Revista Inforleite

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— março 2014

GENÉTICA

Seleção acelerada Ainda em expansão no Brasil, os testes genômicos apresentam a proposta de diminuir o intervalo de tempo necessário para “provar” o potencial de um animal e, consequentemente, acelerar o melhoramento genético, aumentando a margem de lucro nas propriedades. Como são realizados? Quais suas vantagens?

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omo seria se o produtor de leite pudesse decidir sobre a seleção genética de seu rebanho logo nos primeiros meses de vida de uma bezerra? Manejo sanitário e nutricional direcionado, diminuição no tempo e nos custos em seu programa de seleção, definição de quem vai ser doadora ou quem vai ser matriz são só algumas das respostas. Com essas informações, dúvidas seriam eliminadas e o pecuarista ganharia tempo e dinheiro em seu projeto. Ainda em expansão no Brasil, os testes genômicos apresentam exatamente essa proposta: diminuir o intervalo de tempo necessário para “provar” o potencial de um animal e, consequentemente, acelerar o melhoramento genético, aumentando a margem de lucro nas propriedades. Na genômica, analisa-se o material genético dos indivíduos. A partir de uma porção de pelos, pode-se extrair o DNA – molécula que contém todas as informações de um ser, desde a cor dos olhos até se ele é um bom produtor de leite, no caso bovino. Tudo isso apenas com uma amostra de material (pelo, sangue ou sêmen), obtida em qualquer fase de sua vida, e que é processada em um curto período de tempo. A “mágica” acontece por meio dos chamados marcadores moleculares. De acordo com o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Dr. Marcos Vinicius Barbosa da Silva, trata-se de pequenas regiões do DNA que apresentam as diferenças entre os indivíduos de uma mesma espécie. “Os marcadores podem indicar se no DNA existe um alelo (forma alternativa de um gene) que está relacionado ao maior ou menor valor de uma característica de importância econômica”, explica. É selecionar animais com muita ciência! A era da precisão No setor agrícola, o conceito de “Agricultura de Precisão” ilustra como é possível intensificar o poder de decisão, ainda que não só pela genômica. De acordo com definições do MAPA, trata-se de um sistema de gestão que busca obter resultados melhores com

Os testes genômicos propõem diminuir o intervalo de tempo necessário para “provar” o potencial de um animal e, consequentemente, acelerar o melhoramento genético

tecnologias que anteveem questões de ambiente e de tempo, levando em conta, por exemplo, as necessidades específicas de cada tipo de solo, antes do plantio. É uma forma de maximizar a produção e evitar problemas, permitindo que o agricultor esteja no controle de seu negócio. Como seria se tivéssemos uma “Pecuária de Precisão”? A partir desse questionamento, alinhando com a proposta da genômica, é que uma cooperativa multinacional americana voltada para inseminação artificial de bovinos lança, este ano, um novo teste genômico no mercado. A tecnologia já é explorada por empresas do ramo de saúde animal, mas se torna inovadora, pois, pela primeira vez, o resultado do teste será avaliado por profissionais especializados em genética, seleção e melhoramento de bovinos, voltados para o mercado da inseminação artificial (IA). A cooperativa, que tem uma empresa subsidiária no Brasil, passa a disponibilizar análises genômicas, partindo do conceito da Precisão. De acordo com o médico veterinário Roberto Arana, gerente de produto leite da empresa, “as características no teste genômico são as mesmas observadas nos habituais testes de progênie, porém, em um período de tempo muito reduzido, em qualquer fase da vida do animal e com até 75% de confiabilidade no resultado”. Através do uso de milhares de marcadores moleculares no DNA de fêmeas puras das raças Holandesa, Jersey ou Pardo Suíço, será possível descobrir “quais delas, por exemplo, se destacam na produção de leite”, acrescenta. Outro ponto é que, por se tratar de uma organização voltada para IA, sabe-se que

HISTÓRIA GENÔMICA De acordo com o pesquisador Marcos Vinicius, em 2009, o Bovine Hapmap Consortium, um consórcio formado por várias instituições de pesquisas e associações de raças bovinas ao redor do mundo (incluindo a Embrapa), publicou um estudo sobre o sequenciamento do genoma bovino, usando uma amostra de DNA de uma fêmea da raça Hereford. Com os resultados desse trabalho, foi possível mapear mais de 33.000 genes, além de identificar milhões de marcadores moleculares do tipo SNP (Polimorfismo de Nucleotídeo Único). Usando as informações de tais SNPs, uma empresa multinacional americana, em parceria com o USDA e universidades dos EUA e Canadá, desenvolveu um chip de DNA que permite a identificação de cerca de 54.000 sequências de SNPs em um animal. Com essa ferramenta, foi possível implementar a informação genômica em vários programas de seleção de bovinos leiteiros de diversos países.

o representante técnico está apto a recomendar o uso do touro mais adequado para cada fêmea que teve seu DNA analisado. “O objetivo é, também, introduzir o pecuarista em um programa de melhoramento genético, realizando os acasalamentos dirigidos ou os corretivos”, diz Arana. “Assim, são proporcionadas ferramentas que aumentam o poder de decisão e aceleraram o ganho genético no rebanho”, conclui. O fato da empresa propor não só o uso da ferramenta, mas também uma assessoria ao criador, é algo interessante para o pesquisador da Embrapa, Marcos Vinícius. “É importante, também, estimular o criador a realizar o controle leiteiro massivo e a seguir o » 47


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Para a realização do teste são retirados cerca de 20 pelos da calda da fêmea, que ficam adequadamente conservados em um cartão de coleta. O material é enviado para análise e dentro de 60 a 90 dias obtém-se os resultados

programa de melhoramento genético. Essas ações irão potencializar o uso da genômica”, comenta. Vantagens genômicas Marcos Vinicius, pesquisador da Embrapa, ilustra os benefícios com o exemplo de rebanhos de fertilização in vitro (FIV). “Até há pouco tempo, não era possível diferenciar, do ponto de vista de potencial genético, os animais que eram irmãos completos. Se o produtor tivesse cinco deles e quisesse escolher um como touro a ser provado pelo teste de progênie, teria que contar com a sorte para optar pelo melhor”. Por meio da genômica, no entanto, é possível “classificar os animais do melhor para o pior, de acordo com a PTA genômico, evitando desperdício de tempo e de recursos para testá-lo”, exemplifica. Com os testes e a identificação precoce de fêmeas geneticamente superiores, especialmente para as características de viés econômico, o gasto na recria é reduzido, que segundo Marcos Vinicius, é “um dos pontos de estrangulamento da atividade leiteira”. O aumento do ganho genético por geração, a elevação dos lucros “pela maior produção de leite e de » 48

sólidos”, adotar medidas mais precisas no manejo reprodutivo e nutricional, excluir animais que são “portadores de alelos relacionados às doenças genéticas”, são mais pontos positivos. Com isso, de acordo com Roberto Arana, gerente da empresa de IA, se conhece o ranking dos melhores animais de um rebanho, sejam bezerras, novilhas ou vacas em produção. “Enquanto que se a seleção fosse apenas a partir do teste de progênie, os resultados começariam a vir depois de cinco anos, com o teste genômico o produtor poderá decidir sobre o futuro do seu rebanho logo após o nascimento do animal”. Etapas do teste O processo para realizar o teste é simples. O representante técnico vai até a fazenda e colhe o material. Para isso, são retirados cerca de 20 pelos da calda da fêmea, que ficam adequadamente conservados em um cartão de coleta, fornecido pelo técnico. O material é enviado à matriz brasileira da empresa, em São Carlos (SP), e posteriormente encaminhado para os EUA, onde ocorre a análise. Dentro de 60 a 90 dias o resultado

estará nas mãos do representante técnico, que levará o diagnóstico para o pecuarista, fazendo as recomendações mais adequadas para cada caso. Condições para viabilidade Ainda de acordo com Arana, o produtor que tem intenção de utilizar a tecnologia genômica deve atentar se seu projeto pecuário tem boa estrutura física e, principalmente, manejos adequados. “As questões ambientais, zootécnicas, nutricionais e sanitárias devem estar em um nível de organização e controle satisfatórios para que a análise adequada do teste possa trazer os melhores resultados para o pecuarista”. Marcos Vinicius, pesquisador da Embrapa, acredita que muitos pecuaristas adotarão o teste, vislumbrando o aumento da rentabilidade, “principalmente aqueles que realmente veem a produção de leite como um negócio”. Ele ressalta ainda que o suporte técnico da empresa e das associações de raças tem “papel fundamental” no processo de expansão da seleção genômica no Brasil. Melina Paixão Berrante Comunicação


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