Cesário Verde e Bernardo Soares Deambulação
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Trabalho realizado por: Edi Ferreira; Diogo Oliveira; Norberto Ferreira; Henrique Borges.
16 de Março de 2018, Albufeira
Pretendemos, com a realização deste trabalho, clarificar características de escrita presentes em Cesário Verde e Fernando Pessoa. Após uma comparação direta entre os dois poetas é possível encontrar várias semelhanças, mas iremos apenas destacar uma. Desta forma, iremos comparar um poema de Cesário verde(“Num bairro moderno”) e excertos de Fernando Pessoa, neste caso Bernardo Soares
Cesário Verde No início da segunda metade do séc. 19 nasce Cesário Verde, um poeta conceituado e apreciado na sua época pelos seus contemporâneos, e até hoje. Distinguindo-se dos outros pela sua vertente de escrita mais moderna, desligada do lirismo clássico que era um estilo muito utilizado na poesia. Destacou-se também devido a uma das principais características da sua escrita - o carácter deambulatório. Na sua vasta obra destacamos o poema "Num bairro moderno" que é exemplificativo desta mesma característica, a demabulação.O sujeito poético neste poema deambula “Num bairro moderno” de lisboa, caminhando em direção ao seu “emprego", e dá-nos a conhecer, em vários planos, tudo o que vê, desde, uma "casa apalaçada”, jardins", "larga rua macadamizada", os "rez-dechaussée", "quartos estucados", "papéis pintados", "porcelanas", etc.
Bernardo Soares Bernardo Soares, semi-heterónimo de Fernando Pessoa, assume, na obra «O livro do desassossego », uma atitude deambulatória e observadora, que se pode verificar nos inúmeros fragmentos que constituem a obra. Fragmentos esses que podem ou não estar ligados entre si e não têm uma ordem cronológica certa, ou seja, sem princípio nem fim. Nestes pequenos parágrafos, Soares escrevia sobre diversos assuntos mas sempre com um carácter triste e solitário. Tal como Cesário Verde, e tomando-o como inspiração, o semi-heterónimo caracteriza a cidade de Lisboa, física e socialmente, durante as suas deambulações, descrevendo e analisando o que observa ao detalhe, sendo que reflete constantemente sobre realidades físicas ou oníricas, criadas por ele. Na sua escrita, Soares expõe o seu estado de espirito e, periodicamente, compara-o à movimentação da Grande Lisboa nas diferentes partes do dia, observando com olhar crítico a vida quotidiana e repetitiva das rotinas citadinas, desenvolvendo, muitas vezes, os seus pensamentos a partir de pequenos detalhes. ‘’A Rua do Arsenal, a Rua da Alfândega, o prolongamento das ruas tristes que se alastram para leste desde que a da Alfândega cessa, toda a linha separada dos cais quedos tudo isso me conforta de tristeza, se me insiro, por essas tardes, na solidão do seu conjunto. Vivo uma era anterior àquela em que vivo; gozo de sentir-me coevo de Cesário Verde, e tenho em mim, não outros versos como os dele, mas a substância igual à dos versos que foram dele.’’ “Passam casais futuros, passam os pares das costureiras, passam rapazes com pressa de prazer, fumam no seu passeio de sempre os reformados de tudo, a uma ou outra porta reparam em pouco os vadios parados que são donos das lojas. ’’Livro do Desassossego por Bernardo Soares.Vol.I. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982.-65
Comparação entre Cesário Verde e Bernardo Soares Bernardo Soares e Cesário Verde apresentam características semelhantes na sua escrita sendo as principais o caráter deambulatório e a forte pormenorização. Bernardo Soares faz isso na sua obra «O livro do desassossego» enquanto Cesário Verde em obras como “O sentimento de um ocidental” e “Num bairro moderno”. Ambos dispõem nas suas obras de um caráter deambulatório com uma minuciosidade de pormenorização deveras intrigante, positivamente. Bernardo soares descreve o que vê ao maior pormenor possível, enquanto deambula pela cidade e as ruas da mesma, descrevendo também as sensações que desperta nele tudo o que o rodeia, como podemos ver nos seguintes excertos: ‘’Amo, pelas tardes demoradas de Verão, o sossego da cidade baixa, e sobretudo aquele sossego que o contraste acentua na parte que o dia mergulha em mais bulício…’’. Do mesmo modo Cesário Verde, deambula pela cidade, mostrando a vida quotidiana da mesma e os costumes da vida moderna, bem como a cidade industrial: “Dez horas da manhã; os transparentes Matizam uma casa apalaçada; Pelos jardins estancam-se as nascentes, E fere a vista, com brancuras quentes, A larga macadamizada.” “Vivo uma era anterior àquela em que vivo; gozo de sentir-me coevo de Cesário Verde, e tenho em mim, não outros versos como os dele, mas a substância igual à dos versos que foram dele.’’
Para concluir nós como um grupo fizemos uma questão interessante, que apesar de termos uma resposta nossa em relação a tal, esperamos que tu como estudante,professor ou simples interessado reflitas sobre esta questão. Será que podemos considerar que Bernardo Soares se influenciou na escrita de Cesario Verde? Consideramos que sim, tanto porque o mesmo no excerto que se segue afirma sentir-se desencontrado da sua época, mais ligado a um passado pouco distante onde viveu e escreveu Cesario Verde. “Vivo numa era anterior àquela em que vivo; gozo de sentir-me coevo de Cesário Verde, e tenho em mim, não outros versos como os dele, mas a substância igual à dos versos que foram dele.”
Bibliografia: Cesário Verde - https://pt.wikipedia.org/wiki/Ces%C3%A1rio_Verde , 1 de fevereiro de 2018 Cesário Verde - http://www.citador.pt/poemas/a/cesario-verde, (sem data) Ficha Informativa sobre Cesário Verde http://www.prof2000.pt/users/jsafonso/Port/verde.htm, (sem data) Bernardo Soares in Artigos de apoio Infopédia Porto https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$bernardo-soares (Porto Editora, 2003-2018)
Bernardo soares, Lucas Queiroz https://pt.slideshare.net/LucasQueiroz7/bernardo-soares (8 de mar de 2012)