AnGOlAnO FAZ dObRAdinHA EM MARROCOS

Jovens prometem continuar com manifestações contra desemprego ● Caso não haja soluções práticas, Miguel Nhoca, membro da comissão organizadora das manifestações, adiantou que o grupo vai estender os protestos para outras 13 províncias, de forma a chamar a atenção do poder político para a necessidade da melhoria das condições de vida dos cidadãos. P. 8

dESPORTO: A Selecção nacional sénior feminina de andebol conquistou ontem a

medalha de ouro, após vencer, por 28-25, os Camarões, nos Jogos Africanos, que decorrem em Marrocos. Em masculino, o sete angolano também arrebatou o ouro com vitória, por 31-25 na final frente ao Egipto. P.27 lito CAHongolo

dOM TiRSO blAnCO

‘AnGOlA dO lESTE É uMA TERRA QuE FOi ESQuECidA’

P. 20

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Confiança no Futuro

● Todos os anos várias pessoas desaparecem no mundo, no seguimento de conflitos armados, desastres naturais, fluxos migratórios, crime organizado ou em circunstâncias misteriosas. Estas são recordadas anualmente no Dia Internacional das Vítimas de Desaparecimentos Forçados, que hoje é assinalado. P.12

Patrulhamento nos Mulenvos reforçado com 300 efectivos ● A Polícia Nacional em Luanda, a semelhança da Cidade do Kilamba, reforçou desde ontem o patrulhamento na zona dos Mulenvos, com 300 efectivos. P. 12

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A história de um angolano desaparecido há 20 anos na África do Sul

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EM FOCO

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O PAÍS Sexta-feira, 30 de Agosto de 2019

virgílio pinto/Arquivo

Benguela regista aumento de mordeduras caninas Trezentos e um casos (301) de mordedura canina, dos quais um resultou em morte, foram registados no primeiro semestre do corrente ano, no município de Benguela, pelo Departamento provincial de veterinária, informou ontem quinta-feira, 29, fonte da instituição

E

m declarações à Angop, a médica veterinária Elisabeth Conde disse que, comparativamente ao mesmo período do ano passado (2018), registou-se um aumento de 186 casos deste tipo de mordedura. A médica referiu que, apesar disso, os cidadãos têm levado os seus cães com mais frequência aos serviços veterinários para a vacinação de rotina, ao contrário dos anos anteriores. A responsável frisou que, nos primeiros seis meses deste ano, foram vacinados aproximadamente 12 mil animais de estimação, prevendo-se que seja atingida a cifra do ano transacto, cujos números rondam os 25 mil animais imunizados. Elisabeth Conde avançou que a campanha massiva de vacinação vai ter início durante as comemo-

rações do Dia Mundial da Raiva, 28 de Setembro, prolongando-se até Outubro próximo. A médica veterinária criticou o estado de abandono em que se encontra o canil da cidade de Benguela, que poderia albergar os cães vadios. Enquanto isso, o director clínico do hospital municipal de Benguela, Luís Lisboa Vieira, confirmou a morte na semana finda de uma criança em consequência do ataque de um cão raivoso, enquanto um adulto, vítima também de mordedura canina, encontra-se internado com o diagnóstico de raiva confirmado. “A menina chegou em estado crítico e acabou por falecer”, disse o médico, avançando que a situação é preocupante por trata-se de vidas humanas que se vão perdendo por uma situação que já deveria ser controlada. Luís

Vieira garantiu haver vacinas para cães e humanos, mas que esta ainda é negligenciada por falta de informação suficiente sobre a existência de um protocolo que, geralmente, deve ser cumprido. Nestes casos, afirmou Luís Lisboa Vieira, até 10 dias depois da mordedura, a pessoa infectada deve, necessariamente, ir a um centro hospitalar para vacinação e o cão deve ser avaliado (submetido a quarentena para observação) e, se confirmado o seu estado raivoso, deve ser sacrificado. O médico acrescentou que a raiva tem uma característica típica que é a “hidrofobia”, ou seja, a pessoa doente apresenta reacções violentas, sempre que colocada diante de água, porque não suporta enxergá-la. Questionado sobre o défice de informação sobre as medidas a adoptar em caso de mordedura, disse ser da responsabilidade da saúde pública, que deve trabalhar afincadamente com as comunidades, educando, mobilizando e sensibilizando a população. Apelou a população a vacinar todos os animais domésticos e procurar um centro médico em caso de qualquer mordedura, seja de macaco, gato ou cão.


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14/02/19

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dESTAQuES POlÍTiCA. PáG. 08 Manifestações contra má governação e desemprego podem cobrir o país todo.

o editorial

SOCiEdAdE. PáG. 12 A história de um angolano desaparecido há 20 anos na África do Sul.

CARTAZ. PáG. 14 “Depois do sopro da vida, a única coisa que nos suporta é a esperança”.

ECOnOMiA. PáG. 18 Cidadãos

poderão abrir conta bancária no telemóvel.

HOJE:

n caminho do sucesso, certamente

S

ó pode ser, Angola está perto de resolver o seu problema com a malária, o que é muito bom. pelo menos pelos dados oficiais que vão sendo divulgados. no íncio do ano, o Huambo anunciou resultados espectaculares, segue-se agora Cabinda. outras províncias já tinham anunciado reduções. portanto, o país vai no caminho certo. Entretanto, convém que esta evolução seja sustentável. E verdadeira. é que parece ir em contramão das queixas populares generalizadas. Mas se tudo isto for mesmo verdade, então as autoridades devem começar rapidamente a rever a sua estratégia de actuação e de gestão hospitalar, já que o “sujeito” passa a ser outro e a exigir medidas diferentes. Mas pelos dados provinciais, não há dúvidas de que o país vai no bom caminho. Esperemos que o balanço nacional os confirmem e consolidem

o que foi dito ÚlTiMA. PG. 32 oposição quer debate de emergência para legislar contra Brexit sem acordo.

As medidas que o Estado angolano está a tomar para combater a corrupção são apropriadas, para que o país seja governado com base na lei” João lourenço presidente da república

O PAÍS Sexta-feira, 3 0 d e A gosto d e 2 019

os números do dia

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796 “

A equipa conta com o Camavinga, atleta que actua em França, na fase final do Campeonato do Mundo, a decorrer no brasil”

Pedro Gonçalves treinador da Selecção nacional de futebol em sub-17

Toneladas de peixe carapau foram apreendidas, na quartafeira, na zona de jurisdição da Capitania do porto do lobito (Benguela), por uma equipa da inspecção e fiscalização da Delegação provincial das pescas.

Mortos e 233 feridos graves é o saldo de 207 acidentes de viação registados no primeiro semestre deste ano, pela Direcção de viação e trânsito nas estradas da província do Bengo. Estações meteorológicas e três outras de rádio sonda, para monitorização climática a nível vertical, serão instaladas no país até 2021, num projecto avaliado em 60 milhões de dólares.

novos casos de Hiv/Sida foram diagnosticados no primeiro semestre deste ano na província do Bié, o que representa um aumento de 210 casos em relação ao igual período anterior.

Os membros da Cooperativa de Jornalistas Angolanos (CJA) devem pensar e fazer diferente na resolução dos problemas da classe” Celso Malavoloneke Secretário de Estado da Comunicação Social


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O PAÍS Sexta-feira, 30 de Agosto de 2019

e assim... José Kaliengue Director

Hoje no online de O PAÍS leia a entrevista com o bispo Dom tirso Blanco e conheça os meandros da vida deste prelado de 62 anos que até reconstroi pontes arcaicas para as populações do Moxico

O que se passa com a Polícia?

P

www.opais.co.ao inglaterra (londres) Britânicos qualificam o posicionamento e acção do primeiro- ministro Boris Johnson como anti-democraticas. A oposição vai forçar um debate de emergência para aprovar legislação que impeça um “Brexit” sem acordo.(Dr)

o que vai acontecer Política Angola e as Comores vão criar, antes de Dezembro deste ano, uma Comissão Mista, com vista a facilitar o intercâmbio entre os dois países, anunciou, em Yokohama, Japão, o presidente comorense, Azali Assoumani. o Chefe de Estado Comorense, que falava à imprensa no final de um encontro com o presidente João lourenço, à margem dos trabalhos da sétima Conferência internacional de tóquio para o Desenvolvimento de África (tiCAD7), disse que o seu país pretende beber da experiência de Angola, sobretudo, na agricultura e nas pescas.

Teatro o filho do vento” é o título da tragédia dramática que o colectivo de artes renovadores exibe hoje, às 20:00, na liga Africana, em luanda, no âmbito da quarta edição do Circuito internacional de teatro (Cit), que decorre até 16 de Setembro. o drama dá ênfase às consequências da aculturação e da aproximação entre o modernismo e o tradicional, com recurso a uma tragédia, no caso a morte do pai de Kassai (um dos protagonistas). quando o incidente acontece, Kassai é obrigado a regressar à terra natal para descobrir as causas da morte do pai.

Show os ritmos cabo-verdia-

nos ganham vida hoje e amanhã, a partir das 21:00, no royal plaza, em luanda, com a realização de mais uma edição do projecto “Show do Mês”, que tem como principal atracção o cantor grace évora. o músico, que chegou a luanda no início desta semana, já tem estado a ensaiar com a banda e o guitarrista Johnny Fonseca . Embora os ensaios estejam a decorrer sem a presença do solista teddy nsigui, substituído por Johnny Fonseca, e do baixista Mias galheta, cujo lugar vai ser ocupado por Kappa D, espera satisfazer as expectativas. Apesar das mudanças, alguns nomes continuam permanentes.

Sociedade A cidade de luanda acolhe pela primeira vez, de 5 a 7 de Setembro, a Expo Marketing Digital e vendas online, que contará com a participação de mais de 20 agências de publicidade. trata-se do primeiro evento em Angola, que vai congregar vários especialistas do sector, entre os quais dois oradores provenientes de portugal e do Dubai, segundo disse à Angop o portavoz da Expo, luís paul. Durante três dias, explicou, mais de dez palestrantes de empresas líderes vão debater a realidade do marketing digital em Angola.

arece haver um padrão qualquer que deve ser bem estudado: violência, demissões e ajustes na Polícia, época do ano, fuga de presos, etc., há que ver. Mais do que as cíclicas operações que parecem nada resolver. O que não pode acontecer é o país viver de operação em operação, tem de haver uma linha contínua de estabilidade assegurada e, sim, resposta ao crime quando acontecer. E deve ser uma reposta dura. Luanda, particularmente, entrou num sistema de violência cíclica nos seus ápices. Ou seja, agora a Polícia irá intervir para deixar a cidade calma, talvez até Outubro e depois teremos também um grande aparato em Dezembro. E tudo se desvanecerá a seguir e os bandidos voltarão a semear o terror. A população, ou começará de novo a linchar os “seus” suspeitos, pondo em causa um dos pilares do Estado, o da justiça, ou clamará fará apelo à Polícia. E algumas demissões ou trocas poderão ocorrer no comando da corporação. A nossa Polícia é incapaz de manter um certo clima de segurança mínima obrigatória? Não consegue antecipar os surtos de crimes cada vez mais violentos e ousados? O Estado não assegura à Polícia os meios necessários para o seu funcionamento normal e continuo? Haverá por aí jogos que ultrapassam o nosso entendimento e que os cidadãos pagam com os seus bens e até com a vida?

E também... Girabola o petro de luanda viaja amanhã, 15:00, para a província da Huíla, onde defronta o Desportivo local, em jogo referente à terceira jornada do girabola Zap, Campeonato nacional.

O Dia Internacional das Vítimas de Desaparecimentos Forçados ocorre a 30 de agosto. A data foi instituída pela ONU em dezembro de 2010, através da resolução 65/209, começando-se a ser celebrada em 2011. O objetivo é unir os líderes dos países e combater o desaparecimento forçado de pessoas por todo o mundo. Esta resolução proclamou a entrada em vigor da Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados, já adoptada em 2006 (e assinada por Portugal em 2007).


6 Media Nova, S.A Presidente do Conselho de Administração Filipe Correia de Sá Administradores Executivos luís gomes paulo Kénia Camotim Propriedade : Socijornal Depósito Legal: nº 244/2008 Contribuinte: 5417015059 Nº registo estatístico: 48058

O PAÍS Sexta-feira, 30 de Agosto de 2019

nO TEMPO dO KAPARAndAndA

Director Geral de Publicações: José Kaliengue jose.kaliengue@opais.co.ao

OPAÍS

Director: José Kaliengue Sub-Director: Daniel Costa, daniel.costa@opais.co.ao Chefe de Redacção: Eugénio Mateus, eugenio.mateus@opais. co.ao Grande repórter: André Mussamo andre.mussamo@opais.co.ao Editorias : Política: ireneu Mujoco ireneu.mujoco@opais.co.ao (Editor) Sociedade: paulo Sérgio paulo.sergio@opais.co.ao (Editor) romão Brandão romao.brandao@opais.co.ao (Sub-editor) Economia luís Faria (Coordenador-Editor) luis.faria@opais.co.ao Desporto: Sebastião Félix sebastiao.felix@opais.co.ao (Editor) Mário Silva mario.silva@opais.co.ao (Sub-editor) Cartaz: Jorge Fernandes jorge.silva@medianova.co.ao (Sub-editor) Redacção: norberto Sateco, Alberto Bambi, Augusto nunes, rila Berta, Miguel Kitari, Domingos Bento, neusa Filipe, Afrodite Zumba, Milton Manaça, Antónia gonçalo, Maria teixeira, iracelma Kaliengue, patrícia oliveira, Stela Cambamba, Zuleide de Carvalho (Benguela),Brenda Sambo, Maria Custódia, Kiameso pedro e Adjelson Coimbra. Arte: ladislau Bernardo (Coordenador) valério vunda (Coordenador adjunto)lourenço pascoal, Annette Fernandes, nelson da Silva e Francisco da Silva. Fotografia: Carlos Moco (Editor), Daniel Miguel (Sub-editor), pedro nicodemos, Jacinto Figueiredo, Carlos Augusto, virgílio pinto, lito Cahongolo (repórteres fotográficos), rosa gaspar e Yuri dos Santos (Assistentes de Departamento) Revisão: António Setas Agências: Angop, AFp, reuters, getty images

Assistentes de Redacção: Antónia Correia, rosa gaspar, inês Monteiro e Sílvia Henriques Impressão e acabamento: DAMEr, S. A. luanda Sul, Edifício Damer Distribuição: Media nova Distribuição tel: +244 943028039 Distribuidora@medianova.co.ao pontodevenda@medianova.co.ao Assinaturas: Bruno pedro tel: +244 945 501 040 Bruno.pedro@medianova.co.ao Online: Venâncio Rodrigues (Editor)isabel Dalla e Ana gomes Sítio Online: www.opais.co.ao Contactos: info@opais.co.ao tel: 914 718 634 -222 003 268 Fax: 222 007 754 Sede: Condomínio AlpHA, talatona- luanda. tel: 222 009 444 república de Angola

Comercial e Marketing: Senda Costa 922682440 vladimir teixeira email: comercial@medianova.co.ao Tiragem: 15 000 exemplares

1963

30 de Agosto Entrou em operação a linha directa MoscovoWashington entre os líderes dos Estados unidos e da união Soviética.

1991

30 de Agosto Com a dissolução da união Soviética, o Azerbaijão declarou-se independente da união Soviética

2002

30 de Agosto o voo 4823 da rico linhas Aéreas caiu próximo do Aeroporto internacional de rio Branco, matando 23 dos 31 passageiros a bordo

CARTA dO lEiTOR

Mais iluminação pública, por favor Director, bom dia de Sexta-feira e óptima disposição para o trabalho. Nos últimos tempos, várias avenidas e ruas da província de Luanda têm estado às escuras. A falta de manutenção nos postes de iluminação pública e outros factores estão a prejudicar a vida dos cidadãos. Por isso, gostaria que as autoridades competentes fizessem o trabalho no sentido de tornar iluminada estas zonas. Com iluminação, o trabalho dos agentes da Policia Nacional fica mais facilitado. Pois, o contrário cria condições para os meliantes fazerem das suas quando cai a noite. Por conta disto, no meu bairro, no Cassequel, Calemba e arredores, os moradores estão a sofrer. Os bandidos aproveitam-se da

Dr

escuridão para fazerem das suas e as vezes no meio da multidão. É importante as autoridades cumprirem o seu papel e não esperar pela reclamação dos cidadãos. Aliás, os novos modelos de gestão pública ou provado

impõem mais saber sobre as coisas ou sobre os homens na cadeia de execução. Os problemas de iluminação pública numa província ou cidade como a nossa já deviam ser reduzidos significativamente.

Espero que as autoridades competentes atendam a minha reclamação, porque juntos estamos a contribuir para os fins, positivos, da comunidade. Sanjito Varanda, Luanda

Escreva para o Jornal OPAÍS através do e-mail info@opais.co.ao ou ligue para estes contactos tel: 222 003 268 Fax: 222 007 754



POlÍTiCA

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O PAÍS Sexta-feira, 30 de Agosto de 2019

Manifestações contra má governação e desemprego podem cobrir o país todo Foto: nilton MontEiro

Todavia, caso não haja soluções práticas, Miguel Nhoca adiantou que o grupo vai estender os protestos para outras restantes 13 províncias, de maneira a chamar a atenção do poder politico para a necessidade da melhoria das condições de vidas dos cidadãos. “Só estamos a exigir o que nos foi prometido. O Presidente João Lourenço, aquando da sua entrada no poder, prometeu boa governação e a criação dos 500 mil postos de trabalho. Mas até agora não estamos a ver nada de melhoria. E assim é complicado. Por esse motivo é que estamos a empreender a nossa luta”, frisou.

Grupo de manifestantes

Caso não haja soluções práticas, Miguel nhoca, membro da comissão organizadora das manifestações, adiantou que o grupo vai estender os protestos para outras 13 províncias, de forma a chamar a atenção do poder político para a necessidade da melhoria das condições de vida dos cidadãos Domingos Bento

O

s jovens manifestantes que, no último final de semana, saíram às ruas de cinco províncias, para protestarem contra o desemprego e a má governação, não descartam a possibilidade de estenderem as manifestações em todas as províncias do país, caso não haja, da parte do Executivo, uma resposta prática relativamente às políticas de emprego e a boa governação. Segundo os jovens manifestantes, o foco dos protestos centra-se no rigoroso cumprimento dos 500 mil postos de emprego prometidos pelo Presidente da República, João Lourenço, bem como a exe-

cução de um programa de governação que realmente tenha respaldo na melhoria das condições de vida dos cidadãos, sobretudo no domínio da saúde, educação, habitação condigna, combate à corrupção e o nepotismo. Enquanto não houver o cumprimento dessas premissas políticas, Miguel Nhoca, membro da comissão organizativa, disse ontem a OPAÍS que as manifestações vão prosseguir até que o Executivo repense no modelo de governação mais eficaz que venha de facto resolver os problemas das populações no âmbito do “Melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”, como faz referência o programa de governação do partido MPLA sufragado nas eleições de 2017. O actvista político, que ontem, fazia o balanço das manifesta-

Miguel nhoca, membro da comissão organizadora das manifestações

ções ocorridas durante o final de semana, fez saber que o acto decorreu em cinco das 18 províncias, a destacar Luanda, Benguela, Uíje, Cuanza-Norte, Bengo e Malanje, tendo como motivação a alta taxa de desemprego e a má governação que enferma o país.

A nossa luta é colectiva. Relativamente ao exercício das manifestações nas províncias de Luanda, Benguela, Uíje, Cuanza-norte, Bengo e Malanje, Miguel Nhoca disse que a participação em massa dos cidadãos foi um dos aspectos a destacar na hora de balanço. Frisou ainda a forma ordeira como os participantes reagiram à atitude da Policia Nacional que, sobretudo em Luanda, onde agiu com violência no final da actividade. Tal como explicou, a manifestação ficou marcada com ferimentos ligeiros de alguns manifestantes, atitude protagonizada por elementos da força da ordem que, no decorrer da actividade, fizeram de tudo para que o protesto não avançasse até perto de 100 metros do Palácio Presidencial, como ficou acordado com as autoridades de Luanda no acto de requisição da actividade. Contudo, apesar da atitude das autoridades, Miguel Nhoca assegurou que o grupo vai continuar a desenvolver as suas actividades em prol da justiça social, para garantir uma maior qualidade de vida aos cidadãos mais vulneráveis. “A nossa luta é colectiva. Não vamos parar enquanto não houver o cumprimento rigoroso das promessas. O propósito final do poder político é de resolver o problema dos cidadãos. Infelizmente, a nossa política doméstica é muito gananciosa. É toda virada para os bolsos dos políticos, enquanto os cidadãos continuam na pobreza extrema”, concluiu.

Ministério público mantém acusação a exadministradora do Chinguar

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Ministério Público manteve a acusação de peculato, associação criminosa, branqueamento de capitais, falsificação de documentos, participação em negócios consigo mesmos e tráfico de influência que pesam sobre a ex-administradora do Chinguar, Beatriz Napende Diniz. No mesmo processo, além da ex-administradora, estão arrolados outros 21 réus suspeitos de terem defraudado o Estado angolano em 296 milhões 711 mil e 773, destinado ao Programa de Combate à Fome e Pobreza, e melhoria dos serviços primários de saúde na circunscrição. Nos termos do despacho de pronúncia, o dinheiro foi usado indevidamente num esquema em que a ré Beatriz Napende Diniz depositava, faseadamente, o valor em contas de empresas previamente combinadas. As referidas empresas, por sua vez, devolviam o valor, em mão, à ré, que os compensava com uma comissão de dez por cento. O documento, lido pelo juíz assistente, Luciano Guilherme, refere que em determinada altura a ex-administradora do Chinguar criou uma Escola fictícia denominada “Soba Nguali”, tendo designado como director o filho Augusto Teles Diniz. Com Beatriz Napende Diniz, detida em Dezembro de 2018, respondem também, na condição de réus, Hernanes Fernandes, Marinela Guevela Albino, José Carvalho Diniz Consengue, Manuel Sachilulo Sotelo e Adérito Miguel Siliveli. Os demais 16 réus respondem em liberdade. Conhecido como caso Chinguar, o processo tem 132 declarantes. Entre estes declarantes estão o actual vice-governador da província do Bié, Carlos Ulombe da Silva, a administradora municipal do Andulo, Celeste David Adolfo, a ex-administradora municipal do Cuemba, Laurinda Capocolola.


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Angola e Comores preparam Comissão Mista Angola e as Comores vão criar, antes de Dezembro deste ano, uma Comissão Mista, com vista a facilitar o intercâmbio entre os dois países, anunciou nesta quinta-feira, em Yokohama, Japão, o presidente comorense, Azali Assoumani

O

Chefe de Estado comorense, que falava à imprensa no final de um encontro com o Presidente João Lourenço, à margem dos trabalhos da sétima Conferência Internacional de Tóquio para o Desenvolvimento de África (TICAD7), disse que o seu país pretende beber da experiência de Angola, sobretudo na agricultura e nas pescas. Azali Assoumani enfatizou que as Comores têm potencialidades AF_CI_Jornal_260x180mm.pdf

nos sectores da agricultura e das pescas, o que justifica o reforço da cooperação. O presidente comorense agradeceu o apoio incondicional de Angola para que o país fosse integrado como membro de pleno direito da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC). Azali Assoumani manifestouse satisfeito com o encontro e afirmou que aproveitou a ocasião para informar ao estadista angolano 1

29/07/19

tora Executiva deste organismo das Nações Unidas. O encontro serviu para avaliar o estado da cooperação entre o UNICEF e o Governo angolano, tendo Malick recordado que o organismo tem com Angola uma cooperação de longos anos, mas que há a necessidade de a revitalizar para o bem das populações, particularmente das crianças. O director regional disse ter abordado com o Chefe de Estado questões relacionadas com a necessidade dos líderes africanos prestarem maior atenção aos jovens, com a adopção de programas virados para a formação e inserção no mercado de trabalho. Na terceira audiência, o estadista angolano recebeu o presidente da Marubeni, empresa japonesa responsável pela reabilitação e mo-

da realização em Dezembro próximo de uma conferência de doadores para apoiar as Comores. Segundo Azali Assoumani, que convidou João Lourenço a estar presente na conferência de doadores, o evento deverá ser apadrinhado pelo presidente francês, Emanuel Macron. O país está situado no Oceano Índico e pretende ser um estado emergente até 2030. Em relação ao segundo dia de trabalhos da TICAD7, os especialistas africanos e japoneses trabalham na preparação dos documentos e na declaração final, a ser apresentada na Sexta-feira. Na sequência, o Presidente João Lourenço recebeu no hotel Yokohama Bay o director regional do UNICEF para África do Oeste e Este, Mohamed Malick, que foi portador de uma mensagem da direc-

dernização de três unidades fabris de referência no país, nomeadamente SATEC (Cuanza Norte), Alassola (Benguela) e TextangII (Luanda). Masumi Kakinoki prometeu que, depois de ter participado na reabilitação e modernização com êxito das três fabricas de têxteis, investirá no sector industrial, de modo a contribuir para a diversifição da economia e geração de postos de trabalho. A última audiência foi concedida ao executivo da Vacine Alliance (GAVI), Seth Berkley, com quem falou sobre a actual situação de Angola no que à vacinação e imunização diz respeito. “Temos trabalhado com Angola, há muito tempo, em matéria de vacinação e queremos continuar a trabalhar no sentido de aumentar a cobertura”, disse.

15:20 puB

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O PAÍS Sexta-feira, 30 de Agosto de 2019

protecção exagerada aos alun necessidade especiais “motiv Quem defendeu

tal apologia é Miguel Carlos, que se identificou como professor do ensino especial, no Huambo e, por sinal, tem problemas auditivos, embora fale com naturalidade considerável

Representantes da Calouste Gulbenkian encorajam professores a enfrentarem qualquer desafio

Alberto Bambi

F

oi durante uma sessão de aulas do projecto Aprendizagem para Todos (PAT), que decorria na segunda quinzena de Agosto em pleno Colégio Comandante Marien NGouabi, que o instrutor Miguel Carlos desencorajou os professores primários a terem pena das crianças com necessidades especiais. Em causa, segundo adiantou, estava o sentido inverso da atenção exagerada dos educadores do primeiro nível do ensino vigente no país, em relação à vontade desses petizes de conquistar espaço e tempo, superar obstáculos e procurar a sua auto-afirmação. “É que se os colegas cuidam demais desses miúdos, ao ponto de até os porem ao colo, enquanto orientam as brincadeiras ou outras actividades recreativas e pedagógicas, com medo de eles escorregarem, cairem e aleijaremse, ou porque não vão alcançar os resultados requeridos e serem excluidos completamente”, declarou o instrutor. Miguel Carlos compreende que sejam sobretudo as professoras a ter mais esse sentido de protecção, mas desafia-as a observar com bastante atenção as reacções das crianças com tais necessida-

Educadores dizem-se prontos a identificar crianças com carências específicas

des, quando estão sob guarida. “Quase que pulam do colo da guarda, para participarem na corrida, no arremesso da bola, na gritaria, enfim”, detalhou o educador, realçando que era nestes e noutros gestos dos garotos dessa natureza que os docentes deviam despertar para não lhes limitar a vontade de explorar o espaço. Para sustentar as suas alegações, Miguel Carlos recorreu aos preceitos do pedagogo Jean Piaget para lembrar que “as primeiras noções que a criança aprende são as de espaço e tempo”. Por isso, quanto mais deixarmos


O PAÍS Sexta-feira, 30 de Agosto de 2019

nos com va” exclusão É que se os colegas cuidam demais desses miúdos, ao ponto de até os porem ao colo, enquanto orientam as brincadeiras ou outras actividades recreativas e pedagógicas”

a criança entrar em contacto com esses dois inevitáveis factores, explorando-os, ela mais aprende, soube O PAÍS do professor do ensino especial, que fez referência à sua própria experiência, até finalizar a formação na instituição superior pedagógica do Huambo. “Outra informação, que vale a pena reter, tem a ver com o facto de concebermos a tipologia actual e actualizada de alunos com necessidades especiais”, disse. “Hoje já não são os diminuídos físicos, cegos, surdos-mudos, mas principalmente aquelas crianças cujo processo de assimilação é retardado ou obstruído por quais-

quer situações do seu meio ou do meio em que se encontram”, asseverou o entrevistado, tendo realçado que, por exemplo, muitos professores não sabiam que os alunos que dormiam nas aulas tinham problemas de audição. Para lá das deficiências físicas É, exactamente, esse padrão da dimensão do universo de alunos com necessidades especiais diversificados que o PAT veio propor, atendo-se, principalmente, aos rapazes que têm dificuldades para aprender e apreender os conhecimentos que lhes são transmitidos. A visão multifacêtica do Projecto Aprendizagem para Todos em relação a este fenómeno encontra bases nos recomendados critérios de actuação, em salas de aula, que,

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segundo o Módulo (manual) de Diferenciação Pedagógica, se resume em colocar as crianças sempre a trabalhar em grupo. O trabalho autónomo surge como uma modalidade viável, por ser o processo que envolve os alunos a realizarem tarefas sem assistência directa do professor, podendo a apresentação ser individual ou colectiva. Carlos Miguel declarou que, normalmente, os temas que alimentam essas actividades são propostos por professores ou pelos próprios alunos Oportunidade de exposição aos visados O coordenador da ZIP 3 da histórica vila Robert William (Caála), Victorino Miguel, ressaltou a necessidade e urgência a de se dar vez e voz a essas crianças, a fim de poderem expressar as suas motivações e aspirações, antes, durante e depois das sessões de aula. Aliás, o responsável serviu-se do facto de o instrutor Carlos Miguel ter estado nessa condição, expondo aos professores as suas valências e competências sobre a área, para demonstrar que as aulas práticas acabam por ser mais compreendidas. Importa ressaltar que, enquanto decorria a formação, na sala da escola Marien Gouabi, onde estava Carlos Miguel, este beneficiava da tradução directa da professora Graciana Natália, numa clara demonstração de lição inclusiva e participativa. “Porque o nosso instrutor da escola especial Carlos Miguel, fala bem, mas não ouve em condições. Esta é a razão que nos levou a pedir à professora Natália para vir com ele e surpreender os professores formandos com uma tradução para linguagem gestual. Questionado sobre se o gesto vale como exemplo a acatar imediatamente, Victorino Miguel reconheceu que os professores primários não possuem habilidades para comunicar por via de linguagem gestual, por isso anunciou que a inserção dessa temática nos módulos de apoio do PAT constitui um desafio aos docentes para se prepararem, posteriormente, e receberem formação nessa área. Para os professores João Baptista e Sousa e Francisco Epamba Cassinda, os colegas de ofício deviam consolidar os conhecimentos teóricos que receberam do PAT e avançar para o exercício de identificação dos alunos com necessidades específicas, nas suas turmas, bem como evitar o exagero na protecção dos mesmos.

RECEiO dAS MáQuinAS bRAillE Conquanto tenham assegurado que as metodologias da educação especial agrupam ferramentas para os munir de capacidades para lidar com os estudantes com necessidades, muitos são os professores primários que ainda receiam tocar nas máquinas Braille. o pAíS constatou essa situação, com maior realce, nos municípios de Mungo, tchikala tcholohanga, ukuma e longonjo, província do Huambo, bem como em Camanongue, Cameia e luau, no ciclo provincial do Moxico, onde muitos docentes chegaram mesmo a revelar o receio que têm das máquinas de escrever de apoio aos indivíduos com deficiência visual. A missionária Maria inês Bartolomeu da escola João paulo ii, localizada na sede municipal de lumeje-Cameia, considerou que é preciso respeitar o desconhecimento dos professores em relação ao referido meio técnico, porque na realidade deles este dispositivo não se vê. quanto à possibilidade de uso das mesmas, a irmã da congregação do Santíssimo Salvador é de opinião que o projecto Aprendizagem para todos crie uma série de formação para exercitar o manejo, de modo a orientar os petizes que os docentes poderão encontrar nas turmas. Maria Bartolomeu, que é também a coordenadora da Zip do pAt local, manifestou o desejo de ver já esses instrutores da Braille, na fase do prolongamento do projecto Aprendizagem para todos, que ganhou a denominação de “reforço”. o seu congénere do ukuma no Huambo, norberto Braga, entende que, para não se perder muito tempo, o Ministério da Educação devia solicitar os préstimos dos professores das escolas de deficientes visuais. “Como esses colegas já lidam com esses acessórios e conhecem a nossa realidade, é mais fácil ele nos instruírem e passarem a sua experiência”, sentenciou norberto Braga, tendo adiantado que não rejeitaria qualquer outra solução, desde que os tirassem do obscurantismo.

Os meios tecnológicos encontram-se disponíveis nos centro de recurso das ZIP´s


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SOCiEdAdE

O PAÍS Sexta-feira, 30 de Agosto de 2019

A história de um angolano desaparecido há 20 anos na África do Sul Todos os anos várias pessoas desaparecem no mundo, no seguimento de conflitos armados, desastres naturais, fluxos migratórios, crime organizado ou em circunstâncias misteriosas. Estas são recordadas anualmente no Dia internacional das vítimas de Desaparecimentos Forçados, que hoje é assinalado Dr

Fernando Miranda foi sequestrado numa das ruas da cidade de Joanesburgo, há exactamente 20 anos

Maria Teixeira

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desaparecimento forçado tem sido frequentemente utilizado como estratégia para espalhar o terror no seio da sociedade. Entretanto, muitas das vítimas não aparecem e a angústia toma conta do seio familiar, segundo os interlocutores. O Jornal OPAÍS conta a história de um jovem desaparecido há 20 anos, desde que foi sequestrado na terra de Mandela. O cidadão angolano desapareceu misteriosamente na África do Sul. Há muito tempo que as pessoas mais próximas perderam o seu

rasto e as autoridades do país não sabem de concreto onde o mesmo se encontra. De acordo com os familiares e amigos, Fernando Miranda foi sequestrado numa das ruas da cidade de Joanesburgo, há exactamente 20 anos. Até ao momento, segundo ainda os seus parentes, não há rastos, nem indícios sobre as principais razões que levaram ao sequestro e consequente desaparecimento de Fernando, na altura estudante. Em declarações a OPAÍS, João Gonçalves, antigo colega de Fernando, que presenciou o acto, disse que estavam a caminho de casa, no regresso da universidade, e foram surpreendidos por duas viaturas de cor preta. Da viatura saíram

Apesar de ser criança na altura, a minha família viveu momentos difíceis, porque é um facto que ninguém queria acreditar”

dois jovens armados que apontando a arma na cabeça de João, ordenaram ao colega que corresse sem olhar atrás. “Ainda retruquei à ordem dada pelos sequestradores, tentando convencê-los a desistir do acto, porém, eles agarraram o Nando, forçaram-no a entrar na viatura e aceleraram feito loucos”, contou. Os parentes descartam a possibilidade de Fernando ter estado metido em alguma gangue, tráfico de droga, ou em outro caso. Mais, 20 depois, o jovem da Matala continua desaparecido e as razões que motivaram o sequestro ainda é um mistério. Desaparecida desde a guerra A família de Massango Massoxi, de 30 anos, já viveu esta angústia que os parentes de Fernando. Foi há 25 anos, quando a sua irmã de 10 anos desapareceu durante a guerra civil. Até hoje não foi encontrada. De acordo com o jovem, por mais que as pessoas não acreditem que existem desaparecimentos misteriosos, há casos de indivíduos que desapareceram e até hoje não foram encontrados, como o da sua irmã. “Apesar de ser criança, na altura, a minha família viveu momentos difíceis, porque é um facto que ninguém queria acreditar, uma vez que não houve um corpo para ser enterrado. Quando se trata de morte, os familiares, depois do enterro, tentam seguir com as suas vidas da melhor forma possível, lidando sempre com a dor da perda, mas quando se passa anos sem saber o que aconteceu à pessoa desaparecida, o sofrimento não passa”, afirmou. O sofrimento persiste quando não sabemos se a esperança do reencontro deve ou não ser alimentada, além de existir a angústia de continuar as buscas, por uma pessoa que pode estar morta.

Patrulhamento nos Mulenvos reforçado com 300 efectivos

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Polícia Nacional em Luanda, à semelhança da Cidade do Kilamba, reforça a partir de ontem o patrulhamento na zona dos Mulenvos, com 300 efectivos. Os efectivos vão actuar no Distrito da Estalagem, área da 44ª Esquadra, que alberga os bairros do Km 9, Km 12 B, Papá Simão e Seis Cajueiros, para acudir as necessidades de segurança pública que aquela comunidade ainda vive, segundo o porta-voz da PN-Luanda, Hermenegildo de Brito. A medida do incremento de efectivos consubstancia-se na “Operação Reforço” que o Comando Provincial de Luanda leva a cabo desde 18 de Julho do corrente ano, para conter os índices de criminalidade que se verifica na província de Luanda. Sobre o trabalho operativo, o efectivo vai trabalhar essencialmente com a comunidade no âmbito do policiamento de proximidade, visando recolher o máximo de informações possíveis, que irão auxiliar o trabalho operacional, atacando aqueles pontos que são considerados críticos naquela circunscrição. A zona em questão tem os pontos do Gindungo, Yuki, Papá Simão e Mamã Gorda, como os que ocorrem uma diversidade de crimes e com maior incidência às rixas entre grupos rivais, homicídios voluntários, assaltos em residências e na via pública. Por ocasião do acto, o administrador do Distrito Urbano da Estalagem, Eduardo Fernando, manifestou-se satisfeito com o incremento dos efectivos naquela circunscrição, pois é uma valia naquilo que é a segurança de bens e pessoas daquela região distrital e disponibilizou-se em ajudar a Polícia naquilo que estiver ao alcance da administração da Estalagem. De salientar que os efectivos em reforço naquela esquadra policial, desde os agentes a oficiais, passaram por uma reciclagem que permitiu trazer um valor acrescentado sobre matérias ligadas ao processo penal, atendimento ao público, técnicas de intervenção policial e a formação de comando e controlo de operações.



CARTAZ seu suplemento diário de lazer e cultura

Dog Murras

“Depois do sopro da vida, a única coisa que nos suporta é a esperança” defensor da angolanidade e dos valores intrínsecos do seu povo. o músico Dog Murras, que neste Sábado, 31, vai à praça da independência não para autografar um CD, mas sim, o livro “Matemática da Coerência”, é o nosso interlocutor. Com ele falamos sobre os projectos que tem em curso, político, sociedade e obviamente cultura, o mote da sua acção enquanto artista e foi peremptório em dizer que está cada vez mais temerário com o futuro da já de si escassa Cultura da nossa terra Jorge Fernandes

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Dog surge à ribalta angolana como músico, depois o vimos como empresário, activista cívico e social, e agora nas vestes de escritor/autor. Que Dog Murras temos hoje? Um sobrevivente dos “Zig Zags” da vida. Um homem livre com a mente e o espírito livre . “Matemática da Coerência” é

o título do seu livro. O que é que os leitores em Angola podem esperar dele, depois de já ter sido apresentado no Brasil? “Matemática da Coerência” é um livro escrito com cheiro e tempero da terra mãe Angola, por um jovem angolano que conhece as competências e também as debilidades dos Jovens angolanos, por isso compartilha as suas experiências e deixa indicações que podem ser percorridas para que eles encontrem caminhos mais flexíveis

Perfil De nome próprio Murthala Fançony Bravo de oliveira “Dog Murras” é cantor, empresário, activista social e motivador. Surgiu na arena artística nacional em1999, por influência e sob direcionamento do radialista e apresentador de televisão Miguel neto, com o apoio do falecido Beto de Almeida (irmãos Almeida), Eduardo e nelo paim, e muitos outros kambas (amigos) penetra no music hall nacional. De lá para cá publicou os álbuns “Suis generis”, “natural e Diferente”, “Bué Angolano”, “pátria nossa”, “Kwata-Kwata”, “Angolanidade” CD/DvD e “Best of Dog Murras”. “não gosto de rotular-me e muito menos esperar por títulos de exclusividade, o meu objectivo não é ser aplaudido, sou apenas um filho de Angola que faz parte da primeira geração da independência e quer ver o país a prosperar”, salientou o artista e activista social que vê na educação e na instrução do ser humano, como a única saída da ignorância e pensar em projectos comuns que levem a nação a prosperar cada vez mais.


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15 penas e o bico recebeu, para comer ou pra se coçar e por incrível que pareça, não há ninguém para assumir as culpas.

apadrinhamento e estamos já a desenvolver o projecto de reabilitação daquele espaço, e como a maioria dos doadores são os internautas, faremos vídeos periódicos do desenvolver dos trabalhos no terreno.

no xadrez da vida. Reflexões em torno do que é angolanidade, a chamada de atenção aos jovens no sentido de despertarem entre outros assuntos. Sente que o jovem angolano anda muito distraído? Acredito no verdadeiro potencial dos angolanos e a minha chamada de atenção cinge-se ao facto de levá-los a crer que “Nós Podemos Mais”. Há aqui um aspecto que salta à vista em relação ao livro, é que 50% das receitas serão revertidas a favor das famílias do Sul de Angola. Confirma? Confirmo sim, que 50% do total das receitas serão destinados a ajudar as famílias do Sul de Angola, que hoje sofrem as consequências da seca naquelas zonas do nosso país. Este gesto de solidariedade não é a primeira vez que o faz. Recentemente vimo-lo a doar material didáctico a uma escola em Cacuaco. O que mais o comoveu? Olha, existem causas que a malta escolhe defender e existem aquelas causas que nos escolhem. Tudo aconteceu de forma natural, fui convidado a visitar o projecto social e filantrópico e escola comunitária “Esperança do Saber” junto com os colaboradores do “Grupo Acção Jovem” e os activistas sociais MC K e Gansta, e para lá levamos material didáctico. Postos lá fomos tocados pelo estado em que encontramos a escola e decidimos valorizar o gesto do irmão João Reis e principalmente por causa da repercussão positiva nas redes sociais, onde as pessoas se mostraram interessadas em colaborar para a melhoria das condições básicas da escola, e daí lançamos a campanha “Nós só podemos contar Connosco!!!”. Assumimos o

Como caracteriza o actual estado da música angolana em relação há alguns anos, onde as dificuldades eram maiores, mas havia melhor qualidade artística e melhor conteúdo? Eu costumo dizer que o estado da música angolana reflete-se no estado da sociedade angolana, pois os artistas, principalmente os da nova vaga, são o principal barómetro da forma de ser e estar dos nossos jovens. E num país em que os pais deixaram de exercer o papel de pais, e onde se promovem festas, bebidas alcoólicas, a nudez feminina e a futilidade da forma em que se promovem, não podemos esperar que os jovens se comportem de forma normal. É sobre conteúdos que o Dog, digamos, revoluciona o Kuduro, que, apesar de ser dança trouxe a componente mensagem. Pensa da mesma maneira? ‘Ya’, acredito que foi um pacote onde devemos incluir a consciência cidadã, o amor à bandeira, e depois as mensagens que valorizam a nossa angolanidade, o facto de sermos várias etnias que formam um só povo e uma só nação, a beleza da urbanidade dos nosso hábitos e costumes, os musseques de onde viemos todos e os ricos detalhes da nossa sócio-cultura. O facto de ser um activista e de retratar muito o dia-a-dia do angolano nas suas letras, sobretudo as dificuldades, fez com que algumas portas se fechassem? Sim, porque Angola nunca foi um país democrático, tudo girava em torno da visão e supervisão do “Chefe” e não havia condescendências para quem ousasse vir numa direcção que não fosse a indicada pelos “tais”, resultado, hoje o país está mergulhado na desgraça, com elevadas debilidades sociais; falta de emprego e salários muito baixos. O povo está a pagar a factura de um pato que nem sequer as

Sei que, para o livro, estava previsto o seu lançamento no início do mês e não final. O que terá acontecido? Esse problema tem a ver com a questão de um alerta vermelho nas alfândegas brasileiras e haver, a partir de agora, uma rigorosa inspeção nos despachos de cargas do Brasil para Angola. Graças a Nzamby, já temos os livros em nossa posse e dia 31 de Agosto vamos avançar para a Praça da Independência. O que é que o fez na altura emigrar para o Brasil e por quê o regresso nesta fase conturbada fase à crise económica? Quando uma porta se fecha, outras abrem-se, e foi graças a minha saída de Angola que pude apurar a minha arte musical com Carlinhos Brown e outros artistas, pude ser um colaborador na luta contra a pobreza na África Austral e pude também desenvolver alguns parâmetros do ramo empresarial entre o Brasil e a África do Sul. Então não tenho que reclamar. Por que razão regressa ao país? Eu retorno porque Angola é o meu país, a única bandeira que defendo com garras e dentes, e ajudar a empurrar este que pode ser o último comboio para o progresso. Ao formar a “Acção Jovem Angola” pretendo utilizar o meu capital simbólico e ajudar a mudar consciências, que é o maior dos desafios que enfrentamos hoje e que, caso não seja feito, pode perigar o amanhã do amanhã. Carta do Servente é dos maiores sucessos do Dog. Retrata a vivência de muitos angolanos na diáspora. Como olha agora para essa onda de angolanos a emigrar sobretudo para a Europa? É triste, porque temos um país que tem tudo para dar certo, mas a ambição desmedida dos nossos servidores públicos negou-nos o passe para um futuro digno. Depois do sopro da vida a única coisa que nos suporta é a esperança e, infelizmente, o país foi submerso num buraco tão profundo que as pessoas começaram a perder a esperança e, diz-se, que em tempos críticos as pessoas não se importam de escolher monstros para os proteger. Cansados de caminhar nesta esteira de academia de musculação, onde andas, andas, transpiras, cansas-te, mas nunca sais da mesma posição, sendo as-

sim, qualquer lugar que te garanta o mínimo de qualidade de vida, serve. Uma das frases que muito usa finalizando os seus textos nas redes sociais é “Nzamby num ferra”, como olha a proliferação de igrejas e de pastores e como pensa que a sociedade deve resgatar os seus valores? A palavra é inspirada em Jesus Cristo, que foi o Mestre dos Mestres e o homem mais simples e desapegado aos bens materiais que passou por este planeta, portanto, é inadmissível que as pessoas que o representam, tentem apresentá-lo como um comerciante que cobra pelo excesso de fé dos mais pobres. A própria bíblia adverte sobre a vinda dos falsos profetas, mas numa sociedade como a nossa, que perdeu a sua raiz, as pessoas estão desesperadas em busca de soluções imediatas, e inadvertidamente buscam estas soluções nas igrejas, nos quimbandas, ou em qualquer lugar que traga resultados plausíveis. A nossa solução é apostar prioritariamente na educação. A educação liberta e dá caminhos para olhar com os olhos de ver. Como olha para o novo cenário político, cultural e social angolano?

Quanto ao cenário político eu defendo a ideia de que a nossa Política não é ética e a política sem ética não tem lógica. No que toca ao cenário cultural, nada de novo, aliás para ser franco devo confessar que estou cada vez mais temeroso quanto ao futuro da já escassa Cultura da nossa terra. O meu olhar no panorama social é direcionado em como está o nosso povo depois de tantos makongos (problemas), a começar pelo período pós-independência, tida como um momento de glória, luz e de muita esperança para o povo e para o país, que foi totalmente frustrada por uma gestão pública irresponsável. Os resultados disso estão aqui, visíveis para os olhos de quem quiser ver e ouvidos de quem se predispuser a auscultar o outro. Recentemente nas redes sociais aprece com Rafael Marques, Gansta e MCK. O que têm em comum? Somos “Homo Angolensis”, irmãos angolanos, verdadeiros filhos da terra com pensamentos activos que clamam por uma Angola melhor, mais justa e inclusiva. Que outros projectos tem em meta a curto-médio e longo prazo? Juventude, Educação, Cultura e Emprego. É esta a bandeira de luta da Acção Jovem Angola.


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CARTAZ

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MbAlA luSSunZi viTA

A mudança dos nomes de «Zaïre» e «uige» é uma necessidade

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mudança dos nomes de «Zaïre» e «Uige» é uma necessidade pelo respeito da Identidade Cultural do povo Kongo em Angola. No passado, o mesmo problema foi debatido na Assembleia Nacional, que aceitou as apelações de «Kongo ocidental» e «Kongo Oriental» nos lugares de «Zaïre» e «Uige». Os actuais países africanos, sendo Estados-nações nas suas delimitações/fronteiras, nasceram da acção dominadora e colonial europeia em África. Numa outra linguagem e em muitos aspectos as designaçães de realidades locais (africanas) que são, por exemplo, os próprios países, as diferentes províncias, os sítos públicos de qualquer natureza e importância, as cidades, as escolas/instituições de formação... não são geralmente em acordo com as identidades ou valores culturais de povos autoctones. Ao contrário, estes últimos, mesmo depois das independências dos seus respectivos países, sentem-se estrangeiros nos seus meios ambientais. Se uma tal visão foi praticada pelo sistema colonial a um nível desprezável, nas antigas colónias portuguesas de Angola e de Congo Português (Angola de hoje) este fenómeno viveu-se de maneira sistemática e absoluta. Até hoje, de acordo com contexto político, social, económico e cultural dentro do qual Angola está a viver desde a sua independência em 1975, a «desangolanização» parece constituir um objectivo a atingir afim de criar uma identidade não baseada ainda nos valores de origem africana no comportamento do Angolano: Quantos jovens angolanos de todas as cidades do nosso país têm nomes ovimbundu, mbundu, kongo, utshokwe, nyaneka, umbe, ngangele, ovale...? Se esses nomes,

(ontem com a ideologia luso-tropicalismo eram qualificados de macacos), não são aceites facilmente até agora nas nossas conservatórias onde muitos agentes da função pensam ainda que é uma grande vergonha levar essas «apelações tradicionais»! Na realidade, esta situação é que faz hoje com que a população urbana Angolana não seja culturalmente ligada aos valores natos que são os dos povos Ovimbundu, Mbundu, Kongo, Utshokwe, Umbe, Nyaneka, Ngangele, Kwanyama, Ovale... e todos os outros no nosso território e de ricochete de África é o resultado do combate feroz que os Portugueses levaram contra toda a referência a um elemento cultural que não era deles ou que não fazia a glória da grandeza do «Portugal» e a supremacia do «Homem branco» sobre o «Homem preto», o «Negro». Assim, em todas as circunstâncias, qualquer apelação ou designação de origem africana deveria desaparecer para não entrar na memória colectiva e ser valorizada. Onde não era possível fazer isso, a norma a seguir era deformar simplesmente a palavra e de seguida, organizar uma grande campanha de descrédito sobre a sua forma africana. Por ideologia ou por ignorância, este trabalho era um processo de «portugalização» de todos os aspectos da vida para fazer de toda a população em Angola dos «Brancos» em África. Nesta lógica, e com tempo, a pele (cor da pele) não deveria ser um elemento de discriminação entre os habitantes de Angola. Em aplicação desta lógica, muitas palavras (e conceitos) são totalmente deformadas e não podem hoje ser entendidas nem em Português, nem numa das línguas do país . Como «o hábito faz a segunda natureza de uma pessoa», essas apelações transformadas são assim aceites hoje e, às vezes, pare-

ce que não incomodam ninguém. Mas, neste momento de «deterrar o nosso passado» afim de lconhecêlo realmente no âmbito de valorizar as experiências de que descendemos e, ao mesmo tempo. somos os continuadores, convém interrogar algumas apelações que não nos degnificam; é o caso da palavra «zaïre», a actual apelação da Província Angolana cuja cidade de Mbanza Kongo é a sua Capital. Para bem situar a problemática, é necessário descrever a confusão dentro da qual teria nascido esta palavra. De onde vem a palavra«zaïre»? A historiografia e a memória colectiva informam as circunstâncias da deformação, de um lado, de muitas palavras locais desde os primeiros encontros entre Akongo e Portugueses; e de outro lado da africanização de muitas palavras portuguesas (europeias) a partir da chegada dos portugueses (europeus) nas terras do Kintotila kia Kongo . Em muitos casos, exis-

Pode haver risco de criar um sentimento de exclusão na parte dos outros Akongo que não são desta província de Angola. Porque, a palavra «akongo» é o plural de Kongo quando significa «Pessoa»

tiu uma má percepção, pelos Portugueses, das palavras e conceitos que usavam os Akongo. É isso que aconteceu com a palavra «nzadi» que significa em língua Kikongo «grande rio» . Na realidade, antes da chegada dos Europeus, os Akongo chamavam o seu mais grande rio com o nome de «Nzadi Mwanza» . Os Portugueses, naturalmente e pelas razões ocidentais, não estavam preocupados dem entender e perceber o que falavam os seus interlocutores locais que, neste caso, diziam que o nome do rio era «Nzadi Mwanza». De sua percepção, e deixando cair o nome de rio, eles deformaram a palavra «Nzadi» para escrever «Zaïre». Ao contrário daquilo que veícula a literatura escrita (naturalmente de origem europeia), antes da sua chegada, os Portugueses sabiam da existência do povo Kongo e sobretudo tinham informações precisas sobre a sua organização político-administrativa, das numerosas riquezas que a terra Kongo era dotada e que os Europeus em geral e os Portugueses em particular procuravam desde há séculos. Tal é tambem o ponto de vista de Isidore Ndaywel è Nziem quando salientou: «Não é impossível que o contacto ofícial tenha sido precedido por alguns outros contactos que foram guardados segredos enquando o padrão não era ainda plantado» . Do meu ponto de vista, se conhecemos o que aconteceu sobre a deformação de uma realidade que tem a ver com aquilo que somos, será que não podemos corrigir um dado histórico para conformá-lo àquilo que era realmente o nosso passado? Também é esta preocupação legitima que os representantes do antigo poder politico de Kintotila kia Kongo, reconhecidos pelo Estado angolano e que organizam os seus trabalhos no «Lumbu» em Mbanza Kongo, têm colocado ao Presidente do nosso país

aquando da sua visita a esta mesma cidade de Mbanza Kongo alguns dias depois do Fest-Kongo : mudar a apelação da «Província Zaïre» para «Província Akongo». A solicitação dos Representantes do Kintotila kia Kongo, junto com o Presidente João Lourenço, é uma antiga preocupação dos Akongo de Angola nas actuais duas províncias, onde a maioria da população faz atenção a sua identidade cultural e não aceita as apelações de «zaïre» e «uige». É neste sentido que o problema foi colocado e debatido a Assemblea Nacional que aceitou as apelações de «Kongo Ocidental», no lugar de «Zaïre» e de «Kongo Oriental» além de «Uige». Pelas razões históricas e considerando o facto de todos os descendentes dos Ancestrais Akongo não se encontram-se em nenhuma província de Angola, nem num país africano, e como é necessário para eles, guardaram para sempre a sua «unidade cultural»; essas apelações de «Kongo Ocidental» e de «Kongo oriental» têm a vantagem de respeitar uma das visões tradicionais Kongo, segundo sa qual o nome de uma pessoa ou de um outro elemento seu tenha um significado de acordo com os valores culturais; e de inserir os diferentes espaços antigamente Kongo nos seus respectivos Estados actuais. Assim, se guarda também, na memória colectiva comum kongo, a identidade plurial Kongo; traduzindo o princípio da unicidade na diversidade, hoje em dia transfronteiriço. D que antecede e para dizer algo sobre a proposta de trocar o nome de «zaïre» com o de «akongo», pode haver risco de criar um sentimento de exclusão na parte dos outros Akongo que não são desta província de Angola. Porquê, a palavra «akongo» é o plural de Kongo quando significa «Pessoa».



ECOnOMiA

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AnDré MuSSAMo

Cidadãos poderão abrir conta bancária no telemóvel O vice administrador do Banco nacional de Angola (BnA), pedro da Silva, revelou ontem, que está em curso um estudo que será apresentado brevemente que poderá facilitar os cidadãos nacionais a abrirem conta a partir do telemóvel Dr

Brenda Sambo

S

egundo o responsável que falava á imprensa a margem da oitava conferência sobre Inclusão Financeira, as pessoas para terem acesso ao sistema financeiro já não vão precisar de se deslocar a um banco para efectuar a abertura de uma conta bancária, para tal avançou que as mesmas serão abertas atraves do número de telemovel que permitira o cidadão ter acesso a banca entre outros serviços.

Explicou ainda que o processo vai envolver as duas operadoras de telefonia móvel existentes no país Unitel e Movicel no sentido de ajudar no desenvolvimento da inclusão financeira em Angola que hoje ronda os 29% de acordo com as estatísticas do Banco Mundial. Tendo avançado que o banco central está a realizar um estudo para aprofundar ainda mais as estatísticas. “Ou seja, para aumentar a inclusão financeira não vai ser necessário abrir mais agências bancárias . As empresas de telecomunicações devem se inserir o sistema financeiro e desta via contribuírem para a melhoria do sistema fi-

nanceiro”, disse. Por isso, o BNA juntou na conferência países como o Quénia e Tanzânia com o intuito de obter experiências da realidade desses países. Adiantou que entre outras vantagens a inclusão financeira permite aos cidadãos terem acesso aos serviços do sistema bancário desde a concessão de crédito para iniciar um negócio entre outros benefícios. Segundo o responsável o dinheiro móvel é actualmente um método muito utilizado em vários países do mundo, pelo que espera-se que com a implementação do método no país Angola possa atingir mais de cinco mil milhões de contas abertas até 2022. Ainda de acordo com os dados do Banco Nacional de Angola (BNA), o dinheiro móvel já se faz sentir em Angola através de dois produtos, nomeadamente o BNIX com duas mil e duzentos e cinquenta contas já abertas E-KWANZA 84.155 contas abertas. laboratório de pagamento vai funcionar ainda este ano Por outro lado, Pedro da Silva adiantou que no inicio do ano, o conselho de administração do Banco Nacional de Angola aprovou a implementação de um laboratório de Inovação de Sistema de Pagamentos de Angola que está a ser instalado na Faculdade de Engenharia da Universidade Agostinho Neto. O laboratório serve de um mecanismo que o banco central encontrou no sentido dos jovens contribuirem para o desenvolvimento do sistema financeiro. Referiu ainda que está em fase final a criação de uma incubadora dentro das várias Universidades para apoiar os projectos dos estudantes.

Feira das pescas e aquicultura com mais de 100 expositores nacionais Mais de cem empresas do sector pesqueiro participam desde ontem na maior bolsa do sector realizada no país com cariz internacional André Mussamo

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honra do corte da fita inaugural coube ao ministro de Estado para Coordenação Económica, Manuel Nunes Júnior, que voltou a enaltecer que o Executivo angolano está focado na revitalização da base produtiva do país, com vista ao relançamento do crescimento económico e aumento do número de empregos. Esta é a terceira edição da Feira Internacional das Pescas e Aquicultura (FIPEA), e passa a ser um marco porque ontem mesmo o “Baía Farta”, navio de investigação oceânica adquirido por Angola a uma fabricante europeu foi entregue depois de corrigidas algumas inconformidades detectadas. Desde ontem, a realização da primeira jornada de investigação científica ficou apenas a distância de alguns dias, pois o país passa a deter a capacidade de por si mesmo realizar missões investigativas e determinar, por exemplo, o volume de recursos marinhos disponíveis

e orientar a captura dos mesmos segundo critérios sustentáveis. Estatisticamente, o evento que conta com três empresas estrangeiras (Portugal, Noruega e China), regista um aumento de dez novos expositores nacionais em comparação com os números do ano passado. O mesmo não se pode dizer da participação estrangeira que reduziu já que o ano passado estiveram presentes 10 expositores. A Feira Internacional das Pescas e Aquicultura (FIPEA) é também uma ocasião para contribuir com a apresentar “know-how” dos diferentes intervenientes e impulsionar o sector de transformação, enlatamento do pescado e potencialização da economia azul. De hoje até ao encerramento, a margem dos negócios que se possam fazer, decorre uma série de debates sobre quatro grandes temas, nomeadamente: A Investigação e Gestão das Pescas em Angola, A aquicultura, Segurança dos Alimentos e Responsabilidade Social e Clima de Negócio do Sector das Pescas.


MERCAdOS

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Mercado TAXA DE JURO Taxas de Juro Taxa BNA Libor USD 6M Libor GBP 6M Libor JPY 6M Euribor 6M Luibor 6M

Cot. 28/08/19 15,500% 2,035% 0,779% -0,053% -0,427% 15,900%

∆ Diária (p.p) 0,000 -0,002 -0,014 -0,002 -0,012 -0,020

15,80% 15,78% 15,76% 15,74% 22/Ago

Mercado ACCIONISTA Índices Accionistas Cot. 28/08/19 Dow Jones (EUA) 26 036,10 S&P 500 (EUA) 2 887,94 FTSE 100 (Inglaterra) 7 114,71 IBovespa (Brasil) 98 193,50 CSI 300 (China) 3 802,58 Nikkei 225 (Japão) 20 479,42

∆ Diária (%) 1,002 0,655 0,354 0,943 -0,376 0,114

Cot. 28/08/19 363,8307 1,1079 1,2235 105,9600 15,3434 4,1681

Cot. 28/08/19 55,78 60,49 1 537,80 18,32 2,25 256,45

∆ Diária (%) -0,500 -0,162 -0,504 0,218 -0,296 0,896

∆ Diária (%) 1,547 1,647 -0,208 0,909 2,225 0,450

Luibor Taxas BNA Luibor O/N Luibor 1 Mês Luibor 3 Meses Luibor 6 meses Luibor 9 meses Luibor 1 Ano

26/Ago

28/Ago

26 400

26 100

25 800

25 500 22/Ago

24/Ago

26/Ago

28/Ago

1,117 1,113 1,109 1,105 22/Ago

24/Ago

26/Ago

28/Ago

Brent C rude F ut.

60,4 59,6 58,8 58,0 22/Ago

24/Ago

26/Ago

∆ Diária (p.p) 0,000 0,000 -0,010 0,000 0,000 0,000

Luibor Ao longo da última sessão as taxas de juro do mercado monetário interbancário mantiveram-se estáveis, com excepção da Luibor 3 meses que reduziu 1 p.b. ao fixar-se em 14,42%.

2,110 2,070 2,030 1,990 22/Ago

24/Ago

26/Ago

Mercado de Matérias-primas Os preços do crude seguiram tendência crescente impulsionado pela divulgação da redução do stock petrolífero nos EUA. O Brent e o WTI registaram incremento de 1,65% e 1,55%, ao situar-se em 60,49 e 55,78 USD/barril, respectivamente.

28/Ago

Luibor 1 Ano Cot. 28/08/19 13,50 14,27 14,42 14,66 15,18 15,78

Mercado Accionista Odesempenhopositivodasempresas do sector da energia, como resultado do incremento do preço do petróleo, beneficiou a performance dos índices bolsistas norte-americanos. O DowJonesaumentou1%aosituar-se em26.036,10pontos,enquantooS&P 500registouincrementode0,66%fixando-se em 2.887,94 pontos.

Mercado Cambial A libra depreciou 0,50%, com a cotação a fixar-se em 1,2235 USD por unidade da moeda, que poderá reflectir o pedido de suspensão do parlamento britânico, o que poderá influenciar a efectivação do Brexit.

EUR / USD

Mercado DAS COMMODITIES Commodities WTI Crude Fut. Brent Crude Fut. Gold 100 Oz Fut. Prata Fut. Gás Natural Fut. Cobre Fut.

24/Ago

Dow Jones (EUA)

Mercado CAMBIAL Taxas de Câmbio USD/AKZ EUR/USD GBP/USD USD/JPY USD/ZAR USD/BRL

Mercado Interbancário A taxa de juro Libor USD 6 meses continua a seguir tendência decrescente,aoreduzir0,2p.b.situando-se em2,035%.Apossibilidadederedução da taxa de juro de referência da ReservaFederalnapróximareunião poderá está a influenciar a Libor.

Libor USD 6 Meses

28/Ago

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bREvES EuA revêem em baixa crescimento do Pib no 2.º trimestre para 2,0% o produto interno Bruto (piB) dos Estados unidos cresceu 2,0% no segundo trimestre, uma revisão em baixa da primeira estimativa de 2,1%, de acordo com a segunda estimativa do gabinete de Análise Económica (BEA) divulgada ontem. “o produto interno Bruto

real dos Estados unidos aumentou a uma taxa anual de 2,0% no segundo trimestre de 2019, de acordo com a segunda estimativa divulgada pelo gabinete de Análise Económica. no primeiro trimestre, o piB real aumentou 3,1%”, pode ler-se na nota divulgada pela BEA.

Moçambique bem localizado para obter dividendos com iniciativa Faixa e Rota A localização estratégica de Moçambique permite obter dividendos com a importação de produtos da China e a exportação de mercadorias dos países vizinhos sem acesso ao mar, disse em pequim um quadro da universidade Eduardo Mondlane.

João Mavimbe, coordenador do Centro de pesquisa Científica da iniciativa Faixa e rota daquela universidade, prestava declarações à margem da cerimónia de abertura do oitavo “China-Africa Think tanks Forum”, um evento de dois dias a decorrer na capital chinesa.

Comércio internacional do G20 mantém tendência de queda no 2.º trimestre o comércio internacional do g20, grupo das maiores 20 economias do mundo, manteve a sua tendência de queda no segundo trimestre, com as exportações a contraírem 1,9% e as importações 0,9%, divulgou ontem a oCDE. As exportações recuaram 5,3% na China (para o mínimo

desde o quarto trimestre de 2017) e desceram 1,1% nos Estados unidos (mínimo desde o primeiro trimestre de 2018), revelam os dados estatísticos do comércio internacional do g20 divulgados pela organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (oCDE). Dr


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O PAÍS Sexta-feira, 30 de Agosto de 2019

‘A Angola do leste é uma terra que foi esquecida’ Tinha apenas 28 anos quando chegou a Angola. Mas o argentino de nacionalidade nunca mais abandonou o país. lidera a Diocese do luena, a maior no território angolano e provavelmente do Sul do Sahara, razão pela qual tem desbravado os caminhos mais tortuosos à procura de soluções para os inúmeros problemas que afligem as populações. A educação é uma das suas principais apostas, mas é comum vê-lo com catanas, paus, galochas e outros artefactos para montar pontes, recuperar estradas e locais para o ensino dos mais carenciados. Jesus tirso Blanco, 62 anos, o bispo da Diocese do luena, é o entrevistado desta semana entrevista de Dani Costa fotos de Lito Cahongolo

C

hegou a Angola com apenas 28 anos? É verdade. Foi num dia 5 de Março de 1986.

Que Angola encontrou na altura? O que mais me impressionou era estar extremamente militarizada, especialmente porque fui imediatamente para o Luena, que era, digamos, o epicentro da guerra, no sentido. A segunda impressão é que depois as actividades cessaram e muita gente via o que levava. Impressionava-me também a pobreza e o espírito de solidariedade entre as pessoas. Penso que era muito mais acentuado do que hoje. É verdade que quando o convidaram para vir não conhecia o que era Angola, onde estava situado e teve que o procurar no mapa? (Risos). Podemos dizer que sim e não. É verdade que tinha que procurar onde estava Angola, porque não conhecia. Sabia que era Áfri-

ca e poucos anos atrás era uma colónia portuguesa. Mas, depois, não tinha mais informações sobre Angola. O meu oferecimento foi para ser missionário no lugar em que fosse preciso. Não se arrepende? Claro que não. Digo isso absolutamente. Diz-se que, se você quiser conhecer um país, pergunte a um padre, madre ou bispo. Hoje já conhece profundamente Angola? Estou a conhecer, porque a cada dia é uma aprendizagem. A pessoa é uma espécie de tesouro inesgotável, então estamos a aprender. Qual é a imagem que tem desta Angola que já diz conhecer? Há muitas Angola’s. E isso é verdade, porque aquilo que nós encontramos no litoral em geral e vemos no leste de Angola, tem uma certa diferença. Não é a mesma coisa. A Angola do leste de Angola, no Moxico, é uma terra que penso que foi

esquecida. Há uma Angola profunda e uma outra que os decisores políticos pensam que existe? Temos vistos que os investimentos, as atenções, estão virados para este litoral, talvez um pouco para o Huambo e Lubango também e menos

Para quem viveu do lado de baixo das bombas é muito diferente dizer que hoje não há bombas ou tiros

para estas regiões do leste de Angola. Que podemos dizer é metade do país ao menos. Chegou numa altura de guerra. Hoje vive-se um momento de paz. O Moxico recebeu a importância devida pelo facto de ter sido lá onde terá começado e terminado esta guerra fratricida? A paz é um bem inestimável que nos dá a oportunidade de reconstruir o país. Enquanto houver guerra é difícil. Podemos encontrar exemplos heróicos e de solidariedade, de amor, ajuda, mas não temos a possibilidade de um desenvolvimento real em situação de guerra. Eu vi no Moxico em situação de guerra. Vivi os primeiros cinco anos, depois fui para Ndalatando, mas também tive a sorte de conviver com o povo em situação realmente extrema de vida. É difícil. Hoje em dia temos a oportunidade de reconstruir o país e construir uma sociedade nova, certamente reconciliada e, sobretudo, perspectivar um futuro di-

ferente para os angolanos. Então, há uma diferença muito grande. Quando hoje por analogia falamos que há guerra, não é verdade, porque a guerra impede. Estamos com uma oportunidade que não podemos deixar passar. A paz faz-se sentir no Moxico? Em certos sentidos, sim. Logicamente que estamos em paz. Para quem viveu do lado de baixo das bombas é muito diferente dizer que hoje não há bombas ou tiros. Como era a vida de um prelado católico numa fase de guerra, com inimigos aqui e acolá ou ainda com tiros à volta? Na verdade, na altura ainda não era bispo. Era padre numa paróquia, como também fui em Ndalatando e noutros lugares durante o período de conflito. A grande dificuldade que eu via era o de um eterno recomeçar. Trabalhava muito ligado aos jovens mesmo


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nas comunidades. Acontecia uma acção de combate ou guerra, então repentinamente era começar tudo do zero. Esta é para mim a experiência mais marcante. Claro que depois há a carência, sofrimento, feridos e outras coisas. Como elemento positivo, como não podíamos fazer muitos convívios exteriores, tínhamos uma relação com as pessoas de amizade e uma ligação tal que não se pode apagar. As amizades que fizemos naquele tempo, as conversas, a partilha do pouco que havia, isso para mim é marcante. Era bem visto pelas forças leais ao Governo, na altura, e pelas afectas à UNITA na época? Quando estava no Luena não era muito fácil chegar às áreas em que estavam os militares da UNITA. Já em Ndalatando pude viver, exactamente dois anos, num “ninho” da UNITA. Senti-me respeitado de uma ou outra parte, mas logicamente que há um certo nervosismo e suspeitas generalizada durante o tempo de um conflito armado. Não me queixo de que não havia respeito. Não! As pessoas tinham esta possibilidade, porque estávamos todos no mesmo barco e tínhamos que sobreviver. Havia momento em que pensávamos que ninguém sairia com vida. Foi na altura dos grandes combates. E tínhamos que trabalhar juntos e partilhar com o pouco que existia. Não havia muita coisa, mas tínhamos o espírito de partilha até naquela altura. Não havia crianças de rua, porque qualquer uma era acolhida por uma família ou pessoa. Como é dirigida a Diocese da maior província de Angola? Não só a maior diocese em termos territoriais, mas provavelmente a maior diocese a sul do Sahara e de grandes dimensões. Estas grandes dimensões ainda são maiores por dois factores. Primeiro, a província do Moxico é muito fértil, tem muitos rios, muitas florestas ainda, e, portanto, é habitável em praticamente todo o território. Diferente de outros territórios, onde por serem mais desérticos, não é possível habitarem em todos os lugares. O segundo facto, que também dificulta a nossa acção, é a estrada. Segundo as estatísticas do próprio Governo, só foi asfaltada cinco (5) por cento da rede rodoviária da província do Moxico. Isto cria para nós grandes dificuldades. E o estado das outras estradas também é péssimo. Temos estradas péssimas, em que, para chegarmos às populações, passanos por muitas dificuldades. Isso dificulta poder estar com estas populações, ver as suas dificuldades e problemas, porque

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confiam muito em nós. Hoje estava a ver uma imagem de uma visita e as pessoas perguntavam “se o padre não podia fazer a ponte?”. Há uma expectativa às vezes até exagerada do que podemos dar. Além da evangelização, temos visto o bispo de botas, a cortar paus e outros objectos para (re)construir escolas precárias, as estradas e até mesmo pontes, para que as pessoas tenham acesso a alguns serviços. Quando é que sentiu que deveria se envolver nestas empreitadas? Eu acho que todo o cidadão angolano tem direito a uma educação de qualidade, mesmo que esteja na última aldeia. Temos que fazer com que isso chegue lá, assim como também tem o direito de escutar a palavra de Deus e todo o resto. Nós chamamos uma educação integrada e também uma administração integrada. Então, temos que chegar onde a população está. E, às vezes, são custos enormes para se chegar até lá. São custos financeiros, humanos, desgaste, temos que fazer pontes. Algumas vezes vamos com uma carrinha e em cima uma motorizada. Depois colocamos a motorizada numa canoa para podermos chegar nestas localidades. Neste momento, comunas como o Yova, são ilhas. O povo diz que, apesar de estarem a mil quilómetros do mar, estão numa ilha. Não há como chegar lá. Isso significa que não pode chegar cimento, chapas ou bens em certas quantidades. Só com uma motorizada se pode chegar, fazendo este percurso, mas depois de longas e longas viagens. Como estão as coisas nestas áreas? Chamo a atenção, sobretudo, à situação da educação nestas áreas. São áreas de fronteira, às vezes, onde a soberania nacional, em certo sentido, tem que se fazer sentir. Porque se a moeda que se usa é do país vizinho, os serviços de Saúde também, quase ninguém sabe falar português, então acaba por ser muito ténue a ligação com o próprio país. Em algumas circunstâncias, encontramos um analfabetismo quase que generalizado. Tentamos dar algumas respostas. Por exemplo, tem sido possível realizar a alfabetização, mas em 2015 houve uma interrupção nos apoios para os alfabetizadores. Chegamos de ter 300 salas de alfabetizadores espalhadas nas áreas rurais, mas neste momento estamos a retomar as actividades. No ano passado, fizemos um projecto muito interessante de alfabetização bem-sucedido, mas este ano retomamos com o esquema tradicional. É mui-

to complexa esta questão da educação. Por exemplo, estas pessoas têm uma economia de subsistência, sobretudo nas áreas rurais mais distantes dos centros urbanos, que sai apenas na agricultura. As lavras e as fontes de recurso destas pessoas são distantes das suas aldeias. Portanto, elas têm que levar as crianças, porque não teriam quem lhes pudesse confeccionar e dar os alimentos. Então, interrompem quase todos os anos o ciclo das escolas. Ou damos uma merenda, um prato que permita a sua subsistência, ou vão desistir sistematicamente das aulas. Nestas circunstâncias, como é que nós pensamos que um jovem que acabou agora os seus estudos secundários, entrou na universidade e licenciou-se, vai fixar-se neste lugar onde não há um banco. Pode explicar melhor? Por exemplo, se é professor em Macondo tem que andar alguns dias, não há transporte público, meios de comunicação, telefone, não há nada. É verdade que os professores e outros quadros têm que andar três ou quatro dias para terem acesso a um banco? Claro. Andam três ou quatro dias para chegarem a um banco. São dias de ida e volta. E têm que ter sorte de encontrar o banco com dinheiro para atender as suas necessidades e depois voltarem. E acabam por perder a produtividade. Há lugares em que encontramos turmas de 125 ou 300 alunos. Isso quando é teórico, porque na prática isso é impensável. Essa é a nossa realidade. Vimos há dias imagens de uma visita que fez a um local, mas o bispo teve que dormir numa casota de palha improvisada. Os jovens professores têm encontrado condições para poderem permanecer nestas comunas ou aldeias? Nestas aldeias que estamos a focar, acontece uma situação um pouco caricata. Na sede, onde não há mui-

Há lugares em que encontramos turmas de 125 ou 300 alunos. Isso quando é teórico, porque na prática isso é impensável. Essa é a nossa realidade

tos habitantes, já se construiu uma enorme escola, concluída há cinco anos, mas até hoje não se usa. Parece que falta inaugurar. Mas, também, acho que não há condições para que se estabeleça lá o número de professores que corresponde aquela estrutura. Nestas aldeias que eu queria visitar, dada as condições em que vivem, de fome, por exemplo, não há professores enquadrados. Eu tenho encontrado alguns voluntários que têm dado aulas. As pessoas manifestaram que querem aprender português, porque depois não conseguem se inserir na sociedade angolana. Não recebem nenhuma gratificação. Nos próximos dias, vou enviar algum material escolar para que possam estudar. Tinha encontrado alguns quadros, há uns anos, mas nas visitas anteriores vi que eram tábuas que com machadinhos foram cortando e alisando. O giz faziam com mandioca e não sei qual é o processo que eles usam para que escreva. As carteiras são feitas com umas tábuas também improvisadas. Essa é a realidade que se vive neste lugar. Não é o único. É uma imagem generalizada? Não posso dizer que seja generalizada. Mas onde tem professores também custa encontrar condições para que eles possam habitar, como casas. Hoje, o jovem professor não quer só casa, mas também um pouquinho de energia e outras condições mínimas. São coisas que

infelizmente não encontra nestas áreas um pouquinho distantes. Dá-se a sensação de isolamento. Com o projecto que começou na cidade do Luena, para o futuro, que tenta através das aulas digitais ajudar as crianças a se desenvolverem, está implementado em escolas católicas primárias no interior do Moxico, do Luena, e também em outras partes do país. Neste momento, são 274 escolas a nível nacional. São mais de 170 mil alunos que estão neste projecto em Angola e mais de oito milhões no mundo. E começou no Luena. A ideia central para mim é que as crianças pudessem ter acesso a esses meios digitais mesmo na província do Moxico, onde tínhamos tantas dificuldades em matérias de educação. O meu sonho seria que no futuro, nestas aldeias com um pouco mais de população, se pudesse também implementar um projecto semelhante. O professor prepara a aula através de um computador que tivesse um servidor, mas o fornecimento de energia para estas escolas que estão no interior fazemos através de energia solar, por intermédio de sistemas fotovoltaicos. A nível da província do Moxico, se for à cidade do Luena já temos 24 kits que servem para estas escolas que usam estes meios digitais. A ideia central é que o aluno que está lá tem direito também aulas de boa qualidade, bons conteúdos e boas dinâmicas, como pode ter uma outra criança aqui na cidade de Luanda.


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Segundo as estatísticas do próprio Governo, só foi asfaltada cinco (5) por cento da rede rodoviária da província do Moxico

“A água que alguns bebem até parece chocolate” Há afirmações do bispo dizendo que não concorda com o número de habitantes que o Censo de 2014 atribuiu à província do Moxico. Assim sendo, é possível traçar políticas adequadas quando se desconhece o verdadeiro número de habitantes? Claro que é uma ferramenta muito válida para se poder fazer um plano de desenvolvimento. Sabemos que há áreas muito difíceis onde o CENSO chegou e noutras mais fáceis, realmente, não. Penso que também passou muito tempo entre o CENSO anterior e o último. Temos que melhorar a metodologia. Mas dá-me a impressão que temos mais população que aquela que o CENSO nos atribui. Durante algum tempo, o bispo postava nas redes sociais imagens de camiões carregados de toros extraídos das matas do Moxico. Estas imagens pertencem ao passado? Até à semana passada ainda postei. Mas, estou um pouquinho desanimado de postar imagens, porque

sempre continua a mesma situação. Mas estou sempre a comentar. No dia 6 de Agosto, acho que fiz a última postagem de camiões com toros. De facto, o fenómeno continua e é grave. Não somos os últimos habitantes da terra. Pensamos que deverá haver mais habitantes aqui no Moxico, por isso não temos o direito de esgotar os recursos que estão aí há milhares de anos. Temos que preparar para as gerações seguintes. Por isso, temos que fazer um grande trabalho educativo para que estas populações saibam lidar com estes fenómenos. Por exemplo, devem apostar na agricultura de hortas e outros tipos de cultivo que permitem equilibrar, para que nos momentos em que haja menos chuva tenham recursos para sobreviver. E reflorestar também. É engraçado que numa missa, há dois meses, perguntei, para os que estavam presentes, quem tinha plantado uma árvore. Penso que umas 15 ou 20 pessoas levantaram dizendo que plantaram uma ou várias árvores. Depois perguntei: quem de vocês plantou mais árvores do que

aquelas que mandou cortar? Aí já mais ninguém levantou a mão. Estamos com um défice muito grande, quando se sabe que, ao cortar uma árvore, devemos plantar no mínimo duas ou três para permitir que a floresta se conserve para o futuro.

Neste momento, por exemplo, o município do Alto Zambeze tem 48 mil quilómetros quadrados e há só um lugar onde se pode estudar a sétima classe

O quadro que traça em relação à educação é quase que assustador, É o mesmo que se assiste na Saúde e noutras áreas? Claro. Aqui temos que ver também que, tal como na cidade de Luanda encontramos muitas realidades diferentes, no Luena também há esta diferenciação. Há escolas que têm um certo nível, universidades, mas também na cidade do Luena há bairros periféricos que não beneficiam das mesmas condições na Educação. Em geral, no que diz respeito aos municípios, podemos dizer que são os mais deficientes. Neste momento, por exemplo, o município do Alto Zambeze tem 48 mil quilómetros quadrados e há só um lugar onde se pode estudar a sétima classe. Temos que ver que este território imenso é maior que a província de Benguela, e só temos uma escola onde se pode estudar a sétima classe. Isso já indica muita coisa. No que diz respeito à Saúde, estive recentemente a visitar o município de Léua e acho que tem dois médicos no hospital, tem 14 postos médicos, mas só um enfermeiro. O hospital da comuna de Liangongo tem só dois enfermeiros durante 365 dias por ano. Para se ter uma ideia do sector da Saúde, quando estive em Lumbala Nguimbo não fiz uma visita ao hospital, mas vamos supor que uma senhora grávida tem que fazer o parto por meio de uma cesariana. Absolutamente não há como fazer isso, porque,

primeiro, para chegar ao hospital não tem um médico para fazer esta operação. Teria que ir ao Luena, mas não pode. São 250 quilómetros, não há asfalto e não sobreviveria a viagem. Isto é uma situação real. Às vezes na cidade tem um médico, outras não tem ou ainda podem estar três. É muito flutuante. Não há médicos de especialidade, porque, às vezes, até mesmo na cidade do Luena carecemos. Lembro-me que num passado não havia ninguém para a pediatria. Há muita fome no Moxico? Temos uma área de fome que é toda a orla da rio Kuando devido à seca e também na comuna de Mussula Mitete, Sandongo, Chikote. Esta situação da fome é provocada pela seca, porque não há condições normais, segundo as próprias. As lagoas onde recolhem o peixe e tiram água para beber secaram. A mandioca e o milho também secou totalmente. Neste momento, o que deveria ser feito? Claro que se deve levar alimentos, filtros de água, porque a que eles bebem até parece chocolate. É água suja que elas estão a beber. Uma senhora, que é soba de uma destas áreas, diz-me que estavam pensando emigrar para a Zâmbia. Mas o que fazer com as pessoas que não conseguem percorrer estas distâncias? Sabemos que o Moxico não é a única província, existem outras que estão a passar por situações semelhantes. Hoje fala-se muito da fome no Cuando-Cubango, Cunene, Namibe, mas não se houve muitos relatos sobre o Moxico. Concorda? Sim. Fala-se pouco do Moxico. Mas temos falado com as autoridades locais e certamente disponibilizaram alguma coisa imediatamente. A nível da Caritás Diocesana começamos uma campanha para recolher alimentos e levar. Num segundo momento vão precisar de sementes, enxadas e suplementos agrícolas. Mesmo que comece a chover hoje, até Janeiro ou Fevereiro vão precisar de ajuda. Naquela área há rios, o Kuando, por exemplo, não fica tão distante. No sistema de vida destas populações, elas não estão habituadas a lidar com essas secas que podem ser recorrentes. A desmatação é um factor que está a agravar esta situação. O Moxico está a sofrer muito com a desmatação? Muito, muito. Até hoje é terrível o que está a ser feito nesta província. Com o agravante, apesar de eu não ser especialista, mas dá para ver que a característica do solo vai fazer com que, uma vez desmatado, não cresça mais nada.


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‘O PiiM é bom, mas não resolve’ O Plano Integrado de Intervenção Municipal (PIIM) é uma boa solução para os problemas do Moxico? Não. O problema do desenvolvimento do Moxico é muito sério e há um atraso enorme em relação às outras partes de Angola, Portanto, não é o PIIM que vai resolver, pode minimizar alguns efeitos, mas não é a chave do desenvolvimento. Este seria um investimento superior várias vezes àquilo que o PIIM dá ao Moxico. Evidentemente, é um teste para ver a capacidade local de implementar projectos e optimizar recursos. É também um teste muito grande porque a sociedade civil tem que monitorar aquilo que está a ser feito com os seus recursos. Por exemplo, neste momento a nível do Moxico temos a situação da fome no Sul, no município do Bundas, concretamente nas comunas do Chiume e Muxuma Mutete. Precisam de uma resposta urgente para que a população não morra de fome. Onde saíra estes recursos? Vamos trazer arroz, óleo, fubá de milho. Estes produtos podem sair de Benguela, através do Caminho-de-Ferro, ou de Luanda, directa ou indirectamente. Mas se formos ver algumas regiões aqui ao lado, há excedentes de produção agrícola, principalmente mandioca, que é parte do que precisam aquela população carenciada. Se tivéssemos os caminhos onde uma carrinha Mitsubishi Canter pudesse se deslocar a partir de lá, até às localidades onde as pessoas estão a passar fome, a província do Moxico seria capaz de abastecer-se a si própria no domínio da alimentação, porque há áreas que têm e outras não. Poder-se-ia comprar, o dinheiro ficava lá e assim se criava um mecanismo de desenvolvimento. Mas não temos uma estrada para Calunga, uma ponte ou uma jangada que una Lumbala Kakengue e outra localidade sobre o rio Zambeze, depois vai até ao Sul. Por isso, o PIIM é bom, mas não resolve. O Moxico está preparado para receber autarquias em toda a sua extensão? As autarquias têm que ser um fenómeno de todo o país. Se por acaso em algum lugar não hou-

ver preparação suficiente, terá que ser em um, dois ou três municípios para que eles possam trabalhar em conjunto. Mas não se pode renunciar às autarquias. Outra coisa tem que ser pensada muito bem para que não se tenha nas autarquias um desenvolvimento a partir dos próprios recursos. Tem que haver um organismo a nível nacional que contemple o desenvolvimento em menor grau que sofreram algumas populações, sem culpa própria. Temos que pensar que o município do Luchazes, que tem Kangamba como a sua capital, em 2002 só tinha umas paredes da igreja como único vestígio de que lá alguma vez houve pessoas, uma cidade e habitantes. Esta localidade nunca foi compensada. Isso não aconteceu também em outras partes de Angola, mesmo nas capitais que foram afectadas pela guerra não houve uma compensação. É preciso que isto compense. Algumas autoridades tradicionais estão muito confiantes disso, como a Rainha Nhakatolo, rei Armando III, e outros têm esta consciência de que não beneficiaram o suficiente e isso criou um atraso relativo. Neste momento, por exemplo, o município do Alto Zambeze tem 48 mil quilómetros quadrados e há só um lugar onde se pode estudar a sétima classe. Portanto, o PIIM é muito igualitário neste momento para equilibrar ou fazer esta discriminação positiva de que precisa a província do Moxico. Defende que províncias como a do Moxico devem receber mais investimentos que outras?

Algumas autoridades tradicionais estão muito confiantes disso, como a Rainha Nhakatolo, rei Armando III, e outros têm esta consciência de que não beneficiaram o suficiente e isso criou um atraso relativo

Com certeza. Por quê? Digamos assim: há províncias onde já estão a fazer a segunda ou terceira vez as estradas. Nós ainda não beneficiamos delas. Então como se vai desenvolver o Moxico se não há estradas? O número de professores que se atribuem a uma determinada província não corresponde às necessidades reais. Isso no Moxico é grave. Temos que considerar também a situação geográfica e a história da província. Por isso defendo um financiamento diferente. Há correntes que defendem que se reparta a província em duas, dando lugar à província do Moxico e também ao Cazombo ou Alto Zambeze. O que pensa destas ideias? Penso que são pertinentes. Na verdade, salvo erro, há um projecto de três províncias. Acho que, pela dimensão geográfica, seria necessária. A nível da igreja, eu também desejaria que num futuro próximo fosse dividida em várias dioceses. Há muito trabalho? É muito trabalho, mas depois a falta de estradas dificulta imenso. A gente faz esforço, anda todo o tempo, depois falta a tua presença na sede. Vais ao Alto Zambeze, mas Kangamba ficou sem a tua atenção. É um pouco complicado. A forma como está a concepção das leis não ajuda o desenvolvimento do Moxico. Quais são as vias mais importantes? Tem sido a que vai do Saurimo-Luau, Luau-Cazombo e a de Saurimo-Luena- Lumbala Nguimbo, que não está concluída. Então a via mais importante é aquela que acompanha o caminho-de-ferro: Luau- Luacano- Luegi Camenha-Léua- LuenaKangumbe. Esta via é a mais importante. A segunda é aquela que vai ao Lucusse e depois vai dividir o Alto Zambeze para Lumbala Nguimbo e Kangamba. Depois interligar os municípios às comunas. Isso tudo não foi feito. Isso também dificulta a nossa acção. Vamos dar um exemplo: se neste momento o governador da província do Moxico quer deslocar-se ao Cazombo, qual seria o caminho? Tem que ir até Saurimo e daí para o Luau. É muito difícil de governar. Para o nosso trabalho pastoral, isso também dificulta. Estas estradas não

foram pensadas em função do desenvolvimento do próprio Moxico. São as estradas da SADC ou feitas com outros objectivos, que não são o desenvolvimento da própria província. Então, a divisão também ajudaria para colocar outros centros de referência que permita uma governação mais razoável. Tem-se mostrado os reais problemas do Moxico? Eu faço a minha parte dentro do que me é possível. Não meço as consequências, mas tenho consciência daquilo que estou a fazer, porque nós somos culpados daquilo que fazemos e daquilo que não fazemos. Tem sido mal interpretado pelas acções que desenvolve? Há momentos em que somos mal interpretados e há outros em que as pessoas compreendem as razões que nos fazem denunciar e mostrar. Muitas vezes, claro, dou conta que vamos a lugares onde os todos não chegam. E mostrar es-

ta realidade também desperta às pessoas aquilo que acontece. Isso é parte da nossa vida. É normal. Esse caminho que faz, passando por intempéries, tal como Cristo o fez, não lhe causa medo? Muitas vezes as pessoas perguntas: como te sentes? É assim: se o senhor é pai, tem três filhos, eles estão doentes, então irás ao hospital com eles. Vai acompanhá-los, tentar salvar a vida. Esta é a nossa atitude. Neste momento, os meus filhos estão numa situação ou problema que parece evitável. A vida passa. Essa criança que hoje tem 10 anos, amanhã vai ter 20. Há muitas coisas, como a formação, se a gente não resolve agora, ele não vai conseguir fazer mais nada. Se a gente começar a pensar nos perigos, na saúde, aí ficamos paralisados. Mas, a força interior que nos move é essa. Todos os nossos irmãos que lá estão são filhos de Deus. E têm que perceber o amor de Deus, porque Ele não vem de helicóptero. Vem através de nós.


ACTuAl

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FotoS:CEDiDAS

Interior do memorial que é inaugurado hoje em Calomboloca

Fundação Wanhenga Xitu inaugura memorial do seu patrono em Calomboloca “Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo, combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé…a coroa da justiça me está guardada…”, lê-se este versículo bíblico numa lápide à entrada do memorial dedicado ao nacionalista angolano André Mendes de Carvalho(Wanhenga Xitu)

Ireneu Mujoco

C

onstruído numa superfície de 160 metros quadrados, pela fundação de que é patrono, na comuna de Calomboloca, a 80 quilómetros de Luanda, no município de Icolo e Bengo, esta humilde mais importante obra é inaugurada neste Sábado, dois dias depois do seu 95º aniversário natalício, assinalado a 29 de Agosto.

“Não vemos uma única avenida, escola, hospital ou outro estabelecimento escolar com o nome do nosso querido pai”

A construção desse monumento, na sua terra natal, onde repousam os seus restos mortais desde Fevereiro de 2014, é a concretização de um desejo manifestado em vida, segundo contou à nossa reportagem o seu filho Adriano Mendes de Carvalho, actual governador do Cuanza-Norte. “A construção deste monumento pela fundação que leva o seu nome, é o reconhecimento da dimensão política, histórica, humana, social e cultural de Agostinho André Mendes de Carvalho”, disse inicialmente.


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O PAÍS Sexta-feira, 30 de Agosto de 2019

Em conversa com O PAÍS, Adriano Mendes de Carvalho disse que o sentimento da família é grande, na medida em que a obra foi construída em homenagem daquele que disse ter morrido com o sentimento do dever cumprido. Segundo Adriano Mendes de Carvalho, o seu progenitor recomendou sempre aos seus familiares que, quando partisse para a eternidade, mesmo que ocorresse no estrangeiro, que fosse enterrado no local onde hoje estão sepultados condignamente os seus restos mortais. A fonte, que disse como sendo um dos que mais privou com o seu pai, aponta a construção deste memorial como uma homenagem merecida a um nacionalista que deu toda a sua vida para Angola e por Angola. Explicou que o memorial, situado no cemitério de Kamussuami, está aberto a todos que pretendam sepultar os familiares, por se tratar um campo santo público. Adriano Mendes de Carvalho entende que, apesar de ser feito pela Fundação Wanhenga Xitu, o memorial homenageia também outros nacionalistas já falecidos, sobretudo do “Processo dos 50”, alguns dos quais sofreram as agruras da PIDE-DGS com ele. Apontou António Pedro Benje, Fernando Pascoal da Costa, Lourenço Vaz Contreiras, Belarmino

Van-Dúnem, José Diogo Ventura, Jonatão Chingunji, entre outros, cujos nomes figuram também numa lápide no interior deste memorial. Falando em nome da família, Adriano Mendes de Carvalho disse que, além da iniciativa da fundação, o país a quem o seu o pai serviu de corpo e alma desde a juventude até à sua morte, devia também dignificá-lo mesmo a título póstumo. “Não vemos uma única avenida, escola, hospital ou outro estabelecimento escolar com o nome do nosso querido pai, Agostinho André Mendes de Carvalho, em nenhuma parte de Angola”, desabafou, opinando ser necessário reconhecer o sacrifício consentido não só por Mendes de Carvalho, mas por outros nacionalistas. Acrescentou ter chegado o tempo de se reconhecer mais a bravura e o heroísmo demonstrado por estas figuras pioneiras da luta de libertação nacional contra o colonialismo português, para que as novas gerações conheçam mais sobre eles. Recordações Durante a conversa, Adriano Mendes de Carvalho disse que recorda com nostalgia as várias etapas da vida que viveu e conviveu com o seu pai, que viria a conhecer só aos 11 anos, sendo que quando foi deportado para o Tarrafal, em Cabo Verde, tinha apenas entre cinco

“Não vemos uma única avenida, escola, hospital ou outro estabelecimento escolar com o nome do nosso querido pai, Agostinho André Mendes de Carvalho, em nenhuma parte de Angola” DAniEl MiguEl/Arquivo

Agostinho André Mendes de Carvalho Wanhenga Xitu

CEDiDA

Adriano Mendes de Carvalho, quando dava explicações sobre a importância da construção deste memorial

ou seis meses. “Éramos obrigados a levar todos os dias o rádio de pilha da nossa casa aí no bloco 25, no Bairro Indígena para a rua da Dona Malha, no Rangel, escondido no saco de pão, onde o pai trabalhava como enfermeiro num posto médico”, lembrou. Contou que era obrigação diária dos filhos fazerem esse vem-vai mas sem saber exactamente o que se passava. “ Perguntávamos, nós os seus filhos, por que é que o pai quando vai trabalhar não leva ele próprio o seu rádio, em vez de levarmos e trazermos de volta à casa depois de ouvir o noticiário”, recordou. Reforçou que só depois de algum tempo e já adolescentes descobriram que no posto médico era o local mais adequado para escutar o célebre Angola Combatente, bem como despistar um agente da PIDE-DGS conhecido por Albuquerque, que controlava o movimento de vários nacionalistas no Bairro Indígena. Homenagens A inauguração deste memorial será antecedida de várias comunicações com renomadas personalidades políticas e académicas nacionais e estrangeiras. O antigo primeiro-ministro da República de Angola e ex-secretário-geral do MPLA, e deputa-

do à Assembleia Nacional, Lopo do Nascimento, e o ex-embaixador de Angola junto da ONU, Ismael Martins, são os primeiros a apresentarem as suas comunicações. Seguidamente, Isaías Samakuva, líder da UNITA, vai falar também sobre a vida e obra de Agostinho Mendes de Carvalho, na

vertente política, enquanto que a historiadora Rosa Cruz e Silva fálo-á na vertente cultural. Três académicos, sendo dois brasileiros e uma portuguesa, estudiosos do escritor Wanhenga Xitu, vão também debruçar-se sobre esta figura incontornável da política e da cultura angolana.

Wanhenga Xitu Wanhenga Xitu é o nome Kimbundu de Agostinho André Mendes de Carvalho. Fez curso de enfermagem, profissão que exerceu durante muitos anos. Como enfermeiro, deslocou-se por todo o país. também cursou Ciências políticas na Alemanha. Em 1959, foi preso e considerado participante no “processo dos 50”. Enviado para o tarrafal, Wanhenga Xitu lá permaneceu, de 1962 a 1970. Após a independência, foi membro do Conselho da revolução, Comissário (governador) da província de luanda, Ministro da Saúde de Angola e Embaixador de Angola na república da polónia. Foi deputado na Assembleia nacional, pela bancada do MplA, partido do qual faz parte, tendo sido, inclusive, membro do seu Comité Central até 1998. Apesar de ter falecido no dia 3 de Fevereiro de 2014, nos últimos anos, uanhenga Xitu tem sido objecto de estudos científicos e homenagens que em Angola como noutras partes do mundo. Do seu conjunto de obras destacam-se Meu Discurso, Mestre tamoda, Bola Com Feitiço, Manana, vozes na Sanzala – Kahitu, os Sobreviventes da Máquina Colonial Depõem, os Discursos de Mestre tamoda, o Ministro e Cultos Especiais


dESPORTO

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O PAÍS Sexta-feira,3 0d eA gostod e2 019

António da luz antevê dificuldades no jogo inaugural DAniEl MiguEl/Arquivo

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comentador para o basquetebol, António da Luz, afirmou ontem a O PAÍS que a Selecção Nacional sénior masculina não terá hipóteses de vencer a Sérvia na abertura do grupo D do Mundial que a China acolhe, a partir de amanhã até ao dia 15 de Setembro próximo. António da luz disse que o cinco nacional terá que entrar com algumas cautelas para não perder o desafio por

Leandro Conceição (com a bola) tenta desfazer-se do adversário

Angola estreia-se com a Sérvia no Mundial da China O cinco nacional, orientado por William voigt, pretende passar para a outra fase na maior festa da bola ao cesto em solo chinês, que começa amanhã em oito cidades Sebastião Félix

A

Selecção Nacional sénior masculina de basquetebol estreiase amanhã com a Sérvia no Mundial que a China acolhe, em partida do grupo D, às 8:00 (tempo de Angola). na cidade de Foshan, o cinco nacional enfrenta um adversário com argumentos técnicos e tácticos. Aliás, na turquia, em 2010, os pupilos de William voigt foram copiosamente derrotados pelos sérvios. na cidade de Kayseri, o cinco

nacional enfrentava problemas técnicos e administrativos, perdeu por 44-96. Apesar de conhecer o adversário, os angolanos têm poucas hipóteses de se vingar do cinco da Europa do leste. por isso, entram sem temer os sérvios, e, segundo

a equipa técnica, o moral o grupo é alto, uma vez que a preparação foi regular. no palco da competição, Angola participou num torneio internacional com várias selecções asiáticas e do velho Continente. volvidos alguns dias, o cinco nacional viajou para a Coreia do Sul, onde escreveu o seu nome no torneio das quatro nações. nesse certame, Angola terminou na última posição, mas, para a equipa técnica foi regular, por que o grupo ganhou rodagem competitiva. para além da Sérvia, o cinco nacional vai medir forças com a itália e as Filipinas.

muitos pontos, uma vez que a Sérvia é candidata ao título. Para o efeito, o dirigente revelou que o combinado nacional terá de ser eficiente na defesa e no ataque. “Não teremos hipóteses frente à Sérvia. É candidata ao título”, admitiu o comentador. António da Luz referiu ainda que o importante é lutar para não perder por muitos pontos e também para vencer a Itália e as Filipinas.

Angolanos conquistam Africano de vela em optmist nas Seicheles

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Selecção Nacional de vela conquistou ontem o Campeonato Africano, em optmist por equipa, prova que decorre desde o dia 25 do corrente mês até ao próximo Domingo, nas Ilhas Seicheles. Em declarações à imprensa, o seleccionador nacional, Moisés Camota, mostrou-se satisfeito pela conquista.

Moisés Camota afirmou também que a Angola teve dificuldades para conseguir o feito. Mas, adiantou que superaram os adversários com maior experiência na prova no Africano. para Moisés Camota, o foco da Selecção nacional neste momento está focado na competição individual. Dr

Velejadores angolanos conquistam Africano nas Seicheles


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Tricolores afinam estratégias

A Selecção nacional de futebol sub-17 mede forças na próxima quarta-feira, 4, com o Atlético Sport Aviação (ASA), em jogo amistoso, tendo em vista a participação no Mundial que o Brasil acolhe de 26 de outubro a 17 de novembro próximo. na passada quarta-feira, o combinado nacional empatou sem golos diante da real Sambila, no Estádio da Cidadela, em luanda. nos desafios passados, os palanquinhas perderam frente à Académia de Futebol de Angola (AFA) por quatro bolas a uma, tendo perdido pelo mesmo resultado frente ao Sub-20 do 1º de Agosto. Angola figura no grupo A do Mundial com o Brasil (país afitrião), Canadá e nova Zelândia. os palanquinhas estreiamse na prova diante da nova Zelândia, no Estádio de Bezerrão, às 20:00 (hora de Angola).

Kiamesso Pedro

O

Petro de Luanda prossegue hoje os trabalhos de preparação no Estádio do Catetão, tendo em vista o desafio de Sábado frente ao Desportivo da Huíla, em partida a contar para a abertura da terceira jornada do Girabola 2019/2020. na sessão de hoje, com início às 9:00, o treinador dos tricolores, António Cosano, vai trabalhar os aspectos defensivos e ofensivos de modo a surpreender o adversário no seu reduto. por sua vez, o técnico dos militares da frente sul, Mário Soares, vai privilegiar a pressão na saída de bola do opositor, uma vez que fora de portas os petrolíferos nunca viram a cara à luta. o 1º de Agosto, tetra-campeão nacional, terá pela frente o Sagrada Esperança da lunda-norte, no Estádio do Dundo, às 15:00. o 1º de Maio de Benguela recebe o Sporting de Cabinda, às 15:00. Domingo, o progresso do Sambizanga joga com o recreativo do libolo, às 16:00. o interclube visita o Santa rita de Cássia do uíge, ao passo que a Académica do lobito enfrenta o Wiliete de Benguela. o recreativo da Caála defronta o Cuando Cubango FC, enquanto o Bravos do Maquis bate-se com o Ferrovia do Huambo, às 15:00. DAniEl MiguEl/Arquivo

Sub-17 defronta ASA em jogo de preparação

Andebol angolano faz dobradinha nos Jogos Africanos Mário Silva

n

uma partida imprópria para cardíaco, a Selecção Nacional sénior feminina de andebol conquistou ontem a medalha de ouro, após vencer, por 28-25, os Camarões na final dos Jogos Africanos, prova que decorre em solo marroquino. ontem, as pérolas africanas entraram na quadra apáticas e nervosas, o que permitiuque as camaronesas conseguissem dois golos de vantagem.

Aos cinco minutos, as comandadas de Morten Soubak acertaram o seu jogo com jogadas organizadas de contra-ataques. natália Bernardo, Helena paulo e companheiras assumiram as rédeas do desafio e foram ao intervalo a vencerem, por 15-10, cinco golos de vantagem. o destaque nesta altura recaia para Albertina Cassoma, atleta que criava bastante dificuldades à defensiva contrária. Depois do intervalo, o treinador da selecção camaronesa alterou o sistema de jogo na tentativa conseguir o empate e forçar o prolongamento. Sendo assim, os Camarões colocaram o seu poderio físico, sua prin-

cipal, e conseguiram reduzir a vantagem para um golo quando faltavam dois minutos para o fim. E fruto da experiência, da serenidade e da determinação, as campeãs africanas ampliaram o marcador para 28-25, o resultado com que terminou o jogo. reagindo à conquista do ouro, Albertina Cassoma, melhor marcadora da final com oito tentos, revelou que o segredo da vitória foi a união que o grupo demonstrou durante todo tempo regulamentar. Em masculino, a Selecção nacional venceu, por 31-25, a sua similar do Egipto.

Espanha quer ‘roubar’ craque guineense de 16 anos

novak djokovic segue à terceira ronda do uS Open

Juventus e lazio aquecem cidade de Turim

Com apenas 16 anos, Ansu Fati tem apontados os holofotes do futebol mundial. O extremo estreou-se pela equipa principal do Barcelona diante do Bétis (5-2) na 2ª jornada do campeonato espanhol. Natural de GuinéBissau, mas em Espanha desde 2015, Ansu Fati fez um pedido para ter dupla-nacionalidade. Cientes deste facto, a Real Federação já entrou em contacto com a família do jogador.

Novak Djokovic, líder do ranking mundial e detentor do título, apurou-se para a terceira ronda do US Open, não obstante as dores no ombro esquerdo que o limitaram durante o encontro com o argentino Juan Ignacio Londero. O sérvio, assistido em mais do que uma ocasião, acabou por levar a melhor em sets directos, pelos parciais de 6-4, 7-6 (7/3) e 6-1.

A Juventus e o Napoli batem-se amanhã, no Estádio de Turim, no encontro de maior cartaz da segunda jornada da Série A, às 19:45 (hora de Angola). Na abertura da competição, a “velha senhora” teve de sofrer para derrotar o Parma de Gervinho por uma bola sem resposta. Por sua vez, o Napoli venceu a Fiorentina por quatro bolas a três.

Dr

CPA garante onze selecções para o Africano O secretário-geral do Comité Paralímpico Angolano (CPA), António da Luz, confirmou a este jornal que onze selecções já garantiram presença no Campeonato Africano das Nações (CAN) de futebol com muletas, a realizar-se em Benguela, de 2 a 12 de Outubro. Já o seleccionador angolano, António Baptista “Chieto”, disse que “estamos a trabalhar a condição física dos atletas, porque as suas equipas estavam paradas.”


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O PAÍS Sexta-feira, 30 de Agosto de 2019

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TEMPO

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PAÍS Sexta-feira, 30 de Agosto de 2019

Fonte: INAMET

prEviSÃo Do tEMpo *** 3 DiAS *** pArA AS prinCipAiS CiDADES válida de 27 a 29 de Agosto de 2019 Ê Ê

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGOA E GEOFÍSICA - CENTRO NACIONAL DE PREVISÃO DE TEMPO (CNPT) Ê

Ê

PREVISÃO DO TEMPO *** 3 DIAS *** PARA AS PRINCIPAIS CIDADES, válida de 27 à 29 de Agosto de 2019Ê Data 27/08/2019

CIDADE

das 18 horas do dia 26 às 18 horas do dia 27 de Agosto de 2019

Data 28/08/2019

Estado do Tempo

Mín

Data 29/08/ 2019

Estado do Tempo

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Céu parcialmente, nevoeiro/neblina

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Céu parcial ou nublado, nevoeiro/neblina

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Céu parcial ou nublado, nevoeiro/neblina

CABINDA

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Céu parcial nublado, neblina matinal

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Céu parcial nublado, neblina matinal

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Céu parcial nublado, neblina matinal

REGiÃO CEnTRO: Províncias de Benguela, Huambo, Bié e Moxico Céu limpo nas províncias do Huambo, Bié e Moxico, parcialmente nublado na província de Benguela. Com períodos de nublado pela madrugada e manhã na faixa do litoral da província de Benguela. possibilidade de ocorrência de neblina matinal na província de Benguela.

SUMBE

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Parcial nublado, nevoeiro/neblina

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Céu pouco nublado

16

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Céu pouco nublado

CAXITO

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Céu nublado pela manhã, nevoeiro

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Céu nublado pela manhã, nevoeiro

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Céu nublado pela manhã, nevoeiro

MBANZA CONGO

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Parcial nublado, nevoeiro/neblina

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Parcial nublado, nevoeiro/neblina

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UIGE

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Parcial nublado, nevoeiro/neblina

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Parcial nublado, nevoeiro/neblina

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NDALATANDO

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Parcial nublado, nevoeiro/neblina

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Parcial nublado, nevoeiro/neblina

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Parcial nublado, nevoeiro/neblina

MALANJE

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Parcial nublado, nevoeiro/neblina

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Parcial nublado, nevoeiro/neblina

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Parcial nublado, nevoeiro/neblina

DUNDO

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Parcial nublado, nevoeiro/neblina

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Parcial nublado, nevoeiro/neblina

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Parcial nublado, nevoeiro/neblina

SAURIMO

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Parcial nublado, nevoeiro/neblina

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Parcial nublado, nevoeiro/neblina

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Parcial nublado, nevoeiro/neblina

BENGUELA

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Nublado ou parcial nublado, nevoeiro/neblina

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Nublado ou parcial nublado, nevoeiro/neblina

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Nublado ou parcial nublado, nevoeiro/neblina

HUAMBO

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Céu geralmente limpo

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Céu pouco nublado ou limpo

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Céu pouco nublado ou limpo

Parcial nublado, nevoeiro/neblina Parcial nublado, nevoeiro/neblina

CUITO

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Céu geralmente limpo

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Céu geralmente limpo

11

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Céu geralmente limpo

LUENA

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Céu geralmente limpo

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Céu geralmente limpo

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Céu geralmente limpo

LUBANGO

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Céu geralmente limpo

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Céu geralmente limpo

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Céu geralmente limpo

MENONGUE

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Céu geralmente limpo

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Céu geralmente limpo

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Céu geralmente limpo

MOÇÂMEDES

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Céu pouco, neblina matinal

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Pouco ou parcial nublado, neblina matinal

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Pouco ou parcial nublado, neblina matinal

ONDJIVA

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Céu geralmente limpo

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Céu geralmente limpo

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Céu geralmente limpo

O Meteorologista: Domingos Nsoko Pedro

REGiÃO nORTE: Províncias de Cabinda, Zaire, Bengo, Luanda, Uíge, Malanje, Cuanza-Norte, Cuanza-Sul, Lunda-Norte, Lunda-Sul: Céu parcialmente nublado, alternando com períodos de nublado durante a madrugada e manhã nas províncias de luanda, Bengo, Cabinda, Zaire e Cuanza-norte. períodos de ocorrência de neblina ou nevoeiro em alguns municípios das províncias de luanda,- Zaire, Bengo, Malanje, Cuanza-norte e lunda-norte.

REGiÃO Sul: Províncias do Namibe, Huíla, Cunene e Cuando Cubango Céu geralmente limpo nas províncias da Huíla, Cunene e Cuando Cubango. Com possibilidade de ocorrência de neblina ou nevoeiro em alguns municípios da província do namibe.

Luanda, 26 de Agosto de 2019

Aeroporto Internacional 04 de Fevereiro, Rua 21 de Janeiro – Tel.: 949320641 – Luanda. Site: http://www.inamet.gov.ao; emails: geral@inamet.gov.ao / geral.inamet@angola-portal.ao

TEMPO nO MAR Fonte: INAMET

BolEtiM MEtEorolÓgiCo pArA A nAvEgAÇÃo MArítiMA 1. SiTuAÇÃO GERAl ÀS 15:00 Tu dO diA 26 dE AGOSTO dE 2019: Circulação de Sudoeste moderada entre os paralelos 4°S a 14°S (Cabinda até Benguela) e circulação INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA E GEOFÍSICA - INAMET de sudeste forte, a Sul do paralelo 14°S. Centro Nacional de Previsão do Tempo BOLETIM METEOROLÓGICO PARA A NAVEGAÇÃO MARÍTIMA

2. PREviSÃO válidA ATÉ ÀS 18:00 Tu dO diA 27 dE AGOSTO dE 2019:

SITUAÇÃO GERAL ÀS 15:00 TU DO DIA 26 DE AGOSTO DE 2019: AviSO:1.vEnTO ATÉ 54 KM/H nÓS) COSTA nAMibE (Sul dO PARAlElO COM CirculaçãoFORTE de Sudoeste moderada entre os(29 paralelos 4°SnA a 14°S (CabindadE até Benguela) e circulação de sudeste forte, a Sul15°S), do paralelo 14°S. 2. ATÉ PREVISÃO VÁLIDA ATÉ AS 18:00 TU DO DIA 27 DE AGOSTO DE 2019: OndAS 3.4 METROS dE AlTuRA

AVISO: VENTO FORTE ATÉ 54 KM/H (29 NÓS) NA COSTA DE NAMIBE (SUL DO PARALELO 15°S), COM ONDAS ATÉ 3.4 METROS DE ALTURA

REGIÃO

ESTADO DO TEMPO

VENTO

(ATÉ 200 MILHAS DA COSTA)

ALTURA DA ONDA (METROS)

ESTADO DO MAR

DIRECÇÃO FORÇA (KT)

Cabinda (4°S – 6°S)

Nublado

Zaire, Bengo, Luanda e Cuanza-Sul (6°S – 12°S)

Neblina ou nevoeiro

Benguela (12°S – 14°S)

Neblina

Namibe (14°S – 18S)

Neblina

VISIBILIDADE HORIZONTAL (KM)

Sudoeste

Até 10

Até 1.4

Pouco agitado

Fraca pela manhã (Inferior a 5)

Sudoeste

10 a 15

Até 1.4

Pouco agitado

Fraca pela manhã (Inferior a 4)

Sudoeste

Até 15

Até 1.6

Agitado

Sul a Sudoeste

Até 29

Até 3.4

Muito Agitado

Fraca a moderada pela manhã (Até 5)

Fraca pela manhã (Inferior a 4)

3. dESCRiÇÃO SinÓPTiCA dAS 18:00 uTC dO diA 26/08/2019 ÀS 18:00 uTC dO diA 27/08/2019 Alta pressão da Santa Helena irá permanecer muito activa durante as próximas 24H com a pressão central constante de 1035hpa, com um gradiente forte de vento ao longo da costa de namibe. na costa do namibe irá atingir 54Km/h (29 nós) Assim, prevê-se uma agitação marítima forte com as ondas a atingirem 3.4 metros de altura na costa do namibe durante a manhã e tarde. A parte Sul da costa de Benguela poderá ser atingida com ondas até 1.6 metros de altura. para a costa de Cabinda, Zaire, Bengo, luanda e Cuanza Sul prevê-se ondas até 1.4 metros de altura. prevê-se uma visibilidade entre 3 a 5 km, devido à ocorrência de nevoeiro ou neblina matinal nas regiões marítimas de Cabinda, Zaire, Bengo, luanda, Cuanza-Sul, Benguela e namibe. 4. CARTA dO vEnTO MáXiMO E dA AlTuRA dA OndA MáXiMA PREviSTA os contornos a cores indicam a altura máxima da ondulação e os contornos em tom cinza indicam os possíveis incrementos das vagas devido à influência do vento local.


OPiniÃO

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RiCARdO viTA*

A Alteza Real Meghan Markle é vítima de racismo Dr

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uerida Inglaterra e i mprensa inglesa, digam só que a odeiam por ela ser negra, e ele por ter casado com uma mulher negra, e acabem com isso, caramba », tuitou a actriz Jameela Jamil em defesa da Sua Alteza Real a Duquesa de Sussex e do seu marido, o Príncipe Harry do Reino Unido. Meghan Markle tem sido alvo de uma campanha hostil e racista nos últimos meses na imprensa popular britânica. A última avalanche foi provocada por casal e o seu filho de três meses, Archie, terem tomado um avião privado para ir passar alguns dias de férias na casa do famoso cantor Elton John no sul da França. A viagem suscitou fortes críticas por causa da pegada de carbono, os tabloides britânicos chamaram-nos de hipócritas, alegando que essa pegada de carbono foi incoerente com o discurso do Príncipe Harry em favor do meio ambiente. Diante das críticas, Elton John teve que defender publicamente o Duque e a Duquesa de Sussex na segundafeira, dia 19 de Agosto. « Estou profundamente aborrecido com a descrição distorcida e malévola de hoje

na imprensa sobre a estadia privada do Duque e da Duquesa de Sussex em minha casa em Nice na semana passada », escreveu o cantor. Elton John também enfatizou o seu apoio ao compromisso do Príncipe Harry com o meio ambiente. E informou ter garantido que a pegada de carbono do jacto que alugou para transportar a família real fosse neutra. Não é a primeira vez que um membro da família real é transformado em sensação de tabloides no Reino Unido. Só que desta vez é diferente, a realeza em causa, o alvo principal da fúria, é negra. Em 19 de Maio de 2018, a actriz afro-americana, Rachel Meghan Markle, entrou na família real britânica casando-se com o Príncipe Harry, neto da rainha Elizabeth II, e recebendo o título de Duquesa de Sussex. Muito antes do seu casamento, após a oficialização da sua relação com esse príncipe, a imprensa britânica já zombava das suas origens humildes, da pequena casa verde da sua mãe, onde ela cresceu, num bairro popular de Los Angeles e da sua origem negra. Um ano depois, parece que todo mundo esqueceu totalmente o casamento digno de um conto de fadas que fizeram e grande parte da conversa sobre

Meghan Markle hoje gira somente em volta da sua inadequação na família real. As críticas são mais violentas, o seu racismo assumido e vêm de todos os lados, incluindo as redes sociais Facebook, Twitter, 4chan e Gab. A atitude é provavelmente justificada pelo medo dos racistas e conservadores que vêem a modernização de um sistema monárquico que é, por definição, não progressista. O frescor e esplendor que Me-

Meghan Markle veio para a família real com a sua bagagem: uma carreira de actriz, um divórcio e opiniões políticas próprias. Ela é uma feminista

ghan Markle traz, que tiram a Casa de Windsor da sua poeira medieval, só podem preocupar os supremacistas nesta época de profunda crise de identidade no Ocidente. Quase todas as princesas desta família foram infelizes, porque são obrigadas a ficarem quietas, a fazerem filhos e a submeteremse a comentários burlescos sobre os seus guarda-roupas. Com Meghan Markle não será exactamente assim, tudo terá o seu toque pessoal. Ela não é uma boneca. Então não haverá as pausas tradicionais nas escadas do hospital com sorrisos forçados, horas depois de dar à luz, para mostrar o bebé à imprensa e aos sujeitos de Sua Majestade, a Rainha. O baptismo do seu filho Archie foi uma cerimónia privada, nem quis divulgar os nomes dos padrinhos e convenceu o marido a saírem do palácio de Kensington, no centro de Londres, em frente do qual os turistas têm o hábito de ir tirar a foto de lembrança, para se refugiarem na cidade de Windsor, fora da capital, longe do tumulto da exibição teatral da família real. Meghan Markle veio para a família real com a sua bagagem: uma carreira de actriz, um divórcio e opiniões políticas próprias. Ela é uma feminista assumida, vota para o Partido Democrata nos Estados Unidos e admira Noam Chomsky. Uma mulher moderna. Mas uma pessoa como ela, que representa o mundo de hoje, só pode ofuscar outras que ainda vivem no passado. Então ela é acusada de tirar da cena a vintage Kate Middleton, bonita esposa do Príncipe William e perfeita princesa de outra era; silenciosa companheira, potencial futura rainha Catarina e mãe dos príncipes, que aceitou ficar em casa para fazer bolos e tricotar. Se Diana foi a Princesa do Povo, Meghan quer ser a Duquesa da justiça social e racial. Já se alega que a sua entrada nessa família conservadora irá transformar as relações raciais na Grã-Bretanha e que o liberalismo social do casal transformará os Windsors em aliados das lutas progressistas.

Porque, obviamente, se espera que os membros da família real britânica permaneçam apolíticos e Meghan Markle está decidida em ser a Duquesa Social Justice Warrior (SJW, ou guerreira da justiça social). Por isso ela é violentamente maltratada na imprensa, com críticas que vislumbram um fundo racista, e é acusada de não ter o rótulo real. Por exemplo, lemos aqui e acolá frases como, « ela não é suficientemente sofisticada », « não é humilde o suficiente », « não é real o suficiente » ou ainda « não é Inglesa o suficiente ». Nada é suficiente nela. Inveja pura e conservantismo absoluto. É peculiar aos racistas e passadistas. E tudo piorou quando Sua Alteza Real, a moderna Meghan Markle, teve a ousadia de aceitar ser a editora convidada da revista Vogue, para a edição de Setembro de 2019; para a qual escolheu 15 perfis de mulheres do mundo das artes, da política e do desporto que a inspiram e que ela admira -, e todas activistas por uma causa ou outra. E no seu editorial, para a revista, ela chamou essas mulheres de « forças para a mudança », destacando claramente a importância do colectivo e da solidariedade entre as mulheres. Vemos, através dos Windsors, como o conservantismo teme as mudanças. Infelizmente (ou felizmente), Meghan Markle é uma mulher do seu tempo, do século XXI, do novo paradigma, da diversidade, do mundo aberto a todos. O futuro. Oremos para que ela continue assim, isso dará à Casa de Windsor um novo fôlego para se renovar e dar o pulo necessário, do século XVI ao século XXI. * é Pan-africanista, afro-optimista radicado em Paris, França. É colunista do diário Folha de São Paulo (Brasil), do diário Público (Portugal) e do diário Libération (França). É cofundador e vice-presidente do instituto République et Diversité que promove a diversidade em França e é empresário.


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O PAÍS Sexta-feira, 30 de Agosto de 2019

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oposição quer debate de emergência para legislar contra brexit sem acordo A oposição britânica vai tentar forçar um debate de emergência no parlamento britânico na próxima terça-feira para aprovar legislação que impeça um ‘Brexit’ sem acordo, disse ontem o deputado do partido trabalhista Barry gardiner

‘v

amos procurar iniciar medidas na Segunda-feira para tentar obter o que é conhecido como um debate Standing Order Section 24. Vamos tentar apresentar a legislação adequada neste calendário curto que o governo agora determinou”, disse ontem na rádio BBC Radio 4.

O responsável pelas questões do comércio no governo sombra de Jeremy Corbyn admitiu que “vai ser extremamente difícil” aprovar uma lei nos dias que restam. “Este é um período crítico e foi desenhado para garantir que torna extremamente difícil passar a legislação necessária que impediria uma saída sem acordo para o qual este primeiro-ministro não tem mandato”, vincou Gardiner.

O governo britânico obteve na Quarta-feira autorização da rainha Isabel II para suspender o parlamento durante cinco semanas, a partir de um dia a determinar entre 9 e 12 de setembro até 14 de Outubro. O parlamento, que só regressa aos trabalhos na Terça-feira, após as férias de verão, tinha previsto parar novamente entre o final de Setembro e início de Outubro, durante a época dos congressos anuais dos

Barry Gardiner e companheiros procuram pressionar Johnson

principais partidos políticos britânicos. A suspensão do parlamento foi fortemente criticada pela oposição, que vê nela uma tentativa de limitar significativamente o tempo para os deputados apresentarem medidas para impedir uma saída do Reino Unido da União Europeia (UE)

sem acordo. Manifestações contra a suspensão do parlamento, qualificada pela generalidade dos opositores como um ataque à democracia, realizaram-se em Londres e noutras cidades britânicas e uma petição contra a medida já ultrapassou um milhão de assinaturas.

EuA sabiam que a indonésia queria travar a independência de timor-leste “através do terror e da violência” Dr

O ex-presidente Bill Clinton e antigos colaboradores

O

governo do presidente Bill Clinton sabia, ainda no ano que antecedeu o referendo, que a Indonésia queria “impedir um voto de independência em Timor-Leste através do terror e da violência”. Meses antes do referendo sobre a independência de TimorLeste, o governo dos Estados Unidos da América já estava

ciente de que asforças indonésias estavam determinadas a impedir a independência, tendo para esse efeito criado, armado e dirigido milícias em Timor-Leste, capazes de criar uma onda de “terror e violência, escreve o jornal The Guardian. Esta é mais uma revelação feita depois de divulgados 600 telegramas desclassificados pelos Estados Unidos, no aniversário dos

20 anos do referendo que se assinala nesta Sexta-feira. Os telegramas são referentes ao período entre o final de 1998 e o início da presidência do líder indonésio Abdurrahman Wahid, em 2000. Segundo o jornal britânico, os telegramas revelam que o governo do presidente Bill Clinton estava consciente, ainda no ano que antecedeu o referendo, da “determinação” das Forças Armadas da Indonésia “em impedir um voto de independência em Timor-Leste através do terror e da violência” diz Brad Simpson, do National Security Archive, citado pelo jornal britânico. Meses antes do referendo que se realizou em 30 de Agosto de 1999, as autoridades norte-americanas reuniram evidências suficientes para concluir que os militares indonésios estavam a armar milícias. Em Fevereiro de 1999, por exemplo, um relatório dos serviços secretos norte-americano citava funcionários da embaixada de Jacarta que revelavam que os militares indonésios estavam “a armar pequenos grupos itinerantes

de milícias” e que havia militares à paisana a participar neles. Em Março, detectou “laços estreitos” entre as milícias militares e locais, “muitas criadas por forças especiais indonésias e agentes dos serviços secretos”, mencionando especificamente uma decisão do comandante das Forças Armadas indonésias, o general Wiranto, de inícios de 1999, para fornecer “centenas de armas às milícias”. Seria igualmente disponibilizado apoio logístico e de aconselhamento. E quando em Abril, a situação se agravou depois da tomada de Díli pelas forças pró-integração, apoiadas pelo exército indonésio, a “polícia não tomou medidas para pôr fim à violência”. Já em Maio, a CIA referia que o general não tinha feito nada “contra as milícias civis próintegração nem tinha disciplinado as unidades militares locais que, se não instigaram, pelo menos toleraram esses grupos”. A meio desse mês funcionários da embaixada norte-americana receberam a informação de que as milícias estavam a planear receber o primeiro contingente da UNAMET (Mis-

são das Nações Unidas em Timor Leste) “com as suas armas”. Um mês depois, em Junho, uma delegação da embaixada dos EUA visitou Liquiçá e relatou ser “evidente que os militares indonésios e as milícias pró-integração trabalhavam em conjunto para levar a cabo uma política de terra queimada”. A violência militar não parou a 30 de Agosto, quando os timorenses votaram a favor da independência da Indonésia e a 9 de Setembro Bill Clinton suspendeu as relações militares com a Indonésia, dias antes de chegar a Timor a Força Internacional para TimorLeste, a INTERFET, que em Outubro entregou à ONU a administração transitória do território. Os documentos revelam também que a Casa Branca fez esforços diplomáticos para que a Indonésia aceitasse uma solução pacífica para Timor e que foi fundamental para a entrada da INTERFET e para evitar a continuação da violência que matou milhares de pessoas nos meses anteriores (e mesmo posteriores) ao referendo.


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