4 minute read

Luta contínua: apesar de avanços, mulheres ainda buscam reconhecimento

Representatividade e qualidade não faltam, mas profissionais brigam por igualdade

Janaina Brito

Oportunidade, equidade e respeito. Uma luta constante que as mulheres do Turismo enfrentam para alcançar cargos de liderança. Apesar do setor ser formado majoritariamente por profissionais do gênero feminino, temos dificuldade de encontrar mulheres em cargos de liderança. E mesmo quando reconhecemos uma líder feminina, muitas vezes, a disparidade de salário se comparado a de um homem no mesmo posto, ainda é um problema recorrente. Uma pesquisa recente do WTTC afirmou que apenas 7% dos principais postos de liderança da indústria de turismo possuem mulheres à frente.

O estudo, realizado com empresas de capital aberto, revela uma mazela da indústria de lazer na questão da diversidade. Um forte contraste com o equilíbrio de gênero 50-50 da força de trabalho geral. De um equilíbrio geral de 50% na força de trabalho da indústria de lazer, a porcentagem de mulheres cai para 42% na gerência de nível médio e 33% na gerência sênior. Contudo, quando pensamos em ícones femininos do turismo, não faltam nomes a serem exaltados. Mulheres de capacidade indubitável, que fazem a roda do turismo girar e a magia das viagens acontecer. Ainda há um longo caminho a ser trilhado, mas boa parte dele foi e tem sido pavimentada por estas mulheres.

Uma Mulher No Comando Do Mtur

Em 2023, o Turismo ganhou uma grande representatividade feminina com a nomeação de Daniela Carneiro como ministra do Governo Lula. Para se en- tender a grandiosidade desta nomeação, é preciso rever alguns números: desde 1992, o turismo ganhou representatividade nacional com a criação de uma pasta, que durante o Governo de Itamar Franco até o governo de FH Cardoso, era denominada “Ministério da Indústria, Comércio e Turismo”. De lá para cá, o nome da pasta mudou algumas vezes, mas uma coisa se manteve constante, todos os seus representantes eram homens, com exceção de dois momentos: quando Dorothea Werneck comandou a pasta entre 1º de janeiro de 1995 a 30 de abril de 1996 e quando Marta Suplicy assumiu o cargo entre março de 2007 e junho de 2008.

Após 15 anos de nomeações sucessivas de homens ao cargo, Daniela assumiu o desafio de comandar uma pasta tão importante, de uma maneira tão simbólica, representando grande parte da mão de obra do segmento.

“Sabemos do longo caminho que percorremos para que tivéssemos direitos essenciais: ao voto, ao trabalho fora de casa, ao ensino superior, entre tantas outras conquistas que nos trouxeram ao que somos hoje. Mas temos que avançar. No Brasil, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), pelo menos 45% das famílias brasileiras são sustentadas por nós, mulheres. Além disso, dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam que o PIB Global cresceria 35% com a igualdade de gênero no ambiente profissional. Por isso, termos mulheres à frente de cargos representativos, também no Turismo, é um grande passo que nos levará à conquista da tão sonhada igualdade de gênero em nossa sociedade”, avalia a ministra Daniela Carneiro. Como pedagoga, Carneiro acredita que é necessário atuar na mudança cultural da nossa população e isso passa, principalmente, pela educação de crianças e adolescentes, para que possamos enxergar cada vez mais mulheres em cargos de liderança.

“A educação empodera e é o melhor caminho para diminuir estas desigualdades que afligem milhões de mulheres, não só no setor de Turismo, onde 54% da força de trabalho é feminina, mas também nas demais cadeias econômicas produtivas. Também é importante estabelecer um diálogo próximo e contínuo com os demais atores da nossa sociedade, mostrando a importância do trabalho que já é realizado pela mulher no Turismo e o quanto que podemos ampliar a atuação feminina, principalmente para cargos de gestão e liderança. Meu compromisso à frente do Ministério do Turismo é de ser defensora da igualdade de gênero em nosso setor. Trabalharei incansavelmente em prol das mulheres do nosso país”, afirmou.

LÍDERES AVALIAM CENÁRIO ATUAL

Entre os nomes femininos do setor, destaque para a presidente da Abav Nacional, Magda Nassar. “Novas mulheres e lideranças surgem todos os anos em um número ainda menor do que gostaríamos, acho que não deveríamos mais estar discutindo este papel das mulheres ou comemorando poucas mulheres em posições mais importantes de destaque. Entendo que em 2023 já deveríamos estar discutindo esta igualdade ou superioridade da mulher, ganhando um salário maior que o de homens já que não conseguimos mudar as jornadas duplas e às vezes até triplas de trabalho. Acho que a luta ainda segue num ritmo doloroso para quem espera muito mais dela”, ressalta Nassar.

Para ela, a nomeação de uma mulher para o comando do MTur é uma vitória. “É muito especial termos uma mulher na área onde eu construí minha vida e carreira, ela é uma parceira nossa e ela tem nos ajudado muito, tem um ritmo muito acelerado de trabalho e isso é ótimo para o Turismo. Comemoramos que tenhamos mulheres resolvendo e atuando no País”, salienta Magda.

A diretora da Lufhtansa Group no Brasil, Annette Taeuber, para que o ritmo dos avanços acelere sem turbulências. “As mulheres vêm ganhando mais espaço, porém de forma lenta na minha opinião, mas temos visto avanços, cargos sendo distribuídos com mais igualdade entre homens e mulheres, tanto no governo quanto nas empresas privadas. Alta performance e talento não faltam para que haja mais mulheres ocupando essas posições de liderança”, explicou.

O protagonismo feminino no Turismo tem números impressionantes – de forma negativa. Mas a rede de apoio feminina e o exemplo são caminhos para reverter este cenário, de acordo com Giovana Jannuzzelli, diretora executiva da Alagev e Chieko Aoki, presidente da Blue Tree Hotéis.

“É possível ter grandes lideranças, ganhando os mesmos salários. Temos inúmeras mulheres no trade que são referências e precisamos exaltá-las para mostrar que é possível chegar lá”, afirma Giovana.

“Vemos poucas mulheres em cargos de liderança em relação a quantidade de mulheres preparadas para assumir estes cargos. Nós precisamos puxar umas às outras. Mas não vamos conquistar estes cargos dependendo apenas de nós mulheres, é necessário a ajuda dos homens, a mudança na cabeça e mentalidade dos jovens. Como sociedade, precisamos buscar que esta igualdade exista”, acrescenta Chieko Aoki.

This article is from: