A Prátrica Médica Integral - A descoberta do bem-estar

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A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL: A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR. Explorações de Roberta Ribeiro em sua prática médica. Roberta E. G. Ribeiro, 2012. Versão Beta, digital.

A versão digital desta obra foi entregue ao Domínio Público, editada com o selo MedIntegral, por decisão unilateral da autora. Domínio Público, neste caso, significa que não há, em relação à versão digital desta obra, nenhum direito reservado e protegido, a não ser o direito moral do autor ser reconhecido pela sua criação. É permitida a sua reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização prévia. Assim, a versão digital desta obra pode ser – na sua forma original ou modificada – copiada, impressa, editada, publicada e distribuída com fins lucrativos (vendida) ou sem fins lucrativos. Só não pode ser omitida a autoria da versão original.

1. Medicina Integral. 2. Bem-estar Integral. 3.

MedIntegral. MedIntegral é um espaço onde a Dra. Roberta Ribeiro realiza a prática médica integral e, junto com uma rede de pessoas, se dedica à investigação da saúde e do bem-estar, tanto pessoal como na rede social, e à criação e transferência de práticas que promovam o bem-estar integral. http://www.medintegral.com.br

RIBEIRO, Roberta E. Garcia. A prática médica Integral: a descoberta do bem-estar. Explorações de Roberta Ribeiro em sua prática médica. Roberta Ribeiro. São Paulo, 2012. 198 p. A4 (MedIntegal; 1)

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A prática médica Integral: a descoberta do bem-estar Explorações de Roberta Ribeiro na sua prática médica

EXISTÊNCIA 48 A PRÁTICA DA MEDICINA INTEGRAL 57 BEM-ESTAR INTEGRAL 115

“IN TRADUÇÃO” 4 INTRODUÇÃO 5 EPIDEMIA DO SENTIDO 10 O PENSAR 24

ÍNDICE DE BEM-ESTAR INTEGRAL 128 SUSTENTABILIDADE 156 FELICIDADE AUTÊNTICA 158 REFERENCIAS 166

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“IN TRADUÇÃO”

“Não há nada senão Deus, nada senão a Deusa, nada senão Espírito em todas as direções, e nem um grão de areia, nem uma partícula de poeira é mais ou menos Espírito do que qualquer outra”.

Este livro é um convite a uma mudança total de percepção do mundo e de si mesmo, cuja pergunta básica é: quem realmente vive em você? Temos tanta certeza de quem somos e de que somos nós mesmos que a ideia desta pergunta é como estar doente. No entanto, essa certeza não é mais do que a realidade dos sonhos e o eu, certo de que vive, não passa de uma sombra ilusória daquilo que vive em você. Existo e então a existência pode ser em mim.

Ken Wilber

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Não há esforço para mudar o modo como se vive, mas, antes, a descoberta daquilo que vive. Não se dar conta disso é estar contaminado pela epidemia do sentido e, consequentemente, viver à margem da felicidade autêntica, quando o que o separa dela é o intervalo entre o sonho e o que as experiências fizeram de você, ou seja, a sua certeza. Perceber que aquilo que busca não pode ser encontrado em suas conquistas nem no lugar para onde você se dirige, mas na simples natureza dos seus próprios passos e no encantamento que habita o que é ordinário. É estar são, íntegro, inteiro, completo.

INTRODUÇÃO

Aos 5 anos de idade, já expressava o meu desejo de ser médica. Não só isso, mas dizia que eu queria ser uma médica que mudasse o modo das pessoas pensarem. Em minha inocência e concretude das crianças, entendia que a neurocirurgia, através da modificação das ligações neuronais, fazia exatamente isso, portanto eu queria ser neurocirurgiã. De um modo que só o “mistério” da vida pode explicar, na vida adulta, meu trabalho como médica integral e coach tem refletido exatamente o meu sonho de criança, especialmente quando eu ajudo as pessoas a transformarem as suas vidas e serem mais inteiras, saudáveis e plenas. Devido às baixas taxas de sucesso (cura) alcançadas pela medicina moderna no tratamento de doenças crônicas, ao meu desejo de cuidar da saúde do indivíduo e à vontade de trabalhar também com saúde da comunidade e saúde

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pública, acabei escolhendo a infectologia como especialidade. Ainda que a Infectologia esteja longe de

estabelecer uma visão sistêmica dentro das especialidades médicas, é uma das áreas que está mais perto dessa abordagem – o que também me atraiu. Durante todos estes anos de prática médica, percebi que medicamentos, na maioria dos casos, são agentes que induzem o desaparecimento dos sintomas. No entanto, saúde é muito mais do que a ausência de sintomas. Embora existam muitas organizações discutindo saúde no campo alternativo, a organização mais poderosa para ditar protocolos, definições e afirmações sobre saúde é a OMS (Organização Mundial de Saúde). Obviamente, as organizações alternativas não são populares e muito menos aprovadas cientificamente pela academia cientifica moderna, permanecendo à margem dos métodos científicos basicamente por duas razões: a) muitas das práticas alternativas não possuem evidência científica; b) os métodos científicos estão sempre em desenvolvimento e mudança para irem além das limitações de seus procedimentos e instrumentos. Se a ciência tem

limitações, como desmistificar o mistério da vida e o milagre de estarmos vivos, por outro lado faz milagres como inseminação artificial, próteses que permitem pessoas a manterem a mobilidade e funcionalidade, transplantes que salvam e dão qualidade de vida, entre outras tantas coisas. Estes são exemplos dos serviços da medicina no mundo real. É necessário destacar também que assim como tudo, a ciência e a medicina são baseadas e desenvolvidas no contexto do capital. Isto é, envolvem poder e dinheiro; possuem modos próprios de compreender e fazer, o que nem sempre abarca a justiça. Mas, felizmente, os “termômetros” do capitalismo não são os únicos existentes; há várias outras iniciativas que promovem a equanimidade em diversas áreas distintas como o índice de Felicidade Interna Bruta (FIB) e o movimento Transitions Towns. O primeiro é um índice que mede simultaneamente desenvolvimento social e sustentabilidade econômica num modelo que inclui em seus critérios de avaliação dados referentes à proteção ambiental e a experiência cultural do grupo avaliado. A essência filosófica que embasa o FIB são os pressupostos de paz, felicidade

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de todas as pessoas, segurança e soberania da nação. 1,2 O índice foi criado no Butão em 1972 e aplicado em 2007, desde então tem sido implementado no Brasil, Canadá e até nos Estados Unidos.3 O segundo movimento foi iniciado pelo ativista e escritor ambientalista Rob HOPKINS, em Totnes, na Inglaterra. O Transition Towns consiste em uma rede de comunidades ancoradas nos princípios da permacultura4,5,6 que trabalham para desenvolver um modo sustentável, menos dependente do petróleo, com menos destruição ambiental e mais estabilidade econômica. A permacultura é um método para planejar, atualizar e manter sistemas de escala humana (jardins, vilas, aldeias e comunidades) ambientalmente sustentáveis, socialmente justos e financeiramente viáveis. A ênfase está na aplicação criativa dos princípios básicos da natureza, integrando plantas, animais, construções e pessoas em um ambiente produtivo e com estética e harmonia. 7 Essa ideia tem se expandido mundialmente desde 2005; hoje o movimento abriga mais de 460 comunidades no mundo todo. 8

Diferentes perspectivas da saúde Um dos objetivos deste livro é mostrar diferentes pontos de vista e colocá-los todos juntos, lado a lado, em uma metodologia que amplie a nossa visão, permita maior clareza e melhores tomadas de decisões para a nossa saúde, baseando-se em recursos finitos e compartilhados. Outro anseio é definir o conceito de saúde partindo do pressuposto de que tal estado é mais do que a ausência de doenças e algo que transcende as dimensões do indivíduo, alcançando também a coletividade. Para criar esta definição, partirei de referências extraídas da OMS (Organização Mundial da Saúde), por serem as mais poderosas, utilizando-me de seus protocolos e definições. A OMS define saúde como sendo um bem-estar físico, mental e social. Portanto, o estado saudável é o resultado das constituições física e genética, funções metabólicas, atitudes diárias, do estilo de vida e da percepção acerca de si próprio e das formas mais adequadas de se viver.

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Com base em tais conclusões, busquei caminhos que me proporcionassem, em primeiro lugar, o desenvolvimento de ferramentas e recursos de atuação nos diferentes aspectos do curar, percorrendo os caminhos da medicina moderna, da homeopatia, da antroposofia, da medicina chinesa e da medicina ayurvédica. Em segundo, ative-me aos meios que me auxiliassem a integrar os diferentes aspectos do cuidar à ciência do curar, com sentido e confiabilidade. Resultado: ciência e arte, como o que é encontrado nas experiências da dinâmica energética do psiquismo, na Teoria Integral, nas oficinas de clown e nas diversas leituras e aprofundamentos da literatura científica pós-moderna. Assim nasceu a metodologia proposta neste livro e aplicada na MedIntegral, local onde realizo essa nova prática – a Medicina Integral. Para que o leitor possa entender este novo conceito, convido-o a percorrer comigo um caminho que se estende nos capítulos iniciais deste livro: a história do desenvolvimento do conhecimento humano e práticas de cura.

Com o intuito de dar algum suporte teórico ao leigo em medicina, abordarei, inicialmente de forma elementar, alguns aspectos da Fisiologia e da Biologia necessários à compreensão do conceito aqui apresentado. Posteriormente, relacionarei aspectos advindos de áreas como a Economia, a Sociologia, a Filosofia, a Espiritualidade, entre outras para completar as formulações. A partir de tal introdução, abordarei a consciência e sua complexidade, o bem-estar integral com todas as suas perspectivas, a felicidade autêntica do existir e, por fim, a sustentabilidade. Concebendo a saúde como sensação de bem-estar integral, minha intenção como médica é promovê-la e dar às pessoas as ferramentas e os meios para atingila. Ao longo dos anos, venho oferecendo atendimentos individuais e atuando junto a corporações, governos e outras entidades, contribuindo para a difusão deste novo conceito. Em decorrência de tal processo nasceu este livro, que tem a função de sistematizar e divulgar o conhecimento adquirido nesta trajetória e, ao mesmo tempo, auxiliar o leitor na descoberta do bem-estar integral.

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E quem sabe o que parece ser um caminho de metas e mudanças seja a realização da existência que está em você. E essa realização é a epifania, o ponto de vislumbre pleno dessa mudança.

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Aranhas tecem. Macacos pulam. Aves voam. O homem pensa. Cada ser possui uma especialidade: a nossa é a consciência. O Homo sapiens difere dos outros seres vivos não apenas pela anatomia do seu corpo, mas principalmente pela anatomia do seu cérebro, que lhe permite o processo de consciência de si mesmo.

EPIDEMIA DO SENTIDO Apesar de todo o nosso conhecimento, ainda há muita ignorância sobre quem somos, sobre nós mesmos.

Consciência é um conceito que vem sendo usado em muitas áreas e ciências diferentes passando pela Filosofia, Neurociência, Espiritualidade, Medicina e escolas meditativas tradicionais, cada uma delas com sua própria definição. Apesar dessa multiplicidade de acepções, neste capítulo, consciência significa a qualidade ou o estado de estar atento ao que se passa em nós e percepção dos fenômenos que nos informam a respeito de nossa própria existência. 1 Ao homem é possível contemplar o significado do infinito e também observar a si próprio refletindo sobre o significado do infinito. Nenhum outro ser possui essa capacidade – até onde temos conhecimento.

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Entretanto, nossa consciência nos permite adentrar em apenas uma parte do infinito, aquela que reconhecemos como “realidade”. Isso porque nosso cérebro foi desenvolvido para sobreviver no mundo de quatro dimensões, sendo três de espaço (frente/trás, esquerda/direita, acima/abaixo) e uma de tempo. Não somos capazes, por exemplo, de enxergar o vazio das rochas e nem nossos átomos. Não temos um olhar quântico e nem tampouco macro. Desenvolvemo-nos em um mundo concreto, de solidez e impenetrabilidade e tendemos, por isso, a ter como reais apenas os objetos sólidos. Algumas ondas eletromagnéticas, como as emitidas pelo seu celular, microondas e aparelhos wi-fi, por exemplo, nos parecem irreais. O mundo concreto, no qual nos sentimos confortáveis e no qual evoluímos, não passa de uma faixa estreita da realidade do universo. Assemelha-se à nossa visão das cores, advinda da percepção da radiação de uma pequena faixa do espectro eletromagnético, cuja totalidade é inacessível aos olhos humanos – salvo com ajuda de instrumentos. A esse segmento limitado que julgamos ser o normal (em contraste com a

estranheza do “muito pequeno”, do “muito grande” e do “muito rápido”), chamamos realidade. Como podemos perceber, o que vemos do mundo não é o mundo em sua totalidade, mas um modelo baseado em dados sensoriais que nos auxiliam a lidar e a viver nesse universo. E eis aqui nossa chave para a compreensão do jogo da vida: a natureza do modelo – e a ela atrelado, o “dom” de cada espécie. Assim, como macacos vivem em árvores, peixes no mar e minhocas na terra, nós vivemos em comunidades, navegamos em um mar de pessoas. Esse fato já se mostra suficiente para tornar também plural (além de individual) a concepção de realidade. Contudo, acrescenta-se a essa multiplicidade o fato de que, em relação ao homo sapiens, a diversidade da percepção da realidade aumenta consideravelmente devido à propriedade de reflexão do cérebro humano, geradora de infinitas interpretações, símbolos e diversas outras realidades. Cada ser humano torna-se, com isso, um universo próprio e particular, construído a partir das experiências pessoais, da cultura, do meio ambiente e da estrutura biológica.

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Seria insano pedir ao pássaro para não voar, à toupeira para não cavar ou ao cachorro para não latir (embora muitas vezes o façamos!), pois todos eles estão realizando o que nasceram para realizar. Do mesmo modo, seria absurdo solicitar ao homem que não reflita, pois esse é o seu instinto, a sua natureza. Obedecendo à sua natureza, não por escolha, mas por imposição atávica, o homem tenta dar sentido à sua própria existência através do ato de pensar. Esse processo é que deu origem às diversas formas de ver e de conhecer a realidade e o Universo, as quais vêm sendo organizadas e transmitidas através das gerações ao longo do tempo. Nas primeiras fases de sua história, o pensamento humano foi marcado pelo pensamento mítico. A explicação para os fenômenos da natureza, assim como da própria humanidade, sempre era justificada pela existência de uma força maior e externa ao homem. Tal modo de pensar deu origem aos mitos, aos deuses e às religiões. Tempos mais tarde, quando essa estrutura de pensamento não pôde mais dar sentido à existência do homem, nasceu a ciência.

A ciência, em sua origem, rompeu com a religião. Curioso, o homem criou a ciência para que esta buscasse as respostas que ele não encontrava na religião e com isso colocou um basta na situação de inconsciência e proclamou que, pelo processo do pensar, ela faria consciente o inconsciente, descobrindo seus segredos e revelando o sentido da vida. E isso ela vem fazendo até hoje. Nas palavras de René Descartes (1596 - 1650), conhecido como pai da ciência: “Se você deseja ser verdadeiro buscador da verdade, é necessário que pelo menos uma vez em sua vida, você duvide de tudo.” 2 Ou nas palavras do psiquiatra Carl G. Jung (1875 – 1961): “Até que se conscientize o inconsciente, ele direcionará a sua vida e você o chamará de destino.” Contudo, se pararmos alguns minutos para observar nossa experiência de existência mais elementar e fundamental, facilmente perceberemos que o que nos mantêm vivos é o inconsciente que existe abaixo da superfície da mente consciente, e que lhe dá origem.

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Consciência e inconsciência Assim como a consciência, o conceito de inconsciência também possui diferentes definições e significados. O dicionário Aurélio lista desde “ignorância” até “perda da habilidade de manter a noção ou conhecimento do si mesmo e do ambiente”, 3 ou ainda “uma redução das respostas ao estímulo, segundo a neurologia”.4 Para a psicanálise, esse estado ou qualidade é uma área não controlada e nem percebida da psique que abriga elementos como memória ou desejos reprimidos capazes de afetar pensamentos e comportamentos. 5 No entanto, inconsciência é também o lugar de onde tudo emerge e, por outro lado, é a fonte que mantém todas as coisas em equilíbrio. É a mesma força que faz a flor florescer, a semente germinar, a Terra rodar, a expansão das Galáxias, sua existência e o funcionamento de sua mente. É a isso que me refiro por inconsciência. Portanto, não é a consciência mas a inconsciência que nos mantêm vivos. Não é necessário que ninguém

pense para realizar seus batimentos cardíacos, sua digestão, sua respiração ou todas as reações bioquímicas que mantêm a vida. E isso é uma grande vantagem. Se dependêssemos de um comando consciente, estaríamos todos mortos! Portanto, a qualidade de ser vivo, no homem, está ancorada no inconsciente. Nenhuma consciência consegue abarcar o inconsciente. Este é muito mais abrangente uma vez que é apenas um componente daquele. Consciência é uma ilha flutuando no mar do inconsciente. Logo, assim como o inconsciente é uma função fisiológica do ser humano, a consciência também o é. Queiramos ou não, ela estará presente nas nossas vidas. Só nos resta percebermos isso. Neste caso, vejamos como ela funciona.

A CONSCIÊNCIA De acordo com o Aurélio, consciência é a “qualidade ou o estado de estar atento ao que se

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passa em nós e percepção dos fenômenos que no informam a respeito de nossa própria existência”. 6 Entretanto, como já mencionamos, este termo vem sendo usado por diferentes áreas com significados e abordagens muito distintas entre si. Em 1977, o pensador Ken Wilber apresentou no “Journal of Consciousness Studies” uma abordagem que integrava as doze maiores ciências que estudam a consciência. Para ele: “existem aproximadamente doze escolas expressivas e conflitantes de teoria e pesquisa de consciência. Minha abordagem pessoal sobre consciência está baseada na suposição de que cada uma destas escolas tem algo importante e insubstituível para oferecer, e portanto é necessário um modelo suficientemente sofisticado para incorporar o essencial de cada uma delas. 7,8 Em geral, consciência tem sido definida como: uma qualidade que abrange subjetividade, auto-

consciência, sentiência, sapiência, e a capacidade de perceber a relação entre si e um ambiente.9 Como Max Velmans e Susan Schneider escreveram no livro The Blackwell Companion to Consciousness (Blackwell Publishing/2007):

“Tudo que podemos perceber e estar ciente de, faz parte da nossa consciência, o que faz a experiência de estar consciente o aspecto mais familiar e misterioso da vida.” 10,11 Max VELMANS (nascido em1942) é professor hemerito de psicologia da Golsmiths na Universidade de Londres. O neurobiologista Francisco VARELA, em suas teorias sobre a consciência, refere-se a VELMANS como não reducionista por considerar a 12 complementariedade das visões de primeira pessoa (o aspecto fenomenológico) e terceira pessoa (estatos e funções do cérebro) da consciência. 13,14 Para a maioria dos filósofos, consciência implica na relação entre mente e mundo. Já para os espiritualistas e religiosos significa a relação entre mente e Deus ou a verdade mais profunda que é vista como mais fundamental do que o mundo material. A consciência de Krishna por exemplo, é um termo utilizado para definir a íntima relação entre a mente do devoto e o Deus Krishna. 15 O livro “O espectro da consciência” (Cultrix, 1996) de Ken Wilber, talvez seja a visão mais completa das abordagens espirituais da consciência, no qual o autor compara o modo ocidental e oriental de pensar a mente.

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Criador da “Teoria Integral” e fundador, em 2000, do “Instituto Integral”, com 23 livros traduzidos para mais de 30 idiomas, o americano Ken Wilber é um dos maiores filósofos da atualidade. Ele define consciência como um espectro que de um lado tem a percepção comum e do outro estados mais profundos e níveis mais elevados de percepção16. Já a Medicina avalia a consciência através da observação da capacidade de atenção e resposta do paciente, podendo ser definida como um espectro continuo de estados que variam do alerta e compreensão total (passando pela desorientação, delírio, perda da capacidade de comunicação de forma compreensiva) e finalmente perda de movimentos em reação a estímulos dolorosos.17 Lembramos que apesar de todas estas diversas definições, neste capítulo o termo consciência será usado como a qualidade ou o estado de estar atento ao que se passa em nós e percepção dos fenômenos que nos informam a respeito de nossa própria existência. Propomo-nos a investigar, portanto, como o fenômeno da consciência acontece, em outras palavras, a fisiologia da consciência em termos psíquicos e não bioquímicos.

Neste contexto, a consciência é constituída de dois aspectos, o sensorial e o mental. O sensorial, do qual falamos aqui, é representado pelo ato de sentirmos a existência de forma não discriminativa, ou seja, desprovida da noção dos processos de diferenciação e discernimento que dela decorrem. Ao mental, ao contrário, cabe a função discriminativa, ou seja, o ato de pensar, que possibilita a reflexão sobre as mudanças externas e a busca da adaptação. Todo ser vivo possui a capacidade de adaptar-se ao ambiente. Contudo, no homo sapiens esse mecanismo tornou-se mais complexo, envolvendo a formação de conceitos e significados. Isso só é possível devido ao aspecto mental da consciência dotado da capacidade de observar-se a si mesmo, a qual confere aos humanos a possibilidade de conhecer-se e de saber sobre seu próprio universo mental. Assim, somos capazes de criar um universo subjetivo, interior e particular, sustentado sobre os pilares de nossos próprios valores e significados e construído a partir de nossas experiências. Esse universo particular, “reinado do eu”, espelha, de forma metafórica, as experiências captadas do mundo exterior.

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Para ilustrarmos essa ideia, podemos imaginar a expansão do eu da seguinte forma :

No primeiro momento o Eu não tem consciência nenhuma, no seguinte ele já reconhece si mesmo como um Self/Eu. A partir desse Eu a consciência se expande criando e incluindo mais símbolos e significados até o infinito e acredita que o Eu (que é a mente ela mesma) evolui pelo processo de inclusão e expansão. A capacidade do cérebro de modificar suas estruturas físicas e organização funcional através das experiências anteriores, aprendizados ou traumas e lesões, 20 é chamada de neuroplasticidade, ou seja a maleabilidade do cérebro. 18

A descoberta dessa característica do cérebro é bastante recente e desafia a crença anterior entre os cientistas de que este seria um órgão fisiologicamente estático. Os mesmos estudos exploram ainda os meios pelos quais o cérebro muda durante a vida. 19 As pesquisas nessa área vêm indicando que o cérebro altera sua fisiologia através das experiências vividas. 20 Ou seja, o cérebro está a todo momento se modificando para abarcar, interpretar e significar as experiências vividas.

Figura O – Expansão da Experiência do Eu

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Portanto, devido à sua plasticidade, a mente é capaz de desenvolver-se ampliando e incorporando o repertório de significados e de valores ao infinito. Ora, se denominamos eu o universo subjetivo da mente e se esta pode expandir tal universo a partir de seu desenvolvimento, então podemos também expandir o nosso eu. É o que estuda a psicologia e todas as escolas religiosas que prescrevem a conscientização ou iluminação, que segundo o Budismo e o Hinduismo, é um estado no qual o indivíduo transcende o desejo e o sofrimento e atinge o Nirvana, que é um estado de sabedoria e compaixão desinteressada, ou seja, a emancipação da ignorância. Nesse contexto, tudo é uma questão de saber onde seremos capazes de colocar o nosso centro de gravidade psíquico, ou seja, o quanto poderemos ampliar nossos significados. Vale lembrar que o eu que se desenvolve é um aspecto fisiológico da mente (uma imagem do si mesmo) devido à sua fisiologia, que segundo o “Dicionário Médico Online”, são as funções e propriedades dos organismos vivos, incluindo os processos físicos e químicos que sustentam a vida desde sua origem e

através da sua progressão.21 Portanto, o desenvolvimento da mente é um processo fisiológico como outro qualquer, tais como a respiração, a digestão e o metabolismo. Seguindo a ordem fisiológica, a mente dobra-se sobre si mesma, criando um sentido, “senso de Eu”. Isto é a inconsciência experimentando a si mesma como consciência. Assim, através da capacidade mental de observar-se a si mesma, é criada a dualidade “objetivo/subjetivo”, sendo o subjetivo o que observa (ou seja, o indivíduo que observa a si mesmo), e o objetivo, aquilo que é observado. Neste caso, o próprio indivíduo e sua mente. Isso é denominado “processo reflexivo”. A amplitude da nossa realidade depende, portanto, da diversidade de significados e valores que podemos acessar. Neurônio espelho A dualidade é a raiz da imagem que comumente fazemos de nós mesmos como uma entidade separada.

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Nesse sentido, o conceito de neurônios espelho, segundo o qual o neurônio espelha o comportamento dos outros como se o observador estivesse ele mesmo agindo, ,22,23,24, pode ser a base neurológica para a capacidade humana de poder ter consciência de si mesmo25. É o que especula o neurocientista, diretor do Centro para o Cérebro e Cognição 26 e professor do departamento de psicologia 27 do Programa de Graduação em neurociência da Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA), 28 Vilayanur Subramanian Ramachandran, conhecido mundialmente pelo seu trabalho no campo da neurologia comportamental. Em um artigo escrito em 2009 para a Edge Foundation, organização de intelectuais em tecnologia e ciência, Ramachandran explicou sua teoria da seguinte maneira: “ Eu entendo que os neurônios espelhos podem não só simular o comportamento de outras pessoas, mas ser voltado para dentro, para criar uma representação de segunda ordem ou meta representação do nosso próprio processo cerebral primário. Esta deve ser a base neurológica da introspecção e da reciprocidade da autoconsciência e da consciência de outros. Obviamente, isso é uma questão paradoxal como quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? No entanto, o ponto central é que ambos co-evoluem

mutuamente enriquecendo um ao outro para criar a representação madura do Eu, o que caracteriza os humanos modernos.” 2 Que tal organizarmos essas ideias? chegamos aos seguintes conceitos:

Pois

bem,

- A consciência é um processo de individualização;

uma vez que cria uma percepção de um Eu distinto e separado. - Nas palavras do português Fernando Pessoa, um dos

maiores poetas da história: “quem olha através de meus olhos? Quando eu penso que vejo, quem continua vendo enquanto estou pensando?” 30 Fernando Pessoa

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- O autoconhecimento é o conhecimento de si

mesmo, que é diferente conhecimento em si;

do

sujeito

Fernando Pessoa expressou isso em seu poema: Entre o sono e sonho, Entre mim e o que em mim É o quem eu me suponho Corre um rio sem fim. Passou por outras margens, Diversas mais além, Naquelas várias viagens Que todo o rio tem. Chegou onde hoje habito A casa que hoje sou. Passa, se eu me medito; Se desperto, passou. E quem me sinto e morre No que me liga a mim Dorme onde o rio corre Esse rio sem fim. 31 Fernando Pessoa ( hortônimo)

do

- O sensorial é o saber em primeira pessoa, aquele

que experimenta, ou seja, o aspecto fenomenológico do saber. Seu centro é o senso de estar vivo, o existir. Ele é primário e alimenta a mente; Clarice Lispector, isso assim:

a poetisa brasileira, expressou

“a única verdade é que vivo. Sinceramente, eu vivo. Quem sou? Bem, isso já é demais...." Clarice Lispector - A mente é o saber em terceira pessoa (ele/ela),

ou seja, sobre o que é falado, está fora do eu (observador) e pode ser observado. Seu centro é o conhecimento, o pensar. A mente possui um mecanismo reflexivo e por ele cria a dualidade objetivo/subjetivo;

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Toma outra direção, o Universo e é uma leve mancha eu estar ciente da minha ideia das coisas.”32 Nas palavras de Clarice Lispector: “A noite de hoje está me parecendo um sonho. - Mas não é. É que a realidade é inacreditável."33 - A subjetividade é o local onde se encontram

todas as nossas experiências que, por sua vez, constroem as nossas interpretações para, em seguida, construírem os nossos valores. Jung escreveu:

percepção primária e alimenta o centro do saber. Já o centro do saber é o conhecimento, o pensar, a mente que tem o mecanismo reflexivo e por ele cria a dualidade do objetivo versus subjetivo. Assim, quando colocamos a atenção no centro sensorial – sentimos, apenas - a vida faz sentido “experimentado, sentido”: o sentido de ser vivida, de estar vivo, de ser. O centro sensorial não faz sentido lógico de coisa alguma, ele apenas sente e experimenta. Ao transferir nossa atenção para o centro do pensar – a mente – a vida faz sentido lógico, pensado, conhecido. No primeiro, somos o verbo, ou seja, a ação. Já no segundo, somos o sujeito, isto é, o agente da ação. Vejamos como ficou a nossa história, agora:

Carl Gustav Jung

A mente e sua produção (o pensamento) possibilitam ao ser humano abstrair, refletir. Essa particularidade do cérebro humano se revela, por exemplo, no fato de que só o homem se detém em problemas existenciais, justamente por conta da reflexão.

O centro sensorial é o senso de estar vivo (a percepção de estar vivo e simplesmente ser, existir). Ele é nossa

Na Alegoria da Caverna, no livro “República”, de Platão, o filósofo descreve a reflexão de suas questões

“Toda a criação é essencialmente subjetiva, e o sonho é o teatro onde o sonhador é todos de uma só vez: a cena, o ator, o diretor, o autor, a audiência e a crítica.”

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existenciais através da narração de Sócrates sobre um grupo de pessoas que viviam em uma caverna olhando para uma parede vazia durante toda a vida. Elas assistem sombras de seus próprios movimentos e ações deles mesmos na frente da fogueira, sendo projetadas na parede. De acordo com Sócrates de Platão, as sombras são a realidade dos prisioneiros da caverna. Os filósofos, segundo ele, são prisioneiros libertados da caverna e podem perceber a verdadeira forma da realidade e por isso compreender que as sombras na parede não são de forma alguma a realidade. A reflexão de Platão é fruto da especialidade humana: o refletir sobre as coisas. 34,35 Ao longo do tempo, o ser humano ficou fixado em conscientizar a inconsciência e quem começou a vender esta ideia foi a ciência. Quando o Iluminismo (séculos 17 e 18) proclamou “penso, logo existo”, criou a expectativa de que poderíamos desmascarar o inconsciente, ter o controle das coisas e, por consequência, da própria vida. Triste ilusão! Como bem vimos acima, o consciente, assim como o pensar

são funções do inconsciente, não podendo o primeiro se sobrepor ao segundo. O que quero enfatizar aqui é que a perspectiva não dual (inconsciente) é a origem de tudo, inclusive da consciência que gera a ilusão de um Eu separado, como vimos anteriormente. Nesse contexto, não há diferença entre o inconsciente pessoal e impessoal, como costumam diferenciar algumas escolas psicológicas e espirituais. A consciência pessoal nasce da função fisiológica da mente que cria a dualidade objeto-subjeto, esse é o ponto central aqui. Você existe como um Eu separado devido às suas percepções que por sua vez são resultado de uma função fisiológica de sua mente e cérebro. Eis a questão. No sonho não é possível afirmar que se tem um inconsciente pessoal a menos que você esteja identificado com a pessoa do sonho (e não com a do sonhador) que acredita que ela é real e existe. Portanto, parte do Inconsciente pertence a ela por direito de existência real. Afinal como um homem pode viver sem ser sua própria inconsciência? Não por acaso, Gollum, personagem da trilogia do “Senhor dos

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Anéis” (uma fantasia épica escrita pelo Inglês e professor da Oxford University J. R. Tolkien, entre 1937 e 1944) trata-o por “Meu precioso”. Originalmente, Gollum era Sméagol, que foi corrompido pelo poder do Anel. O Anel referido como “meu precioso” por Gollum estende a vida dele além dos limites naturais. Por séculos, sob a influência do Anel, o personagem foi atormentado por sua obsessão pelo Anel e seu desejo de ficar livre Dele. Como Gollum, nós também vivemos entre o preto e o branco, entre a escuridão e a luz, ou simplesmente na dualidade (quando estamos identificados com a imagem criada pela habilidade da mente de observadora de si mesma). Stuart Davis reflete isso em sua música “Nothing in Between”, do álbum “Something Simple, de ” 2008: “Não existe nada entre nós quando rimos, isso é algo que sua mente nunca vai compreender(...) Não há nada entre nossa pele e a luz, nada entre o vento e a pipa, nada entre seus lábios e a Graça, nada entre a língua e o paladar.”

Incrível a perfeição da mente, que pode ir sempre além e criar uma “metalógica” na qual se pode ver esses jogos, regras e padrões acontecendo. Em outras palavras, podemos realizar a dualidade que foi criada em primeiro lugar e consequentemente estamos livres da dualidade do observador e observado. Nesse momento, mergulhamos no inconsciente conscientemente e, finalmente, podemos “compreender” o que isso tudo é e diz respeito. Novamente, Stuart Davis pode dizer isso em sua música “Already Free” , do mesmo álbum “Something simple”: “Algo simples já acordou livre, em mim. Milhares de estórias removidas de provas vivas, não tenho nada a provar Mas preciso um empurrão para me fazer ver que não importa onde eu estiver, eu já sou livre.” De volta ao mundo dual, eis que a nossa limitação e o nosso instinto nos aprisionam em uma realidade sonhada, como o filme de ficção/ação escrito dirigido pelos irmãos Wachowski , estrelando Keanu Reeves como Neo. Ele descreve um futuro no qual a realidade

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percebida pela maioria dos humanos é na verdade uma realidade simulada “A Matriz”, criada por máquinas inteligentes para escravizar a população humana, enquanto o calor e a atividade elétrica de seus corpos são usadas como fonte de energia para a manutenção das máquinas. O programador Neo aprende esta verdade e é envolvido em uma rebelião contra as máquinas que envolve outras pessoas que foram libertadas do “mundo dos sonhos”. O que fazemos ao acordar de um sonho? A nossa primeira atitude é conectar-nos ao centro do sentir: abrimos os olhos para sentir onde estamos e depois respiramos aliviados. Só então pensamos. “Existo, logo penso” é uma apologia ao “não-self”, um convite da metodologia deste livro para uma mudança de perspectiva, para uma existência em plenitude e simplicidade baseada na complexidade. Há uma teoria emergente que propõe uma possível complementaridade entre simplicidade e complexidade conhecida como “simplexidade”, cujo conceito é o processo pelo qual a natureza se direciona para finais simples por significados e

caminhos complexos. Jeffrey Kluger trata do fenômeno em seu livro “Simplexity” (Hyperion/2008).

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Kluger é um escritor sênior da revista “Time” e autor de alguns livros cujo tópico é ciência e ficção, incluindo “Lost Moon: The Perilous Voyage of Apollo 13” (1994), no qual o filme de Rons Howard (1995), “Apollo 13”, foi baseado. Para atingir a perspectiva do “não eu” e da plenitude, só precisamos estar conosco mesmos, nesse lugar onde eu sinto que estou vivo e não onde eu penso que estou vivo (e logo existo). Eu existo mesmo que eu não pense. Existir é uma realização do inconsciente. Tal qual canta Bilac em seu soneto A um poeta, “a Beleza, gêmea da Verdade/Arte Pura, inimiga o artifício,/é a força e a graça na simplicidade”. Ou seja, o belo, o perfeito, o extremo sentido, a precisão, frutos de extremo esforço, quando realizados plenamente tornam-se coisas simples após o percurso da descoberta.

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Vimos, anteriormente, que uma das características do homo sapiens é tentar, a partir da interpretação e da reflexão, dar sentido aos fenômenos que observa e vivencia. Mas como é que tudo isso acontece? Bem, o processo reflexivo se desenvolve sobre uma estrutura, a estrutura do pensar, à qual chamamos paradigma.

O PENSAR

“A evolução tem uma direção: a complexidade.” Ken Wilber

“O Cosmos inteiro existe como uma rede de direitos e responsabilidades correlacionadas a graus de profundidade e consciência. Nada é meramente um instrumento e tudo é está em uma perfeita base de igualdade de valores como uma perfeita manifestação da Pureza primordial, do radiante Vazio.” KW - Sex, Ecology, Spirituality 766

O dicionário Aurélio define paradigma como um exemplo típico, um padrão ou modelo. Encontramos outra definição no Dicionário “Merriam-Webster”: uma filosofia ou uma estrutura teórica de uma escola científica ou disciplina na qual as teorias, leis, generalizações e experimentos corroboram e sustentam a estrutura teórica formulada; uma filosofia ou estrutura teórica de qualquer natureza. Para que se estabeleça uma convenção, no contexto deste livro compreenderemos “paradigma” como sendo uma estrutura abstrata (teórica), composta de valores, crenças e experiências do dia a dia. Tal conceito pode ser definido, de forma geral, como modelo, uma referência, ou seja, um conjunto de conhecimentos, opiniões ou crenças que constitui a base para a compreensão de determinado estudo, época ou sociedade.

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Ao longo do desenvolvimento de sua espécie, o homem criou diferentes formas de se relacionar com o mundo e dar sentido aos fenômenos observados que permeavam tanto o pensamento coletivo quanto o individual. Contudo, embora a evolução avance com o tempo, ela não é linear. Não se trata de uma sucessão de pensamentos e práticas que vão sendo abandonados e substituídos por outros, mas de um conjunto complexo em que os diferentes aspectos convivem entre si. O cérebro humano é composto por pelos níveis primitivo (reptiliano), o límbico e o cortéx, todos existindo e funcionando ao mesmo tempo para garantirem a complexidade de funções do organismo humano. E aqui chamamos a atenção para um aspecto fundamental do funcionamento do paradigma: sua existência confere ao desenvolvimento do ser humano – ou do estudo, teoria, época, enfim – uma estrutura paradoxal, pois ao mesmo tempo em que proporciona a criação das coisas, também as limita. Vejamos um exemplo simplificado dessa relação paradoxal: imaginemos a construção de duas casas, com duas matérias-primas diferentes. Para a primeira, teremos sólidos blocos e, para a segunda, barro. Sem o

material (que equivale ao paradigma) não teríamos condições de construir as casas. Por outro lado, cada um desses materiais nos dará possibilidades e limitações específicas de criação (que equivalem, no universo do raciocínio, aos pensamentos e ideias, à política, à economia, ao comportamento, às crenças e à cultura). Uma vez que este livro é sobre práticas médicas e como médica integral, o foco do meu olhar estará sempre voltado para a nossa espécie. Dessa forma, recai sobre o ser humano e sobre aquilo que o constitui enquanto tal. Trabalharemos, pois, com uma noção específica, na qual o conceito de paradigma é definido como sendo a estrutura da qual emergem todos os aspectos do humano, sejam eles individuais ou coletivos. No caso dos aspectos individuais, encontramos as formas de pensar, estudar e refletir, a espiritualidade, as crenças e valores individuais e o comportamento. Já nos aspectos coletivos, encontram-se os modelos de relacionamento, as crenças e os valores compartilhados, as estruturas sociais e ambientais, assim como a cultura.

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As reflexões acima nos levam a compreender que a constituição da relação homem-mundo está, nos seus mais diversos aspectos, fortemente marcada pela presença de uma estrutura que sustenta uma determinada forma de pensar e ver o mundo que vem se modificando desde de sempre. Por exemplo, havia um tempo em que os Homens acreditavam que Deus decidia o destino coletivo (do grupo) baseado no comportamento coletivo. Consequentemente, se o desejo de Deus fosse confrontado, seríamos castigado com tempestades, catásfrofes climáticas ou uma punição pessoal, como aconteceu com Prometeu, o ladrão do que roubou o fogo divino para dar aos Humanos, ato que permitiu o progresso e civilização.1 Pelo roubo, Prometeu foi sentenciado por Zeus, o Rei dos Deuses, à tormenta eterna. O mortal foi acorrentado a uma pedra e todos os dias uma águia viria comer o seu fígado, que cresceria novamente à noite para, no dia seguinte, alimentar novamente aquela mesma ave. 2 Nos tempos atuais, em geral não pensamos mais dessa forma, ou pelo menos isso não dita mais

nossas decisões coletivas. Temos chamamos mudança de paradigma.

aqui

o

que

Como podemos perceber, paradigmas sustentam e ao mesmo tempo determinam a forma de ver e agir no mundo. Com efeito, o pensamento médico, assim como as demais áreas e construções humanas, também é sustentado por tais modelos. Para compreender a evolução do pensamento médico é necessário, pois, entender a evolução dos paradigmas que o sustentaram ao longo do tempo, contextualizando-os de forma particularizada (e, sobretudo, observando a ordem, a disposição e a relação das demais construções que lhe são paralelas, como os valores sociais e os desdobramentos do pensamento). De uma maneira geral, podemos considerar que a história da espécie humana contou com a presença de grandes transformações paradigmáticas no que se refere ao desenvolvimento do pensamento. Tais modelos ficaram conhecidos como Pré-Modernismo, Modernismo e Pós-Modernismo, cada qual com seu modo particular de pensar, agir e se organizar. Tendo em vista o fato de que muitos filósofos consideram que a filosofia Grega influenciou o pensamento Ocidental desde sua formação,3 focarei

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no desenvolvimento da cultura neste hemisfério. Entretanto, ressalvo que muitos destes antigos filósofos do Peloponeso também se deixaram influenciar por de antigas tradições, literaturas e mitologias orientais.4

PRÉ-MODERNISMO Origem da civilização ocidental, o Pré-Modernismo se inicia com os grandes épicos (aproximadamente 1200 a.C. a 700 a.C.) calçados em um pensamento mítico e uma cosmologia plausível de personificação dos elementos. Buscava a origem do Universo nas grandes narrações de deuses e heróis, como fizeram Homero e Hesíodo. “Filho de Laerte, de origem divina, Odisseu, engenhoso, contra vontade, por certo, não mais ficareis aqui em casa; mas é preciso que empreendas, primeiro, outra viagem e que entres à casa lúgubre de Hades e da pavorosa Perséfone...” (HOMERO, Odisséia).

“Do Caos, nasceram a negra Escuridão e a Noite; e da Noite nasceram o Éter e o Dia, aos quais ela concebeu e pariu depois de unir-se em amor com a Escuridão.” (HESÍODO, Teogonia, 123-126).

O segundo momento, o período pré-socrático de Tales de Mileto (624-548 a.C.) - um filósofo Grego de Miletus - foi marcado pelo surgimento da filosofia: do mito passamos para a razão e os grandes pensadores. Com apurado espírito de observação, dedicam-se a decifrar os segredos do cosmo em termos de forças impessoais, estudando a physis, ou a natureza. Surge a Cosmologia: o homem ocidental busca, através dessa ciência, determinar pelo argumento racional os princípios da ordenação do mundo que o circunda. Na literatura não encontramos fragmentos de Tales de Mileto, somente relatos dos seus sucessores e, segundo Diogenes LAÉRCIO (um biógrafo dos filósofos Gregos) a máxima que constava no pórtico de Delfos: “conhece-te a ti mesmo” é de sua autoria. Já HERÁCLITO (535 – c. 475 BCE), um filósofo Grego Pré-Socrático, famoso por sua insistência na constante

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(sempre-presente) mudança do Universo colocada em sua famosa frase: “Nenhum homem pisa no mesmo rio duas vezes” como colocado por Crátilo de Platão. Ele era chamado de o obscuro e amava o paradoxo: “A maior parte das gentes não compreende as coisas com que se deparam e tampouco sabem quando aprenderam, mas a si mesmas parece-lhes o contrário.” (Fragmento B17). Os quatro elementos clássicos Empédocles (490–430 BC), também um filósofo Grego pré-Socrático ficou conhecido por ser primeiro a tecer a Teoria cosmogênica baseada em quatro elementos que são os componentes de tudo que existe na Terra. A característica do período pré-Socráctico é que toda a sua filosofia era direcionada a investigação da base última e da natureza essencial do mundo externo, 5 que termina com Sócrates (469-399 B.C.) trazendo o interesse novamente de volta para os dilemas humanos. Sócrates é um Ateniense filósofo Grego classico , que de acordo com Marcus Tullius Cicero (106 BC – 43 BC) um filósofo Romano - foi o “primeiro a trazer a filosofia dos céus para o chão,

colocada nas cidades, introduzidas nas famílias e obrigou a filosofia a examinar a vida e a moral, o bem e o mal."6 Neste contexto ele foi o fundador da filosofia política.7,8 O pensamento ocidental da Antiguidade tem seu apogeu com Platão (427-346 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.). Ambos criticam o empirismo puro, anunciando a aurora do modernismo. “Talvez a sua contribuição mais importante para o pensamento Ocidental tenha sido seu método de questionário dialético, conhecido como método Socrático, que ele aplicou extensivamente para examinar conceitos morais como Deus e Justiça, descrito primeiramente por Platão em Diálogos de Sócrates. Para solucionar um problema, este deve ser dividido em uma série de questões; as respostas irão gradualmente construir a resposta que se procura. A influência dessa abordagem é refletida fortemente no método científico.” 9 Passando por escolas diversas, tais como o helenismo e a patrística, o Pré-Modernismo se estende até o período renascentista, ou Renascimento, que remonta aos séculos XIII e XIV.

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Embora essas escolas, sobretudo as pré-socráticas, apresentem muitas diferenças entre si, é possível identificar um alicerce comum a todas elas: o pensamento (ou paradigma) mítico, o qual pode ser explicado, de maneira geral, como a forma de pensar as questões fundamentais do homem a partir de dados externos. Com isso, o indivíduo pré-moderno é sempre levado para fora de si, pois entende que não tem controle algum sobre os fenômenos do mundo. Vejamos como isso se manifestou na vida do homem. Embora a Grécia tenha sido altamente evoluída politicamente nesse período, cunhando a democracia verdadeira, nascida da interação entre as pessoas comuns para evitar a tirania da época, em linhas gerais, a percepção do homem sobre a natureza e si mesmo era unificada, finita e pré-determinada: tudo o que acontecia tinha uma razão de ser, embora essa razão, muitas vezes, fosse conhecida somente por Deus. Isso porque o período foi escasso de recursos e instrumentos para a observação dos fenômenos naturais. Tratava-se, coletivamente, de uma sociedade marcada pelo poder monárquico sustentado por uma sociedade agrícola e uma cultura tribal hierárquica. Assim, a única maneira de construir o conhecimento

era a partir da experiência pessoal, motivo pelo qual o homem pré-moderno adquiria conhecimento de forma empírica e baseado em injunções. Esse processo não permitia a diferenciação do homem e da natureza e, consequentemente, promovia uma consciência não dissociada: o homem guiado pelo paradigma PréModerno crê-se como resultado de forças que não consegue controlar devendo, por conseguinte, obedecer a essas forças. Contudo, apesar da identificação entre o homem e a natureza, havia uma clara separação entre o mundo dos homens e o mundo dos céus, inclusive com teorias que propunham diferentes leis para o funcionamento dos dois. O mundo supralunar, referência que Aristóteles usou para designar o universo dos céus, era visto como inteligível e perfeito, constituído pela quinta-essência, o éter. Já o mundo sublunar, dos homens, era formado pelos quatro elementos: terra, fogo, água e ar. Na Cosmologia, a Terra ocuparia o centro do Cosmos, por ser esta a sua posição natural. Aristóteles (384 BC – 322 BC) um filósofo grego e matemático que foi discípulo de Platão e professor de

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Alexandre, o Grande, rei da Macedônia, também passou a sistematizar a ciência, introduzindo o método indutivo-dedutivo, ocupando-se das relações causais. Este processo é constituído do raciocínio, partindo de uma ou mais premissas gerais para chegar a uma conclusão lógica. Um exemplo do argumento indutivo-dedutivo:

meticuloso exame físico, emocional e mental, intuitivamente tratados com elementos naturais, já que não possuíam nem métodos mais objetivos de observação (tais como exames laboratoriais), nem medicamentos industrializados.

Dono de uma lógica implacável, Aristóteles representou, na verdade, o começo da ciência como passamos a conhecê-la. Afinal, o seu paradigma foi mantido por mais de um milênio.

Hipócrates (460 BC – c. 370 BC), considerado “o pai da Medicina Ocidental”, foi um médico grego da Era de Péricles (Grécia Clássica) e uma das figuras mais proeminentes da história da Medicina. Dentre suas célebre frases destaca-se esta: “faça do alimento o seu remédio”. Ou seja, a qualidade da alimentação é essencial para a qualidade da nossa saúde. Para os estudiosos contemporâneos, uma outra citação - “a natureza a si própria ajuda” -, atribuída a Heráclito (fragmento 67a), funcionaria como complemento a esse ensinamento. De acordo com essa percepção, o corpo tem potencial para livrar-se da maioria dos males que o acomete.

Fundamentada nessa perspectiva, a medicina prémoderna via o homem como resultado da interação entre os elementos formadores, cujo desequilíbrio resulta na doença. Vem daí o princípio de trabalho dessas medicinas, hoje denominadas tradicionais: se elas equilibrarem os elementos, o homem volta a ter saúde. Enfocavam, pois, desequilíbrios e não doenças, os quais eram diagnosticados através de um

Pautadas nesse paradigma, os grandes exemplos das medicinas que se mantiveram até hoje – nascidas há cinco mil anos, diga-se de passagem – são as chamadas medicinas tradicionais, as mais conhecidas são a chinesa, ayurvédica e tibetana. Outras menos conhecidas são práticas xamânica de cura dos povos Nativos Americanos, Arborígenas, Africanos, e Brasileiros entre outros.

1. 2. 3.

Todos os homens são mortais. Aristóteles é um homem. Portanto, Aristotle é mortal.

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MODERNISMO Repleto de revoluções, o Modernismo é marcado por profundas mudanças no modo de vida humano, cujas origens repousam em grandes fatores como as revolucionárias descobertas científicas iniciadas com o heliocentrismo, a sistematização de uma teoria do método científico introduzida por Francis Bacon (1561-1626), a separação de ciência e religião iniciada com o pensamento de René Descartes (1596-1650), a introdução da visão mecanicista da natureza, desenvolvida por Isaac Newton (1642-1727), entre outros. Juntos, esses aspectos deram origem a um conhecimento mais estruturado e prático, baseado em evidências e no racionalismo. Emergindo de um período histórico fortemente dominado pela teologia, o homem moderno perde a inocência, não pode mais confiar naquilo que vê, por isso precisa ampliar sua visão, que culminará na Revolução Científica. Revolução científica O grande protagonista da Revolução Científica do século XVII foi o heliocentrismo de Nicolau Copérnico (1493-1543), matemático e astrônomo – cuja teoria,

assimilada pelo matemático, astrônomo e filósofo alemão Johannes Kepler (1571-1620), consistia em colocava o sol no centro do universo e oferecia uma novo modo de pensar e ver o mundo. É preciso salientar que algumas tradições, incluindo os egípcios e os mayas, já colocavam o sol no centro do Universo, de forma empírica. Desta forma, o Modernismo também pode ser visto como eco de tais tradições. De certa forma, o conhecimento científico ocidental, ao confirmar os pressupostos das tradições esotéricas através de seus métodos científicos de comprovações, reforça o fato de estarmos tentando responder sempre as mesmas questões: “quem somos?”, “o que isso tudo significa?” etc. Outra forma de olhar para essa diferença metodológica com as mesmas conclusões é que o paradigma Moderno é movido pela lógica e fatos, enquanto o Pré-moderno e as tradições baseavam-se em experiências fenomenológicas. Pautado pelo paradigma moderno, o heliocentrismo oferecia a possibilidade ímpar de demonstrar que o reino dos céus e o reino dos homens não eram tão diferentes quanto se postulava no Pré-Modernismo. No entanto, Copérnico e seus contemporâneos não puderam demonstrar suas ideias, pois faziam suas observações

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baseadas em percepções sensoriais, as quais possibilitavam detectar a mudança da posição dos astros no céu, mas não as mudanças da Terra. Essa incapacidade de se colocarem no movimento que observavam manteve a separação entre o reino dos céus e do homem. Décadas mais tarde, Galileu Galilei (1564-1642), com a invenção do telescópio, conduzindo à confirmação da teoria heliocêntrica, fez ruir a visão aristotélica da separação dos mundos supralunar perfeito e sublunar imperfeito, que bem ou mal subsistira até então. Composto pelo quinto elemento, o mundo supralunar dimensionava ao reino Celestial, enquanto o sublunar o reino Terrestre, composto de quatro elementos: terra, fogo, água e ar. Galilei demonstrou que o supralunar não era nem um pouco perene e perfeito e, sim, sujeito a mudanças também. A comprovação do heliocentrismo impunha a unificação ontológica (a natureza do Ser) entre esses mundos (supra e sublunar) e, inevitavelmente, trazia em seu encalço a unificação epistemológica (a natureza do conhecimento). Cartesianismo

Uma vez unificado o mundo, o método para se conhecê-lo deveria, pois, ser único, modelo do qual toda a experiência sensorial subjetiva (injunções) estava eliminada. Este fato foi o amotinador da Revolução Científica do século XVII, que será o ponto de partida de René Descartes (1596 – 11650) – filósofo francês que coloca em dúvida a acuidade dos sentidos e propõe fiar-nos na nossa capacidade de desenvolver ideias claras e distintas, que nos são garantidas por Deus. Segurando um pedaço de cera, observa: “Enquanto falo e me aproximo do fogo, o que permanecia de gosto é exalado, o cheiro evapora, a cor se altera, a forma é destruída, o tamanho aumenta, ele torna-se líquido... Certamente, nada permanece, exceto uma certa coisa extensa, que é flexível e móvel.” (DESCARTES, em Meditações). Descartes, considerado o pai do pensamento moderno, instituiu a dúvida: a afirmação da existência de algo estava agora atrelada à prova dessa realidade. Ele critica a tradição e propõe uma reconstrução do saber pela unificação do método que capacitaria a investigação científica a produzir evidências a partir da dúvida metódica, a ser demolida sistematicamente

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pelas regras do pensamento correto. Basicamente, o seu método ordena a progressão do conhecimento propondo estruturar o pensamento por meio de quatro elementos: clareza e distinção no acolhimento da verdade, de modo que toda dúvida seja afastada; análise detalhada dos diversos aspectos do problema; ordenação dos pensamentos num processo dedutivo, começando pelos mais simples para desembocar nos mais complexos; síntese, recuperando a visão do todo pela consideração e enumeração de todos os elementos envolvidos. Esse método, conhecido como cartesianismo, é o arcabouço do determinismo, teoria filosófica que postula que todo acontecimento é explicado pelas relações de causalidade, ou seja, pela relação entre um evento (causa) e sua consequência (efeito), nas palavras de DESCARTES: “Tentei descobrir, em primeiro lugar, os princípios gerais ou causas primeiras de tudo que há ou de tudo que pode existir no mundo, sem considerar nada que possa alcançar esta meta a não ser o próprio Deus que criou o mundo, ou deduzindo-os de qualquer fonte

exceto certos germes de verdade naturalmente nas nossas almas.”

que

existem

(DESCARTES, em Discurso sobre o Método). Mecanicismo Essa perspectiva foi aprofundada ademais pela visão mecanicista desenvolvida por Newton (1642- 1727), físico e matemático inglês, que enxerga no cosmo um mecanismo ordenado e previsível, em que a função do todo é determinada pela soma das partes. E, se observadas e analisadas matematicamente, estabelecem leis que garantem a possibilidade de antever a ação dos fenômenos naturais: “Não devemos admitir mais causas das coisas naturais do que aquela a um tempo verdadeiras e suficientes para explicar as suas aparências.” (NEWTON, em Principia). Logo, o mecanismo postula que todos os fenômenos se explicam pela casualidade mecânica, isto é, a relação linear de causa e efeito. Como se vê, a perspectiva cartesiana é dualista: separa corpo e mente e explica a realidade de forma racional,

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determinística, mecanicista e fragmentada. Por essa nova visão, o universo é infinito, frio, linear e composto por partículas. O homem moderno descobre, portanto, que pode explicar fenômenos que antes aceitava como sendo mera vontade de Deus, ampliando, assim, sua capacidade de percepção e observação. Acredita, ainda, que pode desvendar as leis que regem o Universo, cujo entendimento lhe traria não só o domínio e posse da natureza, mas, sobretudo, o comando de seu destino. A palavra de ordem passa a ser Razão. Iluminismo Um dos movimentos filosóficos mais importantes dessa época, o Iluminismo, cujas principais influências advinham dos conceitos concebidos na Revolução Científica, defendia a razão como base primária da autoridade. É interessante notar, por exemplo, que uma das grandes figuras do Iluminismo, Immanuel KANT (1724 – 1804) - filósofo alemão e figura central na filosofia moderna sente-se pouco à vontade em aceitar o

empirismo puro como base do conhecimento. Segundo ele, para que o conhecimento se produza, seria necessária também a experiência cognitiva de um sujeito pensante. Esse novo homem - que amplia seus sentidos e ultrapassa a barreira do mítico tornando-se ele mesmo criador das coisas – promove, na esfera social, a Revolução Industrial, que pelo mercantilismo fortalece o comércio e expande-o culminando na descoberta do novo mundo. Originando assim uma sociedade industrial que sustentava um regime político republicano e um sistema econômico capitalista. Na medicina, essa nova perspectiva substitui a percepção intuitiva pela análise concreta: o ser humano (visto agora como um aglomerado de células e órgãos) é dissecado, de forma que se adquire um conhecimento profundo da anatomia. Os diagnósticos passam a ser dados por meio de exames laboratoriais e imagens que enfocam as doenças, cujos tratamentos contam agora com a indústria farmacêutica. A medicina ocidental convencional (que estudamos até hoje) é o maior exemplo desse paradigma, interpreta

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que todos os fenômenos que se manifestam no humano são mecanicamente determinados e, em última análise, essencialmente de natureza fisicoquímica.

PÓS-MODERNISMO No início do século XX, a descoberta da relatividade de tempo e espaço, postulada por Einstein em sua “Teoria da Relatividade” e, posteriormente, a da não localidade da física quântica, deflagraram discussões sobre as crenças pautadas na suposta verdade absoluta, alcançada pela razão do Modernismo. Na verdade, a formulação da Teoria da Relatividade advém da própria compreensão de que referenciais diversos podem oferecer visões perfeitamente plausíveis, mesmo que diferentes, acerca de um mesmo fenômeno. Formula-se, assim, o princípio segundo o qual o resultado da observação está estritamente ligado ao ponto pelo qual o observador se observa. Essa nova noção relativiza (leva em consideração o subjetivo, por exemplo) a verdade

absoluta do Modernismo e legitima perspectivas de ver e interpretar o mundo.

diferentes

Pensadores pós-modernos maximizam essa noção, propondo que não existe verdade, só interpretações, pensamento que ancora seu pluralismo teórico. Partindo de tal concepção, o universo é relativo: não existe por si só, depende de um observador, sendo, portanto, efêmero, descontínuo e sistêmico. Baseado, portanto, em sistemas e não mais em partes como o Modernismo, isso significa que a relação Universoobservador transforma ambos simultânea e igualmente. No que se refere ao social, o Pós-Modernismo é marcado pelo capitalismo contemporâneo pósindustrial, que privilegia a produção de serviços e informações sobre a produção material. Assim, a comunicação e a indústria cultural, assentadas no desenvolvimento tecnológico e na informática, exercem um papel fundamental na disseminação das novas ideias e promovem a globalização. Embora o Pós-Modernismo traga novos modos de pensar e ver o mundo, ele mantém em sua base a fragmentação do paradigma Moderno. Por outro lado,

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dialoga com o Pré-Modernismo, pois semelhante à interação entre os cinco elementos (água, ar, fogo, terra e éter), o Pós-Modernismo também leva em consideração a relação e a interação entre as coisas, porém de maneira mais concreta e organizada. Começam a ter espaço aqui as medicinas complementares, como a ortomolecular, que cuida do sistema bioquímico em sua interação com o meio ambiente.

CENÁRIO ATUAL

não é fácil nem para os paradigmas... O Pré-Moderno critica o materialismo do Modernismo que, por sua vez, censura os sistemas do Pós-Modernismo. Este se opõe à verdade reducionista e à compartimentalização do Modernismo. Embora a humanidade tenha se servido, até então, dessas ferramentas para solucionar os seus problemas, atualmente elas se mostram insuficientes na busca de uma saída viável para o cenário socioecológico da era global, devido a sua limitação em e integrar o todo cenário e tratá-los como forma sistêmica.

Ainda que os paradigmas mostrem uma evolução cronológica, estão longe de ser estruturas históricas estanques e ultrapassadas; ao contrário, são flexíveis e coexistem, atualmente. Além disso, eles exercem um papel central no desenvolvimento da consciência, sendo a plataforma para o pensamento e o comportamento. Será que você já tentou se benzer, fazer exames laboratoriais e tratamentos alternativos alguma vez?

Isso é parecido com o que vemos na medicina moderna. Por exemplo, ao solucionamos um problema muscular simples com anti-inflamatório e muitas vezes criamos uma disfunção gástrica. Isso acontece porque não pensamos o corpo como um todo, como se suas partes não estivessem conectadas e nem integradas.

A simultaneidade paradigmática fomenta o conflito e conduz à negação dos movimentos entre si. Conviver

Atualmente, enfrentamos grandes mudanças e desafios sendo mais de sete bilhões de pessoas

Desafios atuais

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povoam um planeta que, claramente, não oferece recursos para a sustentação do modo de vida atual. Oitocentos e cinquenta milhões de pessoas sofrem com a fome e três bilhões vivem com menos de um dólar por dia. Claro que o problema central não é o número de pessoas, mas a desigualdade social de distribuição de recursos e também as prioridades econômicas como investimento em armamentos e Guerras, ao invés de infraestrutura, moradia e alimentos bons, nutritivos, naturais e orgânicos. As desordens sociais, econômicas e ecológicas e a emergente falência dos órgãos institucionais de controle social são ameaças que rondam a estabilidade de nossos sistemas. Não temos mais muitos recursos naturais para transformar em comodites e nem bens da comunidade para transformar em serviços, como escolas, hospitais e asilos nos quais de nossos avós e avôs seriam cuidados mediante pagamento de uma mensalidade, enquanto as pessoas saudáveis e jovens continuam a produtividade de serviços e produtos para manter a cultura do crescimento econômico vivo e operante. Decrescimento

Autodefinindo-se como um ativista do decrescimento, o palestrante Charles Eisenstein, autor de “Sacred Economics” diz: “O problema que parece que somos incapazes de solucionar é o fim do crescimento. O sistema atual é baseado na conversão progressiva de natureza em produtos, pessoas em consumidores, cultura em mercado e tempo em dinheiro. Talvez possamos estender esse crescimento por mais alguns anos canalizando o óleo das profundezas do oceano, fazendo desflorestamento, apossando-nos de terras indígenas e assim por diante, ou seja a um custo astronomicamente alto para as próximas gerações. Mais cedo ou mais tarde, espero que mais cedo, teremos que fazer a transição para uma econômica de decrescimento.” 10,11 A crise atual não é uma simples crise de lideranças, de organizações e da economia. É também a ruína de uma estrutura sociocultural. O fim de um equilíbrio . De uma cultura de crescimento que prega não só o crescimento infinito da economia, mas da felicidade, e está ancorada na promoção do consumo, seja de produtos, seja de felicidade, até mesmo no mercado da saúde e bem-estar que envolve as medicinas complementares, alternativas e até práticas espirituais.

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Aliás, a disputa por esse mercado é enorme e nesse contexto atitudes como manipulação de informações, falsas e perigosas muitas vezes, fazem parte do jogo. Vivemos tempos em que nossos desafios não são apenas individuais, mas coletivos de todas as ordens. Esse panorama é o berço da manifestação de um novo paradigma que, a partir da compreensão de que todos os pontos de vista são genuínos e parciais, concilia as suas verdades, destacando as qualidades de cada um e oferecendo-lhes um lugar legítimo, arranjando-as lado a lado em um único mapa. Temos agora um modelo “translógico” de considerar o mundo que transcende à lógica moderna de causaefeito e exclusão: o paradigma integral. E nesta lógica nova até o paradigma Integral é parcial. A Tabela 1 permite a observação comparativa das principais características que definem cada um dos períodos tratados acima.

PENSAMENTO MÉDICO

Fizemos uma jornada através dos paradigmas que nos serviu para contextualizarmos o processo do pensamento médico. Vejamos um pouco mais sobre a influência dos paradigmas no desenvolvimento do pensamento e das práticas médicas. Na pré-modernidade, o homem sente que faz parte de algo, a ideia que perpassa todos os aspectos do pensamento na época é a da unificação harmoniosa do homem com a natureza. Filósofos como Empédocles, Platão e Aristóteles explicavam que o universo era constituído por água, terra, fogo, ar e éter. Medicinas tradicionais A medicina pré-moderna, por sua vez, baseava-se nessa concepção para explicar tanto a Fisiologia como a Patologia. Para os médicos daquela época, a doença era decorrente do desequilíbrio entre os elementos e denotava uma instabilidade da união entre o homem e a natureza, devendo assim ser tratada com terapias que promovessem o equilíbrio inato e cujos métodos estivessem de acordo com as leis da natureza. Tratase da Fitoterapia, dos métodos de desintoxicação e relaxamento e de dietas.

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TABELA 1

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TABELA 1 (continuação) 40


As grandes representantes dessa prática são as medicinas orientais, como a chinesa, a japonesa, a tibetana e a ayurvedha, denominadas medicinas tradicionais. Outras menos difundidas são as modalidades indígenas dos nativos aborígenes, americanos e brasileiros. Por descenderem de tradições, elas são representadas pelos sistemas médicos utilizados secularmente. Medicina Moderna Já a medicina convencional (termo utilizado para designar a prática médica desenvolvida no ocidente medicina moderna) está alicerçada no materialismo, na objetividade, na fragmentação e na lógica do paradigma cartesiano, mecanicista. Compreende o homem como um conjunto de partículas que formam células, órgãos e sistemas, cujo funcionamento apropriado garante a saúde. A doença, nesse sentido, é o resultado do mau funcionamento de tais estruturas em decorrência de fatores genéticos, traumáticos, infecciosos, ambientais, comportamentais, desconhecidos, entre outros. O papel do médico, a partir da visão deste paradigma, é corrigir o erro através de tratamentos químicos ou cirúrgicos aliados

(ou não), que têm como propósito a cura ou o controle da doença. A medicina moderna é baseada no paradigma moderno, portanto não pensa as causas das doenças como sistêmicas e nem como desequilíbrios, ela objetiva principalmente remediar, priorizar os sintomas físicos e suas consequências como sintomas, prognósticos e sequelas. A seguir, caro leitor, gostaria de contar-lhe um pouco mais sobre esta modalidade médica, já que ela é predominante no nosso cotidiano. Embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) defina a saúde como um estado de bem-estar físico, mental e social, a medicina convencional vem enfocando muito mais as doenças do que os demais aspectos implícitos na orientação da instituição. É inegável a importância do avanço da ciência médica que, ao longo dos últimos anos, aperfeiçoou inúmeros processos para ampliar a sobrevida humana, desenvolveu métodos de diagnósticos que possibilitam o tratamento precoce (e, consequentemente, a cura) de várias doenças, aprimorou técnicas cirúrgicas, permite a criação de

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famílias com a fertilização in vitro e outros incontáveis benefícios para a vida do homem. Por outro lado, não vimos ainda solução, através da medicina, para certas doenças crônicas, moléstias infecciosas (como a AIDS), enfermidades degenerativas (como o Alzheimer), vários tipos de cânceres como câncer de colon, nem a mortalidade infantil. Tampouco oferece uma estrutura eficiente para a perpetuação da saúde, uma vez que o foco de suas pesquisas são as doenças. Como resultado, temos inúmeros especialistas em enfermidades e raríssimos em saúde. No caso das doenças crônicas, além de representarem um problema para os portadores, também assim se apresentam para o sistema de saúde que, com o intuito de controlá-las e gerar qualidade de vida, realiza grandes esforços e investimentos no acompanhamento médico-laboratorial e na distribuição de medicamentos em longo prazo. Além disso, pode-se se optar por manter uma atitude passiva ou ativa no trato com a própria saúde. Na primeira hipótese, são os médicos, a indústria farmacêutica, organizações como a OMS e governos que ditam o que é saúde e quais são os protocolos

que devem ser seguidos para curar doenças. O paciente somente obedece, isso é o que significa paciente, passividade. Já a atitude ativa está relacionada com ação. Por este modo de pensar, o conhecimento da pessoa sobre si mesma e sobre os processos de cura são incluídos no desenho do tratamento. Sendo assim, será ativa em relação a si própria. Ativo em termos de responsabilidade, liberdade de escolha e perspectivas sobre sua própria saúde. No esforço para atender a essas necessidades, a medicina moderna buscou conhecer o perfil do ambiente e dos hábitos que geram as enfermidades. Para tanto, recorreu ao método da epidemiologia: estudo quantitativo da distribuição dos fenômenos de saúde e doença, relacionando-os com seus fatores condicionantes e determinantes na população humana, tais como fatores ambientais, socioculturais, idade, sexo, dieta, educação, financeiro, entre outros. Eis alguns resultados. Publicados pelo Ministério da Saúde em 2008, os dados sobre a mortalidade e suas causas nas diferentes faixas etárias demonstram que o estilo de

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vida, a alimentação, o ambiente em que se vive e o poder econômico são aspectos indubitavelmente importantes no desenvolvimento de doenças crônicas, fato que já havia sido constatado no caso das doenças infecciosas.

No Brasil, 74,7% das causas de morte são por doenças crônicas como diabetes, hipertensão entre outras. Ao sedentarismo se atribui 52% dos quadros de hipertensão arterial, 48% das afecções cardiovasculares, 14% dos quadros de diabetes, 16% dos casos de câncer de cólon e 10% das manifestações de câncer de mama. Mais do que números, estas doenças acontecem em nossas vidas, com nossos familiares e amigos. Eu mesma tive dois casos de câncer mama em minha família e um de câncer de cólon. A maioria de meus amigos se encontram na mesma situação. Já a obesidade é responsável por 60% dos casos de diabetes tipo dois, 25% de todos os cânceres, 1/5 dos quadros de acidente vascular cerebral, 30% das doenças coronarianas e 40% das manifestações de

hipertensão. A saúde mental (como depressão e ansiedade, entre outros) é responsável por cinco em cada dez enfermidades no Brasil. Na minha prática, tenho visto depressão e ansiedade cinco vezes mais que outras doenças – em 90% de todos os pacientes que trato com alguma doença, o aspecto mental está profundamente envolvido com a enfermidade. Constato que depressão, ansiedade e estresse estão envolvidos no desenvolvimento da obesidade e várias moléstias infecciosas de vias aéreas superiores, como gripes, faringites e sinusites, tanto quanto aspectos ambientais, como poluição e também falta de qualidade de vida. A falta de lazer, por exemplo, seja por dificuldades financeiras as seja por falta de tempo exerce forte influência na evolução destes males. Crises de doenças crônicas como diabetes, hipertensão ou doenças vasculares; acidente vascular cerebral (AVC) ou derrame e infecções decorrentes daquelas doenças, foram mais de 50% de todas as doenças que eu vi em minha formação médica primária. 30% destas eram infecciosas e cerca de 10%, doenças mentais.

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No tocante às doenças crônicas, não há muito o que fazer além do gerenciamento. Quase ninguém se cura de doenças crônicas com as ferramentas da medicina moderna. A Infectologia, dermatologia, oftalmologia, cirurgia geral e traumatologia que envolve cirurgia ortopédica e cirurgias de emergências que envolvem acidentes automobilístio e violência, são algumas das especialidades médicas que conseguem curar. Aos cinco anos de idade eu já expressava não só meu desejo de ser médica, mas também a especialidade que eu queria ter, eu costumava dizer que queria mudar a mente das pessoas. Em minha inconsciência e “concretude” típica de criança, eu fantasiava que neurocirurgiões eram capazes de fazer isso, então era isso que eu seria. Não fiz neurocirurgia, mas de certo modo, mudar a mente das pessoas é exatamente o que faço no trabalho de coaching, onde ajudo as pessoas a serem mais felizes e saudáveis. Minha escolha pela infectologia como especialidade médica aconteceu por duas razões, primeiro a baixa taxa de cura de outras especialidades e depois o desejo de cuidar da saúde. Além disso, a infectologia

envolve comunidades, saúde pública e apesar de estar longe de ser uma visão sistêmica de saúde, está mais próximo disso do que qualquer outra especialidade clínica. Outro dado alarmante do Ministério de Saúde Pública: causas externas, tais como agressões e acidentes, são responsáveis por 38% dos óbitos na faixa etária de 15 a 49 anos. Esse número aumenta significantemente quando é restrito à faixa etária de 15 a 24 anos, na qual tais tipos de ocorrência representam 78% das causas de óbito. Demais causas externas ocupam o quarto lugar dentre as causas de morte do país. Estes dados são o nosso dia a dia nas ruas e noticiários. Atualmente, é raro encontrar alguém que nunca tenha tido um caso de violência em sua rede de relações mais próximas. Os hospitais públicos e salas de emergência atuam além de suas capacidades de atendimento. A análise destes resultados evidencia que quase três quartos da população brasileira morre de doenças crônicas, as quais têm, entre seus fatores determinantes, forte estímulo da falta de exercício e a

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obesidade. No caso da população jovem, intensificamse os riscos de acidentes e da exposição à violência. A partir dos dados expostos acima, podemos observar – e quero chamar a sua atenção para isso! – que, ao lado de fatores genéticos, os aspectos socioambientais, comportamentais e culturais são significativos para o desenvolvimento das enfermidades supracitadas. Desta maneira, a epidemiologia de doenças não transmissíveis demonstra a importância do enfoque na qualidade de vida, na promoção da saúde, na comunidade e no ambiente para a prevenção das moléstias crônicas. Essa demanda vem a ser parcialmente atendida pela medicina convencional, cujo foco está na cura de doenças, priorizando, assim, a solução de problemas e gerenciamento de consequências. Entretanto, os dados enfatizam a urgência de um modelo mais amplo, abrangente e inclusivo, que admita a relação entre as dimensões emocional, mental, biológica, ambiental, assim como a interferência da cultura nas crenças e valores do indivíduo. Esse modelo mais abrangente já existe: trata-se da medicina pós-moderna, na qual o homem

é percebido não só como o resultado de seu funcionamento, mas também da interação entre o corpo e sua relação com a cultura, a estrutura social e o ambiente. O homem, aqui, é parte de um sistema. Nesse formato, o sistema médico deixa de abordar a enfermidade e passa a abordar o indivíduo com suas necessidades. Uma nova linguagem para o diálogo foi descoberta e o médico se torna também um instrutor de comportamento. O atendimento passa a ser multidisciplinar e o tratamento objetiva a qualidade de vida, além da cura e do controle da doença. Este é o sistema praticado pela medicina integrativa. Trata-se de um sistema contemporâneo, nascido no final dos anos oitenta e fundamentado em um trabalho transdisciplinar que integra efetivamente as várias formas terapêuticas em seu receituário. Nela, o paciente pode ser tratado, ao mesmo tempo, com remédios alopáticos, shiatsu, meditação, fitoterapia e acupuntura, por exemplo. Não obstante, o princípio sistêmico da medicina pósmoderna, que leva em consideração os vários aspectos da vida humana e reconhece a sua influência na saúde e doença, ainda cuida de sintomas e do indivíduo sem

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levar em consideração a sua inserção cultural e social, mesmo que seu pluralismo teórico ofereça uma abordagem multidisciplinar. E ainda não possui em seu core o desenvolvimento da consciência como faz a Medicina Integral.

PENSAMENTO MÉDICO INTEGRAL O paradigma integral proporciona uma investigação total do ser humano, apresentando todos os seus aspectos subjetivos e objetivos “lado a lado”, em um mapa ímpar. Em uma visão translógica, exibe todos os recursos terapêuticos e meios para o desenvolvimento da consciência, com a finalidade de promover a saúde e o bem-estar contínuo. E por bem-estar contínuo faço menção ao mais amplo e profundo bem-estar, que está além do bem-estar físico ou a readaptação do indivíduo aos moldes da sociedade. Refiro-me ao sentido e ao valor de ser humano, de conhecer sua mente e recursos e utilizá-los para cultivar a sabedoria e a consciência. Ou seja, a abordagem Integral vai além de recursos e tratamentos focando também na prevenção e promoção da saúde.

Nesse modelo, o paciente deixa de ser passivo e passa a atuar, informando-se sobre o seu estado de saúde e refletindo sobre os seus padrões psíquicos e comportamentais. Esse processo o capacita para agir em prol do seu bem-estar em vários aspectos, realizar escolhas mais sábias, personalizadas e originais; perceber-se como um segmento de uma teia que permeia e conecta tudo e todos; utilizar os seus recursos de forma mais eficiente e sustentável e, por fim, modificar o seu estilo de vida. O médico, por sua vez, vai além de sua atuação já conhecida de receitar medicamentos e orientar comportamentos de prevenção a doenças. Ele age como um coach* promovendo a reflexão e solicitando a consciência do indivíduo para que ele próprio seja o instrumento de mudanças em seus hábitos, a fim de alcançar o melhor estado de saúde possível na estrutura na qual está inserido e encontrar o bemestar. A Tabela 2 permite a observação comparativa das principais características que definem cada um dos períodos tratados acima. *Coach – termo em inglês que significa treinador.

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TABELA 2 47


Existência é o fato de existir. Nos seres humanos, concretiza-se na consciência de si mesmo. Mas o que é a experiência da consciência, afinal?

EXISTÊNCIA “Sofrimento significa estar tendo um pesadelo. Felicidade é um sonho bom. Realização significa estar fora de ambos os sonhos, ou seja, acordado.” Jed Mackenna

Atributo dos seres humanos, a consciência recebeu desde cedo a atenção de diferentes áreas do conhecimento. Tal busca está implícita nas indagações dos primeiros filósofos, nas formulações teológicas, no campo da metafísica, na solução de Descartes e no pioneirismo do Iluminismo, nos século 17 e 18, que propuseram que a sociedade usasse razão e conhecimento através de métodos científicos.1 Este foi o paradigma moderno com ideias progressistas e revolucionárias que contribuíram para a desmistificação da Natureza. No tocante ao corpo físico tivemos muitas contribuições no período advindas da Biologia e de várias ciências médicas, com a neurociência que tentava explicara anatomia do cérebro, suas funções e a rede envolvendo o sistema nervoso e endocrinológico na magnífica transmissão de informação entre as células. Essa transmissão percorre todo o corpo permitindo que este complexo organismo funcione perfeitamente.

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De maneira geral, algo que aconteça em seu cabelo deve chegar às células do seu pé para que o organismo promova as mudanças necessárias, adaptando-se às novas condições apresentadas na busca do equilíbrio. Esta é a lógica do organismo vivo. Como exemplos dessa rede de informação podemos citar os tecidos conectivos, os sistemas nervoso e circulatório e o endocrinológico. A neurociência acabou por definir consciência como resultante das reações químicas e elétricas da rede neuronal. Outra área de investigação da consciência é a “Biologia da Cognição”. Atuando nesta frente, Humberto Maturana e Francisco Javier VARELA Garcia vão além, ao demonstrarem que os sistemas vivos constituemse a partir de elementos, como proteínas, que criam e recriam a si mesmos. A este processo os dois pesquisadores denominam autopoiese (palavra composta que por auto, que significa “próprio” e “por si mesmo”, e poiesis que significa “produção”, “criação” e “formação”: auto-produção ou autocriação).

O biologista chileno Francisco Javier VARELA García (1946–2001), também neurocientista, é co-fundador do Instituto Mente e Vida (Mind and Life Intstitute), dedicado à promoção de diálogos entre a ciência e o budismo. Humberto MATURANA é um biólogo Chilene e filósofo que trabalha com a Biologia da Cognição. MATURANA and VARELA (1980) definem "autopoiesis" como: “Um sistema autopoiético é um sistema organizado (definido como uma unidade), como uma rede de processos e produção (transformação e destruição) de componentes que produzem a si próprios. Os componentes têm as seguintes características: a) através de suas contínuas interações e transformações, eles regeneram e realizam um processo em rede (relações) que produzem a si mesmos; e b) eles constituem o sistema como uma unidade concreta no espaço no qual eles (os componentes) existem por especificarem uma topologia de dominância sobre suas realizações como a rede.” 2

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Em outras palavras: como se houvesse um grande lego onde pudéssemos, a todo e a qualquer momento, recriar com as mesmas peças, diferentes formas mantendo a identidade da criação original. Esse conceito pode ser associado a Natureza dirigindo o processo evolutivo, brincando através de um grande Logo composto de elementos como átomos, moléculas e proteínas. a qualquer momento qualquer forma pode ser criada e recriada, sem perder a sua forma original, mesmo que são as mesmas peças estejam sendo utilizadas para a recriação. Ainda que não possamos perceber, autopoieses é um fenômeno biológico contínuo que podemos ilustrar da seguinte forma: ao olharmo-nos no espelho, não nos damos conta do acelerado processo de mutação por que passam nossas células. São milhares de milhões de partículas passeando para lá e para cá, construindo e renovando células de um modo contínuo, acelerado e complexo e inteligente, para definir a forma física que o espelho projeta. Influenciado por tais achados, o sociólogo alemão e proeminente pensador da Teoria do Sistema Social, Niklas LUHMANN (1927-1998) desenvolveu a “Teoria

de Sistemas Autopoiéticos”, no seu livro Social system (Stanford University Press 1995). Para desenvolver essa Teoria, LUHMANN, explorou com detalhes o sistema autopoiético social que segundo ele, “pode contribuir para a abstração e refinamento de Teoria de sistemas autopiético” so develop such a theory” 3(Luhmann 1990, p. 11). LUHMANN escreve que a comunicação “parece ser uma realidade emergente de si mesma, uma forma de rede autopoiética de operação que continuamente organiza o que procuramos: a coincidência de referência interna (auto-referência) e referência externa (informação). Comunicação vem a ser a divisão da realidade em uma distinção entre informação e auto-referência, ambas como eventos contingentes dentro de um processo contínuo que recorrentemente utiliza a fase anterior para antecipar as fases seguintes.” 4 (Luhmann 1992, p. 1424)

Baseado na Teoria dos Sistema Social dos anos 80, a sociedade seria um corpo coletivo formado por cada indivíduo que pertence àquela sociedade. Essa forma de pensar originou a expressão “acoplamento estrutural”, para designar o processo de adaptação do

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organismo ao seu meio como sendo uma interação. Assim, como ocorre com o lego, os indivíduos em sociedade dependem uns dos outros (interdependência) e dos seus “encaixes” para originar uma estrutura maior chamada sociedade ou cultura. Acoplamento estrutural é o termo usado para designar a determinação estrutural (e a estrutura determinante) que envolve a relação de uma determinada unidade com outra ou com o meio. O processo de envolvimento afeta a “história ou a interação leva a convergência estrutural entre as partes os sistemas envolvidos.” (Maturana & Varela, 1987, p. 75). Isso é, ...” o processo leva a uma coincidência espacial e temporal entre as mudanças de estado dos participantes” (Maturana, 1975, p. 321). Tanto que o acoplamento estrutural tem conotação de cordenação e coevolução. Por exemplo, o acoplamento estrutural é a fundação para o que MATURANA chama de “linguagindo’, que é a a interação linguística. (Maturana, 1978). No entanto, apesar dos grandes avanços e descobertas, pouco sabemos sobre o “acontecer” da consciência que, nesse contexto, é aquela sensação de

acordar experimentada tanto no momento de nascimento de um filho quanto na morte de um ente querido. A sensação de estar acordado é impossível de explicar de maneira lógica. Só os poetas se arriscam a expressá-la entre metáforas multidimensionais e não lineares, brincadeiras e enigmas. Outra forma utilizada por mestres espirituais é o Koan. Koan é um paradoxo no qual deve se meditar usado no treinamento de monges zen budistas para abandonar a dependência da razão e forçá-los a encontrar subitamente a iluminaçnao intuitiva. 5 Hakuin Ekaku (1686 - 1768), um os maiores e mais influentes figuras do zen budismo, reviveu a escola Rinzai do seu período de estagnação, focando nos métodos tradicionais de treinamentos rigorosos que integram meditação e koans. Um dos seus koans mais famosos: Duas mãos batendo palma têm um som; qual o som de uma mão batendo palma? Baseado na consciência, não seria interessante perguntar por que sabemos tão pouco sobre isso em uma sociedade tão avançada e contemporânea?

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Para responder a essa pergunta, precisamos ir para outra área da consciência, que é a linguagem, uma vez que ela nos permite nos comunicar e ao mesmo tempo nos permite o processo do pensar. Toda a nossa experiência é transformada em linguagem na nossa racionalização das coisas e do mundo, internamente é mantida como pensamento, ideia ou conceito e externamente como expressão (falada, escrita, desenhada, tatuada, etc.). Um dos elementos da linguagem são os pronomes. Eu (primeira pessoa) designa o autor ou aquele que vive a experiência. Já você (o que ocupa o lugar de segunda pessoa) é o outro, com quem falo, a quem me dirijo. E, finalmente, ele (terceira pessoa), sobre quem falo. Nas metodologias utilizadas para a construção do conhecimento dentro das mais diversas áreas, predomina a observação, ou seja, o foco é centrado sobre algo, aquilo que se quer observar. Apesar de haver uma percepção em primeira pessoa (uma vez que o cientista ou pensador elabora a apreensão da realidade observada a partir de seu eu), aquilo que é observado é sempre uma terceira pessoa. Esse modo de apreensão das coisas tornou-se, praticamente,

regra para todos nós. É assim que aprendemos na escola e é assim que desde cedo somos treinados para compreendermos a “lógica” das coisas. A maioria das pesquisas realizadas com vista à compreensão do cérebro aborda a consciência seguindo o protocolo do método científico, que pressupõe a existência de um observador e de algo observado (no caso, o cérebro). Trata-se, portanto, de uma abordagem em terceira pessoa. No entanto, a consciência daquele que observa também integra o todo observado. No método que propomos neste livro, a perspectiva de não separação entre o observador e o observado e incluída. Aquele que observa é a própria experiência. Trata-se da inclusão da perspectiva de primeira pessoa, que significa a falta de separação entre observador e observado, também conhecida na filosofia como Fenomenologia, e na Espiritualidade, como não dualidade. Historicamente, a não dualidade está ligada ao Vedanta, tradicional escola Indiana de filosofia; e é o estado no qual não existe diferença entre Brahama (o

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plano mais amplo de realidade, o verdadeiro eu) e Atma (o primeiro, principal) 6 “Se Atma é Brahma dentro do pote, então só é preciso quebrar o pote para realizar completamente que a unidade primordial da alma individual com a plenitude do Ser, foi o Absoluto.” 7 Na cultura ocidental, a expressão “não dualidade” também é usada na espiritualidade moderna e new age com o sentido de “grande tradição” 8 , como que sintetizando assim a essência de várias religiões tradicionais que vêem na “consciência primordial, natural, sem a dualidade subjetiva ou objetiva” 9 o ponto nobre da iluminação. Não dualidade também é utilizado para rejeitar o dualismo Cartesiano e referir-se a interconexão10. Na Fenomenologia, por sua vez, é o estudo filosófico das estruturas da experiência subjetiva e da consciência.11 Edmund Gustav Albrecht Husserl (1859–1938) foi um filósofo e matemático alemão fundador da escola da Fenomenologia, que busca identificar os aspectos invariáveis da percepção dos objetos. Por esta corrente filosófica, os atributos da realidade transfiguram-se

naquilo que é pressuposto e que perpassa o modo como percebemos os objetos. Ou seja, a percepção dos objetos é essencialmente o modo como os levamos em consideração, como o reconhecemos subjetivamente, e não uma qualidade inerente à essência do objeto fundada na relação entre este e o observador. A ciência pode nos falar sobre consciência, mas não nos ensina como nos tornarmos conscientes. Esse processo só pode ser cultivado como uma habilidade na perspectiva de primeira pessoa; ou seja, vivenciando-a no aqui e agora. Como foi exposto anteriormente, a consciência não pode abarcar a inconsciência; desta forma, a única forma de se estar consciente é vivenciar a inconsciência conscientemente. Parece paradoxal, mas é isso mesmo. O tempo todo estamos alertas. Pensamos, elaboramos, racionalizamos, julgamos, etc. Isso é natural em todos nós e é visto objetivamente com as ondas cerebrais Beta. Entretanto, na maior parte do tempo não nos damos conta do que está por trás de tais atividades racionais, não nos vemos além dessa consciência primeira (mental), que é a que aflora, como vimos no processo reflexivo da mente. Mas não

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se trata de racionalização, mas ao fenômeno da consciência, o que significa que consciência flui livremente em nós, através da inconsciência. Trata-se daquele que observa os pensamentos e sempre esteve aí. É a vida manifestando a si mesma através de você. como disse a Bíblia do Rei James Salmo 46:10 - Seja e saiba que sou Deus: Serei exaltado entre os selvagens, serie exaltado na Terra.12 Muitos mestres espirituais, poetas e filósofos falaram sobre essa qualidade do Existir. Lao Tzu (c.604 - 531 B.C.), um filósofo da antiga China, conhecido com o autor do Tao Te Ching coloca assim: “Sem pesamentos, sem ações, sem movimentos, totalmente em silêncio e quietude: somente assim pode-se manifestar a verdadeira natureza daquilo que vem dentro e que inconsciente e finalmente se torna um com o Céu e a Terra.”

O “estar atento” também acontece quando a percepção do existir desbloqueia a consciência da mente que discrimina o mundo externo e, assim, flui com liberdade. Ken Wilber, autor do livro “The simple

Felling of Being” (Shambhala, 2004), uma compilação de seus trabalhos baseadas em passagens que descreve exatamente esse estado de consciência coloca: "Não é óbvio? Você já não é consciente de existir? Você já não sente o simples sentimento de Ser? Você já não possui a porta para o espírito que nada mais do que o simples sentimento de Ser? Você sente o simples sentimento de Ser agora, não? E agora, não? E agora, sim? Você sente que simplesmente é? Quem não está ainda iluminado?13 One Taste , p. 302 Existem infinitas práticas que visam promover tal experiência, como um caminho procurado por praticantes espirituais de várias tradições, especialmente de práticas contemplativas no oriente como o Budismo, Taoismo, Zen entre outras e no ocidente como a Kabala, o cristianismo esotérico, etc... Todas elas convergem para o silêncio interior, isto singifica excluir temporariamente todas as percepções do meio externo e voltar a atenção inteiramente para o mundo interior.

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Como disse Freeman:

o

famoso

ator

americano

Morgan

“Aprender a estar em silêncio, para realmente estar quieto e permitir que a vida aconteça - essa quietude torna-se radiante” Como diria Ken WILBER, esse olhar para dentro permite encontrarmos a nossa face original. Otto SCHARMER, um dos maiores consultores de companhias globais da atualidade e autor da Teoria U (Campus/2010) e Presença (Cultrix/2007) em coautoria com Peter Senge, J. Jaworski e B. S. Flowers, também fla da presença e aprender sobre o futuro. Segundo ele o contato com o interior mais profundo gera um estado de atenção plena que ele chama de presença e permite o acesso ao campo criativo. Para estes dois autores, o olhar para si mesmo é capaz de transformar não apenas o indivíduo, mas também a sociedade, possibilitando soluções inovadoras para os desafios atuais e promovendo a adoção de modos de vida mais honestos, integrados, saudáveis e éticos. Em suas próprias palavras:

“Presenciar", uma mistura das palavras "presença” e "sentindo", refere-se à capacidade de sentir e trazer para o presente o maior potencial futuro, como indivíduo e como grupo.”14 Dr. C. Otto SCHARMER é um professor sênior no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, fundador do Presencing Institute, co-foundador do laboratório do Índice de Felicidade Interna Bruta (FIB). Ele vem trabalhando com governos na Áfria, Ásia e Europa, e lidera e ensina programas inovadores e liderança para empresas como Daimler, Eileen Fisher, 15 PriceWaterhouse, Fujitsu e Google. Este modo de convívio com a consciência, de certa forma, é o que pode ser observado nos poetas, pintores e artistas em geral. Os rituais dos monges, das freiras no claustro e daqueles adeptos da meditação também buscam essa realização. Em todos esses exemplos, notamos uma dedicação exclusiva para tal prática. Não é o que proponho aqui. Para mim, todos nós podemos atingir tal condição, seja qual for o nosso modo de vida.

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Estar consciente pode ser descrito como estar acordado, prestando atenção em si mesmo, naquilo que surge em você e passa através de você. É como canta Gilberto Gil, “eu preciso aprender a só ser”

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Compreendo que a Teoria Integral pode oferecer a abordagem mais profunda e compreensiva que pode ser utilizada em diversos campos do conhecimento, inclusive na medicina.

A PRÁTICA DA MEDICINA INTEGRAL “Toda a experiência humana possui quatro aspectos fundamentais e, se ignorarmos qualquer um deles, deixaremos de contar com uma parte importante da história. O que acarretará uma visão parcial, consequentemente traçaremos soluções também parciais.”

Ken Wilber

Baseada nos padrões histórico e na visão mais imparcial, é importante notar que o mesmo conceito de parcialidade apontada pela Teoria Integral pode ser aplicada nela mesma, à medida que o tempo passar. Isso se deve ao fato de que toda e qualquer teoria e paradigma criados pelo homem evoluem, e o que é tido como “totalidade” no momento, pode vir a tornarse “parcialidade” em outro. Isto é, o todo torna-se parte no todo do próximo nível de desenvolvimento. Por exemplo: cada letra é o todo no alfabeto. No entanto, quando juntas em uma palavra, ela se torna somente parte do todo palavra. Como nos versos de Gregório de Matos: “O todo sem a parte não é todo,/A parte sem o todo não é parte,/Mas se a parte o faz todo, sendo parte,/Não se diga, que parte, sendo todo.”

O psicoterapeuta americano Myron Sharaf (1927-1997) incluiu em seu livro uma citação de

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William Reich (1897–1957), renomado psicanalista australiano especialista em terapias somáticas e energéticas:

junto aos pacientes é baseada na doença, sobretudo corporal, e os tratamentos por ela prescritos são, em geral, também pautados no aspecto físico, como cirurgias, drogas e mudança de comportamento.

“A questão “O que é a vida?” permanece atrás de tudo que aprendi... Tornou-se claro que o conceito mecânico da vida, que domina nossos estudos médicos é insatisfatório... Não há como negar que o poder do princípio criativo governa a vida; isso só não é satisfatório à medida em que não é tangível, à medida em que não pode ser descrito ou tocado concretamente. Por certo, isso foi considerado o objetivo supremo da ciência natural."

Entretanto, esse quadro está mudando. Segundo a revista “American Medical News”, em publicação de outubro de 2011¹, atualmente, 42% dos hospitais

Wilhelm Reich Fonte: Myron Sharaf- Sharaf 1994, pp. 54–55.

Medicina convencional e complementares Como vimos até agora, a medicina convencional é classicamente uma abordagem biológica. Sua atuação

americanos oferecem terapias alternativas. Quatro anos antes, a “National Health Interview Survey” já havia realizado uma pesquisa sobre o uso de medicina complementar e alternativa pela população americana, constatando que 38% dos americanos adultos utilizam esse serviço². Na Europa, já há mais de cem milhões de pessoas usando o sistema alternativo de saúde em algum momento de sua vida3. Este enorme interesse por cuidados complementares, paralelamente ao surgimento de novas disciplinas como a psiconeuroimunologia – e até mesmo a medicina integrativa – evidenciam uma nova percepção quanto ao conceito de saúde, no qual as emoções, a atitude psicológica e a intenção possuem papel crucial tanto no processo de doença quanto no de cura.

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Nesse contexto, dois aspectos são de suma importância. De um lado está a aceitação de que aspectos subjetivos interferem nos níveis de saúde e, de outro, o fato de que a consciência individual é intrínseca aos valores, crenças e visão de mundo e isso diz respeito diretamente ao modo de vida das pessoas e, consequentemente, à saúde. Disso decorre, por exemplo, a maneira como um indivíduo desenvolverá a sua percepção específica acerca de uma determinada doença, tomando-a como preconceito ou compaixão, percepção essa que o influenciará profundamente na maneira de lidar com o sintoma e, portanto, em sua evolução e prognóstico. Nesse sentido, basta lembrarmos que muitos estudos mostram consistentemente que pacientes com câncer, integrados a grupos de apoio, vivem mais e melhor do que aqueles que não contam com tal suporte, pois o território cultural em que se encontram inseridos rege os processos de saúde e doença. Tal suporte pressupõe a interação de fatores intersubjetivos, como a comunicação entre paciente, médico e a equipe de saúde; as atitudes familiares e de amigos; a aceitação e valores culturais da doença.

Do mesmo modo, fatores sócio-ambientais (tais como economia, interesses financeiros por corporações ou grupos, segurança, saúde pública, saneamento básico e toxinas ambientais) raramente incluídos como aspectos de promoção de saúde ou doença, também causam grande impacto. No Brasil, por exemplo, o sistema de segurança social mostra-se altamente precário e a violência urbana atinge índices alarmantes. Assim, quando analisamos a mortalidade, percebemos que 78% dos óbitos de jovens entre 15 e 24 anos deve-se às causas externas como agressões e acidentes. Entretanto, a segurança pública não é considerada como um aspecto da saúde. Medicina Integral A Medicina Integral, buscando uma apreensão ampla da saúde e a construção de um modelo médico muito mais compreensivo e efetivo, considera, em cada situação, a incidência destes outros fatores no processo de avaliação dos casos. A partir da coleta das informações, estes aspectos são dispostos em um único gráfico. Obtém-se, dessa forma, aquilo que designamos como os “Quadrantes” no processo e no gerenciamento da

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saúde. Os quadrantes, por sua vez, apresentam níveis ou camadas, sendo eles o físico, o emocional, o mental e o espiritual, que se referem a todas as “linhas” do modelo Integral de saúde. Essa orientação pauta-se na compreensão de que as diferentes perspectivas apresentam ângulos de observação também diversos, sendo, portanto, mais rico e eficaz reuni-las em um único mapa, ampliando assim as chances de uma visão mais abrangente sobre um aspecto particular. Um bom exemplo disso é a história dos cegos encontrando o elefante. Quem não conhece? Cinco cegos encontraram um elefante. Cada um deles tocou uma parte do animal. Um tocou a tromba, outro as patas, outro o rabo, outro as orelhas e outro, ainda, a barriga. Ao se encontrarem, começaram a definir o elefante e cada qual tinha uma perspectiva do animal. O que tocou o rabo dizia que ele era algo bem fininho e com o pelo grosso; aquele que tocou a barriga discordou dizendo que ele era algo muito grande, duro e redondo; o que tocou a pata concordou com o que achara o animal redondo e duro, mas discordou daquele que o achou muito grande; o cego que tocou a tromba discordou daquele que avaliou o elefante

duro e grande, mas concordou com o que o achou redondo. E, por fim, quem tocou a orelha discordou de tudo e disse que ele era algo fino e com uma grande superfície. Qual deles tem a verdadeira descrição do elefante? Nenhum e todos ao mesmo tempo. Certo? Utilizamos essa história como uma metáfora da fragmentação versus a visão ampla. Essa é a grande vantagem da abordagem integral: a sua amplitude. Ela pode incluir e organizar as diversas e diferentes perspectivas do elefante e com isso chegar mais perto daquilo que o elefante realmente é. Diferentemente do que ocorre nas demais formas de práticas médicas, a Medicina Integral, assim como algumas abordagens holísticas da saúde, não se fixa apenas em um determinado aspecto da saúde. Ao contrário, em seu processo de avaliação busca-se a inclusão de todos os aspectos envolvidos e suas terapias restauradoras seguem o mesmo princípio. Baseada na concepção de que o equilíbrio a estabilidade do corpo estão amalgamados às demais dimensões do ser, tudo se interliga e tudo é motivo de interesse para o médico integral, que procura, de

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maneira inclusiva, a conexão entre as inúmeras perspectivas de saúde e bem-estar existentes, permitindo a escolha de uma delas. Essa ampliação de horizontes cria uma matriz terapêutica ao mesmo tempo integrada e personalizada e aproveita o processo de cura para o desenvolvimento de recursos para a evolução, ou seja, para o crescimento pessoal e ampliação de consciência. Jon Kabat-Zinn – professor emérito de medicina, fundador e diretor da Clínica de Redução de Estresse e Centro de Mindfulness para a medicina, o sistema de saúde e a sociedade na escola médica da Universidade de Massachusetts – refere-se à ampliação de consciência como Mindfulness. Essa ampliação da consciência é possibilitada justamente por meio da personalização das modalidades de cuidados de saúde, intervenções e práticas, baseadas nas necessidades individuais de cada paciente. O americano David Tusek - médico de família e emergência em Broomfield, praticante da abordagem integral, em seu artigo “An Integral path to Medicine The Mysteries of Salutogenesis”, publicado no portal

Integral Life em Março 20114 – argumenta que, em linhas gerais, o médico integral tenta responder à questão de como o nível de consciência afeta o modo pelo qual o paciente responde a uma determinada doença e busca, a partir dessa constatação, otimizar a terapia e a cura. Por exemplo, no Brasil, algumas religiões não permitem a transfusão de sangue por acreditarem, segundo suas interpretação bíblicas, que Deus a proíbe. Tusek ainda explica que, nesse contexto, alguns conceitos intrinsecamente ligados ao processo precisam ser compreendidos: de um lado a diferença entre saúde e cura e, de outro, entre doença aguda e crônica. a) Saúde e cura A saúde é um estado de estabilidade relativa e de equilíbrio mente e corpo. No estado saudável, o organismo desfruta de um equilíbrio adequado ao estágio de desenvolvimento específico do indivíduo, dentro e entre todas as dimensões do humano (subjetivas, objetivas, individuais e coletivas).

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A cura, por sua vez, implica necessariamente em mudanças, muitas vezes radicais. Quando o organismo adoece, ele é desafiado a se transformar: quando há um ferimento na pele, por exemplo, as suas camadas se reorganizam para transformar a ferida em cicatriz. Nesse processo de cura estão envolvidas todas as dimensões humanas e ele pode ser rápido, indolor e completo ou então ser marcado por dor, infecção ou deiscência e, independentemente do resultado obtido, aquela área nunca mais será a mesma. Ou seja, a mudança definitiva do tecido está relacionada não apenas com a gravidade do dano inicial como também com as dimensões durante o processo de cicatrização. Em alguns casos, o resultado do processo de cura é o fortalecimento do organismo, isto é, ele se torna melhor adaptado, como quando desenvolve anticorpos contra um vírus. Em outros casos, o processo pode ser pobre, interrompido ou marcado por complicações levando, inclusive, à morte. De toda forma, o processo de cura envolve mudança, por isso a doença pode ser considerada um ponto de alavancagem para a transformação, ou seja, a cura é um processo evolutivo mais do que um retorno à

homeostase, que é a propriedade do sistema de regular seu ambiente interno e manter certas condições relativamente estável como temperatura e pH. A missão da Medicina Integral é aproveitar este potencial transformador intrínseco à doença e promover a evolução do organismo em todas as dimensões. Vejamos dois exemplos. No primeiro caso abordaremos os aspectos individuais (o que está relacionado somente com a pessoa somente, como genética, comportamento e nutrição). No segundo, serão enfocados os aspectos coletivos, (quesitos relacionado à vida coletiva, como transporte, qualidade do ar e economia, entre outros). Aspectos Individuais de saúde No primeiro caso, podemos citar um processo verificado ao longo da cura de um trauma ortopédico. No que se refere ao aspecto emocional, o organismo pode alcançar maior resiliência, enquanto que no plano espiritual esse resultado pode se traduzir como uma experiência de sensação de paz. O que queremos dizer aqui é que o desenvolvimento da resiliência e da paz podem ser concomitantes à reabilitação física na

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fisioterapia. Ou seja, existe uma simultaneidade no processo, uma vez que eles estão mais abertos e cultivando uma bioquímica de paz que está relacionada a moléculas como endorfinas, que estimulam o processo de reparação tecidual. A mudança não acontece somente no aspecto físico, ela é acompanhada de mudanças em todos os quadrantes, simultaneamente. Um caso médico Integral: Da paralisia a cura Foi o que aconteceu com um paciente meu, um jovem de 24 anos com uma lesão na vértebra cervical causada por uma doença infecciosa, a tuberculose. A doença o levou a paraplegia no aspecto físico, ao apavoramento emocional, quase uma depressão, ao isolamento social, a vários julgamentos culturais em relação à doença e tudo isso provocou ainda o desespero da família. Durante o processo de cura, além dos medicamentos e fisioterapia, fiz um vínculo familiar profundo, dandolhes suporte emocional extremo e coach. Passava horas conversando com ele e a família, jogando, lendo

e estimulando-o a ver perspectivas diferentes daquela situação. Todo o processo demorou cerca de três anos e meio: seis meses de internação e três anos para a recuperação quase total do andar. Junto à reabilitação, este jovem desenvolveu maior resiliência, atingiu um nível de compreensão da vida muito mais abrangente do que experimentava anteriormente, passou a valorizar o seu tempo sozinho, com amigos e com a família, além de planejar a realização do seu sonho de morar fora e concretizá-lo em um ano, com a assertividade que “ganhou” no processo de cura. Aspectos coletivos de saúde Nos aspectos coletivos, podemos utilizar a visão das pessoas que sofrem de uma determinada condição para melhorar a salubridade dos ambientes, o acesso a vários recursos salutares ou a melhoria das políticas de assistência à saúde em geral. É o que acontece com a dengue, por exemplo. Todos nós estamos desenvolvendo uma cultura antidengue em nossas casas ao não deixar água parada, enquanto todos os profissionais de saúde (não só os infectologistas) estão sendo treinados para o diagnóstico e o

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tratamento, além das condições de atendimento em qualquer hospital que estão sendo criadas atualmente. O mesmo aconteceu com a AIDS. Na década de 90, só os hospitais de referência eram equipados e possuíam profissionais treinados para cuidar desses casos e a mortalidade era enorme. Dez anos depois, todos os hospitais tratam a AIDS e a mortalidade é muito baixa. Isso porque aprendemos coletivamente com a epidemia e nos fortalecemos para preveni-la, enfrentá-la e cuidá-la. Conforme verificam, estamos definindo alguns aspectos importantes para a compreensão do modelo Médico Integral. Nos tópicos anteriores, diferenciamos saúde e cura; agora vamos fazer o mesmo com doença aguda e crônica. b) A diferença entre doença aguda e crônica e o impacto do estilo de vida na saúde. A doença aguda é qualquer doença caracterizada por sinais e sintomas de início rápido e curta duração. É um episódio pontual. Tais enfermidades podem ser severas e causar danos às funções normais, como um infarto ou doenças infecciosas agudas (meningite e dengue, por exemplo). Embora aconteçam em um

contexto que pode ser modificado e possuam fatores que a favorecem, geralmente tem duração definida. O objetivo do tratamento é a recuperação e o retorno ao nível anterior de funcionamento do organismo, por isso não tem uma conotação de cura profunda, ainda que a recuperação envolva todas as dimensões. Em contraste, a doença crônica é qualquer doença que persiste por um longo período e afeta o funcionamento físico, emocional, mental, social e espiritual. Portanto, ela tem um maior impacto sobre a saúde e sua manifestação, desenvolvimento e evolução estão enraizadas não só no comportamento do indivíduo que a manifesta, mas também na genética, nos aspectos ambientais como poluição, produtos químicos (ingeridos e tópicos), toxinas ou alimentos geneticamente modificados; nos aspectos culturais como terrorismo, medo, violência e agressão; e também nos aspectos sociais como tráfico, moradia e saneamento básico. Nesse contexto podemos dizer que o estilo de vida envolve aspectos emocionais, mentais, espirituais, comportamentais, físicos, culturais, sociais e ambientais, por isso pode ser definido como uma qualidade resultante da interação e integração de todas essas dimensões. A

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modificação do estilo de vida forma a base de qualquer intervenção, tanto para prevenir quanto para tratar doenças crônicas. Nessa perspectiva, os médicos deveriam ser especialistas em lidar com esta questão. Contudo, nada pode ser mais irreal. Infelizmente não estamos preparados para lidar com essa situação. Disso concluímos que a saúde possui claramente três estados básicos: a ausência de doença, a doença aguda e a doença crônica4. Esse princípio está completamente incorporado no modelo proposto neste livro, que oferece então tratamentos e práticas distintos para os diferentes estados de saúde do indivíduo, inclusive para o estado de ausência de doença, momento ideal para o trabalho de prevenção e de promoção de saúde na busca da integralidade do bem-estar. Tal processo decorre do uso de ferramentas como auto-questionamento, desenvolvimento de consciência, mindfulness e práticas contemplativas – que têm objetivos de resignificações existenciais, psicológicos e espirituais, além da mera sobrevivência, da manutenção da saúde.

Em linhas gerais, os tratamentos e práticas propostos aqui estão organizados em três pilares de atuação: a clínica médica integral, a promoção de bem-estar e as práticas de integração. O modelo que sustenta a metodologia da Medicina Integral é o AQAL5 da saúde – do qual passamos a apresentar mais detalhes para compreender sua implementação na vida real.

AQAL DA SAÚDE O modelo médico proposto pela Medicina Integral, em que todos os aspectos envolvidos na investigação da saúde estejam presentes é denominado Mapa Integral ou Sistema Operacional Integral (linhas, níveis, tipos, estados e quadrantes). Tal designação é a denominação em português do AQAL da saúde. que, por sua vez, indica a abreviação de all quadrantes all levels, ou seja, todos os quadrantes e todos os níveis. O modelo AQAL O AQAL é um modelo que nos permite ter uma visão Integral de qualquer tema estudado por colocar juntos

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todos os cinco conceitos da Teoria quadrantes, linhas, níveis, estados e tipos .

Integral:

Ken Wilber formulou o que ele chama de Teoria Integral, que é baseada na premissa de que todos os pontos de vista são parcialmente verdadeiros. O AQAL representa o core do trabalho de Wilber, indica a abreviação de all quadrantes all levels, ou seja, todos os quadrantes e todos os níveis (mas também tem a conotação de “todos os quadrantes”, “todas as linhas” e “todos os estados” e “todos os tipos”).6 Eles são as cinco categorias irredutíveis do modelo wilberiano de manifestação da existência, 7 modelo que segundo ele, a consideração de cada uma delas permite a visão completa do Cosmos. Em seu texto “Enxerto C: The Ways We Are in This Together” ele descreve AQAL como “uma arquitetura do Kosmo.”8 Os cinco elementos do modelo Integral AQAL: Quadrantes, linhas, níveis, estados e tipos Todas as categorias do AQAL de Ken Wilber quadrantes, linhas, níveis, estados e tipos – estão relacionadas às verdades relativas no universo de

verdades da prática médica, e é isso que iremos discutir neste livro. De acordo com a perspectiva Integral, nenhuma verdade é absoluta. Portanto, para se obter um conhecimento mais inclusivo e claro sobre elas devemos colocá-las todas juntas como fizemos com o exemplo do elefante no início do capítulo. Para uma ideia mais concreta do Mapa Integral, podemos fazer uma analogia com uma máquina fotográfica. Uma câmera possibilita várias maneiras de flagrar o objeto: as lentes, os filtros, a velocidade, os materiais da lente, a abertura da lente. Comparando o modelo integral com cada um desses elementos, teríamos as seguintes correspondências: as lentes, linhas de desenvolvimento, os filtros, os estados de consciência, o alcance das lentes, os níveis de consciência, os materiais, os tipos e a abertura da lente como os quadrantes. Esses são os aspectos fundamentais do Modelo Integral. Exemplos médicos Um exemplo médico prático. Acompanho uma menina, agora com 5 anos de idade, com síndrome de Down que costumava ficar gripada frequentemente. A medicina moderna (convencional), visando atacar sua

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enfermidade momentânea, prescreveria vitaminas e estimularia o sistema imunológico com drogas. No entanto, se o pediatra não prestar atenção em suas condições de vida, não será capaz de tratá-la integralmente. Devido às especificidades de seu distúrbio congênito, ela necessita de fisioterapia e terapia ocupacional constante, orientação nutricional, suporte emocional e coaching familiar para que seja construído o melhor ambiente e as melhores condições possíveis em seu estado de saúde, diminuindo assim a incidência das gripes. Outro exemplo. Um homem jovem, workaholic (cujo casamento não vai bem, mas a situação financeira não permite a separação) subitamente tem um infarto e é atendido emergencialmente. Se o cardiologista prescrever drogas para sua condição cardiovascular sem explorar sua vida pessoal, estará cuidando somente de parte do problema. Além do tratamento pontual, o paciente necessita também de suporte psicológico, emocional, coaching de saúde, orientação nutricional e técnicas de mindfulness para vivenciar um estado de saúde mais amplo, além do já estabelecido.

Por meio do Mapa Integral é possível observar o processo de saúde e doença de pelo menos três ângulos diversos além das linhas de saúde e quadrantes. 1- por meio de fatos concretos que incluem a fisiopatologia (estudo de como a doença acontece no corpo e o que ela causa), a etiologia (estudo da causa das doenças), os tratamentos oferecidos e os exames. 2- através da percepção subjetiva do médico integral que integra ambas as visões a técnica - do médico - e também a do ser humano que tem a sensibilidade e compaixão, e ainda, 3- sob o ponto de vista do próprio indivíduo (paciente ou cliente) que vive o evento, experenciando a doença e o processo de cura. Um caminho integralmente estruturado consideração todas essas dimensões.

leva

em

Os ângulos Integrais da saúde e das doenças

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OS ASPECTOS FUNDAMENTAIS DO MODELO INTEGRAL APLICADOS À SAÚDE I.

QUADRANTES

De acordo com Ken Wilber, quadrantes são “tetraemergentes”, isto é eles são perspectivas diferentes do mesmo objeto. Refletem os múltiplos pontos de vista inerentes à natureza e de cada quadrante se verifica uma perspectiva válida para oferecer aos demais. A dor emocional de quem sofre uma tragédia como a de 11 de Setembro nos Estados Unidos é uma perspectiva, enquanto a estatística social é outro panorama concreto sobre o mesmo fato: 11 de Setembro. A primeira é um ponto de vista de um individuo e sua experiência subjetiva, enquanto a última é o ponto de vista coletivo e seus estudos objetivos. Colocando-os juntos, Wilber identifica quatro quadrantes igualmente válidos para qualquer fato: o subjetivo (interior) e o objetivo (exterior), a visão individual e ao mesmo tempo a coletiva. Esse modelo tem sido aplicado em várias disciplinas como política, educação, psicologia e ecologia. Em seu livro “Integral Ecology”, Sean Esbjörn-Hargens (uma autoridade global no campo de negócios integrais e sustentabilidade integral, fundador e diretor executivo do “Journal of Integral Theory and Practice”, co-

fundador da Biennial Integral Theory Conference, editor da SunyPress book que publica uma serie sobre Teoria Integral e fundador do MetaIntegral Associates), analisa a ecologia sob a ótica desses quatro pilares, demonstrando a interação entre eles e a importância de colocá-los, todos juntos, para uma compreensão mais ampla e integrada dos aspectos ecológicos. Propõe, assim, uma visão mais sustentável acerca do tema ecologia. No que refere à medicina, os quadrantes possibilitam a disposição das diversas perspectivas do processo da saúde e da doença, assim como dos métodos terapêuticos de diferentes práticas médicas em uma única tabela, valorizando, assim, todos os aspectos envolvidos. ·

Os quatro quadrantes da saúde

Aplicado à saúde, esse gráfico organiza os vários métodos da observação da realidade em quatro dimensões: a objetiva (corpo, genética e estruturas econômica e social) e a subjetiva (psique, espiritualidade, valores, crenças e acordos compartilhados tanto individuais quanto coletivos).

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Combinando-os, eles geram quatro sub-dimensões: objetiva, individual ou biocomportamental (corpo físico e comportamento); objetiva coletiva ou socioambiental (meio ambiente, sistema político, econômico, social); subjetiva individual ou psicoespiritual (psique, valores e espiritualidade) e subjetiva coletiva ou interpessoal (cultura, relações afetivas e família).

inclui as fontes não acadêmicas. É uma forma específica de interdisciplinaridade. (Vrije University Amsterdam, 2005)50 11.

Uma abordagem eficaz em relação às reordenações do estilo de vida, por exemplo, deve, forçosamente, incorporar uma perspectiva de âmbito transdisciplinar, uma vez que o estilo de vida, por si só, já é uma das funções das dimensões humanas.

Portanto, o mapa Integral é transdisciplinar e por individualizar e ao mesmo tempo contextualizar todas as realidades e perspectivas de uma dada situação em um único mapa, dispostos em quadrantes se mostram eficazes e abrangentes. O mapa, por meio deles obtido, mantém a visão do todo sem perder de vista a parte; por outro lado, ao ver a parte, não deixa de considerar o todo, como o elefante no início do capítulo. Essa plasticidade confere aos quatro quadrantes uma grande flexibilidade, o que facilita a sua aplicação em diversas ciências como uma ferramenta de integração.

Multidisciplinar, interdisciplinar e transdiciplinar. A abordagem multidisciplinar trabalha com o conhecimento de diferentes disciplinas e obedece os seus limites.9 Já a transdisciplinaridade analisa, harmoniza e faz pontes entre as disciplinas construindo um todo coerente e coordenado.(CIHR, 2005)12 10. Ela integra as ciências naturais, sociais e de saúde no contexto humanitário e transcende seus limites tradicionais. (Soskolne, 2000)55 12 , combina os conhecimentos e perspectivas acadêmicas e também

Resumindo, multidlisciplinaridade trabalha com várias disciplinas, a interdisciplinaridade atua entre várias disciplinas e trasndisciplinaridade trabalha com cruzando e indo além de várias disciplinas.13

Como falamos anteriormente, os quadrantes derivam do cruzamento de dois eixos, um vertical (que caracteriza o domínio interior e exterior) e um

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horizontal (que determina os domínios individual e coletivo), dos quais obtemos: Figura 1

Com os dados dos quatro quadrantes nas mãos, desenha-se a Matrix Integral Personalizada, um mapa que permitirá o planejamento de ações visando a melhoria da saúde e da qualidade de vida. Para tanto, é preciso compreender os seguintes conceitos: PERCEPÇÃO Este é o domínio da subjetividade. Abrange todos os níveis de percepção e entendimento do mundo, inclusive da saúde; aquilo que ocorre no mundo interior e não pode ser conhecido por outra pessoa (a menos que se compartilhe através de qualquer tipo de comunicação); o que é particular e completamente íntimo. Trata-se do conhecimento adquirido a partir da experiência pessoal. É o pilar que determina o modo como cada um pensa, interpreta e dá significado à própria vida, a si mesmo e ao mundo. Berço dos conceitos e valores pessoais, dentre eles bem-estar e plenitude.

Figura 1 – Os quadrantes MANIFESTAÇÃO INDIVIDUAL

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Este campo diz respeito ao mundo objetivo individual, aquilo que ainda é particular, mas pode ser visto por outros. Equivale ao terreno do comportamento, da anatomia e da fisiologia. É o conhecimento construído pela observação. Este domínio é o que estabelece como se comportar e agir no mundo, ou seja, o estilo de vida e a expressão criativa. Também diz respeito a como o corpo físico se manifesta e aparece na realidade. CULTURA A cultura refere-se à realidade intersubjetiva em todos os níveis da comunhão: os valores e sentidos compartilhados. Aqui, o conhecimento é obtido a partir da experiência coletiva através da história. Este domínio estabelece a visão social de mundo, por exemplo, o que a família ou comunidade, grupo ou equipe entende por bem-estar e saúde. Neste caso, a concepção coletiva sobre o mundo pode ser diferente da visão pessoal de cada indivíduo acerca dos mesmos aspectos.

SISTEMAS Os sistemas equivalem às intersecções e desenham uma rede de conexões e processos observáveis. São as organizações nas quais o indivíduo está inserido, tais como o regime político e econômico, o sistema de transporte e educação e também o ecossistema. No nosso caso, diz respeito ao conhecimento conseguido a partir da análise dos sistemas. Os sistemas determinam as atitudes e comportamentos coletivos, desde o padrão genético até os padrões de comportamentos familiares. Todas essas perspectivas são aspectos diferentes do mesmo fato, como falamos anteriormente. Juntas, elas trazem uma visão mais clara e diferente da saúde coletiva e individual. Quando olhamos para a saúde individual seria mais efetiva e integral, se tivermos todas essas perspectivas juntas, uma vez que a saúde não é determinada somente por padrões genéticos e compartimentais. É uma função de padrões e valores objetivos, subjetivos, individuais e coletivos - padrões e valores coletivos. Quem de nós não conhece alguém que deseja ser vegetariano mas que encontra dificuldades nas reuniões de família e amigos nas

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quais geralmente não há comida adequada para eles, ao mesmo tempo há vários questionamentos e julgamentos sobre sua escolha? Portanto, precisamos de suporte de grupo (familiares, amigos e colegas), estrutura concreta (disponibilidade de vegetais, receitas, fontes alternativas de proteína), motivação e desejo, eficácia e conhecimento para mudar o comportamento. Isso ocorre porque somos todas estas dimensões. Elas emergem ao mesmo tempo e têm a mesma importância. Podemos falar que são complementares e interdependentes.

II.

Ken Wilber emprestou o conceito de múltiplas inteligências, o redefiniu e expandiu com o nome, passando a chamá-lo “linhas de desenvolvimento”. Estas linhas representam as capacidades humanas naturais passíveis de serem desenvolvidas através da prática e foco como a cognição: a espiritualidade, a moral, o emocional, a cinestésica, o ego, dentre muitas outras.

LINHAS DE DESENVOLVIMENTO

Howard GARDNER, professor de Cognição e Educação na Escola de Educação na Universidade de Harvard e autor de mais de vinte livros, desenvolveu a Teoria de Múltiplas Inteligências. Ao invés de ver a inteligência dominada por uma única habilidade, esta teoria diferencia a inteligência em modalidades específicas como a matemática-lógica, a espacial, a interpessoal, musical e cinestésica. Existem várias outras “inteligências” que estão sendo exploradas por outros pesquisadores em diferentes áreas.

FIGURA 2 – Linhas de Developmento - adaptada do Livro A visão Integral de Ken Wilber.

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Na área da saúde, o médico Elliot Dacher14 - Na área da saúde, Elliot Dacher14 adaptou os quatro quadrantes e as linhas de desenvolvimento propostos por Ken Wilber em uma ferramenta clínica. Para tanto, acomodou três linhas de desenvolvimento em cada um dos quadrantes – obtendo, portanto, doze linhas – destacando que as mesmas não são exclusivas, mas representativas, além de poderem ser concomitantes. Médico que ensina princípios e práticas da saúde e da cura com ênfase no fim do distresse, ele também pesquisa técnicas cujo objetivo visa o fim do sofrimento e ao mesmo tempo promoverem potencialidade máxima em cada individuo. Muitas são as linhas de desenvolvimento passíveis de serem abordadas na saúde. Entretanto, os estudos são escassos ainda prescindem de uma sistematização das diferentes formas de avaliação, especialmente porque o Integral é relativamente novo e precisa de tempo para ter padrões e protocolos dentro da academia. O Dr. Elliot Dacher propõe algumas linhas em seu livro “Integral Health”, mas não há um consenso entre os estudiosos da área sobre suas disposições. Joel KREISBERG, médico americano, professor do curso de

Medicina Corpo e Mente, da Universidade de Berkley na Califórnia, em artigo15 publicado no livro Integral Education em 2010, afirma utilizar o modelo de Darcher em suas aulas, acrescentando que a avaliação proposta pelo médico tem contribuído muito para o aprendizado e desenvolvimento de seus estudantes. As doze linhas da Saúde Integral propostas por Dacher estão distribuídas em quatro quadrantes, dois superiores e dois inferiores: QSE - cognitiva, emocional e conotativa; QSD - exercícios, nutricional e autorregulação; QIE - pessoal, familiar e comunidade; QID - trabalho, ativismo social e produtividade. Eu também faço uso, em minha avaliação de saúde, da composição de várias linhas de desenvolvimento (lembrando que elas são representativas e não exclusivas). Essas são definidas a partir de um minucioso estudo da saúde individual e coletiva. A primeira está relacionada à pessoa, enquanto a segunda, com um grupo de pessoas como comunidades, empresas, cidades, países etc... Eu criei e uso um questionário de saúde que reúne dezoito linhas, também dispostas nos quadrantes, como mostra a figura 3.

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exemplo de estágios de desenvolvimento pode ser verificado na sequência átomos, moléculas, células, organismos. Cada estágio dessa evolução envolve um nível maior de complexidade e organização. O conceito wilberiano de níveis está baseado em várias teorias de desenvolvimento psicológico incluindo a teoria de desenvolvimento cognitivo, de Piaget,[18]; os estados morais de desenvolvimento de Kohlberg; a hierarquia de necessidades de e os estágios de desenvolvimento do ego de Jane. Ele está muito relacionado ao conceito de linhas de desenvolvimento. Quanto mais desenvolvido em uma linha, mais alto você se encontrar naquela linha. Por exemplo, na linha desenvolvimento ético temos: 1.Egocêntrico – Este nível em geral, é pautado na

FIGURA 3– As linhas de desenvolvimento do BemEstar Integral nos quadrantes.

defesa das própria necessidades e desejos, o outro não existe. O famoso eu, meu e eu mesmo, como a criança costuma ser. (semelhante ao egoísta” dos estágios de Carol Gilligan.

III. NÍVEIS OU ESTÁGIOS DE CONSCIÊNCIA NAS LINHAS DE DESENVOLVIMENTO

2.Etinocêntrico or Sociocênctrico – Nesse estágio é

Os níveis ou estágios de consciência referem-se à condição de organização e complexidade. Um

marcado pela defesa e identificação coma familia ou grupos. Como por exemplo o futbol, Americano, nosso futebol e o feminism. – (é o estígio de “cuidado“ de Gilligan)

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3.Mundocêntrico (O estágio de cuidado Universal de

Gilligan) – Nesse estágio o indivíduo se identifica com o mundo, como o exílio de vida verde/ ecológico, pessoas que querem salvar o planeta ou até Ghandi. 4.Ser-cêntrico (estágio ïntegrado”de Gilligan) – Esse

estágio é de integração: o indivíduo se integra com tudo e todos como as pessoas iliminadas (Jesus, Buddha). O modelo integral compreende diferentes níveis nas linhas de desenvolvimento, e uma vez que as linhas de desenvolvimento estão sendo estudadas há mais de seis décadas, temos vários níveis muito bem estabelecidos nas linhas investigadas até o momento. Todavia, quando aplicado à saúde, ainda não temos estudos suficientes para determinar os níveis em cada uma das linhas de saúde. Por isso, desenvolvi o Índice de Bem-estar Integral, que se propõe a estudar o desenvolvimento das linhas de saúde. Índice de Bem-estar Integral No Índice de Bem-estar Integral, cada linha apresenta uma graduação que varia de um a cinco: do mais

primitivo e “pior” ao melhor estágio de saúde e bemestar possível, respectivamente. Essa nomenclatura numérica não tem a intenção de estabelecer os níveis de desenvolvimento da linha mas, antes, compilar dados para uma possível sistematização dos níveis de saúde, com o intuito de avaliarmos a amplitude e o desenvolvimento do indivíduo em uma dada linha de desenvolvimento.

IV. ESTADO DE CONSCIÊNCIA E SAÚDE

Na medicina convencional temos alguns métodos para a avaliação do estado de consciência que determinam se o indivíduo está fisiologicamente alerta e, portanto, consciente (que significa totalmente acordado) ou inconsciente, o que pode significar desde um coma até que o indivíduo está dormindo ou sedado. Nessa avaliação médica consciência é um estado de alerta. No entanto, existem outras definições de consciência como por exemplo “uma forma de compreender e atuar no mundo”.

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O Modelo Integral entende que existem três estados básicos de consciência: alerta, dormindo ou sonhando e coloca que também podemos ter estados alterados de consciência em vários graus de intensidade, como acontece com o uso de drogas, hipnose, emoções intensas (perda, amor, depressão, climax sesual, medo, pânico, etc..). Os estados alterados são algo próximo do que chamamos, popularmente, de “estado de espírito”, como afirmou PLATÃO: “todo mundo se torna poeta ao ser tocado pelo amor”. Quem de nós não viveu o mundo cor-de-rosa quando alimentados pela paixão e, em outros momentos, a escuridão do medo e da solidão quando rejeitados? Grosseiramente, esses seriam exemplos de estados de consciência. Quando falamos em “estado de saúde”, queremos descrever a situação de saúde geral de um dado indivíduo que pode ser saudável ou doente. Saudável é um espectro entre ausência de doença, bem-estar e felicidade autêntica; enquanto a doença pode ser aguda ou crônica. Por isso, trabalho com cinco estados de saúde, na medIntegral:

·

Doença crônica

·

Doença aguda

·

Ausência de doença

·

Bem-estar

·

Felicidade autêntica ou plenitude

A MedIntegral é o local onde aplico a metodologia baseada no Modelo Integral ao qual chamo de Medicina Integral. Entretanto, existem diferentes abordagens e desenhos da Medicina Integral devido ao curto período de existência do Modelo Integral e a falta de protocolos e estudos acadêmicos sobre o assunto.

V. TIPOS

DIFERENTES REAÇÕES MANIFESTAÇÕES DE DOENÇAS

E

É consensual, dentro da comunidade médica, a concepção de que “cada paciente é um paciente” que tem uma estória de educação e experiências e sua autopercepção. Isso significa que cada paciente

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apresenta um determinado quadro clínico, experimenta uma dada reação medicamentosa, alergias e estilo de vida, assim como a sua própria percepção da doença e da sua saúde. Um dos fatores envolvidos na promoção dessa diversidade é o tipo de personalidade do paciente. No que se refere à saúde, o primeiro a trabalhar com a tipologia envolvendo a personalidade foi HIPÓCRATES, considerado o pai da medicina. Esse grande pesquisador e médico, no intuito de melhor compreender o funcionamento do corpo humano, levou em consideração a própria personalidade do homem e criou a célebre doutrina dos quatro humores ou temperamentos: fleumático, melancólico, sanguíneo e colérico. Ele relaciona os quatro temperamentos a determinadas reações e dieta. Porém, antes de Hipócrates, a medicina ayurvédica já havia proposto o conceito de doshas. Eles acreditam que toda a manifestação material do universo é formada por cinco elementos: éter, ar, fogo, água e terra.

FIGURA 4 – Doshas Segundo essa tradição, os seres humanos são influenciados por esses cinco elementos através do dosha, que nada mais é do que a caracterização do perfil biológico do indivíduo. Os doshas são vata, regido por ar e éter; pitta, regido por fogo e água e kapha, regido por terra e água. Todas as pessoas

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possuem os proporções.

três

doshas,

mas

em

diferentes

Modernamente, nos fins dos anos cinquenta, os cardiologistas americanos ROSENMAN e FRIEDMAN descreveram um comportamento ao qual denominaram “personalidade tipo A”. Os indivíduos assim caracterizados são agressivos, competitivos, impacientes e explosivos, personalidade essa que constitui fator de risco das cardiopatias isquêmicas. As pessoas assim caracterizadas apresentam dois e meio por cento a mais de probabilidades de apresentar angina e infarto do miocárdio. Psiconeurociência Já a psiconeurociência - uma ciência transdisciplinar que estuda a realação entre mente (pscicociência) e o cérebro (neurociência) comparando o comportamento otimista e o pessimista, afirma que pessoas otimistas apresentam menor risco de desenvolvimento de cânceres e doenças mentais, possuem o sistema imunológico mais saudável, recuperam-se mais rapidamente de episódios agudos de doenças e também enfrentam melhor doenças crônicas, apresentando menos sintomas e crises.

A tipologia e dieta do tipo sanguíneo Outra tipologia amplamente difundida nos Estados Unidos é a dieta do tipo sanguíneo advogada pelo “naturopata” e autor do livro “A dieta do tipo sanguíneo” (Elsevier Brasil/ 2005), Peter D'Adamo. Ele diz que o tipo sanguíneo é o fator mais importante para determinar uma dieta saudável e recomenda regimes distintos para cada tipo sanguíneo. D'Adamo fez grupos com treze etnias diferentes em cada grupo sanguíneo e cada grupo teve a recomendação de uma dieta única: • Grupo sanguíneo tipo O é descrito por D'Adamo

como o caçador. Ele recomenda para eles uma dieta com alto teor protéico. Ainda que as pesquisas mostrem que o tipo A é o mais antigo, D'Adamo, ao contrario, acredita que o O seja o mais velho e tenha aparecido há 30.000 anos. 16 • Grupo sanguíneo tipo A é chamado de agrário ou

cultivador. O autor acredita que esse tipo surgiu na época do desenvolvimento da agricultura, há 20.000 anos. Recomenda aos pertencentes deste grupo uma dieta enfatizada em vegetais e sem carne vermelha (vegetariana), sem ovos,

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leite ou carne.. • Grupo sanguíneo tipo B

é chamado de nômades. Peter D’Adamo estima que apareceram há 10,000 anos. Associa o membros deste grupo a um sistema imunológico forte e um sistema digestivo flexível. Os possuidores desta variante sanguínea seriam os únicos capazes de lidar com laticínios, o que é controverso pelo fato de muitas pesquisas apontarem o surgimento do tipo B na Ásia (especialmente na China e Índia) e que intolerância à lactose é mais comum na Ásia, na América do Sul e na África, com menor incidência pertencentes ao grupo habitantes do norte europeu e do noroeste da Índia.17,18,19,20

• Grupo sanguíneo tipo AB é descrito como o enigma.

para alcançar benefícios.

melhores

resultados

e

maiores

DIAGNÓSTICO INTEGRAL O diagnóstico é um conjunto de métodos que permitem ao médico determinar a natureza e as causas de uma doença, com base na anamnese, nos sinais, nos sintomas e nas investigações laboratoriais do paciente. Na Medicina Integral, o diagnóstico é realizado por meio de uma metodologia que envolve avaliações objetivas e subjetivas, conforme a figura 5 abaixo.

O autor acredita que é o mais novo dos tipos, surgido há 1.000 anos. Em termos de dieta, esse grupo fica numa posição intermediária entre os tipos A e o B. Como vemos, a tipologia exerce um rol pertinente no processo de saúde e bem-estar. A medicina Integral, ao levar em conta as personalidades, pode utilizar comunicação e ferramentas adequadas a cada tipologia aumentando significativamente os caminhos FIGURA 5 – As dimensões objetiva e subjetiva avaliadas pela Medicina Integral. 79


Nas figuras que seguem, vejamos os desdobramentos dos aspectos acima contemplados no processo de diagnóstico na prática médica integral. Estes aspectos não são propriamente as linhas desenvolvimento de saúde, mas núcleos ou áreas de investigação que contêm as linhas de desenvolvimento. Por exemplo: recursos fisiológicos (que incluem flexibilidade e genética) e tipo sanguíneo podem estão incluídas na linha de desenvolvimento: Saúde física.

FIGURA 6 – Matriz Integral do Bem-estar Integral

Na figura 6, observamos alguns dos fatores envolvidos na construção do diagnóstico Integral do Indivíduo, a construção da Matriz Integral do Bem-estar Atual.

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do paciente de uma maneira rápida e abrangente, interpretá-lo no contexto do estado de saúde atual, compreender o seu nível de entendimento, assim como suas crenças e sua intenção. A partir dessas constatações, poderá orientar esse indivíduo dentro de suas possibilidades de compreensão, entendimento e cura. Depois da recuperação inicia-se o processo de coaching de Saúde e Bem-Estar Integral, com o objetivo de se alcançar o melhor estado de saúde e bem-estar possível. Com isso, o médico terá maiores condições de transmitir as informações de modo eficiente, além de utilizar os recursos de forma mais eficaz. FIGURA 7 – Construção da Matriz Terapêutica Integral

Na figura 7, observamos algumas das investigações pessoais realizadas para a construção da Matriz Integral de Tratamento do Indivíduo. Ao utilizar esse mapa como uma Matriz Integral do Bem-estar, o médico pode construir o perfil integral

Não há ainda estruturação do diagnóstico Integral, pelas mesmas razões mencionadas anteriormente: o pouco tempo de existência do modelo Integral e a falta de protocolos acadêmicos. Em minha prática, comecei a estudar, organizar e a aplicar um índice baseado no modelo Integral. Nessa pesquisa, eu encontrei as deficiências dos aspectos citados anteriormente como educação, estrutura política e social, meio ambiente, valores e crenças compartilhadas, que não são levados em consideração

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nos questionários de saúde. Além disso, desenvolvi um sistema de indicadores para avaliação de saúde. Os indicadores são reunidos em um quadro avaliativo moldável, o que propicia que os índices sejam construídos, por exemplo, conforme a população a ser avaliada, o que se quer avaliar e quais os parâmetros utilizados para isso. Trata-se de um framework integral que funciona em três níveis: as linhas de desenvolvimento, os quadrantes e qualidades como por exemplo alta perfomance, comprometimento, eficiência e sustentabilidade. Por sua importância e complexidade, os índices serão apresentados em um capítulo próprio. A maior diferença e vantagem da abordagem Integral é que ela traz a perspectiva mais completa possível, até o momento. Permite a coexistência de doenças, saúde e bem-estar lado a lado, bem como a coexistência das práticas de cura pré-moderna, moderna e pós moderna. Em linhas gerais, o Modelo Integral oferece mais opções de cura com menos efeitos colaterais e menos problemas para todos: médicos, pacientes, organizações de saúde, comunidades e para o planeta, uma vez que utiliza os recursos de forma mais eficiente, aplica da melhor forma os conhecimentos

acumulados em nossa estória e cuida das nossas relações de forma mais saudável.

MÉDICO INTEGRAL I.

A PRÁTICA DO MÉDICO INTEGRAL

O trabalho do médico integral começa pela compreensão abrangente dos aspectos referentes ao ser humano, assim como das mais variadas conquistas médicas. No que diz respeito aos seres humanos, devem entender mais do que os aspectos físicos como anatomia e fisiologia, mas também os aspectos mentais, psico-emocionais, bem como os culturais e os sistemas ao qual pertencem. Na prática médica Integral as práticas das medicinas pré-moderna, moderna e pós e pós-pós-moderna são integradas. O leitor poderá questionar se o médico focado no modelo da Medicina Integral possui treinamento para tais procedimentos. De fato, ainda não existe

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formação em Medicina Integral, pois ela não é uma especialidade, mas, antes, um modo de se posicionar diante do paciente, de si mesmo e do mundo. É um paradigma, um modo de ser e pensar. Para se ter essa abordagem, é preciso, em primeiro lugar, pensar de forma integral e, para isso, estudar a Teoria Integral é fundamental. Essa formação, esteve disponível na Universidade JFK, nos Estados Unidos, como um mestrado. Depois disso, alguns caminhos são possíveis, como estudar medicinas complementares, assim como psicologia. Porém, ainda não existe nenhum curso regular. O pensamento integral é absolutamente contemporâneo, foi concebido no final do século passado, mais precisamente 1995, ainda que o criador e divulgador do modelo, Ken Wilber, tenha inciado suas reflexões no final da década de 70, seus insights não eram relacionado ao modelo Integral ainda, o que frutificou com seu extensivo compendium SES: Sex, Ecology, Spirituality (Sambhala/ 1995). Portanto, o modelo é uma criança ainda, mas depois da criação do Instituto Integral nos Estados Unidos em 1998, algumas iniciativas começaram ocorrer especialmente nos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra,

Austrália, Alemanha, México, Brazil e estão crescendo em vários outros países. Aqui no Brasil, por exemplo, eu iniciei um treinamento para médicos e profissionais de saúde se tornarem integralmente formados em saúde e bem-estar.

Outra prática fundamental do médico integral é o desenvolvimento de sua própria consciência (o que pode ser mapeado nas diferentes linhas de desenvolvimento, conforme a figura abaixo) a aquisição de diferentes perspectivas e a sua inclusão como fator não menos importante que os medicamentos e práticas para a cura do indivíduo. A relação entre o médico e o paciente é construída sobre as bases de confiança mútua, vulnerabilidade mútua, igualdade e transparência, o que permite um acoplamento terapêutico, um sistema que se cria em conjunto com feedbacks e percepções de ambos a cerca do processo.

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A RELAÇÃO ENTRE O MÉDICO INTEGRAL E O “PACIENTE”

momento presente é o método mais viável para a manutenção de uma vida com qualidade.

No que se refere ao indivíduo, o médico integral busca compreendê-lo como um todo; concebe seu trabalho não somente como meio de cura para uma doença específica e pontual, mas também como suporte para que o indivíduo alcance a capacidade de compreender e perceber a si próprio, mantendo-se atento à dinâmica do seu corpo, mente e espirito, às forças e fraquezas internas bem como as externas e às interferências relacionadas a saúde e bem-estar.

A relação aqui tem tanta importa – uma vez que o exercício do relacionamento pode mudar a perspectiva deles sobre como se dão estes envolvimentos. Diz respeito também à transparência, suporte, confiança e amor. Todos esses aspectos fazem a diferença no processo de cura como temos visto nesse livro.

II.

Externamente ou objetivamente, esses aspectos estão relacionados a poluição, clima, meio profissional, alimentação, horários, funcionamento do intestino, intensidade da fome, qualidade do sono, etc. As internas estão relacionadas a sensações de alegria, tristeza, bem-estar, recorrência de incômodos, relacionamentos afetivos, pensamentos recorrentes, crenças, valores etc.. Com mis de 10 anos de prática integral, acredito que saber compreender e reconhecer a si próprio, cria um nível, um padrão comparativo introspectivo como medida de autoavaliação. Isso e a atenção no

A CULTURA MÉDICA: CLÍNICA E PROMOÇÃO DE SAÚDE Pelo ângulo clínico, a Medicina Integral é uma abordagem absolutamente inclusiva, que permite a coexistência de todas as práticas médicas, sejam elas advindas da medicina tradicional que são práticas prémodernas como medicina ayurvédica, chinesa, japonesa e processos de cura xamânicos ou das medicinas complementares. Aliás, vale ressaltar que várias práticas complementares e alternativas têm comprovação científica - acupuntura, quiropraxia, yoga, mindfulness e ortomolecular.

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As práticas comuns a CAM (Complementary and Alternative Medicine) estão representadas na figura abaixo.

As práticas somáticas envolvem atividades como yoga, feldenkrais, rolfing, bioenergética de Alexander and quiropraxia (que é muito difundida nos Estados Unidos sendo cobrta por vários planos de saúde para tratamento de acidentes, medida da postura e alívio de dores especialmente nas costas). Atualmente, muitas escolas médicas incluindo a Universidade da Califórnia, em Berkley (EUA), o Hospital das Clínicas e a Escola Paulista de Medicina em São Paulo (Brasil) apresentam em sua grade curricular a homeopatia e a acupuntura. Em 2007, foram gastos U$3,1 bilhões com medicina homeopática nos Estados Unidos.21 e 2.3% da pessoas com mais de 18 anos consultaram um homeopata naquele ano 22. No Brasil, a homeopatia está incluída no sistema nacional de saúde desde 1991, os médicos que querem ser homeopatas precisam completar 2.300 horas de programas de formação para receber a licença do exercício.23.

FIGURA 8 - Práticas complementares comuns adaptado do livro Textbook of Family Medicine, 7th ed. (2007). p. 224

Práticas como reiki e a meditação, por exemplo, são modalidades oferecidas no Hospital Albert Einstein, um dos centros médicos mais importantes do Brasil.

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A Universidade de Duke, na Carolina do Norte (EUA) inaugurou em julho de 2012 o serviço de saúde básica de medicina Integrativa com tratamentos complementares como mindfulness, yoga, cura pela música, reiki, entre outras. Yoga e Acupuntura também são cursos oferecidos gratuitamente nos Hospitais de cânceres nos Estados Unidos .St Davis Hospital, em Austin (Texas) é um dentre muitos outros existentes naquele pais. Com todos estes exemplos em mente, você deve estar concluindo corretamente que a prática médica integral possui um espectro abrangente, promove um conjunto de tratamentos e práticas que visam à restauração da saúde de forma rápida e eficiente, com intervenções mais integradas e menos invasivas possíveis; não tem a intenção de descartar a medicina moderna, isto é, não descarta cirurgias, antibióticos, anti-depressivos ou qualquer tipo de tratamento prescrito por ela, simplesmente entende que eles podem ser complementados e ampliados em seu poder de cura (vista aqui como evolução) com outros tratamentos. Outro diferencial da Medicina Integral é que seu foco não está apenas no processo de cura, mas também na

promoção de saúde e bem-estar, uma vez que as doenças crônicas são, em sua maioria, também são resultantes de estilos de vida insalubres. Quando falamos em promoção de saúde, encontramos diversas ideias espalhadas nas diversas práticas que, de alguma maneira, almejam um estilo de vida salutar. A Medicina Integral reune essas ideias em dois grandes grupos de atuação, o comportamento individual e a própria compreensão da noção de saúde. No que se refere ao comportamento, a promoção da saúde consiste em atividades dirigidas a cada indivíduo, cuja finalidade reside na transformação do seu comportamento. Aqui, o foco recai sobre o estilo de vida e a relação com os espaços nos quais esse indivíduo transita, desde a família até o ambiente das culturas da comunidade em que se encontra. Nesse caso, os programas ou atividades de promoção da saúde tendem a concentrar-se em componentes educativos, primariamente relacionados com os comportamentos passíveis de mudanças, que estariam, pelo menos em parte, sob o controle dos próprios indivíduos.

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Em relação à compreensão do significado de saúde, compartilhamos com a OMS a noção de que esta é produto de um amplo espectro de fatores relacionados com a qualidade de vida: padrões adequados de alimentação, nutrição, habitação e saneamento; boas condições de trabalho; oportunidades de educação ao longo de toda a vida; apoio social para famílias e indivíduos; ambiente físico limpo e estilo de vida responsável. ·

A orientação individual

A partir da obtenção e compreensão das informações acerca de cada indivíduo, assim como sua própria compreensão (consciência), vontade e recursos, sejam eles de tempo, emocionais ou financeiros, o médico integral buscará, em seu escopo, relacionar o que observou em seu paciente com as diversas possibilidades oferecidas pelas medicinas e terapias complementares. Na minha prática diária, duração de duas horas e o do cliente/paciente. Tenho para saber seus estilos de bem-estar, suas dúvidas

o primeiro encontro tem objetivo é ouvir e aprender uma atitude de curiosidade vida, sua visão de saúde e e medos, suas relações,

valores, crenças e propósitos, alem de perguntar onde eles querem chegar com o tratamento. É um processo de reconhecimento. Então, partimos para a etapa de descoberta na qual descobrimos ferramentas e recursos próprios para chegar ao propósito na visão que eles fazem de bemestar. Tais recursos emergem da exploração interna e de suas próprias experiências dentro do espaço coletivo. A partir de então, ofereço alguns recursos com profundidade para que possam encontrar práticas que lhes sejam mais perfeitas e adequadas naquele momento e situação. Perfeitas, no sentido de fazer com que se sintam melhores, conscientes e mais integrados que anteriormente. O terceiro passo é pôr em prática o que se descobriu com ferramentas e com os suportes motivadores da mudança de comportamento.

TRATAMENTOS E PRÁTICAS Como fazemos isso? Em linhas gerais, podemos dizer que o processo acima apresentado se dá em duas etapas, quais sejam:

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A) Avaliação global do paciente. Avaliação através de anamnese médica e aplicação de questionários para designar o índice de bem-estar atual e a construção da Matriz Integral do Bem-estar Atual (MIBEA).

tratamento e desenvolvimento que incluem atividades meditativas e contemplativas, prática do campo bioeletromagnético, aquisição de novas perspectivas, prática corporal e prática emocional, conforme vemos nas figuras abaixo.

B) Preparação para a mudança. Construção da Matriz

Terapêutica Integral – clínica integral para o estado de saúde e coaching – no intuito de melhorar e alterar o estilo de vida por meio do desenvolvimento de práticas personalizadas que contemplam todas as dimensões do bem-estar, as práticas de integração. Um projeto de qualidade de vida que é moldado e renovado de acordo com os objetivos e situações emergentes no decorrer da vida do indivíduo . Basicamente, a Matriz Terapêutica Integral é a dimensão experimental do modelo integral aplicada ao tratamento e às práticas.

FIGURE 9 A and B – Therapy Matrix Combination

Ela é obtida por meio da combinação cruzada de vários métodos de tratamento e desenvolvimento pessoal que se mostraram eficientes. Assim, se tomarmos saúde física, mental e espiritual e combinálas com as terapias tradicionais, a moderna e a pósmoderna, obteremos nove possíveis formas de

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Os possíveis recursos a serem utilizados: 1. Medicamentos - drogas modernas + terapias complementares. 2. Exercício físico regular (todos os três tipos: força, cardio, e alongamento) 3. Rejuvenescimento - sono reparador 4. Alimentação ideal para a situação específica.

- o que significa estado de saúde, realidade ambiental, estrutura de vida e cultura.

Por exemplo, a dieta de um indiano de 40 anos, que trabalha o dia todo com intervalos longos entre as refeições e vive em uma família que adora alimentos picantes, será totalmente diferente da de uma americana de 20 anos que estuda o dia todo, se alimenta basicamente Universidade e faz exercícios físico pesado diariamente. 5. Abordagem formal para a redução do estresse e relaxamento 6. Acupuntura ou práticas somáticas alternativas.

7.

Práticas de Integração - um crosstraining para o corpo, a mente e o espírito. São práticas customizadas individualmente, isto é “tailor made”, que melhora a saúde em vários aspectos, como escreveu o palestrante, coach, teórico Terry Patten, juntamente com Ken Wilber no “Manual Prática da Vida Integral” (Cultrix/2012).

Segundo os autores, tais práticas “ajudam você a se tornar o mais saudável, inteiro e funcional possível em seu nível de saúde atual, na saúde vertical (evoluindo para um nível de saúde e consciência mais expandido e elevado), e na saúde essencial (tornando-se mais consciente de sua essência ou presença.” 24 Mas as Práticas de Integração também são programas em grupo que envolvem atividades interativas para o corpo, a mente e o espírito, como por exemplo yoga, artes marciais, dança, trabalhos corporais, conversações, bioenergética, interações com cocriação da visão do grupo de bem-estar, trabalho de sombra e meditação entre outras. Abaixo, listamos os ramos das práticas de integração coletivas:

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a. programas de promoção de bem-estar; b. atividades culturais;

PRÁTICAS DE INTEGRAÇÃO – O CROSSTRAINING PARA O CORPO, A MENTE E O ESPÍRITO.

c. oficinas. I.

PRÁTICA DO CAMPO BIOELETROMAGNÉTICO

Vitalismo A teoria do Vitalismo advoga que o processo da vida não pode ser explicado inteiramente como um fenômeno físico ou químico, pois nasce e contém um princípio vital não material. O Vitalismo tem uma longa história nas filosofias médicas: a maioria das práticas de cura tradicionais entendem a doença como resultado de um desequilíbrio na força vital ou bloqueio do Qi/Prana. Nas tradições ocidentais, fundadas por Hipócrates, o princípio vital foi associado com os quatro temperamentos e humores. O Vitalismo é a base para muitas práticas complementares e alternativas, baseada na noção de que o organismo possui uma qualidade, o élan vital, que lhe confere a capacidade de ser vivo. A crença na existência dessa força é milenar. Os hindus chamamna de prana, os chineses de qi ou chi e é possível FIGURA 10 – Instâncias de Cuidado da MedIntegral 90


encontrarmos mais de 96 termos que designem algo parecido nas mais diversas culturas. Chi Segundo a descrição dos chineses, chi é uma energia eletromagnética sutil que permeia tudo que conhecemos e carrega a informação de e por onde passa. O chi fluindo em seu corpo carregará os seus pensamentos, emoções e sentimentos, mas também outras energias ao seu redor. Tai Chi Chuan, Acunpunctura, Qi Gong, Artes Marciais (Kung Fu, Aikido, Ki-Aikido, etc) são exemplos de práticas de cura que envolvem trabalho e “manipulação” do Chi. No reino da ciência, numerosas pesquisas têm sido realizadas na direção de se esclarecer esse fenômeno vital que eles se referem como campo bioenergético ou bioletromagnético. Muitos pesquisadores estão trabalhando com isso como Rupert Sheldrake nos Campos Morfogeneticos e James L. Oschman com campos bioeletromagnéticos. São muitas as suas aplicações e teorias, no entanto, ainda há muito que se pesquisar. BIOELETROMAGNETISMO

Bioelectromagnetismo é a disciplina que examina os campos elétricos e os fenômenos magnéticos que nascem no tecido biológico. Outro foco de abordagem são as correntes elétricas musculares e nervosas que resultam de um evento de curtíssima duração, no qual o potencial elétrico da membrana da célula sobe rapidamente e atinge o potencial de ação para disparar uma corrente que percorre uma trajetória consistente e específica. No músculo, por exemplo, o potencial de ação é o primeiro passo na cadeia de eventos que levam à contração muscular. Nas células beta do pâncreas, eles provocam liberação de insulina.25 Estes potenciais de ações são usados para facilitar a comunicação entre as células e ativar o processo intracelular. O fenômeno fisiológico dos potenciais de ação é a voltagem dos canais de iônicos da membrana celular que permitem a manutenção do gradiente eletroquímico de ambos os lados da membrana celular. Os canais iônicos são formações “porosas’ na membrana que comunicam o meio externo e interno e cuja a função inclui estabelecer um potencial de

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repouso da membrana, desenhar o potencial de ação e outros sinais elétricos realizando um fluxo de íons pelos canais através da membrana.

em um campo bioeletromagnético que é responsável pela comunicação dos tecidos do organismo e pelo controle da reposição tecidual.

O bioeletromagnietismo foi estudado primeiramente através de técnicas eletrofisiológicas. No final do século XVIII, o médico e físico Italiano Luigi Galvani, foi o primeiro a gravar o fenômeno enquanto dissecava um sapo em uma mesa que conduzia experimentos com eletricidade estática e para descrever o fenômeno criou o termo eletricidade animal, enquanto os contemporâneos a batizaram como galvanismo. Galvani e contemporâneos assumiram que a ativação muscular resulta de um fluido elétrico ou substância no nervo. 26,27

“O tecido conectivo é um tecido contínuo que se estende por todo o corpo e consiste em uma estrutura insolúvel de fibras de colágeno embebidas em uma substância parecida com o gel e ordenadas como um cristal. Como qualquer outro cristal, ele gera um campo eletromagnético quando se contrai ou alonga, portanto todo e qualquer movimento do corpo gera um campo eletromagnético que se transmite para os tecidos subjacentes, uma vez que o colágeno é bom condutor. Isso permite que todas as partes do organismo se comuniquem entre si.” 28

A biofísica é a cadeira acadêmica que explora todos esses processos eletromagnéticos no organismo vivo e é ministrada no primeiro ano da faculdade de medicina.

Piezoelétrica

O biofisíco James L. OSCHMAN, um expert na área de medicina energética com bacharelado em Biofísia e PhD em Biologia na Universidade de Pittsburgh, defende que a atividade bioquímica do corpo resulta

Piezoelétrica é o nome do fenômeno elétrico descrito acima no qual a eletricidade resulta da aplicação de estresse mecânico em materiais sólidos que acumulam cargas elétricas como cristais, cerâmicas e materiais biológicos como osso, DNA e várias proteínas. 29 O efeito da piezoelectrica tem ação geralmente como um um sensor de força biológico. Esse efeito foi explorado por pesquisadores da Universidade de

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Pennsylvania no final dos anos 70 e início dos 80. Os pesquisadores concluíram que a aplicação de um potencial elétrico sustentável poderia estimular tanto a reabsorção quanto o crescimento ósseo 30 (dependendo da polaridade) in-vivo. Em pessoas inférteis, a ativação piezoelétrica dos óvulos, concomitante com a injeção intracitoplasmática de espermatozóides, parece 31 melhorar os resultados da fertilização. Recentes aplicações de fontes de ultrassom piezoelectric é a cirurgia piezoelétrica, conhecida como piezocirurgia.32 Ela provoca menos danificação nos tecidos adjacentes ao tecido retirado, do que as técnicas invasivas. Por exemplo, Hoigne et al. 33 rreportaram o uso de frequências entre 25-29kHz, causando microvibrações entre 60-120µm para fazer uma incisão óssea em cirurgia de mão. Ela tem a habilidade de cortar tecidos mineralizados sem cortar tecido neurovascular ou outros tecidos moles, portanto proporciona uma cirurgia sem sangeamentos, com melhor visibilidade e grande precisão. 34 O campo bioeletromagnético promove alguns milagres na medicina moderna, mas existem também outras

áreas nas quais é aplicado, como o nanogerador. Em 2011 “The Register”, uma revista Inglesa de ciência e tecnologia, anunciou o desenvolvimento do primeiro nanogerador comercialmente viável: “Ele pode pavimentar o caminho de tornar o coração humano um carregador de nossos brinquedos elétricos. O nanogerador é um chip flexível com milhões de nanofios de oxido de zinco, que quando flexionado produz uma pequeníssima corrente elétrica por efeito piezoelétrico.” 35 Por outro lado, nas medicina complementares e alternativas, o bioletromagnetismo também traz terapias baseadas em evidências como as terapias energéticas propostas por Oschman chamada de medicina energética. Do mesmo modo que o potencial elétrico pode estimular tanto a absorção, quanto ao crescimento ósseo, como já comentamos, Oschman acredita a que esse campo também regula o processo de reposição celular: “A estrutura do corpo adulto não é permanente e nem estática, está em constante mudança, os tecidos estão regularmente sendo repostos. O campo eletromagnético pode ser o regulador dessa tarefa.”.

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Os fisiologistas estudantes das funções do organismo ou de qualquer uma de suas partes, ao discutirem o tema, dão muita ênfase ao sistema nervoso. No entanto, muitas outras formas de comunicação acontecem no organismo. Moléculas de emoção A farmacologista e neurocientista americana Candance Pert, descobriu o receptor de opiáceos que é um local de ligação para endorfinas no cérebro. Em seu livro “Molecules Of Emotion: The Science Between MindBody Medicine” (Scribner: 1999), argumenta que as emoções são neuropeptídeos que carregam aquela determinada informação. A pesquisadora também advoga que os receptores são dinâmicos e podem modificar a sua forma para se ligar ao neuropeptídeo. Neuropeptídeos são qualquer grupo composto de polipeptídeo que age como um neurotransmissor, o que significa que eles compartilham pequenas moléculas similares a proteínas (peptídeos) usados para a comunicação entre os neurônios.

Como foi exposto acima, outro meio de comunicação é o campo bioeletromagnético, nas palavras de James L. OSCHAMN: “A comunicação bioeletromagnética está envolvida na formação de partes do corpo, pequenas e grandes, da integração de estruturas, da interação receptor/ homônios, do reconhecimento celular para que possam se juntar para formar tecidos e para a manutenção e regulação da forma corporal. A comunicação também está envolvida no processo de cura como regeneração, reparação tecidual e ativação do sistema imunológico.”. 8 Biologistas celulares têm descoberto que toda célula contém um citoesqueleto que é conectado através da superfície celular com o tecido conectivo extracelular. Esta evidência nos permite visualizar uma estrutura contínua que se estende por todo o corpo. James L. OSCHMAN se refere a isso como “tecido conectivo citoesquelético”. Muitos cientistas começam a reconhecer a ideia da existência de um sistema global de conexões e interações, composto pelo tecido conectivo do músculo esquelético, citoesquelético e genético, ao

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contrário do que se supõe hoje, de que sejam sistemas isolados e estruturas únicas. A abordagem global, funcional e contínua é referida como a matriz viva que, conforme mostram as investigações, é uma fábrica contínua que produz toda e qualquer parte do organismo, define a forma e função de cada célula, tecido, órgão e do corpo como um todo.

Segundo ele, tais corpos são estruturas invisíveis que se estendem no espaço, no tempo e moldam forma e comportamento de todos os sistemas do mundo material. Todo átomo, molécula, célula ou organismo que existe gera um campo organizador invisível que afeta todas as unidades desse tipo e ainda não é detectável pelos instrumentos de que dispomos.

Mas não é somente no organismo que o campo eletromagnético tem sido estudado. O fisiologista inglês Ruppert Sheldrake apresentou a “Teoria dos Campos Morfogenéticos” em 1981 no seu livro “ A New Science of Life” (Park Street Press/ 1981). Ele defende ressonância mórfica e conta como animais e plantas desenvolvem comportamentos, memória, telepatia, percepção e cognição em geral. 37,38

Paralelamente à utilização de todos os milagres da medicina moderna, usando campos bioletromagnéticos como fertilizações e cirurgias limpas e precisas, esse tópico também sustenta Terapias Tradicionais como acupuntura Tai Chi e Artes Marciais, bem como uma nova área da Medicina Complementar e Alternativa conhecida como Medicina Energética.

O termo “campos morfórficos” é generalizado em seu significado, uma vez que “campos morfogenéticos” que inclui outros tipos de campos de organização. Os campos de organização do comportamento animal e humano, os sistemas sociais e culturais e a atividade mental podem ser tidos como campos mórficos que contém uma memória inerente.”39

A Medicina Energítica, terapia energética ou cura energética acredita que o curador pode ser um canal de energia curativa para a pessoa que busca sua ajuda. Isso pode ser feito por diferentes métodos: imposição de mãos ou a distância (curador e doente estão em locais diferentes)40,41. O Reiki e o Body Talk são exemplos dessas terapias.

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A literatura científica sobre cura energética é controvérsia e prescreve mais pesquisas42,43. Tais investigações

tentam, através do estudo dos campos bioeletromagnéticos e da teoria quântica, explicar o funcionamento dessas terapias. Pesquisas recentes concluíram que não há evidências que clínica de eficácia dessas terapias. 44,45,46,47,48,49

Para além do processo de cura, o campo bioletromagnético permite diversas outras aplicações na medicina. Dentre outras finalidades, pode ser aplicado como tecnologia para auxiliar deficientes físicos a se reabitarem. Trabalho nessa perspectiva é o que o cientista brasileiro, Miguel Nicholelis está fazendo na Universidade de Duke (EUA). Professor de neurociência na escola daquela universidade, onde é co-diretor do Centro de Neuroengenharia , ele é conhecido como o pioneiro nos estudos do código neuronal (a interface entre cérebro e máquinas e neurppróteses para humanos). Seu objetivo é gerar movimentos motores fora do corpo físico lendo o campo eletromagnético cerebral com recursos tecnológicos. Sua principal intenção é criar um exoesqueleto (um esqueleto fora do corpo similar aos animais invertebrados, como o caramujo) que funcione

como uma prótese que permite pessoas paraplégicas andarem novamente, controlada pelas ondas cerebrais.50 O laboratório de Nicholelis está trabalhando nesse exoesqueleto para que um adolescente dê o primeiro chute na Copa do Mundo no Brasil no próximo ano. 51 Como vimos, vasto é o caminho para o domínio do conhecimento sobre os campos bioeletromagnéticos. Suas aplicações também têm possibilidades diversas: desde terapias energéticas até o desenvolvimento de robôs avatares e métodos psicoterapeuticos como Bioenergética. Bioenergética Bioenergética é uma terapia dinâmica enraizada nas pesquisas do médico e psicalanista autríaco Wilhelm Reich (1897 – 1957) sobre couraça muscular, uma expressão de personalidade baseada em como o corpo se movimenta. Em outras palavras, tal prática é baseada na continuidade corpo-mente ligando a dor, tensão muscular e problemas posturais com estados mentais, demonstrando que emoções suprimidas, infelicidade e raiva bloqueiam o fluxo de energia no

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corpo causando estresse físico. O médico e psicoterapeuta americano Dr. Alexander Lowen (1910 – 2008) fundou e foi o primeiro a promover essa revolucionária terapia, que advoga que queixas comuns, como dores de cabeça e dores nas costas, podem ser curadas através da eliminação da tensão muscular que lhes dá origem.

"A Bioenergética integra o trabalho corporal, as relações interpressoais do paciente e seu processo mental; e todos eles estão relacionados entre si... A Bioenegética começa com a realidade do corpo e suas funções básicas de mobilidade e expressão.”

O foco dessa terapia é a linguagem do corpo (postura/ gestos, respiração, mobilidade e expressão) que indica a história pessoal do indivíduo e seus traumas e defesas em relação ao passado e presente. As técnicas usadas redirecionam os aspectos energéticos individuais incluindo, autopercepção, autoexpressão e autopossessão. Elas também incluem trabalhos corporais de contato com limites, ancoramento e entendimento das tensões musculares como indicadores de defesas somáticas e emocionais concernentes a dor e traumas passados. Através de exercícios bioenergéticos, a dor física pode ser dissolvida e a emoção libertada, levando a uma nova sensação de confiança e bem-estar.

"Bioenergética repousa na preposição simples de que cada pessoa é seu corpo. Ninguém existe separado do corpo que lhe dá existência e através do qual se expressa e se relaciona com o mundo. Se você é seu corpo e seu corpo é você, ele expressa quem você é. Ele é o seu modo de ser no mundo. Quanto mais vivo seu corpo está, mais você está no mundo. Quando o seu corpo perde vitalidade, como por exemplo quando está cansado, você tende a ver o mundo mais preto e branco. Por outro lado, quando você está radiante e vivo o mundo parece claro, radiante e real. todos nós queremos nos sentir mais vivos , a bioenergética pode ajudar você a alcançar esse estado."52

Dr. Alexander Lowen, diz :

Ele também escreveu em “Bioenergética” (Summus/1982):

seu

livro

A metodologia apresentada neste livro está estrategicamente aplicada para integrar várias práticas de dois sistemas poderosos de cura: métodos milerares como tai chi chuan , ates marciais e exercícios de bioenergética.

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Esta integração impacta e harmoniza o sistema corpomente-emoção-energia. Ele também ativa o sistema linfático que inclui baço, timo e linfonodos, além de outros, a produzirem células brancas para defender o organismo e ajuda a linfa a fluir (consequentemente aumenta o metabolismo das células mortas no trabalho do sistema imunológico). Além disso, criam vitalidade e disposição; trazem bem-estar integral, que é o melhor estado possível de saúde física, mental e coletiva. Obviamente, práticas e terapias que envolvem o corpo também trabalham o campo bioeletromagnético e vice e versa, uma vez que a bioquímica corporal é a expressão do campo bioeletromagnético. Portanto a separação desses tópicos é absolutamente didática, no mundo real tudo acontece ao mesmo tempo agora. CASO: Mulher de 35 anos casada há dezesseis, com duas filhas (7 e 5 anos). Chegou ao meu consultório grávida, com náuseas e ansiedade alternada e depressão. Manifestava grande tristeza e insegurança. Seus sintomas físicos foram tratados com homeopatia, com remissão total das sensações. Iniciamos o programa de coaching e um cross-trainning com práticas bioletromagnéticas, como bioenergética,

meditação, dieta e medicamento homeopático para o tratamento do estado mental visando a mudança de comportamento. Resultado: ela retomou seus estudos, encontrou o que queria fazer e iniciou o trabalho. Tornou-se emocional e economicamente independente. Saiu da zona de conforto de seu casamento e iniciou uma nova relação mais verdadeira e condizente com seus valores. Hoje, é referência nacional para o trabalho que realiza. Vive de acordo com seus valores, tem tempo para si mesma e está mais saudável e feliz.

II.

PRÁTICA CORPORAL

Da mesma forma com o que ocorre com a bioeletromagnética, também existem várias escolas que utilizam o trabalho corporal para a saúde. Desde a medicina moderna convencional até os métodos tradicionais têm como princípio que a atividade física regular é imprescindível para a manutenção da saúde cardiovascular e o controle do estresse. A yoga, prática milenar, se difundiu pelo ocidente por ser uma prática que combina saúde física e mental.

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Yoga Um estudo publicado no “Journal of Research in Indian Medicine” constatou que a prática diária dos asanas (posturas yogues) durante seis meses levava à diminuição do ritmo cardíaco; à queda de pressão arterial; à perda de peso; a uma taxa inferior de respiração, com o aumento da capacidade pulmonar e da expansão torácica, e ao declínio da incidência de ansiedade. Um estudo subsequente descobriu que a prática regular do yoga levava à redução do estresse fisiológico, a taxas mais baixas de colesterol, ao equilíbrio do nível de açúcar no sangue, ao aumento das ondas cerebrais alfa (associadas ao relaxamento) e à diminuição geral dos problemas físicos. Os benefícios incluem o aumento do sentimento de calma, relaxamento físico e mental e alegria, melhora nas relações interpessoais e o aumento da capacidade de concentração e atenção. Em outra experiência, o Dr. V. H. DHANARAJ, da “University of Alberta”, no Canadá, comparou um grupo de pessoas que se dedicou à prática do yoga durante seis semanas com o outro que fez exercícios convencionais no mesmo período. Ele constatou que

os que praticaram o yoga apresentavam uma melhora bem mais significativa no metabolismo celular, no consumo de oxigênio, na capacidade pulmonar, na eficiência cardíaca, na função tireoidea, na contagem de hemoglobina e glóbulos vermelhos e na estabilidade física e mental. A pesquisa do efeito da yoga em sobreviventes de câncer de mama, no departamento de psicologia da Universidade da Califórnia- Los Angeles, demonstrou que essa prática promoveu melhoras significativas na fadiga persistente dessas sobreviventes.53 A pesquisadora Elisa Harumi Kozasa, da UNIFESP, publicou em 2010, em São Paulo, na “Revista Brasileira de Psiquiatria”, que houve melhora do sono em pacientes com insônia após tratamentos da mente e do corpo como yoga, relaxamento e tai chi.54 Outras práticas corporais (somáticas) As práticas corporais não são apenas ativas. Podem ser passivas, manipulativas também, pois são as práticas somáticas dos tratamentos da Medicina Alternativa e Complementar. Terapia Somática é toda e qualquer tratamento que trabalha corpo físico e

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mental.55 Envolve aplicação direta e específica de força manual no corpo físico. Portanto, são métodos manipulativos cujo objetivo é melhorar a mobilidade de áreas restritas, independente de a restrição ser no tecido conectivo ou esquelético. 56

Por fim, a ostepatia enfatiza a relação entre as funções estruturais a as funções do corpo, assim como a habilidade do corpo de curar a si mesmo. Essa técnica intenciona facilitar o processo de cura, principalmente pela prática de manipulação manual do corpo. 60

Como mencionamos anteriormente, toda a prática corporal também é bioletromagnética e a Terapia Somática claramente trabalha nesse campo através de ações corporais. Rolfing, massagem ayrvédica, e osteopatia são exemplos de Terapias somáticas.

A osteopatia nem sempre é baseada na ciência e tem pouca evidência de sua eficácia no tratamento de outras doenças além de dores nas costas. 61,62

Rofling é um sistema terapêutico criado pelo Instituto Rolf de Integração Estrutural - Rolf Institute of Structural Integration, fundado pela bioquímica Ida Pauline Rolf (1896-1979) 57,58 O Instituto determina que Rolfing é “ um sistema holístico de manipulação de tecidos e educação de movimento que organiza todo o corpo na gravidade." 59 Já a massagem ayurvédica é uma técnica indiana milenar baseada nos “pontos marmas”, que são centros vitais ou campos de energia sutil no corpo. Eles são as casas de estoque da energia prânica ou do “elan vital” que exploramos anteriormente.

Além dos sabidos benefícios físicos desses métodos, como aumento de flexibilidade, força e vitalidade, desintoxicação, alívio de dores e melhora postural, a integração dessas práticas em um cross training também expande a consciência, promove relaxamento profundo, aumento o estado de bem-estar e atenção. Por isso, podem ser uma prática de gerenciaento de estresse. CASO: Homem, 38 anos, diretor executivo de marketing, desempregado, com dois filhos (8 e 1 ano de idade). Sintomas de hipotireoidismo (cansaço, ganho de peso e labilidade emocional com depressão). Os exames laboratoriais confirmaram o hipotireoidismo.

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Iniciamos um tratamento com um programa de desintoxicação, dieta, remédios homeopáticos, treinamento em mindfulness e o programa de coaching para a sair do sedentarismo e iniciar uma atividade física. Depois de dois meses de tratamento, ele sentia-se mais vitalizado e energizado. Corria diariamente, perdeu 20 quilos e seus exames laboratoriais voltaram ao normal. Depois de seis meses, conseguiu um novo emprego e encontrou o equilíbrio entre o trabalho e vida pessoal. Ele refere-se a si mesmo como um homem mais Integrado. III.

PRÁTICAS MEDITATIVAS

A palavra meditação vem do latim, meditare, que significa voltar-se para o centro, no sentido de desligar-se do mundo exterior e voltar a atenção para dentro de si. A meditação pode ser praticada de diferentes formas com diferentes propásitos e, portanto pode ser definida das seguintes maneiras: 1. um estado mental que é vivenciado quando a mente se torna vazia e sem pensamentos;

2.Uma prática de focar a mente em um único objeto (por exemplo: em uma estátua religiosa, na própria respiração, em um mantra); 3. uma abertura mental para o divino, invocando a orientação de um poder mais alto; 4. religiosos, como a impermanência, para os budistas, o auto questionamento “Quem sou eu?” de Ramana Maharshi (1879–1950) - conhecido como um dos maiores gurus indianos fora do padrão da modernidade - e o “Subjetivo e o Objetivo são um”, de Krishnamurti’s. Jiddu Krishnamurti (1895 – 1986) foi um indiano escritor e palestrante sobre filosofia e espiritualidade. O maior objetivo da meditação é o encontro com aquilo que é permanente, com o Absoluto. Ken WILBER em seu discurso “Potenciais e ciladas no caminho espiritual” para o curso virtual de Craig Hamilton, Integral Enlightenment – “Acordando para uma relação evolutiva com a vida”, disse que meditação é o caminho para encontrar Deus e reconhecer o espírito. Qualquer forma de meditação tem o objetivo de acordar o meditador para a realidade Última daquilo que é Permanente. A realização.

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Realizar, no âmbito da espiritualidade, significa dar-se conta, atingir um limiar de iluminação e esclarecimento diante de uma busca; ultrapassar o ponto de busca; esclarecer-se; compreender-se; saber-se; ver-se. Não dualidade Basicamente, a meditação permite relaxar a autocontração e expandir no vasto Universo a percepção de um eu separado, trazendo a pura consciência como o Permanente, aquilo que é não dual. Nesse estado, você não vê a montanha, você é a montanha. Você se torna um com o Espírito, transcendendo a dualidade do objeto e subjeto. “Não dualidade” é o entendimento filosófico, espiritual e científico de não “separatividade” e a intrínseca e fundamental unidade (Pura consciência). Por milhares de anos, através de questionamentos profundos, filósofos e santos realizaram que existe apenas uma substância e consequenemente todos somos parte dela. Esta substância pode ser chamada de consciência, Espírito, Advaita, Brahman, Tao,

Nirvana ou Deus. Ela é constante, sempre presente, imutável e é a essência de toda a existência. No último século, os cientistas acidentais chegaram à mesma conclusão: O universo é feito de uma única substância, presumidamente criada durante o Big Bang, e tudo, inclusive os seres vivos - consciência consequentemente nasce desta substância. Esta realização tem implicações ontológicas para a humanidade: fundamentalmente somos manifestações individuais de uma única entidade, intrinsecamente conectados uns aos outros, somos gotas de um mesmo oceano. No Cristianismo, a contemplação refere-se a libertar a mente para a consciência de Deus como uma realidade vida. O que corresponde de certo modo ao samadhi das religiões orientais. Samadhi

é como é denominado (no induísmo,

budismo, jainismo e sikhismo) um estado de alta concentração e meditação. Tal sensação tem sido descrito como o estado não dual de consciência no qual o sujeito torna-se Um (Todo) como o objeto experenciado,63 e a mente se torna serena e

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concentrada enquanto a pessoa mantem-se consciente. 64 No Budismo, também pode ser referido como um estado no qual a mente não se idenifica com o objeto de atenção e ainda pode observar-se e ter insights no fluxo da experiência. 65 Portanto, meditação é o processo de desidentificação com os subjetos, isto é, quando me torno consciente do subjeto ele passa a ser objeto da minha consciência. Por exemplo, quando me torno consciente de minha mente, posso observá-la com minha consciência e passo a dizer que tenho uma mente, mas não sou minha mente. Eu tenho pensamentos, mas não sou meus pensamentos. Portanto, uma compreensão típica da meditação é: eu tenho sentimentos, mas não sou meus sentimentos. Tenho sensações, mas não sou essas sensações, sou centro de pura consciência. Como explorado anteriormente, essa experiência pode ser interpretada a partir de diferentes perspectivas denominadas primeira, segunda ou terceira pessoa. De tal forma que ao dizer que ao experienciar a Realidade Permanente é possível falar sobre, com ou como isso. Falar sobre é a perspectiva de terceira

pessoa, com é a segunda pessoa e falar como é a primeira pessoa. Ao falar sobre isso, o Permanente pode ser descrito como a grande teia da vida, enquanto na segunda pessoa o discurso será sobre a relação com essa Realidade Última, a prece é provavelmente um dos melhores exemplos dessa prática. E, finalmente, ao calçar os sapatos da primeira pessoa a expressão será como o Permanente. Jesus, por exemplo, falou das três perspectivas: Ele falou de Deus, falou com Deus e falou como Deus. Jesus falando como Deus: Mathews sou Eu; não tenha medo. • 14:27 (KJV). O Evangélio de João: • Um novo comando eu lhes dou, Amai o próximo como a ti mesmo. 13:34–35. Jesus falando com Deus: Mathews •

Oh meu Pai, se for possível, deixe esse copo passar por mim. 26:39 (KJV).

O Evangélio de João:

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Pai, a hora virá, glória ao Filho. ,

Jesus falando de Deus: Mathews •

Para os Homens isso é impossível, mas para Deus todas as coisas são possíveis. 19:26

(KJV). O Evangélio de João: • Estou a caminho da verdade e da vida. Ninguém vem a Deus a não ser por mim. 14:6. O mesmo fenômeno ocorreu com Buda e outros mestres espirituais realizados na Consciência não dual e compartilharam seus insights com a humanidade. Como mencionado anteriormente, cada uma dessas perspectivas é uma experiência profundamente distinta que se manifesta em diferentes modos de meditação: na primeira pessoa, o formato é o clássico sentar e concentrar sua mente, na segunda pessoa a forma é a prece, por exemplo. Já na terceira pessoa, é a contemplação e o auto-questionamento. As práticas de integração incluem todas elas, em diferentes momentos.

A Prática de Vida Integral criada por Ken Wilber, Terry Patten, Adam Leonard and Marco Morrelli, também usa todas essas perspectivas em um único exercício: 1,2,3 deperspectivas com o objetivo da experiência em primeira pessoa, uma ve que as outras duas são mais comuns no dia-a-dia. Meditação é uma prática mais comum na Medicina alternativa e complementar do que na medicina moderna, e embora a experiência de primeira pessoa do mistério seja nova na academia, tem ganhado espaço como método de relaxamento, redução de estresse e de promoção de bem-estar. Existem diversas técnicas meditativas e um interesse particular na mindfulness, que enfatiza a instância observadora e não reativa do pensamento, emoção e estado do corpo. Ela tem sido muito eficaz na redução das taxas de depressão. Em 2007, a psiquiatra americana Lidia Zylowska realizou um estudo piloto sobre oito semanas do treinamento de mindfulness com 24 adultos e oito adolescentes apresentando o diagnóstico de TDAH (Transtorno de Deficit de Atençãpo e Hiperatividade) no critério IV DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 4th Edition, é um manual publicado pela Associação Americana de Psiquiatria que inclui as

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desordens mentais reconhecidas) – ADHD é uma desordem na qual a pessoa não consegue se concentrar porque é muito hiperativa. O estudo concluiu que essa técnica é uma intervenção de sucesso para adultos e adolescente com ADHD e pode melhorar o comportamento e os 66 comprometimentos neurocognitivos. Durante a meditação, as ondas cerebrais de baixa frequência (Alfa, Teta e Delta), que estão relacionadas ao estado de relaxamento, tomam conta do cérebro. Em contrapartida, as ondas beta, de alta frequência que são relacionadas ao estado de vigília ou atividade normal - aparecem em menor quantidade. Com o cérebro tomado por ondas de baixa frequência, o organismo todo desacelera: diminuem a frequência cardíaca, a pressão arterial e o ritmo respiratório. FIGURA

11

-

Ondas

MINDFULNESS É uma técnica meditativa que tem como objetivo a atenção intencional, ou seja, colocar conscientemente a atenção no momento presente. Consequentemente, permite um maior reconhecimento dos eventos mentais no momento presente. Mindfulness envolve a orientação prestar atenção com curiosidade, abertura e aceitação.67 Jon Kabat-Zinn, professor emérito de medicina e diretor fundador da Clínica de Redução de Estresse e Centro de Mindfulness, na “Universidade de Medicina de Massachusetts”, ensina mindfulness como uma técnica para lidar com o estresse, a ansiedade, a dor e a doença. Ele oferece a prática em seu programa de redução de estresse em centros médicos, hospitais e organizações de manutenção de saúde, na Europa e na América. Segundo ele, mindfulness é estar totalmente atento na vida. Trata-se de perceber a beleza vivida e especial de cada momento. Neste estado, “nos sentimos mais vivos e imediatamente acessamos nossos recursos internos para insigths, transformação e cura." (KABAT-ZINN, 1998).

cerebrais

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Existem muitas técnicas de meditação. No entanto, todas elas compartilham o treino intencional de atenção e concentração. As diferentes técnicas têm diferentes objetos de atenção. Por exemplo, o foco na repetição silenciosa de um mantra, som, imagem, frases ou questão. Na técnica mindfulness, o indivíduo deliberadamente mantém a sua atenção na respiração ao mesmo tempo em que cultiva a concentração (KABAT-ZINN, MASSION, HEBERT, & ROSENBAUM, 1998). A prática constante deste método desenvolve a estabilidade, a paz interna e a não reatividade da mente, que significa silêncio mental, quietude e não julgamento (ou reações baseadas em julgamentos). Consequentemente, permite o enfrentamento e até a inclusão de todos os aspectos da vida, independentemente da dor, ansiedade ou medo. Todos esses sentimentos e sintomas estão presentes, mas são parte de uma atenção expandida, o que significa que eles não são mais o “Todo” da atenção. Mesmo com esses sintomas e sentimentos, o paciente pode ver outros aspectos da vida, como beleza, silêncio e gratidão. A estabilidade e não reatividade

sustenta a habilidade de observar com compaixão a si mesmo e aos outros. Essa técnica encoraja, portanto, os participantes a concentrarem-se em seus sentimentos, pensamentos e experiências corporais, incluindo a dor, sem julgamentos ou tentativas de evitá-la. Muitas pesquisas sobre esse método estão sendo feitas. Em dezembro de 2011, um estudo piloto randomizado mostrou que o treinamento de mindfulness produziu alívio significativo e duradouro para pacientes com o diagnóstico de artrite reumatóide. A Annual Rheumatic Disease publicou, em dezembro de 2011, um estudo que concluiu que o treinamento de mindfulness reduz o estresse psicológico e a fadiga em pacientes com doença reumática.68 Todos nós, em algum momento, naturalmente, experimentamos a perspectiva de terceira pessoa da meditação quando contemplamos a beleza da natureza: o céu azul, o pôr do sol, a lua cheia, a imensidão do mar, o desabrochar das flores, o desenvolvimento de um filho...

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A palavra contemplação vem do latim e é a palavra grega para teoria. Ambas referem-se a revelar e manifestar a natureza da realidade. Para o alemão teólogo cristão, filósofo e autor de vários livros como Love of Wisdom (Ignatius Press/ 2007), Josef PIEPER (1904 – 1997) o primeiro elemento da contemplação é a percepção silenciosa da realidade. Inúmeros são os seus benefícios: redução do estresse, desenvolvimento de resiliência, diminuição da reatividade, melhora da dor e maior capacidade de lidar com os desafios internos e externos, para citar alguns. Muitos de nós temos o hábito conversar com o Divino ou Real, ou Verdadeiro Eu, que é atemporal antes e além de toda a manifestação, segundo Ken wilber,69, ou seja, rezar, fazer uma prece. Esse hábito precisa ser estudado pela academia que está voltada, sobretudo, para a perspectiva de primeira pessoa da meditação. No entanto, no Brasil, a Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, tem estudado o impacto da religião nas doenças psiquiátricas e encontrou evidências de que a

religiosidade, na qual a prece é um dos rituais, melhora a qualidade de vida dos doentes. CASO: Mulher, 40 anos. Sintoma: sunusite, dores de cabeça, probelmas de sono, ansiedade e personalidade perfeccionista. Separada com um único filho. Iniciamos o processo de coaching, programa de meditação intensa e dieta 50% crudívera. Na segunda semana do programa ela se apresentou mais calma e relaxada, com atenção em si mesma e em seus processos para lidar com as coisas do dia-a-dia. Fisicamente, referiu melhora das dores de cabeça. Depois de três meses, iniciou um novo trabalho na empresa que queria; passou a fazer exercícios físicos frequentes e sentia-se mais confiante. Sua sinusite, no entanto, não teve melhora significativa, por isso prescrevi drogas da medicina moderna como antibióticos, obtendo assim ótima resposta e evolução.

Os Pilares da MedIntegral - Os Pilares da minha prática diária.

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O processo de construção da aplicação da Matriz Terapêutica Integral está a serviço tanto da solução clínica quanto da promoção de saúde. Na primeira, ela tem o foco na cura (é o pilar de soluções clínicas integrais), já na segunda, o foco está na mudança do estilo de vida – pilar de promoção de saúde e bemestar. Baseada nas ideias apresentadas, esta metodologia está ancorada em três pilares cujos objetivos são os mesmos, ou seja, atenção e desenvolvimento de consciência. Os pilares são:

1- SOLUÇÕES CLÍNICAS INTEGRAIS – Gestão dos recursos e processos para a saúde e bem-estar como drogas, homeopatia, dietas, relaxamento, autoquestionamento e mudança de comportamento entre outras. Um exemplo do meu dia-a-dia: Mulher, 50 anos com diagnóstico de artrite reumatóide (AR), uma doença autoimune que limita os movimentos por dores provocar articulares, inchaço e inflamação e também acometer outros órgãos. A paciente está em

tratamento co as drogas convencionais da medicina moderna, além de acupuntura, dieta, coaching, meditação e trabalho emocional. Todos os tratamentos estão integrados e o médico integral cuida dessa interação via processo de coaching. Por meio de um atendimento médico diferenciado e personalizado, a MedIntegral apresenta soluções clínicas integradas e participativas, desenvolvidas sob medida para cada indivíduo, levando em consideração seus hábitos, crenças, ambiente onde vive, comunidade, poder econômico, genética, exercício físico, preferências de alimentos e estilo de vida. As soluções são construídas com inclusão de todas as terapias consagradas pela ciência, provenientes tanto da medicina convencional quanto da complementar. Por exemplo, para quem tem uma dieta baseada em carnes e carboidratos somente, pode não funcionar a prescrição de uma dieta crudívera . Será mais efetivo e eficiente se iniciarmos com a inclusão de vegetais e frutas, depois migrar para uma dieta com 50% de alimentos crus. Mudanças menos bruscas são mais fáceis e sustentáveis.

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2-PROMOÇÃO DO BEM-ESTAR – Projeto de qualidade de vida continuado e sustentado.

se orgulhar. Há apenas a existência, existindo através dela.

Essa metodologia acredita que os valores e estados de saúde mudam conforme a vida também muda e promove mudanças nos hábitos, crenças e comportamento das pessoas. Esse é o momento de planejamento da saúde, através de um projeto de qualidade de vida e bem-estar sustentáveis que garanta um processo continuum de renovação da visão do bem-estar e organização de novas metas e práticas.

Em uma situação análoga, a maioria das abordagens convencionais diagnosticariam um problema e uma estratégia para “consertá-lo”. Essas abordagens tentariam preencher a “ausência e a deficiência”. No entanto, existem algumas abordagens que focam apenas em aperfeiçoar fraquezas ao invés buscar forças e qualidades (e não procuram deficiências como a metodologia do Integral Coaching Canada). Nossa perspectiva prescreve metas para fortalecer características ainda não aprimoradas pelo indivíduo, pois acredita que desse modo ele se tornará mais integralmente desenvolvido.

No caso da mulher com AR, neste momento de dificuldade ela desenvolveu habilidades interpessoais através da investigação de suas forças e qualidades. Não era a minha intenção trabalhar forças e qualidades, mas sim colocar a atenção dela no momento presente e fazê-las realizar que sua unicidade e manifestação única de são suas qualidades. Esse processo se deu através da observação do comportamento dela na relação com o outro (investigação de suas forças e qualidades). Não há coisa alguma para consertar e nem tampouco para

Proponho uma metodologia que possibilite estar-se em contato com o melhor de você através da atenção nas suas forças e qualidades, o que significa não resistir ao fluxo da existência em você. Tal propósito nada tem a ver com o aprimoramento de qualidades egoicos; ao contrário, a busca pelo espaço de silêncio é no sentido de possibilitar em você que seja feito o que deve ser feito a partir desse “lugar”, independente

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dos seus sentimentos, preferências.

pensamentos,

ideias

ou

Voltando ao exemplo da mulher com AR, ela estava sofrendo com as dores físicas e com medo de sua doença. Tivemos três sessões sobre esse assunto, nas quais ela estava sempre buscando o “lugar” de seu erro (além de questionar onde estava a sua sombra e seus padrões inconscientes de “sabotagem”). Em seu “diálogo mental”, era ela quem sempre deveria estar no controle da situação e sempre disponível para o outro nas relações. Ela era dependente das relações e, nos envolvimentos íntimos, se perdia no processo de fusão emocional. Tal processo fazia com que dissesse em nossos encontros que não sabia mais quem era. Ora, ela é portadora de AR, uma doença autoimune, o que significa que o sistema imunológico dela “luta” contra ela mesma; ou seja, não reconhece seus próprios tecidos como seus e os ataca como inimigos. Uma das funções mais importantes do seu sistema imunológico é reconhecer o que é próprio do teu corpo; aquilo que não pertencer a você deve ser atacado e eliminado. Em outras palavras, cabe a este sistema manter a sua identidade biológica. No caso da

paciente, se ela não consegue reconhecer a si mesma biologicamente (QSD), também não se reconhecerá subjetivamente (QSE), e vice e versa. Temos aqui um exemplo de tetraemergência, a emergência dos quatro aspectos ao mesmo tempo. QSD (Quadrante Superior Direito) - AR, dor, hiperatividade do sistema imunológico, não reconhecimento de sua identidade biológica. QSE (Quadrante Superior Esquerdo) - questionamentos e dúvidas sobre quem ela é. Medo. Sem referências de si mesma. QIE (Quadrante Inferior Esquerdo) - fechada nas relações, não desenvolve intimidade. Poucos amigos. QID Quadrante Inferior Direito)- seus projetos e trabalhos não são claros para ela, ela não consegue “vender” o que faz. Na primeira sessão ela pode identificar todo esse processo integrado e as relações entre esses aspectos. Na segunda sessão, através da metodologia do inquérito apreciativo, ela pode constatar que ela se

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esconde nessas explicações de controle justamente porque não consegue colocar limites. Eureka! Limites significam diferenciação, uma fronteira clara entre ela e o outro, entre o espaço dela e do outro. O que acontece também em seu corpo que não consegue diferenciar entre seus próprios tecidos e tecidos de outro organismo. Sem limites e diferenciação não é possível reconhecer seu próprio Eu. Constelação Famliar Na mesma sessão, usei a metodologia da “Constelação Familiar”, um processo vivencial que tem por objetivo liberar e resolver tensões profundas internamente e entre as pessoas. Tal técnica foi fundada pelo filósofo e psicólogo alemão Bert Hellinger. 69 Em uma única atividade, a “Constelação Familiar” é capaz de revelar dinâmicas sistêmicas (envolvendo pessoas e situações concernentes a um sistema de ocorrência nos mais diversos ambientes, como o familiar, o do trabalho, da escola, dos laços afetivos, etc.) que se repetem por gerações e gerações, nunca reconhecidas anteriormente. A metodologia destrava o efeito dessa repetição através do encorajamento da

aceitação factual indivíduo.

da

realidade

vivenciada

pelo

Nesse processo, a paciente com AR realizou a força da sua milenar tradição familiar de mulheres japonesas. Também realizou que sua mãe não queria obedecer a essas tradições e, por consequência, não reconhecia sua filha (ela) como uma mulher japonesa - o que lhe deu uma sensação de não pertencimento e não lhe deu referências. Através da “Constelação Familiar” a paciente pode honrar suas tradições familiares e sua cultura, incluílas e transcendê-las, ao invés de negá-las, como vinha fazendo. Na prática, este avanço significa um nível de consciência magenta saudável. Nas palavras dela: “para que eu possa expandir, eu preciso primeiro permanecer e pertencer”. Clinicamente, as dores estão melhores, a relação com a mãe e o filho alcançou um nível de compreensão e entendimento e ela está expressando mais suas qualidades femininas. Na última sessão, realizou que deveria ajoelhar para honrar a si mesma e iniciou uma prática diária que

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transformou a sua vida. Tornou-se mais aberta, calma e começou a ver a vida de forma mais simples. Baseado em tudo isso, a prática envolvida nas “Soluções Clínicas Integrais” tem como objetivo desenvolver o corpo, o emocional e a mente para lidar com o processo de doença e cura (no qual essas práticas são incluídas e expandidas, uma vez que elas desenvolvem os níveis de consciência, saúde e bemestar. Nesse momento, teremos uma clara visão de bemestar do cliente, para alcançar o que inclui expansão da atenção e desenvolvimento. Usaremos para isso ferramentas como inquérito apreciativo, entrevistas motivacionais, drogas, ervas, dietas, educação, coaching, práticas transdisciplinares (como “Constelação Familiar”, bioenergética) e outras técnicas, como meditação, auto-observação entre outras. Vamos aprofundar a entrevista motivicional e o inquérito apreciativo que são ferramentas muito usadas na metodologia do coaching.

Entrevista motivacional A entrevista motivacional é uma abordagem de aconselhamento desenvolvida em parte por Willinam R. MILLER (PhD, psicólogo e professor de psicologia e psiquiatria, afiliado ao Centro de Alcoolismo e abuso de substância e adição na Universidade do Novo México, EUA), e Stephen ROLLNICK, professor de comunicação do sistema de saúde da Universidade de Cardiff (Inglaterra), que pesquisa sobre boas práticas no suporte para a mudança de comportamento. Em seus fundamentos, esta prática reconhece que o aconselhamento ajuda o cliente em diferentes níveis de prontidão a realizar a mudança de comportamento. 70

Durante o aconselhamento, alguns pacientes pensam em mudar, mas não caminham para isso efetivamente. Para ser um bom conselheiro na entrevista motivacional, são necessárias quatro habilidades: a fazer perguntas abertas; fazer afirmações; a refletir a ideia do cliente de volta para ele (que envolve compreender o que foi dito e oferecer a ideia de volta para confirmar se ela foi entendida corretamente) e

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finalmente a capacidade de oferecer resumos para o cliente.72 A entrevista motivacional não julga e não confronta. 73 Inquérito Apreciativo

abordagem baseada em recursos, que se inicia com a crença de que toda e qualquer organização e pessoa tem aspectos positivos que podem ser realçados. Essa metodologia faz perguntas como “o que funciona bem?”, “quais são as vantagens do que você está fazendo no momento?”, entre outras. 74 PESSOAL Desenvolvimento de habilidades pessoais: apoio ao desenvolvimento das habilidades individuais, sociais e políticas que capacitem indivíduos a tomarem atitudes de promoção de saúde, por meio de práticas diárias que promovam excelência física, equilíbrio emocional, clareza mental e plenitude.

FIGURA 12 - Ciclo 4D do Inquérito Apreciativo Já o inquérito apreciativo é baseado na premissa de que as perguntas que fazemos direcionam a atenção do cliente para aquele aspecto. Muitos métodos, como já dissemos anteriormente, focam em soluções baseadas no modelo de deficiência. O “Inquérito Apreciativo” tem outro procedimento. Como bem se define, é uma

Community Fortalecimento de ações comunitárias: apoio a ações comunitárias concretas e eficazes na definição de prioridades, na tomada de decisões e no planejamento e implantação de estratégias para a promoção de saúde e bem-estar.

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3- PRÁTICAS DE INTEGRAÇÃO – Gestão de informação e formação. Programas, atividades e práticas. Visando a sustentabilidade pessoal, a MedIntegral propõe a adoção de práticas que não só melhoram o estado de bem-estar na vida contemporânea, como também formas de cultivar esta condição. Faz isso em programas coletivos, pois acredita que a convivência e a experiência de comunidade fomentam a criatividade, a sinergia e propiciam o surgimento de boas ideias e proatividade, o que promove a possibilidade de desenvolvimento de projetos e sonhos pessoais (aqueles que fazem sentido para nós) que, por sua vez, aumentam a satisfação pessoal, a vontade de estar vivo, a gratidão, inspiração, cuidado e o humor.

metodologia é um processo para conscientizar a Existência ela mesma e mover-se da dualidade para a não dualidade.

Essa metodologia tem como propósito ajudar o Ego a se desenvolver. No entanto, seu principal objetivo é realizar a não-dualidade, valorizando basicamente o sentimento de simplesmente existir. Nesse contexto, estou muito entusiasmada em apresentá-la, mas gostaria de ter certeza de que ela não será interpretada como mais uma ferramenta para ajudar a tornar-se uma pessoa melhor e obter bemestar e qualidade de vida. Além disso, essa

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Tranquilidade, conforto e satisfação – todos nós desejamos estas três coisas. De fato, é sobre este tripé que se sustenta o mecanismo que garante o nosso bem-estar. Apesar de termos percepções diferentes sobre o que seja tal sensação, bem-estar é, antes de tudo, o exercício da plena liberdade, a liberdade de ser quem verdadeiramente somos.

BEM-ESTAR INTEGRAL

Esta é a razão pela qual o bem-estar vem ganhando destaque nas ciências e invadiu os patamares da sociologia, ocupando o centro do mais novo índice de desenvolvimento, o índice de Felicidade Interna Bruta (FIB). Nele, o bem-estar é apresentado em nove dimensões, que veremos a seguir. O centro do FIB é a satisfação no aspecto psicológico, que abrange três níveis: saúde mental; equilíbrio emocional e espiritualidade. As demais dimensões influenciam e são influenciadas por esse núcleo: bom padrão de vida econômica, gestão equilibrada do tempo e boa governança, educação de qualidade, saúde, vitalidade comunitária, proteção ambiental e acesso à cultura.1 Em 2012 foi adicionada mais uma dimensão - trabalho - a título experimental.

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alto nível de saúde, bem-estar e qualidade de vida. Tal constatação vem promovendo a reflexão sobre os valores e critérios utilizados para aferir o crescimento e desenvolvimento das populações mundiais. Atualmente, tais critérios levam em consideração apenas a atividade econômica, o que por si só já é reducionista. O conceito proposto pelo FIB, ao contrário, espelha com maior amplitude os aspectos necessários à aferição da qualidade de vida da sociedade. O índice proposto pelo país budista revela, assim, valores mais condizentes com a nova configuração social, política e econômica mundial, no qual temas como sustentabilidade, educação, espiritualidade e felicidade entram no rol das preocupações. A importante contribuição do FIB, portanto, é conceber o homem em seu aspecto multidimensional. FIGURA 13 - FIB Criada e aplicada no Butão, um país entre a China e a Índia, encravado nas montanhas do Himalaia, a moderna medida demonstra que, apesar do baixo PIB (Produto Interno Bruto), os butaneses possuem um

AS DIMENSÕES DO BEM-ESTAR INTEGRAL Ser feliz é o propósito de todo ser humano, isso é tão forte em nossa espécie que aparece como um dos três

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pilares da Constituição dos Estados Unidos: o direito de “ir atrás da felicidade”.2 Felicidade e bem-estar andam de mãos dadas, por isso todos nós buscamos caminhos para a satisfação plena. Nesse sentido, a contribuição de um índice aos moldes do FIB (Felicidade Interena Bruta) é o de oferecer ferramentas mais adequadas e atuais para aferir o nível de bem-estar coletivo. Tal busca também pode ser verificada hoje em dia em diversos outros campos da ciência. É o que motivou o surgimento da reengenharia do bem-estar, por volta da década de 1990, que trouxe à tona o conceito multidimensional para o bem-estar focado nas seis dimensões do ser (o físico, o emocional, o mental, o profissional, o cultural e o ambiental).

A existência está relacionada com o milagre de estar vivo. É a questão de ser que é comum a todo e qualquer todo de ser vivo. Para compreendermos melhor o valor de cada dimensão, resumo abaixo as principais especificidades de cada uma delas.

O bem-estar integral coloca uma dimensão central nesse modelo – a Existência – de onde todas as outras dimensões emergem e ao mesmo tempo se integram. A integração desses aspectos constituintes do ser pressupõe uma total mudança de paradigma acerca do nosso papel enquanto seres humanos (Figura 8). Seria, em último grau, o despertar para o que temos de mais sagrado em nós.

FIGURA 14 - As dimensões do Bem-estar Integral

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FÍSICA Refere-se a todos os processos do corpo e diz respeito ainda aos níveis de vitalidade, à flexibilidade, ao grau de condicionamento físico, a dieta e predisposição genética e ambiental. Traduz a consciência acerca da nutrição, o processo de repouso e relaxamento, a qualidade do sono, a periodicidade e a qualidade das atividades sexuais, a gestão do estresse e das doenças e as demais escolhas relacionadas diretamente à atividade física. Em suma, o bom nível da dimensão física é decorrência natural da qualidade e das escolhas diárias que fazemos no que concerne ao nosso corpo.

FIGURA 15 – As instâncias da dimensão Física do Bem-estar Integral

EMOCIONAL Trata-se da capacidade de percepção e de manifestação dos sentimentos de maneira saudável e natural. Isso decorre do aprimoramento de várias competências, como o foco no momento presente, o autoconhecimento e o controle sobre os níveis de

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ansiedade e tristeza. Quanto maior a capacidade de elaboração de conceitos realistas sobre si (e também de reconhecer os seus potenciais e limitações), maior será a qualidade da saúde emocional.

MENTAL Representada pela capacidade de uso da mente lógica (para entender o mundo ao seu redor). De acordo com Ken Wilber, é uma das três formas de conhecimento. Em seu livro “Uma Teoria de Tudo” (Cultrix/2003), o pensador discute as três maneiras de se adquirir e construir conhecimento: através experiência (empirismo), através razão e através contemplação. Todas estas possibilidades estão vinculadas ao corpo, à mente e o espírito, segundo ele. A última tem como núcleo a sensação do olhar (ou mais que isso, a o “olhar do próprio espírito) o que significa que não pode ser reduzida à razão pois a transcende – tal evento ocorre durante a meditação, como explica Ken Wilber:

FIGURA 10 – As instâncias da dimensão Emocional do Bem-estar Integral

“Primeiro se pratica a contemplação, que pode ser meditação, zazen, prece, mantras etc. Quando o olho da contemplação está treinado, então pode enxergar...

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...A última e maior prova da Natureza de Deus ou Budha ou Tao, mas não é uma prova lógica ou racional, é contemplativa. ”3

capacidade do indivíduo de compreender a si mesmo e ao universo, pelo menos mentalmente.

Segundo o autor, experiência/empirismo é o conhecimento adquirido através do viver a vida, o que significa que vem antes da experiência sensorial. Quem de nós não conhece um sujeito simples que mal lê e tem conhecimento profundo? Isso é o olho da carne ou do corpo, é a modo empírico da ciência. Já a mente é a razão e a lógica; isto é, o pensar, analisar, discernir e chegar a uma conclusão baseada em evidências. Descartes, o pai da ciência, diz: “Nunca devemos nos deixar persuadir pelos nossos sentidos, só pela razão.” 4 A dimensão mental está relacionada com a mente lógica e a capacidade de usá-la. É representada pela capacidade de uso da mente lógica e intuitiva – o que se traduz, por exemplo, no potencial de realizar conexões, representações do mundo real, construção de metáforas, além do exame de opiniões, elaboração de questionamentos, etc. Pressupõe, em suma, a

FIGURA 11 – As instâncias da dimensão Mental do Bem-estar Integral

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PROFISSIONAL

“Hoje,

Refere-se ao universo do trabalho e o uso da capacidade e habilidades individuais na cultura e na sociedade – e consequentemente na vida financeira.

Portanto, são poucas as coisas que nos provocam esse sentimento. Produção em massa, pacotes de alimentos idênticos, relações anônimas com os funcionários institucionais – tudo isso nega a unicidade do mundo.”

É o processo de manifestar a unicidade e espalhar as qualidades pessoais no mundo, colocar-se a serviço da contribuição coletiva a partir da sua melhor qualidade e habilidade. Significa também o funcionamento e a ação no ecossistema da cultura e da sociedade.

5

O grau de gratidão, motivação e a sensação de justa recompensa financeira são outros aspectos da dimensão profissional e estão intimamente conectadas com o sistema sócio-econômico-cultural. Charles EISENSTEIN trouxe o conceito da Economia Sagrada em 2011. Ele afirma que o dinheiro, a moeda, tem vida própria e o modo saudável de lidar com ele (e a vida) consiste em desenvolver consciência e trazer o sagrado da Vida para o dia-a-dia, de onde nasce o senso da comunidade, da gratidão, da consciência, da atenção na Vida e da unicidade do mundo e o respeito a todas estas coisas. Nas palavras dele:

o mundo vem sendo destituído do sagrado.

Em seu livro “Sacred Economics” (Evolver Editions/ 2011), EISENSTEIN traça a história do dinheiro desde a economia ancestral ao capitalismo moderno, revelando como o sistema do dinheiro tem contribuído para a alienação, competição e medo, destruindo comunidades com sua necessidade de crescimento sem fim. O autor propõe um modo mais conectado, ecológico e sustentável de ser através da consciência da unicidade e frutificação do mundo. Todas as habilidades pressupõem atenção e presença. No mundo real, isso aparece como comprometimento, qualidade em todos os ambientes, inclusive no local de trabalho. Soma-se a isso equilíbrio entre trabalho e vida privada, consciência e gerenciamento responsável dos recursos financeiros, naturais e humanos, bem como a ideia de sucesso.

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FIGURA 12 – As instâncias da dimensão Profissional do Bem-estar Integral

FIGURA 13 – As instâncias da dimensão Cultural do Bem-estar Integral

CULTURAL Diz respeito ao contato (ou encontro) com o outro. Abarca as relações em casa, no trabalho, com amigos e as relações com todos os povos e gerações. Quanto maior for a contribuição para o bem comum, com estruturas de valores e interações que promovam desenvolvimento, em outras palavras uma cultura evolucionária, mais saudável o indivíduo será.

SOCIOAMBIENTAL Indica o processo de fazer escolhas individuais e coletivas que contribuam para a manutenção e melhoria da qualidade de vida no planeta. Inclui escolhas responsáveis sobre o uso de água, energia, combustível, ar, terra e recursos naturais, bem como a preocupação com o bem-estar das gerações futuras.

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Supõe, ainda, o reconhecimento da interdependência entre os seres humanos e com os seres de outra espécie, incluindo o planeta Terra como um Todo. No social, diz respeito ao acesso ao sistema de saúde, lazer, transporte, moradia e educação, o poder econômico, a distribuição de renda e as condições de trabalho.

EXISTÊNCIA A existência está relacionada com o centro do sentir discutido anteriormente: o Eu inconsciente, que pode ser traduzido como o sentimento de simplesmente existir ou Ser. É aquilo que é imortal em nós.

Assim o descreve Ken Wilber: “As pessoas se sentem pressas pela vida, pelo Universo porque imaginam que estão no Universo e protanto o ele pode esmagá-las com se fossem insetos. Isso não é verdade. Você não está no Universo, o Universo está em você.” 6 A vida é um constante fluxo do qual todas as formas emergem. Ela simula o fluxo do próprio Universo no qual a partir do estado de não forma, tudo adquire talhe ou feição. Todos os paradigmas estão baseados na ideia de elementos que alteram e modificam a si mesmos assumindo diferentes formas. FIGURA 14 – As instâncias da socioambiental do Bem-estar Integral.

dimensão

No pré-modernismo, esses elementos são água, terra, fogo, ar e éter. Moléculas e átomos. Partículas e cordas são componentes do paradigma moderno. Os

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sistemas são os constituintes resultantes do pósmodernismo. O Modelo Integral trabalha com dimensões. Todos eles são interpretações do fluxo entre forma e não-forma. Por outro lado isso pode ser descrito como um estado de silêncio e quietude de ser. Converte-se em um estado de estar e fazer. Há muitas referências desse estado na história da humanidade. O mestre Zen, prof. Masunaga Reiho (1901-1980) disse: “Nada existe, tudo se está se tornando” “Nada existe separado de Brahman, Brahman é a única existência” afirmou o líder espiritual do Centro de ensino de Yoga, Instituto Himalaya. 7

O filósofo taoísta Wei Wu Wei expressa esse estado da seguinte forma: Por quê você está infeliz? Porque 99,9% de tudo que pensa, e tudo que faz,

e não existe um EU. 8

A existência é definida como um fato ou estado de ser ou ter uma realidade objetiva - estar vivo9. Ela é a raiz da vida e ao mesmo tempo é a própria vida manifestada em diferentes formas, desde a mais simples, como as bactérias, às mais complexas como, o homo sapiens. Nesse contexto, a existência mantém em si mesma o “Fluxo do Ser” e o “Tornar-se”. Podemos ser conscientes desse processo do mesmo modo que somos conscientes do corpo. Desse modo, isso se converte em uma qualidade de ser que sabemos e conhecemos, mas não podemos explicar esse saber de forma lógica. Sabemos como tudo na natureza “sabe” como ser, da mesma forma que a semente sabe como se tornar uma árvore, como os pássaros sabem cantar e as formigas sabem como criar e fazer crescer um fungo em sua colônia que será seu alimento. No entanto, não podemos explicar esse saber de forma lógica.

é para o seu Eu,

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Os poetas do mundo todo e de todas as épocas falaram e falam sobre a existência. O americano Walt Whitman (1819 - 1892) em seu poema Song of Myself (Canção de mim mesmo) canta:

E entraria pela minha porta dentro

“Eu celebro a mim mesmo, e canto eu mesmo,

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos

Eu assumo que você assumirá que todo o átomo que me pertence, também pertence a você.”

Dizendo-me, Aqui estou!

De quem, por não saber o que é olhar para as coisas, Não compreende quem fala delas Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

O brilhante Portugues Fernando Pessoa (1888-1935), escreveu como seu heterônimo Alberto Caeiro:

Mas se Deus é as flores e as árvores

(3/8/1914)

E os montes e sol e o luar,

“O único sentido íntimo das coisas

Então acredito nele,

É elas não terem sentido íntimo nenhum.

Então acredito nele a toda a hora, E a minha vida é toda uma oração e uma missa,

Não acredito em Deus porque nunca o vi.

E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Se ele quisesse que eu acreditasse nele, Sem dúvida que viria falar comigo

Mas se Deus é as árvores e as flores

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E os montes e o luar e o sol,

E penso-o vendo e ouvindo,

Para que lhe chamo eu Deus?

E ando com ele a toda a hora.”

Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar; Porque, se ele se fez, para eu o ver,

Alberto Caeiro - O guardador de rebanhos

Sol e luar e flores e árvores e montes, Se ele me aparece como sendo árvores e montes E luar e sol e flores, É que ele quer que eu o conheça Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe, (Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?), Obedeço-lhe a viver, espontaneamente, Como quem abre os olhos e vê, E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes, E amo-o sem pensar nele,

Baseado nisso, esse modelo considera que a Existência integra todas as outras dimensões do bem-estar e por isso ocupa é o centro o core do Bem-Estar Integral.

Portanto, a sensação de bem-estar é resultado da soma dos níveis de satisfação nas mais diversas dimensões do ser. Decorre da combinação de um sem número de fatores intimamente ligados ao nível da qualidade de vida. Em um mundo dominado pelo caos, pelas transformações vertiginosas, medo e pela ansiedade, atingir tal percepção parece algo utópico. O que tentamos demonstrar através deste livro e da minha prática diária é que tal busca não só é possível como também a conquista desse estado é viável em curto prazo. A chave para tanto está na mudança de paradigma.

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FIGURA 15 – As instâncias da dimensão central do Bem-estar Integral

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Todo ser humano sabe, por experiência em diferentes aspectos da vida, que em muitos momentos as coisas parecem estar bem e, em outros, não. Às vezes, essas sensações passam como cotidianas, naturais, fazendo parte da experiência do viver, outras vezes deixam a sensação de que algo incomoda, a menos que estejamos vivenciando um alto nível de consciência, atenção e liberdade interna.

ÍNDICE DE BEM-ESTAR INTEGRAL

Por vezes, ainda, essa visão de que algo não vai bem é até mesmo alheia à pessoa que vivencia a situação, sendo veiculada apenas por aqueles que a rodeiam, que a avaliam, então, como doente ou potencialmente fragilizada. Observando esse quadro, surge-nos o questionamento sobre o que é saudável e o que não é. O que seria uma pessoa plenamente sã, enfim? Tal indagação, por consequência, nos leva a questionar também o conceito de saúde. Trata-se de uma reflexão complexa que vem sendo pensada talvez desde que o homem se deu conta de que algumas coisas o fazem viver melhor e outras não. Sem dúvida, as primeiras e mais expressivas preocupações humanas, no sentido de estabelecer o estado de saúde, estavam ligadas à sobrevivência

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frente aos acontecimentos geradores de mortalidade, como a presença de doenças (sobretudo as transmissíveis), fome e estados de miséria. Com o passar do tempo, a atenção voltou-se para um âmbito mais amplo, coletivo e nos dias de hoje ganham crucial importância nos setores governamentais fiscalizadores da saúde pública. Embora muitos órgãos tenham atuado localmente – e ainda atuem – na história do estabelecimento da saúde coletiva com algum sucesso, a mais importante instância destinada a esse aspecto é a Organização Mundial de Saúde (OMS), criada em 1948, após a Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de desenvolver ao máximo a saúde de todos os povos, embora aconteça às portas fechadas e a população não seja convidada a discutir os critérios e políticas globais estabelecidas pela OMS. No preâmbulo do texto que estabelece as suas incumbências, a saúde é definida como um “estado de completo bem-estar físico, mental e social, não consistindo apenas da ausência de doença ou enfermidade” 1. Essa definição implica na compreensão de que a saúde consiste na satisfação de todas as

necessidades fundamentais sejam elas afetivas, sanitárias, nutricionais, sociais ou culturais, do embrião à pessoa idosa. Trata-se de uma definição ampla e, portanto, complexa, abrangendo implicações legais, sociais, ambientais, políticas, econômicas, entre outras. Neste livro, queremos chamar a atenção para o fato de que a noção de saúde vai muito além do âmbito individual. A saúde de um indivíduo está intrinsecamente ligada ao seu contexto, à sua coletividade, o que acarreta, por exemplo, a preocupação frequente com doenças sazonais e geográficas. Na Amazônia, por exemplo, a incidência de diarreia e desidratação em crianças é muito mais alta que na cidade de São Paulo, pois lá não há um sistema adequado de saneamento básico. Em São Paulo, a cidade mais industrializada, moderna e populosa do país, por sua vez, assistimos a um número muito maior de doenças respiratórias, ligadas à baixa qualidade do ar que, por sua vez, advém da poluição e daí por diante. Podemos perceber, então, que esses contextos não estão ligados apenas à região, mas ao

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sistema social, cultural, político e econômico nos quais o indivíduo está inserido.

considerados separadamente passíveis de quantificação:

Como podemos observar, dada a complexidade do conceito de saúde, a tarefa de mensurá-la também é complexa. São muitos ângulos de aproximação, como a mortalidade, a morbidade, a incapacidade física, o grau de autonomia das pessoas, a estrutura etária da população, a qualidade da prestação de determinado cuidado de saúde, entre outros.

1. Saúde, incluindo condições demográficas; relacionada às taxas de nascimento, fecundidade, migração e distribuição por idade, gênero e regiões.

Indicadores de saúde No intuito de estabelecer um parâmetro de avaliação, pontos de referência foram criados e são conhecidos como indicadores. Assim, nas diversas regiões do globo, vários são os indicadores de saúde existentes que buscam medir o nível de vida e saúde da população – questão atualmente muito estudada pela comunidade internacional, a fim de que se construa a comparação entre os indicadores de diferentes países e regiões. Por esta razão, a Organização Mundial da Saúde formou um comitê para definir os métodos mais satisfatórios na determinação e avaliação do nível de vida e, na impossibilidade de construir um índice único, o Comitê Internacional sugeriu que fossem

doze

componentes

2. Alimentos e nutrição; 3. Educação, incluindo alfabetização e ensino técnico; 4. Condições de trabalho; 5. Situação de emprego; 6. Consumo e economia gerais; 7. Transporte; 8. Moradia, domésticas;

incluindo

saneamento

e

instalações

9. Vestuário; 10. Recreação; 11. Segurança social; 12. Liberdade humana.

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Contudo, como ressaltamos anteriormente, os contextos específicos são decisivos para o estabelecimento ou explicação de uma dada situação de saúde. Assim, vale reconhecer a importância de se recorrer a indicadores inter-setoriais - trabalhar com mais de um setor para agir em uma área de interesse comum - como por exemplo, a evolução do nível de emprego, a renda média do trabalhador ou o consumo de energia elétrica, entre outros, para se averiguar o nível médio da qualidade da saúde de uma dada população. Outra dificuldade encontrada na tarefa de descobrir indicadores e índices de saúde é que, no intuito de mensurar a saúde, avalia-se doença ou morte (ausência definitiva de saúde).

Podemos citar como exemplo a percepção da violência por moradores de São Paulo e Rio de Janeiro frente à percepção de moradores de outras capitais com menores índices de violência, ou mesmo dos moradores de cidades do interior.

Nesse caso, o esforço está em encontrar instrumentos capazes de medir saúde, bem-estar e qualidade de vida ao invés de morbidade. Eles são conhecidos como indicadores “positivos” de saúde, porém, muitos deles são de difícil estimativa e trazem em seu bojo enorme subjetividade, conforme se observa em itens como “bem-estar”, “qualidade de vida”, “normalidade”, temas de difícil mensuração por vias racionais.

• Aspectos demográficos;

A fim de se estabelecer uma organização nas avaliações por meio de indicadores, estes foram, então, classificados em modalidades, cujas principais são: • Mortalidade/sobrevivência; • Morbidade/gravidade/incapacidade; • Nutrição/crescimento e desenvolvimento;

• Condições socioeconômicas; • Saúde ambiental; • Serviços de saúde. Nesse sentido, os indicadores conduzem a uma percepção mais ampla de saúde, muito além da saúde individual. Funcionam como um panorama, uma

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fotografia de um elemento específico, seja esse indivíduo, o hospital, a casa, o bairro, o, ou mesmo o mundo. Servem, assim, ao estabelecimento de um diagnóstico sistêmico da saúde com o objetivo de que medidas específicas sejam tomadas no aperfeiçoamento da saúde de que estamos tratando. Para exemplificar essa ideia, podemos pensar na alta taxa de mortalidade infantil no Brasil, que segundo o Ministério da Saúde, deve-se principalmente, à inexistência de saneamento básico, pronto-socorros ou unidade de saúde onde a mãe pudesse levar a criança. Qual seria então a medida para diminuir essa taxa? Dar boas e confiáveis informações à mãe, sem nenhuma intenção econômica? Dar fortificante para a criança? Na verdade, as causas e consequências relativas ao diagnóstico e providências necessárias vão muito além das atribuições dos setores ligados especificamente à saúde. É preciso, pois, que se faça um “diagnóstico sistêmico” da situação, no intuito de se buscar formas de atuação para trazer saneamento básico e uma unidade de saúde para próximo dessa mãe, entre outras coisas.

Isso não tem a ver com saúde, mas com políticas públicas. É um paradoxo, portanto: a saúde, no caso, não tem a ver com o indivíduo, porém o indivíduo precisa estar saudável para brigar por essas condições. O problema, então, vive uma retroalimentação que só o potencializa ainda mais. Essas pessoas não têm força, nem auto-estima, segurança e nem tampouco informação suficientes para atuar mais, escolher seus dirigentes, agir na comunidade, ou seja, cria-se um círculo vicioso. E, nesse contexto, são as medidas externas ao círculo de escolha individual que devem ser tomadas. A Natureza do problema de Saúde Pública Existem diferentes perspectivas sobre a real natureza e causa desses problemas, complexos e aparentemente paradoxais. Desde aquela ancorada na Ciência (que acredita que os problemas são naturais e causados por “variáveis complexas do processo evolutivo randômico) até a crença da possível existência de uma manipulação invisível e uma agenda global e local (não tão humanitárias como parecem publicamente) à serviço de interesses de certos grupos específicos e que trabalham para manter a situação

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como está e até fazem um certo lobby para que fique ainda pior. Entretanto, não está no escopo desse livro focar na especulação das perspectivas alternativas sobre as dificuldades e problemas de injustiça e desigualdade social que aflige o Sistema de Saúde do planeta, por mais incômodas, dissonantes e razoáveis que tais perspectivas possam ser. Convido o leitor a obter o maior número de perspectivas possíveis sobre as condições de saúde humana no mundo todo sem deixar nenhuma perspectiva de fora, mesmo que algumas possam parecer desconfortáveis ou sem sentido à primeira vista – o que pode acontecer por falta de dados e por falta de uma educação apropriada sobre perspectivas alternativas (não comuns ou usuais) da realidade. Em uma visão mais positiva, a seguir veremos exemplos de empreendedores sociais na área de Saúde Pública no Brasil: Soluções socias de saúde no Brasil

Um deles é o empreendimento social do médico Roberto Kikawa, idealizador da Carreta da Saúde,3 que é um caminhão itinerante munido de equipamentos que possibilitam a realização de exames e atendimento médico que leva informação, diagnóstico e tratamento, à população carente de todo o país. Outro exemplo é o Projeto Alegria, um barco que oferece atendimento primário de saúde às populações ribeirinhas do Amazonas. 4 Concluindo, todos esses indicadores aqui discutidos agregam valor significativo por apontarem soluções coletivas, além das individuais, à partir de um diagnóstico também coletivo.

ÍNDICE INTEGRAL Ainda que a criação dos índices tenha trazido uma referência para a avaliação dos estados de saúde, o objetivo de desenvolver a saúde dos povos ainda está longe de acontecer. Os índices de saúde, embora numerosos e abrangentes, ainda olham para a situação de maneira fragmentada, permanece a visão

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do ser humano como indivíduo, alheio ao mundo e à sociedade que o cerca. Essa concepção não contribui para uma visão mais ampla do conceito de saúde. Esse contexto de escassez de métodos de avaliação dos níveis de saúde e de bem-estar numa perspectiva mais integrada e compreensiva (Integral), acrescentado da necessidade de criar e ao mesmo tempo autenticar os seus próprios protocolos, conduziram-me a adaptar o Modelo Integral de Ken Wilber em uma estrutura capaz de analisar, investigar e harmonizar os índices e indicadores para uma visão mais ampla e completa daquilo que se deseja explorar. Uma vez que a saúde vai além do indivíduo e atinge comunidades e estruturas socioambientais, também é preciso definir a saúde de quem queremos medir e estudar. O Índice de saúde integral da medIntegral Proponho, então, o Índice Integral que é, grosso modo, a proposta de uma visão panorâmica do processo e que, como tal, eu acredito, baseada em fundamentos teóricos e em minha prática e

experiência profissional, que ele pode ser mais eficaz na busca do estabelecimento integral da saúde e bemestar. Com efeito, este índice, por sua natureza ampla, inclusiva e compreensiva, apresenta grande versatilidade ao possibilitar a observação dos diferentes aspectos (individuais, coletivos, objetivos e subjetivos) em um conjunto, pois agrega diferentes índices, concomitantemente, em uma estrutura unificadora, a partir da qual se pode avaliar integralmente a saúde e determinar linhas de desenvolvimento em saúde, divididos em aspectos básicos. A escolha das informações e/ou das linhas que irão compor o Índice Integral, depende dos objetivos da avaliação. Em primeiro lugar, devemos escolher o alvo ou objeto de estudo a ser avaliado. Como mencionamos anteriormente, podemos avaliar indivíduos, comunidades como famílias, cidades, regiões ou até países, ou ainda sistemas e estruturas (como por exemplo organizações, empresas, ou departamentos). Esse processo determinará os objetivos da pesquisa/

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avaliação e a saúde de quem está sendo avaliado (indivíduos, comunidades ou sistema ambiental). Depois, devemos escolher os aspectos metodológicos, éticos e processos operacionais da questão em estudo. O que quero dizer, o que quero estudar nessa população? Níveis de glicemia, pressão arterial, educação, motivação, maturidade emocional, crenças, comportamento e etc... A partir da definição clara de todos esses aspectos, poderemos determinar os melhores índices já existentes e as linhas complementares para comporem o Índice Integral, que serve como uma estrutura integradora de todos os seu componentes. Vamos supor que eu queria avaliar o Índice de bemestar Integral dos colaboradores de uma companhia de cosméticos. Elejo estudar a saúde física, mental e espiritual, bem como suas relações e as estruturas físicas, os processos e a cultura da companhia. Dentro dos Indicadores já existentes, o WHOQOL abrange muitos dos aspectos que quero estudar, e para complementá-lo eu adiciono linhas como, por exemplo, a sociocultural e outra que estude as estruturas da companhia. Portanto, o Índice de Bem-

Estar Integral, que refletiria e integraria todos os aspectos que desejo estudar nesta companhia, seria composto pelo WHOQOL e duas outras linhas. Este capítulo trata dos detalhes da elaboração e construção do Índice Integral. É, por esta razão, um tópico técnico e abstrato com muitos conceitos matemáticos. Portanto, sinta-se livre para ir para o seguir para o próximo, caso queira evitar essa jornada abstrata.

A construção do Índice Integral A Avaliação Integral tem como pressuposto entender a saúde em seus atributos objetivos, subjetivos, individuais ou coletivos do bem-estar e seu impacto na qualidade de vida dos indivíduos e da comunidade. Tais atributos, embora simultâneos, interdependentes e complementares são estrategicamente divididos em uma estrutura metodológica que permite visualizálos cada um separadamente e todos juntos aso mesmo tempo, dispondo-os lado a lado. Esta estrutura é conhecida como quadrantes- Figura 22.

135


Sobrepondo esses eixos, obtemos uma figura com quatro quadrantes. Cada um representa a superposição dos atributos encontrados nos eixos originais, resultando em quatro dimensões conjugadas como mostra a Figura 22 acima: o individual objetivo (A), individual subjetivo (B), coletivo subjetivo (C), coletivo objetivo (D) (figura 23c). FIGURA 22 - Quadrantes

A figura apresenta dois eixos: horizontal e vertical. O primeiro separa o que é coletivo do que é individual (figura 23 A) e o segundo o que é subjetivo do que é objetivo (figura 23 B).

FIGURA 23 C

FIGURA 23 A

FIGURA 23 B

O segundo passo na construção do índice é a inclusão dos níveis de desenvolvimento na estrutura dos quadrantes. Já que os quadrantes são simultâneos, interdependentes e complementares, o que acontece em um também acontece nos outros ao mesmo

136


tempo, um Tetraemergência.

fenômeno

conhecido

como

Emergência representa o nascimento, a origem ou manifestação de sistemas complexos ou padrões. A emergência tem por pressuposto que os sistemas não possuem qualidades diretamente ligadas aos seus componentes, mas são relativas ao modo como eles interagem. Essas novas qualidades são irredutíveis as partes que constituem o sistema (Laughlin 2005). O Todo é maior do que a soma das partes. Essa visão é chamada de Emergência (strong emergence) Portanto, a tetraemergência sintetiza os níveis que acontecem ao mesmo tempo em todos os quadrantes e juntos eles são mais do que a soma deles. Para visualizar melhor o processo dos níveis de desenvolvimento nos quadrantes, vamos pensar o que acontece quando jogamos uma pedra no lago. Ondas se propagam do centro para a periferia. Os níveis de desenvolvimento também são assim. Mas por que os níveis não são linhas, como foram apresentados anteriormente, e são

ondas? Porque são simultâneos. Isso significa que um ponto no anel do quadrante superior esquerdo tem um ponto correspondente no quadrante superior direito. Em Integrales, esses anéis são níveis de consciência e estão representados pelos anéis da figura 24 A.

FIGURA 24 A

A Geometria nos diz que há milhares de pontos na curva. Cada ponto tem uma localização única de altura e distância, nos eixos dos quadrantes e, portanto, representam aspectos diferentes do anel. FIGURA 24 B

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Partindo do princípio de que há uma propagação evolutiva do centro para a periferia, os pontos de um anel terão pontos equivalentes nos anéis subsequentes. Quando escolhemos um ponto e acompanhamos a sua evolução para os anéis seguintes, obtemos uma sucessão de pontos nos sucessivos anéis. Ligando esses pontos, obteremos uma linha que perpassa todos os anéis, chegando ao centro. Essa linha é chamada de linha de FIGURA 24 C desenvolvimento na Teoria Integral, como na figura ao lado. Como os quadrantes são tetraemergentes e os níveis são ondas evolutivas, o movimento de qualquer linha em um quadrante movimentará as linhas equivalentes também nos outros

quadrantes; ou seja, a linhas se espelham nos outros quadrantes. Na prática: LM, feminino, 38 anos, editora, casada com um filho de 10 anos. Ela tem diagnóstico de síndrome do pânico. Como seria a tetraemergência dessa situação? Pega-se os sintomas físicos e investiga-se as manifestações deles em outros quadrantes. SD: sintomas físicos, como tremores, sudorese, palpitacão e nausea. SE: sintomas emocionais, mentais e psicológicos como ansiedade, medo e pânico. IE: dependência familiar e dificultdades de relacionamento. ID: violência urbana. Como vimos anteriormente, em cada anel existem milhões de pontos. Se cada ponto é uma linha em potencial, então há milhões de linhas. Todos os pontos no mesmo anel são equidistantes do centro; ou seja, estão na mesma onda, o que significa que têm o mesmo nível de desenvolvimento. Parece complicado? Imagine uma mesa com o desenho de quatro quadrantes e 3 círculos:1,2 e 3. Se colocarmos 5 tartarugas com tinta rosa nas patas e localizadas no círculo de número 1 e deixarmos que elas andem em direção aos círculos 2 e 3 em linha

FIGURA 24 D 138


reta, no final teremos 5 linhas em diferentes posições, no entanto todas elas terão a mesma distância do centro, pois as tartarugas percorreram a mesma distância, certo? Isso é a mesma coisa que dizer que as tartarugas estão no mesmo nível de consciência, pois estão à mesma distância do centro. No entanto, como mencionei anteriormente, cada ponto é particular e está relacionado a um aspecto específico. Embora sejam pontos translocados ou simétricos, isto é possuem a mesma localização em todos os planos (quadrantes), eles se manifestam características especificamente daquele quadrante. Novamente, a qualidade tetra-emergente dos quadrantes e da propriedade evolutiva e FIGURA 24 E simétrica da onda, permitem a equivalência dos pontos.

O caminho evolutivo do cérebro Para exemplificar a especificidade dos pontos, apesar da sua equivalência, como exemplo, vamos falar da onda evolutiva do cérebro. É sabido que o cérebro evoluiu em três ondas principais, correspondentes ao cérebro reptiliano, límbico e o neocórtex.

Cérebro reptiliano O primeiro anel representa as funções básicas de sobrevivência do cérebro reptiliano em todos os quadrantes. O quadrante superior direito diz respeito aos aspectos individuais e concretos desta onda, que é a manutenção das funções vitais. Já no quadrante superior direito, dimensão subjetiva individual, teremos as sensações. Cérebro Límbico O próximo anel da evolução é o surgimento do cérebro límbico como o figurante do quadrante superior direito. Enquanto no quadrante superior esquerdo, a atuação fica por conta das emoções.

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Cérebro Cortical E por fim, o próximo anel representa o cérebro cortical no SD e no SE representa os pensamentos, por exemplo.

FIGURA 25 - OS TRÊS CÉREBROS

A construção do Indice Integral Na prática, para se chegar a tal índice, em primeiro lugar, estabelece-se um ponto qualquer de referência a partir de um dado qualquer que mereça ser estudado.

Por exemplo: Um menino de dez anos, com problemas respiratórios frequentes, muito criativo, agressivo em casa, mau humor frequente e bons argumentos para conseguir o que quer. Ele gosta de ficar sentado o dia todo no sofá na frente da televisão ou jogando vídeo games. É muito pouco independente, não toma banho, não se troca e nem coloca seus sapatos sozinho e não consegue organizar seus materiais de estudo. Vamos pegar um ponto de referência no QSD: problemas respiratórios frequentes, baixo nível de serotonina (um neurotransmissor relacionado a felicidade e satisfação), alto nível de IgE (uma proteína do sistema imunológico relacionada a problemas alérgicos), pouco tempo de sono, dieta vegana, pouco exercício físico e agressividade. Esses são os pontos de referência, a partir dos quais se averigua o espelhamento deles nos outros quadrantes: Superior Esquerdo: falta de confiança, baixa autoestima, dificuldade de atenção. Mau humor relacionado a responsabilidades como fazer lição, tomar banho e dormir.

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IE: bulling, filho único de pais separados que têm valores muito diferentes. O pai vive na cidade em um apartamento, gosta de futebol americano e comidas não muito saudáveis como churrasco e cerveja. Sempre tem aparelhos eletrônicos ligado em casa (computador, tv ou música). A mãe vive em uma chácara perto da cidade, nunca assiste TV, gosta de silêncio, é muito séria em relação à dieta vegana e só bebe água ou sucos de frutas naturais. , Nesse quadrante também podemos incluir a cultura escolar, familiar e outras, como a cidade, a vizinhança etc. A escola é americana e tem uma cultura tradicional familiar, com pai, mãe e filhos de classe econômica muito alta no Brasil. Também defende que carne é absolutamente necessária para o bom desenvolvimento, que segundo as crenças da Escola: quanto mais você fizer, melhor e, nesse sentido, ficar quieto é sinal de problemas.

Nota: Definitivamente, proteína é muito importante para o nosso desenvolvimento físico, e carne possui muita proteína. Então, isso tem sido uma discussão controversa devido a hábitos culturais e propagandas corporativas. No entanto, uma dieta vegana ou vegetariana pode fornecer as proteínas necessárias e ser uma alternativa saudável para o corpo e a mente, se as for muito bem gerenciada. Nos relacionamentos, temos o dado de que ele sempre discute com a mãe na hora de fazer lição, tomar banho, ir para cama e ir para a escola. ID: Estrutura da escola - 7 horas por dia, 5 vezes por semana, muita lição de casa. Estruturas pessoais: vive em 3 casas diferentes - casa do pai, da mãe e da avó, onde passa 3 tardes por semana, depois da escola., rodeado de TV e videogames. O resultado dessa organização da história clínica em quadrantes, localizando os pontos espelhados é o quadro geral da saúde do garoto, isto é, qual o atual nível de Saúde Integral. O segundo passo é colocar metas, a visão de onde ele pode e/ou quer chegar; ou seja, qual o nível ideal de

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saúde Integral. Novamente, pegamos um ponto de referência e procuramos os espelhamentos nos quadrantes. Digamos que o nível ideal de saúde seria ficar livre do bulling. No quadrante Inferior Direito, espelhando esse ponto teremos: Quadrante superior diereito = uma rotina mais estruturada entre a casa da mãe e do pai. Ou seja, Melhor gestão do tempo para o lazer e as responsabilidades como lição de casa, banho, sono e alimentação. Esses são pontos de um nível de saúde ideal, mais amplo que o atual. Portanto, se traçarmos uma linha que ligue esses pontos partindo do eixo central dos quadrantes, teremos a linha evolutiva de saúde. Tem-se, como resultante, uma reta que invariavelmente chega ao centro dos eixos dos quadrantes e perpassa todos os anéis (ou ondas). Essas ondas têm por objetivo estabelecer a interação entre o ponto inicial e os demais atributos nos outros quadrantes. Essa reta constituída, como falamos anteriormente, é uma linha de desenvolvimento que corresponde especificamente ao dado abordado, ou seja ao ponto escolhido. Podemos, então, escolher milhares de

dados e, consequentemente, teremos milhares de linhas de desenvolvimento, uma vez que cada um deles corresponde a uma linha específica. Por exemplo, voltando ao garoto: vamos pegar o ponto correspondente ao seu sedentarismo e traçar uma linha na qual o próximo ponto seria exercício três vezes por semana. Essa seria a linha sinestésica. Quando pegamos outro ponto (como “discutir com a mãe”), traçaremos outra linha de desenvolvimento, e assim por diante. Partindo da equivalência dos pontos, podemos traçar linhas diferentes em todos os quadrantes. Essas linhas, traçadas sucessivamente, possibilitarão uma avaliação integral daquele ponto primeiro que estamos buscando conhecer. Baseado nessa aplicação, o Índice Integral é uma esfera que trabalha com três camadas: indo do centro para a periferia, ou seja, linhas de desenvolvimento, quadrantes e qualidades. O Índice Integral é a expressão de um valor superior à soma ordinária das linhas de desenvolvimento. É uma

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função matemática delas, resultando na mensuração do quadrante daquelas respectivas linhas. Por exemplo, vamos supor que queiramos estudar os aspectos do quadrante SD da saúde. Para isso, escolho as linhas metabólica, genética, nutricional, exercício físico e comportamental. Ao colocá-las todas juntas, teremos um panorama da saúde físicocomportamental do indivíduo. Na prática: Mulher de 40 anos com depressão. Casada com três filhos, com história familiar de depressão. Ela gasta, como obrigação, três quartos do seu tempo cuidando das crianças e da casa. Come muito chocolate e seus níveis séricos de serotonia e hormônios tireoidianos são baixos. Tudo isso junto revela que ela necessita de intervenção medicamentosa e mudança de comportamento, além de terapia para melhorar o seu estado de saúde. Portanto, os quadrantes do Índice Integral, por sua vez, resultam da função matemática das linhas específicas daquele quadrante. Por outro lado, as qualidades que emergem dos quadrantes, são uma varredura de 180 graus nos quadrantes.

Retomando o caso do garoto vítima de bulling, nós desenhamos algumas linhas que vão do nível de saúde atual ao nível de saúde ideal, contendo tópicos como nutrição, saúde física, sinestésica, emocional e interrelacional (somente para citar algumas). O quadrante biocomportamental emergirá dessas linhas. Além disso, as qualidades irão emergir dos quadrantes em pares. Por exemplo: alta performance emerge dos quadrantes superiores, enquanto comprometimento emerge dos quadrantes esquerdos. Lembre-se de que o princípio da emergência diz que o Todo é maior do que a soma das partes. Além do Índice Integral ter aquelas três camadas, este também pode ser aplicado em três diferentes contextos: individual, comunidades e sistêmicoambiental. Isso é, pode-se estudar, por exemplo a saúde organizacional, a saúde do meu bairro e a minha saúde pessoal.

APLICAÇÃO O primeiro passo para criar o Índice Integral é definir o objeto de estudo, que pode ser, como mencionamos

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acima: indivíduos, comunidades e/ou sistêmicoambiental. Uma vez que cada aspecto é representado por diferentes linhas de desenvolvimento, isso implica em uma composição diferente do índice.

pelos indivíduos estudados. Eles objetivam melhorar as qualidades em questão e também impactar as dimensões sociais e ambientais relacionadas a sua vida.

Estágios da aplicação do índice

COMO USAR O ÍNDICE?

São três os estágios de trabalho da aplicação do índice:

Há uma ordem para trabalhar com o índice:

1) Estatístico: é a compilação de dados obtidos através de um questionário composto de quatro etapas. 2) Analítico: composto por um profissional treinado que analisará os resultados e apontará as linhas, quadrantes e qualidades a serem trabalhas, para que se tenha uma imagem Integral sobre o que tem sido estudado. 3) Soluções: apresentação de soluções integradas para

as questões diagnosticadas. O desenho estratégico das ações a serem realizadas é baseado em todas as dimensões do bem-estar integral.

Em primeiro lugar, medimos as linhas, essa é a primeira camada. A partir da integração destas, obtêm-se os quadrantes, segunda camada. Estes, por sua vez, são as bases para a emergência da terceira camada do índice, as qualidades. Ou seja, cada camada é uma função da camada anterior. É como um índice evolucionário. Primeiramente, as linhas que correspondem aos átomos, e que juntas de um modo sistêmico, dá origem aos quadrantes, que correspondem às moléculas. Finalmente, os quadrantes, juntos, de um jeito sistêmico dão a luz às qualidades que correspondem as células, na evolução biológica da complexidade. Nesse processo, o Todo é mais do que a soma das partes.

A vantagem dessa abordagem compreensiva é desenhar estrategicamente as ações a serem tomadas

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Lembre-se: emergência é como nascem os padrões e complexos sistemas da multiplicidade de simples interações relativas. Como vimos, o Índice Integral permite avaliar a saúde integral dos indivíduos, das comunidades e dos sistemas. Consequentemente, pode oferecer soluções mais inclusivas, profundas, integradas e combinadas para os problemas atuais individual e coletivamente falando, bem como interna e externamente. Por causa desta versatilidade, o Índice Integral proporciona muitas outras configurações em diferentes áreas de estudos como a Sustentabilidade, a Economia, a Psicologia, a Saúde, a Espiritualidade, a Sociologia etc. Em resumo, o Índice Integral é um framework de desenvolvimento de ponta que pode ser usado para construir índices mais amplos e integrados em várias instâncias do conhecimento e atividades humanas. Para compor o Índice Integral particular de uma determinada área, é suficiente organizar os indicadores e índices particulares daquela área em um

modelo AQAL e acrescentar outras linhas necessárias para a avaliação integral da mesma. Na sustentabilidade, por exemplo, poderemos trabalhar com linhas como impacto social, comportamento individual e coletivo; sustentabilidade econômica e ambiental; sombras individuais e coletivas que correspondem aos aspectos da sociedade e da cultura desintegrados (isto é, ou não são conhecidos, ou são considerados cognitivamente dissonantes dos conceitos sociais e culturais daquela sociedade para serem integrados facilmente). As sombras coletivas estão intimamente ligadas às sombras individuais (um conceito psicológico explorado pelo psicólogo Carl G. JUNG, que significa aspectos desintegrados da psique do indivíduo que não são conhecidas, reprimidas, alienadas ou ainda consideradas ameaçadoras para a imagem de si mesmo para serem reconhecidas). De acordo com Ken Wilber, “sombra” é um termo genérico usado para referir-se a qualquer aspecto inconsciente pessoal ou comunitário. Por serem aspectos desonrosos, do “eu”, eles são alocados no inconsciente. Não são somente aspectos negativos,

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ameaçadores ou muito perigosos, mas também muito positivos e muito bonitos para serem aceitos como parte do eu.6 Ainda que os índices Integrais possam ser bem diferentes entre si, em seus conteúdos específicos, com exceção de algumas similaridades e intersecções, mantém suas amplitudes e profundidades, o que sustenta significativamente as avaliações e soluções relacionadas a qualquer área de estudo.

SAÚDE DO INDIVÍDUO Ao estudar a saúde de indivíduos, o índice serve como uma ferramenta clínica chamada Índice de Bem-estar Integral (IBEI) utilizada para identificar e acessar a saúde do indivíduo de uma perspectiva AQAL. O IBEI é estruturado em quadrantes, em cujas bases estão os aspectos básicos da saúde do indivíduo: a saúde física, a saúde psicoespiritual, a saúde das suas interações humanas e a saúde sistêmico-ambiental. Sua aplicação consiste na hospedagem de linhas de desenvolvimento específicas em cada quadrante,

linhas estas que, apesar de serem representativas não são exclusivas. Para compor esse índice utilizamos alguns indicadores e dados de saúde individuais existentes, como o WHOQOL (World Health Organization Quality Of Life um projeto da OMS para desenvolver um instrumento de qualidade de vida), o SF36 (um indicador de estresse), e ainda acrescentamos outras linhas que complementam e integram os aspectos de saúde à avaliação metabólica (ao nível de consciência, das crenças, dos valores, das relações, da educação e do acesso à qualidade de vida e moradia, por exemplo). As linhas do Índice de Bem-Estar Integral guardam a aptidão de mensurar todas as dimensões discutidas no capítulo anterior e, quando organizadas em quatro quadrantes, reúnem aqueles 12 componentes em um único mapa, mostrado na figura abaixo:

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combinados a aspectos nutricional e metabólico.

objetivos,

como

estado

SAÚDE COMUNITÁRIA Já no contexto comunitário, esse implemento mostra e exprime o impacto da sustentabilidade pessoal, ambiental e social na saúde e bem-estar da comunidade estudada. Sua estrutura é bem parecida com a Individual, porém acrescenta linhas ao quadrante sistemicoambiental.

SAÚDE SISTEMICAMBIENTAL FIGURA 26 – Disposição, nos quadrantes, dos doze componentes quantificáveis da saúde propostos pela OMS.

Na circunstância sistemicambiental, o Índice Integral tem sido aplicado em corporações como instrumento para apontar e determinar a saúde e o bem-estar daquele sistema e das pessoas envolvidas.

Além disso, esse índice é claramente um indicador positivo de saúde na medida em que avalia a subjetividade como qualidade de vida e bem-estar

AS CAMADAS DO ÍNDICE INTEGRAL DE SAÚDE

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Como mencionado anteriormente, o Índice é composto por linhas, quadrantes e qualidades. elas representam as três camadas do índice Integral. A primeira camada trabalha com as linhas de desenvolvimento; a segunda, com os quadrantes e, a terceira, opera com os atributos (objetivos, subjetivos, individuais ou coletivos) do bem-estar e seu impacto nas qualidades dos três aspectos estudados: individual, comunitário ou, ainda, sistemicoambiental.

Por exemplo, para montar o modelo teórico do HEBTIDA (Humans Earnings Before Tension Irritability, Disease and Abscence). Sendo este um Indicador coletivo, avalia a saúde e bem-estar de organizações, cidades ou comunidades. Esse coletivo é composto por relações humanas, corpos e valores compartilhados. Denominado de “capital humano” da organização, apresenta suas próprias doenças como absenteísmo, irritabilidade e problemas de comunicação, o que, por sua vez, compromete a saúde da organização com baixa produtividade, baixa criatividade e altos custos com os planos médicos (semestralidade). Obviamente, tudo isso impacta no desenvolvimento da empresa, que pode ser medido pelo Índice EBTIDA (Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization) 7, que reflete a atual lucratividade do negócio. No entanto, o EBTIDA não leva em consideração o “capital humano” que também é responsável pelos parâmetros avaliados pelo EBTIDA.

FIGURA 27 – Terceira Camada do Índice

Como seria um índice que avaliasse o desenvolvimento da organização através do “capital humano” e social? O HEBTIDA faz isso, e por isso

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recebeu esse nome, que significa “ganhos humanos antes da tensão, irritabilidade, doença e ausência”. Em inglês, Humans Earnings Before Tension Irritability, Disease and Absence – HEBTIDA. Esse índice é uma proposta mais inclusiva de medir o desenvolvimento da empresa, através da integração dos capitais humano, social, cultural, sistêmico e ambiental em um único número; diferente do EBTIDA, que toma por parâmetro o desenvolvimento pelo lucro.

A segunda camada contém os quadrantes: a) biocomportamental - relacionado à saúde do corpo físico e ao comportamento; b) Psicoespiritual - diz respeito à saúde emocional, mental, espiritual e aos valores pessoais de saúde; c) Interpessoal – refere-se as relações, à cultura e aos valores compartilhados; d) Sistêmico-ambiental - engloba o sistema ambiental e os sociais, como educação, política, economica, transporte etc.;

Camadas do HEBTIDA

Na terceira camada, encontraremos as qualidades:

Em sua formulação, o HEBTIDA compreende três camadas: linhas, quadrantes e qualidades.

a) alta performance;

A primeira camada é composta pelas seguintes linhas: Cognitiva-educacional; motivacional; conhecimento sobre saúde emocional, espiritual, valores e crenças; qualidade de vida; nutrição; rotina; saúde física; metabólica; sustentabilidade; estruturas e sistemas; acesso à qualidade de vida; situação profissional; valores compartilhados na comunidade e relações.

b) comprometimento; c) excelência; d) sustentabilidade; e) efetividade; f) eficiência;

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FIGURA 28 - HEBTIDA 150


g) alta performance. Como vimos anteriormente, alta performance é uma qualidade emergente das dimensões biocomportamental e psicoespiritual do indivíduo, dimensões estas que emergem das diferentes linhas de saúde dentro desses quadrantes específicos. Comprometimento Já o comprometimento exige valores pessoais, como motivação e apoio da comunidade na qual se está inserido, em cujo ambiente o indivíduo compartilha dos mesmos valores e oferece bons e altos níveis de interação. Tais inteligências localizam-se nos quadrantes esquerdos (SE e IE) Isso significa que essa qualidade emerge das dimensões psicoespiritual e das intereações humanas. Excelência A excelência, por sua vez, está ligada a valores compartilhados e ao mesmo tempo ao acesso a recursos e estrutura, o que é a mesma coisa que dizer que ela surge das dimensões, das interações e do sistema socioambiental.

Efetividade Uma vez que para ser efetivo é necessário estar bem fisicamente, ter atitude e ao mesmo tempo ter recursos para a realização, então podemos concluir que a efetividade aflora dos espaços socioambiental e biocomportamental, uma vez que essas linhas se encontram nos quadrantes direitos (SD e ID).

RESULTADOS E BENEFÍCIOS Ken Wilber costuma dizer que não existe verdade absoluta. O mais importante e inteligente é colocar todas as perspectivas juntas e obter a melhor solução para a situação, além de construir melhores caminhos para o bem-estar. Tais caminhos devem ser revisados frequentemente, uma vez que os padrões da vida são dinâmicos e a mudança de uma simples condição altera a situação. A metodologia proposta apresenta esta flexibilidade, além de levar a dois tipos de resultados, qualitativos e quantitativos. O primeiro é relativo ao bem-estar (consciência, atenção, plenitude, qualidade de vida,

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DOENÇA PRÉVIA

SEXUALIDADE HÁBITOS

ATIVIDADE FÍSICA

ESTRESSE QUALIDADE DE VIDA

ACESSO A INFORMAÇÃO

METABÓLICO ALIMENTAÇÃO

SAÚDE

SGNIFICADOS E VALORES

AUTOIMAGEM

SONO

NUTRIÇÃO

BIOCOMPORTAMENTAL INFORMAÇÃO CONFIANÇA

USO DE MEDICAÇÃO

ROTINA

SOBRE SAUDE

HABITAÇÃO SUSTENTABILIDADE

EDUCAÇÃO ALTA PERFORMANCE ATENÇÃO

EFICIÊNCIA

PSICOESPIRITUAL

SOCIOAMBIENTAL

GRAU DE INSTRUÇÃO

COMPROME TIMENTO

EMOCIONAL REALIZAÇÃO

RENDA

EXCELÊNCIA

CONSUMO

PROFISSIONAL LAZER

ESPIRITUALIDADE ESTRUTURA MOTIVAÇÃO

SUPORTE

ACESSO A QUALIDADE DE VIDA

RELAÇÕES HUMANAS

SEGURANÇA

VALORES COMPARTILHADOS CRENÇAS

CONFORTO

RELAÇÕES

CULTURA

ACESSO A SERVIÇOS

AMBIENTE

TRANSPORTE

COMUNICAÇÃO SERVIÇOS E BENFEITORIAS

FIGURA 29 Modelo Teórico do Índice de Bemestar Integral 152


eficiência e eficácia). Já o segundo refere-se à melhoria dos níveis de saúde mental, emocional, físico – bem como ao aumento do nível de integração das sete dimensões do bem-estar medidas pelo Índice de Saúde Integral. Por esta prática, as taxas de sucesso são diferentes entre esses dois resultados: as quantitativas variam entre 70 e 80% e as qualitativas chegam a 90% de sucesso. Quantitativos 1 - pessoal - alcançar um melhor nível de saúde e bem-estar. 2 - comunidade - pertencer e estar em uma comunidade melhor para se viver e se relacionar. 3 – sistêmico-ambiental - Tornar-se uma empresa melhor para se trabalhar e ter um melhor planeta para se viver. Qualitativos

1- pessoal - Nutrir e manter grande vitalidade, conquistar longevidade, melhor qualidade de vida e bem-estar contínuo e integral. 2 - comunidade - aumentar o poder de criação através de crowdsourcing and co-creation. Empresto estes termos da área de negócio e, no contexto desse livro, tal procedimento significa construir uma estrutura e conhecimento no campo coletivo. Crowdsourcing – segundo o dicionário “MerriamWebster”, é a prática de obter serviços, ideias e conteúdo solicitando a contribuição de um grande grupo de pessoas, principalmente pela comunidade on-line, ao invés do tradicional formato empregados e fornecedores.8 co-creation – enfatiza a criação, geração e realização de valores compartilhados. Estimula as pessoas a compartilhar, combina e renova as pesquisa e capacidades de criar e permutar valores através de uma nova forma de interação, serviços e mecanismos de aprendizado.9 Isso significa, construir uma comunidade melhor para se viver, com divisão equânime, igualdade e respeito.

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sistêmico-ambiental - aumentar a produtividade, a eficiência. Capacidade de inovação, melhor gestão do tempo, diminuir o absenteísmo, diminuir as faltas, aumentar o nível de satisfação dos colaboradores e consumidores, diminuir o gasto com as operadoras de saúde. Alguns casos para ilustrar a visão dos quadrantes: 1- Mulher e 30 anos, profissional de marketing, vivendo em São Paulo, com diagnóstico de fibromialgia e sinusite crônica.

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2- MS, 50 anos, diretor executivo aposentado, casado com dois filhos adultos, vive em SP. Possui diganóstico de depressão, obesidade, Hepatite C e Hipertensão Arterail Sistêmica.

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A palavra “sustentabilidade”, apesar de muito em voga atualmente, quase sempre é compreendida de forma reduzida, com a ênfase voltada apenas ao que no termo concerne ao meio ambiente. No entanto, meio ambiente é apenas uma das dimensões desse conceito multidimensional.

SUSTENTABILIDADE

“Sustentabilidade não é um know-how, é ser de outra maneira.” Augusto de Franco

A manutenção das condições de vida do homem e dos demais seres vivos da Terra engloba desde aspectos econômicos e sociais até culturais. A emissão de carbono não promove somente o efeito estufa, mas também doenças como alergias e doenças pulmonares entre outras. Os agrotóxicos, por exemplo, provocam uma ação em cadeia, sendo a contaminação do alimento e dos rios (e dos peixes que neles vivem) apenas uma pequena parte do problema. Nesse contexto, sustentabilidade é, portanto, um tema que diz respeito à saúde pública e, por consequência, à medicina. Nesse sentido, é preciso que os administradores das políticas de saúde pública se comprometam em oferecer ensinamentos e alternativas. Como seria, então, um sistema de saúde que praticasse essa abordagem e ensinasse às pessoas

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como lidar com formas mais simples e eficientes de se utilizar das vantagens do meio, sem obrigá-las a adotar um estilo alternativo de vida e privá-las da tecnologia, como tvs, telefones celulares, carro ou até do uso da medicina moderna?

Outro exemplo, quando há pouco cálcio no sangue, o organismo retira-o dos ossos para manter o nível de pH dentro da normalidade. A tudo isso denominamos “equilíbrio dinâmico” e equilíbrio dinâmico é sustentação.

Penso que o modelo Integral proposto aqui tem muito a contribuir para esse avanço. Em todos os significados do verbo “sustentar”, pressupomos a necessidade de ação, o que nos induz a supor que, se necessário, é preciso adaptar-nos às condições impostas para nos mantermos vivos. É com base em tal leitura que proponho este novo método.

Se, como vimos, um dos aspectos da sustentação é a transformação, somente a mudança de paradigma é provavelmente a melhor e única saída para uma vida mais saudável e plena.

Ao observar a natureza, verificamos que isso ocorre o tempo todo. Os sistemas vivos constroem seus componentes a partir da produtos da sua própria transformação, adaptam-se para se sustentar. Como, por exemplo, o processo de digestão: ingere-se uma fruta, esta será quebrada em açúcar (frutose) e, absorvida pelo organismo, tornar-se-á energia após sucessivas reações químicas. É o corpo agindo naturalmente para manter-se vivo, conservado. Tudo se resolve com os próprios componentes do sistema.

O CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE INTEGRAL As discussões acerca da sustentabilidade estão fortemente focadas no convívio entre a preservação dos recursos naturais e o desenvolvimento econômico. De fato, esse é um ponto nevrálgico da equação, mas há outras faces do problema pouco vislumbradas pela maioria dos analistas. Pouco se fala, por exemplo, das dimensões biológica (saúde, bem-estar, alimentação e comportamento), pessoal (cognitiva, emocional e valores pessoais) e da sociocultural (cooperação, promovida através das redes sociais e da liberdade ensejada pela democratização das relações).

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Outro ponto a ser considerado é que as políticas públicas voltadas para esse tema visam soluções pontuais e pragmáticas, como se houvesse um caminho próprio para se atingir a sustentabilidade. Tal caminho, entretanto, não existe. A sustentabilidade é o caminho. É um processo contínuo da humanidade. Não é um know-how, mas um modo de ser. Em outras palavras, para ser sustentável, um sistema qualquer tem que aprender a se autorregular continuamente. É com base nessa consciência que formulamos o conceito de sustentabilidade integral, segundo o qual cabe a cada indivíduo, cultura e sociedade promover ininterruptamente a sua adaptação às novas demandas do mundo. Se cada um de nós for integralmente sustentável, gradualmente, criaremos uma real cultura de sustentabilidade e, consequentemente, uma estrutura sustentável na qual encontraremos os atributos necessários para a saúde e bem-estar integral equânimes. Eis a base do conceito.

FELICIDADE AUTÊNTICA

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Quanto custa a felicidade? Essa parece ser uma questão incidental frequente na mente de grande parte da população mundial. A força motriz do capitalismo financeiro está centrada no desenfreado desejo de consumo das multidões, induzidas pelo perfume sedutor da publicidade. Na era em que vivemos, tudo tem um preço e a felicidade é frequentemente equiparada ao sucesso material e à posse de dinheiro. Mas na realidade ainda sabemos muito pouco sobre o que é estar feliz, o que realmente é ocorre atrás do sentimento e do estado mental de felicidade. Quando somos instigados a descrever o que de fato sentimos quando nos percebemos felizes, quase sempre titubeamos, tergiversamos. Felicidade é um conceito nebuloso que tem muitos significados e experiências diferentes para várias pessoas. Consequentemente, identificar os diferentes conceitos de felicidade, onde e como são aplicados e dividi-los em seus componentes é o desafio da chamada “Ciência da Felicidade”. Alguns estudiosos focam na diferença entre a tradição hedonista (que busca o prazer) e a tradição eudaimonista (de viver a vida de modo plena e profundamente satisfatório). 1 Vários grupos de pesquisa (incluindo a psicologia positiva) almejam aplicar métodos científicos para responder ao que é felicidade e como obtê-la. Isso é

tão fundamental para a Humanidade que a liberdade de perseguir a felicidade foi constituída como um direito intransferível pela Declaração da Independência Americana. 2 A psicologia positiva é um braço recente da psicologia proposta em 1998 pelos psicólogos americanos Martim SELIGMAM e Mihaly CSIKSZENTMIHALYI. Eles a definem como “estudo científico das funções humanas positivas e do florescimento em múltiplos níveis, incluindo o biológico, pessoal, cultural, as relações e as dimensões globais da vida” 3 Ainda que a psicologia positiva ofereça uma nova abordagem para o estudo das emoções e comportamento, as ideias, teorias, pesquisas e motivações para se estudar o lado positivo do comportamento humano é tão antigo quanto a humanidade.4 Hedonismo foca no prazer como um componente básico a boa vida. Os primeiros hebreus acreditavam na Teoria do Divino comando que pregava que a felicidade é encontrada por quem viver de acordo com os comandos e regras impostas pelo Ser supremo. Já os gregos pensavam que a felicidade poderia ser descoberta pela lógica e a análise racional. Sócrates, o filósofo ateniense do período clássico, fundador da filosofia ocidental, advogou que autoconhecimento é o

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caminho da felicidade. Finalmente, mas não somente, no cristianismo, a felicidade está ancorada na mensagem e vida de Jesus que é Um com o amor e a compaixão. SELIGMAN afirma que felicidade não é somente derivada de prazeres momentâneos externos5 , e oferece a sigla PERMA (Pleasure, Engagment, Relationships, Meaning, Accomplishment) para se sintetizar os resultados da psicologia positiva: humanos são felies quando encontram: 1. 2. 3. 4. 5.

prazer (degustando alimentos, banhos quentes etc...) engajamento (ou fluxo, a absorção de uma atividade aprazível ainda que desafiadora). relacionamentos (conexões sociais tornaram-se um indicador muito confiável de felicidade) significado (a percepção de pertencer a algo maior) e realizações (ter alcançado metas tangíveis)

O NYTimes, em Setembro de 2012publicou o artigo “Anxious American” (America Ansiosa) que corrobora as afirmações de SELIGMAN, dizendo: “Apesar de ser a nação mais rica do planeta, de acordo com a OMS, os Estados Unidos são o povo mais ansioso por uma margem muito grande,

aproximadamente 30% dos americanos sofrem de ansiedade em algum momento da vida. O nível de ansiedade americano não só acontece apesar da corrida desenfreada para a felicidade, mas 6 provavelmente por causa disso.” É possível ver isso também quando analisamos a maior economia do Planeta. O PIB americano é de longe maior do mundo - 15,7 trilhões de dólares em 2012; 3.7 trilhões a mais do que o PIB da China; o segundo maior. 7 Em 10 anos o s Estados Unidos aumentaram 50% do seu PIB (2001-2011) 7, no entanto, durante esse mesmo período eles aumentaram em 30% o número de suicídios na faixa etária de 35-64 anos e a depressão afetou 1 em 10 americanos em 2011, de acordo com o Centro de controle prevenção de 8 doenças (CDCP) .

Se não são os prazeres externos e momentâneos e o sucesso material que faz as pessoas felizes, entnoa o que é? De acordo com o Relatório da Felicidade Mundial (WORLD HAPPINESS REPORT - pag158), preparado para a conferência de Felicidade das Nações Unidas em abril de 2012 e publicado pelo Earth

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Instituto na Universidade Columbia Unidos: 9

nos Estados

“... não é apenas bens materiais que faz as pessoas felizes: liberdade política, fortes conexões sociais e ausência de corrupção são juntas, fatores mais importantes do que explicam as diferenças entre os países mais e menos felizes. No nível individual, boa saúde mental e física, poder contar com alguém, segurança no trabalho e famílias estáveis são cruciais para a felicidade.” A professora do Departamento de Psicologia da Universidade da Califórnia nos Estados Unidos e autora do livro A ciência da felicidade (Campus/2008) Sonja Lyubomirsky, argumenta que a felicidade das pessoas varia de acrodo com um ponto alvo, sugerindo que 30-40% das diferenças dos níveis de felicidade entre as pessoas, é devido ao aspecto genético, hereditário. Robert Biswas-Diener - um psicólogo americano da psicologia, afirma que não faz sentido dizer que a felicidade pessoal é 50% em virtude dos fatores genéticos, mas faz sentido dizer que a diferença dos níveis de felicidade se deve 50% aos fatores genéticos e o restante é consequência do comportamento e do ambiente10,11,12, como podemos ver no gráfico abaixo:

FELICIDADE AUTÊNTICA Todo o meu trabalho é ancorado na cocriação do bem-estar contínuo. Este é algo que pertence às aspirações e desejos do homem identificado com a sua história.

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O que queremos dizer é que não há um topo, um cume, um tempo em nossas vidas em que permaneceremos felizes para sempre, como nos contos de fada. Não há como conceber uma vida em que haja apenas o bem-estar. Ao atingirmos uma dada realização ou algo almejado, automaticamente entraremos novamente em um novo ciclo de buscas, em um novo estágio de menor bem-estar. Por exemplo, quem não passou por esses pensamentos: “serei feliz quando crescer e for um adulto”. A vida adulta chegou e a felicidade não estava lá. Então pensamos, provavelmente serei feliz quando tiver sucesso e dinheiro. Lutamos para alcançar essas metas e ainda assim não encontramos a felicidade. Próximo pensamento: Talvez se eu tiver uma família... Casamos, temos filhos e ainda a felicidade não estava lá. Mais uma vez afirmamos, talvez quando me aposentar... e mais uma vez nada da felicidade. Ser feliz o tempo todo é algo impossível e, caso houvesse tal possibilidade, a vida seria um tédio total, provavelmente infeliz. O que devemos ter consciência é de que esta oscilação entre momentos de maior e de menor intensidade no nível de bem-estar é que é a lógica da dualidade da vida.

Nessa realidade dual, felicidade é um impulso evolucionário que nos desenvolve. É um projeto Atman, como Ken Wilber costuma dizer, em seu livro com o mesmo título “O Projeto Atman” (Cultrix/1999): “...o desenvolvimento psicológico Humano, tem o mesmo propósito que a evolucão biológica. Uma vez que a última realidade é Deus, Budha ou Atman, o desenvolvimento psicológico almeja Atman e isso é parte do que chamamos Projeto Atman.” Mas como tudo, felicidade não existe por si própria. Esse conceito é interpretado como uma caixa de valores e crenças de acordo com o nível de consciência ou paradigma, ao invés de um estado mental ou de consciência. No paradigma moderno, baseado na estrutura do capitalismo, o jogo da felicidade é um estado mental, um valor impresso em nossas mentes, uma inoculação que nos mantém produzindo para o mundo capitalista. Assim, como foi uma inoculação que fez com que o primeiro homem buscasse um abrigo e o homem pós-moderno é inoculado para se manter updated com os eletrônicos. Todo mundo quer estar livre da jornada de trabalho, ser dono e fazer a gestão de seu próprio tempo, estar em contato

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com quem compartilha do mesmo propósito de vida. Hoje isso é a representação da felicidade no jogo Egóico. No entanto, existe um lugar não-dual, no qual não há identificação com os aspectos opostos da dualidade. O que se inicia como um estado temporário resultante de uma prática intensa e da vontade, pode chegar a um específico estado estável de não dualidade , um estado contínuo de SER. E esse é o conceito de “felicidade autêntica”, não dual. A “felicidade autêntica” difere muito da noção habitual de felicidade. Não é prazer, não é vitória, não é uma conquista. É realização (como consciência de estar sendo). Para atingi-la, basta não estar separado da vida. Uma vez que você não está separado do fluxo, não há fluxo a seguir e nada a fazer, só fluir. Você é o fluxo e pertence a ele. Tal qual uma gota no oceano. Ela não segue o fluxo do oceano, pois é o próprio oceano. Assim é a felicidade autêntica. Por todas estas características, podemos depreender a felicidade autêntica como consequência do autoconhecimento como o antigo aforisma grego “conhece-te a ti mesmo”, uma das máximas do

Oráculo de Delfos, de acordo com o escritor grego Pausanias. Delfos é mais conhecido como um oráculo no santuário dedicado ao Deus Apollo, filho de Zeus e Leto, no período clássico. 13 Conhecer-se a si mesmo é, talvez, o único prérequisito ao qual você deverá submeter-se. E deverá ser um desejo totalmente voluntário, já que tal processo o conduzirá a uma revisão plena de todos os seus valores e suas crenças. A mudança de paradigma reformulará toda a sua vida, seu comportamento e sua cultura. A realidade será percebida por você com olhares muito mais abrangentes. Você será diferente. Será verdadeiro, adulto, realizado. Nesse contexto, Felicidade Autêntica não é nada mais do que Consciência Pura, é a presença e abertura para o Potencial Criativo, disponível. Não propomos aqui a adoção de um determinado estilo de vida. Ter estilo de vida é submeter-se a um dado número de “pré-conceitos”. É não ser você. É viver em função do olhar do outro, das convenções de um dado grupo social ou do modismo da época. Fruto da onisciência da felicidade autêntica, a realização é exatamente não ter um estilo de vida definido, mas

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estar presente para a criatividade e decisão a cada momento do que se fazer.

daquelas pessoas, bastaria (segundo tais manuais) seguir à risca os itens enumerados.

Em nossa cultura, estamos acostumados a aprender de pessoas que admiramos e tentamos ser como eles. Uma vez que acreditamos que esse aprendizado se faz por imitação de comportamento, o que é parcialmente verdadeiro, imitamos em vários graus de intensidade nossos heróis, as pessoas tidas como felizes e pessoas de sucesso como Steve Jobs, ou até Ricard MATHIEU, que foi declarado do homem mais feliz já estudado pela neurociência americana, de acordo com o Jornal Indenendent, publicado em Fevereiro de 2007.14

É claro que isto não dará certo. O comportamento e estilo de vida deles é a representação objetiva daquilo que neles é individual e interno. Eles foram assim por um sem número de razões que não nos cabe compreender e envolve a genética, a experiência de vida e a cultura familiar. Aquele comportamento não é um modelo, o modelo eram eles. A manifestação do seu maior potencial, não pode ser apreendida, só pode ser realizada e materializada.

MATHIEU é um monge budista Ph.D em genética molecular no Instituto Pasteur na França e autor de vários livros incluindo O monge e o Filósofo (Mandarim/1998), best seller na Europa e traduzido para 21 idiomas. A imitação é tão encorporada em nossa cultura que na grande maioria dos manuais de auto ajuda são feitas enumerações contendo o comportamento adotado por pessoas realizadas e felizes como Budha, Jesus Cristo, Ghandi. Para atingirmos o mesmo grau de realização

Você pode estar se questionando se o modelo aqui proposto também não repete em parte a forma dos manuais referidos acima. De certa forma, sim. Utilizo em minha prática a abordagens de mudança de comportamento, uma Teoria baseada em métodos para mudança de um ou alguns aspectos psicológicos determinantes do comportamento como atitude e autoeficácia ( crença do indivíduo de que ele pode mudar e sustentar um comportamento). São exemplos desses métodos as intervenções em saúde para exercício físico, o Inquérito Apreciativo e o Modelo Trans-Teórico (TTM) desenvolvido por James

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O. Prochaska e colegas da Universidade de Rhode Island, em 1977.

stone da metodologia proposta aqui: observar-se e manifestar o seu maior potencial.

O modelo descreve cinco estágios de mudança:

Portanto, diferente das abordagens usuais dos métodos de mudança de comportamento, não proponho aqui nenhum Eldorado no fim do caminho. Demonstro, apenas, que há um caminho, que é feito de consciência e percepção da existência.

1- Pré-contemplação: descreve àqueles que ainda não estão prontos para a mudança e não querem mudar. 2- Contemplação: descreve àqueles que estão se preparando para a mudança. 3- Preparação: são aqueles que estão prontos para a mudança. 4- Ação: diz respeito aos que estão comportamento.

E nesse caminho de vida misterioso e inspirador pode acontecer a realização.

mudando seu

5-Manutenção: são aqueles que estão sustentando o novo comportamento. 15 Apesar de utilizar o modelo Trans-Teórico e o Inquérito Apreciativo em minha prática, meu objetivo não é só a mudança de comportamento objetiva. Por exemplo, iniciar exercícios físicos, mas também a observação e a experiência subjetiva da mudança de comportamento. Essa é a “mudança de ouro”, a golden

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