A CRÓNICA DE D.JOÃO I
Trabalho realizado por: Bernardo Martins Diogo Santos Gonçalo Oliveira Tomás Ferreira 12ºE
Escola Secundária de Albufeira Ano letivo- 2017/2018
Introdução Neste trabalho iremos abordar a obra “A crónica de D. João I” escrita por Fernão Lopes. Apesar do pouco que se sabe sobre Fernão Lopes, é fundamental adquirir alguns factos biográficos sobre este, para compreendermos melhor o porquê da escrita desta obra. Também estará disponível neste trabalho, uma breve contextualização histórico-literária da obra e a análise da mesma.
Biografia de Fernão Lopes Fernão Lopes terá nascido entre 1380 e 1390, no seio de uma família humilde, em Lisboa, e terá recebido educação de nível superior, algo que é visível na linguagem usada (latim e castelhano) na obra e, no seu conhecimento acerca de assuntos vários. Terá ocupado vários cargos oficiais como: guarda-mor da Torre do Tombo (em Lisboa), cronista dos reis de Portugal D. João I e D. Duarte e foi secretário particular do infante D. Fernando. Antes da crónica de D. João I, terá concluído as crónicas de D. Pedro I de D. Fernando. Fig. 1- Fernão Lopes
Contextualização histórico-literária da obra A crise da 1ª dinastia Tal como nas crónicas realizadas anteriormente, Fernão Lopes narra o reinado do protagonista da obra, neste caso de D. João I. Começa, no entanto, por narrar os acontecimentos decorrentes da morte do rei D. Fernando, introduzindo com a crise de sucessão de 1383-1385. Com a morte de D. Fernando, em 1383, ficou como regente a sua mulher, D. Leonor Teles, até que a sua única filha legítima, a Infanta D. Beatriz, assumisse o trono. Porém, esta era casada com D. João I, rei de Castela, e assim sendo, na hipótese de D. Beatriz ser aclamada, estaria em causa a independência de Portugal. Perante esta crise, o povo de Lisboa, indignado e apreensivo com o receio da entrega do Reino aos Castelhanos, decidiu apoiar o movimento que se tramava para pôr no trono o Mestre de Avis, D. João. Desta forma, revolta-se contra D. Leonor Teles. Fig. 2- D. Fernando
O assassinato do Conde Andeiro O conde Andeiro, fidalgo galego, manteve-se alvo da multidão revoltosa e, principalmente do Mestre de Avis, devido á relação amorosa que este mantinha com a Rainha ( D. Leonor Teles) e á sua ligação ao Partido Castelhano. Estes fatores explicam, de certa forma, o posterior assassinato do Conde Andeiro, em 1383, no Paço, pelo Mestre de Avis, sendo imprescindível a ajuda de Álvaro Pais, astuto e mentor do assassinato. Os partidários do Mestre de Avis mobilizam a população até ao Paço, e esta ameaça invadi-lo. O Mestre de Avis, após assassinar o Conde Andeiro, surge á janela e acalma a multidão. Diante da revolta popular, devido ao receio da perda da independência face aos castelhanos, dá-se a aclamação do Mestre de Avis como “Regedor” e “Defensor do Reino”.
Fig. 3- Assassinato do Conde Andeiro
A invasão castelhana e o cerco de Lisboa O rei de Castela, apesar do contrato de casamento (com D. Beatriz) ter previsto que o reino de Portugal e de Castela ficariam sempre separados, acabou por invadir Portugal, originando vários confrontos. D. João I de Castela invade Portugal e ocupa a cidade de Santarém. A resistência portuguesa e o exército castelhano encontram-se pela primeira vez a 6 de Abril de 1384, na Batalha dos Atoleiros. Nuno Álvares Pereira, figura heroica devido á sua coragem e determinação, soma mais uma vitória para a fação de Avis, mas o confronto nada resolve.
Depois da derrota na Batalha dos Atoleiros, D. João I de Castela retira-se para Lisboa, cerca a capital e com o auxílio da sua marinha bloqueia o porto da cidade e controla o Tejo. O cerco era uma séria ameaça à causa do Mestre de Avis, uma vez que sem Lisboa, sem o seu comércio e o dinheiro dele afluente, pouco poderia ser feito contra Castela. João I de Castela precisava de Lisboa por motivos de ordem política, uma vez que nem ele, nem a sua mulher tinham sido coroados e sem esta cerimónia, eram apenas pretendentes à coroa. O cerco de Lisboa implicou, como previsto, sérias repercussões na vida da capital portuguesa. A nível económico, levou á falta de produtos alimentares (sobretudo de trigo) e á inflação (crescente subida dos preços). A nível social, levou á propagação de doenças devido ao mau regime alimentar, á pobreza e á mendicância e ao aumento da taxa de mortalidade. A nível psicológico, gerou um ambiente de tristeza e desespero, não impedindo, no entanto, que a população participasse no combate quando fosse necessário. O cerco de Lisboa foi, todavia, levantado a 3 de Setembro de 1384, devido sobretudo à epidemia da Peste Negra que assolou o exército Castelhano, causando-lhe muitas baixas. Houve também ataques na periferia do cerco por parte de forças do exército de D. João, Mestre de Avis, forças essas chefiadas por Nuno Álvares Pereira. Finalmente o povo de Lisboa encontrava-se seguro e livre de perigo. Fig. 4- O cerco de Lisboa
A Batalha de Aljubarrota
No entanto, os confrontos entre as forças do Mestre de Avis e o exército castelhano não haviam acabado. Em 14 de agosto de 1385, as tropas portuguesas e os seus aliados ingleses, comandados pelo Mestre de Avis e o seu condestável D. Nuno Álvares Pereira, e o exército castelhano e os seus aliados liderados por D. João I de Castela confrontaram-se na Batalha de Aljubarrota. O resultado foi uma derrota definitiva dos castelhanos, o fim da crise dinástica de 1383-1385 e a aclamação do Mestre de Avis, como Rei de Portugal nas Cortes de Coimbra em 1385, dando assim início á dinastia de Avis. A paz com Castela veio a ser assinada em 1411.
Fig. 5- A Batalha de Aljubarrota
Análise da “Crónica de D. João I” Estruturação da obra Estando agora contextualizados em relação ao que é narrado na obra de Fernão Lopes, podemos afirmar que esta pode dividir-se em duas partes: 1ª parte- Nesta parte são narrados os acontecimentos decorrentes da morte do rei D. Fernando, desde a crise de sucessão de 1383-1385, até á aclamação do Mestre de Avis como D. João I.
2ª parte- Esta parte narra os acontecimentos ocorridos durante o reinado de D. João I.
Personagens individuais e sua caracterizaçao Ao logo da crónica de Fernão Lopes vão sendo apresentadas diversas personagens. É importante destacar alguns protagonistas, que tiveram um maior impacto, como: D. Leonor Teles- Revela um cariz dramático, persistente, dominadora, indomável, astuciosa, adúltera (pelo seu envolvimento com o Rei de Castela) e, de certa forma, é representada como a vila (por ter pedido auxílio ao Rei de Castela, quando o Mestre de Avis assassinou o Conde de Andeiro); Rei de Castela- Representa a força de Castela e é orgulhoso, ambicioso e calculista; Conde Andeiro- Rosto da ameaça castelhana sobre a integridade nacional, acabando por funcionar como “bode expiatório” para o desencadear da revolução; Álvaro Pais- Chefe da insurreição de 1383 e mentor do assassinato do Conde Andeiro. Revela-se estatuto, determinado e destemido; Nuno Álvares Pereira- Visto como o “herói guerreiro” face aos confrontos contra os castelhanos, distinguindo-se pela sua determinação, coragem, perspicácia e lealdade; D. João, Mestre de Avis- Caracterizado como um homem vulgar, que tem dúvidas e hesitações e que chega a cometer erros. No entanto, é o líder das multidões, o homem que assume a sua missão e que se mostra ambicioso.
O povo e a afirmação da consciência coletiva O povo assume um papel decisivo na aclamação do Mestre de Avis, como futuro rei. Fernão Lopes retrata o povo como a força gregária (que vive em grupo), animada e com uma vontade definida e coletiva. Isto é representado em alguma expressões como “todos postos sob um mesmo cuidado” ou “todos animados
de uma só vontade”. Apesar de ignorante, supersticioso e, por vezes, cruel, revela-se como a força motora da revolução que resiste perante a ameaça castelhana e se afirma. É, efetivamente, o povo que vai apoiar Álvaro de Pais na insurreição de 1383, ajudar na preparação do cerco de Lisboa e na sua defesa e, de certa forma, “empurrar” o Mestre de Avis para a revolução, por não reconhecer a legitimidade ao Rei de Castela para assumir a regência de Portugal. É, pois, esta consciência coletiva, este sentimento patriótico generoso e a sua ligação á terra, que faz do povo o protagonista de todo o processo revolucionário e do seu triunfo e, até mesmo, do seguimento da História de Portugal.
O caráter moderno e “científico” da obra Com esta obra, Fernão Lopes afirma-se, não só como um cronista, mas também como um historiador. Foi o primeiro cronista cujo método de trabalho assentou na consulta sistemática de documentos históricos e, para disso, ouviu relatos de protagonistas acerca dos feitos relatados. - Através da consulta de várias fontes históricas, sejam escritas ou orais, pretendia: - Fundamentar a verdade histórica em documentos escritos; - Confrontar os documentos para aferir a verdade dos factos.
Estilo e linguagem do autor Coloquialismo: Fernão Lopes cativa e aproxima o leitor dos factos narrados através: - Da utilização de frases e provérbios de cariz popular, recriando o saber do povo; - Recurso a interpelações ao interlocutor, recorrendo á 2ª pessoa do plural; - Uso de recursos estilísticos (interrogação retórica, apóstrofe);
Visualismo: O autor leva o leitor a “ver” e a “viver” os acontecimentos através: - Do sensorialismo da linguagem, ou seja, do uso de um vocabulário ligado aos sentidos (sobretudo á visão); - Da utilização de recursos expressivos (comparação, personificação, enumeração, hipérbole); - Da utilização de um discurso de valor pictório.
Dinamismo: O cronista coloca o leitor perante o desenrolar vívido das ações através: - Da recriação dos acontecimentos de forma dinâmica.
Conclusão: Intenção do escritor com a obra Fernão Lopes, com a escrita desta obra, pretendia: - Legitimar a nova dinastia de Avis; - Exaltar os feitos, do “fundador” da 2ª dinastia, D. João I; - Demonstrar a coragem, o espírito de sacrifício e o patriotismo do povo português.
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Webgrafia https://pt.slideshare.net/blog12cad/fernao-lopes https://pt.slideshare.net/armindagoncalves/esquemas-sintesecapitulos11115148 https://pt.wikipedia.org/wiki/Cr%C3%B3nica_de_el-rei_D._Jo%C3%A3o_I