Sagrado

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SAGRADO M E N O T E

C O R D E I R O



SAGRADO

2015 M E N O T E

C O R D E I R O


























DO RIO PARA O MAR MENINO DAS ÁGUAS, MENINO DAS TINTAS

Menote Cordeiro foi um daqueles meninos banhados de rio. Na cidade onde nasceu, Janaúba, norte de Minas, passava o Rio Gorutuba, subafluente do São Francisco. Ali parecia que a infância era também feita das pedrinhas do rio e dos peixes - piabas -, que Menote nunca conseguiu pegar. Talvez nem quisesse: só olhar o brilho deles furando as águas já era tão bom, eram pincéis se movendo e despertando no menino o fascínio das cores multiplicadas pela luminescência das águas. É verdade, os peixes não foram pescados, mas hoje habitam inúmeros quadros do artista, saídos do mais fundo de sua história. O menino Menote originou um adolescente que passava horas dos seus dias colorindo com lápis de cor. Do papel para a tela foi um pulo, e Menote desvendou por seu próprio esforço e curiosidade os segredos da tinta a óleo. Foi assim

que, aos 18 anos, montou sua primeira exposição, composta de 10 quadros óleo sobre tela. Mas a história continua. Sem renunciar à sua paixão pelo óleo, descobriu na aquarela o surpreendente domínio do tempo da água. Um tempo em que mergulhou na criação de identidades visuais para vários projetos culturais, já trabalhando em Belo Horizonte. Novas influências, múltiplas referências e outras linguagens vieram desaguar nas mãos do artista. Um grande parceiro surgiu: o computador. Mesmo encantado pela precisão dessa novidade, Menote nunca abandonou o instinto que rege o desenho à mão livre. Agora, é com uma caneta óptica que o artista desenha, pinta, colore, executa sua arte e expressa seu fascínio pelos peixes, rios, árvores, mar e música, sempre aberto à busca e descoberta de novas linguagens, materiais e técnicas.


DO RIO PARA O MAR DIVINAMENTOS, PEIXES E CALENDAS

Arte e espiritualidade caminham juntas na obra de vários artistas desde o começo dos tempos. E com Menote Cordeiro não é diferente. A primeira referência da fé de Menote foi o chão da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Janaúba. Ele diz que não entendia o que o padre falava e preferia se deleitar com o desenho dos azulejos do piso. Filho de mãe católica, Menote sempre reconheceu nas imagens dos santos e santas um canal de elevação. Em sua trajetória artística, figuram como primeiras epifanias a série "Imaculado Coração de Nossa Senhora de Janaúba", "Nossa Senhora das Boas Lembranças" e "Nossa Senhora do Rosário e eu". É o divinamento da imagem da mãe de família mesclada com a própria terra natal - Janaúba. Por outro lado, o tempo também se configura como um tema recorrente. Para Menote Cordeiro, tentar capturar a alma dos dias é uma forma de peregrinar pelo calendário com olhar

novo, de novo, celebrando assim, de alguma maneira, a fugacidade do tempo: se o tempo passa, vamos celebrá-lo com imagens que o eternizam calendas do nunca mais. Da mesma forma, o peixe é um tema sempre renovado nos quadros de Menote. É a água onipresente, pois peixe e água se misturam,inseparáveis. O rio volta a correr, as águas viram mar: e lá estão os peixes outra vez, como se passassem de um quadro para o outro, nadando em um curso líquido ininterrupto - o inconsciente. É desse inconsciente que surge também o tema das árvores. Como Menote costuma dizer, "as árvores e seu incansável desejo de estabelecer contatos". É o silêncio das raízes debaixo da terra, evocando nossa ligação com um tempo de memória e, por outro lado, são os galhos voltados para o alto buscando o sempre novo, a eternidade.


MENOTE CORDEIRO


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