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O Aguardado Augusto Botelho
MĂŠS BrasĂlia 2014
O Aguardado é uma produção MÊS
MÊS é: Antônio Silva, Augusto Botelho e Daniel Lopes
Projeto gráfico e edição: Augusto Botelho
Roteiro, desenhos, cor e letreiramento: Augusto Botelho
Capa e contracapa: Heron Prado
Capas dos capítulos: Diego Torres
O Aguardado de Augusto Botelho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional. Podem estar disponíveis autorizações adicionais às concedidas no âmbito desta licença em augustosbotelho@gmail.com.
Impressa em Dez/14, em papel offset 90g. Capa em offset 180g. Fontes utilizadas Novecento sas wide Light UnB pro e Plei Plou sans
Máscaras trans-históricas Talita Tibola e Bruno Cava
Rei Sebastião voltou. Voltou de onde nunca esteve. De onde nunca puderam encontrá-lo e corporificou-se no presente da memória do povo. Sebastião voltou. E agora. Encontra mascarados que se espalham enigmáticos e não se deixam prender pelas tentativas de achatamento de canais de televisão. Nas páginas de Augusto Botelho as próprias máscaras encontram muitas máscaras na convergência entre as lendas de um Brasil mitológico e as mitologias existentes nas manifestações populares atravessadas por junho de 2013. Os mascarados que povoam essas páginas, remetem a quase-realidade-lendas-linguagem bem precisas sem, no entanto, nelas se fechar, o que nos diz de uma atualidade do texto, tomando-a enquanto passado e futuro condensados no presente como forças de transformação.
O milenarismo está indissociavelmente associado à conquista dos sertões. Durante todo o século 20, a ciência social brasileira buscou os elementos do que seria a crise da formação nacional. Por que um país tão rico estaria condenado ao subdesenvolvimento? As respostas foram muitas e diversas, mas convergem na identificação de um inimigo externo: a metrópole portuguesa, o tráfico de escravos, a Inglaterra, o imperialismo. Fatores exógenos teriam abortado a formação da nacionalidade, imprescindível estágio para um estado independente.
Todas essas avaliações têm seu momento de verdade, mas vacilam no achatamento dos diagnósticos. Se à violenta colonização correspondeu um modelo subjugado de organização política, as revoltas e êxodos dos escravos constituíram outro Brasil, ou brasis --- no plural e em minúsculas. Esse outro Brasil é um país que se constituiu no fora. Engendrado nos fluxos diaspóricos do Atlântico Negro e na fuga incessante de migrantes --- quilombolas, indígenas, imigrantes europeus, nordestinos --- esse outro Brasil é um projeto de país feito no deserto.
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Contra qualquer formação nacional baseada no estado, na economia ou no crescimento econômico, um país de pobreza constituinte e abertura drástica, tantas vezes configurado pelos artistas mais agudos da des-formação nacional: Oswald e a antropofagia, Glauber e a estética da fome, Gil e a metabolização tropical.
É nessa anti-tradição da brasilidade que os quadrinhos de Augusto Botelho se inscrevem. Alegórico na condensação de signos trans-históricos. Além de qualquer dialética entre o arcaico e o moderno, o milenarismo comparece como resistência à conquista dos sertões. O sertão brasileiro é o nosso deserto, para onde caminharam Antonio Conselheiro e seus beatos guerreiros, depois de quebrar as tábuas das leis e imprecar à República. A conquista dos sertões sempre foi o lugar por excelência da pacificação: espaço de interiorização de um Brasil que se recusa a ser capturado. Não admira a figura do bandeirante, apresador de índios e caçador de quilombolas, ser o emblema maior da formação nacional: dos fluxos e êxodos à fixação do interior num Brasil profundo e identitário, cercado de propriedade e dominado à mão armada.
Hoje, as entranhas mestiçadas da sociedade urbana atraíram todos os êxodos e migrações, colocando o maior desafio à pacificação. Nos quadrinhos de combate de Botelho, a máscara transfigura a não-identidade dos povos nômades, e a resistência urbana de ocupação repete o gesto rebelde de Canudos. O milenarismo não é mais transcendente. O messianismo secularizado se transforma em teoria da revolução. São Sebastião só pode ser a decisão de lutar e organizar a luta, para reabrir os desertos que nos povoam a imaginação.
Talita Tibola e Bruno Cava participam da Rede Universidade Nômade (http://uninomade.net/). Talita é autora do blogue “A morte é uma borboleta” (amorteeumaborboleta@blogspot.com.br) que nasceu em ressonância com sua dissertação de mestrado (UFRGS) dedicada à palavra amar-elo e a pensar uma educação intensiva. Bruno é um vermelho, mas sua cor favorita é preta e edita o “Quadrado dos loucos” (http://www.quadradodosloucos.com.br/). No momento, Talita participa do grupo PesquisarCOM e acabou de escrever sua tese (Psicologia-UFF) “Histórias de sintonias e de fronteiras: escutar, ocupar, dissentir a cidade”; e Bruno de publicar seu livro “A multidão foi deserto”. Entre os anos de 2010 e 2011 Talita participou do grupo de arte e produção cultural Sala Dobradiça (http://www.saladobradica.art.br/).
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Daniel Lopes 8
Ant么nio Silva 9
Suzana 10
Renato Moll 11
Daiara Figueroa 12
Taís Koshino 13
Malu Engel 14
Tauan Gon 15
Igor Frederico 16
Laura Athayde 17
Pedro Cobiaco 18
Colaboradores capa e Heron Prado cargocollective.com/erro contracapa cocatrix.tumblr.com/
Diego Torres serrotogeid.tumblr.com fb.com/serrotogeid Daniel Lopes lazulejo.tumblr.com fb.com/lazulejo
capas dos cap铆tulos
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Ant么nio Silva whatsthedealwithbabiesanyway.tumblr.com fb.com/miojocomfarinha Suzana fb.com/shoshanamaria Renato Moll flickr.com/renatomoll
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Daiara Figueroa daiaraf.wix.com/daiara Tais Koshino revistapiqui.com
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Malu Engel cargocollective.com/maluengel fb.com/engelmalu
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Igor Frederico memoriasdeumoutro.tumblr.com/ fb.com/memoriasdeumoutroz Laura Athayde ltdathayde.tumblr.com/ fb.com/ltdathayde
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Tauan Gon toperodomar.blogspot.com.br fb.com/tauangon Pedro Cobiaco pedrocobiaco.com
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meszines@gmail.com meszines.tumblr.com fb.com/meszines
Antologia de quadrinhos mensal surgida em jan/2013. Cada edição da zine trazia material dos dois editores, Augusto Botelho e Daniel Lopes, bem como de autores convidados, publicando 35 novos autores até o final do ano.
Com a adição de Antônio Silva ao grupo editorial, a MÊS segue em 2014 com publicações variadas dentro do campo dos quadrinhos, ilustração e artes plásticas. Outras publicações MÊS disponíveis em: issuu.com/meszines.
Augusto Botelho nasceu e cresceu na seca do planalto central, mas hรก quem diga que veio de algum lugar entre o norte e o leste. Desde 2013 dedica-se quase inteiramente a produzir, editar e viver quadrinhos.
Agradecimentos
Essa revista é resultado de aproximadamente um ano de trabalho e de 2 anos tendo os quadrinhos como centro, foco e objetivo. Sinto que estou fechando um ciclo e isso não seria possível sem algumas pessoas, então preparem-se, aqui vai a pieguice: A todo o pessoal lá de casa, que sempre acompanha, apóia, prestigia os eventos, compra, revisa e ainda empresta grana, vocês são demais. Ao Daniel Lopes e o Antônio Silva (Joãozim!), da MÊS, sei que às vezes estresso, mas essa empreitada de seguir nos quadrinhos só vejo junto com vocês, oooxi doido é nóis e não rouba minha goiaba drush. À Malu Engel, que acompanhou e compartilhou todo esse processo e muito, muito mais.
À galera da Espaçonave - Maria, Maíra, Chico, Gabi, Sara, Fune - não sei se a gente teria nem terminado as zines do ano passado se não fosse por esse ateliê muito louco e sua turminha da pesada. Ao Lucas Gehre e Diego Sanchez pela consultoria e ajuda em vários momentos.
Ao Heron Prado e Diego Torres pelas capas que ilustram a edição; e à galera que mandou as ilustras pra revista:Suzana, Renatim, Daia, Taís, Igor, Laura, Tauan e Pedrim. Trampo fino galera, valeu demais!
À galera toda do zine e do quadrinho independente nacional e do DF que conheci nos últimos dois anos, seja pessoalmente, seja virtualmente; e que tá colando junto e fortalecendo esse bonde: galera simbora e com pé no acelerador que não podemos parar! À Talita Tibola e Bruno Cava por todas as conversas, hospitalidade e pelo texto que abre a revista.
Ao Daniel Dantas, que no imprevisto do último minuto salvou e fez com que O Aguardado se concretizasse.
E por último, mas não menos importante, à toda a galera que colaborou no nosso catarse da MÊS e foi super compreensivo e paciente, e cujos nomes seguem abaixo, obrigado pela confiança pessoal, espero vê-los em nossos próximos projetos! Wagner Cunha, Gabriel Carvalho, Rafael Coutinho, Mateus Jiraya, Alessandra Dury, Silvana Adjuto Botelho Neiva, Rejane Jug Vianna, Aline Lemos, Carla Silva Rocha Aguiar, Juliana Silva Rocha Aguiar, Marina Procópio, Ana Lu Medeiros, Cibele Andrade, Elyeser Szturm, Francisco Anderson da Silva, Carla Ribeiro, luis Gustavo Basso, Maurício Adjuto Botelho, Serrot Ogeid, Juliana Verlangieri, Julia Salustiano Botelho, Thaís Gualberto, Gabriel Mesquita, Ifor Zeredo de Cerqueira, Daniel Amorim, Sofia Botelho, João Souto, Verônica Salustiano, Maurício Campos, GsLibardi, Felipe Guimarão Padilha, Bebel Abreu, Andes.paz, TBritoAmorim, Anima de Mattos, Melanie Graille, Rachel Vallego, José Henrique Freitas, Ton Messa, Everton Mendonça Gardés, Felipe Cavalcante, Marianna Arcuri Monteiro, Beatriz Lopes, Larissa da Silva Araújo, Diego Sanhez, Ornscar, Marina Nicolaiewsky, Matheus Sette, Gustavo Cuia, Israel Valentim, Gabriel Artur, Gabriela Fune, Guro Castro, Iara do Espírito Santo, Adriano Veppo, Olavo Maciel, lucas Silva lopes, Rafaela Lima, Rafael Godoy Brito, Pilar Luz Rodrigues, Bela Cristina, Isabela Adjuto Botelho Luz, João dos Canela-Preta, Raíssa Studart, Amanda Miranda, Karina Carneiro Oki, Renato Moll, Luiza Rossi, Juliana MIssaggia, André Bassani de Freitas, Rafael Simão da costa, Sara Rosa, Isadora Carolina Terranova, Luis Anonio Meireles, Manoel Brandão Barros, Coletivo Palabra, Lídia Botelho, Bianca Brigugkio, Morgana Boeschenstein, Guilherme Gontijo, Malu Engel, Fabrício Botelho de Araújo, Jacque Bittencourt, Laio Passos, Isabel Ramos, Miguel Rodrigues Galvão, Jéssica Cardoso, Maísa Rabelo Vieira, Diego Castro, Bruno Bernardes, Jonas Antonio, Tânia Zeredo, Albuquerque de Carbalho, Thiago Franco, Ivan Costa, caius Cesar, Amanda Barros, Júlia Martins, Gabriel Hargreaves, Michael Peterson Olano Morgantti Pedroso, Márcio H Mota, Sandro Vaz, Thalita Sacramento, Gabriel Rubinger, Rodrigo Okuyama, SilvinoMC, João Victor Pacífico, Vitor de Lima Guimarães, Aline Castelar, Suzana Maria, Camila Tavares Moacir Pisoni Junior, Maria Sílvia Adjuto Botelho Neiva,, Gabriel de Lara, Gustavo Magalhães, Erick Luckiest, Juliana Martins Torres, Dyego Vieira, Pedro Ivo Verçosa, Janaina Ribeiro Botelho, Laura Athayde, Cristiane Herres Terraza, Eliana Botelho, Gabriela Fusto, Ethel Gondim, Francisco Pinheiro, Marcos Vinicius Dib Filho, Brenda Milhomem, Edu Reis, Caio Cateb, Matheus Fraga Castellani, Guilherme Santos Botelho, Sthefan Schultz, Jessica Bernardi, Mariana Botelho, Tristão Salustiano Botelho, Tobias P., Felipe Pio, João Diniz, Hanna Barbara, Eduardo Belga, Bruno Gomes, Gustavo Moreira Braga Lamounier, Alexandre Magno Rodrigues, Livia Viganó, Zenriq, Fábio Savino, Rosa Maria Mello, Humberto Lemos, Mazô, Paulo de Tarço da Silva, Fernando Botelho de Araujo Miga, Matheus Leiras Cavier, Lorraine Maciel, Ciro Inácio Marcondes, Marcelo Sgrilli, Ray Pinheiro Alves, Daniel Cieceli, Dário Joffily, Maria Rita Salustiano Botelho, Rubens, Octávio Sousa, Isabel Cristina Torres, Sthefanny Brasil, João M., Luciana Félix, André Valente, Mateus Gandara, Lucas Gehre, Love Love 6, Heron, Loki, Fabio Zines, Ilustrativa, Revista Samba, Espaçonave.
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