Jornal OPaís edição 1901 de 17/07/2020

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Tivemos grandes obras, hospitais, equipamentos, mas o investimento no capital humano foi relativamente baixo”

GRANDE ENTREVISTA: Na próxima semana Paolo Balladelli deixa Angola, onde foi coordenador do sistema das Nações Unidas, por cinco anos. A sua carreira, no entanto, vai continuar no outro lado do Atlântico, na Venezuela, ao serviço da OPAS, a Organização Pan-Americana da Saúde. P. 20 www.opaís.co.ao e-mail: info@opaís.co.ao @jornalopaís facebook/opaís.angola @jornalopais

Director: José Kaliengue

O diário da Nova Angola

Edição n.º 1901 Sexta-feira, 17/07/2020 Preço: 40 Kz

CNE diz-se pronta para as autárquicas, bastando que sejam convocadas Política: Relativamente ao receio de as eleições autárquicas não acontecerem este ano, de alguns partidos políticos da Oposição, o porta-voz da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) deixou claro que esta é uma questão que está fora do âmbito do órgão, cuja competência se circunscreve na organização do expediente eleitoral depois da sua convocação oficial por parte de outros órgãos. P. 9

Covid-19 infecta mais 31 pessoas e mata uma em 24 horas l Nas últimas 24 horas foram confirmados mais 31 novos casos de Covid-19, com mais um óbito, elevando as cifras para 607 infectados e 28 mortes, informou, o secretário de Estado, Franco Mufinda. P. 2

daniel miguel

Dois bairros de Benguela sob cerca sanitária por suspeita de Covid-19 l Os bairros de Kandjombe e Kaissaca,

no município do Bocoio, a Norte da província de Benguela, estão sob cerca sanitária por se terem registado dois casos reactivos à Covid-19. As autoridades dizem que os resultados definitivos, que vão determinar se são ou não positivos, serão conhecidos oportunamente.P. 12

Cidadãos em extrema pobreza obrigados a pagar para beneficiarem de serviços públicos af_bai_nahora_imprensa_276x42,733mm_empresa.pdf

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18/11/19

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Herenilson não chega a acordo com a direcção do Petro de Luanda l O médio trinco deixa o clube

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tricolor, após vários meses de negociação, mas tudo indica que vai assinar num dos clubes “grandes” que já prepara o Girabola 2020/2021. P. 26


EM FOCO

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O PAÍS Sexta-feira, 17 de Julho de 2020

ACTUALIZAÇÃO COVID-19 Diária sobre o Coronavírus A partir do Centro de Imprensa Aníbal de Melo

Covid-19 infecta mais 31 pessoas e mata uma em 24 horas Nambi Wanderley

Nas últimas 24 horas foram confirmados mais 31 novos casos de Covid-19 e mais um óbito, elevando as cifras para 607 infectados e 28 mortes, informou, ontem, o secretário de Estado para a Saúde Pública, Franco Mufinda, numa altura em que está confirmado o registo de casos de contaminação comunitária

Maria Teixeira

F

ranco Mufinda, que falava durante a apresentação do balanço diário sobre a pandemia no país, no CIAM, em Luanda, esclareceu que os 31 novos casos positivos registados no período em referência são da província de Luanda, com idades compreendidas entre os 22 e os 63 anos, sendo 22 do sexo masculino e nove do feminino. Quanto a localidades mais afectadas pelo vírus, continuam a ser Maianga, Kilamba Kiaxi, Belas e Viana. Em consequência desta doen-

Nambi Wanderley

ça, um cidadão angolano de 58 anos de idade, infectado e com várias co-morbilidades descompensadas, morreu ontem no Hospital Militar. Por outro lado, o governante recordou a situação comunitária do vírus em Luanda. Por esta razão, apelou à calma e à responsabilidade de cada um contra este inimigo invisível e mortal, uma vez que a luta contra a Covid-19 é de todos. “Não queremos ter dor e luto no nosso seio. Neste contexto, não devemos baixar a guarda, cumprindo assim as medidas que estão plasmadas no decreto sobre a calamidade pública com o fito de cortar a cadeia de transmissão”, advertiu. Por esta razão, Franco Mufinda sublinha o uso obrigatório da máscara, cobrindo a boca e o nariz, para evitar a contaminação das pessoas, bem como a lavagem das mãos com água e sabão ou até desinfectar com álcool e a observância do distanciamento físico entre as pessoas como as medidas necessárias para se evitar a transmissão desta doença. Nambi Wanderley


O PAÍS

Sexta-feira, 17 de Julho de 2020

Angola com 607 infectados e 28 óbitos A estatística indica a existência de 607 casos infectados, dos quais 28 mortos, 124 recuperados e 455 activos. Há ainda seis que requerem cuidados especiais, ao passo que os restantes estão clinicamente estáveis. O Centro Integrado de Segurança Pública (CISP) registou, nas últimas 24 horas, 105 chamadas, das quais duas denúncias de casos suspeitos de Covid-19 e 103 pedidos de informação sobre o vírus. Nas últimas 24 horas foram processadas 1.138 amostras no laboratório da biologia molecular, das quais 31 foram positivas

Quatro pessoas em cada 100 angolanos ficaram expostas ao SARS-CoV-2 Por outro lado, Franco Mufinda esclareceu que 559 pessoas observam quarentena institucional em todo o país e que, nas últimas 24 horas, 62 pessoas receberam alta, sendo 33 na província do CuanzaNorte, 14 no Cunene, cinco no Bié, quatro na Lunda Norte,

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e 1.107 negativas. No total de amostras recebidas, Franco Mufinda fez saber que foram processadas até à presente três no Cuando Cubango e Huíla, respectivamente. Franco Mufinda contou ainda que na sequência da realização dos testes serológicos ou testes rápidos da Abbot, há um somatório de 16.869 testes realizados. “Deste número, temos 709 reactivos activos, isto representa que quatro pessoas em cada 100 provavelmente ficaram expostas ao SARSCoV-2. Ou seja, pelo menos quatro pessoas em cada 100

data 43.997 amostras, das quais 607 foram positivas, 38.776 negativas e o resto encontra-se em processamento. ficaram ou cruzaram com este vírus que causa a Covid-19”, disse. No entanto, explicou que deste número de quatro pelo menos três pessoas já teriam tido a imunidade ou a defesa e uma pessoa na base de 100 teria “a tal presunção” de um provável caso positivo. “Para isso acontecer, temos que passar para a segunda prova, que é a realização do exame de RT-PCR, na base da biológica molecular”, contou.

“Voos humanitários trouxeram 270 angolanos provenientes do Brasil” A revelação é do secretário de Estado para a Saúde Pública, Franco Mufinda. Disse que ainda na continuidade dos voos humanitários, chegaram ontem, ao país, 270, cidadãos angolanos provenientes do Brasil, dentre os quais 27 são crianças. Franco Mufinda aproveitou a ocasião para informar, em nome da Comissão Multissetorial, que os voos humanitários para Portugal começam na próxima Terça- Feira, 21 do corrente mês. “É do vosso conhecimento que Portugal acaba por ter um número maior de angolanos, então, teremos uma sequência de voos humanitários para a próxima Terça-feira”, revelou. De recordar que o novo Coronavírus (SARS-CoV-2), responsável pela pandemia da Covid-19, surgiu na China em Dezembro de 2019. O surto espalhou-se pelo mundo e já vitimou centenas de milhares de pessoas, tendo levado a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia global.

Convite à apresentação de propostas A Convenção da Corrente de Benguela (BCC) é uma organização Inter-Governamental multi-sectorial estabelecida por Angola, Namíbia e África do Sul (Partes) com o objectivo de liderar a colaboração regional para a gestão integrada, desenvolvimento sustentável e protecção do ambiente com a aplicação de uma abordagem ecossistémica à governação

dos oceanos no Grande Ecossistema Marinho da Corrente de Benguela (BCLME). O Secretariado da BCC vem por este convidar propostas de empresas/consórcios/indivíduos competentes para: 1. realizar uma avaliação regional sobre riscos de derrame de petróleo em nome da Convenção da Corrente de Benguela;

2. desenvolver uma Estratégia para Mobilização de Recursos e um Plano de Implementação para a Convenção da Corrente de Benguela. O termo de referência pormenorizado está disponível no sítio da internet: www.benguelacc.org ou a partir do Sr. Jackson Kaoti, Tel:jackson@benguelacc.org + (264 64 406 901) A data-limite: 22 de Julho de 2020


4 destaques política. PÁG. 8 Executivo considera tráfico de seres humanos ameaça à segurança nacional

SOCIEDADE. PÁG. 10 Cidadãos em extrema pobreza obrigados a pagar para beneficiarem de serviços públicos

cartaz. PÁG. 14 Etona homenageia mulher africana com exposição “Cegueira da justiça”

Economia. PÁG. 18 Huawei com

receitas globais de USD 60 mil milhões no primeiro semestre de 2020

MUNDO. PÁG. 24 Rússia não admite alegações de Londres sobre ciberataques à vacina, diz porta-voz do Kremlin

o editorial

O PAÍS Quinta-feira, 16 de Julho de 2020

hoje: 5

os números do dia

Não queira ser o próximo

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omo se depreende dos dados oficiais, a Covid-19 já circula pela comunidade há algum tempo. Apenas na Quarta-feira o Governo a anunciou comunitária, entretanto, o que não significa que ela tivesse começado a circular na comunidade naquele dia. Nada disso. O que o Governo fez foi um anúncio baseado em estudos e naquilo que chama de “sustentabilidade”. Ou seja, não há mais forma de controlar os casos todos e os seus contactos. A doença pode estar em qualquer lugar e com qualquer pessoa. Com a circulação comunitária do novo Coronavírus, SARS-CoV-2, é cada vez mais exigida responsabilidade individual a cada cidadão. Agora não há mais histórias como a do “Caso 26”, agora simplesmente não se sabe quem e onde, cabendo a cada um perguntar-se e responder à questão sobre se quer ser o próximo. É que com a subida dos números, naturalmente, a capacidade de resposta e de atenção vai diminuindo. Há que pensar bem nas actitudes.

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Nuno Pinto da Costa Presidente do F.C. Porto, sobre a conquista do campeonato portugês de futebol

Não consigo entender! Continuamos a ouvir falar do Reino Unido, e de outros países iguais, que fazem milhares e até milhões de testes por dia. Aqui só fazemos cem, no máximo duzentos. Estamos na miséria quanto a testes” Pierre Somse Ministro da Saúde da República Centro-Africana

Cidadãos nacionais foram liberados, na Quartafeira, da quarentena institucional em Ambaca, província do CuanzaNorte, após testagem negativa contra a Covid-19.

Infracções comerciais diversas foram registadas no primeiro semestre deste ano, nos estabelecimentos e mercados informais pelo Inadec na província do Cunene, mais 73 do que no memso período de 2019.

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o que foi dito “ “ Ninguém pode pôr em causa a justiça deste título. Só um clube como o FC Porto é que conseguia, depois da situação em que estava no final da primeira volta, com sete pontos de atraso”

Obras no município do Luau, província do Moxico, atingiram 15 por centos de execução física, após 2 meses de implementação, no quadro de 10 projectos aprovados pelo Ministério das Finanças para essa circunscrição.16 Julho de 2020.

Testes dia de Covid-19 serão realizados nos próximos meses, fruto da construção e montagem de cinco laboratórios nas províncias de Luanda, Uíge, Lunda-Norte e Huambo.

Já manifestámos a nossa vontade de termos acesso à vacina, mal ela esteja disponível. Infelizmente como temos tido tantas dificuldades em conseguir abastecimentos básicos, não tenho razão para crer que a situação com as vacinas seja diferente,” Pierre Somse Ministro da Saúde da República Centro-Africana


O PAÍS

Quinta-feira, 16 de Julho de 2020

5 e assim... José Kaliengue Director

Hoje no online de O PAÍS leia a entrevista com o cientista político Sérgio Dundão e compreenda mais sobre os principais problemas políticos que afligem o país

Os advogados de Benguela

D

www.opais.co.ao Sri Lanka:Passageiros com máscaras para se protegerem do Coronavírus enchem vagão de Colombo (DR)

o que vai acontecer Sociedade Os últimos dos quarenta e oito cidadãos residentes na província de Cabinda, que se encontravam desde Março deste ano, retidos na cidade do Soyo (Zaire), devido à pandemia de Covid-19, regressam, hoje, à sua terra de origem. O regresso desses compatriotas à província mais ao Norte do país surge em função da retomada dos voos da companhia SLJ-Aeronáutica na rota Soyo/Cabinda, quatro meses depois de terem sido suspensos devido à Covid-19.

Economia Prossegue, no município de Caconda, província da Huíla, a colheita de 12 toneladas da primeira safra do café arábica de 13 mil e 230 pés de café comprados na província do Cuanza-Sul e lançados à terra há um ano. Caconda foi o primeiro município da Huíla a lançar-se na produção do bago vermelho ainda no século XIX, mas a produção caiu com a chegada da independência e agora, quase 35 anos depois, é retomada. As sementes, compradas pelo Governo da província, foram distribuidas a dez cafeicultores que abraçaram o projecto nas comunas sede e do Cusse.

Pandemia Seis mil testes dia de Covid-19 serão realizados nos próximos meses, fruto da construção e montagem de cinco laboratórios nas províncias de Luanda, Uíge, Lunda Norte e Huambo. Para tal, foi assinado, nesta Quinta-feira, um acordo entre os ministérios da Saúde de Angola e da China. O projecto, de USD seis milhões, está a cargo da chinesa BGI que, em 20 dias, vai construir e montar 2 em Luanda, 1 no Uíge, Lunda-Norte e no Huambo. Os laboratórios terão capacidade de testagem de mil amostras dia, não só para a RTPCR, mas também mil testes serológicos.

epois do caso do advogado Eugénio Marcolino, que recebeu ordem de prisão numa esquadra, em Benguela, o que motivou uma mobilização geral dos advogados do país, com marchas e leitura de manifestos, tudo porque, segundo os seus colegas, foi detido quando exercia as suas funções e por isso gozava de imunidades reconhecidas pela lei, esperar-se-ia que viesse a paz na relação dos advogados com os poderes da justiça. Mas não. Esta semana, mesmo no início, o advogado António da Cruz, também na cidade de Benguela, denunciou o impedimento de contactar constituintes seus, detidos, num caso de peculato que envolve o administrador municipal do Balombo. O senhor “ordens superiores” teria agido, segundo ele. Na Quinta-feira, Francisco Viena, também advogado e que foi o líder provincial da força política CASA-CE, foi detido por ordem de um juiz, no tribunal de Benguela. Também estava em exercício das suas funções, alegaram os colegas e, portanto, também gozaria de imunidades. Há uma espécie de guerra em Benguela, com advogados de um lado e juízes, polícias e procuradores como uma espécie de adversários. Óbvio que não se quer que eles andem enamorados e aos abraços. Mas também não é necessário que a tensão suba de tom, até porque com tal crispação, seguramente quem perde é o cidadão, que precisa de ter a seu favor um sistema funcional e que se limite a observar a lei e a justiça, longe das disputas pela autoridade, pela vaidade e por outros quejandos mais de umbigos pessoais.

E também...

Pandemia O Ministério da Saúde apresenta hoje em conferência de imprensa o estado actual do novo Coronavírus (Covid-19), na sede do CIAM, em Luanda, a partir das 19 horas.

Dia Mundial da Justiça Internacional - 17 de Julho Também conhecido como o Dia Internacional da Justiça ou Dia Internacional da Justiça Criminal, este dia relembra a importância dos tribunais no respeito pelos direitos humanos e na manutenção da igualdade dos direitos internacionais e civis em todo o mundo. Foi escolhida a data de 17 de Julho para a comemoração deste dia dado que foi a 17 de Julho de 1998 que se adoptou o Estatuto de Roma, o tratado que deu luz ao Tribunal Penal Internacional. Este tribunal está responsável pelo julgamento dos crimes mais graves do planeta, desde genocídios a crimes contra a humanidade e crimes de guerra. O dia é aproveitado para promover a justiça criminal internacional e para chamar a atenção das massas relativamente a crimes graves que aguardam ainda julgamento ou o simples conhecimento da sua existência. É um dia especial para refletir sobre as vítimas de genocídio, de crimes contra a humanidade e de crimes de guerra, comemorando-se ao mesmo tempo os esforços da comunidade internacional para conseguir um mundo mais pacífico e justo.


6 Media Nova, S.A Presidente do Conselho de Administração Filipe Correia de Sá Administradores Executivos Luís Gomes Paulo Kénia Camotim Propriedade : Socijornal Depósito Legal: Nº 244/2008 Contribuinte: 5417015059 Nº registo estatístico: 48058

O PAÍS Sexta-feira, 17 de Julho de 2020

no tempo do kaparandanda

Director Geral de Publicações: José Kaliengue jose.kaliengue@opais.co.ao

opaís

Director: José Kaliengue Sub-Director: Daniel Costa, daniel.costa@opais.co.ao Chefe de Redacção: Eugénio Mateus, eugenio.mateus@opais.co.ao Editorias : Política: Ireneu Mujoco ireneu.mujoco@opais.co.ao (Editor) Sociedade: Paulo Sérgio paulo.sergio@opais.co.ao (Editor) Romão Brandão romao.brandao@opais.co.ao (Sub-editor) Economia André Mussamo andre.mussamo@opais.co.ao (Editor) Desporto: Sebastião Félix sebastiao.felix@opais.co.ao (Editor) Mário Silva mario.silva@opais.co.ao (Sub-editor) Cartaz: Jorge Fernandes jorge.silva@medianova.co.ao (Sub-editor) Redacção: Alberto Bambi, Augusto Nunes, Miguel Kitari, Domingos Bento, Neusa Filipe, Milton Manaça, Antónia Gonçalo, Maria Teixeira, Patrícia Oliveira, Stela Cambamba, Zuleide de Carvalho (Benguela), Brenda Sambo, Maria Custódia e Adjelson Coimbra. Arte: Ladislau Bernardo (Coordenador) Valério Vunda (Coordenador adjunto), Annette Fernandes, Nelson da Silva e Francisco da Silva. Fotografia: Carlos Moco (Editor), Daniel Miguel (Sub-editor), Pedro Nicodemos, Jacinto Figueiredo, Carlos Augusto, Virgílio Pinto, Lito Cahongolo (repórteres fotográficos), Rosa Gaspar e Yuri dos Santos (Assistentes de Departamento) Agências: Angop, AFP, Reuters, Getty Images

Assistentes de Redacção: Antónia Correia, Rosa Gaspar, Sílvia Henriques Impressão e acabamento: DAMER, S. A. Luanda Sul, Edifício Damer Distribuição: Media Nova Distribuição Tel: +244 943028039 Distribuidora@medianova.co.ao pontodevenda@medianova.co.ao Assinaturas: Bruno Pedro Tel: +244 945 501 040 Bruno.Pedro@medianova.co.ao Online: Venâncio Rodrigues (Editor) Isabel Dalla e Ana Gomes Sítio Online: www.opais.co.ao Contactos: info@opais.co.ao Tel: 914 718 634 -222 003 268 Fax: 222 007 754 Sede: Condomínio ALPHA, TalatonaLuanda. Tel: 222 009 444 República de Angola

Comercial e Marketing: Senda Costa 922682440 email: comercial@medianova.co.ao Tiragem: 15 000 exemplares

17 de Julho de.

1996

- É Criada, em Lisboa, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), pelos Chefes de Estado e de Governo de Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo-Verde, Guiné-Bissau e Tomé e Príncipe.

17 de Julho de -2007 - Um avião

Aribus da companhia brasileira TAM, com 187 pessoas a Bordo, explode ao aterrar no aeroporto de Congonhas (São Paulo), depois de se despistar e chocar com um edifício da empresa provocando 198 mortos.

17 de Julho de

2014

- Boeing 777 da companhia aérea Malaia que voava Amsterdão a Kuala Lumpur, caiu no Leste da Ucránia, causando a morte de 298 pessoas que seguiam a bordo.

carta do leitor

Porque nao Kizomba no Kubico? Bom dia caro director. Obrigado pela atenção e carinho dedicados. Espero que estejas bem de saúde e de boa disposição. Igualmente para a tua família de casa muito em particular. Vi e tomei conhecimento da carta do leitor com o titulo A Live no Kubico estar a bater.... De facto está tudo bem, apenas tenho a discordar do nome do Programa Live no “Kubico”. Porquê “live”? Os angolanos não têm ou outra palavra para preenchimento em substituição dessa palavra inglesa? Porque live é igual a um playback de mistura com a ideia de neocolonialismo linguístico. Acho que ficaria melhor “Kizomba no Kubico” para lhe dar uma perspectiva mais nacional, até porque a palavra Kizomba já é uma palavra internacionalizada. É apenas uma sugestão. Na verdade, por que não kizomba no kubico? Compreendo que possivelmente deve ser tarde para mudar. Me parece que alguém quer que o pais ande mesmo assim com imposições morais, culturais e até mesmo já na forma de nos organizarmos com o Covide 19. Só nas epidemias mais comuns é que faze-

mos sozinhos. O povo que se cuide com as milongas de casa e que fique bem registado o meu reparo. Daqui em diante deve ser diferente. Deve ser mais nacional. O malogrado artista e compositor André Mingas, já nos tinha ensinado com a sua bela máxima, “é bom, é nacional e eu gosto. Por que razão deixar morrer as coisas boas que nos identificam e enaltecem o nosso eu neste mundo de distintas identidades? Temos de ocupar o nosso lugar com unhas e garras. Temos deixar de ser seguidistas e imitadores. O Brasil, a África do Sul, Cabo Verde e outros países são fortes nesse domínio. E pre-

ciso muito nacionalismo, muito patriotismo e dai muita criatividade. As televisões nacionais tem de ter direccões de criatividade. Lá só funciona gente paga para criar. Mas criar de tudo e em tudo. Perdoe o exemplo: a TV Globo. Chega de cópias e cábulas que até só nos fazem envergonhar. Até títulos de programas fizemos copia fiel. Que vergonha. Parece que os artistas da Live no Kubiko são ingleses! O que é nacional é bom e eu gosto. Quem é que nos acode, para acabar com tanto estrangeirismos na cultura angolana?

Escreva para o Jornal OPAÍS através do e-mail info@opais.co.ao ou ligue para estes contactos Tel: 222 003 268 Fax: 222 007 754

Tipoia Moniz.



POLÍTICA

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O PAÍS Sexta-feira, 17 de Julho de 2020

Executivo considera tráfico de seres humanos ameaça à segurança nacional Para já, de forma a desencorajar a prática, o Executivo, por via do Ministério da Justiça e Direitos Humanos, tem vindo a realizar uma série de acções com vista a prevenir e combater o crime que movimenta, anualmente, mais de vinte milhões de dólares ções muito sofisticadas. Os criminosos, para atingirem os seus objetivos, manipulam as vítimas com promessas enganosas, actuando de forma cruel depois de terem as vítima sob o seu controlo”, disse. Ainda no âmbito do combate ao fenómeno, sublinhou que existe no país a lei dos crimes subjacentes ao Branqueamento de Capitais e Tráfico com disposições que responsabilizam os actores de tráfico de seres humanos. A nível de políticas públicas, foi aprovado, recentemente, o Plano Nacional de Combate ao Tráfico de Seres Humanos, enquadrado na estratégia Nacional de Educação para os Direitos Humanos. A palestra foi dirigida aos assistentes sociais e aos profissionais de saúde, tendo como objectivos divulgar e promover o combate ao tráfico de seres humanos e reforçar as acções levadas a cabo pelo Governo angolano no sentido de prevenir e combater o fenómeno. A palestra visou ainda divulgar e promover a implementação do Plano de Acção Nacional para prevenir e combater o tráfico de seres humanos em Angola e a Estratégia Nacional dos Direitos Humanos.

Neusa Filipe

A

secretária de Estado para os Direitos Humanos e Cidadania, Ana Celeste Januário, disse, ontem, em Luanda, que o tráfico de seres humanos constitui uma ameaça à segurança nacional e internacional. Ana Celeste Januário falava na abertura da terceira palestra sobre o tráfico de seres humanos enquadrada nas comemorações do 30 de Julho, Dia Internacional Contra o Tráfico de Pessoas. A responsável disse que este tipo de crime movimenta anualmente mais de vinte milhões de dólares, e garantiu que, no âmbito do combate ao tráfico de seres humanos, Angola está a trabalhar sobretudo na sua prevenção. Entre as formas mais frequentes de tráfico, destacou a exploração sexual, responsável por 59 por cento do fenómeno do tráfico mundial. Destacou ainda a exploração infantil, a remoção de órgãos e o tráfico para o trabalho doméstico. “Este tipo de crime envolve ac-

A secretária de Estado para os Direitos Humanos e Cidadania, Ana Celeste Januário

ONU reconhece papel de Angola na estabilidade dos Grandes Lagos

O

enviado especial do secretário-geral da ONU para os Grandes Lagos, Huang Xia, reconheceu e encorajou o Presidente da República, João Lourenço, pela promoção de encontros quadripartidos sobre a região. Segundo o diplomata, como resultado dos encontros quadripartidos, destacou a libertação, a 07 deste mês, pelo Uganda, do último contingente de 12 cidadãos rwandeses, o que considerou “um bom gesto para a paz e estabilização da Região”.

O embaixador Huang Xia incentivou a aposta em iniciativas africanas e reiterou a disponibilidade das Nações Unidas para ajudar e apoiar as acções para a paz, estabilidade e desenvolvimento harmonioso da região dos Grandes Lagos. Huang Xia considerou fundamental que os dirigentes da região encontrem soluções idênticas para a reconciliação entre o Rwanda e o Burundi. Huang Xia, que se reuniu, ontem, em vídeo-conferência, com o embaixador de Angola no Quénia, Sianga Abílio, convidou An-

gola a participar na reunião sobre os Recursos Naturais que terá lugar em Setembro próximo, em Cartum, no Sudão, bem como na conferência sobre Comércio e Investimentos, a realizar-se em Kigali (Rwanda), de 02 a 03 de Dezembro próximo. Integram a Conferência Internacional para a Região dos Grandes Lagos (CIRGL) Angola, Burundi, República Centro-Africana, República do Congo, República Democratica do Congo (RDC), Quénia, Rwanda, Sudão, Sudão do Sul, Tanzânia, Uganda e Zâmbia.

O enviado especial do secretário-geral da ONU para os Grandes Lagos, Huang Xia


O PAÍS

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CNE assegura estar pronta para asautárquicas, bastando que sejam convocadas

País regista queda de sete mil empregos

Relativamente ao receio de as eleições autárquicas não acontecerem este ano, de alguns partidos políticos da Oposição, o porta-voz da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) deixou claro que esta é uma questão que está fora do âmbito do órgão, cuja competência se circunscreve na organização do expediente eleitoral depois da sua convocação oficial por parte de outros órgãos

Domínios Bento

Domingos Bento

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porta-voz da Comissão Nacional Eleitoral, Lucas Quilundo, disse que o órgão está preparado para organizar e preparar todo o processo eleitoral autarquico, bastando apenas que haja a sua convocação oficial por outros órgãos, entenda-se o Executivo e a Assembleia Nacional. Este último órgão tem sob sua tutela a discussão do pacote autarquico, em curso desde o ano passado. Lucas Quilungo, que falava, ontem, à margem da plenária da comissão do órgão, que reuniu os seus membros em Luanda, fez saber que a CNE, em função da sua constituição e dos poderes que constitucionalmente lhe são a atribuídos, tem a responsabilidade de organizar as autárquicas quando elas forem convocadas, independente do prazo estabelecido. Porém, relativamente ao receio de as eleições autárquicas não acontecerem este ano, Lucas Quilungo referiu que essa é uma questão que está fora da competência da CNE, que se circunscreve apenas a organizar todo expediente depois da sua convocação oficial por parte de outros órgãos. “A CNE, enquanto órgão constitucionalmente criado, limita-se a organizar todo o processo eleitoral quando for convocada”, frisou. Nova sede pronta em 2021 Relativamente à futura sede da CNE, a ser construída em Luanda, depois de o Presidente da República, João Lourenço, ter autorizado a sua edificação através do Despacho Presidencial nº 84/20, Lucas Quilundo disse que as obras de construção vão arrancar ainda nesse mês e deverão estar concluídas em Dezembro de 2021. A obra, que terão uma despesa financeira no valor de 44 milhões 731 mil e 750 dólares, vai, segundo Lucas Quilundo, garan-

Porta-voz da Comissão Nacional Eleitoral, Lucas Quilundo

tir maior dignidade à CNE, que verá igualmente os custos com rendas de aluguer reduzidos. De acordo com o porta-voz, a construção da futura sede vai fazer com que o órgão deixe de partilhar a sua estrutura com outras instituições públicas e privadas. A futura sede, frisou, poderá, igualmente, trazer novas valências, na medida em que possibilitará a integração de vários serviços da administração eleitoral que actualmente estão dispersos. Dentre os serviços a integrar, Lucas Quilundo apontou o gabiente de observação eleitoral, um afriteatro e o centro de imprensa, que vai, também, passar a tratar das questões relativas à divulgação dos resultados e credenciamento de jornalistas. Vai ainda constar na nova sede da instituição um centro de escrutínio nacionalm que é um órgão fundamental na administração dos processos eleitorais. “O que acontece é que nos pro-

cessos eleitoras anteriores, recorremos a outras instituições para nos servirem de centro de escrutínio, o que não garante dignidade ao processo e com todos os custos envolvidos”, apontou. Lucas Quilundo fez saber ainda que, quando for edificada, a futura sede da Comissão Nacional Eleitoral vai possibilitar a poupança de recursos por parte do órgão porque vai integrar num só espaço todos os seus serviços, deixando, assim, de alugar estruturas cujos custos são avultados. “O projecto, neste momento, encontra-se em fase inicial, sendo que a condução do mesmo está sob tutela do Ministério das Finanças e do Gabiente de Obras Especiais”, frisou. Perda de mandatos Ainda durante o contacto com jornalistas, Lucas Quilundo deu a conhecer que, recentemente, a CNE registou a perda de mandato de dois membros da administra-

ção eleitoral. Perderam mandatos o membro da Comissão Eleitoral Municipal de Caluquembe, na província da Huíla, e outro da Comissão da Chicala Tcholoanga, na província da Huambo. De acordo com o porta-voz, o motivo da perda de mandato prende-se com o facto de as duas entidades terem ocupado funções no aparelho do Estado, o que é incompatível com a qualidade de membro da comissão eleitoral. Ainda durante a plenária de ontem, o órgão fez um balanço das missões que o presidente da CNE efectuou a algumas províncias, nomeadamente ao Bié, Malange, Huambo, Uíje, Lunda-Norte e Namibe. O objectivo das visitas, frisou o porta-voz do órgão, foi o de conferir posse aos novos membros responsáveis pelas comissões provinciais eleitorais indigitados pela Assembleia Nacional, bem como proceder à inauguração das sedes provinciais.

P

ara já, o Governo avança uma serie de estratégias de modo a contráriar o actual cenário, apostando no reforço das políticas públicas de forma a promover o auto-emprego e aumentar a taxa da empregabilidade. Desde o último mês de Março o país registou a queda de sete mil postos de trabalho, em consequência das dificuldades impostas pelas Covid-19, revelou, ontem, em Luanda, a ministra do Trabalho e Segurança Social, Teresa Dias. Segundo a governante, os dados resultam das acções inspectivas da Inspecção Geral do Trabalho (IGT), que desde o início da pandemia tem vindo a realizar uma série de acções junto das entidades empregadoras de modos a analisar e encontrar soluções com vista a minimizar o impacto da Covid-19. A ministra, que falava aos deputados da Assembleia Nacional durante a discussão na especialidade do Orçamento Geral do Estado 2020 Revisto, disse que o número de desempregados no país poderá aumentar para 12 mil desempregados caso o quadro da Covid-19 continue a assolar o país e o mundo. A governante disse que a covid-19 está a ter um impacto muito grande na vida das empresas, que estão a ter sérias dificuldades para manter os postos de trabalho. No entanto, de forma a mitigar o quadro, que considera preocupante, Teresa Dias avançou estarem em curso contactos com os parceiros sociais com vista a estabelecer permanentes diálogos. Também apontou o reforço das políticas públicas visando promover o auto-emprego e aumentar a taxa da empregabilidade. Por seu lado, o ministro da Economia e Planeamento, Sérgio Santos, disse que o desemprego cresce mais nas zonas urbanas, em detrimento das rurais. Conforme explicou, do primeiro ao 4º trimestre de 2019, na zona rural a taxa de desemprego era de 17 por cento, passando para 12, no primeiro trimestre deste ano.


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O PAÍS

Sexta-feira, 17 de Julho de 2020

Cidadãos em extrema pobreza obrigados a pagar para beneficiarem de serviços públicos Os cidadãos que vivem em pobreza extrema são os que que mais se vêm obrigados a “pagar gasosa” para beneficiarem dos serviços públicos a que têm direito, revela um estudo desenvolvido pelo Centro de Estudos de Opinião Pública Ovilongwa, parceiro angolano do Afrobarometer, a que OPAÍS teve acesso Paulo Sérgio

O

resultado aponta que a maioria dos angolanos em situação de pobreza extrema, privados dos direitos so-

ciais de cidadania, enfrentam mais dificuldades, comparativamente aos outros sem pobreza, para terem acesso aos serviços como assistência médica e medicamentosa, policial, fornecimento de energia eléctrica e de água potável. Durante a pesquisa, que decor-

reu entre 27 de Novembro e 27 de Dezembro 2019, foram inquiridos 2.400 angolanos adultos, o que, para os seus autores, produz resultados nacionais com uma margem de erro de +/- 2 pontos percentuais e um nível de confiança de 95%. A inserção das pessoas no siste-

ma de ensino consta entre as principais dificuldades que a sociedade angolana enfrenta. Porém, no seio das pessoas que vivem em situação de pobreza extrema são bem maiores. A percentagem é de 55% pessoas que afirmam enfrentar essas dificuldades, enquanto nos meios

“sem pobreza”, somente 40% das pessoas têm de lidar com isso. No entanto, na esperança de proporcionarem aos seus educandos um futuro melhor, 41% das pessoas que vivem nessa condição vêm-se forçadas a subornar, ou seja, pagar “gasosa”, para o efeito. No daniel miguel


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Sexta-feira, 17 de Julho de 2020

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daniel miguel

daniel miguel

entanto, aquelas que vivem sem pobreza também o fazem, mas numa ordem dos 28%. Quanto ao atendimento médico e medicamentoso, 65% das pessoas em pobreza extrema têm dificuldades de disfrutar deste serviço, ao passo que nos meios onde não há pobreza há uma redução na ordem dos 48% desta dificuldade. Face a isso, para salvarem as suas vidas ou das pessoas que lhes são próximas, 34% das pessoas pobres “subornam” os funcionários hospitalares. O mesmo acontece no seio das pessoas sem pobreza, com a diferença de apenas 1% entre as duas classes. Pagamento de gasosa aos polícias No que tange a assistência policial, 68% das pessoas em pobreza extrema afirmaram que têm dificuldades de obter assistência neste domínio, enquanto essa margem reduz para 51% para as pessoas sem pobreza. Os pesquisadores pretenderam saber também a quantidade de angolanos em situação de “pobreza extrema” que subornam para ter acesso directo aos serviços proporcionados pela Polícia Nacional. Os resultados demonstram que 45% das pessoas em pobreza extrema pagam pela assis-

tência policial, contra 42% das pessoas que vivem sem pobreza. Também estudaram a percentagem de pessoas que subornam os próprios polícias para evitar problemas com as autoridades. As pessoas em pobreza extrema são os que mais pagam, com uma taxa de 43%, contra 36% das pessoas sem pobreza. Por outro lado, as dificuldades na emissão de documentos de identificação pessoal continu-

Só um em cada 10 habitante das zonas rurais tem acesso a energia eléctrica O estudo desenvolvido pela equipa de pesquisadores do Ovilongwa, liderada por Carlos Pacatolo e David Boio, diz ainda que apenas um em cada 10 angolanos residente nas zonas rurais tem acesso a energia eléctrica da rede pública. Isto é, somente 15%, contra 74% dos residentes das zonas urbanas. “Na região Leste, a ligação beneficia apenas 37% da população, contra 54% a nível nacional”, diz o documento a que OPAÍS teve acesso. Diz ainda que Luanda é a província onde a maioria dos inquiridos beneficiam de ligação eléctrica domiciliar à rede pública do país com 84%, no Norte do país a taxa é de 54%, no Centro Norte 45%, no Centro 38%, no Sul 38% e no Leste menos 1%, isto é, 37%. “Apenas 45% dos angolanos em situação de pobreza extrema residem em habitações com ligação à rede pública de energia eléctrica, contra 60% dos angolanos sem pobreza”, lê-se no documento. Sobre a regularidade do fornecimento da energia eléctrica da rede pública, o estudo diz que 52% dos angolanos desfruta deste bem na maioria das vezes ou sempre nas suas residências, o que não acontece na zona rural, onde a regularidade do fornecimento da energia eléctrica da rede pública cai para 22%. Também há uma disparidade na frequência com que isso acontece, na região Centro ocorre na ordem dos 29%, no Sul 32%, em Cabinda 36%, no Norte 44% e no Leste 48%. “Os angolanos em situação de pobreza extrema (48%) estão em desvantagem comparativamente aos sem pobreza (56%) no acesso regular à energia eléctrica”, diz o estudo.

am a ser barreiras por ultrapassar apesar das constantes campanhas de registo e de emissão de Bilhete de Identidade levadas a cabo pelo Executivo, com o apoio de organizações internacionais. O estudo revela que 65% das

pessoas que vivem em pobreza extrema enfrentam dificuldades para obterem tais documentos. Entretanto, a taxa no seio das pessoas que vivem sem pobreza é de 44%. Para ultrapassar tais constran-

gimentos, 46% das pessoas em pobreza extrema pagam “gasosa” para obterem tal documento, ao passo que somente 32% das pessoas sem pobreza usam tal recurso.

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COMUNICADO Regularização de entrada de cambiais por exportação de mercadorias O Banco Nacional de Angola, ao abrigo do disposto no artigo 18º do Aviso nº 05/2018, de 02 de Julho, que institui as Regras e Procedimentos Aplicáveis às Operações Cambiais de Importação e Exportação de Mercadoria, informa a todos os exportadores de mercadorias que ainda não efectuaram o depósito da totalidade da receita em moeda estrangeira resultante de cada operação de exportação de mercadoria numa instituição financeira bancária no país, a procederem à competente regularização, no prazo de 15 (quinze) dias úteis, contados da data de publicação do presente comunicado, sob pena de serem instaurados os competentes processos sancionatórios, nos termos da legislação cambial em vigor. Neste sentido, para efeitos de regularização do referido processo junto dos bancos comerciais, os exportadores devem considerar as operações cambiais de exportações de bens e serviços ocorridas no período compreendido entre o dia 01 de Setembro de 2018 e o dia 30 de Junho de 2020. Finalmente, o Banco Nacional de Angola recomenda aos bancos comerciais a reportarem toda a informação respeitante ao processo acima referenciado, de forma célere e tempestiva, através do seguinte endereço electrónico: dcc@bna.ao Luanda, 17 de Julho de 2020


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Sexta-feira, 17 de Julho de 2020

Dois bairros em Benguela sob cerca sanitária por suspeita de Covid-19

Os bairros de Kandjombe e Kaissaca, no município do Bocoio, no Norte da província de Benguela, estão sob cerca sanitária por se terem lá registado dois casos reactivos ao teste da Covid-19. As autoridades dizem que os resultados definitivos, que vão determinar se são, ou não, positivos, serão conhecidos oportunamente em Benguela

S

ão, no total, seis testes rápidos efectuados para a Covid-19 que foram reactivos, revelou, ontem, nesta cidade, o coordenador técnico da Comissão Provincial de Combate à Pandemia, Manuel Cabinda. O médico realçou que, fruto das denúncias que a Comissão tem vindo a receber relativamente à violação da cerca sanitária imposta a Luanda, se procedeu à recolha de amos-

tras aleatórias em mercados informais, tranquilizando, porém, que a província de Benguela, até à presente data, não tem qualquer caso positivo, sendo, por isso, estável o quadro epidemiológico. O também director do Gabinete Provincial da Saúde em Benguela referiu que, em cooperação com outras instituições, tomou-se conhecimento de que havia um cidadão no município do Bocoio que tinha mantido contactado com um outro positivo internado em Luanda. “É uma presunção, existe uma possibilidade de o cidadão vir a ter, ou não, a Covid-19. O único teste que confirma o diagnóstico é “RT-PCR”. Nós realizámos, por esta altura, 247 testes rápidos e, destes, em seis os resultados foram reactivos à IGM”. Depois de terem sido testados os membros da família do cidadão em referência, as autoridades, em função do perfil epidemiológico, entenderam, como medida de saúde pública, manter os bairros Kandjombe e Kaissa sob cerca sanitária. “Realizámos cerca de 20 testes à família, no município do Bocoio, e destes tivemos dois resultados reactivos a IGM, e, então, decidimos fechar até que

Naturopata diz ter medicamento natural que trava a Covid-19

O

naturopata José Nguepe manifestou, recentemente, em Luanda, o interesse em colaborar com as autoridades sanitárias do país e prestar o seu contributo no combate à Covid-19, através da medicina natural. Em declarações à imprensa, a propósito do aumento do número de infectados no país, o também nutricionista mostrou-se disponível para fornecer medicamentos naturais para salvar a vida das pessoas infectadas pela Covid-19 em Angola. “Por exemplo, em Angola existe uma planta que combate todo o ti-

po de vírus em 20 dias, pois é com essa planta que nos propusemos a preparar um composto específico para salvar a vida das pessoas que estão a ser assoladas pela Covid-19 no país”, revelou. Sublinhou que a planta existente somente em Angola e no Botswana, a nível do mundo, é denominada “Aipox” e tem sido utilizada no composto para o tratamento das pessoas portadoras do VIH/SIDA. No entanto, o naturopata mostra-se disponível e aberto às autoridades sanitárias do país para dar o seu contributo no combate à Covid-19.

Segundo José Nguepe, a sua proposta de contribuir no combate à Covid-19 já foi entregues às autoridades sanitárias, aguardando apenas pela resposta. Olhando para o quadro epidemiológico do país, o especialista alerta às autoridades sanitárias a “não ignorarem, nem menosprezarem as plantas medicinais”, alegando que muitos países do mundo já estão a recorrer à medicina natural para dar a possível resposta à Covid-19. “No país e no mundo a doença Covid-19 está se alastrando e as pessoas estão a morrer. Não iremos

a tempo de fabricar medicamentos convencionais apropriados para salvar as vidas em risco, pois é necessário a conjugação de esforços entre os especialistas da medicina moderna e natural, visando dar uma solução urgente ao problema de saúde pública”, advertiu. De realçar que a ministra da Saúde, Sílvia Lutukuta, assegurou, recentemente, em conferência de imprensa, que a Comissão Multissectorial de Prevenção e Combate à Covid-19 conta com a contribuição de todos nessa luta, desde que se faça dentro dos parâmetros recomendáveis pela saúde pública.

tenhamos o diagnóstico definitivo, que pode confirmar ou descartar a Covid-19”, esclareceu o médico. Um outro caso reactivo que, em certa medida, preocupa as autoridades sanitárias na província de Benguela está relacionado com o do bairro DambaMaria, no município sede, cujo cidadão esteve recentemente também em Luanda e cumpria o período de quarentena institucional num dos centros. “Encontra-se completamente isolado. O outro também está no município de Benguela e é de um cidadão que violou a cerca sanitária e já se encontrava na unidade de quarentena institucional, depois de ter sido julgado e condenado. Não teve contactos”. O médico explicou que o quinto e o sexto são cidadãos que foram testados no mercado 4 de Abril. “Estamos a trabalhar para saber se houve, ou não, vínculo epidemiológico”. Estes dados surgem um dia depois de o governador provincial de Benguela, Rui Falcão, ter manifestado preocupação em relação ao facto de estarem a entrar, actualmente, em Benguela, muitos cidadãos provenientes da capital do país, onde os casos crescem vertiginosamente. Conforme noticiou OPAÍS, o governante apela à Comissão Multissectorial para rever a questão da emissão de declaração que autoriza a circulação de algumas pessoas.


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Sexta-feira, 17 de Julho de 2020

O QUE É O CORONAVÍRUS E COMO ME POSSO PROTEGER? O novo Coronavírus, intitulado COVID-19, é de uma família de vírus conhecidos por causarem infecção que pode ser semelhante a uma gripe comum ou apresentar-se como doença mais grave, como pneumonia

F

oi identificado pela primeira vez em Janeiro de 2020 na cidade de Wuhan, na China. Este novo agente nunca tinha sido previamente identificado em seres humanos, tendo causado um surto na aludida cidade que se espalhou rapidamente a vários países do mundo. A Organização Mundial da Saúde decretou (OMS) que o mundo está diante de uma pandemia.

COMO ME POSSO PROTEGER?

Tendo sido reportados já 607 casos em Angola, com 28 mortes, estão indicadas medidas específicas de protecção, mas há questões práticas que se deve ter em conta para reduzir a exposição e transmissão da doença:

1. Lavar frequentemente as mãos, especialmente após contacto directo com pessoas doentes;

2. Evitar contacto desprotegido com animais domésticos ou selvagens; 3. Adoptar medidas de etiqueta respiratória: tapar o nariz e boca quando espirrar ou tossir (com lenço de papel ou com o braço, nunca com as mãos; deitar o lenço de papel no lixo); 4. Lavar as mãos sempre que se assoar, espirrar ou tossir.

QUAIS OS SINAIS E SINTOMAS?

As pessoas infetadas podem apresentar sinais e sintomas de infecção respiratória aguda 2.Tosse como: 1. Febre 3. Dificuldade respiratória

Em casos mais graves pode levar a pneumonia grave com insuficiência respiratória aguda, falência renal e de outros órgãos e eventual morte.

EXISTE TRATAMENTO? Não existe vacina. Sendo um novo vírus, estão em curso as investigações para o seu desenvolvimento. O tratamento para a infecção por este novo Coronavírus é dirigido aos sinais e sintomas apresentados


cartaz seu suplemento diário de lazer e cultura

Etona homenageia mulher africana com exposição “Cegueira da justiça”

profissional referiu que a mesma corresponde com a fase em que vivemos, que tem a ver com a pandemia da Covid-19 que, segundo ele, ressalta alguma atenção em relação aos cuidados que as mulheres têm tido ao tratar dos cidadãos (pai, esposo, filhos e irmãos). “Conforme tenho dito, o homem nunca cresce, mas a mulher começa a crescer a partir dos 10 anos. Ela cuida-nos e nos dá alimentos. Então, esse exercício é preciso também ser enaltecido, para que amanhã o futuro seja mais garantido, com uma certa confiança, independência e segurança”, exaltou.

A mostra é composta por uma escultura, que se assemelha à deusa grega da justiça ‘Temis’, com os olhos vendados. Nela o artista pretende juntar forças úteis para engrandecer a figura da mulher africana, para os desafios relacionados com o desenvolvimento do continente “berço” Antónia Gonçalo

O

artista plástico António Tomás Ana “Etona” homenageia a Mulher Africana na sua data, 31 do corrente mês, com uma exposição de escultura intitulada “Cegueira da justiça”, que será realizada na zona do tanque do município de Cacuaco, junto à berma da estrada, nos carris da antiga da linha férrea, em Luanda. Trata-se de uma escultura que se assemelha à deusa grega da jus-

tiça ‘Temis’, com os olhos vendados, obra que possui 3 metros e 60 centímetros de comprimento, 2 metros e 70 de altura e 2 metros e meio de largura, que ficará patente no período de oito dias. “Justamente, como vai estar ao ar livre, um museu aberto, daí que estamos a falar de uma escultura de grande dimensão. É uma peça com uma certa imponência, que é para cobrir aquela vontade, a sede de termos monumentos com essa densidade. Como não temos, esse começa a ser o processo para se pensar no desenvolvimento da cidade, através da filosofia da arte”,

disse o artista, em conversa com OPAÍS. Com a presente obra, o escultor pretende chamar a atenção dos cidadãos, no geral, que de alguma forma fazem justiça, ao ‘condenarem’ os governantes, os pais, filhos, irmãos e outros que muitas vezes ao fazerem-no não têm a percepção do lado onde está a razão. Referiu ainda que pelo facto de a inauguração ocorrer no Dia da Mulher Africana (31 de Julho), que considera praticamente como a ‘deusa’ africana, pretende juntar forças úteis para engrandecer

ainda mais aquilo que é a figura da mãe, da avó, da irmã, da filha, para os desafios relacionados com o desenvolvimento do continente “berço”. “E se formos aos locais de direito, veremos que ela está sempre com os olhos vendados, a fim de chamar atenção de quem faz justiça, que não pode estar com os olhos abertos, porque senão fará uma justiça em termos de diplomacia, onde o melhor é aquele que lhe convém”, ressaltou. Homenagem Relativamente à homenagem, o

Exposição itinerante A referida exposição, de carácter itinerante, enquadra-se no projecto que o artista pretende prosseguir nos municípios do Cazenga, Viana e de Luanda, com a exibição de diferentes obras. Sobre o plano, Etona realçou que no final, deseja realizar uma grande exposição no município de Luanda, com 15 a 20 esculturas de grande dimensão, a fim de mostrar o crescimento do país, consubstanciado na parte de esculturas artísticas”, disse. Com o presente plano, o artista almeja também proceder a uma “vigília cultural”, através da mostra em lugares de grande movimentação populacional, com o intento de buscar um barómetro de medição sobre a maneira que os cidadãos apreciam a arte, e também o que pensam dela, trabalho este que será desenvolvido em parceria com o Instituto Superior Tocoista e o Metropolitano. “Só o facto de termos as universidades dá-nos uma potência de que queremos mais, aquilo que a sociedade pode dizer neste momento, do que ainda se reserva, não só da religião, mas também da cultura e da arte”, terminou.


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Sexta-feira, 17 de Julho de 2020

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Reestruturação das infra-estruturas de Mbanza Kongo abordado entre MCTA e UNESCO Com vista a potencialização e atracção de visitas à província do Zaire, cuja capital é a cidade de Mbanza Kongo, Património Cultural da Humanidade, está em curso um plano de reestruturação das infra-estruturas daquela urbe secular

A

reestruturação de infra-estruturas de Mbanza Kongo, a candidatura do Cuito Cuanavale a Património da Humanidade, entre outros assuntos, dominaram o encontro entre a ministra da Cultura Turismo e Ambiente, Adjany Costa, e a embaixadora de Angola junto da UNESCO, Ana Maria de Oliveira, ocorrido esta semana, em Luanda. A governante destacou, igualmente, o trabalho que está a ser feito sobre a reestruturação de infra-estruturas de Mbanza Kongo, de acordo com as orientações da UNESCO, com vista a potencialização e atracção de visitas à província. O tema em torno da candidatura do Cuito Cuanavale a Património da Humanidade, também foi abordado durante o encontro. A embaixadora foi esclarecida que os trabalhos estão em andamento. Em linhas gerais, de acordo com uma nota do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente (MTCA), a que o OPAÍS teve acesso, fez-se uma abordagem em torno das Convenções Ractificadas e dos projectos já em curso, tais como: Património

Cultural e Natural, e a realização da 2ª Edição da Bienal de Luanda-2021. Por sua vez, a embaixadora junto da UNESCO predispôs-se a colaborar com o sector e garantiu todo o apoio institucional necessário na execução dos diferentes projectos da Cultura, Turismo e Ambiente. Reafirma igualmente o compromisso com os principais desígnios junto da UNESCO. Trabalho anterior A agenda de trabalho da mais recente reunião ordinária da Comissão Nacional Multissectorial para a Salvaguarda do Património Cultural Mundial, realizada no passado dia 25 de Junho sob orientação do Vice-Presidente da República, Bornito de Sousa, foi precisamente dominada por discussões à volta das recomendações da UNESCO sobre Mbanza Kongo, e o processo de candidatura do Cuito Cuanavale a Património da Humanidade. Na reunião, a comissão recomendou a adopção de medidas para tornar mais célere o cumprimento dos compromissos assumidos por Angola aquando da inscrição de Mbanza Kongo na Lista do Patri-

Embaixadora junto da UNESCO, Ana Maria de Oliveira e a ministra da Cultura, Turismo e Ambiente, Adjany Costa

mónio Mundial da UNESCO. E sobre o Cuito Cuanavale, recomendou ajustes ao programa de candidatura devido à necessidade de racionalização dos recursos, mas sem perder o foco nos objectivos institucionais do Estado angolano nesta matéria. A Comissão Nacional Multissectorial para a Salvaguarda do Património Cultural Mundial foi criada pelo Presidente da República, João Lourenço, ao abrigo do Despacho

Presidencial 25/18 de 5 de Março, com o objectivo de promover a implementação de programas de conservação e a gestão participativa do património cultural. Coordenada pelo Vice-Presidente da República, coadjuvado pela ministra da Cultura, à comissão compete, entre outras atribuições, propor bens passíveis de elevação a Património Mundial da Humanidade e acompanhar o processo de candidatura e inscrição.

Património Cultural O centro histórico de Mbanza Kongo, na província do Zaire, está classificado como património cultural nacional desde 10 de Junho de 2013. Entretanto, a 8 de Julho de 2017, na 41ª sessão da Comissão de Património Mundial da Organização da ONU para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em Cracóvia, Polónia, foi declarada Património Cultural da Humanidade.

DJ’s veteranos agitam Live beneficente

A

manhã, Sábado, 18 de Julho, no quadro do projecto ao vivo “éKwanza”, está reservado um inédito momento na televisão angolana, com a actuação de dois DJs lendários do djing nacional: Malvado e João Lopes tocam pela primeira vez, em directo, para a televisão e prometem agitar os pratos e os telespectadores em casa. Habituados a tocar juntos em vários eventos, os dois DJs terão um desafio ainda maior,

animar todo o público em casa, através de uma transmissão televisiva para todo o país que prometer ser, no mínimo, memorável. A partir das 16h30 no ZAP Viva, ambos irão confirmar o seu estatuto de DJs com créditos firmados. “Temos noção que seremos vistos pela maior audiência de televisão em Angola, mais exigente e diversificada; dos mais novos aos mais adultos, todos irão identificar-se com o nosso show”, prometem os dois artistas. Malvado e DJ

João Reis prepararam ao pormenor o line up da sua performance. Adivinha-se uma dinâmica viagem musical aos sucessos do presente e do passado, num concerto que tem tudo para ser nostálgico e ao mesmo tempo contemporâneo e de boas vibrações. Enquanto o Malvado e João Reis agitam os pratos, os telespectadores serão chamados a ajudar as pessoas mais carentes, fazendo doações através do serviço é-Kwanza.


OPINIÃO

O PAÍS

Sexta-feira, 17 de Julho de 2020

João Rosa Santos

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José Manuel Diogo dr

Hoje é o dia!

H

DIKOLOKOLO DYETU*!...

B

ué de manas, desde a stranja, estão a comer o pão que o diabo amassou, a amaldiçoar a muabagem, praguejar o bisno, sentir na carne e nos ossos, a desgraça que bateu a porta, longe dos seus, da sua pátria amada. Na hora do bazo, mil e um planos, sorrisos a granel, nos dias de hoje, é só lagrimar, fronteiras encerradas, kumbu catucou, a rua virou moradia, socorro, é apelo desesperado, quem procura acha, a pandemia está um pandemónio. Desde o Brasil, África do Sul, Portugal, muitas vozes ecoam, o grito é repetente, no masculino ou no feminino, bons filhos à casa querem regressar, a sorte sorriu, as manas da Turquia, e de outras latitudes estão felizes, regressaram a banda, embora ainda de quarentena. O mambo que estamos com ele não é brincadeira, o velho normal já era, o novo ninguém sabe até quando, tamos só a se cutucar as

cegas, prognóstico não é certeza, há que aprender a lição, fazer negócio, passou a ter hora, no país é sempre melhor. Muitas manas, desde a stranja ainda berram, gritaria é só lamento, se rebolar, nas redes sociais, todos a lhes ver, dikolokolo dyetu, grande azar, procurar desgraça não custa. Mas, é preciso não desesperar, os nguvulos, por aqui, não estão a dormir, são engenharias e arquitetices, para fazer regressar todos muangoles a casa, é só calma e ponderação, mais cedo do que tarde, à terra mãe, estarão de volta. Corona está a nos dar aula, a hora é de aprender, investir em primeiro lugar no país, estudar no país, tratamento médico no país, fazer o país crescer, criar sustentabilidade interna, com qualidade, meritocracia, fazer da honra dignidade. Malembe-malembe, ninguém está esquecido, nacional é nacional, nos bons e nos maus momen-

tos, todos juntos, mão a mão lava a outra, tudo não se resolve ao mesmo tempo, algum dia, não muito longínquo, o pesadelo vai passar. A TAAG já anunciou, alguns voos humanitários na programação, é regressar com disciplina, cumprir rigorosamente a quarentena, nada porque sou figura pública, o isolamento não é eterno, aguentem só, não tragam mais sarna, para outros se coçarem. A preocupação é plural, cá e lá, há que ser fortes, saber gerir e ultrapassar as dificuldades, vencer as adversidades, ouvir e acreditar nas autoridades, afinal, quem sabe, sabe, a vida é o nosso bem maior. Vamos já só esquecer, as yulas, as bangas na stranja, os excessos nas altitudes, a prioridade é ficar em casa, na nossa terra, sem tentação nem kilapi, porque, de outra forma, dikolokolo dyetu, só Deus sabe! *Nosso azar

á muitos anos que esperava que me acontecesses. Esperava-te sem saber, na curva da estrada, no delta do rio, no cruzamento dos sonhos com a vida e em todas as esquinas onde a sorte encontra os homens que a buscam. Eu te esperava na linha branca da página onde os meus dias invariavelmente começam. Combinámos encontrar-nos lá, todos os dias do futuro, manhãzinha cedo, invariavelmente sempre que um dia novo nascesse. Achámos uma ótima ideia porque era muito provável que todos os dias nascessem, nem que fosse só para nos cumprimentar. Foi nessa espera que comecei a escrever-te. Ao princípio sem saber que gostavas ainda mais de palavras que de sorrisos e ainda mais de silêncios que de palavras. Ao princípio desconcertado porque não sabia bem o que me desatava os dedos e me fazia atirar ao papel, como notas de música, aqueles lugares onde já antes tínhamos vivido sem saber. Fermina e Florentino, éramos. Ou seriam eles nós? Também foi muitos anos depois, mas frente a outro pelotão, mais benigno, dos nossos amigos improváveis que o céu e a terra haveriam de começar a mudar de lugar. Há muitos anos que esperava que me acontecesses. Esperavate à porta da igreja, nas lombadas dos livros, nas rimas das canções, no sorriso das crianças, na chuva desabrida das tempestades de verão que Deus enviava dos céus para purgarem as almas desvalidas de quem não entende o Amor. Esperava-te em poemas que já tinha escrito e não sabia. Esperava-te sem saber que te esperava, na espera da espera, no fundo da rua, na água do mar. Es-

perava-te na linha do horizonte, no solstício de verão e no de inverno, no infinito e no oito, no calendário digital e nos ponteiros de relógio. Ainda hoje continuo à espera, como uma sequoia milenar, que não sabe que o tempo mesmo sem direção só tem um sentido: cegar o céu. Espero-te nos versos de um soneto que inventei naquele dia claro em que te vi, mas não escrevi porque tive medo se ser cedo de mais. Espero-te nos sentidos agudos, nas frequências altas, em câmaras hiperbáricas e na ausência do som. Nos poemas de Yates nas profecias de Marquez, na biografia de nós. Espero-te no olho do furacão, no berço do tempo, no riso dos nossos filhos que ainda não nasceram. Na música sem fim que ainda nem sequer inauguramos. Num passo de dança. Num soneto. No teu poema. Espero-te sabendo que o dia é hoje. E sei que por mim sempre contarei o tempo assim, todos os segundos para mim, minutos de onde tu sais. Em longas horas eu penso, que só contigo há futuro, que um dia sem ti, eu juro, é sagração sem incenso. É tempo onde não há luz, guerra onde perde Marte, paz onde a paz não seduz, nem no todo, nem em parte. Espero-te porque todo o tempo a ti conduz. Hoje é o dia! Vou amar-te! !

Espero-te nos sentidos agudos, nas frequências altas, em câmaras hiperbáricas e na ausência do som


NÃO COMPRE MOEDA ESTRANGEIRA NA RUA! O RECURSO AO MERCADO INFORMAL PARA A NEGOCIAÇÃO DE MOEDA É ILEGAL E ACARRETA RISCOS: Existem muitas notas falsas em circulação no mundo inteiro. Não há garantia de que as notas da moeda estrangeira que comprar sejam autênticas. Não terá um recibo de compra para apresentação às autoridades, de forma a confirmar a legalidade da posse e da origem da moeda estrangeira, podendo vir a ser apreendida. O seu dinheiro poderá ser associado a recursos provenientes de tráfico de drogas, armas e outras actividades ilícitas, ficando sujeito às sanções aplicáveis.

RECORRA SEMPRE AOS BANCOS COMERCIAIS E CASAS DE CÂMBIO AUTORIZADAS PARA A AQUISIÇÃO DE MOEDA ESTRANGEIRA Para mais informações consulte www.bna.ao ou contacte +244 222 679 226


Economia

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O PAÍS Sexta-feira, 17 de Julho de 2020

Huawei com receitas globais de USD 60 mil milhões no primeiro semestre de 2020

A empresa chinesa de tecnologia Huawei gerou no primeiro semestre do ano em curso um total de USD 64 mil milhões em termos de receitas, um aumento anual de 13, 1%

A

informação consta no relatório económico do primeiro semestre da instituição enviado ontem a OPAÍS. A margem de lucro líquido situouse em 9,2 %, um total de USD 5,9

mil milhões. O relatório demonstra que as operadoras, empresas e consumidores da Huawei, atingiram os USD 22,6 mil milhões, USD 5,1 mil milhões e USD 36,2 mil milhões em receitas, respectivamente.

Refere que os dados financeiros divulgados são dados não auditados, compilados em conformidade com as Normas Internacionais de Relatório Financeiro. A Huawei é um provedor líder de infra-estrutura de tecnologia de

BFA refuta alegações de vice-presidente demissionário O Banco de Fomente Angola (BFA) refere em nota não existirem motivos que levassem a duvidar das razões que fizeram com que fosse arquivado o inquérito que agora é “ressuscitado” e motiva um inquérito do BNA

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Banco Fomento Angola (BFA) distribuiu ontem, 16, a prometida nota a esclarecer a demissão do gestor português António Domingues do cargo de vice-presidente da instituição, na sequência de uma denúncia enviada ao Banco Nacional de Angola. A instituição bancária angolana, detida em 48,1% pelo português BPI, começa por referir que as suspeitas que o BFA poderia ter sobre as questões levantadas em 2017, relativas ao branqueamento de capitais, “ficaram ultrapassadas com a confirmação do cumprimento dos procedimentos necessários para este tipo de operações”. Para reforçar a sua conclusão, discorre numa série de argumentos que datam desde o ano da ocorrência do facto. “No mês de Agosto de 2017, a Direcção de Auditoria e Inspecção do BFA, produziu uma informação na qual versava so-

bre duas operações bancárias realizadas num dos seus Centros de Investimento, em que tiveram intervenção, directa e indirectamente, a responsável do Centro e a Administradora do pelouro, à data dos factos”. Tal ocorrência, segundo a nota, mereceu outras diligências em Maio de 2020, 33 meses depois, por via do Presidente da Comissão Executiva do BFA, António Domingues Catana. “A administração tomou conhecimento da mencionada informação e o Presidente do Conselho de Administração (PCA) do Banco, Dr. Rui Jorge Carneiro Mangueira, solicitou que fossem feitas as diligências necessárias e a elaboração de um relatório circunstancial a respeito do assunto”. O solicitado relatório foi feito o mês passado e concluiu que “o tema foi efectivamente tratado no ano de 2017 pela administração cessante

do BFA, que, tendo recebido de forma tempestiva os esclarecimentos achados necessários da administradora Maria Manuela Martins Moreira, visada na mencionada informação da Direcção de Auditoria Interna, concluiu não existirem razões que levassem a duvidar, na altura dos acontecimentos, da sua idoneidade, decidindo-se pelo arquivamento do processo”. Na sequência das conclusões do segundo relatório, o Conselho de Administração do BFA em sessão realizada no dia 6 de Julho de 2020 deliberou pela não reabertura do citado processo. Entretanto, na mesma data, o Conselho de Administração tomou conhecimento da carta de António Domingues, vice-presidente do banco, endereçada ao Governador do BNA apresentando “um relato sobre o incumprimento grave das normas aplicáveis ao sector bancário, em particular a Lei de Combate ao Branqueamento de Capitais e do Financiamento ao Terrorismo e do Código de Conduta do Banco, relacionados com as duas operações bancárias acima citadas e que tiveram lugar no ano de 2017”. O banco reitera que no exercício das suas funções e responsabilidades tem pautado “a sua actua-

informação e comunicação (TIC) e dispositivos inteligentes ao nível global. Com uma gama de serviços que incluem redes de telecomunicações, tecnologias de informação, dispositivos inteligentes e serviços de computação na nuvem. No seu portfólio integral de produtos, a companhia oferece soluções e serviços competitivos quanto seguros. Através da colaboração aberta com parceiros do ecossistema global, a empresa cria valor de longo termo para os seus clientes, estando empenhada em capacitar as pessoas, enriquecer a vida doméstica e inspirar a inovação nas organizações de todas as formas e dimensões. A Huawei reitera o compromisso

ção em estrito cumprimento da regulamentação aplicável, nacional e internacionalmente, com particular realce ao nível do Compliance e Transparência”. António Domingues, em carta endereçada ao PCA do BFA a 14 deste mês, apresentou a sua renúncia como vogal do Conselho de Administração. Seguiram-se-lhe os pedidos de renúncia, com efeitos imediatos, da posição de vogais do Conselho de Administração de Otília Carmo Faleiro e no dia 8 de Julho de 2020, Maria Manuela Moreira. A 10 de Julho de 2020, o Departamento de Conduta Financeira do BNA, notificou o Banco de Fomento Angola (BFA), sobre o início de uma inspecção pontual a partir daquela data. A 14 de Julho de 2020, por “deliberação unânime”, o Conselho de Administração nomeou Luís Roberto Fernandes Gonçalves para exercer as funções de Presidente da Comissão Executiva do Banco de Fomento Angola – BFA, com efeitos imediatos. O BFA conclui reiterando que “é importante reafirmar que a Administração do Banco no exercício das suas funções e responsabilidades, tem inteira confiança no trabalho realizado pelos seus colaboradores” e que é “uma marca que desde o início da sua actividade, na década de 90, tem consolidado a sua acção através do apoio ao desenvolvimento económico e social de Angola e das suas comunidades”.

de trabalhar com as operadoras e com os parceiros do sector, de maneira a manter estáveis as operações de rede, acelerar a transformação digital e apoiar nos esforços de contenção de surtos locais, bem como a reabertura de economias locais. A companhia chinesa concentra a sua capacidade de inovar para responder às necessidades dos seus clientes, investindo fortemente em pesquisa de base, com especial foco nos avanços tecnológicos que impulsionam o mundo. Sendo um dos principais líderes do sector, conta com mais de 194.000 funcionários que actualmente trabalham em mais de 170 países e regiões.

MINFIN resgata Obrigações de Tesouro do BPC Em Decreto Executivo nº 207/20 de 14 de Junho, a ministras das Finanças decretou “o resgate antecipado das Obrigações do Tesouro pertencentes à carteira do Banco de Poupança e Crédito” Os títulos resgatados, no valor global de 275 323 600 000,00 (duzentos e setenta e cinco mil, trezentos e vinte e três milhões, e seiscentos mil Kwanzas) tinham sido emitidas desde 2015 e serão reembolsáveis pela mesma via em montante “correspondente ao valor facial global conjunto dos títulos resgatados, cujas características são definidas nos correspectivos diplomas de emissão”, refere o decreto. Com esta decisão a ministra das Finanças manda revogar o Decreto Executivo nº 63/17, de 9 de Fevereiro, e o Despacho nº 584-A/16, de 30 de Dezembro, assim como a legislação que contrarie a nova decisão.


Mercados

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ANÁLISE DIÁRIA /16 DE JULHO DE 2020

A permuta de liquidez entre os bancos comerciais fixou-se em 974.100 milhões Kz no mês de Junho O montante representa um incremento mensal de 27%, e cerca 3 vezes acima do total transaccionado no

período homólogo, tal como, o nível mais elevado desde Agosto de 2018, justificado pelo aumento das necessidades de liquidez dos bancos, com efeitos sobre as taxas de juro de curto prazo. ESPAÇO INTERNACIONAL

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spread bancário referente ao mês de Maio situou-se em 20,24%. O registo representa uma redução de 1 p.p. face ao período anterior, o que poderá reflectir as estratégias de captação de liquidez no mercado, com efeitos sobre a margem financeira dos bancos comerciais.

EUA • A produção industrial aumentou 5,4%, em Junho. O desempenho corresponde a uma aceleração mensal de 4,0 p.p. e homóloga de 5,36 p.p., sendo que representa o maior crescimento desde Dezembro de 1959, quando se fixou em 6,18%. A tendência foi suportada, principalmente, pela procura por automóveis, diante do processo de reabertura da economia.

MERCADOS Petrolífero Brent: +2,07% (43,79 USD/barril). A redução das reservas de crude nos EUA e o optimismo sobre a vacina contra a COVID-19 favoreceram a cotação do crude.

Cambial EUR: +0,11% (1,1412 USD). A possibilidade de uma segunda vaga de COVID-19 nos EUA, em Julho, tem pressionado a cotação do dólar.


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Grande Entrevista

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Tivemos grandes obras, hospitais, equipamentos, mas o investimento no capital humano foi relativamente baixo” Na próxima semana, Paolo Balladelli deixa Angola, onde foi coordenador do sistema das Nações Unidas por cinco anos. A sua carreira, no entanto, vai continuar no outro lado do Atlântico, na Venezuela, ao serviço da OPAS, a Organização Pan-Americana da Saúde, ligada a ONU. Nesta entrevista a OPAÍS, sobre o trabalho social deixa um recado às autoridades: “não é o Governo que implementa, mas o Governo conjuntamente com a sociedade civil, com as populações beneficiárias. Este é um paradigma que tem de se modificar”. Mas diz mais, que o Estado deve financiar as ONG que trabalham com as comunidades; que há questões básicas de saúde que são obrigação de cada Estado, para proteger as suas populações, e espera que o trabalho da FAO nas cadeias de valor do milho, trigo e mandioca ajude, em meses, a transformar o panorama da segurança alimentar no pais entrevista de José Kaliengue fotos de DR

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senhor é médico, já esteve em Angola pela OMS e depois, até agora, como coordenador dos sistema das Nações Unidas. Sai quando se volta a falar da poliomielite em Angola, que já tinha sido erradicada. Sente-se frustrado com os ressurgimentos cíclicos da doença? Este é um tema complexo, o país estava bem na erradicação da poliomielite, mas este tipo de programas precisa de ser acompanhado por um reforço do sistema de saúde, especialmente na vertente vigilância, assim como ter em dia as vacinas para a população. No caso de Angola, as coberturas (vacinais) contra a poliomielite baixaram bastante. Nos meus tempos (na OMS), lembro-me de termos chegado a médias de oitenta e sete a noventa por cento, ou mais. Agora há muitas comunidades no país com cobertura muito baixa. E isto é por falta de dinheiro, ou porque a estratégia que está a ser aplicada não é a mais correcta?

Acho que é a combinação das duas vertentes. A quantia dedicada à saúde nestes últimos vinte anos foi relativamente pequena. Angola comprometeu-se a ter o mínimo de dez a quinze por cento do OGE dedicado à saúde, mas na realidade, nos projectos de Orçamento, só chegou aos quatro por cento. E há que ver se estes quatro por cento foram implementados na sua totalidade. É um orçamento muito escasso para se ter um sistema de saúde funcional. E há ainda que ver a qualidade do investimento, que para mim é um tema transversal no país. O investimento nos períodos de ouro da economia angolana foi especialmente para as infra-estruturas, tivemos grandes obras, hospitais, equipamentos, mas o investimento no capital humano foi relativamente baixo. Evidentemente, para qualquer tipo de sistema funcionar, o capital humano é fundamental, quer para operacionalizar o sistema, quer para a sua manutenção. Este desequilíbrio nas políticas nacionais, com muita atenção à infraestrutura e pouca atenção ao capi-

tal humano, faz com que qualquer sistema não consiga ter qualidade e, sobretudo, a sustentabilidade de que precisa para o seu desenvolvimento. Dá a ideia de que os governos africanos atiram a responsabilidade da angariação de fundos para a saúde às Nações Unidas e ONG, como, por exemplo, na luta contra a malária, em que se olha para o Fundo Global e o dinheiro nunca é suficiente, tem esta ideia também? Isto é algo típico em todos os países em desenvolvimento, em que a saúde, a educação, as políticas sociais no seu todo, são como um tecto, ou um hall para


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políticas de parceria. Porque o capital estrangeiro que chega aos países, para o desenvolvimento humano, trata de resolver problemas mais sociais: a saúde das crianças, das famílias, das mulheres. Neste âmbito, há boas contribuições da comunidade internacional, no aspecto social. Nos outros, considera-se que os Estados tenham a capacidade de os financiar directamente. Um país como Angola, que tem riquezas que outros países não têm, como o petróleo e os diamantes, são riquezas que dão ao país capacidade de investimento em muitas outras áreas. Mas tenho de dizer também que a corrupção é um fenómeno que tirou muitos recursos do desenvolvimento do país, ela foi uma forma de saída de milhões e milhões de dólares que serviriam para um investimento sustentável. Há que, como faz o Governo agora, tratar de fechar todos os buracos e evitar a drenagem que prejudica o país. Infelizmente, estamos num momento em que a dívida externa tem um peso muito relevante na economia do país, quando o Governo desenhou estratégias para o combate à corrupção, com o apoio do sistema das Nações Unidas também, claro. No início do ano, 57 % por cento do OGE eram dedicados ao serviço da dívida, o que é uma situação insustentável. Depois, em Março, chegou a Covid, que impactou ainda mais sobre a economia do país, de forma negativa, e agora, com menos recursos, se se mantiver a dívida como está definida, teremos uma percentagem maior do OGE para o pagamento da dívida. É muito importante trabalhar no âmbito multilateral, estamos a trabalhar com o FMI, com o Banco Mundial, e sabemos que o FMI está, neste momento, numa negociação para verificar como, talvez não perdoar parte da dívida, mas cer-

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tamente, estender o prazo de pagamento, de forma a que a dívida tenha sustentabilidade, o que é uma condição imprescindível para o país crescer no seu desenvolvimento. E mais gora, com a Covid, que precisamos de recursos frescos para apoiar a economia, de forma a se ter produtividade, comercialização, que a população angolana possa adquirir, por via do crédito e de uma boa política económica. Em algum momento se sentiu de mãos atadas na busca de apoios, até por causa da Covid, para um país com dívida alta, com poucos recursos e fraca resposta para a saúde, potencialmente rico, mas olhando para as grandes potências que também foram surpreendidas e tiveram de aplicar internamente dinheiro? Como se trabalha na parte humanitária num cenário assim? Nós, ONU, trabalhamos com o Governo e do nosso ponto de vista o país actuou bem nas medidas que tomou, certas. Apoiamos as decisões que não sejam demasiado focadas na parte médica e sem considerar a sobrevivência económica da população. Há um balanço das medidas que leva a crer que se pode continuar a travar a propagação acelerada da epidemia. Acho que já conseguimos adiar a expansão da epidemia em Angola, porque foi bem gerida. Conseguimos também achatar a curva da pandemia, mas isso vai prolongar um pouco mais a situação da pandemia no país. Mas as medidas permitiram ganhar tempo para a chegada de equipamento médico ao país, para melhorar as capacidades do pessoal. Acho que foi um trabalho positivo e agora há que manter a funcionar o sector produtivo, num país com uma grande economia informal, como é o caso de angola, em que 62 % da população, segundo o INE, está no mercado informal, mas tendo em

conta que estas actividades têm de ser protegidas, com todas as precauções... as máscaras, o distanciamento, de forma a diminuir a probabilidade de transmissão. Estamos a trabalhar com o Governo no estabelecimento destes protocolos de procedimentos nos vários âmbitos, sociais, económicos, na educação. A economia continua, temos de pensar que a convivência com o vírus vai perdurar por um tempo prolongado, pelo menos dois anos. Fala no prolongamento da pandemia quando uma outra ainda persiste, a SIDA, e é causadora de desigualdades dentro dos países e entre países, o prolongamento da Covid-19 não será um factor a mais para aumentar as desigualdades? Sim, potencialmente, pode aumentar as diferenças e as desigualdades, mas temos de pensar em actitudes não apenas éticas, mas também do ponto de vista da efectividade, que é que se os países querem proteger as suas populações, têm que “tomar conta” também dos outros países, vi-

Agora há muitas comunidades no país com cobertura muito baixa de vacinação contra a poliomielite

A economia continua, temos de pensar que a convivência com o vírus vai perdurar por um tempo prolongado, pelo menos dois anos vemos numa aldeia global onde, apesar de em Março e Abril ter sido uma fase em que cada país só olhava para as suas populações, mas se olharmos para dois ou três anos de desenvolvimento da pandemia, estes países têm que abrirse a uma consciência mais colectiva, porque quem quiser defender as suas populações terá de olhar também para os países com menores capacidades para resolver o problema dentro dos seus próprios territórios. Esta é a minha nota positiva, a evolução da actitude, que foi muito egoísta nas primeiras etapas da pandemia, com alguns países que não queriam transferir nem material de protecção, nem reagentes e viraram-se para dentro, mas isso se faz por dois meses, depois há que pensar no âmbito internacional, por dois a três anos, ao ritmo de uma certa igualdade, para resolver-se o problema ao nível universal. Entretanto, não teme que havendo vacina, a pandemia seja controlada nos países ricos e se prolongue nos países mais pobres por causa

da fraca atenção que se dá à saúde e pelas dificuldades orçamentais para a vacinação universal da sua população? Em primeiro lugar, os países têm que cuidar das suas próprias populações, em geral, e têm que encontrar equilíbrios nos seus investimentos que protejam a sua população. Por exemplo, hoje, ouvi que haverá crescimento do orçamento para a saúde e a educação, ainda não fui conformar se este crescimento vai corresponder à realidade, mas acho que cada país tem que fazer as suas opções e tem a possibilidade de gerir as opções, sem ter de depender de outros em todas as cosas. Em primeiro lugar, há a responsabilidade directa que cada país tem com as suas populações. Angola é um país, felizmente, com recursos. Pode-se dizer que caiu o preço do petróleo, mas há outros recursos, além do petróleo. Há que investir melhor os recursos que tem à sua disposição. Há que trabalhar nos estímulos para as populações, como se está a fazer com o Kwenda, as transferências humanitárias para os grupos mais vulneráveis e afectados pela pandemia. Depois temos o âmbito internacional. Todos os países estão a enfrentar um colapso económico. Tudo é relativo. A pandemia é um risco que também representa um a opção para se criar um ambiente melhor para os países com mais recursos e que para este ambiente precisam de investir nos países com menores capacidades. Repito: não tanto por questões éticas, mas por questões de efetividade e eficiência na luta contra a Covid-19. É a minha esperança. A ONU está preocupada com a questão da tensão entre Angola e a RDC, quando temos os refugiados no Lôvua, as propaganda da FLEC sobre Cabinda e a morte de um polícia angolano, na Lunda, por soldados da RDC? Tenho grade confiança nas capacidades do país ao nível internacional, francamente. Angola foi capaz de exprimir liderança na Região dos Grandes Lagos, isso dáme confiança, é um país que tem bem claras quais são as dinâmicas internacionais e quais são as suas responsabilidades. Acho que o tema da migração e dos refugiados é um falso problema, são populações muito afectadas pelos conflitos e pela situação económica nos seus países. Eles vêm buscar uma possibilidade de desenvolvimento em Angola, que


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Grande Entrevista

Acho que há maturidade para pensar como os migrantes e refugiados podem participar no desenvolvimento do país mantendo, claro, as regras bem claras, sobre as leis e modo de vida

O Governo trabalha com ONG nacionais também, mas normalmente aquelas que fazem o trabalho por si, que de alguma forma estão alinhadas consigo. O problema está no impacto deste trabalho junto das comunidades, a sustentabilidade

vêm como um país com mais riqueza, com mais possibilidades. Angola terá que ver, no âmbito das suas políticas, como aproveitar e utilizar estes movimentos de migrantes e de refugiados, de forma a realizar as aspirações internas das populações do seu território, através das populações vizinhas. Algumas foram separadas de forma artificial, com uma linha no mapa, o que é o caso das populações das Lundas, que estão nos dois lados da fronteira. Acho que há maturidade para pensar como os migrantes e refugiados podem participar no desenvolvimento do país, mantendo, claro, as regras bem claras, sobre as leis e modo de vida. Como comenta o facto de ter havido troca de tiros na fronteira? Nos últimos dois meses assistimos por duas vezes a este tipo de incidentes, com preocupação. Estamos a analisar as dinâmicas, com o apoio do ministro das Relações Exteriores (Téte António), e claro que preocupa, são pontas de icebergues, de tensões que precisamos de analisar e de tratar de resolver de forma cautelosa, com prevenção. Estes incidentes mos-

tram a necessidade de maior colaboração, de maior diálogo entre as autoridades de ambos os lados, principalmente os governadores de ambos lados. Há que chegar mais frequentemente ao diálogo, temos uma comissão tripartida: Angola, RDC e ONU, que a última vez em que se encontrou foi há quatro ou cinco meses, mas que deve ter melhor periodicidade, de dois em dois meses, ou todos os meses. E é preciso trabalhar com os soldados para que entendam que os enfrentamentos não serão bons para ninguém nos dois países e que a melhor forma de resolver problemas é sempre pelo diálogo. Infelizmente, temos um clima de grande ebolição em termos de paz e segurança no mundo, estes são pequenos incidentes, comparando com o que se passa no âmbito internacional. O senhor já tinha trabalhado em Angola pela OMS, agora a coordenar todo o sistema das Nações Unidas, certamente notou uma redução do número de ONG a trabalhar no país, quer nacionais, quer internacionais, isto e sinal de que o país não precisa, ou de alguma

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redução do espaço de democrático de actuação da sociedade civil? Há situações sociais que necessitam da actuação de organizações não-governamentais em ajuda das autoridades, aquelas em que também a comunidade internacional é chamada a intervir e a apoiar. O Governo trabalha com ONG nacionais também, mas normalmente aquelas que fazem o trabalho por si, que de alguma forma estão alinhadas consigo. O problema está no impacto deste trabalho junto das comunidades. Há, organizações que fazem um excelente trabalho com as comunidades mas que não têm o apoio necessário para serem sustentáveis os seus resultados. O Estado deve perceber que ele próprio deverá financiar organizações da sociedade civil, livres, para o ajudarem a transformar realidades das populações mais carentes. São quem conhece, de facto os problemas, quem trabalha com as comunidades e que somam uma larga experiência que deve ser valorizada. Uma das suas lutas foi sempre contra a malnutrição, ainda agora o FIDA acaba de aprovar novo apoio de mais de vinte milhões de dólares. Num país com água e terras férteis, a malnutrição deriva da falta de informação, ou, pelo que acompanhou, da má distribuição do rendimento nacional? O que há a fazer é deixar de desenhar projectos no papel e conhecer o país, trabalhar no terreno, aproveitar os bons modelos na comunidade e reproduzir. Os bons modelos agrícolas, de comercialização, bom uso das cadeias de valor, implementar e avaliar os resultados todos os dias. A FAO está a trabalhar agora com o Estado em três cadeias de valor agrícolas, a do trigo, a da mandioca e a do milho. Dentro de seis a oito meses poderemos ter alterações do ponto de vista da segurança alimentar, sobretudo nos corredores mais dinâmicos, como os de Benguela e da Huíla, onde estamos a

trabalhar num projecto humanitário para apoiar quase um milhão de famílias, não para a subsistência alimentar, temos de levar projectos de desenvolvimento de medio e longo prazos para resolvermos problemas e não para prestar apoio do tipo humanitário. Como é que se organiza e se mobiliza uma sociedade para o desenvolvimento quando a maior parte das pessoas nem é cidadã, não tem registo, não tem documento de identificação? Esta resposta deveria caber ao Estado, mas acredito que nas comunidades podemos ter sistemas oficiais de registo, com o bilhete de identidade, mas também, tomando como exemplo os projectos de transferências monetárias sociais, estão a trabalhar com um registo, que não sendo o definitivo, como o BI, mas permite definir onde vive cada pessoa e elaborar um ficha ou cadastro das famílias e das comunidades e pouco a pouco, então, passar-se para o Bilhete de Identidade. Há que encontrar forma de se passar rapidamente de fase e não aguardar que tudo esteja bem arrumado. Há que acelerar estes processos de identificação da população e dar-lhes prioridades em relação a outras dinâmicas de construção de edifícios ou de grandes infra-estruturas, porque se não tratarmos bem a base, de que faz parte o Bilhete de identidade, muito dificilmente a população pode prosperar. Que momento lhe foi mais marcante no seu trabalho em Angola? Os momentos mais marcantes foram as saídas para as províncias, em que tive contacto mais directo com a realidade, falando com as pessoas, com as autoridades locais, também com as autoridades tradicionais, para compreender, até ao fundo, quais são as dificuldades que o povo angolano tem na periferia, porque desde Luanda é muito fácil fazer num papel uma série de narrativas e cálculos, mas a humildade do funcio-


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nário que vai para a província, para os municípios, às comunas para compreender o que se passa, eu acho fundamental e que deveria ser a cultura do funcionário público angolano, para compreender como está o povo, para compreender as limitações, onde estão os engarrafamentos, as complexidades. Dou um exemplo simples: fui, há dois anos, a Malanje, onde havia um programa entre a FAO e o Banco Mundial, de acesso também ao microcrédito para as famílias de Malanje, e a taxa das famílias que tinham obtido o microcrédito era, naquele momento, de dezassete por cento do que era esperado. Então, a pergunta de fundo era: “o que é que não está funcionar?” Não faltava dinheiro, o problema era a atribuição. Então, de muito perguntar, compreendi que as famílias, para terem acesso ao microcrédito, tinham de apanhar um transporte para chegarem a Luanda, ficar dois ou três dias, em longas bichas, sob o sol e, se tivessem sorte de chegar ao final, lá entravam no programa. É evidente que nós temos de levar os programas às pessoas e não esperar que as populações das outras províncias venham a Luanda para tratar de temas relacionados com o desenvolvimento das províncias. É um pequeno exemplo. Eu não teria compreendido se ficasse aqui a ler papéis e em reuniões na capital. Tinha de lá ir. Uma outra vez, fui ao município do Cuvelai para ver como poderíamos alargar um projecto de mel para as comunidades locais, tornando-o mais abrangente, porque era um projecto para eliminar a pobreza, Olhe, do centro do município até à comunidade, não havia barreiras, nem mau tempo, nem charcos, estava seco, mas levamos dez horas para chegarmos à comunidade, de carro. Saímos às seis da manhã e chegamos perto das quatro da tarde. Ficamos lá pouco mais de duas horas e chegamos à sede do município por volta das três horas da madrugada.

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Nunca entenderíamos as distâncias... Quando se diz “remoto”, em Angola, muita gente não sabe o que quer dizer, remoto quer dizer que de uma localidade a outra no mesmo município tens que fazer oito horas, de viatura. A forma de trabalhar nestes contextos tem de ser diferente, não se pode comparar ou querer assemelhar ao contexto de Luanda, onde há outra realidade, com urbanização e outras complexidades. Mas quando vamos ao Cunene ou a Huíla e queremos chegar a algumas comunidades, são distâncias muito grandes. Há que encontrar pessoas... enquanto não se mudar a demografia angolana, tem de se trabalhar muito com as autoridades tradicionais e definir algumas regras, independentemente dos interesses particulares que possam existir, para se chegar às comunidades mais remotas. É nesta “Angola profunda” que se deve trabalhar para evitar o êxodo rural, principalmente para Luanda, que vem engrossar a cidade e os seus problemas, quando temos uma riqueza tremenda na terra angolana e tem de se dar às comunidades a possibilidade de se ancorar à terra. Mas para isso há que pensar também nos sistemas de saúde, da educação, da água. Temas que permitem a uma população ficar na área rural, ao ver que aí tem futuro. Se não vê futuro, vai engrossar as marginalidades das cidades. Quando fui trabalhar com as comunidades senti-me afortunado, que estava a aprender essa minha Angola e enchi-me de energias positivas. Há em Angola um discurso político novo. Para quem trabalha com as comunidades, sente que há uma prática nova, além do discurso? Falo, por exemplo, da burocracia. Acho que chegamos a uma fase em que as autoridades, partindo do Presidente, entenderam que têm de lutar contra a burocracia. A desburocratização é um valor

assumido, não só na presidência, mas também ao nível dos ministérios. Mas há diferenças nas actitudes de um ministério dirigido por jovens, com ministro com trinta a quarenta e cinco anos, de ministérios com pessoas com muito mais idade. É normal, mudar um aparelho burocrático para um mais ágil exige uma mudança de cultura e depois de comportamento. Os jovens inclinam-se mais para a mudança e contribuem mais para a mudança de cultura e de comportamentos. Acho que uma das medidas mais importantes da actual administração é esta mescla de ministros jovens e outros mais maduros. Os jovens têm outra forma de ver as coisas e podem deixar certos paradigmas ainda radicados na cultura angolana, que as coisas têm de ser de determinda forma. Às vezes apenas um processo de reprodução, mas a mudança geracional é muito importante, tal como é importante esta cooperação triangular com as nações Unidas, com know how para apoiar as autoridade angolanas e também outros países que tiveram boas práticas, muita experiência, lições aprendidas em vários domínios. Trazendo estas experiências, Angola pode aproveitar e fazer, como dizem os ingleses, uma cross-fertilization das práticas de grande impacto, para alimentar princípios e comportamentos diferentes, muito mais efectivos, mais centrados na população. Não centrados sobre o processo, mas nos resultados. No diálogo com os beneficiários. A melhor forma de avaliar o trabalho é trabalhar com os beneficiários, ver qual é a sua percepção, como compreendem e como vivem o que a administração está a implementar. Isto em todos os níveis. Este é o nosso conselho: não é o Governo que implementa, mas o Governo conjuntamente com a sociedade civil, com as populações beneficiárias. Este é um paradigma que tem de se modificar.

Perfil Perfil Dr. Pier Paolo Balladelli Coordenador Residente das Nações Unidas em Angola Italiano, Pier Paolo Balladelli, de 62 anos de idade, foi, até esta semana, o Coordenador Residente das Nações Unidas em Angola. Com 36 anos de carreira internacional nas áreas de Desenvolvimento Sustentável e Assistência Humanitária, o médico de formação assumiu em Angola o actual cargo desde 2015. Balladelli começou a sua carreira internacional em 1984 no Equador, como gestor de projectos numa ONG. Nessa fase, dedicou-se também à pesquisa sobre os sistemas tradicionais de saúde, trabalho que foi publicado em 1998 num livro de antropologia médica. No fim da mesma década, 1989, assume durante 6 anos o cargo de Coordenador para a Bolívia da ONG “Cooperazione Internazionale’Milan”, função pela qual já geria, na altura, um orçamento de 40 milhões de dólares. Mas Angola é um país familiar para o Dr. Paolo Balladelli, que já esteve connosco como Representante da OMS (2000 – 2004), agência pela qual também trabalhou inicialmente na Croácia - onde durante a Administração Transitória da ONU, 1996-1997, foi o principal negociador para a saúde na Eslavênia Oriental, fase na sua carreira que resultou na publicação de “Saúde como ponte para a paz”-, e anos mais tarde em Angola, Colômbia, Guatemala e Argentina. Com base no Uganda, Balladelli também trabalhou para o Ministério Italiano das Relações Exteriores, como Coordenador para os Grandes Lagos (Ruanda, Burundi e Sudão do Sul). Como membro do Grupo Global de Coordenadores Humanitários da ONU, realizou estudos entre 2007 e 2010 para liderança internacional (Colégio ONU em Turim, Itália) e para Lei Humanitária Internacional e Mediação Humanitária (Genebra). Em 2014, como Director Regional da OMS para a crise Síria, para além da gestão das operações, Balladelli foi responsável pelas avaliações humanitárias para o contexto dos refugiados na região entre o Líbano e a Jordânia. Apesar do cargo internacional, Pier Paolo Balladelli, que é também marido e pai de família, nunca abandonou a sua faceta de médico, e, como tal, participou, em 2011, no Colégio Imperial de Londres - a única universidade no Reino Unido a concentrar-se exclusivamente em ciências, engenharia, medicina e negócios -, de um grupo americano para modelar matematicamente a pandemia do VIH. O Coordenador Residente das Nações Unidas no nosso país tem um doutorado com Magna cum laude (muita honra) em Medicina e Cirurgia pela Universidade de Bolonha, onde também fez Pós-Graduação em Higiene e Medicina Preventiva.


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Rússia não admite alegações de Londres sobre ciberataques à vacina, diz porta-voz do Kremlin No mês passado, o chefe da agência de espionagem GCHQ disse que os agentes de inteligência do Reino Unido detectaram, uns meses antes, vários ciberataques à infra-estrutura da saúde do país, associando os ataques a tentativas de roubar segredos sobre uma vacina contra a Covid-19.

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Rússia rejeita as acusações do Reino Unido de ter participado nos ciberataques às organizações que trabalham no desenvolvimento da vacina contra o coronavírus, disse o porta-voz do presidente russo, Dmitry Peskov. “Consideramos tais acusa-

ções intoleráveis “, acrescentou Peskov. Nesta Quinta-feira (16), o Centro Nacional de Cibersegurança do Reino Unido (NCSC, na sigla em inglês) acusou hackers ligados à Rússia de tentativas de se apropriarem de dados sobre o desenvolvimento de uma vacina contra o coronavírus. “Agentes cibernéticos russos estão a atingir organizações en-

DR

Dmitry Peskov desvaloriza as alegações das autoridades inglesas

volvidas no desenvolvimento da vacina contra o coronavírus, revelaram autoridades de segurança do Reino Unido”, informa o NCSC. A entidade britânica alegou também que o grupo APT29, conhecido também como The Dukes ou Cozy Bear, operou “quase de certeza” como parte integrante dos serviços secretos russos. Após uma declaração conjunta dos serviços de cibersegurança britânicos, canadianos e dos EUA, o secretário das Relações Exteriores do Reino Unido, Dominic Raab, alertou os serviços secretos russos contra tentativas de atingir a pesquisa relacionada com a pandemia da Covid-19. “É totalmente inaceitável que os serviços secretos russos atinjam aqueles que trabalham no combate à pandemia do coronavírus”, disse Raab.

África do Sul ultrapassa Espanha em covid-19

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Espanha baixou agora para a 9ª posição com 304.574 infecções acumuladas, mas com um maior número de vítimas mortais que totaliza 28.413 óbitos contra 4.453 da África do Sul. Nas últimas 24 horas, a África do Sul conheceu um aumento de 1.226 casos em relação ao dia anterior, mantendo o balanço das últimas 48 horas em 23.253 novas infecções. Depois de ultrapassar, sucessivamente, vários países como França, Turquia, Arábia Saudita, Itália, Paquistão, Reino Unido e agora Espanha, entre outros, a África do Sul está agora mais próxima do grupo dos cinco mais infectados do Mundo, actualmente liderado pelos Estados Unidos e pelo Brasil. Num universo de 215 países e territórios, os Estados Unidos e o Brasil concentram juntos mais de um terço do total mundial de 13,706 milhões de casos e 587 mil óbitos confirmados até esta Quinta-feira de manhã. Os Estados Unidos registam cerca de 3,617 milhões de infeções acumuladas e mais de 140 mil óbitos, enquanto o Brasil to-

taliza mais de 1,970 milhão de casos confirmados e acima de 75 mil mortos. Seguem-se a Índia com 970.596 casos e 24.935 óbitos, a Rússia com 752.797 casos e 11.937 óbitos e o Perú com 337.724 infeções e 12.417 mortes. Por seu turno, a África do Sul está isolada no comando da progressão da doença, no continente africano,com quase metade dos cerca de 644 mil casos confirmados desde os primeiros registos da

pandemia, em Março passado. O Egipto está na segunda posição continental e 23ª mundial com 84.843 casos, seguido da Nigéria, no 47º lugar mundial, com 34.259 infecções acumuladas. Seguem-se o Gana (25430), a Argélia (20770), Marrocos (16262), os Camarões (15173), a Côte d’Ivoire (13403), o Quénia (11252), o Sudão (10527), o Senegal (8369), a Etiópia (8181) e a RD Congo (8163). Com 145.903 casos ainda activos, a África do Sul lidera também

em óbitos e recuperações com um registo de 4.453 mortos, incluindo 107 novos, e 160.693 curas, correspondentes a uma taxa de recuperação de 51,7 por cento. O Egipto totaliza 4.067 óbitos, incluindo 59 novos, 26.135 recuperações e 54.641 pacientes ainda activos, enquanto a Nigéria tem 760 mortos, 13.999 recuperações e 19.500 casos ativos; o Gana 139 óbitos, 21.511 curas e 3.780 ativos e a Argélia 1.040 mortos, 14.792 recuperações e 4.938 casos activos.

Segundo o boletim epidemiológico do Ministério sul-africano da Saúde, o país efectuou, até agora, 2 milhões, 278 mil e 127 testes, incluindo 45.389, nas últimas 24 horas, e dos quais 56 por cento em laboratórios privados. A província de Gauteng, que abarca as cidades de Joanesburgo (capital económica) e Pretória (capital administrativa), é a mais atingida com 36,2 por cento do total, ou 112.714 casos, seguida da do Cabo Ocidental, com 81.556 infecções, equivalentes a 26,2 por cento. O restante está repartido entre Cabo Oriental (55584), KwaZuluNatal (32939), Noroeste (11225), Estado Livre (6561), Mpumalanga (5051), Limpopo (3645) e Cabo Setentrional (1667). A nível continental, os cerca de 644 mil casos registados em África incluem 14 mil óbitos e 335 mil recuperações. O grupo de países menos atingidos continua liderado pela Gâmbia com 64 casos confirmados, seguindo-se as ilhas Seicheles (108), a Eritreia (232), o Lesoto (256), o Burundi (269), as ilhas Comores (321), as ilhas Maurícias (342) e o Botswana (422).


O PAÍS Sexta-feira, 17 de Julho de 2020

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Rússia produzirá vacina experimental contra Covid-19 em massa este ano, diz fundo de saúde

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China e EUA entram em desacordo por causa de Hong Kong, onde decorrem manifestações pró um e outro lado

China diz que resposta dos EUA à lei de segurança de Hong Kong é “lógica de gangster”

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China acusou os Estados Unidos de praticar uma “lógica de gangster” depois que o presidente Donald Trump ordenou o fim do status especial de Hong Kong sob a lei norte-americana em reacção à imposição, por Pequim, de uma nova legislação de segurança à excolónia britânica. O Escritório de Ligação de Pequim no pólo financeiro disse que a medida só prejudicará os interesses dos EUA, tendo pouco impacto em Hong Kong. “A interferência insensata e as ameaças desavergonhadas dos Estados Unidos são uma lógica de gangster típica e um comportamento assediador”, disse o escritório num comunicado emitido na noite de Quarta-feira. A lei pune o que Pequim define de maneira abrangente como actos de secessão, subversão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras até com prisão perpétua. Críticos da lei temem que ela acabe com as liberdades amplas prometidas a Hong Kong, depois que esta voltou ao controlo chinês em 1997, e apoiantes dizem que ela trará estabilidade depois de um ano de protestos anti-governo e anti-China às vezes violentos.

Nesta semana, uma geração mais jovem e desafiadora de democratas de Hong Kong obteve a maioria dos votos nas eleições primárias extra-oficiais da cidade, que muitos viram como um voto de protesto contra a lei de segurança. A votação foi organizada pelo campo pró-democracia para escolher candidatos para a eleição do Conselho Legislativo, ou miniparlamento de 70 cadeiras. A China alertou que ela pode ter violado a nova lei. Na Quarta-feira, o ex-parlamentar Au Nok-hin disse que não será mais um dos or-

“Depois de analisar opiniões diferentes cuidadosamente... gostaria de me afastar do trabalho de coordenação”

ganizadores do pleito do final de semana em meio a acusações da China. Já nesta Quinta-feira, outro organizador, Andrew Chiu, do Partido Democrático, disse que o seu trabalho está encerrado e que não coordenará mais a campanha eleitoral para o Conselho Legislativo. “Depois de analisar opiniões diferentes cuidadosamente... gostaria de me afastar do trabalho de coordenação”, escreveu ele no Facebook. Antes, nesta Quinta-feira, a polícia prendeu um jovem de 17 anos por assembleia ilegal e um de 19 anos por obstruir o trabalho policial no dia 1º de Julho, quando centenas de pessas foram presas em protestos contra a nova lei de segurança. Na Terça-feira, Trump assinou um decreto presidencial para acabar com o tratamento económico preferencial de Hong Kong, o que lhe permite impor sanções e restrições de vistos a autoridades e instituições financeiras chinesas envolvidas na imposição da lei. A China ameaçou adoptar sanções retaliatórias e convocou o embaixador dos EUA para protestar.

Rússia planeia produzir 30 milhões de doses de uma vacina experimental contra a Covid-19 domesticamente neste ano, e tem potencial de fabricar outras 170 milhões de doses no exterior, disse o chefe do fundo de saúde soberano do país. O primeiro teste da vacina com humanos, feito com 38 pessoas durante um mês, terminou esta semana. Pesquisadores concluíram que ela é segura e induz uma reacção imunológica, mas que a intensidade da reacção ainda não está clara. Um teste de Fase 3 maior com vários milhares de pessoas deve começar em Agosto, disse o chefe do Fundo de Investimento Directo Russo, (RDIF), Kirill Dmitriev. “Acreditamos que, com ba-

se nos resultados actuais, ela será aprovada na Rússia em Agosto e em alguns outros países em Setembro... o que pode torná-la a primeira vacina do mundo a ser aprovada”, disse ele à Reuters numa entrevista. Mais de 100 vacinas possíveis estão a ser desenvolvidas e testadas para se tentar deter a pandemia. Ao menos duas estão na Fase 3 final de testes com humanos, uma da China e outra do Reino Unido, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). O teste de Fase 3 russo será realizado na Rússia e em dois países do Oriente Médio, detalhou Dmitriev, e começará depois que um teste de Fase 2 menor com 100 pessoas for encerrado no dia 3 de Agosto.

China diz que secretário de Estado dos EUA é bem-vindo para visitar Xinjiang

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China reiterou, nesta Quinta-feira, que não pretende desafiar ou substituir os Estados Unidos e pediu que Washington veja Pequim de forma objectiva e retorne à razão nas suas políticas em relação ao país A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, disse a jornalistas durante um briefing que, se os Estados Unidos pensam que tudo o que a China faz é uma ameaça, tal atitude se tornará auto-realizável. Hua também convidou o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, para ir à China e visitar Xinjiang, para ver por si mesmo que não existem violações de direitos humanos contra a minoria muçulmana uigur da região.

Porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying


desporto

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O PAÍS Sexta-feira, 17 de Julho, de 2020

Herenilson não chega a acordo com a direcção do Petro de Luanda

O médio trinco deixa o clube tricolor após vários meses de negociação, mas, tudo indica que vai assinar num dos clubes “grandes” que já prepara o Girabola 2020/2021

Deste modo, o passe do internacional angolano continua a ser cobiçado pelos clubes “grandes” que já preparam o Girabola, Campeonato Nacional de futebol, 2020/2021. O 1º de Agosto, rival de longa do Petro de Luanda, mostrou-se interessado em contratar Herenilson, atleta que no CAN do Egipto partilhou o meio campo Show. Nos corredores do clube militar, o

À beira da recondução para o ciclo olímpico 2020/2024, Tomás Faria tem criadas as condições técnicas e administrativas para atacar o Girabola 2020/202

Sebastião Félix

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médio trinco angolano, Herenilson, que nos últimos anos se notabilizou na Selecção Nacional, deixa o Petro de Luanda. A direcção do clube fundado em 1981 e o atleta não chegaram a acordo, depois de vários meses de negociação para a renovação do contrato.

nome do médio trinco faz eco, e já se aventa a hipótese de ter assinado contrato de duas épocas. Em declarações à imprensa, o presidente cessante do clube tricolor, Tomás Faria, fez saber que o jogador quer ser titular para jogar na Selecção Nacional. Por isso, prefere sair não por falta de qualidade, mas para não aquecer sempre o banco dos suplentes, uma vez que há vários jogadores que actuam na sua posição. À beira da recondução para o ciclo olímpico 2020/2024, Tomás Faria tem criadas as condições técnicas e administrativas para atacar o Girabola 2020/2021. Para fazer as pazes com os adeptos e os sócios, o dirigente tem a obrigação de vencer a maior festa do desporto-rei que está por vir. Não vence a prova há dez anos, porém, antes da anulação do Campeonato devido à Covid-19, estava na liderança, mas tinha o 1º de Agosto à perna.

Candidato derrotado na APF Huíla apresenta recurso e vencedor toma posse Mário Silva

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candidato derrotado nas eleições da Associação Provincial de Futebol (APF) Huíla, Nzinga Carlos, apresentou uma reclamação à comissão eleitoral depois do acto. No pleito eleitoral referente ao ciclo olímpico 2020/2024, realizado na semana passada, o candidato

notou irregularidades no processo de votação. Por não ter sido atendido, o mesmo adiantou que vai levar a sua reclamação à Direcção Provincial dos Desportos para se aferir melhor a situação em questão. Implica que nos próximos dias o caso regressa à ribalta, segundo uma fonte na cidade do Lubango, palco onde decorreu o pleito. Ainda assim, o recém-eleito pre-

Nzinga Carlos

sidente de direcção da Associação Provincial de Futebol (APF) Huíla, Pedro António, toma posse hoje, às 10:00. O novo presidente substitui no cargo João Gonçalves. Este dirigiu o futebol naquelas paragens durante oito anos, ou seja, teve dois mandatos. Durante o seu mandato, Pedro António tem o objectivo de dar uma nova dinâmica ao rei futebol

nos escalões de formação e massificar mais a modalidade. Além do Desportivo da Huíla, Benfica do Lubango, Sporting, Inter do Lubango, Escolinha da Agricultura, Jamba Sport, Águias do Calumbiro, Renascer do Tchioco, Recreativo da Chibia e o Ferroviário da Huíla são as equipas que participam com frequência nas provas sob égide da APFH.

Internacional da selecção das Honduras reforça 1º de Agosto

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direcção do 1º de Agosto, encabeçada por Carlos Hendrick, oficializou ontem a contratação do internacional hondurenho Brayan Josué Moya, de 26 anos, por duas temporadas, visando a época futebolística 2020/2021. Segundo o site da turma do RI20, o médio ofensivo veste a ca-

misola militar para conquistar o penta-campeonato e fazer uma campanha de sucesso na Liga dos Clubes Campeões de África, bem como na Taça de Angola, segunda maior competição do calendário da Federação Angolana de Futebol (FAF). O internacional hondurenho, representava as cores do Zulia

Futebol Club da primeira divisão do campeonato da Venezuela, onde marcou 39 golos em 17 jogos, na temporada 2019/2020. Brayan Moya é um médio ofensivo que pode também actuar como médio direito e ponta de lança, soma cinco internacionalizações pela selecção A das Honduras e teve uma passagem

positiva pelo CD Olimpia, clube que o projectou no futebol profissional. A direcção da turma afecta às Forças Armadas Angolanas anunciou o regresso do lateraldireito Mona que representou na época passada o Recreativo da Caála (do Huambo). O avançado Zini, atleta que es-

teve presente na excelente campanha da Selecção Nacional em sub-17 no Mundial do Brasil, ascendeu ao escalão sénior e reforça o sector ofensivo do clube. Por sua vez, os militares ponderam também o regresso do guarda-redes Nsesani que está na Académica do Lobito por empréstimo.


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O PAÍS Sexta-feira, 17 de Julho, de 2020

Lazare Adingono Selecção de Xadrez participa deixa o Petro nas Olimpíadas online de Luanda A O presidente cessante do Petro de Luanda, Tomás Faria, disse ontem à Rádio Cinco que o treinador camaronês Lazare Adingono não chegou a acordo com a direcção do clube do Eixo-Viário Mário Silva

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omás Faria explicou que a direcção queria um contrato de um ano, mas o treinador só queria dois ou mais anos de contrato. Assim, o Petro foi peremptório na sua posição e preferiu optar por contrato de trabalho de um ano com opção de renovação. O também candidato único às eleições amanhã naquele clube, revelou que “não importa a tripulação que vai levar o barco ou que que vai levar o avião, o mais importante é que o meio chegue ao destino no dia, hora marcada e com os passageiros completos”. Tomás Faria acrescentou dizendo que para o clube interessa o tempo curto de contrato, porque

aumenta no desempenho do treinador ou do atleta. “Quando são dois anos o primeiro ano é de relaxe e o segundo é para trabalhar e renovar o contrato”, disse.

“Não importa a tripulação que vai levar o barco ou que que vai levar o avião, o mais importante é que o meio chegue ao destino no dia, hora marcada e com os passageiros completos”

Selecção Nacional de Xadrez participa de 22 de Julho a 30 de Agosto próximo nas olimpíadas organizadas pela Federação Internacional. Devido à Covid-19, os atletas vão a partir dos seus países, à frente do computador, disputar partidas com adversários de vários níveis. Por esta razão, a Selecção Nacional, em ambos os sexos, já trabalha, pois pretende arreba-

tar medalhas e conseguir apuramento para outras competições, segundo a Federação Angolana de Xadrez. Esperança Caxita, Sérgio Miguel e João Júlio são os convocados, mas nos próximos dias mais atletas vão juntar-se ao grupo. Esperança Caixta é um nome a ter em conta nesta prova, de acordo com a federação, pois, já conquistou dois campeonatos africanos.

Angolano reforça Al Ain dos Emirados Árabes Unidos

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vançado assina por duas temporadas. O avançado internacional angolano Wilson Eduardo é o mais recente reforço do Al Ain, equipa treinada pelo português Pedro Emanuel, anunciou nesta Quinta-feira o clube dos Emirados Árabes Unidos. Wilson Eduardo, que

jogou nas últimas cinco temporadas no Sp. Braga, assinou um contrato por duas temporadas com o clube árabe. O avançado luso-angolano, de 30 anos, é internacional pela Selecção principal de Angola, pela qual tem seis presenças e dois golos marcados, e também pelas seleccões jovens de Portugal.

Ciclista colombiano regressa à estrada no Desafio Mont Ventoux

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Lazare Adingono deixa o báquete do Petro de Luanda

ciclista colombiano Nairo Quintana (Arkéa-Samsic) vai voltar à competição no Desafio Mont Ventoux, a 6 de Agosto, depois de ter recuperado de um embate com um automóvel e regressado aos treinos, anunciou nesta Quinta-feira a equipa. Nairo Quintana volta aos treinos após acidente: “Respeitem a distância para os ciclistas” O ciclista, de 30 anos, que procura estreiar-se a vencer na Volta à Fran-

ça, depois de já ter vencido o Giro (2014) e a Vuelta (2016), vai escalar o “Gigante de Provença’ duas vezes no Desafio, um dia antes de participar no Tour de l’Ain, a caminho da partida de Nice, em 29 de Agosto, do Tour. Quintana viaja no Domingo, ao lado de outros ciclistas e desportistas colombianos, após ter embatido com um automóvel no início de Julho, tendo voltado aos treinos na Segunda-feira, sem limitações físicas.


classificados emprego

O PAÍS

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imobiliário

Urbanização Vila do Cacuaco

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diversos


TEMPO

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PREVISÃO DO TEMPO *** 3 DIAS *** PARA AS PRINCIPAIS CIDADES VÁLIDA DE 17 A 19 DE JULHO DE 2020 INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGOA E GEOFÍSICA - CENTRO NACIONAL DE PREVISÃO DE TEMPO (CNPT) PREVISÃO DO TEMPO *** 3 DIAS *** PARA AS PRINCIPAIS CIDADES, válida de 17 à 19 de Julho de 2020 Data 17/07/2020

CIDADE

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CABINDA

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CAXITO

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NDALATANDO

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MALANJE

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DUNDO

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HUAMBO

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CUITO

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LUENA

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LUBANGO

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MENONGUE

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MOÇÂMEDES

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ONDJIVA

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Os Meteorologistas: Domingos Pedro e Edmara Pereira

Fonte: INAMET

Das 18 horas do dia 16 às 18 horas do dia 17 de Julho de 2020 NORTE: Províncias de Cabinda, Zaire, Bengo, Luanda, Uíge, Malanje, Cuanza-Norte, Cuanza-Sul, Lunda-Norte, Lunda-Sul: Céu pouco nublado em quase toda a região, tornando-se nublado durante a madrugada e manhã nas províncias de Cabinda, Zaire, Bengo, Luanda, Uíge, Malanje, Cuanza-Norte e Cuanza-Sul. Possibilidade de ocorrência de nevoeiro ou neblina matinal em alguns municípios das províncias de Cabinda, Zaire, Bengo, Luanda, Uíge, Malanje, Cuanza-Norte e Cuanza-Sul. REGIÃO CENTRO: Províncias de Benguela, Huambo, Bié e Moxico Céu pouco nublado em toda a região, tornando-se nublado durante a madrugada e manhã na província de Benguela. Possibilidade de ocorrência de neblina matinal em alguns municípios da província de Benguela. REGIÃO SUL: Províncias do Namibe, Huíla, Cunene e Cuando Cubango: Céu geralmente limpo em toda a região, apresentando-se nublado durante a madrugada e manhã na província do Namibe. Possibilidade de ocorrência de nevoeiro em alguns municípios da província de Namibe.

Luanda, 16 de Julho de 2020

Aeroporto Internacional 04 de Fevereiro, Rua 21 de Janeiro – Tel.: 949320641 – Luanda. Site: http://www.inamet.gov.ao; emails: geral@inamet.gov.ao / geral.inamet@angola-portal.ao

TEMPO no mar

Fonte: INAMET

BOLETIM METEOROLÓGICO PARA A NAVEGAÇÃO MARÍTIMA

3. DESCRIÇÃO SINÓPTICA DAS 18:00 UTC DO DIA 16/07/2020 ÀS 18:00 UTC DO DIA 17/07/2020

1. SITUAÇÃO GERAL ÀS 18:00 TU DO DIADE16METEOROLOGIA DE JULHO DE 2020: INSTITUTO NACIONAL E GEOFÍSICA - INAMET

Centro Nacional de Previsão do Tempo Circulação de Sul-Sudoeste fraca a moderada entre os paralelos 4°S a 14°S (Cabinda até Benguela) e BOLETIM METEOROLÓGICO PARA 14°S A NAVEGAÇÃO MARÍTIMA circulação de Sudeste-Sul moderada a Sul do paralelo (Namibe).

2. PREVISÃO VÁLIDA ATÉ AS 18:00 TU DO DIA 17 DE JULHO 2020: AVISO: ATÉ 48DEKM/H VENTO FORTE (26 NÓS) NA COSTA DE NAMIBE (SUL DO PARALELO 16°S) 1. SITUAÇÃO GERAL ÀS 18:00 TU DO DIA 16 JULHO DE 2020: Circulação de Sul-Sudoeste fraca a moderada entre os paralelos 4°S a 14°S (Cabinda até Benguela) e circulação de Sudeste-Sul moderada a Sul do paralelo 14°S (Namibe). 2. PREVISÃO VÁLIDA ATÉ AS 18:00 TU DO DIA 17 DE JULHO 2020: AVISO: VENTO FORTE ATÉ 48 KM/H (26 NÓS) NA COSTA DE NAMIBE (SUL DO PARALELO 16°S).

REGIÃO

ESTADO DO TEMPO

(ATÉ 200 MILHAS DA COSTA)

VENTO DIRECÇÃO

ALTURA DA ONDA (METROS)

ESTADO DO MAR

Até 10

Até 2.2

Agitado

Fraca pela manhã (Até 5)

FORÇA (KT)

VISIBILIDADE HORIZONTAL (KM)

Cabinda (4°S – 6°S)

Neblina

Sul Sudoeste

Zaire, Bengo, Luanda e Cuanza-Sul (6°S – 12°S) Benguela (12°S – 14°S)

Neblina

Sul Sudoeste

Até 17

Até 2.4

Agitado

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Neblina

Sul Sudoeste

Até 17

Até 2.4

Agitado

Fraca pela manhã (Até 5)

Namibe (14°S – 18S)

Nevoeiro

Sudeste Sul

Até 26

Até 2.4

Agitado

Fraca pela manhã (Até 1)

A alta pressão de Santa Helena irá permanecer estacionária durante as próximas 24H com a pressão central constante de 1030hPa. Para a região marítima do Namibe prevê-se uma agitação com ondas a atingirem 2.4 metros de altura. Para as regiões marítimas de Cabinda a Benguela, prevêem-se ondas máximas de 2.2 a 2.4 metros de altura. Prevê-se uma visibilidade entre 1 e 5 Km, devido à possibilidade de ocorrência de nevoeiro ou neblina matinal nas regiões marítimas de Cabinda ao Namibe.

4. CARTA DO VENTO MÁXIMO E DA ALTURA DA ONDA MÁXIMA PREVISTA

Os contornos a cores indicam a altura máxima da ondulação e os contornos em tom cinza indicam os possíveis incrementos das vagas devido à influência do vento local.


OPINIÃO

O PAÍS Sexta-feira, 17 de Julho de 2020

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Luis Bernardino

O HOSPITAL E O HOMEM DO APITO

N

a literatura médica de ex pressão inglesa encontrase a expressão “whistler-blower” (WB), que traduzida à letra será o “soprador do apito” . O dicionário traduz como “informador”, mas nos jornais médicos o uso da expressão aproxima-se mais das práticas futebolísticas: o WB é alguém (como o árbitro) que sopra o apito quando há uma falta. É um apito estridente, para se ouvir em todo o campo e nas bancadas, não é a informação secreta que o informador passa à policia, e por isso a tradução de “informador” é infeliz. Os jornais respeitáveis consideram muito importante a figura do WB, que é alguém que defronta a hierarquia e o corporativismo institucional, e torna públicos os problemas, erros ou injustiças que estão a ser ocultados. E dão-lhe abrigo e defesa, pois essas pessoas vão ser hostilizada no seu local de trabalho e podem sofrer retaliações mais ou menos pesadas (de acordo com as maiores ou menores liberdades do sistema) que podem interferir gravemente nos seus direitos pessoais e profissionais. Mas nem todos pensam assim: o sistema em Angola é ainda autoritário, centralizado e hierárquico. Nas instituições estas normas condensam-se num centralismo em que só o chefe pode fazer pronunciamentos públicos (e geralmente só os faz depois de ter consultado o chefe do chefe). Quando há problemas, cria-se um clima insalubre de conivência para manter a reputação corporativa , que é mais importante do que o bem estar dos cidadãos, objectivo para que, supostamente, a instituição foi criada. Num livro que publiquei em Janeiro de 2017 afirmei : “... Ocultam-se os problemas por duas razões: (a) Para alardear

competência individual no exercício do cargo;(b)Para fazer a propaganda do Executivo junto da população...” Há alguns anos circulou fortemente o vírus da raiva na população canina de Luanda e houve em menos de 6 meses algumas dezenas de internamentos/mortes de crianças com a doença no Hospital Pediátrico . Da Direcção Provincial de Saúde e de outras instâncias havia a preocupação de minimizar e mesmo silenciar o que se estava a passar. Num desses dias, duas médicas condoídas com a terrível situação foram entrevistadas pela rádio local. Tanto bastou para virem recriminações de fuga de informação, que eu como Director do Hospital não corroborei, antes enfatizei a ocorrência numa entrevista à LAC. Colocar a defesa da vida e dos direitos das pessoas acima das conveniências e oportunismos políticos não é encorajado e pode mesmo ser punido, e isto foi incorporado no ADN de muita gente, sobretudo os que sabem que o seu cargo é função do seu “bom comportamento”. E por isso são tão importantes os WB. Na edição de 11 de Julho de “O País” dá-se voz ao pediatra Adriano Manuel, assistente no Hospital Pediátrico e Presidente do Sindicato dos Médicos. Segundo transparece, ele está a ser alvo de medidas repressivas da parte da Direcção do Hospital por ter feito declarações públicas sobre o excessivo números de mortes no hospital. Embora não se trate dum assunto sindical (como revindicar emprego para os médicos recém-formados, ou reclamar meios de protecção anti-Covid para os médicos que trabalham nos hospitais causas que, aparentemente, têm merecido a atenção do Sindicato), um juízo sobre as crianças que morrem no hospital é estritamente médico e pessoal. De acordo com

a referida concepção hierárquica e centralista, não é a um médico do hospital que compete comentar junto dos meios de informação. E cá temos configurada a personagem do “whistleblower”: alguém que torna pública uma informação e que se arrisca a ser punido por fazêlo. Provavelmente é-lhe assacada uma agenda politica, dirigida contra o hospital ou o ministério. Mas no domínio subjectivo das intenções, também não é difícil encontrar uma agenda politica, se não no hospital, certamente no ministério. A morte de crianças não é uma questão interna dos hospitais, passível de medidas do foro disciplinar. Num país como Angola, cujos índices de mortalidade de menores de cinco anos continuam a ser dos mais altos do mundo, debater a questão, dar-lhe toda a atenção, é uma atitude ética e de respeito pelas crianças angolanas . Abordar o problema é, em simbologia médica, fazer o diagnóstico da doença (quantificar, qualificar), para, a seguir, apurarmos as causas e instituirmos o tratamento. E mais uma vez insisto - grande parte das causas operam muito antes da criança chegar ao

hospital. Se através do incremento dos Cuidados Primários de Saúde interviermos precocemente, não temos que nos defrontar com uma criança que já vem muito tarde e está muito grave e que, se houver um infeliz desfecho, vai aumentar a taxa de mortalidade da instituição. Por isso, se distingue correntemente a “Mortalidade Líquida”, a que ocorre nas primeiras 48 horas da admissão (e dá ideia da gravidade à entrada) da “Mortalidade Bruta”, ou total, que julga, com menos precisão, o desempenho da unidade hospitalar. Neste sentido se pode dizer que a mortalidade observada, sobretudo a mortalidade líquida, mais do que um índice do desempenho hospitalar, reflecte a realidade nacional. Os números disponíveis no Hospital Pediátrico até 2010 mostram que, mercê dos progressos da vacinação e alguma melhoria geral e nutricional após o fim da guerra civil, mas também por melhor desempenho hospitalar, as mortes diárias desceram de 14, no ano 2.000, para pouco menos de 7, em 2010. O número de óbitos diários a que tive acesso em 2019 ( um ano de moderada pluviosidade) variou de 5.2 (em Dezembro) e 8 (em

Abril). Contrariamente à década anterior, na última década parece terem sido pouco marcados os progressos na sobrevivência das crianças internadas no Hospital Pediátrico. É esta constatação que deve, desapaixonadamente, merecer a nossa reflexão, detalhando a possível variação das causas, o acesso das crianças aos cuidados preventivos e curativos, etc. Os óbitos não são por doenças raras, congénitas ou oncológicas que vêm à tona nos países mais desenvolvidos: são a malária, infecções respiratórias e outras doenças preveníveis e curáveis. E deve fazer-se a grande opção estratégica: *Apostar nos Cuidados Primários e na luta contra a pobreza contrariando a fatídica força que o binómio MalnutriçãoInfecção tem na mortalidade dos menores de cinco anos ? • Ou vamos, como recentemente foi anunciado, organizar (ou tentar organizar) unidades gigantes de Cuidados Intensivos, para que o hospital melhore as suas taxas de mortalidade? É uma discussão que “o apito” do Dr. Adriano Manuel, se for encarado positivamente, terá o méritos de suscitar , entre os profissionais e o público.


OPINIÃO

O PAÍS Sexta-feira, 17 de Julho de 2020

31

Ricardo VITA

Seguir o exemplo de Bailundo: dar às ruas os nomes de nossos heróis

“A

n gol a é nossa”, dizia Salazar, com jactância. Este slogan colonialista foi recuperado, com o mesmo significado, e desde então tem sido alegremente perpetuado pelos Assimilados e Lusotropicalistas. Hoje, ele proclama duas Angolas: uma que se diz ser mais legítima e a outra, aparentemente, menos legítima ou mesmo ilegítima. É na sua essência que encontramos o espírito que diz que este reino aqui é intrinsecamente “nosso” e aquele acolá é estranhamente “nosso”. Esses herdeiros do salazarismo e do colonialismo são, de facto, aqueles que manipulam as nossas diferenças complementares, que chamam tudo o que ameaça a sua hegemonia de tribalismo ou racismo, porque não conhecem a verdadeira definição de racismo (precisam do dicionário português para definir a palavra. Precisam da definição dada por quem nunca viveu o racismo, por quem o fabricou e o pratica, por quem criou o sistema de dominação de outros que a palavra define; hegemonia baseada na hierarquia das cores de pele. Precisam da

definição daqueles que colocaram a pele negra no mais baixo escalão dessa hierarquia). Mas ainda assim, fingem não ver como a sua visão e os seus imaginários são um problema para a emancipação de Angola. Sim, estou a falar daqueles que dizem e escrevem que os reinos que partilhamos com outros irmãos africanos nossos vizinhos hoje por causa das fronteiras aleatórias traçadas pelos colonialistas dos quais eles herdaram e ainda defendem a ideologia divisional -, não são tão legítimos quanto os que eles definem como mais legítimos sob o pretexto de que são exclusivamente angolanos! Aliás, o que é exclusivamente angolano? Onde começa e onde termina? Quem definiu isso, sob quais critérios e com o consentimento de quem? E na mesma lógica, como distinguir a ignorância sobre a história dos povos do mundo da tentativa de perpetuar o pensamento colonialista; aquele que inculcou nas mentes que o Reino do Kongo era inimigo do Reino do Ndongo ou da Matamba? Quem disse que o Reino da Lunda, cujo trono foi posto aleatoriamente no outro lado da fronteira traçada pela régua

torta da ganância colonial, não era “realmente” nosso? E porquê tentar insistir que Mandume Ya Ndemufayo também foi rei dos Namibianos? Como é verdade e já a conhecemos, o que está escondido por trás de afirmação tão tendenciosa e subtil, visto que, se fosse benéfica e construtiva, já se saberia desde que agitamos o facto? E a nossa Nação nisso; quando e como a construiremos? Mas, para entendermos a razão desta cultura, da atitude, seria suficiente estudar os perfis das pessoas que fazem essa propaganda. Será fácil notar, em primeiro lugar, que não são luminares do pensamento, nem pessoas capazes de mostrar a aldeia dos seus antepassados. E que são os mesmos que removeram a estátua da rainha Nzinga-a-Mbande do Kinaxixi e que mantêm pomposamente o nome de Sequeira numa praça da nossa capital. É disso que devemos lembrar e nada mais. Talvez também deva ser lembrado que, numa carta atribuída a ele e endereçada ao seu partido, Viriato da Cruz afirmou vigorosamente o seu desacordo com a ideia, após a independência, da inevitabilidade do neocolonialismo em Angola,

que os seus camaradas teriam assumido e considerado. Nesta carta, lemos a firme oposição do autor ao projecto de continuar a submissão e alienação, e ele também propôs vias que considerava mais emancipatórias para os Angolanos. Portanto, houve vozes sinceras no nosso país contra o colonialismo e a submissão, e hoje essas são as vozes da maioria dos Angolanos, são as vozes do futuro. Mesmo que conheçamos os verdadeiros motivos que levaram Rosa Coutinho a escolher um movimento em detrimento de outros, a emancipação total do nosso país deve ser concluída e este deve voltar-se para a África, se realmente quiser ser forte e respeitável. Rosa Coutinho, como ele próprio dizia, sempre com um sorriso malicioso, especialmente durante aquele debate na televisão portuguesa, moderado pelo jornalista Victor Bandarra, optou por deixar o poder em Angola nas mãos de um “movimento ao qual os brancos podiam aderir”, um movimento cujos dirigentes “gostam de vinho tinto e de batatas com bacalhau”. Em suma, o mais alto representante do Estado português em Angola, a quem foi dada a missão de organizar os “Acordos de Alvor” e, portanto, a independência do nosso país, escolheu, nas suas próprias palavras,ummovimentoquetinha “raizes da cultura portuguesa”. Isso diz-nos de onde viemos, mas também nos diz que não somos obrigados a continuar a aceitar seguir esse caminho, mesmo que o movimento em questão também seja meu, pela herança familiar e por afinidades filosóficas da mocidade (isso não inclui a má filosofia dos marimbondos que traíram a Pátria!). Porque esse caminho é o da alienação e acho

que agora o sabemos, ou pelo menos, estamos a saber cada dia que passa. As posições de Rosa Coutinho mostram a sua baixeza de espírito, bem que se entendam os objectivos colonialistas por trás do pensamento. Se os Angolanos brancos, Assimilados e Lusotropicalistas são também Angolanos legítimos como todos os outros, no entanto, não devem impor a sua Angola sobre os outros. As circunstâncias dolorosas da nossa história, que impuseram a criação da nossa União-Sagrada, condenaram-nos a viver juntos, vamos aceitá-la! E é preciso lembrar que a República de Angola não pertence mais a um único grupo de pessoas. Angola definese como uma democracia, ou seja, um país que escolheu viver no poder decidido pelo maior número dos seus cidadãos. Portanto, é a voz da maioria que deve ser mais ouvida, e essa maioria não é assimilada nem lusotropicalista e nem branca. Então, o Presidente João Lourenço, que mostrou o seu gosto pelo diálogo e um desejo real de “melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”, não deve ele apoiar e alargar a bela iniciativa do município do Bailundo, na província do Huambo, que quer pôr nas suas ruas os nomes dos nossos heróis que lutaram contra o colonialismo e cujo pedido de autorização está preso, fora dos prazos, nas profundas gavetas do Ministério da Administração do Território? Ricardo Vita é Pan-africanista, afro-optimista radicado em Paris, França. É colunista do diário Público (Portugal), cofundador do instituto République et Diversité que promove a diversidade em França e é empresário.


Última 32 O PAÍS Sexta-feira, 16 de Julho de 2020

Taxas de Câmbio dos Bancos Comerciais Sexta-Feira, 17 de Julho de 2020

Taxa de Câmbio Actual Compra

Venda

BANCOS COMERCIAIS

USD/KZ

EUR/KZ

USD/KZ

EUR/KZ

Banco de Crédito do Sul - (BCS)

565,946

646,791

602,240

688,270

Standard Bank Angola - (SBA)

565,946

646,791

599,903

685,598

Banco Caixa Angola - (BCGA)

578,864

658,285

599,210

681,422

VTB África - (VTB)

559,858

638,378

599,082

683,103

Banco Angolano de Investimentos - (BAI)

584,810

665,046

596,745

678,618

Banco da China Limitada - Sucursal - (BOCLB)

550,841

620,919

596,745

672,663

Banco Valor - (BVB)

552,840

631,812

595,321

680,363

Banco Comercial do Huambo - (BCH)

572,423

650,959

595,206

676,868

Banco Comercial Angolano - (BCA)

571,876

649,937

594,866

676,066

Banco Comércio e Indústria - (BCI)

560,083

640,090

594,447

679,363

Banco Keve - (BKEVE)

561,670

638,732

594,339

677,838

Banco de Investimento Rural - (BIR)

565,946

646,791

593,795

678,618

Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA)

570,930

648,614

593,273

683,436

Banco de Negócios Internacional - (BNI)

554,203

631,929

592,658

675,778

Banco Económico - (BE)

571,492

653,130

591,612

676,123

Banco de Fomento Angola - (BFA)

565,946

646,791

591,414

675,897

Finibanco Angola - (FNB)

554,203

631,929

590,961

673,843

Banco BIC - (BIC)

561,701

641,940

590,282

674,603

Banco de Poupança e Crédito - (BPC)

554,627

633,855

590,282

675,250

Banco Prestígio - (BPG)

563,399

643,880

588,584

672,663

Banco Sol - (BSOL)

560,287

640,323

588,584

672,663

Banco BAI Microfinanças - (BMF)

569,797

649,594

588,362

670,759

Standard Chartered Bank Angola - (SCBA)

549,081

627,517

583,038

659,112

Banco Millenium Atlântico - (ATL)

563,116

641,602

582,924

664,171

Banco Yetu - (YETU)

565,946

646,791

582,924

669,429

Banco Kwanza Invest - (BKI)

552,789

630,317

576,823

657,723

Taxa Média dos Bancos Comerciais

563,408

642,413

592,062

675,394 Fonte: BNA

Caso necessite de moeda estrangeira, dirija-se sempre aos bancos comerciais ou às casas de câmbio autorizadas. Não realize operações de compra ou venda de moeda estrangeira na rua/mercado informal, pois tal acarreta muitos riscos e é ilegal.

Imunidade à Covid-19 dura poucos meses, diz estudo britânico

U

m estudo realizado pela King’s College de Londres, no Reino Unido, mostrou que a imunidade ao novo Coronavírus (Sars-CoV-2) pode durar apenas alguns meses, com um risco de uma nova contaminação. Os resultados foram divulgados pelo jornal “The Guardian”. A pesquisa analisou casos de cerca de 90 pessoas, entre pacientes e funcionários, de dois hospitais de Londres que testaram positivo para a Covid-19. A análise laboratorial mostrou que os níveis de anticorpos atingem o máximo cerca de três semanas após a infecção e começam a diminuir gradativamente, enfraquecendo assim a resposta do corpo. Três meses depois da contaminação, apenas 17% daqueles que contraíram o vírus ainda apresentavam a mesma potência de resposta imunitária. Em alguns casos, os contaminados não apresentavam nenhum tipo de reação. Assim, as conclusões dos cientistas mostram que o novo

Coronavírus pode agir como aquele que causa a gripe comum em que, ano após ano, é possível ser infectado novamente. A hipótese ainda precisa de novos testes para a comprovação, mas deve ser levada em consideração. Em entrevista ao jornal britânico, a responsável pelo estudo, Katie Doores, afirma que, se comprovados, os resultados mostram que também no caso de uma futura vacina isso pode acontecer. “Se a infecção gera níveis de anticorpos assim limitados pelo tempo, também a duração do efeito da vacina terá uma duração limitada. Assim, as pessoas precisarão de tomar reforço”, destacou Doores. Ou seja, é muito provável que apenas uma dose da vacina não seja suficiente para a protecção. Apesar de percentuais bem diferentes, um estudo feito em três etapas pela Espanha para avaliar o nível de exposição dos cidadãos à Covid-19 também mostrou que 14% dos mais de 68 mil testados não tinham mais nenhum tipo de resposta imunológica entre o primeiro e o terceiro testes. ANSA


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