Agrupamento Alpoente , Escola Secundária de Albufeira
Reflexões do Poeta em “Os Lusíadas” de Luís de Camões
Canto V, est. 92-100 – Crítica ao desprezo das artes Canto VI, est. 95-99 – Reflexão sobre a fama e a glória Canto VIII, est. 96-99 – O poder corruptor do dinheiro Canto IX, est. 90-95 – Aspiração à imortalidade
Autores: Adriana Bento, Adriana Santos, Denys Hryshchenko, Maëli Contat , 12°E Prof.: Maria de Jesus Data de realização: 9 de Março de 2018 1
Reflexões do Poeta em “Os Lusíadas” de Luís de Camões……………………………………………1 Introdução……………………………………………………………………………………………………………………3 Canto V, est. 92-100 – Crítica ao desprezo das artes……………………………………………………3 Canto VI, est. 95-99 – Reflexão sobre a fama e a glória ………………………………………….……6 Canto VIII, est. 96-99 – O poder corruptor do dinherio…………………………………………………8 Canto IX, est. 90-95 – Aspiração à imortalidade………………………………….........................10 Conclusão…………………………………………………………………………………………………………………12 Webgrafia………………………………………………………………………………………………………………….13
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Introdução ‘Os Lusíadas’, escrito por Camões, é uma epopeia na qual se reflete o otimismo do Renascimento, crente nas capacidades do Homem. Por isso, o herói liberta-se da sua pequenez humana de "bicho da Terra" e, através da ousadia e da coragem, ascende a um estádio superior digno dos deuses. No entanto, não é apenas esta visão otimista do Homem que está patente na obra. A verdade é que, a par da glorificação dos heróis que enalteceram a Pátria e o Povo Lusitano e devem , por isso, servir de exemplo, está presente um desencanto e um pessimismo do poeta que olha para Portugal com tristeza, nostalgia e desalento. Não podemos esquecer que Camões publicou Os Lusíadas, 74 anos depois da viagem de Vasco da Gama (1497) , num momento em que o império português estava já em decadência e um futuro sombrio se pressentia. Esse pessimismo está patente sobretudo nas reflexões do final dos Cantos, que é o tema patente neste trabalho. Os cantos escolhidos foram o Canto V, Canto VI, Canto VII e Canto IX uma vez que consideramos que eram os que se relacionavam mais com a atualidade, fazendo uma analogia presente/ passado, por exemplo ainda hoje o poder corruptor do dinheiro encontra-se presente nas sociedades atuais, ainda existe pessoas que não valorizam as artes nacionais, a aspiração à imortalidade e à fama e à glória são aspetos que ainda hoje se verificam.
Canto V, est. 92-100 – Crítica ao desprezo das artes Acontecimento motivador da reflexão- Final da narração de Vasco da Gama e do elogio do Reio de Melinde à bravura, lealdade e nobreza dos portugueses, dos quais sente orgulho e coloca-os num patamar acima em relação a outros povos. O poeta começa por mostrar como o canto e o louvor incitam à realização dos feitos heróicos; dá em seguida exemplos do apreço que os antigos heróis gregos e romanos tinham pelos seus poetas e da importância que davam ao conhecimento e à cultura, conciliando as armas com o saber. Não é, infelizmente, o que se passa com os portugueses, que não dão valor aos seus poetas, porque não têm cultura para os conhecer. Ora, não se pode amar o que não se conhece, e a falta de cultura dos heróis nacionais é responsável pela indiferença que manifestam pela divulgação dos seus feitos, e, se não tiverem poetas que os cantem, serão esquecidos. Apesar disso, o poeta, movido pelo amor da Pátria, reitera o seu propósito de continuar a engrandecer, com os seus versos, as "grandes obras" realizadas. Manifesta, desta forma, a vertente crítica e pedagógica da sua epopeia, na defesa da realização plena do Homem, em todas as suas capacidades.
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Fig.1. Vasco da Gama e o rei de Melinde; Imagem retirada da Net.
Canto V -. Est. 92 – 100 O louvor e a glória são “*doces+” quando são divulgados e merecidos.
Quão doce é o louvor e a justa glória Dos próprios feitos, quando são soados! Qualquer nobre trabalha que em memória Vença ou iguale os grandes já passados. As invejas da ilustre e alheia história Fazem mil vezes feitos sublimados. Quem valerosas obras exercita, Louvor alheio muito o esperta e incita.
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Quem quer ser relembrado, tem que trabalhar muito, para superar os grandes exemplos do passado. A inveja dos feitos dos antepassados promove a sua continuação no presente (e para serem invejados, têm de ser conhecidos...). O louvor vai ser um incentivo para quem quer e procura fazer obras valorosas.
Não tinha em tanto os feitos gloriosos De Aquiles, Alexandro na peleja, Quanto de quem o canta, os numerosos Versos; isso só louva, isso deseja. Os troféus de Melcíades famosos Temístoeles despertam só de inveja, E diz que nada tanto o deleitava Como a voz que seus feitos celebrava. Trabalha por mostrar Vasco da Gama Que essas navegações que o mundo canta Não merecem tamanha glória e fama Como a sua, que o céu e a terra espanta. Si; mas aquele Herói, que estima e ama Com dons, mercês,. favores e honra tanta A lira Mantuana, faz que soe Eneias, e a Romana glória voe.
Exemplos de heróis que foram celebrados pelos seus feitos, mas que também tinham o dom de escrever.
Dá a terra lusitana Cipiões, Césares, Alexandros, e dá Augustos; Mas não lhe dá contudo aqueles dois Cuja falta os faz duros e robustos. Octávio, entre as maiores opressões, Compunha versos doutos e venustos. Não dirá Fúlvia certo que é mentira, Quando a deixava Antônio por Glafira,
A grande crítica a Portugal e aos portugueses é que apesar de existirem grandes guerreiros, estes desvalorizm a cultura, sendo “duros e robustos”.
Vai César, sojugando toda França, E as armas não lhe impedem a ciência; Mas , numa mão a pena e noutra a lança, Igualava de Cícero a eloquência. O que de Cipião se sabe e alcança, 4
É nas comédias grande experiência. Lia Alexandro a Homero de maneira Que sempre se lhe sabe à cabeceira.
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Conector “Enfim”:
Enfim, não houve forte capitão, Que não fosse também douto e ciente, Da Lácia, Grega, ou Bárbara nação, Senão da Portuguesa tão somente. Sem vergonha o não digo, que a razão De algum não ser por versos excelente, É não se ver prezado o verso e rima, Porque, quem não sabe arte, não na estima.
Por isso, e não por falta de natura, Não há também Virgílios nem Homeros; Nem haverá, se este costume dura, Pios Eneias, nem Aquiles feros. Mas o pior de tudo é que a ventura Tão ásperos os fez, e tão austeros, Tão rudos, e de engenho tão remisso, Que a muitos lhe dá pouco, ou nada disso.
Confissão e desencanto do poeta –sente vergonha pelo facto de a nação portuguesa não ter “*capitães+” letrados, pois quem não sabe o que é arte, também não aprecia. Sem cultivar as artes/a literatura não há imortalização de heróis. Caracterização negativa dos portuguese. Assim, se a nação portuguesa prosseguir no costume da ignorância, não teremos nem homens ilustres nem corajosos.
As Musas agradeça o nosso Gama o Muito amor da Pátria, que as obriga A dar aos seus na lira nome e fama De toda a ilustro e bélica fadiga: Que ele, nem quem na estirpe seu se chama, Calíope não tem por tão amiga, Nem as filhas do Tejo, que deixassem As telas douro fino, e que o cantassem.
A falta de cultura do povo português determina a desvalorização da criação artística. Assim, esta reflexão do poeta é uma: Incentiva contra os seus contemporâneos que deprezam as letras: - A comparação entre os exemplos da Antiguidade Clássica e os Portugueses serve para acentuar a “pobreza” cultural existente em Portugal;
Porque o amor fraterno e puro gosto De dar a todo o Lusitano feito Seu louvor, é somente o pressuposto Das Tágides gentis, e seu respeito. Porém não deixe enfim de ter disposto Ninguém a grandes obras sempre o peito, Que por esta, ou por outra qualquer via, Não perderá seu preço, e sua valia.
Em poucas palavras – Esta reflexão mostra o desprezo das artes e das letras e a importância do registo de grandes façanhas como a glorificação do povo português e dar o incentivo a novos heróis.
Após a enumeração de exemplos de homens que se distinguiram pela sua força de destreza militar, mas também pela sua dedicação às letras, o poeta conclui que existe uma clara diferença entre os retratados e os líderes lusitanos que não valorizam a arte.
- O poeta pretende, com os seus argumentos, alertar para a necessidade e para a urgência de se alterar o panorama do reino no que respeita à cultura e à instruição dos seus súbditos, sob a pena de não haver uma real evolução se isso não acontecer.
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Canto VI, est. 95-99 – Reflexão sobre a fama e a glória Acontecimento motivador da reflexão – Após Vénus ter acalmado os ventos que deram origem à tempestade desencadeada por Neptuno, a pedido de Baco, a armada portuguesa; guiado pelo piloto melindiano avista Calecut, e Gama agradece a Deus. Reflexão sobre o valor dos portugueses que não repousam à sombra dos feitos antigos, a sua honra e fama advém dos feitos presentes conseguindo assim alcançar a imortalidade. Elogio à persistência do povo que não para diante de nada. O poeta defende um novo conceito de nobreza, segundo este conceito a fama, a imortalidade, o prestígio e o poder adquirem-se pelo esforço na batalha ou enfrentando os medos, sacrificando o corpo e sofrendo pela perda dos companheiros.
Fig.2. Partida das Naus ; Imagem retirada da Net.
Canto VI -. Est. 95 - 99
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A imortalidade "honras imortais", a fama e a glória vem através da coragem e da capacidade de lutar e passar por "hórridos perigos" e "trabalhos graves e temores". É usado a adjetivação "hórridos" e "grave" para intensificar as dificuldades e é caracterizado as recompensas disso como "imortais" e "maiores".
Por meio destes hórridos perigos, Destes trabalhos graves e temores, Alcançam os que são de fama amigos As honras imortais e graus maiores: Não encostados sempre nos antigos Troncos nobres de seus antecessores; Não nos leitos dourados, entre os finos Animais de Moscóvia zebelinos; 6
São identificados dois obstáculos à obtenção da fama e glória- viver à custa dos antepassados e viver rodeado de conforto e luxo.
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Não com os manjares novos e esquisitos, Não com os passeios moles e ociosos, Não com os vários deleites e infinitos, Que afeminam os peitos generosos, Não com os nunca vencidos apetitos Que a Fortuna tem sempre tão mimosos, Que não sofre a nenhum que o passo mude Para alguma obra heróica de virtude;
Critica a todos que desejam ser reconhecidos na vida sem praticarem qualquer "obra heróica de virtude". Há uma enumeração de diferentes caminhos que não conduzem à verdadeira glória, com uma sucessão anafórica de negativas reconhece-se estes caminhos – os "manjares novos e esquisitos", os passeios ociosos, os prazeres "deleites" que enfraquecem os fidalgos, indiferença " para alguma obra heróica de virtude".
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Mas com buscar com o seu forçoso braço As honras, que ele chame próprias suas; Vigiando, e vestindo o forjado aço, Sofrendo tempestades e ondas cruas; Vencendo os torpes frios no regaço Do sul e regiões de abrigo nuas; Engolindo o corrupto mantimento, Temperado com o árduo sofrimento;
Ao começar com uma conjunção coordenativa adversativa "mas" introduz uma ideia oposta, pois há uma enumeração de ações que fazem o verdadeiro herói e permitem alcançar a fama e a glória, com a adjetivação realçasse a dificuldade destas ações "forçoso", "forjado aço", "ondas cruas", "torpes frios" e "árduo sofrimento". As ações enumeradas são: obter as honras pelos seus próprios atos (v.1-2), disponivel para as guerras (v.3) e enfrentar tempestades "ondas cruas".
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Continuação da enumeração de ações que fazem o verdadeiro herói, como a vitória sobre as limitações pessoais, a forma de enfrentar as situações difíceis e a guerra com ar "seguro, ledo, inteiro".
E com forçar o rosto, que se enfia, A parecer seguro, ledo, inteiro Para o pelouro ardente, que assovia. E leva a perna ou o braço ao companheiro. Destarte, o peito um calo honroso cria, Desprezador das honras e dinheiro, Das honras e dinheiro, que a ventura Forjou, e não virtude justa e dura
O poeta afirma que só quem percorre este caminho poderá e deverá ascender ao poder "ilustre mando" e fazendo-o de forma desinteressada. Com isto Camões afirma outra vez que é através do esforço próprio e não das "honras e dinheiro" trazidas pela sorte, que se pode ascender ao papel de herói, e que num mundo justo "Subirá" a posições de poder por mérito pessoal e não implorando "rogando" favores.
Que experiências fazem repousado, E fica vendo, corno de alto assento, O baixo trato humano embaraçado. Este, onde tiver força o regimento Direito, e não de afeitos ocupando, Subirá (como deve) a ilustre mando, Contra vontade sua, e não rogando.
Síntese das qualidades daqueles que procuram a grandeza: o "calo honroso" no peito, o desprezo das "honras e dinheiro" que vem da "ventura" e não pela "virtude", o entendimento esclarecido pela experiência e a libertação dos interesses mesquinhos " o baixo trato humano embaraçado".
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Pode-se então, concluir que estas estâncias se dividem em 3 momentos: 1º - est. 95 v 1-4, o poeta elogia a coragem de quem pratica atos gloriosos, dignos de honra. 2º - est. 95, v 5 – est. 98 v 5, enumeração dos obstáculos à obtenção de fama e glória e atos a praticar para alcançar a verdadeira imagem heróica. 3º - est. 98 v 5 – est. 99, conclusão das reflexões do poeta, salientando o esforço pessoal e sincero. Estas estâncias dão-nos uma imagem de um herói épico, que aceita a dureza da vida enfrentada com convicção, espírito de sacrifício e coragem para enfrentar qualquer coisa.
Canto VIII, est. 96-99 – O poder corruptor do dinheiro Acontecimento motivador da reflexão - No canto VIII, Vasco da Gama permanece nas naus e decide não desembarcar, visto que já não confia no Catual que era muito ambicioso («cobiçoso»), corrupto («corrompido») e «pouco nobre». Por outro lado, Gama espera vir a descobrir a verdade com o tempo, daí também a sua decisão. O poeta enumera os efeitos perniciosos do ouro que provoca derrotas, faz dos amigos traidores, mancha o que há de mais puro, deturpa o conhecimento e a consciência, condiciona as leis, dá origem a difamações e à tirania dos reis, corrompe até os sacerdotes, sob a aparência da virtude. Retomando a função pedagógica do seu canto, o poeta aponta o dedo à sociedade sua contemporânea, orientada por valores materialistas.
Fig.3. Comerciantes em torno de dinheiro; Imagem retirada da Net.
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Nas naus estar se deixa vagaroso, Que não se fia já do cobiçoso Regedor, corrompido e pouco nobre. Veja agora o juízo curioso Quanto no rico, assim como no pobre, Pode o vil interesse e sede inimiga Do dinheiro, que a tudo nos obriga. A Polidoro mata o Rei Treício, Só por ficar senhor do grão tesouro; Entra, pelo fortissimo edificio, Com a filha de Acriso a chuva d'ouro; Pode tanto em Tarpeia avaro vício, Que, a troco do metal luzente e louro, Entrega aos inimigos a alta torre, Do qual quase afogada em pago morre. Este rende munidas fortalezas, Faz tredores e falsos os amigos: Este a mais nobres faz fazer vilezas, E entrega Capitães aos inimigos; Este corrompe virginais purezas, Sem temer de honra ou fama alguns perigos: Este deprava às vezes as ciências, Os juízos cegando e as consciências;
Tomada de consciência dos portugueses em relação à cobiça do Catual; Todas as classes sociais são subjugadas ao poder do dinheiro.
Recurso a personagens mitológicas a fim de comprovar o poder do dinheiro.
Referências ao dinheiro, esse “vil metal”.
Este interpreta mais que sutilmente. Os textos; este faz e desfaz leis; Este causa os perjúrios entre a gente, E mil vezes tiranos torna os Reis. Até os que só a Deus Onipotente Se dedicam, mil vezes ouvireis Que corrompe este encantador, e ilude; Mas não sem cor, contudo, de virtude.
Em poucas palavras - O poeta tece considerações sobre o poder corruptor do dinheiro, metal que obriga à tomada de determinadas condutas indignas do ser humano. O dinheiro não é sinónimo de virtude.
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Na estância 97, o poeta apresenta três casos através dos quais pretende provar a sua tese enunciada na estância anterior, isto é, que exemplificam o poder negativo dos bens materiais – dinheiro e ouro ‑, que levam à adoção de atitudes inesperadas. O primeiro exemplo refere-se ao rei da Trácia, que assassinou Polidoro, filho de Príamo, rei de Troia, com o único fito de lhe roubar o ouro. De facto, para o salvar, quando a cidade estava prestes a cair em poder dos Gregos, o rei enviou-o com ouro ao rei da Trácia que, todavia, se apoderou do ouro e o assassinou. O segundo caso refere-se a Dánae, filha de Acrísio, rei de Argos (Grécia), que foi encerrada numa torre para que não procriasse e, deste modo, fosse anulada uma profecia de um oráculo que anunciou a morte do soberano às mãos de um neto. Porém, Júpiter metamorfoseou-se em chuva de ouro, introduziu-se na torre e engravidou-a. Desse ato nasceu Perseu, que, concretizando a profecia, assassinou o avô. O último exemplo alude a Tarpeia, uma jovem romana que, na esperança de obter anéis de ouro dos Sabinos que sitiavam Roma, lhes abriu as portas da cidade. No entanto, os inimigos não a pouparam, esmagando-a sob as joias e os escudos, tendo assim ficado soterrada. Em síntese, os vícios provocados pela ambição são os seguintes: A traição (“Faz tredores e falsos os amigos”); ii. a corrupção (“Este corrompe virginais purezas”); A arbitrariedade (“Este interpreta mais que subtilmente / Os textos…”); A mentira / o perjúrio (“Este causa os perjúrios entre a gente”); A tirania (“E mil vezes *hipérbole+ tiranos torna os Reis”).
Canto IX, est. 90-95 – Aspiração à imortalidade Acontecimento motivador da reflexão - Encontro dos marinheiros com as Deusas- Ilha dos Amores. Reflexão sobre os modos de atingir a imortalidade rejeitando a tirania, cobiça e ambição.
Esta reflexão do poeta pretende: • esclarecer acerca do verdadeiro caminho para atingir a fama: • alertar para o domínio do ócio e o refreio da cobiça e da ambição; • fomentar a aplicação de leis igualitárias e justas; Continuando a exercer a sua função pedagógica, o poeta defende um novo conceito de nobreza, espelho do modelo da virtude renascentista. Segundo este modelo, a fama e a imortalidade, o prestígio e o poder adquirem-se pelo esforço - na batalha ou enfrentando os elementos, sacrificando o corpo e sofrendo pela perda dos 10
companheiros. Não se é nobre por herança, permanecendo no luxo e na ociosidade, nem pela concessão de favores se deve alcançar lugar de relevo.
Fig. 4. Ninfas ou nereidas da Ilha dos Amores ; Imagem retirada da Net.
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Que as imortalidades que fingia A antiguidade, que os ilustres ama, Lá no estelante Olimpo, a quem subia Sobre as asas ínclitas da Fama, Por obras valorosas que fazia, Pelo trabalho imenso que se chama Caminho da virtude alto e fragoso, Mas no fim doce, alegre e deleitoso:
Comprovam que após a realização de atos heroicos temos a recompensa do herói Enumeração de deuses que antes de serem deuses eram humanos, confirmando que a imortalidade é o prémio de quem pratica grandes ações.
Não eram senão prêmios que reparte Por feitos imortais e soberanos O mundo com os varões, que esforço e arte Divinos os fizeram, sendo humanos. Que Júpiter, Mercúrio, Febo e Marte, Eneias e Quirino, e os dois Tebanos, Ceres, Palas e Juno, com Diana, Todos foram de fraca carne humana. Mas a Fama, trombeta de obras tais, Lhe deu no mundo nomes tão estranhos De Deuses, Semideuses imortais, Indígetes, Heróicos e de Magnos. Por isso, ó vós que as famas estimais, Se quiserdes no mundo ser tamanhos, 11
Para atingir a fama glória e recompensa é necessário trabalhar e nunca ser-se deixado levar pelo ócio.
Esta ideia é reforçada na estância 93 nos quatro primeiros versos em que para atingir estas três coisas é necessário ainda negar a cobiça e a ambição pois estas levam à tirania.
É preferível merecer ser reconhecido e não o ser do que ser reconhecido sem o merecer. Jogo quiásmico- sublinha a importância de merecer o que se possui.
Despertai já do sono do ócio ignavo, Que o ânimo de livre faz escravo.
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E ponde na cobiça um freio duro, E na ambição também, que indignamente Tomais mil vezes, e no torpe e escuro Vício da tirania infame e urgente; Porque essas honras vãs, esse ouro puro Verdadeiro valor não dão à gente: Melhor é, merecê-los sem os ter, Que possuí-los sem os merecer.
Enfatiza a necessidade de não dar aos grandes o que é dos pequenos. Fracos/poderosos. A justiça e a honra existem quando há igualdade social.
Ou dai na paz as leis iguais, constantes, Que aos grandes não dêem o dos pequenos; Ou vos vesti nas armas rutilantes, Contra a lei dos inimigos Sarracenos: Fareis os Reinos grandes e possantes, E todos tereis mais, o nenhum menos; Possuireis riquezas merecidas, Com as honras, que ilustram tanto as vidas
Quando as açoes são corretas é possível atingir a glória e o reconhecimento.
E fareis claro o Rei, que tanto amais, Agora com os conselhos bem cuidados, Agora com as espadas, que imortais Vos farão, como os vossos já passados; Impossibilidades não façais, Que quem quis sempre pôde; e numerados Sereis entre os Heróis esclarecidos, E nesta Ilha de Vênus recebidos..
Conclusão Em suma, a reflexão sobre a dignidade das Artes e das Letras é um episódio marcadamente Humanista. Isto é observável noutras partes da obra pela demonstração da vitória do Homem sobre a Natureza e a vontade de saber e descobrir. No final do canto VI, Camões apresenta-nos o seu conceito de nobreza, recorrendo para isso à oposição com o modelo tradicional. Desta forma, o poeta nega a nobreza como título herdado, manifestada por grandes luxos e ociosidade. Propõe então, como verdadeiro modelo de nobreza, aquele que advém dos próprios feitos, enfrentando dificuldades e ultrapassando-as com sucesso. Só assim poderá superiorizar-se aos restantes homens e ser dignamente considerado herói. O estatuto será adquirido ao ver os seus feitos reconhecidos por outros e, mesmo contra a sua vontade, ver-se-á distinguido dos restantes. 12
No final da obra, Camões lamenta-se do facto de não estar a ser devidamente reconhecido, já que a sociedade se rege somente pelo dinheiro, decidindo por isso pôr-lhe termo. Não deixa no entanto de louvar os portugueses e todos os perigos por eles ultrapassados (definição camoniana de nobreza). Elogiando os heróis passados, alerta os homens do presente que a vida nobre não passa pelo ouro, cobiça e ambição. Exorta D. Sebastião a valorizar devidamente aqueles que pelos seus feitos se puderem considerar nobres. Correspondendo à visão aristotélica" da epopeia, remata com novas proposição e dedicatória e incita o rei a feitos dignos de serem cantados. Consideramos que as reflexões camonianas são extremamente interessantes devido ao seu carater intemporal e por nos dar a possibilidade de fazer a tal analogia passado/presente.
Bibliografia/Webgrafia: CARDIGA, Ludovina. (2015)-Reflexões do Poeta, S/Local, http://www.alvarenga.net/canto6.htm RUIVO, Mena. (2013)- Considerações do Poeta- Críticas e conselhos aos portugueses, S/Local, http://mym-pt.blogspot.pt/2013/01/os-lusiadas-reflexoes-do-poeta.html ANICO, Luís. (2012)- Análise de Os Lusíadas, S/Local, http://luisanico.blogspot.pt/2012/04/analise-de-os-lusiadas.html FILIPA, Daniela. (2017) "Canto VI (95-99) d´Os Lusíadas", https://prezi.com/0vowvnxyhuy-/canto-vi-95-99-d039os-lusiadas/ Filoctetes/ Filoctetes Melibeia (2013) "´Os Lusíadas`: VI, 95-99", http://portuguesfcr.blogspot.pt/2013/01/os-lusiadas-vi-95-99.html Rita (2013), "Os Lusíadas - Reflexões do poeta",http://mympt.blogspot.pt/2013/01/os-lusiadas-reflexoes-do-poeta.html
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